Quem É Ele?

Quem É Ele?

O Embuste Negro:  Uma Crise de Identidade

Por Taylor Storm

Série Quem—?

Livro 6

Taylor Storm

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Sumário

Capítulo Um

Capítulo dois

Capítulo três

Capítulo quatro

Capítulo cinco

Capítulo seis

Capítulo sete

Capítulo oito

Capítulo nove

Capítulo dez

Capítulo onze

Capítulo doze

Capítulo treze

Capítulo quatorze

Capítulo Um

O centro comercial em volta de Mindy e Sally estava fervilhando de vida. Todos estavam andando depressa após saírem do trabalho para poder chegar em casa a tempo do jantar. O céu acima de suas cabeças estava acinzentado; as nuvens, cheias de cristais de gelo, voavam baixas. Prestando atenção, era possível ver os flocos de neve caindo.

O dia já havia sido longo, e, apesar de ter concordado em fazer compras com sua melhor amiga, Mindy já arrastava um pouco seus pés no chão. Elas já haviam estado em duas lojas; sendo uma delas Bath & Body Works.

Mindy se perguntou morosamente se algum dia suas fístulas iriam se recuperar depois de tanta tortura. Nesse instante, ela não conseguia cheirar mais nada; é como se seu nariz estivesse preso em um inferno floral pungente. Mas acabou encontrando uma pequena vela aromática que estava louca para experimentar; algo que a faria relaxar depois de um dia longo.

Mindy era magra com cabelos longos, profundos, ondulados e escuros, e seus olhos eram verdes e brilhantes; era um contraste e tanto com sua amiga, Sally, que parecia uma versão desbotada sua, com cabelos e olhos castanhos. Sally prendeu seus cabelos com um prendedor para mantê-los longe dos olhos, mas isso não diminuía a beleza de seu rosto.

Enquanto andavam em direção à Bad Bath & Beyond, Mindy virou para Sally, sua melhor amiga e colega de trabalho. Sua mente se agitou por um instante, mas finalmente perguntou: Sou só eu ou tem algo de estranho hoje?

Acho que é só você, mesmo, ela respondeu sem pensar muito, enquanto procurava por algumas toalhas na loja. Ela havia reclamado na saída do trabalho que precisava urgentemente de toalhas novas em sua casa.

Mindy suspirou; ela tinha as mesmas toalhas já faz pelo menos dois anos. Não que não gostasse de coisas novas, ela apenas não queria sair para comprar toalhas, dentre todas as coisas.

Por estar imersa em seus pensamentos, não estava prestando atenção em seus arredores, e acabou batendo de cara em um manequim que vestia um robe lavanda bastante felpudo, que aparentou surgir do nada. Ela tropeçou e agarrou o robe para evitar que caísse, despindo o manequim. Porém, conseguiu evitar que tudo caísse no chão.

Sally, que até então estava analisando uma pilha de toalhas com estampas de outono, se virou, e, para sua surpresa, corou quando percebeu que todos estavam olhando para ela. Mas o foco principal parecia ser Mindy, que estava congelada segurando o peitoral nu do manequim com uma de suas mãos.

Sally finalmente falou, Mindy, mas o que raios você fez?

Mindy sorriu, como sempre fazia quando esbarrava em alguma coisa. Acho que encontrei o robe que eu estava procurando...

Sally não acreditava no que via, enquanto Mindy endireitou o manequim e em seguida passou a analisar o tamanho do colarinho do robe. Em seguida, acenou, obviamente satisfeita com o tamanho. E então, dobrou o robe em sua mão e foi em direção do caixa.

Sally devolveu para a prateleira as toalhas que estava prestes a comprar, e alcançou Mindy. Seu rosto estava tão vermelho quanto uma beterraba. "Mindy, era para você pegar os itens da prateleira, o que é que você está fazendo?"

Mindy a ignorou. pagou pelo robe no caixa, e logo em seguida saiu novamente para a área principal do centro comercial, com Sally fumegando atrás dela.

E, para piorar situação, ao invés de uma explicação, Mindy continuou a conversa de onde havia parado, como se roubar as roupas de um manequim e sair da loja fosse a coisa mais normal do mundo.

Bem, eu não disse aquilo por motivo nenhum, Sally, Mindy persistiu enquanto balançava sua cabeça em sinal de preocupação. Pensa um pouco, houve um terremoto hoje de manhã. A luz até apagou. E agora está nevando, mesmo faltando um mês para o inverno. É sério, tem alguma coisa de diferente hoje. Ela mudava nervosamente de um pé para outro enquanto observavam uma vitrine, que expunha uma decoração alegre de outono.

Não há nada de anormal, Mindy. Tem essa coisa que chamam de aquecimento global, sabe? Os meteorologistas falam disso o tempo todo. E tenho certeza que há uma explicação razoável para o apagão, Sally respondeu, ainda irritada com o que havia acontecido na Bed Bath & Beyond; mas ia deixar para lá por enquanto. Não era a primeira vez que algo do tipo acontecia.

Sally se perguntava o motivo de Mindy estar obcecada com algo tão trivial. Ela nunca foi de acreditar em presságios e predições.

Mas até mesmo Sally precisava admitir que a neve só caia daquele jeito em dias extremamente frios. Começou a nevar repentinamente no meio da manhã, e a neve já havia acumulado em mais de meio metro.

O céu havia se tornado feio e cinza por causa da neve. O céu monótono acima de suas cabeças parecia adicionar certa tenção às coisas. Por causa disso, o pequeno tremor que havia ocorrido de manhã parecia mais assustador agora de tarde.

Claro, o tremor havia feito com que Sally grudasse na cama, mas em alguns lugares do mundo acontecem coisas bem piores todos os dias. Para ela, uma ocorrência tão pequena assim não era nada demais.

Além disso, ela se sentia confiante ao afirmar que o tremor não era nada de surpreendente devido às predições feitas nos últimos anos.  Há ocorrências significantes que reforçam as afirmações científicas de que o aquecimento global, juntamente com o El Niño, resultaria em padrões climáticos adversos, e até mesmo estranhos.

Supercélulas, tsunamis, enchentes e geadas inesperadas aumentam ano após ano por todo o globo. Por isso, Sally não entendia o motivo de Mindy estar tão preocupada com algo que aconteceu nessa segunda.

Bem, se você diz, Mindy respondeu timidamente.

Mesmo que tenha acabado de concordar com Sally, a verdade é que ainda não estava convencida. Mas notou a irritação na voz de sua amiga, e decidiu deixar o assunto morrer, para evitar que ela ficasse ainda mais brava.

Sally parou e olhou para uma vitrine por um instante. Mindy olhou brevemente ao redor; alguma coisa ainda estava lhe incomodando. Então, Sally virou em sua direção com um sorriso estampado em sua boca.

Por que a gente não compra aquela lingerie que você estava de olho desde quando chegamos aqui? E depois, podemos parar em algum lugar para comer, antes de irmos embora, Sally sugeriu, tentando mudar de assunto antes que ambas ficassem irritadas.

As duas passaram pela loja da Victoria’s Secret pela segunda vez, e olharam para a pequena peça com renda preta que estava na vitrine, que o vendedor havia posto cautelosamente em um manequim. O item havia chamado a atenção de Mindy desde quando passara por ele pela primeira vez, naquela tarde. E a lingerie era linda; mas Mindy não achava que ela combinava com seu corpo. E, além disso, para quê comprar uma coisa dessas? Para mostrar para o seu gato em seu apartamento vazio?

Mindy balançou sua cabeça negativamente. Não... quer dizer, eu gostei dela, mas acho que é melhor não comprar algo assim do jeito que as coisas estão... Eu, sabe... estou solteira, ela respondeu enquanto encolhia os ombros. Mas eu estou com fome.

Dá para resolver isso aí, sabe. A parte de estar solteira, Sally disse, esperançosamente. O Kevin parece bem interessado em te ajudar com isso...

Não fale mais nada sobre o Kevin, Mindy respondeu secamente. Não estou pronta para entrar em qualquer tipo de relacionamento agora, Sally. Eu já te disse, preciso superar o Michael antes de me envolver com outra pessoa.

Mas você está demorando demais para sair dessa. Já faz quase um ano. Não acha que já é hora de partir para outra? Sally pressionou.

Olha, obviamente a gente não vai concordar em nada hoje, então é melhor parar por aqui, beleza? Acho que devíamos ir embora, Mindy respondeu.

Sally olhou para os olhos de sua amiga por um instante antes de acenar. Ela sabia que havia algo que Mindy não estava lhe contando, mas acreditava que ela diria quando estivesse pronta.

Elas eram amigas desde o ensino médio, e Mindy sempre fora reservada, mesmo com ela. Havia dias em que gostaria de saber o motivo para ela ser assim, mas descobriu que era melhor não força-la a dizer nada.

Mindy diminuiu um pouco seu passo quando saíram do complexo comercial. Ela se sentiu culpada por mentir mais uma vez para Sally, já que não estava mais apaixonada por Michael. Havia superado o término depois de algumas semanas após aquela separação desagradável. Inclusive, achava que ficara bem assim que conseguiu um emprego na mesma empresa em que Sally trabalhava, onde encontrou seu novo interesse romântico.

Sally lhe disse que havia diversos homens charmosos na empresa que poderiam ajudá-la a superar seu ex, e ainda por cima a apresentou para Kevin, que além de bonito era solteiro.

Mas, de todos os homens disponíveis, Mindy se apaixonou pelo que tinha olhos apenas para Sally. Por isso, ela achava que devia fazer sua amiga acreditar que ainda não havia superado o término. Havia algo em Gary que a atraía, não importa o quanto tentasse ignorá-lo.

Elas estavam andando até seus carros através dos flocos frios que caíam, quando pararam repentinamente em frente de um monte de neve no meio do estacionamento. Sally piscou algumas vezes para ter certeza de que a nevasca não estava afetando sua visão.

Você estacionou seu carro em outro lugar, Mindy? Sally perguntou, levemente confusa.

Sally continuou encarando a vaga vazia; ela queria muito que estivesse apenas tendo uma alucinação. Fez uma careta, apesar de esta não ser a primeira vez, e nem a última, que Mindy perdera seu carro. Havia acontecido algo similar quando ambas ainda frequentavam a faculdade, exceto que era primavera e elas usaram o carro para ir em um festival de música. Era tarde da noite e o estacionamento do festival ainda estava cheio; mas elas estavam exaustas e queriam voltar para o hotel.

Mindy não se lembrava mais onde tinha estacionado. Gastaram duas horas procurando por ele, e confundiram uma série de outros carros com o dela. Elas apenas o encontraram quando o estacionamento já estava vazio. Sally nunca esteve tão irritada. Ela cutucou Mindy, que parecia estar com a mente em outro planeta.

Hein? Ela respondeu; tendo sua linha de raciocínio interrompida e finalmente prestando atenção nos arredores.

Seu carro... você estacionou ele em outro lugar? Sally repetiu, irritada por ter que dizer aquilo pela segunda vez.

Não. Eu estava com você nesse tempo todo. Por que a... pergunta...? Mindy respondeu, com sua voz diminuindo quando percebeu que estavam logo atrás do carro da Sally.

Elas estacionaram uma do lado da outra quando chegaram no centro comercial. Mas agora havia carros em ambos os lados da vaga de Sally, e nenhum deles se parecia nem remotamente com o velho Malibu azul de Mindy.

Cadê o meu carro? Ela disse, com a voz trêmula.

É isso o que eu estava me perguntando, Sally respondeu, enquanto olhava para o estacionamento; enquanto pensava em uma maneira de absorver toda aquela situação.

Elas procuraram o carro por um tempo. A sensação de pânico de Mindy aumentava a cada minuto que se passava. Aquela voz detrás de sua cabeça reforçava ainda mais os eventos bizarros que havia acontecido. Aquele dia era diferente de um dia qualquer, e lá no fundo ela sabia disso.

Meu deus do céu, Mindy gritou, quando finalmente perdeu o controle e deixou suas compras caírem na neve. Alguém roubou o meu carro. Alguém roubou o meu carro!

Acalme-se, Mindy, Sally disse de forma esbaforida, e todos que estavam perto e a ouviram olharam para as duas. Deve haver algum motivo para o seu carro não estar aqui. Vamos procurar o segurança.

Por que não a polícia? Mindy perguntou, enquanto pegava seu smart phone.

Mas, após pegar o celular, ela percebeu que havia uma mensagem de Sem Sinal piscando na tela. Ela balançou sua cabeça, isso era bastante incomum. Normalmente, havia sinal, não importa onde ela estava.

O quê? Que estranho... tem sinal no seu celular, Sally? ela perguntou.

Ah... deixa eu ver... Sally respondeu, enquanto também pegava o seu celular. Hmm... aqui está dizendo que só posso fazer ‘ligações de emergência,’ o que você quer?

Tenta ligar para o 911, disse Mindy.

Sally digitou o número de emergência. Mas, depois de alguns segundos, a ligação caiu. Então, tentou fazer outras ligações, todas com o mesmo resultado. Também tentou com o celular da Mindy, e, como o resultado foi o mesmo, desistiu.

Dá para alguém ligar para a emergência? ela perguntou, elevando sua voz o suficiente para que as pessoas, que agora estavam por perto depois de ouvir sobre o roubo do carro, escutarem.

E várias delas pegaram o celular. E, por mais estranho que pareça, nenhuma delas tinha sinal, e alguns dos celulares também exibiam mensagens de apenas chamadas de emergência. Todas as tentativas de fazer ligações falharam.

As pessoas começaram a conversar e murmurar sobre os acontecimentos, fazendo com que Mindy achasse tudo o que tinha acontecido até então ainda mais suspeito. Mas, antes que pudesse falar qualquer coisa, Sally pegou em sua mão e a afastou de seus pensamentos caóticos.

Acho que a gente devia encontrar um segurança para nos ajudar, ela disse enquanto puxava mão de Mindy impacientemente. Ela também pegou as compras que estavam no chão.

Depois de botar a bolsa de Mindy no carro, elas foram em busca de algum funcionário uniformizado. Não precisaram andar muito, um deles estava ajudando uma senhora de idade a estacionar a alguns metros de lá. Apesar do frio, o casaco dela estava semiaberto, mas o mais ridículo era o vestido dourado que estava usando por debaixo dele.

Sally se perguntou se ela sofria de demência, ou se talvez tivesse deixado que sua neta adolescente a vestisse. Os adolescentes de hoje se vestem de forma estranha, ela pensou, enquanto balançava sua cabeça, tentando enxotar a ideia. Elas foram rapidamente até ele e esperaram que a mulher acabasse de estacionar, antes de falarem sobre seus problemas.

Mas não adiantou muita coisa, já que ele não viu e nem ouviu nada de estranho, e elas teriam que fazer um boletim de ocorrência para ter acesso às gravações da câmera de segurança. Sally pensou que isso era estranho, já que normalmente o próprio segurança veria esse tipo de coisa. Ele também não foi de muita ajuda quando elas falaram sobre os celulares dela e dos outros que tentaram ajudar