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CIÊNCIA POLITICA E DIREITO CONSTITUCIONAL

Introdução
O facto político
Aula: n.º 1
É comum dizer-se que a vida em sociedade é o modo natural em que ocorre a existência
da espécie humana. Os indivíduos mantêm entre si, desde crescimento até à morte,
mútuas relações de colaboração e de dependência.
A divisão do trabalho conduziu a que cada um de nós possa beneficiar a cada momento
do esforço de muitos milhões dos nossos semelhantes. Cada um de nós é logo ao nascer
herdeiro de uma civilização e de uma cultura, que nos foram legadas por gerações
anteriores, proporcionando-nos a utilização de bens, instrumentos e noções de adopção
de um sistema de princípios, convenções e normas já antes experimentados e que
norteiam a nossa conduta.
Há vários modos de convivência social, ou seja, os vínculos sociais a que estamos
sujeitos podem assumir várias formas. Pode-se, desde logo, referir a família, depois a
aldeia ou cidade, a sociedade religiosa; a sociedade profissional; a sociedade política ou
Estado; a sociedade internacional. Estas formas podem dividir-se em duas grandes
classes, segundo a classificação de Max Weber1: as associações e as comunidades.

Comunidades – Quando os indivíduos se encontram integrados nessas formas de


sociedade por mero facto do nascimento, ou por acto que não tem por fim directo aderir
a elas. Elas existem, independentemente da vontade dos seus membros. Exemplo: a
família, o meio profissional, a nação, o meio residencial, etc.
Associações – Quando resultam da união dos indivíduos, que a elas resolvam aderir por
serem criadas pela sua vontade e podendo delas sair, quando quiserem. Exemplo: Clube
desportivo; uma irmandade religiosa; uma sociedade comercial, etc.

1
Este grande sociólogo alemão escreveu o livro Wirtschaft und Gesellschaft ( Economia e Sociedade)
que é uma das obras fundamentais da Sociologia Moderna. Max Weber retomou a distinção do sociólogo
Tonnies (1877 no seu livro Gemeinschaft und Gesellschaft – Comunidade e Sociedade ), embora
propondo outro método de distinção. Para Weber a comunidade seria resultante do sentimento subjectivo
(origem emotiva, afectiva ou tradicional) que os indivíduos têm para constituir um todo; ao passo que a
associação resultaria da vontade orientada por motivos racionais que leva os indivíduos a juntarem-se
para compensarem os seus interesses ou para alcançarem um determinado fim. In Manual de Ciência
Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003, pg 3

1
Ponto comum a essas formas de sociedade é que elas têm uma razão de ser que
impõem aos respectivos membros, através de deveres e colaboração na obra comum e
deveres de se absterem da prática de actos que prejudiquem os interesses do grupo. De
facto, para atingir certos objectivos o grupo tem de ser organizado. Isto significa que os
indivíduos que o integram têm de se submeter a uma autoridade que representa o
interesse colectivo, tendo por objectivo a realização dos fins sociais do grupo. A
organização implica a existência de normas ou regras de conduta (disciplina). Essa
disciplina tem de ser mantida por normas jurídicas que formam o direito, que disciplina
os grupos.2
No sentido lato de "POLÍTICO" cabem todas as formas de organização social
humana. Desde as mais primárias (família, sindicato, associação, etc...) às mais
globais:
• sociedades primarias: (família, igreja, sindicato, etc...) em que os homens se
agregam constituem grupos com fins próprios, mas fins específicos e
particularizados;
• sociedade global: prossegue um fim superior, uma finalidade que engloba e
supera os fins das sociedades particularizadas - chamado bem comum.
• A sociedade global surge da própria necessidade de compatibilizar os fins
múltiplos e próprios e mesmo contraditórios das sociedades primitivas, a
fim de superar as divergências, evitar conflitos, e integrá-los num objectivo
comum.

Aula 2 29/09/06

O poder

Chama-se poder à possibilidade de impor aos outros o respeito da própria conduta ou de


traçar a conduta alheia de forma eficaz. O PODER manifesta-se na potencialidade de
alguém impor aos outros um determinado comportamento - o respeito pela
"ordem".
Existe poder sempre que alguém tem a possibilidade de fazer acatar a sua própria
vontade aos outros, ou obrigando os outros a fazer o que ele queira.

2
Todo o grupo social organizado tem a sua disciplina que é mantida por normas jurídicas que formam o
direito social, institucional ou disciplinar desse grupo.

2
Aristóteles distinguia poder paterno, poder despótico e poder político em função
do interesse prosseguido por quem exerce o poder;
Locke distinguia os mesmos poder paterno, poder despótico e poder político, mas
em função do fundamento do poder que é exercido;
Finalmente, Bobbio distingue antes poder económico, poder ideológico e poder
político, em função dos meios que são utilizados para condicionar o
comportamento do outro.
O poder, enquanto forma de imposição de uma ordem que permita a gestão dos
recursos necessariamente finitos ao dispor de uma sociedade, é essencial à sua
própria preservação.
A possibilidade de impor aos outros o respeito da própria conduta traduz a ideia de
liberdade, num dos sentidos deste termo. A possibilidade de traçar e impor a conduta
alheia constitui autoridade.3
• Poder de facto (força)
• Poder legítimo (reconhecimento)
• Poder social (necessidade organização)
• Poder político (sociedade política – res-publica)
• Poder político (Marcelo Caetano “poder de domínio)
Para o Professor Marcelo Rebelo de Sousa é um «poder de injunção dotado de
coercibilidade material», ou seja, «um poder de natureza vinculativa marcado pela
susceptibilidade de imposição, quer pelo uso da força física, quer da supressão, não
resistível, de recursos vitais».
Esse conceito de poder abrange, quer o poder de facto que assenta na força, quer o
poder legítimo que resulta do reconhecimento por aqueles a quem se dirige de que
ele actua de acordo com uma lei ou norma de acatamento geral. Importa para o
presente estudo o poder legítimo que pode ser reconhecido a uma colectividade ou
a um indivíduo.

Na formação de uma colectividade, está implícita a necessidade de disciplina. Em


cada sociedade, há portanto uma norma fundamental que autoriza a definir as normas de
conduta aos seus membros em todo o que diga respeito à conservação dessa sociedade e
á realização dos seus fins. Se um grupo social tem autoridade para estabelecer

3
Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003,
pg 5

3
normas de conduta dos seus membros, obrigatórias sob pena de aquele que
desobedecer sofrer um castigo, e tem liberdade para actuar, então esse grupo
possui poder.
O poder social é exercido por toda a colectividade ou, na maioria dos casos, por alguns
dos seus membros a quem seja reconhecida a qualidade de representante. O poder
social é uma consequência necessária da organização das sociedades primárias
(parentesco, vizinhança, profissão, etc). Ele surge porque elas existem e precisam de
se organizar.
Ao contrário a sociedade politica não existe antes do poder politico existir. A
sociedade política surgiu porque houve necessidade de superar diferenças e hostilidades
entre as sociedades primárias e por isso os homens criaram grupos mais amplos em que
essas sociedades primárias colaborassem e se obrigassem a deveres comuns e a regras
gerais de conduta, tendo por base a existência de um interesse geral superior a todos os
outros: a res-publica.4
A sociedade politica tem um carácter de comunidade e a sua razão de ser é o
exercício do poder político, entendido este como a autoridade da colectividade
sobre cada um dos seus membros, traduzida pela imposição de um direito comum
ao qual, todos queiram ou não, têm de se submeter. Como refere Marcelo Caetano
“ o poder político é um irresistível poder de domínio.”5

Em conclusão: as sociedades primárias resultam do impulso da natureza humana;


as sociedades políticas formam-se por decisão voluntária tendo por base interesses
colectivos que superam os interesses particulares e sob a instituição de um poder
político caminham numa direcção comum. A função deste poder político é
subordinar os interesses particulares ao interesse geral, segundo princípios
racionais de justiça que se traduzem em um Direito Comum da sociedade política
que engloba as sociedades primárias.

4
A sociedade politica é uma sociedade complexa que torna possível a convivência jurídica, entre os
membros das várias sociedades primárias, graças à existência de um direito comum a todos eles, ou seja,
acima dos interesse particulares ou restritos dos grupos sociais primários, eleva-se e afirma-se um
interesse geral superior a todos os outros: a “res publica” (coisa pública).
5
Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª ed., Coimbra 2003,
pg 7. “Esse poder apoia-se na possibilidade do emprego da coacção que a sociedade política reivindica
com superioridade sobre as outras formas sociais, tendendo mesmo a monopolizá-la. “

4
O poder político define um Direito Comum a todos os membros da sociedade
política, com meios de coacção superiores aos das sociedades primárias, dispondo
de meios eficazes de empregar a coacção para punir os desobedientes.

Facto Político
Noção de facto politico - chamaremos facto ou fenómeno politico a todo e
qualquer acontecimento ligado à instituição, à existência e ao exercício do poder
politico.
Os factos ou fenómenos políticos podem ser objecto de estudo de acordo com métodos
próprios e diferentes ópticas por parte de várias disciplinas: a Sociologia política, a
História política, a Filosofia politica e a Ciência politica. Todas estas disciplinas têm um
objecto comum: o facto político.
À sistematização dos resultados do estudo das várias disciplinas que visam o
conhecimento do facto político pode chamar-se Ciência Política, em sentido amplo.
A Ciência Política é indispensável ao estudo do Direito Constitucional que é
formado por normas jurídicas reguladoras de factos políticos.

CIÊNCIA POLÍTICA

Conceito de ciência politica – este conceito tem sido objecto de muita discussão.
Desde logo porque os próprios vocábulos: política e político podem surgir com
significados diferentes.
Conceito restrito – é a disciplina que estuda as manifestações, as formas e as
regularidades dos factos políticos em si mesmos ou através do comportamento dos
indivíduos mediante métodos de observação.
Conceito amplo – é uma disciplina que estuda os conhecimentos relativos à
compreensão, explicação e fundamento racional dos factos políticos ordenados e
sistematizados em função do seu objecto e seja qual for o método empregado na sua
obtenção.
A Ciência Política estuda factos sociais através do método da observação, embora não
descure o método histórico e tenha tendência a usar o método comparativo.
De um modo muito simples podemos definir este conceito de Ciência Política, como a
ciência que procura ordenar, sistematizar e dar a conhecer a realidade politica. Ela

5
estuda as leis que presidem ao funcionamento dos sistemas políticos e estuda as causas
com a regularidade dos fenómenos políticos.

Quer a ciência do direito Constitucional, quer a ciência política têm por objecto o
fenómeno político. Contudo a ciência do Direito Constitucional considera a
sociedade política através de normas que se lhe dirigem. Ela debruça-se sobre a
ordem da sociedade e não sobre a sociedade enquanto tal, ao passo que a ciência
politica se volta para os factos no seu desenrolar empírico e funcional. Ela tem por
objecto o Estado como sistema de relações, forças e comportamentos, tendo como pano
de fundo o poder ou a interferência do poder.
Enquanto a ciência do Direito Constitucional se ocupa principalmente da regularidade e
da validade da acção do poder como ciência normativa que é; a ciência política ocupa-se
principalmente da efectividade da acção do poder. Ela é uma ciência não normativa.

A ciência política estuda:


- Os fenómenos políticos em si próprios
- As estruturas governativas
- As estruturas de participação política
- Os sistemas de poder
Portanto a ciência política sobrepõe o seu âmbito ao Direito Constitucional, já que
estuda as estruturas políticas do Estado. A ciência política diz-nos como é na realidade,
o direito constitucional diz-nos como deve ser.
A ciência política é uma ciência descritiva, não normativa, que tem por objecto a
realidade dos factos. O Direito Constitucional é uma ciência normativa que tem por
objecto a realidade das normas.
A ciência política não é uma ciência jurídica, o direito constitucional é uma ciência
jurídica.
As análises feitas pela ciência política ajudam a compreender a realidade política, cuja
ordenação fundamental é estabelecida pela constituição do Estado. O estudo dessa
ciência é indispensável ao estudo do Direito Constitucional que sem ele se alhearia às
questões políticas dos regimes, das ideologias e dos conflitos políticos.

Importante: Não confundir ciência política com política.

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Política – é a actividade desenvolvida para a conquista e a manutenção do poder,
segundo certos ideais que se pretende fazer aceitar e realizar na sociedade. Ela é na
linguagem corrente “a arte de governar”.
Ciência é um sistema de conhecimentos, com ela pretende-se saber. Política é um
conjunto de regras práticas e com ela pretende-se agir.
Uma vez que o fenómeno político é o objecto de estudo da ciência política temos que o
analisar. Há três concepções:
1 – Entende-se o fenómeno político, como fenómeno estadual.
2 – O fenómeno político é menor que o fenómeno estadual.
3 – O fenómeno político é maior que o fenómeno estadual.

1 – Fenómeno político identifica-se com o fenómeno estadual e portanto todo o


fenómeno político é um fenómeno estadual. O fenómeno político desenvolve-se no
quadro estadual e coincide com a concretização das 3 funções estaduais: legislativa,
executiva e judicial.

2 – Fenómeno político menor que o fenómeno estadual: estes autores entendem que
efectivamente todo o fenómeno político é um fenómeno estadual, mas nem todo o
fenómeno estadual é um fenómeno político. Existem funções estaduais que não podem
ser consideradas políticas. A função judicial, segundo eles não seria política, mas
meramente técnica de aplicação do direito. Só as funções legislativa e executiva seriam
políticas por serem inovadoras e dispositivas.

3 – O fenómeno político é mais amplo que o estadual. Hoje, entendem a maioria dos
autores, que o fenómeno político é muito mais amplo do que o fenómeno estadual. A
qualidade do político não é algo definitivamente estabelecido podendo em épocas de
forte tensão social transformar-se em fenómenos políticos, actos como por exemplo: a
abertura de uma escola ou reivindicações e manifestações de um sindicato. Portanto os
fenómenos políticos não se reduzem ao Estado, pois têm em regra uma raiz mais
profunda. Eles abarcam as acções dos partidos e dos grupos de interesse (com a pressão
que tentam influenciar no poder).
Portanto o fenómeno político não se identifica com o estadual abrangendo também a
definição e o funcionamento dos partidos políticos, dos sindicatos, das associações

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patronais, da opinião pública, as manifestações, ou seja todas as forças que podem
influenciar o poder.
De certo modo, poderá dizer-se que no Estado de direito liberal o fenómeno político
se identifica com o estadual.
No Estado social democrático de direito, o fenómeno político é mais amplo que o
estadual, e no Estado autocrático ou ditatorial, o fenómeno político é
tendencialmente total, abrangendo todo o fenómeno social.
Podemos então definir o fenómeno político como aquele que pressupõe uma relação
de poder, uma diferenciação entre governante e governado ou que resulta de um
conflito de interesses tendo em vista, a conquista ou o exercício do poder político.”

O Estado e o Sistema Político


Aceitando como certo que o fenómeno político extravasa o estadual, a moderna ciência
política Norte Americana começou a estudar esses fenómenos enquadrados não na
estrutura do Estado, mas no campo global das actividades políticas de uma sociedade,
ou seja, um sistema político.
Para estudar os fenómenos políticos, David Easton foi o primeiro a aplicar o chamado
modelo sistémico, assumindo que um sistema é um conjunto de variáveis seja qual for o
grau de relação entre elas que se interligam. David Easton definiu o sistema político
como um conjunto de interacções através dos quais, numa certa sociedade, se
realiza a atribuição autoritária de valores.
Para este autor, todos os sistemas políticos, têm um ponto comum: não podem subsistir
se não desempenharem com sucesso as seguintes funções:
1 – Distribuição dos valores numa certa sociedade.
2 – A capacidade de levar a maior parte dos membros dessa sociedade a aceitar que essa
distribuição seja feita por via autoritária, pelo menos durante um maior período de
tempo possível.
Estas duas propriedades distinguem os sistemas políticos de outros sistemas sociais e
constituem as variáveis essenciais de toda a vida política. Sem elas, uma sociedade não
tem qualquer espécie de vida política. Isto levanta as seguintes questões:
1 – Como se processa a distribuição de valores a impor por via da autoridade
2 – Como funciona o sistema político.

Para responder a estas questões, David Easton elaborou a seguinte teoria:

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Ele propõe que se considere o sistema político como uma caixa preta e que ignoremos o
que se passa dentro dessa caixa. Essa caixa contudo, está inserida, ou mergulhada no
meio ambiente (ambiente social) do qual recebe pedidos e apoios, que são os chamados
inputs e outputs.
Os inputs apresentam-se como acções de causas dos fenómenos políticos, podem ser
exigências, pedidos ou apoios. Exemplo: Votos de confiança, moções de censura ao
governo; reivindicações, manifestações contra ou a favor, protestos, etc.
Os outputs são os resultados de efeito que os inputs produzem no sistema político. São
portanto as respostas que o sistema político produz face ás pressões, a fim de
adaptar as estruturas ao meio ambiente.
A resposta do Estado em relação às exigências é feita através das suas funções.
Por sua vez, as modificações do meio ambiente que resultam dos outputs provocam
novos inputs, que entram no sistema através de um mecanismo da retroacção que se
chama feed-back.
David Easton avaliou o sistema político em interacção com o meio ambiente interno e
externo. De facto, o sistema político está mergulhado no meio ambiente que o sujeita a
desafios aos quais deve dar resposta, que são os sistemas exteriores da sociedade global
em análise com os quais ela está presumivelmente em relação, como por exemplo os
sistemas políticos coexistentes, os sistemas supranacionais e os próprios sistemas
ecológicos mundiais. Meio ambiente externo que compreende todos os sistemas
internos inseridos na sociedade global em análise, designadamente por exemplo: o
sistema religioso, o sistema biológico, o sistema social, o sistema psicológico.
No meio ambiente global está inserido o sistema político aberto e em constantes trocas
com o meio ambiente. Em função do carácter aberto do sistema, a análise da corrente
input / output é indispensável juntamente com o conceito de exigências e apoios.
No conceito de exigências de pedidos cabem todas as solicitações do meio ambiente
interno e externo no sentido de atribuir ou negar valores sociais que vão desde as
liberdades e garantias políticas ao tipo de censura, ao sistema de segurança social ou
saúde, aos salários, etc.
O volume das exigências conduz ao conceito de carga e sobrecarga do sistema que
exprimem a medida em que ele pode responder de resistir às exigências. A sobrecarga
pode resultar, quer de uma quantidade excessiva das exigências, quer da sua qualidade
excessiva que não permitem uma resposta antecipada. Desse modo, o sistema político
avalia-se no fundo, como um conjunto de acções que provocam o ajuste constante entre

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as exigências do meio ambiente e a capacidade de resposta do sistema. Esse objectivo
de resposta é procurado pelas seguintes funções:
a) Expressão das exigências
b) Depuração das exigências
c) Agregação das exigências

Expressão das exigências – estas são feitas pelos partidos políticos e pelos grupos de
pressão (ex. sindicatos).
Depuração das exigências – procura seleccionar as que têm significado político e
impedir que outras possam assumir relevância política. O próprio aparelho do poder
procura antecipar as suas intervenções de modo a evitar que as exigências atinjam uma
sobrecarga. Os partidos podem, também, assumir uma função depuradora.
Agregação das exigências – procura fazer convergir para alternativas bem definidas e
limitadas as exigências dispersas no meio ambiente total. Esta função é assumida por
exemplo pelos programas dos partidos e pelos programas do governo.

Por sua vez, os apoios de suporte podem ser de três tipos:


- Apoios à sociedade global
- Apoios ao regime, que são os chamados apoios de manutenção
- Apoios ou suportes de órgãos, que são os apoios à personalidade que exerce a
função de autoridade.

Quanto aos outputs, que engloba a totalidade das respostas do sistema traduzem-se em
normas e acções. As normas dirigem-se imperativamente aos destinatários, as acções
não os atingem directamente mas actuam sobre o meio ambiente condicionando a vida
dos destinatários.
Toda a resposta do sistema acaba por vir a modificar o meio ambiente do sistema
político e desse modo acaba por alterar o fluxo das exigências, estabelecendo assim uma
corrente contínua e infindável de referências em que inputs geram outputs, que por sua
vez geram inputs, que por sua vez geram outputs. Isso chama-se efeito de retroacção ou
feed back.

Na sua globalidade, o sistema político é denominado por duas leis principais:

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1 – Lei da Homcostase – que diz que os sistemas tendem sempre para o equilíbrio
interno, apesar das pressões e dos factores de alteração que causam desestabilização os
outputs contribuem para manter o equilíbrio.
2 – Lei da Entropia – os sistemas tendem para uma ordem e complexidade cada vez
maiores afim de esbater a força dos inputs sobre o centro de decisão. O sistema vai-se
organizando cada vez melhor de uma forma a esbater a pressão e a fazer com que as
exigências (inputs) causem menos desestabilização.

Os MÉTODOS da CIÊNCIA POLÍTICA


- método de uma ciência: os processos mentais, ou lógico-racionais específicos
mediante os quais desenvolve o seu estudo. A sua actividade tende assim a:
- acompanhar o desenrolar dos fenómenos políticos;
- formular hipóteses, com base nos factos políticos apurados;
- procurar comprovar ou confirmar pela experiência as hipóteses que são
formuladas.
- formular tendências que ajudem a compreender e prever os factos políticos.

Método de investigação e análise em ciência política (perspectivas básicas)


O Prof. Adriano Moreira distingue quatro perspectivas básicas:
1 - a perspectiva das tendências individuais
2 - a perspectiva racionalista
a) teoria do processo de formação das decisões,
b) teoria dos jogos
3 - a perspectiva funcionalista
4 - a perspectiva sistémica

Perspectiva das tendências individuais – esta perspectiva funda-se quando na acção


política os homens são individualmente considerados. O que é importante é o estudo do
comportamento dos indivíduos. Esta perspectiva, mesmo quando para além do
indivíduo ela se dedica a analisar o grupo, nunca se preocupa com a escolha consciente
dos objectivos, pois ela centra a sua atenção no homem e não nos objectivos do grupo.

Perspectiva racionalista – esta perspectiva embora se preocupe com a análise do


grupo, preocupa-se também com a definição dos motivos ou dos factores que entram na

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produção da escolha do comportamento político. É uma perspectiva totalizante que para
além de considerar a personalidade básica dos indivíduos ou dos grupos, procura
analisar os objectivos conscientemente. Isto leva a distinguir os objectivos que
pertencem ao domínio da criatividade e as razões que se relacionam com a experiência
acumulada e que se reflecte na personalidade dos agentes políticos considerados a título
individual ou de grupo.
Ao permitir examinar os fenómenos políticos em função das razões e objectivos, a
perspectiva racionalista deu origem a alguns desenvolvimentos metodológicos
conhecidos por processos de formação e decisões dos jogos.

Perspectiva funcionalista – quer a perspectiva das tendências individuais, quer a


perspectiva racionalista inspiram-se no pressuposto que são os homens quem tomam as
decisões políticas e por isso eles colocam em ênfase as variáveis independentes do
ambiente político. A perspectiva funcionalista parte de outro pressuposto: para ela a
explicação dos fenómenos políticos será insuficiente se se limitar a tomar em conta o
comportamento dos agentes políticos a título individual de um grupo e entende que o
comportamento político é essencialmente resultante de uma tensão entre as
exigências e as expectativas que a sociedade global dirige aos agentes políticos e a
capacidade de resposta que elas demonstram no papel de direcção que tiveram.
Segundo esta perspectiva, a acção política é sempre condicionada não apenas pela
personalidade básica do agente, mas também pelo conjunto de funções interdependentes
e conflituantes em que ele se situa.

Perspectiva sistémica – no fundo esta perspectiva sistémica constitui uma tentativa de


síntese de todas as outras perspectivas. A origem deste modelo toma como ponto de
partida um modelo usado na biologia e foi transposto para a ciência política por David
Easton.

TÉCNICAS DE PESQUISA DOS FACTOS POLÍTICOS


As técnicas6 usadas são a análise da observação documental e da observação directa.

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Devem obedecer aos Princípios da objectividade; da inteligibilidade ou do determinismo e ao princípio

da racionalidade

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1 - a análise documental– as fontes documentais dividem os documentos em directos e
indirectos.
Documentos directos – são todos os documentos que foram emitidos por intervenientes
no processo político.
Documentos indirectos – são os que, embora não tenham origem no processo político,
testemunham a sua actividade no poder político de forma intencional ou acidental.

2 - observação directa
a) observação directa extensiva
b) observação directa intensiva
A observação extensiva - é a que se faz em grandes comunidades sendo portanto mais
extensa mas menos profunda.
A observação directa intensiva – é a que se faz em pequenas comunidades ou em
indivíduos, logo é mais profunda.

Técnicas usadas na observação directa:


A técnica mais usada é a pesquisa por sondagem que abrange três fases essenciais.
- A amostragem
- A elaboração do questionário
- A apresentação dos resultados

Amostragem – consiste em escolher as pessoas a interrogar, escolhendo amostras


representativas da população alvo. Costumam-se usar dois métodos:
- Método das quotas – que consiste em determinar as categorias sociais, com base na
idade, religião, etc.., e em atribuir uma quota a cada entrevistado que vai fazer o
inquérito.
- Método probabilístico – as pessoas que constituem a amostra são escolhidas ao acaso
de forma que todos os membros da população tenham igual probabilidade de ser
inseridos na amostra.

Elaboração do questionário – esta fase começa com a sua elaboração (do questionário)
que tem de ser feito com muito cuidado. A natureza das perguntas e a sua ordem tem
muita importância no resultado da sondagem. Podem-se usar perguntas fechadas (sim

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ou não), ou perguntas abertas (em que o interrogado pode responder sem estar sujeito a
nenhum alternativa).
Depois de elaborado o questionário procede-se á sua aplicação. Esta pode ser feita por
apresentação directa às pessoas (preenchendo elas próprias o questionário) ou através de
um inquiridor que formula as perguntas e preenche o questionário. Quer um, quer outro
têm desvantagens em especial a apresentação directa, pois grande parte das pessoas não
responde ou perde a espontaneidade. A desvantagem na apresentação indirecta é que o
inquiridor pode influenciar o entrevistado.
A apresentação dos resultados – as centenas ou milhares de questionários têm que ser
codificados e ser submetidos a um tratamento mecanográfico próprio e esse tratamento
têm que ser feito com muito cuidado para não deturpar os resultados.

Técnicas usadas na observação directa (outras)


- Entrevista
- A medida das atitudes
- A observação participante
Entrevista – podem ser documentais, contendo informações sobre determinados dados
ou entrevistas de opinião. Podem ser dirigidas a determinadas personalidades políticas,
que se chamam entrevistas com personalidades ou entrevistas vulgares, feitas ao
cidadão comum.
A medida das atitudes – Um dos processos mais vulgares são os testes que servem para
avaliar conhecimentos, opiniões, aptidões das pessoas, etc.
A observação participante – consiste em examinar o grupo em si como colectividade.
Este método implica que o observador se misture de uma forma mais ou menos intensa
na vida dos grupos inserindo-se nas suas actividades.

O Fenómeno Político e o Estado

Estado – pode ser entendido em duas perspectivas:


1 – Estado comunidade – a sociedade de que fazemos parte e onde se exerce um poder
para a realização de fins comuns.
2 – Estado poder – referente ao poder político que se manifesta através de órgãos,
serviço e de relações de autoridade.

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O Estado é uma entidade abstracta que actua através dos seus órgãos e que é objecto de
interesse de várias ciências. Exemplo: Ciência política, ciência do direito constitucional,
a sociologia política, etc.
Segundo Freitas do Amaral, temos três acepções da palavra “Estado”
1 – Sentido internacional – é o Estado soberano, titular de direitos e obrigações na
esfera internacional (o seu objecto de estudo é o direito internacional)
2 – Sentido constitucional – é o Estado comunidade. É a comunidade de cidadãos que
nos termos do poder constituinte que em si própria (comunidade) se atribui e arroga,
assume uma determinada forma política para prosseguir os seus fins nacionais (Ciência
política, direito constitucional)
3 – Sentido administrativo – aqui o Estado é a pessoa colectiva pública, que no seio da
comunidade nacional desempenha sob a direcção do Governo a actividade
administrativa.

A delimitação do conceito jurídico de Estado em sentido político é feita através de três


elementos:
- O povo – elemento humano
- O território7 – elemento territorial
- O poder político – elemento funcional
Este tipo de Estado definido por estes três elementos é apenas um dos tipos possíveis de
Estado que é o Estado soberano nascido na Europa e difundido pelo mundo.
Definição de Estado, segundo Marcelo Caetano: “Estado é um povo fixado num
território de que é senhor e que dentro das fronteiras desse território institui, por
autoridade própria os órgãos que elaboram as leis necessárias á vida colectiva e impõem
a respectiva execução”8.

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O território abrange o domínio terrestre (solo e subsolo), o domínio marítimo, o domínio fluvial (rios), o
domínio lacustre (lagos) e o domínio aéreo. A aquisição do território pode ser originária ou derivada
(obtida por conquistas)
8
Princípio da legalidade democrática: Todos os Estados estão subordinados à respectiva Constituição que
tem por finalidade organizar e limitar o poder político. Cada Estado, com base na sua Constituição exerce
a função legislativa, produzindo leis às quais fica subordinado. Estes aspectos estão consagrados na nossa
Constituição (art.º 3.º)

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Até fins do século XVI, não existia Estado no sentido em que hoje é entendido pois, de
facto, não existia um território fixo, um poder que se exercia sobre o território e não
existia um vínculo de nacionalidade. Só a partir do século XVI, surge o Estado moderno
ou Europeu, no sentido que hoje lhe damos. Este surge em virtude de vários factores e
condições.

Condições espirituais:
1 – A influência do renascimento, a reforma e a contra – reforma.
2 – A passagem da cultura ligada à corte e aos claustros para a cultura de massas.
3 – O espírito científico que começa a ter uma grande importância e que se revolta
contra o regime religioso.

Condições sociais e económicas:


1 – A decadência da nobreza e da aristocracia rural
2 – Os descobrimentos marítimos e a expansão colonial
3 – A ascensão da burguesia
4 – O desenvolvimento do capitalismo
5 – A revolução industrial com o surgir da classe operária, do sindicalismo e dos
conflitos sociais.

Acerca da origem do Estado há várias teses:


1 – Teses naturalistas – que assentam na ideia de o homem é por natureza um ser
gregário que tende a viver em sociedade.
2 – Teses contratualistas - estas teses têm por base uma explicação racionalista com
raízes no renascimento medieval, tendo por substrato a ideia de o homem ser um animal
social com necessidade de viver em comunidade, maior ou menor, de modo a defender-
se melhor e aproveitar as vantagens dessa associação. Para isso, ele reúne-se em
comunidades organizadas, alienando parte dos seus direitos a favor da sociedade geral
em que se integra. Essa incorporação social faz-se através de um contrato social que se
desdobra: por um lado num pacto de união, que é a criação da sociedade organizada e,
por outro, num pacto de sujeição ou submissão, que é a subordinação à vontade da
maioria que escolhe os governantes que vão ditar e fazer executar as regras necessárias
à vida social.

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3 – Teses organicistas – que oscilam entre as seguintes vertentes:
- A que entende o estado como uma medida espiritual, ou seja, o espírito do povo.
- A que procura alargar ao domínio jurídico e ao domínio político os esquemas usados
pelos cientistas da natureza que estudam o Estado como um ser vivo.
4 – Tese marxista – para esta tese o Estado surge sem natureza própria perante a
economia, como consequência da sociedade sem classes e uma máquina de domínio de
uma classe sobre as outras.
5 – Teses voluntaristas – o Estado resulta para estas teses de um acto de vontade: de
pequenos grupos ou tribos, ter-se-á passado a outras amplas devido á acção de
indivíduos ou de grupos minoritários, cuja autoridade as massas acabaram por aceitar
com maior ou menor resistência.
6 – Teses Hegelianas – que entende o Estado segundo uma óptica predominantemente
filosófica, vêem o Estado com sendo o espírito objectivo e o indivíduo só como seu
membro que tem objectividade, moralidade e verdade.

Tipos Históricos de Estado

Há várias tipologias9:
Jellinek que distingue entre Estado oriental, Estado Grego, Estado Romano, Estado
medieval e Estado moderno;
Marxista: Estado despótico; Estado esclavagista; Estado feudal; Estado capitalista e
Estado socialista;
Jorge Novais: Estado na fase constitucional e Estado pré-constitucional;
Vamos estudar rapidamente a tipologia de Jellinek:
Estado Oriental
Teocracia, isto é, poder político reconduzido ao poder religioso. O monarca é adorado
como um deus. Há reduzidas garantias jurídicas dos indivíduos, larga extensão
territorial e aspiração a constituir um império universal.

Estado Grego ou polis


O Estado é a comunidade de cidadãos embora existam também os escravos.

9
Pode ser consultado na Enciclopédia Polis uma síntese de Freitas do Amaral, nas pg. 1156-1162

17
Fundamento da comunidade de cidadãos, inexistência ou deficiência de liberdade fora
do Estado. A pessoa não era um valor em si mesmo, tinha valor ligado só ao poder
político. Pouca importância ao factor territorial (pequena extensão do território; Cidade-
Estado). Diversidade de formas de governo variando de cidade para cidade.

Estado Romano – Século II antes de Cristo ao século IV depois de Cristo.


Desenvolvimento do conceito de poder político como poder supremo e uno, cuja
plenitude pode ou deve ser reservada a uma única origem e a um único detentor.
Consciência da separação entre o Estado (poder público) e o poder privado ( do pater
famílias). Distinção entre direito público e direito privado. São assegurados aos
cidadãos Romanos:
- Direito ao sufrágio
- Direito de contrair casamento legítimo
- Direito de celebrar actos jurídicos comerciais
- Direito a ascender à magistratura
A progressiva atribuição dos direitos aos estrangeiros deu lugar à formação do “ius
gentium”.
Expansão da cidadania num largo espaço territorial, contrastando com o carácter
meramente territorial das monarquias orientais e o carácter pessoal restrito das cidades-
Estado gregas.

O pretenso Estado medieval (Desde o século V até XV)


Durante a Idade Média não é possível considerar a existência de Estado pois a “ ordem
hierárquica da titularidade e exercício do poder político é feita numa relação de
soberanos e vassalos ligados por vínculos contratuais”. Em vez de um conceito de
imperium surge o conceito de dominium, em conexão com os princípios da família e da
propriedade: investidura hereditária; direito de primogenitura; inalienabilidade do
domínio territorial. As comunas, as corporações de mesteres, as universidades, etc.,
cada qual com a sua função formam-se e desenvolvem-se à margem de qualquer
estrutura administrativa organizada. Os direitos não são atribuídos individualmente mas
enquanto membros de um grupo.

Estado moderno ou Estado Europeu (Século XVI até aos dias de hoje)

18
O Estado moderno vai surgir com a crise do sistema político medieval, podendo
afirmar-se que o processo de criação dos Estados europeus se encontra concluído no
momento de assinatura dos Tratados de Vestefália (1648) que puseram termo à guerra
dos trinta anos. Na base do Estado moderno vai estar o conceito de soberania
desenvolvido por Jean Bodin.
Características:
Estado Nacional, isto é, o Estado tende a corresponder a uma nação ou comunidade
histórica de cultura, deixando de ser o factor de unificação a política, a religião, a raça, a
ocupação bélica.
Secularização ou laicidade – diferenciação entre o temporal e o espiritual; a
comunidade já não tem por base a religião e o poder político não prossegue fins
religiosos.
Soberania – poder supremo dá ao Estado a capacidade para vencer as resistências
internas e permite a afirmação da sua independência em relação aos outros Estados.
O processo de criação do Estado moderno vai implicar: a centralização do poder (acabar
com o poder feudal e com os privilégios atribuídos a determinados estratos sociais;
emancipação política em relação ao Papa e ao Imperador; ligação directa entre o Estado
e o indivíduo (tratamento igual para nobre e plebeu); poder concentrado no Rei com o
surgimento de uma administração burocrática (profissionalizada e hierarquizada).

Na evolução do Estado moderno, os autores fazem algumas distinções de Estado

• Estado corporativo ou estamental (cortes)


Fins do século XV ao século XVII . Estado de transição – O rei tinha o seu poder
limitado pelas ordens.
• Estado absoluto
Máxima concentração de poder no rei. É no rei que se concentra o poder, a palavra do
rei é lei. O rei era escolhido por Deus. O rei exercia o poder religioso, tinha plena
liberdade para atingir os seus fins.
Neste tipo de Estado há o Estado propriamente dito com soberania e há o Fisco,
entidade de direito privado e sem soberania. Só o Fisco entra em relações jurídicas com
os particulares e só contra este ( Fisco) é que os particulares podem reivindicar direitos
subjectivos.

19
• Estado de Polícia
Estado como uma associação para a consecução do interesse público, devendo o
príncipe, seu órgão ou primeiro funcionário, ter plena liberdade nos meios para o
alcançar.

• Estado Constitucional, representativo ou de direito


Constitucional porque assente numa Constituição que regula a organização e a
relação com os cidadãos, tendente à limitação do poder.
De Governo representativo porque há uma separação entre a titularidade e o
exercício de poder, sendo que a primeira está radicada no povo, na nação ou
colectividade; e o segundo atribuído a governantes eleitos ou representativos da
colectividade( de toda a colectividade e não de grupos como no Estado
estamental)
De Direito porque para garantia dos direitos dos cidadãos se estabelece a divisão
de poder e o respeito pela legalidade ( formal e mais tarde material).

Fases do Estado Constitucional


Após o final da II guerra mundial a evolução do Estado tem de ser compreendida tendo
em consideração os seguintes aspectos:
• Transformação do Estado num sentido democrático, intervencionista, social, em
contraposição com o laissez faire, laissez passer,… liberal;
• Aparecimento e desaparecimento dos regimes autoritários e totalitários;
• Emancipação dos povos coloniais;
• Organização da comunidade internacional e a protecção internacional dos
direitos do homem

Jorge Miranda defende que com o final do século e do milénio se verifica:


1. O desaparecimento de quase todos os regimes autoritários e totalitários;
2. Surgimento desde 1979 de um novo modelo de Estado diverso do Estado
europeu: o Estado do fundamentalismo islâmico em que se unem lei religiosa e
lei civil, poder espiritual e poder temporal;

20
3. Observa-se no Estado social de Direito sintomas de crise: crise do Estado-
providência por causas administrativas, financeiras, comerciais (quebra da
competitividade devido globalização da economia);
4. Degradação da natureza e do ambiente; desigualdades económicas entre países
industrializados e países não industrializados; situações de exclusão social
mesmo nos países mais ricos; manipulação comunicacional (4º poder); cultura
consumista de massas; desaparecimento de certos valores éticos familiares e
políticos.

Estado de Direito Liberal


Assente na ideia de liberdade e, em nome dela, empenhado em limitar o poder político
tanto internamente (pela sua divisão) como externamente (pela redução ao mínimo das
suas funções perante a sociedade). O Estado só teria como única tarefa a garantia da paz
social e da segurança dos bens e das vidas, de forma a permitir o pleno desenvolvimento
da sociedade civil de acordo com as suas próprias leis naturais.

Estado Social de Direito


Reconduz-se a um esforço de aprofundamento e de alargamento simultâneos da
liberdade e da igualdade em sentido social, com a integração política de todas as classes
sociais. Integra-se no modelo do Estado constitucional, representativo ou de Direito,
pois vai articular direitos, liberdades e garantias com direitos sociais; articular a
igualdade jurídica (à partida) com igualdade social (à chegada) e segurança jurídica com
segurança social; passagem do governo representativo clássico à democracia
representativa.

Estado Totalitário
É um tipo de Estado que assume todo o poder na sociedade e identifica a liberdade
humana com a prossecução dos seus fins.

Os Elementos do Estado
Não existe uma teoria geral sobre a origem e formação do Estado. De facto o Estado
não teve só uma origem mas muitas. Formou-se de maneira independente: em diferentes
lugares, épocas e por diversas formas, por conquistas externas, desenvolvimento
interno, ou por ambos.

21
Desenvolveu-se um território entre uma combinação de relações territoriais e
consanguíneas.
Contudo a noção de Estado Moderno que é uma sociedade política organizada, fixada
num determinado território e dotada de um poder institucionalizado para satisfazer os
interesses gerais dos seus membros só no século XVI entrou na terminologia política.
Ele surge na Europa com a idade moderna e sob as ruínas do fundamentalismo. Teve
por base o desenvolvimento da economia mercantil e a libertação da sociedade civil do
domínio temporal da Igreja e apoiou-se na concentração do poder nas mãos do príncipe
e no despertar da consciência nacional que vai permitir encontrar um fundamento e um
fim despersonalizado para o poder. Ao contrário do que acontecia nas sociedades
primitivas onde a autoridade política era em regra o prolongamento da autoridade
familiar e das sociedades feudais onde o poder era fortemente personalizado ( pois a sua
propriedade e o seu exército confundiam-se na pessoa daquele que mandava na
sociedade política moderna onde o poder está institucionalizado), quem assegura o
poder é uma instituição despersonalizada: o Estado.
O Estado moderno é pois uma instituição social dotada de um poder racional separado
da pessoa dos governantes e sentido pelos governados.
O conjunto de governantes e de governados formam a população do Estado que vive
num determinado território, segundo regras de conduta, definidas pelos órgãos do poder
e salvaguardadas pelas autoridades públicas (povo, território, soberania).

O Professor Marcello Caetano dá-nos uma definição sucinta de Estado como a de «um
povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse território
institui, por autoridade própria, órgãos que elaboram as leis necessárias à vida colectiva
e imponham a respectiva execução».
Segundo esta teoria, a organização política, jurídica de uma sociedade dispondo de
órgãos próprios, exercem o poder sobre determinado território, corresponde a um
conceito estático de Estado.
Direcção do estado:
- Chefe de Estado
- Parlamento
- Governo
Corpo do Estado:
- Órgãos administrativos

22
- Os tribunais
- O aparelho militar
Base do Estado:
- População

Olhando o Estado pela óptica do seu funcionamento integrado, verifica-se que a


pirâmide do poder que corresponde a uma visão estática desaparece na medida em que o
órgão superior do Estado é a representação popular integrada por fracções. As fracções
que formam a maioria sustentam o governo, apoiam projectos legislativos e defendem a
sua política. As outras fracções formam a oposição e criticam o governo. Assim, as
decisões da direcção do Estado dependem de uma vontade que se forma num ambiente
social do próprio Estado, ou seja as associações e a opinião pública bem como os
partidos políticos constituem canais de comunicação entre a sociedade e o aparelho do
Estado.
Cada partido está apoiado em certas organizações às quais pertencem a maioria dos seus
deputados, que defendem os seus interesses no parlamento.
A opinião pública que se expressa através dos meios de comunicação tem influência
directa nas decisões políticas, na direcção do Estado.
A maioria dos estímulos e dos impulsos políticos provêm do ambiente social,
transformando-se em decisões executórias, através do aparelho do Estado.

Estado – é uma sociedade organizada na qual existe um sistema de canais de influência


que nascem em cada um dos cidadãos e que através dos meios de comunicação, das
associações e partidos confluem em unidades cada vez maiores até desembocar nos
órgãos superiores do Estado. Através desses canais circula a energia que sustenta o
aparelho do Estado e o mantêm em movimento. Numa visão dinâmica, o Estado surge-
nos como uma sociedade política integrada caracterizada por uma base social e o
aparelho do estado.
Nação – é uma comunidade de base cultural, ou seja, é uma forma de sociedade
caracterizada por um passado comum, um desejo de viver em comum e aspirações
comuns. Embora a nação tenda a constituir um Estado, não há uma necessária
coincidência entre esses dois conceitos.
Há nações que ainda não são Estados ou que estão repartidos por vários Estados e há
Estados que não correspondem a nação. Por outro lado, se é verdade que, em regra se

23
parte da nação para se atingir o Estado, casos há também em que é o Estado que depois
de fundado vai formando uma comunidade nacional.

O Prof. Jorge Miranda aponta as seguintes características essenciais do Estado


Moderno:
- complexidade – de organização e actuação com cada vez maior diferenciação de
funções, órgãos e serviços;
- institucionalização do poder – que se encontra despersonalizado, pertencendo à
colectividade como ideia para além dos seus detentores concretos e actuais;
- autonomia – no sentido de uma dinâmica própria do poder e do seu aparelho frente à
vida social;
- coercibilidade – o Estado avoca a si o monopólio do uso legítimo da força;
- sedentariedade – fixação em determinado território;
- secularização - ou laicidade dos fins prosseguidos;
- poder soberano - concepção de poder em termos de soberania – poder supremo e
independente.

Elementos do Estado
Povo Território Poder
POVO
POVO, enquanto elemento do Estado, é aquela colectividade humana que afim de
realizar um ideal próprio de justiça, segurança e bem estar, reivindica a instituição
de um poder político privativo que lhe garanta o direito adequado às suas
necessidades e aspirações, dentro de um território que reclama como seu. Marcelo
Rebelo de Sousa define o povo como o conjunto de cidadãos ou nacionais de certo
Estado.
Povo é diferente de população que tem um sentido significado económico ( é um
conceito demográfico e económico e representa o conjunto de residentes em certo
território sejam cidadãos ou estrangeiros)
Sendo o povo a comunidade dos cidadãos ou súbditos importa determinar quais são as
pessoas que devem ser qualificadas dessa forma, tendo os Estados uma competência
exclusiva na definição das regras de aquisição e perda da cidadania, em conformidade
com o Direito Internacional.

24
NACIONALIDADE
Ao vínculo jurídico que se estabelece entre um indivíduo a uma comunidade política e
que os integra em certo povo atribuiu-se a designação de Nacionalidade
Existem dois critérios essenciais quanto à atribuição de nacionalidade:
- IUS SANGUINIS (usual nos estados mais antigos)
- IUS SOLI (usual nos estados mais recentes ou com grande influência de imigrações ou
emigrações)
Também é comum distinguir:
- a AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA da nacionalidade;
- de AQUISIÇÃO DERIVADA da nacionalidade.
A nacionalidade pode ser apreciada de duas vertentes:
- enquanto um vínculo jurídico-político;
- enquanto um direito fundamental (questão da dupla cidadania e dos apátridas)
É que a atribuição do vínculo jurídico-político de nacional a determinada pessoa
humana confere-lhe determinados direitos e deveres:
- de participar na vida política do Estado;
- de beneficiar da defesa dos seus direitos dentro do território do Estado;
- de beneficiar da defesa dos seus direitos fora do território do Estado;
- de participar na defesa do território;

TERRITÓRIO
O território é formado por um certo solo e toda a altura do espaço aéreo que lhe
corresponder e, quando banhado por mar, engloba igualmente a faixa das chamadas
"águas territoriais", que abrange normalmente 3 milhas marítimas a contar da costa,
bem como o "terra" que prolonga a costa, subjacente ao mar, até que se abra o
arquipélago profundo – a plataforma submarina ou continental.
Características do território enquanto espaço jurídico próprio do Estado:
- imposição da sua autoridade sobre certo território;
- a atribuição de personalidade jurídica internacional ao Estado depende da
efectividade desse poder;
- os órgãos do Estado encontram-se sempre sedeados no seu território;
- Exclusão de poderes concorrentes de outros Estados sobre o seu território;

25
- os cidadãos só podem beneficiar da plenitude de protecção dos seus direitos
pelo respectivo Estado no território deste.
Assim o poder do Estado sobre o seu território há-de ser:
- indivisível,
- inalienável,
- exclusivo.
Neste sentido, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa refere que a função do território é
tripla:
1 - Constitui uma condição de independência nacional;
2 -circunscreve o âmbito de actuação do poder soberano do Estado,
3 - Representa um meio de actuação jurídico-política do Estado.

PODER POLÍTICO
O Prof. Marcello Caetano dá-nos a seguinte definição: “Poder Político é a faculdade
exercida por um povo de, por autoridade própria (não recebida de outro poder), instituir
órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas
jurídicas, dispondo dos necessários meios de coacção”.
O Poder Político do Estado reveste-se das seguintes características próprias:
- É um poder constituinte, originário, que tem um fundamento próprio e não
está dependente de qualquer outro poder;
- É um poder de auto-organização, que tem por objectivo permanente e
continuado a criação de condições para a manutenção da segurança, a
administração da justiça e a promoção do bem-estar da comunidade política;
- É um poder de decisão que faz as opções consideradas e adequadas à
organização da vida da comunidade política, designadamente através da criação
de normas jurídicas.
O poder político é exercido por um conjunto de órgãos do Estado que são poderes
constituídos e que devem actuar na estrita observância das competências previstas na
lei, estando por isso limitado pelo Direito.

PODER POLÍTICO e SOBERANIA


De acordo com a doutrina de Jean Bodin, cada Povo erigido em Estado teria um
príncipe soberano, entendendo esta soberania como um poder supremo sobre o seu

26
território que nenhuma lei positiva limita, e um poder independente em relação a todos
os demais poderes humanos.
O Poder Político próprio do Estado é assim um Poder Político Soberano, ou seja,
supremo e independente.

PODER POLÍTICO e DIREITO


Poder político e soberania (aparelho do poder) (existem diferenças).
O poder político – é a faculdade exercida por um povo, por autoridade própria (não
recebida de outro poder), instituir órgãos que exerçam a soberania (o domínio) de um
território e nele criem e imponham normas jurídicas dispondo dos necessários meios de
coação.
A soberania – é uma forma de poder político que corresponde à sua plenitude, é um
poder político supremo e independente. Se uma colectividade tem liberdade plena de
escolher a sua constituição e de se poder orientar no sentido que bem lhe parecer,
elaborando as leis que julgar convenientes. Então essa colectividade forma um estado
soberano.
Mas nem sempre os Estados são soberanos. Há casos em que a colectividade tem
autoridade própria para exercer o poder político formando um Estado e contudo esse
poder político está condicionado por um poder diferente e superior. É o que se passa
com os Estados protegidos, entre outros.
O poder político é exercido dentro do Estado por um conjunto de órgãos do Estado,
designados como poderes constituídos, e que devem actuar na estrita observância das
competências previstas na lei.
O poder político é um poder limitado pelo Direito:
1 - pelo direito interno;
2 - pelo direito internacional; e,
3 – pelos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais.

ESTADO → BEM COMUM


PODER POLÍTICO → INTERESSES DOS GOVERNADOS

A Divisão do Poder Político


A divisão do poder tem a sua origem na contraposição das concepções de Montesquieu
e de Rousseau. Montesquieu faz a apologia de um regime de governo em que o poder

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esteja limitado pelo pluralismo político-administrativo e pela separação de poderes.
Rousseau tem uma concepção oposta pois entende que a única função soberana é a
função legislativa.
Jorge Miranda entende que na actualidade a ideia da separação de poderes continua a
ser válida, pelo menos nos seguintes termos:
1. Por imperativo de racionalidade jurídica e necessidade de ordem política deve o
poder estar dividido por órgãos com competências próprias de modo a que os
seus detentores se limitem reciprocamente;
2. Que não há coincidência entre os poderes (legislativo, executivo e judicial) e as
funções do Estado (política, legislativa, administrativa e judicial);
3. É essencial ao Estado de Direito a separação de poderes no que toca ao poder
judicial (reserva da função jurisdicional aos tribunais)
4. É essencial ao Estado de Direito a subordinação dos órgãos administrativos à lei;
5. A efectividade da separação de poderes depende da intervenção de diversos
partidos e forças políticas de poder;

CATEGORIAS de ESTADOS MODERNOS


Estados soberanos; Estados não soberanos; Estados semi-soberanos

Estados Soberanos: são os que desfrutam sobre um determinado território de um poder


supremo, sem igual, na ordem interna e de um poder independente, sem superior na
ordem externa. Para que o Estado seja soberano, o poder de querer e o poder de
comandar não podem estar subordinados a nenhum outro Estado.
Estados soberanos – são aqueles que na ordem interna não admitem que nenhum outro
poder se sobreponha ao seu e na ordem externa gozam todos os direitos na comunidade
internacional, a saber:
- Direito de fazer a guerra
- Direito de legação, direito de receber e enviar agentes diplomáticos
- Direito de celebrar tratos internacionais
- Direito de reclamação internacional
Os Estados soberanos dividem-se em:
- Unitários (Portugal)
- Federais (complexos) (EUA)

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Estado unitário – é um Estado simples em que há um só poder para todo o território.
Estados federais10 – são uma união de Estados membros, um só Estado central que se
rege por normas constitucionais comuns a todos os membros. Há dois tipos de
federalismo:
1 – As federações propriamente ditas ou perfeitas (EUA, Suíça, Canadá).
2 – Federações imperfeitas ou fictícias (Brasil, Austrália)

O Estado Federal (Federação ou União) tem o seu órgão legislativo (congresso ou


assembleia), o seu órgão executivo (presidente ou governo federal), os seus Tribunais
Federais, as suas leis e os seus exércitos.

O Estado Federal baseia-se na seguinte dualidade:


- numa estrutura de sobreposição - «a qual recobre os poderes políticos locais (isto é,
dos Estados federados), de modo a cada cidadão fica simultaneamente sujeito a duas
Constituições, - a federal e a do Estado Federado a que pertence - e ser concidadão de
actos provenientes de dois aparelhos de órgãos legislativos, governativos,
administrativos e jurisdicionais»;
- numa estrutura de participação - «em que o poder político central surge como
resultante da agregação dos poderes políticos locais, independentemente do modo de
formação»;
Jorge Miranda aponta os seguintes princípios directivos dos Estados Federais:
1º - Dualidade de "soberanias";

10
Três teorias sobre a construção do Estado federal:
1 – Teoria do Estado federal de dois membros
2 – Teoria do Estado federal de três membros
3 – Teoria dos chamados Estados-partes
No primeiro caso – os estados federados são parte da federação e estão a ela submetidos. Esta teoria
defende a primazia da federação sobre os Estados federados.
A segunda teoria –os Estados federados formam juntamente com a federação uma república federal e
atribui a esta república a qualidade de Estado. Esta teoria nega a primazia da federação sobre os Estados
federados.
A terceira teoria – a federação e os Estados federados são membros de igual categoria de um conjunto que
entre si mesmo, não tem qualidade estatal, ou seja, não dá a qualidade de Estado á república federal e
também nega a primazia da federação sobre os Estados federados.
Diferenças entre federação e confederação:
Confederação de Estados – é uma associação de Estados criados por um tratado internacional do qual
resulta a instituição de órgãos comuns para prosseguir certos fins, geralmente internacionais. Exemplo:
Cantões Suíços até 1848 e dos EUA entre 1781 e 1787.
Federação – é uma simples associação de Estados, embora muitas vezes tenha acabado por constituir um
Estado.

29
2º - Participação dos Estados Federados na formação e na modificação da Constituição
Federal;
3º - Garantia (a nível da Constituição Federal) da existência e dos direitos dos Estados
Federados;
4 º - Intervenção institucionalizada dos Estados Federados na formação da vontade
política e legislativa federal;
5º - Igualdade jurídica dos Estados Federados;
6º - Limitação das atribuições federais;

A questão da repartição de matérias entre Estado Federal e os Estados Federados pode


também dividir-se em duas formas:
- a repartição horizontal ou material (federalismo clássico - EUA e Suíça) «em que o
dualismo de soberanias envolve um dualismo legislativo e executivo (O Estado Federal
faz e executa as suas Leis, e o mesmo acontece com os Estados Federados)»
- a repartição vertical (federalismo cooperativo - Alemanha) «em que o Estado Federal
legisla e define as bases gerais da legislação e os Estados Federados executam e
desenvolvem as bases gerais»

Diferenças entre Estado Federal e Estado Unitário regional:


1ª - Ao nível do Poder Jurisdicional;
2ª - Ao nível do Poder Constituinte;
3º - Ao nível da atribuição do Poder residual.

Estados Não Soberanos são os que não desfrutam de nenhuma prerrogativa na ordem
externa, mas têm um poder superior na ordem interna. Há situações em que determinada
colectividade tem autoridade própria para exercer poder político sobre um determinado
território, constituindo um verdadeiro Estado, no entanto, esse exercício do poder
político está condicionado por um poder diferente e superior. Os Estados federados
são a única modalidade actual de Estados não soberanos embora também tenha
existido a união real11.

11
A união real – é uma associação de união de Estados que dá lugar á criação de um
novo Estado, no qual alguns dos órgãos dos Estados associados passam a ser comuns.
Exemplo histórico: Portugal e Brasil, entre 1815 e 1926.

30
Os Estados federados existem quando um certo número de colectividades territoriais,
politicamente organizadas decidem unir-se e aceitam mediante a adopção de uma
constituição comum, transferir para os órgãos da união os seus poderes soberanos de
ordem externa e reconhecem a estes órgãos competência para decidir sobre alguns
domínios da sua ordem interna.
Os Estados federados continuam a ser verdadeiros Estados12, pois podem elaborar as
suas próprias constituições e fazer leis no domínio da sua competência e dispõem de
meios próprios para fazer respeitar essas leis, mas não são Estados soberanos:
1. Porque as suas constituições têm que respeitar a constituição federal;
2. Porque as suas leis têm que se subordinar ás leis que provem dos órgãos da
federação, isto é devem obediência à constituição federal;
3. Porque não podem abandonar a federação por vontade própria;
4. Porque não podem manter relações internacionais próprias, pois perdem o
direito de legação, o direito de celebrar tratados, o direito de fazer a guerra e o
direito de reclamação internacional a favor do Estado federado.

Os Estados Semi-Soberanos são os que possuem certas prerrogativas na ordem externa


e reconhecem um poder igual ou superior na ordem interna. Por sua vez estes Estados
semi-soberanos dividem-se em:

- Estados protegidos de protectorados


- Estados exíguos (pequenos Estados)
- Estados neutralizados

Estado protegido13 de protectorado – é a situação que resulta de um acordo entre


Estados soberanos, pelo qual um Estado assume a obrigação de proteger outro,
recebendo total ou parcialmente a gestão das relações internacionais do Estado

12
Os ESTADOS FEDERADOS têm o seu órgão legislativo (parlamento ou assembleia), o seu órgão
executivo (governo estadual), os seus Tribunais Estaduais, as suas leis e a sua polícia armada.
13
Nos ESTADOS PROTEGIDOS existe: povo; território; poder político efectivo internamente. Mas está
dependente do Estado Protector para as relações internacionais, e para aconselhamento na resolução de
questões internas. Podemos assim considerar que o Estado Protegido é verdadeiramente um Estado, mas
não é soberano pois não é independente nem supremo nas suas decisões.

31
protegido e alguns casos, a própria política interna. Exemplo: Tunísia, Marrocos,
protegidos pela França; Manchúria pelo Japão.
O Estado protegido não perde totalmente a soberania, porque não tem que respeitar
a constituição do Estado protector, mas apenas o tratado que celebrou com ele.

Estados exíguos – são comunidades políticas que pela sua diminuta extensão
territorial e escassa população não tem condições de exercer plenamente a sua
soberania em especial ou “ius belli” (direito de fazer guerra). Exemplo: Andorra,
Mónaco e S. Marino.

Estados neutralizados – são aqueles que por vontade própria e de acordo com a
vontade manifestada pelas principais potências internacionais gozam de um
estatuto de neutralidade. Através da aceitação desse estatuto, o Estado
neutralizado abdica do direito de fazer guerra, excepto nas situações de legítima
defesa, perdendo a sua prerrogativa de soberania externa. Normalmente é aceite
a neutralização do Estado quando se pretende pôr fora das lutas políticas e
militares e dispor de zonas de paz em períodos de conflito global. Exemplo:
Suíça

ESTADOS UNITÁRIOS ≠ ESTADOS COMPLEXOS

Estados Unitários: aqueles em que existe apenas um poder político, podendo, no


entanto, existir uma descentralização política ao nível territorial, caso em que
distinguiremos entre Estados unitários centralizados e Estados unitários regionais.
Estado complexo ( ou composto): aquele que agrega diversos Estados num outro de
hierarquia superior, sendo que o poder político é repartido entre o Estado “mãe” e os
estados agregados, de tal modo que o povo e o território ficam sujeitos simultaneamente
a dois poderes políticos.

32
Estados Unitários
Descentralização Política: consiste na existência de províncias ou regiões que se
tornam politicamente autónomas por os seus órgão desempenharem funções políticas,
participarem ao lado dos órgãos estaduais no exercício de alguns poderes ou
competências de carácter legislativo ou governativo.
Descentralização política é distinta de:
- desconcentração;
- descentralização administrativa;
- regionalização;
- autonomia política;
- federalismo.
Não há descentralização jurisdicional em Estados Unitários.

Estado Unitário Centralizado Ou Clássico: os órgãos políticos nacionais conservam na


sua esfera todo o poder legislativo e executivo.
Estado Unitário Regional: atribuem-se, por um processo de descentralização política, a
entidades infra-estaduais «poderes ou funções de natureza política, relativas à definição
do interesse público ou à tomada de decisões políticas (designadamente, de decisões
legislativas)».
O Estado Unitário Regional pode dividir-se entre:
- integral e parcial;
- homogéneo e heterogéneo;
- regiões com fins gerais e regiões com fins especiais;

Estados Complexos (Ou Compostos)


A «União Real»: resulta da fusão entre dois Estados Soberanos, da qual resulta a
criação de órgãos comuns de exercício de parte do poder político que exercem em
cumulação com os órgãos de cada Estado Soberano que se mantém. (Ex. Portugal e
Brasil de 1815 a 1822).
O que é distinto da União Pessoal que resulta apenas da coincidência do titular do órgão
executivo do Estado (ex.: Portugal e Espanha entre 1580 e 1640).

33
Fins e funções do Estado

São fins do estado os objectivos comuns que um Povo visa alcançar pela instituição de
um Poder Político em determinado Território.
São funções do estado as «… actividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político
do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos que se lhes encontram
constitucionalmente cometidos.» (Jorge Miranda)
Os fins do Estado – estão sujeitos à evolução histórica e à variação da conjuntura
(económica e social)14

• Estado de Polícia: Estado Totalitário → Estado de poder absoluto →


regulamentação e fiscalização de todos aspectos da vida social.
• Estado Liberal: Advento dos Direitos do Homem → garantir a plena realização
das liberdades individuais dos cidadãos, → SEGURANÇA e JUSTIÇA, enquanto
garantia de dar a cada um o que é seu. no Estado de direito liberal, caracterizado
pelo abstencionismo e capitalismo concorrencial, do ponto de vista económico e por
um regime democrático liberal, do ponto de vista político, o objectivo primordial era
o da segurança.
O que interessava era que todos fossem iguais perante a lei, embora essa igualdade
se reconduzi-se apenas a um ponto de vista formal.
• Estado de Direito: Instituição dos princípios da democracia e da igualdade →
assegurar a igualdade de oportunidades → SEGURANÇA e JUSTIÇA,
enquanto garantia de liberdade colectiva e igualdade efectiva de direitos.
• Estado Social de Direito: Consciencialização social colectiva → garantia de
condições de dignidade humana mínimas → SEGURANÇA e JUSTIÇA +
BEM-ESTAR social, económico e cultural dos cidadãos. No Estado social de
direito, que reflecte a passagem do capitalismo concorrencial para o
intervencionismo passou a dar-se prevalência ao objectivo da justiça, quer
comutativa, quer distributiva, tratando-se de uma igualdade de situações

14
Segurança (individual e colectiva)
Justiça – satisfazer a ideia de justiça, da colectividade: Justiça comutativa e Justiça distributiva
Desenvolvimento económico e social – O Estado deve promover as condições de vida dos cidadãos,
manter o acesso a bens e serviços a toda a comunidade.

34
económicas e sociais mais do que uma mera igualdade formal dos direitos. O
Estado procura criar estruturas para defesa dos direitos económicos, sociais e
culturais, indo além da simples defesa dos direitos civis e políticos.

FINS DO ESTADO MODERNO (Estado Social de Direito)


• a SEGURANÇA - interna e externa.
• a JUSTIÇA - realização e fiscalização de normas que regulem a sociedade em
razão da satisfação do sentimento de Justiça da sociedade, que pode revelar-se
em dois sentidos:
1 - a Justiça comutativa
2 - a Justiça distributiva
• o BEM-ESTAR - bem estar não só físico, mas também económico, social,
cultural e mesmo ecológico. Não só na promoção destas condições, como na
garantia de acesso de todos aos serviços essenciais do Estado, e na obrigação de
prestar esse serviços em igualdade de circunstâncias a todos os cidadãos. É a
actual "cultura" dos serviços públicos.

Os fins do Estado da nossa constituição (CRP)

- Artigo 1.º - “Portugal é uma república soberana”


- Artigo 2.º - “Visa a realização da economia”
- Artigo 9.º , alíneas a, b, c e d – “Segurança colectiva e segurança individual, ….”

FUNÇÕES DO ESTADO

Funções do Estado – são as actividades levadas a cabo pelos órgãos do poder político,
com vista á realização dos fins ou objectivos consagrados na Constituição.
Cada órgão realiza um conjunto de actos independentes ou dependentes de actos de
outros órgãos, mas todos eles tendo em vista a prossecução de fins comuns.

As funções do Estado são:

- Função política (legislativa e governativa)


- Função administrativa

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- Função Jurisdicional

Classificação de Estado, segundo as actividades que desenvolvem:

- Estado gestor – O Estado assume a tarefa de organizar os meios necessários e de


desempenhar as actividades adequadas á realização do bem comum. Neste tipo de
Estado, ele realiza por si próprio as finalidades que certamente integram os seus
objectivos.

- Estado árbitro – O Estado confia inteiramente na iniciativa e na capacidade das


instituições públicas e deixa ao critério a escolha dos meios adequados á realização
dos fins da comunidade política, acredita que uma lei natural conduzirá à
harmonização final dos resultados da livre iniciativa. Nesta classificação o Estado
assume apenas o papel de árbitro, assegurando as regras mínimas da competição.

- Estado coordenador – embora confie na livre iniciativa dos indivíduos e das


instituições, o Estado não confia na existência de uma lei natural que conduza à
harmonia final dos resultados e prefere ser ele próprio a promover essa harmonia.

- Estado revolucionário – em vez de tomar as atitudes de disciplina e correcção das


estruturas existentes para realizar as suas finalidades concretas. O Estado pode
entender que para essa realização ele necessita de alterar as estruturas,
transformando-as de forma a atingir o que ele entende ser o bem comum.

O Estado gestor tem um plano imperativo.


O Estado concorrencial tem um plano indicativo
O Estado árbitro não tem plano
O Estado revolucionário não tem plano, é um Estado de excepção.

Muitas vezes, o Estado não é gestor, nem coordenador em sentido rigoroso e puro na
sua totalidade, já que o plano pode ser imperativo para o sector público e meramente
indicativo para os sectores privados e cooperativos (é o que acontece entre nós, pela
constituição).

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O Prof. Jorge Miranda, refere dois sentidos em que podemos analisar as FUNÇÕES DO
ESTADO:
1º - «… como fim, tarefa ou incumbência, correspondente a certa
necessidade colectiva ou a certa zona da vida social» - traduz a realização dos
fins do Estado enquanto legitimação do exercício do poder!
2º - «… como actividade com características próprias, passagem a acção, ou
modelo de comportamento» - que traduz a actividade desenvolvida pelo Estado
através dos seus órgãos, contínua a repetida, definida pelas estruturas e normas
jurídicas que conformam o seu comportamento»

Neste conceito de FUNÇÃO DO ESTADO enquanto actividade, o Prof. Jorge Miranda


distingue 3 características:
a) é uma actividade específica e diferenciada, pelos seus elementos (1) materiais –
as respectivas causas e resultados que produz – (2) formais – os trâmites e as
formalidades que exige - (3) orgânicas – os órgãos ou agentes por onde corre;
b) é uma actividade duradoura – prolonga-se indefinidamente;
c) é uma actividade globalizada – tem de ser encarada como um conjunto, e não
como uma série de actos avulsos.

O Prof. Jorge Miranda propõe uma DISTINÇÃO entre funções fundamentais e


funções complementares, acessórias ou atípicas:
FUNÇÕES FUNDAMENTAIS: Correspondem à divisão tripartida entre função política
(que incluí a função legislativa e a função governativa), função administrativa e função
jurisdicional.
FUNÇÕES COMPLEMENTARES, ACESSÓRIAS E ATÍPICAS: Traduzem-se em actos
do Estado, de carácter residual, que não se reconduzem às funções fundamentais ou
clássicas. São exemplos:
- a actividade do Ministério Público em processo penal;
- órgãos que interferem no exercício da função administrativa sem dependeram da
direcção ou superintendência do Governo – Comissão Nacional de Eleições.
Assim a FUNÇÃO POLÍTICA será:
- do ponto de vista material: a definição primária e global do interesse público,
interpretação dos fins do Estado e escolha dos meios adequados para atingir em cada
conjuntura esse fins; direcção do Estado;

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- do ponto de vista formal: liberdade e discricionariedade, quer quanto ao conteúdo
(desde que respeitando as normas Constitucionais) quer quanto ao tempo e
circunstâncias de actuação (ausência de sanções jurídicas específicas);
- do ponto de vista orgânico: competência atribuído a órgãos ou colégios em conexão
directa coma forma e sistema de governo, com pluralidade de órgãos , ausência de
hierarquia e apenas relações de responsabilidade jurídica.
A FUNÇÃO ADMINISTRATIVA será:
- do ponto de vista material: a satisfação constante e quotidiana das necessidades
colectivas, prestação de bens e serviços;
- do ponto de vista formal: iniciativa no sentido das necessidades, e parcialidade na
prossecução do interesse público.
- do ponto de vista orgânico: dependência funcional e subordinação.
A FUNÇÃO JURISDICIONAL será:
- do ponto de vista material: a declaração do direito, decisão de questões jurídicas, seja
em concreto seja em abstracto;
- do ponto de vista formal: passividade (actua apenas perante a iniciativa de outrem) e
imparcialidade;
- do ponto de vista orgânico: independência de cada órgão (sem prejuízo do direito de
recurso), e, em princípio atribuição a órgão específicos, os Tribunais, formados por
juízes.

Artigo 61.º - Iniciativa privada, cooperativa e auto gestionária.

Artigo 82.º - Os sectores da propriedade dos meios de produção.

Estrutura orgânica do aparelho do poder:

A colectividade constituída em sociedade política actua como uma unidade, tem


interesses colectivos, só seus, de atingir e para os realizar necessita de impor a sua
vontade
É uma pessoa colectiva e para formar e afirmar a sua vontade, a pessoa colectiva precisa
de uma organização, ou seja, estrutura-se segundo uma diferenciação de funções, na
qual se distinguem as missões e as tarefas a desempenhar pelos indivíduos e se repartem
os poderes e deveres que competem a cada um.

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Aparecem portanto, certos elementos aos quais é reconhecida de forma expressa ou
tácita a autoridade para exprimir a vontade colectiva, são os cargos.
Nas sociedades antigas não se notava, de início, pela separação entre os cargos e as
pessoas que os exerciam, havia a chamada personalização do poder. Mas a sucessão dos
indivíduos, nos cargos, veio a fazer salientar a diferença entre o cargo em si e o
respectivo titular.
Aos cargos, colégios de assembleias, aos quais, segundo a ordem constitucional o poder
de manifestar uma vontade imputável ao Estado, chamam-se órgãos do Estado.
O facto de numa colectividade existirem membros seus que actuam como titulares dos
seus órgãos, ou seja, como encarregados de formar e manifestar a vontade da
colectividade, sem ao mesmo tempo deixarem de tratar os seus interesses individuais,
exige o estabelecimento de normas que digam com o é que o individuo deva agir
quando actua como titular do órgão do Estado.

A ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO DO ESTADO


O Estado desdobra-se em duas facetas:
- ESTADO-SOCIEDADE (ou colectividade) - que representa um povo, senhor de um
território, ao serviço do qual existe um poder organizado;
- ESTADO-PODER (ou governo) - que representa a estrutura pela qual se exerce o
poder político, de certa forma, representa a institucionalização do poder político.
“O ESTADO-PODER”
ESTADO

PESSOA COLECTIVA

PERSONALIDADE JURÍDICA
→ distinta de cada uma das pessoas físicas que compõem a comunidade e dos próprios
governantes e
→ com capacidade para manter relações jurídicas com outras entidades, tanto no
domínio do Direito interno como no do Direito Internacional, tanto na veste de Direito
Público, como sob a do Direito privado
ESTADO

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PESSOA COLECTIVA

ORGANIZAÇÃO

actua através de ÓRGÃOS
Órgãos do Estado: são as entidades às quais a ordem constitucional reconhece o poder
de manifestar a vontade imputável ao Estado.
O estado manifesta-se na vida jurídica através dos seus órgãos e os titulares dos seus
órgãos quando actuam nos termos da lei produzem actos imputáveis aos órgãos e que
como tais passam a ser imputados ao Estado. Isto significa que a vontade do indivíduo
que actua como órgão do Estado é imputada ao Estado.

Órgão do Estado – é o centro autónomo institucionalizado da invocação de uma


vontade que é atribuída ao Estado. Cada órgão diferencia-se dos demais, pelo conjunto
de poderes jurídicos que recebe para esses fins e estrutura-se em função desses poderes
e insere-se na estrutura do Estado.

O conceito de órgão implica quatro elementos inseparáveis15:

1 – A instituição (ou oficio)


2 – A competência – o complexo de poderes funcionais que são cometidos ao órgão, ou
seja, a parcela de poderes públicos que lhe cabe. A competência pode ser delimitada em
razão da matéria, da hierarquia, do território, do tempo e do valor dos actos. A
competência deriva obrigatoriamente da lei, não se presume.
3 – O titular – a pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que em cada momento
encarnam a instituição e formam a vontade do órgão.
4 – O cargo ou mandato – quando se trata de órgão electivo (são eleitos).

CLASSIFICAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO ESTADO


Classificação Estrutural:
15
Conceitos essenciais:
competência dos órgãos do estado - complexo de poderes funcionais que estão cometidos a
determinado órgão e que determinam a capacidade de acção do órgão, na medida em que o órgão
do estado não pode actuar sem ser em conformidade com a competência que está prevista na lei.
"titular" (ou "titulares") dos órgãos do estado - pessoas físicas através das quais os órgãos do
Estado actuam, e cujos actos imputámos aos órgãos do Estado

40
a) singulares / colegiais;
b) simples / complexos;
c) electivos / não electivos;
d) representativos / não representativos;
e) constitucionais / não constitucionais;
f) de existência obrigatória / de existência facultativa;
Classificação Funcional
a) deliberativos / consultivos;
b) a se / auxiliares;
c) de competência originária / de competência derivada;
d) legislativos / governativos / administrativos /
jurisdicionais;
e) de decisão / de controlo / de fiscalização / de garantia;
Classificação Estruturais-Funcionais
a) externo / internos;
b) políticos / não políticos;
c) primários / vicários;
d) centrais / locais;
e) hierarquizados / não hierarquizados

Os órgãos superiores do Estado


Os Estado têm usualmente 3 órgãos de direcção: o Chefe de Estado, o Parlamento (ou
assembleia) e o Governo.

O Chefe do Estado
Quase todos os Estados tem um órgão supremo que garante a sua unidade e que
genericamente se designa por chefe do estado. A chefia do Estado pode revestir um
carácter singular (Imperador, Rei, Presidente da República) ou um carácter colegial (o
caso de duunviratos e triunviratos em que a chefia do Estado era feita por 2 ou 3, e os
directórios que são as chefias colegiais). O chefe de Estado pode ser designado por
herança (monarquia), por cooptação (nos sistemas colegiais) ou eleição.
A designação do chefe do Estado podem variar de país para país e de regime político
para regime político, consoante as épocas, podendo limitar-se á mera representação

41
protocolar do Estado ou abranger o exercício efectivo da autoridade no domínio
governativo.

Funções – quando às assembleias políticas o chefe do Estado pode ser considerado um


mero delegado delas, não possuindo poderes próprios ou noutro extremo ao chefe do
estado compete fazer eleger as assembleias políticas, convocar as suas sessões, adiá-las,
interrompe-las ou até dissolve-las.
- Em relação à legislação também pode haver várias hipóteses:
1 – O chefe do estado não tem qualquer intervenção na elaboração e publicação das leis.
2 – Tem uma intervenção que se reduz à declaração solene de que a lei foi feita pelo
órgão competente e manda publicar a lei (promulgação).
3 – Direito a demorar a promulgação das leis que lhe forem enviadas pelas assembleias
legislativas e a devolver-lhas para que repensem certas disposições, pedindo que de
novo a discutem e votem (direito de veto suspensivo).
4 – Exigência de concordância por parte do chefe do Estado para que a lei seja posta em
vigor. Esta intervenção da vontade do chefe do Estado tem carácter constitutivo na
formação na formação da lei e chama-se ratificação.
5 – O chefe do Estado é o único legislador (ditaduras, monarquias absolutas) ou em
situações de perigo excepcional ou de calamidade pública.

- Quanto às nomeações dos ministros, as soluções mais correntes são:


1 – O chefe do Estado não tem qualquer iniciativa nesta matéria, limita-se a acatar a
escolha feita pelo paramento ou pelo chefe do partido que ganhou as eleições, ou no
caso das ditaduras, do partido único.
2 – Pode escolher os ministros (o governo), mas apenas dentro das indicações
parlamentares. Mas a permanências dos ministros no poder dependerá a partir dai dos
votos de confiança das assembleias políticas.
3 – Pode escolher os ministros por sua livre vontade sem depender da indicação ou dos
votos das assembleias políticas ou dos partidos.

- Quanto ao exercício do governo:


1 – O chefe do Estado alheado da intervenção nas decisões governativas e apenas tem o
direito de ser informado e o direito de aconselhar.

42
2 – Embora não participe no exercício efectivo do governo, acompanha este de muito
perto e pode desempenhar de forma efectiva certas atribuições, conferidas por lei.
Exemplo: nomeação de altos funcionários, direcção de organismos superiores da defesa
nacional ou de relações internacionais.
3 Detém por direito o poder governativo, embora deva entregar o exercício a um
primeiro-ministro, perante ele responsável, com maior ou menor liberdade de orientação
da política interna e externa.
4 – O chefe do Estado é simultaneamente chefe do governo e exerce em colaboração
com os secretários ou ministros da sua confiança, as funções governativas.

- Quanto à função judicial: temos várias hipóteses:


1 – O chefe de Estado não tem quaisquer atribuições relativas aos tribunais e á execução
das penas.
2 – Pode com ou sem a referenda do ministro da justiça, exercer atribuições de
clemência e indultando ou comutando penas criminais.
3 – Preside ao órgão superior da magistratura, ajudando com ele na organização dos
tribunais.
4 – Em certos casos, o chefe de Estado exerce a função de julgar.

No Estado Português os poderes do Presidente da República estão descritos na C.R.P.


nos artigos 120.º a 140.º

O PARLAMENTO
- órgão colegial por excelência;
- cabe primordialmente a função legislativa;
- podem ter igualmente funções consultivas e de fiscalização;
- finalmente podem intervir no processo de formação ou destituição do governo.
A existência das assembleias representativas ou políticas (parlamentos), tornou-se
comum á maioria dos Estados contemporâneos, sendo as excepções a esta regra poucas
(ditaduras militares, regimes revolucionários e oligarquias tradicionais). A natureza, os
poderes, funções, estrutura e funcionamento dos parlamentos variam muito de país para
país, mesmo com sistemas constitucionais semelhantes. Essa variação depende de
muitos factores, designadamente da estrutura vertical do Estado, o sistema eleitoral, o
sistema de partidos e o sistema de governo.

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Natureza e composição dos parlamentos
Podem integrar membros de uma classe aristocrática, designados por herança ou
pessoas nomeadas intencionalmente ou temporariamente pelo chefe do Estado ou
governo, ou pessoas delegadas de vários grupos de interesses de profissionais ou
representantes dos partidos políticos eleitos por sufrágio que pode ser directo ou
indirecto, universal ou restrito.

Poderes e funções dos parlamentos


Variam de país para país e de acordo com o sistema de governo. Geralmente compete-
lhes a votação das leis financeiras: lançamento de impostos e autoliquidação anual da
sua cobrança; a fixação da receitas e despesas do Estado através da aprovação do OGE
(orçamento geral do estado). Pertence-lhes, também, exclusiva ou cumulativamente com
outros órgãos, a função legislativa, estando esta função cada vez mais reduzida á
aprovação das bases gerais dos regimes jurídicos e ao condicionamento da autorização
por eles dada ao governo para publicar leis e decretos-leis.

Na teoria clássica da separação de poderes o poder legislativo cabia exclusivamente ao


parlamento, competindo ao governo e à administração a tarefa de executar as leis
adoptadas. Mas as tendências constitucionais contemporâneas caracterizam-se pela
redução progressiva do papel dos parlamentos na elaboração das leis.
Actualmente, na generalidade dos Estados as leis são mais produtos dos governos do
que dos parlamentos. As razões para esta desvalorização da função legislativa e do
declínio dos parlamentos são as seguintes:
- A multiplicação das tarefas legislativas exigidas pelo estado de direito social
(Welfarestate) ou Estados de providência.
- A tecnicidade cada vez mais exigida.
- A lentidão dos processos parlamentares, que não se coaduna com as exigências
crescentes.
- O receio da impopularidade resultante de votações de medidas que desagradem aos
eleitores.
- A razão política que dando competência legislativa ao governo, tal constitui um meio
de evitar determinadas leis fossem discutidas no parlamento e sujeitas á contestação da
oposição parlamentar.

44
Estrutura e funcionamento dos parlamentos

Também variável conforme a constituição da cada país.


Os parlamentos podem ser de dois tipos estruturais:
Monocamarais – uma só assembleia
Bicamarais – Assegurados por duas assembleias
As câmaras altas são, em alguns casos, não eleitas (Grã Bretanha) ou então parcialmente
eleitas. A regra é a eleição, embora por um processo diferente do da primeira câmara.
No que diz respeito ás funções das câmaras altas, elas também são diferentes de Estado
para Estado.
Em certos países existe o bicamaralismo perfeito: significa que as duas câmaras
concorrem em igualdade de circunstâncias e igualdade de poderes para a elaboração das
leis e têm a mesma competência para fiscalizar a actividade do governo e da
administração pública. Noutros Países, a segunda câmara tem poderes legislativos e de
fiscalização política menos amplos que a primeira. Neste sistema só a câmara baixa
(primeira câmara) tem poderes para deliberar e o seu voto é suficiente para fazer
aprovar as leis. A câmara alta (segunda câmara), serve para sugestões de alterações,
aditamentos de impressões, levando a que se pondere e redija melhor as leis, podendo
dispor de voto suspensivo ou de mera competência consultiva.
Quer seja bicamaralismo ou monocamaralismo, os parlamentos podem funcionar em
reuniões plenários em que são convocados todos os membros ou em comissões que
podem ser permanentes ou especiais (comissões ad doc) ou em secções (que são grupos
de trabalho).

O Governo
- composto por Ministros;
- compete a autoridade de orientação política dos serviços públicos e a chefia desses
serviços e pessoal
- ao governo cabem, assim, as funções político-executivas e administrativas, embora
possam também ter atribuídas funções legislativas reduzidas;

45
Também chamado de executivo – as suas estruturas e competências variam de Estado
para Estado, consoante o tipo de relações que estabelecem entre os três órgãos supremos
do estado: O chefe do estado, o parlamento e o governo.

Aulas seguintes a 12-10-2006


SISTEMAS POLÍTICOS (ou de Governo)

Os sistemas políticos (ou de governo) definem-se pelo relacionamento dos diferentes


órgãos encarregados do exercício do poder, ou seja, reflectem a estrutura interna do
poder político: a existência ou não de pluralidade de órgãos de poder, as suas
competências, relações e interdependências.
O principal elemento dos sistemas políticos é a sede do poder e todo o processo
político se traduz, essencialmente, na luta pela sua ocupação e manutenção. Há que
distinguir entre a sede do exercício do poder e a sede de apoio; e entre a sede de apoio
do poder e sede efectiva ou real.
A sede do exercício do poder é o órgão ou conjunto de órgãos sem o consentimento
dos quais o poder não está disponível. É o elemento que mais interessa para
identificar o sistema de governo pois ele diz respeito ao próprio aparelho do poder. A
sede de apoio diz respeito aos grupos, aos extractos sociais e classes que estão numa
relação de obediência consentida com o aparelho do poder e que quer de uma forma
activa, quer de uma forma passiva, não formam uma resistência que implique uma fonte
de competição pela ocupação do poder ou mesmo o eventual uso da força.
A sede efectiva diz respeito aos grupos de órgãos que têm capacidade de influenciar ou
até de controlar o exercício do poder.
A entrega da sede do exercício do poder ao partido maioritário é uma
consequência do princípio da legitimidade democrática. Ela anda associada à sede
de apoio, pois se esta deixar de se manifestar, quer de modo activo através da militância,
quer de modo passivo, baseado numa obediência silenciosa ou no alheamento á sede do
exercício do poder, dificilmente poderá continuar a exerce-lo. Em regra, as

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Constituições situam a sede do exercício do poder num dos órgãos supremos do
Estado. É esse órgão que responde perante o eleitorado, pela política geral da
governação do país e é essa importância em relação aos outros órgãos de soberania
que permite identificar o sistema de governo.
Assim conforme os órgãos legalmente proeminentes (importantes) do aparelho de
Estado são: o parlamento e o governo ou o chefe do Estado e a assembleia parlamentar,
encontramo-nos perante sistemas de governo parlamentares ou presidencialistas, ou
de convenção ou assembleia, ou regimes mistos entre os quais o semi-
presidencialista. Para esta caracterização será necessário atendermos a 3 conceitos:
- separação de poderes;
- dependência, independência ou interdependência dos órgãos;
- responsabilidade política;

Sistema de governo
- Sistema presidencialista
- Sistema de assembleia ou convenção
- Sistema semi-presidencialista

Sistema de governo parlamentarista:

Exemplo: Grã Bretanha, Alemanha, Itália


Neste sistema, o governo compreende, em regra, um chefe do executivo, que se pode
chamar primeiro-ministro, presidente do conselho, chanceler; também tem ministros
com funções e competências diversas e, ainda, tem secretários de Estado.
Neste sistema, o chefe de Estado não pertence ao governo nem detém qualquer
intervenção na política governamental. A política geral do governo é definida pelo
Conselho de Ministros sob orientação do chefe do executivo (primeiro-ministro). No
entanto, a formação do governo depende do parlamento e é perante este responsável, a
título individual ou colectivo.16
Assim:
• a função política é exercida pelo Governo e Parlamento;

• o Governo é um órgão colegial que resulta da composição e nomeação do

Parlamento;

• o Governo depende da confiança e responde politicamente directamente ao

Parlamento;

16
Muitas vezes, os ministros fazem parte do parlamento, sendo simultaneamente deputados. Neste
sistema, em particular na Grã Bretanha, alguns ministros têm funções predominantemente políticas,
enquanto outros desempenham funções predominantemente administrativas e os secretários de Estado
exercem funções administrativas

47
• o Chefe do Governo é distinto do Chefe de Estado e usualmente é o líder da

maioria parlamentar;

• o Chefe de Estado está reduzido às suas funções de representação protocolar,

com reduzidas funções de exercício efectivo de poder político.

O parlamentarismo é um sistema político de governo que se caracteriza essencialmente


pelas seguintes regras jurídicas:
- Responsabilidade do governo perante o parlamento
- Reconhecimento do parlamento como fonte de todos os poderes
- Ausência da democracia directa
- Eleição do chefe do Estado por sufrágio universal
- Direito de dissolução do parlamento pelo chefe de Estado
- Acumulação de poderes e funções

O poder executivo neste sistema está dividido por dois órgãos: o chefe do Estado que
não tem responsabilidade política e exerce apenas poderes formais, muitas vezes de
simples representação; e o governo que dirige a acção do poder executivo, assumindo a
direcção política sob a orientação do chefe do Estado.
O governo resulta das eleições directas e universais, pois a sua nomeação obedece aos
resultados das eleições parlamentares. Na medida em que o governo é investido pelo
chefe do Estado e com o apoio do parlamento, o governo só pode exercer as suas
funções, se tiver a confiança deste ou, dito de outra forma, se tiver o apoio da maioria
dos deputados.
O parlamento eleito directamente pelos cidadãos, dispõe de muitos meios para controlar
a acção do governo, além de ter a faculdade de elaborar leis, sem as quais o executivo
não poderia governar. O Parlamento pode exigir ao Governo as explicações que entenda
serem necessárias; podem criticar a acção governativa e apresentar moções de censura,
de confiança, etc..
Quando o Governo não dispuser da confiança do Parlamento, terá de se demitir ou
ser demitido. É esta responsabilidade política do governo perante o parlamento
que constitui a característica fundamental do sistema parlamentar. Este aspecto
reduz o papel do chefe do Estado a uma importância muito pequena.

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A ligação estreita entre o governo e o parlamento pressupõem que estes dois órgãos
colaborem nas funções do Estado. O executivo colabora na função legislativa e o
Parlamento na função governativa, dando ao Governo meios para agir.
Uma outra característica do sistema parlamentar reside no facto de o chefe de Estado,
em alguns regimes republicanos, não ser eleito por sufrágio universal sendo escolhido
por um colégio restrito cuja composição varia de país para país.

Sistema de Governo Presidencialista

Neste sistema, o governo engloba o chefe do Estado que é o chefe do executivo e a


quem compete definir a política geral do país. Além do chefe do Estado existem os
secretários de estado que são meros colaboradores do Presidente e exercem funções
predominantemente administrativas. Exemplo: EUA
Neste sistema puro, o governo é independente do parlamento, quer quanto à formação,
quer quanto à subsistência, pois nem o parlamento pode demitir o governo, nem este
pode dissolver o parlamento.
Assim:

• o Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e directo;


• o Chefe de Estado é o Chefe do Governo, formando em total liberdade do
Parlamento;
• o Chefe de Estado possuí veto suspensivo das leis do Parlamento;
• o Chefe de Estado não possuí poder de dissolução do Parlamento
• o Parlamento não pode demitir o Chefe de Estado /Governo
• Total independência entre executivo e legislativo
• Não existe um Governo enquanto órgão colegial autónomo, o Executivo é um
órgão singular constituído exclusivamente pelo Presidente.

Este sistema funda-se no princípio da separação dos poderes; na eleição do chefe do


Estado por sufrágio universal; na atribuição ao presidente da república das funções do
chefe de Estado e chefe do executivo; na independência do governo perante o
parlamento e na responsabilidade do presidente da república dissolver o parlamento.
Nestes sistemas, as instituições estão concebidas de forma muito semelhante à ideia de
separação dos poderes tradicional. Por um lado, há órgãos que têm a incumbência de
traçar as linhas gerais da acção política mediante a função legislativa (o parlamento) e
outro encarregado de executar as leis (o presidente). Ambos os órgãos têm carácter
representativo sendo independentes quanto à origem e quanto ao exercício dos poderes

49
que a Constituição lhes confere. Essa independência, que difere e contrasta com o que
se passa nos sistemas parlamentares, torna esses dois órgãos responsáveis perante o
eleitorado, dispensando a existência de um terceiro órgão que tenha por finalidade
resolver os desentendimentos que possam aparecer entre eles.
O poder judicial, por seu lado, pertence a um supremo tribunal, cujos juízes são
designados pelo Presidente sobre proposta e com o consentimento da câmara alta do
parlamento (Senado). O Presidente da República eleito por sufrágio universal é
simultaneamente o chefe do Estado e chefe do governo, competindo-lhe nesta qualidade
assegurar o exercício da função executiva. Legitimado que é por sufrágio universal, o
Presidente da República não pode ser destituído pelo Parlamento, excepto por acusação
criminal. Por sua vez, também o Parlamento eleito de igual modo por sufrágio universal
é independente do Presidente. Este não pode dissolvê-lo, nem pode fazer parte dele.
O princípio da separação dos podres e o princípio da independência são contudo
limitados por regras constitucionais e pela própria prática política que definem as
normas de relacionamento entre esses dois órgãos. De facto, o Presidente da República
tem a faculdade de vetar as leis aprovadas pelo parlamento, forçando este a revê-las.
Tem, também, a possibilidade de propor ao Parlamento projectos de lei, quer de uma
forma directa por meio de mensagens que lhe dirige; quer de forma indirecta, através
dos membros do parlamento que pertençam ao seu partido político.
O Parlamento dispõe de meios que lhe permite influenciar a acção do Presidente da
República, como por exemplo recusando aprovar certas nomeações; aceitando ou
recusando o orçamento geral do Estado ou criando comissões de investigação acerca de
determinados assuntos. 17
.
Sistemas de convenção ou assembleia
Neste sistema, a política geral do governo é traçada pela assembleia e os membros
do governo desempenham funções predominantemente administrativas. O governo
faz parte do parlamento, sendo por ele nomeado e perante ele responsável.
Caracterizam-se pela supremacia expressa do parlamento sobre o governo. Nas
assembleias representativas concentram-se por delegação do povo todos os poderes
soberanos registando, em regra, formalmente o princípio da separação dos poderes.

17
Nos sistemas presidencialistas os partidos políticos desempenham, também, um papel relevante, uma
vez que o estando o Presidente da República no centro da vida política e sendo ele um alto dirigente do
partido vencedor das eleições presidenciais não é difícil nem de estranhar que ele exerça essa influência (
ex.EUA)

50
Neste sistema não existe poder executivo distinto da assembleia pois os membros
do governo são escolhidos por ela, de entre os seus membros, e podem por ela ser
demitidos. Tanto o poder legislativo como o poder executivo pertencem à assembleia e
o governo é uma espécie de comissão da assembleia.
Em regra neste sistema não há chefe de Estado singular; a assembleia representativa
elege entre os seus membros uma comissão permanente ou conselho de Estado.18
Este sistema foi instituído em França durante um período revolucionário, entre 1973 a
1975, e foi, também, o sistema usado nos países comunistas e, ainda, da confederação
helvética (Suíça).

Sistemas Mistos
Os três sistemas de que falamos são sistemas puros, que correspondem ao sistema de
governo dos E.U.A, da Grã-Bretanha, e ao que vigorou na URSS até 1989/1990. No
entanto, esses sistemas nem sempre têm as mesmas características totalmente idênticas,
pois há sistemas de governo que não são mais do que uma mistura de características do
sistema presidencialista e parlamentar e que são designados por sistemas mistos, como o
caso do sistema semi-presidencialista. Esses sistemas de governo mistos podem assumir
uma preponderância dos elementos presidencialista (França), ou podem revestir uma
predominância dos elementos parlamentares, ou até podem assumir o equilíbrio dos
dois sistemas, todo dependendo das características concretas do Estado em questão,
contando-se como factores que podem exercer influência num determinado domínio,
que são os seguintes:
1 – A existência ou não de um governo maioritário.
2 – A consonância ou dissonância entre a eventual maioria parlamentar e a
maioria política que apoia o presidente.
3 – O facto de o líder do partido maioritário ser o chefe do Estado ou o primeiro-
ministro.
4 – A personalidade de cada um dos titulares dos órgãos.

Sistema de Governo :

Componente parlamentarista:

18
Nestes sistemas, o governo é colegial. Há um órgão colectivo praticamente sem chefe. Na Suiça o
presidente do conselho federal é escolhido rotativamente pelos seus membros pelo período de um ano.

51
• o Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e directo;
• o Chefe de Estado é o Chefe do Governo, formando em total liberdade do
Parlamento;
• o Chefe de Estado possui veto suspensivo das leis do Parlamento;
Componente presidencialista:
• o Chefe de Estado não possui poder de dissolução do Parlamento;
• o Parlamento não pode demitir o Chefe de Estado /Governo;
• Total independência entre executivo e legislativo;
• Não existe um Governo enquanto órgão colegial autónomo, i.é, o Executivo
é um órgão singular constituído exclusivamente pelo Presidente.

Sistema misto – o esquema institucional é semelhante ao do sistema parlamentar, pois


também existe um chefe de Estado e um chefe do governo, e o executivo só pode
governar se tiver a confiança do parlamento. Contudo, o chefe do Estado é eleito por
sufrágio universal, não se limitando, no entanto, a ter uma função meramente
representativa ou protocolar, como no sistema de parlamentar pois, ao contrário, é ele
quem dirige o governo e toma as grandes decisões políticas, sem ser responsável por
elas perante o parlamento.
O chefe do Estado é o elemento fundamental do sistema tendo amplos poderes. O
governo que é responsável perante o parlamento que tem meios para controlar a sua
acção através de desaprovação do programa ou da aprovação de moções de censura, só
pode exercer as suas funções com o apoio do chefe do Estado.
Uma das principais características deste sistema consiste, portanto, no facto de o
executivo depender do Presidente da República e do Parlamento. Uma vez que estes
dois órgãos são eleitos separadamente por sufrágio universal, poderá levar a que o
parlamento possa dispor de uma maioria contrária à maioria que apoia o Presidente,
(tornando a situação complicada), pois neste caso o Presidente pode dissolver o
parlamento e convocar novas eleições, embora isso possa não solucionar o problema, se
os resultados eleitorais voltarem a confirmar a mesma maioria eleitoral do parlamento.19

19
Neste sistema misto de presidencialismo e parlamentarismo, o governo integra o chefe do Estado,
integra o primeiro-ministro, os ministros e os secretários de Estado, podendo haver subsecretários. O
chefe do Estado preside normalmente ás reuniões do conselho de ministros e pode exercer certas
actividades governativas de política externa. O chefe do Estado nomeia e demite o primeiro-ministro e os
ministros também são nomeados por ele. Apesar de serem propostos pelo primeiro-ministro, os ministros
são responsáveis perante o presidente da república e perante o parlamento que tem competências de

52
FIKEI AKI 13-10-2006

Órgãos do corpo de Estado


O aparelho administrativo
A complexidade das sociedades modernas obrigou ao aumento significativo das funções
administrativas do Estado, fazendo crescer e dar uma importância maior ao seu aparelho
administrativo.
A importância da administração pública nas modernas sociedades políticas leva
mesmo alguns autores a falar de Estado administrativo, de Estado tecnocrático e há
muitos autores que qualificam o aparelho burocrático como um “respeitável grupo de
pressão junto dos órgãos superiores do Estado”. Na verdade, a classe detentora do
aparelho administrativo do Estado, mesmo que não seja a classe governante, influencia
significativamente a orientação da política governamental, quer porque o processo
de elaboração das decisões políticas passa pelas suas mãos, quer porque a execução
dessas decisões depende muito da sua vontade de fazer prosseguir essa política. No
entanto, os agentes do aparelho administrativo estão sujeitos a diversos tipos de
controlo, com uma dupla finalidade:
-Reforçar a eficácia do serviço
-Velar pela aplicação do direito por parte desses serviços.
Esses tipos de controlo são de três tipos:
1 – Controlo interno que é feito pela própria administração.
2 – Controlo jurisdicional feito pelos tribunais.
3 – Controlo político.

censura ás actividades do executivo e exercem também funções políticas e administrativas, sendo estas
exercidas em colaboração com os secretários de Estado.
No caso português o chefe do Estado não integra o governo, embora tenha competência para o demitir
depois de ouvido o Conselho de Estado.

53
Os tribunais
São considerados pelas Constituições como um dos órgãos de soberania e têm por
função administrar a justiça.
Nos sistemas políticos ocidentais os Juízes são independentes. No entanto, a realidade
mostra que os tribunais são um poder do Estado, que podem ter uma influência mais ou
menos vasta no processo político e que desempenham um importante papel na
manutenção do sistema político e na conservação da ordem existente.

Estrutura dos tribunais


O princípio da hierarquia dos tribunais é comum à quase totalidade dos sistemas
políticos. Eles distribuem-se conforme os países por dois ou três ou mais níveis,
existindo no vértice um tribunal superior que tem a função principal de julgar os
recursos dos tribunais inferiores e de uniformizar jurisprudência.
Nos países de tradição anglo-saxónica todos os tribunais estão em regra integrados
numa estrutura única independentemente de especialização e com um único tribunal
superior no topo (só há tribunais comuns, não há tribunais especializados). Nos países
de influência Francesa, existe uma distinção entre tribunais comuns ou ordinários e
tribunais especiais como por ex. os tribunais administrativos e fiscais, tendo cada um
deles uma estrutura própria.
Os tribunais constitucionais têm fundamentalmente poderes para fiscalizar a
aplicação das normas em termos de inconstitucionalidade e desempenham um
papel importante no funcionamento do processo político. Há, contudo, países onde
estes tribunais constitucionais não existem, sendo a fiscalização da constituição da
competência dos parlamentos, como por exemplo: Grã Bretanha; os países
Escandinavos e os países socialistas – Ex. URSS; ou então dos tribunais comuns.

Estatuto dos Juízes


O modo de designação dos juízes pode ser feito:
- Por nomeação feita pelo governo
- Por eleição directa das assembleias parlamentares (escolha)
- Cooptação pelos próprios juízes.
Podem coexistir no mesmo país, as três modalidades consoante os tribunais a que se
destinem.

54
Os requisitos de recrutamento dos juízes também podem variar. Por exemplo, quando os
juízes são eleitos não se exige, muitas vezes um título académico específico. Não existe
portanto uma carreira profissional específica, nem a magistratura constitui de forma um
corpo próprio. Quando são nomeados, a formação académica em direito é um requisito
indispensável e estão em regra sujeitos a um estágio especial e existe uma carreira
específica da magistratura.
No sistema português os juízes são inamovíveis, (artigo 215.º a 218º da CRP)
Cfr.
Artigo 202.º a 214.º - sobre as normas dos tribunais.
Artigo 219.º a 220.º - sobre as normas especiais do ministério público.
Artigo 221.º a 224.º - sobre as normas do tribunal constitucional.

FORMAS DE DESIGNAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO ESTADO COM RUPTURA


DA ORDEM CONSTITUCIONAL:

1) Golpe de Estado - quando os governantes actuam através da utilização da força e


violação da legalidade vigente, com o objectivo de manter-se no poder. O golpe de
Estado é o procedimento de certos governantes que recorrem à força para alterar a
legalidade existente e mudar os titulares dos órgãos supremos do Estado.
2) Insurreição - manifestação das forças armadas, apoiadas por forças sociais ou não,
contra o governo constituído, a fim de lhe imporem certa orientação ou mudarem os
governantes;
3) Revolução - manifestação violenta de forças sociais estranhas à organização do
Estado (massas, classe ou partido), apoiadas ou não pelas forças armadas, tendo em
vista a alteração brusca do regime político ou da ideologia dominante, das leis e das
instituições fundamentais e dos titulares dos órgãos de soberania;

FORMAS DE DESIGNAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO ESTADO


CONSTITUCIONAIS:
1) Herança - transmissão hereditária das funções por aplicação das regras de sucessão
familiar - Monarquia;
2) Cooptação - escolha do titular de um órgão por outros titulares do mesmo órgão;
3) Nomeação - designação do titular de um órgão pelo titular de um órgão diferente.
Exemplo: a nomeação de um director geral;

55
4) Inerência – o desempenho de funções num órgão implica o desempenho de funções
em órgãos distintos. É a atribuição legal da qualidade de titular de um órgão
governativo ao titular de um cargo público ou privado. Entre nós, temos o exemplo de
Portugal em que o Presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, o
provedor de justiça, etc., são por inerência membros do Conselho de Estado;
5) Eleição - por sufrágio de entre um determinado grupo de eleitores - colégio eleitoral.
É o processo mais usado actualmente para seleccionar os representantes públicos e
consiste na escolha através da expressão dos votos de uma pluralidade de pessoas, que
são os eleitores.

ELEIÇÃO
A eleição política é um direito político - de eleger e de ser eleito - e um modo de
intervenção dos cidadãos na vida pública, na gestão dos destinos do Estado, onde tem
prevalecência o princípio da maioria.
ELEIÇÃO - escolha de titulares de órgão do estado é diferente de REFERENDO -
consulta sobre uma questão concreta.
O corpo eleitoral ou colégio eleitoral - é o conjunto de pessoas que têm capacidade
eleitoral (reúnem os requisitos legais para votar), e varia de país para país.
As condições ou requisitos de elegibilidade e os processos de escrutínio também variam
conforme o sistema eleitoral de cada país. Ao longo do tempo, foi-se evoluindo do
sistema de sufrágio restrito, censitário ou capacitário, para um sufrágio universal.

SISTEMA ELEITORAL
É o conjunto de regras, de procedimentos e de práticas, com uma coerência e lógica
interna, que permite que os votos de determinado conjunto de cidadãos sejam
convertidos em mandatos de determinado(s) titular(es) de órgãos de poder político. A
democracia impõe que os governados (cidadãos) possam manifestar a sua vontade sobre
a forma como o poder político deve ser exercido pelos governantes. A forma
contemporânea mais eficaz de o fazer é através do sufrágio na modalidade de eleição. A
eleição é uma forma de sufrágio que tem por objectivo a escolha dos titulares dos
órgãos políticos.
O referendo é outra forma de sufrágio que tem por objectivo a deliberação ou consulta
de questões concretas.

56
A eleição por força do resultado da votação vai permitir apurar uma vontade baseada no
princípio da maioria. Este princípio de maioria, fundamenta-se em dois princípios: o
principio da igualdade e da liberdade.
O sistema eleitoral tem principalmente a ver com a forma como os votos são
convertidos em mandatos.
Assim, a eleição e o sufrágio implicam que sejam definidos previamente:
- o colégio eleitoral (O colégio eleitoral, ou seja, das pessoas que podem votar em geral
ou numa determinada eleição);
- o órgão de fiscalização (As entidades ou órgãos do Estado que acompanham o
processo eleitoral, ou seja, que têm competência em matéria de fiscalização e de
contencioso eleitoral);
- o círculo eleitoral;
- o número de titulares cujo mandato se pretende eleger;
- as pessoas elegíveis para esse cargos.

TIPOS DE SUFRÁGIO (em função do colégio eleitoral):


O sufrágio universal constitui um dos mais importantes traços caracterizadores das
democracias representativas. Só existe uma democracia em sentido material se a eleição
permitir aos eleitores uma escolha efectiva entre as alternativas que correspondam à
pluralidade de interesses dessa comunidade.
O sufrágio pode ser:
1) directo (quando os eleitores escolhem imediatamente os seus representantes) /
indirecto (quando apenas escolhem pessoas que vão a seguir escolher essas
representantes);
2) restrito (limita-se a uma parte dos cidadãos e chama-se censitário em que o
direito de voto depende dos meios de fortuna e capacitário quando o direito de
voto depende dos meios de instrução e de sexo) / universal ( quando se destina á
generalidade dos cidadãos a partir de uma certa idade);
3) inorgânico (de base territorial) / orgânico (de base corporativa)
4) plural (+ que 1 voto) / múltiplo (+ que uma qualidade) / simples
5) público / secreto
6) facultativo / obrigatório (com sanção);
7) individual / por listas (lista previamente estabelecidas pelos partidos)

57
8) uninominal(em que cada divisão eleitoral o eleitor só pode votar num
candidato) / plurinominal (vota em + de 1 candidato)

DIVISÃO ELEITORAL (por círculos eleitorais)


a) círculos nacionais / locais
b) círculos uninominais / plurinominais
b.1) círculos uninominais: sistema de representação maioritária (maioria relativa
/ absoluta)
b.2) círculos plurinominais: sistema de representação maioritária ou
proporcional

SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO
No sistema de representação maioritária ganha o partido que tiver mais votos.
a) representação maioritária
a.1) maioria absoluta
a.2) maioria relativa
Há também sistemas de representação proporcional em que existe uma correspondência
entre o número de votos por cada lista e o número de candidatos que vão ser eleitos.
Neste sistema, a representação dos mandatos pode ser feita de acordo com vários
critérios. Um deles é usado em Portugal e é designado como método de Hondt.
b) representação proporcional
b.1) quociente eleitoral
b.2) divisor comum (sistema da média mais alta de Hondt)

EXEMPLO PRÁTICO:
Colégio eleitoral: 85.000 eleitores.
Círculo eleitoral plurinominal: 4 mandatos.
Listas de candidatos: A, B, C e D.
Votação:
Lista A: 30.000 votos
Lista B: 25.000 votos
Lista C: 21.000 votos
Lista D: 9.000 votos
Como distribuir os 4 mandatos?

58
SITUAÇÃO 1: sistema de representação proporcional por quociente eleitoral
Divide-se o número de eleitores pelo número de mandatos e a cada lista pertencerão
tantos candidatos eleitos quantas vezes que o quociente apurado couber no número de
votos recebidos. Se restarem mandatos por atribuir eles irão para a(s) lista(s) em que
tiver sobrado mais votos.
85.000 eleitores : 4 mandatos = 21.250 eleitores/ mandato.
VOTOS MANDATOS
LISTA A 30.000 - 21.250 8.750 1
LISTA B 25.000 - 21.250 3.750 1
LISTA C 21.000 → 21.000 1
LISTA D 9.000 → 9.000 1

SITUAÇÃO 2: sistema de representação proporcional por divisor comum («da


média mais elevada de Hondt»)
Os votos obtidos por cada lista são sucessivamente divididos por 1,2,3… e os
quocientes apurados dispostos por ordem decrescente, os mandatos caberão ás listas a
que pertencerem os quocientes mais elevados.
VOTOS /1 /2 MANDATOS
LISTA A 30.000 30.000 15.000 2
LISTA B 25.000 25.000 12.500 1
LISTA C 21.000 21.000 10.500 1

LISTA D 9.000 9.000 4.500 0

REGIMES POLÍTICOS
Forma política
Forma política é o modo como se estrutura e se exerce o poder político em sociedade.
Este modo de estrutura e de exercício do poder político pode assumir-se de dois modos:
1.Atendendo à política, à titularidade do poder, de modo a determinar-se o título
dele e quais os órgãos estabelecidos para o exercer. Deste modo determina-se o
sistema do poder;

59
2.Têm em conta as concepções fundamentais das relações com o indivíduo e a
sociedade política com a ideologia, o poder político tem por missão estabelecer-
se na ordem jurídica, neste caso temos o regime político. Quer o sistema de
governo, quer o regime são essenciais para definir a forma política do Estado.

Regimes políticos
O Regime Político é definido pela concepção dos fins e dos meios do poder e da
comunidade, representada pela expressão política da Constituição material, ou seja, este
conceito não se esgota na mera organização do poder político, prendendo-se, também,
com o respeito pelos direitos fundamentais e com a organização económica e social.
Segundo a classificação de Aristóteles havia três regimes puros:

Número dos que mandam Regimes puros Regimes corrompidos


Um só Monarquia Tirania
Alguns Aristocracia Oligarquia
Todos Democracia Demagogia

Classificação de Jean Bodin:

Real Legitima Legitima


A Monarquia Senhorial B Aristocracia Senhorial C Democracia Senhorial
Tirânica Revoltosa

Classificação de Montesquieu

N.º dos que mandam Valor Espaço geográfico Regimes puros


Vários Unidade Pequenos espaços República
Um só Espaços médios

Critério de relação que se estabelece entre a população e o poder. Segundo esta


classificação temos os regimes aristocráticos e os democráticos.

60
- Os aristocráticos – são aqueles em que só uma parcela da população adulta participa
na escolha e no controlo dos governantes. Essa fracção da população pode ser
constituída pelo exército, por um partido único, por uma classe social ou por uma
família. A esta categoria pertencem os regimes ditatoriais, estejam ou não baseados
numa constituição.
- Os regimes democráticos – são aqueles em que a totalidade da população adulta
pode participar de forma directa ou indirecta, na tomada de decisões e na escolha e
controlo dos governantes. Estes regimes podem assumir as seguintes formas: a
democracia directa e a democracia representativa.
- na democracia directa, a totalidade da população adulta reunida
periodicamente em assembleia plenária, pode participar directamente na
tomada de decisões.
- Na democracia representativa, a totalidade da população adulta, apenas
pode participar na designação e controlo dos governantes, mas não nas
decisões concretas.

Tendo por critério a ideologia que os orienta ou o poder que prossegue – podemos
definir esta classificação em dois grupos:
- Regimes comunistas que não consentem, nem a circulação da sede do poder, nem a
alternância ideológica o que facilmente estabiliza a forma do Estado, como
autoritário ou totalitário.
- Os regimes pluralistas que prevêem a revolução legal, que torna viável a alternância
no poder e a mudança ideológica pelo consentimento expresso da população.

O Professor Marcelo Rebelo de Sousa adianta outro critério de distinção: «a


existência ou não de uma filosofia ideológica exclusiva ou liderante, de aparelho
destinado a impô-la, de efectiva garantia dos direitos pessoais dos cidadãos e de livre
participação na designação dos governantes e no controlo do exercício das suas
funções»: Ditatorial / Democrático
REGIME POLÍTICO DITATORIAL(estes podem ser autoritários ou totalitários)
a) filosofia ou ideologia exclusiva ou dominante;
b) aparelho destinado a impor a ideologia;
c) inexistência de efectiva garantia dos direitos pessoais dos cidadãos;
d) inexistência de livre participação na designação do governantes;

61
e) inexistência de controlo do exercício das funções dos governantes;
REGIME POLITICO DEMOCRÁTICO
a) pluralidade e liberdade de filosofia ou ideologia;
b) inexistência aparelho destinado a impor a ideologia;
c) efectiva garantia dos direitos pessoais dos cidadãos;
d) livre participação na designação do governantes;
e) efectivo controlo do exercício das funções dos governantes;

O Estado e o sistema político

Sistema político – é o conjunto de processos de decisão e das relações de poder que


dizem respeito à totalidade de uma sociedade global. Mas nem todos os processos de
decisão inerentes a uma sociedade global passam de uma maneira efectiva pelo aparelho
do Estado, pois as relações de poder estabelecem-se e permanecem entre o Estado e a
sociedade civil. O sistema político não pode confundir-se, portanto, com o Estado pois
há outros tipos de estruturas políticas existentes na sociedade global:
Há as estruturas do aparelho do Estado, dotadas da faculdade legítima de
recorrer à força para se fazer obedecer;
Há, também, as estruturas que embora desempenhem funções políticas não
fazem parte do aparelho do Estado.
Nos regimes democráticos não pode confundir-se Estado com sistema político, embora
seja certo que ele ocupa a parte mais relevante.

Modelos de sistema políticos:


1 – Modelo da classe dominante “Burguesia e proletariado”.
2 – Modelo da elite do poder “Fascismo”.
3 – Modelo pluralista ou de concorrente dos eleitos “Democracia”

1 – Modelo da classe dominante – é de origem e inspiração marxista. Para os


marxistas o Estado que encara o poder político é uma instituição que tem por objectivo

62
assegurar os privilégios da classe dominante e a manter a exploração das classes
dominadas. Para os marxistas a classe dominante da sociedade capitalista é a que obtém
o controlo e os meios de produção e que é capaz, de por força do poder económico que
lhe é conferido, de usar o Estado como um instrumento para dominar a sociedade. Karl
Marx (1863) optou por estratificar as sociedades em apenas duas classes sociais:
Burguesia – classe dominante, detentora dos meios de produção, exploradora e
usurpadora de todos os privilégios sociais.
Proletariado – classe dominada, possuidora da força do trabalho, explorada e
permanentemente afastada do poder e dos benefícios económicos e sociais que
ele acarreta.
2 – Modelo da elite do poder – esta teoria baseia-se no princípio de que o poder
político está concentrado num grupo social restrito dotado de coesão interna,
partilhando origens sociais, “status” económicos e educação comum. Esta teoria assenta
no conceito da superioridade dos membros da elite dominante (massa organizada), em
relação à não elite (massa inorganizada).
A elite, seja por força da sua organização, ou pelo seu poder, ou pelas qualidades
pessoais dos seus membros, é sempre capaz de explorar as suas posições de modo a
assegurar o seu domínio na sociedade sobre a classe da massa inorganizada, que é
politicamente inerte e apática. Os adeptos desta teoria defendem que em todas as
sociedades há uma minoria da população com características próprias e aptidões que
lhes permitem dominar política, económica e socialmente a maioria, que não tem meios
para controlar a elite do poder. Não admitem que a massa inorganizada possa atingir o
poder (Fascismo).
3 – Método pluralista ou de concorrente dos eleitos (Democracia) – esta teoria
baseia-se no princípio de que nas sociedades não existe um grupo dominante e que a
política é fundamentalmente o resultado de compromissos entre vários grupos de
interesse, que entram em competição pela conquista do poder. Segundo esta teoria o
poder está disperso por muitos centros e nenhum deles se pode considerar totalmente
dominante. Portanto, o poder está efectivamente fragmentado e nenhum dos grupos em
competição é suficientemente forte para se impor de forma definitiva aos outros.
(Democracia).

Grupos de interesse e de pressão

63
O funcionamento do sistema político depende das exigências que lhe são formuladas e
dos recursos e apoios de que dispõem e de que existem ou que provêem da comunidade
política. Nas modernas sociedades os indivíduos não conseguem em regra expressar os
seus interesses e necessidades de uma forma individualizada, nem fazer chegar as suas
reivindicações aos centros de decisão do sistema, nem têm influência na tomada de
decisões. Por isso eles necessitam de se associar em função dos seus interesses. A essas
associações chama-se em política grupos de interesse ou grupos de pressão.
Ponto comum entre grupos de pressão e grupos de interesse são as pessoas com
interesses comuns, ou com um ou mais denominadores comuns.
Diferenças:
Os grupos de interesses são associações que procuram realizar os seus fins de acordo
com a lei vigente, actuando apenas na esfera da vida privada.
Os grupos de pressão são organizações, constituídas para a defesa de interesses, que
exercem pressão sobre os poderes políticos em função das decisões que estes venham a
tomar, para que estas sejam favoráveis à realização dos seus interesses. Exercem
pressão sobre os governantes para que modifiquem a lei em benefício dos seus
interesses sem pretenderem conquistar o poder político. Os grupos de pressão estão em
conformidade com as características dos regimes democráticos constitucionais
pluralistas, e podem dividir-se em três características:
a) Grupos económicos:
1) Fundamentais;
2) Secundários.
b) Grupos não económicos:
1) Associações com objectivos políticos mas que não dependem de partidos,
Igrejas e associações religiosas, Associações culturais, Filantrópicas,
Humanitárias, etc.
c) Grupos políticos:
1) Partidos políticos

Características dos Grupos de pressão:


a) grupo organizado - organização bem estruturada e especializada na articulação de
interesses com cariz voluntário e durável;
b) visa a defesa de interesses particulares/privados - morais ou materiais
c) exercem pressão sobre o poder político com vista à satisfação do interesses;

64
Espécies de Grupos de Pressão:
a) Exclusivos - actuam apenas na esfera política;
b) Parciais - quando acumulam ao fim de exercer pressão política com outras
finalidades, económicas, religiosas, culturais, ecológicas, etc...

Como actuam os grupos de pressão:


Formas de intervenção:
a) intervenção directa sobre os órgão de poder –
amistosa: contactos, negociações, informações, reuniões;
perversa: intimação, ameaça, chantagem, corrupção;
b) intervenção indirecta - actuam sobre o poder procurando influenciar os partidos
políticos, por vezes com relações estáveis ou mesmo orgânicas, ou mediante pressão
sobre a opinião pública com greves, propaganda ou informação.
Eles podem fazer pressões de forma directa ou de forma indirecta, através de partidos
ou da opinião pública, sendo um dos meios mais usados o recurso à informação através
do envio de dossiers e troca de correspondência com o poder.
Os contactos e as negociações: (visitas aos gabinetes dos ministros), são outro meio
usado para influenciar as reuniões. Como esses meios nem sempre surtem efeito, os
grupos recorrem muitas vezes à intimidação, à coacção ou mesmo à chantagem e à
corrupção. Se esses meios não forem suficientes, há também o recurso a outras formas
de acção (greve, encerramento das empresas, etc.).
Outro meio é as “caixa eleitoral”, através das quais as organizações financiam as
campanhas dos partidos que as apoiam.

Os sistemas de partidos e os grupos para-políticos:


Partidos políticos: agrupamento de cidadãos, organizado, tendo em vista participar no
funcionamento das instituições políticas (ser titulares de órgãos de poder) e exprimir
organizadamente a vontade popular (ser condicionante na formação e representante da
vontade popular nos órgãos de poder).
Partidos políticos, são organizações que lutam pela aquisição, manutenção do exercício
do poder. Características:
- São organizações com uma implementação generalizada e duradoura (representação
política global);

65
- São organizações com vontade deliberada de aceder e exercer o poder político;
- São organizações de formação e expressão da vontade popular e que querem
participar no funcionamento das instituições;
- São organizações de carácter exclusivo no sentido de que a filiação num partido é
incompatível com a inscrição noutro.
A última característica distingue os partidos das associações políticas.

PARTIDOS POLÍTICOS ≠ ASSOCIAÇÕES POLÍTICAS


Os Partidos Políticos:
1. aspiram a representar politicamente a sociedade na sua globalidade exprimindo a
vontade popular na realização das opções da colectividade;
2. propõe-se exercer o poder político ou influenciar directamente o seu exercício;
3. agrupamento de carácter duradouro;
4. exige exclusividade de filiação
As Associações Políticas:
1. visam essencialmente a representação de sectores determinados da
colectividade;
2. limitam-se a participar na actividade de instâncias sociais e a tentar influenciar o
exercício do poder político;
3. podem constituir-se por prazo determinado (se perdurar pode acabar
transformando-se num partido);
4. a participação numa associação é compatível com a participação em outras ou
mesmo num partido político.

GRAUS DE PARTICIPAÇÃO PARTIDÁRIA:


1º - eleitores
2º - simpatizantes
3º - aderentes
4º - militantes

Fins e funções dos partidos políticos


Fins são os objectivos para que foram criados.
- Participar no funcionamento e no aperfeiçoamento das estruturas político-
constitucionais.

66
- Representar politicamente o povo.
- Essa representação pode ser em sentido rigoroso ou perfeito nas democracias
representativas ou em sentido imperfeito, nos regimes ditatoriais.
As funções do partido variam de acordo com o ambiente em que nasceram e dividem-se
essencialmente em:
- Funções políticas e funções administrativas.

Funções políticas dos partidos

• função representativa: que é essencial e que consiste na apresentação de

candidaturas às eleições dos titulares dos órgãos do poder político;


• função de titularidade e exercício do poder político: para o que é necessário
preparar quadros aptos a desempenhar o poder político e a criar estruturas de
apoio aos seus dirigentes.
• função de definição da política interna: consiste em estabelecer ou definir a
posição do partido perante os problemas da colectividade e designar os titulares
dos órgãos internos do partido.
• função pedagógica: tem por fim informar os militantes e simpatizantes e o
eleitorado em geral, sobre as principais questões da vida colectiva e das posições
que o partido assume nessas matérias.
• função de criação e apoio a estruturas paralelas: estruturas sindicais,
cooperativas, associações cientificas, etc.
• função de relações externas: tem por objectivo estabelecer ligações de
cooperação e amizade com outros partidos estrangeiros que com eles tenham
afinidades e com organizações internacionais.

Funções administrativas dos partidos


Funções administrativas em sentido rigoroso relacionadas com a organização interna do
partido (função administrativa stricto sensu) e a função financeira, como é o caso da
gestão dos recursos do partido e dos estatutos e regulamentos do partido.

Classificação dos partidos

67
Os partidos podem classificar em dois grupos: os partidos de quadros e os partidos de
massas.
- Os partidos de quadros caracterizam-se por não visar um número de aderentes muito
elevado, mas tentarem reunir quadros bem preparados com pessoas de prestigio, seja
a nível moral, social, económico ou intelectual, os quais podem exercer influência
no eleitorado e dar-lhes apoio. Estes tipos de partidos nascem nos primórdios do
sufrágio censitário ou no início da institucionalização do sufrágio universal. O seu
financiamento é feito em regra por grandes capitalistas, interessa-lhes mais a
qualidade do que a quantidade dos seus membros, são partidos flexíveis,
indisciplinados pela ausência de disciplina de voto. Em regra situam-se ao centro ou
à direita do quadro político.

PARTIDOS DE QUADROS:

a. não visam um número elevado de aderentes ou militantes;


b. pretendem reunir quadros bem preparados de pessoas com prestígios moral, social,
e económico (quer pela influência que podem ter no eleitorado, pela angariação de
fundos que podem proporcionar);
c. procuram qualidade em detrimento da quantidade;
d. partidos que nasceram da institucionalização do voto universal;
e. A sua componente ideológica política é fraca
f. partidos flexíveis - ausência de disciplina de voto;
g. tem uma estrutura descentraliza com actividade periódica visando uma função
eleitoral, parlamentar e de conquista de eleitores;
h. são partidos de notáveis da grande e pequena burguesia, colocando-se
essencialmente à direita e centro do espectro político – partidário;

PARTIDOS DE MASSAS
a) procuram grande número de aderentes e militantes, procurando ir de encontro com os
seus interesses;
b) manifestam interesses extra-parlamentares, como seja a formação política das
populações e a criação e apoio a estruturas económicas e sociais de massas;
c) são financiados através das quotizações dos seus militantes, pretendendo substituir o
financiamento dos grandes capitalistas pelo financiamento popular;

68
d) tem fortes ligações ideológicas;
e) são partidos rígidos - com disciplina de voto no parlamento e altamente
centralizados. Surgem com o sufrágio universal e com o desenvolvimento das teses
socialistas e comunistas. São partidos operários, disciplinados que procuram recrutar e
formar o maior número possível de militantes.
Em suma, os partidos de massa englobam um grande número de aderentes,
demonstrando um grande interesse por estes e pelos seus militantes e demonstram
interesse na formação política das populações e na criação de estruturas sociais e
económicas de massas. Recebem como financiamento as quotas pagas pelos seus
militantes.

Modalidades de partidos de massas


Os partidos sociais, os partidos comunistas e os partidos fascistas.

Estruturas dos partidos e grupos de participação


Todos os partidos têm três círculos de participação:
- O primeiro que é o mais largo engloba os eleitores são os que votam nos candidatos
apresentados pelo partido, embora não demonstrem qualquer preferência antes do
acto eleitoral.
- O segundo círculo é o dos simpatizantes, são os que embora não pertencendo ao
partido aprovam-no e apoiam-no publicamente confessando a sua preferência e ás
vezes até com algum apoio financeiro.
- O terceiro círculo é o dos militantes que são os membros activos do partido que
fazem a propaganda eleitoral20.

Estrutura orgânica dos partidos


Há a chamada lei de bronze da oligarquia partidária, segundo a qual a crescente
profissionalização, especialização e burocratização dos militantes activos, dos partidos e
dos seus filiados e em especial dos seus dirigentes, conduzem, em regra, a uma
oligarquia de chefia. Ou seja a especialização técnica que surge como uma
consequência da organização do partido acaba por fazer com que o poder de direcção
seja mais ou menos retirado às massas e fique concentrado nas mãos dos chefes. Estes

20
Há ainda um outro círculo que podemos chamar de aderentes ou filiados que estão inscritos no partido.

69
que, de início, eram órgãos executivos da vontade colectiva vão-se tornando
independentes das massas e subtraindo-se ao controlo delas. Esta questão é uma questão
da democracia interna de cada partido que se relaciona com a maior ou menor rigidez e
com a autoridade do respectivo grupo parlamentar.

Os sistemas partidários
Vamos seguir uma classificação que os divide em cinco tipos diferentes:
- Monopartidismo que é o sistema de partido único
- Bipartidismo prefeito que é o sistema em que os dois primeiros partidos dividem de
modo mais ao menos igual 90% dos votos validamente expressos.
- Bipartidismo imperfeito, que é o sistema de dois partidos e meio, em que um
terceiro partido desfruta da representatividade suficiente para perturbar a dos dois
grandes partidos que só têm entre 75% a 85% do total dos votos.
- Multipartidismo integral ou prefeito que é o sistema existente nas sociedades
políticas atomizadas: significa que quando existem três ou mais partidos que
distribuem entre si de forma aproximada iguais percentagens eleitorais;
- Multipartidismo imperfeito ou de partido dominante que é o sistema em que existem
três ou mais partidos, mas em que um deles sobressai por conseguir alcançar pelo
menos 35% do eleitorado, assumindo uma posição dominante no aparelho do
Estado.
Tendo como critério o número, dimensão eleitoral e expressão no exercício do poder
político dos partidos políticos existentes podemos, assim, reduzir a 4 sistemas de
partidários:
1 - sistema de partido único
2 - sistema de partido liderante
3 - sistema bipartidário
3.a) bispartidismo perfeito
3.b) bipartidismo imperfeito
4- sistema multipartidário
4.a) perfeito
4.b) imperfeito
5 - sistema sem partidos organizados –( monarquia absoluta)

70
Os grupos para-políticos e os partidos políticos
A expressão, a agregação e a depuração (filtrar) das exigências (ou outputs) não é uma
tarefa exclusiva dos partidos e dos grupos de interesses e de pressão, pois existem nas
sociedades políticas outras associações de indivíduos que desempenham um papel
activo no processo político, e que são os grupos para-políticos ou para-partidistas
(semelhantes a partidos).
Essas associações têm um âmbito de acção mais amplo e generalizado do que os grupos
de interesses ou de pressão ( estes têm interesses concretos e específicos).
Distinguem-se dos partidos políticos, porque eles não participam directamente nas
eleições, nem desempenham funções parlamentares, nem lutam pela conquista do poder.
Além disso também se distinguem dos partidos políticos porque não exigem
exclusividade aos seus associados.

71
AULAS SEGUINTES A 18-10-2006
2ª PARTE – DIREITO CONSTITUCIONAL

a. O princípio do estado de direito


b. O princípio democrático
i. Caracterização constitucional do princípio democrático
ii. Concretização constitucional do princípio democrático
1. O princípio da soberania popular
2. O princípio da representação popular
3. O princípio da democracia directa
4. Traços fundamentais do regime jurídico-constitucional do
referendo
5. O princípio da participação
iii. O princípio democrático e o direito de sufrágio
iv. O princípio democrático e o sistema maioritário
.
c. O princípio da Socialidade
d. O princípio da Unidade do Estado

Introdução
Constituição e constitucionalismo

72
O Estado Constitucional é o Estado com uma Constituição limitadora do poder
através do direito. Como refere Gomes Canotilho21 as ideias do governo de leis e não de
homens, de Estado submetido ao direito, de constituição como vinculação jurídica do
poder foram realizadas através dos institutos do rule of law, due processo f law,
rechtsstaat, príncipe de la legalité, faltando, no entanto, a legitimação democrática do
poder. Por isso o elemento democrático foi introduzido não só para travar o poder, mas
também pela necessidade de legitimação do mesmo poder. Mas só o princípio da
soberania popular (todo o poder vem do povo) assegura e garante a igual participação na
formação democrática da vontade popular. É este princípio da soberania popular que
permite a compreensão da moderna fórmula de Estado de direito democrático.
O constitucionalismo moderno será uma técnica específica de limitação do poder com
fins garantísticos, sendo, claramente, uma teoria normativa de política. Este
constitucionalismo moderno legitimou o aparecimento da chamada Constituição
Moderna, entendida como a “ ordenação sistemática e racional da comunidade política
através de um documento escrito no qual se declaram as liberdades e os direitos e se
fixam os limites do poder político”22
A constituição neste sentido assenta em duas ideia básicas:
- Ordenar, legitimar e limitar o poder político.
- Reconhecer e garantir os direitos e liberdades dos indivíduos.

Importa ter presente o poder constituinte e os problemas que levanta e que são
essencialmente quatro:
1. O que é poder constituinte – ele revela-se sempre como uma questão de poder, de
força ou de autoridade política, que está em condições de, em determinada situação
concreta, criar, garantir ou eliminar uma constituição percebida como lei
fundamental da comunidade política.
2. Quem é o titular do poder constituinte – qual é a grandeza política capaz de
mobilizar a força ordenadora do povo no sentido de instituir uma lei fundamental
(constituição): o titular do poder constituinte só pode ser o povo23, entendido no seu
sentido global, pluralista como conjunto de indivíduos, associações, igrejas,
comunidades, personalidades, instituições, sendo eles veiculadores de interesses,

21
J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 1998, pg 92
22
J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 1998, pg 46
23
O povo é no seu todo e não só a maioria

73
crenças, tradições, valores, com carácter plural (com ideias diferentes), convergentes
ou conflituantes.
3. Como proceder para elaborar e aprovar uma constituição – será por
procedimento legislativo-constituinte através de uma assembleia eleita de propósito
para fazer essa constituição ou por um processo referendário-plebiscitário24 em que
o povo decide a aprovação como lei fundamental de um texto que foi submetido à
sua aprovação.
4. Saber qual o conteúdo e a legitimidade da constituição e quais os limites do
poder constituinte - ou seja, a questão de saber se existem ou não limites jurídicos
e políticos quando ao exercício do poder constituinte25.

O poder constituinte entende-se como estando vinculado à observação de certos


princípios de justiça e ao princípio do direito constitucional. Exemplo: Princípio da
independência, da observância dos direitos humanos, designadamente da Declaração
Universal dos Direitos do Homem, pois nenhum sistema jurídico interno poderá
considerar-se hoje fora da comunidade internacional.

Direito constitucional – conjunto de princípios e normas que regulam a organização, o


funcionamento e os limites do poder público do Estado, além de estabelecerem os
direitos das pessoas que pertencem à respectiva comunidade política. Isto significa que
o direito constitucional assenta numa tensão que busca um equilíbrio, muitas vezes
difícil, entre o poder público estadual (que detém o monopólio dos meios públicos,
coacção) e a comunidade de pessoas em nome da qual esse poder é exercido
(desprovido de autonomia e liberdade frente àquele poder)

O Direito Constitucional pode ser entendido como:


- Direito constitucional material (conjunto de normas e direitos fundamentais das
pessoas).
- Direito constitucional económico (a organização económica da sociedade
estabelecendo os termos da intervenção do Estado, nos planos económicos, fiscal e
financeiros).

24
É uma votação popular de um projecto de constituição elaborado unilateralmente pelos titulares do
poder.
25
Existem certos princípios – dignidade da pessoa, justiça, liberdade, igualdade, através dos quais se pode
apurar da bondade ou maldade de uma constituição.

74
- Direito constitucional organizativo: está ligado ao modo de organização e
funcionamento do estado e os aspectos relacionados ás suas estruturas.
- Direito constitucional garantístico: é um conjunto de normas que têm por fim
estabelecer os mecanismos de defesa da constituição e da sua prevalência sobre
todas as outras normas jurídicas.

Características do direito constitucional

– Supremacia – o direito constitucional têm na ordem jurídica uma posição


suprema colocando-se no topo da respectiva pirâmide, implicando que as suas
normas e princípios não possam ser contrariadas por qualquer outra fonte de
direito.
– Transversalidade – Ao direito constitucional cabe a preocupação de traçar as
grandes opções da comunidade, o que logicamente determina o seu
relacionamento com os múltiplos temas relevantes para essa comunidade Essa
transversalidade implica muitas vezes dificuldade na tarefa de harmonizar
alguns ramos de direito
– Politicidade – Tem haver com o poder público e político.
– Estadualidade – Estuda a soberania do Estado.
– Legalismo – Assenta numa óptica legalista, porque a sua função recai na lei.
– Fragmentarismo – Compete-lhe efectuar apenas a regulamentação mínima
fundamental dos diversos institutos jurídicos, públicos e privados, em que
raramente lhe compete efectuar uma regulação completa das matérias que trata.
– Juventude – Significa que pouco tempo medeia entre a sua criação e o tempo
actual. Isso leva a que não exista uma actividade doutrinária e jurisprudencial
tão abundante como noutros ramos de direito.
– Abertura – O direito constitucional aceita contributos de outros ordenamentos
jurídicos, sobretudo na parte dos direitos fundamentais.26

26
O direito constitucional tem especiais ligações com o direito administrativo e com o direito
internacional público.

75
Podemos fazer a seguinte diferenciação:
Direito Constitucional
Em sentido material27:«o conjunto de normas jurídicas fundamentais que regem:
- a estrutura, os fins e as funções do Estado;
- a organização, a titularidade, o exercício e o controlo do poder político do
Estado;
- a fiscalização e garantia do cumprimento das normas jurídicas pelos cidadãos e
pelo próprio poder político do Estado.»
Em sentido formal: «o conjunto de normas jurídicas escritas, elaboradas por órgão
dotado de poderes especiais, através de um processo específico, diverso do que gera as
leis ordinárias.28
Em sentido instrumental: «texto único em que se compilam as normas formalmente
constitucionais: a Constituição.

1. OS PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DA CONSTITUIÇÃO DA


REPÚBLICA PORTUGUESA

A Constituição é formada por regras e princípios de diferentes graus de caracterização.


Existem, em primeiro lugar, os principio estruturantes, constitutivos e indicativos das
ideias, directorias básicas de toda a ordem constitucional, (são as traves mestres da
constituição).
São considerados princípios estruturantes:
1 – O princípio do Estado de Direito
2 – O princípio Democrático
3 – O princípio da Socialidade
4 – O princípio da Unidade do Estado

27
Constituição material: (normativa material) – neste sentido é o conjunto de normas, que regulam as
estruturas do Estado e da sociedade nos seus aspectos essenciais, seja qual for a fonte formal, donde essas
normas são oriundas. Constituição real: (material) – conjunto de forças políticas ideológicas e económicas
que operaram na comunidade e condicionam de forma decisiva todo o ordenamento jurídico (conceito
sociológico)
28
É a constituição como acto escrito e solene, que como fonte de direitos cria normas jurídicas
hierarquicamente superiores ás restantes.

76
Estes princípios estruturantes ganham concretização ou densificação através de outros
princípios ou sub-princípios. Exemplo: O princípio do Estado de direito é densificado
ou concretizado através de outros sub-princípios: princípio da constitucionalidade; o
princípio da legalidade da administração
Esses princípios constitucionais chamam-se gerais ou fundamentais e podem, por sua
vez, concretizar-se ou densificar-se ainda mais através de outros princípios
constitucionais especiais. Exemplo: O princípio da legalidade da administração é
concretizado pelo princípio da preeminência ou prevalência da lei e pelo princípio da
reserva de lei.
Os princípios estruturantes não são apenas densificados ou concretizados através de
princípios constitucionais gerais ou especiais, pois a sua concretização é feita, também,
por várias regras constitucionais. Exemplo: As normas que garantem o direito de
recurso contencioso contra certos actos da administração. (artigos: 268.º, n.º(s) 4 e 5),
são uma concretização do princípio da legalidade da administração e do princípio
especial da prevalência da lei e do princípio estruturante do Estado de direito.

Princípios estruturantes ↓
Princípios constitucionais gerais ↓
Princípios constitucionais especiais ↓
Regras constitucionais ↓

Nota: Este esquema não se desenvolve apenas de cima para baixo, dos princípios mais
abertos para os princípios mais densos, ou apenas de baixo para cima, ou seja de
concreto para o abstracto.
A formação do sistema interno consegue-se através de um processo de esclarecimento
recíproco, em que os princípios estruturantes ganham densidade e transparência através
dos princípios concretizadores, e estes formam com aqueles uma unidade material (a
unidade constitucional).
Todos estes princípios e regras poderão vir a ser concretizados através da lei e da
jurisprudência.

1.1. O Princípio do Estado de Direito


Pressupostos materiais:
a) - Juridicidade

77
b) - Constitucionalidade
c) - Sistema direitos fundamentais
Pressupostos formais:
d) - Princípio da divisão de poderes
e) - Garantia de uma Administração Autónoma Local

A JURIDICIDADE
O Estado de Direito implica uma Constituição que vise conformar as estruturas do
poder político e a organização da sociedade segundo a "medida do direito".
No sentido material o Direito é um meio de ordenação racional e vinculativa de uma
comunidade organizada - de uma sociedade política.
No sentido formal o Direito é o mecanismo de estabelecimento de regras e medidas, de
prescrição de formas e procedimento e de criação de instituições que cumpram a função
ordenadora necessária à realização da sua dimensão material.
Significa que o ordenamento jurídico tem que obedecer a 3 características essenciais:
1 – Ser um sistema jurídico organizado, não caótico
2 – Ser um sistema jurídico hierarquizado e encimado pela constituição
3–Ser um sistema dotado de mecanismos que, possam verificar as relações de
desconformidade das normas jurídicas, com as normas de carácter superior, este
princípio está consagrado nos (artigo 3º, n. 2 e 3).

DIMENSÃO DA JURIDICIDADE:
- criação de garantias jurídico-formais que ordenam a vida política (direito
constitucional);
- regulação das relações jurídicas, civis e comerciais (direito civil e comercial)
- regulação do comportamento da administração pública (direito administrativo)
- punir a violação de bens e valores jurídica e constitucionalmente protegidos
(direito penal e contra-ordenacional)
- criação de normas, processos e procedimentos para solucionar conflitos de
interesse público e privado (direito processual)
O Estado de Direito é um Estado de Justiça:
• respeito pelos direitos das minorias
• equidade (equilíbrio) na distribuição de direitos e deveres fundamentais;

78
• igualdade de bens e oportunidades;
• a ideia de direito concretiza-se através de princípios jurídico-materiais
como o:
a) princípio da proibição do excesso;
Princípios da proporcionalidade, é muito importante no Estado
de direito e influência todo o direito público. A
proporcionalidade significa uma ponderação entre os meios a
usar e as finalidades a atingir. A ideia de proporcionalidade
reduz-nos desde logo à proibição do excesso de proibição de
uma actuação excessiva e pode decompor-se em três vertentes:
1 - A adequação ou idoneidade
2 - A necessidade
3 - A proporcionalidade em sentido estrito.
Conclusão: A actuação jurídico-pública será
adequada (ou inadequada) se se apresentar como apta (ou
inapta) à obtenção do resultado que a lei lhe faz destinar.
Será necessária se não houver outra actuação que seja
menos gravosa ou menos lesiva. Será proporcional ou
racional quando os efeitos escolhidos se apresentem
equilibrados, numa óptica da relação de custos /
benefícios. Este princípio encontra-se estipulado em vários
preceitos da constituição, em especial nos artigos 18.º e
19.º

b) princípio da segurança jurídica e da protecção da


confiança dos cidadãos;
Este princípio da segurança jurídica e da protecção e confiança dos cidadãos divide-se
em dois grupos:
1) Princípio da segurança jurídica – este princípio exige a publicação das
decisões jurídico-públicas e obriga à sua clareza e à certeza do seu sentido.A
Constituição Portuguesa consagra este principio quando estipula no seu artigo
119.º - n..º 2 a ineficácia jurídica de actos não publicados.
Este princípio consta também da lei n.º 74/98, de 11/11, que é a lei de publicação
e identificação e formulário dos diplomas. Esta preocupação da lei ordinária vai

79
ao ponto de estabelecer um período de “vacatio legis” (vazio da lei), quando a
lei nada disser, a fim de permitir o seu conhecimento. A obrigatoriedade de
publicitação das normas jurídicas tem a importância de à partida as pessoas não
poderem invocar o desconhecimento da lei para se eximirem ao respectivo
cumprimento.
2) Princípio da protecção da confiança – tem por objectivo criar um clima de
estabilidade entre o poder público e os cidadãos destinatários dos actos jurídicos
públicos. Esta relação de confiança interliga-se com o princípio da aplicação
prospectiva de retroactividade desses actos. (artigo 12.º n.º 1 – Código Civil). O
princípio geral do direito constitucional português, nesta matéria, é o de que se
admite a aplicação retroactiva dos actos do poder público, não existindo
proibições genéricas no sentido dessa proibição, existindo algumas limitações
parcelares em face de certas realidades, que abrangem os seguintes casos:
• Irretroactividade das leis restritivas dos direitos, liberdades e
garantias( 18, nº39.
• Irretroactividade da lei penal incriminadora (artigo 29º, nº1, 2,
3 e 4).
• Irretroactividade da lei penal processual através do princípio
do juiz legal (esta competência tem de estar definida até ao
momento da prática do acto criminoso).
• Irretroactividade da lei fiscal de tributação positiva (art.
103º,nº1)
• Irretroactividade dos efeitos da declaração da
inconstitucionalidade com a formação de caso julgado (artigo
282.º)
Em contrapartida, há casos em que a Constituição impõem a aplicação de certas fontes
normativas, como por exemplo artigo 29.º - n.º 429.

c) princípio da indemnização dos danos;

29
No que se refere a este princípio, a sua aplicação têm-se apoiado em dois requisitos fundamentais:
1 - Frustração de legitimas expectativas criadas, traduzida na mudança de regimes jurídicos previamente
estabelecidos.
2 - A necessidade de essa mudança ser legitima em função de um forte interesse público que a justifique
(não podendo, essa mudança representar o produto de acção arbitrária, discricionária, caprichosa ou
excessiva.

80
Este princípio exige a obrigatoriedade de pagamento dos
sacrifícios que uma das partes tenha em qualquer contenda. Por
exemplo em questões de conflito de interesse público/interesse
privado, em que o primeiro prevalecerá, não poderá ficar o
interesse privado sem qualquer protecção e por isso a
indemnização (art. 62º, nº 2 da CRP).
d) princípio da igualdade;
É um princípio amplamente associado ao Estado de direito e
assume duas dimensões distintas mas absolutamente
complementares:
- Uma dimensão igualizadora, que significa tratar de forma
igual o que é igual.
- Uma dimensão diferenciadora, que significa tratar de
forma diferente o que é desigual.
A Constituição assume este princípio em muitos preceitos, mas a
sua formulação mais solene consta do artigo 13.º.
Os critérios de aferição previstos no n.º 2, do artigo 13.º, como a
raça, a ascendência, …., são critérios a título exemplificativo. É,
portanto, possível aplicar outros critérios para fundar um
tratamento desigualitário e legítimo, desigualmente através de
recurso à Declaração Universal dos Direitos do Homem, onde se
refere: “todos os seres humanos têm os direitos e as liberdades
proclamadas na presente declaração, sem distinção alguma,
nomeadamente, raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de
organização política, ou outra, de origem nacional ou social, de
fortuna, de nascimento e de qualquer outra situação”.

e) princípio do respeito da dignidade pessoa humana


A pessoa é colocada como fim supremo do Estado e do Direito.
Este conceito encontra a sua grande consagração nos direitos
fundamentais e assume uma posição eminente no texto da nossa
constituição, desde logo nos preceitos iniciais. (artigos n.(s) 1 – 1
parte; e também no que toca ao direito fundamental pessoal
(artigo 26.º n. 2).

81
A CONSTITUCIONALIDADE
O Estado de direito é um Estado constitucional, pressupondo a existência de uma
Constituição que sirva, isto é que valha e vigore, de ordem jurídico normativa
fundamental vinculativa de todos os poderes públicos. A Constituição é uma verdadeira
ordenação normativa fundamental dotada de supremacia (supremacia da constituição),
sendo nesta supremacia normativa da lei constitucional que o primado do direito do
estado de direito encontra uma primeira e decisiva expressão30
1ª dimensão: É um Estado constitucional - existência de uma constituição formal
codificada;
2ª dimensão: Vinculação do legislador à constituição -enquanto parâmetro formal e
material da criação de direito e logo do exercício do poder legislativo, inclusivamente
quanto à própria revisão da constituição.
3ª dimensão: vinculação de todos os actos do Estado à Constituição
• - conformidade intrínseca e formal de todos os actos do poder político com a
constituição (art. 3º n.º 2 CRP)
• - sujeita os actos políticos aos parâmetros constitucionais e ao controlo da sua
conformidade (art. 3º n.º 3 CRP).
• - sujeita à conformidade da constituição mesmo a obrigação de agir do Estado -
podendo o princípio da constitucionalidade ser igualmente violado por omissão
- (art. 283º CRP)
4ª dimensão: princípios da reserva da Constituição
• - princípio da tipicidade constitucional de competências - os órgãos do Estado só
têm competência para fazer aquilo que a constituição lhes permite (as funções
atribuídas a um órgão são a medida da sua competência!) (artigo 111º n.º 2 CRP)
• - princípio da constitucionalidade de restrições a direitos liberdades e garantias -
as restrições a estes direitos devem ser feitas directamente na CRP ou através de
lei mediante autorização constitucional e apenas nos casos previstos na
constituição (art. 18º n.º 2 CRP)
5ª dimensão: força normativa da constituição - a constituição não pode ser posta em
causa quer pela alegação de "superiores interesses da nação" , quer pela alegação de
uma qualquer ideia de direito superior ou princípios transcendentes.

30
J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 1998, pg 239

82
Aula de 30-10-2006
SISTEMA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

A raiz antropológica do Estado de Direito reconduz-nos à natureza do Estado como


forma de garantia do Homem enquanto pessoa, como cidadão, como trabalhador, e
como administrado. Daqui vem a natural integração de um sistema de reconhecimento e
protecção de direitos fundamentais do ser humano na própria constituição:
• - através da afirmação da integridade física e espiritual do Homem como
dimensão irrenunciável da sua individualidade autonomamente responsável (art.
24º , 25º e 26º da CRP)
• - através da garantia da identidade e integridade da pessoa mediante o livre
desenvolvimento da sua personalidade (art. 26º da CRP);
• Com o imperativo social de direito aponta-se para a libertação da angústia da
existência da pessoa mediante mecanismos de socialidade( possibilidade de
trabalho, emprego e qualificação profissional e garantia de condições mínimas
de existência através do subsídio de desemprego e do rendimento mínimo
artigos 53º, 58º, 63 e 64º);
• Garantia e defesa da autonomia individual através da vinculação dos poderes
públicos a conteúdos, formas e procedimentos do estado de direito;
• Dimensão igualdade-justiça dos cidadãos expressa na mesma dignidade social e
na igualdade de tratamento normativo (artigo 13º igualdade perante a lei e
através da lei).

PRINCÍPIO DA DIVISÃO DE PODERES


• - dimensão negativa: a separação como divisão, controlo e limite do poder;
• - dimensão positiva: a separação como constitucionalização, ordenação e
organização do poder do estado tendente a decisões fundamentalmente eficazes
e materialmente justas.

83
Princípio da separação de poderes31, consiste em que cada órgão de Estado exerça uma
função de Estado. Ao Parlamento cabe a função legislativa; ao órgão executivo
(Governo) a função administrativa; ao órgão judiciário (tribunais) compete-lhe a
jurisdicional. Com esta separação limitar-se-ia de forma eficiente o poder. Apesar de se
manter ainda este princípio da divisão de poderes ele sofreu algumas alterações
perdendo a sua rigidez inicial do ponto de vista orgânico, pois a função legislativa
deixou de ser monopólio do parlamento, por várias razões que podemos resumir nas
seguintes:
a) Razões de maior tecnicidade que a lei passou a exigir e que os deputados,
muitas vezes não tinham competência a nível técnico para legislar nessas
matérias.
b) A celeridade que a produção legislativa foi exigindo cada vez mais, apesar
disso os órgãos parlamentares mantiveram sempre e mantêm ainda o primado da
competência legislativa.

Os sinais desse primado na nossa Constituição são numerosos e vão desde a


competência legislativa genérica do parlamento à competência legislativa em matérias
de reserva, nuns casos absoluta, noutros relativa ou mesmo à sujeição dos decretos-leis
à apreciação do parlamento para recusa de ratificação.
A separação e a independência dos tribunais, a quem é reservada a função jurisdicional
constitui um elemento importantíssimo do princípio da separação dos podres. E esta
reserva é até um reduto essencial desse princípio num Estado de direito.
O princípio da separação dos poderes está consagrado no artigo 111.º da constituição e a
sua exemplificação prática assenta-se no relacionamento entre os diversos órgãos de
soberania.

GARANTIA DE ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA LOCAL


É um elemento constitutivo do estado de direito e que está conexionado ( pelos menos
historicamente) com o princípio democrático. A democracia descentralizada (assente
num poder local autónomo) assegurava a separação territorial de poderes contribuindo

31
Relevância jurídico-constitucional:
a) princípio jurídico-organizatório (art. 111º CRP)
b) princípio normativo autónomo
c) princípio fundamentador de incompatibilidade

84
para uma maior participação democrática no exercício de poder. A Constituição refere a
conexão, também, da administração autónoma com o princípio democrático da
organização do estado: o artigo 6º da CRP refere que “O Estado é unitário e respeita na
sua organização e funcionamento o regime autonómico insular e os princípios da
subsidiariedade, da autonomia das autarquias locais e da descentralização
democrática da administração pública.”. Por seu lado o artigo 235º, nº 1 acrescenta que
“. A organização democrática do Estado compreende a existência de autarquias locais”.
O princípio da garantia da autonomia local terá a ver com o estado de direito nas
dimensões de autonomia normativa ( cfr. Artigo 241º sobre a competência
regulamentar) e da garantia institucional que assegura aos municípios um espaço de
conformação autónoma cujo conteúdo essencial não pode ser destruído pela
administração central32. Esta garantia de administração autónoma local foi elevada a
limite material de revisão constitucional com a Constituição de 1976.

1.2. O PRINCIPIO DEMOCRÁTICO


A Constituição ao consagrar o princípio democrático procurou uma ordenação
normativa para um país e para uma realidade histórica. Como refere Gomes Canotilho33
“ A Constituição de 1976 respondeu normativamente aos problemas da legitimidade-
legitimação da ordem jurídico constitucional em termos substanciais e em termos
procedimentais: normativo-substancialmente, porque a constituição condicionou a
legitimidade do domínio político à prossecução de determinados fins e à realização de
determinados valores e princípios ( soberania popular, garantia dos direitos
fundamentais, pluralismo de expressão e organização política democrática; normativo-
processualmente, porque vinculou a legitimação do poder à observância de
determinadas regras e processos. (…) a constituição respondeu aos desafios da
legitimidade-legitimação ao conformar o princípio democrático como forma de vida,
como forma de racionalização do processo político e como forma de legitimação do
poder. O princípio democrático, constitucionalmente consagrado, é mais do que um
método ou técnica de os governantes escolherem os governados, pois como princípio
normativo considerado nos seus vários aspectos políticos, económicos, sociais e
culturais, ele aspira a ser um impulso dirigente de uma sociedade. O artigo 2º conjugado

32
J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 1998, pg 247. A
Constituição de 1933 destruiu este núcleo essencial ao transformar a autonomia local em administração
indirecta ou mediata do estado.
33
J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 1998, pg 277 e 278

85
com outros artigos (cfr. por exemplo arts. 9º e 81º), sugere a existência de um objectivo
a realizar através da democracia”.
Caracterização do Princípio Democrático
1) princípio complexo – de democracia representativa( órgãos representativos,
eleições periódicas, pluralismo partidário, separação de poderes) e de
democracia participativa( oferecer aos cidadãos efectivas possibilidades de
aprender a democracia, participar no processo de decisão, exercer controlo
crítico na divergência de opiniões, produzir inputs políticos democráticos) (art.
2º, 9º/c), 109º da CRP)
2) princípio dinâmico –aberto à liberdade de participação crítica, e logo à evolução
pessoal e de ideologias (artigo 9º/c) da CRP)
3) princípio informador do Estado e da sociedade – processo de democratização
extensiva aos vários aspectos da vida económica, social e cultural (art. 51º n.º 5;
54, nº 5/b); 38º, nº 2/a); 77º e 235º CRP).
4) princípio de organização –legitimação da titularidade e exercício do poder
político através do povo. O poder político é constituído, legitimado e controlado
por cidadãos (povo), igualmente legitimados para participarem no processo de
organização da forma do Estado e de governo.
5) princípio de realização dos direitos fundamentais - dado que a participação dos
cidadãos no processo democrático implica a contribuição de todos em igualdade
e em liberdade, (art. 48º e 109º CRP); implica participação livre assente em
garantias para a liberdade desse exercício (direito de associação, de formação de
partidos, de liberdade de expressão); prevê a abertura do processo político no
sentido da criação de direitos económicos, sociais, culturais constitutivos de uma
democracia económica, social e cultural (artigo 2º).
Princípio democrático – ao contrário do que acontece nas ditaduras em que os
governantes exercem o poder com indiferenças, mesmo contra a vontade dos
governados, nas democracias regista-se a presença efectiva destes no estatuto e
desempenho dos governantes, principalmente nos seguintes aspectos:
a) Intervenção na escolha dos governantes
b) Intervenção na fiscalização dos actos dos governantes e na possibilidade da sua
não designação.
Na prática a concretização da relação entre governantes e governados pode assumir-se:

86
1) Como democracia representativa, em que os governantes mandam em nome do
povo e têm a sua confiança politica. Democracia representativa – a dimensão
representativa relaciona-se com a designação dos titulares dos órgãos públicos,
principalmente do Estado, que desempenham os mandatos em nome do povo,
em que a eleição é o modo fundamental dessa designação, e na qual participam
através do voto os cidadãos activos da comunidade.
2) Como democracia referendária, em que o povo decide pontualmente sobre
questões de governação, com a força de acto jurídico ou público34.
3) Como democracia participativa, em que o exercício dos direitos políticos que
formam a opinião pública contribuem pelo menos informalmente para a
limitação do poder do poder público e para a sua democratização.,

O princípio democrático na nossa Constituição assume-se como primeiro princípio


estruturante do direito constitucional e é referido em muitos artigos da Constituição,
desde logo no seu preâmbulo, parágrafos 1 e 2, e também (só a título de exemplo):
(artigos n.(s) 1, 2, 3, 40, n. 2 e 114, n. 2). Também na Constituição são visíveis as três
modalidades ou dimensões de democracia que atrás referimos.

CONCRETIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO


Desdobra-se em 4 princípios:
I - princípio da soberania popular
II - princípio da representação popular
III - princípio da democracia semi-directa
IV - princípio da participação

Princípio da Soberania Popular - art. 2º e 3º da CRP


a) princípio de titularidade da soberania do Estado ( o domínio político carece de
uma justificação quanto à sua origem, isto é, precisa de legitimação);
b) princípio de legitimação do poder político ( só pode derivar do próprio povo);
c) princípio da titularidade do poder (o povo é ele mesmo o titular da soberania ou
do poder35);

34
Eleição e referendo, são coisas diferentes: Eleição – destina-se à escolha dos governantes. Referendo –
destina-se à tomada de decisão sobre uma questão concreta

87
d) princípio da soberania popular (a soberania popular existe, é eficaz e vinculativa
no âmbito de uma ordem constitucional materialmente informada pelos
princípios da liberdade política, da igualdade dos cidadãos, da organização
plural de interesses; e procedimentalmente dotada de instrumentos que garantam
a operacionalidade deste princípio ( artigo 2º e 10º);
e) princípio de legitimação material e formal da CRP ( há um plano de construção
organizatória da democracia, pois é ela que determina os pressupostos e os
procedimentos segundo os quais as decisões e as manifestações de vontade do
povo são jurídica e politicamente relevantes).

Princípio da Representação Popular - art. 10º da CRP


a) como derivação directa ou indirecta do princípio da soberania popular;
b) como exercício jurídico de funções de domínio por órgão do estado em nome do
povo;
c) como exercício do poder com vista a prosseguir os fins ou interesses do povo.
Na CRP este princípio tem a sua expressão máxima na representação parlamentar -
art. 147º da CRP.
Princípio da Democracia Semi-directa - art. 2º "in fine" da CRP
- como expressão do complexidade do Princípio democrático e aprofundamento da
democracia participativa.
Formas:
a) Referendo –artigo 115 ( cfr. art. 115º , nº 2 e 166º da CRP ; Referendo
regional artigo 232º, nº2; referendo da instituição das regiões em concreto
256º)
b) Iniciativa popular - art. 167º n.º 1 CRP
c) Veto – Instrumento político que permite aos cidadãos exigir que uma
determinada lei seja submetida a voto popular. Não previsto na CRP
d) Plebiscito – pronúncia popular sobre escolhas ou decisões políticas. Não
previsto na CRP
Princípio da Participação - art. 2º, 9º c), 48º e 109º CRP ou princípio da democracia
participativa.

35
O que significa que o poder do povo se distingue de outras formas de domínio – castas, classes,
monarcas; e que há necessidade de uma legitimação democrática efectiva para o exercício do poder – a
legitimação vem do povo e a esta se deve reconduzir

88
Democracia participativa diz respeito à intervenção dos cidadãos individualmente, ou
principalmente em associações sociais, ou profissionais, nas tomadas de decisão das
instâncias do poder, ou nos próprios órgãos do poder. O seu objectivo é suprir a
distância entre o poder e os cidadãos, que resulta das fórmulas tradicionais da
democracia que a constituição se refere, quando fala no aprofundamento da democracia,
que tem que ser visto como um conceito dinâmico.
Os instrumentos que se colocam ao serviço da democracia participativa estão muito
relacionados com os direitos políticos, que se materializam na liberdade de opinião, de
expressão e informação (artigo 37º), liberdade de imprensa (artigo 38º) liberdade de
reunião (artigo 45º), liberdade de manifestação (45º), liberdade de associação (artigo
46º), liberdade de criação e militância nos partidos (artigo 51º), direitos de petição
(artigo 52º) e direitos de acção popular (artigos n.(s) 52º, nº 3 e 109º, 9, alínea c); 263º,
207º, 267º, n.º 5 e 6).

REFERENDO
Regime jurídico-constitucional do referendo:
a) âmbito territorial36
- a nível nacional - 115º n.º 1 e 2 e 166º CRP
- a nível local (Autarquias Locais) - 240º CRP
- a nível regional (Regiões Autónomas)- 232º, 2 CRP
b) âmbito material dos referendos nacionais
- questão de relevante interesse nacional de competência da Assembleia da
República ou Governo através de aprovação de convenção internacional ou acto
legislativo - art. 115º n.º 3 CRP
- estão excluídos: alterações à constituição; questões orçamentais, tributárias ou
financeiras; as matérias dos art. 161º e art. 164º da CRP; - artigo 115º n.º 4 CRP
c) decisão - art. 115º n.º 1 e 134º al. c) CRP
- a decisão de efectuar um referendo cabe exclusivamente ao Presidente da
República37
d) iniciativa - art. 115 n.º 1 e 2 , 161º al. j), 167º n.º 1, 197º , n.º 1, al. e) CRP

36
O referendo político nacional tem a sua argumentação básica no artigo 115º da constituição; o artigo
232º, n. 2, refere-se ao referendo regional e o artigo 240º, refere-se ao referendo local. O referendo de
âmbito nacional, e só pode ter por objecto questões de relevante interesse nacional.
37
O referendo encontra-se na dependência da maioria parlamentar, mas só pode efectuar-se se o
Presidente da República concordar. (artigo 115, n. 1)

89
- a proposta de realização de um referendo cabe ao Governo ou à Assembleia da
República por sua iniciativa ou por iniciativa dos cidadãos38
e) eficácia jurídica - art. 115º n.º 11 CRP
- o referendo só tem eficácia jurídica quando o número de votantes for superior a
50% dos eleitores recenseados - colégio eleitoral - ou seja, nesse caso os órgão de
soberania competentes estão vinculados aos resultados do referendo, sendo
obrigados praticar os actos referendados.
h) universo eleitoral - colégio eleitoral
- os cidadãos portugueses recenseados a nível nacional - art. 115º n.º 1 CRP
- e os cidadãos portugueses residentes no estrangeiro nas matérias que lhes digam
especificamente respeito art. 115 n.º 12 e 121º n.º 2 CRP

A regulamentação do referendo é desenvolvida por duas leis ordinárias: A lei 15-A/98,


03/04 e a lei orgânica n.º 4/2000, 24/08.39

O PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E O DIREITO DE SUFRÁGIO


O Direito de Sufrágio enquanto instrumento de realização do princípio democrático vai
ser assim determinado por 5 princípios materiais fundamentais: (artigo 10º nº 1 e 113º
n.º 1 CRP):
1 - Princípio da universalidade - art. 49º CRP
2 - Princípio da imediaticidade ou directo (contrapõe-se ao voto indirecto)121º CRP
3 - Princípio do sufrágio secreto - 10º e 113º CRP
4 - Princípio da periodicidade - 118º, 128º e123º, 171º CRP
5 - Princípio da liberdade - 48º n.º 1 CRP

Fases do procedimento eleitoral, que termina com a eleição propriamente dita:

38
Só pode ter por objecto questões que devam ser decididas, quer pela assembleia da república, quer pelo
governo, através de aprovação de tratados internacionais, ou de actos legislativos, não podem ser objecto
de referendo certas matérias ou assuntos (artigo 115, n. 4)
O processo de referendo assenta num relacionamento especifico entre a assembleia da república e o
governo, só pode recair sobre um só assunto (tema), com questões objectivas, claras e precisas que
tenham uma resposta de sim ou não. O referendo é vinculativo nos termos que constam no artigo 115.
39
O instituto do referendo integra-se no sistema representativo, e este apenas se limita nos casos o
afastamento da política levada a cabo pelos governantes, relativamente aos programas assentes em
eleições gerais e noutros casos a corrigi-la, no sentido da vontade actual do eleitorado. Como ele se
realiza esporadicamente e só acerca de questões determinadas o referendo constitui muitas vezes um
contrapeso de direcção permanente da vida do Estado.

90
1 Registo do colégio eleitoral, através do recenseamento
2 Marcação das eleições
3 Apresentação dos candidatos
4 Campanha eleitoral
5 Votação
6 Apuramento dos resultados
7 Fase do contencioso eleitoral
8 Publicidade dos resultados

O sistema eleitoral – que pode ser definido como método que permite traduzir em
mandatos os votos que foram depositados nas urnas pelos eleitores, podem ser
analisados em termos de três categorias de representação:
1 – Representação proporcional
2 – Representação maioritária
3 – Representação minoritária

Traços do direito eleitoral Português:


A maioria dos nossos órgãos do Estado são eleitos por sufrágio directo e universal, são
os seguintes:
1 – O Presidente da República
2 – A Assembleia da República
3 – As assembleias legislativas das regiões autónomas
4 – O Parlamento Europeu

O recenseamento eleitoral (Lei n.º 13/99, 23/03), obedece aos seguintes princípios:
a) Universalidade (todos os que têm capacidade eleitoral)
b) Permanência
c) Actualização
d) Obrigatoriedade e oficialidade
e) Unicidade

O sufrágio tem as seguintes características:

91
1 – Universal (não aceita no nosso sistema o sufrágio do tipo capacitário,
censitário, ou de qualquer tipo discriminatório).
2 – Igual
3 – Directo
4 – Secreto
5 – Periódico
6 – Pessoal

Artigo 49, n. 2 da Constituição, refere que o exercício do direito de sufrágio constitui


um dever cívico, isto significa que ele não é obrigatório, situando-se unicamente apenas
no plano da moralidade cívica do cidadão.

O artigo 113º, nº 5 estabelece que a conversão de votos em mandatos é feita pelo


princípio da representação proporcional, sendo adoptado o método da média mais alta
de Hondt. (Artigo 149º e 260º).

Democracia referendária ou semi-directa – consiste na possibilidade de os cidadãos se


pronunciarem acerca de assuntos que se colocam à governação. Nesta dimensão é o
próprio povo que decide. O Artigo 10º,nº1 da Constituição refere-se para além do
sufrágio, o referendo como um dos meios do exercício do poder político.

O PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E O SISTEMA PARTIDÁRIO


a) A CRP consagra o direito constitucional formal à constituição de partidos
políticos: - art. 51º CRP. Os partidos políticos constituem-se livremente, sem
dependência de autorização, embora estejam sujeitos a certos limites de proibição de
violência e de fins contrários à lei penal (artigo 46, n. 1)40.

40
O regime de partidos políticos baseia-se no direito à associação (artigo 46 e 51). Também não podem
ser consentidos partidos políticos armados ou do tipo militar ou militarizado, nem de carácter fascista ou
de ideologia fascista.
Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de um partido, ninguém pode estar escrito em mais de um
partido.
Os partidos não podem ser dissolvidos, nem suspensos, salvo nos casos previstos na lei e só por decisão
judicial.

92
b) a CRP atribui aos partidos políticos direitos fundamentais de participação
política de:
- organização e expressão da vontade popular, art. 10º,2 - participação
nos órgãos representativos - art. 114º
- direitos específicos no funcionamento da AR - art. 180º
- de influencia na formação do governo - art. 187º, 1
c) Os partidos têm direito a funcionar em liberdade externa e interna:
- liberdade externa - liberdade de fundação - art. 51º
- liberdade interna - liberdade de acção e pensamento (ideológico e
programático)
- A liberdade dos partidos encontra limites nos artigos: 51º, 3, 4, 160º, 1
d), 223º, 2, e) CRP41
d) Princípio da igualdade de oportunidade dos partidos políticos - 113º, 3, b) e c),
114º CRP

Lei orgânica dos partidos políticos (Lei n.º 2/2003, 22/08)


Existem garantias de liberdade de filiação partidária. A informática não pode ser usada
para tratamento de dados referentes a convicções políticas ou religiosas, isto encontra-se
desenvolvido na lei de protecção de dados. (Lei n.º 67/98, 26/10)
Não pode haver despedimentos por motivos ideológicos ou políticos.
Como garantia de isenção as Forças armadas são rigorosamente apartidárias (artigo 275,
n. 4). A lei pode estabelecer restrições ao direito de associação dos militares e
militarizados. (artigo 270º)

Os partidos políticos na nossa Constituição têm importância em três matérias:

1 – Em eleições
2 – Acção parlamentar (artigo 180º) e direito a constituir partidos
3 – Em certos poderes de intervenção, tais como o direito à informação
pelo governo (artigo 114º, n. 3) e apreciação dos decretos-leis (artigo

41
Não podem ter uma denominação, que contenha expressões relacionadas com religião, igreja, símbolos
religiosos. Cabe ao Tribunal Constitucional verificar a legalidade da constituição dos partidos políticos e
das suas coligações, e também a legalidade dos seus nomes, das suas siglas e símbolos e ordenar a sua
extinção nos termos da constituição e da lei. (artigo n 233º, alínea e))

93
169º). Ainda no direito das minorias à oposição democrática (artigo 114,
n. 2)

PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E PRINCÍPIO MAIORITÁRIO


Consagração na C.R.P.:
1) princípio maioritário da deliberação dos órgãos colegiais - art. 116º, 3;
2) exigência de maioria para aprovação de certas leis –art.168º;
3) maioria qualificada para rever a CRP - art. 284º e 286º
Limites:
O direito da maioria é sempre um direito em concordância com os direitos das minorias,
nesse sentido:
- a maioria não pode dispor de determinados direitos (Sistema de Direitos
Fundamentais);
- exigência de maiorias qualificadas, que implicam a necessidade de participação
das minorias na decisão;
- finalmente há um limite interno (ético) ao princípio da maioria, a noção que
embora as decisões da maioria sejam vinculativas não são necessariamente
materialmente mais justas nem as únicas verdadeiras.
Se o sufrágio é o modo de participação dos cidadãos, o princípio da maioria é o critério
da decisão, encontrando-se consagrado expressamente, entre outros no artigos 114º,
116º e 126º.

A decisão por maioria decide sobre qualquer questões políticas, em regra, mas há certas
questões em que é exigido uma maioria agravada ou qualificada ( ex. alteração da
Constituição)

Há, ainda, a referir que na sociedade complexa e plural dos nossos dias, nem sempre a
decisão da maioria tem força suficiente para se impor, ou se mostrar idónea para a
presunção de certos objectivos da sociedade. Designadamente em matéria laboral,
salarial, a tendência é para complementar essa maioria por vontades contratuais, que é a
chamada concertação social que existe no domínio das relações laborais.

Aula de 30-10-2006 (suplementar)

94
Princípio da Socialidade ou Princípio do Estado Social

A DEMOCRACIA ECONÓMICA E SOCIAL art. 2º CRP


Novo Fim para o Estado → a realização da democracia económica, social, cultural e
ambiental - art. 9º d) CRP. Que se liga com o Fim da Justiça Retributiva → a promoção
da igualdade real entre regiões e cidadãos – art. 81º a) e d) e art. 90º CRP
A democracia, económica, social e cultural é o que se costuma chamar de Estado social,
e que se traduz essencialmente na responsabilidade pública pela promoção do
desenvolvimento económico social e cultural, na satisfação dos níveis básicos de
prestações sociais para todos e na correcção das desigualdades sociais
Este princípio é um objectivo a realizar mediante a observação do princípio democrático
e o princípio do Estado de direito.
A democracia económica é referida nos (artigos 80º a 89º)
A democracia social é referida nos (artigos 63º a 72º)
A democracia cultural é referida nos (artigos 73º a 79º)
A Constituição refere no artigo 1º a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
No artigo 2º refere claramente que visa a democracia, económica, social e cultural
(artigo n. 9º). Assume, também, o princípio ou direito à igualdade social que tem
implicações a vários níveis (direito fiscal - princípio da capacidade contributiva e a ideia
do imposto progressivo; No direito laboral a protecção do trabalhador como elo mais
fraco). Está também desenvolvida quanto à proibição da discriminação racial (artigo 13º
e 71º, n. 2), aos cidadãos portadores de deficiência (artigo 74º, n. 2, alínea g)).
Assume-se, ainda, quanto aos direitos dos Estrangeiros e Emigrantes (artigos 33º, n. 8 e
74º, n. 8, alínea j)
Com a consagração dos direitos fundamentais, com carácter económico, social e
cultural
(Artigo 58 – Direito ao trabalho)
(Artigo 53 – Direito à Segurança Social)
(Artigo 64 – Direito à Saúde)
(Artigo 65 – Direito à Habitação)
(Artigo 74 – Direito ao Ensino)
(Artigo 78, n. 1 – Fruição e Criação cultural)
(Artigo 79, n. 1 – Cultura Física e Desporto)

95
A relevância do chamado Estado social é que a sua realização é um processo, um
caminhar no sentido de um crescente de justiça social, constituindo cada avanço nessa
direcção um aperfeiçoamento do Estado de direito democrático e cada progresso vai-se
radicando com um elemento adquirido desse Estado. Por isso qualquer retrocesso no
caminho percorrido não se limita a contrariar o princípio constitucional da democracia
económica, social e cultural, mas infringe também directamente o princípio do Estado
de direito democrático. Assim o princípio do Estado social constitui uma directiva
constitucional, e a sua sistemática desconsideração pode resultar em situações de
incumprimento da Constituição que afirma o princípio do não retrocesso social.
Este princípio pode formular-se do seguinte modo:
- O núcleo essencial dos direitos sociais, já realizado e efectivado através de
medidas legislativas (exemplo: Lei do Serviço Nacional de Saúde, Lei da Segurança
Social e Desemprego, etc.), deve considerar-se constitucionalmente garantido, devendo,
por isso, entender-se como inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que não
criando outros esquemas alternativos ou compensatórios se traduzam na prática na
anulação, revogação, ou aniquilação pura e simples daquele núcleo essencial.
O princípio da democracia económica e social aponta para a proibição do retrocesso
social, também designada como proibição de contra-revolução social ou da evolução
reaccionária. Isto quer dizer que os direitos sociais e económicos (direitos dos
trabalhadores, direito à assistência, direito à educação) uma vez obtido um determinado
grau de realização, passam a constituir, simultaneamente uma garantia institucional e
um direito subjectivo. A proibição de retrocesso social não pode fazer nada contra as
recessões e crises económicas mas esse princípio limita a reversibilidade dos direitos
adquiridos ( ex. segurança social, subsídio de desemprego, prestações de saúde, etc),
sob pena de existir uma clara violação do princípio da protecção da confiança e da
segurança dos cidadãos no âmbito económico, social e cultural e do núcleo essencial da
existência mínima que é inerente ao respeito pelo princípio da dignidade da pessoa
humana. A violação deste núcleo essencial efectivado justificará a sanção da
inconstitucionalidade relativamente a normas que manifestamente aniquilem a chamada
“ justiça social”. Será inconstitucional uma lei que extinga o subsídio de desemprego ou

96
que pretenda alargar excessivamente o tempo de serviço necessário para a aquisição do
direito à reforma.42
Este princípio da proibição do retrocesso pode, no ensinamento de Gomes Canotilho,
formular-se da seguinte forma:
O núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efectivado através de medidas
legislativas ( lei da segurança social; lei do subsídio de desemprego; lei do serviço de
saúde) deve considerar-se constitucionalmente garantido sendo inconstitucionais
quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou
compensatórios, se traduzam na prática numa anulação, revogação ou aniquilação pura
e simples desse núcleo essencial. A liberdade de conformação do legislador e inerente
auto-reversibilidade têm como limite o núcleo essencial já realizado.

Princípio da Unidade

O artigo 6º da Constituição considera o princípio da unidade do Estado como princípio


estruturante do Estado, na óptica organizatório-territorial. Estado unitário será aquele
que, num determinado território e para a população que nele vive, tem uma base única
para a estadualidade ( ou estatalidade). Isto significa que: a) existe uma organização
política e jurídica ( o Estado) à qual se imputa a totalidade das competências estaduais (
defesa, justiça, representação externa, por exemplo); b) que existe uma só soberania
interna e externa, não existindo outras organizações soberanas ( como nos estados
federais); c) da unitariedade do Estado resulta a imediaticidade das relações jurídicas
entre o poder central e os cidadãos; d) do carácter unitário resulta, ainda, a ideia de
indivisibilidade territorial.
Em resumo unidade do Estado significa República una, com uma única Constituição e
órgãos de soberania únicos para todo o território nacional

Princípio da autonomia das autarquias locais


O princípio da autonomia das autarquias locais é uma das dimensões da organização do
Estado unitário (artigo 6º da CRP), ao lado do respeito pelo regime autonómico insular.

42
J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 1998, pg 320 e 321.
Cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional 39/84 e 148/94.

97
A Constituição refere no artigo 235º que as autarquias locais são uma componente da
organização democrática do Estado, podendo dizer-se, assim, que é um princípio
estruturante da organização política e da organização territorial do Estado.. Esta
autonomia verifica-se, desde logo, pela inserção do Poder Local num título autónomo(
Título VIII), isto é fora da administração do Estado. Depois porque a existência de
autarquias locais é uma garantia institucional (artigo 235º, nº 1), transportando um
núcleo ou reduto do poder local indisponível para o Estado. São dimensões concretas
deste núcleo essencial do poder autárquico: 1- o direito à existência (artigo 235º, nº1),
implicando autogoverno local, com órgãos representativos eleitos directa e
indirectamente pelo colégio eleitoral de base; 2- garantia de órgãos representativos
dotados de determinadas competências autárquicas; 3- garantia da prossecução de
interesses próprios das populações respectivas através de órgãos de governo próprios (
235º, nº 2). Há, assim, um conteúdo subjectivo, um conteúdo objectivo e um conteúdo
institucional globalmente integradores da autonomia das autarquias locais, isto é, a
43
autonomia local inclui um núcleo estável e irrevisível ( artigo 288º, alínea n)) ,
levando a que o legislador não possa eliminá-las, embora caiba dentro da sua liberdade
de conformação ( pelo menos em relação às freguesias e municípios) a criação e
extinção de autarquias; e o direito à organização própria e o direito às competências
próprias para através dos seus órgãos representativos, livremente eleitos, prosseguirem
os interesses próprios das populações, que pode ser feita de forma autónoma ou em
cooperação com o poder político central.

O princípio da subsidiariedade
O princípio da subsidiariedade44, em articulação com a cláusula de integração europeia
(art. 7°/6) e com o princípio do Estado Unitário (art. 6.°/1) adquiriu uma dimensão
estruturante da ordem constitucional portuguesa.
O princípio da subsidiariedade densificado a nível das relações Estados-membros/União
Europeia e do Estado Unitário/regiões e autarquias locais é expressão de um princípio
geral de subsidiariedade que pode formular-se da seguinte forma: as comunidades ou
esquemas organizatório-políticos superiores só deverão assumir as funções que as

43
As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
n) A autonomia das autarquias locais;
o) A autonomia político-administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
44
Depois da revisão de 1992, no que respeita à União Europeia, e depois da revisão de 1997

98
comunidades mais pequenas não podem cumprir da mesma forma ou de forma mais
eficiente45.
O princípio da subsidiariedade articula-se com o princípio da descentralização
democrática: os poderes autonómicos regionais e locais das regiões autónomas e das
autarquias locais (comunidades de dimensões mais restritas) devem ter competências
próprias para regular e tratar as tarefas e assuntos das populações das respectivas áreas
territoriais (administração autónoma em sentido democrático). Ligado a este princípio
da administração autónoma democrática, está o principio da desburocratização (art.
267.°/ 1) assegurando a participação das populações na defesa e prossecução dos seus
interesses (princípio da subsidiariedade como princípio antiburocrático).
Em relação às relações dos Estados-membros/União Europeia o princípio da
subsidiariedade transporta duas dimensões fundamentais: (1) as competências da União
Europeia são competências de atribuição não devendo transferir-se para uma
comunidade de nível superior competências esvaziadoras da estatalidade (dos Estados
membros) e da autonomia regional e local; (2) a execução das políticas e decisões da
União Europeia devem localizar-se nos Estados membros (cfr. Tratado UE, art. 3.°/B)
na medida em que os objectivos possam ser por estes suficientemente realizados e desde
que não se trate de competências exclusivas da Comunidade.
Assim, como refere Gomes Canotilho46 “o princípio da subsidiariedade não tem
contornos definidos nem nas relações Estados membros - Comunidade Europeia nem
nas relações República - poderes regionais e locais, podendo transformar-se, até, num
princípio normativo de controlo, obrigando, por exemplo, os tribunais e outras
instâncias de controlo a fiscalizar se certas medidas comunitárias ou estatais violam o
princípio da subsidiariedade”.

INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO - a interpretação das normas jurídicas implica não
só a apreensão do seu significado objectivo como a sua aplicação a situações concretas.
Como refere Jorge Miranda47 “ Há sempre que interpretar a Constituição como há

45
R. Zippelius, Teoria Geral do Estado, 3ª edição, 1997, pg 159 VITAL MOREIRA, A Administração
Autónoma, pg. 250.
46 46
J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 1998, pg 340-341
47
Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra Editora, 2002, pg 649

99
sempre que interpretar a lei. Só através desta tarefa se passa da leitura política,
ideológica ou simplesmente empírica para a leitura jurídica do texto constitucional”
Acrescenta o mesmo autor que “ existe, pois, hoje, o reconhecimento da importância da
interpretação constitucional – não só para o juiz ( sobretudo, quando pode desaplicar
normas inconstitucionais) mas também para os cidadãos em geral; “ chegando ao ponto
de se preconizar uma “ sociedade aberta de intérpretes da Constituição, especialmente
no domínio dos direitos fundamentais como expressão de uma res publica” como refere
Peter Haberle.
A interpretação constitucional não é diferente da que se faz em outras áreas do direito.
No entanto a interpretação constitucional tem de ter em conta condicionalismos e fins
políticos, apesar de não poder visar outra coisa que não sejam os preceitos e princípios
jurídicos que lhes correspondam.
Não há norma na C.R.P. sobre interpretação e por isso vamos socorrer-nos do artigo 9º
do Código Civil48
ARTIGO 9º
(Interpretação da lei)

1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o
pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é
aplicada.
(…)»

ELEMENTOS DE INTERPRETAÇÃO
1) elemento literal / gramatical – a “letra da lei”
2) elemento lógico – “reconstituir o pensamento legislativo”:
2.1) elemento racional / teleológico - "ratio legis", ou seja, “para quê” e “por quê”;
2.2) elemento sistemático – “unidade do sistema jurídico”;
2.3) elemento histórico – “circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições
específicas do tempo em que é aplicada”.

A INTERPRETAÇÃO DA C. R. P.

48
Há quem refira que este artigo 9º é uma norma materialmente inconstitucional e que aqui não iremos
abordar.

100
A função integradora da constituição reclama a função racionalizadora da interpretação
da C. R. P.. Assim, a interpretação da Constituição tem de ser objectiva e evolutiva de
maneira a assegurar a coerência e a subsistência do ordenamento.
No entanto a interpretação deverá ter sempre em conta os seguintes aspectos:
1) a Constituição deve ser entendida como um todo, na busca de uma
unidade e harmonia de sentido;
2) se existirem “contradições de princípios” deverão ser superadas quer
mediante a redução adequada do respectivo alcance e da cedência de
parte a parte; quer noutros casos, mediante a preferência ou a prioridade
na efectivação de uns princípios em relação a outros, nuns casos através
da coordenação e noutros através da subordinação. Mas é necessário
fazer-se, sempre, um esforço de concordância prática assente num
critério de proporcionalidade, podendo existir ponderação e
hierarquização dos valores inerentes aos princípios constitucionais;
3) são verdadeiras normas jurídicas e, logo, devem ser interpretadas de
forma a dar-lhes a máxima eficácia possível, ou como refere Gomes
Canotilho49 “ a uma norma fundamental tem de ser atribuído o sentido
que mais eficácia lhe dê”. Interpretar a Constituição é ainda realizar
a Constituição.
4) atender não só ao que as normas constitucionais explicitamente ostentam
como também ao que implicitamente delas resulta;
5) As normas constitucionais devem sempre ser interpretadas e aplicadas
como normas da Constituição actual, da Constituição que temos e em
vigor, e não como normas de uma Constituição futura;
6) Na interpretação dos preceitos da Constituição é legítimo e pode ser
conveniente considerar o modo como é feita a sua aplicação prática na lei
e nas decisões dos tribunais, mas sem nunca perder de vista que é a
Constituição que conforma a lei ordinária e não o contrário, pois não é a
Constituição que deve ser interpretada em conformidade com a lei, mas
sim a lei que deve ser interpretada em conformidade com a Constituição.

49
J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 1998, pg 1187.
Inclusivamente no caso das chamadas normas programáticas;

101
Em conclusão podemos dizer que apesar de não estarem previstas normas de
interpretação na Constituição, será de recorrer a outros preceitos previstos no
ordenamento jurídico, nomeadamente ao Código Civil ( artigo 9º), pois essas regras são
válidas e eficazes e traduzem uma vontade legislativa que não é contrariada por outras
disposições. Como acrescenta Jorge Miranda50, “regras sobres estas matérias podem
considerar-se substancialmente constitucionais não repugnando, mesmo vê-las dotadas
de valor de costume constitucional (praeter legem)”.

A INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA DA CONSTITUIÇÃO


a) Através de Lei Ordinária?
Lei Ordinária deve obedecer à Constituição, mas:
- tem força jurídica inferior
- tem menor legitimidade democrática
b) Através do Tribunal Constitucional?
O Tribunal Constitucional tem poderes de fiscalização da conformidade das Leis
ordinárias com a Constituição, mas:
- não têm poderes legislativos
- apenas jurisdicionais
c) Através de Lei Constitucional?
SIM:
- tem a mesma força jurídica e legitimidade democrática!

Aula de 31-10-2006 (suplementar)


A INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO
Interpretar a lei ordinária de forma a que esta respeite os preceitos constitucionais
requer a prévia interpretação da Constituição no sentido de se apurar em que sentido o
legislador constitucional quereria que dar à lei ordinária caso a tivesse feito. Logo a
interpretação da constituição é relevante enquanto parte do elemento sistemático a ter
em consideração na interpretação da Lei Ordinária. Mais, a interpretação conforme a
Constituição é também a regra de interpretação decorrente da fiscalização da
constitucionalidade operada pelo Tribunal Constitucional.

50
Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra Editora, 2002, pg 657

102
Interpretação conforme com a Constituição será discernir no limite – na fronteira da
inconstitucionalidade – um sentido que, embora não aparente ou não decorrente de
outros elementos de interpretação, é o sentido necessário e o que se torna possível por
virtude da força conformadora da Lei Fundamental.
A interpretação conforme a Constituição tem de estar sujeita a um requisito de
razoabilidade: implica um mínimo de base na letra da lei; e tem de se deter aí onde o
preceito legal conforme com a Constituição, fique privado da função útil ou onde,
segundo o entendimento comum, seja incontestável que o legislador ordinário acolheu
critérios e soluções opostos aos critérios e soluções do legislador constituinte.51

A INTEGRAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
A CRP não regula tudo quanto dela deve ou pode ser objecto. A Constituição
expressamente o admite prescrevendo a integração pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem no artigo 6º n.º 2 CRP e remetendo para a lei ordinária e para as
regras do Direito Internacional quanto a Direitos fundamentais não previstos na CRP
(artigo 16º n.º 1 da CRP).
Por fim, a universalidade do ser humano e da sociedade humana não é comportável num
texto constitucional, ou sequer, na previsão internacional globalmente considerada. Por
isso a existência de lacunas.

INTEGRAÇÃO DAS LACUNAS DA C.R.P.


Recurso à unidade de princípios e valores previstos na própria CRP .A integração de
lacunas de normas formalmente constitucionais deve ser feita no interior da
Constituição formal à luz de valores da Constituição material, sem recurso a normas de
legislação ordinária. Os critérios do artigo 10º da Código Civil aplicam-se pelo facto de
traduzirem uma vontade legislativa, não contrariada por nenhumas outras disposições,
podendo, da mesma forma que o artigo 9º do C.C. para a interpretação, considerar-se
normas substancialmente constitucionais não repugnando mesmo vê-las dotadas do
valor do costume constitucional (praeter legem), como refere Jorge Miranda52.
CRITÉRIOS DE INTEGRAÇÃO:

51
Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra Editora, 2002, pg 661
52
Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra Editora, 2002, pg 657

103
Não há norma na C.R.P. sobre integração. Artigo 10º do Código Civil 53

«ARTIGO 10º DO CÓDIGO CIVIL


(Integração das lacunas da lei)
1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos
análogos.
2. Há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões justificativas da
regulamentação do caso previsto na lei.
3. Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o próprio
intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema.»

Assim, a integração de lacunas da constituição deverá ser feita por analogia ou pela
ficção da norma que o legislador constitucional criaria caso tivesse previsto a situação
em atenção à unidade do sistema constitucional.

MODIFICAÇÃO E SUBSISTÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO


A Constituição enquanto diploma fundamental de expressão da vontade popular
materializada na criação e regulação do Estado pretende perdurar no tempo
acompanhando a vida desse Estado. Nessa medida, toda a Constituição sofrerá
inevitavelmente as vicissitudes da evolução das circunstâncias económicas, sociais,
culturais e políticas do próprio Estado e, se quiser perdurar, deverá modificar-se em
atenção a esta evolução.
Nomeadamente, a Constituição de um Estado Democrático que aceita a circunstância
dinâmica do princípio democrático, não pode deixar de ser permeável a este dinamismo,
pois a vida constitucional é igualmente um processo dinâmico. Assim, a vida do Estado
gera inevitavelmente factos e momentos históricos que se projectam na Constituição -
chamaremos a estes as vicissitudes constitucionais.

VICISSITUDES CONSTITUCIONAIS
QUANTO AO MODO
a) expressas: revisão (formal) ou ruptura constitucional.

53
Há quem refira que este artigo 9º é uma norma materialmente inconstitucional e que aqui não iremos
abordar.

104
b) tácitas: costume constitucional, interpretação evolutiva.
QUANTO AO OBJECTO
a) parciais: todas menos a
b) totais: revolução e transição constitucional
QUANTO ÁS CONSEQUÊNCIAS:
a) evolução constitucional: todas menos a ↓
b) com ruptura: revolução e ruptura não revolucionária
QUANTO À DURAÇÃO DOS EFEITOS
a) definitivos: todas menos a ↓
b) temporários: suspensão (parcial) da constituição (art. 19º, 134º d) e 138º da
CRP - estado de sítio ou estado de emergência)

RIGIDEZ E FLEXIBILIDADE CONSTITUCIONAL


Diz-se rígida a Constituição que, para ser revista, exige a observação de uma forma
particular distinta da forma seguida para a elaboração das leis ordinárias.
Diz-se flexível aquela em que são idênticos os processo legislativo e o processo de
revisão constitucional, aquela em que a forma é a mesma para a lei ordinária e para a lei
constitucional.
A rigidez constitucional é a norma nos Estados modernos e resulta da adopção do
conceito da constituição formal e instrumental.

VANTAGENS DE UMA CONSTITUIÇÃO RÍGIDA


- A superior legitimação democrática confere legitimidade à sua superior força
normativa
- Impede que a Constituição possa ser alterada levianamente sob a pressão de
quaisquer acontecimentos circunstanciais
- Garante assim a necessária estabilidade ao ordenamento jurídico e à confiança
e fiabilidade do mesmo

VANTAGENS DAS CONSTITUIÇÕES FLEXÍVEIS


- Permite a fácil actualização da constituição formal e instrumental em função
natural evolução da consciência global;

105
- Impede que a Constituição formal e instrumental seja ultrapassada pela
realidade constitucional, tornando-se obsoleta, e de certo modo ilegítima, e nesse
sentido potenciando a sua própria derrogação

RIGIDEZ E FLEXIBILIDADE CONSTITUCIONAL


CONCLUSÃO:
Por um lado, os fins de Segurança e Justiça que o Estado Direito pretende alcançar
exigem estabilidade ao ordenamento jurídico e à confiança e fiabilidade do mesmo, o
que só pode ser garantido mediante a rigidez dos princípios estruturantes deste
ordenamento.
Por outro lado, é imperioso a existência da possibilidade formal de revisão, ainda que
dentro de regras mais apertadas, no sentido de impedir que a Constituição seja
ultrapassada pela realidade constitucional.
A par da rigidez, uma flexibilidade controlada de revisão, é a melhor garantia da
perpetuação da própria Constituição.

OS DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS


PROCESSO DE ACUMULAÇÃO HISTÓRICA
1ª GERAÇÃO – LIBERAL (liberdades face ao poder do estado)
2ª GERAÇÃO – DEMOCRÁTICA (igualdade, liberdade de associação, de
participação)
3ª GERAÇÃO – SOCIAL (novas liberdades: greve, sindical, etc... direitos sociais:
direitos à participação do estado)
4ª GERAÇÃO – SOLIDARIEDADE MUNDIAL ( OU SOLIDARIEDADE
INTERGERACIONAL – nosso sublinhado (Direito ao Ambiente, ao Património
Cultural)

DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


1ª - DIREITOS NATURAIS:
. reconhecidos independentemente do tempo e do lugar
2ª - DIREITOS HUMANOS:

106
. reconhecidos em dado momento histórico independentemente do
lugar.
3 ª - DIREITOS FUNDAMENTAIS:
. reconhecidos em dado momento histórico e em determinado lugar

SISTEMA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO DA


REPÚBLICA PORTUGUESA
Direitos fundamentais – são os direitos ou posição jurídica subjectiva das pessoas
enquanto tais individual ou institucionalmente considerados, assentes na Constituição,
ou seja na Constituição formal e na Constituição material. Daí que se possa falar em
direitos fundamentais em sentido formal ou em sentido material.54
Regime jurídico dos direitos fundamentais – a Constituição não consagra um regime
unitário dos direitos fundamentais, mas ao contrário ela estabelece um regime geral dos
direitos fundamentais, aplicável a todos os direitos fundamentais, quer sejam
consagrados com os Direitos Liberdades e Garantias, quer com os direitos económicos,
sociais e culturais, e quer se encontrem no catálogo ou fora do catálogo.
Consagra, ainda, um regime específico dos Direitos Liberdades e Garantia, aplicável aos
Direitos Liberdades Garantia e aos direitos de natureza análoga.

54
Uma das classificações, muito importante é a que se refere aos Direitos Liberdades e Garantias, que
se encontra no Titulo 2 da constituição, que se dividem em Direitos Liberdades e Garantias pessoais, que
vêm no Capitulo 1, de participação política, que vêm no Capitulo 2 e dos trabalhadores, que vêm no
Capitulo 3.
Direitos Liberdades e Garantias
Pessoais
Participação política
Trabalhadores

Direitos económicos, sociais e culturais, têm um regime diferente dos Direitos, Liberdades e Garantias.
Dos direitos fundamentais formalmente constitucionais, e direitos materiais formalmente constitucionais
que não tem assento na constituição.
Os primeiros, são enunciados pela constituição, mas a constituição admite outros, constantes das leis e
regras aplicáveis ao direito internacional (artigo 16º)
Portanto não podemos entender o artigo 16º, n. 1, como uma clausula fechada, mas sim como uma
clausula aberta a outros direitos fundamentais.
Direitos fundamentais dispersos (fora do catálogo), e direitos fundamentais do catálogo.
Os direitos fundamentais que vêem referidos na primeira parte da constituição (artigos 12 a 80), são o que
se costuma chamar os direitos fundamentais do catálogo, o mesmo não esgota o campo constitucional dos
direitos fundamentais existem outros direitos fundamentais dispersos ao longo da constituição,
regularmente chamados fora do catálogo.
E alguns desses direitos, são direitos de natureza análoga.
Exemplo: (artigos n.(s) 99º, alínea e), 103º, n. 3, 124, n. 1)
Direitos de natureza análoga aos Direitos Liberdades e Garantias
O (artigo 17º), fala-nos de direitos de natureza análoga aos Direitos Liberdades e Garantias.
Não é fácil estabelecer os contornos desses direitos, mas é importante fazer essa qualificação, porque eles
têm o mesmo regime dos Direitos Liberdades e Garantias.

107
Nota: Estes dois regimes não se excluem. O que acontece é que o primeiro (regime
geral), é aplicável a todos e o segundo (regime específico), acresce para alguns deles
(Direitos Liberdades e Garantias, e direitos de natureza análogos) ao primeiro regime.

REGIME GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS - aplicável a todos os direitos


fundamentais, quer se encontrem no «catálogo dos direitos fundamentais» ou fora desse
catálogo, dispersos pela Constituição, ou ainda em outras fontes de direito reconhecidas
pela Constituição – artigo 16º CRP.
REGIME ESPECÍFICO DOS DIREITOS LIBERDADES E GARANTIAS –
consagrado nas normas constitucionais para aplicação exclusiva aos designados
«direitos, liberdades e garantias e aos direitos de «natureza análoga»55.
REGIME DOS DIREITOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS – não tendo
normas de regulação específica, e aplicando-se o regime geral dos Direitos
Fundamentais, pela natureza das suas normas e preceitos é possível caracterizar um
"regime" próprio que lhes é implícito

REGIME GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

55
Não é fácil estabelecer os contornos desses direitos, mas é importante fazer essa qualificação, porque
eles têm o mesmo regime dos Direitos Liberdades e Garantias.
Como ponto de partida devemos ter em consideração o seguinte:
1 – Direitos de natureza análoga – são os que embora não venham referidos no catálogo, beneficiam de
um regime idêntico aos Direitos Liberdades e garantias.
Os direitos de natureza análoga, tento podem encontrar-se entre os direitos económicos sociais e culturais,
como dispersos na constituição.
As operações metódicas, que nos conduzem à captação da natureza análoga devem tomar em
consideração um esquema que, permita classificar em cada caso concreto a analogia, relativamente aos
seguintes aspectos:
- Em primeiro lugar procurar e analisar em cada uma das categorias: (Direitos, Liberdades e
Garantias), e não em relação ao conjunto dos três.
- Dentro de cada uma das espécies sistematizadas, na constituição, deverá procurar-se dentro da
respectiva analogia.
Exemplo: passíveis de direitos de natureza análoga.
Titulo da primeira parte, número um, temos o direito de resistência e o direito legitimo a defesa (artigo
21º)
Direito de acesso ao direito e à justiça (artigo 20º)
Direito de queixa ao provedor de justiça (artigo 23º)
Titulo três da parte um, temos os direitos dos consumidores (artigo 60º)
Direito da iniciativa económica privada (artigo 61º, n. 1)
Direito de propriedade (artigo 62º)
Na parte dois – o direito de participação dos trabalhadores, na gestão das empresas do sector público
(artigo 89º)
Direito de resistência fiscal (artigo 103º, n. 3)
Na parte três – os direitos das administrações em geral (artigo 268º)
Direito à objecção de consciência (artigo 276º)

108
Regime geral: todos aplicam-se os Direitos Liberdades e Garantias
Âmbito da titularidade dos direitos fundamentais (a quem se aplicam?):
1) Princípio da Universalidade - artigo 12º da CRP
2) Princípio da Igualdade - art. 13º CRP
3) Princípio do acesso ao direito e da garantia da tutela jurisdicional efectiva -
artigo 20º da CRP

Princípios Reguladores:
1) Princípio da Universalidade - artigo 12º da CRP
Naturalmente que há direitos fundamentais, que pela sua natureza, são exclusivos de
determinadas pessoas:
Dos cidadãos portugueses - art. 15º n.º 2 ; 121º, n.º 1; 122º; 275º n.º 2 CRP.
Dos cidadãos europeus - art. 8º do Tratado da União Europeia.
Dos cidadãos dos CPLP - art. 15º n.º 3 CRP
Dos estrangeiros em geral - - art. 33º n.º 8
Fala-se ainda de Direitos Fundamentais de Pessoas Colectivas - art. 12º n.º 2 -
na medida em que estes sejam «compatíveis com a sua natureza».
Os direitos fundamentais são direitos de todos, são direitos humanos e não só dos
cidadãos Portugueses, excepto quando a Constituição, ou a lei (com autorização
constitucional), estabelecer uma reserva de direitos para os cidadãos Portugueses.
Nota: Este princípio embora inseparável do princípio da igualdade, não se confunde
com ele.
O princípio da universalidade tem a haver com os destinatários das normas, enquanto o
princípio da igualdade tem a haver com o conteúdo do direito. O primeiro tem uma
dimensão essencialmente quantitativa, enquanto o segundo tem uma dimensão
qualitativa. Na nossa Constituição, podemos detectar quatro círculos subjectivos nas
normas que consagram os direitos fundamentais:

Círculos subjectivos das normas constitucionais


1.º Círculo da cidadania Portuguesa Artigos 50º a 47
2.º Círculo da cidadania Europeia Artigo 15º, n. 5
3.º Círculo dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PLP) Artigo 15,º n. 3
4.º Círculo da cidadania de todos Artigo 15º, n. 1

109
O círculo 4.º é extensivo a estrangeiros e apátridas.
Nota: Existe um núcleo essencial de direitos fundamentais específicos de estrangeiros e
apátridas (artigos 19, n. 6)
Há direitos fundamentais exclusivos de estrangeiros (Exemplo asilo, artigo 14º),
(explosão e extradição, artigo 33)
O artigo 14º destina-se aos cidadãos Portugueses residentes no estrangeiro.
O artigo 12, n. 2, refere as pessoas colectivas, públicas e privadas.
O artigo 37º, n. 4, refere o direito ao sigilo de correspondência.

2) Princípio da Igualdade - art. 13º CRP


a) igualdade na aplicação do direito e igualdade na criação do direito - art. 13º
n.º 1 CRP;
b) princípio de justiça social, de igualdade de oportunidades - realização do
Estado de Direito - art. 58º / 2 ; 73º; 74º; 78º.
c) princípio de igualdade perante os encargos públicos - art. 22º; 62º / 2; 103º e
104º
d) a CRP concretiza diversos princípios de igualdade: arts. 29º / 4; 36º / 4; 37º;
40º; 41º; 47º; 50º; 58º; 113º / 3 / b,
e) dimensão objectiva do princípio da igualdade: para além das diversas normas
em que o princípio da igualdade está consagrado na Constituição, este vale,
acima de tudo como princípio informador de toda a ordem jurídica-
constitucional.
O Principio da igualdade desdobra-se em quatro pontos:
1 – Princípio da igualdade, na aplicação e na criação do direito (artigo 13º) “Muito
Importante”

a) Igualdade na aplicação do direito aos cidadãos – são iguais perante a lei (esta
aplicação é dividida pelos órgãos da administração pública ou pelos
tribunais).
b) Igualdade quanto à criação do direito - a lei (o legislador) trata de forma igual
o que é igual, e de forma diferenciada o que é desigual. Este conceito
corresponde a uma ideia de igualdade justa, de proibição do arbítrio.

110
Nota: O princípio da igualdade não proíbe que a lei faça distinção, mas proíbe o
arbítrio, ou seja proíbe as diferenciações de tratamento que não tenham fundamento
material suficientemente razoável. Proíbe, também, a discriminação em função dos
critérios referidos no artigo 13º, e proíbe, ainda, que se dê igual tratamento a situações
essencialmente desiguais.
2 – Princípio de igualdade de oportunidade – que pretende concretizar uma política de
justiça social através da concretização dos direitos económicos, sociais e culturais.
3 – Igualdade perante os encargos públicos – devem ser repartidos de forma igual por
todos os cidadãos (por ex. impostos e restrições ao direito de propriedade). No caso de
existir um sacrifício especial de um indivíduo ou de um grupo de pessoas haverá que os
indemnizar ou compensar.
4 – Direitos especiais da igualdade – para além dos já referidos no (artigo 13º), a
Constituição concretiza o direito da igualdade em muitos outros preceitos, (artigos: 29º,
n. 4; 36º, n. 4; 37º; 40º; 41º; 47º; 50º; 113º, n. 3, alínea b) e 269º, n. 2), são estes os
direitos especiais da igualdade, relativamente a estes casos o (artigo 13º), vale como
princípio geral e isso significa que eles se sobrepõem, ou têm preferência como lei
especial, ou princípio especial, aos critérios gerais do artigo 13º.
Nota: O princípio da igualdade é um principio informador de toda a ordem jurídica
constitucional e anda associado ao princípio da não descriminação social. (o especial
sobrepõe-se ao geral).

3) Princípio do acesso ao direito e da garantia da tutela jurisdicional efectiva -


artigo 20º da CRP
É o princípio do acesso o Direito e aos Tribunais e reconduz-se fundamentalmente ao
direito a uma solução jurídica de actos e relações jurídicas controvertidas a que se deve
chegar num prazo razoável e com garantias de imparcialidade e independência.56

Regime específico dos direitos liberdades e garantias e dos direitos de natureza


análoga57:

56
O direito a uma solução jurídica acerca de actos e relações jurídicas controvertias a que se deve chegar
em prazo razoável, e com garantias de imparcialidade e de independência, através de um processo
jurisdicional equitativo (justo).
57

Direitos análogos aos Direitos, Liberdades e Garantias


1 O direito de acesso ao direito e aos Tribunais (artigo 20º)

111
Nos termos do artigo 17º, os Direitos, Liberdades e Garantias e os direitos de natureza
análoga, têm um regime específico, cujos traços caracterizadores estão contidos no
(artigos 18º, 19º, 21º, 22º, 168º, n. 1, alínea b) 272º e 288º)

a) Aplicabilidade directa das normas que os reconheçam, consagrem e garantam


(artigo 18º, n. 1)
b) Vinculatividade de entidades públicas e privadas.
c) Reserva da lei, para a sua restrição (artigos 18º, n. 2 e 168º, n. 6, alínea b))
d) Princípio da autorização constitucional expressa, para a sua restrição (artigo
18º, n. 2)
e) Princípio da proporcionalidade, como princípio informador das leis restritivas
(artigo 18º, n. 2)
f) Princípio da generalidade e da abstracção, das leis restritivas (artigo 18º, n. 3)
g) Princípio da não retroactividade das leis restritivas (artigo 18º, n. 3)
h) Princípio da salvaguarda do seu núcleo essencial (artigo 18º, n. 3)
i) Limitação da possibilidade de suspensão, nos casos de estado de sitio
(emergência) (artigo 19º, n. 1)
j) Garantia do direito de resistência (artigo 21º)
k) Garantia da responsabilidade do Estado e de maioria das pessoas colectivas
públicas (artigo 22º)
l) Garantia perante o exercício da acção penal, e da adopção de medidas de
polícia (artigo 272º, n. 3)
m) Garantia contra leis de revisão constitucional, que restringem o seu conteúdo
(artigo 288º, alínea d))

2 O direito de resistência (artigo 21º)


3 O direito de recorrer ao Provedor da Justiça (artigo 23º)
O direito à retribuição do trabalho, ao limite máximo da jornada de trabalho, ao descanso
4
semanal, a férias periódicas pagas, ao subsídio de desemprego e salário
(artigo 59º)
5 O direito á propriedade privada (artigo 62º)
6 O direito das mulheres à dispensa de trabalho, por parto (artigo 68º, n. 3)
7 O direito ao ensino básico (artigo 74º, n. 2,
a))
8 O direito de indemnização e de reserva dos proprietários, fundiários expropriados (artigo 94º, n. 1)
(artigo 122º, n. 1 e
9 O direito de apresentara candidaturas
239º, n. 4)
10 O direito de participação directa em órgãos do poder local (artigo 246º e 264º)
11 O direito de participação na administração da Justiça (artigo 207º)
12 O direito de recurso contencioso e demais direitos perante a administração pública (artigo 268º)
13 Direito dos funcionários públicos (artigo 269º)

112
REGIME DOS DIREITOS LIBERDADES E GARANTIAS
1) APLICABILIDADE DIRECTA - ART. 18º nº 1
2) VINCULAÇÃO DE ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS - ART. 18º nº 1
• 1º tipo de vinculação: do legislador
• 2º tipo de vinculação: da administração
• 3º tipo de vinculação : do poder judicial
3) RESERVA DE LEI PARA A SUA RESTRIÇÃO - ART. 18º nº 2

1) APLICABILIDADE DIRECTA - ART. 18º N.º 1


São regras e princípios imediatamente eficazes e actuais por via directa da Constituição,
ou seja, são normas directamente reguladoras de relações jurídico-materiais. O que não
significa que, em certos casos, não necessitem de uma concretização legislativa, mas
nestes o legislador está vinculado não só à realização do conteúdo material objectivo
consagrado constitucionalmente, como está vinculado a legislar (um dos casos em que é
mais perceptível a inconstitucionalidade por omissão) - art. 35º n.º 2; 36º n.º 2; 38º n.º 3;
39º, n.º 2.
As normas dos Direitos, Liberdades e Garantias e dos direitos de natureza análoga, são
regras e princípios jurídicos imediatamente eficazes e actuais, por via directa da
Constituição. São normas directamente reguladoras das relações jurídicas. Não precisam
de mediação de outras normas criadas para os concretizar, para poderem ser aplicadas.
Portanto esses princípios (D.L.G.) aplicam-se mesmo na ausência de lei ordinária
concretizadora, e são inválidas as leis que violem os preceitos constitucionais dos DLG.

2) VINCULAÇÃO DE ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS - ART. 18º n.º 1


Entidades públicas: legislador, tribunais, administração e todos os órgãos do estado.
Entidades privadas: pessoas singulares e colectivas, comerciais, ou civis.
A vinculação abrange todos os âmbitos funcionais dos sujeitos públicos e é
independente da forma jurídica através da qual as entidades praticam os seus actos.

1º tipo de vinculação: do legislador


Sentido proibitivo: não pode criar normas jurídicas contrárias às normas e princípios
constitucionais que lesem direitos, liberdades e garantias;

113
Sentido positivo: tem o dever de conformar as relações do Estado e cidadãos ou entre os
cidadãos entre si de acordo com os direitos, liberdades e garantias constitucionalmente
consagrados.
Vinculação de toda a actividade do legislador estatal: leis, decretos-leis, regulamentos,
estatutos, etc..
Vinculação do "legislador" privado: estatutos, regulamentos, ou normas internas de
sociedades, associações, cooperativas, etc...
2º tipo de vinculação: da administração
Aplica-se a toda a administração (central, regional, local, directa, indirecta, autónoma e
concessionada).
Significa:
a) só deve executar as leis conformes com os direitos, liberdade e garantias
constitucionais;
b) deve executar as leis de acordo com a interpretação que melhor realize os
direitos, liberdade e garantias constitucionais.
c) no exercício de poder discricionário está obrigada a actuar em conformidade
com os direitos, liberdade e garantias, nomeadamente enquanto critério decisivo
para a interpretação de conceitos indeterminados (segurança pública, sigilo,
segredo de estado).
d) a violação de direitos, liberdades e garantias, pode originar a invalidade dos
actos da administração (ex. no Direito Fiscal)
3º tipo de vinculação: do poder judicial
Os Tribunais estão vinculados :
- à protecção dos Direitos Fundamentais 202º n.º 2;
- ao respeito pelos Direitos Fundamentais na sua actuação - art. 204º;
De que forma?:
a) os direitos fundamentais são os critérios orientadores da organização e procedimentos
judiciais (exemplo processo penal).
b) os direitos, liberdades e garantias também determinam as próprias decisões judicias:
- no âmbito da fiscalização judicial quando se coloca a questão da
desconformidades da lei com Direitos, Liberdades e Garantias
constitucionais;
- no plano da eficácia vinculativa das decisões do Tribunal
Constitucional;

114
- no domínio da delimitação de competências e definição dos poderes de
cognição entre Tribunal Constitucional e os restantes Tribunais.

3) RESERVA DE LEI PARA A SUA RESTRIÇÃO - Art. 18º nº 2


Conceito de restrição: apenas existe quando há uma efectiva limitação do âmbito de
protecção desses direitos, e não quando a lei vem apenas regular, regulamentar ou
mesmo alargar o seu conteúdo.
Regime das leis restritivas – há três tipos de restrições de direito:
1) As restrições constitucionais directas (artigo 45º, n. 1 que proíbe de uma
forma tácita reuniões violentas portanto está a restringir os direitos de
reunião).
2) Restrições feitas por lei, mas expressamente autorizadas pela
Constituição, em que existe aqui uma reserva de lei restritiva: a
Constituição autoriza a lei a estabelecer as restrições ao direito (artigo
27º, n. 3).
3) Restrições que são operadas através da lei mas sem autorização expressa
da Constituição. Há quem chame a estes casos limites imanentes (artigo
45º, n. 2 - direito de reunião. Não se compreende que o direito de
manifestação, embora consagrado na Constituição, sem qualquer
restrições directas e sem autorização de lei restritiva, não possa ser
restringido por lei, proibindo manifestações violentas e com armas. (os
limites dos limites??)

As leis restritivas dos Direitos, Liberdades e Garantias, estão sujeitas a uma série de
requisitos restritivos dessas mesmas leis, tratando-se, portanto, de restrições às
restrições, ou limites dos limites.

REGIME JURÍDICO DAS LEIS RESTRITIVAS


A) formais:
- exigência de lei da AR ou de um decreto-lei autorizado -ART. 18º n.º 2 ; 165º
n.º 1, b) e n.º 2; 198º, n.º 1, b). Requisitos de lei formal (artigo 18º, n. 2) - só nos
casos expressamente previstos na Constituição podem ser restringidos os D.L.G,
e só a lei os pode restringir exigindo a intervenção de um acto legislativo (e não
de qualquer outro acto normativo), e com a forma de lei da assembleia da

115
república, para ser possível proceder à limitação, ou à restrição dos D.L.G,
(artigo 165º, n. 1, alínea b). Reafirma a ideia de parlamento como amigo das
liberdades e da reserva de lei; da assembleia da república como instrumento
privilegiado da defesa desses direitos (D.L.G.). Essa ideia explica também a
corrente jurisprudencial do Tribunal Constitucional expressa em vários acórdãos,
em que refere que as restrições dos D.L.G. não fazem parte da competência
normal do Governo, dos órgãos das regiões autónomas e das autarquias locais
(artigo 165º, n. 1). Quando a restrição aos D.L.G. for feita através de decreto-lei
autorizado, esse decreto-lei tem de estar em conformidade com a lei de
autorização (artigo 165º, n. 2). Há certos Direitos, Liberdades e Garantias, que
só podem ser restringidos por lei da Assembleia da República (reserva absoluta -
artigo 164º, alínea f), h), i), j), l)e o))58
- exigência de autorização de ser expressa e contida na CRP - art. 27º n. 3; art.
28º; 34º n.º 3. Exigência de autorização de restrição expressa (artigo 18º, n. 2),

58
Requisitos da lei formal – significa também a exigência de uma cadeia ininterrupta de legitimidade legal
relativamente aos actos que concretamente restringem os (D.L.G.), através dessa exigência, excluí-se ou
afasta-se a possibilidade de restrições ou limitações, que não tenham fundamento na lei.
Exemplo: de casos de restrições, em que existia uma cadeia de legitimidade legal.
Regulamento Acto Administrativo Acto Administrativo
↑ ↑ ↑
Lei, Decreto-Lei Lei, Decreto-Lei Regulamento

Lei, Decreto-Lei
Exemplos de casos de restrições, ou limitações inconstitucionais (em que há ruptura da cadeia de
legitimidade legal)
Acto administrativo

Regulamento
Nota: Em matéria dos Direitos, Liberdades e Garantias, não há lugar para regulamento autónomos. Em
especial no confronto com a administração, a reserva de lei significa em termos práticos o seguinte:
a) São vedados os regulamentos autónomos sobre Direitos, Liberdades e Garantias.
b) São proibidos os regulamentos das autarquias locais no âmbito da política administrativa, sem
prejuízo do poder regulamentar de que eles dispõem, (artigo 241), e no caso de existir conflitos,
entre o regulamento e a reserva de lei, tem de se dar preferência à lei.
c) Proibição da deslegalização (artigo 112, n. 7)
d) Proibição ou limitação rigorosa do exercício do poder discricionário
e) No de reserva Absoluta (só a assembleia pode legislar), existe a impossibilidade de se
estabelecer conceitos indeterminados.
Resumo: Requisitos da lei formal: Os Direitos, Liberdades e Garantias, só podem ser regulados por lei da
assembleia da república, ou nos termos do artigo 168º, por Decreto-lei, autorizado, mas há casos em que
este regime não é possível, são os casos de reserva absoluta (artigo 164º).
Deste modo garante-se que os D.L.G. não ficam à disposição do poder regulamentar da administração
pública, e que o seu regime tem de ser definido pela Assembleia da República e não pelo governo
(excepto se houver autorização da Assembleia da República, nos casos em que a Constituição o permite),
e muito menos pelas Regiões autónomas ou autárquicas.
Nota: Em matérias de D.L.G. não há lugar para regulamentos autónomos ou independentes.

116
tem de existir uma autorização de restrição expressa na constituição, esta
individualiza expressamente os D.L.G. que podem ficar no âmbito de um reserva
de lei restritiva; portanto não há uma autorização geral de restrição dos D.L.G.,
ma nossa constituição
B) materiais:
- princípio da proporcionalidade - art. 18º n.º 2. Proibição do excesso – (artigo
18º, n. 2) este princípio significa que, no âmbito das leis que restringem os
D.L.G., essa limitação tem de ser adequada (conformidade com os fins); tem que
ser necessária ou exigível (não existir outro meio igualmente eficaz e menos
coactivo); tem de ser proporcional em sentido estrito.
- princípio da generalidade e abstracção - art. 18º n.º 3. Limites dos limites –
requisito da generalidade e da abstracção (artigo 18º, n. 3). Isto significa a
produção de leis de natureza individual e concreta que restringe os Direitos,
Liberdades e Garantias.
Nota: Não basta que as leis sejam apenas formalmente ou aparentemente gerais
e abstractos, elas também têm de o ser materialmente gerais e abstractas.
- princípio da não retroactividade - art. 18º n.º 3. Requisitos da não
retroactividade (artigo 18º, nº 3): de acordo com este princípio uma lei, que
restrinja os D.L.G. e se aplique a factos pertencentes ao passado e
definitivamente estabilizados, será inconstitucional. Exemplo: Será
inconstitucional uma lei que sujeita a imposto o rendimento recebido antes da
sua entrada em vigor, e que face a uma legislação anterior estavam isentos da
tributação fiscal (artigo 103º, nº 3)
- princípio da salvaguarda do núcleo essencial - art.18ºnº 3. Salvaguarda do
núcleo essencial – (artigo 18, nº 3) as leis restritivas dos D.L.G. não podem
diminuir a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos seus preceitos
constitucionais.

REGIME DOS DIREITOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS


Estão consagrados no titulo III, na parte I da Constituição, (artigo 58º a 79º). Estes
direitos e a sua protecção andam ligados a certos pressupostos que são formados por
múltiplos factores tais como:
- A capacidade económica do Estado
- O Desenvolvimento económico

117
- A distribuição dos bens e riquezas, etc.
Estes direitos, reconhecem aos cidadãos o direito a uma acção ou a uma prestação do
Estado. Exemplo: O direito ao trabalho - este direito não confere um direito subjectivo a
obter um posto de trabalho. No entanto não é um direito sem efeitos jurídicos, pois ele
obriga o Estado a definir políticas de emprego, formação profissional, etc., ou a atribuir
certas prestações.
Estes direitos devem ser entendidos como uma verdadeira imposição da Constituição,
legitimadora das transformações económicas e sociais, na medida em que estas sejam
para a concretização desses direitos.59 Além disso, a inércia do Estado quanto à criação
de condições da concretização dessas medidas, pode levar o Estado à
inconstitucionalidade das normas por omissão (artigo 283º). Não podem os poderes
públicos eliminar sem qualquer compensação ou alternativa o núcleo essencial destes
direitos, já concretizado nos direitos fundamentais. (Princípio da proibição do retrocesso
social)

Não têm normas específicas para os regular mas é possível caracterizar um "regime"
próprio que lhes é implícito: a sua exequibilidade está dependente de elementos
estruturais do Estado e da sociedade.
MODELOS DE POSITIVAÇÃO:
1) normas programáticas - art. 24º n.º 1; 63º n.º 1; art. 65º
2) normas de organização - 59º n.º 2; 63º n.º 2; 66º n.º 2.
3) garantias institucionais - 6º n.º 2, a) e b), 67º n.º 2, d).
4) direitos subjectivos públicos - como direitos reflexos para os cidadãos, isto leva-nos
para a dimensão e objectiva dos direitos sociais, económicos e culturais.

59
Deveres fundamentais – (artigo 12º) – Princípio universalidade dos direitos e deveres.
Exemplo: Deveres conexos com os direitos fundamentais:
- O dever cívico de voto, relacionado com o direito de voto (artigo 49, n. 2)
- Dever de educação dos filhos, corresponde ao direito de educação dos pais (artigo 36, n. 5)
- Dever de protecção e defesa de ambiente, relacionado com a defesa do ambiente (artigo 66, n. 1)
- Dever de defesa e promoção na saúde, anda associado ao direito e aà protecção da saúde (artigo 64, n. 1)
Exemplo: Deveres autónomos (não estão associados à constituição):
- O dever de pagar impostos (artigo 103)
- O dever de recenseamento (artigo 113, n. 2)
- O dever de exploração da terra (artigo 88, n. 2)
- O dever de defesa da Pátria (artigo 276)
Nota: As normas da constituição que, consagram deveres fundamentais, só excepcionalmente tem a
natureza de deveres directamente exigíveis, pois a generalidade desses deveres precisa de mediação
legislativa. “Importante”

118
DIMENSÃO SUBJECTIVA E OBJECTIVA
Dimensão subjectiva:
Os direitos económicos, sociais e culturais são verdadeiros direitos subjectivos no
espaço, independentemente da sua exequibilidade imediata no tempo tendo, por isso, a
mesma dignidade dos DLG e apenas dependem na sua exequibilidade - art. 63º, 64º,
65º, 66º, 73º, 74º, 79º...
Dimensão Objectiva:
1 - São imposições ao legislador, obrigando-o a criar condições materiais e
institucionais para o exercício desses direitos: art. 59º n.º 2 ; 63º n.º 2; 64º n.º 2, 65º n.º
2, 66º n.º 2, 67º n.º 2.
2 - como fornecimento de prestações aos cidadãos em execução destas imposições
constitucionais - art. 59º n.º 1, e) ; 63º n.º 2, 3 e 4; 64º n 2 e 3.

A existência de direitos originários a prestações revela-se em 3 situações:


1 - a partir da garantia constitucional de certos direitos.
2 - quando se reconhece o dever do Estado na criação de pressupostos materiais
indispensáveis ao exercício efectivo destes direitos.
3 - a faculdade de o cidadão exigir de forma imediata as prestações constitutivas destes
direitos (direito à saúde e ao ensino).

A violação destas normas constitucionais pela inércia, quando delas resulte um


dever do Estado de efectivação destes direitos pela sua regulamentação ou criação
de instituição, pode dar lugar a uma inconstitucionalidade por omissão.

PROBLEMÁTICA DOS DIREITOS DERIVADOS

PROGRESSO ECONÓMICO

MAIOR CAPACIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

MAIS E MELHORES SERVIÇOS PÚBLICOS

MELHOR REALIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E
UNIVERSALIDADE

119
A este processo chamamos a criação de novas prestações sociais do Estado chamamos
direitos derivados que se vão consolidando na esfera jurídica dos cidadãos. Logo,
enquanto realização dos preceitos constitucionais, estes direitos derivados são também
formas de garantias de concretização já obtida, entendendo alguns autores que já não
podem ser eliminados ou restringidos livremente. É o chamado Princípio da proibição
do retrocesso social e que já referimos quando tratamos do princípio da Socialidade
enquanto princípio estruturante da Constituição da República Portuguesa.

A ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA
NORMAS CONSTITUCIONAIS de ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA

1 –Princípios Fundamentais: «realização da democracia económica» (art. 2º),


«promover (…) a efectivação dos direitos económicos (…) mediante a transformação e
modernização das estruturas económicas e sociais» (art. 9º)
2 – (Parte I, Título II, Capítulo III) Direitos, Liberdades e Garantias dos Trabalhadores
(art. 53º a 57º)
3 – (Parte I, Título III, Capítulo I) Direitos, e deveres económicos (art. 58º a 62º)
4 – (Parte II) Organização económica (art. 80º a 107º)
5 – (Parte III) na distribuição de competências para a definição de políticas económicas
pelos órgãos de soberania [artigos 182º, 184º, 161º g) e h), 163º, d), 164º g), 165º, e), g),
i), j), l), m), n), o), q), x), e z) ], e ainda nos limites materiais de revisão (art. 288º).

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA


Realização da «Democracia económica e social»
(artigo 2º da CRP)

«Subordinação do poder económico ao poder político»
(artigo 80º a) da CRP)
«Planeamento democrático do desenvolvimento económico»
(artigo 80º alínea e) da CRP)

Realização da JUSTIÇA DISTRIBUTIVA

120
Direitos, Liberdades e Garantias dos Trabalhadores como limites materiais à livre
iniciativa económica:
a) Segurança no emprego (artigo 53º)
b) Liberdade de participação democrática nas empresas (art 54º)
c) Liberdade sindical e direito à greve (artigos 55º a 57º)

Direitos, e deveres económicos como princípios estruturantes da organização


económica:
a) Direito ao trabalho e direitos dos trabalhadores (art. 58º e 59º);
b) Direitos dos consumidores (art. 60º)
c) Iniciativa mista: privada, cooperativa e autogestionária (61º)
d) Direito de propriedade privada (art. 62º)
As normas de «Organização económica»:
Regulação de natureza geral:
a) competências genéricas (artigo 81º)
b) a defesa da concorrência (81º e) e 86º n.º 1
c) o planeamento ( art. 90 a 92º e 161º g))

Regulação de natureza sectorial:


a) política agrícola (art. 93º a 98º)
b) políticas comercial e industrial (art. 99º e 100º)
c) políticas financeira e fiscal
d.1) monetária e financeira (art. 101º a 102º)
d.2) tributária (art. 103º a 104º)
d.3) orçamental (art. 105 a 107º)

A CONSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
A) A TRIBUTAÇÃO DO RENDIMENTO
1. tributação do rendimento pessoal (artigo 104º n.º 1)
• único
• progressivo
• considerar as necessidades e os rendimentos do agregado
familiar

121
= diminuição das desigualdades!

realização do fim da «Justiça distributiva»!

2. tributação do rendimento colectivo (artigo 104º n.º 2)


- incidirá sobre o rendimento real (efectivo ou presumido)

B) A TRIBUTAÇÃO DO PATRIMÓNIO (art. 104º n.º 3)


• deve contribuir para a igualdade entre cidadãos

realização do fim da «Justiça distributiva»!

C) A TRIBUTAÇÃO DO CONSUMO (art. 104º n.º 4)


• necessidades do desenvolvimento económico;
• necessidades de justiça social.

realização do fim de «Bem-Estar económico e social»!

• onerar os consumos de luxo.



realização do fim da «Justiça distributiva»!

PARTE I – DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS

TÍTULO I - Princípios gerais - artigo 12º a 23º


TÍTULO II - Direitos, liberdades e garantias
CAPÍTULO I - Direitos, liberdades e garantias
pessoais - artigo 24º a 47º
CAPÍTULO II - Direitos, liberdades e garantias de
participação política – artigo 48º a 52º

122
CAPÍTULO III - Direitos, liberdades e garantias dos
trabalhadores – artigo 53º a 57º

TÍTULO III – Direitos e deveres económicos, sociais e culturais


CAPÍTULO I - Direitos e deveres económicos
– artigo 58º a 62º
CAPÍTULO II - Direitos e deveres sociais
– artigo 63º a 72º
CAPÍTULO III - Direitos e deveres culturais
– artigo 73º a 79º

TÍTULO II - Direitos, liberdades e garantias

CAPÍTULO I - Direitos, liberdades e garantias pessoais

Artigo 24º (Direito à vida)



Artigo 27º (Direito à liberdade e à segurança)

PENAS E PROCESSO PENAL:


Artigo 28º (Prisão preventiva)
Artigo 29º (Aplicação da lei criminal)
Artigo 32º (Garantias de processo criminal)
Artigo 34º (Inviolabilidade do domicílio e da correspondência)

FAMÍLIA
Artigo 36º (Família, casamento e filiação)

LIBERDADE DE EXPRESSÃO INFORMAÇÃO


Artigo 37º (Liberdade de expressão e informação)
Artigo 38º (Liberdade de imprensa e meios de comunicação social)
Artigo 39º (Regulação da comunicação social)

PARTIDOS POLÍTICOS
Artigo 40º (Direitos de antena, de resposta e de réplica política) N.º 1

LIBERDADES INDIVIDUAIS

123
Artigo 41º (Liberdade de consciência, de religião e de culto)
Artigo 43º (Liberdade de aprender e ensinar)
Artigo 44º (Direito de deslocação e de emigração)
Artigo 45º (Direito de reunião e de manifestação)
Artigo 46º (Liberdade de associação)
Artigo 47º (Liberdade de escolha de profissão e acesso à função pública)

CAPÍTULO II – Direitos, liberdades e garantias de participação política

Artigo 49º (Direito de sufrágio) – Princípio da Universalidade (artigo 12º)


Artigo 51º (Associações e partidos políticos)
Artigo 52º (Direito de petição e direito de acção popular)

CAPÍTULO III - Direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores

Artigo 55º (Liberdade sindical)


Artigo 57º (Direito à greve e proibição do lock-out)

TÍTULO III
Direitos e deveres económicos, sociais e culturais

CAPÍTULO I
Direitos e deveres económicos
Artigo 59º (Direitos dos trabalhadores) (princípio da universalidade e da igualdade)
Artigo 60º (Direitos dos consumidores)
Artigo 62º (Direito de propriedade privada)

CAPÍTULO II
Direitos e deveres sociais
Artigo 63º (Segurança social e solidariedade) N.º 2
Artigo 64º (Saúde) N.º 2, A)
Artigo 66º (Ambiente e qualidade de vida) 4ª GERAÇÃO D.F. (SOLIDARIEDADE
MUNDIAL)
Artigo 68º (Paternidade e maternidade)
Artigo 70º (Juventude) N.º 1 C)

CAPÍTULO III
Direitos e deveres culturais

124
Artigo 74º (Ensino) N.º 2 A) e E)
Artigo 76º (Universidade e acesso ao ensino superior)
Artigo 77º (Participação democrática no ensino) N.º 1
Artigo 78º (Fruição e criação cultural) 4ª GERAÇÃO DE D.F. (SOLIDARIEDADE
MUNDIAL)

FIQUEI AQUI EM 6-11-2006


ESTRUTURA E FUNÇÃO DOS ÓRGÃOS DE SOBERANIA

ARTIGO 108º: Titularidade e exercício do poder


«O poder político pertence ao Povo (…) »

titularidade do poder político é do povo

Princípio da soberania popular (artigos 2º e artigo 3º n.º 1)

« (…) e é exercido nos termos da Constituição.»



exercício do poder político em nome do povo

Princípios da democracia representativa e participativa (artigo 2º “in fine” e
artigo 3º n.º 1 e 2)

ÓRGÃOS DE SOBERANIA
Artigo 110º n.º 1: Consagra 4 Órgãos de Soberania:
1. Presidente da República
2. Assembleia da República
3. Governo
4. Tribunais

125
PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DOS ÓRGÃOS DE SOBERANIA
Artigo 109º - Princípio da igualdade no exercício de direitos cívicos e político e não
discriminação em função do sexo no acesso a cargos políticos.
Artigo 110º n. 2: Princípio da Reserva da Constituição quanto à:
1. formação,
2. composição,
3. competência,
4. organização dos órgãos de soberania.

Artigo 111º, n.º 1: Divisão de Poderes (elemento formal do Princípio de Estado de


Direito)

Artigo 111º, n.º 2: Princípio da tipicidade constitucional de competências


(Constitucionalidade como elemento material do Princípio do Estado de Direito)

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

1º - Chefe de Estado - Artigo 120º


• representação protocolar
• garante da independência, da unidade e da democracia
• Comandante Supremo das Forças Armadas

2º - Tem legitimidade democrática directa - Artigo 121º


• é eleito por sufrágio universal, directo, secreto
• cidadãos portugueses eleitores recenseados em Portugal e no
estrangeiro;
• logo é um órgão presidencial autónomo directamente legitimado,
pelo que tem poderes próprios ao lado de poderes partilhados

3º - Garante da Constituição - Artigo 127º n.º 3


• nessa medida se justificam os seus poderes de requerer a fiscalização
da constitucionalidade das normas

126
4º - Função de integração e unidade - Art. 120º
• a sua dimensão representativa interna e internacional aponta para
uma integração funcional, própria do chefe de Estado Republicano:
I. na busca de solidariedade institucional entre os vários órgão de
soberania;
II. no direito de contacto e consulta com os vários órgãos
constitucionais e forças políticas da sociedade (partidos,
organizações, grupos sociais e cidadãos);
III. nos actos de indulto e comutação de penas e atribuição de
ordens honoríficas - art. 134º, f) e i) ;
IV. na informação aos cidadãos - art. 134º e) ;
V. no exercício das funções de Comandante Supremo das Forças
Armadas - art. 134º a)

PODERES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


Poderes Próprios e Partilhados
1. - Os poderes próprios ou institucionais embora por vezes estejam condicionados à
observância de outras formalidades constitucionais, como a obtenção de pareceres
prévios ou de consulta a outros órgãos.
Exemplos: artigo 115º n.º 1; artigo 133º e), f), g), n),…; 134º; 136º n.º 1;…
2. - Os poderes partilhados revelam-se na Constituição essencialmente através do
instituto da REFERENDA. Este instituto visa a co-responsabilização de Presidente e
Governo na prática de certos actos, quer ao fazer depender certos actos do PR de
proposta do Governo – ex. artigo 133º j), l), m) e p); 140º e 197º 1, a) -, quer na
submissão das normas jurídicas emitidas pelo governo à promulgação Presidencial, e
logo à sua certificação, ex.: artigo 134º b).

PODERES DE DIRECÇÃO POLÍTICA

• art. 134º a) e 136º - direito de promulgação das leis, e


• art. 136º- direito de veto

PODERES DE CONTROLO

127
• Art. 134º g) e h) - requerer a fiscalização da constitucionalidade pelo TC e veto
por inconstitucionalidade - é um poder-dever no âmbito da obrigação do PR de
ser garante da constituição
• Art. 136º - direito de veto político - verdadeiro direito político independente
• Art. 115º n.º 10 - direito de recusa de referendo - verdadeiro direito político
independente

PODERES DE EXTERIORIZAÇÃO POLÍTICA


• Art. 133º d) - direito de mensagem
• artigo 133º f) e g) – o P.R. tem poderes para nomear e demitir o Governo

A ASSEMBLEIA DE REPÚBLICA

1 - órgão representativo do povo


• art. 147º
• art. 152º, 2 - os deputados são representantes todo país e não o círculo pelo qual
foram eleito.

2 - órgão de soberania autónomo


• art. 175º a, b - competência regimental na eleição do presidente e dos membros
da mesa
• art. 173º 174º - direito de auto-reunião
• art. 176º - fixação da ordem do dia pelo presidente da Assembleia da República
• art. 181º - poderes administrativos especiais
• autonomia administrativa e financeira - a AR não está sujeita a quaisquer ordens
ou instruções de outros órgãos

3 - é um órgão permanente – (princípio democrático) – art. 179º

4 - é um órgão colegial unicameral:


a) plenário é composto por deputados directamente eleitos 148º

128
b) n.º mínimo de 180 e máximo de 230 deputados, eleitos por círculos eleitorais,
plurinominais ou uninominais, de forma a assegurar a representação
proporcional segundo o método de Hondt
c) são órgãos auxiliares do funcionamento da AR:
 o Presidente da AR - art.175º
 a mesa da AR - art. 175 b)
 as comissões - art. 178º e 179º
 os grupos parlamentares - art. 180º, 176º, 3; 192, 3; 194, 1.

5 - é um órgão arbitral - deve assegurar uma estrutura harmonizante das varias


tendências representadas.

129
FUNÇÕES DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
1 - Função electiva e de criação
• competências de eleição de titulares de determinados de órgãos constitucionais -
Art. 163º h e I; e 39º, 3, b).
2 - Função Legislativa
é o órgão legislativo por excelência:
 164º - reserva absoluta de competência legislativa para certas matérias
 165º - reserva relativa de competência legislativa para outras matérias
 E ainda competência concorrente com o Governo nas demais matérias
– competência residual concorrente – artigos 161º c) e 198º nº1 a)

A importância da função legislativa da Assembleia da República revela-se:


A. na inexistência de mecanismos de referendo nas matérias de competência
exclusiva absoluta da AR - art. 115º 4 d)
B. nas limitações à iniciativa popular - art. 167º, 1,2,3
C. na inexistência de poderes legislativos excepcionais ou constitucionais em
situações de crise,
D. na limitação à faculdade de delegação ou autorização legislativa Art. 165º, 2, 3,4,5
E. na existência de uma reserva de competência da AR 164º e 165º

3 - Função de Controlo - art. 162º


 art. 156º c, 162º a, 177º, 2 - perguntas e interpelações
 art. 178º 4, 5 – comissões
 art. 52º, 178º 3 – petições
 art. 194º, 195, 1, f - moções de censura

4 - Função de Fiscalização - art .162º


 art. 19º e 161º, l, m - estados de necessidade
 art. 162º d, e, - contas públicas e execução dos planos nacionais
 art. 163º, j - envolvimento militar no estrangeiro

5 - Função Autorizante -

130
 art. 161º, d, i, l, m,

6 - Função de Representação
 na medida em que a AR representa "todos os cidadãos portugueses" - o povo - é
lhe atribuída competência para aprovação de tratados e assuntos relacionados
com as relações internacionais e a soberania do estado - art. 161º, i, m.

7 - Função Europeia
 Fala-se agora em funções da Ar na construção e acompanhamento da união
europeia - Art. 7º, 6 ; 161, n ; 112, 9

O GOVERNO

1 – Órgão executivo
- artigo 200º n.º 1 a) – define as linhas gerais das política governamental e a sua
execução
- artigo 199º n.º d) – dirige a actividade da administração pública

2 – Órgão nomeado (sem legitimidade democrática directa)


- art. 187 n.º 1 – o Primeiro Ministro é nomeado pelo P.R. “tendo em conta os
eleitorais” para a A.R.
- art. 187 n.º 2 – os Ministros e Secretários de Estado são nomeados pelo P.R. sob
proposta do Primeiro Ministro.

3 – Órgão constitucional autónomo


- tem competências política, legislativa e administrativas
- artigo 198º n.º 2 – tem competências de auto regulação

4 – Órgão colegial e solidário


- artigo 189º - decisão tomadas em conselho de ministros

5 – Órgão hierarquicamente estruturado


- artigo 191º - dependência e responsabilidade hierárquica
- artigo 201º - Competências específicas do Primeiro Ministro.

131
6 – Órgão duplamente responsável
- artigo 190º e 191º - responde politicamente perante P.R. e A.R.
- artigo 133º f) e g) – o P.R. tem poderes para nomear e demitir o Governo
- artigo 163º d), e e) – A A.R. tem poderes para apreciar o programa de governo e votar
moções de confiança e censura ao governo.
- artigo 169º - a AR tem poderes para “apreciar” os actos legislativos do Governo que
não sejam da competência exclusiva deste

FUNÇÕES DO GOVERNO

1 – Função Política (ou de Governo)


- artigo 200º n.º 1 a) – definir as linhas gerais das política governamental e a sua
execução

2 – Função administrativa
- artigo 199º - Competências administrativas
- artigo 199º n.º d) – dirige a actividade da administração pública

3 – Função Legislativa
- Artigo 198º - amplas competências legislativas, originárias e derivadas.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS DO GOVERNO

I - Competência legislativa originária concorrente


– artigo 198º n.º 1 a) – em concorrência com a A.R.: nas matérias não previstas
nos (artigos 164º e 165º)

II – Competência legislativa originária exclusiva


– artigo 198º n.º 2 – em matérias da sua própria organização e funcionamento

III – Competência legislativa derivada


– artigo 198º n.º 1 b) – em matérias de competência relativa da A.R. mediante
autorização (artigo 165º)

132
– artigo 198º n.º 1 c) – em desenvolvimento de Bases Gerais definidas pela A.R.

OS TRIBUNAIS

1 – Poder separado
- artigo 202º n.º 1 - dois sentidos: o poder judicial pertence exclusivamente aos
Tribunais, os Tribunais apenas detêm o poder jurisdicional.

2 – Órgão independente
- artigo 203º - colectiva (Tribunais enquanto judicatura)
- artigo 203º - funcional – apenas estão sujeito à Lei
- artigo 216º n.º 3, 4 e 5 – individual – incompatibilidades mínimas.
- artigo 165º - interna e externa – a sua organização é garantida pela reserva de Lei da
Assembleia da República

3 – Ausência de responsabilidade política


- artigo 216º n.º 2 - a Independência e imparcialidade dos Juízes é garantida também
através do princípio da irresponsabilidade – individual e colectiva.

4 – Órgão plural
- artigo 209º - O poder jurisdicional está dividido por diversas jurisdições:
 Direito Constitucional (Tribunal Constitucional);
 Direito Privado (Tribunais Judiciais - Civil, Criminal, Comercial, Família,
Trabalho);
 Direito Público (Tribunais Administrativos e Fiscal)
 Despesa Pública (Tribunal de Contas)
 Jurisdições facultativas (Marítimos, Arbitrais e Julgados de Paz)
 Militar (Tribunais Militares)

5 – Órgão “polarizado”
O poder jurisdicional está disperso por juízos individuais.

6 – Órgão sem legitimidade democrática directa

133
A legitimidade dos Tribunais resulta da própria Constituição, enquanto “corpo”
independente e imparcial essencial ao funcionamento do Estado de Direito

SISTEMA SEMI-PRESIDENCIALISTA DA CONSTITUIÇÃO DA


REPÚBLICA PORTUGUESA
Presidente da Assembleia da Governo Os Tribunais
República República
- eleito por sufrágio - eleita por sufrágio - Nomeado pelo PR - Legitimidade
universal universal tendo em Constitucional.
- declarar estado de - votar o programa consideração a
sítio e estado de do governo composição da AR
emergência - votar moções de
censura e confiança
ao governo
- Órgão singular - Órgão colegial - Órgão colegial - Órgãos
representativo do (conselho de singulares e/ou
povo ministros) colectivos.
- Chefe de Estado, - órgão legislativo - Órgão executivo - exercício em
Comandante Supremo por excelência por excelência exclusividade do
das Forças Armadas - Reserva de leis e - Poderes poder
- Representação revisão legislativos jurisdicional
protocolar - iniciativa de lei e limitados (os não - independentes
- Poderes políticos: referendos reservados à AR) de todos os
direito de veto ; de constitucionais - Condução da demais órgãos do
requerer a fiscalização Política externa Estado.
da constitucionalidade - Direcção da
das normas jurídicas; Administração
decidir da realização Pública
de referendos. - Elaboração e
execução do
Orçamento do
Estado
- Iniciativa de lei e
de referendo
- dissolver a AR - votar o programa - É responsável
- nomeia o Governo do governo politicamente
com base na - votar moções de perante o PR e a
composição do censura e confiança AR
Parlamento ao governo
- demite o Governo

134
A CONSTITUIÇÃO E O SISTEMA DAS FONTES DE DIREITO

1ª - Identifica as FONTES DE DIREITO:


Art. 8º - direito internacional e direito comunitário
Art. 56º, n.º 4 - convenções colectivas de trabalho
Art. 112º, n.º 1 - actos normativos:
leis, decretos-leis e decretos legislativos regionais;
n.º 6 e 7: regulamentos
n.º 5 – poder exclusivo da constituição
Art. 115º - referendo
Art. 226º - Estatutos das regiões autónomas

2ª - estabelece os CRITÉRIOS DE VALIDADE E EFICÁCIA de cada uma:


Art. 112º n.º 2 - as Leis e os Decretos-leis têm igual valor;
n.º 3 - algumas leis tem valor reforçado
n.º 4 - as Leis e decretos-leis prevalecem sobre os
decretos legislativos regionais
n.º 8 - transposição de directivas comunitárias

3ª - determina a COMPETÊNCIA das entidades que emanam normas jurídicas:


Art. 161º, 164º e 165º - Competência legislativa da AR
Art. 198º - Competência legislativa do Governo
Art. 227º - Competência legislativa das Regiões Autónomas
Art. 241º - Competência legislativa das autarquias locais.

PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DOS ESQUEMAS RELACIONAIS DAS


FONTES DE DIREITO
Constituição e fontes de direito – a Constituição é o cume da pirâmide. Além de
identificar as fontes de direito estabelece os critérios de validade e de eficácia de cada
uma dessas fontes e determina a competência das entidades que produzem normas
jurídicas.

135
Princípios estruturantes dos esquemas relacionados entre as fontes de direito são os
(três) seguintes:
1 - Princípio da hierarquia
2 - Princípio da competência
3 - Princípio básico sobre produção jurídica

1º - Princípio da Hierarquia
Princípio da hierarquia – a ideia básica deste princípio é que os actos normativos (leis,
decretos-leis, decretos legislativos regionais e regulamentos), são todos actos
normativos, mas não têm todos a mesma hierarquia, ou seja existe uma pirâmide
jurídica que a Constituição ordena de acordo com os seguintes princípios:
A hierarquização das fontes de direito é um poder cuja exclusividade constitucional
decorre do artigo 112º n.º 5, e concretiza-se nos seguintes princípios:
1) Princípio da preeminência ou superioridade dos actos legislativos (Leis,
decretos-leis e decretos legislativos regionais) relativamente aos actos
normativos regulamentares - art. 112º, 6 e 7;
2) Princípio da tendencial paridade ou igualdade entre Lei e Decreto-lei - 112º n.º 2
- o que significa poderem as leis e os decretos-lei interpretar-se, suspender-se ou
revogar-se reciprocamente60
3) Princípio da prevalência dos princípios fundamentais das leis gerais da
República sobre os actos legislativos regionais - 112º n.º 4
4) Princípio da superioridade ou proeminência das normas de enquadramento e das
leis de bases sobre as normas complementares - 112º n.º 2
5) Princípio da aplicação preferente das normas comunitárias relativamente às
normas internas nacionais - 112º n.º 8 + Tratado da UE.
6) Princípio da inderrogabilidade de norma de grau superior por norma de grau
inferior.

2 - Princípio da competência
Este princípio está associado ao facto de existir uma pluralidade no ordenamento
jurídico que não se reduz ao Estado, pois existe também o ordenamento regional, o local

60
Princípio da tendencial prioridade entre as leis e os decretos-leis, o que significa, que eles podem em
princípio interpretar-se, suspender-se, ou revogar-se reciprocamente (artigo 112, n. 2)

136
e o institucional (institutos públicos, empresas públicas, etc.). É também este princípio
que justifica a regulação de certas matérias por determinados órgãos, formando desse
modo blocos de competências em certas matérias. Este princípio não afecta, nem
perturba o princípio da hierarquia.
Delimita a competência legislativa dos órgãos com funções legislativas a determinadas
matérias em função da qualidade (AR, Governo) ou em função do território (Regiões
autónomas e Autarquias Locais):
 Assembleia da República – artigos 161º 164º e 165º
 Governo – artigo 198º
 Regiões Autónomas – artigos 226º a 228º
 Autarquias Locais – artigo 241º
3 – Princípio básico sobre a produção jurídica (artigo 112, n. 5)
1 – Nenhuma fonte de direito, pode atribuir a outra um valor do qual ela própria não
detém.
2 – Nenhuma fonte pode atribuir a outra um valor igual ao seu.
3 – Nenhuma fonte pode dispor do seu próprio valor jurídico, quer acrescentando, quer
diminuindo.
4 – Nenhuma fonte pode transpor para o Estado outros actos de real valor.
Nota: Nenhuma fonte de direito pode criar outras fontes com eficácia igual, ou superior
à dela própria, apenas pode criar fontes de eficácia inferior..
Com base neste princípio serão inconstitucionais:
1 – Os regulamentos interpretativos das leis, se eles se arrogarrem o direito de fazer a
interpretação autêntica da lei, mesmo quando esta expressamente o autorize, pois a
interpretação autêntica da lei só pode ser feita por acto legislativo de igual valor.
2 – Os regulamentos derrogatórios das leis, mesmo que a lei autorize a sua revogação
por fonte regulamentar.

OS ACTOS NORMATIVOS

1 - Leis Constitucionais
Leis constitucionais – a Constituição refere expressamente esta categoria (artigo 199, n.
1), alínea a)), são obrigatoriamente publicados no Diário da República, e prescreve a
forma de lei constitucional para certos actos jurídicos. (artigos 284º a 289º). A reserva
de lei constitucional pertence apenas ao poder constituinte e ao poder de revisão.

137
CONCEITO: São as que se destinam a produzir alterações à constituição nos
termos dos artigos 284º e seguintes - artigo 166º e 161º a) da
CRP.
COMPETÊNCIA: competência exclusiva da AR - 161º a) + 284º -, por iniciativa
dos deputados - 285º,
FORMA: necessitam para a sua aprovação de uma maioria de 2/3 dos
deputados em efectividade de funções - 286º.
ESPECIFICIDADES: O Art. 119º n.º 1 a) determina a publicação das Leis
Constitucionais em Diário da República, conjuntamente com o
novo texto integral da CRP - art. 287º n.º 2.

2 - Leis Orgânicas
1 - Não se trata de uma lei diferente das outras leis da assembleia da república, elas são
leis ordinárias ou comuns, ficando desse modo posta de lado a ideia de existir um
escalão entre a lei constitucional e as leis ordinárias. Apesar da sua natureza de lei
ordinária a Constituição confere-lhe a natureza de leis reforçadas (artigos 112º, n. 3,
280º, n. 2, alínea a) e 281º, alínea b))
2 – As leis orgânicas estão vinculadas ao princípio da tipicidade, pois só a lei
constitucional pode atribuir forma especial, valor reforçado e reserva material a certos
tipos de actos legislativos.
3 – Sempre que a Constituição reservar por lei orgânica a disciplina jurídica de uma
certa matéria, então o legislador orgânico é competente nessa matéria em termos
exclusivos. Assim serão inconstitucionais as leis orgânicas de autorização, leis
orgânicas de bases e leis orgânicas limitadas ao regime geral de certas matérias.
4 – É obrigatório a observância do princípio da competência, o princípio da hierarquia e
da reserva de lei absoluta, assim a lei orgânica, pode incluir normas sobre matérias de
lei ordinária, mas não pode reenviar para um lei não orgânica, algumas regulações
normativas sobre matérias qual a constituição inclui no âmbito das leis orgânicas.
5 – A maior parte das leis orgânicas, são obrigatoriamente votadas na especialidade do
plenário da assembleia da república, elas não são só uma reserva do parlamento mas
também uma reserva do plenário (artigo 167º, n. 4).
6 – Embora não sejam as únicas as leis orgânicas exigem maioria qualificada de dois
terços dos deputados presentes e portanto um largo consenso parlamentar, para a
superação do veto político do Presidente da República (artigo 136, n. 3).
7 – A constituição no seu (artigo 116, n. 2) exige a forma de lei orgânica.
8 – As leis orgânicas têm um regime especial de fiscalização preventiva da sua
constitucionalidade (artigo 178º, n. 4).

CONCEITO: - categoria de leis introduzida pela revisão de 1989 - conceito não


está bem definido na CRP.
- a CRP reservou a disciplina de determinadas matérias para a

138
forma de Lei Orgânica, artigo 166º n.º 2
- têm um regime próprio, que será o elemento relevante do seu
conceito.
COMPETÊNCIA: - artigo 166 n.º 2 e artigos 164º e 255º
- são sempre da competência absoluta da Assembleia da
República.
FORMA: - requerem a aprovação em plenário por maioria absoluta dos
deputados em efectividade de funções - art. 168º n.º 5
ESPECÍFICIDADES art. 278º n.º 4 - regime especial de fiscalização preventiva
art. 136º n.º 3 - exigem maioria qualificada de 2/3 dos deputados
presentes para superação do veto político.

3 - Leis de Bases (ou de Princípios)


São leis que, consagram as leis as bases gerais de um regime jurídico, deixando a cargo
do executivo os desenvolvimentos desses princípios.
O tipo de leis de bases encontra-se na Constituição (artigo 112º, n. 1, alínea c) e 164º,
alínea d) e i)). Com o princípio da reserva legislativa de bases gerais pretende-se
assegurar a intervenção legislativa primária da Assembleia da República, e permitir ao
Governo, mesmo sem autorização legislativa, legislar sobre essas matérias, depois de
fixadas essas bases gerais, através da lei do parlamento.
Sobre um ponto de vista material as leis de bases constituem directrizes e limites dos
decretos-leis.
Embora as leis e os decretos-leis sejam actos legislativos com igual dignidade
hierárquica, as leis na modalidade de leis de base adquirem um primariedade material e
hierárquica, com a correspondente subordinação dos decretos-leis de desenvolvimentos
(artigos 112º, n. 2, 198º, n. 1, alínea c))

CONCEITO: - consagram princípios vectores ou bases gerais do regime jurídico


de determinado instituto,
COMPETÊNCIA: - São da competência da Assembleia da República
FORMA: - Revestem a forma de Lei - artigo 166º n.º 3 + 161º c) + 164º i),
165º f), g), n), t), u), z) - e são aprovadas por maioria simples - art.
116º n.º 2 e 3
ESPECÍFICIDADES: - Nessa medida, as Leis de Bases servem como directivas e limites
materiais aos decretos-leis do governo e decretos legislativos
regionais da Assembleias Legislativas Regionais, no âmbito das
matérias que estão reservadas a estas Leis. - Art. 198º 1, c) e 3 +

139
227º n.º 1 c) e 4.

4 - Leis de autorização legislativa


Leis de autorização legislativa – através destas leis a Assembleia da República habilita
ou autoriza o Governo a emanar actos normativos com força de lei, que também se
chamam de delegação ou de autorização.
CONCEITO: Leis emitidas com base na expressa autorização de
delegação de competências constante do artigo 165º, em
que a AR autoria o Governo ou as Assembleias
Legislativas das Regiões Autónomas a legislar matérias da
sua competência relativa. - 198º b) + 227º, 1, b)
COMPETÊNCIA: Da Assembleia da República - art. 166º n.º 3 e 161º d)
FORMA: Lei - artigo 166º n.º 3 + 161º d)
ESPECÍFICIDADES: Têm um regime específico de utilização.

4.1. Regime das Leis de autorização legislativa

LIMITES - art. 165º n.º 2 - definem o objecto, sentido e extensão da


MATERIAIS61 autorização
- art. 111º n.º 2 + 161º + 164º - não podem incidir sobre matérias
da competência exclusiva absoluta da Assembleia da República
LIMITES - art. 165.º n.º 2 - indicam o prazo de duração da autorização;
TEMPORAIS:
CESSAÇÃO DA - 165º n.º 3 - quando é utilizada - princípio da irrepetibilidade
AUTORIZAÇÃO62: - quando é revogada pela AR – de

61
Um desses limites é a exigência constitucional de as leis de autorização definirem o objecto da
autorização (artigo 165, n. 2), o que significa, que é necessário especificá-lo e não indicar apenas de
forma vaga e imprecisa, quais as matérias que irão ser objecto dos decretos-leis delegados.
Nos termos desse mesmo artigo (165, n. 2), a lei de autorização também tem de definir o seu sentido, ou
seja tem de estabelecer os princípios orientadores do governo para emanar esses decretos-leis.
Uma outra espécie de limites materiais, é a de que a lei de autorização não pode incidir sobre matérias
necessariamente reguladas por lei formal, nesses casos estamos perante matérias de especial sensibilidade
política, cujo regulamento deve ser atribuído exclusivamente e indelevelmente ao parlamento (artigo 161º
e 164º).
Também não pode ser objecto de autorização a emanação de actos que a assembleia da república pratica
sob uma forma diversa de lei, tais como moções, censuras e resoluções.
62
Para além dos limites referidos, no (artigo 165, n. 2), a autorização pode cessar por três motivos:

140
forma expressa mediante Lei revogando a autorização, ou de
forma tácita quando a AR aprova leis durante o período de
autorização regulando directamente as matérias objecto da
autorização.
- artigo 165º n.º 4 – sempre que ocorra:
 a demissão do governo
 o termo da legislatura
 a dissolução da AR

4.2. LEIS DE AUTORIZAÇÃO versus LEIS DE BASES


Semelhanças com as Leis de Bases:
I. nenhuma delas esgota a regulamentação da matéria sobre que versam carecendo
de posterior intervenção legislativa.
II. ambas delimitam e condicionam a área de intervenção legislativa do Governo e a
sua liberdade de conformação.
Diferenças com as Leis de Bases:
I. a lei de bases altera directamente a ordem jurídica, estabelecendo normas gerais
que permanecem efectivas mesmo após a sua regulamentação específica, as leis
de autorização não são directamente eficazes no ordenamento jurídico
requerendo a intervenção do decreto autorizado que vigorará na ordem jurídica.

1 – Utilização dessa autorização pelo governo (artigo 165, n. 3), vigora portanto no nosso sistema
constitucional o princípio da irrepetibilidade dessa autorização, o governo não pode utilizar essa
autorização mais do que uma vez, e estar-lhe também vedado a revogação, alteração ou substituição do
decreto-lei autorizado.
Nota: Isto não significa a proibição de utilização parcelar da autorização.
2 – Revogação pela assembleia da república, esta pode revogar a autorização, com base neste princípio,
quem pode conceder também pode revogar.
Essa revogação deve ser feita de forma expressa e através de um acto de igual valor ao da autorização
(lei), no entanto se a assembleia da república durante o período de autorização da autorização emanar leis
que, regulem directamente as matérias que eram objecto da lei de autorização, isso significa que, houve
uma revogação tácita ou implícita.
3 – Caducidade pelos razões enumeradas no (artigo 165, n. 4), são três:
- Demissão do governo
- Termo, ou fim da legislatura
- Dissolução da assembleia da república
Estamos aqui perante uma relação de confiança, entre o órgão parlamentar e o governo, motivo pelo qual
a autorização caduca, com a alteração de qualquer desses órgãos.
(Artigo 165, n. 5) – As autorizações concedidas ao governo na lei do orçamento, só caducam no termo do
ano económico a que respeitam, quando incidam sobre matérias fiscais.

141
II. a lei de bases fica apenas suspensa do desenvolvimento legislativo por parte do
governo; enquanto a lei de autorização caduca se não for utilizada, ou esgota-se
nessa mesma utilização.
III. a lei de autorização delega no governo a competência ara legislar sobre aquela
assunto apenas uma vez, enquanto perante uma Lei de Bases o governo pode
livremente e sucessivamente modificar o desenvolvimento que deu á lei.
IV. só pode haver leis de autorização em matérias pertencentes ao domínio
reservado da AR, enquanto as leis de bases podem surgir em qualquer domínio
legislativo.

5 - Leis Estatutárias
As leis estatutárias, são as leis da assembleia da república que, aprovam os estatutos
políticos, administrativos das regiões autónomas (artigo 226), os estatutos ocupam uma
posição hierarquia privilegiada devendo considerar-se como leis reforçadas (artigos
226º, n. 2 e 280º, n. 2, alínea b)).

CONCEITO: Leis da AR que aprovam os estatutos politico-administrativos das


regiões autónomas, onde se definem os seus esquemas
organizatórios fundamentais e a regulação do exercício dos
poderes regionais
COMPETÊNCIA: - o impulso de procedimento estatutário cabe À ALR - art. 226º n.º
1
- a deliberação cabe à AR, 161º, 1, b) e 226º 1, 2 e 3
FORMA: - Têm a forma de Lei da AR, devendo ser aprovada por maioria
simples. art. 161º, 1 b) e c) e 116º.
ESPECÍFICIDADES: ---

6 - Leis reforçadas
Leis reforçadas – algumas das categorias de leis cabem no conceito de leis reforçadas,
como é o caso das leis orgânicas, leis de autorização leis de bases e leis estatutárias
(artigo 112, n. 3), faz alusão a esse tipo de leis.
Este artigo diz-nos que devem ser consideradas como tal as leis que devam ser
respeitadas por outras leis.
A lei das grandes opções do plano do governo (artigos 91, 106, n. 2).
A lei-quadro das reprivatizações (artigo 293).
Os estatutos das regiões autónomas (artigo 226)
As leis das finanças autónomas (artigo 229, n. 3 e 164, alínea t).

142
CONCEITO: Vêm tipificadas no art. 112º n.º 3 em quatro categorias:
- leis orgânicas
- leis que carecem de aprovação de maioria de 2/3
- leis que por força da constituição sejam pressuposto
normativo de outras leis
- leis que por outras leis devam ser respeitadas
COMPETÊNCIA: São sempre Leis da AR.
FORMA: Serão assim leis reforçadas, além das Leis Orgânicas:
- as leis de bases
- as leis de autorização
- as leis de enquadramento do orçamento - 106º, 1 ; 164º,
r), 227º 1, r) e 232º 1.

ESPECÍFICIDADES: - prevalecem sobre as Leis e Decretos-leis que versam


sobre a mesma matéria - 112º n.º 3;

7 – Leis de enquadramento
Leis de enquadramento ou leis-quadro: as leis de enquadramento não se confundem com
as leis de bases, pois com elas pretende-se estabelecer os parâmetros estruturantes de
um sector da vida económica, social e cultural: é o que acontece com a lei de
enquadramento do orçamento do Estado, com a lei-quadro da criação, modificação e
extinção das autarquias e com a lei-quadro das reprivatizações.

Estatutárias
Alcance geral
Orgânicas

Leis Governo
Reforçadas De bases
Autorização legislativa
Alcance Gerais da República Assembleias L.
Regionais
Limitado Quadro / enquadramento
Aprovam as grandes opções

143
9 Decreto-Lei
Decretos-Leis – a actividade legislativa do governo reconduz-se nos seguintes
princípios:
1 – Competência legislativa originária ou independente: fala-se desta competência no
caso de matérias não reservadas à assembleia da república, podendo o governo em
concorrência com esta (A.R.) emanar actos legislativos primários reguladores dessas
matérias, através de decretos-leis (artigo 198, n. 1, alínea a))
2 – Competência legislativa dependente ou derivada (decretos-leis autorizados e
decretos de desenvolvimento), (artigos 165º, n. 2, 3, 4, alínea b) e 198º, n. 1, alínea c))
3 – Competência exclusiva (reserva de decreto-lei artigo 198º, n. 2): o governo tem
competência legislativa exclusiva em relação às matérias que digam respeito à sua
organização e ao seu funcionamento. (artigos 161º, 164º, 165º)
Todos os actos legislativos do governo (decretos-leis), podem ser submetidos à
apreciação da assembleia da república (artigo 169º, n. 1), para efeito de cessação de
vigência ou de alteração.

CONCEITO: São os actos legislativos emanados pelo Governo


art. 112º - 198º nº 1
COMPETÊNCIA: - Governo:
I - Exclusiva - 198º n.º 2 - matéria respeitante à sua própria
organização e funcionamento.
II - Originária e concorrente - 198º 1, a) - matérias não reservada
à AR
III - dependente - decretos-leis autorizados e decretos-leis de
desenvolvimento – artigo 198º 1, b) e c)
FORMA: Art. 200º , n.º 1, d) - os decretos-leis são aprovados por conselho
de Ministros
Art. 201º n.º 3 - os decretos-leis são assinados pelo Primeiro
Ministro e pelo Ministro materialmente competente

ESPECÍFICIDADES: Art. 198º n.º 3 - os decretos-leis autorizados e os decretos-leis de


desenvolvimento devem invocar expressamente a lei de
autorização legislativa correspondente ou a lei de bases ao abrigo
da qual são aprovados.

144
10. Decreto Legislativo Regional
Há também os decretos-leis regionais que respeitam às Regiões autónomas:
- Poder legislativo primário (artigo 227, n. 1, alínea a))
- Poder legislativo de desenvolvimento (artigo 227, n.1, alínea c))
- Poder legislativo autorizado (artigo 227, n. 1, alínea b))
Nota: As leis regionais são sempre leis de competência especial, sob o ponto de vista
espacial e sob o ponto de vista material.
As leis regionais são sempre leis materialmente condicionadas:
a) Pelos princípios fundamentais das leis gerais da República (artigo 227, n. 1,
alínea a))
b) Pelas leis de autorização da Assembleia da República.
c) Pelas leis de bases editadas pelos órgãos de soberania da República.
d) Pelas competências próprias dos órgãos de soberania.

CONCEITO: São actos legislativos no âmbito das competências das


regiões autónomas.
COMPETÊNCIA: Assembleia Legislativa da Região Autónoma:
I - poder legislativo primário - art. 227º n.º1a)
II - poder legislativo autorizado -art. 227n.º 1 b)
III - )- poder legislativo de desenvolvimento - art. 227, 1 c)
FORMA: Aplica-se a regra geral do artigo 116º.
ESPECÍFICIDADES: Art. 233º - O Representante da República assume perante
os Decretos Legislativos regionais os mesmos poderes que
o Presidente da República perante as leis e decretos lei,
competindo-lhe assinar e mandar publicar, mais podendo
exercer veto político ou ainda requerer a fiscalização da
sua constitucionalidade - art. 278º e 279º.

LIMITES MATERIAIS DOS


DECRETOS LEGISLATIVOS REGIONAIS:
1) só podem incidir ou versar sobre matérias de interesse específico da região - art.
112º n.º 4 e 227º;
2) devem respeitar os princípios gerais da República - art. 112º n.º 4 e 227, 1 a)
3) devem respeitar as Leis de autorização da AR;

145
4) devem respeitar as leis de bases aprovadas pelos órgão de soberania da
república;
5) devem respeitar as competências próprias dos órgãos de soberania

11. – Regulamentos
Os Regulamentos – são normas emanadas pela administração no exercício da função
administrativa, e regra geral com carácter executivo, e/ou complementar da lei. É um
acto normativo mas não é um acto com valor legislativo.
Os regulamentos não constituem uma manifestação da vontade da função legislativa,
antes se revelam com expressão normativa da função administrativa, (artigo 199º, alínea
c) e g)).
Relação entre as leis e os regulamentos: há que ter em conta nesta matéria os seguintes
princípios:
1 – Princípio da preferência ou proeminência, ou primazia da lei – o regulamento não
pode contrariar um acto legislativo, pois a lei tem absoluta prioridade sobre os
regulamentos, estando expressamente proibidos os regulamentos modificativos,
suspensivos, ou revogatórios das leis (artigo 112º, n. 5).
2 – Princípio da precedência da lei – encontra-se consagrado no artigo 112º, n. 7 que
estabelece a precedência da lei relativamente a toda a actividade regulamentar e também
o dever de citação da lei habilitante para todos os regulamentos.
3 – Princípio da complementaridade ou assiduidade dos regulamentos.
4 – Princípio do congelamento do grau hierárquico de uma norma legislativa nova,
substitutiva, modificativa ou revogatória de outra, tem que ter uma hierarquia normativa
pelo menos igual à da norma que ela pretende modificar ou revogar.

CONCEITO: São normas emanadas pela administração no exercício da função


administrativa e, regra geral, com carácter executivo ou
complementar da lei - não são actos legislativos.
No entanto, é um acto normativo e não um acto administrativo. -
Art. 199º c) e g)
COMPETÊNCIA: do governo ou dos órgão da administração pública no âmbito das
suas competências

146
FORMA: os regulamento emanados pelo governo assumem a forma de
decreto-regulamentar quando tal for a forma exigida pela Lei (art.º
112º n.º 6)
ESPECÍFICIDADES: As leis e decretos-leis prevalecem sobre os regulamentos (art. 112º
n.º 5)
O regulamento tem de citar expressamente a lei habilitante - 112º n.
6 e 7.

12. – Decretos
O termo decreto pode assumir vários significados: actos solenes e definitivos de um
órgão representativo ou do poder executivo, ou ainda actos do poder legislativo ainda
não definitivos.
Exemplos de decretos na Constituição da República Portuguesa:
- Decretos do Presidente da República (artigo 119º, n.1, alínea d))
- Decretos de dissolução da Assembleia da República (artigo 172º, n. 2)
- Decretos de nomeação dos membros do governo (artigo 183º, n. 3)
A eficácia do decreto do Presidente da República sob o ponto de vista jurídico depende
da publicação no Diário da República. (artigo 119º)

Decretos do Governo (artigo 134º, alínea b))


Podemos distinguir entre decretos regulamentares, que precisam de promulgação do
Presidente da República, e decretos simples que apenas exigem a assinatura do
Presidente da República.

CONCEITO:
A CRP acolhe 2 conceitos distintos:
I - actos solenes e definitivos do órgão representativo ou do poder executivo
II - actos diplomas já aprovados pelo órgão legislativo mas ainda não promulgado pelo
Chefe de Estado - art. 136º e 278º
TIPOS DE DECRETOS PREVISTOS DA CONSTITUIÇÃO
1) Decretos do Presidente da República - 119º, n.º 1, d) e 172º n.º 2, 183º n.º 3 - devem
entender-se que assumem a forma de decreto todos actos políticos do Presidente da
República

147
2) Decretos do Governo
- artigo 134º, b) decretos regulamentares que requerem a promulgação do Presidente
da República
- decretos simples que apenas requerem a assinatura PR
- decretos de aprovação de tratados e acordos internacionais - 197, n.º 2 e 278º n.º 1
- requerem assinatura do PR e eventual fiscalização da constitucionalidade.
- decretos aprovados em Conselho de Ministros e remetidos ao PR para serem
promulgados como Decreto-lei art. 136, n.º 4.
3) Assembleia da República
- decretos aprovados em plenário e remetidos ao PR para serem promulgados como
Lei – art. 136º n.º 1.
4) Decretos das Regiões Autónomas -
- decretos legislativos regionais - são actos legislativos que já falamos supra - 227º
a) b) c) d) 112, 1 e 4, 119, 1, c)
- decretos regulamentares regionais - são decretos para regulamentação das leis
gerais emanadas dos órgãos de soberania 227º, 1, d) - 119º, 1, h); 278º 2

12. - Actos Normativos Atípicos


a) regimentos das assembleias - 175º a) que estabelecem as normas necessárias à
organização e funcionamento da AR;
b) resoluções - 119,º n.º 1 e) - resoluções da AR, 162º c) e 169º, 4 ; e resoluções do
Conselho de Ministros, artigo 131º, nº1;63
c) normas constitucionais consuetudinárias - costume, convenções constitucionais,
praxes constitucionais, precedentes judicias em matéria constitucional
d) referendo - art. 115º

Direito comunitário na hierarquia das fontes de direito:

A tese hoje dominante é a de que o ordenamento nacional e o ordenamento comunitário,


são autónomos, o que não significa que não haja relações entre eles. A determinação

63
Normalmente são uma forma desses órgãos manifestarem as suas intenções e tomarem decisões, sem
que seja necessário adoptar um acto normativo, são obrigatoriamente publicadas no Diário da República.

148
dessas relações resulta de atribuição de normas constitucionais com as normas
comunitárias, além dos tratados que instituíram a União Europeia (U.E.). Muitas normas
de direito comunitário e em especial os regulamentos constituem direito directamente
aplicável em todas os estados membros, sem necessidade de qualquer acto interno (lei
ou decreto-lei) de transposição. Têm pois validade e eficácia imediatas na ordem
jurídica interna o que corresponde à tese da primazia do direito comunitário.
As directivas comunitárias – são actos normativos que, vinculam os estados membros a
uma resolução de resultado, devendo ser transpostos para o direito interno por lei ou
decreto-lei. Neste caso há um prazo para a transposição e a partir do fim desse prazo
pode ser invocada a aplicabilidade dessa directiva comunitária.

NOÇÃO INCONSTITUCIONALIDADE
Todos os actos normativos devem estar em conformidade com a Constituição, como
prevê o artigo 3º, nº 3, querendo com isto dizer que os actos legislativos e os restantes
actos normativos devem estar subordinados, formal e procedimental e substancialmente
(material) ao parâmetro constitucional.
O parâmetro constitucional, como refere Gomes Canotilho64, assenta em duas posições:
1. o parâmetro constitucional equivale à constituição escrita ou leis com valor
constitucional, dai resultando que a conformidade dos actos normativos só possa
ser aferida, do ponto de vista da constitucionalidade ou inconstitucionalidade,
segundo as normas e princípios escritos da Constituição;
2. o parâmetro constitucional é a ordem constitucional global e dessa forma o juízo
da legitimidade constitucional deve fazer-se não só de acordo com as normas e
princípios escritos das leis constitucionais, mas tendo também presentes
princípios não escritos integrantes da ordem constitucional global( princípios
reclamados pelo espírito ou valores que informam a ordem constitucional
global).
A resposta a esta questão do parâmetro constitucional é dada pela própria Constituição
quando refere que “ só são inconstitucionais as normas que infrinjam as normas e
princípios consignados na Constituição” artigos 3º, nº3 e 277º,nº1. Mas o que se deve
entender por princípios consignados na Constituição? Serão só os princípios escritos ou
também os não escritos? Como diz Gomes Cantilho, em relação a estes últimos só

64
GOMES CANTOTILHO, op. cit., pg 811 e 812

149
deverão ser considerados os que sejam reconduzíveis a uma densificação ou revelação
específica de princípios constitucionais positivamente plasmados. São exemplos: o pp
da proporcionalidade ou do”uso moderado do poder”, enquanto subprincípio
densificador do princípio do Estado de Direito Democrático e que está implícito em
várias normas constitucionais ( arts. 18º, nº2; 19º; 273º,nº2); o pp da não
rectrocatividade; o pp da protecção da confiança que tb não tem relevo autónomo como
princípio constitucional, mas pode e deve ser incluído no parâmetro constitucional
como princípio concretizante do Estado de Direito. Da mesma forma o pp do não
retrocesso social ou pp da proibição da evolução reaccionária, pois contribui para a
densificação das ns e pps constitucionais referentes aos direitos económicos, sociais e
culturais..
Como se vê só a Constituição pode ser considerada como a norma de referência ou
parâmetro normativo do controlo da constitucionalidade dos actos normativos. Mas,
como refere Cardoso da Costa, é a Constituição no seu todo, quer no que respeita Às
regras de competência e de procedimento legislativo, como aos seus princípios materiais
e valores nela incorporados e que é tomada como padrão do julgamento da
inconstitucionalidade65.
VER PG 813
A inconstitucionalidade é a desconformidade de uma norma ou de um acto praticado
por um órgão de poder político com o texto da Constituição
TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE:
POR ACÇÃO ou POR OMISSÃO

1) DIRECTA ou INDIRECTA

2) MATERIAL, FORMAL e/ou ÓRGÂNICA

3) TOTAL e PARCIAL

4) ORIGINÁRA e SUPERVENIENTE

65
CARDOSO DA COSTA, J.M., A Justiça Constitucional no quadro das funções do Estado, vista à luz
das espécies, conteúdos e efeitos, das decisões sobre a constitucionalidade das normas jurídicas, in VII
Conferência dos Tribunais Constitucionais Europeus, 1987, pg 51

150
INCONSTITUCIONALIDADE POR ACÇÃO e POR OMISSÃO

Há inconstitucionalidade por acção quando a violação resulta de uma actuação de um


órgão do poder
EXEMPLO:
- aprovação de uma Lei que permite o recurso à tortura por agentes de autoridade para
obtenção de confissão de crime, viola activamente o disposto no artigo 25º n.º 2 da
CRP.

Há inconstitucionalidade por omissão quando a desconformidade resulta da não


actuação de um órgão legislativo ou uma actuação insuficiente no desenvolvimento das
normas constitucionais não exequíveis por si próprias.
EXEMPLO:
- A omissão da aprovação de legislação que defina o conceito de dados pessoais para os
efeitos do artigo 35º n.º 2 da CRP, viola a obrigação que a constituição impõe ao
legislador de legislar sobre esta matéria.

INCONSTITUCIONALIDADE POR ACÇÃO – 1) DIRECTA e INDIRECTA

Fala-se em inconstitucionalidade directa quando ela resulta da violação da


Constituição ou dos seus princípios (artigo 277º da CR).
EXEMPLO:
- quando um decreto-lei viola um «Direito Liberdade ou Garantia» previsto num artigo
da Constituição.

Fala-se em inconstitucionalidade indirecta (ou ilegalidade) quando uma norma viola


normas interpostas, ou seja, normas às quais a CRP atribui um valor superior ao da
primeira, à violação da hierarquização constitucional das normas - 280º n.º 2.
EXEMPLO:
- quando um decreto-lei autorizado viola os termos da Lei de Autorização respectiva.

151
INCONSTITUCIONALIDADE POR ACÇÃO – 2) MATERIAL, FORMAL e
ORGÂNICA

- inconstitucionalidade material ou substancial que ocorre quando resulta da


contradição entre um acto normativo e o conteúdo de uma norma ou princípio
constitucional - quando o mesmo não é "conforme a constituição".
EXEMPLO:
- a aprovação de uma Lei que permite o recurso à tortura por agentes de autoridade para
obtenção de confissão de crime, viola o conteúdo do disposto no artigo 25º n.º 2 da CRP

- inconstitucionalidade formal quando o acto normativo adopta uma forma ou


processo diferente dos constitucionalmente prescritos.
EXEMPLO:
- a aprovação de uma Lei Orgânica por uma maioria inferior à maioria absoluta dos
deputados em efectividade de funções, viola o formalismo imposto no artigo 168º n.º 4
da CRP para a aprovação de normas desta natureza

- inconstitucionalidade orgânica quando o acto normativo provém de um órgão


constitucionalmente incompetente para o efeito
EXEMPLO:
- quando o Governo aprova um Decreto-Lei sobre uma matéria da reserva absoluta da
Assembleia da República (artigo 164º da CRP).

INCONSTITUCIONALIDADE POR ACÇÃO – 3) TOTAL e PARCIAL

A inconstitucionalidade é total se abrange todo o acto normativo.


EXEMPLO:
- quando o Governo aprova um Decreto-Lei autorizado em violação de uma Lei de
Autorização Legislativa, todo o Decreto-Lei é inconstitucional.

152
A inconstitucionalidade é parcial se abrange apenas parte do acto normativo, algum
ou alguns artigos, ou mesmo um segmento da norma jurídica.
EXEMPLO:
- no caso de aprovação da lei que aprova o novo Código do Trabalho, o Tribunal
Constitucional considerou que apenas alguns dos artigos deste Código violavam a
Constituição e que tal não afectava a validade dos demais artigos do Código, logo,
apenas parte dado acto normativo é inconstitucional.

INC. POR ACÇÃO - 4) ORIGINÁRIA e SUPERVENIENTE

A inconstitucionalidade é originária quando uma norma ordinária contraria uma


norma constitucional que lhe é anterior no tempo.
EXEMPLO:
- quando o acto normativo viola uma norma constitucional que já se encontrava em
vigor à data da sua aprovação.

A inconstitucionalidade é superveniente quando uma norma ordinária, inicialmente


conforme a constituição, passa a ser inconstitucional por entretanto entrar em vigor uma
norma constitucional que a contraria (apenas é relevante no caso de
inconstitucionalidade ser material).
EXEMPLO:
- a aprovação de uma revisão constitucional, vem introduzir na Constituição alterações
que entram em contradição com normas ordinárias em vigor; face à superioridade
hierárquica das normas constitucionais, as normas ordinárias em vigor com a nova
norma constitucional passam a ser inconstitucionais.

TIPOS PROCESSUAIS DE FISCALIZAÇÃO

1) FISCALIZAÇÃO ABSTRACTA ou CONCRETA


A fiscalização abstracta destina-se a verificar da conformidade formal, orgânica e
material de normas jurídicas face à Constituição sem considerar nenhuma situação
real concreta.

153
A fiscalização concreta destina-se a apreciar da inconstitucionalidade de
determinada norma com pertinência para uma causa concreta colocada perante um
Tribunal.

2) FISCALIZAÇÃO PREVENTIVA ou SUCESSIVA


Diz-se preventivo o processo destinado a verificar da constitucionalidade de
determinados projectos de norma jurídica antes dos mesmos se tornarem num acto
perfeito e definitivo, no caso dos actos legislativos antes de serem promulgados.
Diz-se sucessivo o processo destinado a verificar da constitucionalidade de normas
jurídicas já promulgadas, independentemente de já terem sido publicadas ou de
terem entrado em vigor.

A fiscalização da inconstitucionalidade por acção (artigo 277º C.R.P.) pode ser:


- abstracta preventiva – artigos 278º e 279º da C. R. P.
- abstracta sucessiva – artigos 281º e 282º da C. R. P.
- concreta sucessiva - artigo 280º da C. R. P.

A fiscalização por omissão é sempre abstracta (artigo 283º da C. R. P.)

1) FISCALIZAÇÃO ABSTRACTA PREVENTIVA

1.a) OBJECTO – 278º, n.º 1 e 2 CRP


• normas constantes de Tratados Internacionais antes de ratificados pelo
Presidente da República (n.º 1);
• decretos para promulgação como lei ou decreto-lei pelo Presidente da
República(n.º 1);
• decretos legislativos regionais e decretos regulamentares regionais antes de
assinados pelos Representantes da República (n.º 2).

1.b) LEGITIMIDADE – 278º, n.º 1 e 2 CRP


• Presidente da República no caso dos Tratados e Decretos sujeitos à sua
ratificação e promulgação – 278º n.º 1

154
• Representantes da República no caso dos decretos legislativos e regulamentares
regionais – 278º n.º 2
• Primeiro Ministro ou de 1/5 dos deputados em efectividade de funções no caso
de se tratarem de decretos para serem promulgados como Leis Orgânicas – 278º
n.º 4

1.c) PROCESSO
• O Presidente da República e os Representantes da República têm 8 dias a contar
da recepção do diploma para requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação
da sua constitucionalidade - 278º n.º 3
• O Primeiro-Ministro ou 1/5 dos deputados em efectividades de funções no prazo
de 8 dias da notificação feita pelo Presidente da Assembleia da República do
envio do decreto ao Presidente da República dos decretos destinados a serem
promulgados como Leis Orgânicas– 278º n.º 5 e 6.

1.d) EFEITOS – 279º


• Se o Tribunal Constitucional não se pronunciar pela inconstitucionalidade, o
Presidente da República ou os Representantes da República deverão promulgar
ou assinar tais decretos, sem embargo de continuarem a poder exercer o
respectivo veto político dentro do prazo legal - artigos 136º n.º 1 e 233º n.º 2
• Se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade deve o
Presidente da República ou o Representante da República, não ratificar o
tratado, ou vetar o decreto e devolve-lo ao órgão que o aprovou. – 279º n.º 1

Processo subsequente ao veto por inconstitucionalidade:

• Neste caso o decreto não pode ser promulgado ou assinado sem que o órgão que
o tenha aprovado expurgue a norma julgada inconstitucional, ou no caso das
leis, tratados e decretos legislativos regionais, sem que o mesmo seja confirmado
por maioria de dois terços dos deputados presentes desde que superior à maioria
absoluta, da Assembleia da República ou Assembleia Legislativa Regional
respectivamente. – 279º n.º 2 e 4

155
• Se o diploma for reformulado pode ser sujeito a nova apreciação da
constitucionalidade – 279º n.º 3.

2) FISCALIZAÇÃO ABSTRACTA SUCESSIVA

2.a) OBJECTO – 281º n.º 1


• Apreciação da constitucionalidade de quaisquer normas jurídicas já promulgadas
ou assinadas;
• Apreciação da ilegalidade resultante da violação de normas de hierarquia
superior por normas de valor inferior – 281, n.º 1, b) c) e d)

2.b) LEGITIMIDADE
• os constantes do n.º 2 do artigo 282º no âmbito das suas competências
• oficiosamente no caso de o Tribunal Constitucional já ter julgado a mesma
norma inconstitucional em 3 casos concretos

2.c) PROCESSO
• O requerimento pode ser efectuado a todo o tempo e a apreciação da
inconstitucionalidade abstracta sucessiva não determinam a suspensão da
vigência ou aplicação da norma, ou sequer a suspensão da sua eventual
publicação caso ainda não se tenha verificado, pois o Tribunal Constitucional
não pode adoptar providências cautelares.

d) EFEITOS: Força obrigatória geral – 281º n.º 1, 2, e 3


• tratando-se de inconstitucionalidade originária, produz efeitos desde a entrada
em vigor da norma declarada inconstitucional, retroactivamente, e determinada a
repristinação das normas por ela revogadas – 282º, n.º 1.
• tratando-se de inconstitucionalidade superveniente, apenas produz efeitos após a
entrada em vigor da norma constitucional ou legal posterior, retroactivamente, e
não produz a repristinação das normas por esta revogadas – 282º n.º 2.

Excepções à força obrigatória geral da declaração de inconstitucionalidade em


fiscalização abstracta sucessiva:

156
• não há retroactividade dos efeitos quanto a casos julgados, salvo decisão em
contrário do Tribunal Constitucional, quando a norma respeitar a matéria penal,
disciplinar, de mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao
arguido – 282º n.º 3.
• a retroactividade definida nos números 1 e 2 pode ser restringida quando o
Tribunal Constitucional entender ser justificado por razões de segurança
jurídica, equidade ou interesse público de excepcional relevo – 282º n.º 4.

2. e) Passagem da FISCALIZAÇÃO CONCRETA à FISCALIZAÇÃO ABSTRACTA:

Quanto ao OBJECTO:
• Nos termos do 281º n.º 3, o Tribunal Constitucional também aprecia em
abstracto e com força obrigatória geral as normas que haja julgado
inconstitucionais em três casos de fiscalização concreta.
• O relevante nas 3 situações de fiscalização concreta é a identidade da norma
ordinária julgada inconstitucional e não da norma constitucional violada.

Quanto à LEGITIMIDADE
• A iniciativa é dos próprios juízes do Tribunal Constitucional ou do Ministério
Público – conforme Lei do Tribunal Constitucional

3) FISCALIZAÇÃO CONCRETA SUCESSIVA


3. a) OBJECTO
1 – Apenas no âmbito de decisões dos Tribunais e nunca de qualquer órgão de soberania
– 280º, n.º 1, 2 e 5.
2 – O objecto do recurso é só da constitucionalidade directa ou indirecta (ilegalidade) da
norma e não do mérito da decisão do caso concreto – 280º n.º 6.
3 – Restringe-se às normas aplicáveis a um caso concreto submetido a julgamento em
Tribunal comum - 280º n.º 1, 2 e 5:
 decisões judiciais que recusem aplicar normas com fundamento em
inconstitucionalidade directa ou indirecta (ilegalidade),

157
 decisões que apliquem norma cuja inconstitucionalidade directa ou indirecta
(ilegalidade) haja sido suscitada durante o processo.
 Decisões que apliquem normas anteriormente julgadas inconstitucionais pelo
próprio Tribunal constitucional – 280º n.º 5.

3. b) LEGITIMIDADE
• a parte que alegou a inconstitucionalidade no caso de aplicação da norma
ordinária – 280º n.º 4 – sendo que esta deverá ter sido suscitada em primeira
instância ou em fase de recurso para os Tribunais comuns superiores, e não
apenas no recurso para o Tribunal Constitucional – 280º n.º 1, b) e 2, d).
• qualquer parte, desde que tenha interesse e legitimidade processual para isso, no
caso de recusa de aplicação com fundamento em inconstitucionalidade – artigo
280 n.º 4 (à contrário).
• o Ministério Público é obrigado a recorrer de recusa de aplicação de norma
constante de convenção internacional, de acto legislativo ou de decreto
regulamentar, e nos casos de aplicação de norma anteriormente julgada
inconstitucional pelo próprio Tribunal constitucional – artigo 280º n.º 3 e 5.

3.c) PROCESSO
• Segue a tramitação prevista no processo dos Tribunais Comuns e do próprio
Tribunal Constitucional.

3.d) EFEITOS
• Faz caso julgado apenas no âmbito do processo judicial em que foi suscitada a
inconstitucionalidade.
• apenas se debruça sobre a constitucionalidade da norma, e não sobre a decisão
da questão concreta em juízo

4) FISCALIZAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO


4.a) OBJECTO - 283º n.º 1

158
São pressupostos da inconstitucionalidade por omissão:
• que o não cumprimento da CRP derive da violação de certa e determinada
norma:
• que se trata de norma constitucional não exequível por si mesma;
• que, nas circunstâncias concretas da pratica legislativa, faltem as medidas
legislativas necessárias para tornar exequível aquela norma.

4.b) LEGITIMIDADE - 283º n.º 1


• o Presidente da República e o Provedor de Justiça, e no caso de "violação dos
direitos da regiões autónomas, os presidentes das assembleias legislativas da
regiões autónomas.

4.c) PROCESSO - 283º n.º 1


• A requerimento a todo o tempo de qualquer das pessoas com legitimidade.

4.d) EFEITOS - 283º n.º 2


• O Tribunal Constitucional dá conhecimento dessa omissão ao órgão legislativo
competente, mas a CRP é omissa quanto à consequência da manutenção da
omissão, após esta comunicação.

Admite-se que seja requerido novo processo de fiscalização por omissão se esta se
mantiver.

REGIME DE REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

PORTUGUESA

Revisão da Constituição:

Competência Assembleia da República (artigo 284, n. 1).

Revisão ordinária – cinco anos, sobre a data da última revisão da Constituição.

Revisão extraordinária – a qualquer momento a requerimento de quatro quintos


dos deputados em exercício em efectividade de funções (artigo 285).

159
Alterações – (artigo 286, n. 1), maioria de dois terços dos deputados em
efectividade de funções. Essas alterações têm que ser reunidas em apenas uma única
lei de revisão (artigo 286, n. 2).

O Presidente da República não pode recusar a promulgação de leis de revisão (artigo


286, n. 3)

Limites matérias da revisão (artigo 288).

1 – INTENCIONALIDADE – Artigos 285º e 287º n.º 1

Art. 285º n.º 1 - A iniciativa pertence aos deputados e não aos grupos parlamentares

nem ao PR..

Art. 285º n.º 2 - Implica a iniciativa de apresentação de um projecto de revisão que

defina expressamente as alterações à CRP pretendidas.

2 – COMPETÊNCIA

Art. 161º a) e 284º - Compete exclusivamente à Assembleia da República

3 – COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO TEMPO

Art. 284º n.º 1 - As revisões “ordinárias” apenas podem acontecer 5 anos após a

publicação da última lei de revisão.

Art. 284º n.º 2 – A Assembleia da República pode assumir poderes extraordinários de

revisão, antes deste prazo, por maioria de 4/5 dos deputados em efectividade de funções.

4 – NORMALIDADE CONSTITUCIONAL

Art. 289º + 19º n.º 8 – as revisões apenas podem ocorrer em situações de normalidade

constitucional, e nunca estando declarado o Estado de Sítio ou Estado de emergência.

5 – FORMALISMO DA APROVAÇÃO

160
Art. 285º n.º 2 – apresentado um projecto, qualquer outro a ser apreciado na mesma

altura deve ser apresentado no prazo de 30 dias.

Art. 286 n.º 1 – é necessária uma maioria de 2/3 dos deputados em efectividade de

funções.

Art. 286º n.º 2 – as alterações aprovadas serão reunidas numa única lei de revisão.

6 – PROMULGAÇÃO

Art. 286º n.º 3 – O Presidente da República não pode recusar a promulgação de uma lei

de revisão, ou seja, não pode exercer o direito de veto.

No entanto:

• cabe ao Presidente da República verificar do cumprimento dos formalismos


necessárias à aprovação de uma Lei Constitucional, caso verifique a falta de
algum desses requisitos deve devolver o projecto à Assembleia da República
para a superação desses vícios;
• não deverá igualmente promulgar a lei constitucional se ela provier de uma
órgão constitucionalmente incompetente;
• Art. 134º g) – há quem defenda ainda a hipótese de requerer a fiscalização
preventiva da fiscalização por parte do Presidente da República.

LIMITES MATERIAIS AO PODER DE REVISÃO:

O artigo 288º da CRP define o ponto de rigidez formal da Constituição da República

Portuguesa:

• Quanto à aos princípios estruturantes do Estado Português - alíneas a) a c), e h) a

o) ;

161
• Quanto ao Sistema de Direitos e Deveres Fundamentais – alíneas d) e e);

• Quanto à organização económica do Estado – alíneas f) e g)

Resolução de casos de fiscalização de constitucionalidade


NOTAS PARA A RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS DE FISCALIZAÇÃO DA
CONSTITUCIONALIDADE

1º PASSO - Identificação dos TIPOS de INCONSTITUCIONALIDADE


potencialmente presentes no caso concreto apresentado:

1.1) No caso da questão se levantar relativamente a actos normativos a questão a


colocar-se será a da eventual inconstitucionalidades por acção (quando a violação
resulta de uma actuação de um órgão do poder), pois a inconstitucionalidade por
omissão apenas existirá quando a desconformidade resulta da não actuação do órgão
legislativo ou uma actuação insuficiente no desenvolvimento das normas constitucionais
não exequíveis por si próprias.

Devemos ainda caracterizar a inconstitucionalidade quanto aos seguintes critérios:

1.2) Quanto ao vício da norma verificar se é uma:


- inconstitucionalidade material ou substancial, quando resulta da contradição entre
um acto normativo e o conteúdo de uma norma ou princípio constitucional (por
exemplo: artigo 3º n.º 3, artigo 18º da CRP).
- inconstitucionalidade formal quando o acto normativo adopta uma forma ou
processo diferente dos constitucionalmente prescritos (por. exemplo: art. 166º e 168º).

162
- inconstitucionalidade orgânica quando o acto normativo provém de um órgão
constitucionalmente incompetente para o efeito (violação dos princípios dos artigos
110º n.º 2 e 111º, n.º 1 da CRP)

1.3) Quanto à norma ou princípio violado verificar se é uma:


- inconstitucionalidade directa (quando ela resulta da violação da Constituição ou dos
seus princípios – por exemplo artigo 280º n.º 1 da CRP)
- inconstitucionalidade indirecta (ou ilegalidade) (quando uma norma viola normas
interpostas, ou seja, normas às quais a CRP atribui um valor superior ao da primeira, à
violação da hierarquização constitucional das normas – por exemplo art. 280º n.º 2).
1.4) Quanto à extensão do vício verificar-se-á uma:
- inconstitucionalidade total (se abrange todo o acto normativo)
- inconstitucionalidade parcial (se abrange apenas parte do acto normativo, algum ou
alguns artigos, segmento de artigo).

1. 5) No caso de estarmos perante uma norma já promulgada devemos ainda verificar se


estamos perante uma:
- inconstitucionalidade originária (quando uma norma infra-constitucional contraria
uma norma constitucional que lhe é anterior no tempo)
- inconstitucionalidade superveniente (quando uma norma ordinária, inicialmente
conforme a constituição, passa a ser inconstitucional por, entretanto, entrar em vigor
uma norma constitucional que a contraria quanto à matéria).

2º PASSO - Identificação do PROCESSO de FISCALIZAÇÃO aplicável ao caso


concreto:

2.1) No caso de estarmos perante um acto normativo ainda não promulgado pelo
Presidente da República ou ainda não assinado pelo Representante da República
apenas será possível a FISCALIZAÇÃO ABSTRACTA PREVENTIVA.

2.1.1. OBJECTO
Art. 278º CRP - Fiscalização da constitucionalidade de:

163
- normas constantes de Tratados Internacionais antes de ratificados pelo Presidente da
República;
- de decretos para promulgação como lei ou decreto-lei, antes de promulgados pelo
Presidente da República;
- de decretos legislativos regionais antes de assinados pelos Representantes da
República.

2.1.2. LEGITIMIDADE
Art. 278º n.º 1- Do Presidente da República no caso dos Tratados e Decretos sujeitos à
sua ratificação e promulgação
Art. 278º n.º 2 - Dos Representantes da República no caso dos decretos legislativos
regionais
Art. 278º n.º 4 - Do Primeiro Ministro ou de 1/5 dos deputados em efectividade de
funções no caso de se tratarem de decretos para serem promulgados como Leis
Orgânicas

2.1.3. PROCESSO
Art. 278º n.º 3 - O Presidente da República e os Representantes da República têm 8 dias
a contar da recepção do diploma para requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação
da sua constitucionalidade.
Art. 278º n.º 5 e 6 – O Primeiro-Ministro ou 1/5 dos deputados em efectividades de
funções devem requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação da constitucionalidade
dos decretos destinados a serem promulgados como Leis Orgânicas no prazo de 8 dias
da notificação feita pelo Presidente da Assembleia da República ao Primeiro Ministro e
aos Grupos Parlamentares do envio do decreto ao Presidente da República.

2.1.4. EFEITOS
136º, n.º 1 e 233º, n.º 2 - No caso de o Tribunal se pronunciar pela constitucionalidade
de decretos sujeitos à sua apreciação preventiva, o Presidente da República ou o
Ministro da República deverão promulgar ou assinar tais decretos, sem embargo de
continuarem a poder exercer o respectivo veto político dentro do prazo legal.
Art. 279º n.º 1 - Se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade
de qualquer normas constante de decreto ou tratado que lhe haja sido submetido para

164
apreciação preventiva, deve o Presidente da República ou o Representante da
República, não ratificar o tratado, ou vetar o decreto e devolve-lo ao órgão que o
aprovou.
Art. 279º n.º 2 e 4 - Neste caso o decreto não pode ser promulgado ou assinado sem que
o órgão que o tenha aprovado expurgue a norma julgada inconstitucional, ou no caso
das leis e tratados, sem que o mesmo seja confirmado por maioria de dois terços dos
deputados presentes desde que superior à maioria absoluta da Assembleia da República.
Art. 279º n.º 3 - Se o diploma for reformulado, pode o presidente da República ou o
Representante da República promulgado ou assinado, ou requerer nova apreciação da
sua constitucionalidade.

2.2) No caso de estarmos perante um acto normativo já promulgado pelo


Presidente da República ou assinado pelo Representante da República,
independentemente de já ter sido publicada ou entrado em vigor, e fora do âmbito
de qualquer processo judicial comum, apenas poderemos estar perante uma
FISCALIZAÇÃO ABSTRACTA SUCESSIVA.

2.2.1. OBJECTO
Art. 281º n.º 1, a) - apreciação da inconstitucionalidade directa de quaisquer normas
jurídicas já promulgadas ou assinadas;
Art. 281, n.º 1, b) c) e d) - Apreciação da inconstitucionalidade indirecta (ilegalidade)
resultante da violação de normas de hierarquia superior por normas de valor inferior

2.2.2. LEGITIMIDADE
Art. 282º, n.º2 - todos os constantes

2.2.3. PROCESSO
O requerimento pode ser efectuado a todo o tempo e até à decisão final do Tribunal
Constitucional, o processo a apreciação da inconstitucionalidade abstracta sucessiva não
determinam a suspensão da vigência ou aplicação da norma, ou sequer a suspensão da
sua eventual publicação caso ainda não se tenha verificado, pois o Tribunal
Constitucional não pode adoptar providências cautelares.

2.2.4. EFEITOS

165
Art. 282º n.º 1, 2, e 3 - Força obrigatória geral
Art. 282º, n.º 1 - tratando-se de inconstitucionalidade originária, produz efeitos desde a
entrada em vigor da norma declarada inconstitucional, retroactivamente, e determina a
repristinação das normas por ela revogadas
Art. 282º n.º 2 - tratando-se de inconstitucionalidade superveniente, apenas produz
efeitos após a entrada em vigor da norma constitucional ou legal posterior,
retroactivamente, e não produz a repristinação das normas por esta revogadas
Art. 282º n.º 3 - não há retroactividade dos efeitos quanto a casos julgados, salvo
decisão em contrário do Tribunal Constitucional quando a norma respeitar a matéria
penal, disciplinar, de mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao
arguido.
Art. 282º n.º 4 - a retroactividade definida nos números 1 e 2 pode ser restringida
quando o Tribunal Constitucional entender ser justificado por razões de segurança
jurídica, equidade ou interesse público de excepcional relevo.

2.3) No caso de estarmos perante uma questão de constitucionalidade levantada no


âmbito de um processo judicial comum pendente, estamos perante uma
FISCALIZAÇÃO CONCRETA SUCESSIVA.

2.3.1. OBJECTO
Art. 280º, n.º 1, 2 e 5 – Só há recurso à fiscalização concreta sucessiva directa para o
Tribunal Constitucional no âmbito de decisões dos Tribunais e nunca de qualquer órgão
de soberania.
Art. 280º, n.º 6 – O objecto do recurso é só da constitucionalidade directa ou indirecta
(ilegalidade) da norma e não do mérito da decisão do caso concreto
Art. 280º n.º 1, 2 e 5 – O âmbito da fiscalização concreta restringe-se às normas
aplicadas a um caso concreto submetido a julgamento em Tribunal comum, e logo a
título incidental e desde que com interesse (nexo causalidade) com a questão em juízo.
Art. 280º n.º 5 – Tipos de decisões:
- decisões judiciais que recusem aplicar normas com fundamento em
inconstitucionalidade directa ou indirecta (ilegalidade),
- que apliquem norma cuja inconstitucionalidade directa ou indirecta (ilegalidade) haja
sido suscitada durante o processo.

166
- que apliquem normas anteriormente julgadas inconstitucionais pelo próprio Tribunal
constitucional.

2.3.2. LEGITIMIDADE
Art. 280º n.º 4 - No caso de aplicação de norma cuja inconstitucionalidade directa ou
indirecta (ilegalidade) haja sido suscitada, só pode recorrer com este fundamento para o
tribunal Constitucional a parte que alegou a inconstitucionalidade
Art 280º n.º 1, b) e 2, d) – sendo que, neste caso, a questão da inconstitucionalidade
deverá ter sido suscitada em primeira instância ou em fase de recurso para os Tribunais
comuns superiores, e não no recurso para o Tribunal Constitucional.
No caso de recusa de aplicação de norma com fundamento em inconstitucionalidade
directa ou indirecta (ilegalidade) qualquer parte pode recorrer para o tribunal
constitucional desde que tenha interesse e legitimidade processual para isso.
Art. 280º n.º 3 e 5 - O Ministério Público é obrigado a recorrer para o Tribunal
Constitucional nos casos de decisão judicial que recuse a aplicação de norma constante
de convenção internacional, de acto legislativo ou de decreto regulamentar, e nos casos
de aplicação de norma anteriormente julgada inconstitucional pelo próprio Tribunal
constitucional.

2.3.3. PROCESSO
A recurso para o Tribunal Constitucional respeita as normas de processo dos Tribunais
Comuns e do próprio Tribunal Constitucional.

2.3.4. EFEITOS
A decisão de inconstitucionalidade de uma norma no âmbito de fiscalização concreta
sucessiva faz caso julgado, quanto a essa inconstitucionalidade, mas apenas no âmbito
do processo em que foi suscitada
Por outro lado, a decisão do Tribunal Constitucional apenas se debruça sobre a
constitucionalidade da norma, e não sobre a decisão da questão concreta em juízo. Logo
a decisão do Tribunal Constitucional não substitui a decisão do Tribunal recorrido, ou
sequer a anula, apenas ordenando que o mesmo profira nova decisão em conformidade
com o julgamento de constitucionalidade das normas aplicadas.
Em caso de decisão de inconstitucionalidade de norma aplicada pelo Tribunal, ou de
conformidade de norma não aplicada pelo Tribunal com fundamento em

167
inconstitucionalidade, os autos baixarão ao tribunal de onde provieram a fim de este,
consoante o caso, reforme a decisão ou a mande reformar em conformidade com a o
julgamento da questão de inconstitucionalidade.

2.4.) No caso de estarmos perante uma norma julgada inconstitucional por 3 vezes
em sede de fiscalização concreta pode igualmente haver lugar à FISCALIZAÇÃO
ABSTRACTA SUCESSIVA:

2.4.1.) Quanto ao OBJECTO:


Nos termos do 281º n.º 3, o Tribunal Constitucional também aprecia em abstracto e com
força obrigatória geral as normas que haja julgado inconstitucionais em três casos de
fiscalização concreta.
O relevante nas 3 situações de fiscalização concreta é a identidade da norma julgada
inconstitucional e não do fundamento da inconstitucionalidade.

2.4.2) Quanto à LEGITIMIDADE


A iniciativa é dos próprios juízes do Tribunal Constitucional ou do Ministério Público
(Lei do Tribunal Constitucional).

2.4.3) No mais aplicam-se as regras gerais da fiscalização abstracta sucessiva (ver ponto
2.2.)

2.5) O facto de estar a decorrer uma fiscalização concreta sucessiva da


constitucionalidade não impede que as pessoas com legitimidade para o efeito
requeiram a fiscalização abstracta sucessiva da constitucionalidade da mesma
norma. Nem o facto de estar a decorrer uma fiscalização abstracta sucessiva de
determinada norma, ou existir uma decisão de conformidade do Tribunal
Constitucional sobre essa norma, não impede que no âmbito de um processo
pendente nos tribunais comuns se requeira a fiscalização concreta sucessiva da
constitucionalidade.

168
2.6) Finalmente, no caso de estarmos perante a omissão de aprovação de legislação
necessária à exequibilidade de norma constitucional estaremos perante uma
FISCALIZAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO:

2.6.1. OBJECTO
Art. 283º n.º 1 - São pressupostos da inconstitucionalidade por omissão:
a) que o não cumprimento da CRP derive da violação de certa e determinada norma;
b) que se trata de norma constitucional não exequível por si mesma;
c) que, nas circunstâncias concretas da pratica legislativa, faltem as medidas legislativas
necessárias para tornar exequível aquela norma.

2.6.2. LEGITIMIDADE
283º n.º 1 - em geral cabe ao Presidente da República e ao Provedor de Justiça; no caso
de "violação dos direitos da regiões autónomas cabe aos presidentes das assembleias
legislativas da regiões autónomas.

2.6.3. PROCESSO
Art. 283º n.º 1 - a requerimento a todo o tempo de qualquer das pessoas com
legitimidade.

2.6.4. EFEITOS
Art. 283º n.º 2 - o Tribunal Constitucional dá dessa omissão conhecimento ao órgão
legislativo competente, mas a CRP é omissa quanto à consequência da manutenção da
omissão, após esta comunicação.
Admite-se que seja requerido novo processo de fiscalização por omissão se esta se
mantiver.

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