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FRONTEIRA
subsídios para uma monografia
2ª edição
revista e aumentada
Fronteira
Câmara Municipal de Fronteira
2001
Ficha Técnica
Parafraseando uma sentença célebre da nossa história recente, que deu brado nos anais
da jurisprudência, direi que esta não é a melhor monografia de Fronteira mas é a
monografia possível.
Dezasseis anos após a sua primeira edição surge agora, novamente por iniciativa da
Câmara Municipal de Fronteira, esta segunda edição mais extensa, mais ponderada e,
decerto, mais informativa.
Muito fica ainda por dizer. Melhor que ninguém, sabe-o o autor e mais que a qualquer
outro o penalizam as inúmeras lacunas por preencher e as muitas questões deixadas sem
resposta.
Porém, um estudo monográfico é, essencialmente, o fruto de uma pesquisa de múltiplas
fontes, nem sempre acessíveis, por limitações de ordem diversa; este é,
fundamentalmente um trabalho de recolha, tratamento e compilação de informações de
origem muito vária e, quantas vezes!, os elementos indispensáveis tão pouco existem,
na ausência de estudos prévios.
E é este o caso de Fronteira...
Daí que me permita, desta tribuna de papel, apelar e, porque não?, lançar o repto às
entidades oficiais e privadas para que invistam mais intensa e regularmente na produção
e promoção de conteúdos culturais de âmbito local, na esteira do que, de há pouco
tempo a esta parte e muito louvavelmente, tem vindo a ser feito pelo Município.
Caberá também – e principalmente – às gerações mais jovens que têm, em boa parte,
alcançado graus de formação perfeitamente inacessíveis à grande maioria dos seus
progenitores, dar o contributo fundamental do seu trabalho, transformando num
instrumento activo de progresso e de enriquecimento cultural da comunidade o saber
adquirido.
De modo a facilitar a compreensão do texto ao leitor menos familiarizado
com a paleografia, todos os excertos transcritos são aqui apresentados em
português moderno.
Índice
1. O Meio
1.1 Clima
1.2 Geologia e Pedologia
1.1 Hidrologia
1.3.1 Cursos de Água
1.3.2 Fontes
1.3.2.1 Fonte Nova
1.3.2.2 Fonte da Sanona
1.3.2.3 Fonte do Areeiro
1.3.2.4 Fonte do Concelho
1.3.2.5 Fonte da Pipa
1.3.3 Abastecimento Público
1.4 Fauna e Flora
1.4.1 Fauna
1.4.2 Flora
2. O Concelho
2.1 Evolução Histórica
2.2 Heráldica Autárquica
2.2.1 Heráldica da Câmara Municipal
2.2.2 Heráldica da Junta de Freguesia
3. A Vila
3.1 O Nome
3.2 O Castelo
3.3 Dentro da Vila
3.3.1 A Judiaria
3.4 O Fora de Vila
3.5 Toponímia
4. Monumentos
4.1 Igrejas e Locais de Culto
4.1.1 Capela da Senhora das Dores
4.1.2 Capela do Arco dos Santos
4.1.3 Capela do Senhor das Almas
4.1.4 Igreja da Misericórdia
4.1.5 Igreja de Nossa Senhora da Vila Velha
4.1.6 Igreja do Espírito Santo
4.1.7 Igreja do Senhor dos Mártires
4.1.8 Igreja Matriz de Nossa Senhora da Atalaia
4.1.9 Igrejas já desaparecidas
4.1.9.1 Igreja de São Pedro
4.1.9.2 Igreja de São Tiago
4.1.9.3 Igreja de Santa Catarina
4.1.9.4 Igreja de São Miguel
4.1.9.5 Igreja e Convento de Santo António
4.1.9.6 São Bento das Lapas
4.1.9.7 Cruzeiros
4.1.9.8 Alminhas
4.2 Arquitectura Civil
4.2.1 Coreto
4.2.2 Paços do Concelho
4.2.3 Pelourinho
4.2.4 Ponte da Ribeira Grande
4.2.5 Torre do Relógio
5. Os Homens
5.1 Fronteirenses Ilustres
5.2 Famílias Nobres de Fronteira
5.3 Irmandades e Confrarias
5.3.1 Confraria das Almas
5.3.2 Confraria das Chagas de Jesus
5.3.3 Confraria de Nossa Senhora da Conceição
5.3.4 Confraria de Nossa Senhora da Piedade
5.3.5 Confraria de Nossa Senhora da Vila Velha
5.3.6 Confraria de Nossa Senhora do Carmo
5.3.7 Confraria de Nossa Senhora do Rosário da Gente Preta
5.3.8 Confraria de Santa Catarina
5.3.9 Confraria de Santa Maria
5.3.10 Confraria de São Miguel
5.3.11 Confraria de São Pedro
5.3.12 Confraria de São Sebastião
5.3.13 Confraria de São Tiago
5.3.14 Confraria do Anjo da Guarda
5.3.15 Confraria do Corpo de Deus
5.3.16 Confraria do Espírito Santo
5.3.17 Confraria do Nome de Jesus
5.3.18 Confraria do Santíssimo Sacramento
5.3.19 Confraria dos Passos
5.3.20 Confraria dos Terceiros de São Francisco
5.3.21 Irmandade da Misericórdia
5.4 Actividades Económicas
5.4.1 Caça
5.4.2 Pesca
5.4.3 Agricultura e Pecuária
5.4.4 Comércio e Manufacturas
5.4.4.1 Feiras
5.5 Demografia
6 Síntese Histórica
6.1 Paleolítico
6.2 Neolítico e Calcolítico
6.3 Idade do Bronze
6.4 Idade do Ferro
6.5 Época Romana
6.6 Época Muçulmana
6.7 Idade Média
6.8 Da Idade Média aos nossos dias
1. O MEIO
1.1 CLIMA
As amplitudes térmicas anuais, mais elevadas nos anos secos que nos húmidos e no
nos meses de Inverno durante situações de tempo anti-ciclónico continental muito seco.
Agosto e máxima nos meses de Inverno, apresentando, no seu conjunto, valores médios
durante 4 ou 5 meses.
No que à precipitação respeita, a sua forma mais comum é a chuva. A queda de neve,
fenómeno raríssimo, verificou-se apenas por duas ocasiões durante o último meio
século.
O regime pulviométrico caracteriza-se pela deficiência das chuvas (500 mm) e pela sua
problema mais grave, alternando as sequências de anos húmidos com as de anos secos.
estabelecer o índice de conforto climático da área em estudo. Temos assim que entre as
6 e as 9 horas da manhã só os meses de Verão são confortáveis. Entre as 12 e as 15
durante 4 ou 5 meses.
a frágil fronteira entre a abundância e a fome, como ainda hoje tantas vezes sucede em
que encontremos repetidas, quase até à exaustão, ao longo dos séculos, as mesmas
notícias que nos dão conta da esterilidade dos anos marcados ora pelas secas ora pelas
chuvas excessivas.
adversas e que nos surgem em número sempre crescente entre os séc. XVI e XIX, talvez
tempo, vinha assumindo no contexto económico local, aqui damos uma breve resenha,
Comecemos pelo ano de 1600, por ser este ano tão extremado em algumas
particularidades poucas vezes vistas [que] me pareceu bem pôr aqui em memória
algumas coisas das muitas que nele aconteceram para que os que embora ao diante
vierem vejam isto que neste ano aconteceu e tenham muita confiança em Deus Nosso
Senhor em suas coisas mais que em suas indústrias. Não eram, de modo algum,
exageradas estas palavras que Álvaro Martins, escrivão da Santa Casa da Misericórdia
De facto, naquele ano agrícola de 1599/1600, passante dia de Nossa Senhora de Agosto
choveu dois dias um após o outro tão manso e tão quieto como pudera fazer no inverno
e passados os dois dias e até todo o mês de Outubro nunca tornou a chover. No começo
de Novembro, choveu uma só pancada ainda que pouca e saíram a começar a lavoura
mas não podiam fazer. Aos dezoito dias daquele mês, veio uma pancada de água ainda
que pouca [...] todos saíram a lavrar ainda que não podiam e apenas a 8 de Dezembro
sementeiras foi pelo Natal e ficariam quase a metade para depois da festa acabaram
por semear até quase o fim de Janeiro e pela falta que houve da água na sementeira
Em 1604, ano ruim e carestioso, de muitas águas, o povo requereu à Câmara que fizesse
embargo nos terços das rendas de trigo que D. Lucas de Portugal e outros senhorios
levavam e vendiam para fora da terra dada a necessidade deste povo para que não
pereça à fome.
Em Abril e Dezembro de 1612 a Câmara proíbe toda e qualquer saída de trigo para fora
da terra, o que faz pressupor uma fraca colheita naquele ano. Outro tanto viria a suceder
em 1618 face à constatação que se levava todo o trigo desta dita vila e o centeio e
Câmara pediam a suas mercês que houvessem compaixão deles e lhes concedessem as
várzeas ao longo da ribeira porque o ano mostrava não ser de muita novidade de pães e
cevadas e centeios segundo o temporal corre e que os lavradores desta dita vila estão
já todos muito pobres por falta de os tempos passados lhes não acudirem com
novidades.
O ano de 1627 terá corrido mais a contento dos lavradores que tiveram excedentes para
trouxe a esta vila João das Neves Nunes, comissário de Sua Majestade, enviado pela
Câmara da capital para angariar a mais quantidade de pão que pudesse ser a vender à
dita cidade pela muita falta que tinha dele assim para seu sustento como para
acudir-lhe com mais que vinte moios de trigo em razão do ano estar tão apertado e tão
miserável de haver tanta falta de pão que se acha pelo livro dos dízimos do escrivão do
celeiro não vir a ele este ano mais que noventa e quatro moios de trigo que
correspondem à novidade de toda esta vila e seus termos não ser mais que de
novecentos e quarenta moios sendo assim que este povo há mister para seu sustento de
Em 1637, novas queixas dos lavradores que requereram mais uma vez à Câmara que
lhes desse as várzeas da Coutada Brabia para semearem milho porque naquele ano as
sementeiras foram feitas muito desiguais de modo que estão muito danificadas por
causa do tempo e invernada de modo que se espera pouca novidade se Deus não acudir
cevada com que deveriam contribuir para o exército dada a esterilidade que houve neste
termo. O ano de 1685 ficou marcado pela despedida de muitos anos miseráveis e
entrada de outro que amedronta a todos em geral por falta dos temporais para seu
sustento. Quanto à colheita de 1688, esta ficou, pela sua abundância, referida numa
portaria de D. Pedro II, datada de 17 de Janeiro daquele ano, porque sendo boa como se
espera a novidade futura não terá saída e será a mesma fertilidade prejudicial aos
lavradores, hei por bem que enquanto não mandar o contrário se possa na dita
Província vender pão para Castela e a de 1692 é referido como de muita falta de
mandar buscar vinte moios de trigo para se repartirem pelos moradores desta vila e seu
termo. Em 1717, por a novidade ter sido pouca de trigo no ano anterior, a Câmara
Excepção rara a confirmar a regra da irregularidade atmosférica foi o ano de 1725 pela
gravíssima abundância de trigo e cevada que há este ano em toda esta Província.
Porém, em 1734, tornava o Procurador do Concelho a queixar-se, uma vez mais, que
esta vila tinha muita falta de trigo pela esterilidade que houve, esterilidade que
embargo dos terços das rendas das herdades pela muita falta de trigo que há na colheita
do presente ano.
moradores deste povo tinham impetrado provisão de Sua Majestade para efeito de
mesma o que fizeram por serem vexados com as esterilidades dos anos passados.
Relativamente ao ano de 1758 foi-nos possível apurar que esta terra se achava sem
trigo para o povo e outrossim que as padeiras não tinham para amassarem. Em 1764, o
juiz e Vereadores da Câmara resolveram que pela carestia de trigos e falta deles se
fechasse a terra para que não saísse mais trigo algum. Apesar desta proibição o certo é
que o cereal continuou a ser vendido para fora da terra, à revelia das autoridades que,
qualidade sucessiva à do ano próximo pretérito que ameaçava não só um exacto valor
no preço mas ainda uma extrema necessidade se se não proibisse a extracção dos ditos
géneros para fora desta vila e seu termo como com acerto prudente tinham praticado
da presente colheita ser tão grande que se tem calculado que todo o trigo que se
recolhe não chega para o consumo deste povo e fabrico das lavouras.
pelo escrivão do Celeiro Comum e os de 1784, 1785, 1786, 1787, 1788 e 1789 todos
eles marcados pela escassez das colheitas. Os dois primeiros anos da década de 1790
Apesar de 1793 ter ficado marcado pela brandura e frescura do tempo que não
chegava a amaduração das searas, a safra não foi grandemente prejudicada como se
registar as abundantes colheitas com que no presente ano, e nos pretéritos tem provido
assim a cidade de Lisboa como outras muitas terras desta Província pela falta que elas
fazem os autores das notícias chegadas até nós, por vezes, como vimos,
contraditórias.
Não será, pois, de excluir que certas notícias aparentemente contraditórias fossem, na
O ano seguinte ficou assinalado por fortes temporais durante o Outono que provocaram
chegado para o abastecimento até à colheita seguinte de 1797 que, pelo contrário, se
ano de muitas águas que por várias vezes fizeram sair os rios de seus leitos, a
lavradores a requerer serem isentos de entrarem com os capitais [i.e. trigo] devidos ao
Porém, uma vez mais, acautelemo-nos com as informações disponibilizadas, dado que
em acta da sua vereação: Nesta determinaram que atendendo a os terços das rendas e
fora junto com os terços que há para vender nos celeiros particulares serem bastantes
para o sustento do povo desta vila e seu termo [...] dando liberdade para a exportação
do dito género para esta Província ficando os terços reservados para o abono deste
Povo.
O ano de 1803 ficaria marcado pela escassez de água, obrigando o município a encetar
Outro tanto viria a suceder em 1804, marcado pela seca, ano agrícola de muito escassa
e muito estéril colheita das searas, porquanto as carradas que costumavam fundir a
vinte, e trinta alqueires, apenas fundem a cinco e oito alqueires, sendo certo que muitas
Não foi mais favorável o ano de 1806 em que perante a falta que havia de trigo para
consumo e alimento dos habitantes desta vila e termo a Câmara dispôs que de
condições atmosféricas que se fizeram sentir em 1823. Vem depois o ano de 1831, de
Mais grave foi a situação de crise provocada grande seca de 1834, agravada pela
colheita era que não se podendo dizer abundante ainda que o tempo lhe seja favorável
há-de ser contudo mais de mediana. Os anos seguintes ficaram recordados pela sua
colheu apenas a semente ou pouco mais ou nem essa, e não achou já dinheiro para
o ano seguinte de 1849 iria ficar marcado por um extremar dessas mesmas condições
que oscilariam entre um período de grande escassez de águas nos primeiros meses do
ano que levou a que no dia 9 de Abril tivesse sido celebrada missa ad pluviam
petendam, e uma terrível tempestade que viria a dar o golpe de misericórdia nas já
debilitadas produções agrícolas. Esta foi, tanto quanto nos é dado saber, a primeira de
uma série de tempestades que, ao longo da segunda metade do séc. XIX, provocaram,
como teremos oportunidade de ler, enormes prejuízos não só a nível económico mas
Este ano de 1849 mereceu, desde o seu início, a atenção das autoridades locais que
Março :
É certo que as searas neste concelho inspiram actualmente bem fundado receio de que
a futura colheita seja minimamente escassa e parece à Câmara que quaisquer que
sejam as alterações atmosféricas que doravante tenham lugar, por mais favoráveis que
sejam para a vegetação não podem remediar já os centeios os quais se acham tão
prejudicados que muito poucas de suas espigas chegarão a tomar grão. Não acontece
porém o mesmo por ora ás searas de trigo, das quais conquanto algumas,
As águas, contudo, se bem que viessem a cair, nada trouxeram consigo de benéfico...
Venho hoje relatar a Vª. Exª. a dor que oprime os habitantes desta vila pelo espantoso
sucesso que no espaço de duas horas assolou os seus campos. Das oito e meia às dez e
meia horas da noite do dia 21 do corrente mês, uma horrenda tempestade com
desmedida pedra, imensa água, trovões e um fogo eléctrico não interrompido e nunca
primeiros os poucos já ceifados, foram todos traçados e moídos, de forma que na maior
escapando apenas alguma carrada de cevada e aveia que já existiam em meda na eira.
Os restolhos e pastos ficaram como costumam estar nos fins de Agosto depois de
comidos e pisados pelo gado. As vinhas ficaram sem fruto, sem uma folha e com as
varas partidas. Os olivais, montados e todo o arvoredo, além de perderem todo o fruto
e rama, sofreram grande corte e derrota. Eu como proprietário e lavrador perdi toda a
minha receita e de cinco moios e meio de sementes poderei recolher um, em atenção a
ter já acondicionado algumas. Este o estado lastimoso a que ficou reduzido este
concelho.
Os prejuízos causados pelo temporal foram, efectivamente, enormes à escala local como
PASTAGENS 1.200$000
HORTAS 1.200$000
ARVOREDOS 3.000$000
SOMA 67.081$000
Agravando a situação já de si crítica da agricultura local, o ano de 1850 viria a revelar-
se sumamente estéril.
À crise de 1856 outras se seguiram nos anos imediatos senão tão grandes, ao menos
muito sensíveis para este concelho. Esta série de maus anos agrícolas prolongou-se até
Março do ano seguinte, a 450 moios de trigo. Igualmente excedentários foram os anos
O início do derradeiro quartel do séc. XIX ficou marcado pelas grandes estiagens de
1875 e 1876. Neste último ano, um enorme temporal, principalmente no dia e noite de 6
satisfatória. Os dados sobre o clima de que dispomos para os anos seguintes informam-
nos da ocorrência de uma terrível trovoada no dia 21 de Outubro de 1888 que destruiu
uma providência extraordinária dos altos poderes do Estado, que minore quando não
No dia 6 do corrente, pelas 3 horas da tarde, uma trovoada medonha caiu sobre
causando bastantes estragos nos gados e nas casas de habitação. De repente, Senhor, e
e a terra, seu único recurso, queimada pelo granizo e improdutiva por muito tempo.
concelho pobre descobrisse recursos de que pudesse dispor para acudir com trabalho e
dinheiro, pelo menos, aqueles indivíduos que ficaram na maior miséria. Assim, só pode
usar do direito da súplica para que os Ministros de Vossa Majestade socorram, pelos
acordo com a documentação por nós compulsada, assolaram no período em causa, por
duas vezes, a localidade, uma na noite de 15 para 16 de Janeiro de 1804 e outra no dia
15 de Fevereiro de 1941. Este último fez-se sentir com grande violência provocando
grandes danos no coreto cuja cobertura arrancou, em casas particulares e num cinema
As formações silúricas, que ocupam grande parte da metade oeste do concelho, são
sobre as anteriores patenteado por acidentes de direcção NW-SE que as separa e são
metavolcanitos intercalados.
As rochas magmáticas estão bem representadas por granitos, rochas básicas (gabros e
Apesar de no século passado a política fontista de fomento mineiro ter dado origem a
um vasto movimento de registo de jazidas minerais na área do concelho, não consta que
Valverde Idem
outeiro de Nossa Senhora da Vila Velha, alude o autor das Antiguidades de Fronteira
minas por conta de uma companhia, suspeitou que as covas existentes no outeiro da
Vila Velha tiveram por fim a exploração de minas, fundando-se em ter encontrado ali
nas escavações, que começou, algumas pedras que continham material visível ao
microscópio, e até à minha lente, opinião que aquele autor reforçava com a evidência de
existir naquele local abundância de certas pedras, de que este povo se servia muito
para com o pó delas pisadas limpar metais ; a porosidade delas, e o seu muito pouco
Ás mesmas covas se referira já, duzentos anos antes, o cónego Novais na sua Relação
do Bispado de Elvas, onde se pode ler: No sítio da Vila Velha ainda estão
fundação[...].
Câmara de então pôs por postura que nenhuma pessoa desta vila possa lavar roupa nem
outras coisas nas lagoas das pedreiras. É mesmo lícito supor que neste período,
marcado pela construção de várias igrejas, a actividade extractiva terá atingido o seu
período áureo.
Defesa, Apaúla e Várzeas), da única olaria existente em Fronteira a qual laborava com
extracção de granito que se manteve em actividade até aos anos sessenta do nosso
capacidade agrícola que a maior parte dos solos existentes no Distrito de Portalegre.
Do ponto de vista produtivo são no seu conjunto solos com mediana capacidade
1068 hectares a solos de 1ª. classe, 11787 hectares a solos de 2ª. classe e 9154 a solos de
3ª. classe.
produtiva destes solos deveria ser, basicamente, para a cerealicultura de sequeiro com
reconversão dos sistemas culturais nos solos marginais onde o trigo deveria dar lugar à
aveia e cevada, em alternância com forragens anuais ou com prados multianuais com
base no trevo subterrâneo e na festuca, tendo em vista a produção de ovinos para carne.
Ainda segundo aquele estudo, nos solos sem aptidão agrícola dever-se-ia implementar a
A – Não hidromórficos
a) Vermelhos
s/ calcáreos friáveis 85
Calcáreos s/ margas calcáreas 277
s/ xistos c/ infiltrações calcáreas 267
s/ calcáreos cristalinos 97
Não calcáreos
s/ xistos 3.478
s/ xistos 1.138
b) Pardo-avermelhados não calcáreos
s/ gneisses anfibólicos e/ou cloritoxistos 7.065
c) Pardos
s/ granitos 3.191
Não calcáreos s/ quartzo dioritos 960
s/ pórfiros graníticos 117
e) Barros
Pretos s/ dioritos 41
Calcáreos e/ou
Gabros c/ infiltrações ou dep. Calcáreos
conhecida por Ribeira Grande, que autores mais antigos denominaram Rio Zetas.
Esta ribeira nasce 18 km acima da vila de Monforte, nas herdades da Roda, Carrapeto e
Na parte inicial do seu curso corre com o nome de Ribeiro do Freixo. É este ribeiro que
de passar, pela banda do norte, a curta distância da vila de Fronteira a Ribeira de Avis
prossegue o seu curso em direcção às vilas da Figueira, Ervedal, Avis, Cabeção e Mora.
Entre estas duas últimas conflui com o Rio Sor e passa a corre com o nome de Rio
Sorraia o qual por sua vez desagua no Tejo por alturas de Benavente.
acumula mesmo durante os meses mais quentes de Verão. São ao seguintes os pegos
de montante para juzante : Pego da Espadaneira, Pego do Burrinho, Pego de Ana Loura,
Chícharo, Pego do São Bento das Lapas, Pego da Areeira, Pego da Fonte Férrea, Pego
da Nogueira, Pego da Matinca, Pego do Altar, Pego dos Ferreirinhos, Pego da Garça,
Pego do Barreirão, Pego da Pedra, Pego da Vinha, Pego Laranjo e Pego do Poio.
Todos os restantes cursos de água do concelho são tributários da Ribeira Grande e
De entre as linhas de água secundárias destacam-se pelo seu maior caudal o Ribeiro da
Idêntico regime tem a Ribeira Grande que ora se apresenta quase seca no Verão ora sai
violentamente das suas margens, tudo arrastando à sua passagem, nos anos de invernia
risco a subsistência da própria povoação, situação essa que levou a que das mais graves,
posteridade. A primeira das notícias disponíveis data do ano de 1604 e nela se informa
sobre a arrematação das obras de reparação da ponte em virtude das cheias desse
Em 1699, na noite de 13 para 14 de Janeiro, uma terrível cheia abriu grandes boqueirões
necessidade de ordenar que todos os pedreiros e alvanéus que nesta vila se acharem
fossem notificados para irem trabalhar amanhã que se contam quinze do corrente na
dita obra como também mandassem apregoar que todos os moradores desta vila de
cada casa irá uma pessoa fazer a conservação de enxadão enxadas picaretas ajudar á
serventia da dita obra em a qual não deve haver demora alguma visto estarem
arruinados todos os moinhos desta vila alguns de todo perdidos para virem farinhas
Porém, logo no início do século seguinte, as destruições provocadas pelas águas voltam
O ano de 1800 foi ano de muitas águas que por várias vezes fizeram sair os rios de
seus leitos.
da ruína que experimentou a ponte da ribeira pela grande enchente da manhã de dia
seis do corrente mês que se entrasse sem perda de tempo na ratificação atenta à
necessidade que há para se transportar não só as gentes mas também carros e bestas
de uma para outra parte e como o dito conserto é de uma considerável despesa e o
concelho pouco ou nada tem para poder ratificá-la acordaram que além das fintas que
governança lavradores e mais pessoas desta vila e termo que dessem sem coacção ou
constrangimento cada um o que pudesse e quisesse assim também pela mesma forma
concorressem com os seus carros e bestas para fazerem os acarretos dos materiais
precisos para a dita obra e se obrigassem os oficiais e jornaleiros para irem para a dita
Para além dos danos causados à ponte, a cheia arruinaria também grandemente os
derrubou 136 m de guardas da ponte para além de ter arrancado 252 m2 de calçada do
pavimento, obrigando a reparações que orçaram em 363.820 rs. Os arranjos, porém, não
Se bem que as cheias se tenham continuado a fazer sentir ciclicamente, por vezes com
Fizemos atrás alusão aos moinhos que bordejavam o curso da Ribeira Grande. Dada a
pão à população local, a instalação de alguns dos moinhos e azenhas deve ter
Se bem que as informações a eles relativas não sejam muito frequentes nem detalhadas,
moinho de Nuno de Cáceres, moinho das Várzeas, moinho de Luis Álvares de Aguiar,
os seus serviços no sentido de evitar qualquer dano que pudesse vir a suceder ao cereal
entregue para farinação. Daí que a Câmara tivesse acordado em que nenhum moleiro
possa ter no moinho em que assistir mais de uma galinha e um galo ; e as criações que
fizerem serão lançadas fora do dito moinho logo que deixarem o agasalho da mãe com
pena de cem reis por cada bico e que nenhum moleiro pudesse ter vassoura nos
ter atafonas, para que na falta das águas da ribeira se não vejam os moradores desta
moinhos, azenhas e atafonas que no acto de receber o trigo, centeio e milho das
respectivas partes para haver ele de se moer, serão obrigados a medi-lo de rasa e
quando trouxerem a farinha a darão pela mesma medida com bom cogulo.
num estado de quase completa ruína exceptuando-se apenas o Moinho da Ponte cujas
instalações foram, em boa hora, recuperadas e integradas nas estruturas de apoio à praia
Destino igual ao dos primeiros tiveram os, pelo menos, três moinhos de vento existentes
Vento, no alto do Rossio de Santa Catarina e na Serra de São Miguel, junto à ermida do
mesmo nome.
No capítulo das águas subterrâneas e de pé, fontes exclusivas, até aos nossos dias, do
abastecimento público, elas foram desde sempre alvo da maior atenção por parte das
No interior da antiga cerca muralhada, para além das cisternas existentes em casas e
quintais particulares, utilíssimas reservas de água hoje em dia inutilizadas na sua quase
capacidade superior a 300 m3, situada sob o quintal das antigas Casas da Câmara, onde
se abriam três serventias, duas de bocal redondo de pedra arneira, que saem do meio
do ladrilhado, e uma do lado do Norte com vinte e três degraus também da mesma
qualidade de pedra, que por eles se desce até ao fundo da mesma cisterna. Esta é
formada em quatro arcos, e tanto estes como a abóbada que a cobre é construída da
pedra. Tem de largura a mesma cisterna do lado Sul e Norte sete varas e meia, e de
Nascente, e Poente sete varas e meia Terça ; e de altura até à abóbada quatro varas e
de água existente intramuros o que lhe conferia uma importância estratégica decisiva em
arrabaldes, principalmente a sul e poente da vila : Fonte Nova, Fonte Sanona, Fonte do
breve historial.
1.3.2 FONTES
A Fonte de S.João, Fonte Nova de S.João ou Fonte Nova, como ao longo do tempo tem
Em 1610, no contrato assinado entre o povo de Fronteira e o Pe. Frei João do Porto,
pode ler-se que a Câmara doou aos religiosos a Fonte Nova que é deste concelho livre
para ficar dentro da cerca do convento. Como se pode constatar, apesar de ficar dentro
da propriedade doada aos frades, a fonte continuou a ser de público acesso. Não seriam
Assim, em 1638, a Câmara contratou com Francisco Martins, oficial de alvanéu natural
de Estremoz, a conclusão da obra da Fonte Nova que se abriu novamente para este
povo, de acordo com o projecto de Manuel Álvares, morador em Fronteira que tinha
anteriormente arrematado e dado início aos trabalhos, parcialmente financiados por uma
A fonte não tinha então o aspecto com que chegou até aos nossos dias o qual apenas lhe
viria a ser conferido no primeiro quartel do passado século nem tão pouco se situaria,
A Fonte Nova que todos conhecemos teve na sua origem um alvará de D. João VI,
falta de água que se experimenta no tempo do Verão, abrir uma vala para conduzir a
água e fazer dentro dela o encanamento; e por medidas que tomaram acharam que
esta vala deve ter de comprimento duzentas e noventa varas e que cada vara de
abertura custará 1200 reis, o que soma trezentos mil reis e que o encanar e cobrir
alvenaria. Declararam mais que o tanque tendo 15 varas de comprido, e seis palmos de
largura, todo de cantaria até ao lume d´água, duas bicas também de pedra e o resto da
recomendando, porém, que evitem quanto lhe for possível que se faça demolição na
mesma muralha, devendo procurar-se a pedra naquelas partes que estiverem já caídas,
e só quando aqui faltar é que se deve buscar alguma parte mais arruinada para se
Apesar disto, a instabilidade política e social que então se vivia deve ter forçado à
suspensão dos trabalhos que apenas em 1825 viriam a ficar concluídos com a colocação
dos marcos de pedra e das gradarias de protecção a que se seguiram, em 1835, novos
A partir de então, a fonte foi continuamente utilizada para abastecimento público até à
o pouco abonatório apelido Sanono, hoje em dia já desaparecido mas ainda corrente em
Fronteira em meados do século XVII, altura em que, entre outros, aqui vivia um
Fonte Nova, pelo que em 1756 a vamos encontrar em estado de grande abandono como
ficou atestado num requerimento que naquele ano o capitão-mor António Borralho
Murça dirigiu à Câmara Municipal e onde se pode ler que nesta terra há vestígios de
uma fonte que já houve em caminho de Nossa Senhora da Vila Velha chamada dos
beneficiação que orçaram em cerca de 57.600 rs., executadas pelo mestre José Lopes
hoje em diante possam todos usar da água da dita fonte e dar de beber às bestas assim
Apesar desta apregoada abundância de água, o que de facto se verificou foi que, logo
em 1834, o Concelho se viu forçado a dispender mais 29.200 rs. importância da obra
que se fez na fonte denominada a Sanona que se achava inutilizada, e entupida e que
se mandou limpar e reedificar pela esterilidade e necessidade que dela tem o público,
pela falta de água da outra Fonte de S. João, que está quase seca.
abandono.
1.3.2.3 Fonte do Areeiro
A primeira referência escrita à Fonte do Areeiro data de 1564, ano em que no Livro da
Receita e Despesa da Câmara Municipal nos surge um pagamento de 2.270 rs. feito a
Pero de Castilho, calceteiro, pelo seu trabalho nas calçadas junto à Fonte do Ourieiro.
A notícia seguinte, com data de 1624, dá-nos conta das preocupações do município
relativamente àquela fonte visto haver grande clamor que se fazia muita imundície no
Apesar de tudo isso não se verificaram grandes melhorias nas condições sanitárias da
água pelo que, em 1890, a Câmara deliberou solicitar ao rei a concessão de um subsídio
em fonte de bicas, convertendo-se assim em água potável o que tem sido um foco de
febres palustres, por vezes de mau carácter, já pelas condições do reservatório, já pela
denominado do Areeiro.
soberano pelo que a mesma viria a obter despacho favorável do então Ministro das
Obras Públicas, Dr. Frederico de Gusmão Correia Arouca que lhe afectou, por portaria
A construção da nova fonte deve ter começado logo de imediato porquanto existem
bem assim o encanamento por onde há-de ser conduzida a água do poço, conquanto
esteja muito bem construída, contudo é certo que existe naquela obra algum defeito,
que todavia esta Câmara desconhece porque ainda não pôde descobrir, não obstante os
esforços que para tanto tem empregado, qual a causa que obste a não entrar no
encanamento a água que do poço deve abastecer a referida fonte, contratempo que só
de Portalegre.
inutilizada pela abertura de furos para rega que vieram a provocar o abaixamento do
A Fonte do Concelho situava-se, como o seu nome indica, num cerrado antigamente
Se bem que certamente existente desde tempos muito anteriores, a Fonte do Concelho
seu chafariz cuja reconstrução seria posta em concurso pela Câmara na sua sessão de 24
de Agosto de 1632.
Em finais do século seguinte a Fonte do Concelho entrou numa nova fase da sua
existência assinalada por obras de alguma envergadura com a finalidade de pôr fim ao
grande prejuízo que resulta ao povo desta vila que costuma beber da Fonte do
Concelho por esta se encontrar destapada e o sol derramar-lhe a água fazendo criar
Por essa razão, em 1789, a Câmara mandou abrir uma sanja no cerrado de Joaquim
José de Villalobos junto à Horta do Concelho. Os trabalhos, porém, tiveram que ser
por causa da piçarra que se descobriu. A abertura da vala só seria retomada em 1791
tendo-se nessa ocasião dotado a fonte com duas bicas e com alguns degraus para esse
efeito retirados da Fonte Nova que se achava então em adiantado estado de ruína. As
despesas com estes trabalhos foram integralmente cobertas com a venda das folhagens
das vinhas do Carvalho, das Várzeas e do Cerrado da Amoreira para esse efeito doadas
presença deste Senado disse o dito vedor que havia no Cerradinho do Concelho oito
anéis de água que passa de meia telha com o estreito virado para diante ao menos que
há-de cair até à altura do sexto degrau das escadas da Fonte do Concelho.
A primitiva nascente da Fonte do Concelho foi, em 1906, trocada por outra, chamada da
existência no início de seiscentos se bem que, como o leva a crer a sua localização no
sopé do outeiro de Nossa Senhora da Vila Velha, junto de uma importante via de
comunicação entre o Norte e o Sul de Portugal, deva remontar a uma época muito
anterior
de correr.
Esta fonte não tinha inicialmente a traça e grandeza que hoje nos apresenta e que são o
Foi naquele ano, no dia 7 de Julho para sermos mais precisos, que a Câmara Municipal
de Fronteira pôs em pregão a empreitada da obra que viria a ser arrematada pelo mestre
Vitorino António Gaguinho, por 28.000 reis.De acordo com o contrato então firmado
rebaixar o largo da mesma Fonte da Pipa de cinco palmos para dar caída à água que
sai da bica para o novo chafariz que se deve fazer na frente do frontispício do
do Concelho pela qual há-de correr a água que sai da arca da fonte. Introduzir toda
aquela água, que corre extravasada ao lado do Norte da fonte para a arca ou depósito
da mesma por um cano subterrâneo novo de alvenaria, se não houver, porque havendo
por este se podem encanar as ditas águas. Cobrir com uma nova capa de alvenaria e
com lajes a abóbada da mesma fonte com correspondente escoante, de forma a que a
água da chuva não arruine a abóbada, nem se introduza para dentro da arca da fonte.
cobrindo-os por cima com lajes e no lugar onde se acha o chafariz velho formar um
novo pial, com lajes também por cima. Da parte de fora do lado norte se fará um novo
chafariz do comprimento da parede donde devem beber as bestas, e para o qual há-de
vir a água do chafariz para o que se fará o competente rebaixe no terreno onde as
bestas hão-de chegar e beber neste segundo chafariz de forma que possam chegar e
sair com desafogo fazendo da parte do poente algum reparo ou parede para que as
águas que correm pela cova do lado de Santiago nas invernas não se introduzam nesse
chafariz, mas antes passem ao largo. E as pedras que estão no bordo do chafariz que
existe e nos da boca da fonte, servirão para os bordos dos dois novos chafarizes ; o
terreno do largo da fonte de dentro, e o de fora onde as bestas hão-de chegar a beber
calçado, se não encontrar rocha por baixo porque então aplainando-se esta ficará
servindo de calçada. Todas as paredes tanto as da arca da fonte da parte de fora como
das fontes foi, desde sempre, uma das principais preocupações do município, aliás bem
expressa nos vários códigos de posturas que chegaram até nós, de onde foram extraídos
Em 1627, era proibido que qualquer pessoa desta vila e seu termo possa dar de beber a
gados vacuns nos chafarizes das fontes deste concelho a saber da Fonte da Pipa e da
fonte do Concelho.
Poucos anos mais tarde, nova disposição veio a impor uma coima de 1000 reis a quem
desse de beber a animais das escadas da Fonte Nova para baixo e de 500 a quem fosse
agora, uma realidade que as autoridades tentavam a todo o custo combater. Nesse
sentido as posturas de 1679 são bem explícitas ao acordar em que toda a pessoa que for
achada ou provada de qualquer qualidade que seja desmanchando alguma fonte desta
vila ou chafariz dela ou do termo que seja do concelho pague dois mil reis.
As fontes públicas hão-de ser limpas todos os anos duas vezes, em Março e Setembro
pelos rendeiros ou zeladores e aguadeiros, feito este serviço conjuntamente por todos
[...]
Os chafarizes e tanques hão-de ser limpos da mesma forma 4 vezes por ano, em Março,
É proibido dar de beber a bestas ou bois nos chafarizes para onde correm as bicas das
São proibidos os porcos 100 passos em circunferência das fontes públicas ou chafarizes
[...]
O que entupir ou deitar alguma terra, areia ou pedra para o fim de entupir o repuxo da
Para além das anteriores, outras fontes eram utilizadas para abastecimento da população
quer por haver uma tradição de consumo das suas águas, como era o caso da Fonte da
Serra, vendida porta a porta por aguadeiros locais até à década de 1960, quer por se
campo, como sucedeu com a fonte que António Torrado, arrematante da boiada da vila,
Vale do Cortiço onde já hoje bebe muita gente a qual será feita de uma vara de altura
empedrada e de largura que bem possam encher um cântaro e os bordos da água para
destacar uma outra a que a Câmara procedeu em 1775, apesar de se ter vindo a revelar
infrutífera e isto porque ainda nos nossos dias se conserva a convicção da existência da
esperanças de um grande nascente de água na praça com que se pode fazer fonte em o
sítio do Adro de cima ou de baixo conforme o seu declive. Porém, a tão desejada água
Se bem que não sejam conhecidas os argumentos que levaram a Câmara a encetar um
trabalho tão dispendioso quanto inútil em pleno centro da localidade, cremos não ser de
de água na parte alta da vila o que poderá justificar a observação feita pela Câmara de
Fronteira ao Ouvidor do Mestrado de Avis, durante a sua visita de 1658, que era
necessário para boa serventia desta vila e dos moradores dela [que] a água que sai da
Rua de Avis que corra ao longo do cerrado de Domingos Dias Davide por donde
então, solução esta que viria a prevalecer, a captação horizontal de águas em mina
Nova e do Arieiro, revelaram-se suficientes até à década de 1980. Por essa altura,
Abriram-se, então, os dois furos do Torosilho com uma produção média horária de 30 e
Logo na década seguinte, uma série de anos de rigorosa estiagem obrigou a que a
Câmara procedesse, uma vez mais, ao reforço dos caudais, desta feita com a abertura de
novo furo no Outeiro de Nossa Senhora da Vila Velha cujo débito actual (2001) é de
1.4.1 Fauna
1.4.1.1 Aves
cannabina), guarda rios (Alcedo atthis), perdiz comum (Alectoris rufa), andorinhão
preto (Apus apus), garça boieira (Bubulcus ibis), verdilhão (Carduelis chloris),
pintassilgo comum (Carduelis carduelis), rouxinol bravo (Cettia cetti), cegonha branca
(Ciconia ciconia), corvo (Corvus corax), gralha preta (Corvus corone), codorniz
(Coturnix coturnix), andorinha dos beirais (Delichon urbica), garça branca (Egretta
chapim azul (Parus caerulens), pardal ladrão (Passer domesticus), pega rabuda (Pica
pica), cartaxo de cabeça preta (Saxicola torquata), rola (Streptopelia turtur), Coruja do
mato (Strix aluco), estorninho preto (Sturnus unicolor), toutinegra de cabeça preta
tordeia (Turbus viscivorus), coruja das torres (Tyto alba) e, para finalizar, a poupa
(Upupa epops).
1.4.1.2 Répteis
(Natrix maura).
1.4.1.3 Anfíbios
representada pelas seguintes espécies : tritão de ventre laranja (Triturus boscai), tritão
marmoreado (triturus marmoratus marmoratus), sapo parteiro (Alytes obstetricans
boscai), sapo comum (Bufo bufo spinosus), sapo corredor (Bufo calamita), rã ibérica
1.4.1.4 Peixes
cephalus cabeda) e a carpa comum (Cyprinus carpio L.) a que se juntaram, mais tarde,
Outras espécies de que temos notícias através de autores mais antigos, desapareceram
1.4.1.5 Mamíferos
Os mamíferos selvagens cujo número varia em íntima relação com o maior ou menor
grau de ocupação agrícola dos solos, têm visto nos últimos anos as suas populações
nivalis), o toirão (Mustela Putorius), a fuinha (Martes foina), o texugo (Meles meles), a
lontra (Lutra lutra), a gineta (Genetta genetta), o sacarrabos (Herpestes ichneudon), o
gato bravo (Felis silvestris), o javali (Sus scofa) cujo número tem aumentado de modo
particularmente sensível, o rato dos campos (Microtus cabrerae), o rato cinzento (Rattus
de oitocentos que veio a padecer uma completa extinção a nível local. Falamos,
evidentemente, do lobo.
Hoje circunscrito a uma pequena faixa do território nacional que abrange as serras de
no passado uma das espécies mais numerosas e temidas, obrigando a frequentes batidas
de que há notícias já em 1631, ano em que a Câmara determinou que se fizessem todos
os moradores desta vila e seu termo prestes para irem aos lobos aonde se chama o
Asseiro entre Sousel e o Cano, e que de cada uma casa fosse uma pessoa com suas
armas.
Três anos depois, aos 15 de Abril, novamente o juiz presidente e demais vereadores da
ir aos lobos os moradores desta vila e seu termo de cada uma casa uma pessoa a
derradeira oitava da Páscoa de Flores que é quarta-feira desta semana que entra, e
cavalo, de cada rua um capitão e os que faltarem, que não forem, pagarão mil reis de
cadeia.
As montarias não produziam no entanto os efeitos desejados pelo que se repetiam
terras circunvizinhas.
Em 1660 por haver grande clamor que os lobos fazem grande perda nos gados deste
termo principalmente para a parte dos matos de Santo Amaro a Câmara convocou nova
A situação parece, apesar de tudo, ter-se agravado dado que a Coroa viria, em 1678, a
Estas montarias eram precedidas de missa rezada na Igreja Matriz, ponto de reunião
1733, uma grande montaria no Vale de Seda reúne caçadores de Fronteira, Figueira,
muito lobo e fazerem grande perda nos gados e de novo se bate o Vale de Seda.
Entre 1816 e 1833, sem tomar em linha de conta os lobos abatidos em montarias, foram
pela guerra civil não foi, de modo nenhum , propício à actividade agrícola o que terá
intervenção das entidades superiores, como aconteceu em 1846, ano em que o Governo
virtude dos grandes danos que os lobos estão fazendo aos criadores.
espingardas de Fronteira, Cabeço de Vide, Alter do Chão, Alter Pedroso, Santo Amaro e
São Saturnino para bater toda a área compreendida entre a Herdade Grande e as do
Durante a segunda metade do século XIX, as referências ao animal, se bem que ainda as
1.4.2 Flora
A paisagem arbórea e arbustiva tem sido, ao longo dos séculos, fortemente marcada pela
aproveitamento económico.
Era porém a charneca de mato curto e rasteiro que imperava ainda à época a que nos
Essa charneca estéril, queimada pelas geadas e ressequida pela canícula implacável dos
longos estios atingia então proporções hoje difíceis de imaginar. Eram vastíssimos tratos
de terreno inculto cercando pequenas áreas cultivadas em redor das povoações que
cobriam ainda todo o Alentejo para desalento de agrónomos e economistas que neles
Portalegre, uma descrição que retrata com fidelidade o panorama do espaço rural do
Uma grande parte do nosso distrito é ocupado por charnecas imensas, completamente
despovoadas.
Próximo da fronteira, nos concelhos de Elvas e Campo Maior, observa-se uma longa
quartenárias.
Uma maior superfície inculta de uns 18.000 hectares, existe entre o Assumar, Veiros,
Caixeiro, ao sul de Arronches, cujas superfícies somadas darão uns 8.000 a 9.000
hectares.
Os terrenos incultos das serras de São Mamede, Alegrete e São Julião, devem medir
[...]Há ainda na zona oriental da província do Alentejo uma faixa de terreno inculto,
que corre ao longo da fronteira entre Marvão e o Tejo, e que prende com um grande
tracto também inculto que lhe demora ao poente [...] esta faixa é limitada pelos belos
pouco para o actual estado pantanoso em que se acha uma grande parte do solo.
se desde a Ponte de Sor até Montargil uns 9.000 hectares ainda de terrenos incultos
[...] As diferentes parcelas que mencionamos elevam a 334.000 hectares a superfície
inculta do distrito.
inevitável de algumas espécies vegetais e animais se bem que não possamos precisar
continua a apresentar ainda nos nossos dias uma grande diversidade biológica, sendo
1.4.2.1 Árvores
Azinheira (Quercus ilex), sobreiro (Quercus suber) e a oliveira (Olea europaea), sendo
Esta última espécie que, por diversas vezes, tanta polémica tem suscitado foi
viveiros daquelas árvores para posterior plantação ao longo das estradas então em
construção. Vestígios de um desses viveiros eram os eucaliptos que povoavam a encosta
(Carduus).
espontânea da zona se caracteriza por uma associação vegetal designada maquis a qual,
aproveitamento medicinal. O leitor mais interessado nesta matéria poderá, para o efeito,
aplicações.
2. O CONCELHO
2.1 Evolução Histórica
Erguida sobre uma pequena elevação, à altitude de 255 m acima do nível do mar, nas
Chão, a Sul pelos de Sousel e Estremoz, a Oeste pelo de Avis e a Este pelo de Monforte,
com Fronteira por bem da antiga amizade e vizinhança, o que conferia aos seus naturais
um estatuto de vizinhos. Tal era o caso das vilas de Avis, Seda, Sousel, Figueira e
geográfica mas era, antes, consequência da livre decisão dos moradores daquelas
localidades que algumas vezes, como viria a acontecer em Cabeço de Vide e Sousel,
assim se manteria até ao advento do regime liberal com as suas sucessivas propostas de
Novembro de 1836 que levou à desanexação da freguesia de São Bento de Ana Loura
A segunda e maior alteração teve na sua origem o decreto do Ministério dos Negócios
passou a compreender, para além das freguesias de Nossa Senhora da Atalaia e São
Saturnino, as freguesias de São Bento de Ana Loura, Santo Aleixo, São Pedro de
Almuro, Rei Salvador, Santo Amaro, Nossa Senhora da Graça de Casabranca, Nossa
Senhora da Graça do Cano, Nossa Senhora da Graça de Sousel e São João da Ribeira.
mais vivo repúdio bem expressos, aliás, na representação enviada pele Câmara
A vila de Fronteira, tão importante, que por Carta Régia de 14 de Abril de 1424 foi
agraciada com vários privilégios pelos muitos serviços que esta vila nos fez e
esperamos que faça, como ali se diz, e que em 1641 deu para a guerra duzentos
infantes, e em 1643 mais 40 a cavalo , esta vila que possui um mui nobre edifício
casas decentes para habitação dos empregados de fora ; Fronteira finalmente famosa
pela fertilidade do seu solo foi apeada da imemorial categoria de cabeça do concelho,
Alter não é mais rica, porque o seu antecedente concelho, que compreendia mais 3
vilas, pagou em 1866 de Contribuição Predial 4.986$426 rs., Industrial 363$952 rs.,
Pessoal 295$570 rs., Quota para Expostos 578$104, quando Fronteira, compreendendo
somente mais uma vila, pagou da lª 7.492$046 rs., da 2ª 724$316 rs., da 3ª 354$137 rs.
Ridícula é a casa da Câmara de Alter, e a sua cadeia é tão fraca e insalubre como o
prova a comunicação oficial junta por cópia ; todas as suas casas decentes estão
Concelho de Fronteira forem abandonados, será este povo quotizado para a construção
O pessoal habilitado de Alter é tão limitado, que veem-se ali obrigados a nomear
E não é também muito provável a perda do rico Arquivo Municipal de Fronteira, assim
como de todos os outros concelhos anexados, quando se reunirem tantos livros nas
novas capitais, onde até se fará diligência para se apagarem os monumentos de glória
das suas rivais ? Por este motivo se projecta em Alter a venda dos Paços do Concelho
Real vem algumas vezes ali visitar. E hão-de tão baixas considerações suplantar tantas
Não se objecte com a evasiva – Fronteira não fica central ; os centros criam-se, onde
cidades, que nada perdiam com a nova divisão administrativa : o móvel da nova
situação política não seja só o temor daquelas, seja-o também a justiça, e esta manda
Aos dezasseis dias do mês de Janeiro de mil oitocentos sessenta e oito anos, nesta vila
vereadores Maximiano Joaquim Barradas Namorado e João José de Brito, não estando
Veiros e não haver tempo suficiente para se mandarem convidar, depois de terem visto e
Diário de Lisboa, assumiram a si a jurisdição municipal, visto Ter ficado sem efeito a
Lei de 26 de Junho do ano findo de 1867 sobre a administração civil até que as Cortes
também ter triunfado a razão e vencido o princípio Constitucional, com cuja victória e
populares.
Portanto, em vista deste regozijo a Câmara deliberou, que saíssem in continenti o
Estandarte deste município, e que percorresse todas as ruas desta Vila ; o que
nesta dita Vila, e pela muita concorrência do povo que se aglomerou lançando-se ao ar
muitos foguetes, e dando alternadamente, ora o Sr. Presidente da Câmara, ora o Sr.
Sua Majestade El Rei o Senhor Dom Luís, a Sua Majestade El rei o Senhor Dom
autonomia deste concelho de Fronteira, findo o que se recolheu tudo aos Paços do
presentes, que o resto do dia de hoje, e bem assim os dois seguintes 17 e 18 fossem dias
de grande satisfação para este município, havendo por isso em todas as três noites
iluminação na Casa da Câmara, e nas janelas dos diferentes moradores desta vila,
respectiva Matriz em acção de graças pela independência deste Concelho, para o que
cavalheiros José Maria Ferreira da Silveira Almendro, José António de Castro e José
Maria Pereira Coelho, que de muito bom grado estiveram presentes e aceitaram,
ditos festejos.
Ana Loura foi desanexada, o mesmo sucedendo com a freguesia de Santo Aleixo,
Em 1872 teve lugar a desanexação das freguesias do Rei Salvador e São Pedro de
Vaiamonte e, uma vez mais, a de São Pedro de Almuro que voltariam a ser
1898.
cobranças fiscais, das finanças municipais e dos estabelecimentos e legados pios era,
por sua vez, da alçada da Provedoria de Évora. Representante local da Coroa, o Juiz de
Fora, de nomeação trienal, acumulava com as suas funções específicas as de Presidente
da Câmara no que era secundado por três vereadores – o mais velho, o do meio e o mais
manteve até à sua anexação à Diocese de Elvas, erigida pela bula Super Cunctas, do
Elvas veio a ser extinto e Fronteira novamente integrada na sua primitiva diocese.
Actualmente, para além das povoações sedes das freguesias, o concelho compreende
ainda as aldeias de Vale de Maceiras e Vale de Seda, sendo esta última uma povoação
recente que teve a sua origem no aforamento de um baldio do mesmo nome levado a
longo do século passado, mais ao sabor das influências políticas que do respeito dos
área administrativa.
Porém, a nível local, também a percepção do espaço viria a sofrer, nos meados do séc.
XIX, uma alteração que veio introduzir um novo elemento intermédio na secular
É assim que nas posturas municipais de 1855 se nos depara, pela primeira vez, o
Em consequência desse facto, por vila passou a entender-se todo o espaço circundado
de casas, e os rocios que lhe ficam contíguos, o campo englobava toda a área do
estes, por sua vez, abarcavam todo o espaço imediato à vila até ao limite, e linha
divisória do campo ; esta linha é o ribeiro da Fonte de São João, em todo o seu curso,
até à Ribeira Grande, a mesma ribeira, desde este ponto até ao sítio em que entra na
mesma o Ribeiro do Carvalho – o dito Ribeiro do Carvalho em todo o seu curso, até
aos pinheiros do Cerrado dos Trigueiros – a linda deste cerrado e do das Figueiras, até
ao marco da ponta da courela do Prior, e a vereda seguida dali até à Fonte de São
Fronteira do ano de 1566, pode ler-se, no inventário dos bens do concelho, a seguinte
informação:
Uma bandeira de damasco branco nova com uma cruz verde com sua cercadura
dourada franjada de retrós verde e branco que leva o alferes e outra velha do anjo que
Ninguém, que nós saibamos, referiu alguma vez aquela bandeira descrita em meados do
Séc.XVI.
Ora, como se sabe, ao alferes competia levar o pendão municipal, razão pela qual
também era designado Alferes da Câmara, igual tarefa lhe cabendo, mais tarde, nas
Cremos, assim, esclarecida a questão das primitivas armas de Fronteira que, com o
tempo, viriam a cair no mais completo esquecimento, o que deu origem, nos dois
últimos séculos, a uma série de equívocos que apenas viriam a ser solucionados com a
Teve início essa série de mal-entendidos quando, em finais do século XIX, a Câmara
Municipal de Fronteira, por razões que desconhecemos, decidiu adoptar como heráldica
própria umas armas que figuravam numa lápide encontrada numa das torres das antigas
Dessas armas deixou notícia, como em lugar próprio se verá, o erudito Professor Leite
Figuraram estas armas nas cédulas emitidas pela Câmara e, também, nas chapas de
identificação dos cantoneiros municipais até 1922, ano em que a autarquia solicitou ao
arqueólogo Dr. Júlio Nunes de Freitas um estudo sobre a existência ou não de um brasão
inviabilizando, por ilegítimo, o brasão até então em uso e propondo que a Câmara
elementos estava historicamente justificada, aludindo o castelo ao facto da vila ter sido
murada, a cruz de Avis ao facto de ter sido fundada por um cavaleiro da mesma ordem
Estas armas viriam, de facto, a ser aprovadas pelo executivo, em reunião de 22 de Abril
Contra essa alteração, protestou a Câmara brandindo o argumento das despesas a que
fazendo eco das políticas da época e orelhas moucas à, talvez, verdade histórica, viria a
aludiam aos combates sustentados pela vila de Fronteira contra os Mouros, que a
De vermelho, com um castelo de prata, carregado na sua torre do meio por uma cruz
Bandeira
Branca, com o escudo das armas ao centro e por baixo um listel vermelho com a
Selo
Circular, tendo ao centro as peças das armas, sem indicação dos esmaltes. Em volta,
Para além destas bandeiras, existe ainda uma outra aceite por alguns vexicólogos como
o verdadeiro estandarte do concelho e que não nos surge, em tempo algum, referida na
nacional, com o escudo das actuais armas da vila e um listel vermelho com a palavra
Usando da faculdade que lhe foi concedida pela legislação competente, também a Junta
de Freguesia de Fronteira tem, desde 1996, armas próprias cuja ordenação é a seguinte:
Brasão
chefe por uma cruz da Ordem de Avis e, nos flancos, por quatro espadas de vermelho,
púrpura, movente dos flancos. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com
Bandeira
Selo
sido edificada, em data incerta, durante a reconquista cristã, sobre a fronteira entre os
da cruz.
Uma outra versão, com a mesma origem, refere uma primitiva fundação da vila no
Outeiro da Vila Velha de onde, por razões de salubridade, o rei D. Dinis a teria
Temos assim que, do ponto de vista tradicional, qualquer que seja a hipótese
Uma terceira versão, de origem mais erudita, defendida pela investigadora francesa
Rosa Plana-Mallart, faz recuar no tempo, até à época da ocupação romana, a fundação
administrativo dos terrioria das civitates romanas de Ebora (Évora) e Ammaia (São
Salvador de Aramenha).
São estas as três hipóteses sobre a onomástica do local e qualquer delas digna de igual
atenção enquanto outros elementos que porventura venham a surgir não nos permitirem
Não podemos, contudo, deixar de tecer alguns comentários quanto às hipóteses acima
declaradas.
Como vimos, duas delas fazem derivar o topónimo de circunstâncias semelhantes, se
Ora, o vocábulo fronteira, no sentido que aqui nos interessa de limite territorial, surgiu
na língua portuguesa, pela primeira vez, em 1296, o que obrigaria a uma fundação da
Outro termo anteriormente usado na mesma acepção era frontaria, e este regista-se, pela
Frontaria.
Não cremos, pois, ser possível estabelecer um nexo de causalidade entre a definição, na
foi chamada de Frontaria e Fronteira antes que estes termos adquirissem aquele
significado.
topónimo, não vemos, em termos de etimologia, de que modo tal possa ter sido
possível.
para o local fronteiro o que, de uma perspectiva, quer cronológica quer semântica, é
Porém, como já tivemos oportunidade de frisar, até que novos dados venham permitir
explicações toponímicas apresentadas deverão ser tomadas em linha de conta, sob pena
da sua omissão vir a impedir novas e mais esclarecidas abordagens desta questão.
Directamente relacionada com a incerteza que paira sobre a origem do topónimo, é a
Fronteira.
antiga dicotomia espacial – fora da vila e dentro da vila – que se manteve até
3.2 O Castelo
além da antiga porta do Arco dos Santos, rasgada sobre a praça principal da vila, frente
ao edifício dos Paços do Concelho, a única das antigas portas abertas nas muralhas que
da fortaleza.
escassez das mesmas possa ser, parcialmente, colmatada pela observação in loco dos
São esses documentos, com particular destaque para os inventariados nos arquivos
surge-nos através da pena magistral do grande Fernão Lopes que na Crónica de D. João
I, transcreve o diálogo mantido entre Nuno Álvares Pereira e Rui Gonçalves nas
[...] e chegou a Nuno Álvares que o recebeu muito bem, e lhe perguntou onde era seu
irmão e os outros senhores de Castela; e ele lhe disse que ficavam já em Fronteira que
seria légua e meia de onde ele achou Nuno Álvares. O qual lhe perguntou que faziam;
e ele disse que tinham tenção de combater o lugar para, pouco depois, acrescentar
Partiu Rui Gonçalves como lhe Nuno Álvares encomendou; e foi mui à pressa, quanto o
cavalo o podia levar a trote e a galope; e chegou mui asinha a Fronteira, onde aqueles
capitães com suas gentes estavam. E como chegou, falou ao Prior e aos outros
senhores, tudo aquilo que Nuno Álvares dissera, e o que lhe havia respondido; e eles
como o ouviram, cessaram logo da obra que tinham começado para combater a vila
[...].
Daqui se depreende que, à época, o castelo não seria presa fácil, obrigando as forças de
pôr cobro.
consequente pacificação das relações com o vizinho ibérico, iria inaugurar um longo
período durante o qual, afastado o perigo de invasão, o castelo perderia a sua razão de
ser o que, juntamente com outros factores, viria a contribuir sobremaneira para a sua
progressiva demolição.
Logo na primeira década do séc. XVI, Duarte de Armas, incumbido por D. Manuel de
proceder ao levantamento dos castelos raianos, omite no seu Livro das Fortalezas o
castelo de Fronteira, certamente por considerações de ordem estratégica que não
de Fronteira:
Muito alto e poderoso Rei Dom Sebastião meu verdadeiro e natural rei e senhor eu
Francisco de Miranda Henriques fidalgo de vossa casa vos faço preito e menagem nas
mãos do senhor Cardeal Infante vosso tio por virtude da procuração que a Rainha
nossa senhora vossa avó e tutor e curador e regedor e governador destes vossos reinos
e senhorios lhe passou para me tomar em nome de vossa alteza esta menagem pelo
cargo que a tenha e guarde e vos receberei e acolherei no alto em baixo dele de noite e
de dia e a quaisquer horas e tempos que seja jurado e pagado com muitos e com
poucos e vindo-vos em vosso livre poder e dele farei guerra e manterei trégua e paz
segundo me por vossa alteza for mandado e a não entregarei a nenhuma pessoa de
qualquer grau dignidade e proeminência que seja senão a vós meu senhor ou a vosso
certo recado logo sem delonga arte nem cautela e a todo o tempo que qualquer pessoa
me dê vossa carta assinada por vós e selada com o vosso selo ou sinete de vossas
armas por que me quitais este dito preito e menagem. E se acontecer que eu haja de
deixar no dito Castelo alguma pessoa por Alcaide e guarda dele eu lhe tomarei este
nele contidas e eu por isso não ficarei desobrigado deste dito preito e menagem e das
obrigações e coisas que se nela contêm, mas antes me obrigo que a pessoa que assim
deixar no dito castelo tenha mantenha guarde e cumpra todas estas coisas e cada uma
virtude da dita procuração uma duas e três vezes segundo uso e costume destes vossos
Reinos e vos prometo e me obrigo que cumpra e guarde este dito preito e menagem em
todas as cláusulas condições e obrigações e todas as coisas e cada uma delas em ela
contidas sem arte cautela engano nem minguamento algum e por firmeza dele assinei
fortaleza que Francisco de Miranda Henriques tinha à sua guarda, nem as condições da
Secretário do Convento de Avis, numa carta para o Juiz de Fora de Fronteira onde se lê
mor viria a ser José Joaquim de Larre, senhor da vila de São Miguel do Outeiro,
comendador de São Bento de Rio Maior, na Ordem de Cristo e Provedor dos Armazéns
de 1580 se achava ameaçada pela intervenção iminente das tropas de Filipe II.
a um esforço financeiro que o Concelho não podia suportar porque estava muito
endividado por causa das cortes passadas que trouxeram continuadamente dois
procuradores nelas em que gastaram mais do que o concelho tem de renda [...] e aos
cada, pagos do mesmo modo, tendo para esse efeito a Câmara entregue aos
Apesar disso, foi ainda necessário arrendar pelo prazo de três anos as terras da Coutada
Ora, isto suscita uma questão que aqui deixamos em aberto: se as despesas de
representação nas cortes arruinaram as finanças locais de Fronteira que, à época, não
seria das localidades mais pobres, qual não terá sido a repercussão desses mesmos
honrados da vila, decidiu a assembleia que se fortificasse esta vila com se fazerem
taipas por derredor da vila e que as companhias estivessem prestes e velassem de noite
por terem por informação que el-rei Filipe tinha campo formado e estava sobre Elvas
[...] e por a mor parte foi acordado que se fortificasse o castelo e muros desta vila e que
todas as portas se tapassem dos muros e ficasse somente aberta a porta [...] que vai
para a igreja e que se tapem as ruas o melhor que puder ser com as taipas que estão
feitas [...].
Ora, chegado o momento de lavrar em acta esta deliberação, dos 37 principais que, de
viva voz , por ela se tinham decidido, apenas 15 se dispuseram a assiná-la e isto porque
os elementos do povo não quiseram fazê-lo dado que as obras, a serem feitas, seriam
pagas do bolso dos próprios dos vereadores - que não aceitaram tal encargo - ou então
financiadas à custa de uma finta a lançar sobre o povo como de seguida se verá:
[...] e porquanto ao tempo de assinar esse termo as pessoas da governança e povo junto
não quiseram assinar senão os atrás que foram poucos sendo dantes no todo trinta e
sete pessoas que se fortificasse que eram mais as vozes de se fortificar que as de
contrário por eles os ditos juiz e vereadores foi dito que sem embargo do povo não
querer assinar requeriam a ele juiz que os obrigasse a fazer a dita obra e pelo juiz foi
dito que ele não podia fazer nem lançar finta que pois o povo não queria fazer a dita
obra por sua vontade que ele protestava não lhe ser estranhado e os ditos vereadores
tornaram a requerer ao dito juiz que posto que não faça finta constranja os moradores
desta terra que cada um por si ou seus criados dê a serventia para se fazer as ditas
taipas e tapar as portas da vila e aos pedreiros e taipeiros da vila constranja com
graves penas a que trabalhem nas ditas obras até se acabar de reparar a vila e cada
um dê um par de dias à sua custa e o mais que for necessário se passe carta para o
ouvidor dar licença para a finta e o dito juiz disse que se eles vereadores mandassem
pagar aos homens que trabalhassem que os constrangeria que à sua custa não pode
esta vila por causa de não estar reparada e tapada eles não terem nisso culpa pois o
requerem e pelo mesmo juiz foi protestado que pois o povo não queria fortificar-se e no
concelho não havia dinheiro nem eles vereadores o davam de não ter conta de nenhuma
na fortificação da vila, o Ouvidor da Comarca de Avis, por carta de dia 22, mandou que
Três dias depois, a Câmara reunida em vereação manifestou ao Ouvidor o seu desagrado
pelas medidas propostas, com base nos argumentos que a seguir se transcrevem e de
onde ressalta, mais que a indiferença atrás apontada, uma clara oposição por parte da
[...] eles responderam que apelavam da pena do dito ouvidor e protestavam sem
incorrer em pena alguma porquanto eles tinham já taipado toda esta vila ao derredor
duas vezes à custa do concelho e tudo que era taipada a derrubaram de noite sem a
justiça acudir a isso [...] e a finta que o senhor ouvidor manda não bastara para tapar
a quarta parte por ter a água longe e os serventes andam nas ceifas e não se acham
nenhuns [...] que será grande opressão para este povo tirar-se finta pela muita
recepção de duas cartas do Duque de Alba mandando que dois vereadores lhe fossem
assumir uma posição inequívoca em que é nítida a preocupação das autoridades locais
em justificar a sua posição sem transmitir uma imagem de capitulação voluntária nem
[...] disseram os ditos juiz e vereadores que a todos era notório como o duque de alva
capitão-geral de el-rei Filipe mandara uma carta à Câmara desta vila ordenando a
todos os moradores dela a que dessem obediência a sua majestade e que como o caso
era tão grave eles entendiam não tinham autoridade para sem parecer da gente nobre
da dita vila se resolverem no que melhor fosse e que pois estavam juntos todos os mais
nobres dela lhe pediam se determinassem no que lhe a todos parecia e que eles estavam
prestes para seguirem o que por todos se assentasse e logo pelos nobres da dita vila foi
dito que pois eles juiz e vereadores zelosos da liberdade portuguesa tinham escrito
como publicamente se sabia tanto que o católico rei Dom Henrique falecera aos
governadores a verdade de como esta vila estava espalhada sem muros sem munições
de guerra e sem outro forte algum e eles não tinham acudido até hoje a propósito nem
era feito algum reparo de muros valas ou outra alguma maneira de defensão nem
outrossim tinham provido com arcabuzes e munições e eles tinham notoriamente sabido
que a cidade de Elvas Olivença Portalegre Arronches Campo Maior Marvão Alegrete
Vila Viçosa Estremoz Montemor o Novo e outras muitas mais eram entregues a sua
majestade [...] e lhes parecia que eles juiz e vereadores deviam de ir dar a obediência a
sua majestade conforme a segunda carta do duque dalva pois viam claramente como
podiam defender oitocentos homens que ao mais se podiam juntar e desarmados a mais
de vinte mil que se sabia vinham no campo de sua majestade e bem artilhados quanto
mais que era rei benigno e católico que os conservaria em paz e justiça e que como tal
deste presente ano em Santarém no mês de Março mandou prometer o duque de Ossuna
concedido todo o sobredito lhes parecera justo fossem protestar-lhe eles juiz e
protestava que vindo tempo em que se desse sentença no negócio da sucessão deste
reino esta vila ficasse sujeita ao rei em cujo favor se a tal sentença desse como por seus
procuradores o tinham jurado nas cortes que mandou fazer el-rei Dom Henrique em
Lisboa conforme aos autos delas pois era visto que a obediência de agora lhe não
devia prejudicar o tal juramento pelas razões já referidas e por ser forçado[...].
E assim, com este auto lavrado e assinado aos 15 dias de Julho de 1580, se inaugurou o
longo período da ocupação filipina em Fronteira e a vila viria a ser, pouco depois,
fechada com taipas face à ameaça dos ares ruins que iam vitimando muita gente nas
terras em redor.
Outubro de 1579 nos surgem as primeiras notícias da epidemia: acordaram por justos
respeitos que de hoje em diante qualquer pessoa desta vila nem do termo dela não
recolha em sua casa fato algum que vier de fora parte nem pessoa estranha salvo com
licença dos senhores Juiz e Vereadores ou do Juiz somente sob pena de lhe ser
queimado o fato que assim tiverem e recolherem e paguem de pena dez cruzados [...] e
Meses mais tarde, as medidas profiláticas, ainda que menos rigorosas, vão incidir sobre
estalajadeiros e enxergueiros que de hoje em diante não consintam nas suas estalagens
Apenas um mês depois desta ordem que indicia alguma melhoria da situação sanitária, a
epidemia parece ter-se reacendido com maior virulência dado que a Câmara, nas suas
reuniões de Fevereiro de 1580, viria a tomar medidas preventivas drásticas. Na sessão
para que prendesse todas as pessoas que entrassem nesta vila sem arrecadação [i.e.
Volvidos apenas dois dias, o aparelho de controle sanitário foi novamente reforçado
com a nomeação de três guardas para vigiarem as bandeiras da saúde, isto é, os postos
de controle sanitário instalados nas entradas da vila uma a São Sebastião e outra à cruz
de pedra às estalagens e outra no cabo da Rua de Avis [...], isto por terem sido
informados que na Figueira uma légua desta vila morriam de peste e havia clamor
Este surto pestífero prolongou-se durante todo aquele ano e as medidas que impediam o
continuava a grassar na vila de Avis e em muitas outras terras em redor. Com a terra
dos preços e a especulação, queixando-se o povo que faltava a carne para os doentes e
que não se achava frangão nem galinha que custasse menos de dois tostões.
Em face disto, não será de estranhar a quase apatia com que a perda da independência
Poucos anos mais tarde, em 1588, ano em que a 28 de Maio a vila sofreu a ocupação das
tropas castelhanas, temos mais notícias da progressiva ruína do castelo de cujos muros
e barbacãs se levava muita pedra para construir casas. A destruição iria inclusivamente
atingir de modo irreversível, como a seu tempo veremos, a torre onde estava instalado o
sentir de modo bem mais dramático, obrigando a grandes dispêndios com os trabalhos
de fortificação da vila.
Não dispomos, infelizmente, nos arquivos locais, de elementos relativos aos primeiros
anos da década de 1640 mas sabe-se que por provisão de D. João IV com data de 3 de
Abril de 1645, a Câmara foi autorizada a gastar os 42000 e tantos rs. que dizeis há de
sobejo no cabeção este presente ano, na obra que é necessário fazer-se para reparo do
perigosamente vulnerável às investidas das forças espanholas como muito bem viu o
trincheiras da vila que se achavam a maior parte delas arruinadas por causa dos
tempos e que é muito necessário acudir-se ao reparo das ditas trincheiras e que para se
tornarem a refazer não há dinheiro nenhum nem de onde se possa tirar e que este povo
está muito arriscado. Decidiu então o capitão-mor, num gesto de grande patriotismo,
mandar repará-las à sua própria custa. Nem o caso era para menos...
Convirá não esquecermos que se vivia um momento em que urgia agir sem mais
delongas, como se deduz da carta recebida a treze do mesmo mês, do Governador das
gados pela terra adentro de modo que se suceder que o inimigo faça alguma entrada
não leve nenhuns gados e isto porquanto tem por certeza que o inimigo tem a cavalaria
junta e se tem por coisa que ele poderá vir por estas partes.
Enquanto a vila se preparava apressadamente para uma previsível incursão das forças
inimigas, impunha-se, simultaneamente e mais uma vez, a defesa contra o ainda mais
temível inimigo que era o mal da peste de que Deus nos livre.
nessa ocasião o município contratado com André Dias da Romana o corte de toda a
continuadas reconstruções, razão pela qual se decidiu reforçá-las com muros de pedra
tirada das paredes da feira que se achava à data toda desbaratada por razão de não se
Além desta pedra, também a dos muros da inacabada igreja de São Brás, no rossio do
mesmo nome, teve igual destino, demolindo-se aquela capela porque sucedendo vir o
inimigo a esta vila se poderá acostar às ditas paredes e fazer muito dano aos
moradores.
Tanto quanto nos é dado saber, eram cinco os postos de vigia mantidos em redor da
povoação : na Cabeça dos Pocilgais, nos Arneiros ; no Alto da Sovereira do Curvo, aos
Ratões, no alto sobre a ribeira que parte com a herdade dos Beguinos ; na Torre da
Ora o ano de 1650 em que se produziram os factos que temos vindo a referir, prometia
entrada das forças castelhanas levou a Câmara a mandar recolher dentro da vila todos os
gados que andavam na Coutada, situação que se viria a repetir em Fevereiro do ano
seguinte.
Os anos seguintes são omissos nos registos locais. Só a partir de 1655 voltamos ater
Efectivamente, o futuro conde das Galveias mandou que se fortificasse somente a Igreja
Matriz, decisão pelo menos insólita tanto mais que produzida por um militar de carreira
Em segundo lugar, porque a dita fortificação ficava descortinada pelas casas que tinha
vizinhas que todas eram abertas por detrás por quintais por donde era fácil a entrada
do inimigo e que também podia o dito inimigo pelejar[?] das janelas das ditas casas e
ainda dos muros da vila que ficavam eminentes ao campanário e que sobretudo na dita
igreja não cabia a décima parte da gente da vila nem fazenda alguma nem a gente do
campo.
Perante o indiscutível contra-senso da fortificação da igreja que reduzia os defensores a
fortificação do castelo antigo que se podia fazer com mais facilidade e menos custo e
melhor cómodo assim para as gentes como para as fazendas e ainda melhor defensão
porquanto nada lhe fica eminente e ainda que lhe fiquem algumas casas arrumadas lhe
custará muito o quererem minar por ser o muro grosso e de muito risco de que o mais
muro da vila. Entramos agora no período de mais acesos confrontos militares sobre os
da documentação autárquica da época ser omissa ou por ter sido destruída durante
possível afirmar que a fase mais acesa do conflito decorreu entre os anos de
1658 e 1667.
Com início em Novembro daquele primeiro ano, dispomos de uma série do referências
própria vila que, como noutro lado afirmámos, viria a ser ocupada em 23 de Dezembro
Câmara.
Porém, nem todos os desmandos e actos de violência eram imputáveis à acção das
soldados:
Joanne Mendes de Vasconcellos Amigo. Eu El Rei vos envio muito saudar. Encomendo-
vos encarregueis a pessoa de confiança, que faça toda a diligencia por haver às mãos
Antonio [Martins] da Vide, e Antonio Rodrigues Botelho, soldados de cavalo, que na
vila de Fronteira e seu termo, (da provincia) andam cometendo grandes excessos, sem
temor das justiças, e que presos a bom recado [os] façais entregar ao Ldo. Sebastião
Alguns meses mais tarde, em Novembro de 1658, como íamos dizendo, há a registar o
No mês seguinte deu entrada no mesmo hospital um prisioneiro castelhano para receber
assistência médica.
do invasor.
Em 2 de Julho de 1662, vamos encontrar o exército castelhano junto da vila que, por ter
a dar la devida obediencia al rei nuestro Senor haviendo passado esta armada tan
cerca delles merecia un riguroso castigo, todavia uzando de la real clemencia de S. Mg.
y mucha clemencia se les perdona esta culpa, e se les pide obediencia com todas las
immunidades que se han concedido a los otros lugares desta comarca, contenidas en el
papel incluzo, ordenando eles observen pontualmente todo lo que en el papel se les
prohibe porque por la mas breve falta que haia en ello seran saqueados y quemados
como los de Ocrato y vendran fora al campo a donde estoi oy com este boletin dos
pessoas de las principales del pueblo com un escrito firmado por toda la nobleza y
menistros de iusticia de la Villa en que ofrescan complimiento de lo que en el papel
obediencia a S. Mgd. Dios le gde. y siendo su real intencion que los vassalos que ansi
raizes dentro de la Villa y fuera della, y que puedam assi mesmo pastar sus ganados
cabras y assistir en sus heredades y casarias sin que en esto ni en outra ninguna cosa
pertencente al comercio se les hagan las molestias que a los vassalos obedientes
ordenandoles que reciban refresquen y deffiendan las partidas que del exercito de S.
Mgd. Llegaren a essa Villa darles las noticias que les pedirem o ellos supieren tocantes
al Real servicio, y no siendo bien que sus vassalos obedientes continuen com las
pezadas cargas que se les ponen de la parte del gobierno tirano que han padecido, se
les prohibe paguen desde el dia de la fecha desta en delante ninguna decima siza papel
sellado ni outra imposicion de qualquer genero que sea ni tam poco assistan al
gobierno tirano com auxiliares de pie o de a cavallo, ni outro socorro alguno de gente
advirtiendo que por qualquer cosa destas a cuio complimiento faltaren por ningun
tratados com la ultima [...] y rigor, ronpendoseles todas las immunidades que por este
Borba e Ocrato y para los passaportes de que necissitaren assi para passaren de unos
terminos a otros como para comercio dentro de Castilla, y tudo lo demas que se les
de um irlandês.
irlandeses e alemães em 1667, ano que deve ter marcado a saída dos contingentes
levaram à reconstrução parcial do castelo, o período que se lhe seguiu iria ser marcado
pelo total abandono do castelo e fortaleza e pela sua gradual e inexorável ruína de que
dá notícia, um pouco exagerada, cremos nós, face ao que adiante se lerá, o Pe. Manuel
Esta vila tem em seu princípio uns muros singelos que apenas podiam servir de defesa
a cavalaria que hoje em muitas partes estão no chão fizeram neles três torrinhas, que
apenas podiam servir de sentinelas, destas uma se acha no chão, e a outra pouco
menos, e ao depois foram fazendo casas extramuros, que hoje é arrabalde a maior
É, de forma algo paradoxal, graças a esta ruína experimentada pelas antigas defesas da
vila que temos uma descrição parcial das fortificações e do seu estado em finais do séc.
XVIII.
Foi, com efeito, em 1791 que, a requerimento de alguns dos moradores, o capitão-mor
muito arruinadas, da sorte que sendo a maior parte da vila arrabalde encostado às
ditas muralhas e torres experimentam os moradores que vivem junto à dita muralha o
para descogularem aquela muralha ou torre que ameaça ruína, nestes termos recorre
ele suplicante a Vossa Excelência para que lhe declare o que deve praticar a respeito
de tais requerimentos.
São esses três depoimentos de grande valor histórico que passamos a transcrever.
Testemunha primeira José de Moura Tenreiro natural e morador desta vila, mestre
sapateiro, de idade que disse ser de trinta e dois anos pouco mais ou menos.
Testemunha chegada pelo Alcaide, e jurada aos Santos Evangelhos para dizer verdade.
E perguntado ele testemunha pelo contido na petição do recorrente que lhe foi lida e
declarada, disse que pela razão alegada de natural e morador que é desta vila sabe que
conjunto ao Adro de Baixo, cujo torreão de vez em quando despede pedras, ou por
força do Inverno, ou por força dos pássaros, que nele vão fazer criação, cujas pedras
experimentou por muitas vezes assistindo nas casas de José Caetano ; de sorte que o
obrigou a despedir-se das casas pelo susto e perigo em que estava pois que as pedras
morador desta vila de idade que disse ser de sessenta anos pouco mais ou menos
testemunha segunda pelo alcaide ; e jurada aos Santos Evangelhos para dizer verdade.
E perguntado ele testemunha pelo contido na petição do recorrente disse que sabe pelo
também arruinados principalmente o que tem frente para o Adro de Baixo, o qual
serviu a ele de grande prejuízo, e lhe causou grande susto no tempo em que ele
testemunha assistiu nas casas de José Caetano chamado o Cozinheiro ; pois que do
referido torreão caiam muitas pedras sobre os telhados das referidas casas [...].
“Testemunha terceira José Caetano hortelão da horta das Antas morador desta vila de
idade que disse ser de cinquenta e dois anos pouco mais ou menos, testemunha
chegada pelo Alcaide e jurada aos Santos Evangelhos para dizer verdade. E
perguntado ele testemunha pelo contido na petição do recorrente disse que pelo
pertencente à muralha desta vila sabe pelo ver que em muitos sítios da mesma se acha
ela escavacada ; porém ignora se um tal dano a poderá danificar de todo. E pelo que
diz respeito aos torreões só sabe que o do Adro de Baixo junto ao qual tem ele
testemunha duas moradas de casas, se acha quase metade bastante arruinado e com as
pedras soltas, que de vez em quando se despedem e fazem dano às mesmas casas [...].
Durante o inquérito então levado a efeito, o Juiz de Fora de Fronteira, Dr. Florêncio de
Abreu Perada, decidiu proceder pessoalmente a uma vistoria dos muros de modo a
elaborar uma mais correcta avaliação da situação, tendo concluído que pelo que diz
respeito à muralha, que nenhum perigo ameaça apesar de se achar danificada pela
falta de muitas pedras que até têm caído pela diuturnidade do tempo, ou se lhe têm
roubado, me parece deve a mesma persistir sem demolir-se ; de cujo parecer sou
também pelo que diz relação aos torreões, à excepção de um sito no Adro apelidado –
constantes dos depoimentos das citadas testemunhas, por cuja causa seria providência
como porque aquela mesma antiguidade que inculca, dá mais estima à mesma vila,
cuja antiguidade deve igualmente servir para a conservação dos arcos de que faz
Além destes intervenientes e ainda para o mesmo efeito, deslocou-se ainda a Fronteira o
examinando as ruínas dos muros do castelo, que propõe a Vossa Excelência o capitão-
mor da mesma vila, achei que os ditos muros estão confundidos com casas, e a maior
parte deles desfeitos e sem utilidade alguma ; e no sítio chamado Adro de Baixo se
acha uma torre e dois arcos que de necessidade se devem demolir por evitar o
precipício que está ameaçando os moradores que habitam junto a estas ruínas. Também
há outro lance de muro no sítio chamado a Carreira de fora que precisa ser demolido
uma terça parte da sua altura pelo mesmo motivo da ruína em que se acha [...].
Como se deduz, existiam ainda à época várias torres e uma superfície considerável do
mais possível esse elemento nobilitante do espaço urbano, o certo é que os muros e
torres foram implacavelmente destruídos de modo que, um autor que sobre eles
escreveu em meados do século passado apenas recordava já duas das torres ao Norte
uma torre de uns 40 ou 50 palmos de altura, e parte de outra à qual chamavam castelo
[...] resta grande parte das altas muralhas que circundavam a praça.
Governador das Armas do Alentejo, em que este concede à Câmara Municipal licença
para se aproveitar a pedra da muralha para a fonte que se faz nessa vila, e recomendo
a Vossas Mercês que evitem quanto lhes for possível que se faça demolição na mesma
Em Janeiro de 1832 em outra carta, vinda, desta vez, da Mesa de Consciência e Ordens
para a Câmara de Fronteira pode ler-se: A fortaleza está bem mal reparada e vai caindo
pouco a pouco e as casas que eram uns bons aposentos estão muito danificadas, e
caídas do tecto de cima, e algumas das paredes, e outras estão ainda levantadas [...].
Uma derradeira notícia nos surge em 1868, negando, felizmente, à Câmara de então a
necessária autorização par demolir o Arco dos Santos, a única porta ainda existente.
povoação, com a sua torre de menagem e cerca interior e a muralha ou cerca exterior
finais do séc. XIII ou do séc. XIV, outro tanto decorrendo do flanqueamento das
cobertura de qualquer ponto da fortificação a partir de, pelo menos, um outro ponto da
no tipo dos castelos de defesa activa ou, de acordo com outro critério de classificação,
contemporâneas pois que, como vimos atrás, num dos documentos transcritos,
Afonso III e continuou durante todo o séc. XIV, mormente durante o reinado de D.
Dinis que, de acordo com uma tradição local, terá mandado fazer a vila. Neste contexto,
recorde-se que a expressão fazer vila significava, na Baixa Idade Média, o acto de
Face aos dados disponíveis e sempre no campo das hipóteses, teríamos então a
Relativamente a este assunto, não podemos deixar de aqui referir que o único elemento
até agora localizado, susceptível de permitir uma datação relativamente exacta, é como
Dela nos deixou notícia o erudito Leite de Vasconcellos no volume XIX do Archeologo
Português :
[...] é uma pedra de mármore de 0,54m X 0,40m, que tem o escudo das quinas assente
noutro em cujas bordas se vêem as extremidades da cruz de Avis, que alternam com
quatro castelos; na parte superior do primeiro escudo avulta um banco-de-pinchar,
emblema próprio dos brazões dos infantes, e por baixo do segundo, em toda a largura
da pedra, lê-se: PAINE POUR JOIE. Este brasão e legenda são do condestável
D.Pedro, mestre de Avis, rei de Aragão e filho do infante que morreu em Alfarrobeira
Assim, só depois dessa data a lápide ali terá sido colocada e, provavelmente, antes de
1449, ano em que D. Pedro foi destituído do Mestrado, não sendo de afastar a hipótese
posições de seu pai durante os conflitos por ele mantidos contra as forças do
feudalismo.
Mais difícil se nos afigura dar agora ao leitor uma imagem do antigo castelo.
De quanto pudemos apurar sabe-se, ao certo, que a muralha que circundava a vila se
Murça. A sul, desde a esquina formada por aquela rua com a Rua D. Francisco de
Portugal, passando pela porta do Arco dos Santos até, sensivelmente, ao início da Rua
de Santa Maria, o muro corria também em linha recta, inflectindo depois numa
curvatura suave até ao Adro de Cima, daí continuando novamente em linha recta até ao
início da Rua de Santarém, a actual Rua Frei Manuel Cardoso, para subir depois
desta, existiram ainda a Porta de Santarém, ao fundo da rua do mesmo nome ; a Porta do
Sol que como já vimos dava para o Adro de Baixo, fronteira à Matriz, com um torreão e
Quanto à altura das muralhas, pelo menos de parte delas, informa-nos cabalmente o
Noutra parte, uma das torres é dada como tendo 8 ou 10 metros de alto e certamente
dela não difeririam muito as outras, sendo certamente mais alta a torre de menagem
(castelo).
A localização exacta das torres e torreões, com excepção do da Porta do Sol e da torre
que se erguia junto à actual torre do relógio, cujos vestígios são ainda visíveis até ao
nível do telhado, constitui um problema, à luz dos dados disponíveis, de ainda mais
difícil solução pelo que, para além do que a esse respeito ficou dito, de modo a evitar
induzir o leitor em erro, preferimos não aventar nenhuma das muitas hipóteses
possíveis.
Cardoso.
Paralelamente à primeira, pelo lado Norte, corria a Rua do Paço que dava acesso ao
existentes, com excepção de uma travessa, a Travessa das Cisternas, que se projectava
nascente, a qual viria a ser apropriada e fechada por um particular, no século passado.
das vilas planeadas medievais, pelo que o seu desenvolvimento se terá ficado a dever,
como já afirmámos, não à execução de um projecto prévio mas, antes, a uma ocupação
3.3.1 A Judiaria
protecção dos soberanos aos quais, a vários títulos, interessava a sua permanência no
reino.
Manteve-se este estado de coisas, sem grandes sobressaltos para aquela minoria, ao
contrário do que sucedeu no centro e leste da Europa, até finais do séc. XV, época em
fronteiras nacionais, entre as quais a conversão forçada dos hebreus, deste modo
tornados cristãos-novos.
Não é, porém, nosso intuito alongarmo-nos sobre a questão dos cristãos-novos em
Fronteira, tema aliás já por nós aflorado em anterior trabalho. Ao presente, o nosso
A antiga toponímia local assinalava, como vimos, uma Rua da Judiaria, topónimo que se
Já há muito desapareceu a rua da judiaria, hoje é uma morada de casas nobres com
três quintais e um pátio, com uma boa cisterna e lagar, que confronta do norte com rua
de Paulo Curvo, sul com a muralha que a divide das casas da rua do Açougue,
nascente com serventia pública que vai da Boavista ao Larache, e poente com rua de
Daqui se conclui que a Judiaria ocupava a área agora ocupada pelos prédios situados
entre a actual Rua Paulo Curvo e a muralha, à direita de quem entra na vila pelo Arco
dos Santos.
Como se sabe, uma das antigas cisternas do concelho, bem como as primitivas Casas da
Porém, se assim era, explicaria isso, porventura, a existência de dois bocais para
serventia da cisterna? Ou será que os equipamentos urbanos de que temos vindo a falar
A ser correcta esta última hipótese, o processo terá decorrido com invulgar celeridade
daquelas datas.
situava?
dar resposta.
Por Fora da Vila se entendia, inicialmente, toda a área não edificada em redor do
recinto amuralhado.
até a identificar com o único trecho de terreno que, por razões de ordem topográfica,
não viria, até aos nossos dias, a ser urbanizada, isto é, a faixa de terreno a nascente da
vila que se estende ao longo da antiga Carreira de Fora, actual Rua António Borralho
Murça.
Uma das características mais notáveis do crescimento extra-muros de Fronteira foi a
cerca.
menciona já umas casas que a dita confraria tem em o arrabalde de cima com seu
quintal que tem de trás e partem de uma parte com João Fernandes o Moço e da outra
com Vasco Martins Touracem e por diante com rua pública, de onde se infere que
toda a certeza ao longo da fachada a poente das actuais Rua da Lagoa e Avenida da
República, onde se localizaria a zona de maior movimento para a qual abria o torreão
com dois arcos existente no extremo da Rua do Sol, a entrada mais imponente da
povoação.
Essa área onde, em finais do século dezasseis, se viria a construir a nova Matriz e a
Aqui se localizava o ponto em que a Canada dos Serranos, estrada de passagem dos
mais se aproximava de uma das entradas da vila. Neste grande largo que viria a ser
provável que sim. Porém, não dispomos de quaisquer provas documentais que
Um século depois, nos finais de quinhentos, quase todas as ruas hoje existentes, à
excepção das que resultaram do surto urbanístico do presente século, nos surgem já
referenciadas, apresentando muitas delas, nessa época, uma extensão idêntica à que
A Rua do Mártir, por exemplo, estava já bem definida em toda a sua extensão, outro
tanto sucedendo com as ruas de São Miguel e dos Trigueiros, rasgada em local que era
ainda, em 1486, um logo a que chamam os Trigueiros que parte de uma parte com as
oliveiras que foram de João do Carvalho e das outras com matos maninhos.
Na zona das Albardeiras está atestada a existência de casas em 1563. Perto do actual
Fundão que viria a desaparecer na segunda metade do séc. XVIII, tinha tantos
mais precisos, teve início na primeira metade de 1600 e em 1646, havia já nesse local,
Junto do mesmo largo, da parte do poente, a construção no topo sul da Rua de Santa
Catarina foi mais tardia, datando, muito provavelmente, do último quartel do século
XVIII.
intensificou-se a ocupação do Adro cuja divisão em Adro de Baixo e Adro de Cima nos
ocupava parte de um cerrado nas traseiras do antigo hospital, a poente do Adro de Baixo
Se o primeiro chegou até aos nossos dias livre de construções, o espaço do segundo foi,
desde muito cedo, desrespeitado e ocupado por casas, como se deduz de medições
levadas a efeito no séc. XVIII, durante as quais foram encontradas ossadas humanas
igreja, imóvel que, apesar da sua importância, não teve um papel deveras estruturante do
A antiga Rua Nova cujo nome provirá do facto de ter sido a primeira artéria construída
início de seiscentos.
O panorama geral da vila não diferiria muito, em termos gerais, em finais do século
XIX, do apresentado trezentos anos antes : uma vila dispersa para sul e poente do seu
núcleo original, ao longo de quatro eixos principais que, por ordem decrescente dos
níveis de ocupação, eram os seguintes já nos finais do séc. XVI : Rua dos Trigueiros,
Rua de Avis, Rua da Lagoa e Rua do Mártir ; vastos espaços intersticiais e periféricos,
desaparecidas ou profanadas que perdurariam até ao presente século, afectos por vezes
à produção agrícola, tal como acontecia com o quintal do castelo que se semeava ainda
em 1831 e uma razoável área de logradouros comuns em redor da vila que viriam a ser
Dentro deste século, poderemos ainda distinguir duas fases. Durante a primeira, que se
Assistiu-se deste modo à ocupação do lado poente do Rossio dos Porcos (Largo do
Senado), já iniciada nos finais do séc. XIX e da área adjacente à estrada para Sousel
Não muito longe daí, nos rossios de São Pedro e São Brás, o espaço disponível viria a
nascente da Boavista, logo por volta de 1900 e, mais tarde, a partir dos anos vinte, na
sua área a poente onde viriam a surgir as actuais rua e travessa de Santa Catarina tendo
o topo norte daquela rua ficado definido já dentro da década de sessenta com a
Igual sorte teriam os dois grandes rossios a poente da localidade onde desembocavam as
ser aberta a rua de Santo António, vulgarmente chamada de Aldeia do Fio, dadas as
facilidades de pagamento então concedidas aos aforadores dos lotes para construção e a
do Espírito Santo. Na parte mais a poente deste rossio existiu, durante algum tempo,
uma praça de toiros desmontável. Esclareça-se que a idéia da construção desse tipo de
recinto surgira já, anos antes, aos membros da Comissão Fundadora do Asilo de
Santo António para a construção de uma praça de touros, cujos rendimentos serão
entregues ao Asilo, e pedindo também a pedra que para a construção da referida praça
for possível explorar nos terrenos municipais, devendo a praça em construção passar
futuro a praça ou os seus rendimentos forem desviados do benemérito fim para que se
Para norte desta última artéria, junto ao cemitério, intensificou-se também a ocupação
Uma das características mais marcantes da evolução do tecido urbano durante a década
Espírito Santo.
Santo António, entre a Rua de Santo António e a estrada para Sousel, onde viria a surgir
localizar alguns dos serviços e equipamentos sociais mais importantes tais como a Casa
Avenida Heróis dos Atoleiros, artéria cuja abertura fora já sugerida, em 1934, pelo então
Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Engº Duarte Pacheco, tendo sido, logo
mais do que a pressão demográfica, iriam estar na origem do facto mais relevante da
Cândido de Oliveira (1985), Quartel dos Bombeiros (19??), Lar de Terceira Idade e
Estágios Desportivos,
3.5 Toponímia
Ainda que não tomemos em conta as ruas nascidas das urbanizações do presente século
e aquelas cujos nomes foram alterados durante o mesmo período, verificaremos que as
Desde 1600, data em que os dados disponíveis nos permitem uma reconstrução da
seguintes alterações:
Uma das ruas então existentes desapareceu. Foi este o caso da Rua do Fundão da qual já
Rua do Mártir São Sebastião decerto por conduzir à igreja do mesmo nome.
A Rua Cimeira aparece designada como Rua Maceira ou Rua Sameira sendo ainda hoje
A Rua de Santa Maria foi, noutros tempos, a Rua da Praça ou Rua do Adro.
A actual Rua Frei Manuel Cardoso teve, até ao dia 4 de Janeiro de 1926 o nome de Rua
de Santarém. Esta era, no antigo tecido da vila a rua mais importante como se vê pelo
Fora.
A Rua Paulo Curvo surge-nos assim chamada por volta de 1610 sendo que, ainda em
Ligando a Rua Paulo Curvo ao Largo do Castelo havia a Rua do Vigário Velho, também
Rua do Castelo. Ainda na zona do Castelo, a curiosa Ruinha denominou-se antes Rua
dos Cadeados, nome por que já era conhecida em finais do séc. XV.
Ainda dentro da vila existia a Rua da Judiaria, depois Travessa das Cisternas e, mais
rua foi fechada em meados do séc. XIX e incorporada numa propriedade particular.
sobrepor-se à tradição, caindo, a breve trecho, em desuso. Foi este o caso da Rua Nova,
oficialmente a actual Rua D. Lucas de Portugal, cujo nome original se terá ficado a
dever ao facto de ter sido a primeira rua rasgada no exterior da muralha ou então à
reinstalação da comunidade judaica convertida. Esta rua foi, em 1935, chamada de Rua
de Olivença.
De igual modo, a antiquíssima Rua da Lagoa viu o seu nome mudado para Rua Miguel
Outubro, respectivamente, e esta última teria ainda o seu nome mudado para Rua Dr.
título de Largo Dr. Oliveira Salazar e, por sua vez, o Adro de Baixo foi transformado no
Frederico Laranjo, mais tarde Rua Infante D. Pedro de Portugal e hoje, novamente, Rua
Frederico Laranjo.
dos proprietários dos prédios confinantes e assim se mantiveram até que a construção de
habitações foi progredindo ao longo delas. Eram estes os casos das Travessa do Senado,
antes conhecida por Travessa das Marçais, da Travessa Maximiano Hipóloto Copeto
Barradas, anteriormente designada por Travessa das Vences e das travessas de João
boa hora, a Câmara Municipal devolveu, muito recentemente, os seus nomes primitivos.
alterados. O Largo da Boavista chama-se hoje em dia Largo dos Heróis da Pátria e o
Largo ou Rossio de São Brás, o local de maior movimento da vila ainda nos princípios
de 1900, ficou a chamar-se, por ocasião da inauguração do Palácio da Justiça, Largo
com os nomes de algum morador mais ilustre, como sucede com as ruas de Paulo Curvo
entre estas as ruas dos Mártires, de Santa Maria, de São Miguel, de Avis e de Santarém.
Porém, a origem dos nomes de algumas das ruas continua, porém, por explicar. É este o
caso da Rua dos Trigueiros cuja origem se atribui, por vezes, à presença de indivíduos
daquele apelido, o que não é certo visto que o primeiro Trigueiros que viveu em
Cremos ser mais provável que o topónimo provenha da existência de armazéns de trigo,
talvez covas ou silos naquele local, tal como sucedia no Largo do Curral, adjacente
àquela rua no qual, por volta de 1650, havia ainda muitas covas em que antigamente se
deixava trigo.
Problema idêntico nos é colocado pela Rua dos Cadeados cujo nome parece sugerir um
Antigamente designada capela do Senhor do Cemitério, este pequeno templo que data
da segunda metade do séc. XVIII foi benzido em 2 de Julho de 1776, acabado de ornar
em 1786 e serviu até 1836 de capela do cemitério da Santa Casa da Misericórdia que se
No interior podem ver-se as imagens da Senhora das Dores e de Cristo, num nicho
existente sobre o altar e, dos lados, as de São João Baptista e São Vasco, estas últimas
No chão, frente à porta, existe uma sepultura coberta por uma lápide de mármore com a
seguinte inscrição:
Sepultura de António de Almeida e de seu pai Simão Palha [e] seus herdeiros.
Esta sepultura suscita uma questão pelo menos curiosa: Simão Palha [de Almeida] viveu
nos finais do séc. XVI e foi, inclusivamente, provedor da Santa Casa da Misericórdia de
Fronteira. Por outro lado, os caracteres do letreiro da lápide sepulcral são, também eles,
típicos daquela época pelo que, pensamos, os restos mortais dos elementos daquela
família devem ter sido para ali trasladados por ocasião da erecção da capela.
4.1.2 Capela do Arco dos Santos
Situada sobre o arco da antiga Porta dos Santos, esta capela fazia parte de um vínculo
instituído por frei Luis Matinca cuja administração estava cometida à Irmandade do
Santíssimo Sacramento.
A capela cuja fundação parece ter ficado a dever-se ao facto de permitir aos presos da
cadeia situada do outro lado da praça assistir aos ofícios religiosos existia já em
1695. No século passado, uma das câmaras então em exercício planeou a sua
acontecer.
Esta capela foi construída, em data incerta, pela irmandade do mesmo nome. Foi
missa de que foi celebrante D. António Mendes de Carvalho, primeiro bispo de Elvas.
À época da sua construção, não existiam ainda no local quaisquer edificações além da
Largo Marechal Carmona onde se situava o hospital da mesma irmandade. Existia então
na parede do lado norte do templo uma porta lateral que viria a ser fechada no séc.
XVIII, por ocasião da construção do hospital novo. Essa porta, ou melhor, as suas
cantarias, são as que ainda hoje se podem ver no portado do antigo hospital que até há
irmandade, muito mais sobre a igreja no período que decorreu entre a sua construção e
Durante os anos de 1753 e 1754 o templo foi grandemente reformado, datando de então
que eu escrivão mandei dar aos oficiais no dia que fecharam a abóbada da Igreja.
Nestas obras, adjudicadas na sua maior parte a mestre Bernardo Gonçalves, da vila de
Porém, logo no ano seguinte de 1755, o grande sismo de Lisboa viria provocar grandes
danos na igreja como se pode ver pela resposta ao inquérito feito após o terramoto:
esta duas rachas uma na capela-mor onde começou a sua forma, entre a mesma
por sua parte, direitas abaixo e sobre o coro também abriu racha entre a parede do
A sua degradação fez com que, em 2 de Março de 1763, a Mesa da irmandade tendo em
zelo pio e devoto quanto seria grato a Deus que Seu templo fosse exaltado e ornado Seu
altar dando-se desta forma honra ao mesmo Senhor, e ficando sendo também de
tudo o que fosse preciso para exaltação de Deus e de Sua Santa Casa e para maior
edificação dos fiéis; à vista de tão uniforme e santa resolução se mandou que o altar se
fizesse novo de pedra e cal e se forrasse por cima de madeira obra tão necessária esta
que estava totalmente indigno o velho por ser de terra solta com um pano de ladrilho
por fora somente de sorte que estava cheio de buracos. Mais se mandou alargar o
supedâneo do mesmo por ser nimiamente estreito. Mais se mandou fazer uma banqueta
nova pintada de pedra lápis lazaro [i.e. lápis lázuli] com seus veios de ouro muito bem
feita. Mais se determinou fazer para a mesma quatro castiçais com sua cruz de estanho
fino tudo feito à Romana por não haver senão uns de bronze pequenos e indignos por
velhos. Mais se ordenou mandar fazer uma estante de pé de salva em tudo muito bem
feita por não haver mais que uma feita à antiga e no feitio tosca. Mais se fez uma
grade de pau toda dourada em roda para ornato do frontal, que está rica. Mais pareceu
mandar-se fazer um frontal de damasco de Itália branco guarnecido com sua franja e
galão de ouro. Mais se mandou fazer a Lisboa uma casula do mesmo damasco de Itália
guarnecida de galão de ouro com seu manípulo e estola do mesmo. Mais se mandou
fazer para o altar umas sacras por estarem incapazes as que havia nele. Mais se
mandou comprar um missal novo por não haver senão um só que bom fosse aquele par
o comum e este para os dias mais festivos e ainda para as funções e festas da Casa e
por esta causa se atendo muito mandarem-se fazer todas estas obras pela grande
necessidade que havia delas. Mais se mandou fazer um Santo Sudário por carecer dele
enrolado e com mais veneração resguardado. Mais se compraram dois véus para o
mas também outras dependências da Casa, pelo que a Mesa encomendou diversas peças
nogueira, um estrado para poupar os irmãos ao frio nos pés, durante o Inverno.
Na mesma ocasião mandaram ainda fazer-se quatro quadros da paixão do Senhor para
se revestirem os claros das paredes da casa do mesmo despacho ficando assim ornada
de sorte como convém a uma Casa , que é a primeira entre todas na qual se fazem as
Mesas [...] e doze varas de governo para os doze irmãos do ano irem distribuídos pela
O período que temos vindo a acompanhar foi, sem dúvida, um tempo de renovação da
Foi nesse ambiente que se decidiu também a construção do novo hospital visto que o
velho, além do ruim sítio em que estava e o menos asseio das enfermarias se achava
Deste modo, aos 16 de Maio de 1769, a empreitada de construção do novo edifício foi
posta em praça e nela lançaram mestre Alexandre Rodrigues Guerra; o qual fazia a
dita obra pela sobredita quantia [ 790.000 rs. ] e nomeava por seu fiador a Manuel
Correia de Carvalho e mestre João Ângelo de Almeida que acabou por a arrematar pela
por ser arrematada, por 700.000 rs., pelo já citado mestre Alexandre Rodrigues Guerra,
A obra ficou concluída aos 25 de maio de 1775, dia em que o construtor a deu por finda
tivessem sido transferidos para o novo logo no dia 17 daquele mês. A inauguração
oficial, se assim se pode chamar, teve lugar a 28 de Maio, data em que a Mesa da
da igreja, a Santa casa da Misericórdia de Fronteira decidiu ainda alterar o traço da casa
calçada com dez palmos de largura em frente dos três edifícios e construir um muro em
Não deve ter sido a melhor a qualidade da construção do novo hospital visto que, sete
anos mais tarde, o hospital estava em perigo de se arruinar, sendo de novo postas em
Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e oitenta e dois
anos nesta vila de Fronteira aos vinte e oito de Julho do dito ano em o Consistório da
irmãos convocados desta irmandade foi presente Manuel Lourenço morador em a vila
apontamento da mesma que consiste em ser deitada a parede da frontaria toda abaixo
até o nível dos sobrados e da parte de baixo até o primeiro arco inclusive com a
declaração de que achando-se sem ruína toda a parte dela de sorte que possa ficar se
abater no importe por que arrematado tem a quantia proporcionada e no caso de ser
preciso mais crescer no dito preço o que for justo , ficando do mesmo modo que se
ficando separados dos estucados e estes rectificados nas rachas que tiverem e todos os
mais materiais à custa dele arrematante [...] e se obriga a dar princípio à obra no
meado do mês de Agosto primeiro seguinte e continuar nela sem intervalo até a findar
[...].
respectivamente, pelo mestre escultor Bartolomeu José Antunes e pelo pintor João
Barreto.
inferior da fachada, no pórtico, nos cunhais e nas fachadas laterais. O frontão e remates
Os cunhais da frontaria são de granito da região bem como o portal com duas colunas e
O corpo da igreja é coberto por uma abóbada de berço muito modificada. O coro assenta
sobre três arcos, apoiados sobre duas colunas caneladas com capitéis trabalhados. A
mesma pedra.
igreja ergue-se no local onde, segundo a tradição, a vila terá sido primitivamente
edificada.
Desconhece-se a data da sua edificação. A notícia mais antiga relativa a este templo data
de 1489 e informa-nos que naquela época era seu administrador um tal Afonso Pires.
com as asnas velhas e quebradas no risco de cair o telhado. Isto no corpo da capela
meia laranja. As grandes reparações que vieram conferir ao templo muito do seu actual
200.000 rs.
Nesta época a igreja era destino de grande número de peregrinos que ali acorriam
movidos pela fama milagrosa da padroeira. Durante uma dessas peregrinações, numa
noite tempestuosa de 1694, estando a igreja cheia de romeiros, um raio caiu na capela-
mor sem, no entanto, causar vítimas o que ainda mais reforçou a fé do povo nas virtudes
daquela Senhora que, ainda hoje, continua a ser reconhecida como a padroeira de
Fronteira.
igreja – forno, cavalariças e acomodações – que teve lugar em princípios do séc. XVIII.
Mais tarde, já dentro de 1900, outras obras seriam levadas a efeito, abrindo-se então a
A igreja era administrada pela confraria do mesmo nome que teve o seu compromisso
Além das doações dos fiéis a igreja dispunha ainda de rendimentos próprios anuais no
provenientes de foros.
arcos de volta perfeita, na frente, a poente e dois maiores dos lados. No vão de um
destes últimos encontra-se uma pedra tumular, ilegível, cuja tipologia aponta para a sua
feitura no séc. XIII ou XIV. A fachada principal apoia-se em dois gigantes do mesmo
O interior é constituído por uma só nave coberta com abóbada de berço e coro assente
revestidos de azulejos, assim como a escada de acesso ao coro. No centro dos arcos
encontram-se pinturas sobre tela, em mau estado, emolduradas pela cercadura dos
azulejos.
enquanto que nas do lado esquerdo estão representadas a Adoração de Nossa Senhora, a
O altar lateral do lado esquerdo, dedicado a São Miguel, tem um fresco representando O
Juízo Final enquanto que o do lado direito é consagrado a Nossa Senhora da Piedade.
com a imagem da Virgem e a legenda Nossa Senhora da Villa Velha de Fronteira 1648.
semelhante aos restantes mas de colocação mais recente. O altar é de alvenaria, tendo o
tecto dividido em caixotões pintados a fresco com cenas da vida da Virgem, anjos,
músicos e cantores. Nos cantos, os tímpanos estão pintados com as figuras dos
evangelistas.
Apesar de ter sofrido uma intervenção bastante extensa há alguns anos e outras de
menor monta em época mais recente, o templo apresenta alguns sinais preocupantes de
uma estátua de Nossa Senhora da Vila Velha, esculpida em mármore branco de Vila
Viçosa que ali foi colocada no dia 13 de Novembro de 1959, depois de benzida pelo
Este monumento ficou a dever-se à iniciativa conjunta do então pároco, Pe. Manuel
festividade religiosa na vila que não requeira a presença tutelar da imagem que nessas
ocasiões é trazida para a Matriz e, findo o período de festa, reconduzida à sua ermida.
É também prática ainda corrente e bem demonstrativa do poder da santa a oferta das
crianças à Senhora, o que se faz colocando-as reverentemente sobre o seu altar, logo nos
as crianças à ermida, junto da qual comiam uns bolos zoomórficos: pintainhas para as
meninas e cobras ou lagartos se fossem rapazes, contendo, todos eles, um ovo cozido no
seu interior.
Outra característica do culto de Nossa Senhora da Vila Velha, se bem que menos
conhecida, era a sua natureza psicopompa bem patente nos antigos testamentos. De
quantos nos foi dado analisar cremos poder afirmar, sem receio de incorrer em erro, que
uma percentagem próxima dos cem por cento dos testadores encomendava a sua missa
torre sineira e a maior parte do portal renascentista, cuja arquitrave ostentava uma
A ruína a que então foi reduzida conserva-se ainda no mesmo estado em que o
gratuita e abusiva de um património que a todos pertencia. Ruíu assim, entre tiros de
grande sacrifício e exclusivamente à custa dos seus moradores, como bem o lembrava a
inscrição existente sobre o portal a poente Esta casa se fez de esmolas de povo em a era
de 1577, data que assinala, talvez, a sua abertura ao culto dado que o início da sua
1560-70.
Dom Sebastião como governador e perpétuo administrador que são da ordem e
cavalaria de Avis faço saber aos que esta carta virem que os juizes e vereadores e
vila me enviaram dizer que eles tinham começado havia anos a dita ermida por suas
devoções e era já nela gasto muito dinheiro e que ora os visitadores da dita ordem lhes
impediram a obra dela para que não fizessem mais nela porquanto conforme as
definições da dita ordem se não podia edificar nem fazer de novo sem minha licença
pedindo-me por mercê que lha desse e havendo eu respeito ao que assim dizem e
serviço de Nosso Senhor acabar-se a dita ermida e assim visto uma escritura pública
que fizeram por que se obrigavam à fábrica e ornamentos dela e a fazerem e acabarem
à sua custa sem a dita [ordem] agora nem em tempo algum ter obrigação alguma à dita
ermida a qual escritura mandei lançar no cartório do convento e parecia bem feita e
assinada por Luis de Andrade público tabelião na dita vila aos vinte dias do mês de
nomeadas e por esta dou licença para que a dita ermida se acabe e faça e a obra vá
por diante sem embargo do que pelos ditos visitadores foi mandado e os ditos oficiais e
povo a farão à sua custa e ornamentarão de todo o necessário como estão obrigados
sem a dita ordem ter nunca em tempo algum obrigação à fábrica e ornamentos da dita
ermida a qual em tudo será visitada pela ordem como é a Igreja Matriz da dita vila a
quem se anexa esta licença lhe assim dou sem fazer nenhum prejuízo às rendas da dita
ordem e da dita Igreja Matriz e pé de altar dela e mando aos visitadores da dita ordem
que o cumpram assim inteiramente como nesta carta é contido sem dúvida alguma a
dela se passarão certidões nas costas desta carta que para firmeza de tudo lhe mandei
passar e selada com o selo da dita ordem [...] ao derradeiro dia de Maio de mil
Como pudemos ler, em 1571, quando o povo se obrigou por escritura a concluir e
manter, à sua custa, a nova ermida, o templo era já dado como começado a construir
havia anos.
Pormenor que não pode deixar de nos surpreender é a celeridade com que todo o
A este facto não será estranha a natureza popular da sua instituição, certamente pouco
Sabemos, apesar disso, e por notícia que ficou registada nos livros da Câmara
que em 7 de Março daquele ano os ditos juiz e vereadores deram licença aos carreteiros
desta vila que possam comer em a coutada do Concelho com os seus bois trazendo
para o Espírito Santo em cada semana uma carrada pelo menos de pedra. Informação
caso presente, pela autorização camarária que permitia a livre pastagem dos bois
Santo anteriores à segunda metade do séc. XVIII, época marcada por um processo de
Falámos de decadência e melhor seria termos falado de ruína já que, por ocasião do
terramoto de 1755, o edifício sofreu grandes danos de que deixou notícia o então prior
a capela-mor ficou toda rachada e assim inabitável e se julga que se perderá de todo.
Porém, os irmãos da Ordem Terceira de São Francisco de Fronteira que nela tinham a
sua capela, requereram ao rei que lhes fosse confiada a igreja, comprometendo-se eles a
levar a cabo as obras de reconstrução, à sua própria custa. E assim sucedeu, evitando-se
a ruína iminente do templo desde então sede daquela irmandade até à sua extinção em
18 de Abril de 1888.
depois da catástrofe, em 1763, a Ordem Terceira de São Francisco estava ainda sediada
de 1780 nos surgem os indícios que nos permitem afirmar que os trabalhos de
cerca de 35.660 rs. pelos seus serviços durante os meses de Maio e Junho, período em
que se nos deparam ainda outros pagamentos feitos a Bernardo Serralheiro pela feitura
das ferragens para a igreja e a um carpinteiro de Cabeço de Vide pela construção das
portas.
No ano seguinte a Ordem Terceira registou novas despesas com a fabricação de mais
ferragens, agora feitas por Manuel Joaquim Parente, de Fronteira, com a compra de um
Aos onze dias do mês de Fevereiro de mil setecentos e oitenta e quatro anos nesta vila
muito reverendo padre definidor comissário Frei José de Serpa e o nosso irmão
ministro o Dr. José Afonso Machado Sacoto e os mais irmãos definidores da Mesa
todos abaixo assinados e bem assim João Barreto e João Baptista oficiais de alvanéus
do altar do nosso padre São Francisco a saber eles dito João Barreto e João Baptista
que se acha no apontamento e risco que fica subscrito por todos e em poder do
secretário da ordem pondo eles todo o material e trabalho de suas mãos excepto a
areia que for precisa para a dita obra sendo obrigada a dita Mesa a dar-lhe por este
trabalho cento e vinte mil réis a saber metade no princípio da dita obra a qual obra se
há-de findar até dia de São Miguel da presente era; e a outra metade se repartirá em
dois pagamentos dos quais um será no meio da obra e o outro no fim dela e serão mais
também e para que se evite toda a dúvida tanto a respeito da obra como do pagamento
dela a dita mesa se obriga in solidum a fazer-lhe bom todo o dito pagamento e eles
ditos João Barreto e João Baptista obrigam suas pessoas e bens e em especial nomeiam
por seu fiador e principal pagador a Manuel Joaquim Pacheco desta vila de sorte que
a dita obra será vista e revista no fim dela e achando-se faltar-lhe alguma coisa do dito
risco ou estando falsificada eles perderão a importância que se lhes tiver pago e não
terão acção para pedi-la até que reponham e satisfaçam ao que se comprometeram
igreja cujo término poderá ser colocado em 1788 já que nesse mesmo ano a Ordem
Terceira procedeu à venda de 90 alqueires de areia que lhe tinham sobejado e satisfez ao
já nosso conhecido mestre Manuel Lourenço a quantia de 69.310 rs. relativa à obra da
torre cuja bandeira de ferro, isto é, o catavento, foi pela mesma altura lá colocado e
Este período que temos vindo a percorrer e que decorre, grosso modo, até 1800 foi, sem
professaram. Esse facto permitiu que a recém reformada capela daquela irmandade
que se fizesse um sanefão para a capela de Nosso Padre São Francisco pela precisão
que tinha a dita de um cortinado para melhor compostura da mesma; o que assim
celebrado se ajustou o mesmo com o entalhador José Nunes Serra morador na vila de
Estremoz, por vinte e oito mil réis de suas mãos e madeira e ferragem [...].
Além da feitura da sanefa, a Mesa viria a encomendar ainda, no mês de Agosto seguinte,
existência de uma relíquia do Santo Lenho que aí tinha sido depositada em 1733 como
Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus cristo de mil setecentos e trinta e três anos
aos dezasseis dias do mês de Abril do dito ano nesta cidade de Elvas nas casas de
cidade de Elvas na mesma e [ em ] todo o seu bispado Provisor Juiz dos Casamentos e
Justificações de Genere pelo reverendíssimo Cabido sede vacante, etc. Sendo ele dito
senhor aí comigo Notário Apostólico por parte do ministro, e mais irmãos terceiros da
venerável Ordem de São Francisco da vila de Fronteira deste Bispado lhe fora
apresentada uma relíquia da Santa Cruz, em que foi crucificado Nosso Senhor Jesus
Cristo pela salvação do género humano, e lhe pediram, e requereram que lha
relíquia. E visto seu requerimento pelo dito senhor, a autenticou conhecendo que armas
trazia, e com toda a reverência, e acatamento de joelhos a beijou, e pôs sobre a sua
cabeça e cortando-lhe os cordões de retrós encarnado, em que trazia o selo nas costas
do dito relicário, viu, examinou e achou que era a própria que em Roma se tinha
passado; e mandou que a ela se desse todo o crédito e veneração que à mesma cruz em
que o Senhor expirou por remir ao género humano, e que esta se colocasse na capela
dos Irmãos terceiros da vila de Fronteira, e se lhe fizesse uma cruz, na qual se pusesse
o relicário e sacrário em que estivesse com toda a boa ordem, e decência, de que teria
a chave o ministro e director da Ordem para se mostrar, e festejar nos dias que os ditos
conservarem os santos desta venerável ordem, cometida a mestre João Baptista que se
obrigou a fazer um retábulo com cinco nichos bem assim como mais seis oratórios
também, como quase sempre acontece em casos que tais, por atrair a atenção dos
amigos do alheio que, por alturas do Natal de 1800, levaram da igreja toda a cera bem
Esta confraria teve o seu Compromisso aprovado em 1603 mas a sua fundação
remontava a época muito anterior, pois que os próprios estatutos referem que há muitos
anos que não havia quem a servisse. Durante o séc. XVII viu melhorada a sua situação
financeira graças à doação da Herdade das Marrãs, no termo de Avis, feita por D.
Margarida de Castelo Branco, com a condição de lhe serem rezadas nove missas por
Menos afortunada, em termos patrimoniais, era a Ordem Terceira de São Francisco que
possuía apenas duas pequenas propriedades - o cerrado do Padre Álvaro e uma courela
na Coutada que lhe foi dada em 1790. O grosso dos rendimento provinha-lhe de
professos.
Como já foi afirmado, a partir do séc. XIX, assistiu-se à decadência da Ordem Terceira
próprio reitor ocupava, em 1816, com materiais de alvenaria como é cal, ladrilho e
religião.
pratica em entrarem muitas famílias para dentro das grades e irem-se postar no altar
do Rei Salvador.
Em 1856, viria a apear-se a abóbada da sacristia que estava a desabar e outras obras se
primeiras décadas de 1900, facto a que não será totalmente estranho o pormenor de,
Das festas que tinham o seu palco na Igreja do Espírito Santo – a da Senhora da
Conceição, das Chagas e de São Francisco, entre outras, permitimo-nos destacar, pela
sua originalidade, a celebração que tinha lugar em Quinta-Feira Santa, durante a qual
era servida uma ceia, com alimentos verdadeiros, aos diversos santos existentes na
Conta a tradição que o ágape se repetiu até que um prior da Matriz, quiçá vislumbrando
aí vestígios de práticas pagãs a erradicar a todo o custo, pegou num pau e cascou forte e
feio nos comensais, razão pela qual, ainda de acordo com a vox populi, o Todo
por abóbada de berço, com capelas larerais. A capela-mor era, ela também, coberta por
uma abóbada do mesmo tipo, se bem que de altura inferior à do corpo da igreja. As
capelas laterais devem ter sido em número de oito. Destas, sabemos que cinco delas
possuía um gradeamento.
Mestrado de Avis faço saber a vós Ouvidor do dito Mestrado que pela visitação que [o]
Dom Prior do convento da dita ordem fez por meu mandado na igreja matriz da vila de
Fronteira se viu a muita necessidade que há de se fazer a dita igreja maior por ser
muito pequena e não caber o povo nela pelo que hei por bem que em cada um ano se
tomem da renda da dita comenda duzentos e vinte mil reis para a obra da dita igreja
além dos duzentos mil que já são mandados tomar e depositar para ela o ano passado
pela visitação do ordinário pelo que vos mando que logo com brevidade vades à dita
vila de Fronteira e constranjais aos rendeiros do comendador a dar logo com efeito os
duzentos mil reis para o que lhes estão embargados os frutos do dito ano passado pelos
vereadores do dito ano passado e não os dando fareis vender e arrematar os ditos
frutos em pregão até à dita quantia de duzentos mil reis e assim embargareis na mão
dos ditos rendeiros tantos frutos das rendas de cada um ano para que bem se possam
haver e arrecadar os duzentos e vinte mil reis que em cada um ano hei por bem que se
tomem para a dita obra da igreja em fim de Agosto de cada um ano não tendo os ditos
rendeiros pago os ditos duzentos e vinte mil reis ireis à dita vila e dos frutos da dita
comenda fareis vender e arrematar em pregão a quantidade deles em que se faça a dita
quantia e tudo se venderá pelo preço da terra quer as ditas rendas andem arrematadas
quer se recolham pelo comendador e nas mãos de seus feitores fareis o dito embargo de
cada ano e todo o dinheiro que se juntar e arrecadar pelo modo que dito é para a dita
obra e fareis depositar dentro no convento da dita ordem em mão do Prior da fábrica
dela e se juntará todo dentro em uma arca que para ele se comprará do mesmo
dinheiro de três chaves e uma delas terá o dito Prior e outra o dom prior e a outra o
freire que for escrivão da fábrica para que este arrecade e mando ao dito dom prior
que tanto que na dita arca estiverem juntos mil e quinhentos cruzados e daí para cima
me o faça saber para mandar meter em pregão a obra da dita igreja ou se mandar fazer
outra de novo para haver duas freguesias como então me parecer bem e mais
necessário e do dito depósito fareis autos e escrito em um livro assinado por vós e pelo
dito dom prior e Prior da fábrica o qual livro estará dentro na dita arca para em todo o
tempo por ele se tomar conta do dito dinheiro hei por bem que este alvará se cumpra
posto que não passe pela chancelaria da dita ordem. Francisco Coelho o fez em
obras até 1594, data em que a lápide existente na frontaria as dá por concluídas.
Como se viu, a primitiva matriz tornara-se já, naquela época, demasiado exígua para
novo templo, com a criação de uma nova freguesia – acabando, contudo, por se adoptar
uma solução algo diferente já que, se bem que se tenha optado pela construção de raiz,
Antes de nos alongarmos mais detalhadamente sobre a actual igreja matriz, permita-se-
nos que, na medida do possível, lancemos alguma luz sobre a primitiva matriz de
Fronteira.
A mais antiga notícia a seu respeito até agora localizada atesta da sua existência, bem
como da da igreja de Santiago, sua filial, em 1236, sendo estas as únicas igrejas então
existentes.
rendas eclesiásticas, concedidas pelo papa João XXII a D. Dinis, a título de subsídio de
guerra contra os mouros, a igreja de Santa Maria de Fronteira surge-nos como uma das
Mais tarde, em 1534, o visitador da Ordem de Avis deixou registado que achara a dita
Porém, no temporal, o documento menciona que a prata da dita igreja era toda do
concelho da dita vila e somente um cálice que é da ordem e porque achei que um dos
cálices do concelho era quebrado mando já aos Juizes Vereadores e oficiais da dita
vila que até dia de Natal primeiro que vem mandem juntar o dito cálice [...]E assim
mandou aos sobreditos oficiais que eles desfaçam o turíbulo velho de prata que anda
na dita igreja por ser velho e antigo e mandem fazer outro de três marcos de prata bem
De igual modo mandou ainda que se pusesse na pia de baptizar um varão com seu
Através delas ficamos a saber que o prior de cuja obrigação era a celebração das missas
dominicais e das festas, tinha de ordenado 20.000 rs. em dinheiro a que acresciam
quatro moios de trigo, dois de cevada, a metade do pé de altar da matriz e todo o das
ermidas anexas.
O prior era acolitado por quatro ajudadores que recebiam, cada um, anualmente, dois
veludo de fora e de dentro com sua fechadura de prata o qual sacrário está pegado em
um retábulo do dito altar dourado e bem consertado o qual se fez novo [por] duzentos
mil reis. E nos altares travessos outros dois da mesma traça do do altar mor.
Daqui se conclui que a antiga matriz apresentava três altares e que a decoração da
capela mor tinha sido recentemente beneficiada com a restauração do retábulo. Dos
Por esta altura, já se tinham iniciado os trabalhos de construção da nova igreja, facto
também ele comprovado pela observação do visitador de que a obra da igreja nova vai
Chegados a este ponto e se bem que elucidativa em relação a certos aspectos, o facto é
que a documentação disponível a que tivemos acesso não lança a mínima luz sobre
Onde terá sido edificado esse templo que durante três séculos e meio serviu a população
Mas, nessa exacta localização surge-nos não a igreja de Santa Maria mas, sim, uma
É, pelo menos, o que nos afirma, reportando-se às primeiras décadas do séc. XIX, o já
Durava ainda uma tradição de que Santa Iria fora o Orago desta freguesia; começava-
se porém a duvidar por não restar notícia ou indício da sua situação. Mas vindo-me, há
pouco, às mãos o resto de um livro de Visitas dos Priores Mores, que andava alienado,
achei a f. 14, que em 18 de Maio de 1588 ainda a Igreja de Santa Iria existia no pátio
do castelo, mas tão imunda, que se lhe mandou tapar a porta para se não dizer lá missa
[...]
Santa Iria. Porém, não foi encontrada qualquer referência a esta última, nem na
documentação dos sécs. XIII e XVI por nós citada, nem tão pouco em outra
Adensando mais ainda a confusão existente, há já, em 1564, referências a uma Igreja de
Nossa Senhora da Atalaia, que não podia ser, de modo algum, a actual matriz
Ora, o que acontece é que a primitiva matriz é referida por várias invocações, o que
induz em erro o investigador. Senão, vejamos: em 1564, foi passado ao Pe. Diogo Peres
Treze anos depois, o Prior-Mor de Avis, ao visitar Fronteira, deixou no auto da visitacão
a notícia de que é a igreja da dita vila da invocação de Nossa Senhora na qual achou
Mais ainda: em 1534, outro visitador da ordem deixou memória da sua visita à igreja de
da parte de elrei nosso senhor que eles provessem na obra da igreja e lhe mandassem
ao mestre António de Góis que faz a dita igreja com muita brevidade [...].
Francisco Lobo juiz de fora nesta dita vila que ele tinha uma provisão de sua majestade
para ele dito juiz conhecer a obra da dita igreja e que eles eram informados que mestre
António de Góis não fazia a dita obra senão muito devagar e com poucos oficiais e que
a obra que fazia era com terra e não com cal portanto lhe requeriam a ele dito juiz da
parte de elrei nosso senhor [que] ele dito juiz olhasse pela dita obra e a fizesse fazer ao
Diga-se, porém, em abono da verdade, que as circunstâncias que então se viviam não
Santo, qualquer delas empreitada de vulto, exigente em mão de obra. Por outro lado, o
surto pestífero que, dois meses antes, se declarara em Portalegre, Gáfete e outras
vierem de terra impedida lhe será dado seu degredo na ermida de São Miguel onde
Acresce ainda que a época da edificação da matriz coincide com um grande surto de
que, certamente, terá provocado uma escassez de mão de obra especializada, notória na
Apesar de todos estes contratempos, o facto é que a nova igreja começou a ser utilizada
muito antes de ficar concluída dado que a sua antecessora não apresentava já condições
Com efeito e para não nos alongarmos demasiado, o caso conta-se em poucas palavras.
Naquele ano, o comendador de Fronteira, D. Lucas de Portugal, mandara vir a esta vila
os mestres Gaspar Pereira, carpinteiro e Diogo Bernardes, pintor de têmpera, com o fim
Ora, concluída a obra e assente o novo retábulo na capela, decidiu o prior expor,
último retábulo cujas peças se encontravam nas casas da Câmara para onde haviam sido
encerrada ao culto, onde o Prior-Mor de Avis o tinha encontrado, como atrás ficou dito,
Contra aquela atitude do prior reagiram prontamente o povo, a maior parte dos
convento de São Bento de Avis, D. Francisco de Avelar. Este, sem poder de decisão
sobre matéria que não era da sua competência, alvitrou que se escrevesse ao rei
retábulo novo aproveitando-se nele algumas das imagens e o crucifixo do velho o qual,
por sua vez, se colocaria num dos outros altares evitando-se assim a tentação de, nas
palavras do Prior-Mor, fazer bom vestido de capa velha misturada com pano novo.
Tal solução de compromisso parece ter sido a contento de ambas as partes já que alguns
dos painéis do antigo retábulo, muito provavelmente em número de sete, terão ficado a
construída matriz.
Graças ao contencioso então surgido, chegou até nós uma primeira descrição do interior
da nova igreja, se bem que muito limitada. Não existem, tanto quanto o saibamos,
quaisquer outras descrições contemporâneas do templo pelo que, para traçar um retrato
em 1760, antes, porém, das grandes obras dos séculos posteriores que lhe viriam a
Dada a extensão dos autos de medição a que então se procedeu, limitar-nos-emos aos
aspectos mais significativos dos mesmos, remetendo o leitor mais interessado para
Medição da Capela-Mor
[...] é o tecto da dita capela-mor de abóbada com seus lavores embutidos na mesma, e
no meio tem uma clarabóia; não tem esta capela-mor tribuna em que se exponha o
velho, que está todo ameaçando ruína com perigo evidente que está por detrás do
parede com bastante altura o qual tem doze painéis pintados, que um deles tem a
imagem de São Bento que está por detrás do sacrário, e dos lados estão também
pintados os quatro evangelistas, e por cima deste se acham os sete, que mal se
conhecem por terem gastas as pinturas e têm seus frisos que mostram terem sido
dourados, e no meio deste retábulo está um nicho de madeira que mostra ter sido
doirado onde está uma imagem de vulto a que hoje dão por invocação o título de Nossa
Senhora da Atalaia, e tem esta Senhora um manto de seda azul com renda de prata fina
forrado de encarnado, que lhe deu uma devota, e tem outro manto branco já usado, e
outro roxo velho, e não tem coroa de prata; tem um Menino no braço de vulto que
nasce da mesma imagem, que dizem ser o orago desta vila, e protectora dos
comendadores da comenda dela, e não há notícia que se faça festividade a esta imagem
no tempo presente; porém sim que lha faziam antigamente; e no alto do dito retábulo
está uma imagem de um crucifixo muito velho a qual é de vulto e está caindo [...] o
altar é de alvenaria e tem de alto uma vara, e de largo pela parte de cima uma vara, e
de comprimento três varas menos três dedos, e em cima dele está o sacrário de
madeira, levadiço, que é bastante usado, e é dourado por fora e por dentro, e tem uma
banqueta de cada lado de madeira, pintadas, mas muito velhas, e por remate do mesmo
sacrário está uma imagem do Menino Jesus de vulto, e de vestir, e dos lados em cima
das banquetas do da parte da epístola está a imagem do Senhor São José com o
Menino Jesus pela mão tudo de vulto, e da banda do evangelho tem a imagem da
Senhora Santa Ana com Nossa Senhora, no braço que também são de vulto tem a dita
santa resplendor, e a Senhora coroa tudo de prata tem mantos de várias cores que lhe
Temos, assim, descrita a capela-mor. Recorde-se que à época esta capela não tinha a
obras que lhe viriam a dar o seu presente aspecto datam de 1780 e foram integralmente
A nova capela mor foi inaugurada nesse mesmo ano, a 15 de Julho, com uma missa
solene celebrada pelo Prior-Mor do Convento de Avis, depois de para aí ter sido
transladada, com solene procissão por toda a vila, a nova imagem de Nossa Senhora da
polémica. Como se viu, o primitivo orago da vila era Santa Maria, padroeira da primeira
matriz e haverá ainda que ter em conta que, pouco depois da construção do novo
alma de uma benfeitora, menciona expressamente o seguinte: Dia da Srª das Neves a 5
de Agosto que é dia de guarda nesta vila por ser dia do Orago.
Acresce ainda que o culto de Nossa Senhora da Atalaia não vingou, depressa caindo em
Porém, ainda hoje, a única padroeira indiscutivelmente reconhecida pelo povo é Nossa
Principia este retábulo por uma bancada de socos azuis de três palmos de alto, sendo o
seu planteado côncavo pela frente, com quatro colunas na mesma frente todas de pedra
azul lustrada. Segue-se sobre esta primeira bancada uma Segunda de envazamentos, e
depois o corpo do pedestal com sua simalha; segue-se terceira bancada de socos e
envazamentos sobre esta simalha, e depois duas colunas, a que encosta a boca da
tribuna; e são estas revestidas com um pilar nobre pela parte de trás. Cada uma destas
ditas colunas ressalta para uma outra coluna por um côncavo, em cujas extremidades
ficam unidas e estas últimas colunas são encostadas por umas pilastras brancas com
Todas as quatro sobreditas colunas são coroadas com uns capitéis compósitos, e depois
segue-se uma bancada de arquitrave com seu friso e simalha. Do prumo das pilastras
da parede nasce um arco que coroa as mesmas em o prumo das colunas da frente que
encostam à boca da tribuna, coroa uma simalha de [.?.] superior à que vai para o
tímpano, que termina o dito retábulo e no intervalo deste tímpano acha-se uma pedra
O altar que serva nesta capela mor tem três palmos de saliente para fora dela, e é
composto de pedra mármore. Encostam a este duas represas que recebem uma
A boca da tribuna que fica na mesma prumada tem dezanove palmos, e é toda da
mesma pedra azul lustrada, e coroada com uns saiméis no envazamento da volta e o
resto dela redondo, e coroado com um majestoso ornato branco que de dentro dos
olhos das volutas sai uma grande silva de festões maravilhosamente construídos.
Toda esta obra digna de admiração não só pelo bem desempenhado de suas proporções
como pela delicadeza com que se acha construída é feita de pedra mármore extraída
das vilas de Estremoz e Borba e a sua arquitectura não inveja as melhores da Europa.
zimbório onde estava instalado um espelho que reflectia a luz para o seu interior dado
que não existiam, então, quaisquer janelas. A decoração desta capela era constituída,
como vimos, por um grande retábulo com doze painéis cuja proveniência já antes
referimos.
De igual modo, os altares colaterais eram bastante menos fundos, situando-se os seus
retábulos à boca das actuais capelas em cujo interior se localizavam as duas sacristias
então existentes.
Esta capela do Santíssimo Sacramento estava, em 1818, de acordo com uma descrição
da época, pintada de encarnado com seus filetes roxos , cores também utilizadas na
Igual destino teve, em 1802, a sacristia do lado da Epístola convertida também ela em
capela mantendo, contudo, o orago do altar primitivo que era a Senhora dos Prazeres só
desta época a construção de uma pequena casa, adossada ao muro exterior desta capela
Lisboa, por 60.000 rs., do lavatório de pedra mármore ainda aí existente. Esta sacristia
nova viria a ser alvo de nova intervenção em 1831 abrindo-se então a passagem que dá
[...] Tem esta igreja da parte da epístola cinco janelas cujos portados delas são de
pedra arneira, duas das quais estão abertas, e três tapadas de cal, e tijolo, as abertas
tem cada uma duas grades de ferro [...] e da mesma parte, tem três altares um de Nossa
Senhora do Rosário, que está em cima de uma árvore na qual estão os ascendentes de
Nossa Senhora, e no nicho donde nasce esta árvore está a imagem de vulto, deitada
com o letreiro que diz José. Abaixo desta outra capela, que tem por fora suas grades de
ferro altas, que tem a imagem de São Francisco, e é de vulto de cuja capela é
passando a porta travessa está outra do Senhor São Luís que instituiu, e mandou fazer
Frei Luís Matinca [...] e junto a esta capela está um mausoléu de pedra que sustentam
dois leões metido parte dele na parede no qual foi sepultado o dito instituidor, e da
parte do Evangelho [i.e. da Epístola] tem dois altares, um deles com a imagem do
Senhor dos Passos de vulto que é da irmandade do mesmo Senhor, e o outro tem a
imagem do Anjo Custódio, que é de vulto e tem sua irmandade. [...] Tem esta igreja
oito colunas de pedra arneira e de esquadria, que vem a ser quatro por banda nas
quais se sustenta o tecto que é de madeira, e todo apainelado o forro, que está sem
pintura. [...] Tem o chão a metade de tijolo, e a outra metade de campas de pedra
mármore com suas armas esculpidas. E no arco da capela mor para dentro do chão
dela se acham três campas de pedra mármore no meio das quais está a dos
do Rosário que apresentava ainda o seu aspecto original, em madeira, com a figuração
da Árvore de Jessé. Esse retábulo foi, em 1806, substituído pelo actual, em gesso.
Além da decoração já mencionada, existia ainda neste altar uma pintura das Almas,
mandado erigir pelo instituidor do vínculo, Francisco Lopes de Morais a quem, para o
padroeiro, este altar tinha ainda as imagens de Santa Catarina e da Senhora da Lapa.
Este foi o altar que, à excepção do de São Luís, conservou até mais tarde o seu trabalho
O terceiro e mais moderno dos altares do lado do evangelho é o de São Luís cuja
Dom João por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves d´aquém e d´além mar em
África Senhor de Guiné etc. como Governador e perpétuo Administrador que sou do
mestrado, cavalaria e ordem de São Bento de Avis: Faço saber aos que esta minha
Provisão virem, que tendo respeito ao que me representou por sua petição Frei Luis
Matinca Frei professo da dita ordem, e beneficiado na Igreja matriz da vila de Veiros
para haver de lhe conceder licença de erigir uma capela de invocação de São Luis na
Igreja Matriz da vila de Fronteira, donde é natural para perfeição e adorno da mesma
igreja sem prejuízo algum dela; o que visto por informação do Juiz da Ordem da
Comarca de Avis, em que foi ouvido por escrito o Prior da referida Igreja de Fronteira,
e resposta do Procurador geral das ordens: Hei por bem e me praz, de conceder-lhe a
dita licença de poder fazer a dita capela; fazendo primeiro ao menos quatro mil reis de
fábrica em bens livres, de que fará escritura perante o juiz da ordem da mesma
outrossim fará ele dito beneficiado termo de fazer a dita obra sem prejuízo algum da
Igreja, obrigando-se a qualquer que dela possa resulta. Pelo que mando ao sobredito
Juiz da ordem, que na forma referida cumpra e faça cumprir esta minha Provisão,
como nela se contém, sem dúvida alguma, sendo passada pela chancelaria da ordem, e
valerá como carta, posto que seu efeito haja de durar mais de um ano, sem embargo de
a fez em Lisboa oriental a vinte de Setembro de mil setecentos, e trinta e dois anos.
Notável obra de talha polícroma com duas colunas salomónicas ladeando a imagem de
São Luís, o altar é coroado por um florão sustentado por dois anjos onde se inscreve a
flor de lis da Casa Real de França, elemento várias vezes reiterado em composições
1760, este altar faz parte, juntamente com um quadro de fundação ainda existente e com
arco do altar, é constituído por uma placa de mármore rectangular, com 73 X 56 cm.,
com a seguinte inscrição: ESTA CAPELA DE SAM LUIS FES A SUA CUSTA FR
À direita desta lápide, cravados na parede a pouca altura do chão, encontram-se os dois
suportes em forma de leões que são tudo quanto hoje resta do mausoléu cuja arca
funerária deve ter sido removida do local ou talvez ocultada na espessura da parede no
período que medeia entre a medição da igreja e os finais do primeiro quartel do século
passado.
Quanto aos altares do lado oposto do templo, o dos Passos foi reedificado em 1764, à
custa da irmandade do mesmo nome, e reformado e feito de estuque em 1804, tal como
viria a suceder com o do Anjo Custódio, actual altar de Nossa Senhora da Conceição,
em 1806, graças ao produto da venda de uma cruz de prata do Anjo Custódio. A imagem
por motivos óbvios, a Procissão dos Passos que, com grande solenidade, percorria as
ruas da localidade ao longo de um itinerário assinalado por passos, como ainda hoje
protegidas por portadas de madeira, sendo conhecida a localização de apenas três dos
das Albardeiras, este último provavelmente na casa que faz esquina com a Rua da
Lagoa.
activamente nesta procissão, tendo então lugar um dos seus bodos anuais. Esse bodo
originariamente composto de sardinhas fritas, vinho e confeitada foi, com o passar dos
O corpo da igreja encontrava-se então ainda coberto pelo tecto original de madeira
Essas abóbadas não chegaram, porém, aos nossos dias. Apesar das reparações sofridas
em 1850 e 1878, o seu estado de ruína iminente obrigou a que a igreja fosse encerrada
tendo ficado assinaladas pela morte trágica de um alvanéu arrastado pela queda da
de tijolo e noutra ocupada por sepulturas de pedra mármore, com suas armas
esculpidas.
A descrição de 1818 traça o mesmo retrato mas fala apenas em pedaços de tijolo,
denotando a grande degradação da área pavimentada e refere ainda uma zona com
do templo sem coberta alguma mais que a superfície de terra das sepulturas.
A informação sobre as campas brasonadas merece que nos detenhamos um pouco sobre
o assunto.
Fronteira, facto tanto mais de estranhar quanto esta povoação foi alfobre de várias
famílias com lugar nos nobiliários – Aguiares, Correias, Gamas Lobos, Garcias
Monizes, Martelos e Morais, entre outras. Muito desse silêncio ficou, sem dúvida, a
viria a ficar concluído em 1842 o que, como é fácil de ver, só foi possível graças ao
facto de terem sido proibidas as inumações no interior e nos adros das igrejas, passando
Dessa grande quantidade de sepulturas então existente, apenas cinco chegaram até ao
presente e isto porque se localizavam fora do corpo da igreja. Temos, então, no actual
Larache e dos seus herdeiros. Deste António Gonçalves ou de algum familiar seu deve
ter derivado o topónimo Larache que ainda hoje designa a zona nas traseiras do topo sul
trasladação solene dos ossos enterrados na matriz, apesar dos muros que o cercam não
terem sido ainda construídos. Se bem que levantados logo no ano seguinte, a qualidade
da sua construção provocou a justa indignação dos moradores da vila visto que já
desenterravam os cadáveres.
campas situadas na capela-mor. Ora, tal afirmação não está correcta dado tratar-se da
na Ordem de Cristo, e de sua esposa D. Isabel Godinho, sendo ainda visível sobre a
pedra tumular um escudo esquartelado onde são reconhecíveis as armas dos Carmonas.
Tem este alpendre de comprimento três varas, e meia terça, e de largo seis varas e
meia, acha-se este alpendre com dois portados, e um arco no meio tudo de pedra
arneira [...] tem uma cruz da parte da epístola de pedra jaspe com seu calvário de
Senhor Nosso, e um letreiro que diz assim – esta cruz mandou fazer Pedro António da
Nesta parte da igreja cujo aspecto era, essencialmente, igual ao que hoje nos apresenta,
haverá que realçar a existência de duas cruzes, uma delas integrada num painel de
azulejos e outra, semelhante às que se podem ainda ver dos lados da porta principal.
Sabe-se que em 1818 a última destas cruzes já deveria ter sido apeada dado que a
medição levada a efeito nessa data a não menciona referindo, contudo, o painel de
azulejos.
Que destino teve este painel? Não o sabemos. É possível que tenha sido destruído mas
gradeamentos de ferro, elementos sobre os quais não nos foi possível recolher qualquer
informação.
[...] e por baixo da dita cimalha real está o brasão das armas dos Portugais esculpido
em pedra jaspe o qual o seguram dois anjos feitos da mesma pedra, e por baixo das
mesmas armas na mesma pedra delas está um letreiro que diz as palavras seguintes:
MDXC4 [...].
Tal como o painel de azulejos atrás mencionado, também os tenentes do escudo dos
Portugais, os dois anjos, desapareceram sem deixar rasto e é esta a grande alteração que
Quanto ao letreiro, a leitura feita pelo medidor não foi a mais correcta pelo que aqui se
premiado com os bens e frutos deste templo, conselheiro e camareiro mor do rei D.
Sebastião e acabou e dedicou o dito templo à Virgem Maria Mãe de Deus, D. Lucas de
Para os leitores a quem a genealogia possa interessar aqui fica a nota que os referidos D.
Tem de comprimento trinta e seis varas e meia terça, com três postes de alvenaria para
maior segurança da parede [...] tem entre dois postes dos três já acima declarados, um
Existiram apenas, até à realização das obras de reconstrução das abóbadas do presente
século, seis dos actuais dez “gigantes” que reforçam as paredes da igreja. Quatro deles
localizavam-se a poente das portas laterais e dois a nascente das mesmas portas. Entre
Para além da sacristia que já referimos quando falámos da capela da Senhora dos
Prazeres, existia ainda deste lado da igreja uma outra construção, a tribuna da capela do
Este lado da igreja era, por excelência, a zona cemiterial razão porque existiam na
seguinte legenda : Esta obra mandou fazer Pedro da Vide Pais Capitão-Mor desta vila
Das restantes três, só uma apresentava um letreiro : Esta cruz mandou fazer Pedro
Francisco Martelo.
as torres sineiras com seis olhais, cobertas por cúpulas baixas, de meia laranja,
torres estão interligadas por uma varanda rematada por um frontão triangular.
exclusivamente obtida através das janelas situadas ao nível das simalhas, no corpo da
cenograficamente valorizada pela presença da luz vinda de cima, reflectida pelo espelho
Apenas uma última palavra relativamente às pinturas que se encontram espalhadas pelas
paredes da igreja.
Como vimos, existiam no primitivo retábulo da capela-mor, para além de outros que
porventura existissem nos outros altares, cerca de doze painéis pintados datando uns,
Não se sabe qual o destino destas pinturas dado que nenhuma das que ainda ali se
podem ver terá vindo daquele retábulo. Estas, que estiveram durante muito tempo
arredadas dos olhares do público, fechadas num anexo, provieram do antigo Convento
de Santo António e, sendo assim, deverão datar de princípios do séc. XVII, época da
São as seguintes, todas elas a óleo sobre tábua: A Sagrada Família (140x110 cm), S.
Boaventura (170x105 cm), Santa Luzia e Santa Bárbara (120x70 cm) e Santa Catarina e
A Igreja Matriz foi classificada Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 35532 de
15 de Março de 1946.
Situada num dos extremos da vila, junto à estrada que conduz a Alter do Chão, nos
limites de um dos antigos rossios da vila, o de Santa Catarina, a Igreja do Senhor Jesus
dos Mártires, vulgarmente chamada do Senhor dos Mártires, é o segundo templo a ser
séc. XVIII, a expensas de Frei Miguel dos Anjos, que no século deu pelo nome de
Miguel Cabedo, membro de uma antiga família espanhola cujo ramo fronteirense cedo
passou a Setúbal.
Poucos anos depois da sua construção foi esta igreja destino de muitas romagens por
Corre ainda, entre alguns dos fronteirenses de mais provecta idade, a memória desta
chuva miraculosa, se bem que noutra versão em que o milagre terá ocorrido antes da
edificação da igreja que viria a ser construída em consequência desse facto, como preito
de gratidão do pai de uma criança muda que, ao ver cair as flores, ganhara o dom da
fala.
A administração da ermida e dos bens a ela anexados andou, até 1835, na família do
instituidor passando, a partir dessa data, para a Junta de Paróquia. Esses bens eram
constituídos por:
Um ferragial murado com oliveiras, e várias figueiras, cujo estão de posse os ermitães
Uma morada de casas que por todas são duas defronte de Santa Catarina, que
Uma morada de casas altas, que por todas são duas com sua janela pegada à sacristia
da mesma igreja que costuma render três mil reis, e debaixo destas mesmas duas
Uma só casa com sua chaminé pela parte de trás da sacristia da mesma igreja e
no local.
Esta hospedaria deixou de ser utilizada como tal no primeiro quartel do séc. XIX visto
que a documentação produzida em 1824 já se lhe refere como os altos onde eram
hospedarias.
Como se deduz – e o caso repete-se em outras igrejas de Fronteira – a hospedagem era
O restante dos proventos da igreja era constituído por esmolas dos fiéis. Na Igreja do
Senhor Jesus dos Mártires existia, aliás, um interessante tipo de oferenda para
seu peso, em trigo, para o que havia na ermida uma balança grande de ferro com pratos
de madeira.
Relativamente afastada do centro da vila, a igreja tinha a maior afluência de fiéis nos
Páscoa, dia em que era visitada pela procissão que percorria a vila, com a participação
O templo que se achava com grandes problemas de infiltração de água nas coberturas,
foi objecto de um restauro geral em 1991. Datam desse ano a pavimentação do interior
do templo com tijoleira, em substituição das antigas lajes de xisto, o rodapé de azulejos
Facto curioso era o da existência de um poço ou cisterna no interior da igreja, cuja boca
No dizer do Prof. Doutor Vitor Serrão, autor do parecer para classificação desta igreja
qualidade artística, quer pelo seu prospecto arquitectónico centralizado, quer pelo
recheio complementar.
Obra do primeiro quartel do século XVIII, com a sua estrutura barroca de ângulos
romana, que se filia em modelos lisboetas do tempo de D. Pedro II. Acresce que o belo
templo preserva também um inestimável recheio, com realce para o excelente retábulo
pelo arquitecto régio João Antunes, assim como boa azulejaria lisboeta de pintura azul
e branca, do “ciclo dos grandes mestres”, com cenas da Paixão (segundo modelos de
Barocci através de gravados de Cornelis Cort), azulejos esses ligados acaso à escola
de Oliveira Bernardes.
Não se trata de uma peça característica do Barroco alentejano, antes uma adopção
[...].
A Igreja de São Pedro situava-se no rossio do mesmo nome, junto à estrada que de
Fronteira segue para Cabeço de Vide, muito provavelmente no local onde até há não
Desconhece-se a data da sua fundação mas sabe-se que existia já em 1581, ano em que
para lá foi transferida a antiga imagem de Nossa Senhora da Vila Velha e que, pelo
dia 8 de Agosto de 1810, data que pode servir como marco do seu definitivo abandono.
Em 1837 encontrava-se já demolida e a sua pedra foi vendida em hasta pública para
Esta era, como já anteriormente se disse, a segunda mais antiga igreja de Fronteira cuja
Situada a curta distância da Igreja de Nossa Senhora da Vila Velha, esta ermida estaria
viria ainda a despender 200 rs. com dois romeiros de Santiago da Galiza de passagem
por Fronteira.
Antes de mais, convirá esclarecer que houve em Fronteira duas igrejas com essa
invocação.
medieval que existia ainda em princípios do XVII, época em que foi demolida e
substituída por outra do mesmo orago como se verá no seguinte documento da
Dom Filipe como governador, etc. faço saber aos que esta minha carta virem que
que os visitadores da dita ordem acharam no termo da dita vila uma ermida de Santa
Catarina anexa à Igreja Matriz dela com muita indecência por estar em um ermo
e se fizesse outra do nome no arrabalde da mesma vila, e que eles movidos do amor de
Deus e devoção que têm à dita santa determinaram edificar de novo a dita ermida à
sua custa pedindo-me lhes confirmasse a licença dos ditos meus visitadores e lhes desse
licença para poderem acabar a dita ermida que tinham começado junto da dita vila de
Fronteira porquanto conforme aos estatutos da dita ordem a não podiam edificar sem
minha licença. E havendo eu respeito ao que alegam e terem principiado a dita obra
com licença dos ditos visitadores como constou por informação do Doutor João Gomes
Leitão um deles, por esta dou licença aos sobreditos que façam e acabem a dita ermida
de Santa Catarina que têm começada a qual farão à sua custa conforme a escritura de
obrigação que para isso fizeram e me foi apresentada que parecia ser feita na dita vila
de Fronteira por Francisco Mendes em ela também morador [?] aos sete dias do mês
de Junho do ano de 605. E por esta hei por confirmada a licença dos ditos visitadores
com declaração que eles sobreditos e os oficiais que pelo tempo forem da dita ermida
obedecerão aos meus visitadores, aos quais mando a às mais pessoas a que pertencer
que cumpram inteiramente esta minha carta a qual se registará no fim da visitação da
ordem da igreja matriz da dita vila de Fronteira e se cumprirá sendo passada pela
chancelaria da ordem, e por firmeza disso lha mandei dar selada do selo pendente
Temos, então, a igreja primitiva que se situava em local incerto e que terá sido demolida
nos primeiros anos de seiscentos e a segunda, mandada construir por Manuel de Simas e
Lourenço Pires cuja edificação teve início em 1605, situada no antigo rossio de Santa
São escassíssimas as informações relativas quer à primeira, quer à segunda das igrejas.
Para além das nomeações de ermitões entre os anos de 1578 e 1650, a igreja de Santa
Catarina só nos surge mencionada em 1628, quando Afonso Martins Davide, Escrivão
entregue a Bastião Fernandes, tecelão, por ser pessoa de boa vida e costumes e de boa
consciência.
Ora o facto de a igreja não ter quem pedisse para ela – era essa a missão do
Requereram na vereação atrás algumas pessoas desta vila abaixo assinadas aos
oficiais da Câmara que eles vendo estar a Igreja de Santa Catarina há tantos anos
caída em terra e sem confraria tão pobre que não tem renda alguma com que se possa
gostadouros da sua coutada do povo que está semeada e que todo o produto que render
Posteriormente, mas ainda no mesmo ano, a igreja foi utilizada para diversos fins
servindo, inclusivamente, de sala de teatro, função essa que se terá iniciado com um
pedido que uma sociedade desta vila fizeram a esta Junta de Paróquia de lhe conceder
licença para na Igreja da ermida que foi de Santa Catarina, estabelecerem ali um
teatro para em celebração do nascimento do Nosso Augusto Príncipe fazerem ali uma
representação de festejo.
Esta actividade deve ter cessado poucos anos mais tarde visto que existem, em 1865,
referências a um casarão no rossio de Santa Catarina o qual serviu de teatro, para ser
mais tarde retomada, dado que as referências ao teatro nos surgem novamente em 1882
Esta igreja de que hoje não restam quaisquer vestígios, situava-se a alguma distância da
vila, em local elevado, na zona designada por Serra de São Miguel, junto a uma antiga
estrada que atravessava a Ribeira Grande um pouco mais a poente, no Porto dos Melões.
no cabeço de Vaiamonte.
Outros autores remetem para uma maior antiguidade da fixação humana no local,
defendendo a hipótese da existência de um castro, o que de facto não vai contra o que é
Porém, uma vez mais, movemo-nos em território semeado de dúvidas que só a pesquisa
assinalado desde 1570. Em 1720 havia mesmo dois frades ermitães nela residentes e nas
A festa desta santa era, aliás, a mais importante das que aí se realizavam nela se
rs.
Esta festividade que tinha lugar no terceiro domingo de Setembro deixou de se realizar
com regularidade em 1811, ano em que a igreja deve ter deixado de servir ao culto.
Ao contrário do que sucede com a grande parte dos edifícios religiosos que temos vindo
a historiar, chegaram até nós alguns dos documentos mais antigos relativos ao Convento
por transcrita:
Ano do nascimento de Nosso senhor Jesus Cristo de mil seiscentos e dez anos aos oito
dias do mês de Setembro do dito ano; em a Igreja matriz desta vila de Fronteira onde
estava presente o reverendo padre frei João do Porto Ministro Provincial da Província
da Piedade; e o reverendo padre frei João da Guarda pregador e definidor da mesma
província; e assim outros padres convém a saber frei Luis de Lisboa pregador e frei
frei Gonçalo Maciel Prior da dita igreja, e o padre Manuel Correa Vigário da Vara em
esta vila, e o Senhor Dom Lucas de Portugal comendador desta vila, e o licenciado
Diogo de Oliveira Juiz de Fora desta dita vila, e Gonçalo Vaz Pinto, Provedor da Casa
governança da terra, e outra muita gente do povo sendo assim todos juntos, pelo Padre
Ministro Provincial lhes foi comunicado e dito que ele com os mais padres atrás
nomeados tinham vindo a esta vila para nela edificarem um mosteiro dessa Província
por lhes ser pedido à instância deste povo no capítulo provincial que ora se fez na
cidade de Évora e que para efeito do dito convento se principiar, era necessário darem
recolhimento mais acomodado que nesta terra havia eram as câmaras da Casa da
Misericórdia; por estarem junto à igreja em que podem dizer missa, e celebrarem os
ofícios divinos. E assim mais tinham escolhido sítio para edificarem o dito convento e
lhes pareceu mais acomodado, e conveniente um chão que ora possui Francisco
Mendes procurador do concelho; por estar junto a esta vila, e duas ortas uma que ficou
hão-de dar a Fonte Nova que é deste concelho, livre para ficar dentro da cerca do
concelho; e assim mais lhe hão-de abrir uma fonte no cabouco que está na horta de
Manuel Manhãs para nela recolherem toda a água que houver no sítio da dita orta
para a levarem por cano à cerca do dito convento. E assim mais se havia de obrigar
dos nobres como mecânicos mui livremente disseram que eram contentes; que os
religiosos que vierem a esta vila correrem com as obras do dito convento se agasalhem
nas câmaras da dita casa; enquanto não houver recolhimento no convento para se
poderem agasalhar e que eles da sua parte consentiam e eram contentes que se
edificasse o convento no sítio atrás declarado, pelo mesmo modo e maneira que o
Padre Ministro o tem pedido sem encargo de ser foreira a dita casa. E sendo presente o
Padre Diogo Subtil Cardoso clérigo de missa morador nesta vila por ele foi dito que ele
sapateiro outra tanta terra quanta lhes for tomada para a cerca e cas do convento; e
assim lhes comporá as benfeitorias que tiverem feitas mesmo em terra dele Padre
Diogo Subtil em caso que eles a não queiram dar livremente para este efeito; a qual
terra lhes dará nas terras da Raposeira termo desta vila: e para cumprir e guardar
disse que obrigava sua pessoa e bens móveis e de raiz. E logo pela gente nobre e da
governança desta terra, e mais povo dela por eles todos juntamente a uma voz foi dito
que eles se obrigavam a fazer o dito convento à sua custa e o darem de todo acabado
aos ditos Padres para nele poderem morar com todas suas oficinas ordinárias. E assim
mais se obrigam a pedir a Sua Majestade que das rendas do concelho se dê todos os
anos enquanto durar a obra uma certa quantia de dinheiro para se despender na dita
obra. E disseram que queriam que o oráculo do dito convento fosse de Santo António e
por de todo serem contentes assinaram aqui o dito Padre Ministro Provincial e mais
religiosos atrás nomeados que com ele vieram, Prior e Vigário e Dom Lucas de
obra oferecidas pela Câmara, Misericórdia e pela generalidade da população desta vila,
lançamento da primeira pedra pelo então bispo de Elvas, D. Rui Pires da Veiga.
È impossível, dada a escassez das informações disponíveis, dar hoje uma ideia da traça
Cristo.
Sob o pavimento da capela-mor existia uma cripta, jazigo da família dos comendadores
escudo de armas, esculpido em pedra mármore, adornava uma das paredes da mesma
capela.
Rei Dom Sebastião g.s.f. A.. [?] neto de Dom Francisco da Gama segundo Conde da
primeiro Conde de Vimioso a qual capela mandou fazer para seu enterro somente e de
filho Dom Francisco de Portugal e de Dona Antónia da Silva filha de Dom Antão de
Almada e de Vicência de Castro casado com Dona Cecília de Portugal filha de António
comenda Dona Cecília de Portugal mandou fazer o retábulo e carneiro para todos os
seus descendentes.
Trindade, Heitor Mendes Castelo Branco, Gonçalo Vaz Pinto de Sousa, Afonso Martins
de Brito, Catarina Tavares e uma outra de que não ficou notícia epigráfica mas que, a
avaliar pela descrição do brasão, deve ter pertencido a qualquer dos membros da família
Moniz.
Em termos patrimoniais os frades dispunham para seu sustento, para além dos terrenos
já mencionados, dos rendimentos de diversos legados e privilégios que lhes foram sendo
de uma arroba de açúcar em pó, uma arroba de açúcar em pedra, uma arroba de figo
escolhido e quatro dúzias de pescadas secas a que acresciam mais 3600 rs. de peixe pela
sabão por semana, 10 varas de pano de linho por ocasião da Feira de São Pedro e uma
carrada de lenha por cada cinco carradas de trigo que os carreteiros levassem da vila.
A Santa Casa da Misericórdia, por sua vez, suportava as despesas feitas com a
assistência médica e medicamentosa dos religiosos e era responsável pela doação anual
de 15 alqueires de trigo.
Dos legados particulares, o mais vultuoso foi instituído por Dom Lucas de Portugal, no
O destino do Convento de Santo António foi, à semelhança de tantos outros, após a lei
das Audiências ainda aí ter funcionado entre 1836 e 1841, o imóvel sofreria
irreversivelmente os danos causados pelo tempo e pela pilhagem até ficar reduzido ao
encontrou, reduzido a vergonhosas ruínas e até uma boa cisterna, por larga e profunda,
se vai entupindo.
Essas ruínas viriam, em 1879, a ser adquiridas por um particular que em 1900 as
venderia a Francisco Cordeiro Namorado de Carvalho que sobre elas mandou construir
uma belíssima casa de habitação com traça do famoso arquitecto Ernesto Korrodi.
Para além destas igrejas já desaparecidas, temos ainda notícias de outras se bem que
nada se saiba sobre elas, tão pouco sobre a sua localização. Estão neste caso a Igreja da
Santa Cruz e a de Santo António de que temos notícias nas últimas décadas de 1500.
Sobre a de São Braz, situada no rossio do mesmo nome, falámos já noutro local.
Se bem que não estejamos aqui em presença de um templo no sentido em que a palavra
tem vindo a ser empregue, não podíamos deixar de referir neste capítulo, ainda que de
forma breve, o conjunto de nichos situado na Herdade da Pena Roia, junto à Ribeira
Grandemente arruinados pelo tempo e mais ainda pelo vandalismo, só dois dos nichos
construídos com lajes de xisto aparelhadas com cal, apresentam ainda vestígios do seu
Num deles, mais exposto aos olhares e às mãos dos visitantes são ainda visíveis
imagens de rostos e o que parecem ser partes de letras hoje impossíveis de decifrar. No
segundo, pela sua localização mais protegido dos homens e dos elementos, a pintura
manteve-se em muito melhor estado de conservação sendo, por esse motivo, possível
identificar, sem margem para dúvidas, a imagem representada como Maria Madalena.
Estamos, pois, em presença não de um local de culto do padroeiro da ordem militar que
detinha o senhorio da vila, como o nome do sítio sugere, mas sim daquela a quem Cristo
O culto desta santa teve um forte desenvolvimento na segunda metade do séc. XVII e
princípios do séc. XVIII, período em que se deve situar a construção ou recuperação dos
nichos o que é também confirmado pela tipologia das letras ainda visíveis.
Tudo o que conseguimos apurar, através de pessoa felizmente ainda viva, é que, há já
muitos anos, as pessoas do povo tinham por hábito depor merendeiras nos nichos, em
4.1.8.7 Cruzeiros
A Cruz de São Brás, situada no rossio do mesmo nome é actualmente o único cruzeiro
existente em Fronteira.
das feiras, de onde foi removido para a sua localização actual por ocasião da construção
do Palácio da Justiça.
encontrava em 1573, ano em que a Câmara Municipal despendeu cem reis com Álvaro
Continua ainda a celebrar-se junto ao cruzeiro, no dia do orago, a Festa da Santa Cruz
que, como anteriormente vimos, tinha lugar na Igreja do Senhor dos Mártires. Para
tanto, na noite de 2 de Maio, acende-se uma fogueira junto do seu calvário e enfeitam-se
os braços da cruz com capelas de flores, enquanto que ao seu redor decorre o popular
Relativamente a esta fogueira ritual da Santa Cruz, cremos ser uma das únicas senão a
A festa era antigamente organizada pelas mulheres que trabalhavam no campo. Às duas
capelas até ao seu destino. Depois, sentados em bancos em redor da cruz, os mais velhos
é de rosas encarnadas
puseram-nas as solteiras
é o sangue de Jesus
dos quais, infelizmente, só os nomes chegaram até aos nossos dias. Eram eles a Cruz
4.1.8.8 Alminhas
Bordejando a Estrada Nacional 245, nos arredores da vila, no Alto dos Foros e junto à
ponte da Ribeira Grande, existem dois nichos, à maneira de alminhas cuja edificação se
4.2.1 Coreto
Fronteira.
dado que não só era propriedade da Igreja Matriz como também se encontrava
Informações mais recentes, reportando-se aos finais do séc. XIX, dão-nos conta das
Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e noventa e nove
aos dezassete dias do mês de Dezembro do dito ano, nesta vila de Fronteira e sala das
que ele fez lançando repetidos pregões à porta da Igreja Matriz, dando por fim sua fé
de que o menor lanço que tinha recebido era de setenta mil reis, oferecido por
Francisco Rodrigues Gomes, casado, carpinteiro e residente nesta dita vila, em vista do
sobredito Francisco Rodrigues Gomes pela referida quantia de setenta mil reis,
sujeitando-se ele arrematante e seu fiador e principal pagador adiante mencionado, às
condições seguintes:
mês de Dezembro
2º. Toda a madeira empregada será de casquinha, além das vigas e pavimentos que
3º. O pavimento do coreto será formado por baixo de modo que não se vejam as vigas e
oleado competentemente.
5º. A pintura será toda a óleo da cor que a Junta escolher com duas mãos de verniz
cristal. Os entalhados terão os devidos dourados. Pela mesma forma oleará também o
claro que a planta apresenta inferior à lira será entalhada uma rabeca e um arco da
mesma.
Quinto – As quatro colunas deverão ser assentes em pedra arneira com o devido
aproveitar das madeiras e ferragens do coreto velho e somente dos fusos que servirão
de novo.
Sétimo – A Junta poderá mandar fiscalizar por um perito de sua escolha a construção
trabalho que ali tiver empregado e podendo a Junta mandar construir o resto por sua
conta.
Oitava – Se a Junta tiver de recorrer aos tribunais para fazer cumprir algumas destas
condições todas as despesas de custas e selos serão pagas pelo arrematante infractor.
da obra e a Segunda só quando a obra estiver completa e aprovada por dois peritos
que serão chamados pela Junta e os jornais destes pagos pelo arrematante.
vila, que estando presente declarou que ficava por fiador e principal pagador
Junta.
Apesar de construído de novo, o coreto voltaria a ser, em 1917, objecto de novas obras
reconstrução efectuada em virtude dos grandes estragos nele provocados pelo ciclone do
século XIX e não, ao contrário do que repetidas vezes tem sido afirmado, durante o
século XVIII e as primitivas Casas da Câmara das quais nos ocuparemos em primeiro
lugar.
descrição que delas se fez em 1771, de um primeiro andar com cozinha e duas salas,
uma delas com uma janela de sacada de pedra arneira encimada pelas armas reais e de
um piso térreo com três divisões, uma delas utilizada como sala de audiências. O quintal
Este edifício sofreu ao longo da sua existência uma série de destruições que tiveram o
arquivo municipal.
viriam a deixar num estado que não se pode fazer junta nem vereação nelas. Os acasos
da guerra trariam, porém, uma vez mais, as armas de Castela até às muralhas da vila que
demolido.
Por informações datadas de 1704 sabemos que a Câmara já se reunia de novo nas suas
casas se bem que os vereadores se queixassem que a Casa das Audiências era utilizada
como cavalariça pelos moradores da vila, função essa que o tempo e o abuso viriam a
dificuldades orçamentais, poucas benfeitorias puderam operar pelo que, em 1784, face
vereadores do seu interior outro tanto sucedendo, no ano seguinte, com a documentação
existente no arquivo.
retificação das Casas da Câmara tão somente para se obviar na ruína irreparável que
qual se têm feito várias diligências e as casas acabariam por cair em 1799 ficando
Face à sua situação pouco dignificante, a Câmara voltaria, em 1801, a insistir que se
pedisse a Sua Alteza Real pelo seu Tribunal do Desembargo do Paço para conceder a
graça de se fazer a Casa da Câmara no sítio da cadeia dando-nos para isso licença de
bens do concelho por tantos anos quantos forem necessários. Mas, quinze anos depois,
tudo continuava ainda como antes e mais uma vez a Câmara requereu a autorização
necessária para proceder à venda do que restava das antigas casas o que efectivamente
pública pelo Capitão-Mor João Bernardo Matinca pela quantia de 210.000 reis, dias
depois da Câmara ter assinado com os herdeiros de Joaquim José Madeira Martinas o
contrato de compra das suas casas situadas na Praça, junto à cadeia, para aí construir o
livro e nesta vereação, o contrato que se praticou com os herdeiros do falecido Joaquim
José Madeira Martinas da compra das suas casas na Praça junto à cadeia, para Casas
poderem reedificar para ficarem com a perfeição e capacidade que se requer e pela
razão de se poder aproveitar parte dos altos da mesma cadeia, com salas para a
Que a Câmara tomava por conta do preço da venda, que foi de quatrocentos mil reis
em metal, livres para a vendedora de sisa, laudémio e mais despesas, a dívida de
trezentos e sessenta alqueires de trigo que o mesmo Madeira devia ao Celeiro Comum
desta vila, pelo preço de 530 rs. cada alqueire, obrigando-se a pagá-la com os
porém os acréscimos deste ano por conta da mesma vendedora pelo que era a dívida
do trigo, com os acréscimos deste ano 393 alqueires, que pelo dito preço de 530 rs. o
alqueire faz a quantia de duzentos e oito mil duzentos e noventa reis pelo que deduzidos
do preço da mesma compra fica sendo o resto de cento e noventa e um mil setecentos e
dez reis em metal que seriam satisfeitos à mesma vendedora logo que se cobrasse o
Que a vendedora poderia habitar as mesmas casas até à Primavera seguinte, porque
antes desse tempo não podiam por falta de meios do Concelho começar-se as obras, e
quando muito até São João gratuitamente. E porque as Casas da Câmara velhas no
estado em que se acham nenhuma utilidade dão a este Concelho, nem de futuro o
quem mais der, para do seu produto se poder dispor ou para as obras das casas novas
ou para aquilo que parecesse conveniente a esta Câmara depois de ter esta Câmara
arrematação o terreno que ocupava a Igreja de São Sebastião, que estava demolida,
contrato de venda.
Dor. Joaquim José Machado Sacoto que há muito está aberto, e por onde se servem os
moradores desta vila se concede todas as vezes que a pedem para obras de alvenaria,
não podendo por isso prejudicar os direitos do Concelho, em cujo Tombo não consta do
direito daquela servidão ; determinaram depois de ter ouvido sobre este mesmo objecto
o mesmo Doutor Joaquim José Machado Sacoto, que assentiu ao que fica exposto, que
ano pela última vez, e no tempo do tráfico de azeite aproveitar-se de alguma da água
da mesma cisterna precisa para o dito tráfico por assim o exigir o dono do lagar por
ter os poços entupidos e poder com tempo limpá-los ; declarando-se esta circunstância
no auto da arrematação para ciência dos pretendentes sendo esta declaração e acórdão
assinada pelo dito Dor. Sacoto a fim de evitar dúvidas que de futuro se pudessem
A construção das segundas e actuais Casas da Câmara, situadas no topo sul da Praça do
Município teve o seu início, por assim dizer, em 30 de Abril de 1831, quando em casas
e Menezes, aonde eu escrivão vim, estando ali o dito ministro e os actuais Vereadores e
Joaquim de Jesus mestre canteiro da vila de Estremoz, pessoas peritas na sua profissão,
a obra da factura e edificação das casas da Câmara, salas livres e enxovias da cadeia
no local que esta hoje existe, e no das casas que a Câmara comprou aos herdeiros de
necessários compreensivo das ditas obras das Casas da Câmara, salas livres, cadeias e
enxovias, e deferido o juramento aos ditos peritos para debaixo dele declararem em
sua consciência quanto orçavam as ditas obras segundo o apresentado risco que fica
excepto a parte das mesmas obras que respeita as casas de residência debaixo dos
números quatro, cinco, seis, nove e onze do plano inferior e as dos números cinco, seis,
sete, dez e onze do plano superior, por não ser esta obra de urgência e entender a
Câmara que pode ficar deferida para quando de futuro as rendas públicas e as
Câmaras julgarem conveniente fazerem-se. E logo pelo dito mestre Manuel Joaquim
dos Santos Galhordas foi dito que calculava a despesa das ditas obras quanto a mão de
oitocentos mil reis ; e pelo Joaquim de Jesus quanto a cantaria das cinco janelas
sacadas inclusive a que cobre o portado da entrada, as outras de peitos, o dito portado
da entrada, o arco ao princípio das escadas das Casas da Câmara, degraus desta
escada, lajedo dos patins e também as escadas da enxovia e salas livres, portado desta
entrada que é separado, patins, as Armas e tudo o mais que indicia o mesmo risco
orçava na quantia de trezentos e trinta e seis mil reis, fora os fretes ou condução da
As obras então avaliadas viriam a ser efectivamente arrematadas por 780.000 e 300.000
a construção das casas nobres de António Soares Franco e por Julião Gonçalves, de
Estremoz . De Évora viria também o autor das pinturas, de seu nome Luis, sobre quem
fornecimento da cantaria tosca fabricada com a pedra broeira que já estava arrancada
na Praça das demolidas enxovias, e da que estava por arrancar dos restos de algumas
paredes que ainda estavam de pé, destinada às janelas das enchovias da nova cadeia
desta vila e dos portados para a entrada das mesmas, empreitada que viria a ser
adjudicada a José Pereira, mestre canteiro da cidade de Évora, pela quantia de 60.000
reis.
O ritmo das obras, já de si complexas pela escala dos trabalhos, viria a coincidir com
figuras mais gradas da terra que, a título pessoal e gratuito, contribuíram com grande
O Capitão-Mor João Bernardo Matinca dez moios de cal e cinco milheiros de tijolo
Francisco de Paula Esteves seis milheiros de tijolo e uma jumenta três semanas a
acarretar água
O Sr. Sargento-Mor Joaquim Manuel Coppetto Barradas três moios de cal e treze
milheiros de tijolo
Pedro José da Costa Ramos três moios de cal e dois milheiros de tijolo
O Dr. João Bernardo de Souza dois moios de cal e dois milheiros de tijolo
Apesar das boas vontades, as obras desenrolaram-se com grande lentidão, ao longo de
nove anos, e somente em 27 de Maio de 1840 a Câmara reuniu pela primeira vez nas
suas novas instalações não obstante não estarem ainda construídos os esgotos cuja
teve lugar em 199?. Durante estes trabalhos, as escavações levadas a efeito no piso
cadeia concelhia.
4.1.3 Pelourinho
Logo no mesmo dia mês e ano no auto declarado perante o dito Doutor Juiz de Fora e
corda e medindo a dita praça do nascente para o poente acharam tinha vinte e três
E que este era todo de pedra mármore e o pilar e os degraus que eram três.
E que da escada para o cimo do pilar tinha este quatro varas e uma terça e é de quatro
peças e uma pilastra sextavada duas de prumo também sextavadas e na Segunda peça
da parte do norte de altura de vara e terça uma golilha de ferro de duas peças
embutidas na mesma pedra e na terceira peça duas comendas de São Bento nascidas
da mesma pedra uma virada uma virada quase a nascente e outra para o norte cuja
peça da dita pedra também é sextavada com três redondos e a quarta peça redonda e
torcida e cavada e nesta quatro argolas de ferro atravessadas e nas pontas cada uma
sua argola e a quinta e última peça também sextavada com um varão de ferro para
certamente muito anterior, datando provavelmente do início do séc. XVI. Como se vê, o
pelourinho encontrava-se então não no centro mas num dos ângulos da praça, frente a
uma das janelas da cadeia, junto à esquina que dá para a Rua dos Trigueiros, não se
baraço de fazer justiça que nos surgem inventariados entre os bens do concelho, em
1566.
Esta golilha de má memória não nos surge já referida numa descrição do pelourinho
elaborada em 1827 pelo que a sua remoção deve datar dos princípios do séc. XIX,
quanto podia ser identificado como símbolo de opressão do regime então deposto.
Relativamente a esta questão da utilização dos pelourinhos como locais de punição, que
tem levantado alguma controvérsia, lembramos que tal facto está bem atestado, por
seguinte trecho, extraído do título Da maneira que se há-de ter com os que padecem
por Justiça:
[...] E a mesma maneira se terá acerca dos que por justiça forem esquartejados cujos
quartos são postos às portas da cidade. E assim com os membros daqueles em que se
Mas a afirmação da jurisdição penal do município não era a única finalidade prática do
público, razão porque a Câmara aí fazia afixar os editais recebidos como aconteceu, em
para todas as pessoas que se quiserem queixar do bacharel José Alexandre Cardoso
Soeiro Superintendente dos Tabacos que foi desta Província, prática essa ainda corrente
Câmara da vila de Monforte para se publicar e fixar no pelourinho desta praça para
procedido à transferência para a nova localização. Porém, é muito provável que tal
Procurador do Concelho por se ter constatado que o pelourinho desta vila se ia de todo
arruinando e para o reparo do mesmo se rectificasse antes que de todo caísse o que
Com esse aspecto se manteve até 1865 ano em que a Câmara Municipal, na sua sessão
encontrado debaixo dele diversas moedas entre as quais duas de dez reis da época de D.
reconhecer.
Durante longos anos andaram depois as suas pedras dispersas até que em 1940 a
Câmara Municipal se decidiu pela sua reconstrução sem no entanto lhe devolver o seu
aspecto original.
uma largura de aproximadamente 4 m, uma ponte com dez arcos dos quais apenas nove
A esta ponte atribui-se, geralmente, uma origem romana se bem que tal informação não
Escrevendo sobre este monumento em meados do séc. XIX, o autor das Antiguidades de
Fronteira, baseando-se nos registos das actas da Câmara Municipal dos dias 3 e 9 de
Aos três dias do mês de Setembro de 1582 anos nesta vila de Fronteira na Câmara dela
estando aí fazendo vereação André Dias Davide e Manuel Tenreiro e Heitor Mendes
vereadores e António Luis procurador do concelho perante eles apareceu Brás Afonso
e Domingos Afonso pedreiros que estão obrigados a fazer a ponte e lhes disseram os
ditos vereadores e procurador do concelho que eles começassem a fazer sua obra a que
estavam obrigados da dita ponte porquanto eles vereadores estão prestes para lhe dar
dinheiro e que logo estavam prestes para lhe dar que fossem trabalhar e sendo
presentes os ditos domingos afonso e brás afonso disseram que eles ditos juiz e
vereadores e procurador do concelho lhe dessem todo o dinheiro que lhe estão a dever
que eram quarenta e sete mil reis ou o que na verdade for que eles estavam prestes
para ir trabalhar e pelos ditos juiz e vereadores e procurador do concelho foi dito que
Sábado até Domingo primeiro que vem que são nove dias deste dito mês lhe dariam
todo o dinheiro que lhe devessem do resto da dita ponte e para receber ficavam
requeridos os ditos pedreiros e o povo que não vindo no dito dia o dito Brás Afonso e
Domingos Afonso que procederão contra eles até ser preso e trazido a esta cadeia e por
de tudo serem contentes mandaram fazer este termo que assinaram com oss ditos juiz e
Aos nove dias do mês de Setembro de 1582 anos nesta vila de Fronteira na Câmara
dela estando aí o licenciado Francisco Lobo juiz de fora com alçada por el-rei nosso
senhor nesta dita vila e André Dias e Manuel Tenreiro vereadores e António Luis
Afonso outrossim pedreiro que estão obrigados a fazer a ponte desta dita vila e os ditos
juiz e vereadores e procurador do concelho lhe entregaram quarenta mil reis a cada
um vinte mil reis os quais se lhes deram para acabar a dita obra da ponte os quais lhe
deram aos ditos pedreiros por virtude de uma provisão de el-rei nosso senhor e fiança
Houve, efectivamente, obras na ponte naquele ano de 1582. Seriam, porém, as obras de
construção da mesma?
Puseram por postura que as pessoas que quiserem ir fazer barrelas as possam fazer em
todo o ano da banda de além da ponte desde os penedos que estão defronte do Rasteiro
Domingos Afonso. E não existe qualquer confusão quanto à ponte de que se trata
porque a regulamentação sobre as barrelas refere o Rasteiro que era o então nome do
moinho que ainda lá se encontra hoje em dia, a juzante da ponte, no topo da actual praia
fluvial.
ponte.
O Tombo da Confraria do Corpo de Deus de Fronteira refere-a, por duas vezes, em datas
anteriores, por ocasião do aforamento dos seus bens. A primeira nota surge-nos em
1448:
Uma courela que deixou Vasco Anes Centeio além dos olivais da ponte que parte com
outra courela do dito hospital e parte com outra courela de Afonso Martins Centeio [...]
e a segunda, em 1486:
Outra courela que está além dos olivais da ponte e entesta caminho de Alter e da outra
Perante estes testemunhos teremos, pois, que considerar os trabalhos levados a cabo em
que viriam a ter lugar, por exemplo, logo em 1604, em virtude da ponte se achar
De qualquer forma, cremos que a primitiva edificação datará de época bem mais
recuada e isto porque se encontra no trajecto de uma importante estrada que ligava as
Além desta estrada, também outra, proveniente de Benavila, com percurso pelo Monte
Branco e herdades dos Pintos e dos Sete Vales se cruzava com a primeira nas
Caminho de Abrantes, rota de escoamento dos produtos locais para os portos do Tejo.
No mesmo local situou o investigador Mário Saa, a passagem de uma via romana
importância, que por ela são prolongadas duas estradas reais que penetram até ao
As obras efectuadas nesta época conferiram à ponte muito do seu actual aspecto, tendo-
Maiores alterações sofreu o traçado da antiga estrada que viria a ficar muito à direita da
traçado para contornar, à meia encosta, o outeiro de Nossa Senhora da Vila Velha.
Além desta ponte existem ainda, sobre o mesmo curso de água duas outras pontes: a
Feita que foi a vistoria, declararam os pedreiros que a torre poderia cair havendo
de 1612, a Câmara mandou pôr em pregão a obra de demolição da torre, até à altura dos
telhados da Praça, quando já haviam começado a cair alguns pedaços dela, como se verá
do auto abaixo:
Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seis centos e doze anos em
esta vila de Fronteira ao derradeiro dia do mês de Janeiro do dito ano em as Casas da
Câmara dela estando aí o doutor Cristóvão de Abreu ouvidor deste mestrado de Avis e
bem assim Álvaro Martins Davide e Gonçalo Vaz Pinto e Manuel Cardoso vereadores
este presente ano e Fernão Dálvares procurador do Concelho logo pelos ditos ouvidor
e vereadores foi mandado a Simão Álvares porteiro deste Concelho fosse à praça e
mais lugares públicos dela e neles apregoasse que quem quisesse derrubar a torre do
relógio por estar começada a cair parte da dita torre e este povo o requeresse que se
derrube como consta de um [?] que ele dito ouvidor mandou fazer o qual está em poder
de mim escrivão e que quem quisesse lançar no desmancho da dita torre fizesse lanço
porque logo se havia de derrubar por estar muito perigosa pelo dano que pode fazer
caindo e assim mais que para todo o ladrilho que se puder tirar em cima do muro
fazendo primeiro da parte de baixo do muro uma parede de pedra e barro para não
furtarem o tijolo e assim mais porá a pedra mostradora sem perigo nenhum em cima do
muro e que derrubará até ao andar dos telhados da banda da praça e a mais pedra da
torre deitará na casa da sisa e no vão da torre e a que mais sobejar porá bem
concertada ao longo da casa da sisa e do Burrinho e nos mais lugares no redor em que
comodamente se puder pôr . E foi e veio o dito porteiro e veio e deu sua fé que ele
apregoara o desmancho da dita torre ontem Domingo e hoje dia desta arrematação e
nunca outro menor lanço achara que o que fez João Álvares pedreiro morador nesta
dita vila que fez lanço com todas as condições atrás escritas de doze mil reis fixos de
todos os custos para ele dito lançador e por não haver outro menor lanço mandaram os
ditos ouvidor e vereadores se lhe arrematasse por bem do que o dito porteiro se pôs da
janela da Câmara em voz alta dizendo doze mil reis me dão por desmancharem a dita
se aí ha. quem menos queira lançar venha-se a mim e receber-lhe-ei o lanço por que
logo se ha.-de arrematar e lhe meteu o ramo na mão diante de mim escrivão e das
testemunhas no fim escritas e o dito João Álvares pedreiro se obrigou logo por sua
pessoa a bem derrubar logo a dita torre pelo dito preço conforme a condição atrás sob
Câmara requereu ao Juiz de Fora de Estremoz que lhe enviasse um oficial o mais
experimentado que houver para fazer, juntamente com os oficiais da terra, um rascunho
da nova torre a construir, tendo o magistrado de Estremoz designado para esse efeito
Desse trabalho chegou até nós a versão final que a seguir se apresenta:
Apontamentos da Torre da Vila de Fronteira
Esta torre há-de ter de largo vinte palmos em quadrado ; e de alto de pé direito oitenta
palmo com duas cimalhas, e daí para cima , a pirâmide de trinta palmos de
Há-de ter três abóbadas, a primeira há-de ser no andar do muro, por onde há-de ter
serventia para a torre, e nessa altura há-de ter a primeira faixa, e o portado para a
A segunda abóbada há-de ser para as rodas, e engenho do relógio onde há-de ter uma
A terceira abóbada há-de ser na Segunda faixa, sobre esta abóbada hão-de assentar as
janelas.
Esta torre há-de ser toda vã, e há-de ter da primeira abóbada uma escada em voltas,
que não impeça os pesos com fresta que não fique escura.
As paredes da primeira abóbada até à terceira, hão-de ter de grosso quatro palmos.
Remates, cimalhas, e janelas, e portados, e cunhais, tudo há-de ser de pedraria parda.
Toda esta obra há-de ser guarnecida pela parte de fora, e de dentro rebocada.
E porque uma parede toma muito muro há-de ser derrubado tudo o que toma a torre, e
da petição e após terem sido avaliados os traço e apontamentos da obra, o rei deliberou :
Eu El Rey faço saber aos que este meu Alvará virem que os oficiais da Câmara da vila
de Fronteira me enviaram dizer por sua carta que na dita vila havia uma torre antiga
em que estava o relógio a qual por estar muito danificada arruinou de todo e ficou a
vila sem relógio, por não haver lugar decente em que se pudesse pôr. E me pediam lhe
fizesse mercê mandar que a dita torre se reedificasse de novo, para nela se tornar a
pôr o relógio, por não o haver na terra, e que para a despesa que na obra se fizesse, se
pusesse na dita vila uma imposição na carne e vinho, os anos que parecesse. De que
traça e apontamentos quue se fizeram da obra da dita torre, e lanços que em ela houve
dos quais o mais acomodado e seguro foi de quatrocentos e quarenta mil reis. E o
consentimento do povo e pessoas da governança para se pôr a dita imposição. Hei por
bem que a dita torre se faça e se reedifique conforme a traça que dela se me enviou e
que por tempo de quatro anos se ponha imposição na dita vila de um real em cada
arrátel de carne ; e outro em cada quartilho de vinho, que na dita vila se vender [...].
1613, sofria grande prejuízo a população em virtude de não haver relógio nesta vila pelo
que a Câmara determinou, na sua sessão de 13 de Maio seguinte, pôr na torre que está
junta à que caiu [...] uma casa de madeira pegada às ameias fora da parede e que a
madeira havia de ser de Leiria e havia de ter nove palmos de altura e oito palmos de
largo que ha.-de ter dez palmos de comprido que o sino ha.-de estar em direito das
ameias oito palmos de alto e ha.-de estar em cima de uma trempe de ferro em que o
Arrematada a obra por 13.000 rs., esta viria a ser executada por António Pinheiro,
Quanto à nova torre, a empreitada da sua construção foi adjudicada a André Francisco,
do ano seguinte a Câmara pôde mandar fazer vistoria dos alicerces já então abertos.
capazes de suportar a obra pelo que foi necessário refazê-los. Daqui se depreende que a
edificação da torre deve ter tido o seu início em fins de Abril ou princípios de Maio
daquele ano e viria a ficar concluída no dia 19 de Julho de 1618, data em que a Câmara
Municipal a vistoriou pela derradeira vez e deu quitação à viúva do empreiteiro André
de um sino novo, a autarquia requereu ao rei que, para esse fim, lhe fizesse mercê dos
rendimentos dos bens de raiz do concelho, pretensão que o que o monarca deferiu pelo
Dom Filipe por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquém e de além mar
em África Senhor da Guiné etc. faço saber a vós Provedor da Comarca da Cidade de
oficiais da vila de Fronteira,, por que me pediam lhe fizesse mercê, que do dinheiro dos
bens de raiz se reformasse o sino do relógio, e se consertassem algumas rodas dele que
estavam quebradas. Hei por bem que dos ditos bens de raiz se tomem os setenta mil
reis que dizeis que serão necessários para se reformar o dito sino, e rodas do dito
relógio, os quais despenderão nisto somente o que se fará por vossa [...].
Pela mesma altura e atendendo à muito grande devassidão em se levar a pedra que
sobeja da torre a qual pedra é deste concelho e puseram de pena que toda a pessoa que
levar alguma pedra quer seja muita quer seja pouca achada ou provado de dia, ou de
Entretanto, o relógio viria a ser reparado pelo já antes mencionado Francisco da Mota e
E logo nesta Câmara os ditos juiz e vereadores, a campa tangida, mandaram chamar
Francisco Fernandes deu sua fé que apregoou na praça pública desta vila que todo o
povo se ajuntasse hoje nesta Câmara para se contratar com ele a qual dos dois oficiais
sineiros se daria obrigação de fazer o sino para o relógio, e sendo juntos muitos
vereadores lhe puseram em prática que nesta vila havia dois homens que queriam fazer
o dito sino : Luis de Cigussano [?] estrangeiro, e outro homem morador desta vila
casado com Leonor Martins, e porque o da terra queria fazer o dito sino do relógio por
preço de trinta reis cada um arrátel de feitio, e o Luis de Cigussano queria fazer o dito
sino por preço de trinta e cinco reis cada um arrátel de feitio, uns foram de parecer que
o mais caro, e outros que o mais barato se aceitasse os ditos juiz e vereadores o
puseram em votos, e votando houve muitos mais votos que se aceitasse o mais caro por
as seguintes condições:
[...] o sino será muito bom e a contentamento desta Câmara e do povo e será visto por
oficiais que bem o entendam, e que à sua custa há-de levar o metal à cidade de
Portalegre, e ha-de trazer o sino feito, e pô-lo em seu lugar onde há-de estar para
sempre a seu risco, e caso que haja algum desastre será à sua custa, e se for de ruim
voz, de modo que este povo e Câmara não seja contente que o tornará a refundir à sua
custa, e lhe dará este povo toda a ajuda e gente, e calabres, e cordas necessárias para
Porém, por razões que desconhecemos, o arrematante não viria a honrar o contrato pelo
sem embargo do dito sino sair da fundição imperfeito de modo que não tinha as asas
todas acabadas, e [a] do meio de todas que é a principal estava de todo por fazer, e por
o corpo do dito sino sair muito bom, e formoso, e o dito sineiro lhe consertar as ditas
asas de tal modo que o dito sino foi levado pela perqua acima à torre do dito relógio
onde está ainda hoje posto e ter muito boa toada eles ditos vereadores o aceitam.
Em 1790, o tear do relógio foi apeado e levado para a cidade de Elvas onde grande parte
Não esqueçamos que, até há poucos anos, este sino era também utilizado para tocar a
rebate em casos de incêndio, o que, só por si, justificaria as preocupações com a sua boa
conservação.
A própria torre, se bem que de boa construção, foi sofrendo os efeitos do tempo,
especialmente na sua parte superior pelo que, em 1878, na sua sessão de 10 de Abril, a
autarquia decidiu aprovar o orçamento para a compra de 150 azulejos brancos e 250
reparação que se refere o letreiro que ainda hoje se pode ler na face sul da dita torre.
A última grande reparação de que temos notícia teve lugar em 1903, ano em que o
grandes proprietários locais, situadas ao longo da Rua dos Trigueiros. De entre estas
sobressai, pela sua traça e dimensões, a residência da família Soares Franco, construída
Abril de 1967 em cuja sala de audiências se encontra aquela que Mestre Martins Barata
Abril de 1929, com a presença das autoridades locais que se fizeram acompanhar ao
Merecem especial relevo, pela sua alta qualidade, os painéis de azulejos aí existentes, da
envolvidos por uma cercadura rocócó de folhagens e bagas, pela parte de baixo e, pela
A porta de acesso ao edifício está ladeada pelas figuras de uma ceifeira e de um tocador
primeiro está colocado junto ao local da batalha e foi erguido por iniciativa do General
O segundo, colocado no topo norte da Avenida Heróis dos Atoleiros, foi encomendado
pela Câmara Municipal de Fronteira, na década de 1940 mas, por razões que
se ergue actualmente.
5. OS HOMENS
5.1 FRONTEIRENSE ILUSTRES
Muitos foram os fronteirenses que por suas obras ergueram bem alto, ao longo do
séculos o nome da sua terra natal. De alguns deles aqui deixamos uma breve memória,
Compôs Salmos, Missas, Hinos, uma Missa Especial para Oito Vozes e, ainda, muita
música para cantochão. Foi mestre de capela no Hospital Real e nas sés de Évora e
Lisboa.
Pe. Afonso Vaz – Religioso da Companhia de Jesus, nasceu em Fronteira por volta de
1566. Foi, no dizer de A. Franco, homem de grandes prendas e talentos cabais, assim
coroou todas com a morte que teve no exercício da caridade. Saído de Lisboa na frota
comandada por D: Afonso de Noronha, em 1617, morreu, nesse ano, contaminado pela
António Carneiro – Poeta e historiador. Em 1585 foi nomeado vedor dos exércitos
espanhóis na Flandres. Durante o período em que ocupou este cargo escreveu uma
Historia de las guerras de Flandres desde el año de 1599 hasta el de 1609 y las causa
Calatrava.
Faleceu em 1702.
Órfão de pai, desde tenra idade, entrou para a Casa Pia em 15 de Junho de 1905, onde a
Januário Barreto.
Ainda na Casa Pia tirou o curso de telegrafia ministrado naquela instituição, saindo dela
de Divisão da qual viria a ser demitido, por motivos políticos e preso no campo do
Anos mais tarde, foi um dos fundadores do Casa Pia Atlético Clube de cuja turma foi
também capitão.
de Amsterdão, tendo integrado ainda, enquanto jogador, além do Casa Pia, a equipa do
úteis.
Notável foi, sem dúvida, o seu trabalho enquanto seleccionador e treinador, função que
Fundou, juntamente com o seu antigo companheiro casapiano Ribeiro dos Reis, o
juntamente com o inglês Walter Winterbotton, os dois técnicos de futebol mais cultos do
mundo.
Mestre Cândido, como era afectuosamente conhecido nos meios desportivos nacionais,
serviço evangélico.
Pe. Gaspar Cardoso – Nasceu em 1559, filho de André Cardoso e Inês Fernandes.
Escreveu Meditações para todos os dias da Semana Santa e Calendário Romano para
famílias de Portugal.
Universidade de Salamanca onde foi professor. Mais tarde, em Portugal, foi nomeado
praedicendi ratione libri VI. Item Judici magni Hippocratis, liber unus (1585).
Fr. Manuel Cardoso – Para a biografia desde grande músico do séc. XVII, dêmos a
António, nasceu o R. P. Fr. Manuel Cardoso; seus pais Francisco Vaz e Isabel Cardosa,
exercitaram em a melhor, que é a da virtude, e criando os filhos, que tiveram, com todo
o cuidado, este logo dos primeiros anos o dedicaram para filho de Maria Santíssima,
Senhora do Carmo. Para conseguirem os seus desejos, logo que foi de idade
competente, o mandaram para a cidade de Évora, para nela estudar Gramática, e arte
da Música, à qual se aplicou tanto, que em pouco tempo se fez destro nela, e depois
Nestes termos estava, quando sucedeu ir visitar o convento da mesma cidade de Évora
o M. R. Pe. MestreFrei Simão Coelho, Provincial, que então era desta Província, o que
sabendo seu pai, lhe veio falar, e lhe manifestou o ter dedicado aquele filho a Maria
Santíssima, para ser religioso, dando-lhe notícia assim do seu préstimo, como do seu
lhe mandou passar patente. Já era outro Provincial, quando ele tomou o hábito no
completos 19 anos de idade, professou aos 5 de Julho de 1589. O grande aplauso que
tinham as suas composições, o excitou a se aplicar com todo o desvelo a esta arte, e de
tal sorte o conseguiu, que foi um dos maiores, e mais insignes compositores, que houve
não só neste reino, mas em toda a Europa; mas sendo tão insigne nesta arte, nunca
usou dela, senão para compor o com que se louvasse a Deus na sua Igreja.
Tão grande estimação se granjeou, que não só era venerado dos Religiosos seus
irmãos, mas dos das outras sagradas Famílias, da Nobreza e Títulos da Corte, e até
das Pessoas reais, como bem se viu nos grandes favores, que lhe fez o Rei Católico
Filipe IV, quando levando-lhe à Corte de Madrid um dos livros, que compôs de Missas,
que dedicou à mesma Majestade, e como nela ia uma, que o mesmo Monarca lhe tinha
mandado dizer compusesse, o estimou tanto, que além das honras, que lhe fez, , lhe deu
uma boa esmola para vir para este Reino, e despachou a um irmão seu com o Hábito
Madrid, os dias que El-Rei assistia na Capella, lhe mandou que fizesse o compasso aos
O Senhor Rei D. João IV, de gloriosa memória, também o honrou muito, mandando-o
chamar muitas vezes ao palácio para tratar com ele sobre a arte da Música (da qual foi
também destríssimo compositor) e chegando a vir à sua cela, e lhe fez muitas outras
honras; e quando quis ornar a Livraria de Música da sua Real Capela, mandou fazer
retratos dos homens mais insignes desta arte, e entre eles lhe deu o primeiro lugar,
Os anos que viveu na Ordem, foi naquele convento; onde foi quase todo o tempo de
Sacerdote Mestre de Capela, e no mesmo foi muitos deles Subprior: a dita ocupação
exercitou com tanta perfeição, que ainda há vivas memórias na tradição de uns a
1650 e aí foi enterrado numa sepultura onde se lia: Aqui jaz o Padre Fr. Manuel
1650.
pesquisas de Eurico Gama na Biblioteca Municipal de Elvas, foi possível localizar com
exactidão a verdadeira data do nascimento do músico fronteirense que ocorreu quatro
A sua extensa obra foi, ainda de acordo com o seu biógrafo, publicada em seis volumes:
...altissimo el Cardoso
Para os mais curiosos por essa música da qual alguém disse ser mensagem eterna
porque servida pela Fé inalterável nos destinos do Homem, aqui deixamos, passe a
Cardoso: Requiem, Motets (Gimmel CDGIM 021), Manuel Cardoso, Duarte Lobo
Cultura.
Em 1774, com apenas dezasseis anos de idade, fez exame em Évora para professor da
cadeira de Latim desta vila tendo começado a leccionar no dia 1 de Julho daquele ano.
Excelente no seu magistério, às suas aulas acorriam alunos de localidades distantes.
Exerceu durante muito tempo a advocacia mediante autorização concedida pela Mesa
do Desembargo do Paço.
opúsculo dividido em duas partes – Que coisa é um Papa e Que coisa é um Bispo; uma
indulgências que os frades franciscanos arrogam pelo hábito de se lhes beijar a manga
De todas as suas obras, apenas uma chegou aos prelos. Trata-se da Colecção das
Oliveira, professor etc. Tiradas dos bons autores que sobre estas matérias escreveram,
Em 1819, cinco anos após a morte do seu autor, saiu uma nova edição, do livreiro Jorge
Rey, que entretanto adquirira a propriedade da obra. Apesar de muito inferior à primeira,
trabalhos foram precioso auxílio para várias gerações de estudantes, sem que o seu
Como não podia deixar de ser, em terra que foi em tempos a mais importante do
Mestrado de Avis, é evidente que nela floresceram também indivíduos e famílias que,
pela sua ascendência, pela sua riqueza ou pelos cargos exercidos tiveram foros de
fidalguia.
Essas linhagens cujas primeiras gerações aqui viveram, cedo se transferiram para meios
mais atractivos, nomeadamente Évora, Lisboa, Setúbal e Coimbra, onde lhes era
possível manter um estilo de vida mais de acordo com o estado social de que se
origem.
Algumas delas vieram mesmo a aliar-se, por via matrimonial, a grandes casas da
como sucedeu, por exemplo, nas casas condais de Murça, Galveias e Camarido.
consagrado à Igreja Matriz e outras que agora referimos como os Cabedos, Palhas,
Não é nosso intuito esmiuçar aqui as ramificações e alianças dessas famílias o que seria,
pelo menos, fastidioso pelo que remetemos o leitor mais curioso destas matérias para as
obras da especialidade.
indivíduos de cujas cartas de brasão há notícia certa, citar os nomes de Pedro Francisco
Cristo. As suas armas, concedidas por carta de 24 de Julho de 1703, são as que se
Como já, em parte, se viu no capítulo dedicado às igrejas de Fronteira, eram numerosas
Aquelas eram, no entanto, apenas uma parte de quantas aqui existiram e floresceram ao
cujo cartório chegou, em grande parte, até aos nossos dias, desapareceram sem quase
deixar rasto, de tal modo que, em princípios do séc. XX, se acha somente documentada
a existência de duas delas: a do Santíssimo Sacramento e a de Nossa Senhora da Vila
Velha.
sempre que possível, pelas respectivas datas de fundação ou, na falta destas, das de
A Confraria das Almas do Fogo do Purgatório foi erigida por provisão de 8 de Julho de
Rosário, foi uma das devoções mais fomentadas pela Igreja após o Concílio de Trento.
Dom João como governador, etc. faço saber que havendo respeito ao que na petição
atrás escrita dizem Afonso Garcia Moniz, Francisco de Paiva, António Pinto, António
por bem e me praz de lhes dar licença para que possam instituir e instituam a
Confraria de Nossa Senhora da Conceição sita na Igreja de Vila Velha na mesma vil,
que é da dita ordem de que tratam na petição visto ser para mor louvor de Deus e da
Confraria de Nossa Senhora da Conceição, invocação que viria a ser, por decreto de 24
Tudo leva a crer que entre os irmãos fundadores se encontram alguns participantes
cerca de vinte e dois livros mais alguns maços e documentos avulsos, de cuja existência
Um menino Jesus, em ouro maciço; dois cordões de ouro; três travessões de ouro; dois
broches de ouro; cinco fios de ouro; um anel de ouro; um colar pequeno, de ouro; uma
estrela de ouro; uma pulseira de ouro; cinco pares de brincos de ouro; duas medalhas
de ouro; três medalhas de esmalte, com aro de ouro; um cálix de prata dourada, com
patena e colherinha; um cálix de prata com patena e colherinha; três cordões de prata;
um resplendor de prata.
Fundada em 15 de Agosto de 1745. Tinha o seu altar na Igreja do Senhor dos Mártires,
onde se realizava a sua festa anual, com missa cantada e luminárias na torre da Matriz.
Esta confraria, habitualmente conhecida como de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos,
25 de Fevereiro de 1682, tirou o seu nome do facto de ser uma confraria de escravos, à
semelhança de muitas outras suas congéneres que proliferaram por todo o país. Tinha a
Relativamente a esta confraria queremos, antes de mais, esclarecer que não é certo que
tenha sido Santa Maria a sua verdadeira invocação mas, dado que a mesma não surge
honra e louvor de Nosso Senhor Deus e da Bem Aventurada Virgem Gloriosa Santa
Como já vimos, a primitiva igreja matriz de Fronteira era da invocação de Santa Maria,
Ora, o compromisso desta confraria é bem explícito quanto aos seus instituidores: [...]
Temos, portanto, uma confraria fundada, não por homens bons ou por mesteirais mas,
Em face disto, cremos que a confraria se terá constituído tendo, efectivamente, Santa
Maria por título já que, como orago da povoação, seria a única invocação
Á semelhança dos anteriores, o compromisso desta confraria chegou até nós através de
[...], bem como outras, regulamentadoras da acção assistencial aos pobres e peregrinos:
[...] se algum pobre quer seja vizinho quer peregrino adoecer pelo termo os confrades
mandem ou vão por ele e honradamente o tragam e todo o necessário lhe dêem e o
ministrem [...] e ao culto dos mortos: [...] e todos os confrades com candeias acesas
nas mãos lhe mandarão cantar uma missa por sua alma [...], terão candeias panos paus
cargo de mordomo ser aqui remunerado com uma dúzia de queijos em cada ano.
Miguel.
de São Pedro.
Desconhece-se a data da sua fundação dado que, do mesmo modo que a do Espírito
1486.
coisas que para o convite pertencem inteiramente as estabeleçam e de muito bom grado
vinho [...] E no tal dia os pobres e mesteirosos sejam companheiros [...]; ao socorro aos
confrades doentes: [...] Qualquer destes confrades se enfermo for seja vigiado de dois
vigiado de quatro ou cinco confrades [...], e à assistência aos pobres: [...] Esta confraria
Idênticas eram também as sanções disciplinares: [...] Se algum confrade disser ou fizer
injúria ou ferir algum confrade seja posto quando todos os confrades estiverem em
cabido em um esteio onde em penitência pela tal coisa com uma vara lhe darão dez
pancadas [...].
situação de cativeiro dos confrades, não contemplada nos estatutos do Espírito Santo,
está aqui prevista: [...] se algum confrade for cativo que lhe dêem para seu livramento
Erigida na igreja da sua invocação, à qual andava anexa a albergaria, a confraria era,
certamente, uma das muitas solidariedades que ao longo da rede viária medieval
seu patrono na Igreja Matriz, na capela que está despejada junto à porta travessa.
Os três compromissos anteriores chegaram até nós incluídos num livro do tombo dos
Antes de mais, julgamos conveniente tentar uma breve explicação das causas desta feliz
todos os pequenos hospitais até então existentes na cidade, numa grande e moderna
Dentro desse mesmo espírito de renovação, o mesmo monarca alcançou ainda, do papa
Inocêncio VIII, em 1485, autorização para reunir os vários hospitais de cada localidade
num só hospital.
Foi neste contexto, cremos, que, logo no ano seguinte de 1486, Fernando Cardim,
escudeiro do rei e seu ouvidor no Mestrado de Avis, se terá deslocado a Fronteira onde
fez registar os compromissos das confrarias cujos bens e funções devem ter sido, nessa
Esta era também uma confraria de homens-bons, tal como a de São Tiago e a do
Espírito Santo.
juiz, um mordomo e um escrivão, eleitos, por maioria, por períodos de três anos.
Domingo.
Para além destas receitas, a confraria contava ainda com outros rendimentos
legadas.
circunstância porque [...] pelo dito Ouvidor foi dito que assim era verdade que ele viera
a esta vila por correição e achara por informação em como a dita Confraria do Corpo
de Deus andava de todo mal ordenada. Em tal maneira que muitos bens da dita
confraria andavam em alheados e fora da dita confraria e usurpados dela assim por
afeição que os oficiais que os bens haviam de reger e ministrar como para aqueles que
específica, em outra parte do mesmo documento: [...] E logo o dito Ouvidor e Juiz e
Mordomo e confrades com acordo dos homens-bons da dita vila que presentes estavam
acordaram que por as herdades e vinhas e olivais andarem a melhor recado e se não
sonegassem e perdessem as rendas dos ditos bens como se até agora mostra que
perderam e se não pode haver modo por que venham à verdadeira perfeição que se
ponha tudo em pregão e que as aforem a quem por elas mais der e lhes façam delas e
cada uma delas cartas de aforamento e se ponham por instrumentos públicos em este
livro da dita confraria em tal maneira que a todo o tempo possa tudo vir à verdadeira
perfeição [...].
Esta confraria na qual foram, como já vimos, integrados os bens de outras instituições
de assistência de menores dimensões viria a ser, por sua vez, integrada na Irmandade da
Deus e da Virgem Maria Senhora Nossa. Porquanto a Confraria do Espírito Santo está
levantada em uma ermida junto a vila que é da Ordem de Avis conforme as visitações e
instituições da ordem e bula de Inocêncio Papa IV há-de ser confirmada por Sua
nós os mordomos que hoje somos e em nome dos que ao diante forem considerando são
obrigados ao serviço de tão alto senhor movidos com devoção e obrigados com muitos
e mui grandes benefícios que deste senhor temos recebido devemos de nos mostrar
agradecidos a tantas mercês para que cada dia as recebamos maiores aprovados todos
de livre vontade com ânimo alegre e devoto coração, nos queremos juntar como de
facto juntamos nesta confraria, a qual queremos seja chamada do Espírito Santo para
que todos os confrades benfeitores dela gozem dos benefícios dela e para maior
Capítulo I
queremos que os mordomos que hoje são e em nome dos que ao diante hão-de forem
que por virtude deste capítulo se lembre aos senhores da Câmara da obrigação e
costume que têm e assim às eleições que fizerem de mordomos assista o Prior da matriz
Capítulo II
Ordenamos que se cumpra o que é costume dizer-se uma missa rezada todas as
quartas-feiras pelas almas dos confrades benfeitores e assim se fará o que se faz por
dia do Espírito Santo que é procissão da matriz à dita ermida com vésperas e missa
Capítulo III
Ordenamos que se faça um ofício inteiro de nove lições em cada ano pelo oitavário dos
Santos ofertada com a oferta costumada pelas almas dos confrades benfeitores e assim
se haverá bula de Sua Santidade com júbilo e perdões para que esta ermida e confraria
vá muito avante.
Capítulo IIII
Ordenamos se peçam as esmolas costumadas pela vila, termo e lugares para o qual
peditório só haverá [.?.] de Sua Majestade e assim os mordomos não possam ser
constrangidos o ano que servirem a dita confraria a serviço algum para que melhor a
Capítulo V
Ordenamos os oficiais que ora somos porquanto esta confraria tomamos por devoção
havendo muitos anos que não havia quem a servisse Sua Majestade haja por bem
sirvam o cargo de mordomos e escrivão enquanto a obra da dita ermida durar para que
assim se acabe e vá muito avante e acabada a dita obra haverá eleitos na forma
costumada e faltando alguns dos que ora são eleitos por morte ou ausentando-se da
Capítulo VI
Ordenamos não ser visitados por visitadores da Ordem nem por provedores da
comarca, nem tomadas contas por pessoa alguma senão por visitadores de Sua
Majestade como mestre ou seu juiz da ordem pois é sua a igreja onde temos a tal
Capítulo VII
Ordenamos que vigário algum da vara nem seu meirinho nem escrivão entenda com a
dita confraria em coisa alguma dela nem de seus bens e que se a dita confraria tiver
fazenda seja deitada em pregão por tempo de um ano ou aquele que parecer ao Juiz da
Ordem da comarca para que se arrende a quem mais der por ela, o qual arrendamento
parecer, mas assinando ele dito juiz sempre em tudo ainda que não seja presente lhe
serão enviados os autos para se fazer, os quais arrendamentos fará sempre com
informação e parecer do prior, mordomos e juiz da dita confraria como lhe parecer,
digo e sendo os pareceres diferentes a mandará arrendar como lhe parecer que convém
Capítulo VIII
Ordenamos que as dívidas que se deverem passante de mil reis se pedirão e serão
citados os devedores que as tais dívidas deverem perante o juiz da ordem da comarca
os quais ele fará pagar como lhe parecer justiça e sendo de mil reais abaixo as fará
pagar o prior da dita confraria, digo o prior da matriz onde a tal confraria temos
Capítulo VIIII
Ordenamos que se não possa diminuir nem acrescentar capítulo algum neste
compromisso sem primeiro ser visto e aprovado por Sua Majestade a quem como
queremos que por seus juizes e ministros da Ordem seja visitada esta confraria e
tomadas contas e por outra pessoa alguma não, pello que como tais ficamos sujeitos à
Ordem gozando de sua jurisdição. Tem esta ermida o foro de umas casas que rendem
quinhentos e cinquenta reis de foro em cada um ano, não tem esta confraria mais bens
que os que os fiéis cristãos lhe dão por amor de Deus, pedimos a confirmação destes
capítulos para louvor de Deus e proveito de nossas almas e serviço de Sua Majestade.
Laus deo
1603.
Porém, como se depreende, este não é o instrumento fundador da confraria que, naquela
de Inocêncio IV (1243-1254).
marcadas por rituais susceptíveis de pôr em causa a estrita moral sexual católica, a alta
Como se sabe, eram frequentes os excessos cometidos por ocasião dos bodos, refeições
ortodoxia católica. Daí que a confraria, nos seus princípios fundadores, se tenha
esvaziado, como veremos, dos conteúdos cultuais orientados para o mundo do comum
dos viventes para se restringir ao culto dos mortos e à defesa das suas prerrogativas
institucionais.
Para prova de quanto afirmamos vejamos, então, alguns excertos do primitivo
compromisso até nós chegado, em cópia vertida do latim para português, em 1486:
In nomine patriis et filii et spiritus sancti amen em honra dos quais e da bem-
aventurada gloriosa Virgem Santa Maria e de São Pedro e de São Paulo e de todos os
outros apóstolos e santos. Aos homens-bons de Fronteira dos quais os nomes em baixo
Santo da qual pelas coisas em ela contidas o costume digno de ser guardado é este.
necessário for solicitamente o dêem. Convém a saber pão carne vinho pertencentes ao
em o outro dia seja dado aos pobres [...] E se algum confrade for enfermo dois
confrades o vigiem. E se morrer o corpo dele será com orações e preces guardado até
que muito com círios nas mãos honradamente o deponham em seu moimento [...] E
cada um confrade pela alma do defunto com um pão e candeia e vinho mandará dizer
uma missa. [...] E se algum confrade quiser ir a Roma ou Jerusalém os outros o ajudem
cada um com seis reais. [...] E qualquer um que quiser ser participante em esta
injúria ou porventura feria a algum dos seus confrades no cabido onde juntamente
todos estiverem o ponham em um esteio e com uma vara lhe dêem dez açoites ou
fressuras tirando as enxúndias dos porcos. E o porteiro dos confrades aja a sua parte
com os mordomos. E do defunto que se finar darão ao porteiro os melhores sapatos que
lhe ficarem. [...] Esta confraria é chamada de Santo Espírito em honra da qual e louvor
fizemos albergaria em que pousem e morem os pobres de Cristo e se algum pobre for
enfermo ou chagado ou finado fora da vila pelo termo todos os compadres vão por ele
ordem inteiramente em parte e em todo seja guardada. A qual foi tirada do latim em
esta sua própria linguagem por Pero Dias natural de Sousel. A qual foi feita na era de
Cristo de 1486.
Esta confraria viria a ser, em finais do séc. XV, à semelhança de outras que a seguir
A segunda confraria do Espírito Santo, fundada em 1603, esteve activa até 22 de Junho
1679.
Tal como aconteceu com a Confraria de Nossa Senhora da Vila Velha, também os bens
Esta confraria, sediada na Igreja do Espírito Santo, é uma das poucas cujo cartório, se
Não se conhece a data da sua fundação, porém, é um facto comprovado que a confraria
conheceu, nas últimas décadas do século dezoito, um período de grande pujança, como
que, entre 1785 e 1800, professaram na ordem cerca de 192 indivíduos dos quais, note-
se, cerca de metade eram do sexo feminino, sendo que esta elevada percentagem de
mulheres confere a esta confraria um estatuto ímpar no panorama das confrarias locais.
Ordem Terceira cuja derradeira sessão da mesa teve lugar em 8 de Dezembro de 1840,
apesar da admissão de novos membros se ter continuado a verificar até 1869, ano em
que nela professou uma irmã de nome Maria Antunes, a última de que ficou registo
escrito.
Em termos legais, a Confraria foi extinta por Alvará do Governador Civil de Portalegre
de 18 de Abril de 1888.
5.3.22 Irmandade da Santa Casa da Misericórdia
império colonial.
Essa rapidíssima difusão espacial foi acompanhada por uma multiplicação das
actividades desenvolvidas no apoio aos pobres, aos órfãos e aos cativos, na gestão de
Durante a segunda metade do séc. XVI, aberta a possibilidade de herdar bens de raiz, as
misericórdia, sete delas do plano espiritual: ensinar os simples, dar bom conselho a
quem o pede, castigar com caridade os que erram, consolar os tristes desconsolados,
perdoar a quem nos ofendeu, sofrer as injúrias com paciência e rogar a Deus pelos vivos
enfermos, cobrir os nus, dar de comer aos famintos, dar de beber aos que têm sede, dar
extensão do assunto, digno, só por si, de um estudo monográfico, muito ficará por dizer.
Tentaremos, apesar disso, dar ao leitor um quadro minimamente fiel da existência
do célebre calígrafo André Pires, com data de 1516, foi-lhe confirmado muito mais
Quer isto dizer que a Misericórdia de Fronteira foi fundada naquela data?
copista deixou registadas as razões que levaram à criação da confraria para concluirmos
que a Misericórdia de Fronteira existia já, de facto, há muitos anos: [...] Ouvindo os
eles não menos zelosos do amor de Deus e do próximo e como membros de Cristo que é
Nosso Senhor Jesus Cristo e da Virgem Maria sua madre cresceram as esmolas e em
ele [...].
Temos, assim, que a confraria existia já, há muitos anos, à época da confirmação do seu
fundação.
Porém, percorrendo a documentação ainda existente, outros dados vêm lançar mais
extraídos de antigos tombos da confraria, concluído em 1823, pode ler-se a folhas 14:
Tem 33 e três quartas de trigo de pensão na Herdade do Monte dos Frades a Vale de
Maceiras que parte pelo Nascente com Herdade do Sesmo, e pelo Poente com Herdade
das Oliveiras, e Misericórdia pelo Norte com Courelas Baldias, e pelo Sul com
Herdade do Sesmo, em outro tempo chamou-se Herdade dos Freixos. João Mendes; em
a data mais antiga em que nos foi possível encontrar provas da sua actividade
De acordo com os seus estatutos, a confraria era formada por cem irmãos, cinquenta
A direcção ou Mesa, eleita anualmente por sufrágio indirecto, por um colégio integrado
por dez confrades, cinco nobres e cinco mecânicos ou de segunda condição, no dia 2 de
Julho, Dia da Visitação de Nossa Senhora, era constituída por treze irmãos que
elementos externos.
Assim, em 1636, a Misericórdia tinha ao seu serviço quatro capelães, um organista, um
tesoureiro do trigo.
Meio século mais tarde, constata-se a redução do número de capelães para apenas dois
Em 1800 nova alteração nos serventuários da Casa a cujo serviço se encontram, então,
três cantores havendo ainda a registar o desaparecimento dos acarretadores do rol dos
contratados.
remuneração além do prestígio associado ao desempenho dos seus cargos, o mesmo não
urbanas, próprias ou não, que, ao longo dos anos, tinham entrado na posse da casa sob a
forma de legados.
Por ser assunto de particular interesse para a história da instituição, aqui deixamos, com
da primeira referência que lhes foi feita nos livros da casa sendo que, neste caso, para as
Predios Rústicos
Courela do Sabugal,1618*
Vinha ao Carvalho,1741*
Prédios Urbanos
desamortização.
reais, em dinheiro, 1243 alqueires de trigo e 5.5 alqueires de azeite. A esta soma
acrescia ainda o produto, não contabilizado, das esmolas e doações recebidas e, no seu
conjunto, eram estes os rendimentos de que a confraria dispunha para a prossecução das
funcionamento do seu hospital que teve a sua origem no primitivo hospital do Corpo de
Deus.
isto é, uma recomendação a ser apresentada pelo seu portador em qualquer outra
dentro do país, utilizando a vastíssima rede das misericórdias existentes, sem ter que
recorrer aos serviços das estalagens e hospedarias particulares onde a sua permanência
transportes da época poderá fazer crer, muitos estrangeiros cujas presenças ficaram
de uns hereges franceses de nação que se fizeram cristãos; em 1698, dois peregrinos de
mouro a quem se deram 600 rs. de esmola e, em 1753, a memória de dois príncipes
gregos, um deles fazendo-se acompanhar por um séquito de criados, aos quais a Santa
Outra das áreas de actuação da Misericórdia era todo o conjunto de actos relacionado
irmãos, função a que estava estatutariamente obrigada, mas, também, cedendo a sua
Porém, de entre todas as actividades desenvolvidas pela confraria, nenhuma era tão
reservada à Misericórdia. Ficou, aliás, bem clara a sua realização regular nas
Ora, o que sucede é que o conjunto de refeições rituais que vamos encontrar no âmbito
das suas actividades cultuais eram parte do legado daquelas confrarias cujo elemento
Desses bodos – já veremos quais eram – o mais importante era o do Espírito Santo,
seria, pelo menos, fastidioso para o leitor que aqui as apresentássemos na sua totalidade.
As notas de despesa não deixam quaisquer dúvidas a esse respeito: carne de vaca,
A estes, só em 1661 se virá juntar o arroz e, em 1681, as alfaces. Deste último ano existe
E eram estes, então, os ingredientes que nos surgem repetidamente, ano após ano, no
Relativamente à carne, a prática mais corrente era o abate de uma vaca, por vezes duas
ou, talvez por razões de ordem económica, a compra da carne à peça, no açougue local.
nenhum dos anos de que nos ficou registo, um consumo inferior a vinte quilos daquele
género.
A oferenda de vinho era igualmente generosa, oscilando entre os vinte e os trinta litros
por refeição. Habitualmente de produção local, o vinho consumido nos bodos podia, em
caso de necessidade, ser adquirido noutras zonas produtoras tal como aconteceu em
1660, ano em que a Santa Casa importou dois almudes de vinho de Portalegre.
Não menos significativo era o montante da esmola em trigo para panificar cujos valores
Este consumo simbólico do pão ficou, aliás, bem expresso, no seu sentido mais
profundo, pelas palavras do escrivão da Misericórdia que, em 1626, nos deixou o registo
de uma despesa com dezasseis alqueires de trigo para amassar o Espírito Santo.
quer por razões de saúde quer por se contarem entre os muitos caídos em pobreza de
data recente, os chamados pobres envergonhados. A esses, mandava a Santa Casa fazer
entrega do seu quinhão por rapazes que percorriam a vila com os géneros da esmola.
Os três restantes bodos tinham lugar pelo Natal, pela Páscoa e por ocasião da Procissão
dos Passos.
O porco era o prato forte do bodo de Natal, acompanhado, como sempre, pelo pão e
Misericórdia nessas distribuições gratuitas aos mais necessitados. Daí que a Casa
chegasse a matar cinco cabeças para distribuir durante aquela quadra festiva.
procissão.
Estes bodos que durante séculos assinalaram a vida religiosa local foram, com o andar
do tempo, caindo no esquecimento. Pelo que pudemos averiguar, o primeiro dos bodos a
deixar de ser celebrado foi o da Páscoa, omisso nos registos escritos a partir de 1665.
Idêntica sorte teve o dos Passos que deixou de ser celebrado por volta de 1720. A este
Espírito Santo persistiu, na sua forma tradicional, entre as práticas religiosas locais até
ao ano de 1789 que outras mudanças de maior monta trouxe ao mundo. Depois dessa
data, apenas os aspectos litúrgicos se mantiveram, não havendo notícia que comprove a
além dos bodos institucionais, outros havia de fundação particular. Neste âmbito, é
lavrado em 13 de Março de 1455, que reza: mando que comprem um porco e cozam e
façam em talhadas e deem-no aos moços e pobres com pão e vinho que lhes avonde por
Estamos, neste caso, em presença de um banquete fúnebre, de um, por assim dizer, bodo
5.4.1 Caça
E com esta frase se poderiam, muito cómoda e laconicamente, resumir alguns séculos
de actividade venatória. Porém, como este é assunto que interessa a muita gente, não
resistimos – que o leitor nos perdoe – a transcrever as normas que para gerações e
Defendemos geralmente em nosso reino que pessoa alguma não mate, nem cace
perdizes, lebres, coelhos com bois nem com fios de arame, nem com outros alguns, nem
tome, nem quebre ovos das perdizes, sob pena de pagar de cadeia dois mil reis de cada
vez que nisso for achado, ou lhe for provado dentro de dois meses, e mais perderá as
armadilhas. Nas quais penas isso mesmo incorrerão as pessoas em cujo poder, ou casas
nos meses de Março, Abril e Maio e nas comarcas da Beira, Riba de Côa, Trás-os-
Montes e Entre Douro e Minho, nos meses de Abril, Maio e Junho pessoa alguma não
cace perdizes, nem criação delas com perdigões, nem com aves de qualquer qualidade,
redes, fios, ichos, laços, nem por outro qualquer modo, nem lhe tome, nem quebre os
ovos, nem as cace a corricão no mês de Julho até meados de Agosto, nem no tempo da
neve, onde a houver, quando a terra estiver coberta dela, enquanto não for derretida,
E nos lugares da Estremadura e Entre Tejo e Guadiana e reino do Algarve, nos meses
de Fevereiro, Março e Abril e nas comarcas da Beira, Riba de Côa, Entre Douro e
Minho e Trás-os-Montes, em Março, Abril e Maio, se não cacem coelhos, nem lebres
com cães, redes, fios, laços, furão, besta, espingarda, nem por outro qualquer modo,
nem no tempo da neve nos lugares onde a houver e cobrir a terra, enquanto não for
derretida. E quem o contrário fizer, sendo fidalgo ou cavaleiro, pela primeira vez seja
degradado um ano para África e pague vinte cruzados. E pela segunda haja as ditas
penas em dobro e sendo de menor qualidade, seja preso trinta dias na cadeia e pague
dois mil reis. E pela terceira seja degradado um ano para fora da vila e termo e do
lugar onde for morador e pague em dobro a dita pena de dinheiro e percam as aves,
Havendo tanta criação de coelhos em alguns lugares que façam dano às novidades, os
oficiais das câmaras no-lo poderão escrever, enviando com suas cartas informação do
E defendemos que em Lisboa, Almada, Sintra, Torres Vedras, Santarém, Tomar, Torres
Estremoz, Sousel, Fronteira, Viana, Vidigueira, Beja, Alcáçovas, pessoa alguma não
mate nem cace perdizes com candeios, redes de cevadouro, perdigão, ou perdizes de
chamado, sob pena de pagar por cada vez que for achado caçando com cada uma das
ditas coisas, ou se lhe provar dentro de seis meses, ou sendo-lhe achadas em sua casa,
ou em seu poder, e em cada um dos ditos lugares, ou seus termos dois mil reis de
cadeia. E caçando com boi nos ditos lugares e seus termos ou sendo-lhe provado dentro
de dois meses ou sendo-lhe achado em seu poder ou casa pagará dez cruzados e será
E pessoa alguma de qualquer qualidade que seja, não cace, nem mate perdizes com
açor, gavião, nem com armadilha, nem a corricão na Coutada Nova da cidade de
Lisboa que começa na estrada que vai dela para Benfica e de Benfica a São Marcos e
de São marcos a Oeiras e daí direito ao mar. Nem cace, nem mate na dita coutada
lebres com galgos, redes, bestas, espingarda, nem com outra alguma armadilha. E
quem o contrário fizer, sendo fidalgo, seja preso e da prisão pague vinte cruzados e
percam as aves, cães e instrumentos com que caçarem, a metade para nossa Câmara e
Estas Ordenações, leis gerais do reino, eram complementadas pelas posturas municipais
que adequavam a sua aplicação aos particularismos locais dos concelhos, revelando, por
vezes, aspectos menos conhecidos das vivências humanas relacionadas coma a caça e,
Vem isto a propósito dos problemas suscitados no seio da população de Fronteira de que
Graças a ela, ficamos a saber que a caça estava vedada aos peões, oficiais de ofícios
Domingos e dias santos, depois da missa. Estes, porém, sem temor e obediência da dita
terreno secularmente imóvel. Logo em 1821, um decreto viria abolir todas as coutadas
recursos cinegéticos para a esfera da competência das câmaras municipais o que se veio
a traduzir numa abordagem meramente local de questões a que o poder central não
soubera ou não quisera dar resposta adequada, adiando-se assim sine die a procura de
soluções de fundo.
Tanto quanto nos foi possível apurar, a Câmara Municipal de Fronteira não produziu
quaisquer posturas nesse sentido, situação que se manteve até 1885, altura em que foi
Aos onze dias do mês de março de mil oitocentos oitenta e cinco anos, nesta vila de
abaixo assinados, ali foi ponderado que havendo repetidas queixas pela falta de uma
expresso no artigo 384º e seguintes do Código Civil, o que sendo tudo bem ponderado e
Artº. 1º
Março, Abril, Maio e Junho de cada ano, sob pena de 4000 rs. de multa.
Artº. 2º
Todo o indivíduo que, nos meses defesos, for encontrado com alguma peça de caça, ser-
Artº. 3º
Aquele que em prédio alheio destruir ninhos, ovos, ninhadas de aves de qualquer
espécie ou criação de coelhos e lebres, fica sujeito à pena de 1000 rs. de multa.
Artº. 4º
Considera-se com intento de caçar todo aquele que for encontrado munido de
Artº. 5º
suas terras, os animais bravios e ferozes para evitarem os prejuízos que estes lhes
podem causar.
Artº. 6
5.4.2 Pesca
A pesca, hoje em dia uma actividade meramente desportiva ou recreativa, teve desde
tempos imemoriais até aos anos sessenta do presente século alguma relevância na vida
Grande.
A comercialização do peixe do rio, género cujo consumo era, dantes, muito superior ao
Nesta Câmara acordaram que nenhuma pessoa desta vila e seu termo venda peixes
machos desta ribeira por mais de quinze reis o arrátel daqui até todo o mês de
Outubro, e as bogas a doze, e daí até todo o Maio por um vintém os machos e as bogas
a quinze [...].
Nada mais natural, portanto, que o interesse de que o curso de água se revestia para o
próprio senhorio do concelho, a Ordem de São Bento de Avis à qual pertencia toda a
ribeira e que nela possuía um caneiro de peixes (...) o qual caneiro estava por cima da
azenha da Nogueira.
da Ribeira Grande.
De igual modo, foi desde sempre perceptível por parte das autoridades municipais uma
preocupação constante pela boa conservação dos recursos piscícolas que, não
Daí que encontremos já entre a mais antiga documentação do município chegada até aos
nossos dias diversas referências à actividade piscatória e à sua regulamentação que mais
não são que adaptações locais das disposições gerais consagradas nas Ordenações do
Reino.
Assim, pela acta da vereação de 28 de março de 1562, ficamos a saber que nessa
reunião os ditos juiz e vereadores deram malha a Simão Godinho para com ela poder
pescar e o tamanho da malha há-de ser este que mandaram os ditos juiz e vereadores
que ficou neste livro para por ela darem malha aos naturais e vizinhos desta vila para
pescarem com condição que nestes meses defesos não pesquem e daí por diante não
assegurando deste modo a reposição natural dos efectivos capturados, outras havia
consagrado na seguinte postura de 1617: Puseram por postura que nenhuma pessoa
desde dia de São João até dia de São Miguel pesque nas ribeiras deste termo com
nenhumas redes, nem armadilhas, nem materiais nem venda peixes [...] e no mais
tempo que podem pescar venderão o peixe a peso e não a olho sob pena de duzentos
reis [...] ou as áreas vedadas como se entenderá desta outra, aprovada em 1791:
Acordaram e fizeram postura que nos pegos da Ribeira Grande deste termo, que são
compreendidos desde o açude do moinho que era de Luis Álvares, denominado das
Varges até o moinho Fundeiro, não possa pessoa alguma, de qualquer qualidade ou
condição que seja, que seja, pescar em algum dia do ano, porquanto os hão por
peixe então utilizados. Entre eles conta-se a utilização de materiais. A que materiais se
referiria o legislador?
Pelo que nos foi possível apurar, tratar-se-ia de plantas ou extractos de origem vegetal,
com propriedades tóxicas, usados para a pesca em águas paradas ou pouco oxigenadas.
As plantas mais frequentemente usadas para esse efeito eram o trovisco (Daphne
Guidium L.) cuja resina, a mezerina e outro composto, a daphnetina, contêm um alto
grau de toxicidade para outras plantas e animais ; o verbasco (Verbascum thapsus) rico
referência directa nas posturas municipais de 1855, donde se infere que a sua
longe de poder garantir bons índices de produtividade, como, aliás, ficou bem
constatar, ao longo dos séculos, um quase constante cenário de deficit cerealífero o qual,
determinante só se viria a tornar menos sensível com o recurso aos modernos factores
de produção.
modo, uma constante da agricultura local cujos efeitos nocivos se faziam sentir,
inclusivamente, nas anezas de safras abundantes, pela desadequação dos habituais
excedentária.
Este traço estrutural da nossa agricultura transformou-nos, desde muito cedo, num país
Ano do nascimento de Nosso senhor Jesus Cristo de mil e quinhentos e oitenta e oito
aos três dias do mês de Outubro do dito ano nesta vila de Fronteira estando aí
vereadores o presente ano com muitos homens honrados da terra e da governação dela
e muita gente do povo miúdo abaixo assinados sendo presente Diogo Pereira morador
na vila de Veiros por Diogo Cabral de Sá vereador mais velho foi dito em seu nome e
dos mais vereadores seus parceiros que considerando eles pela obrigação de seus
ofícios a muita necessidade que há nesta vila e termo de pão pelo pouco que se colheu
esta novidade passada não acharam outro remédio para remir a tal necessidade que
mandar trazer por via de mercadores trigo e centeio do mar da cidade de Lisboa [...].
partir do séc. XVII, na progressiva ocupação dos terrenos públicos e particulares, antes
maninhos, em terras de pão, processo que se arrastou até meados do séc. XX, sem
provocando a degradação dos solos menos aptos com profundos e irreversíveis reflexos
Houve, portanto, de uma perspectiva diacrónica, até meados do séc. XX, uma evolução
agrícola marcada por uma crescente especialização produtiva, culminando numa quase
Esta especialização surge já, a nosso ver, favorecida em meados do séc. XVIII, graças à
Não dispomos, para o período anterior ao séc. XIX, de elementos sistematizados sobre a
possível afirmar que, em meados do séc. XVII, as necessidades de trigo para semente e
Estima-se, relativamente ao mesmo período, que a produção anual total se situaria entre
os dois e os três mil moios. Dois séculos depois, essa produção atingia os cinco mil
moios.
ainda em valores que pouco diferiam dos obtidos no período medieval, ilustrando o
anos, a níveis muito baixos: trigo – 1121 Kg/há ; cevada – 1365 Kg/há ; aveia – 973
L/há ; milho 533 L/há (1967) – viria apenas a acontecer em data muito recente, graças à
A cultura do centeio, mais adequada que a do trigo a grande parte da mancha arável do
político do trigo.
finais de 1800 (1714 ha em 1885) a sua produção viria a sofrer uma diminuição drástica,
animal.
agrícolas, atravessou, ao longo dos séculos, contrariamente aos cereais cuja expansão se
oliveiras cresciam, às portas da vila, nas proximidades da Rua dos Trigueiros. Sabemos,
também, que em finais do séc. XVII se fizeram novos plantios de olival na Serra de São
agrícola local em que têm sido mais visíveis os efeitos dos investimentos efectuados no
A vinha cuja presença está atestada desde tempos remotos, persistiu na área do concelho
até à década de 1960, altura em que a produção vinícola local foi definitivamente
A produção vinícola local que, por volta de 1880, se cifrava em 140.000 litros era, em
grande parte, exportada para Cabeço de Vide, Alpalhão, Nisa e Alter do Chão,
Grande.
Eram as seguintes as castas mais frequentemente utilizadas no fabrico dos vinhos locais:
Além das grandes culturas que temos vindo a analisar, outras houve, menos
géneros cujas produções ascendiam, em fins do séc. XIX, a 98.000, 86.000 e 168.000
litros, respectivamente.
qualidade.
Fronteira, o dízimo das nozes, romãs e marmelos aqui produzidos tal como sucedia com
do inhame.
A produção de tomate que arrancou na década de 1960, em grande força, viria a sofrer
uma grande retracção em virtude das alterações entretanto verificadas nos mecanismos
significativa manifestação.
que temos notícias logo nos finais do séc. XVII, parece não terem surtido qualquer
efeito prático se bem que reiteradas no início do séc. XIX, com o plantio de um número
significativo de amoreiras.
Ainda durante aquele século ensaiou-se a plantação de manchas de pinhal, como agora,
Neste domínio, o único fenómeno digno de nota é o da expansão do eucalipto que ocupa
produtivo local, não só pelo valor bruto do seu produto mas também pelos reflexos
Se é bem verdade que a posse da terra não era privilégio de todos, não é menos certo
Este processo de privatização das terras ou, pelo menos, do seu domínio útil
por baixo da lagoa do caminho de Monforte donde estão uns carvalheiros altos.
não podiam sustentar se se derem as ditas courelas, isto porque tinham nelas os pastos
Estas informações são tanto mais importantes porquanto, em 1583, muitos homens
honrados dos que soem andar na governança desta vila [...] requereram aos ditos juiz e
vereadores que no termo desta dita vila havia certa quantidade de terras a que chamam
Os Arneiros elas mesmo todas são arneiros que requeriam a suas mercês escrevessem a
el-rei nosso senhor lhes vendesse os ditos arneiros que ficaram de Brás Palha
porquanto esta vila era de grandes lavouras e tinham necessidade para os gados das
ditas lavouras dos ditos arneiros por terem pequena coutada para os gados e lavouras
dela [...].
Temos assim que o requerimento dos finais do século XVI traduz uma unanimidade
Em contrapartida, nos meados do século seguinte, apesar da mesma opinião ter acabado
por prevalecer, existem já duas perspectivas de utilização das terras comuns – a da sua
provocaram uma súbita e enorme diminuição dos gados, o que terá levado os
agrícola inaugurando-se uma tendência de primado da cultura cerealífera que iria fazer
permitem, ainda assim, avaliar uma notável produção de gado para abate já perceptível
nos finais do séc. XVI, quando a vila nos surge como grande exportadora de gado ovino
como se comprova pelas 1200 cabeças que daqui saíram, em 1593, com destino à
for para abastecimento público., o que reflecte a dimensão de algumas das explorações
pecuárias dessa época em que existiam na vila cerca de 44 pastores e cabreiros cuidando
Nos princípios do séc. XIX, os manifestos dos gados existentes, se bem que pouco
exaustivos, dão-nos notícia da existência de 3904 ovelhas, 680 cabras e 721 cabeças de
gado vacum.
numerosos, nem sempre são conclusivos dadas as alterações administrativas que, por
Deduz-se, porém, deles que a grande vocação da pecuária local foi, desde sempre, a
ovinicultura cujos efectivos nos surgem muito à frente das outras produções, facto já
Fazendo uma resenha muito breve da evolução pecuária do último século, diremos que,
ovinho, cujo número decresceu até à década de 1970, sofreu, desde então um aumento
subsídios.
Para os bovinos constata-se uma alteração na composição dos efectivos em que o gado
epidémica, um novo alento graças à melhoria da qualidade do produto que veio a ocupar
Igual via terá de ser a da suinicultura cuja prática, em moldes tradicionais, poderá vir a
A criação cavalar, hoje inexistente, foi, até meados do século passado, uma presença
Coutada do Concelho uma das suas melhores áreas de pascigo. Além destas, outras
A produção de mel e seus derivados, hoje pouco significativa, teve outrora alguma
Daqui levava a Mesa Mestral da Ordem de Avis, em cada ano, no séc. XVI, cerca de 12
arrobas de cera, pitança apenas igualada pela que era recebida de Alcácer do Sal.
A alta estimação em que o mel e a cera eram tidos, quer pelas aplicações medicinais do
utilização para fins litúrgicos da segunda, faziam deles produtos altamente apreciados e
Fronteira, lavrado aos 13 de Março de 1455, o testador legou a Frei Gomes prior que
A produção de mel e cera ascendia ainda, em finais de 1800, a 1360 e 495 Kgs..,
respectivamente.
5.4.4 Comércio e manufacturas
Estes são os sectores produtivos locais sobre os quais existe uma maior escassez de
nós, numa versão da segunda metade do séc. XVIII, período em que os modelos
praticados.
haver nesta Câmara taxa dos ofícios mecânicos de Alfaiates, Sapateiros, Alvanéus
Carpinteiros, e trabalhadores se fizesse por dois oficiais de cada um dos ditos ofícios
mais peritos e de boas consciências para estes assentarem em o merecimento das obras
dele tirarem cada um dos mestres de loja aberta o seu Regimento, e dele usarem
observando-o à risca; com a pena de quem o contrário fizer pagar pela primeira vez
dois mil reis para este concelho, metade para o acusador e dez dias de cadeia; e que os
almotacés ficarão obrigados nas visitas que fizerem no bem comum procurarem pelos
ditos Regimentos e condenarem os que os não tiverem e que seria depois feita a dita
taxa e lançada no livro, a qual viria a esta Câmara para se rever se está conforme às
Mestres de cada um dos ditos ofícios, e para cessarem as dúvidas, e contendas que
muitas vezes havia entre as pessoas, e moradores desta vila, e termo que os ditos
mestres se serviam para cujo fim foram chamados a esta Câmara e vereação Miguel
Fernandes, e José Álvares, mestres de alfaiates a quem o Doutor António de Liz Juiz de
Fora Presidente deferiu o juramento dos Santos Evangelhos sob cargo do qual lhes
encarregou declarassem nas ditas taxas que ao diante vão e se seguem o valor de cada
uma das obras que cada uma das ditas pessoas e moradores desta vila e termo
mandassem fazer, e eles recebendo o dito juramento debaixo dele assim o prometeram
Feitios
E de saragoça $600
E de saragoça $200
E por cada um par de sapatos que fizer de homem por dia $100
E a seco por dia $160
Que os estalajadeiros não dêem de comer a bestas suas ao pé de bestas dos passageiros
Que os estalajadeiros serão obrigados a pedir aos oficiais da Câmara lhe ponham taxa
de cevada e palha
Levarão por uma posta de peixe que terá uma quarta depois de cozinhada mais dez reis
além do que valer na praça e não tendo quarta de peso levarão cinco reis
Levarão por um ovo assado mais tres reis além do que valer
Levarão por uma sardinha assada ou cozida mais real e meio do que valer
Levarão por concertar uma galinha, uma perdiz, um coelho, um leitão e um cabrito por
cada uma desta coisas quarenta reis
Levarão de guardar uma carga de fato do primeiro dia por diante dez reis
Levarão por cada besta que agasalharem dando-lhe duas vezes no dia de beber dez reis
Levarão por uma cama dobrada de dois colchões, dois lençóis, um cobertor, um
travesseiro ainda que seja para duas pessoas quarenta reis
Levarão por uma esteira para dormir em cima dela cinco reis
mais ou menos longa, finda a qual o aprendiz requeria ao Juiz de Fora a sua
Lamentavelmente, apenas três dos regimentos chegaram até nós. Outras fontes, porém,
masculino são abrangidos, uma visão do panorama dos mesteres na época já referida.
Sabemos, assim, que em 1764, eram os seguintes os grupos de oficiais das profissões
Tintureiros, 1.
Note-se, contudo, que os números não traduzem a totalidade dos efectivos nem dos
omissas.
Destas profissões, a maioria iria chegar, funcionando em moldes não muito diferentes
Esclareça-se que, já na época em que os dados acima foram registados, era notório o
antigos registos municipais, nas medidas tomadas pela Câmara para garantir o regular
autarquia, em 1583, que os almocreves desta vila fossem a Setúbal a buscar pescado
e daí em diante pela mesma maneira correrão de maneira que a terra esteja sempre
provida de pescado.
produção cerealífera era, pelo menos a partir de dado período, a principal actividade
Assim, quer para os mercados de dimensão regional, como Estremoz, quer para os
Porém, nem só os géneros de primeira necessidade eram objecto desse transporte feito
em mulas ou carretas.
Como se vê, vem já de longa data a tradição das compras na cidade fronteiriça.
comercializados, referem-se, entre outros, os cereais, vinho, vinagre , sal, linhaça, cal,
panos finos, panos grossos, linho, lã, couros, calçado, azeite, mel, especiarias, ferro
Todos os produtos transaccionados eram taxados por cargas. Havia, assim, as cargas
maiores, quando transportadas por gado muar ou cavalar e as cargas menores, no caso
do transporte ser feito por jumentos. Entendia-se ainda, por costal, a metade de uma
carga menor.
Directamente envolvidos na actividade comercial local, mas com carácter fixo, eram
também os três tendeiros referidos, isto é, os mercadores com loja posta na terra.
cristãos-novos, que aliavam à sua actividade comercial outras não menos rendosas como
Chegaram até nós, os nomes de alguns dos membros mais notáveis dessa comunidade,
lançadores no Cabeção das Sisas. Eram eles, Duarte, Henrique e Luis de Melo, Fernão
Soares, Rui e Simão Gomes, Belchior Fernandes, João Dias, Francisco Lopes e Fernão
Moreno.
As mulheres, sempre tão raras nos actos oficiais, detinham, pela mesma época, o
pesando um arrátel e meio arrátel, respectivamente. Quanto aos tipos de pão consumido,
frequentes rixas e desassossego pelo que as autoridades locais proibiam a sua abertura
nos domingos e dias santos, da parte da tarde. Além disso, o próprio número de tabernas
fora, anos antes, limitado a quatro como se prova pela acta da Câmara de 4 de Janeiro
de 1817: Nesta determinaram que para maior sossego e tranquilidade pública houvesse
só quatro tabernas para o que nomearam na Rua dos Trigueiros, José Caetano, o
Velho, Rua de Avis, José Caetano Garroxo, Rua da Lagoa, João Tratadas e Rua de
comércio.
PROPRIETÁRIO LOCALIZAÇÃO ACTIVIDADE
Miguel Galveia Rua dos Trigueiros Taberna
Tomás J. Coelho Largo de São Brás Estalagem
José Maria da Silva Rua de Santa Maria Capelista
Aleixo José Rua de Santa Maria Taberna
Francisco de Jesus Adro de Cima Taberna
Antónia Fria Rua Nova Taberna
Vasco J. Vitória Rua de Santarém Taberna
Manuel Curado Rua do Sol Taberna
Francisco Pera Rua do Sol Taberna
Maria Vasques Rua do Sol Capelista
Ana Reicha Praça Padeira
Ana Guilhermina Praça Padeira e Bebidas
Antónia Pina Rua dos Trigueiros Comestíveis
António Louro Rua dos Trigueiros Comestíveis
Joana Tenório Rua dos Trigueiros Comestíveis
Joana Chocolate Rua dos Trigueiros Comestíveis
Malaquias Paixão Rua dos Trigueiros Bebidas
Rosa Pinta Rua dos Trigueiros Padeira
José Paixão Largo das Albardeiras Taberna
Joaquim Canejo Largo das Albardeiras Taberna
António Ferreira Rua da Lagoa Taberna
Angélica Copeto Rua da Lagoa Comestíveis
António Forças Rua da Lagoa Comestíveis
Bento J. Ugella Rua da Lagoa Taberna
Joaquim José de Brito Rua da Lagoa Capelista
Joaquim J. da Costa Rua da Lagoa Mercearia
Clementina Rosa Rua da Lagoa Mercearia e Bebidas
João José de Brito Rua de Avis Capelista
Antónia Teresa Rua de Avis Pão e Bebidas
Filipe Dordio Rua de Avis Capelista
José Anacleto Rua de Avis Pão e Bebidas
Manuel Lobo Rua de Avis Mercearia
Sebastião Tenório Adro Capelista
Numa época em que os circuitos de distribuição de bens, bem como os meios e vias de
Daí que as feiras locais tenham surgido em períodos de expansão económica, mormente
A mais antiga das feiras de Fronteira, a de São Pedro, foi instituída por alvará de 22 de
A segunda e mais recente, a Feira Nova, foi criada por iniciativa da Câmara Municipal e
sessão de 31 de Maio de 1883, tendo-se realizado, pela primeira vez, nos dias 26 e 27 de
Setembro do mesmo ano, com grande concurso de géneros e pessoas vindas, algumas
O local habitual de realização destas feiras foi, até à sua ocupação urbana, o Rossio de
São Brás, também conhecido como Rossio da Feira, espaço vasto e plano, situado a sul
Apenas em 1871 há notícias desse espaço não ter sido utilizado paro o efeito,
O terrado da feira não era, como hoje, cobrado directamente pela autarquia que, em vez
disso, o arrematava em bloco a quem mais desse. Felizmente, dispomos ainda de alguns
autos dessas arrematações feitas em local público, pelo porteiro (i.e. contínuo) da
câmara que para esse efeito e como era habitual percorria os locais mais movimentados
da vila, empunhando um ramo verde de laranjeira e fazendo pregão, algumas datando
do período inicial da realização da feira de São Pedro, como o que agora se transcreve:
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e quinhentos e noventa e cinco
anos aos onze dias do mês de Junho do dito ano nesta vila de Fronteira na Casa da
Câmara dela estando aí presentes Manuel Cardoso e Luis Álvares e Pero Davide
vereadores o presente ano logo mandaram apregoar por Francisco Fernandes porteiro
do concelho e Câmara a renda da feira desta vila e seu termo que se costuma fazer por
dia de São Pedro que vem neste dito mês e por haver muitos dias que andava em
pregão a dita renda da feira na praça e nos mais lugares públicos e costumados como
disse da sua fé Francisco Fernandes porteiroe por não achar quem nas ditas tendas e
rendas da feira maior lanço fizesse fazendo primeiro todas as afrontações necessárias e
costumadas não achou quem na dita renda da feira maior lanço fizesse que mais
proveito fosse desta Câmara e concelho por o dito tempo da dita feira conforme ao
preço e dias que o ano passado foram arrendadas as tendas cobertas de telha a
duzentos reis cada uma das ditas tendas cobertas e os vinhateiros e vendeiros e
enxergueiros que tiverem tendas cobertas a oitenta reis cada uma tenda e as mais
tendas cada uma cobertas de fato por cima a quarenta reis e as tendas que estiverem
descobertas que se chamam terrádegos a vinte reis e as que tiverem solarias coiramas e
caldeireiros sessenta reis cada uma pessoa e os picheleiros e todos os mais que são de
haver quem maior lanço fizesse que mais proveito fosse do concelho que Domingos
Gonçalves e Gaspar Vaz ambos moradores nesta dita vila que lançaram dez mil reis
forros de todos os custos para o concelho [...] mandaram lhe fosse arrematada [...].
Como decorre da leitura do texto, a Câmara alugava não só o terreno mas também
julgamos que a feira de São Pedro seria, no seu início, de facto, um grande mercado de
produtos agrícolas que, com o passar dos anos, se viria a tornar numa feira na
Essa evolução está, aliás, bem patente na diversidade das actividades comerciais nela
Tal como o comércio local, também as feiras atingiram dimensões físicas e económicas
notáveis nos primeiros cinquenta anos do passado século, após o que entraram em
Outubro, respectivamente.
mês.
5.5 DEMOGRAFIA
Não existem, tanto quanto saibamos, nenhuns documentos susceptíveis de permitir uma
população portuguesa.
As fontes documentais existentes, quer se trate do arrolamento dos besteiros do conto ou
De igual modo, o Catálogo de Todas as Igrejas, Comendas e Mosteiros que havia nos
Reinos de Portugal e dos Algarves pelos anos de 1320 e 1321 apenas sugere, atendendo
Évora.
De concreto, tudo o que podemos afirmar sem receio de incorrer em erro grave é que a
situação demográfica da vila durante esse dilatado espaço de tempo foi marcada por um
pandémica Peste Negra que eclodiu em Portugal no Outono de 1348 e a outros surtos
pestíferos que grassaram no país nos anos de 1356, 1361-1363, 1374, 1383-1385 e
moradores dela são muito desfalcados dos bens por razão desta guerra que ora é e das
outras que antes foram. E outrossim porque foram muitas vezes cativos dos nossos
inimigos e deles muitos que mataram e por esta razão se foram muitos a morar a outras
partes fora dela. E por isto e outras razões a dita vila está muito despovoada.
Do mesmo modo cremos poder afirmar que, em finais do séc. XV, à semelhança do
sucedido em muitas outras localidades da zona raiana, o afluxo dos judeus expulsos
pelos Reis Católicos em 1492 se deve ter traduzido num acréscimo da população local.
Durante o séc. XVI, multiplica-se a documentação local disponível continuando,
nível nacional. Pelos valores então apurados, a população de Fronteira em 1527 cifrar-
se-ia em 488 moradores a que se somavam mais 90 residindo no campo. O total dos
moradores então recenseados coincide quase exactamente com o dos 550 fregueses
dos 513 moradores arrolados na relação de pessoas que havia na Comarca de Estremoz
Que expressão terão, porém, em termos estatísticos actuais, noções como as de morador,
Várias hipótese têm sido apontadas obedecendo a outros tantos critérios de avaliação.
oscilaria entre 2254 e 2832 indivíduos em 1527, 2145 e 2695 em 1534 e 2007 e 2513
nos fins da décadas de 1530, números que traduzem, de uma forma ou doutra, uma
Nas quatro décadas seguintes a situação demográfica parece ter atravessado uma nova
fase de expansão, razão que terá levado D. Sebastião a autorizar que se tomassem em
cada ano cerca de 200.000 reis das rendas da comenda, até ao montante de 1.500
cruzados, de modo a financiar a construção de uma nova Igreja Matriz visto que a
Anos depois, porém, em 1577, o Visitador da Ordem de Avis na sua passagem por
Fronteira deixa registado que na vila haveria mil vizinhos pouco mais ou menos e
haverá 6000 almas de confissão, isto é, seis mil indivíduos maiores de sete anos.
Se bem que estes números se nos afigurem exagerados, quiçá pela necessidade de
de cerca de 800 indivíduos do sexo masculino, maiores de dezasseis anos e também por
Temos assim, em retrospectiva, uma primeira fase de crescimento até meados do séc.
XIV que terá motivado a expansão extra-muros da vila, a que se seguiu um período de
novamente uma fase de expansão, embora lenta, que viria a ser contrariada no século
comprovado pela redução do número dos contribuintes que de 718 em 1610 passou
vizinhos, o que significa ter havido um crescimento sensível no último quartel de 1600,
o que é confirmado pelo aumento do número de contribuintes que, entre 1675 e 1706,
Entre aquele ano e o de 1725, assistiu-se a uma nova diminuição da população expressa
decréscimo populacional expresso nos apenas 1789 moradores, número esse que
continuaria em fase de recessão até pelo menos 1792, ano em que a população não
período referido nos devem merecer, uma conclusão se nos afigura, contudo, irrefutável:
a evidência decorrente da análise dos dados fornecidos pela documentação fiscal de que
campo que nos surge, assim, como a variável mais determinante, apresentando a
De facto, se considerarmos os quase três séculos que medeiam entre 1610 e 1800
divididos em períodos de, sensivelmente, vinte e cinco anos, constatamos que a maior
alteração verificada na população da vila teve lugar entre os anos de 1675 e 1706
(+18.8%) enquanto que, por sua vez, a população residente no campo experimentou,
governantes e economistas que nela viam a causa do nosso secular e continuado estado
anos.
demográfica. Aos dados facultados pela prática dos censos regulares implementada a
partir de 1864 acrescem, para o período anterior a 1850, os dos arquivos locais, ambos
da realidade.
As convulsões que agitaram a sociedade portuguesa nas primeiras décadas do séc. XIX
– guerra com a Espanha, Invasões Francesas, Guerra Civil – parece não terem afectado
recessão dos efectivos demográficos provocado por uma sucessão de anos agrícolas
recordação para o lavrador porque colheu apenas a semente ou pouco mais, o de 1849
1843 (- 13), 1844 (- 9), 1847 (- 5), 1848 (- 35), 1849 (- 8), 1850 (- 46), 1851 (- 23),
1852 (- 26), 1853 (- 30), 1855 (- 15), 1856 (- 62), 1857 (- 45), 1858 (- 2) e 1859 (- 15),
fenómeno.
compreensão dos ciclos curtos de crescimento demográfico negativo que se deverão ter
verificado com alguma frequência ao longo de todo o período de que nos temos vindo a
ocupar.
agricultores, quando a indústria agrícola não fornece os lucros que em anos ordinários
e nos férteis costuma dar, os agricultores têm a sua subsistência menos segura, usam de
há 3 ou 4 anos nesta vila em que pela esterilidade que tem havido, principalmente no
ano de 1849, em que uma espantosa trovoada destruiu, no rigor da palavra toda a
as moléstias, a fome e a miséria no ano de 1850 que também foi sumamente estéril.
A partir da década de 1860 e com base nos elementos disponibilizados pelos censos
oficiais temos:
acréscimo de 6.4 %.
português.
A par com o grande fluxo migratório das populações nortenhas para os países
concelho da ordem dos 138 % enquanto que, por sua vez, a população com idade
mesma.
a população sofreu um ligeiro acréscimo a que se seguiu, nos anos 80, uma nova fase de
contracção.
Quanto à evolução provável da população, esta será, de acordo com estudos realizados
variáveis Fecundidade e Mortalidade uma vez que, como tudo leva a fazer crer, os
vindo a observar.
Obtiveram-se deste modo projecções sem qualquer dúvida preocupantes que apontam
Os últimos dados disponíveis, publicados em 1999, mais não fizeram que vir confirmar
por vezes, menos verdadeiro que o lavrar de uma certidão de nascimento de uma
povoação.
Hoje, dezasseis anos volvidos, continuamos, como então, a subscrever cada uma das
palavras do que então afirmámos, apesar dos progressos entretanto havidos quanto ao
De então para cá, o levantamento arqueológico sistemático que tanto tardava, como
um ano, localizou e inventariou nada menos que cento e trinta e sete sítios
arqueológicos, muitos deles até então inéditos, trinta e cinco dos quais situados na área
por defeito, caso se mantenham, por prazo mais dilatado, os trabalhos de prospecção.
Desse inventário ressalta a conclusão que a actual área do concelho foi testemunha de
É, essencialmente, com base nesse trabalho levado a efeito pelo Dr. André Carneiro a
sempre que possível, um nexo entre os sítios ou simples achados e a sua localização no
O único sítio arqueológico deste período até agora assinalado localiza-se na Herdade do
âmbito de um projecto de localização dos terraços fluviais da bacia do Tejo e com base
local.
referidos, foi encontrado no outeiro de Nª. Srª. da Vila Velha, na base da encosta a
nascente, a curta distância do muro de vedação da propriedade, junto com muitas outras
pedras provenientes da limpeza do solo, pelo que é impossível precisar a sua localização
original.
6.2 Neolítico e Calcolítico
muito para além dos progressos introduzidos nas tecnologias dos materiais que
verdadeiramente cruciais, de tal modo que é hoje possível falar de uma revolução
dólmenes.
Estes monumentos funerários cujo surto construtivo teve o seu apogeu durante a
actual concelho, com particular incidência na freguesia de São Saturnino onde, nos
terrenos da Herdade Grande, se concentravam nada menos que dez desses monumentos
megalíticos.
situadas, isoladamente, na Horta das Antas e nas herdades dos Aroeirais e Mortágua.
para a parte norte do actual distrito de Portalegre, ao longo do curso da Rieira de Seda,
até Ponte de Sor e Montargil e atingindo ainda, por outro lado, as áreas do Crato, Alter
do Chão e Fronteira.
elementos filiáveis no mesmo horizonte cronológico chegaram até nós, sob a forma de
mais profundas
Cremos que muitos existirão, ignorados, na posse de particulares enquanto que outros
De todo esse valioso espólio, impossível de quantificar pelas razões já aduzidas, ficou-
nos, contudo, uma pequena amostra, num inventário lavrado em 1949, por ocasião de
Esse inventário onde se encontram registadas as peças que deveriam integrar o núcleo
Canejo Coutel, atesta, entre outros, sob a rubrica Da Prehistória, a existência de 170
termo da vila, que poderão ter sido produzidos durante o mesmo período. Trata-se de
dois grandes monólitos, um deles, a Pedra do Mau Frade, situada na margem direita da
Ribeira de Ana Loura, frente às ruínas do Moinho do Cabral e o outro, sem nome que o
afeiçoada, de modo a torná-la quase plana. Sensivelmente no centro dessa face lisa, a
O segundo monólito é, ele também, de natureza granítica. Na face exposta ao norte foi-
lhe retirada uma pequena secção, em forma de cunha, produzindo, por assim dizer, uma
prateleira.
A face superior do bloco, muito coberta de musgo, sugere, ainda assim, a presença de
tido lugar nos princípios do II milénio a.C., veio inaugurar um novo período
que, estendendo-se até por volta do séc. VII a.C., se situa na charneira entre a
Pré e a Proto-História.
Aqui, os únicos vestígios desse período de que temos conhecimento são um bracelete de
ouro que passou aos manuais da especialidade com fama de encontrado em Estremoz,
terra do ourives a quem o mesmo foi vendido pelo autor do achado feito nos arredores
Curiosamente ou não, ambos os achados foram feitos nas proximidades da antiga Igreja
de São Miguel, epónimo que nos surge associado a outro dos povoados do Bronze Final
O local, no cimo da chamada Serra de São Miguel, junto ao marco geodésico ali
no topo do outeiro, facto que terá levado pelo menos um investigador a considerar a
Acresce ainda que, durante a abertura das covas para implantação do olival aí existente,
daquela suposição. Não esqueçamos, porém, que a Igreja de São Miguel era um dos
locais de quarentena durante os frequentes surtos epidémicos dos séculos passados, pelo
que os ossos postos a descoberto poderão ser de origem moderna ou, ainda, medieval
visto que nessa época o outeiro de São Miguel foi, de acordo com a Relação do Bispado
de Elvas, o sítio escolhido pelos cavaleiros de Avis para erguerem uma fortaleza de
pedra em sosso, pouco mais de quarto de légua desta vila, para a parte de Avis, onde
hoje está edificada uma ermida de São Miguel sobre a ribeira que corre por junto a
esta vila de Fronteira da parte do Norte, da qual fortaleza os cavaleiros que nela
estavam de presídio defendiam aos mouros de Vaiamonte a passagem do rio para irem
hipotético castro?
Apenas mais um pequeno apontamento que julgamos oportuno sobre o período de que
nos temos vindo a ocupar: é sabido que a produção de metais foi uma presença
existe, não muito distante, um hidrónimo que remete para essa actividade. Trata-se do
Pego dos Ferreirinhos, troço da Ribeira Grande localizado entre margens de difícil
acesso, especialmente a que constitui a encosta norte do Outeiro de São Miguel que
poderá ocultar vestígios que permitam a inclusão daquela zona no horizonte temporal
ribeira, para nascente do anterior, tem entregue algum espólio metálico ( objectos de
quantidades de cerâmica, pelo que não será totalmente de excluir a eventualidade da sua
No séc. VIII a. C. a intensificação dos contactos com o Próximo Oriente veio introduzir
no modo de vida das populações autóctones do sul do actual território português novos
Estes influxos não tiveram grande repercussão no interior do Alto Alentejo onde, por
Por volta do séc. V a.C., porém, a chegada de novas populações de origem céltica veio
ocupação de muitos dos antigos povoados pelos invasores recém-chegados, como viria a
Localmente, os vestígios deste período que se estende até à ocupação romana, parecem
escavações efectuadas no Verão de 1995, por ocasião das obras de reforço dos caudais
muros construídos com grandes blocos irregulares de pedra, ligados com barro,
qual se destacam alguns discos circulares de xisto que serviriam, talvez, como tampas
Porém, recordamo-lo uma vez mais, só uma investigação mais cuidada, supervisionada
por especialistas nesta área, poderá esclarecer as muitas dúvidas existentes, separando o
trigo do joio e pondo cada coisa em seu devido lugar pois, caso contrário, que fazemos
A ocupação romana do Alentejo ter-se-á iniciado por volta do ano 202 a.C., sendo o
populações indígenas.
Começaremos, neste capítulo, por dar notícia dos vestígios mais recentemente
localizados e inventariados.
local, cujos resultados pormenorizados serão, a seu tempo, objecto de publicação, foram
herdades da Palhinha, Talha de Baixo, Samarruda, Farrusco, Porto dos Melões e Monte
Herdade da Palhinha, atribuível aos finais do séc. IV ou inícios do séc. V d.C., uma das
De acordo com a leitura epigráfica efectuada pelo Pe. Dr. Henrique Louro, é a seguinte
DEPOSITIO IN
FANTIS PET E
LANCIE MbL SE
TEMBRIS VIII ID
ANNIS 2 III
anos.
mormente de objectos de uso corrente, que chegaram até aos nossos dias. Alguns deles
Tal como para as peças pré-históricas do mesmo acervo, não dispomos, infelizmente, de
qualquer informação mais detalhada sobre os locais e contextos em que estas últimas
foram encontradas, o que, apesar de não diminuir o valor intrínseco dos achados, limita
De igual modo, também nada se sabe sobre a proveniência de duas colunas existentes
no jardim do adro cujos capitéis permitem situar a sua produção durante o Baixo
Império
Deixámos propositadamente para o fim, por ser assunto a que voltaremos, uma
informação veiculada por Leite de Vasconcelos, segundo a qual o centro da própria vila
seria, ele também, face a algum espólio aí encontrado, de origem romana, sem no
Ora, curiosamente, e pela simples razão que, contrariamente ao que acontece com os
outros sítios que temos vindo a mencionar, nele não se fazem lavouras, o subsolo da vila
é muito mal conhecido e as escavações, quando ocorrem, quase sempre por ocasião de
Porém, sempre que se tem escavado fora desses locais já devassados, os achados têm
surgido. Recordamos aqui que, por ocasião da abertura das valas para ampliação da rede
telefónica, foram postas a descoberto, para citar apenas um caso, vestígios de uma
galeria que se notava haver sido entulhada e uma nascente de água, isto junto ao edifício
dos correios, no espaço compreendido entre a sua fachada norte e a placa ajardinada aí
existente, em local onde não existe, oral ou escrita, memória de quaisquer construções,
Existe, por assim dizer, um eclipse total em termos de conhecimento do que foi a
nas três freguesias do concelho, a época que assistiu às movimentações dos povos ditos
arqueológico conhecido, excepção feita para um vaso árabe e algumas moedas que o
inventário já por várias vezes citado regista, sem os descrever e para alguns fragmentos
Refira-se a propósito deste local que as chamadas Covas dos Mouros aí existentes serão
muito anteriores à presença do Islão, como aliás já tivemos ocasião de afirmar em lugar
próprio.
palco de avanços e retrocessos militares e, finalmente, terra ganha e firme para a Coroa
de Portugal.
Na sequência dessas lides guerreiras, toda uma vastíssima zona do Alentejo viria a ser
doada à futura Ordem de São Bento de Avis cujo contributo para o esforço de guerra foi,
dele lhe fez D. Afonso II, em 1211, com a condição de o povoar e fortificar. Porém, só
entre os anos de 1218 e 1223 o governo da ordem se fixou definitivamente naquela vila.
Com base nestes dados, é-nos possível situar a presença dos cavaleiros na fortaleza
construída sobre o Outeiro de São Miguel, de que atrás demos notícia, entre os anos de
1211 e 1218, visto que neste último já a povoação de Avis existia, como se prova pelo
foral que então lhe foi concedido, o que terá tornado desnecessária a presença dos
E chegamos, agora, ao ponto em que nos é possível falar, sem qualquer sombra de
escritas à vila.
conquistados de acordo com os seus interesses, nem sempre isentos de atritos. Esta
acordos, lavrado em 1236, entre o bispo Fernando e o mestre Fernando Rodrigues, que
se contém a primeira referência escrita a Fronteira cuja igreja ficou, desde então,
Esta informação, para além do seu evidente valor na perspectiva da cronologia local,
A primeira é a de que, juntamente com a de Seda, a igreja de Fronteira é uma das mais
Este último parágrafo é, sem dúvida, digno de reflexão mais profunda. Como vimos, por
volta de 1211, parece não existir qualquer aglomerado populacional, pelo que os
Miguel, decisão que – note-se - poderá também ter sido fruto de outras opções de ordem
estratégica relacionadas com o controle da estrada para Avis; apenas vinte e cinco anos
depois, depara-se-nos já a vila de Fronteira, com a sua igreja matriz de Santa Maria e a
Ora, construir duas igrejas em tão curto espaço de tempo, ademais nas circunstâncias
adversas da época, é caso para pensar...ou será que as igrejas ou, pelo menos, uma delas
Será que a toda a região, tão intensamente ocupada na época romana, se esvaziou com o
continuado que mais não fez que emergir e tornar-se visível à luz reacendida dos novos
poderes regionais?
vila: no local actual ou, como reza a tradição, no Outeiro de Nossa Senhora da Vila
Velha?
Como já foi dito, têm sido muitas as inumações reveladas ao redor da igreja e muitas
ter a sua matriz e servir uma freguesia residente naquele local. No mesmo sentido e
mais relevante que todos os outros é o facto do documento em causa não referir, sequer,
a Igreja de Nossa Senhora da Vila Velha, pelo que esta não devia ainda existir.
naquele sítio, por outro, tudo aponta a que essa ocupação tenha ocorrido em tempos
mais recuados de que restariam, no séc. XIII, apenas os vestígios que terão estado na
origem do topónimo.
existentes com outros locais onde existe aquele topónimo, será a da Vila Velha ter tido a
sua origem na deslocação para aquele local das populações muçulmanas submetidas
durante a reconquista e expulsas dos seus locais de origem pelos novos ocupantes. Se
assim for, a verdadeira vila velha, em termos de cronologia, será, muito provavelmente,
a actual povoação.
Muito lamenta o autor não poder prestar mais esclarecimentos sobre este assunto que
tão fundo toca os fronteirenses mas, como diz o povo na sua sabedoria, não se fazem
omeletes sem ovos, o que, no caso vertente, é o mesmo que dizer que sem pesquisa não
especulações...
Retomando agora o fio ao nosso discurso, voltamos a ter notícias da matriz de Fronteira
em 1279, quando era já notório o aumento dos centros de culto em toda a região.
Naquela data a igreja de Fronteira surge-nos com alçada e jurisdição sobre a capela de
Cabeço de Vide, o que significa que aquela localidade não constituía ainda uma
paróquia.
O fim das lutas da reconquista e a precoce definição das fronteiras nacionais deve ter
trazido um surto de desenvolvimento à vila onde a Ordem de Avis tinha já, em 1263,
instituído uma comenda. A agitação política dos inícios do séc. XIV não deve ter tido
reflexos grandemente negativos neste estado de coisas, como se deduz do volume das
rendas da matriz, por volta de 1320. Esta igreja viria mesmo a ser, em meados daquele
século e ao nível do reino, uma das poucas entidades detentoras de uma biblioteca, facto
É evidente, contudo, que a Peste Negra terá provocado prejuízos humanos e materiais
notáveis, como aconteceu um pouco por todo o continente, provocando uma situação de
crise que viria a ser agravada pela instabilidade política e militar dos finais de trezentos.
Data deste período o acontecimento histórico mais notável que viria a ficar
São por demais conhecidas as circunstâncias que estiveram nas origens do confronto,
Esta batalha cujas repercussões viriam a ser abafadas pelo desfecho de Aljubarrota
Atoleiros que, pela primeira vez em Portugal, todo um exército, aí incluindo a cavalaria,
combate a pé, táctica já experimentada, com sucesso, pelos exércitos burgueses contra
Cem Anos e, sem dúvida, a mais indicada perante a desproporcionalidade das forças em
Não se conhecem com exactidão os efectivos envolvidos. No entanto, não deviam ser
mais de trezentos os homens a cavalo a que se juntavam pouco mais de mil homens a
No campo oposto encontrar-se-iam, pelo menos, mil lanças com os respectivos pagens
peões, enquadrados por alguns soldados experientes cuja missão era evitar a sua fuga,
disposição em tudo tradicional não fora o novo papel atribuído aos cavaleiros.
O local exacto da batalha terá sido uma pequena zona plana, a Folha da Consciência,
que se estende nas imediações do Cabeço do Caldeirão, junto ao Ribeiro das Águas
Belas.
Segundo a tradição, o nome deste ribeiro terá tido a sua origem no seguinte facto:
ribeiro que corria tinta de sangue. Apesar disso, algum ou alguns deles teriam deixado
hidrónimo.
A batalha, que se terá travado entre as dez e as onze horas da manhã do dia 6 de Abril de
1384, Quarta-Feira de Trevas daquele ano, pouco tempo durou. A cavalaria de Castela,
Álvares Pereira, pôs-se em debandada deixando para trás, mortos no campo, alguns
Foram até agora assinalados vestígios arqueológicos deste período nas herdades da
Palhinha, Sete Vales, Ribeira da Vide, Ladrões, Samarruda e Caliços e ainda na Apaúla,
povoação cuja riqueza crescente não terá sido alheia à decisão da Ordem de, em 1459,
fazer reverter para a sua Mesa Mestral as rendas auferidas na vila onde possuía diversas
Saliente-se que a Comenda de Fronteira era a mais rentável das trinta e oito comendas
instituídas nos bens da Ordem, o que traduz bem a importância da vila à qual viria a ser
Vinho, azeite, cereais e pecuária constituíam os quatro pilares básicos dessa riqueza e
No séc. XVI, o produto interno da vila e o afluxo de capital gerado pelo comércio
naquele ano, para os cofres ducais, cerca de 760.000 reais, a segunda maior verba de
todas as desfrutadas pelo magnate, logo atrás dos proventos produzidos pelo riquíssimo
Nas últimas décadas de quinhentos, num período em que, cremos, a manufactura têxtil
local se encontrava já em recessão, a Coroa colhia ainda, da sisa dos panos localmente
por outros grandes proprietários institucionais e particulares que aqui possuíam terras e
outros bens aforados, o que não nos é possível, para aquilatar a dimensão exacta da
O século XVII, em que a presença espanhola se irá fazer sentir durante quase meio
diminuição da renda da sisa dos panos, já referida, que no início do terceiro quartel de
Neste caso concreto, mais nociva que a destruição dos gados provocada pela
intervenção dos exércitos castelhanos, terá sido a acção inquisitorial que, no mesmo
mais a situação da economia local em virtude das razias perpetradas pelos exércitos
Facto de relevo, mais pela ligação que estabeleceria entre a vila e uma família da grande
nobreza, do que pelos benefícios que trouxe à localidade, foi a criação, na pessoa de D.
Mestrado de Cavalaria e Ordem de São Bento de Avis faço saber aos que este alvará
virem que tendo respeito aos merecimentos e serviços que Dom João Mascarenhas
muito como pedem suas obrigações e com o amor e lealdade com que até agora o fez
imitando aqueles de quem descende e desejar[?] por tudo acrescentar sua pessoa e
casa hei por bem como Mestre e governador e perpétuo administrador da Cavalaria e
Ordem de São Bento de Avis fazer-lhe mercê da dita vila de Fronteira que é da dita
ordem com a jurisdição ordinária que têm os donatários da Coroa e datas de todos os
ofícios excepto os das sisas e os do provimento da Câmara a qual não é minha tenção
prejudicar tudo em sua vida para que tenha somente o domínio útil reservando o
domínio directo a mesma ordem a cuja mesa mestral pagará dez mil reis cada ano por
reconhecimento sem que por isso se entenda fazer-se-lhe prazo em que tenha lugar
renovação mas somente uma mercê em vida e sendo necessário para maior abundância
e validade desta mercê que lhe faço na sobredita forma haver breve de Sua Santidade o
poderá o Marquês impetrar e esta mercê lhe faço com declaração que o provimento dos
ofícios será por apresentação dele dito Marquês passando-se as cartas pela Mesa da
Consciência e Ordens e que aos providos por mim se não hão-de tirar e somente por
morte dos proprietários se hão-de prover e este se cumprirá sendo passado pela
chancelaria da ordem e valerá como Carta suposto que seu efeito dure mais de um ano
Doada a vila a D. João Mascarenhas, este não veio, pessoalmente, tomar posse dela,
costume. Do auto então exarado nos livros da Câmara extraímos a seguinte passagem,
onde se descrevem alguns dos rituais que acompanharam a cerimónia de confirmação da
[...] em virtude da qual procuração o dito Dinis de Melo passeando-se pelas ruas
públicas desta vila assim as do arrabalde como no Castelo pondo as mãos nas portas
oficiais da Câmara no fim deste auto de posse assinados com o Alcaide Sebastião
Soares e com o Porteiro Baltazar Moreno que o é desta Câmara foi dito pelo dito Dinis
de Melo como procurador bastante de Dom João Mascarenhas Marquês desta Vila de
Fronteira pela mercê que Sua Alteza lhe tinha feito tomava posse da dita vila na forma
do Alvará de Sua Alteza [...] com declaração que ele dito Dinis de Melo de Castro como
procurador bastante do dito marquês não queria coisa alguma das Coutadas dos
moradores desta vila que hoje estão possuindo e delas agora nem em tempo algum quer
das ditas coisa alguma e se obriga a sempre assim os sustentar e manter para que os
ditos moradores desta vila e seus vassalos possam das ditas Coutadas fazer o que lhe
parecer e lográ-las como dantes fizeram a qual posse na forma acima dita os ditos
oficiais da Câmara lhe houveram por dada e ele dito Dinis de Melo por tomada a qual
lhe deram pacificamente sem contradição de pessoa alguma declarando mais que as
coutadas são duas Vale de Seda e a que hoje estão cultivando Fonte Santa Apaul Fonte
do Frade e toda redondamente na forma que era dantes em que entra a Lavradia as
quais todas assim nomeadas são dos moradores desta vila que compraram com seu
dinheiro e outrossim foi dito pelo dito Dinis de Melo que ele em nome do dito Marquês
se obrigava que os cargos da nobreza desta vila os serviriam os homens nobres desta
Ora, este dilatado prazo de mais de ano e meio decorrido entre a doação e a tomada de
populares fizeram eco na Corte pelo que o Príncipe D. Pedro mandou fazer averiguação
das razões que assistiam a este povo pelo Doutor Mateus Gonçalves Mouzinho,
Sensível à delicadeza da situação, D. Pedro insistiu na via do diálogo pelo que, por carta
aquele povo e moradores, a que conheça quanto lhes importa recorrerem a mim e
esperar da minha grandeza que os ouvirei e farei justiça, antes que seja forçado a
tratar deste negócio, sendo certos que os ouvirei e deferirei com todo o favor que
permitir o seu requerimento, e que devem esperar da minha boa vontade, e do que
Foi, portanto, na sequência desta ordem que o futuro Conde das Galveias veio a
O bom sucesso da missão do Mestre de Campo viria, aliás, a ser reconhecido por carta
Dinis de Mello de Castro amigo. Eu o Príncipe vos envio muito saudar. Recebeu-se a
vossa carta de seis do corrente e por ela entendi o acerto e boa disposição com que
reduzistes os moradores de Fronteira a darem posse ao Marquês da mercê que lhe fiz
contra o senhor da vila, com a garantia do respeito integral pela propriedade das
Coutadas do Povo que viria a ser reconhecida, em 1678, por sentença judicial, na
sequência de nova tentativa de apropriação das terras pelo marquês que, anos antes,
prosperidade a que não foram totalmente estranhas as políticas de fomento interno então
postas em prática.
local, datando dessa época a construção da Igreja do Senhor dos Mártires, do Hospital
algumas residências particulares de feição erudita, como a ala sul do actual edifício do
de alguns dos moradores, foi a criação, em 1749, por iniciativa do capitão-mor António
Borralho Murça, do Celeiro Comum de Fronteira, com um fundo de 200 moios de trigo,
parte da população.
Novembro de 1755 que tão viva impressão causou em todos os meios cultos da época.
Se bem que em Fronteira os efeitos do megassismo tenham sido de pouca monta, aqui
deixamos o relato dos prejuízos experimentados, tal como ficaram registados pelo então
prior da matriz:
No 1º dia de Novembro de 1755 pelas nove horas e meia pouco mais ou menos, sucedeu
nesta vila de Fronteira o terramoto que duraria meio quarto de hora, até 10 ou 12
minutos pouco mais ou menos. Não se sabe com certeza nem bem o pude averiguar de
que parte fosse maior impulso porque a destruição que fez nesta vila foi muito pouca.
Nesta vila só caíu uma parede do meio em uma casa térrea e um pedaço de uma
sucede na maior parte das casas, porém somente cinco moradas em que estão as da
A nossa igreja matriz tinha já antigamente uma racha que tomando a metade da
abóbada descia uma racha que chega aos caixins das vestimentas e com o terramoto
abriu mais o que também sucedeu na abóbada da sacristia do SS. Sacramento que
também tinha outra semelhante e também abriu mais alguma coisa e algumas
rachinhas nas outras paredes, coisa muito pouca, e as cimalhas da Igreja da parte sul
alguns cálices. O cunhal da nova sacristia dos clérigos junto ao telhado da parte do
Misericórdia que se achava reformada e feita de abóbada, abriu esta duas rachas uma
racha da capela-mor despediram duas rachinhas cada uma por sua parte, entre a
parede do frontispício e a mesma abóbada mas não tão grande como a da capela-mor.
Na ermida do Espírito Santo [...] havia muitos anos tinha na abóbada muitas rachas
para o pé da porta principal e com o terramoto caíu grande parte da abóbada da parte
do Norte e o arco da capela-mor abriu ao meio e ficou de sorte que em breves tempos
virá tudo abaixo. As mais igrejas não padeceram ruína grave. No convento dos
capuchos caíu a escada da tribuna esta está quase no chão de modo que foi necessário
paredes mestras uma mão travez e as celas dos religiosos dividiram duas mãos travez.
Nesta vila não teve perigo pessoa alguma e só um homem comum que andava pedindo
A Fonte da Pipa, que está na estrada que vai desta vila para Alter do Chão, tiro de
peça a esta de Fronteira, sendo que todo o ano corria para fora está seca e a Ribeira
Grande por cima da ponte em um tiro de bala tem um pego que todo o ano conserva em
terramoto e advertiu que de tal pego saíu uma onda tal que enchendo a ribeira de
barra a barra chegou a bater na ponte cobrindo os pés direitos que pela parte de cima
a fortalecem e sem passar a água por baixo da ponte se recolheu a mesma onda ao dito
pego aonde ficou e no mesmo estado de que antes era a ribeira seca como antes estava
e não achei mais de com este homem que me disse esta notícia.
O séc. XIX irá assistir à derrocada das seculares instituições do edifício do Antigo
Regime cuja demolição começara já, em França, nos finais do século anterior.
viriam a fazer-se sentir, de modo mais ou menos intenso, na vida local, ao longo de toda
Fronteira foi invadida, no dia 9 de Junho, por um destacamento militar sob o comando
duzentos mil reis, vinte pares de sapatos, mil rações de pão e vinho e ainda outros
géneros sob pena de, caso as exigências não fossem satisfeitas, entregar a vila ao saque
da soldadesca.
Depressa se viu, porém, que a povoação não dispunha dos meios com que satisfazer o
pesado tributo pelo que o invasor decidiu reduzir a metade o montante exigido. Ainda
assim, era demasiado. Após negociar com as autoridades locais, D. Baltazar acabou por
levar somente um conto quinhentos e vinte e cinco mil e duzentos reis, dezoito pares de
Fronteira.
minimamente fiável do sucedido em Fronteira mas a terra não deve ter escapado à
fermento, a levedar...
política, lá ia aclamando ora a Carta, ora o senhor D. Miguel, rei absoluto. Nos
entre a nova ideologia e a elite local, cujos membros, na sua maior parte, se encontram
Porém, a situação não era tão anedótica quanto as palavras acima podem fazer crer: a
sanha miguelista fez as suas vítimas entre os fronteirenses. Por liberal se fuzilou, em
Portalegre, Pedro José Marques e pelas mesmas razões outros houve que por pouco
Falecera, entretanto, o rei D. João VI, de entre todos os monarcas aquele a quem o povo
Foi, de facto, D. João VI que despachou favoravelmente a construção dos novos Paços
do Concelho e, mais importante ainda, foi a ele que se ficou a dever a divisão da
Coutada Lavradia pelos moradores da vila, motivos mais que suficientes para levarem a
[...] Foi anunciada a fúnebre função das exéquias do dia onze do corrente, pelo meio-
dia, com os dobres de sinos de todas as torres quer da Igreja, Convento e Relógio, quer
dos mais das outras igrejas. Antes disso e com muita antecedência se tinham dirigido
Pelas duas horas, duas e meia e três da mesma tarde se repetiram geralmente os
os Juizes dos ofícios mecânicos e seus oficiais para este acto notificados e palas,
luto, levando o estandarte de pano preto com as Armas Reais cobertas de fumos, sendo
sustentada a cauda do mesmo estandarte por dois Juizes dos ofícios mecânicos,
vestidos de preto, com capa e volta que pegavam nas borlas e pontas do mesmo
estandarte para que não tocasse no chão. Ao lado do mesmo cavaleiro iam, igualmente
vestidos, outros dois Juizes dos ofícios mecânicos que levavam varas pretas na mão aos
primeiro de capa e volta e este vestido de luto e ambos com varas verdes indo o
seguia do lado direito, vestido de preto, com capa e volta, empunhando uma vara
branca. Atrás do porteiro ia o Escrivão das Armas, Paulo José da Silva com vara preta
preto, em duas alas e a seguir a eles os seus Juizes com varas também pretas na mão.
Paiva Lobato e do direito o Juiz da Vintena de Vale de Maceiras, Luis Martins Pereira,
quase todos a mesma uniformidade de vestes. Estas duas filas levavam no fim, do lado
pessoas da Governança iam iam três Juizes dos Ofícios – Joaquim Penana, José
Calisto e Manuel José Gonçalves que levavam no braço direito os escudos com as
Armas Reais pintadas os quais eram acompanhados pelo Doutor Síndico da Câmara,
Joaquim José Machado Sacoto que levava a seu lado esquerdo o contínuo da mesma
O cortejo era rematado pelo Corpo Senatório que levava na sua direita o Doutor
Câmara Francisco de Paula Esteves, vestidos de preto com capas e voltas levavam
varas pretas nas mãos e cobriam-se com chapéus desabados com grandes fumos
pendentes para o lado esquerdo. Iguais chapéus levavam todas as pessoas que iam de
capa.
soldados comandados pelo seu capitão Rosado, da vila de Alter do Chão e que
marchavam todos pelo som baixo e triste de um tambor que mansamente tocava o
instrumento coberto de luto. Desta forma vagarosamente marcharam pela Rua de Avis
qual foi conduzido pelo Síndico da Câmara o vereador mais velho, Joaquim Freire de
Oliveira que depositando o seu chapéu e vara nas mãos do mesmo Síndico e recebendo
um dos três escudos, recitou as palavras do estilo e quebrou o mesmo escudo. Neste
Regressado ao seu lugar o vereador, continuou este lúgubre acompanhamento pela Rua
de Santarém acima até à praça onde estava colocado outro tabernáculo ao qual foi
quebrou o segundo escudo ao que a Guarda dos Milicianos correspondeu com outra
descarga.
Continuou-se depois pela Rua dos Trigueiros abaixo, Rua da Lagoa acima até à
colocado outro tabernáculo subiu o terceiro vereador, José António Copeto que depois
Deste lugar se dirigiram na mesma ordem para a Igreja Matriz onde todos tomaram os
No lugar fronteiro à capela de São Francisco, entre as duas colunas estava o assento
da Câmara armado e coberto de luto e por baixo deste o do Doutor Síndico e dos
Vintena, Meirinho e Alcaide, Juizes dos Ofícios, oficiais de vara e mais oficiais dos
Tomados os ditos lugares pelas pessoas a quem eram destinados começaram a cantar-
se as Vésperas e o ofício pelas classes do Clero e dos Religiosos e pela Música vocal e
nove horas do dia 11, veio o mesmo adjunto de pessoas já mencionadas acompanhar o
religiosa função com a missa finda a qual o Reverendo frei Paulo de Santa Rita, natural
desta vila, subiu ao púlpito e fez um eloquente discurso fundado em princípios análogos
pompa e decência.
A tropa de infantaria deu neste segundo dia duas descargas a levantar a Deus e a
lugar fronteiro às duas primeiras colunas da parte da capela-mor cuja altura subia
acima dos capitéis das mesmas e que tinha na sua base 18 palmos de comprimento.
na língua latina.
Na parte que da mesma essa dizia para o fundo da Igreja e aonde se achava a maior
parte dos espectadores estava colocada a Real Efígie do Senhor D. João VI com os
dísticos seguintes: Lex clementia in lingua ejus; Roboratur clementia thronus ejus,
capela-mor, e do mesmo lado; e tomou o mesmo Procurador o seu lugar designado por
Toda a década de 1830 ficou marcada por intensa actividade militar: avanços e recuos
toda uma série de actos de violência que sempre acompanham uma guerra civil.
Seria, porém, na década seguinte que a agitação social viria a ter a sua maior expressão,
pronunciou esta vila contra o ministério de Costa Cabral o povo exigiu e queimou
deste concelho.
resultado de uma decisão, democraticamente tomada, pelo povo e pela Câmara que,
das províncias do Norte, Beira e Estremadura e logo por todos e cada um dos cidadãos
presentes em grande número foi dito que eles aderiam aos pronunciamentos feitos
naquele sentido para a queda do ministério de Costa Cabral acatando como lei
Rainha de Portugal e que todos prometiam por todos os esforços pela conservação de
Mas, uma vez mais, as boas intenções não chegaram e o sossego e ordem pública
seguinte retrato:
Pinto [...] devo declarar enquanto à parte política que este cidadão se não tem
comportado bem pois foi visto por todos à frente de todos os motins que nesta vila
tiveram lugar por ocasião da revolta de Maio de 1846 [...] enquanto à parte moral e
civil também se não tem comportado bem pois que tendo-me o Administrador substituto
do Concelho dessa cidade [Portalegre] dado notícia de um furto de uns porcos por ele
ali praticado e tendo eu investigado este negócio fui descobrir os porcos no rebanho de
subsistência deste homem sua mulher e filhos o obrigaram talvez a estes excessos e um
Nesta memória transparece claramente uma das causas fundamentais, senão a principal,
ligado à evolução da agricultura que, até meados do séc. XX, viria a condicionar todas
alcançar a tão almejada auto-suficiência virão decidir, por longos anos, a vocação
do trigo deram origem a uma especialização produtiva que, a longo prazo, criou
Desde o início de 1800 foi notório o aumento da área cultivada, estimulada, a partir de
1834, pela venda dos bens nacionais e pelas leis de desamortização. Diga-se, a título de
curiosidade, que dois dos vinte maiores compradores dos bens então posto em hasta
pública – Joaquim Manuel Namorado e João António Gomes Castro – estavam ligados a
famílias de Fronteira.
Este aumento das áreas cultivadas foi, por vezes, secundado pela introdução dos adubos
produção interna.
inunda de trigo não só Portugal mas quase toda a Europa, colocado no mercado
nacional a preços sem concorrência, viria despoletar uma crise cuja consequência mais
pela Câmara de Fronteira à Câmara dos Deputados sobre os grandes males que
do Rio Douro pelos Espanhóis e transporte de seus cereais e depósito deles na cidade
Esta segunda metade do séc. XIX ficou assinalada pelo aparecimento de grandes e
como reverso da medalha, veio agravar factores até então pouco significativos de
Em 1882, incapaz de dar solução à situação de miséria aguda que então se vivia em
A soberana fez remeter a carta para uma comissão encarregada da gestão dos fundos
que se alega não parece muito justificada, quando se vê por toda a parte que o que
[...] que o número de 400 pessoas pobres neste concelho não é exorbitante, segundo o
Que conquanto na actualidade não haja falta de trabalho nos serviços agrícolas,
contudo é um facto de que o ano findo em 30 de Junho último foi péssimo pela escassez
e imensa carestia dos géneros, a ponto de muita gente contrair muita dívida que ainda
não pôde satisfazer e que mal o poderão conseguir, embora o corrente ano seja um
pouco melhor.
Que é também certo que neste concelho, essencialmente agrícola, existem 3 máquinas,
agricultura.
Fronteira. Para esse efeito procedeu-se mesmo à expropriação de parte das herdades dos
que tanto poderia ter pesado no progresso da terra não teve o desenvolvimento
maneira.
A República, prometendo a redenção da Pátria e o remédio para todos os males, instalar-
se-ia, após o assassinato político do rei, a 5 de Outubro de 1910, num país onde, dizia-
facto, algo de memorável nos anais locais e um dos últimos actos em que o a
Aos nove dias do mês de Outubro de mil novecentos e dez, pelas doze horas do dia, na
sala dos Paços do Concelho desta vila, se reuniu em sessão solene, com assistência das
propôs para presidir a esta sessão o cidadão Dr. Francisco de Sousa Namorado,
Secretariado pelos Srs. José Rovisco Pais e Manuel Chambel da Costa, começou por
saudar a mesma Câmara por Ter promovido esta reunião, importante pela grandeza do
pensamento que traduz “ Vitoriar o triunfo das ideias democráticas “; e afirmando que
palavra ao talentoso académico Manuel Relvas Xavier por este foi dito: que as
monarquias perderam a razão de ser, desde que a Revolução Francesa acabou com o
direito divino e demais a monarquia portuguesa por seus erros e por seus crimes estava
português eliminando por completo e primeiro que tudo, o jesuítismo, esse cancro
Começou por justificar o entusiasmo de que está animada esta manifestação por ela
redenção de uma pátria, continuou, é sobejo motivo para exultar o seu povo, com mais
forte razão devem levar até ao delírio o seu entusiasmo aqueles que, como os
próspero, como nenhum outro, e achando-se depois arrastado por uma horda de
ambiciosos, se não malfeitores, que o levaram ao estado comatoso, o vêem agora salvo
pela implantação de u regime de liberdade e de justiça. Mas para que se possa usufruir
façamos valer os nossos direitos, não imitando aqueles indivíduos que livres da tutela
organizou o cortejo, que da sala da sessão saiu levando à frente a Câmara com a
marinha, ao povo e aos mais beneméritos que tantos esforços empregaram para a
implantação do novo regime. No regresso retomou cada um o seu lugar na sala e pelo
Sr. Presidente foi dito: que em vista de tão simpática e sincera manifestação como a
que acabámos de presenciar nenhuma dúvida pode haver acerca dos sentimentos
patrióticos do povo Fronteirense; que a nação pela sua descrença nos que a iam
conduzindo levou a sua tolerância até às raias do servilismo, o que muito admiraram
extraordinária e que não surpreendeu ter Portugal reunido os seus vigorosos elementos
Disse mais o Sr. Presidente que o povo português tem sido sempre dedicado à sua
pátria e conservado o sangue dos seus antepassados e as suas energias e que se estas
estiveram reprimidas por tanto tempo foi por falta de chefes bem orientados. Mas
agora que surgiram homens cheios de f´é, que têm levado os seus esforços até ao
sacrifício para implantarem este regime que nos vai salvar, o povo português tendo nele
a máxima confiança entrega-lhes da melhor vontade o seu destino. Mais disse que para
avaliar a administração que o Governo da República vai fazer basta olhar para a
vivas tomou a palavra o Sr. Francisco Curvello, que num brilhante improviso, cheio de
calor e por vezes interrompido pelo entusiasmo que despertava nos ouvintes, começou
último facto por dar ao povo além da independência também a liberdade. Demonstrou
Governo Republicano não pode deixar de ser utilíssima para o povo português e dando
mesma vila.
convite que receberam e declarou encerrada a sessão. E para constar se lavrou esta
acta que vai ser por todos assinada. Eu José Francisco Bugalho, Secretário da Câmara
a escrevi e assino.
Costa. A Mesa: José Rovisco Pais, Manuel Chambel da Costa. Manuel fernandes
Morgado Rego, José dos Santos Andrade, Daniel Moreira Gomes, Joaquim José
Joaquim Zacarias, José Joaquim canejo, Francisco Soares Laranjo, José de Sousa
Pereira, António Beato, João António Espadinha, Cláudio Pais Rebelo, António Rijo
Pirão, Manuel José Guerra Vieira, João Carlos da Costa Ramos, José Damasceno
Gomes, Marciano Rovisco Pais, José Pais Monteiro, António Sérgio de Sousa Neves,
Mariano da Conceição Marques, Joaquim Martins Porto, João Maria Porto, José
Xavier, Jerónimo Rodrigues Sadio, Domingos José Monteiro Júnior, João José de Brito
e Castro, Maximiano António Telles de Castro, Joaquim Manuel Namorado,Francisco
José Rodrigues de Moura, Manuel Relvas Xavier, António Maria de Andrade Sampaio,
João Manuel Teles de Matos, Manuel Gil, Francisco Dias Loução, Aleixo José dos
O principal e mais dramático episódio destas primeiras décadas do séc. XX teve lugar
alicerçado na expansão das áreas votadas à produção cerealífera, bem manifesto, por
ficariam na memória das gentes do campo como os anos em que as pedras deram trigo,
alimentando a visão edénica de um Alentejo, celeiro da nação, que ainda hoje persiste
Janeiro de 1938.
cultural de uma boa parte da população o que permitia a existência de duas bandas de
viria a provocar uma série de profundas alterações cujos efeitos se fazem ainda sentir
desajustada das novas realidades marcadas pelo arranque de uma nova ordem que
apontava para a diluição das fronteiras económicas e para os fluxos globais de produtos
novos tempos.
Espelho fiel da situação agrária das últimas décadas de 1900, o texto abaixo transcrito
aguda da necessidade de uma reforma agrária que viria realmente a acontecer, se bem
que em moldes muito diversos dos que, certamente, estavam nas mentes dos membros
1970:
pequena e média lavoura. È interessante observar o que fez Israel neste problema.
Há vinte anos havia reservas económicas que podiam fazer face à evolução que se está
A modernização da Lavoura impõe encargos que ela não pode suportar. As medidas
que se vêm adoptando por parte do Governo são duma grande imperfeição. Com elas
empréstimos e subsídios sobre o que não têm, dificultando ainda mais a vida dos outros
agricultores.
Pelo que resumidamente expomos impõe-se uma reforma agrária no nosso País que já
devia estar estudada e executada há duas décadas de anos, pelo menos. Com ela se
populações agrícolas. É confrangedor notar a tristeza que paira sobre as nossas vilas e
[...]
A consequência mais perniciosa desta falência do mundo rural foi, sem qualquer dúvida,
Apenas na década de setenta essa sangria sem precedentes viria a ser, se não estancada,
pelo menos reduzida na sua intensidade, em virtude das profundas transformações então
problemáticas.
Bibliografia
Câmara Municipal de Fronteira. Autos cíveis de vistoria, risco e arrematação das obras
das novas Casas da Câmara, Cadeia e Salas Livres desta vila de Fronteira, 1831
Câmara Municipal de Fronteira. Termo de entrega de todos os bens, livros e alfaias que
estavam na posse da Mesa Administrativa da Confraria da Senhora da Vila Velha, ao
Reverendo Senhor Padre José Maria Sarafana, 1938.05.19
Câmara Municipal de Fronteira. Termo de entrega de todos os bens, livros e alfaias que
estavam na posse da Mesa Administrativa da Confraria do Santíssimo Sacramento, ao
Reverendo Senhor Padre José Maria Sarafana, 1938.05.19
Câmara Municipal de Fronteira. Treslado de uma escritura que faz António Soares
Franco com João Baptista Louro, e sua mulher Maria Joana Baptista Laranjeira,
recebendo destes um moinho de vento [...], 1845.10.02
Carta do Príncipe D. Pedro para Dinis de Melo de Castro pedindo-lhe para o avisar
dos meios que pode haver para se conseguir em Fronteira a posse que pretende o
Marquês da dita vila, Biblioteca da Ajuda, 51-VI-12, nº 252
Morais, José Custódio de, Clima de Portugal, Lisboa, Centro de Estudos de Urbanismo
e Habitação Engº Duarte Pacheco, 1966
Moreira, Maria Mirtô de Azevedo Alves. A Batalha dos Atoleiros: dissertação para a
licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, [policopiado], Coimbra, 1958
Ordem de Avis. Chancelaria. Provisão a Afonso Garcia Moniz e outros para inatituirem
a Confraria de Nossa Senhora da Conceição, sita na Igreja de Nossa Senhora da Vila
Velha, 1647.11.19
Pina, Fernando Correia. Fronteira: subsídios para uma monografia, Fronteira, Câmara
Municipal de Fronteira, 1985
Portugal. Instituto Geológico Mineiro. «Mapas dos Impostos Fixos das Concessões
Mineiras e de Águas Minerais Relativos ao Ano de 1995 e Listas dos Respectivos
Concessionários», Boletim de Minas, vol. 33, nº 2, Lisboa, 1996
Portugal. Leis, decretos, etc. Colecção Oficial da Legislação Portuguesa: ano de 1853,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1854
Portugal. Leis, decretos, etc. Colecção Oficial da Legislação Portuguesa: ano de 1855,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1856
Portugal. Leis, decretos, etc. Colecção Oficial da Legislação Portuguesa: ano de 1863,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1864
Portugal. Leis, decretos, etc. Colecção Oficial da Legislação Portuguesa: ano de 1867,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1868
Portugal. Leis, decretos, etc. Colecção Oficial da Legislação Portuguesa: ano de 1868,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1869
Portugal. Leis, decretos, etc. Colecção Oficial da Legislação Portuguesa: ano de 1869,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1870
Portugal. Leis, decretos, etc. Colecção Oficial da Legislação Portuguesa: ano de 1871,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1872
Portugal. Leis, decretos, etc. Colecção Oficial da Legislação Portuguesa: ano de 1872,
Lisboa, Imprensa Nacional, 1873
Silva, Armando Coelho Ferreira da; Gomes, Mário Varela. Proto-História de Portugal,
Lisboa, Universidade Aberta, [imp. 1992]