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MARAVILHAS

DA CIÊNCIA
i
ÍNDICE

A pequena esfera de aço de uma esferográfica, a descolagem


de um Jumbo, a identificação das impressões digitais de um criminoso,
a construção de uma torre com mais de 500 m de altura, a habilidade de tirar
um coelho do chapéu. Estas são algumas das maravilhas e curiosidades
que esta obra lhe revela. Esperamos, porém, que ao folhear
este livro encontre muitos outros assuntos que lhe
despertem o seu interesse e a sua admiração.

Fecho de correr 20 Um serviço mundial de mensageiros 56


Parar um elevador em queda 20
MILAGRES Testes de cheiro no gás natural 21
As fibras dos saquinhos de chá 21
DO DIA-A-DIA Fósforos aos milhões 22
C o m o adere a película aderente? 23
Pp. 9-30 Panelas antieslurro 23
C o m o cozinham as microondas 24
Desenhos em néon 10 C o m o os frigoríficos "fazem frio" 25
Iluminação controlada pelo Sol 11 Panelas de pressão 26
A resistência das lâmpadas 11 Eliminando o calcário das panelas 26
As pilhas 12 "Girinos" na máquina de lavar 27
Como se "mete" o bico num lápis 13 Pasta de dentes - de giz e algas 28
Esferográfica 14 0 fio das lâminas de barbear 29 O controle do tráfego citadino
Supercolas 15 Aço inoxidável 30
Os post-it 16 Notícias de todo o Mundo 57
Pondo perfume num papel Itj Elaboração de um dicionário 58
Fotografias em pontinhos 17 Abastecimento de um exército
As máquinas de moedas 18 GRANDES em guerra 513
Vclcro 19 l ni dia n u m hotel de luxo 61
PROEZAS DE Um dia n u m transatlântico 62
Como se organizam as Olimpíadas 64
ORGANIZAÇÃO Como se faz um
Pôr em cena u m a comédia
filme 66

Pp. 31-72 musical


Equipas de socorro de montanha
68
71
Multidões nos aeroportos 32
Evitando colisões aéreas 33
A selecção d o s controladores
aéreos 34 TÉCNICAS
A caça aos terroristas 35
Refeições a bordo de um Jumbo 37 DE LOGRO
0 m u n d o da Bolsa 38
Dinheiro para queimar 41 E DETECÇÃO
C o m o se constrói um automóvel 11
A previsão meteorológica 44 Pp. 73-100
Abastecimento de água a uma
cidade 46 0 avião "invisível" 74
Tratamento de lixos 47 Camuflagem 76
Combate a incêndios na floresta 40 Scramblers 77
O problema do trânsito 50 Códigos e cifras 78
Um dia nos cuidados intensivos 52 () m u n d o das "toupeiras" 79
Fotografias aéreas para mapas 54 Dispositivos de escuta 80
Pormenor do vekro Uma carta atravessa o Mundo 5(5 Tintas invisíveis 81

1
As drogas da verdade 81 Seda: fabricada por borboletas Defesa contra torpedos e mísseis 154
Fotografias que mentem 82 Vestuário de fibras sintéticas Como guiar mísseis até ao alvo 156
Detectores de mentiras 87 Tecidos com padrões Como um soldado vê na escuridão 157
A busca das causas de um Produção de vestuário cm massa Porque vai uma bala a direito 157
incêndio 89 Construindo armas nucleares 158
Descobrindo pinturas ocultas 90 Raios de laser no espaço 159
Extinguir um incêndio nuclear 160
Velejar contra o vento 161
O restauro de uma obra de arte 161
A pintura da Capela Sistina 162

A EXPLORAÇÃO
DO UNIVERSO
Pp. 165-186
A força que impele o foguete 167
Dos fios de algodão ao tecido

Como se obtém água doce


1 •j
do mar 117
Transformar lixo em energia 118
A reciclagem do lixo 119 W"'V' ÍM E. ^ B
Electricidade a partir do urânio 121
Armazenagem de resíduos
nucleares 122
' '«1 %
h À
Electricidade a partir das marés 123 ^H^^y ^ vt *"*'
Electricidade a partir do vento 124 ^P-^
'^^^^^^^^E ^\ à^Si
Rochas quentes: fonte de energia 125
Fotografias ' men t irosas' A origem das chuvas ácidas 126

Impressões digitais 92
Captando a luz do Sol
Fotografias de alta velocidade
127
128
W Â
A "dacliloscopia" genética 94 Captar em filme a Natureza 129
Como se produz um retrato-robô 95 Plástico que se autodestrói 130
Análise ria caligrafia 95 A "revolução do plástico" 131
Detecção de droga 97 Como se extrai petróleo 132
Desmascarando traficantes 98 Prospecção de petróleo 133
A investigação de desastres aéreos 99 Limpar derrames de petróleo 134
Fogo num poço de petróleo 135
Como se mede uma montanha 138 Deslocação no espaço
Tesouros no fundo do mar 138
IDEIAS PRATICAS O escafandro autónomo 140 Navegação no espaço 168
Reparação dos cabos Refeições numa nave espacial 169
E SOLUÇÕES submarinos 141 ("orno os satélites giram em órbita 170
Diamantes sintéticos 142 O controle das sondas espaciais 172
ENGENHOSAS Como se cortam diamantes
O corte do diamante Cullinan
143
144
Fotografias por satélite
Receber fotografias de satélites
174
175
Pp. 101-164 A técnica dos vedores 146 Einstein e a relatividade 176
Como se faz chover 146 Medindo o Universo 178
Como se obtêm os melais puros 102 Construindo os aviões do futuro 146 Os espelhos dos telescópios 180
Como se transforma areia em Aeroplanos accionados pelo Como se contam as estrelas? 182
vidro 104 homem 149 Como acabará o Universo? 183
Das árvores ao papel 106 Aterragem em porta aviões 150 Em busca dos limites do Universo 183
Converter plantas em gasolina 108 lançamento de aviões "Vendo" o invisível buraco negro 183
Conversão de carvão em petróleo 108 de um navio 151 A serpente que voltou do espaço 184
Captando a fragrância das flores 108 Tácticas dos pilotos de caça 151 Descobrindo planetas 185
Tecido feito de fibras naturais 110 "Ver" com o radar 154 Em busca de vida no espaço 186
ÍNDICE
O vídeo 220

MARAVILHAS Gravação em fila


O gira discos
221
222 MARAVILHAS
.Sons de duas direcções 223
DA CIÊNCIA Edison e a lu/ eléctrica 224 DA MEDICINA
CDs: música com um raio
Pp. 187-210 de laser 226 Pp. 275-298
Os sintetizadores 227
Clones de plantas e animais 188 Fibras ópticas 228 A criação de um bebé-proveta 276
Os segredos das células 189 Hologramas 229 O exame oftalmológico 277
Criação de novas espécies 190 Fax fotocópias pelo telefone 230
Como se iriam novos O "bip" que nos chama 231
medicamentos 191 Fotocopiadoras 231
Comunicar c o m .munais 192 A câmara fotográfica 232
Os mamutes voltarão a existir' 193 «'•'miaras de focagem automática 237
Reconstituir seres pre-historieos 194 0 cristal de silício 238
Km In isca da máquina pensadora 196
Como é que um computador
traduz? 196
Computadores que falam 197
Como se cindem os átomos? 198 Quando a cida auneçu numa panela
Explorando o interior do átomo 199
Ver os átomos 200 Como os óculos aguçam a vista 27,s
Medindo a velocidade da luz 201 Como se fazem lentes
Medindo a velocidade do som 201 de contacto 278
Chuck Yeager e a barreira do som 202 Corno lêem os cegos 280
A previsão de sismos 201 Como se mede a inteligência 281
Perfurando a crusta terrestre 206 As utilizações de um micmchip o que e ,i memória? 282
A deriva dos continentes 207 O que e a hipnose? 2.82
Os computadores 239 Como se treinam os atletas 283
Como as calculadoras fazem "Vendo"' o interior do corpo 287
somas 211 Antibióticos 288
Os cofres dos bancos 2-12 A microcirurgia 289
Dinheiro de plástico 212 Marie Curie e o rádio 290
O código de barras 2 13 Operar com um feixe de luz 292
Relógios de quartzo 211 Como a anestesia elimina a dor 292
Relógios atómicos - a perfeição 211 Para que ser\e o pacemaker 293
O microscópio electrónico 2 IS A cirurgia de transplante 291
Os robôs 246 Eliminar as rugas da face 295
O motor de um automóvel 248 O primeiro transplante cardíaco 296
Travões antibloqueio 2S0 Como trabalha um rim artificial? 298
O cinto de segurança 230 Como se reduz, a calvície 298
Porque se usam pneus lisos 251 Sobreviver a um raio 298
Dndc <>s ctuUttwntes se separam Testes de alcoolemia 2S1
Como funciona um aerossol 251
A idade da Terra 209 Os herbicidas selectivos 252
O centro da Terra 210 Os pesticidas selectivos 253
254
CONSTRUÇÃO
Metais com memoria
Relógio de fumo
Alarmes contra ladrões
254
254
E DEMOLIÇÃO
COMO A máquina de costura 255
256
Pp. 299-316
Porque flutuam os navios de aço
FUNCIONA? Submerso durante semanas
Como se navega uni submarino
257
259
Construir um arranha céus 300
A mais alta construção do Mundo .502
Pp. 211-274 Cabinas pressurizadas
259
260
Como o cimento faz presa
George Stephenson e os comboios na tigiia .303
262
(i teletl me 212 A descolagem de um Jumbo Betão (ire esforçado 303
268
A radio 2 IS o helicóptero A demolição de um arranha-céus 301
272
A televisão 218 o hydrofoil: 'Voando" na água Demolindo uma central nuclear 305
271
Controle remoto 220 o hot ercrafi Cabos que poderiam atar o Mundo 306

6
Como se represam grandes rios? 308 Os cosméticos primitivos 367
Construções resistentes ao vento
Montagem de gruas gigantes
311
312
C o m o os Gregos mediram
a Terra 367
PURO
Soldar debaixo de água 314 Decifrando línguas esquecidas 368
Construir túneis debaixo de água 316 Travessia aérea sem escala 370 DIVERTIMENTO
Pp. 395-437
CURIOSIDADES C o m o serrar uma mulher ao meio 396
Mm coelho no chapéu 397
DE ALIMENTOS Morte de um apanhador de balas
Levitação
398
399
E BEBIDAS O truque da corda indiano
Homens que "lêem" o pensamento
400
401
Domar a Natureza Pp. 373-394 Os venlríloquos 401
Houdini: o mestre da evasão 402
Como os túneis se encontram A pêra dentro da garrafa 571
Rodelas de ananás todas iguais 375
C o m o se faz o luro no macarrão 375
C o m o se recheia uma azeitona 375
COMO FOI FEITO Rechear chocolates 376
Bolachas c o m pedaços
Pp. 317-372 de chocolate 376
Filetes prontos a fritar 376
A Grande Pirâmide 319 Batatas fritas aos milhões 377
324
r
As doenças dos antigos egípcios Camarões descascados
Os rostos do passado 325 à máquina 377
Ferramentas na Idade da Pedra 327 Ervilhas congeladas 378
•\s estátuas da ilha da Páscoa 328 Alimentos tratados c o m radiações 378
A Cirande Muralha da China 333 A liofilizaçáo 379 Porque é que náo caem''
Um exército de barro 335 Café instantâneo 380
As paredes de pedra dos Incas 33(3 Sabores artificiais 380 O truque das três cartas 404
A construção de Stonehenge 338 Escolher feijões 381 Montanha russa 405
Datação de vestígios antigos 341 Transformar feijões em "carne" 381 Espelhos que enganam 406
0 passado em grãos de pólen 343 Conservação do leite 381 "Nevoeiro" no teatro e cinema 406
Como Aníbal atravessou Algas nos gel.idos 385 Os eleitos especiais no cinema 406
os Alpes 344 Maionese 385 Os duplos 414
Pão e cerveja na Idade da Pedra 346 l.ouis Pasteur 386 O homem que "embrulha" paisagens 118
Desenhos com pedras 347 Assar um boi 388 Pleitos gráficos na televisão 120
Os artistas das cavernas 347 Comida para animais Animais que são estrelas de TV 425
Os Jogos Romanos 350 de estimação 388 Concursos de televisão 426
Cerco a um castelo medieval 352 A coca-cola 38!) Roleta 427
A navegação \UÍ Antiguidade 355 Como se Faz o vinho 390 Preparando palavras cruzadas 427
Colombo descobre o O sabor do vinho 392 Computadores campeões de xadrez 427
"Novo Mundo'' 356 As bolhíis do champanhe 393 Aprisionar um dente de leão 428
Um barco dentro de uma garrafa I2!>
Cronometrar os atletas olímpicos 429
JutZ de linha electrónico 430
Curvar u m a bola no ar 431
As covinhas nas bolas de golfe 132
Porque volta O bumerangue 432
Andar sobre o fogo 433
Mergulhos " e m seco" 434
Saltos de esqui 434
1'iiuuru nu kludc clu PedrQ Saltos de pára-quedas 435
Surf 436
A construção de l.ady Liberty 359
O memorial do monte Rushmore 362 De onde vêm as bolhas ÍNDICE 438
A hidráulica romana 365
Medicina na Idade da Pedra 366 C o m o se fax cerveja 394 AGRADECIMENTOS 446
Redactores e consultores da edição inglesa

Nigel Hawkes • Nigel Henbest


Graham Jones • Robin Kerrod • Terry Kirby
Theodore Rowland-Entwistle
John H. Stephens • Nigel West
Neil Ardley • John Brosnan • Dr. John R. Bullen
Prof. Geoffrey Campbell-Platt • Mike Clifford
Jean Cooke • Mike Groushko • Ned Halley • Commander D. A. Hobbs
Richard Holliss • W. F. A. Horner • Dr. Robert Ilson
Dominic Man • John Man • Dr. J. R. Mitchell
Prof. Frank Paine • Michael D. Ranken • Nigel Rodgers
Dr. David A. Rosie • Andrew Wilbey

Consultores da edição portuguesa

Dr. Alfredo Barreto • Prof. António de Vallêra • Dr. António Dias Diogo
Eng. António Pratt • Dr. Augusto Maldonado Simões • Dr. Carlos Santos Ferreira
Dr.a Dulce Mota • Eurico da Fonseca • Filipe La Féria • Eng. Francisco Chumbinho
Eng. Francisco Tudella • Dr.*1 Gabriela Iriarte • Eng. Gonçalo Borges de Castro
Dr.a Graça Vieira • Dr.d Helena Paveia • Henrique Sampaio Soares • Dr. Horácio Novais
Dr.a Isabel Barros Ferreira • Dr. João Matela • Arq. José António Abreu Valente
Dr. José António Pestana • Dr. José de Matos Cruz • Eng. José Eduardo Noronha
José Soudo • Liselotte Correia • Dr.a Lúcia Garcia Marques • Manuel Gorjão Henriques
Dr. Ricardo Schedel • Profa Teresa Mira Azevedo • Dr. Vasco Rivoti
Victor Milheirão • Vítor Neto

8
Milagres do dia-a-dia
Todos os dias, e quase sem pensar, nos servimos dos mais
extraordinários instrumentos e materiais - fornos de microondas, pasta
dentífrica às riscas, máquinas de barbear descartáveis. Mas como sõo
feitos, como funcionam e como foram concebidos todos estes
ingredientes maravilhosos da vida moderna?

Como se fazem anúncios aromáticos, p. 16


Como se forma uma bola de sabão, p. 2
Néon: desenhos
luminosos
Por todo o Mundo se vêem anúncios luiui
nosos. formando figuras coloridas ou de-
senhando os nomes de marcas comer-
ciais. Esla variedade na forma e na cor, im-
possível de obter com as convencionais
lâmpadas d€ filamento incandescente,
deve-se às lâmpadas de descarga eléctrica
em gas. Estas são Formadas por simples
tubos de vidro, a que pode dar-se a forma
pretendida, no interior dos quais existe um
gás a baixa pressão. Normalmente, os ga-
ses não condn/.em fac iliiicnlc a electrici
dade — são bons isoladores —, mas pas-
<ore sam ii la/è lo se se lhes baixar a pressão e
se lhes aplicar uma tensão eléctrica (volta-
gem) elevada. A descarga através do gás fa-
lo brilhar com a luminosidade caracterís

l lica.
Nos finais do século xix e princípios do
XX, os cientistas que investigavam o com
portamento das descargas eléctricas atra
vés do gás raro néon a baixa pressão obser-
varam pela primeira vez a admirável lumi
nosidade vermelho-alaranjada que o gás
emite. Ainda hoje as lâmpadas de néon são
das mais usadas nos anúncios luminosos.
Quando experimentaram outros gases,

ffifílf ¥iú
'ih -
\ *1 / í'
/ -

•l.l \*\J\ U t

As noites de néon. O cowboydo Pioneei


Club, com <> seu cigarro bamboleante, do
mino o caleidoscópio de néon de Las Vegas
JXU
(à esquerda). A figura data de 1951. Tam
bem em Hong Kong a noite se enche de
50* luzes (em cima). Algumas, como este dra
gâo, são o pesadelo dos mestres vidreiros.

10* B
r a S f e s t ó i S S J j fci' i
MILAGRES DO DIA-A-DIA

verificaram que luziam com cores diferen-


tes. Por exemplo, a lux emilicla pelo hélio é
vermelho-dourada, e a do críplon, violcta-
pálido. Outros gases, como o árgon e o
Porque as lâmpadas são tão fortes
mercúrio, emitem sobretudo radiação ul
Iravioleta, invisível para os nossos olhos, O vidro de uma lâmpada eléctrica não é lâmpadas a partir de uma fita
mas que tem a propriedade de provocar a muito mais espesso que esta folha de pa de vidro
fluorescência de muitas substâncias. Fsles pel, e, no entanto, suporta uma pressão A manufactura de lâmpadas é um proces-
gases usam se nas chamadas lâmpadas de forte quando enroscamos a lâmpada no so industrial complicado e altamente auto
"luz negra*', vulgares nas discotecas, ou suporte. A explicação reside principal matizado, em que aquelas adquirem a sua
nas de ultravioletas para tratamento ou mente na forma da lâmpada, que segue o forma em moldes a partir de uma fita conti
bronzeamento, mas também, e sobretu- princípio da casca do ovo. nua de vidro em fusão.
do, nas chamadas lâmpadas fluorescen- No início dos tempos, a Natureza resol Um dos componentes essenciais da
tes: o tubo de vidro é coberto com urna vcu o problema de impedir que os ovos lâmpada é o filamento, uma espiral de lio
tinta que fluoresce fortemente com os ul fossem esmagados pelo peso da ave en- de tungsténio com a espessura de um cen-
Iravioletas emitidos pela descarga no gás. quanto eram chocados. A solução foi a for tésimo de milímetro.
As cores das lâmpadas sáo determina ma característica do ovo, que lhe propor A lâmpada dá luz quando um filamento,
das pela mistura gasosa com que se enche Ciona resistência estrutural, permitindo ao ser atravessado por unia corrente eléc-
o tubo, por vezes em combinação com a -lhe suportar pressões surpreendente- trica, fica incandescente. Para evitar a sua
utilização de vidro colorido. mente elevadas. (Se a casca fosse demasia oxidação e rápida destruição, lodo o ar da
do grossa, o pinto não conseguiria quebrá- lâmpada é extraído e substituído por uma
la para sair.) mistura inerte de árgon e azoto. A lâmpada
As lâmpadas tal como os ovos pOS é então rolada, e só depois lhe é colocado o
Como é que o Sol suem um perfil arredondado convexo cm
toda a sua superfície: quando as seguramos
casquilho.

liga e desliga ou apertamos, a forca que aplicamos Irans


mite-se em Uxlas as direcções a partir da área
Lâmpadas que zumbem
Por que razão algumas lâmpadas fazem
a iluminação de contacto, devido à curvatura do vidro. A
pressão é de facto sujxirtada |>or todo o ob
um zumbido antes de se fundirem'' Na
verdade, o filamento quebra se enquan
pública? jecto, sem concentração das tensões em
ponto algum. E por esta razão que o colapso
to a lâmpada está acesa, mas esta conti
nua a dar luz porque se produz um arco
de uma lâmpada ou ovo, uma vez ultra|)as.sa- voltaico entre as extremidades do fio par
Na sua maioria, os candeeiros da ilumina- do o seu limite de resistência, é catastrófico, tido. F. este arco que emite o zumbido
ção pública sáo controlados por interrup fitando todo o objecto destruído. característico.
tores temporizados que comandam toda
uma área. Os primeiros interruptores esta FABRICO DE LÂMPADAS ELÉCTRICAS
vam equipados com um mecanismo de
relógio, pelo que era necessário dar-lhes
corda e acerlá-los todas as semanas.
Muitos dos interruptores temporizados
actuais possuem um relógio eléctrico com
um mostrador rotativo munido de ressal-
tos, que acendem ou apagam as luzes a
horas predeterminadas.
Como as horas do nascer e pôr do .Sol
valam ao longo do ano, os candeeiros da
iluminação pública precisam igualmente
de acender-se e apagar-se a horas diferen-
tes, pelo que aqueles mostradores permi-
tem alterar também o respectivo horário 2. A base da ampola, ao rubro, é
de acordo com as épocas do ano. Para tal, soldada à fiaste de vidro ÇU€ SU
dispõem de um dispositivo mecânico que porta o filamento em espiral.
ajusta todos os meses os ressaltos de on c
Ó/f, que ligam e desligam o interruptor por
forma a seguirem as modificações verifica-
das nas horas de luz natural.
Recentemente, surgiu um sistema de
controle fotoelectrónico que comanda o
interruptor que liga ou desliga as luzes.
Ksle sistema inclui uma célula foloeléctrica
que contém um composto sensível à luz,
como o sulfureto de cádmio ou o silício.
De madrugada, a luz que incide na célula
provoca um fluxo de electrões entre os áto-
mos, conduzindo electricidade até ao in-
terruptor e desligando-o. Quando escure- 1. As ampolas de vidro passam cm frente de urna chama 3. Os contactos na base da am
ce, os electrões imobilizam-se, a corrente para aquecer e amolecer o "gargalo", que em seguida é pola são soldados aos fios que
interrompe se e as luzes acendem se ajustado à medida do casquilho e aparado. conduzem ao filamento.

II
MILAGRES DO DIA-A-DIA

A PILHA ALCALINA
Pilhas - Nesta pilha de longa duração,
um electrólito alcalino (potassa
electricidade cáustica) está misturado
com zinco em pó.
portátil Uma manga porosa
separa esta mistura
de um revestimen-
Foram experiências no campo da anato- to de dióxido de
mia na década de 1780 que levaram à in- manganésio. Um
venção da pilha: Luigi Galvani, professor "prego" metálico,
de Anatomia da Universidade de Bolonha, capta electrões do zin
reparou que as pernas de rãs mortas se co e transmite os ao ter
contraíam quando eram penduradas de minai negatioo. Os elec-
ganchos num varão. Pensou (erradamen- trões dirigem-se, atra-
te) que esse facto se devia a qualquer tipo vés da lâmpada da lan-
de electricidade animal. terna, para o invólucro
de aço, no terminal po
Allessandro Volta, da Universidade de sitioo, e dai pura o dióxi-
Pavia, apercebeu-se de que a electricidade do de manganésio, para o
resultava do contacto entre os ganchos de compensar dos electrões que
cobre e o varão de ferro em que as rãs eram perdera paru o electrólito.
penduradas - as pernas destas faziam
apenas parte do circuito. Esta observação
deu lugar, em 1800, à pilha de Volta, precur- tortas actua como colector da corrente, ça electromotriz de 1,5 V enquanto nova,
sora de todas as pilhas actuais. A pilha de transferindo electrões do terminal positivo mas a tensão eléctrica entre os seus eléc-
Volta era constituída por placas alternadas para o manganésio. trodos diminui com o uso, à medida que se
de zinco e cobre, separadas por discos de Uma pilha seca deste tipo tem uma for vão formando bolhas de hidrogénio na va-
papel, e "empilhadas" umas sobre as ou-
tras (de onde a designação de pilha).
Numa pilha, a corrente eléctrica é pro- O QUE É A ELECTRICIDADE?
duzida pelas reacções entre dois eléctro- Uma corrente eléctrica é um fluxo de Um circuito eléctrico é constituído por
dos (condutores eléctricos) e um electróli electrões — partículas minúsculas de car- um fio, geralmente de cobre, partindo de
to (um líquido ou uma pasta condutora de ga negativa que existem em toda a maté- uma fonte de energia eléctrica e regres-
electricidade). Cada eléctrodo está ligado a ria. Mesmo uma corrente fraquíssima sando a ela
um dos terminais metálicos da pilha. precisa de um fluxo de biliões de elec- Por isso, as tomadas em nossas casas
Quando a pilha é integrada num circuito, trões. têm dois tenninais. Quando ligamos, por
produz-se neste um fluxo contínuo de Toda a matéria é composta por peque- exemplo, um candeeiro, estamos a com-
electrões entre um terminal (o negativo) e níssimas partículas chamadas átomos, pletar (fechar) o circuito eléctrico, permi-
o outro (o positivo). constituídos por um núcleo central com tindo a passagem de corrente através dos
A produção deste fluxo deve-se ao facto carga eléctrica positiva e por electrões condutores de cobre e do filamento das
de o material de um dos eléctrodos come- que orbitam em torno dele, dispostos em lâmpadas.
çar a dissolver-se parcialmente no electró- camadas, em número exactamente sufi- Os geradores que abastecem a rede de
lito — isto é, os seus átomos começarem a ciente para, com as suas cargas negati- distribuição pública não são pilhas, mas
migrar para o electrólito sob a forma de vas, compensarem a carga positiva do nú grandes máquinas eléctricas chamadas
iões positivos, deixando electrões a mais cleo — os átomos são assim electrica- alternadores. Ao contrário das pilhas, nas
no eléctrodo; estes podem partir para o mente neutros. quais um dos terminais tem sempre um
circuito através do terminal negativo. Um fio condutor só é percorrido por excesso de electrões (o negativo) e o ou-
O outro eléctrodo é geralmente de um uma corrente eléctrica se houver excesso tro deficiência (o positivo), cada terminal
material diferente e que não se dissolve (ou deficiência) de electrões numa das de um alternador tem sucessivamente ex-
da mesma forma no electrólito. Pelo con- suas extremidades relativamente à outra. cesso e deficiência de electrões, alternan-
trário, perde electrões para os iões positi- Essa diferença é designada por diferença do portanto entre ser o positivo ou o ne-
vos do electrólito, tornando-se deficiente de potencial, ou tensão eléctrica, e é me- gativo. Um circuito alimentado por um
em electrões — que vai buscar ao condu- dida em volts. alternador é percorrido por uma corrente
tor que fecha o circuito para compensar No caso das pilheis, é gerada uma defi- sucessivamente num sentido e no opos-
esta deficiência. O fluxo contínuo de ciência de electrões num dos eléctrodos to: é uma corrente alternada. (A corrente
electrões que assim se estabelece de um e um excesso no outro, de forma que, se gerada por uma pilha sempre no mesmo
eléctrodo para o outro é que forma a cor- ligarmos um voltímetro entre os seus sentido é uma corrente contínua.)
rente eléctrica. dois terminais, mediremos uma dife- Convencionalmente, considera-se
As chamadas pilhas secas não contêm rença de potencial - também chama- que a corrente eléctrica flui do terminal
electrólito líquido livre. A caixa metálica da da força electromotriz da pilha. Se agora positivo para o negativo. Esta convenção
pilha é de zinco e forma um dos eléctrodos unirmos os terminais da pilha por meio foi estabelecida antes da descoberta do
da pilha. Nela está contida uma mistura de de condutores eléctricos (por exemplo, electráo, ao qual, de acordo com ela, teve
cloreto de amónio, que constitui o electrn o filamento de uma lâmpada), fechan- de ser atribuída uma carga negativa. O
lito, e dióxido de manganésio. O manga- do o circuito eléctrico, estes serão per- fluxo de electrões é portanto no sentido
nésio é, na realidade, o outro eléctrodo, corridos por uma corrente (a lâmpada contrário do sentido convencional da
pois perde electrões para o cloreto de amó- acender-se-á). corrente eléctrica.
nio. Uma vareta central de carvão-das-re

12
MILAGRES DO DIA A DIA

reta de carvão, o que reduz a área da super-


fície do eléctrodo.
As baterias de automóvel são baterias de
acumuladores, assim chamadas porque
Como se "mete" o bico num lápis
podem ser recarregadas - isto é, as suas
reacções químicas são reversíveis. O tipo Os antigos egípcios, gregos e romanos uti-
mais comum de bateria possui seis pilhas lizavam pequenos discos de chumbo para
primárias (elementos) ligadas entre si. traçar linhas nas folhas de papiro antes de
Cada elemento possui vários eléctro- nelas escreverem com pincel e tinta. No
dos, as placas, alternadamente positivos e século xiv, os artistas europeus usavam va-
negativos, separados por folhas isolantes retas de chumbo, zinco ou prata para faze-
para evitar eurtos-circuitos e suspensos rem os seus desenhos cinzento claros, de-
num electrólito de ácido sulfúrico. As pla- nominados a ponta-de-prala. E no século
cas são constituídas por grades de chum- xv o suíço Conrad Gesner, de Zurique, des-
bo, contendo as negativas chumbo espon creveu no seu Tratado dos Fósseis uma
joso e as positivas dióxido de chumbo. vareta de escrever contida num invólucro
As reacções químicas que produzem a de madeira.
electricidade fazem com que tanto as pla- O chumbo deixou de constituir um ma-
cas negativas como as positivas se transfor- terial de escrita quando em Borrowdale,
mem gradualmente em sulfato de chum- no Norte de Inglaterra, se descobriu em
bo e o electrólito em água. Sc este processo 1564 a grafite pura — nasceu então o lápis
cliega a completar-se, a bateria fica descar- moderno.
regada. Mas enquanto o motor do carro A grafite é uma forma de carbono e um
trabalha, a corrente do gerador carrega a dos minerais mais macios. Quando é fric-
bateria, invertendo as reacções químicas. cionada contra o papel, a grafite deixa nele
As placas de chumbo são deste modo re delgados flocos que formam uma marca
convertidas na sua substância primitiva e a escura.
potência do ácido sulfúrico é restaurada. Alguma da melhor grafite para o fabrico
de lápis vem de Sonora, no México: é pulve-
rulenta e extremamente negra. A parte ex-
terior do lápis, de madeira, tem de ser bas-
tante macia para que possa ser afiada com
facilidade à medida que o bico se gasta.
O bico é constituído por uma mistura de
grafite fina e argila, cortada em varetas e
cozida num forno. A grafite não pode ser
moída num moinho vulgar, pois a sua es-
trutura em camadas faz dela um lubrifican-
Átomo neutro. O núcleo do átomo tem te natural. Recorre-se, por isso, a um pro
carga positioa. e os electrões, carga nega cesso diferente, em que se lançam, uns de
liva. Assim, o átorno ê neutro. encontro aos outros, jactos de ar compri-
mido contendo partículas de grafite, que, Risco ampliado. A grafite utilizada nos lá
colidindo, se pulverizam. pis tern uma estrutura em carnudas. Quan-
Estas partículas minúsculas são mistu- do a grafite e friccionada contra o papel,
radas com caulino puro e água, formando soltam-se facilmente pequenas escamas
uma pasta. Esta é introduzida num cilindro que formam uma marca negra.
e forçada através de um furo na sua extre-
midade, de onde sai em filete contínuo e
com o diâmetro pretendido. DURO OU MOLE? DEPENDE
O filete é cortado em varetas do tama- DA ARGILA
nho dos lápis, que são levadas a secar num No fabrico dos bicos de lápis, a grafite
Ião positivo. A perda de um electrão re- forno antes de serem cozidas a uma tem- é misturada com uma argila fina rio
sulta num átomo de carga positiva. Torna peratura de cerca de 1200°C. São depois lipo utilizado nas melhores loiças e
então o nome de ião positivo. tratadas com cera para assegurar um traço porcelanas. Os dois ingredientes sáo
suave e seladas para evitar que deslizem no misturados em proporções diversas,
invólucro de madeira. consoante os graus de dureza e ne-
Para fabricar este invólucro, a madeira é grura de traço pretendidos,
serrada em tabuinhas com o comprimen- O tipo de lápis mais largamente utili-
to de um lápis, a largura de sete lápis e a zado é o HB (hard and black, "duro e
espessura de meio lápis. Fazem-se os sul- preto"). Os bicos mais macios e mais
cos, introduzem-se os bicos e cola-se por negros (B e BB, de black) possuem
cima uma segunda tabuinha igualmente maior teor de grafite, e os mais duros
com sulcos. Estas "sanduíches" são leva- - graduados de H (hard) a 10H - têm
das à máquina, que as corta em sete lápis e argila em proporções crescentes.
Ião negativo. Se o átomo ganha um ou dá a cada um uma secção hexagonal ou Os bicos dos lápis de cor e os lápis
mais electrões, a carga passa a ser negati cilíndrica. de cera não contêm grafite, mas argila
va e ele torna o nome de ião negativo. Em seguida, os lápis são pintados com pura, cera e pigmentos.
um verniz não tóxico.

I:Í
MILAGRES DO DIA ADIA

Como se coloca
a esfera numa
esferográfica
A parle principal de uma esferográfica é
unia esfera de metal que transfere para o
papel uma tinta a base de óleo e que tem a
particularidade de ser de secagem muito
rápida.
A esfera é geralmente de aço médio ou
inoxidável, com cerca de 1 mm de diâme-
tro, e. para que se adapte perfeitamente ao
encaixe, é acabada com um rigor de centé
siuiDs milésimos de milímetro. Bode tam
bém ser constituída por um composto cie
tungsténio e carbono, quase Ião duro A esfera. De aço. a esfera (ampliado 80 vezes) reifhe um acabamento rigoroso,
como o diamante. Por vezes, a esfera 0 ás
pêra para conseguir melhor atrito na su
perfície de escrita.
A esfera é aplicada num encaixe cie aço ou
latão desenhado por forma a permitir que a
esfera rode perfeitamente em todas as direc-
ções. O bordo do encaixe é de|>ois inclinado
para dentro para que a esfera não caia
A tinta corre do reservatório para <> en-
caixe da éster,i através de um tubo estreito.
<) reservatório deve ser aberto ao ar ou ter
um orifício, pois de outro modo criai .se ia
um vácuo parcial a medida que o nível da
tinta tosse baixando, o que acabaria por a
impedir de correr Saliências no interior do
encaixe distribuem homogeneamente a
unta em redor d.i esfera para que. quando
aplicada sobre uma superfície, ela rode e
desenhe um traço.

• Biro e a esferográfica •

U ma pena cie ave com a haste


afiada foi O instrumento de es
cuia durante mais de 1000 .mos. .m
O encaixe. Saliências no seu interior luzem com que a tinia se distribua por toda a esfera

tes da invenção da caneta de tinta


permanente, em 1884, Na década de
.5(1. o artista e jornalista húngaro La-
dislao Biro inventou em Budapeste a
canela esferográfica. Biro fugiu com
a eclosão da II (iuerra Mundial, fixan-
do se na Argentina.
Com .i .ijud.i de seu irmão Georg.
químico de formação, aperfeiçoou a
caneta e fabricou-a em Buenos Aires
durante .i guerra. Km 1944. vendeu
os seus interesses no invento a um
- seus financiadores, que passou
a fabricar a caneta Biro para as torças
aéreas aliadas, dado não ser afectada
. i las ilt< raçi ies na pressão almosfé
rica. Ladislao Biro desapareceu no
obscurantismo, embora o seu inven
to se tenha tornado um objecto utili
zado em todo o Mundo.

A esfera colocada. 0.s bordos do encaixe suo dobrados pena ilcutio puni a segurarem.

14
Canetas e marcadores. 0 invento de Ladislao Biro foi aplicado no fabrico de novos
modelos que produzem urna diversidade de traços de irrita sobre diversas superfícies, desde
o metal ao vidro e ao plástico. A excepção da esferográfica, a tinia ê levada para a ponta
através cie tubos finíssimos por acção da capilaridade.

Ponta de feltro. O bico é de lã natura! ou sintética

Ponta de fibra. Fibras ligadas por resina dururri mais que as pontas de feltro

Esferográfica. A tinta e levada ao bico pela acção rotativa da esfera.

Ponta de plástico. A tinia, que cone livremente, alimenta uma por na de plástico de grande resistência <n> desgastt

Porque aderem tão bem as colas modernas


Ale há KXI anos, as colas eram gomas vege nimo de humidade, as suas pequenas mo- em praticamente todas as superfícies ex
lais ou obtinham se fervendo peles e ossos léculas ligam se, formando moléculas postas ao ar, pois este contém sempre ai
de animais; demoravam muito tempo a maiores — processo químico denomina- guina humidade.
colar v o sen poder de união não era parti do polimerização. As supercolas aderem bem a pele, dado
cularmente forte, utilizavam se principal Dentro do tubo, a cola é impedida de esta ser húmida. Por este motivo, tem havi-
mente nos trabalhos de carpintaria: o gru- polimerizar por meio de um estabilizador do muitos casos de pessoas com Ioda a
de IfqUÍdO penetrava nos poros da madeira aofdiCO. Quando a rola é aplicada a uma natureza de objectos colados a pele, desde
e secava, ligando entre si as peças da obra. superfície, a mais diminuta quantidade de chávenas a maçanetas de portas. O remé-
Hoje, as colas são, na sua maioria, total humidade supera a acção do estabilizador dio é mergulhar a parte afectada cm água
mente sintéticas. Secam rapidamente e e a resina polimeriza instantaneamente É morna e descolar suavemente o objecto.
formam uniões muito fortes. As mais rápi- a presenç,a dos iões da água grupos de Em cirurgia, têm sido utilizadas super-
das são chamadas supercolas, ou colas átomos dotados de carga eléctrica - que colas em aerossol para fechar uma ferida e
instantâneas, e secam em segundos. Exis desencadeia o processo de polimerização, reduzir a hemorragia.
tem também resinas epoxídicas, que con- Os iões estão
sistem em dois componentes que são mis- presentes A força da cola. Neste painel publicitário, o
turados e fazem presa em 10a 30 minu carto amarelo esta fixo por cola de
tos. A supercola é uma resina acríli- resina epowlicu. O cairo encarnado
ca Fabricada a partir de produtos pe- assenta no tejadilho do outro de-
troquímicos. Quando exposta ao mí- monstrando a força da cola.

XzM
MILAGRK5 DO DIA-A-DIA

O PROCESSO QUE FAZ COLAR A SUPERCOLA

A supercoio contém um estabilizador aa' O estabilizador acidico ê neutralizado em Neutralizado o estabilizador, as mole
dico (vermelho) que mantém a cola lí- contado com a humidade (azul) da super cuias adesivas juntam se em cadeias hm
quida. íiae que se pretende colar gOS, ((instituindo nina união tenaz.

Uma descoberta acidental que deixou a sua marca no Mundo


No princípio da década de 80. começaram
a aparecer nos escritórios uns papelinhos
amarelos. Vinham geralmente colados
aos documentos com pequenas mensa-
gens trocadas entre os executivos e tinham
a grande vantagem de, depois cie lidos, po-
derem ser descolados com facilidade.
Com o passar dos anos, estes pa-
pelinhos auto aderentes, cha-
mados post-it. estende
ram-se as esa rias e depois às
nossas casas. Os estudantes e
os investigadores começaram
a usá-los para marcar textos de
ititeresse nos livros; e os maridos
e mulheres, ao saírem para o tra-
balho, deixavam uns aos outros re- p*
cados apressados colados no frigorí-
fico. ^
[<•*
Estes autocolantes nasceram de uma
descoberta acidental num laboratório de
St. Paul, no Minnesota, quando se procura-
*L
va produzir uma supercola, em 1968. O re-
sultado fora uma cola tao fraca que a em
presa 3M a rejeitara por inútil.
Mas um dos empregados, um químico
Pondo perfume num papel
chamado Art Fry, cantava num coro e utili-
zou aquela cola fraca para marcar o seu Pode fazer se publicidade a perfumes im-
livro com papelinhos que podiam retirar pregnando um prospecto com o respecti- CHEIROS NUMERADOS
•se sem estragar o livro. vo aroma, que é libertado quando se raspa Em 1984, foi produzido na América
Fry tentou persuadir a empresa de que a superfície do papel. 0 método é designa um filme jocoso de couiboys que li-
estava a deitar fora urna ideia que podia ter do por microfragrância. nha como atracção adicional aromas
os mais variados usos. Mas só em 19X0 a O perfume está contido em pequeninas microencapsulados. Cada especta-
3M começou a vender, para Utili2açâ0 nos cápsulas de plástico, aplicadas ao papel dor recebia um pequeno cartão com
escritórios, blocos de lolhas para notas num revestimento resinoso. 0 plástico uma meia dúzia de números.
com uma faixa adesiva num dos bordos quebra ao ser raspado ou esfregado, liber De vez em quando, no decorrer do
que podem ser descoladas e recoladas. tando os óleos essenciais do perfume do filme, aparecia um número no canto
Vista ao microscópio, a superfície adesi seu interior. A técnica, denominada micro ÚOécran - o número que os especta-
va de um post-it apresenta se coberta por encapsulação, foi iniciada pela empresa dores deviam raspar nos seus cartões.
minúsculas bolhas de resina de ureia for americana 3M na década de 60. Podiam assim sentir o cheiro adequa-
maldefdo que contém a substância adesi Para 0 enchimento das capsulas, o óleo do à cena em curso — o encanto de
va. As bolhas rebentam sob a pressão dos é misturado com água e agitado, a fim de um perfume, o cheiro a pólvora quei-
dedos, mas não Iodas simultaneamente, se desintegrar em gotas minúsculas - mada, etc.
pelo que as folhas são reutilizáveis. como acontece com o azeite e o vinagre no

16
O cheiro a maças. Nesta microfotografia
(em cima) oèem-se as microcápsulas que
contêm o perfume num autocolante. Quan-
do se raspam as cápsulas, o perfume é liber
lado. 0 autocolante deste quarto de maçã é
típico dos que aparecem nas revistas. A
área no interior do tracejado conteria mi-
crocápsulas para lembrar aos leitores o de-
licioso cheiro da maçã.

tempero da salada. As gotas sáo depois es- pel por meio de outra resina. Algumas ve- Actualmente, alguns cosméticos con-
palhadas sobre uma superfície e cobertas zes utilizam-se como um revestimento têm microcápsulas de óleos nutrientes da
por urna camada de resina plástica. adesivo na dobra de um folheio publicitá- pele, que apenas são libertados quando o
Deixam-se secar (por vezes são aqueci- rio, e o aroma é libertado quando o revesti- preparado é aplicado, o que garante a sua
das) antes de serem aplicadas sobre o pa- mento se quebra ao desdobrar-se o folheto. frescura até à utilização.

Fotografias nos jornais: milhares de pontinhos


Se se observar de perlo uma fotografia
num jornal, verifica-se que a gama das to-
nalidades nos é dada por combinações de
pontinhos negros. Nas zonas escuras, os
pontos são maiores e fundem-se entre si,
de modo que quase não se vê o papel bran
co. Nas zonas mais claras, os pontos sáo
más pequenos e estão rodeados por gran-
des porções de branco. As diversas tonali-
dades da fotografia são convertidas num
padrão de pontos com diferentes dimen-
sões recorrendo a urna retícula, ou trama.
A fotografia a ser reproduzida é fotografada
através de uma retícula posta em contacto
com o filme, retícula que consiste num pa-
drão de linhas diagonais sobre uma pelí-
cula transparente.
A maioria dos jornais utiliza uma retí-
cula de malha relativamente larga para a
reprodução de fotografias em papel nor-
mal A retícula tem cerca de 20 a 35 linhas
por centímetro, produzindo, quando im-
pressa, o mesmo número de pontos por
centímetro.
A luz reflectida da fotografia passa atra-
vés da retícula e é decomposta em zonas Imagem desportiva. Fotografia a preto e
de intensidade luminosa variável captadas branco, tal corno aparece num jornal (em
em película fotográfica de alto contraste, cima). A ampliação mostra que a imagem se
que, ao ser revelada, produz um padrão de compõe de uma série de pontos pretos entre
pontos em imagem negativa. A continua- meados de espaços brancos. A densidade de
ção do processo de revelação produz uma pontos utilizados determina a qualidade da re-
imagem positiva. produção da fotografia na página impressa.

17
IMAGENS A CORES
As fotografias a cores são lambem repro
duzidas como padrões de pontos. Estes Uma impressão
são de Ires rores diferentes amarelo, a cores e feita
magenta e azu\cyan (azul esverdeado). a partir de
Vistas a distância, as combinações de pon- combinações
tos destas cores, com dimensões diferen destas três
tes. fundem-se por forma a simular lodo o cores
espectro das emes. A impressão a cores primárias.
baseia se no principio de que todas as co amarelo, magenta
res podem ser produzidas através de com e azul-cvm.
lunações destas três cores primárias.

Fotografia com filtros A imagem impressa a


0 primeiro passo na reprodução é a "selec três cores segue se
çao" (Lis cores, tirando fotografias através a impressão do
de filtros. As três imagens, uma de cada cor, prelo para acentuar
são depois fotografadas através de uma re a profundidade,
tícula de meio tom. c o m o n.i impressão .. a defi/itaio
prelo e branco, a fim de se produzir um f o i ontraste.
padrão pontilhado. Faz se uma chapa de
impressão para cada cor e, para aumentar
ii pormenor, iunta.se ainda uma chapa a Finalmente, <> olha
preto, pelo que " processo toma <> nome humano mistura
de quadricromia. Esta é hoje feita, normal os pontos coloridos
mente, por scanners electrónicos, em vez e vê t<ulas as cores.
das máquinas fotográficas tradicionais.

Como funcionam as máquinas de moedas


Com 11111,1 moeda que se introduz numa
ranhura, as máquinas Fornecem-nos des- Percursos das moedas
de bilhetes de comboio a chamadas lelelo rejeitadas
nicas, bebidas, maços de cigarros e ale
juckpols de moedas.
Mas, antes de entregarem o seu produ
lo. as máquinas analisam cada moeda. Lâmina de contacto
submetendo-a a uma série de exames, co
meçando por rejeitai as de valor diferente,
as estrangeiras, as falsas e as anilhas.
Balancim
Cada tipo de moeda no Mundo tem as
suas características próprias. São diferentes Magneto
no diâmetro, na espessura, no peso e até na Calha, ou tampa
composição química. Nas máquinas de
moedas, todas estas propriedades são in Verdadeira ou falsa
vestigadas, e só quando a moeda entra no Esta máquina de moedas
percurso correcto da máquina é que é dis destinada a moedas francesas
parado o mecanismo de funcionamento. tem unta ranhura igual
A máquina de moedas típica funciona ao tamanho de ama moeda
ilo seguinte modo: o sistema de verifica de 10 francos. Uma moeda mais
çao começa pela própria ranhura, impe leve não consegue bascular o
dindo a entrada de moedas demasiado balancim e é desviada Separador
grandes, espessas ou deformadas para o rejeilador.
As moedas que entram podem ser exa ! ma moeda de metal
minadas por uma sonda, que verifica se diferente é desviada
elas são luradas, detectando assim as ani pelo magneto.
lhas. As genuínas caem soba- um balan atinge o deflector
cim rigorosamente equilibrado: quando o c passa pelo lado
seu peso é suficiente, a moeda faz tombar eirado do
ii balancim e é dirigida para .1 calha [ou separador
ranipae quando é insuficiente, o balancim
não oscila e a moeda cai no rejeitado!.
Rejeilador
A moeda que foi aprovada percorre a (moedas
rejeitadas)
calha e passa polo magneto. Ao atravessar Voltou para casa com umas ervas agarradas
o campo magnético deste último, ê descar- às meias e ao pêlo do cão e decidiu investi-
regada uma pequena corrente eléctrica no gar por que razão aquelas se pegam Ião
seu interior, fazendo a rodar mais ou me- bem á lá. Ao microscópio, observou que
nos lentamente devido à força magnética minúsculos ganchos nas pontas dessas er
provocada pelo campo magnético. vas ficavam presos às argolas da lã.
Ima moeda com a composição correc- Mestral imaginou rapidamente uma for-
ta abranda exactamente o necessário para. ma de reproduzir em tecido de nylon o
ao cair da rampa, percorrer uma trajectória esquema de ganchos e argolas e deu ao
que evita o obstáculo seguinte, o deflector. produto o nome de velcro - contracção
Acerta então no separador por baixo des- de uelours e CfOChet, palavras francesas
te, a um ângulo de incidência lai que a faz que significam "veludo" e "gancho".
dirigir se para o canal "aceite", As moedas A patente original de protecção ao vel-
com peso demasiado e as menos afecta- cro expirou em 1978, e existem actual men
das pelo magneto atingem o defleclor e te muitas imitações, mas o nome mantém-
são encaminhadas pelo lado errado do se- se como marca registada
parador para o rejeitador. 0 velcro é feito tecendo fio de nylon de
modo a produzir um tecido com urna
Máquinas de moedas electrónicas grande densidade de minúsculas argolas.
A ultima geração destas máquinas confere A face dos ganchos obtém-se cortando as
as moedas electronicamente, Assim que a argolas noutra porção de tecido — de Como as ervas se agarram. As minúscu-
moeda é introduzida, a sua condutibilida- modo que cada meia argola passe a cons- las vagens da aparína possuem ganchos
de capacidade para deixar passar unia tituir um gancho. Por meio de aquecimen- que se ugurram ao vestuário de lã e aos
corrente eléctrica - é verificada. to, argolas e ganchos tomam a sua forma pêlos dos ailimais
As moedas aceitáveis num primeiro definitiva. 0 tecido é depois tingido, colado
exame atravessam depois uma "cancela", ao suporte adequado e cortado à medida. Copiando a Natureza. .4 fotografia do oel-
percorrendo a rampa e passando entre O velcro pode fechar-se e abrir se milha CfO QO microscópio moslru como esíe copio
dois magnetos. Também neste caso, a ve res de vezes, e provavelmente durará mais a Natureza. Os minúsculos ganchos de
locidade com que deixam os magnetos do que O tecido a que foi aplicado. E feito de nylon numa peca de i elcro agarram as argo
depende da composição das moedas. modo a poder ser aberto à mão com um las da outra peca exat tumente do mesmo
Conjuntos de díodos emissores de luz e de estorço relativamente pequeno. No entan- modo que terias plantas como a aparinu se
fotossensores medem a velocidade da to, possui enorme resistência transversal. agarram às meias de la (mundo passeamos
moeda. Sc os valores obtidos coincidirem Alguns tipos de velcro têm tanta resistência no meio das ervas. Uma peca de velcro com
com os da memória da máquina, abre-se que uma peça quadrada de 12 cm de lado 5 x 2 cm contém cerca de 750 ganchos.
nova cancela para aceitar a moeda. Se não, consegue suportar uma carga de 1 t. com 12 500 argolas na lace oposta.
esta é rejeitada. Algumas máquinas po-
dem ser programadas para tratar até oito
tipos de moedas diferentes.
Podem também ser programadas para
dar trocos, Quando a moeda atravessa o
sistema de verificação. 0 respectivo valor é
identificado. Quando chega ao fim do per
curso, um microchip liberta o troco certo.

Velcro: como as
ervas que se
agarram às meias
Os fechos de velcro. pequenas almofadas
crespas formadas de ganchos e ilhós de
plástico, têm encontrado aplicações a to
dos os níveis.
Na indústria de vestuário, substituem as
molas e os fechos de correr. No vaivém
espacial, OS astronautas usam fita velcro
para agarrar tabuleiros, embalagens de ali
mentos, equipamento científico, e ate cies
próprios, a uma superfície tixa. para evitar
que flutuem desordenadamente no espa
ço na ausência da força da gravidade.
O engenheiro suíço Georgcs de Mestral
concebeu a ideia que deu origem ao velcro
depois de um passeio pelo canipo em 1948.
Como a Marinha dos EUA
lançou o fecho de correr
A Marinha dos EUA foi a pioneira no uso tiras de tecido com
dos fechos de correr quando, em 1918, en- dentes de metal ou Separador
comendou 10 000 unidades para aplicar plástico ao longo das
em fatos de voo. bordas. Os dentes das
0 fecho de correr fora inventado pelo duas fitas são desen- Cursor
engenheiro americano Whitcomb Judson contrados para pode-
em 1893. Lste desenhara um fecho com rem encaixar entre si:
posto de carreiras de colchetes machos e n u m dos lados têm
fêmeas como método rápido de apertar as uma saliência e no ou-
Fita
botas de cano alto. Mas este fecho, que utili tro uma concavidade,
zava um cursor para ligar os colchetes ma- por forma que, quando
chos e fêmeas, revelou se pouco prático. forçados a juntar-se, as
saliências encaixem Fiadas de dentes
O passo decisivo para o aparecimento
do moderno fecho de correr deu-se cerca nas concavidades. Ao
de 20 anos depois, quando o engenheiro fechar, as duas fiadas de
sueco Gideon Sundback foi admitido por dentes entram obliqua-
Judson para aperfeiçoar o seu fecho. Sund- mente no cursor que as
back desenhou o chamado Hookless 2, junta, engatando os Dentes que engatam. A mecâ-
quase igual ao moderno fecho rie correr, e dentes. Quando se nica do fecho de correr é muito
criou a maquinaria que permitiu o fabrico puxa o cursor para simples. Um cursor move-se
dos dentes e a sua fixação a uma fita. abrir o fecho, dá-se o num ou noutro sentido sobre
Km 1918, a Marinha Americana fez a sua contrário, os dentes en- duas fiadas de dentes presos a
encomenda, e o fecho de correr estava lan tram pelo fundo do cur- fitas, engatando-os ou desenga
çado. O fecho de correr consiste ern duas sor e separam-se. ÍB tando-os.

Como se faz parar um elevador em queda


O mais alto edifício de escritórios do Mun- da ao topo da plataforma. O cabo de sus-
do, a Sears Tower, em Chicago, com 443 m, pensão estava ligado à mola, e quando a
tem 103 elevadores para transportar passa- plataforma era puxada para cima, o seu
geiros entre os seus 110 andares a velocida- peso iria arquear a mola, de modo que as
des que chegam aos 550 m por minuto suas extremidades não tocassem nos enta-
Mas o que aconteceria se um cabo se lhes das duas calhas dentadas de guiamen-
partisse quando um dos elevadores se en- to, situadas de um e outro lado da platafor
contrasse no topo de tão alto edifício? Teo- ma. Mas quando o cabo de suspensão foi
ricamente, um corpo que caísse do último cortado, a mola abriu c as suas exlremida
andar da Sears Tower esmagar-se-ia no des encaixaram nos entalhes das calhas,
solo a 820 km/h. Para evitar estes aciden- impedindo a queda da plataforma.
tes, os elevadores são dotados de dispositi- Olis instalou o primeiro elevador de pas
vos de segurança. sageiros cm Nova Iorque em 1857, no esta-
O moderno elevador de passageiros belecimento V. Haughwout & Co., com
leve as suas origens em 1854, quando o cinco pisos. A invenção do elevador de se-
engenheiro americano Klisha Graves Otis gurança foi um factor decisivo na evolução
introduziu o primeiro dispositivo de segu- do arranha-céus, pois libertou os arquitec-
rança para a elevação de cargas na Exposi- tos das restrições na altura.
ção do Palácio de Cristal, em Nova Iorque. O moderno elevador é constituído por
Otis demonstrou a segurança do seu uma cabina içada por cabos de aço entre
processo por forma espectacular. A carga duas calhas laterais de guiamento e possui
foi guindada até uma altura de 8 ou 10 m um dispositivo de segurança que trava de
com Otis também sobre a plataforma. Or- encontro às calhas no caso de os cabos se
denou então que cortassem o cabo de sus partirem. Os cabos fixos ao topo da cabina
pensão. Num elevador normal, as conse-
quências teriam sido desastrosas, mas o Subida rápida. A Sears Tower, edifício de
mecanismo de segurança de Otis resul- IK) andares em Chicago, dispõe de eleou
tou - e a queda foi interrompida depois dores rápidos que se deslocam a 32 km/h.
de cortado o cabo. Os elevadores estão equipados com dispo
O segredo do sucesso da experiência sitiuos de segurança para o caso de quebra
residiu numa mola em fornia de arco fixa dos cabos.

20
sobem alé um mecanismo de roldanas no
cimo da caixa do elevador. A roldana é ac-
cionada por um motor eléctrico, e os ca-
bos sustentam na outra extremidade um
Testes de cheiro no gás natural
contrapeso que corre igualmente em ca-
lhas de guiamento. Numa indústria de alta tecnologia como a de 60. Como era necessário que tivesse
do gás natural, o teste final de segurança é, cheiro, foram ensaiadas como odorizan-
Limitador do excesso de velocidade curiosamente, o nariz humano. O gás na- tes diversas combinações de compostos
Este é outro componente fundamental da tural, ao contrário do gás de hulha, não orgânicos de enxofre. O odorizante ideal
segurança do elevador. Parle dele um cabo tem cheiro próprio, pelo que uma fuga nas tinha de ter um cheiro forte e muito carac-
que corre para cima e para baixo na caixa tubagens poderia passar facilmente des terístico, náo devia ser absorvido pelo solo
do elevador e está ligado ao mecanismo de percebida e causar uma explosão. No en- para que as fugas subterrâneas pudessem
segurança montado sob a cabina. tanto, pode juntar-se-lhe um odorizante. ser detectadas e tinha de ser inócuo e náo-
0 limitador do excesso de velocidade Assim, peritos empregados pela sua capa -corrosivo. Acabou por descobrir se a fór
baseia-se num sistema mecânico de pe- cidade olfacliva muito sensível asseguram mula correcta. Esse odorizante, sob a for-
sos, que são impelidos para fora devido à que, numa emergência, o gás emita o chei ma líquida, é pulverizado no gás quando
força centrífuga. Acima de uma velocidade ro certo para fazer disparar o alarme men- este deixa o complexo de produção. A
preestabelecida, os pesos accionam um tal de "fuga de gás!" quantidade de odorizante é medida rigo-
interruptor de segurança que desliga a cor- Esses peritos cheiram o gás para terem a rosamente por computador. Tem um aro-
rente eléctrica do motor. A roldana pára certeza de que a sofisticada aparelhagem ma tão intenso que apenas é necessário
automaticamente e o elevador imobiliza- de análise está a funcionar correctamente. 1,5 kg por cada 100 000 rrí*.
-se sem que tenha de ser activado o dispo- O gás natural encontra-se no solo ou Apesar dos odorizantes, as fugas de gás
sitivo de segurança. sob o fundo do mar. O seu componente nas tubagens subterrâneas podem ainda
Se, contudo, a cabina continuar a acele- principal é o metano, gás que nos pânta- passar despercebidas. Por isso, os técnicos
rar, o limitador centrífugo prende o respec- nos pode ser visto em bolhas emanando seguem frequentemente os percursos das
tivo cabo com força suficiente para dispa- dos lodos orgânicos. O cheiro intenso que tubagens com instrumentos extremamen-
rar o mecanismo de segurança. acompanha o metano nos pântanos deve- te sensíveis. Contudo, estes detectam o
Existem outros mecanismos de segu- -se à matéria vegetal em decomposição, gás, e náo o cheiro. As sondas são coloca-
rança, como o de compressão de roleles ou pois o gás em si é inodoro. das junto ao solo e o ar que captam é intro-
de excêntricos de bordos serrilhados con- O gás natural comercial começou a ser duzido num aparelho que detecta gás em
tra as calhas de guiamento, ou o de cunhas, utilizado comercialmente nos Estados concentrações de apenas algumas parles
que reduz a velocidade por meio de fricção. Unidos nos anos 20 c na Europa na década num milhão.

As fibras que conferem resistência aos saquinhos de chá


Diariamente, fazem-se milhões de cháve- sua resistência quando, ao arrefecerem, so-
nas de chá a partir de saquinhos. O papel lidificam novamente. O seu ponto de fusão
de filtro rendilhado, que constitui o saco, é superior a 100°C para que o saquinho náo
tem orifícios de tamanho suficiente para se desmanche na água a ferver.
deixar passar a água a ferver sem deixar
fugir as folhas do chá. É também suficien
temente forte para náo se rasgar nas má-
quinas de empacotamento ou durante a
manipulação — esteja seco ou molhado.
Nenhum papel vulgar podia satisfazer
estas exigências. O papel dos saquinhos de
chã é fabricado com duas fibras fortes: câ-
nhamo-de-manila, fibra natural longa utili-
zada no fabrico de cordas para conferir re-
sistência, e fibras termoplásticas, para fe-
char os saquinhos. As duas fibras náo são
tecidas em conjunto, mas assentes, sob a
forma de mistura aquosa, em duas cama
das separadas. Forma se o papel quando a
água se escoa e o emaranhado de fibras é
apertado em rolos para secar. Este proces-
so confere ao papel uma estrutura irregu-
lar, com poros de diversas dimensões.
O papel passa pela máquina de embala
gem do chá sob a forma de duas tiras e a
máquina vai colocando as doses de chá Orifícios filtrantes. Ampliando
sobre a tira inferior. Dá-se forma aos sacos 60 vezes um saquinho de chá,
vedando os bordos por meio de calor. As vêem-se bem OS orifícios filtrantes.
fibras termoplásticas são derretidas para se Estes deixam passar a água, mas
ligarem fortemente entre si, mantendo a sem deixarem sair as folhas de chá.

2\
Fósforos aos milhões • « • « • «
11
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L\\\ W V W V , \7
Se riscarmos um fósforo de segurança qualquer superfície e não eram de grande
(amorfo) em qualquer superfície que não confiança. Km 1830, Charles Suria, em % %_• i • • • ii
seja a lixa da caixa, ele não se acende. Se França, inventou um fósforo muito mais
lhe batermos com um martelo, nada acon- eficaz, utilizando fósforo branco. Os fósfo
tece. Antigamente, porém, os fósforos ros deste tipo mantiveram-se em uso até

« mwâ
acendiam-se ao serem riscados em qual finais do século xix e, embora eficientes,
quer superfície rugosa, e se lhes batêsse- tinham uma grande desvantagem: po-
mos com um martelo, explodiriam. diam matar - e fizcram-no muitas vezes
No caso dos fósforos de segurança, é a O fósforo branco liberta fumos tóxicos
reacção entre os produtos químicos da ca- que provocam, cm casos de exposição
beça do fósforo e da lixa da caixa que os prolongada, uma doença deformante — e
incendeia. A reacção é desencadeada pelo eventualmente fatal — em que ocorre a
riscar do fósforo, que gera calor devido à decomposição dos maxilares. Os opera
fricção. Se a cabeça e a lixa não estiverem rios das fábricas de fósforos eram os mais
em contacto, não se dá a ignição. afectados; assim, no início deste século, foi
O antepassado do fósforo actual foi pro- proibido o uso de fósforo branco, tendo
duzido pelo químico inglês John Walker passado a utilizar se o sesquissulfureto de
em 1827. Os seus fósforos acendiam-se em fósforo.

Contra o imposto

E m 1801, a firma Bryant & May pro-


duziu o seu primeiro fósforo de
segurança numa fábrica em Londres.
res de operários da indústria fosforeira
protestaram contra aquilo que viam
como uma ameaça ao seu ganha-pão.
Ao fim de um ano, a fábrica produzia Seguiram-se manifestações e tumultos
1 800 000 fósforos por semana. A procura e o Parlamento aboliu o imposto.
era tanta que, em 1871, o chanceler do Por todo o Mundo, as técnicas do fa-
Tesouro propôs uma taxa de 1 penny por brico de fósforos foram sendo aperfei
caixa. A proposta originou protestos no coadas, e actualmente podem produ-
Parlamento e na imprensa - e milha- zir-se mais de 800 caixas por minuto.

22
Em movimento. I m tapeie rolante de aço um átomo de carbono e dois de hidrogénio
transporta os palitos de madeira - já com numa molécula de polietileno, por exem
as cabeças tingidas de vermelho ao en- pio. A maioria das substâncias comuns é
contro das caixas, que se movem numa tela constituída por moléculas pequenas a
transportadora perpendicularmente ao molécula de agua contém apenas dois álo
percurso dos fósforos. Estes são automati- mos de hidrogénio e um de oxigénio
camente expulsos do tapete, por fornia a As moléculas longas da película aderen
caírem dentro das caiwis nus quantidades te. ou adesiva, encontram se enroladas c
certas. dobradas como as libras da la. Quando .•
película é esticada, as moléculas ordenam
Na década de 1850, o sueco John Lunds- se Mas, lai como as fibras da lá ou
Irom foi pioneiro dos fósforos de seguran como um elástico . elas procuram reto
ça (amorfos) ao separar o elemento fósfo- mar a sua forma inicial
ro dos outros ingredientes combustíveis: O poder de aderência desta película
pós fósforo vermelho, não tóxico, na lixa e ocorre naturalmente na maioria das pelí
os outros ingredientes na cabeça. cuias plásticas, que aderem porque adqui
Actualmente, os fósforos são fabricados rem uma carga eléctrica estática. A película
por máquinas automáticas que chegam a aderente pode. por exemplo, adquirir uma
produzir 2 milhões de unidades por hora. carga eléctrica negativa por fricção, << que
O vulgar fósforo de madeira começa por faz deslocar electrões d<i superfície de uma
um toro que é cortado em fasquias de cer película ou de outro material adjacente. Na
ca de 2.r> mm de espessura. Estas são de- segunda superfície, .i carga eléctrica será
pois cortadas em palitos que são embebi- positiva, o que leva a que as duas superfí-
dos numa soluçáo de fosfato de amónio - cies se unam por atracção electrostática.
retardador de ignição que evita que os pali- A película aderente podo ser fabricada
tos continuem a deitar fumo. num destes plásticos: PVC 'cloreto de poli
Os palitos são depois introduzidos auto- vinilo) ou polietileno. O PVC. normalmen-
maticamente nos orifícios de um tapete ro te duro. toma se- macio c flexível pela adi
lante de aço que mergulha as pontas num cão de certos produtos químicos, os plasli
banho de parafina aquecida. Esta vai im- ficanles. o polietileno é macio por nature-
pregnar as fibras da madeira e anulará a za, pelo que não necessita de plastificantes.
fazer passar a chama da cabeça para o palito. A película de PVC e mais transparente
Os palitos são cm seguida mergulhados que a de polietileno, mas ê mais sujeita a
na mistura que constituirá a cabeça. Nos fadiga Com eleito. 24 horas depois de utili
fósforos de segurança, essa mistura con zada perdeu já mais de dois lerços da sua
tem enxofre, e por vexes carvão, para pro- elasticidade, enquanto o polietileno per
duzir a chama e clorato de potássio para deu apenas um lerço
fornecer o oxigénio necessário á combus
tão. Quando as cabeças secam, os fósforos
sao e m p u r r a d o s do tapete rolante para
dentro das caixas de fósforos que correm
numa tela transportadora.
Um material
As tampas das caixas correm noutra tela escorregadio
em movimento paralelo, A intervalos de
alguns segundos, as telas param e .is caixas
sao metidas nas respectivas tampas. As ta
como o gelo
ces laterais destas aplica se a lixa, uma tira
rui>osa impregnada de fósforo vermelho. o revestimento interior náo-aderente dos
que constitui o produto combustível. modernos tachos e frigideiras e o maleri.il
mais escorregadio que ri tecnologia co-
nhece. Tendo quase o mesmo coeficiente
de atrito que o gelo. se cohrisseinos as ruas
Como adere com ele. torná-las-íamos intransitáveis.
() PTFE e um dos mais notáveis produ
a película tos artificiais, e a náo-aderencia não é a sua

aderente? Superfície revestida. Para lazer uma (ri


gideira náo-aderente. mistura-se PTFE cm
pó com aii.ua puberiza-se o sen interiot e
Esta película adere por duas razões: quan seca se
do esticada, a sua elasticidade leva a a reto-
mar as dimensões iniciais; e a electricidade
estática que possui cria uma forma de
atracção a muitas outras coisas.
O segredo da elasticidade esta na estru-
tura molecular da película. Os plásticos são
formados por moléculas longas cente-
nas cie milhares de unidades repetitivas de
Válvula cardíaca. O O engenheiro americano Dr. Roy Plunkett
anel desta válvula está descobriu que o aquecimento do fréon
coberto com um tecido produz o gás tetrafluoroeteno. A urna pres-
revestido de PTFE. O são de cerca de 45 a 50 atmosferas e na
PTFE é quimicamente presença de um catalisador, o gás sofre
inerte, pelo que não há uma alteração química da qual resulta o
o risco de causar PTFE sob a forma de resina pulverulenta.
infecção. Como náo chega propriamente a fun
dir, o PTFE é misturado com um aglutinan-
te adequado e enformado num molde. É
Sol e espaço. A cúpula depois sujeito a pressão e temperatura ele-
plástica deste estádio vadas, e as partículas da resina fundem,
japonês está revestida formando uma massa sólida. Para os reci
de PTFE para reduzir o pientes de cozinha não-aderentes, o pó de
calor dos raios do Sol. PTFE é suspenso em água para formar um
Os fatos de pressão dos acabamento não-aderente que é depois
astronautas possuem pulverizado sobre a superfície e seco.
diversas camadas de
material, incluindo uma
de tecido revestido a
teflon, incombustível e
resistente à abrasão.
Como as
microondas
única qualidade invulgar. K considerável a orgânica, inclusive o tecido humano. Estas
sua resistência a temperaturas, tanto mui- características permitem ainda a sua utili-
zação em próteses cirúrgicas, particular-
cozinham sem
to altas como muito baixas, e ao ataque
químico; é ainda um mau condutor de
electricidade.
mente nas articulações artificiais; o seu re-
duzidíssimo coeficiente de atrito constitui
aquecer os pratos
PTFE é a abreviatura de politetrafluoroe- uma vantagem adicional. Também já tem
tileno, material que foi descoberto quase sido utilizado, sob a forma de fibras entre- Ao ligarmos um forno de microondas,
por acaso em 1938 pelo americano Dr. Roy tecidas e impregnadas de carbono, na re criamos no seu interior um poderoso cam-
Plunkett quando ensaiava para a Du Pont construção dos ossos da face. po electromagnético que oscila na mesma
um produto químico utilizado para refrige- Outra propriedade importante do PTFE banda de frequência que as emissões de
ração. A Du Pont deu à descoberta o nome é a sua resistência à electricidade, o que o televisão por satélite e o radar. As microon-
comercial de teflon. torna excelente para o revestimento de das utilizam-se na cozedura rápida de ali-
O PTFE é um material difícil de manu- fios. Possui ainda a grande vantagem de mentos, pois fazem vibrar as moléculas de
sear, e só se lhe descobriu utilidade em manter a flexibilidade a temperaturas que água contida naqueles. A vibração absorve
larga escala quando o engenheiro francês váo dos — 270°C (poucos graus acima de energia do campo electromagnético e
Marc Gregoire se apercebeu das possibili- zero absoluto) até aos 260°C. aquece os alimentos.
dades da sua aplicação em utensílios do- Este conjunto único de propriedades re Como toda a energia é absorvida pelos
mésticos. Assim, nos meados da década de sulta da estrutura química do PITE. Corn alimentos sem se desperdiçar no aqueci-
50, Gregoire comercializou com a marca efeito, a sua molécula consiste numa "es- mento do ar ambiente nem do próprio for-
Tefal os primeiros tachos não-aderentes. pinha dorsal" formada por uma cadeia no, e como as microondas penetram nos
No entanto, já desde o início dos anos 40 longa de átomos de carbono, cada um dos alimentos, aquecendo-os directamente
se vinha desenvolvendo uma grande varie- quais ligado a dois átomos de flúor. As liga- por dentro (ao contrário dos fornos con-
dade de aplicações industriais para o PTFE. ções químicas entre os átomos de carbono vencionais, nos quais só a superfície é di-
A sua não aderência foi utilizada nas chu- e de flúor são extremamente fortes, razão rectamente aquecida), o processo é muito
maceiras - componentes de máquinas pela qual o PTFE náo reage com outras mais rápido e económico do que os méto-
que suportam veios rotativos. As chuma- substâncias químicas. dos tradicionais de cozinhar.
ceiras de PTFE são consideradas autolubri- As fortes ligações carbono-flúor verifi- A energia das microondas náo aquece os
ficantes, pois não precisam de qualquer cam-se também entre as moléculas adja- utensílios no forno, porque os materiais de
lubrificação além da sua própria natureza centes, de modo que se atraem mutua que são feitos - louça e vidro - não absor-
deslizante. Para lhes aumentar a resistên- mente mais do que atraem as moléculas vem energia do campo electromagnético
cia, são geralmente reforçadas com outros de outras substâncias. Este o motivo por (os recipientes não saem frios do forno, por-
materiais, como a fibra de vidro e a grafite. que nada se lhe adere. que são aquecidos pelos alimentos).
Esta forte atracção intermolecular signi-
A resistência ao ataque dos ácidos fica igualmente que o PTFE não funde, Utensílios de cozinha especiais
O PTFE não é afectado por nenhuma subs- mesmo a temperaturas elevadas. A fusão Além da louça e do vidro, muitos outros
tância química vulgar, incluindo os ácidos dá-se quando as moléculas obtêm sufi- materiais - como o plástico, o papel e a
e os álcalis a ferver. Mesmo a água-régia ciente energia por aquecimento e se sepa- cartolina — podem ser usados num forno
(mistura de ácidos clorídrico e nítrico) dei- ram umas das outras. No PTFE, a atracção de microondas. Os recipientes de metal
xa-o incólume. As únicas substâncias que molecular é tão forte que as moléculas têm não devem ser usados, porque o meta] não
o atacam são o sódio em fusão, o cálcio em grande dificuldade em separar-se. transmite as microondas, reflecte-as. Por
fusão e o flúor muito quente. este motivo, os alimentos náo devem ser
O facto de ser quimicamente inerte sig- Como se fabrica o PTFE cobertos com folha de alumínio.
nifica que o PTFE não contamina os ali- O PTFE é produzido a partir do fréon 22 As ondas longas da rádio têm compri
mentos nele cozinhados. Na realidade, ele (diclorodífluorometano), refrigerante lí- mentos de onda de milhares de metros. As
não produz efeitos sobre qualquer matéria quido largamente utilizado em frigoríficos. microondas utilizadas nos fornos têm um

24
comprimento de onda de cerca de 12 cm.
Uma onda electromagnética é uma vi-
bração de campos eléctricos e magnéticos
que alternam constantemente, dirigidos
Como os frigoríficos «fazem frio»
ora no sentido positivo, ora no negativo. Os
fornos de microondas funcionam com on- Quando ligamos uma torradeira ou um aqui o tubo alarga e o gás vaporiza se nova
das que vibram 2450 milhões de vezes por ferro eléctrico, obtemos calor. Porque é mente, reiniciando-se o ciclo.
segundo — uma frequência de 2450 MH/. então que um frigorífico ou um congela A refrigeração desenvolveu se no século
(megahertz), ou 2,45 GHz (gigahertz). dor -lazem frio» quando OS ligamos0 estimulada pela necessidade de se ob-
As moléculas da água tem um pólo de Assim acontece porque estes aparelhos terem fornecimentos de carne das grandes
carga positiva e um pólo de carga negativa. utilizam dois princípios científicos. O pri- pastagens da Austrália, Nova Zelândia,
As microondas em vibração positiva nega- meiro é o de que, quando um líquido se América do Sul e Oeste Norte-Ainericano
tiva interagem com as moléculas polares evapora, absorve calor do ambiente que o para os principais mercados da Europa e
da água, atraindo e repelindo os seus pó- cerca: o liquido precisa de energia para se do Leste da América do Norte.
los, fazendo-as rcxlar ora num sentido, ora transformar em vapor e vai buscá-la sob a lima das primeiras pessoas a descobrir
no outro. Este movimento acontece tam- forma de calor. O segundo é o de que um e aplicar o princípio da refrigeração foi um
bém 2450 milhões de vezes por segundo. líquido evapora-se a uma temperatura tipógrafo, James Harrison. Ao limpar OS
O componente mais importante do for- mais baixa quando a pressão é, por sua caracteres de metal com éter. verificou o
no de microondas é o magnetrão, o dispo- vez, mais baixa. Qualquer líquido que se efeito refrescante que este tinha sobre o
sitivo que gera as microondas. Foi criado evapore facilmente a temperaturas baixas metal - o éter é um líquido com ponto de
em 1940 em Inglaterra, mas foi a Raytheon é um refrigerante, ou agente de arrefeci ebulição muito baixo que se evapora fácil
Company, dos EUA, que, no princípio dos mento, em potencia. E é possível fazê-lo mente. Harrison deu aplicação prática á
anos 50, se apercebeu das aplicações do vaporizar-se e liquefazer-se alternadamen- sua descoberta no edifício de uma fábrica
mestiças que este invento poderia ter e pa te, obrigando-o a circular numa tubagem de cerveja em Bendigo, Vitória, em 1851,
tenteou um "aparelho de aquecimento die- em que a pressão seja variável. Na maioria fazendo circular éter numa canalização
léctrico de alta frequência". Os pequenos dos frigoríficos domésticos, o refrigerante própria para refrescar o ambiente.
modelos domésticos foram aperfeiçoados é um dos compostos artificiais, denomina A ideia de Harrison levou á primeira via-
na América em finais da década de 60. dos clorofluorocarbonos (CFCs). gem coroada de êxito com um equipa-
Os tubos no interior do frigorífico são mento frigorífico a partir da Austrália: a do
Ferver até transbordar. Quando se largos, a pressão é baixa e o refrigerante navio Strathleven, com um carregamento
aquece agua num copo num forno de mi- vaporiza-se. Oeste modo, o tubo mantém- de carne para Londres em 1880 - viagem
croondas, a temperatura pode subir ulé se frio c retira o calor aos alimentos. que demorava dois meses.
]10"C sem que a água (ema. Isto acontece I Im motor eléctrico aspira o gás frio da O primeiro frigorífico doméstico foi cria
porque as microondas aquecem a água no tubagem do interior do frigorífico, compri- do em 1879, quando o engenheiro alemão
centro sem aquecerem o copo. peto que u me o - o que o aquece - e envia-o à Karl von Linde modificou um modelo in
água em contacto com o vidro está abaixo tubagem exterior, na parte de trás do trigo dustrial que desenhara seis anos antes (>
do ponto de ebulição. Como as bolhas de rífico. 0 ar em torno destes tubos absorve- refrigerante era o amoníaco que circulava
oapor na água a ferver se formam principal -lhes o calor, fazendo com que o gás se por acção de uma pequena bomba a va
mente sobre as irregularidades do recipien- condense novamente em líquido, ainda a por. Os pioneiros dos frigoríficos eléctricos
te, não se dá a ebulição. Mas se deitarmos uma pressão elevada. foram os engenheiros suecos Balzer von
café solúvel na água, formam se bolhas em Depois, um tubo de diâmetro muito pe Platen e Cari Munters, com o seu modelo
redor dos grânulos, e o liquido borbulha e queno, o tubo capilar, reconduz o líquido Eiectrolux de 1923, que utilizava um motor
transborda. sob pressão para o interior do frigorífico; eléctrico para accionar o compressor.

COMO FUNCIONA LM FRIGORÍFICO


COMO SE CONSERVAM O CFC vaporiza-se Tubo O CFC
OS ALIMENTOS no t u b o largo capilar liqufifaz-S6
\ -, s o b pressão
O arrefecimento dos alimentos no fri- ~~""'* ' •/ elevada
gorífico retarda a acção de dois dos
principais causadores da sua deteriora-
ção: o desenvolvimento de bolores e
bactérias e a decomposição química.
Num frigorífico doméstico, a tempe-
ratura é mantida entre 1 e 5°C — tempe-
ratura suficientemente baixa para man-
ter frescos durante uma semana a
maioria dos alimentos que utilizamos.
O crescimento dos organismos causa-
dores da decomposição é retardado,
mas as temperaturas baixas não cies
troem esses organismos. A decomposi-
ção química é também retardada de
modo idêntico, mas não completa O ar quente no interior do frigorifico sobe e
mente anulada. é arrefecido à medida que o calor lhe é reti
A temperatura do congelador do rodo pelo refrigerante contido na secção
mestiço ronda os - lo"C. o que preser- larga da tubagem. O refrigerante transporta
va os alimentos até um ano. o calor, que é depois radiado para 0 um
biente na serpentina por trás do frigorífico

25
Porque se cozinha tão depressa
numa panela de pressão
Quando cozemos batatas numa panela tampa, existe um respiradouro sobre o
vulgar, o tempo de cozedura c de 20 a 30 qual é colocado um peso. Esle tapa o respi-
minutos. Mas numa panela de pressão ti radouro, mas levanta quando o vapor no
carão cozidas em 4-5 minutos. Porquê? interior atinge a pressão desejada. Existe
Na panela vulgar, a água ferve a 100"C, e também na tampa uma válvula de segu
por muito que a aqueçamos, a temperalu rança que liberta a pressão se o peso do
ra da agua nunca subirá - apenas produ- respiradouro não subir quando ê atingida
zirá mais vapor. Mas a panela de pressão a pressão pretendida.
tem uma lampa que veda hermeticamen- A panela de pressão doméstica evoluiu
te; assim, o vapor que se produz quando a a partir de um "digestor a vapor" paten-
agua ferve acumula se no seu interior, au- teado em Inglaterra pelo físico francês De
mentando a pressão e aumentando por nis Papin em 1679. A panela actual trabalha
tanto 0 ponto de ebulição da água. Com à pressão de I kg/cm2, cerca do dobro da
uma temperatura de cozimento mais ele pressa.» atmosférica normal, e, por este
vada, o tempo de cozedura é reduzido. Na motivo, ,i água ferve a 122°C.

IMPOSSÍVEL UM BOM CHA NO IOPO DO EVERESTE ...


A água ferve quando começa a Iransfor E isto responde á pergunta: por que
mar-se em vapor. As bolhas são causa- razão não se consegue beber um bom
das pelo vapor que sobe d») fundo do chá no topo do F.vereste?
recipiente para a superfície. O cume do monte Evereste encontra
A temperatura de 100°C que é dada se- a quase 9000 m de altitude, e a prés
como o ponto de ebulição da água só é são atmosférica é aí menor que um terço
correcta ao nível do mar. A medida que da pressão ao nível do mar. A água ferve
subimos, a pressão atmosférica desce, a 70°C apenas: esta temperatura não
provocando igualmente a descida do é suficiente para extrair das folhas do
ponto de ebulição da água. Tanto na pa chá a sua melhor fragrância, pelo que o
nela vulgar como na de pressão, o tem resultado nunca poderá ser um bom
po de cozedura aumenta. chá.

Remédio para o calcário das panelas


As pessoas que têm em casa água canali- solve o calcário, fazendo-o fervilhar en
zada, que e calcaria por provir de regiões quanto liberta dióxido de carbono.
em que o solo possui rochas calcárias, aca Em algumas caldeiras e sistemas de
bani com parle destas rochas depositada aqueci mento de
nas suas panelas e cafeleiras. águas, a dureza da
Quando a água da chuva é filtrada atra água pode ser mais
vés de um terreno calcário, dissolve se nela do que um simples
uma parte desse mineral. Ao ferver se a incómodo: o calcá-
água, o calcário e separado da solução e rio deposita-se nas
deposita-se na panela. paredes interiores
I Ima água calcária faz-se ainda sentir de dos canos e reduz o
outra forma: o sabão não produz muita débito da água. Nas
espuma. Em vez de dissolver o sabão e fa- caldeiras, forma nina
zer espuma, a água reage com os COITlpO barreira que impede
nentes químicos do sabão e forma flocos a transferência efi-
insolúveis. K a chamada agua "dura". ciente do calor, enca
Aparecem igualmente manchas de cal recendo muito o
cario nas banheiras e lavatórios e em redor aquecimento. Por isso, a água leni de ser Flor de pedra. Cristais de carbonato de
das bicas das torneiras. "amaciada" antes de entrar nos circuitos cálcio em fornia de flor (em cima) ligam as
Os depósitos de calcário nos recipientes de aquecimento. 'pétalas", formando o deposito calcário no
podem ser removidos pelo vulgar vinagre Nas estações do abastecimento de água interior das panelas e caldeiras. De compo
ou por produtos comerciais adequados, ê possível diminuir lhe a dureza por pro- siçãa química idêntica são as estalactites
contendo, por exemplo, uma solução cessos químicos, tratando-a, por exemplo, (ao alto) que pendem do tecto das grutas
concentrada de ácido fórmico, O ácido dis- com cal apagada e carbonato de séxlio. calcarias.

26
Os "girinos"
na sua máquina
de lavar
O segredo de Iodos os pós de lavar é um
produto químico que torna a água mais ÁGUA MAIS 'MOLHADA" PARA LAVAR A ROUPA
'"molhada". Curiosamente, a água por si só
não é muito eficiente em "molhar" as coi- A água nào molha bem os objec-
sas devido à sua tensão superficial, que lhe tos porque as suas moléculas se
confere uma espécie de pele e é causada juntam, produzindo tensão su
pela atracção das moléculas do interior da perficial. Os alfaiates conseguem
água sol ire as da camada superficial. assim "andai" sobre a água. Ao
A adição de um detergente à água enfra- juntar um detergente a uma gota
quece as forças intermoleculares e reduz a de água, esta perde a forma este
tensão superficial, o q u e permite à água rica (a esquerda), deuiao à redu
espalhar-sc mais facilmente e molhar me- çôo da tensão superficial.
lhor as coisas. A água de lavagem, mais
"molhada", consegue penetrar mais facil- Os detergentes rernouem as gor-
mente nas libras dos tecidos e retirar delas duras porque as ajudas das suas
as sujidades e gorduras. moléculas se ligam às partículas
0 ingrediente activo d o s detergentes de gordura. As cabeças das molé-
que não contém sabão é um derivado do culas sao atraídas pela água, e\
petróleo, um alquilbenzeno, tratado com pulsando as partículas gordas do
ácido sulfúrico e soda cáustica. tecido tiuando se agita a roupa.
Podemos imaginar as moléculas do de As fracas cargas eléctricas do de
tergente c o m o p e q u e n o s girinos, c o m tergente impedem as partículas
uma cabeça e uma cauda. As cabeças são de gordura de se unirem
atraídas pelas moléculas da água — sáo
hidrófilas, isto é, gostam da água. porque
as moléculas da água têm uma pequena Tecido (ú esquerdai
carga positiva, ao passo que as "cabeças" com partículas de gor
de detergente sáo eleetricamente negati- dura entre as fibras.
vas. As caudas, por seu lado, são hidrófo Durante a lavagem,
bas (não gostam da água). <js moléculas de deter
Q u a n d o se m e r g u l h a a r o u p a suja gente arrastam a gor
numa solução de detergente, as caudas dura. limpando o teci
das moléculas agarram se á sujidade gor- do fà direita).
durosa das fibras, pois são quimicamente
semelhantes a gorduras. Alem disso, pene-
iram entre as libras, soltando a sujidade.
Por outro lado, as partículas de sujidade,
ao atraírem as caudas, ficam totalmente
revestidas por uma camada de cabeças hi-
drófilas - tal como minúsculos balões —
e flutuam na água. A agitação da roupa
ajuda assim a libertar a sujidade.
Os pós de lavagem sáo uma mistura de
até 10 ou mais ingredientes, entre quais o
detergente básico e um branqueador.
Os pós de lavagem biológicos diferem
dos outros detergentes por conterem enzi-
mas, um tipo de proteínas produzidas pe
las plantas e animais. Os enzimas actuam
como catalisadores, ou activadores quími-
cos, para ajudar a d e c o m p o r as n ó d o a s
que contém proteínas, lais como sangue,
transpiração e molhos de carne. Os enzi
mas provocam a decomposição química
das outras proteínas, enquanto os deter-
gentes normais actuam fisicamente. Dado
que as nódoas de proteínas sáo derivadas
de seres vivos, os detergentes que. actuam
sobre elas são chamados biológicos.
Pasta de dentes —
de giz e algas
As pessoas que lavavam os dentes nos
meados do século xix usavam provável
mente pós dentífrtcos contendo coral moí-
do, osso de choco, casca de ovo queimada
ou porcelana. Por vezes, esles pós conti
nham ainda um corante vermelho obtido
dos corpos das cochonilhas.
As pastas dentffricas actuais — brancas,
de cor ou às riscas — contem dez ou mais
ingredientes. Uns deslinam-se â limpeza
ou à protecção dos dentes, outros confe-
rem o sabor à pasta, outros fazem a ligação
da massa, outros ainda facilitam a sua saí-
da do tubo
0 ingrediente principal da parte branca
da pasta é giz finamente moído (carbonato
de cálcio) ou outro pó mineral como o
óxido de alumínio. Estes pós são ligeira-
mente abrasivos e ajudam a remover a pla-
ca dentária, película que se forma constan-
temente sobre os dentes e que é composta
por muco, partículas de alimentos e bacté-
rias.
Ás vezes, para tor-
nar a pasta mais bran-
ca, junta-se também >
um pouco de óxido
de titânio em pó.
As pastas de gel
transparente ob-
têm as suas caracte-
rísticas abrasivas
por meio de com-
postos transparen-
tes de sílica, a que
frequentemente se
adiciona um co-
rante.
Os ingredientes
de limpeza e poli-
mento são combi-
nados com água,
formando uma
pasta espessa gra-
ças à adição de um
agente de ligação
e espessamento
como o alginato,
substância extraída Enchimento dos tubos. Os tubos oazios são enchidos mecanicamente: recebem
das algas marinhas. quantidades exaCtOS da pasta, depois do que são vedados na extremidade

A introdução das riscas. Ilã dois processos "Pasta dentífrica branca


de pôr as riscas na pasta. No recipiente Pasta dentífrica de cor
grande (ã esquerda), a pasta branca
e a colorida são introduzidas
separadamente e combinam-se
quando se espremem para o exterior.
No tubo tradicional (ã direita;, a pasta
Pasta às riscas. de cor encontra-se num anel perto da
As riscas de cor extremidade e sai através de orifícios.
contêm flúor ou elixir. fazendo assim riscas na pasta branca.

2S
Junla-se ainda um pouco de detergente Gillette e a máquina de barbear
para criar espuma e contribuir também
para o processo de limpeza. Para que fique
agradável ao paladar, a pasta é geralmente
adoçada com óleo de hortelá-pimenta e
S e não fosse a invenção do amorica
no King Camp Gillette (1855-1932),
é possível que, ainda hoje, os homens
se barbeassem todas as manhãs com as
cabo e cabeça regulável. As lâminas de
aço ao carbono tinham a garantia de se
manterem afiadas por 20 barbas e eram
mentol. vendidas em pacotes de 12.
Inclui se também um humectante velhas navalhas de barba. Gillette criou a Safety Razor Company
como a glicerina, a fim de evitar que a pasta Caixeiro-viajante de ferragens no e-patenteou a sua máquina de barbear
seque. Além disso, na maioria, as pastas Centro Oeste Americano, Gillette bar- em 1901. As primeiras máquinas surgi
clenlífricas actuais contém flúor, que ajuda beava-se certa manhã, em 1895, quando iam nos Estados Unidos em 1904. Vendi-
a fortalecer o esmalte dos dentes, e por achou que a sua navalha não era eficien- das em ourivesarias, farmácias e lojas de
vezes o bactericida formaldeído. te nem segura. Reparou que só ferragens, bem como nos novos
uma pequena parte da lâmina armazéns de retalho, a máqui-
Como se fazem as riscas era utilizada v como era pe- na c as lâminas apresenta
Algumas pastas dentífricas apresentam o rigoso tal instrumento - vam se em conjunto den-
flúor ou o elixir sob a forma de riscas. que podia, literalmente, tro de um estojo. Os cabos
A iiiislura de limpeza é normalmente cortar a garganta de um das primeiras máqui-
branca, enquanto o flúor ou o elixir são homem. Homem nas levavam um ba-
frequentemente um gel transparente azul ocupado, Gillette não nho de prata, e os dos
ou vermelho. As duas pastas são prepara gostava de desperdi modelos mais caros,
das separadamente. Os tubos são enchi- çar o seu tempo a mi banho de ouro.
dos, como sempre, pela parle larga, que amolar a navalha. Mas as vendas iniciais
depois c dobrada e vedada. As duas pastas Porque não criar revelaram-se
contêm cores que não se misturam, e as uma lâmina que nunca d e s a n ima
respectivas massas também não se mistu- tivesse do ser afiada, doras. e
ram, de modo que. ao espremer se o tubo. que tivesse o tamanho a empresa
sai a pasta branca com riscas de cor. certo para barbear a cara promoveu uma
de um homem o que fosse campanha publi
suficientemente barata para citaria em jornais e re-
ser deitada fora quando já não cor- vistas para homens nos
Como se dá o fio tasse7 Gillette lembrou se ainda das pa
lavras do seu antigo patrão, Wil-
EUA e na Europa para dar
f^ a conhecer ao público o
às lâminas de liam Painter, um inventor
e homem de negó-
novo invento. Km 190(5, as ven
das atingiam as 90 000 máquinas
barbear cios que pensava
que, se se produzisse
e os 12 milhões de lâminas.
Gillette tornou-se rico e famoso. Ain
um artigo que as pessoas da hoje. o seu rosto é conhecido de mui
pudessem deitar fora depois tos, pois, até há pouco, o seu retrato
Todas as 24 horas. 25 000 pêlos crescem figurou nas embalagens das lâminas.
até cerca de meio milímetro na face do lio de usar, elas procurá-lo-iam
mem adulto. A moderna lâmina de bar- sempre. O desenho da chamada "gilete" e da
bear. perfeitamente afiada, permite um Gillette e o mecânico William Nic- sua lâmina não sofreu praticamente al-
barbear escanhoado, suave; e seguro. kerson aperfeiçoaram a lâmina de bar terações desde o início; actualmente,
Há milhares de anos que o homem se bear de segurança de dois gumes, que muitas máquinas de barbear são de
barbeia, lendo usado para isso lascas de se aplicava num suporte especial, com plástico e elas próprias descartáveis.
sílex, depois lâminas cie bronze e finalmen-
te de ferro. As primeiras navalhas de bar
bear com fio de aço foram feitas em Shef-
field em 1680. Mas a actual lâmina descar da curva do fio visto em secção: cerca de
tável surgiu apenas em 1901, com King cinco centésimos milésimos de milímetro
Camp Gillette e William Nickerson. Depois de afiado, o fio e polido por ro
A lamina de barbear inicia a sua vida das de couro. Mas, à escala microscópica,
como um rolo de fita de aço contínua, com o fio é ainda áspero e. devido â fricção,
uma espessura aproximada da do pêlo poderá repuxar os pêlos e provocar cies
que irá cortar. conforto. Para proteger o fio e reduzir a
O aço é uma liga com cerca de 13"» de fricção, a lâmina recebe três banhos suces-
crómio, que lhe confere maior dureza e sivos: um de crómio, outro de cerâmica e
resistência à corrosão. A dureza é ainda outro de PTFE, substância mais conhecida
aumentada com o aquecimento do aço e a corno revestimento não aderente de pane
sua imersão num líquido de arrefecimento. las e frigideiras. O crómio confere resistem
O fio de corte é produzido por afiação. A cia â corrosão, a cerâmica reduz o desgaste
fita de aço passa por três conjuntos de ro o o PTFE produz a lubrificação.
das de afiar, cada uni deles afiando mais Corte em molhado e a seco. Um pêlo Cada um destes revestimentos tem uma
que o anterior. As rodas estão montadas da barba cortado por uma lâmina em mo- espessura inferior a um centésimo milési
em ângulos diferentes, a fim de produzi lhado (à esquerda) apresenta uni coife mo de milímetro.
rem a secção de fio chamada de arco góti- muito mais regular que o feito por uma A lâmina aplica-se num suporte com
co (curva), forma mais forte que a de uma máquina eléctrica (à direita). Cm pêlo um cabo, cómodo de manusear, e com
cunha de rampas direitas. O índice de afia seco é tão difícil de cortar como um fio de uma cabeça que pode ser ajustável e abre
mento da lâmina exprime-se como o raio cobre da mesma espessura. para receber a lâmina.

29
Como o aço inoxidável foi descoberto por acidente
O aço inoxidável foi descoberto por aciden- reage com o oxigénio do ar. produzindo de aços inoxidáveis, lima das ligas mais
te em 1913 pelo metalúrgico britânico liam óxidos de ferro avermelhados. Outros me- vulgares contém 18% de crómio o 8% de
Brearley. Este Fazia ensaios com ligas de aço tais, como o alumínio, o níquel e o crómio, níquel pelo que é conhecida por 18:8 —
que pudessem ser utilizadas nos canos de reagem também de forma idêntica, mas os e é utilizada «MM lava-louças. por exemplo.
espingarda. Mais tarde, verificou que, en- respectivos óxidos formam uma camada As taças de cozinha são fabricadas com uni
quanto a maioria das ligas que rejeitara ti- .superficial impermeável, impedindo que o aço contendo |.'j"n de crómio. Juntando
nham enlerrujado, o mesmo não aconle oxigénio reaja com o metal no seu interior. uma pequena percentagem do metal mo
cera .1 ama liga que continha 14% de cro Na liga de Brearley, o crómio formou uma libdénio, obtém se uma liga ainda mais re
mio. Esta descoberta levou â criação do açi > placa semelhante protegendo o metal da SÍStente à corrosão que é utilizada no revés
inoxidável. O aço vulgar enferruja porque oxidação. Hoje. fabrica-se uma diversidade timento de edifícios.

Poria para o Oeste. (> mau» ano do Mundo é 0 monumento à expansão americana para oeste, em St Louis, Missuri. Tem \S2 m de alttiiu
e 192 m de Uáo. Uma tal construção SÓ podia ser feita de aco iuoxiduicl.

30
Grandes proezas de organização •
Desde a regulação do trânsito numa cidade até à organização dos Jogo
Olímpicos ou à montagem de automóveis — há tantas coisas que
achamos naturais e que nos parecem simples... até descobrirmos
o que se passa nos bastidores.
Como lidam os aeroportos com milhões de passageiros?
Um aeroporto é um organismo vivo com
urna função principal: manter o sangue
que o alimenta — os seus passageiros -
fluindo livremente através das suas veias e
artérias. 0 número desses passageiros é
astronómico e cresce rapidamente. Em
1986, os 37 aeroportos mais movimenta-
dos do Mundo foram utilizados, no seu
conjunto, por um total de 740 milhões de
pessoas. Em todo o Mundo, os aeroportos
gastam anualmente 750 milhões de con-
tos para que os seus passageiras se sintam
satisfeitos.

Os "Jumbos"
Veja-se o aeroporto mais movimentado do
Mundo, o 0'Hare, em Chicago, utilizado
por 50 companhias aéreas. Passam por ele
55 milhões de pessoas por ano, o que re-
presenta 6700 passageiros por hora. Cerca
de 2200 aviões utilizam diariamente o
0'Hare. Quando diversos Jumbos aterram
a minutos uns dos outros, milhares de pes- Prontos para o embarque. Jactos de passageiros encostam às fontes do terminal do
soas saem deles quase simultaneamente, Aeroporto de Frankfurt — o principal da Alemanha e um dos 37 mais movimentados do
provocando congestionamentos que afec Mundo, que, no seu conjunto, processam 740 milhões de passageiros por ano.
tam os planos e as disposições dos passa-
geiros, destroem a confiança e minam os
lucros do aeroporto. As avarias e as greves
produzem os mesmos efeitos.
Quando uma greve de controladores aé
reos em Espanha coincidiu com o início
das férias grandes em França, em Junho de
1988, dezenas de milhares de passageiros
ficaram retidos em aeroportos por toda a
Europa. Só em Manchester, 16 000 turistas
em férias tiveram atrasos de até sete ho
ras — e um grupo de pessoas que se dirigia
para a Grécia partiu finalmente depois de
uma espera de 21 horas. Foram chamados
palhaços e malabaristas para entreter mi-
lhares de crianças.
As bagagens são uma questão impor-
tante na organização dos aeroportos. Se-
guem separadamente dos passageiros,
em parte por razões de segurança, em
parte porque são alojadas noutra secção
do aparelho. A missão do chamado pes-
soal de handling é assegurar que as ma-
las tenham o mesmo destino que os res-
pectivos donos. No terminal da United
Airways em 0'Hare, as etiquetas de baga-
gem, codificadas por computador, são li-
das por laser, e os distribuidores automá-
ticos processam 480 peças de bagagem
por minuto, contra as 7õ que poderiam
ser processadas à mão. A zona de distri-
buição da bagagem tem a área de seis
campos do futebol.

Esperando ordens. Cada Jumbo que


aterra no Aeroporto J. F. Kennedy. de Nova
Iorque, chega a desembarcar 500 passagei-
ros. Segue-se a espera para o próximo LHX).

32
Com as crescentes dimensões e com- localiza um deles, podem ter que andar a pé
plexidade dos aeroportos, os problemas uma enorme distância para chegar até lá,
multiplícam-se. Quanto mais pessoas pas
sam por um aeroporto, mais espaço é pre-
No maior terminal do Mundo - o do Aero-
porto de Hartsfield Atlanta, na Geórgia,
A vigília constante
ciso, tudo leva mais tempo e mais frustra
dos se sentem os passageiros. Com a ex-
EUA —, a área coberta atinge mais de 24 ha. para evitar que os
Cada terminal acaba por assemelhar se
pansão dos parques para automóveis, por
exemplo, tem de se proporcionar aos pas-
a uma pequena cidade, com o seu exército
próprio de bagageiros, de pessoal de lim-
aviões choquem
sageiros meios adicionais de transporte peza, de enfermagem e administrativo,
para os levar dos seus carros até aos termi- empregados das lojas, dos restaurantes e Apesar da acumulação crescente de aviões
nais do aeroporto. Mais aviões exigem da manutenção. O Terminal 3 do Aeropor- no espaço aéreo mundial, a viagem por ar
mais portas de embarque e mais terminais to de Heathrow, em Londres, que movi- está a lornar-se efectivamente mais segura
e mais quilómetros de corredores. menta a maioria dos voos de longo curso, Nos EUA, o número de viajantes por ar
As dimensões dos aeroportos tornam tem 3000 empregados. subiu de 315 para 460 milhões entre 1980 e
-se assustadoras. Enquanto uma grande Mas para se manterem activos, todos os 1987. No mundo ocidental, o tráfego aéreo
estação de caminho de ferro cobre cerca terminais acabam por ter de ser moderni- cresce cerca de 20% por ano.
de 3,5 ha, o maior aeroporto americano, o zados, como aconteceu ao terminal 3 de Parece assim que deveriam aumentar as
de Dallas-Fort Worth, cobre 7000 ha. Em Heathrow entre 1987 e 1990. A sua remode- probabilidades de colisões no ar, mas
1988, os seus quatro terminais movimen- lação teve de ser planeada por forma a cau- em cada ano o índice destes acidentes di-
taram mais de 44 milhões de passageiros. sar o mínimo de transtorno ao pessoal e minui. Nos EUA, houve 1,72 mortes por
Mas mesmo este enorme aeroporto pa- aos seus 0 milhões de passageiros anuais. 100 000 horas de voo em 1978 e 0,92 ern
rece pequeno se comparado com o maior Contudo, novas tecnologias permitirão 1986. Por outras palavras, um avião teria de
do Mundo, o Aeroporto Internacional do atender mais pessoas com as instalações voar 24 horas por dia durante quase 12
Rei Khalid, na Arábia Saudita, com os seus existentes. Tapetes rolantes para passagei- anos para que morresse uma pessoa.
23 (iOO ha, mais de quatro vezes a área da ros, tratamento computorizado das baga- Contudo, o sistema revela sinais de can-
Bermuda. gens, comboios automáticos para trans saço. Em 1987, os quase acidentes nos EUA
Ao chegarem a um aeroporto, os passa- porte das pessoas desde os parques de au- ocorreram à razão de três por dia - o do-
geiros encontram á sua disposição uma tomóveis — todas estas inovações se desti- bro dos de 1984. Em 8 de Julho de 1987, por
vasta gama de serviços que, por vezes, os nam a tornar mais aprazíveis as viagens exemplo, dois Jambos americanos am-
confunde, e, quando descobrem onde se aéreas. bos a caminho dos EUA com um total de
quase 000 pessoas a bordo — passaram a
menos de 30 m um do outro por sobre o
Atlântico. Os números correspondentes
na Europa mantêm-se estacionários, mas
alguns peritos temem que o quadro ameri-
cano se repita aqui à medida que o tráfego
aumenta.
A responsabilidade de assegurar que os
aviões não colidam no ar pesa inteiramen-
te sobre os ombros dos controladores de
tráfego aéreo. E com o aumento do núme-
ro de voos, aumenta constantemente o vo-
lume do trabalho. Nos EUA, a federal Avia-
tion Administralion emprega 15 500 con-
troladores aéreos - quase exactamente o
mesmo número que em 1980.
Os principais locais de perigo são os
próprios aeroportos, pois 90% de todas as
colisões e quase colisões entre aviões dáo-
se quando estes sobem depois da desço
lagem, descem para aterrar ou circulam
aguardando autorização para aterrar.

As regras do ar
As regras do tráfego aéreo há muito que se
encontram estabelecidas. O espaço aéreo
está dividido em zonas de controlo (fír's)
em que existem corredores aéreos, nos
quais cada avião voa no interior de um pa-
ralelepípedo teórico. Nos corredores entre
Nova Iorque e Londres, por exemplo, os
aviões estão separados por espaços de
2000 pés (610 m) na vertical e 60 milhas
marítimas (110 km) na horizontal.
Os controladores têm de assegurar que,
durante o voo, cada avião seja entregue de
uma zona de controle à outra, mesmo so
brevoando o oceano.

33
Antes de descolar, cada avião entrega to com os centros de controle de tráfego em voz sintetizada, instruções para não-
um plano de voo, que é actualizado em serão monitorizados por satélite. Todos os -colisão. Outro computador tratará as subi
prínl outs do computador durante o voo. planos de voo e ajustamentos de horários tas alterações na direcção do vento, que
Os controladores de tráfego monitorizam serão actualizados automaticamente. O sa- podem provocar desastres quando o avião
a viagem a partir destes printouts. Cada télite dará também informações sobre as desce para aterrar.
avião emite um sinal identificativo que é hipóteses de congestionamento. Assim, o céu pode vir a tornar se mais
visto no radar. Um computador a bordo detectará ou- congestionado, mas será mais seguro -
Quando um aparelho se aproxima de tros aviões na vizinhança e dará ao piloto, pelo menos por uma ou duas décadas.
um aeroporto movimentado com inten-
ção de aterrar, é dirigido para um ponto de
referência por sobre um radiofarol, em ge-
ral a várias milhas de distância. E lhe então
atribuída uma rota de voo própria que o
Como são escolhidos os
conduz à pista. Contudo, durante perío-
dos de ponta pode acontecer que o núme-
controladores de tráfego aéreo
ro dos aviões que querem aterrar é su
perior àquele que o aeroporto comporta. Controlar o tráfego aéreo é como jogar xa Reagindo imediatamente, fez uma cha-
Em certos países, os aviões recebem or drez a três dimensões. Se se tiver cuidado e mada urgente para o DC-10: "AA 182, Cle-
dons para voarem em círculos concêntricos mantiver a calma e a lucidez, nada acnnte veland, qual é a sua altitude?"
- mas a diferentes altitudes — sobre o cera. As acções constam todas dos ma- A resposta do avião foi: "Atravessando
ponto de referência, num padrão de espe nuais e instruções de procedimentos, e há os 34,7 (34 700 pés) neste momento. Con-
ra. Os controladores fazem então aterrar os computadores que ajudam a planear cada seguimos ver estrelas por cima, mas ainda
que voam a altitudes mais baixas, determi uma delas e a prever as suas consequên- estamos na zona das nuvens."
nando em simultâneo que os restantes cias. Nada devia correr mal. Só que, às ve- Controlador: "AA 182, desça imediata
aviões diminuam a sua altitude de voo à zes, corre. mente para 33.0 CS.i 000 pés).»
medida que os outros vão aterrando. Nou- Km 2G de Novembro de 1976, um con- No cockpit do DC 10, O comandante
tros países, os aviões não são autorizados a trolador de tráfego aéreo em Cleveland, Guy Eby reagiu instintivamente, empur-
iniciar o seu voo antes de terem garantido Ohio, acabara de entrar de serviço. Obser rando para a frente a alavanca dos coman
o respectivo espaço de aterragem. vava o seu radar havia apenas 55 segundos dos. O avião picou com um movimento de
Nos EUA, alguns aeroportos retiram lu- quando se apercebeu de que estava em revolver os estômagos, e os passageiros,
cros destas esperas, permitindo que os presença de um desastre iminente. sem cintos de segurança, as hospedeiras e
aviões de companhias que pagam mais Um DC 10 da American Airlines, proce- os carrinhos com os tabuleiros de comida
passem à frente dos das outras. dente de Chicago e voando para leste com "voaram" quando o chão lhes fugiu debai-
Teoricamente, o controle (\o tráfego aé 194 pessoas a bordo, subia para a posição xo dos pés. Durante um breve instante, o
reo é um sistema de fiabilidade comprova- que lhe fora atribuída, a 37 000 pés. Um comandante Eby viu o seu pára brisas ta-
da. Mas, à medida que as exigências se acu- Jumbo da TWA, dirigindo-se para oeste pado com o Jumbo da TWA, passando
mulam, os problemas multiplicam-se. Na com 114 pessoas, voava a 35 000 pés. O mesmo por cima dele a uma velocidade
sua maioria, os sistemas computorizados controlador apercebeu-se de que os dois combinada de 1600 km hora. Os registos
actuais estão obsoletos, e os controladores aparelhos se encontravam numa rota de de voo mostraram depois que 0 DC 10 es
de tráfego, dirigindo dezenas de voos, tra colisão, colisão essa que ocorreria dentro lava a 14 m da altitude do Jumbo quando
balhain sob pressão crescente. 0 relatório de poucos segundos. mergulhou para se pôr a salvo.
sobre o desastre de um avião durante uma
trovoada no Aeroporto Dallas-Forl Worth,
no Texas, em 1985, demonstrou que os
controladores de tráfego aéreo recebiam
uma chamada em cada quatro segundos. \9 wP A u V ***
V
Esta carga de trabalho foi, no entanto, des-
crita como moderada. l\Ví— %
Através da Europa, os sistemas compu-
torizados de cada país são frequentemente
*s t >íw4»%Kv'l "Í-Jí
incompatíveis entre si. Aumenta assim a 1% \ \ \
4m
probabilidade de os erros surgirem e pas-
sarem despercebidos.
1 c.
A forma de preservar e aumentar a segu-
rança é recorrendo à computorizaçào. A
Federal Aviation Administration, dos EUA.
está a planear uma revolução no controle
do tráfego aéreo, com um custo de perto de
20 000 milhões de dólares. O novo sistema
quadruplicará a capacidade pela utilização •V«a»
'

fr.
de computadores, cuja capacidade é qua
tro vezes superior â dos anteriores e que são
oito vezes mais rápidos. O sistema sugerirá
aos aviões manobras de escape sempre
que verificar que dois aparelhos se encon-
tram em rota de colisão. Os visores de radar Controlando os caminhos aéreos. Sentados defronte dos visores de radar, os controlado-
serão a cores e terão informações sobre o res de tráfego aéreo no Aeroporto 0'Hare. de Chicago, seguem atentamente os aviões que
estado do tempo. Os aviões fora do contac aterram e levantam na área e estão em constante comunicação com os pilotos.

34
O incidente ilustrou as qualidades. kaocontrolador as características de per
ideais de um controlador de tráfego sonalidade necessárias para de-
aéreo: concentração, paciência, sempenhar cabalmente a sua mis-
rapidez de decisão e unia aulori são.
dade em que os pilotos possam Assim, além de um tempera-
confiar instantaneamente. Os mento calmo e equilibrado,
candidatos a este lugar tem uma atenção viva e reacções
de ler uma boa forma física, rápidas, a dedicação e auto-
boa visão, expressão verbal disciplina são também ca-
clara e habilitações que in racterísticas indispensáveis,
cluam o inglês, a língua in- pois lrata-se muitas vezes
ternacional da aviação. de uma ocupação solitária
Durante <> curso, os futuros envolvendo trabalho em
controladores de tráfego turnos durante a noite. Em-
aprendem leis da aviação e bora nos aeroportos peque-
teoria de meteorologia e ra nos os controladores consi-
diocomunicação, além das NÊ»!!^ K/,"':"-'!!!"Í gam ver os aviões a manobrar,
formalidades de comunica nos grandes muitos deles estão
ção com os pilotos. permanentemente sentados em
Estudam em salas de aula e em salas com iluminação difusa de-
simuladores, com sessões práticas fronte dos seus radares. Nunca vêem
em centros de controle e aeroportos. o avião e podem ler muito pouco contacto
São depois colocados num aeroporto ou com outras pessoas.
num centro de controle para fazerem um A conversa durante as horas de trabalho
estágio sob orientação superior Quando Rastreio por números. 0 oisor na sala de restringe-se muitas vezes as instruções da-
finalmente são considerados aptos, estão radares do Aeroporto Nacional de Wash das nas frases formais necessárias para ga-
preparados para analisar e agir com base ington atribui um número de voo a cada rantir clareza e rigor: "Roger. seven three
no enorme conjunto de informações em avião no seu espaço aéreo para que os res -two. Descend to three thousand feet on
constante alteração nos visores de radar e pectiuOS movimentos possam ser vistos e QNII one-zero two four." ('"Entendido,
de computadores. seguidos pelo radar. sele três-dois. Desça para três mil pés no
Um grande aeroporto como o de Frank- QNII. um zero dois quatro".)
furt trata uma média de 805 voos por dia movimento e todas com pilotos aguardan- Não se pode dizer que seja divertido.
- um por minuto nas horas de ponta — ,eo do instruções. Mas o desafio, a responsabilidade e o salá-
visor de radar do controlador pode apre- Mas não há capacidades intelectuais rio compensador garantem que não haja
sentar 25 imagens simultâneas, todas em nem conhecimentos técnicos que dêem falta de candidatos a controladores.

A caça permanente aos terroristas


Ann Murphy, empregada doméstica irlan- bo, que transportaria 375 pessoas para Te
desa, de 32 anos, chegou ao controle de lavive.
passageiros da El Al no Aeroporto de Um empregado da segurança fez lhe al-
Healhrovv. em Londres, em 17 de Abril de gumas perguntas de rotina e passou a sua
1986. Preparava se para voar para Israel, na mala pela máquina de raios X, que nada
convicção de que iria conhecer a mãe do mostrou de anormal.
seu noivo jordano antes de casar. Estava Depois despejou a mala e achou-a
grávida de cinco meses. O noivo, Nezar 'muito pesada para uma mala vazia". Aler
Hindawi, disse-lhe que seguiria noutro tado por esle peso suspeito, puxou pelo
voo, pois adquirira um bilhete através da fundo da mala e descobriu um comparti
empresa em que trabalhava. mento secreto contendo 1,5 kg de explosi
Ann Murphy entrou na bicha com os vo plástico. Uma calculadora de bolso no
outros passageiros para embarcar woJum meio das roupas de Ann continha um relõ

Convite para a morte. Sem o saber, a irlan


desa Ann Murphy (em cima. à esquerda)
linha na mala uma bomba de relógio. Fora
colocada pelo seu noivo jordano, Nezar
Hindawi (em cima, à direita), que mais lar/te
foi condenado o 45 anos de prisão por tentar
fazer explodir o avião com os seus 375 DOS
saleiros Entre as provas apresentadas a
julgamento (à esquerda), figuravam uma
pistola, balas, um saco. um passaporte e
uma calculadora para detonar o explosivo.

35
nhias aéreas poderão introduzir a "etique-
tagem oculta" o tratamento dos unifor-
mes, dos veículos e dos passes com um
produto químico detectável apenas por
equipamento especial de leitura.

Radiografia das bagagens


As máquinas de raios X de baixa intensida-
de, vulgares na década de 70, têm sido
aperfeiçoadas com circuitos transistoriza-
dos a fim de fornecerem imagens suficien-
temente nítidas para poderem detectar fios
eléctricos mais finos que um cabelo hu-
mano.
Mas as verificações por raios X são ape-
nas tão eficientes quanto os guardas que as
fazem: a maioria das pessoas aperceber-
-se-ia de uma pistola vista de lado - mas
vista de frente será mais difícil de reconhe-
cer.
O explosivo plástico — como o Semtex
checoslovaco — é invisível aos raios X. A
pilha, os detonadores e os fios utilizados
para a explosão podem ser facilmente in
corporados numa calculadora, como no
caso da El Al, ou num aparelho de rádio,
como no desastre da Pan Am.
Olho perscrutador. Nos aeroportos de todo o Mundo oerificam-se as bagagens por meio
de raios X. Nesta fotografia, um monitor de raios X reoeta que a mala inspeccionada, além de Detectores de metais
óculos de sol e uma tesoura, contém uma pistola. As máquinas que criam campos magnéti-
cos têm sido largamente utilizadas desde o
gio c um detonador que teriam feito expio passageiros e tripulantes e II residentes da princípio dos anos 70 na detecção de ob-
dir a bomba às 13 horas, quando o avião pequena cidade. jectos de metal dentro das bagagens. Entre
voasse a 39 000 pés sobre a Áustria. Os crimes no ar, em particular os assal- 1973 e 1980, só nos EUA descobriram
Nezar Hindawi dera-lhe a mala — já tos e a sabotagem, datam de 1930. quando 20 000 armas de fogo.
contendo o explosivo sob o pretexto de pela primeira vez um avião foi assaltado — Mas, para evitar que os alarmes dispa-
que a dela era muito pesada e colocara um avião das Linhas Aéreas Peruanas pira- rem desnecessariamente, os operadores
nela a calculadora, dizendo que era para teado no Peru. Desde então registaram-se dessas máquinas baixam-lhes frequente-
um amigo. A caminho do aeroporto, Hin- mais de (iOO incidentes, 90% dos quais de- mente a sensibilidade, aumentando assim
dawi pusera uma pilha na calculadora pois de 1968. o risco de deixar passar pequenas armas.
para armar a bomba. Os piratas do ar pedem geralmente di- Por outro lado, os detectores de metais
Terrorista palestiniano apoiado pelos nheiro, publicidade ou acção política. E os podem vir a tomar-se obsoletos: os peritos
Serviços Secretos Sírios, Hindawi foi apa- terroristas tratam as companhias aéreas em segurança temem que um dia seja pos-
nhado e condenado a 45 anos de prisão. como um símbolo da nação a cuja política sível construir armas de plástico.
Ann Murphy - que deu à luz a filha de se opõem.
ambos atites do julgamento foi descrita Cada uma destas tragédias provoca nos Etiquetagem de explosivos
no tribunal como a vítima de "um dos mais aeroportos uma segurança mais apertada, Alguns fabricantes de explosivos incluem
insensíveis actos de iodos os tempos!" mas a segurança terá sempre as suas limi- "etiquetas" nos seus produtos - mi-
0 avião teria sido destruído no ar com tações. Enquanto novas ideias e novos pro- núsculos pedaços de plástico, de cores co-
todos os passageiros e tripulantes se não gressos técnicos se sucedem, os responsá- dificadas, que revelam o local de origem e
fosse a atenção vigilante do empregado da veis da segurança mantêm com os terroris- a data de compra, permitindo assim ras-
segurança e a perfeição do sistema de veri- tas um permanente jogo do gato e do rato. trear os que os adquirem. Embora estas eti-
ficação de passageiros e bagagens da Kl Al. E há sempre um conflito entre a necessida- quetas apenas se tomem úteis após a ex-
A El Al, a companhia de aviação israelita, de de segurança e a necessidade de pro plosão, a sua inclusão poderá dissuadir os
tem fama de ser, no Mundo, a mais preo- cessar rapidamente o movimento dos pas- terroristas ao tornar mais garantida a res-
cupada com a segurança. Os passageiros sageiros. pectiva detecção. Os acordos internacio-
têm de apresentar-se cerca de três horas Embora as companhias não gostem de nais poderão alargar o uso desta etiqueta-
antes da partiria e submeler-se a urna revis- revelar pormenores, existem diversos ti- gem.
ta completa das suas pessoas. Toda a baga pos de segurança nos aeroportos.
gem é examinaria à mão. Revista aos passageiros
O pesadelo de um acto terrorista num Fiscalização do pessoal Quase todos os aeroportos revistam ac-
avião lotado pende constantemente sobre Um aeroporto é uma área enorme que tualmente alguns dos passageiros e a sua
todos os responsáveis pela segurança aé- emprega milhares de pessoas e tem mui- bagagem. A El Al revisla-os a todos. Mas os
rea. É um pesadelo que às vezes se toma tos pontos vulneráveis. O pessoal de abas- responsáveis pelos aeroportos dizem que
medonhamente real, como no caso rio tecimento e de limpeza, por exemplo, já seria demasiado caro e demorado se cada
Jumbo da Pan American que explodiu no tem introduzido nos aviões armas e explo- companhia verificasse todas as pessoas e
ar sobre a cidade escocesa de Lockcrbie sivos. todas as peças de bagagem. As pessoas
em 21 de Dezembro de 1988, matando 259 Para apertar a segurança, as compa revistadas são habitualmente escolhidas

36
GRANDES PROEZAS DE ORGANIZAÇÃO

ao acaso, a não ser que haja razões para Outro dispositivo é o aparelho de análi-
suspeitar de determinado voo ou passagei- se por neutrões térmicos, que bombardeia SERVIÇO A BORDO
ro. As revistas são agora apoiadas, como as bagagens com neutrões (partículas su No dia da partida, as necessidades de-
rotina, por questionários que incluem per- batómicas) que reagem com 0 azoto utili- finitivas de refeições constam do AS-
guntas sobre quem fez as malas dos passa- zado na maioria dos explosivos, libertan- PIC, o sistema automático do centro
geiros e se alguém lhes pediu que trans- do um gás detectável. As máquinas eslão a da Brilish Airways para o conlrolc da
portassem alguma coisa. ser instaladas em certos grandes aeropor- produção do fornecimento de comi
tos, especialmente para detectar explosi- da a bordo.
Percepção à distância vos plásticos. Cerca de quatro horas e meia antes
Utilizam-se cães com faro educado para Até que novos aparelhos sejam inventa da hora da partida, o centro começa a
detectar explosivos, liem como diversos dos ou aperfeiçoados, a melhor defesa preparar os tabuleiros. Os compo-
tipos de sensores de gases (v. p, 97). contra os terroristas é a vigilância eficiente, nentes, incluindo acepipes e sobre
Nenhuma máquina ou animal, por muito mas feita com lacto, pois as buscas muito mesa preparados de fresco, pão, ta-
sensível, consegue detectar explosivos ino- complelas conseguem tornar hostis até os lheres e condimentos, são entregues a
doros ou hermeticamente fechados. Contu- passageiros mais pacientes. partir dos respectivos locais no edifí
do, estão em progresso diversas técnicas. Foi o sentido de vigilância que levou os cio de quase 5 ha.
Uma delas é a radiografia por raios gama, que homens da segurança a descobrir a bom- Os processos de preparação dos
atravessa as bagagens com radiações mode- ba na mala de Anu Murphy, salvando as- pratos quentes variam conforme as
radamente radioactivas. Gerias frequências sim centenas de vidas inocentes. companhias aéreas. Umas cozinham
são parcialmente absorvidas pelo conteúdo, No futuro imediato, o melhor aliado do previamente os alimentos para serem
dando ao feixe de raios uma '"assinatura" que terrorista é o inspector de segurança abor reaquecidos na estufa ou em fornos
identifica os explosivos. recido e descuidado. de microondas a bordo. Nos voos da
British Airways, as refeições são par-
cialmente cozinhadas e rapidamente
congeladas para poderem ser depois
Refeições a bordo de um "Jumbo" terminadas nos fornos do avião e ser-
vidas logo que acabadas de cozinhar.
Quando os tabuleiros estão prepa
Com uma lotação que pode ir até 400 luga- seu quadro centenas de pessoas in rados, são colocados 30 em cada um
res, uni Jumbo acomoda tantas pessoas Cluindo 80 cozinheiras — que preparam cer- dos conhecidos carrinhos de trans-
como um hotel ou um hospital de tama- ca de 160 000 refeições por semana. Num porte com a largura da coxia e levados
nho médio. .Num voo intercontinental típi- dia típico, o centro abastece 30 voos juntamente com os carrinhos de be-
co, serve-se aos passageiros uma refeição de Jumbo. que poderão transportar quase bidas com as louças e talheres e ou
de três pratos (com o prato principal à es 12 000 pessoas. tros artigos. O número total dos arti-
colha), além do pequeno-almoço ou do As ementas são planeadas com três me- gos de cateríng de um Jumbo eleva se
lanche. ses de antecedência, mas há pedidos cons a 35 000.
Na maioria, as grandes companhias de tantes de dietas especiais por razões de Todos eles têm de estar verificados e
aviação preparam os pratos em centrais de saúde, religiosas ou culturais. Podem Iam prontos para embarque duas horas e
caleriny dos aeroporlos das suas cidades bém ser encomendadas refeições espe- meia antes da parlida, para dar tempo
de origem. O enorme centro de prepara ciais para crianças até 24 horas antes da a serem transportados para o avião.
ção e fornecimento de refeições da British partida. Falta agora uma hora para a par-
Airways, cm Heathrow, Londres, tem no Em Heathrow, a British Airways possui tida. Qualquer artigo de última hora
— uma refeição es|)ecial para um passa-
geiro diabético inesperado, uni bolo
de anos requisitado à pressa - é en-
tregue por camiào-frigorífico.
A bordo, os três conjuntos de refei-
ções para as três classes são armaze-
nados nas respectivas cozinhas — ge-
ralmente, seis. No ar, a refeição é servi-
da conforme o fuso horário local. Os
15 elementos do pessoal de cabina
tentam pôr os tabuleiros em movi-
mento imediatamente a seguir a estar
pronto o principal prato quente.
Recolhidos os tabuleiros c colocados
novamente nos carrinhos, tudo fica
pronto para ser descarregado, no desti-
no, para os veículos do calering local.

Refeições a bordo. As refeições nos


aviões, especialmente nas viagens de lon
go curso, procuram ter o nível de um bom
restaurante. O pessoal do centro de forneci
mento de refeições da British Airwoys em
Heathrow expõe o comida que vai ser servi
da aos passageiros de um Jumbo.
também um centro de lavagem do equi - 90 000 peças por dia — por meio de Abu Dabi-Singapura Sydney, por exem-
pamenlo cie serviço utilizado a bordo, um íman. plo —. a companhia procura fornecer
que é recolhido dos aviões logo que estes No local de destino do avião, o ciclo rei ementas diferentes para cada classe no
aterram. Este centro emprega lf>0 pes nicia-se. No curto espaço de tempo em percurso entre cada escala.
soas — mas apenas 130 na cozinha —, que O avião está pousado, é embarcada A 800(1 m acima do solo, a mudança de
apesar da enorme automatização. Há uma carga de ;},"> 000 artigos. Quando o ementa é a única coisa que distingue um
um aparelho que pega nos talheres voo tem duas ou mais escalas - Londres- percurso do outro.

O mundo especial e arriscado do mercado de títulos


Assim que se extinguiu o ruído dos ca- levando sucessivamente a cada bolsa res das bolsas está agora a ceder o lugar
nhões no campo de batalha de Waterloo, a sua hora de abrir, a onda varreu o Glo- ao ruído surdo da alta tecnologia, â me-
cm 1815. a notícia da vitória dos aliados bo — Hong Kong, Singapura, as bolsas da dida que os corretores se computori
sobre Napoleão foi levada por estafetas até Kuropa, e Nova Iorque outra vez. Os valo- zam. Mas os princípios básicos náo se
ao banqueiro Nalhan Rothschild, em Ixin res das empresas americanas desceram alteram. A bolsa é o local para a compra
dres. Este financeiro, um dos fundadores mais de 500 biliões de dólares antes de o e venda de valores — designação genéri
da dinastia Rothschild, recebeu a notícia dia terminar. ca para os fundos do Estado, as acções,
mais de 24 horas antes do primeiro-minis- A "Segunda-Feira Negra" veio chamar a as obrigações e títulos similares. Todos
tro britânico, Lord Liverpool. atenção para o mercado de títulos de pes eles representam um investimento para
Rothschild sabia que o preço dos títulos sejas que normalmente nem reparam que a pessoa que os compra e uma forma de
do Governo Inglês subiria em flecha quan- ele existe. Como podiam dar se perdas tão obter fundos para a organização que os
do a notícia fosse conhecida. Comprou volumosas?, perguntavam. Como d que emite.
por isso grandes quantidades desses títu- funcionam as bolsas de valores? A bolsa de valores determina, pelo pro-
los. 0 preço subiu durante os quatro dias Há três séculos ou mais que as bolsas cesso do mercado livre da oferta e procura,
seguintes, e Rothschild viu aumentar a sua têm sido a praça aonde as empresas — e o valor de cada título para a pessoa que o
já considerável fortuna. também alguns governos - se dirigem possui em qualquer momento.
Hoje em dia, as organizações financei- para obterem parte do capital de que pre- As empresas que necessitam de di-
ras de todo o Mundo estão nheiro extra para financiar
interligadas por comunica- as suas actividades têm, nas
ções electrónicas, e os acon- economias de mercado li-
tecimentos são conhecidos vre, duas maneiras princi-
em toda a parte quase ime- pais de o obter: ou o pedem
diatamente. Os mercados de emprestado a um banco
títulos do Mundo agem qua- por um prazo fixo, ou o ob-
se em uníssono, cada um de- têm vendendo uma parte de
les reagindo sem demora às si próprias, sob a forma de
notícias que recebe dos títulos, a alguém que os pre-
outros. tenda comprar.
Exemplo dramático foi a O segundo processo leni
quebra verificada no merca vantagens para a empresa,
do de títulos na segunda-feira porque o dinheiro obtido
li) de Outubro de 1987, que não tem necessariamente
se transmitiu como uma de ser devolvido, caso os
onda de choque à volta do empreendimentos da com-
Mundo, à medida que cada panhia falhem por comple-
bolsa ia abrindo para um to. Os compradores dos tí-
novo dia de trabalho. A Bolsa tulos, por seu lado, ficam
de Nova Iorque sofrera uma com direito a parte dos lu-
queda brusca na sexta (eira cros se a empresa prospe-
anterior, seguindo-se um rar, e os seus títulos aumen-
fim-de-semana efervescente tarão de valor. Esperam ob-
de pânico financeiro. A Bolsa ter desse investimento um
de Sydney abriu as portas na rendimento melhor do que
manhã de segunda-feira en- aquele que conseguiriam
quanto grande parte do dando ao sen dinheiro uma
Mundo dormia ainda. Os outra aplicação menos ar
corretores foram inundados riscada.
por ordens de venda, e os va- Scgunda-Feira Negra. Os semblantes preocupados dos corretores de Estar cotada na bolsa dá
lores das acções baixaram títulos londrinos refleclerti a consternação provocada peio crash mundial prestígio ã empresa, o que,
milhares de dólares. As co dos mercados de títulos na "Segunda-Feira Negra" do Outono de 1987. por sua vez. a ajuda nos
iniinicações por satélite leva- seus esforços de criar fun-
ram imediatamente a notícia à Bolsa de dos. Através da bolsa, a empresa tem
cisam para financiar os seus empreendi-
Tóquio, onde se deu uma venda em larga igualmente acesso ao conjunto mais im-
mentos.
escala. portante de investidores potenciais — e
O tradicional frenesim de compras e
Enquanto a Terra rodava no seu eixo. vendas, ao jeito de leilões, nos corredo- ao seu dinheiro.

3H
Passo acelerado.
Corretores da Bolsa de
Tóquio rodopiando na
zona central (à esquerda,
em baixo). A fotografia
mais aproximada
mostraos em
compenetrado colóquio.

"CRASH" POR COMPUTADOR?


A utilização de computadores por al-
guns investidores no mercado de títu-
los criou um processo chamado "ven-
da stop-hss", que poderá ameaçar a
estabilidade dos mercados nacionais
e até internacionais.
Os proprietários de valores dão ins-
truções aos corretores para progra-
marem os seus computadores com
determinado preço para cada título.
Se o preço desce abaixo do progra
mado, os títulos são vendidos para mi-
nimizar as perdas dos proprietários.
Mesmo nas bolsas mais automati-
zadas, o processo ainda náo é intei-
ramente automático: o corretor tem
Uma empresa não é automaticamente belecido de vagas e a bolsa é aberta a qual- ainda de falar com o market maker
admitida na bolsa. Há regras para garantir quer empresa que preencha os requisitos para fazer negócios importantes.
que as empresas cotadas dèern aos investi- de admissão. Mas, com o aparecimento dos siste-
dores informações completas e rigorosas São os sócios que elaboram as regras da mas computadora computador, o
acerca dos seus negócios e os tratem com bolsa, e estas têm de obedecer às leis do mundo financeiro arrisca-se a um
honestidade e dentro da lei. país. Em alguns países, foi criada uma enti- crash dirigido pelos computadores.
E caro e complicado para as empresas dade independente, como a Comissão de Uma ligeira tendência baixista no
conseguirem cotação nos grandes mer- Títulos e da Bolsa, nos Estados Unidos, mercado de títulos poderá desenca-
cados, como os de Nova Iorque, Tóquio para vigiar a actividade diária das bolsas dear umas quantas vendas stop-
ou Londres. Km Nova Iorque, por exem- em representação do público. •loss, provocando um consequente
plo, uma companhia cotada tem de ter novo abaixamento. Este, por sua vez,
um activo de pelo menos 16 milhões de "Market makers" e corretores desencadeará outros, e assim suces-
dólares. O privilégio máximo concedido pelas bol- sivamente, originando um crash di-
Muitos países criaram mercados secun- sas aos seus associados é o direito de se- fícil de controlar.
dários para as empresas de menores di- rem market makers em títulos — isto é, de
mensões que pretendem oferecer ao pú- serem o ponto central através do qual os
blico os seus títulos. Estes mercados im- valores são comprados e vendidos.
põem condições menos rigorosas que as O segundo privilégio, igualmente im-
dos grandes mercados, mas obedecem, portante, é serem corretores — as pessoas
mesmo assim, a regras estritas. que têm acesso directo aos market makers
Em Portugal há o chamado "mercado para comprarem ou venderem em nome
não-oficial", onde são cotadas as empresas dos investidores. Em Londres, o market
que não preenchem as condições impos- maker é a figura principal. Na Bolsa de Va
tas para a cotação oficial. Prevê-se ainda lores de Nova Iorque, o "especialista" de-
para breve a criação de dois "terceiros mer- sempenha um papel idêntico. A cada es
cados" regionais (Lisboa e Porto). pecialista é atribuído o direito exclusivo de
negociar em determinados títulos, que
Quem administra as bolsas? pode comprar ou vender a corretores que
Como templos do mercado livre, as bolsas o contactem, ou que pode comprar ou
do mercado têm sido tradicionalmente ad vender por sua própria conta.
ministradas precisamente por aqueles que O negócio assume a forma de um lei-
lhes deram origem. Assemclham-se a clu- lão livre na sala da bolsa, no qual os corre-
bes privados muito exclusivos. Em muitos tores, com instruções dos seus clientes,
países, a qualidade de membro pode ser se juntam em volta do especialista, gri-
comprada, desde que os outros membros tando os preços por que eslão dispostos
concordem com a admissão e exista uma a comprar determinados títulos (o bid)
vaga. 0 preço é elevado - chega a cerca ou a vendê-los (o ask). O especialista
de 375 000 dólares em Nova Iorque e a 6,6 concilia compradores e vendedores da O «floor». Corretores da Bolsa de Honsf
milhões de dólares em Tóquio. Em outros melhor maneira, utilizando a sua carteira Kon# sentam-se em frente dos compu-
países, como a Grá-Bretanha, os membros de títulos pessoal para corrigir desequilí- tadores e dos telefones, comprando e ven-
náo estão sujeitos a um número preesta- brios. dendo títulos públicos, acções e obrigações.

39
ORIGEM DAS BOLSAS
As cerca de 130 bolsas de valores do
Mundo têm as suas origens na Fran-
ça e Países Baixos (Bélgica e I lolan
da) do século xin. Os negociantes
vendiam letras de câmbio - decla-
rações de dívida emitidas pelos mer-
cadores em troca de empréstimos.
Se o portador de uma letra precisava
de dinheiro antes do respectivo
vencimento, podia vendê-la a um
terceiro
Mas só no século xvn as bolsas co-
meçaram a evoluir para a sua forma
actual. A Bolsa de Valores de Amster-
dão reclama-se como a mais antiga,
fundada por volta de 1611. Em 1697, foi
introduzido em Inglaterra um primei
ro sistema de regulamentação dos
corretores.
Locais de pânico. Os corretores vagueiam Até ao princípio do século xix, as
consternados com a grande quebra da Bolsa bolsas de valores, na maioria, eram
de Nova Iorque em Outubro de 1987 (em ajuntamentos informais de corretores
cima) Há momentos de tensão fã esquerda) nos bairros mercantis das cidades.
quando perscrutam nos seus computadores Em Londres, o negócio centrava-se
os últimos movimentos do mercado. em cafés. Em Nova Iorque, os correto-
res encontravam se ao ar livre, debai-
bolsa 50 000 acções com o valor nomi- xo de uma árvore, naquilo que mais
nal de 2000$ cada uma. No entanto, uma tarde foi a famosa Wall Street. Mas o
vez que aqueles títulos comecem a ser desenvolvimento industrial do século
negociados, o seu preço de mercado xix e a explosão da oferta de acções e
pode revelar-se superior ou inferior ao outros títulos criou a necessidade de
valor nominativo. Quando há mais pes- instalações permanentes.
Na Bolsa de Tóquio, o equivalente aos soas a comprar do que a vender, o preço A Bolsa de Valores de Nova Iorque é
especialistas de Nova Iorque são os dia sobe. Quando há mais a vender, o preço o maior centro de transacções, repre
mados saitori, que operam de forma se- baixa. sentando 60% do negócio mundial de
melhante, à excepção de não serem au- Num mercado altista, as pessoas com- títulos, com cerca de 1500 empresas
torizados a comprar ou vender títulos pram títulos na esperança de que o seu coladas.
por conta própria: são meramente inter- valor aumente e venham a poder vendê- A Bolsa de Valores de Tóquio ocu-
mediários nas transacções da sala da los com lucro. Num mercado baixista, os pa o segundo lugar mundial, com
bolsa. preços dos títulos estão a cair, e os espe- quase tantas empresas como Nova
Os market makers obtêm o seu rendi- culadores podem ainda fazer dinheiro Iorque, mas com um valor de transac-
mento do spread das suas transacções — concordando em vender, a um preço fixo, ções inferior a metade daquele.
a diferença entre os valores de compra e títulos que nessa altura ainda não tenham
venda.
Os corretores trabalham geralmente à
comissão, ligada ao valor dos títulos que
compram ou vendem por conta dos seus
clientes.
Em Portugal, a função de market maker
é desempenhada pelas sociedades finan
ceiras de corretagem (dealers), e a função
de corretor, pelas sociedades corretoras
(brokers).

O preço dos títulos


Os títulos cotados oficialmente são ini-
cialmente emitidos com um valor nomi-
nal ou facial. Uma empresa que preten-
da, por exemplo, angariar 100 milhões
de escudos pode pôr à venda através da

Ciência de computador. Desde a com-


puíorizaçâo da Bolsa de Valores de Lon-
dres, em 1987. os corretores trabalham a
punir dos seus próprios escritórios. Os mo-
nitores mostram a situação do mercado.

40
pago: esperam que, quando tiverem que o para os seus departamentos de previsão.
fazer, o preço lenha caído ainda mais, de O valor dos títulos está em constante
modo que irão pagar menos do que aquilo
que receberão.
variação, à medida que se processam as
compras e as vendas. Mas é conveniente
Dinheiro para
O valor de mercado dos lítulos é regido
pelo comportamento da empresa que os
"congelá-los" periodicamente para se po-
der comparar, entre dois períodos sucessi-
queimar
emite e pela situação económica e política vos, o comportamento desses títulos o dos
do país e do mercado. títulos do mercado em geral. Todos os dias Os cínicos afirmam muitas vezes que os
Os acontecimentos nacionais que afec- é publicado nos jornais o preço do fecho governos parecem ter dinheiro para quei
tam os valores comerciais dos títulos são de cada título, referente ao dia anterior. E o mar. E é verdade: os governos de todo o
fáceis de identificar, mas o seu impacte é progresso global do mercado é medido Mundo queimam em cada semana tonela
difícil de prever. Entre eles, podem contar- através de índices compostos por diversos das de notas velhas.
-se mudanças de governo, previsões de tít u los-ehave. As moedas em circulação podem durar
surtos ou quebras económicas ou aumen- Os índices mais conhecidos incluem o dezenas de anos, até que a imagem se gas-
tos súbitos no custo de matérias-primas Dow Jones Industrial Average (Nova Ior- te ou a denominação se altere, mas as no-
essenciais. que), o Financial Times/Stock Exchange tas de pequeno valor mudam de mãos
As empresas de corretagem interna- 100 (Londres) c o Nikkei 225 Stock Average com tanta rapidez que se inutilizam em
cionais e os grandes investidores, como, (Tóquio). Os índices são dados a conhecer poucos meses. Mesmo as notas "grandes"
por exemplo, as companhias de seguros, a todo o Mundo duas ou mesmo mais ve- não duram mais que dois ou três anos.
têm orçamentos cada vez mais elevados zes por dia. O Banco de Portugal não foge à regra de
ter de queimar as notas em mau estado
retiradas da circulação. São mais de 150
AS FRAUDES NA BOLSA milhões de notas destruídas anualmente.
Este quantitativo põe ao banco alguns pro-
blemas, nomeadamente os relativos à se-
gurança e poluição.
A operação de escolha das notas usadas
e entradas no banco selecciona as notas
incapazes de circular, que são depois total-
mente desfeitas em equipamento apro-
priado com a garantia ria máxima eficiên-
cia, sendo os resíduos aglutinados em
brikettes destinados a ser utilizados como
combustível industrial.
Não se vislumbra ainda um substituto do
papel-moeda, não obstante os Australianos
já lerem posto a circular notas de plástico.
A facilidade e comodidade de utilização
do papel-moeda confere-lhe características
tais que mesmo o recente aparecimento e
desenvolvimento de meios de pagamento
automáticos não tem provocado uma dimi-
nuição do papel-moeda em circulação.

"Inside trader". O financeiro nova-iorquino Ivan Boesky (ao centro) deixando o Tribu-
nal. Depois de admitir ter utilizado informações confidenciais sobre fusões de empresas,
foi multado em 100 milhões de dólares e condenado a três anos de prisão.
Como se constrói
Desde os primeiros tempos das bolsas das, acerca de uma empresa para se ob-
um automóvel
houve sempre tentativas de burla. Por ter lucro com os seus títulos. O inside
volta de 1720, o chanceler do Tesouro trader tem de comprar as acções imedia- Os filmes de desenhos animados mostram
Britânico, John Aislabie, foi preso por tamente antes de a companhia anunciar fábricas de automóveis em que, por um
"corrupção infame": enchera os bolsos um aumento dos lucros ou de as vender lado, entra ferro em bruto e saem, pelo ou
durante a venda ao público de acções da antes de se anunciarem prejuízos. tro, carros reluzentes já a andar. Claro que
South Sea Company, empreendimento Em 1986, um eminente financeiro se trata de uma falsa imagem: os automó-
que arruinou muitos investidores. nova-iorquino, Ivan Boesky, foi acusado veis não são totalmente construídos no
Todas os países têm as suas leis próprias de investir em acções utilizando informa mesmo sítio. Mas a realidade não é muito
para evitar as burlas, e alguns possuem ções confidenciais sobre fusões de em- menos notável, pois o processo pode en-
agências, como a US Securities & Exchan- presas. Pagara quantias enormes por es volver fábricas de todo o Mundo para a
ge Commission (Comissão de Títulos e S3S informações: só de uma vez entrega- construção de um único carro.
das Bolsas rios Estados Unidos), para asse- ra 700 000 dólares em notas usadas a um Em Saragoça, Espanha, onde a empresa
gurar o cumprimento dessas leis. banqueiro numa ruela da Wall Street. americana General Motors possui uma
Um dos crimes mais notórios, e um Boesky fez uma confissão pormeno- enorme linha de montagem, o aço para a
dos mais difíceis de suster, é o inside trad rizada, que resultou na prisão de ban- carroçaria pode vir da própria Espanha, o
ing, ou insider dealing, que consiste no queiros e empresários. Foi condenado a motor de Inglaterra, a suspensão, caixa de
uso de informações internas, privilegia três anos de prisão. velocidades e sistema de injecção do com
bustível da Alemanha, os pneus de França

II
ou de Itália, o rádio da Holanda ou do Ja-
pão, com contribuições até da Austrália o
da Coreia.
Noutros tempos, era tudo muito mais
simples. No princípio do século, os primei-
ros automóveis eram produzidos de ma-
neira semelhante à das carruagens de ca-
valos com os operários andando de um
lado para o outro, martelando com vagar, e
com elevados custos, os painéis de metal
nas estruturas de madeira. Embora os prin-
cípios da produção em série há muito se
encontrassem estabelecidos para artigos
como roldanas para barcos e armas de
fogo, foi preciso um génio de organização
para aplicar o princípio à indústria auto-
móvel: Henry Ford.

A primeira linha de montagem


Em 1903, Ford começou a fabricar auto
móveis em Detroit, e em três anos transfor-
mou se no maior construtor de automó-
veis da América. Ao fim de cinco anos, con-
centrava as suas atenções num único mo-
delo - o Ford T - para aproveitar ao má-
ximo as peças normalizadas.
Depois, em 1913, introduziu a ideia que
iria revolucionar a produção automóvel, a
linha de montagem. Inverteu-se
assim a relação operário/produ-
to, pois agora era este que pas
sava por uma linha de operá-
rios, a cada um dos quais com-
petia uma tarefa específica.
Quando pela primeira vez foi
aplicado à produção de magne-
tos, reduziu o tempo de monta-
gem de 20 para 5 minutos. wrf
Entusiasmado, Ford alargou ••
o princípio à construção de Sr^V
chassis. Uma corda puxava os
chassis ao longo de um trilho, ao
lado do qual se encontravam 50
operários, cada um deles fixan-
do ao chassis, quando este pas
sava, a peça que lhe competia. O Montagem manual. Em 19/3, Henry Ford
tempo de montagem para os introduziu linhas de montagem na sua fá-
chassis desceu de 12 para fi horas brica. Tapetes rolantes passavam as pe
e, com a introdução do transpor- ças em frente dos mecânicos e transporta
tador movido por correntes, fi- oam os motores até aos montadores (em
cou reduzido a hora e meia. cima). Em 1915, em cada minuto e meio
Comercialmente, os resulta- saía da tinha de montagem um Ford T.
dos foram espantosos. Em me-
nos de 10 anos, o preço do Ford T desceu de precisão. No Fiat Uno. só 30 das 2700 ope- Depois, robôs constroem a parte infe-
850 para 250 dólares, e Ford vendeu 1,8 rações de soldadura são feitas à mão. Ape- rior desta, o chão do carro, procedendo a
milhões de carros. A Ford Motors foi nova- nas as tarefas especializadas, como a insta- inúmeras soldaduras e criando uma forma
mente pioneira em 1951 ao utilizar equipa- lação dos fios eléctricos, se mantém hoje complexa com espaços para o encaixe das
mento automático na produção de blocos nas mãos do homem. Numa cadeia de rodas, para a mala e para a roda sobresse
de motor. Em 500 operações distintas, 40 montagem típica dos anos 80 - como as lente.
máquinas reduzem o tempo de produção, fábricas rio Fiat Uno em Mirafiori ou Ri- Na fase seguinte, figs, ou gabarits, de
por motor, de algumas horas para 15 minu- vai ta, Itália, que produzem 3000 carros por grandes dimensões mantêm em posição
tos. dia —, a primeira fase consiste na chegada as ilhargas e o tejadilho para serem auto
da chapa de aço ao sector de prensagem. maticamente soldados no seu lugar. En-
O mundo dos robôs Aqui, em áreas do tamanho de três cam- tretanto, as portas foram construídas em
O desejo de poupar trabalho tem conti- pos de futebol, gruas robôs entregam linhas de montagem paralelas, num pro-
nuado a inspirar novos processos, com ro- folhas de aço a máquinas de estampagem cesso que envolve diversas prensagens
bôs a substituírem operários, eliminando gigantes, que moldam e cortam as peças para a criação de um corpo exterior rebi-
tarefas monótonas e garantindo maior de metal para a construção da carroçaria. tado a uma moldura interior.

12
Finalmente, nas linhas de montagem contra a água, a gravilha, a neve e o sal. Na última fase, o carro recebe o seu
final todas as carroçarias são verificadas A fase seguinte são os acabamentos coração. O carro é içado numa grua, e o
por laser para se detectarem as mínimas do interior. O carro recebe os seus "ner- motor, completo com a embraiagem e a
distorções ou irregularidades. vos" — o sistema eléctrico. Os forros de caixa de velocidades, é colocado por um
feltro, as alcatifas, os assentos e outros sistema de elevação. O depósito de com
O acabamento acabamentos são aplicados por robôs. bustfvel é montado na parte traseira do
A pintura de um carro é um processo im- Muitas fábricas utilizam transportadores carro. Vêm depois a suspensão, a direc-
portante - protege o contra a corrosão e - robôs para movimentar as peças —, ção, o radiador e a bateria e finalmente as
dá-lhe um acabamento bonito e brilhan- reduzindo assim a possibilidade de da- jantes e os pneus. Depois de abastecido
te. 0 carro, quase completamente mon- nos e a necessidade de mão-de-obra. de água, anticongelante, óleo e combus-
tado, é desengordurado, lavado e cober- Os pára-brisas e outras janelas fixas tível, o carro está completo e pronto para
to com fosfato para o tornar mais recepti são frequentemente colados à carroçaria andar. À saída é inspeccionado antes de
vo à pintura. Após novas lavagens, são- para melhor ajustamento e redução da ser submetido aos últimos testes - espe-
-Ihe aplicadas eleetrostalieamenle diver- resistência ao vento e dos ruídos. Robôs cialmente ao "teste de estrada" para veri-
sas deinãos de primário, utilizando um aplicam a cola aos bordos dos vidros e ficação do seu comportamento. Quando
campo magnético para atrair a tinta. As colocam estes nos seus lugares por meio recebe o seu passe final, o carro está
últimas demãos — habitualmente três — de braços com dispositivos de sucção. pronto para o stand
são de tinta acrílica brilhante. A pintura
da maioria dos carros de série tem a es-
pessara de 0,1 mm. Um Rolls-Royce rece-
be 22 demãos, que produzem uma es-
pessura de 0,2 mm.
A seguir, injecta-se em todas as sec-
ções ocas, como os pilares e as longari-
nas, uma cera especial para protecção

Montagem robotizada. Robôs contro-


lados por computadores executam os tra-
balhos de produção na fábrica do Fiat
Tipo em Cassino, Itália. Os robôs pintam,
calafetam, pulem, soldam e montam os
carros com precisão rigorosa. À direita,
um carro recebe uma de cerca de 2000
soldaduras automáticas.

! • ;
Meteorologistas: sentinelas contra os desastres naturais
Durante centenas de anos, até o clima local 7500 navios. Estações operadas por pes- de previsão de zona para a aviação civil,
era frequentemente desconcertante na soal fazem observações várias vezes por que, por uma questão de segurança, repe
sua imprevisibilidade. Apenas se podia re- dia, às vezes de hora a hora, em condições tem as operações um do outro. Compu-
zar ou inventar provérbios baseados na ex- normalizadas (a velocidade do vento, por tadores com a capacidade de 3500 mi-
periência: céu pedrento — chuva, vento exemplo, é medida a 10 m do solo). lhões de cálculos por segundo tratam os
ou qualquer outro tempo. Além disso, balões meteorológicos lar- dados para elaborar as previsões.
A previsão meteorológica local deu um gados de 950 estações por todo o Mundo Saber hoje qual será o tempo de ama-
passo em frente em 1643, quando o físico recolhem dados da atmosfera até uma alti- nhã é fundamental para o ocidente indus-
italiano Torricelli inventou o barómetro tude de 30 km. Cerca de 600 aviões voando trializado. Só no controle do tráfego aéreo,
para medir a pressão atmosférica. Depres- sobre os oceanos enviam diariamente os as previsões globais que permitem aos
sa se verificou que as subidas e descidas da seus comunicados. Sele satélites meteoro- aviões aproveitar os ventos de popa ou al-
pressão de ar correspondiam a alterações lógicos perscrutam a Terra a partir do espa- terar as horas de aterragem para evitarem
no tempo e que uma queda frequente- ço, observando a atmosfera até uma altitu- as condições adversas poupam anual-
mente prenunciava uma tempestade. de de 80 km. mente milhares de contos de combustível.
Mas só depois da invenção do telégrafo, Todas estas observações fornecem cm Indústrias inteiras — como a construção, a
em 1840, foi possível recolher informações conjunto uma enorme riqueza de infor- navegação e a agricultura — dependem
de estações afastadas, permitindo a previ- mações — velocidade e direcção dos ven- crucialmente de previsões de hora a hora e
são de mudanças iminentes com razoável tos, temperatura, nebulosidade, precipita- dia a dia.
segurança. No princípio do século xx, a ção, humidade, pressão atmosférica. Em Os acontecimentos que mais põem à
rádio permitiu outro importante passo em cada dia, estas informações produzem 80 prova os meteorologistas são os ciclones
frente. Na década de 60, os enormes pro milhões de dígitos binários de dados de tropicais — enormes tempestades de con-
gressos técnicos na recolha de informa- computador — equivalentes ao conteúdo figuração circular que se formam sobre os
ções e na análise de dados por meio de de vários milhares de livros. Estas informa- mares dos trópicos, afastando se do equa-
computadores fizeram pensar que a me- ções são fornecidas a uma rede de 17 esta- dor e enfraquecendo quando atingem ter-
teorologia poderia vir um dia a ser uma ções espalhadas pelo Mundo, que, em ra. No Atlântico chamam se furacões, no
ciência exacta, capaz de prever o tempo conjunto, formam o Sistema Mundial de Pacífico tomam o nome de tufões. Os fura-
com semanas ou meses de antecedência. Telecomunicações. Dois centros — o Cen- cões duram habitualmente cerca de uma
A quantidade de informações actual tro Meteorológico Nacional de Washing semana, recebendo energia do ar quente e
mente ao dispor dos meteorologistas é es- ton, nos Estados Unidos, e o Departamen- húmido sobre os oceanos tropicais. À me-
pantosa. A Organização Meteorológica to de Meteorologia, situado em Bracknell, dida que se eleva no centro do ciclone, o
Mundial recebe relatórios de 9000 postos e na Grã-Bretanha — são centros mundiais vapor de água contido no ar condensa-se
em nuvens, libertando calor e atraindo
mais ar húmido para o sistema. Os fura-
cões enfraquecem habitualmente quando
chegam a terra por se verem privados de
humidade. Durante a estação dos fura
coes, de Junho a Novembro, formam se
ao largo da costa de África mais de 100
tempestades, seis das quais se transfor-
mam cm furacões.
Quando as nuvens em espiral, caracte-
rísticas de uma tempestade tropical, são
avistadas, em geral por um satélite, o Cen
tro Nacional de Furacões dos Estados Uni-
dos, em Miami, entra em acção. O seu pes-
soal analisa uma imensidade de dados for-
necidos por satélites, sistemas de radar,
bóias automáticas e aviões, a fim de prever
a sua trajectória — particularmente, o
ponto da sua penetração na costa.
No princípio de Setembro de 1988, uma
depressão ao largo da costa africana inten-
sificou-se de forma progressiva, até que no
sábado 10 de Setembro, quando se encon-
trava sobre o Leste do mar das Antilhas, foi
classificada de furacão e recebeu o nome
de Gilbert. Dois dias depois, o Gilbert atin-
giu a Jamaica com força devastadora. Sob
um céu de ardósia, os ventos destroçaram
a ilha, deixando sem casa um quinto dos
Balão-sonda. Os balões meteorológicos levam para o ar radiossondas - grupos de instru- seus 2,5 milhões de habitantes e destruin-
mentos que registam a humidade, a pressão atmosférica e a temperatura. São largados do quase todas as colheitas de que depen
regularmente por 950 estações em todo o Mundo. de a sua economia bananas, cocos,

II
Chicoteada pelos ventos. Os furacões deslocam-se sobre o oceano por acção do ar quente e húmido. Este. Carol. assolou a zona de
Narraganselt Bay, Rhode Island, EUA, em 1954.

café, açúcar e vegetais. 0 primeiro-ministro, continente norte-americano, estava já em teorologista tem do mundo real é melhor
Edward Seaga, chainou-lhe "o maior desas- dissipação. Trouxe ventos fortes, marés al- guia para o futuro imediato do que qual
tre natural da nossa história moderna". tas e muita chuva, mas pouca destruição. quer modelo computorizado. Por exem-
Depois, à medida que rodopiava, afãs Não houve mais vítimas. plo, o ar que se desloca do mar do Norte
tando-se da ilha, o Gilbert quase duplicou a A morte inesperada do Gilbert ilustra para os países europeus que o cercam
sua força, produzindo ventos com veloci- bem o grande problema das previsões me pode formar uma delgada camada de nu-
dade de 280 kirvíi — a mais poderosa tem- teorológicas, que é a sua falta de certezas vens que ou faz chover sobre a terra no dia
pestade que assolou o hemisfério ociden- absolutas. Apesar dos computadores ca- seguinte ou se evapora com o calor do Sol.
tal neste século. Com a sua trajectória pre- ríssimos e das suas fontes de informação a O resultado pode depender de uma dife-
vista, o Gilbert abateu-sc sobre a península nível mundial, os meteorologistas lidam rença de temperatura de apenas alguns dé-
do Iucatão, no México, na madrugada de apenas com probabilidades. cimos de grau. Mas os efeitos podem ser
quarla-feira, deixando 30 000 pessoas sem Os sistemas meteorológicos são impre-
lar. Podia ter sido muito pior: em 1979, o visíveis no seu pormenor. Os números que
furacão David matara 1100 pessoas, e o Flo- descrevem factores variáveis como a velo-
ra, em 1963, vitimara 7200. O número rela- cidade do vento e a temperatura são verda
tivamente pequeno de mortes causadas deiros apenas momentaneamente. No se-
pelo Gilbert, cerca de 300, representou um gundo seguinte, esses números não pas-
tributo aos benefícios de uma correcta pre- sam de uma aproximação, e, por muito
visão meteorológica. pequenos que sejam os desvios, realidade
Mas os meteorologistas não puderam e previsões depressa se afastam entre si.
ainda prever exactamente o que iria acon- Os cientistas aceitam o facto de aconte-
tecer. Com a trajectória do Gilbert para cimentos pouco relevantes poderem ter
norte, puseram-se em alerta as costas do consequências enormes. Referem-se jo-
Texas, da Luisiana e do Mississipi. Houve cosamente a esta verdade desagradável
uma corrida aos géneros nos supermerca- chamando lhe o "efeito da borboleta" - a
dos e 100 000 pessoas fugiram para o inte- ideia de uma borboleta batendo as asas em
rior, enchendo as estradas e deixando para Pequim afectar, por exemplo, o estado do
trás as suas casas fechadas e reforçadas tempo em Nova Iorque. Por esta razão, o Imagem de satélite. Instrumentos de de-
com protecções. limite actual das previsões úteis não passa tecção fornecem elementos a um compu-
Neste caso, os alertas revelaram-se des- de alguns dias. tador que constrói imagens das nuvens por
necessários: quando o Gilbert chegou ao Muitas vezes, a experiência que o me- meio de códigos de cor num monitor de TV.

li.
substancialmente diferentes - um dia frio
e enevoado ou quente e soalheiro. Mesmo
com o auxílio dos melhores compu-
tadores e a mais eficiente recolha de infor
mações, não é provável que as previsões
venham alguma vez a ser correctas com
mais de duas semanas de antecedência.
As previsões a médio prazo têm melho-
rado com as inovações técnicas. Previsões
a três dias para a Europa, realizadas no
Centro Europeu de Previsão do Tempo a
Médio Prazo, de Reading, Inglaterra, são
agora tão correctas como as que eram fei-
tas a um dia há 10 anos. Por outro lado, a
previsão a longo prazo (mais de 10 dias)
não se tem revelado de confiança.
Há, de certo modo, uma esperança. Os
cientistas pensam que existe uma relação
entre a alteração nas temperaturas do mar
e certas condições meteorológicas. Por
exemplo, em períodos que vão de três a
sete anos, na altura do Natal, uma corrente
quente denominada El Nino peneira as
águas muito frias ao largo da costa ociden-
tal da América do Sul. Além de ter conse-
quências sérias no clima, vida animal e in-
dústrias locais, El Nino provoca também
invernos ou mais suaves ou mais frios nos
EUA Ainda ninguém sabe porquê — mas
talvez um dia os efeitos desta corrente se-
jam previsíveis.

Como se abastece
de água uma
grande cidade
Diariamente, as cataratas do Niága/a vêem
passar pela sua crista 72 milhões de metros
cúbicos de água. Mas seriam precisos 17
dias para essa catarata tonitroante encher
os 21 reservatórios principais que servem a O abastecimento de água a Londres. Nesta fotografia de Londres, tirada por satélite, o rio
cidade de Nova Iorque: 1210 milhões de Tamisa è a linha preta que serpenteia a meio da fotografia. Os reservatórios são as manchas
metros cúbicos. Só o maior deles, o Pepac- pretas à esquerda e em cima; as áreas verdes são vegetação.
ton, contém água suficiente para inundar
Manhattan até uma altura de 12 m. necida na zona do Tamisa é obtida do pró- infiltra-se na areia grossa, que capta as im-
Todos os dias, Nova Iorque consome prio rio, provindo a restante de reservató- purezas maiores. O processo repete-se
5,4 milhões de melros cúbicos de água, rios e rios subterrâneos através de furos através de areias sucessivamente mais fi-
incluindo a utilizada pelas fábricas e escri- artesianos ou de poços. A água é canaliza nas. A água é tratada quimicamente pelo
tórios, o que representa cerca de 750 I por da até às estações de filtragem e bomba- cloro num tanque fechado para destruir as
habitante. A rede de distribuição da cidade gem, nas quais os filtros a libertam dos de- bactérias e desclorada em seguida para eli-
leva a água ao consumidor através de mais tritos principais e as bombas a elevam para minação do sabor que lhe confere o pro-
de 9000 km de canalizações. reservatórios de armazenagem. duto. É depois bombeada sob pressão
Na Grã-Bretanha, as necessidades diá- Como a água nos reservatórios está imó- para os ramais principais da rede - tuba-
rias, exclusivamente para uso doméstico, vel, os sólidos descem para o fundo. Ao gens largas acima ou abaixo do solo —,
da zona do Tamisa, que inclui Londres e mesmo tempo, o oxigénio do ar neutraliza que a transportam até aos consumidores.
Oxford, são superiores a 3 milhões de me- outras impurezas químicas ou orgânicas. A água tratada introduzida na rede pode
tros cúbicos. Um sistema de comportas leva a água ser usada imediatamente ou desviada para
A água que é fornecida às cidades pro- dos reservatórios de armazenagem até a armazenagem temporária nos reservató-
vém geralmente de rios - Nova Iorque, uma estação de tratamento, onde se pro- rios. Estes estão habitualmente situados
por exemplo, recolhe a maior parte da cessa nova purificação. O método habitual cm pontos elevados, embora alguns reser-
água que utiliza das bacias do Hudson e do envolve a filtragem da água, por duas ve- vatórios de serviço sejam subterrâneos,
Delaware. zes, através de leitos de areia que são lim- por baixo de zonas públicas como os par-
Mais de metade da água canalizada for- pos diariamente. No primeiro leito, a água ques, por exemplo.

46
que eram inundados até à saturação pelas ções de tratamento secundárias, onde
grandes chuvadas. Hoje, sempre que pos- em cerca de oito horas determinadas
Como uma cidade sível, tenta-se criar sistemas de escoamen-
to independentes (rede separativa).
bactérias destroem as matérias que o lí-
quido ainda contém. Este passa em se-
se liberta dos Na estação de tratamento, as águas são
passadas por redes de crivos que retêm os
guida por uma última sedimentação, al-
tura em que as próprias bactérias são se-
seus detritos objectos maiores, como trapos e pedaços
de madeira, os quais ou são triturados me-
paradas para reutilização A água resul-
tante está suficientemente limpa para ser
canicamente e reintroduzidos no proces- lançada no rio.
Em Junho de 1858, condições atmosféri- so de tratamento, ou retirados e queima Entretanto, as lamas são bombeadas
cas invulgarmente quentes e secas provo- dos ou enterrados noutro local. As águas para tanques de decomposição, onde, du-
caram uma queda brutal no nível das são seguidamente bombeadas através de rante três ou quatro semanas, bactérias
águas do Tamisa em Londres. 0 mau chei- canais para eliminação das areias, que são convertem parte das lamas num gás que
ro que emanava da maré vazia era tão terrí- precipitadas no fundo juntamente com contém metano, o qual é canalizado e utili-
vel que os Londrinos apenas podiam apro- pequenas pedras. Estes detritos são draga zado como combustível de accionamento
ximar-se das margens ou das pontes com dos e lavados e posteriormente utilizados das estações de tratamento.
lenços cobrindo a boca e o nariz. 0 tráfego em obras de construção civil. Em seguida, retira-se ainda água das
no rio foi suspenso. As águas resultantes passam por tan- lamas antes de serem vendidas como
Esta situação foi o resultado de séculos ques preliminares de sedimentação, fertilizante agrícola. Em Blue Mountain,
de incúria nos despejos. Os Londrinos, onde as matérias sólidas mais finas se de- na Pensilvânia, EUA, por exemplo, as la-
como os habitantes de outras cidades po positam no fundo, tomando a designa- mas dos esgotos têm ajudado a reflores-
pulosas em todo o Mundo, tinham-se ção de lamas. Estas e o líquido delas sepa tar terras destruídas pela extracção de
acostumado a tratar lodos os cursos de rado seguem depois trajectórias diferen- zinco. As sobras de lamas são lançadas
água que tinham à mão - frequente- tes. O líquido é encaminhado para esta ao mar.
mente, a sua única fonte de água para
beber - como grandes esgotos abertos. Estação de tratamento. Embora pareça uma fotografia de micróbios, a imagem é no
Com o crescimento das populações e verdade uma Dista aérea de uma estação de tratamento de esgotos a norte de Baton Rouge,
dos resíduos da industrialização durante no rio Mississipi, EUA
o século xix, a Natureza e o homem grita-
ram "Basta!".
Desenvolveram-se em Inglaterra, e fo-
ram copiados e aperfeiçoados na Europa
Ocidental e nos Estados Unidos, proces-
sos de tratamento dos esgotos antes da res-
pectiva descarga.
No entanto, paralelamente à maior efi-
ciência dos processos de eliminação dos
excrementos e de outros detritos líquidos
(as águas negras), o crescimento das cida-
des modernas aumentou a produção dos
detritos sólidos (lixos).
Uma família americana média produz
quase 25 kg de lixo por semana; em Fran-
ça, o número correspondente aproxima
-se dos 17 kg. Num único ano, o habitante
médio da cidade de Nova Iorque deita fora
em lixo oito ou nove vezes o seu próprio
peso.

Os esgotos
0 tratamento básico das águas negras em
cidades como Londres ou Washington di-
fere pouco dos processos criados nos
meados do século xix, conquanto o seu
volume aumente constantemente. Em
Washington, a capacidade inicial da esta-
ção de tratamento de esgotos em Blue
Plains passou de 490 milhões de litros diá-
rios na década de 30 para perto de 1100
milhões nos anos 70, e já foi aumentada
desde então.
Uma rede de esgotos, geralmente sub-
terrânea, transporta as águas negras, por
gravidade ou por bombagem, desde as ca-
sas e os escritórios até às estações de trata-
mento. Originariamente, e ainda hoje em
muitas cidades, os esgotos drenavam tam-
bém as águas pluviais (rede unitária), pelo
tornam um risco para a saúde pública, têm
de ser encerradas e aterradas (aterro sani-
tário). Desde 1960, Nova Iorque encerrou
14, e não é fácil encontrar novos locais.
Se distam muito da cidade que servem, o
custo dos transportes torna-se demasiado
alto para os orçamentos municipais.
Em muitos países, como a Suécia, a Ale-
manha e o Japão, há muito tempo que se
emprega a incineração em vez da acumu-
lação em lixeiras. Mas nos EUA, o processo
representava, nos meados dos anos 80,
menos de 5% da eliminação dos detritos
sólidos. A vantagem da incineração é redu
zir em dois terços o volume dos lixos, além
de que o calor produzido pode ser aprovei-
tado para gerar electricidade ou fornecer
aquecimento. Como inconvenientes, as
cinzas residuais podem conter produtos
tóxicos que se concentraram durante a in-
cineração, pelo que nem sempre podem
ser lançadas com segurança em lixeiras
normais. Outras substâncias tóxicas,
Leitos de filtragem. Esta fotografia aérea mostra leitos de filtragem de esgotos numa como o ácido clorídrico e a dioxina, po-
estação de tratamento de Baltimore, no Maryland, EUA. Uma vez drenada a água, as lamas dem libertar-se para a atmosfera durante a
secas são vendidas como fertilizante. As lamas não utilizadas na terra são lançadas ao mar. incineração se não se utilizar um equipa-
mento adequado para a limpeza dos ga-
Detritos sólidos mundial, a mais utilizada e mais barata for ses. Em Los Angeles, os cidadãos, temen
Em cada dia, a cidade de Nova Iorque pro- ma de libertar a sociedade dos seus sub- do a poluição atmosférica, proibiram a
duz entre 24 000 e 25 000 t de detritos sóli- produtos indesejáveis que não podem ser construção de incineradores.
dos — a maior parte constituída por lixos lançados nas redes de esgotos. Mas, à me- Outro facto negativo na incineração dos
domésticos, recolhidos pelo Município dida que o volume de detritos aumenta, as lixos é o custo. Nos EUA, o custo do enter-
duas vezes por semana. Praticamente, lixeiras como a de Fresh Kills passam a ter ramento pode chegar a 60 dólares a tone-
toda esta montanha de lixo é transferida menos capacidade de lidar com eles. A fal- lada; o da incineração pode atingir três ve-
para um único lugar, Fresh Kills, em Staten ta de espaço origina problemas de polui- zes mais.
Island, onde é despejada naquilo que co- ção. As infiltrações do lixo em decomposi-
meçou como uma cratera no chão e é ago- ção contaminam a água de superfície e Risco para a saúde. O depósito incontro-
ra o maior depósito de lixo do Mundo, co- subterrânea, a não ser que a lixeira esteja lado de lixos na terra pnxluz riscos para a
brindo 1215 ha. especialmente equipada para o tratar. saúde. Na maioria dos países ocidentais, as
Este tipo de lixeira é, do ponto de vista Quando as lixeiras estão cheias ou se novas leis restringem o despejo dos lixos.
maram quase I 200 000 ha. Em Portugal,
onde todos os verões ocorrem fogos, a
Combate a incêndios na floresta área florestal afectada foi de 22 435 ha em
1988 e de 103 908 ha em 1989. Os números
não oficiais obtidos até ao início de Setem-
Visto de perlo, um incêndio na floresta c 0 óleo de eucalipto, fazendo arder árvores bro de 1990 apontam para uma área flores-
um espectáculo aterrador. Mas é um es- inteiras em explosões de gás. tal destruída na ordem dos 108 106 ha.
pectáculo que se repete milhares de vezes As destruições podem ser enormes. Em As chamas podem alastrar pelos arbus
por ano nas florestas temperadas de todo o 1949, a França perdeu 156 000 ha de flores- tos secos a velocidades que excedem os
Mundo. Estas são presas fáceis de um fós- tas em 350 fogos. Em 1971, os incêndios no 140 km/h. Ocasionalmente, a combustão
foro, da luz do Sol ampliada por um vidro Wisconsin e no Michigan queimaram provoca um remoinho de fogo, uma cha-
de garrafa ou de um raio. Na Austrália, o 1 700 000 ha e mataram 1500 pessoas. Em miné de ar quente causada pelos ventos
calor de um incêndio consegue vaporizar 1985. através dos EUA, 81 662 fogos quei que penetram na floresta, em que conse-
gue arrancar árvores e atirá-las ao ar, dando
origem a fogos a centenas de metros de
distância.
Em Setembro de 1987, quando incên-
dios queimaram uma enorme área da Cali-
fórnia, do Oregon e do Idaho, uma noite de
combate em apenas uma zona — a Stanis-
laus National Forest — reuniu 376 carros
de bomba e autotanques de água, 94 bull-
dozers, 16 helicópteros, 13 aviões-tanques
e 4500 bombeiros.
A informação é talvez a maior arma de
fensiva contra os incêndios nas florestas.
Os satélites, os aviões de vigilância noc-
turna com câmaras de infravermelhos e a
coordenação computorizada permitem
prever as condições favoráveis aos incên
dios e o controle dos fogos quando se de-
claram. No combate a um fogo, os bom-
beiros empregam uma combinação de
duas estratégias básicas: o arrefecimento e
a contenção.
Deitar água sobre um fogo não serve
apenas para o arrefecer: em grandes quan-
tidades, a água afecta também os materiais
combustíveis e, ao tornar-se em vapor, re-
duz a quantidade de oxigénio de ar que
alimenta o fogo.
Mas, por si só, a água pode não chegar.
O fogo pode alastrar insidiosamente por
baixo de musgos e líquenes e conseguir
sobreviver dentro dos montículos de terra

Espuma contra o fogo. Alguns incêndios


florestais - como este perto de Valência.
Espanha - combalem se mais facilmente
com agentes produtores de espuma. Um
avião anfíbio de combate aos fogos (em
cima) derrama espuma sobre as chamas.

Água contra o fogo. Um avião de comba-


te ao fogo recolhe água de um lago Os
aviões podern recolher atê 6400 I de água
em 10 segundos ~ e fazer 200 voos por dia.

19
Km 1968, o Serviço de Parques dos EUA
começou a empregar fogos controlados
para evitar posteriores incêndios, maiores
e mais incontrolados. Frequentemente, o
O problema
serviço permite que fogos naturais sigam o
seu curso, combatendo-os apenas para
do trânsito
proteger vidas, gado e propriedades. Os
bombeiros reconhecem também que as
nas cidades
suas possibilidades têm limites, como se
provou pelos incêndios que varreram os Após quase um século de melhoria na ve-
estados de Vitória e de Austrália do Sul em locidade dos automóveis nas estradas e
16 de Fevereiro de 1983, Quarta-Feira de ruas e no controle do tráfego, leva-se hoje
Cinzas. tanto tempo a atravessar o centro de uma
Durante dias, as temperaturas tinham grande cidade como em 1900. Nessa altu-
rondado os 40"C e os campos estavam res- ra, a velocidade média das carruagens de
sequidos. Nessa tarde, declararam-se in- cavalos era apenas de cerca de 13 km/h.
cêndios a 72 km a noroeste de Melburne e Em 1988, os automóveis não conseguiam
perto de Adelaide, 660 km para oeste. Den- andar mais depressa.
tro de duas horas, havia 20 grandes fogos Por exemplo, em 1988, em Copenhaga,
num arco de 960 km, fustigados por ventos a velocidade era de 14,5 km/h; em Nova
de 110 km/h que lançavam tufos de erva cm Iorque e Brisbane, de 16 km/h; em Paris, de
chamas pelo ar e sugavam as paredes das 17 km/h, e em Estocolmo, de 18 km/h.
casas. Cerca de 21 500 voluntários comba- O problema reside na densidade do trá-
tiam os fogos, com 800 carros de bomba e fego, que cria um círculo vicioso: o aumen-
200 bulldozers para abrirem quebra-fo- to do tráfego leva à construção de estradas
gos. Chamas com 36 m de altura varriam melhores e melhores sistemas de controle,
os estados, empurradas por ventos quen- o que, por sua vez, leva a um aumento do
tíssimos. tráfego. O resultado é angústia e desespe-
Quando se extinguiriam, 10 dias depois, ro. Os veículos parados e em marcha lenta
os incêndios tinham causado a morte de desperdiçam anualmente somas elevadís-
74 pessoas, destruído quase 400 000 ha e simas em tempo, combustível e outros en-
280 000 cabeças de gado e causado pre- cargos. Em Nova Iorque e outras cidades
juízos elevadíssimos. Nestas condições, em que as ruas são paralelas cortadas por
Bombeiro-pára-quedista. Descendo pouco se pode fazer. O comandante da paralelas, as aglomerações das horas de
cru pára-quedas, um smoke-jumper entra corporação de bombeiros de Vitória, ponta já têm produzido engarrafamentos
em acção contra um incêndio provocado Graham Simpson, comentava que um em grelha, com áreas inteiras de trânsito
por lava no monte Adams, EUA. em Junho grande incêndio florestal era "um cataclis- impossibilitado de se movimentar durante
de 1987. mo que cria os seus próprios ventos e o seu horas.
próprio clima, um demónio com espírito
e dos velhos cepos de árvores para se rea- próprio". Os princípios do controle
cender dias depois. Para reduzir estes Através da História, tem-se tentado arran-
"pontos quentes", misturam-se com a jar soluções para o problema do trânsito,
água produtos químicos denominados de forma a mantê-lo em movimento. No
agentes molhantes, que ajudam o poder século i a. C, Júlio César baniu a circulação
de penetração daquela. Podem ainda jun- de carros em Roma durante o dia.
tar-se corantes para mostrar quais as áreas O maior progresso dos tempos moder-
da floresta já tratadas. nos foram os semáforos, utilizados pela
As equipas de terra podem criar quebra- primeira vez em Cleveland, Ohio, em 1914.
-fogos para conter o incêndio, enquanto Pouco depois, os semáforos eram sincro-
os aviões-tanques chegam a despejar nizados por sectores para melhorar o flu-
20 000 1 de água e produtos químicos. Nal xo. O período de tempo em que se manti-
guns países, existem corporações de bom- nham verdes podia ainda ser controlado
beiros-pára-quedistas que atingem locais pelo número de carros que passassem so-
remotos ou de difícil acesso por terra, lan- bre placas de comando.
çando-se em pára-quedas. Nos EUA, os Muitas cidades ensaiam outras manei-
bombeiros saltam de pára-quedas para ras de facilitar o fluxo do tráfego, aumen-
combater incêndios desde 1941. O objecti- tando, por exemplo, as multas de estacio-
vo é isolarem os pequenos fogos antes que namento, encorajando a partilha dos car-
alastrem. Com o fogo em baixo, as corren- ros particulares e introduzindo nas ruas fai-
tes atmosféricas são imprevisíveis, a visibi- xas para transportes públicos (bus). Os sis-
lidade é má e os riscos são elevados. temas computorizados, que surgiram na
Uma vez aterrados em segurança, os década de 60, permitem regular o trânsito
bombeiros-pára-quedistas {smoke-jum- numa secção interna de uma cidade.
pers, como se designam em inglês) abrem Bombeiro de floresto. Um bombeiro vo- Mas todas estas medidas não têm resol
uma clareira em redor do fogo e derrubam luntário ajuda a combater um incêndio em vido os problemas postos pelo constante
as árvores secas, com vista a circunscrever Grose Valley, Austrália. O calor é tão intenso aumento de tráfego. Quando, na Venezue-
o fogo até que ele se extinga por si ou que que a água se eoapora sem produzir qual la, se insistiu em que os automóveis em
cheguem as forças terrestres de combate. quer efeito sobre as chamas. Caracas só poderiam circular em certos

.-,()
Hi , I

Engarrafamento de trânsito. Aparente-


mente sem qualquer ordem, o trânsito bio
queia urna rua da cidade comercial de Me
dan. na Samarra do Norte.

Fluxo de tráfego. Muntendo-se nos seus


corredores, os veículos atravessam em bi
cha a ponte de Oakland, em S. Francisco.

Hora de ponta. Ónibus puxados por cavalos, carroças, carruagens,


um carro funerário e um rebanho engarrafam Fleet Street e Ludgate
Hill, em Londres, numa gravura do século xix de Gustave Doré.

dias da semana — conforme o último alga- mais complexa que permita aos controla- fego a comprimir-se nas pontes e nos tú-
rismo da respectiva matrícula —, milhares dores guiarem o tráfego como se fosse neis. Na tentativa de dominar a situação, os
de pessoas compraram segundos carros. água, utilizando os semáforos como com- computadores recebem informações dos
Mantiveram-se os engarrafamentos - ain- portas. Com o carregar de um botão, os cruzamentos principais, onde sensores
da agravados pelos carros estacionados. semáforos podem desviar o trânsito de um subterrâneos monitorizam a velocidade e
Em Singapura, quando os condutores acidente, de trabalhos na rua. da multidão o volume do tráfego. Os resultados podem
eram multados se entrassem na cidade às de espectadores que sai de um estádio de ser notórios: nos bairros periféricos de
horas de ponta sem, pelo menos, dois pas- futebol. Nova Iorque a computorização reduziu o
sageiros no carro, milhares de crianças ofe- Cada cidade tem os seus problemas. Km número de paragens de cada veículo em
receram-se como "passageiros" a troco de Manhattan, a complexidade é aterradora: a 70%.
umas moedas. hora do dia, a actividade comercial local, a Em tudo isto o condutor individual é
Em 1987, havia no Mundo mais de 500 largura da rua, o tempo que faz, a época do passivo. A verdadeira revolução no contro
milhões de veículos motorizados em acti- ano - todas estas variantes afectam cada le do tráfego reside na navegação incorpo
vidade, número este anualmente acresci- bairro, e cada bairro afecta os outros. E rada no veículo.
do de 40 milhões. toda esta massa efervescente é ainda com- O carro teria o seu próprio computador,
A única solução para as cidades parece plicada pela necessidade de atravessar os contendo mapas pormenorizados e capaz
residir numa computorização cada vez rios que cercam Manhattan, levando o trá- de receber um fluxo permanente de infor-

•>1
COMO EVITAR ENGARRAFAMENTOS POR MEIO DE UM COMPUTADOR

1. Num ensaio de um sistema electrónico de orientação do trânsito 2. O destino era introduzido pelo transceiver do carro no semáforo
em Berlim, em 1988, os condutores introduziram no computador o mais próximo, situado num dos 240 cruzamentos da cidade. A in-
local aonde pretendiam dirigir-se. formação era enviada a um centro de comandos computorizado.

3. O centro de comandos enuiaoa ao semáforo indicações sobre o 4. Finalmente, o computador do carro traduzia a informação em
caminho mais rápido. E o semáforo transmitia ao condutor, através conselhos claros e simples no respectivo mostrador: o melhor ca-
do transceiver, um mapa desse caminho. minho era indicado por setas, e a distância a percorrer, por dígitos.

mações sobre a situação do trânsito nas


estradas de todo o pais. 0 condutor marca-
ria o código do ponto de destino c partiria.
Quase imediatamente, o carro passaria
O caso de Ana
um semáforo à beira da estrada, através do
qual o computador obteria do centro de
Ferreira, vítima
informações as condições que o espera
vam na sua rota. Começariam então a apa-
de acidente na
recer instruções, traduzidas por uma seta
num mostrador do tablier indicando o ca-
estrada
minho que o condutor deveria tomar para
chegar mais depressa ao seu destino. Nos "Bom dia. Fala da Unidade de Cuidados
ensaios feitos em Berlim e em Londres, o Intensivos Polivalentes (UCIP). Posso aju-
computador dava ainda instruções verbais da lo?" A enfermeira-chefe Margarida San
e avisos de nevoeiro, trabalhos na estrada, tos recebe a primeira chamada telefónica
alterações da faixa de rodagem e desvios do dia na UCIP onde está colocada.
em voz sintetizada. A resposta é "sim". 1 louve um grave aci-
A tecnologia para a introdução de um dente de viação numa estrada perto do
sistema deste tipo existe já. O custo de ins- hospital. Três pessoas — um motorista de
talação no carro seria idêntico ao de um táxi, a sua jovem passageira e um motoci-
telefone. Mas o problema maior seria a ins- clista — ficaram feridos numa colisão con-
talação de milhares de semáforos para co- tra uma camioneta.
brir o pais. E de madrugada, num dia enevoado de
Novembro, e urna ambulância com a sire-
Controle central. Um oficial do Centro de ne a tocar transporta velozmente as víti-
Controle do Tráfego em Paris observa ima mas para o hospital.
gens dos locais em que se começam a notar Quando há que salvar vidas, a primeira
engarrafamentos. Em média, um veiculo hora após o acidente c decisiva. E para o
não atravessa Paris a mais de 17 km/h - e pessoal da ambulância ê obvio que a rapa-
os monitores computorizados ajudam a lo- riga — uma secretária de 20 anos, Ana Fer-
calizar os pontos nevrálgicos. reira, é a ferida mais grave Está inconscien-

52
te, tem muita dificuldade em respirar, san- introduz-se-lhe na boca até à traqueia uma A respiração, a tensão arterial e as pulsa
gra do tórax e pareço ter graves ferimentos delgada cânula de plástico, que por sua vez ções serão verificadas periodicamente, e
internos. está conectada a um ventilador. Este apa- os respectivos dados registados. A enfer-
A chegada ao hospital, Ana é encami- relho respira pelo doente, enviando lhe in- meira que tem Ana a seu cargo raramente
nhada rapidamente para o sector de ur- termitentemente aos pulmões uma mistu- sai de ao pé da cama e anota quaisquer
gências e emergências, onde lhe são trata- ra de ar e oxigénio. alterações no seu estado. Se necessário,
das as feridas superficiais, c os exames ra- pedirá conselhos ou ajuda — que imedia-
diológicos revelam a existência de fractu- Vigilância de 24 horas tamente lhe serão dados.
ras rias costelas e da bacia. A violência da Em breve, a parte superior do corpo de Ana Logo que a respiração de Ana estabili-
colisão provocou-lhe rupturas no sistema fica ligada a toda uma bateria de tubos e fios zou, inicia-se a fase seguinte do tratamen-
circulatório e derrame do respectivo fluido que vão ajudá-la a viver. Entre eles, contam to. Uma delgada sonda de aspiração c-lhe
e a ulterior acumulação nos pulmões - -se um electrocardiógrafo, que fornece in- introduzida pelo nariz até ao estômago
pelo que é imediatamente conduzida à formações permanentes sobre o ritmo e a para drenagem dos fluidos gástricos
UCIP, no segundo andar. frequência cardíacos; um cateter introduzi- acumulados, ficando aí colocada enquan-
Na enfermaria de cuidados intensivos, do numa veia do pescoço, através do qual to for precisa. Uma outra sonda de aspira-
onde o espaço aberto e as paredes cor-de- são repostos os fluidos perdidos, incluindo ção é depois introduzida periodicamente
-rosa tornam o ambiente mais acolhedor, a o sangue, a uma determinada frequência; e pelo "aparelho respiratório" para se pode-
doente é colocada numa cama articulada um outro cateter introduzido numa artéria rem extrair as secreções dos brônquios e
e com rodas. A equipa de enfermagem e do punho, que monitoriza a pressão arte- pulmões.
médicos rodeiam-na imediatamente. rial. Enquanto estiver nessa unidade, Ana Paralelamente, lem lugar a rotina mati-
Devido às fracturas das costelas, é-lhe será observada e vigiada de perlo em cada nal da UCIP. Às 8 menos um quarto, os
extremamente doloroso respirar. Por isso, minuto do dia e da noite. médicos fazem a "visita" da enfermaria,

Mundo fechado. Desde que um doente entra numa unidade de cuidados intensivos polioalentes. passa a ser vigiado 24 horas por dia. As
enfermeiras raramente se afastam da sua cama e verificam constantemente a bateria de fios e tubos ligados ao seu como. A UClf de um
hospital é um mundo fechado funcionando com uma equipa polivalente de médicos, enfermeiras e técnicos especializados.
avaliando o estado dos doentes. Saem, conforta-nos e dá nos o tipo de apoio mo analgésicos e sedativos que lhe foram ad-
mas mantém-se urna actividade e os ruí- ral e espiritual de que precisamos de vez ministrados garantirão que assim seja.
dos constantes: o zumbido surdo das em quando." Há alguns anos — antes de existirem
máquinas, o sirvo abafado dos telefones e a Um pouco antes do meio-dia, os pais de unidades de cuidados intensivos poliva-
conversa animada do pessoal de enfer- Ana chegam c são levados para a sala de lentes —, Ana poderia ter morrido sem a
magem. espera dos familiares, em frente do gabine- vigilância, a atenção e os níveis de cuida-
Embora os doentes aqui instalados se te do especialista da UCIP. dos ai' prestados minuto a minuto.
encontrem em estado grave, o ambiente é A sala de espera tem um aspecto acolhe- Aproximain-se as 6 horas da tarde e o
reconfortante e alegre. As 8 e meia, chega a dor e aconchegado. Tem dois maples c médico intensivista faz a última visita de
fisioterapeuta para a primeira das suas dois sofàs-camas para o caso de um paren- rotina do dia — certificando se de que
duas sessões diárias: José Silva, funcioná- te ou amigo desejar passar a noite! tudo corre bem e de que pode regressar a
rio público local, na casa dos 40, com frac- Maria, a empregada de serviço auxiliar casa descansado. Entretanto, junto da
tura do baço e outras lesões internas em da unidade, mete a cabeça nos guarda- cama de um dos doentes um rádio toca
consequência de uma queda grave, e Isa- ventos que dão para a enfermaria: «Se- suavemente música ligeira. As enfermeiras
bel Marques, uma avó de cabelo branco nhora Enfermeira estão aqui os pais da esperam que a noite seja calma para que
que recupera de uma operação ao estô- Ana!" se possam concentrar nos doentes que já
mago feita na véspera. ali se encontram. Até que, subitamente, o
Para remover as secreções dos pul- Livre de perigo telefone da secretária volta a tocar.
mões, a terapeuta insiste com os doentes A enfermeira-chefe Santos corre a dizer ao "UCIP, boa noite", diz a enfermeira de
para que respirem fundo e tussam. Para casal ferreira que a filha se encontra agora serviço. "Posso ajudá-lo?"
que os músculos mantenham o seu tónus perfeitamente consciente e que, se o seu
e as articulações não fiquem "presas", ela estado se mantiver estacionário, ficará livre
ajuda os doentes a mobilizar os membros. de perigo. As fracturas da bacia e das coste
José - que já passou cinco dias nos
cuidados intensivos - é deitado de lado.
las de Ana, acrescenta a enfermeira, conso-
lidarão a seu tempo. Mas. acima de tudo,
Como se utilizam
"Estamos a virá-lo, José, para lhe ajudar
a limpar o tórax", explica a terapeuta. "Não
ela prepara os pais para o choque que te-
rão ao verem Ana cheia de fios e tubos que
as fotografias
demora
fortável ."
depois voltamos a pô-lo con- a fazem parecer ainda mais doente do que
está realmente.
aéreas na
Às 9, os tubos ligados aos ventiladores
de cada doente são substituídos para evitar
Pálidos e apreensivos, os pais de Ana
são conduzidos à enfermaria e junto da
elaboração
a proliferação de bactérias no equipamen-
to; e às 9 e meia chega um cirurgião para
cama. Passam a hora seguinte junto da fi
lha, faiando-lhe da família, do tempo e di-
de mapas
falar com Isabel. "A sua operação correu zendo-lhe que ela está nas melhores mãos
muito bem", diz-lhe com um ar bem- e recebe os melhores cuidados. Os cartógrafos actuais recorrem a um pro-
-disposlo. 'Estamos muito contentes Impossibilitada de falar devido a estar cesso utilizado pelos seus antecessores
consigo." ligada ao ventilador, Ana abre os olhos de mais antigos: sobem a um ponto elevado
O relógio da enfermaria marca 10 horas vez em quando para lhes mostrar que está para terem uma visão geral da área que
Um gerador móvel de raios X é utilizado, e consciente e percebe o que lhe dizem. Fi- querem cartografar. Nos tempos antigos, o
um técnico radiografista lira radiografias nalmente, já nada mais há para contar e os cartógrafo subiria ao cimo de um monte
aos três doentes. Como sempre, tudo o pais Ferreira levantam-se para sair. "Volta- com os seus instrumentos e equipamento;
que se faz é lhes explicado. "Só para ver se remos amanhã para te ver, querida", mur- hoje, são fotógrafos que sobem num avião.
houve qualquer alteração aí por dentro", mura a mãe. "Nessa altura, já deves estar As primeiras fotografias aéreas destina
diz o radiografista aos doentes enquanto muito melhor.» das a mapas foram tiradas em 1851 pelo
vai de uma cama para a outra. Às 13 horas, a enfermeira-chefe Santos e francês Aimé Laussedat, que sobrevoou os
Passa mais meia hora, e as enfermeiras a sua equipa são rendidas para o almoço campos num balão de ar quente. Fotogra-
revezam-se para tomarem um chá com pelo turno da tarde, composto por uma fias tiradas de aviões militares foram utiliza
torradas na sala contígua, cujos muples e enfermeira-chefe e três enfermeiras, que das para os mapas das trincheiras durante
a televisão foram presente de um antigo tomarào conta dos doentes durante as a I Guerra Mundial.
doente reconhecido. As refeições — es- próximas oito horas. Para a cartografia aérea, o avião voa à
sencialmente café e sanduíches - são Se não houver novas admissões de altitude mais adequada à escala média da
igualmente tomadas aí. O refeitório do doentes - doutra enfermaria ou doutro fotografia que se pretende para o mapa. Se
hospital fica no andar de baixo, e o pessoal hospital —, a unidade poderá contar com a escala for de 1:50 000 e a lente tiver uma
de serviço não pode estar tão longe e afas- uma tarde calma, embora activa. Só o soar distância focal de 150 mm, a altitude de voo
tado — em tempo e distância — dos doen- do alarme de um dos sistemas de controle tem de ser de 7500 ni.
tes a seu cargo. e tratamento das funções vitais que ultra- As fotografias são tiradas na vertical,
As 11 tioras, o capelão do hospital apare- passe o respectivo limite de tolerância virá com o avião voando alternadamente num
ce. Embora a sua primeira preocupação perturbar a tranquilidade existente en- sentido e em sentido inverso ao longo de
sejam os doentes, são às vezes as próprias quanto não chega o turno da noite. faixas contíguas sobre o terreno que se de-
enfermeiras quem mais precisa dos seus seja cartografar. Na mesma faixa cada loto
conselhos. Poderoso "cocktail" grafia deve sobrepor-se à anterior em cerca
"Sempre que um doente morre, é para Se tudo continuar a evoluir sem complica- de 60%, devendo faixas adjacentes sobre-
nós um golpe terrível", afirma a enfermei- ções, Ana será transferida para uma enfer- por-se em cerca de 30%. Garante-se assim
ra-chefe Santos. ''Especialmente se for maria cerca de uma semana após ter dado que todas as áreas parciais do solo serão
uma criança. Precisamos de falar disso entrada na UCIP. Como quase todos os fotografadas pelo menos duas vezes. Um
com alguém que conheça e compreenda doentes destas unidades, lembrar-se-á avião voando a 25 000 pés (7500 m) teria
os nossos problemas, mas que não seja pouco ou nada do tempo que aí passou. O de tirar pelo menos 12 700 fotografias para
uma de nós. E aqui que entra o capelão. Ele choque inicial e o poderoso cocktail de cobrir a superfície da França.

54
Por cada faixa, obscrvam-se pa- terreno, por forma a minimizar a<
res de fotografias seguidas através distorções, tendo em atenção a fi
de um eslereorrestituidor, que nalidade específica do mapa -
mostra uma imagem de terreno em sempre à custa de rigor em certo<
três dimensões, a qual é ajustada a aspectos menos importantes par*
uma rede de pontos cuja exacta po- cada caso. A Projecção de Merca
sição no solo é conhecida. Pode en- tor. por exemplo, é utilizada par?
tão operar-se o eslereorrestituidor traçar rumos de navegação, ma?
por forma a medir, registar e definir distorce a escala, de modo que a.1
a posição e a altura dos pormeno- terras muito distantes do equadoí
res da carta na escala desejada. p a r e c e m ter uma área muiti
Os pontos fixos, denominados maior que a real.
pontos fotogramétricos, podem Uma projecção destinada a re
ter sido definidos anteriormente presentar os países com áreas e po
ou criados para este caso. Estes siçòes relativas tão próximas quan
pontos — como quaisquer outros to possível das reais distorce as dis
sobre a Terra — lém uma latitude tâncias e as direcções e não pod(
(distância angular para norte ou ser utilizada na navegação.
para sul do equador) e uma longi- Kscolhida a projecção, o mapa t
tude (distância angular para lesto traçado por desenhadores ou po
ou oeste do meridiano de Green- computadores. Os traçados à mãe
wich), e devem poder ser perfeita- são desenhados em películas so
mente identificados nas fotogra- brepostas, figurando em cada umi
fias aéreas. os diferentes elementos, como es
Para "captar" os pormenores do tradas, rios, curvas de nível e zona
terreno, 0 operador do estereorres- de cor. Pode haver mais de 20 pe
tituidor aponta um foco luminoso lículas que são assentes em con
sobre cada característica importan- junto e combinadas fotográfica
te da fotografia, registando automa- mente, produzindo uma películi
ticamente a informação em algaris- por cada uma das quatro a seis CO
mos sobre fita magnética. Os por res geralmente utilizadas na im
menores "capturados" podem ser pressão das cartas. Alguns mapa:
simultaneamente mostrados num desenhados por computador pro
monitor vídeo ou num restiluidor duzem directamente a películi
(plotter) para verificação. para a impressão.
As informações gravadas são in- Outros mapas, elaborados po
troduzidas num computador com computador, nunca chegam a se
outros elementos indispensáveis, imprimidos, sendo transmitido:
como a área que o mapa irá abran- Vista aérea e mapa. Uma fotografia aérea de urna praceta electronicamente aos aviões ou na
ger, o estilo deste e a sua escala. Má com as suas casas e jardins (em cima) foi utilizada para vios para navegação através do:
quinas de desenho comandadas elaborar um mapa pormenorizado da área (em baixo). monitores de computador.
pelo computador produzem não No futuro, os mapas poderão dis
só mapas preliminares para verificação das por círculos ou quadrados. Finalmen- pensar o sistema actual de aerofotograme
como mapas acabados para impressão. te, nos mapas de continentes inteiros ou de tria. topografia no solo e impressão con
Todas as informações recolhidas e anali- todo o Mundo só as grandes cidades po- vencional. Satélites em órbita do planei,
sadas acabarão por transformar-se num dem ser indicadas, marcadas por pontos. poderão enviar as imagens directamente ;
mapa traçado para determinado fim - A altitude do terreno é habitualmente um computador, que imprimirá os mapa
um mapa de .estradas para motorista ou representada por curvas de nível, linhas ou os transmitirá, sob a forma de sinai:
um mapa agrológico mostrando as áreas que unem os pontos com a mesma altitu electrónicos, aos monitores dos aviões
urbanas, as agrícolas, as florestadas e as de. Quanto mais próximas estão entre si dos navios ou dos automóveis.
pantanosas. estas linhas (cotadas em pés ou em me-
A área a incluir num mapa pode ser em tros), mais pronunciado é o declive. As cur- A escala de um mapa
escala muito grande — cobrindo apenas vas de nível podem ser combinadas com Um dos factores mais importantes na elabo
uma pequena zona do terreno apresenta- cores - processo denominado contour ração e na leitura dos mapas é a escala. Un
da em grande pormenor. Os mapas deste layer tinting — a fim de se indicar a varia- mapa pode ser feito à escala de 1:250 000
tipo são usados pelos urbanistas para, por ção desde o nível do mar (geralmente ver- significando que cada unidade (centí
exemplo, planearem novas estradas. de) até às altas montanhas (geralmente metro, milímetro ou polegada) represent;
Para traçar um rnapa numa escala me- castanho ou roxo). O sombreamento das 250 000 dessas unidades no terreno. Po
nor (e mostrar uma superfície maior), o elevações dá ao mapa um efeito tridimen- isso, aquela escala podia igualmente se
cartógrafo aglutina num só alguns dos ma- sional. Pode usar-se sozinho ou como expressa em I cm = 2,5 km, ou 1" = 4 milhas
pas em escala maior. Mas, à medida que a complemento de contour layer tinting. Um mapa do Mundo num atlas pode ter <
escala se reduz, tem igualmente de se dimi- A representação da superfície curva da escala de 1 :60 000 000 (I cm = 600 km).
nuir o pormenor e passar a utilizar símbo- Terra num mapa plano é impossível de Utilizam-se diferentes escalas, conform»
los. Por exemplo, uma aldeia ou vila que conseguir sem alguma distorção. A solu- aquilo que se pretende do mapa. Seria im
começou como um conjunto de edifícios ção é utilizar uma das muitas projecções possível planear uma viagem de aulomòve
é amalgamada numa única forma. cartográficas de conceito matemático, à escala de um planisfério — e um planisfé
Numa escala ainda mais reduzida, as al- que dispõem os meridianos e os parale- rio à escala de 1250 000 teria cerca de 200 n
deias são omitidas e as cidades representa los, bem como outros pormenores do de largura.

:,:
respondência, com 330 kg, destinada a estar nesta cidade na manhã de terça feira.
França. enquanto o documento rias especifica
Como o correio Na tarde de quinta-feira, um voo interna ções tem de estar na sede da empresa, em
Nova Orleães, na sexta-feira.
cional de Toronto leva a caria para O Aero-
atravessa o porto Charles de Gaulle, em Paris, aonde
chega na madrugada de sexta feira. A carta
Um serviço internacional de COurier aé-
reo foi contratado para assegurar a entrega
Mundo está agora no quinto dia da sua jornada. de ambos os artigos. A chamaria para os
escritórios locais desse serviço foi feita às
As cartas provenientes do Canadá se-
guem para Paris, onde se juntam aos 50 4.30; um mensageiro estava no gabinete
Os serviços postais mundiais conjugam-se milhões de objectos tratados diariamente de estudos meia hora depois, com uma
para formar um cérebro à escala da Terra e pelo sistema altamente mecanizado ria carrinha para transportar os artigos. Um
de uma complexidade fenomenal. França. O código postal da casa da avó de terminal de computador na carrinha indi-
A quantidade de correspondência ma- Pierre é lido por uma máquina codificado- ca ao condutor o caminho mais rápido.
nipulada pelas 654 000 estações de cor ra, que lhe acrescenta um código de barras O mensageiro recebe o envelope com
reios do Mundo é impressionante. Num só indicando o ponto a partir do qual a carta as especificações e o embrulho com a má
dia passam pelo sistema postal internacio- terá a sua distribuição final. Esta máquina quina de lapidação e dirigese para o cen-
nal 1000 milhões de artigos. trata 40 000 cartas por hora. tro de distribuição da sua empresa, próxi
A movimentação física de uma carta Uma segunda máquina agrupa as cartas mo do Aeroporto Internacional de Frank-
(em vez da transmissão elect ró nica do seu em pilhas correspondentes às divisões ad- furt Ali. uma máquina de laser lê o sobres
conteúdo) é uma operação lenta que exi ministrativas. Uma tela transportadora crito e 0 pacote, introduzindo os dados
ge trabalho intenso e representa um desa- leva as da máquina para sacos que, por num computador central para que os res
fio constante para os milhões de pessoas sua vez. são transportados para os ca- pectivos percursos possam ser monitori
que trabalham para os 169 Estados inem miões e comboios que percorrem o país zados, Esses mesmos dados são utilizados
bros da União Postal Internacional. com as suas 3000 t diárias de correio. A na preparação dos documentos de expor
estação dos Correios utiliza um Airbus tacão e importação e na elaboração da fac-
De Peace River para Nice para levar a correspondência para Marse- tura para o gabinete de estudos.
Todo e qualquer objecto posto no correio lha e Nice, e a carta de Pierre embarca no Uma leia transportadora leva o pacote
passa a fazer parte desta actividade épica. voo de sexta à tarde. para um saco com a etiqueta "América do
Imaginemos, por exemplo, que Pierre, jo- A noite, em Nice, são executadas as ope- Sul" e o sobrescrito para o saco dos EUA
vem engenheiro francês recentemente rações de recolha e triagem no sentido in Cada saco será colocado no primeiro voo
destacado para Peace River, na província de verso. A estação divide a correspondência disponível com partida de Frankfurt. Neste
Alberta, no Canadá, escreve uma carta à em várias subzonas para distribuição local. caso, os sacos são colocados no voo da
avó, que vive perto de Nice, no Sul de No sábado, de manhã cedo, uma carrinha noite para Nova Iorque, com chegada na
França leva a correspondência desde a estação de madrugada de sexta-feira.
Em Peace River, Pierre deita a caria no escolha para a estação central. Alguém rio escritório ria empresa de ser-
correio na segunda feira de manhã. Esta coloca a carta de Pierre num dos viços, de COurier em Nova Iorque põe o
A seguir à recolha nessa tarde, a caria 70 000 circuitos postais nacionais, e a avó saco destinado aos EUA num voo para o
junta se a milhares de outras na estação lê as suas notícias ao pequeno almoço, no escritório cenlral da distribuição, onde o
local dos Correios. Os funcionários sepa sexto dia da viagem desde Peace River sobrescrito é colocado num saco para
ram a correspondência local da destinada Pelo menos, assim seria num mundo Nova Orleães e enviado no voo de ligação
a outras regiões do Canadá. Separam tam ideal. Mas surgem inevitavelmente compli- seguinte. A chegada, c entregue em mão
bém a correspondência internacional em cações: como os fins-de semana e os dias na sexta-feira à tarde.
dois grupos — um que irá para oeste, atra- feriados; como toneladas de embrulhos Entretanto, o saco para a América do Sul
vessando o Pacífico, outro para todos os mal feitos e sobrescritos ilegíveis: como é novamente triado em Nova Iorque, e o
destinos de leste, incluindo a Europa. À tar- greves; como avarias, e como as acumula- pacote para Quito é colocado num voo da
de, os sacos do correio, excluindo a corres- ções do Natal. Mas, embora esles factores tarde que faz escala primeiro em Bogotá,
pondência local para Peace River, viajam muitas vezes se conjuguem, obrigando a na Colômbia, e depois em Guaiaquil, antes
de camião para a cidade de Grande Prairie. atrasos, cada entrega representa um pe- de aterrar em Quito na sexta à noite.
Aí, os sacos de correio internacional jun- queno tributo ao empenho e à coopera- A Alfândega de Quito está fechada até
tam-sc a outros provenientes de cidades ção humanos. segunda-feira, mas o representante da em-
vizinhas. Na manhã seguinte, terça-feira, presa de courier prepara a documentação
um segundo carregamento transporta a para desalfandegar o pacote na segunda
correspondência para a capital da provín de manhã. Uma carrinha entrega-o no lo-
cia, Edmonton, 480 km a sueste. O volume
de correio internacional aumenta nova
Um serviço cal do destino à hora do almoço.
Os serviços internacionais de cou/iei
mente antes de ser transportado da Estação
de Correios de Edmonton para o aeroporto.
mundial de surgiram no fim da década de (i(), porque
as empresas de todo o Mundo que podiam
Neste ponto, as duas cargas iniciam ca-
minhos separados - os sacos para traves
mensageiros enviar um empregado a quase qualquer
ponto do Globo em 24 horas por avião
sia do Pacífico seguem para oeste, para desejavam assegurar a mesma eficiência
Vancouver, os outros para leste, para To- São 5 horas de uma tarde de quinta-feira no envio de cartas e encomendas impor
ronto, aonde chegam ao fim do dia de ter num activo gabinete de estudos e projec tantes.
ça feira. tos do centro de Frankfurt, Alemanha 0 Os correios não eram bastante rápidos,
Em Toronto, as cartas são separadas por pessoal prepara as especificações de uma porque os sistemas postais se preocupa-
países e, nalguns casos, por zonas dentro nova ferramenta de lapidação de diaman- vam com entregas volumosas em peque
de cada país, Esle processo ocupa quase tes que criou e da qual um protótipo está na velocidade, e os serviços de courier
inteiramente a quarta e quinta-feiras, e a embalado para ser entregue em Quito, ca conseguiam garantir entregas rápidas, urn
carta de Pierre junta se a pilha de cor- pitai do Equador. Esle protótipo tem de sistema poslal personalizado, pessoal

Hl.
próprio e as mais recentes tecnologias. motos para as recolhas e entregas porta a de courier e metida no correio no estran-
Hoje, num esforço de modernização c porta. geiro, curto circuitando assim, em parte,
indo ao encontro das necessidades do Em 1980, a DHL, o maior serviço interna- os serviços postais. No entanto, o retnuil-
mundo empresarial, os Correios criaram cional em termos do número de entregas, ing é uma actividade considerada ilegal,
os seus serviços de courier, oferecendo as tratava 30 000 artigos em cada noite da se pelo que vários organismos internacionais
sim a rapidez e segurança desejadas. mana. e principalmente a CEE estão a tentar regu
As empresas de courier gastam anual- Na Europa, as grandes empresas de lar esta actividade.
mente milhares de contos com as reservas courier e as administrações postais prome- O mercado para as entregas expresso,
de espaço nos voos regulares de carga e tem entregas de um dia para o outro nos que duplicou em cada dois ou três anos na
passageiros e todas mantêm informações destinos europeus e prazos de dois dias década de 70, atingia os 4000 milhões de
computorizadas sobre os horários de voo para qualquer parte do Mundo. Dm outro dólares em 1988. Parece provável que os
de todo o Mundo. Muitas firmas possuem campo em crescimento competitivo é o serviços de courier expresso continuem a
os seus próprios aviões e helicópteros e remailing, em que a correspondência in- expandir se para ir ao encontro das exigên-
quase todas tem frotas de carrinhas e ternacional é enviada do país por serviço cias das empresas.

Do outro lado do Mundo — reportagem para um jornal


É um dia especial para os apreciadores de a partida juntamente com as impres-
ténis na Africa do Sul — particularmente sões de ambos os finalistas.
para os que vivem em Joanesburgo ou O jogador sul-africano é um adolescen-
suas proximidades. Um jovem da zona te que não ganhou ainda um grande cam-
chegou às finais do campeonato italiano peonato ou torneio; o seu adversário é um
em singulares homens, a decorrer em escandinavo mais velho e muito mais ex-
Roma, e o seu sucesso ou o seu desaire periente, actual detentor do titulo Trata se,
serão notícia em ambos os países. A noti- como diz o jornalista, de um encontro clás-
cia ocupará provavelmente as primeiras sico entre "um jovem pretendente e um rei
páginas dos matutinos sul-africanos. O di- entronizado".
rector terá de escolher a forma de fazer a O começo da partida está previsto para
cobertura da partida: apoiar se nos despa- as 14 horas e pode durar toda a tarde. Por
chos e fotografias das agencias noticiosas isso, na África do Sul, que tem a mesma
ou mandar o seu próprio redactor despor hora de Roma, o resultado deve ser conhe-
tivo e um repórter fotográfico para fazerem cido pelas 18 horas. Os jornalistas não te-
a reportagem em primeira mão. Em virtu rão dificuldade em mandar os seus artigos
de do grande interesse local, decide enviar e as suas fotografias a tempo da primeira
uma equipa própria. edição do dia seguinte. Tecnologia a duas mãos. Com um leleío
0 redactor e o repórter fotográfico che- Na cabina da imprensa, o redactor pode ne em cuciu mõo, um jornalista recolhe ele-
gam a Roma a tempo da conferência de escrever a reportagem no seu processador mentos paru urna nova reportagem.
imprensa, na véspera do jogo. O redactor de texto portátil, que é um terminal remoto
pode assim escrever um artigo sobre o am- do computador central do jornal. Quando a ligar o adaptador ao telefone mais próxi-
biente geral e as expectativas que rodeiam termina a sua história, o redaclor limita-se mo e a marcar o número do jornal, e o
texto é transmitido directamente para o
computador, a 8850 km de distância. Um
artigo de 1000 palavras leva cerca de um
minuto a ser transmitido.
O jogo termina com uma brilhante vitó-
ria do jovem tenista sul-africano. A acres
eentar ao relalo dos seta. já introduzido no
seu processador de texto, o redactor vai
agora entrevistar ambos os finalistas.
Entretanto, o repórter fotográfico recor-
re a uma agência noticiosa internacional
de cujo equipamento de transmissão foto-
gráfica necessita. Revela os seus filmes e
introduz num transmissor os melhores ne-
gativos. 0 transmissor envia as imagens
através de uma linha telefónica e cl,is
aparecem rapidamente, como reprodu-
ções de negativos de alta qualidade, no re-
ceptor do editor de fotografia em Joanes
burgo.

Equipa da imprensa. Nenhum aconteci-


mento desportivo passa sem os repórteres
fotográficos, cujas fotografias podem ser
enviadas por transmissores especiais

57
Montagem da página. Os patinadores (à obtendo-se em minutos um negativo a
direita) cortam as provas e colam-nas em preto e branco a partir do qual vão ser feitas
folhas do (amanho das páginas do jornal. as chapas de impressão.
Fazem-se primeiro fotocópias das pági-
Retoques. Quaisquer espaços em branco nas para serem aprovadas pelo editor de
encontrados num negativo depois de mon- desporto, pelo chefe de redacção e, even-
tada a página são retocados com uma ca- tualmente, pelo director. Urna vez verifica-
neta preta especial (em baixo). das e aprovadas pelos revisores, as páginas
são levadas à secção de impressão.
A meia-noite, as páginas estão prontas
para serem transferirias fotograficamente
para chapas de impressão de zinco ou alu-
mínio revestidas a plástico. As chapas, à
passagem ria tinta, imprimem o papel.
A velocidade, aqui como em todas as
bem corno todos os outros textos, transita fases do processo, é fundamental, pois os
então para um equipamento rie fotocom- jornais têm à sua espera as 80 carrinhas
posição de alta velocidade. O artigo, de que os distribuirão pelos postos de venda.
1000 palavras, fica pronto em menos de 30 Quanto mais perto do centro de impres
segundos. Da fotocomposição sai uma são se encontram os revendedores, tanto
prova em papel fotográfico para ser mon- mais recentes são as edições que recebem.
tada em página de acordo com a maqueta Estas últimas edições podem ser radical
previamente feita. mente diferentes das primeiras, pois, com
Embora a paginação possa ser feita di frequência, reportagens de última hora re
rectamente no computador, muitos jor- clamam espaço na primeira página, rele-
Depois de entrevistar os jogadores, o re- nais preferem ainda cortar as provas e colá- gando alguns artigos da primeira página
dactor prepara a reportagem definitiva, las em folhas do tamanho da página - para uma página interior.
ajustando e corrigindo o texto que escre- método rápido quando executado por pa-
veu e que visualiza no écran da sua máqui- ginadores experientes. O chefe de redac O leitor satisfeito
na. Às 20 horas, pede uma linha à telefonis- çáo-adjunto certifica-se de que todos os Deste modo, enquanto toma o seu peque-
ta do hotel e transmite a sua reportagem artigos cabem nos espaços que lhes foram no-almoço, o leitor de Joanesburgo inte-
com mais pormenores de fundo e mais atribuídos e que náo surgiram enos antes ressado em desporto lê o relato da vitória
colorido que as notícias de primeira mão ou durante a fotocomposição. do seu jovem concidadão. O redactor, en-
da televisão e ria rádio. Com todos os textos, títulos, fotografias tretanto, está a acordar em Roma. Para ele,
e filetes, a página completa é fotografada, tudo isto são notícias rie ontem.
Notícia de primeira página
Por volta das 21 horas, o editor rie desporto
chama a reportagem do ténis ao seu moni-
tor. Conforme acordado na reunião de edi-
tores, a reportagem constituirá o artigo
A elaboração de um dicionário:
principal das páginas de desporto Por ou-
tro lado, o resultado rio tenista dá noticia de
trabalho que pode durar uma vida
primeira página, escrita a partir da reporta-
gem do enviado e que o chefe de redacção Quando Samuel Johnson escreveu o seu o faz (o lexicógrafo) precisa de ter uma
poderá ler no monitor. dicionário de inglês no século xvm, esse ideia, ou conceito, do tipo de dicionário
A reportagem principal é depois lida e trabalho demorou sete anos. Nesse perío- que pretende, um critério definido sobre a
corrigida por um chefe de redacção-adjun- do ele teve rie escrever o significado de forma de pôr essa ideia em prática e os
to por forma que ela se encaixe no espaço 40 000 palavras. exemplos e citações relacionados com os
que lhe atribuiu o editor rias páginas de O primeiro Oxford English Dklionary, vocábulos a incluir e com aquilo que pre
desporto. O chefe de redacção-adjunto completado em 1928, levou 50 anos, com tende dizer acerca deles.
pode chamar ao seu monitor uma ima- os seus 12 volumes e 252 259 vocábulos.
gem da página inteira tal como agora se Na Alemanha, o Deutsches Wõrter Primeiro, a ideia
encontra, com todos os outros artigos, títu- huch, com 16 volumes, iniciado pelos ir- O dicionário pode incluir vocábulos de to-
los e fotografias — e anúncios, se os hou- mãos Grirnm em 1838, apenas foi termina- dos os tipos ou unicamente termos espe-
ver - já paginados. do em 1961 — passados 123 anos c riuas cializados (como num dicionário de quí-
Depois de o editor de fotografia e o edi- guerras mundiais. mica). Pode incluir ou não os nomes de
tor de desporto lerem escolhido a fotogra- A maioria dos dicionários exige consi- personalidades e de lugares. Pode dar mui-
fia que ilustrará a reportagem, o chefe de deravelmente menos esforço e tempo, náo tos tipos rie informação acerca de cada en-
redacção-adjunto saberá qual o espaço de só porque são menos extensos como tam- trada (grafia, pronúncia, etimologia, signi
que dispõe. O artigo é então editado no bém porque os seus compiladores podem ficado, comportamento gramatical, sinó-
monitor, de forma a preencher esse espa- utilizar dicionários anteriores como fontes nimos e antónimos) ou apenas alguns ti-
ço, e faz-se um título que chame a atenção de informação. Urna nova edição de um pos de informação (grafia e pronúncia, por
c se ajuste à história e ao espaço disponí- "dicionário portátil" com nome já feito exemplo).
vel. O chefe rie redacção-adjunto introduz pode levar cerca de dois anos. Um peque- Pode incluir ilustrações e exemplos rio
a legenda da fotografia. São quase 22 ho- no dicionário especializado como um uso das palavras. Pode ser monolingue
ras, e nesta altura todos os textos para a dicionário de abreviaturas — pode ser es (com os significados das palavras portu-
primeira edição têm de ser compostos. crito apenas por uma pessoa. guesas dados em português) ou bilingue
O artigo sobre o campeonato de Roma, Para escrever um dicionário, aquele que (com os significados das palavras portu-

58
guesas dados, por exemplo, em francês, e soas vulgares sobre as suas predilecções e nho e sala de jantar, ou ainda casa de ba-
os das francesas dados em português). as suas reacções quanto à forma como as nho e casa de jantar, e decidir se todas estas
palavras são usadas. locuções terão de constituir entradas no
O critério Mas lerá de interpretar com muito cui dicionário.
Uma vez decidido o objectivo do dicioná- dado todos estes dados. Determinados vo- Na elaboração das definições, o léxico
rio, têm de se estabelecer critérios para a cábulos podem ser facilmente tabelados grafo deve tentar encontrar o equilíbrio en-
sua elaboração. Quando é que um vocábu de "obsoletos" ou "arcaicos", por exem- tre a clareza e o esclarecimento ou a infor-
lo deve constituir uma entrada principal ou plo, porque não são usados nas zonas do mação. Se dissermos que um camarão é
uma subentrada? Deverá saca-rolhas, por pais com que o lexicógrafo está mais fami- um animal "com 10 patas". Ioda a gente
exemplo, constituir uma entrada principal liarizado — mas antes de os classificar perceberá; se o classificarmos como um
(como sacar e como rolba) ou unia suben- como tais ele terá de saber se certas regiões "decápode". muitas pessoas lerão de pro
trada — e neste caso dentro do verbete os não utilizam ainda na sua fala normal. curar a definição de decápode. Mas, ao
«sacar» ou dentro do verbete «rolha»? fazê-lo, encontrarão provavelmente outras
Capitáo-tenente será provavelmente A organização do projecto informações úteis, como o facto de os ca
uma entrada principal mas virá em capi- Embora seja possível alguns dicionários marôes estarem relacionados com as la-
tão ou em tenente? Cabo (promontório, serem obra de uma só pessoa, a maioria gostas e os caranguejos, também eles decá
fim, extremidade), cabo (chefe, caudilho; representa esforços conjuntos. podes.
graduação militar), cabo (do martelo, da Os lexicógrafos que têm a sorte de pos Uma solução será chamar ao camarão
vassoura) e cabo (corda) farão parte de suir citações utilizam-nas na elaboração "um animal decápode (com 10 patas)".
um único verbete porque se escrevem do dos verbetes e organizam o seu trabalho Mas isso exige mais espaço, que pode re-
mesmo modo? Ou haverá quatro verbetes, por forma que. por exemplo, os verbetes fleclirse na dimensão do dicionário, dimi
um para cada significado? Ou ainda entra- para anabolismo, catabolismo e metabo- nuindo o número de entradas possíveis.
rão os dois primeiros num único verbete lismo façam referências cruzadas entre si Têm igualmente de ser sopesadas con-
por terem o mesmo étimo (latim caput, apesar de terem letras iniciais diferentes. siderações sobre o espaço e sobre o tipo de
"cabeça", "extremidade") e terão os outros É possível que uma entrada seja produ utilizadores da obra, ao decidir-se quanto à
dois (respectivamente de copio, "'agarrar*' to do trabalho de um único lexicógrafo, quantidade de informações a incluir: deve
e de capulum, "corda") cada um o seu ver mas o mais provável é que o seja de vários rá a definição de água incluir a sua fórmula
bete próprio? E azul, substantivo, c azul, especialistas: um para o significado, outro química (H^O) e os seus pontos cie conge
adjectivo (qualidade daquilo que tem a cor para a pronúncia, um terceiro para a eti lação e ebulição ao nível do mar-5
azul), como devem ser tratados? mologia (a origem e a evolução do vocá-
E se uma palavra aparece mais de uma bulo ou da expressão). A importância dos dicionários
vez como entrada principal, que ordem Material complementar, como fotogra Apesar de lodos os problemas, o lexicógra-
dar às entradas: a mais antiga antes da mais fias ou mapas, pode ainda ser preparado fo pode consolar se com a ideia de que um
recente, a mais frequente antes da mais por outros especialistas. E tudo tem de ser dicionário pode ser um dos mais impor-
rara ou o adjectivo antes do substantivo'.' verificado quanto ao sou rigor, clareza e tantes instrumentos de auto-educaçâo.
Ainda quando uma palavra tem mais de solidez. São uma espécie de memória arquivada
um significado, em que ordem devem apa- Actualmente, grande parte do trabalho da cultura em que são produzidos, bem
recer esses significados: o mais antigo an- pode ser realizado por computadores, que como um meio de acesso a essa cultura
tes do mais recente, o mais frequente antes conseguem tratar grande quantidade de Há alguns anos, em Inglaterra, uma mu
do menos frequente, o literal antes do figu- elementos, facilitar a revisão (fazendo lis lher que ficou parcialmente incapacitada
rado, o geral antes do técnico? tas de artigos previamente assinalados devido a uma intervenção cirúrgica deci
para potencial eliminação, a fim de darem diu pedir uma indemnização. Antes de o
Exemplos e citações lugar a novos vocábulos e significados) e fazer, estudou durante seis meses dicioná-
0 ponto de partida para decidir aquilo que garantir um tratamento homogéneo (mas rios de medicina para não ser enganada
vá ser incluído são os conhecimentos do não o rigor nem a clareza). pela terminologia médica que seria utiliza-
lexicógrafo acerca da língua e o modo da no tribunal. E ganhou a acção.
corno a entende. Será ideal também que A elaboração do dicionário
possua um vasto repositório de exemplos Num dicionário alfabético normal, os vo-
do emprego real dos vocábulos e das frases, cábulos relacionados entre si, como chão,
recolhidos de escritos publicados c talvez
de manuscritos e até discursos gravados.
sobrado, soalho e pavimento, poderáo
aparecer muito distanciados. Mas os ver-
Como se alimenta
Esta colectânea pode ser tão representativa
do espectro da língua quanto o lexicógrafo
betes podem ser escritos ao mesmo tem-
po para garantir que os respectivos signifi-
e abastece um
o pretenda. Assim, podem mesmo ser re-
colhidos exemplos em trabalhos científi-
cados sejam devidamente comparados e
que não faltem as referências cruzadas.
exército na guerra
cos e até em revistas humorísticas. Um dicionário geral incluirá palavras re-
Pode fazer-se uma lista alfabética, por centes (como sida) e novos significados de Entre Janeiro e Maio de 1942, 5500 solda-
meio de computador, de todos os exem- palavras antigas (como monitor), e referirá dos alemães estiveram isolados pelo exér-
plos de cada palavra nos textos escolhidos vocábulos antigos, como boleeiro. cito russo perlo da cidade de Kholm, entre
para investigação. Assegurar-se-ia assim Alguns termos técnicos podem ser mais Moscovo e Leninegrado. Fora o pior Inver-
que não se perderiam empregos impor fáceis de explicar do que muitas palavras no desde há 100 anos. Com -30°C, os sol-
tantes das palavras pelo simples facto de do dia-a-dia. É mais fácil, por exemplo, dis- dados alemães, enregelados, amontoa-
serem demasiado vulgares para despertar tinguir uma estalactite (que aponta para vam-se nos abrigos subterrâneos e reza-
a atenção do lexicógrafo. baixo) de uma estalagrnite (que aponta vam para que viessem os socorros.
Este reportar se á ainda a outros dicio para cima) do que um quarto de uma sala. Subitamente, ouviram o som distante
nários e outras obras e a artigos acerca da E, tendo conseguido definir distintamente de motores, que se transformou num rugi-
linguagem. Pode ainda consultar os peri- quarto e sala. ele terá eventualmente que do quando 20 aviões de transporte Jun
tos sobre palavras especializadas e as pes saber explicar porque se diz quarto de ba- kers Ju 52. escoltados por duas esquaríri-

59
munições e equipamento foi sempre americanas em tempo de paz. Os 35 000
um elemento essencial das artes bélicas. E homens do III Corpo blindado, estaciona
na guerra moderna um ataque ou uma de- do em Fort I lood, no Texas, iriam ser en-
fesa eficazes dependem cada vez mais de viados para a Alemanha Ocidental, como
um reabastecimento rápido e continuado. se constituíssem reforços aos seus colegas
Uma divisão pesada moderna com cer- aliados no início de uma invasão soviética
ca de lfi 000 homens e 1000 veículos empe da Europa Ocidental
nhados em combate consome pelo me- Soldados e equipamento encontravam-
nos 5000 t de munições e 2700 t de com -se espalhados por mais de 30 estados
bustíveis por dia.
Sem esse fluxo vital, um exército morre.
A frase de Napoleão "Um exército marcha
sobre o seu estômago" é tão verdadeira
agora como era então. A incapacidade do
Exército Vermelho para suster a invasão de
Hitler em 1941 deveu se em parte a um sis
tema de reabastecimentos inadequado. As
Força aerotransportada. Num exercício. tropas das linhas da frente eram obrigadas
os US Army Rangers treinam-se no salto e/n a ir à retaguarda reabastecer-sc. Estaline
páraquedus por detrás das linhas inimigas, extinguiu esse sistema em 1943.
transportando apenas provisões básicas. Os Japoneses não conseguiram tomar
Imphal c Kohima, na fronteira indo -birma-
lhas de caças Messerschmitt. lhes passa- nesa, em 1944. em parte por não terem
ram por cima. O céu encheu-se com riú reabastecimentos. Quando os Ingleses e
zias rie pára-quedas com caixotes de ali- os Indianos avançaram, encontraram ca-
mentos, munições e medicamentos. dáveres de japoneses com ervas na boca.
Estes voos de abastecimento continua-
ram por mais de três meses, permitindo Movimento maciço de tropas
aos alemães sitiados repelir os ataques do norte-americanas
Exército Vermelho. Km Maio, os tanques Os problemas ligados ao reabastecimento
alemães conseguiram abrir caminho até são enormíssimos, como se revelou em
aos sitiados. A Bolsa de Kholm sobrevivera Setembro de 1987 durante as manobras
graças a um bom apoio logístico. militares Reforger 87. Rações de combate. Soldados de infanta-
A logística - a capacidade de abastecer O exercício envolveu a mais vasta movi- ria recolhem embalagens de refeições du-
uma força de combate com alimentos, mentação ultramarina de forças norte- rante um exercício militar.

[.ançainento de um tanque. Um tanque Shcridan de IS t é retirado de um aoiâo Hercules por pára quedas gigantes Esta técnica, extracção
por pára quedas a baixa altitude, permite a entrega de cargas pesadas na zona de combale sem que o avião lenha de aterrar.
americanos. As (ropas foram conduzidas não dormem: a frenética actividade organi- O turno da noite da manutenção é suhs
para os aeroportos americanos, de onde zada de ontem limita-se a dar lugar a uma tituído pelo da manhã, a quem entrega
voaram para a Europa. Dos aeroportos eu- curta noite de preparação para amanhã. uma lista de trabalhos a fazer. A mudança é
ropeus foram levadas, por estrada ou ca- Assim acontece no Milton, lorre de 25 marcada pelo ajustamento do volume
minho de ferro, para entrepostos onde andares de betão e vidro no sopé do Vic.to- suave do sistema sonoro de comunica-
lhes foram fornecidos equipamentos da ria Peak. Enquanto os cerca de 1250 empre- ções para um nível que possa ser ouvido
NATO ou para portos onde receberam gados - do direclor-geral para baixo — por sobre os ruídos do dia.
equipamento pesado que chegara de bar- descansam, os cerca de 50 funcionários da
co através do Atlântico. noite preparam o hotel para o novo dia Das 9 ao meio-dia: chegam
0 transporte em navios rápidos através E esta a vida do hotel que os hóspedes os administrativos
do Atlântico leva mais quatro dias do que não vêem. Quando diminui a azáfama das saídas da
por ar, por isso foi necessário ter material manhã e já foram servidos os últimos pe-
pré-armazenario para as primeiras tropas. Da 1 às 7 da manhã: cozinhas quenos-almoços, os serviços adminislrati
0 Corpo Blindado deslocou-se então e limpezas vos do hotel começam os seus trabalhos.
para a sua zona do acção, perto de Miinster Nas cozinhas, onde têm de ser confeccio- No serviço de aprovisionamento, os
e Osnabruck. Daí, dois dias depois, cada nadas cerca de 3750 refeições durante as empregados fazem uma verificação de
uma das duas divisões e as respectivas bri- próximas 24 horas, o pão e a pastelaria existências de última hora para se assegu-
gadas de apoio dirígiram-se a uma zona para os pequenos-almoços estão a ser c.o rarem de que têm todos os alimentos e
táctica de concentração ali próxima para zidos desde a meia noite. Ao todo, quase bebidas para o dia.
reabastecimento de combustíveis e provi- 550 pessoas trabalham na preparação c no Os contabilistas sentam se em frente
sões (em situação de guerra, o reabasteci serviço das comidas e bebidas no hotel. das suas calculadoras e computadores
mento incluiria igualmente munições). A equipa de limpeza nocturna lava e lim- para examinar as finanças do hotel. Os res
Desde a altura em que foram convocados pa o equipamento da cozinha e areia os pousáveis pelo pessoal preparam-se para
ate àquela em que se encontraram em po- serviços do pequeno-almoço. Os empre- um dia que pode incluir admissões ou des
sição de combate, as tropas não demora- gados do serviço do quartos preparam os pedimentos ou ficar se pela atençào dada
ram mais de uma semana. pedidos para o dia seguinte e estão atentos às boas condições de trabalho dos empre
Os exércitos modernos são cada vez aos pedidos ocasionais dos que não con- gados.
mais complexos, e é cada vez maior a ne- seguem dormir e que querem um compri- Os directores de vendas reúnem-se para
cessidade de rapidez. Os computadores mido para as dores de cabeça, um copo de decidir sobre estratégias e tácticas para o
transmitem os pedidos instantaneamente. whisky ou uma ceia inteira para si próprios melhor aproveitamento do hoiel e das
Os abastecimentos urgentes podem ser e para os seus amigos. suas instalações não só o alojamento
transportados por helicóptero ou por apa- Na cave, a equipa que trata da manuten- nocturno como exposições, conferências,
relhos STOL (short-take-off-and-landing. ção dos sistemas vitais do hotel ar condi- recepções e banquetes. Complementan-
"de aterragem e levantamento em curto cionado, refrigeração, luz eléctrica e força do esse trabalho, a equipa de relações pú
espaço"). No futuro, navios-lanques gi- motriz, água quente - está empenhada blicas, com cinco elementos, estuda a me-
gantes, cargueiros movidos a energia nu- nas suas tarefas nocturnas. Ao lodo, num lhor forma de fazer publicidade ao hotel.
clear, submarinos de carga e até grandes dia de ponta gastam se 820 000 I de água e Entretanto, os 62 técnicos da manuten-
aviões poderão aumentar os reaprovisio recolhem-se cerca de 4,5 t de lixo. ção fazem a sua inspecção diária completa,
namentos convencionais por ar e por mar. Na rouparia, enchem-se os últimos ces procedendo a reparações e conservações
Estrategicamente, contudo, nada mu- tos com as mudas de roupa de cama e as de rotina, incluindo a verificação da piscina
dou, e, como disse o marechal Rokos- toalhas para os quartos. e do equipamento da sauna e do ginásio —
sovsky, famoso comandante da II Guerra Os 43 porteiros e mandaretes já verifica onde uma equipa de oito pessoas toma
Mundial: "Não compete às tropas preo- ram os seus registos de saídas e entradas. conta da sauna, rio banho turco e das insta
cuparein-se com a retaguarda, mas à re- Distribuem se os jornais da manhã para lações de massagem. O chefe do pessoal
taguarda preocupar se com as tropas." entrega nos quartos e afixam-se no átrio das limpezas dá os loques finais aos arran
principal os avisos sobre os acontecimen- jos para as funções especiais do dia.
tos do dia no hotel. As cerca de 60 lojas, a farmácia e o cabe-
O pessoal de limpeza limpa as zonas de leireiro estão já abertos.
Um dia num hotel circulação e arranja as salas necessárias
para funcionar durante a manhã, em reu
Atrás do iobby do rés-rio-chão, o Busi-
ness Centre também já abriu as portas:
de luxo niões de trabalho e negócios. põe à disposição dos clientes um serviço
de secretariado, de telegramas, fax e telex
Das 7 às 9 da manhã: tudo em acção durante 24 horas, fotocópias, serviços in-
Quando se aproxima a I hora de uma ma- O hotel está agora bem acordado — como ternacionais de entrega de documentos e
drugada abafada de Hong Kong, a maioria o estão muitos dos hóspedes, ansiosos uma biblioteca de livros de referência.
dos cerca de 1000 hóspedes do Hotel Mil- pelo pequeno-almoço c por mais um
ton já está recolhida. Os sete restaurantes c novo dia. Na recepção, os funcionários do Do meio-dia às 3: horas de almoço
dois bares do hotel fecharam, e a zona de turno da noite, cansados, são substituídos Nas cozinhas, desapareceram já os últi-
lojas, a sauna, o ginásio, os campos de té- pelos da equipa de dia. São organizadas as mos '"vestígios" dos pequenos-almoços. A
nis e a piscina encontram-se desertos. Os entradas e saídas, marcados os quartos, preparação dos almoços vai avançada,
empregados dos sectores administrativos distribuído o correio. Fazem-se as reservas, embora, por volta da 1 hora, venha a ser
há muito que terminaram o seu serviço. verificam-sc as horas do chegadas e parti necessário o reabastecimento dos bufetes.
Na zona da entrada, onde chegam a tra- das. Os empregados de serviço às salas de Nos restaurantes, as mesas estão postas e
balhar durante o dia 75 funcionários, só reuniões confirmam que estas foram con- as reservas verificadas. Uma totalidade de
ficaram os empregados da noite e uns venientemente limpas. O pessoal de noite 200 cozinheiros, ajudantes de cozinha e
quantos recepcionistas. As luzes das zonas do serviço de quartos retira se e entra o de empregados-de-mesa estarão envolvidos
de convívio e dos corredores baixaram de dia; dá-so então início à limpeza e arruma em preparar e servir as refeições. Entretan-
intensidade. No entanto, os grandes hotéis çáo dos 750 quartos de cama. to, o serviço de quartos prepara os tabulei

• il
ros e os carrinhos para os hóspedes que
preferem almoçar no quarto.
Na recepção, apresentam-se os novos
hóspedes. Os mandaretes pegam nas ba-
Um dia na vida de um transatlântico
gagens e acompanham os hóspedes aos
respectivos quartos, abrindo-lhes as por- O sol da tarde banha o porto de Southamp- rou uma área de alcatifas equivalente a 142
ias com cartões de segurança computori- ton, enquanto gmpos de trabalhadores das campos de ténis, os 1000 tripulantes estão
zados, em vez das chaves tradicionais, que docas começam a carregar alimentos fres- nos respectivos postos e a maioria dos cer-
podem ser roubadas e copiadas. cos e outras provisões a bordo do Queeit ca de 1800 passageiros já embarcou. Sáo-
EBzabeth 2 o maior navio da Cunard Line -Ihes dadas as boas vindas por uma banda
Das 3 às 6 da tarde: o chá e o único navio de passageiros que atraves- de jazz tocando músicas conhecidas, e
A medida que se esvaziam os restaurantes sa regularmente o Atlântico. Atracou à 1 sào encaminhados para os seus camaro-
e os bares, os hóspedes começam a tomar hora da tarde e partirá para a viagem de tes por quase 80 criados e criadas.
o chá, as empregadas de quarto enchem regresso a .Nova Iorque sete horas depois. Tudo foi preparado para o bem-estar e o
os baldes de gelo nos quartos, os emprega- Não há tempo a perder, e a maioria das conforto dos passageiros - desde saunas
dos-de-mesa e os bormen preparam tudo provisões — incluindo frutas e vegetais, ali ejacuzzis até filmes e um centro de com
para a reabertura ao fim da tarde e. na cozi mentos enlatados e carne e peixe congela- putadores, onde poderão aprender coisas
nha, o jantar já está a fazer-se. dos — é transportada em tapetes rolantes novas como processamento de texto.
Uma vez por semana, por volta das 3 da para 0 interior, através de quatro estreitas Cada um dos 10 decks, OU pavimentos,
tarde, o turno de dia do pessoal de manu- pranchas de embarque. de passageiros possui a sua própria cozi
tenção ensaia o alarme de incêndio, os ele Entretanto, a maioria dos vinhos, bebi- nha com despensa, o que permite aos cria
vadores e o sistema de comunicação sono das alcoólicas e refrescos, embalados em dos e criadas de bordo preparar e servir
ra. E, pelas 4 horas, as 72 empregadas de contentores metálicos, é içada cuidadosa desde chávenas de chá ou café pela manhã
serviço aos quartos e os 14 empregados de mente para bordo por gruas. K 30 000 I de até complicadas ceias à noite.
limpeza das zonas de circulação e salas já cerveja são bombeados directamente dos Uma vez no mar, os 14 padeiros come
completaram os respectivos serviços. camióes-cisternas estacionados no cais çam a sua longa jornada de trabalho nas
Entretanto, o pessoal da recepção exa- para enormes depósitos de aço inoxidá três cozinhas principais, às 5 horas da ma
mina os relatórios diários do departamen- vel que estão ligados por tubagens aos nhã, a fim de prepararem os mais de 3000
to de quartos — o segundo maior do hotel, sete bares francos do navio. pãezinhos e croissants servidos ao peque
depois do de alimentos e bebidas, com 217 Os alimentos e bebidas serão suficien- no-almoçp. Ao mesmo tempo, os pastelei-
empregados. Qualquer coisa que tenha tes para a travessia transatlântica de cinco ros de bordo produzem os 6000 bolos ne-
corrido mal nos quartos é, assim, rapida- dias. Pelas 7 da tarde, as provisões já foram cessários para o lanche e os 5000 petits
mente corrigida. A lavandaria, que lava dia- embarcadas, 0 pessoal de limpeza já aspi- •fours para o buffet.
riamente, entre outros artigos, 10 000 toa-
lhas e 500 camisas, prepara-se para fechar.

Das 6 às 8 da noite: os "cocktails"


Para a maioria do pessoal administrativo, o
dia de trabalho termina por volta das (i ho
ras, quando muitos hóspedes começam a
pensar nos cocktails e no jantar. Nos bares,
os 17 guardas de segurança do llilton au
mentam discretamente a sua vigilância.

Das 8 à meia-noite: o serviço


de jantares
A maioria dos 1500 hóspedes e visitantes
que comem no hotel está a jantar. No Res
tauranle Ninho de Águia, no 25." andar, a
orquestra inicia o seu trabalho e na cozi
nha pensa se já nas encomendas de ali-
mentos do dia que se aproxima.
Na recepção, os empregados preparam
as fichas de registo para o dia seguinte. Pe-
las 11 horas, a lista de chegadas para ama
nhã estará já pronta.

Meia-noite: começa a noite


de trabalho
Chegou ao fim mais um dia. A medida que
os hóspedes se vão recolhendo, o hotel
ajusta se gradualmente ao seu ritmo noc-
turno. 0 pessoal do serviço de quartos retira
das portas as encomendas para os peque
nos almoços. Alguns dos 90 contabilistas
do hotel apuram a receita do dia anterior,
cerca de 23 000 contos, t está já em anda
mento mais uma noite de preparativos.

1.2
As 7 da manhã, chegam os primeiros abrangendo a altura de dois decks. Cada
cozinheiros para preparar os ingredientes um dos nove motores tem o tamanho de
para as sopas e os estufados do dia. Os 75 um autocarro de dois andares. Geram
me.stres-cozinheiros - lodos homens, in- 130 000 cavalos e conseguem fazer parar
cluindo um de cozinha kosher, começam completamente o navio, a partir de uma
a preparar os 2800 almoços e jantares, en- velocidade de 32,5 nós (60 km/h), em 3
quanto a maioria dos passageiros termina minutos e 39 segundos, numa distância de
os seus pequenos-almoços. cerca de 1,25 milhas (2 km).
Os cerca de 60 ajudantes de cozinha A casa das máquinas contem ainda uma
chegam a trabalhar 12 horas por dia nas aparelhagem de dessalinização e purifica-
cozinhas abafadas e sem janelas. Sentem ção da água, que recolhe água do mar e a
-se frequentemente fatigados e com sau- Mexendo o caldeirão. .4 preparação da transforma em água potável. São tratadas
dades de casa - e, às vezes, alguns deles sopa começa às 7 da manhã. diariamente cerca de 480 t — o bastante
abandonam o trabalho assim que atra- para se encherem sete piscinas idênticas às
cam. Para a maioria, contudo, trata se de do navio. Alem disso, quatro vaporizado
uma forma cie ver o Mundo. res a vácuo produzem 250 I de água por
Nas despensas, conservam-se centenas dia. A verificação dos diversos depósitos de
de produtos alimentares, e os enormes ar água, na parte mais inferior do navio, é da
mários frigoríficos das carnes estendem- responsabilidade dos carpinteiros de bor-
-so a quase toda a largura do navio 32 m. do. Alguns destes depósitos destinam se a
No seu interior, a temperatura de -10°C servir de lastro para regular o caimento do
mataria quem quer que ai' ficasse fechado navio, outros contêm a água para bet>er e a
mais de 12 horas. Para evitar tais acidentes, utilizada na lavagem da roupa.
existe uma campainha de alarme dentro Se, por qualquer motivo, se utilizou
do cada armário-frigorífico, para o caso de Pratos frio». Um cozinheiro, ladeado por mais água de um dos lados do navio que
as portas serem fechadas por engano. uma águia de gelo. serve os convivas. do outro, este começa a inclinar-se. Para
Os motores gigantescos do QE2 estão corrigir esta situação, a água é rapidamen-
instalados na casa das máquinas — diver- te redistribuída pelos outros depósitos.
sas e extensas áreas de enorme pé direito, Numa pequena divisão, a equipa de ti
pógrafos desempenha o seu papel na vida
Cruzeiro nos fiordes. Além de navegar diária do navio. Ao fim de cada noite, é
no Atlântico, o QE2, de vez em quando, faz entregue em todos os camarotes um pro
cruzeiros nos fiordes noruegueses. grama impresso dos acontecimentos do
dia seguinte. De manha cedo, são entre-
gues as folhas noticiosas, com notícias de
todo o Mundo recebidas a bordo, todos os
dias, via satélite.

Chamada ao palco. NOS seus camarins, Centro nervoso


as bailarinos preparam-se para a exibição O centro nervoso do transatlântico é a pon-
te de comando. Por razões de segurança.
existe apenas uma escada que leva à pon
te — e uma única porta de entrada que
apetias pode ser aberta por dentro. A pon-
te exibe o mais recente equipamento de
navegação, incluindo o piloto automático.
Mas a roda do leme continua a ser habitual-
mente usada quando o tráfego é intenso
ou quando o navio entra ou sai do porto.
Existe, além disso, um sistema de preven-
ção de colisões, que mostra em cada mo-
mento o rumo, a velocidade e a direcção
Trabalhos de reparação. Na oficina, um de até 20 navios. Existe também um siste-
carpinteiro começa a consertar uma cama. ma de navegação por satélite, o primeiro
que se instalou num navio de passageiros,
em contacto com vários satélites cm órbita
à volta da Terra. Kste instrumento assinala
a posição do QE2 a intervalos de 35 até
100 minutos. O rigor i\n leitura é inferior a
100 m.
Como sede dos comandos do barco, a
ponte está em comunicação íntima com a
casa das máquinas — por telefone direc-
to — e com outras zonas vitais. Para redu-
zir ao mínimo os erros e as más interpreta
ções, as instruções importantes são trans-
Planeamento antecipado. Na ponte, um mitidas à casa das máquinas por meio de
navegador marca a próxima rota um painel de teclas etiquetadas: quando

63
uma das teclas é pressionada na ponte, a
tecla equivalente da secção de controle
principal da casa das maquinas acende-
-se - e o maquinista sabe exactamente o
Como se organiza o maior festival
que é que se lhe pede. Os motores podem
também ser comandados directamente a
desportivo do Mundo
parlir da ponte.
Entre a tripulação, contam-se seis baila- Na manhã de 6 de Setembro de 1972, Avery rou totalmente o conceito de segurança,
rinas. E todos, do capitão para baixo, são Brundage, presidente do Comité Olímpico que, por essa razão, foi uma das grandes
submetidos a exames médicos periódi- Internacional, dirigiu-se a 75 000 pessoas prioridades nos Jogos de Montreal ..."
cos Quem tiver excesso de peso é enviado reunidas no Estádio Olímpico de Muni- O número de tropas armadas e polícias
para terra até emagrecer. que. No dia anterior, de manhã cedo, oito superou os 6189 atletas c estabeleceu o cri-
O hospital de bordo fica situado a meia terroristas palestinianos tinham penetrado tério para os Jogos futuros como os de
nau, próximo da linha de água. onde o ba- na Aldeia Olímpica, tomando como reféns .Seul, Coreia do Sul, em 1988, em que, nas
lanço do barco, com os seus 292 m de nove atletas israelitas e matando outros semanas que antecederam os Jogos, as
comprimento, mal se sente. O pessoal do dois. Atiradores especiais alemães acorre- forças de segurança e antiterroristas, com
hospital é constituído por dois médicos, ram a salvar os reféns, mas os nove foram 100 000 homens, tiveram de dominar ban-
três enfermeiras e três paramédicos, que mortos no tiroteio que se seguiu e em que dos de estudantes desordeiros.
podem tratar de tudo, desde um dente até cinco dos terroristas também morreram. Em número de competidores, os Jogos
uma operação ao apêndice, na sala de Nas 34 horas seguintes, os Jogos foram de Seul foram os maiores até à data — com
operações, perfeitamente equipada. suspensos e o seu destino manteve-se in mais de 9400 homens e mulheres, em re
Quando a noite começa a cair sobre certo. Mas depois, numa cerimónia de ho- presentação de 160 países, competindo
Southampton, já todos os passageiros em- menagem celebrada ao ar livre c presen- em 237 provas que abrangeram 23 modali
barcaram e tudo se encontra a postos para ciada na televisão por 1000 milhões de dades. Como Iodas as Olimpíadas moder-
uma nova travessia. E assim, às 8 da noite, o espectadores, Avery Brundage, então com nas, o acontecimento foi da responsabili
Queen Elizubetfi 2 sai majestosamente do 84 anos, afirmou: "Os Jogos têm de conti- dade do Comité Olímpico Internacional
porto e dirige-se para o Atlântico. nuar — e nós temos de prosseguir no nos- (COI), com sede em Lausana, Suíça. O COI
so esforço de os tornar claros e honestos e escolhe o lugar dos Jogos e decide quais os
Comendo e bebendo tentar alargar a outras áreas o espírito des- desportos a incluir.
Grande actividade espera a tripulação. Os portivo dos campos de atletismo."
empregados-de-mesa preparam se para Não fora pela determinação de Avery A escolha da cidade
servir o jantar nos quatro restaurantes do Brundage, os Jogos Olímpicos de 1972 po- Unicamente cidades — e não países -
navio. deriam ter sido suspensos e o futuro das podem candidalar-se a organizar os Jogos,
A ementa apresenta salmão fumado, ca- Olimpíadas posto em questão. Cada edi o que se destina a eliminar, tanto quanto
viar, lagosta e ostras — além de outros pra- ção dos Jogos Olímpicos demora seis anos possível, a influência dos governos.
tos requintados. Quando chegarem a Nova a planear e organizar e já estavam em cur- Antes de escolhida a cidade, o comité
Iorque, os criados terão servido 5600 kg de so os preparativos para as Olimpíadas em olímpico do país assegura se de que ela é
vaca, 5000 kg de fnita fresca, 350 kg de la- Montreal, Canadá, em 1976. capaz de providenciar todo o pessoal e ins-
gosta, 20 kg úepàté de foie-gras — além de O presidente do Comité Olímpico Inter- talações para o desenrolar dos Jogos. E no-
cerca de 4800 potes de compotas e 100 nacional era o irlandês Lord Killanin, que meia-se uru comité organizador para pla-
garrafas de molhos e pickles. escreveria mais tarde: "O horror dos assas- near e supervisar toda a operação — fazen-
Além disso, eles e os barrnen terão aber- sínios na Aldeia Olímpica de Munique alte- do relatórios periódicos para o COI.
to 000 garrafas de vinho c 500 de champa-
nhe, 500 de whisky, 300 de gin e 120 de
brandy. Nos bares propriamente ditos, o
pessoal terá aberto 6000 garrafas de cerveja
e tirado 13 6501 de cerveja a copo.
Usaram-se 25 000 copos, 32 000 artigos
de loiça, 18 000 talheres e lavaram-se e pu
seram-se nas mesas quase 3000 toalhas.
Depois do jantar, os 60 animadores de
bordo — músicos, croupiers. bailarinas e
cantores - proporcionam aos passageiros
uma escolha variada de entretenimentos.
A vida nocturna prolonga-se até de ma-
drugada - pouco antes da primeira série
de pequenos-almoços, quando os criados
já voltaram ao serviço e oferecem aos passa
geiros o luxo do pequeno almoço na cama.
Seja a que hora for e em qualquer parte
do navio, há sempre trabalho para a tripu-
lação. Desde a ponte que funciona 24
horas por dia - até à câmara escura, onde
o fotógrafo revela as fotografias tiradas em
acontecimentos como o cocktail do co-
mandante, a azáfama regressa ao começar Paisagem olímpica. Uma zona de arrozais perto de Seul iransforruada num complexo
um novo dia a bordo do mais luxuoso tran desportivo de 55 ha para as Olimpíadas de 1988. Além do 'Estádio Olímpico (primeiro plano),
satlánlico do Mundo. havia um estúdio de basebol (atrás) e edifícios com ringues e campos (à direita).

64
Apresentação das bandeiras. Na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Seul. em )98B, milhares de voluntários sul coreanos
formaram as bandeiras dos 160 países representados. Enquanto se ouvia o hino de cada país, os participantes, cujos movimentos estavam
sincronizados com o ritmo da música, erguiam cartões de diferentes cores para, no seu conjunto, formarem a respectiva bandeira.

Organizar os Jogos Olímpicos implica Contudo, muitos dos 100 000 visitantes Mas o número de cozinheiros (300 nos
inevitavelmente a melhoria, a moderniza- dos Jogos de Roma - que chegavam ao Jogos de Tóquio, em 1964, por exemplo,
ção e, por vezes, a alteração do aspecto da Aeroporto de Fiumicino, recentemente recrutados nos melhores hotéis japone-
cidade candidata. construído, ã razão de 6000 por dia — não ses) é grandemente ultrapassado pelo nú-
Para os Jogos de Tóquio, em 1964, foi foram tão felizes. Tiveram de dormir em mero de guias-intérpretes necessários
propositadamente construído um troço conventos, mosteiros e dormitórios de co para os Jogos. Quase 1000 intérpretes, co-
de monocarril entre o Aeroporto Hareda e légios ou acampar nos parques e zonas nhecedores da terminologia desportiva,
o Estádio Nacional, que é o maior troço de verdes da cidade. Instalou-se mesmo um acompanharam os atletas de Tóquio. Nas
monocarril do Mundo. Auio-cstradas, tú- parque de campismo nos jardins da uilla Olimpíadas de Seul, havia 5000 intérpre-
neis e quilómetros de esgotos foram rapi- do imperador Adriano, tia colina do Tivoli. tes. Entre as suas tarefas, incluía-se servi
damente construídos — e 22 artérias prin- Mas as aldeias olímpicas são mais de rem de tradutores para os comités olímpi-
cipais em mau estado foram alargadas e que quartos de dormir e instalações de trei- cos nacionais, para as centenas de diplo
denominadas "estradas olímpicas". no, pois incluem também cabeleireiros, ci- matas e para os mais de 1000 jornalistas.
Houve uma situação parecida em Seul, nemas, discotecas, lojas, estações de cor- Palavam-se mais de 30 línguas, incluindo
onde em 19 meses milhares de hectares de reios, igrejas e sapateiros — que fazem as duas línguas oficiais do COI — francês e
campos de arroz foram transformados bom negócio consertando os sapatos de inglês.
numa minicidade de betão que incluía o corrida dos atletas. Além dos funcionários, quase 30 000
Parque e a Aldeia Olímpica. Construíram- sul-coreanos ofereceram-se para, sem
•se também um novo terminal aéreo, uma 5200 calorias por dia qualquer remuneração, servirem de guias,
estrada de acesso, a Avenida Olímpica, A alimentação dos atletas constitui outra arrumadores e vendedores de bilhetes.
bem como apartamentos e casas para al- grande responsabilidade dos comités or- Um milhar de habitantes que falavam in-
bergar 35 000 atletas, jornalistas - da im- ganizadores. Km Montreal, em 1976, por glês recebia os visitantes estrangeiros no
prensa, rádio e televisão — e funcionários. exemplo, um quadro de 1400 funcionários moderno Aeroporto de Seul - muitos dos
Além destes, 200 000 visitantes tiveram de serviu, durante o período olímpico de 16 quais foram hóspedes destes voluntários
ser alojados em hotéis ou apartamentos. dias, um total de 1135 t de carne, peixe e durante os Jogos.
Os empreiteiros privados aproveitaram a legumes, o que representou uma média O clima desempenha frequentemente
oportunidade para construir 178 blocos de diária de 3,5 kg e 5200 calorias por atida — um papel importante. Em Los Angeles, em
apartamentos de luxo próximo dos dois servidas numa cafeteria aberta 24 horas por 1984. por exemplo, uma ou outra prova
centros olímpicos principais. Os preços de dia e maior que dois campos de futebol. esteve ocasionalmente prestes a não po-
venda dos apartamentos atingiram o equi- K nas Olimpíadas de Los Angeles, em der ser realizada devido ao nevoeiro cerra-
valente a perto de 25 000 contos cada um, 1984, urna equipa de 135 cozinheiros pre- do (smog); e em Helsínquia, na Finlândia,
e os novos proprietários alugaram-nos parou diariamente cerca de 60 000 refei- em 1952 - quando a União Soviética pela
para os Jogos e só depois os foram habitar. ções. Os alimentos frescos eram entregues primeira vez tomou parte nos Jogos —,
O espaço vital era precioso nas Olimpía diariamente por mais de 100 fornecedores teve de contar-se com a ameaça do frio e da
das de Roma, em 1960, quando a Aldeia e incluíam 20 400 kg de carne todos os dias. neve. Por isso, em todos os Jogos Olímpi-
Olímpica foi construída numa área de 30 ha Para os atletas judeus, prepara se comida cos Lima equipa internacional de meteoro-
perto de um meandro do Tibre. Incluía um kosher, e são muçulmanos que se encarre- logistas emite diariamente boletins - que
complexo de apartamentos com 4500 quar gam das cozinhas que fornecem alimen- chegam a 20 por dia. Assim, certas provas
tos destinados a alojar 8000 atletas. tos aos atletas de religião muçulmana. têm de mudar à pressa de horário, em ge-

ti5
ral para evitar que sejam afectadas por tem-
porais, aguaceiros ou granizo.
Igualmente importantes são os "bole-
tins desportivos", ou serviços computori-
Os ingredientes de um filme
zados de resultados, que dão a conhecer as
classificações e os tempos. No Estádio de
de Hollywood: dinheiro, poder,
Tóquio o quadro electrónico de resultados
podia mostrar até 500 caracteres lumino-
conhecimentos e magia
sos simultaneamente. E o instrumento
medidor dos tempos para as corridas esta- As grandes metragens de Hollywood nas- acordos de Hollywood. Com os seus "ele-
va ajustado ao milésimo de segundo. cem no caos da criatividade individual e mentos" - a ideia (ou, por vezes, o argu-
Contudo, por muito bem que os Jogos vivem ou morrem ao capricho do público. mento), um ou dois actores e o realiza-
estejam organizados, há sempre qualquer Só durante a produção, quando o filme dor —, o produtor vende o conjunto a um
coisa que corre mal. está nas mãos dos técnicos, é que existem grande estúdio para obter os fundos (à vol-
Montreal foi um exemplo notório. O Es- regras definidas. ta de 100 000 dólares) para o arranque da
tádio Olímpico principal - em 1976, O processo, no seu todo, decompõe se produção. Conseguida a viabilidade do
a maior estrutura pré fabricada do Mun- nas seguintes fases principais: concepção, acordo, o produtor pode pelo menos co-
do — revelou-se um problema importan- pré-produção, produção e pós-produção. brir as suas despesas - das quais a criação
te. Querelas políticas e a complexidade do ou a compra do argumento é uma das
desenho atrasaram o início da montagem O conceito mais importantes.
dos 11 770 elementos de betão armado do A ideia fundamental, ou conceito, de um Nesta fase, os projectos podem ser apro-
estádio. Depois, três meses de greves sindi- filme provém muitas vezes de um livro, vados, arquivados ou rejeitados pelo estú-
cais, de greves de zelo e de absentismo mas pode ser apenas uma ideia expressa dio, caso em que voltam a ser oferecidos ao
quase fizeram parar os trabalhos. por um título ou pouco mais. mercado. Se o estúdio aprovar o argumen-
Tempestades de neve e temperaturas Diz o autor-realizador Steven Spielberg; to, entra-se na produção. Só então o pro-
baixíssimas - a conjugação vcnto-tempe- "Se urna pessoa consegue iransmitir-nie dutor que recebe grande parte dos ho-
ratura atingiu os 53°C negativos - contri uma ideia em vinte e cinco palavras ou me- norários quando se inicia a rodagem -
buíram também para que o trabalho fosse nos, ela irá dar urn bom filme." começa a fazer dinheiro.
frequentemente interrompido. Alguns dos Geralmente, o conceito é apresentado O argumento-basc mantém o esqueleto
355(1 trabalhadores tiveram de lutar contra por escrito e descreve, em poucas páginas, do filme. Como peça literária, é pouco deu
rajadas de 100 km/h, e pelo menos 12 ho- o enredo, as personagens e o interesse da so — cerca de 135 páginas é mais ou me
mens perderam a vida em acidentes. Por história. nos o habitual -, contendo pouco mais
tudo isso, ainda se colocava relva no está- Certas ideias avançam com espantosa que 0 diálogo e instruções simples para
dio na manhã da cerimónia inaugural. facilidade. Quando, em 1976, Dirio de Lau- sugerir o carácter do filme e o ambiente.
Uma vez terminados os Jogos, começa a rentiis decidiu fazer nova versão do King As imagens apresentadas pelo argu-
tarefa de desmontar as aldeias ou de con- Kong de 1933, deu luz verde ao argumen- mento apenas tomam vida quando lha dá
vertê-las para outros fins proveitosos. Em tista Lorenzo Semple Jr. em 10 minutos. o realizador — a pessoa que escolhe os
Munique, por exemplo, a Aldeia Olímpica Em contrapartida, o escritor W, Goldman ângulos da fotografia, que dirige os actores
estava dividida em dois sectores, urn para recolheu dados para Butch Cassidy and e que dá ao filme a sua forma artística. O
homens, outro para mulheres. O sector dos the Sundance Kid (Dois Homens e Urn argumento, em geral, é grandemente mo-
homens foi vendido ou arrendado para ha- Destino) (1969) durante oito anos antes de dificado uma vez conhecidos o elenco, o
bitação, e o das mulheres é utilizado como começar a escrever o argumento. realizador, o orçamento e os exteriores K,
bloco residencial para estudantes. com frequência, vai-se alterando com as
A montagem dos Jogos é uma tarefa al- Pré-produçáo filmagens até à sua forma definitiva.
tamente dispendiosa — custou 8000 mi- O período de pré-produçáo pode durar Anteriormente, os artistas estavam total
lhões de dólares a dos Jogos Olímpicos de anos, durante os quais se discutem os con- mente dependentes dos estúdios, que uti-
Moscovo, em 1980, e "apenas" 850 mi- tratos e se contactam os artistas e os reali- lizavam contratos de exclusividade para os
lhões a dos de Seul, oito anos depois. Mui- zadores. Seguem-se meses de correcções obrigar àquilo que pretendiam, inclusiva
to do dinheiro provém dos governos inte- do argumento, de procura de exteriores, mente aditamentos ou prorrogações do
ressados e de patrocinadores privados, de de elaboração de orçamentos, de desenho contrato. Hoje em dia, as grandes estrelas
donativos de empresas locais e das contri- dos cenários, de ensaios e de marcações detêm um enorme poder e há sempre uns
buições dos habitantes das cidades. das datas dos transportes e das filmagens. 15 actores importantes que Ioda a gente
A primeira coisa essencial é "o acordo". pretende. Como acarretam enormes ren-
Direitos de televisão Há dezenas de anos, os grandes estúdios dimentos para os filmes, são pagos em
Mas as compensações são igualmente im- cinematográficos, como a Paramount, a conformidade. Robert Redford, que rece-
pressionantes. Os jogos de Seul tiveram MGM e a Twentieth Century-Fox, controla- beu 500 dólares pelo seu primeiro filme,
um lucro recorde de quase 500 milhões de vam as ideias, a produção, os artistas e os Wur Hunt, em 1961, ganhou 100 000 dóla-
dólares — mais do dobro do apurado em orçamentos. Agora, concentram-se no fi- res por dia em A Bridge 7òo Far (lima Pon-
Los Angeles em 1984. A grande parte dos nanciamento e na distribuição, e todos os te Longe Demais) (1977).
ganhos de Seul proveio da venda de direi outros elementos tem de ser coordenados As negociações podem durar meses, com
tos de televisão - só os EUA pagaram 325 pelo acordo. propostas e contrapropostas na casa dos mi-
milhões de dólares. Como investimento, um filme é um lhões. Muitas estrelas dependem da sua pró-
Os Jogos Olímpicos da era moderna ti- jogo. Os que dominam o acesso aos finan- pria imagem e recusam-se a ser contratadas
veram início em Atenas em 1896, quando o ciamentos de filmes — como os agentes e quando consideram que o papel não lhes é
seu fundador, o francês barão Pierre de os managers — adquiriram enorme in- adequado. Robert Redford, Steve McQueen,
Coubertin, criou a máxima "Não para ga- fluência. Os agentes transformam-se fre- Paul Newman, James Caan c Warren Beatty
nhar, mas para participar", que é citada na quentemente em produtores independen- todos recusaram 4 milhões de dólares para
cerimónia de abertura de todos os Jogos. tes, que são as forças por detrás de alguns representar o Superman (1978).

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Os exteriores de "Lord Jlm". A longa metragem Lord Jim, de 1964, foi filmado em cenários exteriores no Extremo Oriente. Vê-se aqui a
estrela do filme. PeterOToole - de boné preto -, por baixo da "girafa" (para captação do som), enquanto a acção se desenrola e a câmara
filma. Atrás, está um grupo de operadores de câmara e técnicos de som. e no topo do escadote, um elemento da equipa de iluminação.

Os realizadores são também parte do gem os milhões. Um dos mais caros filmes conseguira, em colaboração com o presi-
chamado star syslem. Quando George Lu- de todos os tempos foi Cleópatra (1963), dente do pais, James Mancham, que as fil-
cas fez American Gralfiti (Nova Geração) que custou 44 milhões de dólares em 1962 magens fossem nas Seychelles. Mas Man-
em 1973, o seu estúdio, a Universal, descre- e perdeu dinheiro nas bilheteiras. cham foi deposto por um golpe de Estado
veu o filme como "uma desgraça" e quase Depois de os elementos estarem defini- antes de iniciados os trabalhos. De Waay
decidiu não o lançar. Mas Gralfiti foi um dos c o acordo assente cm princípio, redi- decidiu-se finalmente por Belize, na Amé-
êxito e ele aproveitou a sua nova posição gem-se os contratos, operação já de si épi- rica Central. As filmagens realizaram-se, e
para fazer um filme com a Twenlielh Cen- ca. As negociações são tão complicadas o filme foi lançado em 1980.
tury-Fox, A Guerra das Estrelas (1977). que dariam para um livro ou um filme.
Os orçamentos das grandes metragens Mesmo filmes relativamente simples e Produção
são uma constante fonte de fascínio, tanto já definidos podem levar anos a serem Um filme de longa metragem exige um
para os produtores corno para o público. concretizados. The Dogs of V/ar (Cães de pequeno exército de departamentos espe-
Náo há dois iguais. Os custos behtv lhe Guerra), tirado do best seller de Frederick cializados: som, câmaras, iluminação,
Une - os directamente relacionados com Korsyth de 1974, esteve seis anos em pré arte, caracterização, cabeleireiros e guar-
o ofício de fazer filmes, lais como os cená- -produção. Teve dois argumentistas e dois da-roupa, publicidade e argumento.
rios e os técnicos — são calculados a partir produtores antes de John Irvin ser contra- Conforme os filmes, estas especializa-
do argumento. Os custos abone the Une tado como realizador. Um terceiro argu- ções têm a sua importância própria. O de-
- produlor, realizador, arlislas e escritor — mento serviu de base à procura dos locais partamento de design de 2001: Odisseia
são abertos a negociação. Mas ambos atin- para exteriores. O produtor, Larry de Waay, no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, ti-

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nha três delineadores de produção e um urna ocupação perigosa e muito bem metragens lograram dinheiro - o que mos-
cenógrafo-decorador para os cenários. En- paga. Em liighpoint (1984), Dar Robinson tra a inconstância do gosto do público. Os
contros Imediatos do Terceiro Grau (1977) recebeu 100 000 dólares para saltar da Tor- Salteadores da Arca Perdida (1982), um
precisou de 60 projeclores de arco voltaico re CN em Toronto, de 553 m, amortecendo dos filmes com mais êxito de sempre, foi
suspensos 24 m acima do solo. A Esfinge a queda com um "cabo de desaceleração". rejeitado por todos os grandes estúdios,
(1981), de Franklin Schaffner, necessitou Em Steel (Homens de Aço) (1979), A. .1. com excepção da Paramount. A Columbia
de dezenas de morcegos vivos. Bakunas saltou de um edifício de 107 m analisou o ET (O Extraterrestre) (1982),
A realização já foi comparada à guer- para cima de uma enorme almofada de ar; concluiu que não teria público e rejeitou o.
ra - horas de tédio interrompidas de vez a força da queda rebentou a almofada e Porquê? Como escreve William Gold
em quando por momentos de puro terror. Bakunas morreu. man no seu livro Aventuras no Mundo do
A rodagem de uma cena de batalha num Uma questão particularmente contro- Cinema, "o facto mais importante de toda
filme de guerra pode custar milhões. Pro- versa é a filmagem de cenas que provo- a indústria cinematográfica" é:
vavelmente, o orçamento não permitirá a quem danos em animais. Na primeira ver-
repetição da cena, e o realizador pode estar são de Ben Hur (1925) morreram 100 cava- NINGUÉM SABE NADA
obrigado por contraio a pagar as despesas los. Em consequência deste e de excessos ou seja nada daquilo que o público vai
que excedam o referido orçamento. semelhantes, começou a haver um con- querer no ano seguinte. Os cineastas não
Lima grande fonte de stress para o reali- trole mais rigoroso. sabem realmente como se faz um filme de
zador é o facto de muitas das pessoas sob sucesso: sabem apenas que certos filmes
as suas ordens tanto poderem fazer como Pós-produçáo tiveram êxito, e esperam que o futuro seja
destruir o filme, facto esse que é especial- A montagem fase cm que se corta a como o passado.
mente verdadeiro em relação ao operador película para articular os planos e as se-
de imagem. Por exemplo, Apocalypse quências - pode criar ou destruir o filme.
Now (1979), de Francis Ford Coppola, de- As cenas terão sido filmadas de muitas for-
pendia cnicialmente da capacidade de Vit-
torio Storaro em controlar simultânea
mas diferentes para permitir uma escolha o
mais ampla possível. Stanley Kubrick im-
Os riscos e as
mente até 10 câmaras,
O departamento de arte pode ter de re-
pressionou mais de 300 km de película
para The Shining (1980), de que apenas foi
compensações
solver exigências como a de Franklin
Schaffner para A Esfinge: apresentar um
utilizado cerca de 1%. O índice normal dê
aproveitamento situa-se entre os 10 e os 5%.
de pôr em cena
sarcófago egípcio com 800 a 900 peças de
joalharia. O Tubarão, de 1975, exigiu um
Falta ainda acrescentar um elemento uma comédia
fundamental: a música, que só pode ser
tubarão automático com 7,6 m.
Os responsáveis pela escolha de exterio-
escrita quando estiver praticamente com musical
pleta a montagem do filme. Devido aos li-
res têm um papel igualmente vital. Para mites de tempo, o compositor trabalha ha
Apocalypse Now, o Vietname foi recriado bitualmente com assistentes, que lhe preen- A sala obscurece-se, o burburinho cessa e
nas Filipinas; mas as dificuldades inerentes chem os esquemas musicais, escrevendo os espectadores recostam-se nas suas ca-
aumentaram para 31 milhões de dólares o as orquestrações exigidas. deiras. Depois, o pano sobe para uma noi-
orçamento inicial de 13 milhões. A seguir à montagem, entra em acção te de música, luz, danças e canções. Mas o
Após a rodagem, as quantidades imen- outra grande máquina - a promoção —, que é preciso para que uma peça musical
sas de película têm de ser cuidadosamente que engloba a publicidade, as cópias e a chegue a ser apresentada?
reveladas. A perda de uma só das centenas distribuição. Com Alien (O 8." Passageiro) Nenhuma outra forma de espectáculo
de bobinas pode ser fatal para o filme. Por (1979), por exemplo, a Fox despendeu exige uma tão complexa mistura de capa
exemplo, em Agosto de 1978, homens mais de 18 milhões de dólares nos chama cidades de criação e execução Iodas as noi
mascarados roubaram de um estúdio de dos ouerheads - 15 milhões em publici- tes, às vezes durante anos a fio.
Boston 15 bobinas, ainda não montadas, dade e 3 milhões em exemplares do filme- As capacidades e a competência neces-
de The Brinks Job (A Grande Jogada) anúncio para apresentação em mais de sárias para lançar uma peça de teatro do
(1978) e pediram um resgate de 600 000 2000 cinemas. princípio ao fim desde o financiamento
dólares (o resgate não foi pago: o filme foi Só então o filme propriamente dito fica da produção ao ensaio dos artistas - são
montado sem aquelas bobinas e os prejuí- pronto para exibir ao público. Só então o inerentes também à peça musical, mas esta
zos ascenderam a 9 milhões de dólares). exército de pessoas envolvidas na sua fei- tem muito mais dificuldades que lhe são
tura sabem se produziram algo de desas- específicas. Há a música que precisa de ser
Os efeitos especiais e os duplos troso ou pura magia. composta, orquestrada e integrada no en-
Os efeitos especiais constituem um campo Uma das razões pelas quais as negocia- redo. I lá a dança, que tem de ser coreogra-
de trabalho particularmente exigente. Em ções são tão difíceis — e o dinheiro neces- fada. Há o guarda roupa e os cenários, fre-
1966, em One Million Years BC (Quando o sário à preparação do filme pode atingir quentemente mais ricos que numa peça
Mundo Nasceu), o técnico inglês de efeitos montantes tão elevados é os estúdios convencional. É preciso encontrar actores
especiais Les Bowie criou o Mundo em serem notoriamente lentos a pagar aos ar- que saibam dançar e cantar. O próprio tea-
seis dias por 1200 libras, fazendo lava com tistas, aos escritores, aos produtores e aos tro tem de ser espaçoso e de natureza a
papa de aveia. Mas os efeitos especiais de realizadores qualquer parte dos seus lu- acomodar o espectáculo — com boa acús-
hoje em dia requerem alta tecnologia (v. cros. Rccusam-se a declarar lucros, dizen tica e lugar para a orquestra.
p. 406). Em 1988, uma sequência que mos- do que os rendimentos foram para fazer Tudo isto faz das grandes peças musi-
trava asteróides em The Empire Strikes face aos ouerheads. cais a forma mais dispendiosa de produ-
Back (O Império Contra-Alaca) necessi- Um motivo de peso para a mentalidade ção teatral. O Fantasma da Ópera, de An-
tou de 40 captações, algumas delas com 28 dos "sem-lucros" é que os filmes não só drew JJoyd Webber, custou perto de 2 mi-
efeitos ópticos, num total de 100 fragmen- custam muitíssimo e rendem muitíssi lhões de libras a montar em Londres, e o
tos de filme. mo como dão muitíssimo prejuízo, e Ziegfeld, 3,2 milhões. Na Broadway, em
Os duplos são importantes para os pro isto mais vezes do que suscitam ganhos. Na Nova Iorque, o preço inicial de uma peça
dulores de filmes (v. p. 414). Ser duplo é década de 80, só três em cada sete longas musical é de cerca de 7 milhões de dólares.

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Para não perder dinheiro, uma grande Eliot. Olioer, Les Misérables e Man from La trabalhara já para a English National Opera
peça musical deverá ter casas cheias du- Mancha foram adaptados de romances de e a Royal Shakespeare Company.
rante um ano, contra cerca de três meses Dickens, Victor Hugo e Cervantes. Para escrever as leiras das canções, no-
no caso de uma peça de teatro declamado. Com um argumento já existente, os au- mearam um jovem desconhecido, Charles
Mas as compensações pelo êxito podem tores e os compositores têm em mãos um Harl, depois de ouvirem trabalhos seus
ser fenomenais. Cats, de Lloyd Webber, conceito que o produtor pode apreender num concurso. E o diálogo, ou libreto, era
deu 250 milhões de libras em três anos na facilmente, e sabem à partida que o enredo de Lloyd Webber e Richard Slilgoe - que
década de 80. As exibições foram simultâ- já provou ter interesse para o público. também escreveu letras para as canções.
neas em Inglaterra, na América e em mais A génese de O Fantasma da Ópera é um
oito países. O álbum musical vendeu-se exemplo de como as diversas linhas de A atribuição dos papéis
aos milhões, e outras recordações, como evolução de uma peça musical acabam Nas produções importantes, os papéis
T-shirts, contribuíram para os lucros. por juntar-se. O romance original foi escri- principais são atribuídos com um ano ou
0 fracasso pode ser igualmente especta- to pelo jornalista francês Gaston Lcroux mais de antecedência. Os actores princi-
cular, particularmente na Broadway. Car em 1911. Foi adaptado a filme três vezes. pais permanecem geralmente num papel
rie, da Royal Shakespeare Company, fe- Esteve no Thealre Royal de Stratford, Lon- entre seis meses e um ano. Mas igualmente
chou ao fim de uma semana com um pre- dres, como peça do teatro, em 1984, com importante é a existência de um compro-
juízo de 7 milhões de dólares. Até Alan J. música de Verdi e Offenbach. misso por parte de um grande intérprete,
Lerner, cuja My Fair Lady figura entre os Andrew Lloyd Webber lembrou-se de pois torna-se assim mais fácil obter os fun-
espectáculos musicais de maior êxito de fazer uma versão para o West End. Pensou dos indispensáveis para iniciar a produ
sempre, viu o seu Dance a Little Closer sair também aproveitar música já composta, ção. Por esta razão, o produtor lem voz
da cena antes da terceira noite. mas depois decidiu escrevê-la. decisiva sobre quem desempenha os pa-
O projecto encontrava-se ainda em fase péis principais, embora aceite a opinião do
O homem do meio de concepção quando Lloyd Webber con- director.
0 risco e a responsabilidade de montar tactou Cameron Mackintosh e, assim, os Christine, o principal papel feminino de
uma peça musical assentam no produtor. produtores estiveram envolvidos no es- O Fantasma da Ópera, foi escrito por
É ele quem selecciona o espectáculo, ar- pectáculo desde o início. Lloyd Webber para a soprano Sarah
ranja os fundos e superintende a produ- Brightman, que era então sua mulher e
ção. Há dois tipos de produtor - o empre A equipa criativa que não era ainda uma estrela de primeira
sário e o director. Em qualquer produção teatral, o director é grandeza. No entanto, depois de ouvidas
O empresário opera com a sua organi- uma figura-chave: é ele o responsável pela outras artistas, o papel foi lho entregue.
zação de produção própria. Tem ampla li- distribuição dos papéis, pelos aspectos O actor principal, Michael Crawford, era
berdade de levar à cena aquilo que desejar, técnicos e artísticos da produção e pelo um nome muito conhecido em Inglaterra,
onde e quando quiser. As verdadeiras res- ensaio dos artistas e dos técnicos encarre-
trições são de ordem financeira. O empre- gados do som, das luzes e dos cenários. Maqueta. As maquetas de Maria Bjõrnson
sário tem de ser capaz de obter os fundos Lloyd Webber escolheu liai Prince, en para O Fantasma incluíam um dos seus efei-
necessários, e o seu projecto lerá de de- tre cujos êxitos musicais se contam Um tos mais dramáticos - o assassínio de um
monstrar boa promessa de rendimentos Violino no Telhado e Evita, e nomeou ce trabalhador dos bastidores, cujo corpo apa-
para que os financeiros o apoiem. nógrafo-figurinista Maria Bjõrnson, que rece subitamente pendurado sobre o palco.
O director é em geral um empregado no-
meado pela administração de determinado
teatro para as suas próprias produções. O
teatro pode ser privado ou do Estado.
Devido às grandes somas de dinheiro
que implicam, as peças musicais de gran-
de espectáculo são geralmente domínio
dos empresários. Já têm também surgido
formas de co-produção — tanto Cais
como O Fantasma da Ópera foram apre-
sentadas conjuntamente pelo empresário
londrino Cameron Mackintosh e pelo gru-
po de Andrew Lloyd Webber, The Really
Useful Thealre Company.

A escolha do espectáculo
Uma peça musical envolve três linhas de
desenvolvimento separadas - a letra, o
diálogo e a música. Raramente estão todas
prontas quando o produtor começa a to-
mar decisões, porque em geral são criadas
por, pelo menos, três pessoas diferentes.
Para simplificar o problema, muitos es-
pectáculos musicais vão buscar o enredo a
obras existentes sob outra forma. Kiss Me
Kate e West Side Story inspiraram-se em
obras de Shakespeare, My Fair Lady derivou
da peça teatral Pigmalião, de Beniard Shaw,
por sua vez tirada de uma antiga lenda grega.
Cats teve origem em poemas ligeiros de T. S.

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Ao encontro do Feiticeiro. 0
Espantalho, o Leão, o Homem
de Lala e Dorothy ensaiam uma
cena de 0 Feiticeiro cie Oz. No
ensaio geral (em baixo), mar
cham pelo caminho de ladrilhos
amarelos ao encontro do Feiti-
ceiro.

com enorme êxito na comédia musical cobertura são empresas ou particulares, ber e o autor de letras Tim Rice — que traba-
Barnum. que permaneceu muito tempo que investem num espectáculo como po lharam juntos cm Jesus Cristo, Supersíar c
em cena no West End. cliam investir em títulos na Bolsa. Muitos Eoita - foram pioneiros das técnicas de edi-
produtores têm listas de empresas e indiví- tarem discos singles, álbuns e vídeos antes da
A angariação de fundos duos — conhecidos por "anjos" — que estreia da peça - o que lhes pennitiu desper-
Enquanto o director reúne Iodas as com- são potenciais investidores. Os "anjos" não tarem a atenção do público, analisarem a sua
ponentes de uma produção, o produtor começam a ser reembolsados antes de es- reacção e angariarem fundos.
dá os toques finais nas questões financei- tarem pagas as despesas iniciais. Uma das prioridades do produtor será
ras. 0 seu orçamento discrimina todos os Os produtores têm outras formas de obter reservar um teatro e marcar a noite da es-
custos principais. fundos — por exemplo, interessando uma treia. Conforme a natureza do espectáculo,
Algumas despesas são fixadas desde o editora discográfica nos direitos dos álbuns a estreia oficial pode ser daí a um ano ou
princípio — por exemplo, os cenários e o da peça e autorizando o comércio de artigos mais. Alguns produtores fazem uma expe-
guarda-roupa, que serão necessários por com ela relacionados. Andrew Lloyd Web- riência na província antes de trazerem a
todo o tempo que durar a exibição. Outras, peça para um centro importan-
como o ancndamenlo do leatro e os salá- te — para verificarem e corrigi-
rios aos elementos de segunda linha da rem eventuais falhas antes da es-
empresa, são apenas parcialmente fixa- treia de gala. Outros fazem ante-
das - deixarão de constituir custos quan- -estreias perante convidados.
do o espectáculo encerrar. Em qualquer dos casos, todas
Algumas despesas estão ligadas aos ren- estas datas têm de estar previstas
dimentos da produção como percenta- no calendário da produção.
gens fixas. O actor ou actriz principal po- As pessoas ligadas à produção
dem receber um honorário básico durante dividem-se em dois grupos. O
os ensaios, mais talvez uns 20% do rendi- produtor e os seus associados
mento da bilheteira até o espectáculo pa- concentrai n-se nas questões eco-
gar o investimento e 12,5% depois disso. nómicas, incluindo a publicidade
Outros elementos-chave, como o cenó- e os anúncios. Muito do seu esfor-
grafo e o director musical, trabalham com ço dirige-se às vendas adiantadas
percentagens menores — cerca de 2%. O de bilhetes. O Fantasma da ope-
mesmo acontece com os libretistas e o ro, por exemplo, abriu em Nova
compositor. Iorque com uma bilheteira pre-
Quanto menos fundos o produtor ne- viamente garantida de 19 milhões
cessitar de obter de fontes exteriores, tanto de dólares — o que lhe assegura-
mais lucros pode arrecadar. Mas poucos va um êxito financeiro.
empresários desejam tomar os riscos ex- Todos os outros aspectos da
clusivamente sobre os próprios ombros, produção ficam sob o controle
fazendo-o em percentagens que vão dos Coordenadora da produção. Durante a representa- do director. Primeiro, terá de as-
10 aos 70%, seja em dinheiro, seja em ção de O Fantasma da Opera, a directora de cena-adjun segurar-se de que o texto do ar-
garantias pessoais aos financiadores. ta, Anni Partridge, coordena no seu painel electrónico as gumento se encontra próximo
As fontes habituais para o restante da luzes, o som, os panos e os efeitos especiais. da sua forma definitiva. Por

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vezes, fazem-se alterações até à noite da
estreia ou mesmo depois dela.
A música é da responsabilidade do di- A perigosa tarefa
rector musical, que pode montá-la com a
ajuda do compositor, supervisar os arran-
jos para orquestra e prepará-la para o es-
de uma equipa
pectáculo. de socorristas
Simultaneamente, o cenógrafo e o figu-
rinista trabalham nos cenários e no guar- de montanha
da-roupa. Os cenários poderão começar
como maquetas pormenorizadas ou
como desenhos e têm de ser aprovados Aguilhoados por chuvas geladas, chicotea-
nas várias fases pelo produtor e pelo direc- dos por ventos fortíssimos e com pedaços
tor. Com o cenógrafo podem trabalhar al- de neve caindo-lhes em cima de minuto a
guns especialistas — para criarem a ilumi- minuto, dois jovens montanhistas, Philip
nação ou estudarem uma caracterização pe Berclaz e Philippe Héritier, tinham pas-
especial, por exemplo. Um mestre carpin- sado quatro dias encurralados numa mi-
teiro e os seus assistentes trabalharão final- núscula plataforma rochosa a mais de Salvamento por maca. Uma equipa de
mente com o cenógrafo na montagem dos 3000 m de altitude nos Alpes Suíços. salvamento no Bcn Neois - o mais alto
cenários. A chefe do guarda-roupa orienta Os dois Philippes treinavam-se para pico da Grã-Bretanha — salua um monta-
a preparação dos trajes. E um outro técni- guias profissionais de montanha e tinham nhista ferido, descendo o de maca.
co tem a seu cargo a obtenção de artigos, partido, em Agosto de 1975, à escalada da
tais como as mobílias de cena. vertente nordeste, quase vertical, do Piz sível qualquer tentativa de salvamento.
Entretanto, o director começa os seus Badile, montanha que se ergue a 3300 m, Na madrugada do dia seguinte, a briga
trabalhos com o elenco. Tem de assegurar- como uma lâmina gigante, na fronteira da da de socorros aéreos entrou em acção:
-se de que tem substitutos para os primei- Suíça com a Itália. Os montanhistas ti- telefonaram a Beal Perren, chefe da Air Zer-
ros papéis, bem como para os secundá- nham chegado a 150 m do cume quando o matt, um serviço comercial de helicópte-
rios, caso surja alguma emergência. céu se cobriu de nuvens e eles se viram no ros, e contrataram-no para tratar do salva-
moio de uma tempestade de neve. mento. Dentro de minutos, ele e o seu pilo-
0 ensaio dos actores Impossibilitados de prosseguir até ao to, o alemão Siegfried Stangier, voavam os
Os actores começam a familiarizar-se com cume ou de voltar para baixo, desceram 160 km até Piz Badile num potente helicóp-
os textos do argumento. Antes de começa- 40 m pelo cabo até a uma estreita platafor- tero Lama equipado com um guincho.
rem propriamente os ensaios, o director, por ma rochosa sobre um precipício de 670 m Chegaram à montanha em uma hora e
vezes, organiza leituras com toda a compa- a pique. Prenderam-se à face do granito viram os dois montanhistas em apuros,
nhia, indicando a cada um como pretende com cordas e pitões e passaram assim os agarrando se como moscas à parede
ver desempenhado o respectivo papel. Kstas dois primeiros dias sob um frio agonizan- branca da vertente nordeste. Fortes rajadas
leituras podem fazer-se em qualquer local, te. De tempos a tempos, gritavam por so- de vento ameaçavam lançar o helicóptero
mas na fase seguinte, em que os actores se corro, mas o vento desviava os seus gritos. de encontro à montanha. Siegfried Stan-
movimentam segundo as instruções de Na tarde do terceiro dia, o temporal gier não conseguiu chegar tão perto dos
cena, é necessária uma sala de ensaios ou amainou, e os grilos e assobios desespera- dois homens quanto pretendia.
um palco. Como em geral não há cenários, dos foram ouvidos no vale de Bergell. Por isso, largou um cabo com 45 m até à
as posições destes são indicadas no chão A notícia da sua situação foi dada aos plataforma. Na extremidade daquele ia urn
com fitas de cores diversas. Serviços de Socorros Aéreos em Zurique, saco contendo um walkie-talkie, vestuário
Os primeiros ensaios decorrem tanto que se ocupa de salvamentos na monta- quente, termos com chá, carne seca e rebu-
com todo o conjunto da companhia como nha. Caía já a noite e o nevoeiro esconde- çados com vitaminas e os montanhistas em
com alguns actores isolados ou grupos ra o Piz Badile. Nessa noite, seria impos- breve se encontravam em contacto via rádio
que precisem de instruções especiais para com os socorristas.
os seus papéis. O director musical orienta Mas nuvens e ventos
os cantores e os músicos; o coreógrafo, ou atrasaram os trabalhos
mestre de dança, os bailarinos. de salvamento até às 6
Gradualmente, os diversos elementos da tarde, quando as
váo-se conjugando e torna-se essencial condições melhora-
passar ao palco onde irá decorrer a repre- ram subitamente. Só
sentação. Enquanto se montam os cená- podia ser içado um ho-
rios, os trabalhadores do palco vão adqui- mem de cada vez, e
rindo prática na mudança das cenas. En- combinou-se que seria
saiam-se as luzes e os efeitos. As canções, Philippe Berclaz o pri-
as danças e outras passagens especiais meiro. Cuidadosa-
váo-se integrando nos ensaios. mente, Stangier mano-
A fase final — talvez uma semana antes brou o helicóptero até
da primeira representação em público — ê as pás do rotor ficarem
o chamado ensaio geral. Os actores estão a 7,5 m da face do pe-
vestidos e caracterizados, os cenários nos nhasco. Berclaz des
seus lugares e a iluminação pronta a fundo prendeu-se da parede
nar. A orquestra está completa. Resta ape- e agarrou-se com força
nas fazer pequeníssimas alterações antes à volta da cintura de
de o teatro abrir as suas portas e o público e montanha utili- I léritier, que ainda es-
Salvamento de avalanchas. Socorristas de
os críticos dizerem de sua justiça. na neoe. tava seguro à parede de
zum sondas paru hn alizar vítimas soterradas

71
No Monte Branco, por exemplo, equi 150 m do cume do Glyder Favvr. pico com
pas de socorro terrestre participam em 1000 m de altitude. As 9 e meia dessa noite,
mais de 400 salvamentos por ano. o grupo não regressara ainda, pelo que foi
O Monte Branco, o pico mais alto da dado como desaparecido.
Europa Ocidental, cleva-se a quase 4800 m
nas fronteiras da França e da Itália. Atrai "Uma boa botija de água quente"
anualmente mais de 1 milhão de visitantes, Duas brigadas locais de socorros de mon-
muitos dos quais querem trepar até ao tanha partiram para Glyder Fawr, bem
cume. Em 1987, morreram nele 44 pessoas como Philip Benbow, membro da SARDA
e quase 300 ficaram feridas. (Search and Rescue Dog Association -
Quase todas as regiões montanhosas Associação de Buscas e Socorros com
têm o seu serviço de socorros, mas as es Cães). Com .lei, o seu iabrador preto, Ben-
tâncias mais visitadas — os Alpes, as Terras bow lançou-se através da escuridão gela
Altas da Escócia, as Montanhas Rochosas, da. De repente, Jet disparou por uma en
na América do Norte possuem equipas costa íngreme, seguido pelo dono — que
profissionais altamente treinadas, com era guiado por uma luzinha verde na capa
sofisticadas redes de coordenação de ope- do cão,
il
rações. O Jet já ia muito ã minha frente quando
As organizações de socorros de monta- percebi pelo seu ladrar que tinha encon
nha trabalham em conjunto com as forças trado o grupo", disse Benbow mais tarde
amuadas, a polícia local, a Cruz Vermelha e "A mais gelada era a jovem, pelo que a meti
outros serviços médicos e com diversos com Jet num saco cama para a aquecer.
especialistas de salvamentos, como a Os cães têm uma temperatura do corpo
Guarda Costeira e as brigadas de cães. superior à do homem, pelo que são uma
Salvamento tom cães. Cães treinados, Uma equipa de socorros de montanha é boa 'botija'.»
como os pastoresalemães, podem ser des- constituída por um chefe de equipa, ou Benbow contactou pelo seu rádio a
cidos de um helicóptero paru localizarem controlador, que dirige as operações de equipa de socorros de montanha, e em
pessoas perdidas na neve. uma base fora da montanha; por um chefe breve os seus elementos chegavam com
de brigada, que dirige a equipa durante as sacos próprios para aquecer os monta
granito. Héritier agarrou o cabo com os buscas e os socorros, e por tantos elemen- nhistas enregelados. Chegou o dia, e com
dedos dormentes e enregelados e engatou tos quantos os necessários, conforme a or ele um helicóptero da RAF que içou para
o fecho no cinto de segurança do amigo. dem de grandeza do acidente. bordo o grupo — incluindo Benbow e Jet -,
De repente, Berclaz foi levantado ao ar. Os elementos da equipa são quase sem levando o para lugar seguro.
arrastando o amigo para fora da platafor pre peritos montanhistas da zona conhe-
ma. Desamparado, Héritier ficou balou- cedores do terreno e das condições clima Salvamento por cordas. Um monianhis
çando, suspenso do cabo e do pitão. Mas téricas locais. São treinados para trabalhar la nos Alpes SUÍÇOS desce por uma corda
depois, chamando a si as últimas réstias de na neve. no gelo, nas rochas e nas piores para chegar a uma vitima encurralada
força e determinação, conseguiu içar se condições de tempo. Recebem instrução numa fenda do gelo.
novamente para a plataforma. Entretanto, de primeiros socorros, embora as equipas
Berclaz foi conduzido a um abrigo de pe- maiores incluam médicos ou enfermeiros.
dras no planalto por sobre a aldeia de Bon- As comunicações processam-se pela rádio
do, onde auxiliares o guiaram até ao solo. ou por telefones portáteis.
Mais tarde, Héritier, lutando contra o Conforme o terreno e o tempo, a equipa
vento gelado, conseguiu amarrar-se ao pode subir a pé OU com raquetas ou es-
cabo de socorro à quarta tentativa, e, em quis: pode deslocar-se a cavalo ou em
breve, balouçava a caminho da salvação veículos motorizados: pode usar trenós ou
trenós motorizados, ou ser transportada
Os meios terrestres de helicóptero.
Os helicópteros têm demonstrado ser o mé- As equipas de salvamento empregam
todo mais eficaz para localizar as vítimas dos habitualmente cães treinados para locali-
acidentes de montanha e de as transportar zar as vítimas que se perderam c para aju-
— e aos seus salvadores - até lugar seguro A dar a libertar as que se encontram soterra
capacidade de manobra e a velocidade do das por avalanchas. Um cão, com o seu
helicóptero são essenciais no transporte dos olfacto apuradíssimo, consegue fazer bus
feridos graves para o hospital. cas numa determinada área no mesmo
Mas não são a solução perfeita. São ca- tempo que 20 homens levariam a íazê lo.
ros e não conseguem operar com ventos Os cães — em geral, pastores-alemães, la-
muito fortes, neves abundantes e nuvens bradores e collies são ensinai los ri pro
densas — além de que o ruído dos rotores curar qualquer pessoa perdida na área em
pode desencadear avalanchas. São mais questão (os são-bemardos. tradicional-
apropriados para salvamentos alpinos ar- mente associados aos salvamentos aipi
riscados, e não para missões prolongadas nos, são considerados demasiado volu-
e distantes, em que o reabastecimento de mosos para trabalhar em terreno difícil).
combustível pode ser um problema. Em Março de 1985. um grupo de mari-
Por isso se empregam ainda os meios nheiros ingleses, incluindo uma jovem do
terrestres tradicionais no salvamento de Wbmen's Royal Navy Service, fazia monta
pessoas presas nas montanhas ou soterra- nhismo no Pais de Gales quando ficou en-
das por avalanchas, curralado numa plataforma escorregadia a

72
Técnicas de logro
e detecção
Na guerra como na paz, fazem-se esforços incessantes para se
obter vantagem por meio do logro e se descobrir a verdade
escondida sob as aparências.

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Fotografias que mentem, p. 82.

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Como «e escrevem cartas com tinta Invisível, p. 81

Como funciona a camuflagem, p. 76


abateram um U2, com o auxílio de um novo
equipamento de radar pertencente aos
O avião militar "invisível" ao radar mísseis terra-ar SA-2. E, mesmo assim, o U2
não foi directamente atingido: urn míssil
explodiu suficientemente perto para o lan-
Nos finais dos anos 50, por ordem da Central 24 000 m de altitude para se manterem fora çar num mergulho descontrolado, e o pilo
Intelligence Agency, dos Estados Unidos, os do alcance da artilharia antiaérea, mas des to, Gaiy Powers, teve de ejectar-se.
"aviões-espiões" Lockheed U2 começaram a cobriu-se que o radar não os detectava O êxito dos U2 levou a um programa de
sobrevoar a União Soviética para obterem Estes aviões extraordinários, construídos investigação altamente secreto nas EUA - o
informações fotográficas. Os U2 voavam a de plástico e contraplacado, pouco mais Stealth — para a criação de um avião militar
eraiTi do que planadores equipados com indetectável pelo radar.
Bombardeiro "Stealth". Tinia absorven- motores a jacto. A descolagem, largavam as O U2 levou tanto tempo a ser detectado
te do sinal de radar aplicada TtO bordo de pequenas rodas estabilizadoras que se pro- por ser construído com materiais não-mela
ataque do bombardeiro americano de jectavam das extremidades das asas - e ater- licos que absorvem os sinas de radar, cm vez
grande altitude B-2 Stealth permite torna lo ravam com o trem principal de rodas retrác- de os reflectirem para as estações de radar em
praticamente invisível ao radar inimigo. As teis que tinham a meio da fuselagem. terra, como normalmente acontece.
suas asas em leque não reflectem pratica- Só cm Maio de 1960, depois de mais de O programa Stealth tinha como objecti
mente os sinais de radar. quatro anos de sobrevoos, é que os Russos vo a criação de aviões militares incor-
porando, entre outras vantagens, um Para ajudar a conseguir a invisibilidade no criar uma confusão nos écrans tios radares.
mínimo <le metais e um revestimento exte- radar, o bordo de ataque do avião era revesti- No entanto, os sistemas de defesa ao nível do
rior em placas altamente absorventes. Os do com uma tinta absorvente dos sinais emi- .solo mais recentes e sofisticados conse-
aviões seriam quase invisíveis pelo radar, tor- tidos pelo radar. guem distinguir entre essa confusão de ecos
nando obsoleta a maioria dos sistemas an- Uma tecnologia semelhante c utilizada de- e os aviões inimigos. Além disso, essa coníu
tiaéreos controlados por radar. baixo de água para evitar a detecção por sonar. são pode ser parcialmente evitada pelo em-
Os submarinos modernos são cobertos com prego de sistemas de radar montados em
Alvos-chave uma espessa camada de uma resina altamente aviões e que detectam outros voando abai
Desenvolvido no maior segredo, o bombar- secreta, que absorve eficazmente os sons e xo deles.
deiro B-2 Slealth, de alta tecnologia, foi reve- apenas reflecte uma parte ínfima da energia
lado a convidados e jornalistas na fábrica de transmitida pelos detectores de sonar. "Blackbird". A
montagem da empresa Northrop, em Palm- forma do avião es
dale, Califórnia, em Novembro de 1988. A A "confusão" no radar pião americano
assistência foi mantida a distância deste Outra técnica usada pelos aviões para evita- SR71, utilizado nos
avião, criado para penetrar nas defesas de rem ser detectados pelo radar é voarem a anos 60, foi de
radar inimigas sem ser detectado, largando altitudes muito baixas, onde existe uma pois aproveita-
depois até 16 bombas nucleares sobre alvos grande quantidade de ecos de radar emiti da e melhora
•chave. dos por edifícios e outros objectos que vão da no Slealth
Camuflagem: como se esconde um navio de guerra?
Durante a Guerra de Independência Ame
rieana, nos finais do século xvm, alguns re-
gimentos ingleses começaram a usar casa-
cos de pele de gamo em vez das tradicio-
nais casacas vermelhas. Tinham descober
to que o vermelho constituía um bom alvo
para os atiradores americanos, ao passo
que o pardo da pele de gamo não era facil-
mente visível.
0 emprego deste género de camufla
gem foi aperfeiçoado durante a Guerra do
Afeganistão (1880). Adoptou se o uso ge-
neralizado de uma cor conhecida por ca-
qui (que significa pó na língua urduj, a fim
de tornar os movimentos de tropas menos
visíveis para os nativos. Os veteranos das
lutas na índia - que, utilizando chá, ti-
nham tingido de castanho os seus capace-
tes brancos sabiam que o não ser visto
era uni faclor-chave para a sobrevivência. Operação encandeamento. As riscas traçadas no casco deste torpedeiro americano duo a
Quando, em 1914, rebentou a I Guerra ilusão de o barco ter várias proas. Foram pintadas durante a II Guerra Mundial para enganar
Mundial, as cores neutras como o caqui e o o inimigo quanto ao verdadeiro rumo do navio.
cinzento tomaram-se as cores habituais
dos fardamentos, permitindo aos solda cobertura vegetal para se es- cimentos a um ponto de con-
dos de ambos os lados confundirem-se conderem da aviação centração de blinda
com o ambiente de combate. Mesmo as F.ste artifício teve dos. A linha possuía
sim, o emprego de aviões de reconheci- tanto êxito que a inclusivamente um
mento deixou as tropas no solo perigosa divisão se tor comboio falso,
mente expostas. Por isso se introduziram nou indistinta completo com
pouco a pouco as redes de camuflagem e a da paisagem furgões e va-
pintura de riscas nos equipamentos. que a rodea- gões de carga
Durante urnas manobras militares na va A ideia de e uma loco
Salisbury Plain, o comandante de uma di- uma unidade motiva con-
visão do exército inglês - um sobreviven- inteira se po- vincente, com
te da Guerra dos Bóeres — disse aos seus der "diluir" na um velho fogão
homens para atarem ramos com folhas p a i s a g e m foi de campanha fu-
aos capacetes, disfarçarem os veículos c o n s i d e r a d a de megando por uma
com redes pardacentas e aproveitarem a tanto interesse pelos lamine de cartão.
comandos militares Este logro desviava a
Ilusão no deserto. Pintado para se confun- que a camuflagem atenção do posto de
dir com o terreno e não ser visto do alto, um passou a ser gradual- abastecimentos verda-
Messerschmitt Rf 109E alemão faz um voo mente aceite como uma deiro, utilizado para
rasante sobre o deserto da Líbia em 1941. arma importante nos ar- apoiar a ofensiva do gene-
Disfarce natural. O tigre é qua-
senais modernos. ral Auchinleck contra Tb
se invisível para a sua presa
Durante a 11 Guerra quando as suas riscas se confun- bruk em Novembro de
Mundial, a camuflagem dem com O capim fulvo e alto. É 1911. As suas forças mais
foi largamente emprega uma lição sobre a arte da camu importantes e os respecti
da como técnica de disfar- ttagem. vos depostos de combus
ce. Corno na I Guerra tive! estavam tão liem es-
Mundial, as instalações vulneráveis, como condidos que o inimigo nunca os encontrou.
depósitos de combustíveis e paióis de muni- A camuflagem é também utilizada para
ções, eram cobertas com redes para que, tornar menos visíveis aviões c navios.
pelo menos do ar, se confundissem com o Quando a parte inferior de um bombar-
ambiente. Mais afastadas, colocavam se deli- deiro é pintada de azul-claro, confunde-se
beradamente negaças para atraírem o fogo com o céu durante o dia; se pintada de
inimigo. Zonas de água como os canais, utili preto, confunde-se com o céu durante a
zados pelos navegadores dos bombardeiras noite. Alguns aviões são pintados por cima
como pontos de referência durante a noite, para se confundirem com o solo quando
eram regadas com pó de carvão para evitar vistos do alto. Da mesma forma, o perfil
que brilhassem ao luar. Durante a campanha beiíi conhecido de um barco de guerra
do Norte de África de 1940-1943, construiu- pode ser distorcido com pinturas hábeis
-se uma linha de caminho de ferro fictícia que lhe reduzem a silhueta e lhe dão até
JX y + para dar a ideia de um novo ramal de abaste um aspecto menos ameaçador, talvez o de

76
Atirador camuflado. Coberto por folhagem artificial, um atirador
do Carpo de Fuzileiros Americano rasteja pelo mulo ulé uo seu alvo.
escapando se depois sem ser tíiStO. Na Escola de Atiradores, os
irtstruendos são ensinados a confundirem-se com o fundo ambien-
te por forma semelhante à de muitos animais

um cargueiro inofensivo. Uma onda de


proa pintada no casco de um navio de
guerra pode enganar o comandante do
um submarino quanto à velocidade do seu
«Scramblers» de voz: o envio
alvo, e uma linha de água falsa pode fazer
errar o cálculo da distância.
de palavras ininteligíveis através
As técnicas de camuflagem têm igual
mente sido utilizadas para confundir o re-
de uma linha de telefones públicos
conhecimento aéreo. Duranle a campa
nha das Malvinas, em l!>82. os comandos Quando um funcionário governamental que tinham de trocar informações melin-
britânicos foram avisados de que as forças pretende fazer um telefonema confiden- drosas através de linhas telefónicas que po-
argentinas sitiadas não podiam ser reabas- cial para, por exemplo, uma embaixada deriam estar sob escuta inimiga. Actual-
tecidas porque o único aeroporlo de Por! no estrangeiro, serve-se de um scrambler mente, mais fáceis do obter, são frequente
Stanley fora danificado pelas bombas da de voz. Ao percorrer a linha entre os dois mente utilizadas por empresários interna-
RAF. As fotografias de reconhecimento telefones, a conversa não passa de um ruí cionais desejosos de proteger de concor-
mostravam o que parecia ser uma funda do ininteligível para alguém que efective rentes sem escrúpulos os seus segredos
cratera atravessando a pista principal. uma escuta. comerciais. A tecnologia moderna reduziu
Na realidade, todos os dias até à rendição Na sua maioria, os scramblers são dis- as dimensões desses aparelhos às de uma
aterraram ali, a coberto da noite, aviões ar- positivos electrónicos de cifra que mistu- caixa de fósforos.
gentinos carregados. Só mais tarde se desco- ram e invertem as frequências da voz huma-
briu que todas as manhãs um grupo de recru- na, tornando-a ininteligível. Outros escon Dispositivo duplo
tas, equipados apenas com pás e carros de dom a voz no meio de um fundo de ruído Os scramblers são constituídos por duas
mão, deixava na pista um monte de terra contínuo. unidades, um emissor e um receptor. O
circular. Visto do ar, osso monto do torra pare Km tempos, os scramblers apenas eram primeiro converte a voz do quem fala numa
cia a cratera do uma bomba. fornecidos aos altos comandos militares versão incompreensível e envia a através

77
de uma linha telefónica normal. O recep- das de frequência, que depois são mistura- escutas competentes, pois as conversas
tor inverte o processo para que a fala seja das por meio de um complicado processo podem acabar por ser descodificadas. Mas
inteligível na outra extremidade do fio. Os electrónico que as desloca e inverte. Ern o método é demasiado moroso, exigindo
aparelhos de escuta colocados na linha teoria, existem cerca de 3840 combina- o emprego de processadores de dados es-
captam um ruído distorcido que mal se ções possíveis, mas os misturadores nor- pecialmente programados e de operado-
reconhece como fala humana. mais utilizam 512 permutações. res extremamente bem preparados, pelo
A maior parte dos scramblers funciona Os scramblers de voz não são de uma que os misturadores proporcionam real
cortando o espectro da voz em cinco ban- segurança absoluta no caso de técnicos de mente uma protecção de curto prazo.

Como se transmitem segredos por códigos e cifras


Na véspera do ataque japonês a Pearl Har- Bloco para uma só
bor, em Dezembro de 1941, uma previsão vez. Os espiões usam
meteorológica aparentemente inocente, minúsculos blocos de
"Quadrante leste chuvoso, quadrante nor- cifras para descodificar
te nublado, quadrante oeste limpo", avi- as mensagens secretas
sou os diplomatas japoneses em todo o dos seus chefes. As
Mundo de que a guerra estava iminente. instruções em código
Esta mensagem era uma das mais sim- transmitidas pela rádio
ples formas de código — uma mensagem referem se a gnjfx>s de
preestabelecida com um significado espe- números de cinco
cial para aqueles que a recebessem. algarismos de uma
Mensagens semelhantes foram transmiti página determinada
das pela BBC para a Resistência Francesa do bloco. Uma vez
durante a II Guerra Mundial. Os primeiros recebida e
versos de um poema de Paul Verlaine ("Os descodificada a
longos soluços dos violinos do Outono") in mensagem, o recebedor
formaram a Resistência de que os desembar- e o emissário rasgam a
ques do Dia D iriam começar. página correspondente
Códigos mais complexos substituem dos respectivos blocos.
palavras ou frases por outras palavras ou
frases. Ou podem utilizar-se grupos de le escrita numa grelha
trás desconexas para criar todo um dicio- de, por exemplo, seis
nário de palavras e frases. Longos relato colunas, escrevendo-a
rios militares podem ser transmitidos em alternadamente cia es
grupos de cinco letras - apenas inteligí- querda para a direita e
veis para aqueles que possam verificá-los da direita para a es-
no livro de código adequado. querda. As letras vol-
No entanto, se um livro de código cai tam depois a ser escri-
nas mãos do inimigo, informações vitais tas em grupos de cin-
podem ser interceptadas sem conheci- co, seguindo um per-
mento daquele que as emitiu. Na I Guerra curso em diagonal ao longo da grelha: cadas, utilizando letras e números.
Mundial, o livro de código naval alemão foi Durante a II Guerra Mundial, o Governo
recuperado do cruzador ligeiro Magde- T R O P A S T R O P A S Alemão utilizou uma máquina de cifra de-
burg, que fora afundado. Em consequên- G I M I N I G i M I N 1 nominada Enigma. Por muitas vezes que
cia disto, muitas das instruções mais me- A S E M B A A S E M B A fosse marcada determinada letra, a letra
lindrosas da Esquadra Alemã de Alto Mar O N M A C R O N M A C R que lhe correspondia na cifra nunca era
foram lidas pelos Ingleses. Mesmo deixjis de S Á B A D O S Á B A D O repetida. Todos os dias era estabelecida
o Almirantado Alemão ter descoberto a sua uma grelha diferente, segundo um calen-
perda, demorou semanas até dotar cada na- Assim, o criptograma a transmitir será: dário conhecido apenas dos Alemães.
vio germânico com um novo código. SA1AN POIBR OCMMR TIEAD Mas uma equipa de matemáticos e lin-
Um outro método de se transmitirem in- AMSGA NBAOS. guistas ingleses acabou por deslindar as
formações secretas é por meio de cifras. Uma A pessoa que o recebe utiliza uma chave cifras da Enigma em 1940. O seu trabalho
cifra substitui as letras do alfabeto por outras semelhante para o decifrar. desempenhou um papel importante na vi-
letras, números ou símbolos. O alfabeto Mor- Um ponto fraco deste sistema é o facto tória ao fornecer ao Quartel General Alia-
se é, na realidade, uma cifra que traduz as de a frequência das letras e das combina- do informações sempre actualizadas so-
letras por combinações de sinais breves e ções de letras ser a mesma que na lingua- bre os planos alemães para a campanha
longos que podem ser transmitidas por gem normal. O A, por exemplo, c a letra do Norte de África e a guerra aérea.
"bips" de rádio, por telégrafo ou por lâmpa- mais usada na língua portuguesa. Por isso, Com o advento dos computadores, os
das de sinais. A letra E, por exemplo, é um alguém que queira quebrar a cifra pode códigos têm se tomado muito mais com-
único ponto, enquanto o Q é representado partir do princípio de que a letra que ocor- plicados e difíceis de decifrar. Os seus pro-
por traço traço-ponto-traço ( ). re mais frequentemente representa um A, gramas complexos utilizam milhares de
Outra forma de cifra utiliza uma grelha e assim sucessivamente. cálculos, e sem se conhecer a sequência
denominada chave. A mensagem "Tropas Por isso, têm sido criadas pelos ma- das respectivas instruções levariam milha
inimigas embarcam no sábado" pode ser temáticos cifras imensamente compli- res de anos a descodificar.

78
Philby nos Serviços Secretos (MHi) e Blunt Em 1951, quando procurava emprego,
no Serviço de Contra-Espionagem (MI5). aceitou trabalhar para os Serviços Secretos
O mundo Uma vez instalados nas organizações
que escolheram, os quatro homens pro-
Soviéticos (posteriormente. KGB) por um
salário de 1500 marcos mensais. Simulta-
subterrâneo grediram até aos mais sensíveis níveis go-
vernamentais, ganhando acesso as infor-
neamente, foi admitido na Agência federal
de Informação. Durante a década seguinte
das "toupeiras" mações mais secretas. trabalhou como agente duplo, fornecen-
do aos Alemães "desinformação-' sobre o
Maclean, Burgess c Philby fugiram para
Moscovo, onde acabaram por morrer. KGB e, em troca, dando a este informações
Em Novembro de 1979, a primeira-minis- Blunt fez uma confissão completa aos Ser- acerca da rede de espionagem alemã para
tra britânica, Margaret Thatcher, anunciou viços de Segurança Ingleses e não foi pro lá da Cortina de Ferro
à Câmara dos Comuns que um dos ho- cessado. Morreu em 1983. Finalmente, tornou se suspeito quando
mens mais respeitados no mundo da arte Uma toupeira que espiou contra o seu comprou uma casa demasiado cara para
inglês, Sir Anlhony Blunt, conservador dos próprio país, unicamente por dinheiro, foi quem vivia de um único salário. Quando
quadros da rainha, linha trabalhado como Heinz Felfe, antigo oficial das SS alemãs, foi preso, em 1961, descobriu-se que as
espião a favor dos Russos. que atingiu uma posição de relevo na suas actividades tinham custado aos Ale-
Blunt tomara se comunista nos anos 30 Agência Federal de Informação da Alema- mães Ocidentais 94 contactos para lá da
e trabalhara para os Serviços de Segurança nha Ocidental durante os anos 50. Cortina de Ferro, incluindo 46 agentes em
Britânicos (MIS) durante a II Guerra, trans- actividade. Km 1963,
mitindo segredos a Moscovo, Em 1951, aju- Família de e s p i õ e s . Du Felfe foi condenado a 14
dara dois outros espiões ingleses, Guy Bur- rante 17 anos, John Wal- anos de prisão.
gess e Donald Maclean, a fugirem para a ker (d(j barba), antigo ofi O u t r o espião q u e
Rússia quando se tornaram suspeitos. ciai da Marinha America operou nos EUA ate
Blunt era um exemplo do tipo de espião na. espiou para os Rus- meados dos anos 80 foi
conhecido por "toupeira" — agentes pre sos. Em 1986, foi condena John Walker, antigo of
parados para esperarem anos, construin- do a prisão perpétua por ciai da Marinha. Os seus
do a sua cobertura, até conseguirem aces- dirigir uma associação fa- chefes russos pagavam-
so a informações vitais. miliar de espionagem. -Ihe 1000 dólares por se
Contrariamente ao espião mais conven mana para que dirigisse
cional, recrutado pelo seu próprio país uma associação fami-
para desempenhar determinada missão iar de e s p i o n a g e m ,
no estrangeiro, a toupeira é habitualmente
alguém que, por motivos ideológicos, de- Traidor. Quando pri
cidiu trabalhar para uma causa alheia, To- meiro-secretário na Em-
mada essa decisão, consegue infiltrar-.se baixada Britânica nos
numa posição em que produz os maiores EUA. Maclean (de laço)
estragos - e durante todo esse tempo age forneceu à URSS segre-
como se se tratasse de um patriota. dos americanos.
Algumas toupeiras são recrutadas por
especialistas dos serviços de informação.
Outras "recrutam-se" a si próprias, ofere-
cendo os seus préstimos.
0 caso mais famoso desde a II Guerra
Mundial é talvez o dos quatro espiões in-
gleses Blunt, Burgess, Maclean e Kim
Philby, que decidiram, quando frequenta-
vam ainda a Universidade de Cambridge
nos anos 30, trabalhar secretamente para a
União Soviética.
Começaram por ser recomendados por
"caçadores de talentos", que passaram
cada um deles a um especialista dos Servi
ços Secretos Soviéticos, o qual lhes ensi-
nou os rudimentos da espionagem e lhes
recomendou que desistissem da sua filia-
ção em grupos políticos radicais: tinham
de tornar-se tanto quanto possível agradá-
veis aos olhos das organizações oficiais.
Cada um deles cultivou deliberadamen
te amizades com pessoas em posições de
influência que, em sua opinião, pudessem
ajuda los a encontrar um emprego útil.
Burgess e Maclean conseguiram ser admi-
tidos no Ministério dos Estrangeiros,

Falsa i m a g e m . Anlhony filnnl COflSer-


oador dos quadros da rainha e espião
enganou todos com a sua posição social.

79
ricanos de origem polaca, eram um casal Blunl fora nomeado conservador dos qua-
deste tipo. Aparentemente, ele era negocian dros da rainha no Palácio de Buckingham
te de livros antigos que, com a mulher, levava e recebera o título de sir.
uma vida confortável em Ruislip. na zona Algumas toupeiras recebem um peno
oeste de Ixtndres. Na verdade, eles operavam do de instrução antes de entrarem em ac-
com um emissor clandestino de rádio ligado ção. Em Camp Peary, na Virgínia, a CIA
ao KGB em Moscovo até serem presos. Rena opera uma grande base de instrução sob o
te e Lothar l.ut/e eram toupeiras alemãs disfarce de instalações militares; os France-
orientais actuando na Alemanha Ocidental ses mantêm uma escola numa região iso
até serem presos lada dos Alpes Marítimos, no Sueste do
Nascida em Brandeburgo, Alemanha país, e o KGB possui centros de treino per
Oriental, em 1940, Renate Ubclacker — seu to de Leninegrado.
nome de solteira arranjou lugar corno Mas ás vezes a toupeira não lem possibi-
secretária no Ministério da Defesa da Ale- lidade de ser treinada e pode ter de apren
manha federal em Bona o seu trabalho der as técnicas fundamentais enquanto vai
implicava lidar com documentos altamen- actuando.
te secretos, incluindo planos da NATO. Em Oleg Penkovsky, um tenente-coronel
Setembro de 1972. casou com Lothar Lutze, russo, ofereceu se aos Ingleses, como es
nessa altura espião por conta do Ministério pião, em 1960. Quando, no ano seguinte,
para a Segurança do listado na Alemanha fez parte de uma missão comercial soviéti
Livre e sorridente. A secretária e espia ale- Oriental. Renate conseguiu arranjar-lhe ca em uma das raras visitas ao Ocidente,
mã Renate Lutze na época em que operava um emprego no Ministério da Defesa. ensinaram-no a utilizar uma câmara mi-
para os Alemães Orientais. Desmascarada e. Durante os quatro anos seguintes, o ca- niatura e deram lhe noções sobre sistemas
detida em 1976, seria libertada em 1981. sal forneceu informações vitais aos Ale- criptográficos. Em vez de se escapar do seu
mães Orientais, controlados pelos Soviéti- grupo, Penkovsky fingiu simplesmente
composta por seu irmão Artliur, graduado cos. Foram desmascarados e presos cm que queria deitar-se cedo. Sucedeu que os
da Marinha na reforma, e seu filho Michael, Junho de 1976. Depois de passar três anos Ingleses e os Americanos tinham alugado
marinheiro a bordo do porta-aviões USS em prisão preventiva, Renate Lutze foi con- todo o andar por cima do quarto do hotel
Nimitz. As suas actividades permitiram aos denada a seis anos por espionagem, e o de Londres onde Penkovsky se alojava e
Soviéticos decifrar inúmeras comunica marido, a 12 anos. Ela foi libertada em Se- nele haviam instalado o equipamento ne
ções altamente secretas e receber mais de tembro de 1981. cessário para as sessões de treino. Tudo
1500 documentos secretos. As toupeiras mais eficientes são aquelas funcionou perfeitamente, c, quando re-
Um tipo de toupeira diferente é aquele de quem ninguém suspeitaria. Burgess gressou a Moscovo, Penkovsky era já um
que entra num país estrangeiro com do- fora educado em Elon; o pai de Maclean agente conhecedor do seu ofício.
cumentos falsos e se infiltra profundamente fora ministro do Estado; Philby entrara Mas a sua carreira de espião foi curta; o
no tecido da sua sociedade adoptiva. para o M16 vindo do jornal The Times, e, na KGB prendeu o no ano seguinte e conde
Peter e I lelen Kroger, cidadãos norte-ame- altura em que foi descoberto. Anthony nou-o à morte.

Dispositivos de escuta: ouvir sem ser visto


Actualmente, nenhuma conversa no escri- geral, utiliza se um cabo existente, como todos OS sons na divisão do outro lado.
tório ou em casa está a salvo das escutas. uma linha telefónica desocupada, para a A instalação de um dispositivo de escuta
Estas concretizam-se geralmente pela ins- transmissão das vozes. numa divisão é difícil se os respectivos oeu
talação disfarçada numa divisão de um mi Uma das razões pelas quais os edifícios pantes souberem que poderão ser espia-
croíone pequeno mas sensível. diplomáticos são tão apertadamente vigia dos. Por esse motivo, começaram a explo-
Um tipo de dispositivo de escuta utiliza dos durante a construção é o receio de que rar-se as capacidades do laser. Foca se um
um transmissor de rádio de baixa potência uma agência de espionagem estrangeira raio de laser sobre o vidro de uma janela.
ligado a um microfone para enviar os si- consiga incorporar na estrutura tubos para Quando ocorre uma conversa uo interior
nais desle a um receptor a alguns metros passagem de cabos. Assim aconteceu em da sala, o vidro vibra com as ondas sonoras
de distância. Noutro tipo, a ligação do mi Moscovo em 1987. quando se descobriu das vozes, e estes movimentos microscó-
crofone ao receptor é feita por um cabo. que as vigas de aço fornecidas para a cons- picos podem ser detectados medindo as
Embora o sistema dotado de cabo exija trução da Embaixada dos EUA eram ocas. minúsculas variações no comprimento do
que este seja cuidadosamente escondido, Quando não se consegue acesso a raio de laser fixo. Estas informações são
ele tem a vantagem de não emitir sinais de uma divisão, pode colocar se no exterior depois reconvertidas electronicamente
rádio, facilmente detectáveis. E a maioria de uma das paredes um estetoscópio, em versão inteligível.
das salas ou dos gabinetes já tem tantos fios que consiste num simples microfone Existe ainda um dispositivo sem fios que é
instalados que mais um passará desperee preso por uma ventosa à parede e ligado talvez o dispositivo ideal, pois não necessita
bido. O microfone pode ser disfarçado sob a um amplificador ou furar-se a parede a de pilhas nem de manutenção. Consiste
a forma de um artigo vulgar, como uma partir do exterior com um furo que na numa cápsula com cerca de 25 mm de largu-
lâmpada, uma televisão ou um telefone. parte interior não seja maior que um ra contendo uma antena muito sensível e um
Desde que um posto de escuta possa ser bico de alfinete. Neste orifício coloca-sc diafragma. E activado por um sinal de rádio
instalado dentro de um raio razoável um tubo com um microfone ligado a um Que lhe é dirigido do exterior; a cápsula trans
cerca de 1.500 m , todas as palavras gravador no exterior. Este sistema tem forma-se então num transmissor de rádio
pronunciadas no compartimento sob ob- uma variante que apenas penetra parte que capta os sons da divisão, permitindo que
servação serão transmitidas por fios. Em da parede, mas. apesar disso, capta se ouçam as conversas.

80
era uma solução rie nitrato rie chumbo e
água, e o reagente, uma pequena quanti
Tintas invisíveis para mensagens dade de sulfureto rie sódio dissolvido em
água. 0 resultado é uma tinta negra.

Uma forma moderna da tinta invisível é um espionagem em Inglaterra. Desde 1975,


tipo especial de papel químico. 0 espião transmitira cerca de 200 mensagens secre-
coloca o papel químico sobre outra folha tas aos seus chefes em Praga — muitas em
tinta invisível. As informações incluíam da
A procura da
de papel e escreve a sua mensagem. A es
crita é transferida para O papel rie baixo,
mas só é revelada depois de tratada quimi-
dos sobre firmas britânicas que trabalha-
vam para o sistema defensivo americano
droga da verdade
camente. É assim possível transmitir men-
sagens pelo correio, "escritas", por exem-
Guerra rias Estrelas. perfeita
A maioria das tintas invisíveis químicas
plo, nas páginas de uma revista. precisa de um segundo líquido — o cha
Este processo foi utilizado pelo espião mado reagente para as tornar visíveis. O objectivo de uma droga da verdade é
checoslovaco F.rwin van Haarlem, que em Uma das tintas mais vulgares é o sulfato rie descontrair o espírito rie uma pessoa para
1989 foi condenado a 10 anos de prisão por cobre diluído em água. Quando o papel é que esta forneça respostas verdadeiras a
depois imerso numa solução fraca de car- todas as perguntas que lhe façam - mes-
Palavras aquecidas. Quando este recibo Donato de sódio e água ou de amoníaco e mo que isso signifique trair o seu pais.
de uma consignação de arroz foi aquecido, água, a escrita aparece a azul. Os estudos sobre as chamadas drogas
surgiu uma mensagem secreta escrita com Uma tinta química particularmente sen- da verdade iniciaram se no princípio da
sumo de limão. A mensagem, em letra miú- sível usada pelos espiões alemães durante década de 50, na sequência rie relatos acer-
da, relata as actividades dos realistas em a II Guerra Mundial empregava produtos ca rie processos de interrogatórios com
Paris durante a Revolução Francesa. químicos utilizados em fotografia. A tinta "lavagem ao cérebro" levados a cabo pelos
Norte Coreanos e pelos Chineses em pri-
i9 :/«'*•< t/o sioneiros de guerra. A Força Aérea rios F.UA
l?
':/'•
» // ?/i( •/<%' V> ' c-ru ""?: encetou um projecto de procura de um
"soro da verdade" para que os pilotos ame-
ricanos pudessem tomá-lo e treinarem se
a resistir às lavagens ao cérebro.
Fizeram-se experiências com barbitúri-
cos, anfetaminas, álcool e heroína, mas a
maioria destas drogas limitou se a ajudar
as pessoas a mentir com mais habilidade.

Processos de depuração
O medo das técnicas rie controle da mente
manifestara-se pela primeira vez aquando
dos célebres processos rie depuração de
José Estaline na União Soviética e nos pai'
/f,r(c i , , , j ^ ses do Bloco de Leste durante as décadas
de 30 e 40. Os réus apareciam em tribunal
em estado de aparente confusão, de olhos
/ • • ' /
vidrados, confessando crimes que não ti
r/irtht\ , 1 7f<~ > ' foè nham hipótese de ter cometido.
O penlolal rie sódio, barbitúrico usado
pelos anestesistas para descontrair os
doentes antes de uma operação, é frequen-
* ' temente designado por soro da verdade.
Neste contexto, é utilizado para promover
a criação de um estado rie desorientação
no qual a percepção rio ambiente por parte
do indivíduo pode ser manipulada.
AdminiStra-se uma dose potente da dro-
ga, que toma a pessoa inconsciente. Dá se
-lhe depois uma injecção do estimulante
benzedlina para a reanimar, mas apenas
parcialmente. Com a pessoa semieons
ciente, um psiquiatra pode empregar téc-
nicas hipnóticas para modificar a sua per
cepção daquilo que se passa em seu redor.
Quando este método foi utilizado num
soviético suspeito de espionagem na Ale
V
manha Ocidental em 1955, a sua mente foi
reconduziria a uma fase em que ele pensa-
va estar a falar com a mulher em casa, o
que o fez ciar, sem constrangimento, uni
relato rias suas actividades secretas.

BI
Como as câmaras fotográficas podem enganar a visão
Desde o dia em que as pessoas aprenderam "Fotografias" de espíritos dos mortos, Quando se desconhece o modo como
a fotografar e a revelar as suas fotografias, de objectos e pessoas em levitação, de ov- as fotografias acontecem, é mais fácil acre-
aprenderam também a falsificá-las. Quan- nis e até de fadas têm enganado, ainda que ditarmos ou fazermos crer que tudo o que
do se viu pela primeira vez numa chapa temporariamente, tanto os leigos como os se vê nas imagens pode ter acontecido.
fotográfica uma exposição dupla - prova- peritos. Com a fotografia cada vez mais na era
velmente acidental —, ficou demonstrada Os fotógrafos sabem que podem fazer a dos computadores, mais sofisticadas se
a possibilidade de se adicionarem imagens fotografia de um objecto e sobrepor-lhe têm tornado as técnicas para fazerem as
sobre imagens. outro, expondo de novo a mesma película. câmaras fotográficas "mentirem".
Fotografia
do céu

ti*

Aviáo em
t* -
miniatura

Klk • tf

^%5&

Paisagem

Vedação em
primeiro plano
gulos ligeiramente diferentes, sobrepostas Na última fase, o céu e os jactos, as figu-
Seis fotografias numa só à fotografia do céu e colocadas com esta ras e o campo, as árvores e a vedação foram
entre dois vidros para serem reproduzidas. colocados uns sobre os outros e reprodu-
Esla cena rural, poluída por imagens amea- Juntou-se-lhes outra fotografia do céu zidos como uma só fotografia.
çadoras - caças a jacto e uma sebe de para se obter a faixa mais clara junlo ao
arame farpado -, não existe tal como a horizonte. A imagem principal, da mu- Capa de disco. Combinando fotografias
vemos. A fotografia é urna imagem múlti- lher e da criança no prado, é uma vulgar (página anterior) e reproduzindo-as, o foto
pla, uma combinação de diversas fotogra- fotografia a cores. As imagens do primei- grafo londrino Chris Morris criou urna cena
fias. Foi imaginada e criada para a Quaker ro plano - uma de árvores e um portão, sugerindo a ameaça militar. "Mas a cena
Peace Foundation pelo fotógrafo londrino outra de uma vedação de arame foram nunca existiu como a vemos", explica. A
Chris Morris para a capa de um disco. sobrepostas em conjunto e reproduzidas imagem foi composta por sobreposições
Os dois aviões são fotografias de uma numa película de grande formato a preto diversas para a capa de um disco para a
mesma miniatura feitas em estúdio de ân- e branco. Quaker Feace Foundation.
Encaixe perfeito
"Super-realidade" foi o nomo
dado pelo seu criador a esta
imagem da Abadia de West-
minster, em Londres - pois,
embora a colorida janela do vi-
tral seja autêntica, ela apenas
se vê neste esplendor quando
é iluminada pela luz do dia que
entra na abadia.
0 fotógrafo Chris Morris co-
meçou por fotografar a fachada
da abadia por fora. Mediu a dis-
tância entre a câmara e o edifí-
cio e marcou a mesma distân-
cia no interior. Depois, fotogra-
fou a luz do Sol atravessando os
vitrais da janela do lado oeste.
"Fiz apenas um ligeiro ajus-
tamento no tripé", diz, "para
compensar o nível um pouco
mais baixo do chão da abadia."
Devido ao cuidado posto
nas medições, a fotografia inte-
rior da janela encaixou perfei-
tamente na outra quando ele
as sobrepôs para as reproduzir
em conjunto.
"Qualquer pequenina dife-
rença no ajustamento foi dis-
farçada pela aura luminosa em
volta da janela", acrescenta,
'efeito este que criei durante a
sobreposição."

Efeito luminoso. Esta fotogra


fia da Abadia de Westminster
dá-nos a ideia de que irradia
dela urna luz interior. Na reali-
dade, este efeito apenas é visí-
vel no interior, onde a imagem
foi fotografada, sendo depois
sobreposta a uma fotografia da
fachada.

Simulação de voo
Esta fotografia do primeiro voo
de Santos-Dumont na Europa
é uma falsificação. Mas a verda-
de é que o brasileiro efectuou
em Paris, em 23 de Outubro de
1906, um voo de 61 m. O avião
de Santos-Dumont foi fotogra-
fado quando este o suspendeu
de um cabo para verificar o
equilíbrio. Depois, recortou-se
uma cópia, que foi montada
sobre uma outra de pessoas
que observavam um balão —
fazendo se em seguida uma
reprodução da montagem.

Falso voo. As árvores teriam


impedido a descolagem.

,S4
Menina fantasma
Durante cerca de 60 anos, di-
versos livros e revistas publica-
ram esta fotografia de uma me-
nina segurando um ramo de
flores e um sobrescrito, de pé
em frente de um homem sen-
tado à secretária. Era apresen-
tada como prova de que a "fo-
tografia de espíritos" era genuí-
na. Apareceu pela primeira vez
em 1919 e foi feila por um
curandeiro e médium espírita,
o Dr. T. d'Aute Hooper, de Bir-
mingham, que afirmou que
um dos seus pacientes, que ti-
nha como hóspede, lhe pedira
para fazer a fotografia, pois
sentia uma presença invisível.
"Peguei na câmara fotográfi-
ca e, antes de expor a chapa,
disse-lhe que via ao pé dele
uma linda criança", escreveu o
Dr. Hooper. "O próprio ho-
mem levou a chapa para a câ-
mara-escura e revelou-a, sur-
gindo então a linda forma de Sobreposição. Um anúncio dos finais do século xtx foi utilizado numa suposta "fotografia de espírito".
uma menina ... A exclamação
do senhor foi: 'Céus! É a minha filha, que do sabonete Pears' no início do século. pelos chamados "fotógrafos de espíritos".
morreu há trinta anos'.» Hooper preparara antecipadamente Mas por que razão o paciente de Hooper
Só quando, na década de 80, ressurgiu o uma chapa em que fotografara o quadro da manifestara logo a impressão de que a me-
interesse pela fotografia de espíritos, al- menina, apagando-lhe o fundo. Quando o nina era a sua filha que tinha morrido?
guns investigadores "reconheceram" a seu paciente revelou a fotografia que Hoo- Diz o investigador de fenómenos inex-
menina da fotografia: ela aparecera num per lhe tirara com a mesma chapa, esta plicados Arthur C. Clarke: "Talvez ele, na
quadro chamado Para Ti, pintado em 1879 segunda fotografia fornecera o novo fundo. sua dor e agarrando-se às mais pequenas
por Charles T. Garland e usado no anúncio Era uma técnica comummente utilizada coisas, tenha sido vítima de uma ilusão."

Fotografia falsa
de um ovni
Ao princípio, os peritos fotográ-
ficos convenceram-se de que a
fotografia, à direita, de um su-
posto objecto voador não iden-
tificado era genuína. Foi feila
por um piloto de avião comer-
cial sobre a Venezuela em 1905.
Mas quando o Dr. B. Roy Frie-
den, da Universidade do Arizo-
na, examinou a fotografia em
1971, fez notar que os contor-
nos do "disco voador" estavam
demasiado nítidos para se tra-
tar de um objecto distante — e
suspeitou de que a sombra no
chão tinha sido acrescentada.
Um engenheiro de Caracas
admitiu então ter sido o falsifi
cador. Confessou que o ovni
era a fotografia de um botão
sobreposta à fotografia aérea e
fotografada de novo.

Botão '^voador". Este "ovni"


quase convenceu os peritos.

«..
chegaram ao conhecimento de Conan
Doyle através da Sociedade Teosófica,
onde Doris, a mãe de Elsie, se lhes referiu
numa reunião em 1919.
Conan Doyle, espírita empenhado, in-
cumbiu Kdward Gardner, fotógrafo e teo-
sofista notável, de analisar as fotografias.
Acabou por convencer-se da autenticida-
de destas; e em Novembro de 1920, Conan
Doyle publicou as fotografias na revista
Fantasia. Recortes de um Hum The Strand.
tornaram-se "fadas" Ao longo dos anos, as duas raparigas
mantiveram a sua história. Mas havia
investigadores psíquicos de quem duvidasse dela. Em 1978, o prestidi-
todo o Mundo - incluindo Sir gitador americano James Randi chamou a
Arthur Conan Doyle, o criador atenção para a semelhança entre as figuras
do mais famoso detective da fic- de uma das fotografias e um desenho de
ção, Sherlock Holmes. fadas no Princess Mary's Gift Book, publi-
Foi em Julho de 1917 que Elsie cado dois anos antes de as fotografias se
Wright, então com 15 anos, e a sua rem feitas.
prima Francês Griffiths, de 10 anos, Só em 1983 Elsie e Francês, nessa altura
pediram emprestada ao pai de El- viúvas c idosas, confessaram. Elsie dese-
sie, Arthur Wright, uma câmara fo- nhara e pintara as farias em cartolina e
Sonho de um dia de Verão tográfica de "caixote" — e foram brincar prendera-as nos ramos com alfinetes de
perto de um regato no vale. Quando as chapéu. Elsie revelou ainda que o logro
Durante quase 70 anos, duas primas fotografias que fizeram nesse dia e nos se- fora inicialmente planeado para que Fran-
guardaram o seu segredo das fadas que guintes foram reveladas, mostravam uma cês não fosse castigada por ter caído no
diziam ter fotografado num vale arboriza ou outra das duas raparigas juntamente regato. Francês morreu em 1986, com 79
do de Cottingley, no Yorkshire. Durante com imagens daquilo que pareciam fadas anos. Elsie, que morreu dois anos depois,
esse tempo, as suas fotografias controver dançando, saltando e pousadas nos ra- com 87, disse ao Times de Londres: "A
sas ganharam fama internacional e des- mos. Numa delas, via-se Elsie com um brincadeira devia durar duas horas e durou
concertaram especialistas fotográficos e gnomo alado que dançava. As fotografias setenta anos."

Malabarismos com a realidade: o arranjo de fotografias em computador


Quando foi conjugada com a tecnologia No anúncio de uma revista, por exem- Por este processo pode "apagar-se" um
dos computadores, a fotografia atingiu plo, o automóvel do último modelo para- barco de um cais (cm baixo). O scanner
quase proporções de magia. Graças ao do à beira do Grand Canyon pode nunca electrónico percorre a fotografia e regista
processamento computorizado de ima- ter saído do stand onde foi fotografado. O cada pixei, que decompõe nos respectivos
gens, qualquer componente de uma foto- processamento computorizado pode elementos básicos: vermelho, verde, azul e
grafia — um navio, até uma pessoa — transplantar a sua imagem para um diapo- preto. Cada pixel é arquivado no compu-
pode desaparecer electronicamente. O es- sitivo do Canyon. E, através da redisposi- tador sob a forma digital. A fotografia pode
paço em branco pode ser então preenchi- ção dos elementos da fotografia (pixels), o então ser copiada com os pixels dispostos
do. Também podem adicionar-se novas carro pode ser transformado de um mode- na ordem desejada.
imagens. A técnica implica o registo dos lo de quatro portas num modelo de duas. No caso do barco que desaparece, os
mais diminutos elementos da fotografia e a Os efeitos da sombra na pintura podem pixels deste são removidos e substituídos
sua redisposição ou recomposição. fazer-se condizer com os do Canyon. por outros idênticos aos do empedrado.

Barco que se desvanece. O processamento computorizado de imagens pode eliminar ou acrescentar qualquer elemento fotográfico.

86
A. Larson, da Universidade da Califórnia,
em colaboração com a polícia local.
Detecção de mentiras por meio A máquina de Larson registava simulta-
neamente a tensão arterial do indivíduo e
de uma máquina os seus ritmos respiratório e da pulsação.
Os resultados eram registados por três ca-
netas sobre um rolo de papel contínuo.
No princípio da década de 80, pelo menos dora de droga e já ter estado presa. Ambas Denominada polígrafo, a máquina em bre-
1 milháo de pessoas nos EUA (a maioria, as acusações eram falsas. ve foi alcunhada de detector de mentiras.
candidatas a empregos) eram submetidas Desde então, as empresas americanas Mais tarde, o polígrafo transformou-se no
anualmente a testes de detecção de menti- foram proibidas de utilizar estes testes nos aparelho actual pela adição de uma quarta
ras. Mas esses testes levaram certas pes- exames de candidatos. medição - a da condutibilidade eléctrica
soas a serem falsamente acusadas de deso- Um grande utilizador dos detectores de da pele, que varia conforme a quantidade
nestidade. Uma dessas vítimas foi a estu- mentiras são as forças policiais. Mas, passa- de transpiração.
dante universitária Shama llolleman, re- dos mais de 60 anos sobre a invenção do Os testes de detecção de mentiras de-
cusada por uma loja de Nova Iorque por o detector de mentiras, o seu uso mantém- vem ser conduzidos em condições estrita-
seu teste indicar que ela poderia ser vende -se controverso. mente controladas. A pessoa testada é liga-
O aparelho funciona com base no prin- da à máquina e faz-se-lhe uma série de per-
cípio de que a pessoa que mente fica sob guntas inocentes como: "O seu nome é
COMO LUDIBRIAR O DETECTOR stress emocional, o qual acelera os ritmos José da Silva?" (que pode ou não ser), a fim
DE MENTIRAS da pulsação e da respiração e provoca de se obter uma resposta que proporcione
Peritos médicos dos EUA e da Grá-Bre- transpiração. Estes efeitos podem ser de- curvas de referência no polígrafo.
tanha dizem ser perfeitamente possível tectados por instrumentos sensíveis. Se a pessoa mente, o aparelho deve ser
unia pessoa suspeita ludibriar o detec- A primeira pessoa a usar aparelhos para capaz de detectar as alterações causadas
tor de mentiras. O truque é fazer com detectar o stress através das variações do pelo stress da mentira e de as registar.
que as respostas às perguntas de con- ritmo da pulsação e da tensão arterial foi o Um inconveniente é o de certas pessoas
trole se pareçam tanto quanto possível criminologista italiano Cesare Lombroso, ficarem tão nervosas que parecem estar a
com as respostas às perguntas verda- na década de 1890. mentir ainda que digam a verdade. Outras
deiras. Para que uma resposta seja clas- Em 1921, foi criado o primeiro detector podem ter tanto domínio das suas emoções
sificada como sendo uma mentira, tem de mentiras moderno com monitorização que coasigam mentir sem afectar as curvas
de ser registada com uma intensidade contínua pelo estudante de Medicina John do polígrafo. Mas estas são a excepção.
muito maior que as respostas de con-
trole. COMO UM DETECTOR DE MENTIRAS TRAÇA O SEU VEREDICTO
O Dr. David Thoreson Lykken, pro- O detector de mentiras é um conjunto de O segundo instrumento, o cardiosfig-
fessor de Psicologia e Psiquiatria na Es- três instrumentos diferentes, cujas infor- mómetro, detecta as variações na tensão
cola Médica da Universidade do Minne- mações são transmitidas separadamente arterial e no ritmo da pulsação. As informa-
sota, escreve no seu livro Uma Tremura ao detector e registadas como curvas inde- ções são captadas por uma manga de bor
no Sangue que o entrevistado poderia pendentes num gráfico. racha aplicada ao braço. O terceiro instru
identificar as perguntas de controle du- Um dos instrumentos, o pneumógrafo, mento é o galvanómetro, que mede a pas-
rante a entrevista anterior ao teste. Po- regista os padrões da respiração. Ata-se ao sagem de uma corrente eléctrica muito fra-
deria depois fazer qualquer coisa para peito da pessoa um tubo de borracha e os ca através da pele. Esta conduz melhor a
identificar a sua resposta às perguntas instrumentos medem as flutuações do vo- electricidade quando está húmida com a
de controle durante o teste - qualquer lume de ar no interior desse tubo provoca- transpiração. Os eléctrodos aplicam-se ge
coisa sempre diferente, para não levan- das pelas variações da respiração. ralmente sobre as mãos com adesivo.
tar suspeitas. Verdade Verdade Mentira
Mentira
"Após a primeira pergunta de con-
trole, eu poderia suspender a respira-
ção por uns segundos, depois inspirar
profundamente e suspirar. Quando fos-
se feita a segunda pergunta de controle,
poderia trincar a língua com força, res-
pirando rapidamente pelo nariz. Du-
rante a terceira pergunta de controle,
podia fazer força com o braço direito
contra o braço ria cadeira ou contrair os
músculos das nádegas. Uma tacha de
desenho dentro da meia pode ser utili-
zada disfarçadamente para produzir
uma boa reacção no polígrafo."
0 Dr. Archibald Levey, do Conselho
de Investigação Médica Inglês, que ela-
borou um relatório sobre detectores de
mentiras para o Governo Inglês em
1988, diz ainda que podem utilizar-se
técnicas de meditação para conseguir o
efeito oposto baixando a intensida-
de de todas as respostas. Um processo controverso. As verdades e as mentiras sao registadas como variações
gráficas dos ritmos cardíaco e respiratório e da transpiração do indivíduo durante os testes.

87
Em busca das
causas de um
incêndio
Em 1966, na véspera cio Ano Novo, um in-
cêndio malou 97 pessoas num hotel de
Porto Rico. Os empregados do hotel, o Du
pont Plaza, em San Juan, estavam furiosos
pela falia de um acordo salarial, e dois de-
les usaram álcool desnaturado para incen-
diar urnas caixas de cartão e outro lixo
numa sala de baile vazia.
Em 15 minutos, as chamas tinham inva-
dido todo o rés-do-châo e encurralado os
hóspedes no último piso do edifício de 21
andares. Muitos dos 1400 ocupantes tive-
ram de ser salvos por helicópteros. Além
dos 97 mortos, houve 140 feridos.
Quando, posteriormente, examinaram
os restos calcinados do mobiliário da sala
de baile, os investigadores descobriram FOGO NO METROPOLITANO
vestígios do álcool desnaturado e concluí Depois do fogo do metropolitano de Lon-
ram que se tratara de fogo posto. Chamou dres, demonstrou se como um fósforo ace-
-se então o FBI para interrogar o pessoal do so p<xlia incendiar uma escuda rolante. Oito
hotel. minutos depois de um fósforo pegar fogo ao
No fim, foram presos três emprega- óleo e COtâo por debaixo dos degraus (em
dos, que foram condenados a penas de cima), as chamas propagaram-se à madei-
prisão entre os 75 e os 99 anos. ra (à direita) - a setu branca indica onde o
Os peritos em incêndios são das primei- fósforo penetrou — e depois pelo túnel da
ras pessoas a chegarem ao local depois de escada (em baixo). Uma simulação (à direi-
extinto um fogo. A sua primeira tarefa é ta, em baixo) indicou o percurso dos gases
preservar e tomar nola dos materiais quei- quentes até ao andar de cima.
mados. Por vezes, é evidente
tratar-se de fogo posto
quando se verificarem diver-
sos focos simultâneos ou ai
guém foi visto a fugir do local
mesmo antes de se detectarem
as chamas.
Á\\\V^^
A segunda tarefa é localizar
o ponto ou os pontos onde o
fogo se declarou e onde ele foi
mais intenso. É também ne-
cessário traçar o caminho per-
corrido pelo fogo. Pode dedu
zir-se muito da observação dos
vestígios do fumo e dos estra-
gos causados aos materiais. Um varão de factores que ajudam o fogo a alastrar. Cai-
metal torce-se ou derrete-se conforme a xas de elevadores, chaminés de ventilação
proximidade a que está da parte mais e caixas de escadas produzem 0 chamado
quente do fogo. A densidade das rachas "efeito de chaminé", transmitindo os gases
num vidro corresponde habitualmente à aquecidos às partes superiores do edifício e
intensidade do calor. criando novos focos de incêndio. O investi-
A dilatação dos metais também pode gador pode ser confundido por fogos pro-
ser reveladora: uma viga de aço com 10 m vocados por ruptura de tubos do gás ou sas — uma lata vazia de gasolina deixada
aquecida a 500"C dilata-se 7 cm. A altura de combustíveis armazenados. Latas de ae- pelo incendiário, fios queimados que indi-
madeira ou alcatifa calcinada dá igualmen rossol que explodem podem originar bolas quem uma ligação eléctrica defeituosa, até
te indicações sobre a temperatura ou a du de fogo com mais de 1 m de diâmetro. 0 fragmento de um fósforo que descuida
ração de um incêndio. Depois de encontrar o foco do incêndio, damente se deitou fora.
Por outro lado, há que ter em conta os 0 investigador procurará indícios das cau- Os peritos forenses são especialistas no
exame dos fragmentos dos materiais quei-
Inferno nas alturas. O fogo consumiu quatro dos 62 andares da First Interstate Tower, de mados. Depois de um dos maiores incên-
Los Angeles, em Maio de 1988. lima pessoa morreu e 40 ficaram feridas neste incêndio. dios ocorridos em Itália, o do Cinema Sta-

,vt
tuto, de Turim, em 13 de Fevereiro de 1983, dio, o investigador pode, por exemplo, veri- Estação de King's Cross do metropolitano
em que morreram 64 jovens, descobri- ficar que um dos cadáveres foi vítima de de Londres, em Novembro de 1987, inicial-
ram-se fragmentos de fios velhos que ti- assassínio, indicando que o incêndio terá mente tomado como fogo posto, decla-
nham estado na origem do fogo. sido ateado para encobrir o crime. Um cor- rou-se numa escada rolante e foi alimenta-
No exame forense, os peritos verifica- po humano é muito difícil de queimar com- do pela corrente do ar proveniente dos tú-
ram que tinha havido desrespeito pelos re- pletamente, e os seus restos podem dizer neis. Os investigadores concluíram que ele
gulamentos italianos de segurança. 0 pro- muito aos investigadores: o corpo pode ter tivera origem no cotão e no óleo acumula-
prietário do cinema, o supervisor dos tra- ardido mais intensamente que os objectos dos por debaixo da escada, quase certa-
balhos de decoração e dois bombeiros lo- em redor, sugerindo que foi incendiado pri- mente incendiados por um fósforo deita
cais, que tinham afirmado que o cinema meiro, ou podem verificar-se indícios de do fora. Era proibido fumar nos comboios
era seguro, foram condenados a penas de asfixia no tecido pulmonar, o que significa do metropolitano desde 1984, mas muitas
prisão entre os quatro e os oito anos. que a pessoa foi estrangulada. pessoas acendiam os cigarros na escada
Não havendo causa aparente do incên- O incêndio que vitimou 31 pessoas na rolante quando se dirigiam para a saída.

Como descobrir pinturas antigas sob novas pinturas


Quando o quadro de Jean François Millet
O Cativeiro dos Judeus na Babilónia foi
apresentado no final da década de 1840,
tanto o público como a crítica foram muito
duros nas suas apreciações.
Os críticos parisienses acharam que a
superfície do quadro tinha uma camada
de tinta muito espessa, e um deles quei-
xou-se da selvajaria desmesurada da cena.
"Os soldados empurram as mulheres ju-
dias com uma violência excessiva."
O quadro desapareceu e os peritos de
arte concluíram que Millet o destruíra. Mas
em 1983, restauradores de arte do Museu
de Belas-Artes de Boston, Massachusetts,
utilizaram raios X para revelar a presença
de outra pintura por baixo da superfície do
retrato de A Jovem Pastora, de Millet.
A radiografia mostrava a imagem do
"desaparecido" e controverso Cativeiro,
de Millet. Pensa-se agora que Millet reutili-
zou a tela mais de 20 anos depois, quando
escasseava o material artístico, durante a
Guerra Franco-Prussiana de 1870-71.

Como se radiografa um quadro


A radiografia é o método mais usado para
descobrir pinturas ocultas. O comprimen-
to de ondas dos raios X é utilizado, pois
estes são facilmente absorvidos pelas tin-
tas. O grau de absorção depende do tipo de
pigmentos: as tintas à base de chumbo e
de cádmio, por exemplo, são mais absor-
ventes do que as que contêm crómio ou
cobalto. E as camadas mais espessas ab-
sorvem mais do que as delgadas.
Para radiografar um quadro, coloca-se
por detrás dele uma película fotográfica e
aplicam-se os raios X pela frente. Quando a
película é revelada, aparece a imagem es-
batida da pintura anterior.
No princípio da década de 80, por exem-
plo, dois restauradores de arte de Glasgow
- ambos técnicos de raios X num hospital
local — radiografaram O Homem da Arma-
dura, de Rembrandt, e descobriram o que
parecia ser uma pluma branca inclinada na
direcção errada a partir do topo do elmo.
Ao voltarem a radiografia, verificaram

90
que a "pluma" era parte de um trabalho
abandonado por Rembrandt: uma dama
com um vestido branco e um toucado.
De forma semelhante, num quadro do
pintor quinhentista italiano Paris Bordone
- S. Jerónimo e Santo António Abade (0
Eremita, o Grande) Louvando Um Benfei-
tor — verificou-se aos raios X que tinha
dois benfeitores, um deles pintado por um
artista desconhecido. Este quadro está
também na Galeria de Glasgow.
Os raios X são também utilizados para
estudar o pentimento — as alterações que Imagem tripla. Três cabeças foram reveladas pelas radiografias do Retrato de l IH Jovem, de
o artista faz enquanto produz uma obra. Karel du Jardin. Os peritos colheram amostras da tinta e fotografaram nas ao microscópio.
Alterações da composição, mudanças na Verificou-se assim que o corte da linha do maxilar marcada com um a continha sete camadas
inclinação da cabeça ou de um braço, são de tinta: 1. Base ocre vermelho-acastanhada 2. Primário cinzento. 3. Carnaduru feminina,
reveladas pelos raios X e úteis para os histo- pálida, do primeiro retrato. 4. Segundo primário cinzento. 5. Curnadura do segundo retrato.
riadores e restauradores de arte. (A palavra 6. Terceiro primário cinzento. 7. Sombra do maxilar do homem.
"pentimento" vem do italiano pentersi,
"arrepender-se", sugerindo uma mudança
de ideias por parte do artista.)

Traços de carváo
A luz infravermelha também é utilizada
para se descobrirem pinturas sob outras
pinturas. Quando se fazem incidir raios in-
fravermelhos sobre a pintura, eles pene-
tram as tintas da superfície e são reflecti-
dos. O reflexo é fixado por uma máquina
fotográfica. 0 efeito deste processo é tor-
nar transparentes as camadas delgadas c
superficiais da tinia, revelando os traços de
carvão do desenho preliminar do artista. A
técnica tem sido utilizada pelo Museu Me-
tropolitano de Nova Iorque para estudar os
quadros da Renascença Flamenga.
Em alguns casos, revela pormenores
não visíveis na pintura final e ajuda a com-
preender a técnica do artista.

O retrato perdido. Quando o retrato de


Dona Isabel de Porcel (à direita), pintado
por Goya. foi observado aos ratos X, desco-
briu se. por baixo, o retrato de um homem
desconhecido fã esquerda). 0 uso de outra
técnica, a fotografia por infravermelhos,
mostra o olho direito do homem (em cima).

•n
As impressões
digitais e os
criminosos

A Polícia pode querer lirar as impressões


digitais de uma pessoa porque suspeita
dela como criminosa ou porque quer
identificar as impressões "inocentes".
Como cada indivíduo possui o seu conjun-
to único de impressões digitais, a técnica
constitui um importante auxiliar na luta
contra o crime.
O processo consiste em colocar as pon-
tas dos dedos sobre uma almofada de tinta,
fazendo pressão, e depois de encontro a
>V
um papel, por forma a registar o desenho
dos padrões da pele. Estes são depois com- Padrões indiciadores. A fotografia grande, a azul, rnostra-nos a impressão do polegar de
parados com as impressões deixadas na um adulto. As fotografias pequenas apresentam, da esquerda para a direita, quatro padrões
superfície dos objectos na cena do crime. de arcos, presilhas, oertkilos e compostos. Comparados entre si. os padrões podem ajudar a
estabelecer a inocência ou a culpabilidade de um suspeito.
Plásticos e tintas
As impressões digitais consistem em mi- camada de ouro, depois uma de zinco. O é o bastante para se concentrar a investiga-
núsculas quantidades de humidade, que, ouro deposita se uniformemente, mas é ção sobre determinado suspeito.
numa superfície, produzem padrões iguais absorvido pelas cristas de humidade que
aos "sulcos" e "cristas" existentes nos de- formam o padrão dactiloscópico. 0 zinco Impressões de luvas
dos e noutras zonas da mão. Nos materiais só se condensa sobre outro metal, pelo As luvas fornecem impressões distintas de
nào-absorventes, como os plásticos e as que adere às áreas cobertas de ouro, tor- modo muito semelhante à pele humana,
superfícies pintadas, as impressões são nando-as mais contrastantes com as hn devido à gordura que se acumula na sua
mais nítidas que nos absorventes, como os pressões não recobertas e permitindo que superfície. As impressões de luvas podem
tecidos. As impressões são normalmente sejam fotografadas. igualmente ser reveladas por uma camada
invisíveis, excepto se produzidas por tinta Uma vez obtida a fotografia, esta é com de pó e, se coincidem com as de uma luva
ou sangue. Por este motivo, o perito policial parada com as impressões digitais dos cri- encontrada em poder de um suspeito,
em dactiloscopia utiliza um pó muito fino minosos. Os padrões dactiloscópicos são constituirão uma prova importante.
(muitas vezes alumínio em pó) para cobrir decompostos em traços característicos -
as superfícies em que poderão existir im- "forquilhas", "lagos", "esporões" e "ilhas" A comparação das impressões
pressões digitais. As partículas do pó ade- Para que uma identificação possa ser A comparação das impressões digitais re-
rem aos tractos de humidade, tomando-os apresentada em tribunal, é preciso que um quer boa vista e concentração intensa.
visíveis. Uma fita gomada é então aplicada à certo número de características reconhecí- 0 processo assemelha-se àqueles pas-
marca, recebendo uma impressão que veis das impressões de um único dedo cor- satempos em que têm de descobrir se as
pode ser levada para fotografar. respondam ao mesmo número de caracte- diferenças entre dois desenhos aparente-
A tecnologia moderna auxilia agora a rísticas da impressão em arquivo. Este nú- mente iguais. Com a identificação das im
Polícia a conseguir impressões de superfí- mero varia conforme os países, mas pode pressões digitais sucede o inverso: o perito
cies das quais antigamente nada se obti- chegar a 17. Se as impressões forem de tem de procurar as semelhanças.
nha, como sacos de plástico. mais que um dedo, o tribunal aceita me- As impressões digitais sáo normalmen-
0 processo, denominado metalização nos características por dedo. A maioria dos te arquivadas por nomes. Na maioria dos
no vácuo, consiste em colocar a superfície especialistas considera que a existência de países, só se conservam as impressões dos
a examinar dentro de um recipiente ao mais de oito características é suficiente criminosos condenados e as não identifi
qual se extrai o ar, criando o vácuo. Vapori para confirmar uma identidade: embora cadas recolhidas em casos ainda por resol-
za-se por sobre a superfície primeiro uma tal não possa ser apresentado em tribunal. ver. Alguns países mantêm um arquivo na-

92
cional de impressões digilais, mas, devido a pena debruçar-se sobre os passadores de
ao tempo que as buscas podem demorar, cheques falsos, por exemplo. O CASO ESPANTOSO DE QUATRO
é considerado simplesmente como instru Os peritos dactiloscopistas comparam IRMÃOS
mento de recurso para utilização quando ainda as impressões digitais de criminosos A prova por impressões digitais condu-
não se consegue identificar localmente presos recentemente com marcas não ziu, provavelmente, ao único caso em
uma marca. identificadas obtidas durante a investiga- que dois irmãos, condenados junta
Mantém-se também arquivos dos crimi- ção de outros crimes, na esperança de re- mente por assassínio, foram executa-
nosos com especialidades conhecidas, solverem casos em suspenso. Comparam dos por outros dois irmãos.
como os ladrões de automóveis ou os car- igualmente as marcas não identificadas Em 1905, Alfred e Albert Stratton
teiristas. As polícias secretas e as organiza- com as marcas novas para verem se deter- foram acusados do assassínio de um
ções de contra espionagem possuem minados crimes constituem uma série in- casal idoso, espancado até à morte,
igualmente os seus ficheiros com os indiví- terligada. Fazem diariamente dezenas de no andar por cima da sua loja, em
duos que consideram revolucionários ou comparações, mas podem trabalhar du- Londres.
agentes inimigos. rante dias sem conseguirem uma identifi- No chão, junto aos corpos, foi en-
0 perito dactiloscopisla começa por cação positiva. contrado, vazio, o pequeno cofre em
examinar as marcas reveladas no local e A maior parte deste trabalho é manual e que o casal guardava as suas econo-
decorar as respectivas características. Em extremamente laborioso. No início da dé- mias. No tabuleiro de metal do cofre, os
seguida, compara-as com as impressões cada de 80, criaram-se processos electró- peritos recolheram a impressão de um
digitais de pessoas inocentes que possam nicos destinados a acelerá-lo. As impres- polegar suado ou sujo de óleo que não
ter deixado marcas na cena do crime - sões podem hoje ser arquivadas e procura- condizia com o dos mortos — nem
membros da família ou polícias, por exem- das em sistemas de indexação electrónica, com o do primeiro agente da Polícia
plo. Todas as marcas que coincidam com por forma que o premir um botão pode, que chegou ao local.
as impressões inocentes são postas de por exemplo, apresentar-nos todas as im- A suspeita recaiu sobre os Strat-
lado. O perito retira então do ficheiro to- pressões dos ladrões de automóveis co- tons, ambos assaltantes conhecidos.
das as impressões dos suspeitos possíveis, nhecidos que vivam em determinada área Foram presos e julgados. A impres-
cujos nomes lhe foram indicados pelos e tenham menos de 30 anos. Estes siste- são do polegar constituiu a prova
detectives que investigam o caso. mas podem ser ligados a sistemas idênti- principal.
Se estas não coincidem, terá de fazer cos de forças de investigação vizinhas ou Foram os dois considerados culpa
uma busca mais alargada e laboriosa. Se mesmo aos arquivos nacionais para au- dos e condenados à morte, sendo en-
procura um ladrão, começará por reler to mentar o potencial das buscas. A compa forcados pelos irmãos John e William
dos os casos de furto na localidade, seguin- ração visual, contudo, continua a ter de ser Billington, executores públicos, em 23
do depois para os das redondezas. feita pelo perito dactiloscopista. de Maio de 1905.
Dependendo do tempo superiormente Cientistas de lodo o Mundo procuram
estabelecido para se dedicar às buscas, po- desenvolver sistemas computorizados "Mr. Flngertipa",
derá prossegui las nos departamentos de para arquivar e — o mais importante — ou o "Senhor Pontas-dos-Dedos"
dactiloscopia de outras forças policiais. A comparar as impressões digitais e as mar A primeira identificação de um homi-
procura do arrombador de uma casa pode cas recolhidas. Alguns processos, que che- cida pela comparação das impressões
alargar-se a outros tipos potenciais de cri gam a fazer 60 000 comparações por se digitais com as dedadas deixadas no
minosos, como os arrombadores de co- gundo, estão já a ser utilizados por certos local do crime foi feita na Argentina, em
fres, mas o perito pode achar que não vale departamentos policiais de alguns países. 1891, graças aos trabalhos do dactilos-
copista João Vucetich.
2 3 5 6 Anteriormente, o método habitual
de registo dos caracteres dos crimino-
sos baseava-se no sistema antropomé
Irico, criado pelo criminologista fran-
cês Alphonse Bertillon, e implicava a
medição dos braços e pernas do crimi-
noso, bem como fotografias de frente e
de perfil.
O inglês Edward Henry interessou-
-se pelas impressões digitais na década
de 1890, quando foi inspector-geral da
Polícia de Bengala, na índia. As suas
ideias despertaram interesse em Ingla-
terra, e, em 1901, Edward Henry foi no-
meado responsável pelo Departa
mento de Investigação Criminal ria
Scotland Yard. Aí criou a primeira Sec-
ção de Impressões Digitais, que em
seis meses procedeu a mais de 100
identificações bem-sucedidas.
Henry foi posteriormente comissá-
rio da Polícia Metropolitana. Refor-
mou se o recebeu um título nobiliár-
quico em 1918 — mas ficou sempre
Marcas e impressões digitais. A marca deixada no local do crime (à esquerda) foi recolhi conhecido por "Mr. Fingertips" ("Sr.
da por um perito policial. Foi seguidamente comparada com a impressão digital do suspeito, Pontas-dos-Dedos").
feita com tinta, verificando-se correspondência entre 12 características.

93
A "dactiloscopia"
genética:
processo de
identificação que
não falha
A "dactiloscopia" genética alterou o curso
da investigação criminal: é o método até
hoje mais rigoroso para a identificação de
um individuo. O processo pode igualmen-
te provar a paternidade de uma criança e
controlar a criação de animais raros.
0 inglês Alec Jeffreys, geneticista da Uni-
versidade de Leicester, descobriu a dacti-
loscopia genética em 1984. Fazia investiga-
ções sobre o ácido desoxirribonudeico
(ADN), 0 composto químico que, no inte
rior de todas as células vivas, determina as
características de cada indivíduo, como a
cor dos olhos c do cabelo. A estrutura do
ADN é diferente de pessoa para pessoa,
excepto nos gémeos idênticos.
0 Prol. Jeffreys descobriu que no inte-
rior da molécula de ADN existe uma se-
quência de informações genéticas que se
repete muitas vezes ao longo da respectiva
estrutura, formando uma dupla espiral.
0 comprimento da sequência, o nume
ro de vezes que ela se repete e a sua locali-
zação precisa dentro da cadeia do ADN são
únicos em cada indivíduo. Criou-se um
processo de passagem destas sequências
a registos visíveis. A imagem final, a "im-
pressão digital" genética, consiste numa
série de barras sobre uma película de raios
X, semelhante aos códigos de barras utili-
zados nas embalagens dos produtos.
Para obter um espécime de ADN o cien-
tista precisa apenas de uma amostra bioló
gica contendo algumas células humanas O ADN indica o culpado. O padrõo de ADN (ao meio) obtido de uma mancha de sangue
- em geral, sangue, sémen ou cabelo - encontrada no local do crime é comparado com os de se/e suspeitos. Só o padrão imediata-
em quantidades mínimas. mente à esquerda condiz exactamente Os outros são semelhantes, mas nâo idênticos Pode
A "dactiloscopia" genética é tão impor assim determinar-se a culpabilidade de uma pessoa e a inocência de outras seis.
tante no estabelecimento da inocência
como da culpa. O ladrão que parte uma duas jovens tinham sido violadas e mortas. ca do filho que não condizem com os da
janela pode deixar no vidro vestígios de O criminoso foi encontrado quando um mãe provêm do seu verdadeiro pai.
sangue que servem para a criação de uma homem disse a alguém que um seu compa- Outra utilização é nos transplantes de
impressão genética. Quando a Polícia nheiro de trabalho lhe pedira que tomasse o medula óssea. Os médicos verificam se a
prende um suspeito, extrai-lhe um pouco seu lugar quando fossem feitas as recolhas. impressão genética do paciente após o
de sangue e compara a impressão genéti- Um outro homem, anteriormente acusado transplante condiz com a do dador. Na afir-
ca com o que possui; se ela condiz, trata-se de um dos crimes, foi libertado porque a mativa, o transplante teve êxito e está a pro-
do ladrão; se não, o preso está inocente. sua impressão genética não se ajustava às duzir leucócitos sãos. Não coincidindo, o
Quando possui uma impressão genéti- provas obtidas na cena do crime. transplante não deu resultado.
ca, mas não um suspeito, a Polícia pode A "dactiloscopia" genética pode tam- Os zoólogos podem utilizar a "dactilos
obter impressões de um grupo de pessoas bém servir para resolver disputas de pater- copia" genética para controlar a criação de
fazendo colheitas de sangue. A primeira nidade. Um filamento de ADN é igualmen- animais raros e a conservação de certas
recolha de impressões genéticas de um te constituído pelas características de am- espécies. Comparam as impressões gene
número considerável de pessoas foi feita bos os progenitores. Comparando as im ticas obtidas de animais para assegurar
no Leicestershire em 1987, quando se ex- pressões genéticas da mãe e do filho, o que o cruzamento consanguíneo nas es-
traíram amostras de 5500 homens que vi- cientista pode afirmar com toda a seguran- pécies ameaçadas - que produz animais
viam nos arredores de uma aldeia em que ça que os elementos da impressão genéti enfraquecidos — seja evitado.

94
Como se produz um retrato-robô de um criminoso
Em Fevereiro de 1959, um ladrão armado Quer se utilize o Photo-FIT, quer o Iden-
assaltou uma loja no Sul da Califórnia e likit, os detectives começam por pedir às
fugiu com o produto do roubo. Não teria testemunhas que recordem os pormeno-
passado do típico crime menor, excepto res do crime em si, passando depois à des-
por um facto: o proprietário do armazém crição genérica do suspeito ou suspeitos.
forneceu ao xerife Peter Pitchess, da Polícia Eram baixos e atarracados ou magros e
do Condado de Los Angeles, uma descri altos? Que tipo de vestuário usavam? E que
ção pormenorizada do ladrão, o que per- fizeram na verdade no local do crime? Só
mitiu à Polícia fazer um retrato muito pare- então as testemunhas são interrogadas
cido do homem que procurava acerca dos pormenores do rosto. Fo-
Esse retrato foi posto a circular na zona, lheiam álbuns, ou "atlas de feições", con-
o que levou à identificação e prisão do lara- Polícia assassino. Em consequência da tendo as diversas folhas de Photo-FIT ou
pio - o primeiro criminoso do Mundo a montagem de um retrato-robô em França, o ldentikit, fazendo as suas escolhas. A face é
ser apanhado graças a um retrato-robô. assassino foi identificado como um dos pO montada folha a folha ou tira a tira.
0 processo fora concebido na década lícias que colaboravam nas investigações. Depois, muitas vezes, pede se a um de
de 40 principalmente por Hugh C. McDo- senhador da Polícia que retoque a ima
nald, funcionário policial do Departamen nhãs de cabelo, 99 olhos o sobrancelhas, gem: sobrepõe-se a esta urna folha de plás-
lo de Identificação de Los Angeles. Munin 89 narizes, 105 bocas o 74 queixos e fa- tico transparente, sobre a qual se acresceu
dose de cerca de 50 000 fotografias de ros- ces — o que permite biliões de combina- Iam os pormenores, como as sombras do
tos de pessoas, cortou-as em 12 secções ções possíveis. Além disso, podem ainda cabelo, as manchas da pele, cicatrizes, a
principais, que utilizou como a base do acreseentar-se barba, bigodes ou óculos. forma das sobrancelhas. O desenho é de-
que chamou ldentikit (à letra, "estojo de As componentes são cortadas por forma pois coberto por um fixador e assinado
identidade") — o que entre nós permite que o comprimento e a largura de uma pela testemunha.
fazer o chamado retrato-robô. face composta possa ser montada numa Recentemente, tem sido utilizada a tec-
O ldentikit era formado por quase 400 moldura que as mantém no lugar. nologia dos computadoras para realçar es-
pares de olhos, lábios, narizes, queixos, li- O kit básico é de rostos de raça branca, tes retratos. Ela permite que faces com as-
nhas de cabelo, sobrancelhas, barbas, bi havendo kits suplementares para os Ame- pecto extrcmamenle verdadeiro sejam de-
godés, etc, todos diferentes entre si. Para ríndios, Indianos e Afro-Caribes Ainda não senhadas no écran segundo as descrições
se construir um retrato, as diversas feições se criou um kit para os Orientais, que são das testemunhas e que se lhes apliquem as
eram desenhadas em folhas de plástico habitualmente desenhados por artistas. mínimas alterações. Obtém-se assim uma
transparente que se faziam combinar até As testemunhas dos crimes são entrevis- imagem que parece uma fotografia.
se obter um retrato composto que se ajus- tadas pela Polícia logo que possível, pois a Além disso, as fotografias de criminosos
tasse às descrições testemunhais do indiví- capacidade de recordar começa a dimi- capturados podem arquivar-se em com-
duo que se procurava. nuir ao fim de uma semana putador. São codificadas segundo as ca-
O emprego de fotografias ou de esboços racterísticas físicas, e o computador pode
desenhados para identificar e prender cri- apresentar uma escolha das que mais se
minosos começou cm França na década ajustem à descrição das testemunhas.
de 1880, altura em que o criminologista
Alphonse Bertillon criou um processo que
chamou portrait parle (retrato falado).
Este processo utilizava fotografias de cri-
minosos tiradas de frente e de perfil, corta-
Como os peritos
das em secções e montadas por forma que
certas feições — um nariz aquilino, um
em escrita
queixo proeminente, orelhas salientes -
pudessem ser estudadas. Tornava-se as-
apanham um
sim mais fácil para os agentes reconhecer
na rua os criminosos que procuravam.
criminoso
Nos meados da década de 70, surgiu na
América do Norte um novo sistema de re- Na tarde de 4 de Julho de 195G, depois de
trato-robô. Foi aperfeiçoado por Pai Dun um passeio, Mrs. Beatricc Weinbcrger re-
leavy, funcionário da Real Polícia Montada gressou à sua casa de Westbury, em Long
do Canadá, e serve-se de folhas de plástico Island, EUA, com o filho, Peter, de um mês.
com fotografias autênticas das diversas fei- Deixou o caninho no pátio e correu a bus-
ções do rosto. car uma fralda. Quando voltou momentos
No Reino Unido, desde 1970 que a Poli depois, o carrinho estava vazio — e no lu-
cia utiliza um sistema denominado Photo- gar de Peter havia uma nota escrita.
-FIT (facial Identification technique — téc- Rosto por computador. ;Vo mais recente A nota dizia: "Atenção. Lamento que
nica de identificação facial). O sistema em- processo computorizado de identificação, O isto tivesse de acontecer, mas preciso mui
prega também fotografias autênticas de E-FTT, Q descrição inicial da pessoa (1) pode to de dinheiro e não podia arranjá-lo de
pessoas "vulgares" montadas sobre delga alterar-se pela aplicação de um bigode (2), outra maneira. Não fale nisto a ninguém
das folhas de plástico. O conjunto básico, depois pela mudança do feitio do rosto (3) e nem vá à Polícia, porque eu observo-a de
em cinco secções, compõe-se de 195 li- peta colocação de uma cicatriz (4). perto. Estou aterrorizado e mato o bebé se

95
I
Até que em meados de Agosto estas pe
nosas tentativas trouxeram resultados. A
....gMr-,*<. ,->'• ' - -
caligrafia de Angelo John La Marca, de
Plainview, Long Island, condizia com a
do raptor especialmente no traçado pe
culiar dos yy.
Algum tempo antes, La Marca fora pos-
to em liberdade condicional pelo fabrico
ilegal de álcool. Ao ser confrontado com as
Prova escrita. A caligrafia nu nota amostras de escrita, confessou o rapto rie
de resgate coincidia com a de La Peter. Afirmou ter agido num impulso rie
Marca num impresso de liberdade momento para minorar as suas dificulda-
condiciono!. des financeiras. Disse à Polícia que deixara
o bebé vivo e são num parque próximo no
você fizer alguma coisa errada. Ponha segunda nota assinada "o seu baby-sittef'. dia a seguir ao rapto. Mas quando os agen
2000 dólares em notas pequenas num so- Nessa altura, a Polícia achou que o bebé já tes acorreram ao local, encontraram ape-
brescrito pardo e coloque-0 junto ao .se- estaria morto. nas o cadáver ria criança. La Marca foi mais
máforo na esquina da Albemarle Koad Foi chamado o FBI, cujos peritos em aná- tarde executado na Prisão de Sing Sing.
com Park Avenue exactamente às 10 horas lise de escrita manual começaram a tentar Mesmo que tivesse tentado disfarçar a
da manhã de amanhã (quinta leira). encontrar a pista do criminoso. Em ambas letra, é provável que l.a Marca tivesse sido
Se tudo correr bem, deixarei o belx? na as notas de resgate notou-se nos yy uma apanhado. Por muito que se tente disfarçar
mesma esquina, 'São e Salvo', exactamen primeira perna invulgar em forma de z. as peculiaridades e as características da es-
te ao meio dia. Não há desculpas, não pos- Tendo começado pelo registo automó- crita ou adoptar a caligrafia de outra pes-
so esperar! O seu baby-sitler." vel da cidade de Nova Iorque, os peritos soa, a "individualidade" de quem escreve
Apesar do aviso rio raptor, Mr. c Mrs. passaram as seis semanas seguintes pers- vem sempre à superfície. O ângulo com
Weinbcrger, preocupados, contactaram a crutando os ficheiros locais na Polícia, nos que a pessoa segura a caneta, a maneira
Polícia. Um sobrescrito com papel de jor- escritórios, nas fábricas, nos clubes e nas como cruza os // ou põe o ponto nos ii. a
nal cortado em pedaços foi colocado no escolas Ao lodo foram examinadas visual- altura e o tamanho rias letras maiús
local na manhã seguinte. Mas o raptor não mente e comparadas com as notas de res- cuias c minúsculas, o espaço entre as pala
apareceu. Faltou a dois "encontros" poste gaste mais de 2 milhões de assinaturas e de vras, o uso ou abuso da pontuação tudo
riores com os Weinbcrgcrs e deixou uma amostras de caligrafia. isto identifica uma pessoa.

QUANDO UM NOVO EMPREGO DEPENDE DA SUA CALIGRAFIA


Os candidatos ao lugar de assistente rio sar do seu estatuto social e profissional, decidir se se pode confiar numa pessoa.
director rio pessoal de uma companhia era inseguro e rígido. Por isso, o lugar foi Nos EUA onde as empresas perdem
de computadores tinham ficado reduzi dado ao primeiro candidato. algo como 40 000 milhões rie dólares por
dos a dois jovens com experiência, ca- Os grafólogos afirmam que a caligra- ano devido a empregados desonestos
pacidade e qualificações idênticas. Apa fia é uma espécie de "escrita do cérebro" , a grafologia tomou o lugar rio polí-
rentemente, nada havia que fizesse pre- em que a mente inconsciente é conduzi- grafo, ou detector de mentiras, cujos tes
ferir qualquer deles - pelo que os en da aos dedos e se revela no papel. tes já não são autorizados por lei.
trevistadores convocaram um grafólo Nos EUA, um grande número rie em- A selecção por polígrafo revelou-se
go para avaliar o carácter e as potencia- presas emprega grafólogos para anali de validade pouco segura. E os que criti-
lidades de cada um. sar as candidaturas a emprego, os pedi- cam a grafologia acusam do mesmo os
A caligrafia do primeiro candidato dos de promoção e as sugestões recebi- grafólogos - muitos deles autodidac-
era grande, fluida e arredondaria; a do das pelo correio. Na Alemanha, 80% das tas e cujas apreciações frequentemente
segundo era pequena, brusca e angulo- grandes empresas utilizam grafólogos se contradizem.
sa. Segundo o grafólogo, a primeira le na escolha do pessoal e esta prática No entanto, a maioria dos grafólogos
tra rienotava uma pessoa autoconfian- está a espalhar-se pelo Mundo. concorda em certos conceitos básicos
te, flexível e de bom contado. A segun Os apologistas do exame grafológico corno a importância da apreciação
da, no entanto, era de alguém que, ape- afirmam tratar-se de uma forma eficaz rie rio carácter através ria conjugação rie

TAMANHO INCLINAÇÃO LARGURA

\\VJAOJUU. - M. çr\ Wu)t)er\


Inclinação para a esquerda. Pode de Estreita. Os indivíduos com caligrafia
Escrita grande. Denota ambição ou es- notar um indioiduo reservado e tímido, estreita são habitualmente disciplina
pirito largo. Encontra-se muitas vezes na com tendência para esconder as suas dos mas inibidos. Podem ser igualmente
caligrafia das pessoas do espectáculo. emoções e manter uma atitude passiua. mesquinhos e de vistas estreitas.

(icjt nado Qusuuo


Escrita pequena. l3ode indicar modés-
tia e sentimentos de inferioridade, em Inclinação para a direita. Sugere uma l.arga. Os que escrevem com letra larga
bora o autor possa ser objectivo e de personalidade expansiva. O seu autor são normalmente desinibidos e gostam
espirito cientifico. gosta de se dar com as pessoas. de viajar. P<xlern ser impetuosos.
—-—

9(1
Em 1983, Gary Herbertsoii, chefe da sec- referência ao ataque dos Russos a Berlim Utilizando um poderoso microscópio e
ção de documentos do laboratório do FBI, em Abril de 1945, quando Hitler, no seu exemplares autênticos da caligrafia de Hi-
afirmou: "Sempre que se tenta modificar a esconderijo, supostamente escrevera: tler, comparou os dois conjuntos escritos
caligrafia, fazem-sc coisas que não pare "Começou a ofensiva há muito esperada. — especialmente as letras E, H e K — e
cem naturais. A escrita de um falsificador Que Deus esteja do nosso lado." encontrou grandes discrepâncias e disse-
não tem a velocidade, a fluência, a suavida- Os 60 diários foram comprados pela re melhanças entre eles — o que convenceu
de, da escrita natural. Notam-se fins e prin vista alemã Stem, diz-se que por 6 milhões Rendcll de que os diários eram falsifica
cípios dos traços bruscos ou embotados, de marcos. A Stem vendeu depois direitos ções. Além disso, provou se que a tinta era
curvas mal desenhadas, interrupções ina- subsidiários em França, Espanha, Bélgica, moderna; e Hitler, ao tomar notas e apon-
propriadas, ligeiros tremores. Duas letras Holanda, Itália, Noruega e Inglaterra. tamentos no princípio dos anos 30, utiliza
podem ter a mesma forma, mas, mesmo A publicação na Alemanha começou na ra unicamente papel da melhor qualidade,
assim, é possível dizer se uma foi a escrita Primavera de 1983 E dois dos diários — um pelo que não era crível que tivesse recorri-
rapidamente e a outra cuidadosamente de 1932, antes de Hitler ser ditador, outro do ao papel ordinário, pautado, em que
desenhada." de 1945, ano em que se suicidou — foram estavam escritos os diários falsos.
Além rios seus conhecimentos, os peri- enviados à revista americana Newsweek, Em resultado desta denúncia, um cri-
tos em análise de escuta utilizam no seu também interessada na sua publicação. minoso alemão já várias vezes condenado
trabalho instrumentos e aparelhos sofisti- Esta revista convocou um reputado peri- - Konrad Paul Kujau foi mais tarde preso
cados, que incluem scanners de infraver- to em análise ric escrita, Kenneth Rendei!, com dois cúmplices e julgado por falsifica-
molhos e ultravioletas com os quais exami- de Boston, Massachusells, que imediata- ção dos diários. Em Julho de 1985, foi con-
nam rasuras e emendas; equipamento de mente se mostrou desconfiado. "Mesmo siderado culpado por um tribunal de Ham-
écran duplo para comparação entre do- à primeira vista", afirmou, "tudo parecia burgo e condenado a uma pena de prisão
cumentos verdadeiros e duvidosos e instru- errado." de quatro anos e meio.
mentos de grande ampliação da caligrafia
para comparação entre as diversas formas
de ligação das leiras.
O mais nolável caso dos últimos tempos Como os cães e as máquinas farejam
diz respeito ã falsificação, no princípio da dê
cada de 80, dos "diários" de Adolf Hitler —
nos quais o chefe nazi supostamente es
drogas e explosivos
crcvera os seus pensamentos mais íntimos
numa caligrafia antiquada. Incluíam uma Quando cinco mulheres de Bogotá, na Co-
lômbia, levantaram suspeitas no Aeropor-
to de Heathrow, em Londres, em 1988,
trouxeram-se cães especialmente treina
dos para examinar as respectivas baga-
certos factores fundamentais, e não de gens. Os cães conduziram os homens da
uma qualquer característica peculiar. Alfândega a 20 discos LP em cada uma rias
Em geral, os grafólogos dividem a cali- malas das mulheres. Quando se separa
grafia em três "zonas": a zona superior e ram as camadas de vinilo dos discos, des-
a inferior, formarias pelas partes supe- cobriu-se cocaína escondida entre as duas
riores e inferiores das maiúsculas e de metades. No total, foram encontrados
outras letras, como ob, odcog, ea zona 16 kg ria droga nos discos e em sobrecapas
intermédia, contendo as restantes leiras de livras. As mulheres foram todas conde
minúsculas. Serão as dimensões relati- nadas a 14 anos de prisão.
vas das três zonas que revelarão a verda- Estes cães são utilizados pelas polícias e
deira personalidade do indivíduo. alfândegas de todo o Mundo para de
Uma zona superior grande, por exem- tectar drogas e explosivos.
plo, indica uma pessoa aberta e alegre; Os cães treinados para este tra-
uma zona inferior pequena sugere su- balho incluem os cães de caça
perficialidade, e uma zona intermédia como os labradores, os colhes c
de tamanho médio denota uma perso- osspaniels. O cão tem um senti-
nalidade metódica e prática. do de olfacto muito superior ao do
homem, porque os receptores ol-
factivos que possui são 100 vezes
ESPAÇAMENTO mais longos que os do homem. O
treino de um destes cães dura habi- Verificação de
tualmente cerca de 12 semanas. 0 cão co- um saco. Este
Grandes espaços. As pessoas que se- meça por ser ensinado a reconhecer deter- detector portátil de explosivos, sensível
param muito as palavras não se dão bem minada droga ou explosivo. Para isso, o aos vapores, é hoje utilizado nos principais
na companhia dos outros Podem ser re- treinador esconde uma amostra do produ- aeroportos do Mundo.
servadas e solitárias. to dentro de qualquer coisa que o cão consi-
ga agarrar com a boca — um jornal enrola- O cão aprende a reconhecer o cheiro do
([j6 wduLMCÂQt Jnf^làJoa.c^r^ do, um pedaço de cano, um trapo Ordena- objecto de Ireino, que é na realidade o
Espaços apertados. Pequenos espa -se ao cão que entregue esse objecto ao cheiro da droga ou do explosivo. O objecto
cos entre as palavras denotam uma pes- treinador e dá-se-lhe uma recompensa. utilizado no Ireino é mudado periodica-
soa gregária, mas que escolhe indiscrimi- Esta pode ser qualquer coisa que esse cão mente, mas o cheiro mantérn-se o mesmo.
nadamente os amigos. goste de fazer — uma luta amigável com o Ao princípio, esse objecto é colocado à
dono ou um jogo de escondidas. vista do cão, depois passa a ser escondido.

97
Processos antigos e modernos
de levar a melhor sobre os traficantes
Os funcionários aduaneiros de Southamp veis, fibras ópticas no interior do tubo trans-
lon estavam muito desconfiados de parte poriam a imagem até uma pequena ocular.
de um carregamento procedente da Co Certas máquinas especiais de raios X
lômbia - importante centro produtor do fornecem imagens a coros o detectam o
droga - com destino à Holanda, pois os que quer que se encontre escondido don
cadeados de um contentor cheio de ladri tro de um recipiente. Mostram, por exem
lhos cerâmicos pareciam ler sido forcados. pio, as dimensões o posições relativas dos
Baseando-so apenas neste facto e na sua objectos dentro do um saco.
intuição, os funcionários decidiram invés Um dos aparelhos mais úteis usados
Cáo que fareja. Uma funcionária adua ligar. por estes funcionários é lambem um dos
neira do Aeroporto internacional de Miami O carregamento fora descido de um na- mais simples: a balança. Os funcionários
dá instruções uo seu câo na incessante pro vio para se proceder a uma nova arruma sabem quanto posa uma mala media
cura de drogas. Cão da carga, pelo que os funcionários tive quando cheia. Por isso. pesam as baga-
ram de agir depressa e cm segredo. Remo- gens dos passageiros suspeitos e revistam
Cheiros como os do perfumes, que coi- veram o contentor para o examinar e dopa nas se as acharem com poso a mais. Po-
tos traficantes espalham para disfarçar o raram com um compartimento escondi- dem ainda esvaziar uma mala o pesá-la: se
cheiro cias drogas, são igualmente utiliza- do, de aço, com uma profundidade de 10 cru pesar mais do que o valor dado pelo fabri-
dos para que o cão se habitue a elos. a todo o comprimento da parte superior. cante, poderá ser revistada cm busca de
Um cão podo ser treinado a reagir a 12 Abríram-no com maçaricos de oxiaceti drogas, diamantes, ouro ou outro contra
tipos diferentes do explosivos e a •'! lipos leno o descobriram uo seu interior 210 kg bando que esteja escondido em comparti
diferentes de drogas - em geral, cannabis de cocaína em 263 pequenos pacotes, va mentos dentro do forro.
(haxixe), cocaína, heroína o aiiíetaminas. lendo mais de 13 milhões de contos.
Quando se leva um cão para procurar O contentor foi novamente selado — lo Doce subterfúgio. Em i')SH. no Aeroporto
drogas numa carrinha ou num armazém. vanrío sacos do grãos do cereais em vez da de Heathrow, em Londres, descobriu se lie
veste-se-lhe um "colete" especial - sinal droga — o voltado a colocar a bordo sem roina escondida em paneis de caramelos.
de que deve começar a trabalhar. Quando que ninguém disso se
localiza um cheiro que sabe lhe trará uma apercebesse. O navio
recompensa, o cão fica agitado o excitado. continuou a sua viagem
Nossa altura, entram os funcionários da e o contentor foi descar-
Alfândega ou da Polícia. regado no porto holan
dés de Roterdão. Foi leva-
Amostras de ar do para um parque do
As máquinas,utilizadas na detecção do caravanas, onde um gru
drogas e explosivos aspiram ar por um po de oito homens CO
tubo que pode sor introduzido em espaços nieçou a cortar o tecto.
escusos, como depósitos de gasolina, for Nossa altura, a Polícia
ros dos automóveis ou intervalos onlre pa- Holandesa apareceu o
redes. Recolhem-se também amostras de prendeu os traficantes,
ar de contentores c camiões onde se sus que foram julgados o
peita que possam estar escondidas drogas condenados, com penas
e matérias explosivas. de até sois anos, por trá-
As amostras do ar são analisadas por um fico do cocaína.
aparelho, o espectrómetro de massa, que
as decompõe nos seus componentes quí- Óculos escuros
micos o identifica os mais pequenos vesti Todo o passageiro que chega do estrange
gios de substâncias usadas nos explosivos ro e se mostra nervoso desperta a atenção
ou nas drogas. do pessoal das alfândegas. Este está atonto
Afirma se que podem ser identificados a quem quer que se mostre demasiado agi
vestígios Ião diminutos como um Irilioné- tado que pisque os olhos mais vezes
simo de grama. que as habituais; que uso óculos escuros
para esconder estes sinais denunciadores;
Movimento de electrões que transpire exageradamente (particular-
Km alguns aeroportos internacionais mente os homens, nas costas das mãos),
incluindo o de Seul antes dos Jogos Olím- ou cuja respiração seja acelerada.
picos de 1988 -. foram instaladas máqui- Despertada a suspeita, os funcionários
nas "farejadoras", através das quais podem aduaneiros servem-se de equipamento es-
transitar pessoas. Estas máquinas detec- pecial para aprofundar a busca. Com um
tam dinamite ou nitroglicerina, que enn espoei roscou i o — tubo comprido e delga- Olho que espreita. Um funcionário adua
tem um vapor que atrai electrões. Uma do com uma lente na extremidade - . con- neiro utiliza um espectroscópiò para obser
corrente eléctrica que atravessa a máquina seguem ver o interior dos depósitos de ga uar um depósito de gasolina em busca de
detecta o movimento dos electrões. solina ou os forros das portas dos automó- cannabis que ali possa estar escondida

98
O ESTRANHO CASO DOS CARACÓIS PORTADORES DE DROGA
Em Julho de 1988, um funcionário adua- totalizando cerca de G00 g de droga.
O traficante foi preso, e os funcioná-
Reconstituindo
neiro do Aeroporto de Hanôver, na Ale
manha, suspeitou de um passageiro
que transportava um saco em mau esta-
rios aduaneiros de Hanôver transmiti-
ram o caso aos seus colegas por toda a
os últimos
do e acabara de chegar. Alemanha. A partir de então, dedicou-se
especial atenção aos passageiros vindos
momentos de um
0 saco foi aberto, verificando-se que
continha um saco de plástico cheio de
caracóis comestíveis vivos da espécie
da Nigéria.
Duas semanas depois, foi apanhado
desastre de avião
Achalina fálica, cuja casca é do tama- no Aeroporto de Hanôver outro nigeria-
nho de um punho. Partindo uma das no que tentava passar uma porção de O avião é normalmente um meio de trans-
cascas, o funcionário descobriu no seu heroína ligeiramente maior, também es porte extremamente seguro. As estalísti
interior diversas pequenas embalagens, condida em conchas de caracóis Achali- cas mostram que, anualmente, cerca de
contendo cada uma cerca de 30 g de na. Graças à atenção de um funcionário, 1100 pessoas morrem no Mundo em aci-
heroína. Embalagens semelhantes fo- fora frustrado mais um engenhoso meio dentes aéreos - contra 40 000 em aciden-
ram encontradas nos outros caracóis, de fazer tráfico de droga. tes de viação só nos EUA.
No entanto, desde os primórdios da
aviação que os acidentes se verificam. 0
Às vezes, uma peça de bagagem desem- cuperando-os depois por ríefecação ou primeiro a ser registado deu-se em 1908.
barcada de um avião pode ser "apontada" vómito — ou os introduzem nos orifícios Thomas C. Selfridge, tenente do Exército
por uma máquina de raios X ou um cão do corpo. Americano, morreu quando o avião de Or-
treinado. Os funcionários aduaneiros Nos portos de ferry-boats e nas frontei- ville Wright caiu em Kort Myer, Virgínia,
aguardam que ela seja levantada pelo ras terrestres, os condutores ou passagei- após se ter partido uma hélice de madeira.
dono - e detêm no à passagem pelo pos ros sem explicação adequada para a sua Wright, um dos pioneiros dos voos pilota-
to de controle. viagem, os que se mostrem tensos ou hesi- dos, partiu uma perna. Selfridge, seu pas-
Os funcionários das alfândegas estão tantes ou uma pessoa mal vestida condu- sageiro, morreu quase instantaneamente.
atentos aos passageiros provenientes de zindo um automóvel de luxo podem ser Actualmente, quando um avião se des-
países conhecidos como exportadores sujeitos a revista. penha — seja um pequeno avião de dois
de droga. Em particular, estão atentos Muitas capturas resultam de suspeitas passageiros, seja um Jumbo transportan-
aos correios que transportam as drogas, surgidas no momento, mas muitas mais do mais de 500 pessoas —, procede-so
principalmente cocaína e heroína, den- são devidas a horas de penoso trabalho de sempre a uma investigação cuidadosa so-
tro de preservativos, que engolem - re- investigação. bre as causas do acidente para delas se po-

Tragédia no espectáculo aéreo. Três pessoas morreram num Airbus francês que caiu quando tomava parte num espectáculo aéreo perlo
de Multtouse, no Leste de França, em Junho de 1988. A queda verificouse quando o avião entrou por uma mata com áwores de 12 m de altura.
Miraculosamente, 133 outros passageiros do Airbus sobreviveram à queda, embora o avião tivesse ficado quase totalmente destruído. A
descida do aparelho foi aparentemente amortecida pelas árvores sobre que aterrou. O piloto foi despedido pela Air Frunce quando os registos
de voo da caixa negra revelaram que ele não obedecera a avisos sonoros dos controles para que aumentasse a altitude.
derem tirar lições que evitem futuras trage-
dias. AS MAQUINAS QUE REPRODUZEM A TRAGÉDIA
Quer a causa suspeita seja uma bomba
ou uma peça defeituosa, os princípios da
investigação são os mesmos. Os primeiros
passos incluem a recuperação dos destro
ços, estejam numa montanha ou no fundo
do mar. Os investigadores de acidentes aé-
reos dirigem se ao local. Fazem um mapa
da área em que se encontram os destroços,
o que pode revelar a sequência da queda, e
recolhem amostras de todos os destroços
para o caso de alguma delas poder fornecer
algum indício. Os metais fendem ou fun-
dem de maneira diferente, conforme os ti
pos cie calor, de pressão ou de explosão.
A recolha e exame dos corpos orienta-
dos por peritos médicos podem determi- Investigadores examinam o aparelho de registo de ooo de um avião da Air Florida que se
nar a altura e a causa da morte e contribuir despenhou no rio Potomac, Washington DC. em Fevereiro de 1982. O gravador de vozes
assim para descobrir a origem do desastre. do cockpil (ã direita) registou as conversas da tripulação durante o ooo.
0 ano mais fatídico em desastres de avia-
ção foi o de 1985, em que mais de 800 pes- Os destroços que mais importa recupe- Os aparelhos de registo de vozes do
soas morreram em dois desastres com rar são os dois aparelhos de registo cockpil gravam as conversas e outros
Jambos Boeing 7-17. A princípio, julgou-se transportados a bordo dos aviões civis. sons da tripulação. Funcionam em fita
que os acidentes tinham sido causados por 0 aparelho de registo de voo fornece continua, que dura 30 minutos, pelo
talhas mecânicas dos aviões, mas ficou pro- uma cravação dos movimentos dos ins- que, em qualquer altura, apenas estão
vado que esta ideia não linha fundamento. trumentos principais, como os indica- gravados os últimos 30 minutos. No en-
O primeiro acidente deu-se com um 747 dores de velocidade e de altitude e as tanto, este sistema tem um ponto fraco:
da Air índia que se dirigia a Deli, procedeu posições dos lemes e dos aHerons. As se com a queda o gravador não parar,
te de Vancouver, via Londres. A cerca de informações são registadas sob a forma este continuará a funcionar, apagando a
31 000 pés (9500 m.) sobre o Atlântico Nor de impulsos electrónicos numa fita. parte vital da informação.
le. a oeste de Shannon, na Irlanda, o avião Quando esta é passada, fornece um grá- Estes aparelhos de registo estão insta
desintegrou se e mergulhou no mar. Os fico computorizado dos movimentos lados na cauda do avião — a zona de
32!) ocupantes morreram. do avião. Pode igualmente programar- maior probabilidade de sobrevivência à
Embora mais de 130 corpos e alguns •se um visor de computador para que queda - numa caixa de paredes duplas
destroços tenham sido rapidamente re- reproduza o mostrador dos instrumen- de aço inoxidável, contendo entre elas
cuperados, levou três meses a localizar e tos principais, dando uma imagem mais um material termoisolante. Devem ser
traçar um mapa do resto do avião. A maior realista. Os aparelhos de registo de ele- capazes de suportar sem danos uma
parte encontrava-se no fundo do mar. a mentos de voo podem gravar até 200 temperatura de 1I00"C durante 30 mi
2000 m de profundidade. Foi localizado horas de tempo de voo. nutos.
pelo emprego de equipamento de sonar e
mini submarinos, a partir de barcos de re-
cuperação trabalhando à superfície. recuperados tinham estado sentados e es de todos os instrumentos. A tripulação lu-
Os primeiros e mais importantes destro- tabeleceram os padrões de diferentes tipos tou durante 32 minutos para manter o
ços a serem recuperados foram o aparelho de ferimentos, o que apoiou a teoria de avião no ar, até que este se despenhou,
de registo de voo e o gravador de vozes do que 0 avião explodira no ar. desintegrando se quase completamente.
cockpit (cabina de pilotagem). Estes apa- Outro indicativo surgiu quando investi Os quatro sobreviventes ocupavam, jun-
relhos são frequentemente apelidados de gadores canadianos descobriram que na tos, quatro lugares no centro do aparelho.
"caixas negras" mas, na realidade, são carga figurava urna mala de um passageiro A gravação das conversas entre a tripula-
habitualmente cor de laranja ou verme- indiano que não embarcara ção e os controladores de tráfego aéreo
lhos para serem vistos mais facilmente. Um conjunto de circunstâncias seme revelou-se de pouco valor. Mas a história
Ihanles rodeou a explosão de uma mala no do avião mostrou que este fora reparado
Bomba terrorista Aeroporto de Narita, em Tóquio, que ma- pelos fabricantes, a Boeing, depois de uma
Quando o gravador de vozes da cabina tou dois bagageiros, quase à mesma hora má aterragem em Osaka em 1978, na qual
- que regista em fita gravada OS sons no in- em que ocorria o desastre do avião da Air a parte de trás do avião raspara na pista
terior do cockpit foi posto a funcionar, índia. Ambas as inalas foram identificadas O exame dos destroços revelou que os
pareceu aos investigadores terem ouvido c> como pertencentes a um mesmo homem mecânicos que procederam à reparação
som de uma explosão gravado no último de Vancouver, e pensa se que as explosões tinham deixado um pequeno espaço entre
milissegiindo de fita antes da desintegra foram obra de terroristas sikhs. as chapas de reforço de uma junção rebita
çâo do avião. Embora não houvesse prova Dois meses depois do desastre da Air da num dos tabiques divisórios. Este inter
directa de uma bomba terrorista, os destro índia, um 747 das Linhas Aéreas Japonesas valo expusera a junta a pressões que te-
ços apresentavam sinais bastantes para a que voava entre Tóquio e Osaka despe riam levado ã sua ruptura, permitindo a
tornarem plausível. Os assentos estavam nhou se contra o monte Osutaka, 113 km a passagem de ar da cabina para o sector da
queimados por baixo e a porta de carga de norte de Tóquio. Apenas A dos 528 passa- cauda. Como consequência os cabos de
vante parecia ter sido atirada para fora, en geiros se salvaram. controle hidráulico tinham rebentado, ar
quanto outras se mantiveram intactas. Alguns minutos depois de levantar voo, rançando o leme de direcção e os de pro
Os peritos conseguiram também apon- ouviu-se um grande estampido na parte de fundidade, o que tornara impossível o do
tar exactamente os sítios onde os corpos trás da cabina, seguido pela falha completa rnínio do avião.

100
Ideias práticas
e soluções engenhosas
Fotografar uma bala em movimento, converter o vento em energia
eléctrica e transformar fibras em linha de coser — o homem descobre
a resposta a numerosos problemas fascinantes.
Como se obtêm os metais puros
São poucos os melais que emergem da pecto, pouco diferem de rochas ou terra.
terra perfeitos e brilhantes. Às vezes, des O primeiro passo na obtenção do metal
cobrem-se pepitas de ouro: em 1869, foi puro é separar o minério da terra e das
encontrada em Vitória, na Austrália, uma pedras que com ele são escavadas. Caria
pepita de ouro puro pesando quase 70 kg. metal exige o seu processo próprio.
Mas outros metais aparecem sob disfar- As companhias mineiras de chumbo e
Ferro. A hematite, ces pouco vistosos, combinados com oxi- cobre juntam os minérios a uni líquido so-
um minério de ferro, deve o nome à sua génio, enxofre, carbono e outros elemen- bre o qual se formou espuma por meio de
semelhança com sangue seco. tos e formando minérios que, no seu as- borbulhamento por ar; este líquido contém
ainda um produto químico que se Ouro. Os de-
designa por colector e que faz com pósitos de ouro,
que as partículas minerais adiram à chamados filões,
superfície das bolhas de ar, en- encontram-se ern
quanto o restante material se depo- •,* oeios de
sita no fundo. Os materiais valiosos
são transportados pela espuma para se-
rem recolhidos e secos.
Para extrair o metal puro do minério,
utiliza-se muitas vezes o calor num proces-
so de fusão. 0 homem primitivo descobriu
que, ao aquecer minérios num fogo de car-
vão, obtinha uma massa esponjosa que
podia martelar para fabricar utensílios.
0 cobre era fundido por este processo
no antigo Egipto e, mais tarde, foi utilizado do corno -^ ^ • k * !
o mesmo método para a produção de um depósito o ^il,T' '
metal más útil, o ferro. Na época medieval, ferro.
descobriu-se que o emprego de fornalhas A versão
com foles para insuflar o ar aumentava a moderna
temperatura do fogo, obtendo-se não um deste proces-
pedaço informe de metal, mas ferro líqui- so utiliza o co
do que podia ser vazado em moldes. que, em vez do carvão de madeira, como
0 minério de ferro é constituído por óxi- fonte de carbono e tem lugar em enormes
do de ferro, porque o metal, no estado natu- altos-fomos com capacidade para produzir
ral, se encontra combinado com oxigénio. diariamente milhares de toneladas de ferro.
No processo de fusão, o óxido de ferro rea- O ferro assim produzido, a gusa, possui
ge com o carbono obtido pela conversão demasiado carbono para a maioria das uti-
da madeira em carvão. Os átomos de oxigé- lizações, pelo que tem de ser convertido
nio desprendem-se do ferro e juntam-se ao em aço pela remoção do carbono. O aço é
carbono, produzindo um gás, óxido de car- a forma mais importante do ferro.
bono, o qual por sua vez se liberta, deixan- 0 alumínio ocorre em combinação
com o oxigénio no minério bauxite. Em-
bora seja de todos o metal mais abundan-
te, apenas começou a ser produzido em
quantidades significativas no final do sé
culo xix, por requerer grande quantidade
de energia para ser separado do oxigénio.
O processo utilizado é a electrólise. Faz-
-se passar uma corrente eléctrica por um
banho de óxido de alumínio fundido, o
que vai retirar o oxigénio e deixar um de-
pósito de alumínio líquido. A maior dificul-
dade reside no ponto de fusão extrema-
mente alto do óxido de alumínio — mais
de 2000°C, comparados com os 1600"C do
ferro. O problema resolve-se misturando o
óxido de alumínio com um fundente, nes-
te caso um mineral chamado criolite (fluo-
reto duplo de sódio e alumínio), que baixa
o ponto de fusão para 1000°C.
O ouro ocorre frequentemente sob a
forma de escamas ou pequenos grãos no
leito dos rios. 0 problema consiste em se-
parar as diminutas quantidades de metal Granulação d
da massa de matérias inúteis (ganga). Gotas de ouro derretido
Os pesquisadores extraíam-no por uma são lançadas em águt
operação puramente mecânica, para o fria (em cima). Os grãc
qiie utilizavam bateias (espécie de pratos que então se formam (à direita, em tama-
grandes). Mergulhando as bateias no rio e nho natural) podem ser pesados com preci-
agitando as em seguida, conseguiam se- são quando adquiridos por um joalheiro.
parar as escamas de ouro das areias, que,
sendo menos densas, eram levadas pelas que dissolve o ouro. A solução já conten-
De minério a ferro. O minério é transfor águas, deixando depositado o ouro, mais do o ouro é filtrada para remoção das im-
mado em ferro num alto-forno, onde reage denso. purezas não dissolvidas, e o ouro é final-
com coque e calcário a uma temperatura Actualmente, usa-se um produto quí- mente separado por precipitação. Uma
de I600"C. A gusa (ferro fundido) é vazada mico. O minério, triturado, é misturado tonelada de minério produz cerca de 10 g
em lingotes (em cima). com uma solução de cianeto de potássio, de ouro.

103
Vidros de ir ao forno e cristal
de chumbo
Como se transforma areia em vidro Outros materiais podem ser adicionados
para dar cor ou melhorar a qualidade do
vidro acabado. O vidro com 10 a 15% de
Há 5000 anos, nalguma praia do Médio por rochas que o mar desfez em minús- ácido bórico, resistente a aquecimento ou
Oriente, alguém terá feito uma fogueira e culas partículas, a areia é a principal fonte arrefecimento súbitos, é utilizado em pe-
encontrado depois, sobre a areia, peque- de sílica. ças de ir ao forno. A incorporação de óxido
nos glóbulos transparentes brilhando Na próxima vez que for à praia, examine de chumbo produz um vidro pesado e bri-
como jóias. Como é que estas curiosida- um punhado de areia. Os grãos semitrans- lhante o cristal de chumbo.
des se transformaram num dos mais im- parentes — e não pretos, vermelhos, ama A moderna chapa de vidro obtém se
portantes materiais do século xx o relos ou de outra cor bem definida — são aquecendo os ingredientes em tanques
vidro9 grãos de quartzo. A areia contém outros compridos. A mistura contém sempre vi-
A matéria prima para o fabrico do vi minerais, mas o quartzo é o seu compo-
dro é a sílica, que, sob a forma de quartzo nente principal, porque c duro, insolúvel e
— sílica cristalizada —, é o mais abun não se decompõe, e por isso dura mais.
dante de todos os minerais da Terra. Ge- A sílica pura tem um ponto de fusão Ião
ralmente transparente ou de cor branco- elevado que o fogo de uma fogueira vulgar
•leitosa, encontra-se em muitas rochas, não a converte em vidro. Por isso, os pri
designadamente no granito. E como to- meíros vidreiros do Médio Oriente devem
das as praias do Mundo foram formadas ter feito a sua fogueira sobre areia impreg
nada de soda (carbonato de sódio) deixa
da pela evaporação da água de um lago ou
VIDRO DURO - PLÁSTICO MOLE do mar. A soda actua corno fundente, bai-
0 vidro é duro, mas frágil, porque nele xando o ponto de fusão da sílica.
cada átomo está unido aos outros por Actualmente, coinbinam-se cal e soda
ligações químicas muito rígidas, que, com a sílica para produzir o vidro utilizado
submetidas a uma força suficiente, se no fabrico de garrafas, vidraças e copos
quebram. Os plásticos transparentes baratos. Quando arrefece c solidifica, o vi-
são polímeros formados por molé- dro não retoma uma estrutura cristalina
culas muito grandes. Estas são enor- como a do quartzo, mantém uma estrutu-
mes cadeias flexíveis constituídas por ra desordenada, como que a do líquido
milhões de átomos. As ligações entre congelada - é um material amorfo muito Vidro à prova de bala. As janelas dos au-
estes são muito fortes, mas as ligações transparente. Por arrefecimento lento ou tomóveis dos diplomatas podem ser feitas
entre cadeias sáo fracas, o que torna tratamento térmico posterior, o vidro pode de vidro reforçado com folhas de plástico
os plásticos flexíveis. começar a cristalizar, tornando se translú- endurecido. A janela absorve a energia da
cido, de um branco leitoso. bala, e o plástico evita os estilhaços.

FABRICO DE VIDRO NUM BANHO DE ESTANHO FUNDIDO


Tremonha
de ,_ Tremonha da frita
estilhaços
de vidro

Vidro por flutuação. As mate Os ingredientes. A frita, mistura de areia, soda e Fornos de fusáo. Jactos de chama sáo projecta
rias primas são fundidas ern for- cal, é combinada com estilhaços de oidro c sulfato dos dus paredes do forno, que atinge a temperatu-
nos enormes. de sódio impuro para ser aquecida no forno. ra de I590"C, para fundir os ingredientes.

104
dro partido, que funde a temperatura infe- Fabrico de vidraças à antiga
rior à dos outros materiais e os ajuda a
combinarem-se mais completamente.
Enquanto a chapa acabada sai de uma
das extremidades do tanque, na outra ex-
A técnica de fabricação de vidros
para janelas foi aperfeiçoada no
século xiv na Normandia, em França.
Cada peça deste vidro, conhecido
tremidade entram as matérias-primas, de
forma a manter constante o nível do tan- como vidro coroa (crown glass), era in-
que. dividualmente soprada por um artesão.
Um soprador experimentado fazia ape-
Mais forte que o aço nas cerca de 12 vidraças por dia. Este
Pensa-se que o vidro é um material fraco, processo de fabrico consistia em soprar
mas na verdade ele é muito forte. Uma fibra o vidro por um tubo até formar um
de vidro sem fissuras submetida a tracção grande balão. Este era depois achatado
longitudinal é cinco vezes mais resistente e ligado a uma haste de ferro chamada
que o melhor aço. Fibras de vidro ligadas pontel, que o operário fazia girar o mais
com plástico produzem um material resis- rapidamente possível.
tente e elástico — o plástico reforçado com O balão de vidro, achatado, ia se alar-
fibra de vidro, utilizado em cascos de barcos gando até formar um círculo de 1 a 2 m
e carroçarias de automóveis. de diâmetro, conforme o tamanho do
0 vidro de segurança obtém-se por dois balão inicial e a perícia do artesão.
processos: por têmpera e por laminaçáo. As chapas circulares de vidro redon-
Na têmpera, o vidro é aquecido até exacta- das e planas eram então cortadas para
mente abaixo do seu ponto de fusão e de- formar pequenas vidraças, especial-
pois arrefecido rapidamente com jactos de mente destinadas às igrejas. A parte
ar. Ao arrefecer e contrair-se antes da parte central do disco, contendo a zona de
interior, a superfície do vidro fica comprimi- fixação ao pontel, de grande espessura
da. Como só depois de superada esta com- e rodeada por estrias circulares, era a
pressão o vidro se quebrará, o vidro tempe- menos transparente, mas aproveitava- Vidro coroa. Um soprador de vidro gira
rado suporta melhor a flexão e a percussão. -se dado o seu elevado preço. urna chapa de vidro num pontel.
Além disso, quando se parte, desintegra se
em fragmentos, em vez dos estilhaços peri-
gosos do vidro vulgar. este continua a aderir ao plástico, não sol formados por três ou quatro placas de vidro
Outro tipo de vidro de segurança é uma tando os estilhaços, o que o torna apropria- intercaladas com placas de polivinilo e são
"sanduíche" de duas placas de vidro unidas do para os pára-brisas de automóveis. capazes de resistir ao choque de uma ave
por uma folha de plástico. Embora esta últi- Os pára-brisas de avião têm de ser capa- grande com o avião voando até 650 kuVh.
ma possa ser muito delgada, é resistente. zes de suportar altas pressões, temperatu- Este mesmo vidro protege os pilotos de
Uma pancada pode estilhaçar o vidro, mas ras extremas e impactes de aves em voo. São aviões militares contra as balas.

BANHO DE ESTANHO FUNDIDO CÂMARA DE TEMPERATURA CONTROLADA


I
Elementos
de aquecimento
Regulador de temperatura
Rolos de transporte
Queimador a gás da fita de vidro

T T
* T/-.I I l i . I I » ^>» * _ I

Estanho líquido. O vidro fundido escorre sobre a superfície de um . Chapas de vidro. Depois de arrefecido, o vidro sai do banho, desli
banho de estanho em fusão. A medida que avança, flutuando, o vidro za em cilindros, é cortado em chapas e lavado com jactos de água. O
arrefece até 600"C e solidifica, ficando com uma superfície mais plana. vidro por flutuação tem espessura uniforme e é liso dos dois lados.

105
Vitrais medievais
Como se faz
A estrutura do vidro, apesar de forte,
contém muitos espaços vazios
porque os seus átomos estão aglomera-
dos ao acaso, como um monte de lijo
nio, amarelo, e o manganês, púrpura.
Vidros do tamanho aproximado deste
livro eram fabricados em diferentes co-
res e depois cortados com as formas
papel a partir
los, e não alinhados ordenadamente,
como os tijolos numa parede.
requeridas. Finalmente, eram monta-
dos para formarem janelas completas.
das árvores?
Lsles espaços podem ser ocupados As variações da espessura do vidro,
por átomos de metais que afectam a inevitáveis na tecnologia medieval, real- Foi uni funcionário ligado ã corte imperial
forma como a luz é transmitida através çavam a beleza das janelas, proporcio chinesa. Tsai Lun, quem, por volta do ano
do vidro. Metais diferentes absorvem nando subtis variações de tonalidade. 105, descobriu o processo de fazer papel.
luz de diferentes frequências, dando ao Quando se aperfeiçoaram as técnicas Até então, a maioria dos documentos fora
vidro que os contém uma cor caracte- do fabrico de vidro, perdeu se muila escrita em pergaminho, leito da pele de
rística. desta subtileza. carneiros ou cabras, ou em velino, leito de
Este princípio está na origem de uma pele de vilela. Os antigos egípcios tinham
das magnificências da catedral medie Cores intensas. Este vitral de urna igre usado o papiro, feito com fibras interiores
vai, o vitral. ja em França represento a coroação da do caule do papiro prensadas e setas, mas
Quando adicionado ao vidro fundi- Virgem. A diversidade dos azuis deoe-se não se tratava de verdadeiro papel, fabrica
do, o cobre torna-o vermelho-rubi; o às diferenças de espessura das peças de do com fibras transformadas em pasta.
cobalto, azul; o ferro, verde; 0 antimó vidro. Ts'ai Lun fabricou o seu papel com li
bras de amoreira, redes de pesca, trapos e
refugos de cânhamo. Quase qualquer ma-
terial fibroso pode ser utilizado no fabrico
de papel. É triturado com água até ficar em
pasta, branqueado, tratado com uma cola
para impedir demasiada absorção de tinta
e finalmente prensado em folhas.
Até 1850. a matéria prima básica eram

AS MARCAS DE AGUA
NO PAPEL
E NAS NOTAS DE BANCO

Chama se marca de água a um sinal


feito na própria contextura do papel
cujo desenho só é visível em contraluz.
A primeira marca de água apare-
ceu por acaso na fábrica de papel Fa-
briano, na República de Pádua, em
Itália, onde se produz papel desde
1260. A peça que estava a ser usada
para espremer a água do papel mo-
lhado tinha um pequeno arame sa-
liente. O papel ficou mais delgado no
sítio em que o arame penetrou nele,
fazendo uma linha que podia ver-se
colocando o papel contra a luz.
Surgiu a ideia de se fazer um dese-
nho completo de arame, criando uma
marca de água decorativa. R em 1282
nasceu a primeira marca deliberada —
uma simples cruz.
O método actual é praticamente o
mesmo. O papel molhado é prensado
por um rolo com um desenho em re-
levo que produz a marca de água.
As marcas de água são usadas des-
de há séculos para identificar os fabri-
cantes de bom papel de carta. Para
dificultar a falsificação das notas de
banco, usam-se marcas mais comple-
xas, representando as efígies de che-
fes de Estado ou de heróis nacionais.
Também na filatelia as marcas de
água tem um papel importante.

106
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ást-sas^
JWM® 5
*

Papel Bond. Este papel de Qlta qualidade Papel de jornal. Este papel de textura ás- Papel «tissue». Fibras achatadas e entre
incorpora habitualmente unia parle de pera utiliza uma pasta de qualidade inferior teadus sem compactação duo Hw textura
pasta de trapos. É normalmente tratado tratada mecanicamente e amarelece em macia e a pasta de madeira tratada com
com caseína, um derivado do leite. poucos dias se exposto ao sol. resinas vegetais temiam no mais absorvente.

os trapos de linho e algodão, que produ-


ziam um papel excelente. Mas a procura
crescia tão rapidamente que era necessá-
ria nova matéria prima — e a resposta foi a
polpa de madeira, geralmente de arvores
de madeira macia, como as coníferas.
A madeira é em grande parte constituí
da por celulose, matéria orgânica formada
por fibras resistentes com cerca de 2.5 mm
de comprimento. As árvores abatidas são
partidas em lascas, constituindo a estilha
de madeira. Esta é introduzida em enor-
mes recipientes os digestores ondeé
misturada com produtos químicos (habi-
tualmente, sulfato de sódio) e sujeita a
temperatura e pressão elevadas. As fibras
separam-se, formando a pasta de papel.
As impurezas, como a resina e o pez, são
removidas, e a pasta é branqueada e mistu-
rada com produtos que lhe dão a cor pre-
tendida ou a tornam mais branca ou com
agentes ligantes que unem melhor as fi-
bras. A mistura sai então de um grande
reservatório, através de uma ranhura estrei-
ta, para uma rede em movimento que per-
mite que a água escorra, mas que retém a
maioria das fibras. A fita de pasta é prensada
para se extrair mais água e secada ao passar
por uma série de rolos aquecidos por va-
por. Por fim, o papel pode ser revestido com
uma mistura de pigmentos, de carbonato
de cálcio, caulinos ou dióxido de titânio
para lhe melhorar a superfície.

Fábrica de papel. Esta gravura alemã do


século xvu mostra-nos uma fábrica de pu
pel da época. Uma roda de azenha de ma-
deira acciona as hastes que trituram os Ira
pos com a água numa grande celha. O pro-
duto é medido e comprimido em tolhas,
que depois se penduram em uarões de ma-
deira para a secagem. As folhas secas suo
atadas em resmas e. finalmente, transpor
ludas em burros até aos tipógrafos.

11)7
por ano. A produção anual ultrapassa os
POR QUE RAZÃO OS LIVROS E DOCUMENTOS ANTIGOS II 000 milhões de litros e terá rie subir mais
DURAM MAIS QUE OS MODERNOS? 2000 milhões para satisfazer a prtxjura.
Nos EUA, o álcool à base de milho é
também produzido comercialmente e é ha-
VIO bitualmente misturado à gasolina normal
como antidetonante, evitando o emprego
intuo • tu: M boftir Qtmii tr.^ >q< de produtos que contêm chumbo.
Bula a nu tt babo tibi çturo bmui-
tutnn tua: tt juffruí oiú tua tininoa
tiw.lVproíiunsatonran
rçoaounulirathii[irotoa.*ntmu
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ftiBlmaiu: i:r quabo iiatcatur inmi>
Será o carvão a
luioipmunebtaiaiuSsA "íumir
arítm tn tmut na tiuo: ttati amura
qui ranhbuntin ro.iMnluiua òittufl
resposta a uma
min fiujtnr afluir rtbfolmi filii fm.
'á voraint qo nlnulii.ir, íum qui
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crise de petróleo?
uafummrí(f>ulnlii(úiiiiimtciurr:
iMS. DMb sn HOTMIIMI, 1 (DUÒJM è CtmO •Í-;I

Papel que envelhece. A Bíblia de Gutenberg (à esquerda), impressa no século xv em Na Africa rio Sul, onde o carvão é abundan-
papel pergaminho fino, ainda em excelente estado. O livro de receitas de 1914 (à direita), te e de baixo preço, a empresa Sasol foi a
em papel de pasta de madeira, que contém ácidos, está já a ficar amurelo. pioneira de um processo de conversão do
carvão em petróleo.
A descoberta de que podia fabricar-se para os arquivistas e bibliotecários signi- O carvão é colocado em grandes reci-
papel a partir da madeira tornou possí- fica que, potencialmente, lodos os livros pientes, acendido e submetido durante al-
vel a comercialização maciça de livros e que se publicaram depois de 1850 pode- guns minutos a um jacto de vapor de água
jornais. Mas, contrariamente ao perga- rão estar a autodestruir-se lentamente. e oxigénio a alta pressão. O carvão, ao ar-
minho, ao velino ou aos papéis à base de Os bibliotecários estão agora a pro- der, produz grandes quantidades de gás
trapos, o papel fabricado com pasta de curar uma forma económica de tratar as rico em hidrogénio e carbono — elemen-
madeira tem uma vida limitada. Os bi- suas enormes existências de livros. Pre tos a partir dos quais se pode produzir pe-
bliotecários começam a aperceber-se sentemente, o único processo é arran- tróleo. Como esle tem aproximadamente
de que os livros modernos se deterio- car-lhes a encadernação e tratar as pági- o dobro dos átomos de hidrogénio do car-
ram rapidamente. nas uma a uma para eliminar os ácidos. vão, tem de se adicionar hidrogénio ao gás
O problema está em que eles contêm No entanto, embora esle procedimento de carvão. Este é fornecido pelo vapor de
produtos químicos, incluindo ácidos do possa juslificar-se no caso de algumas água. O carvão em combustão gera ener-
processo de branqueamento, que os primeiras edições valiosas, é impraticá- gia suficiente para decompor as moléculas
corroem. Para a maioria dos leitores, vel para a totalidade dos livros. Contudo, de água do vapor em átomos de hidrogé-
este problema pouco importa, porque alguns fabricantes já estão a produzir pa- nio e de oxigénio. O hidrogénio assim pro-
já leram os livros muito antes de se tor- pel com uma colagem neutra que lhe duzido dá ao gás o equilíbrio correcto en-
nar evidente o seu envelhecimento. Mas prolonga a vida. tre este elemento e o carbono.
Este gás tem de ser lavado com metanol
para o libertar do enxofre o rie cianetos. É
depois transferido para reactores, onde uni
tratamento químico ulterior determina o
Converter plantas em gasolina produto final. Os reactores podem produ-
zir gasolina, óleos, ceras, gases de petróleo
liquefeitos e outras substâncias químicas,
Um dos mais antigos passatempos do ho- lico — semelhante ao vinho ou à cerveja. lais como álcoois, aldeídos e cetonas, mas
mem é produzir bebidas alcoólicas com Para combustível, usa-se álcool puro. o processo é muito dispendioso.
plantas fermentadas. Actualmente, com o pelo que é necessário concentrar a mistura
petróleo a esgotar-se e o seu preço a subir, por destilação - aquecimento rio líquido
o álcool feito a partir de plantas está a ter até à vaporização do álcool e condensação
uma nova utilização — a de combustível
para veículos.
do vapor de forma a extrair o álcool e dei
xar a água. Esta última fase, a produção de
Captando
O maior produtor mundial de álcool ve-
getal para combustível é o Brasil. Dois anos
álcool anidro, requer grande quantidade
de energia e tem originado críticas no sen-
a fragrância
depois da crise do petróleo de 1973, o Bra
sil lançou o seu programa rio álcool como
tido de que a produção de combustível por
esta forma pode consumir mais energia do
das flores
reacção à subida dos custos rie importa que a que fornece. O Departamento de
çáo daquele produto. Este país utiliza uma Energia rios EUA verificou que, quando se Os aromas frescos de um jardim no Verão
matéria-prima de baixo valor comercial usa milho para produzir álcool, são neces- ou as fragrâncias tropicais de uma floresta
que produz em abundância — a cana-de sárias 109 unidades de energia para se ob- equatorial são causados por minúsculas
-açúcar. terem 100 de combustível. gotículas de líquidos oleosos produzidos
Inicialmente, o processo é o mesmo, Mesmo assim, a produção de álcool no pelas plantas. São estes óleos essenciais
quer o produto final seja uma aguardente Brasil tem prosperado: mais de 80% dos naturais, juntamente com aromas produ-
de qualidade ou um combustível para auto- automóveis vendidos no país consomem zidos sinteticamente, que formam a base
móveis: o açúcar não refinado é misturado álcool puro ou com uma mistura de gasoli- da indústria rios perfumes.
com água e levedura e fermentado em cu- na, e os custos do petróleo importado des- Não se sabe ao certo porque é que as
bas até se transformar num líquido alcoó ceram cerca rie 2000 milhões de dólares plantas produzem óleos aromáticos. Uns

108
I poderão atrair os insectos; outros podem
destinar se a afastar parasitas ou animais
daninhos. Dos muitos milhares de plantas
do Mundo, apenas cerca de 200 produzem
por alguns estudiosos, que deitou unguen-
tos sobre os pés de Jesus em casa de um
fariseu. Esses unguentos continham quase
de certeza nardo, óleo aromático extraído
perfumeiro da Provença, no Sul de frança,
ainda se emprega para estes óleos delica-
dos o método chamado enfleurage; as fio
res são colocadas sobre camadas de sebo
a diversidade de óleos essenciais utilizados da valcriana-da índia, ou esficanardo e banha altamente purificados. Deixadas
pela indústria de perfumaria. Foram OS Árabes quem primeiro utili- num local fresco e escuro durante um a
Alguns perfumes chegam a conter 100 zou a técnica da destilação para extrair os três dias, as gorduras absorvem as essên-
essências diferentes; outros, apenas algu- óleos essenciais, e ainda hoje se utiliza um cias das flores, produzindo o que se chama
mas. Mas todos eles têm três elementos em processo semelhante. As flores ou as fo- uma pomada. As essências separam se da
comum: uma 'nota alta", formada pelos lhas da planta aromática são esmagadas gordura pela adição de álcool, que forma
ingredientes mais voláteis e que criam 0 ou cortadas em pequenos pedaços, de- com aquelas uma solução alcoólica pron-
efeito imediato; uma "nota média", que pois aquecidas com vapor de água para ta a ser misturada
modifica a impressão inicial e se destina a obrigar os óleos voláteis a evaporarem se. As essências são muitas vezes produzi
dar corpo ao perfume, e uma "nota de O vapor percorre um tubo de vidro arrefe- das em regiões remotas por empresas fa-
base", mais duradoura e persistente. cido que provoca a condensação dos miliares cujos métodos se mantêm desde
Os antigos gregos e romanos faziam un- óleos. As quantidades assim obtidas da há centenas de anos. A Bulgária é ainda
guentos perfumados imergindo flores, fo- maioria das plantas são mínimas, usual- responsável por 70% da produção mun
lhas e raízes em óleos gordos, que lhes mente inferiores a um milésimo de todo o dial de essência de rosas. Nos vales inferio-
extraíam os aromas. Quando Cleópatra material colhido. Mas a sua fragrância é Ião res dos Balcãs, os cultivadores de rosas diri
saiu a cumprimentar Marco António, en intensa que, mesmo numa solução de 100 gem-se para os campos ainda de noite,
sopou com perfume as velas púrpuras da para 1, se mantém poderosíssima. pois as pétalas têm de ser apanhadas antes
sua barca para o impressionar. A destilação nem sempre pode ser usa- da aurora para que mantenham a íragrán
S. Lucas conta nos a história de uma mu da, porque há certas fragrâncias que se de- cia. São precisas mais de 2000 pétalas para
lher, identificada como Maria Madalena terioraram com o calor. Em Grasse, cenlro cada grama do seu precioso óleo.
Certos óleos são produzidos ao ritmo de
apenas algumas toneladas por ano. Os
óleos são comprados por corretores, que
os vendem aos exportadores e estes aos
perfumistas, que compõem as suas pró
prias fragrâncias, uma arte difícil e delicada
Alguns perfumes leni características flo-
rais dominadas por aromas como a rosa
OU a gardénia Outros são orientais, de er-
vas ou especiarias, contendo óleos de ca-
nela da China, Birmânia e Sri Lanka ou de
noz-moscada da Indonésia e das índias
Ocidentais. As loções para depois de bar-
bear contêm frequentemente aromas de
especiarias, de madeiras ou de couros.
Para aumentar a persistência dos perfu-
mes, usam-se fixadores. Inicialmente, es-
tes provinham de produtos animais exóti-
cos - O âmbar cinzento, dos intestinos do
cachalote; o almíscar, de uma glândula do
almiscareiro macho; o civete, secreção do
gato de-algália, o eastórico. de uma glân-
dula do castor. Actualmente, contudo, os
fixadores são sintetizados quimicamente.
Uma vez composta determinada fra
grância, esta é vendida sob uma variedade
de fornias. A água-dc-colónia, ou de toilet
te. contém habitualmente de 2 a 6% de
essências dissolvidas em álcool. Os perfu
mes são mais intensos, com 10 a 25% de
essências também em solução alcoólica.
Nem todos os perfumes são fabricados
por métodos tradicionais. As substâncias
que produzem os aromas podem ser re-
criadas sinteticamente e os produtos obli
dos utilizados nos casos em que um perfu-
me convencional seria demasiado dispen
dioso - em ceras, desodorizantes do am
biente, desinfectantes ou champôs.

Campos aromáticos. Flores de alfazema


prontas u serem colhidas. O óleo obtido
pela sua destilação e usado como ingre
dienle em perfumes à base de flores.

Ui"
num fuso, pequeno pau com uma extre-
midade pesada, suspenso das próprias fi-
Como se transformam produtos bras que a ele estavam presas. Ao ser gira
do entre o polegar e um dos outros dedos,
naturais em tecido o luso fazia torcer as fibras, que iam sendo
retiradas de um outro pau, a roca.
As máquinas de liar obtêm mecanica-
A lã foi provavelmente a primeira fibra a ser lá de ovelha. A maioria das fibras de lá mente o mesmo resultado. A primeira
transformada com êxito em tecido dnran mede de 2.5 a 20 cm de comprimento. roda de fiar - que simplesmente fazia i>i-
te o Neolítico, há cerca de 7000 anos. O O linho é uma fibra que se obtém do rar o fuso — foi introduzida na Europa,
homem conseguiu assim a primeira alter- caule da planta com o mesmo nome. Ex- provavelmente a partir da índia, nos princí-
nativa ao vestuário de peles de animais. As trai-se abrindo o caule e mergulhando o pios do século xiv. Só em 1707 o tecelão
fibras de linho e de algodão também eram em água para separar as fibras da matéria inglês James Hargreaves construiu a fian-
conhecidas no mundo antigo. resinosa que as aglutina. As fibras têm de deira rotativa de oito fusos, criando na in-
No Egipto - onde a lã era considerada 15 cm a 1 m de comprimento. dústria a possibilidade de produção em
"impura" -, encontraram-se múmias de As fibras de algodão desenvolvem-se massa. Durante a Revolução Industrial, as
3400 a. C. embrulhadas em lençóis de li nas cápsulas do algodoeiro. São muito máquinas de fiar foram sendo aperfeiçoa
nho com LÍ00 m de comprimento. O algo- mais curtas que as do linho, formando fitas das, e em 1828 surgiu na América a ante-
dão já se usava na índia em 3000 a. C, e achatadas e retorcidas de 0,3 a 0,5 cm de passada de muitas das modernas máqui-
foram encontrados no Peru tecidos de al- comprimento. As fibras têm de ser retira nas de fiar a fiadoura de anéis. Uma
godão datando de 2000 a. C. das da cápsula e separadas das sementes, fiadoura moderna pode chegar a ter 500
Para transformar em tecido fibras como processo efectuado mecanicamente pelos fusos, cada um com mais de 0000 m de fio.
a lã, o linho e o algodão, são precisos dois descaroçadores.
processos: o primeiro é a fiação, pela qual Kntre outras fibras vegelais, contam-sc a Como trabalha uma máquina de fiar
as fibras são torcidas em conjunto para for juta, utilizada no fabrico de sacas e forros Os princípios da fiação são hoje exacta-
marem o fio; o segundo é a tecelagem, em de tapetes, e o cânhamo, fabricado da cun- mente os mesmos que quando o trabalho
que dois fios são entrelaçados em ângulo nabis e utilizado nos panos de velas, nas era processado manualmente. As fibras
recto para formar o tecido. lonas e nos oleados. são primeiramente "cardadas" — dispôs
A fiação era tradicionalmente uma tare- tas paralelamente entre si —, Irabalhando-
fa feminina, e a tecelagem, uma tarefa mas- Como das fibras se produz fio -as entre duas superfícies paralelas em mo-
culina. Antes da Revolução Industrial, Tal como existem, nenhuma destas fibras, vimento dotadas de bicos aguçados. Em
quando a fiação era toda manual, necessi- animais ou vegetais, é suficientemente seguida, são penteadas para retirar as fi-
tava-se da produção de cinco a oito mulhe- longa para ser transformada em tecido. A
res para ocupar um tecelão. Em um dia, fim de produzir um fio utilizável, as fibras Fardos de algodão. AigtxJao aguardando
uma mulher conseguia fiar cerca de 500 m têm de ser postas lado a lado e torcidas, um embarque no Arizona, EUA. Depois de co-
de fio de lã. processo denominado fiação. lhido, o algodão é comprimido em fardos
A mais importante rias fibras animais é a Originariamente, este trabalho era feito de 180 kg.

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110
bras cúrias, depois passam a máquinas
providas de cilindros que repuxam as li
COMO E ÇjUE UMA CAMISOLA DE LÃ
bras. tornando o fio mais fino c dando-lhes
NOS MANTÉM QUENTES NUM DIA FRIO?
uma torcedura que as mantém unidas.
Os fios podem lambem ser torcidos em Para nos mantermos quentes num clima frio, é indis-
conjunto para produzirem um fio nuílli pensável um isolamento eficaz que impeça que o ca
pio, mais forte e espesso como na lã de lor do corpo se escape. Os mamíferos possuem pêlos
tricotar de dois fios ou de três fios. Os fios ou camadas de gordura como isoladores do corpo,
de fibras mistas resultam da fiação conjun- mas o homem não possui gorduras suficientes e tem
to cie fibras de diferentes origens, como, poucos pêlos; tem assim de recorrer ao vestuário.
por exemplo, lã e poliéster, a fim de se ob- Os mamíferos, em geral, têm o corpo revestido por
ter uma combinação mais perfeita de ca- duas espécies de pêlos. Os da camada superior, mais
pacidade de aquecimento, resistência e fa- compridos e rígidos, tornam se erectos quando o ani-
ciliciado de lavagem. Finalmente, o fio aca- mal eslá assustado ou zangado. Por baixo destes en-
bado é enrolado em bobinas, ou canelas. contra-se uma camada densa de pêlos macios, que
retêm o ar junto â pele. O ar é mau condutor de calor,
Como se produz tecido a partir do fio pelo que uma camada de ar retida nos pêlos conserva
Os povos primitivos teciam panos exacta- o calor do corpo e mantém o animal quente em tem
mente como ainda hoje o taxemos. Na ai po frio. Quando chove ou o animal entra na água, os
tura em que morreu o jovem faraó Tutank- pêlos mais compridos formam uma camada imper-
hamon, no século xiv a. C, já se fabricavam meável que impede que a pele e os pêlos da camada
tecidos muito complexos com padrões de inferior se molhem e percam as suas propriedades
cores diversas. Não restam exemplares de isolantes. Depois, uma simples sacudidela expele a
tecidos gregos antigos, mas a decoração água dos pêlos exteriores.
de um vaso do século vi a. C. representa Aproveitando as qualidades da lá, o homem imita o
fiandeiros e tecelões. O tear, com cerca de comportamento dos animais. A roupa junto à pele
1,5 m de altura, é do mesmo tipo que o retém ar que se mantém quente pelo calor do corpo,
utilizado por Penélope enquanto aguarda Fio <le lã. Uma fotografia formando uma camada térmica em redor desle. Um
va o regresso de Ulisses, seu marido, no através do microscópio mos- casaco impermeável impede que o vestuário se molhe
poema de Homero, A Odisseia. tra os espaços entre as fibras e perca as suas propriedades isolantes.
A tecelagem emprega dois conjuntos de onde o ar fica retido.
fio; a teia, ou urdidura, e a trama. Os fios da
teia correm no sentido do comprimento FIBRAS VISTAS AO MICROSCÓPIO
do pano, os da trama são entrelaçados per- FIBRAS ANIMAIS
pendicularmente neles, alternadamente
por cima e por baixo, e correm, portanto,
no sentido da largura do tecido. A tecelã
gem faz-sc num tear, armação de madeira
ou metal que torna mais rápido o processo
repetitivo de entrelaçar a trama na teia.
Num tear mecânico simples, os fios da
teia saem de um cilindro ('"órgão") da lar-
gura com que irá ficar o tecido acabado.
Passam através de um conjunto de arames
verticais (liços) que são movidos para bai-
xo e para cima. Cada arame possui a meio
um pequeno olhai através do qual passa o
fio da teia. Por simples acção mecânica, O vestuário de caxemira é As fibras de lã merino, espes- O mohair tem uma textura
podem subir-se os olhais alternados, macio porque as fibras são sas e menos redondas, pro- áspera porque as fibras são
abrindo um espaço ("cala") através do arredondadas e lisas. duzem tecidos duradouros. espessas e grosseiras.
qual passa o fio da trama. Nos teares tradi-
cionais, este fio é transportado num instru- FIBRAS VEGETAIS
mento em forma de barco, a lançadeira,
mas muitos teares modernos não pos-
suem lançadeira, utilizando uma vareta se-
melhante a um florete, ou jactos de ar ou
água, para transporte do fio da trama.
Depois da sua "passagem" através da
leia, o fio da trama é "batido" contra o fio
anterior por uma armação chamada "pen-
te". Os olhais que guiam o fio da leia são
agora baixados, a lançadeira é virada ao
contrário e faz-se uma segunda passagem
através de um novo conjunto de fios, Os
mais rápidos teares industriais ultrapassam
largamente as 200 passagens por minuto. 0 algodão apresenta fi A estrutura áspera de linho é As fibras de juta sáo duras e
0 processo de tecelagem descrito pro- bras finas mas de forma irre- produzida pelas fibras espes- espessas, com uma textura
duz um tecido de estrutura tafetá em que gular. sas e grosseiras da planta. muito aberta.

Ill
cetim, por exemplo, oblóm-se quando a
teia c entrelaçada apenas por cada quarto
OU quinto fio da trama. Dado que no direito
do tecido predominam os chamados fios
saltados (os que não foram entrelaçados
pelo fio da trama), o tecido apresenta um
brilho característico. 0 damasco apresen-
ta uma estrutura que é uma variante da
estrutura cetim. Conseguem-se subtis va-
riações de cores pela alternância da área
com a teia ou a trama à superfície.
Linho tecido. 0 linho é fiado e depois teci- Outros tipos de estrutura incluem a sarja
do. Aqui. a estruturo mais simples, a tafetá. — utilizada na gabardina e nas sarjas pro-
priamente ditas — e as estruturas com
cada fio da trama passa alternadamente pêlo utilizadas no fabrico de bomba/.inas,
por cima c por baixo dos fios da teia. peluche e veludos. O "pêlo" espesso do
No entanto, os tecidos podem ter mui- veludo forma-se aparando os fios da super-
tos outros tipos de estrutura: a estrutura fície depois de tecidos.

Seda: fibra fabricada por borboletas


Durante milhares de anos, a seda foi vendi Huang Ti pediu à esposa, Xi Lingshi, que A manufactura da soda tem quatro fa
da pelo Oriente ao Ocidente, e ainda hoje é descobrisse o que é que andava a comer as ses: o cultivo das amoreiras, a criação do
o tecido mais precioso por unidade de suas amoreiras: a imperatriz verificou tra- bicho-da-seda, a obtenção das fibras da
peso. tar-se de umas lagartas brancas que teciam seda a partir dos casulos e a tecelagem do
É uma fibra produzida pelo bicho-da- uns casulos lustrosos. Deixando cair um pano.
- seda, Bombyx mori, para formar um casu- destes casulos acidentalmente em água Os bichos-da-seda comem as folhas de
lo dentro do qual se transformará em bor- quente, ela viu que era possível puxar um uma diversidade de árvores —uma espó
boleta. Cada casulo é constituído por um Ho finíssimo e enrolá-lo cm carrinhos. Ti- cie alimenta se de folhas de carvalho — ,
único filamento que chega a atingir 1,5 km nha descoberto o processo de obter a mas as folhas da amoreira são as que pro-
de comprimento. São precisos 110 casulos seda, processo esse que se manteve um duzem a seda mais fina.
para fazer uma gravata, 030 para uma blu- bem guardado segredo chinês durante os Na China, as amoreiras são cultivadas
sa e 3000 para um quimono. 2000 anos seguintes. Com efeito, as leis em arbusto para que as folhas para alimen-
Segundo a tradição, a descoberta da imperiais estabeleceram mesmo que tação dos bichos possam ser facilmente
seda deu se em 2640 a. C, nos jardins do quem quer que revelasse o segredo seria colhidas.
imperador lluang Ti. Diz a lenda que torturado até à morte. Os bichos-da-seda criam se na Trimave

DO CASULO ATE AO BORDADO AO MODO TRADICIONAL DA CHINA

Selecção dos casulos. Mulheres escolhem os ca- Dobagem do fio. Dobar a seda implica o aquecimento dos casulos já lanados e
sulos, retirando os que estiverem danificados. depois o puxar do fio. Os fios de cores diferentes, causadas por compostos químicos
Cada casulo produz cerca de 1,5 km de fio. segregados pelos bichos da-seda, são férvidos até ficarem brancos.

112
Casulos de seda. Casulos do bicho-
-da-seda em tamanho natural.
Produzirão cerca de 18 km
de fio, que dará para um
quadrado de tecido de
seda um pouco menor
que esta fotografia.

Fibras de seda. Esta micro fotografia mos Captando a luz. A estrutura de fios múlti
tra Q forma e a proximidade das fibras. pios faz brilhar o tecido.

frito, de lágrimas, de gritos, nem de mulhe- pôr os ovos, que irão dar origem a novos
res grávidas ou que tinham acabado de dar bichos-da-seda. Na prática, só assim acon-
ra, durante dois à luz. Ainda hoje, na província chinesa de tece com alguns dos bichos; os restantes
meses de acti- Zhejiang, as mulheres que cuidam dos bi são mortos, Evitando se que o casulo seja
vidade inten- chos-da-seda estão proibidas de fumar, estragado pela borboleta que dele sai, con-
sa. Os o v o s , pintar-se ou comer alho. segue-se obter um fio contínuo.
guardados em lugar fres Depois da quarta muda de pele, as lagar- O processo de obtenção deste fio cha-
co desde o ano anterior, são tas iniciam o fabrico dos casulos. As duas ma-se dobagem. K levado a cabo mergu-
i n c u b a d o s assim que as glândulas seriagenas que têm ao longo do lhando os casulos em água quente, pro-
amoreiras começam a ler fo corpo começam então a segregar uma curando a ponta do fio e enrolando-o
lhas. Levam cerca de oito dias a mistura semilíquida que emerge como numa dobadoura. Km geral, dobam-se no
chocar, depois do que as lagartas se ali- um fio único formado pelos dois filamen- mesmo aparelho os fios de vários casulos,
mentam continuamente de folhas de amo- tos juntos. entre cinco e oito, para formar um fio de
reira durante um mês. Neste período de Primeiro, os bichos-da-seda fazem uma espessura suficiente. \ loje, a maioria do tra-
quatro semanas, o seu peso aumenta fina rede. Depois, deslocando a cabeça balho é feita em dobadouras automáticas.
10 000 vezes. Nem mesmo a respiração in- num movimento em forma de oito, cons- Quando se juntam dois bichos-da-seda,
terfere com a alimentação, visto respira- troem lentamente um casulo impermeável estes constroem casulos gémeos. A seda
rem através de orifícios que têm no corpo. que os envolve completamente. A constru- que deles se retira é chamada dupion. Tem
Para serem produtivos, os bichos-da- ção de um casulo demora aproximada- "nós" ao longo do fio e é empregada no
-seda têm de ser mimados. Na China, dizia- mente três dias, durante os quais a lagarta fabrico de tecidos com variações de lexlura.
-se que gostavam de calor e detestavam o moveu a cabeça cerca de 300 000 vezes. A produção mundial de seda é cerca de
frio, gostavam de secura e detestavam a Se não houver qualquer interferência, a 50 000 t por ano, apenas 0,2% da produção
humidade, gostavam de limpeza e detesta- lagarta lransforma-se em borboleta em total de fibras têxteis. A sua textura brilhan-
vam a sujidade. Dizia-se também que não cerca de duas semanas, segrega um enzi- te deve-se às suas fibras triangulares, que,
gostavam de barulho, do cheiro a peixe ma que enfraquece o casulo e emerge para portanto, reflectem a luz.

Fabrico do fio. Os fios de cinco e oito casulos sào torcidos em conjunto para Bordado de seda. As meadas de seda sâo tingidas e
formarem um fio de espessura suficiente; este é depois enrolado em meadas. Os utilizadas no fabrico de tecidos ou em bordados. Esta
tradicionais aparelhos de madeira, como este. têrn sido substituídos por máquinas. mulher borda um desenho de flores com linha de seda.

113
Como os segredos da seda foram trazidos da China

O s dois monges insisliam muito: tinham de ver o impera-


dor. Afirmavam querer transmitir lhe um segredo valio-
so, tendo viajado desde a China até Constantinopla (actual
Istambul) para o revelar à corte.
estava a tentar importá-la através dos mercadores etíopes, que
negociavam com a China por mar.
Os monges eram persas que tinham pregado o cristianismo
na China durante muitos anos e lá aprendido os segredos da
Estava-se à volta do ano 550, e o imperador Justiniano I era o sericicultura. Faziam agora uma proposta a Justiniano: era im-
senhor do Império Romano do Oriente. O segredo dos monges possível manter vivos os bichos-da-seda durante tão longa jor-
merecia bem a atenção de Justiniano: eles ofereciam-se para nada, mas já não sucedia o mesmo com os minúsculos ovos.
lhe ensinar o processo de fabricar seda à maneira dos Chineses. Cerca de 30 g desses ovos bastariam para produzir 36 000 bichos-
Algum deste magnífico tecido era então fabricado na peque- -da-seria. Justiniano encheu os monges de presentes e prome-
na ilha grega de Cós, a partir de bichos-da-seda selvagens que se teu lhes consideráveis recompensas. Os dois homens voltaram
alimentavam de folhas de carvalho. Mas não se comparava com à China e adquiriram uma quantidade de ovos; depois, apoian-
a seda chinesa, obtida de bichos-da-seda que se alimentavam do-se em fortes bastões de bambu, percorreram o longo cami-
das folhas da ainoreira-branca. Os romanos do Oriente com- nho de regresso ao Ocidente com os preciosos ovos escondidos
pravam esta seda chinesa a mercadores que a transportavam nos bastões. Ao chegarem, ensinaram os romanos do Oriente a
durante mais de 4800 km ao longo da perigosa Rota da Seda, criar os bichos-da-seda, os quais foram utilizados no fabrico das
através da Ásia Central, desde Luoyang, no rio Amarelo, até ao primeiras serias finas da Europa. Alguns foram reservados para
Mediterrâneo Oriental. A viagem demorava oito meses. criação, iniciando-se assim uma indústria da seda. Mas, apesar
Ao chegar à Kuropa, a seda valia literalmente o seu peso em dos esforços destes monges, as lagartas da seda preferem ainda
ouro. Era cada vez mais cara e difícil de obter, pois a Rota da as folhas da amoreira-branca chinesa, e a Europa continua a
Seria atravessava terras devastarias pela guerra, e Justiniano importar da China uma parte ria sua seda crua.

(luziu uma fibra muito resistente e elástica. o que evita que o vestuário se enrugue.
Carothers sofria de depressão havia As fibras artificiais podem ser combina
Como se muitos anos, e em 29 de Abril de 1937, 20
dias após ler requerido a patente para o
das com as naturais, pelo que os tecidos
que não precisam de ser passados a ferro
transformam seu invento, suicidou-se. Nunca soube
que a sua descoberta viria a chamar-se
podem mesmo assim parecer naturais.
Os tecidos artificiais são mais fáceis de
produtos químicos nylon e provavelmente nunca sonhou que
iniciara uma "revolução dos materiais'*.
produzir em massa que a lã ou o algodão, e
ainda bem - cada par de meias de nylon é
em vestuário A técnica de produção rias fibras feito com um único filamento de
nylon com perlo de 6,5 km, entre-
sintéticas tem-se mantido quase
inalterada. Os polímeros em es- laçado em 3 milhões de malhas.
Foi em 1935 que o americano Wallace Ca- tado líquido são exlrudidos
rothers inventou o nylon. As meias cie através de uma fieira, e o fino Meias de "nylon". A actriz
nylon surgiram em 1938 e depressa tive- jacto solidifica quase instanta- Betty Grable vendeu as suas
ram enorme procura. Os fabricantes di- neamente, formando uma fibra meias para a campanha
ziam que a nova fibra era "forte como o com um quarto da espessura destinada a obter fun-
aço e delicada como uma teia de aranha". de um cabelo humano. As fi- dos para a guerra Em
Carothers, professor de Química Orgâ- bras são esticadas, o que alinha baixo, pormenor das
nica, fora convidado em 1927 para chefiar as moléculas longas ao compri- malhas, que tornam
um grupo de investigação na K. I. du Pont mento da fibra e dá ao nylon o seu as meias de nylon
Nemours and Company, em Wilmington, brilho e transparência. O nylon macias e elas
Delaware, a fim de inventar um novo mate- pode ser esticado até cerca ricas.
rial sintético. O projecto tomou quase II de cinco vezes o seu compri-
anos e custou 27 milhões de dólares. mento original antes de as
Carothers acreditava que se podia obter moléculas se alinharem e se
um novo material por meio da polimeriza- interligarem resistindo a
ção (combinação de moléculas pequenas posteriores distensões. Ob-
para a formação de novos compostos com têm-se assim fios resistentes
moléculas grandes). A sua ideia era criar que são transformados em
um polímero com a estrutura da seda e tecido. Os tecidos produzi-
que pudesse ser fabricado em massa. dos com fibras artificiais
Em 1931, Carothers descobriu uma fibra conseguem já recriar a
mais fina e mais resistente que a seda. Mis- maioria das propriedades
turando ácido adípico e hexametilenodia das fibras naturais. O acríli-
mina, produziu um composto viscoso co, com as suas fibras pe-
com o qual era possível obter uma fibra nugentas e finas, usa-se
delgada. No entanto, as primeiras fibras no fabrico de tecidos fel-
que produziu ou fundiam a temperaturas pudos ou de peles sintéti-
baixas ou eram muito fracas, e foram ne- cas. Com a sua estrutura
cessários mais quatro anos para aperfei molecular forte mas
coar o "polímero 66". Descobriu, entretanto, elástica, o poliéster
que o processo de polimerização era inibi tem a capj
do por gotículas de água contidas no com- de retomar acidade &^Lú
forma inich a sua ^ r *\
posto; evaporando a água, Carothers pro-

" /
114
Do líquido ao tecido. As fibras de nylon são obtidas forçando o polímero liquido através de orifícios, o qual solidifica em fios.

óleo. Os cartões unidos formavam uma


longa tira que passava lentamente por so-
Como se fazem tecidos com padrões bre o tear. Os teares Jacquard ainda hoje se
utilizam no fabrico de tecidos luxuosos.
Muitos panos com padrões podem ser
Por volta do ano do nascimento de Cristo, a na feitura de uma pequena área de dese- tecidos em máquinas mais simples. Os
mulher de um nobre chinês, Ho Kuang, nho, dava-se um quarto de volta ao bloco, clássicos padrões do tweed são ainda teci-
deu a outra, Shunyu Yen, "vinte e quatro trazendo ao seu lugar o cartão seguinte. dos em teares manuais.
rolos de brocado de seda com desenhos Foram precisos 24 000 cartões para tecer A impressão directa de desenhos nos
de uvas e vinte e cinco rolos de seda fina em seda um retrato de Jacquard, tão perfei- tecidos teve origem na índia, e as primeiras
com um padrão entretecido de flores sol- to que mal se distinguia de um retrato a chitas estampadas foram trazidas para a
tas". Os Chineses foram mestres na arle da
tecelagem, utilizando fios de seda de mui-
tas cores e estruturas complicadas para
produzir brocados e tapeçarias. Com os
teares primitivos, a inclusão de desenhos
na tecelagem exigia habilidade e paciência
consideráveis.
Mesmo depois rios inventos do século
xviii, o tecelão tinha de saber que fios da
teia (os que correm ao comprimento do
tear) tinham de ser levantados para produ-
zir determinado desenho. Só os fios levan-
tados eram tecidos no desenho quando a
lançadeira que transportava a trama (os
fios atravessados no tear) era passada de
um lado para o outro através da cala.
Só no princípio do século xix o tecelão
francês Joseph Jacquard descobriu uma
maneira de fazer padrões minuciosos sem
o auxílio de tecelões especializados. Pren-
dia-se uma série de cartões perfurados a
um bloco rotativo por cima do tear. Só
onde havia furos é que os fios podiam ser Tecido estampado. Este tecido de algodão moderno foi estampado com um desenho do
apanhados por pequenos ganchos e ser final do século xix. A ampliação mostra os pequenos espaços entre as diferentes cores,
tecidos. Depois de cada cartão ser usado destinados a evitar que as tintas se misturassem umas com as outras.

115
Europa no século xvi. Do vocábulo indiano
tchàll veio o chintz, palavra que ainda hoje
usamos para designar tecidos estampados
a que se dá um ligeiro brilho.
A moderna estamparia têxtil emprega
cilindros de metal em que está gravado o
desenho, sendo cada cor aplicada por um
cilindro diferente. Os cilindros passam por
um banho de cor enquanto rodam, trans-
ferindo depois a tinta para o tecido. Podem
chegar a usar-se 16 cilindros num só pano.
Para garantir que cada cilindro ajusta o
seu desenho ao desenho anterior, recorre
-se a sistemas de controle electrónico.
Quando o tecido sai do último cilindro, pas-
sa por urna estufa de secagem. As moder-
nas máquinas podem estampar a 16 cores à
velocidade de 180 m de tecido por minuto.

Como se faz
vestuário que
sirva a quase
todos
0 alfaiate tradicional toma em considera-
ção uns braços compridos ou uma cintura
grossa e consegue um falo que se ajusta
bem. Mas o vestuário feito por medida tem
um preço cada vez mais elevado, e a mo-
derna indústria de confecções tem de pro
duzír fatos prontos a vestir que sirvam sem
grandes alterações à maioria das pessoas.
Um dos primeiros levantamentos das
medidas das pessoas foi levado a cabo por
ordem do Governo dos FAJÃ durante a
1 Guerra Mundial. Em Inglaterra, no princí
pio da década de 50, foram medidas 5000
mulheres com alguns resultados inespera-
Tecido Jacquard. Os tecidos de deco- dos. As tabelas de tamanhos que existiam
ração com desenhos complicados baseavam se na altura média, para as mu-
são ainda feitos nos teares Jac- lheres, de 1,68 m - mas o levantamento
quard, inventado em França revelou que essa altura média era de 1,60 rn.
no século x/x. Este tear usa Hoje, nas grandes empresas de vestuá-
cartões perfurados para rio um molde feito por um desenhador ser-
guiar os fios da trama (ho- ve de base para um computador produzir
rizontais), conduzidos uma gama de tamanhos que abranjam as
pela lançadeira através variações normais da população. Pessoas
dos fios da teia (verti invulgarmente grandes ou pequenas quei-
cais) estendidos na xam-se de nunca encontrar nada que lhes
moldura do tear. Para sirva, e têm razão: economicamente, não
tecer este padrão floral, fazia sentido para os fabricantes produzi
terão sido precisos cerca rem o número limitado de peças de vestuá-
de 10 000 cartões. A am- rio que conseguiriam vender.
pliação (à esquerda) O passo seguinte é utilizar os moldes
mostra as variações na tex- para cortar o tecido para o vestuário. As
tura e na espessura dos peças de tecido são dispostas mecanica-
fios. Este tecido é fabricado mente para que fiquem perfeitamente pia
com fio de algodão, mas qual nas. Centenas de camadas são estendidas
quer fibra ou combinação de fi- umas sobre as outras para se poder cortar
bras podem ser tecidas. Alguns tea um grande número de peças de uma só
res Jacquard são controlados electroni- vez. Computadores estudam o plano de
camente, e não por cartões. corte, isto é, a disposição dos moldes sobre

116
Moldes por computador. Utilizam se
computadores para, a partir de um único
desenho, traçar moldes paro todos os ta
manhos normais. Cada contorno colori-
do (à esquerda) representa uma perna de
calça de tamanho diferente. Os compu
tadores ajudam também a planear, em vi-
sor, o melhor aproveitamento do tecido
(em cima).

o tecido, de modo a haver o mínimo de cortadas. Muitas operações, como a aber-


desperdício. 0 desenho em papel desses tura de casas, são feitas automaticamente.
moldes é colocado sobre as camadas de Uma costureira faz, em média, 20 pon- Como se obtém
tecido prontas para o corte. tos por minuto — a maquinaria moderna
0 corte do tecido é efectuado por lâmi- pode chegar aos 7000 no mesmo intervalo água doce do mar
nas guiadas de cima ou por raios laser co- de tempo. Certos artigos não são cosidos
mandados por computador. 0 laser, um da forma tradicional, mas colados a calor.
raio de luz intenso, faz um corte limpo mui- As peças de vestuário são então passa- O Mundo encontra-se perante uma cres-
to mais rigoroso que o de qualquer lâmina. das a ferro para se lhes dar a forma adequa- cente escassez de água e, em certas zonas
Em seguida, cosem-se as diversas peças da e se marcarem os vincos ou as pregas. de baixa pluviosidade, o suprimento natu-
ral de água é insuficiente. Uma das solu-
DOIS PROCESSOS DE CORTAR TECIDO ções é a dessalinização, processo pelo
qual se retira o sal à água do mar.
No século iv a. C, Aristóteles fez notar
que, ao ferver-se água salgada, o vapor que
se forma não transporta o sal, pelo que, ao
condensar-se, se transforma em água doce.
A central de dessalinização mais simples
é um alambique em que a água é fervida e o
vapor condensado. Pode fazer-se um alam-
bique solar rudimentar colocando uma
campânula de vidro sobre uma poça de
água salgada. A água é aquecida pelo sol,
vaporiza se e depois condensa-se no vidro,
escorrendo até se acumular em canais em
redor dos bordos. Um alambique destes
com uma área de 1 m^ deverá produzir cer-
ca de 4,5 1 de água doce por dia.
Para produzir quantidades significativas
de água doce, torna-se necessário um sis-
tema de destilação muito maior. A água é
aquecida acima do seu ponto atmosférico
de ebulição, mas num recipiente sob pres-
Corte com lâmina. A faca eléctrica de alta Corle com "laser". Cortadores a laser co- são, para que não ferva. E depois conduzi
velocidade corta camadas de tecidos de mandados por computador produzem cor- da para uma câmara que se encontra a
três cores para fazer mangas de blusas. tes limpos, cujas beiras não desfiam. uma pressão inferior, onde parte da água

117
DESSALINIZAÇAO POR SISTEMA DE CAMARÁS MÚLTIPLAS

proveniente
da central
térmica

O vapor
aquece
a água
salgada
dentro
do tubo
Água salgada do mar

••••

Depósito
de água
doce

Na primeira câmara, o A água do mar, agora O processo repete-se em A água dessalinizada


vapor produzido pela ligeiramente mais fria, 10 ou mais câmaras, cada é bombeada para um
água em ebulição passa para a segunda uma delas a pressáo depósito e está pronta
sobe e atravessa um câmara, onde a sucessivamente inferior. a ser bebida.
desenevoador que lhe pressáo é menor e
retira todas as onde parte da água
goticulas de água se vaporiza
salgada. Depois, o instantaneamente,
vapor condensa-se produzindo mais
em contacto com o vapor.
tubo condensador e
pinga para uma tina.

A água do mar pode ser transformada em água potável pelo sistema de dessalinização em câmaras múltiplas, aprooeilando o calor
desperdiçado por uma centrai térmica. O sistema baseia-se no princípio de que a água feroe a uma temperatura inferior à normal quando o
pressão atmosférica for também inferior à que se verifica ao nível do mar. A água aquecida passa através de uma série de câmaras que se
encontram a pressão cada vez menor. A água ferve em cada uma das câmaras, e o vapor condensase em água doce.

se transforma instantaneamente em va- derno, usando o princípio da chamada os- Uma das maiores centrais de osmose
por. Este é seguidamente condensado por mose inversa, é mais rendível que o do des inversa no Mundo foi construída no Ba-
contacto com os tubos adutores da água tilação acima descrito. Utiliza membranas rém, com uma produção diária de água
fria do mar. A água salgada quente que não de plástico com orifícios minúsculos que doce superior a 54 milhões de litros.
ferveu na primeira câmara passa para uma deixam passar as moléculas de água, mas Em 1988, estavam em laboração mais de
segunda câmara também com pressão li- não o sal. Estas membranas formam um 2200 centrais. Mas o custo desta água é
geiramente inferior, onde uma nova parte tubo no interior do qual se introduz água elevado, o que significa que a sua produção
se evapora c condensa. salgada sob pressão. Das paredes exterio- só se justifica para beber, para a indústria ou
Um sistema de dessalinizacão mais mo- res do tubo escorre água doce. para sementeiras de alta rendibilidade.

lixo que se transforma em electricidade e calor


Os Americanos deitam fora 250 milhões um quinto não é combustível, mas deste a mizou 1 milhão de toneladas de carvão.
de toneladas de detritos por ano. Calcula- maior parte é reciclável. Os lixos podem ser queimados nas fá-
-se que os lixos da América poderiam gerar A Europa Ocidental possui mais de 200 bricas em substituição do carvão ou de
tanta energia como 100 milhões de tonela- centrais de queima de detritos para produ- fuel, mas têm de ser tratados. Começam
das de carvão. Contudo, ria sua maioria, ção de electricidade. A Central de Edinon- por ser peneirados através de uma rede
são enterrados e nunca utilizados. ton, em Londres, que abriu em 1974, quei- vibratória para separar as partículas orgâ
Cerca de metade do desperdício do ma cerca de 400 000 t de desperdícios por nicas mais pequenas, as quais serão trans-
mestiço mundial é papel, enquanto os res- ano. A combustão dos lixos aquece água, formadas cm adubos para a agricultura.
tos de cozinha representam um quarto e e o vapor produzido acciona geradores A seguir, as componentes mais pesadas
os plásticos menos de um décimo. Apenas eléctricos. Em 10 anos, a fábrica econo- do lixo, principalmente melais, têm de ser

118
retiradas, ficando papéis e têxteis — os PRODUÇÃO DE BIOGAS NA ÍNDIA
quais são prensados sob a forma de cilin-
dros e vendidos como combustível.
Até os lixos despejados na terra podem
ser utilizados como fonte de combustível.
Quando começam a decompor-se, os de-
tritos libertam metano - idêntico ao gás
natural armazenado cm bolsas sob a crus-
ta terrestre. Uma tonelada de detritos pode
produzir cerca de 230 m3 de metano, que
pode ser canalizado com muilo baixo custo
e utilizado na produção de calor ou elec- No Terceiro Mundo produz-se gás com es Queimadores de gás feitos com argila são
tricidade. Há mais de 140 projectos deste (rume e água armazenados em depósitos. ligados a um tubo proveniente do depósito.
tipo em laboração em 15 países, economi-
zando um total de pelo menos 82õ 0001 de
carvão por ano.
Outras instalações utilizam o gás no pró-
prio local para gerar electricidade, quei-
mando-o em motores a gás simples. As-
sim, todo o gás pode ser utilizado, em vez
de tentar ajustar-se a sua produção às exi-
gências variáveis de uma fábrica.
No futuro, a produção de gás nos depósi-
tos de lixo poderá ser aperfeiçoada, "se-
meando" neles certas estirpes de bactérias.
Introduzindo a melhor combinação de bac-
térias para determinado tipo de detritos, ob-
ter-se-ia uma quantidade máxima de gás.

Lixo para queimar. Lixos domésticos são


retirados de enormes depósitos em Lon-
dres para serem queimados numa centro! O gás metano — chamado biogás — é a principal fonte de combustível pura cozinha em
termoeléctrica. zonas rurais da índia, onde se aproveita o estrume dos gados.

Novos bens
a partir do lixo
A reciclagem dos lixos não só faz sentido
do ponto de vista económico, como lam-
bem é benéfica para o ambiente: reduz a
poluição criada pelos detritos ou pela sua
queima e economiza recursos valiosos
O plástico é uma das substâncias de
mais difícil reciclagem, dado apresentar-se
sob inúmeras formas. Uma garrafa de ket-
chup feita de plástico, por exemplo, é
constituída por seis camadas de plásticos
diferentes, cada uma das quais destinada
a conferir à garrafa determinadas qualida-
des — forma, resistência, flexibilidade, ele.
E, por enquanto, não existe nenhuma ma-
neira fácil de transformar uma garrafa ve-
lha numa nova.
Os plásticos só podem ser transforma-
dos em produtos de qualidade inferior -
uma garrafa de plástico poderia ser limpa,
cortada em pequenos pedaços e usada
para encher almofadas ou isolar sacos-ca-
mas. Uma mistura de detritos plásticos
pode ser reciclada em "paus" plásticos e
utilizada em vedações de longa duração.
Mas muitos desperdícios de plásticos ain-
da têm de ser deitados fora, dado o seu
baixo valor como material reutilizável.

19
RECICLAGEM DO OURO DOS COMPUTADORES Reciclagem de latas.
Na primeira fase da re-
ciclagem, us latas são
prensadas e enfarda-
das. Nos EUA, cerca de
metade das latas de be-
bidas, de alumínio, são
fundidas. Seis semanas
depois, estão de uolta
às prateleiras dos su-
permercados, cheias e
com novas etiquetas.

Com os melais é diferente. Cada auto-


móvel que hoje anda na estrada é parcial-
mente constituído por carros antigos ven-
didos como sucata e reciclados em novos
aços e outros materiais.
Quanto mais valioso o metal — como o
ouro e a prata -, tanto mais compensado-
ra se torna a sua reciclagem. No caso do
alumínio, vale a pena recicla lo porque a
sua extracção da bauxite consome enor-
mes quantidades de electricidade. Graças
principalmente aos programas de recicla-
gem, a energia utilizada no fabrico rio alu-
mínio diminuiu de um quarto desde o
princípio da década de 70.
Nos EUA, vendem-se anualmente mais
de 70 000 milhões de bebidas em latas fei-
tas de alumínio. Cerca de metade é refundi-
ria depois de usada, e, no espaço de seis
semanas, está de volta às prateleiras dos
supermercados.
Também vale a pena recuperar o vidro.
O métorio mais sensato consiste em reuti-
lizar as garrafas tantas vezes quanto possí-
vel. Muitos países têm hoje normas de de-
pósitos de vasilhame obrigatórios para le-
var os consumidores a devolverem as gar-
rafas às lojas. Quando uma lei destas foi
promulgada no estado de Nova Iorque em
1983, calculou-se que em dois anos se teriam
poupado 50 milhões de dólares em despe-
sas de recolha de lixos e cerca de 75 mi-
lhões em custos de energia.
O vidro partido pode igualmente ser re-
ciclado, e muitos países possuem "vi-
drões" em que podem ser deitadas as gar-
rafas usadas. Este sistema de recupera-
ção do vidro apoia-se na boa vontade das
pessoas, c o seu êxito varia grandemente
conforme os países. Por exemplo, os Suí-
ços e os Holandeses recuperam 50% do
seu vidro. O vidro deve separar-se confor-
me as cores, pois o de cores misturadas
só serve para fabricar vidro verde, O vidro
partido pode ser refundido em fornos
e facilmente transformado noutros ob-
jectos.
Metade dos lixos do Mundo é papel.
Muitos países importam desperdício de
papel em vez de pasta para as suas fábricas.
Este desperdício é transformado em pasta
e em novo papel pelo mesmo processo
que a pasta de madeira ou os trapos. O
Japão fabrica agora metade do aei\ papel
O Ouro impuro é refinado e depois novamente vazado em barras. por reciclagem.

120
chamada reacção em cadeia, que permite
que o processo de desintegração do urâ-
nio, uma vez iniciado, possa prosseguir
quase indefinidamente até à exaustão dos
átomos cindíveis.
A energia da cisão nuclear pode ser li-
bertada lentamente, de forma controlada,
num reactor nuclear e ser utilizada para
aquecer água cujo vapor acciona um gera-
dor que produz electricidade. E este o prin-
cípio das centrais nucleares.

Elementos de combustível
Os elementos de combustível — os com-
ponentes essenciais do núcleo de um reac-
Electricidade a tor — sáo constituídos por pequenas pas
tilhas de dióxido de urânio carregadas em
partir do urânio varelas, agrupadas em feixes verticais sus-
tentados por uma grelha.
Uma vez colocado no reactor, um ele- Reactor experimental. Elemento de
Uma pequena mancheia de urânio forne- mento de combustível pode aí permane- combustível a ser retirado da água no reac-
ce tanta energia eléctrica como 70 l de car- cer até três anos, sem que seja consumido tor de alto fluxo para produção de radioisó-
vão ou 390 barris de petróleo. todo o urânio. Contudo, começam a acu- topos em Ouk Ridge, Tennessee, EUA. É uti-
0 urânio é um dos elementos mais den- mular-se subprodutos - gases como o lizado na investigação de substâncias artifi
sos, e cada um dos seus átomos "balouça" crípton, sólidos como o césio, o estrôncio ciais que poderão fornecer mais energia
à beira da instabilidade. O coração do áto- e o plutónio. Antes de estes se acumula- que o urânio.
mo-o núcleo — necessita apetias de um rem demasiado e de a água corroer as vare-
minúsculo "empurrão" para que se dê a tas, os elementos de combustível sáo reti- conhecido e o componente mais usado
sua divisão — a chamada cisão ou fissão rados. O combustível usado é levado para no fabrico de bombas nucleares.
nuclear. E quando um núcleo se divide, uma instalação especial onde é reproecs- O urânio ocorre sob diversas formas
liberta uma enorme quantidade de ener- sado, a fim de ser recuperado o urânio não quimicamente idênticas, mas cujos áto
gia. 0 "empurrão" pode ser dado por neu- "queimado" e o plutónio por separação mos possuem núcleos com massas dife-
trões, minúsculas partículas muito mono química dos outros produtos residuais. Es- rentes. Destas formas diversas, chamadas
res que o átomo e que, ao colidirem com o tes são altamente radioactivos, não poden- isótopos, uma é o urânio-235, cujo nome
núcleo, o levam a dividir-se. do ser dispersos no ambiente, sob pena de se deve às 235 partículas (protões e neu-
No processo da cisão, além dos dois nú- envenenamento maciço da biosfera. trões) que compõem o seu núcleo. Ape-
cleos formados, cada um com cerca de O plutónio pode ser usado como com- nas sete de cada 1000 átomos de urânio
metade da massa do núcleo inicial, liber bustível em centrais de produção de ener- que ocorrem na Natureza são de U-235, Os
tam-se novos neutroes, que podem, por gia, porque, como o urânio, os seus nú- restantes sáo quase todos de urânio-238.
sua vez, provocar a cisão de novos núcleos cleos podem cindir-se e libertar energia. Quando o U-238 é bombardeado por
de urânio, e assim sucessivamente — é a Mas é também o elemento mais venenoso neutrões, não se cinde com tanla facilida-

Centrai de energia nuclear. Este reactor de água pressurizada em Biblis, Alemanha, fornece electricidade às indústrias do vale do Reno.

121
PRODUÇÃO DE ELECTRICIDADE NUM REACTOR DE AGUA PRESSURIZADA

i
Os reactores de água pressurizada são os
que existem em maior número no Mundo.
O reactor é refrigerado a água a alia prés
suo, que por isso não ferve apesar de aque-
cida muito acima de 10O"C. A água passa
por um permutador de calor, onde fornece
calor a um segundo circuito de água. Neste
circuito, a pressão mais baixa, a água ferve,
produzindo vapor que vai accionar gerado-
res que produzem electricidade.

Armazenagem
de resíduos
nucleares
A água Os resíduos altamente radioactivos são le-
pressurizada é tais e mantêm-se perigosos durante milha-
aquecida no
reactor e provoca
res de anos. Felizmente, o volume de resí-
a ebulição da duos nucleares de alta actividade é reduzido.
água não Uma central típica que produza 1000 MW
pressurizada no
gerador de vapor de electricidade origina cerca de 2 m-1 de
resíduos por ano.
Alguns resíduos tratados são guardados
de como o U 235, mas pode ser convertido é moderar a velocidade dos neutrões. em depósitos de aço inoxidável de paredes
num elemento completamente novo, o A maioria dos reactores modernos utili duplas envolvidas por um revestimento de
plutónio-239, por absorção de um neu- za simultaneamente combustível enrique- betão com 1 m de espessura. Mas a maior
trão. Por isso, se um reactor é concebido cido e moderadores. Alguns são modera parte é mergulhada em tanques especiais
para utilizar urânio natural, o perigo é ha- dos por água (que evidentemente contém junto às instalações nucleares dentro das
ver uma absorção exagerada de neutrões hidrogénio), enquanto outros são mode- próprias varetas usadas e com as suas bai-
pelo U-238 antes de estes atingirem o rados por carbono sob a forma de grafite nhas originais. Mas esta solução não é váli-
U-235 e provocarem a reacção em cadeia. o material que constitui o bico dos lápis da a longo prazo. Os lixos armazenados no
Nesse caso, o reactor nunca funcionará. vulgares. Um tipo importante de reactores, estado líquido em depósitos de aço geram
Há duas formas de contornar o proble- no entanto, não usa moderador, pois são calor à medida que os átomos radioactivos
ma: uma é "enriquecer" o urânio, isto é, os neutrões rápidos, não moderados, que se desintegram. Para que o líquido não en-
aumentar a fracção de U-235 no combustí não só mantêm a reacção em cadeia como tre em ebulição, provocando uma fuga ra-
vel do reactor de 7 para .30-40 átomos em transformam com grande eficiência U-238 dioactiva, bombeia-se água fria através de
cada 1000. O processo mais usado actual- em plutónio, produzindo de facto mais serpentinas no interior dos tanques. Utili-
mente para este enriquecimento usa o combustível cindível do que o que gas- zados há 40 anos, estes depósitos consti-
princípio da centrifugação: o urânio, sob a tam - daí o nome de reprodutores por tuem uma solução provisória. A melhor
forma de um composto gasoso, á introdu- que são conhecidos. solução neste momento é fundir os resí-
zido em tambores que giram a altíssima As reacções de cisão no núcleo de um duos, formando cilindros de vidro que se-
velocidade; o gás junto às paredes acumu- reactor produzem grande quantidade de rão enterrados a grande profundidade.
la U-238, mais pesado, enquanto o volume energia, que tem de ser retirada e transpor- Uma instalação em Marcoule, na França,
central se enriquece em U-235. tada por um alto fluxo de refrigerante. Se utiliza este processo desde 1978. Os lixos
A segunda forma é aproveitar da me- esle for insuficiente, a temperatura do nú- radioactivos são secados e reduzidos a um
lhor maneira os neutrões disponíveis no cleo pode elevar-se, destruindo o reactor. resíduo sólido por aquecimento dentro de
interior do reactor, diminuindo-lhes a ve- Alguns reactores usam água pura simul- um tambor rotativo. São depois misturados
locidade, o que lhes aumenta a probabili- taneamente como moderador e refrige- com sílica, boro e outros ingredientes utili-
dade de provocarem cisões. O processo rante. A água pesada na qual o hidrogé- zados no fabrico de vidro, despejados
de desacelerar os neutrões consiste em nio normal é substituído por um isótopo numa câmara vertical e aquecidos a
fazê-los ricochetear em átomos leves de mais pesado, o deulério — é usada cm 1500°G Emerge então do fundo uma cor-
um elemento como o hidrogénio ou o reactores-reprodulores canadianos, en- rente de vidro fundido, que será vazada em
carbono. Os elementos leves actuam quanto a França utiliza sódio líquido como recipientes de aço inoxidável. Uma central
como "moderadores" a sua função refrigerante nos seus reprodutores. de 1000 MW produz resíduos que encherão

122
Resíduos vitrificados. Os resíduos radio
aaiixis de alta actividade podem ser u Uri fi-
cados e armazenados em contentores de
aço inoxidável cujas tampas são soldadas. Vazamento dos resíduos. Vidro fundido contendo lixos nucleares é vazado de um cadinho
de platina para um molde de aço inoxidável a uma temperatura de cerca de 590" C. Depois de
15 destes tambores por ano. Depois de o solidificado, o vidro é cotocodo num contentor
vidro solidificar, as tampas são soldadas.
Os contentores são guardados em "po-
ços" especiais num edifício vizinho em Mar
coule. Cada contentor produz 1,5 kW de
calor e é refrigerado a ar. Os resíduos estarão
Como as marés podem produzir
seguros enquanto forem controlados, mas
seria conveniente e desejável que pudes-
electricidade
sem ser guardados em locais que deixas-
sem de exigir a intervenção do homem. No século xviii, a costa da Europa encon queda, maior a pressão da água, que assim
Uma das propostas prevê rodear os con- trava-se semeada de moinhos de marés, acciona as turbinas com mais força.
tentores com um invólucro de ferro ou co- nos quais a água, ao subir, passava por Na maré cheia, as comportas são fecha-
bre fundido e armazená-los em cavernas comportas abertas e entrava num reserva- das e bombeia-se água do mar para o es-
subterrâneas, em covas ou valas e cober tório — a "caldeira". Na preia-mar, as com- tuário. O nível da água deste fica acima da
los com betão ou uma argila, a bentonite, portas eram fechadas, e a única forma de a marca da preia-mar e, quando o mar volta
que absorve os materiais radioactivos. água se escoar com a vazante era accio- a baixar, a amplitude da maré foi aumenta-
Os recipientes devem durar pelo menos nando urna roda de pás, fornecendo assim da. Uma vez descargada a água para o mar
1000 anos antes de serem corroídos e dei- força motriz. Em Portugal, no estuário do através das turbinas, bombeia-se ainda
xarem escapar radioactividade. Após 500 Tejo, existem ainda vários moinhos de mais água para fora do estuário, tomando
anos, esta terá baixado para um nível pró- maré, um dos quais, o de Corroios, man- o nível deste artificialmente baixo.
ximo do minério de urânio original. Os es- dado construir em 1403 por Nuno Alvares Quando a maré volta a encher, as pás
pecialistas pensam que, se as cavernas esti- Pereira, se mantém em funcionamento. das turbinas são novamente invertidas, a
verem bem situarias e à profundidade sufi- Este princípio foi também utilizado água entra no estuário e o ciclo reinicia-se.
ciente - a diversas centenas de metros numa central eléctrica construída em A bombagem consome electricidade, mas
demoraria 1 milhão de anos até que algum França. Construiu-se uma barragem no es a água bombeada gera bastante mais ener-
material conseguisse infiltrar-se até à su- tuário do rio Rance, em St. Maio, na Breta- gia do que a consumiria pelas bombas.
perfície, e nessa altura já praticamenle nha, com 24 turbinas que podiam funcio- O projecto de La Rance tem tido poucos
todo o lixo radioactivo se teria desintegra- nar tanto na enchente como na vazante. seguidores, dado o enorme custo da cons
do. As zonas escolhidas para os "despejos" Quando a maré enche, deixa-se a água tmçáo das barragens e a escassez de locais
nào deveriam conter minerais valiosos, subir junto da barragem até haver uma di adequados. A baía de Fundy, na Nova Escó-
para que nenhuma civilização futura, ao ferença de 1,5 m enlre a altura da água de cia, tem a maior amplitude rie marés do
extrair esses minerais, viesse a "tropeçar" um lado e do outro. Depois, a água passa Mundo, podendo atingir 18 m de diferença
nos resíduos. As cavernas poderiam ser se pelas turbinas, accionando-as e gerando entre os níveis da preia-mar e da baixa-mar.
ladas e esquecidas. Os resíduos ficariam electricidade. Quando a maré começa a Em 1984, foi construída uma cenlral-pi-
isolados por detrás de tantas barreiras que descer, as pás das turbinas são invertidas e loto numa reentrância dessa baía em An-
não seria possível a sua fuga dentro de a água volta a produzir electricidade. napolis Royal. Se a energia das marés em
qualquer período de tempo significativo. A quantidade de electricidade produzi- toda a extensão ria baia pudesse ser apro-
A dificuldade consiste em encontrar lo- da depende da "queda" de água — a dife- veitada, produziria 10 vezes mais electrici-
cais cujos habitantes concordem em ar- rença entre os níveis da água a montante e dade rio que a capacidade de consumo
mazenar resíduos nucleares. a jusante das turbinas. Quanto maior a local.

123
Como se obtém electricidade do vento
O potencial de utilização do vento para ainda, é a velocidade do vento, pois a po-
produzir electricidade é enorme. Um estu- tência que se pode obter aumenta com o
do recentemente feito para a Comunidade cubo dessa velocidade - se esta for duas
Económica Europeia concluiu que exis- vezes maior, a potência obtida é oito vezes
tem locais suficientes na Europa para cer- maior. Contudo, os geradores eólicos não
ca de 400 000 grandes geradores - o bas- precisam de temporais. A maioria das má-
tante para suprir o triplo das actuais neces- quinas destina-se a operar a velocidades
sidades do continente. do vento entre a força 3 e a força 10 da
Os modernos geradores eólicos são escala de Beaufort — de 20 a um pouco
muito diferentes dos antigos moinhos de menos de 100 km/h. Acima da força 10, as
vento. Parecem-se mais com hélices gigan máquinas fecham-se automaticamente Turbinas Darreius. Estas máquinas têm
les com duas ou três pás - os rotores — para evitar serem destruídas. lâminas em forma de arco ligadas a uma
montadas no topo de altas torres de aço ou Na sua maioria, estas máquinas estão hQSte. 0 vento laz rodar todo o conjunto.
belão. Os rotores fazem girar um veio que previstas para produzirem uma potência
acciona um gerador eléctrico. eléctrica quase constante ao longo de toda Os geradores eólicos têm de estar orien-
A dimensão das pás e a altura da torre a sua zona de trabalho, com as pás "fe- tados na direcção correcta, seja directa-
determinam a quantidade de electricidade chando" automaticamente se o vento au- mente contra o vento, seja directamente a
que a máquina é capaz de produzir. Em menta, de forma a não haver uma acelera favor. Por esta razão, o rotor está montado
geral, o vento é mais forte à medida que a ção exagerada. E melhor conseguir-se sobre uma plataforma giratória comanda-
altura aumenta, e a potência que é obtida é urna produção uniforme com um largo es- da por um motor eléctrico ligado a senso
proporcional à área percorrida pelas pás. pectro de condições do vento do que apro- res que determinam a orientação.
Se duplicarmos o comprimento destas, a veitarem-se as poucas rajadas verdadeira Este problema da direcção do vento
potência quadruplica. Mais importante mente fortes. pode ser completamente evitado se as pás

Quinta eólica. Em 1988, a Culifomiu possuiu Ib 000 turbinas eólicas. Esta e uma Quinta eólica perto de S. Francisco.

124
COMO AS TURBINAS
E OS GERADORES PRODUZEM
ENERGIA ELÉCTRICA

r '

Turbogerador. Um técnico inspec-


ciona as enormes pás de um dos turbo
geradores de 660 MW numa central
termoeléctrica do Yorkshire, na Grã-
•Bretanha.

As turbinas são constituídas por várias


rodas de pás, alternadamente fixas e
móveis. As pás móveis estão monta-
das num veio que, ao rodar, acciona
um gerador. A posição e a forma das
pás fixas é tal que o vapor sob pressão
é dirigido para as pás móveis com a Outra forma de aproveitar a energia geotérmica. Banhistas diuertem-se na quente
máxima força possível. lagoa Azul, cujas águas provém da Central Geotérmica de Svartsengi, na Islândia.
Na extremidade do veio encontra-
-se um grande magneto, rodeado por água presente, apenas rochas quentes,
uma bobina fixa no interior do gera- cujo calor só pode ser utilizado se lhes in-
dor. Ao rodar, o magneto provoca a
passagem de uma corrente eléctrica
Rochas quentes: jectarmos água, recuperando-a à superfí-
cie sob a forma de vapor — que é então
através do fio da bobina. uma fonte natural usado para accionar turbinas e gerar elec-
tricidade.
de energia Em Portugal, duas zonas de boas poten-
forem montadas num eixo vertical e não cialidades geotérmicas são as ilhas vulcâni-
horizontal: neste caso, não importa a di- cas dos Açores e a região transmontana de
recção do vento. Quanto mais nos aproximamos do centro Chaves.
Estas máquinas verticais, denominadas da Terra, mais elevada é a temperatura. Nos Açores, a exploração geotérmica
turbinas de Darreius, têm outras vanta- Reacções nucleares de decomposição de iniciou-se em meados da década de 70;
gens. Os pesados geradores que conver- materiais radioactivos mantêm a 4000°C o uma central no vulcão de Agua de Pau. na
tem a energia do vento em energia eléctri- núcleo em fusão. Ê por causa desta energia ilha de S. Miguel, produz 500 kW de ener-
ca podem ser colocados no solo em vez de geotérmica que a temperatura no fundo gia eléctrica. No campo da lagoa do Fogo,
no cimo de uma torre. O rotor fica sujeito a de uma mina é alguns graus mais elevada também nesta ilha, foi feito em 1988 um
menos esforços do que nos geradores de do que à superfície. furo com 2 km de profundidade, atingindo
eixo horizontal. Um inconveniente é ne- Nalguns locais, as rochas quentes en- temperaturas de 240°C, que se espera ve-
cessitarem frequentemente de um impul- contram-se bastante perto da superfície, nha a produzir 3 MW de energia eléctrica.
so auxiliar - manual ou eléctrico - para dando origem a fontes termais, géiseres ou Estudos gravimétricos e magnetotelúricos
arrancarem. Um dos problemas principais vapor de água que se escapa do solo. Nes- concluem que este campo terá provável
do emprego de geradores eólicos é am tes casos, é fácil aproveitá-las para produzir mente capacidade para satisfazer as neces
biental. Embora as pessoas gostem da energia eléctrica. sidades energéticas totais da ilha de S. Mi-
ideia desle tipo de energia não poluente, A primeira central eléctrica geotérmica guel.
não apreciam ver geradores eólicos semea- foi construída em 1904 em Lardcrello, no Na região transmontana de Chaves, es-
dos no topo de cada colina. Norte de Itália, onde o vapor se escapava tão em curso estudos do aproveitamento
A hipótese de colocar os geradores no do solo a temperaturas entre 140 e 260°C. de fontes termais artesianas com tempera-
alto mar foi já encarada seriamente. No en- O vapor foi directamente canalizado para turas superiores a 70°C. Pensa-se neste
tanto, haveria os problemas da fixação e da turbinas que accionam geradores. caso prioritariamente na sua utilização
transmissão da energia para terra. Os habi- Na Nova Zelândia, nas Filipinas, na Cali- para o aquecimento de estufas e instala-
tantes da Fair Isle, ao largo da costa seten- fórnia e no México têm sido construídas ções de secagem.
trional da Escócia, já fazem uso da energia centrais eléctricas em locais onde o calor Cada vez mais países procuram a ener-
do vento. Instalaram um pequeno gerador da Terra chega naturalmente à superfície. gia geotérmica como alternativa aos com-
eólico no princípio dos anos 80, o que di- Mas, na maioria dos casos, a energia geo- bustíveis fósseis. Arrancou já uma grande
minuiu em mais de três quartos os custos térmica tem de ser captada por perfuração. central eléctrica no Novo México, e, perto
da electricidade produzida pelos motores Nalguns casos, como, por exemplo, nos de Estrasburgo, está em execução um pro-
a diesel. granitos da Comualha, pode não haver jecto conjunto franco-alemão.

125
Como os cientistas descobrem a origem de uma chuva ácida
Quando uma chuvada se abateu sobre Pi- para a destruição de árvores. Nem mesmo grau de acidez em gelos formados antes da
tlochry, na Escócia, em 10 de Abril de 197-1, o Árctico está livre da poluição atmosférica Revolução Industrial e aprisionados nos
ela bateu o recorde do Mundo - não de que origina as chuvas ácidas. glaciares e verificou-se que eram apenas
volume, mas de acidez. A chuva que caiu De onde provém esta acidez? Não res- moderadamente ácidos, em concordân-
nesse dia era quase sumo de limão e mais tam dúvidas de que a maior parte provém cia com as suas origens naturais.
ácida do que vinagre. Embora os valores das actividades do homem — dos auto A chuva torna-se ácida principalmente
em Pillochry fossem excepcionalmente móveis, das fábricas e das centrais termo- devido a dois elementos, o enxofre e o azo-
elevados, em muitas localidades da Europa eléctricas. Sempre houve alguma acidez to. O enxofre encontra-se no carvão e no
e América do Norte a chuva que cai é cente- na água das chuvas devido à actividade nos petróleo. Ao ser queimado, transforma-se
nas de vezes mais ácida do que deveria ser. vulcões, nos pântanos e do plâncton marí- em dióxido de enxofre, que se combina
A chuva ácida corrói os edifícios, danifica os timo, mas a acidez tem aumentado abrup- com as gotas de água das nuvens, produ-
solos, mata os peixes nos lagos e contribui tamente nos últimos 200 anos. Mediu-se o zindo ácido sulfúrico. O azoto, que existe

UMA DAS CAUSAS DAS CHUVAS ACIDAS E DOIS DOS SEUS EFEITOS

A atrofia cio crescimento de um


abeto da Floresta Negra revela-se
na variação da espessura dos
anéis do tronco. Os exteriores,
mais finos, formados nos últimos
20 anos, contrastam com os do
centro, regulares e espessos, an-
teriores às chuvas mais ácidas.

As velhas cantarias e outros ar


na mentos de pedra são corroí-
dos pelo ácido criado pelo dióxi
do de enxofre libertado por com-
bustíveis fósseis como o petró
leo e o carvão. O gás mistura-se
com a água. produzindo ácido
Chaminés altas enviam a poluição para muito longe. sulfúrico.

126
r^^t^^^ÍLSI Captando a luz
do Sol
^ H pi

1 1 Pj 1 li-'''.
^m * TSJÍA Carro solar. Com
um painel de células so
lares como fonte de energia,
HT ^« i^^B l^írujH • o Quiet Achiever atravessou a Austrália
em 1984, cobrindo 4800 km em 20 dias

A energia que atinge a Terra sob a forma de


luz solar é enormíssima mais de 12 000
vezes o consumo mundial de combustí
veis.
Mas captar e armazenar esta abundante
provisão cie energia gratuita é difícil e caro.
Aplicação de cal. Na Europa, as florestas são por vezes pulverizadas com cal, a fim de Embora a energia total seja colossal, a ener-
neutralizar a acidez do solo e ajudar o crescimento das árvores. gia por unidade de área é bastante baixa -
pelo que qualquer utilização da radiação
no ar e nos próprios combustíveis, é trans- tem origem fora da Suécia, partieularmen solar de potência razoável tem de cobrir
formado, por combustão, em óxido de te na Europa Oriental. uma grande área, o que a encarece. Outro
azoto, reagindo depois com as moléculas Para descobrirem se parte destas chuvas problema é a irregularidade do seu fome
da água para formar ácido nítrico. Uma par- provinha da Inglaterra, cientistas britânicos
te destes ácidos cai localmente com as chu- colheram amostras de ar por avião e anali-
vas, mas a restante pode ser transportada a saram-nas. Num dos voos, verificou-se que
milhares de quilómetros de distância. o ar que chegava à costa ocidental da Grã-
A partir da década de 50, começaram a Bretanha, transportado pelo ventos domi-
construir-se chaminés com 150 m de altura nantes do Atlântico, continha menos de
para afastar a poluição das áreas urbanas; metade do enxofre e um quarto dos nitratos
no entanto, o efeito que tiveram foi espalha- que ao longo da costa oriental: ao soprar
da com menor densidade, mas em maior sobre a Inglaterra, captara os poluentes que
área. Este facto, aliado ao grande aumento depois transportava para a Escandinávia.
no volume da poluição, especialmente das Foi mesmo possível marcar as trajectó-
centrais térmicas, nas últimas décadas, teve rias da poluição originada cm determina-
como resultado que regiões como a Escan- da central térmica, libertando das respecti-
dinávia fossem afectadas pela poluição vas chaminés um produto químico, o he-
proveniente de fábricas em países a milha- xafluorcto de enxofe. Instrumenlos colo-
res de quilómetros de distância. Os cientis- cados a bordo do avião iam medindo o
tas suecos estimam que 70% do enxofre da teor daquele composto na atmosfera, de-
atmosfera sobre a Suécia provém da quei tectando com precisão a posição e evolu-
ma de combustível e que, na maior parte, ção do "penacho" de gás marcado.

COMO SE MEDE A ACIDEZ


Os ácidos corroem gradualmente e des- LIQUIDO COR DO ÍNDICE
troem quase tudo o que tocam. São to INDICADOR DE pH
dos solúveis em água. e a sua concentra- Ácido sulfúrico Vermelho 1,0
ção é medida pelo seu pH (potência em concentrado
hidrogénio).
Sumo de limáo Vermelho 2,3
A escala de pll vai de I a 14. Um é
extremamente ácido, 7 é neutro e 14 é Chuva Rosa 3,0
muito alcalino (o contrário de ácido). de Pitlochry
0 pH de um líquido é medido por Vinagre Rosa 3,3
meio de um aparelho especial ou com Chuva Rosa 4,3
papel indicador, como o de tomassol. nas regiões Células fotovoltaicas. Estas células po-
Um ácido forte torna este papel verme- industriais dem produzir grandes quantidades de
lho, um líquido neutro lorna-o verde. Os Chuva normal Laranja 5,0 a 5,6
energia eléctrica a partir da luz solar. Este
líquidos altamente alcalinos tornam-no modelo, construído nos EUA. usa lentes
Água destilada Verde 7,0
para concentrarem a radiação solar nas cé-
púrpura.
lulas montadas nos cilindros.

127
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ii 11 n » \T* v>* . _ ^ <*• .w^ ^ ->-
Espelhos produzem electricidade para 20 000 pessoas. Um vasto círculo de espelhos
capta os raios do Sol e reflecte-os para urna torre geradora de energia, com a altura de 20
andares, situada no centro do círculo (à direita). 0 calor produz vapor para gerar electricida-
de, que é suficiente para satisfazer as necessidades de uma pequena cidade.

cimento: dia e noite, céu limpo e encober- grelhas de contactos eléctricos metálicos tem-se implantado em áreas em que é já
to, sol alto ou baixo levam a enormes varia- que conduzem a dois terminais, um positi- competitiva — satélites, estações retrans-
ções da quantidade de energia disponível, vo e o outro negativo. Quando a lâmina é missoras de telecomunicações em zonas
o que complica a sua aplicação na Torra. iluminada, a luz cria no semicondutor car- isoladas, electrificação rural e bombea-
Os sistemas domésticos de aquecimen- gas eléctricas que são colectadas pelas gre- mento de água e pequenas aplicações,
to de água à base de energia solar usam lhas, funcionando a célula, do ponto de como nos relógios de pulso e nas calcula-
colectores (painéis) solares montados nos vista do utilizador, como uma simples pi- doras. A primeira central helieléclrica de
telhados e voltados para o Sol. Estes são lha. Urn módulo de células com 1 m2 de dimensões significativas — com urna pro-
simples caixas com uma cobertura de vi- área, exposto à luz directa do Sol, produz dução de 1 MW - foi construída perto de
dro ou plástico, dentro das quais uma cha- tipicamente 100 W de energia eléctrica — Victorville, Califórnia, em 1982.
pa de metal pintada de negro absorve a quase sem manutenção, sem peças que se
radiação solar e aquece a água que circula. A gastem e, sobretudo, sem poluição.
água aquecida passa para um depósito ter- Porque não se usam então células foto-
micamente bem isolado. Para obtenção
de temperaturas muito superiores à da
voltaicas para produção de energia eléctri- Como se tiram
ca em larga escala? Basicamente, porque as
ebulição da água, a luz do Sol é concentra-
da por meio de espelhos dispostos em se-
células são ainda demasiado caras. Embora
o silício seja o elemento mais abundante da
fotografias de
micírculo que reflectem a luz em direcção
a uma "torre geradora de energia" de be-
crusta terrestre depois do oxigénio — é o
constituinte básico da areia e da maior parte
alta velocidade
tão. A luz concentrada do Sol, ao incidir das rochas — e de baixo preço, a sua purifi-
sobre um receptor no cimo da torre, aque- cação e o processamento para se transfor- Para "parar" o bater de uma asa de insecto,
ce um fluido que circula numa canaliza- mar em células fotovoltaicas sào, pela técni- necessita-se de um tempo de exposição
ção. Se esse fluido for água, produz vapor a ca actual, demasiado dispendiosos para se- muito menor do que o de uma máquina
alta pressão, que é utilizado para accionar rem competitivos. O esforço de investiga vulgar: mesmo a 1/1000 de segundo, as asas
geradores de electricidade. ção nos últimos 20 anos levou a uma me- não passam de uma mancha. São precisas
Mais interessante que a geração de ener- lhoria notável das células e a um abai exposições 10 ou 20 vezes mais curtas.
gia eléctrica pela via térmica é a sua gera- xamento do custo da energia por elas pro Já em 1851 o pioneiro da fotografia Fox
ção por acção directa da luz solar sobre duzida de um factor superior a 20; estima-se Talbot conseguiu fazer uma fotografia de
dispositivos conhecidos pelo nome de cé- que um abaixamento, relativamente ao alta velocidade: prendeu um exemplar do
lulas solares foto voltaicas. custo actual, de um factor de 2 a 4 seria jornal The Times a uma roda, fê-la girar
Desde 1085, data do lançamento do sa- suficiente para tomar competitiva a energia rapidamente e conseguiu tirar uma foto-
télite americano Vanguard, quase todas as fotovoltaica para produção de energia para grafia nítida iluminando a roda com uma
naves espaciais e todos os satélites usam a rede, o que provocaria uma verdadeira faísca intensa que durou apenas 1/100 000
células solares para obter energia eléctrica. revolução, com incalculáveis repercussões de segundo. Utilizando uma câmara-escu-
As células fotovoltaicas são constituídas em áreas tão diferentes como o efeito de ra, o diafragma da máquina pode deixar-se
por uma delgada lâmina de semicondutor, estufa, a chuva ácida ou o preço da gasolina. aberto e a película é exposta unicamente
frequentemente de silício cristalino, com Entretanto, a energia solar fotovoltaica enquanto dura a faísca.

128
Captar em filme
a Natureza
Os fotógrafos da Natureza conseguem
captar a língua rapidíssima do camaleão
que apanha um insecto ou acompanhar o
crescimento de uma planta.
A fotografia a intervalos faz com que
uma planta pareça nascer do solo, flores- A Natureza ao microscópio. Para foto-
cer e morrer em poucos segundos: fixa-se grafar plantas e animais minúsculos, como
a máquina fotográfica em posição e pro- este plâncton. acopla-se uma máquina fo-
grama-se para tirar uma série de fotografias tográfica a um microscópio especial.
isoladas a intervalos de minutos ou de ho-
ras. A película é depois projectada à veloci- magem de alta velocidade, que afrouxa o
dade normal para cinema, de 24 imagens desenrolar de uma acção rápida demais
por segundo, apresentando a acção milha- para os olhos humanos. As mais rápidas
res de vezes mais rápida do que é na reali- máquinas de filmar actuais fotografam
dade. Pode levar semanas para se conse- 11 000 imagens por segundo, comparadas
guir apenas uma porção boa de filme no com as 24 da projecção normal. O filme
último minuto, e a sequência pode ficar passa diante da lente a quase 320 km/h,
completamente estragada se qualquer com a respectiva bobina a fazer 33 000 ro-
coisa obscurecer o objecto a ser filmado. tações por minuto. Se algo corre mal,
Este tipo de fotografia exige uma prepara- numa fracção de segundo a máquina fica
ção extremamente cuidada e equipamen- encravada e o filme inutilizado.
to muito fiável. Habitualmente, bastam velocidades
No outro extremo, encontramos a fil muito menores: para mostrar os batimen-

AMBIENTE NATURAL EM ESTÚDIO


Esta fotografia de uma rã levou menos de
um segundo a tirar, mas o cenário do es-
túdio levou horas a construir. Corno é di
fícil fotografar animais no seu habitat, cons-
troem se cenários que parecem naturais
(à direita). A rã é colocada nu pedra (foto
grafia inserida) e fotografada. Neste caso,
a máquina foi disparada por uma célula
fotoeléctrica, activada pela rã quando
saltou, o que interrompeu momentânea
mente o raio de luz que incidia na objectiva.
O produto final é tão natural que é impoSSÍ-
"PARANDO" UM PINGO DE AGUA vel descobrir que foi feito em estúdio.
A fotografia de alia velocidade regista o
percurso dos pingos da água caindo so-
bre a superfície do liquido. Uma sequên
cia rápida de flashes conseguiu fotografar
o pingo a cair, a tocar a superfície e a mer-
gulhar, levantando uma coluna de água.

A dificuldade consiste em fazer disparar


o flasli exactamente quando o objecto es-
tiver na posição certa. Muitas vezes, a solu-
ção é fazer o próprio objecto — como a
bala que atravessa uma maçã disparar
o obturador ou o flash ou ambos, inter-
rompendo, por exemplo, um fino raio in
fravermelho ou de luz focado sobre uma
célula de reacção. Pode utilizar-se uma sé-
rie de flashes avançando o filme nos inter-
valos. Esta técnica foi iniciada por um ame-
ricano, Harold Edgerton, nos anos 30.
Usando 10 flashes por segundo e sobre-
pondo todas as imagens na mesma pelícu-
la, conseguiu fotografar o impacte de uma
gota de leite caindo numa tigela.
Fotografia subaquática.
Um fotógrafo utiliza uma es
pécie de periscópio inverti- Plástico que se
do pura fotografar uma ca-
rauela-portuguesa (ú direi-
ta). Estes animais, que ui-
autodestrói
vem em águas quentes,
possuem tentúculos urti- Uma das vantagens do plástico é não enfer-
cantes que podem atingir os rujar nem se decompor. Mas esta vanta-
9 m de comprimento. gem pode constituir um problema: copos,
sacos e recipientes de plástico atulham o
campo o as praias de todo o Mundo e, se
não forem recolhidos, continuarão a acu-
mular-se ano após ano. Para ultrapassar
este problema, têm sido estudadas diver-
sas formas de plástico degradável. O segre-
do consiste em incorporar-lhe um produto
químico atacável pela luz, pelas bactérias
ou por substâncias químicas.
Os plásticos biodegradáveis podem
conseguir-se pela adição de amido: se os
plásticos foram enterrados, as bactérias
que se alimentam de amido irão decom-
pondo-os gradualmente em fragmentos
que desaparecerão sem dano no solo.
Os plásticos degradáveis quimicamente
podem ser decompostos pulverizando-os
com uma solução que provoca a sua disso
tos de asa das aves, dos morcegos e insec nhos com janelas transparentes que per- lução em substâncias inócuas que podem
tos, são suficientes 500 imagens por se- mitem filmar as suas vidas privadas. Quan- ser despejadas para o esgoto.
gundo, o mesmo acontecendo para uma do o filme è montado e combinado com Uma das utilizações dos plásticos degra
rã que salta; mas já são precisas 1000 ima- filme tirado no exterior, o espectador nun- dáveis que teve maior êxito foi na cirurgia,
gens por segundo para captar o salto de ca se apercebe de que uma parte foi tirada onde actualmente as costuras são feitas
uma pulga. As maiores velocidades são ne- no estúdio. com plásticos que se dissolvem lentamen-
cessárias para acompanhar um pingo de Alguns dos problemas mais difíceis rela- te nos fluidos orgânicos. Também os me-
água desintegrando-se sobre uma superfí- eionam-se com a filmagem de formas de dicamentos são muitas vezes embalados
cie, uma bala a atravessar um vidro ou um vida demasiado pequenas para serem visí- em cápsulas plásticas que se dissolvem
golfista ao bater a bola. veis a olho nu, como os insectos ou outros lentamente, libertando o medicamento
Filmar animais no estado selvagem é seres minúsculos. Estes têm de ser filma- para o sangue a um determinado ritmo.
um mundo de problemas. Por vezes, os dos através do microscópio, o que reduz Os plásticos foto de gradáveis contêm
fotógrafos têm de servir-se de truques. Por muito a luz que impressiona o filme. As substâncias químicas que se desintegram
exemplo, os filmes que mostram raposas sim, é necessária uma iluminação adicio- lentamente quando expostas ã luz. Em
caçando de noite são, na verdade, frequen- nal, mas há que tomar cuidado para que o França, usam-se no campo tiras de plástico
temente tirados de madrugada ou ao anoi- calor em excesso não afecte os animais. fotodegradável com cerca de 1 m de largu-
tecer, quando a luz natural é suficiente. 0 Outro problema inerente à filmagem ra para reter o calor no solo e produzir co-
filme é depois tratado com filtros que nos destes seres são as vibrações. O mais pe- lheitas têmporas. Duram entre um e Ires
dão a ideia de ser muito mais escuro. Por quenino movimento entre a objectiva e o anos antes de se decomporem e se integra-
vezes, os animais são fotografados a noite, objecto prejudica a focagem. Esta difieul- rem no solo. No entanto, só podem ser
mas, mesmo com intensificadores de ima- dade é ultrapassada recorrendo a um usados num país com uma insolação re-
gem que os torna mais fáceis de ver, os "banco óptico" - plataforma com a má gular, para que se decomponham a um
resultados não são muito bons. quina rigidamente fixada numa das extre- ritmo previsível. Nos EUA, cerca de um
Muitos filmes de animais "selvagens" midades e o objecto da fotografia na outra. quarto das juntas que seguram as lalas de
são feitos com animais semiamansados Se um camião que passa provoca vibra cerveja nas embalagens de seis são feitas
ou mesmo treinados. Alguns fotógrafos ções, a câmara e o objecto vibram em unís- de um plástico chamado ecofyte, que é fo-
cuidam de aves desde o momento em que sono e a focagem não é afectada. todegradável. Mas, para que não se de-
saem do ovo, e estas passam a segui-los Alguns dos filmes mais interessantes componham cedo demais, estas embala-
para onde quer que vão. Montando a má- conseguem-se utilizando um aparelho gens têm de ser armazenadas ao abrigo da
quina numa camioneta ou num barco rá- que parece um periscópio invertido e que luz solar directa, o que pode representar
pido, conseguem filmar de muito perto as permite filmar, por exemplo, um insecto um inconveniente para o retalhista.
aves que voam atrás deles. enquanto percorre o chão da floresta. O O plástico degradável tem outros pro-
Muitos animais são filmados em estú- animal pode ser seguido quando desapa- blemas. Por exemplo, não pode ser reci-
dio: alguns não podem ser treinados, e não rece por detrás de uma folha ou mergulha clado porque não há processo de medir
é prático filmá-los na Natureza. O habitat na água. O periscópio é suspenso de uma facilmente a sua vida residual. A maior
de uma truta que desova num riacho de câmara montada sobre carris num cavale- desvantagem tem sido o seu custo de
montanha, por exemplo, pode imitar-se te por cima da cabeça do operador para produção, mas os cientistas japoneses
num tanque de vidro. Cenas de pequenos poder ser focada enquanto é rodada, incli- pensam conseguir um plástico biodegra
animais dando à luz e criando os filhos nada ou movimentada para trás e para dável para diversos fins a custo muito
conseguem-se construindo no estúdio ni- diante. mais baixo.

130
Como o petróleo deu lugar
à "revolução do plástico"

PLÁSTICOS:
OS MATERIAIS
MAIS VERSÁTEIS
Desde que os plásticos foram
inventados nos finais do século xix que em lodo o Mundo
ocorreu uma revolução de materiais. Hoje em dia, a maioria
dos brinquedos e dos artigos de desporto e muitos artigos
domésticos contêm pelo menos um material plástico. Uma vez
que sáo à prova de água e não se decompõem, os plásticos
são ideais para urtigos de exterior, como tubagens de esgotos
ou vasos de plantas. Têm também a vantagem de poderem ser
moldados praticamente na forma que se quiser, rapidamente e corri
pouco custo — a caixa amarela para a viola, as cadeiras, o tabuleiro
do gelo e o resistente capacete de protecção são apenas alguns exemplos.

O termo "plásticos" abrange uma exten- termoplásticos - são aquecidos a cerca


sa gama de materiais fabricados pelo ho- de 200"C, as cadeias mantêm-se intactas,
mem a partir de dois elementos básicos: o mas separam-se o suficiente para desliza-
carbono e o hidrogénio. Adicionando-se- rem umas sobre as outras. Esta característi
Ihes outros elementos ou produtos quími- ca permite que os termoplásticos sejam
cos, os plásticos adquirem propriedades repetidamente aquecidos e moldados em
Se retirássemos das nossas casas tudo especiais, como maior rigidez, resistência novas formas. Uma vez arrefecido, o plásti-
aquilo que contém plástico, que restaria7 ao calor, poder deslizante e flexibilidade. co conserva a nova forma e mantém a sua
Muitas cozinhas ficariam quase nuas, a Os plásticos são constituídos por molé- resistência. Há, contudo, outros plásticos
maioria das carpetas e tapetes desaparece culas grandes denominadas polímeros, que, uma vez moldados, se mantêm duros
riam, assim como muitas roupas e, possi- por sua vez formadas por moléculas mais e conservam a fornia ainda que reaqueci
velmente, as cortinas. Deixaria com certe- pequenas unidas entre si em cadeias lon- dos: são os duroplásticos.
za de haver telefone, alta fidelidade e televi- gas. Estas enredam-se, dando aos plásticos O processo de ligação das moléculas pe
são, cartões de crédito, neve artificial e arti- a sua resistência. quenas para formação das moléculas gran-
culações protésicas. Quando a maioria dos plásticos — os des, a polimerização, difere de plástico para

l >; 1
tos, que podem ter centenas de átomos.
O NASCIMENTO DE UMA INDUSTRIA DE BILIÕES No processo da refinação rio petróleo
A moderna indústria dos plásticos nas- O celulóide não é uma substância in- bruto obtêm-se, como subprodutos, mui-
ceu na América na década de 1860, com teiramente sintética, porque a sua maté- tos hidrocarbonetos diferentes. Um deles é
um concurso para se encontrar uma ria-prima é a celulose que se encontra o etano (dois átomos de carbono e seis de
bola de bilhar de melhor qualidade. Ofe- nas plantas. Leo Baekeland, químico bel- hidrogénio), gás que pode ser convertido
recia-se um prémio de 10 000 dólares ga a trabalhar na América, criou o primei- num outro, o etileno, e depois polimeriza-
para quem descobrisse um substituto ro material inteiramente sintético em do para fabricar polietileno. De forma se-
de baixo preço para as bolas de marfim. 1907 combinando fenol (ácido carbóli- melhante, o gás propano transforma-se
O vencedor foi John Wesley Hyalt, que co) com o gás formaldeído e produzindo em polipropileno. Estes dois plásticos são
fez uma bola de uma substância a que um plástico a que chamou baquelite. usados para fabricar garrafas, tubos e sa-
chamou celulóide. Na esteira desta descoberta de Baeke- cos de plástico.
Depressa se descobriram novos usos land, foram inventados muitos outros O PVC — cloreto de polivinilo — é qui-
para o celulóide - armações para ócu- plásticos. Mas ele próprio teria ficado ad- micamente semelhante ao polietileno,
los, cabos de faca, pára-brisas para os mirado com o desenvolvimento da in- mas um dos átomos de hidrogénio foi
primeiros automóveis e películas foto- dústria, que, só nos Estados Unidos, tem substituído por um de cloro. Esta pequena
gráficas. Sem o celulóide, a indústria cine actualmente uma produção bruta supe- alteração torna o PVC "retardador do
matográfica nunca poderia ter nascido. rior a 100 biliões de dólares. fogo", pelo que é mais seguro para usar em
casa. Se em vez do átomo de cloro forem
usados quatro átomos de flúor, obtém-se o
plástico. Mas envolve frequentemente é constituído por hidrocarbonetos — politetrafluoretileno, ou PTFE. Este produ-
pressões elevadas e o emprego de agentes átomos de carbono e de hidrogénio to, conhecido por íefíon, é usado nas frigi
especiais, os catalisadores, que fomentam ligados entre si. Os hidrocarbonetos vão deiras não-aderenles e em chumaceiras.
a ligação das moléculas pequenas. desde moléculas simples como o me- Muitos polímeros têm sido fabricados
Os átomos de carbono e de hidrogénio tano (gás formado por um átomo de em laboratório, mas só os de propriedades
que constituem a base de todos os plásti- carbono combinado com quatro átomos mais úteis, como o poliestireno, o PTFE e o
cos provêm do petróleo bruto. O petróleo de hidrogénio) até aos alcatrões e asfal- nylon, são produzidos industrialmente.

Como se extrai petróleo do solo


Como é que efectivamente se extrai petró- Periodicamente, torna-se necessário rece e é substituída por uma nova, a vara
leo do fundo do mar ou do solo? substituir a broca. Então, a vara tem de ser toma a ser montada e descida pelo poço. O
Os poços de petróleo são perfurados totalmente içada para o exterior e separada processo pode demorar até 10 horas.
com brocas de perfuração, que, rodando, em stands de 27 m (cada um com três seg- Para que os lados do furo não se desmo-
vão desintegrando a rocha. A broca de aço, mentos), que são amimados verticalmen- ronem, este é revestido por pesados tubos
ou de aço com ponta de diamante, é colo te na torre. Quando finalmente a broca apa- de aço que são descidos à medida que a
cada na extremidade de um forte tubo de
aço chamado vara de perfuração, que roda
accionaria por uni motor à superfície ou
por uma turbina no interior do furo.
Os fragmentos áe rocha são trazidos
para a superfície pelo retorno da chamada
"lama de perfuração", que é injectada pelo
interior da vara de perfuração. Não é real-
mente lama, mas uma combinação de
substâncias químicas e água que impele
os fragmentos para a superfície e evita o
sobreaquecimento da broca por fricção.
À medida que o furo se torna mais pro-
fundo, têm de acreseeniar-se novos seg-
mentos de vara, em geral com 9 m de com-
primento. Na extremidade superior da
vara fica o kelly, que se ajusta a uma placa
giratória no chão da torre de perfuração.
Para acrescentar um novo segmento à
vara, esta é içada o suficiente para remoção
do kelly, o novo segmento é ligado à extre-
midade superior da vara antes de se repor
o kelly — e a perfuração continua.

Fonte dupla. Duas torres de perfuração de


petróleo flanqueadas por guindastes. De
cada lado, chaminés de descarga quei
marn os excessos de gás proveniente do
depósito petrolífero submarino.

132
perfuração prossegue e fixados por betão.
0 revestimento vai-se estreitando gradual
mente com a profundidade do poço. Um
poço de 4500 m pode ler um tubo de reves-
Como se sabe onde procurar petróleo
timento com um diâmetro de 76 cm à su-
perfície, diâmetro este que diminui escalo-
nadamente até 18 cm no fundo.
Se a broca encontra petróleo, o peso da
lama assegura que este não se escape; mas
existe um dispositivo de segurança adicio-
nal, constituído por uma válvula especial
fixada no topo do tubo de revestimento.
0 ritmo de perfuração de um poço de-
pende da natureza da rocha. Pode demo-
rar tanto como 30 cm/h na rocha imper-
meável e compacta da abóbada ou ser tão
rápido como 60 m/h nos arenitos.
Quando se encontra petróleo, é preciso
perfurar uma série de poços de produção
para o trazer à superfície. No mar e em
terrenos difíceis, o primeiro passo é abrir
diversos poços destinados a cobrir toda a
extensão da jazida. A abertura destes poços
pode fazer-se de uma única torre ou plata-
forma, dirigindo os furos para diversas par-
tes do campo petrolífero. Num campo mui-
to vasto terão de usar-se várias torres de
perfuração, cada uma delas perfurando di-
reccionalmenie segundo um plano prévio,
para que toda a área seja explorada.
Depois de perfurados e revestidos os po- Por volta do ano 2020, as reservas de petró-
ços de produção, desce-se por eles um ca- leo conhecidas devem estar esgotadas. Da-
nhão de perfuração para impelir cargas ex- qui ale lá, será necessário encontrar novos
plosivas até à rocha através da tubagem c campos petrolíferos, provavelmente em lu-
cimento do revestimento, a fim de abrir gares cada vez mais inacessíveis. São preci
fissuras na rocha e permitir que o petróleo sas três condições para que se forme uma
entre nos poços. jazida de petróleo: o tipo certo de rocha
Enquanto o produto é extraído, a pres- sedimentar para criar o petróleo; uma ca-
são pode ser mantida injectando-se água mada de rocha porosa para o armazenar, e
ou gás para empurrar o petróleo para os uma "tampa" de rocha impermeável para o
poços de produção. Mais tarde, podem reter. As rochas sedimentares formam-se
empregar-se bombas eléctricas ou mecâ ao longo de milhões de anos a partir de
nicas. Mas, mesmo com o auxílio destas sedimentos que contêm peixes, conchas,
técnicas, raramente é possível extrair mais plâncton e plantas. Quando estas matérias
do que 30 a 50% do petróleo de um campo. orgânicas se decompõem, produzem pe-
tróleo e gás. Havendo uma camada de ra-
Perfuração por computador. Compu- cha porosa, ela impregna se de petróleo
tadores fornecem o traçado de linhas de como uma esponja. Uma camada de rocha Testes sísmicos. ;Vo oasto deserto da Ara
perfuração altematioas (representadas impermeável sobre o petróleo irá retê-lo, bia, prospectores pesquisam petróleo P/O
corno traços coloridos atravessando as di- desde que a tampa tenha a forma adequada uocam explosões e medem as ondas de
ferentes camadas rochosas) depois de se — idealmente, a de uma abóbada. choque a fim de elaborarem uma carta das
ter procedido a testes sísmicos. Para se encontrarem bacias sedimenta- formações rochosas subterrâneas. Podem
res em que poderá ter ocorrido a formação assim saber se é ou não prouável encontrar
de petróleo, fazem-se frequentemente es- -se petróleo num dado local.
tudos de magnetismo e de gravidade. To
das as rochas são magnéticas, mas o mag- medição do campo gravítico para inferir
netismo varia ligeiramente de rocha para conclusões quanto às densidades das ro-
rocha, dando aos geólogos indicações so- chas abaixo da superfície. Um aparelho
bre a estrutura e o tipo das rochas que se chamado gravírnetro consegue medir va-
encontram sob o solo. Outras indicações riações da aceleração da gravidade terres
são dadas pelas densidades diversas das tre de uma parte em 100 milhões. Há uma
rochas. Na prospecção magnética, recor- versão deste instrumento, estabilizada por
re-se a um avião que reboca sobre a zona um giroscópio, para fazer leituras no mar.
um magnetómetro que mede o campo As informações colhidas são processa
magnético. As variações do campo mag- das em computador e interpretadas por
nético ajudam a construir uma imagem da geólogos. Se os resultados forem promete
estrutura do solo sobrevoado. dores, as pesquisas prosseguem agora por
A prospecção gravimétrica baseia se na meio da prospecção sísmica. Esta envia ao

133
solo ondas de choque provocadas por ex-
plosões ou vibrações à superfície. As on-
das viajam a velocidades diversas, confor-
me o tipo de rocha em que se propagam.
Quando atingem a interface entre duas ro-
chas de natureza diferente, as ondas são
reflectidas e voltam à superfície, onde são
captadas por microfones e registadas. Po-
dem então usar se computadores para cal-
cular as posições das camadas de rocha,
com base no tempo entre a emissão das
ondas e o seu retorno, e desenhar um corte
pormenorizado da zona.
Mas os geólogos nunca podem ler a cer-
teza da existência de petróleo em determi-
nado local, mesmo que todos os dados
obtidos o indiquem. Uma das razões prin-
cipais é que os lençóis petrolíferos podem
infiltrar se através de rochas porosas.

A limpeza de um
grande derrame
de petróleo
0 petróleo é o maior poluente dos ocea-
nos e estuários da Terra - e os petroleiros
gigantes, os maiores culpados.
Quase 10 anos depois de o Amoco Ca-
diz, petroleiro líbio, ter nau-
fragado ao largo da Breta-
nha, em Março de 1978, os
cientistas revelaram que na-
quele sector da costa os pei-
xes ainda não se reprodu-
ziam como anteriormente.
A solha apresentava órgãos Costa contaminada. As praias
reprodutores anormais c negras da Bretanha (em cimo)
defeituosos, e as ostras en depois de o petroleiro líbio Amo-
contravam-se contamina- co Cadiz ler naufragado, em
das. 1!)78. Um enorme dique pneu-
Em 1989, uma mancha mático flutuante (à esquerda! foi
gigante de petróleo no golfo utilizado para tentar represar a
do Príncipe William, no mancha de petróleo ao largo. As
Alasca, contaminou as zo- operações de limpeza junto à
nas de reprodução de focas, costa são frequentemente exe-
leões-marinhos c aves. Der- cutadas por uoluntários usando
ramaram-se 45 milhões de simplesmente pás e baldes
litros de petróleo quando o
Exxon Valdez, navio de 216 000 t, encalhou estragos na vida marinha. A desintegração extremidades do dique são presas a na-
num recife. pode ser acelerada regando-se o petróleo vios, que o arrastam devagar sobre a água,
Ninguém sabe precisamente quanto com agentes químicos de dispersão, que capturando o petróleo. Um destes navios
petróleo é derramado acidentalmente e são, basicamente, detergentes. bombeia o produto, através de uma con-
quanto é lançado deliberadamente ao mar Mas também estes podem ter efeitos in- duta flutuante, para um navio-lanque pró-
em deslastragens de rotina. desejáveis, destruindo os óleos naturais ximo. Este sistema pode recolher diaria-
A contaminação dá-se muitas vezes nas penas das aves marinhas e ríiminuin- mente 15 000 t de mistura petróleo água.
quando os petroleiros lavam com água do do-lhes a sua capacidade de flutuação. Foram já criados diversos outros siste-
mar os reservatórios vazios depois de uma O ideal será circunscrever a mancha de mas e dispositivos para aspirar o petróleo
entrega. Os resíduos que são bombeados óleo antes que alastre e depois remove la depois de circunscrito, entre os quais as
para o mar podem ser consideráveis. da superfície do mar por meio de bombas. escumadeiras de absorção e as escuma-
Se não forem tomadas quaisquer medi- Para esse efeito, coloca-se em volta da deiras de barragem.
das, um derrame de petróleo acaba por se mancha um grande dique flutuante de tu- As escumadeiras de absorção empre-
dispersar, desintegrando-se em resíduos bos cheios de ar. Como o petróleo flutua gam cilindros, correias ou esfregões, com
inócuos — depois de ter causado enormes na água, o dique evita que ele alastre. As as superfícies tratadas por compostos quí-

134
Os problemas tinham começado em
Novembro de 1961, quando o gás do poço
irrompera, ejectando a vara de perfuração.
O gás saía para o ar em quantidades que
teriam chegado para satisfazer as necessi-
dades energéticas de uma cidade como
Paris. Ainda náo havia chamas - unica-
mente um fortíssimo jacto de gás. Mas a
ameaça que pairava no espírito de todos os
observadores era que bastaria uma sim-
ples faísca para fazer eclodir um inferno.
Os franceses proprietários do poço pe-
diram ao "bombeiro" número um dos po-
ços de petróleo e dos campos de gás, o
texano Red Adair, que acorresse à emer-
gência Ocupado com um fogo no México,
Adair mandou imediatamente dois dos
seus assistentes principais para o campo
petrolífero de Gassi Touil, no deserto, a
sueste de Argel, a capital argelina.
Durante sete dias, a equipa de Adair
bombeou lama para dentro do poço para
tentar bloquear o gás que saía Até que, ao
meio-dia de 13 de Novembro, se deu uma
violenta explosão e a coluna de gás, até
então quase invisível, se incendiou. A ori-
gem esteve provavelmente numa faísca de
electricidade estática criada pela areia que
era constantemente ejectada.
O trabalho agora era para o próprio Red
Adair. Com 47 anos, havia 24 que combatia
fogos desta natureza. Ao chegar ao local,
apercebeu-se de que o fogo, se náo fosse
dominado, poderia arder sem cessar du-
rante 100 anos.
Para o apagar — "matá-lo", na gíria dos
campos petrolíferos —, tinha de o privar de
oxigénio, para o que detonaria junto à cha-
ma uma poderosa carga explosiva.
Levou cinco meses a juntar todo o equi-
micos sintéticos aos quais o petróleo adere pamento de que precisava, a transportá-lo
e a água não. O cilindro ou a correia rodam pelo ar para a Argélia e daí para o deserto.
sobre a mancha, apanhando o petróleo da
superfície do mar. Uma lâmina semelhan-
Como se apaga Só em Abril de 1962 ele e a sua equipa se
consideraram prontos para iniciar o traba-
te a um limpa-pára-brisas vai raspando
continuamente o petróleo, limpando a
um fogo num poço lho. A população inicial de 30 homens do
campo crescera para se transformar num
correia ou cilindro para dentro de um con-
tentor.
de petróleo acampamento de 500 pessoas. Diaria-
mente, chegavam camiões com bulido
As escumadeiras de barragem colocam zers, bombas e secções de tubagem.
um dique um pouco abaixo da superfície, 0 Isqueiro do Diabo - como foi apelidado Nessa época, a Argélia encontrava-se
de modo que o petróleo passa sobre ele. O o fogo no poço de petróleo — ardia há em plena guerra para se tornar indepen-
nível do outro lado é mantido um pouco quase seis meses nas areias do interior do dente da França. Além de contratar um in-
abaixo por bombagem; o petróleo assim Sara. térprete francês, Adair rodeou se também
escumado vai sendo transferido para um Revoluteando e torcendo-se, as chamas de guardas armados de metralhadora para
reservatório. vermelho-aJaranjadas elevavam-se a 140 m o protegerem e aos seus homens. Mas a
A forma mais simplificada deste proces- de altura, fazendo um penacho a que os tarefa que linha em mãos era a sua preo-
so utiliza tambores de óleo sem tampa, las- ventos do deserto davam as mais fantásti- cupação principal.
trados com pedras e colocados em água cas formas. O penacho era visível a mais de Antes de mais, precisava de água, que
tão pouco profunda que os bordos eslão 150 km no céu da Argélia Central, e foi visto obteve por meio de furos, criando um re-
imediatamente abaixo da superfície. O pe- do espaço pelo astronauta americano servatório que podia ser utilizado para re-
tróleo flutuante entra nos tambores e pode John Glenn quando orbitava a Terra, em gar as chamas sempre que necessário. De-
ser bombeado para o exterior. Fevereiro de 1962. pois, a torre de perfuração de sete andares
Os derrames em terra ou o petróleo que O gás irrompia de um tubo de 33 cm de - que o fogo reduzira a 600 t de aço torci-
o mar lançou à costa sáo difíceis de limpar. diâmetro com uma velocidade superior à do — foi retirada do local, arrastada por
Às vezes, emprega-se maquinaria de re- do som, tão rapidamente, na verdade, que uma enorme grua arrefecida a água e por
moção de terras ou cavam-se valas de dre- as chamas só começavam a quase 10 m de um "ancinho" gigantesco.
nagem. Palha, serradura ou turfa podem altura. O ruído era um trovejar incessante. O O passo seguinte - montar e detonar o
ser utilizadas para a limpeza final. solo do deserto tremia e a areia crepitava. explosivo — era muito mais complicado e

135
perigoso. A única maneira de trabalhar
com um mínimo de segurança era debai- RED ADAIR: O HOMEM E A LENDA
xo de toneladas de água jorrando inces
santemente de oito grandes agulhetas. 0 primeiro trabalho de Paul Neal Petróleo, com a divisa: 'A todas as
Pouco depois das 8 horas de uma ma Adair — alcunhado de Red (ver- horas, em todo o Mundo."
nhã de sábado, Adair - envergando um melho, ruivo) devido à cor flame Três anos depois, o êxito em Gas-
fato-macaco vermelho, capacete de segu- jante do seu cabelo — foi servir de si Touil foi notícia no Mundo inteiro e
rança também vermelho e botas de borra- fogueiro na forja do pai, ferrei- a sua fama cresceu rapidamente.
cha vermelhas — estava pronto. Tinha pre- ro de Houston, no Texas. Mas alguns dos feitos mais dramá-
parado um tractor de lagartas com uma Em 1938, aos 23 anos, ticos de Adair estavam ainda
lança de 15 m a cuja extremidade estava trabalhava como operá- para chegar, pois ele apagou fo-
soldado um tambor de ferro preto envolvi rio num poço de petróleo , gos desde o golfo do México
do em alumínio e amianto. quando uma válvula re- . até ao mar do Norte.
Observado por uma multidão de traba bentou e ele foi atirado a Multimilionário e avó, Red
lhadores do campo petrolífero, de bom- 15 m. Enquanto todos Adair trabalha a partir de um
beiros, de polícias e de enfermeiros - e corriam a abrigar-se, Red escritório em Houston, que
com dois helicópteros em alerta para leva- — embora magoado e — como o seu automóvel e
rem alguém ao hospital se algo corresse abalado — repôs calma- o seu barco a motor — é
mal —, começou a carregar o tambor com mente a válvula em posição encarnado como um carro de
250 kg de dinamite. Ligou depois os deto- A sua coragem foi notada bombeiros. Nos seus cinquen-
nadores e o fio eléctrico ao tambor. O fio pelo pioneiro nos combates ta e tal anos de combate ao
conduzia a uma trincheira a 180 m do fogo, aos fogos de petróleo Myron fogo, lidou com mais de 1000
de onde seria provocada a explosão. Kinley, que pediu ao jovem Adair incêndios e explosões em po-
O sol estava já ardente quando, pelas 9 que o ajudasse num acidente em ços de petróleo.
horas, Adair e o seu assistente subiram Alice, Texas. Os dois homens tra- "1 lá duas coisas de que real-
para o tractor. Adair tomou os comandos e balharam juntos até os Estados mente gosto no meu trabalho",
a máquina avançou como um monstro Unidos entrarem na II Guerra disse uma vez numa entrevista.
pré-histórico de longo pescoço, entrando Mundial, em 1941. Adair, que "Nunca saber para onde vou quan-
debaixo do chuveiro das oito agulhetas. prestou serviço no Pacífico, tor- do toca o telefone — e não ser inco-
nou-se especialista em desacti- modado por angariadores de segu-
O Isqueiro do Diabo var bombas, mas voltou a tra- ros de vida!"
Quando o tractor se aproximou do fogo, o balhar com Kinley desde o fim
assistente saltou para o chão e guiou Adair da guerra até 1959, Neste ano, Bombeiro dos poços de petró-
fazendo sinais com as mãos. Lentamente, criou a sua própria empresa, a leo. Red Adair, em 1968. Nunca dei-
a lança conduziu o tambor de explosivo Companhia Red Adair de Controle xou de apagar um fogo — alguns em
até uns centímetros do ponto onde a colu- de Fogos e Explosões em Poços de seis meses, outros em segundos.
na de gás se transformava em chama.
Depois, o assistente correu a abrigar-se
na trincheira. Adair saltou do tractor e cor- desfiado com 3000 m de comprimento, Piper Alpha: bola de fogo assassina
reu atrás dele. Assim que os dois chegaram cortaram a parle do tubo que saía do Em 6 de Julho de 1988, a plataforma petrolí-
à trincheira, o assistente carregou no con- solo. Para apagar quaisquer faíscas, a fera Piper Alpha, a 190 km ao largo da costa
tador - e o rugido do fogo foi afogado zona de trabalho era continuamente escocesa, no mar do Norte, sofreu o maior
pelo som de um poderoso "brrrrum". inundada de água. Em seguida, a grande desastre da história do petróleo. Duas
Um espesso fumo negro cobriu a cena. cabeça de controle — um complicado imensas explosões envolveram a platafor-
O trovejar do fogo foi substituído por um conjunto de válvulas, flanges e tornei- ma numa bola de fogo, matando 167 ho-
ruído agudo e sibilante do gás que se esca- ras - foi levada para o local. mens. Depois de recolhidos os 63 sobrevi-
pava. O Isqueiro do Diabo fora apagado. Uma vez colocada, a grande cabeça iria ventes, as atenções centraram-se na extin-
A seguir, veio a tarefa de tapar o poço desviar o jacto de gás da área de perigo ção do fogo nos cinco poços em chamas.
com um bloco de aço com 3 m de altura e o para um tubo transversal com 365 m de A plataforma retorcida estava coberta de
peso de 8 t, chamado cabeça de controle. comprimento. Este seria aceso nas extre petróleo escorregadio e de destroços, al-
Mas Adair decidiu esperar até à segunda- midades e o poço ficaria sob controle. guns com mais de 20 t. Antes de se tentar
-feira seguinte. Primeiro, havia uma série Devido ao perigo que a utilização de extinguir qualquer dos poços, havia que
de pequenos fogos dispersos em volta da uma grua poderia representar - pois po- retirar os destroços — mas a plataforma
boca do poço que tinham de ser apaga dia fazer faíscas enquanto trabalhava —, atingia uma temperatura muito acima dos
dos; depois, era preciso ter a certeza de foi um grupo de 20 operários que içou a 1000tJC e estava inclinada a 45°. Havia o
que o tubo do poço estava intacto. Com cabeça com cordas e a colocou sobre o perigo de se desmoronar completamente e
todos os fogos extintos e o poço arrefecido poço. de os poços incendiados explodirem.
por um dilúvio constante de água, Adair Enquanto a cabeça estava a ser descida, Red Adair chegou da América de avião.
sentiu-se aliviado ao verificar que o tubo caía sobre os operários uma chuva de ga- Felizmente, encontrava-se perto da plata
estava intacto. Por isso, na segunda-feira, solina condensada do gás e que se espa- forma o Tharos, navio de emergência de
de manhã cedo, preparou se para corta lo lhava num círculo a partir do poço. Adair e 30 000 I, equipado com aparelhagem de
e aplicar-lhe a cabeça de controle contra a a sua equipa entraram em acção c coloca- combate aos fogos. Desenhado por Adair,
fortíssima pressão ascendente do gás. ram os rebites com martelos de latão (me- o navio tinha uma tripulação de 135 ho
Durante os dois dias seguintes, Adair e nos propensos que os de aço a fazer faís- mens, três gruas, um sino de mergulho e
a sua equipa trabalharam numa nuvem cas). Lançou-se então fogo ao gás que saía uma câmara de descompressão, uma lan-
de gás altamente explosivo que em qual das duas extremidades do tubo transversal - ça telescópica e 16 canhões de água.
quer momento se podia incendiar e quei- e o maior incêndio que até então lavrara Alguns destes foram usados para criar
ma los vivos. Usando um cabo de aço num campo petrolífero foi abafado. uma cortina de água para proteger o Tha-

136
ros, que se deteve a 25 m da plataforma. Os vulas ficam frequentemente inutilizadas.
restantes foram apontados aos fogos. Depois de uma explosão na plataforma
A lança do Tharos é um braço mecânico Ekofisk em 1977, o petróleo jorrou de um
telescópico que pode ser movimentado dos poços com uma enorme pressão e a
para baixo e para cima ou para os lados, uma temperatura de quase 100°. A força do
podendo estender-se quase 20 m para fora jacto de petróleo era demasiada para ser
do barco. A grua principal levantava os des- dominada pela bombagem de água do
troços da plataforma. mar. Red Adair tentou utilizar dois maca-
Enquanto a plataforma era limpa, os ca- cos hidráulicos para comprimir dois semi-
nhões regavam-na com milhões de litros discos para cobrir o topo do poço, mas
de água do mar, e os fogos acabaram por ajustá-los nessas condições não era fácil.
extinguir-se. Mas as bocas dos poços conti- Uma simples faísca e o petróleo incendiar-
nuavam a jorrar petróleo. -se-ia. Após cinco tentativas, tiveram êxito.
Assim que a plataforma arrefeceu o sufi- Outro processo consiste em perfurar
ciente, bombeou-se água do mar para poços de diversão para desviar o petróleo
dentro dos poços, sob pressão muito ele- de um poço ou de um tubo, reduzindo-se
vada, sustendo-se assim a saída do petró- assim o volume e a pressão no poço princi-
leo. Imediatamente se injectou betão em pal. Esta medida fora já prevista para o caso
cada poço, vcdando-os definitivamente. de o plano inicial para dominar a explosão
Red Adair e a sua equipa limparam todos da Pi per Alpha ter falhado: o aparelho de
os destroços e dominaram os fogos dos perfuração semi-submersível Kingsnorth
poços em apenas 36 dias. começara já a perfurar outro poço até uma
Cada fogo em poços de petróleo tem profundidade de 2600 m abaixo do fundo
problemas próprios, mas os processos do mar. A ideia era vedar o poço com ci-
de o extinguir são basicamente os mes- mento a partir do fundo para impedir o Homem de acção. Red Adair. nesta foto
mos. 0 mais simples é impedir se o fluxo fluxo do petróleo, mas tal não chegou a ser grafia, dirige as operações para dominar
de petróleo ou de gás pelo fecho das válvu- necessário. A equipa de Red Adair conse- uma fuga de metano perto de Franenthal,
las. Mas depois de uma explosão, estas vál- guiu tapar todos os poços. Alemanha, em 1980.

Inferno no mar do Norte. O desastre na plataforma petrolífera Piper Alpha em 1988 foi o mais grave de sempre, corri 167 mortos. Canhões de
água (pormenor em cima, à esquerda) regaram os fogos que deflagraram após duas explosões que abalaram a plataforma.

137
Como se mede uma montanha?
Em 1749, o 'levantamento topográfico da A posição do Evereste como a monta-
índia" feito pelos Ingleses identificou um nha mais alta do Mundo náo foi posta em
pico muito elevado nas montanhas dos Hi causa até 1986, quando George Waller-
malaias. Foi designado por Pico XV, mas só Stein, da Universidade de Washington, uti-
em 1849 outra missão topográfica decidiu lizando um método diferente, afirmou que
medir a sua altitude. Quando o levanta- uma outra montanha dos Himalaias, a K-2,
mento terminou, em 1852, confirmou-se poderia ter mais 11 m do que o Evereste.
que o Pico XV era o mais alto do Mundo. Esta afirmação era tão perturbadora
Foram sugeridos diversos nomes para que uma expedição italiana que se encon
este pico, incluindo Devadhunga (Trono trava nos Himalaias em 1987 decidiu verifi-
dos Deuses) e Guarishankar (A Esplendo- cá-la. Colocaram-se receptores nas encos-
rosa Noiva Branca de Xiva). Mas o nome tas do Evereste e do K-2 e empregaram-se
aprovado foi o sugerido por Andrew sinais de Navstar (navegação electrónica
Waugh, topógrafo-geral da índia, que por estrelas) para determinar as respecti-
achou que o monte devia ter o nome do vas alturas e posições Esta medição era
seu antecessor. Sir George Everesl. decisiva, pois as discrepâncias nas altitu-
Para calcular a altitude do Evereste, em- des das montanhas devem-se habitual-
pregaram-se os métodos clássicos de to- mente a erros na altitude da linha de base
pografia. No solo e a uma altitude conheci- sobre que se fundamentam os cálculos. A
da, mediu-se uma linha de base com vários equipa do geólogo Ardito Desio calculou
quilómetros O cume da montanha era vi então as alturas das duas montanhas utili
sível dos dois extremos dessa linha, e fize- zando teodolitos colocados nos locais em
ram-se leituras para o cume com tcodoli que se encontravam os receptores. A sua
los - aparelhos que medem ângulos. conclusão foi de que a altitude do Evereste
Conhecendo-se dois ângulos e o com era de 8872 m, 256 ui superior à do K-2.
primento de um dos lados de um triângu-
lo, podem calcular-se os comprimentos
dos outros lados - obtendo-se a distância
da linha de base ao cume. Cálculos subse-
quentes dáo-nos então a altura (v. diagra-
Obrigando o mar
ma). Os topógrafos mediram o Evereste a
partir de seis pontos diferentes — o que
a devolver os seus
produziu seis números entre 28 990 e
29 026 pés (8836 e 8847 m). A média dava
tesouros
exactamente 29 000 pés (8839 m), mas,
dado que esta medida parecia tratar se de No fundo do Atlântico, a 4 km de profundi
uma aproximação, somaram-lhe 2 pés dade, o l)r. Robert Bailará viu à sua frente o
(0,6 m) e emitiram a sua opinião abaliza- vulto do navio de passageiros Titanic. Ele e
da: 29 002 pés, ou sejam 8840 m. a restante tripulação do mini-submarino
Aloin foram os primeiros
homens a pôr a vista no
gigante dos mares desde Apetrechos de um archeiro. Cinco dus
que esle foi afundado 4000 setas recuperadas do Mary Rose 01-
por um icebergue há contrauam-se num suporte de cabedal ao
quase 75 anos. "Mesmo lado de uma braçadeira e de uma bainha
à nossa frente, erguia-se de cabedal.
do fundo uma chapa de
aço negro, aparente- quais já tinham olhado pessoas, para
mente interminável — o decks ao longo dos quais elas tinham pas-
casco maciço do Tita- seado, para quartos onde tinham dormi
nic", escreveu. do, brincado, amado. Era como descer na
De um segundo mer- superfície de Marte apenas para encontrar
gulho — um dos nove os restos de uma antiga civilização seme-
O que faz o topógrafo. Mede se urna tinha de base entre efectuados pelo Aloin lhante à nossa."
dois pontos (A <? Bj à mesma altitude O topógrafo coloca-se em Julho de 1986 - oDr. O Titanic afundou se a cerca de 720 km
em A e aponta o teodolito, primeiro para o cume C, depois Ballard recorda: "Ali es ao sul da Terra Nova no dia 15 de Abril de
para B, obtendo o ângulo x. Faz o mesmo a partir de B para tava eu no fundo do 1912. Das 2200 pessoas a bordo salvaram-
obter o ângulo y. Calcula então a distância ao ponto D, na oceano, olhando objec- -se apenas 705. Era a viagem inaugural do
perpendicular do cume e à altitude da linha de base. Ainda tos que eu reconhecia, navio. Mas só em 1 de Setembro de 1985
em B, determina o ângulo z com um instrumento de nível, criados e construídos — graças às modernas tecnologias o
Com a distância BD e sabendo que o triângulo BCD é rec- pelo homem para um barco foi localizado por uma expedição
tângulo, calcula o comprimento de h, que soma â altitude outro mundo. Olhava conjunta franco-americana, encabeçada
da linha de base para obter a altitude total da montanha. através de janelas pelas pelo Dr. Ballard.

138
Artigos pessoais. Um conjunto de muni
cura, um sapato, pentes e outros objectos
indicam a presença de uma mulher.

Estojo de cirurgião-barbeiro. Encontra


rum se. uma tigela de sangria e uma serin-
ga, um almofariz, um frasco de remédios e
caixas - para uso de um cirurgião.

O "Mary Rose". Esta reconstituição artísti-


ca mostra o Mary Rose antes de se virar, em
1545. 0 orgulho da frota naval de He.nri
que VIII tinha 40 m de comprimento. 91 ca-
nhões e 415 tripulantes. Tempo de lazer. Sobre um tabuleiro de
jogos de madeira vêem-se uma capa cie ti
0 primeiro passo para se encontrar um vro, uma bolsa de couro, uma flauta, moe-
navio naufragado perdido implica buscas das de troca e marcas de jogo. dois dados e
meticulosas nos arquivos históricos, por o esporão de um galo de combate.
forma a determinar com o possível rigor
onde é que o navio se afundou - o que, amarras e rolaram, atravessando o convés,
por vezes, 6 bastante simples. fazendo mais peso a estibordo. O Mary
0 Mary Rose, navio almirante do rei Rose virou-se, afogando 650 homens. A
Henrique VIII de Inglaterra, afundou-se em sua posição era conhecida, mas depois foi
1545 no Solenl com um mar relativamente perdida ou esquecida. L só mais de 400
calmo - à vista de centenas de pessoas anos depois o navio pôde ser levantado.
em terra, incluindo o próprio rei. Um dos achados mais ricos foi o de uma
Quando se fazia de vela com uma frota flolilha de 10 barcos espanhóis ao largo da
de mais Sfl navios para enfrentar uma es- Canhão de bronze. Este. canhão fazia par- Florida. Estes barcos partiram de Havana,
quadra invasora francesa, adernou com o te da artilharia de reforço do Mary Rose. 0 Cuba, de regresso à pátria, carregados de
vento e a água entrou pelas janelas de tiro peso extra deve ter contribuído pura que o ouro, esmeraldas, pérolas e 2300 arcas de
de estibordo. Os canhões partiram as barco se virasse. moedas acabadas de cunhar na Cidade do

139
gunda mão, Wagner fez buscas nas praias dos Imhoff Bentinck, um de cujos mem-
próximas da zona descrita — e encontrou bros se sabia ter estado a bordo do Hollan-
um enorme tesouro de objectos valiosos, dia, confirmando a respectiva origem. Fo-
incluindo urna corrente de ouro com pin ram ainda encontradas mais de 35 000
gente, leiloada por 50 000 dólares, e um moedas de prata com o valor de cerca de
anel de brilhantes que valia 20 000. I milhão de libras.
Wagner fez-se ao mar e começou a mer- Os magnetómetros revelaram-se, po-
gulhar para encontrar os despojos. O te- rém, infrutíferos na descoberta do Mary
souro que acabou por recolher valeu mais Rose. Embora este tivesse naufragado a
de 5 milhões de dólares. poucas centenas de metros da costa, esta-
O emprego do detector de minas por va coberto de lodo e areia quando se inicia-
Wagner foi o começo da aplicação das mo- ram as buscas.
dernas tecnologias à busca de barcos nau- A solução veio de outro invento moder-
fragados. Em 1970, o inglês Rex Cowan n o — o sonar. Criado para a guena subma-
decidiu procurar o Hollandia. que fizera a rina, o sonar emite sinais sonoros e regista
rota das Índias Orientais I lolandesas e se os ecos reflectidos por objectos sólidos.
Tesouro espanhol. Uma arca contendo perdera ao largo das ilhas Scilly em 1743. Um tipo de sonar que detecta objectos
moedas de prata fazia parte do tesouro des- Sabia, por relatos da época, a posição afundados no lodo ou na areia produziu
coberto perto dos destroços de um galeão aproximada do naufrágio, mas os mergu- sinais que poderiam indicar a presença de
espanhol afundado em 1622 ao largo da lhadores não encontravam quaisquer ves- uma elevação no fundo do mar — e algo
costa da Florida. tígios. Cowan usou então um magneto- de sólido no seu interior. Três anos depois,
metro — aparelho que se reboca de um as marés tinham retirado parte dos sedi-
México — tesouro que valeria pelo menos barco e que detecta alterações do campo mentos do lado de bombordo do navio
50 milhões de dólares ao valor actual. Os magnético provocadas por objectos de fer afundado e podiam verse algumas madei-
navios foram apanhados por um tufão e ro, como canhões. ras. Começou então a histórica recupera
afundaram-se a sul de Cabo Canaveral. Depois de, durante meses, ter percorri- çáo — uma "cápsula do tempo" da vida a
Na década de 50, Kip Wagner, "caçador do a zona provável em todas as direcções, bordo de um navio de guerra do século xvi.
de tesouros" nas praias, encontrou algu- Cowan e a sua equipa tiveram finalmente Mas a redescoberta do Titanic deve con-
mas moedas de prata na baía de Sebastian, uma indicação alguns dias apenas antes de siderar-se o mais notável achado do mar
64 km a sul de Cabo Canaveral. Investigan- terminar a estação de mergulho, no mês alto. Encontra-se a uma profundidade ex-
do a sua origem, leu algo acerca da esqua- de Setembro, depois do qual as condições cessiva para mergulhadores, e descobri lo
dra e convenceu-se de que tinha encontra meteorológicas são geralmente desfavorá- na imensidade do Atlântico Norte com
do parte do seu tesouro. Mandou uma veis. Mergulharam, nada encontraram, apenas uma ideia vaga da sua localização
moeda para a Smithsonian Institution em mas voltaram no dia seguinte - e desco- exigia capacidades especiais. A equipa
Washington, mas disseram-lhe que ela briram canhões com o monograma da de- conjunta franco-americana utilizou um
não podia pertencer àquela flotilha, que se pendência em Amsterdão da Companhia aparelho de sonar para grandes profundi-
tinha afundado 240 km mais a sul. Holandesa das índias Orientais. No dia se- dades para esquadrinhar o fundo do mar e
Não convencido, Wagner e um amigo, guinte, descobriram uma colher de prata encontrar o navio naufragado — e uma
o Dr. Kip Kelso, continuaram a investigar com o brasão de uma família holandesa, a máquina fotográfica submarina de co-
por sua conta e descobriram que Bernard mando remoto para colher as primeiras
Romans, cartógrafo inglês, descrevera em imagens. Um ano depois, de bordo do
1775 o local onde a frota se afundara e che- submarino Alvin, para três tripulantes, o
gara a desenhar um mapa. Equipado com Dr. Ballard, geólogo oceanográfico do Ins-
um detector de minas comprado em se- tituto Oceanográfico de Woods Hole, no
Massachusetts, via o barco com os seus
próprios olhos. O submarino pousou na
proa e na ponte. Uma câmara-robô sub-
marina de controle remoto, a Jason Júnior.
desceu a Grande Escadaria, fotografando
lustres ainda pendurados, relógios, pratas
e os interiores dos camarotes.

Como funciona
o escafandro
autónomo?
Desde o século xix que os cientistas vi-
nham tentando inventar um aparelho de
respiração eficaz e autónomo para os mer-
Imagens de sonar de um navio naufragado no Árctico. O navio Breadalbane perdeu-se gulhadores. Em 1943, Jacques Yves Cous-
em 1853 na Passagem do Noroeste, no Canadá, quando procurava sobreviventes da expedi- teau e Emile Gagnan aperfeiçoaram o es-
ção Franklin. Foi detectado em 1980 com o auxílio de rastreio por sonar. As imagens mostra- cafandro autónomo, inventado em 1865
ram o navio, a 104 m de profundidade sob o gelo. com as velas ainda nos mastros. por Roquayrol e Denayrouse. Cousteau

I In
utilizou este escafandro para descer até Respirar debaixo de
60 m de profundidade. água. O ar que esta mergu-
Os pulmões humanos não são suíicien lhadora respira do cilindro
temente poderosos para se expandirem do seu escafandro aula no
contra a pressão da água abaixo de cerca mo está regulado para
de 45 cm. A pressão aumenta rapidamente igualar a pressão da água
com a profundidade, e a 10 m atinge já sobre o seu corpo. Quando
2 atmosferas - cerca de 2 kg/cm2. ela inspira, uma membra-
Para respirar debaixo de água, o mergu- na elástica no bocal cria
lhador tem de receber ar à mesma pressão uma depressão na câma-
que a da água que o rodeia. No escafandro ra, abrindo uma válvula e
autónomo, o ar está armazenado a alta deixando entrar o ar. Este
pressão - alé 200 atmosferas — em cilin- baixa de pressão para
dros atados às costas do mergulhador e igualar a que a água exerce
ligados à boca por um tubo e um bocal. sobre a face exterior da
O ar chega ao mergulhador através de membrana. Quando a ins-
um regulador de dois andares. No primeiro, piração termina, o ar que
a pressão é reduzida a cerca de 10 atmosfe- entra empurra a membro
ras acima da da água envolvente. O segun- na, fechando a válvula e,
do, no bocal, fornece ao mergulhador ar à portanto, o fluxo de ar. O ar
mesma pressão que a da água que o rodeia. expirado sai por válvulas
Uma membrana elástica no bocal está em de escape, deixando um
contacto com água num dos lados e com rasto de bolhas. O botão de
uma câmara-de-ar no outro. Quando o purga do bocal pode ser ac-
mergulhador inspira, a membrana é puxa- cionado para deixar entrar
da para dentro e empurra uma alavanca na ar ou expulsar água.
câmara; esta alavanca faz abrir uma válvula
que deixa entrar o ar do tubo, o qual diminui
de pressão quando entra.
Quando o mergulhador pára de inspi
rar, o ar que entra na câmara empurra a
Membrana
elástica v—1= Água
Membrana
elástica
|^-
Agua
Botão
de purga
Alavanca •* Válvula
Alava
membrana elástica, fechando a válvula e 'jt A—^~ Válvula
cortando o fluxo de ar.
* »
Mesmo quando o mergulhador não
esla a inspirar, um aumento da pressão da
água quando ele mergulha empurra a
membrana para diante, a fim de abrir a
válvula e deixar penetrar o ar do tubo. Por
Câmara-
-de-ar

Regulador
do bocal
'

y< Ar do '
cilindro

Ar
inspirado
1 Cámara-
-dc-iir
?tf ^_ Válvula
de escape
Ar
"expirado
isso, o ar na câmara do bocal está sempre à Inspiração Expiração
mesma pressão que a da água envolvente.

Como sáo reparados os cabos de telefone submarinos?


Um grande número de conversações tele- reparações. O trabalho é feito por submer- saparece, o submersível pousa no fundo
fónicas internacionais continua a ser feito síveis de comando à distância com o tama- do oceano e põe a visla o cabo avariado
através de cabos assentes no fundo do mar nho de uma furgoneta, que são descidos do por meio de um poderoso jacto de água
e que ligam entre si os continentes. Os saté- navio de manutenção, mergulham até ao que expulsa a camada de areia e lodo.
lites de comunicações ainda não elimina- fundo do mar, localizam a avaria e prendem O CIRRUS eslá equipado com luzes po-
ram a necessidade destes cabos submari- linhas ao cabo avariado. Kste é então puxa- derosas e câmaras de televisão, a cores e a
nos - até a "linha quente" entre Washing- do até à superfície e reparado a bordo. preto e branco, que permitem aos opera-
ton e Moscovo os utiliza. Mas que acontece O CIRRU5 (Cable Installation, Recovery dores a bordo do navio de manutenção
quando um cabo se avaria? and Repair Underwater Subrnersible) e o observar todos os pormenores do terreno.
0 primeiro cabo telegráfico transatlânti- seu sucessor, ainda mais sofisticado, o Usando as imagens como guia, os opera-
co, assente em 1858, avariou-se poucas se ROV128, são comandados através de um dores estendem poderosos braços arti-
manas depois. Hoje, o risco de avaria foi cabo "umbilical" do navio e accionados culados que agarram o cabo. O CIRRUS
muito reduzido pelo emprego de um isola- por propulsores hidráulicos. usa uma lâmina especial para cortar o
mento de polietileno e pela escolha de per- O primeiro trabalho de um submersível cabo avariado e deixa no fundo do mar um
cursos que evitam as zonas de actividade consiste em localizar a avaria. O submersí- «bip-bip» acústico para marcar o local.
vulcânica, correntes fortes ou os bancos vel segue o percurso do cabo no fundo do Depois, sobe à superfície, pega num
de pesca. Nas zonas pouco profundas, os mar, captando os fracos sinais de baixa fre- cabo de aço forte, leva-o para o fundo e
cabos são frequentemente enterrados. quência transmitidos através dele pela es- liga-o a uma extremidade do cabo telefóni
Apesar destas precauções, ainda se dão tação terminal em terra. Se um cabo estiver co, que é então içado para a superfície.
avarias. As grandes empresas de tclecomu partido, a água provoca um curto-circuito Usa-se o mesmo processo para a outra ex-
nicaçóes possuem navios de manutenção que irá estabelecer a ligação entre os fios tremidade do cabo. Uma vez reparado, o
em serviço permanente para efectuar as que compõem o cabo. Quando o sinal de cabo é descido de novo para O fundo.

Ill
A equipa preocupava-se agora em saber
se os seus diamantes seriam tão bons
Fabrico de diamantes em laboratório como os naturais para o corte e a perfura-
ção industriais. O departamento da Gene-
ral Electric que produzia ferramentas de
rior de cilindros de metal resistente, a fim de corte fabricadas com um dos metais mais
produzirem pressões que podiam atingir as duros, o carboneto de tungsténio, pediu
100 000 atmosferas (103 500 kg/cm2). No para ensaiar um exemplar de 25 quilates. A
interior da câmara de pressão, foi construí- equipa dos diamantes podia unicamente
do um forno eléctrico capaz de gerar uma fornecer-lhe um de 22 quilates, que já era
temperatura de 2500"C. No entanto, depois suficiente para fazer uma roda de amolar.
de experiências metódicas, nenhum dia- Os técnicos daquele departamento utili-
mante se formou. zaram esta roda para cortar e afiar as suas
Faltava um catalisador para acelerar a ferramentas. Ficaram encantados - os dia-
reacção. Durante três anos, os cientistas mantes artificiais cortavam melhor que os
fizeram ensaios com muitos catalisadores naturais e eram pelo menos tão duradou-
diferentes, mas sem sucesso. Até que, em ros. A General Electric acabou por inventar
15 de Dezembro de 1954, um técnico do o melhor catalisador e, em 1957, começou a
laboratório reparou, num teste de rotina, comercializar diamantes sintéticos.
que algumas amostras produzidas pelo fí- Até hoje, já se fabricaram mais diaman-
sico Herbert Strong tinham danificado a tes sintéticos do que lodos os naturais ex-
sua roda de polir. Telefonou a Strong para traídos ao longo de milhares de anos -
se queixar — e este, com a sua equipa, mais de 1000 t. Os diamantes artificiais po-
acorreu ao laboratório e começou a exa- dem ser feitos por encomenda e à medida,
minar as amostras. Tracy Hall, um dos quí- o que os torna ideais para a indústria.
micos, verificou que a amostra que riscara O seu preço tem descido com o aperfei-
a roda continha dois diamantes. çoamento dos processos de fabrico; em
O problema que agora se punha à equi- 1957, era 6 dólares por quilate; hoje, é ape-
pa era como duplicar o processo que cria- nas cerca de 50 cêntimos para o mesmo
ra os diamantes. Strong usara metais e ligas tipo de diamante - a comparar com mi-
ferrosas como catalisadores, mas durante lhares de dólares por quilate por um bom
vários dias e noites os cientistas não conse- diamante natural com qualidade de pedra
guiram fazer mais diamantes. preciosa.
Quase desesperado, Tracy Hall utilizou O maior desafio para os cientistas é, hoje,
o seu aparelho à pressão máxima, com o conseguirem uma forma acessível de fabri-
Dois tipos de carbono. O brilho dos dia- ponteiro a indicar perto de 100 000 atmos- car diamantes sintéticos de qualidade. A
mantes è realçado pelo cinzento da grafite feras — e finalmente conseguiu. As expe- General Electric já os produz nas cores azul,
dos bicos de lápis. Ambos sâo feitos de car- riências anteriores tinham provavelmente branca e amarelo-canário, mas o seu preço
bono, mas com estruturas diferentes. falhado por ter havido a combinação erra- é tão elevado como o dos verdadeiros por-
da de pressão, temperatura e condições que são necessárias mais de duas semanas
Os diamantes naturais formam se a partir químicas. para obter um carate de boa qualidade.
da grafite a mesma substância que é
utilizada nos bicos dos lápis. Tanto os bi-
cos de lápis como os diamantes são for- PORQUE BRILHAM OS DIAMANTES
mas de carbono, mas, no caso do diaman- parte superior e 25 na inferior, oculta. Os
te, o carbono foi submetido debaixo da ângulos são calculados rigorosamente
crusta terrestre a temperaturas e pressões para que a luz que entra no diamante
de tal modo elevadas que os seus átomos seja reflectida internamente e saia nova-
se rearranjaram, formando uma nova es- mente por cima. Uma lapidação de qua
trutura cristalina mais compacta. O dia- lidade menor estraga este efeito.
mante, a substância de ocorrência natural Quando, em 1850, a rainha Vitória foi
mais dura que existe, é 55% mais denso presenteada com o diamante Koh-i-Nor,
que a grafite. de 186,5 quilates, ficou desapontada
A ideia de diamantes artificiais tem um com a sua falta de brilho e mandou tor-
atractivo evidente, não só pelo seu valor e nar a lapidá-lo, ficando reduzido a
fascínio como pedra preciosa, mas tam- 108.93 quilates.
bém porque tem muitas utilizações indus- O alto índice de refracção do diaman-
triais. Assim, os inventores há muito que te—a medida em que ele desvia a trajec-
tentam reproduzir as condições que criam tória de um raio da luz que o penetra -
os diamantes no interior da Terra. Lapidação em brilhante. O brilho e as faz com que, com uma lapidação cor-
Entre as companhias que se têm dedica- cores de um diamante bem lapidado. recta, toda a luz seja reflectida.
do a esta investigação, destaca-se a General O brilho do diamante é igualmente
Electric Company, que, no princípio dos No final do século xvn, o joalheiro italia- devido ao facto de a luz que o penetra ser
anos 50, formou uma equipa de cientistas no Vincenti Peruzziot inventou a "lapi- decomposta nas cores do espectro, pro-
para trabalharem num laboratório de Sche- dação em brilhante", ainda hoje utiliza- duzindo reflexos multicores. Devido à
nectady, Nova Iorque. Usando grafite como da. O diamante lapidado em brilhante é extrema dureza do diamante, as facetas
material de base, os investigadores uti- de contorno redondo, com 33 facetas na que lhe dão o lustre nunca se gastam.
lizaram dois pistões trabalhando no inte-

142
Só um perito consegue distinguir um dia- CLIVAGEM DE UM DIAMANTE
mante artificial de um natural.
Um novo método, desenvolvido por
cientistas no Instituto de Investigação Quí-
mica em Kharkov, evita o uso de temperatu-
ras e pressões extremas. Produz-se um feixe
de iões de carbono que se faz incidir sobre
uma superfície. Os iões são átomos que
ganharam ou perderam electrões. Como
possuem carga eléctrica, os iões podem ser A pedra em bruto parece um pedaço de vi-
acelerados até grandes velocidades por dro. A primeira operação consiste em mar
campos eléctricos. A energia com que eles cor na pedra a direcção de clivagem
colidem com a superfície é suficiente para
os ligar entre si e formar diamante.
0 resultado não é um único cristal de
diamante, mas um material que se asse- Um diamante lapidado em brilhante é ge-
melha ao vidro. Já foi utilizado para tornar ralmente serrado por um delgado disco me-
mais rijos os gumes das peças de corte das tálico com pó de diamante no bordo.
máquinas-ferramentas e os diafragmas de
altifalantes de hi-fí, e já foi sugerido que
podia ser usado no fabrico de lâminas de
barba que nunca perderiam o gume.

Como se cortam
os diamantes à
mão e à máquina A pedra é fixa numa haste e faz-se um sulco
ao longo da marca com um fragmento de
diamante.
Um diamante não lapidado, por muito
grande que seja, é tão pouco impressio- Para tornar a pedra circular, esta é fixada
nante como um pedaço amorfo de vidro num tomo de bruting e rodada a alta oeloci
baço. Assim, para que mostre o seu fulgor dade de encontro a outro diamante
e o seu brilho ele tem de ser cortado e
facetado com rigor micrométrico. A lapi-
dação é um trabalho que exige muita perí-
cia e paciência, pois o diamante é a .subs-
tância natural mais dura que se conhece.
No caso de uma pedra grande, o primei-
ro passo consiste em fracturá-la ao longo
dos planos naturais de clivagem da sua es-
trutura cristalina; esta parte é a mais arris-
cada de toda a operação. Antes de clivar
com êxito o enorme diamante Cullinan,
em Amsterdão, em 1908 (v. p. 144), Joseph
Asscher estudou a pedra durante várias se-
manas. Um pequeno deslize e tê-la-ia Sobre o sulco coloca-se uma lâmina de aço. Para desgastar e polir as facetas, o diaman-
transformado num monte de fragmentos. Uma pancada seca e o diamante fende-se te, preso num grampo com um dado ângu-
0 lapidador calcula, a partir da forma da ao longo do plano de clivagem. lo, é encostado a um disco em rotação.
pedra, a direcção correcta para o corte. A
sequência fotográfica à direita mostra dura e resistente. O disco roda entre 4000 e dras. A forma definitiva da pedra preciosa
como o lapidador marca na pedra, com tin 6000 vezes por minuto e o seu bordo é depende da sua forma original, mas perde-
la-da-china, a posição do corte. Com urn revestido de uma mistura de pó de dia- se muito material porque o diamante tem
diamante mais pequeno, faz-se um sulco mante e óleo, que serra lentamente o dia- de ser cortado de determinada maneira. A
ao longo dessa marca. Sobre este sulco, mante. Um diamante com o peso de um pedra final pesa geralmente um pouco
coloca-se uma lâmina forte de aço, que se quilate (um quinto de grama) levará entre menos de metade que a pedra original.
bate com uma pancada seca. Se tudo cor- quatro e oito horas a cortar. A última fase é o corte e polimento das
rer bem, o diamante fracciona-se em dois. Seguidamente, tem de arredondar-se facetas que dão ao diamante o seu brilho.
Se não, pode desfazer-se em pedaços. ou desgastar-se a pedra com outro dia A pedra é montaria numa haste e depois
Uma vez clivada a pedra, utiliza-se uma mante, num processo chamado bruting. encostada a um disco de ferro imbuído de
serra para levar a cabo o resto do processo. Fixa-se um dos diamantes num torno e en- pó de diamante e óleo. O disco gira a cerca
A pedra é fixada em maxilas almofadadas costa-se, contra ele, outro diamante. Os de 2500 rotações por minuto, desgastando
ou num suporte de gesso; é depois baixa- minúsculos fragmentos de pó de diaman- e polindo uma faceta de cada vez. O dia-
da até aos bordos de um disco finíssimo de te que saltam são cuidadosamente recolhi- mante é finalmente mergulhado em ácido
fósforo-bronze, uma liga metálica muito dos para depois serrarem e polirem as pe- sulfúrico em ebulição, para o limpar.

143
Joseph Asscher: o corte do diamante Cullinan
Na tarde de 10 de Fevereiro de 1908, o lapi Tamanho natural. O dia
dador Joseph Asscher preparou-se para rnante em bruto — com
cortar o maior e mais famoso diamante 10 cm de comprimento e
em bruto do Mundo, o Cullinan. A pedra, 6,5 cm de altura — tinha
branco-azulada, pertencia ao rei Eduar- o tamanho aproximado URR
do Vil de Inglaterra - e naquela tarde deci- de um punho de senho-
siva Asscher era observado por represen- ra. Quando o viu pela
tantes do rei, membros da imprensa e um primeira vez, Frede-
grupo da sua própria empresa. O diaman- rick Wells, superin-
te foi fixado num suporte, que, por sua vez, tendente da mina,
foi colocado numa abertura na parte da julgou ser vítima
frente da caixa de clivagem. Joseph Ass- de uma partida
cher apoiou uma lâmina de aço nào afiada — e que a gran-
no sulco que fizera no diamante, levantou de pedra era
a vara de metal e desceu-a com força sobre feita de vi-
a lâmina. dro.
Os presentes sobressaltaram-se quan-
do a lâmina de aço quebrou e o diamante gou-o veementemente, afirmando que, A missão seguinte dos Asschers foi a rie
ficou intacto. Limpando a testa, Asscher longe de desmaiar, ele festejara o aconteci- (ornar a cortar e polir os dois pedaços, por
pediu outra lâmina. A pedra partiu-se em mento bebendo champanhe com os seus forma que os diamantes por eles produzi-
duas e - dizem os boatos — Joseph Ass- quatro irmãos e co directores da Joseph dos pudessem vir a fazer parte das jóias da
cher desmaiou de alívio. Mais tarde, ne- Asscher e Companhia de Amsterdão. Coroa de Inglaterra. Entretanto, os jornais
de todo o Mundo contavam aos leitores a
A PREPARAÇÃO DA "GRANDE PANCADA" história do que até ali se passara.
Joseph Asscher. lapidador de A pedra fora vista pela primeira vez quan-
Amsterdão, e os seus sócios do um operário que trabalhava tia Premier
estudaram o diamante Culli- Mine, perto de Pretória, capital do Transval,
nan — para decidirem se o reparou em qualquer coisa "grande e bri-
clivaoam ou o serravam em lhante" numa das paredes. Chamou o su-
dois. Em qualquer das hipóte- perintendente da mina, Frederick Wells, e
ses, havia o risco de a pedra se este retirou o «vidro» da parede com um
estilhaçar em fragmentos re canivete Mas breve se convenceu de que a
lativamente pouco valiosos. pedra era autêntica. Pesava cerca de 680 g
Após meses de deliberação, e media cerca de 10 cm de comprimento,
tendo em conta a forma invul 6,5 cm de altura e 12,7 cm de largura. Foi
gar e a estrutura da pedra, colocada no cofre da mina e levada mais
Asscher decidiu cortá-la. Fas tarde em cano de mulas até à sede da em-
sou duas semanas à sua presa, em Joanesburgo, a 80 km de distân-
mesa de trabalho, abrindo cia, juntamente com os restantes diaman-
um sulco na pedra com peda- tes extraídos nessa semana.
ços aguçados de diamante - Aí foi-lhe dado o nome do presidente da
pois só o diamante corta o companhia, Thomas Cullinan. Este, po-
diamante. Até que, no dia da rém, não ficou muito contente por possuir
'grande pancada", escreveu a pedra preciosa. Com um peso bruto
uma página na história do de 3106 quilates, o Cullinan valia mais de
corte de diamantes. três vezes o até então maior diamante
O PROGRESSO DO CULUNAN
DESDE PEDRA BRUTA A JÓIAS DA COROA

Os primeiro» cortes. A pedra foi cortada em três peças.

"^•Jfr/ir-V
Os pedaços maiores, foto fotografia mostra as sete pecas maiores em que seguidamente a pedra foi cortada. Apesar do seu tamanho,
pensava-se que o diamante era apenas uma parte de uma pedra muito maior. Marcas numa das suas faces sugeriam que ela fora "partida peia
Natureza". A família Asscher espera que um dia a "parte que falta" desta maravilhosa Jóia seja encontrada numa mina sul-africana.

Cullinan com vista a polirem o diamante. mante a salvo na sede da companhia, os


Após breve inspecção, os Asschers dis- Asschers dedicaram-se ao estudo da gran-
seram ao rei que o que ele pretendia era de pedra. Decidiram que ela se integrava
impossível: o diamante era imperfeito de na categoria mais elevada de uma escala
vido a uma grande mancha negra que se de nove cores que vai do branco-azulado
reflectiria através de todas as suas facetas. no topo até ao amarelo. A parte a mancha
O Cullinan teria de ir a Amsterdão para ser negra, era absolutamente pura.
clivado e libertado da mancha. O rei con- Quando o corte histórico foi executado,
cordou, e a imprensa foi informada de que as duas partes do diamante foram nova-
o diamante seria levado para a Holanda a mente clivadas e divididas em 7 grandes
Duas pedras preciosas gigantes. Gra- bordo de um contratorpedeiro poderosa- pedras preciosas e 98 menores lapidadas
dualmente, as duas pedras principais fo- mente guardado. em brilhante. Vinha a seguir a tarefa delica-
ram sendo lapidadas e polidas até assumi- Na realidade, um dos irmãos Asschers da de polir os diamantes.
rem a sua forma definitiva. — Abraham — limi- A maior das pedras aca-
tou-se a meter a pe- badas — o Cullinan I, ou
do Mundo, o Excelsior — descoberto noutra dra na algibeira no Primeira Estrela de África,
mina sul-africana, a Jagersfontein, em 1893. * Palácio de Bucking- em forma de pêra, pesan-
Dado o risco que o seu corte implicava, o ham e levá-la para do 530,2 quilates e com 74
sindicato londrino que possuía o Excelsior casa por comboio e facetas - foi colocada no
não conseguira vendê-lo em bruto. Thomas r ferry-boat. Ceptro com a Cruz. Esta
Cullinan temia que, dado o seu tamanho U m a vez o d i a - pedra é ainda o maior
sem precedentes, o seu diamante fosse ainda diamante lapidado do
mais difícil de vender. Mundo. O segundo em
Acabou por ser comprado tamanho - o Cullinan II,
pelo Governo do Transval ou Segunda Estrela de
por 150 000 libras, por su- África, oval, com 317,4
gestão do primeiro-ministro, i u i l a t e s e 66 face-
o general Louis Botha - que o tas — foi incrustado
deu de presente a Eduardo VII na Coroa Imperial
quando este fez 66 anos, em 9 de do Estado. Os dia
Novembro de 1907. O presente mantes fazem
foi considerado como um gesto de parte das jóias da
reconciliação definitiva a seguir à der- Coroa.
rota dos colonos holandeses pelos Os restantes dia-
Ingleses na Guerra dos Bóeres de mantes Cullinan vie-
1899-1902 e o estabelecimento ram a ser adquiridos
do Transval como colónia da Co- para a rainha Mary, mu-
roa Britânica. ler de Jorge V, filho de
0 diamante embarcou para In- Eduardo Vil. Duas das
glaterra no meio de grande publicidade, jóias foram aplicadas
incluindo boatos de que se enviava uma na própria coroa da
imitação para afastar eventuais ladrões e Glória régia. Em 1908, a menor das rainha Mary. As outras
de que a pedra verdadeira viria mais tarde. duas pedras, o Cullinan 11, foi incrustada entraram na herança da
No ano seguinte, o rei Eduardo convidou na Coroa Imperial do Estado Inglês, abai família real e são carinho
os irmãos Asschers — que em 1903 tinham xo do rubi Príncipe Negro. Dois anos de- sãmente apelidadas de "as
com êxito cortado e polido o diamante Ex- pois, o diamante maior, o Cullinan I, foi pedrinhas da avó" por Isabel
celsior - a irem a Londres examinar o montado no Ceptro com a Cruz. II, neta da rainha Mary.

145
perar-se que as gotas de água congelassem
facilmente. Mas a água pode estar alguns
Como é que um vedor encontra água graus abaixo desse ponto (sobrearrefeci
da) sem chegar a gelar.
ou minerais subterrâneos apenas Este fenómeno deve-se ao facto de a
água das nuvens ser absolutamente pura,
com auxílio de uma vara? sem poeiras ou outros contaminantes que
iriam constituir o centro de um cristal de
gelo. Se se lhe juntarem minúsculas partí-
Uma pintura rupestre com 8000 anos nas plano, a distância de cada um dos pontos culas, as gotas de água gelam e aumentam
montanhas do Atlas, no Norte de África, exteriores ao centro representa a profundi- rapidamente de volume até o seu tamanho
representa um ser humano usando aquilo dade a que deve encontrar-se a água. as fazer cair, fundindo-se depois devido à
que parece ser uma vara de vedor. Mas os Algumas empresas de engenharia civil temperatura mais elevada e chegando ao
primeiros vedores de que há notícia foram recorrem a vedores para a localização de solo sob a forma de chuva.
os mineiros medievais alemães dos cam- tubagens ou cabos subterrâneos quando Schaefer e Longmuir provaram que pe
pos carboníferos da Saxónia. O mineralo- fazem levantamentos dos locais das obras. querias partículas, habitualmente de iode-
gista alemão Agrícola (George Bauer) des Frequentemente, acham que as varas do to de prata, adicionadas a nuvens sobrear
crevia no século xvi a forma como os minei- vedor são de maior confiança do que os refecidas podem criar cristais de gelo que
ros se serviam de ramos de arvore em for- modernos instrumentos de detecção. crescem rapidamente Estas partículas têm
quilha para localizar veios ocultos. A bara Cientistas na União Soviética há anos sido lançadas de aviões, transportadas por
nesa de Beausoleil, de Nice, França, foi a que têm vindo a utilizar o processo na pes- foguetes ou mesmo libertadas ao nível do
primeira pessoa que se sabe ter utilizado quisa de jazigos de minérios e petróleo, solo para que as correntes de ar que sobem
este sistema para pesquisar água, pois des- bem como de cursos de água subterrâ- as levem para cima. Desde que as nuvens
creveu-o num estudo que data do século xvii. neos, designado por método dos efeitos estejam sobrearrefecidas, a técnica funcio-
Tradicionalmente, o vedor usa um pau biofísicos. na — aumentando a pluviosidade até um
em forquilha - em geral, um galho de Ninguém consegue explicar cabalmen quinto. Mas, uma vez que é impossível sa-
sabugueiro ou salgueiro em forma de Y. A te como o fenómeno actua, e muitos enca- ber quanta chuva teria caído naturalmente,
ideia do galho é amplificar o movimento ram os resultados com cepticismo. No en- ainda há muitas interrogações quanto à via-
involuntário dos músculos da mão quan- tanto, muitos vedores fazem descobertas bilidade económica do processo.
do o vedor descobre água. A forquilha é que não podem ser unicamente atribuídas
segura sob tensão, com um braço do Y em ao acaso. Einstein admitia que a explica-
cada mão virado para cima e a haste apon ção residisse no electromagnetismo, e os
tada para diante. Muitos vedores actuais
preferem usar dois varões de metal dobra-
estudos feitos por diversos cientistas suge-
rem que assim possa ser. Assim como se
Como se
dos em L, um em cada mão, seguros como
pistolas apontadas para a frente. Quando o
pensa que as aves em migração se orien
tam pelo campo magnético da Terra, as-
construirão os
"alvo" é atingido, os varões rodam e cru-
zam-se. O vedor avança lentamente, até o
sim os músculos do vedor podem reagir
quando ele, inconscientemente, se sinto-
aviões do futuro?
galho ou os varões começarem a torcer-so, niza com minúsculas flutuações provoca
a dobrar, a puxar para baixo ou até a salta- das pela água ou minerais subterrâneos. Em 1903, em Kittyhawk, na Carolina do
rem-lhe das mãos. Estes movimentos indi- Um investigador, o Prof. Yves Rocard, da Norte, o primeiro aeroplano do Mundo
cam o local onde se deve cavar para encon- Escola Normal de Paris, diz que um bom voou a apenas alguns metros do solo e à
trar aquilo que se procurava vedor tem menos resistência eléctrica en- velocidade de um cavalo de corrida. Me-
Um bom vedor calculará a profundida- tre as palmas das mãos do que um mau nos de 100 anos passados, os aviões de
de a que se encontra a nascente marcando vedor. Robert Ashford, vedor inglês, des- hoje viajam comummente a mais de 16 km
o sítio onde o sinal foi mais forte e irradian- creveu em 1977 como sentia choques eléc- de altitude e podem atingir a velocidade de
do dai' em várias direcções, assinalando os tricos por todo o corpo quando se encon- uma bala de carabina.
sítios onde sentiu novos sinais. Em terreno trava próximo de água subterrânea. Hoje, as companhias que constroem
aviões têm por objectivo produzir apare-
lhos ainda mais rápidos, mais fiáveis e mais
económicos. Por isso, procuram formas
Como e que se consegue fazer chover? que reduzam o atrito, materiais que (or-
nem o avião mais leve sem prejuízo da re-
sistência e sem afectar os custos e motores
Enquanto os Hopi, índios do Sudoeste milímetro ou mais, é que elas se precipi- que sejam de confiança e de manutenção
Americano, ainda hoje tentam fazer cho- tam sob a forma de chuva miudinha. As fácil, mas produzam maior propulsão com
ver sacrificando animais, outros adopta- gotículas mais pequenas evaporam-se an- menor dispêndio de combustível.
ram caminhos mais científicos. tes de tocar o solo.
Em 1946, Vincent Schaefer e Irving Uma das maneiras de as gotas aumenta- Pensando na velocidade
Longmuir iniciaram trabalhos nos Labora- rem de tamanho é pela congelação, o que A medida que as velocidades aumentam, a
tórios de Investigação da General Electric leva à formação de partículas de gelo. forma toma-se uma característica cada vez
em Schenectady, Nova Iorque, que prova- Numa nuvem que contenha partículas de mais importante. Os desenhadores de
ram que as nuvens apropriadas podiam gelo e gotas de água, as partículas de gelo aviões ensaiam as formas que idealizam
ser artificialmente levadas a produzir agua- aumentam rapidamente de volume à me- em computadores que simulam os fluxos
ceiros. As nuvens são formadas por biliões dida que as gotas se evaporam e o vapor é do ar em volta do aparelho; depois, usam
de partículas de água, demasiado peque- transferido para o gelo. Uma vez que a tem- um modelo à escala num túnel de vento,
nas para caírem sob a forma de chuva. Só peratura das nuvens está frequentemente em que o ar é sugado e passa pelo modelo
quando essas gotas atingem um quarto de abaixo do ponto de congelação, podia es- como se este estivesse a voar.

146
Estes ensaios proporcionam uma ideia
do comportamento do avião verdadeiro.
Todas as partes do protótipo são testa-
das em terra quanto às respectivas reac-
ções ao calor, ao ruído e aos esforços. Os
testes têm lugar em fornos, em câmaras
acústicas e em estruturas de ensaio de car-
ga em que as pressões são aplicadas hi-
draulicamente. Depois, o avião é experi-
mentado em voo.
Os ensaios no túnel aerodinâmico têm
levado os desenhadores a criar novas for-
mas para os aviões de alta velocidade. As
asas inclinadas para trás foram inventadas
para retardar a formação das ondas de cho-
que que afectam os aviões de asas perpen
diculares quando se aproximam da veloci-
dade do som. O choque é provocado pelo
facto de o ar que passa na parte de cima das
asas - mais rápido do que o que passa
sob as asas - atingir a velocidade do som,
isto é, cerca de 1200 km/h ao nível do mar.

Rumo
aos céus.
As asas de geome
iria oariáoel dào ao Panavia
Tornado uma forma convencional,
com um consumo racional de combustível
a baixas velocidades (ã esquerda) e o perfil
de uma seta (em cima), com as asas puxa
das para trás para voos supersónicos.
raio de acção A34Q/330, previstos para en-
trada em serviço em 1992.
Estes jactos terão também asas com pe-
quenas saliências triangulares nas extremi-
dades por cima e por baixo da ponta da asa.
Aqui, o ar a alta pressão que vem da parte de
baixo da asa provoca turbulência ao subir.
As saliências abrandam a velocidade do
fluxo de ar e reduzem a resistência.

Aliviando a carga
Por cada quilograma poupado no peso de
um grande avião comercial, poupam-se
cerca de 150 I de combustível durante um
ano de voo. Se um Jumbo Boeing 747 pe-
sasse menos 10%, os custos operacionais
durante os seus 20 anos de vida baixariam
cerca de 4 milhões de dólares.
Materiais mais leves, como a fibra de car-
bono, estão por isso a entrar na constniçáo
aeronáutica. Estes materiais foram criados
para serem leves e resistentes, mas sufi-
Superaerodinamismo Nos aviões, a resistência é causada por cientemente rígidos para náo vergarem
Os jactos do futuro terão provavelmente pequenos remoinhos que se formam com tis tensões do voo nem se deforma-
uma espécie de estrias de secção triangu- quando o ar passa pelas superfícies da fu- rem quando sujeitos a compressão.
lar ao longo da fuselagem, uma ideia retira selagem, pelo que a NASA ensaiou em tú- Lm avião experimental alemão ociden-
da da Natureza. São estrias como estas que neis aerodinâmicos a ideia das estrias apli- tal, o Egrett, foi criado para voar na estra-
contribuem para que os tubarões nadem cadas a aviões. Verificaram que estas redu- tosfera - entre 15 e 50 km de altitude. Por-
com rapidez, porque reduzem a fricção ziam a resistência do ar em 8% desde que que as asas compridas e estreitas são mais
entre a água e a pele, destruindo pequeni- mantidas dentro de limites bem definidos sujeitas a esforço que as curtas e largas, as
nas correntes revessas que aumentariam a de tamanho, ângulo e espaçamento. Cada do Egrett são feitas de carbono e fibra de
resistência ao movimento. O iate america- 1% da resistência que diminui representa vidro, combinação que lhes permite terem
no que ganhou a Amcrica's Cup em 1987, 1% de combustível poupado. A Airbus In- um comprimento 20 vezes superior à lar-
o Stars and Stripes, tinha um revestimento dustrie está a ensaiar as estrias em condi- gura. As asas de um avião convencional
com estrias deste tipo ao longo do fundo. ções de voo na sua série de jactos de longo feitas de uma liga de alumínio não podem

147
ler um comprimento que exceda cerca de sistema hidráulico de co-
oito vezes a largura mandos foram eliminados.
Materiais leves mas rígidos, como a fibra Em sua substituição, as su-
de vidro, tornaram possível a criação do perfícies de c o m a n d o ,
avião de rotor basculante — o aparelho como os ílups e os aiierons,
que poderá substituir o helicóptero —, cujos possuem pequenos activa-
motores e hélices se situam na extremida- dores hidráulicos ligados
de das asas curtas, pelo que estas tem de electricamente a um com
ser muito rígidas. putador e comandados por
0 Bell-Boeing V22 Osprey. avião ameri- sinais electrónicos. Este
cano de rotor basculante cm serviço desde tipo de sistema de transmis-
1988, levanta com as suas hélices com três são foi utilizado pela primei-
pás de 12 m rodando horizontalmente, ra vez nos aviões europeus
como o rotor de um helicóptero. Quando a de transporte Airbus da sé-
força de sustentação já é suficiente, as héli- rie A.Í00.
ces ínclinam-se 90" para diante para da- O regresso. Cientistas
rem a propulsão para a frente, idêntica a de Potência e hélices da NASA utilizaram estas
urn avião convencional. A velocidade de Os motores representam 20 hélices paru aumentar Q
cruzeiro do Osprey é assim de 576 km/h, a 30% do custo de um avião potência de um motor u
quase o dobro da de um helicóptero. Embora os motores a jacto jacto. Um diagrama de
O metal mais leve que se conhece c o tenham sido aperfeiçoados compa/ador assinalou 0
lítio. Combinado com o alumínio, produz para serem mais seguros e fluxo do ar. mostrando as
uma liga 8% mais leve que as outras ligas de menos ruidosos do que os áreas de baixa pressão
alumínio. I lm novo avião de passageiros, o de há 10 anos, a hélice está em azul e as de alta em
Boeing 7J7. economizará no peso devido agora a regressar. Fabricas castanho. A hélice pode
ao emprego, na construção, da liga de alu americanas como a Gene- rá i 'olrar aos jactos ca
mínio-lítio e de fibra de carbono. ral Electric e a McDonnell merciais nos anos 90.
Douglas ensaiaram já a utili-
Novos comandos zação de hélices curtas e largas ligadas á Velocidade, som e espaço
Outro aperfeiçoamento de concepção que parte posterior de um motor a jacto. As pás O focinho aguçado e as asas triangulares,
poupou peso e espaço foi a tecnologia de da hélice aceleram o ar que passa em volta inclinadas para trás. do avião de passagei-
comando por computador, que garante do motor, aumentando assim a propulsão ros anglo-francês Concorde tornam-no ca
também que os comandos do aparelho do avião. Estes motores propfun demons paz de viajar a velocidades superiores à do
não sejam forçados a operar para além dos traram produzir mais potência e gastar me som. Mas para evitar o ruído inaceitável da
limites da sua capacidade. As tubagens e nos 40% de combustível do que os moto- explosão sónica, a velocidade de voo so
depósitos que até aqui têm alimentado o res a jacto convencionais. bre terra firme tem de ser inferior á do som,
e o avião e antiecouómico a baixas veloci
dades. A 800 km/h, o Concorde gasta oito
vezes mais combustível do que alguns
aviões convencionais.
Uma das soluções para o problema da
forma adequada tanto para baixas como
para altas vel<xidades são os aviões de asas
de geometria variável, como o aparelho de
intercepção e ataque Panaria Tornado.
projectado conjuntamente por empresas
alemãs, italianas e inglesas. As suas asas
podem tomar uma posição praticamente
perpendicular à fuselagem durante os
voos a pequena velocidade ou inclinar-se
para trás para as altas velocidades; assim, o
avião pode cruzar a menos de 320 km/h ou
acelerar para Mach 2 cerca de 2250 km/h,
ou seja 0 dobro da velocidade do som.
Os aviões projectados para os anos 90
escaparão ao problema da explosão sóni-
ca, atravessando a atmosfera e entrando
em órbita durante parte da viagem - voan
do a 25 vezes a velocidade do som. Os
EIA têm em estudo um destes aviões.

As asas tia fama. O Voyager, de concepção


americana, no seu histórico OOO a volta da
Mundo, sem escala nem reabastecimento,
em Dezembro de 1986. A sua estrutura de
fibra de carbono permitiu-lhe carregar qua-
se cinco vezes o próprio peso em combustí-
vel, A viagem dai ou nove dias.
t
conhecido por avião espacial,
ou X30. Este avião é capaz de
levantar e aterrar em qualquer
aeroporlo, mas também de
transportar rapidamente passa-
geiros de Nova Iorque para Tó-
quio cm 2 horas em vez das ac-
tuais 14. O combustível dos seus
motores a jacto será provavel-
mente o hidrogénio, e a propul-
são no espaço será feita por fo-
guetes.

A volta ao Mundo
sem reabastecimento
Um voo de nove dias sem escala
à volta do Mundo, efectuado por
dois aviadores americanos em
1986, foi possível graças à leveza
do seu avião de fibra de carbo-
no. Esle avião de fuselagem tri-
pla, o Voyager, tinha uma enver-
gadura superior à do Boeing
727, mas pesava menos de I t,
pelo que pôde carregar cinco
vezes o próprio peso em com-
bustível - cerca de 5600 I.
Os pilotos deste primeiro voo
à volta do Mundo sem reabaste-
cimento foram Dick Rutan e Joa-
na Yeager. O cockpil na fusela-
gem central tinha aproximada- Recriando a lenda. Kaneilopoulos pedala no seu aeroplano a distância recorde de 120 km entre Creta e
mente o tamanho de uma cabi- Santorini, recriando a lenda de Dédalo, que fugiu de Creta com o auxílio de umas asas.
na telefónica. A maioria do espa-
ço no avião era ocupada pelos seus 17 Paul MacCready, engenheiro aeronáuti- tusiasta de ciclismo e de asa-delta Bryan
depósitos de combustível. O peso era um co e campeão de voo em planador, cons- Allen, de 24 anos.
factor de tal modo importante que, antes do truiu um aeroplano com 9 m de compri- Em 23 de Agosto de 1977, o Gossamer
voo, Jeana Yeager cortou os seus cabelos mento, 29 m de envergadura e apenas Condor percorreu 9 m de pista do aero-
compridos, poupando assim meio quilo. 32 kg de peso, o Gossamer Condor. Mac- porto do condado de Kern, em Shafter, Ca-
O avião linha dois motores, um em cada Cready estava decidido a ganhar o Prémio lifórnia, e levantou voo. Passou pela barrei
extremidade da fuselagem central. O da Kremer, instituído em 1949 pelo industrial ra dos 3 m e fez o percurso de 2 km em 7
frente, arrefecido a ar, foi parado ao fim de inglês 1 lenry Kremer para o primeiro aero- minutos e 22,5 segundos, ganhando o
três dias: tinha cumprido a sua missão de plano accionado pelo homem que percor- avultado prémio.
fornecer potência adicional para a desco- resse um dado circuito. Para o ganhar, o MacCready resolveu construir um aero-
lagem e enquanto o avião estava ainda Gossamer Condor tinha de fazer um oito plano mais sofisticado, o Gossamer Alba
muito pesado devido ao combustível. O da entre duas colunas distanciadas de 800 m, tross, para voar os 37 km do canal da Man-
popa, arrefecido a líquido, trabalhou qua- sobrevoando uma barreira com 3 m de al- cha. O avião tinha aproximadamente o ta-
se 250 horas - quase 10 vezes o tempo tura à partida e à chegada. manho do seu predecessor, mas era cons
que um motor convencional funciona MacCready construiu o aparelho com truído com materiais mais resistentes. As
sem manutenção. enormes asas para obler a máxima força asas e a fuselagem eram de plástico, refor-
de sustentação a muito baixa velocida- çadas com fibra de carbono e revestidas
de — cerca de 15 km/h. O Gossamer Con- com uma película de poliéster. Possuía um
dor foi construído com tubos de alumínio mecanismo de comando mais aperfeiçoa-
Como é que voa ligados com cordas de piano. Os outros
materiais foram a balsa, o cartão canelado
do e era manobrado por um par de asas
pequenas, munidas de ailerons ajustáveis,
um aeroplano (que formava os bordos de alaque das
asas), espuma de plástico e folha de plásti-
adiantadas em relação às asas principais.
Em 12 de Junho de 1979, pilotado por
accionado pelo co para fechar a cabina e forrar as superfí-
cies de voo. O aparelho era accionado por
Bryan Allen, atravessou o Canal à altitude
média de apenas 75 cm, levando um pou-
homem? uma corrente de bicicleta ligada a uma
grande hélice por detrás da cabina e co-
co menos que três horas.
Em Abril de 1988, num voo ainda mais
mandado por uma alavanca que torcia as espantoso, Kanellos Kaneilopoulos, por
São milhares as histórias fabulosas de ho- asas. MacCready calculou que, para voar 14 vezes campeão grego de ciclismo, re-
mens voadores, mas a proeza real data em linha recta, precisaria de uma potência constituiu a história de Dédalo. Segundo
apenas de 1977. As anteriores tentativas de de cerca de um terço de cavalo-vapor - uma lenda grega, Dédalo e seu filho ícaro
voo falharam porque os materiais eram próximo do limite que um homem conse- fugiram do labirinto do rei Minos, na ilha
demasiado pesados para serem impulsio- gue produzir mesmo durante poucos mi- de Creta, voando com asas feitas de cera e
nados pela força muscular do homem. nutos. O aeroplano seria pilotado pelo en- penas. Ícaro aproximou-so demasiado do

149
trarn a diferentes altitudes e
distâncias da mãe.
O primeiro avião é intro-
duzido no controle de radar
e dirigido para o sistema de
aproximação, comandado
pelo porta aviões. Recebe
rá instruções para descer
para 1500 pés (460 m), onde
há ainda nuvens, chuva e
turbulência. Ordena-se ao
piloto que faça as suas verifi
cações prévias com o auxí-
lio do controlador aéreo no
porta aviões, que lhe dá in
formações sobre as condi-
ções do tempo à superfície.

Recolha
A mãe aponta entáo ao ven-
to e começa a "recolha". O
avião, controlado pelo ra-
dar, entra numa descida de
aproximação de 3°. Esta é a
faixa de aproximação ideal,
e o controlador avisa o pilo-
to caso ele se desvie dela. A
800 m do navio, o piloto re-
cebe instruções para voar à
vista até aterrar.
O piloto tem agora corno
pontos de referência as lu-
Aterragem no mar. Um jacto F-4 Phantom aterra no porta aviões Ark Royal, da Marinha Britânica. 0 avião zes de tombadilho ria mãe e
estaca no espaço de 90 a 135 m, quando o gancho da cauda se prende nos cabos de aço do convés. a mira de projectores — sé-
rie de luzes no porta-aviões
Sol, as asas derreteram-se e ele caiu e mor- que indicam a posição rio avião em relação
reu. Dédalo conseguiu chegar à ilha de à descida de aproximação ideal por meio
Sanlorini, 120 km a norte de Creia. Como os aviões de luzes verdes, vermelhas e amarelas. Co-
locado junto à mira de projectores, está
O aeroplano de Kanellopoulos, o Déda-
lo, foi projectado pelo Massachusetts Insli- pousam num um oficial de segurança de alerragem, que
observa a aproximação e transmite ao pilo-
tute of Technology c pelo Museu Nacional
do Ar e do Espaço, em Washington, e Ka- porta-aviões to: "Ligeiramente alio, um pouco para a
esquerda. Mais potência. Continuar." Estas
nellopoulos foi apoiado por 36 cientistas,
engenheiros e meteorologistas. O custo lo- com mau tempo correcções dão ao piloto do avião informa-
ções vitais, além de uma sensação de segu
tai foi de 1 milhão de dólares.
Com uma envergadura de 34 m (maior rança.
que a do Concorde), o Dédalo pesava ape- Imagine se um porta-aviões balançando
nas 32 kg, sendo construído em fibra de num mar bravo. As nuvens o a chuva redu- A salvo de volta à máe
carbono e em keuiar, um material sintético zem a visibilidade. Um caça monolugar Desde que o piloto acate as correcções vi-
cinco vezes mais forte que o aço e mais voa a 300 km de distância já com pouco suais e verbais, o gancho da cauda do seu
leve que a fibra de vidro. Kanellopoulos, de combustível, pelo que tem de regressar à avião prender-se á num dos quatro cabos
30 anos, treinou-se durante meses para o «mãe» (porta-aviões). de aço que atravessam o tombadilho. Estes
voo, que os cientistas equipararam ao es O caça sobe para utilizar o combustível cabos, colocados longe da popa para que
forço de duas maratonas. do modo mais eficiente e marca o rumo os efeitos do balanço do tombadilho se-
As condições meteorológicas atrasaram para a posição em que foi informado estar jam menos intensos, detêm o avião num
o voo por 25 dias, mas em 23 de Abril a mãe. O rumo é acertado por sinais de espaço notavelmente curto: os aviões ater-
estavam perfeitas. Kanellopoulos voou a radar emitidos pelo porta-aviões ou por ram a cerca de 250 km/h e estacam ao fim
cerca de 6 m acima do mar, à rnédia de um avião avisador avançado, enviado por de 90 a 135 m. Nesta altura, a tripulação do
30 km/h, com vento a favor. O voo não teve aquele em patrulha. Quando o piloto che- tombadilho entra em acção o o controla-
problemas até ele ter de virar o aparelho ga a 190 km da mãe, obtém a posição rigo- dor começa a orientar a descida do avião
contra o vento para aterrar em Sanlorini: as rosa desta pelo radar do avião ou por um seguinte, pois o seu objectivo é fazer aler
velas e a cauda partiram-se e o avião caiu auxiliar da navegação por rádio, como o rar um avião por minuto. Como seria peri-
no mar a poucos melros da costa. Após TACAN (tactical air nauigation, ou nave- goso manobrar o avião num tombadilho
quase quatro horas de esforço, Kanel- gação aérea táctica). O piloto desce e entra molhado c balouçante, o avião é rebocado
lopoulos conseguiu arrombar a cabina e numa órbita, a "espera", a uma distância por um tractor especial para o estaciona-
nadar para terra. Voara 120 km, batendo o de cerca de 25 km do porta aviões. Outros mento, onde lhe são travadas as rodas e
recorde da distância de voo impulsionado aviões podem estar nessa altura a enirar passados cabos que o prendem ao convés.
pelo homem. noutras esperas, mas todas estas se encon Fim de manobra.

150
Catapultas a
vapor: lançamento
de aviões de um
navio
Sem as catapultas a vapor, a maioria dos
aviões modernos não conseguiria desco-
lar dos navios que os transportam.
Em operação, o avião dirige-se à sua po-
sição, onde uma argola, chamada hold-
back, faz a ligação entre a cauda do apare-
lho e um ponlo fixo do convés; a argola
tem no meio um elo fraco. Uma barra de
reboque perto da roda da frente do avião é
descida até uma "lançadeira", que prende Descolagem por catapulta. Um jacto F-4 Phantom preparase para levantar voo. Uma
o avião à catapulta com um mecanismo de barra de reboque prende a frente do aoião ao mecanismo da catapulta a vapor.
engate. É a única parle da catapulta visível
acima do tombadilho de voo. do avião à máxima potência. 0 avião man- lançadeira volta depois à posição inicial
Dois cilindros paralelos, com pelo me- tém-se imobilizado pelo holdback, mas para novo lançamento — um porta-aviões
nos 45 m de comprimento, estão coloca- quando a catapulta é disparada, as forças pode assim lançar um avião em cada dois
dos debaixo do tombadilho, à frente do combinadas da pressão do vapor e dos minutos. Os porta-aviões americanos po-
avião. No seu interior, funcionam dois pis- motores do avião rompem o elo fraco; o dem ter até quatro catapultas, lançando as-
tões presos à lançadeira. O vapor é forneci- avião é então atirado para a frente, atingin- sim uni avião em cada 30 segundos.
do aos cilindros pelas caldeiras do navio do a velocidade de 250 km/h em 45 m. A catapulta a vapor foi inventada por C. C.
através de um acumulador de pressão. No final do percurso, o aparelho solta-se Mitchell, da Marinha Britânica, e instalada
Esta pressão varia conforme o peso do da lançadeira. Sondas no topo dos pistões para ensaios em 1949. Depois de a Marinha
avião a lançar. vão de encontro a um depósito de água, Americana a adoptar em 1954, os porta-
Para descolar, o piloto põe os motores fazendo-os parar num pequeno espaço. A aviões de todo o Mundo começaram a usá-la.

As tácticas dos modernos pilotos de caça


O piloto de um Sopwith Camel voando a rem sequer a verse. De cada cinco pilotos primeiro alerta do um ataque seja radar
cerca de 160 km/h na I Guerra Mundial po- abatidos, quatro não chegam a ver os seus instalado no solo, seja instalado a bordo de
dia virar em pouco mais de 70 m para esca- atacantes. outros aviões.
par às metralhadoras de um triplano ale- O problema para todos os pilotos de Um tipo de avião de primeiro alerta é o
mão Fokker. Em 1953, um caça americano caça rnantém-se o que era nos primeiros subsónico americano E-2C Hawkeye. Na
Sabre F-86 voando a 960 km/h na Guerra dias dos combates aéreos localizar e invasão israelita do Líbano em 1982, este
da Coreia precisava de mais de 2,5 km para destruir o inimigo, conservando-se vivo. avião foi tão eficaz na localização do inimi-
fazer manobra idêntica. Ser o primeiro a localizar o inimigo, usual go (às vezes ainda antes de este descolar)
Os actuais caças a jacto voam a mais de mente delectando-o pelo radar, é a primei- que os Israelitas destruíram mais de 80
2400 km/h, e os seus círculos de viragem ra prioridade. Por isso, os modernos caças aparelhos sírios, sofrendo apenas uma
são tão largos — perto de 25 km — que é fazem parte de um complexo sistema de perda, embora ambos os lados utilizassem
difícil aos pilotos de ambos os lados chega- defesa que utiliza o radar (v. p. 154) como jactos supersónicos com velocidades de
ponta semelhantes.
Guerra computorizada. Imagens computorizadas aparecem na linha de visão do piloto. Os AWACS (designação por que são co-
As imagens permitem-lhe fixar o seu rumo sobre um aoião inimigo e abatê-lo. nhecidos os aviões do Airborne Warning
and Control System, ou Sistema Aéreo de
Alerta e Controle) da NATO podem voar
sem reabastecimento durante 10 horas,
enviando sinais de radar para a sua base
em terra até distâncias de quase 400 km. O
radar do avião tem um alcance até 640 km,
dependendo da altitude de voo. Os com-
putadores do avião podem detectar simul
taneamente 500 aviões inimigos e transmi-
tir instantaneamente informações às bases
de comando em Inglaterra.
Para evitarem a detecção pelos radares
instalados em terra, os pilotos voam a rasar
Disparo de foguetes. Chamas brilham sob as asas deste jacto de descolagem vertical, o Harrier, quando ele dispara foguetes SNEB,
bombardeando um alvo inimigo em terra. O Harrier pode transportar mais de 41 de armamento - bombas, mísseis, foguetes —. pelo que não
só é muito V&sálll em combate aéreo, como também pode destruir aviões inimigos ainda no chão e dar apoio a forcas terrestres.

o solo. A este nível, a curvatura da Terra, os A técnica hoje ensinada pelas forças aé- diminuir a velocidade, o que evita que ul-
montes e os edifícios escondem o apare- reas é a de atacar o inimigo tão rapidamen- trapasse o avião inimigo no final da picada.
lho dos sinais de radar Durante os treinos te quanto possível. Assim que o avião ini- Esta manobra é frequentemente executa-
em tempo de paz, os pilotos aprendem migo é avistado, o atacante tenta aproxi- da em pares, sendo o "chefe" protegido
estas tácticas voando a 75 m para evitar o mar-se dele o suficiente para captar na sua por um "asa", que se coloca em posição de
incómodo do ruído, mas têm de estar pre- mira a parte mais vulnerável do outro ataque para o caso de o inimigo sobreviver
parados para, numa guerra, voarem o avião, o cockpit, durante apenas meio se- e voltar ao combate.
mais baixo possível. Se tiverem de entrar gundo — quanto basta para o abater. Se dois adversários se perseguem em
em combate, tomam então altura para ob- Ainda hoje são ensinadas nalgumas for- círculo aproximadamente à mesma velo-
ter espaço de manobra. ças aéreas tácticas de combate usadas na cidade, o agressor pode usar a táctica do
Voar em formação cerrada — em que, Guerra da Coreia. Uma destas é o ioiô a alta ioiô baixo para se aproximar. Pica para o
às vezes, os aparelhos estão separados por velocidade. 0 piloto atacante sobe quase a centro do círculo e sobe por baixo do ad-
escassos metros — confunde também o pique para uma posição acima do seu ad- versário enquanto este continua a dar a
radar inimigo, que não consegue distin- versário e pica sobre ele vindo da direcção volta. Ao eliminar um sector do círculo de
guir o número de aviões da esquadrilha. do Sol. Depois, executa um tonneau para voo, ele consegue aproximar-se o suficien-

152
Manobra defensiva de um
"Harrier". Procedendo a uma mano-
bra sem par, um Harrier (rosto azul)
abale um caça inimigo mais rápido
(rasto laranja). 1. O I larrier detecta
o avião inimigo atrás de si. 2. 0
inimigo está em posição de guns segundos é-lhe possível reduzir a ve-
disparar. 3. O Harrier apon- ocidade horária em 320 km, continuando
ta para baixo as lubeiras com os motores à potência máxima.
dos seus jactos, perden- Os mais recentes jactos de combate,
do subitamente veloci- como o F-16 Fighting Falcon americano,
dade e forçando o inimi- caça polivalente com uma velocidade má
go a ultrapassá-lo. 4. O xima de 2145 km/h, são construídos tendo
outro caça. agora na frente, tor- em vista uma grande capacidade de mano-
nase um ahx> fácil. bra. A concepção revolucionária do Falcon Um princípio semelhante é usado no
proporciona-lhe um centro de gravidade F/A-18 Hornet da Marinha Americana
te para disparar um canhão ou um míssil tão recuado que o avião está sempre pesa- - velocidade máxima, 1915 km/h -,
térmico. Na maior parle, os aviões inimi- do de cauda e, no solo, parece estar na avião cujos computadores se sobrepõem
gos são destruídos em combate por mís- posição de descolagem. Pode ser colocado ao piloto caso este cometa um erro, como
seis que buscam o calor, como o Sidewin- muito rapidamente em subida apertada, subir a pique com pouca velocidade.
der, que persegue o calor do escape do mas precisa de um computador integrado Os computadores são também a chave
inimigo e pode ser disparado a uma distân- para controlar as superfícies de comando do êxito nos combates a velocidades su-
cia de 18 km. Quando um piloto se aperce- de voo — os flaps, os ailerons e os lemes de persónicas. O piloto utiliza-os para obter
be de que um míssel foi lançado contra ele, direcção e de profundidade. O computador informações de pormenor sobre a altitude,
inicia um percurso em ziguezague ou lan- está continuamente a ajustar esses coman- direcção e velocidade de aproximação do
ça foguetes para atrair e desviar o míssil. dos com movimentos tão pequenos e rápi- seu alvo. Os pormenores são apresenta-
As reacções rápidas, a experiência e a dos que nenhum piloto conseguiria fazê- dos na sua linha de visão num HUD (head
capacidade de decisão do piloto são ainda -los por si. O manche, sensível a alterações up display), com écran transparente colo-
mais importantes que a electrónica do mínimas da pressão dos dedos do piloto, cado à sua frente, permitindo lhe ler as in-
avião. Em geral, a vitória cabe ao avião envia mensagens electrónicas aos compu formações sem desviar os olhos. As ver
mais rápido, mas nem sempre assim acon- tadores, que por sua vez as transmitem ao soes mais recentes projectam as informa-
tece, como no caso do Harrier, avião sub- sistema hidráulico que controla as superfí- ções sobre a viseira do capacete do piloto,
sónico com uma impressionante capaci- cies de comando de voo. Este sistema é que actua igualmente como mira. O piloto
dade de manobra. Este avião pode aterrar e conhecido por fly-by-wire (pilotagem por olha para o alvo ao longo da mira, fixando-
descolar na vertical, e o piloto pode alterar, sinais eléctricos), pelo que os pilotos do -se depois nele ao premir um botão. O ra
durante o voo, o ângulo de impulso dos F-16 deram a esle avião a alcunha de o Jacto dar e outros sensores localizam o alvo, po-
motores, orientando as respectivas tubei- Eléctrico. Sem os seus computadores, ele dendo então ser feito um disparo, seja au-
ras de escape. Deste modo, em apenas al- não conseguiria erguer-se do solo. tomaticamente, seja pelo piloto.

Ataque e defesa. O piloto de um Tornado F-3 (à esquerda) demonstra uma


táctica de combate aéreo utilizada desde a I Guerra Mundial. Ele sobe rapidamen-
te acima do avião inimigo, depois pica sobre este vindo da direcção do Sol para
que o piloto inimigo fique encadeado. Ameaçado por um atacante (em cima), o
piloto de um F-16 Fighting Falcon americano dispara foguetes para desviar mísseis
lerrnoguiados. Os mísseis inimigos são atraídos pelo calor dos foguetes.

153
IDEIAS PRÁTICAS E SOLUÇÕES ENGENHOSAS

Como os aviões e os navios


"vêem" com o radar
Os morcegos voam emitindo sons agudos rologistas utilizam redes de
que são reflectidos para os seus ouvidos radar para localizar as nu-
quando encontram qualquer obstáculo. O vens de chuva ou de neve.
radar funciona de modo semelhante, mas Os aviões de carreira estão
Utiliza sinais de rádio reflectidos para de- equipados no nariz com
tectar objectos até 3200 km de distância. pesquisadores de radar que
Sem ele, o complicado controle de tráfego dão ao piloto um mapa do
aéreo e os sistemas avançados de alerta de tempo que faz até 320 km à
mísseis seriam impossíveis de operar, e os sua frente, para que ele pos-
navios no alto mar arriscar-se-iam a coli- sa evitar as tempestades.
sões em tempo de nevoeiro ou à noite. Em casos de necessidade, o
0 radar deriva o seu nome de radio detec- piloto pode inclinar o pes-
tion and ranging (detecção e telemetria quisador para obter um ma-
por rádio). Surgiu na Europa e na América pa do terreno a sobrevoar.
durante os anos 30, depois de o engenhei As naves espaciais e os
ro italiano Guglielmo Marconi (o pioneiro satélites em órbita à volta
Navios a vante. Num petroleira, um écran de radar contra
da rádio) ter sugerido a ideia em 1922. da Terra empregam feixes
de radar para obter infor- colisões mostra os outros navios com pontos e a direcção com
O navio francês de passageiros Norman- mações sobre a superfície pequenas rectas. A linha maior indica o rumo do petroleiro
die — que em 1935 estabeleceu o recorde do planeta destinadas aos cartógrafos, aos
da travessia do Atlântico em pouco mais de geólogos e aos oceanógrafos. O radar é nésimos de segundo). Medindo-se o tem-
quatro dias - foi equipado com radar em igualmente utilizado para recolher dados po que um sinal demora a voltar, torna-se
1936 para a detecção de icebergues. sobre a superfície de outros planetas. possível calcular a distância ao alvo.
O moderno radar é suficientemente Se o objecto está em movimento, o sinal
sensível para localizar todos os aviões que de retorno tem uma frequência ligeira-
se aproximam de um aeroporto movi Como funciona o radar mente diferente do de saída. Esta mudança
mentado, permitindo aos controladores O equipamento básico do radar consiste na frequência é conhecida por efeito de
do tráfego aéreo mantê-los a altitudes dife- num emissor para gerar os sinais de rádio, Doppler e é causada pela acumulação das
rentes enquanto organizam as rotas de num pesquisador giratório — a antena ondas de rádio quando um objecto se
aterragem. Os aviões de carreira estão que envia e recebe os sinais — e num aproxima ou pelo seu espaçamento quan-
equipados com um radar-farol, ou irans- écran no qual são exibidos os sinais reflec- do ele se afasta. Por este efeito, os operado-
ponder (transmissor-respondedor), na tidos. Os sinais de rádio são transmitidos res de radar conseguem distinguir um ob-
parte inferior. Este emite os seus sinais de por impulsos (disparos curtos) na fre- jecto que se move de um objecto estado
radar para o solo e recebe-os reflectidos, o quência das microondas, entre 1000 e nário (como uma montanha) e calcular a
que permite ao piloto conhecer a altitude a 35 000 ciclos por segundo. Em compara direcção em que ele se desloca. Pela ampli-
que voa. O radar-farol reflecte ainda os si- tude do efeito podem igualmente calcular
ção, as ondas sonoras dos sinais do morce-
nais dos dois sistemas de radar do aeropor-
go têm frequências de 30 a 120 000 ciclos a velocidade. Os feixes de microondas de
to: o primário, que avisa da aproximação e
por segundo. Os impulsos do radar estão radar emitidos pelas naves ou satélites em
distância do avião, e o secundário, que en
sincronizadas por forma que um sinal atin- órbita respondem diferentemente às situa
via sinais em código ao transponder, o
qual informa o aeroporto da identidade e ja o alvo e regresse à fonte antes da emissão ções que encontram - florestas densas
altitude do avião. do sinal seguinte. Como as ondas de rádio ou campos cultivados, por exemplo. Com-
se propagam à velocidade da luz, cerca de putadores analisam as diferentes intensi-
Os sinais de radar podem igualmente ser 300 000 km/s, os intervalos das pulsações dades dos sinais de retorno e constroem
reflectidos pelas gotas de chuva. Os meteo- são medidos em microssegundos (milio- uma imagem da superfície.

VENDO ATRAVÉS DA AGUA POR MEIO DE ECOS SONOROS


O naufrágio do navio de passageiros bem como na investigação e na carto-
grafia dos fundos. Pulsações sonoras,
Defesa contra
Tííanlc, em 1912, devido à sua colisão
com um icebergue, levou os cientistas
a procurarem uma forma de detectar
geradas electronicamente, são emitidas
através da água e reflectidas para o navio
torpedos e mísseis
obstáculos submersos. O moderno so- por qualquer obstáculo até uma distân-
nar [sound detection and ranging, ou cia de 10 km. Os sinais reflectidos sáo Em Maio de 1987, dois mísseis Exocet atin-
detecção e telemetria por meio do apresentados num écran. giram a fragata americana Slark no golfo
som), que usa os ecos dos sons emiti- O som propaga-se na água a cerca de Pérsico, matando 38 homens. O piloto ira
dos, foi criado pelo cientista francês 1500 m/s - cerca de quatro vezes mais quiano que disparou os mísseis nunca
Paul Langevin. rápido que no ar. Como acontece com o chegou a ver o alvo. a não ser no seu écran
Actualmente, o processo é utilizado radar, a distância ao obstáculo é calcula- de radar - estava a cerca de 50 km quando
na navegação marítima para determinar da a partir do tempo de retorno do eco, e os lançou. Por seu lado, a tripulação do
a profundidade da água e pelos barcos o efeito de Doppler das ondas sonoras Stark só se apercebeu rios mísseis poucos
de pesca para localizar os cardumes, indica se o objecto está em movimento. segundos antes de ser atingida.
A primeira fornia de defesa contra ataques

154
Como os mísseis são guiados até ao alvo

Teste de um míssil de cruzeiro. Lançado de um submarino a 640 km de distância e guiado por uni computador que monitoriza o terreno
que sobrevoa, um míssil de cruzeiro americano Tomahawk atinge uma edificação na ilha de San Clemente, na Califórnia

Os fogueies alemães V-2, utilizados no fi- ma de orientação diferente. A resposta como o Rapier, inglês, ou o Roland, franco-
nal da II Guerra Mundial, possuíam um sis- consiste num míssil autoguiado equipado alemão, que usam radar no solo ou siste-
tema de orientação bastante primitivo e com um computador que substitui o ope mas ópticos para detectar o alvo e seguir o
eram pouco certeiros. Desde os anos 40, rador humano. Esles mísseis têm um al- míssil depois de lançado. Computadores
foram criados muitos sistemas de orien- cance de cerca de 50 km. A sua fornia de enviam depois instruções por rádio até ao
tação de precisão para todos os lipos de orientação pode ser activa ou passiva. míssil, dirigindo o até ao alvo. O Rapier
míssil. Outras armas que empregam orienta- tem um alcance de cerca de 6,5 km, en-
0 sistema de orientação mais simples é ção activa são os mísseis terra-ar (SAMs), quanto o do Roland é de 6 krn.
o olho humano. Os mísseis anticarros, Na orientação passiva, o míssil é guiado
como o Milan, franco-alemáo, o AT-3 Sag por sinais vindos do próprio alvo — em
ger, soviético, ou o Swingfire, inglês, pos- geral, sinais de radar ou térmicos. Os mís-
suem um fio delgado que os liga ao joy- seis americanos Sidewinder ar-ar c Stinger
Stick miniatura manejado pelo apontador. terra-ar detectam as radiações infraverme-
A ligação por fio é simples e, ao contrário lhas do escape dos aviões. São conduzidos
de um sinal de rádio, não sofre interíerên por um computador integrado que accio-
cias. No entanto, a necessidade de o ter na pequenas aletas na parle da frente e,
restringe o alcance do míssil e, em certa uma vez lançados, o operador nada mais
medida, a sua velocidade, pois a rapidez lem a fazer; são mísseis de "lançar-e-es-
com que o fio pode desenrolar-se tem limi- quecer".
tes. Os mísseis guiados por fio são apenas Os mísseis antinavios, como o Exocet
eficazes contra tanques ou outros alvos re- criado pelos Franceses, são apontados au-
lativamente lentos que podem manter-se Dirigidos por fios. Ligado por fio ao lan- tomaticamente pela inlroduçáo da posi-
visíveis durante todo o trajecto da arma. çador c guiado por um operador humano, ção do alvo num computador de lança-
Para atacar aviões é necessário um siste- um míssil antkarro Milan procura o aluo. mento. Os mísseis estão munidos de siste-
mas de navegação por inércia, que apu-
ram constantemente a posição exacta do
míssil, detectando todas as alterações da
direcção e velocidade desde o momento
do lançamento. Todas estas alterações são
monitorizadas por um computador exis
tente no míssil, o qual, se verifica que este
se afasta do alvo devido a ventos fortes ou
por oulros motivos, ajusta pequenas aletas
que o devolvem ao rumo correcto. Quan

Mísseis antinavios. Um míssil Exocet lun


çado de um auião dirige se ao alvo, rosan-
do a água a cerca de 2,5 m. Um radiultinie
tro a bordo do míssil mede e controla a sua
passagem por cima das ondas.
do o computador de bordo calcula que o Mesmo numa noite que a maioria das
míssil está a 15 km do alvo, põe em funcio- pessoas classificaria de escura como breu,
namento um scanner de radar que detecta há alguma luz, ainda que só a das estrelas.
o navio. O computador calcula então o ca- Nessas condições, um soldado consegue
minho percorrido pelo alvo desde que o apontar correctamente a um alvo a mais
Exocel foi lançado e ajusta o novo rumo. de 350 m, Versões mais potentes, com o
Os mísseis de cruzeiro de longo alcance alcance de I km, são usadas em peças de
utilizam o mais sofisticado de todos os sis- artilharia, tanques, helicópteros e aviões.
temas de orientação, o TERCOM {terrain Não havendo o mínimo de luz _^^
contourmatching ou comparação topo- das estrelas, utiliza-se
gráfica). Nos computadores de bordo do um aparelho
míssil existe um modelo tridimensional do diferente
terreno que ele sobrevoará. Cada ponto do uma câmara de
solo é registado segundo um conjunto de infravermelhos,
números indicando a sua posição e a altu- que detecta o ca
ra a que o míssil o sobrevoa. Estes mísseis lor em vez ria luz.
voam a alturas entre 15 e 90 m. À mediria Objectos que ge-
que o míssil avança, os seus altímetros me- ram calor - aviões,
dem rigorosamente os contornos do terre- escapes de mísseis,
no em baixo, comparando-os com as in- fogueiras de acam-
formações contidas no computador, a fim pamentos, por exem
de manter o rumo do míssil. Os instrumen- pio - podem ser de-
tos localizam lambem o alvo e fixam nele o tectados de urna distân
seu rumo. Depois de um voo de mais de cia de vários quilóme-
2500 km, o míssil atinge o alvo com uma tros. Estas miras são utili-
margem de erro de 15 m. zadas como rotina nas
Em comparação com estes, os mísseis operações de reconheci-
balísticos intercontinentais são relativa mento As câmaras de infra- Visão nocturna.
mente pouco certeiros. Ao serem lança vermelhos detectam igual- Aproveitando a iluminação de
dos. utilizam o seu sistema de navegação mente o calor do corpo de rua e a luz geral da cidade, a nightsight de
por inércia a fim de estabelecerem o rumo, um soldado inimigo. Quando um soldado detecta um terrorista a 80 rn
mas depois voam como um dardo — cain- a nightsight fizer parte do equipamento de de distância (em cima). Mesmo numa noi-
do no solo num local determinado pela todos os soldados, tanques e aviões, será te sem Lua e dentro de um bosque, a luz
sua velocidade inicial, direcção e elevação. possível combater durante 24 horas por dia. das estrelas ilumina esle alvo a 30 m.
Os mais certeiros mísseis americanos, os
Minuteman III, têm uma margem de erro
de 220 m do seu alvo, o que, dada a enor-
me potência das suas ogivas nucleares, é
suficientemente perto.
Porque é que uma bala de carabina
faz um percurso rectilíneo?
Como um soldado Os antigos mosquetes e espingardas eram transformado na bala com a forma que é
hoje vulgar alongada com ponta cóni-
pouco certeiros. Disparavam bolas de
consegue "ver" chumbo que eram carregadas pela boca
do cano. Mesmo que uma dessas bolas
ca. O seu melhor aerodinamismo aumen-
tou-lhes o alcance e a precisão, mas ainda
na escuridão estivesse bem apontada ao alvo, ao sair do
cano riesviava-se frequentemente.
eram difíceis de carregar.
Em 1847, Claudc-Eticnne Minié, capitão
I loje em dia, a bala vai em linha recta — do Exército Francês, inventou uma bala de
A nightsight (mira de visão nocturna) mas como é que isso foi conseguido? chumbo com a base ligeiramente côncava
transforma, para um soldado, a noite em As bolas de mosquete entravam à vonta- Quando a bala era disparada, a base de
dia, o que significa que a escuridão deixou de no cano, que era liso. Ao serem dispara- chumbo macio expandia-se para se ajustar
de ser um refúgio para as tropas inimigas. das, batiam de um lado e outro no interior à estria. Estas balas podiam ser introduzi-
Com uma nightsight, os seus movimentos do cilindro, de onde saíam com uma direc- das no cano fácil e rapidamente, tornando
são facilmente detectáveis, expondo-os a ção imprevisível. Além disso, qualquer ir- prático o uso de armas estriadas na guerra
fogo seguro. regularidade de forma fazia-as oscilar em Foram pela primeira vez usadas em lar-
A nightsight assemelha-se a uma mira voo. Já em 1500 surgiu uma solução para ga escala na Guerra da Crimeia (1853-56)
telescópica grande e permite ao soldado estes problemas: primeiro, as bolas passa- e na Guerra Civil Americana (1861-65).
ver claramente em qualquer noite (excep ram a ajustar-se bem aos canos para evitar Na década de 1870, a criação de invólu-
to as demasiado escuras), pois amplifica a o efeito de ressalto; depois, passaram a fa- cros de metal para conter a carga rietonan
luz do luar e das estrelas. Primeiro, uma zer se entalhes em espiral no interior do te levou às espingardas rie carregamento
célula fotoeléctrica de grande sensibilida- cano, as estrias, que obrigavam a bola a pela culatra, em substituição das de carre
de converte a imagem num sinal eléctrico, girar ao longo do percurso. Lima bola que gar pela boca. Balas revestidas de bronze
corno numa câmara de televisão. Depois, gira mantém a sua trajectória no ar, pois ou de bronze maciço foram produzidas
esse sinal eléctrico é ampliado por circui- qualquer tendência para se desviar num para as armas de carregamento pela cula-
tos semelhantes aos de um amplificador sentido é contrabalançada quando a bola tra em 1886. Tinham uma penetração con-
de som e, finalmente, transformado numa gira e tenta desviar-se no sentido oposto. siderável, atravessando blindagens que te-
imagem e apresentado num écran. Por volta de 1840, as bolas tinham se já riam detido as balas de chumbo macio.

157
sões; a reacção auto-extingue-se — não há
possibilidade de explosão.
A massa de material tal que uma gera-
ção de neutrões dá origem, em média, a
um número igual de neutrões na geração
seguinte chama-se massa crítica. (Os com
plicados controles de um reactor nuclear
destinam-se a mantê-lo exactamente críti-
co; a energia libertada é então constante
ao longo do tempo, e a reacção em cadeia
diz-sc controlada.)
A massa crítica de plutónio ou de urâ-
nio-235 corresponde a uma esfera do ta-
manho de uma toranja; qualquer massa
superior à crítica pode sustentar uma reac-
ção em cadeia crescente — e portanto dar
origem a uma explosão nuclear.
Há que garantir que a explosão não
ocorra acidentalmente, tendo o cuidado
de nunca se juntar uma massa crítica antes
do momento da explosão. Na bomba de
Hiroshima foi empregada uma carga ex-
plosiva convencional para impelir unia
Mesmo a meio. Voando a 3383 hmih, uma bala de calibre .30 rasga uma carta Sào ciara porção de urânio ao longo de um tubo até
mente visíveis na bala as marcas feitas pelas estrias do interior do cano. outra porção de urânio. Separadas, nem
uma nem outra eram suficientemente
Por essa altura, também as cargas deto- A cisão, ou fissão, é o processo pelo qual grandes para explodirem; mas, em con
nantes "sem fumo" substituíram as de pól um núcleo atómico se divide e constitui a junto, ultrapassaram a massa crítica e ex-
vora negra. Além de reduzirem a sujidade base da bomba nuclear de cisão, vulgar plodiram com a potência de 12 a 13 0001 de
do cano, eram mais potentes: a velocidade mente conhecida pelo nome de bomba TNT.
da bala passou de 1600 para 2600 km/h. atómica, ou bomba A. A fusão é o opôs A bomba de Nagasaki aproveitou o facto
Durante o século xx, as balas tornaram to a combinação de dois núcleos atómi- de a massa crítica poder reduzir-sc se o
-se muito mais pontiagudas. Há igualmen cos para formarem um núcleo maior. Este
te tendência para que as balas sejam me- processo liberta quantidades de energia
nores do que antigamente. Uma bala pe ainda maiores que a cisão, e está na base
quena e leve vai mais longe c mais depres- da bomba de hidrogénio, ou bomba H,
sa do que uma grande disparada por carga também conhecida por bomba termo-
idêntica, t uma carga mais pequena pro- nuclear. A fusão nuclear é também a fon-
voca um recuo menor, o que torna o tiro te da energia do Sol. A maioria das armas
mais preciso. nucleares modernas utiliza os dois pro
As modernas carabinas de guerra dispa cesso s.
ram balas a cerca de 3600 km/h e conse- As bombas de cisão têm de possuir um A bomba A de Hiroshima. A "Little Boy"
guem acertar repetidamente num alvo de de dois ingredientes - o urânio ou o plu- ("O Menino"), bomba nuclear que {leras
10 cm de uma distância de 90 m, o que é tónio. A que foi largada sobre Hiroshima toa litroshima em 1945, pesava 4100 kg.
adequado à maioria dos objectivos milita- em 6 rie Agosto de 1945 usou urânio; Naga- mas linha a potência de 12 a 13 0001 de TNT.
res. Aquela distância, as melhores carabi- saki foi desunida em 9 de Agosto por uma
nas de tiro de precisão acertam num alvo bomba de plutónio. Tanto o urânio como
de 6 mm. o plutónio são elementos cindíveis — os
seus núcleos podem ser fragmentados por
partículas subatómicas denominadas
neutrões.
Como se Quando um núcleo destes se cinde, são
libertados pelo menos dois novos neu-
constroem as trões. Estes tem a possibilidade de, cho-
cando com dois outros núcleos, provoca
armas nucleares? rem duas novas cisões, originando quatro
neutrões, e assim sucessivamente: é uma
reacção em cadeia. Como cada neulrâo
As armas nucleares tem mantido o Mundo libertado leva apenas cerca de um centési-
num equilíbrio instável entre a paz e o ter- mo milionésimo de segundo a provocar
ror desde que as duas únicas até agora utili nova cisão, rapidamente se atinge uma
zadas forçaram a rendição do Japão, em 2 taxa de cisões catastrófica, com uma liber
de Setembro de 1945, terminando a II tacão brutal de energia uma explosão
Guerra Mundial O poder terrível destas ar nuclear.
mas provém da libertação de quantidades Se, no entanto, tivermos apenas uma Carga mortal. As cinco ogivas nucleares
imensas de energia pelos núcleos dos áto pequena porção de material cindível, os do míssil intercontinental americano MX
mos durante reacções de cisão ou de neutrões, na sua maioria, perder se ão ino- •'Peacekeepcr" estão programadas para
fusão. fensivamente no ar sem provocar novas ci- atingir simultaneamente alvos diferentes.

158
material cindível (neste caso, o plutónio)
for comprimido para aumentar a sua den-
sidade. Rodcou-se urna massa suberítica
de plutónio com cargas explosivas con-
vencionais. Quando estas foram detona-
das, comprimiram o plutónio, que se tor-
nou supererítieo e produziu uma explosão
idêntica à de 22 000 t de TNT.
Cerca de metade da energia libertada
numa explosão nuclear típica é gasta na
onda de choque — uma bomba equiva-
lente a 20 000 t de TNT destrói edifícios
num raio de 800 m. Um pouco mais de um
terço da energia toma a forma de calor, tão
intenso que incendeia todas as matérias O destruidor invisível. Num ensaio experimental, um míssil Titan I (ú esquerda! foi o aluo
combustíveis num raio de 6,5 km. A ener- de um laser químico. Segundos depois de o laser ser activado, deslruiu o míssil (ã direita!
gia restante é libertada sob a forma de ra-
diações energéticas — sobretudo raios
gama c raios X. Após uma explosão nu
clear, milhões de pequenas partículas ra-
dioactivas caem para o solo, constituindo
a chamada chuva nuclear (fallout, em
inglês).

Armas termonucleares
Para fabricar bombas ainda mais potentes,
é necessário recorrer à fusão nuclear. A
primeira bomba termonuclear - ou de
hidrogénio — foi construída nos EUA Ti-
nha a potência de cerca de 10 milhões de
toneladas de TNT (10 MD e foi detonada no
atol de Eniwetak. no Pacífico, em Novem-
bro de 1952.
Nas bombas de fusão empregam-se
duas formas de hidrogénio - o deutério e
o trítio. Quando os núcleos destes elemen-
tos se combinam, dá-se uma enorme liber-
tação de energia. Mas para que se dê a sua
fusão, são necessárias temperaturas com-
paráveis à do centro do Sol — 14 milhões
de graus centígrados. A única forma de se Investigação do programa SDI, ou "Guerra das Estrelas". Dois raios de laser químicos
conseguir esta temperatura á por meio de convergentes são apor/lados a um aluo de ouro 00 tamanho de um ponto final, a hm de se
uma bomba de cisão nuclear. Assim, as avaliar a sua precisão e. capacidade destrutiva.
bombas de hidrogénio baseiam-se simul
taneamenle nas reacções de fusão e deci- Todas as armas americanas (das soviéti-
são. cas pouco se sabe) contêm instrumentos
A bomba de maior potência que jamais de segurança que impedem a sua detona- Como se poderiam
se fez explodir foi detonada em Nova Zern- ção não autorizada ou acidental.
bla, grande ilha ao largo da costa norte da Nas primeiras armas, as medidas de se- usar os raios de
Rússia, em 30 de Outubro de 1961. Os gurança eram relativamente simples, re-
cálculos situam a sua potência entre os 57 sumindo-se a um selo de arame, um in- "laser" no espaço
e os 90 milhões de toneladas de TNT, e a terruptor e um lecho. As modernas têm
sua onda de choque deu três voltas à Terra. dispositivos de armação e detonação
As armas práticas são, no entanto, mui- controlados por código, o que torna im- Se um ataque nuclear fosse lançado contra
to menos potentes. A mais pequena bom- possível detona las sem se conhecerem a América, envolveria possivelmente cen-
ba nuclear do arsenal dos EUA é a W-54. complexos códigos que todos os dias são tenas de mísseis transportando milhares
com uma potência de 250 t, e a maior é de alterados. Se se introduzirem diversas ve- de ogivas nucleares, cada um viajando a
2 milhões de toneladas. zes números errados, a arma trava-se e velocidades de até 6,5 km/s a caminho dos
As primeiras armas nucleares eram vo- neutraliza-sc a si própria, de tal modo alvos, que atingiriam 30 minutos depois do
lumosas. A "Fat Man" ("Homem Gor- que só poderá ser disparada depois de lançamento. Para se protegerem, os Ame
do") de Nagasaki tinha 3,6 m de compri- uma reparação. ricanos têm vindo a desenvolver o seu pro-
mento e pesava 4900 kg. Actualmente, as Se um avião que transportasse uma grama de Iniciativa de Defesa Estratégica
bombas com este peso têm uma potên bomba nuclear caísse e se incendiasse, (SDl) ou ''Guerra das Estreias".
cia 600 vezes superior. A bomba nuclear não haveria perigo de uma explosão nu- Uma parte importante deste programa
mais pequena, a W-54, destinada à des- clear, pois a bomba não estaria armada: consiste no aperfeiçoamento de lasers (v.
truição de pontes e outras estruturas, só os explosivos químicos usados para p. 229) que destruam os mísseis inimigos
pode ser transportada às costas de um disparar a bomba nuclear poderiam ex- nos cinco minutos após o lançamento. De-
soldado. plodir. pois desse período, a defesa torna-se mui-

159
lo mais difícil, dado que cada míssil chega
a largar 10 ogivas e muilas negaças, au-
mentando grandemente o número de al-
vos que têm de ser atingidos.
Como se extingue
O mais simples processo de destruição um letal incêndio
consiste em focar sobre o míssil um feixe
de radiações infravermelhas que abra um
orifício na blindagem, provocando fuga de
nuclear?
combustível ou destruindo o sistema elec-
trónico de orientação. Desde os primórdios da indústria nuclear,
Os Americanos estão a estudar um laser em meados da década de 50, houve três
químico que usa a reacção do flúor com o acidentes importantes. O reactor que so-
hidrogénio para originar uma poderosa breaqueceu em Three Mile Island, Filadél-
emissão de raios infravermelhos. O laser é fia, em Março de 1979, nunca chegou a
focado e apontado por meio de prismas e pegar fogo, mas registaram-se incêndios
espelhos. Um laser químico de potência sufi- graves em Windscale, no Noroeste de In-
ciente (25 MW ou mais) poderá destruir um glaterra, em 1957, e em Chernobyl, na
míssil à distância de quase 3200 km. Ucrânia, em Abril de 1986. Estes dois in-
Os lasers atacariam os seus alvos a partir cêndios foram extintos, mas por processos
de estações militares espaciais a algumas diferentes. iTuv
centenas de quilómetros da Terra Contudo, Quando um reactor nuclear se incen-
seriam precisas cem dessas estações para deia, não explode como uma bomba nu- \S•
conferir à América uma protecção completa clear, mas urna série de explosões meno-
e pô-las em Órbita seria uma tarefa que toma- res ou o próprio incêndio podem destruir
ria insignificante qualquer dos projectos es- o reactor e libertar para a atmosfera enor-
paciais até aqui levados a cabo. Só o flúor e o mes quantidades de materiais radioactivos
hidrogénio necessários para alimentar os la- altamente perigosos. Durante todo o tem-
sers pesariam perto de 2000 t. po em que se combateram os fogos de •

Uma alternativa seria ter os lasers basea Chernobyl e Windscale, houve fuga de ra- A sepultura da unidade 4. Uma espessa
dos em terra, mas, neste caso, haveria o dioactividade, tornando aquele trabalho muralha de betão, iniciada em 1986 (ao
inconveniente de a atmosfera dispersar o extremamente perigoso. alto), foi construída para conter a saída das
feixe. Apenas um décimo da potência do O reactor de Windscale foi construído radiações do reactor destruído em Cher-
laser atingiria o alvo, pelo que os lasers para produzir plutónio para as armas nu- nobyl (em cima).
baseados em terra teriam de ser realmente cleares britânicas. Irrompeu em chamas
muito potentes: cerca de 400 MW cada quando um operador cometeu um erro, o Os bombeiros, com fatos que os prote
um — potência idêntica à do consumo da que permitiu que a temperatura do núcleo giam da radioactividade, começaram por
electricidade de uma cidade de tamanho subisse excessivamente. O resultado foi pulverizar o fogo com dióxido de carbono,
médio e 1000 vezes superior à de qualquer um incêndio que durou quase dois dias até esperando abafá-lo por falta de oxigénio,
laser hoje existente. Os espelhos teriam de ser dominado. mas o processo falhou. Não tinham queri-
manter o laser apontado durante vários
segundos para o míssil antes de este ser O centro do calor. Umu fotografia ao acidente de Chernobyl tirada pelo satélite americano
destruído. Mesmo que tal se conseguisse, Landsat revelou duas fontes de calor (as pequenas manchas azuis), o que sugeriu a alguns
o inimigo poderia ainda derrotar o laser observadores americanos que um segundo reactor nuclear estava à beira de se fundir -
montando um escudo térmico em volta do hipótese que de facto não se confirmou.
míssil ou imprimindo um movimento de
rotação ao míssil para que o feixe não esti-
vesse focado sobre o mesmo ponto o tem-
po suficiente para abrir um orifício.
O Programa Guerra das Estrelas tem
igualmente vindo a desenvolver lasers que
emitem raios X em vez de um feixe de lux.
Estes raios são emitidos numa única pulsa-
ção em vez de num feixe contínuo. A fonte
dos raios X é urna pequena explosão nu-
clear. Dado que os raios X são rapidamente
absorvidos pela atmosfera, tinham tam-
bém de ser disparados do espaço, quando
lanto o laser como o míssil que aquele
atacaria tivessem subido acima da atmos-
fera — pelo menos a 80 km da Terra. A
ideia não é estacionar permanentemente
os lasers no espaço, mas lançá-los unica-
mente quando as observações por satélite
revelassem que estava já em progresso um
ataque inimigo. Os lasers de raios X seriam
lançados de submarinos e então rápida
mente colocados em órbita, de onde se-
riam automaticamente disparados.

160
do utilizar água, temendo que esta reagisse sarcófago de betão c o m 1 m de espessura,
com a grafite em combustão, produzindo sepultando o para sempre.
hidrogénio que poderia explodir e destruir O desastre de C h e r n o b y l foi o pior de
completamente o reactor. sempre na indústria nuclear, matando 31
No entanto, acabaram por decidir arris pessoas, i n c l u i n d o 6 b o m b e i r o s . Muitas
car e, com o auxílio de mangueiras, inun- outras poderão vir a morrer de cancro no
daram o reactor c o m u m a enorme quanti- futuro, devido à exposição a elevados níveis
dade de água. Resultou e o fogo apagou-se, de radiação. Quatro anos após o acidente,
embora depois de se t e r e m escapado ainda muitos habitantes <\à região não po
quantidades substanciais de radioactiviria- d i a m regressar às suas casas por os níveis de
de. 0 reactor inutilizado foi depois enchido radiação serem ainda demasiado altos.
com betão e abandonado.
0 incêndio de Chernobyl foi muito mais
grave. Teve início depois de os operadores Regateando contra o vento, lales luzem
terem "passado por c i m a " de u m a série de Velejar contra um bordo contra um vento forte
sistemas de segurança a fim de verificarem
por quanto t e m p o as turbinas c o n t i n u a
riam a gerar electricidade depois de a fonte
o vento Direcção
do vento Quilha
Movimento
de vapor ter sido fechada. A dada altura, para
perderam o controle do reactor, e, depois Se o vento é a única força que impele um diante
de duas fortes explosões, este c o m e ç o u a barco á vela, c o m o pode este navegar c o n Vela
arder violentamente. A cobertura do reac- tra c l e ? Por extraordinário q u e pareça, a A maior velocidade
tor foi destruída, expondo-o ao ar livre. Par- força mais i m p o r t a n t e que faz um barco do vento redui Força lateral
tículas ao rubro branco de combustível ra- a pressão
andai contra o vento é a sucção.
dioactivo começaram a ser projectadas, in- A vela de um barco assemelha-se à asa A f o r ç a do v e n t o . Corno o vento pussu
cendiando o edifício da central eléctrica c de um avião em posição vertical. Na face mais rapidamente ao longo da a ima exte
ameaçando um reactor p r ó x i m o . exterior — de sotavento —, o vento tem de rior da vela, cria uma forçu de suecuo une
Os primeiros a chegar ao local foram os c o n t o r n a r a vela, c r i a n d o um p o d e r o s o forca o barco para o lado Mas a quilha con
bombeiros locais, q u e , c o m imensa cora efeito de sucção — isto é, puxando a vela traria este movimento, convertendo parte
gem e sem vestuário protector, assaltaram para si. O efeito de sucção c um dos fenó- da suecuo em movimento para diunle.
aquele inferno e e x t i n g u i r a m q u a n t o pu- menos da aerodinâmica: o ar que é desvia
deram do incêndio c o m o auxílio de man- do por u m a vela curva c o m p r i m e se para
gueiras vulgares. E m b o r a m u i t o s destes p o d e r passar. Q u a n d o um f l u x o de ar é
homens t e n h a m m o r r i d o , a sua a c ç ã o
quase certamente salvou o reactor vizinho
c o m p r i m i d o , a sua velocidade aumenta
a corrente de ar por baixo de u m a porta
O restauro de uma
e evitou um desastre ainda maior.
Mas os Russos e n c o n t r a v a m - s e a i n d a
p o d e ser s u r p r e e n d e n t e m e n t e forte por
este motivo. E quando a velocidade do ven
obra de arte
perante um problema terrível - um reactor t o a u m e n t a , dá-se u m a d i m i n u i ç ã o d a
destruído e sem cobertura, incandescente pressão — p o r q u e , q u a n t o mais rapida- A Ultima Ceia, de Leonardo da Vinci, u m a
e expelindo para o ar quantidades imensas m e n t e o ar se m o v e , m e n o s m o l é c u l a s das grandes obras de arte do m u n d o oci
de substâncias radioactivas. existem por unidade rio volume. dental, sofreu provavelmente mais danos
Assim, a baixa pressão no lado de sota do que qualquer outro grande trabalho. O
Bombardeamento por helicópteros vento suga a vela para si c o m o d o b r o da mural, c o m 3,60 m de altura, foi terminado
Para combater o fogo foi utilizado um pro- força c o m que na outra face de barla- no fim da década de 1490, e 20 anos depois
cesso inédito. C o m o auxilio de u m a es v e n t o - o v e n t o a e m p u r r a no m e s m o a tinta estava já a soltar-se. Em 1587. a pintu
quadrilha de helicópteros, lançaram-se so- sentido. ra foi considerada " m e i o arruinada".
bre o reactor mais de 5000 t de argila seca e Por este motivo, o vento força o barco a Em 1652, os frades dominicanos de San-
areia para tentar abafar o fogo. Adicionou- andar de lado. Contudo, a quilha — ou o ta Maria delle Grazie, em Milão, em cujo
se ainda carboneto de boro para absorver patilhão do barco contraria este movi refeitório Leonardo pintara a sua obra pri
neutrões e impedir que o reactor explodis mento lateral. A força do vento é assim de- ma, decidiram ampliar u m a porta - o que
se novamente. Dcitou-se ainda c h u m b o composta n u m a força que faz o barco an implicou o corte dos pés de Cristo
para absorver calor ao fundir e para selar o dar para a frente e noutra que o faz inclinar- No século XVIII, puseram u m a cortina
reactor q u a n d o arrefecesse e solidificasse. -se para sotavento — força esta que o tripu- em frente do mural. A humidade, impedi-
Despejou-se t a m b é m cal em pó para pro- lante tenta vencer projectando se para fora da de se evaporar, escorria pela parede.
duzir dióxido de c a r b o n o , que, envolven- da borda do lado contrário. O u t r o s estragos o c o r r e r a m e m 1796,
do o núcleo do reactor, evitaria que o fogo N e n h u m b a r c o navega d i r e c t a m e n t e q u a n d o as tropas de Napoleão usaram o
irrompesse de novo. contra o v e n t o - um iate da classe "12 refeitório c o m o arsenal. Os soldados ape-
f o r a m precisas duas semanas de voos metros", por e x e m p l o , não consegue um drejavam os Apóstolos e chefiavam a subir
quase c o n t í n u o s , mas o processo resul ângulo melhor que 10 a 15". Para avançar as escadas para lhes raspar OS olhos. E em
tou - o incêndio mortífero de Chernobyl para a direcção da qual o vento sopra, o 1943 u m a b o m b a d o s A l i a d o s esteve a
foi e x t i n t o e d e t i d a a l i b e r t a ç ã o de ra barco tem de navegar n u m a série de zigue l ou 2 m de completar a destruição.
diação. zagues, ou bordos. Quanto mais apertada- Agora, a pintura mural está a ser restau-
Ironicamente, o método utilizado na ex mente o barco anda contra o vento, menor rada, e não pela primeira vez. Esta é a séti-
tinção do incêndio só foi possível porque 0 será a sua velocidade. O t i m o n e i r o pode ma tentativa desde 1726, quando um pin-
acidente fora suficientemente grave para andar mais depressa fazendo ziguezagues tor de n o m e Michelangelo Bellotli foi con
destruir a cobertura do reactor. Quando os a um ângulo mais aberto em relação ao tratado para restaurar totalmente o qua-
índices de radiação f i n a l m e n t e d i m i n u í vento mas o trajecto percorrido passa a dro. Km Ião incompetente que se pagou a
rain, foi construído em volta do reactor um ser maior. outro pintor, Giuseppe Mazza, para rasp.tr

Continuo no p. 16-t

161
Miguel Ângelo: a pintura da Capela Sistina
Sentado na parte mais alta do andaime de de encontro ao teclo e passava carvão em
madeira, com a cabeça e os ombros incli- pó através dos orifícios para registar o de-
nados para trás, com dores no pescoço, a senho no preparo húmido. Depois, pinta-
tinta escorrendo lhe pela face e os olhos a va a partir do desenho, às vezes improvi-
arder, Miguel Ângelo trabalhava de sol a sol sando e compondo à medida que a con-
nos seus frescos para o tecto da Capela fiança aumentava.
Sistina do Vaticano, em Roma. As nove cenas da criação do Universo
Às vezes, trabalhava 30 dias seguidos. sucediam-se alinhadas sobre a sua cabeça.
Sentia-se mal com dores, a cabeça andava- Iam desde a Separação da Luz e das Tre-
-lhe à roda e temia cegar. Em 1510, a meio vas (a Criação), por cima do altar, até à
caminho da sua tarefa ciclópica, escreveu: Embriaguez de Noé (mostrando o ho-
"Estou no lugar errado — e não sou um mem distanciado de Deus), por sobre a
pintor!" entrada. Em volta, e por entre os grandes
Na verdade, Miguel Ângelo (Michelan- frescos, pintou profetas, sibilas (antigas
gelo Buonarroti) considerava-se, antes de profetisas), os antepassados de Cristo, os
mais, um escultor de mármore — e não nus masculinos (/ Nudi, que exaltam a per-
tinha boa opinião das suas faculdades feição da beleza humana) e cenas repre
como pintor. Nascido em 1475 — filho do sentando a salvação da Humanidade. Génio solitário. Feito em 1565, este busto
presidente do Município de Caprese (hoje, Ao todo, criou cerca de 300 figuras do de bronze de Miguel Ângelo, obra do seu
Caprese Michelangelo), a sueste de Floren- Velho e do Novo Testamento - cada uma amigo Daniele da Volterra, mostra a solidão
ça —, tinha 33 anos quando o papa Júlio II com as suas próprias feições, expressões e de um homem cuja vida foi inteiramente
o chamou a Roma e lhe deu o encargo de atitudes -, mais de 1000 m2 de área pintada. dedicada ao seu trabalho.
repintar o tecto da Capela Sistina. Gradualmente, à medida que o trabalho
Esta capela recebera o nome do tio de progredia, despediu quase todos os assis- estiver pronto!" E erguendo a bengala, fu-
Júlio II, o papa Sisto IV, para quem fora tentes, afirmando que lhes faltava inspira- rioso, bateu com ela no ombro do artista.
construída entre 1473 e 1481. As suas pare ção. 1 lomem vigoroso, de ombros largos e Posteriormente, os dois homens fize-
des estavam cobertas por quadros magní- meão na altura, suportou resolutamente ram as pazes e Miguel Ângelo voltou ao
ficos de mestres como Botticelli e Perugi os rigores do inverno romano — quando o trabalho até ao Outono, altura em que,
no, mas no tecto havia uma pintura relati- frio vento de norte soprava pela capela c a mais uma vez, faltou o dinheiro para conti-
vamente insignificante de um céu estrela- chuva entrava pelo tecto, criando man- nuar o trabalho; só em Fevereiro de 1511
do, por Piermatteo d'Amelia. chas de bolor nas pinturas. pôde prosseguir a obra.
A princípio, o papa Júlio pretendia que Comia enquanto trabalhava - quase Por essa altura, as pessoas que trabalha
Miguel Ângelo — que aceitara o encargo sempre pedaços de pão — e a noite dor- vam no Vaticano já se tinham acostumado
com relutância - decorasse o tecto abo- mia, vestido e calçado, no estúdio anexo. à estranha figura de Miguel Ângelo. O ca-
badado com retratos dos 12 Apóstolos. Sofria física e mentalmente, e em Janeiro belo e a barba estavam sujos de tintas; os
Mas o artista considerava o tema bastante de 1509 escreveu ao pai, dizendo: "Nada fatos, rotos e cheios de argamassa; andava
pobre e decidiu cobrir a superfície com a peço ao papa, pois não acho que o meu de cabeça baixa porque a luz do exterior
sua concepção da criação do Universo. trabalho prossiga de forma a merecê-lo. lhe feria os olhos. Nas ruas, muitos julga
Para alcançar o tecto, muito alto, dese- Isto não só pela dificuldade da tarefa corno vam-no "louco" e troçavam dele quando
nhou um andaime de madeira móvel que também por não se tratar da minha profis- passava.
lhe permitia pintar de pé se quisesse e ain- são. Perco infrutiferamente o meu tempo. Trabalhando sozinho e sem interrup
da andar de um lado para o outro. Mesmo Que Deus me ajude." çáo, completou a sua extensa obra no Ou-
assim, ao longo de quatro anos e meio, ele O papa partilhava das apreensões de Mi- tono de 1512 — quase quatro anos e meio
achou-o dolorosamente limitativo — es- guel Ângelo e visitava periodicamente a ca- depois de ter assinado o contrato com o
pecialmente depois de ter acrescentado pela, subindo a escada até ao cimo do an- papa. O andaime e as coberturas foram
uma rampa à plataforma superior para po daime para inspeccionar as pinturas. Che- retirados, e Júlio II e a sua corte viram o
der trabalhar nos pormenores, com os garam mesmo a trocar palavras azedas. No tecto em 31 de Outubro, véspera do Dia de
olhos a poucos centímetros do tecto. Verão de 1510, por exemplo, quando o tra Todos os Santos. No dia seguinte, a capela
Miguel Ângelo começou a trabalhar no balho já ia a meio, o papa Júlio quis saber foi oficialmente reaberta para a consagra-
Verão de 1508 com a ajuda de seis assisten- quando estaria terminado o resto do tecto. ção pelo papa. Miguel Ângelo não assistiu
tes — que lhe misturavam as tintas, prepa "Quando ele me satisfizer como artista", às cerimónias: estava ansioso por regres-
ravam a argamassa e às vezes colabora- respondeu Miguel Ângelo. O papa franziu sar às suas esculturas, e escreveu ao pai:
vam mesmo na pintura. O seu projecto era o sobrolho e disse lhe acerbamente: "E "Terminei a capela que estava a pintar... O
cobrir a abóbada com frescos - pintura a nós queremos que nos satisfaças, termi- papa ficou muito satisfeito ..."
água sobre a argamassa ainda fresca —, o nando-o rapidamente!"
que tinha de ser feito muito rapidamente, Noutra ocasião, o papa, com 66 anos, As obras de Deus e do homem. A criação
enquanto o preparo estava húmido. Qual- ameaçou mandar atirar o artista do andai- do Universo por Deus é apresentada por
quer erro significava inutilizar a argamassa me abaixo se não trabalhasse mais depres- Miguel Ângelo numa série de nove painéis
e recomeçar do princípio. Miguel Ângelo sa. "Quando é que tudo estará pronto?", no tecto da Capela Sistina do Vaticano. Al-
só teve de o fazer uma vez. perguntou Júlio II. "Quando estiver pron- guns andaimes (na fotografia em baixo, à
Primeiro, desenhava as figuras numa fo- to", replicou laconicamente Miguel Ânge- esquerda) dão uma ideia das dimensões
lha de papel e perfurava os contornos com lo. O papa enrubesceu-se, zangado, e imi- da capela, cujo tecto se eleva a 21 me mede
um estilete. Em seguida, colocava o papel tou-o: "Quando estiver pronto! Quando 40 m de comprimento por 13 de largura.

162
«i4 Última Ceia». O restauro da pintura murai de Leonardo da Vinci em Milão, criada há 500 anos. tem sido um processo tento. Demora uma
semana a limpar uma área do tamanho de um selo, e foram necessários seis anos para restaurar a quarta parle, situada à direita.

tudo o que BelloUi fizera. Mas esta raspa- tra, facilmente removível. Deixará para fu- o tornarem visível, de tão escuro que se
gem foi mais prejudicial que benéfica. turas gerações a responsabilidade de re tornara. O tecto restaurado é agora fácil
O restauro mais recente iniciou-se em pintarem essas áreas e tentarem captar a mente visível à luz normal.
1977 e ainda continua. A restauradora, a visão original de Leonardo. Cada vez se utilizam técnicas mais sofis-
Dr." Pinin Brambilla Barcilon, passou três Outro restauro igualmente importante ticadas no restauro de quadros. Alguns pe
anos a examinar o quadro e a parede em está a ser levado a cabo em Roma o do ritos usam reflectografia infravermelha
que ele foi pintado, a fim de adquirir um tecto da Capela Sistina do Vaticano, pinta para "espreitar" por debaixo da superfície
conhecimento pormenorizado dos pro do entre 1508 e 1512 por Miguel Ângelo. das pinturas e revelar os desenhos feitos
blemas existentes. Estuda uma pequena O tecto encontrasse em muito melhor pelo artista antes de pintar o quadro. Para
área de cada vez, examinando-a ao micros- eslado que 4 Última Ceia. e a tarefa princi- realçar as imagens, utilizam-se outros mé-
cópio com uma ampliação de 40 vezes. pal é a sua limpeza. Ao longo de quase 500 todos, recorrendo, por exemplo, a máqui-
A primeira tareia era limpar a sujidade anos, o fresco enegreceu gradualmente nas iguais às que a NASA emprega para
de 500 anos, bem como os vernizes e ca pelo arder das velas e das braseiras de car- melhorar as fotografias do espaço.
madas de tinta dos restauros anteriores. A vão usadas pelos padres para iluminar e Usam-se computadores para calcular o
Dr.a Brambilla aplicava um diluente prepa- aquecer a capela. grau de alteração sofrido pelos pigmentos
rado para o efeito, depois enxugava-o an A empresa química italiana Montedison de uma pintura e produzir uma imagem
tes que ele atingisse e danificasse as cores inventou uma espécie de cataplasma para do quadra com as cores corrigidas. O com-
originais de Leonardo. Este processo tinha limpar frescos. A pasta, espessa e de cheiro putador considera muitos factores, por-
de ser repetido diversas vezes, a fim de le- desagradável, é aplicada em tiras de papel que certas cores alteram-se rnuito mais ra-
vantar as camadas de sujidade e verniz. poroso que se comprimem sobre o fresco, pidamente que outras e certos pigmentos
A pouco e pouco, foram aparecendo se deixam ficar durante cerca de 10 minu- podem ter sido afectados pelo verniz.
pormenores delicados — uma imagem tos e se retiram depois como um penso
anteriormente obscura provou ser o refle adesivo, levando consigo a sujidade. Túmulo com 3200 anos. Um técnico de
xo de uma rodela de limão num prato de Na Capela Sistina tem sido utilizada restauro trabalhando no túmulo da rainha
estanho. As cores vivas que Leonardo usa- uma técnica semelhante, embora o agente Nefertite. em Tebas, cola o suporte solto in-
va começam lentamente a ser reveladas à de limpeza fique no tecto durante apenas jectando uma emulsão de resina acrílica.
medida que as pinturas sobrepostas e es- três minutos até ser removido. O processo
curecidas vão sendo retiradas. é repetido 24 horas depois.
Alguns dos restauradores alteraram Mas, o restauro do tecto tem dado azo a
consideravelmente o trabalho original. Os controvérsia. As cores muito vivas que
peritos pensam, por exemplo, que Judas emergem não são as que Miguel Angelo
recebeu um aspecto muito mais sinistro pretendia, dizem os críticos, que acham
do que Leonardo pretendia. Na verdade, que o restauro vai retirar todas as pequenas
muito pouco de A Ultima Ceia tinha verda- áreas de tinta que o artista acrescentou a
deiras semelhanças com o original de Leo seco (depois de a argamassa secar) e que a
nardo antes de a Dr.'1 Brambilla ter come- parte do tecto já limpa tem um aspecto
çado o seu trabalho. duro e pouco subtil.
Grande parte do quadro está irremedia- Muitos outros peritos não são desta opi-
velmente perdida, e a Dr.d Brambilla preen- nião. O tecto, tal como estava, precisava de
che as áreas vazias com uma aguada neu- 30 000 W de lâmpadas do halogéneo para

164
A exploração do Universo
Enquanto os astronautas tentam os seus primeiros passos
na imensidão do espaço, os astrónomos criam instrumentos potentes
que lhes permitem procurar os limites do Universo.
166
A força que impele
um foguete
Em 12 de Abril de 1981, o primeiro vaivém
espacial, o Columbia, subiu de Cabo Cana
veral. Era accionado por três motores de
combustível líquido e um par de foguetes
auxiliares de lançamento de propulsanle
sólido e comandado por cinco compu-
tadores sofisticados interligados. Mas, ape
sar da aparente complexidade do vaivém,
o princípio básico do seu funcionamento é
o mesmo de um balão que dispara pelo ar
quando lhe abrimos o pipo: é o princípio
da acção e reacção.
No século XVII, Newton resumiu uma
das regras fundamentais do Universo na
frase "A cada acção opõe-se uma reacção
igual de sentido contrário": por exemplo,
quando se larga o pipo de um balão cheio
e o ar é expelido pela abertura, é a reacção
igual e oposta ao jacto de ar que se escapa
que empurra o balão para a frente.
Ao contrário do balão, o foguete não
contém um gás comprimido, mas fabrica
gás, queimando propulsanles. Contudo,
uma vez produzido o gás, o princípio é o
mesmo. Quando os gases quentes do esca-
pe são expelidos pela sua parte posterior, o
foguete c impelido para diante pela reacção
igual e de sentido oposto ao dos gases liber-
tados. Mas, contrariamente ao balão que
voa em todas as direcções, o fogueie é dese-
nhado para manter um rumo estável.
Os três motores de propulsante líquido
do Columbia, que consomem, em con-
junto, 100 t de combustível por minuto,
produzem uma corrente descendente de
gases que provoca uma força oposta, as-
cendente, de 640 t - uma "reacção". Os
gases dos dois foguetes auxiliares de com-
bustível sólido produzem uma reacção de
2400 t - pelo que a reacção ascendente
global do vaivém é superior a 30001. Como
a nave completamente carregada de com-
bustível pesa apenas 2000 t, a reacção é
suficiente para a elevar do solo e a acelerar
cm direcção ao espaço. Uma vez no espa
ço, o vaivém entra na sua órbita preestabe
lecida em torno da Terra.

A primeira nave espacial reutilizável


Expelindo chamas € nuvens de fumo. o vai-
vém espado! Columbia sobe para o espaço
numa das suas muitas uiagens. Os seus
dois foguetes auxiliares de lançamento,
presos ao grande depósito de combustível,
separam se da tiave ao fim de dois minutos
e coitam à Terra por meio de pára quedas,
a fim de serem reutilizados. O depósito
grande é largado seis minutos depois e de-
sintegra se na sua queda atraias da atmos-
fera. O vaivém regressa, aterrando numa
pista de aviação

167
Como os
astronautas
navegam
no espaço
Em Janeiro de 1986, a nave não tripulada
Voyager 2 passou ao lado de Urano, foto-
grafando osle planeta gigante e as suas
luas. A fim de obterem as melhores loto
grafias possíveis, os controladores da mis-
são em terra tinham de saber exactamente
onde se encontrava a Voyager - e conse-
guiram computar a sua posição com uma
margem de erro de 100 km, mesmo depois
de a nave ter percorrido 4954 milhões de
quilómetros.
Os engenheiros espaciais tem muitas
maneiras de conseguir estas proezas de
navegação. Por exemplo, os foguetes lan-
çados para o espaço transportam um sisto
ma de navegação por inércia que funciona
independentemente de sinais exteriores
ao aparelho. Este sistema contém dois ins
Irumentos: um é um conjunto de giroscó-
pios que permite monitorizar o rumo efec
tivo do foguete. O outro é um conjunto de
acelerómelros que medem a sua acelera-
ção ou desaceleração. Um computador a
bordo regista continuamente todas as alto
rac,ões na direcção e na velocidade do fo-
guete, podendo assim calcular, em cada
instante e com rigor, a distância percorri
da, a direcção real c a velocidade.
Durante os voos da Apollo à Lua, os con-
troladores de terra seguiam também o per-
curso da nave por meio do sistema de co-
municações com os astronautas. A partir
dos sinais de rádio quo captavam, os radio
telescópios na Terra computavam exacta-
mente a direcção da nave. Além disso, estes
sinais permitiam aos controladores cal- Pessoal de manutenção. Paru reparar o satélite de comunicações Westar VI, o astronauta
cular a distância da Terra ixApulh. Mediam o americano Gardner (à esquerda) saiu do ixtioém Discovery para o espaço com o auxílio de
tempo que os sinais de rádio demoravam a uma "mochila" a jacto — uma MMU fmanncd manoeuvering unit. ou unidade tripulada de
chegar à Apollo o a regressar à Terra e divi- manobra). Agarrando se ao satélite, Gardner accionou os jactos da MMIJ para parar o
diam-no pela velocidade tio sinal (igual à da Weslar. Entretanto, o seu companheiro Allen deslocou-se até ao satélite apoiado num IMJÇO-
luz, 300 000 km/s). Conhecendo a direcção •robô extensível. Este recolheu os astronautas e o satélite e trouxe os para o vaiuém.
e a distância à nave, os controladores cal
CUlavam a posição em que se encontrava. Antes de cada voo. eram calculados o de impulsão para corrigir a órbita da nave.
Um estudo dos sinais revelava-lhes tain percurso e a velocidade que os astronautas As sondas espaciais não tripuladas pos-
bém a velocidade da nave. Se uma fonte de da Apollo deveriam cumprir. Se os sinais suem auxiliares de navegação incorpora-
ondas de rádio se encontra em moviuien de rádio e a navegação por inércia mostras dos. Para navegar no espaço, uma sonda
to, as frequências c o comprimento dessas sem que havia ligeiros desvios, os controla espacial tem de fixar a sua posição em três
ondas são alterados em certa medida, de- dores de terra davam instruções aos astro- eixos diferentes. No caso das Voyagers. um
pendendo da velocidade da fonte emisso- nautas para accionarem pequenos moto dos eixos é a direcção em relação à Terra
ra. É um exemplo do efeito de Doppler. A res a jacto para alterar a velocidade da nave As duas outras referências consistem em
frequência das ondas aumenta ou diminui e a recolocar na rota correcta. fotossensores. Um deles capta a direcção
conforme a nave espacial se aproxima ou As últimas naves tripuladas americanas, do Sol, o outro "fixa-se" numa estrela bri-
se afasia da Terra. Quanto mais rapida- os vaivéns, seguem órbitas mais próximas lhante — a Regulus, no caso da Voyager I;
mente a nave se desloca, tanto maior a alte- da Terra do que a Apollo. Quando a sua a Canopus, no da Voyager 2.
ração nos comprimentos de onda. A alte- direcção precisa de ser alterada, compu Outra sonda espacial que exigiu a mar-
ração na frequência da Apollo era de cerca tadores em terra dão instruções ao próprio cação de uma rota exacta foi a GiottO, da
de 0,01% da velocidade da luz. computador da nave para ligar os foguetes Agência F.spacial Europeia. Esta sonda foi

168
semana antes da Giotto. Passando pelo co posição do núcleo rio cometa. Ksla infor
meta à distância rie 8000 km, obtiveram as mação permitiu aos Europeus guiarem a
primeiras, ainda que longínquas, fotogra Giotto até à distância correcta do núcleo.
fias do seu núcleo, que mostraram a posi Quando este passou pela nave a 605 km de
cão do núcleo em relação às duas naves distância, a Giotto conseguiu tirar fotogra-
Vega. fias que surpreenderam os astrónomos. 0
Utilizando radiolelescópios espalhados núcleo do cometa de Halley ia sua parte
por todo o Mundo, os cientistas america interior densa, formada de partículas de
nos sintonizaram as rariiotransmissões so- gelo c rochas) revelou se um objecto negro
viéticas a fim de calcularem exactamente corno carvão, em forma de batata, com 16 km
onde estavam as Vega A partir destas posi- de comprimento e 8 de largura, que emitia
ções e das fotografias das Vega, os Soviéti- géiseres de gases e vapores de uni branco
cos puderam determinar com rigor qual a -brilhante até à distância de 1G00 km.

Refeições numa nave espacial


Durante os primeiros voos espaciais, nos porque o sumo não sai rio recipiente. Po
anos 60, os astronautas alimentavam se deria sacudir-sc o sumo para dentro do
com pastas de aspecto pouco apetecível, copo só que o líquido saltaria, espa-
que espremiam para a boca por meio de lhando se em glóbulos por toda a parle.
bisnagas como as das pastas de dentes. Por isso, as bebidas têm de ser esguicha-
Na era do vaivém espacial, contudo, po- das para dentro da boca por meio de uma
dem já desfrutar de refeições apetitosas, espécie rie pistola de água ou ser sugadas
que incluem ovos mexidos, bifes, espar- do frasco com uma palhinha. O sugar fun-
gos e pudins de caramelo — tudo comido ciona tão bem no espaço como na Terra,
com talheres e servido em tabuleiros. porque se serve da pressão do ar para ele
Antes de Yuri Gagarin, que se tornou o var o líquido na palhinha.
primeiro astronauta em 12 de Abril de 1961,
ninguém sabia em que medida o ser hu- 3000 calorias por dia
mano suportaria os rigores do voo no es- O leque de alimentos oferecidos aos astro
paço. Poderia o seu corpo resistir às forças nautas do vaivém é amplo, e existe a maior
esmagadoras criadas pelo foguete rie lan- preocupação em que sejam apetecíveis à
çamento — forças que tornavam 0 ho vista e ao olfacto.
mem seis vezes mais pesado? Poderia o As refeições são planeadas para fornecer
seu corpo adaptar se imediatamente a se- aos astronautas uma média rie 3000 calo
guir ao estado de gravidade zero? K seriam rias riiárias, o que parece muito para a vida
os astronautas capazes de comer e beber num ambiente fechado em que não há
sem a gravidade para lhes "puxar" os ali- gravidade Mas os astronautas despendem
mentos e bebidas para o tubo digestivo? grandes quantidades de energia na exe
Hoje, a resposta a estas perguntas é, cução rias tarefas mais simples. Se, por
com certas reservas, afirmativa. No espaço, exemplo, tentam rociar um manipulo, ro
os astronautas vivem encerrados numa at dam eles também. Se se dobram para atar
mosfera de azoto e oxigénio à pressão nor- um sapato, começam às cambalhotas. 0
mal do nível do mar c numa temperatura encontrar formas invulgares de executar
programada para se encontrar com o co agradável, fornecida pelo sistema rie apoio essas simples tarefas gasta o excesso de
meta rio Halley em Março de 1986 e enviar vital da sua nave. O ar viciado e os odores calorias.
para a Terra fotografias pormenorizarias são eliminados pela circulação rio ar atra A dieta espacial é francamente diferente
do núcleo sólido no centro do corneta. A vós de absorvedores rie dióxido de carbo- da terrestre, pois tenta compensar as alte
Gioíto possuía sensores referenciados à no e de filtros rie carvão, c a humidade é rações que se dão no organismo durante o
Terra e ao Sol, mas não podia fixar se em cuidadosamente regulada. O azoto para o voo espacial Estas alterações iníciam-se
determinaria estrela para o seu terceiro sistema de pressurização de ar é fornecido assim que os astronautas entram no espa-
eixo, porque fora concebida para girar por depósitos à pressão. O oxigénio é obti- ço e são bem notórias logo ao fim de uma
continuamente. Km vez riisso, a Giotto ti- do de reservatórios rie oxigénio líquido semana. Quanto mais demorado o voo,
nha um sistema que computava as posi transportados a bordo. mais o corpo é afectado.
çòes de todas as estrelas mais brilhantes. A maneira de comer e beber no espaço Entre as alterações mais graves, figura a
Se a trajectória aparente de uma estrela é diferente da na Terra. A comida tem de ser perda de cálcio, que provoca uma diminui
estava incorrecta, os controladores de terra colocada na boca com cuidado: uma vez çáo marcada ria massa e resistência dos
davam instruções aos foguetes de impul- na boca, a falta de peso não tem significa ossos. Dá-se ainda uma perda progressiva
são de bordo para corrigir a orientação da rio, pois o reflexo da deglutição encarrega- rios glóbulos vermelhos do sangue. Não se
Giotto. A navegação correcta ria Giotto era -se de empurrar a comida para baixo - sabe o que provoca estes efeitos, mas a
simples; localizar o núcleo rio cometa embora "baixo" não seja a palavra ade- resposta terá rie ser conhecida para que as
era uma tarefa mais difícil. Mas. neste caso, quada, uma vez que no espaço não há viagens espaciais de longa duração se pos-
houve urna notável colaboração interna "baixo" nem "cima". sam considerar realmente seguras.
dona). Duas sondas soviéticas de nome .lá o beber apresenta problemas: não se Os músculos do coração, sem gravida-
Vega chegaram ao cometa cerca de uma pode encher um copo rie sumo rie laranja, de contra a qual lutar, começam a atrofiar

líi1)
"voem" descontrolados. Comer com faca,
garfo c colher apresenta poucas dificulda-
des, uma vez que os alimentos também se
agarram aos talheres. Mas os astronautas
têm de comer devagar e evitando movi-
mentos bruscos para não "soltar" a comi-
da, que, então, flutuaria por toda a cabina.

A eliminação das excreções


do organismo
Durante os primeiros dias de um voo espa-
cial, quase 50% dos astronautas sofrem de
enjoo do espaço. Sentem náuseas e dores
de cabeça, transpiram e vomitam. E uma
forma aguda do enjoo de movimento de
que certas pessoas sofrem na Terra, e é
causada pela falta de peso. que confunde
os órgãos do equilíbrio no ouvido interno.
A eliminação dos sacos de vomitado
tem de ser feita higienicamente, pois os
germes poderiam propagar-se rapida-
mente no espaço fechado cm que se vive.
A eliminação das excreções do organis-
Bola de sumo de laranja. A ausência de peso pode originar refeições divertidas. No mo em condições de ausência de peso é
espaço, normalmente, a tensão superficial de um líquido mantém no no seu recipiente, e ele um problema: uma vez que não existe gra-
pode ser bebido por uma palhinha. Mas se o liquido, como este sumo de laranja, for sacudi vidade, essas excreções ficam a boiar no
do, flutua no ar com a forma de uma bola. espaço quando deixam o corpo.
Nas primeiras naves espaciais, os astro-
-se. O mesmo acontece aos músculos cias nados, pudim de caramelo e ponche tropi nautas fixavam sacos às partes apropria
pernas, uma vez que o caminhar é impos- cal (sem álcool). Existem a bordo alimen- das do COipo. Mas era uma operação desa-
sível em órbita, onde não há nada que tos alternativos suficientes para fornecer gradável. Mas no vaivém eles dispõem de
mantenha os pés no chão. ementas diferentes durante seis dias suces- uma retrete com autoclismo que fun-
Uma dieta rica em minerais ajuda a re- sivos. ciona com ar—, existindo um tubo separa
duzir a extensão destas alterações, mas Para manter os alimentos apetecíveis, do para a remoção da urina. A sanita está
não tanto quanto os médicos do espaço têm sido usadas as mais recentes técnicas equipada com alças para os pés e um "cin-
desejariam. 0 exercício contribui também de conservação. Tal como muitos alimen- to de segurança".
para contrariar a atrofia dos músculos o é tos, o ovo mexido é desidratado A desidra- O tubo para a urina é flexível e possui
vital cm voos prolongados como as mis tação ajuda a reduzir o peso, factor funda um adaptador que permite a sua utilização
soes de G a 12 meses nas estações espaciais mental em todas as naves espaciais. Os ali- por pessoas de ambos os sexos. A urina é
russas Salyut e Mir. mentos desidratados têm de ser mistura retirada pelo tubo por meio de sucção de
dos com água antes de se poderem consu- ar e armazenada num reservatório com
Cultivar alimentos numa viagem mir. Curiosamente, não há falta de água a outras águas de despejos. Periodicamente,
para Marte? bordo do vaivém, pois esta é subproduto o conteúdo é lançado para o exterior, onde
Ainda ninguém conhece os limites da ca- abundante das pilhas de combustível que se evapora. Os detritos sólidos são condu-
pacidade de resistência humana no espa fornecem electricidade à nave. zidos para um contentor por uma corrente
ÇO. Se os astronautas puderem suportar 0 bife é pré-cozinhado e vem apresenta de ar que sai logo abaixo do assento e são
mais de dois anos de gravidade zero per do em embalagens estanques. O pudim de secos quando o contentor é depois ex[K>s
manente, então o homem poderá visitar caramelo encontra se em latas. Os moran- to ao vácuo do espaço. Em seguida, são
outros planetas nas primeiras décadas do gos são secos por congelação, o que lhes trazidos de volta à Terra.
próximo século. preserva a forma e a textura. Podem ser
Tanto os Americanos como os Russos novamente hidratados com água ou na
estão a fazer planos para uma missão tri boca com saliva. O pão é cortado em fatias
pulada a Marte, que, incluindo a viagem de
ida e volta, demoraria cerca de dois anos.
e conservado por irradiação.
As refeições do vaivém são embaladas
Como os satélites
Alimentar a tripulação numa missão
como esta constitui um enorme problema.
individualmente e preparadas pelo "cozi-
nheiro de serviço" na cozinha de bordo,
giram em órbita
Uma das soluções seria os tripulantes culti-
varem os alimentos em estufas a bordo.
equipada com forno, despensa e bica de
água. O cozinheiro re-hidrata os alimentos
em torno da Terra
que o exijam, põe no forno aqueles que
A ementa diária da tripulação têm de ser aquecidos e introduz palhinhas Em \ de Outubro de 1957. um foguete so
de um vaivém nos recipientes de bebidas. Coloca depois viético lançou para o espaço o Spulnik I.
A ementa típica de um dia para os astro- os pratos em tabuleiros individuais com o Aparentemente desafiando a gravidade, o
nautas do vaivém seria: auxilio de imanes, fechos velcro ou fita go satélite manteve-se perto da Terra. Três
Pequeno-almoço: pêssegos, farelos, mada para os manter no lugar. meses depois, ardeu.
ovos mexidos e cacau. Almoço: carne de Os astronautas seguram os tabuleiros à Apesar das aparências, os satélites não
conserva com espargos, morangos e uma mesa de refeição portátil ou a qualquer sí- desafiam realmente a gravidade: de facto,
barra de chocolate e amêndoa. Jantar: tio conveniente. Em geral, comem em pé, estão continuamente a cair em direcção à
cocktail de camarão, bife, brócolos grati- com os pés em estribos para evitar que Terra, tal como a maçã que Newton viu cair

170
laboratório espacial gigante. Lm órbita a 435 km da Terra, a Lançamento de satélites a p a r t i r do espaço. Em Agosto de
estação espacial Skylab levou a cabo experiências de fisiologia e 1985, o vaivém Discovcry lançou no espaço um satélite de cornai li
física. 0 atrito da atmosfera fé la desacelerar, e. na sua 34 981." cações. Trata-se de um satélite geoestacionário que mantém em
órbita, a estacão caiu e ardeu sobre a Austrália Ocidental. órbita coordenadas permanentes em relação à Tetra

e que o levou à descoberta das leis da gravi- trajectória descendente da sua queda será elíptica muito excênlrica. Quanto mais for
dade. A diferença fundamental entre a paralela à curva da superfície da Terra. Km te a impulsão vertical, maior a órbita;
maça e o satélite é que esle desloca se a bora a maçã esteja continuamente em que- quanto mais forte a impulsão horizontal,
cerca de 30 000 knVh c a muito maior altitu- da, a superfície curva da Terra foge lhe de mais elíptica será a órbita.
de. Assim embora o satélite caia em direc- debaixo no mesmo ritmo: assim, a maçã Para colocar um satélite em órbita elípti
ção à Terra, a superfície do planeia afasta-sc não se aproxima da Terra - está em órbita. ca, este é lançado da Terra com velocidade
dele pela sua curvatura — pelo que ele nun- Quando um foguete lança um satélite, suficiente para contrariar a força da gravi-
ca chega realmente a aproximar se. tem, portanto, que lhe imprimir suficiente dade. Consequentemente, ele afasta se da
Imagine-se numa montanha a 150 km velocidade horizontal para que a sua Ira curvatura da Terra. Mas a gravidade do nos-
acima da superfície da Terra. Se pegar jectória de queda nunca toque na Terra. so planeta nunca deixa de se exercer sobre
numa maçã e a largar, ela cai na vertical. Escolhendo a combinação adequada o satélite, pelo que este acaba por desace-
Suponha agora que atira a maçã em direc- de impulsão de baixo para cima e na hori lerar e começar a cair em direcção à Terra.
ção ao horizonte: ela cairá, mas segundo zonlal, os controladores de missão podem A força cinética do satélite no sentido hori
uma trajectória curva. Se ela for lançada colocar um satélite numa órbita de quais zonlal faz com que ele não "acerte" na Ter-
com velocidade suficientemente grande, a quer dimensões e forma, desde a circular à ra. K na queda ele adquire novamente velo-
cidade, pelo que, ao completar uma órbita,
a sua velocidade é novamente bastante
para o tornar a afastar da Terra e iniciar
uma segunda órbita elíptica.
Quase todos os satélites de comunica
coes. que recebem ou retransmilem men-
sagens telefónicas e de televisão, percor-
rem órbitas circulares sobre o equador a
uma altitude de 35 800 km. Um satélite nes-
ta órbita desloca-se à mesma velocidade
que a Terra, pelo que as suas coordenadas
se mantêm fixas em relação ao solo.
As empresas de comunicação preferem
estes satélites "geocstacionários", porque
podem usar antenas fixas para enviar si-
nais de e para os satélites em vez de segui-
rem alvos que se movimentam no espaço.
Embora em teoria um satélite em órbita
devesse permanecei eternamente m i es
paço, tal não acontece frequentemente. Se
a sua órbita o faz aproximar ate algumas
Reparação de satélites. Em Abril de 1984, o astronuuta George Nelson — na sua unidade centenas de quilómetros da Terra, a atmos-
tripulada de manobra (em baixo, ã direitaj - saiu do ixâoém Challenger a fim de recuperar o fera que ainda existe a essa altitude provo
Solar Max. lançado em 1980 para observação do Sol. Os astronautas, que repararam o ca atrito no satélite, levando o a perder ve
satélite, intitularam se. humoristicamente, a Companhia Ás de Reparações de Satélites. locidade. cair na atmosfera e arder.

171
Como são controladas as sondas espaciais
Os astrónomos têm hoje muitos conheci
mentos acerca do sistema solar graças às
informações colhidas por naves espaciais
não tripuladas comandadas da Terra. Sob
muitos aspectos, comandar uma destas
naves é como dirigir um robô por controle
remoto. A única forma de mandar sinais
através do espaço é por rádio, mas a distân-
cias Ião grandes os sinais de rádio tornam-
•se demasiado fracos.
Assim, para se enviarem instruções às
sondas espaciais, montaram-se à volta
do Mundo enormes antenas e pratos pa-
rabólicos. Entre eles, contam se três
construídos pela Agência Espacial Nortc-
Americana, a NASA. Cada prato da sua A "Voyager 2" visita os planetas. Desde o seu lançamento eni 20 de Agosto de 1977. a
Deep Space Network, a DSN (Rede de Co- Voyager 2 já passou por Júpiter. Saturno. Urano c Neptuno, colhendo dados científicos e
municação do Espaço Distante), tem um fotografias que transmitiu para a Terra. Nu imagem, o circulo interior representa a Temi. o
diâmetro de 64 m. Situam-sc na Califór segundo. Júpiter, o terceiro. Saturno e o ú/timo. Urano. O próximo planeta será Neptuno.
nia, Espanha e Austrália, por forma que
permanentemente pelo menos uma an res enviam instruções, via rádio, ao prato das são tão grandes que pode até dizer-se
tena possa estar em contacto com uma conveniente da DSN. Um potente trans- que algumas sondas são construídas so-
sonda espacial. missor remete depois essa mensagem à bre o dorso das antenas. Os pratos das Pio-
A sala de comandos das sondas ameri sonda espacial, que a capta por meio da neers têm 2,70 m de diâmetro, c os das
canas fica no Jet Propulsion Laboratory sua antena parabólica. Voyagers, 3,70 m. O prato transmite o sinal
(Laboratório de Propulsão a .lado), em Pa Para poderem receber com clareza as a um computador a bordo da sonda, onde
sadena, Califórnia Daqui, os controlado- instruções da Terra, estas antenas das son- é descodificado. O computador dá então
as instruções necessárias, que tanto po-
dem ser ordens para que um jacto auxiliar
comece a funcionar a fim de alterar o rumo

OS GERADORES DE ENERGIA
DAS "VOYAGERS"
Cada sonda Voyager recebe a sua ener-
gia eléctrica de um gerador nuclear mi
niatura formado por três cilindros metá-
licos, cada um com 43 cm de compri
mento por 33 de largura, ligados pelas
extremidades e contendo dióxido de
plutónio, uma substância radioactiva
O núcleo de cada cilindro é envolvi
do por centenas de termopares -cir-
cuitos eléctricos em miniatura consis-
tindo numa peça de silício e outra de
germânio. Uma das extremidades de
cada lermopar é aquecida pelo plutó-
nio em desintegração; a outra aponta
para o exterior, para o espaço frio.
A diferença de temperatura entre as
duas extremidades dos termopares ori-
gina a passagem de uma corrente eléc-
trica. Quando os electrões do silício são
perturbados pelo aquecimento, os elec-
trões livres deslocam-se em direcção ao
Saturno. Realçando as fotografias tiradas gennânio, gerando uma corrente.
pela Voyager com cores falsas, os cientistas Quando as duas sondas Voyager fo
conseguem observar mais facilmente as ram lançadas em lí)77, os cilindros
faixas da atmosfera que rodeiam o planeta. produziam, em conjunto, 475 W de
A Voyager fotografou também a superfície energia eléctrica. Mas com a desinte-
coberta de gretas e crateras de Enceladus (à gração do plutónio, esta energia dimi-
direita), uma das muitas luas de Saturno, de nui 7 W por ano.
uma distância de 118 400 km.

172
M e r c ú r i o . Em 197:3. a Mariner 10 A medida que a sonda espacial se afasta.
tirou uma sequência de mais de O seu sinal vai-se tornando cada vez mais
200 fotografias de Mercúrio, que fraco. Nesta altura, a Voyager I está para
depois foram reunidas num mo- a l é m do planeta Plutão, a cerca de 4800
saico para dar a imagem comple- milhões de q u i l ó m e t r o s da Terra Apesai
to. EstQ fotografia revelou que a das e n o r m e s d i m e n s õ e s d e u m a antena
superfície do planeta, o menor do DSN, a energia total que ela consegue cap-
sistema solar, se assemelha à da tar da Voyager é apenas de alguns milioné
Lua. o que sugere que os dois le- sirnos de m i l i o n é s i m o d a q u e l a q u e faz
nham aproximadamente a mes funcionar um relógio de pulso electrónico.
ma idade peio menos 4000 mi- Mas, ampliando os sinais, a antena conse
lhões de anos. gue que eles sejam recebidos corri nitidez
no Jet Propulsion Laboratory.
da .sonda espacial c o m o para que a câma- A sonda, c o n t u d o , possui urna quanti- Outro problema nas comunicações c o m
ra inicie uma série de fotografias. dade limitada de energia para transmitir os as sondas distantes é o tempo que os sinais
A sonda t a m b é m envia sinais para a Ter seus sinais. Se está destinada a passar per- de rádio emitidos da Terra demoram a atin-
ra. Alguns são simples "recados" que infor- to do Sol, estará equipada c o m painéis so- gi las. Quando a Voyager2 passou por Ura
mam os controladores de que todos os sis- lares q u e c o n v e r t e m a energia solar em no em Janeiro de 1986, por exemplo, esta
temas da nave estão a funcionar correcta e l e c t r i c i d a d e . Mas u m a s o n d a c u j a rola va a cerca de 4800 milhões de quilómetros
mente. Outros transportam dados científi- seja m u i t o distante do Sol necessita de pe- de distância. Mesmo pro pagando -se a ve
cos, tais c o m o fotografias do planeta. quenos geradores nucleares (v. caixa). locidade da luz, os sinais de televisão da
Voyager levaram duas tioras e meia a che-
Jiipiler e as suas luas. Em 1979. a Voyager 2 fotografou o planeta Júpiter e algumas das suas gar à Terra, sendo preciso o mesmo tempo
luas. O pequeno disco sobre a superfície do planeia é Europa, e a gravura pequena (em para um sinal ir da Terra ã sonda. Esta de-
baixo) mostra o satélite fo. mora de cinco horas significa que Iodas as
instruções tiveram que ser programadas
meses antes do encontro c o m Urano, sen
do depois transmitidas antecipadamente â
Voyager, q u e as g u a r d o u nos seus dois
c o m p u t a d o r e s . Q u a n d o a s o n d a passou
então por Urano, os controladores da mis-
são puderam apenas esperar e fazer figas.
Felizmente, todos os sistemas funciona-
ram de acordo c o m o planeado, e a Vaya
ger enviou para a Terra 700 fotografias por-
menorizadas de Urano e dos seus satélites.

M a r t e . Em 1976. um pequeno módulo de


aterragem destacado da Viking 1 recolheu
porções do solo rochoso avermelhado de
Marte e procurou nele vestígios de organis
mos vivos. Nenhum foi encontrado.

IV:Í
quências visíveis. As cores das fotografias
são, por consequência, alteradas para que
Fotografias por satélite para a radiação infravermelha, normalmente in-
visível, seja apresentada como uma cor vi-
prever as secas ou descobrir petróleo sível. 0 esquema habitual é colorir de en-
carnado a imagem infravermelha, de verde
a imagem normalmente vermelha e de
Na década de 70, um grupo de cientistas rio solo com sete comprimentos de onda azul a imagem verde.
americanos identificou 25 tipos de cultura diferentes. Três são visíveis: azul, verde e Uma vez colorida uma imagem com es
em quase 9000 campos do Imperial Vallcv, vermelho; os outros quatro são as ondas tas cores falsas, a vegetação apresenta se
da Califórnia, sem sequer se terem aproxi- infravermelhas ou quase infravermelhas, vermelha, porque as Colhas das plantas são
mado deste vate. O que tornou possível a invisíveis aos olhos humanos. Estas dife- boas reflectoras dos infravermelhos. Os
identificação das culturas foram as fotogra- rentes faixas de cor permitem aos cientis- tons rio vermelho em cada campo ou piau
fias tiradas por um satélite que passara so- tas distinguir entre diversos terrenos ou co- tacão correspondem às diferentes formas
bre o vale à altitude de 920 km. berturas vegetais. Dentro de certa medida, por que as diversas plantas reflectem as
Diversos satélites, entro eles os ria série é possível fazê-lo à vista desarmada: as fo- radiações infravermelhas, o que permite
americana Landsal e o francês SPOT. fo- lhas de uma conífera, por exemplo, têm aos cientistas identificarem com rigor as
ram lançados com a única finalidade de um verde mais azulado que as de uma ca- diversas espécies vegetais.
fotografar a Terra. A fotografia à luz normal ducifólia. Mas esta comparação envolve Os satélites que utilizam a fotografia por
do .Sol é boa para determinados fins — por apenas os comprimentos de onda azul e infravermelhos ajudam também a identifi-
exemplo, para ajudar os cartógrafos a faze- verde. Quando os cientistas do Landsal car o grau de secura de uma região. A
rem mapas mais rigorosos. Os primeiros observam todas as faixas de cores, conse- quantidade de água nas folhas de uma
LandSatS descobriram que as cartas rio Pa- guem detectar uma "impressão digital" planta determina a quantidade de radiação
cífico tinham marcadas certas pequenas distinta para cada tipo de planta, que é infravermelha que a planta reflecte. Os
ilhas com erros até 16 km das suas posi- mais vívida se se observar sob certos com- cientistas podem assim verificar se as plan-
ções reais. primentos de onda e mais escura se sob tas sofrem de falta de água, permitindo aos
Mas os cientistas conseguem obter mui- outros. lavradores controlar as regas e prever as
to mais informações quando tiram foto- Os contrastes entre os diferentes tipos secas.
grafias sob um largo espectro de compri- de vegetação são mais destacados com Também os geólogos utilizam as ima-
mento de onda. O Landsal tira fotografias raios infravermelhos rio que com as fre- gens do Landsal para prever onde pode-

Culturas de algodão codificadas por


cores. A fim de se conhecer a distribuição
dos campos de algodão no oaie de San .loa
quin. ria Califórnia (em cima), em 1975. um
satélite Landsal fotografou o vaie utilizando
diferentes comprimentos de onda de luz. O
vermelho representa o algodão, o amarelo,
0 açafrão-bústardo. o verde é reslol/io c 0
azul são terrenos de pousio.
£
Floresta tropical em regressão. A ima-
gem à direita, obtida pelo Landsal em 1981,
regista a desflorestaçâo ocorrida na selva
amazónica. A clareira (a azul) resulta da
penetração progressiva das culturas.
ráo sor encontrados petróleo e minérios.
Numa fotografia a cores reais, a cor das
rochas descobertas pode dar uma indi-
cação sobre a sua composição: as gre-
das e o calcário são brancos, os granitos
são geralmente claros, os basaltos es-
curos. Mas, lai como a vegetação, os dife-
rentes tipos de rocha têm "impressões
digitais'* distintas quando observados
sob a radiação infravermelha. Torna se
assim possível identificar os tipos de ro-
cha que contêm, por exemplo, manga
nés ou crómio.
As fotografias por satélite revelam falhas
nas rochas, além de abóbadas e inclina
ções nos estratos rochosos, que poderão
não ser evidentes a observadores no solo.
Fazendo mapas destas características, os
geólogos podem concluir a localização
provável de veios de minério ou jazidas de
petróleo.
Os geólogos soviéticos têm obtido inú-
meras informações de câmaras instaladas
nas suas estações espaciais tripuladas das
séries Salyut e Mir. listas máquinas tiram
seis fotografias simultâneas nas frequên-
cias visíveis e infravermelhas, e os resulta-
dos já conduziram à descoberta de novos
campos gasíferos e petrolíferos.
Os satélites futuros levarão mais longe
estas possibilidades. Cientistas do labora-
tório de Propulsão a Jacto da NASA, em
Pasadena, Califórnia, têm aperfeiçoado
instrumentos capazes de pesquisar o solo
a muito mais numerosas frequências que
as câmaras soviéticas em simultâneo. O es-
pectrómetro gráfico aerotransportado Espião aéreo. Em U)84, um satélite americano tirou esta fotografia do Estaleiro de Nikolaiev,
mede 128 faixas na banda dos infraverme- na URSS. onde estúOQ em construção o primeiro porta-aviões nuclear russo. O navio está em
lhos, e o seu sucessor abrangerá 224. Estes duas partes, vendo-se a proa e a popa, lado a lado. sol) o pórtico.
novos instrumentos serão capazes de dis-
tinguir plantas que tenham absorvido do das por satélites. Os geólogos e os econo rem uma guerra, precisam de fotografias
solo elementos não habituais. Desta for- mistas analisam fotografias tiradas do es- detalhadas que lhes permitam conhecer o
ma, estudos pormenorizados das plantas paço que mostram as rochas c as culturas número de soldados num campo de bata
serão indispensáveis para os pesquisado do solo. E os astrónomos observam as es lha ou identificar aviões ou navios.
res de minério. trelas e galáxias distantes sem serem afec- Os mais recentes "satélites-espiões"
tadas pela atmosfera terrestre. Mas como é americanos, os da série KH 11, transmitem
que estas imagens chegam até nós? as suas fotografias por meio das técnicas de
O processo mais vulgar da transmissão televisão. Mas as imagens televisivas não
Como é que as de fotografias a partir do espaço é utilizar as são tão nítidas como as registadas em filme
de 16 mm ou de 35 mm. Quando se utilizam
ondas de rádio e emitir as imagens para a
fotografias por Terra do mesmo modo que se faz com a
televisão. A qualidade dos pormenores
filmes ou películas, estes lêm de ser envia-
dos fisicamente para a Terra. Se as fotogra
satélite chegam que conseguem distinguir se depende do
espaçamento entre as linhas que formam
fias são tiradas de uma nave espacial tripu-
lada, os cosmonautas, ao regressarem,
à Terra? a imagem: quanto mais linhas, mais por
menores se obtêm.
transportam os filmes consigo, o que é ob-
viamente impossível no caso de naves não
O satélite mais avançado do Mundo tripuladas. Por isso, os Americanos e os
No espaço, câmaras fotográficas gigantes para pesquisas do solo, o SPOT francês, Russos — e mais recentemente os Chine-
que orbitam a Terra conseguem distinguir transmite G000 linhas por imagem. Isto sig- ses — já construíram satélites que devol
no solo objectos com apenas 30 cm de nifica que. numa imagem que abranja vem automaticamente os filmes à Terra.
diâmetro, listão instaladas em satélites do uma área de 100 km- tirada de 920 km de Os satélites americanos Big Bird aperfei-
tamanho de um autocarro de 15 m de com altitude, se conseguem ver objectos com çoaram esta técnica. O filme exposto é co-
primento e ocupam metade da sua área. 10 m. Numa fotografia de toda a cidade de locado numa de seis cápsulas de reentra-
Os comandos militares utilizam-nas como Paris, por exemplo, conseguir-se-ia distin- da, que depois é ejectada e penetra na at-
"espiões aéreos". guir o Arco do Triunfo. mosfera terrestre. Quando cai, de pára-
Mas a fotografia por satélite tem outros Os peritos de informações militares pre- quedas, a cápsula é recolhida, ou "laça-
fins. Todos os dias o boletim meteorológi- tendem geralmente distinguir pormeno- da", por um laço de arame rebocado por
co da televisão nos mostra fotografias tira- res ainda mais diminutos. Ao acompanha- um avião de transporte C-130 Hercules.

175
Albert Einstein: "Deus náo joga aos
dados com o Universo"
Em 2 de Agosto de 1939, o físico Albert
Einstein enviou ao presidente dos Es-
tados Unidos, Franklin D. Roosevelt,
aquilo que chamou "uma carta de
consciência". Alarmado com a as-
censão da Alemanha nazi - e
temendo que Hitler viesse em
breve a possuir a bomba atómi-
ca —, Einstein renunciou ao
pacifismo em que até aí vivera.
"Certos aspectos da situa-
ção que agora se vive exigem
que a Administração esteja
atenta e, se necessário, tome ac- Einsteln na velhice. Morreu aos 76 anos, e
ções imediatas", escreveu Ein- na velhice mostrou náo ter "respeito" pelas
stein com um grupo de outros pessoas — especialmente por aquelas que
cientistas. "No decurso dos últi- O fotografavam nos seus dias de anos.
mos quatro meses, criaram-se to-
das as condições ... para se conse- teve então entrada automática no instituto,
guir provocar uma reacção nuclear onde passou os quatro anos seguintes es-
em cadeia numa grande massa de urâ- tudando matemática e física. Após um cur-
nio, o que geraria enormíssimas quanti to período como professor de Matemática
dades de energia e novos ele- em Zurique, tornou-se cidadão suíço e, em
mentos semelhantes ao rádio." 1902, (oi admitido pelo Departamento de
Alertou para o facto de no- Patentes Suíço, em Berna, como "técnico
vas bombas "extremamente estagiário de terceira". Em 1905, enquanto
potentes" poderem em breve ali trabalhava, publicou quatro importan-
ser fabricadas pelos físicos ale- Einstein em Berlim. Em 19/6, Einstein trabalhava na tes estudos - incluindo a primeira parte
mães. "Uma única bomba des- Academia das Ciências de Berlim. Nesse ano sugeriu da sua revolucionária teoria da relativida-
te tipo, transportada de barco e que a gravidade não era uma força directa, mas a conse- de, a teoria restrita (v. caixa).
deflagrada num porto, podia quência de uma curvatura do espaço. Deduziu também matematicamente
perfeitamente destruir a totali- que massa e energia são intermutáveis, ex
dade do porto e parte do território em re- Einstein nasceu na cidade industrial de p r i m i n d o esta noção na sua fórmula
dor", afirmou. Ulm, na Alemanha, em 14 de Março de E=mc2. Além de abrir o caminho para a
Ao receber a carta, Roosevelt criou ime- 1879. No ano seguinte, a família mudou-se bomba atómica, esta teoria revelou o se-
diatamente uma Comissão Consultiva do para Munique, onde o pai e um tio abriram gredo do Sol. Ambos os processos consis-
Urânio. Mas a decisão de se fabricar uma uma pequena oficina de mecânica e elec- tem em reacções nucleares, nas quais
bomba atómica americana só foi tomada tricidade. O interesse de Albert pelo mun- quantidades diminutas de massa nuclear
em Dezembro de 1941, pouco depois do do da física despertou nele aos 4 anos, são libertadas sob a forma de luz e calor
ataque japonês à base naval americana de quando estava doente na cama. O pai dera (energia). Em 1909, Einstein demitiu se do
Pearl Harbor, no Havai, que lançou a Améri -lhe uma bússola para brincar, e ele senti- Departamento de Patentes e passou ai
ca na II Guerra Mundial. Depois do seu aviso ra-se fascinado pelo facto de a agulha guns anos ensinando Física Teórica nas
inicial, Einstein não tomou qualquer parte apontar sempre para o norte, por muito Universidades de Berna, Zurique e Praga e,
na criação da bomba, que foi ensaiada com que virasse a bússola. Tinha 6 anos quan- finalmente, em 1914, na de Berlim. Dois
êxito em Julho de 1945. No mês seguinte, do a mãe o iniciou na música, e tomou-se anos depois, a meio da I Guerra Mundial,
foram lançadas, com efeitos devastadores, mais tarde um violinista entusiástico, com publicou a segunda parte da sua teoria da
bombas atómicas sobre as cidades japone- especial atracção por Mozart. Era muito relatividade - a teoria geral.
sas de Hiroshima e Nagasaki. Estes bom bom em matemática, e pelos 11 anos estu: Em 1921, Einstein foi galardoado com o
bardeamentos obrigaram o Japão a render dava física ao nível universitário. Estudou Prémio Nobel da Física - devido aos seus
se. Mas quando Einstein soube das mortes também latim, grego e francês, mas era trabalhos sobre o efeito fotoeléctrico, que
e destruições maciças, ficou desesperado. surpreendentemente fraco nesta última demonstrou que a luz não se propaga num
Em 1905 — com 26 anos —, Einstein disciplina — o que posteriormente deu fluxo contínuo, mas em "corpúsculos on-
divulgou a fórmula, de aspecto tão sim- origem à lenda de que fora mau aluno. dulatórios" denominados fotões.
ples, E=mc2 (em que E é a energia, m a Em 1895 — aos 16 anos —, o seu mau A sua teoria da relatividade tinha-se reve-
massa e c a velocidade da luz), mostrando francês fez com que reprovasse no exame lado demasiado controversa para a comis-
que uma pequena massa podia ser con- de admissão ao afamado Instituto Técnico são do Prémio Nobel, e ele decidiu divulgar
vertida numa enorme quantidade de ener- Federal de Zurique. Contudo, como a ida- os seus trabalhos. Passou os anos seguin-
gia. Entre outras consequências, levou à de normal de admissão era aos 18 anos, foi tes viajando pelo Mundo, "a assobiar a mi-
invenção da bomba atómica, facto que aconselhado a continuar a estudar noutro nha música da relatividade". Andou nas pa-
atormentou a consciência de Einstein du- local e tomar a candidatar-se dali a cerca de rangonas dos jornais ao afirmar: "Deus náo
rante os últimos 20 anos da sua vida. um ano. Munido de um diploma geral, ob- joga aos dados com o Universo" — manei-

176
ra curiosa de dizer que o Universo tem pa- vido ao seu muito apregoado apoio ao sio- fixar-se nos EUA Tomou-se cidadão ame-
drões, a questão é descobri-los. nismo, movimento que procurava instau- ricano em 1941, e 11 anos depois recusou a
Em 1933, enquanto Einstein se encon- rar na Palestina um estado judaico de go- presidência de Israel, afirmando ser "mui-
trava nos Estados Unidos, Hitler subiu ao verno independente. to ingénuo" para político. Morreu em Prin-
poder na Alemanha. O Fúhrer não podia Na ausência de Einstein, tropas de assal- ceton, Nova Jérsia, em Abril de 1955, e até
acreditar que "um mero judeu" pudesse to queimaram-lhe os livros, pilharam a sua ao fim da vida abominou o terrível meio de
ter elaborado a teoria da relatividade. Afir- casa à beira do rio, perto de Berlim (onde aniquilação que os físicos nucleares ti-
mou ate que Einstein roubara a ideia de se dedicava a andar de barco à vela), e con- nham posto à solta no Mundo. "Se tivesse
uns papéis encontrados no cadáver de um fiscaram-lhe a conta bancária e o conteú- sabido que as minhas teorias levariam a
oficial alemão morto na I Guerra Mundial. do do cofre da sua mulher, Elsa. tais destruições", afirmou uma vez, "antes
Os nazis também detestavam Einstein de- Mas no final desse ano, Einstein decidiu queria ter sido um fabricante de relógios."

OS PARADOXOS EINSTEINIANOS DO TEMPO E DO ESPAÇO


Na sua teoria restrita da relatividade, uma minúscula fracção — o tempo pas- curta entre dois pontos seria uma linha
Einstein afirmou que todo o movimento sara mais devagar a bordo do satélite. curva
do Universo é relativo, pois que, no vazio A fórmula de Einstein E = me2 signi- Em 1919, a sua teoria foi comprovada
do espaço, nada existe em referência fica que a massa de um objecto pode por uma equipa de astrónomos britâni-
ao qual ele possa ser medido. Afirmou efectivamente ser. convertida em energia. cos que fotografaram um eclipse total do
igualmente que a velocidade da luz Chegou a esta fórmula partindo da afir- Sol — altura em que é possível fotografar
— cerca de 300 000 km/s — é constante mação de que a massa de um objecto estrelas perto do Sol. As fotografias foram
em relação a um observador, qualquer aumenta com a velocidade - seguindo- comparadas com outras das mesmas es-
que seja o movimento deste. Queria com -se daí que a sua energia tem igualmente trelas quando o Sol não se encontrava
isto significar que a luz emanada de uma de aumentar, pois um objecto mais pesa perto delas. As posições diferentes das es
estrela situada à frente da Terra é recebida do contém mais energia que um outro trelas nas duas fotografias mostraram
nesta ao mesmo tempo que a de uma mais leve viajando à mesma velocidade. que a luz emitida por elas fora deflectida
outra estrela situada atrás da Terra, ainda A energia adicional é igual ao aumento da pelo Sol segundo o ângulo previsto por
que esta se aproxime de uma estrela e se massa rrfultiplicado pelo quadrado da ve- Einstein.
afaste da outra a 29 000 km/h. locidade da luz.
Concluiu que a velocidade da luz é a Na sua teoria geral, Einstein afirmou Notas de uma palestra. Estes cálculos
única propriedade física constante no que um raio de luz seria deflectido pela foram feitos por Einstein num quadro pre-
Universo; as outras propriedades físicas gravidade ao passar por uma estrela. O to durante uma palestra na Universidade
devem ser diferentes para pessoas que campo gravitacional da estrela forçaria de Oxford, quando, em 1931, o físico ali
viajem em diferentes direcções e a veloci- o raio de luz a curvar-se para "dentro" — esteve como professor visitante. Dois anos
dades diferentes. e, em certo sentido, curvaria o pró- depois, quando Hitler se tornou chanceler,
Calculou que o tempo passaria mais prio espaço. Por isso, a distância mais trocou a Alemanha pelos EUA
lentamente numa nave espacial viajando
a uma velocidade aproximada da da luz
do que para uma pessoa que se mantives-
se estacionária em relação à nave. Esta i 1 ÍU '1 1 et h
também pareceria mais curta vista pelo
observador estacionário, e a sua massa
aumentaria. À velocidade da luz, a sua c { cif ZT *tt
massa seria infinita, pelo que nenhum
objecto pode atingir essa velocidade,
pois, para o fazer, necessitaria de uma for- r
\ j
ça infinita A teoria restrita conduz ao "pa-
radoxo dos gémeos". Se urn dos gémeos
viaja no espaço a uma velocidade apro-
ximada da da luz, não se sentirá diferen-
te do outro gémeo que ficou na Terra. C\-/ • K,
Contudo, o tempo a bordo da sua nave
poderá passar, por exemplo, duas vezes
mais lentamente do que na Terra. Por
isso, se o astronauta estiver longe da Ter- si
ra durante, digamos, 10 anos, quando
regressar será apenas cinco anos mais
V ff)
velho — enquanto o seu gémeo terá en-
velhecido 10 anos.
A teoria do tempo de Einstein foi com-
provada em Julho de 1977, quando se co-
locaram num satélite americano e se pu-
seram em órbita relógios atómicos extre-
mamente precisos. No regresso, os reló
gios foram comparados com outro reló-
gio semelhante e verificou-se que os
relógios do satélite se tinham atrasado

177
Uma fita métrica sobre o Universo

Uma vista de olhos sobre o imenso vazio. .4 galáxia de Andrómeda pode ser vista a olho nu como uma ténue mancha no céu, apesar de
distar de nos 22 milhões de anos-luz. Estu distância representa cerca de um vigésimo milésimo do diâmetro do unioerso risível.

178
Um observador no hemisfério norte que cálculo é idêntico ao efectuado com a me- DF/TERMINAÇÃO DF. DISTAMCIAS
olhe para o céu numa noite dos últimos dição da distância â Lua. PF.I.A PARALAXE
meses do ano conseguirá distinguir uma Os radioastrónomos conseguiram refle-
ténue mancha de luz na constelação de xos de radar de todos os planetas rochosos
Andrómeda. Esta mancha é, na realidade. Mercúrio, Vénus e Marte -, mas não
um aglomerado de estrelas, a galáxia de podem receber um oco de radar de Satur-
Andrómeda o mais distante objecto que no ou de Júpiter, pois estes são formados
se consegue ver a olho nu: a sua luz demo- por gases, que não reflectem o radar.
ra 2.2 milhões do anos a chegar até nós.
Os cientistas exprimem as distâncias no O Sol
espaço com base no que de mais rápido O radar também não pode sor utilizado
existe no Universo a lux Um raio de luz para se calcular a distância ao Sol. porque
propaga se a 94ri0 biliões de quilómetros este não é sólido. Assim, os astrónomos
num ano. Por isso. podemos definir as dis- baseiam os seus cálculos na lei do movi
tancias referenciando as ao tempo que a mento planetário a terceira lei exposta
luz de unia estrela ou de outro corpo ceies pelo astrónomo Kopler em 1618. Diz essa
te leva a chegar à Torra. Estas distâncias são lei que o quadrado do tempo da revolução
expressas em anos luz. orbital de um planeta em torno do Sol é
directamente proporcional ao cubo da res-
A Lua pectiva distância média ao Sol.
A Lua ó o objecto do Universo mais pró Utilizando esta loi, os astrónomos pu-
ximo da Terra, à distância média de deram computar a distância media da Ter
384 -100 km, Esta distância varia ligeira ra ao S o l , que se sabe hoje ser de
mente, porque a sua órbita é elíptica. 149 597 870 km. A distância Terra-Sol é
Quando os astronautas da missão Apol- definida como uma unidade a que se cha-
lo visitaram a Lua. entre 1969 c 1972. deixa mou unidade astronómica, ou LIA. Os as-
ram no planeia pequenos "retrorreílccto- trónomos utilizam esta unidade na deter
res", semelhantes aos que existem na par minaçáo das distâncias dos outros plane-
te traseira de um automóvel. Os astróno tas ao Sol. Para o fazerem, têm primeiro
que conhecer a distância da Terra ao pla- Como os astrónomos não podem utilizar o
mos, na Terra, dirigem a estes relrorreíloc-
neta, para o que utilizam o método da pa radar pura calcular a distância de uma estre
tores um potente feixe do raios laser, e
ralaxe ou o radar. la. sen em se do método du paralaxe. Ti
cerca de dois segundos e meio depois os
ram-se fotografias do céu, sempre do mes
seus telescópios captam um ligeiro clarão Por meio do radar, c possível saber que a
mo loculdu Terra, durante lodo O ano. Estas
quando o feixe regressa â Terra. Multipli distância de Vénus à Terra quando os dois
mostram que certas estrelas se mantém "li
cam então o tempo de ida o volta do raio se encontram mais próximos entre si é de
xas" enquanto outras parecem "mooer-se".
pela velocidade da luz e dividem o resulta- 42 milhões de quilómetros. Mas os astro
As que aparentam movimento risível estão
do por dois para achar a distância da Terra nomos sabem lambem que Vénus demo
mais próximas da Terra do que as outras.
à Lua. As medições desta distância têm ra 224,7 dias (0.615 do ano) a completar
Para acharem a distância de ama estrela
uma margem de erro de apenas alguns uma revolução em forno do Sol. Então,
que se "move", os astrónomos examinam
centímetros. Verificando as constante segundo a lei de Keplcr, a distância de Vé-
duas fotografias tiradas do mesmo observa
mente, os cientistas descobriram que a nus ao Sol é do 0,72 UA (pois que 0,615 de
tório com o intervalo de seis meses (A). Utili-
Lua está agora cerca de 30 cm mais distan um ano é igual ao cubo do 0,72 UA).
zando como linha de base o diâmetro da
te da Terra do que quando os astronautas
órbitu terrestre (li), tracam-se duas linhas
da Apollo a visitaram As estrelas próximas entre a estrela e os extremos desta linha de
A Lua e a Torra estão a afastar se porque As estrelas situam-se a distâncias milhões base (C). A intersecção das duas linhas é o
a fricção entro o fundo dos oceanos e a do vozes superiores à do Sol, por isso os vértice do ângulo do movimento aparente
água que se acumula com as marés está a asfrónomos utilizam técnicas diferentes (D), que é medido em segundos de arco
afrouxar gradualmente a rotação da Terra, para as calcular. A mais importante é o mé- Conhecendo o diâmetro da órbita da Terra e
fazendo a perder energia, e a acumulação todo da paralaxe, que envolve a medição a medida do ângulo do movimento, os as
de água das marés oceânicas puxa a Lua do ângulo entre duas direcções do posi trónomos podem calcular a distunaa à es-
para diante na sua órbita, fazendo-a ga ções aparentes do uma estrela e o seu rela- trela recorrendo à trigonometria
nhar energia. Por isso, a Lua está gradual- cionamento com a órbita da Terra.
mente a afastar-se da Terra, descrevendo Para o compreender, levante um dedo
uma órbita alargada. em frente da cara. feche um olho e marque O ângulo do paralaxe é medido em se-
a posição do dedo cru relação a um fundo. gundos de arco. Um segundo de arco é
Os planetas Agora, abra esse olho o feche o outro: o 1/3600 de um grau no firmamento, ou cer-
No caso dos planetas do sistema solar, os dedo pároco ter-se movido, e tanto mais ca de 1/2000 do diâmetro da Lua. A distân-
astrónomos não possuem reflectores que quanto mais perto estiver da cara. cia a uma estrela, em anos-luz. é 3,20 divi-
lhes devolvam os raios de luz, pelo que Em astronomia, o dedo é a estrela mais dido pelo sou ângulo de paralaxe. O resul-
empregam o radar. Antes de este existir, próxima, cuja distância está a ser medida. tado é-nos dado em parsecs. unidade do
utilizavam a velocidade da luz e o método Os astrónomos registam a sua posição, ob distância que corresponde à paralaxe de
da paralaxe para calcular as distâncias aos servada de dois pontos diferentes da órbita um segundo de arco, ou 3,20 anos luz.
planetas. Hoje, contudo, emitem ondas rá- terrestre, em relação a estrelas muito lon- Usando este método, os astrónomos en
dio em direcção ao planeta e aguardam gfnquas. Medindo o ângulo do movimen contraram já as distâncias de centenas das
que o sou eco débil regresse à fonte depois to aparente da estrela entre estas duas posi- estrelas mais próximas. A estrela mais per-
de reflectidas as ondas pela superfície ro- ções, chamado o ângulo de paralaxe, e co- to do Sol, por exemplo, é uma estrela pou-
chosa do planeta. As ondas de rádio propa nhecendo o diâmetro da órbita da Terra, os co luminosa chamada Próxima Centauri,
gam-se à velocidade da luz. pelo que o asfrónomos calculam a distância. que fica a 4,22 anos luz, ou 1,2 parsecs. A

179
maior é o seu brilho. Uma estrela com a
QUAL O TAMANHO temperatura de 10 000"C, por exemplo, é
DO UNIVERSO? 40 vezes mais brilhante que o Sol (cuja
temperatura é de 5500''O. Assim, se se en
Espelho gigante
Muitos astrónomos pensam que ele
é ilimitado, pelo que o seu tamanho contrai uma estrela com 10 000"C, mas
muito pouco brilhante, ela deverá estar a
para explorar
real não pode ser medido. Mas é
possível calcular a distância entre os uma distância muito grande. Antes de utili-
zarem este método relativamente simples,
os céus
objectos mais afastados que se co-
nhecem em todas as direcções — os astrónomos têm de conhecer a relação
por outras palavras, medir o diâme- entre o brilho e a temperatura e a distância Para obter uma imagem bem focada de
tro do universo observável. A luz das à Terra. É por isso que, primeiramente, uti- urna estrela ou de um planeta, os espelhos
galáxias mais distantes levou 15 a 20 lizam métodos como o da paralaxe, no dos telescópios têm de ter a forma correc-
milhões de milhões de anos para caso de estrelas próximas. Depois de medi- ta e manté-la. Um dos grandes proble-
chegar à Terra. Por isso, o diâmetro rem o brilho dessas estrelas, podem então mas a enfrentar é a variação de temperatu-
do Universo, até onde podemos ob- servir-se dos dados que já conhecem para ra durante a noite. Todos os materiais
servar, é de 40 milhões de milhões apurar o brilho relativo de estrelas mais dis
anos-luz, ou 385 milhões de mi- tantes. A medição do brilho das estrelas
lhões de triliões de quilómetros. permite aos astrónomos medir a distância
a qualquer estrela da Via Láctea, algumas
delas a 100 000 anos-luz da Terra.
estrela mais brilhante do céu, Silius, está a
8,6 anos-luz de distância, ou 2,64 parsecs. Galáxias próximas
Há um tipo de estrelas que funciona como
Estrelas distantes padrão de medição das distâncias a que se
Para estrelas situadas a distâncias superio encontram as galáxias mais próximas: são
res a 300 anos-luz, os astrónomos preci- as chamadas "variáveis cefeides", cujo bri-
sam de técnicas diferentes. Uma delas im lho se altera de modo regular.
plica conhecer a direcção em que a estrela Os astrónomos medem o tempo que
está a deslocar-se e a que velocidade. uma cefeide leva na pulsação, do brilho
Para se determinar a direcção, é muito máximo ao brilho mínimo e o regresso ao
mais fácil trabalhar-.se com um aglomc máximo. Kste intervalo denomina-se o pe-
rado de estrelas do que com uma estrela ríodo. As cefeides mais brilhantes pulsam
só. Muitas estrelas pertencem a aglome- mais lentamente que as de menor brilho,
rados, ou "cúmulos estelares", formados pelo que, uma vez determinado o período
por milhares de estrelas movendo se no de uma cefeide, pode deduzir se a sua lu-
espaço. A perspectiva faz com que as es minosidade. Se uma cefeide tem, por
trelas de cada aglomerado pareçam con- exemplo, um período de duas semanas, os
vergir. O ângulo de convergência das astrónomos poderão dizer que ela é 4000
suas trajectórias aparentes traduz a direc- vezes mais brilhante que o Sol. Estudando
ção em que os aglomerados se movem o aparente brilho ténue de cefeides em ga-
no espaço — em direcção à Terra, afas- láxias distantes, eles podem determinar a
tando se da Terra, a um ângulo de 45", e distância a que estas se encontram.
assim por diante.
A velocidade de uma estrela deduz-se da Os limites do Universo
sua luz. O movimento da estrela, aproxi- Na década de 20, o astrónomo americano
mando-a ou afastando a da Terra, altera os Hubble fez uma espantosa descoberta
comprimentos da onda da luz que aquela acerca das galáxias: elas afastam-se iodas
emite — a luz torna se mais azul se a estre- da Terra a velocidades que dependem das
la se aproxima, mais vermelha se ela se respectivas distâncias — quanto mais dis-
afasta —, o chamado efeito de Doppler. tantes, mais rapidamente se afastam. É a
Combinando o ritmo da alteração no chamada lei de Hubble, e o fenómeno dá-
espectro da estrela com a direcção de des -se porque o Universo está em expansão, o
locação do aglomerado, os astrónomos que significa que todas as galáxias se afas-
podem calcular a sua velocidade real atra tam rapidamente umas das outras.
vés do espaço e portanto calcular a distân- E possível medir a velocidade de uma
cia da Terra ao aglomerado. galáxia observando o seu espectro de luz e
verificando a alteração do comprimento
As estrelas mais longínquas de onda das riscas espectrais de acordo
Para calcular a distância a estrelas ainda com o efeito de Doppler. A lei de Hubble
mais longínquas, os astrónomos servem permite aos astrónomos calcular a distân-
-se de elementos como a temperatura e o cia com base na velocidade. Assim, se uma
brilho. A medição da temperatura de uma galáxia distante se afasta, digamos, a 3,2
estrela é muito fácil: uma estrela azulada é milhões de quilómetros por hora, multipli-
quente, com cerca de 20 000nC; uma estre cando a constante de Hubble (12,5, se tra
la branca ou amarela tem uma temperatu- balharmos em quilómetros/hora anos-
ra média; as estrelas alaranjadas ou verme -luz) pela velocidade da galáxia, eles po-
lhas são "frias" - cerca de 3000"C. dem calcular que ela se encontra a 40 mi-
Quanto mais quente é uma estrela, lhões de anos-luz.

180
comummente utilizados, incluindo o vi vel construir, em 1948. o maior telescópio ao longo de semanas, o que assegura a
dro vulgar, expandem-se ou contraem-se de então — o do monte Paloma/, no Sul da não-criaçáo de tensões que mais tarde
com as variações da temperatura Como a Califórnia, com um espelho de 5 m feito de iriam distorcer o espelho. A peça é depois
espessura do espelho de um telescópio é pyrex. afeiçoada até ã sua forma final, num pro-
menor no centro, esta zona arrefece mais Actualmente, na maioria, os espelhos cesso controlado por computador, para
depressa e contrai-se mais do que a coroa de telescópio são fabricados com uma que a curvatura parabólica seja a correcta.
exterior, o que distorce a forma do espelho mistura de vidro e cerâmica que quase náo Para lazer o espelho, a superfície da
e a imagem que elo reflecte. se expande. A superfície é revestida por
Até há pouco tempo, os espelhos dos uma camada de alumínio reflector. Um olho sobre o Universo. 0 telescópio
telescópios eram feitos de vidro vulgar. Par.', fazer um vulgar espelho de telescó- Wiltiam Herschel, em La Palma, nas ilhas
Mas os astrónomos pediam espelhos cada pio, o fabricante funde a matéria -prima de Canárias, é um dos maiores do Mundo
vez maiores, o que significava maior grau vidro o cerâmica num molde circular ligei- Com o seu espelho de -12 m. seria capaz de
de distorção. Com a invenção do vidro ramente côncavo, de diâmetro adequado detectar u chama de uma vela a 160 000 km
pyrex, que se expande e contrai apenas ao telescópio, Depois, a peça-base do es de distância ou quasares a milhões de
um terço do vidro vulgar, lornou-se possí- pelho é arrefecida com extrema lentidão anos luz.
peça-base é então revestida pela camada
reflectora: coloca-se numa câmara de vá- PORQUE OS TELESCÓPIOS USAM ESPELHOS EM VEZ DE LENTES
cuo, onde fio de alumínio e vaporizado por
calor, o o metal condensa se em tina cama- No século xvii, o físico inglês Sir Isaac lo mais agudo que a luz vermelha, com
da sobre a lace da peça-base. Newton apercebeu-se de que o tradicio maior comprimento de onda.
Estas técnicas de fabrico têm resultado, nal telescópio de refracção, que utilizava Assim, Newton desenhou um teles-
mas os engenheiros estão agora a projec- lentes de vidro para focar a luz das estre- cópio de reflexão que captava e focava a
tar ( i construção de telescópios muito las, trazia certos problemas. luz por meio de dois espelhos (feitos de
maiores, cujos espelhos seriam extrema Com efeito, as lentes produziam fran- uma liga de estanho e cobre conhecida
mente pesados se produzidos ã maneira jas de cores falsas em torno das estrelas. por metal speculum). A face dos espe
tradicional. Também o resto do telescópio Este fenómeno ocorre porque, quando lhos que recebia a luz era côncava como
teria de ser proporcionalmente maior, difi- um feixe de luz é desviado ao atravessar um espelho da barba, e por isso fixava a
cultando a respectiva mecânica e encare o vidro, as respectivas ondas, porque luz como uma lente. Os telescópios mo-
cendo todo o projecto. Por exemplo, um têm diferentes comprimentos, são des- dernos utilizam também espelhos para
espelho de 8 m para um telescópio de con- viadas segundo ângulos diferentes. A luz captar a luz. embora em tamanho já
cepção idêntica ao do monte Palomar azul, por exemplo, que tem ondas cur nada tenham a ver com o de Newton,
(que mede 5 m) pesaria quatro vezes mais. tas. é desviada (ou retractada) em ângu- que media 2,5 cm de diâmetro.
Uma oficina do Tucson, no Arizona.
EUA. criou um forno rotativo tendo em
mente espelhos grandes mas leves. Antes Mundo, o Véry l.arge Telescope (Telescó dos quais com um espelho de 8 m de diâ-
de se deitarem os pedaços de vidro, colo- pio Muito Grande), atacam o problema de metro. Pequenos espelhos farão convergir
cam se dentro do molde blocos hexago- outra maneira: o telescópio - destinado a luz dos quatro telescópios sobre o mes-
nais de cimento. Quando o vidro funde, ao projecto do Observatório Astral Euro mo foco, trabalhando assim em conjunto
escorre por entre os blocos, formando uma peu (ESO), organização a que Portugal como uma única óptica, equivalente a um
rede de paredes finas muito semelhantes ã acaba de aderir (1990) - situar-seá em La telescópio de 16 m de diâmetro. Quando
estrutura de cera dos favos das colmeias. A Silla, no Chile, para obter as melhores ima- estiver completado, o Very Large Telesco-
estrutura de vidro resultante compôe-se de gens do céu meridional e será formado por pe será 10 vezes mais potente que o mais
'células" hexagonais tapadas em cima e quatro telescópios adjacentes, cada um potente dos telescópios actuais.
em baixo por uma placa de vidro. A placa
inferior é perfurada para que, quando todo
o conjunto tiver arrefecido, se possa varrer
o cimento quebradiço (o "mel") com jac-
tos de água. deixando um conjunto de fa-
Como se contam as estrelas?
vos de vidro vazio. Este espelho em favo tem
apenas um quarto do peso de um espelho Olhe para o céu numa noite límpida, e a listas. Mas, em vez de as contarem olhando
maciço da mesma dimensão. sensação que tem é de que vê milhões de por um telescópio, os astrónomos tiram
Mas como pode uma estrutura em favo estrelas. Na verdade, o que os nossos olhos fotografias através do telescópio e obser-
ser esmerilada para se tornar curva? Não 0 nos mostram não são mais que cerca de vam as posições das estrelas nas chapai
é: se fizermos girar rapidamente um balde 6000. Hoje. tirando fotografias com gran fotográficas. Cada fotografia apresenta
de líquido segundo um eixo vertical, o lí- des telescópios, os astrónomos conse- mais de 1 milhão de imagens, e um astro
quido é empurrado para a periferia e sobe guem contar milhões de estrelas. nomo levaria meses a registar a posição
pela parede do balde. Em resultado disso, Mas os astrónomos não se limitam a das estrelas de uma só dessas fotografias.
a superfície torna-se côncava. contá-las - pretendem saber exactamen- Neste caso, os lasers e os computadores
te qual a posição de cada estrela no céu são auxiliares preciosos para acelerar con-
Telescópios de espelhos múltiplos para poder regista la num catálogo de es- sideravelmente o processo. O astrónomo
Os astrónomos que estão a construir o te- trelas. Ainda antes da invenção do telescó- inglês Edward Kibblewhite construiu om
lescópio Keck, de 10 m, a ser colocado pio, por volta de 1(360, já os astrónomos Cambridge uni sistema fotográfico de re-
numa montanha do Havai, pensam que tinham registado as posições de todas as gisto automático que "lê'" uma lotografia
será demasiado difícil construir um único estrelas visíveis, servindo se de simples mi- em uma hora.
espelho com esse diâmetro. Assim, estão a ras, como as de uma espingarda. 0 aparelho de Kibblewhite foca um fei-
construir uma grande superfície reflectora Um telescópio não só amplia cada ob- xe de raios laser de hélio-néon sobre a cha-
constituída por 36 espelhos hexagonais jecto que vemos no céu. como capta mais pa fotográfica, estreitando o feixe até um
mais pequenos, que se juntarão entre si luz do que a vista desarmada; assim, além círculo muito diminuto que varre toda a
como ladrilhos para formarem a superfí- de mostrar muito mais estrelas, permite- chapa.
cie. Para que esta mantenha a sua forma nos ver estrelas muito menos brilhantes, Como a chapa é um negativo fotográfi-
correcta, os construtores montam entre os Na década de 1860, e com o auxilio de co, as estrelas aparecem como pontos ne-
espelhos 168 sensores que informam sem- um telescópio com uma lente de 7,"> cm, 0 gros contra um fundo claro. Quando 0 raio
pre que os lados adjacentes de dois espe- astrónomo prussiano Friedrich Argelan laser passa pela imagem escura de uma
lhos se desalinham — quando o telescó der registou a posição das estrelas que con- estrela, a sua luminosidade diminui. 0
pio é inclinado, por exemplo. \ow com- seguia observar de Bona. A sua lista conti- computador vai registando estas mudan-
putadores verificam os sinais emitidos pe nha 458 000 estrelas. Astrónomos argenti- ças de luminosidade do lasei e tomando
los sensores c enviam instruções a 108 pa- nos registaram as estrelas demasiado a sul nota da posição exacta de cada estrela, bem
rafusos de precisão ligados â face posterior para poderem ser vistas da Alemanha e como do respectivo brilho. Todas estas in
dos segmentos. Os parafusos rociam em quase triplicaram a lista para 1 072 000 es formações são registadas em fita magnéti-
resposta às ordens recebidas, realinhando trelas. ca. Nos meados da década de 90, quando a
a sequência dos espelhos. Os maiores telescópios actuais eonse máquina tiver analisado as fotografias de
Os astrónomos europeus empenhados guem revelar 1000 estrelas menos brilhan- todo o céu, a informação acumulada refe-
na construção do maior telescópio do tes por cada uma das registadas naquelas rir se á a mais de 1000 milhões de estrelas.

182
mas que, no entanto, não nos revela quan- visão da teoria de Einstein - que o Univer-
do ocorreu. Os radiotelescópios captam so não tem limites. A teoria afirma, na reali-
Como acabará um ligeiro ruído de fundo em todo o Univer-
so. A explicação mais provável é que se deva
dade, que existem duas possibilidades para
o Universo. Uma é a de que ele se encurva
o Universo? a ondas electromagnéticas emanadas dos
gases quentes do Big Bang e que ainda hoje
em redor de si próprio, como a superfície
de um planeta: embora não tenha limites, é
pulsam através do Universo. finito. Um viajante espacial que partisse
Há 15 000 milhões de anos, o Universo co- Conquanto os astrónomos estejam de numa determinada direcção e nunca alte
meçou subitamente a sua existência por acordo no que se refere ao nascimento do rasse o seu rumo regressaria ao ponto de
meio de urna tremenda explosão — o Big Universo, não o estão quanto à forma partida É um universo "fechado".
Bang. Os gases que se expandiram do cen- como ele acabará. Há duas possibilidades. A outra teoria é a de o Universo ser infini
tro da explosão acabaram por transformar- A energia do Big Bang pode ser suficiente to, O espaço prolongar-se infinitamente em
-se em galáxias, estrelas e planetas, incluin- para manter as galáxias indefinidamente todas as direcções. Neste Universo "aber
do a estrela Sol e o planeta Terra. Mas como em movimento. As estrelas de cada galáxia to", por muito longe que viajássemos, en-
se pode calcular quando tudo se deu? chegarão ao fim das respectivas vidas sob a contraríamos sempre novas regiões.
Nos anos 20, o astrónomo americano forma de buracos negros ou objectos sóli Qual das duas hipóteses é a correcta de-
Edwin Hubble descobriu que as galáxias dos e escuros chamados anãs negras, ou pende da quantidade de matéria que com-
se afastam umas das outras e que as mais estrelas de neutrões. Num futuro de 1 mi- põe o Universo Se existir matéria suficien-
distantes se deslocam a velocidades maio- lhão de milhões de anos, o Universo aca- te, a sua gravidade fará encurvar o espaço,
res que as mais próximas, como se consti- bará por morrer simplesmente. e o Universo será fechado. Neste caso, a
tuíssem os estilhaços de uma explosão Por outro lado, a força da gravidade en- gravidade será suficientemente forte para,
cósmica gigante. Dividindo as distâncias a tre as galáxias poderá afrouxar o ímpeto do finalmente, fazer parar a expansão do Uni-
que se encontravam pelas respectivas ve- Bing Bang e começar novamente a fazer verso e aproximar entre si as galáxias no
locidades, Hubble pôde calcular quando aproximar entre si as galáxias. O Universo Big Crunch. Os cálculos mais recentes so-
teve lugar esta explosão. A resposta (se- começará então a contrair-se. Esta teoria é, bre a quantidade de matéria indicam que
gundo as mais recentes e rigorosas obser- de momento, menos aceite, mas alguns esta não é suficiente para "fechar" o Uni-
vações) é: há 15 000 milhões de anos. astrónomos calculam as suas consequên- verso. Assim, este será, provavelmente, de
Para confirmarem este resultado, os as- cias se ela for verdadeira. Dentro de cerca dimensões infinitas, sem limite, e conti-
trónomos têm medido as idades dos de 100 000 milhões de anos, as galáxias nuará para sempre a expandir-se.
cúmulos estelares. As estrelas mudam de chocarão entre si e esmagar-se-ão conjun-
cor e dimensão à medida que envelhecem, tamente num ponto, num fenómeno a
transformando-se em gigantes vermelhas, que dão o nome de Big Crunch. O que
depois em anãs brancas. Estrelas de dife-
rentes massas evoluem a ritmos diferentes,
acontecerá a seguir é menos certo. A maté-
ria concentrada poderá explodir nova-
«Vendo»
por isso, mesmo que todas as estrelas de
um mesmo cúmulo (aglomerado) te-
mente como um Big Bang, produzindo o
nascimento de outro universo.
o invisível
nham nascido ao mesmo tempo, algumas
"envelheceram" mais rapidamente que
buraco negro
outras. Dentro de cada cúmulo, os astró-
nomos procuram as estrelas vulgares mais
volumosas que estejam prestes a transfor-
Em busca dos Quando uma estrela morre, pode deixar
atrás de si o objecto mais escuro e mais
mar-se em gigantes vermelhas. Sabem, em
teoria, o tempo que uma estrela vive antes
limites do destrutivo do Universo — um buraco ne-
gro. Este não emite luz nem qualquer outra
dessa transformação: o Sol, por exemplo,
viverá 10 000 milhões de anos, ao passo
Universo radiação, pelo cjue não pode ser observa-
do por qualquer espécie de telescópio.
que uma estrela de uma massa 20 vezes O buraco negro são os restos colapsados
maior se transformará numa gigante ver- Os astrónomos europeus estão empenha- de uma estrela velha. Uma parle da matéria
melha daqui a apenas 20 milhões de anos. dos na construção de um telescópio 10 ve- que anteriormente constituía a estrela
Pelas massas das estrelas que estão prestes zes mais potente que qualquer dos exis- comprime-se pela sua própria gravidade
a transformar-se em gigantes vermelhas, tentes: o Very Large Telescope. Esperam, até um volume ínfimo, inferior ao do nú-
os astrónomos calculam a idade de todo o por meio dele, ver mais do Universo do cleo de um simples átomo e denominado
cúmulo. que jamais foi visto, mas, mesmo assim, uma singularidade. Devido à sua enorme
Alguns cúmulos estelares são bastante ninguém espera ver os limites do Universo. compressão, a gravidade desta matéria é
jovens à escala cósmica - cerca de 70 mi- Os estudos modernos sobre o Universo imensamente forte. Na zona que circunda
lhões de anos. (O Sol, em comparação, baseiam-se na teoria geral da relatividade. imediatamente a singularidade, a gravida-
tem 5000 milhões de anos.) Muitos são de Einstein. Esta teoria diz que a matéria de é absolutamente irresistível. Esta zona,
muito mais velhos, em particular os cúmu- possui um campo gravitacional que distor- com o diâmetro de alguns quilómetros,
los globulares. Este tipo de aglomerado é ce o espaço c o tempo — o espaço encur- constitui o buraco negro. Desde que um
como que um enxame gigante de cerca de va-se e o tempo passa mais depressa ou objecto se aproxime de um buraco negro,
1 milhão de estrelas. Os astrónomos des- mais devagar. Além disso, a gravidade da ele será inexoravelmente puxado para o
cobriram que as estrelas que compõem matéria deflecte a luz. seu interior e esmagado na singularidade.
estes cúmulos são muito antigas - 12 000 Ao testarem os efeitos da teoria geral, os Se os buracos negros não podem ser vis-
a 14 000 milhões de anos. Koram talvez as cientistas verificaram que ela explica o mo- tos, corno sabemos que existem? Um dos
primeiras estrelas a formar-se a partir dos vimento rios planetas em volta do Sol e das processos apoia-se na detecção dos seus
gases do Big Bang, o que sugere que este estrelas girando em tomo de outras estrelas. efeitos sobre as estrelas próximas. Na sua
tenha ocorrido há 15 000 milhões de anos Aceitando que a teoria possa ser aplica maioria, as estrelas possuem uma compa
Há ainda um elemento de prova, muito da ao Universo como um todo, os cosmó- nheira (o Sol faz parte da minoria) e as duas
persuasivo, de que existiu um Big Bang, logos aceitam igualmente uma última pre- estrelas giram em torno uma da outra Se

183
que procuram os buracos negros come-
çam por percorrer o céu com telescópios
de raios X em busca desses raios.
Km 1971. o satélite de raios X americano
Uhuru conseguiu localizar uma poderosa
fonte de raios X na constelação do Cisne.
Os astrónomos descobriram então que
essa fonte, Cisne X-l, era uma estrela cha-
mada HDE 226 868, que se encontra a
(iOOO anos-luz da Terra. Quando investiga-
ram esta estrela, descobriram que ela des-
crevia uma órbita de seis dias em torno de
uma companheira invisível. Cs raios X ti-
nham de provir de gases que se dirigiam
em vórtice para a companheira invisível.
Logo se suspeitou de que esta última
seria um buraco negro. Mas os astróno
mos tinham primeiro que investigar a hi
pótesc de se tratar de uma estrela de neu-
Iroes. Estas estrelas são Ião pouco lumino
sas que não podem ser vistas quando pró-
ximas de uma outra como a 1 IDE 226 8(>8.
Uma forma de afastar a possibilidade de
uma estrela de neutroes é verificar o seu
peso. Os astrónomos usam o Sol como
peso -padrão. Descobriram que Cisne X-l
pesava tanto como 10 sóis, o que é muito
O coraçãozinho negro. Na constelação da Virgem encontra-se u radioguluxiu M-87. As para uma estrela de neutroes. Quando
estrelas que circundam o centro da galáxia estão tão juntas e deslocam se tão rapidamente em uma estrela de neutroes se torna mais pe-
direcção ao centro que se pensa que ali exista um buraco negro O jacto azul emitido do centro sada que três sóis, colapsa e lorna-se num
negro da galáxia é um feixe de electrões resultante da energia produzitla pelo buraco negro. As buraco negro, logo Cisne X-l deve ser um
cores desta fotografia indicam a crescente acumulação de estrelas da periferia para o centro. buraco negro.

uma delas morro e colapsa, o buraco negro que começa a atrair os gases periféricos.
que dela resulta e a estrela companheira Estes acabam por entrar no buraco negro,
continuam a girar em torno um do outro.
À medida que a companheira envelhe
mas não caem ali directamente: eles co-
meçam por girar à superfície do buraco, o
A serpente que
ce, aumenta de volume para se tornar uma
estrela gigante ou supergigante, centenas
que os torna extremamente quentes, com
temperaturas que atingem o milhar de mi-
voltou do espaço
de vezes maior que 0 Sol. As regiões exte lhões de graus centígrados. Um gás a esta
riores desta estrela que aumentou aproxi- temperatura produz abundantes quanti- Em 16 de Outubro de 1982, na Califórnia,
marn-se perigosamente do buraco negro. dades de raios X. Assim, os astrónomos os astrónomos assestaram o maior teles
copio do Mundo sobre determinado pon-
to da constelação do Cão Menor. Estavam
na pista de um objecto que não era visto
COMO OS ASTRÓNOMOS PESAM AS ESTRELAS havia mais de 70 anos e se previa que fizes
As estrelas de um sistema binário, corno se a sua companheira invisível, o buraco se nova visita ao sistema solar interior - o
a Cisne X-l e a I IDE 226 8(i8, giram em negro Cisne X-l, tem metade dessa cometa de Hallev. Ao observarem o écran
torno do seu centro de gravidade co- massa, deve "pesar" tanto como 10 sóis. de televisão que transmitia a imagem cap-
mum. Se a massa das estrelas é igual, O Sol "pesa" 0 equivalente a 300 000 tada através do telescópio do monte Palo-
esse centro de gravidade fica a meia dis Terras, ou seja 1989 milhões de milhões rnar, os astrónomos viram subitamente
tância entre as duas. Se não, fica mais de milhões de milhões de toneladas. um pequenino ponto luminoso; o cometa
perto da estrela com maior massa. As- Esle número é calculado com base na de Hallev estava na sua rola prevista.
sim, um sistema binário forma um equi teoria da gravitação. Experiências em la- Data de 240 a. C. o mais antigo registo da
líbrio natural que permite aos astróno- boratório demonstraram qual a atrac- observação deste cometa, que recebeu o
mos "pesar" as estrelas. Estudando o ção gravitacional entre duas grandes es nome do cientista britânico do século xvn
movimento da estrela HDE 226 868, feras de chumbo de massas conhecidas. Edmond Hallev Este cientista, que provou
aqueles descobriram que o centro de Esta força depende cm parte da massa que os cometas percorrem órbitas que po-
gravidade ficava tão próximo desta que a das esferas c cm parle da distância que dem ser calculadas, observou o cometa
sua companheira deveria ter metade da as separa. Esta experiência pode ser ex- em 1682 e previu que ele regressaria cm
massa daquela estrela. A HDE 226 868 é trapolada proporcionalmente, por for- 1758. A observarão dos cometas deu ori-
uma estrela do tipo supergigante azul. ma que a distância entre as esferas passe gem, no passado, a um sem número de
Tem um diâmetro de 32 milhões de qui- a ser a da Terra ao Sol. Pode então dedu- receios. Pensava se que eles eram horri
lómetros, e o seu brilho é 50 000 vezes o zir-se qual a massa que o Sol tem de ter veis visitantes da Terra, serpentes sequio-
do Sol. Uma supergigante azul é cerca para exercer a atracção gravitacional ne- sas de sangue enviadas para devorar os ho
de 20 vezes mais "pesada" que o Sol. Isto cessária para manter em órbita a Terra e mens e mensageiros de doenças,
é, tem 20 vezes a massa do Sol. Por isso. os outros planetas do sistema. O aparecimento de um cometa deve se
ao tacto de estes astros se deslocarem em

184
Cadeia de colinas
Mancha luminosa .
Vale

Colina

Eixo de rotação
Limite dia-noite
Sol

O núcleo do cometa. O núcleo do cometa


de Halley tem a forma de um amendoim e
mede 16x8x8 km. Tem montes e depres-
sões e expele jactos de gás e poeira.

efeitos de lodos os planetas sobre o come-


ta de 1911 até meados da década de 80. Em
1986, o cometa de Halley passou pelo Sol
com um erro de poucas horas sobre o pre-
visto por Yeomans — depois de ter estado
escondido durante sete décadas.

Um cometa visto de perto. Enfrentando uma furiosa tempestade de poeira que ameaçaoa Descobrindo
destrui-la, a sonda espacial Giotto passou a algumas centenas de quilómetros do cometa de
Halley e fotografou o núcleo. Este é formado por gelo, rochas e pedras e por um composto planetas
orgânico desconhecido resistente ao calor. A maior parte da sua superfície é coberta por uma
crusta espessa e escura de composição desconhecida. Passou a 150 milhões de quilómetros
da Terra em 15 de Março de 1986. Foi mais claramente oisioel na Austrália, onde esta fotografia Os planeias Mercúrio, Vénus, Marte, Júpi
foi tirada. ter e Saturno são Ião luminosos que os as-
trónomos sabem da sua existência há mi-
volta do Sol em órbitas governadas pela ley durou apenas 74,5 anos. Depois de este lhares de anos. Mas durante os últimos 20(1
gravidade. Enquanto a órbita de um plane- corneta passar pelo Sol em Novembro de anos eles descobriram outros três, mais
ta em tomo do Sol é relativamente circular, 1835, os planetas provocaram um aumen- distantes e menos luminosos: Urano, Nep
os cometas seguem percursos alongados. to da sua velocidade, pelo que ele regres tuno e Plutão. E existem indicações de um
Quando o cometa de Halley se encontra sou em Abril de 1910. Mas as observações décimo planeta para além de Plutão.
no ponto mais afastado da sua órbita, está da sua órbita entre os anos 451 e 530, regis- Até 1781 ninguém suspeitava da exis-
35 vezes mais afastado do Sol do que a tadas por astrónomos chineses e japone- tência de planetas para além de Saturno,
Terra. Nessa altura, é invisível, mesmo para ses, revelam que ele levou 79 anos a com- pelo que, na realidade, ninguém os pro-
o maior telescópio. Mas no ponto mais pletar uma órbita, o que sugere que os pla- curava Até que, em 13 de Março desse ano,
próximo do Sol o cometa passa por dentro netas o tenham feito afrouxar. o astrónomo amador William Herschel,
da órbita da Terra. Quando o Sol o aquece Como os astrónomos conhecem as po- ao tentar encontrar estrelas duplas, desco-
e o núcleo gelado fica rodeado por uma sições e a força gravitacional de cada pia briu Urano. Sabia não se tratar de uma es-
enorme nuvem de gases e poeiras, ele neta, podem calcular o efeito que elas te- trela por ter um disco visível, tal corno o da
pode lornar-se — durante uns meses — rão sobre os cometas. Mas os cálculos são Lua quando cheia. E, ao registarem os seus
um objecto brilhante nos nossos céus. muito longos e fastidiosos. Quando três movimentos, os astrónomos concluíram
0 período orbital do cometa de Halley é matemáticos franceses predisseram o re- que tinha de ser um planeta.
de 76 anos. Esperar-se-ia, portanto, vê-lo gresso do cometa de Halley em 1759, tive- Depois desta descoberta, totalmente
reaparecer regularmente, traçando o mes- ram de o calcular à mão, por meio de ex- acidental, os astrónomos começaram a
mo percurso em volta do Sol. Seria assim se tensas divisões e multiplicações, levando pensar se poderia existir um outro planeta
ele sofresse unicamente a influência gravi- seis meses a completar o trabalho. Actual ainda mais distante. Esta suspeita foi refor-
tacional do Sol. No entanto, os cometas são mente, tudo pode ser feito por um compu- çada pelo facto de terem descoberto que
também afectados pelos planetas do siste- tador em apenas alguns minutos. Urano não percorria a sua órbita em redor
ma solar, especialmente pelos gigantes ,lií Na década de 70, Donald Yeomans, do do Sol a ritmo constante: parecia que so-
piter e Saturno. Quando um planeta está Laboratório de Propulsão a Jacto, na Cali- fria o efeito da força de gravitação de um
aproximadamente na frente de um come- fórnia, começou a coligir todas as observa- planeta mais distante e desconhecido.
ta, a sua gravidade puxa o cometa para ções sobre o cometa cie Halley. Obteve as Dois matemáticos — Coueh Adams, de
diante e acelera-o. Sc o cometa se afasia rio sim informações sobre a forma como o Cambridge, e o francês Urbain Leverrier —
planeta, a força gravitacional deste puxá-lo- cometa se deslocava, até à fotografia mais calcularam, separadamente, a hipotética
-á para trás, afrouxando lhe a velocidade. recente, de 15 de Junho de 1911. Depois, posição do novo planeta. Em 31 de Agosto
A órbita mais rápida do cometa de Hal utilizou uni computador para calcular os de 1846, Leverrier enviou os seus cálculos

185
ao Observatório de Berlim, onde os astro te pelo espaço e qualquer ser com um apa-
nomos identificaram uma "estrela" como relho receptor sensível poderá captar pro-
sendo esse novo planeta, hoje conhecido
por Neptuno.
Em busca de vida gramas de rádio e TV emitidos pela Terra.
Em 16 de Novembro de 1974, os astróno-
Nos finais do século passado, suspei-
tou-se de que tanto Urano como Neptuno
no espaço mos enviaram a primeira mensagem de
rádio do Observatório Radioastronómico
sofriam influências da gravidade de outro de Arccibo, em Porto Rico, para um cúmu-
planeta ainda mais distante. Desta vez foi Sempre houve pessoas que acreditaram lo estelar, o Messier 13. Este aglomerado
um astrónomo americano, Percival Lo- existir vida inteligente em outros mundos contém 300 000 estrelas e é provável que
well, quem calculou onde deveria encon- do espaço. Os astrónomos sabem hoje tenha também inúmeros planetas.
trar-se esse "Planeta X". Em 1930, Clyde que não existe vida nos outros planetas do A mensagem de Arecibo consiste numa
Tombaugh, que trabalhava no observató- sistema solar, mas muitos pensam que. as- série de 1679 pulsações de rádio que lem-
rio fundado por Lowell, detectou um pe sim como se verificaram na Terra as condi- bram o alfabeto Morse. Se um extraterres-
quenino ponto luminoso que mudava de ções adequadas para a evolução de vida tre dispusesse os sinais num rectângulo de
posição todas as noites. Tratava se efectiva- avançada, o mesmo pode ter ocorrido em 23 por 73 pulsações, emergiria dos pontos
mente de um planeta, mas de brilho muito milhões de outros planetas com condi e traços determinado padrão que revelaria
mais ténue do que este previra. Recebeu o ções semelhantes. os elementos químicos que compõem a
nome de Plutão. Mas como poderemos nós, na Terra, vida. a forma e tamanho de um ser huma-
No entanto, muitos astrónomos consi- contactar com outros seres que vivam cm no médio, a população da Terra e a posi-
deram Plutão demasiado pequeno para outro qualquer lugar na vastidão do Uni- ção desta dentro do sistema solar.
afectar os gigantes Urano e Neptuno. Km verso? Na realidade, algumas mensagens Infelizmente, é muito improvável a re-
1978, os astrónomos do Observatório Na- idas da Terra estão agora a caminho, na cepção de uma mensagem como esta, por
val dos Kstados Unidos descobriram um esperança de encontrar quaisquer seres muito sofisticada que seja: caso existam
satélite em torno de Plutão. 0 movimento inteligentes que possa haver "por lá". em Messier 13 seres inteligentes com um
desta lua revelou a gravidade de Plutão - Em 1972 e 1973. os Americanos lança- receptor de rádio sensível, eles teriam de o
demasiado fraca para exercer qualquer ram duas sondas espaciais, a Pioneer 10 e a ter apontado à Terra no preciso momento
efeito sobre Urano e Neptuno. Pioneer II. programadas para passarem em que as pulsações eram emitidas. Te-
por Júpiter (e também Saturno, no caso da riam, além disso, de estar sintonizados nu
Existirá um Planeta 10? Pioneer II) e tirarem fotografias. A sua via- comprimento de onda correcto. Existe ou-
Os astrónomos interrogam se agora so- gem continuará para além do sistema so- tro problema: Messier 13 está tão distante
bre o que poderá estar a atrair Urano e lar. Cada Pioneer tem um "cartão-de-visi- que a mensagem demorará 25 000 anos a
Neptuno, e a resposta parece ser um ta" da Humanidade fixado à sua blinda chegar. Se um ser a captar e enviar uma
grande planeta situado nos limites do sis- gem, para o caso de serem encontradas resposta, esta levará o mesmo lempo a
tema solar. por uma civilização extraterrestre. As men- chegar a Terra pelo que temos de espe-
Bob Harrington, do Observatório Naval sagens consistem numa chapa de ouro rar 50 000 anos para a receber.
dos Kstados Unidos, calculou que este pia com 15x23 cm que tem gravado um mapa
neta se encontra actualmente na parte me- com a localização do sistema solar em re A busca de mensagens do espaço
ridional do céu, onde poucas pessoas pro lação a pulsares próximos (os pulsares são Em vez de esperarem, alguns astrónomos
curaram planetas. Com intervalos de algu- emissores naturais de feixes de rádio que perscrutam já os céus para ver se outras
mas semanas, um telescópio na Nova Ze- OS futuros viajantes do espaço poderão uti- civilizações estarão a enviar mensagens à
lândia tira fotografias a esta parte do céu lizar como faróis cósmicos). Há também Terra. A primeira busca iniciou-se em 1960,
Nas suas investigações, Harrington con- um desenho da nave e de um homem e de e desde então muitas outras têm sido con-
ta com as sondas espaciais. Sc o Planeta 10 uma mulher. O homem tem o braço levan- duzidas na procura de sinais inteligentes
exerce influência sobre Urano e Neptuno, tado num gesto de saudação. vindos do espaço, Actualmente, existem
deverá igualmente afectar os percursos Cinco anos mais tarde, os cientistas dois radiotelescópios norte americanos,
dos três veículos espaciais Pioneer 10, americanos lançaram outras duas naves no Ohfcj e no Massachusetts, que perscru-
Pioneer II e Voyager I —. que nesta altura espaciais que irão para além do sistema tam permanentemente o espaço em bus-
estão prestes a deixar 0 sistema solar. Os solar a Voyager I e a Voyager 2. Em vez ca de mensagens de rádio.
cientistas estão a seguir os movimentos da placa, cada nave leva consigo um disco Com fundos cedidos por Sleven Spíel
dessas sondas para verificarem se o Plane- de longa duração, completo com agulha e berg, realizador do filme ET, investigado-
ta 10 estará a desvia las das suas rotas. com símbolos indicando a forma de O to res do SETI (Search for Extraterrestrial
Outros astrónomos não estão convenci- car. Este LP dos "sons da Terra" inclui mú- Intelligence, ou Pesquisa de Inteligência
dos com os cálculos já efectuados: pen sica, desde Bach a Chuck Berry, saudações Extraterrestre) no Observatório de Oak
sam que 0 Planeta 10 poderia situar se em em dezenas de línguas e cantos de baleias. Ridge. no Massachusetts, construíram um
qualquer posição do céu, e assim atacam o Algumas das estrias são imagens codifica- dispositivo que consegue sintonizar simul-
problema por outra forma. Os planetas das em ondas sonoras, mostrando ima- taneamente 8 milhões de frequências dife-
omitem grandes quantidades de radiações gens da Terra, que vão cie um pôr de: sol até rentes. Computadores monitorizam todas
infravermelhas. Em 1983, o Infrared Astro- a um supermercado. estas frequências para procurarem sinais
nómica! Satellite (Satélite Astronómico de E muito pouco provável que uma destas que não lhes pareçam naturais.
Infravermelhos) pesquisou a totalidade do minúsculas naves espaciais seja alguma Apesar de todos estes esforços, ainda
céu em busca de objectos do Universo vez encontrada na imensidão do espaço. nenhuma mensagem foi captada. Mas.
emissores de radiações infravermelhas. Se Mesmo que o fos.se, o "cartão de visita" como cada vez há mais astrónomos coo
o Planeta 10 existir, o satélite té lo á prova apenas poderia ser respondido se se pro- perando com o SETI. esses esforços au-
velmente detectado. Os resultados deste curasse a Terra. Para se estabelecer uma mentam constantemente. E pouco prova
levantamento foram registados em 100 km conversa com outra civilização, torna-se vel que descubram outra raça inteligente
de fita de computador, e os astrónomos necessário outro meio de comunicação. no Universo, mas. se isso acontecesse, se
debruçam-se sobre esta vasta colectânea A resposta, provavelmente, é simples — ria um dos mais importantes aconteci-
de dados. 0 rádio. As ondas de rádio viajam livremen- mentos na história da Humanidade.

186
Maravilhas da ciência
Quando os cientistas cindiram o átomo, o Mundo penetrou no
desconhecido. Agora, prevemos uma época em que talvez seja possível
recriar criaturas extintas e produzir máquinas que pensam.

Como os cientistas tentam


orever os terramotos, p. 204

#JS35S-
dera vir a ser utilizado brevemente na pro-
dução de manadas de vacas em que todas
Como se obtêm clones de plantas atinjam elevados níveis de produção de lei-
te ou carne de sabor e textura uniformes.
e animais Uma técnica designada por transferên-
cia nuclear permite a produção simultânea
de até 32 clones. Com o auxílio de mi-
De cada vez que os jardineiros cortam uma tos brancos globulares designados por núsculos instrumentos cirúrgicos, um em-
estaca de uma planta e a colocam cm terra embrióides. Em devido tempo, estes de brião que já se desenvolveu até à fase das
para que se desenvolva uma nova planta, senvolvem raízes ou produzem rebentos e 32 células é dividido em 32 células intlivi
estão a produzir uma cópia geneticamente começam a parecer-se com pequeninas duais.
idêntica um clone. plantas. Transplantadas cuida- Para que estas se desenvolvam com êxi-
Às modernas técnicas cienti- dosamente para a mistura apro- to, é preciso combina las com embriões
ficas aumentaram muito o âm- priada, as plântulas crescerão unicelulares da mesma espécie aos quais
bito da clonagem. Hoje em dia. como cópias exactas da planla- foi retirado o núcleo. O núcleo de uma cé-
é possível fazer cópias de espé -mãe. Para se atingir esle estado, lula contem toda a informação genética a
cies de plantas que não pegam 0 processo, denominado cultu- partir da qual o organismo se desenvolve.
de estaca. Os animais podem ra de tecidos, pode demorar até Quando o núcleo é retirado, o embrião
igualmente ser clonados, sendo 18 meses. não possui nenhum património genético.
a descendência réplica exacta Quando plantados simulta No entanto, é possível loriiecer-lhe um pa-
de um único progenitor. ncamenle, lodos os clones re- trimónio novo, fundindo a célula anuclea
Quando se fazem clones a bentam e crescem ao mesmo da com uma das 32 retiradas do embrião
partir de plantas, o objectivo é ritmo, produzindo, na mesma em desenvolvimento. Se todas as 32 forem
copiar milhares de vezes uma altura, óleo da mesma qualida- usadas da mesma forma, obter st? ão 32
variedade que seja mais produ- de e em quantidade idêntica. A embriões com informação genética idênti-
tiva ou decorativa. O processo ca. Cada um deles pode ser implantado no
inicia-se com um pequeno frag- Plantas-proveta. A cultura de útero de uma mãe "de empréstimo" para
mento da planta escolhida, frag tecidos produz plantas a partir produzir 32 indivíduos idênticos.
mento esse que pode ser retira de urna célula única. Para a obtenção de quantidades verda-
do de qualquer parte da planta, deiramente significativas, contudo, os
pois todas as suas células contém a infor- sua produtividade é 30% mais elevada que embriões produzidos por este processo
mação genética a partir da qual se pode a das plantas produzidas a partir da sémen teriam eles próprios de ser repetidamen-
reconstruir uma planta completa. le, que apresentam grandes variações nas te clonados. Poderiam então ser congela
Esse fragmento é colocado num meio suas características. dos para armazenagem e finalmente im-
de cultura, um caldo de nutrientes quími- Por este processo podem também con plantados no útero de mães de emprés
cos que lhe fornece lodos os elementos trolar-se doenças virais das plantas que, em timo.
necessários. O meio inclui hormonas do geral, são transmitidas de geração em gera 0 processo poderia ser particularmente
crescimento que estimulam a divisão das cão através das sementes. Dina planta sã importante no caso de países em desen-
células, o que leva â formação de uma mas- pode utilizar se na produção de milhares volvimento, pois embriões criados nou-
sa de células vegetais que duplica de lama de clones igualmente sãos. tros países seriam congelados e transpor
nho aproximadamente de seis em seis se- Nos animais, o processo é mais comple- tados para depois serem implantados. Se-
manas (callus). xo e de uso ainda não generalizado. Mas a ria assim possível encurtar o demorado
Em determinada altura, esta massa de sua viabilidade foi comprovada em ratos, processo de aperfeiçoamento de raças de
células começa a produzir pequenos pon- em carneiros e em vitelos. O processo po gado por reprodução selectiva.

Criação de supcrvacas. Os tubos de ensaio coloridos (à direita, em cima) contêm, cada


um, um embrião de vaca. Com o auxilio de um miuoruanipuiador. os embriões são divididos
numa fase precoce do seu desenvolvimento (à direilu. em baixo). Os embriões divididos são
depois implantados, obtendo se vitelas gémeas idênticas (em baixo i.
1500 vezes. Com os microscópios electró- INTERIOR DE UMA CÉLULA
nicos descobriram-se estruturas minúscu-
Descobrindo las da célula.
As funções de alguns dos componentes
os segredos celulares podem ser inferidas da sua apa
rência, mas o seu estudo detalhado obriga
das células à separação das diferentes cstniluras. Uma
das formas de o conseguir consiste em ho-
mogeneizar as células num misturador se-
Todos os seres vivos são formados por uni- melhante aos que se usam na cozinha e
dades microscópicas chamadas células, depois separar os componentes por cen-
cujas dimensões são, em média, de um trifugação: os mais pesados precipitam no
centésimo de milímetro. As formas mais fundo do tubo que gira a grande velocida-
simples, como as bactérias, são unicelula- de e formam um sedimento sob um líqui-
res. 0 corpo humano possui mais de 50 do transparente. O sedimento pode então
milhões de milhões de células. ser estudado.
A célula foi descoberta em 1665 por Ro- Centrifugando este líquido a velocida-
bert Hooke, que observava ao microscó- des ainda maiores, conseguem separar se
pio lâminas de cortiça e descobriu uma os componentes de peso cada vez menor.
série de pequenos compartimentos que Pouco a pouco, utilizando técnicas se-
comparou às celas de um convento. melhantes, têm sido identificadas as activi-
Posteriormente, os biólogos descobri- dades de todos os componentes da célula.
ram que as células eram as unidades bási- Um dos mais importantes é o núcleo, por-
cas da vida. Cada célula tem funções espe- tador da informação genética, que permite
cializadas e colabora no funcionamento à célula funcionar bem e reproduzir se.
de todo o organismo: é uma unidade viva A natureza química do núcleo foi estu-
em miniatura. Alirnenta-se, "respira" e re- dada pela primeira vez em 1869 pelo bio-
produz-se; reage a mensagens das outras químico suíço Friedrich Micscher, que, ao
células e transmite-lhes mensagens. dissolver células em pepsina (um enzima
Existem células de tipos muito diferen- digestivo), descobriu que o núcleo conti-
tes, mas todas estão envolvidas por uma nha fósforo, além de outros elementos
membrana e têm um núcleo central ro- mais comuns, como carbono e oxigénio.
deado por um fluido denominado cito- Mais tarde, os cientistas descobriram que
plasma. As células podem ser visualizadas um dos principais constituintes do núcleo
com mais pormenor com o emprego de é o ácido nucleico. Posteriormente, verifi-
um microscópio electrónico que, em vez cou-se não se tratar de um ácido, mas de Esta fotografia mostra o interior de uma cé
de luz, utiliza um feixe de electrões. Este dois, o ácido ribonucleico (ARN) e o ácido lula vegetal. Todas as células possuem um
tipo de microscópio permite uma amplia- desoxirribonucleico (ADN). Este contém a núcleo rodeado de um fluido (citoplasma),
ção superior a 500 000 vezes, enquanto os informação genética que transmite os ca- mas a célula vegetal tem ainda uma parede
microscópios ópticos têm um limite de racteres hereditários de pais para filhos. bem definida, aqui representada a amarelo.

DIVISÃO DE UMA CÉLULA ANIMAL


As células vegetais e algumas animais re-
produzem-se por um processo chamado
^vftgsre Núcleo contendo
"cromossomas

mitose, ou divisão celular. Estas fotografias


mostram uma célula dividindo se em duas.
Na profase (à direita), os cromossomas, já
duplicados, encontram se aglomerados no
centro. Na metafase (em baixo, a esquer
da), os cromossomas encontram-se no cen-
tro, formando a placa equatorial. Na anafa
se (em baixo, ao centro), os cromossomas
separam se, formando dois grupos idênti-
cos, cada um dos quais se torna o núcleo das
duas novas células, que já são perfeitamen-
te visíveis na interfase (em baixo, à direita).

189
Criação de "geeps" e outros animais e plantas
Todas as raças de cães do Mundo derivam As características de uma dada espécie No entanto, elas foram transformadas em
originariamente do lobo. Ao seleccionar sào transportadas, em código, em mole fábricas ambulantes de medicamentos
as características desejáveis e ao fazer cria- cuias longas e sinuosas de ADN (ácido de pela reprogramação do seu código geuéli
ções para as conseguir, o homem produ soxirribonucleico}, que se encontra no nú- co, de forma a, além de leite, produzirem
ziu centenas de raças de cães. cleo de Iodas as células vivas. As cadeias de um factor de coagulação encontrado uni
As plantas lêm sido manipuladas com ADN são formadas por apenas quatro uni- camente. até então, no sangue humano
igual êxito no sentido de se obterem pro- dades básicas, os nucloótidos. E a ordem normal. E o chamado factor VIII, cuja au
duções elevadas de cereais, frulos e verdu- destes nucleótidos ao longo da cadeia que séneia no sangue de certos indivíduos pro
ras, além de plantas decorativas mais bom constitui a informação necessária para as voei a hemofilia, situação patológica em
tas que as do mundo natural. células funcionarem e se reproduzirem. que o sangue não coagula.
As técnicas tradicionais de criação de Utilizando enzimas de reslrição que cor- Os cientistas isolaram o gene responsá-
plantas e animais implicam o cruzamento tam a cadeia de ADN em sequências nu- vel pela produção do factor VIII em seres
de variedades diferentes, na esperança de cleotídicas determinadas, podem isolar-se humanos normais, removeram-no e inse-
se combinarem as melhores característi- segmentos responsáveis por determinada riram-no no local correcto entre os genes
cas do cada uma - elevada produtividade função (genes), que são depois reinseri- do um embrião de ovelha. Esta cresceu e
de um progenitor, elevada resistência à do.s no ADN de outra espécie — planta, produziu leite contendo o factor VIII, o
doença do outro, por exemplo. Mas estes animal ou mesmo bactéria. qual pode ser extraído e utilizado no trata-
programas de apuramento desenrolam se Um dos primeiros exemplos foi o isola- mento dos hemofílicos.
ao longo de várias gerações e apenas po mento da parle do ADN responsável pela
dom ser efectuados entre variedades da produção de insulina no pâncreas humano Melhoramento de plantas e animais
mesma espécie: não conseguimos criar c a sua inserção numa bactéria. O gene foi para alimentação
uma nova super-hortaliça cruzando, pelos separado por meio de um enzima de restri- Aplicada as plantas, a engenharia genética
meios convencionais, uma cenoura com oferece enormes possibilida-
uma couve. des. Um grande progresso se-
A ciência desenvolveu técnicas de cria- ria os cereais, como o trigo, a
ção revolucionárias. Uma delas, fusão ce cevada e o arroz, poderem uli
lular. produziu o geep, nascido em Cam- lizar o azolo do ar. Algumas
bridge em 1982 em resultado do cruza- plantas, como o feijão e o Ire
mento de cabras (goat) com carneiros vo, possuem esla capacidade,
(slieepj. que se traduz na possibilidade
Na fusão celular retiram se as mem de se desenvolverem com êxi-
branas exteriores do espermatozóide e do to sem necessitarem de gran
óvulo com o auxílio de determinados en/.i des quantidades de fertilizan-
mas. Aquelas ficam assim unicamente tes azotados. Se. recorrendo à
protegidas por uma delicada membrana engenharia genética, se conse-
interna. As células nestas condições são guisse conferir esta qualidade
denominadas protoplastos; postos em aos cereais utilizados na ali-
contacto, consegue-se por vozes fazê los mentação, poupar se-iam
lundir-se, habitualmente com o auxilio de anualmente enormes quanti-
compostos químicos ou de vírus. dades de dinheiro e reduzir-so
O resultado pode ser a criação do um ia a poluição dos rios e ribei-
novo organismo que recebe característi- ros pelos nitratos.
cas de ambos os progenitores No caso do Existe já um processo do tor
geep, as células combinadas foram im- Plantas mais fortes. A fotografia mostra os núcleos nar as plantas resistentes a cer-
plantadas no útero de uma ovelha e assim unidos de duas células de folha de tabaco. Usou-se um tas doenças. Cientistas que tra-
nasceu uma combinação das duas espé- composto químico para destruir a parede celular, pro balham para a firma Monsanto
cies — um animal com chifres o o corpo movendo a fusão, a fim de se criar uma planta híbrida. utilizaram a hacléria Ag/obac-
revestido de lá de ovelha c pêlo de cabra. teriam lumefaàens, que nor
Embora os geeps possam procriar nor- ção, que foi também utilizado para cortar o malmente provoca tumores nas plantas,
malmente entre si, os filhos são sempre ou ADN de uma bactéria, Escherichia coli. nas retiraram-lhe os genes causadores dos tu-
ovelhas ou cabras, consoante as células mesmas sequências, e o fragmento de mores e substituíram-nos por genes úteis.
que formaram os órgãos reprodutores, e gene humano loi inserido no ADN bactéria As plantas infectadas com a bactéria assim
nunca semelhantes aos pais. no. Ao multiplicar se, a bactéria, além dos modificada podem adquirir genes úteis.
seus produtos normais, produz insulina Em 1983, foram produzidos desta forma
Engenharia genética humana, que pode ser extraída. Desde 1982 tomateiros resistentes ao ancilóstomo do
Outra técnica consiste em reprogramar o que os dialxíticos. que não são capazes do tabaco, uma praga comum, e ao vírus do
material genético, que dita a forma como produzir insulina suficiente, são tratados mosaico do tabaco, uma doença que re-
se desenvolverá cada parte da planta ou do com insulina assim produzida. duz a produção. Nestas experiências, a
animal. A espécie modificada produzirá Aplicada a plantas e a animais, a técnica produção de tomate subiu de 20 para 30N
então melhores frutos, leite mais rico ou está já a ter resultados extraordinários. No Em seguida, introduziram um outro gene
até algum produto inteiramente estranho Instituto de Fisiologia Animal o Investiga que tornou os lomaleiros resistentes a um
à sua natureza normal. Esta modificação é ção Genética, perlo de Kdimburgo, na Es- dos herbicidas da própria Monsanto, o
feita recorrendo à engenharia genética. cócia, pastam ovelhas de aspecto normal. Roundup. Assim, as ervas daninhas que

1!K)
tos. Por exemplo, o êxito dos antibióticos Ensaios de segurança
TRIGO QUE CRESCE COM SAL (v. p. 288), que têm salvo milhões de vidas, Os químicos têm meios de produzir uma
A engenharia genética eslá a ser utili- encorajou os laboratórios de produtos far- enorme quantidade de compostos orgâni-
zada para criar uma variedade de trigo macêuticos a investirem grandemente na cos. Ensaiados em animais, estes compos-
que cresça em solos salgados. Vastas investigação, na esperança de encontrar tos, na sua maioria, ou não produzem
áreas das terras irrigadas no Mundo outros produtos igualmente eficazes. quaisquer efeitos ou apresentam uma tal
tomaram-se salgadas, porque a água Há quatro maneiras principais de abor- toxicidade que deixam de poder ser consi-
dos rios utilizada na sua irrigação dei- dar o problema. A primeira é isolar ou imi- derados medicamentos. Fazem-se ainda
xa vestígios de sal que se acumulam tar compostos naturais que se sabe possuí ensaios mais apurados com doses meno-
de ano para ano. rem propriedades medicinais. res em animais jovens, a fim de se ter a
No vale do Indo, no Paquistão, algu- A segunda é copiar um medicamento já certeza de que a substância não prejudica
mas terras aráveis tornaram-se tão sal- existente, modificando-o ligeiramente, na o seu crescimento, e em fêmeas grávidas,
gadas que actualmente náo podem esperança de o tornar mais eficaz. para se verificar se as crias não são afecta-
ser utilizadas para a cultura do trigo. A terceira é escolher ao acaso entre os das. Noutros animais observa-se com
Cientistas ingleses estão a aperfei- milhões de compostos orgânicos - os atenção a ocorrência de erupções cutâ
çoar uma estirpe resistente ao sal, que contêm carbono - que têm sido pro- neas ou de comportamentos anormais.
transferindo para o trigo células de duzidos pelos químicos e experimentá-los Apesar de lodos estes ensaios, os resul-
uma gramínea que cresce nas areias em animais, na esperança de descobrir tados ainda podem conduzir a conclusões
salgadas. um com propriedades úteis. incorrectas. As substâncias químicas nem
Esta gramínea tolera solos salgados A quarta maneira consiste em tentar sempre afectam da mesma forma os ani-
porque discrimina diversos produtos compreender o funcionamento do orga- mais e os homens. A penicilina, que tem
químicos, absorvendo menos sódio nismo humano e criar medicamentos a salvo milhões de vidas humanas, poderia
do sal do que as outras plantas. Esta partir de princípios científicos. nunca ter sido comercializada se tivesse
característica é transmitida ao trigo hí- Todos estes processos têm tido os seus sido inicialmente ensaiada em cobaias,
brido pela transferência dos genes. êxitos. O primeiro medicamento sintético pois basta uma pequena dose para as ma-
foi produzido pelo alemão Paul Ehrlich em tar. Os ensaios de toxicidade são altamente
1910. Ehrlich pretendia uma "bala mágica" complexos e demoram, com frequência,
crescem em redor das plantas podem ser que fosse capaz de destruir as bactérias res- mais de dois anos a completar.
destruídas pulverizando-as com Roun- ponsáveis por doenças como a tuberculo- O passo seguinte é testar essas substân-
dup. sem prejudicar os tomateiros. se e a difteria, mas deixasse incólumes as cias em voluntários humanos saudáveis
Em 1982, cientistas americanos inseri- restantes células do doente. com vista a detectar possíveis efeitos se-
ram em ratos o gene que produz a hormo- Começou por examinar os reagentes de cundários. Se a substância em estudo não
na de crescimento das ratazanas. O resulta- coloração das bactérias que não coram as produz, aparentemente, efeitos secundá-
do foi uma raça a que deram o nome de outras células, raciocinando que um pro- rios perniciosos, o grupo de voluntários é
"super rato", pois cresceram muito mais duto que reagisse mais fortemente com as alargado. Na América, observam-se habi-
que o normal. Em 1986, nos EUA, o proces- bactérias do que com as outras células po- tualmente entre 5000 e 15 000 pessoas an-
so foi adaptado à pecuária. Criaram porcos deria também eliminá-las. Ehrlich desco- tes de se enviar os resultados rios testes
com o gene que leva à produção da hor- briu assim um corante, ao qual posterior para a entidade encarregada da concessão
mona de crescimento humana para os tor- mente foi dado o nome de vermelho de de licenças de comercialização.
nar maiores e a sua carne menos gorda. triparto, que destruía os tripanossomas, 0 laboratório farmacêutico faz o relató-
Eram de facto grandes, e a carne continha organismos responsáveis pela doença do rio das suas verificações, e se este é aprova
5% de gordura em vez dos habituais 25%, sono. Contudo, esta substância não era cli- do, o medicamento é então sujeito a en-
mas sofriam de artrite. O gene estranho nicamente satisfatória por ser muito pe saios clínicos em doentes para avaliação
fizera algo mais que aumentar-lhes o ta- queria a margem entre uma dose curativa da sua eficácia. Muitos medicamentos no-
manho. As futuras experiências terão de e uma dose perigosa. vos são submetidos a ensaios com "oculta-
contornar este problema, pois não seria Ehrlich dedicou-se então à investigação ção dupla": metade dos doentes toma um
ético e, em certas circunstâncias, legal pro- das possibilidades dos compostos de arsé- placebo (produto que não contém a subs-
duzir artificialmente uma espécie que se- nico. Produziu uma grande quantidade de tância activa) de aspecto idêntico, e nem
ria forçada a viver em sofrimento apenas derivados arsenicais do vermelho de tripa- estes nem os médicos são informados de
para produzir mais carne. no e começou a ensaiá-los. Em 1909, um quem tomou o quê, a fim de tornar mais
No futuro, poderão ser inseridos nos discípulo japonês de Ehrlich, Sahachiro objectiva a avaliação clínica da eficácia.
animais úteis ao homem genes responsa Hata, descobriu que o composto 606, que Os resultados têm de ser suficientemen-
veis por toda uma série de características, não tinha qualquer efeito contra os tripa te convincentes para que o medicamento
desde a resistência às doenças até ao nú- nossomas, era fatal para a bactéria causa passe nos ensaios clínicos. Náo pode haver
mero de crias das ninhadas. dora da sífilis. Este composto, a que poste- dúvidas de que foi o próprio medicamen-
riormente foi dado o nome de Salvarsan, to, e náo as resistências naturais do doente,
foi o primeiro medicamento eficaz contra que promoveu a cura deste. Durante os
uma doença que até então era incurável. ensaios clínicos, os médicos continuam
Como se criam O êxito de Ehrlich baseou-se na sua in-
tuição, que o levou a investigar no campo
atentos a quaisquer efeitos secundários
náo aparentes nos testes anteriores.
novos certo, na ideia de que a modificação de um
produto podia aumentar a respectiva eficá-
Mesmo depois de um medicamento
passar nos testes clínicos e ser comerciali-
medicamentos? cia e na verificação minuciosa dos efeitos
dos produtos não só sobre a doença em
zado, continua em observação. Assim, os
médicos que o receitam e o restante pes
que estava interessado, como sobre ou- soai de saúde a quem os doentes se quei-
Muitos dos triunfos da medicina moderna tras. Ainda hoje, os cientistas envolvidos na xam devem informar as autoridades medi
são resultado não de melhores técnicas pesquisa de novos medicamentos proce- cas e farmacêuticas de quaisquer reacções
médicas, mas de melhores medicamen- dem mais ou menos da mesma forma. adversas manifestadas pelos seus doentes.

191
Como se ensinam os animais a comunicar com as pessoas
0 entendimento que se pode criar entre as cos, garrafas, etc. Um assistente sentado na aquilo?" "Pássaro água", respondeu Wa-
pessoas e os animais é, muitas vezes, qua- borda da piscina faz sinais a Rocky, pedin- shoe, inventando o seu termo próprio para
se misterioso. 0 cão interpreta Ião liem os do-lhe que recolha determinado brinque "pato". Encorajados por este lacto, outros
desejos do dono que por vezes parece pos- do, e a otária acerta 5)5% das vezes. cientistas americanos começaram a trei
suir um sexto sentido, Também o cavalo Além disso, foi-lhe ensinado o significa nar chimpanzés, utilizando urna série de
pode reagir às indicações mais subtis, d o d e o r d e n s muito mais c o m p l e x a s , diferentes métodos de comunicação. Al
como 0 demonstram os complexos movi c o m o "Leva a bola ao disco'* ou "Leva o gnns implicavam a identificação de formas
mentos da dressage. Mas será algum dia disco preto pequeno à garrafa". O índice de de plástico que simbolizavam, entre outras
possível às pessoas comunicarem com os êxito das suas respostas a estas instruções coisas, objectos como maçãs ou o nome
animais através da linguagem normal? é de apenas 40%. do instrutor. Outros métodos implicavam
Desde há alguns a n o s que se fazem o premir de diferentes teclas num compu-
grandes esforços para comunicar com gol Linguagem de sinais para tador para transmitir palavras ou frases. Os
finhos. Estes mamíferos possuem cére- os chimpanzés resultados pareceram demonstrar que os
bros de tamanho semelhante ao do cere Têm se feito experiências s e m e l h a n t e s chimpanzés conseguiam, na verdade, do-
bro humano e parecem muito inteligen- com chimpanzés, orangolangos e outros minar uma "linguagem", pois, além de res
tes. São ainda capazes de emitir uma gran- macacos. Como não possuem as mesmas ponderem a ordens simples, usavam na
de variedade de sons, incluindo chios, ge- cordas vocais que o homem, os macacos para pedir coisas.
midos, diques, latidos e assobios, indi- não poderão, propriamente, falar. Por isso, Mais tarde, o Prof. Ilerbert Terrace, da
cando alarme, ameaça e reconhecimento. Allen e Beatrice Gardner. da Universidade Universidade de Colúmbia, Nova Iorque.,
As tentativas de interpretação desta lin- do Nevada, lembraram se de ensinar a um lançou um balde de água Iria sobre estes
guagem não têm sido bem sucedidas Mas deles a linguagem dos sinais. Em 1967. con resultados. Quando analisou todas as fra-
os cientistas demonstraram que estes ani- seguiram um chimpanzé fêmea com um ses de duas palavras de Washoe, descobriu
mais, tal como as otárias, são capazes de ano, chamado Washoe, e até 1071 ensina que a o r d e m das palavras era fortuita:
compreender linguagem gestual e reagir ram lhe a Linguagem de Sinais Americana,
correctamente. o método utilizado pelos surdos nos Esta-
Rocky, uma otária de 13 anos do Long dos Unidos. Mostravam lhe os sinais repeti-
Marine Laboratory, em Santa Cru/, Califór- damente e recompensavam-na com uma
nia, foi treinada para identificar objectos, festa ou com comida quando ela respondia
sendo recompensada quando agia correc correctamente. Washoe aprendeu depres-
lamente. Hoje. consegue retirar do seu tan- sa, e em breve conhecia um grande número
que apenas o objecto que lhe for pedido. O de palavras. Chegou a saber usar 150 gestos.
seu instrutor, Ron Scliustennan, da Univer Passeando uma vez junto a um lago, o
sidade da Califórnia, espalha pela piscina dono apontou para um pato e perguntou
até uma dúzia de brinquedos - bolas, dis- lhe em linguagem de sinais: "O que é

A aprendizagem He Lucy. O psicólogo


Dr. Roger Fouts ensina a linguagem de si-
nais a Lucy. uma chimpunzé de seis anos e
um dos membros da colónia de primatas
da Universidade de ()klaho/na. Lucy olha
atentamente quando
Olhar q u e i x o s o . De olhos baixos. Lucy
faz o sinal de dedos-à boca que o Dr. Fouts
lhe ensinou para Doer".
Washoe poderia, com a mesma facilidade,
ler dito "água pássaro". Terrace descobriu
ainda que, contrariamente aos bebés hu-
manos quando aprendem a falar, os chim-
Os mamutes voltarão a existir?
panzés não aumentavam gradualmente a
complexidade das suas "frases". O mamute lanudo, o dodó, ave que não ções selvagens de zebras das-planícies.
Mais recentemente, um chimpanzé pig- voava, e a cuaga, uma espécie de zebra, Esta ideia levou a uma tentativa de recons-
meu, Kanzi, veio reavivar o interesse por eslão extintos. Mas as modernas técnicas tituição da cuaga através de criação selecti
estes estudos. Kanzi vive no Centro de Es de engenharia genética tornaram possível va. Reinhold Rau, do South African Mu
ludos de Linguagem, perto de Atlanta, na estudar a sua estmtura genética — ou até seum, na Cidade do Cabo, reuniu um gru-
Geórgia. A sua habilidade para captar os pôr a hipótese de lhes dar vida de novo. po de pessoas empenhadas em conserva
elementos da linguagem parece demons Para o conseguirem, os cientistas teriam cão das espécies, grupo esse que se dirigiu
trar que os chimpanzés pigmeus têm um de obter uma amostra de material conten- à Reserva Natural de Ktosha, tia actual Na-
potencial intelectual superior ao dos gori do a informação genética necessária para míbia, onde capturou oito zebras com
las, orangotangos e chimpanzés vulgares. se recriar um animal completo. Esta infor poucas riscas nos quartos traseiros -
Kanzi tem um teclado ligado a um com- mação está contida no ácido desoxirribo- como a cuaga. Durante os próximos 10
putador. Cada tecla está marcada com um nucleico (ADN) das células do animal anos, os cientistas procederão à reprodu-
símbolo geométrico que representa uma mas só pode ser obtida de um tecido que, ção selectiva destas zebras, tentando igua
palavra. Ainda bebé, Kanzi brincava no la- de qualquer modo, tenha sido preservado lar os padrões encontrados nas peles das
boratório enquanto a mãe era ensinada a desde que o animal se extinguiu. cuagas conservadas no Museu de Mainz.
usar o teclado, e parece ter aprendido ao lima vez que da maioria das espécies Foram também estudadas amostras de
observá-la. Para surpresa dos cientistas, extintas apenas restam fósseis, não exis- ADN de uma múmia egípcia conservada
Kanzi começou a usar correctamente os tem quaisquer vestígios de tecido preser- há mais de 2400 anos e de um bretão que
símbolos aos dois anos e meio, e aos três vado. Mas alguns animais como o mamute viveu há cerca de 2000 anos e cujo corpo
tinha adquirido aptidões que os chimpan- - um parente peludo do elefante que se foi encontrado em bom estado de conser
zés vulgares não tinham aos sete anos. extinguiu há cerca de 12 000 anos - fica- vaçáo numa turfeira do Cheshire em 198-1.
ram congelados nos solos da Sibéria, do
Comunicando a solidão Alasca e do Norte do Canadá. Ao serem Múmia de um bebé
Os instrutores de Kanzi não afirmam que desenterrados, a sua carne ainda continha A múmia — a de um bebé do sexo mas
ele construa frases gramaticais, mas a ver- vestígios de ADN. O primeiro passo para se culino que contava menos de um ano
dade é que produz asserções de duas e três reproduzir um espécime vivo seria extrair quando morreu - faz parte da colecção
palavras que parecem espontâneas, co- o ADN e copiá-lo, o que já foi feito com do Museu Egípcio de Berlim, Alemanha. O
menta as suas acções c descreve aos instru- algumas espécies extintas, incluindo o ma- cientista sueco Svante Paibo, do Laborató-
tores aquelas que tenciona executar. Utili- mute e a cuaga. A finalidade destas expe rio Wallenberg, da Universidade de Upsa
za o teclado para comunicar com outros riências não era reconstituir os animais, la, extraiu uma pequena amostra da parte
chimpanzés pigmeus que são objecto do mas estudar o ADN* e tentar obter novos inferior da perna esquerda e clonou com
mesmo treino — dizendo a um, por exem conhecimentos através dele. êxito, em 1985, ADN dela extraído. Mas o
pio, que faça cócegas ao outro. As suas fragmento de ADN era apenas cerca de um
frases representam também a sua reacção Metade zebra, metade cavalo vigésimo do ADN total que uma pessoa
a uma situação. Por exemplo, ao ser priva- Pedaços de pele de cuaga conservados no possui. Reconstituir qualquer ser a partir
do da companhia de oulro chimpanzé Museu de História Natural de Mainz, Ale- de tão pequena amostra é impossível. No
chamado Austin, Kanzi senliu-se aparen- manha, forneceram ADN para a clonagem entanto, estes trabalhos poderão vir a res-
temente sozinho, sem a habitual visita do feita por dois cientistas da Califórnia, o Dr. ponder a algumas perguntas acerca dos
amigo à hora de deitar. Depois de algumas Oliver Kyder, do Jardim Zoológico de San antigos egípcios: se, por exemplo, sofriam
noites, marcou no seu teclado os símbolos Diego, e o Dr. Russell I luguchi, da Universi- de doenças genéticas ou se manifestavam
de "Austin" e de '"IV", e mostraram-lhe um dade da Califórnia, em Berkeley. A cuaga, sinais de casamentos consanguíneos.
vídeo em que aparecia Austin. Depois dis- descrita pelos primeiros viajantes da pro- Será possível, um dia, reconstituir um
so, Kanzi adormeceu contente. víncia do Cabo, na Africa do Sul, como animal completo? Suponhamos que se
"metade zebra, metade cavalo", entrou em conseguia recuperar a informação genéti
declínio quando os colonos começaram a ca total de um mamute preservado no per-
vedar lhe o território e a introduzir o seu mafrosl, cloná-la e inseri-la depois no em-
próprio gado. A caça incontrolada matou brião de um elefante. Se o embrião fosse
os últimos exemplares em estado selva- recolocado no útero da mãe elefante, esta
gem, embora a cuaga tenha perdurado daria à luz um mamute. Igualmente — pelo
nalguns jardins zoológicos, até que o últi- menos em teoria - poderia fazer-se o
mo espécime morreu de morte natural no mesmo com os genes da cuaga, do dodó
Zoo de Amsterdão em 1893. Os laxidennis ou até dos antigos egípcios.
las que embalsamaram o exemplar de Trala-se ainda de uma possibilidade teó-
Mainz deixaram na pele fragmentos de rica. Os fragmentos do ADN recuperados
músculo e gordura, dos quais foi possível têm fornecido uma fracção insuficiente da
extrair porções do ADN da cuaga. Inserido informação genética total, e reconstituir o
no ADN de uma bactéria, o ADN do animal restante parece impossível. E nem mesmo
extinto pôde ser copiado, pois passou a esta ínfima possibilidade se verifica para
fazer parte do material genético daquela. animais que apenas existem sob a forma
O ADN revelou que a cuaga era real de fósseis. Assim, a hipótese de os dinos-
O poder das palavras. As mãos juntos mente uma subespécie da zebra e veio sauros virem um dia novamente a pisar a
indicam u palavra "livro". Alguns macacos criar a ideia de que as suas características Terra permanecerá, muito provavelmente,
adquiriram vocabulários extensos. talvez pudessem ainda existir em popula no campo da ficção científica.

m
Reconstituir um ser pré-histórico a partir de alguns ossos
Quando o primeiro exemplar do homem noceronte e assim, na reconstituição, foi puma de poliuretano. Uma vez desemba-
de Neandertal foi descoberto no vale do rio colocado sobre o nariz do animal. Em 1854, lados, os ossos podem ser montados
Neânder, na Alemanha, em 1856, o seu es- foi feito um modelo em tamanho natural numa estrutura metálica.
queleto fossilizado sugeria que ele cami- deste pesado quadrúpede e colocado nos Trata-se de um trabalho especializado.
nhava inclinado para a frente, com os joe- jardins do Palácio de Cristal, inaugurado em Os cientistas têm de detectar as minúsculas
lhos dobrados e os nós dos dedos das mãos Londres em 1851. Só passados mais de 20 irregularidades a que se encontravam
quase tocando o solo. E em breve esta figura anos, quando no fundo de uma mina de originariamente ligados os músculos e os
trôpega e carrancuda foi aceite como protó- carvão em Bemissart, na Bélgica, foi encon- ligamentos e comparar depois a estrutura
tipo do homem primitivo. Contudo, esta trada uma manada inteira destes animais, com a dos esqueletos dos animais de hoje
ideia estava totalmente errada. Devido a se verificou que os iguanoriontes eram afi- — répteis, no caso dos dinossauros —
uma pouca sorte extraordinária, o primeiro nal herbívoros gigantes de duas pernas e 5 m para se certificarem de que os ossos são
esqueleto completo descoberto em Nean- de altura. O que fora tomado por um chifre colocados na posição correcta.
dertal foi o de urn homem que sofrera de verificou-se ser um espigão, semelhante a Uma vez completado o esqueleto, resta
osteoartrite grave, que lhe deformara as uni polegar, na pata dianteira, que serviria ainda um problema: como cobrir esse es-
costas e lhe dera o andar inclinado. para defesa ou para arrancar as plantas de queleto com "carne". Também aqui é mui-
Na verdade, e conforme revelaram des- que o iguanodonte se alimentava. Pensa-se to útil o conhecimento pormenorizado da
cobertas posteriores, os homens de Nean- que estes gigantes vaguearam por aqueles anatomia dos animais actuais. Por seu
dertal andavam tão direitos como os de campos há cerca de 120 milhões de anos. lado, a pele pode ser deduzida de impres-
hoje e possuíam um cérebro até um pou- Quanto mais ossos existirem num acha- sões fossilizadas que se formaram no caso
co maior que o nosso. do, maior é a exactidão com que o animal de dinossauros que morreram no lodo.
A reconstituição de uma espécie extinta pode ser reconstituído. Os diversos exem- Mas uma coisa ficará para sempre na
é um trabalho difícil. Ocasionalmente, são plares de esqueleto do diplodoco, por dúvida: a cor da pele do dinossauro. Resta-
encontrados espécimes pré-históricos in- exemplo, permitiram aos cientistas sabe- -nos compará-la com a dos répteis actuais,
tactos, como os mamutes preservados por rem exactamente o lugar de cada um dos que pode ser pardacenta para proporcio-
congelação no permafrost siberiano e in- ossos deste gigante de 9 m. nar camuflagem, viva para atrair os com-
sectos extintos há milhões de anos que O segredo de uma reconstituição cor- panheiras ou afugentar os predadores, ou
não sofreram qualquer deterioração no in- recta é tomar notas rigorosas das posições até variável como a do camaleão.
terior de gotas de resina vegetal fossilizada. dos ossos na altura em que são descober- A reconstituição do homem primitivo
Mas, frequentemente, os paleontologis- tos. Cada fragmento é numerado e etique- continua a suscitar muita discussão, não
tas são confrontados com uma confusão tado. Depois, tudo é cuidadosamente em- só porque os restos fósseis são escassos,
de ossos lascados, espalhados e incom- balado, frequentemen- mas também porque os cientistas os inter-
pletos. Os erros de reconstituição são te em gesso ou em es pretam de forma diferente.
comuns. Em Inglaterra, em 1822,
num monte de pedras à beira de
um caminho no Sussex, a senhora
Mary Ann Mantell encontrou os
primeiros vestígios daquilo que seu
marido, o Dr. Gideon Mantell, cha-
mou um iguanodonte. Um dos
dentes daquele animal gigante
assemelhava-se ao de um lagar-
to actual, de onde a designa-
ção iguanodonte ("igua-
na-dente"). Mas qual o
seu aspecto? Provavel-
mente, andaria sobre as
quatro patas, como as
iguanas actuais.
Um osso que pare-
cia p r o p o r c i o n a r
uma ideia mais clara
do seu aspecto as-
semelhava-se a
um chifre de ri-

Imagem errónea. A ideia de que os iguanodontes eram quadrúpe


des com um chifre, como surge nestes modelos (em cima), revelou
se errada. Uma descoberta de esqueletos na Bélgica, em 1877,
permitiu uma reconstituição mais rigorosa (à esquerda)

194
O vale de Orno, na Etiópia, é o local onde CONSTRUÇÃO DE UM MODELO
foram descoberlos mais fósseis de ho- 0 primeiro passo na construção de um
mens primitivos, mas mesmo assim cal- dinossauro em miniatura é a medição
cula-se que por cada milhão de pessoas dos ossos (em cima, à esquerda). Dese
que ali viveram só três fossilizaram. É raro nha-se então o esqueleto à escala (cen-
aparecer um esqueleto completo ou mes- tro), mostrando a postura do animal De
mo parcial. Aqueles que estudam o ho- pois, faz se um modelo com arame e bar-
mem primitivo lançam frequentemente ro, do qual se tira o molde. A partir deste,
teorias com base em metade de um maxi- obtém-se um modelo em fibra de vidro la-
lar - com consequentes discussões sobre minada, pronto para ser pintado. Embora
o curso preciso da evolução humana. se tenham descoberto impressões fossili-
zadas em lodos, constituindo de certo
Dinossauro chinês. O esqueleto reconsti- modo um guia para a textura da pele, as
tuído de um tuojiangossauro esta seguro cores poderão ter sido pardas, vivas, varie-
por meio de uma estrutura de metal e plásti- gadas ou até variáveis. O animal aqui mo-
co. Com 7 m de comprimento, o animal vi- delado, um galimimo, viveu na Mongólia,
veu na China há 150 milhões de anos. na Ásia Central, há 70 milhões de anos.
Baltimore, o Dr. Terrence Sejnowski cons-
truiu, nos anos 80, uma rede neural capaz
Em busca da máquina pensadora de pronunciar correctamente palavras in-
glesas que eram escritas no teclado. Esta
rede neural aprendeu exactamente como
Hoje em dia, os computadores já jogam que é utilizado no ensino de uma criança. uma criança, com as suas tentativas a se-
xadrez, produzem novas demonstrações O Prof. Igor Aleksander, do Imperial Col- rem corrigidas até saírem correctas.
de problemas matemáticos, lêem e tradu- lege de Londres, criou em 1981 uma rede A organização emissora japonesa NHK
zem. Mas nenhuma máquina, por muito neural chamada Wisard que conseguia re- tem urna rede neural que consegue identi-
complexa, está perto de conseguir abran- conhecer um sorriso humano — uma das ficar caracteres japoneses escritos à mão
ger o campo vastíssimo do pensamento primeiras coisas que um bebé aprende. Foi com 95% de rigor, independentemente do
humano. ensinada por meio da apresentação de respectivo tamanho, posição e alterações
Ainda ninguém construiu uma máqui- uma série de fotografias, umas com sorri- na escala.
na que seja capaz de aprender uma lín- sos, outras sem. A partir daqui, era capaz As redes neurais estão ainda num esta-
gua - algo que uma criança domina nos de olhar para caras que nunca lhe tinham do muito incipiente, mas, se algum com-
seus primeiros anos de vida. sido apresentadas e informar, no écran, se putador vier algum dia a ser verdadeira-
Os cientistas que trabalham nesta área elas estavam ou não a sorrir. mente inteligente, os cientistas pensam
pensam que um dia o funcionamento do Na Universidade Johns Hopkins, em que é esta a forma de o conseguir.
cérebro será compreendido em toda a sua
extensão, podendo então ser duplicado
por meios electrónicos.
Uma das dificuldades é a organização
diferente do cérebro e do computador. O
Como é que um computador traduz?
cérebro consiste numa rede de células
chamadas neurónios. Contém entre 10 e É fácil para um computador traduzir pala zem-sc termos técnicos no programa e o
100 biliões de neurónios, cada um deles vras isoladas ou pequenas frases, mas não computador verifica os significados ambí-
ligado com cerca de outros 10 000, e todos tão fácil traduzir textos. A tradução é muito guos e escolhe a palavra correcta. Foi tam
funcionando ao mesmo tempo. mais que uma simples substituição de pa- bém aumentada a rapidez da tradução.
Os computadores, por seu lado, pos- lavras: a maioria das línguas contém inú Os computadores já conseguem tradu-
suem milhões de circuitos lógicos indivi- meras ambiguidades e termos que só são zir com rapidez — é essa a sua principal
duais, cada um deles ligado a apenas um compreendidos no respectivo contexto. vantagem. Se uma empresa pretende
outro e funcionando em sequência. As in Dezenas de palavras têm dois ou três apresentar uma proposta, tem de agir rapi-
formações que fluem através do compu- significados, e a construção de uma frase damente, mas a proposta pode ter cente-
tador percorrem um caminho único em pode, além disso, ser ambígua. Termos co nas de páginas. Por muito pouco elegante
vez de serem distribuídas por todo ele, loquiais ou técnicos dificultam ainda mais que seja a linguagem, um computador
como no cérebro. a questão. Imagine-se a confusão de um consegue traduzi-la mais depressa que
Os circuitos do computador trabalham engenheiro cujo manual falasse ern "plan- uma pessoa. Esta pode demorar meio dia
muito mais depressa do que os neurónios, ta de coca" como tradução de coke plant para traduzir 1000 palavras de uma língua
e, em certas tarefas, o computador é supe- (fábrica de carvão de coque)! europeia para outra; um computador po-
rior - nos cálculos matemáticos extensos Em I9S4, a IBM apresentou o primeiro deria fazer essa tradução e imprimi-la em
e complexos, por exemplo. No entanto, o programa de tradução, que convertia em cerca de 20 minutos.
cérebro, com os seus neurónios relativa- inglês frases russas simples, como "a gaso- A Força Aérea Americana, pretendendo
mente lentos, é muito superior no reco- lina é produzida por processos químicos a conhecer as emissões russas referentes ao
nhecimento de padrões e na aprendiza- partir do petróleo bmto". Mas fazia muitos programa espacial, criou em 1970 o tradu-
gem - processo que pode ter algo a ver erros e transformava frases correntes em tor Systran, que foi posteriormente adapta-
com o aumento da densidade de cone- expressões sem nexo. do a outras línguas europeias.
xões entre os neurónios enquanto essa Apesar destas dificuldades, os progra O Systran traduz 360 000 palavras numa
aprendizagem tem lugar. mas de tradução por computador há já hora, com um rigor de 80%. Um tradutor
Actualmente, um número cada vez algum tempo que são usados nas empre- profissional faz depois a revisão para aper-
maior de cientistas no Japão, nos EUA e na sas. Possuem na memória extensos dicio- feiçoar o texto. O Systran é utilizado pela
Europa trabalha em computadores que nários das línguas que traduzem — até General Motors e pela Aerospatiale para
procuram copiar a arquitectura do cére- 100 000 palavras e frases nos sistemas mais traduzir os manuais de instruções. O Servi
bro. Estes computadores tomam o nome avançados. São usados para procurar e ço Meteorológico Canadiano uliliza-o na
de redes neurais. Os seus elementos-base aplicar a palavra que mais se aproxima do tradução das informações meteorológicas
são circuitos electrónicos exactamente termo correcto da outra língua. Mas a sim- para francês.
como os dos computadores vulgares, rnas ples substituição de palavras conduz a O sistema de tradução mecânica mais
estão ligados de forma diferente, com mui- muitos erros, e os textos necessitam de cui- avançado do mundo é o Eurotra, destina-
tas interconexões, como acontece entre os dadosas revisões por tradutores profissio- do a auxiliar a Comunidade Europeia no
neurónios do cérebro. nais, que afirmam que este trabalho de re- Luxemburgo e em Bruxelas a traduzir qua-
Os computadores não são programa- visão leva quase tanto tempo como uma se 1 milhão de páginas por ano.
dos da maneira habitual pela introdução tradução do texto a partir do original. A British Telecom está a aperfeiçoar um
de um conjunto de instruções: sofrem um Contudo, em 1988 já tinham sido cria- sistema de tradução automática pelo tele-
processo de aprendizagem no qual as in- dos sistemas com 96% dos lermos correc- fone em cinco línguas: inglês, francês, sue
formações lhes são introduzidas junta- tos — urna taxa de erras de 4% —, o que foi co, alemão e espanhol. O computador
mente com exemplos das conclusões a conseguido tornando o computador mais transforma o que o seu interlocutor diz nas
que o computador deveria chegar ou com apto a fazer remissões entre as palavras e palavras apropriadas da outra língua. De
feedback sobre a qualidade do respectivo traduzindo frases inteiras, além das pala- pois, um sintetizador de voz passa ao ou-
progresso. O processo é semelhante ao vras isoladas. Quando necessário, inlrodu vinte a mensagem na língua própria deste.

196
MAKAVlLHAà UA UfclNUA

computorizada que responderá às nossas to jovem, de 4 anos, por exemplo, deve


buscas com o número correcto. possuir um vocabulário adequadamente
Computadores 0 computador falante introduzido nos
sistemas de horne banking foi criado pela
restrito; a criança escolhe as palavras que
quer, utilizando umjoystick para indicar as
que nos ouvem British Telecom e entrou em fase de expe
riências no princípio de 1988. O cliente te-
respectivas imagens.
Uma criança mais velha ou um adulto
e falam connosco lefona para um número especial, atendido
pelo computador, e diz-lhe o seu nome,
dactilografam as frases num teclado, sen
do estas depois articuladas pelo sintetiza-
código pessoal e uma palavra senha. O dor. Nos paralíticos, um sensor ligado à
Conversar com um computador — fazen- computador faz urna "impressão vocal" sobrancelha actua como ojoystick. Outro
do-lhe perguntas e obtendo as respos- dos padrões da fala que funciona como processo consiste no emprego de um sen
tas — já não é urna fantasia da Ficção cientí uma assinatura, impedindo outra pessoa sor electrónico que detecta os movimen-
fica: é já uma realidade. de ligar o mesmo número e usar a conta tos do olho para introduzir as instruções.
0 primeiro passo para se conseguir que Quando o computador aceita a chama- O potencial dos computadores falantes
um computador fale é introduzir na sua da e identifica a pessoa, reconhecerá de- é grande, e trabalha-se já na criação de sis-
memória os sons comuns da fala - os pois uma série de instruções verbais às temas rápidos com vocabulários extensos.
fonemas. Estes são armazenados sob for- quais responderá em inglês. Ele pode, por Eles são já utilizados em trabalhos de tra-
ma digital, como combinações de 0 e 1, exemplo, fornecer pormenores sobre o úl- dução, em serviços de informações, corno
cada uma das quais representa um som timo movimento, dar o saldo da conta, pa- os de compra e venda do mercado de títu-
diferente. O computador está programado gar facturas e confirmar requisições de li- los, nas reservas de passagens aéreas e na
para agrupar os fonemas em palavras ou vros de cheques ou de extractos de conta. segurança e prevenção de acesso a edifí-
frases — sintetizar — e utiliza um altifalan- Nos EUA, já foram construídos sintetiza- cios e a Ficheiros de computador.
te para nos "dizer" o que queremos saber. dores de fala computorizados destinados No futuro, aparelhos portáteis permiti
Os computadores que "ouvem" são a dar voz a algumas crianças que a não rão provavelmente a uma pessoa que fala
programados com um sistema semelhan- possuem. São programados com uma voz inglês fazer perguntas simples que serão
te para permitir que um receptor reconhe- tanto quanto possível natural, baseada em traduzidas num écran para japonês, por
ça os fonemas. A maioria dos compu- geral, na de um innão ou irmã da criança. exemplo. Para responder, o japonês utili-
tadores apenas interpreta certas palavras, Um sintetizador para uma criança mui- zará uma máquina semelhante.
enunciadas segundo uma or-
dem predeterminada ou por O SINTETIZADOR - COMPUTADOR QUE GRAVA E RECONSTRÓI A FALA
uma voz previamente introdu-
zida, mas os sistemas mais
avançados conseguem hoje re-
conhecer e responder a qual
quer voz humana, e alguns
compreendem até mais do que
uma língua. No entanto, o
computador não pensa, pelo
que não sustenta uma conver-
sa propriamente dita. A voz
emitida pelo computador não
soa como a voz humana: os
computadores que falam emi-
tem sons sacudidos e mecâni-
cos porque pronunciam cada
som ria fala de uma forma idên-
tica e neutra, sem as entoações
diversas ria fala humana. Inves-
tigadores holandeses têm ten-
tado resolver este problema
combinando os sons da fala
em fragmentos menores e
agrupando-os de modo a pro-
duzirem palavras com entoa
ções mais humanas.
Muitos dos sistemas de com-
putadores falantes são utiliza
dos nos telefones. Nos EUA, as compa- A impressão vocal da ooz de uma mulher
nhias de telefones usam uma voz compu- que pronuncia a palavra "baby" é reproduzi
torizada quando precisam de dizer às pes- da por um sintetizador e apresentada num
soas que o número que marcaram foi alte- écran. O teclado e o uisor de um sintetiza-
rado. A voz diz então qual é o novo dor da fala (à direita) estão ligados a um
número. Estes computadores não podem computador que reconhece e interpre-
"ouvir" uma pergunta e respondem sim- ta a fala humana 0 sistema é utiliza
plesmente aos números incorrectamente dono estudo da fala e para fazer os
marcados. computadores "conversar". E
Estudos em curso nos EUA e em França também utilizado em sistemas
C*«W -Harmr*r 7
têm por objectivo criar uma lista telefónica de segurança de edifícios. ms$&&:

197
lVim\/AVIL.I I r t J Ut\ \..ICIN«..lrt

núcleos resultantes desta desintegração cador de voltagem, que amplia enorme-


são de um elemento totalmente diferente, o mente a tensão eléctrica, para acelerarem
Como se cindem oxigénio. Rutherford transmutara um ele-
mento, o azoto, noutro, o oxigénio.
estas partículas, comunicando-lhes uma
grande energia. Em 1932, quando dispara-
os átomos? Em breve se descobriram processos ram estes protões acelerados sobre ato
mais eficazes para cindir os átomos. Em mos de lítio, obtiveram dois átomos de hé-
1928, em Cambridge, Cockcroft e Walton lio por cada átomo deste metal. Este êxito
Já no século v a. C. os filósofos gregos avan- substituíram as partículas alfa por protões. levou a uma série de experiências em que
çaram a teoria de que toda a matéria era Usaram um aparelho chamado multipli- se usaram vários tipos de partículas para
constituída por partículas indi- bombardear diversos "alvos".
visíveis. 0 seu conceito do áto- Em Janeiro de 1939, Otto Hahn e Lise
mo c o m o o mais p e q u e n o Meitner, da Universidade de McGill, em To-
componente existente na Natu- ronto, concluíram que um átomo de urâ-
reza foi aceite durante mais de nio - o mais pesado dos elementos natu-
2000 anos. Até que, em 1919, o rais —, ao ser bombardeado por um neu-
átomo foi fragmentado pela pri- tráo (partícula semelhante ao protão, mas
meira vez num laboratório da sem carga eléctrica), se dividia em dois áto-
Universidade de Manchester. mos, cada um com cerca de metade da
Este acontecimento, que nos massa rio de urânio, libertando uma enor-
lançou na era nuclear, culmi- me quantidade de energia c dois ou mais
nou as experiências de Ernest neutrões que poderiam, por sua vez, pro-
Rutherford, que vinha investi- vocar a cisão de outros átomos: era o prin
gando as velozes partículas alfa cípio da reacção em cadeia, base da bom-
libertadas pelo elemento radio- ba atómica e dos reactores nucleares.
activo rádio.
Pela extremidade de um tubo Quebra-átomos. Neste tubo, Rutherford
com cerca de 20 cm de compri- demonstrou peia primeira vez a possi-
mento, Rutherford introduziu bilidade de os átomos se "partirem". O
uma haste em cuja ponta havia original está no Museu Cuoendish. em
um disco de latão revestido de Cambridge.
rádio. O outro extremo do tubo
foi vedado com um delgado disco de me- RUTHERFORD CINDE O ÁTOMO
tal por detrás do qual havia um écran de Folha de metal _Ent /saídas de 08869 M Disco revestido com rádio
sulfureto de zinco. O tubo podia ser enchi-
do com diversos gases.
0 disco de metal fino barrava o caminho
da maioria das partículas alfa emitidas pelo Haste
rádio. Mas quaisquer partículas de alta ener-
gia (longo alcance) que se formassem pela Partículas alfa
acção das partículas alfa sobre os átomos emitidas
de gás no interior do tubo atravessariam o
disco. Quando uma destas partículas em- O rádio emitia partículas alta, das quais muito poucas — só as mais energéticas - deveriam
batia no sulfureto de zinco, este emitia uma atingir o alvo: quando o tubo continha ar, observava-se um excesso de cintilações
centelha de luz esverdeada - o que permi-
tia contá-las. Folha de meta Disco revestido com rádio

Quando o gás no tubo era oxigénio ou ndro


dióxido de carbono, a frequência das cen-
telhas era baixa, o que era explicável pela As cintilações
capacidade da folha de metal c destes ga- diminuem- Hasle
ses de pararem as partículas alfa. Mas
quando se utilizava ar, o número de cintila Os átomos do gás
ções aumentava inexplicavelmente - só ntrodução de oxigénio
ajudam a parar as ou dióxido de carbono
poderia dever-se à presença do azoto. partículas
Para o confirmar, Rutherford empregou Quando, em vez de ar, o tubo continha oxigénio ou dióxido de carbono, contavam se de
azoto puro. Concluiu que as partículas alfa (acto muito menos cintilações.
desintegravam os átomos de azoto, com
produção de núcleos de hidrogénio de alta Folha de meta Disco revestido com rádio
energia que atravessavam o disco metálico. As cintilações
Rutherford veio a chamá-los protões. aumentam
porque os protões
"Temos de concluir", escreveu, "que o penetram
átomo de azoto é desintegrado." a folha Haste
Experiências posteriores confirmaram
as conclusões de Rutherford. Uma partí- Partículas alfa
cula alfa, ao colidir com um núcleo de azo- desintegram átomos
to, combina-se com ele; o novo núcleo é de azoto
instável, desintegrando-se logo a seguir, Quando o tubo continha azoto puro. o número de cintilações era maior: Rutherford concluiu
com emissão de um protão. Eram estes que da colisão das particulus alfa com os átomos de azoto resultavam protões com alta
protões que Rutherford via no seu écran. Os energia, responsáveis pelo excesso de cintilações. Desintegrara o átomo de azoto.

m
IVI/MYAVVIL.I l/V) Lírt «_IClNV_lrt

Explorando o interior do átomo


Os cientistas que exploram a estrutura do zida, o vapor de água condensava-se, for-
átomo defronlam-se imediatamente com mando uma névoa. O processo de conden-
um problema: os átomos são demasiado sação podia ser desencadeado pela passa
pequenos para que os seus pormenores gem de partículas subatómicas com cargas
possam ser vistos por qualquer microscó- eléctricas: tal como os aviões voando alto
pio. O diâmetro de um átomo típico é de na atmosfera deixam rastos de gotículas de
cerca de 20 milionésimos de milímetro - vapor condensado, assim as partículas dei-
e quase todo o seu volume é espaço vazio. xavam rastos na câmara de Wilson.
No centro do átomo encontra-se o Blackett registou efectivamente a desin- Primeira* prova». Trajectória de urna par
seu denso núcleo, que ocupa menos de tegração do núcleo por colisão com uma tícula alfa ao colidir com átomos, registada
1/100 000 do volume total. Em redor dele partícula alfa na sua câmara. Para o conse- pelo físico inglês C T R. Wilson na câmara
orbitam electrões - partículas su bato mi- guir, tirou 23 000 fotografias que mostravam que inventou e que recebeu o seu nome.
cas muito mais leves que o nú-
cleo e com carga eléctrica nega-
tiva que contrabalançam a car-
ga positiva do núcleo.
Ainda mais extraordinário é
que é possível estudar a estrutu-
ra de cada um dos componen
tes atómicos e, por exemplo, de-
monstrar que os núcleos são
formados por partículas ainda
menores.
Mas como podem os dentis-
tas saber tudo isto se não conse-
guem ver as partículas? Os fac-
tos são o resultado de uma lon-
ga série de experiências nas
quais gerações de cientistas
fragmentaram átomos com o
auxilio de aparelhos complexos
chamados aceleradores de par-
tículas.
O conceito inicial de átomo
era o de uma partícula dura, só-
lida e uniforme. Mas em Cam-
bridge, Inglaterra, em 1897, o fí Electrão em espiral. Trajectória em espiral de um elec- Trajectória de colisão. Os traços sâo as
sico Joseph John Thomson des- trão no CQmpQ magnético de uma câmara de bolhas. Fo- trajectórias de partículas em hidrogénio lí-
cobriu o minúsculo electrão. tografada no Laboratório Lawrence Berkeley. Califórnia. quido numa câmara de bolhas.

Como a cabeça de um alfinete 400 000 trajectórias de partículas alfa Só em que colidem produz novos dados que têm
Por volta de 1911, o físico neozelandês Er- 1925, seis anos após ter iniciado os traba- de ser explicados. Mas para atingir estas
nest Rutherford tinha já demonstrado, por lhos, conseguiu ter registadas oito trajectó- energias mais elevadas, houve que criar
observação do ricochete de partículas alfa rias ramificadas, mostrando a desintegra- aceleradores cada vez maiores, com no-
ao colidirem com os átomos, que pratica- ção de um núcleo atómico. A câmara de mes como ciclotrão e sincrotrão.
mente toda a massa atómica se encontrava Wilson e, posteriormente, a câmara de bo- O maior de todos será construído na ci
concentrada num núcleo pequeníssimo, e lhas, na qual as partículas deixam num dade de Waxahachie, no Texas. Será um
não dispersada pelo volume atómico. Se meio líquido um rasto de bolhas, têm sido, anel tubular gigante com o perímetro de
um átomo fosse, por exemplo, do tama- desde então, instrumentos fundamentais 85 km. Dois feixes de protões circularão no
nho de uma casa, o núcleo não passaria de para os físicos das partículas. seu interior em sentidos opostos. Electroí-
uma cabeça de alfinete. manes superpotentes guiarão os feixes de
Inicialmente, todos estes dados foram Colisões a alta energia protões enquanto são acelerados por cam-
aceites em teoria, pois não havia processo A medida que as velocidades das partí- pos eléctricos até quase atingirem a veloci-
de observar as partículas individualmente. culas em colisão eram aumentadas por dade da luz e colidirem. Espera-se que seja
Mas pouco tempo depois, o físico britânico máquinas cada vez mais potentes, foram confirmada a existência de uma série de
Patrick Blackett, que começou as suas in- sendo descobertas mais partículas subató- partículas hipotéticas com nomes como o
vestigações por volta de 1919, tirava as pri- micas. Verificou-se que os átomos simples bosão de Higg ou o top quark, que se pen-
meiras fotografias de colisões de partículas imaginados por J. J. Thomson e Ernest Ru- sa tenham existido apenas momentanea-
que originavam transmutações. Utilizou therford eram na realidade muito comple- mente durante o nascimento do Universo.
um aparelho chamado câmara de nevoei- xos. Em 1950, conheciam-se pelo menos Este acelerador, o Super Collider, será
ro, ou de Wilson um recipiente de vidro 14 partículas elementares, e em 1964 esse construído em túneis subterrâneos. Ocu-
contendo ar húmido. Quando a pressão no total aumentara para mais de 80. pará 405 ha e custará 4400 milhões de dó-
interior do recipiente era subitamente redu- Cada aumento da energia das partículas lares Deverá estar pronto em 1996.

\\)\)
MARAVILHAS DA ULNCIA

Ver os átomos
As primeiras imagens de átomos, os cons-
tituintes básicos de toda a matéria, foram
produzidas cm 1956 pelo físico Krwin W1
lhem Mueller. da Universidade Estadual da
Pensilvânia, ao fim de 20 anos de experiên-
cias com microscópios especiais. Mueller
injectou hélio numa câmara de vácuo
onde havia uma ponta metálica extrema-
mente fina. Os átomos de hélio, que, por
acaso, tocavam na ponta - à qual eslava
aplicada uma elevada tensão eléctrica po-
sitiva -, perdiam uma parte da sua "nu-
vem" de electrões: transformavam-se em
iões de hélio positivos (um ião é um átomo
com carga eléctrica). Os iões eram acelera-

Atomos em formatura. A primeiro imo


gem visual de como os átomos eslão dis-
postos numa molécula de benzeno foi obti
da por investigadores em Zurique. As molé-
culas de benzeno da imagem encontram-
se adsorvidas na superfície de um crista! -
daí a suo arrumação regular.

ESCREVER NUM MUNDO MICROSCÓPICO


A armazenagem miniaturizada de informações será uma be-
nesse para instituições como as bibliotecas, que têm de guardar
grandes quantidades de volumosos livros, jornais e relatórios.
Por exemplo, eslima-se que o Museu Britânico acrescenta às
prateleiras da sua biblioteca 13 km de livros anualmente. Cientis-
tas do Laboratório Cavendish, em Cambridge, utilizaram um
feixe de electrões para produzir padrões de pontos formando
imagens e escrita microscópicas em fluoreto de alumínio. Por
este processo conseguem reduzir a escrita a uma densidade de
10 milhões de palavras por milímetro quadrado.

Padrão de pontos. Utili-


zou-se um feixe de electrões
para reduzir o tipo escrito até
10 milhões de palavras por
milímetro quadrado.

O mais pequeno cartão. Este desenho de um pisco foi produzi- Dimensões quase atómicas. O furo cavado por um feixe de
do por um feixe electrónico que faz padrões de furos. Tem cerca electrões em fluoreto de alumínio mede pouco mais que a distân-
de um milionésimo do tamanho normal. cia entre dois átomos. As linhas são fiadas de átomos.

200
ivmrmviuiAO UM C I L I C I A

dos segundo trajectórias rectilíneas —


atraídos por um écran fluorescente com
carga negativa. Ao chocarem com o écran,
produziam uma imagem rigorosa da pon-
Como foi medida a velocidade da luz?
ta metálica ampliada 5 milhões de vezes.
As posições dos átomos apareciam como Nos meados do século xix, Jean Foucault, se desviava ligeiramente da sua trajectória
pontinhos brilhantes. físico do Observatório de Paris, mediu a inicial.
Durante os anos 80, foram produzidas velocidade da luz com uma aproximação Servindo se do desvio do raio para me-
imagens de átomos muito mais especta- notável, utilizando dois espelhos afastados dir o ângulo de que o espelho se deslocara
culares com o microscópio de efeito de 20 m entre si. e conhecendo a velocidade de rotação,
túnel (STM - SCarming (unnelling micros- Um dos espelhos era fixo, o outro girava Foucault pôde calcular o tempo que a luz
cope), inventado era 1981 nos laboratórios a 800 rotações por segundo. Se um raio de levara no seu percurso e a sua velocidade.
da IBM em Zurique. O aparelho produz a luz atingia o espelho quando este se en- O resultado final apresentado por Koucault
imagem da superfície de uma amostra contrava exactamente no ângulo certo, era em 1862 foi de 300 900 km/s.
como um mapa de curvas de nível, mos- reflectido para o espelho fixo, voltava a rc O método utilizado por Koucault foi aper
trando as posições dos átomos individuais. flcclir-.se para o rotativo e deste para a fonte feiçoado na década de 1920 pelo físico ame
Uma agulha, aguçada quimicamente (v. diagrama). ricano Alberl Michelson, que enviou a luz
por forma que na sua ponta haja um único No tempo que levava a viagem de ida e ao longo de um tubo evacuado com 1,6 km
átomo, é colocada a aiguns átomos de dis- volta entre os espelhos, o espelho rotativo de comprimento para eliminar os efeitos do
tância da superfície da amostra a estudar. tinha rodado um pequeno ângulo, de ar sobre a sua velocidade. As medições
Uma diferença de potencial entre a ponta e modo que o raio que era devolvido à fonte mais recentes conduziram a 299 793 km/s.
a amostra produz uma corrente eléctrica.
Quando se corre a ponta paralelamente à A EXPERIÊNCIA DE FOUCAULT
superfície, a resistência ã corrente varia ao
passar sobre sucessivos áloinos. As medi- Cilindro rotativo
ções das variações de resistência utilizam Pequeno ângulo
•se para desenhar um mapa de curvas de percorrido
nível, revelando átomos individuais ou os pelo espelho
sítios onde faltam átomos (lacunas) e rotativo
quaisquer defeitos na estrutura cristalina.
O resultado é uma imagem extraordiná-
ria, mostrando os átomos ligados entre si
como num modelo de laboratório. O STM
tem a vantagem de, contrariamente ao mi-
croscópio electrónico, não danificar a
amostra em estudo. Deve vir a revelar-se Fisco do Observatório de
valiosíssimo na criação de novos dispositi Paris, Jean Foucault (1X19-
vos microelectrónicos, cujo comporta- 6H) passou 12 anos nas
mento é determinado pelo rigor na coloca- suas experiências sobre A velocidade de um espelho rotativo e o seu movimento angular
ção de camadas de átomos diferentes. a velocidade da luz. entre as reflexões eram vitais para os cálculos de Foucault.

Como foi medida a velocidade do som?


Conforme notam todos aqueles que obser- conseguia medir centésimos de segundo. o circuito, fazendo com que a pena voltas-
vam um estaleiro de construção a certa dis A fim de ultrapassar estes problemas, o se à sua posição inicial.
tância, o som de um bate estacas chega- químico e físico francês llenri Victor Reg Como a velocidade de rotação do cilin-
dos atrasado em relação à respectiva ima- nault imaginou em 1864 um aparelho que dro era conhecida, o salto na linha regista-
gem: o som é comparativamente lento. fazia as medições automaticamente. va o tempo que 0 som levara entre o ca-
O trovão ouve-se quase sempre alguns Tratava se de um cilindro rotativo revés nhão e o diafragma. Resultado: o som do
segundos depois do relâmpago que o pro tido a papel, no qual uma pena desenhava tiro propagava se a cerca de 1200 km/h, ou
vocou: numa tempestade a I km de distân- um traço. A pena, ligada a um dispositivo seja 340 m/s.
cia, o intervalo é de cerca de três segundos. eléctrico, tinha duas posições possíveis de Desde o tempo de Regnault, os cientis-
A velocidade exacta de propagação do contacto com o cilindro — uma com a tas demonstraram que o som se propaga
som confundiu os cientistas até há cerca corrente ligada, outra com a corrente desli- na água a cerca de quatro vezes a sua velo
de 100 anos. gada. Era comandada por dois circuitos, cidade no ar e a mais de dez vezes através
Uma maneira óbvia de medir a velocida um defronte da boca de um canhão a uma de um sólido..Pode efectuar se uma expe-
de do som é verificar o tempo que ele leva a distância considerável, outro através de riência relativamente simples que prova
percorrer uma distância conhecida — por um diafragma sensível ao som junto ao ci- esta afirmação: pegue-se numa barra ou
exemplo, provocando uma explosão lindro. No início da experiência, ligava-se a varão de ferro comprido e direito, encoste-
numa colina distante, pondo o cronome- corrente. O cilindro rodava e a pena traçava se-lhe o ouvido c peça-se a alguém que, a
tro a trabalhar quando se vê o clarão e pa uma linha. Quando o canhão disparava, certa distância, lhe bata com um martelo.
rando-o quando se ouve o som. cortava o primeiro circuito, obrigando a Ouvir-se-áo dois sons distintos: o ouvido
Mas o resultado seria apenas uma apro- pena a saltar para a segunda posição. Um encostado ao ferro ouvirá o som uma frac-
ximação, dependente da rapidez da reac- ou dois segundos depois, o som do tiro ção de segundo antes do outro ouvido,
ção humana. E há 100 anos nenhum relógio chegava ao diafragma, que voltava a fechar que recebe o som através do ar.

201
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MARAVILHAS DA CIÊNCIA p v,
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Air- Force
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"Chuck" Yeager: o homem .ocicet aircraf» S í ^ n e n, ' u,e
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que passou a barreira do som
Dois dias antes da sua tentativa de passar a
barreira do som, Charles "Chuck" Yeager, ,r
cra
de 24 anos, capitão da Força Aérea dos
EUA, partiu duas costelas num acidente
quando corria a cavalo, com a sua mulher,
no deserto do Mojave. Na manhã seguinte,
um médico local ligou-lhe o tronco, mas,
mesmo assim, "Chuck" não conseguia me-
xer o braço direito devido às dores. Sabia
que, se houvesse notícias do seu estado, as
entidades superiores adiariam a tentativa,
projectada secretamente para 14 de Outu-
bro de 1947.
O avião Bell X-l, accionado por fogue-
tes e pintado de cor de laranja, seria larga-
do do compartimento das bombas de um Avião mais rápido que o som.
Boeing B-29 e, depois de uma curta plana- Recorte de jornal com a notícia (ao alto').
gem sem motor, começaria a subir quan- "Chuck" Yeager (à esquerda) deu ao avião
do Yeager pusesse a funcionar em rápida o nome da sua mulher, Glennis (à direita).
sequência os quatro foguetes.
Para passar do B-29 para o minúsculo Mach - nome do físico Emst Mach (1838- génio líquido armazenados no tanque de
cockpit do X-l (também conhecido por 1916). Um avião que se desloca à velocida- combustível directamente por trás do as-
XS-1), Yeager tinha de descer por uma pe- de do som diz-se que vai a Mach 1. sento, a 182vC negativos. Durante os próxi-
quena escada. A porta do cockpit tinha en- Se um avião não é desenhado para o mos 15 minutos, só há que bater os den-
tão de ser baixada por um cabo a partir do -voo supersónico, fortes ondas de choque tes ... é como tentar concentrarmo-nos no
compartimento das bombas. atingcm-lhe as asas e a fuselagem quando trabalho dentro de um frigorífico."
Uma vez colocada a porta, Yeager tinha ele se aproxima de Mach 1. O fluxo do ar Durante os voos de ensaio, a transpira-
de a fechar pelo lado direito — coisa sim- em redor do aparelho torna-se instável, ção de Yeager acrescentara mais uma ca-
ples quando não se tem duas costelas par- causando intensas vibrações irregulares
tidas e o braço direito imobilizado. Então, o que provocam perda do domínio de voo.
seu mecânico de voo, Jack Ridley, teve Teoricamente, o X-l, com o seu nariz ae-
uma ideia brilhante: o piloto poderia ma- rodinâmico e as suas linhas suaves, não
nobrar um pau com a rnão esquerda para seria afectado. Contudo, tinha o mau cos-
levantar o manipulo da porta e fechá-la. tume de sacudir o piloto dentro do aperta-
"Procurámos pelo hangar e encontrá- do cockpit com tanta força que o poderia
mos uma vassoura", recordou depois Yea- fazer perder os sentidos. Para se proteger,
ger. "Jack serrou-lhe 25 cm do cabo, que se Yeager usava um grande capacete de râ-
ajustava perfeitamente ao manipulo. De- guebi, de couro, por cima do seu capacete
pois, entrei no X-l e fizemos uma expe' de voo.
riência. Ele encostou a porta ao caixilho e Quando o B-29 se aproximou dos 7000
eu, levantando o manipulo com o pau da pés (2100 m), Yeager avançou para o com-
vassoura, consegui fechá-la." partimento das bombas, a partir do qual
Por volta das 8 da manhã de 14 de Outu- desciam uns carris até ao X-l. Empurrou a
bro, o B-29 largou da Base Aérea de Muroc, escada de alumínio pelos carris c deixou-se
no deserto do Mojave. Yeager viajava por escorregar para dentro do cockpit do X-l.
enquanto no bombardeiro — que levava o "Descer o diabo da escada fez-me doer",
X-l encaixado na barriga. Apesar das dores recordava depois. "Peguei no cabo da vas-
que sentia, Yeager estava optimista. Fizera soura e o manipulo rodou para a posição
já uma série de voos de ensaio no avião com de fechado. Funcionou perfeitamente."
propulsão por foguetes e tinha como objec- Depois, teve de haver-se com o ambien-
tivo ser o primeiro homem a ultrapassar a te gelado do cockpit. "A tremer", lembrava,
velocidade do som — cerca de 1220 km/h "bate-se as palmas com as mãos enluvadas
ao nível do mar (quanto maior é a altitude, e coloca-se a máscara de oxigénio no avião
mais lentamente o som se propaga). Na sua mais frio que jamais voou. Está-se a ser
tentativa, Yeager planeava voar a cerca de enregelado pelas centenas de litros de oxi-
700 milhas/hora (1126 km/h) a uma altitude
de cerca de 40 000 pés (12 200 m) acima do Passagem da barreira. Ò Bell X-1 tinha
nível do mar.' apenas 9,5 m de comprimento e 8,5 m de
A velocidade de um avião comparada envergadura. Pilotado pelo capitão
com a de propagação do som no meio "Chuck" Yeager, o avião a foguetes passou
vizinho é conhecida como o número de a barreira do som a 1126 km/h.

202
ca de um interruptor de ignição e espalhar
os meus pedaços por uma série de conda
dos". Mas tudo correu de acordo com os
planos. O X-l subiu ã velocidade de Mach
0,88 e começou a oscilar violentamente.
Yeager puxou imediatamente o botão do
e s t a b i l i z a d o r , e o avião e n d i r e i t o u -
-se a 36 000 pés (11 000 m). Desligou
duas das câmaras de fogue-
tes - e a 40 000 pés (12 200 m)
estava a subir a Mach 0,92. De
novo voltou à horizontal - des-
ta vez a 42 000 pés (12 800 m).
Voltou a acender o foguete
n.° 3 — e instantaneamente che-
à boleia. Para conservar a sua carga gou a Mach 0,96 e continuou a
de combustível de 2700 I de oxigénio acelerar. "Estávamos a andar
liquido e álcool, o X-1 foi transportado mais depressa que o som!", afir-
no compartimento das bombas de uma mou. "E o voo era tão suave como
superiortaleza B-29 até aos Ç000 m a pele de um bebé: a minha avó
de altitude. Para iniciar o seu voo, podia ir ali sentada e a beber limo
o X-1 foi largado como uma bomba. nada Levantei em seguida o nariz
do avião para o afrouxar. Depois
de todas, as ansiedades, vi que ultrapassar a
mada de gelo ao vidro da frente. Para con- 20 000 pés (6100 m) o piloto do B-29, ma-
baneira do som era como andar numa pista
trariar este efeito, o mecânico-chefe tinha jor Bob Cardenas, iniciou a contagem de-
perfeitamente alcatroada."
posto um pouco de champô para o cabelo crescente "... cinco ... quatro ... três ...
no vidro. "Por qualquer razão desconheci- dois ... um ... LARGA!" Premiu o botão e, Para eliminar o risco de explosão quan-
da", afirmou Yeager, "aquilo funcionou com um sacão, o X-1 estava entregue a si do o X-1 aterrasse, Yeager largou o resto
como um eficaz dispositivo ahticongelan- próprio e caindo pelo espaço, de nariz do combustível e sete minutos depois o
te, e continuámos a usá-lo mesmo depois para cima A queda durou cerca de 150 m, avião pousava em segurança. "E assim, na-
de o Governo ter comprado um produto enquanto Yeager lutava desesperadamen- quele dia f fui um herói", disse com simpli
químico especial a 18 dólares por garrafa." te com os comandos. Finalmente, baixou cidade. "Como de costume, os bombeiros
Os dois aviões, ainda engatados um o nariz do avião e acendeu as quatro câma- acorreram e apanhei boleia até ao hangar.
no outro, voavam a cerca de 15 000 pés ras dos foguetes. Ele sabia que o combustí- O sol quente do deserto sabia-me maravi-
(4570 m) e continuavam a subir. Aos vel podia "explodir com uma pequena faís- lhosamente."

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203
MAKAVILHAS DA CIÊNCIA

Como os cientistas
tentam prever
os sismos
Em 4 de Fevereiro de 1975, funcionários da
província chinesa de Liaoning, na Man-
chúria, emitiram um aviso urgente de que
estava prestes a ocorrer um tremor de ter-
ra. Urna série rie pequenos abalos nessa
manhã parecia avisar da iminência de uma
catástrofe. As pessoas foram aconselhadas
a pennanecer fora de casa, ainda que fosse
Inverno e estivesse muito frio.
No mesmo dia, pouco passava das 7.30
da tarde, verificou-se um forte sismo. Cen-
tenas de casas ruíram, mas, como a popu-
lação se tinha mantido ao ar livre, poucas
pessoas ficaram feridas.
Este foi um dos primeiros casos conhe-
cidos em que um terramoto foi correcta-
mente previsto, e resultou de um progra-
ma iniciado pelo Governo Chinês em 1965
para tentar diminuir a terrível mortalidade
provocada por abalos sísmicos.
Mas os métodos utilizados falharam pos-
teriormente na previsão de terramotos
mais graves - como o catastrófico que, no
ano seguinte, matou mais de 240 000 pes-
soas em Tangshan, na China Oriental. Por
outro lado, algumas previsões têm dado
origem a falsos alarmes. Contudo, aquele
êxito tornou evidente o valor que poderá ter
a previsão correcta dos tremores de terra.
Actualmente, e de um ponto de vista
empírico, consideram-se como indícios
de um sismo iminente: ocorrência de pe-
quenos sismos (premonitórios) durante
horas, dias ou meses (embora ocorram
grandes terramotos sem abalos prelimina-
res e outras vezes os pequenos abalos não
tenham sequência); abaixamento do nível parece diminuir, para voltar a aumentar
da água nos poços e subida da sua tempe- imediatamente antes de um abalo Peque-
ratura; comportamento anómalo dos ani- nas explosões e abalos preliminares po-
mais. Com efeito, foi a observação destes dem ser analisados para revelar essas alte
indícios nos EUA em 1974 e na China em rações. O segundo indicador envolve alte-
1975 e 1976 que permitiu minorar as con rações no nível da superfície topográfica,
sequências de fortes abalos que se verifica- que se eleva muito ligeiramente com o au-
ram pela adopção de medidas preventivas mento da pressão no interior. Uma zona
adequadas. da região da falha de Santo André, na Cali-
Os modernos esforços científicos para a fórnia, subiu 40 cm em 20 anos. O terceiro
previsão sísmica concentram se na obser- é a emissão de maiores quantidades de
vação de uma série de modificações verifi- rádon, gás inerte, radioactivo, que se liber-
cadas na crusta terrestre antes de um gran- ta permanentemente através do solo, mas
de sismo. Assim, embora não exista qual- cuja concentração parece aumentar antes
quer indicador único de confiança, os sis- de um terramoto. E o quarto são as mu- Linha de falha. A falho de Santo André
mólogos procuram aperfeiçoar as suas danças no comportamento eléctrico ou — uma das fracturas mais importantes da
previsões com base em quatro indicadores magnético das rochas nos momentos em crusta terrestre - atrauessa o Sul da Califór-
principais: o primeiro é a velocidade a que que elas se aproximam do seu ponto de nia e a península de S. Francisco no sem ido
as ondas de choque se propagam através fractura antes do abalo. noroeste-sudeste.
da crusta. Quando as tensões subterrâneas Estas medições já permitiram, de certo
se acumulam, as pressões exercidas sobre modo, uma previsão. Em Novembro de mudanças de velocidade das ondas de
as rochas alteram a forma de propagação 1974, cientistas americanos detectaram al- choque perto de Hollister, no Centro da
das ondas de choque. A velocidade destas terações magnéticas, inclinações do solo e Califórnia. Um deles, John Healy, do US

204
MAKAVILhA.^ UA UtINUA

Mudança de curso. A falha de Santo An-


dré resulta do movimento de duas das
maiores placas crustais da Terra - a do
Pacifico e a da América do Norte. Este movi-
mento alterou o curso de um rio (topo direi
to da fotografia) que em tempos atravessa-
va a falha. O rio percorre agora uma parte
desta e retoma o seu curso do outro lado, no
seu leito original (em baixo, à esquerda).

Geológica] Survey, argumentava que os si-


nais eram suficientemente claros para se
emitir um aviso, mas os colegas discorda-
ram, pelo que nada se fez. No dia seguinte,
um sismo de magnitude 5 abalou Hollister.
Empresas e pessoas podem fazer segu-
ros contra sismos, mas não contra as conse-
quências de um alarme falso que provoque
a evacuação, em pânico, de cidades intei-
ras. Um único rebate falso poderia levar a
que uma previsão genuína fosse ignorada,
garantindo assim a ocorrência da catástrofe
que, em princípio, a previsão evitaria.

Desalinhadas. Em 1940, a actividade sís-


mica no Imperial Valley, na Califórnia, fez
desalinhar filas de árvores deste pomar,
plantado sobre o percurso de uma falha

OS GRANDES TERRAMOTOS DO SÉCULO XX

DATA LOCAL MAGNITUDE MORTOS DATA LOCAL MAGNITUDE MORTOS

1906 S. Francisco, EUA 8,3 700 1970 Peru 7,7 50-70 000
1908 Itália 7,5 83 000 1976 China 7,8 242 000
1920 China 8,6 180 000 1978 Irão 7,7 15 000
1923 Japão 8,3 99 000 1979 Equador 7,9 600
1927 China 8,3 200 000 1980 Argélia 7,7 35 000
1931 Nova Zelândia 7,9 255 1980 Itália 7,2 3000
1932 China Desconh. 70 000 1981 Irão 7,3 2500
1935 Paquistão 7,5 20-60 000 1983 Japão 7,7 58
1952 Califórnia, EUA 7,7 11 1983 Turquia 7,1 1 300
1962 Chile 8,5 4-5 000 1985 Chile 7,4 177
1964 Alasca 8,5 178 1985 México 8,1 4 287
1968 Irão 7,4 12 000 1988 URSS (Arménia) 7,0 25 000

Medindo a intensidade das ondas de choque de um sismo, os a 'ntistas determinam a sua magnitude» - a quantidade de energia
libertada no foco, ou hipocentro. E,'ta é medida na escala de Richter — de 1 a 10, criada pelo sismóiogo c aliforniano Charles Richter em
1935. A escala é logarítmica: um a balo de magnitude 8 é 10 vezes maior que um de magnitude 7, 100 i ezes maior que um de 6, etc.

205
IDEIAS PRATICAS E SOLUÇÕES ENGENHOSAS

i
desta natureza é o domínio do ar propor-
cionado por aviões — com base em porta-
-aviões - constantemente em patrulha na
intenção de evitar que a aviação inimiga se
aproxime o suficiente para lançar os seus
mísseis. Mas este tipo de defesa é difícil no
caso do míssil soviético SS-N-3 "Shad-
dock", que pode ser lançado a mais de
400 km do alvo. Os aviões de defesa podem
transportar mísseis antimísseis como o
Phoenix americano, mas não podem ga-
rantir a destruição de um míssil em voo.
Quando os aviões de apoio a uma es-
quadra não conseguem evitar um ataque,
os navios lém de recorrer às suas próprias
defesas. Estas são constituídas por mísseis
antimísseis como o Aegis, que defende os
navios dos EUA; os contratorpedeiros por
ta-helicópteros canadianos da classe
"City" possuem os Sea Sparrows, e os na-
vios soviéticos têm os sistemas SA-N-3
(Goblet) e SA-N-4.
As ondas do mar provocam frequente
mente interferências no radar do navio, per-
mitindo aos mísseis de voo rasante aproxi-
marem-se muito do seu alvo antes de serem
detectados. Durante a Guerra das Malvinas,
em 1982, por exemplo, o contratorpcdeiro
britânico Sheffield foi atingido em 4 de Maio
por um míssil Exocet. O avião argentino
atacante, um Super Elendard. não foi detec- Alvo atingido. A fragata americana Stark, atingida nas águas do golfo Pérsico por dois
tado pelo radar do navio por voar muito mísseis Exocet iraquianos disparados de um avião Mirage FI-EQS.
perto da água e disparar de
mais de 30 km de distância.
Quando os mísseis ata-
cantes escapam a todas as
outras barreiras, a protecção
de último recurso do navio
é-lhe dada pelos seus ca-
nhões, que podem disparar
uma cortina de fogo tão den-
sa que alguns dos projécteis
atingirão, com certeza, o
míssil que se aproxima. As
peças americanas Phalanx
disparam projécteis de
20 mm ao ritmo de 3000 por
minuto. Estes projécteis de
chumbo com núcleo de urâ-
nio são suficientemente pe-
sados para deterem qual- Mísseis antimísseis. Um pona-aoiôes lança aviões porta- Submarino caça-submarinos. Os na-
quer míssil que atinjam. mísseis para se defender dos ataques inimigos. Dois F18 de vios de guerra obtêm alguma protecção de
combale e ataque aguardam, prontos, no tombadilho. submarinos como o Sturgeon americano.
Outras nações utilizam
projécteis maiores - o sistema germano/ vezes, o navio consegue esgueirar-se ou
holandês Goalkeeper utiliza canhões Mau- mesmo escapar-se de um torpedo, mas as
ser de 30 mm, capazes de disparar 300 pro- únicas defesas eficazes são submarinos
jécteis por minuto. As peças são de uma que perseguem e torpedeiam os submari-
precisão considerável, pois o tiro é coman- nos inimigos ou helicópteros equipados
dado pelo radar. com sonar, operando em conjunto com
Mesmo que a artilharia falhe, o sistema navios à superfície. Os helicópteros rebo-
de radar do míssil (ou do avião que o lan- cam detectores sonar dentro de água para
ça) pode ser anulado pelo disparo de pe- localizarem os submarinos inimigos, que
ças Chaff, que criam nuvens de fitas de alu depois são atacados por mísseis ar-superfí-
mínio que produzem centenas de ima cie ou por cargas de profundidade.
gens ("neve"), tornando impossível distin- Os porta aviões são alvos fáceis para os
do guir o alvo. torpedos. A forma de os proteger é com O último recurso. .Sc os mísseis penetram
Não existem sistemas semelhantes para um anel de navios de guerra que detectem as defesas de um navio, podem ser destruí-
a destruição de torpedos submarinos. Por e destruam os submarinos inimigos. dos por canhões como o Phalanx

155
MARAVILHAS DA CIÊNCIA

IRES FORMAS DE DETECTAR SISMOS

Esta casa abriga um laser e instrumentos electrónicos que registam os sismos da falha de Santo André. Situa-se em Parkfield, Califórnia.

Um furo para
atravessar a
crusta terrestre
Os geólogos sabem mais acerca das ro-
chas da superfície da Lua do que das que se
situam 15 km abaixo dos seus pés.
A crusta, camada dura e rugosa que
constitui toda a superfície da Terra, é pro-
porcionalmente tão fina como a casca de
uma maçã. Variando entre 10 e 65 km de
profundidade, é menos espessa no leito
dos oceanos mais profundos e mais espes-
sa nos continentes.
A primeira tentativa para perfurar a crus-
ta terrestre foi lançada no final da década
de 50 com o projecto Mohole, que tinha
por objectivo penetrar para além do ponto
em que a crusta contacta com o manto,
Um tensímetro — instrumento que regista a Um creepmeter é formado por um arame fronteira denominada descontinuidade de
expansão e 0 contracção das rochas — é esticado que atravessa urna falha e por um Mohorovicic (v. p. 210). No entanto, depois
verificado por um cientista de Parkfield. instrumento que mede a sua tensão. de se terem realizado alguns furos prelimi-

206
MARAVILHAS DA CIÊNCIA

nares a partir de um navio ao largo da costa as tensões na extremidade superior do tubo briram veios com ouro, ferro, cobalto e zin-
da Califórnia cm 1960, o projecto foi aban- tornam-se demasiado fortes devido ao co, provavelmente formados a partir de
donado devido ao seu elevado custo. peso dos tubos de perfuração, que, além elementos transportados por fluidos pro-
Em 1970, os Russos iniciaram os traba- disso, têm de rodar rapidamente. fundos através das fissuras da rocha.
lhos de execução do mais profundo furo do Por este motivo, no poço de Kola a broca Verificaram também um aumento de
Mundo para estudo da geologia da crusta é rodada por uma turbina fixada ao tubo temperatura inesperadamente rápido. À
terrestre, perfurando as rochas da penínsu- de perfuração próximo do fundo do furo. A profundidade de 10 km a rocha estava à
la de Kola, no interior do círculo árctico, a turbina é accionada por lamas bombeadas temperatura de 180°C, e não a 100°, como
leste da Finlândia. Nos finais da década de para o interior do furo sob grande pressão se pensava.
80 já tinha 13 km de profundidade e foi o e faz rodar a broca por meio de uma caixa Os processos russos poderiam, em
primeiro furo a atingir a crusta inferior. Mas de velocidades. princípio, tornar possível atravessar, pela
com o seu objectivo de atingir 15 km ficará Uma vez que o tubo de perfuração não primeira vez, a crusta terrestre. Mas as tem-
ainda a meio caminho do manto, situado tem de transmitir forças de rotação, pode peraturas criariam um problema: as ligas
neste local à profundidade de cerca de ser fabricado com ligas leves de alumínio utilizadas no tubo de perfuração enfraque-
30 km. Para atingir a sua profundidade re- em vez de aço, diminuindo para metade o cem a temperaturas superiores a 230°C,
corde, utilizaram-se, no poço de Kola, técni- peso que tem de ser suportado pelo der- pelo que seria necessário um material
cas especiais aperfeiçoadas pela indústria rick (torre de sondagem), que atinge a altu- muito caro, como o titânio. Por outro lado,
petrolífera. A perfuração convencional utili- ra de um edifício de 30 andares. para se encontrar a zona da crusta menos
za um motor à superfície para fazer rodar o Quando a broca é içada para substitui- espessa, a perfuração leria de ser feita no
tubo de perfuração, com a respectiva broca ção, podem retirar-se para estudo amos- oceano profundo, o que aumentaria ainda
na extremidade. Mas, para além dos 8 km, tras de rocha. Os cientistas russos desco- mais as dificuldades.

Como se prova a deriva dos continentes?


Já em 1620 o filósofo inglês Francis Bacon tes é bastante perfeita, principalmente no ticas geológicas comuns, tais como rochas
se referia aos contornos das costas da limite das plataformas continentais — me- de tipo e idades semelhantes, ou também
América do Sul e da África, os quais suge- lhor do que nas linhas de costa, cuja forma muitas plantas e animais que parecem ter
riam que elas teriam estado juntas no pas- é continuamente modificada pela erosão origem comum. Por exemplo, muitos pei-
sado, tendo-se depois afastado. Em 1912, o marinha. Mas o contorno dos continentes xes de água doce da América do Sul são
meteorologista alemão Alfred Wegener ar- a uma profundidade de cerca de 900 m parentes próximos de espécies africanas, e
gumentou em favor dessa teoria. Mas ela mostra que a faixa de ma justaposição não é difícil aceitar que tenham atravessado o
só foi comprovada satisfatoriamente para ultrapassa em média os 80 km. oceano Atlântico.
a maioria dos geólogos na década de 60. Entre outras provas de que os continen- Mas foram provas de natureza mais prá-
A ajustabilidade entre os dois continen- tes já estiveram ligados, figuram caracterís- tica que convenceram os cépticos. Amos

Um "puzzle". Disposição ac-


tual dos continentes (ã esquer-
da). Se pudessem Juntar-se, a
costa ocidental da África ajustar-
-se-ia à costa oriental da América
do Sul. Outras provas da deriva
dos continentes são-nos dadas
A Terra em transformação. Há cerca de por fósseis como o mesassauro,
250 milhões de anos, os continentes forma encontrado em ambos os conti-
vam um único supercontinenie, a Pangeia nentes. Animal de água doce
("todas as terras ) (em cima). Há 100 mi- que viveu há 280 milhões de
lhões de anos os continentes estavam já anos. nunca poderia ter atraves-
separados (em baixo). sado o oceano.

207
Iras da crusta terrestre retiradas do fundo do
PLANETA EM ACTIVIDADE mar por um navio hidrográfico americano,
o Glornar Chaltenger. no fim dos anos f>0,
revelaram um padrão curioso. Os geólogos
Placas
crustais colheram as amostras perfurando o leito do
oceano até à profundidade de 5,5 km.
Quando as rochas arrefecem, "con-
gelam" em si a orientação do campo mag-
Dorsal média nético da Terra: as minúsculas partículas
atlântica ferromagnéticas de rocha orientam a sua
magnetização segundo o campo terrestre
na altura da sua formação — e esta orienta
ção permanecerá fixa para sempre, desde
que a rocha não volte a ser aquecida a alias
temperaturas.
As amostras de rochas colhidas no fun-
do do Atlântico revelaram que em muitas
épocas do passado o campo magnético se
A rocha em fusão
sobe, empurrando tinha invertido, tornando-sc o norte em
as placas lateralmente. sul, e vice-versa.
A deriva dos fundos oceânicos. As cristas oceânicas forniam-se quando a rocha em fusão De ambos os lados de uma crista que se
sobe à superfície. Ajrefece e conslitui nooa crusta e os continentes .suo afastados. alonga a meio do Atlântico — a dorsal mé

_'(»*
CALCULO DA VELOCIDADE
DE DERIVA DOS CONTINENTES
Uma vez aceite a ideia da deriva dos con-
tinentes, na década de 60, os cientistas
começaram a especular sobre a veloci-
dade da sua deslocação.
Em certo sentido, os cálculos são sim-
ples: conhecendo-se a largura do Atlânti-
co, por exemplo, e o tempo que levou a
formar-se, é fácil calcular essa velocida-
de. Deduz-se daí que a Europa e a Améri-
ca se afastaram à média de 20 km em
cada milhão de anos, o que dá uma mé- Raios reflectidos. Raios laser apontados
dia de 2 cm por ano. Mas com que veloci- de dois continentes diferentes são reflecti
dade se movem as placas na actualidade7 dos por um satélite, fornecendo as coorde-
A medição de tão imperceptíveis mo- nadas que possibilitam medir a distância
vimentos só se tomou possível nos anos entre eles. Verificações periódicas revela
80, quando os dentistas aperfeiçoaram rào quaisquer alterações dessas posições.
uma técnica sofisticada baseada em es-
tranhos corpos celestes distanciados da bam o mesmo sinal, não o gravam da
Terra muitos milhões de anos-luz. Estes mesma forma devido à distância que os
corpos — os quasares, ou "fontes de on- separa. Quando se comparam os sinais
das de rádio quase estelares" - pare- registados, pode medir-se a distância en-
cenvse com estrelas, mas emitem mais tre os telescópios. Comparações poste
energia do que as galáxias. riores detectam quaisquer ligeiras alte-
Os quasares situam-se a uma tal dis- rações nas posições dos telescópios -
tância que podem ser tratados corno o método de triangulação é tão sensível
pontos fixos, possibilitando a sua utiliza- que consegue detectar diferenças de
ção num sistema de triangulação sofísti apenas 13 mm.
cado idêntico ao empregado pelos to- Outro processo de medição contí-
pógrafos, que tiram coordenadas angu- nua, de grande precisão, utiliza raios la-
lares de um ponto a partir de dois outros ser. Dois observatórios em continentes
fixos para calcularem as respectivas dis- diferentes apontam lasers ao mesmo sa-
tâncias. Neste caso, utilizam-se radiote- télite reflector. Os raios reflectidos são
lescópios em vários continentes, dois usados para calcular, por triangulação, a
(ou mais) dos quais apontam para um distância entre os observatórios. Verifi-
quasar e gravam os seus sinais em fita cações periódicas detectam quaisquer
magnética. Embora os telescópios rece movimentos das massas continentais.

factos: novas rochas eram continuamente as suas actuais posições setentrionais.


produzidas por baixo da linha média do As cadeias montanhosas são formadas
fundo do oceano e, ao forçarem o seu ca- quando as placas em que os continentes
minho para a superfície, empurravam late- "flutuam" se comprimem umas contra
ralmente as mais antigas. Ao expandir se as outras, o que é também a origem dos
A Terra em convulsão. .4 Islândia faz par lateralmente em ambos os sentidos, o fun- sismos.
te da dorsal média atlântica onde esta se do do mar transportou consigo os qua-
ergue acima da superfície oceânica. Um tro continentes à velocidade de cerca de
uulcanólogo estuda uma erupção do Kra 2,5 cm por ano. Esta velocidade pode pa-
fia, um dos seus oulcôes. recer muito reduzida, mas foi suficiente
para criar todo o oceano Atlântico numa
Como se calcula
dia atlântica — foram identificados os mes- era geológica comparativamente recente.
O Atlântico começou a formar-se há 165
a idade da Terra?
mos padrões de inversão, o que sugere
que o fundo do mar estava a expandir se a milhões de anos, e, passados os primeiros
partir do centro. A medida que novas ro- 40 milhões, o Atlântico Norle tinha 3600 m Só com a descoberta da radioactividade
chas se formavam, elas adoptavam o cam- de profundidade e 050 km de largura En- pelo físico francês Antoine Henri Becque-
po magnético que se verificava na altura, tão, começou a formar se o Atlântico Sul à rel, em 1896, se tornou possível uma noção
registando, como uma fila de gravação medida que a América do Sul se separava exacta da idade da Terra.
geológica, o processo das inversões perió- da África, afastando se lentamente até for- Os cientistas aceitam agora que a crusta
dicas. 0 padrão das inversões para leste da mar o oceano hoje existente. terrestre solidificou há cerca de 4700 mi-
dorsal média atlântica é a imagem simétri- lhões de anos. Este cálculo foi possível
ca do padrão para oeste. Origem dos sismos através do estudo da desintegração de vá-
A crista situa-se justamente a meio do Os cientistas concluíram que as jazidas rios minerais radioactivos.
oceano Atlântico Norte e Sul, que separam de petróleo do Alasca e os depósitos de Quando as rochas se formam, pelo anc
a Europa da América do Norte e a África da carvão do Norte da Europa se formaram feciuienlo e solidificação da lava vulcânica,
América do Sul. nos trópicos, tendo sido deslocados pos ficam retidos no seu interior elementos ra-
Só uma explicação se ajustava a estes teriormonle pela deriva continental para dioactivos. Estes elementos decompõem-

209
ivirti\MV IL.J irto ut\ v^itiiiv^in

-se a um ritmo preciso, medido pelo cha- ciario a contagem quando a rocha se for- Podem utilizar-se diversos sistemas de
mado "período de semitransformação", mou. O que importa não é a quantidade datação. Um deles é a desintegração do
ou semivida, ao fim do qual se desintegrou precisa do elemento radioactivo que ficou, elemento radioactivo potássio-40, cujo pe-
já metade rios átomos radioactivos inicial- porque essa depende da quantidade que ríodo de semitransformação é de 11 900
mente presentes. havia originalmente. O que é importante é milhões de anos. A transmutação de urâ-
Estudos detalhados permitiram deter- a relação entre a quantidade de matéria nio em chumbo (período de semitransfor
minar os períodos de semitransformação radioactiva e o elemento no qual esta se mação, 4500 milhões de anos) é também
dos diferentes elementos. Medindo a transforma por desintegração. Quanto utilizada. No caso da Terra, cerca de meta-
quantidade de um determinado elemento mais antiga for a rocha, tanto menos maté- de do seu urânio original transformou-se já
radioactivo numa amostra de rocha, o pro- ria radioactiva contém e maior será a pro- em chumbo — por isso a idade do planeta
cesso de desintegração pode ser usado porção dos produtos resultantes da sua de- é aproximadamente a mesma que o perío-
como se fosse um relógio que tivesse ini- sintegração. do de semitransformação do urânio.

Como os cientistas imaginam o centro da Terra


0 mais profundo furo feito pelo homem gam por milhares de quilómetros através nas se propagam através dos sólidos. A ve-
penetra mais de 13 km através da gelada do interior do planeta. Estas vibrações, ou locidade das ondas depende da densidade
península de Kola, na Lapónia (v. p. 207). ondas sísmicas, são de dois tipos: ondas de do meio em que se propagam.
Por muito fundo que nos pareça, não compressão, semelhantes às ondas sono- Em 1906, o geólogo britânico R. D. Old-
passa de uma picada de alfinete na superfí- ras, que provocam a vibração longitudinal ham descobriu que as ondas P afrouxam a
cie da Terra: para atingir o centro do planeta, das rochas e que, por serem as primeiras a partir de certa profundidade e que, a essa
teria de se continuar por cerca de 6377 km. atingir a superfície terrestre, se conhecem mesma profundidade, as ondas S desapa-
No entanto, os geólogos conseguem fa- por ondas P (primae), e ondas transver- recem ou são reflectidas para a superfície.
zer uma ideia de como é o inte- Sugeriu que esta profundidade assinalava
rior da Terra. Pensam que o seu PLANETA DE MUITAS CAMADAS a fronteira entre um manto sólido (região
núcleo, com um diâmetro de exterior) e um núcleo líquido (desconti-
2100 km, é essencialmente for- nuidade de Gutenberg).
mado por ferro e níquel aqueci- Três anos depois, o sismólogo jugosla-
dos a 3800"C. Mesmo no cen- vo Andrija Mohorovicic descobriu uma se-
tro, ou núcleo interno, com gunda fronteira, cerca de 32 km abaixo da
1350 km de diâmetro, o ferro e o superfície, onde a densidade e, possível
níquel são mantidos no estado mente, a natureza das rochas mudavam
sólido pela enorme pressão da abruptamente. Concluiu que esta frontei-
Terra em seu redor. Este mode- ra, agora chamada descontinuidade de
lo assenta parcialmente na rela- Mohorovicic, constituía a separação entre
ção entre a massa aparente da o manto e a crusta terrestres.
Terra e o seu tamanho. Trabalhos posteriores sugeriram que o
As primeiras estimativas da núcleo central da Terra era sólido. Assim,
massa da Terra foram efectua- os geólogos concluíram que a Terra possui
das por Henry Cavendish em uma pequena região sólida no centro ro-
1798. Ele descobrira o valor da deada por um núcleo líquido, por um
constante de gravitação, a força manto denso c, finalmente, pelas rochas
com que os corpos celestes se mais leves da crusta.
atraem mutuamente. Pelo es- Uma sismologia mais sofisticada acres-
tudo da órbita da Lua, pode cal- centou pormenores a esta imagem, divi-
cular a massa da Terra servin- dindo a crusta em pelo menos duas cama-
do-se daquela constante. Para das e o manto em três.
sua surpresa, concluiu que ela Mas na década de 80 os computadores
pesava o dobro do que se espe- analisaram as ondas sísmicas e produzi-
raria com base na densidade ram uma imagem muito mais clara. Deter-
das rochas da superfície. A Terra tem muitas camadas. Por baixo da crusta ficam minaram, por exemplo, que não só o man-
A massa da Terra é de 6595 os mantos superior e inferior e. para atém destes, os to como também o núcleo variam de es-
milhões de milhões de mi- núcleos exterior e interior, constituídos por ferro e níquel. pessura de região para região, como acon-
lhões de toneladas (6,595x tece com a crusta. Mostraram também que
xlO24 kg) e a sua densidade média é 5,522 sais, que provocam vibrações formando os continentes têm "raízes" frias profun-
vezes a da água. Mas a densidade das ro- ângulo recto com a direcção do movimen- das, penetrando 200 km no manto.
chas superficiais é apenas 2,8 vezes a da to da onda — ondas S (secundae). Estes No entanto, muito está por conhecer
água. A discrepância pode ser explicada se dois tipos de ondas interiores, ao chega- acerca da Terra. Sabe-se que o centro é
supusermos que uma grande parte do rem à superfície, geram as ondas superfi- quente devido ao calor que dele constante-
centro é formada por ferro, suficientemen- ciais, ou ondas L (longae), que são as cau- mente se liberta. Dos vulcões irrompe lava
te denso para compensar a diferença e que sadoras das maiores destruições num sis- em fusão, e as minas são mais quentes no
é também encontrado nos meteoritos. mo de grande intensidade. fundo que à superfície. Calcula-se que a
Os estudos do interior da Terra só come- As ondas de compressão (ondas P) pro- temperatura do núcleo interior seja de cer-
çaram após a descoberta de que as vibra- pagam-se igualmente nos sólidos e líqui- ca de 3850°C, mas desconhece-se a fonte
ções provocadas pelos sismos se propa- dos, enquanto as ondas transversais ape- desse calor.

210
Como funciona?
Como é que um raio laser produz música? Como é que um cartão
nos paga as contas? Porque é tão preciso um relógio atómico?
Os últimos anos do século xx estão repletos de exemplos
espantosos de tecnologia em funcionamento.

m Tf

*
Como os robôs estão a substituir as pessoas, p. 246
.v-
>•

s ^

Como um disco produz música, p. 222


'm . - •4
Como o microscópio
electrónico perscruta
&jmà*mAWmi o espaço Interior, p. 245
Como é possível
telefonar para
o outro lado
do Mundo
Existem mais de 500 milhões de telefones
em serviço em todo o Mundo. Em pouco
mais de 100 anos — desde que o escocês
Alexander Graham Bell patenteou o pri-
meiro telefone, em 1876 —, o telefone re-
volucionou as comunicações mundiais.
Hoje, as redes telefónicas transmitem
não só vozes como imagens e informa-
ções escritas por cabos subterrâneos, aé
reos e submarinos, e através do ar por fei-
xes hertzianos de microondas, isto é, on-
das de rádio de frequências extremamente
altas (v. p. 216). As chamadas interconti-
nentais podem fazer-se com menos de um
segundo de demora na ligação e sem difi-
culdades de escuta. As companhias multi-
nacionais podem, inclusivamente, fazer
reuniões em que os executivos em várias
partes do Mundo conversam entre si atra-
vés de écrans de televisão.

Satélites, microelectrónica e "lasers"


Entre os modernos inventos que possibili-
taram esta revolução, incluem-se os satéli
tes artificiais, os circuitos integrados e os
lasers. Early Bird, o primeiro satélite co-
mercial, foi lançado em 1965 pela Interna-
tional Telecommunications Satellite Orga-
nisation (INTELSAT). Hoje, estão em órbi-
ta cerca de 130 satélites, Iransmitindo men
sagens em microondas entre as diversas
estações terrestres. As suas órbitas situam-
-se a cerca de 36 000 km acima do equador
e completam-se em 24 horas, pelo que os
satélites parecem estar imóveis (são os
chamados satélites geoestacionários).
A partir das estações terrestres com as
suas enormes antenas parabólicas, algu-
mas com 30 m de diâmetro, são enviadas
para os satélites as microondas portadoras
das mensagens. Estas antenas são coman-
dadas por computador para estarem por
manentemente apontadas ao satélite. As
microondas não servem unicamente as li
gações via satélite - antenas parabólicas
enviam igualmente mensagens à superfí
cie da Terra, em linha recta, entre torres
localizadas, de forma a assegurar trajectó-
rias livres de obstáculos.

Ligações à escala mundial. Estas enor


mes antenas parabólicas em Raisting, Ale
manha, pertencem a uma das muitas estu
ções terrestres da rede internacional de co-
municações via satélite e estabelecem liga
ções entre todas as partes do Mundo a qual-
quer hora do dia ou da noite.

212
L U M U rUINV-IUINAÍ
L,UJVIU r UINV-IUINA:

BOCAL COMO FUNCIONA UM TELEFONE AUSCULTADOR


0 "auscultador" do telefone incorpora um
emissor (tradicionalmente, um microfone
de carvão) no bocal e um receptor (ultila
lante) no auscultador. Apoia-se num inter-
ruptor de descanso ligado à central.
Quando se levanta o auscultador, uma
corrente eléctrica passa pelos grânulos de
carvão ou pelos electroímanes do micro-
fone (os telefones modernos já não utili-
zam microfones de carvão).

Onda sonora
Baixa Alta

,
Onda son
4lMJM|r^ 4^
Corrente eléctrica
AI1.1

MICROFONE
Baixa

Quando o diafragma vibra, a corrente que


atravessa o microfone varia, porque quanto
mais comprimidos são os grânulos, mais cor-
rente deixam passar. A corrente copia portan
to o padrão das ondas de pressão do som.

CENTRAL
TELEFÓNICA

Cada telefone está ligado a uma central te-


As ondas sonoras da voz fazem vibrar um lefónica local por um par de fios, e as cen 0$ sinais recebidos alimentam um electro
delgado diafragma de metal no microfone trais estão ligadas entre si através de cabos. íman junto a um diafragma. A corrente faz
e é precisamente esta vibração que pres- Os circuitos são independentes da rede corn que o iman atraia ou solte o diafragma,
siona com mais ou menos força os grânu- eléctrica nacional, e a corrente que neles e as vibrações deste produzem ondas sono-
los de carvão. flui é muito mais fraca ras idênticas às que entraram no microfone.

Nos satélites, os sinais transmitidos são um par de fios, ou condutores. Certos ca- junto como uma manga. Amplificadores
ampliados por circuitos microelectróni- bos têm milhares de pares de fios. incorporados ampliam os sinais a interva-
COS. Estes colaboram também na obten- Se cada chamada precisasse de um par los aproximados de 2 km. O cabo coaxial
ção de comunicações mais claras e velozes de fios para a sua transmissão através da permite o uso de altas frequências e o
ao permitirem as rápidas comutações rede telefónica, a transmissão simultânea transporte de milhares de chamadas si-
eléctricas necessárias ao envio de mensa- de milhares de chamadas de uma central multâneas.
gens telefónicas por transmissão digital. E para outra seria impraticável. Um par de As operações que permitem juntar vá-
os lasers tornaram possível o emprego de fios de cobre vulgar consegue transmitir rios sinais numa só linha dizem-se de mul-
cabos de fibras ópticas — fios de vidro que apenas um número limitado de chamadas tiflexagem; na recepção, tem de haver uma
transportam mensagens digitais à veloci- simultâneas, pois os cabos destinam-se a desruultiflexagem, que canaliza cada sinal
dade da luz com uma tal capacidade que correntes de baixa frequência. As frequên- para o receptor correcto. Utilizando a téc-
milhares de conversas telefónicas podem cias mais altas permitiriam maior número nica da multiflexagem em frequência, os
ser transmitidas simultaneamente por de chamadas simultâneas e portanto sinais eléctricos correspondentes às ondas
uma só fibra. maior capacidade do cabo, mas, se não se sonoras da fala são modulados — isto é,
Entre os serviços de telecomunicações usar um tipo diferente de cabo, o sinal dis- combinados com uma onda portadora
actualmente disponíveis, contam-se o fax, persa-se e perde a intensidade. electromagnética, tal como na rádio. Atra-
os bieepers, os telefones sem cabo, os tele- Na maioria, as linhas entre as centrais vés de um mesmo par de condutores, é
fones para automóvel e até para avião, que telefónicas são hoje constituídas por cabos depois enviada uma série de ondas porta-
permitem aos passageiros fazer chamadas coaxiais, nos quais o sinal é confinado a doras de diferentes frequências.
durante o voo. fim de impedir perdas de intensidade e in- Na central receptora, as diversas porta-
terferências. Em vez de um par de fios, doras são separadas e os sinais são separa
O transporte da corrente cada cabo coaxial tem um fio de cobre dos das portadoras por um processo cha-
Para completar o circuito entre o transmis- central, um isolador que o cobre e um con- mado desmodulaçáo e depois filtrados
sor e o receptor telefónicos, é necessário dutor de cobre exterior que envolve o con- para os respectivos receptores.

214
COMO FUNCIONA?

Transmissão de vozes por meio


de números
Até à década de 70, a maioria das chama- A rádio: transmissão de sons
das telefónicas era transmitida sob a forma
de sinais eléctricos que .seguem as vibra-
ções da voz. São os chamados sinais analó-
à velocidade da luz
gicos, por serem de estrutura semelhante à
do som. A transmissão dos sinais sob esta Quando escutamos um concerto ao vivo um oscilador, a chamada onda portadora.
forma é sensível a interferências eléctricas, através da rádio, ouvimos a música antes Esta onda modulada é enviada por cabo
que introduzem ruído que pode afectar a de algumas pessoas presentes na sala do para uma antena, que a emite sob a forma
compreensão das vozes. concerto. Este fenómeno espantoso deve- de uma onda de rádio, onda electromag
Após os anos 70, o sistema analógico -se ao facto de as ondas de rádio transpor nética, que se propaga pelo espaço ã velo-
começou a ser substituído por um siste- tarem o som até nossa casa à velocidade da cidade da luz.
ma digital que elimina a maior parte das luz. As ondas sonoras (devidas à vibração
interferências e da distorção. Os sinais das vozes e instrumentos) levam mais tem- A emlssáo rios sinais através rio ar
eléctricos analógicos provenientes do po a atravessar a sala. As antenas emissoras de radiodifusão são
microfone são convertidos em números constituídas por uma espira ou por um va-
binários (v. p. 241) nos circuitos electró De sons a sinais eléctricos rão de metal com uma dimensão que de
nicos da central e transmitidos numa for- Quando um som entra no microfone, as pende da frequência a ser transmitida. A
ma codificada. ondas sonoras provocam a vibração de corrente oscila rapidamente na antena ra-
Para tal, o valor do sinal eléctrico analó- um diafragma. As vibrações são converti diando ondas electromagnéticas como o
gico gerado pelo microfone é medido mi- das em sinais eléctricos, que são amplia- filamento de uma lâmpada radia luz eléc-
lhares de vezes em cada segundo. Cada dos e introduzidos num modulador — trica. Estas antenas, de difusão para toda
medida é expressa por um número biná- aparelho que os usa para "modular", isto uma área, não são direccionais: as ondas,
rio uma sequência dos algarismos 1 e 0 é, alterar a amplitude ou a frequência de que transportam os sinais, propagam-se
representada por uma série de impul- uma onda de alta frequência gerada por em todas as direcções a partir da torre.
sos —, passagem da corrente para um 1,
interrupção da corrente para cada 0. É a Da galena ao transístor
chamada modulação por impulsos (pui-
se-code rnodulation, ou PCM). Como
cada impulso é muito curto, os impulsos
de uma chamada podem ser intercalados
com os impulsos de outras. Esta técnica de
O físico alemão Heinrich Hertz de-
monstrou, em 1888, que era pos-
sível transmitir energia eléctrica através
lhos com altifalante, válvulas diódicas e
circuitos electrónicos mais potentes, de-
pois da invenção do thodo pelo america
no Lee de Korest em 1907. Com as primei
do ar. Entre 1894 e 18%, o cientista Gu
multiplexagem no tempo que se usa para glielmo Marconi aperfeiçoou um pro- ras válvulas (que serviam para ampliar os
sinais digitais permite a transmissão simul- cesso de utilizar as ondas hertzianas no sinais), os aparelhos tinham de ser liga-
tânea de 32 chamadas por um único par de envio de sinais em código Morse — mé- dos, para aquecerem, cinco minutos an-
condutores ou de milhares de mensagens todo que ficou conhecido por telegrafia tes de o programa começar.
ao longo de um cabo coaxial. sem fios. Em 1901, já Marconi aperfei- As radioemissões regulares começa-
çoara por tal forma o seu sistema que ram em 1920, a partir de emissoras em
Telefonar em viagem conseguiu enviar sinais de telegrafia Pittsburgh e Detroit. Edwin II. Arms-
Os telefones móveis instalados nos carros sem fios através do Atlântico, desde a trong aperfeiçoou o receptor
são, na realidade, rádios ligados à rede tele- Cornualha até S. João da Terra Nova em 1924, e no final dos
fónica normal. A rede de radiotelefones é Dm engenheiro canadiano fez a pri- anos 50 já os pequenos
operada num sistema de células o terri meira emissão radiofónica pública do Iransístores substi-
tório abrangido é dividido em pequenas Mundo do Massachusetts, nos EUA, tuíam as volumosas
áreas, ou células, com cerca de 5 km de ouvida por navios a 100 milhas (160 km) válvulas.
diâmetro. Cada célula tem o seu transmis- de distância — na véspera de Natal de
sor central de baixa potência ligado à rede 1906. Era Reginald Aubrey Fessenden, Telefonia antiga.
telefónica. que descobrira a maneira de combinar Muitos terão ouvido os
Um conjunto de células constitui um os sinais de um microfone corn uma onda primeiros programas
grupo, e cada célula de um grupo tem electromagnética. O processo tomou o de rádio num receptor
uma frequência diferente. Pode utilizar- nome de "rádio". Ao princípio, os deste tipo.
-se num grupo adjacente o mesmo con- ouvintes tinham aus-
junto de frequências sem causar interfe- cultadores ligados aos 4
rências, porque o alcance de cada trans-
missor é restrito.
receptores, que utiliza-
vam cristais de galena 'í 4| m
L-ái * vi
Os transmissores das células eslão liga- para captar as ondas de
dos por cabo a um computador central, rádio. Estes vieram a
que transfere de uma célula para outra a dar lugar aos apare-
informação da posição do carro à medida
que este anda. Quando se faz uma chama- Emissáo histórica.
da telefónica para um carro, o compu- Eduardo VIU de
tador comuta a ligação do telefone para o Inglaterra abdica, em
transmissor celular mais próximo, a fim de 1936, para casar com
se obter a melhor recepção. Quando a cha-
mada é feita do carro, a antena da célula
mais próxima capta os respectivos sinais c
"a mulher que ama" —
a americana Wallis
Simpson.
e^sgj Sf^p^
encaminha a chamada.

215
COMO FUNCIONA'

A captação dos sinais A modulação de amplitude é normal-


No espaço à nossa volta, entrecruzam-se MODULAÇÃO DE UMA ONDA mente utilizada nas três bandas de mais
as ondas de milhares de radioemissões si PORTADORA DE RÁDIO baixa frequência (maior comprimento de
multâneas. Cada uma delas tem, no entan- onda): na banda das ondas longas (com-
to, uma frequência de onda portadora úni- primentos de onda de 2000 a 1000 m), na
ca, diferente de todas as outras. A antena de das ondas médias (677 a 187 m) e na das
um receptor, que capta estas ondas, está ondas curtas (100 a 10 rn). As ondas destas
ligada a um sintonizador, circuito electró- Portadora. Onda gerada por um osci bandas destinam se à difusão radiofónica
nico que aceita apenas uma frequência: lador eléctrico. para regiões muito grandes, aproveitando
sintonizar um receptor é ajustar exacta- o seu enorme alcance, devido ao facto de
mente a frequência que ele aceita à fre- serem reflectidas tanto pelo solo como pe-
quência da emissora pretendida. las camadas ionizadas da atmosfera supe-
0 sinal assim seleccionado é amplifica rior, situadas a altitudes de mais de 100 km,
do, separado da portadora por um desmo- Sinal de áudio. Corrente eléctrica saí- que constituem a chamada ionosfera; re-
dulador, novamente amplificado (regula- da de um microfone de forma variável. flcctindo-se sucessivamente no céu e na
do pelo botão de "volume") e conduzido Terra, dão facilmente a volta ao Globo.
aos altifalantes. Estes têm a função inversa As bandas de KM são normalmente em
da dos microfones: transformam um sinal VIIF (uery high frequeney. ou frequência
eléctrico em ondas sonoras, reproduzindo muito alta), c o m frequências de 87 a
o mesmo som que foi captado pelo micro- 108 MHz (v. à direita). Estas altas frequências
fone da estação emissora. não são já reflectidas pela ionosfera, de for-
ma que um emissor só é captado se direc-
AMe FM tamente "visível" pela antena receptora
A onda portadora oscila com uma fre- Destinam-se portanto a emissões locais.
quência e uma amplitude constantes. O Modulação de amplitude. A ampli- A banda de VHF é também a utilizada
sinal vai modificá-la - modulá-la - de tude da oscilação da portadora é am- pela Polícia, pelos táxis e pelos radioama-
forma a ser transportado com ela. Há duas plificada ou reduzida dores. O topo desta banda pode também
formas de o fazer: a modulação de ampli- ser usado para emissões de televisão, mas
tude (AM) e a modulação de frequência actualmente quase todos os canais de tele-
(KM). Em AM, a amplitude de oscilação da visão europeus usam a banda de UHF [ul-
portadora é amplificada ou reduzida de tra high frequeney, ou frequência ultra alta),
um factor proporcional ao próprio sinal. Modulação de f r e q u ê n c i a . A fre- dos 450 aos 855 MHz. As ondas de rádio de
Em FM, a amplitude de oscilação penna quência do oscilador gera a onda por- comprimento inferior a 300 mm são as mi-
nece constante; é a própria frequência do tadora, que é feita variar de acordo croondas. Os radares e as comunicações
oscilador que gera a portadora, que varia com o sinal. por satélite utilizam as microondas nas fre-
de acordo com o sinal (v. quadro). quências superaltas de 3 a 30 GHz.

AS ONDAS DpCÇfiPECTRO ELEC


As fontes naOrais orenergia radi
te, cornOjOrSol, cmiteui ondas o
^comprjwÊntos de ondavdesde Ojíis
<m até menos de xjJMjíliési
mo" de milionésimo de milímetro.
Nas utilizações como o rádio ou os FREQUÊNCIAS
raios X são geradas ondas artificiais 1 milhão de ciclos 1000 milhões de ciclos 10 000 milhões de 100 biliões de ciclos
com o comprimento de onda ade- por segundo por segundo ciclos por segundo por segundo
quado. Quanto mais curta a onda,
ou seja quanto menor o seu compri-
mento de onda, maior a
sua frequência.

-'Umx
Infravermel
Controle Radar. Os barcos Televisão. Os sinais de A intensidade
remoto. As ondas Rádio. Muitos programas de navegam com emissão 7V são transportados da radiação t
de rádio transportam sinais rádio são emitidos em ondas de sinais na banda das por ondas de frequência pode ser traia
para o comando â distância longas e médias. Orson Welles microondas. Os obstáculos ultra-alta. Os astronautas computador:
por exemplo, de modelos transmite A Guerra dos Mundos, reflectem os sinais, eos na Lua em 1969 foram grafias detetíi
de cairos ou aviões. de II G. Wells, em 1938. ecos surgem num écran. vistos por milhões. ui trites ou canc

216
COMO FUNCIONA?

AS ONDAS QUE NOS CHEGAM PROVENIENTES DO ESPAÇO


Quando vemos um arco-íris, estamos a pagam à velocidade da luz, 300 000 km/s. rnonstrou que os sinais eléctricos po-
ver as diferentes ondas electromagnéticas Chamam-se electromagnéticas porque diam ser enviados através do ar. Hertz fez
da banda visível emitidas pelo Sol. Este são formadas por campos eléctricos e saltar uma faísca entre duas esferas de
emite simultaneamente em todas as fre- campos magnéticos que vibram perpen- metal ligadas por uma espira de arame e
quências desta banda, produzindo na dicularmente entre si. Os campos propa- verificou que isto induzia, num dispositi-
nossa retina a impressão a que chama- gam-se um pouco como no movimento vo semelhante colocado a certa distância,
mos "luz branca". Quando a luz do Sol de uma corda cuja extremidade é sacudi uma tensão eléctrica suficiente para pro-
incide em gotículas na atmosfera, os seus da, mas à velocidade da luz. duzir também uma pequena faísca. As
raios são desviados - refractados —, por- A altura da onda — metade da distar] frequências elevadas das ondas de rádio
que na água se propagam a uma veloci- cia entre a crista e o mínimo - é chama são geralmente expressas em kilo-hertz
dade menor que no ar. Ondas de diferen- da amplitude. Outra característica muito (kHz, milhares de hertz), mega-hertz
tes frequências sofrem desvios e chegam, importante de uma onda é a sua frequên- (MHz, milhões de hertz) ou giga-hertz
portanto, aos nossos olhos de direcções cia, isto é, o número de cristas que passa (GHz, milhares de milhões de hertz). As
um pouco diferentes - num arco-íris, a por dado ponto em um segundo. O valor radiações visíveis (a luz) têm frequên-
J luz branca aparece nos decomposta nas do comprimento de onda - a distância cias extremamente elevadas. A de me
;Suas ondas de diferentes frequências. O entre duas cristas consecutivas — obtcm- nor frequência, a vermelha, vibra a cerca
'olho humano atribui às frequências mais se dividindo a velocidade da onda (a da de 400 milhões de mega-hertz, a que
• baixas a cor vermelha e às mais altas a cor luz) pela sua frequência. Portanto, quan- corresponde um comprimento de onda
[violeta. to maior o comprimento da onda, tanto inferior a um milésimo de milímetro.
As ondas de luz constituem apenas menor a frequência. Mas as ondas de rádio utilizadas nas co-
uma parcela das ondas electromagnéti- As frequências medem-se em ciclos municações vão desde cerca de 1 mm
cas que nos chegam vindas do Sol c. de por segundo, ou hertz, do nome do ale até aos 30 km, com frequências entre
I outros corpos celestes. As ondas sono- mão Heinrich Hertz, que, em 1888, de- 30 GHz e 10 kl Iz.
ras são ondas de pressão, não electro
magnéticas. As ondas de rádio geradas Comprimento de onda. Distância entre duas
cristãs (máximos) consecutivas.

Wfe
electricamente para transmitir os sons
sob a forma de sinais são semelhantes Amplitude. Metade da diferença entre o
em estrutura às ondas de rádio que máximo e o mínimo da oscilação.
ocorrem na Natureza. Frequência. Número de cristas que passam
por um ponto em cada segundo.
Medir o comprimento de onda Velocidade. Distância percorrida por uma
Todas as ondas electromagnéticas se pro- dada crista num segundo.

1000 biliões de ciclos 1 trilião de ciclos 100 triliões de ciclos 10 000 triliões de ciclos
por segundo por segundo por segundo por segundo

Luz do Sol. A luz é composta


por uma banda de frequências
diferentes - as sete cores
do arco-íris.

Raios X. Como a luz, estas


ondas podem produzir
fotografias. Atravessam rnais
facilmente a carne que os
ossos ou os metais.
Radiação ultravioleta. Os raios Raios cósmicos. Estas ondas
UVda luz do Sol são uma fonte de Raios gama. Durante a sua de origem ainda misteriosa
oitamina D. A exposição excessiva desintegração, os átomos provêm do espaço exterior, talvez
ao sol pode causar cancro da pele. radioactivos emitem raios gama. de supernovas que exf>lodirarn.
A televisão: imagens ao vivo transmitidas por ondas de rádio
Quando ligamos o aparelho de televisão, a lê-se uma intensidade luminosa — Obtém- linhas ímpares, depois nas linhas pares.
l
imagem que vemos é criada por um pa -se um sinal eléctrico proporcional ao flu- Este "entrelaçamento" produz uma ima-
drão de luz formado por sinais eléctricos. A xo luminoso no ponto. gem completa em 1/25 de segundo. 0 olho
câmara de televisão converte a imagem Até há poucos anos, a conversão da humano retém cada imagem durante esse
que capta em sinais eléctricos, que são imagem era feita quase exclusivamente espaço de tempo, pelo que uma série de
transmitidos por ondas de rádio à velocida- em tubos especiais de raios catódicos. A imagens passadas a essa velocidade apa
de da luz. Um jogo de futebol, por exem- imagem é focada num écran que reveste o renta ser uma imagem contínua. Se fossem
plo, aparece-nos no écran praticamente vidro do tubo do lado interior. Este écran é passadas mais lentamente, notar-se-ia um
na mesma altura em que decorre a acção. feito de uma substância fotocondulora, acender e apagar da imagem no écran, e a
As cores de um écran de televisão são isto é, que se deixa atravessar por correntes acção seria sacudida. O varrimento é feito
produzidas pela mistura de diferentes pro- eléctricas tanto mais facilmente quanto em duas etapas, porque há dificuldades
porções de luz de apenas três cores. As mais iluminada; deste modo, surge à sua técnicas em explorar de uma só vez, à velo-
cores da luz não se misturam como as Un- superfície um padrão de cargas eléctricas cidade referida, a totalidade do campo.
tas. Em televisão, as trás cores primárias que reproduz a imagem. Esse padrão é Há alguns anos, surgiu um novo disposi-
- aquelas com que se formam todas as "lido" sequencialmente por um feixe foca- tivo de captação da imagem. E o CCD (char-
outras - são o vermelho, o verde e o azul. do de electrões (raios catódicos) que varre ge coupled devicej, uma simples bolacha
Quase todas as tonalidades se obtêm pela o écran linha a linha. de silício dividida em centenas de milhares
sua mistura em proporções diversas. Os feixes de electrões fazem o varrimen- de minúsculos dispositivos pelas técnicas
A câmara de televisão decompõe a luz to da imagem em 625 ou 525 linhas, con- da microelectrónica, ligados em filas — as
proveniente da cena nas três cores primá- forme o sistema utilizado; 625 dão melhor linhas. Quando a luz de um ponto da ima-
rias e dirige cada uma destas para um dis- definição e c o sistema da Europa, de gran- gem incide num destes dispositivos, cria
positivo que converte as imagens em se- de parte da Ásia e da Austrália. 0 sistema nele uma carga eléctrica proporcional â in-
quências de sinais eléctricos. 0 princípio é de 525 linhas é usado na maior parle das tensidade luminosa, que é acumulada
muito simples: a imagem "lê-se" como a Américas do Norte e do Sul e no Japão. num minúsculo "poço de potencial". Esta
página de um livro, linha a linha; em cada O varrimento faz-se de cada vez em me- carga é em seguida passada ao longo de
ponto de uma linha, em vez de uma letra. tade do "campo" — isto é, primeiro nas uma fila, de dispositivo em dispositivo, tal

COMO A IMAGEM DE TELEVISÃO VIAJA DESDE A CAMARÁ AO "ÉCRAN'


C A M A R Á DE TELEVISÃO RECEPTOR DE TELEVISÃO
Emissor
Antena d e T V
doméstica

C a n h õ e s de electrões

•Os sinais de TV sáo


e m i t i d o s por u m a
antena s o b a f o r m a
de ondas de rádio de
ultra-alta frequência (UHF)
Revestimento
As cores num écran de TV são pnxlu fluorescente
no écran
zidas pelas misturas de sinais de luz de TV
verdes, vermelhos e azuis. Mistura-
dos aos pares, o verde e o azul dão
ciano, o azul e o vermelho dão ma-
genta e o vermelho e o verde dão
amarelo. Todas as cores misturadas
Vermelho produzem branco.
Amarelo

A lente de uma câmara a cores


i
foca a imagem que está a captar
através de um separador de co-
res — prismas de vidro que diri-
gem a luz de cada uma das três
cores primárias para um tubo
electrónico diferente. Em cada
tubo, a luz cria minúsculas cor _ Os sinais incidem sobre um revestimento
gas eléctricas. Feixes de elec- Um feixe de electrões varre a parte de trás do écran de químico na parte de trás do écran (amplia
trões traduzem as cargas em si- cima para baixo — segundo linhas, primeiro as impares, ção à direita). Uma pequena parte da ima-
nais eléctricos, que são envia depois as pares -, produzindo uma imagem completa gem é mostrada ã esquerda em tamanha
dos para um posto emissor. em cada 1/25 de segundo. natural.

218
L U M U l-UINUUINA.'

como uma cadeia de bombeiros passando A marcha do tempo. A pintura (em baixo) representa
baldes de água mais ou menos cheios; na o naufrágio do Titanic, em 1912. Os destroços foram en
saída do circuito, obtém-se um sinal eléctri- contractos a 4000 m de profundidade em 1985 por uma
co proporcional à carga gerada ponto a expedição, que depois (irou fotografias por meio de um
ponto. Os CCD's são de baixo preço e têm robô guiado a partir de um submarino. Imagens corno
alta sensibilidade, pelo que invadiram rapi- as da proa (à esq.) foram apresentadas na televisão.
damente o mercado rias câmaras de vídeo;
de facto, foi o seu baixo custo que abriu o
mercado das câmaras para amadores.
0 sinal de vídeo gerado pela câmara é
usado para modular uma onda portadora,
normalmente na banda de UHF (ou das
microondas, no caso dos satélites) e radio-
difundido a partir de uma antena emissora.
A estas altas frequências, os sinais não
são reflectidos, de modo que as antenas
receptoras têm de estar apontadas directa-
mente à estação emissora, sem obstáculos
pelo caminho. Para antenas emissoras ter
restres, isto limita o seu raio de acção a
cerca de 65 km, pelo que se utiliza uma
rede de emissores. Em países com popula-
ções dispersas ou com montanhas e edifí-
cios que interfiram na recepção, estas re-
des apresentam problemas; por isso, as
empresas de televisão cada vez se voltam
mais para os satélites de comunicação, uti-
lizando-os como relés dos sinais.

Recepção de imagem Dos discos giratórios aos satélites espaciais


Quando premimos o botão do canal que
pretendemos, fechamos um circuito do
mecanismo selector, o que sintoniza elec-
tricamente o receptor para a frequência
correcta para a recepção. Os sinais da
A s primeiras ideias sobre a transmis-
são de imagens à distância surgi-
ram a seguirá introdução do telefone; se
podiam ser enviadas vozes a grandes
por semana) de televisão começou em
Berlim em 1985, operado pela Fernseh,
empresa alemã por que Baird se inte-
ressara. A BBC Britânica inaugurou o
emissão são captados do espaço pela nos- distâncias, porque não também ima- primeiro serviço público de alta defini
sa antena de televisão. gens? Cedo se compreendeu que as çáo em 1936, e a RCA iniciou as trans-
Os sinais provenientes da antena são imagens não podiam ser transmitidas missões na América em 1939. As emis-
muito fracos e têm de ser ampliados. De- como um todo, e a forma de decompor sões a cores começaram experimental-
pois, são desmodulados (separados da uma imagem e reconstituí-la depois foi mente nos EUA em 1951.
portadora) e conduzidos ao tubo de raios sugerida por Paul Nipkowem 1884. Nip- A televisão por cabo surgiu nos Esta-
catódicos para reprodução da imagem. kow utilizou discos giratórios perfura- dos Unidos nos anos 50, com empresas
Este tem a função inversa da de uma dos para dissecar e em seguida recom- comerciais enviando os seus progra-
câmara, convertendo os sinais eléctricos por uma imagem a preto e branco. mas aos subscritores através de cabos.
num padrão de luz colorida. Numa das ex Em 1906, o cientista russo Boris Ho Este sistema permite a existência de
tremidades estão três canhões electróni- sing conjugou o princípio de varrimen- mais canais que a transmissão por rá-
cos, na outra o écran. Cada canhão elec- to do disco de Nipkow e as possibilida dio. Na Europa, a televisão por cabo só
trónico destina se a reproduzir uma cor des de formar imagens do tubo de raios apareceu na década de 80.
primária e dispara um feixe de electrões. A catódicos - inventado por Kerdinandi Às vezes, a televisão por cabo é tam-
face interior do écran está revestida com Braun em 1897 — e criou o primeiro, e bém, parcialmente, televisão por satéli-
faixas verticais de materiais fluorescentes rudimentar, sistema de televisão. O te, sendo os programas retransmilidos
(isto é, que emitem luz quando bombar- tubo de raios catódicos é ainda hoje 0 por satélite até às antenas parabólicas
deados pelos electrões), alternando as co- componente fundamental da televisão. das empresas numa estação central e
res vermelha, verde e azul. Por detrás do As emissões experimentais começa- daí, por cabo. para o telespectador. En-
écran, uma grelha com frestas verticais ali ram na América em 1928, mas o primei- toe outros sistemas televisivos introduzi-
nhada com as faixas permite que o feixe de ro sistema prático foi instalado em 1-on- dos ou em estudo final no fim da déca-
uma cor incida unicamente sobre o mate- dres pelo escocês John Logic Baird, que da de 80, conta-se a televisão por micro-
rial que fluoresce com essa mesma cor. Os abriu o primeiro estúdio de televisão ondas, com capacidade de até 60 canais
feixes de electrões varrem o écran linha a em 1929 e utilizou discos de Nipkow para curtas distâncias, a televisão de alta
linha, exactamente como a imagem na câ- para o varrimento, tanto no emissor definição (HDTV). que utiliza mais de
mara foi "lida". como no receptor. Poucos anos depois, 1200 linhas de varrimento, e a emissão
Os sinais de vídeo são aplicados a um o sistema de Baird, de varrimento me- directa por satélite (DBS) para peque-
eléctrodo dos canhões de electrões, fazen- cânico por disco, foi ultrapassado pela nas antenas parabólicas. As empresas
do variar a intensidade dos feixes emitidos câmara electrónica, inventada pelo rus- emissoras codificam os sinais de forma
e, portanto, a luminosidade do material so Vladimir Zworykin, que produziu, que possam ser recebidos unicamente
fluorescente - daí resultando a reprodu- em 1931, o primeiro modelo prático. pelos assinantes com telerreceptores
ção, no écran, da imagem original captada O primeiro serviço regular (três dias munidos de descodificadores.
pela câmara.

219
t U M U rUNVIUINAÍ

Controle remoto: a operação de comutadores à distância


O advento do computador e a exploração números binários (v. p. 241), é sobreposto portas, pelo que hoje se usa mais o radio-
do espaço criaram a necessidade de co- ao feixe tal como um sinal de rádio é sobre- comando. Um radiocomando portátil é
mandos operados à distância. Esta neces- posto à onda portadora. um emissor em miniatura que, de qual
sidade conduziu à actual era da microelec No televisor, o feixe codificado é rece- quer ponto nas imediações, pode abrir
trónica, iniciada nos anos 50 com o transís- bido por um dispositivo sensível às ondas portas de garagem munidas de um re-
lor e o chip de silício — pequeno cristal de infravermelhas. Os sinais são recebidos, ceptor. O sinal de rádio liga o molor que
silício obtido por divisão de uma "bola- amplificados e introduzidos noutro chip acciona as portas.
cha", no qual são formados os circuitos de silício, que identifica o código. Aquele O sistema de radiocontrole dos mode-
microelectrónicos. É um chip de silício que remete então o sinal a um comutador los de aviões c barcos é mais complexo.
constitui o coração do aparelho de coman- electrónico que executa a instrução O emissor manual emite sinais de rádio
do dos vulgares televisores. dada. codificados. Um receptor no modelo
Quando premimos um botão no con- Para abrir e fechar portas de garagem, descodifica os sinais. Esles são introduzi-
trole remoto, o chip activa a emissão de um utilizam-se os telecomandos ultra-sóni- dos em motores eléctricos, os servome-
feixe de infravermelhos (v. p. 216). O feixe cos, que emitem ondas sonoras de alta canismos. Estes abrem e fecham a válvu-
transporta um sinal codificado, variando o frequência dirigidas a um microfone re- la reguladora do motor, levantam e bai-
código conforme o botão que se prime - ceptor. Este, por sua vez, envia sinais a xam o trem de aterragem e accionam as
ligar, mudar de canais ou aumentar o volu- um motor eléctrico que opera as portas. superfícies de comando como os a/te-
me, por exemplo. O código, baseado em E têm de funcionar em linha recta com as rons e o leme.

O vídeo: gravação de imagens em fita magnética


Um gravador de vídeo capta sinais eléctri- Gravação e reprodução Os sinais de imagem são gravados na zona
cos da estação de televisão ao mesmo tem Ao carregar no botão de gravar, a máquina central como uma série de pislas inclina-
po que o nosso televisor. Mas, em vez de puxa uma alça de fita de entre as duas bobi- das, e os sinais sonoros que os acompa-
converter esses sinais directamente em nas da cassete e passa-a em volta de um nham são gravados como pistas longitudi-
imagens, o vídeo armazena-as em fita lambor rotativo accionado por um molor nais ao longo de um dos bordos da fita.
magnética, da mesma forma que um gra- eléctrico. As cabeças de gravação da ima- A reprodução é a inversão do processo
vador de som armazena sinais sonoros. gem, duas em geral, estão montadas no de gravação. Quando a fita está gravada e
Como a transmissão de imagens exige lambor, voltadas para fora, e imprimem os rebobinada e se carrega no botão de play,
uma quantidade de sinais muito maior sinais na fita enquanto vão rodando com o os sinais armazenados na fita magnélica
que o som, a fita de vídeo é geralmente tambor. As cabeças são pequenos electroí- produzem sinais eléctricos na cabeça de
mais larga e é passada com mais velocida- manes e funcionam do mesmo modo que reprodução. Isto introduz os sinais de ima-
de que uma fita de cassete para som. na gravação da fita sonora. gem e de som no televisor, em cujo écran a
Como o gravador de vídeo está directa: A fita passa pelo lambor obliquamente. gravação é recriada.
mcnle ligado à antena, capta
emissões de televisão quando COMO O VÍDEO GRAVA IMAGENS DE TV
está em funcionamento, quer a A fita de vídeo é magnética Cada cabeça de gravação é um electroiman que
televisão o esteja ou não. Podem magnetiza as partículas metálicas da fita segundo o padrão determinado pelos
os dois estar sintonizados para sinais de TV. Quando a fita é passada em frente das cabeças de gravação, cada
uma destas grava nela os sinais que recebe através da corrente.
captarem simultaneamente pro-
gramas diferentes.
Os dois principais sistemas de
videocassetes existentes são o
Betamax, introduzido pela em-
presa japonesa Sony em 1975, e o
VHS (vídeo horne system, ou sis-
tema de vídeo doméstico), de Quando se carrega na tecla
Televisão e "gravar", uma cabeça de apaga-
que foi precursora a JVC (Japan gravador de vídeo mento anula tudo o que estiver
Victor Company) em 1976. Tanto gravado na fita da cassete.
cassetes como gravadores são di- O gravador de vídeo está ligado
Cabeças de gravação
ferentes nos dois sistemas. O Be- à antena deTVe capta o progra- da imagem
tamax produz imagens de quali ma que decorre no canal para o
dade ligeiramente superior, mas qual foi sintonizado. Quando se
as fitas VHS gravam mais tempo - introduz a cassete e se carrega
até quatro horas. O VHS aca- na tecla de gravação, a máquina
bou por se tomar o mais difundi de vídeo puxa uma alça da fita
do dos dois sistemas, e o novo de entre as duas bobinas da cas- Os sinais de imagem são grava-
Super VHS tem imagens de me- dos como uma série de pistas oblí- _|
sete. A fita passa depois em volta quas. Os sinais de som são grava-
de
lhor qualidade que qualquer dos de um tambor rotativo que con- magem
dos longitudinalmente num dos
dois sistemas normais. tém as cabeças de gravação bordos da fita. Fita magnética

220
*_A_*IVH_/ l U i l V . I V ^ I I r t :

Gravação em fita: armazenar sons como padrões magnéticos


Muitos de nós desenhámos padrões com seu padrão magnético induz uma corrente do à magnetização residual sempre pre
limalha de ferro sobre uma folha de papel eléctrica na cabeça de leitura. A corrente sente numa distribuição aleatória de parti
fazendo deslocar um íman debaixo dela. vai alimentar um amplificador e seguida- cuias. Para o eliminar, usa-se o sistema
Os gravadores em fita funcionam de ma- mente os altifalantes, os quais produzem Dolby (do nome do seu inventor).
neira semelhante — marcam sobre uma ondas c pressão que fazem vibrar os tím Nas passagens silenciosas, circuitos
fita coberta de minúsculas partículas mag- panos do ouvido como o som original. electrónicos reforçam os sinais antes de
netizadas um padrão que corresponde aos estes atingirem a cabeça de gravação; na
sons que estão a ser gravados. A fita é cons- Eliminação dos ruídos de fundo reprodução, os sinais são reduzidos até à
tituída por uma fina camada de partículas Um dos problemas da reprodução de som sua intensidade normal antes da entrada
magnéticas finas como pó (em geral, óxi por fita é o silvo de fundo, mais notório nos altifalantes. 0 silvo é reduzido na mes
dos de ferro e de crómio) aplicada numa durante as passagens silenciosas — devi- ma proporção e toma se inaudível.
fita de poliéster. A cabeça de gra-
vação que cria os padrões é um GRAVAÇÃO DE SONS NUMA FITA MAGNÉTICA
minúsculo electroíman. A gravação e a r e p r o d u ç ã o são feitas
por um m e s m o electroíman - porção
Para gravar seja o que for, des- de substância ferromagnética c o m um
de um cantor até uma orques- e n r o l a m e n t o de fio eléctrico (bobina).
tra, o som é dirigido a um micro
Corrente
fone, onde as suas ondas de eléctrica
pressão são convertidas em fra sinal
cos sinais eléctricos variáveis.
Estes passam por um amplifica-
dor, que lhes aumenta a intensi-
dade, antes de actuarem na ca-
beça de gravação.
Aqui, passam pelo enrola-
mento do electroíman, produ
zindo um campo magnético.
Cada partícula da fita é um mi-
núsculo íman cuja magnetiza-
ção tende a alinhar-se segundo a
direcção do campo magnético
aplicado - náo por movimen- A s s i m c o m o u m i m a n atrai limalha
de ferro através de um papel, os elec-
tação das partículas, que estão t r o í m a n e s o r i e n t a m a magnetização
fixas, mas por reorientação da das p a r t í c u l a s da fita de g r a v a ç ã o .
sua magnetização. Quando a
fita passa pela cabeça de grava-
ção, o campo magnético alinhará
a magnetização das partículas
consoante a sua intensidade, for- As partículas da f ta magnética são A fita grava apenas u m a face Por Fita de gravação
pequenos imanes que se orientam c a d a " l a d o " são g r a v a d a s d u a s
mando assim como que um códi s e g u n d o padrões i m p o s t o s pelos pistas — a esquerda e a direita do
go magnético do som original. pólos da cabeça de gravação. s o m estereofónico.
Os sinais eléctricos utilizados
na formação do padrão podem provir de
um microfone ou de um rádio, de um gira- MAGNETISMO E ELECTRICIDADE
discos ou de um gravador de fita. As fitas. Os átomos de muitos metais são imanes no entanto, a influência de um campo
hoje em dia, são gravadas em estéreo (v. p. minúsculos que em certas substancias, magnético, c o m o o que resulta da
223). No sistema DAT (digital áudio lapej, conhecidas pelo nome de ferromagnéti- aproximação de um íman ou da pas-
os sinais eléctricos do microfone são con- cas, alinham os seus pólos magnéticos sagem de corrente eléctrica por uma
vertidos em números binários (v. p. 241). todos na mesma direcção. Daí pode re- bobina, para o ferro se tornar forte-
Este sistema é mais preciso e produz uma sultar um íman, com os seus pólos norte mente magnetizado. Com uma cor-
gravação mais fiel. e sul resultando da cooperação dos mi- rente eléctrica forte, consegue-se um
Na maioria, os gravadores modernos núsculos pólos atómicos. alinhamento total dos átomos de fer
utilizam a mesma cabeça para a gravação e Mas pode resultar também uma subs- ro, daí resultando um íman m u i t o
a reprodução. Para ser gravada, a fita tem tância como o ferro, na qual não se nota mais poderoso que os naturais — e
de ser limpa de todos os padrões anterio- magnetismo. 0 que se passa é que no com a vantagem de se poder ligar ou
res antes de chegar à cabeça de gravação, o ferro os imanes atómicos estão de facto desligar. Também quando se desloca
que é efectuado por uma cabeça de apaga- alinhados entre si, mas apenas em pe- um íman junto a uma bobina, surge
mento, electroíman alimentado por uma quenas extensões chamadas domínios; nesta uma corrente eléctrica, que dura
corrente de alta frequência. Esta cabeça é de domínio para domínio, a direcção da e n q u a n t o d u r a r o m o v i m e n t o do
ligada automaticamente quando se carre- magnetização é diferente, pelo que, em íman. Foi assim que, em 1831, foi cons-
ga na tecla de gravação. média, as suas acções se compensam e truído o primeiro gerador eléctrico
Para reproduzir uma gravação, basta in- não se notam pólos à superfície. Basta, por Michael Faraday.
verter o processo; quando a fita passa, o

221
V-.WIYIW i u i i v - i w i i r t :

nais eléctricos provenientes da fita-matriz.


No aparelho de gravação do disco, um
Como a agulha de gira-discos lê o som estilete em forma de buril vibra e escava
um sulco ondulado na superfície de grava
cão (em geral, uma camada de massa vir-
O processo de armazenagem inicia-se A fabricação de um disco-matriz gem sobre um disco plano de alumínio)
quando a música entra num microfone e Na fabricação de um disco-matriz para re- segundo uma espiral a partir do bordo
faz com que o seu diafragma vibre exacta- produção, o som é captado por uma série para o centro. O disco é rodado a precisa-
mente como uni tímpano humano. As vi- de microfones, e os sinais eléctricos são mente 33 '/j rotações por minuto (rpm)
brações são convertidas em fracos sinais registados em pistas separadas (de 2 a 48) para produzir um disco de longa duração,
eléctricos variáveis. Todos os microfones em fita magnética. ou a 45 rpm para um pequeno single, mas
possuem um diafragma que funciona se- A fita é então montada num complicado a velocidade da cabeça de gravação em
gundo o mesmo principio que o do boca] misturador electrónico, o que permite que direcção ao centro varia de acordo com a
do telefone (v. p. 214), mas existem diver- o técnico de gravação modifique a qualida- intensidade do sinal, sendo maior quando
sos outros dispositivos para converter as de tonal e a intensidade de cada pista. 0 o som é mais forte.
vibrações em corrente eléctrica. produtor pode desejar aumentar o volu- Os sinais estereofónicos obrigam a agu-
Os sinais eléctricos produzidos pelo mi me de determinado instrumento, por lha a vibrar de forma a gravar em cada pare-
crofone são intensificados por um amplifi- exemplo. Desta forma, as gravações em de do sulco em V um padrão diferente. As
cador, gravados em fita e passados a um multipistas são misturadas para produzi- paredes do sulco estão a 45° em relação à
buril de gravação que produz um disco- rem uma fita-matriz de duas pistas em superfície do disco e a 90" uma da outra.
-matriz. Quando tocamos um disco (répli- que os sons foram misturados e equili- Pode chegar a haver 140 sulcos por centí-
ca do disco-matriz), as vibrações do estile- brados de modo a produzirem os melho- metro — o seu número varia com a veloci-
te (agulha) reproduzem os sinais eléctri- res efeitos nos canais estereofónicos es- dade da cabeça de gravação, e uma passa-
cos, e os altifalantes reconvertem nos nos querdo e direito (página seguinte). 0 dis- gem com som mais
sons originais. co-matriz é então gravado por meio de si- forte precisa de

O que é o fonógrafo

O s primeiros sons foram registados e reproduzidos por


Thornas Alva Edison em 1877, numa "maquineta" que
depois aperfeiçoou e comercializou com o nome de fonógrafo
se deslocava ao longo do sulco em espiral. Na
reprodução, o tambor era rodado novamente
e a agulha, ao seguir os altos e baixos feitos na
("escrevedor de sons"). Utilizava uma corneta com um diafrag- folha de estanho, fazia vibrar o diafragma, pro-
ma na abertura mais estreita, servindo simultaneamente de duzindo sons que saíam pela corneta.
microfone e de altifalante. Quando alguém falava para a corne- O alemão Emile Berliner, trabalhando nos
ta, o diafragma — c uma agulha de aço que lhe estava ligada — EUA deu um passo decisivo na gravação de
vibrava para cima e para baixo. O registo fazia-se sobre urna sons ao introduzir o disco em 1888. O disco
folha de estanho enrolada num tambor com um sulco em era tocado numa placa giratória, empregan-
espiral na superfície. Para a gravação, o tambor era rodado por do o mesmo tipo de corneta e de agulha que o fonógrafo.
uma manivela, e os sons que entravam pela corneta faziam Quatro anos depois, foi o pioneiro da cópia de discos pelos
vibrar a agulha, que indentava a folha de estanho à medida que processos de electroplastia e estampagem. Anteriormente, os
discos ou cilindros tinham de
r ser gravados um a um. O dis-
co de 78 rpm de Berliner era
feito de goma-laca.

á
*s ! t •«• V » ** Sessão ao vivo. No principio
do século, a tecnologia da fa-
••>• r >
# Sá j y * i> bricação de discos-matrizes
estava na infância. O meca-

1 y
jj Iftfcí* * nismo do prato giratório tinha

^1
de ser accionado à mão para

"ff AJI A 4-1 L _ *r cada disco que se graoaoa.


Quando a agulha era pousa
da no disco, os executantes,
dispostos em redor da corne

It^H
*
ta. começavam a locar. O
equipamento pura a grava-
ção estava montado sobre um

m
bloco de betão isolado para
que outras vibrações - além
\ das ondas sonoras provenien-
tes da execução - não fos
»"' sem afectar a agulha durante
as gravações. Estas utiliza
vam um cilindro de cera (em
cima) e Unham de ser produzi-
das individualmente.

222
, COMO A AGULHA
REPRODUZ O SOM
A agulha é uma safira ou diamante
artificiai com urna ponta arredou
dada ou elíptica. Os sulcos (aqui
ampliados 1000 uezes) têm pare
des de feitio diferente — uma para
os sinais estereofónicos da direita,
outra para os da esquerda.
A agulha vibra enquanto per
corre estas paredes irregulares,
provocando sinais eléctricos na
cabeça de captação. Os sinais são
ampliados e depois convertidos
em sons por cones (diafragmas)
vibrados por electroímanes nos
altifalantes

Altifalante esquerdo
Numa cabeça de
Altifalante Sinais para o altifalante direito Sinais para o altifalante esquerdo
captação (pick-up)
direito
de magnete móvel,
a agulha está ligada 0 magnete. {
induz
a um íman. Quando corrente ^
a agulha vibra, os na bobina
movimentos do direita
íman. ou magnete,
induzem correntes
U>!<\í ))
Sinal na
eléctricas em dois '7 parede
enrolamentos de fio, rior
criando os sinais que
alimentam os dois
altifalantes.
0 magnete móvel induz sinais diferentes em cada enrolamento (bobi-
Sulco na). Se só a parede exterior contém sinais, só a bobina correspondente
no disco ao altifalante direito produzirá corrente; se só a parede interior contém
Parede interior do sulco Parede exterior do sulco sinais, só o altifalante esquerdo receberá corrente.

mais espaço porque a agulha vibra mais, Habitualmente, o transdutor é magnéti-


pelo que produz sulcos mais separados e co — a agulha, ao fazer o seu percurso,
portanto em menor número.
Depois de o sulco ter sido gravado na
movimenta um íman no interior de bobi-
nas de fio condutor, induzindo neste uma
Sons de duas
massa virgem, o disco-matriz é niquelado
electroliticamente e processado para dar
corrente eléctrica.
Usam se duas bobinas, cada uma delas
direcções
um disco de níquel muito delgado e de sentindo as vibrações de cada pista este-
imagem negativa, denominado a matriz, reofónica e produzindo corrente para os O som estereofónico proporciona uma
que é o molde para a produção dos discos sinais de saída esquerdos ou direitos. Estes sensação de direcção e de profundidade à
para venda. sinais são réplicas daqueles que fizeram audição de rádio ou de gravações. Quando
Os discos que se compram são molda- funcionar o estilele durante a gravação do se ouve uma orquestra a tocar através da
dos em PVC (cloreto de polivinilo). Grânu- disco-matriz. rádio, por exemplo, pode saber-se onde
los de PVC são simultaneamente prensa- Os sinais gerados pela cabeça de capta estão os diversos instrumentos.
dos e aquecidos entre duas matrizes grava- ção (pick-up) são muito fracos, pelo que Muitos programas de rádio em VIIF são
das em separado — uma para cada lado têm de ser amplificados nos circuitos elec- actualmente transmitidos em som estereo-
do disco — e depois arrefecidos. Cada trónicos de um amplificador. fónico. 0 programa é gravado com o em-
prensagem de um disco de longa duração Uns destes circuitos controla o volume, prego de uma série de microfones, e os
demora cerca de 25 segundos. outros a tonalidade e outros o equilíbrio (ba- sons misturados de forma a produzirem-
lance) entre os canais esquerdo e direito. -se em pistas separadas os sons da esquer-
O gira-discos e os altifalantes A partir do amplificador, os sinais inten- da e da direita do estúdio de emissão.
Nos bons sistemas de alta fidelidade, o pra- sificados vão alimentar os altifalantes, 0 emissor envia para o ar dois conjun-
to é pesado e geralmente accionado por onde um electroíman faz vibrar um dia- tos de sinais de rádio: um transporta a saí-
correia de transmissão a fim de o isolar das fragma em forma de cone a fim de conver- da conjunta dos microfones para que pos-
vibrações do motor. ter novamente os sinais em ondas sonoras sa ser captado pelos receptores mono; o
A agulha tem a ponta arredondada e é Um altifalante simples possui um único outro transporta sinais codificados para
habitualmente feita de safira ou diamante cone, mas os dos sistemas de alta fidelida- um receptor estéreo. Este possui um des-
sintéticos. Está aplicada a uma cabeça de de têm dois ou três, separados e de tama- codificador que separa o conjunto codifi-
captação na qual um transdutor electro- nhos diferentes, pois cada tamanho é ade- cado em sinais do canal esquerdo e sinais
mecânico converte as vibrações da agulha quado à reprodução de uma gama de sons do canal direito, os quais são amplificados
— causadas pela sua deslocação ao longo (ou frequências — quanto mais alto o separadamente e vão alimentar cada um
da espira do disco — em sinais eléctricos. som, maior a frequência da vibração). dos altifalantes esquerdo e direito.

223
MARAVILHAS DA CIÊNCIA Vi
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"Chuck" Yeager: o homem ir Ft
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que passou a barreira do som ' • te L
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Dois dias antes da sua tentativa de passar a


barreira do som, Charles "Chuck" Yeager,
de 24 anos, capitão da Força Aérea dos ' ""-(.Ta
EUA, partiu duas costelas num acidente
quando corria a cavalo, com a sua mulher,
no deserto do Mojave. Na manhã seguinte,
um médico local ligou-lhe o tronco, mas,
mesmo assim, "Chuck" não conseguia me-
xer o braço direito devido as dores. Sabia
que, se houvesse notícias do seu estado, as
entidades superiores adiariam a tentativa,
projectada secretamente para 14 de Outu-
bro de 1947.
O avião Bell X-l, accionado por fogue-
tes e pintado de cor de laranja, seria larga-
do do compartimento das bombas de um Aviáo mais rápido que o som.
Boeing B-29 e, depois de uma curta plana- Recorte de jornal com a notícia (ao alto').
gem sem motor, começaria a subir quan- •'Chuck" Yeager (à esquerda) deu ao avião
do Yeager pusesse a funcionar em rápida o nome da sua mulher, Clennis (à direita).
sequência os quatro foguetes.
Para passar do B-29 para o minúsculo Mach - norne do físico Ernst Mach (1838- génio líquido armazenados no tanque de
cockpit do X-l (também conhecido por 1916). Um avião que se desloca à velocida- combustível directamente por trás do as-
XS-I), Yeager tinha de descer por uma pe- de do som diz-se que vai a Mach 1. sento, a 182íJC negativos. Durante os próxi
quena escada. A porta do çockpit tinha en- Se um avião não é desenhado para o mos 15 minutos, só há que bater os den-
tão de ser baixada por um cabo a partir do • voo supersónico, fortes ondas de choque tes ... é como tentar concentrarmo-nos no
compartimento das bombas. atingem-lhe as asas e a fuselagem quando trabalho dentro de um frigorífico."
Uma vez colocada a porta, Yeager tinha ele se aproxima de Mach 1. O fluxo do ar Durante os voos de ensaio, a transpira
de a fechar pelo lado direito — coisa sim- em redor do aparelho torna-se instável, ção de Yeager acrescentara mais uma ca-
ples quando não se tem duas costelas par- causando intensas vibrações irregulares
tidas e o braço direito imobilizado. Então, o que provocam perda do domínio de voo.
seu mecânico de voo, Jack Ridley, teve Teoricamente, o X-l, com o seu nariz ae-
uma ideia brilhante: o piloto poderia ma- rodinâmico e as suas linhas suaves, não
nobrar um pau com a mão esquerda para seria afectado. Contudo, tinha o mau cos-
levantar o manipulo da porta e fechá-la. tume de sacudir o piloto dentro do aperta-
"Procurámos pelo hangar e encontrá- do cockpit com tanta força que o poderia
mos uma vassoura", recordou depois Yea- fazer perder os sentidos Para se proteger,
ger. "Jack serrou-lhe 25 cm do cabo, que se Yeager usava um grande capacete de râ-
ajustava perfeitamente ao manipulo. De- guebi, de couro, por cima do seu capacete
pois, entrei no X-l e fizemos uma expe-' de voo. SB
riência. Ele encostou a porta ao caixilho e Quando o B-29 se aproximou dos 7000
eu, levantando o manipulo com o pau da pés (2100 m), Yeager avançou para o com-
vassoura, consegui fechá-la." partimento das bombas, a partir do qual
Por volta das 8 da manhã de 14 de Outu- desciam uns carris até ao X-l. Empurrou a
bro, o B-29 largou da Base Aérea de Muroc, escada de alumínio pelos carris e deixou-se
no deserto do Mojave. Yeager viajava por escorregar para dentro do cockpit do X-l.
enquanto no bombardeiro - que levava o "Descer o diabo da escada fez-me doer",
X-l encaixado na barriga. Apesar das dores recordava depois. "Peguei no cabo da vas-
que sentia, Yeager estava optimista. Fizera soura e o manipulo rodou para a posição
já uma série de voos de ensaio no avião com de fechado. Funcionou perfeitamente."
propulsão por foguetes e tinha como objec- Depois, teve de haver-se com o ambien-
tivo ser o primeiro homem a ultrapassar a te gelado do cockpit "A tremer", lembrava,
velocidade do som — cerca de 1220 km/h "bate-se as palmas com as mãos enluvadas
ao nível do mar (quanto maior é a altitude, e coloca-se a máscara de oxigénio no aviáo
mais lentamente o som se propaga). Na sua mais frio que jamais voou. Está-se a ser
tentativa, Yeager planeava voar a cerca de enregelado pelas centenas de litros de oxi-
700 milhas/hora (1126 km/h) a uma altitude
de cerca de 40 000 pés (12 200 m) acima do Passagem da barreira. O Bell X-l tinha
nível do mar. apenas 9,5 m de comprimento e 8,5 m de
A velocidade de um avião comparada envergadura. Pilotado pelo capitão
com a de propagação do som no meio "Chuck" Yeager, o avião a foguetes passou
vizinho é conhecida como o número de a barreira do som a 1126 km/fr.

202
V_V_MVIVJ r u i v v , i u i i A :

Thomas Edison: o "feiticeiro" que iluminou o Mundo


Precisamente às 3 horas da tarde de 4 de política de inventar apenas coisas que as Nascido em Milan, Ohio, em 11 de Feve-
Setembro de 1882, o inventor Thomas Alva pessoas pudessem querer e que viessem a reiro de 1847, Thomas Alva Edison linha 7
Edison, então com 35 anos, lançou-se na- facilitar-lhes a vida. Pusera em prática este anos quando a família se mudou para nor-
quilo a que chamou "a maior aventura da princípio em Maio de 1876, quando, junta- te, para Port Huron, no Michigan. A sua
minha vida". Foi ligada a energia na primei- mente com 20 "amigos e colegas de traba educação oficial terminou ao fim de três
ra central geradora de Nova Iorque, na lho" escolhidos, abrira um novo laborató- meses, quando o mestre-escola da aldeia o
Pearl Street - e 85 casas, lojas e escritórios rio — ou "fábrica de inventos" — na peque- expulsou como atrasado mental. Na reali-
da zona resplandeceram com a luz de 400 na povoação de Menlo Park, Nova Jérsia. dade, a criança sofria de surdez parcial -
lâmpadas incandescentes. A fábrica era urn edifício de madeira de resultante de ter tido escarlatina.
Edison e os outros directores da Edison dois andares situado em ricos terrenos de Foi a Sr/' Edison quem encorajou o inte-
Electric Light Company tinham-se juntado cultivo, e tornou-se efectivamente o pri- resse crescente do jovem pelas ciências,
no escritório de um dos seus principais meiro laboratório de investigação indus- designadamente pelas máquinas a vapor e
apoiantes, o milionário J. Pierpont Mor trial do Mundo. Estava equipado com uma pelas forças mecânicas. Tom instalou um
gan, na Wall Street. O escritório de Morgan máquina a vapor, uma forja, baterias de pequeno laboratório de química na cave
figurava entre os que seriam iluminados acumuladores, material fotográfico, fio de da casa dos Edisons, onde produzia a sua
naquela tarde de Outono. E pelas 7 horas, cobre, bobinas de indução e aparelhos de corrente eléctrica própria a partir de pilhas
quando começou a escurecer, a luz eléctri- medida, como um electrómetro e um gal voltaicas e operava um telégrafo primitivo.
ca fez o seu impacte nos escritórios do vanómetro. Pouco tempo depois, trabalhando
New York Times, ali próximo. Ao tempo, o inventor e o seu grupo ten- como distribuidor de jornais e vendedor
Nos meses precedentes, Edison tinha tavam aperfeiçoar a lâmpada de incandes- de rebuçados no comboio entre Port Hu-
superintendido o início da conversão da cência — na qual vinham a trabalhar des- ron e Michigan, Ohio, construiu um labo-
iluminação de Nova Iorque de gás para de a década de 1830. Em 1878, Edison for ratório modesto num vagão de bagagens.
electricidade. Escolhera o local para a cen- mou a Edison Electric Light Company, mas Instalou igualmente uma prensa de tipo-
tral perto do East River, por ser a zona fi foi só no fim do ano seguinte que, após grafia em segunda mão, na qual editava
nanceira da cidade e ele querer impressio- laboriosas tentativas, produziu finalmente um semanário, o Grund Trunk Herald,
nar potenciais patrocinadores. Organizara uma lâmpada eléctrica prática. para ser vendido no comboio.
um levantamento da zona, casa a casa, e Edison apresentou a sua invenção ao
tratara da instalação da rede, das caixas de público na véspera de Natal de 1879, ilumi- Telegrafista vagabundo
derivação, dos quadros, dos contadores, nando a estrada, o laboratório e a bibliote- Entre os 1G e 21 anos, trabalhou como "te-
dos fusíveis e dos candeeiros. ca de Menlo Park com o emprego de um legrafista vagabundo", segundo as suas
Em Agosto de 1883, mais de 430 edifí- dínamo e de aproximadamente 40 lâmpa- próprias palavras, através dos estados do
cios da cidade estavam a ser iluminados por das. Cerca de 3000 espectadores assistiram Centro-Oeste e do Sul.
10 000 lâmpadas. Os trabalhos de Edison a esta demonstração de génio do chama- Em 1809, estava em Nova Iorque, dor-
sobre a electricidade demonstravam a sua do '"feiticeiro de Menlo Park". mindo numa cave na Wall Street. Um dia,
encontrava-se por acaso nos escritórios da
Gold Indicator Company, ali próximo,
quando o indicador telegráfico dos preços
do ouro se avariou. Reparou-o ali mesmo e
foi admitido na empresa. Criou depois a
Edison Universal Stock Printer, de maior
fiabilidade — que vendeu à Western
Union por 40 000 dólares.
Edison utilizou este dinheiro para abrir e
equipar a sua primeira oficina verdadeira
— em Newark, Nova Jérsia - , onde fabri-
cou o primeiro telégrafo impressor de fita,
nos princípios da década de 1870. Em
1876, mudou-se para a referida povoação
de Menlo Park, onde se dedicou à sua vida
de inventor-a-tempo-inteiro.
No ano seguinte, criou um novo micro-
fone para o telefone de Alexander Graham
Bell No aparelho de Bell, as vibrações so-
noras da voz humana eram convertidas di-
rectamente em impulsos eléctricos. Mas a
reprodução dos sons era débil, especial-
mente a grandes distâncias, em que quase
desaparecia.
O nascimento da luz eléctrica. O gerador de Edison está ligado O microfone de Edison utilizava
por correias e roldanas ao seu dinamómetro — que media a pedaços de carvão para conseguir
potência fornecida peias máquinas a vapor. A gravura mostra um contacto cuja resistência era
a sua "fábrica de inventos" de Menlo Park em 1879 — ano em modificada pela p r e s s ã o das
que produziu a sua lâmpada de incandescência (à direita). ondas sonoras. Isto controlava a

224
V y
Cinco dias sem dormir. Edi- acabadas, e serão imediatamente destaca
son afirmou Kr trabalhado cinco dos para o trabalho tantos trabalhadores
dias sem dormir no modelo quantos o possam ser em benefício da
aperfeiçoado do seu fonógrafo obra, e deste modo o protótipo funcional
(à esquerda). Era quase madru- será produzido em muito pouco tempo."
gada do dia !6 de Junho de 1888, Depois, faziam-se aperfeiçoamentos,
e mais tarde, nesse mesmo dia, preparavam-se desenhos de execução e
ele foi fotografado com elemen- criavam-se os moldes necessários. Em se-
tos da sua equipa (em baixo) e guida, era construída c ensaiada a máqui-
um ar menos despenteado. na ou aparelho completo, em tamanho
definitivo. Finalmente, e desde que fosse
ao encontro rias expectativas de Edison,
ela era levada para outra oficina para ser
reproduzida.
"Serão lançadas invenções de magnitu-
de suficiente ... para constituírem as
bases de indústrias independentes",
concluía o artigo. Entre estas, figu-
rou, em 1889, o kinetoscópio, ou
máquina de imagens em movi-
mento, que. afirmou Edison,
iria trazer ao homem e mulher
da rua os mundos da política,
da arte e do desporto. O seu
kinetoscópio fornecia a ilu-
são de movimento ao projec-
tar uma série de fotografias
sobre um écran.
Depois dos filmes curiós so-
bre bailarinos e boxeurs. Edison ^
dedicou se aos filmes de grande
metragem - enlre os quais O
Grande Roubo do Comboio, produ-
zido nos estúdios de Edison, em West
Orange, em 15)03. Com um tempo de exibi
çáo de 10 minutos, este foi um dos mais
longos filmes feitos até então e constituiu
o o seu último grande triunfo.

corrente proveniente de uma bateria c per- uma caneta eléctrica até casas de baixo
mitia a emissão de sinais eléctricos muito custo em betão moldado). Chegou a em-
mais fortes rio que os do telefone de Bell. A pregar 5000 trabalhadores.
s voz do interlocutor podia ser ouvida a mui-
to maior distância.
Edison descreveu uma vez os seus mé-
todos de trabalho a uni redactor do Sàenti-
No telefone rie Bell, o bocal servia tam- fie American: "Desenhos rudimentares se-
bém de auscultador, pelo que quem o utili- rão fornecidos aos fabricantes de mode
zava tinha de falar c escutar alternadamente los, que se servirão das vastas existências
da mesma campânula. Edison separou o de materiais para fazerem protótipos das
emissor do receptor, tomando muito mais peças necessárias, ou mesmo das peças
fácil o uso do telefone. Depois de aperfei
coar o "telefone que falava alto", Edison Imagens em movimento. 0 kinetoscópio
dedicou-se à invenção do fonógrafo — an- de Edison projectava num écran uma série
tepassado do gramofone e do moderno de fotografias de uma fita de película
gira-discos. Em Dezembro de 1877, fez uma continua - dando assim a ilusão de
demonstração da máquina aos seus em- imagens em movimento. As fo-
pregados de Menlo Park. Enquanto o tam- tografias eram observadas
bor do fonógrafo rodava lentamente, ou- através de um visor no topo
viu se a sua voz, longínqua e em tons agu- da máquina que funcio-
dos, recitar o poema infantil «Mary hari a nava por moedas
little lamb. its fleeee as white as snow» ... Os "filmes" dura-
Patenteou o fonógrafo em Fevereiro de vam apenas
1878, e nove anos depois mudou-se para 15 segun
uma nova casa, espaçosa e dotada de labo- dos.
ratório de investigação, em West Orange,
Nova Jérsia. Nessa altura, já tinha ganho
com os seus inventos uma soma que se
calcula em 1 milhão de dólares (ao todo,
obteve 1093 patentes de invenção, desde
CDs: música com
um raio "laser"
Um disco compacto tem apenas 12 cm de
diâmetro, mas contém 5 km de pista de
música e loca durante perto de uma hora.
Os CDs (compact discs) são tocados
numa só face e não se riscam nem se gas-
tam ao tocar, porque não existe qualquer Música compacta
agulha em contacto com a sua superfície. As covas e áreas planas
Km vez dela, um feixe de luz proveniente que formam o código
de um laser de baixa potência lê o disco do som de um disco
pela parte de baixo, interpretando as mi- compacto vêem-se, com
núsculas covas e áreas planas da pista de uma ampliação de 930
gravação, que evolui em espiral a partir do vezes, na fotografia
centro. Estas constituem um código bina ampliada de um disco
rio que é interpretado sob a forma de som. (à direita), com a sua
Os códigos binários são padrões de ape- cobertura de plástico
nas dois dígitos - o 0 e o I. Com eles é repuxada para trás.
possível compilar um código que repre-
senta uma diversidade infinita de padrões Pista codificada. Um
e de sons. Todo o som incluído no âmbito
do ouvido humano é fielmente reproduzi
do ao ser descodificado. Quando o raio
laser varre o disco que roda, reflecle-se di-
feixe de laser varre as
covas e os planos; a luz
reflectida é lida como
IBI
Til , ——
' I
i wm m
1—* L
j - *—
"ligada'' ou "desligada". 1
i i , i |
ferentemente conforme incide sobre uma
cova ou uma área plana. A luz reflectida vai Sinais codificados. 0
incidir sobre um dispositivo fotossensível padrão da luz reflectida 0 1 1 0 1 1 1 0 1 1 1 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 0
chamado fotodíodo, que a converte em
forma uma cadeia de
sinais eléctricos. Estes sinais são descodifi-
impulsos eléctricos. Esta
cados electronicamente, resultando numa
corrente eléctrica
corrente eléctrica variável, e seguidamente
amplificados e introduzidos nos altifalan-
representa os dígitos
binários (á direita, em
3 5 6 6 4 2 1 2
tes, os quais reproduzem ondas sonoras
idênticas às que, no início da cadeia, leva- cima) que vão servir para
ram à criação das covas e dos planos. sintetizar uma corrente eléctrica analógica
ou seja com uma forma contínua
análoga à das ondas sonoras
Gravação do código no disco
0 processo que leva a um disco compac- Sinais descodificados. Cada
to inicia-se quando um microfone con- valor numérico é uma medida
verte as ondas sonoras em sinais eléctri- da intensidade da corrente,
cos. A voltagem desses sinais ó medida feita durante a gravação
dezenas de milhares de vezes por segun- 44 100 vezes em cada
do e codificada electronicamente sob a segundo, e representa
forma de números binários (v. p. 241). rigorosamente os sons
Estes são novamente codificados a fim de originais. O código
se juntarem os dois canais estereofóni- binário permite 65 535
cos numa via de impulsos única e prevê níveis possíveis de som
nir os danos causados aos sinais por ris- em cada medida.
cos ou dedadas que podem ocorrer du-
rante o manuseamento.
Enquanto um disco de vidro, virgem, re-
vestido de uma resina fotossensível, c gira- Altifalante
do sob um raio laser, os sinais codificados Onda sonora
são fornecidos a este sob a forma de impul- Corrente eléctrica
sos eléctricos. O laser emite-os como im-
pulsos de luz que produzem o padrão de
covas no revestimento padrão que apare-
ce quando o revestimento é revelado qui-
micamente. O disco-matriz fornece um O som. Quando
molde para reprodução. Cada disco é re- a corrente eléctrica
vestido com uma fina camada de alumínio variável é amplificada e introduzida
que o torna altamente reflector e seguida no altifalante, é transformada em
mente com uma camada protectora. ondas de som que reproduzem a gravação

226
Como o sintetizador produz
música electrónica
Quando um violino, um oboé e uma trom- Som visível. As
beta locam a mesma nota, todos eles pro notas de um trecho
duzem uma vibração fundamental da mes- de música são aqui
ma frequência. O que lorna diferentes os representadas por
sons dos instrumentos são os sons harmó- siri ais electrónicos
nicos - OS sons com frequência múltipla verdes vibrando
da fundamental. Por exemplo, uma corda nurn écran. A onda
de violino vibra ao longo de todo o compri- mais regular de som
mento para produzir o tom fundamental, fundamental pode
mas cada metade e cada quarto da corda verse por baixo
vibram também, produzindo os sons har- dos harmónicos
mónicos. Os instrumentos dão nos dife- irregulares.
rentes misturas de sons harmónicos se
gundo as respectivas formas e materiais de a microfones e a outros sintetizadores ou dos na composição de música electrónica.
que são feitos e o modo como as vibrações tocados por um gravador de fita ou um Ilerberl Kimcrt c Karlheinz Stockhausen
ressoam no corpo do instnimento, criando computador. Alguns podem ser alimenta- instalaram o primeiro estúdio de música
a qualidade que o distingue. dos por patches (discos ou placas com electrónica em Colónia, na Alemanha, em
Um sintetizador electrónico produz programas de computador) que criam 1953, e Stockhausen é um dos primeiros
música ao gerar uma corrente eléctrica so- sons diferentes. Alguns sintetizadores digi- compositores de música electrónica. Entre
bre um largo espectro de frequências. tais têm computadores incorporados e outros, contam se os americanos Milton
Quando a corrente vai alimentar um altifa- conseguem produzir sons harmónicos Babbit e Morton Subolnik. A banda sonora
lante, são simulados os sons fundamentais complexos. Alguns usam síntese de FM do filme Koyaanisqatsi (1982) incluía mú-
e os harmónicos de qualquer tipo de ins- (frequência modulada), processo seme sica electrónica de Philip Glass.
Irumenlo, além de muitos outros efeitos lhante à modulação de ondas de rádio.
sonoros. Como um sintetizador raramen- Nos sintetizadores que utilizam um sis A modelação do» sons electrónicos
te consegue simular todos os sons harmó- tema de ligação ao computador chamado Há três fases principais na produção de
nicos, em constante mutação, de um ins- MIDI (musical instrumenl digital interfa- música electrónica — gerar a corrente, fil
trumento tocado convencionalmente, fal- ce), o tocador pode introduzir sons de di- trá-la e amplificá-la. No gerador, um apare-
ta lhe habitualmente a mesma riqueza de versos instrumentos ou de outro compu- lho denominado oscilador dá à corrente a
qualidade — mas os modelos modernos tador ou sintetizador para obter uma diver- sua forma de onda vibratória. O ritmo de
aproximam-se bastante. sidade de efeitos. Com um aparelho elec- vibração (a frequência) é comandado fa
Os sintetizadores são utilizados pelos trónico digital chamado sampler, podem zendo variar a voltagem dos circuitos gera-
músicos pop em conjunto com instru- introduzir-se sons que são reproduzidos dores. Para um som puro, usa-se uma on
mentos convencionais para fazerem músi- em qualquer tonalidade no teclado. dulaçáo regular - uma onda sinusoidal.
ca electrónica "ao vivo". IY>dem ser ligados Os sintetizadores são também utiliza- Entre outras formas de onda geradas, con
tam-se as ondas quadradas e as ondas em
O progresso do som electrónico dente de serra, que produzem os sons fun-
damentais e muitos harmónicos

A primeira pessoa que tentou obter


sons electronicamente foi o in-
ventor americano Thaddeus Cahill. Km
perfurada, cujo código de furos accio-
nava os geradores de sons, os filtros e os
amplificadores. A música era gravada
Utilizam se diversos circuitos filtrantes
para modelar melhor as ondas de vibra
ção. Os Filtros deixam passar unicamente
1906, ele inventou um instrumento cha em fita. Como utilizava válvulas termió- determinadas frequências e bloqueiam as
mado telarmónio, que utilizava moto- nicas — tubos de vácuo electrónicos -, restantes. Alteram a qualidade cio som e
res eléctricos e receptores de telefone era tão volumoso que enchia uma sala. criam diferenles efeitos. A amplificação
para prcxluzir sons, mas sem muito su Nos anos GO, o físico americano Robert dos sons obtém-se pelo aumento da volta
cesso. Km 1920, o cientista russo Leon Moog criou o sintetizador Moog com gem nos circuitos dos altifalantes.
Theremin produziu sons electrónicos circuitos à base de transístores. O de- O sintetizador tem um teclado como o
utilizando dois osciladores de ondas de senvolvimento posterior no campo da do piano, mas as teclas limitam se a alterar
rádio; a "música" era locada movendo electrónica permitiu o moderno sinteti- a voltagem da corrente enviada ao circuito
as mãos em torno das antenas, o que zador portátil. gerador, produzindo assim sons de altura
alterava a sintonização dos circuitos e A síntese em TM, base dos sintetiza- diferente. Outros botões, interruptores e
produzia sons - variáveis segundo a dores digitais da década de 80, foi inven cursores comandam os percursos através
posição das mãos — emitidos pelos alti- tada pelo Dr. John M. Chowning, da dos diversos circuitos.
falantes. O instrumento chamava-se Universidade de Stanford, na Califórnia. Para alterar a intensidade e a persistên
theremin, A ideia da amostragem, na qual se ba- cia de um som, o tocador acciona um co-
O antepassado dos sintetizadores seia a maioria dos modernos sintetiza- mando chamado envelope generator,
modernos foi construído em 1955 pela dores, foi introduzida pelos australia- que altera a forma por que a voltagem é
Radio Corporation of America (RCA) nos Peter Vogel, Kim Ryrie e Tony Furse, aplicada a diversos circuitos simultanea-
em Princeton, Nova Jérsia, para estudos com o seu fairlighl computer musical mente. Um som pode ser introduzido subi-
de acústica. Kra alimentado por fila instrumenl (CMI). tamente e por pouco tempo ou feito apare
cer e desaparecer gradualmente.

227
V_WIVIV/ i u n v ^ i u i i n :

I
Fibras ópticas: o transporte de sons por raios de luz
Fios do mais puro vidro, alguns deles 10 Há dois tipos principais de fi-
vezes mais finos que um cabelo humano, bras: as mais finas, as monómo
estão a tomar o lugar do fio de cobre nos das, transmitem a luz sob a forma
cabos utilizados na transmissão de sinais de uma única onda ou modo -,
de telefone e de televisão. e os sinais luminosos podem "via-
Estes cabos de fibras ópticas podem jar" quase 200 km sem serem reinten
transportar mais informações que os fios sifícados. Nas fibras mais espessas, as
de cobre, transmitindo-as sob a forma de multímodas, podem ser transmitidos, a
impulsos de luz — e ocupam apenas cerca diferentes intervalos, até 1000 pa-
de um décimo do espaço dos cabos de drões de ondas (modos) dife
cobre. Sons, imagens e informações com- rentes, mas perde-se sempre
putorizadas podem ser transmitidos pelo um pouco de luz, e os sinais
mesmo cabo, e os sinais não se atenuam têm de ser reintensificados a
tão rapidamente como no fio de cobre, intervalos de 15 km.
polo que 0 cabo precisa de menos amplifi
cadores de sinais intermédios. C o m o sáo t r a n s m i t i d a s
Quando se faz incidir luz sobre uma ex as mensagens
tremidade da fibra, ela é reflectida interna Num sistema telefónico de fibras
mente muitas vezes cerca de 15 000 ve- ópticas, a corrente eléctrica
zes por metro. Como cada fibra possui um produzida pelo telefone em
núcleo interior que canaliza a luz ao longo resposta às vibrações da
dela e um revestimento exterior que a re- voz começa por ser intro-
flecte novamente para o núcleo, quase não duzida num codificador.
há perda de luz através das paredes. Este mede a intensidade da corrente cerca te. Pelo menos 2400 milhões de bits (dígi-
de 8000 vezes por segundo. O valor de cada tos binários) podem Iransmitir-se por se-
medida, em código binário, é uma série de gundo através de uma só fibra. Como há
A REVOLUÇÃO uns e zeros a que corresponde uma série de intervalos entre os sinais de uma chamada,
DAS FIBRAS ÓPTICAS impulsos de corrente — um sinal digital. enviam se em conjunto muitas chamadas,
A quantidade de informação actual- A luz c gerada por lasers. O tipo usado encaixadas umas nas outras. Isto é o que se
mente transmitida - telex, fax e da- na transmissão por fibras ópticas é um la- chama mulliplexagem (no tempo).
dos de computadores, além das cha- ser de semicondutor que produz luz infra- Na extremidade receptora do cabo de
madas telefónicas — vinha esforçan- vermelha invisível. Esta, tendo uma fre- fibras, os impulsos da luz são captados por
do até aos limites o sistema baseado quência muito mais alta que a corrente um fotodetector, que os reconverte em si-
no cabo de cobre. Os cabos de fibras eléctrica, pode transportar muito mais in- nais eléctricos e os introduz num descodi-
ópticas, de elevada capacidade, pe- formação. ficador que reconstitui o padrão da corren
quenas dimensões e ausência de in- Os sinais eléctricos acendem e apagam te eléctrica saída pelo bocal do telefone.
terferências eléctricas, são a chave rapidamente o laser, produzindo impul- Os emissores c os receptores caberiam
para um novo desenvolvimento. sos de luz codificados digitalmente que pe ambos numa caixa de fósforos, e os lasers
A primeira utilização das fibras ópti netram na fibra óptica através de uma len- não são maiores do que grãos de sal.
cas deu-se em 1955 no campo da me-
dicina, para iluminar o interior do or-
Código S 0 1
ganismo. A perda de luz através das ~ |o I 1 0 1 1 0 <
fibras era inicialmente demasiado \f
grande para quaisquer outros usos.
Mas em 1966 os Drs. Charles Kao e luminosa
Impulsos/-"'LI _ J
George Hockham, que trabalhavam de luz <T I" I
em Inglaterra nos Standard Telecom- 1 <
munications Laboratories, descobri- I
ram que tais perdas se deviam às im- Tempo correspondente
a uma das 8000
purezas do vidro. Em 1970, a empresa medidas por segundo Mensagens a alta velocidade
americana Corning Glass produzia já As mensagens telefónicas são
fibras ópticas de qualidade suficiente transmitidas pelos cabos de fibras
para transmitir sinais telefónicos. Ópticos como séries de uns e zeros
Os cabos de fibras ópticas estão a Fibra óptica (código digital), representados pela
reflectindo
substituir gradualmente os de cobre raios luminosos luz acesa (ON) para o I e apagada
entre as centrais. O primeiro cabo de (OFF) para o 0. Como p<xlem ser
fibras ópticas transatlântico, o TAT-8, enviados milhares de milhões de
iniciou o serviço em 1988. A sua capa- dígitos por segundo, o oalor de cada
cidade de perto de 40 000 chamadas medida é transmitido em muito
telefónicas simultâneas é tripla da dos menos que 1/8000 s, peto que há
sete cabos de cobre hoje existentes muito tempo livre para nele se
em conjunto. intercalarem os sinais de muitas
outras chamadas.

228
Ver em linha curva. Um 'guia de imagens" pontos de vista (os dois olhos), pequenos A luz do laser, no segundo holograma,
de fibras ópticas é semelhante ao olho de movimentos da cabeça e um complexo é dirigida ao objecto através de uma ra-
uma abelha, que oê uma imagem inteira processamento da informação pelo cere nhura horizontal, o que limita as frentes
atraués de cerca de 9000 minúsculas lentes. bro que inclui experiências anteriores de de ondas, proporcionando a vista do ob-
O guia é um cabo com cerca de 27 000 fibras outros sentidos, como o tacto. A imagem jecto a partir de uma "latitude" fixa, mas
de vidro, cada uma delas mais fina que um num só olho, tal como uma fotografia, é permitindo uma visão total na horizon-
cabelo humano. Os médicos empre- essencialmente bidimensional. tal. Lsta limitação facilita a visão da ima
gam os "guias de imagens" em No entanto, a luz, ao reflectir-se de um gem tridimensional com luz normal. O
sondas para exa- objecto, contém mais informação que a holograma gravado, ou holograma arco
mes internos cor e o contraste claro escuro que os nos íris, visto à luz normal reflecte a luz bran
ou na cirurgia, sos olhos ou a fotografia captam. O padrão ca segundo as cores que a compõem —
e os engenhei- de referência das ondas luminosas,- a for como se tivesse passado através de um
ros para verem O ma como se sobrepõem e reforçam ou prisma. A imagem final é diferente se ob-
interior dos motores. anulam mutuamente dependem do espa- servada de posições horizontais diferen-
ço por elas percorrido. A holografia capta tes, mas produz um efeito de arco-íris
também a profundidade ao medir a distân- quando os olhos do observador se movi
cia que a luz percorreu desde o objecto. menlam no sentido vertical.

Como se faz um holograma


Um dos tipos mais simples de holograma é QUE E UM «LASER»?
obtido dividindo o feixe de laser em dois A palavra "laser" é formada pelas ini
com um vidro parcialmente espelhado. ciais das palavras que descrevem o
Um feixe, o feixe do objecto, ilumina o seu processo: light amplification by
objecto, e as ondas de luz reflectidas inci slimulated emission of radiation, ou
dem sobre uma chapa fotográfica placa amplificação da luz pela emissão esti-
de vidro com uma face revestida por uma mulada de radiação. Um dos primei-
emulsão fotossensível. O outro feixe, o fei- ros tipos de laser foi o de rubi, cujo
xe de referência, é feito incidir directamen- meio activo é um cristal cilíndrico de
te sobre a chapa fotográfica. Os dois feixes rubi artificial. Os átomos de crómio
coincidem, criando um padrão de interfe- no rubi eram estimulados e emitiam
rência, que é registado na chapa fotográfi- um feixe de luz de laser.
ca. Se esta, depois de revelada, for exami- Uma lâmpada tubular de flash elec-
Hologramas: nada ao microscópio, apresentará uma
confusão de linhas sem significado, que é
trónico montada em espiral em redor
do cilindro emite intensas pulsações
imagens o padrão de interferência.
Quando se projecta luz de laser através
de luz que excitam os átomos de cró
mio de um estado de energia baixo
tridimensionais do holograma já revelado sob o mesmo
ângulo que o do feixe de referência inicial,
para um estado de energia alto. Após
alguns milésimos de segundo, os áto-
mas no sentido oposto, o padrão dispersa mos regressam ao seu estado normal,
A holografia é um processo de produzir a luz, criando uma imagem projectada do emitindo espontaneamente um paco-
imagens a três dimensões. O holograma objecto em três dimensões suspensa no te de energia denominado fotáo.
é usado nos cartões de crédito e nas eti- espaço como um fantasma. Quando um fotáo encontra outro áto-
quetas de vestuário como instrumento mo de crómio ainda no estado de ener-
de segurança, pois é quase impossível de Gravação em relevo de imagens 3 - D gia elevado, eslimula-o a emitir novo
falsificar. Para as reproduções tridimensionais que fotâo idêntico. Os dois fotões idênticos
É também utilizado no ensaio de pnxlu- vemos diariamente, usa-se a imagem "fan- deslocam-se na mesma direcção e
los como os pneus de avião. Fazem-se ho- tasma'1 corno objecto de um segundo ho- exactamente à mesma cadência, e à
logramas dos pneus novos antes e depois lograma. Para este, a chapa fotográfica tem medida que se propagam pelo cristal
de os submeterem a esforços: a sobreposi- um revestimento que, ao ser processado, mais e mais fotões idênticos se lhes
ção dos dois revela as mínimas ralhas. dá uma superfície em relevo, ultrafina, da juntam por estimulação. 0 caminho é
0 Prof. Dennis Gabor. inventor da holo- imagem adequada à gravação em relevo. artificialmente alongado por espelhos
grafia, derivou o nome das pala- nas extremidades do rubi, um deles só
vras gregas holos e gramma, parcialmente espelhado; é por este
que significam "mensagem to- que sai o feixe de laser, um impulso
tal", porque num holograma com triliões de fotões vermelhos em
pode verse o objecto de qual- uníssono, durando um milissegundo.
quer ângulo. Outros lasers emitem urn feixe contí-
nuo em vez de pulsado.
No entanto, só em 1961 dois
cientistas americanos — Em- O poder do laser reside na sua con-
met Leith e Júris Upatnieks — centração. O feixe é perfeitamente rec-
produziram o tipo de hologra tilíneo, e os fotões todos com o mes
ma do qual evoluiu a moderna mo comprimento de onda - podem
holografia. Utilizaram um laser, ser focados num ponto de uma mes-
que lhes fornecia a luz intensa e ma superfície. Os mais pequenos la-
pura que era requerida. sers actualmente em uso são os lasers
Vemos os objectos em três di Ciência ilustrada. Este holograma projecta um mode- de semicondutor, que emitem um fei-
mensões por um processo mis- lo do futuro Museu da Ciência e Tecnologia da cidade de xe infravermelho invisível.
to, que inclui a visão de dois Paris.

229
t U M U hUNUUNAf

ponto a ponto numa corrente eléctrica. mal. Os aquecedores fundem a tinta da


Esta é digitalizada, ou seja convertida folha e esta adere ao papel normal, produ-
"Fax": fotocópias numa série de impulsos eléctricos repre
sentando uns ou zeros. Estes sinais digitais
zindo uma imagem a prelo que seca ime-
diatamente.
pelo telefone vão alimentar um modem (modulador/
desmodulador) que os combina com uma
onda portadora, a fim de os transmitir ao O «FAX» TORNA-SE MAIS RÁPIDO
Com uma máquina de fax ligada à rede longo das linhas telefónicas. Os jornais utilizam máquinas de fac-
telefónica, pode mandar-se através do 0 modem verifica também a qualidade sírnile para o envio de fotografias (te-
Mundo, em poucos segundos, a cópia da linha telefónica antes de enviar os si- lefotos) desde 1907, data em que uma
exacta de um documento ou de uma foto nais. Se a qualidade não for suficientemen- fotografia foi transmitida por fios de
grafia. 0 fax (abreviatura de transmissão te boa, o aparelho não faz a transmissão, Paris para o Daily Mirrar, em Londres.
em fac-símile) é hoje utilizado em toda a pois a informação sairia confusa. Assim, dá Em 1959, o jornal japonês Asahi Shim-
parte. um sinal que informa o utilizador de que bun (Sol da Manhã) mandava pági-
As transmissões por fax são debitadas deve tornar a enviar o documento. Os apa- nas inteiras da sua sede, em Tóquio,
ao mesmo preço que as das chamadas te relhos mais recentes retransmitem ele- para uma tipografia em Sapporo, a
lefónicas normais, mas o material pode ser mentos em mau estado até que a transmis- 960 km de distância. Actualmente, en-
enviado com muito mais rapidez do que se são deixe de conter erros: é o chamado via diariamente para Londres, via saté-
fosse ditado. As máquinas automáticas re- ECM {error correctíng mode, ou modo de lite, um exemplar completo, que ali é
cebem mensagens a qualquer hora e po correcção de erros). impresso para venda na Europa.
dem ser programadas para emitir do- Quando os sinais chegam ao receptor Os progressos tecnológicos têm
cumentação depois do escritório fechado, telefónico, são desmodulados —separa- dado origem a máquinas de menor
aproveitando as tarifas telefónicas mais dos da onda portadora- e introduzidos preço, mas capazes de reproduções
baixas. Em certos aparelhos, o mesmo do- numa impressora, que recria o documen- de boa qualidade. Os jornais não são
cumento pode ser enviado sucessivamen- to em cadeias horizontais de pontinhos li- os únicos utilizadores: também as po-
te a muitos terminais diferentes — a cha- nha a linha. lícias transmitem entre si cópias de
mada transmissão sequencial. A maioria das máquinas de fax utiliza a impressões digitais e retratos-robõs.
Para transmitir um documento ou uma impressão térmica, possuindo uma cabe- As primeiras máquinas de fax de-
imagem, o utilizador coloca-o na máquina ça de impressão térmica constituída por moravam cerca de seis minutos a
e marca o número no teclado. A máquina centenas de pontas metálicas aquecidas transmitir um documento em A - 4 .
encarrega-se do resto e dá sinal quando a que funcionam em padrões de conjunto. Mais tarde, o tempo foi reduzido a me-
sua missão foi cumprida. Imprimem em papel térmico, o qual pos- tade, e as máquinas modernas levam
0 documento ou imagem a transmitir é sui um revestimento químico que enegre- menos de 30 segundos. Codificam a
passado em frente de uma fonte de luz, em ce quando atacado pelo calor. informação digitalmente, embora ela
geral uma lâmpada fluorescente. A luz re- Certos aparelhos imprimem em papel seja transmitida por sinais analógicos.
flectida pelo documento é dirigida por es- normal, vantajoso porque permite uma ar- Os aparelhos disponíveis na década
pelhos e através de uma lente para um dis- mazenagem mais demorada sem se estra- de 90 codificarão e transmitirão digi-
positivo chamado CCD (charged coupled gar. Podem utilizar uma impressora a laser talmente, diminuindo para quatro ou
device, semelhante mas mais simples que ou utilizar a transferência térmica, em que cinco segundos o tempo de transmis-
os das câmaras de vídeo — v. Televisão, uma folha de tinta é interposta entre a ca- são de uma folha A-4.
p. 218), que converte a imagem recebida beça da impressão térmica e o papel nor

Em segundos. Após a erupção do monte. St. He


lens, nos EUA, este oficial de uma equipa de soco/
ro foi fotografado. As ampliações mostram o fac-
símile. constituído por pontinhos minúsculos, que
são codificados sob a forma de sinais digitais e en-
viados por telefone.
l . U M U lUm.lUINA.'

Nas copiadoras antigas, aplicava-se o es-


têncil em volta de um tambor rotativo. A
O "bip" que nos chama maioria das actuais fotocopiadoras utiliza
também um tambor rotativo, mas é a ima-
gem do documento a copiar que é projec
Os executivos e os técnicos atarefados po- traços do alfabeto Morse. Quatro "bips" tada neste por meio de espelhos e lentes. É
dem usar consigo o seu sinal eléctrico pes- prolongados, por exemplo, poderão signi- este sistema óptico que permite a alteração
soal — como se fosse uma campainha de ficar "fale para o escritório". Os tipos mais das dimensões da imagem. O tambor tem
algibeira— que os avisa de que alguém os sofisticados podem dar pequenos recados um fino revestimento de semicondutor
está a procurar. Os médicos durante as ou arquivar mensagens. que conduz a electricidade quando ilumi-
suas visitas num hospital, por exemplo, 0 sistema é conhecido por radio pag- nado (fotocondutor) e que é inicialmente
podem ser chamados a determinada en- ing. Uma rede pequena pode chamar até carregado com electricidade estática. Os
fermaria, bem como os bombeiros em ser- 100 receptores, seja separadamente, seja espaços em branco do original reflectem a
viço podem receber um alarme de fogo. simultaneamente, em grupo. Cada recep- luz para o tambor, pelo que a carga eléctrica
0 avisador de algibeira, ou "bip-bip", tor tem um número, e o controlador faz o é retirada. As áreas pretas do original não
como é conhecido devido ao som que contacto transmitindo esse número segui- reflectem a luz, deixando assim a carga so-
emite, é um radiorreceptor em miniatura do da mensagem desejada. bre o tambor. Estas áreas carregadas
alimentado por pilhas e sintonizado com Os serviços de paging a longa distância atraem um fino pó negro, o toner. que vai
uma estação. O "bip" é dado por um pe- são operados por empresas comerciais formar a imagem sobre o papel da cópia.
quenino cristal que vibra e produz som que transmitem mensagens aos "bip- Numa copiadora a cores, o original é
quando atravessado por sinais eléctricos. bips" dos seus assinantes a partir de uma "varrido" três vezes e exposto sobre o tam-
Estes são gerados nos circuitos electróni- sala de comando. Todos os sistemas têm bor através de três filtros que o separam
cos do aparelho e desencadeados por um de ser autorizados, sendo-lhes atribuída nas três intensidades diferentes das três co-
sinal de rádio activado pelo carregar de um uma frequência, em geral ao redor da ban- res primárias da luz — vermelho, azul e
botão na unidade central. da dos 27 MHz. 0 raio de acção varia con- verde. As cores são recriadas na cópia pelo
0 "bip-bip" mais simples pode emitir forme a potência do emissor, mas situa se, emprego de loners das três cores secundá-
vários sinais diferentes, corno os pontos e em geral, entre os 50 e os 65 km. rias - magenta, anil e amarelo - e do
preto. Como sucede na impressão a cores,
a imagem é impressa em quatro fases —
primeiro as áreas com amarelo, depois as
Fotocopiadoras — imprimir sem tinta áreas com magenta, a seguir as áreas com
anil e finalmente as áreas com negro.
As mais recentes copiadoras a laser con-
Até à década de 40, fazer cópias de um pias reduzidas ou ampliadas, e mais es- seguem uma reprodução a cores mais pre-
documento ou de um desenho envolvia a curas ou mais claras que o original. Com a cisa. A imagem original, varrida três vezes, é
fotografia ou a preparação de uma matriz pressão de uma tecla que comanda um projectada sobre um painel de elementos
em estêncil destinada a um copiador mu- microprocessador electrónico, podem fa fotossensíveis, chamado CCD (charge-
nido de uma almofada de tinta. zer cópias de ambos os lados da folha. •coupled deuices), que a converte em si-
As modernas fotocopiadoras utilizam a As copiadoras electrostáticas actuais nais eléctricos. Os sinais vão alimentar um
electricidade estática - sem o emprego de descendem de uma máquina inventada laser que os transmite como sinais lumino-
tintas. Podem produzir até 135 cópias a em 1938. Carlson chamou ao seu processo sos e constrói a imagem linha a linha sobre
preto e branco por minuto, bem como có- xerografia, do grego "escrita a seco". um tambor fotocondutor electrificado.

COMO FUNCIONA UMA FOTOCOPIADORA Onqinjl

Original
Tambor

Tambor
-
O tambor cê carregado
\s IUIUUUI iu(/txuuu As
f%o áreas pretas
da
uivu.i jjrctux uu O
\s toner
l i m e i projectado
//H/J^Í.IUUÍJ sobre
.tíjuicr O\Jpapel,
fmuvi, carregado
ct/»»l'
com electricidade imagem sobre o tambor o tambor é atraído pelas electricamente
Cópia — OKtAtífn
estática nn
ao nnw/ir
passar íttJO têmI119
não lAm luz. pelo que
noln niie suas
cimv áreas carregadas,
/irc/iv mrroanrin^ atraino Innpr
ntrni toner, rique
num sensibilizador a carga se mantém. que correspondem às é fundido sobre ele por
A luz de uma lâmpada flúores de alta voltagem. áreas negras do original, um rolo aquecido
cente ou de halogéneo varre o Luz reflectida,
do original Toner
original por meio de. um espe Sensibilizador
lho que se desloca, projectando :
a imagem sobre um tambor ro

ff
tativo carregado com electrici
dade estática. O tambor está re-
vestido de uma substância que
conduz electricidade quando
Tambor ^fc
sobre ela incide luz.

Sensibilizador
231
CUMU KUNUUNAY

Como a câmara fotográfica regista o instante fugidio

Máquina gigante. .4 Chicago Railmay Company, dos EUA, utilizou esta câmara para fotografar uni comboio de luxo em IÍMX) - era a única
forma possível de o registar por inteiro. Esta câmara fotográfica linha 4 m de comprimento e registaua fotografias do tamanho de uma porta.

A Iconologia eliminou grande parte do ele A câmara fotográfica


menlo "incerteza" no momento de foto- A objectiva de vidro é o olho da
grafar. Existem, hoje em dia, câmaras auto máquina. Quando os raios de luz
máticas computorizadas que focam por si, atravessam o vidro, afrouxam
ajustam os próprios comandos e fazem porque o vidro 6 mais denso que
avançar o filme depois de cada disparo. o ar, e todos esses raios (menos
Todas as câmaras fotográficas funcio- os que incidem no vidro a 90")
nam segundo o mesmo princípio, o da são desviados, ou refractados.
comera obscura: quando pressionamos o Nas objectivas fotográficas, as
disparador, accionam-se as cortinas, ou lentes que as constituem têm
lamelas, do obturador durante um mo- uma forma tal que raios lurni
mento muito breve e a luz passa através da nosos paralelos reflectidos
objectiva para o interior da camera obs- pelo assunto
cura até chegar à película. Os raios lumino- que fotogra-
sos, ao atravessarem a lente, invertem-se e fámos vão
produzem uma imagem da cena real que convergir
fotografámos, imprimindo se sobre a pelí- para um pla-
cuia fotossensível, que obviamente se en- no - o pia
contra na parte posterior da câmara foto- no de
gráfica, ou seja do lado oposto à objectiva. foco.
0 processamento químico da película
completa as reacções físico químicas que
se iniciaram quando da incidência dos
raios luminosos sobre ela, transformando
a imagem latente em imagem visível.
A impressão sobre papel completa o ci-
clo que nos permite obter a fotografia

232
*_\_>jvn_/ rui'i\-.ivjiirt:

Ao prepararmos uma fotografia, deve 50 mm, e o respectivo "ângulo de cobertura" do número / anterior, conforme se avança
mos estar à distância certa do objecto para é de cerca de 45°. Muitas câmaras permi- ou recua na escala por exemplo, a luz
que os raios luminosos que penetram na tem acoplar objectivas intermutáveis com que passa através de #5,6 corresponde ao
nossa câmara se foquem sobre a película, diferentes distâncias focais ou então objec- dobro da que passaria através de f/S; e a
dando uma imagem nítida. A distância tivas "zoom" com distância focal ajustável que passa através de f/U corresponderia a
adequada depende da objectiva utilizada. pelo fotógrafo (variável), por exemplo de metade da que passaria através de f/S.
A maioria das câmaras manuais possui 35 até 70 mm ou de 28 até 150 mm, etc. O obturador, que se abre para deixar
um regulador de focagem que desloca a Para que uma fotografia não fique nem chegar a luz a película, fica entre a objecti-
objectiva para permitir fotografar objectos "clara" nem "escura", a película deve sofrer va e a película. Nalguns modelos de câma-
a distâncias diferentes. A câmara tem, em uma exposição adequada à luz. A exposi- ras, fica situado na própria objectiva logo
geral, um indicador de distâncias, ou telé- ção adequada é encontrada através do foto atrás do diafragma, noutros modelos fica
metro. Algumas câmaras automáticas fo- metro e controlada em simultâneo pela re- situado junto à película. 0 lapso de tempo
cam-se a si próprias, ou seja autofocam-se. lação diafragma e obturador. O diafragma em que se mantém aberto ehama-se tem
Em função do diafragma escolhido, pode- encontra-se dentro das objectivas e geral- po de obturação ou de exposição, e pode ir
mos obter mais ou menos nitidez para lá e mente concêntrico com elas e é constituí- desde as obturações muito rápidas de
para cá do plano que optámos por focar: é do por lâminas, produzindo uma abertura 1/4000 de segundo até às lentas, de segun
o que se chama profundidade de campo. maior ou menor. O diâmetro da abertura é dos, minutos ou mais. Os tempos de expo-
As câmaras modernas têm objectivas regulado por um anel exterior na objectiva, sição rápidos são indispensáveis nas foto-
compostas — conjuntos de lentes de vi- no qual os seus valores são indicados pelos grafias de acção rápida, a fim de podermos
dros e formas diferentes - que eliminam chamados números /. O número f é tanlo "congelar" o movimento para que a ima-
as distorções inevitavelmente verificadas maior quanto menor é a abertura. gem não fique "tremida". Usam se pelícu-
numa objectiva de lente única. Na câmara Nas objectivas mais usuais, geralmente las rápidas (de grande sensibilidade à luz)
comum de 35 mm — que corresponde à a escala de números f varia entre f/22,16,11, em conjunto com as exposições muito rá-
largura da película —, a distância focal da 8, 5,6, 4, 2,8,2 e 1,4. Cada abertura permite pidas para se aproveitar ao máximo a pou-
objectiva chamada " n o r m a l " ronda os a passagem de metade ou rio dobro da luz ca quantidade de luz que entra na câmara.

COMO A CAMARÁ UTILIZA A LUZ Visot


Quando se faz uma fotografia, o objecto
que se vê através do visor é registado na
película durante o breve momento em que
o obturador se abre e deixa passar luz atra-
vés da objectiva. A película está revestida
por uma emulsão que é quimicamente
afectada pela luz. As películas "rápidas"
são mais sensíveis à luz do que as "lentas",
pelo que podem ser utilizadas em condi-
ções de menor iluminação. A rapidez da
película vem indicada na caixa e no rolo
pelo seu valor ISO. Quanto mais alto esse
número, maior a sensibilidade da película.

Objectiva

Película
Um obturador comum é

m constituído por duas "corti-


nas" que se abrem, forman
do uma fenda que expõe a
película. Quanto menor for a
fenda, mais rápido o tempo
de exposição.
Objecto Pequena abertura Grande abertura Número de
(do diafragma) (do diafragma) exposições

A objectiva da máquina faz con- O diafragma possui lâminas so-


Sensibilidade ^ — j
vergir a luz emitida pelo objecto a breponioeis que formam uma da película (norma ISO) ^
fotografar e projecta a sua ima- abertura de tamanho regulável
gem invertida sobre a película (na em íris. Uma abertura maior deixa Largura
parte de trás da câmara). entrar mais luz na câmara. da película

133
Os tempos de exposição ou ob acompanhar o movimento do mesmo,
luração mais lentos são adequados mas com um tempo de obturação relativa
à fotografia de cenas pouco ilumi- mente longo. Algumas câmaras têm uma
nadas em que não haja movimen posição B no obturador para exposições
lo. No enlanto, o contrário de tudo prolongadas, geralmente superiores ao se-
o que foi dito também pode ser gundo, em que o obturador pode ser fixa-
válido. Por exemplo, do na abertura desejada durante quanto
imagine-se a foto- tempo se quiser. As vezes, escolhem-se
grafia de um objec- tempos de exposição longos para "tre-
to em movimento mer" deliberadamente objectos em movi
c o m a câmara a mento, transformando-os em "formas

Abertura do diafragma. As três secções deste nc


gativo foram expostas a f/5.6, VII e í/22, cada posi
çâo deixando entrar menos luz.

Tempo de exposição. Este negativo foi exposto Resultado final. Com as aberturas e os tempos de obturarão mostrados ã esquerda,
durante 1/15, 1/60 e 1/250 de segundo, dando cada obteve se uma fotografia com três exposições diferentes, desde a sobrexposiçào à
vez menos tempo para a luz actuar na película. Subexposiçâo. 0 melhor resultado foi obtido com 1/60 de segundo e Vil.

Efeitos do obturador. Um tempo efe obturação lento forneceu luz


suficiente paru registar a cena nocturna ern cima. Os faróis dos auto
móveis apresentam se como longas fitas brancas. À direita, um salta-
dor à vara foi congelado" em seis posições, muntendo-se o obtura
dor aberto durante o solto e i/umiriando-o seis vezes com um flash
estroboscópico de alta velocidade de reciclagem.

234
LUMU KUNUUNA?

abstractas". Obtêm-se as mesmas exposi-


ções, ou seja a mesma quantidade de luz a PROPRIEDADES DA LUZ QUE DÃO UMA COPIA A CORES
chegar à película, com diferentes combi-
nações de valores de diafragma e de obtu- A luz solar é composta pelas três cores
rador Por exemplo: como o r75,6 deixa en- primárias, ou principais: azul, verde e
trar o dobro da luz do f/H, usar a abertura vermelho (à esquerda). Todas as cores
/?5,6 à velocidade de 1/250 de segundo é o podem obter-se a partir de diferentes
mesmo que usar f/S a 1/125 de segundo. A misturas daquelas. As cores primárias,
fotografia feita com 1/250 e /'5,G ficará mais duas a duas, produzem as cores secun-
"congelada", no entanto a sua profundida- dárias: magenta (azul e vermelho), ama-
de de campo será menor. relo (verde e vermelho) e ciano (verde e
A maioria das câmaras tem medidores azul). Juntando aos pares as cores se-
de exposição incorporados, os fotóme cundárias, voltam a reproduzir-se as co-
tros, que nos dão as combinações correc- res primárias (à esquerda, em baixo):
tas de diafragma e obturador possíveis de magenta mais amarelo dá vermelho,
utilizar em relação à sensibilidade da pelí- ciano mais amarelo dá verde, ciano mais
cula e à reflexão lumínica do assunto a fo- Composição da luz. A luz "branca" na- magenta dá azul, o azul e o amarelo são
tografar. tural contém três cores primarias oer "complementares", como o são o verde
Por vezes, devido à pouca luz existente melho. verde e azul. Combinadas duas a e o magenta, ou seja qualquer cor adi-
ou à pouca sensibilidade das películas que duas, produzem as cores secundárias - cionada à sua oposta produz o branco
estamos a usar ou porque pretendemos magenta, amarelo e ciano. Combinando ou neutro.
determinados resultados mesmo com luz purés de secundárias (em butxo), obtêm A película a cores tem três camadas,
ambiente .suficiente, necessitamos de utili- se novamente as primárias. As cores que cada uma delas sensível a uma cor pri
zar o flash electrónico. Algumas câmaras se opõem chamam se complementares. mária. Quando se faz uma fotografia,
têm o flash incorporado, noutras existe cada camada reage a uma cor primária e
uma sapata de aplicação para um flash in- forma a imagem em tinta da cor comple-
dependente, outras ainda permitem o uso mentar, a qual é sensível; por exemplo,
do flash separado da câmara por meio de um objecto azul é registado pela cama
cabo conector. O relâmpago do flash tem da sensível ao azul em linta amarela
de ser sincronizado com a abertura do ob- O negativo é então impresso na câ-
turador Na maioria das câmaras, essa sin- mara escura sobre um papel que con
cronização faz-se a 1/60 de segundo, nou- tém camadas fotossensíveis semelhan-
tras a 1/125 ou 1/250 e nas câmaras com tes. Quando a luz normal atravessa o ob-
obturador do tipo "central" qualquer ob- jecto azul do negativo, a tinta amarela
turação está sincronizada com o flash. bloqueia os raios azuis, mas deixa pas-
sar os vermelhos e os verdes. 0 papel
Como reage e funciona a película regista o vermelho e o verde como tintas
A película que regista os raios luminosos é ciano e magenta. Ao olharmos para a
mais uma fita transparente de poliéster ou Registo da luz sobre papel fotografia, a combinação de ciano e ma-
triacetato coberta por um revestimento fo Camada
genta aparece azul.
tossensível de sais de prata ou halogenetos I • sensível
microscópicos numa suspensão gelatino- KODAK 5095
sa A exposição à luz provoca uma reacção
latente nos halogenetos, que no processa
mento químico se decompõem, transfor-
mando se em prata, tanto mais escura
quanto mais luz tenham recebido. O negativo. As coies
emitidas pelo objecto
Para se obter o melhor resultado, tem de aungem a película.
se regular a quantidade de luz conforme a
indicação do fotómelro, senão: luz a me-
nos resulta em subexposição sem porme- " mn"iun ninii"iuii • « HHPUUI
nores, porque a fotografia — ou o diaposi- Mudança de cores. O negativo a cores,
tivo — fica demasiado escura; luz a mais em cima, com as imagens nas cores com-
resulta numa sobrexposição, também A copia. Ao passar I.I.- plementares das reais, produz a cópia
com perda de pormenores por a fotografia através do negativo até em baixo.
ao papel •-••ri cima], as Camadas Camada
ficar clara demais. tintas do negativo expostas sensível
bloqueiam as cores ao .-i,-,ii
As películas com grão maior (mais sen- complementares. Camadas
sível à luz) são mais rápidas a reagir e são não expostas
conhecidas por películas rápidas; as pelí-
culas lentas têm o grão pequeno e necessi-
tam de mais luz para uma mesma exposi
ção correcta. A sensibilidade das películas
está geralmente indicada nas normas ISO
(valor de sensibilidade da International
Standards Organisation, ou Organização As camadas não expostas são Tinta
fixadas e lavadas. As tintas nas
Internacional de Normalização). Quanto camadas expostas recriam as
amarela
maior for o número ISO, mais sensível a cores originais
película.
Vista ampla. Uma objectioa com grande
ângulo de cobertura abarca um campo
mais alargado do que a percepção do olho
humano. Esta vista do Sunset Bouleuard (à
direita) foi feita com uma objectioa tipo
grande angular de 24 mm de distância fo-
cal, com um ângulo de visão de 84". O ân-
gulo grande faz com que a estátua e os edifí-
cios distantes pareçam mais pequenos do
que se estivéssemos a ver a cena à vista
desarmada.
Uma das utilizações da objectiva gran-
de-angular poderá ser a fotografia de inte-
rior em que a objectiva "normal" não CO
briria a cena total que pretendemos regis-
tar — embora os assuntos fotografados
de muito perto apareçam distorcidos. As
grandes-angulares sáo frequen
temente usadas na obtenção de
efeitos especiais.

180 mm

50 mm

'2>\ mm

Sunset Boulevard. A avenida


principal de Hollywood foi foto-
grafada de cerca de 65 m. utili
zando-se diferentes lentes. A fo
tografia de cima foi feita com
uma teleobjectiva com 180 mm
de distância focal. A teleobjecti-
va tem urn campo de visão mui
to estreito (esta cobre apenas
14°), mas produz uma imagem
aproximada. A fotografia do cen-
tro representa a mesma cena fei
la com uma objectioa de 50 mm
de distância focal. O ângulo de
visão é de 45", apraximadamen
te o da percepção do olho huma-
no, o que cobre uma parte maior
da cena.
As teleobjectivas podem ter dl
versas distâncias focais e ângu-
los de visão, permitindo-nos in-
cluir, a partir de um único ponto,
diferentes porções da mesma
cena.

236


Revelação a preto e branco quanto algumas SLRs, entre elas a Hassel taprisma inverte a imagem do espelho e
A primeira fase do processamento da blad, usem rolos 120 - com 60 mm de aprosenta-a "direita" no visor. Quando se
película, a chamada revelação, aumenta as largura -, que precisarão de menor am- carrega no botão disparador, o espelho
reacções químicas iniciadas com a inci- pliação, logo dando maior definição. sobe, permitindo que a luz da imagem in-
dência da luz, transformando a imagem Os dois tipos de câmara diferem princi- cida sobre a película.
latente inicial em imagem visível por de- palmente em dois aspectos. Primeiro, a A compacta é geralmente mais peque
composição e transformação dos sais de maioria das compactas possui apenas ua que a SLR e é mais "fácil" de manejar. Os
prata em prata negra, tanto mais negra uma única objectiva incorporada, en- modelos mais caros podem ter focagem
quanto mais luz tenham recebido. quanto na SLR se pode aplicar uma diversi- automática, exposição automática, uma
Antes de a película revelada poder ser dade de objectivas intermutáveis. Depois, objectiva "zoom" e um motor para avan-
manipulada à luz, tem de ser estabilizada, a compacta tem um visor geralmente inde- çar e rebobinar a película. As câmaras SLR
ou "fixada", isto é, têm de ser removidos os pendente da objectiva, ao passo que a SLR podem ser programadas para exposição
sais de prata não expostos e, consequente tem um visor com reflector por espelho automática de diversas formas - por
mente, não transformados em prata; para que "lê" através da objectiva da máquina. exemplo, para um tempo de exposição es-
tal, introduz-se a película num composto, Com o visor independente, a vista do colhido manualmente a abertura do dia
como o hipossulfito de sódio ou equiva- fotógrafo não coincide exactamente com a fragma "correcta" é feita automaticamen-
lente, geralmente designado por fixador. da objectiva, pelo que, nas fotografias a te. Frequentemente, o fotómetro tem um
Entre o revelador e o fixador, qualquer ma- curta distância, é preciso compensar este indicador no visor que mostra as combina
terial fotossensível que se esteja a proces- erro de visão. Com o visor por reflexão, o ções de abertura e tempo de exposição
sar deverá passar por um banbo ácido, co- fotógrafo "vê" exactamente a imagem que que podem ser usadas. Os modelos mais
nhecido por banho de paragem. irá impressionar a película, porque a luz recentes de SLR têm microprocessadores
que atravessa a objectiva da câmara é re- incorporados que comandam a autofoca-
Para se transfomiar o negativo em cópia
flectida por um espelho para um penta- gem, a auto-exposição e o enrolamento
positiva da cena original, coloca-se o mes-
prisma até chegar à ocular do visor. O pen- automático da película.
mo num ampliador, focando o sobre pa-
pel fotográfico, revestido também com ha-
iogenetos de prata. O ampliador projecta a
imagem negativa sobre o papel, amplian-
do a para as dimensões por nós desejadas,
e expõe o papel à luz. O papel retém a
Câmaras de focagem automática
imagem da mesma forma que a película,
mas como as áreas mais escuras do negati Na fracção de segundo entre o premir do (o transdutor) emite "chilreios" demasia-
vo deixaram passar menos luz, o padrão botão do obturador e a sua abertura, a câ- do altos para serem ouvidos pelo homem
de luz original é agora recriado. Após a mara automática rnede a distância entre a com a duração de 1/1000 de segundo cada
exposição, a cópia é revelada, parada e fi objectiva e o assunto e regula a objectiva um. O disco recebe os ecos do chilreio pro
xada, lavada e seca. para se obter uma focagem nítida. venientes do objecto, e um microcompu-
A maioria das câmaras compactas tem tador incorporado mede o tempo que
Fotografia a cores um pequeno motor eléctrico para accio cada chilreio demora a ir e voltar. A partir
As películas a cores seguem um processo nar um emissor de radiação infravermelha. daqui, calcula a distância ao objecto.
semelhante. Existem em dois tipos dife- O emissor está ligado à objectiva, que se As máquinas SLR com autofocagem
rentes, conforme o seu tipo. A transparên- desloca para a frente ou para Irás quando o usam um sistema electrónico de detecção
cia (diapositivo, ou slide) dá-nos a imagem leixe explora a posição do alvo. O feixe de de fase, no qual a luz que entra na objectiva
directa e positiva para ser projectada num raios infravermelhos c reflectido do objec é separada em duas imagens. Um sensor
écran ou vista num visor. As do tipo cópias to até à câmara, onde um sensor pára o mede a distância entre as duas imagens,
a cores, em papel, resultam de duas fases: emissor quando o sinal mais forte lhe indi- que se encontram separadas por determi-
primeiro obtemos um negativo a cores, ca que a lente está focada. O obturador é nada distância quando a objectiva está lo
que depois é impresso em papel (v. caixa). então accionado automaticamente. cada. Se a distância não está correcta, o
Algumas câmaras possuem focagem sensor faz com que um motor desloque a
Dois tipos de câmara por ultra-sons — um disco revestido a ouro objectiva para trás ou para a frente.
Duas das câmaras fotográficas mais utiliza- "'' Sensor de infraver-
das são a compacta e a SLR {single-lens r J» ^ melhos
reflex, ou câmara da reflexão por lente úni-
ca). Ambas usam película de 35 mm, eon- Emissor
de infravermelhos
Obiecto
A DATAÇÃO DA FOTOGRAFIA
É fácil esquecermo-nos de quando fi-
zemos determinada fotografia, mas
uma câmara dotada de uma peça es-
pecial marca automaticamente a data
nas fotografias. A peça tem um relógio
Feixe
incorporado que mostra a data atra- reflectido
vés de um LED (díodo emissor de luz), de infra- A objectiva
o qual pode ser simultaneamente fo- vermelhos move-se até
tografado na película ou nela impres- se ajustar a focagem
so por meio de um pequenino flash Varrimento por infravermelhos. Em certas câmaras,
interno, ficando gravado no negativo quando se acciona o balão disparador, urn feixe de infruver-
ou no slide. melhos reflecte se no objecto e acciona o obturador quan
do a objectiva se encontra na posição correcta

237
O cristal de silício
Do tamanho de um botão cie camisa, um
quadradinho de silício chega a conter
450 000 componentes electrónicos. Esse
cristal de silício - microchip - é o fruto
das técnicas da microelectrónica, que pro-
duzem circuitos integrados com uma den-
sidade de componentes crescente.
Electronicamente, os circuitos que
constituem um microchip não são espe
cialmente complexos — é o seu tamanho
minúsculo que permite aos sinais através
sarem-nos à velocidade do relâmpago:
por isso, conseguem fazer até 250 milhões
de cálculos por segundo. A maioria dos
circuitos integrados são feitos de silício,
mas alguns são de arsenieto de gálio.

"Chips" para tudo


Há vários tipos de circuitos integrados. Um
microprocessador pode ser um compu-
tador ou o centro nervoso de um compu-
tador maior.
Os de memória armazenam informa-
ções nos computadores em conjuntos de
circuitos idênticos - permanente ou tem
porariamente. Os de interface traduzem os
sinais que chegam ao microprocessador
do exterior em código binário (v. p. 241), Rastreio de uma abelha. As "abelhas assassinas" do Brasil, que destroem as ubelhas
de forma que os circuitos electrónicos pos- domésticas, estão sob a vigilância de um laboratório americano. Aplica-se a abelhas captura
sam trata los. Traduzem igualmente os si- das. que depois se soltam, um microchip com um emissor de infravermelhos. Cientistas captam
nais de saída em números ou palavras para as transmissões e estudam os movimentos das abelhas, tentando controlar a migração.
o écran do monitor. Os circuitos integra-
dos de relógio fornecem a cronometria ne- porla-se cm tudo como um portador com Um tipo de transístor utilizado é consti-
cessária para que todos os circuitos do carga positiva. Por isso, o silício com mui- tuído por duas ilhas de semicondutor n
computador processem os sinais eléctri- tos buracos diz-se do tipo p (positivo). numa base maior do tipo p. Enquanto o
cos na sequência correcta. Cada um deles O número e o tipo de portadores (elec- transístor está "desligado", os electrões li-
está ligado a um cristal de quartzo que vi- trões ou buracos) podem ser também alte vres das camadas n não conseguem passar
bra a uma frequência precisa. rados por potenciais eléctricos; assim, um através da camada/). O transístor é "ligado"
semicondutor do tipo o pode passar a iso- quando se aplica uma voltagem de um cir-
Como o silício conduz a electricidade lador ou mesmo a tipo n por aplicação de cuito separado de baixa potência a uma
0 silício é um semicondutor conduz um sinal eléctrico positivo. Percebe se, porta de alumínio por cima da base/). Esta
electricidade melhor que os isoladores, portanto, como é que os semicondutores diferença de potencial atrai os electrões li
mas pior que os condutores Quando puro, (e nunca os metais) puderam permitir o vres da basep para a poria, formando uma
é praticamente um isolador, porque con- delicado controle da corrente essencial fina região tipo //. Os electrões formam en-
tém muito poucos portadores de carga aos dispositivos electrónicos, dos transís- tão uma ponte entre as duas ilhas /7. forne-
eléctrica livres. No entanto, basta que lhe tores aos microprocessadores - desde cendo uma passagem para a corrente atra
acrescentemos pequeníssimas quantida- que se começou a dominar as técnicas de vés do circuito em que o interruptor está a
des de certas impurezas, chamadas dopai i- crescimento de cristais puros e perfeitos e operar. O transístor é "desligado" quando
tes, para que se torne um bom condutor. da sua dopagem. Um chip é um cristal per se retira a voltagem da porta. Sem a ponte
A razão disto é que cada átomo da impu- feito de silício, no qual são introduzidos entre as ilhas, a conente não pode passar.
reza vai soltar na rede cristalina do silício dopantes dos dois tipos; são as áreas de
um electrão livre — se se tratar de uma diferente dopagem do cristal, juntamente O fabrico de um "microchip"
impureza pentavalente como o fósforo. com camadas de óxido isolador e pistas de Os chips são produzidos às centenas de
Estes electrões livres transportam a corren- metal, que formam os dispositivos electró- (vida vez sobre uma bolacha (wafer) de
te eléctrica; como têm carga negativa, ao nicos que fazem funcionar desde os com- cristal de silício artificial ultrapuro e ultra-
silício "dopado" com fósforo chama-se si putadores às câmaras de vídeo (v. p, 218). perfeito, com uma espessura de décimos
lício do tipo n (negativo). Se, em vez do de milímetro. Os diagramas dos circuitos
fósforo, se incorporar no silício um pouco Como funciona um transístor são preparados em computador, depois
de boro, dopante trivalente, cada átomo Os transístores. os componentes mais vul- reduzidos à escala do chip e aplicados lado
desta impureza dá à rede cristalina três gares de um circuito integrado, são princi- a lado sobre uma chapa de vidro chamada
electrões, um a menos que os quatro do palmente usados como interruptores, dei- a máscara. Como os dispositivos como os
átomo de silício que substitui; esta "falta de xando passar a corrente para representar o transístores são construídos em camadas
um electrão", chamada "buraco", com- binário 1 ou interrompendo-a para o 0. sucessivas do chip. faz-se uma máscara

238
Desenhando um
"chip". Para de-
senhar o plano
de todos os árcui
tos electrónicos,
utiliza-se um
computador Um dese-
nhador altera a imagem
no écran por meio de uma
"caneta" de luz (em cima)
e verifica o plano global
num print-out (à direita,
em cima). As máscaras
para cobertura das áreas
não funcionais cm coda
camada do chip são feitas
com o emprego de um ne-
gativo mestre (à direita,
em baixo) cerca de 250 ve-
zes maior que o chip. 0ne-
gativo é reduzido fotografi- i ; ^ Linhas de memória. Os interruptores electrónicos e condutores que
camente e depois impres- ^JL—ãã aqui se mostram estão ampliados 4000 vezes. Fazem parte de um circui
so sobre o silício. to integrado de memória capaz de armazenar 256 000 dígitos binários.

para cada operação. As máscaras, que ta-


pam as partes não desejadas, são feitas em
tamanho muito maior que o do chip e re-
duzidas depois fotograficamente.
Computadores: máquinas com memória
Os chips são construídos pela formação
de cada camada — camadas tipo p ou tipo Os computadores começaram por ser má- dez de operação dos computadores foi a
n ou camadas isoladoras de dióxido de silí- quinas de somar, mas actualmente, com utilização dos números binários (v. p. 241).
cio - o dissolução química das partes não os progressos da ciência, possuem memó-
desejadas. Isto execula-se tratando a ca- rias capazes de armazenar quantidades in- Funcionamento do computador
mada com um revestimento sensível às ra- críveis de informação e podem ser progra- O computador pessoal típico parece um
diações ultravioletas e expondo-a aos raios mados para "pensar". aparelho de televisão com um teclado por
ultravioletas através da máscara. O computador "pensa", ou "raciocina", baixo do écran. O programa, que é uma
Certas partes, como os contactos de alu- ao escolher continuamente entre duas al- lista de instruções ao computador por
mínio, são depositadas por condensação ternativas para chegar a uma decisão logi- cada tarefa a cumprir, está habitualmente
de vapor do metal. O alumínio é depois ca. Embora apenas possa raciocinar den- contido hum disco magnético que é intro-
sujeito ao processo acima descrito, termi- tro dos limites do seu programa, consegue duzido na máquina. As informações são
nando com a sua dissolução nas zonas em apreciar enormes quantidades de infor- depois introduzidas através do teclado.
que não deve existir, ficando apenas nas mações com muito mais rapidez que o cé- Os programas são denominados soft-
regiões onde forma pistas de interligação rebro humano. ware (literalmente, "artigos macios"). O te-
dos circuitos e nas sapatas de contado nos 0 computador canaliza as informações clado, o écran e as partes funcionais do
bordos do chip. fazendo passar correntes eléctricas por di- computador são designados por hardwa-
Todos os circuitos integrados formados versos circuitos. Antes do advento do chip re ("artigos duros"). Os programas são es-
em cada chip de uma bolacha são testa- de silício, na década de 70, estas máquinas critos em diversas linguagens de compu-
dos. Após os ensaios, a bolacha é cortada eram muito maiores e mais lentas, porque tador, como o BASIC (Beginner's Ali pur
ao microscópio em chips individuais. Os os seus interruptores eram milhares de vál- pose Instruction Code , ou Código de Ins-
chips bons são montados numa base que vulas volumosas, mais parecidas com lâm- truções Polivalentes para o Principiante), o
se encapsula em plástico. As sapatas de padas eléctricas. Os modernos compu- COBOL (Cornmon Business Oriented Lan-
contacto sào ligadas a terminais de metal tadores são do tamanho de uma pequena guage, ou Linguagem Vulgar de Aplicação
por fios de ouro e os terminais são ligados a mala e executam milhões de operações Comercial) e o FORTRAN (FORmula
pernas de contacto salientes, que fazem a por segundo. TRANslation, ou Tradução de Fórmulas),
ligação ao circuito externo. Outro factor que contribuiu para a rapi usadas nos problemas científicos e mate

239
máticos. As linguagens consistem
em palavras c abreviaturas simples
e têm de ser compatíveis com o
código do computador em que
são utilizadas (página seguinte).
O coração do computador é
um chip microprocessador que
comanda as operações da memó-
ria e a unidade de aritmética e lógi-
ca que processa a informação. Um
chip de relógio sincroniza todas as
operações e um outro chip interfa-
ce converte os números binários
em números ou letras normais
para serem lidos no écran.
As informações processadas
podem ser impressas em papel,
cm geral por uma impressora li-
near, que possui uma roda ou uma
corrente que imprime os caracte
res sobre o papel linha a linha ao
ritmo de cerca de 2000
caracteres por minuto.

A memória Aviáo garrido. Esta imagem codificada a


O c o m p u t a d o r tem cores no écran de um supercomputador
duas memórias incor- Cray mostra a pressão do ar sobre um vai-
poradas, ambas forma- vém espacial. Foi utilizada para cálculo das
das por micfochips. A pressões ã superfície.
memória principal ar-
mazena temporaria- ras de escaninhos. Cada escaninho da me-
mente aquilo que eslá a mória RAM é um interruptor de transístor e
ser processado e é de- um capacitador que contém uma carga de
signada por RAM (Ran- sinal único.
dom Access Memory, Na memória ROM, contudo, os escani
ou Memória de Acesso nhos onde as cargas estão armazenadas
Não Sequencial). Pos- são aparelhos semicondutores denomina
sui um comando leitu- dos díodos — que permitem a passagem
ra/escrita que permite da correme num único sentido. Krn ambas
ao utilizador não só ler as memórias os escaninhos estão agrupa
as informações como dos para armazenagem de bytes — unida
alterá-las. Esta memória des de dígitos binários, tipicamente de S ou
é apagada uma vez exe- 1C. Quando o computador recebe as suas
cutado o trabalho e des- instruções, envia uma mensagem ao esca-
ligado o computador. ninho adequado. Os bits (sinais eléctricos)
A segunda memória é deixam a memória e dirigem-se à unidade
a ROM (Read Only Me- de processamento por um sistema de
mory, ou Memória Somen transferência denominado data bus.
te de Leitura), que constitui o Trabalho quente. Os computadores possuem também
armazém do computador e Mais de 200 000 micro- uma armazenagem de apoio (back-up)
cujo conteúdo não se perde chips funcionam no pro-
{[liando aquele é desligado. As infor- cessador do supercom-
mações da memória ROM, tais como a lin- putador (em cima). Levou 20 horas a tra-
guagem da máquina e os programas incor tar os dados para o lançamento do vai-
porados, não podem ser alteradas. vém (ao alto). O ritmo de trabalho de um
Kmbora não seja maior que um botão bilião de operações por segundo é tal que
de camisa, o chip de memória contém cer- gera calor suficiente para derreter a má
ca de 450 000 peças electrónicas ligadas quina. Por isso, esta é regada com um
por circuitos Ião finos que seriam precisos liquido refrigerante enquanto trabalha.
quase 24 milhões para preencher urna es-
pessura de 1 cm. Kxístem actualmente Supersimulador. Os supercom
chips que podem armazenar até 1 048 576 putadores com processadores (à
dígitos binários {bits. de binary digits). Na direita) podem executar biliões
gíria dos computadores, a sua capacidade de cálculos com suficiente rapi
será de 1024-K - K significa quilo e repre dez para construir as imagens
senta 1024. A memória apresenta se mais das condições atmosféricas em
ou menos como um dos velhos armários alteração que sáo necessárias
de separação do correio, com fileiras e íilei- pura as previsões meteorológicas

240
LUIVIU rUIN^IUINA.'

QUE SÃO NÚMEROS BINÁRIOS?


É natural que o computador conte em
conjuntos de dois, uma vez que tem
Como as calculadoras fazem somas
de decidir entre sim e não para cada
passo dos seus processamentos. As espantosas capacidades da calculadora com que os circuitos de comando en-
Nos números de todos os dias, os dependem de um chip de silício c o m viem os sinais que representam os nume
dígitos de 0 a 9 são lidos da esquerda 6 mm de lado capaz de processar cerca de ros a unidade aritmética e lógica, que
para a direita e baseiam-se nas potên- meio milhão de sinais electrónicos que re- procede aos cálculos, tsta envia os nú-
cias de 10. O número 110, por exem- presentam os números envolvidos nos meros através dos seus circuitos por
plo, é a soma de uma centena mais cálculos. São possíveis até 400 000 opera- meio de interruptores, designados por
uma dezena mais zero unidades. ções por segundo, reguladas por um reló- portas lógicas, que "ligam" para 1 e "des-
O sistema binário usa apenas dois gio de cristal de quartzo que c ligado ao ligam" para 0. Estas portas funcionam de
dígitos — o 0 e o 1. Os números são mesmo tempo que a calculadora. acordo com a álgebra de Boole, criada
lidos da direita para a esquerda e ba- Quando se carrega numa tecla marca- pelo inglês Georges Boole na década de
seiam-se nas potências de 2. Partindo da com um dos dígitos entre 0 e 9, os 1840. As suas noções essenciais são a de
da direita, cada dígito dobra de valor: circuitos convertem-no automaticamen- que toda a afirmação ou é verdadeira ou é
1, 2, 4, 8, 16, e assim por diante. Por te em números binários. As teclas dos nú- falsa e a de que, quando duas afirmações
isso, no sistema binário os dígitos meros enviam impulsos electrónicos a se combinam, ou as duas são verdadeiras
1-1-0 equivalem a 6 (0+2+4), e o nú- uma parte do chip chamada registo para ou uma ou ambas são falsas.
mero 110 é como se mostra em baixo. armazenagem temporária. Quando se A calculadora utiliza três tipos funda
pressiona uma tecla de função, como a mentais de porta lógica para avaliar cada
Número decimal 110 em sistema binário
"mais", esta envia um sinal aos circuitos passo dos seus cálculos como I ou como
Valores binários
de comando noutra parte do chip. Carre- 0 equivalente ao "verdadeiro" ou "falso".
gar na tecla "igual", para a resposta, faz Duas das portas, a porta K e a porta OU,
128 64 | 32 | 16 | 8 | 4 | 2 | 1 |

Dígitos binários
COMO AS PORTAS IOGICAS SOMAM 3 COM 2
Dígitos
Somar 3 mais 2 em números binários pode a serem
| 0 I 1 | 1 0 o demonstrar-se no papel como segue: somados

Cálculo
Valor do digito 8 4 2 1 Porta E
Entram 0.0 sai 0

H H
64 + 32 + 0 + 8 + 4 + 2 + 0 = 110 Número binário 3 0 0 11 (2+1)
Entram 0.1 sai 0
Número binário 2 0 0 10 (2+0) Entram 1.1 sai 1
No computador, as palavras são ar-
Resultado etc. (51 0 1 0 1 (4+1)
mazenadas sob a forma de números Porta OU
binários. Km linguagem BASIC, a pa- Entram 0.0 sai 0
Em qualquer soma binária há quatro resul- Entram 0.1 sai
lavra LOAD ("carregue" ou "armaze-
tados possíveis: H^ Entram 1.1 sai
ne") poderia ser processada assim: ^z.
BASIC Número binário
0 + 0 = 0 (e vai nada)
0 + 1 = 1 (e vai nada)
Bit de
"vai u m "
NÃO
7 Porta N Ã O
Entra 1 sai 0
Entra 0 sai 1
L 100 1 100
1001111
1 + 0 = 1 (e vai nada) •\
0 1 + 1 = 0 (e vai 1) Resultadc
A 1000001
D 1000 100 Por isso, na coluna dois da soma acima, 1 + "Half adder". Cada par de dígitos, pura
+ 1 = 0 , porque representa 2 + 2 em núme- serem somados, passa pelas portas lógicas
ros de todos os dias, e o resultado, 4, é E, OU e NÃO com destino a uma porta E. A
para infonnações extras. Como os progra- transportado para a terceira coluna. primeira porta E produz o bit de "uai um".
mas, ela é habitualmente contida em dis-
cos magnéticos que são introduzidos na
máquina. As informações codificam-sc se- 1 3+
gundo um padrão magnético, e o compu 0 2
tador lê o disco ou escreve nele por meio
de uma cabeça electromagnética.
Há dois tipos de discos — os discos du
ros (hard disc), feitos de metal, e os discos
moles (floppy discs), feitos de plástico.
Os discos duros têm 10 a 30 vezes mais
capacidade de armazenagem de informa
ção que os outros e respondem cerca de Segundos
100 vezes mais rapidamente, mas são de -, half
preço mais elevado. adders e
portas OU
A fita magnética também pode ser uti- adicionais
lizada como grande armazém de dados
de computador, mas as informações
obtêm-se mais lentamente. Se quere-
mos a informação contida no fim da fita, «Fuli adders». São constituídos por dois half adders e uma porta OU adicional que transpor
1 =5
temos de a percorrer toda desde o prin- ta os dígitos para a coluna seguinte. O segundo half adder recebe o bit de "uai um" e o
cipio. resultado do primeiro half adder, os quais sâo processados como no primeiro half adder.

241
COMO FUNCIONA?

recebem cada uma dois dígitos e transmi- ma qu


tem um. A porta F. só deixa passar 1 se ne aní
receber dois uns, a porta OU deixa passar 1 Como os bancos
se houver um I no par recebido. A terceira,
a porta NÂO, só recebe um dígito, que faz guardam •
<m se esti
do se
dades
^

1
passar invertido.
Estas três portas em conjunto são capa o dinheiro Trani
zes de fazer somas, que são a base de todos Os CÍ
os cálculos — a subtracção é uma soma em segurança p nome
negativa, a multiplicação é uma soma re- M\ prazo
pelida e a divisão é uma subtracção repeti- sado
da. As portas lógicas estão em unidades A vida está cada vez mais dura para os ar- l|: mite
chamadas half udders, ligadas em Conjun- rombadores, pois os cofres modernos es- JH|// ladoí
to para formar full udders. Processando os tão preparados para resislir-lhes. que •
sinais através destas adders, a calculadora O corpo do cofre é formado por uma
é capaz das mais complicadas somas. "sanduíche" resistente com espessuras até
12 cm, constituída por chapas de duro aço
— De seixos a "chips" — liga soldadas entre si, com um enchimento
de materiais cerâmicos ou betão especial.

0 ábaco, provavelmente apare-


cido na China há milhares de
anos, foi a primeira calculadora. A
Pode ainda haver camadas de material re-
sistente ao fogo ligadas à parte interior das
chapas de aço, e o enchimento pode ser
reforçado com rede de arame de aço ao
contagem é feita pela movimenta-
ção de contas ao longo de uma ar- carbono. Contém ainda, por vezes, blocos
mação de arame. 0 nome deriva de de um material cerâmico muito duro desti-
abax, que significa "laje" em grego, nado a embolar as brocas.
provavelmente porque contar se fa- A porta do cofre não é apenas fechada à
zia em tempos com seixos coloca- chave, mas possui fortes ferrolhos de aço Missáo quase
dos em concavidades sobre uma laje que penetram nos quatro lados da moldu- impossível. Esta pesada
ou no chão. ra da porta. Esles ferrolhos são corridos porta de aço inoxidáoel guarda importantes
A régua de cálculo, inventada por por meio de urn manipulo que só funcio- valores. Os ferrolhos que correm para o inte-
volta de 1620 pelo matemático inglês na quando a porta não está fechada à cha- rior da moldura da porta são perfeitamente
William Oughtred, utiliza os logarit- ve. Alguns cofres estão ainda equipados visíveis. A grade por detrás da porta destina
mos que tinham sido inventados por com um mecanismo que desliga os ferro- -se a proteger o pessoal que trabalha na
John Napier anteriormente, mas já Ihos do manipulo assim que a porta é fe- casa-forte quando a porta está aberta.
no século xvii. O francês Blaise Pascal chada à chave.
patenteou a primeira calculadora Muitos cofres têm um dispositivo antiex
mecânica em 1647, quando tinha plosivos. Se alguém tenta abri-los por meio
apenas 24 anos. Tinha um sistema
de engrenagens de rodas dentadas.
de explosão, esse dispositivo dispara ime-
diatamente um mecanismo que bloqueia
Como os cartões
Ootlfried l.eibniz, alemão, aperfei-
çoou esta máquina em 1673.
os ferrolhos por forma que não possam ser
retirados. Há dois tipos de dispositivos: um
de plástico dão
A mais perfeita máquina de cal- tem de ser armado de cada vez que a porta
é fechada; o outro não — só funciona por
dinheiro e crédito
cular seria o engenho analítico de
Charles Babbage, projectado na dé- explosão ou calor.
cada de 1830, mas nunca construído. Quando se introduz o cartão de plástico
A sua máquina poderia, teoricamen- Com chave e fechadura numa caixa automática, um dispositivo de
te, executar qualquer tipo de cálculo Os cofres são geralmente fechados com fe- pesquisa — uma cabeça electromagnética
matemático, e, em 1843, Lady Ada chaduras de segredo porque as chaves são de gravação e apagamento - verifica a tar-
Lovelace publicou programas para a fáceis de duplicar e as fechaduras de chave ja castanho-escura da parte de trás do car-
sua utilização. Seria a precursora dos são mais fáceis de abrir com gazua. Além tão. Esta tarja é uma fita magnética seme-
computadores actuais. disso, os buracos de fechadura são bons sí- lhante à utilizada nos gravadores de som e
tios para colocar explosivos. Alguns cofres contém três pistas que podem armazenar
Fazendo as contas. Esta gravura do têm fechaduras de chave e de segredo. até 226 leiras ou algarismos. Uma pista
século m mostro um cambista utili- A maioria tem um segredo de quatro tem o número da conta, outra o limite de
zando um ábaco rodas com 100 números em cada roda. A crédito e a terceira verifica se o PIN (perso-
dobrável. marcação dos números correctos no con nal Identification number), o código pes-
junto das rodas faz alinhar reentrâncias soal secreto, está certo.
que permitem que o ferrolho corra na fe- Quando se marca nas teclas o código
chadura. O número do segredo pode ser pessoal correcto, a máquina, que está liga-
mudado à vontade e escolhido entre os 100 da ao computador do banco, verifica se o
milhões de comhinações possíveis. limite de crédito não foi excedido, se a con
As casas-fortes dos bancos possuem ge ta tem provisão e se não há indicações de o
ralmenle fechaduras de segredo com um cartão ler sido perdido ou roubado. Se
sistema de abertura programada: nem tudo estiver em ordem, subtrai ao saldo
mesmo a combinação certa abre a por- existente o montante pedido e inscreve o
t a — a não ser às horas marcadas na fecha- novo saldo antes de entregar o dinheiro.
dura de relógio. Os cartões "credifone" trabalham de for-
C U M U rum.iuiNttí

ma quase idêntica —um scanner no telefo cancelar futuras transacções imediata


ne analisa as pistas do cartão para verificar mente após o anúncio da perda de um
se este possui unidades por utilizar. Quan-
do se faz uma chamada, são apagadas uni-
cartão, e não aceita um cartão falsificado.
No entanto. OS cartões de tarja magnética
Como as caixas
dades na quantidade correspondente. estão a ceder o lugar aos chamados car-
tões "inteligentes" (smart cards).
dos
Transferência electrónica de fundos
Os cartões de crédito modernos têm o
Estes cartões incorporam cérebros
electrónicos miniaturizados. Foram inven-
supermercados
nome do utente, o número da conta e o
prazo de validade. Quando o cartão c pas-
tados em 1974 por um francês. Rolaiid Mo
remo. O cérebro do cartão inteligente é um
lêem os códigos
sado na máquina do vendedor, esta trans-
mite os respectivos elementos ao compu-
minúsculo chip de silício ullrafino (v. p.
238) que contém um registo do limite de
de barras
tador da instituição do cartão de crédito, crédito do utente e pormenores sobre
que demora cerca de 15 segundos a verifi transacções anteriores. Todo o lojista tem de saber quais OS artigos
car se não houve queixa de perda ou roubo Quando se faz um pagamento com o que estão a vender-se bem o quais os que
do cartão e se o limite de crédito foi respei cartão, o retalhista fá-lo passar por um ler saem com lentidão para poder gerir as
lado. Se tudo estiver em ordem, o compu- minai existente no balcão e o cérebro do suas existências. Nas lojas pequenas, urna
tador autoriza a transacção e a máquina cartão procede às suas próprias verifica contabilidade cuidada e um olhar às prate-
apresenta um recibo para ser assinado ções — não precisa de se servir do compu- leiras podem chegar para colher todas as
pelo utente. tador da empresa emissora do cartão. O informações necessárias. Mas os super-
Este processamento por meio de car terminal do balcão tem registos dos car mercados e outras grandes lojas precisam
toes de crédito é designado por EftPos toes perdidos e roubados; por isso, se um de registos rápidos e seguros de um fluxo
{electronk funds transfer ai poirtí of sale, cartão dessa lista é introduzido como pa- de mercadorias muito maior. É por isso
ou seja transferência electrónica de fundos gamento, a transacção é automaticamente que utilizam os códigos de barras que se
no local da venda). Estes sistemas aceitam cancelada e o cartão inutilizado para que encontram impressos nas embalagens.
também cartões de débito — cartões ban- não possa servir novamente. O terminal do O código de barras é lido por um scan-
cários que podem ser utilizados em paga- balcão transmite ao computador da em- ner de laser, que o transmite a um compu-
mentos cm vez de cheques e que debitam presa informações sobre a transacção. tador. Este fornece os pormenores e o pre-
instantaneamente a conta bancária do Embora estes cartões contenham todos ço dos artigos, apura o total das contas e
utente. Antes de existir a transferência elec os elementos sobre as transacções do titu- envia estas informações à caixa registado-
Irónica, os elementos dos cartões de crédi- lar, este não tem forma de os consultar, ra, que imprime um recibo. O computador
to tinham de ser verificados por telefone excepto numa máquina especial. O cartão regista ainda a venda para efeito de gestão
sempre que as compras excedessem certo supersmart ultrapassa esta dificuldade — de stocks.
limite. 0 sistema da transferência electró- ele tem um pequeno visor e um teclado no Os códigos de barras mais vulgares são
nica diminui o número de fraudes com car- qual o utente pode verificar as transacções o EAN (Kuropcan Article Numbers, ou seja
tões de crédito, pois o computador pode e o saldo da sua conta. números de artigos europeus), baseado
num número com 13 algarismos, e o UPC
(Universal Product Code, ou Código Uni-
CARTÕES COM REGISTOS DA NOSSA SAÚDE - E DO QUE SE QUISER versal de Produtos), baseado num número
A era do cartão de crédito alvoreceu em a ser usado ainda na presente década. de 12 algarismos. Cada algarismo é repre-
1950 com a introdução do cartão do Di- Existem ainda os cartões laser, cria- sentado por uma série de segmentos de
ners Club pelo empresário americano dos na Califórnia, EUA. Não são tão "in- recta paralelos e de espaços brancos. O
Prank McNamara. A ideia surgiu-lhe ao teligentes" (smart) como os cartões scanner de laser traduz a informação em
descobrir, depois de jantar num restau- smart, mas podem conter muito maior sinais dígitos binários (p. 241), que intro-
rante de Nova Iorque, que tinha perdido quantidade de informações pessoais duz no computador.
a carteira. O cartão do Diners Club não é sob a fonna de minúsculos furos - com O código dá ao fabricante pormenores
estritamente um cartão de crédito, por- o diâmetro de apenas um milésimo de sobre o produto e o tamanho da embala-
que o total da conta tem de ser pago milímetro —sobre uma tarja fotossensí- gem e inclui um código de segurança que
quando se recebe a factura — grande vel. Os furos, como as concavidades e os evita que alguém o altere ou que o scanner
parte dos outros cartões permitem que planos de um disco compacto, podem o leia erradamente. O computador dá o
o utente mantenha um saldo devedor. ser lidos por um scanner de laser num preço a partir da tabela respectiva, pelo
Hoje em dia, há milhares de milhões terminal especial. que a única maneira de alterar o preço de
de cartões de crédito em uso no Mundo. O cartão pode arquivar pormenores um artigo é alterá-lo no computador.
No fim da década de 80, certas autori- de identificação codificados, incluindo O laser lê o código de barras por meio de
dades médicas da Europa, dos EUA e do impressões digitais, assinatura, impres- um feixe de luz que o varre de um lado ao
Japão começaram a experimentar a uti- são vocal e mesmo uma fotografia, além outro. É sensível para ler da esquerda para
lização de cartões de identidade médi- de diversos códigos de segurança secre- a direita ou vice-versa. Embora os códigos
cos - cartões smart (inteligentes) con- tos que o tomam praticamente impossí de barras sejam geralmente impressos em
tendo a história clínica do titular. Estes vel de falsificar. O seu espaço de armaze- preto sobre fundo branco, este pode ser de
cartões poupam tempo e burocracia, nagem de informações é tão vasto que qualquer cor clara ou pastel, e o laser pode
pois podem ser consultados pelos médi- sobra ainda muito para contas bancá- ler um código impresso em qualquer cor
cos e pelos farmacêuticos nos terminais rias, história clínica e habilitações literá- escura menos o vermelho.
de computador actualizados de cada rias. As informações são arquivadas no O sistema de códigos de barras é mais
vez que o paciente é examinado. Os pro- cartão sob códigos de acesso separa rápido e seguro do que os outros. O erro
gramas de ensaio europeus têm como dos, de modo que o banco, por exem- humano é limitado porque o pessoal não
objectivo um cartão smart normalizado plo, só pode ler dados financeiros, e o tem de marcar o preço em cada artigo, e os
dentro da CEE, para assistência e saúde, médico, dados clínicos. caixas não têm de os marcar nos seus te-
clados.

243
QUANTO DURA UM SEGUNDO?
Como funciona o relógio de quartzo Desde 19(>7 que a definição internacional
normalizada de um segundo, estalxileci
da pelo Sistema Internacional de Unida-
avance os números lambem um segundo.
Um cristal de quartzo vibra a uma frequên- des (Sistema SI), se baseia na frequência
cia inalterável quando é atravessado porMuitos relógios de quartzo mostram as da radiação de um átomo de césio - ou
horas em dígitos num mostrador de cristal
uma corrente eléctrica. Os cristais de seja 9 192 631 770 Hz (ciclos por segun
líquido. Este está contido entre duas placas
quartzo artificiais utilizados nos relógios do). Esta frequência é medida por um
cie vidro, uma camada inferior reflectora e
são fabricados para vibrar 32 768 vezes relógio de césio que regula um relógio de
uma camada superior de vidro polariza
por segundo ao serem excitados pela cor- quartzo.
dor, e dividido em segmentos por condu-
rente de uma pilha. Estas vibrações produ- Os relógios atómicos-padrão de
zem impulsos eléctricos cujo ritmo tores eléctricos transparentes. Cada alga-
à cada país são aferidos e sincronizados
rismo é constituído por segmentos — em
medida que eles percorrem os circuitos através do Departamento Internacional
electrónicos do microchip geral sete, sendo os sete utilizados na for-
é sucessiva- do Tempo, de Paris.
marão do número 8.
mente reduzido a metade ao longo do uma
série de 15 passos, terminando no ritmo Os cristais líquidos dispõem as suas mo-
de um impulso por segundo. Cada im- léculas conforme o estado eléctrico em que Como todos os átomos, o do césio é
pulso de um segundo provoca no chip ose encontram. Nos condutores cm que não constituído por um núcleo e por electrões
envio de sinais ao mostrador digital para que
há carga, a luz que incide no mostrador é que formam uma nuvem cm tomo daquele.
novamente reflectida para o Estes electrões podem absorver energia
TUDO POR MEIO DE CRISTAIS exterior - o mostrador fica electromagnética, ficando num estado ex-
em claro. Quando os condu- citado, ou de alta energia; ao desexcita-
tores estão carregados devi- rem-se, radiam este excesso de energia
do ao impulso eléctrico, as sob a forma de uma onda electromagnéti-
moléculas dos segmentos ca com uma frequência absolutamente
afectados realinham-se, fa constante.
zendo com que os segmen- O césio vaporizado é submetido a um
tos apareçam escuros. campo electromagnético no interior de
um ressoador, originando vibrações com
0 cristal de quartzo afará por unia frequência precisa de 9 192 631 770 Hz
acçõú de urna corrente eléc- (ciclos por segundo), exactamente a fre-
trica fornecida por uma pi- quência a que os átomos mudam o seu
lha. Um microchip converte estado de energia. O relógio de quartzo é
Circuito electrónico
as vibrações em impulsos de utilizado para manter o ressoador vibran-
de redução do ritmo um segundo que fazem do a esta frequência, sendo a frequência
avançar a hora num mostra- normal do seu quartzo, de 100 000 Hz,
- Pilha dor de cristal líquido. multiplicada electronicamente.
Desde que 0 relógio de quartzo esteja
exacto, os átomos de césio ressoam todos
uniformemente. São focados sobre um
Relógios atómicos — a perfeição sensor que detecta qualquer alteração da
respectiva concentração de energia. Se
houver uma alteração, este sensor envia ao
Segundo parece, nenhum relógio conse como a temperatura e o atrito, os relógios relógio de quartzo, através do circuito, um
gue ser o cronometro perfeito. Os melho- atómicos são praticamente "imunes" às sinal de "erro". Com este feedback, o reló
res relógios mecânicos adiantam se ou condições externas. Não possuem qual- gio de quartzo é ajustado electronicamen-
atrasam-sc cerca de quatro segundos por quer espécie de mostrador em que possa te para corrigir as vibrações do ressoador.
ano, c até os modernos relógios de quart- mos ver as horas a sua função é
zo não conseguem margem de erro infe- regular relógios de quartzo, mai
rior a um segundo em 10 anos. Mas ealcula- lendo-os altamente precisos.
-se que um relógio atómico seja exacto até A parte principal de um re-
um segundo em pelo menos 1000 anos. lógio de césio é um tubo de
Qualquer relógio mede o tempo con- vácuo com um pequeno for-
tando as vibrações regulares de alguma no eléctrico numa extremida-
coisa. Os primeiros utilizavam o movimen de, no qual uma porção de césio
lo de um pêndulo, e os relógios de pulso é fundida c transformada em va-
ou de bolso, a oscilação de uma roda de por. 0 césio é um metal hranco-pra
balanço. Os relógios de quart/.o tem cris- teado semelhante ao sódio, com um
tais que vibram â frequência da ordem de ponto de fusão de 28,5"C, baixíssi
11)0 000 ciclos por segundo quando se mo se comparado com os I535°C
lhes aplica uma corrente eléctrica. do ferro.
Os relógios atómicos registam o tempo
pelas vibrações dos seus átomos - mais Peça de museu. O relógio atómico de
de 9000 milhões de vibrações por segundo césio usado no Observatório de Green-
nos de tipo mais utilizado, os de átomo de wich até 1962 era exacto a menos de um
césio. E. contrariamente aos relógios me- segundo em .'iOO anos. Hoje. encontra-
cânicos, que são afectados por factores •se no Museu da Ciência, em Londres.

244
UUMU KUNUUNA?

Para que se utilizam Nos relógios atómicos podem empre- quência de radiação é superior a 1420 mi
os relógios atómicos gar se outras substâncias além do césio. lhares de milhões de hertz. Diz-se que a
Os relógios atómicos são utilizados para No primeiro relógio atómico, construído sua margem de erro é de cerca de um se
acertar outros relógios e para investiga- em 1947 no National Bureau of Standards, gunrio em 2 milhões de anos. F. os cientis-
ções cientificas em observatórios e labora EUA, do Washington, DC, foi utilizado o tas americanos têm em estudo um relógio
tórios espaciais e também nos aviões de amoníaco. atómico de mercúrio cuja margem de erro
alta velocidade para sincronização com os Os relógios atómicos mais precisos será, assim o esperam, inferior a um segun-
sinais de navegação de radiofrequência. usam actualmente o hidrogénio, cuja fre- do em 10 000 milhões de anos!

O microscópio utilizado na exploração do espaço interior


0 microscópio vulgar, ou microscópio óp- servação de células cance-
tico, amplia graças à refracção dos raios rosas e fibras de vestuário.
luminosos por meio de lentes. Mas o mi- Dada a sua grande profundi-
croscópio óptico não consegue distinguir dade de campo, este micros
pormenores distanciados menos de meta- copio consegue "observar"
de rio comprimento da onda da luz — isto em três dimensões.
é, cerca de 0,00 025 mm. Os melhores mi- Um feixe de electrões não
croscópios ópticos não ampliam mais de é visível aos olhos humanos,
2500 vezes, o que é insuficiente para deter- mas a imagem é projectaria
minados estudos científicos. sobre um visor fluorescente,
O microscópio electrónico pode am- semelhante a um écran de
pliar um objecto até 1 milhão de vezes, per- televisão, que brilha nos
mitindo aos cientistas estudar as próprias pontos em que é atingido
moléculas que constituem o Universo. pelos electrões. A imagem
Funciona pela emissão de um feixe de produzida pode ser regista-
electrões a partir de um canhão de elec- da em película fotográfica.
trões. Os electrões são acele-
rados através de um potente Vendo o invisível. Os espécimes observa-
campo eléctrico (vários mi dos pelo microscópio electrónico podem
Ihões de volts nos microscó- ser fotografados quando aparecem no vi-
pios mais aperfeiçoados) e fo- sor. Os dois espécimes aqui apresentados
cados num feixe por meio de foram codificados por meio de cores falsas
enrolamentos magnéticos, para facilitar a sua observação. Um gorgu-
denominados lentes magné- lho emergindo de um grão de trigo (à direi
ticas. O feixe tem de viajar ta) é visto através de um microscópio elec-
através do vácuo, pois as mo- trónico com uma ampliação de cerca de 32
léculas do ar provocar lhe- vezes. Uma pequena porção da bainha de
iam interferências. um nervo humano (em baixo) foi observa-
Há dois tipos de microscó- da através de um microscópio electrónico
pio e l e c t r ó n i c o . O T E M de transmissão e tem uma ampliação de
(iransmission elecíron mi- 250 000 vezes.
croscope, ou microscópio
electrónico de transmissão)
transmite o feixe através de
uma delgada lâmina rio mate-
rial em estudo. Este tipo, usa-
do em trabalhos como a ob-
servação de cortes de células
ou tecidos, pode ampliar até
1 milhão de vezes.
No SEM (scanning elec-
íron microscope, ou micros-
cópio electrónico de varri-
mento), o feixe de electrões
varre, isto é, percorre toda a
superfície do objecto em ob-
servação ponto por ponto. A
imagem é construída ponto
por ponto, mais clara ou mais
escura conforme mais ou
menos electrões são reflecti
rios. Pode ampliar até cerca
de 200 000 vezes, e entre as
suas utilizações figuram a ob-

245
^UIVIVJ r U I N V I W I N / V '

Como funcionam os cérebros electrónicos dos robôs?


A noção mais corrente de robô é a de u m a c o n s t r u í d o s — p o d e m consistir apenas
máquina que age c o m o um ser h u m a n o e n u m a pinça de duas ou três garras, n u m
se parece c o m ele. Mas os robôs actuais dispositivo de sucção ou n u m íman.
quase nada têm de h u m a n o . Há duas tormas de dar instruções a
Os robôs que m a n i p u l a m pistolas de um r o l x i para que faça determi-
soldar nas linhas de produção das fábricas n a d o t r a b a l h o : u m a é planear
de automóveis assemelham-se a guindas os movimentos exac-
tes. Os robôs portáteis usados pelos pique tamente necessá-
tes de d e s a r m a d i l h a g e m de b o m b a s no rios e escrevê-
Exército parecem carros de m ã o sobre car- los sob a for-
ris. E um robô portátil utilizado nas escolas m a d e progra-
para e n s i n a r p r o g r a m a ç ã o d e c o m p u - ma de compu
tadores a crianças já foi c o m p a r a d o p o r tador; a outra é
algumas a um e n o r m e rebuçado. moslrar-lhe o q u e
Os robôs, contudo, assemelham-sc real- tem a fazer: o me-
mente a seres h u m a n o s na versatilidade cânico guia os
das funções que d e s e m p e n h a m . Em vez
d e repetirem c o n t i n u a m e n t e u m a ú n i c a F i c ç ã o e fac-
acção, c o m o as máquinas automáticas, os t o . O robô co
robôs p o d e m executar u m a série de ac- nhecido por
ções diferentes. Os seus m o v i m e n t o s são Robby (à direito),
controlados hidraulicamente ou p n e u m a que apareceu no
ticamente (por pressão de ó l e o ou de ar) Planeta Proibido. ///
ou por um motor eléctrico. O seu cérebro c me americano de
u m pequeno c o m p u t a d o r que c o m a n d a 1956, concretiza a
os seus movimentos. ideia mais generaliza-
A memória do c o m p u t a d o r c o n t é m da de robô. A verdade é
instruções para o d e s e m p e n h o de u m a geralmente menos lea
tarefa - pegar em chocolates de um reci- Irai. mas mais impressio
piente e colocá-los no sítio certo de u m a nante, corno as mãos e bra
caixa, por e x e m p l o . Alterando o progra- ços em baixo, criados para servir
ma, é possível fazer c o m que o robô altere bebidas a pessoas deficientes.
essa tarefa ou desempenhe outra diferente Cerlos robôs são utilizados
dentro dos limites para que foi concebido. na desarmadilhagem de
A maioria dos robôs consiste n u m bra- bombas, outros para ensi
ço que pode movimentar-se em várias di- nar geometria na escola.
recções e n u m a m ã o q u e agarra coisas. Outros ainda lêem música, e.
Mas as mãos dos robôs são normalmente no futuro, poderá haver robôs
muito mais simples que a m ã o humana e que obedeçam a ordens ver-
- conforme o objectivo para que foram bais.

^ T m^

24(i
COMO FUNCIONA?

braços do robô em todos os movi- 118 000 cm utilização já no ano


mentos que pretende que ele faça de 1987). como se divertem com
- como pintar à pistola uma eles. Os homens de negócios ja
zona de uma carroçaria de auto- poneses compram robôs como
móvel -, enquanto o cérebro brinquedos para executivos, e
computorizado do robô memo- as crianças podem ver no Museu
riza a acção. Em seguida, o rotó já da Ciência e Tecnologia de Tó-
consegue repetir continuamente quio robôs que cantam e lalam.
os movimentos exactos. O Prof. Ichiro Kalo, da Univer-
sidade de Waseda, no Japão,
Robôs que vêem criou um robô humanóide que
Certos robôs podem ser equi- lê música o toca órgão e outro
pados com aparelhagem de vi- que anda em duas pernas, além
são, o que aumenta ainda as de um outro, parecido com uma
suas capacidades. Na soldadu- aranha, que sobe escadas. Mas
ra, por exemplo, um robô que estes robôs não são apenas para
não vê necessita que as peças Sortido escolhido. Adepl One, robô americano controlado por divertimento - são experiên-
lhe sejam sempre colocadas na computador, reconhece os bombons apresentados no écran da TV e cias que podem conduzir a apli
posição correcta. O robô que vê escolhe OS correctos para serem embalados. cações práticas. A aranha, por
verifica a posição dessas peças exemplo, pode ser adaptada â
e guia o seu braço de acordo com ela. a dar instruções ao rolx"> para que actue em utilização na indústria da construção, e o
Foi em Inglaterra que surgiu, em 1970, o conformidade e ainda porque certas tare- robô que anda constituiu sem dúvida algu-
primeiro robô com visão, mas a ideia seria fas são executadas com mais rapidez e eco- ma um passo no desenvolvimento de uma
retomada e comercializada na América. O nomia por pessoas Também o reconheci perna artificial, com um computador para
equipamento de visão é ainda limitado, mento dos objectos é mais imperfeito que lhe dirigir os movimentos.
mas os investigadores de todo o Mundo o efectuado pelos olhos humanos, embora Também as crianças podem aprender
continuam a aperfeiçoá-lo. 0 robô está li os investigadores estejam a utilizar técnicas programação de computadores por meio
gado a uma câmara de televisão que segue avançadas de computação no desenvolvi- de brinquedos robóticos, como a Turtle
o trabalho por meio de dois computadores. mento de métodos aperfeiçoados da iden- (tartaruga) inglesa, de comando remoto,
Um destes avalia as informações da câmara tificação de formas. que lambem ensina geometria, e o Roa-
e transmite-as ao outro, que comanda o mer (o rebuçado gigante), que possui um
robô. Mas estes sistemas são dispendiosos Robôs para divertimento microprocessador incorporado e pode ser
e o seu emprego é limitado devido ao tem Os Japoneses não só são os líderes mun- programado para andar e produzir música
po que demora a analisar as informações e diais da tecnologia dos robôs (tinham electrónica

Competidores ou servidores?

0 escritor checo Karel Capek criou a palavra "robô" no


princípio da década de 20. Escreveu uma peça intitulada
Os Robôs Universais de Rossum, na qual um "exército" de
fas como lavar os dentes, servir a sopa, carregar um compu
tador e abrir armários.

robôs industriais se tornou tão inteligente que conquistou 0 Exame sem perigo. Robin, robô americano ambulante para
Mundo. Capek derivou a palavra "robô" do checo robota. que inspecção das instalações em centrais nucleares, poupará
significa escravatura, trabalho. Desde então, os homens têm-se Í/ÍÍ seu operador a entrada numa área perigosamente radio
preocupado, não tanto com que os robôs tomem conta do activa.
Mundo, mas que lhes tirem os empregos.
E, na verdade, os robôs têm tomado conta de algumas tare-
fas—maçadoras, mecânicas, rotineiras. Economizam custos
porque não necessitam de trabalhar por turnos, não se cansam
nem perdem a concentração, não adoecem e não fazem greve.
Mas. apesar de os investigadores terem já produzido mãos
robótícas de quatro dedos, capazes de colher uma flor, os ro-
bôs ainda estão muito longe de ter a percepção, a destreza ou a
flexibilidade do homem.
Mas é aceite que o uso responsável de robôs na indústria é
benéfico porque evita que as pessoas laçam certos trabalhos
monótonos ou perigosos. Foram utilizados robôs na limpeza
dos detritos radioactivos depois do acidente de Three Mile Is-
land, na América, em 1979. Eslão também a ser aperfeiçoados
para a inspecção e a montagem de instalações nucleares, para
o combate aos incêndios, para o abate de árvores e para servi-
ços de segurança. Em 1986. na construção do molhe de protec-
ção da baía de Tóquio, no Japão, foi utilizado um robô com
quatro pernas e 72 t de peso para fazer rolar grandes blocos de
pedra - poupando a 50 mergulhadores essa arriscada tarefa.
Estão igualmente em curso experiências com robôs que
ajudem os doentes e os inválidos. Estudam se robôs que res
pondam a instruções verbais: serão capazes de executar tare-
cuiviu ruiNciuiNA:

Como é que o motor de um automóvel faz andar as rodas?


Antes rie fazer andar o automóvel, o motor
tem de converter o movimento rie vaivém
dos pistões, resultante ria combustão ria
gasolina, no movimento giratório de um
veio que faça mover as rodas.

A criação da força motriz


No motor mais usado, o de 4 cilindros, cria-
-se força motriz quando a mistura de gaso-
lina e ar é comprimida e inflamada no inte-
rior dos cilindros do motor. Quando esta
mistura explode, os gases quentes produ-
zidos obrigam o pistão a descer no cilin-
dro. Os cilindros estão regulados para que
as explosões sejam cm sequência, propor-
cionando assim rotação contínua.
Os pistões estão ligados pelas bielas ao
veio principal do motor, a cambota, e, quan-
do descem, obrigam-na a rodar. A cambota
tem numa das extremidades um pesado
volante para estabilizar a rotação e suavizar
o movimento dos pistões. Este volante liga,
além riisso, o motor à transmissão.

Transmissão da potência
1 lá dois tipos principais de siste-
mas de tracção. O tradicional
tem o motor na frente do auto-
móvel e acciona as duas rodas de
trás. No sistema cada vez mais
comum de tracção dianteira, o
• • « • • • • • • • •
Prova dura. Ao completar 3200 km de condução agressiva, as rodas
motor está colocado na frente e
deste automóvel já fizeram mais de 2 milhões de uoltas e os seus
acciona as rodas dianteiras. Al-
guns vaculos têm motor à reta- pistões subiram e desceram mais de 8 milhões de vezes.
guarda com tracção às rodas de O MOVIMENTO
trás e outros podem ter tracção Devido à expansão dos gases
às quatro rodas. Em condições produzidos pela combustão
normais, são accionadas apenas de ar/gasolina, o pistão é em-
as rodas traseiras, mas a tracção purrado para baixo para fazer
pode fazer se também às da fren- 0,33 ms Cilindro
rodar a cambota. A gasolina e
te por meio de uma alavanca ou o ar são misturados no carbu-
electronicamente por meio de * rador. Essa mistura entra no
um interruptor. cilindro através da uáluula de
Num veículo de motor à admissão e é inflamada por
0,67 ms
frente e tracção traseira, a força uma faísca através da vela de
motriz é transmitida por meio ignição no topo do cilindro. A
sequência de operações do Pistão
da embraiagem, caixa de velo-
cidades, veio de transmissão, motor faz-se em quatro
diferencial e semieixo. 1 ms
tempos, ou movimen-
Um veículo de tracção dian- tos, de cada pistão no
teira não tem veio de transmis-
são porque o motor fica perto
*j^-2 seu cilindro. Um movi-
mento descendente
das rodas motrizes. A embraia- para admissão do com-
gem, a caixa de velocidades e o 1,33 ms bustível: um movimen-
diferencial estão incorporados to ascendente para
num conjunto único. compressão da mistu-
A embraiagem está incorpo- ra; um movimento para
rada no volante rio motor, aco- baixo resultante da ex-
plado à cambota, e permite plosão da mistura e
uma tomada suave e gradual consequente expansão
0 movimento do pistão faz rodar a cam-
do movimento giratório desta, dos gases, e por fim um
bota por meio de bielas. Um pistão pode
através da caixa de velocida- movimento para cima
chegar a subir e descer 6000 vezes por
des, até ao veio de transmissão para escape dos gases.
minuto à velocidade máxima do motor.
2 ms

248
C U M U rui^iuivft.'

assim mais força quando necessário. Os No interior da caixa, a mudança de velo-


motores de automóvel desenvolvem a for- cidades entre os dois veios é conseguida
ça (potência) máxima quando a cambota pela engrenagem de carretos de diâmetros
atinge um certo número de rotações por diferentes. Se, por exemplo, se engrena
minuto. Este número não c iguaJ para to- um carreto noutro com o dobro do nume
dos os veículos: assim, um veículo conce- ro de dentes, o carreto mais pequeno faz
bido para altas velocidades (automóveis duas voltas enquanto o maior faz uma.
de competição) desenvolve a sua potência Numa caixa manual, o condutor selec-
máxima a um número mais elevado de ro- ciona a mudança por meio de uma alavan
tações, enquanto o concebido para ter ca. Na caixa automática, as mudanças são
Tracção traseira. Num automóvel tradi- mais força (camiões, etc.) tem a potência engrenadas automaticamente, controla
cional, o motor, à frente, tem um oeio de máxima a uma rotação mais baixa. das por pressão de óleo. Esta é regulada
transmissão que passa o movimento às ro Em qualquer veículo, é necessário pelas válvulas de comando das mudanças,
das traseiras. maior esforço para o pôr em movimento que funcionam devido à força exercida no
do que para manter esse movimento, uma pedal do acelerador e por um mecanismo
vez que ele já tenha adquirido velocidade. regulador que está também ligado ao veio
Em primeira velocidade, o veio de trans- de transmissão para actuar de acordo com
missão roda a cerca de um terço da veloci- a velocidade do automóvel.
dade do motor, em segunda a cerca de me-
tade e em terceira um pouco mais devagar. A transmissão da potência às rodas
Esta relação dá mais força ao motor, por- A caixa de velocidades e o eixo traseiro de
que a mesma potência aplicada mais lenta- um veículo de motor à frente e tracção tra
mente tem mais força — da mesma forma, seira estão separados quase pelo compri-
para levantar um balde pesado do poço mento do veículo, pelo que precisam de
exige-se mais esforço e um enrolar mais ser ligados por um veio de transmissão,
Tracçáo dianteira. Nos automóveis com lento da corda do que para um balde mais que passa o movimento do motor ao eixo
motor à frente, que acciona as rodas dian leve. Quando se engata a marcha atrás, o traseiro. O veio é de aço e tem em cada
leiras, o movimento - alinhado com os veio de transmissão roda a cerca de um extremidade dispositivos flexíveis de liga-
eixos - é transmitido directamente. quarto da velocidade do motor. ção chamados cardans. Estes permitem
A diferença exacta entre as relações de que o veio altere a inclinação em relação ao
velocidade de rotação do motor e do veio eixo — por exemplo, nas lombas - , conti-
de transmissão depende do automóvel e nuando a transmitir a energia proveniente
chama-se desmultiplicação. Em quarta ve do motor.
locidade (directa), o veio de transmissão O veio de transmissão termina no dife-
roda à mesma velocidade que o motor, rencial, complicado conjunto de engrena-
pelo que a desmultiplicação é nula e a rela- gens a meio do eixo traseiro. O diferencial
ção é de 1:1. Assim acontece porque, na conduz o movimento giratório do veio de
altura em que o condutor engrena em transmissão através de um ângulo de 90",
Tracçáo às quatro rodas. O movimento quarta, o motor está perto da sua potência fazendo rodar os semieixos ligados às ro-
do motor pode ser transmitido às quatro máxima e o automóvel já adquiriu veloci das traseiras. Este desvio é feito por meio do
rodas para proporcionar maior aderência dade suficiente para se tornar desnecessá- pinhão de ataque do veio de transmissão e
em más condições de terreno. A energia rio um esforço adicional. da roda de coroa, ambos com dentes heli-
transmite-se em ângulo recto. coidais. A roda de coroa tem um diâmetro
COMO FUNCIONAM muito maior, pelo que gira mais lentamen-
quando o automóvel começa a andar. AS VELOCIDADES te que o pinhão, reduzindo assim a veloci-
Uma embraiagem normal consiste es- Ligação dade das rodas. Devido ao seu diâmetro
ao motor Ligação ao veio
sencialmente num disco de transmissão e de transmissão maior, as rodas fazem apenas uma rotação
num prato de pressão. Na transmissão nor-
mal, o disco de transmissão está apertado
I4 As velocidades
por cada três até seis rotações do motor.
Mas a principal função do diferencial é
contra o volante do motor por acção do & relacionam a ve- permitir que as rodas traseiras girem a velo
prato de pressão. Quando o condutor car- locidade de rota- cidades diferentes uma da outra quando o
rega no pedal da embraiagem, o prato de ção do motor automóvel descreve uma curva. Se ambas
pressão é afastado por molas do disco de Primeira com a do veio de rodassem à mesma velocidade, a roda inte-
transmissão, que deixa de estar em contac- ^ transmissão ao rior patinaria em todas as viragens, visto a
to com o volante do motor, pelo que cessa ** engrenarem um circunferência ser menor.
a transmissão à caixa de velocidades. ^ carreto noutro. A Em cada semieixo existe urna roda cóni-
Quando o condutor solta o pedal da em- velocidade lenta ca dentada (o planetário) que engrena
braiagem, restabclecc-se a transmissão
através da caixa. A embraiagem é acciona-
4 tem um carreto
de 12 dentes que
com dois pinhões no interior da roda de
coroa, um em cima e outro em baixo (os
da mecanicamente por meio de um cabo Segunda acciona outro satélites). Enquanto o automóvel anda em
ou hidraulicamente por pressão de óleo. • f*». , u * « - com 27, pelo que linha recta, a força exercida sobre cada pi
Num automóvel com mudanças ma- >. *fi o maior é 2,25 nhão é igual. Se uma das rodas do automó-
nuais, a embraiagem funciona como uma ** vezes mais len- vel começa a andar mais lentamente, a en-
espécie de interruptor, pennitindo ao con- •^. to. Na velocida- grenagem cónica do seu semieixo (o pla-
netário) vai andar mais devagar, fazendo

à,J
dutor desligar o motor do resto da trans- de alta, os car-
missão quando muda de "velocidade". retos giram à os satélites rodar mais depressa o planetá-
A caixa de velocidades é necessária para mesma oeloci- rio do outro semieixo e aumentando a ve-
desmultiplicar a rotação do motor, usando Terceira dade. locidade da outra roda

249
CUMU rUNUOINA'.'

O que são travões antibloqueio?


A maioria dos condutores já teve a expe- Travagem em curva. Estas fo-
riência assustadora de sentir as rodas bio tografias mostram o que acoit
queadas e o carro a deslizar incontrolada- tece quando as rocias de um
mente direilo ao da frente. Os escorrega- carro ficam bloqueadas numa
mentos e as derrapagens acontecem por- curva (à direita) As rodas blo-
que o comportamento do carro se altera queadas fazem o automóvel
bruscamente quando as rodas bloqueiam. deslizar sem controle quando o
Até certa altura, o carregar mais no pedal piso está molhado. Os travões
dos travões produz maior desacelera antibloqueio evitam a perdu de
ção - mas, assim que as rodas ficam blo- controle, permitindo ao condu-
queadas, perdem a aderência à estrada, tor descrever suavemente a
começam a escorregar em vez de rodar e o curva (em baixo), enquanto
condutor deixa de poder controlar a direc- travam 45 oezes por segundo.
ção do carro. Scguc-sc o pânico, e a reac
ção natural é carregar no travão ainda com
mais força, o que só piora a situação.
Em casos como este, o aconselhável é
fazer uma travagem cadenciada, isto é,
bombear o pedal do travão em rápidos gol
pes sucessivos para assegurar que as rodas
não cheguem a bloquear. Mas, na prática,
poucos condutores têm presença de espí
rito ou experiência suficiente para proce
derem assim numa emergência.
Os travões antibloqueio destinam se a
tornar automática a travagem cadenciada,
retirando ao condutor a responsabilidade
de a fazer e passando a para um conjunto
de mecanismos electrónicos e hidráulicos.
São constituídos por duas parles: um sen-
sor electrónico que detecta o ritmo de de-
saceleração das rodas e um sistema que
controla automaticamente a pressão hi-
dráulica nos travões por forma a conseguir la, a fim de reduzir a pressão. 0 ar perdido é voltar a estabelecer a pressão. Entre os siste-
a melhor desaceleração e, ao mesmo tem- facilmente substituído pelo ar comprimi mas que têm sido mais aperfeiçoados, há
po, a mais segura. do num reservatório. alguns que até permitem fazer curvas aper-
O sensor é formado por um disco perfu Este esquema simples não pode ser apli tadas, enquanto se trava com força.
rado ou dentado ligado ao eixo da roda. cado a automóveis, visto utilizarem um sis Embora, a princípio, os travões antiblo-
Quando o eixo gira, os dentes do disco e tema de travões hidráulico. Uma alternativa queio só existissem nos automóveis das
respectivos intervalos passam perto de um será reduzir a pressão hidráulica ao aumen- gamas mais elevadas, acl uai mente estão
monitor e geram corrente, que varia con- tar momentaneamente a capacidaríeVolu- cada vez mais a tomar-se equipamento de
forme a velocidade de rotação do disco. me do sistema hidráulico com um es- fábrica ou opcional em quase todos os
Os sinais são enviados para os circuitos quema de pistões, por exemplo - e depois modelos.
electrónicos, que determinam não só a ve
locidade do disco como o seu índice de
desaceleração. Se o disco desacelera mui
to rapidamente e está prestes a bloquear,
os circuitos ordenam aos comandos hi
Como o cinto de segurança protege
dráulicos que reduzam a pressão nos tra-
vões, evitando uma derrapagem. Como o Quando em andamento, nós c o automó- em redor do qual se enrola o cinto. O cinto
condutor continua a carregar no travão, a vel dcslocamo nos à mesrna velocidade. de segurança, assim preso, impede o nos
pressão volta a subir e o sistema repete a Se o automóvel pára repentinamente, o so corpo de ser lançado para a frente.
operação ate o veículo parar ou o condutor nosso corpo continua a mover-se para Quando apertamos o cinto, este desen-
largar o pedal. O sistema pode produzir, se diante. É um exemplo de inércia do movi- rola-se do seu carreto contra uma ligeira
necessário, até 45 cadências por segundo. mento. Um cinto de segurança com carre- tensão de uma mola. Em condições nor
A forma de utilizar os sinais electrónicos to de inércia funciona segundo o mesmo mais, ele mantém-se esticado, mas permi
para controlar a pressão nos travões de- princípio. O seu mecanismo inclui um (indo que o condutor se incline para diante
pende das marcas. Alguns dos primeiros pêndulo que, em condições de condução quando necessário. Contudo, se puxar
travões antibloqueio. da década de 60, fo normais, pende verticalmente. Mas se o mos o cinto repentinamente enquanto o
ram aplicados em camiões cujos travões carro trava subitamente, esse pêndulo ba- desenrolamos, o mecanismo de travagem
são accionados por ar comprimido. Nes lança para diante e uma alavanca que nele engata, apesar da acção da mola. Aliviando
tes sistemas é relativamente simples liber- se apoiava solta se. A alavanca engata a tensão no cinto, a mola soltará a alavanca
tar um pouco do ar por meio de uma válvu- numa roda dentada que vai travar o veio do mecanismo, destravando-o.

250
I U M U rUINUUINA.'

Este tipo de aparelho contém uma pi-


lha de combustível que funciona como
Porque se usam pneus lisos uma pilha eléctrica. 0 ar expirado pelo
tubo penetra na pilha através de uma vál-
vula e vai atingir um ânodo de platina
0 desenho do piso do pneu ó constituído (eléctrodo positivo) que está em contac
por ranhuras na borracha (as lamelas) to com um disco esponjoso impregnado
para absorver a água da superfície e sulcos de ácido sulfúrico.
em ziguezague para expelir a água para A platina provoca a oxidação do álcool
trás quando o carro anda. Numa estrada contido no ar expirado, formando ácido
molharia, o pneu tem de expelir mais de 5 I acético — isto é, as suas moléculas perdem
de água por segundo da sua trajectória alguns rios respectivos electrões. Gera-se
para assegurar uma boa aderência. assim uma corrente eléctrica que se dirige
Numa estrada seca, as ranhuras não são para um cátodo (eléctrodo negativo) colo-
necessárias: um pneu liso proporciona a cado do outro lado rio disco.
maior área possível de contacto com a es-
trada. Mas se se usarem pneus lisos com
piso molhado, a película de água sobre a
estrada acumula-se à frente e por baixo
rios pneus, fazcndo-os perder o contacto
Como funciona
com a estrada — é o chamado aquap/a
nhg (planar sobre água). Quando tal ocor-
Aderência. Um pneu de corrida paru pista
seca é completamente liso. Os pneus uulga-
um aerossol
re o condutor perde o controle do veículo. res têm de rodar sob todas as condições de
Como os automóveis têm de circular tempo, pelo que possuem ranhuras para Quando se faz pressão sobre o botão de
com qualquer tempo, necessitam de absorver e expelir a água (em baixo). uma lata de aerossol, provoca-se a aber-
pneus com desenho, ao con- tura de uma válvula na parte de cima do
trário dos carros de competi- tubo, a qual se encontra fechada por
ção, que usam pneus específi- meio de uma mola helicoidal. O abrir ria
cos consoante as condições cli- válvula permite que a pressão rie gás
matéricas. Se a pista está seca, no interior da lata force a subida do con-
correm com pneus lisos, cha- teúdo líquido e a sua saída para o exle
mados slicks, para conseguir a rior.
melhor aderência possível. Os Na fábrica, a lata de aerossol é parcial-
pneus e rodas extralargos pro- mente cheia com uma forma concentrada
porcionam lhes também mais do produto a pulverizar e depois pressuri-
aderência. Com tempo molha-
do, porém, os slicks têm de ser **lél zada com um gás propulsor. Os propulso-
res mais utilizados são hidrocarbonetos,
substituídos por pneus com como o butano. Estas substâncias têm um
desenho. ponto rie ebulição baixo e mudam com
facilidade de líquido para vapor e vice-ver-
sa. Na lata, o propulsor está principalmen-
te sob a forma líquida e actua como diluen-
Testes de alcoolemia te ou veículo.

Aerossol. Ao premir o botão, abre-se uma


Quando se faz um teste de alcoolemia, so- Pedia se ao condutor que enchesse o ba- válvula, 0 que permite que a pressão do gás
prando para dentro de um saco, o álcool lão, e, se os cristais mudassem de cor até force a saída do líquido para o exterior.
que existe no ar que se expira é transforma- uma determinaria marca no tubo, o con-
do em ácido acético (vinagre). Esta reac- dutor tinha provavelmente 'excedido o li-
ção química altera a cor rios cristais exis- mite" e precisava de testes subsequentes.
tentes no tubo ligado ao bocal. Quantos Os cristais utilizados eram uma mistura
mais cristais mudarem de cor, tanto mais amarelo-alaranjada de ácido sulfúrico e bi-
álcool se encontra no organismo. cromato de potássio, que transformavam
0 primeiro aparelho de detecção de ál- o álcool em ácido acético (vinagre) e, ao
cool foi criado por um médico americano, fazê lo, se transformavam elos próprios
e o seu uso foi introduzido pela Polícia de em sulfato de potássio incolor e sulfato de
Indianapolis em 1939. Na década de GO, crómio verde azulado.
começaram a ser largamente utilizados Os aparelhos usados actualmente são,
aparelhos semelhantes pela Polícia de em geral, electrónicos e muito mais rigoro-
muitos países, como forma de determinar sos que OS do tipo balão. Utilizam o álcool
se um automobilista estava cm condições soprado pelo tubo como combustível
de guiar, pois uma elevada ingestão de ál- para produzir uma corrente eléctrica.
cool embota o sistema nervoso e a coorde- Quanto mais álcool a respiração contém,
nação. mais forte a corrente. Se se acende uma luz
Ao princípio, o tipo mais comum de verde, o condutor está abaixo do índice
aparelho usado nestes testes era um saco legal. Uma luz amarela significa que o índi-
de plástico, semelhante a um balão, com ce de alcoolemia está próximo do limite, e
os cristais no tubo pelo qual se soprava. uma encarnada que está acima do limite.
no tubo. • propulsor.

251
LUMU M J N U U I W

Quando o conleúdo da lata sai para o clorofluorocarbonetos subirem para as al-


exterior, a pequena quantidade do propul- tas camadas da atmosfera, onde a luz do Sol
sor líquido da mistura evapora-se, por- provoca a sua decomposição, libertando
que a pressão atmosférica é inferior à átomos de cloro. Estes átomos, por
pressão no interior da lata. O produ- sua vez, decompõem as moléculas
to dispersa-se assim sob a forma de de ozono da camada de ozono em
urn vapor fino a que se dã o nome oxigénio. Em Outubro de 1987, de-
de aerossol —partículas líquidas lectou-se na camada de ozono
ou sólidas suspensas num gás. sobre a Antárctida um buraco do
Após a pulverização, a pressão tamanho dos Estados Unidos;
tio interior da lata baixa, pelo que um adelgaçamento dessa ca-
o gás começa a libertar se do pro- mada foi detectado em 1989
pulsor líquido remanescente, res sobre o Árctico.
tabelecendo-se a pressão. O ozono absorve parte da peri-
gosa radiação ultravioleta prove-
A destruição da camada niente do Sol. Qualquer aumento
de ozono da radiação ultravioleta pode pro-
Um grupo de compostos designa vocar cancro na pele e cataratas.
dos por clorofluorocarbonetos, com- Afecta, além disso, as plantas, que po-
postos orgânicos que contêm cloro c derão produzir menos sementes.
flúor, foi largamente utilizado em aeros-
sóis entre as décadas de 50 e HO, mas está Buraco no ozono. Esta fotografia por saté-
agora a deixar de ser usado para este fim. lite revela, a rosa, preto e roxo, o buraco na
Na base desta decisão está o facto de os camada de ozono sobre a Antárctida.

Como actuam os herbicidas selectivos


As ervas daninhas são plantas que nascem nais de combate às ervas daninhas, como a nas searas. 0 veneno era selectivo, porque
no sítio errado. Os agricultores e os jardi- monda ou a rotação de sementeiras, pas- tinha pouco efeito sobre as folhas estreitas
neiros têm de as eliminar porque elas com- sando a empregar herbicidas químicos - e erectas do cereal, que desviavam a maior
pelem pelo espaço, pela luz e pelos sais método iniciado em França em 1896. Pul- parte das gotículas, enquanto as folhas lar-
minerais do solo com as plantas de cultivo, verizava se sobre as plantas dos cereais um gas e horizontais da mostarda recebiam
afectando o crescimento destas. veneno como o sulfato de cobre, a fim de uma dose maior e murchavam.
Nos fins do século xix, os agricultores matar a prolífica mostarda-dos-campos, Os herbicidas químicos actuais destroem
começaram a deixar os métodos tradicio- erva daninha de flores amarelas comum as ervas daninhas explorando o seu pró-

Tratainento de searas. Malmequeres num campo de cevada que foi tratado com um herbicida. As searas são habitualmente pulverizadas
por tractores num movimento de vaivém. Esta faixa de terreno escapou à pulverização.

252
«.AJIVR.» ruiNcivyi^irt:

prio sistema de crescimento. Assim, em- podem, portanto, ser utilizados para des- bravas e das plantas cultivadas a partir de
pregam compostos que simulam as hor- tniir as ervas que os afectam. Por isso cria sementes. Este herbicida, o PCP, é lançado
monas naturais de crescimento da erva em ram-se compostos que se transformam na camada superior do solo depois da se-
questão, desencadeando nela um cresci- em MCPA e 2,4-D no interior das plantas menteira. A aveia-brava desponta cedo e
mento tão rápido que a planta cm breve se da folha larga - mas não nas ervilhas e nos penetra a camada envenenada enquanto
esgota e morre. feijões. Estes herbicidas são conhecidos está no máximo da toxicidade. O herbicida
Estes herbicidas à base de hormonas vêm por MCPB e 2,4-DB. O B indica que eles ataca o rebento e deslrói-o. O cereal culti-
sendo aperfeiçoados desde 1945, e dois dos contêm ácido butírico, que é convertido vado só mais tarde atinge a zona envene-
mais usadas são o MCPA e o 2,4-D, cujos no- em herbicida activo no interior de plantas. nada, depois de a plantinha ter adquirido
mes são siglas dos produtos que os com- A aveia-brava numa seara não pode ser urna bainha protectora e de o herbicida se
põem. Estes dois são selectivos, porque são destruída por nenhum dos dois tipos de ter tornado menos tóxico.
eficazes contra plantas de folhas largas, mas herbicidas hormonais, porque as suas hor- Investigando a estrutura e o crescimen
não têm efeito sobre as gramíneas, que pos- monas são semelhantes às do cereal culti- lo das plantas, os cientistas já produziram
suem hormonas diferentes. vado. Por este motivo, os cientistas criaram centenas de herbicidas que são selectivos
Mas as ervilhas e os feijões são plantas de urn herbicida que aproveita as diferenças entre diversas plantas - não apenas entre
folha larga, pelo que o MCPA e o 2,4-1) não entre as formas de crescimento das plantas as de folha larga e as gramíneas.

O pesticida contra os pulgões que poupa as abelhas


0 pulgão é um dos vários tipos de afídios que Há muitos insecticidas eficazes contra um composto sintético complexo chama-
se alimentam de seiva e frequentemente se os afídios, mas, se não forem usados com do pirimicarb. Quando é pulverizado e
aglomeram aos milhares sobre as roseiras. cuidado, destroem também os insectos permeia a pele do pulgão, as suas molé-
No Verão, as fêmeas dos afídios reprodu- que se alimentam dos afídios e matam as culas ajustam-sc como uma luva às de um
zern-se sem intervenção dos machos. Com abelhas em polinização. enzima vital do afídio, o acetilcolinestera-
tempo quente, uma única fêmea pode multi- Mas há um insecticida contra os afídios se. Este enzima decompõe substâncias tó
plicar se e dar origem a uma praga de 100 000 que foi estudado para poupar as joani xicas produzidas pelo sistema nervoso do
no espaço de um mês. nhãs, as abelhas e as ensopas. Trata-se de insecto, pelo que o bloqueio da sua acção

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Destruição selectiva de insectos. Afídios alimentando-se numa planta e joaninhas alimentando-se dos afídios. O pirimicarb mala os
afídios, mas não as joaninhas, que desempenham uma função útil no controle das pragas.

253
\.-wm*-> i u i i v i v j ^ n ,

provoca rapidamente a morte. As ensopas café ou abrir as janelas de estufas quando


e as joaninhas de estrutura diferente têm está calor e fecha las quando está frio
menos probabilidades de ser afectadas.
O pirímicarb não só mata os afídios por
A maioria dos metais é constituída por
cristais (arranjos ordenados de átomos). Cer-
Como é que os
contacto, como atravessa as folhas, indo
destruir igualmente os que se encontram
tos metais ou ligas metálicas mudam de es-
trutura cristalina quando se modificam as
alarmes detectam
por baixo, além de libertar fumos que os
envenenam. E, mais importante, é tam-
condições a que se encontram submetidos.
Algumas ligas, se são rapidamente arre-
os ladrões?
bém um pesticida sistémico, isto é, penetra fecidas, sofrem uma mudança abrupta
na seiva das plantas e mala os afídios que para um alinhamento diferente dos seus As casas de hoje podem possuir inúmeras
dela se alimentam; o seu efeito mantém-se cristais a determinada temperatura. Esta defesas contra ladrões. Entre os aparelhos
até duas semanas depois da pulverização. temperatura de transição varia com a de defesa modernos, figuram os projecto-
0 pirímicarb pode ter efeitos adversos constituição da liga. A estrutura diferente res e os alarmes, que são disparados quan-
nas pessoas, animais e aves. Tem de ser que ela provoca é designada por martensi do o intruso perturba um circuito coman-
usado seguindo rigorosamente as instru- te, do n o m e do metalúrgico alemão dado por magnetes ou microchips escon-
ções da embalagem. Adolph Martens, que a identificou. didos ou por raios invisíveis.
Se uma destas ligas é levada a feitio por
tratamento pelo calor de modo que se tor Alarmes exteriores
ne martensite a, por exemplo, 50"C, ela O ladrão moderno pode ter primeiramen
Como se fabricam mudará de forma a essa temperatura mar-
tensítica, mas voltará à primitiva a uma
te de haver se com um detector de infraver
melhos estrategicamente colocado, que é
metais com temperatura diferente. afectado por alterações de temperatura
provocadas pelo calor do corpo. Quando
memória? Formado para dar forma
Uma empresa japonesa descobriu um em-
alguém se aproxima da casa, um sensor do
detector acende os projectores. Se for um
prego pouco vulgar para os melais memo- visitante, as luzes mostram-lhe o caminho,
Quando, em 1984, uma faísca caiu sobre a rizantes — como armação de arame super mas quem vier com a intenção de assaltar a
Abadia de York, catedral medieval inglesa, elástica em soutiens. Outro emprego deste casa sentir-se-á demasiado exposto e é
provocou um incêndio no espaço entre o arame é em tratamentos de ortodõncia. Os pouco provável que prossiga.
tecto e o telhado de madeira. Os bombei- aparelhos convencionais de aço inox têm O sensor é feito de um material cerâmi-
ros não puderam peneirar nesse espaço, e de ser periodicamente apertados, mas os co como a turmalina, que, ao ser aqueci-
o incêndio destruiu a cobertura arames da liga superclástica exercem uma do, gera uma voltagem no seu interior. 0
Se uma faísca caísse uma segunda vez pressão suave e contínua, ideal para levar sistema está concebido para que o sensor
sobre a catedral, a ciência impediria que se os dentes à sua posição conecta. reaja a uma alteração de temperatura cau-
repetisse o mesmo tipo de danos. A nova sada pelo calor do corpo humano.
cobertura lem alçapões para deixar esca O ladrão que consegue escapar à barrei-
par o calor e permitir a entrada dos bom- ra dos projectores pode então ter de "en-
beiros e que estão equipados com fechos
accionados por molas feitas com metais
Como é que um frentar" uma porta ligada a um alarme so-
noro. Este sistema é geralmente constituí-
memorizamos, que abrirão automatica-
mente se os fechos aquecerem.
relógio digital do por um interruptor magnético coloca-
do entre a porta e a ombreira. Quando a
Os metais memorizantes conseguem acende o forno? porta está fechada, dois contactos man-
têm fechado o circuito do interruptor. Se a
''lembrar se" de duas formas diferentes e
mudam de uma para a outra em determi- porta é aberta, o circuito do interruptor é
nadas condições. As molas dos alçapões Quando o radiodespertador começa a to- quebrado e o circuito do alarme dispara o
da Abadia de York estão preparadas para car música logo de manhã, o interruptor sinal sonoro.
se lembrarem de uma certa temperatura, à foi provavelmente accionado por um reló- Mas um ladrão resoluto, fora da vista dos
qual se expandirão, retirando o ferrolho e gio digital. No interior do interruptor existe passantes, poderá atacar a porta com urn
abrindo a porta. um cristal de quartzo que vibra com uma formão ou uma broca. Este tipo de arrom-
Uma das primeiras aplicações dos me- frequência fixa sempre que ligado a uma bamento pode ser contrariado por um de-
tais memorizantes foi nas uniões das tuba- fonte de energia eléctrica — pilha ou toma tector de vibrações, aplicado à porta. Trata-
gens hidráulicas dos aviões, que começa- da. As suas vibrações produzem impulsos se de um aparelho em que uma bola é
ram a utilizar-se em 1971. As uniões são eléctricos regulares, que percorrem circui- perturbada por vibrações. A bola assenta
feitas demasiado pequenas para, a uma tos num microchip, activando os segmen em pontas metálicas aguçadas ligadas a
certa temperatura, se ajustarem, sendo de- tos que formam os algarismos do relógio. um microchip programado para aceitar
pois arrefecidas a temperatura muito mais 0 interruptor possui também uma me- determinadas vibrações como normais -
baixa que o ambiente e distendidas para se mória que regista as horas a que o rádio, o as do vento ou do tráfego. Se a bola que se
adaptarem ao tubo. Ao aquecerem, vol- forno ou o sistema de aquecimento central mexe sobre as pontas provoca vibrações
tando à temperatura do ambiente em que têm de ser ligados. que não estejam programadas como nor-
irão funcionar, encolhem até à sua forma Quando chega a hora marcada para a mais, faz disparar o alarme.
inicial, constituindo uma união justa. Esta ligação, o microprocessador emite um si
mesma ideia é utilizada em cirurgia em nal electrónico de baixa voltagem. Este Alarmes interiores
uniões para ligação dos ossos fracturados. sinal é amplificado por um circuito tran Entre os alarmes interiores, contam-se al-
O calor do corpo mantém nas ajustadas. sistorizado e passa por um relê, aparelho mofadas de pressão colocadas debaixo dos
Os melais que mudam de forma sob ac- electrónico em que uma pequena cor- tapetes e ligadas a um circuito de alarme.
ção do calor têm hoje inúmeras utiliza- rente provoca a deslocação de um con- São constituídas por duas chapas ou folhas
ções, lais como accionar interruptores e tacto metálico, fazendo a ligação à cor metálicas separadas por urna camada de
válvulas em máquinas automáticas para rente eléctrica. plástico esponjoso. As duas chapas são

254
V^V^IVIV^ I IJI1V IV/INAV'

postas em contado se alguém as pisar, o que nados por transdutores. Estes emitem as tamanho de um homem dispara o alarme.
faz disparar o alarme. Qualquer pessoa que ondas a determinada frequência (um No detector de infravermelhos existe
ande por dentro da casa pode ser apanhada dado número de ondas por segundo), sen- um espelho multifacetado ou uma lente
por um "olho mágico" — célula fotoeléctrica do estas reflectidas para o aparelho pelos especial que cria uma série de zonas sensí
com um raio infravermelho invisível que inci- objectos no interior da sala. Quando ai veis. Se alguma coisa que se desloca para
de sobre ela. Quando o feixe é interrompido, guém se desloca na divisão, as ondas re- dentro ou para fora destas zonas se encon
a célula faz funcionar o alarme, flectidas sofrem uma aglomeração ou uma tra a urna temperatura diferente da da divi-
Outros tipos de detector inferior ulili separação, pelo que a sua frequência é al- são, gera uma voltagem. 0 detector moni-
zam ondas ulfra-sónicas (demasiado alfas terada. 0 sensor detecta a alteração da fre- toriza electronicamente a voltagem e dis-
para serem percebidas pelo ouvido huma- quência e envia sinais a um microchip. que para o alarme se o aumento da temperatu-
no) ou microondas (ondas rádio de alta avalia a velocidade e o volume do intruso. ra tiver a probabilidade de ser causado por
frequência) emitidas por aparelhos desig- Qualquer coisa avaliada como sendo do calor do corpo humano.

A máquina de costura — duas linhas para fazer um ponto


0 alfaiate francês Barthélémy Thimmonier baixo da máquina. O fio da bobina esten que desloca o tecido para diante e para trás
construiu a primeira máquina de costura de-se ao longo da camada inferior de teci- enquanto a agulha faz o ponto.
prática em 1830 e vendeu a respectiva pa- do e é continuamente entrelaçado nas la- As máquinas de costura domésticas ac-
tente em 1848 a uma empresa de Manches- çadas da linha superior trazidas pela agu- tuais aumentaram a velocidade inicial de
ter. Esta máquina fazia ponto de cadeia — lha através do tecido. 20 pontos por minuto para 800 a 1000. Mas
série de argolas entrelaçadas formadas As máquinas modernas são accionadas nas fábricas prefere-se o velho ponto de
com um só fio. Em 1833, um inventor ame- por um motor eléctrico que é comandado cadeia de Thimmonier, porque a costura é
ricano, Walter llunt, inventou uma máqui- por um pedal. As mais sofisticadas são pro- mais rápida - cerca de 7000 pontos por
na que executava pontos com dois fios. gramadas por chips de silício e podem co- minuto.
Esta foi a antecessora da máquina de pe ser botões, rematar costuras, pregar fechos
dal, inventada por outro americano, Isaac de correr e bordar, cerzir ou fazer refegos,
Menitt Singer, em 1851. A máquina de Sin- utilizando 20 ou mais tipos de pontos.
ger foi um êxito imediato e decisivo. Linha
Existem três tipos de pontos básicos — o
superior
As máquinas domésticas actuais apre- ponto a direito, o ponto de ziguezague e o
sentam as mesmas características funda- ponto flexível. O ponto de ziguezague é
mentais da máquina de Singer. A agulha feito por uma agulha que se move de um
tem um orifício perto do bico e usa a linha lado para o outro em diagonal de cada vez
de um carrinho colocado na parte de cima que penetra no tecido. O ponto flexível re-
da máquina. A outra linha provém de uma sulta da acçáo coordenada da
bobina, ou canela, colocada na parte de agulha e do impelente,

O mecanismo básico
O tecido é*apertado entre o pé
cakúdor e o impelente da máquina
e avança entre eles pelo movimento
do impelente, que o agarra com os
seus dentes. A agulha movimentuse
através de uma tenda na chapa da
agulha e fornece a linha superior.
A linha inferior provém da bobina.

COMO SE EXECUTA UM PONTO

Arte à máquina. As máquinas


de costura podem bordar. Neste
trabalho, a direcção dos pontos A agulha atravessa o tecido para leixir a linha superior à bobina (]). Quando sobe, a agulha deixa
pôde ser variada ã vontade, de uma laçada de linha (2). O gancho rotativo que rodeia a bobina faz passar a laçada por trás e à volta
sengatando-se o impelente. A da linha da bobina (3). Quando o gancho atinge uma certa posição, a laçada solta se (4). A agulha
alteração da tensão produziu continua a subir e estica a linha (5).
pontos muito soltos.

255
C.UMU r U I N U U I N A '

Forque flutuam os navios de aço?


Arquimedes, que viveu há cerca de 2200 não ó tão densa como 0 ouro. Comparan-
anos, entrava um dia no banho quando do o volume da coroa (medido pela quan
descobriu o princípio da flutuação, princí- tidade de água que ela deslocava) com os ^ f ^ P a r a que
pio osso que explica a razão pela qual na- volumes de iguais pesos de ouro e de prata, w o navio flu-
vios de aço pesando milhares de toneladas foi capaz de dizer ao rei que a sua coroa tue, é preciso
j u e d e s l o q u e um
não se afundam. Reparou, ao meter-se na não era de ouro puro. Jme de água com a
banheira cheia, que a água deslocada pelo mesma massa que o navio.
seu corpo Iransbordava pelos lados e aper- O princípio da flutuação
cebeu-se num repente de que havia uma Arquimedes formulou então o princípio Deslocação. Arquimedes foi O primeiro a
relação entre o seu peso e o volume de água da flutuação que diz que um corpo, to- compreender que qualquer coisa flutua
deslocado. Ficou Ião excitado que correu tal ou parcialmente mergulhado num flui desde que a sua forma desloque a sua mas-
nu para a rua gritando "Eureka!" ("Desço do, sofre uma impulsão igual ao peso do sa em água antes de atingir o ponto em que
bri!") — pelo menos assim se conta. volume do fluido deslocado. irá submergir.
Mas Arquimedes, nessa altura, não esta- A flutuação de um navio de aço depen- Nível do convés
va preocupado com navios. Aquilo que de da forma como o seu peso é distribuído.
descobrira fora a resposta a um problema Assim, um bloco sólido de aço posto na
difícil posto pelo rei Hierão II de Siracusa, superfície de um tanque afunda-se. mas o
onde Arquimedes vivia. Situada na Sicília, mesmo peso de aço transformado numa
Siracusa faz agora parte da Itália, mas era tigela flutua isto acontece porque o
grega na Antiguidade. O rei queria saber se peso da tigela está distribuído por uma
a sua coroa nova era de ouro puro ou conti- área maior, permitindo lhe deslocar o seu
nha também prata. Arquimedes sabia que, próprio peso de água antes que submerja.
se a coroa fosse parcialmente de prata, Um navio de aço, tal como a tigela, flutua
ocuparia mais espaço que uma coroa de porque é oco, e por isso o seu peso c larga-
ouro puro do mesmo peso. porque a prata mente distribuído sobre a água. A profun-
didade da quilha Marcas do bordo livre. Estas marcas m
abaixo da linha de dicam o calado máximo que o navio pode
água é chamada o almgir sem submergir e sáo atribuídas pe-
calado. Os navios las autoridades nacionais ou por sociedu
possuem marcas des de classificação como o Uoyds Register
do b o r d o livre ofShipping. Em cima. vê se uma marca atri-
(hucltines) que in- buída pelo Uoya"s (LR). O diâmetro do
dicam o máximo círculo está alinhado com a linha de Verão
calado permitido (S = summer. Verão) no costado do navio.

O PESO DOS NAVIOS


Os maiores porta-aviões rio Mundo, ria classe "Nimitz" da
Marinha Norte Americana, têm 333 m cie comprimento e
uma "tonelagem de deslocamento" de quase 91 500 t.
Este número exprime o peso total rio navio e inclui o
que ele carrega. Só os navios da Marinha de Guerra são
medidos nesta unidade: as dimensões dos navios de
carga e de passageiros são expressas diferentemente.
O maior navio de carga seca do Mundo, o norueguês
Berge Stahl, por exemplo, com 343 m de compri
mento, c descrito como tendo acima de 364 700 t de
porte. Esta tonelagem refere se à capacidade de carga,
não tomando em conta o peso do próprio navio.
0 maior navio de passageiros do Mundo, o
Sovereign of the Seas. c descrito como tendo
73 200 t de arqueação bruta, que não representa
o poso rio barco, mas o volume de quase todo
o espaço interior, atribuindo-.se l t ao espaço
do I00 pés cúbicos (2,83 m3).

O comprimento do Berge Stahl excede


a altura da Tone Eiffel em quase 40 m.
Gigante dos mares. O Berge Stahl era o maior navio de carga do
Mundo quando foi lançado u água, em 1986. Tem 343 m de compri
mento e uma capacidade de carga superior a 360 000 t.

256
Como um submarino fica submerso durante semanas

Quase 160 anos separam o primeiro sub- depois de emergir e activar os motores a O submarino - antigamente e agora.
marino Nautilus, inventado em 1800, e o diesel para recarregar as baterias. Em 1944, O IISS Whale irrompe do gelo ao vir à super-
primeiro submarino nuclear, o USS Nauti- os Alemães começaram a utilizar o schnor- fície no Pólo Norte em 1969 (em cima). Este
lus. O primeiro linha uma tripulação de kei, que aspirava ar ria superfície, permitin- navio de propulsão nuclear pode ficar sub-
três homens e podia submergir durante do usar os motores a diesel e aumentando merso durante semanas, contrariamente
quatro horas. O seu homónimo nuclear, assim o tempo de submersão. 00 submarino a vapor de 1879 (fotografia
com mais de 100 pessoas a bordo, podia O desenvolvimento da propulsão nuclear inserida), que apenas podia mergulhar cer
ficar submerso durante semanas. mudou tudo. O reactor nuclear não precisa ca de uma hora e viajar algumas milhas.
Na II Guerra Mundial, os U-Boote ale- de ar e exige pequeníssima quantidade de
mães que atacavam os comboios no Atlân- combustível. O USS Nautilus entrou ao ser- O calor do reactor fornece vapor para a
tico eram accionados à superfície por mo- viço em Janeiro de 1955 e podia deslocar-se propulsão e para gerar electricidade; a água
tores a diesel — que precisam de ar para debaixo de água a 20 nós (37 km/h). Como potável é destilada a partir da água do mar. O
funcionar - e por motores eléctricos a ba- os seus sucessores, tinha um pequeno ar que a tripulação respira é constantemen-
teria quando submersos. O mais avançado reactor a água pressurizada, cujo reabasteci te purificado por máquinas, e o conteúdo
submarino alemão da época, o Tipo XXI, mento se fazia removendo o núcleo de urâ- de oxigénio é reposto pela água do mar —
podia submergir durante dois dias à veloci- nio e substituindo o por um novo. Cada fazendo passar nela uma corrente eléctrica
dade de 6 nós (11 km/h) ou durante quatro, núcleo fornece energia suficiente para cer a fim de separar os seus átomos de oxigénio
se se deslocasse mais lentamente. Tinha ca de 10 dias de operação. e de hidrogénio.

257
- • - HO TA DO TRITON A VIAGEM SUBMARINA DO "TRITON"
ROTA DE FERNÃO Entre Feuereiro e Maio de 1960, O submarino nu-
DE MAGALHÃES clear (JSS Triton circum-navegou a Terra por
baixo de água. Seguiu praticamente a mes-
ma rota que a da expedição comandada
pelo navegador português Fernão de
Magalhães, ao serviço do rei de Es-
panha, no principio do século xvt, a
primeira viagem de circum-nave-
gação do Globo. O Triton, pri-
meiro submarino nuclear de
dois reactores, demorou três
meses a percorrer as 41 500
milhas (66 786 km), contra
os três anos da viagem dos
navios de Magalhães. Du-
rante aquelas semanas, o
submarino nunca nave
gou à superfície, mas
emergiu parcialmente
por duas vezes, uma das
quais para desembarcar
um tripulante doente. Em I
de Abril, o Triton passou na
ilha onde Fernão de Maga
Ihães foi morto, a ilha de Mac-
tan, nas Filipinas, e emergiu
parcialmente em Cádis em 2 de
Maio, em honra do navegador
português.
O submarino transportava 175 tri-
pulantes e 8 cientistas, que fizeram ex-
periências com a pressão do ar, o controle
do oxigénio e problemas associados a uma
longa submersão. Médicos e psicólogos obser-
vavam os tripulantes, procurando indícios de
doença ou fadiga menta! que poderiam surgir depois
de tanto tempo fechados em tão pequeno espaço.

O INTERIOR DE UM SUBMARINO NUCLEAR


Os submarinos nucleares actuais têm um comprimen-
to de cerca de 90 m. A sua tripulação é de perto de 140
homens, trabalhando em turnos. Há espaço para arma
zenar alimentos para vários meses, e a cantina serve
também de sala de jogos ou de cinema.

Veio do
hélice eléctrico
Mísseis. Torpedos com cerca
de 6 m são lançados pelos tu-
bos da proa sobre alvos den-
Sala de comando. A navega- tro de água. A pontaria é con-
Armas nucleares. Nalguns ção e o disparo das armas são trolada por computador. Os
Energia. O calor do reactor nuclear, cujo submarinos guardam-se em controlados a partir desta mísseis que flutuam até á su-
combustível é urânio, gera vapor que faz tubos verticais mísseis de sala. Dois pilotos " v ã o âo perfície e depois se lançam
mover as turbinas ligadas ao veio do hé- longo alcance que são dispa- leme" em frente do quadro de no ar são disparados através
lice. rados de debaixo de água. instrumentos. dos mesmos tubos,

258
Como se navega um submarino debaixo de água
Os submarinos navegam submersos mui- nar a profundidade da água por baixo do Na década de 90, serão colocados em
tas vezes durante semanas. Os sistemas de navio, a fim de se evitar que encalhe. órbita os últimos dos 18 satélites de sistema
navegação permitem-lhes saber onde es- Os sistemas de inércia são, de um modo GPS a uma altitude de 20 000 km, circun-
tão com um erro inferior a 100 m. geral, precisos, mas os pequenos erros dando a Terra a intervalos de 12 horas. Eles
Estes sistemas, conhecidos por siste- que ainda cometem vão-se acumulando. garantem assim que, em qualquer altura,
mas de navegação por inércia, são contro- Assim, têm de ser periodicamente reajus- pelo menos quatro satélites estarão dispo-
lados por computador, que em cada sub- tados, o que se faz através da captação de níveis para que os navegadores calculem a
marino existem normalmente em número sinais rádio dos satélites espaciais, que fa- posição dos seus navios com um erro má-
de dois, funcionando independentemen- zem parte do Sistema de Posicionamento ximo de 500 m.
te. São uma versão moderna de navegação Global (GPS) americano Navstar. Para O sistema GPS substituiu praticamente
estimada - isto é, de determinação da po- captar esses sinais, o submarino tem de os anteriores métodos de navegação sub
sição através de um registo contínuo da emergir parcialmente. marina, como o sistema OMEGA, mas os
distancia navegada e do rumo. Os satélites transmitem uma mensa- submarinos ainda mantém este como
O sistema de navegação por inércia é gem por rádio que contém pormenores apoio. O OMEGA detecta sinais rádio emi-
mantido absolutamente na horizontal e rigorosos acerca da sua órbita e um sinal tidos de oito estações espalhadas pela su-
apontado numa direcção fixa por giroscó horário controlado por um relógio atómi- perfície da Terra - no Japão, Havai, Aus-
pios, seja qual for o comportamento do co. Na verdade, esse sinal diz: "São agora X trália, Argentina, Dakola do Norte (EDA),
submarino. horas." O submarino utiliza o seu relógio Noruega, Libéria e ilha da Reunião. Estes
No início da viagem, introduz-se nos ins- de bordo para calcular quanto tempo o postos transmitem em comprimentos de
trumentos a posição exacta do submarino. sinal demora a chegar. Como as ondas rá onda muito longos, pelo que os seus sinais
Depois, um acelerómetro mede o movi- dio se propagam a 300 000 knvs, os nave- se propagam em volta do Mundo. Os sinais
mento em todas as direcções e o compu- gadores podem calcular a distância entre o são sincronizados e, medindo as diferen-
tador calcula a distância percorrida e a di- submarino e o satélite pelo tempo que o ças de tempo da respectiva recepção, a po-
recção em que se navegou, determinando sinal demora. Calculando as distâncias a sição de um submarino pode ser calculada
assim a posição presente. três satélites GPS, pode marcar-se exacta- com uma margem de erro de aproximada-
Utiliza-se o sonar (p. 154) para determi- mente numa carta a posição do navio. mente 3 km.

Cabinas pressurizadas — ar precioso acima das nuvens


Se subíssemos de baJão até grande altura e No entanto, as pessoas estão acostuma- introduzido na cabina. Depois de circular
sem qualquer protecção, começaríamos a das a respirar o ar à pressão aproximada de pelo avião, o ar é gradualmente escoado
sentir dores de cabeça e dificuldades de 1 kg/cm2. A essa pressão, o oxigénio é ab- para a atmosfera através de outras válvulas
respiração quando o balão atingisse cerca sorvido pelo sangue e transportado a to- e continuamente substituído por ar prove-
de 3000 m de altitude. Estes sintomas se- das as células para que o organismo fun- niente dos compressores.
riam provocados pela diminuição da pres- cione devidamente. Se o avião se despressurizar subitamen-
são atmosférica à medida que se sobe. A medida que se sobe mais acima do te, máscaras de oxigénio de emergência
Pelos 5500 m, a dor de cabeça seria for- nível do mar, o ar vai-se tornando menos caem em frente dos passageiros, que po-
tíssima e a respiração muito mais difícil. denso e a pressão diminui. Há menos oxi- dem usá-las para respirar enquanto o avião
Aos 7500 m, seria quase impossível respi- génio presente e menos pressão para o não tiver descido até uma altitude segura.
rar e provavelmente começariam a sair ga- introduzir no sangue. Por este motivo, o
ses do sangue. Acima dos 9000 m, a carên- organismo começa a ressentir-se da falta Nas profundezas
cia de oxigénio no ar provocar-nos-ia per- de oxigénio. Assim, as cabinas dos aviões O problema nos submarinos e noutros
da da consciência. Contudo, se tivéssemos são pressurizadas, isto é, nelas o ar é manti- submersíveis é inverso — a pressão no ex-
levado connosco um suprimento de oxi do sob pressão para que os passageiros terior é maior que no seu interior.
génio, poderíamos chegar aos 12 000 m possam respirar facilmente. As cabinas são A pressão da água aumenta aproxima-
antes de tal acontecer. estanques e suficientemente fortes para damente de uma atmosfera por cada 10 m
Se o balão continuasse a subir, acabaría- suportar a diferença de pressão entre o in- que se desce. A pressão a 30 m, por exem-
mos por atingir o ponto — aos 19 000 m - terior (alta) e o exterior (baixa). Para limi- plo, é de quatro atmosferas.
em que a pressão do ar seria tão baixa que tar os esforços sobre a fuselagem, o ar da Os submersíveis destinados a navega-
o ponto de ebulição da água baixaria para cabina não é mantido à pressão ao nível do rem a grande profundidade são construí-
37"C, que é a temperatura normal do cor- mar, mas à pressão equivalente a cerca de dos com um casco capaz de suportar a
po. Nessa altura, o nosso sangue ferveria. 8000 pés (2400 m). A pressão é gradual- pressão, que de outra forma os esmagaria,
Como é, então, que os aviões a jacto mente reduzida até este nível após a desco- e o ar no seu interior é geralmente mantido
transportam constantemente passageiros lagem e reposta à pressão do nível do mar à pressão do ar ao nível do mar. O oxigénio
a altitudes de 35 000 pés (10 500 m) sem imediatamente antes da aterragem. é fornecido por garrafas pressurizadas e o
que as pessoas sejam incomodadas? O fornecimento de ar para se obter a ar é constantemente filtrado por hidróxido
Os aviões voam a estas altitudes para pressão da cabina é feito pelos compresso do lítio, que absorve o dióxido de carbono
evitar o mau tempo a altitudes inferiores e res dos motores a jacto. O ar é arrefecido exalado pelos tripulantes. Os submarinos
porque os motores a jacto funcionam por urn sistema de refrigeração e a sua nucleares têm um sistema de ar condicio-
mais eficientemente com ar pouco denso. pressão regulada por válvulas antes de ser nado muito mais sofisticado (v. p. 257).

259
George Stephenson: o homem
que pôs os comboios em marcha
Vieram de quilómetros ern redor - a pé, a tes com cavalos estavam contados e alvo-
cavalo e em carroças de burros — para recia a era do comboio.
assistir à inauguração do primeiro com- Nascido na aldeia mineira de Wylam,
boio a vapor destinado ao público. "A exci- perto de Newcastle upon Tyne, no North-
tação de muitos espíritos passou a desa- umberland, em 9 de Junho de 1781, Geor-
pontamento", escreveu um historiador ge Stephenson era o filho autodidacta de
dos caminhos de ferro, "ao verificarem que um mecânico de minas de carvão. O seu
a locomotiva não fora construída para imi- encanto pelo vapor começou em 1813,
tar um verdadeito quadrúpede ... não se quando — como mecânico-chefe da mina
assemelhava a um cavalo automático mar- de Killingworth, no Northumberland —
chando nas quatro patas." examinou uma das "caldeiras a vapor so
Mesmo assim, os espectadores ficaram bre rodas" inventadas por um director de
bastante admirados com o aspecto — e o minas, John Blenkinsop, e utilizadas para Figura discreta. Reservado e discreto,
ruído - da máquina a vapor de George transportar carvão em várias minas do George Stephenson recusou a maior parte
Stephenson, a pioneira Locomotion. Em- Nordeste. das honrarias que lhe foram oferecidas nu
bora transportasse passageiros, a linha No ano seguinte, Stephenson construiu velhice — entre elas um grau de cavaleiro e
destinava-se a transportar carvão das mi- a sua própria locomotiva a vapor, a Blú- um lugar no Parlamento.
nas do interior para os cais de Stockton-on- cher, do nome do marechal-de-campo
-Tees. prussiano que desempenhara papel cru- vani em dentes nos lados dos carris, a Blii
0 inventor da locomotiva estava aos co- cial nas Guerras Napoleónicas. cher tinha rodas de verdugo que rolavam
mandos na manhã de 27 de Setembro de Contrariamente à máquina de Blenkin- sobre carris lisos, permitindo uma marcha
1825, quando o comboio — com os seus sop, que linha rodas dentadas que engala- mais rápida e suave. A Blúcher começou a
32 vagões abertos transportando mais de
300 passageiros e mais 12 de carvão com
pessoas empoleiradas — iniciou o seu per-
curso de 32 km, desde a mina de Shildon
até Darlington, e da/ para Stockton.
A princípio, eram precedidos por cava-
leiros com bandeiras para avisar da aproxi-
mação da locomotiva. Gradualmente, en-
quanto o comboio atingia velocidades de
24 km/h, os cavaleiros afastaram-se e fo-
ram deixados para trás. O seu lugar foi to
mado por caçadores de casacas encarna-
das, também a cavalo, e por uma carrua-
gem puxada a duas parelhas, que foi igual-
mente ultrapassada.
Na altura em que a Locomotion chegou
a Stockton — onde se tinham juntado
mais de 40 000 pessoas e uma banda toca-
va o hino nacional —, os dias dos transpor-

A vapor. Esta réplica (à direita) da máqui-


na a vapor Locomotion, de Stephenson, de
1825, percorre os carris no Museu ao Ar Li-
vre, em Beamish, no condado de Durham

V 7 ^ - - fíF^

*®/JL

260
v^wmw i u n v , i u n n ;

funcionar em Killingworth em 1814, mas Huskisson saíram para desentorpecer as 2500 km; e na década de 1890 já havia
linha avarias constantes. pernas ao lado do comboio. O duque de comboios por todo o Mundo, levando o
Durante meses, George Stephenson Wellington acenou ao deputado e abriu a progresso a zonas inexploradas nas duas
modificou e aperfeiçoou a sua máquina, porta da sua carruagem com panejamen- Américas, na Austrália e na África Austral.
até que inventou um sistema em que o tos dourados e carmins. Huskisson avan- Conhecido como o "Pai dos Com-
vapor rio escape era dirigido para dentro çou para Wellington, apertaram as mãos, e boios", Stephenson trabalhou como con-
da chaminé através de um estreito tubo. estavam a conversar quando a Rocket sur- selheiro e consultor em numerosos pro-
Criava-se assim uma corrente que aurnen giu como um trovão na outra linha. jectos de caminhos de ferro na Grã-Breta-
tava a tiragem na fornalha, proporcionan- O príncipe Esterhazy, pequeno e franzi- nha, na Bélgica e em oulros países euro-
do por isso mais potência e velocidade. no, foi içado para uma das carrugens. Mas peus.
0 sucesso que teve posteriormente Huskisson, com 60 anos, parcialmente pa-
com a Locomotion levou a que, em 1826, ralisado de um dos lados, foi menos ágil. Bilhetes de passagem. A parte de um bi-
fosse nomeado engenheiro responsável Numa tentativa para alcançar um lugar se- lhete de 1832 (em baixo) que ficava na pos-
de um projecto de ligação entre Liverpool e guro, tropeçou e caiu no caminho da loco se do passageiro. Para alguns hauia iam
Manchester para passageiros e carga. Para motiva que se aproximava. Incapaz de tra- bém passagens gratuitas (ao fundo).
este efeito, ele e seu filho Robert desenha- var a tempo, a Rocket passou sobre a coxa

I
ram c construíram na sua oficina de New- de Huskisson, esmagando-a. "Vou mor-
castle uma nova máquina revolucionária, rer!", grilava a vítima em agonia.
a Rocket. Estava equipada com uma cal- Um dos convidados aplicou rapida- M».^SSKSSSsflR
deira multitubular em que a água passava a mente um torniquete, feito Jfl
vapor em contacto com 25 tubos de cobre com um lenço, para tentar es-
- de 7,5 cm de diâmetro cada um — tancar a hemorragia. Com
aquecidos pela fornalha. grande presença de espírito, Ge-
O Liverpool and Manchester Raifway foi orge Stephenson mandou de-
inaugurado em 15 de Setembro de 1830, satrelar Iodas as carruagens da ^ f/.r...*;,.
quando mais de 50 000 espectadores se Northumbrian menos a primei-
juntaram no ponto de partida, o estaleiro ra. Meteu nesta Huskisson, vol-
das máquinas em Liverpool. Foi disparado tou aos comandos da máquina
um canhão, e oito locomotivas - incluin- e dirigiu-se a toda a velocidade
do a Rocket — lançaram-se a todo o vapor. para a vila de Eccles, a 24 km
À frente ia a Northumbrian, o mais recente dali, nos arredores de Manches-
e mais potente "cavalo de ferro", conduzi ter. Chegou no tempo recorde
da pelo próprio George Stephenson. de 25 minutos, mas Huskisson
Viajando nas carruagens da Northum- morreu nessa noite na residên-
brian iam o primeiro-ministro e herói de cia paroquial o primeiro pas-
Waterloo, o duque de Wellington; o em- sageiro vitima de um acidente
baixador da Áustria, o príncipe Paulo Es- de comboio.
terhazy. e um dos mais dedicados apoian- Na manhã seguinte, os pri-
tes do caminho de ferro, William Huskis- meiros 130 passageiros que pa-
son, deputado conservador por Liverpool. garam bilhete partiram de Li-
O cortejo prosseguiu sem incidentes até verpool para Manchester. Em
a Northumbrian parar em Parkside, a cer- 1840, a rede brilânica de cami-
ca de 30 km de Liverpool, para meter car- nhos de ferro já atingia cerca de
vão e água. Dois dos comboios seguintes,
o North Slar e o Phoenix, apanharam e Sobrevivente acarinhado
ultrapassaram a Northumbrian numa li- Os restos modificados da re-
nha paralela. volucionária Rocket, de Ste-
O príncipe Esterhazy e o esgalgado Mr. phenson, com a charni
né originul em posição
Primeira a chegar. Conduzida pelo pró- diferente depois dos
prio Stephenson (em baixo), a locomotiva ensaios de Rainhill,
Rocket foi a mais rápida e mais potente nas encontram-se hoje
experiências leuadas a cabo em Rainhill, no Museu da Ciên
perto de Liverpool em 1829. cia, em Londres.


V..UMU lUINCIUINA.'

Como é que um avião de passageiros levanta voo?


Um Junibo Boeing 747, completamente velocidade. Em consequência do aumento aumenta também a sustentação. Por isso,
carregado de combustível e com cerca de de velocidade do ar, a sua pressão baixa e as os aviões de baixa velocidade precisam de
500 passageiros, pesa mais de 350 t e, con- asas têm tendência para levantar. asas grandes e curvas para gerarem susten-
tudo, consegue ir para o ar e voar. Corno A sustentação e o peso são as duas gran- tação suficiente. Os de grande velocidade
consegue ele esta proeza? O segredo está des forças opostas que se exercem sobre precisam de asas mais pequenas com ape-
no contorno do perfil transversal das asas, um aeroplano em voo. As outras duas são a nas uma ligeira curvatura.
que é arredondado à frente, mais ou menos propulsão — a força para diante, produzi A sustentação é também influenciada
plano em baixo, curvo em cima e afilado na da pelos motores — e a resistência ao pelo ângulo com que as asas atacam o flu-
parte de trás. É este perfil que permite ao avanço — a resistência do ar que o avião xo do ar. Os aviões são desenhados por
avião descolar: as asas atacam o ar quando encontra. A sustentação criada por uma forma que as asas tenham um pequeno
se deslocam para a frente, e este, ao passar asa aumenta com a velocidade do ar. Au ângulo de inclinação quando voam na ho-
pela superfície superior curva, aumenta de mentando a superfície e a curvatura da asa, rizontal - chamado o ângulo de ataque.
UUMU FUNUUNA7
Sustentação

Quando a velocidade do avião diminui, a AS FORÇAS DO VOO


sua altitude pode ser mantida levantando o Para que um avião voe, a sus-
nariz e aumentando cada vez mais o ângu- tentação e a propulsão têm de
lo de ataque. Mas se este for aumentado ser superiores ao seu peso e à
para além dos 15°, o escoamento laminar resistência ao avanço.
do ar por cima das asas é destruído, per-
dendo-se sustentação, e o aparelho entra
"em perda". A velocidade a que este fe- Peso Sustentação
Pressão baixa •#•
Contorno de perfil
Descolagem de um "Jumbo". Para se aerodinâmico
elevar no ar, o avião tem de deslocar-se a
Maior velocidade
grande velocidade no solo, acelerando até
Ptessáo alta
que a sustentação criada pelas asas se tor Quando um perfil se desloca Quanto maior a velocidade,
ne superior ao seu peso. Urn Boeing 747 peto ar, criam-se pressões Na superfície superior, menor a pressão. O avião
muito carregado, como o que se vê em bai- no escoamento do ar que curva, o ar move-se mais levanta quando u pressão
xo, tem de atingir a velocidade de cerca de SÕO diferentes na superfície depressa a sua pressão na parte inferior da asa é
300 kmlh antes de poder descolar. superior e na inferior baixa e a asa sobe. maior que na parte superior.
COMO FUNCIONA''

COMO FUNCIONA UM MOTOR A JACTO

O ar é admitido no
motor c comprimido pelo tuftfO
ventilador e compressor antes de entrar
na câmara de combustão. E então pulverizado
com combustível e inflamado, criando um jacto de gases
quentes. No turbofan, um ventilador faz
passar uma corrente de ar
para maior eficiência
e menos y^

r
ruído do
motor.

Gases de escape
1 iiiliiiu

Câmara de combustão
Combustível
inflamado
Os gases quentes são expeli-
dos para trás a alta vekxidade
Ar comprimido e a reacção impele o avião em
Admissão de ar Ventilador -Compressor sentido oposto.

nómeno ocorro chama-se velocidade de Alguns aviões ainda utilizam hélices tendência para picar ou oscilar. Chama-
perda. na propulsão. A hélice possui um certo se frequentemente a estas duas superfí-
Como o peso de um avião se opõe direc- número de pás que, tal como as asas, têm cies os estabilizadores vertical e hori-
tamente à sua sustentação, é fundamental um contorno de perfil aerodinâmico. As zontal.
que seja o mais leve possível, sem no en- hélices modernas são de passo variável: o O avião tem ainda uma tendência para
tanto sacrificar a resistência da estrutura. ângulo com que atacam o ar é alterado "enrolar" na horizontal, o que é de certo
Consegue-se urna estrutura leve mas resis automaticamente, conforme as condi modo contrabalançado pela colocação
tente construindo-a com ligas de alumínio ções rio voo. À descolagem, as pás preci- rias asas om ângulo diedro - inclinarias
e materiais à base de fibras de carbono. sam de um ângulo pequeno para conse ligeiramente para cima ric modo que fa-
guirem a máxima propulsão a baixa ve- çam um V muito aberto quando vistas de
Desenvolvendo a propulsão locidade, como um automóvel em pri- frente ou de trás. Esta forma é particular-
A maioria dos aviões actuais possui moto meira. Em voo, o ângulo é maior para dar mente notória em aviões ligeiros de pe-
res a jacto, que geram um impulso quei- ao avião o máximo possível de movi- quena velocidade. As asas de um avião
mando querosene e ejectando, a alta velo- mento para diante por cada rotação das são flexíveis para abanarem ligeiramente
cidade, os gases quentes provenientes da pás. para cima c para baixo em resposta à tur-
combustão. Quando o jacto de gases é Muitos aviões a hélice são accionados bulência do ar - o que as impede de se
ejectado para trás, o avião é impelido para por motores a gasolina que funcionam partirem quando sujeitas a esforço.
diante por reacção. de forma semelhante aos automóveis.
Estão em utilização dois tipos principais Outros são accionados por turbopropul- Como o piloto comanda o avião
de motor a jaclo — o turborreactor e o sores. Para subir, descer ou virar, o piloto acciona
turbofan. ou turbina com ventilador. No os planos de comando nos bordos poste-
turborreactor, o ar é admitido e comprimi- Aerodínamismo e estabilidade riores, ou de fuga, das asas e da cauda. Os
do por um compressor. O combustível é A resistência ao avanço devo manter-se planos de comando são painéis articula-
então pulverizado no ar comprimido e a no mínimo para que o voo seja económi- dos que podem ser movimentados por
mistura inflamada. Os gases quentes pro co. Assim, todas as superfícies rio avião meio do manche em forma de alavanca ou
duzidos accionam as palhetas de uma tur- são Ião lisas quanto possível para que guiador c dos pedais.
bina antes de se escaparem pela retaguar- não haja irregularidades que obstruam o Nas asas, os principais planos de co
da através da tubeira de escape. A turbina é escoamento do ar. O avião é ainda aoro- mando são os ailerons — um em cada asa.
accionada pelo compressor. O motor tur dinamizado a forma da fuselagem Movimentando-se o manche para a direita,
bofan funciona com base no mesmo prin- destina-se a criar o mínimo de resistência lovanta-se o aileron da direita e baixa-se o
cípio, mas possui um grande ventilador ao ar. da esquerda, o que faz com que a asa direi-
em frente rio compressor. Kste faz movi- Para um voo estável, o avião precisa de ta desça e a esquerda suba, manobra de-
mentar o ar em redor rio motor, mas tam- uma cauda. A cauda tem duas partes — a nominada pranchamento. A deslocação
bém através dele. Um motor deste tipo faz empenagem vertical e a empenagem ho- do manche para a esquerda faz o avião
passar mais ar a menor velocidade que no rizontal. A primeira corrige a tendência inclinar-se para a esquerda.
turborreactor. F. mais eficiente para aviões do avião para guinar ou girar enquanto se Para virar o nariz do avião para a esquer-
mais lentos, como os de passageiros. desloca no ar. A segunda corrige a sua da ou para a direita, 0 piloto movimenta o

264
Senhores do céu. A acrobacia em grupo e o ooo em formação em jactos de alta
leme de direcção, plano articulado na em- velocidade exigem grande precisão e coordenação. Em cima, exibição dos Red Arrows
penagcm vcrlical, utilizando os pedais. (Setas Vermelhas), da Royal Air Force.
Pressionando o pedal da esquerda, vira o
leme para a esquerda, pelo que o nariz vira
também para a esquerda. Pressionando o
pedal da direita, vira o leme para a direita e
o nariz igualmente para a direita. O leme de
direcção, só por si, não faz o avião virar —
apenas muda a sua posição no ar: devido à
sua tendência para se manter a direito, o
avião "derrapa". Para virar sem derrapa-
gem, o piloto utiliza uma combinarão dos
ailerons o do leme de direcção, mano
bra chamada pranchar e rodar.
Para colocar o nariz do avião
para cima ou para baixo,
o piloto faz funcionar
os planos de coman
do da empenagem
horizontal, chamados
lemes de profundidade.
Puxar o manche do avião faz rodar
para cima os lemes de profundidade,
provocando a subida do nariz. Levá-
-lo à frente faz os lemes rodar para Leme
para a
baixo e descer o nariz. Mas para fa- esquerda
zer o avião subir ou descer, tem
igualmente de se manobrar o ace- Aileron para cima
lerador do motor. Para subir, o pi- A asa esquerda baixa
loto abre o estrangulador para
admitir mais combustível no
motor o aumentar a velocidade C o m a n d o de um avião
e levanta ao mesmo tempo os Para mudar de direcção, o pi-
lemes de profundidade. Maior velocida loto serve-se do manche e dos
de significa maior sustentação, por isso, pedais para alterar a posição
com o nariz apontando para cima, o dos planos móveis das asas e
avião sobe. Para descer, os lemes de pro- da cauda.
COMO KUNUUNA7

fundidade são baixados enquanto o es- Descolagem e aterragem Quando o avião aterra, a questão não
trangulador se vai fechando. Menor velo- São as duas manobras de voo mais críti- está em aumentar a sustentação, mas em
cidade significa menor sustentação, por cas, pois o avião tem de se deslocar mais eliminá-la. Para tal, recorre-se aos spoi-
isso o avião perde altitude. lentamente e, portanto, as asas produ- lers (ou freios aerodinâmicos) — planos
zem uma sustentação menor. articulados habitualmente situados à
Comandos assistidos Para aumentar a sustentação a veloci- frente dos flaps. São abertos imediata
Nos aviões modernos, os comandos são dades baixas, as asas estão equipadas mente após a aterragem e viram-se para
assistidos, funcionando por pressão hi- com outros planos de comando — flaps cima, formando ângulo recto com a asa.
dráulica. Obtém-se assim a força necessá- atrás e bordos de ataque avançados à Deste modo, aumenta-se a resistência ao
ria para mover os planos de comando con- frente. Os flaps deslizam para fora e para avanço, perturbando o fluxo do ar sobre
tra o fluxo do ar a altas velocidades. A maio- baixo em calhas, aumentando a super- as asas, de modo que estas perdem toda a
ria dos aviões modernos voa quase todo o fície da asa e exagerando a sua curvatura, sua sustentação. As primeiras travagens
tempo com piloto automático — sistema para se obter uma maior sustentação. Os são efectuadas por inversão do jacto — o
comandado por computador a partir de bordos de ataque avançados aplicados motor a jacto possui um mecanismo que
informações introduzidas por aparelhos ao bordo de ataque das asas são super- permite inverter o sentido dos gases de
de medição que detectam as alterações fícies curvas móveis. Quando abrem, escape, deflectindo-os para a frente.
das condições de voo, como a velocidade melhoram o escoamento do ar em torno Logo que o avião role suficientemente
do vento e os desvios na horizontal e na da asa, aumentando também a susten- devagar, o piloto aplica os travões das
vertical. tação. rodas.

Flap exterior

Spoiler interior

Flap interior
Pioneiros. O americano Oruilte Wright pilotou o primeiro aeroplano
do Mundo (em cima) em Kittyhawk, na Carolina do Norte, em 1903. Cerca
de 420 unos antes, o pintor e inventor italiano Leonardo da Vinci produzira
o primeiro desenho de sempre para um avião. 0 seu ornitóptero teve
por modelo as asas de uma ave e previa um mecanismo para o piloto
bater as asas usando os braços e as pernas Mas o aparelho

O homem sempre
quis voar como
os pássaros. Ao longo dos
seria demasiadamente pesado para voar.

relacionado com a bro de 1903, em Kittyhawk, na Carqlina


tempos, muitos o tentaram respectiva pressão, que do Norte, Orville voou pela primeira vez
atando asas aos braços e batcndo-as. Mas iria levar ao desenho da asa; e no último num avião com motor, o Flyer.
os nossos músculos dos braços e do peito ano do século xvm, pelo menos um ho- O aeroplano dos irmãos Wright atin-
não são suficientemente fortes. Quando mem começara a avaliar as forças impli- giu a custo a velocidade de 50 km/h, er-
| * finalmente o homem aprendeu a voar, em cadas no voo de objectos mais pesados gueu-sc apenas a alguns pés acima do
1783, fê-lo em balões cheios com ar que o ar. Tratava-se do inglês George Cay- solo e manteve-se no ar somente uns
quente ou hidrogénio. ley, que desenhou essas forças num dis- segundos, percorrendo cer
Mas a fascinação co de prata em 1799. No reverso do ca de 37 m. Praticamente, a
polo voo persistia. disco fez o desenho de um pla- totalidade deste voo teria
Em 1738, o cientista nador, e cinco anos depois cabido na fuselagem de um
suíço Daniel Ber construiu um modelo moderno Jumbo. No entanto,
noulli tinha lançado do mesmo. No entan- meio século depois, os voos
o princípio funda- to, só em 1853 cons- de muitas horas eram já ro-
mental da dinâmica truiu um planador em tamí] tina, e hoje os aviões de
dos fluidos (gases e ar), nho natural que consegui passageiros supersóni
efectivamente voar e cos voam ao dobro
transportar o peso da altitude do Evereste e
de um homem. transportam centenas de
Otto Lilienthal, na Alemanha, e passageiros à velocidade de uma bala de
Octave Chanute e os irmãos carabina.
Wright (Orville e Wilbur), nos EUA,
O planador de Cayley. Sir George Cay- fizeram progredir, por seu lado, a Asa voadora. Na década de 1890, Li-
ley (na fotografia) criou em 180-1. um pla- ciência do voo. Foram os irmãos Wright lienthal já voava em planadores, que
nador em modelo reduzido. Em 1853. o que deram o passo seguinte, lógico, apli- construía com ouras de salgueiro e pano
cocheiro de Cayiey OOOU 460 m num pla- cando a um dos seus planadores um de algodão encerado. Lançando se de
nador verdadeiro. motor leve a gasolina. Em 17 de Dezem- uma colina, subiu até 230 m.

267
I
L U M U t-UlNUUINA;'

O helicóptero: aeronave com asas rotativas


As pás rotativas rio helicóplero não só o seis —, tem um perfil aerodinâmico, como sustentação através da variação de passo
elevam no ar como constituem o seu meio uma asa rie avião (v. p. 263), e o bordo de das pás. Esta pode ser efectuada colectiva
de propulsão — funcionando como asa e ataque (o da frente) inclinado para cima. mente pela alavanca de variação colectiva
hélice. Além disso, se o motor falhar, as pás Para fazer o aparelho levantar, fazem se de passo, ou separadamente pela coluna
podem manter-se em rotação para que o rodar as pás e aumenta se-lhes gradual- de variação cíclica de passo.
aparelho plane até ao solo (auto rotação). mente o passo o ângulo com que ata A alavanca de variação colectiva de pas-
Cada uma destas pás, compridas e dei cam o fluxo de ar. Como resultado, a prés so dá a mesma inclinação simultânea a to-
gadas — o seu número varia de duas a são do ar diminui na superfície superior de das as pás. É utilizaria pelo piloto nas subi
caria pá e aumenta na sua superfície infe- das e descidas verticais. A mediria que o
rior, provocando uma força ascensional. passo é aumentado e se gera mais susten-
Sustentação
do rotor ir
1 H ,..h Veio do rotor
Quando a sustentação nas pás é maior que
o peso do helicóplero, este ergue-se no ar.
tação, o estrangulador do motor é aberto,
em geral automaticamente, para propor-
<rr^ii-^ Uma vez no ar, o voo é comandado pelo
ajustamento da quantidade e direcção da
cionar a necessária força motriz adicional.
A coluna de variação cíclica de passo

v 1 Propulsão

Prato oscilante. Um anel articulado


Perfil aerodinâmico. Aumentar o que permite a inclinação do
passo da pá dá mais sustentação. COMO AS PAS rotor em qualquer direcção.
Bordo d e s ^ \ CRIAM SUSTENTAÇÃO Coluna
a,a ue
^ 1 f Suste,. As pás do helicóptero têm perfil ac de variação
rodinâmico, como as asas de avião. cíclica
Quando giram e o seu passo é gra- de passo

"Ti • dualmente aumentado, a pressão de


ar diminui na sua face superior e au-
menta na inferior - criando susten
Peso \ y
tacão no helicóptero.

Rotor da cauda. Um pequeno


rotor de cauda, vertical,
mpede que a fuselagem
do helicóptero rode.

Pedais do roto-
l,i ciiudíi

Alavanca de variação
colectiva e estrangulador
pela alavanca de variação
colectiva de passo, ou Comandos. Dois pedais comandam
individualmente pela coluna o rotor da cauda. Uma alavanca
de variação cíclica de passo, comanda a variação colectiva de pas
causando a inclinação do rotor outra comanda a variação cíclica.
COMO SE MANOBRA UM HELICÓPTERO como um todo — o que impele
A coluna de variação cíclica de passo altera o passo o aparelho nessa direcção.
das pás, individual e sucessivamente, à medida que
rodam. Cria-se assim mais sustentação de um lado
que do outro, fazendo inclinar o rotor. O aparelho é
impelido na direcção em que se inclina o rotor.

Descolagem. Para aumentar a sus- Ganhando altura. A aplicação de maior

iCr O: tentação, o passo de todas as pós é


aumentado pela alavanca de varia-
ção colectiva. Habitualmente, o es-
potência aumenta a variação colectiva de
passo das pás e o aparelho sobe. Para avan-
çar, o rotor é inclinado por meio da coluna de
trangulador abre-se automaticamen- variação cíclica de passo. Esles movimentos
te para fornecer a potência necessária são coordenados para que a transição para
para a descolagem. o voo de translação seja suave.
UUMU rUINUUIW

P
Estabilidade. Usam
' È -se rotores duplos para
evitar que a fuselagem
ande à roda. No
~^^ Chinook (em cima), um
jogo de engrenagens
impede que as pás que
,;'" se interpenetram

w -
Choquem entre si. O
Mil Mi-26 russo (à
esquerda) tem dois rotores
em eixos concêntricos rtxiando em sentidos opostos. 0 maior
helicópiero do Mundo é o Mil Mi-12, de 1001 (em cima, à direita).
A envergadura total dos seus rotores é apenas um pouco inferior
à de um Jumbo.

<

Marcha para diante.


Empurrando para diante a
coluna de variação cíclica, produz
-se maior sustentação sobre a cauda do
helicóptero. 0 rotor inclina-se e impele o
aparelho paru diante a uma altitude constante.

Voo lateral. O piloto empurra a coluna de Marcha atrás. Puxando para trás a coluna
variação cíclica para a direcção em que quer de variação cíclica, dá-se mais sustentação às
Pairamento. Para pairar, o piloto ajusta o seguir, o que faz com que as fxis dêem mais pás quando estas passam sobre a frente do
passo das pás por meio da alavanca de va sustentação de um lado que do outro. 0 rotor aparelho do que quando passam sobre a
riação colectiva, até que a sustentação seja inclina se e impele o helicóptero na direcção cauda, pelo que o rotor se inclina para trás,
ligeiramente superior ao peso do helicóptero. escolhida. permitindo que o helicóptero recue.

269
v,v..mi\..> r u i i ^ i u i i n :

Operação arriscada. Na guerra, os helicópteros são frequentemente o meio de transporte


mais seguro para homens e reabastecimentos. Vemos aqui um helicóptero do Exército Russo
em operação no Afeganistão. Para proteger o aparelho de mísseis termossensíoeis, lançou-se
um fogueie que actua corno chamariz témiico, atraindo sobre si os mísseis inimigos.

ajusta individual e sucessivamente o passo essencial o rotor de cauda para eliminar esta
de cada pá à medida que esta roda. Se a reacção. Alguns helicópteros eliminam-na
coluna é empurrada para diante, o passo de utilizando rotores duplos girando em senti-
cada pá é aumentado quando esta passa dos opostos.
sobre a cauda e diminuído quando passa Os rotores duplos podem eombinar-se
sobre o nariz do helicóptero. Deste modo, por diversas fonnas. No Kamou KA-25 Hor-
gera-se maior sustentação sobre a retaguar- rnone, russo, e no Wagner Sky-Trac, ale-
da do que sobre a frente do aparelho, o que mão, eles rodam em tomo de eixos concên-
faz com que todo o rotor se incline para tricos. No Boeing/Vertol CH-47 Chinook,
diante O helicóptero é impelido para a di americano, estão instalados um à frente e
recçáo em que o rotor se inclina: se este se outro atrás. No Mil Mi-12 Homer, russo, estão
inclina para diante, ele anda para a frente. montados nas extremidades de asas rudi-
Para mudar de direcção quando em voo es- mentares que se projectam da fuselagem.
tacionário, ou "de pairamento", o piloto ac- Os aparelhos de salvamento da Korça Aérea
ciona dois pedais que alteram a propulsão dos EUA Kaman HH43 Huskies têm rotores
do rotor da cauda, fazendo-a desviar-sc nou- duplos aos lados, cujas pás se interpene-
tro sentido. tram.
O rotor da cauda proporciona controlo
direccional a baixas velocidades e em auto- Versátil, mas não rápido
-rotação e, quando o helicóptero está em A velocidade máxima que um helicóptero
Salvamento no mar. Urn hornem doente é voo estacionário, contraria a tendência da pode atingir é de cerca de 400 km/h. Isto
içado para bordo de um helicóptero equipa- fuselagem para se deslocar na direcção porque a essa velocidade as pás do rotor no
do por forma a prestar-the os primeiros socor oposta à das pás - a chamada reacção de seu hemiciclo de avanço atingem quase a
ros no trajecto para o hospital. torque. Nos helicópteros de um só motor é velocidade do som (cerca de 1200 km/h),

270
velocidade à qual todos os aviões normais Na sua maioria, os helicópteros estão poderia fazer um percurso muito mais lon-
encontram problemas de resistência ao equipados com turbomotores, accionan- go e mais rápido com o mesmo consumo
avanço e sustentação. As pás que retroce- do os rotores a velocidade constante. Em- de combustível.
dem, porém, deslocam-se a menos que a bora o motor tenha potência bastante, a Por este motivo, o futuro aponta para
velocidade de translação do aparelho e mal maior parte desta é utilizada na sustenta- um aparelho híbrido .- meio helicóptero,
conseguem gerar sustentação. ção. Um avião com um motor semelhante meio avião —, o avião de rotor basculante.

Do brinquedo à máquina

E mbora o helicóptero, na sua forma presente, tenha apenas


cerca de 50 anos, o princípio da asa giratória é conhecido
há séculos. Os Chineses utilizaram-no há aproximadamente 2500
anos no seu pião voador — uma vareta com pás semelhantes a
uma hélice numa extremidade; fazendo girar a vareta, o brinque-
do levantava voo. Leonardo da Vinci desenhou um helicóptero em
1483. Mas o primeiro helicóptero que transportou um homem e se
elevou um pouco no ar só foi construído em 1907 - pelo francês
Paul Comu, em Lisieux.
Problemas de estabilidade e outros fizeram com que o helicóp-
tero fosse abandonado por quase 30 anos em favor dos aviões.
Muitos dos problemas de concepção foram, contudo, resolvidos
pelo inventor espanhol do autogiro, Juan de la Cierva, em 1919.
Este aparelho estava equipado com um grande rotor que não era
accionado pelo motor, mas girava livremente pelo fluxo de ar
criado pelo movimento do aparelho para a frente. Não podia des-
colar na vertical - tinha de correr na pista para que o rotor girasse
o suficiente para ganhar sustentação.
Só em 1936 o professor alemão Heinrich Focke, da Companhia
Focke-Wulf, criou um helicóptero funcional com dois rotores. Três
anos depois, nos EUA, um engenheiro natural da Rússia, Igor
Sikorsky, inventou um helicóptero de rotor único - o VS-300. Foi
este o verdadeiro antecessor do moderno helicóptero — a mais
versátil das aeronaves.
O aperfeiçoamento do motor a jacto na década de 50 conduziu
à adopção dos turbomotores, que aumentaram consideravelmen-
te as possibilidades de raio de acção e de velocidade. Hoje em dia, o
helicóptero é inestimável não só como transporte militar, avião de
patrulha de todo-o-terreno e grua aérea, como também para salvar
pessoas em locais de difícil acesso.
COMO FUNCIONA7

O "hydrofoil": 'Voando" na água


Comparados com outros meios de trans-
porte, os navios e a maioria dos barcos são
muito lentos. Mesmo os mais rápidos na-
vios de passageiros conseguem pouco
mais de 30 nós — 56 km/h —, e a maioria
dos cargueiros arrasla-se a menos de 20
nós (37 km/h). Os hydrofoiis são, de longe,
os barcos mais rápidos que existem: mal
roçam a água, apoiados em "asas'" sub-
mersas, a 50 ou 60 nós (96-113 knvti).
A velocidade de um navio é baixa, por-
que o casco está, em grande parte, sub-
merso e, portanto, sujeito a considerável
resistência - primeiro, devido ao atrito
entre o costado e a água; depois, por cau
sa da sua resistência às ondas. Quanto
maior for a velocidade, maior será a resis-
tência.
O hydrofoil deve o nome às suas asas
submarinas, denominadas hydrofoiis, ou
muitas vezes apenas foils, ou planos. As
asas têm um perfil aerodinâmico - espes-
so à frente, encurvado extradorso, quase
plano no intradorso e afilado atrás.
Tal como a asa do avião cria uma força
ascensional, denominada sustentação,
quando se move através do ar, assim o
hydrofoil se comporta quando atravessa a
água. Devido ao perfil aerodinâmico dos
foils, a água passa por eles mais rapida-
mente no extradorso do perfil que no intra-
dorso, provocando um diferença de pres-
são. A maior pressão no intradorso obriga
o foil a subir através da água.
Num barco hydrofoil, o casco possui
foils montados à proa e à popa. Parado, o
casco flutua na água como um barco nor-
mal. Mas, à medida que o barco avança, os
foils váo criando sustentação, fazendo sair
o casco da água. A sustentação aumenta
com a velocidade, fazendo levantar cada
vez mais o casco até que ele fica completa
mente fora de água e livre da maior parte
da resistência que lhe reduzia a velocidade.
Como a sustentação aumenta também
com a densidade de fluido e a água é mais
de 800 vezes mais densa que o ar, os foils
são mais pequenos que as asas de avião,
mas têm de ser muito mais resistentes. Uti-
lizam-se dois tipos principais de foils: foils
em V e foils totalmente submersos. Alguns
barcos estão equipados com ambos os ti-
pos - um foil em V à proa e um de sub-
mersão total à popa. A propulsão da maio-
ria dos hydrofoiis é feita por hélices.
O foil de mais larga utilização é o foil em
V, que tem a particularidade de emergir
parcialmente da água. A flutuação é auto-
-ajustada, porque, se os foils submergem
mais na água, mais sustentação geram, o
que os leva a vir novamente à superfície. Se
aflorarem demais, geram menos sustenta-
ção e submergem de novo.

272
COMO FUNCIONA?

Os barcos com foil em V operam me- mais suave, mas precisam de um complica- de ser ajustado às variações da marcha e à
lhor em águas calmas: as águas agitadas do sistema de comandos. Não são auto- altura do casco acima da água. As medições
produzem demasiados balanços, pelo ajustáveis e obtém sustentação pela varia são feitas por sonar e utilizam-se sinais elec-
que o seu uso se restringe praticamente às ção do ângulo do foil em relação ao lluxo de trónicos para controlar os foils.
águas junto às costas e de lagos ou rios. água - a sustentação aumenta com o au- O jetfoil funciona por meio de jactos de
Os barcos com foils totalmente submer mento de ângulo de ataque. Para manter a água a alta velocidade que são lançados
sos proporcionam uma marcha muito estabilidade, o ângulo de ataque do foil tem por injectores na popa que impelem o bar-
co através da água. O barco é impelido
COMO OS "FOILS" EM V E OS "JETFOILS" OBTÊM SUSTENTAÇÃO para diante pela força da reacção.
O barco aspira a própria água em que
navega através de uma entrada a meio dos
suportes dos foils da popa. Bombas poten
tes, accionadas por turbomolores, aumen-
tam a pressão dá água antes de a descar-
regarem. Precisam de bombear perto de
110 000 1 de água por minuto para manter
uma velocidade de cruzeiro de 80 km/h.
Embora os hydrofoils sejam os barcos
mais rápidos que existem, nunca serão por
isso mesmo os maiores. Por exemplo, o
peso de um navio de passageiros é tal que
O foil em V, à proa, emerge parcialmente O jetfoil lança jactos de água a alta oetoci os foils necessários para o sustentarem te
da água. Se o foil mergulha na água, gera dade por injectores na popa do barco, o riam de ser incrivelmente pesados - isto
•se sustentação que levanta novamente o que o impele para diante. O barco aspira a porque o peso de um foil triplica de cada
barco água e envia-a para bombas nos foils. vez que 0 seu tamanho duplica.

273
V.A./IVIW i" u i i v - i w i i r t :

Conseguindo a pressão
O "hovercraft":
barco que voa U ma experiência com duas latas,
uma balança e um insuflador de
ar industrial levou Christopher Cocke-
uma balança de cozinha, primeiro
através de uma lata sem tampa (como
se se soprasse directamente sobre a
rell a criar o houercraft em 1954. Enge- almofada), depois através do intervalo
sobre ar nheiro electrónico inglês que se tor- entre duas latas, uma dentro da
nara projectista naval, Cocke- outra (como se se soprasse em
rell procurava a forma de re- redor rio perímetro ria almofada).
Embora opere sobre a água, o houercruft duzir o atrito entre o casco O segundo processo produziu
náo é realmente um barco. E embora voe dos barcos e a água. A ideia mais força.
através do ar, também náo é realmente um da almofada de ar já fora ex- Apenas um ano depois, paten-
aviáo. E um veículo anfíbio que se desloca plorada na década de 1870, teava o projecto do hovercraft, e
sobre uma almofada de ar comprimido e mas nunca passara da fase o SRN-I, de 4 t, o primeiro ho-
consegue andar facilmente sobre a terra e de experiência. uercraft em tamanho natural,
sobre a água. Hovercraft (veículo que pai- Cockerell pensou que fazia a sua inauguração em Co-
ra) é o seu nome inglês, mas é também uma almofada de ar se for- wes em 1959. Atravessou pela
conhecido por ACV (air-cushion uehkle. maria com mais facilidade primeira vez o canal da Mancha
ou veiculo de almofada de ar). se o ar, em vez de ser em 25 de Julho desse ano, no dia
0 ar que eleva o houercraft é aspirado b o m b e a d o directa- do cinquentenário da primeira
pelas sua poderosas ventoinhas, que o mente para o seu interior travessia aérea, feita pelo aviador
comprimem e dirigem para baixo. Em fosse bombeado debaixo francês Louis Blériot.
muitos houercrafls, o ar comprimido é do casco a partir de
conduzido inicialmente para uma bolsa urna estreita fenda em A experiência. Um insuflador força ar para 0 intervalo
insuflável — a "saia" — fixada em volta do redor do bordo e dirigi- entre duas latas, uma dentro da outra, e contra o prato de
bordo inferior da estrutura, que pode che- do para o interior. Ex- uma balança. Cockerell verificou assim que seria capaz
gar a medir 5 m à proa. perimentou esta ideia de erguer um veículo sobre uma almofada de ar insufla
A saia ó feita de tela revestida de borra- s o p r a n d o ar c o n t r a da com ar bombeado por jactos.
cha, e o ar comprimido escoa-se por orifí-
cios na sua parede interior, de modo a for-
mar uma almofada de ar. Esta, embora
com a pressão de cerca de 1/60 da de um O maior houercraft civil é o SRN-4 Mark motores accionam as quatro hélices que
pneu normal de automóvel, eleva o veí- III, de 305 t, que transporta mais de 400 impelem o veículo para a frente.
culo. Segmentos flexíveis independentes passageiros e 60 carros e opera no canal da As hélices estão montadas em torres na
- o s "dedos" - pendem dos bordos exte- Mancha. Tem quatro ventoinhas c o m parte superior do casco. No SRN-4 Mark
riores dos orifícios alé tocarem a superfí- 3,5 m de diâmetro cada uma, accionadas III, as pás das hélices medem 6,40 m de
cie, impedindo eficientemente a saída do ar. por turbomotores. No SRN-4, os mesmos extremo a extremo. O hovercraft é impeli-
do para diante por reacção — as hélices
aceleram o fluxo de ar que passa por eles
para trás, o que impele o veículo para a
frente. As hélices são de passo variável, o
que significa que o passo, ou ângulo de
ataque, das pás pode ser alterado. Embora
as hélices girem a velocidades mais ou me-
nos constantes, a velocidade do fluxo de
ar, e portanto do hovercraft, é alterada pela
variação de passo das hélices.
Este sistema confere ao SRN-4 uma veloci-
dade máxima de mais de 65 nós (120 km/li),
quase o dobro da do mais rápido navio de
passageiros. O comandante dirige o veículo
Anfíbio. O hovercraft pode andar sobre a de modo semelhante ao de um piloto de
terra ou a água. O ar comprimido sobre o avião. O leme é o bordo posterior articulado
qual assenta permite-fhe passar sobre so- dos planos verticais, colocados a jusante da
los irregulares ou ondas no mar. corrente de ar das hélices.

Sustentação. O hovercraft deslo


case sobre uma almofada de ar
comprimido, conduzido por ventoi
nhãs através de uma "saia" flexível.

A ventoinha aspira o ar

Saia flexível
Almofada de ar
^^aaamsBam :, 'rvr-rr- T.

Maravilhas da medicina
Brás a // Guerra Mundial, o progresso da ciência médica tem modificado
drasticamente o tratamento das doenças e realizado curas nunca antes
sonhadas. Os cirurgiões trabalham com raios de laser e com o auxílio
de microscópios. As próteses de órgãos permitem uma vida renovada.
E os bebés podem ser concebidos fora do corpo materno.

Como os antibióticos destroem


bactérias altamente nocivas, p. 288.

Como são concebidos


os "bebés-proveta", p. 276.
Como conseguem os médicos observar o interior do corpo humano, p. 287.
MARAVILHAS DA MEDICINA

A criação de um bebé-proveta
Em 25 de Julho do 1978, a Sr." Lesley
Brown, uma inglesa de 30 anos, deu à luz a
primeira criança gerada fora do corpo hu-
mano — um bebé-proveta.
A sua filha, Louise, foi concebida num
laboratório em Oldham, no Lancashire,
com o auxilio dos investigadores pioneiros
Drs. Patrick Steptoe e Robert Edwards. Só
dois anos mais tarde o seu notável feito foi
repetido — desta vez por cientistas austra-
lianos, quando Candice Reed nasceu no
Royal WomerVs Hospital, de Melbume, em
23 de Junho de 1980.
Na realidade, nenhuma das crianças foi
produzida numa provela: a concepção,
hoje designada com mais rigor por "fertili-
zação in oilro" (FIV), tem lugar numa placa
de vidro de laboratório.
A técnica de fertilização de um óvulo
humano no exterior do corpo permite às
mulheres incapazes de engravidar — por-
que o espermatozóide masculino não
consegue chegar ao óvulo feminino — da-
rem à luz os seus bebés. Lesley Brown não
podia ficar grávida porque as suas trompas
de Falópio, que o óvulo tem de atravessar
para chegar ao útero, estavam bloquea-
das. A FIV só funciona nas mulheres cuja
infertilidade se deve ao bloqueio
das trompas de Falópio e cujo
útero é, sob todos os aspectos,
saudável, for este motivo, antes
de considerarem a hipótese da
FIV, os casais estéreis devem
submeter-se a exames rigorosos
para determinar se essa é a solu-
ção adequada para o seu caso.
0 primeiro passo na FIV é a
determinação d o m o m e n t o
preciso do ciclo menstrual da
mulher, em que o óvulo c liber-
tado pelo ovário. A mulher fica
então à espera desse mo mento
para, imediatamente antes, ser
submetida a uma pequena ope-
ração. Como preparação, terá Incubação. Antes da fertilização, os óvulos são guarda- União do espermatozóide com o óvu-
provavelmente feito um trata- dos nurna substância rica em nutrientes dentro de urna lo. Realçada com cores artificiais e amplia-
mento com hormonas para au- incubadora. Aqui, uma técnica de laboratório retira-os da 6750 vezes, esta fotografia por microscó-
mentar a libertação de diversos da incubadora para os preparar para a f<rtiliz(jçúo. pio electrónico apresenta um espermato-
óvulos para que existam "so- zóide penetrando a membrana externo
bresselentes". cubadora. Entretanto, uma amostra de sé- (zona pelluciday de um óvulo humano. De
O cirurgião pratica uma pequena inci- men do pai, contendo milhões de esper- pois de isto se dar, a membrana espessa se
são no abdómen e através dela introduz matozóides, é colocada numa solução sa- para impedir a penetração de outros esper
um laparoscópio instrumento parecido lina que os mantém nas melhores condi malozóides. A fertilização ocorre quando o
com um periscópio —, o qual lhe permite ções e aptos para iniciarem o processo de núcleo da cabeça do espermatozóide se
visualizar não só os órgãos da reprodução fertilização. funde com o núcleo do óvulo.
como o próprio óvulo ou óvulos. Estes são Os óvulos são então retirados da in-
retirados por meio de uma seringa que os cubadora c misturados com a solução sistentc à penetração de outros esperma-
aspira através do laparoscópio. salina que contém o sémen. No espaço tozóides.
Os óvulos são então colocados numa de 24 horas, um único espermatozóide O óvulo recentemente fertilizado inicia
placa de vidro de laboratório contendo nu- deve unir-se a um óvulo para iniciar o então um processo de divisão e multiplica-
trientes que os ajudam a sobreviver e guar processo de gestação de um ser humano. ção celular enquanto se vai transformando
dados durante algumas horas numa in Uma vez fertilizado, o óvulo torna se ro no embrião. Quando, muitas horas depois,

276
MARAVILHAS DA MEDICINA

Início da vida. Con gem à luz - e se existe um bom campo


cretizada a fusão dos global de visão (campimetria).
núcleos masculino e fe- Na sua maioria, os testes são efectuados
minino (à esquerdo), o com o auxilio de uma armação de ensaio;
ovo fecundado divide-se, esta é constituída por uma pesada arma-
criando novas células que ção de óculos, que pode ser ajustada ao
se diferenciarão e formarão intervalo exacto dos olhos de cada doente
uma criança. Louise Brown foi e na qual se vão colocando as diferentes
o primeiro bebé-proveta combinações de lentes. É um processo
muito rigoroso, em que todas as deficiên
cias são identificadas por sucessiva elimi-
nação. Um tabuleiro com cerca de 200 len
tes diferentes, cada uma das quais com a
sua função e graduação próprias, permite
milhares de combinações, de modo a en-
contrar com um grande grau de rigor a
combinação perfeita para cada situação.
Um outro exame, o exame do fundo do
olho, ou fundoscopia, é feito com um
equipamento manual chamado oftaluios
copio, que faz incidir um raio de luz, atra
vês da pupila, sobre a retina, na parte pos-
rer normalmente é apenas de 1 para 5 — terior do olho. A retina contém células es-
pelo que, se for implantado no útero mais peciais, denominadas receptores, que
do que um embrião, é maior a probabilida- convertem as ondas luminosas em impul-
de de a mãe dar à luz um bebé saudável sos nervosos. Um globo ocular demasiado
nove meses depois. longo no sentido longitudinal produz mio-
pia, ou vista curta: um demasiado estreito
produz hipermetropia, ou vista ao longe.
Se a córnea, a superfície externa e transpa-
O exame rente do olho. não tiver uma curvatura per-
feita, pode causar distorção das imagens
oftalmológico (astigmatismo) Se o feixe de luz não con
seguir atingir a retina, existe provavelmen
te qualquer obstáculo, como, por exem
O exame oftalmológico pode fornecer in- pio, a opacificaçáo do cristalino, conheci
formações particularmente valiosas acer- da por catarata.
ca do estado geral de saúde dos doentes, Com o auxílio do oftalmoscópio, instru
para lá das informações sobre a capacida mento que faz incidir um feixe de luz no
de funcional da visão de cada um. fundo do olho e dispõe de uma série de
Assim, os primeiros sinais de doenças diferentes lentes que vão sendo ajustadas
graves, muitas vezes ainda assintomáticos, através da manipulação de uma roda do

•J • *
podem ser colhidos através do exame of-
talmológico, como sucede, por exemplo,
nos tumores cerebrais e na diabetes.
A primeira parte de um exame oftalmo-
lógico é ainda — 120 anos depois da sua
instrumento, torna se possível focar dife-
rentes partes do globo ocular. Se este esti
ver saudável, ver se á um círculo transpa-
rente rosa-alaranjado atravessado por
uma rede de tecido nervoso e vasos san-
guíneos (o exame dos fundos oculares da-
introdução pelo médico oftalmologista
holandês Dr. Hermann Snellen - a conhe- nos uma infonnaçáo muito valiosa acerca
cida escala optométrica, perante a qual o dos sistemas nervoso e circulatório). As
doente determina exactamente o que con- próprias alterações devidas à idade são
se dividiu em cerca de oito células indivi segue e o que não consegue ver com cada igualmente diagnosticadas, como, por
duais, é transferido para o útero materno. olho. As letras estão colocadas deliberada exemplo, o eventual bloqueamento do sis
Com um potente microscópio, o gine- mente de modo a poderem confundir- lema de circulação interior dos fluidos do
cologista identifica os óvulos que foram -se - estão ao pé umas das outras e são de globo ocular.
fertilizados e aspira-os por um tubo delga- forma semelhante, como o P e o F, para A extensão de um eventual bloqueio
do, que é cnlâo introduzido na vagina, sen que seja efectivamente posta à prova a dos fluidos do globo ocular é avaliada pela
do os embriões depositados no útero, acuidade visual, que permite distinguir as medição da tensão intra ocular através de
onde continuarão o seu desenvolvimento. diferentes letras e os respectivos intervalos. um tonómetro. Este instrumento é coloca-
Para se evitar o risco de partos múltiplos, O quadro de Snellen dá apenas uma do ao de leve sobre o globo ocular e indica
só se implanta um número limitado de ideia rudimentar acerca da acuidade vi- a pressão em milímetros de mercúrio. Um
óvulos fertilizados - geralmente três. sual. Noutros exames, que podem ser tão outro tipo de tonómetro emite um sopro
Á partir deste momento, o processo de simples como o seguir se com os olhos de ar: a velocidade com que o ar é reflecti-
gestão é exactamente igual ao de gravidez um objecto em movimento, é verificado o do indica o valor da pressão.
normal. O embrião tem dê se fixar na pare- tónus dos músculos do globo ocular e a Um dos primeiros indícios de glaucoma
de do útero materno para dele obter os correcta coordenação funcional de ambos pode ser observado por meio do micros
necessários nutrientes para sobreviver e se os olhos Examinam se ainda os reflexos copio de lâmpada-de fenda, que permite
desenvolver. A probabilidade de tudo cor- pupilares - o modo como as pupilas rea- ampliações até 50 vezes e funciona em

27<
MARAVILHAS DA MEDICINA

Como os óculos aguçam a vista


Quando possuímos uma visão perfeita, os sobre objectos próximos ou longínquos.
raios luminosos que atravessam a pupila Mas se os músculos ciliares enfraque-
dos nossos olhos convergem exactamente cem, como frequentemente acontece na
sobre a retina, na parte posterior daqueles, meia-idade, o cristalino deixa de ter a cur-
e a imagem assim focada com nitidez é vatura suficiente para se focar sobre objec-
transmitida ao cérebro. Na maioria das tos próximos, como as letras pequenas de
pessoas, o máximo da acuidade visual uma página impressa.
ocorre por volta do ano de idade. Os pro- As três causas principais da vista desfo-
blemas surgem frequentemente Í\Ó puber- cada são a hipermetropia (vista longa), a
dade: o globo ocular cresce de mais - ou miopia (vista curta) e o astigmatismo, para
de menos — no sentido longitudinal ou cuja correcção se usam óculos de diferen-
deforma-se. São estas as três razões princi- tes tipos (v. à direita). As lentes de cor são
pais da necessidade da utilização de ócu úteis para as pessoas cujos olhos são sensí-
los para conigir a distância focal dos olhos. veis à luz ou para eliminar os reflexos das
No princípio da vida, os problemas po- lentes transparentes. Pode também usar-
tenciais da visão poderão ser compensa- -se um potente anti-reflexo para revestir as
dos pela acção potente dos músculos cilia- lentes e melhorar a acuidade visual.
res ligados à íris do cristalino. Esles mús- As lentes dos óculos são feitas de vidro
culos aumentam ou diminuem a curvatu- ou de plástico. O vidro é mais pesado, mas
ra da lente para permitir a focagem da vista mais resistente à abrasão.

Como se fazem lentes de contacto


Leonardo da Vinci expôs em 1508 o princí- pouco pronunciada corrige a miopia, uma
pio da aplicação de uma lente artificial di- curva acentuada corrige e hipermetropia e
rectamente sobre a superfície do globo uma curva irregular corrige o astigmatis-
ocular. Perto de 400 anos depois, em 1888, mo. A lente rígida, a mais comum até final
um oftalmologista alemão, o Dr. Adolf dos anos 70 e usada actualmente por cerca
Fick, tirou moldes em gesso dos olhos de de 10% dos doentes, é polida à mão até
cadáveres para a execução das primeiras atingir as dimensões e forma exigidas a
lentes de contacto de vidro. partir de blocos sólidos de perspex. São as
As lentes de contacto actuais são peque lentes mais duradouras e de mais fácil ma-
nos discos transparentes de plástico que nutenção, mas podem causar secura e irri-
flutuam no meio líquido que reveste a su- tação. Para contornar este problema, labri
perfície frontal do olho. Praticamente invi- cam-se agora lentes rígidas em que ao
síveis quando utilizadas, estas lentes movi- perspex se misturam fluorocarbonetos e
Exame do fundo ocular. Quando exami- mentam se com os olhos, proporcionan- silício, tornando o material mais poroso:
na o globo ocular através de um oftalmos- do uma visão muito mais natural do que a são as chamadas lentes porosas (ao oxigé-
copio (em cima), o oftalmologista vê a reti- obtida com óculos. nio e ao dióxido de carbono), nas quais o
na no fundo do olho (ao meio) e podem A semelhança de uma receita para ócu- oxigénio é filtrado até à superfície do olho e
identificar-se quaisquer lesões ou sequelas los, uma receita para lentes de contacto os gases nocivos se escapam para o exte-
de doenças que afectam os sistemas ar visa naturalmente corrigir os defeitos de rior.
culatório e/ou nervoso. Em baixo, as man- visão presentes (v. O exame oftalmológi- As lentes moles, ou hidrófilas ("amigas
chas vermelho escuras e as zonas amare co, p. 277). No caso de lentes de contacto, da água"), são ainda mais permeáveis — e
Iodaras são hemorragias e cicatrizes cau- são feitas medições pormenorizadas da confortáveis de usar. São feitas de um plás-
sadas pela diabetes. superfície externa do olho por meio de um tico quase gelatinoso com um conteúdo
ceratómetro, aparelho que regista uma aquoso entre 38 e 85%. Enche se um mol
combinação com uma lâmpada que emi- imagem luminosa do olho (um pouco de do tamanho prescrito com a mistura
te um estreito feixe de luz através de uma como os reflexos nas bolas das árvores do fundida de plástico e água, e, quando esta
pequena fenda. Este microscópio é indis- Natal), permitindo medições até 0,01 mm, arrefece e se solidifica, a lente é retirada e
pensável no exame da superfície frontal do e que calcula a curvatura do globo ocular. polida. Os diferentes tipos não variam mui-
olho, podendo ver-se claramente o ângulo As lentes de contacto actuais são feitas to de indivíduo para indivíduo, e um leque
entre a íris (a parte colorida do olho) e a de plástico em vez de vidro e podem ser de apenas cinco tipos diferentes abrange
córnea. É aqui que podem ser detectados rígidas ou flexíveis. O material recomenda- cerca de 80% dos doentes.
os primeiros sinais de bloqueio dos fluidos do depende da sensibilidade do globo Por vezes, utiliza-se plástico colorido
do globo ocular. Podem ainda ser detecta- ocular do doente, das suas reacções alérgi- para que a pessoa encontre as lentes com
das lesões causadas pelas lentes de contac- cas e das suas exigências ou actividade par- mais facilidade depois de as tirar para redu-
to, bem como antigas cicatrizes ou lesões ticulares. zir a sensibilidade à luz ou por razões de
na córnea, na íris ou no cristalino provoca O defeito de visão é corrigido pela forma natureza cosmética — por exemplo, para
das por corpos estranhos. da superfície frontal da lente - uma curva transformar em azuis olhos cinzentos.

278
Miopia. Os míopes não oéern ao longe, porque o globo ocular é Hipermetropia. A visão só é nítida para o longe porque o globo
demasiado alongado e os raios luminosos convergem antes da reli ocular é muito curto e os raios luminosos atingem a retina antes de
na. Lentes côncavas alongam a distância focai. convergirem. As lentes convexas encurtam a distância focal.

Astigmatismo. A visão está desfocada no plano horizontal, ou no Visão normal. Uma pessoa com visão normal consegue focar tanto
vertical, porque o globo ocular é irregular. O astigmatismo é corrigi- ao longe como ao perto. O globo ocular tem a forma correcta para
do com lentes com uma secção longitudinal semelhante a um tubo que os raios luminosos convirjam exactamente na retina.

279
M A R A V I L H A I IJA MLUR UNA

Como é que os cegos aprendem a ler e a escrever?


Em 1829, o censo populacional francês re- blicação do sistema, o braille foi adoptado nas tipográficas de escrita cm relevo conse-
gistava Louis Braille, aluno de 15 anos do como a linguagem normalizada para os guem imprimir ambos os lados de uma
Instituto Parisiense para Jovens Cegos, cegos no mundo de expressão inglesa. O mesma folha sem que os caracteres de
como "incapaz de ler ou escrever". No en- sistema original de letra a letra, com G3 ca uma face colidam com os da outra.
tanto, nesse mesmo ano o jovem Braille racteres, transformou-se depois numa for- O braille é principalmente utilizado pe-
publicava uma nova "linguagem" que for- ma mais avançada e concentrada em que las pessoas que nasceram cegas ou que
necia aos cegos a chave da leitura e da es- os símbolos de pontos representam com- perderam a visão muito cedo. Mas muitas
crita. binações frequentes de letras tais como ão, pessoas ficam cegas aos 60 anos e mais,
Inventou um alfabeto novo — um códi- ou, ar, de palavras ou grupos de palavras, depois de muitos anos passados a ler letra
go de pontos em relevo (muito mais fáceis tornando mais rápida a leitura e a escrita e convencional — e podem também, devi-
de identificar do que uma linha contínua). poupando espaços. Actualmente, existem do à idade, à diabetes ou ao artritismo, ter
Os pontos estão dispostos em combina- adaptações do braille a todas as grandes sofrido diminuição de sensibilidade nos
ções semelhantes às marcas do dominó, línguas mundiais e ainda ã música, mate- dedos. Para estas pessoas, a adaptação à
formando caracteres correspondentes às mática e ciências. leitura por tacto de símbolos pontilhados
letras do alfabeto, aos sinais de pontuação O braille pode ser "escrito à mão" por pode ser difícil. Algumas delas dependem
e a palavras como e, o, a. meio de um estilete que pressiona os ca- totalmente de livros audiogravados, outras
A "linguagem" braille é lida pelo tacto, racteres pontilhados por cima de uma fo- aprendem o sistema alternativo de letras
correndo as pontas de um ou dois dedos lha de papel colocada sobre uma placa de em relevo — cujos perfis bem marcados e
sobre o texto em relevo. metal. O escritor trabalha no verso da fo simples são os das letras normais.
Em 1932. mais de 100 lha, da direita para a esquerda, de modo Inventado em Inglaterra em 1847 pelo
anos passados so- que, quando o papel é voltado, os pontos Dr, William Moon, de Brighton, o rnoon é
bre a primeira pu- aparecem em relevo e lêem-se da esquer- um sistema de letra a letra com nove ca-
da para a direita na forma habitual. racteres básicos, cuja interpretação depen-
Loui.s Braille Máquinas de escrever e computadores de do lado para que elas estão virados. O
Inventou o alfabe- com teclados em braille são hoje comum moon é utilizado exclusivamente no mun-
to braille em 1829. mente usados, e as mais recentes máqui- do de língua inglesa.

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* 4 * 4
44 - 4 r -*

Música em braille. A música ptxle ser transcrita para brail


le por computador. Não há pautas como na música escrita, e
as notas são representadas por tetras — mas não segundo a
notação alfabética tradicional - que vão do D ao J para as
notas dó a si. As diferenças de notação, como as semínimas e as
colchetas, são indicadas por um sistema de pontos.

280
MARAVILHAS DA MEDICINA

TESTE DE INTELIGÊNCIA
Como se pode
Os testes de inteligência medem as aptidões das pes- 6 2 4
medir a nossa soas na resolução de problemas em diversos campos,
como matemática, lógica, linguagem e percepção es- 2 ? 0
inteligência pacial. Mas, uma vez que as aptidões de cada pessoa
residem predominantemente em certa área, com
4 0 4
prejuízo de outras, e que alguns testes têm influências I. Números cruzados. Os dois
Embora os especialistas não estejam de culturais, estes não podem determinar o índice geral primeiros algarismos de uma li-
acordo quanto à definição de inteligência, da inteligência do indivídua Apresentam-se exem- nha ou coluna produzem, por
tem havido tentativas de a medir. plos de problemas que se colocam nestes testes. operação, o terceiro. Qual falta?
A inteligência é-nos medida cm todos os
estádios da vida — na escola, na admissão
ao serviço militar ou até quando nos candi-
datamos a um emprego.
Os primeiros testes de inteligência fo
ram criados em 1905 por Alfred Binet, a
pedido do Governo Francês, que pretendia
identificar as crianças com dificuldades de
aprendizagem, a fim de poderem ser-lhes
ministradas aulas suplementares.
Em 1916, o psicólogo americano Lew
Terman, da Stanford University, da Califór-
nia, adaptou os testes de Binet e inventou o 2. Letras desemparelhadas. Um recado escrito por uma menina para sua mãe - de
termo "quociente de inteligência", ou QI. forma pouco vulgar — foi acidentalmente rasgado em quatro pedaços. Consegue descobrir a
Estes exames passaram a ser conhecidos mensagem recompondo entre si esses fragmentos?
por testes de Stanford-Binet.
Os testes originais faziam uma série de
perguntas relacionadas com números, pa- A B C D E F
lavras e objectos a fim de determinar a ida-
de mental do examinando (por oposição à
sua idade real). Os testes eram dados si-
o\
o
O
\ o/
/
/6o
o\
O \
O
o/
/
oo\
\ \ o°
multaneamente a um grande número de A B c D E F
pessoas da mesma idade. O número mé-
dio de respostas correctas que se obti-
nham representava a idade mental média
desse grupo, e cada membro do grupo era
julgado em relação à sua média.
U O y V ° r: °) L1
A idade mental da pessoa era depois di 3. Peças novas. Em cada linha marque as peças iguais à primeira peça da linha. Neste tipo
vidida pela sua idade real e multiplicada de teste, que não depende de matérias aprendidas, o indivíduo inculto tem a mesma probabi-
por 100, calculando-se assim o QI. Assim, lidade de acertar que o indivíduo culto.
se a idade mental de um indivíduo eram 16
anos e a sua idade real 15, o seu QI seria de
106. Estes testes eram dados a jovens até
aos 18 anos. Depois dos 15 anos, o ritmo de
desenvolvimento das faculdades afrouxa,
pelo que a comparação da idade mental
com a idade real toma-se menos relevante.
Têm sido criados novos testes posterior \
mente aos de Stanford-Binet, permitindo 4. Percepção espacial. Qual dos quatro padrões resultará do
medir com mais rigor a inteligência das desdobramento do cubo'y
populações, mas o seu funcionamento ba-
seia se ainda nos princípios dos testes ori- A B C D
ginais. A pontuação média é 100. Cinquen-
ta por cento das pessoas examinadas têm
um QI entre 90 e 110. Se o QI é superior a
100, significa que, segundo os testes, a pes-
soa é mais inteligente que a média. Na ver
dade, porém, esla pontuação apenas reve-
la o modo como a pessoa resolve os testes
de inteligência.
Diferentes testes de QI produzem, além
disso, diferentes resultados para a mesma ojisujiJd op ojouinu O V V V •e;3ajjo3
pessoa. Por exemplo, um teste da capaci opurtBss o í*s-jejiqns a s a a p. o o eisodsaj v f
dade verbal (leitura e linguagem) pode dar eun|OD no niju|| epeo 3 V V N 0 0 3 3 VSV3 VdVd 3 '3 V :BLIU!I epunBag
ujg z 9 eisodsBJ v L 3 3 d V VCJNV ? opeaaj o Z d "3 'a :eMl'!l ejjauiud z
resultados totalmente diferentes dos de
um teste de raciocínio ou de matemática.

281
MARAVILHAS DA MEDICINA

Kmbora seja decisiva a aptidão de concreti-


zação na vida real, há muitas outras in-
fluências em jogo.
Estudos mostram que o ambiente cultu-
ral, a motivação (ou a falta dela), as diferen-
ças sociais, as alterações da estrutura fami-
liar, e até o tipo de comunicação entre o
examinando e a pessoa que conduz o tes-
te, afectam a pontuação final obtida no Ql.
Os testes de inteligência aqui apresenta-
dos são uma medida de comparação -
comparam a pessoa que é examinada
com uma amostra estandardizada. Indiví-
duos com aptidões muito altas ou muito
baixas estão "fora da escala". Não existem
padrões para medir as suas aptidões por-
que nunca foA analisada nenhuma amos-
Vra suYK\en\emende \a\a nessas apVioões.
Por isso, relatórios referidos a crianças
com Qls de 170 ou 220 não passam de
avaliações.
Binet eslava convencido de que a inteli-
gência da pessoa varia ao longo da sua
vida, mas há muitos que acham que ela é
herdada e invariável. Novos testes Slan-
ford-Binet estão agora a ser utilizados em
conjunção com uma diversidade de ou-
tros. Estes sistemas estão especialmente
concebidos para adultos (onde a idade
não é necessariamente tomada em consi-
deração) e crianças em idade escolar e pré-
-escolar, ao passo que os Stanford-Binet
foram testes criados especialmente para as
crianças em idade escolar. Há sistemas di-
ferentes do Stanford-Binet destinados a
uma avaliação mais precisa das maiorias
culturais cujas pontuações foram inferio-
res às que deviam obler-se com os testes
Stanford-Binet, orientados para crianças
brancas e de raiz cultural ocidental.

vascular cerebral afectam a parte interior por compostos químicos que alteram a
do cérebro, provocando perda de memó- forma de funcionamento daquelas e a for-
O que é ria, a vítima consegue recordar os aconte-
cimentos até ao momento dessa perda,
ma como estão ligadas entre si.
Uma informação armazenada na me-
a memória? porque fazem parte da sua memória de
longa duração, mas não consegue memo-
mória de curta duração pode ser transferi-
da para a memória de longa duração atra-
rizar acontecimentos recentes. vés da repetição ou do estudo. A informa-
Na Birmânia, em 1974, Bhandanta Vicitsa- Os psicólogos sabem que a memória ção é de facto transmitida por mensageiros
ra recitou de cor 16 000 páginas de textos está ligada aos cinco sentidos. Durante a químicos — moléculas que se deslocam
budistas. Este tipo de memória é fenome- fase de aprendizagem, a criança que che de uma célula cerebral para outra. Cada
nal, mas quase toda a gente consegue lem- gou aos 6 anos possui um vocabulário de molécula produz a sua acção específica,
brar-se de informações em quantidades 6000 palavras. Ao longo da restante parte "transmitindo" assim a mensagem.
surpreendentes. Apesar dislo, esquece- da sua vida, a pessoa comum adquire ape-
mos facilmente um novo número de tele- nas mais 14 000. Mas as bases foram lança-
fone quase a seguir a termo-lo ligado. das antes de a pessoa saber ler, pelo que esta
Esta aparente contradição resulta do fac-
to de as pessoas terem dois tipos de memó-
aprenrien aqueles sons pelo seu significa-
do, ritmo e tonalidade e por associação.
O que é a hipnose?
ria. A memória de curta duração retém ape- Quando as informações são retidas na
nas cinco ou seis artigos durante um minu- memória de longa duração, elas são prova- A hipnose, actualmente, é raras vezes reali-
to; a de longa duração retém informações velmente traduzidas em determinado tipo zada no palco, porque o seu emprego
muito mais complexas durante anos. de imagem e armazenadas nas células ner como entretenimento foi restringido pela
Descobriu-se que as memórias de curta vosas da parte externa do cérebro. Existem lei. Na maioria, os hipnotizadores são efec-
e de longa duração estão localizadas em mais de 100 000 milhões destas células, tivamente médicos ou hipnoterapeutas
diferentes zonas do cérebro. A primeira si- cada uma delas com 10 000 ligações a ou- que tratam a ansiedade c perturbações psi-
tua-se na parte interior do cérebro, a se- tras células, constituindo uma rede incri- cossomáticas, como a asma ou eczemas
gunda na sua porção exterior. E por isso velmente complexa. As informações são induzidos pelo stress, ou determinados há-
que, quando uma doença ou um acidente provavelmente armazenadas nas células bitos, como o tabagismo ou o alcoolismo.

282
MAKAVILHAS DA MEDICINA

Os armazéns da memória. Ampliadas se cientifica da técnica de execução, psico-


1000 vezes, as células nervosas da parle ex- logia desportiva, dietas e mais competi-
terna do cérebro são aqui claramente visí- ções traduzem-se hoje em atletas mais for-
veis. É nestas células que se armazena a tes, mais rápidos e mais ágeis que os seus
memória de longa duração. predecessores de há 30 anos.

doente e o terapeuta. É quase impossível Treino científico


hipnotizar alguém contra sua vontade, e Para além de um excelente estado geral, os
ninguém que esteja em transe pode ser atletas de alta competição aperfeiçoam a
obrigado a fazer alguma coisa que consi- sua resposta ao esforço até excepcionais
dere errada. Mesmo assim, cerca de 80% níveis de perfeição, como se de uma má-
das pessoas conseguem ser hipnotizadas quina se tratasse, com vista a poderem su-
até atingirem o transe ligeiro necessário perar os recordes da especialidade despor
para grande parte da hipnoterapia. tiva. Nos centros de treino de todo o Mun-
Antes de os anestésicos se terem vulga- do, médicos especializados analisam a
rizado nos meados do século xix, a hipno- técnica dos atletas segundo os princípios
se foi utilizada em Paris, França, pelo médi- da engenharia mecânica. Consideram os
co austríaco Dr. Franz Mesmer (1734- músculos como alavancas e roldanas su-
1815), que ali procedeu à sua primeira ope- jeitas às mesmas leis da física. Tornando
ração com o emprego da hipnose em mais eficiente a execução das técnicas di-
1778. rectamente envolvidas, conseguem obter
Um cirurgião inglês, John Elliotson níveis de perfeição muito elevados.
(1791-1868), introduziu a hipnose cm Lon- Uma das técnicas consiste em colocar
dres em 1837. Operou com êxito centenas eléctrodos no corpo, ligados a um apare-
de doentes, que adormeceu por meio de lho que emite um ruído quando o atleta se
hipnose, mas foi renegado pela instituição contrai. Assim, este torna-se consciente
médica, perdendo o cargo de professor no dessa tendência e passa a relaxar essa área.
ano seguinte. Os atletas treinam-se igualmente com
O seu colega John Esdaile, contudo, não eléctrodos que emitem luzes. Estas são
encontrou objecções ao emprego da hip- captadas por uma câmara ligada a um
nose enquanto oficial médico da Compa- computador, o qual analisa à exaustão a
nhia das índias Orientais. Executou cente- técnica do atleta e apresenta imediatamen-
nas de operações graves, incluindo ampu- te os resultados num écran. O atleta recebe
tações, em doentes em transe hipnótico e uma retroinformação imediata sohre a efi-
milhares de operações menores sem dor e ciência dos seus movimentos e, conse-
com poucos casos fatais. quentemente, sobre as áreas possíveis de
Na América de hoje, a hipnose está cada aperfeiçoamento.
vez mais vulgarizada na cirurgia como al- Os médicos que trabalham nestes labo-
ternativa aos anestésicos, que podem ter ratórios de treino descobriram que para
efeitos desagradáveis ou perigosos. É fre- certos desportos, como o tiro com arco, é
quentemente usada nos tratamentos den- importante que o lado intuitivo do cérebro
O hipnotizador poderá começar a sua tários e para minorar o sofrimento dos (o lado direito) tome o comando, enquan-
sessão por pedir ao doente, por exemplo, queimados. A técnica está também a ser to para outros desportos, como o remo, é
que conte para trás a partir de 300, en- cada vez mais utilizada para atenuar as do- o lado analítico (o esquerdo) que é funda-
quanto olha fixamente determinado res do parto. Algumas clínicas oferecem mental. Estão em curso investigações so-
ponto. A ideia é concentrar a mente do aulas de auto-hipnotização, ensinando a bre as formas de estimular e reduzir a activi-
doente e induzir nele uma sensação de futura mãe a adormecer partes do seu cor- dade eléctrica do cérebro para que, no mo-
relaxe para que ele reaja bem às suges- po através dos seus próprios poderes de mento crucial, predomine o lado mais
tões. sugestão mental. adequado à modalidade em causa.
O hipnotizador poderá então repetir ins- Os atletas aprendem também a optimi-
truções simples e persuasivas numa voz zar as suas necessidades de oxigénio. Cor-
suave e ritmada. Gradualmente, o paciente rendo sobre um tapete rolante, é-lhes mo-
entra num estado de sonolência que lhe
permite receber a influência do hipnotiza
Como se treinam nitorizada a sua absorção máxima de oxi-
génio. O homem médio absorve 40 a 50 ml
dor. Começa a entrar em transe. A sua tem-
peratura desce, o ritmo cardíaco diminui e
os atletas para de oxigénio por quilo de peso e por minu-
to; um corredor ou esquiador de fundo do
a tensão arterial baixa. Pode haver sinais de
movimentos rápidos dos olhos. Ao des-
bater recordes sexo masculino pode chegar aos 85 ml em
cada minuto. Por isso, os corredores, por
eontrair-se, o doente pode falar das ansie- exemplo, aprendem a identificar o ponto
dades cuja manifestação tem vindo a repri- O halterofilista russo Vasily Alekseyev con- em que a sua reserva de oxigénio se torna
mir e pode então descobrir-se a causa sub- quistou um lugar no historial da especiali- insuficiente para as exigências e a coorde-
jacente ao problema. dade ao bater 80 recordes do Mundo e rei- nar o seu ritmo por forma a correrem tão
O doente volta sempre ao estado vígil. nar durante oito anos como campeão do perto quanto possível do seu consumo
Se não se consegue retirá-lo do seu transe, Mundo, de 1970 a 1977. Como é que os máximo de oxigénio.
simplesmente adormecerá naturalmente, seus recordes — aparentemente impossí-
acordando mais tarde. veis quando foram estabelecidos estão Dietas que derrubam recordes
Para que a hipnose funcione, tem de ha- agora a ser regularmente batidos? Uma das maneiras de o atleta assegurar
ver um sentimento de confiança entre o Melhores possibilidades de treino, análi- uma forma física perfeita é seguir uma die-

283
RECORDES DO MUNDO DESDE 1854
ALTURA NOME DATA

1.675 m John Gilles (GB) 7/9:1854

1,97 m Michael Sweeney (EUA) 21/9/1895

2,01 m Edward Beeson (EUA) 2/5/1914

2,03 m Harold Osborn (EUA) 27/5/1924

2,09 m Mclvin Walkor (EUA) 12/8/1937

2,11 m Lester Steers (EUA) 17/6/1941


O "flop". Desde OS primeiros saltos em altura registados de 1854 a 1988, os
homens aumentaram 76 cm a sua altura de salto. Além de melhores dietas e 2,16 m Yuriy Stepanov (URSS) 13/7/1957
treinos, esta melhoria deve se sobretudo a alterações da técnica. A fasquia 2,28 m Valeriy Brumel (URSS) 21/7/1963
era transposta por meio de um salto rolado ou em passada, até que, em
meados da década de 60, Dick Fosbury inventou o chamado Fosbury Flop, 2,34 m RudoH Povarnitsin (URSS) 16/6/1978
método de sallo em altura que implica passar a fasquia de costas e dobrar as
2,43 m Javier Sotomayor (Cuba) • 8/9/1988
pernas para cima em conjunto, como última fase do movimento.

ta adequada. Tudo aponta hoje para que de ingestão de proteínas para terem mais rem por dia. Tem-se igualmente verificado
uma dieta rica em frutas e vegetais crus e resistência e força muscular. Apesar de que uma sobrecarga de hidratos de carto-
hidratos de carbono não refinados (pão, esta ideia ter sido desmentida cientifica no durante um curlo período antes de
massas e arroz integrais o legumes) e po- mente no princípio do século, só no início uma prova aumenta os níveis de energia.
bre em gorduras, açúcar e sal possa me da década de 80 as instituições desportivas
lhorar os níveis de performance cm mais aceitaram como benéficas as dietas po- Psicologia desportiva
de 5%. As frutas frescas e os vegetais au bres em proteínas. Boa saúde e treinos regulares são uma roti-
inenlam a absorção de oxigénio pelas cé- Existem provas seguras de que podem na dos bons atletas, o que não significa
lulas musculares, ao passo que o esforço conseguir-se mais altos níveis de perfor necessariamente que batam recordes.
para processar o açúcar, as gorduras e o sal manos ingerindo até 50 g diários de proteí- Para isso é também preciso uma atitude
priva o organismo dos nutrientes de que nas (o equivalente a 150 g de bife grelha- mental de ganhador. Há psicólogos que se
necessita. do) — o que é drasticamente diferente dos especializam em mentalizar os atletas para
Um mito cm que os atletas têm tendeu 200 g ou mais de proteínas (cerca de 550 g que consigam os seus objectivos. Isto in-
cia para acreditar é a necessidade de gran de bife grelhado) que alguns atletas inge- clui íazé-los ouvir gravações que os enco-

284
V1AKAV 1U IA.-» UJ\ i V i r . U I U I N A

rajaiTi a perseverar e a melhorar a sua con-


centração, a descontrair-se e a "visualizar". HIDRATOS DE CARBONO E MAIOR ENERGIA
Esta última implica que o atleta se descon- I lá um regime dietético que tem provado menos e continua com refeições com
traia e imagine, passo a passo, uma prova aumentar significativamente os níveis de baixo teor de hidratos de carbono.
que vai ganhar. Desta forma, a estratégia energia dos atletas. É conhecido como Nos dias três e dois, toma uma dieta
vitoriosa torna-se automática. "carga de hidratos de carbono" e au- rica em hidratos de carbono e continua
As recompensas financeiras do sucesso menta o nível de glicogénio nos mus- a diminuir os treinos.
atlético podem ser elevadas, e alguns atle- culas. O glicogénio é uma forma de glicose No dia um, é novamente aumentada
tas são tentados a aumentar a sua capaci que, ao decompor-se, liberta energia. a ingestão de hidratos de carbono, e o
dade muscular e a melhorar as suas perfor- Acumulando uma quantidade de glico- atleta descansa, em preparação para a
mances tomando medicamentos corno génio superior àquela que habitualmen- prova do dia seguinte.
os esteróides anabolisantes. Mas os efeitos te contêm, os músculos podem traba- O princípio subjacente a este pro
secundários do doping são tão prejudiciais lhar mais demoradamente em esforço. grama é o de que, ao ser introduzido
- por exemplo, aumentam o risco de doen- O programa começa habitualmente nos músculos com baixo teor de glico-
ça cardíaca — que o seu uso é proibido. uma semana antes da competição. No génio um nível elevado de hidratos de
Mas qual o limite' Alguns médicos pen sétimo dia antes da prova, de preferência carbono, os músculos sobrecompen-
sam que os atletas que se especializam em ao fim da tarde, o atleta executa uma sam-se, absorvendo níveis de glicogé-
modalidades que requerem níveis de energia rotina de treino vigoroso para esgotar o nio superiores aos normais durante
pouco duradouras estão próximos de atingir glicogénio a r m a z e n a d o nos seus um curto período. É a estas reservas
os limites cia sua execução; mas os recordes músculos e toma uma refeição pobre armazenadas que o atleta vai buscar
em provas de resistência, como a maratona, em hidratos de carbono. energia durante a prova e que lhe dão
continuarão a melhorar à medida que o cor- Durante os três dias seguintes, treina maior resistência.
po humano for aprendendo a adaptar-se.

2K5
JVIAKAVIL.UA:> UA M L U I U I N A

por emissão de positrões). Este processo


implica a administração prévia de um isó-
Como podem os médicos ter acesso topo radioactivo ao doente. 0 produto é
absorvido selectivamente por certos ór-
às zonas mais profundas do corpo gãos do corpo humano e emite electrões
positivos (positrões) que colidem com os
electrões negativos das células, originando
Sem ter que recorrer a meios invasivos, como de raios X num dos lados e detectores a libertação de raios gama, que são regista-
o bisturi, os médicos que hoje examinam um opostos a elas. A medida que ele gira, as dos num computador.
doente conseguem visualizar a mais ínfima lâmpadas de raios X emitem finos feixes de Certas zonas doentes dos órgãos não
fenda num osso, dizer se um tumor é malig- raios através do corpo do doente, cujos te- absorvem o produto, o que é aparente na
no ou benigno e até mesmo identificar deter- cidos absorvem pequenas quantidades imagem produzida pelo computador, per-
minados produtos químicos no cérebro. dos mesmos. Quando os feixes saem pelo mitindo o diagnóstico do local exacto de
Este processo iniciou-se com a descoberta outro lado do corpo, atingem os detecto doenças como o cancro. O PET pode ain-
dos raios X — feita por acaso em 8 de Novem- res, que os convertem em sinais electróni- da ser utilizado para detectar a acumula
bro de 1895 pelo físico alemão Wilhelm Rónt- cos. A quantidade de radiação que foi ab- ção de certos produtos no cérebro que in-
gen. Chamou-lhes raios X porque nem sabia sorvida é analisada em computador e codi diciam doenças mentais, como a síndro
o que eram nem compreendia as suas pro- ficada em cores que indicam a densidade ma maníaco-depressiva ou a epilepsia.
priedades. Os cientistas sabem hoje tratar se relativa do tecido — quanto mais denso Uma forma ainda mais avançada de se
de ondas electromagnéticas, como as de luz este for, maior quantidade de radiação terá obter imagens das estruturas mais profun-
e as de rádio, mas de comprimento de onda sido absorvida. Esta imagem colorida — a das do corpo humano é a NMRI — nuclear
inferior. tomografia - é projectada num écran. magnetic resonance imaging, ou imagem
Os raios X atravessam ob-
jectos ou materiais de peque-
na densidade, mas não os de
maior densidade ou peso. As-
sim, ao passo que a pele e os
músculos são atravessados
por eles, já o osso, sólido, re-
flecte-os. Alguns meses de-
pois da descoberta de Rõnt-
gen, as radiografias eram utili-
zadas c o m o auxiliares de
diagnóstico e das fracturas dos
ossos, de tumores e de cáries.
Os negativos fotográficos
obtêm-se dirigindo os raios X,
através do corpo, sobre uma
chapa negativa. Os raios apa-
recem no negativo c o m o
áreas em branco, mostrando
doenças ou defeitos estrutu-
rais dos ossos. Os radiologis-
tas, médicos especializados
na utilização e interpretação
das imagens por raios X, con-
seguem mesmo localizar
doenças extra-ósseas, como
a acumulação de líquido nos Imageologia. No exemplo a esquerda utilizaram se raios X para localizar no estômago do doente um
pulmões. Mas as radiografias relógio de pulso engolido acidentalmenle. Na tomografia por emissão de positrões (PET) utiliza-se um
apenas mostram o organis- isótopo radioactivo para se examinar um tumor cerebral ( zonas pretas e vermelhas).
mo em duas dimensões.
Em 1973, foi introduzida urna nova técni- A TAC fotografa uma "fatia" do cérebro por ressonância magnética nuclear. O pro-
ca de imageologia que produzia uma ima em cinco segundos. Uma máquina seme- cesso envolve grandes imanes que emi-
gem tridimensional dos órgãos: a TAC, que lhante, o reconstrutor espacial dinâmico, tem energia através do corpo do doente,
significa tomografia axial computorizada. que fotografa um órgão num écran de provocando a ressonância dos respectivos
Este sistema apresenta-nos secções, ou vídeo, pode produzir no mesmo tempo átomos de hidrogénio. Isto liberta energia
"fatias", do corpo num écran. Por meio de 75 000 imagens de cortes, o que permite sob a forma de pequeninos sinais eléctri-
uma série destas imagens, pode construir- ao médico observar um órgão em movi- cos. Um computador ligado ao scanner
-se uma imagem tridimensional do corpo mento e reagindo a estímulos, a fim de detecta estes sinais, que variam segundo
humano ou de uma parte dele. verificar se está a funcionar normalmente. as diversas partes do corpo humano e se-
Quando se tira uma TAC, deita-se o Um outro tipo de aparelho de scanning gundo o respectivo estado de saúde, pro-
doente numa marquesa rodeada por um produz imagens semelhantes de fatias ho- duzindo uma imagem num écran Como
anel cilíndrico de metal que gira em torno rizontais através do corpo — é o PET (posi- O processo não envolve radiações, pode
do seu corpo. O scanner possui lâmpadas tron emission tomography, ou tomografia ser com frequência utilizado nos casos em
que os raios X seriam perigosos.
Vida antes do nascimento. O ultra-scan reflecte ondas sonoras de tecidos, ondas que são A ecotomografia por ultra sons pode ser
convertidas em imagens pelo computador, como a deste feto de sete meses íà esquerda). empregada no controle da gravidez, para

287
acompanhar a evolução do feto, e utiliza
ondas sonoras de alta frequência para alem
do nível de audihilidade (ultra-sons), as
quais são reflectidas pelas estruturas situa
das a diferentes profundidades no interior
do corpo humano — e um computador
converte os sinais em imagens. Por esta
forma, podem verificar se factores como o
crescimento ou qualquer malformação.
Existem ainda certas situações, como a
úlcera gástrica, que nenhum destes tipos
de scanner revela adequadamente — utili-
za-se nestes casos um endoscópio Trata-
•se de um tubo flexível que é introduzido
no interior do corpo humano e através do
qual passam dois tubos de fibras ópticas
que transmitem ondas luminosas, permi-
tindo ao médico ver directamente o inte-
rior do organismo. Uma das fibras é utiliza
da para conduzir um feixe de luz pelo inte-
rior do tubo, a outra está fixada a uma câ
mara fotográfica ou a uma ocular. A luz
transmite se em linha não recta, pelo que o
médico consegue ver por detrás de curvas
e voltas.
Entre outros processos de examinar ór
gãos profundos, figuram os scuns por efei-
to de Doppler, que Utilizam ondas sonoras
para pesquisar coágulos sanguíneos; a
ecocardiografia, que diagnostica doenças
e a função do coração, e a electroeardio-
gralia (F.CG), em que eléctrodos aplicados
sobre a pele registam a actividade eléctrica
do coração, que pode, por sua vez, revelar
sinais de ataques cardíacos.

Como é que
os antibióticos
destroem Morte de uma bactéria. Esta fotografia por microscópio mostra como a membrana exterior
as bactérias de uma bactéria é destruída (em cima, à direita) pelos antibióticos, perdendo a sua estrutura
celular interna. A bactéria maior ainda está completa e nao atingida pelos antibióticos.

Entre os medicamentos mais receitados warri Florey, patologista australiano, que 1943, já havia quantidades suficientes para
em todo o Mundo, encontrain-se os anti- trabalhavam em Oxford, retomaram a des- tratar os feridos da guerra, e em 1950 a pro-
bióticos. Sáo usados no tratamento de in- coberta de Fleming em 1938, e, dois anos dução satisfazia já as necessidades mun-
fecções e curam doenças que ainda há 50 mais tarde, produziam o primeiro antibió- diais. Entre as doenças em cujo tratamento
anos matavam dezenas de milhares de tico, a penicilina. O seu primeiro doente, se aplicava com êxito, contavam-se a pneu-
pessoas por ano. um polícia com uma grave infecção bacte- monia, a difteria, a sífilis e a meningite.
Durante a I Guerra Mundial, muitos sol riana, teve uma recuperação espantosa- Existe actualmente uma ampla gama de
dados morriam porque os seus ferimentos mente rápida — com apenas cinco dias de antibióticos que continua a expandir-se —
infectavam ou porque ficavam debilitados tratamento, melhorou imensamente. Mas ainda na década de 80 estavam a ser intro-
devido a disenterias. Quando a guerra co- não fora produzida quantidade suficiente duzidas as chamadas quinolonas, antibió-
meçou, existia apenas uma droga que de antibióticos para manter o tratamento, ticos sintéticos aplicados no tratamento
combatia as bactérias - o salvarsan. e o doente morreu passado um mês. das infecções no tórax e da bexiga e que
Os antibióticos foram descobertos em Em 1940, quando a invasão da Grã-Bre- tem ainda a vantagem de, aparentemente,
1929, quando Alexander Fleming notou tanha pelos Alemães parecia iminente, as bactérias não conseguirem desenvol
que as bactérias que cultivava no seu labo Florey e Chain besuntaram o interior dos ver-lhes resistências. Os antibióticos ac-
ratório deixaram de crescer por este ter casacos com um pouco da cultura de tuam matando as bactérias no organismo
sido contaminado acidentalmente por um Penicilliurn para que, se fossem forçados a da pessoa doente. Uma infecção só conse-
bolor, o Penicilliurn. Ensaiou o em diver- sair do país, pudessem noutro lado conti gue instalar-se quando se permite que as
sas bactérias e reconheceu o seu potencial, nuar as suas investigações. bactérias que a provocam se reproduzam:
mas não conseguiu reproduzido. A II Guerra Mundial impulsionou a pro- é a reprodução em massa das bactérias
Ernst Chain, bioquímico alemão, e I lo- dução da penicilina em larga escala. Em que causa os sintomas da infecção.

288
A penicilina interfere com a estrutura
das membranas das células bacterianas
enquanto estas se estão a reproduzir, pelo
que o conteúdo da célula se perde e esta
morre.
Outros antibióticos interferem com os
locais da bactéria onde são fabricadas as
proteínas de que esta necessita para a re-
produção, enquanto outros antibióticos
interferem com o código genético que per-
mite a multiplicação da bactéria. Os cien-
tistas, om simultâneo, têm de assegurar-se
de que os antibióticos não danificam as
células humanas para além das bacteriais.
Se o fazem, o doente é afectado por efeitos
secundários, como diarreia ou tonturas.
E embora os antibióticos sejam criados
para serem selectivos quanto às bactérias
que destroem, alguns deles destroem si-
multaneamente bactérias úteis de que o
organismo necessita para manter afasta-
dos os microrganismos nocivos. Conse-
quentemente, pode sobrevir uma segunda
infecção.
Mas o problema mais difícil que os cien Em simultâneo. Microscópios com duas ou três oculares permitem a vários cirurgiões a
tistas têm de enfrentar é as bactérias evoluí- observação simultânea das áreas a operar. Os médicos operam em equipas que se substi
rem continuamente e desenvolverem no- tuem, pois a cirurgia das fibras nervosas e dos minúsculos oasos sanguíneos leva horas.
vas fornias de resistência. Por este motivo,
não poderá parar a investigação para se Hoje, são muito mais frequentes as opera- Ao ligar dois vasos sanguíneos, o cirur-
conseguirem novos e melhores produtos ções destinadas a salvar membros. gião utiliza normalmente o método cha-
desta natureza. A microcimrgia implica intervenções ao mado de triangulação: fazem-se três costu-
nível das mais pequeninas estruturas do ras separadas de 120° nas extremidades
organismo humano, como é o caso das dos vasos, e depois o cirurgião cose a toda
fibras nervosas, as veias e as artérias mais a volta da respectiva circunferência, um
Como é que os delgadas. Ao suturar uma parte que se sepa
rou do corpo, não basta cosê-la: sem se
terço de cada vez. A sutura de duas veias
pode levar 15 a 30 minutos, enquanto a
médicos executam ligarem os vasos sanguíneos, essa parte
morreria por falta de oxigénio, e sem se
reimplantação de uma mão pode demorar
19 horas.
a microcirurgia? ligarem os nervos, ela não teria estimulação
nervosa e seria, por consequência, inútil.
As vezes, consegue-se anaslomosar va-
sos sanguíneos sem suturas: servindo-se
Como as estruturas em questão são de sondas eléctricas para aquecer as extre-
Na véspera do Natal de 1986, Beatricc Ra- muito delicadas — a artéria de um dedo midades separadas, os cirurgiões podem,
mos atirou-se, com seu filho Vladimir, de tem cerca de 1 a 2 mm de diâmetro e urna literalmente, soldá-las entre si.
13 meses, para debaixo de um comboio fibra nervosa varia de 0,002 a 0,02 mm —, a Depois da operação, é essencial a fisio-
metropolitano de Nova Iorque. O pé direi- microcirurgia só é possível recorrendo a terapia, a fim de devolver ao membro im-
to e a perna esquerda de Vladimir ficaram microscópios potentes. Estes instrumen plantado a sua capacidade de funciona-
com lesões sem hipótese de recuperação. tos têm um poder de ampliação desde 6 mento. Numa mão reimplantada são pre-
Mas, para o pouparem à utilização de duas até 40 veze>, o que permite aos cirurgiões cisos cerca de 200 dias para que se regene
pernas artificiais, os cirurgiões do Bellevue observarem as minúsculas estruturas que rern os tecidos nervosos e os vasos circula-
Hospital procederam a uma operação pio- necessitam de ser ligadas. Têm sido cria tórios. Mas é preciso mais tempo para que
neira na qual ligaram o pé. esquerdo da dos microscópios com duas ou três ocula- a mão funcione normalmente.
criança à sua perna direita. res para permitir a vários cirurgiões traba- As técnicas da microcirurgia são utiliza
lharem ao mesmo tempo. das numa quantidade de outros proble-
Apenas 10 anos antes uma operação
destas teria sido considerada impossível. Ao suturarem nervos, os cinirgiões têm mas, para além da reparação de lesões. As
de ter a certeza de que jun- operações aos olhos, por exemplo, utili-
tam feixes corresponden- zam-na.
tes, os quais são habitual- Os neurocirurgiões servem-se de mi-
mente identificados antes croscópios operatórios para manipular os
da operação. O cirurgião seus instrumentos com precisão acresci
trabalha com uma agulha da, aumentando assim as possibilidades
com a espessura de apenas de êxito na remoção de tumores. Os mi
50 míerones (0,05 mm) e croscópios permitem que os cirurgiões fa-
linha de nylon de 18 míero- çam a ressecçáo do tumor sem lesar o teci-
nes (0,02 mm). do cerebral saudável circundante.

Trabalho de precisão. A agulha curva e ultrafina que os médicos utilizam


na microcirurgia é um pouco mais fina que os dois cabelos humanos mostra
dos na fotografia. A linha é muito mais delgada que um cabelo.

289
ivmixrtviL.1 mo un iviuuiv,nirt

Pierre que não acendesse as luzes. Avança-


ram cuidadosamente, e a toda a sua volta
Marie Curie: um milagre num armazém viram raios de luz saindo do interior das
pequenas bacias cobertas de vidro. Marie
virou-se para o marido e disse lhe calma-
Foi num barracão de madeira, próximo da histórico filtrando medidas de pechblenda mente: "Lembraste do dia em que me dis-
sua casa, em Paris, que numa noite de Se purificada, as últimas de cerca de 6000 ba seste: 'Gostava que o radium tivesse uma
lembro de 1902 Marie e Pierre Cume final- cias. Marie Curie estava convencida de que bonita cor?'. Olha ... Olha!"
mente descobriram o elemento radioacti- este minério negro continha um elemento Das bacias que enchiam as mesas e as
vo a que chamariam radium - do latim novo e dinâmico cuja radiação poderia des- prateleiras das paredes saía uma luminosi-
radius, "raio". truir tecidos orgânicos doentes. Filtrando e dade suave azul-arroxeada. Comovida de-
Este elemento proporcionou o primeiro refiltrando constantemente a pechblenda, mais para falar, Marie observava os raios
tratamento eficaz para certos tipos de can- esperava que aquele elemento misterioso que não tremiam. "Lembrar-se-ia para
cro, na medida em que destruía as células acabasse por cristalizar nas bacias. sempre desta noite de pirilampos, desta
humanas doentes, que eram bombardea- Quando nessa noite regressavam a magia", escreveu mais tarde a sua filha Eve.
das com partículas radioactivas. casa, o milagre ainda não se dera. Até que, Os Curies linham-se conhecido em
0 casal Curie tinha mesmo antes de se deitarem, Marie deci- 1894, quando Marie - que nascera em
passado aquele dia diu ir ver mais uma vez as partículas nas Varsóvia em 7 de Novembro de 1867 com o
bacias. Ela e Pierre percorreram apressa- nome de Marya Sklodowska - estudava
Galardoada. damente as ruas mal iluminadas. na Sorbonne, em Paris. Vivia com dificul-
Marie Curie Entraram no barracão às escuras, com dades e numa dada ocasião desmaiou de
recebeu dois as suas filas de mesas de madeira cheias de fraqueza na sala de conferências. Mesmo
prémios Nobel. material de laboratório, e Marie pediu a assim, foi das melhores do seu curso, com
classificações distintas em Física e Mate
mática. Não podendo manter um labora-
tório seu, foi convidada por Pierre — cien-
tista na Escola de Física e Química respeita-
do, mas de poucos recursos — para com-
partilhar o dele. Casaram em Julho de
1895, iniciando assim a sua curta, mas fru-
tuosa, colaboração científica.
Inspiraram se na obra do eminente físi-
co francês Henri Becquerel, que, em 1896,
descobrira radiações de natureza desco-
nhecida emitidas espontaneamente pelo
urânio. Marie ficou fascinada pela emissão
de radiações semelhantes pela pechblen-
da, que eram quatro vezes mais intensas
que as emitidas pelo urânio contido no mi-
nério. Achou que elas só podiam ser expli-
cadas pela presença, no minério, de uma

• ,-,-í
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Os anos mais felizes. Marie e Pierre Curie
procedem a uma experiência no seu lubo
ralario improvisado num barracão uelho
(em cima), dominado por uma salarnan
dra de ferro fundido. "Foi neste uelho bana
cão que passámos os melhores e mais íeli
zes anos das nossas uidas, devotados intei
ramente evo trabalho", recordava ela.
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utilizada para erradicar células malignas. uma queimadura. Quase oito semanas de-
Em 1898, anunciou que raios espontâ- pois a queimadura não passava de uma
neos, que descreveu como "radioactivos" minúscula mancha cinzenta - e então ele
- isto é, emitindo radiação atómica -, repetiu a experiência em animais. O rádio
eram igualmente emitidos pelo metal tó- actuou da mesma forma, e também ele se
rio. Sentiu que estava na pista do misterio- convenceu de que, ao destruir as células
so elemento radioactivo contido na pech- doentes, as poderosas radiações pode-
blenda. Para ter escapado tanto tempo à riam curar os tumores malignos.
detecção científica, tinha de existir em Em 1903, os Curies partilharam o Pré-
quantidades extremamente diminuías — mio Nobel da Física, pela descoberta da
constituindo provavelmente não mais que radioactividade, com Henri Becquerel.
uma milionésima parte do minério. Dois anos mais tarde, o rádio era comercia-
Na Europa, a maioria da pechblenda lizado para utilização no tratamento do
Aparelho de medição. Entre o equipa- provinha de minas na Checoslováquia, cancro. Os Curies estavam em situação de
mento dos Curies, figuraua este complexo onde os sais de urânio dela extraídos eram fazer uma fortuna com a sua descoberta,
aparelho de metal e madeira para medir a usados no fabrico do vidro. Os resíduos mas Marie recusou-se a patenteá-la.
intensidade das radiações. eram despejados num pinhal próximo — "Se a nossa descoberta tem futuro co-
e, com o auxílio do Governo Austríaco, 1 t mercial", disse, "isso é um acidente do
substância até aí desconhecida e que ela desses resíduos fora mandada de com- qual não devemos aproveitar-nos. O rádio
estava decidida a descobrir. boio para o casal Curie. vai ser útil no tratamento das doenças, e
Graças à intervenção de Pierre, foi-lhe Este tinha agora à sua frente a tarefa parece-me impossível tirar proveito disso."
cedido um barracão velho com uma clara- mais difícil de todas: a refinação e separa- Mas o trabalho conjunto dos Curies não
bóia que pingava e um chão de terra batida. ção de minério nos seus diversos elemen- durou muito mais: cm Abril de 1906, em
"Não tínhamos dinheiro nem um labo- tos. Pierre ocupou-se do delicado trabalho Paris, Pierre foi atropelado por uma carro
ratório decente para levarmos a cabo a de laboratório, traduzido no estudo das ça de cavalos e morreu. Cinco anos depois,
nossa importante e difícil tarefa", escreveu substâncias radioactivas, entre elas o urâ Marie recebia o Prémio Nobel da Química
mais tarde. "Era como criar algo a partir do nio e o polónio (que Marie descobrira nes- pela descoberta do rádio e do polónio e
nada. Às vezes, passava um dia inteiro a se ano e assim o denominara em honra da por ter conseguido isolar o rádio puro.
mexer uma massa fervente com um varão Polónia, sua pátria). Entretanto, Marie tra- Morceu em 4 de Julho de 1934 - em parte
de ferro quase do meu tamanho. Chegava balhava no pátio, mexendo grandes pane- devido a anos de exposição às radiações.
à noite morta de cansaço." lões de pechblenda e vigiando para que o
Durante as investigações, os Curies ti- lume se mantivesse aceso dia e noite.
nham-se apercebido de que a pechblenda Os trabalhos continuaram por mais
— formada essencialmente por óxido de quatro anos — até que o sucesso surgiu
urânio radioactivo - queimava os dedos finalmente naquela noite de Outono de
de Marie, provocando lhes feridas verme- 1902, cm que Marie viu pela primeira vez os
lhas e irritantes. Estas saravam lentamente, seus "mágicos pirilampos azuis".
o que levou Marie a pensar que, se a radia- Uma vez isolado o rádio, Pierre expôs
ção destruía células saudáveis sem efeitos deliberadamente um braço às suas radia-
perniciosos duradouros, talvez pudesse ser ções. Para seu deleite científico, surgiu

. •

•••«••••••••••
Radiações de rádio. Exemplo
espectacular da radioactividade
do rádio. Coiacou-se um grão de
um sal de rádio sobre uma emul-
são numa chapa fotográfica. Fei-
ta a revelação, a emulsão mos-
Irou os rastos das partículas ato
micas emitidas pelo rádio.

Separação do rádio. Até á des-


coberta do rádio, em 1902, os
Curies trabalhavam sozinhos -
com Marie fazendo a sua quota
de "trabalho de homem". Mais
tarde, ela empregou assistentes
masculinos para a árdua tarefa
de separar o rádio da pechblen-
da contida em grandes cubas.

291
i v i / \ l \ r \ v I U I i/\.i ur\ . r i b u x .

Como os cirurgiões operam


com um feixe de luz
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11
* •
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Com « l a s e r » . Utilizando
um microscópio (em cirna),
o cirurgião com um raio de
laser uai perfurar os ossos do
ouvido interno (à esquerda)
para compensar a obstru-
ção provocada por um crés
cimento ósseo anómalo que
impede as ondas sonoras de
atingirem o ouvido interno.

Anles da invenção da cirurgia por laser, em lizados para fazer incisões muito precisas vido pela hemoglobina. Os raios árgon po-
1963, quem sofresse de um tumor ou de nos tecidos, como uma espécie de "bisturi dem, assim, ser usados tanto nos casos de
uma catarata tinha de ser submetido a uma de laser". Estas incisões de precisão são índices elevados de hemoglobina, como
operação de grande cirurgia. Hoje, utili- utilizadas na cirurgia da córnea para corri- nos sinais vasculares congénitos.
zam-se raios de laser em operações sem gir defeitos de visão ou na ressecção de Os raios de laser permitem também aos
incisões, com menos dor e maior segurança. tumores da garganta. médicos atingir áreas cuja localização as
Numa operação por laser para remoção Os lasers que utilizam uma substância tornava difíceis de serem atingidas com o
de um tumor na garganta, por exemplo, química de base metálica, o neodítnio, bisturi e, assim, executarem operações an-
faz-se passar pela laringe do paciente, sob produzem radiações que são absorvidas teriormente impraticáveis: libertar artérias
anestesia local, um pequeno tubo, o en- por tecidos a maior profundidade, o que os das oclusões e/ou estenoses devidas a de-
dOSCÓpio. Dirige se pelo interior do tubo, torna úteis na destruição de cancros. Os pósitos gordos; abrir um orifício através de
ao longo de uma fibra óptica, um feixe de que usam o gás árgon produzem um raio uma catarata do cristalino, restaurando a
raio de laser que é focado sobre o tumor. característico verde-azulado, que é absor- visão, e curar o cancro do colo do útero.
Toda a cirurgia por laser assenta neste
princípio de transmissão da luz ao longo
de uma fibra óptica. O feixe é uma forma
de luz que transporta uma grande quanti-
dade de energia. Esta é absorvida pelos te-
Como a anestesia elimina a dor?
cidos do tumor - ou pelos tecidos da pele
que têm de ser ressecados —, que aque- Há menos de 150 anos, as operações fa óxido nitroso estava a ser usado como
cem. Pelo controle da intensidade do calor, ziam-se sem qualquer anestésico. Os cirur anestésico, por inalação, na cirurgia den-
os médicos queimam — literalmente, va- giões chegavam a embebedarem os doen- tal. Na Grã-Bretanha, procedia-se a estu-
porizam — as células indesejáveis. tes com álcool, a baterem para que ficas- dos sobre o clorofórmio, particularmente
Outro emprego dos raios de laser é no sem inconscientes ou a gelarem a zona a para aliviar as dores do parto.
aquecimento dos tecidos para que pos- ser operada. Mas como é que os anestésicos permi-
sam ser "soldados" por exemplo, para A primeira vez que se usou um anestési- tem que a pessoa mergulhe num mundo
conter a hemorragia de um vaso. Esta ope co foi ern 30 de Março de 1842, cm Jeffer em que a dor não existe?
ração pode efectuar se num doente que sou, Geórgia, nos Estados Unidos, quando Anestesia deriva do grego que significa
sofra, por exemplo, de uma hemorragia o Dr. Crawford Long extirpou um tumor do "falia de sensibilidade". Todos os anestési-
por úlcera gástrica. pescoço de James Venable, que primeiro cos provocam este estado, bloqueando o
O comprimento de onda do raio de la- inalara éter. Mas só depois da demonstra- caminho percorrido pelos sinais da dor até
ser determina a fornia como os tecidos lhe ção pública, feita por William Morton em ao cérebro. Os anestésicos têm duas for-
reagem. Os lasers de dióxido de carbono Boston, da extracção de um dente sob a mas: os gerais, que põem o doente "a dor-
produzem feixes de luz que são absorvidos influência do éter, em 18-16, este produto mir", e os locais, que apenas afectam uma
pelos tecidos á profundidade de apenas passou a ser utilizado como anestésico. parte do corpo,
0,1 mm, o que significa que podem ser uti- Por volta dessa altura, também nos EUA, o A perda de sensibilidade, ou analgesia,

292
MARAVILHAS DA MEDICINA

pode ser produzida pelo óxido nitroso,


mas este composto não põe o paciente a
dormir. Pode até causar excitação física ou
mental. O sono é geralmente induzido por
Para que serve o "pacemaker"?
injecção de um barbitúrico. Os músculos
são então descontraídos por um neuroblo O coração humano bate 3000 milhões de Todos os pacemakers. internos ou ex-
queante, ou relaxante muscular, como o vezes durante uma vida média, bombear ternos. Funcionam do mesmo modo. Um
curare. Durante a operação, o doente c cui- do o equivalente a 218 milhões de litros de eléctrodo na extremidade de um fio, a son-
dadosamente monitorizado para que pos- sangue circulante no organismo. da condutora, que é colocado na parede
sam imediatamente ser tratadas quaisquer O ritmo cardíaco regular normal (ritmo da cavidade do ventrículo direito do cora-
alterações de circulação, de respiração ou sinusalj - em média. 72 pulsações por ção, seja directamente através do tórax
da função renal eventualmente provoca- minuto é controlado pelo n ó d u l o numa emergência (pacemaker provisó-
das pelo anestésico. sinoaurícular, pequena estrutura arredon rio), seja através de uma veia [pacemaker
Os anestésicos locais são administrados dada situada na porção superior esquerda definitivo). 0 eléctrodo recebe energia de
por injecção com o fim de eliminar qual- da superfície do coração. K o pacemaker um gerador miniatnrizado, accionado por
quer sensação numa área localizada. O natural do coração que envia os impulsos pilhas de lítio. As modernas pilhas para/w
doente mantém-se consciente e pode co eléctricos aos diferentes tecidos cardíacos. cemaker duram pelo menos 5 anos, che-
laborar com 0 cirurgião. Os anestésicos lo- O coração eontrai-.se (sístole) e relaxa se gando algumas a 12 anos.
cais têm três utilizações principais. Os (diástole) em resposta a estes estímulos, Com a energia do gerador, o eléctrodo
anestésicos tópicos retiram a sensibilidade produzindo as chamadas pulsações, ou ba- emite impulsos eléctricos que estimulam
às terminações nervosas das membranas timentos. 0 músculo cardíaco e fazem 0 coração ba-
mucosas, como as do olho, do nariz ou da Por vezes, o sistema clcctrico-condulor ter. 0 pacemaker é regulado para manter
boca. São utilizados, por exemplo, na re- específico do coração está comprometido os intervalos dos impulsos a um ritmo c cr
moção de um objecto estranho alojado por doenças, como a angina ou um ataque to, habitualmente de uma pulsação por se-
num olho. Os anestésicos r e u r o b l o - cardíaco. Quando assim acontece, o cora- gundo, ligeiramente mais lento que o rit-
queantes são injectados num nervo para ção pode ter que ser estimulado electrica- mo natural médio. Mas o pacemaker só
anestesiar uma zona pouco extensa por mente por pacemakers artificiais, que são funciona quando 0 coração não está a pro
exemplo, para permitir a extracção de um implantados pelos médicos, a fim de conti- duzir os seus próprios impulsos eléctricos
dente. Outros anestésicos são injectados nuar a bater com regularidade. ao ritmo correcto. K suficientemente sensí-
num conjunto, ou plexo, de nervos a fim Se 0 coração pára, pode, por vezes, voltar a vel para detectar estas demoras e preen-
de anestesiarem áreas maiores do corpo bater através da descarga de um choque eléc- cher as falhas, mantendo assim o ritmo
humano, corno, por exemplo, um braço. trico produzido por um equi-
pamento de rcssuscitaçâo, o
Átomos que transmitem a d o r desfibrilador. Se a pulsação
Uma indicação sobre o modo de actuação normal não for restabelecida
dos anestésicos gerais provém do estudo imediatamente, pode, às ve-
sobre os anestésicos locais. Sabe-se que zes, aplicar-se um pacema-
estes interferem com a forma como os im- ker provisório no exterior do
pulsos nervosos são transmitidos ao longo corpo - habitualmente ata
das fibras nervosas. Os átomos de sódio c do à cintura. Nas pessoas que
potássio desempenham um papel impor sofrem de outras irregularida-
lante na condução destes impulsos ao cé des do ritmo cardíaco, opace
rebro. Se batermos com um dedo do pé, maker é implantado cirurgi-
por exemplo, os átomos de sódio c potás- camente no interior do cor
sio atravessam em sentidos opostos a po, nos tecidos moles do tórax.
membrana da célula nervosa, fazendo
com que a célula seguinte proceda do O pequeno sobresselente
mesmo modo, e assim sucessivamente, do coração. Uma radiogra
até que o sinal atinge o cérebro, altura em fia do tórax do doente mostra
que sentimos a dor. Mas os anestésicos lo o gerador e a sonda de um
cais impedem os átomos de passar para pacemaker colocado à es-
dentro e para fora da célula nervosa, e por querda do coração. Fabrica
isso nenhum sinal de dor chega à espinal do com lítio leve, o pacemaker
medula. cabe facilmente na palma da
Os cientistas pensam que os anestési- mão (em baixo). A pilha pode
cos gerais provocam a perda de conscién durar a tê 12 anos.
cia pela supressão da actividade de certos
enzimas das células nervosas ou pela alte-
ração das propriedades das membranas
das células nervosas ou até pela interacção
com moléculas de água do cérebro, for
mando pequenos cristais que afectam o
percurso de um sinal ao longo da célula
nervosa.
Continua por conhecer o mecanismo
exacto, mas o certo é que, sem os anestési
cos, muita da cirurgia actual nunca pode
ria ser executada.

293
MARAVILHAS DA MLDK/INA

normal. Alguns modelos incorporam um O gerador do pacemaker interno mais tores magnéticos nos aeroportos ou bi-
emissor-receptor de rádio, o que permite frequentemente aplicado tem o tamanho bliotecas.
ao médico introduzir o ritmo do pacema- aproximado de uma caixa de fósforos, é Novas tecnologias electrónicas podem
ker a partir do exterior do corpo. feito de titânio leve e pesa cerca de 25 g. É vir a produzir pacemakers ainda mais pe-
Os primeiros pacemakers eficazes fo- implantado no corpo, em geral sob a pele quenos que, embora ainda accionados
ram aplicados pelo Dr. Walter Lillchei, um da parede torácica, numa posição que per- por pilhas, possam ser colocados directa
cardiologista da Universidade do Minneso- mita conectá-lo á sonda introduzida atra- mente sobre a parede do coração, elimi-
ta, EUA, nos finais dos anos 50. Consistiam vés de uma veia, que, por sua vez, vai de- nando fios e volumosas pilhas.
num eléctrodo com um fio ligado ao cora- sembocar no coração direito. A implanta- Outro progresso é o pacemaker que
ção através do tórax e recebiam energia de ção do pacemaker é feita habitualmente reage ao ritmo e é sensível à actividade do
um conjunto de pilhas atadas em volta da com o doente sob anestesia local. 0 orga- doente. Em vez de provocar um impulso
cintura. O conjunto tinha o (amanho de nismo não rejeita os pacemakers por não em cada segundo, ele acelera as pulsações
um maço de cigarros. Embora o sistema se tratar de matéria viva durante a actividade do paciente e afrouxa-
fosse prático por não requerer cirurgia O doente que usa o pacemaker tem de as durante o seu descanso como acon-
para a mudança das pilhas, o orifício no ser frequentemente controlado pelo médi- tece com o pacemaker natural do coração.
tórax para a passagem do fio infectava fre co para se ter a certeza de que o aparelho Desde que foi criado com êxito o primei
quentemente. Os pacemakers externos funciona perfeitamente. Alguns portado- ro pacemaker. mais de 5 milhões de pes-
são agora utilizados somente nos proble- res de pacemakers têm de tomar cuidado soas com doenças graves do coração têm
mas cardíacos temporários ou provisoria- para que estes não sejam afectados por podido levar uma vida mais confortável e
mente, até que se possa instalar um interno. certos circuitos eléctricos, corno os detec- activa.

A cirurgia de transplante de órgãos


No Little Company of Mary Hospital, de químicas tão semelhantes às do receptor o órgão doente e preparam-no para rece-
Chicago, o dia 17 de Junho de 1950 entrou que o sistema de defesa deste último é en ber o novo. As operações de transplante
na História quando o Dr. Kichard H. Lawler ganado e pensa que o órgão não c "estra- são bastante demoradas - pelo menos
executou com êxito a primeira operação de nho" Os órgãos do dador têm de ser saudá- quatro horas nas mais simples.
transplante de um órgão. Tratava-se de um veis e de preferência jovens. Os transplantes da córnea são dos mais
rim, e o doente era Ruth Tucker, de 49 anos. A lista de doentes necessitados de trans- fáceis. Executam-se para reparar lesões na
A dadora, uma mulher com o mesmo gru- plante é introduzida em computador e ar- superfície do olho e recuperar a visão. Es-
po sanguíneo, idade e biótipo físico que a mazenada sob a forma de banco de dados.
Sr.a Tucker, morrera momentos antes de Os registos incluem elementos sobre os
uma doença crónica. Rutli Tucker morreu tecidos dos doentes para que, quando um A TRANSPLANTAÇÃO
cinco anos depois, com uma trombose co- dador se torna disponível — muitas vezes, DE LM CORAÇÃO
ronária. Mais de 10 anos passados, o Dr. a seguir a um acidente mortal -, esses Quando um coração se toma disponí-
Christiaan Barnard procedeu ao primeiro elementos possam ser coordenados pelo vel, loealiza-se rapidamente um re-
transplante de um coração (p. 296). computador. ceptor adequado, que é instruído
Actualmente, os transplantes de rins e Existe na Holanda um computador cen- para se dirigir imediatamente ao hos-
coração são tão vulgares e têm sido tão tral, o Eurotransplant, que cobre a totalida- pital. Ao mesmo tempo, polícia, am-
bem-sucedidos que muitos outros órgãos de da Europa e é administrado conjunta- bulâncias e helicópteros levam ao
têm vindo igualmente a ser substituídos, mente por várias agências de saúde. Quan- hospital, com a maior rapidez, o ór-
incluindo o fígado, os pulmões, o pân- do morre uma pessoa que manifestara a gão doado. Um coração pode viajar
creas e a córnea. Até a medula óssea é já sua disposição de doar os seus órgãos, os centenas de quilómetros desde o da-
transplantada no combate a doenças elementos sobre o seu tecido são imediata- dor ao receptor, às vezes atravessando
como a leucemia, e porções de tecido ce- mente introduzidos no computador, que fronteiras. Mas, para poupar tempo, o
rebral são enxertadas no tratamento de si- localiza um receptor adequado e desenca- sistema europeu computorizado, o
tuações como a doença de Parkinson. deia a acção das equipas de transplantação. Eurotransplant, tenta localizar recep-
A remoção de um órgão vivo e a sua A primeira tarefa é a remoção, tão cedo tores que vivam o mais próximo pos
colocação noutra pessoa é uma operação quanto possível, do órgão do dador — ele sível do dador.
plena de dificuldades. O primeiro proble- torna-se inútil passados 30 minutos. Os ci- Para preparar um doente para uma
ma a vencer é a rejeição dos tecidos estra- rurgiões retiram o órgão e bombeiam o transplantação do coração, o cirur-
nhos pelo doente receptor. O sistema imu- sangue através dele para manter funcionais gião faz uma incisão no tórax e sutura
nológico do corpo humano ataca tudo o os vasos sanguíneos e evitar que se formem os vasos sanguíneos que entram e
que é "estranho", uma vez introduzido na coágulos. O órgão é então colocado num saem do coração do receptor. A cir-
circulação sanguínea, quer sejam tecidos, saco de polietileno contendo gelo e guarda- culação sanguínea do receptor é en-
bactérias ou vírus. Os leucócitos do sangue do em congelador a 5°C. tão feita passar pela máquina cora-
rodeiam os tecidos estranhos e impedem Entretanto, o computador escolhe um re- çáo-pulmão, que substitui na altura a
-nos de funcionar. Se o sistema de defesa ceptor, que é localizado e inslniído para con- função do coração e dos pulmões do
do organismo rejeita - ou ataca — os teci- tactar imediatamente o hospital. O órgão tem paciente. O coração deficiente é retira-
dos de um órgão, este morre. de ser transplantado quanto antes porque só do e substituído pelo novo órgão, que
Para ultrapassar esla dificuldade, os ór- sobreviverá por algumas horas — um cora- é então ligado às veias e artérias princi-
gãos são obtidos de dadores compatí- ção pode ser guardado 3 a 5 horas, um fígado pais. A circulação é restabelecida atra-
veis — pessoas com o mesmo tipo de teci- 10, um rim entre 24 e 48 horas. vés do novo coração, o cirurgião cose
do do doente receptor. Os órgãos de dado Quando o receptor se encontra na sala o tórax e a operação terminou.
res compatíveis possuem propriedades de operações, os cirurgiões removem lhe

294
Hl

B m a
Transformação. Em 1988, a ac
triz Molly Parkin deu entrada
numa clínica a fim de .se subme-
ter a uma operação plástica
para lhe dar novo aspecto. Três
dias depois, apôs uma blefam
plastia e a cirurgia das sobrance-
lhas, do pescoço e da face, pare
cia outra (à direita). A pele fláci-
da das pálpebras e os papos de-
baixo dos olhos tinham desapa-
recido. O lábio superior estava
mais cheio devido a um enxerto
de pele, e a gordura do maxilar
fora removida por sucção.

Ião relativamente livres de complicações


porque a córnea não tem sangue, pelo que
não é afectada pelos mecanismos de defe-
sa do organismo.
Como os cirurgiões plásticos
Uma vez terminada a operação de trans
plantação, o seu êxito depende ainda da
eliminam as rugas da face
perfeita compatibilidade dos tecidos, pois
mesmo assim o sistema de defesa do orga- Com o envelhecimento da pele, dissolve-se para cima pela parte de trás. A linha de
nismo ainda pode rejeitar o órgão doado. parte da gordura subcutânea que a supor- incisão segue depois horizontalmente
Para evitar essa rejeição, ulilizam-sc drogas tava e a almofadava. E um dos seus princi para a parte posterior da cabeça, ficando a
que reduzem a eficácia daquele sistema, pais constituintes, o colagénio, perde a sua maior parte da incisão na zona coberta por
mas que têm o defeito de tomar os doentes capacidade de retenção da humidade, tor- cabelo para ocultar as cicatrizes.
pacientes mais sujeitos a infecções. Alguns nando a pele menos elástica o mais seca. O Uma vez terminada a incisão, o cirur-
doentes têm de tomar drogas de anti rejeição resultado final é a pele flácida e as rugas. gião separa cuidadosamente a pele, abai-
durante toda a vida, pelo que os médicos A maioria das pessoas aceita as rugas xo da linha de corte, do tecido gordo sub-
estão sempre atentos a sinais de infecção. corno parte do seu processo natura] de en cutâneo. Depois, puxa-a, para a soltar, da
Apesar das suas dificuldades, a cirurgia velhecimento, mas para outras o envelhe- frente para trás. A delgada camada de teci-
de transplantação tem dado a muitas pes- cimento da pele é um problema. A única do muscular do pescoço é puxada para
soas novas possibilidades de vida. Mais de solução é a cirurgia plástica. cima e esticada. A pele em excesso é corta
70% dos doentes que receberam trans- A cirurgia plástica facial não se resume a da e a incisão suturada.
plantes de fígado vivem mais do que um um face lipt — que consiste no repuxar, Demora duas a três semanas o período
ano; e 80% dos que receberam um novo ou esticamento, da pele da face, cujos efei- de recuperação da ligeira inflamação na
coração sobrevivem um ano à sua opera- tos se restringem quase unicamente ao face causada pela operação. As cicatrizes,
ção, enquanto há 10 anos isso só acontecia queixo e pescoço. As rugas em redor dos que podem ser disfarçadas pela maquilha-
com 66%. Entre 91 e 96% das transplanta olhos, lados do nariz e na testa têm de ser gem, desaparecem com o tempo.
ções de rins e córnea têm êxito. tratadas em operações separadas. A blefa- Nenhuma cinirgia plástica da face retar-
Para os cirurgiões, o problema reside roplastia é a remoção do excesso de pele da permanentemente o envelhecimento:
em encontrar suficientes dadores de ór- das pálpebras superior e inferior. As pe este processo continua no ritmo normal
gãos para satisfazer a procura. Estão já a quenas intervenções são feitas sob aneste- após a operação. Podem fazer-se mais in-
fazer experiências com a transplantação sia local, mas o esticar da pele da face é tervenções deste tipo fia mesma pessoa,
de órgãos de animais, como corações de uma operação demorada e feita sob anes- mas há sempre um limite, porque de cada
babuínos e rins de porco. Mas o problema tesia geral. O cirurgião começa por fazer vez o cirurgião tira mais pele. Quando esta
principal reside no fado de os tecidos hu- uma incisão na pele em redor de ambas as foi esticada até ao seu máximo sem preju-
manos rejeitarem os tecidos animais. Por orelhas, ao nível da linha de inserção do dicar as funções normais, como o sorrir, já
este motivo, fazem-se também estudos so- cabelo por cima da orelha, continuando não há excesso disponível e tornam-se im
bre o uso de órgãos sintéticos. em torno da parte inferior desta e voltando possíveis mais operações.

295
MARAVILHAS DA MEDICINA

apenas, na melhor hipótese, mais umas


quantas semanas de vida.
Christiaan Barnard: o cirurgião Washkansky sobrevivera já a diversos
ataques cardíacos, mas estava numa situa-
que realizou o primeiro transplante ção terminal: com dificuldades de respira-
ção, os rins e o fígado começavam a falhar,
as pernas estavam muito edemaciadas e
A chamada telefónica que viria a ficar histó- nard, "habitualmente no carro a caminho sofria de diabetes.
rica no mundo da medicina teve lugar do hospital, que é quando estou sozinho. Ele náo devia ingerir doces, mas con
quando o Dr. Christiaan Barnard dormitava E nessa altura, enquanto guiava na noite, vencia a mulher, Ann, a dar-lhe limonadas
após o jantar, na sua casa da Cidade do sentia mais que nunca a necessidade de o e licores. Parecia mais interessado em ler
Cabo, na República da África do Sul. Quem fazer. Mas não consegui: sempre que co- livros de cowboys e de aventuras do que
telefonou uma freira do Groote Schuur meçava, os meus pensamentos assalta- em concentrar-se na sua própria situação.
Hospital — dísse-lhe que uma mulher jo- vam-me ..." Mas mostrou coragem quando Barnard
vem, vitimada por um acidente de automó- Ate1 aí, o cirurgião apenas transplantara lhe falou na possibilidade de lhe salvar a
vel nesse dia, tinha acabado de dar entrada corações de cães no laboratório de cirurgia vida. Encolheu os ombros e disse: "Se as
sofrendo de lesões cerebrais irreversíveis. experimental. Mas nessa noite - sábado, sim é, vamos para a frente."
Se morresse, o seu ovação poderia ser utili- 2 de Dezembro de 1967 - ele iria trans- Por volta das 9 horas dessa noite, o Dr.
zado na primeira operação de transplante plantar o coração de um ser humano para Barnard observava a morena Miss Darvall.
cardíaco do Mundo. O seu grupo sanguí- outro. 0 dador era uma mulher de 25 anos, Do ponto de vista clínico, já não vivia,
neo era o apropriado, e o pai estava dispos- Denise Darvall, de Tamboers Kloof,
to a dar a respectiva autorização. na Cidade do Cabo. 0 receptor era O cirurgião. Preocupado mus
"Rezo sempre antes de uma operação Louis Washkansky, armazenista calmamente confiante, o Dr.
importante", escreveria depois o Dr. Bar- de mercearia, de 53 anos, cujo Barnard deu à operação
"coração despedaçado e arruina- k cardíaca de Washkansky
A dadora. O coração de Denise Daroall do", como Barnard o des- ^\ uma probabilidade d e
deu vida nova a Louis Washkansky. Foi creveu, lhe daria li êxito de 80%.
atropelada por um carro enquanto fazia
compras com a mãe, ficando
mortalmente ferida.

OaiW,

O receptor. Louis Washkansky sen-


tado ao lado da mulher, Ann. elegante
nas suas pias e peles, numa festa so-
cial na Cidade do Cabo.
mas o seu coração ainda estava saudável. mantida "viva" por um ventilador. Barnard Para o fazer contrair ritmicamente, foi
Barnard não perdeu mais tempo. Um aju- correu até lá e desligou a máquina. Os seus necessário recorrer ao desfibrilador, verifi-
dante começou a rapar os pêlos do tórax dedos estavam já engrossados pela artrite, cando-se que o corpo inconsciente de
de Washkansky, enquanto um dos enfer- que lhe iria trazer um fim prematuro ao seu Washkansky se contorcera com as descar-
meiros accionava a máquina coração-pul- trabalho de cirurgião. Mas pouco tempo gas eléctricas, enquanto Barnard e a sua
máo. Essa máquina - que iria substituir o levou para que fizesse uma incisão no tó- equipa médica de 20 pessoas observavam
coração e os pulmões de Washkansky rax de Denise e lhe retirasse o coração. Co- ansiosamente. Finalmente, o coração co-
para possibilitar a transplantação - fora locou-o numa bacia com uma solução sa- meçou a contrair-se cadenciadamente. A
trazida dos EUA pelo Dr. Barnard depois de lina refrigerada e transportou-o para a sala máquina coração-pulmão foi retirada, e,
seu estágio de cirurgia na Universidade do de operações principal — onde foi ligado a mais de oito horas depois de iniciada a
Minnesota, em Minneapolis. uma pequena bomba que fazia circular o operação, Washkansky - com o corpo
0 cirurgião iniciou a desinfecção das sangue da máquina coração-pulmão de repleto de 18 linhas, através das quais parâ-
mãos, introduziu nas narinas pomada Washkansky. metros vitais eram mantidos por meio de
anti-séptica e vestiu uma bata, um barrete e A seguir, Barnard removeu o volumo- ligações a uma diversidade de aparelhos e
uma máscara facial esterilizados - além so c o r a ç ã o hipertrofiado de Wash- máquinas — foi conduzido até ao seu
de botas de borracha igualmente esteriliza- kansky, deixando apenas um pequeno quarto esterilizado e colocado debaixo de
das. Entrou na sala de operações, onde segmento para ser suturado ao coração uma tenda de plástico.
Washkansky já se encontrava na marque da dadora. 0 "novo" coração foi então Começava agora a luta contra as infec-
sa. Washkansky olhou para o médico e - colocado no tórax vazio de Washkansky ções pós-operatórias e a rejeição do novo
apesar de mal ter fôlego para falar - disse e Barnard olhou-o com temor: o coração coração pelo organismo - que o conside-
a brincar: "Sai velho, entra novo. Ó tempo, da mulher é habitualmente 20% mais pe- rava um objecto estranho que era preciso
não voltes para trás!" queno que o do homem, e a cavidade no destruir. Washkansky tomou drogas anti
Pouco depois, Washkansky estava tórax de Washkansky era o dobro do ta- -rejeição e, uma vez passado o período ini-
anestesiado, e à meia noite iniciou-se a re- manho normal. ciai de perigo, gozou.de cinco maravilho
volucionária operação. Sob a orientação Com o fio de seda da sutura e duas agu- sos dias de boa saúde.
experiente de Barnard, o seu primeiro as- lhas, começou então a delicada tarefa de Até que, a 15 de Dezembro, 12 dias após
sistente, Rodney Hewilson, abriu o tórax suturar o coração da dadora. A bomba que a operação, uma radiografia revelou que
do doente. fornecia sangue ao coração foi fechada - ele parecia estar um pouco constipado; e,
"O coração de Louis Washkansky estava e quase imediatamente o órgão perdeu a de fado, surgira uma pneumonia. Irónica
todo à vista", escreveu depois Barnard, sua cor-de-rosa saudável e começou a ficar mente, as drogas anti-rejeiçáo que ele to
"batendo no seu ritmo próprio como um azul. Barnard continuava com a sua sutura mava tinham enfraquecido o seu sistema
mar zangado e amarelo devido aos tempo- — primeiro para um lado, depois para o imunológico, e Washkansky não tinha de-
rais de meio século, mas sulcado por cor- outro - e deu uma espreitadela ao relógio fesas contra os germes que lhe invadiram
rentes azuis profundas — veias azuis va- do bloco ciniryico. Eram 5.30 da manhã e os pulmões.
gueando através do deserto e das ruínas o coração fora privado de sangue e oxigé- Apesar de tudo o que Barnard e os seus
pulsantes de um coração devastado. À di- nio havia 15 minutos. Quatro minutos pas- colegas tentaram, Louis Washkansky mor
reita, a aurícula arroxeada deslizava para saram ainda lentamente. Foi suturado o reu de pneumonia no fim da madrugada
trás e para diante a cada contracção." último ponto e deixou-se entrar o sangue; de 21 de Dezembro. 0 seu novo coração
Entretanto, noutra sala de operações o coração começou a contrair-se desorde- — implantado 18 dias antes — trabalhara
uns metros adiante, Denise Darvall era nadamente. perfeitamente até ao fim.

Controle pós-operatório imediato. A Grandes esperanças. Louis Washkunsky, alegre e sorridente no meio dus suas enhrmei-
primeira radiografia do novo coração de ras, após a operação Disse que nunca na vida se tinha sentido melhor — contudo, IS dias
Washkansky. O ponteiro indica o coração. depois morria com uma pneumonia.

297
MARAVL AS DA MED UNA

Na diálise peritoneal, introduz se um Nos piores casos, são necessárias mais


pequeno segmento de tubo introduzido de 250.
Como trabalha no peritoneu através da parede abdomi-
nal. Um líquido especial, o dialisato, é en-
O tempo que leva a operação depende
da quantidade de cabelo a ser transplanta-
um rim artificial? tão lançado na cavidade abdominal atra-
vés do tubo. O líquido atrai os produtos
da. Habitualmente, são necessárias diver-
sas sessões, pois só se fazem de cada vez
residuais do sangue dos órgãos abdomi- até 20 enxertos. Este processo demora en-
Os produtos de eliminação residuais pro- nais e é depois aspirado para o exterior. 0 tre uma hora e hora e meia.
duzidos pela decomposição dos alimen- processo pode levar 12 horas e é efectuado Os pequenos orifícios deixados pela ex-
tos no organismo são normalmente remo- de duas a quatro vezes por semana. cisão das placas levam umas duas sema-
vidos da circulação pelos rins, os quais re- nas a cicatrizar, ficando no final pratica-
gulam, além disso, a quantidade de líqui mente sem sinais. Os cabelos que lhes fi-
dos e sais (equilíbrio hidroelectrolítico) do cam por cima depressa os escondem.
corpo humano. Se os rins trabalham mal,
esses produtos finais acumulam-se no
Como por vezes Os enxertos de couro cabeludo im-
plantados perdem os seus cabelos a se-
sangue, o que acaba por provocar a ure-
mia, que é uma doença que mala anual-
se cura a calvície? guir à implantação, e estes só voltam a
crescer depois de três a seis meses. Com
mente milhares de pessoas. o tempo, porém, os folículos transplanta-
A insuficiência renal, às vezes, não apre- Mais de 90% dos homens sofrem de graus dos podem, por sua vez, ser afectados
senta sinais, mas a situação mais vulgar é a diferentes de calvície. E o mesmo ocorre pelos androgénios, de modo que o trans-
chamada "insuficiência renal crónica", em em algumas mulheres, particularmente plante não é necessariamente uma solu-
que os rins se deterioram gradualmente. A depois ria menopausa. O problema é intei- ção definitiva.
única maneira de enfrentar com êxito a ramente de ordem genética — pais calvos
insuficiência renal é a transplantação de terão filhos que provavelmente virão a se-
um rim saudável (p. 294) ou a remoção lo. E não afecta unicamente os seres hu-
artificial dos produtos residuais.
Esta é feita por uma máquina de diálise,
manos: por exemplo, os macacos tam-
bém ficam carecas.
Como sobrevivem
que actua como um rim artificial, filtrando
os resíduos contidos no sangue. O proces-
O código genético exacto que provoca a
calvície e a rarefacção rio cabelo ainda não
as pessoas
so é muitas vezes executado em casa pelos
doentes devidamente treinados no uso
é conhecido dos cientistas, mas estes sa-
bem que ele tem algo a ver com os anriro-
a um raio?
desse equipamento. Um dos processos, a génios, as hormonas sexuais masculinas.
hemodiálise, implica a introdução de duas Estas hormonas suprimem a actividade de Diz-se que um guarda florestal americano,
agulhas no braço ou na perna do doen- certos folículos capilares do couro cabelu- Roy Sullivan, foi atingido por raios mais ve-
te - uma numa artéria, outra numa veia. do, pelo que o tempo de vida rios cabelos zes do que qualquer outra pessoa no Mun-
Ambos os vasos estão ligadas por tubos à que deles nascem é reduzido. Normal do. Foi atingido pela primeira vez em 1942
máquina de diálise. mente, um cabelo que se deixa crescer c recebeu a sétima descarga em 25 de Ju-
0 sangue corre da artéria do doente sem cortar dura de dois a seis anos. Mas, à nho de 1977. De todas as vezes, Sullivan
para a máquina, onde é misturado com medida que a calvície se instala, os cabelos sofreu lesões. Começou por perder uma
um medicamento, a heparina, que o impe em certas áreas da cabeça caem com mais unha do pé, depois sofreu queimaduras
de de coagular. Passa depois através de um frequência. O efeito global é o cabelo nes diversas rias sobrancelhas, um ombro, ca-
tubo helicoidal de celofane semipermeá- sas áreas tornar-se mais ralo e mais curto, belo e pernas. Mas sobreviveu.
vel, que está imerso num banho químico até que fica reduzido a uma penugem. Uma faísca p e r c o r r e e n t r e 160 e
aquecido. Os orifícios do celofane são sufi- Os homens têm mais androgénios que 1600 km/s e a temperatura que produz
cientemente largos para que as pequenas as mulheres, pelo que são mais afectados pode atingir os 30 000°C, seis vezes mais
moléculas dos resíduos passem através pela calvície. Uma solução para a calvície é quente que a superfície do Sol. Por isso, o
deles, mas as células sanguíneas, que são a transplantação capilar, executada por que espanta é que tantas das pessoas atin-
maiores, ficam retidas no tubo. Uma vez um cirurgião plástico. Mas este tratamento gidas por esta força terrível não morram,
filtrados os resíduos tóxicos, o sangue pu- apenas é apropriado em certas pessoas: a embora, por regra, sofram queimaduras
rificado é misturado com um agente que calvície tem de ser estável, isto é, não piorar de bastante gravidarie.
contraria o efeito da heparina e é reborn- todos os anos, e deve ocorrer principal- A faísca é uma descarga eléctrica causa-
beado para a circulação do doente através mente na frente e no alto do couro cabelu- da pela diferença de energia entre as nu-
da agulha colocada na veia. do. O cabelo restante deve ser escuro para vens e o ar que as rodeia ou o solo. No
esconder os efeitos da cirurgia. Tem ainda trajecto nuvem solo, a energia procura o
Três sessões por semana de ser saudável e abundante, porque é este caminho mais curto até à terra, que pode
A pessoa que precisa desle processo me- cabelo que irá ser transplantado. Na trans- ser uma pessoa no campo.
cânico de renovação do sangue tem de plantação capilar não há dadores: é o ca- Este caminho mais curto pode ser atra
submeter-se a uma média de três sessões belo existente no próprio que é, simples vés do ombro, ao longo de um dos lados
semanais de oito horas. mente, redistribuído. do tronco e ao longo ria perna, até ao solo.
Um outro sistema de filtragem, a diálise Primeiro, o cabelo é cortado à escovi- No seu percurso, provoca dores e queima-
peritoneal, não necessita da máquina usa- nha. Depois, sob anestesia local, são remo- duras, mas a parte principal da sua energia
ria na hemodiálise. O peritoneu é um gran- vidas placas circulares de couro cabeludo, é descarregaria para o solo. Desde que o
de saco protector de tecido flexível que en- dos lados ou na parte posterior da cabeça. raio não atravesse o coração ou a espinal
volve os órgãos abdominais. Estes órgãos Estas placas têm 4 mm de diâmetro e con- medula, a vítima provavelmente não mor
são muito irrigados e, por lhes estar contí- tém de 12 a 18 raízes capilares e são reim- rerá. Mas se atravessar o coração, há um
guo, o peritoneu está convenientemente plantadas nas zonas calvas. grande risco de que este seja gravemente
situado para actuar como filtro das molé- 0 número de placas circulares neces- lesado ou pare, provocando a morte ime-
culas indesejáveis. sárias varia com a natureza ria calvície. diata.

298
Construção
e demolição
Enormes barragens, pontes que atravessam grandes estuários e túneis
debaixo do mar — todos são milagres da construção moderna.
Igualmente espectacular é a demolição de arranha-céus e centrais
nucleares quando chegam ao fim das suas vidas.

Como se constrói uma


ponte gigantesca, p. 306

Como se faz a demolição de um


arranha-céus, p. 304
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Construir um arranha-céus no meio de uma cidade


O Hong Kong and Shanghai Bank, com 47 que compreendia 30 m de cascalho e entu- pá de dragar com duas maxilas articula-
pisos, foi construído numa das cidades lho saturados de água sobre um leito de das) para escavar uma vala curta e estreita,
mais densamente povoadas do Mundo. 0 rocha firme. Era preciso encontrar forma com largura apenas suficiente para o seu
local da construção estava rodeado por de drenar o solo sem perturbar a toalha de próprio trabalho. Durante a escavação,
prédios de 20 pisos e por um dos edifícios água subterrânea da área vizinha. manteve se a vala cheia com uma densa
históricos de Hong Kong - o Palácio da Mesmo que os edifícios adjacentes as lama de argila para evitar que abatesse.
Justiça. sentassem apenas 5 cm, apareceriam Usou-se uma argila do tipo especial, a
As condições para a construção em altu- grandes fendas nos rebocos e resultariam benlonite, que se conserva líquida en
ra variam de cidade para cidade, depen- provavelmente graves danos estruturais. quanto é mexida, mas que se torna espes-
dendo do solo de fundação, das condições Como é que a firma do engenharia de es sa se se deixa repousar. Por este motivo,
climáticas predominantes, das redes de in- truturas Ove Arup conseguiu erguer Ião fazia-se circular a lama continuamente,
fra-estruluras existentes e fundamental- grande edifício sem causar prejuízos? mas alguma que ficou estagnada em re
mente da largura dos arruamentos. cessos e cm fendas contribuiu para refor
No caso de Hong Kong. O novo banco Um enorme fosso estanque çar as paredes da vala.
teve de ser construído em solos conquista Primeiro, o espaço que as caves iriam ocu- A pá de dragagens era içada com a sua
dos ao mar, saturados do água. Mas, se se par tinha de ser impermeabilizado por pa- carga de cascalho através da lama despeja-
tivesse drenado a área, ter-se-ia provocado redes de betão penetrando até à rocha fir- da e novamente mergulhada na lama até a
assentamentos graves e o desmorona me. Como o solo era macio, as paredes vala atingir a profundidade máxima de
mento dos edifícios e arruamentos vizi- tiveram de ser construídas por secções. 'ò(j m. Baixou-se depois um tubo até ao
nhos. O banco foi construído num local Utilizou se uma draga de garras (grande fundo da vala e deitou se betão através
dele. O betão ia deslocando para cima as
lamas, cujo lugar passava a ocupar. Mais
valas foram escavadas e enchidas até a
zona ficar completamente fechada por
uma enorme parede subterrânea de betão
com a altura de um edifício de 12 pisos.
Para evitar qualquer passagem das
águas subterrâneas, aplicou-se um vedan-
te na base das paredes, no ponto em que
assentavam no leito de rocha granítica

Construção das caves — de cima


para baixo
Podiam agora ser construídos os quatro
pisos de caves que iriam alojar as casas-
lortes e os cofres. Para se suster a parte
superior das paredes subterrâneas quan-
do se retirasse o solo rio seu interior, as
caves foram construídas de cima para bai-
xo. Construiu-se primeiro o pavimento em
betão do andar logo abaixo do nível da rua.
Deixaram-se aberturas no chão a fim de
permitir aos operários e às escavadoras
mecânicas escavarem e construírem o pa-
vimento imediatamente abaixo. Esto pro-
cesso foi repelido até estar completo o últi
mo pavimento subterrâneo.
Mesmo com estas precauções, era inevi
tável certo movimento de terras. Dois edifí-
cios de 20 pisos, o Bank of China e o Char-
tered Bank Building, ficavam apenas a
10 m da nova construção. Ambos sofre-
ram um assentamento diferencial de
1.3 mm, inclinando-se muito ligeiramente
na direcção do local ria escavação, mas
não houve sinal cie danos.
Acima rio solo, o edifício é suportado

Construção em altura. Em cidades popu-


losas como Hong Kong, a solução é cons
(ruir cm altura. Mas as condições locais — o
clima, o solo, a fundação e as redes de infru
-estruturas — são sempre diferentes.
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

por oito pilares de aço gigantes, formado Todos os pavimentos do edifício estão tros componentes vieram da Alemanha, e
cada um por quatro tubos de aço c interli- suspensos de vigas gigantes que se esten- os módulos integrados das centrais de ar
gados por vigas ao nível de cada andar. dem a cinco níveis entre os pilares. Cada condicionado, bem como as instalações
Para fixar os pilares, foram perfurados no viga é em treliça dupla com a altura de dois sanitárias, do Japão. Foram especialmente
leito de rocha, abaixo das caves, quatro po pisos e possui "pendurais" aos quais estão desenhadas gruas para elevar os elemen-
ços que se encheram de betão. Esles po- ligados os pavimentos. Enquanto se eri- tos prefabricados de aço e os módulos até
ços tinham cerca de 3 m de largura e S m d c giam os pilares, iam se construindo os pa- aos respectivos lugares. Vestiários e insta
profundidade e foram abertos a dinamite vimentos — apoiados em suportes provi lações sanitárias para todo um pavimento
no granito. sórios —, o que poupou tempo precioso. vinham em módulos que chegavam a pe-
Logo que as vigas estavam colocadas, liga sar 40 t e as paredes exteriores dos módii
Montagem da superstrutura vam-sc os pendurais aos pavimentos aca- los vinham iá com o acabamento final.
0 edifício eleva se a 180 m acima do nível bados e os suportes eram subidos para
do solo. Cada um dos oito pilares do aço apoiar a construção doutro pavimento.
pesava mais de 1000 t. Foram feitos por A maior parte das paredes exteriores do
secções chamadas •'árvores de Natal" com banco é de vidro temperado de 13 mm de
aço de 10 cm de espessura, constituídas espessura. O resto do edifício está revesti-
por segmentos dos quatro lubos com do com painéis de alumínio.
7.80 m de altura ligados por vigas transver
sais. Foram especialmente treinados 50 Secções vindas de todo o Mundo
operários chineses para as soldarem entre Depois de quatro anos de construção, o
si, formando assim, pouco a pouco, os pila- edifício ficou concluído em 1985. A fim de se
res. As árvores de Natal foram revestidas apressar o trabalho e minimizar os inconve
com uma mistura de cimento e borracha nientes causados às pessoas que trabalha-
para evitar a corrosão e em seguida com vam em escritórios perto do local, uma
fibra cerâmica como protecção contra o grande parte do edifício foi pré fabricada.
fogo. Segundo o costume local, receberam Num triunfo de coordenação interna-
ainda outra fornia de protecção — queima cional, secções acabadas foram enviadas
ram-se pauzinhos aromáticos para garantir de todo o Mundo. As árvores de Natal to
boa sorte ao prédio. Finalmente, recebe- ram construídas em Ravenseraig, na Escó-
ram um delgado revestimento do alumínio cia, as janelas na Áustria e o revestimento
por uma questão de estética. rias paredes exteriores veio dos EUA. Ou-

Os pilares. Oito colunas, cada urna


com quatro tubos, são OS apoios princi-
pais do Hong Kong and Shanghai Bank Suportes dos pavimentos. Eram consti
fã esquerda). luídos por vigas em trelica dupla, integra
dos na estrutura darwúe a construção.
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

CONSTRUÇÃO DA CN TOWER
A mais alta
construção
do Mundo
A maneira mais rápida de se erigirem cons-
truções muito altas de betão é a chamada
cofragem deslizante, muito utilizada em si
los, chaminés e plataformas de petróleo
offshores. Mas o exemplo mais espectacular
de construção por cofragem deslizante é a
CN Tower, em Toronto, Canadá a mais
alta torre autoportante, com 552 m.
A maneira habitual de construir uma pa-
rede alta em betão é despejar este dentro de
um molde, chamado "cofragem", e com-
pactá-lo. Depois de o betão fazer presa, a
cofragem é retirada e tomada a montar no
topo da nova secção de parede, deitando
-se-lhe dentro nova camada de betão.
Na cofragem deslizante, os panos, ou Em 19t5, dois anos e meio após o inicio
painéis, da cofragem não são desmonta- da torre, o Andar Espacial (em cima)
dos, mas deslizam continuamente à medi- foi construído 446 m acima das ruas de
da que a parede sobe, apoiando se em va- Toronto.
rões de aço verticais. Utiliza-se o cimento
de presa rápida, que depressa se torna sufi
cientemente resistente para suportar os
panos da cofragem enquando estes so-
bem. Nos varões são fixados macacos hi-
dráulicos, que levantam a cofragem em
passos frequentes e curtos (2,5 cm de cada
vez). A CN Tower foi construída à velocida-
de média de 6 m por dia.
A cofragem deslizante só pode ser utili-
zada ern edifícios cuja forma seja adequa
da: as paredes circulares são as mais sim-
ples. 0 betão tem de ser de fabrico cuida-
do, colocado uniformemente e imediata-
mente compactado. Dado que é difícil ini-
ciar o movimento deslizante uma vez
começado, o trabalho prossegue de dia e
de noite até a construção terminar. O betão
leva dias a adquirir resistência. Embora su-
porte o peso da cofragem e da nova cama-
da de betão, está ainda nessa altura pouco
resistente. Neste caso, teve como resultado Os materiais foram elevados por gruas
a CN Tower ficar torcida pela força de rota- até aos 350 m (em cima), a este níuel
ção da Terra, pelo que os engenheiros tive completou-se a cofragem deslizante
ram de utilizar cabos de aço para a puxar
6o até à sua forma correcta.
A construção subiu ao ritmo de 2,5 cm
Outro processo de construção contínua de betão ern cada minuto, e a base da
com o emprego de macacos é o sistema torre ficou concluída em três meses
jackblock. Primeiro, constrói-se o pavi- (em baixo).
mento superior, que é içado por macacos,
permitindo que por baixo dele se construa
o pavimento seguinte. Os macacos levan-
tam então os dois pavimentos terminados,
construinrio-se por baixo deles o outro an-
dar, e assim sucessivamente.

A CN Tower, em Toronto. Esta impressio-


nante construção executada por cofragem
deslizante é o rnaior edifício autoportante
do Mundo.

302
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

O QUE TORNA O BETÃO


Como o cimento faz presa na água? TÃO RESISTENTE?
Ao juntar água ao cimento, esta reage
com a superfície dos grãos do cimen-
Para a maioria dos cimentos fazer presa,i, com argila (silicato de alumínio) e aque-!- to, produzindo um material gelalino
tem de se lhe juntar uma quantidade dee ceu-os até se combinarem, criando duass so que aglutina os grãos. Três ou qua-
água bem determinada. Como é, então,), formas de silicato de cálcio. Uma destas, o tro horas depois, o gel começa a pro
que o cimento Portland "seca" debaixo dee silicato tricálcico, reage com a água comn jectar gavinhas que irradiam de cada
água quando é usado na construção dee bastante rapidez. A outra, o silicato bicálcii um dos grãos do cimento. As gavi-
uma barragem ou de uma ponte? co, reage mais lentamente, consolidando-)- nhãs de grãos vizinhos entrelaçam-se
O cimento faz presa não porque a águaa se completamente ao fim de um mês ouu e capturam Ioda a areia ou saibro que
que se lhe junta se evapora, mas devido a mais. Quando a água reage com a partee se encontrem misturados no cimento.
uma reacção química com a água. O ci-í- exterior dos grãos do cimento, o silicato3 No espaço de dias, as gavinhas en
mento PorIfunil que é usado debaixo rírp trieáieico forma uno revestimento que íimi-í- J àurecem — prendendo os grãos entre
água, controla efectivamente a quantidade: ta a quantidade de água que pode ser ab si de tal forma que o betão fica quase
de água que pode reagir com ele devido ài sorvida por eles, evitando que o cimento se! impossível de esmagar. Contudo, as
forma de constituição do seu granulado, torne demasiado diluído, gavinhas são muito fáceis de separar e,
por isso não importa a quantidade de águai As qualidades de solidez e resistência ã devido a esta fraqueza, o betão c geral-
que se lhe junta. Foi patenteado em 1824 água do cimento Portland são ainda hoje mente reforçado — "armado" — com
pelo engenheiro inglês Joscph Aspdin. aproveitadas nas fundações de betão da varões de aço.
Este misturou cal (carbonato de cálcio) maioria das estruturas subaquáticas.

Comprimir o betão para construir edifícios elegantes


Muitos dos mais elegantes edifícios mo- a esforço antes da presa do betão, e o betão Despeja-se betão sobre cabos de aço esti
dernos foram construídos com um mate- pós-tensado, tensionado depois da presa. rados que são mantidos sob tensão. Uma
rial que tem o nome pouco romântico de Na construção de pontes fazem-se pas- vez consolidado o betão, cortam-se os ca-
betão pré-esforçado. Arranha-céus, pon- sar cabos de aço através de orifícios já fei- bos em ambas as extremidades do bloco
tes, barragens, até a Opera de Sydney, to- tos em blocos de betão pré-moldados. Os de betão, e os cabos, ao contraírem-se, vão
dos têm por base a sua resistência enorme. cabos são depois estirados e ancorados comprimir o betão. Utiliza-se este proces-
0 betão pré-esforçado tem incorpora- por meio de tacos cónicos nos blocos de so no fabrico de vigas com vãos até 45 m.
dos cabos de aço que foram esticados por cada extremidade da ponte para manto A demolição de uma estrutura feita com
macacos hidráulicos. Ao tentarem con- rem a sua tensão. O princípio é o verificado betão pré-esforçado é perigosa e bastante
trair-se alé ao seu comprimento original, quando pegamos num lote de livros, aper- imprevisível. Quando a edificação começa
os cabos puxam para dentro — compri- tando os das pontas. Os livros formam a desmoronar se, as forças e tensões conti-
mindo o betão. uma "viga", e quanto maior a força com das nos cabos atiram frequentemente esti-
A ideia do betão pré-esforçado foi utili- que apertamos, mais resistente a viga se lhaços em todas as direcções.
zada pela primeira vez com exilo em 1928 torna. E, em certa medida, quanto mais
pelo engenheiro civil francês Kugène comprimidos estiverem os blocos de be- A elegância do betão. As formos du Opera
Freyssinet, que criou dois tipos — o betão tão da ponte, mais resistente esta será. de Sydney mostram bem a graciosidade do
pré-tensado. no qual os cabos são sujeitos 0 betão pré-tensado é feito em estaleiro. betão pré esforçado.
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

M
A demolição de
um arranha-céus
A Van Eck Housc, arranha-céus de 20 pisos
construído em 1937, foi durante muitos
anos o edifício mais alto da Africa do Sul,
erguendo-se no horizonte de Joanesbur-
go. Em 1983, foi demolida em lfi segundos.
Embora se situasse no centro da cidade,
nenhum outro edifício sofreu prejuízos - ->.
até as montras de vidro do outro lado da
rua ficaram incólumes. w
A demolição de um edifício por forma
que se desmorone totalmente dentro das
suas próprias paredes é denominada "im-
plosão". A primeira tarefa neste processo é
estudar a estrutura do edifício e avaliar o
seu estado. Pode então planear se o modo
de colocar as cargas explosivas que irão
destruir os pontos vitais de apoio da estru- >• • K
tura.
• I •
Antes da implosão da Van Eck House,
houve dois meses de preparativos. Retira-
Ju i
ram se as divisórias internas e outros com * « ti
ponentes não-estruturais que pudessem
obstruir a queda do edifício. E foi também
preciso ler a certeza de que as vibrações
provocadas pelas explosões e pelo tombar
do edifício no solo não danificariam os edi-
fícios vizinhos. Perkin, o engenheiro encar-
regado da demolição, coordenou a deto-
nação das cargas explosivas de modo que
o cascalho provocado pelas primeiras ex- í s
plosões na base do edifício pudesse amor
tecer a queda dos restantes materiais.
A sua equipa fez perto de 2000 furos
com profundidades entre 10 e 75 cm para
• % • : • fc
ftf &.
alojar as cargas e estendeu 10 km de fios.
A maioria das cargas foi colocada em gru-
pos de cinco furos executados nas pare- t..',
des ou nos pilares de suporte. Em cada
andar foram precisas 50 cargas para as
paredes da caixa do elevador e 60 para
I I I S
uma outra caixa interior. As cargas nos
pilares tinham o dobro da força das desti-
nadas a demolir as paredes menos resis
tentes.
111
As cargas foram de-
tonadas eleclricamen-
te. A série de explosões
iniciou-se quando Per- £H<
?
kin empurrou o êmbo- - .
lo para baixo, enviando
corrente eléctrica aos
detonadores fulmi-
nantes de explosivo po
tente colocados em to
dos os cartuchos. Estes
explodiram imediata
mente ou nos tempos
preestabelecidos, en-
viando uma onda de
explosões através dos
20 pisos do edifício.

304
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

O fim de um marco. A Van Eck HOUSC, de são despedaçados, retirando todo o supor gundo até vários segundos garantem que
20 pisos, foi reduzida a escombros em 16 te interno ao edifício a partir do centro para cada porção do edifício cairá livremente. A
segundos. Na primeira fotografia da es- o exterior. A cadeia de explosões continuo Vun Eck House era construída em betão ar-
querda, o edifício condenado antes do iní- de baixo para cima, piso por piso. Desimpe- mado. As cargas tinham de actuar através
cio da demolição; em seguida, o edifício co didas de obstruções, as paredes exteriores dos verões da armadura embebidos na es-
meça a desmoronar se quando as primei- inclinam se para dentro devido ao abater trutura para que a fractura fosse perfeita. De
ras cargas explodem nas paredes interiores dos pavimentos. outro modo. leria ficado uma amálgama
dos pisos de baixo. lima fracção de segun- A coordenação das explosões tem de ser confusa de varões de aço aguentando gran-
do depois, os pilares adjacentes àquelas rigorosa. Intervalos de uma fracção de se des pedaços de betão.

O demorado trabalho de demolição de uma central nuclear


A demolição de uma central nuclear pode dade - nas caldeiras, por exemplo e condado de Cúmbria, o reactor arrefecido
demorar um século ou mais, devido ao pe- levará mais cinco a sete anos a completar. a gás de Windscalc está previsto regressar
rigo da radioactividade. Quando uma cen- A fase final é a mais controversa, e o seu ao estado de "campo verde" em 1996. Os
tral de energia nuclear é encerrada, o pri esquema varia de país para país. I labitual- trabalhos começaram em 1982. O des
melro passo é retirar-lhe todo o combustí- mente, deixa-se ficar um reactor durante mantelamento está a processar-se no Inte-
vel nuclear. Este é retirado do reactor pelas 100 anos ou mais para que, no seu interior, rior da cúpula de aço sob pressão inferior à
mesmas máquinas utilizadas durante toda a radioactividade vá diminuindo. Embora atmosférica para que o gás radioactivo não
a sua vida de laboração na substituição do já exista equipamento robótico para de- escape. Um manipulador comandado à
combustível velho por novo. Este equipa- molir o reactor de dentro para fora, seriam distância será baixado para o interior do
mento de comando remoto coloca o com- precisos outras robôs para auxiliarem e fa- reactor para o cortar em pedaços corn cer-
bustível usado em contentores especiais zerem a manutenção dos primeiros. Ao ca de I t cada um, recorrendo a equipa
que o levam para uma fábrica de reproces- fim de 100 anos, a radioactividade será sufi mento de corte a oxipropano. As opera-
samento, onde é transformado em com- cientemente baixa para que equipas de ções serão acompanhadas por televisão
bustível enriquecido para utilização nou- manutenção humanas possam cuidar dos em circuito fechado.
tros reactores. São também produzidos e robôs no interior do reactor. Por isso, na Cada pedaço é pesado e medida a res-
armazenados resíduos (v. p. 122). maioria dos casos, o reactor ficará no seu pectiva radioactividade. Em seguida, é bai
Como um reactor contém entre 23 000 e "túmulo" de betão como se fosse um anti- xado para o interior de um caixão de betão
43 000 barras de combustível altamente go monumento com 50 m de altura. armado, cujos espaços vazios serão preen-
radioactivas, e cada uma tem de ser retira- Os especialistas nucleares franceses chidos com mais betão para formarem um
da separadamente, esta fase do trabalho contentam-se em deixar os seus reactores cubo com 50 t. Cerca de 1900 t de resíduos
pode demorar até cinco anos. Mas, retira- "a dormir" para serem tratados por uma radioactivos terão de ser tratadas por este
do o combustível, o local fica liberto de futura geração dispondo de técnicas mais processo. Os cubos serão armazenados
99% do seu conteúdo radioactivo. avançadas. Os Ingleses estão levando a num edifício da central até que se construa
A fase seguinte é a remoção do restante cabo um projecto de demonstração para um repositório para os mesmos. Estão ain-
equipamento e a demolição dos edifícios provar que um reactor pode ser desmante- da a ser ensaiados métodos para quebrar,
da central, o que envolve certa radioactivi- lado mais rapidamente. Em Sellafield, no á distância, a protecção de betão.

305
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

dos no local. Antes de se iniciar este pro- ao longo da ponte - construindo assim, O pr
cesso, usaram-se cabos de aço para puxar gradualmente, os cabos. da pás;
Os cabos que o topo de cada pilar em direcção às mar
gens do rio, separando-os um do outro
Cada cabo é constituído por 14 948 ara rios m
mes de aço galvanizado - 404 arames por grande
poderiam atar numa medida calculada. Mais tarde, o
peso do tabuleiro da ponte puxá-los-ia no-
cada um dos 37 cordões. Os arames não
são torcidos nem entretecidos, mas cor-
destes
me tin
o Mundo vamente até à vertical. rem paralelos entre si. De cada vez que se
assentava um arame, a sua flecha era cui-
este el
A primeira ligação entre os dois pilares ciai -
foi feita por duas passadeiras provisórias dadosamente verificada — pois cada um extreu
A ponle do Humber tem o maior vão do feitas com rede e cabos de aço. Estes foram deles tinha de arcar com a sua parte na
Mundo - 1410 m. Está suspensa de dois puxados por cabrestantes e pendurados sustentação da carga. Cada arame tem o
cabos gigantes, cada um com quase nos topos dos pilares, seguindo a curva diâmetro de 5 mm e pode suportar uma
2,30 km de comprimento c pesando que os cabos de suspensão da ponte iriam tensão de 3 t, mas, na prática, o peso da
5500 t. Os cabos são constituídos por um tomar. Por cima das passadeiras montou ponle exerce uma carga de cerca de I I
total de 70 000 km de arame de aço, que -se um fio de tracção para puxar os arames apenas sobre cada arame.
dariam mais de uma vez e meia a volta ao
Mundo.
A ponle, que galga o estuário do Hum
ber, no Nordeste de Inglaterra, é suportada
por dois pilares com 155 m — a altura de
um prédio de 50 pisos. Estão tão separados
e são tão altos que a curvatura da Terra faz
com que a distância entre os respectivos
topos seja maior que entre as bases.
A ponte do Humber foi aberta ao tráfego
em 1981, após 7 milhões de homens/hora
de trabalho. Como é que os engenheiros
se lançaram na construção de tão enorme
estrutura9
A primeira fase foi a construção das fun-
dações para os pilares e as duas ancora-
gens, às quais seriam presos os cabos nos
dois extremos da ponte.
Os pilares, de betão armado, foram
construídos pelo processo de cofragem
deslizante (v. p. 302). Os operários, traba-
lhando 24 horas por dia em turnos de 12
horas, completaram o pilar sul em apenas
10 semanas. Cavaletes de aço com 45 l fo
ram içados até ao cimo de cada pilar, a fim
de receberem a carga dos cabos e a espa-
lharem uniformemente pelo pilar.
A ancoragem dos cabos é feita em enor-
mes blocos de belão enterrados profunda
mente no solo. O bloco de ancoragem no
extremo norte da ponte está assente sobre
um leito de greda e pesa 190 0001. No extre-
mo sul, a greda está coberta por terrenos
de aluvião e um leito de argila, pelo que a
ancoragem teve de ser maior e mais pesa
da pesa 300 000 t. Peças de aço fundido
foram aplicadas em cada bloco - prontas
para ancorar os 37 cordões que iriam
constituir os grossos cabos da ponte.
Elevar os cabos terminados para o seu
lugar aquela altura acima da água teria sido
impossível, pelo que eles foram construí-

Ponte sobre o estuário. Com 14K) m. a


ponte do Humber leni o maior uão central
do Mundo. Está suspensa de dois enormes
cabos de aço ancorados em cada extremi-
dade a maciços blocos de betão embebidos
profundamente no solo. Os trabalhos para
a construção dos pilares de betão que sus-
tentam OS cabos decorreram dia e noite em
turnos de 12 horas. A ponte pode suportar
um máximo de cerca de 5000 carros.

306
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

O processo cie puxar o arame ao longo sa hidráulica, produzindo urna junta mais portados por caminho de ferro até uma
da passadeira pelo fio de tracção levou vá- forte que o próprio arame. estação de triagem abandonada, a jusante
rios meses. O arame vinha enrolado em Os cabos completos têm 70 cm de diâ da ponte, e aí feita a respectiva montagem.
grandes tambores, e de cada vez que um metro Foram abraçados poi chapas de As secções, com 18 m de comprimento
destes se esgotava, a extremidade do ara- aço para receber as extremidades dos pen 2\> de largura, foram transportadas em
me tinha de ser unida ao seguinte. Para durais que suportam o tabuleiro da ponte. barcaças puxadas por rebocadores.
este efeito, utilizou se uma 'união" espe Os componentes do tabuleiro de aço Foram construídas quatro gruas móveis
ciai — uma peça que é aplicada nas duas com 16 500 t. foram construído'- em mui con rodas (jue assentavam nos cabos par.,
extremidades dos arames com uma pren tos locais da (irá Bretanha. Foram trans poderen i sei deslocadas ai»longo da pon-
te. Trabalhando u partir do meio do vão
Ligação. Um operário (à esquerda • apa- para as extremidades, estas gruas coloca-
nha uru arame que Iara parte de uru r/o.s At ram em posição as 12 i secções do tabulei
cordoes, cada um com 4U-I arames, que ro, que foram então ligadas aos respectivos
constituirão cada cabo. Em baixo, coloca pendurais.
ção de uma das 124 secções do tabuleiro. Quando foram colocadas as primeiras

307
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

secções do tabuleiro, os cabos derain de si


tnais 10 m. A medida que se acrescenta
vam novas secções, o perfil dos cabos ia
mudando até ao traçado final. Só quando
Como se represam os grandes rios?
todas as secções ficaram no lugar e se con-
seguiu o alinhamento final é que o tabulei As barragens permitem o armazenamento de 1 milhão de toneladas de betão, o que
ro pôde ser soldado definitivamente. Os da água em reservatórios - as albufeiras - , representa cerca de um quarto daquilo
cabos foram então pintados com tinta ver- pelo que o seu fornecimento pode ser con- que necessitaria uma barragem de gravi-
melha à base de chumbo e envolvidos em trolado ao longo do ano. A água das albu dade no mesmo local.
arame galvanizado para evitar a oxidação. feiras pode ser utilizada no accionamento
Uma vez completado o tabuleiro de aço, de turbinas que produzem electricidade, Barragens em cúpula
o pavimento foi coberto com 3500 t de que. por sua vez, pode ser aproveitada para A forma que utiliza menos betão é a barra
mástique asfáltico, que é resistente, imper bombear água para uma cidade distante. gem em cúpula, que usa um arco tridi-
meável e estirávcl sem ruptura. A superfície As barragens têm de suportar maior solici- mensional, como o nome indica. A Barra
rodoviária tem de ser flexível, porque os tação que qualquer outra estrutura cons gem Coolidge, construída no Arizona em
ventos fortes podem fazer a ponte torcer e truída pelo homem. No século xx, a sua 1929, é um exemplo de barragem de
balançar transversalmente até 4,5 m. construção representa o máximo da capa- "cúpulas múltiplas" - três cúpulas par-
O tabuleiro foi construído para que o cidade e da imaginação no domínio da en ciais separadas por contrafortes.
vento o percorra suavemente tanto por genharia.
cima como por baixo. A ponte prevê uma Barragens de terra e enrocamento
carga de tráfego de 4750 t ou cerca de 5000 Barragens de gravidade O moderno equipamento de movimenta-
carros, que a faria flectir mais 3,20 m. Ele- Na barragem de gravidade é o seu peso ção de terras facilitou muito a remoção de
vações na temperatura podem aumentar o que resiste ao impulso horizontal que a grandes volumes de materiais. Fazer um
comprimento dos cabos, mas todos estes água exerce sobre ela. Antigamente, eram aterro de milhões de toneladas de rochas e
movimentos não implicam qualquer peri- construídas com pedra, mas hoje em dia terra é frequentemente mais económico
go. Em cada extremidade do vão central constroem se fundamentalmente em be- do que construir uma abóbada delgada
existe uma junta de dilatação que funciona tão. O impulso da água tem tendência para em betão. Em 1980, foi completada no rio
como um tampo de correr. Uma pequena fazer tombar a barragem, levanlando-lhe a Vakhsh, no Tajiquistáo, URSS. a mais alta
secção de tabuleiro pavimentado prolon base, se ela não for suficientemente pesa barragem de terra do Mundo, a Barragem
ga-se por baixo da rodovia, e, quando a da. O betão suporta grandes compressões, de Nurek, com 317 m de altura.
ponte flecte, esta sobreposição é puxada mas tem menor resistência à tracção. As
para fora. Quando a carga diminui, volta ao barragens são construídas por forma a mi Barragem em arco-gravidade. A Barra
seu lugar. nimizar quaisquer tensões de tracção, as- gem Hoover, no rio Colorado, tem 176 m de
segurando que o impulso da água e o peso altura e, devido ao seu peso (gravidade) c à
da barragem, combinados, exerçam uma sua forma em arco. pode represar 38 milha-
ALPINISMO NA PONTE força que se concentre no terço central da res de milhões de toneladas de água.
sua base, o núcleo central.
De dois em dois anos, são convocados
peritos para inspeccionar os pilares e
os cabos da ponte do Humber. Um Barragens ocas
elevador no pilar leva os até uma plata- O peso de uma barragem de gravidade
forma perto do cimo - subindo de- pode ser aproveitado mais eficazmente
pois o resto por escada. Os homens mudando a forma daquela c deixando es-
deslocam-se ao longo dos cabos, veri- paços vazios no interior das suas paredes.
ficando se há falhas estruturais e efec- Pode assim poupar se até um terço do be-
tuando trabalhos de manutenção nos tão usado numa barragem de gravidade
cabos. Hoje, esta manutenção é feita normal. A barragem principal de Itaipu
com recurso a um carrinho que se mo- (pp. 310-311) é uma barragem de gravida
vimenta sobre o cabo a inspeccionar de oca.

Manutenção. Equipados com cintos Barragens de contrafortes


de segurança, os técnicos fazem esca- Outra forma de economizar na quantida-
ladas sobre o rio Humber para proce- de de betão é construir a barragem como
der a trabalhos de manutenção. uma série de contrafortes interligados,
como a "'barragem da ala direita", em Itai-
pu, Para constmir neste local barragens de
gravidade maciças, em vez de barragens
ocas e de contrafortes, teria sido necessá-
rio mais 50% de betão.

Barragens em abóbada, ou arco


Em vales fundos de margens íngremes de
rocha firme pode conseguir-se ainda
maior economia de material se se cons
truírem barragens em abóbada, que trans-
ferem o impulso da água para as margens
do vale. A Barragem de Cabora Bassa, no
rio Zambeze, em Moçambique, tem 160 m
de altura e gastou apenas um pouco mais
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Barragem eira. Fm 1985, as paredes da barragem principal de ílaipu. na Barragem cie lerra. A Barragem Pantabangan, no r/o
América do Sul (páginas seguintes), aproximavam se da sua altura defini- Pampanga, nas Filipinas, nasceu da construção de um enor
tioa - ISO m. ílaipu é a maior barragem de betão do Mundo. Embora no seu me aterro revestido de pedra e belâo. A sua albufeira obrigou
interior coubesse um hangar de aviação gigante, o peso da barragem conse- a que uma cidade inteira fosse desalojada. Fornece agora
gue resistir à enorme pressão do rio Paraná, o quinto maior do Mundo. água a castas extensões de terra arável.
CONSTRUÇÃO F. DEMOLIÇÃO

Construção da COMO FOI DESVIADO


maior barragem O RIO PARANÁ
de betão do Mundo
Ensecadeira
Em Outubro de 1988, comple
tava-se o maior projecto hidro-
eléctrico mundial, após 14 anos
de trabalho, empregando
40 000 homens. Foi preciso,
para tal, represar o q u i n t o
maior rio do Mundo, o Paraná,
onde este forma a fronteira en-
tre o Brasil e o Paraguai.
Na construção da Barragem
de Itaipu quase 8 km de com-
primento e 180 m de altura -
foram utilizados 28 milhões de
toneladas de betão.
Antes de se começar a cons-
trução da barragem, o rio Para-
ná teve de ser desviado do seu
leito natural. Os diagramas à di-
reita mostram as fases do pro
cesso.

Escavação de um novo leito


1. Escavou se um canal de des-
vio paralelo ao rio no lado brasi- O rio começa Quase completa. A Barragem de Itaipu estende se por quase
a desviar-se
leiro. Tinha 2100 m de compri- 8 km. O descarregador de superfície, com as suas rampas gigan-
mento. 149 m de largura e 91 m Barragem tes, vê-se à esquerda, e a "barragem da ala direita", cm curva, fica
de controle
de profundidade. Em 32 meses, no centro À direita, a barragem principal assenta no leito do rio
foram escavados aproximada Dique em vazio, enquanto o rio Paraná corre pelo canal de desoio.
construção
mente 51) milhões de toneladas
CONSTRUÇÃO DAS BARRAGENS PRINCIPAIS
de rocha.
Duas ensecadeiras de betão
(.barragens provisórias para re- Lscavou-se um canal de des- — Rio totalmente desviado
ter a água enquanto os traba vio corri urna ensecadeira cm
lhos estavam a decorrer) foram cada extremidade. Entre elas. Ensecadeira
constmírias uma em cada extre- construiu se uma barragem de Barragem principal
midade do canal de desvio. controle. Os dois diques des em construção
2. Enquanto o rio continuava a viaram a água para o canal.
Dique
correr pelo seu leito original, foi
construída no novo canal a pri-
meira secção de barragem definitiva (a bar- "Barragem da ala
ragem de controle), com 12 comportas de em construção ddeirii
6,70 m de largura e 22 m de altura.
Escavaram se as margens do rio para Ao fim de cinco anos. o Paraná
trazer a água até às duas ensecadeiras. Estas Barragem fora desviado e miciaram-se os
foram depois destruídas com explosivos, e de terra trabalhos da barragem princi-
a água passou a correr pelo canal de desvio pal, bem como os da "barra-
o através das comportas. gem da ala direita" e do descar-
regador de superfície.
Desvio da corrente Descarregador de
superfície em constr Central hidroeléctrica
3 . 0 passo seguinte foi a operação gigantes
ca de represar a corrente do rio no seu leito
natural para se poder construir a secção
principal da barragem. Foi uma corrida
contra o tempo para fechar o rio antes da Uma ocz completadas as barragens, o
estação das cheias. descarregador de superfície e a central
Trabalhando 24 horas por dia durante 10 hidroeléctrica, as ensecadeiras foram
dias, 100 dumpers e 20 tractores lançaram destruídas e fechadas as comporias
no rio materiais suficientes para formar dois da barragem de controle. Durante 40
diques de rochas entre as duas margens. dias. o rio ficou bloqueado forman-
Estes diques constituíram as fundações do uma albufeira que cobriu 1550 km~'.
para mais duas ensecadeiras, uma a mon- Finalmente, a água correu pelas turbi
tante e outra a jusante do local da bar- nas. gerando electricidade.

310
ragem principal. 0 rio em cheia teria arras
lado estes materiais mais rapidamente do
que eles poderiam ser colocados. Como se constrói p a r a resistir ao vento
Os materiais lançados obrigaram a água
a passar através do canal de desvio, deixan-
do um lago estagnado entre os dois diques Km 1940, a terceira maior ponte pênsil do Quanto maior é urna estrutura, mais vul-
de rochas. As duas ensecadeiras foram ter- Mundo, em Tacoma Narrows, no estado nerável ela se torna ao vento. Mas, utilizan
minadas em segurança e a água foi bom- de Washington, KUA, desmoronou se. do tecnologias e materiais modernos, os
beada para o exierior. Nos qualro meses apôs a abertura da pon- engenheiros vêm construindo arranha-
4. A barragem principal e a central hidro te, até os ventos fracos vinham provocando -céus mais altos e pontes mais compridas
eléctrica foram construídas ao abrigo das oscilações e ondulações no tabuleiro. Aca- que resistem aos mais ferozes temporais,
duas ensecadeiras. Todo o hetáo foi fome bou por se desmoronar com ventos de balançando com eles.
eido por três centrais expressamente cons- (i8 km/h. Felizmente, não houve mortos. Alguns edifícios prevêem maiores osci-
truídas próximo da barragem.
Foi construído um grande descarrega- Salvo por pouco. Desde a sua abertura que a ponte de Tacoma Nurrows ondulava e
dor de superfície para dar vazão a qualquer oscilava muito. F.rn 1940. desmoronou se com ventos de apenus 68 km/h. O carro que se vê
água em excesso, o qual foi ligado à barra- sobre a ponte pertencia a um jornalista que escapou, rastejando 150 m.
gem principal por uma barragem curva de
betão do tipo de contrafortes — a "barra-
gem da ala direita".

A albufeira gigante
5. Quando se concluíram as estruturas
principais, baixaram-se as comportas do
canal de desvio a fim de deter o fluxo da
corrente. Nos 40 dias seguintes, a água foi
se acumulando por detrás da barragem,
formando uma albufeira que se estendeu
1G0 km para montante da barragem, ocu-
pando uma área de 1550 km2.
Itaipu possui 18 geradores com uma ca-
pacidade de 12 600 MW, aptos a abastecer
a totalidade do Paraguai e as grandes cida-
des brasileiras de S. Paulo e Rio de Janeiro.
O canal de desvio linha cumprido a sua
missão, e as 12 comportas foram tapadas
or com betão. Qualquer água em excesso
correrá pelo descarregador de superfície.
so
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

laçóes do que outros. O cimo da torre de


televisão de Moscovo, de betão, com
537 m de altura, oscila quase 6 m com ven- Como são erguidas as gruas gigantes?
tos fortes. Mas a Torre Sears, de Chicago,
tem uma estrutura de aço mais rígida, que
não pode oscilar mais de I m.
Com muito vento, as pessoas colocadas
junto à base de um arranha-céus conse-
guem vê-lo mover se, e as que se encon-
tram nos andares superiores provavel-
mente sentirão esse movimento. Como podem as gruas gigantes ser cons-
Antes de se construir um arranha-céus, truídas sem o auxílio de outras da mesma
ensaiam-se ern túneis de vento modelos à dimensão? A resposta é que, na sua maio-
escala do edifício e das imediações para ria, elas se constroem por si próprias a par- Para aumentar a altura
verificar o seu comportamento em termos tir de determinada altura, e algumas conse- da grua quando a lança e o
de oscilações ao vento, lltilizam-se com- guem içar-se a si mesmas. gancho estão já ligados ao
putadores para simular centenas de en- As gruas-torres, autoportantes, são ge- topo da torre, a grua iça
saios com ventos de intensidades diferen- ralmente fixadas a grandes suportes angu- uma nova secção, de modo
tes e provenientes de todas as direcções. lares de aço profundamente embebidos a encaixá-la na estrutura
Os computadores analisam ainda os esfor- em betão. A torre é construída em secções trepadora. Um macaco hi-
ços prováveis suportados pelo edifício. de aço com cerca de 6 m de altura que são dráulico na base desta em-
Em Hong Kong, ocorrem habitualmen- fixadas entre si. purra então a nova secção
te três tufões por ano, e, apesar disso, mais Utiliza-se uma pequena grua móvel para até ela se encaixar em cirna,
de metade da população vive acima do colocar as primeiras secções umas sobre as na sua posição própria. Ou-
nono piso. Não é de estranhar que a cidade outras antes de a grua poder começar a
possua um regulamento muito rigoroso autoconstruir-se. Quando a grua móvel já
para a construção de edifícios em altura - não consegue içar as secções a uma altura
o Código de Ventos de Hong Kong. suficiente, a grua-torre substitui-a, utilizan-
Em 1980, modelos do Hong Kong and do uma secção especial, uma estrutura "tre-
Shanghai Bank, com 47 pisos, foram sub- padora". Esta montada junto ao cimo da
metidos aos testes mais completos jamais torre - é ligeiramente maior que uma sec-
levados a cabo. Revelaram que as rajadas ção normal e tem um dos lados abertos
fortes seriam canalizadas através de um es- para receber cada nova secção.
paço vazio na base da construção, pelo
que se incorporaram no projecto janelas Fase 1. Uma grua móvel monta as
de vidro, a fim de evitar que o vento passas- primeiras secções de uma grua
se por esse espaço. As janelas, bem como autoportante (em baixo). Uma
os painéis exteriores, foram fixadas com estrutura "trepadora" com um
colas flexíveis para evitar que saltassem lado aberto está pronta
quando o edifício oscilasse. a receber noLias secções.
Muitos dos grandes edifícios estão pro-
jectados para suportar ventos que ocor-
rem na zona apenas uma vez em 1000
anos. Na maioria dos locais da América do
Norte e da Europa, os ventos mais fortes
não excedem geralmente os 190 km/h,
mas noutras parles do Mundo já foram re-
gistados ventos de 320 km/n. As constru-
ções têm também um "estado limite". No
caso da Torre Sears, esta representa 1,8 ve-
zes o estado de utilização — o equivalente
a suportar ventos com a probabilidade de
ocorrerem uma vez em cada 10 000 anos.
Se o estado limite for quase atingido, o edi-
fício provavelmente sofrerá danos irrepa
ráveis, mas a sua estrutura ficará intacta.
A estrutura aligeirada e a localização ex-
posta das pontes pênseis, ou suspensas,
tornam-nas particularmente susceptíveis
aos efeitos do vento. O tabuleiro da ponte
pode elevar-se ou baixar com uma força
terrível: na verdade, a solicitação imposta
pelo vento pode ser muito maior do que a
resultante do peso do tráfego.
A engenharia reduziu os efeitos do ven-
to desenhando tabuleiros de ponte de sec-
ção aerodinâmica para que ofereçam o mí-
nimo de resistência possível ao vento.

312
*

Vista cio alto. Esta grua gigante ergue se bem alto sobre Wasliington. DC. num espaço para escritórios com 93 000 m-, iniciado em 1982.

313
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

ira secção é depois introduzida na estrutu- mente vazia para receber uma nova sec- com a estrutura montada. E se a altura da
ra trepadora, nesta altura vazia, e colocada ção, repetindo se a totalidade do processo. grua precisar de ser alterada periódica
na posição devida. As vezes, pode levar um dia inteiro a acres- mente, a estrutura pode manter-se na torre
A estrutura trepadora sobe então por centar três secções a uma grua. indefinidamente.
fora da secção que acabou de levantar e Quando esta atinge a altura pretendida, Para desmontar a grua, o processo in-
volta a empurrá-la para cima juntamente a estrutura trepadora c geralmente retirada verte-se — a estrutura trepadora é utilizada
com o resto da cabeça da grua. Fica nova- da torre. Outras vezes, a grua funciona para descer as secções em vez de as içar.

Como se soldam metais debaixo de água?


A soldadura é actualmente o método mais para que a carga eléctrica produza arco. pendiosas. É necessário pelo menos um
rápido e económico de se fazer uma repa- O segundo processo de soldadura suba- navio de apoio, bem como uma grua flu-
ração debaixo de água. Anteriormente, as quática — a soldadura "em câmara tuante, para descer e içar a câmara.
plataformas ou tubagens de petróleo dani seca" pode ser utilizado a maior pro Algumas das câmaras maiores têm es-
ficadas tinham de ser trazidas à superfície fundidade e produz soldaduras de melhor paço para diversos mergulhadores traba-
para serem reparadas; hoje, um mergulha- qualidade; torna-se, porém, dispendioso. lharem e até descansarem entre dois tur
dor consegue soldar à profundidade de Primeiro, a área a reparar c rodeada por nos. Têm sido usadas a profundidades de
300 m, mas O trabalho é arriscado e difícil. um saco ou caixa de plástico resistente e 300 m ou mais.
A soldadura actua pela produção de ca- transparente. Depois, para que a área a sol- Com as companhias petrolíferas explo-
lor suficientemente intenso para fundir dar fique seca, introduz-se ar comprimido rando cada vez mais fundo, há necessida
dois metais, ligando-os. Há diversos meios na caixa, o que expulsa a água nela existen de de proceder a soldaduras subaquáticas
de fornecer esse calor, mas só um deles te e impede a entrada de mais água. O fun- até aos 600 m de profundidade. Os enge
- a soldadura por arco eléctrico - pode do da câmara é aberto para que o mergu nheiros pensam que brevemente será pos-
ser utilizado debaixo de água. Ifiador possa, através dele, usar o maçarico sível fazé-lo com o emprego da técnica de
Utilizando uma corrente eléctrica inten- de soldar. Por vezes, o mergulhador tem câmara seca. Mas para soldar a tão grandes
sa, pode fazer se saltar num pequeno inter- dificuldade em ver como decorre o traba- profundidades, é provável que os mergu-
valo entre dois eléctrodos uma pequena lho, porque o fumo e o vapor de água gera lhadores venham a ser substituídos por ro-
descarga, ou arco. No caso da soldadura, a dos lhe obscurecem a vista. bôs de comando à distância.
carga vai de um eléctrodo na extremidade Soldaduras mais ambiciosas podem ser
de um fio para o metal que necessita de ser efectuadas com uma câmara de alta pres- Como se corta metal debaixo de água
reparado e que é, com efeito, o segundo são suficientemente grande para alojar Quando mergulhadores cortaram partes
eléctrodo. O calor produzido pela carga também o mergulhador. Obtêm-se assim da plataforma Magnus, da British Petro
tem de ser suficiente para fundir o metal. melhores resultados comparáveis aos leum, num dos locais mais profundos do
Desde 1802, quando o cientista britâni da soldadura fora de água - , mas o custo é mar do Norte, estavam mais longe, em
co Sir Humphry Uavy descobriu que uma elevado, pois as câmaras têm habitual- tempo, da superfície da Terra do que os
carga eléctrica podia fazer arco dentro de mente de ser desenhadas especialmente astronautas na Lua. Estavam a fazer repara
água, que se sabe da possibilidade de sol- para se adaptarem à área do pipeline ou da ções em profundidades até 200 m, e, para
dar debaixo de água. Mas embora este mé- junta que necessita de reparação, e têm de evitar "a doença dos mergulhadores", tive-
todo tenha sido utilizado temporariamen- fazer-se impermeabilizações muito dis- ram de passar mais de oito dias em des
te na reparação de navios durante a II Guer-
ra, ele só passou a ser usado em larga esca- Fogo no fundo do mar. Desde
la a partir dos anos 70, quando aumentou a década de 70 que se têm
a necessidade de reparações submarinas construído plataformas de
em plataformas e tubagens de petróleo. petróleo gigantescas, como
I lá duas espécies de soldadura na água. esta em Camp Brent. no mar do
A mais simples é a soldadura "a água mo- Norte (à direita). Elas criaram
lhada", na qual um gerador à superfície uma nova raça de
fornece uma corrente de cerca de 500 A mergulhadores capazes de soldar
que é conduzida por um cabo isolado até e. cortar metais debaixo de água
ao mergulhador que faz a soldadura. Para (à esquerda). Equipas de
evitar que a corrente se "escape" para a mergulhadores podem trabalhar
água e enfraqueça, os eléctrodos são reves- em conjunto no interior de
tidos com cera ou tinta à prova de água. câmaras de alta pressão a
O principal problema com este tipo de profundidades de 300 m. Para
soldadura resulta do facto de a água arrefe- evitar a "doença do
cer muito rapidamente o metal que vai ser mergulhador" situação
soldado, tornando a soldadura dura, mas dolorosíssima que pcxfe fazer o
também muito quebradiça. O oxigénio e o sangue ferver . têm de passar
hidrogénio produzidos pela água devido oito ou mais dias em
ao calor da soldadura penetram a solda descompressão antes de
enquanto esta está quente, o que mais a poderem volíur novamente
enfraquece. Outra limitação da soldadura ao ar livre.
a água molhada é não poder ser efectua-
da a mais de 90 m de profundidade, dado
que a pressão da água se torna demasiada

314
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

compressão antes de poderem voltar à su- Ilá dois métodos básicos de corte suba- como a perna de uma plataforma de petró-
perfície. O corte subaquático é muitas ve- quático — um deles é o de oxiarco, o outro leo que se está a desmontar, utiliza-se o
zes necessário para construir ou reparar utiliza explosivos. O primeiro é semelhante processo de oxiarco para cavar sulcos no
plataformas ou tubagens de petróleo. Um à soldadura por arco eléctrico, mas serve-se metal, nos quais se colocam explosivos
pipeline danificado, por exemplo, tem de de uma fonte de oxigénio e de uma corren- plásticos. Desde que se use a quantidade
ser cortado com precisão antes de se lhe te eléctrica mais intensa para cortar através certa de explosivo e que este seja correcta-
soldar uma nova secção, pois doutra ma- do metal, e não apenas para o derreter. Para mente posicionado, não haverá prejuízos
neira a solda não agarra. cortar através de grandes peças de metal, para a perna além de um corte bem feito.

Os riscos de construir um túnel debaixo de água


Fazer um túnel debaixo de água era consi- gulhador" quando regressam à pressão at- frequentemente consolidado antes ria per-
derado impossível até o engenheiro fran- mosférica normal. furação, injectando se uma argamassa flui
cês Marc Brunei e seu filho Isambard lerem À pressão de três atmosferas (3,1 kg/ da que, além disso, aumenta a resistência
construído o túnel sob o Tamisa entre Ro- cm 2 ), um homem consegue trabalhar do solo, preenchendo pequenas fissuras.
therhilhe c Wapping em 1841. Nos novo apenas uma hora por dia e tem de passar Actualmente, o melhor auxiliar para a
anos que levou a completá-lo, o túnel so- seis horas numa câmara de descompres abertura de túneis é a "toupeira" grande
freu inundações cinco vezes e morreram são. Todas as ferramentas e materiais têm máquina que não só perfura o solo como
pelo menos 12 homens. A água infiltrava de ser passados através de um complicado protege os trabalhadores, actuando como
-se através do leito do rio e entrava no túnel sistema de comportas atmosféricas. escudo; pode, além disso, rebocar uma
quando 0 tecto abatia. A perfuração de túneis sob alta pressão é lança que levanta segmentos de betão pré-
Os Brunels só conseguiram ter êxito evitada sempre que possível usando se - moldados utilizados no revestimento da
quando inventaram o escudo de avanço, outras técnicas. O solo adiante do túnel é maioria dos túneis.
estrutura móvel que suportava a cabeça do
túnel e as terras imediatamente a seguir. Os
operários escavavam uns metros de túnel e
depois forçavam o escudo, por meio de
macacos, contra a nova cabeça. A parte Como os túneis se encontram ao centro
recentemente exposta era revestida com
tijolos, e o processo repetia-se até a obra Como muitos outros, o túnel anglo-fran- qualquer erro traduz ir-se-ia na orientação
terminar. cês do canal da Mancha foi perfurado a da toupeira na direcção errada. Habitual-
Revestir um túnel até ao escudo signifi- partir de ambas as extremidades. Mas se mente, é colocado perto da parte de cima
cava, pelo menos em teoria, que a única uma das máquinas de perfuração se tives- do túnel, onde é menos provável que seja
área onde se podia dar uma entrada de se desviado do trajecto planeado, ainda perturbado pelas nuvens de poeira calcá-
água era pela cabeça. E os escudos eram que fosse I" apenas, ao fim de 25 km teria ria causadas pela perfuração.
desenhados para serem estanques e pode- falhado a outra metade do túnel por mais Antigamente, os engenheiros tinham de
rem represar uma inundação se ocorresse de 400 m. apoiar-se nos métodos convencionais de
Na prática, continuou a haver mortes. Para manter as máquinas alinhadas, foi topografia. Ainda hoje se usam teodolitos
Em 1908, a primeira tentativa para abrir instalado de ambos os lados do túnel do para medir ângulos horizontais e verticais.
o túnel de Lotschberg através dos Alpes Canal um sistema de guia por laser. É en- Assemelham-se a um pequeno telescópio
Suíços, por baixo do rio Kandcr, revelou-se viado um delgado "fio" de laser ao longo montado numa base firme, O topógrafo
desastrosa. Os geólogos tinham previsto do túnel, cujo alvo é a parte posterior da olha pelo teodolito e aponta para um alvo
que o túnel passaria por rocha firme e se- máquina perfuradora. O sistema de guia o mais longe possível dentro do túnel, po-
gura, mas o tecto abriu junto à cabeça e o possui um computador destinado a medir dendo assim calcular em que medida este
túnel encheu se rapidamente de terra e a distância já percorrida pela máquina, se está a subir, a descer ou a virar e proceder
água, matando 25. homens. O traçado foi ela subiu ou desceu, se se inclinou e se se às necessárias correcções.
desviado e completado com êxito a mon- desviou para a esquerda ou direita. Uma das mais convincentes provas da
tante, onde a rocha se mostrou mais sólida. Todas as máquinas de perfuração de tú- eficiência destes processos tradicionais
Fazer túneis debaixo de água é ainda neis, ou "toupeiras", têm tendência para se são os dois túneis perfurados pela Cana-
uma das proezas mais difíceis e perigosas desviar num ou noutro sentido. Assim que dian Pacific Railroad, através das Monta
da engenharia. Têm sido usadas diversas o computador regista qualquer desvio da nhãs Rochosas, entre 1907 e 1909.
técnicas para reduzir os riscos de inunda- linha traçada, guia novamente a máquina O propósito dos dois túneis era evitar o
ção. Enchendo o túnel com ar comprimi- para o curso certo, enviando sinais às "sa- mais íngreme trecho de linha férrea da
do, o curso da água pode ser contido até patas" de direcção — que controlam hi- América do Norte, o Big Hill, entre o Kic
haver tempo para se construir o revesti- draulicamente a direcção a seguir pela má- king Horse Pass e o Mount Stephen, ime-
mento. Se a pressão no interior do túnel quina, fazendo pressão nos extremos do diatamente a oeste da fronteira entre Alber
igualar a da água no exterior, não entra revestimento do túnel. Os sinais transmiti- ta e a Colômbia Britânica. O problema foi
água nenhuma — como na campânula de dos a cada sapata ajustam a direcção da resolvido perfurando na montanha dois
imersão. Este método foi utilizado em mui- toupeira sempre que o túnel tenha de ser túneis em espiral de pequeno ângulo de
tos dos túneis construídos no século xix, construído em curva em inclinação ou na inclinação. Estes túneis curvavam constan-
mas tem inconvenientes. E preciso uma horizontal, conforme o projecto. te e lentamente, subindo mais de 900 m, e
grande instalação de compressão com Como o laser só funciona em linha rec- ambos foram construídos por perfuração
equipamento sempre pronto para preca- ta, tem de ser deslocado sempre que o tú- a partir das extremidades. Quando as duas
ver perdas de pressão. Pode também pro nel mude de direcção. A sua posição tem metades do primeiro túnel se encontra-
duzir nos trabalhadores a "doença do mer- de ser definida com grande rigor, pois ram, o seu desvio era de 5 cm apenas.

316
Como foi feito?
Muitas das grandes proezas do mundo antigo ficaram durante séculos
sem explicação. Hoje, os arqueólogos sewem-se de técnicas
computorizadas para reconstituir os métodos de trabalho, as culturas
e até o aspecto físico dos povos que viveram antes de Cristo.

Como os arqueólogos descobrem as doenças


que afectavam os Egípcios, p. 324

Como foram colocadas as


estátuas gigantes da Ilha da Páscoa, p. 328
COMO FOI FEITO?

Como foi construída a Grande Pirâmide


1 lá mais de 4000 anos que as Pirâmides de eram excepcionais - de tal modo que
Gize são consideradas uma das maravilhas Diodoro Sículo, historiador grego do sé-
do Mundo. Mas talvez a maior maravilha culo i a. C, dizia: "As Pirâmides, ... pela
seja o modo como os seus construtores imensidão do trabalho e a técnica da cons-
conseguiram erigi-las apenas com ferra- trução, causam espanto e respeito àqueles
mentas das mais primárias - sem sequer que as contemplam."
a roda, que chegou ao Egipto vários sé-
culos depois de completadas as Pirâmides. Unia morada eterna
Nesta localidade próxima do Cairo, exis- Os antigos egípcios acreditavam firme
tem três pirâmides principais, construídas mente que, depois da morte, os seus espí
para sepultura de três faraós egípcios, que ritos permaneceriam vivos, e fizeram os
possuíam o estatuto de deuses na Terra. A maiores esforços para assegurar que a vida
primeira e maior, conhecida por Grande do além lhes fosse benéfica. Quanto mais
Pirâmide, era o monumento do faraó Khu- importante era a pessoa, maiores cuida-
fu (Quéops para os Gregos), que reinou dos lhe eram dispensados - e as prepara
entre 2590 e 2567 a. C. A Grande Pirâmide çôes rnais elaboradas para a vida do além
tem 146 m de altura. A sua base cobre cerca eram naturalmente as dos faraós.
de 5,30 ha, num quadrado com 229 m O primeiro acto de cada novo faraó era
de lado. Foi construída com cerca de encomendar o seu túmulo, cujos traba
2 300 000 blocos de pedra, pesando em lhos podiam prolongar se até ao dia da sua
média mais de 2,5 t cada um. Alguns pe- morte. Assim se explica por que razão ten-
sam mais de 151; as lajes de granito do tecto tos túmulos reais no Egipto estão incom
da câmara mortuária de Khufu pesam 50 t. pletos; os trabalhos cessavam quando o
Até recentemente, antes de se chegar ã faraó morria, com excepção dos necessá-
conclusão de que estavam a ocorrer dema- rios para preparar o sarcófago para rece-
siados acidentes com turistas, os visitantes ber o seu corpo.
eram autorizados a subir por uma das ares A sepultura seria uma habitação para o
tas da Grande Pirâmide até ao cimo. Era seu Ka, espírito, que era um duplicado invi-
este, mais que qualquer outro, o processo sível do seu corpo vivo. Os Egípcios pensa
de melhor dar a ideia das enormes dimen vam que a sobrevivência do Ka dependia
soes das pedras. Elas formam uma escada da preservação do corpo, e por esta razão
gigantesca que nos primeiros tempos não embalsamavam os corpos dos mortos
era visível, pois as pirâmides estavam re- para os conservar. Na vida do além, o Ka
vestidas por uma deslumbrante cobertura precisava também dos objectos que a
de pedra calcária, que posteriormente foi pessoa usara em vida — as oferendas de
tirada e usada em outras construções. alimentos tiram particularmente impor
As pirâmides estão edificadas sobre fun- tantes.
dações de rocha firme. Um afloramento
rochoso ali próximo constitui a parle infe-
rior da Grande Esfinge. I loje, os arrabaldes
da cidade do Cairo atingem praticamente
as pirâmides, mas quando estas foram
construídas o local ficava no meio do de-
serto.
A acomodação dos trabalhadores tinha
de ser feita no próprio local, e lodos os seus
abastecimentos eram transportados às
costas de homens ou burros ou arrastados
em trenós. Nesse tempo não se utilizavam
no Egipto nem camelos nem cavalos.
A ideia da construção de pirâmides não
era inédita na altura em que foram erigidos
os três grandes monumentos de Gize: a
mais antiga pirâmide egípcia for,] construí
da cm Sakara por volta de 2660 a. C. e a
primeira pirâmide verdadeira, de faces li
sas, fora mandada erigir pelo pai de Khufu
em Darfur Norte. Mas as Pirâmides de Gize

As Pirâmides de Gize. Erguendo-se do O corte da pedra. Sulcos mostram como


deserto do Sara. oêem se os monumentos a os trabalhadores se serviam de grandes cu
Khaf-Re, a Khufu (o rnais alto de todos) e a nhãs de madeira para soltar os enormes
Men Kan Re. blocos de granito na pedreira de Assuão.

319
COMO FOI FEITO?

ANTES DA RODA
As Pirâmides de Gize figu- dos blocos. Os Egípcios conhe-
ram a i n d a e n t r e as ciam apenas dois metais — o
maiores edificações do ouro e o cobre. O pri
Mundo. Altas como ar meiro ora demasia-
ranha-céus, foram do macio e precioso
construídas centenas para cortar pedra,
de anos antes da inven- pelo que os trabalha-
ção da roda. Os Egíp dores se serviam de
cios possuíam apenas ferramentas de co-
ferramentas primitivas bre ou de uma pedra
para extrair os grandes Os escopros utilizados pura muito dura, o doleri- tíÈL
blocos de rocha e os talhar a pedra eram de cobre, to. Dezenas de meta ^k •
cortar no tamanho de- o único melai de que dispu- lúrgicos faziam o ^
sejado. Rebocar os blo- nham para ferramentas. afiavam serras, Pilões. Podem ainda
cos, alguns com 50 I, escopros e bro- verse as marcas
desde as pedreiras e colocá-los em po cas de cobre. Os cabos das fer- feilas pelas bolas de
sição tinha de ser feito com bois e gru- ramentas eram de madeira for- dolerilo na extracção
pos de homens com nomes como Gru- te e seca. Os instrumentos de ni do granito.
po do Barco, Grupo Vigoroso e Grupo velaçáo e medida eram geralmente
do Norte. Estes nomes estão ainda feitos de corda ou de tiras de couro pre-
marcados a ocre vermelho em alguns sas a hastes de madeira.

Maço de madeira. Usava-se para


percutir os escopros de cobre,
bem como para introduzir
cunhas de madeira ou cobre
no granito pura o separar
do leito da rocha.
Serrote
Utilizaoam-se
serrotes de cobre
para cortar blocos de pedra
macia. Com eles, os carpinteiros
também cortavam os grandes
postes de madeira usados
como alavanca para
colocar no lugar os Hastes e balanceiros
blocos de pedra. Para verificar se as
faces dos blocos
estavam planas,
usavam-se bastes
de madeira ligadas
por cordéis. No
Enxó. Os carpinteiros estaleiro, os blocos
serviam-se das enxós com lâmina eram colocados em
de cobre como de uma plaina. balanceiros de madeira
Os objectos de madeira podiam por forma a serem deslocados
assim ser alisados e afeiçoados. para os respectivos lugares com
maior facilidade (em baixo).

Broca. As brocas
de cobre eram feitas
girar por um cordel
atado a um travessão
movido para trás e para diante
como o arco de um violino.
Usavam se para fazer mobílias
e ferramentas de madeira.

320
COMO FOI FEITO^

mes blocos de pedra eram


montados em balanceiros de
madeira e basculados até à sua
posição no estaleiro.
Enquanto as pedras eram extraí-
das, o local da construção tinha de ser
preparado. A sua terraplenagem lerá
sido feita do mesmo modo que a extrac-
ção da pedra, primeiro com pilões de dole
NIVELAMENTO POR AGUA rito, depois com escopros de cobre, e foi
Os Egípcios sabiam que a água se nivela na horizontal e por isso escavaram uma rede de provavelmente executada por pedreiros
canais no locai de construção das pirâmides e encheram-nos de água (I). Depois, marcaram especializados.
0 nível da água nas paredes dos canais (2). Em seguida, drenaram a água, cortaram as Os Egípcios não possuíam níveis de bo-
paredes até às marcas (3) e encheram os canais com cascalho (4). lha de ar, mas sabiam que a superfície da
água se nivela na horizontal. Assim, fize-
A principal função do túmulo ora prote- de sedimentação, ou camadas horizon- ram uma vala em redor da colina em que
ger o corpo c os bens no seu interior contra tais, tendendo igualmente a formar fissu- assentam as pirâmides, alimentada com
os ladrões de sepulturas. Mas as pirâmides ras verticais. Ambas estas características água do Nilo trazida por um canal escava-
eram também construídas para demons- auxiliavam a extracção. do para o efeito. I leródoto diz que a água
trar o poder e a riqueza dos seus ocupan- O granito é uma rocha ígnea que não transformou a colina numa ilha.
tes. Os faraós foram enviados para o além possui o mesmo tipo de clivagem natural O local da pirâmide propriamente dito
acompanhados de tesouros fabulosos. que o calcário. Na sua superfície acen pode então ser fechado com muros de
Os nobres também possuíam riquezas no d iam se fogueiras e, quando a pedra estava lama e enchido com água, que era elevada
seu túmulo, e mesmo as pessoas relativa- bastante aquecida, deitava se lhe água por do canal alimentado pelo Nilo por meio de
mente pobres eram enterradas com al- cima. O arrefecimento brusco provocava a shadufs — as "cegonhas" de balde e con-
guns recipientes de comida. quebra da superfície irregular, revelando trapeso, ainda hoje usadas em vários pai
por baixo granito de melhor qualidade. ses do Mundo.
Um «exército» de camponeses Cada bloco tinha de ser cortado nos qua- Os trabalhadores abriram depois uma
Por muitas coisas que lhes faltassem, havia tro lados, batendo-lhe com bolas de doleri- série de canais no local, escavando até ao
duas que os faraós tinham a seu favor: tem to, uma rocha ainda mais dura que o grani- nível da água, por forma que todo o terreno
po e uma mão de obra praticamente ilimi- to. A seguir, o lado inferior dos blocos era pudesse ser nivelado. Na realidade, no
tada. 0 historiador grego I leródoto diz que libertado da rocha. Os pedreiros abriam caso da Grande Pirâmide, não se preo
na tarefa foram utilizados 100 000 homens, fendas ao longo da linha da base e introdu cuparam em nivelar a totalidade da área:
trabalhando três meses de cada vez. Ileró ziam nelas grandes cunhas de madeira Es- deixaram no meio uma parte da colina c
doto transmitia o que lhe fora dito pelos tas eram então ensopadas em água para construíram a pirâmide em seu redor.
sacerdotes egípcios do seu tempo (c. 450 fazer a madeira inchar e quebrar a rocha. Há um pequeno erro no nivelamento ria
a. C), e as suas afirmações têm fundamen- O talhe e o afeiçoameiito posteriores do plataforma na base da Grande Pirâmide:
to: todos os anos, durante três meses, o calcário e rio granito eram feitos com o ela está muito ligeiramente inclinada para
Nilo inundava as terras aráveis e os ho- auxilio de escopros de cobre, que rápida cima do vértice noroeste para o vértice
mens do campo não podiam cultivá-las, mente se embotavam, e também com bo- sudeste. Tem sido aventado que este erro
pelo que, durante esse período, havia dis las de dolerito. Algumas destas bolas foram terá ficado a deverse ao facto de ler sopra-
ponível uma vasta reserva de homens. encontradas nas pedreiras de Assuão. do um vento forte no dia em que foram
Heródoto afirma que a construção da O trabalho mais tosco seria feito nas pe- determinados os pontos de nível — o que
Grande Pirâmide durou 20 anos, além dos dreiras, mas os acabamentos executavam- terá feito subir a água nos canais.
10 de preparação do local e da construção se no local da construção, onde trabalha- Houve o maior cuidado na orientação
de dois templos funerários e de um passa- vam os pedreiros especializados. Os enor das pirâmides. Particularmente a Grande
diço que os ligava e que também foi utiliza-
do no transporte de pedras desde o Nilo. COMO FORAM LEVADOS OS BLOCOS
Em qualquer dado momento estavam em- Os blocos foram arrastados A rampa crescia ao mesmo tempo que
pregados no local da construção provável por uma grande rampa a pirâmide — camada a camada - e
mente cerca de 4000 operários especiali- de lama, tijolos _.— • íp . ia ficando mais estreita. Não se suba
zados, mas muitos outros haveria nas pe e cascalho. ^L."^ ao cerfo
Quantas rampas foram
dreiras e no transporte das pedras até Gize. usadas — talvez só uma ou
O trabalho de construção das pirâmides talvez quatro, uma
iniciou se pela extracção dos blocos de pe-
dra e pelo seu afeiçoamento até às medi
*ÊSÊ£- '.Via
^,0V para cada lado.

das exactas. A principal pedra utilizada foi


o calcário. Algum deste foi extraído próxi
mo do estaleiro da constnição, mas os cal-
cários finos utilizados na cobertura exte-
rior das pirâmides veio de pedreiras situa A rampa foi desmontada
das em Tura, à distância de cerca de 13 km, à medida que foi sendo
na outra margem do Nilo. No reveslimento colocado o revestimento
das câmaras interiores usou-se o granito da pirâmide - de
proveniente de pedreiras em Assuão, cima pura baixo. .^<8®§
960 km a montante.
O calcário é uma rocha sedimentar que
tende a fracturar segundo os seus planos

:52i
COMO FOI FEITO?

Pirâmide, está colocada de modo que as ção das enormes pedras desde a pedreira xo. Tendo a rampa atingido o topo, foi co-
suas faces estejam voltadas quase exacta- até ao local da construção teve de ser exe- locada a pedra de fecho, e os pedreiros
mente a norte, sul, leste e oeste. Os astró- cutada à custa da força de homens. Pintu- começaram a polir o revestimento de fino
nomos egípcios possuíam conhecimen- ras murais do Egipto mostram que se utili- calcário branco. À medida que o trabalho
tos consideráveis e, obviamente, alinha- zavam grandes equipas de homens na mo- avançava, a rampa ia sendo gradualmente
ram o local com uma estrela de certa im- vimentação das grandes cargas ou no alar desmanchada.
portância. Pensa-se actualmente que terá das barcaças ao longo das margens do rio.
sido a Alfa do Dragão, que então se encon- Grupos de homens puxavam as pedras Construção da câmara funerária
trava próxima do pólo norte celeste. ao longo de calçadas, sobre trenós de ma- Quando a pirâmide atingiu uma dada altu-
Estabelecer ângulos rectos nos vértices deira, desde as pedreiras até ao Nilo, que ra, foi construída uma segunda câmara fu-
das pirâmides não terá sido problema para corria próximo. Na sua maioria, os blocos nerária um pouco acima do nível do solo.
os Egípcios, que já conheciam o facto de foram provavelmente transportados en- Foi também uma precaução para o caso
que um triângulo com lados de três, quatro quanto o Nilo estava em cheia, para que de Khufu morrer prematuramente, pois
e cinco unidades forma automaticamente grande parte da jornada pudesse fazer-se esta não era ainda a câmara funerária defi
um ângulo recto. Possuiriam ainda esqua- por água. Com cordas e alavancas, as pe- nitiva: essa foi construída no coração da
dros de madeira para construção, seme- dras eram carregadas em barcos ou janga- pirâmide, 42 m acima do nível do solo.
lhantes aos utilizados actualmente pelos das, sendo depois transportadas pelo rio A entrada para a Grande Pirâmide foi tão
construtores e pedreiros, fios-de-prumo e até ao início da calçada que conduzia ao bem disfarçada que durante muito tempo
cordéis para verificar as linhas rectas. Tão local da construção. desafiou os exploradores e os arqueólogos;
bem trabalharam os topógrafos de Khufu Utilizava-se areia ou fragmentos de ro- situa-se na face norte, a cerca de 16,75 m de
que os lados da Grande Pirâmide não têm cha dura para polir as pedras, de modo que altura. Começa com um corredor que des-
diferenças superiores a 18 cm nos seus se ajustassem perfeitamente: as juntas en- ce com uma inclinação de cerca de 26° e
230 m de comprimento. tre elas atingiam um rigor inferior a 5 mm, que vai desembocar na primeira câmara
A altura original da Grande Pirâmide era não apenas nos bordos, mas numa área de funerária, não utilizada. Na sua parte inicial,
de 146,60 m. Perdeu já as fiadas superio- 3,25 m2. As juntas entre os blocos de calcá- ao nível do solo, uma passagem em tempos
res, bem como o respectivo revestimento, rio do revestimento eram ainda mais rigo- escondida com uma porta de pedra er-
e tem agora 137 m, com uma plataforma rosas: não cabe nelas uma folha de papel. gue-se com grande inclinação. É tão
quadrada no topo em vez de um vértice. Os blocos eram arrastados em trenós, baixa que as pessoas têm de dobrar
Antes de se ter começado a erguer a es- subindo rampas provisórias, até aos seus -se ao meio para conseguirem per-
trutura, foi escavada na rocha, abaixo da lugares na pirâmide. Para depois colocar e corrê-la. Na extremidade, um
base, uma câmara funerária: trata-se, pro- acertar os blocos de cima sobre os de bai- corredor horizontal leva à câ-
vavelmente, de uma precaução para a xo, utilizou-se provavelmente como lubri- mara funerária n." 2, hoje er-
eventualidade de a morte de Khufu ocorrer ficante uma argamassa fina entre as duas radamente chamada Câ-
antes de completada a pirâmide. superfícies. mara da Rainha: jamais
Tendo à disposição apenas alguns bur- Disseram a Heródoto que as pirâmides alguma aí esteve sepul-
ros e possivelmente alguns bois, a desloca- tinham sido terminadas de cima para bai- tada.

COMO FOI SEPULTADO O FARAÓ


Quando Khufu morreu, em 2567 a.C.o seu para o corredor ascendente, agora bloquea-
corpo foi embalsamado e envolvido em li- do pelos blocos de granito. Depois de os
gaduras. Depois de muitos rituais, que se sacerdotes e operários terem saído do corre-
prolongaram por várias semanas, o seu dor ascendente — a única entrada para a
corpo foi trazido para a Grande Pirâmide. pirâmide —, este foi fechado com uma porta
O caixão de madeira foi transportado pe- de pedra que foi rodada até à sua posição (9).
los sacerdotes ao longo do baixo e estreito Ajustava-se de tal maneira ao vão que era
corredor (l), através da Grande Galeria (2), quase impossível descobri-la. Como última
até à Câmara Funerária (3), onde foi colo- barreira contra ladrões, a entrada foi coberta
cado no sarcófago de pedra (4). com a pedra de revestimento.
Quando as últimas cerimónias termina- Mas houve sempre ladrões altamente
ram, os sacerdotes, ou trabalhadores sob eficientes. Em certa altura, provavelmente
as suas ordens, começaram a fechar o tú- não muito depois do funeral de Khufu, es-
mulo para evitar que os ladrões chegassem ses ladrões conseguiram penetrar na pirâ-
ao faraó e aos seus bens. Primeiro, deita- mide. Quando exploradores europeus aí
ram abaixo os apoios que suportavam três entraram no século xvi, apenas encontra-
grandes portas corrediças de pedra (5) à ram o sarcófago vazio. Tudo o resto fora
entrada da Câmara Funerária, encerrando- retirado, incluindo a múmia do rei e a tam-
-a. Depois, desmontaram os andaimes da pa do sarcófago. Relatos árabes contam
Grande Galeria, e mais três enormes blocos que alguns despojos foram encontrados na
de granito deslizaram pelo corredor até a Câmara da Rainha, mas tratava-se quase
um ponto em que este estreitava. Ali se deli certamente de funerais posteriores.
veram, bloqueado a entrada (6). As outras duas pirâmides foram também
Os sacerdotes e os operários terão então saqueadas na Antiguidade. Exploradores
saído, descendo por uma chaminé vertical do século xix descobriram apenas um sar-
(7) que liga a Grande Galeria à galeria des- cófago no túmulo de Menkau-Re, neto de
cendente que conduz à primeira Câmara Khufu, juntamente com algumas ossadas.
Funerária. Bloqueada a entrada da chaminé Perto encontrava-se parte de uma tampa
com uma laje de pedra, percorreram a gale- de caixão com uma inscrição que a identifi-
ria descendente (8), passando da entrada cava como sendo de Menkau-Re.

322
COMO FOI FEITO?

A passagem ascendente continua até à


chamada Grande Galeria, que mede 46 m
de comprimento e 8,5 m de altura e tem
um banco a todo o comprimento de um e
outro lado. A Grande Galeria foi utilizada
para guardar, em andaimes erguidos aci-
ma dos bancos, três enormes blocos de
granito destinados a selar a entrada.
Na sua extremidade fica a câmara fune-
rária definitiva, sala simples com 5 x 10 m
aproximadamente e um tecto a 6 m de
altura feito com nove enormes blocos de
pedra. Para aliviar parte do peso dos blo-
cos do tecto, existem sobre ele cinco com-
partimentos de suporte, encimados por
um tecto de duas águas.
Duas pequenas chaminés conduzem
ao exterior, dirigidas uma ao norte, a outra
ao sul. Tinham provavelmente uma ori-
gem ritual - talvez fossem entradas e saí-
das para o Ka do rei.
A câmara contém um grande sar-
\ cófago de pedra, grande demais
para ter sido trazido através da
passagem de entrada. Tal como
\ as pedras que fecham a Gran-
N
de Galeria, deve ter sido co-
locado no seu lugar en-
quanto se construía a
pirâmide.
COMO FOI FEITO?

Doenças dos antigos egípcios reveladas aos raios X


0 termo "múmia" deriva da palavra árabe As radiografias dos faraós do Novo Im- maioria, os faraós morreram mais novos
"murniya", que significa "belume", pois os pério (c. de 1600 a 1000 a. C.) do Museu do que se pensava. Análises computoriza
egípcios de língua árabe de tempos mais Egípcio forneceram resultados que puse- rias das medirias cranianas revelaram dife-
recentes pensavam que os corpos eram ram em questão algumas rias iriades e pa- renças notáveis entre faraós que se supu-
embebidos em betume para serem preser rentescos das dinastias reais alé então acei- nha serem parentes — sugerindo que não
vados. Embora isso não seja assim, as ra- tes. A idade da morte avaliada pelas altera pertenciam à mesma família. As radiogra
diografias mostram que algumas das liga- ções no esqueleto mostrou que, na sua fias mostraram também que muitos faraós
duras de linho utilizadas eram embebidas e suas mulheres sofriam de artrite.
numa mistura contendo belume.
Os corpos mumificados dos antigos reis Dores de dentes egípcias
e nobres egípcios eram sepultados em tú- Embora os antigos egípcios não sofres-
mulos — por vezes pirâmides (p. 319) - sem, de forma geral, de cárie dentária, ti
repletos de objectos domésticos e alimen- nham muitos outras problemas de dentes
tos, pois os Egípcios acreditavam que o e maxilares. As radiografias mostraram
corpo tinha de ser conservado para que o que os dentes rias múmias estavam muito
espírito nele pudesse reentrar na vida do gastos, o que deveria certamente causar
além. As múmias têm sido úteis para a in- mal eslar, além de inflamações ou doen-
vestigação científica da evolução humana. ças crónicas rias gengivas. Há lambem ves-
Os estudos baseados em radiografias têm tígios cie abcessos, e muitas múmias apre-
contribuído para aumentar os conheci- sentam anomalias do maxilar.
mentos sobre os métodos de mumifica Os Egípcios comiam muito pão, mas
ção, além de fornecerem informações so- não era só a aspereza rios cereais que pro-
bre a saúde em geral, no antigo Egipto. vocava problemas dentários: era também
Cientistas americanos munidos de apa- a quantidade de areia que comiam com o
relhos portáteis radiografaram as múmias pão e que era soprada pelo vento para o
reais do Museu Egípcio do Cairo entre 1967 cercal em todas as fases ria colheita e da
e 1978, mas como as múmias não podiam preparação da farinha e introduzida nos
ser deslocadas, tiveram de ser radiografa moinhos manuais para auxiliar a moa
das através dos caixões de madeira. gern. A areia provocava ainda outros pro-
As 17 múmias do Museu de Manchester, blemas: o tecido pulmonar de uma mú-
em Inglaterra, foram radiografadas em me- mia do Museu de Manchester, examinado
lhores condições em 1975. Uma das mú- ao microscópio electrónico, revelou uma
mias foi, além disso, desenfaixada. doença pulmonar por inalação de areia.

Sob as ligaduras. As radiografias de uma


múmia desenfaixada em 1975 revelaram
tratar se de uma menina de cerca de 14
anos. Faltavam-lhe as partes inferiores de
ambas as pernas, substituídas por mem-
Na marquesa. Com equipamento espe bros artificiais (em baixo). Os ossos mos-
ciai. as múmias foram radiografadas sob tram que as pernas foram amputadas ime
todos os ângulos e as radiografias apresen- diatamente antes ou a seguir à morte — por
tadas em écrans. motivos que se mantêm misteriosos

324
COMO FOI FEITO?

A PREPARAÇÃO DE UMA Ml MIA


0 estudo das múmias de várias épo- Como os cientistas reconstituem
cas revelou que as técnicas e o grau de
perícia utilizados variaram ao longo os rostos do passado
do período em que se praticou a mu-
mificação — desde cerca de 2800 a. C.
até à invasão árabe, por volta de 640 da Tendo apenas um crânio como base do Em 1977, na aldeia grega de Vergina, per-
nossa era. A técnica teve o seu apogeu seu trabalho, os cientistas servem-se dos to de Salonica, os arqueólogos descobri
por volta de 1000-950 a. C, quando os seus conhecimentos de anatomia para re- rarn um túmulo que há muito procura
sumos sacerdotes de Amon (o rei dos constituírem a cabeça e a face de pessoas vam. Ali próximo havia as ruínas do que se
deuses) eram todo-poderosos — na que viveram há séculos. acreditava ter sido a capital, há muito per
altura em que Salomão e David
ocuparam o trono de Israel.
O processo, segundo a descrição RECONSTITUIÇÃO DA FACE DE UMA Ml MIA
do historiador grego Heródoto, que Depois de a múmia de uma adolescente ter sido examinada em 1975, a sua face foi
escreveu por volta de 450 a. C, levava "ressuscitada" a partir do crânio reconstituído. Nunca se saberá quem ela era, m;is
70 dias. Havia, segundo ele, três cate- ambas as pernas tinham-lhe sido am-
gorias e três preços. Na mais dispen- putadas. Gozava de pouca saúde —
diosa, o cérebro era extraído pelas na os dentes mostravam que se alimen-
rinas, c o conteúdo do tórax, em geral, tava quase só de líquidos.
com a excepção do coração, era re-
movido através de uma incisão feita
num lado com uma faca de sílex. De-
pois, o corpo era posto a secar. No
processo mais barato, os órgãos inter
nos não eram retirados, e o corpo era
injectado com óleo de cedro antes de
secar. No mais barato de todos, o cor-
po era simplesmente secado.
Heródoto escreveu numa época
em que esta técnica estava em declí-
nio. Em geral, nas épocas anteriores, Ponto de partida. 0 crânio da adoles
removiam-se os órgãos internos e o cente tinha apenas os ossos faciais intac
cérebro, e o corpo era enchido com tos. Os pedaços foram moldados em
uma mistura que incluía serradura, li- plástico e us partes que faltavam preen-
nho e lama. chidas com cera.
A secagem levava cerca de 40 dias,
cobrindo-se o corpo com natrão se-
co - composto salino de ocorrência
natural semelhante a carbonato de
soda Durante os restantes dias, o corpo
era banhado com óleos, adornado, en
faixado e submetido aos ritos religiosos.
As ligaduras exteriores eram impreg-
nadas com cera de abelhas e coladas Adolescente egípcia. O
com uma gelatina. rosto foi construído em barro
Os órgãos internos eram igualmen- (em cima) sobre um molde
te secados com natrão antes de serem de gesso do crânio reconsti-
guardados junto ao corpo em quatro tuído. Colocou-se-lhe um lá
vasos selados, os vasos canopos. Mas bio superior curto, muitas ve-
noutra época os órgãos eram embru- zes associado à constrição
lhados e utilizados como parte do en- nasal, porque era óboio que
chimento do corpo. tinha respirado principal
Sobre a múmia era colocada uma mente através da boca. Tam-
máscara da face e tórax, feita de uma bém a corrosão do osso em
cartonagem fabricada com linho e torno dos dentes superiores
gesso, a qual podia ser dourada e dota da frente se devia provável
da de olhos e sobrancelhas. A múmia mente às gengivas inflama-
podia ser colocada num caixão de ma das, resultado da constante
deira moldado ao corpo, depois num respiração pela boca. O mo
caixào de madeira rectangular e final- delo final em argila foi molda-
mente num caixão exterior, o sarcófa- do em cera, e a cabeça pinta
go, frequentemente talhado em pedra da e dotada de olhos e cabelo
A decoração dos caixões incluía poe- para nos mostrar (à direita)
mas rituais destinados a proteger o es- um rosto de há cerca de 2000
pírito na sua viagem. anos.

325
COMO FOI FEITW

O ROSTO DE FILIPE DA MACEDÓNIA


A carne e os músculos
foram modelados
r: com argila ate à
altura marcada

• ern cavilhas
de referência.

"

Moldes de gesso de pedaços de um crânio


encontrado numa sepultura grega em 1977 As zonas mais escuras no
foram montados por cientistas britânicos, crânio são panes que fal-
que procuravam provar tratar-se do crânio tavam e se preencheram
de Filipe II, rei da Macedónia em 250 a. C. e com barro. A órbita direita A cabeça acabada mostra a ci-
pai de Alexandre, o Grande. revelava ferimentos. catriz do olho direito.

elida, dos reis macedónios, dos quais o começou a construir um modelo ria carne. escritores da Antiguidade apenas o descre-
mais famoso fora Alexandre, o Grande. O Primeiro, fixou pequenas cavilhas de ma viam como tendo barba, pelo que lhe foi
Prof. Manolis Andronicos, que chefiava a rieira no crânio modelo ern 23 pontos, nos dada a cor típica de um europeu meridio
equipa de arqueólogos, estava convenci- quais se conhece a espessura média de nal de meia-idade. O fado é que o modelo
do, em face das riquezas contidas no túmu- carne nos crânios actuais. Seguidamente, se assemelha muito às efígies nas meda-
lo, de que o seu ocupante era o pai de Neave modelou em argila os músculos da lhas e moedas e a uma miniatura de mar-
Alexandre, Filipe II da Macedónia, extraor- cabeça e os outros tecidos moles. Introdu fim encontrada no túmulo.
dinário guerreiro e estadista que fora assas- ziu um olho de vidro na cavidade orbital Richard Neave e os seus colegas recons-
sinado no casamento da filha, em 336 a. C, esquerda e modelou o olho lesionado se- tituíram também a face do homem de Lin-
aos 46 anos. Durante o seu reinado de 23 gundo a aparência da cicatriz de um feri- dow — um homem da Idade do Ferro cujo
anos. ele não só acabara com as lutas inter mento parecido — um golpe de machado corpo, preservado mas deformado, foi en-
nas na sua Macedónia natal, como domi- sofrido por um lenhador. contrado numa lurfeira no Norte de Ingla
nara toda a Grécia, lançando, além disso, O modelo acabado foi copiado em cera terra. Aqui, a técnica foi ligeiramente dife-
as bases para as conquistas de seu filho. e pintado. Havia poucas ou nenhumas in- rente, pois todo o corpo se conservara, In
0 problema era provar que os restos dicações quanto à cor da pele de Filipe: os cluindo os tecidos moles. Mas porque a
mal cremados no caixão de ouro maciço
pertenciam a Filipe. Entre eles, encontra- RECONSTITUIÇÃO DO HOMEM DE LINDOW
va-se o crânio em pedaços, e a partir dele
um grupo de cientistas ingleses, no princí-
pio da década de 80, provou que os restos
eram, de facto, de Filipe ria Macedónia.
O anatomista do grupo, o Dr. Jonathan
Musgrave, da Universidade de Bristol,
achou que os danos causados pelo fogo
durante a cremação não tinham afectado
gravemente os contornos do crânio, e Ri
chard Neave, da Universidade de Man-
chester, lançou-se ao trabalho de reconsti-
tuição da face, começando por tirar mol-
des de gesso dos pedaços do crânio.
Intrigou-o uma grave deformação em
redor da cavidade ocular direita, mas cirur
giões plásticos disseram lhe que a sua re-
constituição do crânio estava correcta. A
deformação devia-se a um terrível ferimen
to que lhe causara a perda de um olho. O
arqueólogo rio grupo, o Dr. John Prag, do Em 1984. foi encontrado um corpo deforma
Museu de Manchester, confirmou que Fili do em Lindou) Moss, turfeira no Norte de
pe perdera um olho em 354 a. C. devido ao Inglaterra. Era o de um homem com cerca A partir de radiografias e de fotografias dos
ferimento de uma seta. de 25 anos aparentemente estrangulado despojos do homem, fez-se um modelo do
Uma vez reconstituído o crânio, Neave na época celta, há 2000 anos. seu crânio.

32<-i
I Como se
COMO FOI FEITO?

fabricavam
ferramentas
e armas na
Idade da Pedra
0 homem utilizava utensílios de pedra 2
milhões e meio de anos antes de o metal Lascando a pedra. Com uma pedra sepa-
ser usado pela primeira vez, há uns 8000 raoa-se uma lasca para a ponta de lança.
anos, no Médio Oriente. As pedras eram
transformadas em facas, raspadores, ma-
chados, serras, foices, martelos c pontas
de armas.
Ainda agora, a pedra é o único ou o mais
adequado material disponível para o fabri-
co de ferramentas em muitas regiões. A
Um molde em cera colorida revela a face do sobrevivência dos trabalhos em pedra, ou
rei Filipe, assassinado em 336 a. C. talhe, entre os aborígenes australianos,
por exemplo, e o fabrico de pederneiras
para espingardas na Europa dão aos ar-
cabeça c a face estavam deformadas pelo queólogos conhecimentos muito úteis so-
longo enterramento, as feições encontra- bre as técnicas utilizarias há milhares de
vam-sc quase irreconhecíveis. anos.
Fez-se um modelo do crânio com o au- Desde os tempos mais remotos, a maté-
xilio de fotografias e radiografias. O lado Afeiçoamento. Retiravam se lascas mais
direito do crânio eslava terrivelmente de- Fabrico de uma pequenas com um macete de osso.
formado e teve de ser reconstituído a partir lança de pedra
rio lado esquerdo. Esta ponta de
Os olhos foram reconstituídos com as lança de pedra
dimensões e a cor que teriam os olhos de foi feita pelo
um celta daquela época — semelhantes método anti
aos de uma pessoa actual, com as íris cin- go (à direi-
zento-azuladas. 0 resultado foi um ho- ta).
mem com o aspecto, segundo Neave,
"muito parecido com o que teria pouco
antes de morrer". Media cerca de 1,70 m de
altura e pensa-se que foi estrangulado, pro-
vavelmente numa execução ritual.

Os segredos do crânio
A partir rio crânio, um perito consegue cal-
cular a idarie de uma pessoa — um adulto Acabamento. Com um ponteiro de mudei
tem os dentes gastos e os ossos sólidos ra obtinha se uma ponlu delgada.
completamente soldados. O sexo é geral
mente determinado porque a mulher tem
o crânio menor e o maxilar mais delicado
que o homem. O"feitio rio crânio indica a
raça.
Um dos pioneiros rias técnicas utiliza-
das por Richard Neave foi o cientista russo
Mikhail Gerasimov, que morreu em 1970.
Iniciou os seus trabalhos nos anos 30, e
entre as cabeças que reconstituiu incluem
-se as de Tamerláo e de Ivan, o Terrível.
Os cientistas forenses estão agora a en-
saiar um processo de reconstituição de fa-
ces pela medição do crânio com raios de
laser. Precisam de um crânio completo
para poderem trabalhar, mas conseguem Lança terminada. A afiada ponta de
em poucos dias uma imagem tridimensio- sílex era atada, ou colada com resina,
nal num écran de computador. a um cabo comprido de madeira.

327
COMO FOI FEITO?

ria-prima para o fabrico de ferramentas de e as lascas dela tiradas transformadas em Europa há cerca de 35 000 anos. As pedras
pedra era exlraída de rochas expostas ou ferramentas leves como raspadores. que se introduziam nos cabos eram fixa
dos leitos dos rios. Em muilas regiões, as Para lascar uma pedra, segurava se nela das com fibras ou resinas vegetais, estas
únicas pedras disponíveis eram rochas ás- com uma das mãos ou contra a coxa, ou últimas por vezes misturadas com cera de
peras ou cristalinas, como o basalto ou o por vezes assentava-se numa pedra-bigor- abelhas ou betume.
quartzo, muito difíceis de trabalhar, mas na. Depois, balia se-lhe com uma pedra No fabrico de setas, lanças e arpões utili-
mesmo há 2 milhões de anos os artesãos -martelo para fazer saltar uma lasca. Segui zavam-se pequenas farpas de pedra, afia
conseguiam fazer com elas ferramentas damertte, virava-se a parte principal para das e finamente trabalhadas. Estas peque-
úteis. As rochas de grão fino, como o sílex, tirar uma lasca da outra face. Os bordos ninas lascas, ou micrólitos, eram utilizadas
a cornalina e a obsidiaria, são ideais para o eram aguçados tirando-se-lhes pequenas como facas ou senas, montadas como den-
fabrico de ferramentas, porque a sua frac lascas com um martelo macio de osso, tes de uma sena ao longo de um pau. Este
lura é regular. Os Egípcios extraíam a cor haste de animal ou madeira e às vezes por método de fabrico de ferramentas apare
nalina para o fabrico de ferramentas há lascagem por pressão — pressionando as ceu pela primeira vez na Kuropa há cerca de
30 000 anos, e na Kuropa, há uns 4000 a lascas com urna ponta de madeira ou 14 000 anos, mas achados arqueológicos
6000 anos, os agricultores primitivos osso, técnica usada no fabrico de delgadas no Sri Lanka em 1988 confirmam que os
abriam poços no calcário para extracção pontas de lança e de seta. Lascando a pe- caçadores da região o usavam há uns 30 000
da rocha ao longo dos veios de sílex. dra com cuidado, os artesãos conseguiam anos, aproximadamente na mesma altura •
separar lascas do tamanho e formato que que os caçadores da Africa Austral.
As primeiras ferramentas quisessem. Este processo é usado desde 1 lá cerca de 8000 anos, os agricultores
Os povos primitivos aprenderam a lascar há cerca de 30 000 a 90 000 anos. primitivos começaram a usar novas técni-
um bloco de pedra martelando-a próximo Durante mais de 2 milhões de anos, as cas de abrasão e polimento para dar às
de uma aresta com outra pedra. É a cha- ferramentas de pedra foram agarradas ferramentas um fio de corte mais eficiente.
mada lascagem. A parte principal da pedra com a mão. Só há uns 200 000 anos come- A pedra de amolar era uma rocha dura que
podia ser trabalhada de forma a fabricar çaram a ser dotadas de cabos, e as lanças se molhava, e usavam se grãos de areia
uma ferramenta pesada como um cutelo, com ponta de pedra só se vulgarizaram na como abrasivo.

Como foram feitas as estátuas da ilha da Páscoa?


Centenas de estátuas gigantes dominam mes blocos de pedra que chegam a atingir agora partida no chão — intencionalmen
uma longínqua ilha do Pacífico com ape 00 m de comprimento. Nalgumas foram te afastada do ahu ninguém sabe porquê,
nas 100 km2 de superfície e cerca de 1600 encontradas sepulturas: os corpos eram Calcula-se que um grupo de 90 homens
habitantes. A ilha é conhecida por ilha da colocados nos ahu até ficarem em esque- teria levado 18 meses a esculpi-la e a pó la
Páscoa, desde que foi descoberta por euro- letos, e os ossos eram depois enterrados em posição.
peus no Domingo de Páscoa do ano de em criptas por baixo deles. Desde que o mundo ocidental conhece
1722. Existem perto de 1000 estátuas gigantes a ilha da Páscoa, nunca a sua população
Embora se vejam algumas estátuas, na ilha da Páscoa. Têm alturas entre 1 e 21 m excedeu 4000 pessoas, mas em tempos
chamadas moai pelos Polinésios, ao longo e representam provavelmente chefes fa- mais recuados esse número era muito
de estradas antigas, elas foram esculpidas mosos ou antepassados remotos dos maior. As estátuas não apresentam marcas
para adornar altares costeiros, conhecidos ilhéus que as ergueram. que pudessem ter sido causadas pelo seu
por ahu. Até hoje, foram registados 239 A maior estátua alguma vez erigida so- transporte, o que sugere que tenham sido
ahu. Trata-se de plataformas feitas de enor bre um ahu media 9,80 m de altura. Jaz utilizadas grades protectoras de madeira
Hoje, a ilha praticamente não possui árvo-
res, embora esteja agora provado que foi
em tempos densamente florestada. Assim,
haveria madeira suficiente para a constru-
ção de trenós para o transporte.
As estátuas foram esculpidas em tufo,
rocha composta por cinzas vulcânicas
comprimidas do Rano Raraku, modesto
pico vulcânico no Leste da ilha. Algumas
das estátuas têm "chapéus" no alto da ca-
beça, esculpidos numa pedra chamada es-
cória vermelha. O maior chapéu mede
2,40 m de diâmetro, 1,80 m de altura e pesa
11,5 t, mas a maioria é consideravelmente
menor. Foram extraídos de pedreiras no
Punapau, pico vulcânico pouco elevado
no Sudoeste da ilha.
Nas pedreiras de Rano Raraku ainda po-
dem encontrar-se ferramentas abandona
das. Designadas por tofti na língua rapa nui

Nascimento de um «moai». Estátuas


parcialmente esculpidas enconíram-se ain
da no seu leito de rocha vulcânica.

328
COMO KOI FEITO?

de centenas de anos, que terminou cerca


de 200 anos antes da chegada dos primei-
ros europeus, no século xvm.
Perto do cimo da pedreira vêem se pa
res de buracos com cerca de 1 m de profun-
didade abertos na rocha. Estão ligados no
fundo por meio de um canal e parece te-
rem sido usados para passar cordas. Perto
dos buracos há marcas, obviamente feitas
por cordas que chegavam a 10 cm de es
pessura e que eram provavelmente entran-
çadas de fibras de plantas como o hibisco.
Vigas de madeira horizontais colocadas
em canais de pedra serviam para atar as
cordas, como acontecia também com abi
1
tas talhadas em saliências de rocha.
Com o auxilio das cordas, as estátuas
eram lentamente descidas pelas encostas
de pedra e cascalho do Rano Raraku. Há
103 estátuas em pé nas encostas mais bai-
xas do Rano Raraku, muitas delas enterra
das quase até ao pescoço. As escavações
mostram que elas eram feitas deslizar para
dentro de covas para ficarem direitas, a fim
de poder efectuar-se o trabalho de acaba
mento das costas.

O transporte das estátuas


O falecido Prof. William Mulloy, da Univer-
sidade do Wyoming, aventou nos anos 70
que as estátuas viajavam até ao seu destino
deitadas de borco e atadas a urna espécie
de berço ou trenó feito de madeiras encur-
vadas. Pensava que a forma bojuda dos
moai condizia com esta ideia, e berços
assim poderiam ter sido feitos avançar en
tre dois grandes postes. Os trabalhos da
Dr." Van Tilburg, contudo, mostram que a
forma da maioria das estátuas teria toma
do impossível aquele processo.
Qualquer processo de transporte depen-
dia de duas coisas: uma mão-de-obra abun-
dante e madeira em quantidade. Vieram
recentemente a lume novas provas de que
ambos os factores estavam presentes
quando se transportaram as estátuas. Os
arqueólogos encontraram as fundações
em pedra de muitas casas e aldeias com
vestígios de terem sido erguidas sobre elas
estruturas de madeira. Calcula-se que entre
1000 e 1500 da nossa era, na altura em que
foram feitas as estátuas e os anu, a popula-
Viagem interrompida. Semienterrado na encosta sudoeste do Rano Raraku, este moai, ção poderá ter chegado às 10 000 pessoas
como muitos outros, nunca chegou a um altar no litoral. Depois de esculpido, foi descido pela O primeiro dado esclarecedor do misté-
encosta até uma COVO para o acabamento das costas e ali ficou para sempre. rio das madeiras veio do lago de cratera do
próprio Rano Karaku. John Flenley, cientis-
da ilha da Páscoa, Irata-se de enxós, ferra serem deslocadas, apoiadas unicamente ta britânico da Universidade de Hull, reti-
mentas parecidas com machados feilos de em pedras arredondadas. rou do leito do lago amostras que fornece-
basalto. A Dr.a Jo Anne Van Tilburg, arqueóloga ram grandes quantidades de pólen fossili-
Na pedreira existem 394 estátuas em di- americana, registou e descreveu 823 está- zado que aí se tinha acumulado ao longo
versas fases de acabamento. Umas estão tuas da ilha da Páscoa. Os seus estudos de muitos séculos. O pólen revelou que a
apenas delineadas na superfície da rocha, confirmam que em toda a ilha, e de uma ilha da Páscoa albergara em tempos uma
outras estão quase completas, precisando maneira geral, quanto mais recente é a es- vida vegetal rica. As árvores da ilha foram
apenas de mais uns golpes de enxó para se tátua, maior é o seu tamanho. A de maiores provavelmente destruídas para obtenção
separarem do rochedo. Algumas estão dei dimensões — ainda na pedreira e apenas de terras aráveis para a população crescen-
tadas de costas, outras de lado em reen- parcialmente acabada — teria 21 m de allu te — e a competição pelo espaço vital pode
trâncias do rochedo, como corpos numa ra e pesaria 200 t. Aparentemente, as está- ter dado origem a guerras que mataram
catacumba. Umas estão quase prontas a tuas foram criadas ao longo de um período grande número de habitantes.

329
COMO FOI FEITO?

Outra teoria sobre a deslocação das es- réplica, embora só algumas das estátuas processo lerá sido suficiente para deslocar
tátuas foi a avançada pelo Prof. Charles verdadeiras possuam bases suficiente- a estátua média, com 4 a 5 m. As maiores,
Love, que acha que elas foram transporta- mente grandes para este tipo de transporte. com perto de 10 m, não alcançaram distân-
das em pé. Para verificar se o método fun- A Dr.1 Van Tilburg, que estudou 47 está- cias superiores a 1,5 km da pedreira.
cionaria, fez uma réplica de uma das está- tuas deitadas ao longo de caminhos entre Pôr uma destas enormes estátuas em pé
tuas em betão e tentou movê-la sobre um o Rano Raraku e os ahu costeiros, sugere no seu pedestal era um trabalho difícil. Na
trenó de madeira que se deslocava sobre que o método básico de transporte tenha década de 60, o Prof. Mulloy e um grupo de
rolos também de madeira. sido na horizontal, Possivelmente, a está ilhéus reergueram sete estátuas de 16 t em
Voluntários puxavam por cordas para tua era parcialmente coberta para protec- Ahu Akivi, no Ocidente da ilha, o que o
arrastar a estátua ou mantinham a tensão ção antes de ser colocada no trenó de ma- levou a sugerir o modo como a maior está-
noutras cordas que evitavam que aquela deira, que se deslocava sobre rolos com o tua da ilha teria sido erguida na costa norte
tombasse. O processo funcionou com a auxilio de alavancas e cordas fortes. Este (v. em baixo).

UMA ESTATUA GIGANTE E DESLOCADA DESDE A PEDREIRA ATE A COSTA


A maior estátua da ilha da Páscoa, conhecida por Paro, jaz agora o peso de 11 I, teria rolado 13 km desde a pedreira de Punapau.
partida em frente do seu ahu. Mede 9,80 m e pesa provavelmente Em 1970, Mulloy sugeriu que a Paro tinha sido colocada com a
82 t. O Prof. Mulloy calculou que tivessem sido necessários face para baixo sobre um Irenó de madeira em forquilha pesan-
30 homens trabalhando durante um ano para a esculpir, do cerca de 5 t e "andado" para a frente por meio de dois postes
90 homens para a transportar durante os cerca de 6 km que em ângulo. Mas os especialistas sugerem actualmente que, na
separam a pedreira da costa e 90 homens trabalhando durante maioria, as estátuas foram provavelmente deslocadas em trenós
três meses para a colocar de pé. O chapéu, com 1,80 m de altura e sobre rolos.

k
Na pedreira. Esculpida Cortada a quilha, Escorregou paru uniu Os escultores puderam
í
A estátua em pé ficou
de costas, a estátua ficou deslizou encosta abaixo, cova, onde foi erguida então retirar a quilha pronta para ser colocada
segura por uma quilha. segura por cordas. com cordas e alavancas. nas costas da estátua. num trenó.

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\

Â
Transporte. Atou Retirou-se a terra A estátua foi
EM£.
Com uma corda, Quando se No final,
-se-lhe um trenó para deitar a pendurada em dois puxaram-se os postes puxavam os postes, recolocavam se
emformudeY. estátua de borco. postes. inclinados para trás. a estátua avançava. os postes.

Colocação da estátua. Foi-se levantando a estátua com De cada lado construíram-se As ulai ancas entravam em
O "chapéu " foi preso por alavancas e metendo pedras patamares para os homens que entalhes nas traves da cabeça e no
traves atadas à cabeça. por baixo como suporte. manejavam oito alavancas com 6 m. trenó e metiarn-se mais pedras.

Com a estátua quase de pc. as a lai-ancas Usaramse cordas para endireitar a Com a estátua já no pedestal, retiraram se
foram aplicadas e apoiadas sobre uma estátua. O trenó, desatado e soterrado nas as traves da cabeça, bem como o monte
trave transversal atada sob o queixo. pedras, ajudou a manter a estátua em pé. de pedras.

330
Guardas do altar. Estátuas de 251 olham a ilha no seu ahu na costa norte da ilha da Páscoa. Depois de colocarem as estátuas em pé, os
trabalhadores terão utilizado andaimes para lhes esculpirem as cavidades oculares. Em seguida, aplicaram-lhes os olhos (eitos de coral
branco e escória vermelha. Os "chapéus" poderão representar cabelos atados em nó no alto da cabeça.

331
.

" " * - •

$
COMO KOI FEITO?

A Grande Muralha:
monumento
ai milhão
de trabalhadores
Nas montanhas a norte de Beijing, a Gran-
de Muralha da China serpenteia de cumea-
da em cumeada, quilómetros atrás de qui-
lómetros. Atravessando desertos, terras de
pastagem, vales de rios e montanhas arbo-
rizadas, a muralha chega ao rio Yalu, na
fronteira com a Coreia, eslendendo-se por
cerca de 3200 km através da China Seten-
trional. Mas se forem incluídas as ramifica
Coes da muralha principal, o comprimen
to total ronda os 6500 km.

Como se iniciou a muralha


Há cerca de 3000 anos, os inúmeros Esta
dos guerreiros do Norte da China construí-
ram muralhas defensivas em redor dos res-
pectivos territórios. Em 221 a C, o príncipe
de Qin, um desses Estados, anexou seis
outros Estados e intitulou-se o primeiro
imperador da China, Qin Shi I luang. Des-
truiu todas as muralhas, à excepção das do
Norte, que ligou entre si para proteger o
seu território dos Hunos e de outras tribos
nómadas do Norte.
Outros governantes reconstruíram e au-
mentaram a muralha, particularmente du-
rante as dinastias Han (206 a. C - 220 d. C.)
e Ming (1368-1644).

Trabalhos forçados e obras de arte


de engenharia
O general Meng Tian, a quem Quin Shi
Huang encarregara da construção da mu-
ralha, tinha à sua disposição 300 000 solda
dos para o trabalho. Cada secção tinha
como responsável um subcomandante,
obrigado a utilizar na construção materiais
l<xais. A obra levou nove anos a completar.
Koi arregimentado perto de 1 milhão de
trabalhadores, muitos dos quais separa-
dos das suas famílias. Havia também pre-
sos condenados a anos de trabalhos força-
dos na muralha. Alguns deles eram intelec-
tuais que tinham desobedecido ao édito
imperial que proibia o uso de livros consi-
derados "desestabilizadores", outros eram
funcionários públicos negligentes. Ti-
nham de trabalhar em terrenos difíceis e
em condições climáticas extremas - as
temperaturas subiam aos 35"C no Verão e
desciam para -21"C no Inverno.

Muralha nas montanhas. A Grande Mu-


ralha da China serpenteia sobre os cumes
das montanhas de Taihang Shan, a noroes-
te de Beijing Torres de atalaia guardam a
muralha a intervalos de 180 m.

333
COMO FOI FEITO7

Embora Meng Tian tivesse construído lhaus que aliernavam com camadas de alem da muralha. Grande parte desta sec-
uma estrada como via de abastecimento 5 cm de erva do deserto e galhos de tarnar- ção da muralha é formada por uma parede
para as guarnições e os trabalhadores, os gueira atados em molhos compridos. maciça de pedra e tijolo, cujo troço mais
alimentos, frequentemente, não chega- Dada a dificuldade de transporte de ali impressionante se estende entre a passa-
vam aos postos mais distantes, pois eram mentos, Qin Shi Huang lançou uma políti- gem de Juyongguan, a norte de Beijing, e a
vendidos ou comidos no caminho pelos ca de cultivo de cereais nos terrenos bal de Shanhaiguan. perto da costa oriental,
carregadores. Morreram milhares de ho- dios junto à muralha, política esta conti- A construção de cada secção foi organi-
mens, que foram sepultados nas funda- nuada pelas sucessivas dinastias que repa- zada a partir de cada uma de 11 cidades
ções da muralha. raram ou reconstruíram a muralha. Os fortificadas, desde Liaodong, a leste, até
Embora nos terrenos planos ou pouco camponeses que acabaram por se fixar Zhangye, na província de Gansu, a oeste. A
inclinados se pudessem usar carros de nessas áreas tornaram-se agricultores e guarnição total atingia quase I milhão de
bois ou carrinhos de mão, nas zonas mon- soldados, fazendo sentinela ou combaten- homens e um número ainda maior de tra-
tanhosas, onde a muralha era construída do, conforme as necessidades. Aos solda- balhadores recrutados. Os soldados que
ao longo dos topos de rochedos íngremes, dos da guarnição eram também atribuídos guardavam a muralha usavam placas de
as pedras tinham de ser acarretadas às cos pequenos lotes de terra. identificação, e as ordens eram gravadas
tas pelos operários, ou em cestos pendura- Entre os vários projectos levados a cabo em discos ou varas transportados por esta-
dos em varas, em cargas de cerca de 50 kg para irrigação das áreas cultivadas, desta- fetas de um a outro subcomandante.
por homem. Nos caminhos estreitos, as ca-se o canal de Han Qu, alimentado Os tijolos e a cal para a
cargas eram passadas de mão ern mão ao pelo rio Amarelo, perto de Yinchuan, construção eram fabrica-
longo de uma cadeia humana. As pedras na zona central da muralha.
maiores eram elevadas por grupos de tra
balhadores que as faziam rolar sobre tron- A muralha Ming
cos e arduamente as deslocavam por meio A maior parte da actual Grande Muralha
de alavancas encosta acima. foi construída entre 300 e 600 anos
Em regiões onde não havia pedras a mu- atrás, durante a dinastia Ming -
ralha foi construída em camadas de terra principalmente c o m o defesa
batida vazada e calcada entre tábuas. Nas contra os exércitos dispersos da
zonas arenosas do deserto do Gobi, fa dinastia mongol Yuan, a qual, der-
ziam-se camadas de 20 cm de areia e ca- rubada pelos Ming, fugiu para

O PERCURSO DA GRANDE MURALHA


A maior parte da muralha que ainda hoje se conserva
foi construída durante a dinastia Ming (1368-1644).
Existem diversas muralhas, e se todas fossem
postas de enfiada, estenderse-iarn por
6400 km. ou seja um sexto do
comprimento do equador.

A Grande Murulha da dinastia Ming


COMO FOI FF.ITO?

dos em fornos montados junto aos estalei Porta oriental e fortaleza ocidental veis. Na secção de Badaling, ao norte de
ros, mas tinham ainda de ser carregados A passagem de Shanhaiguan é a porta en Beijing, tem cerca de 8 m de altura, 6,70 m
até aos cimos — principalmente por ho- tre o Nordeste Chinês e as planícies cen- de espessura na base e perto de 6 m no
mens, embora de vez em quando se usas- trais. A torre de entrada da Grande Mura- topo. Na passagem de Jiaoshanguan, nas
sem jumentos. lha, com três andares, tem 9 m de altura, e montanhas de Yan Shan, de onde se podo
Usaram-se também enormes lajes de numa lápide sobre o portal lê-se: "Primeira avistar o mar, a muralha tem, em alguns
pedra, algumas delas pesando à volta de 1 t. Passagem Debaixo do Céu." Trata-se de pontos, apenas 40 cm de largura.
Ninguém sabe como foram transportadas uma cópia da inscrição original, guardada Nas partes mais largas, a muralha é enci-
para cima. Algumas poderão ler sido iça- no interior, feita em 1472 por Xiao Xian, o mada de ambos os lados por ameias de
das por cabrestante - uma corda enrola- estudante que maior êxito teve nos exa- 1,80 m de altura e possui torres a intervalos
da num tambor com uma alavanca. As pe- mes imperiais daquele ano. de, aproximadamente, dois tiros de flecha,
dras angulares eram por vezes fixas em po- A passagem de Jiayuguan controla o ou 180 m. Plataformas-faro is para sinais de
sição por meio de respigas, despejando-se corredor que atravessa a província de Gan- fogo situavam-sc a intervalos de cerca de
o ferro derretido em entalhes feitos nas pe- su a noroeste, a maior parte da qual é cons- 15 km, permitindo enviar mensagens de
dras. tituída por loess (solo argiloso amarelado) um lado ao outro do país em 24 horas.
Em quase todas as secções da muralha e deserto. A fortaleza, construída em 1372 Os sinais dos faróis eram feitos com
estão inscritos os nomes dos engenhei- para guardar o desfiladeiro, é feita ern terra fumo durante o dia e com fogueiras à noi-
ros e encarregados da construção. Mas compactada e tern paredes com 9 m de te. Uma coluna significava que a área esta-
para os muitos homens que morreram altura, (5,70 m de espessura na base e um va a ser atacada por uma pequena força. Se
na obra a muralha é o seu único monu- pouco mais de 1,80 m de largura no cimo. se tratava de um grande exército, faziam se
mento. A altura e a largura da muralha são variá- quatro sinais separados.

Um exército de barro para proteger o Tigre de Qin


Durante mais de 2000 anos, um exército trono no Noroeste da China, com 13 anos vivos com o seu rei. Mas o imperador orde-
secreto de soldados de barro protegeu o apenas. Em 221 a. C, tinha conquistado nou que se fizesse um exército de mais de
túmulo escondido do primeiro imperador toda a China e fundado a dinastia Qin. Pro- 7000 soldados de barro em tamanho na-
da China, Qin Shi líuang. Até 1974, nin- curou unificar o país e ordenou a constru-
guém sabia da sua existência; agora, os ção da Grande Muralha para proteger o seu Cavalo e cavaleiro. Um cavaleiro de barro
arqueólogos chineses estão pouco a pou- recente império. com 1,80 m de. altura segura o seu cavalo
co a desvendar o mistério. Já tinha passado o tempo em que os aparelhado. O freio e bridão de bronze ser
Em 274 a. C, o Tigre de Qin subiu ao escravos e os cortesãos eram sepultados viriam num cavalo verdadeiro.

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335
COMO FOI FEITO?

dos com pernas maciças e tronco oco. As doira em tamanho natural e funcionais.
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lurai para o guardarem na vida do além.
0 seu túmulo é um complexo funerário cabeças e as mãos foram cozidas separada Os arqueólogos chineses têm sido meti-
que mede cerca de 5 km e cuja construção mente nos fomos montados no local e de- culosos e pacientes no seu trabalho. O tú-
exigiu o recnilamento de 700 000 homens. pois ligadas aos corpos por finas tiras de mulo principal, onde está o imperador,
Trouxeram-se os melhores artistas de to argila. Depois dos retoques finais, executa- ainda não foi aberto, e espera se que esteja
das as parles da China, que esculpiram um dos por artistas especializados que utiliza intacto. Diz-sc que foi revestido interior-
grandioso palácio para o imperador sob o vam uma argila mais fina, os soldados eram mente com cobre derretido, vertido à me-
monte Li, nas colinas do Cavalo Negro, na pintados. Um dos esquemas de cores con- dida que se procedia à selagem da cripta.
província de Shaanxi, na China Central. sistia cm calças azul-escuras, sapatos pre- O túmulo pode conter alguns segredos
Muitas das maravilhas do túmulo foram tos com atacadores encarnados e túnicas chocantes: relatos da época dizem que as
descritas pelo historiador chinês Sima verdes com botões de ouro e cordões púr- concubinas do primeiro imperador que
Qian, que escreveu menos de um século pura. Mesmo as fivelas dos cintos c a sola não lhe deram filhos foram mortas e sepul-
após a morte do primeiro imperador. Fala- dos sapatos dos soldados ajoelhados fo tadas com ele. Diz-se lambem que os artífi-
va de jóias raras e de um mapa dos rios da ram meticulosamente reproduzidas. ces que decoraram os túmulos foram em
China cujos cursos eram feitos de mercú- paredados no sou interior para que não
rio Mas Sima Qian nunca mencionou o Armas roubadas pudessem revelar os seus segredos.
exército de terracota, que foi descoberto Os soldados estavam armados com espa- Os arqueólogos que vierem a entrar no
em 1974, quando se abriam uns poços. das de bronze, lanças e arcos e flechas. Mas túmulo terão de proceder com cuidado:
São os pormenores deste exército que o pouco depois do enterro, houve uma revo- Qin Shi Huang deixou instruções para que
tornam tão precioso. Os soldados não fo- lução na China e os rebeldes arrombaram nele fossem instaladas bestas mecânicas,
ram feitos em série a partir de moldes; cada a cripta para roubar as armas. preparadas para matar os ladrões que se
um deles foi moldado individualmente em Todos os soldados em pé estavam fixos aproximem da sua pessoa sagrada.
barro local. As esculturas traduzem um ní- a bases de barro que assentavam no chão
vel de perícia que os peritos julgavam muito ladrilhado da cripta, listavam dispostos
para além da capacidade dos artífices da em formação de batalha, com 600 cavalos
dinastia Qin. Os homens foram construí- de barro e 100 carros de combate de ma Como é que
Oficial de infantaria. Cada figura de terracota é única, retratando possivelmente um rncrn os Incas talhavam
bro do exército do imperador. Parecem todas extraordinariamente reais, com feições, cabelo
e barba de aspecto natural e dobras nos trajes, que pendem como tecido. os grandes blocos
de pedra para
que se ajustassem
perfeitamente?
Quando um terramoto abalou a cidade de
Cuzco, no Sul do Peru, em 21 de Maio de
1950, aquela antiga povoação no coração
dos Andes ficou devastada. Mas as funda-
ções de pedra sem argamassa em que a
cidade assentava ficaram inladas. Eram as
paredes inferiores dos antigos templos e
palácios constmídos pelos Incas — os se-
nhores do Peru antes da conquista espa
nhola.
Tão inteligente e habilmente tinham os
Incas construído os muros - os grandes
blocos ajustavam-se em junções exactas
sem argamassa — que as suas estruturas
eram suficientemente pesadas para se
manterem firmes, mas suficientemente
flexíveis para aguentarem o choque, pelo
que ficaram incólumes.

Afeiçoando e ajustando as pedras


Em 1609, o historiador Garcilaso de La
Vega, natural do Peru, e cuja mãe era uma
princesa inca, escrevia que os Incas traba
Miavam a pedra batendo-a com "umas pe-
dras pretas" em vez de a cortarem.
Estas afirmações foram confirmadas pe
las experiências de Jean-Pierre Protzen,
professor de Arquitectura na Universidade
da Califórnia, que começou em 1982 a in-
vestigar este tipo de cantaria. Trabalhando
»
COMO FOI KKITO?

Baluartes do Diabo. Os conquistadores espanhóis pensaram que as muralhas da Fortale-


za de Sacsahuaman, perto de. Cuzco, eram obra do Diabo. Algumas das pedras pesaoam
cerca de 1001 e mediam 4.5 x 2,5 x 1,5 m.

numa antiga pedreira inca perlo de Cuzco, força para aparar as margens de cada ares-
conseguiu lavrar algumas pedras abando ta. Era necessário fazer isto antes de alisar a
nadas servindo-se de martelos de pedra face adjacente com o martelo grande para Perfeitamente afeiçoadas. Os blocos de
encontrados no local pedras como o evitar que a pedra lascasse nas arestas. pedra usados pelos Incas raramente eram
quart/.ito, não oriundas da pedreira, mas As junções impenetráveis obtinham-se quadrados ou de tamanho uniforme, mas
obviamente retiradas das margens de um através de pacientes afeiçoamentos e en- cada aresta ajustaixi se perfeitamente à da
rio próximo. saios até ficarem perfeitas. pedra adjacente. As protuberâncias e as
Protzen descobriu que os Incas utiliza- O bloco de cima tinha de ser colocado reentrâncias na base destinavam se prova
vam martelos de três tamanhos diferentes no lugar várias vezes até que o ajustamen- oeimente à manipulação das pedras durem
para lavrar e ajustar as pedras: martelos to fosse perfeito. Provavelmente, o pó origi te a construção Tinham dois feitios princi-
grandes, de 8 a 9 kg, para dar aos blocos a nado pelo martelar da pedra inferior servia pais: um para atar cordas, o outro para
sua forma geral; martelos de tamanho mé- de guia ao corte: o desenho nele deixado apoiar alavancas.
dio, com 2 a 5 kg, para alisar as faces, c pela superfície irregular da pedra de cima
martelos pequenos, com menos de 1 kg, mostrava os pontos onde era preciso cor- Protzen calculou que teriam sido neces-
para talhar as arestas. Protzen levou cerca tar mais aqueles em que o pó estivesse sários 2400 homens para puxar o bloco
de hora e meia para lavrar três faces e cinco comprimido. Os lados de cada pedra eram maior de Ollantaytambo pela rampa: ele
arestas de um bloco com 25x25x30 cm. cortados da mesma forma, por afeiçoa- pesa 138 t. 0 modo como os homens eram
0 martelo médio, de alisar, era seguro mento e comparação constantes. arreados ao bloco, conseguindo espaço
ao de leve nas duas mãos, a um ângulo de para puxar, pode nunca vir a ser conhecido.
15 a 20" da vertical, para tirar pequeninas O que as pedras não contam Pedras da pedreira de Rumigolga, a 'su-
lascas. Torcendo se os pulsos mesmo an- O processo utilizado pelos Incas para des doeste de Cuzco, eram talhadas na ori
tes do impacte, o ângulo era mais ou me- locar os enormes blocos de pedra até aos gem - podem ainda verse pedras num
nos duplicado, proporcionando um corte locais de construção, às vezes a quilóme antigo poço da pedreira. Não há indícios de
melhor. Depois de cada pancada, o marte- tros de distância, continua a ser um misté- que as pedras provenientes desta pedreira
lo ressaltava uns 15 a 25 cm, pelo que o rio. Alguns blocos apresentam vestígios de tenham sido arrastadas até ao local da cons-
trabalho não exigia grande esforço. terem sido arrastados, mas teria sido ne- trução. Se foram utilizados rolos e platafor-
O martelo mais pequeno — demasiada- cessário um grande número de homens mas de madeira, poucos traços deles nos
mente pequeno para ressaltar - linha de para os puxar pelas estreitas rampas de restam. Provavelmente, os blocos escorre-
ser bem apertado na mão e batido com acesso ainda visíveis nalguns locais. gavam livremente pelas encostas abaixo.

337
COMO FOI FEITO9

Stonehenge: a construção de um misterioso monumento


COMO KOI FEITO?

Durante mais de 800 anos, os habitantes henge —, como local para os seus rituais.
pré-históricos do Sul de Inglaterra usaram Ào longo desses oito séculos, construíram
aquele lugar da planície de Salisbúria, no dois taludes circulares de terra e ergueram
Wiltshire - hoje conhecido por Stone- dois círculos incompletos com pedras.
Mas, por volta de 2000 a. C, a tarefa mais
difícil estava ainda por fazer. Foi nessa altu-
ra que começaram a ser erigidas as maio-
res estruturas de Stonehenge — os cinco
trilitos dispostos em ferradura no centro
do círculo, cada um deles formado por
dois megálitos verticais com cerca de 6 m
de altura e 50 t, sobre os quais assenta um
terceiro, de 7 I.
Para erguerem o primeiro megálito, os
homens cavavam um buraco com 2,5 m
de fundo de um dos lados em declive, ser-
vindo-se de chifres de veado corno picare
tas e de omoplatas de boi como pás. A
seguir, arrastavam a pedra, de 50 t, até que
uma das extremidades ficasse pendente
sobre a parede inclinada da cova A outra
extremidade era erguida com o esforço de
dezenas de homens. Servindo-se de tron-
cos como alavanca, metiam-nos por baixo
da pedra para a apoiarem e servirem de
fulcro das alavancas. Gigante tombado. Um grande lintel tom-
À medida que se iam introduzindo mais bado jaz em frente do maior sarsen — com
troncos por baixo da pedra, esta ia levan 6,5 m de altura e pesando mais de 45 t.
tando, até deslizar sobre os troncos e es- Notam se bem as junções de caixa e espiga
corregar pelo lado inclinado da cova. A que uniam as duas pedras.
enorme pedra deve ter ressoado ao bater
com força tremenda no lado oposto da final. Devem ter sido precisos para a cons-
cova, revestido de estacas de madeira para trução da torre pelo menos 250 troncos
que não aluísse. com 6 m de comprimento.
Para puxar a pedra alé à vertical, usa-
vam-se cordas feitas de peles de animais e As três fases de Stonehenge
fibras vegetais — que não tinham resistên- Stonehenge foi construído em três fases
cia uniforme e se devem ter partido com distintas ao longo de um período de cerca
frequência, pelo que, para não cair nova- de 1700 anos. O Prof. Gerald Hawkins, que
mente até ao chão, a pedra era sustentada fez parte do Smithsonian Astrophysical
por suportes de madeira ajustados a "rodi- Observatory, Massachusetts, EUA, cal-
lhas" de corda atadas à volta da parte supe- culou que, na sua totalidade, o monumento
rior da pedra. Logo que a pedra se encon- deve ter levado cerca de 1 500 000 dias de
trava na vertical, os homens calcavam ter- trabalho a construir, com um efectivo que
ra, troncos e pedras cm torno da base. Os chegou a atingir cerca de 1000 homens.
pedreiros deixavam pequenas protube- A primeira etapa, que começou por vol-
râncias nos topos achatados destes pilares. ta de 2750 a. C, quase 200 anos antes de os
Estas eram destinadas a encaixar nos bura- Egípcios iniciarem os trabalhos da Grande
cos cavados no lintel (a pedra transversal), Pirâmide, consiste num círculo de uns
a fim de criar uma junção de caixa e espiga. 115 m de diâmetro formado por um talude
Levantar cada lintel de 71 a uma altura de baixo, exterior, que rodeia um fosso, den-
cerca de ti m para o colocar sobre os dois tro do qual existe outro talude de cerca de
pilares foi provavelmente a parte mais peri- 1,80 m de altura. No talude interior, os bre-
gosa e difícil da construção de Stonehen tões da Idade da Pedra cavaram 5fi covas a
ge. O mais natural é cada lintel ter sido er- intervalos iguais, as chamadas Covas de
guido sobre uma cama de troncos, levan- Aubrey, em memória do antiquário seis-
tando-se alternadamente cada extremida- centista John Aubrey, que primeiro as ob-
de por meio de alavancas e metendo-se- servou. Ninguém sabe para que serviam.
-Ihe por baixo mais troncos. Construía-se Há urna entrada a nordeste do círculo, e
assim uma torre de madeira sob o lintel até no seu exterior ergue-se um enorme bloco
que este ficasse ao nível das pedras verti de arenito com 5 m de a ara, conhecido
cais e pudesse ser colocado na sua posição hoje por Heel Stone (Pedra do Calcanhar).
Do centro do círculo pode verse o Sol ele-
Vista aérea. Visto do ar. debaixo de neve, o var-se sobre ele no solstício de Verão.
desenho de Stonehenge surge com nitidez. A segunda fase da construção iniciou-se
Cercando as pedras, vêem-se os taludes e o cerca de 2100 a. C. e foi levada a cabo pelo
fosso. Por trás fica a Heel Stone e a Avenida, Povo dos Topos, assim chamado devido à
cortada pela estrada. forma das suas cerâmicas. Ergueram 80

:;:-;; >
COMO FOI FEITO?

grandes pedras azuladas, conhecidas que pode ler se afundado durante o trajec- por homens. O Prof. Hawkins calcula que
pelas pedras azuis, formando dois anéis to por rio ate ao mar. lerão sido precisos 800 homens para rebo-
incompletos no centro do monumento. A Altar Stone (Pedra do Altar), verde-pá- car um sarsen de 5 t e mais 200 para abrir
Construíram igualmente uma estrada lar lida e quebrada, hoje caída no meio dos caminho e deslocar continuamente os pe-
ga, a Avenida, que se dirige para o rio Avon, Irílilos centrais, veio das costas de Milford sados troncos de carvalho da parte de trás
a nordeste, a cerca de 3 km de distância. Haven, provavelmente também por água. da pedra para a frente.
As pedras azuis vieram dos montes Pre- A terceira fase, que durou aproximada- Os sarsens verticais foram talhados com
seli, no Sudoeste do País de Gales, a 209 km mente de 2000 a 1100 a. C, foi realizada por uma pequena convexidade no meio para
de distância, e provavelmente fizeram a povos dos inícios da Idade do Bronze. Re- parecerem direitos quando vislos de baixo.
maior parle do percurso por água — colo- moveram o círculo das pedras azuis e erigi O círculo de sarsens — com um diâmetro
cadas sobre jangadas em Milford Haven e ram um anel de cerca de 30 pilares de are- de 30 m é tão perfeito que o cimo da
enviadas pelo estuário do rio Sevem. Apro nito (com o peso médio de 30 I), ligados coroa está perfeitamente nivelado. Os lin
veitando os cursos de água, só era necessá- por lintéis de pedra. A altura do anel é de téis foram cortados cm curva para forma
rio fazer por terra um curto percurso, de 5 m, e no seu interior ergueram os cinco rem um círculo quando justapostos.
Amesbury até Stonehenge. trílitos, ainda maiores. Finalmente, voltaram As pedras foram talhadas lascando a sua
Esta teoria foi apoiada em 1988, quando a erguer as pedras azuis em dois grupos. superfície com outras pedras. Para partir
se descobriu um bloco de pedra azul no Os arenitos, ou sarsens, vieram dos pedaços maiores, as pedras foram prova
leito do rio Daugleddau, em Llangwn, no Marlborough Downs, a 32 km de distância. velmente aquecidas ao longo de linhas cui-
Dyfed. E de tamanho semelhante ao usado Devem ter sido transportados em platafor- dadosamente marcadas, deitando-se lhes
em Stonehenge, e a sua posição sugere mas sobre troncos de carvalho puxadas por cima água fria e depois perculindo-as.

Gigante em pé. As maiores estruturas de Stonehenge, os trílitos (em


baixo), erguem-se no centro do círculo. Começaram por ser cinco,
medindo o mais alto 6 m. Actualmente, estão de pé apenas três. Cada
trtlito é formado por duas enormes pedras verticais
que sustentam um lintel horizontal,
também de pedra. \,

>i. T*-"^ , .

Movimentando as enormes pedras


Para erguer os trílitos gigantes, escaoavam-
-se coixis fundas no solo gredOSO. Depois,
enterrava-se urna fiada de escoras para evi-
tar o aluimento das terras. Em seguida, as
pedras eram leixmtadas por meio de alavan-
cas e cordas, até deslizarem para dentro das
COVOS. Homens puxavam as pedras a prumo
por meio de cordas. Os lintéis de pedra eram
levantados com alavancas sobre camadas
de troncos. Finalmente, os lintéis eram colo
cados na sua posição definitiva.

340
COMO FOI FEITO?

Vestígios antigos: como os cientistas descobrem a sua idade


Só desde os últimos 50 anos é que os ar- massas diferentes; cada tipo de átomos é pela relação entre os átomos de C-14 e os
queólogos dispõem de meios seguros chamado um isótopo. O carbono é quase de C-12.
para datar os adiados que utilizam no es- todo formado por átomos com massa 12, Para contar os átomos, aquece-se num
tudo da história dos povos antigos. Desde mas contem também um isótopo radioac forno uma pequena amostra dos restos
1955, o principal processo de datação dos tivo de massa 14 o carhono-14, ou C-14. para a converter em gás dióxido de carbo-
restos orgânicos, como o osso, as conchas As plantas e os animais absorvem dióxi no. O gás é passado por uma máquina de-
e as plantas, tem sido o do radiocarbono, do de carbono do ar enquanto vivem, à nominada espectómetro de massa, na
desenvolvido pelo físico americano Wil- razão de um átomo de C-14 por cada mi- qual um feixe de electrões ioniza os áto-
lard F. Libby, Prémio Nobel da Química lhão de milhões de C-12. Quando morrem, mos - isto é, converte-os em iões (áto-
em 1960. os seus átomos de C-14 vão-se desintegran- mos electricamente carregados). Os iões
Radiocarbono é outra designação de do, mas os de C-12 não. Como o ritmo de percorrem uma série de campos magnéti-
um isótopo radioactivo do elemento car- desintegração do C-14 é conhecido e não é cos, o que os separa segundo a razão entre
bono, presente em lodos os organismos afectado por factores externos, a idade dos a sua carga e a sua massa atómica, c os
vivos. Cada elemento é constituído por restos pode ser calculada pela contagem isótopos C-14 são dirigidos para uma placa
uma pequena variedade de átomos com do número total de átomos de carbono e detectora onde são contados.

HISTÓRIA POR BAIXO DAS RUAS DE LONDRES


Este corte imaginário mostra os níveis de construções que têm pOSte (II) significa que aí pode ter existido uma construção em
sido encontrados em Londres. E um exemplo da datação pelo madeira Uma fossa do século xm (12) está coberta por uma casa
método da estratificação desde o saibro (I) e argila (2) até ao do século xv com parede (13) e chão (14) de calcário. Um enchi-
pavimento do século xix (26). Os vestígios humanos mais antigos mento superficial do século xvi (15) é cortado por um alinhamen-
são as covas do século i (3 e 4) cavadas para extracção de argila to de pedras calcárias (16), com um pavimento do século xvn (17) e
para construção. Restos romanos do século i são o esgoto (5), a resíduos do Grande Incêndio de 1666 (18) por cima. Restos dos
parede (6) e o pavimento de ladrilho (7) coberto por uma camada séculos xvn e xvm são pedras de calçada (19), a pilha de tijolos (20)
de saibro do século n (8) e resíduos queimados (9) denunciando e o poço (21). Construtores do século xix acres-
um fogo. O vestígio seguinte de construção é uma centaram um pavimento (22). o dreno
superfície medieval (10). mas um buraco de (23), a fundação (24) e a parede (25). i
(24)

I
;1
4

.^

341
COMO KOI FEITO:»

DATAÇÃO DE MADEIRA PELA LEITURA DOS PADRÕES DOS ANÉIS DE CRESCIMENTO DAS ÁRVORES

As datas dos anéis foram definidas


como 1444.1445 e 1475. ao
Vèem-se, de perfil, compararem-se as tábuas com
duas tábuas de um padráo-çjuia de árvores da região
soalho tiradas
da mesma casa

Anel estreito de Anel largo de Juntas, as tábuas


uma época de uma época de mostram anéis
fraco crescimento bom crescimento de crescimento
concordantes

O calendário do carbono radioactivo do que nos métodos anteriores de datação mente. Agora, os cientistas dinamarque-
0 tempo necessário para metade dos áto- pelo carbono. ses inventaram um scanner, semelhante
mos de uma amostra de isótopo radioacti- A espectrometria de massa acelerada ao olho eléctrico que lê os códigos de
vo se desintegrar chama-se a semivida des- foi utilizada em 1988 para datar o Santo barras, para contar os anéis. A informa
se isótopo. Sudário, relíquia guardada na Catedral de ção fica armazenada num computador e
O carbono-14 tem uma semivida de Turim, Itália, e que se pensava ser o lençol é analisada automaticamente. Enquanto
5700 anos. Após duas semividas (c. de em que Cristo fora embrulhado após a um investigador conseguia estudar três
II 400), resta apenas um quarto do C—14, e crucificação. O pano apresenta de am- secções num dia, o scanner lê 30 amos-
depois de três (c. de 17 100 anos), apenas bos os lados uma impressão débil - quase tras.
um oitavo. A detecção de quantidades como um negativo fotográfico — de um
cada vez menores torna se difícil, por isso homem de barba e cabelo comprido com Datação pela formação de gás
a datação pelo radiocarbono não pode ferimentos semelhantes aos sofridos por A formação de certas rochas com mais de
ser usada para restos com muito mais de Cristo. Três fragmentos do sudário foram 100 000 anos pode ser datada pela medi
35 000 anos. testados independentemente pelo radio- ção da quantidade do gás raro e radioacti-
Uma criação recente é o espectrómetro carbono por laboratórios em Inglaterra, vo árgon que elas contêm. Este método,
de massa acelerada, que separa e detecta nos EUA e na Suíça. Todos eles fornece- conhecido por datação pelo potássio-ár-
partículas atómicas de massas diferentes. ram datas entre os anos 1260 e 1390 da gon, foi utilizado para datar a relíquia hu-
Consegue estabelecer datas com maior ri- nossa era, provando que o lençol tinha manóide mais antiga que se conhece, um
gor através de uma amostra muito menor origem medieval e não podia ter sido o de maxilar com 5,5 milhões de anos encon-
Cristo. trado perto do lago Baringo, no Quénia.
em 1984.
A VIDA NA ANTIGUIDADE Datação pelos anéis das árvores O potássio é o sétimo elemento mais
Uma lareira encontrada num abrigo A idade de uma árvore pode calcular-se abundante na crusta terrestre, e o seu isó
num penhasco de uma zona remota pela contagem dos seus anéis de cresci- topo radioactivo (K-40) transforma se no
do Nordeste Brasileiro por arqueólo- mento — um por cada ano de vida —, que gás raio árgon-40 (AMO) quando se desin-
gos franceses em Junho de 1986 for- variam de espessura conforme o tempo e tegra. Em rochas formadas por lava em fu-
neceu carvão que foi analisado pelo o clima no ano respectivo: anéis estreitos, são, o gás produzido antes de a lava solidifi-
radiocarbono. O exame revelou que por exemplo, indicam crescimento restri- car ter-se-á escapado: qualquer quantida-
ali viviam pessoas há uns 32 000 anos, to em condições muito secas ou frias. Os de do gás capturado na estrutura rochosa
ou seja 21 000 anos antes da data acei- padrões de crescimento são semelhantes acumulou-se depois da sua formação. A
te para os primeiros povos do Novo na mesma espécie de árvores existentes semivida do K-40 é de cerca de 1300 mi-
Mundo. numa extensão relativamente grande, e lhões de anos, e assim a comparação da
Testes por radiocarbono num bar- têm sido compilados padrões-guia para di- quantidade de K-40 com a de Ar-40 captu-
co de 1,80 m encontrado em Kors- versas áreas que incluem árvores derruba rado estabelece a data de formação da ro-
havn, Dinamarca, em Abril de 1987, das em datas conhecidas. Este processo cha, assim como a de quaisquer fósseis
indicaram que ele tinha 7000 anos - denomina-se dendrocronologia e pode nela contidos.
o mais antigo barco da Idade da Pedra ser utilizado para datar madeiras antigas,
descoberto na Dinamarca. desde que se possa obter uma amostra su- Datação pela emissão de luz
Turfa retirada da base de uma pega- ficientemente grande das mesmas. Os As rochas, expostas à radiação natural, vão
da pré-histórica encontrada no estuá- anéis de crescimento são comparados acumulando pequenos defeitos energéti-
rio do Severn, em Inglaterra, em De- com o padrão-guia para se determinar o cos na sua rede cristalina. Quando aqueci-
zembro de 1986, foi analisada por ra- ano do derrube. das, a energia acumulada nesses defeitos é
diocarbono. Descobriu-se que a pe- Até 1989, a única maneira de contar o libertada sob a forma de luz — é a chama-
gada fora feita há 7000 anos. número de anéis de crescimento e fazer da termoluminescência. A quantidade de
as respectivas comparações era manual- luz libertada é uma medida da dose de ra-

342
COMO KOI FEITO?

Lendo o passado em grãos de pólen


Grãos microscópicos de pólen têm ajuda- uma amostra interior de um depósito or-
do os cientistas a reconstituírem o passado. gânico, como uma turfeira. Depois tiram-
Esses grãos minúsculos podem explicar o -se amostras a intervalos regulares, no sen-
modo como o homem alterou o ambiente tido da profundidade do depósito, e da-
e o clima variava há milhares de anos. tam-se pelo carbono radioactivo.
Um carvalho liberta anualmente mais As amostras examinadas vão dos 20 000
de 100 milhões de grãos de pólen, e a vul- grãos por centímetro cúbico para os depó-
Estas tábuas de soalho de uma gar azeda, que cresce nos caminhos, o nú- sitos efectuados há 11 000 anos até aos
casa do Yorkshire do século vi mero incrível de 400 milhões. 650 000 grãos por centímetro cúbico nos
foram datadas pela comparação A maior parte do pólen transportado mais recentes, de alguns milhares de anos.
entre os padrões de crescimento de pelo vento acaba no chão e apodrece no Destas enormes quantidades são anali-
árvores inglesas. Técnicas modernas, solo em contacto com o oxigénio. Mas ou- sadas amostras e calculam-se as propor-
computorizadas, utilizam um scanner para tra parte cai em lagos ou pântanos, onde é ções correspondentes às diversas plantas.
contar os anéis de crescimento, o que signi- preservada porque os depósitos de turfa e Os cientistas podem, por exemplo, ver a
fica que se podem fazer testes rápidos para os sedimentos no fundo dos lagos não forma corno as plantas colonizaram as ter-
datar as madeiras encontradas em antigos contêm oxigénio. Alguns desses grãos ras setentrionais a seguir à última época
edifícios ou estações arqueológicas. conservam-se por muitos milhares de glaciaria, há cerca de 12 000 anos. LI ma das
anos e fossilizam-se. As novas camadas de primeiras árvores encontradas foi o junípe
diação sorrida desde a formação da rocha sedimentos que se vão formando captu- ro, que se dá em climas frios. A medida que
e, portanto, da sua idade. ram o pólen das plantas que existiam ao o clima aqueceu, aquele foi substituído
Esta técnica aplica se especialmente tempo de sua formação. Este pólen fossili- pelo vidoeiro, depois pelo carvalho e pelo
aos objectos de cerâmica. A argila, ao ser zado fornece um "livro" que permite aos ulmeiro. Ema mudança para um clima
cozida para fabricação, por exemplo, de paleobotânicos — cientistas que estudam mais húmido trouxe consigo o amieiro.
um vaso cerâmico, refaz a sua estrutura a vida vegetal antiga — reconstituírem um É também possível ver como os povos
cristalina: o relógio é posto no zero. Quan panorama da vegetação, e portanto do cli influenciaram a vegetação ao cortarem fio
do o vaso é agora reaquecido a temperatu- ma, dos últimos milhares de anos. restas para fazer sementeiras. Análises de
ras de 300 a 600"C, liberta a quantidade de O diâmetro dos grãos de pólen varia en- pólen realizadas em 1987 sobre sedimen
luz correspondente à dose de radiação que tre os 15 e os 50 milésimos de milímetro, e tos do mar da Galileia (lago Kinnereth), no
recebeu desde a sua cozedura. Os cientis- as suas estruturas individuais diferem de Norte de Israel, revelaram que há cerca de
tas podem calcular a idade do vaso com planta para planta e podem ser identifica- 5000 anos foram desbastadas florestas de
uma margem de erro de cerca de 10%. A das ao microscópio. As rijas paredes exte- carvalhos para dar lugar às oliveiras, culti-
termoluminescência pode ser utilizada na riores dos grãos são preservadas porque vadas pelo seu fruto e pelo azeite. No sé-
peritagem de antiguidades falsas — cerâ- contêm uma proteína resistente à pulre culo IH, o número de oliveiras declinou
mica ou bronzes (que tenham um núcleo facção. O pólen fóssil é contado retirando quando os Judeus deixaram a Palestina.
argiloso).
POLENES VIVOS E FOSSILIZADOS
Datação pelo campo magnético Cada planta produz grãos de pólen de tamanho e feitio
A agulha da bússola aponta para o norte distintos, que podem fossilizar-se fornecendo elementos
magnético, e não para o norte verdadei- sobre a vegetação e o clima de uma região na Antiguidade.
ro. Mas o campo magnético da Terra
muda de tempos a tempos, e estas mu-
danças não apresentam um esquema
fixo. Por exemplo, o desvio magnético de
há 1500 anos era 50% superior ao de hoje.
Há 5500 anos era apenas cerca de 40%
superior.
As partículas de óxido de ferro nas ro-
chas ígneas e nas argilas estão alinhadas
com o campo magnético da Tena, e, quan-
do a rocha solidifica ou a argila é aquecida
num forno, as partículas fixam-se na orien-
tação que tinham na altura do aquecimen-
to. Os cientistas medem as direcções com
um magnetómetro. Isto levou à técnica de
datação denominada magnetismo ter-
morremanescente. O campo magnético
de uma rocha pode então ser comparado Estes grãos de pólen fossiliza-
com uma tabela em que estão datadas as do do carvalho vulgar (em
alterações do campo magnético da Terra. cima) são anteriores a 3000 a.
A tabela foi compilada a partir de compara- C, quando as florestas de car
ções com jazidas de data conhecida e da valhos da Palestina foram
datação das rochas pelo método do potás- desbastadas para dar lugar
sio-árgon. Phleum pratense Carvalho vulgar às oliveiras.

343
COMO FOI FRITO''

Como Aníbal atravessou os Alpes com os seus elefantes


Ao conduzir um exército com 37 elefantes mais brilhante campanha da II Guerra Pú Ficaram para trás cerca de 7000 homens.
através dos Alpes para invadir Roma há nica, parle da prolongada luta pela supre- O primeiro verdadeiro obstáculo no ca-
2200 anos, Aníbal criou uma fama de ou- macia entre Roma e Cartago. Roma já ani- minho de Aníbal era o rio Ródano. Os his-
sadia que ainda hoje perdura. quilara a armada cartaginesa, pelo que toriadores não estão de acordo sobre o lo-
Levaram 15 dias a percorrer 212 km atra- uma invasão por mar eslava fora de quês cal da travessia, mas o historiador grego
vés de terrenos difíceis e montes nevados tão. E Aníbal não podia também tomar o 1'olíbio sugere, à volta de 150 a. C, que Aní-
— era Outubro e o Inverno aproximava caminho mais fácil, ao longo da costa, pois bal terá escolhido um local entre Four-
-se , ao mesmo tempo que eram hostili- onde agora c Marselha existia uma colónia ques, na margem oeste, e Aries, na mar-
zados por tribos inimigas. A sua velocida grega aliada de Roma. gem leste, onde o rio é pouco profundo e
de média de 14 km por dia numa subida até Foi em Maio de 218 a. C. que Aníbal, com vagaroso, embora largo - cerca de 800 m.
mais de 2750 m foi uma proeza notável. 29 anos, deixou Cartagena, na cosia sudes Com a tribo gálica dos Volcas concentrada
Mas a Iravcssia dos Alpes foi apenas te de F.spanha. Iniciou a sua marcha com na margem oriental para lhe impedir a traves
uma parte da marcha de 2400 km que perto de GO 000 homens, mas parte deste sia, Aníbal enviou uma pequena força de
aquele exército fez durante cinco meses exército rebelou-se ao chegar aos Pire infantaria, sob o comando de seu inuáo Ha-
para atacar Roma pela retaguarda — a néus, apercebendo se do que a esperava. não, para atravessar o rio mais acima

A rota dos Alpes. Aníbal conduziu os seus Uns 20 000 homens rncnreram devido ao frio.
homens através de um dos mais atios passos aos desabamentos de terras e aos ataques
dos Alpes, o Cot de la Traversette. para atacar tribais, mas os elefantes so-
Roma, ao fim de uma marcha de cinco meses breviveram
desde Cartagena, em
Espanha.

Turim
FRANÇA

Cot de la Traversette.
Ponto mais alto da marcha

Alóbrogos Col de Grirrione.


O exército entra nos Alpes

Avin
Nice
O exército atravessa o Ródano.
Batalha com os Volcas

'*tíg_
C? O'

MAR MEDITERRÂNEO

344
COMO FOI FEITO?

e flanquear o inimigo. Em seguida,


Aníbal requisitou barcos e mandou PORQUE DECIDIU ANÍBAL LEVAR ELEFANTES?
construir jangadas, e quando a primeira Os elefantes eram utilizados chega a comer MO kg de vegetação por
vaga dos seus homens chegou ao fim da na guerra principalmente dia — era uma desvantagem. Com o
travessia, os Volcas, apanhados entre duas como força de choque — não exército sempre a subir e a neve a tomar
forças, dispersaram e fugiram. só para assustar os inimigos, impossível a pastagem, os elefantes so
Aníbal voltou-se então para a tarefa mas lambem, como os tan- freram gravemente com a fome.
de fazer atravessar o grosso do seu ques, para os afastar. Além Os elefantes de Aníbal não eram mui-
exército. Para os elefantes, os Carta- disso, podiam transportar no to grandes, medindo provavelmente
gineses construíram esporões que dorso pequenas torres de uns 2,5 m de altura no garrote. Aníbal
penetravam 60 m no rio e cobriram- onde os atiradores arremes- capturou-OS nos contrafortes do Atlas,
-nos com terra. Depois, amarraram nas savam lanças ou setas — em- no Norte de África, onde este animal, a
extremidades dos esporões grandes jan- bora não haja provas de que os partir de então, se extinguiu.
gadas lambem cobertas de lerra para enga- elefanles de Aníbal as carregassem. Nas Os elefanles eram muito apreciados
nar os elefantes. Primeiro, os elefantes fê- longas marchas, os elefantes revelavam- pelos Cartagineses, como se torna evi-
meas foram conduzidos até às jangadas, c -se úteis animais de carga, com uma ca dente em algumas das suas moedas de
os machos scguiram-nos. Alguns animais pacidade 10 vezes superior à dos cava- prata, que os apresentam no verso. Os
entraram em pânico e caíram à água, mas o los. Contudo, a quantidade de alimentos anversos representavam deuses e perso-
rio era suficientemente raso para que pu- de que necessitavam — um elefante nagens importantes, incluindo Aníbal.
dessem chegar até à margem.
COMO FOI FEITO?

O exército marchou para norte ao longo


da margem oriental do Ródano até ao rio
Drôme, e depois para leste até aos contra-
fortes dos Alpes. Não se conhece a sua rota
Pão e cerveja
exacta através dos Alpes, mas indicações
de antigos escritores sugerem que ela se
na Idade da Pedra
iniciou no Col de Grimone e prosseguiu
através do Col de la Traversette até ao vale Tanto o pão como a cerveja provêm de
do Pó, em Itália. cereais. Na Idade da Pedra, o pão era feito
Logo no início da travessia, o exército de trigo e cevada bravos. O fabrico de cer-
teve de repelir um ataque da tribo gálica veja pode ter surgido como subproduto
dos Alóbrogos, tendo perdido muitos ho- deste primitivo fabrico do pão.
mens e cavalos. Nesse mesmo dia, Aníbal Almofarizes, pilões e mós descobertos Cozedura e fermentação. Figwus de um
capturou uma cidade onde conseguiu al- em estações arqueológicas indicam que túmulo egípcio mostram a cozedura do pão
guns cavalos e se abasteceu. Para comple- os povos do Médio Oriente fabricavam v u fermentação da cerveja há 3000 anos.
tar a sua alimentação, os soldados tinham com gráo-bravo certo tipo de pão não fer-
de viver de produtos da terra, e à medida mentado ou papas antes de saberem fazer que demonstra que as plantas eram ceifa-
que subiam c a neve cobria as zonas de cerâmica. das em terreno previamente limpo, e não
pastagem, a alimentação dos animais tor- No grão-bravo, não é fácil separar a se- no meio da vegetação natural, onde a co-
nou-se um problema. mente comestível do folhelho — a sua pelí- bertura vegetal do solo não deixa misturar
Muitas vezes, tiveram de viajar ao lon- cula externa. Os arqueólogos pensam que as areias.
go de estreitos caminhos, com precipí- os povos primitivos aprenderam a separar Os Sumérios, que viveram no Sul da Me-
cios íngremes de um dos lados. Durante O folhelho crestando o grão sobre pedras sopotâmia há uns 5000 anos, utilizavam
a caminhada, houve escaramuças com quentes enquanto o malhavam. A mistura cerca de 40% da sua colheita de cereais
tribos hostis. Em certo lugar (provável do grão crestado com água teria produzi- para fabricar cerveja com oito sabores dife-
mente no Combe de Queyras), os ata- do uma papa comestível. As sementes não rentes. Por volta de 1750 a. C, o rei Hamurá-
cantes fizeram rolar do alto pesadas pe- queimadas poderão ter sido humedecidas bi, da Babilónia, na Mesopotâmia Meridio-
dras, e no sétimo dia Aníbal teve de esta- e deixadas germinar como rebentos de fei- nal, publicou leis que regulavam a qualida-
cionar parte das suas forças num pene- jão. Os enzimas naturais poderão ter fer de da cerveja à venda nas tabernas.
do nu sobranceiro ao desfiladeiro a fim mentado o líquido proveniente desta ger- Os antigos egípcios foram o primeiro
de proteger os animais de carga, que es- minação, transformando-o em cerveja. povo que se sabe ter fabricado pão leveda-
corregavam durante a noite. O frio e os Os primeiros povos que se sabe terem do por volta de 2600 a. C. Usavam farinha
desabamentos de terras causaram mais cultivado os seus próprios cereais foram os de trigo para manterem uma provisão de
vítimas do que os ataques, e muitos sol- Nalufenses, que viveram em redor do uma massa azeda, fermentada, que era
dados e animais de carga escorregaram monte Carmelo, no Norte de Israel actual. acrescentada à massa do pão, a fim de a
para os precipícios. As investigações realizadas em 1988 revela- fazer levedar. Este fermento pode ter sido
O exército atingiu o cirno ao nono dia, ram que eles se serviam de foices de sílex descoberto por acaso, quando fermentos
depois de se ter perdido diversas vezes, e para segar o trigo e a cevada que cultiva- transportados pelo vento penetraram na
descansou durante dois dias antes de des- vam já há 13 000 anos. Foram encontradas massa que tinha sido amassada e posta a
cer. Também na descida surgiram proble- foices com riscos provocados por areias, o descansar antes da cozedura.
mas. No décimo segundo dia, um desaba-
mento de terras bloqueou completamen- Técnica antiga. Estes modelos de padei-
te o caminho, e este teve de ser desimpedi- ros egípcios datam de cerca de 1900 a. C.
do para que os elefantes e os cavalos pu- Nessa altura, já fabrica-
dessem prosseguir. oam pão levedado
No décimo quinto dia, os Cartagine- há 700 anos.
ses chegaram à planície do rio Pó. Aní-
bal perdera pelo menos 20 000 homens,
mas tinha ainda todos os seus elefantes
(apenas um não morreria depois, du-
rante o Inverno rigoroso). E derrotou o
exército romano que, comandado por
Cipião, se tinha concentrado nas planí-
cies junto ao rio Ticino.
Aníbal continuou a combater os Ro-
manos cm Itália durante 15 anos, ven-
cendo três importantes batalhas e mui-
tas outras de menor importância mas.
embora contasse com muitos aliados
entre as tribos italianas, nunca teve tro-
pas suficientes para quebrar o poderio
de Roma. Em 203 a. C, foi chamado de
regresso a Cartago, que estava a ser ata-
cada por Cipião. Cartago foi destruída
por Roma cerca de 50 anos depois. Nes
sa altura, já Aníbal morrera - por suas
próprias mãos, em 183 a. C, para evitar
ser capturado.
Desenhos
com pedras
Só do ar é visível esle desenho de um maca-
co no deserto da costa pacífica do Peru.
Abrange uma área de quase 2 ha, e uma
das mãos tem mais de 12 m.
O macaco é um de entre muitos dese
nhos feitos no deserto pelo povo nazea en-
tre 3000 e 4500 a. C. As linhas de Nazca,
como são chamadas, apenas foram desco-
bertas em 1926, e o seu conjunto total — que
se estende por 500 km-' — só foi visível em
1941, quando a Força Aérea Peruana foto-
grafou o deserto.
••".'VVS
Para fazerem os desenhos, os Nazeas limi-
taram se a deslocar as pedras castanhas do
deserto, expondo o subsolo amarelo, e
empilharam-nas de lado em montículos.
Por que razão o fizeram e como consegui-
ram estes resultados ninguém sabe.

Obras de arte à luz da candeia na Idade da Pedra


Quando os artistas da Idade da Pedra, de luzentes das candeias. Têm sido encontra- de musgo ou líquenes secos. Na gruta de
há 12 000 a 30 000 anos atrás, desenha das algumas destas candeias, e as paredes, Lascaux, perto de Montignac, no Sudoeste
vam nas paredes, tinham de trabalhar e até as pinturas, mostram traços de fumo de Krança, usavam-se também como torci-
numa escuridão quase total, mesmo du- provenientes de muitas mais. das raminhos de junípero.
rante o dia. Algumas das pinturas ficam As candeias são pedras chatas ou ca- Para pintar, os artistas inspiravam-se
muito distanciadas da luz do dia: a sala lhaus, com concavidades para o combus- principalmente nos animais de que de-
grande da gruta de Niaux, em Ariège, Fran- tível, feito de gordura animal, e uma torcida pendiam para a sua alimentação e maté-
ça, fica a mais de 800 m da entrada. rias-primas. Muitas das pintu-
Para pintar, os artistas das cavernas pos- ras são contornos desenhados
suíam apenas a luz fraca de chamas treme- numa cor única, outras são pin-
tadas a cheio Os contornos po-
Instrumentos e tinias. Um instrumento diam ser gravados com sílexes
de gravação, com ocre endurecido ainda aguçados ou pintados a preto.
agurrudo à aresta, colocado entre dois cin As cores eram obtidas a par-
zéis de escultor e alguns pedcjços de ocre e tir de pigmentos naturais,
manganês. Estes artefactos foram usados como o óxido de ferro e ocre
por artistas da Idade da Pedra em França.
Gama de cores. Estes 12 pig-
mentos, que vão do amarelo fxili
do ao negro, são semelhantes aos
usados em Lascaux e consistem
> em minerais pulverizados.

Luz primitiva. Candeias de pedra, como


esta, alumiavam os pintores da Idade da
Pedra O combustível era sebo de animal.

347
COMO FOI FEITO?

vermelho e amarelo (para os vermelhos e


amarelos), o óxido de manganês (preto), a
hematite (caslanho-encarniçada) e o cau-
lino (branco). Em Lascaux, os vestígios
mostram que OS pintores moíam os mine
rais com pilões e almofarizes, misturando
depois as cores em paletas de pedra para
produzirem as diversas tonalidades. No
processo de mistura usavam-se materiais
como o carvão e o quartzo.
As tintas eram provavelmente misturadas
com gordura para ficarem à prova de água; as
de Lascaux foram misturadas com água da
gruta, rica em carbonato de cálcio, o que as
tornou duradouras. Eram aplicadas com
pincéis feitos de penas, pêlos de animais ou
paus e com almofadas de musgo.
Além de trabalharem com pouca luz
nas câmaras interiores e nos recantos pro-
fundos das grutas, muitos destes artistas
rupestres devem ter trabalhado de forma
muito incómoda. Algumas pinturas ficam
em recantos afastados com menos de 1 m
de altura, c para as executar o artista teria
que se acocorar desconfortavelmente. Ou
trás ficam a alturas que só podem ter sido
alcançadas com andaimes, que eram fei-
tos de madeira.

Almoços durante o trabalho


Numa parte da gruta de Lascaux, os ar-
queólogos descobriram vestígios de an-
daimes — alguns dos quais devem ter atin-
gido 5 m de altura. De ambos os lados de
uma passagem, vêem se na rocha buracos
com a profundidade de 10 cm à altura de
cerca de 2 m, que eram muito provavel-
mente apoios para uma plataforma. Isto
teria permitido que os artistas chegassem
ao tecto. I lá também vestígios de "almo-
ços durante o trabalho" — ossos de rena
espalhados pelo chão.

Grutas de Lascaux. Os artistas usaram as


paredes e o tecto da Sala dos Touros para as
suas pinturas de animais. Entre estes, con-
tam se um cavalo castanho (em cima), um
touro amarelo (à direita, em cima) e três
veados (à direita, em baixo).

•m
COMO FOI FEITO?

Jogos Romanos: os selvagens espectáculos do Coliseu


Do alvorecer ao anoitecer, o Coliseu de legiados — entidades oficiais, sacerdotes, rança de prémios em dinheiro. Mas mes-
Roma ressoava com o clamor da multidão vestais — sentavam-se no nível inferior (o mo os homens livres tinham de jurar sub-
que se divertia com os Jogos - espectá- podium) dos assentos, dispostos em de- missão durante o prazo dos seus contra-
culo de carnificina e derramamento de graus íngremes; os mais pobres, na última tos, concordando em ser "queimados
sangue que podia durar meses. O ponto fila. A arena tinha aproximadamente o ta- com fogo, agrilhoados com correntes, chi-
alto rios Jogos eram os munera, os comba- manho de um campo de futebol. coteados com varas e mortos pelo aço".
tes de gladiadores, em que homens arma- Havia escolas bem organizadas para
dos combatiam dois a dois - frequente- Animais na arena gladiadores. Os principiantes aprendiam a
mente até à morte. Mais de 2000 homens Leões, tigres, touros, ursos, elefantes e búfa- usar as armas e eram bem alimentados
podiam combater num único dia de jogos. los eram usados em combates ou em caça- com uma dieta especial para fortalecer os
Os Jogos nasceram como pequenos es- das na arena. Às vezes, eram atiçados contra músculos - a cevada, considerada saudá-
pectáculos organizados pelos nobres ro- homens, outras vezes entre si. Nas celebra- vel, era um alimento sempre presente.
manos, habitualmente para assinalar um ções da inauguração do Coliseu, em 80, fo- Cada gladiador era treinado a lutar com
funeral - o primeiro foi em 264 a. C. Acrc- ram mortos num só dia 5000 animais. determinadas armas. Os Samnitas usavam
ditava-se que as almas dos mortos podiam Eram guardados por baixo do anfitea- uma espada curta, um escudo grande e
ser apaziguadas pelo derramamento de tro, e as jaulas içadas até ao túnel da entra- oblongo, um elmo com viseira, uma cane-
sangue humano. Os jogos oficiais, organi- da por meio de rampas e guinchos. Uma leira na perna esquerda e uma manga de
zados pelos cônsules romanos, iniciaram- grade de metal com 4 m de altura em redor metal ou couro no braço direito. Os retiarii
-se em 105 a. C. da arena protegia os espectadores. (ou homens da rede) vestiam apenas uma
Os homens que combatiam os animais, túnica ou avental curtos c empunhavam
Monumento sinistro com arco e flecha, lança ou punhal, eram uma rede, um tridente e um punhal. O
O Coliseu, completado em 80 da nossa chamados bestiarii. Criminosos ou prisio- retiarius era habitualmente confrontado
era, é uma das mais belas edificações ria neiros eram por vezes atirados às feras sem com o secutor (perseguidor), que tinha
Roma antiga que ainda perduram. O gran- meios de defesa. um elmo e um escudo e estava armado
de anfiteatro de pedra, de quatro andares, Existia uma vasta actividade de captura com uma espada e um pau guarnecido de
comportava 50 000 espectadores. Os privi- de animais em todas as partes do império, chumbo, para afastar a rede com que o
e algumas espécies, como o elefante do retiarius tentava embaraçá-lo.
Morte no estádio. Satisfazendo a ânsia de Norte de Africa, exlinguiram-se. As vezes, lançava-se um mirmillo — ar-
sangue de dezenas de milhares de roma- mado como um secutor, mas com uma
nos, homens armados combatiam animais Os combatentes cimeira em forma de peixe no elmo -
selvagens (em baixo) ou lutavam entre si. Os gladiadores eram recrutados entre os contra um retiarius ou contra um trácio
Gladiadores como os Samnitas, protegidos escravos, criminosos e prisioneiros de armado de um pequeno escudo redondo
por escudos e elmos, dirigiam a sua força e guerra. Outros eram homens desespera e espada curva. Os bestiarii não eram con-
perícia nu manejo da espada contra as re dos ou falidos que se juntavam de livre von- siderados gladiadores.
des e as forquilhas de três dentes dos retiarii tade às suas fileiras durante um prazo acor- Na noite antes rio combate, servia-se aos
íein baixo, à direita). dado por uma soma contratada e na espe- gladiadores escalados para o dia seguinte

útim
/

350
COMO FOI FEITO?
1

Capacete protector
Alguns gladiadores
usavam elmos de
bronze como este,
decorado com
cenas do saque
de Tróia.

As ruínas do Coliseu. Completado em 80 pelo imperador Tito, o Coliseu ressoou du-


rante quatro séculos com o clamor de 50 000 espectadores 0 pavimento da arena
oval (87,5 x 54.8 mj já aluiu, deixando ver as passagens subterrâneas onde os ani-
mais e os prisioneiros eram guardados antes de serem içados em jaulas até ao
túnel de entrada para enfrentarem a morte.

um generoso banquete. Muitos passavam gaitas, cornetas e hidraulos [instru-


a noite — quiçá a derradeira - festejando mentos de sopro), começava o pri-
e bebendo. meiro combate — talvez samníta con-
Os gladiadores iam das casernas para o tra trácio ou mirmillo contra retiarius, ge-
anfiteatro em carros e entravam para a arena ralmente em combates singulares, mas às
por uma das 80 arcadas. Uns usavam elmos vezes em grupos.
trabalhados e capas cor de púrpura e pos- Enquanto a multidão gritava, encora-
suíam escravos para lhos transportar as ar jando ou escarnecendo, ou apostava nos
mas. Parando nopuluinar. onde se sentavam favoritos, os instrutores incitavam os seus
o imperador e a sua comitiva, estendiam o homens com palavras ou com chicotadas,
braço direito e entoavam: "Ave, César e impe- aplicadas pelos lorarii (flagcladores). Por
rador, os que vão morrer saúdam-te." vezes, os combatentes relutantes eram gar para cima ou o abanar de um lenço —
O programa iniciava-se em geral com aguilhoados com ferros em brasa. ou o votava à morte com o polegar para
combates entre animais ou caçadas. Antes Quando um gladiador era ferido, a mul- baixo. Mas era o imperador quem decidia
de começarem as lutas de gladiadores, as tidão gritava "Hoc habet!" ("Já apa- do destino do homem.
armas e o equipamento eram verificados nhou!"). Um gladiador desarmado, ferido Alguns combates eram antecipada-
por magistrados. Depois de combates de ou derrotado levantava um dedo da mão mente combinados como sendo até a
aquecimento com armas de madeira, os esquerda — ou o braço esquerdo se esti- morte e continuavam até que um dos luta-
lutadores para cada combate eram esco- vesse no solo —, apelando para o público, dores fosse morto. 0 vencido era arrastado
lhidos à sorte. A seguir, ao som de clarins, que lhe concedia misericórdia com o polé para o spoliarium (câmara mortuária) e,

I 351
COMO FOI FEITO?

BATALHAS NAVAIS A FINGIR


Quando foi construído, o Coliseu ti
nha na sua área subterrânea um siste-
Cerco a um castelo medieval
ma de águas com o qual se podia
inundar a arena, como cenário para As muralhas maciças dos caslelos medie gem descoberta de onde os intrusos po
uma naumachia — a representação vais constituíam formidáveis barreiras de- diam ser atacados de cima A porta estava
de um combate naval. O Coliseu foi fensivas. Antes de a pólvora entrar em uso em geral protegida por uma "porta sarra
usado para nuurnachiae pelo menos no Ocidente, no século xiv, sitiar um caste- cena" — pesada grade de ferro com bicos
duas vezes, mas posteriormente a lo era tarefa difícil e demorada. Quando o que podia ser baixada em frente daquela.
área subterrânea passou a ser usada tempo não constituía problema, a forma Se o castelo tinha fosso, havia uma pon-
para enjaular animais. mais simples de tomar um castelo era cer- te levadiça que podia ser levantada, for-
Os gladiadores eram treinados cá-lo e submeter a guarnição pela fome. mando não só uma outra barreira, mas
para combater tanto no mar como Mas as guarnições eram frequentemen- deixando um espaço entre atacantes e de-
em terra. O imperador Augusto man- te pequenas — 20 homens conseguiam fensores. Frequentemente, havia ainda
dou construir um e n o r m e lago defender um castelo de tamanho razoá- uma porta traseira — pequena saída de
para naumachiae na margem direita vel , pelo que as provisões podiam durar emergência que em Portugal se chamou
do rio Tibre em 2 a. C. O lago tinha muito tempo. Havendo água, o cerco po- "porta da traição". Era também utilizada
200 000 m- e era alimentado por um deria prolongar-se por meses e resultar dis como abertura de surtida para se fazerem
aqueduto de 32 km de extensão, des- pendioso - o exército sitiante, composto contra ataques.
de o lago Alsietina. Uma das primeiras em grande parte por mercenários, tinha de Os defensores que apareciam nas mu
naumachiae ali apresentadas repre- ser alimentado e pago. As alternativas ralhas eram alvo dos atiradores de arco e
sentava uma batalha entre os Atenien- eram o assalto ou o subterfúgio. besta, embora as ameias lhes dessem
ses e os Persas. Em 52, uma nauma- certa cobertura. A besta disparava virotes
chia organizada pelo imperador Cláu- lançamento de um assalto (também chamados quadrelos), tinha
dio envolveu 100 navios e 19 000 O castelo medieval típico tinha um grande maior alcance — mais de 275 m — e era
homens. pátio exterior rodeado por uma muralha mais fácil de usar, embora mais demora-
defensiva. Outra muralha cercava o pátio da porque tinha que ser recarregada me-
interior, mais pequeno. Até ao século xm o canicamente. Os archeiros precisavam
se ainda estivesse vivo, os serventes principal ponto forte era a torre de mena- de ser muito hábeis, mas eram mais rápi
matavam-no. No fim do dia, a lista dos gladia gem, situada no pátio interior. Alterações dos - um bom archeiro conseguia dis-
dores era marrada com P, V ou M, indicando feitas desde então no desenho dos castelos parar 12 setas por minuto até pelo menos
os que tinham perecido, os que tinham ven diminuíram gradualmente a importância 200 m e as vezes até quase ao dobro desta
eido e os missi (perdedores), a quem era da torre de menagem. O castelo era fre distância.
pemiitido viver até outro combate. quentemente construído sobre uma coli- Para abrir brechas nas muralhas, os ala
na ou um rochedo para ter vista sobrancei- cantes usavam máquinas de guerra. Estas
Breves dias de ouro e glória ra às redondezas e dificultar o assalto. Se armas de longo alcance tinham variadíssi-
Os gladiadores eram as estrelas da antiga possível, era protegido por um rio ou fosso. mos nomes, mas, na sua maioria, eram
Roma. Os favoritos do público eram os ve- Alguns eram edificados em ilhas. efectivamente catapultas gigantes. Qual-
teranos cujos nomes asseguravam uma Dado que os pontos vulneráveis do cas quer pedra adequada era usada como mu-
casa cheia e que eram louvados nos graffi- telo eram as entradas, estas eram bem de- nição, mas era habitual afeiçoar as pedras
ti O vencedor de uma competição era pre fendidas. A principal era protegida por para que ficassem aproximadamente este
miado com presentes e moedas de ouro, uma barbacã construção exterior for ricas e, assim, voassem melhor. Tinham,
que poderia gozar até ao combate seguin- mada geralmente por uma estreita passa- em média, 40 a 50 cm de diâmetro.
te. Mas poucos sobreviviam o suficiente
para ganhar a rudis (espada de madeira),
dada a um gladiador proeminente junta-
mente com a sua liberdade.
Alguns nobres tomavam parte cm com-
petições de gladiadores, atraídos pela po-
pularidade c pelas emoções. O excêntrico
imperador Cómodo, assassinado em 192
(estrangulado pelo seu parceiro de luta),
tomou parte em vários combates de gla-
diadores, matando adversários desarma-
dos ou munidos com armas embotadas.
Algumas mulheres — por vezes perten-
centes à nobreza — tornaram-se gladiado-
ras, o que foi proibido em 200 pelo impera-
dor Septímio Severo.
O cristianismo pôs fim à era dos gladia
dores. Em 326, Constantino, o Grande,
proibiu que os criminosos fossem conde-
nados à arena, e os combates de gladiado-
res foram finalmente ilegalizados em 404
— depois de o monge Almáquio, que ten-
tara separar dois gladiadores, ter sido ape
drejado até à morte pelos espectadores.

352
COMO FOI FEITO?

Estas máquinas eram igualmente utili- A entrada em combate Bombardeando os baluartes. Esta ilus
zarias para lançar projécteis incendiários No assalto directo, os atacantes tinham de Iração de finais do século xv representa o
com enxofre e pez, mas o material mais conseguir chegar à base das muralhas. Se cerco inglês ao Castelo de Mortagnesur-Gi-
eficaz era o fogo grego, utilizado pelos Gre- havia um fosso, tinham de construir uma ronde, na costa sudoeste de França. Entre
gos na defesa de Constantinopla em 673. A ponte de barcas ou de o encher com pe- as armas usadas, vêem-se arcos de flecha,
sua composição ó desconhecida, mas era dras para formar um passadiço. O ataque bestas, calumbretas e canhões.
provavelmente à base de petróleo. para o corpo a corpo era tarefa perigosa.
Os defensores podiam despejar sobre os
atacantes pedras e água a ferver através de
aberturas - os bueiros, ladroneiras ou
mata-cães — existentes nos varandins das
muralhas. Os assaltantes eram igualmente
alvejados pelos archeiros sitiados.
Por isso, aqueles actuavam ao abrigo de
um telheiro, ou mantelete, construído em
madeira forte e montado sobre rodas. Era
conhecido por "tartaruga", ou tesludo, em
latim, devido à cobertura e à lentidão com
que se deslocava. Com esta protecção, eles
podiam martelar as muralhas ou a porta
com um aríete enorme tronco de ma-
deira movimentado para trás e para diante
pelos soldados, às vezes com o auxílio de

Fortaleza dos cruzados. O Crac dos Ca


valeiros, na Síria, foi construído por cruza-
dos, antes de 1142, num afloramento com
declives íngremes em três lados. A base
das muralhas foi fortificada com um talude
- massa inclinada de terra e calhaus —
para a proteger da minagem.
COMO FOI FEITO?

ARMAS MORTÍFERAS USADAS NOS CERCOS MEDIEVAIS


Para enfraquecer ou abrir brechas nas mu-
ralhas dos castelos, os atacantes utilizavam
não só armas de curto raio de acção, como
artilharia de longo alcance. As máquinas
de guerra do longo alcance eram na verda-
de catapultas gigantes. Qualquer pedra po-
dia ser u s a d a c o m o m u n i ç ã o , m a s e r a
habitual afeiçoar as pedras até ficarem es-
féricas para voarem melhor. Estas máqui-
nas eram também utilizadas no arremesso
de projécteis incendiários. No ataque de
mais perto usavam-se aríetes, aríetes de es
pigão e torres móveis.
• Trabuquete
Um peso colocado
na extremidade de um
braço comprido provoca-
Plataformas. Estas "varandas" de va neste uma sacudidela
madeira nas muralhas eram co- para cima quando era solto
bertas e tinham pavimentos de tá- do cabrestante, arremessando
buas através dos quais podiam o projéctil.
despejar se líquidos em ebulição
ou projécteis sobre os atacantes
em baixo. 0 seu principal inconve-
niente era poderem ser incendia
das ou destruídas por projécteis.
Manganela. Um cordão de crina de cavalo, de corda ou
de tendão mantinha sob tensão um bruço comprido mu-
nido de uma cavidade ou de uma funda onde era carrega-
da uma pedra. Quando se soltava o cordão, o braço
saltava, arremessando a pedra.

Torre móvel. Uma alta torre Batista. Esta enor-


de madeira era empurrada até me besta mantinha
às muralhas do castelo, í os dois braços do ar
os atacantes atiravam CO sob tensão, e a corda
do seu interior sobre os era operada por um cabrestante.
sitiados. Podiam então Quando este era solto, projectava
assaltar o castelo pedras ou setas de ferro. Tal como a
através de uma ponte manganela. foi inventada pelos
leoadiça no cimo Gregos.
da torre.

Aríete. Uma
'barraca sobre rodas pro-
tegia os atucantes dos projécteis.
Suspenso no interior havia um tronco
com uma extremidade de ferro, chama- Poste c o m espigão. Antes de se usar o
da aríete ou canteiro, que os atacantes aríete, a alvenaria era enfraquecida com
balançavam, a fim de abrir um buraco um poste com um espigão de metal, que
na muralha OU na poria do castelo. era percutido contra a argamassa
Minagem. Se o castelo não
era rodeado por um fosso ou
construído sobre rocha, os ata-
cantes podiam abrir um túnel
escorado com estacas de ma
deira até uma muralha OU tor-
re de canto do castelo. Podiam
então enfraquecer as funda-
ções e fazer uma fogueira na
base da muralha. 0 calor fazia
estalar as pedras. OS suportes
ardiam e a muralha caiu.

354
COMO KOI PEITO?

estropos montados sob a tartaruga. A ca- Depois de tomar a margem oposta e por um rochedo saliente que fora deixado
beça do anelo, ou carneiro, tinha um capa- destruir a ponte sobre o rio, o exército de como parte de uma ponte sobre o fosso. O
cete de ferro, muitas vezes pontiagudo. As Filipe cavou trincheiras e cercou o castelo. castelo acabou por cair nas mãos dos Fran
versões mais antigas apresentavam uma O rei João enviou um exército e uma força ceses em Março de 1204, depois de um
cabeça de carneiro na extremidade per- naval, mas foram derrotados. cerco que durara cerca de cinco meses.
cutora, origem do nome da arma. Roger de Lacy, o comandante inglês do
Oulro processo de ataque a coberto da Châleau Gaillard, calculou ter comida sufi Guerra bacteriológica medieval
tartaruga era com um tronco de árvore ciente para alimentar um forte punhado As máquinas de guerra não serviam exclu
com um espigão na ponta com o qual os de soldados durante um ano. Os restantes, sivamente para lançar projécteis — outra
assaltantes batiam contra a argamassa juntamente com habitantes locais que se aplicação era catapultar carcaças por cima
para soltar as pedras. Homens munidos tinham abrigado no castelo, foram postos das muralhas de animais já em decompo-
de picaretas e pés-de-cabra destruíam fora. Com os portões fechados pela reta- sição. Lançavam-se para o interior de um
também a argamassa para remover as guarda e as tropas francesas pela frente, castelo sitiado animais mortos para espa-
pedras. centenas de pessoas foram abandonadas à lhar doenças entre os defensores.
Usavam-se escadas de assalto para fazer sua sorte entre os dois exércitos. Mas Pili Um destes incidentes teve consequên-
passar os homens por cima das muralhas. pe, ao fazer uma visita de inspecção às suas cias desastrosas e de longo alcance. No In-
Os soldados atacantes subiam-nas a co- tropas, permitiu finalmente que lhes des- verno de VMti-47, a peste bubónica decla-
berto do "fogo" dos archeiros, que assola- sem de comer e as deixassem passar. rou-se num exército tártaro que cercava o
vam os defensores com setas para os im- Filipe decidiu atacar na Primavera e os porto fortificado de Caffa (a moderna Feo-
pedir de empurrarem as escadas. seus homens acabaram por conseguir dei- dósia, na Crimeia). Os Tártaros tinham
Muitas vezes, os sitiantes construíam tar abaixo parte da muralha do pátio exte provavelmente contraído a peste de gentes
uma torre móvel em madeira para que os rior com o auxilio de Lima mina e do fogo. recém-cliegadas da Ásia Central, onde a
seus archeiros pudessem atirar sobre os Os defensores incendiaram então o resto doença era endémica.
defensores ao nível das ameias, ou mesmo das defesas exteriores e retiraram-se, dei Os sitiantes pensaram apressar o cerco
de mais alto. A torre tinha várias platafor- xando os atacantes tentarem encontrar ca- arremessando os cadáveres de algumas
mas e uma ponte levadiça no cimo. Se os minho para a impenetrável zona interior, das vítimas da peste por cima das mura-
atacantes conseguissem levá-la até junto com mais dois fossos e pátios. lhas. Mas a doença espalhou-sc rapida-
das paredes, a ponte era utilizada para su- Conseguiram-no quando um grupo de mente entre defensores e atacantes, e os
bir para as muralhas. seis soldados subiu por um esgoto de latri- Tártaros tiveram de abandonar o cerco.
na e alcançou uma janela na cripta de uma F.ntre os defensores, encontrava se um
Minas e explosivos capela (edificada já pelo rei João) no pátio grupo de mercadores italianos que se ti-
Se o castelo não tinha fosso e não assenta intermédio. Os soldados conseguiram bai- nham refugiado dos Tártaros. Aqueles que
va sobre rocha maciça, os atacantes xar a ponte levadiça. Seguiram se duros sobreviveram embarcaram para Génova e
abriam frequentemente urna passagem combates, mas o último bastião, o pátio a doença, a Peste Negra, espalhou-se por
por baixo das muralhas. Quando já tinham interior, caiu quando os atacantes logra Ioda a Europa, matando pelo menos um
minado urna secção de muralha suficien- ram enfraquecer as muralhas abrigados quarto da população.
temente grande e a haviam escorado com
estacas de madeira, faziam uma fogueira à
roda das estacas — e, quando estas ar-
diam, a muralha desmoronava-se. Como os antigos marinheiros
0 advento da pólvora e dos canhões (no
século xv) facilitou a tarefa dos sitiantes,
embora durante muitos anos aqueles fos-
exploravam os mares
sem pouco mais eficientes que as velhas
máquinas de guerra. Muito antes de a agulha magnética come- No oceano Pacífico, durante o 1." milé-
Uma das primeiras utilizações da pólvo- çar a ser usada pelos marinheiros euro- nio da nossa era, os antigos polinésios
ra foi no petardo, pequeno recipiente de peus no século xii, já os povos antigos na- percorriam milhares de milhas no mar
ferro contendo explosivos, que era infla vegavam no mar alto. Por volta do século v em pirogas e colonizaram muitas ilhas na
niado e depois atirado à mão, ou previa- a. C, os Fenícios, que habitavam o que é área abrangida pelo triângulo formado
mente atado a uma porta ou outro ponto hoje o Líbano, levavam as suas galeras de pelo Havai, ilha da Páscoa e Nova Zelân
fraco para nele abrir urna brecha. Mas a boca larga para além do estreito de Gibral- dia.
pessoa que inflamava o petardo corria tar e atravessavam o golfo da Biscaia, a fim
também sérios riscos, pois podia não che- de obterem estanho na Grã-Bretanha.
gar a local seguro antes da explosão.
Mercadores primitivos. Os antigos fenícios aven-
A queda de uma poderosa fortaleza turaram se para além do estreito de Gibraltar e
Quando foi construído, em 1196-98, por já cinco séculos antes de Cristo iam buscar
Ricardo, Coração de Leão, rei de Inglater- estanho à Grã-Bretanha.
ra, o Châleau Gaillard, cm Les Andelys, Este baixo relevo de pedra
perlo de Rouen, em França, era conside- representa um dos
rado uma das mais poderosas fortalezas seus navios.
da Europa. Assentava sobre íngremes ro-
chedos com DO m de altura, sobranceiros
ao rio Sena, e só podia ser alcançado por
sueste. Com a morte de Ricardo, passou
para o rei João de Inglaterra. Em 1203,
Filipe Augusto, rei de França, atacou a for
taleza.
COMO FOI FEITO?

Sondando as águas costeiras De onde sopram os ventos ilha pelo modo como elas se acumulavam
Desde tempos primitivos que os marinhei- Os Gregos e os Fenícios sabiam em que e pelas cores nelas reflectidas pelo que fica-
ros usam sondas para navegar em águas direcção sopravam os ventos predomi- va em baixo. Uma forma de reconhecerem
costeiras. Nesse tempo, manlinham-se ge- nantes do Mediterrâneo e serviam-se deles a direcção da terra nas noites encobertas
ralmente à vista de terra e ficavam de capa como guias de orientação. Estes ventos era pelos 'relâmpagos submarinos" —
ou desembarcavam durante a noite. A son- eram assinalados num diagrama chama- traços de luz verde-azulada emitidos por
da era basicamente um fio-de-prumo em do rosa-dos-vcntos. Os navegadores calcula- muitas espécies de criaturas marinhas,
que o prumo, muitas vezes de chumbo, vam a direcção dos ventos em relação ao como os camarões. Estes traços irradiam
tinha uma concavidade com sebo. Sol e comparavam na com a rosa-dos-ven de uma ilha em todas as direcções num
0 cabo do prumo media a profundida- tos. Além disso, distinguiam um vento pela círculo de até cerca de 150 km de raio.
de até ao fundo do mar e o sebo revelava a respectiva intensidade, temperatura e grau
constituição do fundo pela areia, calhaus de secura ou humidade. Primeiros cartógrafos
ou lama que trazia agarrados. Se o sebo A rosa-dos-ven tos continuou a ser usa- Um astrónomo grego de nome Píteas, que
vinha limpo, o navio encontrava-se por da pelos marinheiros de épocas posterio viveu no século iv a. C, foi o primeiro ho-
cima de rocha. Para medir a profundidade, res. Os Italianos deram nomes aos ventos mem que se sabe ter usado o Sol para mar-
o cabo era marcado a intervalos regula- nela marcados conforme as áreas de onde car a latilude - a distância para norte ou
res — geralmente a distância entre as extre- sopravam, como o greco (nordeste), o le- para sul do equador - dos lugares que
midades dos braços abertos de um ho- vante (leste) e o siroco (sueste). visitava Em 310 a. C, navegou em volta da
mem. Ainda se usa muito no mar a medi- costa europeia desde o Sul de Espanha até
ção em "braças". Lendo os sinais do mar às Ilhas Britânicas. Píteas fixou a latitude da
Os antigos navegadores polinésios não se sua Massília natal (actualmente Marselha,
Navegando pelas estrelas limitavam a servir-se das estrelas, mas liam na altura uma colónia grega), e esta foi utili-
No mar aberto, durante o dia e com bom o oceano tão bem como os batedores ín zada pelo astrónomo e geógrafo greco-
tempo, os marinheiros marcavam o seu dios norte-americanos liam os sinais no -egípcio Ptolomeu ao desenhar um mapa-
rumo médio a partir da posição do Sol. A chão. •múndi no século n da nossa era. Ptolomeu
noite, serviam-se das estrelas. Os antigos Os marinheiros experimentados e há- serviu-se também do trabalho de um fení-
fenícios guiavam-se pela constelação da beis podiam guiar se pelos seus senti- cio do século i, Marino de Tiro, que preco-
Ursa Menor, pois sabiam que ela estava dos — sentindo a ondulação do mar e as nizou a ideia de uma grelha de linhas para-
sempre no Norte. Também os antigos poli mais ligeiras correntes através dos cascos lelas nas cartas de navegação.
nésios se guiavam pelas estrelas. As vezes, do barco e usando-as como guias. Sabiam
abasteciam as suas pirogas de 18 m para quando uma corrente os poderia desviar
viagens de mais de 3000 km, que duravam das suas rotas, e alteravam o rumo de açor
várias semanas. Conheciam a latitude de
diversas ilhas pelas estrelas que sobre elas
do com isso. Pelo aspecto da ondulação,
sabiam se navegavam direitos a um mar
Como Colombo
tinham o seu zénite e sabiam marcar o
rumo por uma estrela próxima do hori-
quebrado por ilhas ou se estavam em mar
aberto. Percebiam igualmente se determi-
descobriu o
zonte à hora do nascer ou do ocaso. nadas nuvens estavam por cima de uma "Novo Mundo"
Navio de guerra grego. Os antigos gregos seruiam-se dos uentos predominantes corno
guias de direcção. Este desenho numa laça ateniense do século vi a. C. representa uma Antes de 1492, nenhum europeu sabia
birreme — navio de guerra com duas ordens de bancadas de remadores. A sua proa em exactamente o que ficava para além das
esporão era usada para abalnxjr navios inimigos. ilhas Canárias e dos Açores. Ao navegar
para oeste, Cristóvão Colombo procurava
um caminho marítimo para a Ásia Orien-
tal — as índias. Em vez disso, descobriu
um novo continepte, o Novo Mundo.
Colombo chegou às ilhas das Caraíbas,
não à América do Norte. A sua importan-
tíssima descoberta resultou de um grande
erro, de que ele nunca se apercebeu, pois
até ao fim dos seus dias insistiu que tinha
chegado às "índias". E por isso que se cha-
mam assim as índias Ocidentais e que os
habitantes da América do Norte ficaram
conhecidos como índios americanos.
No século xv, os Portugueses tentavam
encontrar um caminho marítimo para as
índias, com as quais havia um rico comer
cio terrestre de especiarias, pedras precio-
sas e sedas. Os seus navegadores explora
vam a rota para leste em torno da ponta
meridional de África.
A partir dos seus estudos da Bíblia, da
literatura antiga e dos poucos livros cientí
ficos que conseguia obter, Colombo con-
venceu-se de que seria mais rápido atingir
as índias por oeste. Existem ainda os seus
exemplares anotados da Descrição do
COMO FOI FEITO?

Mapa do Velho Mundo. Seis anos antes de Colombo descobrir o Novo Mundo, foi publica-
do em Ulm, na Alemanha, este mapa do Velho Mundo. Provém de uma edição, ilustrada com
mapas, da Geografia de Ptolomeu (c 90-168) 0 seu trabalho inspirou Colombo nos seus
esforços para descobrir um caminho para a Ásia pelo Ocidente.

1410, lê-se numa passagem que "Aristóte- Apontando para o norte. Esta bússola
les diz que o mar entre a ponta mais longín- italiana, com estojo e tampa, é uni exemplo
qua da Espanha, a lesle, e a mais próxima das utilizadas no tempo de Colombo. Tem
da índia, a oeste, é pouco extenso". Marco uma flor-de-lis a indicar o norte.
Polo afirmava que o Japão ficava 2400 km a
leste do Cataio (a China), fazendo-o pare-
cer muito mais perto da Espanha do que
na realidade é. Colombo foi enganado pe-
los escritos de d'Ailly e Polo e por uma alir
mação do Segundo Livro Apócrifo de Es
dras, que dizia que a Terra consistia em seis
partes de terra e uma de mar, em vez da
proporção real, que é de uma parte de terra
para três de mar.
Para piorar as coisas, fez os cálculos em
milhas italianas, desconhecendo que elas
eram mais curtas que as milhas árabes
constantes de muitos mapas da época. Por
isso, concluiu que as Índias ficavam só a
Para oeste! Colombo navegou para oeste cerca de 3900 milhas (6300 km) a oeste das
para encontrar o Extremo Oriente, e nunca Canárias. Se tivesse usado as medi
se apercebeu de que tinha descoberto o das árabes, o seu cálculo não teria
novo continente da América. ficado muito longe da realida-
de — cerca de 5200 milhas
Mundo, de Marco Polo, e da Imago Mundi, (8320 km).
do cardeal Pierre d'Ailly. Colombo tentou inte-
Na Imago Mundi, escrita por volta de ressar o rei D. João II de

357
COMO FOI FEITO?

Portugal no seu projecto de um empreen- ram mais de três semanas. Colombo acal- pois da partida das Canárias, ouviu-se às 2
dimento para oeste, mas este rejeitou a mou a sua impaciência aproveitando a horas da manhã de 12 de Outubro o grito
ideia cm 1/182. Colombo acabou por ser oportunidade para alterar o aparelho da bem-vindo de terra à vista. A luz da Lua, o
apoiado pelos Reis Católicos, Fernando de Nifia. Finalmente, na quinta feira 6 de Se vigia a bordo da Pinta lobrigara a costa,
Aragão c Isabel de Castela, exactamente 10 tembro, já reabastecida, a pequena frota 10 km adiante. Não o sabiam, mas tinham
anos depois 1492. voltou a rumar para oeste. chegado às Baamas.
Deram lhe três navios para a viagem: a Com a ajuda de um quadrante (para Ao alvorecer, Colombo desembarcou e
nau Mariegalante, cujo nome foi mudado medição da altura dos astros) c de uma reclamou a terra para a Espanha, chaman-
para Santo Maria, e duas caravelas meno- bússola, Colombo conseguia navegar do lhe San Salvador. Verificou tratar-se de
res, a Nina, de 50 t e apenas 20 m de com- para oeste segundo uma linha mais ou uma ilha, que descreveu no diário de bor-
primento, com três ou quatro mastros, e a menos recta, calculando as posições por do como "bastante grande e plana, com
Pinta, de 60 t. estimativa. A velocidade era medida dei- árvores muito verdes e um enorme lago no
As tripulações eram pequenas - 40 ho- tandose pela borda, junto à proa, um bo- meio, sem qualquer montanha". Colom-
mens a bordo da Santa Maria, 26 na Pinta e cado de madeira e contando o tempo que bo e os seus homens ficaram encantados
24 na Nina. Alguns eram amigos de Co levava a popa a passar por ela. Colombo com o povo e a ilha que visitaram. Mas
lombo, mas a maioria era genle da Andalu- deve ter levado ampulhetas para medição depois de a Santa Maria ter encalhado e ter
zia. Outros eram condenados cuja pena do tempo, pois elas eram largamente usa de ser abandonada, Colombo tomou o co
fora remida por troca com a viagem. Co- das na Europa medieval. mando da Nina e rumou para Espanha,
lombo comandava a Santa Maria, e Martin Passadas que foram três semanas sem desembarcando em Paios a 15 de Março
Alonso Pínzón, a Pinta, com seu irmão sinais de terra, muitos dos homens come- de 1493. Foi nomeado "almirante do Mar
Francisco Pinzón como navegador. Outro çaram a inquietar se e a murmurar entre si. Oceano e vice rei das índias",
irmão, Vicente, capitaneava a Nina. Acreditavam que o vento — agora pela Colombo efectuou mais três viagens ao
Os navios partiram do pequeno porto, popa — vinha sempre de leste, e se não Novo Mundo. Desembarcou no continen
hoje assoreado, de Paios de La Frontera, fio encontrassem terra, a viagem de volta, te sul-americano na sua terceira viagem,
.Sul de Espanha, a 3 de Agosto de 1492, e contra o vento, levaria tanto tempo que mas em 1500 regressou a Espanha acor-
rumaram em direcção às ilhas Canárias. A ficariam sem comida nem água. Várias ve- rentado, acusado de malbaratar as terras
viagem durou nove dias, durante os quais a zes houve ameaças de motim. que descobrira. Foi perdoado, mas perdeu
Pinta perdeu o leme. As reparações leva- Finalmente, mais de cinco semanas de- o favor dos reis.

Onde desembarcou Colombo?

A ilha onde Colombo desembarcou em 1492 era chamada


Ouanahani pelos índios que a habitavam. Porém, não se
sabe exactamente de que ilha se tratava.
consideração a velocidade dos ventos, as correntes e as varia
ções magnéticas.
Concluíram que Guanahani só podia ter sido uma de duas
ilhas — a ilha de Watling ou a de Samaria Cay, 100 km para
Até à década de 80, a ilha de Watling, nas Baamas, rebaptiza-
da Sari Salvador em 1926, era a hipótese favorita. Depois, um sudoeste. Afirmam ainda que a paisagem e outras característi-
grupo de peritos reexaminou as provas. Marcaram a rota através cas de Samana Cay se ajustam melhor à descrição de Colombo
do Atlântico, servindo se de computadores para tomarem em do que San Salvador, mas a controvérsia mantém-se.

.!.-»«
A construção de Lady Liberty

Em Paris. A ESlátUQ da Liberdade foi cons-


truída e erigida em Haris antes de ser em-
barcada para a América cm 1886.

A Estátua da Liberdade ergue se a mais de


93 m acima das águas do porto de Nova
Iorque, onde, nas palavras do seu criador,
"as pessoas vêem pela primeira vez o Novo
Mundo". É a maior estátua de metal do
Mundo e levou mais de 15 anos a ser cons-
truída numa oficina de Paris antes de ser
transportada para a América.
As pregas elegantes das vestes de Lady
Liberty não dão ideia da gigantesca estru-
tura que lhes fica no interior c que inclui
uma escada de 171 degraus que se eleva
em espiral dentro do seu corpo até uma
plataforma escondida no rebordo da co
roa, de onde se avista um vasto panorama
da cidade e do mar.
Cada um dos olhos da estátua tem o
comprimento de um braço de homem, o
nariz mede 1,40 m, e o seu dedo indicador,
2,40 m. Tem a altura de 4(> m, assenta num
pedestal e base com aproximadamente a
mesma altura e mede 10,5 m de cintura.
Para construir, há mais de 100 anos, uma
estátua de tão grandes dimensões, foi pre-
cisa a visão artística de um jovem e inspira-
do escultor e a capacidade técnica inova
dora de Gustave Eiffel.
O escultor Frédéric Augusle Bartholdi
jantava em casa de um distinto historiador
francês no Verão de 1865 quando nasceu a
ideia de um presente do povo francês aos
Americanos. Uma estátua de "A Liberdade
iluminando o Mundo" (o seu título oficial)

Em Nova Iorque. As torres gémeas do


World Trado Conter constituem um magní-
fico pano de fundo para Lady Liberty.

350
Escultura de cobre. As pla-
cas de cobre que formam a
mão e a tábua gigantes vêem-
-se claramente na fotografia
de pormenor em baixo. Ao
todo, foram moldadas e mar-
teladas à mão cerca de 300
placas. Abraçadeiras provisó-
rias euitaram que as placas se
deformassem — até serem fei-
tos furos para os rebites que as
juntariam numa única e gran-
diosa figura.

Modelo de gesso. A Estátua


da Liberdade foi criada numa
oficina de Paris (em cima).
Pequenos ao pé da mão direi-
ta da estátua, os operá-
rios revestem de gesso a
estrutura de madeira. O
escultor Bartholdi (em
baixo, à direita, sem cha-
péu) supervisou a operação.

assinalaria o centenário da cobertura exterior de bronze fundido, Bar-


independência america- tholdi decidiu usar folhas delgadas de cobre,
na, que os homens e as ar- material leve e flexível. Em vez de moldar o
mas de França tinham ajudado a cobre, propôs-se usar um processo deno-
conquistar, e constituiria um símbolo minado repoussé, isto é, "rebatido", que
duradouro da amizade e da comunhão de enforma o metal, batendo-o em moldes de
ideais entre as duas grandes nações. madeira esculpida. Esta casca exterior de
Inspirado no lendário Colosso cobre ficaria "pendurada" sobre uma ar-
de Rodes - gigantesca está- mação de ferro interior em forma de torre.
tua de bronze de Hélio, deus grego do Sol,
uma das Sete Maravilhas do Mundo Anti-
go, que se erguia à entrada do porto de
Rodes no século m a. C. —, Bartholdi de-
senhou e construiu um modelo de
gesso com II m de altura. A sua estátua
definitiva leria mais de quatro vezes essa
altura e precisava de ser suficientemente
forte para resistir aos efeitos dos anos e do
clima, mas suficientemente leve para
ser transportada para a América.
A solução foi construir uma está-
tua oca com um revestimento ex
k terior assente sobre uma arma-
^ ção interior — a mesma técni-
^ ca que fora usada para o Co-
osso de Rodes. Mas en-
uanto este tinha uma

Simplicidade
O criador da Estátua
da Liberdade, Frédénc
Bartholdi, falava da
simplicidade da sua
aparência. "Os Danos internos. Trabalhos de renovação
pormenores não no interior da estátua nos anos 80 mostra-
devem prender ram que a armadura de ligação das placas
a vista." de cobre à estrutura estava gravemente cor-
roída. Todo o conjunto, incluindo os rebites,
foi renovado com materiais modernos.
•IÕES DE DÓLARES
"UFTING" DE 69 ^4ILHOES
No princípio da década de 80, a Estátua dosamente preservada, pois constitui um
da Liberdade foi objecto de um exame revestimento eficaz contra a corrosão. Na
completo e descobriu-se que estava a de- superfície interior, sete camadas de tinta
sintegrar-se. velha que estavam a reter a humidade nas
Mais de um século de exposição aos juntas tiveram de ser congeladas e estala-
elementos — e à condensação da respira- das com aspersões de azoto líquido arre-
ção de milhões de visitantes no interior — fecido a 163°C negativos. As camadas de
tinha provocado grave corrosão. A está- alcatrão por baixo da tinta foram destruí-
tua sempre sofrera infiltrações; nos últi- das com jactos de uma solução de bicar-
mos anos, alguns dos rebites que segura- bonato de soda.
vam a "casca" de cobre deram de si, per- Fizeram-se cópias exactas de aço inoxi-
mitindo que mais humidade entrasse dável de cada uma das barras enferruja
para a vulnerável estrutura de ferro. Muito das da armadura. Este trabalho teve de ser
do isolamento original de Eiffel, de feito secção por secção — não podiam
amianto, que separava a casca de cobre retirar-se mais de 12 barras em cada perío-
do esqueleto de ferro, tinha-se gasto e do de 24 horas sem pôr em perigo a esta-
quase metade da armadura estava enfer- bilidade da estátua.
rujada. O facho estava em perigo de cair, e
o ombro do braço que o segurava preci- Duas tecnologias
sava de ser reforçado. A fim de se evitar a formação de conden-
sação no interior, a caixa de escada, reno-
Angariação de fundos vada, tem corrimãos mais largos e insta-
Foi necessário reunir peritos e fundos de lou-se um elevador hidráulico fechado de
ambos os lados do Atlântico para a res- vidro. E para aqueles que não conseguem
tauração, que durou três anos e meio e enfrentar a subida até ao topo televisões
custou 69 milhões de dólares. Os France- em circuito fechado transmitem imagens
ses deram início à campanha de angaria- do interior da estátua, mostrando exacta- Trabalhos em altura. Os andaimes
ção de fundos e forneceram arquitectos e mente como ela foi construída e bene- montados para as obras de beneficiação
operários. ficiada. eram mais altos que a própria estátua.
A estátua foi envolvida por aquilo que
provavelmente constituía a maior estru-
tura de andaimes de todos os tempos, e
todos os dados vitais foram introduzidos
em computador com o fim de se criarem
novos planos estruturais. Artífices france-
ses reconstituíram o facho, copiado do
desenho original de Bartholdi, por meio
da técnica do repoussé, e mestres artífi
ces de Paris revestiram a chama com fo-
lha de ouro de 24 quilates, para que bri-
lhasse quando fosse iluminada por pro-
jectores.
A casca propriamente dita ficou em
boas condições uma vez substituídos os
rebites. Ao longo dos anos, o cobre per- Chama velha. Em 1916, a chama foi trans-
dera a sua cor original e adquirira uma formada numa lanterna de cobre com vi-
patina natural verde-pálida. Quando a es- dros cor de âmbar. Mas ficou mal calafeta-
tátua foi limpa, a patina teve de ser cuida- da e deixava entrar água.

Bartholdi cortou o modelo em secções da Liberdade não é suporta-carga e "paira" O braço poderoso que empunha o facho
e procedeu a milhares de medições meti sobre a sua armação. da Liberdade foi terminado a tempo do cen-
culosas antes de fazer uma réplica de ges- Uma armação de costelas de ferro irradia tenário da América, em 1876, mas só em
so de cada secção em tamanho natural. horizontalmente de uma coluna central de Junho de 1884 — quase 20 anos depois de
Foram depois talhados moldes de madeira quatro vigas verticais que vão da base da nascida a ideia — a Estátua da Liberdade foi
exactamente iguais às secções ampliadas. estátua até à nuca. Ligada a esta, está a arma- finalmente terminada. Percorreu, apruma
A "casca" final foi obtida martelando pelo dura, feita com barras de ferro semelhantes da e triunfante, as ruas de Paris e foi formal-
interior contra os moldes 300 folhas delga- a molas, encurvadas e torcidas para acom- mente apresentada ao embaixador da
das de cobre. panharem a forma da estátua, como as fas- América em França no Dia da Independên-
Entretanto, Alexandre Guslave Eiffel, en- quias de urn manequim de costureira. A fim cia, 4 de Julho.
genheiro afamado pelas suas pontes, tra de minimizar o contacto directo e poten Seis anos mais tarde, a estátua foi
balhava na estnitura interna, que viria a ser cialmente corrosivo do cobre com o ferro, desmantelada e acondicionada, com as
a mais alta estrutura de suporte de metal as secções de cobre estão penduradas nes- secções numeradas, em mais de 200 enor-
até então construída. O seu desenho foi te esqueleto interior através de consolas de mes grades, para ser transportada para
precursor dos modernos arranha-céus: cobre revestido de um material isolador a América no navio de carga francês
como estes, a "casca" exterior da Estátua que mantém separados os dois metais. Isère.

361
COMO FOI FEITO?

Como foi esculpido o memorial do monte Rushmore


Qualro cabeças gigantescas olham da en namarquesa, John Gulzon Borglum. A gi- cipalmente de fundos federais, mas tam-
costa de uma montanha nas Black Hills, no gantesca operação levou 14 anos. bém, em parte, provenientes de doações
Dakota do Sul, EUA, talhadas no cume de A escultura da montanha c um memorial particulares. A escultura propriamente
granito. Se o resto dos corpos tivesse sido nacional, e os quatro presidentes — es- dita demorou cerca de seis anos e meio,
igualmente esculpido na montanha, cada colhidos para representar o nascimento e mas o trabalho foi lento devido a dificulda-
figura teria cerca de 140 m de altura. os ideais da nação — são Georgc Wash des de dinheiro nos primeiros anos e a pe-
As rabecas são as de quatro presidentes ington, o primeiro presidente, Thomas Jef- ríodos de condições atmosféricas desfavo
dos EUA, talhadas no cimo do monte Rush- ferson, o terceiro; Abraham Lincoln, o 16.", ráveis. Na maioria, os homens que traba-
more com brocas pneumáticas e dinamite c Theodore Koosevelt. o 26." lharam na escultura eram mineiros ou pe
por homens suspensos da borda dos ro O Mount Rushmore National Memorial dreiros da região. Durante os 14 anos da
chedos. Os trabalhos foram dirigidos por foi esculpido entre 1927 e 1941, com um obra ali trabalharam, em grupos de .10, eer
um escultor americano de ascendência di- custo de 990 000 dólares, angariados prin- ca de 360 operários.
COMO FOI FEITO?

DO FSTUDIO PARA A MONTANHA

0 escultor John Gutzon Borglum construiu os seus modelos de atelier à escala de 1:12 - de
modo que I cm no modelo equii-alkj a 12 cm no monte Rushrnore. Seu filho Lincoln (em cimu.
à esquerda) mede o modelo de Jefferson para ser transferido para a montanha. Uma vez
sobre a montanha (em cima. a direita). Lincoln Borglum (à direita) ajuda a manejar um
aparelho para medir e marcar OS pontos a esculpir.

Projecto e "apontamento" para o topo da cabeça de Washington, foi


das cabeças instalado um aparelho semelhante, doze
Borglum escolheu para o memorial o vezes maior, para transferir as medidas do
monte Rushrnore, com 1745 m, por causa modelo para a montanha. Borglum cha-
do seu granito de grão fino. Mesmo assim, mou ao aparelho uma máquina de apon-
para se pôr à vista rocha tiveram de ser tar; os homens que mediam e marcavam a
retiradas toneladas de pedra fendida o alte- pedra eram os apontadores.
rada pelo tempo para a cabeça de
Washington, tiveram de escavar cerca de O corte da rocha
9 m, e para a de Roosevelt, a mais recuada Depois de escolhidos os pontos, a rocha era
do grupo, cerca de 37 m. Durante os traba- perfurada até à profundidade indicada pelo
lhos de escultura, foram cortadas aproxi apontador, a fim de se fazerem furos para
maciamente 450 000 t de rocha. cargas de dinamite. A perfuração tinha de
Borglum decidiu esculpir uma cabeça ser muito rigorosa, porque uma brocagem
de cada vez para poder combiná-la com a demasiado profunda tiraria pedra a mais,
contígua e com as áreas adjacentes. A de que náO poderia ser recolocada.
Washington foi a primeira. Cada perfurador eslava preso a um as
Começou por fazer um modelo em ges sento-arnês forrado de couro e suspenso
so com um duodécimo do tamanho natu- por cabo de um cabrestante, com a sua
ral, isto é, com 1,5 m de altura. No cimo da broca de 39 kg suspensa do mesmo cabo.
cabeça, Borglum fixou-lhe uma chapa O homem do cabrestante estava demasia-
marcada com graus de arco, em cujo do recuado no topo do rochedo para po-
centro girava uma barra de aço horizontal der ver o perfurador, que tinha de içar de
(marcada em polegadas) c o m 3 0 " ponto para ponto. Por este motivo, havia
(76 cm). Um fio-de-prumo corrediço, um mensageiro num arnês de segurança
também marcado em polegadas, estava sentado à borda do rochedo que transiui
suspenso da barra. Fazendo girar a barra c lia os recados entre ambos.
deslizar o fio-de-prumo até qualquer pon Manejar uma broca pneumática balou
10, podiam efectuar se as medições. çando suspenso a 75 m do topo do roche-
No cimo do rochedo, no local escolhido do era difícil. Para exercerem pressão sufi-
ciente na abertura de furos horizontais
Chefes de Estado. As cabeças de quatro profundos, os homens tinham primeiro
presidentes dos EUA (da esquerda para a que amarrar uma corrente ao rochedo a
direita) George Washington. Thomas fim de poderem firmar as cosias do assen-
Jefferson. Theodore Roosevelt e Abraham to contra ela. Seguravam ria em cavilhas de
Lincoln - foram talhadas no monte Rush aço introduzidas em furos verticais abertos
more. no Dakota do Sul. na face do rochedo.

363
COMO FOI FEITO?

À medida que os perfuradores se deslo-


cavam de ponto para ponto, os homens da
pólvora iam introduzindo dinamite nos fu-
ros. Instalavam 60 ou 70 cargas muito fra-
cas da cada vez. A detonação das cargas
fazia-se duas vezes por dia — à hora do
almoço, quando os homens deixavam o
trabalho, e no final do dia.
Para cortarem a superfície tosca até às
dimensões definitivas, os perfuradores fa-
ziam tia rocha fiadas de furos curtos e pou-
co espaçados, para que a última camada
pudesse ser feita saltar com cunhas de aço
e martelos. A superfície era então alisada
com brocas especiais.

Os problemas com a cabeça


de Jefferson
A cabeça de Washington foi inaugurada
em 1930, e em seguida começou-se a tra-
balhar na de Jefferson. Foi iniciada à es-
querda da de Washington (do ponto de
vista do espectador), mas, em 1934, a rná
qualidade da rocha fez com que se tivesse TRÊS FASES DA CONSTRUÇÃO DA CABEÇA DE UNCOLN
de a fazer explodir, decidindo-se pela sua Um perfurador prepara o sítio para a cabeça (em cima, à esquerda). Mais tarde, um outro
colocação à direita da de Washington. produz um "favo" (em cima, à direita) que permitirá extrair as últimas camadas de pedra. A
A nova rocha apresentava fissuras consi- barba foi formada por sulcos verticais irregulares (em baixo)
deráveis e teve de desbastar-se até à profun-
didade de 18 m para se encontrar uma su-
perfície adequada, deixando uma espes-
sura mínima entre a face do rochedo e o
canyon na parte de trás. Mesmo assim,
uma comprida fenda onde iria ser talhado
o nariz obrigou Borglum a orientar a cabe-
ça noutro ângulo. Outras fendas menores
foram preenchidas com uma mistura de
óleo de linhaça, branco de chumbo e gra-
nito em pó.
A cabeça de Jefferson tem também o
único remendo de todo o trabalho. Uma
pequena bolsa de feldspato que não podia
ser talhada revelou-se durante os trabalhos
no lábio superior. Foi por isso extraída dei-
xando um buraco com cerca de GO cm de
comprimento por 25 de largura e de pro-
fundidade. Aplicaram-se duas cavilhas de
aço na base da cavidade para segurarem
um remendo de granito que foi colado
com enxofre derretido.

O toque do mestre
As quatro cabeças têm, cada uma, 18 m de
altura. Em média, o nariz mede 6 m, a boca
5,5 m e cada olho 3,40 m. A esta escala,
para se dar carácter e expressão às cabeças
esculpidas, era preciso o toque do mestre.
Borglum deu aos olhos um brilho de
vida, deixando em cada pupila escavada
uma coluna de granito com cerca de 56 cm
de altura, como se fosse um reflexo de luz.
A luz do Sol destaca a coluna da sombra da
concavidade.
Borglum morreu em 6 de Março de 1941,
com a idade de 73 anos, pouco antes de
terminado o memorial. Os acabamentos
foram orientados por seu filho Lincoln,
que, aos 15 anos, trabalhara como aponta-
dor no início do projecto.
COMO FOI FEITO?

Hidráulica romana: o abastecimento de água


A antiga Roma era abastecida diariamente corrente fluísse uniformemente para bai- de 30 m de altura em alguns locais e chegava
com quase 150 milhões de litros de água, xo. Os canais (aquedutos) eram de tijolo a alimentar tanques de peixes no quinto
destinada principalmente aos fontanários, ou pedra, com um revestimento imper andar do Fórum - uma praça comercial.
reservatórios, banhos e latrinas públicas. meável de cimento no interior, e tinham, Por volta de 350 da nossa era, havia 11
Parte da água era fornecida directamen- em média, 90 cm de largura por 1,80 m de grandes a q u e d u t o s que abasteciam
te às casas, mas a maioria tinha de ir buscar profundidade. Alguns eram subterrâneos Roma. Quando a água chegava à cidade,
a sua água aos fontanários ou às cisternas e possuíam chaminés de respiração de 70 era armazenada em reservatórios ou Ian-
do rés-do-cháo. Havia também carregado em 70 m aproximadamente para prevenir ques — perlo de 250, dispersos por vários
res profissionais de água, os àquarii (agua- as oclusões por bolha de ar. pontos da cidade de Roma.
deiros). O canal era coberto por lajes de pedra Embora a água não fosse tratada, havia a
Pelo menos 40 cidades do Império Ro- para evitar que a água fosse contaminada preocupação de verificar se as nascentes
mano possuíam abastecimentos de água por poeiras e detritos. O primeiro canal a eram boas. Um dos exames consistia em
semelhantes, e podem ainda ver-se os res- abastecer Roma foi Aqua Appia, construí- ver se a água deixava manchas quando se
tos de cerca de 200 aquedutos, entre os do por volta de 312 a. C. Tinha cerca de salpicava sobre um vaso de bronze. Outro
quais o assombroso Pont du Gard, com três 16 km de comprimento, na sua maior par-
andares de arcos, que abastecia Nimes, em te debaixo de terra, desde uma nascente
Franc.a, e o aqueduto de Segóvia, em Espa- numa propriedade particular.
nha, com dois andares e 36 m de altura. Quando não se conseguia fazer passar
um canal à volta de um vale, geralmente
Canalização da água tinha de ser construído sobre uma série de
O abastecimento de água de Roma fazia-se arcos suficientemente altos para deixarem
por uma rede de 420 km de canais ou tuba- passar por baixo, no vale, a estrada ou o rio.
gens. Em geral, o fluxo da água não podia Aqua Mareia, construído em 144 a. C,
ser fechado e corria continuamente para percorria 91 km para levar água potável até
os esgotos. Algumas oillae tinham tornei- Roma, desde as nascentes no vale do Anio,
ras formadas por um tubo cilíndrico intro- a 37 km de distância. Era um canal subter
duzido transversalmente no cano princi- râneo em quase toda a sua extensão, mas
pal. O cilindro apresentava um orifício e estava conslmído sobre arcos nos últimos
podia ser rodado para fechar ou abrir o 11 km antes de chegar a Roma.
abastecimento. O imperador Trajano edificou o Aqua
A água percorria a rede de abastecimen- Trajaria em 109 da nossa era para abastecer
to por gravidade, por isso o seu curso tinha a zona comercial e industrial na margem
de seguir os declives de terreno para que a leste do rio Tibre. Este aqueduto tinha mais

Poço e reservatório. O antigo porto africa-


no de Cartago recebia água por aquedutos
trazida de 80 km de distância. A água era
armazenada num poço - completo com
canalizações de barro cozido (ao alto, à es-
querda da fotografia) - e depois conduzida
Água corrente. Construído por Trojano 198-1)7), este aqueduto romano cm Segáoia. até ao depósito, ou cisterna. Para retirar
Espanha, ainda se encontra em uso. Traz água para a cidade de uma distância de 19 km. As água. as pessoas desciam os seus cântaros
pedras das suas duas ordens de arcos graníticos foram assentes sem cal nem cimento. através da abertura no tecto (em cima).

365
COMO FOI FEITO?

era ver se podia ser fervida e decantada Os banhos eram aquecidos por fornos ro, que desciam uma das encostas do vale
sem deixar lamas, e ainda um se cozia ve no subsolo (hipocaustos) que faziam cir- e subiam a outra até uma altura ligeira-
gelais com rapidez cular vapor e ar quente. I lavia em geral (rês mente inferior. A pressão da queda do lado
Certas águas não eram consideradas su- balneários principais: o frigidarium, frio, o mais alto obrigava a água a percorrer a par
ficientemente boas para beber. 0 Aqua tepidarium, morno, e o caldarium, quente te horizontal e a subir o lado oposto. A
Anio Vetus, por exemplo, construído em Era habitua] os banhistas serem massa- água que abastecia Lyon, em França, era
272 a. C, transportava água durante jados com óleos e participarem em des- conduzida deste modo através dos vales
69 km, que era utilizada unicamente para portos ou exercícios físicos antes de entra dos rios Carona, Beaunant e Brevenne,
regar jardins ou lavar roupas. rem no banho quente. Dirigiam-sc depois onde para construir os canos foram utiliza-
A rede de águas era administrada por à sala de vapor, onde os óleos e a transpira dos cerca de 12 000 I fie chumbo.
um comissário e dois assistentes, que diri- ção eram limpos com um raspador de me-
giam equipas de escriturários, pedreiros, tal (o estrígilj. Depois, passavam pelo tepi- Os esgotos romanos
canalizadores e encarregados dos depósi- darium antes de entrarem na piscina fria. Um complexo sistema de esgotos trans
tos. Os canais exigiam inspecções e repa- Homens e mulheres banhavam se se- portava as águas residuais da cidade, des-
rações constantes, pois as fugas danifica- paradamente, embora os banhos mistos carregando as no Tibre e, consequente
vam as estruturas e desperdiçavam água. fossem comuns no século i da nossa era. mente, no mar. Os esgotos menores de-
Os banhos públicos de Roma eram dos Eram, no entanto, mal vistos por muitos. O sembocavam num muito grande, a Cloaca
melhores que jamais se construíram. Os imperador Adriano proibiu-os em 138, e Máxima, que se estendia desde o Fórum e
primeiros datavam do século n a. C. e ti- como nem sempre havia balneários sepa- penetrava no rio sob uma arcada com 5 m,
nham sido construídos por benfeitores pú rados para as mulheres, foram estabeleci- junto à Ponte Rotto. Ainda se encontra em
blicos ou com finalidades lucrativas. Mais dos horários diferentes para os dois sexos. uso, 2500 anos após a sua constnição.
tarde, foram mandados construir por vá- Os esgotos de Roma foram construídos
rios imperadores. Existem ainda as ruínas Sifões em canos de chumbo muito antes da rede de águas. A constru-
dos banhos de Caracala (217 d. C), que se Em geral, a água atravessava os vales em ção iniciou se no século vi a. C. para drenar
estendiam por 11 ha, e dos de Diocleciano aquedutos, mas em algumas partes do im- os pântanos. Os esgotos estavam taml)ém
(306 d. C.)i abrangendo 13 ha. pério usavam-se canos de chumbo ou bar- ligados a latrinas ao nível térreo.

Medicina primitiva: operações ao cérebro na Idade da Pedra


As operações ao cérebro não são uma téc- Outro processo às vezes utilizado era fa- Crânio e instrumentos. Este crânio com
nica moderna — já eram feitas pelo ho- zer uma série de pequenos furos dispostos 2000 unos fã esquerda) apresenta cicatri-
mem da Idade da Pedra há cerca de 12 000 em círculo. Isto é evidenciado pelos pe- zes de duas trepanações. Na década de
anos. Crânios antigos com orifícios têm quenos recortes circulares em torno 30, um médico inglês. Wilson
sido descobertos na Europa (principal- da abertura grande. Provavel- Purry, executou operações
mente em França), na Africa e na América mente, fazia-se girar, por utilizando instrumentos
do Sul. Muitos destes crânios apresentam meio de arco e cordel, um de pedra. Os dois instru
novo tecido ósseo em redor do orifício, o sílex de ponta aguçada mentos sem cabo (em
que mostra que os pacientes sobreviveram aplicado num pau. Os ar- baixo) são lâminas de
algum tempo às operações. cos-de-pua primitivos faca neolíticas. As três
eram construídos fazen- lâminas com cabo de
Fracturas cranianas do-se passar uma volta de madeira foram fabrica
A primitiva cirurgia do cérebro era ainda cordel do arco em tomo de das por Pany.
praticada nas ilhas do Pacífico no século um pau ou de uma seta, que
xix. Operações de trepanação — para ali- girava quando se dava ao arco
viar as pressões de fracturas cranianas - um movimento de vaivém.
foram detalhadamente descritas na revista Os pacientes da Idade da Pedra na Euro-
The Medicai Times por dois missionários pa (Polónia c Portugal), na América do Sul
britânicos em 1874. (Peru) e na América do Norte (Alasca) in-
Descreveram como, com o doente in- cluíam homens, mulheres e crianças dos 6
consciente, o osso era raspado e cortado aos 60 anos vitimas de acidentes cranianos
com uma concha marinha dura ou uma graves no decurso das suas actividades
lasca de obsidiaria, fazendo-se uma aber- quotidianas.
tura com cerca de 2,5 cm de diâmetro que À medida que a Idade da Pedra cedeu o
expunha o cérebro. Depois de se recolocar lugar às Idades do Bronze e do Ferro, a
o couro cabeludo, o ferimento era ligado superstição sobrepõe se à cura como mo-
com faixas de fibra de bananeira. tivo para a cirurgia craniana. E os crânios
Estudos de antigos crânios trepanados e eram trepanados habitualmente depois
experiências feitas por cientistas revelam da morte — para que os discos de osso
que os cirurgiões da Idade da Pedra devem deles retirados pudessem ser usados
ter trabalhado lodos de maneira seme- como amuletos.
lhante: servindo-se de lascas afiadas de sí- Cientistas modernos que se serviram de
lex ou obsidiana para perfurar o osso. Al- simples instrumentos de pedra para pro
guns crânios peruanos têm aberluras rec- cederem a experiências de trepanação
tangulares que parecem ter sido feitas por têm geralmente conseguido fazer uma
serras de sílex. abertura regular em cerca de meia hora.

366
Tintas, pós
e venenos -
os primitivos
cosméticos
A sombra para os olhos era usada pelos
antigos egípcios há mais de 5000 anos, não
só como adorno, mas lambem por razões
de ordem prática. A pintura nas pálpebras
e em redor dos olhos ajudava a protegê-los
do brilho do Sol. A tinta usada era uma
pasta espessa de malaquile - sais de co-
bre de um verde-brilhante.
No século i a. C, Cleópatra usava sombra
azul feita de lápis-lazúli moído nas pálpe-
bras superiores e malaquile nas inferiores. Perfumadas. Mulheres com cones de perfume na cabeça num banquete em Tebas. Os
Escurecia as sobrancelhas e as pestanas cones de cera - perfumados com essência de ervas — derretiam-se sobre as cabeleiras,
com kohl — pó fino de sulfureto de chum- exalando um cheiro agradável. (Mural egípcio de c. MOO a. C.)
bo misturado com gordura de ovelha. Ocre
vermelho (argila contaminada por ferro) lar as pupilas e dar brilho aos olhos. Mas a ligada com clara de ovo e alúmen e enfor-
fornecia-lhe o báton para a boca e o rouge beladona contém o alcalóide atropina, mada em lápis para os lábios com gesso
para as faces, e as palmas das mãos eram que, se usado em excesso, deforma o glo- ou alabastro moído. Um ingrediente do
pintadas com hena para ficarem com uma bo ocular e provoca a cegueira. rouge usado no século xvii para eliminar as
tonalidade rósea de juventude. As mulheres da Europa renascentista sardas era o cloreto de mercúrio, veneno
A hena, tintura castanho-averrnelhada usavam bâton escarlate de cochonilha, lei- tão mortífero que I g podia causar a morte.
feita de ligustro-do-egiplo, era também to com as fêmeas destes insectos apanha- Absorvido pela pele, mata os tecidos e aca-
usada pelas mulheres egípcias como ver- das no México e nas Antilhas. A tintura era ba por destruir o sistema nervoso.
niz das unhas. Era engrossada com cau-
chu — substância rica em tanino prove-
niente da madeira, casca ou fruto de várias
árvores, como a acácia. Os homens egíp-
cios usavam hena no cabelo e na barba.
Como os Gregos mediram a Terra
Na Grécia antiga, há mais de 2000 anos,
um rosto pálido era considerado mais Os cientistas mais sábios da antiga Grécia descobriu que era de um cinquenta avos
atraente, por isso as mulheres usavam al- não concordavam c o m a ideia d o s seus de u m a circunferência completa - exac-
vaiade - carbonato de chumbo misturado antepassados de que a Terra era uma placa tamente 7,2" segundo a medição actual.
com cera, banha, azeite ou clara de ovo — circular sustentada por quatro elefantes Precisava depois de saber a distância em
para pintar a cara. Isso dava-lhes certamen- sobre uma grande tartaruga marinha. Já linha recta entre Syene e Alexandria. Uma
te uma palidez bonita, mas o efeito a longo tinham chegado à conclusão de que se tra- das formas por que terá podido chegar a
prazo era o envenenamento. O chumbo, tava de uma esfera. A ideia foi debatida por este valor era pelo tempo de jornada dos
absorvido alravés da pele, provocava falta volta de 500 a. C. por discípulos de Pitágo- camelos: um camelo carregado fazia cerca
de apetite, males de estômago, tonturas, ras, que viam na esfera a forma perfeita. de 100 estádios por dia — um estádio é
respiração ofegante, paralisia das pernas, O primeiro homem a quem se atribui a hoje considerado c o m o medindo aproxi-
cefaleias e, às vezes, a cegueira e a morte. medição do perímetro da Terra foi o astró- madamente 185 m. Como u m a caravana
Os romanos ricos usavam também al- nomo grego Eratóstenes em 230 a. C. Se a de camelos levava 50 dias a ir de Alexandria
vaiade e um rouge feito de zarcão. O impe- Terra era urna esfera, pensou, então a linha a Syene, Eratóstenes calculou a distância
rador Nero e a sua segunda mulher, Po- que unia dois quaisquer lugares era sem- em 5000 estádios - 925 km. Isto produziu
peia, usaram ambos pinturas faciais com pre o arco de um círculo máximo. Se ele para a circunferência da Terra o valor de
chumbo no século i a. C, mas usavam tam- conseguisse medir a distância, tanto em 250 000 estádios, ou 46 250 km.
bém um emplastro de massa de farinha e linha recta c o m o e m fracção d e 360° Tendo em conta a sua falta de equipa-
leite de burra durante a noite para contra (círculo completo), obteria um arco a par- mento e as suas medições empíricas, é no-
riar os efeitos da pintura sobre a pele. Com tir do qual conseguiria calcular o períme- tável que tenha c h e g a d o a um n ú m e r o
esse fim, levavam sempre consigo, para tro total da ciicunferência. com uma margem de erro por excesso in-
onde quer que viajassem, uma recua de Tinha sido notado que ao meio-dia do ferior a 15% em relação às medições mo-
burras. solstício de Verão (cerca de 21 de Junho) o dernas. Tivesse ele conhecido a distância
Um outro tipo de veneno veio a usar-se Sol se encontrava exactamente a pino so- exacta em linha recta entre Syene e Alexan-
como adorno na Europa renascentista no bre Syene (a m o d e r n a Assuão), no Alto dria — 847 km — e a sua conclusão teria
século xv ou xvi: a beladona, suco da plan- Egipto, pois iluminava verticalmente um sido um pouco inferior a 230 000 estádios,
ta mortífera com este nome aplicado poço profundo. Então, nessa mesma altu- ou 42 550 km, erro de apenas 6%.
como pingos oftálmicos. O nome significa ra do ano cm Alexandria, muitos quilóme- Hoje, sabemos que a Terra é achatada
em italiano "mulher bela", pois foi em Itália tros a noroeste de Syene, Eratóstenes me- nos Pólos Norte e Sul e que a circunferên-
que primeiro se usou o produto para dila- diu o ângulo do Sol a partir da vertical e cia no equador é de cerca de 40 075 km

3(57
COMO FOI FEITO?

-í.-t\ *m
Desvendando línguas esquecidas
Sempre que os investigadores tentaram A p e d r , dos segredo. A M , , ^ i ^ ^ f ^ ^
decifrar a escrita de uma língua morta de Roseta, encontrada no Egipto , •" ^tffff^^&HHlSSrS jlsfct'T *Sl5
- que já ninguém fala ou compreende em 1799, contém inscrições a
r40Pid &L
0p
TÍJS®SJSES5Tlfi!fi33j!!í^^^^
- procuraram, por regra, dois auxiliares em hieróglifos numa "ÍTÍTSMÍSC/ «»«ioi^—wtf/ £^\j¥VIY-V.£^=W2| •;Í
principais: um é um exemplar bilingue, escrita cursiva cha-
em que um texto da língua desconhecida é mada demótico -JfiS
acompanhado pelo mesmo texto numa e em grego " „*
KHSSffi
língua conhecida; o outro são os nomes
próprios — os de reis e deuses, por exem-
antigo. :4^vSí.i3wgrtfe.^»tL':^sffiTii!Jitir<Ksã
plo, que são às vezes conhecidos noutras
línguas e constituem frequentemente o
primeiro passo para a decifração.
Biivãa^tttiKíw
Os hieróglifos dos faraós
Durante centenas de anos, os investigado-
res sentiram-se fascinados com os hieró-
glifos - escrita pictórica - inscritos ou
pintados nas paredes interiores dos monu-
mentos egípcios antigos. Mas o conheci-
mento do significado da escrita utilizada
pelos Egípcios durante mais de 3000 anos
morrera na época romana.
A descoberta da Pedra de Roseta, em
1799, foi a chave que permitiu decifrar os
hieróglifos. A pedra tinha inscrições em três
escritas diferentes: em hieróglifos, noutra
escrita egípcia desconhecida chamada de-
mótico e em grego. A parte grega que os
investigadores percebiam afirmava que os
três textos eram o mesmo decreto em hon-
ra de Ptolomeu V, datado de 1% a. C.
Os primeiros investigadores que tenta-
ram decifrar os textos egípcios concentra-
ram-se na secção em demótico e começa-
ram por localizar os nomes próprios com-
parando o demótico com o grego. Mas
avançaram pouco na sua transliteração. O
primeiro passo deu-se em 1816, quando - Otv-*-rfH<-

Thomas Young se apercebeu de que a escri


ta demótica tinha evoluído a partir dos hie-
: - -.u.il/.
róglifos e que, pelo menos na escrita dos T
- ••- .(V-IKAIíepWM.MMJ
nomes, os hieróglifos tinham valor fonético
e não eram apenas símbolos.
Jean-François Champollion teve final-
mente êxito em 1822 ao demonstrar que os
hieróglifos tinham valor fonético. Era co-
nhecedor tanto do grego como do copta
- a fase final da antiga língua egípcia, da-
tando do século II da nossa era e escrita em
grego com alguns caracteres demóticos.
Ao comparar os 1419 hieróglifos da pe-
dra com o texto grego de apenas f>00 pala-
vras, Champollion notou que havia so-
mente 66 hieróglifos diferentes e que al-
guns deles eram frequentemente repeti-
dos. Concluiu que os hieróglifos eram foné-
ticos, representando sinais e sílabas

O declfrador. O francês
Jean François Champollion
decifrou a Pedra de Roseta,
chaoe para o entendimento
dos hieróglifos egípcios.
COMO FOI FEITO?

d - í U u = ^n
p 1 O 1. M Y s
alfabéticas falarias e que havia diversas al-
ternativas para o mesmo sorn, como no
português c e ç. Champollion trabalhou
durante 14 anos na compilação de uma
C-MÍ - V~M K i ) A 1 R A
gramática c de um dicionário egípcios.

A descoberta da Pedra de Roseta


Quando Napoleão Bonaparte ocupou o
Nomes de reis. Os inoestiga- Egipto com o seu exército em 1798, era
Ws.«5! dores partiram do princípio acompanhado por um grupo de eruditos e
de que as carreias ovais, ou cientistas cuja tarefa era estudar e recupe-
"cartuchos", na escrita hiero- rar vestígios arqueológicos.
glffica continham um nome Mas foi por acaso que, no decurso da
real - Ptolomeu. Cham- campanha de dois anos, um tenente de
\ pollion comparou os sim engenharia de nome Bouchard descobriu
bolos com outros de um a Pedra de Roseta. Eucontrava-se a orientar
>n!i'/' ii i •• > IPI i &<Yiiii
cartucho de Cleópatra fortificações em Roshiri (Roseta), na mar-
encontrado num obe- gem ocidental rio delta rio Nilo, quando Escrita da corte. Esta amostra de escrita
,
lisco de Phihe e iden notou a pedra de basalto negro fazendo cuneiforme faz porte de um baixo relevo
Ill/kl/ ^pkft >M-«.cffc>»K'f-OÍWW^ÍÍ-VJJ \
\ tiíicou o P o O e o L. parte de uma muralha bastante recente e mural da corte de Assurnusirpal II da Assí
Depois disso, dedu- meio enterrada na lama. Quando se aper ria. Data de cerca de HW a. C. e foi descober-
ziu o valor fonéti- cebeu da importância das inscrições, a pe- ta na antiga capital assíria de Kuhlu (actual
co dos restantes dra — com 1,15 m de altura por 0,72 m de Nimrud, no Iraque). A cabeça de carneiro é
símbolos. largura — foi levada para o Cairo e depois um ornato de uma cadeira.
para Alexandria.
\ As forças francesas renderam-se ao em 1837 após vários anos de trabalho, con-
exército britânico em 1801, e a pedra en- cordou com a de Lassen, publicada em
contra-se actualmente no British Museum. 1836.
5yc,CTw.«5fi, í ^^ | [ V < , i i , u - 1 ~^^ A decifração da escrita cuneiforme per-
A escrita da Pérsia antiga sa abriu caminho para o entendimento de
A escrita cuneiforme é formada por símbo- pelo menos seis línguas antigas, incluindo
los em forma de cunha por vezes gravados o babilónio.
em pedra, mas principalmente impressos
em placas de argila com um instrumento A escrita da Grécia antiga
aguçado, o estilete. Esta escrita era usada Quando o arqueólogo britânico Sír Arlhur
na Pérsia (agora o Irão) há mais de 2000 Evans encontrou umas tábuas de argila
anos. Um embaixador espanhol na Pérsia com inscrições em Cnossos, Creta, no
no século xvn, Garcia Silva Figueroa, des- princípio do século xx, ninguém sabia ao
creveu-a em 1618. Identificou as ruínas per- certo que linguagem representavam. Pen-
to de Shiraz, onde viu a escrita, como sen- sou-se que fosse a do povo minóico da
do da Persépolis do século vi a. C. (antiga Creta antiga, datando de entre os séculos
capital de Dário, o Grande). xiv e xii a. C.
'0'aCjYX«»V , *l r - ' n 1 t H « A T A l T K S A M S N O Y K A I T A r . ? o í T <
Mas só mais de 200 anos depois a es- Após terem sido descobertas mais pla-
crita cuneiforme persa foi decifrada, em cas nesse mesmo e noutros sítios, com
grande parte por dois homens traba- uma escrita diferente mas relacionada
lhando independentemente: o profes- com aquela, a escrita recebeu o nome de
«riu Enentni-^urv^TaNiiitYô. 1 ^ sor alemão Christian Lassen e o major Linear B. A segunda, e mais antiga, foi cha-
r IK
Í A U A Í I A I A Y V ' " -'• t inglês Henry Creswicke Rawlinson. maria Linear A.
KÍX I xo Y nrA.f •; K"1 •,• -,-.-•
Ambos foram auxiliados pelo tra- Só em 1952 a Linear B foi decifrada por
« - " I l l w l i t . A ':'• ' ' i , 1 - ' ^ balho anterior de um professor um arquitecto britânico de 30 anos, Michael
holandês, Georg Friedrich Gro- Ventris, que beneficiou de trabalhos anterio-
tefenri, de Gõttingen, que deci- res da americana Alice Kober, a qual, na dé-
iToriK^TAní-íí»»' t "T
frara os nomes e títulos dos cada de 40, criara um método rudimentar
reis Dário e Xerxes. para determinar as relações entre sinais atra-
* AH o o co Y * » * * ! * * 7 A *
O Prof. Lassen, estudioso vés da tentativa de comparação entre prefi
de línguas, trabalhou sobre a xos e terminações de palavras.
tf A "« T A » Y *»'n ^N H r Y
pequena quantidade de tex- Ventris decidiu analisar a escrita como se
> A » » l l H * f *, v r i t i A N tos disponíveis, comparan- se tratasse de um código, ajustando-a a um
lNxATi«T"MI »NríPAN
T O X O t A - » * V » A r » K Asl ^
HjYtEYXAri»'^--; /-" do-os com outras línguas, quadro que mostrava a frequência de sinais
Y iXv T AI «OH; p ^ J ^ N A ; entre as quais o sánscrito e os interrelacionados e as modificações apa-
8MI*«>M BM»,«At ~«*»»£•
riinoHUtnN-A-T^r^M.»' hieróglifos do Egipto. rentes nas terminações de palavras. A luz
,«jN>-fir*riHftí2 - T » H T O Y
^fYSKIIÀíU"HAAlin O major Rawlinson estu- fez-se quando Ventris compreendeu que a
Tonpocif^H»* 1 ^*- 1
dou a enorme inscrição gra- língua utilizada era o grego e conseguiu
vada na face de um rochedo a identificar nomes de cidades. O seu traba-
. Y i Hf H M v n ^ * ' » - J* ^ 60 m acima do solo nos montes lho de decifração da Linear B constitui a
KKAeAn»NI»itT Zagros, próximo de Bisotun, no base para a maioria dos estudos posterio-
Oeste do Irão. A sua tradução rios res sobre aquela escrita. Mas a Linear A
dois primeiros parágrafos, completada mantém-se quase totalmente indecifrada.

m
COMO FOI FEITO?

A primeira travessia aérea do Atlântico sem escala


— • •

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Á/.*/./•.
motores Rolls-Royce "Eagle". Era o tripula-
A primeira Iravessia aérea do Atlântico sem do por Alcock e Brown.
escala teve lugar apenas 16 anos depois de Apesar das más condições atmosféri-
os irmãos Wright terem dado o seu primei- cas, Alcock decidiu descolar a 14 de Junho.
ro salto de 37 m por cima das areias de Soubera que um hidroavião americano fi-
Kittyhawk, na Carolina do Norte, EUA. zera a primeira travessia do Atlântico, em- aquecido a pilhas para se protegerem do frio.
Foi realizada por dois britânicos, o capi- bora com escala: interrompera a viagem Enquanto avançavam por cima do
tão John Alcock, de 27 anos, piloto, e o nos Açores e passara 57 horas e 16 minutos oceano, Brown fazia rapidamente quantas
tenente Arthur Whitten Brown, de 33 no ar. Alcock e Brown calcularam que fa- observações podia do mar, do horizonte e
anos, navegador. riam o percurso em 16 horas. do Sol. Mas em breve um grande banco de
Em 1919, cinco equipas inglesas concor- Durante várias horas, os dois homens nevoeiro escondeu o mar e uma camada
reram a um prémio de 10 000 libras ofereci- esperaram que ventos laterais abrandas- de nuvens obscureceu o Sol. O primeiro
do pelo jornal Daily Mail. A primeira tenta- sem suficientemente, depois levantaram problema surgiu uma hora após a descola-
tiva foi no sentido leste-oeste, mas o avião voo contra um vento de 65 knVh. O avião, gem: uma pequena hélice na asa, que ac-
caiu no mar ao largo da Irlanda. As outras muito carregado, quase não conseguiu er- cionava um gerador para o transmissor de
equipas decidiram partir da Terra Nova guer-se de uma "pista" cheia de altos e bai- rádio, caiu. A partir daí, Brown podia ouvir
para a Irlanda aproveitando os ventos pre- xos num local designado por Monday's mensagens, mas não transmiti-las.
dominantes de oeste. Um dos aviões caiu Pool, perto de St. John's. A segunda crise deu-se uma hora de-
ao levantar; urn segundo sofreu avarias no Alcock e Brown sentavam-se lado a lado pois, quando o motor direito começou a
motor a 950 km de terra, e a sua tripulação num habitáculo aberto protegido unica- fazer um barulho devido a um tubo de es-
teve de ser socorrida por um navio que mente por um pára-brisas. Brown descre- cape partido, que acabou por cair.
passava. O terceiro era um bombardeiro veu-o como "um quarto isolado, mas de Os dois homens tinham um telefone
Vickers Vimy, biplano equipado com dois modo algum tristonho". Usavam vestuário com auscultadores através do qual comu-

<* ^^«m&ç&i^^
tinha de sair do seu lugar e ajoelhar na fuse-
lagem para limpar o indicador
tou o avião. Este encontrava-se então ape- Como se tudo isto não chegasse, o gelo
nas 15 m acima dos carneirinhos brancos cobriu os conta-rotações montados em
das ondas e voando em direcção à Améri- cada motor, bloqueou as entradas dos tu-
ca. Alcock deu a volta e rumou novamente bos que faziam funcionar o indicador de
para leste. velocidade do ar e obstruiu as entradas de
Mal se tinham recomposto quando o ar dos carburadores. Para os desentupir,
nicavam entre si, mas devido ao roncar dos avião entrou numa tempestade de neve. Brown teve de rastejar ao longo das asas.
motores preferiam não o usar. Durante a Esta acumulou-se sobre o indicador do ní- De tempos a tempos, os dois homens
maior parte do voo, comunicaram por vel de combustível, fixado a um suporte no comiam sanduíches e bebiam cale. Alcock
gestos e notas escritas. exterior do habitáculo, obscurecendo-o não conseguia sair dos comandos, com os
Quando a noite chegou, Brown serviu- totalmente. A intervalos frequentes, Brown pés pressionando permanentemente a
-se de uma lâmpada eléctrica para estudar barra do leme e uma mão no
o mapa e espreitar o comportamento dos manche. Com os tanques de
motores. Ao nascer do Sol, o Vimy entrou combustível da retaguarda a es-
numa nuvem tão densa que não deixava vaziarem-se, o aparelho tinha
ver as pontas das asas nem o nariz do avião. tendência para picar, e Alcock
Pior ainda, perderam todo o sentido da ho- era obrigado a puxar constan-
rizontalidade. O aparelho começou a ba- temente o manche.
lançar, e Alcock calculou mais tarde que
em determinada altura tinham voado de Descolagem para a fama
cabeça para baixo. Depois, entrou em per- John Alcock e Arthur Whitten
da e picou, e a tripulação verificou pelas Brown (à direita, na fotografia
voltas da bússola que desciam em espiral. inserida) levantaram de um
Subitamente, o avião saiu da nuvem. Vi- campo na Terra Nova (em bai
ram o mar, aparentemente em pé, de um xo) para a sua travessia do
dos lados. Rapidamente, Alcock endirei- Atlântico sem escala
COMO FOI FEITO?

I: TS3T

O percurso do voo. Brown trocou uma tinha recta entre a Terra Nova e a Irlanda, marcando a rota pretendida Numa
Viagem de cerca de 3000 km podiam ter-se desviado a ponto de não encontrarem as Ilhas Britânicas.

Até que, através da bruma, apareceram


COMO VOARAM EM LINHA RECTA no mar dois pontinhos minúsculos: eram
ATRAVÉS DO OCEANO as ilhas de F.ashal e Tirbol, ao largo da costa
0 navegador de um pequeno avião, da Irlanda. Dez minutos depois, às 8.25 da
com a sua bússola em constante vi- manhã, o Virny atravessava a costa da Irlan
bração, tem apenas de cometer o erro da, e em breve surgiram diante
de 1" para sofrer um desvio de 1,5 km de si, difusos na névoa, os mas
ao fim de cerca de 100 km. tros de TSF ria aldeia de Chif-
O voo de Alcock e Brown cobriu den. no County Galway.
perto de 3000 km sobre um oceano Perto da estação de rádio,
sem pontos de referência, e qualquer via-se um campo que parecia
erro da bússola poderia ter sido agra- adequado para a aterragem.
vado pelos ventos laterais. Aterrar na Alcock apontou o avião para
Irlanda com um desvio de apenas uma aterragem perfeita — mas
16 km constitui um feito notável. o campo era afinal um pânta-
Para voarem segundo a linha que no. Com um loque sobre a
tinham marcado entre a Terra Nova e lama, o avião afocinhou, mer-
a Irlanda, Brown serviu-se da navega- gulhando o nariz na lama. Ga-
ção estimada e da observação astro- solina proveniente de um tubo
nómica, comparando uma com a ou- que se partiu inundou o habi-
tra. Na navegação estimada, utilizava táculo, mas Alcock já tinha
constantemente a bússola para asse- desligado a corrente eléctrica,
gurar que voariam na direcção correc- pelo que não houve incêndio.
ta. O seu indicador de velocidade do ar Aproximaram-se a correr
dizia-lhe a velocidade aparente, mas funcionários da estação de rá-
ele tinha de entrar em conta com o dio. "Está alguém ferido?", per-
efeito do vento, que podia aumentar a guntaram, e depois: "De onde
velocidade ou reduzir o avanço do são vocês?" A resposta foi aco-
avião. Um indicador de deriva dizia-
lhe ainda a que distância estavam da O ruído dos motores. Devido
linha de rumo. Pelo relógio podia cal- ao roncar dos motores. Brown
cular quanto e em que direcção preci- e Alcock comunicavam escre-
sa tinham voado desde a última toma- vendo num bloco (à direita).
da de posição. Podia então comuni-
car a Alcock qualquer necessidade de
alteração de rumo e marcar no mapa
a sua posição no momento.
Como não havia pontos de referên-
cia, confirmava as suas estimativas fa-
zendo leituras com o sextante. Este
instrumento mede o ângulo de um
corpo celeste acima do horizonte. Me-
dindo as "alturas" de três estrelas co-
nhecidas e anotando a hora exacta de
cada leitura, consultava depois as ta-
belas de navegação e traçava três li-
nhas no mapa. O ponto onde as linhas
se encontravam indicava a posição do
avião.

372
Curiosidades de alimentos e bebidas
Bolhas no champanhe, o furo no macarrão, algas nos sorvetes - os
alimentos e as bebidas que consumimos são ricos em factos estranhos
que os tornam fascinantes, além de nutritivos.

Como se fazem as massas - com e sem furos, p. 375


CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

Como se mete uma pêra numa garrafa de aguardente?


Entramos numa loja de vinhos à procura Não trata se de uma bebida tradicio dureceu bem na sua estufa em miniatura.
de qualquer coisa "diferente". Nas pratelei- nal, e a garrafa provém de um pequeno Fm Setembro, o cultivador desatou cuida-
ras há aguardentes, licores e vinhos de to- pomar no Sul de Franca. A pêra cresceu dosamente a garrafa e colheu o fruto, já
das as cores e graduações. Examinamos mesmo dentro da garrafa. maduro, do seu ramo, com pé e tudo.
rótulos atrás de rótulos. Mas, ao ver esta Provavelmente, começou a desenvol- Faltava só dar uma lavagem à garrafa
garrafa, não é o rótulo que atrai — é o con- ver-se em Maio, era ainda uma miniatura com a pêra e juntar o sumo da pêra fer-
teúdo. Uma pêra, com pé e tudo, num ba- de fruto com menos de 2 cm. O cultivador, mentado e destilado, et voilà' — Eau de
nho de líquido transparente. assegurando se de que se tratava de um Vie de Poire, com uma pêra verdadeira.
Como entrou ali? Foi a garrafa moldada exemplar perfeito, limpou-o cuidadosa-
eu» redor da pêra.' Não pode ser: o calor do mente e introduziu-o pelo gargalo de uma Colheita de garrafas. Estas peras france
fogo destruí la ia. Talvez a garrafa seja feita garrafa colocada de boca para baixo. sus. que cresceram nas garrafas, estão
em duas metades ... mas não há sinal de Depois, suspendeu a garrafa numa rede prontas para ser colhidas. As garrafas foram
costura. Terá a pêra sido mirrada e nova- atada, por cima, a um ramo. Protegida as- colocadas sobre os frutos ainda pequenos,
mente expandida? sim dos pássaros e da chuva, a pêra ama- mal acabados de formar.

374
CURIOSIDADES DF ALIMENTOS F BFBIDAS

urna máquina de cortar, que produz as ro-


delas cortadas a rigor.
Os embaladorcs inspeccionam as rode-
las e metem-nas nas latas. As rodelas parti-
Como é que se
das são utilizadas para sumo ou para se-
rem vendidas em latas com pedaços de
recheia uma
ananás.
Cada lata de rodelas á enchida com cal-
azeitona?
da ou sumo de ananás, fechada mecânica
mente e selada no vácuo. K depois cozi- As azeitonas recheadas são habitualmente
nhada em panelas de pressão. Finalmente, descaroçadas e recheadas à máquina. O
as latas de fruto esterilizadas são arrefeci- recheio é constituído por pimento morro
das por meio de água ou ar. etiquetadas c ne ou por uma pasta resultante da mistura
encaixotadas. do pimento com um agente gelificante.
Ao longo de um período de três anos, o As azeitonas são alinhadas em filas
ananaseiro produz dois frutos, cada um numa tela transportadora perfurada, e os
pesando cerca de 2 kg. Por vezes, para sim- caroços são-lhes extraídos por uma má-
plificar a colheita, faz-se florescer as piar quina automática. Um injector espreme
tas simultaneamente, regando-as com um então a pasta de pimento para o orifício
regulador de crescimento, como o ethe- que ficou na azeitona.
phon. Assim, os frutos amadurecem ao Certas azeitonas recheadas com ancho
mesmo tempo. vas, salmão fumado ou amêndoa moída
são descaroçadas com uma colher ma

Como se faz o furo


no macarrão
Fios redondos de esparguete, macarrão
com furo, fitas de tagfíatelli - todos eles
são massas alimentícias fabricadas com
uma farinha de trigo grosseiramente moí-
da, a sêmola, misturada com água até
«Eau de Vie de Poire.» EstQ aguardente constituir uma massa dura.
francesa com uma pêra inteira dentro da Em Itália, há quem faça a massa em
garrafa é preparada desde o século xvn. casa, mas habitualmente ela é feita em fá-
bricas em grandes misturadores mecâni
cos. Dá-se-lhe seguidamente o feitio dese-
jado. Em casa pode simplesmente ser ten
Como se fazem d ida e cortada com a faca em fitas úetaglia-
telti ou passada através de uma máquina
rodelas de ananás que lembra a máquina de picar carne para
fazer esparguete.
do mesmo Nas prensas industriais, as massas são
comprimidas por um parafuso — como o
tamanho que existe na máquina de picar — c em-
purradas a elevada pressão através de um
molde perfurado.
Sc cortarmos um ananás fresco na tábua Fora do molde, uma faca corta os fios de
da cozinha, as rodelas têm iodas tamanhos massa à medida que emergem. Quando a
diferentes, devido ao feitio irregular do fru- faca se movimenta com pouca frequência,
to. Mas se comprarmos uma lata de ananás obtêm-se fios compridos; quando se mo-
de conserva, as rodelas têm todas o mes- vimenta mais depressa, obtêm se peças
mo diâmetro. Isto deve se ao facto de os curtas, e a grande velocidade produzem-se
ananases serem submetidos a um proces- latias delgadas.
so quase inteiramente mecânico para se A forma dos furos do molde determina a
ajustarem às latas. forma da massa furos redondos para o
Existe um tipo de máquina que proces- esparguete, furos estrelados para estreli-
sa alé 120 ananases por minuto. Corta um nhas, etc.
cilindro da polpa sumarenta do fnito, reti Para o macarrão, o furo tem de ser mais
ra lhe a casca dura exterior c o coração. complexo: o molde tem um centro maci-
Os cilindros de polpa são inspecciona- ço ligado à periferia por raios muito finos. Recheio duplo. As azeitonas foram desça
dos num tapete rolante por grupos de apa- A massa, pegajosa, atravessa o molde sob roçadas à máquina, depois recheadas por
radores, operários que retiram os últimos pressão elevada, deixando no meio o orifí- outra máquina com meia amêndoa e um
Fragmentos da casca e quaisquer man- cio do macarrão, mas os cortes deixados pedaço de pimento. A colocação nos
chas. Os cilindros são depois conduzidos a pelos raios voltam depois a fechar-se. boiões é igualmente feita ú máquina.

375
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

nual e recheadas também manualmente. nas são mergulhadas numa solução de hi-
As máquinas de rechear a2eitonas po- dróxido de sódio (soda cáustica) que lhes
dem processar 1800 frutos por minuto. Ma- atenua o sabor ácido. Em seguida, depois
nualmente, um trabalhador com prática de lavadas em água, são mergulhadas em
recheia em média apenas 18 por minuto. salmoura temperada com ácido láctico a
As azeitonas provêm da bacia mediter- fim de neutralizar quaisquer resíduos alca-
rânica, do Peru, Chile, Califórnia e Colôm- linos e deixam-se fermentar — o que esti-
bia Britânica. A variedade verde é preferível mula o crescimento de bactérias inofensi-
para rechear, dada a sua contextura firme. vas e de fermentos que lhes dão o seu gos-
Antes do processo de recheio, as azeito- to e textura característicos.

Colocação do recheio nos chocolates

Chocolates recheados. Numa fabrica de bombons, cobre se primeiro o recheio endureci Pedacinhos de chocolate. Embora o
do com chocolate derretido. Quando este solidifica, os recheios são amolecidos e ficam chocolate derreta no forno, a massa da bo-
cremosos graças a enzimas que decompõem o açúcar. lacha ao seu redor endurece, prendendo-o.

0 segredo dos recheios cremosos nos é um pouco diferente. Misturam-se bebi-


chocolates é que os recheios são enforma- das alcoólicas com a calda de fondant, que
dos em sólido, depois cobertos com cho-
colate derretido e finalmente amolecidos
é então vertido directamente sobre as for-
mas. Quando o xarope com licor arrefece,
Filetes prontos
já dentro da cobertura de chocolate.
Os chocolates recheados com creme
o açúcar forma cristais que ficam no fundo
do molde, criando uma crosta dura. As for-
a fritar
contêm fondant, uma mistura de açúcar mas são viradas sobre uma camada plana
com um quarto do seu peso em água que de farinha, fonnando-se segunda crosta do Os palitos de peixe conhecidos por fish
é aquecida lentamente até o açúcar dissol- outro lado. O núcleo líquido fica assim fíngers são o resultado de uma invenção de
ver, fervendo a seguir até aos I15°C. A mis- confinado por um invólucro de açúcar en- Clarence Birdseye, em 1929, na América —
tura, quente, pegajosa e transparente, é durecido, que é coberto com chocolate do o congelador de placas, o primeiro conge-
seguidamente vertida sobre a pedra da mesmo modo que nos fondants. lador rápido que existiu. Esta invenção deu
mesa - tradicionalmente uma pedra-már origem a uma nova indústria alimentar,
more - e deixada arrefecer até aos 38°C, pois a comida submetida a congelação rá-
temperatura à qual se transforma numa pida mantém muito melhor a sua textura
massa de minúsculos cristais de açúcar.
O fondant é reaquecido até aos 43°C,
Colocação do que na congelação lenta.
0 congelador de placas intercalava os
ficando assim suficientemente maleável
para ser misturado e amassado com co-
de pedacinhos alimentos entre duas placas ocas conten-
do um produto refrigerante. Para se asse-
rantes e essências naturais ou artificiais. Ao
mesmo tempo, junta-se-lhe outro ingre-
de chocolate gurar um bom contacto - e, consequen-
temente, uma rápida congelação -, os ali-
diente, a invertase - um enzima (substân-
cia que acelera as reacções químicas) ex-
nas bolachas mentos tinham de estar preparados em la
drilhos rectangulares delgados.
traído de fermentos. Km Inglaterra, durante os anos 50, a
O passo seguinte é modelar o fondant já Embora as bolachas com pedacinhos de grande quantidade de arenque pescado
amassado nos feitios desejados, reaque chocolate sejam cozidas a temperaturas era, na maior parte, conservada em pickles
cendo-o o suficiente para poder ser vertido de 175 a 200°C - muito para além do pon- e exportada para os países do Norte da
em formas. Em seguida, os núcleos de fon- to de fusão do chocolate —, os pedacinhos Europa. Mas houve quem pensasse que
dant são transferidos para uma tela trans- não alastram pelas bolachas. Porquê? um alimento tão barato e tão nutritivo tal-
portadora. As bolachas são feitas com uma mistura vez pudesse tornar-sc mais atraente para o
Esta fâ-los passar por um banho de cho- de gordura e açúcar com ovos e farinha. O mercado interno se fosse apresentado sob
colate derretido, que os cobre. Depois de o chocolate — cacau, açúcar e leite em pó uma forma diferente. Passaram então a fa-
chocolate endurecer, os bombons cober- misturados com manteiga de cacau — c zer se palitos de arenque, que foram sub-
tos são aquecidos a 30°C, o que não é sufi- acrescentado em pedacinhos. metidos a um teste de mercado contra um
ciente para derreter o chocolate, mas acti- Enquanto as bolachas cozem no forno, produto de palitos de bacalhau vendidos
va a invertase. Esta decompõe o açúcar do o chocolate derrete-se, mas ao mesmo sob o nome de fish fíngers. Os consumido
fondant nos seus dois principais compo- tempo a farinha e os ovos endurecem. A res de Southampton c da Gales do Sul,
nentes — glucose e frutose -, mais solú- massa da bolacha é demasiado sólida para onde foi efectuado o teste, baralharam as
veis que o açúcar e que, ao combinarem- que os pedaços de chocolate, derretidos, expectativas ao revelarem urna preferência
-se com a água do fondant, amolecem os possam escapar-se c misturar se com ela. esmagadora pelo bacalhau em relação ao
núcleos e os tornam cremosos. Este pro Assim, quando as bolachas arrefecem, os arenque.
cesso dura alguns dias. pedacinhos de chocolate solidificam de E assim foram introduzidos em Inglater-
O processo para fazer bombons de licor novo no seu feitio original. ra, em Setembro de 1955, os fish fingers de

376
CURIOSIDADES l)K ALIMENTOS E BEBIDAS

quer coisa mais fria que isso embota com A cobertura fica assim consolidada e o
FILETES DE PEIXE demasiada rapidez as lâminas da serra. Os óleo absorvido faz com que o palito de
EM BLOCOS palitos já serrados têm normalmente 8 cm peixe possa ser convenientemente grelha
Verificou-se que a fase mais complexa do comprimento. 2 cm de largura e 1 cm de do ou frito. Finalmente, os palitos são
da preparação dos palitos de peixe altura. Cada bloco dá mais de 500. Alguns transportados num percurso em espiral
(também chamados físh fingers) era destes partem-se durante o processamen- através de um sopro de ar frio a —30°C,
juntar os filetes (lombos do peixe) em to e os restos são usados noutros produtos, que baixa a temperatura do interior para
blocos para serem congelados e ser- como bolinhas de peixe. — 20"C, e, depois de embalados, são ar-
rados. Como é que se consegue juntar Uma tela transportadora leva-os a atra- mazenados a -28°C, prontos para distri-
pedaços de peixe sem deixar espaços vessar uma cortina de polme e urna ava- buição.
vazios entre eles? lancha de pão ralado, e esta cobertura du- Uma vez nas lojas, os físh fingers, guar-
A simples prensagem dos lombos plica a espessura do palito. Depois, são to- dados a uma temperatura inferior a
dos peixes em blocos gelados não foi, dos passados por um banho quente de — 15°C, devem conservar-se durante três
de início, bem-sucedida - partiam óleo vegetal durante cerca de um minuto. meses.
-se quando os blocos eram serrados.
O problema foi solucionado pela utili-
zação, como picado, das pontas em V
cortadas dos lombos. O picado é mis-
turado com estes numa máquina gi-
Como se fabricam milhões
gante de aço inox semelhante a uma
betoneira, e a mistura é comprimida de batatas fritas em palitos iguais
em blocos sem o perigo de ficarem
bolsas de ar. Em 1987, uma só cadeia de alimentos rápi- Na fábrica, as batatas voltam a ser ins-
Inicialmente, mislurava-se com o dos — a McDonalds Hamburgers — ven- peccionadas e pesadas para se verificar a
picado um soluto fosfatado que ac- deu no Mundo inteiro mais de 200 000 mi- sua densidade, o que revela se elas se tor-
tuava como plastificador e transfor- lhões de batatas fritas em palitos. naram moles e farinhenlas. São passadas
mava aquele num fluido espesso Para garantir que as suas batatas fritas por peneiras, a fim de se lhes tirarem as
ideal para fazer a aglutinação dos fi- tenham um sabor constante e estejam poeiras e as pequenas pedras, e por ima-
letes. Mas certos fabricantes ganan- prontas ao mesmo tempo que os hambur- nes detectores electrónicos que as liber-
ciosos utilizaram fosfatos em exces- gers, as cadeias de alimentos rápidos fa- tam de quaisquer partículas metálicas. De-
so a fim de reter nos seus produtos zem passar todas as batatas pelo mesmo pois de serem lavadas, a pele é amolecida
água a mais. E os fosfatos - junta- processo de preparação. com um álcali e retirada por vapor.
mente com muitos aditivos alimen- Ainda antes de as batatas serem planta- Em seguida, são cortadas em palitos de
tares - são hoje olhados com des- das, a empresa contrata com o produtor secção quadrada. Os palitos mais finos fri-
confiança pelos consumidores. Por comprar-lhe toda a sua colheita, especifi- tam mais depressa, mas tomam-se duros se
esta razão, os fabricantes de físh fin- cando o tipo do produto e as condições de se fritam demais. A espessura ideal para os
gers de categoria não os usam, mas crescimento, tais como o tratamento do palitos destinados a estabelecimentos de
isto significa que, durante o fabrico, solo e os fertilizantes. Kscolhem-se as va- venda de alimentos é de cerca de 0,5 cm.
se quebram mais unidades, o que se riedades das batatas — de acordo com a Os palitos já cortados são branqueados
traduz num aumento de preço do sua capacidade de conservação, pois elas numa tela transportadora de rede de ara-
produto final. vão ser precisas durante todo o ano. As me que os faz passar por um tanque de
batatas grandes e redondas são as preferi água quente ou um soluto diluído de fosfa
rias por serem fáceis de descascar e limpar to ou citrato, o que evita a descoloração.
bacalhau, que se tornaram extremamente e deixarem poucos desperdícios. Os palitos são seguidamente congela
populares depois das campanhas publici- Uma vez colhidas, as batatas são arma- dos, embalados em polietileno, metidos
tárias na televisão iniciadas em 1958. Tão zenadas em silos ou em grandes caixas e em caixas de cartão e conservados a
grande era a procura que tiveram de cons guardadas no escuro, a uma temperatura — 20"C até serem levantados para distri-
truir-se novas fábricas e de se encomendar constante de 9 a 10°C, que retarda as modi- buição em camionetas frigoríficas aos ter-
uma nova frola de barcos de pesca para ficações orgânicas que produziriam a sua minais das cadeias de alimentos rápidos.
trazerem o bacalhau. deterioração. São periodicamente inspec- Minutos depois de ter sido retirado rio
cionadas, retirando se todos os lotes que congelador do restaurante, o conteúdo de
Desde o filete até ao "fish finger" revelem qualquer sinal de apodrecimento. um saco pode ser frito e servido.
Nas modernas linhas de produção proces-
sa-se o peixe sem cabeça numa máquina
com duas serras circulares que retiram um
filete de cada lado da espinha dorsal (os
lombos). Os filetes passam depois por
Descascar camarões mecanicamente
uma roda e uma lâmina que separa a pele
da carne. Mas o filetamento mecânico dei- Todos os anos se pescam cm todo o Mun- mais acessível. Enquanto uma pessoa há-
xa no filete algumas espinhas muito finas, do e se vendem nos restaurantes e super- bil consegue descascar 25 kg de camarões
e por isso a parte da carne que contém as mercados 1 milháo de toneladas de gam- por hora, uma máquina descasca 400 kg.
espinhas — uma cunha em V na zona bás e camarões. Alé ao fim da década de Grande parte do que um pescador de
mais grossa — é cortada à mão. 50, altura em que foram fabricadas máqui- gambás pesca é desperdiçada, e só cerca
Os filetes são enformados em blocos nas de descascar camarões, esta tarefa era de um sexto consiste em gambás e cama
congelados e armazenados a temperatura feita à mão, o que tornava os camarões rões.
muito baixa, entre —20 a —25°C Antes de num alimento de luxo. Actualmente, são A "cabeça" das gambás, na verdade o
poderem ser serrados em palitos, têm de quase todos descascados mecanicamen estômago, o tórax e a cabeça, é habitual
voltar à temperatura de -8°C, pois qual- te, tendo-se tornado um produto de preço mente retirada à mão ainda no mar, ime

377
CURIOSIDADES DE AUMENTOS E BEBIDAS

diatamente após a escolha do pescado. pressionadas sobre uma lâmina que corta a
Tem de ser removida logo que possível, casca e a carne até à "tripa" a todo o compri-
porque os enzimas e bactérias causam-lhe
manchas negras. Os pescadores são peri-
mento da cauda. Passam depois para uma
"cama" de rolos com espaços muito estreitos
Como se utiliza
tos na remoção das cabeças de duas gam-
bás de cada vez, unia em cada mão.
entre si. Rolos adjacentes giram em sentidos
opostos, fazendo com que as cascas passem
a radiação
Sem a cabeça, as gambás e camarões
podem ser guardados em gelo até quatro
pelos intervalos c deixando ficar a carne, que
neles não cabe.
para preservar
dias. Uma vez desembarcados são rapida-
mente levados para a fábrica.
Finalmente, tem de se tirar a tripa. Esta é,
na realidade, o intestino da gamba, cheio
alimentos
As gambás são inspeccionadas para ve- de alimentos e areia. As gambás sem tripa
rificação de qualidade e separadas por ta- são mais valiosas e conservam-se melhor. Em muitos hospitais servem se alimentos
manhos numa máquina com rolos fazen- A tripa já deverá estar solta desde a fase de bombardeados por radiações a pacientes
do ângulo entre si. A medida que o interva- corte, e, quando a gamba passa por um submetidos a transplante de órgãos e a
lo entre os rolos vai aumentando, gambás cilindro com superfície rugosa que vai ro- doentes nas unidades de cuidados intensi
cada vez maiores vão caindo sobre diferen- dando, a tripa fica presa nas rugosidades e vos. Os astronautas americanos e russos
tes telas transportadoras. c removida por água corrente. consumiram alimentos assim tratados du-
São depois conduzidas a máquinas que As gambás são cozidas em água a ferver, rante as suas missões espaciais.
foram ajustadas de fornia que cada uma des- mergulhadas em salmoura gelada e con- A irradiação dos alimentos destina-se a
casca gambás de determinado tamanho. As geladas por congelação rápida uma a uma, destruir as bactérias que provocam os en-
gambás deslizam até umas fendas onde são embaladas c distribuídas. venenamentos alimentares — ameaça
particularmente perigosa para os doentes
hospitalizados, enfraquecidos, ou para os
astronautas, impossibilitados de recebe-
Ervilhas congeladas — uma corrida rem cuidados médicos. A radiação ajuda
também a evitar que os alimentos se estra-
contra o tempo guem enquanto estão guardados
bora nas baixas doses recomendadas não
em

proporcione preservação indefinida.


As ervilhas congeladas são mais frescas do chegada, retira se uma amostra, que é en O processo c conhecido desde 1921,
que as que se compram no 'lugar" da hor- saiada num aparelho especial que verifica quando um cientista americano desco-
taliça na época própria. Porquê? Porque o grau de maturação do lote. São seleccio- briu que os raios X matavam o parasita
são congeladas duas a três horas depois de nadas apenas as ervilhas tenras as mais Trichinella spiralis, que pode contaminar
serem colhidas. As tradicionais ervilhas na duras são separadas para enlatar. a carne de porco.
vagem são enviadas de noite para os mer- As ervilhas são limpas por ventoinhas e Actualmente, a radiação processa-.se ex-
cados, depois distribuídas às lojas, deterio lavadas, habitualmente numa mistura fra- pondo os alimentos, colocados sobre um
rando-sc constantemente, endurecendo, ca de óleo, detergente e água. As de melhor tapete rolante, aos isótopos radioactivos
ferindo se e perdendo sabor antes de se- qualidade afundam-se, enquanto as peles césio-137 ou cobalto-60 numa câmara
rem compradas e cozinhadas, horas ou ou as matérias estranhas flutuam e são reli protegida por chumbo, com paredes de
mesmo dias depois de apanhadas. radas. As ervilhas são novamente lavadas 1,5 m de espessura. Os isótopos emitem
Quando amadurecem, os seus açúca- por aspersores de água limpa e branquea radiação electromagnética ionisante sob a
res naturais transformam-se em amido, das para tornar inactivos quaisquer enzi- forma de raios gama. Outros métodos utili
produzindo uma textura mais rija e um sa mas que possam provocar a deterioração zam raios X ou raios beta, outros tipos de
bor menos doce. A altura da colheita é de- da cor ou do sabor, mesmo às temperatu- radiação (p. 216).
cisiva As ervilhas devem estar na fábrica e ras de congelação.
ser branqueadas duas a três horas após a 0 branqueamento consiste na passa- As doses de radiação
colheita. gem das ervilhas sobre uma rede de arame, O efeito da irradiação é medido em unida
0 conjunto das operações, desde a através de um túnel de água a ferver, duran- des chamadas Grays (Gy). Doses inferiores
plantação à colheita, ao tratamento indus- te um minuto, ou através de vapor de água a 1 kGy utilizam-se para matar os parasitas
trial e à embalagem, é cuidadosamente por dois a três minutos. São depois arrefe- da carne. As doses baixas usam se ainda
programado. O industrial contrata em ge- cidas rapidamente até uma temperatura para matar ou esterilizar insectos nos ce-
ral com os agricultores próximos da fábri- inferior a 20°C e passadas por uma solução reais, nos grãos de cacau e noutras colhei-
ca a plantação de uma determinada área salgada na qual as ervilhas demasiada- tas. Impedem que produtos armazenados.
de terra com ervilhas. mente maduras se afundam e são retiradas como as batatas e as cebolas, germinem e
para serem enlatarias. atrasem a maturação de certos frutos.
Colheita de dia e de noite As ervilhas de boa qualidade são nova As doses médias — de I a 10 kGy —
As ervilhas ficam prontas a ser colhidas em mente lavadas em água limpa e transporta- aumentam o tempo de conservação dos
alturas diferentes, conforme a época da das num tapete rolante ao local de inspec- alimentos preparados, reduzindo os orga-
plantação, o tipo de solo, a temperatura e o ção. São depois rapidamente congeladas nismos nocivos na carne, no peixe, na fnita
clima. Máquinas móveis de colheita traba- leva cerca de meia hora a congelar meia to- e nos legumes. Matam também as bacté-
lham dia e noite. As vagens são cortadas e nelada de ervilhas. Estas são embaladas em rias que envenenam os alimentos, corno
abertas por meio de um tambor rotativo, c grandes sacos ou contentores e transferidas as salmonelas, nas aves e nos mariscos.
as ervilhas descascadas são depositadas para armazenamento a frio a — ÍB^C. Po- Cerca de metade da criação vendida con-
num camião ou num reboque que acom- dem ficar guardadas durante semanas ou tém salmonelas vivas, que habitualmente
panha a máquina de colher. meses antes de serem retiradas, novamente morrem durante a cozedura.
Para se obter ervilhas congeladas de boa inspeccionadas, separadas por tamanhos e A irradiação dos alimentos é regulada
qualidade, estas têm de ser entregues na empacotadas para distribuição em veículos por acordo internacional através de agên-
fábrica o mais rapidamente possível. A frigoríficos até aos retalhistas. cias rias Nações Unidas.

378
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

Preservação de alimentos por liofilização


Quem já alguma vez acampou rio alto de removeu quase todo o ar, o líquido refrige- 0 processo de liofilização dá aos ali-
um monle apreciou as vantagens dos "ali- rante dos pratos ocos é substituído por um mentos uma textura porosa, e se absor-
mentos instantâneos" liofilizados. Pesam a gás aquecido. O gelo nos alimentos é as- vem qualquer porção de oxigénio, as gor-
quarta parte dos alimentos frescos, man- sim convertido directamente em vapor duras ficam rançosas. Se absorvem humi-
têrn-se saborosos durante anos em emba- sem ter passado pelo estado líquido. dade, as bactérias existentes nos alimentos
lagens seladas e, juntando-se-lhes água a Para conservar os seus nutrientes, gosto desenvolvem se e estes apodrecem como
ferver, podem ser consumidos quentes. e aparência, o alimento tem de ser congela- qualquer alimento fresco.
O processo foi utilizado pela primeira do o mais rapidamente possível, mas o pro- Como o alimento tem de ser congelado
vez na década de 50, quando o Governo cesso de secagem é bastante demorado. 0 rapidamente, os melhores resultados oh
Americano patrocinou um projecto para "vapor" é imediatamente removido pela têm se com alimentos cortados às fatias
fornecer rações leves embaladas a astro- bomba de vácuo, mas o alimento leva perto ou moídos. Pode liolllizar-.se peixe, carne,
nautas, exploradores e às forças armadas. de 20 horas a ser desidratado. A seguir, é legumes e fruta, mas o café e as refeições
A liofilização conserva os alimentos por embalado para protecção do conteúdo du- compostas de ingredientes cortados em
congelação rápida, seguida de desidrata- rante 0 manuseamento e para impedir a pedaços são particularmente adequados.
ção total para extracção de toda a húmida entrada de oxigénio e de humidade.
de. Os alimentos são colocados numa câ- Congelados e secos. Mais de 600 alimen-
mara hermética entre pratos ocos conten- tos diferentes podem ser liofilizados e utili
do um líquido refrigerante, que congela o zados depois na confecção de uma diversi-
alimento enquanto uma bomba potente dade de refeições. Os melhores resultados
faz o vácuo. Quando o alimento já está obtêm-se com alimentos pequenos, como
completamente congelado e a bomba já as bagas e os camarões, ou com ingredien-
tes cariados ou moídos.

;L>- AMORAS

ERVILHAS

r
MILHO DOCE

GROSELHA PRE IA

379
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

quando o Exército Americano o incluiu


nas suas rações para a infantaria, durante a
Café instantâneo numa cafeteira gigante I Grande Guerra.
O fabrico do café instantâneo implica
fazer café a uma escala gigantesca. O café é
O escritor francês Honoré de Balzac bebia tâneo nos finais do século xix falharam de- entregue ao fabricante já torrado, lotado e
café preto, frio e espesso corno sopa, para vido à pobreza do aroma. Até que em 190f> moído. Depois, é coado — o processo em
se manter acordado enquanto escrevia o engenheiro George Washington, nasci- que se faz passar água quente pelo café
pela noite dentro. Diz-se que bebeu 50 000 do na Bélgica de pais ingleses, ao visitar moído — em lotes de até 900 kg de cada
chávenas durante a vida. Calcula.se que o uma região montanhosa da Guatemala, vez. Alguma da água é evaporada, do que
filósofo francês Voltaire tenha bebido 72 notou um depósito castanho no exterior resulta um líquido altamente concentrado
chávenas por dia, e diz-se que Beethoven de uma cafeteira que fervera até deitar por Este líquido passa por um grande cilindro
usava 60 grãos para cada chávena. fora. Experimentou-o e achou-lhe o gosto no qual é exposto a ar quente, que evapora
Actualmente, usa-se em muitos países agradável — deduzindo que o facto se de- a água restante, e o café em pó fica pronto a
café instantâneo — o que resta depois de via à pressão atmosférica, inferior nas gran ser embalado.
se fazer café com os grãos moídos e se des altitudes: o ponto de ebulição da água, O café instantâneo granulado é fabrica
fazer evaporar a água. No Japáo e na Grã- mais baixo naquela grande altitude, con- do por liofilização. Congela-se o concen-
-Bretanha, cerca de 90% do café que se cluiu, permitia que a água se evaporasse trado, que depois é partido em grânulos.
bebe é instantâneo. Nos EUA, contudo, ele sem que o calor diminuísse muito o sabor Estes são em seguida aquecidos modera
representa apenas um quarto de todo o do café dissolvido. damente no interior de uma câmara de
café bebido, enquanto quase todos os es- Passados três anos, inaugurava em Bro vácuo. Como a água no vácuo ferve a tem-
candinavos e italianos preferem tomar oklyn, Nova Iorque, a G. Washington Cof- peratura baixa, a humidade restante pode
café acabado de moer. fee Refiniiig Company. O êxito imediato do ser evaporada sem submeter o café a gran-
As tentativas para se fabricar café instan- seu café instantâneo foi ainda aumentado de calor, o que lhe prejudicaria o aroma.

Como se introduzem nos alimentos


sabores artificiais
Quando um jovem casal galês teve a ideia guir uma variedade infinita de aromas.
de vender batatas fritas com sabor a ouri Em teoria, os cientistas podem descobrir
ço-cacheiro, deparou com o problema de os componentes químicos que produzem
ignorar ao que sabia um ouriço-cacheiro. o sabor de qualquer alimento vaporizando
Sem quererem apanhar um e cozinhá-lo, ou liquefazendo uma amostra e analisan-
aproximaram-se de um gmpo de ciganos, do-a depois com um aparelho cha-
para quem ouriço-cacheiro assado sobre mado cromatógrafo.
barro é um prato tradicional. A descrição Por rneio de outras aná-
dos ciganos, de um sabor "a fumo e a car- lises é possível determi-
ne de vaca", foi transmitida a um especia nar a forma como as
lista na criação de sabores artificiais. Este moléculas se combi-
conseguiu um complexo de sabores, apro nam, pois configu-
vado pelos ciganos, que foi salpicado so- rações diferentes
bre as batatinhas quentes logo após serem produzem sabores De peixe para ca-
cozinhadas. As batatinhas entraram no diferentes. ranguejo. Moem
mercado e revelaram se urn precursor de Servindo-se des- -se peixes bara
outros sabores invulgares, entre eles vina tas informações, o tos. acrescentam-se-
gre, cidra e iogurte com pepino. especialista de sabo- -Ihes aromas artili
O sabor de qualquer substância resulta res consegue criar um ciais e moldam-se em
de uma complexa combinação de produ- produto sintético qua- cordões "de carangue
tos químicos — já foram identificados pelo se idêntico ao sabor natu- jo" (em cima). A pasta com
menos 4300 aromas diferentes e pensa-se ral. Na prática, contudo, é sabor a caranguejo pode ain-
que existem muitos mais. Num único ali- impossível copiar exactamente um da ser moldada para fingir as dis-
mento natural podem estar presentes cen- sabor natural, pois os mecanismos que pendiosas patas do animal (à esquerda).
tenas ou até milhares destes produtos bási- controlam o paladar são muito subtis para
cos. No café, por exemplo, foram identifi- que uma máquina os possa duplicar. mente sintéticos são fabricados por cópia
cados 800 compostos que se combinam O processo básico de fabrico de com- da estrutura química de moléculas que
para lhe dar o seu gosto característico. postos aromatizantes consiste em concen- ocorrem na Natureza. Os compostos isola-
Ao bebermos um café quente, as subs trar extractos — pela fervura do produto dos nos alimentos podem ser utilizados
tâncias que compõem o seu aroma esti- natural; ou isolar produtos químicos pre- para criar novos sabores. Existem mais de
mulam-nos os nervos da língua e do na- sentes em plantas — como criar mentol a 800 aromas sintéticos à disposição dos fa
riz, permitindo-nos identificá-lo com partir da hortelã, por exemplo. Os aromas bricantes de alimentos.
café. A língua consegue sentir apenas ou sabores feitos por estes processos po- Os sabores são ensaiados para se ver se
quatro sabores distintos — azedo, salga- dem designar-se por "naturais", embora são aceitáveis, primeiro por pessoas espe
do, amargo e doce. Os nervos do nariz sáo não se apresentem sob a forma por que cialmente treinadas, depois por consumi-
muito mais sensíveis e conseguem distin- aparecem ria Natureza. Os aromas total- dores potenciais.

380
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

mesmo a produzir "frangos prontos a co-


mer" com ossos de plástico — mas que
Escolher feijões cozidos com a rapidez não tiveram êxito comercial.
Recentemente, popularizou se entre os
do relâmpago fabricantes um outro método rie produzir
uma "carne" alternativa. Este tipo de soja é
seco e poroso como uma esponja. Mas fica
Feijões brancos e brilhantes, todos desti- transportador, através de um forno com- mole e com textura de borracha quando
nados a serern enlatados, passam em fila prido, para cozerem. molhado e parece carne cozinhada. É utili-
indiana entre dois finos feixes de luz. A Algumas empresas acham que a dife- zado em produtos instantâneos para refei-
luz é refleelida de cada feijão para um rença de gosto trazida pela cozedura não ções rápidas, massas e caris - que apenas
"olho mágico" de cada lado da fila, o qual justifica esta operação adicional, e o que requerem a adição de água a ferver para se
se certifica de que a brancura é a desejá- vendem são "feijões em molho de tomate*' transformarem numa refeição.
vel. Sc um feijão apresenta bolor, sujida- ou qualquer coisa parecida. Também ele é produzido numa máqui-
de ou descoloração (mesmo que só de O molho para os feijões é habitualmen- na adaptada da indústria de plásticos — a
um lado), ou se na fila passa uma pedra te feito de puré rie tomate diluído, açúcar. máquina de extrusáo. O resíduo de soja é
ou uma semente, o olho mágico acusa sal, especiarias, espessantes, cebola e empurrado ao longo de um cano sob pres-
um reflexo mais baço. Nessa altura, um alho. Depois é transportado para a linha de são e a temperaturas crescentes. O resíduo
computador emite um pequeno jacto de enlatagem, onde também chegam os fei- transforma-se numa massa quente e plásti-
ar sincronizado de forma a empurrar jões e as latas sem a tampa. Caria lata rece- ca que, quando obrigaria a sair por um orifí-
para trás o feijão defeituoso, deixando be um número exacto de feijões, é enchida cio na extremidade do cano, se expande
passar os bons sem serem perturbados. com molho e enviada para outra máquina, devido à súbita libertação da pressão. Isto
Cada máquina selecciona até 3 t/h em 12 que lhe aplica a tampa. Esta tampa de me- provoca a evaporação da água nela conti-
pistas paralelas - mais de 200 feijões por tal é colocada na extremidade aberta ria da, deixando o produto seco e poroso.
segundo em cada pista — à velocidade do lata, e uma série de rolos aperta e enrola
relâmpago. Uma grande fábrica pode ter conjuntamente os bordos da tampa e os
20 máquinas e inspeccionar 60 000 feijões da lata. Uma fina junta de borracha garante
por segundo.
Os feijões seleccionados são branquea-
a impermeabilidade total da junta. Nas
grandes fábricas, as latas são enchidas e
Formas
dos em vapor para amolecer a pele, reduzir
um pouco o sabor a "feijão" e diminuir a
vedadas à razão de 13 por segundo.
Finalmente, as latas vedarias são esterili-
de conservação
probabilidade de se criarem na lata sabo-
res desagradáveis. Depois, passam num
zadas em autoclave, etiquetadas e embala
das para distribuição.
do leite
O homem consome o leite de animais há
milhares de anos. Mas como o leite coalha
Como se transformam feijões rapidamente, especialmente nos climas
quentes, o queijo e o iogurte depressa de-
em "carne" vem ter surgido como formas de conservar
o leite por mais tempo. A manteiga foi tal
vez descoberta por acidente, ao transpor
Quer o saibam, quer não, muitas pessoas sob pressão através rie pequeninos orifí- tar-se o leite em recipientes: o movimento
cornem carne artificial, que frequente cios num aparelho chamado fieira. Os del- terá feito com que as natas coagulassem.
mente substitui até 25% da carne servida gados filamentos que saem solidificam em Os efeitos benéficos rie se ferver o leite
sob diversas formas — pudins, salsichas, contacto com o ar. são há muito conhecirios - em 1824, Wil-
assados, guisados — em refeitórios escola Da mesma forma, o xarope de proteína liam Dewes, ria Universidade da Pensilvâ-
res, cantinas de escritórios e fábricas. da soja foi forçado através dos orifícios de nia, recomendava que se aquecesse o leite
O ingrediente principal da carne artifi- uma fieira para dentro de um soluto de quase até à fervura e depois se arrefecesse
cial é o altamente nutritivo feijão de soja, ácido fosfórico e sal, que provocou a sua para alimentar os bebés. Pasteur (v. p. 386)
cultivado na China desde há séculos e ac- coagulação em fibras longas e delgadas. descobriu a utilidade rio aquecimento mo-
tualmente por causa rio seu óleo. Ao serem juntas em feixes, as fibras forma- derado para controlar a fermentação do
Quando, na década de 60, um número ram um molho com a espessura de cerca vinho na década de 1860. Este facto foi
crescente de pessoas começou a preo- de 6 mm. Este foi depois esticado até um aproveitado por outros no tratamento rio
cupar-se com uma alimentação saudável, quinto da espessura original, lavado em leite para destruir as bactérias causadoras
diversas empresas americanas começa- água para tirar o ácido e o sal e revestido de da tuberculose, doença em tempos mortal
rem a produzir sucedâneos da carne — e clara de ovo para ligar as fibras entre si. As e muito espalhada. Nos processos moder-
utilizaram o resíduo da soja. rico em proteí- fibras foram cortadas em segmentos de nos, o leite é aquecido pelo menos a 72"C
nas, deixado depois da extracção do óleo. comprimento uniforme, secadas ao ar, durante IS segundos e depois arrefecido
O primeiro passo rio processo era con- embaladas e armazenadas. até abaixo dos 5"C. Este processo usa-se
verter esse resíduo em fibras e nisso Posteriormente, misturando-as com também para atrasar a acidificação.
ajudou a experiência no fabrico das fibras água, óleo vegetal, corantes e agentes aro- O leite é o alimento natural mais nutritivo.
artificiais, como o nylon e o rayon. Os resí- matizantes, as fibras foram utilizadas para É formado por minúsculos glóbulos de gor-
duos ria soja eram tratados com um álcali imitarem carnes diversas e até a de aves de dura dispersos numa solução aquosa que
(soda cáustica), que extraía deles a proteí- criação. Fez-se um substituto do presunto contém proteínas, açúcar e sais minerais.
na concentrada sob a forma de um xarope ligando camadas alternarias de fibras de
viscoso. soja vermelhas e incolores para imitar as A desnatação
Na manufactura de fibras artificiais, o porções magras e gordas. Como os glóbulos gordos do leite são me-
nylon ou o rayon fundido são bombeados Os fabricantes americanos chegaram nos densos e mais leves que o resto do

381
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

Fabrico de manteiga à antiga. Uma lavradeira da Normandia ser- vados os grânulos de manteiga, junta se-
ve-se de uma batedeira de madeira para fabricar manteiga (em bai- lhes sal — que não só melhora o sabor
xo). As natas são colocadas na cuba. que é depois balouçada por como actua como conservante , e a
meio das rodas, como um berço, para bater as natas e obter a mantei- manteiga é comprimida em blocos. A
ga. A manteiga normanda não contém habitualmente sal. pelo que manteiga deve ter pelo menos 8096 de gor-
rança depressa. dura e não mais de 16% de água.
Nas fábricas de lacticínios, a nata é pas-
sada por um aquecedor que lhe eleva a
temperatura para cerca de 12"C e vai segui-
damente para uma batedeira que a agita
vigorosamente. Dccompóe-se então em
pequenos grânulos que passam a uma se-
gunda câmara, onde são revolvidos, for-
mando grãos do tamanho aproximado
dos de arroz. 0 soro é drenado e os grãos
são comprimidos em blocos. Pode juntar
-se sal. Uma única máquina de fabricar
manteiga pode produzir mais de 5 I por
hora.

Leite em pó
O leite em pó prepara se, em geral, a partir
do leite desnatado. É pasteurizado e de-
pois concentrado pela evaporação da
maior parte da água. O leite concentrado é
depois lançado num cilindro de aço com
10 m de altura, através do qual se faz passar
ar aquecido a 200"C. A esta temperatura a
água restante evapora se, deixando o leite
sob a forma de um pó muito fino.

Produção do iogurte
O iogurte é o leito coagulado por meio de
bactérias. O tipo primitivo, consumido no
Médio Oriente, era simplesmente leite de
cabra coalhado. Actualmente, existe uma
grande diversidade de tipos, desde o iogur
te magro obtido do leite desnatado até aos
tipos com alto teor de gorduras feitos com
leite integral. O leite de vaca contém pou-
cas proteínas para se obter um iogurte
com boa contextura; assim, é concentra
do por evaporação ou pela adição de leite
em pó.
Uma cultura contendo as bactérias do
iogurte é adicionada ao leite, que é conser-
vado a /12"C enquanto coalha o assenta.
Podem ainda juntar-sc aromas ou frutos
em pedaços.

Queijo — mais de 2000 variedades


Há três categorias principais de queijo;
mole, duro e amadurecido com bolores.
Mas a diversidade dos processos rio seu
fabrico resulta em mais de 2000 tipos dife-
líquido, sobem à superfície, onde formam aquecidas a mais de I40°C durante pelo rentes.
uma camada cremosa, a nata. menos dois segundos, sendo em seguida Para fabricar um queijo duro, arrefece-
Antigamente, para separar a nata os an- arrefecidas. -se leite pasteurizado até 30"C e verte-se
tigos lavradores limitavam se a retirá-la da para uma cuba. Bactérias seleccionadas
superfície. Actualmente, o leite é lançado Fabrico de manteiga (lactococci), cultivadas em leite ou soro,
em grandes centrifugadoras que giram a Quando as natas são batidas, os glóbulos são adicionadas ao leite para o fermentar,
enorme velocidade, expulsando para a pe- de gordura colidem entre si e aglomeram- convertendo a sua lactose (açúcar) em áci-
riferia o leite desnatado. -se, formando a manteiga. O processo de- do láctico, que é simultaneamente um
As natas podem eonservar-so por mais senrola-se mais rapidamente a lemperatu conservante e um condimento. Deixa-se o
tempo se forem esterilizadas. O processo ras entre 10 e 14"C. Nas quintas, as natas leite repousar durante 30 a 60 minutos
mais vulgarizado é o UHT (ultrahigh tem são agitadas em batedeiras. O soro que fica para permitir que as bactérias se multipli-
perature, ou temperatura ultra-elevada). depois de a gordura se ler aglomerado é quem. Junta se lhe coalho — uma mistu-
As natas começam por ser rapidamente drenado e dado aos porcos. Depois de la- ra de enzimas extraídos rio estômago de

382
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

bovinos ou produzidos sinteticamente. memenle. K depois cortada em pedaços em menor medida, das gorduras. Estas ai
Um dos enzimas decompõe parte da pro- pequenos, juntando-se-lhe sal para evitar terações causam o desenvolvimento dos
teína do leite, fazendo com que este coa o desenvolvimento de bactérias nocivas, e sabores característicos dos queijos.
lhe. A matéria sólida resultante, a coalha- comprimida em moldes (cinchos ou for- No fabrico dos queijos moles não se
da, é cortada com instrumentos adequa- mas) para fazer os queijos. Estes são guar aquece a coalhada depois de cortada e
dos (liras) para a dividir em grãos mais ou dados a temperaturas entre 6 e 10"C duran- pouca ou nenhuma pressão lhe é aplicada
menos finos. Aquece-se lentamente e, ao te pelo menos dois meses para adquirirem nas formas. Perde-se menos humidade,
fim de cerca de uma hora, deixa se a coa- urn sabor agradável, c até 12 meses para pelo que o queijo é mais mole.
lhada assentar e o soro é escoado. produzirem uma variedade curada.
A coalhada aglomora-se e é cortada em Durante a armazenagem, os enzimas Gelados - alimento de luxo
blocos, que são empilhados, voltados e do coalho e das bactérias produzem a de- Originariamente um alimento sofisticado,
tomados a empilhar para os comprimir llr composição lenta das proteínas do leite e, os gelados tornaram-se muilo conhecidos

COMO E FABRICADO O QUEIJO AZUL - COM BOLORES E AGULHAS

Queijos Roquefort em maturação sobre prateleiras de carvalho em caoes no Sul de França

Os queijos azuis são resultantes de bolores que produzem pigmen- molde que se pratica na produção de outros tipos de queijo é
tos dessa cor. Originariamente, os queijos devem ter sido contami- evitada.
nados acidentalmente por bolores naturais flutuando no ar sob a Os queijos escorrem lentamente e são relativamente moles. Por
forma de esporos. Uma vez crescido, o bolor colonizaria as caves este motivo, têm de ser voltados todos os dias para não perderem a
ou gmtas de armazenagem dos queijos, e todos os queijos aí guar forma.
dados seriam igualmente contaminados. As condições de temperatura e humidade variam segundo o
A moderna produção de queijo azul minimiza as probabilida- tipo e a idade do queijo. Em geral, a temperatura vai dos 5 aos I5°C e
des de o bolor não se desenvolver. Ou se junta ao leite uma a humidade de 90 a 95%. Humidade demasiada promove o cresci-
suspensão de esporos do bolor, ou esta é pulverizada ou injecta- mento excessivo de fermentos e bactérias; com humidade a me-
da em pedaços da coalhada já libertos do componente líquido nos, o queijo seca e estala.
do leite, o soro. A medida que o queijo amadurece, o fornecimento de oxigénio
O bolor utilizado no fabrico do queijo azul é o chamado Penicil- ao bolor que se desenvolve nos poros pode ser aumentado, furan-
Hum roqueíortii, do nome da cidade de Roquefort, França, onde é do o queijo com agulhas de aço inoxidável. Ao desenvotver-se, o
fabricado o queijo deste tipo de maior fama. bolor produz não só a cor azul como também enzimas. Estes
O queijo tem de ser poroso, pois o bolor carece de oxigénio e de decompõem as gorduras e as proteínas, produzindo o sabor carac-
espaço para se desenvolver; assim, a prensagem da coalhada no terístico e tomando o queijo mais macio.

383
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

FABRICO ARTESANAL DE QUEIJO DURO

0 leite é primeiramente aquecido A coalhada ê cortada em blocos Os blocos de coalhada são de- A coalhada é transferida para
na cuba, juntandose-lhe depois o rectangulares; estes são virados pois esfarelados e espalhados formas ou cubas forradas com
coalho. Cerca de uma hora de- frequentemente durante pelo na cuba, salgando-se ern segui musselina. A forma, que contém
pois, a coalhada e 0 som são se- menos meia hora para aumen- da. O sal contribui para realçar o e enforma o queijo, pode ser de
parados. Para esse efeito, utiliza- tar a acidez e melhorar o sabor sabor do queijo, além de actuar aço ou madeira, desde que seja
•se um instrumento adequado de- do queijo. O soro já foi escoado e como conservante e retardar a suficientemente resistente para
signado por lira (em cima). será dado aos porcos. acidificação. suportar a prensagem.

Os queijos são depois submeti- Durante a operação de prensa- Cada queijo é embrulhado A cura está concluída após oito
dos à operação de prensagem gem, os queijos são virados dia- numa faixa de musselina embe- semanas. Durante este período,
que expulsa o liquido e consolida riamente e a musselina é muda- bida numa pasta de farinha e os queijos são virados tOdOS OS
o queijo. A prensagem pode ser da. Quando termina a prensa- água. Evita-se assim que o quei- dias. 0 processo de amadureci-
mais ou menos enérgica ou de- gem, o último pano deve ficar jo alastre, seque ou abra fendas mento é indispensável em todos
morada, consoante o tipo de quei completamente seco, pois toda enquanto amadurece e seja da- os queijos duros, e em alguns
jo. Neste caso, dura cinco dias. a água terá sido expulsa. nificado no transporte. chega a demorar dois anos.

e apreciados por toda a Europa e EUA no res - desde 13% de açúcar na Escandiná- e que as proteínas e os estabilizadores ab
século xvn e princípios do XVIII gradas a ven- via a 15% nos EUA. sorvam a água.
dedores italianos que percorriam as princi- Junta-se leite em pó a leite ou água. A Depois de se juntarem os aromas e os
pais cidades com os seus carrinhos de co- mistura é aquecida, adicionando-se-lhe corantes, a mistura é batida e congelada.
res vivas. Em meados do século xvn produ- açúcar, um emulsionante e um estabiliza- Podem incorporar-se fnitas e nozes depois
ziam urna forma primitiva de gelado, mis- dor -geralmente, gelatina e gema de ovo - da congelação. Para a armazenagem ou o
turando gelo das montanhas com leite e depois nata ou manteiga. A mistura é "endurecimento", o sorvete tem de ser ar-
adoçado. aquecida para pasteurização e mantida a refecido a menos de I8°C negativos.
Actualmente, os processos de fabrico 66°C durante 30 minutos. Para armazenagem prolongada, a tem-
e os ingredientes variam de país para Mexe-se depois vigorosamente c arrefe- peratura deverá ser inferior a -25"C.
país. Na maioria, aceita-se um teor de ce-se rapidamente, de preferência até abai- Quanto mais baixa a temperatura de arma-
10% de gordura de leite. A doçura varia xo de 5"(", pelo menos durante duas horas, zenagem, mais longamente o gelado se
conforme os gostos dos consumido permitindo que a gordura do leite cristalize conserva.

384
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

Primeiramente, as algas são secas. Em


seguida, para extrair os estabilizadores, as
Porque se põem algas nos gelados algas secas são imersas em água quente. O
extracto, uma substância gelatinosa, é pu-
rificado e moído para formar um pó fino de
Já há 5000 anos se usavam algas marinhas (1 míeron é um milésimo de milímetro). cor creme.
na China como alimento e remédio. E ain Quando o termostato do congelador liga e Antes de serem utilizadas nos gelados,
da hoje se comem em lodo o Mundo. En- desliga a refrigeração, a temperatura do estas substâncias gelatinosas sáo habitual
eontram-se no prato japonês SUShi, com congelador oscila. Quando a temperatura mente misturadas com outros compostos,
peixe e arroz, no pâo de algas galês (algas sobe, os cristais mais pequenos derretem- tais como goma de guar (extraída da se
fritas com farinha de aveia) — e nos se em água. Depois, quando a temperatu- mente da planta com este nome, da índia e
gelados. ra volta a descer, a água gela sobre os cris- Paquistão) e goma de alfarroba (extraída
Certas algas fornecem substâncias se- tais que ficaram, aumentando o seu tama- das sementes da alfarrobeira, que cresce
melhantes à gelatina que são utilizadas nos nho e tornando áspera a contextura do na região mediterrânica), para formarem
gelados como estabilizadores, para que o gelado. misturas mais eficazes do que um estabili-
gelado não forme "grumos" no con- Os estabilizadores dificultam a forma- zador isolado,
gelador. ção dos cristais de gelo, criando à volta de- Os estabilizadores são utilizados nos ge-
Quando se faz gelado, a maior parte da les uma camada protectora, e assim o gela- lados a cerca de 0,2% do peso, de modo
água nele contida congela em pequenís- do retém por mais tempo a sua textura que 1 1 de gelado contém menos de 1 g do
simos cristais com cerca de 50 míerones cremosa. extracto de algas.

Maionese: como se mistura azeite com água


Para se fazer maionese, misturam-se ge léculas em que uma das extremidades pre-
mas de ovo com azeite. Uma pitada de sal e fere dissolver-se em água, ao passo que a
o sumo de um limão melhoram o sabor, e outra prefere dissolver-se em óleo. Na reali-
um pouco de água a ferver evita que a dade, as gemas de ovo contêm diversos
maionese talhe. emulsionantes naturais, dos quais a leciti-
Ao fazer maionese, poucas pessoas se na é o mais conhecido.
apercebem do que está a acontecer. Como Mergulhando uma das extremidades de
é que gemas, vinagre e azeite se transfor- Iodas as suas moléculas em azeite e a outra
mam num molho espesso e cremoso? O em água, as gemas de ovo forniam um
que é que evita que o azeite se separe do invólucro protector em redor da gola de
vinagre e como é que é absorvido tanto azeite. A medida que o azeite vai sendo
azeite? decomposto em gotículas ao ser continua-
A maionese é uma emulsão formada por mente mexido, essas gotículas são impedi- Gotículas de azeite. Ao microscópio
gordura e água, que não se dissolvem uma das de se aglutinarem - mesmo quando oêem-se OS gotículas de azeite de diferentes
na outra. Às vezes, gotas de água encon- colidem, elas ressaltam e separam-se. tamanhos densamente aglomeradas.
tram-sc suspensas no azeite ou na gordura, O sumo de limão impede que as bacté-
como na margarina ou na manteiga, outras rias se reproduzam rapidamente e provoca gotas mais pequenas demoram mais tem-
vezes gotas de gordura encontram-se sus- nas proteínas do ovo alterações que en- po do que as maiores a aglulinar-se e a
pensas em água, como no leite. Habitual- grossam a mistura. Nas maioneses à venda subir à superfície. Por esta razão, o leite é
mente, as gotas ocupam apenas uma pe- no mercado, que contêm menos gemas homogeneizado para tentar evitar que
quena proporção da emulsão. A maionese de ovo e menos azeite que as feitas em toda a nata suba ao cimo da garrafa. Uma
é invulgar, na medida em que as gotas de casa, a mistura é engrossada com amido maionese boa com alta proporção de azei-
azeite representam 80% do peso do produto. gelatinado ou com gomas naturais obtidas te não deve ser homogeneizada, porque a
O vinagre só consegue "receber" tanto da alfarroba ou de algas. única forma de todo o azeite ser integrado
azeite com a ajuda rias propriedades emul- Muitas emulsões alimentares são ho- na mistura é mantê-lo em gotículas de di-
sionantes das gemas de ovo. Um emulsio- mogeneizadas. Este processo torna as go- versos tamanhos para que possam aglo-
nante é uma substância formada por mo- tas mais pequenas e mais uniformes. As merar-se num espaço menor.
A origem da maionese é incerta. Uma
teoria diz que Richelieu ficou tão impres-
sionado com um molho que provou
numa visita a Minorca em 1750 que man-
dou o seu cozinheiro-chefe aprender a pre-
pará-lo. Chamou-lhe mahonnaise, do
nome da capital da ilha, Mahon. Uma ex-
plicação mais provável é que a palavra deri-
va da antiga palavra francesa que designa-
va ovo — moyeu - de onde moyeunaise.

Máquina separadora. Uma separadora


de ovos numa fábrica francesa de maione-
se parte os ooos com muito cuidado para
manter as gemas inteiras.

385
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

O imperador Napoleão III encarregou


Pasteur de investigar os germes que esta-
Louis Pasteur: guerra aos germes vam a arruinar a qualidade de um dos prin-
cipais produtos do país - o vinho. Pasteur
visitou dezenas de vinhas. Interrogou os
No Outono do 1860, o químico francês As suas descobertas conduziram à eli- trabalhadores, colheu amostras dos seus
Louis Pasteur fez uma subida aos Alpes per- minação dos germes no leite, no vinho e na produtos e levou consigo espécimes de vi
to de Chamonix. Levava consigo mais de 30 cerveja. Fora o resultado de anos de estudo nhos imaturos, maduros e deteriorados.
frascos fechados contendo extracto líquido sobre as "doenças" de diversos líquidos, Os testes revelaram que os micróbios cau-
de fermentos e açúcar que, como demons- causadas, afirmava Pasteur, por bactérias sadores das doenças podiam ser destruí
trara, ficava contaminado quando exposto da atmosfera inferior que afectavam a saú- dos à temperatura de 55°C sem afectar o
ao ar saturado de poeiras. Chegado a 1500 m de da matéria viva. "No campo da experi vinho. O processo, mais tarde designado
de altitude, Pasteur abriu os frascos para mentação", escreveu, "a sorte só favorece por "pasteurização", foi aplicado por Pas-
que neles entrasse o a mente que se preparou." teur também ao leite para o tomar livre de
ar puro e sem germes A sua mente estava preparada desde o doenças.
e voltou a vedá-los. final da década de 1840, quando fora no- Na realidade, as bactérias tinham sido
Mais tarde, de novo meado professor de Química na Academia observadas pela primeira vez há cerca de
no laboratório, mos- das Ciências de Estrasburgo, no Leste de 200 anos. Nessa altura, pensou-se errada-
trou que o líquido não França. Em 1851, dizia numa carta a um mente que os microrganismos eram os
tinha f e r m e n t a d o amigo: "Estou na fronteira de mistérios, e o efeitos da putrefacção e não a sua causa.
nem deteriorado. véu que os cobre cada vez é mais ténue!" Pasteur foi o primeiro a corrigir esta noção.
Seis anos depois, analisava o processo de Pouco tempo depois, procurava uma
fermentação do álcool e constatava que cura para diversas doenças e lançava o
organismos microscópicos, que posterior- conceito revolucionário de que os germes
mente designou por "mi- não "surgiam misteriosamente do nada",
cróbios", deterioravam mas tinham uma origem bem definida: a
alguns líquidos, como o sujidade e o pó.
H vinho e o vinagre. Louis Pasteur nasceu próximo de Dijon
em 27 de Dezembro de 1822 e era filho do
dono de uma fábrica de curtumes. Não
seguiu, no entanto, as pegadas do pai, e na
altura da sua histórica subida aos Alpes
passara já de estudante a professor de Quí-
mica e depois a director dos Estudos Cien-
tíficos na École Normale Supérieure, a co-
nhecida Escola de Magistério de Paris.
Quatro anos depois, em 1864, fez uma
palestra sobre os seus trabalhos na Sor-
bonne - sede das faculdades de letras e
Ataque do ar. As experiências de Pasteur ciências da Universidade de Paris. Mos-
mostraram que a fermentação é causada - trando determinado líquido num recipien-
por organismos existentes no ar. Na ima- te vedado, disse: "Mantém-se puro desde
gem, esteriliza-se um líquido fervendo o as experiências que iniciei há vários
numa retorta. O gargalo é depois fechado, e anos - puro, porque o isolei dos germes
só quando se deixa entrar ar é que ocorre que flutuam no ar."
fermentação. Esta ilustração apareceu num Passou grande parte dos 17 anos seguin
manual alemão publicado em 1889. tes trabalhando numa vacina contra a có-
lera do aviário e o antraz — os furúnculos
Trabalho de uma vida. Louis malignos e fatais mais comuns nas ovelhas
Pasteur passou anos a desco- e vacas, mas que podem ser transmitidos
brir a forma de eliminar bacté ao homem. Verificou que os animais do-
rias do vinho, cerveja e leite — mésticos que recuperavam dessas doen-
tornando-os seguros para be- ças não voltavam a tê-las. Por isso, injectan-
ber. A pasteurização foi inoenta do os animais com uma fornia enfraqueci
da para proteger o oinho, a pe- da do germe, dava-lhes protecção para
dido de Napoleão III toda a vida. "Em termos simples", disse, "o
meu processo consiste em pôr os micro
bios em guerra uns com os outros para
que acabem por se matar."
A seguir, interessou-se pela possível
Estudos de fermentação cura e prevenção da raiva — e em Dezem-
Num livro publicado em 1876, bro de 1880 um amigo veterinário deu-lhe
Pasteur exemplificou diversos dois cães raivosos para trabalhar. As pes-
casos de substâncias fermenta- soas que eram mordidas por estes animais
das: I, uinho tinto; 2, leite azedo; habitualmente não revelavam sintomas
3, manteiga rançosa; 4, vinho antes de 3 a 12 semanas. Depois, surgiam
com filamentos (coagulado); 5, convulsões, delírio e um temor de engolir
vinagre. líquidos. Alguns dias depois, a vítima mor-
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

ria. O tratamento consistia em cauterizar as uma vacina contendo uma forma atenua- nuar as investigações para a prevenção e
mordeduras com ácido carbólico ou ferros da do vírus da raiva tratamento da raiva Apesar de um aciden-
em brasa. Muitas vezes era a própria "cura" Além de lhe proporcionar a forma de te vascular cerebral que o deixou semipa-
que matava os doentes, e Pasteur preo combater a raiva, os trabalhos de Pasteur ralisado, aquele químico, então já mun-
cupado em encontrar um processo mais sobre a vacinação abriram caminho ao dialmente famoso, dirigiu o instituto até à
humano - isolou-se no bosque de Meu- ramo da medicina chamado imunologia. sua morte, em 28 de Setembro de 1895. Foi
don, onde mantinha em gaiolas 50 cães E hoje cerca de 30 doenças potencialmen- sepultado dentro do instituto. Ele próprio
raivosos. Por meio de análises, verificou te incapacitantes ou mortais - entre elas o fornecera o seu epitáfio ao escrever: "A lei
que os germes da raiva se alojavam na sali- sarampo, a poliomielite e a difteria — po- da qual somos os instrumentos - a lei da
va e no sistema nervoso dos animais. Na dem ser evitadas por meio de vacinas. paz, do trabalho e da saúde - procura
Primavera de 1884 — após dezenas de ex- Em 1888, foi inaugurado em Paris o Insti- criar novos meios de libertar o homem dos
periências em cáes o coelhos -, cultivou tuto Pasteur, em parte destinado a conti flagelos que o assaltam."

A CURA DE JOSEPH MEISTER

Em Julho de 1885, foi apresentado a Pas- para um alojamento que Pasteur arranja- Uma vez atingida a imunidade, pode
teur o caso de um rapazinho de 9 anos, ra, e ali começou uma longa e ansiosa injectar-se sem efeitos prejudiciais qual-
Joseph Meister. A criança fora atacada por espera — enquanto recebia cada dia uma quer quantidade do mais potente vírus."
um cão raivoso na sua aldeia da Alsácia no injecção mais potente. Quase duas semanas depois — com o
Nordeste de França O médico local já não "Nos últimos dias do tratamento", es- destino de Joseph ainda incerto -, Pas-
tinha esperanças que ele sobrevivesse creveu posteriormente Pas- teur não suportou mais a pressão da es-
e mandou-o a Paris para ser visto teur, "inoculei Joseph pera em Paris e tirou uns dias de férias na
pelo grande químico. Pasteur fi- Meister com o mais po- região vinhateira da Borgonha.
cou horrorizado com as denta- tente vírus da raiva que "Todos os dias", dizia mais tarde, "vivia
das profundas nas mãos, pernas consegui obter, o de um no terror de receber um telegrama anun-
e coxas do pequeno pastor. cão, reforçado pela pas ciando-me que o pior acontecera — e
Nesse mesmo dia, um colega sagem através de uma que o pequeno Joseph morrera!"
de Pasteur, o Dr. Jacques Gran longa sequência de Mas o telegrama não veio — e Pasteur
cher, inoculou em Joseph um coelhos ... A minha jus- voltou a Paris para encontrar o rapaz
líquido extraído da espinal me- tificação para proceder completamente curado. Durante os 18
dula de um coelho que morre- assim foi a experiência meses seguintes, cerca de 2500 pessoas
ra com raiva duas semanas antes. que tinha com os meus — homens, mulheres e crianças de toda a
Joseph — que estava acompa- cinquenta cães raivosos. Europa — foram tratadas por ele do mes-
nhado pela mãe — foi levado mo modo após terem sido mordidas por
animais raivosos. Sobreviveram todas
menos dez.

Gratidão. Joseph Meister leva a filha a


visitar o busto de Pasteur em Paris. Portei-
ro do Instituto Pasteur, Meister suicidou-se
Curado da raiva. Joseph Meister parecia condenado depois de ter sido mordido por um em 1940 para não abrir o túmulo de Pas-
cão raivoso. Foi a Paris, onde Pasteur lhe salvou a vida com uma série de inoculações. teur aos Alemães.

387
CURIOSIDADES I)K AUMENTOS E BEBIDAS 1
de carvão. O lume é aceso numa vala com
cerca de 60 cm de profundidade umas ho-
Carne assada para 1000 pessoas ras antes de se começar a cozinhar, para
que se gere bastante calor. Uma antepara
feita com terra tirada da vala e tijolos refrac-
Como é que se cozinha uma peça de carne ra pélvica do boi e sai pelo pescoço, se- tários reflecte o calor para a carcaça.
que chega para alimentar cerca de 1000 guindo quanto possível a coluna vertebral. O espeto instala-se frequentemente ao
pessoas? Grampos de melai muito fortes segu- lado do lume e não directamente sobre ele.
Assar no espeto um boi inteiro ao ar livre ram a coluna ao espeto. Para maior segu- Assim, a gordura pinga sobre tabuleiros
é actualmente obra de profissionais com rança, a carcaça é atravessada por vare- colocados no chão, em vez de para dentro
equipamento adequado - e restringe-se tas de metal com o comprimento de até do fogo.
às grandes celebrações e íeslas. Uma car- 90 cm, que fazem fixe no espeto. O boi tem de rodar devagar no espeto
caça com cerca de 250 kg pode demorar 24 O espeto é feito por forma a poder apro- - no máximo, cerca de 10 rotações por
horas a assar. ximar ou afastar a carne do lume para con- hora -, com a carne a ser regada constan-
O talhante precisa de ser avisado com trole do calor que recebe. É fundamental temente.
antecedência para guardar um animal in- que se mantenha uma temperatura de 190 Quando os sucos da carne saem transpa-
teiro (a carcaça da vaca é geralmente corta- a 200°C e a carne fio ponto de crepitação: rentes, pode começar-se a trin-
da ao meio ou em quartos para facilitar a uma temperatura demasiado elevada r' —. char, Corta-se primeiro a camada
manipulação) e para o pendurar durante queima completamente o exterior exterior já assada, enquanto o
10 dias. A combinação ideal de sabor, ma- do boi; se demasiado baixa, a car- .K: resto continua a assar.
tieza e tamanho encontra-se em animais ne do meio pode estragar-se.
entre os 14 e 18 meses.
Retiram-se a cabeça, a pele, os cascos e te toda a assadura, são preci-
o rabo e atam-se as patas da frente uma à sos cerca de 500 kg
outra, dobradas para Irás para não balou-
çarem grotescamente quando o animal for
rodado no espeto. Mais importante ainda,
a cintura pélvica, que é partida ao meio no
talhe normal, tern de deixar-se intacta, pois
desempenha papel fundamental no segu-
rar da carcaça ao espeto.
Um peso destes precisa de ser levantado
por dois ou três adultos fortes em cada ex-
tremo e de um espeto feito de pmmos de
andaimes para o suportar durante a assa-
dura. O espeto em si, de aço ou ferro galva-
nizado, tem de ter pelo menos 6,5 cm de
espessura e ser apoiado em fortes tripés de
ferro em cada ponta. É espetado pela cintu- Assar um boi. Uma grauura setecentista alemã representa o cozinheiro vigiando a assadura.

das suas linhas de produção tem um uma mistura espessa ligada por um agluti-
débito superior a 1000 lalas por minuto. nante de cereais, seja sob a forma de peda-
Comida Dado que um animal de estimação
pode alimentar-se toda a vida com um úni-
ços de carne em molho. Os pedaços são
muitas vezes formados aproveitando-se a
para animais co tipo de comida, a fidelidade à marca é
fundamental para os fabricantes, que de-
capacidade de as proteínas criarem uma
geleia quando aquecidas.
de estimação fendem a sua quota no mercado, produ-
zindo uma extraordinária gama de alimen-
As instalações de preparação de alimen-
tos para animais de estimação são fábricas
tos a partir de uma igualmente extraordi- grandes e sofisticadas. A carne é-lhes entre-
Os cães e os gatos poderão ser "esquisitos" nária gama de matérias-primas. gue em blocos congelados, que são esma-
quanto aos alimentos que comem, mas os A maioria dos alimentos para animais gados e misturados automaticamente com
seus donos — que têm de os pagar - sãr> de estimação é feita com carne que não é os outros ingredientes. Depois de enchidas
-no ainda mais. E o mercado criado pelas usada para consumo do homem, mistura- e vedadas as latas, o seu conteúdo é cozi-
suas preferências é enorme. Nos EUA, em da com soja, proteínas do leite e cereais, a nhado e esterilizado em vapor sob pressão.
1987 havia 58 milhões de gatos domésticos que se juntam vitaminas e minerais para Para se fabricarem os alimentos secos,
e 49 milhões de cães, em cuja alimentação assegurar um bom equilíbrio nutritivo. misturam-se farinha de trigo, soja, osso
os donos gastaram 5G00 milhões de dóla- Na maioria dos enlatados, a carne é con- moído, vitaminas, minerais e gorduras e
res. servada numa geleia, fabricada com ex passa-se a mistura — sob elevada tempera-
Os habitantes da Comunidade Europeia tractos de algas marinhas. Ao serem aque- tura e pressão — por uma máquina seme
possuem 28 milhões de cães e 25 milhões cidas c arrefecidas, as soluções dos extrac- lhante a uma máquina de picar caseira.
de gatos, que comem por ano mais de tos de algas solidificam, aglomerando to- Quando a mistura sai, a maior parte da água
4500 milhões de latas de comida — o que dos os ingredientes. A gelatina vulgar é que contém evapora-se rapidamente, dan-
representa 13 milhões de latas por dia, sem afectada pelo calor, mas os geles de algas do àquela uma textura porosa. A massa é
contar com os alimentos secos. são estáveis as elevadas temperaturas ne- depois cortada em pedaços c seca.
Uma das maiores fábricas de enlatados cessárias para cozinhar os alimentos e des- Nos alimentos para animais semi-húmi-
da Europa, que fabrica diariamente vários truir as bactérias. dos, a deterioração é impedida primeiro
milhões de latas, produz precisamente co- Outro tipo de alimento enlatado consis- por uma secagem parcial, depois pelo uso
midas para animais de estimação. Uma te em carne em pó, seja sob a forma de de humectantes.

388
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

Os misteriosos ingredientes da coca-cola


Numa casa-forte da Trust Company of gredientes básicos da coca-cola cobertas por análise química, o mais
Geórgia, EUA, guarda se o segredo de uma numerados de 1 a 9 e designa- importante e mais misterioso é a mis-
das bebidas não-alcoólicas mais aprecia dos por "mercadorias" - são os tura dos óleos essenciais na "Mercado-
das do Mundo - a coca-cola. seguintes: 1. Açúcar; 2. Carame- ria 7X". (0 uso do X nunca foi explica-
Embora numerosos mercados pos- lo; 3. Cafeína (embora exista do.)
suam uma licença para engarrafar ou enla- uma versão descafeinada); 4. Aci O sabor desta mistura não é simples-
tar e distribuir a coca-cola, nenhum conhe- do fosfórico; 5. Extracto de folha mente a soma dos óleos, porque estes
ce os ingredientes exactos: são simples- de coca (removido o seu conteú- reagem entre si, criando outros sabores.
mente abastecidos com xaropes e outros do em cocaína) o uma pequena Quem quisesse reproduzir a mistura te-
ingredientes pela Coca-Cola Company quantidade de extracto de noz de ria de saber os ingredientes exactos — di-
e rnisturam-nos com água carbonatada. coca; 6. Ácido cítrico e citrato de fíceis de analisar com segurança - e as
Muitos concorrentes têm tentado desço sódio; 7X. Óleos de limão, laranja, suas proporções rigorosas, que até aqui
brir a fórmula secreta que dá o sabor carac- lima, cássia (espécie de canela), têm desafiado a análise. A questão do
terístico à coca-cola. Mas nenhum ainda o noz-moscada e provavelmente conteúdo em coca já foi, inclusivamente,
conseguiu. outros; 8. Glicerina; 9. Baunilha. levada a tribunal (v. ern baixo).
No entanto, o escritor americano Wil- Embora as proporções de al-
liam Poundstone procedeu a laboriosa in- guns destes ingredientes - to- f Garrafa de coca-cola. A famosa
vestigação, que publicou em 1983 no seu dos misturados com água car- garrafa de coca cola foi criada em
livro Grandes Segredos. Aventa que os in- bonatada — possam ser des- & W/6, e o logótipo, na década de 1880

A BEBIDA QUE TODOS CONHECEM


A fórmula original da coca cola foi cria- soas conhecessem os ingre- no Federal Norte-Americano
da pelo Dr. John S. Pemberton, farma- dientes, Candler reviu nova- confiscou 40 banis grandes e 20
cêutico em Atlanta, Geórgia, EUA, há mente a fórmula, tomou para pequenos de coca-cola — e
mais de um século. Em 1885, ele inven sócio Frank Robinson e em acusou a empresa de violação
tou a sua versão de uma popular bebida 1892 a Coca-Cola Company da Lei da Pureza dos Alimen-
da época, o Vin Mariani. A fórmula de era legalizada. os, porque o ingrediente
Pemberton consistia simplesmente em Até 1903, só Candler e "coca" implicava a presença
adicionar a vinho tinto folhas do arbus- Robinson procediam à de cocaína, droga ilegal.
to da coca, que cresce na América do mistura do xarope — Mas, durante o julgamento
Sul c contém o estimulante cocaína. por detrás das portas fe — vários recursos foram
Desiludido com a escassez das ven- chadas do laboratório. interpostos em quase 10
das, no ano seguinte reviu a fórmula, Retiravam as etiquetas anos —, nenhum dos
deixando o vinho e juntando a noz da dos ingredientes for- analistas consultados
cola africana, que contém o estimulante necidos pelas diver- conseguiu encontrar
cafeína. Para diminuir o paladar amar- sas empresas quími- vestígios de cocaína
go, Pemberton adicionou açúcar e aro- cas. Só Candler tra sob a fornia de extrac-
matizantes. 0 seu sócio, Frank M. Ro- tava do correio da to de coca, nem cola.
binson, desenhou o actualmente famo- companhia, pagava Contudo, uma teste-
so logótipo da coca-cola, escrevendo o as contas para que munha representante
nome na escrita cursiva, então em uso. os contabilistas não ria empresa que for-
A bebida passou então a vender-se nas soubessem os ingre necia o ingrediente
farmácias locais como "um tónico cere- dientes e guardava a n." 5 da coca cola des-
bral", que podia ser tomado puro ou di única chave do arqui creveu como este era
luído em água. No início, vendia-se à vo das facturas. feito a partir das folhas
média constante de cerca de 13 copos de coca, após a extrac-
Com a ^expansão da ção da cocaína e de ex
por dia. companhia, Candler e tracto de noz de cola.
Em 1887, Pemberton vendeu a fór- Robinson deixaram
mula a Willis E. Venable e George S. de poder, sozinhos, Foi certamente o sa-
I.owndes, que por sua vez a revende- preparar todo o xarope bor que atraiu o general
ram, cinco meses depois, a Woolfolk necessário, por isso Eisenhower durante a II
Walker e Mrs. M. C. Dozier, e estes, pas passaram simples- Guerra. Como chefe das
sado um ano, a Asa G. Candler. Nesse mente a numerar os Forças Aliadas no Norte
ano, Pemberton morreu - e Candler ingredientes de 1 a 9. de África, ele pediu ma-
misturou o xarope com água carbona- E os directores das quinaria para três insta
tada. Porá o primeiro a reconhecer o po delegações apren lações de enchimento,
tencial da coca-cola como bebida não- diam unicamente as capazes de encher 6
alcoólica de grande consumo - além p r o p o r ç õ e s ade- milhões de garrafas
da necessidade de se criar uma mística, quadas e o processo por mês. Só em 1955, a
mantendo a fórmula em segredo. Em- de mistura. coca-cola passou a ser
bora nessa altura pelo menos sete pes- Em 1909, o Gover- embalada em latas.

389
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

Depois de serem colhidas, extrai-se-lhes


o sumo geralmente com o auxílio de
Como se transformam uvas em vinho prensas. A matéria sólida, como o enga
ço e as grainhas, é separada por moio de
desengaçadores.
A fermentação c um dos processos natu- gem produzindo sultanas, passas e co- As vezes, o mosto é aquecido para des-
rais de preservação de alimentos que há rintos. A maioria, contudo, é fermentada truir microrganismos indesejáveis. Na
mais tempo se conhece. Em cada ano para o fabrico de vinho, de que se produ- maioria dos casos, junta-se anidrido sul-
crescem em todo o Mundo mais de 70 zem anualmente 300 milhões de hectoli- furoso para controlar os referidos micror-
milhões de toneladas de uvas. Mas as tros. ganismos.
uvas não se conservam frescas por muito Durante o desenvolvimento das uvas, O mosto fermenta naturalmente devi-
tempo. Umas são preservadas por seca- depositam-se nelas fermentos naturais. do à actividade das leveduras que conver-
tem em álcool o açúcar natural das uvas.
O vinho tinto, feito com uvas tintas, fer
menta entre 21 e 29°C durante cerca de
uma a duas semanas. A sua cor deve-se
ao pigmento da pele, a antocianina. O
vinho branco fermenta entre 10 e 15°C. A
estas temperaturas são necessários pe-
ríodos mais longos para uma fermenta-
ção adequada.
O vinho rose pode ser feito por três
processos diferentes, conforme a retjião
de produção e o tipo de produto preten-
dido. O método mais correcto é o da fer
mentação de mosto de uvas tintas junta-
mente com as peles durante determina-
do espaço de tempo, separando-o de-
pois destas. Outro é pela fermentação de
uvas vermelho-rosadas com a pele. O ter-
ceiro processo é separar simplesmente
vinho tinto e vinho branco, obtendo se
assim uma cor rosada.

Prensa para uvas. Para os melhores vi-


nhos brancos, as uvas têm de ser prensadas
no dia em que são colhidas. Depois do enga
ço ter sido retirado mecunicamente, as uvas
são colocadas numa prensa À medida que
são esmagadas, o mosto escorre para uma
cuba e é depois bombeado paru um depósi-
to onde as leveduras que se encontravam
nas peles dão início à fermentação.

Cestos cheios. Uvas brancas apanhadas à mão enchem os cestos, ou


poceiros. São precisos cerca de 1,5 kg de uvas para fazer uma única
garrafa de vinho branco.

390
FERMENTAÇÃO: O QUE FAZ
O VINHO E A CERVEJA
Pela fermentação, um processo natu-
ral e espontâneo, o sumo das uvas
transforma-se em vinho. Leveduras
— fungos microscópicos que se de-
senvolvem naturalmente sobre os ba-
gos — convertem o açúcar contido
no mosto em álcool e dióxido de car-
bono, que se liberta em bolhas.
Foi Pasteur quem descobriu que as
leveduras tinham um papel activo na
transformação do açúcar dos frutos. 0
açúcar e o álcool são formados pelos
mesmos três elementos — carbono,
hidrogénio e oxigénio -, mas segun-
do diferentes combinações. A acçáo
da levedura converte o açúcar em ál-
cool por meio de uma série complexa
de reacções.
No fabrico da cerveja, a levedura é
adicionada a uma mistura de água
com malte de cevada, o qual fornece o
açúcar que há-de ser convertido em
álcool.
No champanhe, o vinho é fermen-
tado duas vezes e o dióxido de carbo-
no produzido pela segunda fermenta-
ção fica retido no líquido, produzindo
as bolhas.

Provando o vinho. Durante o seu estágio nos barris,


vão-se retirando amostras para ver se o vinho está
pronto a ser engarrafado.

Envelhecimento. Garrafas de vinho armazenadas


numa cave portuguesa. Nelas, o vinho tinto uai se
afinando durante vários anos.

Fermentação em carvalho. O Chardonnav da Califórnia fermenta em cascos de


carvalho O tubo de vidro em forma de S permite a saída do dióxido de carbono
produzido durante a fermentação sem deixar entrar o ar.
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS
E BEBIDAS

OS MAIS VELHOS VINHOS


As misteriosas A arte de fabricar vinho já era conheci-
da no Egipto em 4000 a. C. O vinho
alterações que fermentava em potes de barro, as ân-
foras, que não eram fechadas. Poste-
dáo o sabor riormente, os ceramistas gregos pro-
grediram, produzindo ânforas que
a um bom vinho podiam ser vedadas hermeticamente,
o que permitiu que os vinhos pudes-
sem evoluir antes de serem bebidos.
O vinho é a bebida resultante da fermenta- Os Romanos usavam barris de ma-
ção alcoólica, total ou parcial, de uvas fres- deira para armazenar os seus vinhos.
cas ou do seu mosto ou sumo, segundo Como a madeira é permeável ao ar, os
processos tecnológicos apropriados. Mas vinhos não podiam ser guardados du-
o segredo do flavour (ou bouquet) de um rante muito tempo. Só por volta de
bom vinho reside nas misteriosas altera Boas uvas. Os vinhos bons começam por 1750, com o aparecimento da garrafa
ções que ocorrem enquanto ele afina nos uvas de boa qualidade. Estas uuas Sangio- cilíndrica com rolha de cortiça imper-
cascos e nas garrafas. vese, onde se nota o "véu" das leveduras, é meável, foi possível envelhecer vinhos
Primeiro que tudo, para se obter um vi- uma das variedades mais largamente plan- em grandes quantidades.
nho de qualidade têm de se cultivar castas tadas na Itália e é utilizada no Chianti e nou- O mais elevado preço pago por
de uvas apropriadas em encostas soalhei- tros vinhos tintos uma simples garrafa foi de 105 000 dó-
ras de solo adequado. As leveduras que se lares, no ano de 1985, em Londres —
encontram na pele das uvas contribuem de vinho. A formação de ésteres, com os uma garrafa de Château Lafite de 1787
também para a criação de aromas subtis, seus aromas característicos, é ajudada que pertencera ao terceiro presidente
fazendo com que o mosto fermente e pro- pela lenta passagem de oxigénio atravcs da americano, Thomas Jefferson. Mas
duza álcool. madeira dos cascos. verificou-se que o vinho estava impró-
Mas a parte mais importante — o bou- Como o nariz é muito mais sensível que prio para beber. Em 1989, um comer-
quet - é produzida nos anos que se se- as papilas gustativas, os aromas de um vi- ciante ofereceu por outra garrafa da
guem: o álcool reage com os ácidos do nho são ainda mais importantes que o seu garrafeira de Jefferson 519 000 dóla-
vinho, formando compostos aromáticos, sabor. Os provadores profissionais apre- res. Mas a garrafa foi acidentalmente
os ésteres. ciam um vinho pelo olfacto, enquanto o partida antes do leilão - e o vinho
O vinho branco é habitualmente esta- aquecem entre as mãos para que liberte os declarado apenas bebível.
giado durante um ou dois anos (actual- compostos voláteis.
mente, em grandes depósitos de aço inoxi- Os bons vinhos são estagiados em caves
dável). a temperaturas de preferência constantes
Um bom vinho tinto é estagiado em cas- entre 11 e 15"C. A temperaturas superiores,
cos de madeira durante dois ou mais anos o vinho evolui mais rapidamente, mas as
e, se for de grande qualidade, continuará a alterações do bouquet serão diferentes.
melhorar depois de engarrafado durante As características e o valor dos vinhos
um espaço de tempo dependente do tipo podem também variar de ano para ano.

Envelhecendo nas caves. A região de


Riojú, em Espanha, produz bons vinhos lin
tos há mais de 200 anos. Milhares de garra-
fas são armazenadas em caves durante pe
riodos que vão até 10 anos (em cima).

Prova de vinho. Enquanto evolui, o vinho


é frequentemente provado para se contra
lar o seu progresso.

392
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS E BEBIDAS

congelado, a rolha é retirada e a pressão de


dióxido de carbono produzido então pela
Pondo as bolhas no champanhe fermentação expele o tampão de levedu
ras sólidas. A garrafa é atestada com vinho
e uma solução de açúcar e depois nova-
As bolhas que se formam na cerveja, no tar bolhas mesmo a temperaturas baixas mente rolhada.
champanhe e nas bebidas gaseificadas são como resultado de terem sido engarrafa-
provocadas pelo gás dióxido de car- das sob pressão. As bolhas nas bebidas
bono - subproduto dos processos de fa- Os vinhos efervescentes, como o cham- gaseificadas
bricação da cerveja e do vinho. panhe, começam por ser fabricados como As bebidas são gaseificadas por carbona-
Uma propriedade importanle do dióxi- os outros vinhos e depois são sujeitos a tação directa: o dióxido de carbono é
do de carbono nas bebidas é o facto de ser uma segunda fermentação em garrafa pro- bombeado sob pressão para dentro do
50 vezes mais solúvel na água do que no ar. vocada pela adição de leveduras e de cerca líquido quando este é engarrafado, pelo
À temperatura ambiente, uma garrafa de de 17 a 20 g de açúcar. A fermentação dá-se que as garrafas têm de ser suficientemen-
água pode absorver o seu próprio volume à temperatura ambiente. te fortes para não explodirem com a pres-
em dióxido de carbono. Durante a primeira fermentação, o dió- são do gás. O vidro é espesso e denso e o
A solubilidade deste gás diminui com xido de carbono liberta-se para a atmosfe- fundo da garrafa é habitualmente ondu-
o aumento da temperatura. Por isso, à ra. Como a segunda fermentação se dá já lado para distribuir a pressão. Nas bebi-
medida que uma bebida vai aquecendo na garrafa, o dióxido de carbono não se das gaseificadas usam-se também latas
no copo, as bolhas do dióxido de carbo- pode escapar, pelo que a pressão no inte- de alumínio e garrafas de plástico com
no sobem através do líquido c escapam rior daquela aumenta e o vinho toma-se bases reforçadas.
-se pela superfície. A solubilidade decres- efervescente. Na preparação da cerveja, as leveduras
ce também com a diminuição da prés As garrafas, após a fermentação e um que se adicionam desdobram o wott em
são, o que explica a grande quantidade período de repouso mais ou menos longo, álcool e dióxido de carbono. O excesso do
de bolhas que sobem à superfície quan- são colocadas em suportes especiais onde gás é muitas vezes recolhido em reservató-
do se abre uma garrafa de champanhe ou são progressivamente inclinadas com o rios especiais e pode ser utilizado pelas
de uma bebida gaseificada. Por esta mes- gargalo para baixo para depositar o sedi- empresas que fabricam e engarrafam re-
ma razão, as bebidas continuam a liber- mento junto à rolha. O gargalo da garrafa é frescos.
COMO SE PRODUZEM AS BOLHAS DO CHAMPANHE

Quando as leveduras assentam Paru champanhes mais bara-


sobre a rolha, os gargalos são tos, as rolhas são extraídas por
congelados e as rolhas retira- grandes máquinas. As garrafas
das, por oezes, à mão. A pressão recebem depois uma nova ro-
do gás expele as leveduras lha, segura por arames.
O champanhe é feito com uvas cultivadas
nas vinhas mais ao Norte de França, e o
vinho tem de ser engarrafado nessa região
para ser classificado como champanhe.
Em devido tempo e depois de colocadas em
cavaletes especiais, as garrafas são roda-
das e agitadas para que os sedimentos das
leveduras assentem sobre as rolhas.

O melhor champanhe é estagiado por um


período que pode ir até 15 anos sem ser
perturbado (à direita). Como o vinho está
sob pressão, às vezes as rolhas saltam e as
garrafas chegam a exj)lodir, como a que se
vê no centro da fotografia. Quando o vinho
está pronto para distribuição, tiram se as
garrafas, lavam-se e etiquetam-se.
CURIOSIDADES DE ALIMENTOS
H BEBIDAS

Aquénios de lúpulo. 0 lúpulo é uma tre


padeira vioaz. Os aquénios verdes são utíli
zados nalgumas cervejas.

Campos de cereal. Cevada pronta a ser Cevada em malte. De cima para baixo: a
colhida. Dos 220 milhões de toneladas culti- cevada é demolhada, secada, deixada ger
vados anualmente, 96% são transformados minar por cinco dias e depois tostada para
em cerveja. produzir malte.

A cevada é a sexta colheita alimentar do A cerveja contem 85 a 93% de água.


Mundo - mas quase nenhuma é comida. Pode conter ainda uma pequena percenta-
Mas que acontece aos 220 milhões de to- gem de açúcar, entre 2 e 10% de álcool e
neladas da cevada cultivada anualmente? alguns minerais e vitamina B. Tanque de fermentação. Uma prepara-
A resposta é: bebem-se. A cevada é a prin- As cervejas turvas, não filtradas, como as ção de malte, lúpulo, fermento, açúcar e
cipal matéria-prima da cerveja, de que se que se produzem a partir de outros cereais, água é misturada num tanque aberto.
bebem anualmente 700 milhões de hecto- como o milho e o sorgo, em Africa, con-
litros. têm níveis mais altos de vitamina B. Podem
Para se transformar a cevada em cerveja, evitar que pessoas com dietas alimentares
os grãos são humedecidos com água, dei pobres contraiam doenças por malnutri-
xando-se germinar até grelarem. A cevada ção, como a pelagra.
germinada toma o nome de malte e é seca-
da para ser usada mais tarde.
A maioria das fábricas de cerveja com-
pram o malte já preparado. Demolham-no
em água morna e depois exlraem-lhe o
líquido, designado por mosto.
O mosto líquido é fervido com lúpulo,
que dá à cerveja o seu sabor característico. Fermento espumoso. Após cerca de cin-
É depois arrefecido, juntando-se-lhe estir- co dias, o fermento veio à superfície em es-
pes seleccionadas de fermentos. Como a puma. A cerveja está pronta a ser filtrada.
maioria das plantas, o fermento desenvol-
ve-se mais rapidamente em ambientes
quentes. Para a cerveja fraca, do tipo da
cerveja inglesa (ale), a mistura é fermenta-
da a 20-27"C durante dois a seis dias. No
fabrico da cerveja mais forte, como a por-
tuguesa e a alemã (lager), usam-se tempe-
raturas mais baixas, de 10 a 15°C, com um
tempo de fermentação de 8-10 dias.
No fim da fermentação, a cerveja é fil-
trada ou centrifugada para extracção das
células do fermento. Pode seguidamente
ser pasteurizada por aquecimento para
lhe dar maior longevidade, e é frequente-
mente metida em cascos, engarrafada ou Malte moído. Depois de a cevada ter sido
enlatada e envelhecida antes de ser bebi- processada e tostada em grandes fornos
da. A palavra "lager" vem do alemão que para produzir malte, este é moído e mistu- Barris de cerveja. Além das garrafas e la
significa "cerveja armazenada ou enve- rado com água, produzindo mosto, o líqui tas, a cerveja é também distribuída em bar-
lhecida". do utilizado no fabrico da cerveja. ris para ser "tirada" sob pressão

:m
Puro divertimento
Saltadores de esqui e pára-quedistas em queda livre. Nas montanhas-
-russas, os passageiros rodopiam em espirais apertadas. Um mágico
serra uma mulher ao meio. A vida é cheia de momentos divertidos.

Como as montanhas-russas
mantêm as pessoas agarradas
aos seus lugares, p. 405.
Como os pára-quedistas fazem proezas espectaculares em queda livre, p. 435.
PURO DIVERTIMENTO

Como serrar uma mulher ao meio — e voltar a "arranjá-la"

O segredo da serra circular. Usando uma serra circular, o mágico americano Harry Blackstone Jr. parece cortar ao meio a sua assistente,
elegantemente vestida. Na realidade, a rapariga arqueou as costas para dentro de um espaço oco da mesa.

Um dos mais conhecidos e espectaculares vista, saindo por buracos nos topos e nos xa. Quando a placa giratória parava o pú-
números da magia moderna — serrar uma lados da caixa. Contudo, o mágico não era blico via a cabeça e as mãos da primeira
mulher ao meio - foi criado em 1920 pelo assistido por uma rapariga, mas por duas. rapariga e os pés da segunda.
mágico britânico P. T. Selbit, no qual uma Goldin "hipnotizava" uma delas e orde- A seguir, com a ajuda de um assistente,
linda assistente era colocada dentro de nava-lhe que se deitasse dentro da caixa, Goldin cortava a caixa ao meio com urna
uma caixa de madeira comprida e aí apa- assente sobre uma grossa mesa de madei- enorme serra. Assim que esta era retirada,
rentemente serrada em duas. Momentos ra. Uma vez fechada a tampa com cadea- introduziam-se duas placas de metal em
depois, aparecia outra vez "inteira". dos, Goldin fazia girar a caixa e a mesa duas calhas, urna de cada lado do corte. O
Durante o número apenas se via a cabe- sobre uma placa giratória, escondendo mágico separava as duas metades da cai-
ça da rapariga emergindo de uma abertura por momentos da vista dos espectadores xa - e as placas de metal impediam que o
num dos topos da caixa. E ela tinha apenas os pés da rapariga. Esta puxava imediata- público visse o seu interior. A "vítima", apa-
que dobrar as pernas por baixo do queixo mente as pernas para cima. Simultanea- rentemente serrada ao meio, sorria e agita-
enquanto se procedia à serragem. Um má- mente, a segunda rapariga — escondida va as mãos e os pés. Depois, Goldin voltava
gico americano, Horace Goldin, apresen- dentro do tampo oco da mesa - passava a unir as duas metades da caixa, removia as
tou uma versão aperfeiçoada do truque as pernas por dois alçapões: um no tampo placas e abria os cadeados. Acordava a pri-
em Nova Iorque em 1921. A cabeça, as da mesa, outro na caixa. Depois, enfiava os meira rapariga do seu "transe", e esta saía
mãos e os pés da rapariga ficavam bem à pés pelos buracos da extremidade da cai- da caixa sã e salva. Mais tarde, viria a utilizar

396
PURO DIVERTIMENTO

uma serra circular para "serrar a mulher ao O SEGREDO DO SACO


meio".
O mágico americano llarry Blackslone Como se tira um
aperfeiçoou o truque da serra circular com O mágico fecha
uma única rapariga. Esta é "hipnotizada" e coelho de dentro O saco que contém
instruída a deitar se de bruços sobre uma o coelho puxando
mesa plana com uma cavidade da forma
aproximada do torso, com 76 cm de com-
de um chapéu um cordão passado
por ilhós de metal.
primento por 38 de largura e 20 de profun-
didade. Por baixo do vestido elástico ela O mestre ilusionista Houdini achava que
usa um "corpo" feito com tiras de metal tirar um coelho de dentro de um chapéu
que inclui uma faixa de "costas" de cartão era o mais impressionante de todos os Iru
cor de carne. Enquanto o mágico se dirige quês de magia. "Parece impossível", dizia,
ao público, a rapariga abre os fechos da "e no entanto o coelho aparece!"
estrutura de metal e deixa cair o tronco na Numa das versões mais utilizadas, o má-
cavidade. gico coloca se por detrás de uma mesa co-
Em seguida, o mágico passa "por bai- berta com um grande pano de feltro e con- O saco é pendurado da
xo" da rapariga (na realidade, por cima das vida para o palco um membro da assistên- borda da mesa, por
suas costas) uma pesada peça de madeira cia, a quem pede que inspeccione um cha- trás e por baixo do
para provar que a serra é autêntica. Esla, péu alto colocado de boca para cima sobre chapéu alto, fora da
com (30 cm de diâmetro, é ligada e, por a mesa entre ambos - e que se assegure vista do público.
meio de uma manivela, faz-se passar a de que está vazio. A seguir, enquanto o
mesa por baixo da lâmina rotativa. voluntário pega no chapéu pela aba, o má-
Parece que o corpo da rapariga conti- gico introduz nele ambas as mãos e retira
nua esticado sobre a mesa e está a ser cor de lá um coelhinho branco vivo.
tado ao meio pela serra juntamente com a O truque é executado por prestidigita- O chapéu alto vazio é
madeira. Quando se acaba de cortar o ves- ção e exige acção rápida e muita atenção mostrado ao público,
tido, a estrutura de metal e a madeira, o aos ângulos de visão. Quando o voluntário com o saco escondido
mágico mostra esta, serrada, ao público. sobe para o palco, o mágico agarra com a por trás.
Com um estalo dos dedos, acorda a rapari- mão direita a aba do chapéu. Com a es-
ga do seu "transe", e esta desce da mesa querda agarra, por urna abertura no pano
inteira, fazendo a sua vénia. da mesa. um saco de feltro preto pendura-
do pelo cordão de um prego sem cabeça
Espectáculo de televisão na parte de trás da mesa.
A mais recente versão do tnique é a "serra- Traz o saco (contendo o coelho) para
gem do modelo magrinho", executada cima, por detrás do chapéu, assegurando-
pelo mágico americano Doug Henning -se de que ele não se encontra na linha de O mágico vira a copa
num espectáculo televisivo em 1982. A as- visão do público nem do voluntário. De- do chapéu para a
sistente entra numa caixa com apenas pois de este examinar o chapéu, o mágico assistência. Rápido,
30 cm de profundidade, quando o mode roda o com a mão direita por forma que a com a outra mão,
lo original tinha uns 50 cm. O topo da caixa copa fique virada para o público. Ao mes- atira o saco para
tem uma porta articulada à qual estão liga- mo tempo, com a mão esquerda, atira ra- dentro do chapéu.
dos dois pés de borracha com comando à pidamente o saco para dentro do chapéu.
distância. Assim que o saco entra no chapéu, agar-
A caixa — construída em duas partes ra com a mão esquerda a aba e a parle de
ligadas por dobradiças — é colocada so- cima do saco e larga a mão direita. Com a
bre uma mesa. A rapariga entra nela, dei copa ainda virada para a assistência, apon-
xando de fora os pés e a cabeça. Depois, a ta com a mão direita para o chapéu e mos-
caixa é voltada de modo que a cabeça fi tra que não há nada escondido à volta do
que virada para o público enquanto a rapa- chapéu nem na aba.
riga é "hipnotizada". Ao mesmo tempo,
ela puxa os pés para dentro da caixa e, com "Cada vez mais pesado"
um pontapé, empurra a poria com os pés Entretanto, o mágico olha directamente
falsos, que ficam a sair dos buracos - e para o voluntário e conversa animada
vira-se de lado com os joelhos junto ao mente com ele - desviando-lhe a atenção Enquanto um voluntário pega no chapéu, o
queixo. A mesa é virada de lado e começa- do chapéu. Levantando este com as duas mágico abre secretamente o saco e solta o
-se a serrar mãos acima do nível dos olhos, pede ao coelho. Depois, pega no chapéu e mostra o
voluntário que segure na aba em pontos coelho ao público atónito.
Para aumentar a "autenticidade", o má-
gico abre um pequeno alçapão no lado da opostos. Lentamente, vai largando o cha-
primeira caixa, mostrando o braço da ra- péu, dizendo: "E agora o chapéu vazio
pariga, enquanto um alçapão idêntico na cada vez está mais pesado!"
segunda caixa c aberto para mostrar uma Quando o chapéu já está só nas mãos
perna, que é de borracha. Puxando por um do voluntário, o mágico lança lhe súbita
cordão escondido, a rapariga agita os pés mente ambas as mãos, abre o saco, puxan-
falsos, que são articulados. O processo do 0 cordão através das ilhós, e retira o
pode ser invertido numa questão de se- coelho com a mão direita. Entretanto, com
gundos — e a rapariga "serrada ao meio" a esquerda certifica-se de que o saco está
volta a aparecer em pé. bem escondido dentro do chapéu.
Morte
de um apanhador sionismo de "Apanhar as Balas" centenas
de balas de vezes de ambos os lados do Atlântico.
As suas carabinas de carregar pela boca
tinham um lubo de aço por baixo do cano
Na noile de sábado 23 de Março de 1918, o onde se alojava a vareta quando não em
público apinhado no Wood Green Ernpi uso. Era este tubo da vareta, carregado tência que estavam no palco, que confir
re, no Norle de Londres, aguardava o clí- com pólvora seca, que era de facto dispara- mavam que as balas possuíam marcas,
max do número de magia de Chung Ling do, não o cano verdadeiro. embora, evidentemente, ignorassem
Soo — no qual este "apanhava" entre os O truque das balas marcadas era ainda quem as fizera. A rapariga punha as balas
dentes duas balas disparadas, que depois mais engenhoso. Levando num copo duas no copo e voltava à plateia. Accionando
cuspia para um prato de louça balas não marcadas, uma assistente diri pela segunda vez o fundo falso, mostrava
Fez-se silêncio quando dois assistentes gia-se à assistência e pedia a duas pessoas aos dois primeiros voluntários as balas que
carregaram as carabinas com balas cilíndri- que as marcassem com incisões. 0 copo estes tinham marcado e que nunca ha-
cas de chumbo marcadas por dois mem- tinha um fundo falso contendo outro par viam saído do copo.
bros da assistência. Fizeram pontaria, dis- de balas previamente marcadas por A habilidade parecia infalível. Mas na
pararam e em vez do som das balas Chung Ling Soo. Eram estas que eram car- noite fatal o fulminante de uma das espin-
caindo sobre o prato, uma delas acertou no regadas nas carabinas por dois outros ele- gardas, ao explodir, inflamou a pólvora
peito de Chung Ling Soo. O mágico recuou, mentos do público no palco. As outras seca no tubo da vareta e o cartucho carre-
vacilante, e caiu nos bastidores. Foi trans- duas balas marcadas ficavam no copo. gado dentro do cano. O uso danificara o
portado a um hospital próximo, onde mor O mágico tinha um terceiro par de balas, interior da arma e a fina pólvora seca do
reu no dia seguinte, com 58 anos. igualmente marcadas, escondidas na tubo da vareta infiltrara-se no cano.
Soo - que era na verdade um nova boca. Quando se disparavam as espingar- A culpa foi de Chung Ling Soo, que, não
iorquino, William Ellsworth Robinson — das, ele cuspia estas duas balas para o pra- querendo revelar o seu segredo a um ar-
executara com êxito o seu número de ilu- t o — e mostrava-as aos elementos da assis- meiro, cuidava ele próprio das armas.

398
PURO DIVERTIMENTO

tentada a meio por uma barra de ferro verti- e a rapariga parecia flutuar sem qualquer
cal escondida do público pela vela de ma- apoio.
Levitação: como deira. 0 mágico passa o arco em volta da Reagindo a mais uns gestos, Trilby, ain-
rapariga, como se mostra no desenho em da deitada na tábua, erguia-se no ar. De-
o mágico faz baixo. Com um manejo cauteloso, parece
que o arco passou completamente em vol-
pois, a um comando, voltava à posição ini-
cial. Herrmann recolocava as cadeiras e
uma rapariga ta da rapariga. agitava as mãos por cima de Trilby, açor
dando-a do transe. Pegando no seu ramo,
Numa versão inteligente mas arriscada
flutuar no ar de executar este truque climina-se a vela Trilby descia, as cadeiras eram retiradas e,
para mostrar que nada havia de estranho
ou outro instrumento semelhante: o mági-
co esconde a barra vertical, ficando em pé na tábua, I lerrmann atirava-a ao chão.
Fazendo gestos misteriosos e falando à sua frente.
numa voz tranquilizadora, o mágico põe a Este moderno número de suspensão O trabalho do assistente de cena
sua assistente em transe profundo. nasceu nos teatros do século xix como a O truque da levitação era executado por
Obedientemente, ela deila-se sobre arte da levitação - na qual alguém ou al- meio de uma forte armação montada atrás
uma tábua coberta com uma toalha e as- guma coisa aparentemente se ergue e flu- das cortinas. A armação incluía um cursor
sente sobre dois pedestais. Logo atrás da tua no ar. Foi introduzido pelo mágico fran- que podia ser subido ou descido por um
mesa há uma vela fingida, de contraplaca- cês "Professor" Alexander Herrmann com assistente por meio de roldanas. A este cur-
do, com luz eléctrica, que ilumina a rapari- o seu número "A Ilusão de Trilby", no qual sor estava ligada uma barra horizontal de
ga imóvel como para mostrar que nada de fingia hipnotizar uma linda rapariga, fazen- aço com um encaixe em forquilha numa
"esquisito" se passa. do-a obedecer à sua vontade — como faz das extremidades e uma manivela na ou-
Atravessando rapidamente o palco, o Svengali, o sinistro hipnotizador da novela tra. Assim que a rapariga se deitava na tá-
mágico retira um pedestal, depois o outro. Trilby, de George du Maurier (1894). bua, a extremidade com a forquilha era
Uma vez isto feito, vê-se a rapariga a flutuar Herrmann montava a cena apoiando enfiada pelo intervalo das cortinas.
no ar sobre a tábua, aparentemente sem uma tábua comprida sobre as costas de Enquanto "compunha" estas, o mágico
qualquer apoio. duas cadeiras. Entrava então a sua Trilby guiava a forquilha — escondida pelo ramo
Depois, o mágico desloca-se para trás com um ramo de rosas. Subindo a um de flores - até ela se encaixar na tábua.
da rapariga e, com um gesto floreado, pas- banquinho, ela deitava se na tábua e pou- Quando se retiravam as cadeiras, a rapari-
sa em torno do seu corpo adormecido um sava o ramo sobre o abdómen. Herrmann, ga e a tábua pareciam flutuar no ar. Rodan-
grande arco. Voltam-se a colocar os pedes no papel de Svengali, passeava em redor do a manivela, o assistente levantava ou
tais, a rapariga é acordada com um estalar dela, arranjando as cortinas por detrás da baixava a tábua e com ela a rapariga "hip-
de dedos do mágico e junta-se a este tábua - corno para se certificar de que se notizada".
para agradecer os aplausos do público. juntavam a meio da
cena. Fazia depois
O truque do arco uns passes de hipno
O número - um de entre várias "suspen- tismo sobre a rapari
sões" ou "levitações" semelhantes — é ga e retirava as cadei-
uma ilusão bem imaginada. A tábua é sus- ras, uma de cada vez,

A PASSAGEM DO ARCO
Uma barra de metal
recurvada é fixada à
tábua de forma que
o público não a veja.

O vestido da assistente
ajuda a esconder
a barra.

O mágico passa o arco ao


ongo da tábua até ao interior
da curva da barra de metal
e roda-o em torno dos pés.

Ei-la a flutuar! Esta versão do número de


No final, o mágico passa um arco em redor da rapa- levitação é executada num palco utilizando
riga. Mas trata-se de um truque conseguido por meio as cortinas. A tábua em que a rapariga está
de uma curvo na barra de suporte. deitada è sustentada por uma barra de ferro
que passa pelo intervalo das cortinas.

399
PURO
DIVERTIMENTO

Glória e queda do truque da corda indiano


Q u a n d o o cre- jando, o faquir puxa de uma faca de aspecto do qual é segura por um assistente coloca
púsculo se es- mortífero, coloca a entre os dentes c sobe a do bem longe, fora da vista do público. A
tende ao longo corda em perseguição do rapaz. Também outra extremidade, com um pequeno gan-
de um estreito ele desaparece, ouvindo se então gritos ar- cho, pende mesmo ao lado do faquir.
vale da índia, um repiantes - e os membros decepados do Desviando a atenção dos espectadores
faquir prepara-se rapaz são atirados ao chão, imediatamente com a sua conversa, o faquir faz uma quan-
para executar o tru- seguidos do tronco cheio de sangue e da tidade preestabelecida de "lançamentos de
que da corda. Agru- cabeça degolada. ensaio" da corda. Depois, prende sub repli
pados por baixo de O faquir desce apressadamente a corda, CJamente o gancho num orifício de uma
um círculo de lantor junta se aos seus assistentes, e no meio de pequena mas pesada bola de madeira liga-
nas, os espectadores grandes lamentos formam um círculo cm da à extremidade da corda. Seguidamente,
observam o faquir li redor dos restos do menino que são lança esta o mais alto que pode em direcção
rar de um cesto de ver- então guardados no cesto. Quando as la- ao cabo horizontal. Ao mesmo tempo, o
ga uma corda de câ- mentações atingem o auge, o rapaz salta do assistente escondido puxa pelo cabo até a
nhamo e atirá-la ao ar, cesto - são e salvo. Segundo a tradição, é corda ficar erecta com a bola de madeira
repelindo a acção vá- islo que o público vê no truque da corda enganchada no cabo. Depois, o rapazinho
rias vezes para mostrar No seu livro Jadoo (1958), John A. Keel sobe a corda. Chegado ao topo, tira um
que nada há de esquisi- dá-nos uma explicação do truque Na déca- gancho do bolso e prende a bola ao cabo
to na corda. Depois, ati- da de 50 linha ele 25 anos -, Keel conhe horizontal. E seguido pelo faquir, e ambos
ra-a mais uma vez e a ceu perto da cidade de Hiderabade um ve- ficam ali, segurando-se ao cabo.
corda sobe c o m o que lho faquir que lhe contou ler executado o Esforçando-se por ver na escuridão o
por milagre alé a ex- truque da corda. Um cabo delgado feito de ofuscados pelas lanternas, os espectadores
tremidade superior cabelo preto entrançado é estendido atra- estão perfeitamente iludidos. Os membros
se perder de vista na vés de um vale a uns 15 m do solo. O cabo é e o tronco decepados, retirados das vestes
escuridão crescente. Se- praticamente invisível contra o fundo do do faquir e atirados ao chão, são de um
guidamente, o compa- céu e dos montes que vão escurecendo. macaco morto vestido com roupas iguais
nheiro do faquir — um ra- Passa se por cima deste cabo um outro às do menino. O "sangue" é tinta encarna-
pazinho franzino de uns 8 ainda mais fino — uma das extremidades da, e a cabeça decapitada é de madeira.
anos — trepa pela corda e,
aparentemente, desapa-
rece no ar. ENCENAÇÃO DO TRUQUE DA CORDA AO CAIR DA NOITE

O faquir manda-o
descer e r e c e b e
uma resposta
malcriada. Fu
rioso e prague-

Um cubo delgado estica- »


do a boa altura por SO
bre O oale vagamente
iluminado seroe de su-
porte à corda do mági-
co. Escondido a certa
distância, atrás de um
arbusto, um assistente
segura um cubo que aju-
da a manter erecta a cor
da enquanto o rapaz a
sobe. Os espectadores,
ofuscados pelas lanler
No alto. O mágico nas. não oêem o cabo
inglês "Karachi" e seu filho "Kyder", de li nem o assistente escon-
anos. executam o tnique da corda em 1935. dido.

400
PURO DIVERTIMENTO

0 rapaz mete então os braços e as pernas


num arnês escondido pelas amplas vestes
do íaquir, sendo transportado até ao chão.
Aqui, enquanto o faquir e os seus assisten-
Os homens que "lêem" o pensamento
tes fazem as suas lamentações, o rapaz es-
gueira se do arnês e — escondido pelos De olhos vendados e com as mãos sobre a las é limitada unicamente pela capacidade
assistentes do faquir — mete-se no cesto. fronte, o homem que lê o pensamento pre- da memória do mágico e da sua assistente.
Pouco tempo depois, em Deli, Keel as- para-se para fazer uma demonstração dos Caria uma contém cerca de uma dúzia de
sistiu a uma versão grosseira rio truque da seus poderes. A sua assistente, com um alternativas, e o mágico é informado de
corria executado à luz do dia numa grande sorriso, entrevista um elemento do públi- qual a tabela que vai ser utilizada pela per-
praça em frente de uma mesquita. co — por exemplo, uma senhora de aspec- gunta inicial da assistente. O estado civil de
O mágico, de nome Babu, erigiu um es- to próspero —, e o mágico passa a revelar Betty, a sua nacionalidade e a descrição do
trado quadrado com uns 1,80 m de lado, toda a espécie de factos pessoais acerca seu relógio de pulso são transmitidos por
por detrás do qual pendurou um pano de dela meio das tabelas.
fundo pouco alto de lona. Fez em seguida Respondendo às perguntas bem expli-
passar pelos espectadores uma corda com citadas da assistente, ele afirma que o pri- Artigos de uso pessoal
uns 3 m, que, depois de examinada por meiro nome da senhora é Betty. E casada e Por exemplo, quando a assistente pergun
aqueles, deitou para um cesto de verga, de nacionalidade americana. O objecto ta "Que tipo de objecto é este?", o adivinho
começando a tocar um pífaro nativo. que a assistente segura na mão erguida sabe que, ao servir-se desta pergunta espe
Enquanto a estranha música perpassa- para que todos vejam — e que ele, eviden- Cuíca, ela se refere à tabela que trata de
va entre os espectadores, a corda ergueu - temente, não vê — é o relógio de pulso da artigos pessoais caros.
-se, rígida, do cesto, subindo até mais alto senhora, um Rolex com diamantes em A pergunta seguinte, "Diga me o que te-
que o pano de fundo. Um rapazinho subiu cujo fundo estão gravadas as palavras "Do nho na mão", começa com a quarta letra
ao estrado, puxou um grande capuz ver- Robert, com lodo o meu amor". do alfabeto — e o quarto artigo da tabela é
melho que o tapou completamente e tre- um relógio de pulso. O facto de se tratar de
pou corda acima. Babu bateu as palmas Código bipartido um Rolex de brilhantes é transmitido se-
três vezes. O capuz caiu em cima do palco, O segredo das pessoas que lêem o pensa- melhantemente por meio de uma ou mais
vazio. E uns segundos depois o rapaz rea- mento é um código bipartido, transmitido tabelas. Até a inscrição na parte de trás
pareceu, vindo de trás do público. por meio das perguntas aparentemente pode ser transmitida usando uma tabela
Keel descobriu imediatamente o tru inocentes que lhes fazem as suas assisten para a mensagem e outra para o nome.
que, e Babu confirmou lho mais tarde. Ha- les. Uma parte do código transpõe as letras Se, contudo, o primeiro nome do mari
via um pequeno buraco no fundo do ces do alfabeto, usando-as depois para formar do fosse invulgar — e não constasse de
to, directamente sobre um buraco idêntico palavras. Assim, para transmitir o nome nenhuma tabela —, a assistente, simples-
no estrado. Numa cova por baixo deste Betty, a assistente começa cada uma das mente, ignorava o.
acocorava-se um assistente segurando suas frases com a inicial apropriada. A leitura da mente por meio de códigos
uma grande vara de bambu revestida de A segunda parte do código consiste em foi inventada em meados do século xix
cânhamo. Depois de a corda verdadeira ter tabelas que abrangem tudo, desde o con- pelo mágico francês Robcrt Houdin, cujas
sido deitada no cesto, o assistente empur- teúdo das algibeiras das pessoas até às suas habilidades inspiraram o ilusionista ameri
rava a vara pelos buracos e o rapaz subia comidas preferidas. A quantidade de tabe- cano lloudini.
pela vara.
O capuz do rapaz também tinha um tru-
que: no seu interior havia uma armação de
arame, articulada e dobrável, com o feitio
do seu corpo. Ao chegar ao topo da vara, o
Como o ventríloquo projecta a voz
rapaz pendurava o capuz num gancho
preso ao bambu. Enquanto Babu distraía Com um sorriso aberto — e conversando As vogais podem facilmente pronun-
os espectadores com um palavreado "mís- com um boneco que tem sentado no joe- ciar-se sem mexer os lábios. Mas as con
tico", o miúdo desabotoava o capuz e sal lho , O ventrflOQUO pratica a sua arte por soantes especialmente o b, op e o m -
lava para o chão atrás do pano de fundo. meio do domínio da respiração e dos mo são muito mais difíceis de pronunciar. E
Para os espectadores era como se o ra- vimentos da língua. por este motivo que os ventríloquos se ser
paz ainda estivesse dentro do capuz. Babu Para projectar a voz e fazer parecer que o vem de bonecos representando animais
batia então as palmas, puxando disfarça- boneco é que fala, ele respira fundo e for- ou crianças, pois é fácil aceitar que as suas
damente um cordão que dobrava a arma- ma as palavras da maneira habitual. Con- 'VO2PS" não sejam claras e as palavras se-
ção - e o capuz caía, vazio, no chão. tudo, retrai a língua, o que eleva e aperta a jam mal pronunciadas.
"Apesar de muito imperfeita", escreveu laringe (o órgão das vias respiratórias onde Para dar a ideia de uma voz vindo de
Keel, "a demonstração iludiu os especta- se encontram as corrias vocais), estreita a uma certa distância, o ventríloquo compri
dores nativos, que se foram embora con- glote e faz pressão nas cordas. Como resul me a língua contra o céu da boca, deixan-
vencidos de que tinham visto o verdadeiro tado, produz um som abafado e difuso que do escapar um som fraco. Com a língua na
truque da corda. Os seus comentários so- parece provir de outra direcção. mesma posição, faz uma voz funda e rou
bre a experiência ajudaram provavelmen- Entretanto, o ventríloquo distrai a assis ca para fingir que vem, por exemplo, do
te a consolidar as lendas sobre o truque." tência fazendo mexer os olhos e a cabeça interior de uma caixa e uma voz aguda e
A explicação mais vulgarmente apre- do boneco por meio de cordas e alavancas estridente para parecer que provém do tec-
sentada para o truque é a do hipnotismo escondidas e movimentando a boca em to ou do telhado.
colectivo — diz-se que o faquir põe o seu sincronia com as palavras. O seu sorriso A palavra "ventríloquo" deriva de dois
público em transe e o faz ver coisas que largo que parece responder à "conver- vocábulos latinos: venter, que significa
não existem. Mais frequentemente, contu sa" do boneco — permite lhe falar com "ventre", e loqui, que significa "falar". Os
do, o truque é considerado como uma his- facilidade sem movimentar os lábios de Romanos pensavam que os sons vocais
tória de viajantes. forma perceptível. provinham ria barriga.

401
PURO DIVERTIMENTO adeados

Houdini: o mestre da evasão


A neve fustigava as águas geladas do rio A FUGA DA VASILHA
Detroit, enquanto o mestre da evasão, DE LEITE
Harry Houdini, algemado e de pernas e
tronco acorrentados, se preparava para o
"Mergulho da Morte".
Pouco depois do meio-dia de 27 de No-
vembro de 1906, Houdini saltou da ponte Haoia um forro interior, sem fun-
^^^^ de Belle Isle, próximo do do, que se ajustava à vasilha ex-
^k |^ centro da cidade, e desa- terior. Houdini levantava-a sem
^^^/jw pareceu por um buraco dificuldade.
W l * especialmente aberto n o
á ^ n £ . gel , Comos
* minutos a passarem sem
que Houdini reapareces-
se, os espectadores - in-
cluindo repórteres, foto
grafos e polícias — come-
çaram a recear o pior.
Na realidade, o forte e Houdini realizou pela primeira oez esta fuga em St. Louis. Missu-
atarracado Houdini liberta- ri, em 1908. Era anunciada como "Um Misterioso Desafio à Mor-
ra-se das suas algemas sem te", e o público era avisado de que Houdini enfrentava um sepul-
qualquer dificuldade: leva- cro de água.
va na boca chaves mestras
com que abrira as algemas levara-o rio abaixo, e ele vira-se pressiona reanzou-as em
das mãos e os ferros das per- do de encontro a uma placa de gelo que diversos r i o s ,
nas, e quanto às correntes, esta- parecia infindável. desde o l l u d -
va acostumado a escapar-se Até que se apercebeu de que havia "bo- son, em Nova
delas contorcerido-se como lhai de ar prateadas" presas entre o gelo e a Iorque, até ao
uma enguia. Contudo - con- água. Virando a cabeça de lado, conseguiu Mersey, em Li
tou mais tarde -, a corrente inalá-las e manter se consciente. Nadou verpool, algemado e acorren-
em círculos cada vez mais largos até en- tado, enfiado em caixotes selados, trans-
Segredos no corpo. Com contrar o buraco por onde entrara e por portado para o largo em rebocadores e
chaves mestras escon- onde foi içado da água gelada, oito minu- baixado à água por meio de guindastes.
didas no seu corpo, tos depois do mergulho. Houdini — nascido em 1874 e cujo
Houdini conseguia A partir de então, as fugas debaixo de nome era Ehrich Weiss - inspirou se, na
libertar se das alge- água passaram a figurar entre as habilida- escolha do seu nome artístico, no do co-
mas e dos ferros que o prendiam des mais espectaculares de Houdini, e ele nhecido mágico francês do século xix Ro
bert-Houdin. A família emigrara da Hun-
A FUGA DO CAIXOTE SUBMERSO gria para os EUA quando ele era criança.

402
PURO DIVERTIMENTO

Aos 6 anos já fazia magias e truques de A FUGA DA CELA


cartas, e aos 11 já era perito em abrir fecha- DE TORTURA CHINESA
duras e desatar nós. Passou a adolescência PELA ÁGUA
em tournées pela América em circos e Houdini apresentou a sua "Fuga
feiras. da Cela de Tortura Chinesa pela
Depressa se cansou das algemas de pal- Água" na Alemanha em 1912 Era
co, que se abriam pela pressão de uma um maláo de madeira, forrado de
mola secreta, e deu o seu primeiro mergu- metal, com uma das paredes de
lho num rio preso com algemas da Polícia vidro e cheio de água. Com os
em Dresden, na Alemanha, em 1901. pés no cepo, Houdini era içado e
Cinco anos depois, era cabeça de cartaz depois metido de cabeça para
em espectáculos de variedades na Europa baixo na cela. O cepo era preso
e na América. Aceitava desafios de bancos, com cadeados ao topo da estru-
da Polícia e dos fabricantes de fechaduras; tura, que de[X)is era tapada com
e ganhava-os usando truques ultra-rápi- uma cortina. Contorcendo-se,
dos e escondendo os seus movimentos Houdini levantava a cabeça até
por detrás de armários de cortinas e de ao topo da cela, depois carregava
biombos. numa mola secreta que fazia
Um dos números mais aplaudidos era deslizar a parte de trás do cepo,
sair de um cofre de banco de aço à prova de libertando lhe os pés e deixando-
roubo — previamente examinado por au- -Ihe espaço suficiente para sair -
toridades para se certificarem de que não O que fazia em três minutos e
havia nenhuma chave escondida. Vestido meio.
com um fato de banho, Houdini era exa-
minado no palco por um médico, que minutos depois de nele entrar - e passa- A explicação estava em que a vasilha ti-
confirmava que ele não tinha qualquer ra o resto do tempo sentado numa cadei- nha uma secção interior separada, sem
chave escondida no corpo. Houdini aper- ra a ler. O segredo era que o cofre fora fundo, que se lhe ajustava perfeitamen-
tava as mãos ao médico e ao árbitro - que entregue a Houdini umas horas antes da te - e dentro da qual o mágico se metia
"por acaso" era um dos seus parceiros subida do pano. A sua equipa de mecâni- A tampa e os cadeados eram aplicados
mais chegados. Este passava-lhe uma cos trocava a fechadura por outra que po- unicamente à parte de cima da secção in-
chave para a mão e o público olhava com dia ser aberta por dentro por meio da terior, onde estavam presos rebites falsos
expectativa enquanto Houdini entrava chave escondida. Quando o cofre era de- - apenas metades — que pareciam segu
no cofre e se corriam cortinas à frente volvido aos proprietários, a fechadura rar firmemente a tampa. Houdini fazia ro-
dele. original já fora reposta. dar esta até soltar a lingueta que a manti-
Passavam 30 ... 40 ... 45 minutos. Entre- Ambiente semelhante de suspense ro- nha em posição, empurrava-a para cima e
tanto, a orquestra do teatro tocava música deava a sua fuga de uma vasilha de leite ficava livre.
animada — mas de Houdini não havia cheia de água até ao cimo. Houdini pedia A fama de Houdini assentou, em grande
nem sinais. Vindos do público, ouviarn-se voluntários para fecharem os quatro cadea- parte, em outras duas habilidades de pal-
pedidos para que a direcção soltasse o ho- dos na tampa do recipiente. Acocorado no co: "Atravessar Uma Parede de Tijolo" e
mem que "estava a morrer". Mas o sinal de interior da vasilha, parecia impossível que "Escapar da Cela de Tortura Chinesa pela
aflição de Houdini — uma série de pança ele lhes chegasse pela parte de fora. Cor- Agua".
das — ainda não fora dado. Até que, quan- riam-se as cortinas em redor do recinto, e a A parede de tijolo era construída dentro
do já havia mulheres a gritar, as cortinas orquestra tocava alegremente. E, uma vez de uma armação de aço com cerca de 3,5 m
abriam-se e Houdini aparecia à frente do mais, Houdini fazia o "impossível" e apare- de comprimento por 3 m de altura, monta
cofre fechado. cia, pingando água, à assistência estupe- da sobre rodas e empurrada para um palco
Na realidade, ele saíra do cofre poucos facta. completamente atapetado. A parede era
colocada perpendicularmente à assistên-
Tábua do meio
cia, que apenas via um dos topos. Coloca-
vam-se dois biombos com 1,80 m de altu-
Lados pregados ra, um de cada lado da parede. Depois de a
horizontalmente cena ser inspeccionada por dois voluntá-
rios, Houdini punha-se atrás de um dos
biombos, agitava as mãos por cima dele e
gritava "Cá vou eu!" Momentos depois,
saía de trás do biombo do oulro lado da
parede, gritando "Apareci!"
Longe de atravessar a parede, ele rasteja-
ra por baixo dela através de um alçapão
que lhe ficava mesmo por baixo. Quando
abria o alçapão, a alcatifa de uma só peça,
abatia com o próprio peso o suficiente
para que ele pudesse esgueirar-se por bai-
Tjrcués xo da parede.
Em Outubro de 1926, Houdini sofre uma
Depois de amarrado, Houdini entrava no caixote, que era fechado com pregos. 0 caixote apendicite, seguida de perilonite. Dois dias
submergia quando a água entrava por um buraco no fundo. Molas secretas libertavam-no depois, morre em Detroit, cenário do seu
das algemas, e ele cortava os pregos de uma tábua da tampa com uma turquês escondida. sensacional mergulho no rio, 20 anos
Segundos depois, saía do caixote e aparecia à superfície. antes.

403
PURO DIVERTIMENTO

O operador pega nas cartas como ante- A VERMELHINHA MUDA DE LUGAR


riormente — uma preta na mão esquerda,
Como se esconde a vermelhinha e a outra preta na mão direi-
ta, com a vermelhinha por baixo. Mas em
a vermelhinha vez de deitar com a mão direita a carta de
baixo, deita a de cima.
no truque Quando vai fazer o lançamento, dobra o
dedo anular em frente da vermelhinha e
das três cartas abre o dedo do meio da preta, fazendo
com que seja esta a cair. Depois, deita a
outra carta da mão direita para o lado es- Lançamento normal. No esquema normal,
"Venha, amigo! Venha, amigo!", diz o querdo, e a preta da mão esquerda para o o operador começa por deitar a carta de baixo
"operador" ao desdobrar a sua mesa na lado direito. Por isso, a vermelhinha já não (a vermelhinha) da nua mão direita.
feira. "Diga onde está a vermelhinha e ga- está no meio, mas à esquerda do operador.
nhe uma fortuna!" E em breve fica rodeado
por um magote de curiosos, alguns deles Apostadores crédulos
ansiosos por tentarem a sua sorte. O truque é feito com tanta rapidez e destre-
Falando constantemente, o operador za que passa completamente despercebi-
pega em três cartas — duas pretas e uma do dos apostadores ingénuos, que pen-
vermelha — e põe-nas de face para baixo sam que a vermelhinha continua no meio.
sobre a mesa, com a vermelhinha no meio. Variantes deste truque são executadas nas
As cartas estão ligeiramente dobradas ao ruas das áreas comerciais e nos campos de
meio, permitindo que o operador as apa- corridas de todo o Mundo. Só acabam Lançamento falso. Para intrujar os após
nhe facilmente, o que ele faz por diversas quando os papalvos perderam já bastan- (adores, O operador solta a carta de cima (a
vezes, mostrando-as de frente para o públi- te ou um polícia aparece em cena, pton- preta), segurando a de baixo com o seu
co e baralhando-as, mas mantendo a ver to a prender o batoteiro. dedo anular.
meirinha no meio e sempre pelo mes
mo esquema. O antigo truque da ervilha trocada
Baralhar rapidamente
Pega na carta preta do seu lado esquerdo
com a mão esquerda e na carta preta do
lado direito mais a vermelhinha com a di-
0 truque dos dedais e da ervilha
— no qual uma ervilha desapare
ce e volta a aparecer debaixo de um de três
-se de ambas as mãos, movimenta os
três dedais rapidamente em pequenos
círculos. Depois pergunta aos especta-
dores em que dedal está a ervilha. "O
dedais — era executado no Egipto há uns
reita - a vermelha debaixo da preta Lan- 5000 anos com taças e bolas. Mágicos vermelho!", é a resposta. Sorrindo, pre-
ça a vermelha, de face para baixo, à sua viajantes levarain-no depois para as feiras para-se para levantar o dedal. Assenta
frente, depois a preta da mão direita para a e mercados da Ásia c da Europa, incitando sobre a mesa, à direita do dedal, as pon-
esquerda da vermelha o a preta da mão as pessoas a apostar debaixo de que taça a tas dos dedos anular e médio. Pegando
esquerda para o lado direito da vermelha. bola se encontrava no dedal entre as pontas do polegar e rio
Depois, baralha as cartas e aumenta a O esquema ainda hoje c basicamen- indicador da mesma mão, move o em
confiança dos possíveis jogadores, mos- te o mesmo. O mágico coloca três de- semicírculo no sentido contrário ao dos
trando-lhes a vermelhinha onde eles espe- dais — por exemplo, um vermelho, um ponteiros de um relógio.
ram que ela esteja. Após deitar as cartas azul e um amarelo - de boca para bai- A meio do semicírculo, levanta o de-
uma última vez, convida as pessoas a após xo sobre uma mesa. Põe uma ervilha dal apenas o bastante para que a ervilha
lar em qual é a vermelhinha. Quem vencer debaixo do dedal vermelho e, servindo saia e, instantaneamente, agarra-a com
ganha o "monte". Continua a parecer que as pontas do anular e do dedo médio,
a vermelhinha está no meio — e nisso escondendo-a do público. Depois, le-
aposta uma quantidade de espectadores. vanta o dedal, mostrando não ser ali
Com um largo sorriso, o operador volta que está a ervilha.
as cartas para cima, revelando que a Sem que os espectadores soubes-
vermelhinha mudou de lugar e está sem, ele tinha já encaixado oulra ervilha
agora à direita ou à esquerda da no fundo estreito de cada um dos ou-
caria do meio. tros dedais. Em seguida, solta uma de
Por muitas vezes que o tru las, pressionando, por exemplo, o
que seja executado, é sempre fundo do dedal azul. A ervilha cai
o público que perde e o opera- na mesa quando ele levanta o de-
dor que ganha. 0 truque é qua- dal.
se sempre feito por uma equi- O truque — e as suas varian-
p a — o operador e dois compar- tes é às vezes executado
sas. Estes apostam e ganham em ruas e nas feiras
para encorajar outros a jogar. como forma de intrujar
As vezes, deixa-se que estes jogadores crédulos.
ganhem umas quantas apos-
tas pequenas. Mas quando o Façam as vossas apos-
monte já é grande, perdem invaria- tas! Este desenho dos
velmente. princípios do século xv
O segredo do sucesso deste tru- mostra um mágico alemão
que reside no último lançamento, de taças e bolas em acção.
o "lançamento falso".

404
PURO DIVERTIMENTO

>> V •'

De pernas para o ar. Os passageiros dão


uma volta nesta montanha-russa em espi-
Porque não se cai quando a montanha- ral c de alta velocidade no Seaworld, em
Queensland, EUA
-russa faz um "looping"
que a inércia lhes manlém o movimento
que traziam. De modo semelhante, os pas-
O fenómeno que manlém as pessoas nos ça que existem só entrariam em acçào se sageiros de um automóvel são atirados
seus assentos numa montanha-russa é o os carros andassem demasiado devagar. para o lado quando ele faz uma curva aper-
mesmo que mantém a água num balde A velocidade e a inércia permitem igual- tada: a direcção do carro mudou, mas a
quando andamos com ele à roda. Mas qual mente que os motociclistas se agarrem às inércia dos corpos empurra-os na mesma
é ele exactamente, e como acontece? paredes do Poço da Morte. Diz uma lei da direcção em que vinham. De igual forma,
Nas viagens da montanha-russa, a inér- física que um objecto que foi posto em uma criança que salta de uni carrocei será
cia que se cria é mais forte que a gravidade. movimento pela aplicação de uma força impelida segundo uma linha recta: embo
por isso, mesmo que as pessoas estejam continuará a deslocar-se em linha recta até ra o movimento do carrocei seja circular,
de cabeça para baixo, não há hipótese de ser parado ou desviado por outra força. A uma circunferência pode ser considerada
caírem. Para aqueles suficientemente co- relutância do objecto para alterar o seu como um número infinito de segmentos
rajosos para ficarem com os olhos abertos movimento chama-se inércia. de recta que se sobrepõem, e cada um de
é como se o Mundo, e não eles, estivesse Se um comboio pára subitamente, os les realinha a direcção do percurso da
virado ao contrário. Os cintos de seguran- passageiros são impelidos para diante por- criança.

405
PURO DIVERTIMENTO

Um espelho funciona reflectindo para


os nossos olhos os raios luminosos emiti-
dos pelo nosso corpo. Um espelho plano
reflecte-os uniformemente, mas um espe-
Efeitos especiais
lho irregular reflecte-os segundo os mais
estranhos ângulos.
no cinema
Urna superfície saliente - convexa —
faz as coisas parecerem mais pequenas. O A imagem parada, a transparência o travei
espelho retrovisor dos automóveis c mui- Uns matte, o controle de movimento, são
tas vezes ligeiramente convexo para cobrir apenas alguns dos truques utilizados na rea-
um ângulo maior. Uma superfície côncava lização de filmes. Uns são espantosamente
— que curva para dentro — riá-nos uma simples, outros altamente técnicos.
imagem ampliada. Um exemplo é um es-
pelho de barbear.
Um espelho convexo faz os raios diver
girem, pelo que a nossa imagem parece
menor. Num espelho côncavo, os raios
convergem e a imagem parece maior.

O "nevoeiro" no
teatro e no cinema
Uma das formas mais simples de criar "ne-
voeiro" ou "névoa" é com gelo seco —
dióxido de carbono (CO;,) sólido. O dióxi
do de carbono é um gás que se liquefaz
quando arrefecido sob pressão. Se se retira
a pressão, mas se mantém a temperatura
baixa, o C0 2 solidifica em cristais seme-
Ihanles aos da neve, que podem ser com-
pactados em bolas de gelo seco.
Quando se retira do contentor refrigera-
do e se mergulha cm água quente uma
porção desta substância, ela Iransforma-se
rapidamente em nevoeiro. O processo de
produção de nevoeiro pode ser controlado
de maneira mais eficaz por meio de uma
máquina de gelo seco; esta consiste num
depósito fechado com uma abertura por
onde se escapa o vapor. Para dirigir o "ne-
voeiro", usa-se uma mangueira ligada à
aberfura.
Imagem deformada. As saliências, con- Para um nevoeiro mais ligeiro, que fica-
cavidades e curvas do espelho reflectem os rá a pairar, vaporiza-se um óleo não-tóxico
raios luminosos para os olhos do observa- por meio de um elemento de aquecimen-
dor segundo ângulos estranhos to aplicado à máquina própria. O nevoeiro
produzido com óleo tende a pairar por
mais tempo do que o de gelo seco.

Espelhos Relâmpagos no palco


O processo tradicional de criar relâmpa-
que enganam gos artificiais é com o flash de magnésio:
uma pequena carga de pó contendo o me-
tal magnésio é inflamada num recipiente
A ilusão criada pelos espelhos que distor- por meio de uma faísca eléctrica.
cem as imagens vai rio divertido ao horro- Como alternativa, podem usar-se lâm-
roso. Esses espelhos apresentam diversas padas de flash para fotografia ou lâmpadas
irregularidades - saliências, concavida- de arco de carvão.
des e curvas -, e como cada parte da pes- As faíscas de uma trovoada podem ser
soa é reflectida por diferentes secções do simuladas projectando-se um diapositivo
espelho, as pernas podem ser compridas e de um raio sobre um cenário de céu.
magras, o estômago baixo e largo, en- Na maioria, os efeitos de flash sobre o
quanto outras parles podem até verse de palco são condicionados pelos regula
pernas para o ar. mentos de incêndios.

406
PURO DIVERTIMENTO

O efeito foi obtido por meio da transpa 0 sistema foi aperfeiçoado na década de
A transparência: renda, em que se projectou um filme do 40 com a criação do processo de cabeça
combinando a bela macaco e do cenário de fundo sobre a par- tripla, em que um projector incidia directa
com o monstro te de trás de uma tela translúcida, enquan mente sobre a parte posterior da tela e dois
to a actriz Fay Wray desempenhava o seu outros, um de cada lado, reflectiam ima-
O macaco gigante King Kong encontra a papel na parte da frente. gens idênticas de espelhos, de modo a so
sua vítima sacrificial amarrada entre duas O inconveniente principal é que a ima- breporem-se rigorosamente. Esta técnica
colunas, solta-a, pega nela e afasta-se, se- gem projectada nas costas da tela aparece produziu uma imagem com maior brilho.
gurando-a na sua mão gigante. Na realida com menor definição e menos luz que a
de, durante a maior parte desta cena do acção da frente, pois a quantidade da luz King Kong. O macaco gigante nâo passa-
filme King Kong (1933), o "monstro" era que penetra na tela é inferior à que ilumina va de um modelo — projectado ix>r transpa-
um modelo com 45 cm de altura. a acção em primeiro plano. rência sobre urna tela.
Sobreimpressão: fazendo
voar o Super-Homem
Quando o repórter Clark Kenl se transfor-
mou no Homem de Aço em Superman
(1!)78), voou pelos céus de Mctrópolis —
por meio de uma técnica designada por
sobreimpressão, ou projecção frontal.
Trata-se do inverso da transparência. A
cena de fundo é projectada sobre uma tela
por detrás do actor, mas a partir da frente.
Um projector faz reflectir de um espe-
lho uma imagem de fundo de fraca inten-
sidade, que assim não se vê no actor. O
espelho faz um ângulo entre o projector e
a câmara. A imagem é reflectida para a
câmara a partir de uma tela cuja superfí
cie é composta por contas de vidro, que
intensificam a imagem. Como a luz re
flectida da tela se propaga em linha recta,
a sombra do actor fica escondida pelo
seu corpo.
Nas sequências de voo em Superman, o
actor Christopher Reeve era sustentado
por um braço hidráulico que emergia da
tela. Tal como a sua sombra, o braço estava
escondido da câmara pelo seu corpo.
Lentes de zoom ("transfocadoras") na
câmara e no projector davam a ilusão de
movimento e perspectiva.
Um dos primeiros realizadores a utilizar
eficazmente a sobreimpressão foi Stanley
Kubrick em 2001: Odisseia no Espaço
(1968).

Simulando o voo. O braço hidráulico que


sustenta o Super Homem está escondido
pelo seu corpo. A cena de cidade, ao fundo.
é projectada por sobreimpressão.

A CONCRETIZAÇÃO DE UM VOO FANTÁSTICO

Cena de fundo ^
projectada na tela

A câmara fotografa
\r**~ Câmara

Espelho duplo 0 Super-Homem


e o fundo
\ 4- Proiector

Em voo. A cumaru e o projector estão No filme pronto


sincronizados. Não é o Super-Homem oè-se o Super
que se mooe, mas o fundo. -Homem voando
no céu de Melrópolis.

— Projector
Espelho
Câmara

Magia com espelhos. As cenas de fundo,


r „ ^
antecipadamente filmadas, reflectemse de
dois espelhos, um deles de dupla face, so-
bre uma tela por detrás do Super Homem
S + Proiector

"Close-up". A câmara transfoca o ac-


Os edifícios da cidade
parecem recuar
enquanto ele se
Uma câmara filma utraoes do espelho du- tor, aproximando-o, enquanto a cena de aproxima. São dois
plo, sobreimprimindo ambas as imagens. fundo se afasta, criando perspectiva. efeitos de zoom.
1 PURO DIVERTIMENTO

duplicado, a fim de registar diferentes ima-


Movimento controlado: gens em cada passagem, usando sempre o
a câmara cria o movimento mesmo filme. Assim, os disparos de laser,
o clarão dos escapes, as explosões e o fun-
As cenas de acção em Guerra das Estrelas do de estrelas integraram-se todos no filme
(1977) foram obtidas usando a técnica de- e nas alturas próprias.
signada por movimento controlado.
O supervisor de efeitos John Dykstra
quis evitar o processo utilizado em 2001: Movimento imagem
Odisseia no Espaço, no qual a câmara se por imagem: modelos
mantinha estática enquanto os modelos com movimento natural
eram movimentados à sua frente. Numa
cena em que a nave Discovery se desloca Em 1922, o escritor Sir Arthur Conan Doyle
através do espaço, foi necessário filmar o - criador de Sherlock Holmes - apre-
modelo muitas vezes para que pudessem sentou na Sociedade dos Mágicos Ameri-
ser incorporados outros elementos, como canos um filme de animação com mode-
os membros da tripulação vistos através los de dinossauros, que figurou em paran-
das vigias ou o fundo de estrelas. O modelo gonas no The Nem York Times: DINOS-
tinha 16,5 m de comprimento, e cada pas- SAUROS FAZEM CABRIOLAS PARA DOY-
sagem da câmara na sua calha de 45,5 m LE NUM FILME.
levava quatro horas e meia. Conan Doyle não esclareceu a assistên-
Dykslra montou as suas naves-modelo cia admirada de que o filme fora feito usan-
em suportes rígidos pintados de azul para do uma técnica que já tinha sido utilizada
não serem vistos de encontro à leia de fun- de forma pouco convincente noutros fil-
do azul. A câmara, montada numa grua, mes "mudos". Tratava-se de uma sequên-
deslocava-se ao longo de uma calha. A lan cia do filme de 1925 extraído da obra de
ça da grua movia-se para cima ou para bai- Conan Doyle O Mundo Perdido.
xo e rodava, e a câmara podia ser inclinada, Faz-se movimentar os modelos expon-
tirar vistas panorâmicas em equatorial do fotograma a fotograma e ajustando o
(panning) e perseguir qualquer objecto modelo à sua nova posição a seguir a cada
(tracking) em todas as direcções. Era co- disparo. Quando 0 filme é projectado à ve-
mandada por computador para que cada locidade normal, o modelo parece movi-
movimento pudesse ser rigorosamente mentar-se naturalmente.

Câmaras voadoras. Tal como os modelos


de naves espaciais em Guerra das Estrelas, o
caça supersónico soviético em Firefox
(1982) não voava. 0 modelo, com cerca de
1.5 m. eslava montado num braço de supor-
te comandado por computador, invisível
no filme. As câmaras deslizavam sobre ca-
lhas para dar a ilusão de movimento — téc-
nica denominada movimento controlado.
Clint Eastioood, que dirigiu o filme, repre-
sentava um americano enviado a Moscovo
para roubar o avião.

Modelos. A técnica de imagem por ima-


gem tem sido utilizada para fazer modelos
interactuarem realisticamente com actores
humanos. Para obter esta cena de Clash of
The Titans (1981). Harry Hamlin, represen
tando o herói Perseu, brandiu a sua espada
contra inimigos imaginários. Os modelos
de escorpião foram fotografados imagem
por imagem e os seus movimentos ajusta-
dos aos de Hamlin. que eram projectados
numa tela ao mesmo tempo que o cenário
de fundo. •-." ' :~'r -

409
Obra de arte. Interior
Pintura "matte": juntando de um armazém pinta-
o cenário à acção do para Os Salteadores
da Arca Perdida. A ac-
Uma linha de horizonte ou uma paisagem ção foi acrescentada
extraterrestre podem ser acrescentadas ao numa área deixada
fundo de uni filme pelo processo de pintu- em branco na pintura,
ra malte — técnica que se desenvolveu a poupando construção
partir da pintura cm vidro e que é utilizada de um cenário dispen-
para mascarar parte de uma cena que será dioso.
acrescentada posteriormente.
Pintava-se urna cena numa placa de vi-
dro colocada defronte ria câmara por for- "Traveiling matte": fantasia
Fundo não ma que combinasse com a acção que esta- tornada realizável
P" desejado va a ser filmada. Posteriormente, utilizou
-se o malte in (he-camera ("pela câma- No filme da ficção científica 77» Incredible
ra"), que implicava a filmagem da acção Shrinking Man (1957). o actor Grant Wil
real com parte da cena obliterada (matted liams tinha de parecer encolher diária
outj por tinta preta sobre uma placa de mente de tamanho. Partes do filme foram
vidro defronte da câmara. conseguidas com a construção de cená-
As duas partes cenário pintado e ac- rios cm escala gigantesca, completos com
ção ao vivo — eram depois combinadas maples e mesas. Mas nalgumas cenas,
por meio de uma "impressora óptica-' es- como naquela em que Williams era perse
pecial inventada por volta de 1930. É uma guido polo seu gato - gigantesco em
espécie de máquina copiadora de filme ca- comparação com ele -, foi utilizado o
paz de sobrepor e combinar diferentes por- processo designado por traveiling matte.
ções de filme, criando uma diversidade de De modo semelhante à técnica da pintu-
efeitos. Entre estes, figuram uma cena que ra matte. estacionária, o traveiling matte
parece diluir-se noutra (dissolver), a toma implica a criação de um "buraco" no cená-
da de vista que desaparece da cena para ser rio de fundo do filme para poderem sobre
simultaneamente substituída por outra por-se filmagens das diferentes acções re-
(wipe), a pausa na acção de uma cena (fre- gistadas em separado. Mas o "buraco" do
eze frames) e a combinação de diversas traveiling matte tem de mudar de posição
sequências fotografadas em separado. ou de dimensões cm cada fotograma, ajus-
lando-se à área em que se pretende que se
Efeito de máscara. A câmara fotografa movimentem os actores ou os veículos.
através de um vidro pintado, eliminando o O método mais vulgarmente utilizado é
fundo não desejado. o processo do blue screen ("tela azul").
PURO DIVERTIMENTO

O processo da tela azul. Pri-


meiro, o assunto é filmado Miniaturas e modelos:
contra uma tela azul. Cria-se pequenos mas eficientes
assim um "buraco" de travel-
ling matte que muda de posi- As miniaturas são, em geral, mais fáceis de
ção com os actores. Fases des- construir, de manejar e de filmar do que os
te processo durante a rodagem objectos reais.
de Os Salteadores da Arca Per- As miniaturas em movimento são habi-
dida mostram a filmagem em tualmente filmadas com câmaras de alta
estúdio, utilizando uma tela de velocidade para que, quando o filme for
fundo azul (à esquerda) e (em exibido à velocidade normal, o movimen-
baixo) os actores, depois de to pareça mais real. O movimento dos mo-
acrescentada uma cena de ex- delos de barcos em tanques, ou piscinas,
terior. de água, por exemplo, é difícil de captar
com realismo, e o mesmo se aplica às es-
teiras dos navios à silhueta das ondas de
mar. Afrouxar a velocidade do filme cm
projecção contribui para que os modelos
pareçam mais volumosos, pesados c reais.
"Miniaturas suspensas" são modelos
em suspensão perto da câmara para dar a
Actores, miniaturas ou outros objectos são ilusão de que são de tamanho real, mas
filmados em frente de uma tela azul, após o fotografados à distância No filme de James
que o negativo a cores é impresso numa Bond O Homem da Pistola Dourada
matriz a prelo e branco, que apenas regista (1974), o carro de vilão que voava por pro-
a zona a azul. 0 resultado é um filme em pulsão a jacto era, quando fotografado à
que o fundo está limpo enquanto a acção distância, um modelo com cerca de 1,5 m
de primeiro plano aparece em silhueta. de comprimento com uma envergadura
O traoelling matte é depois passado de asa de cerca de 3 m. Muitas das cenas de
numa câmara óptica para mascarar o pri- exterior em Encontros Imediatos do Ter
meiro plano não desejado enquanto o fil- ceiro Grau (1977), como urna paisagem do
me do fundo é revelado. estado de Indiana sobre a qual apareciam
ovnis sobrepostos, eram miniaturas meti
Fina linha azul culosamente construídas, com casas de
0 processo é depois invertido para masca- menos de 2,5 cm de altura.
rar o fundo quando se acrescenta a acção
de primeiro plano ao negativo. O filme pas- Redução com realismo. As "miniaturas"
sa então a conter em cada fotograma filma- utilizadas nos filmes não são necessaria-
gens de primeiro plano e de fundo. As ve- mente pequenas. Este barco, um modelo
zes, Uca a verse em redor do perfil do aclor relativamente grande, foi utilizado em A
ou do modelo uma delgada linha ou franja horrível "bebé" exlraterrestre sai-lhe do tó- Vida Privada de Sherlock Holmcs (1970).
azul. Mas os modernos técnicos de efeitos rax ensanguentado.
ópticos conseguem eliminar essa linha, A ilusão foi criada pelo técnico de efeitos
que é causada por luz reflectida pela tela especiais Roger Dicken, que empurrou
azul de fundo. um boneco através de um buraco num fal-
Outro método - ainda mais trabalho- so tronco humano.
so — de criar um traoelling matte. foi utili- Os bonecos popularizaram se junto
zado por Stanley Kubrick no seu especta- dos realizadores de filmes qué pretendem
cular filme 2001: Odisseia no Espaço. criar criaturas aterradoras. Muitos deles
Sobrepor o filme das naves espaciais ao são complicadas peças de engenharia.
do fundo de estrelas teria tido corno resul Para O Tubarão (1975) foram construí
tado que estas mostrariam as imagens das dos três tubarões com 7,5 m de compri-
naves. Para resolver o problema, Kubrick mento. Um era rebocado na água sobre
precisava de abrir espaços com o feitio das uma espécie de trenó, com mergulhado-
naves nos fundos estrelados. res a guiá-lo e a accionar-lhe as barbatanas
Recorreu-se ao mais antigo, mais demo- e a cauda. Os outros dois modelos eram
rado e mais caro método de criação de apenas os lados esquerdo e direito de um
traoelling mattes: pintar naves espaciais tubarão para serem filmados só de um
em silhueta em centenas de fotogramas. lado. Corriam sobre um carril submerso e
mergulhavam ou vinham à superfície por
meio de um braço articulado escondido.
Bonecos: segredos de O mais querido de lodos os extraterres
"Alien - O 8.° Passageiro" três, ET (1982), eram, na verdade, diversos
e do "ET" ETs diferentes três modelos em tama-
nho natural, uma cabeça e tronco separa-
No filme de ficção científica Alien - O 8." dos para os grandes planos e um actor
Passageiro (1979), o actor John llurt sofre anão vestido com um falo que lhe dava o
um súbito ataque de tosse violenta — e um aspecto do ET.
Explosão no gelo. Para esta cena de Risco Imediato (1987), o duplo francês Joe Cott conduzia o carro de James Bondde encontro a um abrigo
de barcos. Em seguida, libertaua-se atravessando o abrigo. Segundos depois, este explodia.

despedaçadas para o outro lado da rua." agitada, e tivemos de recorrer novamente


Explosões em segurança Nos filmes de ficção científica, convo- aos cabos."
cam-se muitas vezes os homens dos efei O grande navio de passageiros que foi
As explosões cm cena são de muitos lama los para explodir planeias inteiros — virado por uma onda enorme em A Aven-
nhos desde o rebentar de modelos até à como na Guerra das Estrelas e no Super tura do Poseidon (1972) era um modelo.
destruição de edifícios verdadeiros. As man. Suspende-se do teclo do estúdio de Mas para as cenas caóticas que se segui
mais vulgares nos filmes de guerra são as filmagem um modelo do planeta, e a câ- ram na sala de jantar do paquete teve de ser
bombas e as granadas simuladas. Uma vez mara filma de baixo. Quando a carga defla- construído um enorme cenário, que podia
que, habitualmente, estão envolvidos tan gra, os pedaços caem em direcção à câma- oscilar 30°, enquanto câmaras lambem in-
to actores como duplos, é fundamental ra, criando a ilusão de uma explosão no clináveis completavam a ilusão de que o
que as explosões sejam executadas com espaço. navio se virara.
segurança.
Um dos maiores trabalhos de explosão
do técnico de efeitos especiais Cliff Ri- Tempestades no mar
chardson foi durante a produção de A Ba
talha de Inglaterra (1969), em que ele e a Quer envolvam galeras ou navios de
sua equipa tiveram de fazer explodir um combate da II Guerra Mundial, as cenas
grande e resistente hangar de aviões. navais são habitualmente filmadas numa
"No interior do hangar demolimos as piscina de estúdio. A dos estúdios da 20th
paredes divisórias para enfranquecer a es- Ccntury Fox cm Hollywood, por exem
trutura, de modo que a cobertura ficou pio, é um quadrado com 110 m de lado.
sustentaria por 30 pilares de tijolo", disse Foi utilizada para as sequências de Pear]
Richardson. Nestes abriram-se 150 furos Harbor em Tora! Tora! Tora!, e o supervi
para aí se colocarem os cartuchos de ex sor dos efeitos especiais, L. B. Abbott, ga-
plosivos, que foram todos ligados entre si nhou um Oscar pelo seu trabalho.
com rastilho de detonação Cordtex. F.xplicou: "Para criar a sequência em
"Foi necessário acrescentar uma série que se vê a frota japonesa lutando conlra
de efeitos extras para tornar a filmagem um violento temporal a caminho de Pearl
espectacular. Entre eles, figuravam duas Harbor, utilizámos todas as ventoinhas
'cargas de fornilho', espécie de morleirus que conseguimos reunir. Para criar a espu-
feitos, neste caso, com barris de petróleo ma das ondas de temporal foi preciso jun-
de 200 I que podem ser inflamados hori- tar detergentes à água.
zontal ou verticalmente. Utilizei um verti- A forma convencional de impelir os mo-
calmente para criar o efeito de bola de fogo delos numa piscina é prendê-los a cabos
através do tecto do hangar. submersos. No caso de Tora!, os modelos
Nas portas do hangar tinha também tinham motores adaptados de carrinhos
sido aplicado Cordtex e lá dentro, logo de golfe. Funcionaram satisfatoriamente
por Irás, estava suspenso um caça Spitfire em certas cenas, mas não serviam para as
fingido. Foi então colocado um fornilho sequências de temporal mais violento,
horizontal para produzir a cortina de porque os motores náo tinham potencia
fogo que atirava com o Spilfire e as portas suficiente para impelir os modelos na água

412
PURO DIVERTIMENTO

Balas e sangue
Nos primeiros tempos, as balas que acerta-
vam nas paredes, nas garrafas ou nas veda-
ções eram realmente disparadas por um
atirador que usava munições autênticas.
Mas os riscos eram grandes e tiveram de
criar-se novas técnicas.
Para balas que estilhaçavam uma pare-
de de madeira, introduziam-se nesta fulmi-
nantes que se detonavam em sincroniza-
ção com o tiro. Para balas que acertavam
em pessoas, aplicava-se um fulminante se-
melhante numa chapa de metal que o ac-
tor usava debaixo do fato e era detonado
electricamente.
Assim, os especialistas em efeitos cria-
ram o squib, pequena carga explosiva,
não-metálica, sem fumo, detonada por pe-
quenas pilhas presas ao actor por fios liga-
dos a um comando ou por radiocomando.
Para a sua "morte" em Bonnie e Clyde
(1967), Faye Dunaway tinha dúzias de
squibs escondidos debaixo do vestido. O
técnico de efeitos Danny Lee dispô-los em
sequências e ligou-os a uma pilha exterior
à câmara, que os detonava também em Tiroteio no Oeste. Quando Yul Brynner é "alvejado" num duelo de bar, um squib explosivo
sequências. O carro no qual Bonnie foi me é detonado por baixo da sua cami.su. rebentando um saco de "sangue".
tralhada foi previamente esburacado, co-
locados squibs nos orifícios e depois re- grande quantidade de sangue fingido. 0 uma faca que atinge uma pessoa, a técnica
pintado. O corpo de Faye Dunaway foi sa- técnico dos efeitos, Bud Hulburd, prendeu mais vulgar é disparar o projéctil, que é
cudido por convulsões pelas balas que lhe aos squibs sacos de "sangue" em látex, oco, ao longo de um arame, partindo de
acertavam. A cena foi filmada em grande que foram enchidos com um líquido ver- um dispositivo de ar comprimido. O ara
velocidade, o que deu ao assassínio uma melho à base de gelatina. Quando os me está ligado a uma placa de metal presa
lentidão ilusória quando foi passado à ve- squibs rebentaram os sacos, o "sangue" ao corpo do actor por baixo do fato. A lan-
locidade normal. jorrou. ça voa ao longo do arame e embate numa
A Quadrilha Selvagem (1969) utilizou Para criar o efeito de uma lança ou de almofada de cortiça fixa à placa.

De pernas para o ar. Para criar


as cenas de confusão quando o
paquete de A Aventura do Posei-
don se virou, o cenário iriteiro da
sala de jantar (à esquerda) -36 m
de comprimento. 18 m de largu-
ra por 6 m de altura - foi vol-
tado ao contrário. As cenas de
exterior foram filmadas num
tanque de estúdio, utilizando
um modelo do navio à escala
de 1:4.
Vento e ondas. A sequência do
temporal na versão de 1962 de
Revolta na Bounty foi produzida
num tanque quadrado com
90 m de lado dos estúdios da
MGM, utilizando uma réplica do
navio (à direita). Esta estava
montada sobre carris que a ba-
lançavam para trás e para dian-
te. Máquinas de vento e de on-
das fustigavam o mar, e despeja-
ram-se litros de água de enor
mes tanques de descarga. Vários
duplos ficaram feridos quando
caíram ao "mar" durante a fil-
magem.

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PURO DIVERTIMENTO

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O "Blitz" de Londres. Foram usados 50 queimadores de propano liquido para reconstituir os bombardeamentos de Londres no filme
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A Batalha de Inglaterra. O perito Cliff Kichardson e o seu filho John criaram posteriormente a máquina Dante para incêndios

O Departamento de Bombeiros de Los


Incêndios em filmes: Angeles manteve-se também alerta duran-
a máquina Dante te as sequências do incêndio em A Torre do
Inferno (1974). As autoridades insistiram
Os duplos:
Como as chamas vulgares aparecem nor-
malmente transparentes na película, nos
em que cada foco de incêndio — criado
por propano bombeado por mangueiras
os acrobatas
incêndios do cinema juntam-se-lhes pro-
dutos químicos para as realçar.
controladas por válvulas durasse ape-
nas 20 a 30 segundos. Construíram-se 57
do cinema
Na década de 70, o perito inglês em efeitos cenários, incluindo uma secção de cinco
especiais Cliff Richardson e seu filho John andares da torre em tamanho natural, e Por detrás de quase todas as espectacula-
criaram a máquina de incêndios Dante, que um modelo do edifício completo com res quedas de cavalo, saltos de rochedos,
lhes permitiu produzirem fogos controlados. 33 m de altura. Quatro equipas de imagem arrepiantes choques de automóvel ou fu-
Um motor de automóvel sobre um carro de filmaram em apenas 70 dias, e ninguém se riosas cenas de pugilato, está sempre uma
duas rodas acciona uma bomba que pode feriu, para além de um chefe de bombeiros raça de especialistas os duplos.
expelir o conteúdo de dois tambores de 200 I que cortou a mão num vidro partido Apesar do seu perigoso trabalho, mui-
de misturas combustíveis. Detonadores de Os bombeiros de Londres estavam pre- tos mantêm-se na obscuridade e ignora
jacto inflamam a mistura, e a máquina pode sentes quando Cliff Richardson montou dos. Outros ganham fama e tornam se es-
criar uma cortina de fogo com 18 m de largura. num armazém abandonado à beira do Ta- trelas.
misa .50 queimadores do propano líquido
"Incêndio" da Câmara Municipal a fim de recriar uma cena do ataque aéreo
Máquinas Dante foram utilizadas no filme alemão para A Batalha de Inglaterra. Cavalgando para a fama
de James Bond Aluo em Movimento A ilusão de uma cidade inteira a arder foi e para o perigo
(1985), em que John Richardson teve de criada para o filme San Francisco (1936),
incendiar a Câmara Municipal de S. Fran- com Clark Gable, que exibia também um "Yakima" Canult tornou se um dos mais
cisco — sem causar quaisquer prejuízos. realístico sismo, para o qual foi montado famosos duplos de Hollywood. Iniciou a
Tornou o tecto ã prova de fogo por meio de sobre uma plataforma vibratória urn cená- sua carreira na época do cinema mudo,
placas isolantes, chapa ondulada e areia. rio inteiro. A plataforma abanava para cirna altura em que os estúdios gostavam que o
Tornou igualmente à prova de fogo as jane- c para baixo e para trás e para diante a uma público pensasse que eram as estrelas que
las através das quais as unidades Dante lan- amplitude de I m. Ru iram paredes e casas, faziam as cenas arriscadas.
çariam chamas para dar a impressão de ruas abriram fendas e despedaçaram-se A proeza mais célebre de Canutt foi na
haver no interior um fogo violento. mobílias num abalo que durou 20 minutos. Cavalgada Heróica, de John Kord (1939),
Richardson "pegou fogo" à câmara 25 Dos 400 figurantes que se encontravam em que ele saltou do seu cavalo de guerra
vezes durante três noites de filmagens, nas varandas que tombaram ao premir de para um dos seis cavalos que puxavam a
com os bombeiros sempre presentes. um botão, nenhum se feriu. diligência. Alvejado pelo herói, John Way-

414
PURO DIVERTIMENTO

Filmando lutas — com


punhos, vidros e móveis
* As lulas com armas ou com os punhos são
cuidadosamente preparadas. Os socos são
h dados com uma técnica aperfeiçoada para
o cinema por Yakima Canutt (à esquer-
da) - e o som do impacte entre o punho
e o queixo ou o tronco é acrescentado pos-
teriormente. Às vezes, é necessário acol
ehoamento de protecção para as canelas,
os ombros, as costas ou os cotovelos.
Contudo, ocorrem acidentes. Christo-
pher Lee, que começou a sua carreira cine-
matográfica como duplo, descreve um
deslize durante uma sequência de esgrima
com Krrol Flynn na filmagem de O Príncipe
Negro em 1954: "O realizador, Henry Levin,
contratou-me como perito para garantir
que nenhuma das suas vedetas, particular-
mente Flynn, ficasse ferida. Numa cena, fiz
primeiro de duplo de Flynn, e quando este
se aproximava para os grandes planos,
passei a dobrar o adversário. Combati du-
rante horas. Na filmagem final quase não
conseguia levantar o braço e, quando o
fiz, Flynn espetou nele a sua espada, mes
mo acima do cotovelo."
Em cenas em que pessoas são atingidas
mm*** na cabeça por garrafas ou projectadas da
janela, o "vidro" é uma resina que parece
ne, Canutt caiu entre os cavalos e foi arras- Cavalo em queda. Em Cavalgada Heróica vidro e se parte como ele, mas que é inó-
tado, até finalmente se soltar. A diligência (1939), faz-se cair um caoalo prendendo-lhe cua. 0 seu fabrico é dispendioso, pelo que,
rolou por cima com as rodas de cada lado as patas da frente com arame. Era montado em casos que implicam grandes quantida-
de Canutt, que finalmente conseguiu pôr- por "Yakima" Canutt (também na fotografia des — como montras de loja -, faz-se nor-
-se de pé, provando não se tratar de uma inserida). malmente uma só filmagem. A princípio, o
trucagem. Canutt ganhou um Oscar pelas vidro falso era feilo com açúcar.
proezas que executou e pelos aparelhos Falso murro. Pai Roche reage a um "direc Os móveis e outros acessórios — os
de protecção que criou para os duplos. to" simuiado de Harrison Ford em Os Saltea- break-uivays, frequentemente feitos de bal-
Mesmo as acrobacias a cavalo mais bem dores da Arca Perdida (1981). Mus o ângulo da sa — são senados quase até ao fim para se
planeadas incorporam um elemento de câmara fá-lo parecer um soco verdadeiro. estilhaçarem com o impacte.
perigo. O veterano Bob Simmons descrê
veu como o seu amigo Jack Keoly morreu
durante a rodagem do filme Zarak (1956):
"Tudo parecia sem problemas, e ambos os
nossos cavalos caíram lindamente. Veio a
ordem: 'Corta!', e depois o familiar Tudo
bem?'. Procurei Jack em redor. Vi que ele
tinha caído mesmo antes do fosso da câ-
mara. Não se levantou: estava lá deitado,
sem um movimento. O cavalo caíra sobre
ele e quebrara-lhe a coluna."
Treina-se um cavalo a cair atando-lhe
uma das patas dianteiras para que ele fique
apenas sobre três pernas e depois puxan-
do as rédeas para o lado oposto.
O animal, desequilibrado, cai. Depois
de repetições constantes, o cavalo cai
quando lhe c ordenado c sente o bridão a
ser puxado para um lado. A técnica é desig-
nada por queda "ao bridão".
Nos primeiros tempos do cinema, usa-
vam-se arames atados às patas dianteiras
do cavalo e com a outra extremidade fir
memenle presa. Mas esta técnica foi bani-
da, pois podia lesionar a coluna ou o pes-
coço do animal, que teria de ser abatido.

415
PURO DIVERTIMENTO

Amortecendo Aterrando depois


as quedas de uma explosão
Nas quedas de locais altos As cenas de alguém a ser projectado pelo
usam-se, para amortecer o cho- ar devido a urna explosão são habitual
que, sacos de ar gigantescos de mente realizadas pelo duplo saltando de
nylon - do tamanho de uma um trampolim oculto ou de poderosas
sala quando cheios —, como pranchas de saltos accionadas por ar com-
aconteceu no mergulho a pique primido; os duplos aterram geralmente
de Jeny Hewiti (à direita) de um em caixas de areia ou de turfa.
teleférico que explodiu em O Em O Pirata Negro (1926), Douglas Fair
Soldado (1982). banks escorregava pela vela de um navio,
Antes de se começar a utilizar aparentemente sustentado apenas por um
os sacos de ar, em 1971, eram punhal que ia fendendo a vela. O "punhal"
pilhas de caixas de cartão cober- era apenas o cabo ligado a um contrapeso
tas com colchões, depois envol- por detrás da vela, que lhe conferia estabili
vidas em lona e atadas com cor- dade, enquanto a vela tinha uma costura
das para não rebentarem que que a fazia rasgar a direito.
serviam o mesmo fim. O proce
dimento era, por norma, uma
camada de caixas por cada 3 m A arder — mas incólume
de queda.
Quando o medalha de ouro Nas acrobacias envolvendo fogo, que são
olímpico de natação Johnny das mais perigosas, tomam se grandes
Weissmuller — o popular Tar- precauções. O vestuário exterior do duplo
zan dos filmes dos anos 40 — pareceu é esfregado com um gel, habitualmente à
mergulhar da ponte de Brooklyn em Tar- base de álcool, que produz uma barreira
zan em Nova Iorque (1942), constou que de vapor entre o tecido e as chamas — o
o actor tinha de facto saltado de 33 m de álcool arde acima do tecido, mal queiman-
altura. Mas tratava-se de um Imque. Weiss- do o material. O duplo veste um fato à pro-
muller saltava para um tanque de água - va de fogo por baixo do vestuário exterior e
depois o filme era enxertado com a cena por baixo daquele roupa de lã, que não
de um boneco mergulhando da ponte. arde com facilidade.
Em Dois Homens e Um Destino (1969), Quando há necessidade de mergulhar
um salto para a liberdade, de um rochedo totalmente no fogo, vestem se fatos mais
para uma torrente impetuosa, era também sofisticados, com capacetes e fontes de ar
fingido. Os actores Paul Nevvman e Robert incorporadas. Além disso, estão sempre a
Redford limitaram-se a saltar para uma pe- postos funcionários do estúdio munidos
quena plataforma um pouco abaixo da de extintores.
borda do rochedo. Depois, filmaram-se
dois duplos saltando de 22 m para um lago Homem a arder. Esfregado com um gel
da Califórnia. próprio, este duplo vestiu um fato de protec-
Até cerca de 1960,18 m era o máximo que ção em O Emissário do Diabo (1975).
os duplos faziam em queda livre. Hoje, caem
mais de 300 m — servindo-se de pára-que-
das ultraleves e de fios descendentes.
O duplo americano Dar Robinson espe-
cializou-se em quedas especta-
culares. Aperfeiçoou uma técni-
ca de fazer quedas de cabeça de
edifícios altos com um arame
delgado - um "cabo de desace-
leração" — ligado a um arnês
colocado por baixo das roupas.
Um cabrestante afrouxava a
queda quando ele se aproxima-
va do solo, fazendo-o parar de
cabeça para baixo a poucos me-
tros do chão.
Em Highpoint (1984), Robin-
son, como duplo de Christopher Plum Aterragem suave. O herói de O Soldado
mer, caiu da CN Tower de Toronto, edifício (1982) tinha de fazer uma queda de 23 m de
com 553 m de altura. Mergulhou o equiva- um teleférico que explodira por acção de
lente a 120 andares antes de fazer uma des- terroristas. O duplo americano Jeny Hewiti
cida retardada em pára-quedas. Robinson fez efectivamente a queda de cutH^cu para
morreu sete anos depois, com 39 anos, ao baixo, que foi amortecida por um grande
dirigir se para casa de motocicleta. saco de nylon cheio de ar.

416
PURO DIVERTIMENTO

uma rampa fora do alcance da câmara ou Acrobacia computorizada. O filme de


'Estampando" um carro tem por baixo um braço hidráulico que o James Bond O I lomem da Pistola Dourada
de forma segura impulsiona c faz virar-sc. Alguns dos cho- (1374) foi o primeiro a incluir uma acroba-
ques mais espectaculares são tão perigo- cia cie automóvel planeada por compu-
Os automóveis destinados a chocar ou a sos que o próprio duplo é substituído por tador. 0 duplo Bumps Willard pôde assim
virarem-sc e rolarem cm cenas especta- um boneco. Nestas cenas, o carro pode ser fazer um salto de saca-rolhas enquanto o
culares são reforçados por dentro. O duplo catapultado por um canhão de ar compri- seu carro voava por cima do vazio numa
usa, além disso, um arnês de segurança, mido agregado à parle de trás. Monta-se ponte "destruída'' cuidadosamente cons-
acolchoamento e um capacete anticho uma câmara por detrás do volante, e a ilu- truída e aterrava com segurança do outro
que — desde que não seja visto. são era completada pelas mãos do boneco lado. Na perspectiva do público, quem con-
Quando um carro tem de rolar, ou sobe presas àquele. duzia era o próprio Bond (Roger Moore).

0 417
PURO DIVERTIMENTO

Christo Javacheff: por que razão


"embrulha" paisagens
A 17 de Setembro de 1985, ao crepúsculo, reverberava e cintilava E à noite, quando se
Christo, o Artista F.mbrulhador, preparava acenderam as lanternas ornamentais, es-
-se para oferecer aos cidadãos de Paris um tas brilhavam através das pregas como fa-
presente há muito esperado: a sua "recria- róis dourados.
ção" de uma das mais queridas pontes da Este necu-look da ponte era a mais re-
cidade, a Pont-Neuf, embrulhada em pa- cente criação do artista Christo Javacheff,
pel de prenda. De cada lado da histórica nascido na Bulgária em 1935 e estabeleci-
ponte tinha se juntado uma multidão an- do em Nova Iorque. Ela traduzia o seu de-
siosa e que aplaudiu entusiasticamente sejo de tirar a arte das galerias e trazé-la
quando gigantescos lençóis pregueados, para a rua, para que pudesse ser apreciada
de um belo amarelo cor de mel, foram pu- por todos no seu dia-a-dia.
xados por cordas ligadas a uma pequena Afirmava ele que diariamente centenas
frota de barcaças. de milhares de parisienses atravessavam
A hora fora bem escolhida, pois o tecido ou passavam perto da ponte - mas quan-
pareceu ficar iluminado pelos raios do sol- tos deles a viam realmente e paravam para
-poente. Durante as 12 horas seguintes o a apreciar? Não muitos, dizia.
resto da cobertura foi puxado por sobre as Christo planeava mudar essa situação
balaustradas daquela ponte dos princípios com o seu embrulho de nylon colorido,
do século xvii. que daria à ponte uma nova dimensão, de
Na manhã seguinte, para as pessoas tal modo que, muito depois de retirado o
que iam para o trabalho passando pela tecido, as pessoas sentiriam um profundo Dois anos depois, mudou-se para os
ponte, o presente de Christo revelava-se e duradouro amor por aquelas pedras. EUA, onde lançou uma série de "aconteci
em toda a sua glória. Com excepção da Christo fizera o seu primeiro impacte mentos artísticos" insólitos, entre os quais
faixa rodoviária ao meio e da estátua de em Paris em 1962, ao bloquear ilegalmente Store Fronts, em Nova Iorque (1964), e Pac-
bronze de Henrique IV, que a tinha manda uma rua estreita do Quartier Latin com a ked Museum of Contemporary Art, em
do construir, toda a extensão da Pont-Neuf sua "cortina de ferro" — uma parede de Chicago (1969). O primeiro consistia em
se encontrava coberta de nylon dourado. A m de altura feita com tambores de óleo réplicas de fachadas comerciais em tama-
Sob o sol brilhante do Outono, o tecido vazios, satirizando o Muro de Berlim. nho natural e com as montras cobertas; o

ttfti". fwnWhh**, Fjmít. CnJ^iiyiit^ilUa^UJf \5Mt*.<r~w.<i*J.XSJMu/^/ fr/jic^fm èiS.f-

Sonhos cor-de-rosa. Em 1983,


Christo criou as suas Ilhas De-
bruadas na Biscayne Bay, de
Miami. Seruiu-se de um mapa
da zona (extrema direita) e pin-
tou o seu projecto (ao centro);
finalmente, nxleou as ilhas com
tecido cor-de-rosa (em cima).

418
Grande sebe. Em 1976, a Running Fence,
de Christo — de tecido de nylon cosido —,
serpenteava ao longo de quase 40 km. des-
de o Norte da Califórnia até ao oceano Paci-
fico. A sebe, com 5,5 m de altura, era susten-
tada por rnais de 2000 postes de aço.

segundo implicou a cobertura do museu Ponte dourada. Toda a Paris veio ver a
com 62 secções de lona castanha atada Pont-Neuf no Outono de 1985, depois de
com 3,20 km de corda também castanha. Christo a ter embrulhado em 42 000 m-' de
Em 1972, criou Valley Curtain, em Grand tecido dourado.
Hogback, Rifle, Colorado, ligando dois pi-
cos montanhosos afastados de quase A autorização para cobrir a ponte teve
400 m com uma cortina de nylon cor de de ser dada por meia dúzia de entidades.
laranja berrante. Christo levou seis anos a obter a aprovação
O seu projecto mais ambicioso surgiu do maire de Paris, Jacques Chirac. O presi-
entre 1980 e 1983: II ilhas da Biscayne Bay, dente François Mitterrand só deu o seu
em Miami, Florida, foram debruadas com consentimento em Julho de 1985 - dois
60 400 m- de tecido cor-de-rosa. Vistas do meses antes da data prevista para que a
ar, pareciam enormes flores tropicais flu- ponte fosse apresentada ao público nas
tuando num mar azul-esverdeado. suas novas vestes.
Os que dizem mal de Christo afirmam Tecnicamente, o embrulhar da Pont-
que o seu trabalho é demasiadamente -Neuf foi um feito triunfal.
grande e de muito pouca duração para ter A parte inferior do tecido foi presa por
valor artístico ou estético real. Mencionam Criador de imagens. Embrulhando em mergulhadores profissionais a cabos colo-
ainda o custo das suas criações, que, na tecidos e cores contrastantes elementos na cados a I m abaixo da superfície do Sena.
maioria dos casos, atingem as centenas de lurais ou humanos da paisagem, Christo Outros trabalhadores seguraram os len-
milhares de dólares. Christo riposta que é pretende sensibilizar as pessoas para a be çóis com grandes pesos às valetas da faixa
ele quem paga tudo com a venda de uma leza que as rodeia. de rodagem. Além disso, os panos foram
infinidade de desenhos, esboços, modelos atados a blocos de betão, armações espe-
à escala e litografias aos museus e colec- Christo obteve fotografias da ponte, ciais e protecções escondidas. Todo o con-
cionadores particulares. com os seus 12 elegantes arcos, tiradas de junto foi amarrado com cordas e sustenta-
Em 1985, surgiu a "Pont-Neuf embru- dezenas de ângulos diferentes. Desenhou do por cabos de aço.
lhada". Mas a ideia nascera pela primeira depois sobre elas com tintas e monlou-as As pessoas vieram aos milhões para
vez 10 anos antes, quando começou a conjuntamente cm colagens para ver que olhar e pasmar, para gozar e admirar e,
fazer um estudo pormenorizado do lo- efeito teriam diversas variações de cober nalguns casos, para troçar e maldizer. A
cal. Desde a sua inauguração, em 1606, a turas o de cores. Estudou os projectos e a ponte ficou "embrulhada" durante duas
Pont-Neuf constituía um ponto de en história da ponte - dando especial aten- semanas. O tecido de nylon foi depois re-
conlro favorito dos namorados, uma visi- ção aos barcos e barcaças que lhe passa- movido - mas não sem que tivessem sido
ta obrigatória para os turistas e uma arte vam por baixo e aos milhares de motoris- dadas 750 000 amostras gratuitas aos que
ria extremamente concorrida sobre o tas, ciclistas e peões que lodos os dias a queriam recordar a Pont-Neuf no seu dou-
Sena. atravessavam. rado e efémero esplendor.

419
PURO DIVERTIMENTO

A invulgar sequência do título


foi criada pelo designer Bernard
Como se Lodge, que, com um grupo de
técnicos, aproveitou um fenó-
conseguem meno electrónico conhecido
por vídeo fioiui round.
os efeitos gráficos Aponta se uma câmara de ví-
deo ao écran de um monitor ao
na televisão? qual aquela está a transmitir
uma imagem ... do próprio
écran. Se a câmara e o monitor
Formas abstractas e estranhas que se trans estiverem estáveis, nada aconte
formam em letras a três dimensões; ima- ce. Mas qualquer sinal que se in-
gens que rodopiam ou fogem; actores em troduza, como o reflexo de uma
paisagens fantásticas de outros mundos — lanterna sobre 0 ('crart, produz
são apenas alguns dos efeitos visuais cria- urna realimentaçào (feedback)
dos pelos designers da televisão. electrónica entre o monitor e a
Mais de 130 países em todo o Mundo câmara e novamente o monitor.
têm redes de televisão e todas elas se Qualquer alteração aos coman
servem de designers. Desde o início das dos do monitor intensidade
emissões televisivas, há mais de 50 anos, luminosa ou contraste ou à
que se vêm inventando técnicas cada vez posição da câmara será apanha-
mais sofisticadas para tornar mais especta- da no circuito de realimentaçào,
cular a apresentação dos programas. I loje criando padrões abstractos,
em dia, os designers servem-se de compu- No caso do DOCTOR WHO,
tadores para conseguir efeitos aparente- uma segunda câmara transmi-
mente impossíveis — e, literalmente, par? tia o logótipo do título do pro-
"pintar" com a luz. É • grama ao monitor para desen
cadear o efeito. Um misturador
"Névoa electrónica" electrónico simetrizava a ima-
Uma névoa fantástica começou a rodopiar *•** '«* gem e adicionava as letras da se-
pelos écrans da televisão britânica em gunda câmara.
1963. Os seus padrões simétricos pare-
ciam o negativo de um borrão de tinta em "Explosão" do rosto
movimento. As formas mutáveis, acompa- da Estátua da Liberdade
nhadas por música electrónica pulsante, O clímax da sequência de aber
iam-se transformando em letras confusas tura da série documental Crirne
que por fim se definiam como duas pala Inc, de 1984, era uma imagem
vras: DOCTOR WHO. A BBC Television es- do rosto da Estátua da Liberdade
tava a lançar a sua nova série infantil de a explodir. O designer Lester
ficção científica sobre as aventuras de um Halhead queria simbolizar "a
misterioso viajante do tempo. destruição completa da socie-
dade americana".
Para obter o efeito pretendi-
do, imprimiu-sc uma imagem
da face da estátua em placas de
vidro de açúcar. Como o seu
nome indica, este vidro é feito de
açúcar, parte-se com facilidade
e não fere, sendo por isso fre
quentemente utilizado em cine-
ma e televisão. O vidro, com pe-
quenas cargas explosivas por
trás, foi colocado numa moldu-
ra de madeira e pendurado hori-
zontalmente do tecto do estú-
dio. A imagem nele impressa re
flectia se num espelho por bai-
xo, inclinado a 45". Uma câmara
Efeito fantástico. Para O titulo da série in- de alta velocidade filmou a ima-
fantil da BBC DOCTOR WHO (à direita), a gem reflectida. Quando as car
câmara de vídeo estava apontada ao écran gas foram detonadas, o vidro de
do monitor (em cima), criando um circuito açúcar estilhaçou-se e caiu em
de realimentaçào. (Ima segunda câmara direcção ao espelho. Quando o
introduzia o titulo, e o sinal percorria o cir- filme era passado à velocidade
cuito sem parar, produzindo a invulgar "né- normal, a imagem parecia ex
voa", que acabava por transformar-se no plodir lentamente em direcção a
nome do herói da série. câmara e mesmo ultrapassá-la.

420
PURO DIVERTIMENTO

Desintegração. £s/<? sequência simbolizava o colapso social nos EUA durante a década de 20, a era dos gangsters.

de vídeo, manejando os minúsculos ele tas vezes se quiser. Cada pixel é depois ar-
mentos da imagem (pixels) - pontos de mazenado na memória do computador
^C luz colorida que formam a imagem apre sob a forma de números.
ir sentada num écran de 'IV. A manipulação das imagens é efectuada
Imagem em vidro Podem juntar-se dois quaisquer pixels por meio de um teclado, através do qual o
de açúcar a partir-se para formar uma linha; podem juntar-se operador pode chamar qualquer imagem
outros para constituir formas geométricas para ser projectada no écran do monitor.
ou letras. Uma vez criada, uma forma pode Depois, servindo-sc de um aparelho elec-
ser reduzida, ampliada ou repetida quan trónico designado por caixa de tintas

Câmara

Explosão. A série documental Crime IrtC,


de 1984, abria com a dramática oisão do
rosto da Estátua da Liberdade a explodir e
depois "implodir'' para formar o título Para
isso penduravam se as imagens, pintodas
sobre frágeis oidros de açúcar, sobre um
espelho. A câmara filmava a imagem reflec-
tida quando o açúcar se estilhaçava. A se
gunda parte da sequência era passada de
trás para a frente.

Para completar a sequência, um proces-


so semelhante foi repetido com o logótipo
de título do programa impresso em vidro
de açúcar. Quando o filme foi composto, a
sequência do título foi passada de Irás para
a frente, pelo que a estátua parecia expio
dir e depois recompor-se no título. Man-
ei ias de sangue fingido sobrepostas na par
to inferior esquerda do título davam o to-
que dramático final.

Animação por computador


Os computadores permitem criar imagens
a partir do zero ou acrescentar ou retirar Mistura de meios. A sequência de abertura do show Wired de música pop utilizava filmes
imagens de filmes ou fotografias que lhes de céus, modelos de edifícios e figuras desenhadas e com movimento. As figuras, represen
sejam introduzidos a partir de uma câmara tando músicos de rua. eram aramadas por um sistema computorizado

421
PURO DIVERTIMENTO

Título móvel. As palavras ABC SPORT foram desenhadas e depois transformadas por computador adquirindo aspecto sólido e metálico.
Cada uma das 750 imagens da sequência de 7 segundos exigiu 15 a 20 minutos de trabalho. A letra 0 foi concebida para se assemelfiar a um
estádio com as bancadas cheias de espectadores.

422
PURO DIVERTIMENTO

(paini box), o operador movimenla sobre de televisão, RAI, encomendou


um painel uma canela electrónica ligada uma complicada sequência de
ao sistema. Esta não faz marcas no painel, animação. Foram necessários
mas todos os seus movimentos são elec- três meses de trabalho com um
tronicamente traduzidos em efeitos artísti- potente computador e uma cai
cos no écran do monitor. xa de tintas para produzir o oi-
A variedade de efeitos conseguidos é deotape de 90 segundos. Viam-
notável. Qualquer imagem a cores pode -se bolas de futebol aparente
ser reduzida, ampliada, invertida como mente flutuando no espaço,
num espelho, repetida ou transformada como planetas. Uma delas apro-
num molde que pode ser movimentado ximava-se em grande plano, e,
para onde se queira e de que tamanho se ao afastar-se novamente, viam
queira sobre o écran. Os diferentes tipos de se impressas sobre a sua super-
meios usados pelos artistas convencionais fície as palavras "The World
- aguarela, pastel, óleo e outros — po- Cup" em leiras douradas.
dem ser imitados. Perspectivas, luzes e Uma das primeiras redes de
sombras, tonalidades e movimento po- televisão a usar animação com-
dem aplicar se a uma imagem existente ou putorizada em grande escala foi
ser acrescentados ou subtraídos de uma a estação brasileira TV Globo.
sequência pré-filmada. Um designer austríaco, Hans
A sequência de abertura do designer Jurgen Donner, residente no Rio
Matt Forrest para o programa televisivo Wi- de Janeiro, persuadiu a estação
red de música pop apresentava músicos a servir-se de instalações nos
animados por computador formados por EUA para criar um logótipo, ou
segmentos de figuras geométricas, que marca.
apareciam, com modelos de edifícios, A estação emite também um
numa paisagem desértica sob um céu de programa de notícias cujo título
tempestade. A sequência de 40 segundos tem uma apresentação gráfica
levou três meses a realizar num sistema característica. Mostra-nos um
computorizado. No final da sequência, globo arroxeado de aspecto me
uma série de baquetas de tambor estiliza tálico, segmentado corno uma
das subiam ao ar, revoluteando e forman- tangerina, que se transforma
do as letras do título do programa. por fim na primeira letra O da
As imagens eram desenhadas à mão e terceira palavra de JORNAL DA
depois introduzidas num computador, co- GLOBO. Quando o complicado
loridas, dotadas de textura e animadas, logótipo animado do canal 4 da
A sequência de promoção desportiva televisão inglesa foi concebido
da Australian Broadcasting Corporation, por uma empresa londrina em
ABC SPORT, apresenta letras tridimensio- 1982, nenhuma firma britânica
nais que parecem sólidas e metálicas. Fo- de computadores possuía equi-
ram concebidas pela artista .lulian Eddy pamento suficientemente sofis-
depois "desenhadas" num sistema de pin- ticado para criar o efeito preten-
tura digital. Um computador deu-lhes for- dido. Por isso, a tarefa de cons-
ma, cor e textura truir os seus componentes, fa-
Seguidamente, foram manipuladas zendo-os parecer tridimensio-
também por computador. Na sequência nais e de textura colorida, foi
definitiva, o O da palavra SPORT surge em entregue a uma empresa de Los
grande plano, deitado de lado. O seu bor- Angeles. Os componentes fo-
do interior representa a oval de um estádio ram depois enviados para Lon-
desportivo repleto de espectadores. Este dres, onde foi feila a animação.
efeito, criado num aparelho chamado Mi- A i m a g e m final consistia
rage, resulta da criação de milhares e mi- numa quantidade de segmen-
lhares de pontos de luz colorida, que, vis- tos multicores e sólidos que sur-
tos num écran de televisão, dão a impres- giam de longe. Rodopiavam uns
são de uma multidão. A medida que a cã à volta dos outros — até se junta-
mara parecia recuar, as letras rodavam rem para formar o número 4.
para a posição vertical também por meio
de um efeito p r o d u z i d o por c o m p u - Combinação de imagens
tador - formando o título ABC SPORT. A de TV
palavra present ("apresenta") foi acres Um apresentador de notícias
centada depois, escrita à mão no sistema scnla-se á secretária em frente
de pintura digitai. das câmaras. Enquanto lê uma
Para apresentação do Campeonato do notícia, uma imagem de vídeo
Mundo de Futebol de 1986, a rede italiana ao fundo ajuda a ilustrar a histó-
ria. Na realidade, porém, por de-
Figura voadora. Os componentes do lo trás do apresentador existe ape-
gótipo do canal -i da televisão inglesa foram nas uma parede azul nua.
coloridos e animados em computador. O fundo filmado está na reali

423
PURO DIVERTIMENTO

dade a ser passado numa segunda câmara, formas. Servindo-se desta informação ma-
enquanto um aparelho chamado Chro temática, pode então sobrepor qualquer
makey, ou Colour Separation Overlay imagem que lhe seja introduzida a uma
(CSO), integra automaticamente as duas imagem em movimento que tem toda a
imagens. Estes sistemas de computador aparência e perspectiva de um objecto tri-
podem ser utilizados para combinar acto dimensional.
res, filmados contra um fundo azul seme- O sistema é usado frequentemente na
lhante com paisagens fantásticas pintadas, mudança de uma secção de um programa
com cenários em maqueta ou com cenas para oulra. A imagem final de uma secção
fotográficas. Foi assim que se misturaram pode, por exemplo, ser "encaixada" numa-
actores verdadeiros, animais vivos e aces-
sórios com fundos bíblicos baseados em Cenários da Terra Santa. Para uma
pinturas ao estilo da Renascença para a produção de UEnfance du Christ, em vez
produção da oratória LEntunce du Christ, dos cenários dispendiosos, a acção ao
do compositor francês Hector Berlioz, VÍDO foi misturada por um processo cha-
para a Thames Television. mado Ultimai te com panos de fundo pin-
tados. O resultado foi tão "natural" que
Arquivos "Instantâneos" enganava totalmente o espectador.
de fotografias
O equipamento digital de vídeo permite
que as estações de TV arquivem milhares
de fotografias em discos de computador. O
sistema, conhecido por ESS (Electronic
Stills Stores, ou Armazenagem Electrónica
de Diapositivos), requer pouco espaço, e o
produtor de um programa pode inserir um
diapositivo quase instantaneamente.
Assim, o locutor pode estar a ler uma
notícia, digamos, sobre um incidente em
Nova Orleães ou cm Moscovo e ser acom-
panhado na própria emissão pela projec-
ção de uma fotografia do local.

Milagres do Mirage
Podem também usar-se diapositivos foto-
gráficos para criar efeitos aparentemente
mágicos. O sistema computorizado desig-
nado por Mirage, concebido na Grã Brela- pirâmide, dar uma volta e
nha e lançado em 1982, pode fazer com afastar se para longe como MAGIA A PRETO E BRANCO
que as imagens pareçam dobrar-se, voltar um objecto em queda. Linhas de um branco puro deslocam se num écran de
-se ou transformar-se numa diversidade de Podem ser criadas por cinema totalmente preto. A música de fundo é um
formas geométricas. esla forma sequências bre tema de jazz rouco e ameaçador do compositor El-
O computador é progra- ^^ ves de ligação entre pro- mer Bernstein. As linhas juntam-se finalmente, for-
mado com a informação gramas ou pausas para mando o contorno estilizado de um antebraço e de
de como uma folha de anúncios. uma mão. O filme é 0 Homem do Braço de Ouro, um
papel seria vista , filme sobre a droga, com Frank Sinatra, de 1956.
quando dobrada Saul Bass, que criou a sequência, disse: "Até então,
de diversas os títulos quase se limitavam a listas enfadonhas de
colaboradores e técnicos que ninguém lia." O traba-
lho de Bass não só alterou os critérios dos produtores
acerca dos títulos, como influenciou gerações de de-
signers de televisão.
Os seus títulos eram realizados simplesmente lo
tografando, uma por uma, imagens pintadas. Estas
eram colocadas numa moldura, uma de cada vez,
enquanto uma câmara fixa, montada sobre uma ar-
mação, tirava as fotografias. Quando o filme era pro-
jectado ao ritmo normal de 24 imagens por segundo,
as imagens pareciam mover-se.
Bass estava a trabalhar com o realizador de cinema
Otto Preminger quando criou os títulos. Segundo
contou depois, em certa altura olharam um para o
outro e disseram: "Porque não pô-los a mexer?" Já
há algum tempo, acrescentou Bass, que achava que
"o envolvimento do público com o filme devia come-
çar com a primeira imagem ... para criar ambiente
Magia geométrica. O aparelho Quantel Mirage pode transformar ima- para a história que iria decorrer".
gens planas em formas tridimensionais e fazê-las "voar" pelo écran.

424
PURO DIVERTIMENTO

Segredos sobre os animais estrelas de televisão


Foi preciso um mês para ensi
nar Merrill, um boi da raça
Longhorn, a comportar-se
numa loja de louças. Todos os
dias o animal, com três anos,
era alimentado à mão para se
tomar mais dócil, c era depois
conduzido pacientemente por
um amontoado de caixotes e
de fardos representando os es-
caparates de uma boutique de
luxo.
Finalmente, ficou pronto
para enfrentar as câmaras e es-
trear-se no seu primeiro anún-
cio de televisão, durante o qual
passeava pelo interior de uma
loja por entre AO 000 dólares de louças
Wedgwood e vidros Baccarat. As filma-
gens demoraram 16 horas, sem que Merrill
tivesse partido ou estragado uma única
peça.
Tratava se de um anúncio da prestigiosa
firma internacional de investimentos Mer-
rill Lynch cujo lema publicitário para
1980 era "Merrill Lynch, além de grande, é
ágil e inteligente".
Natural do Sul da Califórnia, Merrill foi
treinado por duas das melhores treinado
ras de animais da América: Joan Kdwards e
Stevie Myers. No seu rancho em San Fer
nanrí Valley, as duas mulheres já treinaram
toda a espécie de animais — gansos, gali-
nhas, ovelhas, cães, coelhos e cavalos —
para entrarem em filmes. O seu segredo
— principalmente com animais grandes e
potencialmente perigosos como Merrill —
consiste em trabalhar incansavelmente e
com uma paciência inesgotável. Cobram
elevados honorários das agências publici-
tárias e certificam se de que os animais re-
cebem a alimentação e conforto necessá
rios. "Cada louro ou cada cavalo é tratado
como um membro da família", diz Joan
Edwards.
Encontram-se por lodo o Mundo esta-
belecimentos similares para treino de ani-
mais, e alguns dos cães, galos, ursos e pás-
saros utilizados nos anúncios tornaram-se Amigos à lareira. O buldogue Mut
tão conhecidos como os produtos que pu- theiv, o gato Syluester e o rato Mickey
blicitam. foram, em 1989. as "estrelas" de urna
campanha televisiva que encorajava
Aparecimento em público o uso do carvão para aquecimento
O cão que aparece nos anúncios das tintas doméstico. Depois de ambientados
Dulux na televisão inglesa está constante- ao estúdio, os animais começaram a
mente a ser requisitado para inaugurar su aprender os seus papéis. Apenas
permercados e lojas de tintas. Mas quem Syluester revelou "nervos de palco" e
aparece em público é habitualmente um pareceu aterrado com Mickey, tendo
sósia, pois o cão da Dulux actua principal- de ser atraído até ao fogão por uma
mente nos estúdios de televisão. fila de camarões. Ali chegado, contu
Em 1986, decidiu-se ensinar ao cão um do, acomodou-se. satisfeito com Mic-
novo número — fazê-lo rolar de costas du- key e M(jttfieu). defronte do carvão em
rante o anúncio. Foram testados para este brasa
PURO DIVERTIMENTO

papel oito cães-pastores e o que ga- não aconteceria se nos dirigíssemos a uma Ires tratadores: o primeiro soltava um dos
nhou trabalhou com o instrutor oito horas empresa de confiança. tigres, o segundo fazia com que ele avan-
por dia durante três semanas, ate aperfei- O treinador das aves, Pierre Cadeac, co- çasse rapidamente oferecendo lhe urna
çoar a habilidade. Philip Rowley, criador meçou por colocar grandes nacos de carne pazada de carne e o terceiro destinava-se a
de cães do Surrey e dono de Duke, o cão em cima de um automóvel, fazendo com proteger a equipa de filmagem.
original da Dulux, atribuía o sucesso do que os abutres os comessem. Gradualmen Na Grã Bretanha, um dos mais conheci-
seu treino à persistência e aos rebuçados: to, começou a reduzir o tamanho dos peda- dos galos da televisão tem sido o belo e
"O Duke é capaz de qualquer coisa por ços e a escondê-los em volta do automóvel. branco Arthur, das rações para gatos Kal
duas pastilhas de mentol", afirmou. Os abutres, tenazes, descobriam e comiam torneai. Arthur tornou se uma estrela devi
O cachorrinho que brinca com um apa- a carne. Finalmente, substituiu por pedaços do ao seu costume de tirar a comida da lata
rentemente infindável rolo de papel higié de carne os limpa-pára-brisas e a borracha com a pata, o que fazia naturalmente. Os
nico num anúncio da televisão, não é um em redor do pára-brisas. únicos elementos falsos eram o seu sexo e
cão, mas 20. Os vários cachorros, quase Depois de três meses de treino, os abu- o seu nome, pois Arthur era na realidade
iguais com cerca de seis semanas -, tres lançavam-se sobre o automóvel, e fo- uma fêmea de nome Samanlha, que foi
são filmados separadamente, juntando-se ram filmados "banqueteando se" com ele. rebaptizada porque o gato do anúncio ori-
depois as diversas secções de filme. O tigre que salta na neve nos anúncios ginal se chamava Arthur.
Os taíques fotográficos e a ilusão são a internacionais da Esso não está realmente Além de um salário diário e remunera-
essência de muitos anúncios da lelevi na neve: esta é, na verdade, gesso, ções por trabalhos no estúdio e apareci
são - que nem por isso parecem menos O anúncio foi filmado sob o calor do mentos "pessoais", os animais recebem
reais. Um dos mais notáveis e de maior W h i t e Sands National M o n u m e n l , no tratamento de estrelas. São transportados
êxito foi feilo em França em 1985 para uma Novo México, EUA, usando três tigres. à ida e à volta em limusinas com motorista,
empresa de aluguer de automóveis: um Quando um dos animais começava a ma- comem os seus alimentos preferidos, são
bando de abutres que "devorava" um au- çar-se — tornando-se imprevisível —, era tralados segundo regras rígidas e há sem-
tomóvel com a mensagem de que tal substituído por outro. Foram contratados pre um cirurgiào-velerinário no estúdio.

O que é preciso para entrar num concurso de televisão


Todas as semanas, no Mundo inteiro, mui- principalmente em estimular os seus ad- Depois de cinco respostas negativas,
tas pessoas concorrem aos concursos da versários. cheguei a admitir a hi|x>tese de fugir. Final-
televisão. Em média, só um em cada 150 Os candidatos a certos concursos têm mente, lá consegui dar umas respostas cer-
candidatos é escolhido para participar no de submeler-se a um extenso teste de cul- tas — reconheci um verso da "Ode a Um
espectáculo. tura geral. Os que são aprovados têm se Rouxinol", de Keats. Mas não fiquei surpre-
"Quando se trata de escolher os concor gnidamente de pôr-se em pé e contar uma endido ao receber duas semanas depois
rentes, os concursos de televisão são mui- história divertida ou embaraçosa sobre si uma carta muito bem-educada a rejeitar a
to selectivos", afirma a escritora americana próprios. Depois, os que passam esta fase minha candidatura."
Maxene Fabe no seu livro Concursos na competem num ensaio geral do concurso, Em alguns países, o fisco não perde de
TV. "Procuram gente com quem os espec até serem finalmente escolhidos os mais vista os participantes nestes concursos e
tadores se sintam à vontade, gente que par adequados. os respectivos ganhos. Ginny Swinson.
ticipe nos jogos com entusiasmo ... Em certos programas designada- dona de casa e ex-professora primária de
Não escolhem concorrentes por crité- mente o Mastermind britânico, de tendên- Charlotle, Carolina do Norte, participou na
rios de simples simpatia, de mérito, nem cia intelectual , os competidores podem Roda da Fortuna, em Los Angeles, em
sequer de necessidade, mas aqueles que escolher os temas da sua especialidade, e 1085. Ganhou artigos no valor de 27 000
lhes aumentem os índices de audiência." estes têm variado desde "A arte e a arqueo- dólares — incluindo uma réplica de um
Qualquer pessoa maior de 18 anos pode logia da Creta minóica de 2000 a 1450 a. C." carro descapotável MG-TD de 1952 e uma
concorrer ao concurso que lhe aprouver e até às "Histórias de espionagem de John le viagem ao México para duas pessoas. O
normalmente tem de preencher um bole- Carré". Já entraram no concurso um con- marido e alguns parentes encontravam-se
tim de inscrição que contém diversas per dutor de camioneta, um monge benediti- entre a assistência e saltaram para o palco
guntas acerca do candidato: ocupação, es no e um embaixador reformado. para a felicitar.
tado civil, ambições (reais e fantasiosas), Um médico de família que se cândida "Todos saltavam e pulavam e gritavam e
interesses e hobbies. alcunhas, animais tou sem êxito ao programa descreveu mais c h o r a v a m " , escreveu depois Ginny.
domésticos e preferências acerca de pes- tarde a entrevista com o produtor. Come "Quando saiamos rio palco, fomos condu-
soas, lugares e coisas. Pode ainda ser ne- çou por explicar quais eram os assuntos zidos a uma mesa, onde urna senhora sor
cessário enviar uma fotografia recente (em em que se considerava especializado c de- ridente nos entregou uma nota de débito
que o candidato pareça bem disposto) e pois fizeram-lhe urnas quantas perguntas do eslado da Califórnia para pagamento
indicar o nome do jornal que lê. de cultura geral. de imposto no valor de 1300 dólares, e in-
A maioria das estações da TV contrata "O produtor foi extraordinariamente formou nos que receberia os meus pré-
especialistas para examinarem as candida- simpático e assegurou-me que as pergun- mios três meses depois de pagar esse im-
turas e apresentarem uma lista com os tas do concurso seriam mais fáceis do que posto." Somando este aos impostos fede-
candidatos mais adequados. Depois, se estas. Fiquei-lhe grato por aquela miga- rais, Ginny teve de pagar mais de 6000 dó-
guem-se as entrevistas e os testes no estú- lha de conforto enquanto murmurava: lares sobre os seus ganhos.
dio, durante os quais os produtores estão 'Passo ... Passo ... Não faço ideia ... Descul- O invulgar e o inesperado também
atentos aos concorrentes de sorriso aberto pe ... Náo sei.' O que significa esurino? Foi ocorrem nos concursos, mas talvez nem
e personalidade dinâmica, capazes de se esta a primeira pergunta, e eu nunca ouvi sempre de forma tão insólita como no The
rirem de si como se riem dos outros, e que ra semelhante palavra. (A resposta é: que Neiv Neivlyioed Game (O Jotfo dos Novos
não temam mostrar o seu interesse - provoca fome.) HecémCasadosJ, nos EUA — no qual ca-

426
PURO DIVERTIMENTO

sais acabados de casar respondem a per- rada uma vantagem: todas as apostas são
guntas sobre os respectivos cônjuges. De feitas sobre um ou mais dos 36 números
terminado noivo não conseguiu lembrar-
-se das "estatísticas vitais" da noiva e deu,
ou numa diversidade de combinações en
tre elas — par ou ímpar, prelo ou verme-
Como se
em vez delas, a combinação do seu cofre.
Noutra ocasião notável, uma espectadora
lho, alto ou baixo. Os pagamentos são cal
culados como se a probabilidade de a bola
preparam as
viu no palco o marido que lhe fugira —
juntamente com a nova "esposa".
sair num desses números fosse de 35:1.
Mas existem na realidade uma ou duas
palavras cruzadas
casas adicionais — o 0 nas tabelas euro
peias, o 0 e o 00 nas roletas americanas. Para preparar um problema de palavras
Isto dá à banca uma vantagem de 1,76 até cruzadas desenham se primeiramente as
Roleta: como 7,89%, conforme a roleta utilizada e as
apostas feitas.
grelhas. Para as preencher começa-se pe-
las palavras mais compridas, tentando-se
se evita que Mesmo o sistema da "martingala" - do-
brar a aposta de cada vez que se perde —
que nas casas onde as palavras se cruzam
caiam vogais ou as consoantes mais fre
os jogadores adoptado pelo Sr. Wells acabará por
ser derrotado por esta vantagem intrín-
quentes. Um Z, por exemplo, numa dessas
posições pode tornar demasiadamente fá
rebentem a banca seca.
Mas a casa tem outras vantagens. Num
dl a resolução do problema. A pessoa que
prepara as palavras cruzadas deve cingir-
jogo de apostas entre adversários iguais -se, tanto quanto possível, a palavras de
Em 1891, um jogador de roleta, o inglês sob lodos os outros aspectos, o que tem uso corrente e às grafias aceites. Deve ain
Charles de Ville Wells, "rebentou com a mais dinheiro vence quase sempre o ou- da ter em mente que algumas palavras têm
banca" no Casino do Mónaco, não uma tro, simplesmente porque pode continuar tendência para ocorrer com demasiada
vez, mas seis em três dias. Dobrando a sua a apostar durante mais tempo. A casa pode frequência e que em relação a outras não é
aposta de cada vez que perdia e ganhando sempre mandar buscar mais dinheiro, ao fácil inventar pistas.
a seguir, transformou os seus 10 000 fran- passo que a maioria dos jogadores, a certa Urna vez completa a grelha, passa-se à
cos originais em 1 milhão. Morreu sem um altura, decide desistir. Além disso, há re- fase de elaborar as pistas para as palavras.
tostão em 1926, mas inspirou uma canção gras da casa segundo as quais o croupier I lá duas espécies de pistas, as directas e as
popular, O Homem que Rebentou o Ban- paga uma pequena fracção a menos do crípticas. As primeiras pouco mais são do
ca em Monte Carto, e um poderoso mito: o que aquilo que ditam as probabilidades — que definições ou sinónimos, susceptíveis
de que é possível criar um sistema capaz por exemplo, arredondando os trocos a de ser encontradas nos dicionários e que,
de bater a roda da roleta. favor da casa. de uma forma mais ou menos global, ser-
A roleta tem, sem dúvida, uma sedução O próprio jogador faz erros com fre- vem para testar a extensão do vocabulário
especial. É fácil de jogar. Envolve a uma quência, por muito bem que conheça as de quem vai resolver o problema. Nas críp
aura de sofisticação e espeetacularidade. E probabilidades ou o seu próprio sistema. ticas, o significado das palavras está ardilo-
às vezes surgem sequências espantosas de Uma vez que há 12 maneiras diferentes de samente disfarçado, embora nas palavras
números vencedores — o número 10 saiu colocar as apostas, combinando o preto cruzadas realmente bem feitas a pista "di-
seis vezes seguidas no Hotel El San .luan, ou o vermelho, os pares ou os ímpares, os recta" também possa estar incluída.
de Porto Rico, em 9 de Julho de 1959. números individuais e qualquer quantida- Nas cripto-cruzadas, ou problemas de
A roleta incute no jogador o sentimento de de números até 12, é fácil ficar confuso. palavras cruzadas em que as pistas são
de que a firmeza c a inteligência têm de ser Em teoria, devia ser possível inventar crípticas, vale quase tudo: anagramas, cita
recompensadas desde que ele consiga In- um sistema computorizado que previsse a ções, uso deliberadamente incorrecto de
ventar um sistema adequado. Habitual- posiçáo em que a bola iria parar. Já há anos palavras com mais de um significado e até
mente, todos os sistemas implicam o des- que existe tecnologia para "sentir" o movi- mesmo lermos insólitos. A própria posi-
cobrir se um padrão. Na sua forma mais mento da bola, o seu movimento giratório ção da palavra, na horizontal ou na verti-
simples, a teoria é esta: em 100 lançamen- e a sua velocidade e aplicar-lhes comple cal, pode ser utilizada para confundir as
tos, uma moeda tem a probabilidade de xos princípios matemáticos para prever a pessoas que tentam resolver o problema.
sair "caras" 50 vezes. Se saem coroas 20 sua posição final.
vezes nas primeiras 20 jogadas - diz a teo- Os jogadores americanos têm tentado
ria -, então existe uma probabilidade melhorar as suas probabilidades utilizan-
maior de ela se "corrigir", saindo caras na
próxima jogada. Todas as mesas de roleta
do computadores para análise estatística
de jogo, prendendo-os ao corpo ou até es
Como os
tem os seus observadores ansiosos em
descobrir lhe uma tendência - como a
condendo-os nos sapatos. computadores
Contudo, os guardas de segurança dos
saída de números pretos diversas vezes se-
guidas — para poderem apostar contra
casinos desconfiam das pessoas que co- conseguem bater
municam por rádio ou das que suspeitam
ela. As vezes, os jogadores chamam a isto
"a lei do equilíbrio" ou a "doutrina de ma-
terem escondido equipamento informáti- os campeões
co. Embora este tipo de sistema não seja
turação das probabilidades". ilegal nos EUA, os participantes são enco- de xadrez
Na realidade, tal lei não existe. Uma de- rajados a abandonar o casino e a não vol-
signação mais apropriada é "a falácia de tar lá.
Monte Cario". As probabilidades mantém Para evitar o regresso de jogadores inde- O mundo do xadrez foi abalado por um
-se as mesmas cm cada lançamento, inde sejados, alguns casinos europeus empre jogo que teve lugar num hotel de Long
pendentemente do resultado dos lança- gam fisionomislas, pessoas com memó- Heach, Califórnia, em Novembro de 1988.
mentos anteriores. A verdade é que. por rias fotográficas para caras e nomes. Pes Um programa de computador bateu um
diversas razões, não é possível bater legal- soas conhecidas como grandes ganhado- grão-mestre internacional pela primeira
mente a casa. res, seja qual for o seu sistema, podem ver vez num torneio.
Primeira, a própria roleta tem incorpo- recusada a sua entrada no casino. O p r o g r a m a , d e n o m i n a d o Deep

427
PURO DIVKRT1MFNTO

Thoughl (Pensamento Profundo) foi con- em torneios). Um principiante tem cerca Depois de ganhar o seu Prémio Fred-
cebido por cinco alunos bacharelados da de 1200 pontos; um perito, 2000. Depois kin, de 10 000 dólares, a equipa pode ago-
Carncgic Mellon Universily, em Pittsburgh. do torneio de Long Beach, o Deep ra trabalhar para um de 100 000, que será
0 grão mestre era o dinamarquês Bent Thought atingiu a pontuação espantosa- atribuído à primeira máquina a derrotar o
Larsen, um dos maiores jogadores do mente elevada de 2550. campeão do Mundo. Um prémio ante
Mundo e anterior candidato ao título mun- Os programadores do Deep Thought rior de 5000 dólares — oferecido pelo
dial. são totalmente incapazes de bater a sua Prof. Fredkin, do Massachusetts Institute
Após o seu triunfo sobre Larsen, o Deep criação. Nenhum dos cinco é jogador de of Technology foi ganho em 1983 por
Thoughl chegou ao primeiro lugar, ex ae- xadrez de primeira categoria. O melhor, dois cientistas dos Laboratórios Bell
quo, com o antigo gráo-mestre britânico Murray Campbell, é classificado rie "peri- que elaboraram o primeiro programa
Tony Miles. Como, segundo as regras do to", o que não é muito em termos de com de c o m p u t a d o r a atingir o grau de
torneio, os computadores não são autori petição. mestre.
zados a ganhar o dinheiro dos prémios, o
prémio de 10 000 dólares reverleu inteira
mente a favor de Miles.
Mas o Deep Thought foi compensado Como aprisionar um "novelo"
ao receber o Prémio Fredkin, também de
10 000 dólares, por ser o primeiro compu
tador a atingir o nível de grão-mestre. Clas-
de dente-de-leão
sificou-se igualmente como um dos 30
melhores jogadores dos EUA.
"Isto torna cada vez mais provável a hi-
pótese de um computador campeão do
Mundo de xadrez no final do século", se-
gundo Vince McCambridge, da Federação
de Xadrez dos EUA,
McCambridge levara Deep Thought a
um empate durante o torneio, e durante
algum tempo chegara a dispor de uma cer-
ta vantagem. Mas, como afirmou, "des-
contraí-me enquanto estava a ganhar Mas
ele nunca se cansa e nunca desiste"
O sucesso do Deep Thought reside nos
seus dois microprocessadores com as
suas impressionantes memórias. O ser hu-
mano, ao jogar xadrez, joga principalmen-
te por instinto; mesmo os maiores jogado
res não conseguem prever mais que algu-
mas jogadas de avanço e apoiam-se princi-
palmente no seu conhecimento da evolu-
ção rios jogos para planearem a sua
estratégia.
Os computadores não têm instinto, mas
conseguem prever todas as jogadas possí-
veis a partir de determinadas posições, de-
pois todas as respostas possíveis do adver-
sário e em seguida ainda as suas próprias O novelo de
réplicas, até cerca de 15 ou 20 jogadas de um d e n t e - d e -
avanço em alguns casos. Quando bateu -leão, tão delicado que
Bent Larsen, o Deep Thoughl estava a veri o sopro de urna criança o faz
ficar 700 000 posições por segundo. ir pelos ares em dezenas de minúsculos
Na sua memória, o Deep Thought arma- "pára-quedas", pode ser aprisionado
zenava os pormenores de 900 jogos enlre numa bola sólida de plástico.
grão-mestres que lhe tinham sido introdu- Artistas que trabalham com resinas de
zidos pelos seus criadores. poliéster conseguem captar em pisa-pa-
Apesar da sua incrível capacidade, foi péis a frescura de flores acabadas de co-
demasiado lento, em 1988, para bater o lher, sementes ou folhas secas.
campeão do Mundo, Gary Kasparov, que, No caso de objectos delicados, há que
segundo certo estudo, é o maior jogador proceder com um cuidado extremo. Pri-
de xadrez de todos os tempos. O chefe da meiro, despeja-se num molde um pouco
equipa do computador, Feng-Hsiung Hsu, de resina para formar uma camada delga Novelo de dente-de-leão. Neste pisa
disse que o programa teria de ser de 100 a da. Tapando a para a proteger rie poeiras, papéis (em cima), um novelo de dente-de-
1000 vezes mais rápido para vencer Kaspa- rieixa-se assentar, sem solidificar, durante leão ficou preservado para sempre em
rov, o que "não estaria fora de questão" três a quatro horas. Depois, coloca se so- plástico A técnica para fazer estes pisa
alguns anos mais tarde. bre ela a flor. Acrescenta-se resina camada papéis implica a aplicação de muitas ca-
No mundo do xadrez, Kasparov tem a camada — o que ajuda a evitar bolhas madas delgadas de resina num molde (em
uma pontuação de 2775 (os pontos são até encher o molde. Depois de completa- baixo), deixando que cada uma consolide
atribuídos com base no comportamento mente solidificado, retira-se do molde. um pouco antes de se lhe juntar a seguinte

428
PURO DIVERTIMENTO

Como se mete um barco numa garrafa


dos c empurrados para dentro da plastici
na depois de o casco estar bem preso. As
pontas desnecessárias cortam-se com
urna lâmina de cabo fino.

Navegando no vidro. Primeiro prenda se


ao casco com dobradiças os mastros e as
velas. 0 modelo deoe passar ã justa peio
gargalo (à esquerda). Desenrolam-se as ve-
ias quando o modelo já está colocado no
seu «mar" de plasticina, acrescentando se
então lodos os retoques finais. Depois, ro
lha se a garrafa para evitar entrada de pó
(em baixo).

0 segredo de meter um navio numa garra- armam os mastros para que estes fiquem
fa é simples; os mastros são articulados e de pé. Também com o maior cuidado de-
deitam se sobre o convés quando se passa senrolam se as velas, que se prendem com
o barco através do gargalo. Uma vez lá den- pequeninos pingos de cola na ponta de
tro, são puxados para cima por fios que se um pauzinho. O fio de gurupés é igual-
cortam no gargalo ou se colam ao "mar" mente preso com uma gota de cola. Os fios
de plasticina. que passam por baixo do casco são estica-
O primeiro passo desta arte, que se de-
senvolveu a bordo dos grandes veleiros do
século xix, é esculpir o casco em madeira
dura.
O navio é montado no exterior da garra-
Cronometragem dos atletas olímpicos
fa. Depois, dobram-se os mastros para trás
e retiram-se as poças do convés, como a Nas Olimpíadas de Seul, em 1988, o nada- fazerem largadas em falso. Só na década
roda do leme e os salva-vidas, para que dor britânico Adriau Moorhouse ganhou de 80 foi possível eliminar o erro humano
aqueles fiquem completamente deitados. os 100 m bruços ao húngaro Karoly Guttler com cronómetros que registam milésimos
Uma vez introduzido 0 modelo na garrafa por apenas um centésimo de segundo, o de segundo por métodos de medição total
e levantados os mastros, utiliza-se um ara- equivalente a 1,60 cm. Mas os cronómetros mente objectivos.
me comprido para colocar nos seus luga- computorizados teriam conseguido dis Os sistemas modernos são completa
res as outras peças, que já levam, cada uma tinguir uma diferença de um décimo da- mente computorizados. A pistola de parti-
delas, um pingo de cola para a sua fixação. quela diferença, ou seja 1,60 mm. da está ligada a um sensor que põe imedia-
As velas de pano ou papel - são Durante séculos, ninguém se importou tamente a funcionar um cronometro com-
apenas parcialmente presas antes de o na- com os tempos nas corridas de curta dis- putorizado e que transmite também um
vio entrar na garrafa para que possam ser tância. Só importava o vencedor, e o olho sinal, por meio de fios, a altifalantes coloca-
enroladas. Em navios de panos "redon- humano era suficiente para o determinar dos exactamente atrás de cada atleta, por
dos" (na realidade, rectangulares), as ver- Mas em meados do século xix a invenção forma a eliminar as diferenças no tempo de
gas que suportam as velas têm de rodar de do cronometro veio alterar tudo, e os atle- percepção resultantes da distância percor-
modo a ficarem paralelas ao casco ao in tas passaram a ter de lutar contra o tempo. rida pelo som.
troduzir-se o barco na garrafa. Contudo, até os melhores cronómetros Sensores nos calços de partida permi-
Mas antes de colocar o barco, o constru- dependiam de numerosas variáveis: a tem ao computador medir o intervalo en-
tor dos modelos faz um mar de plasticina reacção dos cronometristas da partida e da tre o tiro da pistola e a reacção do corredor
azul que calca no seu lugar com hastes chegada, a distância do atleta à pistola que de encontro àqueles. Pensa se que a reac
compridas de aço. dava 0 tiro da partida (os mais afastados çáo do atleta não pode ser inferior a cerca
Quando o modelo está quase em posi- ouviam o tiro uma fracção de segundo de um décimo de segundo: se o compu-
ção, puxam se com cuidado os fios que mais tarde) e a tendência dos atletas para tador acusa uma reacção mais rápida ou

42!)
Cronometragem. A pis mesmo uma que ante computorizado que mede até milésimos
to tu da punida (ú esquer ceda o tiro, regista uma de segundo. Não se trata, porém, de uma
da) e os blocos (em bai- partida em falso e dá fotografia normal. É 0 registo não de uma
xo, u esquerda) eslão li ao fiscal da partida um grande área durante uma fracção míni-
gados a um computador alarme sonoro; aquele ma de segundo, mas de uma área peque-
Uma CÔmcm de pholo fi c h a m a os atletas e níssima — a linha de chegada ao lon-
nish registou a vitória de toma nota do trans- go de um período lato de tempo, o neces-
Florence Griffíth-Joyner gressor. sário para a chegada de todos os corre-
nos 100 m (em baixo). Na chegada, os sis- dores.
temas para corredo A imagem é impressa numa fita que não
res e nadadores são diferentes. Na nata- está, como é normal, dividida em fotogra-
ção, o computador está ligado directa mas. A fita passa por urna fenda com a
mente a sensores tácteis nos extremos da largura de um décimo de milímetro. À me-
)iscina, imediatamente acima e abaixo dida que cada corredor passa pela lenda, a
da linha de água. No final de uma corrida fita em movimento fotografa cada seg-
de pista, os corredores passam em frente mento em sequência.
de uma câmara fotográfica alinhada com Num milésimo de segundo, um sprinter
a meta (ptiolo-íinisfi). Quando os atletas recordista do Mundo percorre 10 mm
cortam a meta, a câmara regista a respec- distância suficiente para se ver numa ima-
tiva imagem contra um cronometro gem de photo-finish.

na linha. O raio de faltas mais próximo está


colocado paralelamente à linha de serviço
Juiz de linha electrónico no ténis e a cerca de 12 cm desta.
0 Cyclops tem sido largamente utiliza-
do desde 1980, mas já foi criticado — entre
Quando, ao servir, um jogador profissional principais de Flushing Meadow, em Nova outros, pelo antigo número 1 do ranking
de ténis bate a bola, esta atinge mais de Iorque. mundial, John McEnroe. Entretanto, foi
200 km/h — rápido demais para que os O Cyclops emite um série de raios infra- criado um outro sistema, o Accu-Call, pelo
olhos humanos a distingam com clareza. vermelhos invisíveis que atravessam o inventor americano John Van Auken.
Durante o percurso da bola, o olho vê ape COWt muito perto do chão. Se a bola inter- 0 Accu-Call promete dispensar total-
nas urna mancha alongada — uma ilusão cepta um dos raios, dispara um sinal. A mente os juízes de linha. Km seu lugar,
de óptica. Depois de bater no chão e afrou linha de serviço está monitorizada por um urna malha de circuitos electrónicos em
xar, a mancha torna-se subitamente mais "raio principal'*. Quando uma bola toca no bebidos no campo e na rede "lê" a posição
densa e, portanto, mais facilmente visível. chão em qualquer parte da linha de servi- da bola sempre que esta toca no chão ou
Como é então que o árbitro e os juízes de ço, incluindo o seu bordo exterior, acende- na rede. As "leituras" são desencadeadas
linha podem afirmar com certeza que um se uma luz amarela, indicando ao árbitro por fios entretecidos na cobertura da bola
determinado serviço — que foi posto em que a bola foi "dentro". que fecham circuitos eléctricos sempre
dúvida — foi "dentro" ou "fora"? Outros raios os "raios de faltas" que a bola toca quatro ou cinco fios da
A resposta é: já não podem pelo me monitorizam a área imediatamente exte- malha dos circuitos electrónicos.
nos só com os olhos. Actualmente, recor- rior à linha de serviço. Quando uma bola Uma pequena consola de controle em
rem a um pequeno aparelho electrónico acerta nesta área, acende-se urna luz ver- frente do árbitro "mostra lhe" cada "bola"
denominado Cyclops, inventado em Malta melha acompanhada de um "bip-bip" em dúvida sob a forma de sons variáveis ou
em 1978 por uma senhora da ilha, Marga- avisando que a bola foi "fora". de luzes de cores diferentes, revelando-lhe
ret Parmis Kngland. e um engenheiro bri 0 raio principal está normalmente colo- se a bola caiu dentro ou fora do campo.
tânico, Bill Carlton, e que é agora utilizado cado a cerca de 1.5 cm acima da linha e O Accu-Call náo é apropriado para os
nos courts de todo o Mundo, incluindo o entre 6,5 e !) cm do seu bordo exterior. courts de relva, pois a humidade desta po-
Centre Court, em Wimbledon, c os courts Uma bola lançada corta a antes de locar deria interferir com o sistema electrónico.

430
PURO DIVERTIMENTO

Como conseguem os desportistas que uma bola curve no ar?


Os desportistas que compelem em jogos parte do lee a mais de 1(50 km/h com um tura provoca uma ligeira turbulência, fa-
de bola sabem muito bem o que é mu spin back spin de cerca de 50 rotações por se- zendo com que o ar passe mais rápida
(movimento de rotação da bola), Utilízan gundo (rps). Inicialmente, o spin contraria mente por um dos lados da bola. Como se
d o o não só para fazer a bola mudar de a acção da gravidade, por isso a bola voa disse, correntes de ar de velocidades dife-
direcção ao bater no chão, como também em linha recta, e não segundo uma trajec rentes nos dois lados produzem uma dife-
para a fazer curvar em voo. No ténis, no tória curva. Com ferros de números mais rença de pressões, gerando a força que
futebol, no golfe, e na verdade em muitos altos, que praiuzem um spin maior, pode, curva a trajectória da bola.
outros casos isto consegue se com o inclusivamente, verse a bola a subir. Se a Muitos lançadores de cricket conse-
s/)in. pancada é mal dada, com a cabeça do taco guem aumentar a diferença de aspereza
A razão de uma bola em rotação percor- inclinada, a mesma força — como todo o entre os dois lados da bola polindo um
rer uma trajectória curva no ar foi explica- aspirante a golfista acaba por descobrir - deles nas calças.
da há 100 anos pelo físico britânico Lord desvia a bola para o lado, e ela acaba por
Rayieigh, que lhe chamou o eleito Magnus, cair no rough.
em honra do investigador alemão Hein No râguebi e no futebol americano, este
rich Gustav Magnus. efeito pode ser utilizado com grande subti-
Quando uma bola em rotação percorre leza. A bola, que é alongada, batida por
o espaço, tende a arrastar ar em tomo de si forma a rodar em tomo do seu eixo maior,
no sentido da rotação. Por isso, o ar que voa a direito enquanto se mantiver na di-
passa pela bola acelera de um lado e afrou recção desse eixo. Só quando começa a
xa do outro. Como o ar que se move mais cair e a direcção do eixo de rotação passa a
rapidamente também exerce menos prés ser diferente da direcção da trajectória
são, o ar do outro lado da bola está a uma (que é nessa altura para baixo) é que co-
pressão relativamente maior. Desta dife meça a desviar se.
rença de pressões resulta a força que faz a Um jogador hábil consegue dar um
bola curvar. pontapé na bola paralelamente à linha la-
Este efeito de spin é óbvio em muitos teral, sabendo que. ao cair, ela tocará no
desportos. Muitos bons jogadores de ténis, chão e, devido ao efeito que ele lhe impri- Bolas em curva. Bob Ojeda lança uma
por exemplo, conseguem um balão com miu, rolará para fora do campo, fazendo o bola em curva (em cima). O jogador de.
top-spin, que parece cair fora da linha, mas jogo avançar no terreno. ténis Stefan Edberg (fotografia inserida)
acaba por cair abruptamente dentro do No cricket, a curva - ou swing — pode ciirna a bola imprimindo lhe um movi
campo. ser conseguida sem spin por um lançador mento de rotação de cima para baixo
0 golfista, ao fazer o seu drioc, confere médio a rápido que aproveite judiciosa (top spin) (/uando ela deixa a raqueta
automaticamente ã bola um spin - ela mente a costura em relevo da bola. A cos- (em baixo).
PURO DIVERTIMENTO 1

Como as covinhas criaram o golfe moderno


Padrão de covinhas. As
covinhas podem chegar
a ter 0.25 mm de pro-
fundidade. Uma bola
tem entre 300 e 500 eo
oas. agrupadas segun-
do um de seis padrões
Num deles. 480 covinhas
formam 20 triângulos equi
láteros.

Limitando a resistência do ar. Depois da


pancada, o ar agarra se à superfície da
bola. Para minimizar o efeito retardador, o
ar devia ficar preso até Ião atrás quanto
possível, reduzindo a largura da esteira.

Quando se começou a jogar golfe na lio


landa e na Escócia, no século xv, usavam-
-se bolas lisas de couro recheadas com O que faz com que um bumerangue
penas. No século xix, foram introduzidas
bolas de uma substância elástica, a guta-
percha, que alcançavam distâncias
retorne a quem o lançou?
maiores depois de mareadas com as pan-
cadas dos tacos. Os fabricantes das bolas Os aborígenes australianos usam bume- O mais longo lançamento de bumeran-
começaram a produzir bolas com sulcos rangues há 10 000 anos para a caça. Os gue oficialmente medido foi feito em No-
entrecruzados, até que, em 1906, surgiu a pesados bumerangues de caça voam direi vembro de 1981 em Albury, Nova Gales do
primeira bola com covinhas. Uma mo- tos à presa e atingem na com uma panca- Sul. No campeonato australiano de bume-
derna bola de golfe bem batida pode atin da que a mata ou atordoa, caindo ao chão. rangue, Bob Durvvell engenheiro de ra-
gir os 275 m. Se fosse lisa, não passaria de Só os bumerangues mais pequenos e mais diocomunicações de Brisbane — lançou
uns 65 in. leves, utilizados pelos aborígenes como um bumerangue que vou 111 m antes de
Por que razão as covinhas ajudam a desporto, se destinam a voltar ao atirador. iniciar o percurso de regresso.
bola a ir tão longe9 Quando urna bola vai
no ar, uma fina camada de ar agarra-se- Parecidos com "espadas de madeira"
-Ihe à superfície pela parle da frente.
Quando o ar passa por cima da bola, se-
para-se da superfície, produzindo turbu-
lência na parle de trás O ar em turbulên-
O primeiro homem branco a des-
crever um bumerangue aboríge-
ne foi Sir Joseph Banks, que fez parte do
grupo que desembarcou com o capitão
W. II. Breton fez o primeiro registo de um
lançamento de um desses objectos com
feitio de banana por um aborígene. Des-
locou se segundo "uma curva muito
cia retira energia à bola, fazendo-a afrou-
xar. As covinhas fazem com que o ar se Cook no Sueste da Austrália em 29 de considerável", afirmou, "para, final-
agarre à superfície até ficar bem para trás Abril de 1770. No "comité de recepção" mente, lhe cair aos pés".
da bola. Quando finalmente o ar se sepa- de Botany Bay, dois nativos olhavam os Os bumerangues são feitos de madei-
ra da bola, cria-se uma zona de turbulên- exploradores com desconfiança. "Cada ras pesadas, como a acácia-negra e o
cia mais estreita, com menor eleito retar- um deles empunhava uma arma de ma- sândalo. Às vezes, são pintados com
dador que numa bola lisa. deira com cerca de 7G cm de compri- ocre vermelho e, para usos rituais, são
mento, muito se assemelhando na sua decorados a vermelho, amarelo e branco.
As covinhas têm ainda outra finalidade. forma a uma cimitarra", escreveu Sir Jo
Como a bola de golfe roda para trás quan- Os aborígenes utilizam-nos não só
seph. "As lâminas estavam lambuzadas para a caça como para limpar clareiras
do recebe a pancada, as covinhas transpor- com o mesmo pigmento branco com
tam ar para cima sobre a parte superior. O para as fogueiras, para abrir covas para
que pintavam o corpo." cozinhar e para desenterrar formigas
ar que passa por cima tem de viajar mais
rapidamente que o que passa por baixo Para os exploradores, tais armas não melíferas. Usavam-nos também para
devido a esta rotação - e isto cria menor passavam de "espadas de madeira", nas acender fogueiras, e, balendo-os uns
pressão em cima do que em baixo, dando palavras do capitão Cook. Mais tarde, no contra os outros, serviam para marcar o
à bola uma força ascensional que a man- princípio da década de 1830, o tenente ritmo de uma dança.
tém mais tempo no ar.

432
PURO DIVERTIMENTO

O formato tradicional do bumerangue,


em forma de banana, não é essencial para
que ele retorne, pois bumerangues com
feitio das letras T, V, X e Y têm um compor-
tamento semelhante. Duas réguas de ma-
deira atadas em ângulo recto produzem
igualmente um bumerangue eficaz.
O elemento essencial do desenho é que
cada braço, visto em corte transversal, te-
nha o perfil de uma asa de avião, curvado
por cima e mais achatado por baixo. Ao ser
lançado, o bumerangue voa a cerca de
MH) km/h e gira a cerca de 10 rotações por
segundo. Quando isto acontece, cada bra-
ço cria força ascensional, produzindo um
zumbido peculiar.
Empunhado quase na vertical e lançado
com força para a frente por um dexlríma
no (se o lançador for esquerdino, o padrão
de voo inverte se), o bumerangue sobe
quase na vertical. Curva para a esquerda,
depois pica para a direita e volta a subir
num largo arco circular que termina numa
queda regular até ao atirador, que poderá
aprender a apanhá-lo. A trajectória pode
prolongar-se num arco duplo, descreven-
do um 8.
O comportamento destes bumeran-
gues é um problema complexo de princí
pios de aerodinâmica e de física. Em essên- Voo nocturno. A característica trajectória de um bumerangue munido de uma lâmpada.
cia, um bumerangue em rotação é simulta-
neamente uma asa e um giroscópio. por vir à horizontal, depois inclinando se Os bumerangues de caça fazem um ân-
Enquanto asa, o bumerangue em rota- lentamente para a direita e por fim descre- gulo pouco pronunciado e não têm muita
ção é instável. O braço que se move na vendo um arco característico. Se o voo for curva na face superior que lhes dê força
direcção do voo passa mais tarde a mover- suficientemente longo, ele desvia-se então ascensional. Com uma trajectória de voo
se na direcção contrária. À medida que no sentido contrário e descreve um 8. plana, cobrem cerca de 90 m até caírem.
avança, o braço direito do bumerangue
viaja muito mais depressa em relação ao ar
do que o esquerdo e tem maior força as-
censional. Por isso, as forças aerodinâmi-
cas tentam constantemente incliná-lo para
Caminhar descalço sobre pedras
a esquerda. Esta instabilidade c contraria-
da por um efeito de giroscópio que tende a
incandescentes
manter o bumerangue na horizontal (o
efeito que mantém estável um pião que Em silêncio, a fila de homens e rapazes dental preparatn-se geralmente por meio
gira). Uma vez impelido para fora do seu descalços — o mais velho com quase 60 de treino mental, afirmando que determi-
rumo "verdadeiro" pelas forças aerodinâ- anos, o mais novo com 8 saiu da cabana nado estado de espírito é a chave para se
micas, o bumerangue reage, começando e dirigiu-sc para uma cova cheia de pedras, ficar incólume e consideram que os aspi-
onde um fogo de lenha ardera há muitas rantes que sofrem queimaduras não estão
horas. As brasas tinham sido retiradas, mas espiritualmente preparados. Nas Fiji, a pre-
uma névoa de calor tremeluzia ainda so- paração implica evitar a companhia de
bre a cova. Sem parar, o grupo atravessou mulheres durante os dias precedentes, e
Formatos diver- calmamente a cova caminhando sobre as nenhum caminhador deve tentar a proeza
s o s . Os bumeran- pedras. A temperatura na cova rondava os se a sua mulher estiver grávida.
gues podem apresen- 650°C, mas os pés deles ficaram ilesos. Os cientistas tendem afastar a teoria do
tar muitas formas, con- Trata-se de uma proeza frequente na "domínio do espírito sobre a matéria". Su
forme a madeira de que ilha de Mbcngga, nas Fiji, cujos "caminha- gerem que marcha prévia sobre erva mo-
são feitos. Os que voltam dores sobre brasas" são famosos. Prati- lhada, o que alguns fazem, confere uma
às mãos do atirador che. cam se rituais semelhantes na índia e no protecção temporária e invocam o lapso
ggm a ter 76 cm de compri- Sri Lanka e na seita grega de Anastenaria. de tempo que uma gola de água se man-
mento e 250 g de peso. Os Foram também registados na América do tém sobre uma chapa quente antes de se
bumerangues de caça são Sul e na ilha de Rarotonga, no Pacífico. No evaporar. O fundo da gota evapora-se e,
em geral mais compridos e Havai utiliza-se lava quente em vez de pe durante uns instantes, o vapor actua como
muito mais pesados. Am- dras ou carvão. O ritual também já tem isolamento entre a gota e a chapa.
bos os tipos só podem sido visto rios EUA e na Europa. Alem disso, os cientistas pensam que as
ser pintados de uer- Nas Fiji, índia, Sri Lanka e Grécia, ele está pedras utilizadas nas Fiji e os carvões no
melho, branco e associado a cerimónias religiosas. Os ca Ocidente transmitem calor com relativa
amarelo. minhadores sobre brasas do mundo oci- lentidão.

433
%
PURO DIVERTIMENTO

de do Mundo já quase duplicou, com


180 m em 1989.
Os mergulhadores A aprendizagem desta disciplina pode
começar quase em qualquer idade. Pri-
da torre da ilha meiro, aprenrie-se a ganhar velocidade
numa pista normal de esqui. Para descer, o
de Pentecostes esquiador agacha-se numa posição que
minimize a resistência do ar, com os bra-
ços para trás. Os esquiadores de nível
Numa clareira da selva, um homem equili- mundial largam a velocidades de até
bra-se precariamente sobre duas tábuas 100 km/h.
que se projectam do topo de uma frágil Antes de executar o seu primeiro salto
torre de madeira com 30 m de altura. Subi- real, o esquiador tem de aprender a aterrar,
tamente, o homem atira ao ar um punha- Desafiando a morte. Um natural da ilha tocando no solo com um dos pés ligeira-
do de folhas. Enquanto estas rodopiam até de Pentecostes salta de 30 m de altura. mente à frente do outro e com os joelhos
ao chão, ele inclina se lentamente para a dobrados. Os esquiadores adquirem práti
frente e mergulha atrás delas. Mas no mo- ca fazendo pequenos saltos de taludes ou
mento exacto em que parece que a cabeça plataformas baixas, e aprendem por expe-
vai bater no chão, o homem é sacudido
para o ar num arco que o deposita, são e
Como um riência própria que, saltando numa posi
çáo incorrecta, o vento fá-los-á dar uma
salvo, no solo, pois tem os tornozelos pre-
sos a lianas resistentes trepadeiras da
esquiador cambalhota. O primeiro salto do princi-
piante leva lo á provavelmente a 10 m. E só
selva — atadas ao cimo da torre. aprende a "voar" na adolescência a maioria rias crianças
será capaz de dar saltos de 40 m, tendo
Este mergulho é o momento alto de
uma cerimónia anual chamaria Naghol, então que adoptar a correcta posição de
ou Gol, levada a cabo na ilha de Pentecos- Quando, em 1936, o austríaco Sepp Bradl, asa.
tes, uma das 80 da república de Vanuatu de 18 anos, saltou mais de 100 m em esquis, O voo propriamente dito é uma opera-
- até 1980, as Novas Hébridas , no Pací foi a primeira pessoa a fazê-lo. O engenhei- ção complexa. À medida que perde a velo-
fico. Neste ritual, muitos mergulhadores ro que projectara a rampa em Planica, cidade na horizontal, o esquiador contrai
saltam de plataformas cada vez mais altas e na Jugoslávia — gritou: "Isso não foi saltar, um pouco o corpo para se preparar para o
a mais baixa está a cerca de 12 m do chão. foi voar de esquis!" embate contra a pista. Ao cair, perde velo-
Por que razão os nativos de Pentecostes Era verdade. Nascera um novo despor- cidade, mas dobrando-se para a frente,
arriscam a viria de forma tão perigosa? A to, para o qual os esquiadores tiveram de pode assim, com perícia, prolongar o voo.
origem do Gol é desconhecida, mas os par- desenvolver uma técnica totalmente
ticipantes encaram-na como uma prova nova, transformando-se em «asas». En-
de coragem quanto mais perlo do solo quanto desliza no ar, o esquiador inclina-
chegarem, maior a sua bravura. se para a frente com o corpo ligeiramen-
A taxa de êxito dos saltos é bastante ele te em curva. As mesmas forças aerodinâ-
vada, mas às vezes as coisas correm mal. micas que mantêm um aeroplano em
Em 1974, as lianas partiram-se ao serem voo permitem ao esquiador manter-se
esticadas, e o mergulhador morreu. Assis- mais tempo no ar e percorrer uma distân-
tiam à cerimónia a rainha e outros mem- cia maior. O ar passa por cima rias suas
bros da família real inglesa. costas curvadas mais depressa que sob o Voo em esquis. Um esquiador sai do tram-
A torre é uma estrutura flexível de tron- corpo, criando um vácuo parcial que polim nas Olimpíadas de Surajevo, em 1984
cos de palmeira e bambus, construída em produz força ascensional. (em baixo). Curuando-se em forma de asa.
torno de uma árvore à qual se cortou a Desde o salto de 100 m de Bradl, o recor- o esquiador prolonga o IHH> (em cimaj.
maioria dos ramos. Quanto às lianas que
prendem o mergulhador, têm de ter a ida-
de e o diâmetro apropriados e são cortadas
dois dias antes da cerimónia: se o fossem
mais cedo, poderiam tornar-se quebradi-
ças e perder a elasticidade. São ainda cui
dadosamente cortadas para se ajustarem à
altura do salto previsto, e o corte é feito por
uma pessoa que sabe avaliar a elasticidade
das trepadeiras.
Embora se desconheça a origem do
Gol, o primeiro mergulhador, diz a lenda,
foi uma mulher. O marido, ao descobrir
que ela lhe era infiel, perseguiu-a para lhe
bater. Ela subiu a uma palmeira alta, mas
ele trepou atrás dela. No cimo, quis saber
por que razão ela lhe era infiel. Ela apodou-
-o de cobarde e desafiou o a saltar da árvo
re abaixo. Ele concordou e saltaram. O ho-
mem morreu, mas ela, sub-repticiamente,
atara uma liana a um tornozelo para lhe
amortecer a queda.

AM
'UKO DIVERTIMENTO

depende da altitude no uiouien


to do salto e pode ir de oito se
Pára-quedismo em queda gundos a um minuto.
As primeiras acrobacias aé
livre: flutuando no espaço reas executadas pelos princi-
piantes são simples cambalho
tas e voltas no ar. A medida que
1
Q u e d a l i v r e . Uma adquirem experiência, progri-
equipa de. para quedis dem para quedas em formação,
tas salta de cabeça para juntando se uns aos outros para
baixo (à esquerda). O formarem uma série de padrões
número recorde de em rápida mutação. E o que se
pára-quedistas empi- chama trabalho relativo.
lhados é de 24 homens Estas exibições exigem muita
(à direita). Os pára-que perícia, pois os pára-quedistas
distas juntaoam se à pi caem a grande velocidade e têm
*>*4 P V^3 lha a partir de baixo, en
quanto em queda livre,
de "andar" para os lados, a fim
de se juntarem uns aos outros.

^Jfc
v
* f c . " ^ ^ ^ abrindo O pára quedas Para o conseguir, têm de estar
quando já alinhados. O quase na vertical, com o corpo
primeiro homem a sal formando uma ligeira curva. Os
tar foi o último a juntar- braços têm de se encontrar en-
se à pilha e também o costados ao corpo, e as pernas
primeiro a aterrar. juntas e estendidas.
A força ascensional criada
O avião chega ao ponto do salto, o pára gani o arnês aos cor- pelo ar ao passar pelo corpo
•quedista lança se no espaço, com os bra- dões de suspensão do curvado do pára quedista faz
ços c as pernas abertos, o corpo ligeira pára quedas. Os dois com que este avance para a
mente arqueado para trás e a cabeça ergui- cabos de comando frente ao mesmo tempo que
da. A sua velocidade aumenta durante uns permitem, quando pu- para baixo. O movimento para
oito segundos ate atingir a velocidade má- xados, dirigir o pára- diante pode ser suficientemen-
xima de queda de um corpo cerca de quedas para a esquer- te rápido para lesionar dois
190 km/h, a chamada "velocidade limite". da ou a direita. pára-quedistas que choquem.
O altímetro diz-lhe a altitude a que se O pára-quedista pos- Assim, para diminuir a veloci-
encontra, segundo a segundo, enquanto sui ainda um pára-que- dade, o pára-quedista levanta
mergulha em direcção ã terra; ele sabe que das de emergência para o caso de o primei os braços, apresentando maior área de
para conseguir a aterragem em segurança ro não funcionar. exposição à passagem de ar, o que lhe
terá de abrir o pára quedas antes de atingir Na maioria dos saltos, utiliza se um pe- afrouxa a queda. Esta técnica tem de ser
os 2000 pés (610 m). Assim, a queda livre queno avião de asas superiores, como o perfeitamente dominada antes de ele
demorará menos de um minuto - breve Cessna 172, de três passageiros. Sc vários participar em saltos em formação
intervalo de flutuação durante o qual o pára-quedistas vão saltar em conjunto, é O dtxking controlado — junção - com
pára-quedista executa as acrobacias que preciso um avião maior, como o Sky Van, outros pára-quedistas é cuidadosamente
são a verdadeira finalidade do salto. De- da Short, que pode transportar 16 pes- planeado. Depois da queda livre em for-
pois, abre o pára-quedas e dirige se para o soas. mação, os homens separam se durante
ponto de aterragem, manobrando os dois Quando o avião sobrevoa o local esco- uns segundos antes de abrirem os pára-
cabos de comando. lhido, um pára-quedista experiente salta quedas, para que estes não se enredem
Os pára quedislas usam muitos tipos di- pela porta aberta. 0 tempo de queda livre uns nos outros.
ferentes de pára-quedas, mas os princípios
são essencialmente os mesmos. Os princi-
piantes utilizam o familiar pára-quedas em
forma de cogumelo, com duas aberturas
em L na parte de trás.
O ar que passa por estas aberturas pro-
duz um impulso para a frente que permite
ao pára quedista chegar até ao local de
aterragem: de outro modo, seria arrastado
pelo vento. Com atmosfera calma, atinge
uma velocidade na horizontal que em ter-
ra se chamaria de passo rápido.
Seja qual for o tipo de pára-quedas - re-
dondo ou rectangular -, o pára que
dista está suspenso por um arnês úc nylon.
Quatro fitas de nylon, os suspensórios, li
PURO DIVERTIMENTO

Como é que
os surfistas
andam numa
parede de água?
0 surf tem hoje milhões de adeptos em
todo o Mundo, todos cios procurando a
"onda perfeita".
Um dos melhores locais para a prática
do surf é o Havai, onde as ondas resullan
les de temporais no Pacífico, a vários mi-
lhares de quilómetros de distância, atin-
gem os 9-10 m de altura antes de se abate-
rem fragorosamente sobre as praias.
0 objectivo de todo o surfista é deslizar
ao longo da face dessa parede de água pa-
ralelamente à praia, enquanto a crista da
onda rebenta acima da sua cabeça. Duran-
te vários segundos, pode conseguir man
ter se dentro de um túnel de água. Se per-
der a sua corrida contra a rebentação da
onda, o surfista pode ser iviped out, isto é,
atirado contra o fundo pelo peso da água
que lhe cai em cima.
Remando com as mãos, O surfista con-
duz a prancha, ou tábua, para lá da zona de
rebentação. Depois, espera que uma onda
adequada se aproxime. Ao vê-la, começa a
reinar em direcção à praia, quase à veloci-
dade da onda. Quando a onda o atinge, a
prancha levanta e acelera rapidamente, até
correr tão rápida como a onda. O surfista
pôe-se então em pé assim que a tábua co
meça a descer a onda. Servindo-se da gra-
vidade como fonte de energia, ele desce
depois a parede de água mais depressa do
que a onda — a uns 15 km/h.
Ao descer a onda, procura o sítio onde
esta começa a rebentar e, nessa altura, vira
a prancha para correr paralelo a ela (bot
tom (um), mantendo-se imediatamente à
frente da crista que vai rebentando.
A corrida termina quando o surfista se
inclina para trás para diminuir a velocidade
da prancha e dá um salto por cima da parte
da onda que ainda não rebentou, passando
para a água calma por detrás da onda, ou
quando perde o controle da prancha ou
ainda é apanhado pela crista que quebrou.
Os surfistas experimentados fazem ma-
nobras ao correr com a onda. Deslocando
o seu peso sobre a prancha, conseguem
virar e subir até ao cimo da onda e fazer
uma segunda e uma terceira descidas.
Na maioria, as pranchas de surf actuais
têm menos de 2 m de comprimento e pe-
sam pouco mais de 'i kg.

A "onda perfeita". Quando os surfistas


apanham a onda certa, podem correr com
ela durante oários minutos listas ondas
são no Havai, na Austrália e em Bati.

436
PURO DIVERTIMENTO
»

Alfândegas, 98-99 exército de barro, 335 336 salvamento no mar. 271


Alfazema. 109 linhas de Nazca, 347 tubagens hidráulicas de, 254

ÍNDICE Algas
nos gelados, 385
pasta de dentes e, 28-29
Algodão, 110, 110, 115. 174
pirâmides, 319-322
Stonehenge, 338-340
Arquimedes, 256. 256
Arranha-céus, 20
voo de. 262 267
Avisador de algibeira, 231
AWATS, 151
Azeitonas recheadas. 375 376,
Os números de página a negro Alimentos, 25. 37-38, 169. 378 380. construção de, 300-301. 301 375
referem-se às ilustrações. 385 demolição de. 304-305
Allen. Bryan, 149 resistência ao vento, 312
Almíscar. 109 Arfe, obras de. 161 164. 418 419

A
Alpes, travessia dos, 344 346. 344,
345
Alquibenzeno, 27
Alternadores, 12
V. também fintaras
Árvores, 106 108
chuva ácida e, 106
datação cias, 342. 342, 343
B
Babbage, Charles. 242
Altifalantes. 223 Ashford, Robert, 146 Babbit, Milton, 227
Ábaco. 242, 242 Alumínio Aspdin, Joseph, 303 Babu, 401
Abbott, L B., -112 combinado com lítio. 148 Asscher, Joseph, 143. 144. 144, Bacon. Francis, 207
Abelhas, 253 obtenção de. 103 145, 145 Bactérias, 288-289, 288
Aborígenes australianos, 432 reciclagem de, 120 Assírios. 369 liaekeland, Leo, 132
Accu-Call, 430 Âmbar, 109 Assurbanípal li, 369 Bagagem
Acelerímelros, 168 Amélia, Piermatteo d'. 162 Astigmatismo, 277, 278. 279 na organização de aeroportos,
Acidentes Américas, descoberta das, 356-358, Astronautas 32-33
aéreos, 33-34 357, 358 eliminação de excreções, 170 verificação da. 36, 99
de automóvel, 52-54 Amido, plásticos biodegradáveis e. enjoo, 170 Baia de Fundy, central da, 123
Acidez, 126-127, 127 130 falta de peso no espaço, 169, Baird, John Logie, 219
medição de, 127 Amon, 325 169 Balas, 157-158. 158
Aço Amoreiras. 112-113. 114 navegação por, 168 169 apanhador de, 398
flutuação d*- navios e, 256 Amorfos V. Fósforos refeições de, 169-170 em filmes. 413
inoxidável, 30, 30 Análise por neutrões térmicos, 37 reparações no espaço, 171 vidro â prova de. 104
nas lâminas de barbear. 29 Ananás, 375 Aterro sanitário, 48 Ralista, 354
Açores, ilhas dos, 125. 356 Anãs brancas - V. Estrelas Atlântico, travessia do. 370 372 Ballarri, Dr. Robert. 138, 140
Acrílico, 114 Anãs negras — V. Estrelas Atletas. 64-66, 283-286, 285 Balões
Acrobacias, 265, -134. 435 Androgénios, calvície e, 298 Átomos, 12-13. 13 meteorológicos. 44, 44
Actores, 66-71 Andrómeda, 178, 179 cisão dos, 198 -sonda, 44
Adair, Paul Neal V. Adair. Red Andronicos, Prof. Manolis, 325 estrutura dos. 199 Banco
Adair, Red, 135-137, 136, 137 Anestesia. 292-293 fotografia de, 200-201, 200 cofres de, 242
Adams. Couch, 185 Aníbal, 341 346. 344, 345 transmissores de dor, 293 destruição de notas e, 41
ADN, 189 190 Animação, 421-423 Aubrey, John, 339 marcas de água nas notas de,
dactiloscopia genética e, 94, 94 Animais Auchinleck, general, 76 106
em espécies extintas, 193 clones de, 188 Augusto, imperador. 352 Banhos públicos, 366
Adriano, imperador. 65, 366 comunicação com, 192 193 Auken. John Van, 430 Banks, Sir Joseph, 432
Aeroplano, 149 criação de, 190 A Ultima Ceia. restauro di', 161, 164, Baquelite. 132
Aeroportos dactiloscopia e, 94 164 Barcilon, Dr.' 1'iuin Brainhilla. 164
organização dos, 32-33, 32 de estimação, comida para, 388 Aulogiro. 271 Barcos. 314 315
terrorismo nos. 35-37 em pinturas rupestres, 347 348, Automóvel à vela. 161. 161
Aerossol, 251 252, 251 347, 348 acidentes de - em filmes, 417, dentro de garrafa. 429
Afeganistão, Guerra do, 76, 270 em televisão, 425-426, 425 417 hydrotoils, 272-273, 273
Afídeos, 253-254, 253 fotografia de. 129, 130 baterias de, 12 modelo de, 220
Agentes secretos. 79-80 pré-históricos, reconstrução de. cintos de segurança nos, 250 Barnard, Dr. Christíaan, 294,
Agua 193-194. 195 construção de, 41 43 296-297, 296, 297
aquecida pelo sol, 137-138 previsão de sismos e. 204 pneus de, 251 Barómetro, 44
barragens e, 308-311 Anos-luz, 178, 179 solar. 127 Barragens, 308 311, 308-310
combate a incêndios com, 49 Antenas parabólicas. 212, 219 telefones nos, 215 Barras, código de, 56, 242
cozedura a baixa pressão, 26 Antibióticos, 191, 288-289. 288 transmissão dos motores rios. Barlholdi, Fréderic Auguste,
COZedUra no microondas, 25 Anúncios 248-249 359-360. 360
doce, dessalinização de -. 117-118, luminosos, 10-11, 10 travões antibloqneio. 250 Bass, Saul, 424
118 na televisão, 425-126, 425 Avalanchas, 71, 72 Batatas fritas. 377
fornecimento de — às cidades, Apoilo. 168. 179 Aves, televisão e. 426 Búloti primitivo. 367
46, 46 Aquedutos, 365 Aviões, 262-267 Bauer, George, 146
Romanos e, 365-366, 365 Ar acidentes de, 99-100, 99-100 Bauxite, 103. 120
tensão superficial de. 27 condicionado, 257, 259 a jacto. 147. 151, 152. 152 Beausoleil. baronesa de. 146
tratamento de, 46 47 resistência ao, 264 aterragem em porta aviões. 150 Bebé-proveta, 276-277, 277
vedores e, 146 Arco íris, 217 caças, 150-153 Becquerel, Anloine Henri, 209, 290,
Água-rie colónia, 109 Arcos de flecha, 353, 355 camuflagem, 76-77 291
Água de Pau. vulcão de, 125 Areia, 10-1 construção dos — cio futuro, Beladona, 367
Aguardente, 374 Argebonder, Friedrich, 182 146 149 Bell, Alexander Granam, 212,
Agua régia, 21 Aríete. 353, 354, 355 -espiões, 74 75 224-225
Ailly. Pierre d', 357 Aristóteles, 117. 357 e travessia do Atlântico, 370-372 Belloti. Michelangelo. 161. 164
Aislabie, John, 41 Armas helicópteros, 268-271 Benbow, Philip. 72
Alambique. 117 carabinas, 157-158 lançamento de - por catapultas Benzedrina, 81
Alarmes, 254-255 da Idade da Pedra, 327-328 a vapor, 151 Berclaz, Phllippe, 71-72
Alcock, John, 370-372, 371 medievais. 352-353. 353, 354 modelos de, 220 Berge Stahl, 256
Álcool. 292 nucleares, 158 160 motores a jacto, 264-265 Berliner, Emile, 222
gasolina de. 108 termonucleares, 159-160 navegação e, 372 Bernoulli, Daniel, 267
Alcoolemia, testes de, 251 Armstrong, Edwin H., 215 passagem da barreira do som, Bertillou, Aiphonse. 93, 95
Aleksander, Rrof. Igor, 196 Arnoco Cadiz. 134. 134 202-203 Besta. 352
Alekseyev. Vasily, 283 Arqueologia, centros de pressão de ar nos, 259 Betão, 300 302, 303. 305. 306, 308
Alexandre, o Grande, 326 Cuzco, 336 337 prevenção de colisão de, 33-34 Bicho da seda, 112 114, 113
Alfa do Dragão, estrela. 322 datação, 311-313, 341-342 refeições a bordo de, 37 38, 37 Bico de lápis, 13, 142

438
ÍNDICE

Big Bang, 183 reparação de debaixo de truques de, 404, 4 0 4 utilização cie plásticos
Biii Bird, satélite, 175 água. 141 Cartões de crédito, 242 243 degradáveis e m , 130
Big Crunch, 183 televisão por. 219 Cartografia Cisão nuclear, 121, 158
BiDinglon, John e W i l l i a m , 93 Caça (avião), 150-153 antiga, 356 Cisne, constelação do. 181
Binet, Alfred, 281-282 Cadeac, Pierre. 426 por fotografia aérea. 54-55 Civete. 109
Biogás, 119 Cães por satélite, 174 Clark. Arthur C„ 85
" B i p - h i p " - V. Avisador de c o m i d a para. 388 Carvão, 103. 118 Cláudio, imperador, 352
algibeira para detectar drogas. 36. 97 98, crise do petróleo e. 108 Cleópatra, 109. 367, 3 6 9
Birdseye, Qarence, 376 97 Casas-fortes, 242 Clones, 188
Biro, Ladislao, 14, 15 para detectar explosivos, 37, Castelo medieval, 3S2-355 para animais extintos. 193
Bjõrson, Maria. 69, 69 97 98. 9 7 - 9 8 Castórico. 109 Cloreto de polivinilo
Blackbird. avião-espião, 75 salvamento c o m nas Catapultas, 352-353 película adesiva e. 23
Blackett, Patrfck, 199 montanhas, 72, 72 a vapor, 151. 151 plásticos e, 132
Blackstone, Hany, 396 Café instantâneo, 380 Cavendish, Henry, 210 C l u r o í l u o r o c a r b o n e l o s , 2.~>2
Blefaroplastia, 295, 2 9 5 Cagnan, L m i l e . 140 Caxemira, 111 Clorofluorocarbonos
Blenkinsop, John, 2(30 Cahill, Thaddeus, 227 Cayley. Sir George. 267, 2 6 7 frigoríficos e, 25
Blériot. Louis, 274 "Caixas negras", 100 Cegueira, 280 C l o r o f ó r m i o . 292
Bkie screen V. Tela azul Cal, 104 Células, 189, 189, 193 CN Tovver, 302. 3 0 2
Blunt, Sir Anthony, 79. 79 para neutralizar a acidez, 127 anestesia e — nervosas, 293 Cobre, 12. 103
Bóeres. Guerra dos, 76, 145 Calcário nas panelas, 26 fotovoltaicas. 128, 128 herbicida de sulfato de, &.'>2
Boesky. Ivan, 41, 41 Cálcio microcirurgia e - nervosas, 289 tinta de sulfato de, 81
Bolhas, câmara de, 199, 199 cristais ele carbonato de. 26 Celuloide, 132 Coca cola, 389
Bolsa de Valores V Mercado de perda de no espaço, 169 Celulose. 107 C o c h o n i l h a , 367
tfluhs Calculadoras. 241-242, 241 Cenários. 410-411. 413 Cockcroft, John, 198
Bombardeiros-espiões, 71 75 75 Calor Central nuclear, demolição de, Cockerell, Clinstnpher. 274, 2 7 4
Bombas extraído do lixo, 118-11!) 305 Código
atómicas, 158. 158, 176 g e o t é r m i c o . 125 Cérebro bipartido, 401
detecção de, 97-98 sensores de, 254 células da memória e, 282 de barras. 56, 242
nucleares. 121, 158-159. 176 solar. 128 do h o m e m pré histórico, 194 postal, 56
terroristas e. 36. 100 Calvície, 298 cirurgia. 366, 3 6 6 segredos por. 7 8 7 9
Bombeiros pára quedistas, 50, 50 Câmaras hipnose e, 282-283 Cofragem, 302, 3 0 2 , 306
Bonecos em filmes, 411 de bolhas, 199, 199 Cerveja Cofres, 242
Boole, George, 241 de descompressão, 316 fabrico de, 394. 3 9 4 Colagénio, 295
Borboletas, 112-111 de focagem automática, 237, na Idade <la Pedra, 346 Colas, 15. 15
B o r d o n e . Paris, 91 237 Césio. 244 Colectores solares, 128
B o r g l u m , John G u t z o n , 362-364, de infravermelhos, 157 Cevada, 391 Coliseu. 350 352, 351
363 de m o v i m e n t o controlado, 409, Chain. F.rnst. 288 C o l o m b o . Cristóvão. 356-358, 3 5 7 ,
Bolha, Louis, 14." 409 Challenger. 171 358
Botticelli, 162 de nevoeiro, ou de W i l s o n . 199, C h a m p o l l i o n . Jean-François, Columbia, 107, 166-167
Bowie. Les, 68 199 368-369 Columbrelas, 353. 3 5 3
Bradl, Sepp, 434 de televisão, 218-219 Chanute, Octave, 267 C o m b a l e , lácticas de. 151-153
Braille, Louis, 28U, 2 8 0 eleitos gráficos e, 420-424 Château Gaillard, 355 Comboios, 260 261
Branco. Monle, 72 fotográficas, 82-86, 8 2 , 129. 129, Cheiro, testes no gás natural, 21 Combustíveis fósseis, poluição e,
Braun. 1'erdinand, 219 175. 232-237. 2 3 2 Chernobyl, 160 161, 160 126, 127
tircudulbane. 140 objectivas de - V. Lentes Chimpanzés. 192, 192, 193 Comédia musical - V. Filmes
Brearley. Harry, 30 Camarões, 377 378 China Cometas, 184 185
Brightman, Sarar), 69 C a m p i m e t r i a , 277 exército de barro, 335-336, 3 3 5 llalley. 169. 184 185. 185
British f e l e c o m C a m p o magnético, datação por, Grande Muralha da, 333-335. C ó m o d o , imperador, 352
c o m p u t a d o r e s falantes. 197 343 3 3 3 , 334 Co/npacl discs (CD) - V. Distas
tradução por, 196 Camuflagem Chinoob. helicóptero, 2 6 9 ('impactos
Brocados, 115 animais pré históricos e. 194 Chintz, 116 Compostos químicos, 253
B r o w n , Arthur W h i t t e n , 370 372, na guerra. 76-77, 76 Chocolates, 376, 3 7 6 C o m p u t a d o r e s . 239-241
371, 372 Cana-de-açúcar. 108 Chowning, Dr. John M., 227 animação por, 421-423, 422
Brovvn, Louise. 276. 2 7 7 Candler, Asa C, 389 Chumaceiras, 24 caças e, 153
Brundage, Avery, 64 Canetas, 15 Chumbo cartografia e, 54 55
Brunei, Mau- e Isambard, 316 Canhões cristal de, 104 105 circuitos de, 196
Ifrutmg. 143 de navios. 155 nos lápis. 13 controle do trânsito e, 51 52
Bryanl and May, 22 medievais. 3 5 3 , 355 obtenção d o , 102-103 controle remoto, 220
B i i b ó n i c a , peste, 355 Canutt, "Yakima", 414-415, 415 Chuva c r o n o m e t r a g e m dos Jogos
Buchner, 260-261 Cão Menor, constelação d o , 184 ácida. 126-127. 126-127 Olímpicos e, 429 430
B u m e r a n g u e , 432 Capeie Karel, 247 fazedores de. 146 dicionários por, 59
Buracos negros, 183-184, 184 Caqui, 76 Ciclones. 4 1 efeitos gráficos e, 420-421. 421
Burgess, Guy, 79 Carabina, 157 158 Ciclotráo. 199 estrelas e, 182
Burlas, 41. 41 Caracala, termas de, 366 Cierva, Juan de la. 271 inteligentes, 196, 197
Burwel). Bob, 432 Carbono Cifras, segredos por, 78 linguagens de, 239-241
Bússola. 343, 3 5 7 11. datação por. 311-312, 3 4 2 C i m e n t o , 302-305 mercado de títulos. 39. 40
d i ó x i d o de. 406 Cinema - V. Filme microchips d e . 238-239. 2 3 9

r*^^^W
hidratos de - para atletas. 285 Cinto de segurança, 250, 405 mísseis guiados por, 156-157
Cardenas. May B o b , 203 Cipião, 346 moldes feitos por, 117, 117
C a r d i o s p i g m ó m e l r o . 87 Circuitos Integrados, 238 perfuração, 133
iv> Carison, Chester, 231
Carlton, BUI, 430
comunicações e 212-214
C1RRUS, 141
previsão do tempo e, 44
processamento de imagens em
Caan. James, 66 Carne Cirurgia 86. 8 6
Cabelo, transplante de. 298 artificial, 381 anestesia na. 292-293 reciclagem do o u r o dos, 120
Cabinas pressurizadas, 259 assada. 388 laser e m . 292 restauro de pinturas e. 164
Cabora Bassa, Barragem de, 308 Carothers. Wallace, 114 na Idade da Pedra. 366. 3 6 6 robôs, 246
C.llM)S Cartagineses, 344-346 plástica, 295, 2 9 5 submarinos e, 259
coaxiais, 314 Cartas, 56 transplanlc de órgãos e, super, 2 4 0
de pontes. 306-308, 3 0 7 , 3 0 8 separação das. 56 294-297 tradução por, 196

439
ÍNDICE

xadrez, 427-428 Curie. Mane e Pierre, 290 291, 290, Documentos eólica, 124 125, 124
Comunicação 291 papel envelhecido e, 108, 108 extraída do lixo, 118 119
com animais, 192-193 CuZCO, 336 337, 337 transmissão de - por fax, 230 geotérmica, 125. 125
com outros planeias. 186 Cyclops, aparelho electrónico, 430 Dolby, sistema, 221 hidratos de carbono e, 285
com sondas espaciais, 173 Donner, llans Jurgen, 423 microondas e, 24
por rádio, 186 Doping, 285 nuclear, 121 122. 158 159

D
satélites de. 171, 212-213 Doppler. efeito de, 154. 168, 180, produzida pelas marés, 123
Comutadores. 220 288 Enfíeurage, 109
Concorde, aviáo, 148 Dor, 292 293 Engenharia genética, 190-191, 193
Concursos, 426 427 Dorsal média atlântica, 208, Enigma, 78
Congelação Dactiloscopia, 92-93 209, 209 Enxofre, 126
de alimentos, 2.r>, 376 genética, 94 Doyle, Sir Arthur Conan, 86, 109 hexaduoreto de, 127
de ervilhas, 378 Damasco, 112 Droga Enzimas, 27, 376
Constantino, o Grande, 3S2 Dança, 68-69 Cães detectores de, 36, 97-98, Eratóstenes, 267
Constantinopla, ;ÍT>3 Dante, máquina cie filmar, 414 97,98 Ervilhas, 378, 404
Continentes, deriva dos, 207-209, Darreius. turbinas, 124 da verdade, 81 Escafandro autónomo, 140 111, 141
207, 208 Darvall, 296 297. 296 detector de mentiras e, 87 Escala optométrica, 277
Contratorpedeiros, 155 Datação, sistemas de, 210, 314 343 traficantes de, 98-99 Escrita, 95-97, 96, 280, 368-369
Cordoar luyer liriling, 55 Davy, Sir Humpliiy, 314 Dunleavy, Pct, 95 Eseu madeiras
Controle Dédalo, 149-150 Dupton, 113 de absorção 134-135
fotoeléctrico. sistema de, 11 Deep Thought, 427-428 Duplos, 68, 412, 412, 414-415, 417 de barragem, 135
remoto, 220 Demolição, 303 305 Dykstra. John, 409 Esdaile. John, 283
Coolldge, Barragem, 308 Dendrocronologia, 342 Esferográfica, 14, 14
Cor Dente de-leão, 428, 428 Esgotos, 47-48, 47, 48, 366
em fotografias de jornais, 18 Desastres Espaço
fotocópias a, 231
fotografias a, 235, 237
televisão a. 218
Coração
aéreos. 99-100, 99, 100
em poços de petróleo, 136 137
fogos em reactores nucleares,
160 161, 160
E
Eau de Vie de Pofre, 375
aviões (30) do, 149
enjoo no, 170
falta de peso no, 169, 170
sondas V. Sondas espaciais
pacemaker e, 293-294, 293 naturais, meteorologia e, 44-46 Ecofyte, 130 vida no, 186
pulsação do, 2(J3 Descompressão, câmara de, 316 Ecos sonoros, 154 Espectóraetros, 341 342
transplante de, 294, 296 297 Desfibrilador, 293, 297 Ecotomografia, 288 de massa, 98
Coreia. Guerra da, 152 Desio, Ardito, 138 Edgerton, llarold, 129 Espectro electromagnético, ondas
Cornu, Paul, 271 Desporto Edifícios de, 216-217, 216
Correio, 56-57 cronometragem no, 429 430 arranha-céus, 300 301, 302 Espelhos
Corretores, 38-41, 38, 39, 109 curvatura de bola no ar, 431 implosão. 304 de telescópios. 180-182
Cosméticos treino para, 283, 284 resistência ao vento, 311-312 distorção da imagem por, 406.
microcápsulas nos, 17 Dessalinização, 117 118, 118 Edison, Thomas Alva, 222. 224-225 406
primitivos, 367, 367 Destilação Eduardo VII, rei, 144, 145 electricidade produzida por, 128
Costura de água, 117-118 Eduardo VIII. 2IS Espingardas, 157
máquina de, 255 de óleos essenciais, 109 Edwards, Dr. Robert, 276 Espiões, 79-80
pontos de, 255, 255 Detector Efeitos Espionagem
Cott, Joe. 412 de mentiras, 87, 87 de Doppler, 154, 168, 288 códigos e cifras em, 78-79
Coubertin, Pierre de, 66 de metais, 36 especiais no cinema, 68, 406 415 dispositivos de escuta e, 80
Courier, serviço de, 56 57 Detergentes, 27, 27, 29 fotoeléct ricos, 12 droga da verdade e, 81
Cousteau, Jacques-Yves, 140-141 para derrames de petróleo, 134 gráficos, 420-424 por aviões. 74 75
Cowan, Rex, 140 Detritos Magnus, 431 tintas invisíveis em, 81
Crac dos Cavaleiros. 353 incineração de, 48 E-Fti. 95 "toupeiras", 79
Crânio, reconstrução da face de, nucleares, 122-123 LftPos, sistema. 243 Espuma, combate a incêndios
325-327, 325, 326 sólidos, 48 Egípcios, antigos. 319-325. 320, com, 49
Crawford, Mirhacl, 69 transformação de - em energia. 324, 328, 339, 346. 346 Estabilizador acídico, 15, 16
Credifone. cartões. 242-243 118 119, 119 Egrell, avião, 147 Estátuas
Creeprrieter, 206 tratamento de, 47-48 Ehrlich. Paul. 191 da ilha da Páscoa, 328 331. 328,
Criação Deutério, 159 Eiffel, Alexandre Gustave, 359, 361 330, 331
controle genético por Dewes. William. 381 Eimert, llerbert, 227 da liberdade, 359-361. 359-361,
dactiloscopia, 94, 94 Diálise, 298 Einstein, Albert, 146, 159, 176-177. 120, 421
genética, 190 191 Diamantes, 14 176, 177, 183 Estereorrestituidor, 55
Critkel, 431 artificiais, 142-143 Electricidade, 224-225 Esterhazy, príncipe Paulo, 261
Crime brilho de, 142 a partir do urânio. 121-122. 122 Estradas, controle de trânsito nas,
dactiloscopia genética e, 94 lapidação de, 142-145, 143 captada do sol, 127 128. 128 50-52
escrita e, 95 96, 96 Dicionário, 58-59 extraída do lixo, 118-119 Estrelas
identificação facial e, 95 Didcen, Roger, 411 fornecida por pilhas, 12-13, 12 anãs brancas, 183
impressões digitais e, 92 Dieta geotérmica. 125 buracos negros, 183
retratos-robõs e, 95, 95 no espaço, 169-170, 170 produzida pelas marés, 123 cálculo do nascimento do
Crimeia. Guerra da, 158 para atletas, 283-285 produzida pelo vento, 124 125, Universo a partir das, 183
Criolite, 103 Dinamite, 159 124 contagem de, 182
Cristal Dinheiro Electrocardiografia (ECG), 288 deflecçáo da luz das, 177
de chumbo, 104-105 cartões de crédito e, 242-243 Electrões, 11. 12,12, 23, 199 distância das, 179 180
de silício. 238 239, 238 destruição de, 41 feixes de, 218 gigantes vermelhas, 183
Crómio, 30 transferência electrónica de, 243 Electrólise, 103 morte das, 183-184
Cronometras, 429-430, 430 Dinossauros. 193, 194, 195 Elefantes, 344 346, 345 navegação pelas, 356
Crusta terrestre, perfuração da, Diocleciano, 366 Elevadores, 20-21, 20 supergigantes azuis, 184
206-207 Diodoro Sículo, 319 FJliotson. John, 283 Etano. 132
Cruzados, 352-355. 353 Diplodoco, 194 Embraiagem, 248-249 Éter, 292
draga, 193 Discos, 222-223 Embrióides, 188 Etileno, 132
Cullinan. diamante, 143, 144. 144, compactos, 226, 226 Emulsionantes, 385 Eurotra, tradutor, 196
145, 145 magnéticos, 241 Endoscópio, 288 Evans, Sir Arthur, 369
Cúmulos estelares, 180, 183 Discooery, 171 Energia Evasão. 402-403
CuneJforme, escrita, 369 Dispositivos de escuta, 80 captada do sol, 127-128 Kverest, Sir George, 138
ÍNDICE

Evereste, monte. 26. 138 Fixadores. 109 Gardner. Edward, 86


Excreções do organismo, Fleming. Alexander, 288 Garland, Charles T, 85
eliminação das, 170
Exército, abastecimento em guerra,
59-61, 60
Exocel, 154-157, 156
Flenley, John. 329
Flores, óleos essenciais de, 108-109,
109
Florestas
Garrafas
barcos dentro de, 429
peras em, 374-375
Gás
H
Haarlem, Erwiu vou, 81
Explosivos. eiri regressão, 174 datação pela formação de, 342 Hahn Otto, 198
detecção de. 36, 97-98, 97 incêndios nas, 49 50, 49 natural, testes de cheiro no, 21 Hall. Tra<y, 142
terrorismo e, 36, 37 Florey, Howard, 288 propulsão de foguetes e, 167 llalley, cometa de, 169, 184 185
Extraterrestres. 186 Flutuação, principio de, 256 Gasolina llalley, F.dmond. 184
Fty-by-ivire, 153 de plantas, 108 Hargreaves, James, 110
Ftx-kc, Heinrich. 271 V. também Fóssil, Gás; Petróleo Harrier. avião, 152, 153, 153
Fogo

F
Facetiít. 295
em poços de petróleo. 135 137
nuclear, extinção de, 160-161,
160
posto. 89
Gatos, 324
Gee/ts, 190
Géiscres. 125
Gelados, 383-385
Harrington, Bob, 186
llarrisson, James, 25
Hart, Charles, 69
Haia, Sanachiro, 191
General Electric, 142, 148 Hatvkeye, avião, 151
Factor VIII, produção do, 190 Foguete. 167 General Motors. 414 Hawkins, Prof. Gerald, 339
Fala. 192-193, 197. 197 Fonógrafo, 222, 225 Genes, 188-191 HDE 226 868, 184
Falópio, trompas de. 276 Fontes termais. 125 Geologia Healv. John, 204
Faraday, Michael, 221 Força clectromotriz, 12 da crusta terrestre, 206-207 Hélices, 148, 148, 264, 268-271, 274
Faraós, 319-324 Ford. Henry, 42, 42 fotografia do espaço e, 174-175 Helicópteros. 161, 268 271,268
Foi Man. bomba. 160 Forenses, cientistas. 89-90. 327 Geradores, 12, 125. 125 e socorristas de montanha, 7172
Fax, 228. 230. 230 Forest. Lee de, 215 eólicos, 124 Hélio, 10, 198
Fechaduras, 242 Forno, relógio digital e, 254 Gerasimov, Mikhail, 327 Helsínquia, Jogos Olímpicos de, 65
Fechos Fosbury, Dick, 284 Gesner, Conrad. 13 I lemalite — V. Ferro
de correr, 19, 20. 20 Fósforos Gigantes vermelhas V. Estrelas Hemodiálise. 298
de velem, 19 impostos e, 22 Giílette, King Camp, 29 Hena, 367
Feijões. 381 produção de, 22-23. 22, 23 Ciotto, sonda espacial, 168 169 Henning, Doug. 396
Felbe, Heinz. 79 Fosseis. 207 Gira discos, 222-223. 225 Henrique VIII, rei, 139
Fenícios, 355-356, 355 de grãos de pólen, 343. 343 Giroscópio. 168 Henry, Edward, 93
Fernando de Aragão, 358 espécies extintas, 193 194. 195 Giz. 28 Herbertson, Gary, 97
Ferramentas, 327 328, 327 Fotocopiadores, 231, 231 Gize, Pirâmides de, 319 322, 319, Herbicidas, 252 253, 252
Ferro. 102, 103 Fotocópias, 230 320, 339 Hermann, Alexander, 399
Fertilização in obro, 276-277, 276 Fotografia(s), 232 235, 232 Gladiadores. 350-352, 350 Heródoto, 321. 325
Fessenden, Reginald Aubrey, 2lf> a cores. 48, 235, 237 Glaucoma, 277 Herschel, William, 185
Fiação, 110-112 aéreas, 54 55, 55 Glenn. John, 135 Hérticr, Phillipe. 71 72
Fibras, a intervalos, 129 Glicogénio, 285 Hertz, Heinrich, 215, 217
animais, 111 arquivos instantâneos de, 424 Glyder Fawr, 72 Hewitt. Jerry, 416
naturais. 110 112 câmaras para. 232-237 Goldin, Horace, 396 Hidrocarbonetos. 132
nos saquinhos de chá, 21 de alta velocidade, 128-129, 129 Goldman. W., 66 Hidrogénio, 12. 108. 131
ópticas, 228-229. 229 de espíritos, 85, 85 Golfe. 431, 432 Hidroplanador, 272
sintéticas, 114 da Natureza, 129-130 Golfinhos, comunicação com, 192 I lierao II, rei. 256
termoplásticas, 21 em movimento, 225 Gomas. 15 Hieróglifos, 368 369
vegetais, III imagens múltiplas, 82-86 Gossamer Albatross. 149 Hindawi Nezar, 35-36. 35
Fick. Dr. Adolf. 278 microscópica, 130, 200 201, Gossamer Condor. 149 Hipermelropia, 277, 278, 279
Fighting Fakon. avião, 153. 153 200 Goya, 91 Hipnose. 282-283
Figueroa, Garcia Silva, 369 nos jornais, 17 18. 17, 57, 58 Grable, Betty, 114 Hiroshima, 158 159. 158, 176
Filamentos de tungsténio. 11. 11 subaquática, 130 Grafite, 13, Í3, 142 Hitler, Adolf. 97, 176
Filetes, 376-377 transmissão de, 57, 230 Grafologia, 96 97. 96 . Hockham, Dr. George, 228
Filipe Augusto, rei. 355 Foucault, Jean. 201, 201 Gramofone. 225 Ho Kuang, 115
Filipe da Macedónia, 326, 326, Fouts, Dr. Roger. 192 Grande Esfinge, 319 Hollandia, 140
327 Fox TallM>t, VV. H., 128 (Jrande Muralha. 333-335, 333, Holleman, Shama, 87
Filmes Frescos, restauro de, 164 334 Hollywood, filmes de. 66 68
balas e sangue em, 413, 413 Freyssinet, Eugène, 303 Grande Pirâmide V. Gize, Hologramas, 229, 229
bonecos em. 411 Frieden, Ur. li. Ray, 85 Pirâmides de Homem primitivo. 194, 195
cenários em, 410-411, 413 Frigoríficos, 24, 24 Grande Roubo do Comboio. O, 225 Hooke, Robert, 189
comédias musicais. 68-71 Fry, Art, 16 Grandes angulares V. Lentes llooper. Dr. T d Ante, 85
com microlragráncia, 16 Fundoscopia, 277 Gravadores em fita, 221, 221 Hoover, Barragem, 308
duplos em, 68, 414-415 Furacões, 44, 45, 45 Gravidade, satélites e. 170 171, 171 Hopi, índios, 146
efeitos especiais em, 68, 406 415 Furse, Tony, 227 Gregoire, Marc, 24 Hormonas
efeitos gráficos em, 420-424 Fusão, 158 Gregos de crescimento, 191
explosões em. 412. 412 Fuso. Ill) fogo, 253 de herbicidas selectivos, 253
incêndios em, 414 língua dos antigos, 369 produzidas por atletas, 283
miniaturas e modelos em, 411. navegação pelos, 356, 356 liomet. avião, 153
412
produção de, 66 68
tempestades no mar em. 412.
413
títulos em, 424
G
Gabor, Proí. Dennis, 229
Griffilhs, Francês, 86
Grotefend, Georg Friedrich, 369
Gruas, 312-314, 312, 313
Grudes, 15
Guerra
Hospitais, 52 54. 53
Hotel, organização de um, 61-62
I loudini, Harrv, 402 403, 402, 403
Hovercrafí, 274, 274
Huang Ti, 112
Filtragem de esgotos, 47, 48 Gagarin. Yuri. 169 abastecimento de exércitos em, Hubble, Edwin, 180, 183
Filtros, 18. 130 Galáxias, 178, 179. 180, 183 59-61, 60 lluguehi. Dr. Russd, 193
Finanças Galena. 215 aérea, 151 153 lluiburd, Buri, 413
comédias musicais e, 68-69 Galimino, 195 camuflagem em. 76 77 Humber, ponte rio, 306-308. 307,
filmes e, 66-68 Galvaiii. I.uigi. 12 medieval. 352 355 308
mercado de títulos e, 38-41 Galvanómetro, 87 «Guerra das Estrelas», programa. Hunl, Waller, 255
Fish fínger - V. Fiteles Gama, raios, 37, 217 159 lluskisson, William, 261
Fisioterapia, 289 Gardner, Allen e Beatrice. 192 Gusa, 103 Hyatt. John Wesley, 132
Fissão, 158 Gardner. Dale, 168 Gutenberg, 108 Hydrofnit. 272 273, 272, 273

441
ÍNDICE

a cores, 18 Leite, 381 384

M
fotografias nos. 17-18, 17, 58 Leith. Emmet. 229

I
lates. 161
transmissão de 230
Jornalistas, 57-58, 58
Judson, Whitcomb, 20
Júlio César, 50
Lentes
ângulo de abertura das, 236
de contado, 277, 278
de máquinas fotográficas, Macarrão. 375
Identificação facial, técnica de, 95 Júlio II, papa 233 237. 233, 236 MacCready, Paul, 149
fdenlikà - V. Remto-robó Jumbos, 32. 32, 33. 35. 36, 147 de óculos, 277, 278 MacKintosh, Cameron, 89
Iguadonte, 194, 194 refeições a bordo de, 37 38 de telescópio, 182 Madean, Donald, 79, 79
Iluminação voos dos. 262-264, 2 6 3 Lerner, Alan I, 69 Madeira, polpa de, 107
anúncios luminosos, 10-11, 10 Júpiter, 172, 173, 179. 185 Leroux, Gaston. 69 Magalhães. Pernão de. 257
pública. II Justiniano I. imperador, 114 Leverrier, Urbain, 185 Magia
Imagem Levey, Dr. Archibald, 87 apanhador de balas. 398
hologramas, 229 Levitação. 399 corda indiana, 400 401
evasão, 402 403
K
movimento imagem por, 409 l.exicógrafos, 58-59
por ressonância magnética Libby, Wiltard F., 341 leitura do pensamento, 401
nuclear (NMR1), 2X7 Liberdade, Estátua da, 359-361. levitação, 399
transmissão de, 57, 230 359361 serrar uma mulher ao meio.
Imageologia, 287, 287 Ka, 319 Uebniz, (iottfried, 242 396
Implosão. 304-305, 305 Kanellopoulos, Kanellos. 149-150, Lilienthal. Otto. 267. 267 tirar um coelho do chapéu,
Impostos, fósforos e, 22 149 Lillehei. Dr. Walter. 294 396-397
Imprensa, 57-58, 57 Kao, Charles. 228 Limitador do excesso de truques de cartas, 404
Impressões Kasparov, Gaiy, 428 velocidade, 21 Magnetómetro, 343
de luvas, 92 Kato. Dr. Ichiro, 247 Lincoln. Abraham. 362, 363, Magnus, Meinrich Gustav, 131
digitais, 92-93, 92-93 Keck, telescópio, 182 364 Maionese. 385
Imunologia, 294, 297 Keel, John A.. 400 401 Lindbergh, Charles. 372 Malvinas. Guerra das. 77, 155
Incas, 336 337 Keelv, Jack, 415 Linde. Karl von. 25 Mamute, 193. 194
Incêndios Kelso, Dr. Kip, 140 Lindow. homem de. 326-327, Mancham. James, 67
em filmes, 414 Kepler. Johanncs, 179 326 Manganela, 354
investigando as causas de. 89 90, KH II, satélite-espião, 175 Linear A e Linear B, 367 Manteiga, 382, 382
89 Khufu, faraó, 319, 322 Linhas de montagem, 41 43. 42 Manlelí, Mary Anti. 194
nas florestas. 49-50, 49 Kibblewhite, Edward, 182 Linho. 110 Mapas
Incineração de detritos. 48 Killanin, Lord, 64 LiofilizaçãO, 379 fotografias aéreas na elaboração
Inércia Kinatoscópio, 225. 225 Lítio. 148. 198, 257 de. 54-55, 55
montanha-russa, 405 King"s Cross. incêndio em. 89, 90 -Little Boy". bomba, 158 por satélites, 174
sistemas de naveg.tçáo por. Kober. Alice, 309 Livros, papel envelhecido e, 108, Máquinas
259 Koh-i-Nor, 142 108 Dante, 414
Infravermelhos KoM, 367 Lixeiras, 49 de análise 298
alarmes e, 2o4 Kola, península de, 207, 210 Lixo de costura. 255
câmaras de, Lr>7 Kremer, Henry, 149 energia extraída do, 118-119 de liar, 110
feixes de, 217, 220 Kroger. Peler e Helen. 80 reciclagem do, 119-120 de lavar, 27
na descoberta de pinturas Kubrik, Stanley, 67, 68. 408, 411 Loadfínes — V. Marcas do bordo de moedas, 18-19, 18
antigas, 91 Kujau, Konrad Paul. 97 livre Mar
Insecticidas, 253-254 Locomotion. 260-261 dessalinização da água do,
tnside Dwding, 41 Locomotivas a vapor. 260-261 117-118. 118

L
Inteligência, 281-282. 281 Lodge, Bernard, 420 navegadores primitivos e. 356
INTELSAT, 212 Logaritmos, 242 pressão do, 259
Iões. 12, 13 Logística. 60 surfistas e, 136. 437
Iogurte. 382 Lombroso, Cesare, 87 tempestades em filmes. 4I2.
Irvin. John, 67 Lã, 110, 111, 111 Londres, arqueologia em, 341 413
Isabel a Católica, 358 Lacy, Roger de, 355 Long, Dr. Crawford. 292 tesouros no fundo do. 138 140,
Itaipu, barragem, 309, 310. 310, Ladrões, 254 255 Longa metragem, filmes de - V. 138
311 La Marca, Angelo John, 90, 96 filme Marcadores, 15
Ivan, o Terrível, 327 Lâminas de barbear, 29 Longmuir, Irving, 146 Marcas de água, 106
Lâmpadas Looping, 405 Marcas do bordo livre, 256, 256
invenção das. 224 Lord Liverpool. 38 Marco António. 109
Los Angeles. Jogos Olímpicos ile, Marconi. Guglielmo, 215

J
produção das, 10-12, II, 12
Landsal. satélite. 174-175, 174 65, 66 Marco Polo, 357
Lapidação, 142-145. 143 l.otscherg, túnel de, 316 Mares. 123
Lápis, 13, 13 Love. Prof. Charles, 330 moinhos de, 123
Jackbloçtt. sistema. 302 Lápis lazúli. 367 Lovelace, Lady Ada. 242 Mariner. sonda espacial, 173
Jacquard, Joseph. 115 La Rance, Estação de. 123 Lowell. Percival. 180 Marftet rnakers, 39, 40
padrões. 115 Larsen, Bent, 428 Lowndes, George S.. 389 Marle, 170, 173, 179. 185
teares, 115. 116 Larson, John A., 87 Lua. 168, 179 Martens, Adolph, 254
tecidos. 116 ljscagem, 328 Lundstrom. John. 23 Martensite, 254
Jacto, aviões a, 151-153, 152, Lascaux, grutas de, 347-348. 3 4 8 Lutas, filmagem de. 415 Mary Rose. 138, 139. 139
264-265 Laser Lutze, Renate e Lothar, 80. 80 Mazza, Giuseppe, 161
.lardin, Karel du, 91 cartões e, 243 Luz McCambridge, Vince, 428
Javacheft. ChristO, 418-419, 418, cirurgia e, 292. 292 anúncios luminosos e, 10-11 McDonald, llugh C, 95
419 compact (lises e. 226-227, 2 2 6 datação por emissão de, McDonnell Douglas. 148
lefferson, Thomas, 362, 363, comunicações e, 212-213 342 343 VlcNamara, Frank. 243
hologramas e, 229 eléctrica. 224 MCPA, 253
364
leitura do código de barras e. fibras ópticas e raios cie. 228 MCP13, 253
Jeffreys, Alec. 94
243 Medicamentos, 191
Jetfoit. 273. 273 lâmpadas e, 11. 224 Medula óssea, transplante de. 94
João II, D., rei. 357 358 para detectar sismos. 206 ondas, 217 Meio-tom. 17. 18
Johnson, Cornelius, 284 Lassen. Christian, 369 ultravioleta. 10 Meister, Joseph. 387. 387
Johnson, Samuel, 58 Laussedat, Aimê, 54 velocidade da. 177, 179, 215 Meitner, Lise, 198
Jorge V. rei, 145 Lawter, Dr. Rfchard H . 291 medição de, 201 Memoria, 282, 283
Jornais. 57 58, 57-58 Lee. Christopher. 415 Lykken, Dr. David Thoreson, 87

442
ÍNDICt

Meng Tiiin, general, 333 334 Monte Palomar, telescópio do, incas 336-337
Men-kau-Re, faraó, 322
Mensagens
secretas. 78-79, 78
tintas invisíveis para. Hl
transmissão de, 228-229,
181-182. 184
Montreal, Jogos Olímpicos de, 65,
66
Moog, Robert, 227
Moon, Dr. William, 280
O
Obturadores. 233. 233, 231. 234
na Cirande Muralha da China.
334
nas pirâmides. 319 322
Pedra. Idade da
armas de, 327-328
228 Moremo. Roland, 243 Óculos. 277, 278 cirurgia na. 366. 366
Mercado de títulos, 38-41 Morgan. J. Pierpont, 224 Odorizonte, 21 ferramentas de. 327 328
Mercúrio. 10 Morris, Chris, 83 84, 83 Oftalmologistas, 277. 277 pão e cerveja na. 341, 346
Mercúrio (planeta). 173, 179, Morse, alfabeto, 78, 186, 215. 231 Oftalmoscópio, 277 pintura na, 347 348. 347, 348
185 Morton, William, 292 Oldham. R D.. 210 Película
Mergulhadores, escafandro Moscovo, Jogos Olímpicos de, 66 Óleos essenciais naturais, 108-109 aderente, 23
autónomo e, 140-141. 141 Mosquetes, 157 Olhos, 277-279. 278, 279, 367 fotográfica. 232 237, 233
Mesmer, Franz, 283 Motor Olímpicos, Jogos Pemberton, Dr. John S., 389
Mesossauro, 207 a jacto. 148, 264-265 cronometragem dos, 429-130 Penicilina, 191, 288-289
Messier, 13, 186 transmissão. 218 249, 248, 249 organização dos. 64 66 Penkovsky, oieg, 80
Mestra), deorges de, 19 Mueller, Erwin Wilhelm, 200 Ondas Pentecostes, ilha, 434
Metais Mulloy, Prof. William, 329-330 de choque, 20-1, 205 Pentimento, 91
com memória, 254 Múmias. 193, 324-325, 324, 325 de luz. 217 Pentotal de sódio, Hl
obtenção de, 102-103, 102, Munique, Jogos Olímpicos de, 64 electromagnéticas. 287 Peras, 374, 375
103 Munters, Cari, 25 sísmicas, 210 Pereira. Nuno Alvares. 123
soldagem debaixo de água, Murpliy. Anu, 35, 35, 36, 37 surfistas e, 436, 437 Perfumes, 108 109
314-316, 314, 315 Musgrave. Dr. Jonathan. 32(5 ultra sísmicas. 255 no papel, 16-17
Metalização no vácuo, 92 Música, 68 Ornitóptero, 267 Perfuração V, Petróleo
Metano compacta, 226, 226 Ortodôncia, metal usado em, 254 Pergaminho, 106. 108
no gás natural, 21 electrónica, 227. 227 Oscilador, 227 Periscópio. 130
produzido a partir de detritos. Osmose inversa, 118 Peritoneu, 298
119 Osprey, avião. 148 Pcrrcii. Beat, 71

N
Meteorologia, 44-46 Ossos, reconstrução de. 194 195 Perugino, 162
Mkhebon, Albert, 201 Otis, Elisha Craves, 20 Peruzziot, Vincenti, 142
Microcápsulas, 16-17, 17 Oughtred. William, 242 Peste Negra - V. Bubóniea, peste
Microchip, li) (hiro Pesticidas, 253 254
Microcirurgia, 289 Nagasaki, 138. 159, 160. 176 impressões digitais e, 92 PFT, 287. 287
Microencapsulaçáo, 16, 17 Napier, John, 242 obtenção de, 102-103, 103 Petróleo
Microfones, 215, 224 Natureza, captação da — em reciclagem de, 120 carvão e, 108
como dispositivos de escuta, filmes, 129 130, 129 Ovni. 85, 85 descoberta de - por fotografias
80 Naufrágios, 138-140 Ovos. força dos, 11 por satélite. 174 175
Microfragrânoa, 16-17 Naulilus, 257 Ozono, camada de, 252 extracção de. 132-134
Microondas, Navegação fogos em poços de, 135-137. 137
alarmes e, 255 aérea. 372 limpeza de um derrame de,

P
comunicação por 212 antiga, 355 356 134-135. 134
cozinhar com forno de, 24-25. debaixo de água. 259 plástico e, 131 132. 131
25, 37 Naves espaciais, refeições em, Pez. 107
Microscópio, 200-201, 201 169-170 pi 1. medição de, 127
electrónico, 245, 245 Navios Paabo, Svante, 193 Fhantom. avião a jacto, 151
escrita. 200 camuflagem de, 76 77. 76 Pacemaker. 293 291 293 Philby, Kim, 79
fotografia ao. 129, 130 defesa contra mísseis e P.iinler. William, 29 Photo-fh - V. Identificação íuciui
microcirurgia e, 289, 289 torpedos, 154-155 Palavras cruzadas, 427 Pilhas, 12. 12
Miescher, Friedrich, 189 flutuação de. 256, 256 fanuvia Tornado, 147, 148 força electromotriz de. 12
Miguel Ângelo, 162, 162 hydrofoits, 272 273 Panelas, PIN, 242
Miles, Tony, 128 maiores, 256 calcário nas, 26 Pinturas
Milho, álcool à base de, 108 radar e, 1-54 de pressão. 26 antigas sob novas. 90-91, 91
Millet. Jean Françob, 90 transatlânticos, organização de, Paxigeia, 207 malte, lio411, 410
Minagem, 354, 355 62 64 Pantabangan, Barragem, 309 rupestres, 146, 347 348, 347,
Minerais, detecção de. 146 Navstar, sinais de, 138 Pão, 346, 346 348
Minérios. 102-103 Nazca, linhas de, 347 Papel Pinzón, Martin Alonso, 358
Ming, muralha, 334-335 Neandertal. homem de, 194 de jornal. 107 Pkmeers, 172
Minie. Claude Etienne, 157 Neave, Richard, 326-327 fabrico do, 106 108 Piper Alpha, incêndio de, 136-137.
Miopia, 278, 279 Neferthe, 164 perfume no. 16-17 137
Mira de visão nocturna, 157, 157 Nelson. George. 171 químico para mensagens Pirâmides. 319-323, 320, 321
Mirage, sistema. 424 Néon - V. Anúncios luminoso.'; secretas. 81 Pirimicarb, 253254
Mísseis, 74 Neptuno, 172, 185, 186 reciclagem, 120 Pilágoras. 367
antimtsseis, 155, 155 Nero. imperador. 367 lissue, 107 Pilchess, Pc-tcr, 95
arar, I5f> Neurónios, 196 Papin. Denis. 26 Píteas, 356
de cmzeiro. 156, 157 Neutrões, estrelas de, 184 Paradoxo dos gémeos, 177 1'ixels, 86. 421
defesa contra, 154 155 Nevoeiro. 406 Paralaxe, método de. 179, 179, 180 Piz Baclile, 71
guiados, 156-157 Newton, Isaac, 167. 170. 182 Pára-quedistas, 435 Planadores. 74, 149. 267
que perseguem o calor, 153 Niaux, gruta de, 347 Parkin, Molly, 295 Planetas
Mitchell. C. ('.. 151 Nickerson, William, 29 Pariy, Wilson. 366 descoberta de, 185 186
Mod, 328 331. 328 Nighlsight — V. Mira de visão Pascal, Blaise, 242 distância dos. 172, 179
Modelos em filmes, 109-112 nocturna Páscoa, ilha da, 328-331, 331, 3.55 Plantas
Moedas, máquinas de, 18-19, 18 Nipkow, Paul, 211» Pasta de dentes. 28-29, 28 clones de, 188
Mohorovicic, Andrija. 210 Nítrico, ácido, 127 Pasteur. Louis. 381, 385 387 criação de. 190
descontinuidade de, 206, 210 Números, Paternidade, disputas de, 94 fotografia espacial de. 171
M-HT. 184 hinários, 215, 220, 226, 239, 239, PCP. 253 gasolina de. 108
Montanha 241, 243 Peacekeeper, míssil. 158 óleos essenciais de, 108-109
medição de altura de, 138 transmissão de voz por. 215 Pechblenda, 291 -proveta, 188
socorristas de, 71-72, 271 Nurek, Barragem de, 308 Pedra, blocos de Plástico
Montanha-russa, 405, 405 Nylon, 114 em Stoneheiíge 339 340 biodegradável, 130

443
ÍNDICE

lentes de contado de, 278 Quintas eólicas, 124 Rice, Tim, 70 Scanners, 18, 81, 287-288
película aderente e. 23 Quociente de inteligência, Rkhardson, Cliff e John, 412, 414. Schaefer, Vincent. 146
reciclagem de. 119-120 281-282 414 Schaffner, Franklin, 68
Plataformas continentais, 21)7 Richter, escala de, 205 Scramblers de voz. 77 78
Platen. Baker von, 25 Ridlev. Jack, 202 Sears Tower, 20. 20, 312
Phintett, Dr. Roy. 24 Rins Secas, predição de, 174-175
Plutão, 173. 185. 186
Plutónio. 172
em bombas nucleares, 158 151)
energia extraída do, 121
R
Radar, 154, 216
artificiais, 298
transplante de, 294
Rios, 308-311
Robinson, Dar, 68, 416
Sede, 112-114, 113
Segunda-FeJra Negra, 38, 38, 40
Segurança, 34. 35
Scjiiowski, Dr Terrence, 196
Pneumógraib, 87 anulação do sistema, 153 Robinson, Frank M., 389 Selbit, P. T, 396
Pneus, 251 invisibilidade ao, 74-75 Robinson, William Kllsworth. 398 Selfridge, Tliomas C, 99
Pólen, 343, 343 no controle do tráfego aéreo, Robôs, 246-247 .Semáforos. 50 51, 52
Poliéster, 114 34 35. 34 na montagem de automóveis, Semple, Lorenzo, 66
Polietileno. 23. Ml para detectai o inimigo, 151 42-43, 43 Seul, Jogos Olímpicos de, 64 65,
Polígrafo. 87. 96 para medir distâncias, 179 Rocard. Yvcs, 146 64 65, 429
Polimerização, 114, 131-132 Radiação. 290-291, 291, 378 Rocha Shanghai Bank de Hong Kong,
Polímeros, 131, 132 Radio. 44, 215-217 como fonte de energia, 125 300-301, 301, 312
Polinésios, 328-331, 355-356 comunicações, 186 datação das 342-343 Shunyu Yen, 115
Polónio, 291 éstereofonia em, 223 do monte Ruslimore, 362 364 Sidewinder, míssil, 153
Poluição ondas. 175, 179, 212, 215 Rolantt, míssil, 156 Sikorsky. Igor, 271. 271
chuva ácida e, 12(5-127 para controle remoto. 220 Roleta. 427 Sílex, 328
detritos sólidos e, 48 para satélite, 259 Roma, Jogos Olímpicos de, 65 Sílica, 104
reciclagem de detritos e, 119-120 para televisão. 218 Romanos Silício. 238 239, 238, 255
Pólvora, 157, 352, 355 Radioactividade, 305 abastecimento de água pelos, controle remoto e, 230
Pontes armazenagem de resíduos 365 366, 365 em calculadoras, 241
betão pré-tensado na nucleares e, 122-123. 123 antigos. 367 Simmons, Bob, 415
construção de. 303 fogos nucleares e, 160 161 Jogos. 350-352. 350, 351 Simpson, Granam, 50
cabos de. 306 308. 307, 308 Radiocarbonn, datação por, Romans, Bernard. 140 Sincotrão. 199
resistência ao vento, 311-312, 311 341-343. 342, 343 Rõntgen, Wilhelm. 287 Singer. Isaac Merrill, 255
Pont-Neuf. 418- 419, 419 Radio Corporation of America Roosevelt, Franklin D.. 176 Sintetizador. 197, 227, 227
Pontos fotogramétricos, 55 (RCA). 227 Roosevelt, Theodore, 362. 363 Sirius. 180
forcei, D. Isabel de, 91 Radiotelescópio, 169, 183. 209 Roquefort, (|iieijo. 383. 383 Sismos. 210
Porta aviões. 150. 155, 256 Radium, 290-291 Rosa-dos-ventos, 356 detecção de. 206
Portas lógicas, 241-242, 241 Raio, sobrevivência ao, 298 Rosas, essência de, 109 origem dos. 209
Portugueses, 355-358 Rak» X, 216. 217, 287 Roseta. Pedra de, 368-369 369 previsão dos, 204 205
Past-H, if>. 16 na descoberta de pinturas Rosing, Boris, 219 Sistema de controle folocléctrico,
Potássio 40, datação por, 210 antigas. 90-91, 91 Rota da Seda, 114 11
Pounstone, Williain, 389 no espaço, 184 Rothschild, Nathan, 38 Sistina, Capela, 162. 162, 164
Powers, Gary, 74 no tratamento de múmias, 324, ROV 128, 141 SistO IV. p.ipa, 162
1'rag, Dr. John, 326 324 Rowley, Philip, 426 Sjoberg, Patnk, 284
verificação nos aeroportos, 36, Rugas, 295 Skylab, 171
Praia, 120, 146 Rnsliniore. monte. 362-364, 363,
Pressão atmosférica, 41 36 Smokejumprrs - V Bombeiros
Prince, Hal. 69 Raiva, 386-387 364 pára-Quedistos
Profundidade, medição de, 356 Ramos. Beatrice e Vladimir, 289 Rutan, Dfck, 149 Snellcn, Dr. Hermann, 277
Projecção Randi, James, 86 Rutherford, Ernest, 198.198, 199 Sobreimpressáo, 408
de Mercator, 55 Rano Raraku, vulcão. 328 330. 329 Ryder, Dr. Oliver, 193 Soda, 104
em mapas, 55 Rapier, míssil, 156 Ryrie, Kim, 227 Sol, 11
Propulsão, 264 Rau, Runhold, 193 distância do, 179
Prospecção, I33134, 133 Rawlinson, Henry Creswicke, 369 energia captada do, 127-128

S
sísmica, 133-134, 133 Rayleigh, l.ord. 431 peso do, 184
Protões, 198 Reactores nucleares, 160, 257 Solar Max, 171
Protótipos. 147 Recordes. 283-286 Soldadura, 314 316
Protzen, Jean-Pierre, 336-337 Redes neurais, 196 Som
Próxima Centauri, 179 Redisposiçáo, 86 Sabão, bolas de. 27, 27 estereofónico, 223-224
Psicologia desportiva, 284 285 Reed. Candice, 276 Sabores artificiais. 380 medição da velocidade do. 201
PTFE, 23 24, 23, 24, 29, 132 Regnault, Henri Victor, 201 Sacsahuaman, Fortaleza de, 337 ondas de, 215
Ptolomeu, 356, 357, 368 Régua de cálculo, 242 Saitori, 40 conversão de, 226
Pulgões, 253 Relâmpagos artificiais, 406 Sakara, pirâmide de, 319 passagem da barreira do.
Pulsares, 186 Relatividade, teoria da, 176-177, 183 Salvarscn, 191 202-203
PVC V, Cloreto tlc poUninilo Relógios Sangue, no cinema, 413, 413 transporte do - |X)r raios de luz,
Pyrex, 181 atómicos, 244 245, 245 Santo André, falha de, 204, 228-229. 228
de césio, 244 204-205 Sonar, 140. 154
de quartzo. 244, 244 Santos-Dumond, Alberto, 84 detecção por, 75. 155
digitais, 254 Santo Sudário, 342 Sondas espaciais, 168, 172-173.

Q
Qin Shi Huang, príncipe. 333-336.
microchips de, 238
Remaiting, 57
Rembrandt. 90-91
Rendell, Keimeth. 97
Saquinhos de chá, 21, 21
Sarja. 112
Satélites,
de comunicação. 170-171
172, 173
Soo, Chung Ling, 398, 398
Soutiens, arame em, 254
Sooereig/t oí lhe Seos, 256
335 Resíduos nucleares. 122-123, 123, 212213 Speculum, 182
Quartzo. 103, 104 305 de televisão, 219 SPOT, satélite, 174, 175
relógios de, 244, 244 Resina, 15. 17. 107, 428, 428 -espiões, 175 Sputnik I. 170
Quasares, 209 Restauro de obras de arte, 161 164 fotografias por, 174-175, 174 Stanford Binei, testes, 281-282
Quedas, fingindo, 416 Retina, 277. 278 geoestacionários, 170, 171 Stangier. Siegfried, 71
Queen Elizabeth II. 62-64, 63 Retrato-robô, 95 meteorológicos, 44, 45 Steulth, bombardeiros, 74-75, 74
Queijo. 382-384 Revestimento interior não ÓrbHa de - em torno da Terra, Slephenson, George, 260-261, 260
azul. 383 aderente, 23-24. 23, 24 170-171 Steptoe, Dr. Patrkk, 276
Quéops. Faraó — V. Khufu, faraó Rhodes, Colosso de. 360 para a navegação. 259 Stilgoe, Richard, 69
Quiuolainas. 288 Ricardo, Coração de Leão, 355 Saturno. 172, 179. 185 Si. Louis, Arco de, 30

444
INDICK

u
St. Mdlo, central eléctrica, 123 Terra Virgem, constelação da, 184
Stockhauscn. Karlheinz, 227 cálculo da idade da. 209-210 Visão
Stonehenge. 338-340, 339, 340 centro da, 210 correcção da, 277 278
Storero. Vittorio, 68 densidade da. 210 defeitos da, 278, 279
Stratton, Alfred e Albert, 93 medição da. 3(37 Vitória, rainha. 142
Strong, Herbert. 142 órbita em torno da, 170-171 UA V. Unidade astronómica Vitrais. 106. 106
Submarinos, 15, 257-258, 258 perfuração da crusta da, 206-207 Uhuru. satélite. 184 VogeJ, Peter. 227
caça-submarinos, 155 Terrace, Herbert, 192-193 Unidade astronómica, 179 Volta. Allessandro, 12
detecção de, 155 Terramoto - V, Sismos Universo, Voltímetros, 12
nucleares, 257, 258 Terrorismo limites do, 180, 183 Voyager. avião, 148, 149
navegação de, 259 bombas, 100 medição do, 178-180 Voyager, nave
Submersível, Hl nos aeroportos, 35-37 morte do, 183 navegação, 168
Subotnik, Morlon, 227 Theremin. Leon, 227 nascimento do, 183 visita a planetas, 172, 173
Sullivan. Roy. 298 Thimmonier. Barthélémy. 255 Upatnieks, Júris, 229 Voz
Sumérios, 346 Thomas, John, 284 Urânio, 123 scramblers de, 77 78
Sundback, Gideon, 2(1 Thomson, Joseph John, 199 Cisão do átomo do, 198 ventriloquismo e, 401
Supercolas, 15, 16 Tilburg, Ur.- lo Anne Van, 329-330 electricidade a partir do, 121-122, Vucetich. João, 93
Super-llomem, 408. 408, 412 Tinta 122

w
Supermercados, 242 invisível para mensagens, 81. 81 em bombas nucleares, 158 159
Surfistas, 436, 437 na Idade da Pedra. 347-348, 347 Urano. 168. 172, 173. 185, 186
Suria, Charles, 22 Tiro, Marino de. 356
Sydnéy, Ópera de, 303, 303 Tissue, 107

V
Systran, tradutor, 190 Tkank. 140. 219, 154
exploração do, 138-139 Waay, Larry de, 67
Tilo, imperador, 351 Wagner, Kip. 140

T
TAC, 287
Títulos, 40-41
Tombaugh, Clyde. 186
Tomografia, 287, 287
Tonómetro, 277
Topografia, 138. 138
Vacas, clones de. 188
Vaivém espacial, 167, 169
Van K.ck Hou.se, 304 305, 305
Vapor
Waiker, John. 22
Walker, John, espiáo, 79, 79
Wallerstein, George, 138
VValton. Emest, 198
Washington, George, 362, 363.
TACAN, 150 Tóquio, Jogos Olímpicos de, 65. 66 catapultas a, 151 363, 364
Tacoma Narrows, ponte de, 311, Torpedos, defesa contra. 154-155 máquinas a, 260-261 vVashkansky, Louis, 296-297. 296,
311 Torre móvel, 354, 355 Variáveis eefeides, 180 297
Tanques, mísseis contra, 156 Torncelli. Evangelista, 44 Vasos sanguíneos, microcirurgia e, vVaugh, Andrew, 138
"Toupeiras", 79-80 289 Webber. Andrew, Lloyd, 68, 69, 70
Tapeçarias, HS
"Tartaruga", máquina de guerra,
Trabuquete, 354 Vedores, 146 Wegener, Allerd, 207
353, 355 Tradução por computador, 196 Vega, 169 Weinberger. Mrs. Heatrice, 95-96
Taxidermistas, 193 Tráfego Vega, Garcilaso de La, 336 Wellington, duque de, 261
Teatro controladores de aéreo, Veículos Wells, Charles de Ville, 427
comédias musicais, 68-71 32-35, 100 a energia solar, 127 Westminster, Abadia de. 84, 84
efeitos especiais no, 406 controle do V. Trânsito cintos de segurança nos. Willard, Bumps, 417
Tecelagem, 110-112 Traficantes. 98-99 248-249 William Herscliel, telescópio, 181
Tecido, 110-112 Trajano. imperador, 365. 365 montagem de. 42-43 Wilson, CTR, 199
com padrões, 115 116, 115 Trama, 111-112 pneus, 251 câmara de, 199
corte do, 116 117,117 Transatlântico, 62 64. 63 travões antibloqueio em, 250 Windscale, reactor de, 160-161, 305
Tefton. 23-24 Transdutores, 255 Velas, 161 Wray, l'av, 107
Teia, 111, 115 Transístor, 215 Velem, 19 Wright. Klsie, 86
Tela azul, 410 411, 411 Trânsito, Velino. 108 Wright, Orville e Willwr, 99, 267,
Telarmónio. 227 acidentes de, 52-54 Veludo, 112 267. 370
Telecom a ridos, 220 controle do, 50-52 Vcnablc, James. 292
Telefone, 212-215, 230 engarrafamentos de, 51-52, 51 Venable. Willis E., 389
cabos de fibras ópticas e. 228
reparação de cabos submarinos
de, 141
s&ambters de voz no, 77-78
transmissores de, 224-225
semáforos de, 50 51
Transparência, 407
malte, 410 411, 411
Transplante de órgãos, 294 295
Trauelling marte, 406, 410-411
Veneno, 367
Vento, 44, 45
energia produzida pelo. 124-125,
124
resistência ao, 311-312
XYZ
Xadrez, 427 428
Telefotos, 230 Travões. velejar contra O, 161 Xi Lingshi. 112
Telégrafo, 44, 78 antibloqueio. 250. 250 Ventriloquismo, 401 Yeager, Chudt, 202-203, 202
cabo transatlântico, 141 Trepanação, 366, 366 Ventris, Michael, 369 Yeager, .leana. 149
Telescópios, 179, 180-182 Trílio. 159 Vénus, 179. 185 Veomans, Donakl, 185
espelhos, 180-182 Tríodo, 215 Verlaine, Paul, 78 Zworykín, Vladimir. 219
Televisão Triton, 258 Vermelhinha, 404, 404
animais na, 425-426, 425 Ts'an l.un, 106 Vestuário, 114
anúncios na, 425-426 Tubagens hidráulicas. 254 feito por medida, 116-117
concursos de, 426-427 Tuberculose, 381 medidas para, 116
controle remoto, 220 Tucker, Ruth, 294 Vii ilsara. Qhandenta, 282
efeitos gráficos em. 420-424 Tufões, 44, 312 Vídeo, 219. 220. 220, 230, 420
Jogos Olímpicos e. 66 Túnel Vidraças, 105
por cabo, 219 aerodinâmico, ensaios num. 147 Vidro
vídeo e, 220, 220 construção de — subaquático, à prova de bala, 104
Telex, 228 316 coroa, 105, 105
Tempestades no mar em filmes, encontro ao centro, 316 de ir ao forno, 104 105
412 Tungsténio, 14 de lâmpadas, 10-12
Ténis, 430, 431. 431 filamentos de, 11, II fabrico de, 104 105. 104
Tensão superficial. 21 Tuogiangossauri), 195 por flutuação, 104
Tensímetro, 206 Turbinas, 125 pyrex, 181
TRRCOM. 157 Darreius, 124, 125 reciclagem do. 120
Terman, Lew, 281 Tutankhamon, 111 Vmci, Leonardo da, 161. 164, 164,
Termolumiriescéncia, 342 343 Tivecd, 115 267, 271. 278
Agradecimentos
Os e d i t o r e s a g r a d e c e m ás p e s s o a s e e n t i d a d e s a s e g u i r r e f e r i d a s p e l o Library. CD Science Photo Library NASA 25 Quesada/Burke, New York, 1'inel Kos
auxílio prestado na c o m p i l a r ã o e verificação das informações contidas lai. 26 CD Oxford Snenlific FilinsT. Mitldleton. BD Science Photo LibraryUr Jeremy
nesta o b r a . Access, Canil Andrews, Audi Volkswagen, Austin Rover, Automatic Burgess, 27 Precishn Wustrathn, CM Rruce ColemauKim Taylor, ME MD Science
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Quill Books, da William Morrovv & Co, Inc). Os artigos sobre Tirar um coelho do CM, CD. MD Aspect/Mike Wells, BE North London Waste Authority 120 AspeclGeoll
chapéu", "Levitação" e "Serrar uma mulher ao meio" foram adaptados de Tarhell Tompkinsom. 120, 121 Coiorlfic/John Moss. 121 CD Science Photo Librarv/CS De
Course in Magic, de Harry Lorayne (D. Robbins & Co. Inc.. 70 Washington Street, partment of Energy, BM ZEFA/H. Adam 122 Mkk Gillah. 123 CF. United Kingdom
Bnxiklyn, NY 11201) Ilustrações. A proveniência das ilustrações em Maravilhas da Alomic Energy Authority, CD Science Photo l.ibrary/US Lk-pt ol Energy. 124. CD
Ciência é indicada a seguir. Os nomes em itálico referem se a ilustrações, cujo Planei Earth Pictures/Ken Lucas, fl ZEFA 125 Ct" Central Electricity Generating Board
copyright pertence at> Rcadcrs Digest. C = em cima; M = ao meio; li = em baixo; E = à CD Science Photo Library Simon Fraser. 126 MD Science Photo l.ibrarv. Adam Harl
esquerda; D = â direita 4 ME Science Photo Library/Dr Jeremy Burgess, M Frank -Uavis, BE NHPASilvestris, BD Science Photo Library; Andrew McCIenaghan, 127 CF
Spooner/E. Sander/Liaison/GAMMA, MD Noel Chanan/Privale Collection. 5 ME VisuinWõllgang Steche CD Ford Motor Company of Austrália, BD Sandia National
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MD Katia & Maurice Kraíft. 6 CD Science Library/Lowell Geórgia, M Science Photo Slephen Dalton. 129 E Science Photo LibraryMartiii Dolim, CD Oxford Scientific
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Inc, M The Image BankKobert Phillips, CF. Science Photo Library/.lonalhan Watts. 9 Firns/David Shale, CM Oxford Scientific Fims/Petet Parks. 131 Martin Cameron. com
M Science Photo LibraryDr Jeremy Burgess, HF Science Photo Library, HO Science agradecimentos extensivos a: Lillywhiles (artigos de desporto), l.in Pac Plastics
Photo LibraryJohn Hestletme. 10 'F. CoiuriíicvMan (Tifton, HE ZEFA, Kl) I helmage (capacete e cadeiras). Amber Plastics (caixa de guitarra). Hepworth Building Pro-
BaukHarald Sund. II Mark Edwards. 12 Paud Kostat, Martin Cameron. 13 Kuo Kang ducts (tubagens]. 132 ZEFA/B. Bmgel. 133 CD, M Susan Griggs/Anthony llovvarlli.
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Photo Library/Dr Tony Brain, com agradecimentos à Bcrol pelo sen apoio 15 C GriggsMartin Rogers. 136 Popperfoto, 137 CD The Associated Press, ME. BD Frank
Martin Cameron. com agradecimentos a Berol pelo seu apoio. HM Ciba-Gcigy Pias Spooner. 138 Precishn Wustrotion, CD. BD Susan Griggs/Adam Woolfitt, MD Adam
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Science Photo Library/Dr Anthony Burgess, CE Science Photo Library. 20 CE Martin 141 Makotn McGregor, CD Planei Earth Pictures/Carol Roesslèr. 142 CE GE Corpo
Cameron, fí Susan Criggs/Dimilri 1 lie-. 21 HM Science Photo LibraryR. E. I.ilchfield, BD rate Research and Deveiopment, HM De Beers ConsoBdated Mines 143 CM De Beers
Martin Cameron 22 CE. CM. BE Hackncy Archives DeparluieiiLamavelmente cedi Consolidated Mines, (outras) Martin Cameron. 144, 145 A excepção da fotografia
do por Bryanl and May. 22,23 Maittn Cameron 24 CE Du Pont, CM Science Photo das Jóias da Coroa, todas pertencem ao álbum da família Josepli Asscher, amável

446
AGRADECIMENTOS

mente emprestado poi A. Monnickendam Lid. 145 BE BD Crown Copyright, c o m CM Magnum/Harrnon, BE Frank SpooiíerSander-LiaisoiiCAMMA. 271 M Smilhso
autorização do Controller of Iler Majesty's Stationery Office 147 CD. ME Photri. 148 nian Institute, RD Frank Spooner.T-aurant Maous/CAMMA 272 CM Dick Kenny
CD. BE Quadram, MD PhotrL 149 Frank Spooner. 150 Richard Cooke. 151 CD Richard RelationvBoemg, BM ZEFA 272, 273 ColorsportE Zurini 273 Mick Gilkih 274 CD
Cooke, BE GEC Avionics Limited 152 Richard Cooke. 153 Molcolrn McGregor, BE Sunday Times, M.BF. Photri. 275 ME Science Photo Library/Dr R. Clarice & M.R. Coff.
Richard Cooke, ISO Jererny Flack/Aviation Ptiotographs International. 154 Science MD Science Photo Library/CNRI, BD Science Photo l.ibrary/Petit FormalCSI. 276C.V/
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TRH Pictures/DOD/US Air Force, BD Photri. 159 CE. CD Science Photo LibrarvUS Cameron. oftalmoscópio emprestado por Carleton Optical Equipment Co Ltd, ME
Depamnent ol Defense, BM Science Photo Ubraiy/Alexander Tsiaras. 160 CD. MD Science Photo Library/Don Wong. BE Science Photo Library/Argentum. 279 Jonat
TASS, BD Frank Spooner. 161 Mick Gillah. CD Beken oí Cowes Ltd. 162,163 Scala. 164 han Green. 280 ME Ullstein, M Royal National Institute for the BSná/Mamn Cameron
CM Superintendem, Radiographic Laboratoiy of Monumenls & Fine Arts, Milan, BD 281 CCharadas reproduzidas por amabilidade da Mensa, B Max MenikoH, com base
A r a m o i WorldTor Eigeland 165 Science Photo Ubrary/NASA 166, 167 AspoctKen em desenhos reproduzidos de Introductbn to Psychalogy, 7- edição de F.rnest R
Novak. 168, 169 Science Photo LibraryNASA. 170 NASA. 171 CE Aspect/NASA. CD. Hilgard. Richard ('. Alkinson, e Rita L. Alkin.son, C 197!) de Harcourt Brace Jovano-
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cal Newspaper Service/Times Newspaper. M, MD iCMCom autorização de Chuck e McGregor, com agradecimentos a Morrison-Knudson Inc San Francisco, pelo seu
ÍJlennis Yeager. 202, 203 Ivan I.cipper. 203 CE. M Reli Aircraft Corporation. 204 BD apoio 310, 311 South America Pictures 311 LPI/Bettmann NewsphotOS. 312 Mal-
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à JVC pelo seu apoio (TV e video) Amstrad 221 Precision IHustration. Science Photo Museum of Art 337 CM South America Pictures/Marrion Morrison, CD South Ameri-
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Precision llhistratiou 256 Precision IHustration. BE Fotoflilc 257 Photri, (fotografia fornecidos por The Coriuiiercial Freeze Drying Co Ltd, Preston 380 00 Time Magazi
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W
AGRADECIMENTOS

Rock. 392 CM John Sims, BE ZRFAStock MarketJ. Miller. BD Cephas Picture l.ibrary/ The Kobal Co0ection/20th Cenluiy Fox. 413 CD John Brosnan!Initetl Artists. BD The
Mick Kock. 393 ME Jerrican/lvaldi, M, MD. BD Anu Hughes Gilbey. 394 CE. CD ZFFA, Kobal Collection-United Artists. 414 The Kobal ColleclionUnilcd Artists. 415 CTThe
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Matcobn MeGregor, de uma demonstração por Fay Presto que e contra a utilização de Vote, BD 6 Christo 1983/Wolfgaiig Volz. 418, 419 G Christo 1972-6/Gianí ranço
animais verdadeiros em truques de prestidigitação, 398 loon l.apper. MD Topham Gorgoni. 419 CE Q Christo I97fi, CD 9 Christo I98&CVJ Corp/Wolgang Volz. M D
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Culver Pfctures, 402, 403 (fundo) Rrown Brothers. 403 CD The Rayinoiíd Mander & Basileia, Suiça/Joop vau Schouten, CD ZF.FA. 430 CE, ME All-Sport (UK), BE Omega
Joe Mitchenson Theatre Collection, BM Brown Brothers. 404 Tubingen University Sports Timirig. 431 CD (e fotografia inserida) Colorsport, BE Split Second. 432 Cf
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Cari Purcell. 406, 407 The Kobal Colledion/RKO. AWMukulm MeGregor, The Kobal Axel Poignant Archive, BM Spectrum Colour Ubrary. 434 CM Camará Press/Mark
CoDectiorVSupermari II 0 iyno Kilm Exporl A. 0. 409 CE Alan McKenzie/FirefOK 0 Woolley, MD Split Second/Leo Mason, BD Colorsport. 435 CE Ali Sport (UK);
1982 Warner Bros Inc. Hf) Alan McKenzie/IJnitcd Artists. 410 CE. MD Lucasfilm l.ld. Vandysiadt. CAÍ Simon Wardr BD Frank SpOOneryS. Ward/GAMMA. 436 The Image
411 CEM Lucasfilm Ltd. BD John Brosnan. 412 CM The RonaJd Grani Arcrnve/UIP, BD Bank/Uon King 436, 437 Ali Sport 437 The Image BankUon King.

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