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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDipÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razio da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
EL vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaieca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
60UTQINA

MORAL
Indiice

Pág.

OS ZEROS E A UNIDADE 432

A "REVOLUCAO DE JESÚS"

Novas atitudes religiosas nos EE.UU 434

"A IGREJA DE CRISTO : SUA PESSOA E SEU PESSOAL"

Mais um livro de Jacques Maritain 446

"COMUNHAO E PROGRESSC"

Os meios de comunicacáo em foco 458

No cinema:

"HISTORIA DE AMOR" de Erich Segal 469

AÍNDA AS NOVICAS INDIANAS

O fim de um inquérito 475

RESENHA DE LIVROS 478

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


IMPORTANTE
Leltor amigo,

Vamos dinamizar o nosso "PERGUNTE E RESPONDERE


MOS" no próximo ano. Comentarios encorajadores de muitos
amigos levaram-nos a tentar ampliar a sua circulacáo.
Voce que ]á é leitor, é o nosso melhor juiz. Vamos pre
cisar muito da sua ajuda.
A revista "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" passará a
ser editada e administrada pela Editora Laudes, o que será
um passo para o desenvolvimento almejado. Queira anotar o
nome e o enderéco respectivos para remessa de correspon
dencia e cheques:
Editora Laudes — Rúa Sio Rafael, 38 — 20000 Rio de
Janeiro (GB) ZC-09.
Desde já, toda a correspondencia relativa á Administracáo
de PR seja enviada ao enderéco ácima; as comunicacóes e
encomendas tambám poderáo ser feitas por telefone: 268-9981.
— O que se refere á Redacáo (perguntas, sugestoes de te
mas. ..), continué a ser remetido para a Caixa postal 2666,
Rio de Janeiro (GB). Nao escreva mais para a Rúa Senador
Dantas, 117, sala 1134, Rio.
As assinaturas para 1972 tiveram de passar por um au
mento justificado: $ 30,00 por doze fascículos em porte sim
ples, e $ 35,00... em porte aéreo. O acréscimo nao chega
a cobrir o aumento do custo de vida, e é bem inferior á taxa
de aumento do córrelo. Contamos com a sua colaboracüo
para intensificar a clrculacao da revista e assim compensar
as maiores despesas que ocorrerio.
Eis como esperamos a sua colaborado:
a) Renové quanto antes a sua asslnatura para 1972:
cheques em nome da Editora Laudes S. A. (enderéco ácima).
b) Dé como presente de Natal assinaturas da nossa revista
a seus amigos. Seráo um presente útil, e vocé será lembrado
o ano todo.
c) Mostré a revista a amigos e conhecidos, e sugira-lhes
assiná-la.
Seja propagandista do seu PR. Procuraremos correspon
der com exatidáo.
Comunicamos-lhe ainda que em novembro-dezembro 1971
publicaremos um número duplo de PR, que, além do mais,
incluirá o índice Geral de 1971.
Grato pela colaboracao e amigo á disposicáo

ESTÉVAO BETTENCOURT OS B.

— 431 —
OS ZEROS E A UNIDADE
A sabedoria hindú dispóe de ampio repertorio de metáfo
ras, das quais eis urna que parece especialmente interessante:

Imaginemos urna serie de nove zeros, após os quais se


coloque urna unidade:

000 000 000 1 '


Quanto vale tal conjunto de dez sinais? — Vale vm. Es-
crevemos muito para .exprimir pouco ou quase nada : um.

Coloquemos agora a unidade em penúltimo lugar. O con


junto quanto valerá? — Dez. E, se a introduzirmos em ante
penúltimo lugar...? O todo valerá cem. Continuando a ope-
ragáo, verifica-se que o mesmo conjunto, pelo simples deslo-
camento da unidade, se toma cada vez mais precioso, até atingir
o valor de um bilháio (desde que a unidade passs a ocupar o
primeiro lugar) :

1 000 000 000

Pois bem. Dizem os hindus que a unidade, no caso, repre


senta Deus, fora do qual só há nulidades. Esta proposigáo po-
deria ser mal entendida... em sentido dualista e pejorativo,
como se as coisas visiveis nada valessem. Nao é, porém, éste
o sentido que o cristáo atribuí á proposigáo hindú. Para o
cristáo, a imagem ácima diz o seguinte:

Deus é a Grande Unidade, o Grande Valor. Se alguém


afirma crer em Deus, mas faz d*Éle um verniz, um apéndice
para as suas múltiplas ocupagóes... ou, ainda, se Deus é o
último objeto de interésse de um homem, a vida désse homem
poderá ter muitas facetas, muitas ocupagóes, mas lhe pare
cerá sempre vazia, «furada»; as múltiplas tarefas, a agitagáo
febril deixaráo sempre a sensagáo de insuficiencia e insatisfa-
gáo. A pessoa poderá cónceber novas e novas atividades, mudar
de ambiente e viajar; se, porém, Deus fór o último de seus
interésses, tudo isso será sempre tremendamente vazio. — To-
davia, desde que o homem dé mais entrada a Deus em sua
vida, fazendo d'Éle o Principio que inspire e ilumine as suas
tarefas cotidianas, a existencia, para ele, irá tomando sentido

— 432 —
novo. E, caso o cristáo coloque Deus á frente de todos os seus
interésses, tornando-0 Luzeiro e Motivo (direto ou indireto)
de todas as suas ocupagóes, o mesmo curriculo de vida, no
mesmo ambiente, de insípido e monótono que era, poderá tor-
nar-se extremamente interessante e rico de sentido, chegando
a valer um bilháo.

Os zeros das imagens atrás representam as criaturas;


realmente estas sao pequeñas e insuficientes, bagatelas e ninha-
rias para a alma humana, que tem o senso do Infinito. Con-
tudo, se as considerarmos através de Deus ou com o olhar de
Deus (como Deus as vé), elas serio os zeros necessários e
indispensáveis para que a nossa vida valha um milháo, um
bilháo, um trilháo... E, se assumirmos essas ninharias através
de Deus, como Deus as assume, com o amor que Daus tem a
todas elas (e também a nos), as mesmas ninharias seráo caras
e valiosas para nos.

Na verdade, toda pessoa que eré em Deus, mas nao vive


a sua fé, cria para si urna situagáo de paradoxo e absurdo;
afirma e nega simultáneamente a Deus. jLJma religiáo assim
concebida vem a ser fardo, obstáculo ou desmancha-prazer;
Deus entáo pode tornar-se peso morto e incómodo, que o
cristáo só nao sacode por médo de castigo. Mas, se Deus é
colocado no devido lugar, ou seja, á frente da filosofía de vida
e do amor do cristáo, éste encontra nTSle a grande Fonte de
alegría, magnanimidade e heroísmo de sua existencia. Dar a
primazia a Deus em tudo nao significa alienagáo, nem quer
dizer pieguice ou «falar de Deus com ou sem propósito», mas,
sim, cultivar os valores mais nobres e genuínos que estáo no
íntimo do homem (inteligencia, vontade, afetividade), e colo-
cá-los em contato explícito com o seu Manantía], que é o
Criador.

Senhor, ajuda-nos a compreender estas verdades, e dá-nos


a coragem de as viver coerentemente todos os dias. Que a
Tua presenga em nossa vida jamáis nos amedronte e desfigure,
mas nos faga descobrir as riquezas latentes que, com divina
liberalidade, colocaste em nos e em torno de nos!

E. B.

— 433 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XII — N* 142 — Outubro de 1971

a "revolucáo de jesús"

Em sintese: A "Revolucáo de (ou por) Jesús" apresenta-se como um


reavivamento religioso suscitado por jovens (rapazes e mocas), que outrora
se entregavam ás drogas e á liberdade sexual, mas finalmente descobrlram
Cristo e os valores do Evangelho. Vi vem em pequeños grupos, procurando
auxiliar mutuamente a si e atender aos outros homens; empreendem cruzadas
de evangelizacáo; demovem da prática do mal os que sao viciados; usam
linguagem religiosa até ao atender ao telefone e aclamam Jesús como ca-
mlrtho e salvacáo.

Nao se pode negar quanto há de positivo nesse movlmento: é uní tes-


temunho de que drogas e libertlnagem, como também producSo e consumo
de bens materials, nao satlsfazem plenamente ao homem. Éste traz, con-
genlto em si, o senso místico ou o senso do Transcendental, de Deus. Deve-se,
porém, verificar que a "Revolucio de (por) Jesús" parece movida mais
por emocáo e sentimentalismo afetlvo do que por fé auténtica e raciocinio
apurado. Ademáis os seus membros em grande parte pertenciam a alguma
denominacSo religiosa (protestante ou católica) e déla se desligaram, para
atender a Insplracdes espontaneas e a um entusiasmo sem sólido funda
mento teológico; constituem assim mais um "reviva!" ou reavivamento na
serie daqueles que a historia dos EE.UU. já conheceu — reavivamento,
porém, exótico e subjetivo demais para poder ser duradouro.

Comentario: Últimamente vem chamando a atencáo do pú


blico um movimento religioso norte-americano que a revista
«Time» (21/VT/1971) apresenta como «The Jesús Revolution»
ou a Risvolucáo de (por) Jesús. Dadas as formas singulares e
origináis que ésse despertar místico vem assumindo, pergunta-
-se o que dizer a respeito. Em vista de urna elucidagáo do assun-

— 434 —
«REVOLUCAO DE JESÚS»

to, aposentaremos abaixo o conteúdo da «Revolugáo de (por)


Jesús»; depois do que, teceremos algumas reflexóes sobra o
fenómeno.

No Brasil, esboca-se algo de semelhante ao movimento


norte-americano, embora em proporcóes muito mais modestas.
A noticia é ilustrada pelo «O Pasquim» n« 107, de 22/28 de
julho de 1971. Ver também as caricaturas do «Jornal do Bra
sil» de 25-26/7/71, cad. B, p. 2.

1. «The Jesús Revolution» l

Nos EE. UU. da América, a imprensa publicou recente-


mente a seguinte declaragáo:

PROCURA-SE
JESÚS CRISTO

O Messias, o Filho de Deus, o Rei dos Reís, o Senhor dos


Senhores, o Príncipe da Paz, etc.

Notável chefe de um movimento subterráneo de libertagáo.

Procurado em virtude das seguintes acusacoes :

— Praticar curas, transformar agua em vinho e distribuir


alimentos sem licenca.

— Interferir nos negocios dos mercadores do templo.


— Andar com criminosos conhecidos, radicáis, subversi
vos, prostitutas e gente da rúa.

— Arrogar a si a autoridade de fazer dos homens filhos


de Deus.

Aparéncia: Típico aspecto de hippíe — cabeleira longa,


barba, túnica, sandalias.

— Gira em torno de áreas de favelas, poucos amigos ricos,


freqüentemente retira-se para o deserto.

1 Tentaremos nesta sécelo urna exposlgáo objetiva do que sejam o


novo movimento e as suas expressdes características, reservando um Jufzo
sobre o assunto para o subtitulo seguinte.

— 435 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

Cuidado: Ésse homem é extremamente perigoso. A sua


mensagem, insidiosamente inflamatoria, é de modo especial
perigosa para os jovens, que até agora nao aprenderam a
ignorá-lo. Ele transforma os homens e proclama que os tor
nará livres.

Atencao: Ele ainda está soltó.

Os redatores de tal cartaz ou anuncio de jornal constituem


um movimento de jovens, cada vez mais numerosos, que última
mente tém abandonado as drogas e a conduta debochada para
levar urna vida entusiasmada por Jesús Cristo e pela prática
dobem.

Vejamos algumas das notas características do movimento.

1.1. Mensagem

Os adeptos da nova «Revolugáo» léem a Biblia e afirmam


que ela diz a verdade: os milagres aconteceram, Deus realmente
tanto amou o mundo que lhe deu seu único Filho. A grande
maioria désses jovens diz reconhecer em Jesús nao sómente o
primeiro mártir da causa da paz e da fraternidade, mas (ates-
tam os articulistas) o Deus vivo, que é ao mesmo tempo Salva
dor e Juiz e se tornou o Regente do destino désses jovens. Dizem
ter neoessidade de intenso relacionamento com Jesús e afirmam
que todos os homens deveriam aceitar o mesmo regime de vida.
Em suma, preferem os dez mandamentos da Lei de Deus á
ética da situacáo e á moral libertina; todavía sabem ser benig
nos para com os compan'heiros que recaiam em antigás faltas.

1.2. Linguagem

O linguajar que exprime o entusiasmo désses jovens, é sin


gular, pois recorre a «slogans» como

«Praise God! — Louvado seja Deus!»

«Bless you! — Deus te abencoe!»

«Give me a J, give me an E... — Dá-me um J, dá-me


um E...»

Nao poucos atendem ao telefone com as palavras «Jesús


loves you — Jesús te ama», em vez do costumeiro «Helio».

— 436 —
«REVOLUCAO DE JESÚS»

O sinal característico do movimento é: braco erguido, pu-


nho_ fechado, ficando apenas o dedo indicador a apontar para
o céu. Assim intencionam os jovens dizer que Jesús é a salva-
Ció ou «o único caminho».

Os membros do jióvo movimento se designam mutuamente


como «irmáos» e «irmás».

Sao freqüentes no vocabulario do grupo também as pala-


vras «amor, béngáo, o Senhor, Salvador, o demonio».

Notem-se aínda alguns dos depoimentos de observadores


que acompanham de parto o movimento:

Richard Hoag, com 24 anos de idade, um dos mais ardo


rosos propagandistas das novas idéias, julga que a maioria
dos seus «convertidos» vé em Jesús uma maravilhosa figura de
pai: «Os jovens procuram autoridade, amor, compreensáo —
elementos que faltam em casa. Jesús é o que seus pais nao sao».

O pastor batista John Bisagno acrascenta: «Estou surpréso


por ter encontrado tanta gente que nunca ouviu de seus pais
as palavras: 'Eu te amo* ».

1.3. Evangelismo

Entre as expressóes do movimento está a cruzada de Evan


gelismo, cujo centro principal é a «Campus Crusade for Christ»
(Cruzada universitaria por Cristo), fundada por Bill Bright,
outrora negociante; éste «evangelista» chegou a declarar: «A
nossa data-meta para saturarmos os Estados Unidos com o
Evangelho de Jesús Cristo é 1976; o mundo, nos o atingiremos
em 1980. É claro, se o Senhor desejar trabalhar um pouco mais
devagar, estará OJC.!» Tendo descoberto (após as tristes expe
riencias de drogas e libertinísimo sexual) os valores do amor
fraterno, do desprendimento de si, da esperance, da pureza, da
alegría,... os arautos do movimento pretendem comunicá-los
aos outros homens, como se estivessem cheios do fogo e do
ardor de Pentecostés,: rapazes e mogas, com semblante serio,
interpelam homens de negocios e lojistas no «Hollywood Bou-
levard», perto de Lincoln Memorial, em Dallas, Detroit, Wichi-
ta, testemunhando o Cristo com exortagóes sucessivas. Bares
e «cafés» cristáos se abnsm em numerosas cidades, com nomes
que professam Cristo: «A Palavra-Caminho» em Greenwich
Village (Nova Iorque), «As Catacumbas» em Seattle, «Eu sou»

— 437 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

em Spokane. Urna boate transformou-se em clube noturno cris-


táo em San Antonio. Tém-se multiplicado as «Casas Cristas»
(«Christian houses») como se fóssem páes e peixes, em favor
de jovens famintos de domicilio.

Os exemplares da Biblia pululam tanto na edigáo tradicio


nal e encademada em couro da «King James Versión» (versáo
do reí Jaime), como sob a forma de simples edigóes de bolso;
em qualquer hipótese, o texto bíblico é sempre muito manejado
e, nao raro, memorizado. O cantor Larry Norman, com seus
24 anos de idade, afirmou: «O movimento é como urna geleira;
vai-se expandindo e nao ha como deté-la». Em suma, o conten
tamente e o entusiasmo impulsionam os novos «místicos» aos
mais variados tipos de comunicacáo da sua experiencia e men-
sagem.

Tém aderido ao movimento «estrélas» do canto e da mú


sica, como Johnny Cash e Eric Clapton, Larry Norman, Drum-
mer Steve Hornyak, Scott Rosse, Jeremy Spencer, tornando-se
cantores de «Jesus-rock». A música vem a ser o meio predileto
de comunicacáo do novo «povo de Deus».

Éste também usa a imprensa. Cinqüenta jomáis circulam


nos EE.UU. a servigo do movimento, tendendo o seu número
a cresosr. O principal déles é o «Hollywood Free Paper» com a
tiragem de 400.000 exemplares; outro é o «Right On!», com
suas 65.000 copias, em Berkeley. O custeio dessa imprensa se
deve a doagóes espontáneas.

1.4. Género de vida

O horario de vida comunitaria numa «Casa Crista» podía


chegar a ser severo. Relacóes pré-matrimoniais e drogas sao
profligadas. O levantar ocorre cedo pela manhá; o deitar-se, as
10 ou 11 horas da noite; há reunióes para a leitura ida Biblia
e oragóes. Os moradores dessas casas professam estar felizes:
«O Solíd Bock é amável mansáo», refere Karsten Pragen, cor
respondente ido Time, mansáo na qual vivem doze irmáos e
irmás — seis homens, quatro mulheres, duas criangas, filhas
de máes solteiras. Os homens podem trabalhar na construgio
e na pintura da respectiva casa, mas a principal tarefa ai rea
lizada consiste em dispor a vida de cada qual dos seus mora
dores em tomo ida figura de Cristo. Urna das máes existentes
em Solid Rock atesta os resultados désss esfórgo: «Quando vim

— 438 —
«REVOLUCAO DE JESÚS»

ter pela primeira vez a esta casa, eu nao conhecia Jesús Mas
aconteceu que cresci. Acredito que agora confio néle».

7.5. Ritos

O povo de Jesús tem também seus ritos religiosos, entre


os quais sobressai o batismo por mergulho em agua.

Em Corona-del-Mar (California), o pastor Chuck Smith


realizou um batismo de massa. Ao por do sol, centenas de
convertidos aproximaram-se das frias aguas do Océano Pacífico,
onde esperaram pacientemente a sua vez de receber o rito;
observavanwios centenas de irmáos colocados sobre rochas e
penhascos; a maioría dos candidatos ao batismo era da jovens
vestidos de brim e «pull-over» ou, ocasionalmente, de biquini.
Entáo urna jovem recém-batizada abracou urna mulher da as-
sembléia presente e exclamou: «Máe, eu te amo!» Urna adoles
cente que, em conseqüéncia de drogas, já tropegam na vida,
bradou repentinamente: «Minhas visóes já se foram!» Termi
nado o rito, a multidáo devagar subiu por urna escarpa estreita
entre as rochas cantando comovents oragáo ao Senhor na
penumbra da noite.

Num dos parques de Chicago, o «evangelista» de rúas e


pracas Arthur Blessit em maio de 1971 conseguiu entusiasmar
urna multidáo de aproximadamente 1.000 pessoas mediante
urna calorosa exposieáo do Evangelho. A seguir, realizou com
§les urna passeata, congregando mais gente ainda. Gritavam
os manifestantes para os guardas: «Policía de Chicago, nos te
amamos!» ou «Jesús gosta de voces!» Blessitt também fez pas-
sar urna caixa entre os seus seguidores, pedindo-lhes urna con-
tribuigáo especial: drogas. A caixa voltou cheia de marijuana,
pílulas e LSD, material éste que foi entregue aos guardas.

Em junho de 1971, Blessitt, provando o poder de Jesús,


iniciou urna cruzada de tres meses em «New York City», entre
meretrizes, prostitutas e lojas de pornografía. Nessa campanha
esperava ele recrutar tres mil jovens auxiliares. ,

Na primeira igreja batista de Houston, o pastor Bisagno,


de 37 anos de idade, angariou o «evangelista» Hoag para aliciar
os jovens mediante urna campanha de urna semana. Hoag
entáo pós-se a percorrer as escolas, onde conclamava os alunas.
Em conssqüéncia, 11.000 jovens encaminharam-se para a igreja
da Bisagno, a fim de se declarar por Jesús. Agora os primeiros

— 439 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

bancos da assembléia sao reservados aos mais mogos. Enguanto


o resto da assembléia murmura os seus Améns, os mocos acom-
panham os sermóes de Bisagno com brados de «Bee-yoo-ti-ful!»
(Lindoí).

O ministro anglicano Edward N. West da catedral de S.


Joáo Evangelista, em Manhattan, fez de sua igreja o porto de
rsfúgio dos entusiastas religiosos, que ele mesmo muitas vézes
nao compreende; assim justifica ele a sua atitude: «Nao resta
lugar em que os jovens se possam retirar a nao ser as igrejas...
O jovem entra na igreja e toca em baixo registro. Ele e Deus
tém relacionamento em baixo registro. Nao compreendo isso,
mas é um fato».

1.6! Componentes do movímento

O novo movimento religioso ou a «Revolugáo de Jesús» é


suscitado e sustentado, em grande parte, por crístáos que ou-
trora pertenciam a determinada denominagáo (protestante ou
católica), depois passaram por experiencias de mística oriental
e finalmente voltam ao Evangelho. Voltam, porém, desligados
de qualquer compromisso com alguma comunidade religiosa
tradicional.

Tres sao os principáis contingentes de cristáos que consti-


tuem a «Revolugáo de Jesús»:

a) O «Povo de Jesús», também conhecido como «Cristáos


de Rúa» (Street Cftristians) ou «Tolos de Jesús» (Jesús Freaks).
Sao fortemente atuantes no grande grupo. Muitos déles dizem
ter sua origem em 1967, por ocasiáo da «era das flores» (juven-
tude florida) em San Francisco. Outros, porém, negam ter
ligagáo com os «hippies», enquanto terceiros admitem que o
eomportamento «hippie» tenha influenciado realmente o seu
género de vida anterior.

É difícil estimar quantos milhares de membros integram


o «Povo de Deus». Constituem geralmente comunidades ou
«Christian houses» (casas cristas), das quais se julga existem
seiscentas através dos EE.UU., número éste que vai crescendo
constantemente.

b) O «povo justo (reto)» constituí o contingente mais nu


meroso. É influente no setor protestante. Eram outrora mem
bros de denominagdes protestantes, das quais se separaram,

— 440 —
«REVOLUCAO DE JESÚS» 11

adotando mentalidade eclética ou «ecuménica». Apresentam ca-


beleira bem penteada e trajes em estilo de Sears e Roebuck.
Constituem um grupo de cinco mil pessoas aproximadamente.
c) Os Penteeostais, que podem ser de origem tanto pro
testante como católica. Entre os protestantes, o Pentecostalis-
mo teve inicio em principio do sáculo XX; aspira a receber
dons do Espirito Santo, principalmente o das linguas, e a reali
zar curas mediante o poder da fé.

Eutre os católicos, semelhante onda tewe origem em 1967


de maneira imprevista e dramática. Querem conservar-se fiéis
á Igreja Católica, mas nao se subordinam integralmente á hie-
rarqúia eclesiástica; em seu comportamento público, sao auste
ros, mas em pequeños grupos se tornam «extáticos sob a agáo
do Espirito Santo». O Pentecostalismo católico realiza suas
reunióes ñas casas dos respectivos membros. Ha quem conté
10.000 adeptos desta corrente, como também quem julgue que
poderiam ser 30.000 (visto que se mesclam freqüentemente
aos demais católicos ñas assembléias da Igreja).

No seu conjunto, a «Revolugáo de (por) Jesús» panece con


tar com milhares de adeptos. Tais pessoas se afastam volunta
riamente de qualquer denominagáo religiosa, rejeitando o teor
de vida do Cristianismo já instituido. Em outros casos, os
«convertidos» permanecem (ao menos, por seu porte externo)
na respectiva comunidade protestante ou católica, procurando
transformá-la ou reformá-la por dentro. Em suma, o seu mo-
vimento é extremamente flexível.

Da parte das comunidades cristas tradicionais, a «Revolu


gáo por Jesús» encontra resistencia, principalmente por causa
da convicgáo que muitos dos «neo-convertidos» nutrem e formu-
lam nestes termos: «Nos encontramos a resposta; o resto do
mundo está perdido». Dan Herr, jornalista do periódico quinze-
nal católico «The Critic», chama o Pentecostalismo católico
«Spiritual Chic».

Procuraremos agora formular um juizo sobre o sensacional


Movimento de renascimento cristáo.

2. Qu& dizer?

Procederemos por etapas.

1. Quem observa a «RevoluQáo por Jesús», encontra na


turalmente dificuldade para compreendé-la e perceber o seu

— 441 —
12 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

significado; suas manifestagóes pretendem ser religiosas, po-


dendo as vézes ser assemelhadas és expressóes mais genuinas
da fé religiosa; todavía o estilo dessas manifestacóes é exótico
e singular. Seriam um fruto de carisma ou auténtico dom do
Espirito Sabe-se que o Espirito de Deus age como e onde quer,
provocando as mais corajosas e belas profissoes de fé e amor.
Ou seriam expressóes de emotividade, talvez ainda perturbada
pelo efeito das drogas e do libertinismo anteriores? Viejam-se
as fotografías publicadas pelas revistas «Time» e congéneres.

A resposta mais exata parece exigir urna distingáo:

2. As manifestacóes religiosas da «Jesús Revolution»,


por mais estranhas que parecam a alguns, podem ser conside
radas como expressáo do senso místico ou religioso que, ine-
gávelmente, é congénito a todo homem. A filosofía materialista,
o género de vida debochada e embrutecedora que nossos tempos
oferecem á geracáo jovem, embora a atraiam e lhe despertem
a adesáo momentánea, deixam inquietos os seus adeptos e nao
os saciam auténticamente; evidenciam-se como ideáis e como
fugas falsas. Compreende-se, pois, que, após haver experimen
tado o gozo dos prazeres libertinos, das drogas e da vida sexual
desenfreada, sem rumo, muitos e muitos jovens o rsjeitem,...
o rejeitem até mais decididamente do que aqueles que nao fize-
ram tais experiencias. O senso do misterio e das realidades
transcenderíais aflora néles com mais veeméncia e mais exi
gencias do que em muitos cristáos tradiciorrais.

Na medida em que a Revolugáo por Jesús manifesta a in-


satisfagáo do ser humano que se volta para o hedonismo, é
algo de positivo; os que abandonam a droga e o «ssxismo», nao
apelam para Napoleáo Bonaparte, nem para Voltaire, nem
para Jean-Paul Sartre ou Martín Heidegger, mas para Jesús
Cristo e as palavras do Evangelho. É realmente em Cristo que
se encontram o caminhoe a salvagáo.

3. Todavia serias restrigóes se impóem:

a) D,o ponto dé vista meramente humano, pode-se pergun-


tar se os arautos da «Revolugáo por Jesús» ainda sao psicológica
mente responsáveis e sadios. Talvez parte déles ainda o seja
(ou ao menos... seja recuperável do ponto de vista clínico);
mas talvez grande parte já nao seja mentalmente sadia. Varias
de suas manifestagóes parecem conservar a índole do desvario,
da fuga e do irrealismo que caracterizan! as demonstragóes

— 442 —
«REVOLUCAO DE JESÚS» 13

«hippies»; Jesús e o Evangelho nao seriam, no caso, senáo


novos meios de entreter urna embriaguez ie urna euforia mór
bidas (á semelhanga da euforia das drogas). Alias, o sociólogo
Andrew Greeley observou oportunamente que o Pentecostalis-
mo, embora aparente grande vitalidade, se pode tornar «pura
emotividade ou mesmo urna forma de histeria».

A Revolucáo por Jesús corresponde a um desabafo ou pro


testo, que emana das profundidades do psiquismo de seus adep
tos, sim, mas que carece do mínimo de conteúdo filosóñco e de
orientagáo definida para poder subsistir. É algo de demasiado
amorfo, improvisado e pouco racional, para que se possa crer
satisfaga duradouramente as exigencias do psiquismo e da inte
ligencia do homem sadio.

b) Do ponto de vista própriamente {religioso (cristáo), a


Revolucáo por Jesús parece colocar-se na serie dos «reviváis» ou
reavivamentos da fé que de vez em quando se registram nos
EE.UU. Já em 1740 verificou-se notável despertar cristáo che-
fiado por George Whitefield e Jonathan Edwards; estes prega-
vam o Cristo como Juiz severo, ao qual a criatura amedrontada
se deveria converter de seus pecados. — No inicio do sáculo
XIX e em 1850, deram-se outros reavivamentos sob a ¡diregáo
de Charles G. Finney e Dwight L. Moody, que apresentavam
um Cristo mais atraente, ou seja, um Cristo que ajudaria
aqueles que correspondessem á sua graca. Ainda no comégo do
século XX, ocorreu a «explosáo» pentecostal. Nao é raro entre
os adeptos désses «reviváis» encontrar-se a conviccáo de que a
segunda vinda de Cristo está eminente; o fim do mundo e o
juízo universal com seu cenário terrificants estariam as portas.
Muitos désses profetas baseavam-se e baseiam-se no livro do
Apocalipse (c. 20), onde lhes parece estar descrito um reino
visível milenar (de mil anos) de Cristo sobre a térra, reino
durante o qual nao haverá males e Satanás permanecerá acor-
rentado; a tomada de Jerusalém pelos judeus e a admissáo de
dez nagóes no Mercado Comum sao para os milenaristas sinais
de que o fim está próximo.

Em todos ésses «reviváis» há sempre a consciéncia de que


o mundo nao vai bem; é impossível que a historia continué no
seu atual curso; por conseguinte, Cristo há de intervir para
por termo aos males presentes.

Ora na «Revolucáo por Jesús» podem-se observar notas


paralelas a essas: ela pretende ser um protesto contra a vida

— 443 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

materializada da sociedad© contemporánea, dita «de consumo»,


e um apelo «profético» ao Senhor Jesús e á sua atuacáo no
mundo; redescobre-se assim o Cristo, resultando daí fervor e
entusiasmo religiosos (ao menos, momentáneos).

Acontece, porém, que a «Revolugáo por Jesús» é muito


menos consistente do que os reavivamentos anteriores. Seus
adeptos nao tém sistema de pensamento definido: mal sabem o
que nao querem (depravacáo e odio), e nao sabem definir o
que querem própriamente. O sentimentalismo, a emogáo, o
afeto os movem, sem estar devidamente iluminados pela inte
ligencia e pela fé. O recurso ao Evangelho e a Cristo aparece
assim superficial, nao podendo ser tido como expressáo de fé no
sentido estrito da palavra; manifesta, sim, (e táo sómente) o
senso religioso inato e persistente em todo homem, apesar das
ondas de ateísmo e hedonismo crescentes.

O pastor George Peters, da Igreja Presbiteriana Unida,


disse a respeito do «Povo de Deus»: «Vejo ai perigos: o litera-
lismo bíblico. Para provar um ponto de doutrina, os conver
tidos títam versos bíblicos sem os compreender. Eu pensava
que já tivéssemos superado essa praxe».

Em suma, a «Revolugáo por Jesús» nao pretende ser urna


volta ao Catolicismo ou ao Protestantismo; fica, sim, á parte
de um e outro, sem teología definida ou com proposigóes teoló
gicas contraditórias, impulsionada apenas por inspiragóes sub
jetivas e extremamente flexiveis.

c) Na verdade, deve-se dizer que a plena adesáo a Cristo


implica também adesáo á Igreja que Cristo institxüu e confiou
aos Apostólos e seus sucessores (cujo chefe visível é Pedro).
A Igreja nao é simplesmente um agrupamento onde se lé o
Evangelho e se prega o amor, mas é o Corpo de Cristo pro
longado; é Cristo vivo exercendo a sua obra de santificagáo
mediante os homens, seus instrumentas; é na Igreja que se
encontra Cristo, nao apenas Cristo-Palavra ou Cristo-Msstre,
mas Cristo-Vida, Cristo-Videira, Cristo-Cabega, Cristo que nos
enxerta em si a fim de nos fazer viver da sua vida.

Concluindo, podemos dizer que é altamente louvável o fato


de que os jovens nedescubram Cristo hoje em dia, propondo a
si mesmos mudar de vida e viver de amor abnegado e puro.
Reconhega-se tudo quanto de válido há nesse acantecimento.
Todavía é preciso evitar ilusóes a respeito: a «Revolugáo por

— 444 —
«REVOLUCAO POR JESÚS» 15

Jesús» parece mais movida por sentimentos e afetos (quicá um


tanto «ebrios») do que propriamente por idéias claras e pela
luz da inteligencia. Como quer que seja, é para desejar que a
sociedade contemporánea compreenda o eventual significado
positivo do «Turn on to Jesús» e se estimule a urna auténtica
conversáo do materialismo e do hedonismo para Cristo reco-
nhecido como Palavra e como Vida.

«O entusiasmo pode nao ser a única virtude (Deus o sabe),


mas a apatía em absoluto nao é virtude» (conclusáo do artigo
de «Time» n« citado, 21/6/71, p. 37, artigo donde foram tirados
os dados de base desta noticia).

«NAO É VERDADE
QUE O HOMEM NAO POSSA ORGANIZAR
A TÉRRA SEM DEUS.

O QUE É VERDADE, É QUE,

SEM DEUS, ELE SO A PODE


ORGANIZAR CONTRA O HOMEM»

(Paulo VI)

~ 445 —
"a igreja de cristo:
sua pessoa e seu pessoal"
mais um llvro de Jacques maritain

Em síntese: O último llvro de Jacques Maritain atende ao Interésse para


com a Igreja que nos últimos tero movido o público católico e nao-católico.
Levando em conta a índole dlvino-humana da Igreja, o autor distingue entre
a pessoa (realidade Intima e divina) da Igreja e o pessoal (ministros) da
mesma. Enquanto aqueta é indefectlvel e, por Isto, garante aos fiéis a lie!
conservagáo da mensagem de Cristo, os ministros da Igreja sao su jeitos
a fainas humanas. Estas fainas, porém, nao se registram quando agem
como Instrumentos de Cristo (no exercfclo do magisterio ordinario e extra
ordinario da Igreja)-ou quando administrara os sacramentos. Podem, porém,
ocorrer falhas na vida pessoal dos ministros ou quando no exercfcio de
suas funcSes pastorais resistem á acáo do Espirito Santo. A Igreja nao
peca quando seus ministros pecam; ela denuncia os erros dos mesmos e
Ihes fornece o devldo remedio, procedente da santldade e da vitalldade
mesmas da Igreja.

Muito dignas de nota sao as reflexoes que Maritain tece a respelto dos
episodios de historia em que se manlfestou a fragllldade do pessoal da
Igreja: Cruzadas e Inquislcfio... Com respelto, mas com grande franqueza
e clareza, o velho filósofo anallsa tais aconteclmentos.

Merecem também atencáo especial as consideracSes sobre as comu


nidades humanas (religiosas ou nSo) com as quais a Igreja pode ou deve
entrar em comunlcacáo neste mundo. Sem polémica e sem relativismo, o
autor procede a um exame dos pontos comuns e das dlferencas com as
quals se defronta o sadlo ecumenísmo.

Comentario': O conhecido filósofo francés Jacques Maritain


da ao público mais urna obra sua com o título: «D» l'Église du
Christ. La personne de l'Église et son personnel» (Desclée de
Brouwer, 125x195 mm, 425 pp). Embora reconhega nao ser
teólogo própriamente dito, Maritain julga poder dissertar sobre

— 446 —
IGREJA NA V1SA0 DE MARITAIN 17

a Igreja de maneira útil aos leitores. O estilo do livro é esco


lástico nos seus capítulos sistemáticos; apresenta, porém, longas
exposicóes referentes a textos bíbUcos e quadros de historia
da Igreja. Assim Maritain fomece ao leitor ampio e valioso
material para reflexáo, justamente nos tempos atuais, em que
a Igreja é objeto de comentarios nem sempre justos e equili
brados. O que impressiona, na leitura do livro de Maritata, é
a clareza do pensamento, que procede recorrendo a oportunas
distincóes e ajudando a compreender o misterio e as manifes-
tacóes da Igreja através dos sáculos.

Abaixo proporemos as grandes linhas do livro de Maritain,


acrescentando-lhe alguns comentarios.

1. «A Igreja tfe Cristo»

A tese do autor é enunciada pelo subtítulo do livro: é pre


ciso distinguir a pessca (realidade intima e divina) e o pessoal
(os ministros) da Igreja. Enquanto aquela é sem mancha nem
ruga, dotada de infalibilidade, éste (ou os ministros) está su-
jeito as fainas humanas. Todavía as falhas dos ministros nao
recaem sobre a pessoa ou o Bu, a realidade profundidade, da
Igreja.

Procuraremos desenvolver os principáis enunciados desta


tese:

1.1. A pessoa da Igreja

Recorriendo a textos bíblicos, Maritain lembra que Sao


Paulo designa a Igreja como Corpo e Esposa de Cristo (cf. 1
Cor 12; Ef 5, 25-27). Com isto o Apostólo quer dizer que a
Igreja é urna pessoa, nao em sentido análogo, nao «pessoa mo
ral» ou «coletiva» (como as sociedades que sao' a soma de seus
membros), mas em sentido próprio no plano sobrenatural. Com
efeito, a Igreja é mais do que o conjunto dos homens que a
compóem; Ela subsiste nestes, sim; Ela deixaria de existir, se
todos os cristáos perecessem. Mas, como conjunto uno e uni
versal, a Igreja possui urna personaJidade (é um sujeito, um
Eu) no sentido próprio e ontológico da palavra.

A pessoa da Igreja possui urna alma — a graca de Cristo


— e urna vida — a caridade. Essa alma e essa vida sao partici-

— 447 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

pagáo da vida do próprio Deus. Além disto, a Igreja possui


também um corpo, que é a vasta realidade visível da Igreja ou
a multidáo de homens e instituigóes que se estendem atravéá
dos séculos desde o tempo dos Apostólos.

Ora a alma e a vida da Igreja jamáis podem separar-se de


seu corpo, isto é, do conjunto visivel da Igreja. Isto quer dizer
que a Igreja una e universal nao pode pecar ou perder a sua
santidade. Qualquer membro da Igreja pode, sim, pecar, per-
dendo a grasa de Deus: a Igreja una e universal, porém, será
até o fim dos tempos (e por toda a eternidade) a Esposa sem
mancha nem ruga.

É a pessoa da Igreja que propóe aos fiéis as verdades da


fé, usufruindo, para tanto, da constante assisténcia do Espirito
Santo.

1.2. A Igrefa penitente

Verifica-se, porém, que em numerosos textos da sua Li


turgia a Igreja pede perdáo e purificacáo de seus pecados.
— Como entender tais textos ?

A Igreja, como toda sociedade, consta de membros, que


sao pecadores. Isto faz que Ela nao seja estranha ao pecado;
Ela tem o pecado em seus membros. Isto, porém, nao quer
dizer que a Igreja seja, ao mesmo tempo, santa e pecadora.
A pessoa da Igreja, por transcender a personalidade de seus
membros, nao é afetada pelos pecados déstes. — Todavía a
Igreja faz penitencia por ésses pecados; Ela se acusa e pede
perdáo dos mesmos como se fóssem os seus pecados. Assim
como Cristo inocente carregou os pecados de todos os homens
para os expiar,* assim a Igreja, sem mancha nem ruga, faz as
vézes de penitente por pecados que Ela mesma nao cometeu.
Ela é santa, mas quer entnagar-se a continua purificacáo em
seus membros e por seus membros, como se Aquela que é santa
tivesse necessidade de se purificar. Deve-se contudo observar
o seguinte: a Igreja, que se acusa de seus pecados, encontra em
sua própria santidade o antídoto para remediar ao pecado de
seus filhos e restituir-lhes a saúde espiritual; os membros da
Igreja só pecam na medida em que se afastam da vitaJidade
sobrenatural dessa mésma Igreja.

— 448 —
IGREJA NA VISAO DE MARTTAIN 19

1.3. O pessoal da Igreja

1. Maritain designa como «pessoal da Igneja» os homens


que, por pertencerem ao clero diocesano ou regular, sao servi
dores qualificados da Igreja; vém ao caso principalmente aque
les que, além de ter o caráter sacerdotal, exercem algum cargo
de autoridade em meio ao povo de Deus.

Ésses homens receberam de Deus urna tarefa inconfundivel;


mas nem. por feto deixam cte ser, como es dmate homm, Sft»
jeitos a cair no erro e no pecado. Os que exercem autoridade,
podem enganar-se em suas decisóes ou em seus ensinamentos
(a menos que o magisterio ordinario ou extraordinario da Igre
ja esteja em causa, pois em tais circunstancias sao preservados
de errar no tocante a fé e á moral).

2. Pergunta-se agora: Como explicar que, mediante pes-


soas expostas ao erro, possamos receber, da parte de Deus e
da Igreja, as verdades e os preceitos revelados pelo Senhor,
sem que tenhamos de recear deturpagáo ou abuso?

— A resposta apela para a distingáo entre causalidade


próptria ou pírincipal e causalidade instrumental.

A causa própria ou principal é aquela que, sob a mocáo


geral de Deus, conserva o pleno dominio de seus atos. Já que
Deus respeita a liberdade das criaturas inteligentes, a causa
própria ou principal pode resistir as inspiracóes que Deus lhe
dá para o bem, e incidir em atos maus ou desordenados.

A causa instrumenta] é aquela que, sem ser privada de


sua atividade própria, recebe de urna causa superior ou princi
pal a faculdade de agir num plano superior ou mais elevado.
Ela oferece a ésse agente principal a sua disponibilidade ou a
sua aptídáo a receber a mogáo superior.

Pois bem. Deve-se dizer que os ministros e pastores da


Igreja agem ora como causa própria, ora como causa instru
mental .

Quando agem como causa própria, podem falhar. E o que


acontece por vézes na vida particular de cada um (de um Papa,
de um bispo, de um presbítero, por exemplo), quando resiste
a acáo do Espirito Santo que os inclina á fídelidade e á retídáo
(o Papa Alexandre VI, 1492-1503, teve conduta de vida repro-
vável).

— 449 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

Quando agem como instrumentos da pessoa (santa e ima


culada) da Igreja, recebem eficazmente a acáo do Espirito
Santo, que mediante éles produz efeitos infaüvelmente santos
e salutares. O ministro de Deus entáo fala e age sem perder a
sua consciéncia lúcida e a sua liberdade; mas é o Espirito Santo
que fala e age por ele. Isto se dá, por exemplo,

— sempre que Papa ou o conjunto dos bispos define urna


proposicáo que se imponha a fé ou á moral da Igreja inteira;

— sempre que o conjunto dos bispos esparsos pelo globo,


em unanimidade moral, e unidos a Pedro, propóe alguma ver-
dade de fé ou de moral, num regime tranquilo e ordinario;

— sempre que as ministros da Igreja administram um sa


cramento (Batismo, Penitencia, Eucaristía...). Nao é a santi-
dade dos ministros que se comunica entáo com os fiéis, mas
é a santidade de Cristo que se transmite pelo homem, indepen-
dentemente das virtudes ou idas falhas déste. Assim, quando
um sacerdote dá a absolvicáo sacramental a um penitente, é a
pessoa da Igreja (Corpo de Cristo prolongado) que lhe dá a
absolvicáo mediante a instrumentalidade ou a causalidade ins
trumental désse ministro.

Quanto aos atos pelos quais os ministros da Igreja gover-


nam e ensinam o povo de Deus, sao, por vézes, do dominio da
causalidade própria déssss ministros (estáo sujeitos ao erro).
Mas é certo que o Espirito Santo, mesmo em tais circunstancias,
se serve, multas vézes, désses homens como de instrumentos
para que exergam santo pastoreio e lúckro magisterio junto
aos fiéis. A historia da Igreja está marcada por numerosas
figuras de bispos, presbíteros, doutdres e pastores de almas
cuja acáo parece realmente ter sido inspirada pelo Espirito San
to. O conjunto dessa historia, que já se dessnrola há vinte
séculos, caminha certeiramente, sob a regencia do Espirito, para
a plenitude da Verdade e do Amor na Santa Cidade de Deus.

Aos fiéis que desejam reconhecer qual o teor auténtico da


Palavra de Deus e das proposigóes da fé, compete auscultar o
ensinamento comum da Igreja. Este é sempre garantido pela
assisténcia do Espirito, mesmo quando (o que há de ser exce-
cáo) tal ou tal ministro ou teólogo se desvie da reta fé e do
sadto magisterio.

3. A propósito das encíclicas papáis (ponto especialmente


delicado, como demonstrou a publicacáo da encíclica sobre o
controle da natalidade), Maritain afirma:

— 450 —
IGREJA NA VISAO DE MARITAIN 21

"Nao sao documentos infalfveis; nao obstante, possuem


autoridade tal que merecem a adesSo de nossa inteligencia...
NSo basta dizer que as encíclicas nSo sSo documentos infalf
veis. é preciso acrescentar que sempre elas nos trazem algo
de inerrante ou contém doutrina infallvelmente verdadelra...
Causalidade própria e causalidade instrumental se mesclam
na sua redagSo... Direi que, quando o Papa redige urna
encíclica, ele exp5e, explica e desenvolve do seu modo um
tema tongamente meditado, a respeito do qual urna luz do
alto o iluminou divinamente" (p. 248).

A posigáo de Maritata é sabia. Pode-se acrescentar o se-


guinte: é necessário deduzir do teor mesmo de cada encíclica
papal o grau de autoridade que o Sumo Pontífice quer conferir
a seus pronunciamentos. Em alguns casos, o Papa pode ten*
donar encerrar urna controversia; noutros, pederá propor con-
sideracóes que promoveráo a reflexáo dos teólogos:

"Religiosa submissáo da vontade e da Inteligencia deve,


de modo particular, ser prestada ao auténtico magisterio do
Romano Pontífice, mesmo quando nao fala ex cathedra...
Suas sentencas sejam sinceramente acolhidas, sempre de
acordó com sua mente e vontade. Esta mente e vontade cons-
tam principalmente ou da índole dos documentos ou da fre-
qüente proposicáo de urna mesma doutrina ou de sua maneira
de falar" (Concilio do Vaticano II, Const. "Lumen Gentium"
n? 25).

1.4. E a historia da Igrefa ?

1. Após a exposicáo de tais principios, Maritata se volta


para determinados episodios da historia, em que se faz mister
distinguir com esmerada precisáo entre pessba e pessoal da
Igreja: as Cruzadas, a sorte dos judeus após Cristo, a Inquisi-
cáo (em particular, os casos de Galileu e Joana d'Arc).

Nesses diversos acontecimentos (em que a sanüdade da


Igreja parece estar em jdgo), o autor do livro atribuí as falhas
que hajam ocorrido, nao & Igreja como tal, mas, sim, ao pessoal
da Igreja: os ministros da Igreja agiram entáo como cansas
próprias, e nao como instrumentos da pessoa de Cristo. Todavía
nao seria justo dizer que os responsáveis por facanhas que hoje
nos causam perplexidade ou escándalo, hajam sempre proce
dido de má fé ou cedendo a ánimo perverso; multas e muitos
détes eram movidos por zélo e amor; viviam, porém, em «regi-

— 451 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

me de Cristandade»; em tal regime, todos os homens e todas


as instituicóes eram cristáos, de sorte que quem divergisse das
concepgóes da época so podia parecer perverso, bruxo, inimigo
do bem comum...

2. De modo especial, referindo-se & Inquisigáo, observa


Maritain:

"Deveríamos dizer que... os juízes da Inquisicáo..-. eram


moralmente culpados e pecavam diante de Deus? Abstenha-
mo-nos de cometer tal tolíce. Houve santos entre os inquisi
dores. E mesmo os que nao eram santos, supor que foram
todos hipócritas e ferozes, serla .cair em falta análoga á déles.

O que importa levar em consideragio, é a total e Inven-


cível simplicidade (naíveté) dos homens da Idade Media (sim-
plicidade que transparece ainda em homens do século XVII,
quando nao hesitavam dizer que estariam no inferno todos os
náo-católicos)" (p. 314s).

Maritain acrescenta também o fato de que os medievais


ignoravam por completo os fatóres psicológicos ou os elementos
subjetivos que condicionan! o comportamento humano: «assim,
por exemplo, impunham aos judeus ou aos musulmanos que
habitavam em térras cristas, a obrigagáo de ouvir regular
mente sermoes sobre as verdades cristas, sem perceber que tal
procedimento era próprio a enfurecé-los contra essas verdades.
Os judeus e mugulmanos estavam no fimo: a Palavra da ver-
dade devia libertá-los» (p. 315).

3. O autor pergunta finalmente por que Deus permitiu


a Inquisicáo (que veio a afetar tanto a face humana da Igreja).
Responde que, provávelmentie, o Senhor quería assim que, em
determinada fase da historia, entrasse até o fundo da nossa
carne e do nosso ser a consciéhda da transcendencia absoluta
de Den" o senso da fé sobrenatural que nao tolera poluigáo ou
esface....nento por parte dos homens; a fé propóe verdades que
nos devem queimar até os ossos. Até o fim dos tempos a Igreja
deverá guardar intato ésse depósito sagrado: «Lamentamos os
fracos de espirito que hoje desejariam dissipá-lo aos quatro
ventos» (p. 139).

Está, claro que nos tempos presantes as autoridades da


Igreja jamáis pensariam em renovar os processos inquisitoriais.
A defesa da fé ficará sendo sempre um dos deveres supremos

— 452 —
IGREJA NA VISAO DE MARITAIN 23

da Igreja; vé-se, porém, que esta tarefa nos tempos atuais há


de ser desempenhada, por excelencia, pela comunicagáo direta
da verdade de Cristo a todos os homens e pelo cultivo do amor
a Cristo e aos irmáos. Urna profunda e consciente vivencia da
fé e da caridade cristas, acompanhando a proclamagáo do
Evangelho a toda a humanidade, eis o grande programa que
a Igreja recente propóe aos seus fiéis.

"A grande renovacáo exigida pelo Concilio é, antes do


mais e de modo absolutamente necessário, urna renovacáo
interior, na fé viva. Caso venha a faltar, nada haverá que es
perar. Eis o terrfvel sinal que o Concilio escreveu sobre a
parede.

é pela alma, na qual Deus habita secretamente, que de-


vemos comegar; e, para tanto, é necessário em primeiro lugar
crer na alma, é a plenitude do amor sobrenatural que devemos
aspirar; e, para tanto, é preciso, antes do mais, crer na ordem
sobrenatural e na graca. É á verdade oculta no Deus trans
cendente e revelada por Cristo á sua Igreja que é preciso
aderir de todo o coracáo ; e, para tanto, é necessário, antes
do mais, crer na transcendencia de Deus e na Igreja de Cristo.
é á oragáo e á vida de oragáo que é preciso, ácima de tudo,
nos entreguemos; e, para tanto, faz-se mister crer realmente
na oragáo. É a cruz de Jesús que temos de abragar; e, para
tanto, é preciso crer realmente na encarnagáo do Verbo incriado
e na redengáo pela cruz" (p. 335s).

Estas palavras merecem o pleno apoio (de todo o cristáo,


visto o espirito auténticamente evangélico que as inspira.

Ainda pede atengáo a seguinte secgáo do livro de Maritain:

1.5. Igreja Católica e comunidades religiosas náo-calólicas

1. Em seu estudo, o autor nao podía deixar de se inte-


ressar também pelo famoso axioma: «Fora da Igreja nao há
salvagáb».

Maritain acentúa que a verdadeira Igreja de Cristo é urna


sociedade visivel, estruturada e bem distinta de outras. Cristo
instituiu-a para, mediante ela, comunicar a todos os homens a
salvagáo que Ele adquiriu pela Cruz e a Ressurreigáo. É nessa
Igreja visivel, e sómente nela, que se prolonga a Redengáo de

— 453 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

Cristo; nao há graga que nao venha de Cristo Salvador e, por


conseguinte, da Igreja de Cristo. «Ser salvo» é «estar em Cris
to, ser assumido por Cristo». Ora a Igreja é a plenitude de
Cristo, Corpo e Esposa de Cristo. Por conseguinte, ninguém
pode estar em via de salvagáo se nao pertence de algum modo
ao Corpo de Cristo.

Afirmada esta proposigáo, nota-se que há dois modos de


pertencer a única Igreja de Cristo:

— o modo visível, próprio de quem professa a fé católica


integral, recebe devidamente os sacramentos e obedece á hie-
rarquia chefiada por Pedro e seus sucessores. Tal é o modo
dos fiéis católicos; pertencem visivelmente á Igreja visível de
Cristo;

o modo invisíveL É o que se realiza em pessoas sinceras


que vivam generosamente ou segundo os ditames de sua cons-
ciéncia (táo bem formada quanto possftrel)
em urna confissáo crista náo-católica,

em urna familia espiritual náo-cristá,

até mesmo no ateismo.

Maritain discorre sobre os «elementos da Igreja» que exis-


tem ñas denominacóes cristas náo-católicas: a leitura assidua
da Biblia, o senso do pecado, da penitencia, a piedade, o temor
de Deus, a capaddade de sofrer por amor a Cristo...
Observa também que fora da Igreja Católica há familias reli
giosas que contém elementos comuns a cristáos e náo-cristáos:
«O puro mal nao pode existir. Nao é verdade que a Igreja
nao é estranha ao que quer que seja bom no género humano?»
(p. 191). Mais ainda: Maritata verifica que todo homem, desde
que nao estoja desumanizado pelos praaares ou pela ganancia
dos negocios e das posses, tem preocupaeóes de índole meta
física e religiosa. Caso lhes dé a resposta que sinceramente julga
dever dar e procure sustentá-la com lealdade, tal homem está
aderindo a Deus e a Jesús Cristo sem o saber; possui a graga
de Cristo.

Quem, pois, s=3 acha fora da Igreja, mas adere incondicio-


nalmente á luz filosófico-religiosa que Deus lhe permite obter
em seus esforgos sinceros, está em caminho da salvagáo e per
tence invisivelmente á Igreja Católica.

— 454 —
IGREJA NA VISAO DE MARITAIN 25

2. Em suma, diz Maritain, o elemento de Igreja mais


fundamental, esparso em todo o género humano, é a própria
natnreza humana. Esta aspira a corfhecer a Causa Primeira
(Dsus) e a chegar á plena expansáo de si (o que se dá em Deus);
ferida pelo pecado, ela aspira a salvar-se. Assim todo homem
está em condicóes de participar da obra saivifica da Igreja; a
Igreja está néle virtualmente (potencialmente) presente, e ele
é misteriosamente filho da Igreja.

Estas afirmacóes nao sao exclusivas de Maritain; corres-


pondem ao pensamento da teología que o Concilio do Vaticano
II nao criou nem invocou, mas explidtou claramente. O «velho
filósofo», ao propd-las, procura guardar a linha segura do
equilibrio; enquanto reconhece quanto possa haver de positivo
fora do Catolicismo, rejeita todo relativismo, todo irenismo
(pacificismo indiferentista) que seja traicáo á verdade revelada
por Cristo e plenamente conservada na Igreja Católica.

3. Sao realmente interessantes e oportunas as reflex5es


que Maritain apresenta sobre as comunidades cristas náo-cató-
licas, sobre o judaismo, o islamismo, o bramanismo, o budismo,
. o marxismo, os «hippies» (pp. 193-211). Procura distinguir em
cada um désses grupos humanos os elementos positivos que
poderiam ser «cabecas de ponte» ou apelos para o Cristo e a
Igreja.

De modo especial, realga o fato de que no marxismo se


encontram novas formas de obediencia e devotamente religio
sos, ... de urna «reügiáo», porém, inteiramente voltada para a
térra e atéia. Entre a familia espiritual atéia (do marxismo)
c a Igreja há pontos comuns: a reivindicacáo de justas condi-
góes de trabalho, a condenagáo da ganancia e de discriminagóes
que aviltem a pessoa humana... — Maritain nao ousa designar
ésres pontos como «elementos de Igreja», mas, sim, como «ves
tigios de Igreja», vestigios que dentro da máquina dos Partidos
Comunistas vém a ser caricaturados.

Entre os «hippies», o autor francés aponta nao sómente


desvíos aberrantes, mas também valores humanos que aJguns
«hippies» parecem apresentar (talvez sem ter plena conscién-
cia disso): certa procura do místico, do transcendental, do ser-
vigo aos irmáos... «Aspiram ñas trevas da noite a valores que
a Igreja acaricia na luz» (p. 209). Tais expressóes de «hippies»
nao sao «elementos de Igreja», mas «farrapos de Igreja», con
forme Maritain.

— 455 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

2. ReflexSo f'mcA

Ao terminar seu livro, Maritain julga que éste desagradará


a todos os leitores, tanto «da direita» como «da esquerda» (o
que, de resto, nao desagrada ao próprio autor). A uns, sim,
parecerá criticável por haver atribuido importancia táo rele
vante á pessoa da Igreja sem mancha nem ruga; a outros, por
haver falado com grande liberdade e franqueza do pessoal da
Igreja.

Maritain podia ter razáo ao prever a sorte de seu último


livro: tal sorte seria sinal do equilibrio que de fato marca as
reflexoes do autor. Pe vez em quando lé-se ai urna alusáo
irónica aos «nossos novos doutóres que desejariam entregar o
Cristianismo as máos dos sociólogos, dos psicanalistas, dos es-
truturalistas, dos marcusianos, dos fenomenologistas, dos pio-
neiros da tecnocracia» (p. 414). Todavía «o velho filósofo» sabe
ser suficientemente aberto e dinámico para se distanciar de
formas e expressóes do Cristianismo que estejam ultrapassadas.
Pode-se dizer que o autor, neste seu último livro, é muito mais
sereno do que na obra anterior «Le paysan de la Garonne (O
camponés do rio Garona)», em que se percebiam pessimismo
e ceKka amargura; no estudo sobre a Igreja Maritain evita toda
estreiteza de espirito, toda polémica amargurada, apontando
tranquilamente os pontos positivos como positivos e os negati
vos como negativos.

A lucidez minuciosa e precisa do raciocinio de Maritain


deleita o seu público. Éste há de apreciar o espirito de fé e de
reverencia profundas com que o autor se refere a Igreja e as
suas instituigóes; quando lhe é necessário abordar falhas do
«pessoal» da Igreja, fá-lo com objetividade e sobriedade, sem
ultrapasar os limites da justica e da necessidade. Infelizmente,
porém, o vocabulario escolástico e o estilo um tanto prolixo do
autor nao sao familiares a qualquer leitor. Como quer que seja,
as pessoas de cultura e de amor á verdade passaráo agradáveis
horas na leitura déste grande monumento teológico-histórico,
que por certo lhes avivará o amor á «Esposa de Cristo sem
mancha nem ruga». 35 éste amor que deve ser incentivado entre
os fiéis católicos, para que possam dar lúcido testemunho de
Cristianismo ao mundo de hoje.

Em conclusa», apraz-nos transcrever aqui as reflexoes do


Cardeal Joseph Hoffner, Arcebispo de Colonia (Alemanha),
sobre a Igreja:

— 456 —
IGREJA NA VISAO DE MARITAIN 27

"Cristo deu á sua Igreja urna promessa maior do que a;


promessa dada a cada um de nos. Por isto é que pertencer
á Igreja constituí urna auténtica graca...

Amemos a Igreja na sua situacao concreta atual, nao urna


Igreja imaginaria, construida ñas nuvens. O fiel ama a Igreja
apesar das suas fraquezas e das suas dobras, ainda que o
amor désse fiel seja por vézes um amor que sofre pela Igreja.
O apostólo Paulo sofreu, ele tambérn, pela Igreja de Corinto:
por causa da arrogancia dos fiéis, por causa das amargas
controversias ocorrentes na celebracao da Eucaristía, por causa
da tolerancia com que suportavam a impureza, por causa das
suas dúvidas sobre a ressurreicao. Nao obstante, o Apostólo
amava a Igreja de Corinto.

Em vez de afirmar: A Igreja deveria..., havemos de dizer:


Eu deveria...
Paulo VI exerce as funcdes de Papa, isto é, de Pai, na
Igreja... em sentido espiritual... como quem suscita, protege,
éntretem a vida de Cristo nos coracñes dos fiéis. Ajudemo-lo
por nosso amor e nossa fidelidade... O Santo Padre conhece
as fraquezas e os tormentos da Igreja, como ele conhece as
suas próprias fraquezas e é triturado por suas próprias an
gustias.

Ele se consola e nos consola pela palavra da Escritura:


a 'loucura de Deus' é mais sabia do que a inteligencia dos
homens, e a 'fraqueza de Deus' é mais forte do que toda a
fórca dos homens" ("L'Osservatore Romano", ed. francesa,
6/8/1971, p. 2).

— 457 —
"comunháo e progresso"
os meios de comunicado em foco

Em siniese: A Inslrucáo Pastoral "Communio et Progresso", datada


de 23/V/71, prop&e nio somonte aos fiéis católicos, mas tambónt a todos
os homens de boa vontade, algumas reflexSes sobre a Importancia dos
meios de comunicacfio social '(imprensa escrita, falada, televisionada, cinema,
teatro) e a necessldade de os utilizar para o malor bem da humanldade.
De modo especial, lembra a oportunldade de se educarem os profisslonais
e os usuarios de tais meios para que poa9am beneficlar-se dos meamos.
Faz serlas advertencias sobre o perigo de que a imprensa em suas diversas
modalidades venha a ser monopolio de empresas e poderes financelroa ou
Ideológicos — o que subordinarla a formac&o cultural e moral do público
á pressao do dlnheiro e da política. Exorla também os católicos a que
recorram aos meios de comunicacSo para difundir a mensagem do Evange-
Iho, cuidando, porém, de preparar devidamente o pessoal e a materia dos
programas religiosos.

Em suma, a Instrugáo é minuciosa e realista, dando mostras de visSo


ampia e comprcenslva dos problemas que as comunlcacSes em nossos dias
suscltam ao género humano. Prevalece, porém, urna perspectiva confiante
e otlmlsla sobre o futuro da humanidade (tenha-se em vista o inciso final
do documento).

Comentario: Aos 23 de maio de 1971 foi promulgada, com


a aprovacáo do S. Padre Paulo VI, a Instrucáo Pastoral ini
ciada pelas palavras. «Communio et Progressio» (Comunháo e
Progresso) ; deve-ss ta Comfssáo Pontificia encarregada dos
meios de comunicacáo social. Tem por fim propor reflexóes
sobre o vaior e o uso da imprensa escrita, do radio, da televi-
sao, do cinema e do teatro. O documento é assaz extenso, pois
consta de 187 parágrafos. Seu teor é claro e corajoso, mere-
cendo atencao da parte de todos os homens que hoje em dia

— 458 —
MEIOS DE COMUNICAQAO SOCIAL 29

se interossam pela cultura. Eis por que abaixo nos voltaremos


a consideragáo das suas linhas principáis.

1. Precedentes

O Concilio do Vaticano II publicou em dezembro de 1963


um Decreto sumario («ínter Mirifica») sobre os meios de co
municacáo social; preconizava entáo a elaboragáo de mais ex
plícito documento sobre o mesmo assunto (cf. «ínter Mirifica»
n? 23).

Em 1964 foi constituida a Comissáo Pontificia respectiva,


que recrutou seus membros e consultores em todos os conti
nentes .

De 1966 a 1970 essa Comissáo elaborou e corrigiu quatro


projetos da Instrucáo Pastoral solicitada pelo Concilio do Va
ticano II. O texto definitivo foi enviado a todos os bispos do
mundo, a todos os Superiores Gerais de Ordens Religiosas e as
Congregacóes Romanas, para que dessem seu parecer. Final
mente, feitos os devidos retoques, o texto foi submetido ao S.
Padre Paulo VI, que o aprovou e mandou publicar.

O tom geral do Decreto do Concilio era extremamente so


brio: reconhecia a fórca de penetracáo •dos instrumentos mo
dernos de comunicacáo. Ao contrario, a Instrucáo Pastoral
cCommunio et Progressio» os considera diretamente como «dons
de Deus destinados, segundo os designios da Providencia, a
criar lagos de solidariedade entre os homens e servir á vontade
salvífica do Senhor» (cf. n» 2). Logo em suas primeiras linhas
o documento propóe essa nova maneira de ver: «A comunháo
e o progresso da sodedade humana constituem o fim primor
dial da comunicacáo social e de seus instrumentas». Estes sao
conseqüentemente valorizados de maneira muito positiva e
otimista.

O t:tulo «Instrugáo Pastoral» póe em miévo a índole didá-


tica e exortativa do documento. Embora éste também tenha
seus aspectos jurídicos, ele se apresenta principalmente como
reflexáo e auxilio para um trabalho proficuo e nobilitante no
setor das comunicagóes; assim ele pode pretender dirigir-se nao
somente aos fiéis católicos, mas também a «todos os homens»
(cf. n* 186): «Esta Instrucáo Pastoral foi elaborada com a
consciéncia da urgencia de necessidade... de entrar em con-

— 459 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

tacto e diálogo com os profissionais do mundo da comunicagáo


social... e exortar todos os homens a usar estes meios para
o progresso humano e a gloria de Dsus» (tí> 186).

Passemos agora ao teor da Instrugáo.

2. «Communio et Progressio»

O documento consta de um proemio, tres partes e urna


conclusáo.

2.1. Perspectiva teológica

A primeira parte (n' 6-18) apresenta como que a visáo


teológica das comunicagóes sociais: Deus se quis comunicar aos
homens mediante Jesús Cristo. «Continuando a obra iniciada
por Cristo, os homens se comunicam entre si de modo a fomen
tar a fraternidade humana sob a paternidade de Deus» (n* 13).
O n* 16 declara que o criterio para se julgarem os efeitos obtidos
pslos meios de comunicagáo é a sua contribuicáo para o bem
comum: «As noticias transmitidas deveráo constar nao tanto
de acontecimentos brutos e como que tirados do contexto, mas
de acontecimentos de tal modo situados que os destinatarios
possam cair bem na conta dos problemas da sociedade e assim
possam trabalhar para a sua solugáo».

2.2. Opiniáo pública, formasao e educagáo

A segunda parte (n9 19-100), intitulada «Os meios de co


municagáo social como fatóres do progresso humano», estuda
as condigóes necessárias para que seja frutuoso e eficaz o uso
de tais meios. Compreende dois capítulos, dos quais o primeiro
versa sobre a opiniáo pública e o direito á informagáo (n* 19-
-62); o segundo estuda os requisitos para que a sociedade se
beneficie pelo uso dos meios de comunicagáo (n* 63-100).

1. Por «opiniáo pública» entenderse a libardade de falar


em público numa determinada sociedade; ela tende a suscitar
determinado (s) modo(s) de pensar e querer dentro dessa so
ciedade.

— 460 —
MEIOS DE COMUNICACAO SOCIAL 31

A opiniáo pública provoca um diálogo ou uma permanente


mesa-redonda entre os cidadáos ou grupos de cidadáos de uma
sociedade; os instrumentos de tal diálogo sao os meios de comu-
nicacáo.

Faz-se mister reconhecer a liberdade de exprimir opinióes


diversas dentro da mesma sociedade (cf. W 25-26. 44-47).
Fala-se hoje de pluralismo, ou seja, da coexistencia tranquila
de diferentes modos de pensar e agir no seio de uma mesma
comunidade (cf. n« 46). Verdade é que as campanhas e propa
gandas, deformando as informagóss, podem prejudicar grande
mente a opiniáo pública (n» 29-30). Digna de nota é a observa-
gáo de que «a opiniáo da maioria dos cristáos nem sempre é
a melhor e a mais próxima da verdade» (nQ 31). Contudo nao
se devem menosprezar, mas sim ponderar com atencáo, opinióes
amplamente difundidas no seio de uma sociedade, pois expri-
mem o modo de pensar e querer do público (n9 32).

2. Ao direito de manifestar opiniáo corresponde o de ser


informado com objetividade: «O homem moderno necessita de
informagáo completa, honesta e precisa» (n« 34. 44-47). Aque
les que informam, porém, cabe a grave responsabilidade de
colhér dados objetivos. Conscientes disto, muitos repórteres e
jornalistas esforgam-se por obter noticias exatas, arriscando a
própria vida (n» 36). Acontece, porém, que a fidelidade das
noticias é muitas vézes prejudicada, seja pela pressa com que
devem ser publicadas (o gasto do «furo» jornalístico, a concor-
réncia com outros instrumentos de comunicagáo exigem rapi
dez), seja também pela tendencia a fazer sensacionalismo e a
agradar ao público (n« 37-40). A fim de evitar a deturpagáo da
verdade, os destinatarios das noticias sao exortados a dar sua
colaboragáo: «tém o direito e o dever de exigir a retificagáo
rápida e clara de uma noticia falsa ou alterada, de assinalar
as possíveis omissóes e de protestar, sempre que um aconteci-
mento é desvirtuado ou dado fora do contexto, exagerado ou
minimizado» n' 41). A Igreja e, em particular, a Santa Sé tém
sido vítímas da falta de objetividade das noticias referentes ao
catolicismo em nossos dias.

3. Todavía nao se pode ignorar que a liberdade de falar


e comunicar deve ser, em certos casos, limitada, a fim de que
nao se percam outros valores ou o próprio bem comum: é o
que se dá quando entram em jógo o bom nome de individuos ou
sociedades, o direito que tém as pessoas e as familias a que sua

— 461 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 142/1971

vida privada seja respeitada, o segrédo profíssional... (n» 42).


Atos de crueldade e violencia sao realidade fnsqüente em nossos
dias; imp5e-se, porém, cautela a quem os queira difundir, a
fim de que nao passem por atitudes normáis nem suscitem
psicose e o frenesi da violencia no público (n« 43).

4. O documento passa a considerar a importante fungáo


dos meios de comunicagáo no setor da educagáo e da democra-
tizacáo da cultura (cf. n* 50); «sao também éles que, difun-
dindo música e imagem, dáo sentido e conteúdo ao tempo livre
ou lazer das pessoas que trabalham» (n' 51-56), A propósito
póe-se discretamente a questáo das relagóes entre a arte e a
moral: a auténtica arte está em consonancia com as normas da
moral; esta nao é antagónica á estética; a obra de arte que
nao condiga com os ditames da reta consciéncia moral, já nao
é auténticamente artística e bela, pois ideixa de exprimir a di-
mensáo principal do homem, que é a moral. A seguir, há inte-
ressante observacáo: o artista, ao apresentar suas produgóes,
levará em conta também o tipo de público a que se dirige:
pessoas de formagáo deficiente ou de determinadas faixas de
idade estáo por vézes incapacitadas de compreender certas obras
de arte; concebem entáo problemas moráis, que ao artista
compete evitar (n* 58).

5. A última secgáo déste capítulo (n" 59-62) aborda a


importancia da publicidade, que o decreto «ínter Mirifica» do
Vaticano II nao chegou a considerar. É evidente que a publi
cidade tem suas vantagens para o comercio e o consumo, mas
também é certo que, mediante os anuncios de propaganda co
mercial, os interésses financeiros podem prejudicar gravemente
a missáo dos meios de comunicacáo assim como a formacáo
que o público pode esperar déstes: «É preciso evitar a publici
dade que fere o pudor, explora o instinto sexual para fins
comerciáis ou influencia o subconsciente de modo a violentar a
liberdade dos compradores» (n» 60). .Visto que muitas vézes os
meias de comunicacáo só podem subsistir em virtude dos sub
sidios da publicidade, correm o risco de ficar sob a influencia
preponderante ou monopolizadora de poucas empresas comer
ciáis .

G. O capítulo 2 desta Parte II aborda as condigóes ideáis


para que as comunicagóes preencham sua tarefa. Nao bastam
instalagóes mecánicas e automáticas, mas requsr-se formagáo
humana da parte tanto dos profissionais como dos usuarios (n*
65-72).

— 462 —
MEIOS DE COMUNICACAO SOCIAL 33

Aos profissionais é recordado que o seu papel é servir aos


homens; ora, para servir, é necessário conhecer e amar; é pre
ciso, pois, levem em conta que «por tras dos instrumentos sem
vida que transmitem as suas imagens e palavras, estáo homens
reais, filhos do nosso tempo» (n? 72).

Entre os usuarios, destacam-se de modo especial os jovens,


cujo gósto artístico há de ser educado juntamente com o senso
critico, a fim de que saibam escolher leituras, filmes, emissóes
radiofónicas e televisadas. É oportuno que pais e educadores,
nesse trabalho de formagáo de jovens, recorram antes a
convicgóes do que á proibicáo. Levem também em conta a
psicología própria dos jovens, que nasceram em urna sociedade
diferente daquela em que foram educados os mais velhos: a lin-
guagem e o estilo dos jovens sao por vézes estranhos aos geni
tores e professóres, mas nem por isto sao sempre nocivos e
condenáveis (cf. n' 70). Haja, pois, compreensáo de parte a
parte entre jovens e adultos.

7. Seguem-se, dentro do mesmo capitulo, consideracóes


sobre possibili'dades e deveres tanto das profissionais (n' 73-80)
como dos usuarios (n» 81-83) das comunicagóes.

Aos profissionais é repetido que a sua grandiosa vocagáo


consiste em promover o progresso e a comunháo entre os ho
mens (cf. n» 73). Saibam respeitar o público, ponderando o
que dizem e para quem dizem. «Os que se deixam levar única
mente pelo suoasso comercial ou pelo váo desejo de celebridade,
nao sómente atraigoam o público, mas também contribuem
para o descrédito de sua profissáo» (n« 77). Aos críticos se
reconhece mesmo um papel de criatividade, quando, sem pro
curar seus interésses passoais, apontam ñas obras de arte va
lores e riquezas que tenham passado despercebidos aos pró-
prios artistas. A esta altura, a Instrugáo mais urna vez lembra
que os capitais investidos nos meios de comunicagáo devem
servir ao bem comum, e nao sómente a interésses particulares
ou a monopolios que diminuem a liberdade dos comunicadores
e do público.

Os que recebem as comunicagóes, pratiquem o diálogo, nao


se deixando ficar em atitude meramente passiva; reajam ante
o que léem, véem e escutam, a fim de contribuir para corrigir
os defeitos e melhorar a qualidade das mensagens recebidas
(n'81-83).

— 463 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

8. O cap. 2 da Parte II termina voltando-se para a cola-


boragáo ou a agáo conjunta de pessoas e poderes no setor das
comunicagóes.

Ás autoridades governamentais compete ai um papal mais


positivo do que negativo. Procurem conseguir que os individuos
e os grupos sejam os artífices e censores de seus próprios pro
jetos (cf. n« 85). Respeitem a liberdade de expressáo na medida
em que nao contrariar ao bem comum. «A censura, portante,
só deve ser usada nos casos extremos» (n° 86). Isto nao impede
o Estado de promulgar disposicóes que protejam os jovens
contra os perigos moráis, psicológicos e deformadores, que cer-
tos tipos de programas t»u publicagóes acarretam (cf. n' 89).
— As leis também devem defender o público contra toda forma
de pressáo económica, política ou ideológica; devem assegurar
aos interessados o diraito de criticar os «mass media», sobre-
tudo quando estes sao controlados por um monopolio ou pelo
próprio Govérno (cf. n' 87). Aos Govemos compete também
subsidiar as iniciativas que prestem servigo ao bem comum no
campo das comunicagóes: filmes educativos, publicagóes instru-
tivas, agencias de noticias formativas, omissóes e obras artís
ticas, embora tais setores sejam de escasso sucesso comercial
(cf. n« 90).

A colaboracáo de poderes em favor das comunicaeóes deve-


-se estender ao plano internacional e á esfera das diversas con-
fissóes religiosas. As nagóes mais poderosas, mediante tais
recursos, poderáo prestar valiosa contribuigáo aos povos sub-
desenvolvidos, empreendendo ou favorecendo campanhas de al-
fabetizagáo, educagáo de jovens e adultos, melhora dos níveis
da agricultura, da industria e do comercio (cf. n* 95).

Os cristáos, unindo-se aos demais homens religiosos como


também aos de boa vontade, poderáo outrossim exercer impor
tante papel ñas comunicagóes em prol da fé em Deus, ida valo-
rizacáo dos bens espirituais e do soerguimento moral da huma-
nidade (cf. n* 96-99).

Segue-se um convite a que todos os homens celebrem


anualmente o Día Mundial das Comunicagóes, dia dedicado á
oragáo e ao estudo dos problemas existentes niasse setor (cf. fí>
100).

— 464 —
MEIOS DE COMUNICACAO SOCIAL 35

2.3. Os fiéis católicos e os meios de comunícaselo

A Parte m de «Communio et Progressio» dirige-se espe


cialmente aos filhos da Igreja Católica, procurando atender á
pergunta: que é que a perspectiva crista e católica acrescenta
a quanto acaba de ser dito?

A resposta comega por desenvolver os beneficios que cató


licos e meios de comunicagáo podem prestar mutuamente.

1. Os fiéis católicos estáo profundamente interessados em


que a imprensa escrita, falada e televisionada cumpra com a
máxima eficacia a sua missáo de promover e formar os homens,
fomentando a dignidade humana (P. III, c. 1). Os profissionais
católicos das comunicagóes cumprem tarefa de primeira gran
deza (cf. n' 103-105). Quanto aos nao profissionais (bispos,
sacerdotes, Religiosos, leigos), sao exortados a participar da
imprensa assim como de emissóes radiofónicas e televisivas,
desde que estejam capacitados para tanto (cf. n« 106). Os diver
sos níveis de leducagáo e de estudo (o lar, a escola, a Universi-
dade, os estados teológicos, os cursos suplementares ou para
lelos) devem ter em mente a problemática dos meios de comu-
nicagáo e dedicar-lhes carinhosa atengáo, a fim de preparar os
católicos para os utilizar sabiamente (cf. n» 107-113).

2. O capitulo 2 desta Parte HE da Instrugáo tem em


mira o servigo que os meios de comunicacao podem prestar aos
católicos: facilitam ou mesmo possibilitam o diálogo no seio da
Igreja assim como no setor «Igreja-Mundo» (cf. n« 114).

a) Dentro da, Igreja, é necessário haja opiniáo pública, ou


seja, liberdade de expressáo. Esta há de ser sempre norteada
pelo sentido da fé («sensus fidei»), isto é, pela fidelidade as
verdades da fé, assim como pela caridade. Ás autoridades da
Igreja compete estabelecer as normas e condigóes necessárias
para que se dé legitima troca de opinióes (cf. n' 116).

É muito vasto o campo em que o diálogo se deve desen


volver dentro da Igreja. Nao há dúvida, as verdades da fé nao
podem ficar sujeitas á livre interpretagáo dos individuos; per-
tencem á própria essénda da Igreja. Todavía as formas pelas
quais a fé e a vida da Igreja sao expressas, podem ser adapta
das as diferentes épocas e culturas da historia; daí a oportuni-
dade de livre procura e reflexáo entre os fiéis sobre tais
formas, contanto que conservem uniáo leal com o magisterio

— 465 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

da Igreja (em caso contrario, podcr-se-ia violar a indispensável


unidade de fé da Igreja).

De modo especial, o documento distingue, no setor doutri-


nário, dois planos importantes: o da investigagáo científica e
o da instrugáo ministrada aos fiéis. Entre teólogos, deve haver
liberdade de estudo, pesquisa e debate; aos estudiosos compete
propor hipóteses e confrontá-las entre si, desde que estejam
diante de urna questáo aberta. Todavía, quando se passa para
o plano da pregagáo e da vida pastoral, é necessário propor aos
fiéis apenas os ensinamentos seguros,, a fim de nao suscitar
confusáo e detrimento á fé do povo de Deus; éste nem sempre
está em condigóes de (distinguir entre verdades do Credo e
ssntengas discutiveis (ou discutidas) dos teólogos. Os próprios
fiéis, alias, sao exortados a fazer uso do seu senso critico,
sempre que se virem diante de novas opinióes; procurem ava-
liar o grau (ora mais, ora menos ponderoso) de autoridade
que tenham, assim como as possíveis deturpagóes provocadas
por certos meios de informagáo (cf. n» 118). Quanto ao sigilo
na Igreja, sigam-se as normas vigentes ñas instituigóes civis;
o segrédo restringir-se-á aos casos em que fór necessário pre
servar o bom nome ou os direitos de individuos ou grupos (casos
que incluem necessáriamente a confissáo sacramental com seu
severíssimo sigilo); cf. n» 121.

b) No setor Igreja-Mund,o, preconiza o documento que a


Igreja utilize os meios de comunicagáo a fim de se informar
dos sinais dos tempos, pelos quais Deus lhe fala, assim como
para anunciar plena e integralmente a auténtica mensagem do
Evangelho; a imprensa escrita, falada e tslevisionada é, muitas
vézes, o único meio que a Igreja tem de atingir certas faixas
das populagóes civis; desprezar tais meios seria enterrar talen
tos dados por Deus (cf. n* 112-123).

c) Os n< 126-134 da Instrugáo, integrando o cap. 2 da


Parte ni, insistem na utilidade dos meios de comunicagáo para
a própagagáo do Evangelho. Exortam os responsáveis a que
cuidem da esmerada apresentacáo dos programas religiosos,
levando em conta o estilo próprio e as técnicas das comunica-
g6es de massa: «O público dos nossos días está de tal maneira
habituado ao estilo cuidadoso e atraente dos meios de comuni
cagáo que nao suporta a mediocridade na apresentagáo de es-
petáculos públicos, muito menos quando se trata de cerimónias
litúrgicas, alocugóes ou qualquer tipo de instrugáo crista. Surge,
pois, a necessidade de usar, quanto possível, os meios de comu-

— 466 —
MEIOS DE COMUNICACÁO SOCIAL 37

nicagáo social para apresentar a mensagem crista do modo


mais interessante e eficaz, encarnando-a no estilo próprio de
cada ura déssss meios» (nr> 130-131). É reconhecida como válida
a possibilidade de que a Igreja tenha seus meios de comunicagáo
próprios (cf. n* 132); as Conferencias Episcopais em cada pais
deveráo dar-lhes mais importancia do que até agora (cf. n*
134).

3. O cap. 3 da Parte III propóe o papel e as iniciativas


dos católicos nos diferentes meios de comunicagáo. Passa em
revista os cinco grandes tipos de instrumentos de comunicagáo:
a imprensa escrita, o radio, a televisáo, o cinema e o teatro
V. n» 135-161).
a) No tocante á imprensa escrita (n"> 136-141), lembra o
perene valor da mesma (embora outros meios sejam ampia-
mente usados), a responsabilidade dos que escrevem em perió
dicos (quer sejam próprios da Igreja, quer nao), a conveniencia
de que a Igreja tenha suas agencias ide noticias. Os fiéis cató
licos sáó convidados a ler regularmente publicagóes católicas
para que possam adquirir urna visáo crista dos acontecimentos
contemporáneos. Isto nao quer dizer que os jomáis e revistas
católicos deformem a apresantagáo de fatos e tópicos; apenas
se trata de fornecer aos leitores os subsidios para que integrem
os acontecimentos de cada dia numa compreensáo de fé autén
ticamente crista. É preciso que a imprensa católica leve em
conta as diversas possibilidades de opinar sobre o mesmo as-
sunto sempre que fór o caso.

b) O Irádio e a televisáo merecem especial atengáo, dado o


seu público ssmpre crescente; visto que os programas respecti
vos sao gravados e reproduzidos, superam as barreiras do es
pago e do tempo, difundindo amplamente idéias, mentalidades
e costumes. No setor religioso, a Instrugáo lembra que, «quan-
do um católico conhecido, seja clérigo, 92ja leigo, fala na tele
visáo ou no radio, é ¡mediatamente considerado pela opiniáo
pública como intérprete da Igreja» (n* 154). Daí a necessidade
que lhe incumbe, de evitar todo equivoco possível e nao com
prometer a Igreja inteira quando emita pareceres pessoais.

c) O cinema e o teatro sao igualmente reconhecidos em sua


importancia. A Santa Sé ¡encoraja a producáo de filmes que
tratem dignamente de assuntos religiosos (cf. n9 114).

4. O cap. 4 da Parte m versa sdbre «equipamento, pes-


soal e organizagáo» (n« 162-180). Entre as diversas disposigóes

_ 467 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

práticas que enuncia, salienta-se a recomendagáo de preparo


técnico ou profissional das pessoas que trabalham com intuitos
religiosos ou pastorais nos meios de comunicagSo social; a alta
responsabilidade que essa tarefa acarreta, repudia qualquer tipo
de. improvisagáo (cf. n» 164).

2.4. Conclusáo

Os incisos fináis da Instrugáo abrem-se para o futuro (cf.


n* 181-187). Prevéem ulteriores estudos sobre o valor e a in
fluencia dos meios de comunicagáo e reafirmam o intsresse da
Igreja por tais recursos. As palavras de encerramento da Ins
trugáo sao inspiradas por otimismo e esperanga:

"O povo de Deus caminha na historia. Chamado a comu


nicar ou a receber comunicagáo, olha com confianga e até
com entusiasmo para o futuro e para as promessas que urna
idade espacial de comunicagóes Irte pode oferecer" (n<? 187).

Em suma, «Communio et Progressio» impóe-se á reflexáo


de todo o povo de Deus ou mesmo de todos os homens, nao
por ser um manual da técnica das comunicagóes, mas por apre-
sentar linsas /de pensamento que motivam o bom uso de táo
valioso recurso da civilizagáo contemporánea. O documento é
ampio, profundo, abordando com serenidade e realismo todas
as diversas questóes do respectivo tema.

«SENHOR, DÁ-NOS HOJE


A NOSSA FOME COTIDIANA. . .

FOME DE VERDADE,

FOME DE AMOR»

(J. Alzin)

— 468 —
no cinema:

"historia de amor"
de erkh segal

Em síntese: O filme "Love Story" fala profundamente aos sentimentos


de seus espectadores, pois mostra o surto e o cresclmento harmonioso do
amor de dois jovens que finalmente se unem em casamento, superando os
obstáculos dos preconceitos de classes e posses financeiras. A felicidade
do jovem casal, porém, é precocemente truncada pela morte da esposa
Jenny, vltima de leucemia. As cenas do filme sao delicadas e enternecedoras.

Nota-se contudo que o enredo se desenrola num clima arreligioso e


materialista. O mundo de Jenny é Mozart, Bach e 01 i ver (seu marido) apenas.
Com a morte de Jenny termina a felicidade de Ollver, como se nada hou-
vesse após a morte. é ésse materialismo que acentúa a nota triste e sen-
.timental do filme. Urna visáo crista colocarla esperanza e animo nesse en
redo, que termina tao melancólicamente. — Ao lado de atitudes muito nobres
e dignas por parte dos dois esposos, o filme aprésenla certas cenas de
amor intempestivo (vida sexual pré-matrlmonlal).

Comentájrio: O romance «Historia de Amor» (Love Story)


de Erich Segal, após fazer sucesso literario, passou para o
cinema. Recorrendo a suaves melodías de Mozart e Bach,
apresentando cenas coloridas vivas e belas, animadas por dois
artistas simpáticos, o filme tem varios predicados para atrair
o público, tocando-lhe os sentimentos e fazendo-o pensar ou
mesmo derramar efusivas lágrimas.

Em vista disto, resumiremos, a seguir, o enredo de «Love


Story» e sugeriremos algumas reflexóes a respeito.

1. «Historia de Amor»

O filme comega apresentando o encontró de dois jovens


estudantes: ele, Oliver Barrett, da Faculdade de Direito da

— 469 —
40 <tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

«Harvard University» (U.S.A.); ela, Jannifer Cavilleri (ou


Cavallieri), cursando música. O rapaz é filho de pai multinn-
lionário e vive ñas altas carnadas da sociedade; gosta de esporte,
mas pouco se interessa por seus pais, que lhe panscem dema
siado presos a suas tradicóes aristocráticas. Ao contrario, Jenny
descende de familia ¡migrante italiana; seu pai, Phil, é padeiro
e ela o ajuda no seu mister, demonstrando-lhe carinho e apréco.

O encontró dos dois jovens na Universidade faz nascer o


amor entre éles. Jenny, porém, nao acredita que possa ser
levada a serio, dada a diferenga de condigóes sociais existente
entre éles. Oliver, porém, lhe afirma com insistencia que se
quer casar com ela. A moca entáo, que recebara urna bolsa
para continuar seus escudos em París e conhecer a Europa,
resolve corresponder ás expectativas do colega, aceitando a pro
posta de casamento.

O jovem leva a namorada ao rico castelo de seus pais, a


fim de obter déles o consentimento para se casar com Jenny.
O velho genitor, porém, se opas a tal enlace, dado o desnivel
social entre os dois pretendentes; pelo que, Oliver rompe enérgi
camente com seus pais; casar-se-á segundo a lei ou contra a
lei, com testemunhas ou sem testemunhas, na Igreja ou fora
da Igreja, pouco importa! Finalmente contrai matrimonio com
Jenny em presenca de um pastor protestante, capeláo da Uni
versidade, o qual aceita assistir a tal casamento contra a von-
tade do rico proprietário Barrett III.

A vida conjugal dos dois jovens decorre muito feliz. Já que


Oliver romperá com seu pai, termina seus estudos com dificul-
dades; mas Jenny trabalha para o ajudar; yivem pobremente.
Por fim, o jovem esposo se forma em Direito e consegue bom
emprégo, de modo que o casal passa a viver cómodamente, des
frutando os encantos de urna vida unida.

Acontece, porém, que aos 24 anos de idade nao tém filhos.


O médico, consultado, declara que Jenny sofre de leucemia e
está condenada a falecer em breve. O golpe foi terrível para
Oliver; Jenny, cíente disso, procura mostrar-se forte de ánimo
e pede a seu velho pai Phil que seja intrépido frente a Oliver.
Éste deseja proporcionar a esposa o melhor tratamento possí-
vel em bom hospital. Para tanto, volta a presenga de seu pai
(que ele nunca mais procurara, contrariando assim a esposa,
que era amiga de todos). Pede-lhe elevada quantia em emprés-
timo; o pai, admirado, pergunta-lhe para qué. Oliver, recusando

— 470 —
«HISTORIA DE AMOR> 41

falar da doenga de Jenny, dá a crer que tem despesas «com


garótas»; o velho pai entáo cede-lhe o dinheiro. Nada adianta,
porém. Jenny falece. Ao saber déste fato, o velho pai Barrett
vai ao hospital oferecer apoio e reconforto ao filho viúvo; éste,
porém, repele-o, rejeitando o pedido de perdáo do genitor:
«Amar é nao ter que pedir perdáo», diz ele. No final do filme,
Oliver aparece sentado ao ar livre a contemplar, solitario e
melancólico, a natureza !

2. ReflexSes

O filme «Historia de Amor» é certamente suave e delicado


em muitas de suas cenas, de modo a poder falar profundamente
ao público. A sua mensagem, porém, é um tanto ambigua, pois,
ao lado de pontos altamente positivos, apressnta as suas la-
cunas e sombras. É o que se proporá abaixo:

,2.1. Positivo

Sejam salientados dois pontos que marcam o filme de prin


cipio a fim:

a) O amor corajoso de um jovem rico a urna estudante


pobre. Passando por cima de preconceitos sociais e burgueses,
o rapaz se dedica totalmente á moca; ambos prometem um ao
outro «amor até que a morte nos separe».

Ela e, depois, ele afirmam em duas ocasióes diferentes:


«Amar é nunca ter que pedir perdáo»; por conseguinte, quem
ama tem que saber sacrificar-se a fim de evitar ofensas ao
bem-amado.

O espectador tem prazer em observar a alegría feliz da


vida do jovem casal; deverá, porém, observar as expressóes
demasiado livres désse amor (relagóes pré-maritais em cena
de leito!).

b) O filme recrimina os preconceitos de classes sociais,


dcscrevendo de maneira pouco simpática a figura do velho ca
pitalista. Éste nao admitía que seu filho se casasse com urna
estudante pobre, mas concedeu-lhe o dinheiro neoessário para
atender a aventuras «com garótas» (mesmo sabendo que Oliver
já estava casado). O cineasta assim pretende denunciar a bur
guesía «podre». O confuto das geragóes (ou de pais e filhos)
da alta sociedade é pintado ao vivo. Note-se o contraste entre

— 471 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS!- 142/1971

as familias de Oliver e Jenny; esta é amiga (de seu pai, homem


simples, reto e teniente a Deus, ao passo que Oliver é revoltado
contra o pai.

Todavía faz-se mister mencionar também

2.2. Lacunas

Dois aspectos importantes do filme sao deficientes:

a) O enredo decorre todo dentro de um clima materialista.


É o que torna mais dolorosos ssus episodios dolorosos.
Toda a historia de amor se termina com a morte; nao se vé ai
urna alusáo a sobrevivencia postuma ou á vida eterna; obser-
vam-se apenas frustracáo e desencanto frente á perspectiva da
morte, como se esta extinguisse tudo que na vida presente se
tem de bom.

Alias, os valores espirituais e religiosos sao explícitamente


postos de lado ou menosprezados no filme. Os dois jovens nao
fazem caso de fé religiosa; chegam mesmo a pdr em dúvida a
existencia de Deus. Jenny julga que nao há mundo melhor do
que éste, onde ela encontra Mozart, Bach e também... Oliver;
realidades ulteriores ou transcendentais nao Ihe interessam.

No fim, Jenny propóe a Oliver que lhe proporcione funerais


católicos para satisfazer ao velho pai Phil.

A morte de Jenny é destituida de qualquer sinal da pre-


senca de Deus e da religiáo. Note-se o contraste entre tal
desenlace e a morte do herói do filme «2001. Odisséia no espa-
co»; éste morre em presenca do monolito, símbolo de Deus ou
do sagrado, que o acompanhou em sua trajetória; após a morte
désse grande herói, aparece um feto (quadro final do filme),
que simboliza a continuagáo da vida após o desenlace do ho
mem e dá urna nota otimista e grandiosa a todo o filme «Odis
séia no espaco». É, sem dúvida, a crenga em Deus, penhor de
vida postuma, que dá sentido á existencia presente. Quem se
confina exclusivamente as realidades terrestres, arrisca-se a
ser decepcionado quando menos o espera (foi o que se deu
com o jovem casal de «Love Story»).

b) O amor de Oliver e Jenny é profundo e espontáneo.


Seria para desejar que existisse em todos os casáis de nossos
dias. Lamenta-se, porém, que os dois namorados do filme te-

— 472 —
«HISTORIA DE AMOR» 43

nham cedido táo livremente á espontaneidade: o filme apresen-


ta cenas de experiencias pré-matrimoniais; Oliyer parece ter
logrado fama entre os seus colegas de Universidade por suas
aventuras noturnas. Observa-se também que os dois estavam
dispostos a se casar «de qualquer modo», abrindo máo da legali-
zacáo religiosa e civil de sua vida conjugal. Nesta atitude liber
tina há urna réplica ao «Nao» dito farisaicamente pelo Sr.
Barrett ao pedido de Oliver. Todavía note-se que repelir con-
vencSes hipócritas, e burguesas nao deve redundar em rejeicjio
de Ieis e normas legitimas, que as sociedades (civil e religiosa)
impóem para que alguém se case legalmente. O casamento ofi
cial, contraído perante Deus e os homens, é um esteio da ordem
pública e da feliddade dos cidadáos. Um bom filme, apresen-
tando cenas de amor livre ao lado de cenas de amor auténtico
e nobre, pode dar a entender que aquelas sao táo legitimas
quanto estas; o Sim que estas merecem, pode fácilmente esten-
der-ss áquelas, caso nao haja espirito crítico por parte do
público. Verdade é que Oliver e Jenny acabaram por casar-se
de maneira legal parante legitimas testemunhas.

Amor espontáneo, terno e feliz nao se opóe a autodominio


e observancia de sadias normas legáis. Ao contrario, quanto
mais o amor reconhece ordem e harmonía em suas manifesta-
s, tanto mais ó preservado de infidelidade e degenerescencia.

Em suma, «Love Story» é filme que fala profundamente


aos sentimentos dos espectadores por apresentar dois jovens
que no amor conjugal encontram harmonía feliz e plena cola-
boragáo. É de lamentar, porém, que o enredo saja envolvido
em clima arreligioso e materialista; a ausencia dos valores
transcendentais concorre fortemente para dar ao filme a sua
nota táo profundamente triste e frustradora.

A propósito vém as profundas reflexóes de pensadores fa


mosos sobre o homem e sua misteriosa realidade:

Sao de Pascal as palavras: «O homem ultrapassa infinita


mente o homem» («Pensées», ed. Brunschvicg, nin., p. 531).
«O homem foi producido para o infinito» (ídem, ib. p. 79).

Bergson, grande pensador judeu dos últimos decenios, ami


go dos místicos, afirma por sua vez: «É preciso sentirmos al
guém ácima de nos para sermos verdadeiramente nos mesmos»
(coloquio reproduzido por J. Chevalier, «La Revue des Deux
Mondes», 15/X/1951, p. 611).

— 473 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

Lavelle, no seu «Traite des valeurs» I, p. 18, fazia eco: «O


homem é o único ser que nao se pode realizar senáo ultrapas-
sando-se».

Camus, ateu como era, exprimiu a revolta do homem en


tregue a si mesmo, asseverando que «o homem é a única cria
tura que se recusa a ser o que é» («L'homme révolté», p. 12).

Estas idéias se compendiam todas na bela passagem do


P. de Lubnc:

"O homem nao é ele próprio senao porque a sua face está
iluminada por um raio divino... Se o Foco desaparece, o
reflexo ¡mediatamente se apaga... Deus nao é para o homem
sómente urna norma que se I he impóe e que, dirigindo-o, o
soergue. É o Absoluto que o fundamenta, é o ímá que o atrai,
é o Além que o suscita, é o Eterno que Ihe fornece o único
clima onde pode respirar" ("Le drame de l'humanisme athée".
Paris 1945, p. 64).

«AO HOMEM DA RÚA

QUE TE INTERPELA E TE PEDE FOGO,

DEIXA-O FALAR UM POUCO:

AO CABO DE DEZ MINUTOS,

ELE TE PEDIRÁ DEUS»

(Georges Duhamel)

— 474 —
ainda as novicas indianas:
o íim de um inquérito

Em sfntece: O caso das "novicas indianas", já noticiado em PR


135/1971, chega agora á plena clareza.

Após dois Inquéritos, efetuados na India e na Europa respectivamente,


verificarse que nao houve tráfico nem exploracSo de jovens indianas. A
grande maiorla das 1595 candidatas que foram encamlnhadas para a Europa,
persevera nos conventos respectivos, gozando de paz e felicidade; apenas
9,4% deslstiram da vida conventual e receberam um destino digno (traba-
Iham na Europa ou estáo repatriadas).

Registraram-se, porém, falhas na selecáo das candidatas e na organiza


do dos servicos de recrutamento. A fim de evitar os posslveis inconvenientes
de tal sistema, a Santa Sé já tomou as medidas necessárias e pensa em
Instaurar na India mesma centros de formacao para candidatas indianas á
vida religiosa.

Comentario: Em PR 135/1971, pp. 128-139, foi noticiado o


caso de jovens indianas que, levadas para a Europa a fim de
ingressar em Congregagóes Religiosas, se tornaram objeto da
atengáo pública internacional. Acerca dessas Religiosas circu-
laram rumores de escándalo, como se houvessem sido vítimas
de tráfico comercial, discriminagáo de classes, injustigas sociais,
etc.

A Santa Sé, alertada palas ocorréncias e os comentarios


dos meios de comunicacóes, mandou abrir um inquérito a res-
peito, cujos resultados foram recentemente divulgados. Aos 31
de maio de 1971, na Sala de Imprensa do Vaticano falaram aos
jornalistas sobre o assunto o Padre Heston, Secretario da S.
Congregagáo dos Religiosos, e o Padre Candon, Presidente da

— 475 —
46 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 142/1971

Comissáo de Inquérito constituida pelo Pró-Núncio na India de


acordó com a Conferencia dos Bispos Católicos da india.

Eis, em suma, o que apuraram as investigagóes:

1. A Santa Sé mandou proceder a duas pericias a fim


de acelerar ao máximo os acontecímentos. Urna dessas pericias
voltou-se para o Ocidente europeu, e realizou-se mediante as
representagóes pontificias (Nunciaturas) dos países que haviam
acolhido grupos de jovens indianas (Alemanha, Italia, Ingla
terra ...). A outra ocorreu nos locáis de procedencia das jovens
novigas (India, particularmente o Estado de Kerala), ficando
esta última investigagáo a cargo da Comissáo especial presidida
pelo Padns Candon (o qual também é Vice-Presidente da Con
ferencia dos Religiosos da India).

Os resultados obtidos por esta Comissáo durante tres meses


de intenso trabalho coincidem substancialmente com os que se
derivaram do inquérito efetuado no Ocidente. Ambas as peri
cias aplicaram-se ao exame de todos os aspectos delicados das
ocorréncias: o económico-financeiro, o da liberdade de escolha
e decisáo deixada as jovens, o da seriedade na selegáo das can-
didatas, o da veracidade e sinceridade das respectivas vocagóes.

2. Das 1595 jovens, que ontre 1960 e 1970 afluiram da


india (Estado de Kerala) para a Europa, 1444 acham-se atual-
ment9 em Institutos Religiosos europeus, na qualidade de pro-
fessas ou novigas. As restantes 151 candidatas, isto é, 9,4%
do contingente, por motivos de saúde, nostalgia ou outros, nao
ficaram na vida religiosa: foram ou repatriadas ou encaminha-
das para urna escola a fim de obter diploma profissional ou
colocadas em um emprégo digno, sempre aos cuidados e as
custas dos Institutos que as receberam.

As familias das jovens nao pediram nem receberam dinheiro.

Alguns dos recrutadores receberam dos Institutos europeus,


além da importancia monetaria necessária para a viagem das
candidatas, outros subsidios financeiros, que lhes foram oferta
dos espontáneamente ou que éles solicitaram em vista de suas
obras sociais e assistenciais na India. Nao há prova que con
firme a acusagáo segundo a qual as jovens teriam sido «ven
didas» aos Institutos ocidentais.

As pericias também evidenciaram que a maioria das


candidatas indianas está feliz em sua vocagáo realizada nos

— 476 —
aínda as novicas indianas 47

conventos europeus; o seu relacionamento com as Superioras é


cordial e amigo. Como se compreende, nao lhes faltam proble
mas, devidos á mudanga de ambiente, cultura, língua, alimen-
tacáo...

3. Como em tudo que é humano, registram-se também


pontos negativos no empreendimento dos Institutos europeus,
pontos negativos, porém, cuja importancia está longe de cor
responder á que se apregoava.

Houve, sim, falhas dos recrutadores na selegáo das candi-


datas: nao levaram suficientemente em conta o grau de cultura
das mesmas e outras- condigóss (de saúde, temperamento pes-
soal...) necessárias para o bom éxito do empreendimento.
Um ou outro sacerdote procedeu independientemente dos Bispos
na India. Entre os responsávcis de maior relevo faltou a coor-
denagáo indispensável para que as tarefas pudessem ser enca
radas com a devida precisáo e desempenhadas com os resultados
almejáveis.

4. Diante das dificuldades e dos rumores que se levan-


taram em torno das novigas indianas, a Santa Sé mandou por
ora suspender o envió de candidatas da India á Europa. Tem
em vista medidas de prudencia e supervisáo, que ficaráo a
cargo principalmente da «Joint Vocation Comission», Comissáo
de Vocaoóes que agirá em nome tanto da Conferencia dos
Bispos Católicos da india como da Conferencia Nacional dos
Religiosos do mesmo país.

Em última análise, a Santa Sé julga que a questáo da for-


magáo religiosa das jovens indianas vocacionadas poderá resol-
ver-se melhor mediante a criagáo de Noviciados e Centros de
Estudos adequados na própria India. A vida crista neste país
só terá a lucrar caso se dé atengáo solícita as vocacóes religio
sas nacionais.

Estas noticias foram extraídas da revista "Consacrazlone e Servlzlo"


n? 6/7, |unho/julho 1971, pp. 368s.

Esteva© Rettencourt O.S.B.

— 477 —
resentía de livros

O Impasse na educacáo. Diagnóstico, critica, prospectiva, por


Lauro de Oliveira Lima. — Editora Vozes, Petrópolis 1969, 34 edicáo,
135x210 mm, 382 pp.

Mutacoes em educacáo segundo Me Liihan, por Lauro de Oliveira


Lima. Cosmovisáo 1. — Editora Vozes, Petrópolis 1971, 2* edicao.
125x190 mm, 63 pp.

Lauro de Oliveira Lima é um dos mestres da educacáo no Brasil;


publicou numerosas obras, repetidamente editadas, tanto na «Vozes»
de Petrópolis como em outras editoras. As teses de L. O. L. apelam
para os estudos mais recentes de psicología, sociología, pedagogía, e
vém enriquecer a bibliografía educacional. Todavía deixam transpa
recer de obra para obra cada vez mais acentuadamente — ncc5es
de filosofía que nao se coadunam exatamente com as concepcSes
cristas, como já tivemos ocasiáo de notar ao recensear o livro «Trei-
namento em Dinámica de Grupo no lar, na empresa, na escola» em
PR 137/1971, 3a capa. Os dois livros ácima apresentados sao dos que
mais refletem as posicóes criticas e as idéias características de L.O.L.
em materia de educacáo.

Urna das teses mais repetidas pelo autor é a seguinte: «O profes-


sor nao ensina; ajuda o aluno a aprender». Em conseqüéncia, o Prof.
Oliveira Lima apregoa ospontaneidade, liberdade, dinamismo, criati-
vidade na escola — valores, sem dúvida, dignos de todo apréco e sem
os quais nao se conceberia uma auténtica educagáo; tais valores, po-
rém, cultivados unilateralmente podem também deformar e prejudicar
o aluno. L. O. L. se compraz excessivamente em salientar o contraste
entre «escola antiga» e «escola nova»; de modo especial, rejeita as
aulas expositivas em favor do estudo programado ou da pesquisa em
grupo.

Ora, se é bem verdade que nao se deve ensinar simplesmente por


autoridade (segundo a clássica fórmula «magister dixit»), nem por
isto se pode ignorar a importancia do cabedal de ciencia, cultura e
experiencia que o mestre possui. O professor nfio sonriente conhece
metodología, que ele deve transmitir ao discípulo, mas usufrui também
dos beneficios de anos e anos de leituras e reflexdes. A expósito de
determinado assunto feita em aula por um professor competente sup5e
o estudo de numerosos livros e artigos, a triagem dos tópicos mais
interessantes e ponderosos, a sintese harmoniosa dos mesmos e a
maturidade de caráter que sómente a vida vivida podem proporcionar.
Eis por que nos parece que o professor deve ensinar ou deve dizer
verdades que os alunos, através de suas pesquisas, nao podem atingir
com a mesma clareza. Um curso ideal deverá, pois, dosar aulas expo
sitivas e exercícios de seminario ou atividades congéneres, de tal modo
que o aluno receba ciencia e cultura e seja estimulado a procurar
ulteriormente.

L. O. L. parece exageradamente otimista ao conceber a natureza


humana. Com efeito, nao basta recorrer aos melhores recursos psi-

— 478 —
cológicos e pedagógicos para que o educando aprenda ciencia e se
forme moralmente: as fainas moráis podem constituir um entrave para
a educacao. Daí a necessidade de haver escola-instituicáo, com normas
disciplinares, sangóes, programas a cumprir...

Outro tópico, muito expressivo de L. O. L., é o seguinte: «Já nao


se pode ciizer que a escola é unía preparacao para a vida, vez que
só os profetas podem prever como será a vida das criancas que hoje
entram ñas escolas. Urna disciplina que hoje prepararía o aluno para
a vida... seria FicgSo científica» («Mutagóes...», p. 13). Ora, embora
seja difícil prever as circunstancias ambientáis em que vivera o
homem do ano 2000, é certo que homem nao é todo «mudanga» ou
«variabilidades; no ser humano existe urna essénria perene, com as-
piracócs estáveis: a verdade, a bondade, o amor, sao valores perma
nentes, suscctíveis, sim, de ser desenvolvidos e ulteriormente aprofun-
dados, mas dotados de caráter transcendental; devem reger e configurar
os tempos, em vez de ser regidos e simplesmente configurados pelos
tempos. O homem é senhor dos tempos e das respectivas culturas,
e nao vice-versa; a educagáo deve levar o jovem a nao abdicar dessa
dignidade.

Outras reservas tic índole semelhante devem ser feitas as obras


educacionais de L. O. L.; é um modo global de ver o homem, a socie-
dade e a historia que se insinúa através de tais escritos, instilando
critica por vézes injusta, azedume e mal-estar. Tais reservas, porém,
nao nos devem fazer esquecer quanto de positivo há nos livros de
L. O. L. Saiba o leitor aproveitar-se disto, e ter o senso suficientemente
critico para nao assumir aquilo.

E. B.
NO PRÓXIMO NÚMERO: (duplo: novembro/dezembro):

Excomunháo de Lutero mantida

Missas pelos defuntos : por qué ?

A Carta «Octogésima Adveniens»

Novas facetas da doutrina social da Igreja

Seu Sete da Lira

fndice Geral de 1971

«PERGUNTE E R E S P © N-t) E R E M O S »

. . , f norte comum '. Cr$ 25,00


Assinatura anual I l <

1971 I porte aéreo Qr$ 30,00


Número avulso de qualquer mes e ano .-.-. Q*$ 3,00

Volume encadcrnado de 1970 Cr$ 25,00

Volumes encadernados: 1957 a 1969 (prego unitario) .. Cr$ 20,00

índice Geral de 1957 a 1964 Cr$ 10,00

Índice de qualquer ano Cr$ 2>00


Encíclica «Populorum Progressio» Cr$ 1,00

Encíclica fHumanac Vitaos (Regulacfio da Natalidadc). CrS 1,00

EDITORA LAUDES S. A.
BEDACAO ADMINISTRADO
Caixa postal 2.666 Rwa Sao Rafael 38, ZC09
ZC-00 20000 Rio de Janeiro (GB)

Rio de Janeiro (GB) Tel.: 268-9981

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