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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(ín memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
Jl_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
. - dissipem e a vivencia católica se fortalega
'~u no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
índice

RECONCILIACAO

Os cursos se multlpiteam:
QUE É PARAPSICOLOGÍA? ! 3

Atual e candente:
TEOLOGÍA DA LIBERTAQÁO 10

Entre as tensSes dos nossos lempos:


PROGRESSO E TRADICAO NO CRISTIANISMO 29

Mals um famoso filme:


"O SÉTIMO SELO" 42

ESTANTE DE LIVROS 47

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

"Cristáos para o Socialismo"? — Adventistas do Sétimo Dia.


— Casa mal-assombrada ?

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinatural anual Cr$ 50,00


Número avulso de qualquer mes Cr$ 5.00
Volumes encadernados de 1958 e 1959 (prego unitario) ... Cr$ 35,00
índice Geral de 1957 a 1964 Cr$ 10,00 - •

EDITORA LAUDES S. A. ; r- U
BEDA£AO DE PB ADMINISTBAg&O^
Calxa Postal 2.666 Bua SSo Bafafil, oo
ZC-00 20000 Rio de Janí
20.000 Bio de Janeiro (GB) Tela.: 268-9981 e 268-2790

Na GB, a Rúa Real Grandeza 108, a Ir. Maria Rosa Porto-m|


tem um depósito de PR e recebe pedidos de assinaturtffda:^ ~
revista. Tel.: 226-1822.
RECONCILIAR
Em vista da inauguragáo do Ano Santo de 1975, o S. Pa
dre Paulo VI publicou aos 8/XÜ/74 urna Exortagáo Apostólica
a reconciliagáo... no interior da Igreja. A mensagem de
Natal de S. Santidade, completando essa Exortacáo, tratou da
uniáo dos povos e da paz universal.

Reconciliacáo dentro da Igreja... Propondo esta meta


eom palavras incisivas, o S. Padre Paulo VI tinha em mira
certas atitudes que hoje em día sao cultivadas por fiéis cató*
lieos com grande prejuízo para o bem pessoal e o bem oomum
do povo de Deus.
E quais seriam essas atitudes?
As próprias palavras de S. Santidade permitem assim
responder:
1) Há aqueles que hoje em dia se afastam abertamente
da Igreja, criando ou nao grupos religiosos independentes.
Alias, sempre houve quem assim procedesse no decorrer da
historia. Tal atitude, pois, nao é nova. Mais surpreendentes
sao as seguintes:
2) Existem os que nao se afastam físicamente da Igreja,
mas, nela permanecendo corporalmente, vivem fora déla por
seu modo de pensar, falar e agir. Dentro da Igreja, impug-
nam os seus legítimos Pastores como se estívessem sendo
infléis a Cristo. Entre os fiéis leigos, disseminam a confusáo
mediante teorías estranhas ao Espirito de Cristo; utilizando as
palavras do Evangelho, alteram o sentido das mesmas. Piante
de tais fatos, diz S. Santidade:
''Observamos com posar esse estado de eclsas... NSo podemos
dolxar de nos erguer com o vigor de Sao Pauto conta essa falto de leal-
dade e de Jusltca. Dirigimos um apelo a todos os crtstfios de boa vontade
para que tifio se delxem hnpresslonar nem desorientar pelas Indevldaa p es-
sSes de IrmSos que infelizmente se desvlaram e que, nSo obstante, per-
manecem 6empre presentes á nossa prece e próximos ao nosso coracáo".
Possam csses dissidentes restaurar a sua comunháo intima
e profunda com a Igreja!
3) Há aínda aqueles que afirmam nao haver diferenga
entre «estar dentro» e «estar fora» da Igreja. Bastaría estar
com Cristo no íntimo do coragáo e entregar-se aos irmáos,
principalmente aos mais pobres, anunciando-lhes a Boa-Nova
da libertacáo: A Igreja de Cristo nao seria a Igreja institu
cional, mas a Igreja «do misterio», invisíveL

_ 1 •
A quem assim pcnsa, o Concilio do Vaticano II deixou as
seguintes ponderagóes:

"O Santo Concillo volla o seu pensamento, em prtmetro lugar, para


os fiéis católicos. Apolado na Sagrada Escritura e na Tradlcfio, enslna
que esta Igreja peregrina é necessérla para a salvacáo. O único Mediador
e o caminho da salvacSo é Ciisto, que se nos torna presente no seu corpo
que é a Igreja" (Const. "Lumen GentlnunV n? 14).

O Concilio tem em mira a Igreja peregrina, isto é, aquela


em que o joio cresce ao lado do trigo; nao se trata de urna
Igreja espiritual, mvisível, desvinculada das vicissitudes da his
toria... Pois bem; o Concilio afirma ser essa Igreja indis-
pensável á salvagáo dos que a conhecem como tal. Por que?
Porque Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens;
ora Cristo está presente a nos em seu corpo prolongado que é
a Igreja.

4) Por último, o S. Padre menciona a atitude daqueles


que modo especial se dedicam ao estudo das proposicóes da
fé e julgam poder reformulá-las ou «redescobri-las» segundo
criterios heterogéneos ou pesscais; nao levam em conta a Tra-
dicáo crista e o magisterio da Igreja, que goza da promessa
de assisténcia do próprio Cristo (cf. Mt 28,20; Mt 16,18s).

A esses estudiosos tembra o S. Padre que cada desvio da


unidade da fé implica também urna baixa no amor ao pró
ximo; a procura da vá gloria se substituí ao cultivo da comu-
nháo fraterna. Mais: o espirito de oracáo sofre sempre que
a fé é arbitrariamente reformulada.

Depois de havcr enunciado tais atitudes de desmembra-


mento da unidade da Igreja, observa o S. Padre que elas sao,
em parte, o reflexo do que se dá na sociedade civil de nossos
días, fracionada em grupos que se opóem entre si. Todavía
acentúa Paulo VI que a Igreja deve conservar a sua originali-
dade de familia unida na diversidade de seus membros; ela
deve ser o fermento que ajude a sociedade a reagir, reaüzando
o que se dizia a respeito dos primeiros cristáos: «Vede como
cíes se amam!»

A intervengo de Paulo VI em prol da reconciliagáo,


abrindo o Ano Santo, nao pode deixar de calar fundo no cora-
cáo de todos os fiéis católicos. É hora de concebermos o
inquebrantável propósito de nos reconciliarmos... reconci-
üarmos com Deus e com nossos irmáos, qualquer que tenha
sido o tipo de ruptura infligida á unidade!
E. B.
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XVI — W 181 — Janeiro de 1975

Os cursos se multiplican!:

que é parapsicología ?
Em sintttwt Tém-se multiplicado os cursos ditos "de Parapslcolot
gia", que propSem ou Inslnuam oficialmente teses espireas (operacoes
medlúnlcas, comunlcacfio com os mortoe...) em nome daquela ciencia.

Ora a Parapsicología, após a orlentacfio que Ihe deu o seu grande


mestre Joseph Banks Rhlne em 1934, ó a ciencia que estuda o compor-
tamento paranormal (para = ao lado de, em prego) ou comportamento
do pslquismo humano que ocorre ao lado do normal, sob a Influencia de
fatores singulares como hlpnose, transe, sugestiónamelo, etc. Na verdade;
o ser humano tem em sua consolártela viva apenas 1/8 dos conheclmentos
que ele vem adquirindo desde a Infancia; 7/8 ficam no Inconsciente ou no
subconsciente, de modo a nSo Influir na conduta da pessoa; podem, porém,
Influir poderosamente nesse comportamento desde que seiam provocados,
em circunstancias extraordinarias, pela sugestfio ou por descontrole psíquico.

Se alguém propSe, para esse comportamento paranormal, expllcacoes


que suponham Intervengo de espirltos desencarnados ou do Além, está
cultivando nao a Parapsicología, mas a Metopslqulca. A palavra grega
meta significa precisamente além. — A Metapslquica se constól sobre a
premissa de que exlstam tais Interferencias habitualmente na historia dos
homens por parte de espirltos desencarnados — premissa esta que n8o
somonte n5o está provada, mas é cada vez menos provável, pols que os
fenómenos ditos "metapslqulcos" tem sido mals e mais produzldos em
laboratorio, sem ritual, únicamente por aefio de fatores parapsicología».

Comentario: Nos últimos meses tém-se multiplicado no


Brasil cursos ditos «de Parapsicología». Essas iniciativas sus-
citam geralmente grande interesse por parte do público; os
freqüentadores de tais cursos procuram-nos com as mais varia
das premissas e intengóes; alguns sao propriamente estudiosos,
que querem saber mais em nivel de estrita ciencia, ao passo
que outros desejam associar a Parapsicología com fenómenos

— 3 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

espiritas, umbandistas ou outras manifestagóes religiosas. Os


mestres que ministram tais cursos e os programas respectivos,
fogem por vezes ao setor da ciencia empírica propriamente
dita; sendo adeptos de determinadas concepg5es filosóficas,
permitem que estas inspirem as suas aulas e a materia apre-
sentada. A título de ilustragáo, vai aqui reproduzido um anun
cio publicado no «Jornal do Brasil» de 12/XI/74:

PARAPSICOLOGÍA

HOJE

Hoje (terca) — Filme a cores das operagCes clrorglcas de médluns


que abrem os tecldos de seus pacientes usando apenas as mSos (Europa).
Filme das pesquisas sobre sensibilidade e "vozes" das plantas (EUA).
Documentos e "sudes" do Museu das Almas, do Vaticano, onde a Igreja
coteclona pegas de fenómenos que ela própria atribuí a comunlcacoes dos
espiritas. Fita magnética das vozes Raudive (Europa).

Amanhá (quarta) — Avanzadas experiencias Kirllan (a Aura Humana


i'otografada) em mais de 100 "sudes" coloridos. A fotografía Klrlian da
fünsmissSo de energía de urna pessoa viva para o corpo de urna pesaoa
nurta (avanzada experiencia do IBIP-SP no Instituto Médico Legal).

Local: Instituto de EducacSo, na rúa Mariz e Barros 273, Tljuca.


Horario- 20 horas. Taxa única de InscrlgSo para as duas noltes: 60 (sea-
senta) cruzeiros. Inscric6es no local, a partir das 19 horas de ho]«.
Obs: nfio seráo dadas informagSes telefónicas. Reallzacao do IB1P —
Instituto Braslielro de Informagfio e Pesquisa Parapslcológlca, de S. Paulo.

Como se vé, sob o titulo de Parapsicología sao apresen-


tadas operagóes mediünicas, sao insinuadas comunicagóes dos
mortos com os vivos e vice-versa, sao propostas fotografías da
«aura humana», etc., coisas estas que correspondem exata-
mente a quanto ensina a filosofía espirita.

Em vista de maior clareza sobre o assunto, procuraremos


abaixo desenvolver a nogáo de Parapsicología como ciencia
estritamente dita.

1. Parapsicología : origem

1. Em 1848 deu-se o surto do espiritismo, que tinha ñas


suas origens as irmás Fox em Hydesville, N.Y., U.S.A. Os
fenómenos espiritas incitaram os estudiosos a analisar e tentar
explicar os acontecimentos maravilhosos que insinuam inter-
vengóes do Além na vida dos homens. Tais acontecimentos
QUE fi PARAPSICOLOGÍA?

nao eram novos ou inéditos na historia da humanidade; multo


ao contrario, desde os tempes mais remotos eram conhecidos
e interessavam os homens. Todavía nunca se havia pensado
em considerá-los de maneira sistemática e segundo criterios
propriamente científicos.

Em 1882 fundou-se em Londres, para atender ao novo


interesse científico, a «Society for Psychical Research» (So-
ciedade de Pesquisas Psíquicas). Em breve, essa Sociedade
teve sua filial nos EE.UU. e congéneres em outros países. Ce-
lebraram-se Congressos internacionais de estudiosos de tais
fenómenos em Varsóvia (1923), Paris (1927), Atenas (1930),
Oslo (1935), Utrecht (1953), Saint Paúl de Vence (1954),
Cambridge (1955). Assim nasceu urna nova ciencia, que se
interessava pelos fenómenos ditos «mediúnicos», pelos milagrea
e outros fatores portentosos.

Essa nova ciencia suscitou sem demora um clima de


disputa entre os pensadores. De um lado, os cultores do saber
dássico julgavam impossivel qualquer fenómeno extraordina
rio porque o consideravam contrario á ciencia e ao seu deter-
minismo. Mais: a realidade do psiquismo que direta ou indi-
retamente era assim focalizada, parecía refutar o materia
lismo total de certos sistemas filosóficos dos sáculos XK e XX.
De outro lado, os estudiosos do novo ramo de saber despre-
zavam a ciencia dássica; caiam em erros flagrantes devidos á
sua precipitacáo e impericia.

2. Os nomes dados a essa nova déncia oscilaram a


principio.

Na Inglaterra e nos Estados Unidos prevaleceu midal-


mente o nome de Psychioal Besearch (Investigagoes Psíquicas),
que nao se deve identificar com Psychological Besearch (In-
vestígacóes Psicológicas). Estas tém um caráter dássico, que
é certamente de grande valor.

• Charles Richet em 1905 propós o nome de «Metafísica»,


nome que encontrou aceitacáo nos países latinos.

Na Alemanha teve origem o nome de Parapsicología, for


mulado pela primeira vez, a quanto parece, por ,Max Dessoir
em.18895 Jules Bois tornou-se o principal arauto desse. apela
tivo* que, com o passar do"tempo,. foi ¿dotado também nos
Estados-Unidos. •••..-• -.<■•-■
?6 «PERGUWTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

Hoje costuma-se usar quase exclusivamente o nome «Pa


rapsicología» para designar o estudo científico dos fenómenos
portentosos relacionados com o psiquismo humano. Principal
mente desde 1934 — ano em que Joseph Banks Rhine publicou
o seu livro fundamental «Extra-sensory Perception» — pre
valece tal apelativo. «Parapsicologia» atualmente designa um
saber caracterizado pela orientagáo experimental e científica
que Rhine quis dar aos seus estudos. Pode-se dizer que é em
1932 que nasce a Parapsicología no sentido hodierno,... nasce
mediante a reforma e o aperfeigoamento dos antígos métodos
de pesquisa. Joseph Rhine, realizando as suas experiencias
com o baralho de Zenner e a percepgáo extra-sensorial, tor-
nou-se o pai da nova ciencia.

A Parapsicologia é geralmente reconhecida como ciencia


nos países cultos — o que se deve especialmente ao Congresso
Internacional de Parapsicologia realizado em Utrecht (1953).

Resta agora procurar definir essa ciencia.

2. Parapsicología: definido

Nao é difícil definir a nova ciencia, desde que se anallse


o seu nome.

A palavra grega para significa «ao lado de», enquan+o


psyché quer dizer «alma». Donde se deduz que Parapsicologia
vem a ser a ciencia que estuda as manifestacóes da alma ocor-
rentes «ao lado das que a Psicología estuda».

Em outros termos: o ser humano costuma utilizar ape


nas 1/8 dos conhecimentos que ele possui, adquiridos desde
que comegou a usar os sentidos; 7/8 dessas noc5es lhe ficam
latentes no inconsciente e no subconciente e nao influem em
seu comportamento. Chama-se, pois, comportamento normal
de alguém o que é inspirado por esse 1/8 de conhecimentos
nelle existentes ... Acontece, porém que a pessoa humana,
sob a influencia de fatores como a sugestáo, o sonó hipnótico,
a agitacáo nervosa..., pode perder o controle que normal
mente ela exerce sobre o seu inconsciente e o seu subcons
ciente; em tais casos, a sua conduta será inspirada por algu-
ma(s) das nogóes que habitualmente ficam latentes e inope
rantes no seu Intimo. Tais nocóes sao despertadas no incons
ciente e trazidas á baila do consciente segundo combinacóes

_ 6 —
QUE fi PARAPSICOLOGÍA?

arbitrarias, geralmente sugeridas por outra pessoa ou pelas


circunstancias em que o paciente se acha. Provocan* asslm
um comportamento paranormal (= ao lado do normal). É a
este que a Parapsicología se dedica como ciencia.

Tal comportamento — frisemos bem — é dito paranor


mal. .. Nao é normal, porque foge á rotina das expressóes
da pessoa; nem é anormal, porque nao é doentio nem é con
trario ao que está contido ñas virtualidades sadias da pessoa.
É, pois, paranormal porque ocorre ao lado do normal; supóe
no paciente um funcionamento psíquico mais ampio do que o
normal. Tal é, por exemplo, o caso do fenómeno parapsico-
lógico da «percepgáo extra-sensorial»: quando alguém tem a
intoicáo de que seu pal ou sua máe está morrendo em cidade
distante e depois comprova a veracidade dessa intuigáo, nao
está realizando algo de doentio, mas algo que é auténtico na
linha do «conhecer»,... algo que é mais agudo, mals perspicar
do que a perspicacia normal do paciente.
Vé-se, pois, que a Parapsicologia nao estuda fenómenos
produzldos por espirites do Além ou por forgas invisíveis que
nSo sejam deste mundo mesmo. Se alguém pretende explicar
os fenómenos maravilhosos do psiquismo humano por inter-
vencáo de espiritos desencarnados ou do AJém, nao está culti
vando a Parapsicología, mas, sim, a Metapsíquica, Tal é real
mente o nome que se deve atribuir aos estudos realizados pelos
espiritas e umbandistas, que admitem interferencias de seres
do Além na vida dos homens na térra: meta quer dizer além
de, enquanto psíquico é o que se relaciona com a alma hu
mana. Mstapsfquico é, pois, o que está relacionado com urna
causa posta além ou fora do psiquismo humano.

Observe-se bem a énfase com que Robert Amadou, um


dos maiores parapsicólogos hoje existentes, acentúa a Índole
terrestre ou «deste mundo» dos fenómenos parapsicología*:
"A exprassSo deste mundo repousa por Intelro numa hlpóteee que
bem se pode chamar a teoría gemí da Parapsicología. Parece fora de
dúvlda que a hipótese do base da Parapsicología é que estas forcas estáo
em relacSo com o espirito humano. Se algum estáglo posterior da Inves
tigado exlglsse outro tipo de estudioso, o metaffslco, a apreclacfio da
conclusfio deste último nao serla do campo da Parapsicología como tal"
("la Parapéychologle". París. 1054, p. 45).

Assim se compreende que um curso no qual se abordem


questóes como operagóes mediúnicas e comunicacSes dos espi
ritos do Além, nao se deveria intitular «Curso de Parapsico
logia», mas, sim, «Curso de Metapsíquica». Para favore-
8 «PBRGtTNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

cer a clareza de idéias no grande público, seria necessário


observar-se a distingáo entre «Parapsicología» e «Metapsi-
quica». A Parapsicologia, por definido, estuda o que a alma
humana mesma, sob hipnose ou sugestáo, pode produzir em
seus comportamentos mais ampios ou dilatados, «ao lado do
normal». A Metapsíquíca, ao contrario, estuda o que espirites
desencarnados ou do Além possam produzir na alma humana
— hipótese esta que os metapsíquicos admitem gratuitamente,
mas. nao provam, embora, antes do mais, devessem demons-
trá-lá. Note-se bem: hoje em dia essa prova é cada vez mais
difícil. Com efeito, os fenómenos extraordinarios (mogáo de
copos, ruidos suspeitos, leitura do subconsciente alheio, escrita
automática ou psicografia...), que os metapsíquicos conside-
ravam como provas de intervengóes do Além, sao produzidos
em laboratorio, sem evocagáo de espirites desencarnados; ob-
tém-se por sugestáo e desencadeamento das torgas psíquicas
do paciente devidamente condicionado; corresponden!, como
dissemos, a um estado paranormal (= mais ampio ou dila
tado) do psiquismo do paciente.
A confusáo entre Parapsicologia e concepgdes espiritas é
freqüente. Parece insinuada, mais urna vez, numa noticia que
colhemos em nossa imprensa aos 28/XI/74. Sim; referindo-se
a um fenómeno de «casa-mal-assombrada» nos EE.UU., um
telegrama da UPI comunica o seguinte:

"Os moradores da casa decldiram oniem chamar um casal de pesqui-


sadores de fenómenos parapslcológlcos, Lorralne a Edward Warren, que ja
testemunhou 36 exorcismos. Os Warren sugerlram que a causa de tudo ó
o espirito Invejoso do fllho de Goodln, morto antes de Meredlth ser ado
tada cinco anos antes" ("Última Hora", 27/XI/74, p. S).

Neste texto, como se vé o casal de parapsicólogos propSe


urna explicagáo do fenómeno por recurso ao Além ou a um
espirito desencarnado. Nao é, pois, na qualidade de parapsi
cólogos, mas de metapsíquicos (ou espiritas), que o casal War
ren assim fala.

Verifica-se também que a Parapsicologia por definiqáo


nao julga os milagres e as profecías que a teologia reconhece
depois de aplicar seus criterios. Esses milagres e profecías sao
PaJavras de Deus aos homens; a Parapsicologia nao os nega,
mas respeita-os porque ultrapassam o ámbito de suas pesquisas.

As apregoádas'intervengóes de espirites deséncarnádos na


historia dos homens, tais como sao supostas pela Metapsi-
quica, nao passam de hipóteses gratuitamente aceitas pelos

— 8 -*.
QUE É PARAPSICOLOGÍA? _9

seus arautos. As operagóes círúrgicas atribuidas a «médicos


do espaso» e realizadas sem anestesia nem apepsia, sao algo
que nao fol até agora submetido ao controle científico dos
médicos em geral (como, de resto, sao submetidas as curas
obtidas em Lourdes); nem se sabe exatamente de que mal
padecía propriamente o enfermo nem como se sentiu após a
operagáo nem que tipo e duragáo de sobrevida teve após a
intervencáo... As fotografías da «aura humana» sao igual»
mente algo que deveria poder ser controlado por peritos de
qualquer escola de filosofía ou religiáo para que pudessem
merecer a atencáo dos pensadores do mundo em geral.

Quanto ao chamado «Museu das Almas» em Roma, note-se


o seguinte: a Igreja admite que possa haver comunicagáo das
almas dos defuntos com os vivos na térra. Todavía afirma
que essa comunicagao nao pode ser provocada por rituais;
nada há que nos garanta de antemáo a comunicacáo com os
mortos. Mesmo depois que alguém julgue ter recebido urna
mensagem (nao provocada) do Além, a Igreja é bastante cau
telosa diante da noticia; nao lhe dá fácil crédito, mas costuma
procurar ñas ciencias humanas a explicado para o apregoado
fenómeno; somente quando as ciencias se dáo por insuficientes
diante de determinado fenómeno, pode a Igreja pensar em
intervencáo extraordinaria e esporádica de urna alma ou de
anjo ou do próprio Deus na vida dos homens.

No próximo n* de PR trataremos de assunto ligado aos


do presente artigo: «casas-mal-assombradas».

LEITOR AMIGO,

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(SE AÍNDA NAO O FEZ) E OBTENDO-LHE NOVOS ASSI-
NANTE3.

■ GRATOS.
A DIRECAO DE PR

... Q __
Atuai e candente:

teología da libertado

Em slntese: Por "teología da llbertagfio" entende-se a reflexSo so»


bre o combate á injustica social, reflexfio sugerida pelas nocfies de Reino
de Oeus, Justica, fraternldade, amor... contldas ñas Escrituras Sagradas.
Tem sido cultivada especialmente por teólogos latino-americanos em vista
da sltuagSo do nosso continente.

A teología da llbertacSo parte da realldade vigente e indaga: Que


lazsr para instaurar urna ordem sóclo-económica mals próxima do Evan*
gelho? A resposta há de ter necessarlamente urna dimonsfio histórica e
política. Os teólogos da llbertacáo aflrmam nao se Identiiicar com a ideo
logía marxista, embora reconhecam que o pensamiento de Marx estimujou a
elaboracáo da teología da llbertacfio. Apontam para os fundamentos bíbli
cos das suaa teses: o éxodo de Israel cativo no Eglto e libertado por
Moisés seria o prototipo da obra que atualmente ó apregoada em favor, da
América Latina; essa obra terla também sua dimensfio mística, pois a
figura de Cristo se prolonga na dos Irm&os pobres e oprimidos tuja
causa está sendo propugnada.

Numa reflexfio serena sobre a teología da llbertacáo, pode-so dlzor


que:

a) Inegaveimente o Reino de Deus apregoa a justica social e ft


fraternldade a ser Instauradas desde Já entre os homens.

b) Todavía ó preciso nao abusar do binomio "ricos e pobres",


Identificando aqueles com opressores e estes com oprimidos. Podar-se-ta
cometer grave Injustlca mediante tal generallzacáo.

c) Verdade é que Moisés e os profetas bíblicos se empenharam


pela llbertacáo política do povo de Israel oprimido. Fizeram-no, porém,
em virtude de explícita ordem de Deus, de modo que nao podlam ter
dúvidas sobre a autenticldade da sua missáo; todavía nem por Isto apela-
ram para a revolucáo violenta. Ora estas dua3 características bíblicas
nem sempre se reallzam entre os arautos modernos da llbertacSo. Será
sempre preciso, nos movlmentos socials contemporáneos, evitar que se
Inflltrem ideologías estranhas ao Cristianismo.

d) O S. Padre Paulo VI tem lembrado que llbertacSo e salvacfio


tém seu fundo de cena decisivo na queda Inicial do homem e na obra
libertadora de Cristo, que se prolonga no Batlsmo e na Eucaristía. O
crlstáo que se entregue ao dom de Cristo e se converta Interiormente,
saberá também converter a socledade sem excitar paixSes nem odios.

— 1Q —
teología da libertacaó 11

Donde se vé que "HbertacSo" corresponde a auténtica aspiracfio


crista. Apenas o enfoque Ihe dSo modernos teólogos, arrlsca-se a ser
unilateral ou mesmo fonte de novas Injustlcas. Entenda-se "libertacSo" no
sentido global que a fé crista Ihe comunica.

Comentario: A teologia, ou seja, o estudo da Palavra de


Deus tem-se voltado para novas situacóes e interrogagóes que
a humanidade contemporánea vai experimentando. Principal
mente as questóes sociais tém suscitado o interesse de teólo
gos que procuram penetrá-las e iluminá-las com os criterios do
Evangelho; assim tem-se falado de «teologia política» (= teo
logía da arte de reger a polis ou a cidade), (teologia do
desenvolvimento», «teologia da revolugáo», «teologia da liber-
tagáo»... Esta última vem-se avultando especialmente na
bibliografía mais recente, resultante de estudos pessoais e. de
congressos; aborda tema delicado, frente ao qual há posicóes
divergentes. É o que nos impele a encarar o assunto no
intuito de informar com serenidade os nossos leitores.

Visamos a oferecer urna exposicáo sucinta e fiel do pen-


samento dos teólogos da libertagáo que encaram a situacáo da
América Latina. Embora estes autores tenham, por vezes,
seus matizes de pensamento pessoais (ora mais veementes,
ora mais brandos), podem-se depreender de seus escritos algu-
mas linhas comuns e características. Ñas duas primeiras par-
tés do presente artigo, procuraremos ser objetivos ao máximo,
reproduzindo scm comentarios o conteúdo da teologia da liber
tagáo. Feito isto, refletiremos sobre o assunto na terceira
parte do nosso estudo.

1. Teología da l¡berta$áo: que é ?

1) «Libertagáo», na fórmula em foco, significa a eman-


cipagáo do homem oprimido no campo social pelos poderosos
(empresarios, patróes, capitalistas, governantes...). Esse ho
mem, que vive em condigóes infra-humanas de higiene, salario,
educagáo, instrugáo..., vem a ser um náo-homem; ele tem
direitos que as estruturas sociais e os maiorais praticamente
nao Ihe reconhecem. Ora o Evangelho, que é contrario a toda
injustica, pois vem anunciar o Reino de Deus e a restauragáo
dá ordem violada pelo pecado, nao pode deixar de inspirar.

-«-. 11 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

concepgóes e atitudes práticas que concorram para remover as


injusticas presentes, libertando os pequeños e humildes da ini-
qüidade opressora. Tais concepgóes destinadas a urna prática
(ou praxis) libertadora' constituem o que se chama «teología
da libertacáo»; a «praxis histórica da libertagáo» vem a ser a
versáo concreta do amor libertador de Jesús Cristo.

2) A teología da libsrta$áo assim entendida distingue-se


de:

a) teología do desenvolvimsnto. Esta visa a justificar a


promocáo dos povos e dos individuos subdesenvolvidos. Toda
vía, ]á que supóe o auxilio financeiro dos povos ricos aos
povos pobres, sujeita estes últimos a novas formas de depen
dencia escravizadora; a Alianoa para o Progresso oferedda
pelos Estados Unidos aos países da América Latina sob o Pre
sidente John Kennedy em 1960 era um espécimen desse tipo
de auxilio, que nao logrou o almejado éxito.

Nos quinze ou mais anos que se seguiram á segunda


guerra mundial, a palavra «desenvolvimento» cristalizava as
esperangas dos povos pobres; estes, porém, acabaram compre-
endendo que o auxilio financeiro para o desenvolvimento era
dado em perspectiva economista e nao tocava as raízes do maí
social que os acometía. O subdesenvolvímento dos pobres,
segundo esta concepgáo, seria subproduto do desenvolvimento
dos países ricos; o que importava entáo, era libertar-se de
qualquer forma de constrangimento imposto pelos países
ricos;

* A palavra praxis ó mullo usual no vocabulario marxiste. Significa


o conjunto das atlvldades humanas tendentes a criar condicSes Indispon-
sávels á existencia ou á reforma da socledade; assim ó praxis a producto
material, da qual depende a existencia básica dos homens. "Um dos ele
mentos constitutivos mals importantes da préllca ó a atlvidade revolucio
narla das classes, dos grupos soclals, destinada a suprimir os reglmes
soclais caducos e substituidos por sistemas novos, ayancados, favorávets
ao progresso da sociedade. A experiencia científica constituí também
urna forma de praxis... Sem praxis nSo pode haver teoría. científica"
(M. Rosental e P. Judin, "Pequeño Dlclonárlo Filosófico". SSo Paulo,
p. SS7).
é certo que os teólogos da libertacfio nSo professam o marxismo
como tal. Ao empregarem o vocábulo praxis, tenclonam designar urna
atlvidade que, com Inspiracfio crista, possa atingir a renovacBo social que
o marxismo julga ser a sua tarefa por excelencia.
teología da ubertacao . 13

b) teóloga da seculariz&sáo. Esta afirma o caráter pro


fano e a autonomía da sociedade secular em relacáo á Igreja
e aos valores cristáos; o Cristianismo, dizem, deve renunciar
a qualquer influencia social e qualquer agáo transformadora
do mundo civil, para limitar-se a urna fé nutrida interiormente
pelos crentes. Ora — comentam os teólogos da libertacáo —
urna tal concepsáo secularizante, embora seja revolucionaria,
peca por conformismo com as sociedades liberáis e capitalistas
do Ocldente; indiretamente, portante, corrobora a situacáo,
injusta e opressora, em que vivem os pobres dos países latino-
-americanos;

c) teología política (Moltmann e escola alema). Esta


insiste ñas responsabilidades da Igreja perante o mundo mo
derno; os cristáos tém que ser a consdénda critica da socie
dade contemporánea. Mas tal corrente de pensamento fica
sendo aínda multo abstraía, pois recusa pronunciar-se sobre
o dilema «Capitalismo ou Socialismo?», alegando que qualquer
opcáo política tem valor meramente relativo; o Reino de Deus
só se realizará adequadamente nos tempos escatológicos ou na
consumagáo da historia; os cristáos só esperam para o flm
dos sáculos o bem absoluto e, por isto, cedem a certo ceti-
clsmo em relacáo aos sistemas políticos que marcam a histo
ria passageira dos povos*.
Oro a teoloirfa da Hbertacáo quer mostrar que o aspecto
escatológico do Reino de Deus, longe de relativfcar o presente,
liga este ao Absoluto, e, por conseguirte, dá-lhe mais valor,
suscitando o máximo empenho dos fiéis cristáos. A neutrali-
dade da teología diante das opgóes políticas concretas seria
vestigio da tese íuterana segundo a anal a fé santifica (justi
fica) sem as obras; os teólogos da libertacáo rejeitam a neu-
tralidade política, aínda que esta seja inspirada pela consdén-
cía de que toda opcáo política tem valor meramente relativo
em comparagáo com os bens definitivos, que ainda sao futu
ros; a neutraEdade política da teología, dizem, serve a causa
dos sistemas capitalistas ocidentais. Os teólogos europeus
(principalmente os alemáes), concebendo a sua teología polí
tica, julgavam estar elaborando idéias válidas para a Igreja
inteira. Ao contrario, dizem os teólogos latino-americanos da
libertacáo, a teología elaborada em um continente nem sem-
pre pode ser assumlda tal qual em outros, pois a teología tem

■ ■■■ *Já falamos de "Crlstologla política" em PR 174/1974, pp. 239-243.


Trata-ee, em última anállse, da rneema ilnha de pensamento.

— 13 —
14 . «PERGUNTE E RESPONDEREMOS:» 18V1975

que partir de urna praxis histórica concreta ou, no seu caso,


da situagáo sócio-económica vigente nos países da América La
tina; nao pode haver, portante, urna teologia política universal.

Vejamos agora as notas características da teologia da


libertagáo concebida pelos teólogos latino-americanos para o
nosso continente.

2. Teología da libertacao: tópicos principáis

Distinguiremos quatro notas características da teologia da


libertagáo:

2.1. DimensSo fortemente histórica

Classicamente, entende-se por «teologia» a penetragáo


racional do depósito da fé: assim, por exemplo, se o. Novo
Testamento nos diz que Deus é Uno e Trino (cf. Jo 16,14s;
Mt 28,19; 2 Cor 13,13), a teologia clássica procura penetrar
nesta vérdade mediante um instrumental filosófico ou racional
(elaborando os conceitos de natureza, pessoa, relagáo... e
aplicándoos a Deus), a fim de ilustrar as proposigóes da
fé... Se o Novo Testamento nos revela que Deus se fez
homem em Jesús Cristo, a teologia se esforga por tornar o
misterio da Encarnagáo táo próximo á razáo humana quanto
possível.

Ora a teologia da libertagáo, sem contestar esse método


de trabalho intelectual, apresenta-se de outro modo: ela se
define como urna reflexáo critica sobre a prática histórica á
luz da fé. Mais: nao se detém no plano teórico, especulativo,
mas visa a responder á pergunta: que fazer? Importa-lhe
preencher o hiato entre a fé e a prática social.

Em outros termos: a situagáo histórica da América La


tina vem a ser considerada um «lugar teológico», ou seja, um
instrumental para se penetrar mais a fundo a mensagem do
Evangelho e assim suscitar-se urna participagáo mais radical
dos cristáos na transformacáo da sociedade latino-americana..
A eficiencia prática ou os resultados concretos assim obtidos
seráo o criterio para se julgar a veracidade da teologia da
libertagáo. Passamos a palavra aos próprios teólogos dessa
escola:

— 14— •:
TEOLOGÍA DA UBERTACAO 15

.Assim se exprime, por exemplo, Gustavo Gutiérrez, pe


ruano, professor de teologia e ciencias sociais na Universidade
Católica de Lima:

"A comunidade crista possul urna fé que opera pela caridade. Ela
é —. e dave ser — carldada eficaz, acfio, engajamento de amor e servico.
A teologia vem depols, em ato segundo. Pode-se dizer da teologia que
o Hegel aíirmava da filosofía: ela só se levanta no crepúsculo. A acflo
pastoral da Igreja nSo se deduz como \ima conclusSo a partir de premlssas
teológicas...

Relatlvlzando as realizares históricas, a teología quer preservar a


socledade e a Igreja de se Instalar no que é apenas provisorio... Urna
teología que nao tenha como pontos de referencia senSo 'verdades' esti
puladas urna vez por todas — e n&o a Verdade, que- também é um caml-
nho —, só pode ser estática e, com o tempo, estéril... A teología con
siderada deste modo, Isto ó, em llgac&o com a praxis, realiza urna funcSo
profétlca na medida em que faz urna leltura dos aconteclmentos históricos
com a Intencfio de revelar e proclamar o sentido profundo dos mesmos"
(texto transcrito do artigo de Francote Malley, citado na bibliografía).

Enrique Düssél, boliviano, professor de Historia e Filoso


fía ém Quito (Equador) e professor de Moral na Universi
dade Nacional de Cuyo (Bolivia), assim apresenta suas con-
cepgóes:

"A teología da llbértacSo aparece como urna reflexSo sobre a praxis


de llbertacfio dos oprimidos. Essa reflexSo é obra de crlstSos engajados
politicamente... No que Ihe diz respailo, a teología da llbertacSp aspira
a fazer-se a Intérprete da voz dos oprimidos a flm de tentar Hbertar-se a
partir da praxis, é urna reflexSo... sobre a passagem ou a camlnhada
através do deserto da historia humana; rellexfio sobre o pecado come
tido pelos diversos sistemas dominadores... para chegar á Irreverslvel
salvacáo em Jesús Cristo no seu reino (escatologla)" (transcrito do mesmo
artigo).

Em suma: a teologia da libertacáo nao visa tanto a pene-


tracáo das verdades da fé, mas, sim, e muito mais, & com-
preensáo do agir que Cristo deseja dos seus fiéis no presente
momento latinó-americano; ela procura discernir as formas
que a caridade deve revestir nessa situagáo concreta, assim
como os novos meios de evangelizado.

O enraizamento da teologia da libertacáo nás situacóes


concretas dos povos latino-americanos faz que a mesma nao
preensáo do agir que Cristo deseja dos seus fiéis no presente
a todos os povos e todas as épocas: num futuro próximo os
teólogos da África e da Asia elaboraráo seus tipos de teo-

— 15 —
Jff

logia da libertacáo a partir das situacfies concretas, que estt*


verem vivendo, e esses tipos poderáo lógica mente diferir do(s}
latino-americano (s). ir. ¡¡-o
Passemos agora á

• -■ >
2.2. Dlmensáo política ■ •• ■■

Na base de quanto foi dito, compreende-se que a teología


da libertagáo tenha índole política. Alias, dizem, todo tipo dé
teología é político, mesmo aqueles que afirmam nao o ser.
Sim; os pretensos «apolitismos» significam, praticamente,
apoio ao statu quo; os que desejam que a Igreja se confine
em suas tarefas espirituals, alheiando-se á política, estáo atri-
buindo á Igreja urna posicáo de apoio á situac&o vigente. Ora
a agáo política que a teología da libertado apregoa, visa a
transformacáo da socledade; jamáis coincidirá com a conserr
vacáo da ordem atual.

Dirá alguém: mas Cristo nao quis aceitar as concepc6es


de messianismo político e nacionalista que os israelitas de sua
época alimentavam; fuglu da multid&o quando esta o qub
aclamar rei e libertador de Israel oprimido pelo jugo romano
(cf. Jo 6,15). Respondem os teólogos da UbertacSo: essa
recusa mesma de Cristo tem sentido político; apenas significa
que Jesús nSo quis propor um modelo concreto de política de
libertacáo, mas deixou aos seus discípulos a responsabilidáde
de encontrar ós caminhos mais eficientes para transformar.a
sociedade e o mundo segundo os designios de Deus. Isto se
depreende do fato de que Jesús nao pregou um Reino de Deus
meramente interior ou urna salvado em termos abstratos e
genéricos. Sabe-se que a pregaQSo de Jesús o fez entrar.em
conflito com a ordem sócio-politlca vigente em seu tempo e a
morte do Senhor foi resultado de úm processo político.
De resto, dizem os teólogos da libertacáo, nenhuma a§áo
humana é de foro meramente privado; todo ato humano tem
sua dimensáo social e política.

Quanto á imagem de Cristo que a teología da libertacáo


propóe, nao é a das devogóes sentimentais e adodcadas, que
só se detém na paixáo dolorosa de Jesús (como se Ele nao
tivesse vencido a morte), mas também nao é a imagem do
Cristo revolucionario dos guerrilheiros; esta só considera o
lado humano de Jesús, silenciando a realidade transcendental
^ teología da libertacao i?

do Senhor. Na verdade, os citados teólogos latino-americanos


procuram reconhecer as duas faces do Cristo: a misteriosa e
divina, ao lado da humana, comprometida com a historia e
os homens.

Estas concepgóes permitem caracterizar melhor a liber-


tagáo preconizada por tais autores. Ela se realiza em tres
planos ou níveis, que nao sao etapas cronológicas, mas que,
mesmo quando simultáneos, nao devem ser confundidos
entre si:

a) o primeiro n'.vel é o sócio-político, que incluí os valo


res políticos, económicos, sociais e culturáis; visa a construir
urna sociedade nova, na qual os oprimidos deixaráo de ser
oprimidos;

b) o segundo nivel é o da formacáo de um homem novo.


Os homens, no decorrer da historia, tém procurado dominar
a natureza; mas, mesmo conseguindo o dominio sobre a natu-
reza, o género humano nao está livre de alienares. É pre
ciso, pois, levar o homem a tornar-se agente da sua própria
Iiistória mediante a conquista de urna liberdade criadora; é o
que se obtém através de urna revolucáo cultural permanente;

c) o terceiro nivel é o da libertagáo frente ao pecado.


Diz respeito ao mal que está no coragáo do homem e o torna
injusto e opressor. O pecado sempre tem consaqüéncias so
ciais; é ele que gera as sociedades in'quas, ñas quais se dá a
dominagáo do homem pelo homem. A libertagáo radical
frente ao pecado se deve a Cristo, que a outorga como dom
gratuito.

Estes tres níveis de libertagáo se condicionam mutua


mente e encontram seu sentido profundo na obra de Cristo
Salvador.

A quem perguntasse se tais concepcoes nao vém a ser


urna «teología marxísta» ou um marxismo camuflado, os teó
logos da libertagáo responderían! negativamente. Diriam, sim,
que o marxismo estimulou a sua teología, levando-os a «refle-
tir sobre o sentido da transformacáo deste mundo e sobre a
acáo do homem na historia». Reconheceriam também que o
método marxista de análise da sociedade tem sido aplicado ao
caso da América Latina, constribuindo para mostrar a situagáo
de dependencia desta em rela;áo aos Estados Unidos e a cer-
tos países da Europa:... dependencia política, militar, cultu-

— 17 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

ral, religiosa. Mas afirmariam que as concepgóes e as metas


da teologia da libertagáo tém sua fonte na Biblia, de modo a
corresponder ao genuino pensamento bíblico-cristáo.

Es por que novo título se coloca nesta seqüéncia:

2.3. Insplracao bíblica

A Biblia tem como fundo de cena da sua mensagem um


processo de libertacáo empreendido pelo Senhor Deus em favor
do seu povo reduzido á servidáo no Egito; é o chamado
«éxodo» de Israel sob a direcáo de Moisés. Javé nao quis
apenas exortar o povo a se libertar da escravidáo espiritual
do pecado e reformar a sua vida interior; quis também eman
cipar Israel do jugo de opressáo a que Faraó o submetia. As
promessas messianicas que Deus fez ao seu povo durante toda
a historia de Israel, tinham aspectos terrestres, sociais; o
aguardado Reino de Deus teria expressóes concretas, como a
instauracáo da paz, da justiga, o respeito aos direitos dos po
bres, a punigáo dos opressores e, em suma, urna nova ordem
de coisas espiritual e material. Tenha-se em vista, entre
outros, o texto de Is 65,19-22:

"Nfio se ouvlrfio mals em Jerusalém choros nem lamentos... Nlo


haverá all menino que morra com doucos días, nem anclfio que nfio com
plete os seu3 días... Construlrfio casas e habltarSo nelas: plantarlo
vlnhas e comeráo o seu fruto. Nao edlflcar&o casa9 para outrem habitar,
nem plantarfio para outrem recolher".

Tais promessas, diz a teologia da libertagáo, foram espiri


tualizadas indevidamentc. Na verdade, a salvagáo e a felici-
dade prometidas pelo Senhor Deus aos homens, além de ter
significado íntimo, espiritual, tem também suas conseqüéncias
e expressóes meteríais e sensíveis: o encontró do homem com
Deus se realiza átravés dos acontecimentos da historia; Deus
chama o homem a caminhar dinámicamente em demanda de
algo de melhor, que se deve realizar mediante transformacóes
históricas; nao há ordem definitivamente estabelecida aqui na
térra; a Biblia inspira o senso crítico frente a todas as socie
dades e todos os sistemas económicos. Em outros termos: a
salvagáo prometida pela Biblia nao é abstrata, a-temporal, des
ligada do tempo e da historia, estática, essencialista, mas é
temporal, histórica, dinámica, abrangendo o homem todo (espi
rito e materia), e nao apenas a alma do homem.

— 18 —
TEOLOGÍA DA LEBERTACAO 19

"O ctistÉo ó um homem Imerso no devenir histórico, mas é tambórn


o homem da insatisfecho constante, da 'revolucáo permanente' a empreen-
der. O crlstSo nao pode, ou nao deverla Jamáis, ser um homem 'Insta
lado1" (Fr. Malley, art. citado, p. 26).

Afirmando o cunho bíblico da teología da libertagáo, os


seus arautos também afirmam o seu

2.4. Aspecto místico

Os teólogos da lihertacáo professam compreensao da ne-


cessidade que incumbe ao cristáo de se dedicar á oracáo e á
contemplacáo. Julgam, porém, que essa contemplacáo nao se
faz fora do mundo, mas, sim, no mundo e na luta por um
mundo novo. Para o afirmar, baseiam-se no texto evangé
lico em que Jesús se identifica com os irmáos pequenmos e
necessitados. Dirá Ele um dia: «O que fizestes ao mínimo de
meus irmáos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25,40). O encon
tró com o irmáo necessitado e o servigo que se lhe preste, pro-
porcionam urna experiencia de Cristo, experiencia que tem o
seu valor contemplativo.

O encontró direto com Cristo na oracáo explícita lembra


o absoluto e o transcendental da pessoa de Jesús Cristo. O
encontró com o irmáo lembra que esse Cristo prolonga a sua
presenta em cada homem, de sorte que o amor ao próximo é
inseparável do amor a Deus. O servico aos irmáos dá á cons-
ciéncia crista a sua dimensáo social, evitando que se torne
puramente individual, «privada>, platónica.

Ora na América Latina os «pequeninos» sao nao apenas


pessoas individuáis, mas também grupos humanos, culturas
margináis, classes e setores soctais... Existe nestes urna pre-
senga coletiva de Jesús; experimentá-la constituí auténtico ato
contemplativo.

A contemplacáo assim entendida dá um conteúdo socio-


-político á fé; esta adquire urna dimensáo histórico-social, sem,
porém, se reduzir a esta. O Cristo encontrado e contemplado
na oracáo «prolonga-se» no encontró com o irmáo; o «Outro»
experimentado na oracáo contemplativa é experimentado tam
bém no encontró com «os outros». Assim a mística crista é
essencialmente urna mística de compromisso ou engajamento.

Para o homem político da América Latina, o éxodo de


Israel detido no Egito vem a ser um acontecimento típico.

!- 19 •*-
20 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

Moisés aparece como o grande modelo que inspira a espiritua-


lidade do compromisso político. Com efeito, Moisés sempre
teve muito vivas ante os olhos as grandes notas da sua mis-
sáo. Sabia que a libertagáo política de Israel cativo no Egito
fazia parte de um plano de Deus muito mais ampio, que envol
vía a salvacáo definitiva do povo de Deus. Sabia também que
os seus esforcos ficariam sempre incompletos, algumas vezes
seriam frustrados ou rejeitados, porque o Libertador único e
definitivo do povo nao era ele, mas Aquele cujo reino nao terá
fim. Com esta consciéncia ele se entregou á sua tarefa firme
mente até o fim, pois a esperanca que o animava nao lhe
vinha dele mesmo, mas lhe era renovada diariamente no
encontró com o Senhor.

Os frutos de tal compromisso sao assim apontados pelo


teólogo chileno Segundo Galilea:

"Mullos fiéis fazem a experiencia de urna colaboracSo com o Senhor


em terefas redentoras, que sao parte da construefio do Reino. Consa
grándose a urna mlssSo de índole sóclo-polfltca, muitos deles pessam por
urna evolugfio. Tendlam a questionar a sua fé e mesmo a perdé-la; agora
sentem-se fortalecidos na fó, reencontram a oracáo e descobrem de novo
o valor desta. Multas vezes mal preparados para essa missSo..., vflo
descobrindo profunda aflnldade entre a fé e as suas opcoes.

Como crlstfios, reagem contra urna salvacfio a-hfstórica. Véem a sal-


vacao mais ligada a engaiamentos temporals e políticos, se bem que nao
a reduzam a urna libertacSo temporal... O seu engajamento mesmo, por
vezes multo radical, levou em muitos casos a sua fó até elevado grau de
mística crista" (S. Galilea, "La llbératlon en tant que encontré de la poli-
tlque et de la contemplatlon". em "Conclllum" 96 [junho 19741. p. 22).

A propósito, costumam os autores citar o caso de Néstor


Paz Zamora (Francisco, segundo o seu nome de guerra), fale-
ddo há pouco mais de quatro anos como guerrilheiro cristáo
na Bolívia; deixou um «Jornal», que exprime profunda espl-
ritualidade, no dizer de alguns leitores. Assim se vé que nao
há oposigáo entre vida espiritual e compromisso político.

Propusemos estas linhas típicas da teología da llbertacáo


á guisa de informacáo do leitor, sem tencionar endossá-las.
Compete-nos agora refletir sobre quanto foi dito.

3. Ponderando o temática

Distinguiremos tragos positivos e negativos.

_ 20 —
teología da libertacao 21

3.1. O lado positivo

1) ti certo que a salvacáo proposta pelas Escrituras Sa


gradas atinge o homem todo (alma e corpo) e todo homem;
por consegulnte, nao se reduz ao plano do espirito e do invi-
sível apenas, mas tem repercussoes na materia e no bem-estar
físico de todos os homens. A doutrlna social da Igreja tem
proclamado esta verdade de maneira cada vez mais explícita,
desde Leáo XIII a Paulo VI; tenham-se em vista de modo
especial a encíclica «Populorum Progressú» e a Carta «Octo
gésima Advenlens» de Paulo VI.

2) Também é certo que o Reino de Deus, prometido pelos


Profetas e anunciado por Cristo, nao é reaíidado meramente
futura ou posterior & historia dos homens na térra; ao con
trario, ele tem inicio antes da segunda vinda de Cristo e tende
a desabrochar-se nos tempos atuais, inspirando e penetrando
todas as instituicóes da sociedade como urna sementé que ex
pande a sua vitalidade. Por conseguinte, é para desejar que
a injustiga, o amor e o senso de fraternidade, típicos do Reino
de Deus, váo debelando desde ja a injustiga, o odio e as divi-
sóes que o primeiro pecado introduziu na térra.

É necessário, porém, acrescentar que, numa auténtica


visáo crista, a isengáo de todos os males físicos e moráis nao
se obterá jamáis na historia deste mundo; enquanto a huma-
nidade for peregrina sobre a térra, deverá lutar sempre con
tra o pecado e suas conseqüéncias; poderá mesmo acontecer
que o pecado se torne mais requintado com o decorrer dos
tempos nesta ou naquela regiáo. O Reino de Deus só será
plenamente instaurado quando a última inimiga, a morte, esti-
ver totalmente vencida pela ressurreigáo dos mortos (cf. 1
Cor 15, 25-27). É a conscisncia destas verdades que impede
o cristáo de se iludir quanto á utopia de urna «salvacáo con
sumada» sobre a térra; é isto também que o conserva sempre
ansiosamente aberto a transcendencia ou as realidades defini
tivas.

3) Nao ha dúvida, o cristáo traz boa parte da responsa-


büidade pela implantacáo da ordem social. A política (na
medida em que significa a arte de comunicar harmonia e pros-
peridade á sociedade) nao é alheia ao cristáo. Pode haver
mesmo vocacóes políticas, como há a do médico, a do advo-
gado, a do engenheiro, etc. Peló fato de militar na política
(com reta intensáo e consdéncia pura, como se compreende),

-21 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 181/1975

o cristáo nao se deve sentir alheio a vida de oragao e a ele


vada espiritualidade; ao contrario, é através mesmo das suas
atividades seculares que ele se deve santificar; unindo-se aos
irmáos com auténtico amor cristáo, une-se cada vez mais a
Cristo e vice-versa.

Estabelecidos estes principios, importa-nos verificar os


pontos em que a teología da libertacáo merece serias restri-
góes.

3.2. Enfoque diverso

Procederemos por etapas:

1) Embora o problema da injustiga social seja inegável


e premente, pode-se dizer que os teólogos da libertagáo o colo-
cam de maneira unilateral. É o que os leva a conclusóes, por
vezes, inaceitáveis.

Com efeito. Em algumas das teses atrás propostas, trans-


parecia o primado do homem em relacao a Deus; o Cristia
nismo aparece como um sistema de reforma social. Nesse sis
tema, em termos explícitos ou implícitos (de maneira cons
ciente ou subconsciente), Deus está presente, s'm, mas pre
sente mais como catalisador e motivador da reforma do que
como Alfa e Omega de todo o processo. O Cristianismo asshn
concebido torna-se antropocéntrico, fazendo de Deus (ao me
nos, implícitamente) uma fungáo do homem ou redusindo Deus
a sua imanéncia no homem; donde fácilmente se chega a um
«Cristianismo sem Deus» ou «Cristianismo ateu». Neste con
texto, Cristo é concebido como o «homem para os outros»,
como se toda a missáo de Cristo se resumisse no servigo a
humanidade, sem se levar em conta o amor e a glorificagáo
ao Pai que foram o segredo intimo de toda a missáo terrestre
de Jesús.

2) Também nao se pode esquecer que o agir do cristáo,


embora esteja voltado para situares concretas, nao visa ape
nas a remediar a essas situagóes segundo criterios de antro
pología, economía, sociología ou filosofía política..., mas a
solugáo a que o Cristianismo visa está envolvida em um plano
maior de salvacáo concebido por Deus; em conseqtiéncia, o
cristáo depreende os seus criterios de acáo (praxis) nao so-
mente das ciencias humanas, mas também, e primeramente,
da fé e das proposigóes que se prendem a esta. A teología,

— 22 —
TEOLOGÍA DA LIBERTACAO 23

portante, nao pode deixar de ser, antes do mais, a penetragáo


das verdades da fé ou da Revelagáo Divina; em segunda ins
tancia ( o que nao quer dizer: desinteressadamente), a teología
aponía ao cristáo as linhas-mestras do seu agir.

Em outros termos: os criterios da ética crista sao dedu-


zidos da fé, que tem valores perenes a encarnar dentro de
situacóes contingentes e momentáneas. Disto se segué que a
ética crista nao aceita nem legitima qualquer meio de acáo
(co fim nao justifica os meios»), nem o esforzó do cristáo
pode ser valorizado apenas em fungáo dos resultados socio
económicos que ele atinja (embora estes sejam importantes);
mas a tarefa do discípulo de Cristo há de ser avallada na
medida em que corresponde a urna identificagáo íntima do
cristáo com Cristo. Ora Cristo expulsou, sim, os vendilhóes do
templo, mas ensinou a mansidáo do coracáo (cf. Mt 11,28-30)
e a transcendencia do seu Reino (cf. Jo 19,36).

3) A fundamentacáo da teología da libertacáo na Biblia


merece atengáo mais detida:
A obra de Moisés, homem de Deus e m'stico, teve
realmente sua repercussáo sócio-politica; Moisés se empenhou
ardorosamente por emancipar seu povo da opressáo egipcia.
Note-se, porém, que o fez em virtude de explícita ordem de
Deus, 4 qual Moisés a principio quería subtrair-se. O Senhor
o encorajou e incitou a come^ar a perseverar, dando-lhe sinais
evidentes de sua santa vontade.

O mesmo aconteceu com os profetas bíblicos (Jeremías,


Amos, Oséias...), que costumam ser apontados como proto
tipos do profeta cristáo em nossos dias K Observe-se que os
profetas bíblicos:

a) desempenharam sua missSo por explícito mandato do


Senhor Deus, nao raro depois de haver relutado (cf. Jeremías,
Amos...);

b) embora recriminassem severamente os vicios e as


lnjusticas dos maiorais de Samaría ou de Judá, nunca incita-
ram o povo á violencia ou á rebeliáo armada para instaurar
nova ordem social.

»Tenha-se em vista, entre outras multas, a seguirte paasaoem de


Amos: "Já que oprimía o pobre e dele exigís tributos de trigo, nSo habi
tareis nesses palacios de pedra que construlstes. Nfio beberéis o vlnno
das vlnhaa excelentes que plantastes" (Am 5,11).

— 23 —
34 cPERGüMTE E RESPONDEREMOS* 181/1975

Pois bem. É difícil a um cristáo em nossos días, diante


das situagóes políticas com que se defronte, ter certeza abso
luta de que Deus o chama para um empreendimento seme-
lhante ao de Moisés. Com efeito; as conjunturas políticas hoje
em dia sao complexas, perpassadas por muitas correntes, ins
piradas por numerosas tendencias que as tornam as vezes am
biguas. Pode acontecer que os mesmos programas sejam pro-
postos por fac;óes antagónicas entre si. Em tais circunstan
cias, nao é fácil a um cristáo dizer sem hesita;áo alguma que
somente tal ou tal opcáo política é certa ou é fiel ao Evan-
gelho e que qualquer outra vem a ser covardia ou traicáo.
Também da parte de quem faz sua opcáo política requer-se
grande isengáo de paixóes, assim como racioc'nio sereno e
objetivo, para que possa dizer que descobriu a solugáo crista
e pretender que outros a sigam. É certo que existe nao pe
queño risco em identificar determinada op'áo política com
Cristianismo e Evangelho, pois em muitos casos pode haver
manipulagáo do Evangelho e redugáo deste a partidarismo
político.
Verdade é que os teólogos da liberta-ao dizem estar cons
cientes deste perigo e respondem que o Espirito Santo inspira
a comunidade crista e faz descobrir aos cristáos os auténticos
aivitres da caridade evangélica em tal ou tal situagáo. Diante
de tal afirmacáo, pode-se observar que, nao há dúvida, o Es
pirito guia os seus fiéis, mas nem sempre é fácil distinguir
as genuinas inspiragóes do mesmo; como em todos os tempos,
também hoje ha carismas e «carismas».

4) O binomio «opressores e oprimidos», designando res


pectivamente ricos e pobres, pode ser simplório e injusto. Pois,
na verdade, há pessoas de posses honestamente adquiridas que
tém apurado senso de justiga social, como pode também haver
pessoas indigentes que oprimam... a quem possam e como
possam. Nao é lícito, pois, rotular pejorativamente a pessoa
humana pelo simples fato de pertencer a determinada cate
goría social. Nao se deve faiar de pecado ooletlvo senáo depois
de se ter certeza de que cada um dos membros dessas coleti-
vidades é pessoalmente réu desse pecado; cada pessoa humana
merece atengáo em si mesma, e nao deve ser rotulada por
criterios impessoais ou coletivistas. Leve-se, pois, em conta
a maneira como cada pessoa vive o momento e as oportuni
dades que Deus lhe dá.

Nao se pode esquecer também que as vezes certas pes


soas se véem a contra-gosto envolvidas em situagóes que lhes

— 24 —
^ _^ TEOLOGÍA DA LJBERTACAO 25

desagradam profundamente e as fazem sobro no seu intimo;


todavía tais pessoas no momento nao tém solugáo para essas
situagóes, visto que a solucáo nao dependería apenas de um
ou dols responsáveis, mas de um conjunto de pessoas e cir
cunstancias que em tal momento nao sao propicias. Freqüen-
temente, o cristáo, preso nos la;os de sua dolorosa situagáo,
esforga-se por dar-lhe o remedio, preparando os cammhos da
justica. Quem assim procede, nao pode ser acusado de iniqüi-
dade e opressáo; somente Deus vé o íntimo das consciéncias e
julga o grau de sinceridade com que o cristáo procede para
debelar a injustiga e implantar a ordem social. Um observa
dor critico que nao queira cair, ele mesmo, na injustiga, nao
pode ignorar que se dáo realmente tais casos.

De resto, o apostólo cristáo é devedor a ricos e pobres,


grandes e pequeños... Há ricos que se dizem crlstáos e que-
rem ser fiéis á sua fé. A estes o apostólo ou o pastor pro
curará ajudar para que tomem consciéncia dos seus deveres
de cristáos abastados; é pela palavra inteligente e banévola ou
pelas etapas de auténtica formagáo crista que se crlam men
talidades e comportamentos duradouros, e nao pela hostill-
dade de linguagem ou pelo distanciamento preconcebido. Ao
apostólo cristáo compete exercer um servro de reconciliagáo
dos homens entre si e com Deus, á imitagáo de Cristo e dos
primeiros apostólos; essa reconciliagáo há de ser tentada, antes
do mais, pela apresentagáo de valores humanos e cristáos (a
verdade, o amor, o testemunho da vida); somente se este pro-
cesso é infrutífero, pode-se tornar-se lícito ao. cristáo pensar
em debelar o mal por outros métodos.

A radicalizagáo da distingáo entre ricos e pobres, gran


des e pequeños, e o áticamente da luta destes contra aqueles
nao somente podem redundar em novas formas de injustiea,
mais também podem dar ocasiáo á infiltragáo do marxismo
em fileiras cristas, pois é o marxismo que propugna categó
ricamente tal luta.

5) Em última análise, o enfoque cristáo do problema


social é inseparável do fundo de cena bíblico mais remoto e
decisivo do que qualquer outro, fundo de cena que se exprime
por estas palavras: queda inicial, salvado pela Cruz de Cristo,
Batlsmo e Eucaristía. Se hoje o homem oprime o homem ou
se Caim matou (e continua a matar) Abel, é porque o pri-
meiro homem se afastou de Deus, tornando-se auto-suficiente
e egocéntrico. Para livrar o homem da servidáo do pecado e

— 25 —
26 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

da morte (assim introduzida no mundo), Cristo tornou-se o


novo Adáo, obediente até a morte de Cruz; assim cancelou a
desobediencia do primeiro Adáo. É mediante a participacáo
na morte e ressurreigáo de Cristo pelo Batismo e a Eucaristía
que o homem hoje consegue o principio de sua liberta;áo; esta
é, antes do mais, libertagáo frente a morte, a qual o pecado
condenou o homem. A libertagáo crista é, antes do mais,
libertacáo frente ao pecado pessoal de cada homem; na me
dida em que esta se realiza, pode-se crer que o pecado cole-
tivo também vá sendo debelado. Libertando-se interiormente
do pecado, o cristáo em sua agáo social saberá combater a
injusticia, sem odio nem paixáo desregrada, num auténtico
amor a seus irmáos.

Esta posigáo genuinamente crista é fornuíada pelo S. Pa


dre Paulo VI num discurso proferido diante do Grupo italiano
cLaid per l'America Latina», grupo vinculado á Comissáo
Episcopal Italiana para a América Latina (CEIAL); este
grupo interessa-se especialmente pelas questóes sociais do nosso
continente, ao qual tenciona ser útil. Ora o grupo «Laici per
l'America Latina» realizou em julho pp. a sua assembléia
anual, que versou sobre o tema «O homem novo» (tema que
encontra rafzes e ressonancias tanto ñas cartas de Sao Paulo
quanto nos documentos do marxismo). Ao termo da assem
bléia, o grupo foi recebido pelo S. Padre Paulo VI aos
31/VH/74, que, sabedor das dificuldades e divergencias oriun
das nos dias anteriores entre os membros da assembléia,
houve por bem pronunciar as seguintes palavras:

"A obra da Cristo é urna llbertacáo. Llbertacfio de que? — Libar*


tacáo da morte, a qual o pecado (que é separacáo da nossa vida, da
tonto prImaira, verdadelra e necessátla da Vida divina) nos havla desti
nado. Cristo ó para nos, numa ordem eminente, nova clacSo (cf. Gal 5,15;
2 Cor 5,17). A reconcillacáo com Deus, que nos fol obtlda por Cristo,
nos faz revlver, hoje na graca, amanhS na gloria, se tivermos a aorte
prometida desta definitiva e triunfante llbertacáo.

A teología da salvac&o pode, poi3, ser vista através deste prlsmt


de real libertacáo... Grande sabedorla á compreender a libertacáo que
a nossa fó e também corta experiencia nossa nos dlzem ocorrer em vlr-
tude da salvacáo realizada por Cilsto. Essa llbertacáo significa aermos
admitidos á reconclllacSo real com Deus e exonerados dos tristes desti
nos do pecado, aliviados do pesadelo da fatalldade do mal e da obscurl-
dade da morte, tranquilizados acerca da natureza e da finalldade nfio
maléfica, mas providenciáis, da dor, reanimados — após a afllcgáo do
desespero e a dúvlda sobre a falta de significado da nossa existencia —
pela esperance... e aínda termos sido admitidos na economía e na escola
do amor. Isto é urna ventura tfio grande, táo Intensa novidade... que

— 26 —
TEOLOGÍA DA LIBERTACAO 27

merece da nossa parte urna reflexfio teológica, sobretudo porque sabemos


que é a Verdade que nos torna llvres (cf. Jo 8,32).

Mas há maia. A llbertapio crista tem poder regenerador: toma-nos


bons, otlmlstas, ágels e Inteligentes em fazer o bem, para além do nosso
Interesse. Desprende-nos dos vínculos do egoísmo, do medo, da pre-
gulca, e permite á nossa llvre personaildade expandir-se no senilmente e
na atlvldade social; os homens apresentam-se-nos nfio ]á como massa
esmagadora de estranhos, concorrente3 ou inimlgos, mas como multtdáo
atraente formada por semelhantes, companhelros, IrmSos nossos, os quals
ó um dever e urna honra amar e prestar-lhes servlco. O valor social da
llbertacfio crista brota da carldade, que se tornou precelto e heranca do
seguidor de Cristo. Por isto urna concepcfio nova da vida social prolbe-
-nos cristalizar o aspecto estático das condicfies humanas, quando estas
fomentam a deslgualdade e a riqueza egoísta; e, por outro lado, enstna-
-nos que o dinamismo social, se é promovido pelo odio, pela violencia e
pela vinganca, nio nos leva á llberdade desojada, nem ao verdadelro pro*
gresso humano.

Dever-se-á, pola, estar atento, a flm de que a llbertacáo que nasce


da fó crista, tal como é professada pela lgre|a Católica, conserve a sua
lógica derlvacfio e a sua destlnacfio polivalente, mas auténtica; salba tra»
duzlr-se em expressSes fecundas e oilglnals, com novo vigor e Inteligente
IntulcSo das necessldades que o desenvolvlmento da clvIilzacSo, tonga de
aplacar, torna mala obvias e exigentes. Dever-se-á estar atento — acres-
centamos — para que a llberdade cilstfi nao seja Instrumentallzada para
fins provavelmente políticos, nem colocada ao servlco de ideologías radi
calmente discordantes da concepcSo religiosa da nossa vida, nem aínda
subjugada por movlmentos sócio-pol (ticos contrarios á nossa fé e a nossa
Igreja, como Infelizmente a experldncia mundial hoje demonstra. NBo seja-
mos cegosl

A HbertacSo crista nSo deve assumlr um significado diverso ou mesmo


talvez contrario ao seu genuino valor; o que, multo provavelmente, acon
tecería caso também ela se tornasse sinónimo de luta aprlorlstica e pro*
gramática entre as classes soclais, hoje mais do que nunca convidadas
pelas próprlas lela do progresso económico a conceberem as suas reía*
9383 em termos de complementariedade, de co-partlclpacfio e de colabo-
racfio, eem serem estimuladas pela obcecante mlragem de urna revotucSo
social radical, destinada a transformar-se em prejuizo comum, multo difí
cilmente reparável. As estruturas jurídicas que se hajam tornado opres-
slvas e Injustas, deveráo, slm, submeter-se nao a 'análises' materialistas
e em grande parte científicamente ultrapassadas, como se tal3 'análises'
fossem de fato libertadoras e Integralmente humanas, mas, antes, a sabia,
coerente e atlva critica dos principios soclals e religiosos crlstfios, ensl-
nados e proclamados com coragem evangélica. £ Isto o que também a
.Igreja, com a colaboracáo de sabios mestres, pode e deve fazer, pela voz
dos seus Pastorea e do povo fiel... Aquelas estruturas Jurídicas deverfio
ser reformadas mediante urna agao esclarecida e forte dos cldadfios bons
e llvres, para os quals aqueles mesmos piinciplos cilstfios, longe de serem
obstáculos que estorvam, podem constituir luz Inspiradora e Incompa.ável
estimulo para a regeneragSo tenaz de urna socledade moderna e pacifica,
ordenada segundo urna justlca constantemente atuallzada e um amor sem-
pre fraterno e cívico".
28 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

Como se vé, Paulo VI identifica entre si «libertacao» e


«salvagáo». Acentúa, porém, que esta nao deve servir a fina
lidades políticas nem deve ser identificada com luta precon
cebida e programática entre as classes sociais. Com isto, fica
dissipada a concepto de que a libertagáo crista nao toma seu
verdadeiro sentido senáo no plano económico e social. Na
verdade, a libertagáo crista já foi adquirida por Cristo; ela
tende a se desenvolver e aplicar através dos sáculos para
atingir a sua plenitude na escatologia ou na consumagáo dos
tempos. Quanto as análises das situagóes sociais apregoadas
por arautos católicos da libertagáo, o Papa as qualiflca de
materialistas e científicamente superadas. Estas verdades, po
rém, nao querem dizer que a salvagáo crista nada tem que
ver com a renovacáo da ordem sóclo-económica de nossos
países; com efeito, a ressurreigáo de Cristo tem projegáo no
mundo inteiro; este nao é o reino do diabo; mas há de ser
mais e mais penetrado e regido pelos principios da justiga e
do amor que o Evangelho apregoa. .

É para deseíar que a fé e a sabedoria inspiradoras das


■palavras de Paulo VI se comuniquem a todos os homens!

Bibliógrafo:

Revista "Conclllum" 1974: "Praxis de llbératlon et fol chrétlenne (tam-


bém em portugués).
Leonardo Boff, "Jesús Cristo Libertador". Petrópolls, 1972.
ídem, artlgos mensals na revista "Grande Slnal" ano 28 (1974).
Enríeme Dussel. "Para una eüca de la liberación latinoamericana".
Buenos Aires 1973-1974 (tomos I, II e III).
Varios, "Liberación: Diálogos en el CELAM". Bogóte 1974.
Hugo Assmann, "Opresión-liberación, desafio a los cristianos". Mon-
tevldéu 1971.
Rubem Alves, "El pueblo de Dios y la liberación del hombre", Fi
chas de ISAL. Montevldéu 3 (1970).
Eduardo Plronio, "Teología de la liberación", em "Criterio". Bue
nos Aires 1606 (1970).
ídem, "Escritos Pastorales". Madrid 1973.
Juan L. Segundo, "De la sociedad a la teología". Buenos Aires 1970.
Pr. Malley, "Les chróllens d'Amérlque Latine ont redecouvert Jesijs-
-Chrlst llbérateur", em "Croissance des Jeunes nallons", n? 151, sept. 1974,
pp. 19-26.
J. Mejía, "El tema de la liberación y el Papa", em "Criterio" n» 1968,
22/VIII/74, pp. 456-468.

— 28 —
Entre as tensSes dos nossos lempos:

progresso e tradkáo no cristianismo

Etn sintase: O artigo abalxo resume e adapta Idélas do Prof. Pe.


Hans Pfell, da Unlversidade de Bambetga (Atemanha) expostas no estudo
"Für und wlder das Tradlllonschilslentum", estudo que o mestre desejou
fosse divulgado no Brasil.

Entre dols tipos de Cristianismo (Catolicismo) — o extremamente fe


chado ou conservador e o radicalmente reformista ou (novador — colo-
ca-se a imagem do Cristianismo que sabe assoclar entre si harmonlosa*
mente TraaicSo e Progresso. Essa Imagem procede da conscléncla de que

— há elementos essenctala e imulávels na Igreja: tais 03 artlgos


da fé, deduzldos da S. Escritura e da Tradlcáo e auténticamente enslnados
pelo magisterio da Igreja. É também Imutável a constltuicfio episcopal da
Igreja, tendo á frente o bispo de Roma ou o Papa, a quem Cristo pro»
meteu assisténcia infallvel para confirmar seus Irmaos na fé; cf. Mt 16,16s;
Le 22,32; Jo 21,15-17;

— há elementos acidentals e mutávels na Igreja. Tais efio certas


expressOes das verdades da fé que devem ser formuladas (sem prejufzo
do seu conteúdo) de manelra intellglvel aos homens de cada época. Tais
sio também certos costumes e certas normas disciplinares, litúrgicas, jurí
dicas, que dependem de certa cultura, e nao podem ser uniformemente
impostas aos homens que nSo compartilhem a mesma cultura.

é Inevltável certa renovacao das formas acidentals da Igreja. Querer


impedi-la significa contradizer á realidade da vida. Todavía é preciso que
essas reformas acidentals, para ser frutuosas, preencham duas condlcSes:
sejam licitas (atetando apenas o acldental) e oportunas (condlzente3 com
as necessidades da Igreja na regiáo e na populacfio em que se dé a
reforma em foco). Nem tudo que é licito é oportuno e desejável, em ma
teria de ronovagSo da Igreja.

é asslm que se pode configurar a sCntese entre Tradlcáo e Progresso


na Igreja de hoje. ■

Comentario: De 14 a 20 de julho de 1974 realizou-se a II


Semana Internacional de Filosofía em Petrópolis (RJ), de que
participaran! grandes mestres nacionais e estrangeiros, entre
os quais estava o Prof. Pe. Hans Pfeil, de Bamberga na
Alemanha. Este pensador, em palestras e escritos, expós o seu
pensamento a respeito da influencia de correntes filosóficas no

_ 29 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

Cristianismo de nossos días, exprimindo o desejo de que


«Pergunte e Responderemos» se interessasse por divulgar as
reflexóes do mestre. É o que vamos fazer abaixo, servindo-
-nos de um escrito de Hans Pfeil intitulado «Für und wider
das Traditionschristendum» 1 (sem data). Essa estudo, distri
buido pelo Prof. Hans Pfeil aos semanistas, será por nos
abreviado e devidamente adaptado ao público brasileiro, fi-
cando, porém, incólume o pensamento do autor alemáo.

Tratar-se-á das relagóes entre Cristianismo e Tradiclo,


entendendo-se «Tradigáo» em sentido ampio; abrange, no ca
so, tudo aquilo que vinha sendo transmitido de geracáo a ge-
racáo no Cristianismo (ou, mais precisamente, no Catolicismo)
até o Concilio do Vaticano II (1962-1965): verdades de fé, sen-
tengas comuns entre os teólogos, preceitos moráis, costumes
e usos disciplinares, jurídicos, litúrgicos, etc. O objetivo do
presente estudo será averiguar os criterios aptos para se re
solver a tensáo hoje vigente entre «conservadorismo» e «pro-
gressismo» e se conceber a auténtica face do Cristianismo em
nossos dias. — Como se vé, o problema é candente.

1. Dois tipos de Cristianismo

Embora toda esquematizacáo corra o risco de ser uni


lateral, distinguiremos, por motivos método] ógicos, dois tipos
de Cristianismo a se defrontar: o tradicionaiista e o pro-
gressista.

1.1. Tradicionalismo

Há hoje em dia cristáos que desejam conservar sem dis-


tincáo todo o patrimonio da TradigSo e, conseqüentemente,
recusam toda e qualquer inovagáo, seja no modo de falar,
seja no modo de se comportar da Igreja. Rejeitam, por exem-
plo, qualquer tentativa de se reformularem as verdades da fé
(guardando-se incólume o seu conteúdo), a fim de exprimi-
-las no contexto do mundo de hoje ou aprofundá-las em vista
de problemas colocados pelo pensamento contemporáneo; de-
fendem todas as opinióes ontem vigentes entre os moralistas,
sem distinguir entre a Lei de Deus e as normas contingente
mente impostas aos cristáos cm conseqüéncia de determinada

i"A favor ou em contrario do Cristianismo de Tradlgfio".

«-30 —
PROGRESSO E TRAPICHO

fase de cultura ou determinada estrutura da sociedade;


opóem-se outrossim as inovagóes litúrg'cas, considerando
mesmo alguns ritos ou livros litúrgicos posteriores ao Concilio
do Vaticano n como heréticos...

Esses cristáos sofrem profundamente ao verem que certas


expressóes da Igreja em nossos dias se alteram; teñí a impres-
sáo de que o pecado é o sacrilegio se instauram cada vez
mais no santuario de Deus. É por isto que se mostram insa-
tisfeitos e desgostosos. — Toma-se necessário que os demais
cristáos, mesmo que nao compartilhem as concepc.5es dos
tradicionalistas, reconhesam o zelo «subjetivo» que os move, e
saibam prestar-lhes o seu testemunho de amor fraterno e de
respeito, que sao a única atitude concebivel entre crktáos1.

1.2. Reform!smo radical

Frente aos incondicionais adeptos da Tradigáo, existem


os cristáos que, movidos por esp'rito de reforma incondicio
nal ou pelo gosto da novidade, desdizem o que lhes foi entre
gue, e propóem alteragóes radicáis no testemunho que o Cris
tianismo deve dar aos homens de hoje. A fim de poder encon
trar audiencia por parte dos nossos contemporáneos, expóem
as verdades da fé de maneira que muda essencialmente o seu
sentido originario, ou questionam essas verdades de modo a
lhes esvaziar o conteúdo. Desejosos de nao «assustar» os que
se poderiam interessar pelo Cristianismo, atenuam ou mesmo
cancelam certos preceitos da Moral crista. Para tornar mais
atraentes as celebracóes da Liturgia, menosprezam os ritos
oficiáis e tomam a liberdade de fazer experiencias de culto
divino que confundem ou mesmo escandalizan! muita gente.

Reconhecemos que em muitos casos o erro objetivo pode


ser sustentado com boa fé e candura subjetivas; s6 Deus jul-
ga a consdéncia de quem diz ou faz algo de erróneo. Nao há
dúvida, em muitos dos inovadores radicáis existe boa inten-
gáo e sincero desejo de acertar e tornar o Cristianismo cada
vez mais atuante na sociedade contemporánea. Nao é menos
verdade que em nao poucos outros casos existe mais levian-
dade e superficialidade do que inspiragáo teológica e mo-
tivagáo profunda para as inovagóes. Como os seus irmáos do

i Dlzla Jesús: "Nlsto reconhecerSo todos que sois meus discípulos,


m vos amardes uns aos outros... Asslm como eu vos ame), também vos
devela amar uns aos outros" (Jo 13,34s).

— 31 -
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

extremo oposto, muitos inovadores também sofrem, pois sen-


tem que nem sempre sao compreendidos, passando por infléis
e traidores... — É, pois, para desejar que os demais cristáos,
ainda que alheios ao seu modo de pensar, os saibam tratar
com amor sobrenatural, procurando imitar o Servidor de Javé,
que, conforme o profeta Isaías, «nao quebraría o cani;o ra-
chado nem apagaría o pavio ainda fumegante» (Is 42,3).

1.3. Que dizer?

Nao há quem nao sinta a problemática atrás exposta. Na


realidade, todo fiel católico encontra irmáos que defendam,
total ou parcialmente, urna ou outra das duas posigóes ex
tremas .

Ambas labutam em erro1, como é fácil reconhecer.

a) Com efeito, aos conservadores extremados pode-se


lembrar que os tempos mudam, acarretando novas culturas e
novos tipos de dvilizagáo. Em particular, os tempos atuais
sao marcados por notáveis transformagóes nos mais varia
dos setores; fala-se mesmo da «idade do átomo e da auto-
macáo». Ora a Igreja que se compóe de homens (embora
nao somente de homens...) seria a única sociedade a nao
querer sentir a realidade dessas mudancas? Poderla Ela pre
tender ignorar que os homens, a quem Eia deve dirigir a
mensagem do Evangelho, trazem pressupostos, preocupacóes e
anseios diversos daqueles que caracterizavam as geracoes ante
riores? * Poderia Ela deixar de levar em conta as novas cir
cunstancias, que exigem nao mudanza da mensagem, mas a
das formas de expressáo dessa eterna mensagem?

Ademáis todo ser vivo está em continuo desabrochar, ti


rando de suas virtualidades novas energias e manifestagoes...
Quem tenciona impedir o ser vivo de se desenvolver, condena-o
a definhar e a morrer. Ora a Igreja é urna realidade viva,
sujeita as leis da vida temporal, embora nela haja, sem dúvida,
elementos eternos; a lei da Encarnagáo, que afeíava o Filho
de Deus feito homem3, afeta também o Corpo Místico de
Cristo ou a S. Igreja.

1 Falamos de erro objetivo, erro de materia ou de conteúdo.


2 Dlzla o Imperador Lotárlo (840-855): "Témpora mutantur, nos el
mutamur In lilis. — Os tempos mudam, e nos mudamos imersos netas".
s "Jesús éresela em sabedorla, em estatura e em graca diante de
Deus e dos homens" (Le 2,52).

— 32 -,
__ PROGRESSO E TRADIC&O 33

b> Aos ¡novadores extremistas deve-ss recordar que em


qualquer setor (na socledade, na cultura, como também na
Igreja) as reviravoltas bruscas e as guiñadas de 180* sao ge-
ralmente perlgosas ou mesmo mortais. Na doutrlna e na vida
da Igreja existem limites que nao é licito violar, porque o pró-
prio Deus os estabeleceu. Quem queira «vender» o Cristia
nismo a prego sempre mais barato e em roupagem sempre va
riante, contradiz ao Esp'rito de Cristo e nao conseguirá o in
tento, pois suscitará em torno de si ou tristeza e aflicáo ou
escarnio e derisáo; ridiculo viria a ser tal Cristianismo.

Mais: seria leviano e utópico pretender derrubar o legado


do passado para recome^ar a construir o Cristianismo. Quem
o pretendesse, já nao construiría Cristianismo, mas, sim, obra
humana, inspirada por filosofías humanas e transitorias. O
Cristianismo remonta necessariamente a Cristo e aos Apos
tólos, de modo que qualquer ruptura (violenta ou suave e «ele
gante», pouco importa) com o passado é morte para o Cris
tianismo.

Antes que se derrabe qualquer coisa, é preciso que sa


pense bem ñas possibilidades e ñas dificuldades de construir
algo de melhor em seu lugar. Se este problema nao está.resol-
yido, a sabedoria manda que nSo se toque na realidade exis
tente.

. Diante das duas posicpes extremas que acabam de ser


estocadas, preconiza-se um Cristianismo que associe, ao mes
mo tempo, Tradigáo e Progresso, adesáo aos valores antigos
e abertura para novos valores. — É esse tipo de Cristianismo
que as páginas seguintes apresentaráo.

2. O Cristianismo renovado

Para descrever o Cristianismo assim apregoado, distin-


gam-se na Igreja elementos essenciais e elementos acidentais.

2.1. Elementos essenciais

É essencial na Igreja o depósito da Revelacáo Divina, co


municada aos homens desde os tempos do Patriarca Abraao,
até Jesús Cristo e a geracáo dos Apostólos. Esta Revelacáo
se encontra ñas Escrituras Sagradas e na Tradicáo oral, am
bas auténticamente interpretadas e transmitidas pelo magis-

—33 —
34 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

tério da Igreja, a quem Jesús Cristo prometeu a sua assistén


cia infalível (cf. Mt 16,18s; 18,18; 28,18-29).

Diz o Concilio do Vaticano II na sua Constituicáo «Lu


men Gentium» referente & Igreja:

' "Deve de modo particular ser prestada religiosa submlssáo da ven*


tade e da Inteligencia ao auténtico maglsté.io do Romano PontHlce, mesmo
quando nfio tala ex cathedra. E isso de tal forma que o seu magisterio
supremo seja reverentemente reconhecldo, suas sentencas sinceramente
acolhldas, sempre de acodo com a sua mente e vontade. Esta mente •
vontade constam pilncfpalmente da índole dos documentos ou da 1n-
qDente proposicSo de urna mesma doutrlna ou de sua manelra de falar"
("Lumen Qentlum" n? 25).

Quanto aos demais bispos, declara o Concilio que, indivi


dualmente considerados, nao gozam de infalibilidade; todavía,
«mesmo quando dispersos pelo mundo, guardando, porém, a
comunháo entre si e com o sucessor de Pedro, podem ensinar
auténticamente sobre assuntos de fé e de moral; é o que acon
tece quando, concordes, propóem aos fiéis alguma sentenca
em termos definitivos; entáo enunciam infalivelmente a dou
trlna de Cristo. Isto aparece ainda mais claramente quando,
reunidos em Concilio Ecuménico, sao mestres e juizes da fé
e da moral para toda a Igreja. Nestes casos é necessário ádé-
rir as suas definigóes com o obsequio da fé» (ib.).

A infalibilidade do bispo de Roma (S. S. o Papa) e. do


colegio dos bispos unidos ao Papa nao se estende a todas as
proposigóes que deles procedam; mas «ela vai táo longe quanto
o exige o depósito da Revelado Divina, que deve ser conser
vado integro e transmitido com fidelidades (ib.).

Visto que tal doutrina nos últimos anos vinha sendo dis
cutida e contestada, a Congregagáo para a Doutrina da Fé,
órgáo oficial da Santa Sé, publicou aos 5/VII/1973 urna De-
claracáo em que reafirma a assisténcia do Espirito Santo aos
pastores da Igreja no desempenho das suas fungóes pasto-
rais. Eis a passagem desse documento que mais interessa ao
presente estudo:

' "O Espirito Santo, com providente sabedorla e com a uncfio da


sua traca, gula a Igreja para a verdade plena ató a vlnda gloriosa do
seu Senhor...

Por Inslllulcao divina, ensinar os fiéis auténticamente, Isto é, com


a autoridade de Cristo, participada de diversas maneiraa, ó da competen*

— 34 —
, PROGRESSO E TRADIQAO 35

cta exclusiva do3 Pastores, sucessores de Pedro e dos outras Apóstelos.


Por Isso tambéin os fiéis nSo podem llml!ar-se a ouvl-los slmplesmente
como peritos da doutrlna católica, mas estSo obrlgados a acatar os seus
enslnamentos, ministrados em nomo de Cristo, com um g au de sdesfio
proporcionado á autorldade de que estes estSo revestidos e que ten-
clonam exercer...

Embora o sagrado Magisterio da lgre|a se aprovelte da contempla»


$So, do comportamento e das investigares dos fiéis, a sua funcao nfio
se reduz simplesmente a confirmar o consentlmento Já expresso pelos
fióte; mas, mala do que Isto, o mesmo Magisterio pode anteclpaivse a
esse consentlmento ou exlgl-lo, na expllcacao a na interpretado da Pa-
lavra de Deus escrita ou transmitida de outros modos. O Povo de Deus,
alias, tem necessidade da Intervencao e do auxilio do Magisterio, parti
cularmente quándo no seu seto se levanlam e se difundan* divergencias
a respelto de urna doutrlna que deva ser acreditada ou professada. Asslm
Va IntervencSes do Magisterio tftm por finalldade evitar que, no seu Inte
rior, o único Corpo de" Cristo venha a flcar privado da comunh&o numa
única fe" (texto transcrito da revista REB, vol. 33, setembro de 1973,
pp. 693s).

Por conségulnte, quem se professa membro da Igreja Ca


tólica nao pode deixar de aceitar o magisterio da mesma e o
que este ensina como objeto de fé (há, sem dúvida, próposi-
goes da Igreja que orientam apenas e nao definem propria-
mente, ao lado de proposigóes que tém caráter definitivo e
irreformável). Por conseguinte, nao será falta de caridade
fraterna, mas simples verificagáo de um fato, dizer-se que se
separou da ígreja, ao menos em sua consciénda ou em seu
íntimo, o cristáo que nao aceite o magisterio da Igreja nos
termos atrás assinalados ou recuse professar, por exemplo, a
Unidade e Trfaidade de Deus, Jesús como Deus e Homem, a
yirgindade da Santa Máe de Deus, o pecado dos primeiros
pais, a morte expiatoria e a ressurreicáo corporal de Jesús, a
fündagáo e a constituigáo hierárquica da Igreja por obra de
Jesús, a real presenga de Cristo na Eucaristía, a existencia
dos ajos... . Tais proposigóes, entre outras, integram o depó
sito da Revélacáo confiado por Deus la sua Igreja; esta es
transmite aos fiéis em nome do próprio Deus. ■ • •

Como se compreende, nem todas as verdades da fé sao


da mesma pujanga e importancia; dentre elas, algumas sao
primordiais (assim, as que se referem ao misterio da vida
divina e ao seu plano salvífico realizado em Cristo), a ponto
de servirem de esteio ou ilustragáo para outras verdades da
fé (a existencia dos anjos, o culto dos santos...). É o que
diz o citado documento da S. Congregagáo para a Doutrina
da Fé publicado aos 5/VÜ/73: •
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1575

. "Existo cortamente urna o'dem e urna como que hlerarqula dot dog
mas da Igrsja, dado que é diverso o nexo dos me3mos com o fund»
mentó da fé. E9ta hlerarqula, porém, slgni lea apenas que alguna detat*
dogmas se lundam sobre outros, como principáis, e por eles «fio Ilumi
nados. Mas os dogmas todos, porque revelados, devem ser Igualmente
acreditados com urna mesma té divina" (REB, vol. 33, setamtro de 1973,
pp. 69Ss).

Também se coloca em contradigáo ao magisterio da Igre-


ja quem adere a posigóes filosóficas relativistas, agnósticas,
modernistas,... recusando a existencia de verdades e normas
absolutas, rejeitando a espiritualidade da alma e o livre arbi
trio, ou ainda a possibilidade de se reconhecer Deus mediante
a razáo humana.

Está igualmente em oposigáo ao magisterio da Igreja e


separado desta (ao menos interiormente) quem entende a re-
novagáo e atualizagáo da Igreja em nossos tempos como revo»
lugáo em sua estrutura hierárquica, como transformaefio da
fé em cosmovisáo humanitaria, como troca do culto de Deus
ña liturgia por agáo social, em suma,... quem professa a Ínter?
pretagáo dos valores transcendentais segundo criterios mera?
mente imanentístas, como faz a «teología da morte de Deus»
exposta em PR 99/1988, pp. 101-110; 103/1968, pp. 282-291?
112/1969, pp. 137-147; 115/7969, pp. 275-286. . J

Todavía a exigencia de se conservaren! os valores essen-


ciais do Cristianismo nos termos atrás propostos nada tem
que ver com estagnagáo ou imobilismo; como foi dito, toda
estagnagáo de valores vivos significa ruina e morte. Para que
o Cristianismo seja fiel a Cristo e auténtico, exige-se outros-
sim que esteja aberto as novas interpelagóes dos tempos e
procure tirar de sua virtualidade as respostas adequadas
Squelas. .^

É por isto que nao se poderia deixar de acrescentar aquí

um novo subtitulo:
2.2. Elementos mulável9
Distingamos o setor das verdades da fé e o da disciplina
da Igreja.

2.2.1. Verdades da fé

No tocante ás verdades da fé, nao se pode conceber que


sé multipliquem ou que se proclamem novos artigos de fé,

— 36 —
PROGRESSO E TRADIgAO 37

visto que a Revelagáo Divina se encerrou com Cristo e a ge-


racáo dos Apostólos. Todavía pode-se e deve-se desejar que
sejam mais e mais penetrados e esclarecidos mediante a me-
ditacáo e o estudo dos cristáos. É o que afirma o Concilio
do Vaticano II em sua Constituigáo sobre a Divina Revelagáo:
"A TradlcSo, oriunda dos apostólos, progrWe na Ig aja aob a ássl**
téncla do Espirito Santo; cresce, com efeilo, a cotnpreensfio tanto dos
realidades como das palavra3 transmitidas, se|a pela contemplacfio a e
astudo dos que c 6em, os quals as medilam em seu coraefio (cf. Le 2,19.51),
cela pela Intima Inteligencia que experimenlam das cobas espMtuats, se(a
pelo prac&nlo daqueles que, com a sucessSo do episcopado, receberam o
cártama autentico da verdade. É que a Igreja, no decorrer dos sáculos,
tende continuamente para a plenltude da verdade divina, ató qua M
cumpram neta as patavras de Deus" ("Del Verbum" n9 8).
Em nossos dias, sabemos que as ciencias naturais (Física,
Química, Cosmología...), as ciencias históricas (arqueología,
paleografía, paleontología...) e a filosofía apresentam novas
e novas interrogagóes á teologia; o mesmo acontece por parte
dos ateus e dos fiéis de outras crengas religiosas. Tenham-se
em vista as questóes referentes á origem do mundo, á sua
idade, as dúvidas concernentes á aparigáo do homem e das
ragas humanas,... concernentes á historia do poyo bíblico é
as suas relagóes com a historia da civilizacáo (Egito, Assíria,
Babilonia...)... Para essas indagagóes ou objegóes, a teolo
gia tem que encontrar em seu depósito a resposta ou a tenta
tiva de solugáo adequada (na medida em que tais assuntos
tócam a fé). Também em relacáo aos cristáos (católicos,
protestantes ou ortodoxos) o teólogo católico tem que expri*
mir as verdades da fé de maneira lúcida e inteligjvel para o
homem de hoje. Esta tarefa, por certo, nao é fácil, pois exige
clareza de linguagem tal que nao altere em absoluto o sentido
das proposigóes da fé, como lembrava o S. Padre Paulo VI aos
bispos do mundo inteiro aos 8/XH/1970:
"Temos que nos empenhar decididamente para que a doublna da W
conserve o seu pleno conteúdo e o seu significado genuino aínda que
enunciada de modo a poder atingir o esphito e o coracSo dos hornera
■ qusm ela ó dl.tflWa".
Esta exortagáo de S. Santidade nao excluí, por exemplo,
que se reconhecam na S. Escritura diversos géneros literarios
la realmente existentes,1 nem excluí que os teólogos procuren)

i Em conseqüñncla, explicam-se os prlmelros capítulos do Génesis


(referentes á crlacao do mundo, do homem, da mulher, ao paraíso, ao
diluvio, & torre de Babel...) de maneira diversa da clásslca. Tal mudanca
exegética nSo somente é licita, mas é necessárla para se guardar fldelt*
dade.ao texto original e nSo Ihe atribuir o que o autor sagrado nfio
quls dlzer. . '

-*• 37 ■=-
38 «PERGUNTE E RESp6NDEREM0S> 18171975

investigar questóes a respeito das quais a Igreja nao tenha pro-


fessado alguma definigáo (a existencia do limbo, a sorte das
criancas que morrem sem batismo, a oonsumagáo do universo,
com céus novos e térra nova, a existencia de habitantes em
outros planetas...) nem proibe que déem nova énfase a ver
dades sempre professadas pela Igreja, mas menos realcadas
no próximo passado: tais as proposigóes concernentes ao sacer
docio comum dos fiéis, á vocacáo de todos á santídade, ao
valor da leitura da Biblia... '

Mas nao somente a teología deve progredir no esclared-


mento das verdades da fé... Também cada cristáo há que
empenhar-se por adquirir urna fé mais lúcida e consciente.
É-lhe. necessário estudar mais a fundo as verdades que o Ca
tecismo propóe de maneira esquemática; procure perceber a
harmonía dessas verdades no conjunto da Revelaeáo e o signi
ficado das mesmas no mundo de hoje frente a outras corren-
tes de pensamento religioso ou filosófico. Nao seja a fé um
fardo pesado que o cristáo arrasta como heranga tradicional
sem apropriar ou assimilar á sua vida pessoal.

2.2.2. Disciplina da Igreja

Nem tudo o que na Igreja, antes do Concilio do Vatica


no n, era proferido c praticado, pertencia ao imutável depó
sito da fé. Muitas normas disciplinares, jurídicas, litúrgicas
eram contingentes; haviam sido concebidas em vista da cul
tura e das necessidades de urna época, de tal modo que, ees-
sando tais circunstancias, poderiam ser retocadas. É por isso
que nos últimos decenios vimos assistindo a mudancas na orga-
nizagáo, na disciplina e no Direito da Igreja: tenham-se em
vista a instituicáo das Conferencias Episcopais, dos Sínodos
Pastarais, dos Conselhos pastarais diocesanos, as transforma-
cóes na arquitetura das igrejas (altar-mor de frente para os
fiéis, roucos altares laterais, menos imagens de santos), na
liturgia (introdugáo do vernáculo, participagáo mais intensa
dos fiéis), as celebracóes ecuménicas (oracóes, leituras, e pre-
gacSes sem Eucaristía...).

Sabemos quanto essas inovagóes tém interessado os fiéis


católicos e nao católicos, nao raro dividindo os ánimos; en-
quanto alguns só aceitam tais reformas, outros só aceitam
tais outras; alguns as julgam precipitadas demais, outros as
tém por lentas e morosas...

—.38 —
PROGRESSO E TRADiCAO

Na verdade, cada urna dessas inovagóes, considerada em


si mesma, nao afeta o essencial da Igreja e da sua mensagem.
Por que entáo tanto dividem os fiéis, provocando por vezes
acirradas divergencias?

A razáo disto é que nao raro essas inovagóes vém a ser a


expressáo de novas atitudes de espirito, que através de tais
práticas tendem a exprimir-se e difundir-se; assim diversas
mentalidades ou concepcóes se defrontam por ocasiáo de certas
reformas disciplinares. Lembremos, por exemplo, a prática
da confissáo sacramental, que alguns mestres querem espagar
mais e mais, enquanto outros desejam manté-la freqüente; a
solugáo dependerá dos conceitos de pecado, reconciliagáo ecle-
sial, graga sacramental, ascese e mortificagáo que os mestres
tenham em mente1... Outro exemplo é a instituigáo de con-
selhos assessores do Sumo Pontífice, dos bispos diocesanos ou
dos párocos; envolve de certo modo os conceitos de autori-!
dade, responsabilidade pessoal, corresponsabilidade comunitaria
na Igreja, conceito.que os mestres nem sempre entendem do
mesmo modo... Mais outro exemplo sao as inovagóes na ca-
tequese ministrada a criangas e adultos: dependem nao so-
mente de técnicas pedagógicas modernas muito válidas, mas
também de certa filosofía, de certa dosagem de sobrenatural
e natural, de teología e antropología, que os mestres nao rea-
lízam sempre idénticamente.

2. Que dízer do valor de tais reformas disciplinares e


contingentes na Igreja?

Deve-se responder que mudangas meramente disciplinares


sao necessárias de modo geral ou em tese na Igreja, pois esta
é urna realidade viva que existe no tempo e na sociedade; a
coexistencia da Igreja com as instituigóes deste mundo exige
adaptagáo das expressóes da Igreja para que possa haver diá
logo cóm o mundo e comunicacáo dos valores eternos aos ho-
mens de nossos días.

Todavía qualquer inovagáo, para preencher auténticamente


a sua finalidade, deve satisfazer a duas condigóes: 1) seja
licita; 2) seja oportuna. O respeito a estas duas exigencias
poderá tranquilizar os ánimos e evitar as divisóes na Igreja.

1 Seja .licito acrescentar que a Santa Sé, com boas razSes, Insista
em que a confissáo sacramental (auricular) amludada tem pleno sentido
e multo se recomenda como meló de tender á perfeicSo espiritual.

— 39 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

a) Se,ja lidia... A liceidade de determinada reforma


na Igreja dependerá da conformidade da mesma com as lels
canónicas vigentes. Assim sao licites o uso do vernáculo na
liturgia, a reducáo do prazo do jejum eucaristías, a celebra-
Cao da Missa vespertina (mesmo que a Liturgia do domingo
seja antecipada para o sábado á tarde).

Isto, porém, nao quer dizer que qualquer alteragáo do


acidental na Igreja seja desejável. Leve-se em conta outros-
sim o criterio seguinte:

b) Seja oportuna... Para que se proceda á reforma de


determinada disciplina na Igreja, é preciso, antes do mals¿
que se tenha certeza de que os usos vigentes sao ineptos ou
inadequados e de que se poderio estabelecer em seu lugar
outras normas mais consentáneas com a santificacáo dos fiéis
e a missáo da Igreja. Diz muito sabiamente a Constituicáo
«Sacrosanctum Concilium» do Vaticano n, referindo-se á Li
turgia: «Nao se introduzam inovacóes a nao ser que as exija
o auténtico proveito da Igreja» (SC 23).

Caso nao se observe este criterio, pratíoar-se-áo reformas


levianas, aptas a causar descontentamente» e divisóes entre os
fiéis. Constantes reformas, empreendidas únicamente para sa-
tisfazer a um mal entendido «dinamismo dos tempos>, sem
que exista finalidade que justifique tais alteracóes, contribuem
para a autodestruigáo da Igreja, & qual se referiu, com exato
conhecimento de causa, o S. Padre Paulo VI. Toda reforma
na Igreja deverá ser avaliada segundo as suas posibilidades
de tornar a avivar a fé, a esperanga e o amor nos fiéis, tor
nar o Evangelho mais compreendido e vivido dentro das cir
cunstancias da época e do lugar em que se deseje introduzir
tal reforma. Pode mesmo acontecer que em determinada re-
giáo em nossos dias urna reforma parcial da disciplina da
Igreja se torne necessária para que haja mais fidelidade a
Cristo, ao passo que em outra regiáo a mesma reforma será
totalmente desaconselhável: assim a entrega da S. Eucaristía
ñas máos do comungante pode ter sentido lúcido e positivo em
certas regióes, ao passo que poderia ocasionar sacrilegios e
profanares em outros ambientes... O uso do hábito clerical
ou religioso em certos territorios, em que o ateísmo ou o se-
cularismo impera, nao seria recomendável, pois provocaría es-
tranheza, se nao escarnio, ao passo que em outros territorios
o povo cristáo pode desejar ver o hábito próprio das pessoas
consagradas a Deus.

— 40
PROGRESSO E TRADICAO 41

Quanto á autoridade oficial da Igreja, tem-se-lhe objeta


do ser demasiado conservadora, a ponto de frear indevida-
mente o desenvolvimento da vida da Igreja. — Tal objecáo,
porém, carece de fundamento. Sejam apontadas as numero
sas mudangas empreendidas por iniciativa da Santa Sé tanto
na Liturgia como no Direito da Igreja. Registre-se também
a paciencia com que as autoridades edesiásticas suportam a
exposicio de teses chocantes antes de as condenar, ou com que
tbleram certas injurias feitas á autoridade na Igreja... A
liberdade de que tém usufruído os teólogos vem ocasionando
nao somente o pluralismo teológico, mas até mesmo a plura-
lidade de teologías, em conseqüéncia da qual numerosos fiéis
estáo inseguros quanto a sua fé, arrefecem em seu fervor, a
catequese ou o ensino da religiáo está em crise, etc. É, pois,
para desejar que se dé o máximo de atencáo as autoridades
oficiáis da Igreja, a fim de se conservarem os valores essen-
ciais do Cristianismo e promover a auténtica evolugáo de suas
expressóes, sem prejuizo para a fé e o fervor do povo de Deus.

Em suma, vé-se que o Cristianismo em nossos días tem de


saber associar entre si Tradigáo e progresso, evitando qual-
quer radicalismo ou extremismo. As fórmulas «Somente a tra
digáo» e «Somente o progresso» sao falsas e nocivas a autén
tica missáo da Igreja; cedam á fórmula «Tanto- a Tradifiáo
como o progresso». A teología muitas vezes repele o «So-
mente» e lhe substituí o «tanto... como...»; ela ensina, por
exemplo, que depreendemos as verdades da fé nao somente
da Escritura Sagrada, mas da Escritura, da Tradigáo e do
magisterio da Igreja;... que somos santificados nao somente
pela fé, mas pela fé e as boas obras... Conseqüentemente ela
apregoa: leve-se em conta nao somente a Tradigáo, mas tam
bém o progresso e a evolugáo dos tempos, de modo que as
perenes verdades do Cristianismo possam ser encarnadas,
transmitidas e vividas dentro das circunstancias próprias de
cada época da historia! '

— 41 —
Aindo um famoso filme

Em slntese: O filmo "O Sétimo Selo" de Ingmar Bergman apré


senla um cavaJeiro medieval, Antonio Dlock, que passou dez anos na
Térra Santa como cruzado. Ao voltar ao Ocidente, entra em crise dé fó,
pols Julga ter perdido seu tempo na cruzada ; a morte, que sobresaaltava
os medlevals, também o preocupa; qulsera obter urna palavra de Deus
quo o Humlnasse, mas apenas se defronta com o silencio do Senhor. Em
suma, o filme mostra o vazio da vida presente desdo que alguém Julgue
Deus Incerto e faga da morte a única grande certeza da vida do homem.

"O Sétimo Selo" mostra cenas da pledade pesslmlsta dos medieval»,


que se sentiam constantemente ameacados pela pesie. Eseas expressfias
religiosas |á nao atraem o cavaleiro Block. — Ao lado dos quadros de
pavor, Ingmer Bergman litroduz um canal de salllmbancos, qué é feliz
o tranquilo em sua fé, vlvendo em contato com a natureza: Block, en
contrando esses crlstaos, seme-so atiaído por seu tipo de vida. Descre
yendo esse casal, Bergman parece insinuar a resposta ao questlonamento
do cavaleiro Block: a fó nfio acabrunha nem sufoca os hornera, mas
deve levá-los a urna vida feliz, Inserida ñas realidades cotidianas; Deua
responde a quem o procura sinceramente, e dá-lhe a ver que a morte
nfio ó ruptura apavorante, mas ó plenltude ou consumaefio da vida
presente.

Comentario: O cinema tem sido ocasiáo de questiona-


mento e reflexáo até mesmo entre as pessoas mais despojadas
de pretens5es filosóficas. Em vista disto, nao nos furtamos,
em nossas páginas, a comentar filmes de certa projecSo no
setor da fé e da filosofía. Entre outros, tem interessado ao
público a película «O Sétimo Selo» de Ingmar Bergman, um
dos mais famosos produtores cinematográficos de nossos dias,
que se volta sempre para temas serios e importantes. O filme
suscita realmente algumas questóes, que vamos abaixo abordar.

1. «Sétimo Seto»: que enredo?

O título deriva-sc de urna passagem do Apocalipse asslm


concebida:

"Quando o Cordelro sbrlu o sétimo selo, fez-se silencio no céu


durante cerca de mela-hora" (Apc 8,1).

— 42 —
<0 SftTIMO iSELO» |43

Na verdade, o Apocalipse, em seu fundo de cena, apre-


ssnta o Cordeiro (Cristo), que tem em máos um livro fechado
por sete selos. Cada selo que se abre, corresponde a aconte-
'dmentos calamitosos na térra. O sétimo selo dá lugar a silen
cio, ao qual se segué urna serie de sete toques de trombeta,
que também sao de mau agouro. De passagem diga-se: as
calamidades descritas pelo Apocalipse representan! apenas (e
simbólicamente) um lado da realldade, ou seja, a historia visi-
vel dos homens na térra; o autor sagrado intercala, entre as
sucessivas calamidades descritas, cenas que incutem a paz e
a confiarisa existentes na corte celeste; os males que acome-
tem os homens na térra, estáo envolvidos em um plano sabio
de Deus que encaminha todos os acontedmentos para a vitória
final do Bem sobre o Mal. — Ingmar Bergman, dando ao seu
filme o título «O Sétimo Selo», tenciona realcar o aspecto
sombrío e austero que caracteriza essa película.

O filme abre-se com a apresentagáo de um cavaleiro me


dieval, Antonio Block, que voltou da Térra Santa, onde pas-
sou dez anos como cruzado. Aínda nao retornou ao seu cas-
telo; encontra-se á beira-mar... Tornou-ss cético ou des-
crente, pois a experiencia da Cruzada o frustrou, dando-lhe a
sensacáo de ter perdido o tempo: fez a guerra, sofreu riscos e
perigos por causa de um sepulcro!... Nao vé sentido nisso.
Na sua crise tem a impressáo de que Deus se cala; está longe
e inátingível. Aparece-lhe entáo a Morte, que o quer colher
ali mesmo, onde está, á beira-mar, pois, havia muito, ela o
procurava. O cavaleiro Block, porém, reluta e propoe á Morte
urna partida de xadrez; caso ele perdesse, entregar-se-ia ás
garras da Adversaria.

Enquanto essa partida se desenrola, vai continuando a


vida de Block, sempre angustiado á procura de um sinal de
Deus. Defronta-se com cenas contrastantes:

— ora sao express5es da piedade dos cristáos médievais,


que viviam sob o impacto da peste e da Morte. Realizavam
•entáo procissóes, carregando a cruz e flagelando-se a flm de
,se preparar para o juízo de Deus. O clima era de temor e
terror;

— ora sao cenas da vida de um casal de saltimbancos; o


• marido é malabarista, jovial... Ambos sao felizes, vivendo
luna fé tranquila, em contato com a natureza sorridente.

— 43 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

Antonio Block, deparando-se com essas diversas cenas- ou


expressóes religiosas, manifesta sua angustia constante. Quer
crer em Deus, mas julga que nao o pode. Onde estaría Deus?
A fé lhe parece ser um tormento, pois Deus ñas trevag nao
lhe responde. Certa vez encontra urna «bruxa» que está para
ser executada e pergunta-lhe onde estaría o Diabo, pois este
deveria saber onde Deus está. Nao quer morrer; pretende
vencer a Morte em seu jogo de xadrez. Desejaria fazer ao
menos urna obra meritoria antes de deixar este mundo.

. Finalmente Block volta para seu castelo com amigos de


jornada. Encontra a esposa, que o acolhe carinhosa. Pdem-se
a cear. Mas a Morte aparece a todos; venceu a partida de
xadrez, esgotou-se o prazo concedido, de sorte que ela os leva
consigo para térras sombrias. Enquanto sao assim conduzl-
dos, o casal de saltimbancos, tranquilo e feliz, os vé desapa
recer.

O filme geralmente deixa seus espectadores pensativos e


questionados. Alias, o prólogo mesmo do enredo diz ao público
que Ingmar Bergman quis representar o drama do hornera
de todos os tempos: este está sempre á procura de Deus, mas
só tem urna certeza — a da morte. O homem medieval sentía
o pavor dessa morte certa e iminente pelo fato de se ver cons
tantemente ameagado de peste. O homem moderno já nao
receia tanto a peste, mas apavora-se pela perspectiva da bomba
atómica. Deste modo a morte continua sendo para ele um
obstáculo ou um enigma, que lhe obscurece o sentido da vida.
Nao haveria urna fonte de luz que dissipasse tal enigma? Deus
nao falaria? Estaría Ele amortecido pelas trevas que parecem
envolvé-lo?

Procuraremos, em dois ítens, refletir sobre estas e outras


perguntas sugeridas pelo filme «O Sétimo Selo».

2. O sentido de «vida e morte»

O filme parece afirmar, antes do mais, que a vida é vazla


ou absurda se nao temos outra certeza metafísica senáo a da
Morte. Esta é violenta, brutal, incompreensivel. Sonriente a
consciéncia de que Deus existe e, por conseguinte, há urna
Vida postuma com Deus, pode vencer a angustia que decorre
da perspectiva de vivermos urna vida quebrada ou condenada
a morte.
«O SÉTIMO SELO» 43

O cristáo nao terá dificuldade em compreender esta con-


clusáo; ele conhece as palavras de S. Agostinho: «Tu nos
fízeste para Ti, Senhor, e inquieto é o nosso coragáo enquanto
nao repousa em Ti» (Confissóes I 1). A morte é, sem dúvida,
para ele, urna realidade certa, nao, porém, definitiva; a vida
presente vem a ser um encaminhamento para o encontró decl»
sivo com a Verdade e a Vida que é Deus, após transpor o
limiar da morte.

Para o ateu ou o agnóstico, a pergunta de Ingmar Berg-


man é, por certo, válida. A resposta, porém, nao é evidente.
Todavía a crenga na existencia de Deus e, por conseguirte, na
de urna vida postuma se lhe pode tornar aos poucos patente,
dado o absurdo de urna vida que esteja entregue inexoravel-
mente ao imperio da morte. — Alias, nota-se que «Deus está
de volta», como tém insinuado revistas e jomáis através de
iriquéritos recentes. Destacamos aqui a noticia publicada pelo
«Jornal do Brasil» de 16/XI/74, caderno B, pg. 1:

"Deus está de volta ? Slm; é a resposta dada por pesquisa sobre


o sentlmento religioso do homem contemporáneo. A revista 'Psychology
Today' envlou aos seus leltorea norte-americanos, com o número de dezem-
bro-1973, um questlonário sobre rellgiSo. 'Atingimos, ao que parece, um
ñervo exposto', diz o editor Charles Qlock; 'Quarenta mil pessoaa res-
ponderam*. Destas a revista selecionou duas mil para urna pesquisa mala
detalhada.

'Deus nSo morreu,' é a conclusSo que se poderla tirar dessa pesquisa;


mudou de roupa slmplesmente, e passou a ser visto com outro3 olhos.

Asslm, revela a pesoulsa, enquanto urna pequeña minoría de mlsst-


vlstas v5o á Igreja regularmente, a malorla continua a acreditar nos
principios religiosos fundamentáis: torca ou ente sobrenatural, utllldade
da oracSo, posslbllldade de urna vida depois da morte. Isto sugere que
o atual abandono das prátlcas tradicional nSo significa necessaiiamente
rejelcSo da próprla religifio".

Ingmar Bergman, no seu filme «O Sétimo Selo», pos em


foco a morte e a repulsa que ela suscita no homem... Nao
afírmou explícitamente alguma resposta para o problema,
seguindo nisto, alias, a praxe dos cinematógrafos; mas ñas
entre-linhas o espectador depreenderá que o sentido da vida
e da morte do homem está intimamente associado ao problema
de Deus.

Todavía fica a pergunta: >

— 45 —
46 «PERGUNTE K RESPONDEREMOS» 181/1975

3. Mas o silencio de Deus?

O cavaleiro Block foi formado na piedade de sua época,


cujas expressóes eram exuberantes; o pessimismo e o medo em
relagáo á vida presente e á morte dominavam grupos popu-.
lares principalmente no fim da Idade Media. Block, ao voltar
da cruzada, já nao se identifica com essas expressóes; rejel-
ta-as, nao por descrer de Deus propríamente, mas porque, pro
cura urna vivencia religiosa mais adulta e teológica. Ele se
pee á procura da palavra e da auténtica face de Deus, dis
posto a recorrer, para istQ, até ao demonio. — Ingmar Berg-
man retrata nesse cavaleiro o homem sincero de nossos tem-
pos. Pode acontecer que muitos entrem em crise de fé, sim-
plesmente porque já nao se contentam com as fórmulas reli
giosas que aprenderam na infancia; tém necessidade de um
conceito de Deus e de relacionamento com Deus que responda
as novas interrogagóes e aspíraseles que os estudos ou a expe
riencia cotidiana lhes incutem.

«Queremos crer, mas nao podemos crer!», exclama a certa


altura o cavaleiro. Quanto é freqüente esta exclamacáo ainda
em nossos días! Pode-se-lhe dizer em resposta:

A fé nao vem por estalo, nem em conseqüéncia de algum


sinal extraordinario de Deus... Mas quem quer ter fé, já tem
fé; quem quer crer, já está crendo; procure tomar conheci-
mento exato daquilo que a fé professa propriamente (distinga
a fé de crendices ou de sentimento religioso cegó ou de devo-
coes pessoais) e comece a pautar a sua vida por essas propo-
sigóes. Perceberá entáo que a fé, de pálida que era, se lbe vai
tornando cada vez mais viva e significativa. Daus nao se
furta a quem O procura com sinceridade nem se envolve em
silencio ou nuvem escura.

Os saltimbancos do filme, vivendo a fé descontraida e ale


gre, fazem contraste com os seus contemporáneos apavorados.
O cavaleiro Block, enquanto rejeita a religiáo pessimista, sen-
le-se cada vez mais -á vontade no convivio dessa gente, que,
por ser religiosa, nem por isto deixa de ser satisfeita e feliz.
O malabarista sofre seus reveses na vida, mas sabe superá-los
com bom ánimo. Pois bem; através dessas figuras de saltim
bancos, Ingmar Bergman parece sugerir urna renovacáo do
conceito de Religiáo; esta nao sufoca os valores humanos, mas
eleva-os, buril a-os e manifesta ao homem o sentido dos demais
valores que a vida presente lhe oferece.

— 46 _
«O SÉTIMO SELO* 47

As formas da piedade medieval tiveram significado e efi


ciencia na sua época; correspondían! a urna fase da historia
e da cultura da humanidade. Também as Cruzadas háo de se»
vistas em seu contexto medieval; a sua inspiragáo inicial era
de fé entusiástica e ardorosa (cf. PR 167/1973, pp. 485-502).
Nao critiquemos essas expressóes da vida medieval, aplicando-
-lhes criterios heterogéneos. Mas é certo que a Igreja, já nao
promove do mesmo modo as expressóes que caracterizaran! a
religiáo popular medieval. Sem tocar na integridade da fé e
da moral reveladas por Deus, a Igreja procura hbje exprimir
esse depósito sagrado em termos condizentes com as preocupa^
góes do homem contemporáneo; este cultiva a esperanga e de¿
cobre cada vez mais o seu papel de continuador da obra que
o Criador lhe entregou cheia de virtualidades ainda nao explo
radas. Também para o homem do séc. XX Deus tem urna face,
urna palavra, urna vida a comunicar; basta que os interessados
as procurem nao em milagros ou sinais extraordinarios, mas
ñas suas auténticas fontes (diriamos:... nos documentos e
na vida da Igreja sadiamente renovada pelo Concilio do Va
ticano II). Aceitando com fé essa mensagem, o homem con
temporáneo pode encontrar a resposta para as perguntas lan-
cadas pelo filme «O Sétimo Selo»; tomará conscienda de que
a morte nao é ave de rapiña, nem quebra, mas simplesmente
transig&o para a plenitude e consumagáo da vida.
Estévao Bottcncourt O.S.B.

estante de livros
Estudos sobre os Atos dos Apostólos, por Jacques Duportt. Troducfio
das monjas benedUlnas da Abadia de Santa María. Colecfio "Bíblica"
n<? 17, _ Ed. Paulinas, Sao Paulo 1974, 147x222mm, 574 pp.
Els mala um livro que vem enriquecer a nossa bibliografía brasllelra
concernente á Escritura Sagrada. O autor é famoso mestre de Exegese
do Novo Testamento. Recolheu na obra ácima quatro series de estudos
sobre o llvro dos Atos, estudos publicados entre 1950 e 1963 e acresci-
dos de mals um, Inédito, redigldo em 1S65. A prlmelra serie aprésente
urna vls&o de conjunto das pesquisas realizadas sobre o llvro dos Atos
entre 1940 e 1950; ao que se seguo urna análise de tras obras particular
mente significativas, publicadas depois. A segunda serie compreende cinco
estudos concernentes as viagens de SSo Paulo a Jorusalém e suas repor-
cussOes na determinacfio da cronología paulina. A tercelra serie encara
a manelra como sSo citados, nos At03, certos textos do Antlgo Testamento
aptos a ilustrar o misterio de Páscoa. Por fim, a quarta parte do livro se
volta dlretamente para as perspectivas teológicas dos Atos: a salvacfio
dos gentíos, arrependlmento e conversáo, o prlmelro Pentecostés crlstSo,
a comunhSo de bens nos primordios da Igreja...
O livro dos Atos ó de leitura fácil ou mesmo cativante. Todavía nem
sempre se percebe o seu valor científico e teológico; trata-so de um

— 47 —
48 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 181/1975

Nvro que reflete a mentalldade dos prlmelros crist&os e o importante


periodo de transido do Evangelho, que, rejeitado pelos Judeus, fol sendo
ma)3 e mais apregoado aos gentíos. Dada a Importancia do llvro, os crí
ticos modernos Ihe tém dedicado especial atengfio, movidos &s vezes por
preconceltos filosóficos racionalistas que tentam destruir o valor histórico
do llvro dos Atos. Jacques Dupont, a quem se deve reconhecer compe
tencia singular, esquadrlnha minuciosamente os problemas e as sentenpaa
lancadas pela critica bíblica. As suas condusSes valorizan) a obra de Sao
Lucas como historiador e teólogo.
O leitor terá prazer em tomar contato com esse livro de Dupont,
que sabe colocar as passagens da Biblia no contexto da cultura greco*
-romana do séc. I; é desta forma que o autor Ilustra os capítulos dos
Atos e mostra as riquezas de significado de versículos que, k prlmeira
vista, pouco ou nada dlzem ao leitor nao Iniciado.
O homam nSo está só, por Abraham J. Heschel. Traduc&o do Ingles
por Edwlno Aloyslus Royer. — Ed. Paulinas, SIo Paulo 1974, 110x190mm,
308 pp.
O autor do livro já fol apresentado em PR 179/1974, p. 459, onde
se encontra urna apreciacáo de outra obra de Heschel: "O homem &
procura de Deus". Judeu, místico, multo aberto ao pensamento moderno,
A. Heschel deixou escritos teológicos profundos e útels também para
crl3t§03.
No llvro ácima descrito, o autor aborda o problema de Deus (Parte I)
e o da vida (Parte II). O que o caracteriza, entre outras coisas, é a
acentuacao da IntuicSo e da experiencia como melos de conhecermos a
Deu3. Para Heschel, Deus, que ó o inefável e transcendental deve ser atin
gido menos pelo discurso racional do que pela experiencia Intuitiva. Mate:
diz Heschel que "a memoria é a fonte da fé. Ter fó é recordar" (p. 167).
Em relagSo ao Credo e aos dogmas, o autor se mostra reservado, pre*
ferlndo realcar a fé, quase em antltese ao Credo e aos dogmas: "Um
mínimo de Credo e úm máximo de fó ó a slntese Ideal" (p. 175).
Tomando essa posljao, Heschel deseja exaltar a grandeza e Inefa-
btlidade de Deus — o que é sabio. O autor nao pretende negar o valor
da razSo mesmo trente a Deus. Todavía algumas de suas aflrmacCes
supSem um concelto de fé e de Credo que nao ó católico. Na ve.rdade,
nao ee deve menosprezar o papel da razSo humana, aínda que ela ee
volte para Deus; aualquer atitude antiintelectual ou Irracional acarreta o
risco de deixar o homem entregue & fantasía puramente subjetiva e Itu-
só'la, criando "místicas" Inconsistentes; a fé tem um conteudo objetivo
e Intelectual. „ „_ . _„_
Felta esta observacfio, deve-se reconhecer que o llvro O homem
nfio'está só" tem belas páginas a respeito de Deus e rellgISo, podando
aludar o leitor a se elevar ao Senhor como também a penetrar um pouco
mats na alma religiosa de Israel (visto que o llvro freqüentemente volta a
talar das tradlcfies e concepcSes de Israel).
Fo-macSo de catequistas, por Freí Bernardo Cansí O.F.M. Cap. —
Ed. Paulinas, Petrópolls 1974, 135x210mm, 153 pp.
O objetivo deste livro é valioso, visto que a falta de catequesé e
catequistas Impede que se dlsslpe a Ignorancia religiosa de boa parte,
do povo de Deus; A catequesé moderna serve-se, sem dúvlda, de recur
sos psicológicos, pedagógicos, bíblicos e teológicos que outrora erani
Ignorados; a utIllzacSo desses melos modernos é indlspensável ao bom
éxito da catequesé. Freí Bernardo, que tem trabalho nesse setor em Bra
silia, ' propos ao público, no livro mencionado, as suas reflexfies e expe
riencias de tormador de catequistas. O autor escreveu páginas lúcidas,

— 48 —
que podem recomendar a obra. Todavía, ao lado destas, há outras que
merecem restrlcBes, pois nelas se encontram aflrmacSes exageradas e
generalizadas que mereceriam ser retocadas e matizadas.
Asslm, por exemplo, a p. 95 do livro lé-se que "Lulero Inslstlu na
Igreja misterio, ao passo que o Concillo de Trento insistlu na Igreja
instllulclo". Ora concordamos em que o Concillo de Trento (1545-1563)
tenha acentuado o lado institucional da Igreja para evitar as arbitrarieda
des da época; todavía n§o se pode dlzer que Lutero apregoasse o misterio
da Igreja se por "misterio" se entende o aspecto sacramental da Igreja;
o luteranismo considera a Igreja como comunldade de fiéis animados pela
fé e pelo amor, válida exclusivamente na proporcSo dessa fé e desse
amor; o "misterio da Igreja" suporta a acáo do próprlo Cristo através
da fraqueza dos membros da Igreja.
Mals: a instituido da festa de Cristo-Rel significarla o ponto alto
do triunfallsmo da Igreja após o Concillo de Trento (p. 97). Ora a Idéla
de que Cristo (o Messlas) é Reí, é nocSo bíblica e clássica; a festa da
Epifanía, multo antiga, a professa. A InstltuicSo da festa de Crlsto-Rei
por Pío XI nao é senSo a reafirmacSo de urna nocSo que os cristSos
sempre tiveram. Tenha-se em vista também o fato de que mesmo após o
Concilio do Vaticano II a festa de Cristo-Rel continua no calendario li
túrgico.
Em suma, quem lé o cap. XVII da obra em foco, tem a ImpressSo
de que a Igreja pós-trldentina se desflgurou e desfigurou a mensagem
de Cristo — o que nSo corresponde á realldade. — Já se tem realcado
bastante as diferencas entre as faces da Igreja na historia, por que nao
mostrar com énfase também a continuldade da mesma Igreja ?
MlssSes Franciscanas no Brasil, por Freí Venancio Willeke O.F.M.
PubtlcacSes CID, Histórla/3. — Ed. Vozes, Petrópolls 1974, 135x210mm,
200 pp.
Em 1975 comemorar-se-So trezentos anos de existencia da Provincia
Franciscana da Imaculada ConcelcSo no Brasil. Celebrando esta data,
Freí Willeke, do Instituto Histórico e Geográfico Braslleiro, publica o livro
ácima, que relata a historia das missdes franciscanas desde 1500 a 1975
em nossa térra. O livro ó meticuloso e cuidadosamente elaborado. A sua
Importancia se impSe nSo somente a quem estuda a historia da Ordem
Franciscana ou a da Igreja, mas também aos estudiosos de historia do
Brasil. Desde os tempos de Pedro Alvares Cabral, os mlsslonários fran
ciscanos cumpriram um lema da política externa portuguesa: "Dilatar a
fé e o Imperio". 1A0 rei de Portugal competía a "JurlsdlcSo espiritual",
cujos negocios eram tratados no Conselho Ultramarino, que regulamen-
tava quase todo o trabalho mlsslonárlo. Tal era a conseqüencia a que
levavam a unISo da Igreja e do Estado e a leí do padreado nos tempos
do Brasil colonial. Vé-se, pois, que o estudo da historia das mlssóes
(franciscanas, jesuítas, carmelitas...) muito contribuí para esclarecer a
historia do Brasil.
SSo estas premlssas que dSo atualidade e valor ao livro de Frei
Venancio que, sem duvlda, merece os aplausos do público braslleiro.
E. B.
LIVROS RECEBIDOS
Recebemos a agradecemos:
VocS conhece Deus ?, por María de Lourdes Ganzarolll de Oliveira.
— Ed. Agir, Rio de Janeiro 1973, 140x210mm, 224 pp.
A via de Chuang Tzu, por Thomas Merton, 2? edigSo. — Ed. Vozes,
Petrópolls 1974, 125x180mm, 203 pp.
Um novo Natal, por Pe. Adallbio Barth. — Ed. Paulinas, SSo Paulo
1974, 125x180mm, 94 pp.
Quem ama se compromete, por Pe. Carlos Afonso Schmltt. Colecáo
"Compromisso" ri> 7. — Ed. Paulinas, SSo Paulo 1974, 110x190mm, 77 pp.
DÁ-ME, SENHQR, A CORAGEM DE UMA MÁE ...
i "

e/á dedicacao de um bom pal

da-me, senhor, a simpucidade de uma crianza ,

e a consciéncia de um adulto.-

dá-me, senhor, a prudencia de.um astronauta

e a coragem de um salva-vidas.

dá-me, senhor, a humildade da lavardeírá


e a paciencia' do enfermo,,*; ,■••"

dá-me, senhor, o idealismo. de um d©vem

e.a.sabedoria de um.velho.-. j'.; ; ". .

da-me, >señhor, a disponibilidade "do -bom samaritano

e a gratidáo do acolhido. ' ' '•• ' : •

da-me, senhor, tudo de bom que eu veja em meus irmáos,

a' !qúem tantas dadivas déste.

que assim; senhor, eu me aproxime de um santo,

ou melhor, seja eu como tu queres :

perseverante como o pescador

e esperancoso como o cristáo.

que permaneca no caminho do teu filho

e:ño-servico dos irmáos !

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