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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEr\TTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
£_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil a no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico • filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
I

259

Quem alterou o tempo e a le

Por que há confuto na Irland.

Greve de fomeé lícita?

Celibato sacerdotal e Ecumeni:

"Sou judeu e continuarei a sé-

Mequinho salvo por Jesús Cris

Ano XXII - nov. - dez. — 1981


PERGUNTE E RESPONDEREMOS ANO XXII - nov. - dez. - 1981 -
Pubücacao bimestral
N9 259

Diretor-Responsável: SUMARIO
D. Estevao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico No Ano...
DA GRAQA DE NOSSO SENHOR JESÚS
Diretor-Administrador: CRISTO 353

D. Hitdebrando P. Martins OSB As famosas fitas-cassetes:


"UM TAL JESÚS" 354
Conforme Dn 7,25:
Administracáo e distribuicáo:
QUEM ALTEROU O TEMPO E A LEÍ?
(A PROPÓSITO DA OBSERVANCIA
Edipoes Lumen Christi
DO SÁBADO) 364
Dom Gerardo, 40- 5?and., sala 501 Cada vez mais grave:
Tel.: (021) 291-7122 POR QUE HA CONFLITO NA IRLANDA?. . 370
Caixa postal 2666 Foi o caso de Robert Sands :

20001 Rio de Janeiro RJ GREVE DE FOME É Ll'CITA? 379


Um documento importante:
CELIBATO SACERDOTAL E ECUMENISMO 387
Pagamento em cheque O novo Arcebispo de París:
"SOU JUDEU E CONTINUAREI A SÉ-LO" . 392
ou vale postal ao:
Um escándalo na Italia:
Mosteiro de Sao Bento E A LOJA MACONICA P 2? 399
do Rio de Janeiro Um livro novo:
MEQUINHO SALVO POR JESÚS CRISTO. . 407
Caixa postal 2666
20001 Rio de Janeiro RJ TRES ANIVERSARIOS 413
LIVROS EM ESTANTE 415

ÍNDICE 1981 421


ASSINATURA ANUAL
1981-1982

Após 19 de agosto: CrS 800,00 NO PRÓXIMO NÚMERO


Esgotados os meses de Janeiro,
fevereiro, margo-abril de 1981. 260 — Janeiro - fevereiro de 1982

A assinatura comeca Fée Política


no mes da inscricao.
A doenca tem sentido?
Renove-a o mais cedo possível.
A Uncao dos Enfermos

A familia segundo o Sínodo dos Bispos


COMUNIQUE-NOS QUALQUER
MUDANQADE ENDERECO "Igreja: carisma e poder" de L Boff

Ainda a confissao sacramental


Composicüo e impressio:

Marques-Saraiva
Santos Rodrigues. 240
Rio de Janeiro Com aprovacao eclesiástica
NO AHO... DA CHACA DE NOSSO SENHOR JESÚS CRISTO
O íim do ano se aproxima rápidamente e abre perspectivas para
novo ano... Ao verificar isto, é espontáneo exclamarmos: «Como o
tempo voa !»

Aos olhos da íé, o passar do tempo reverte-se de grande impor


tancia. É antiga tradicáo dizer: «ano ... da graca de Nosso Senhor
Jesús Cristo». Cada ano, para o cristáo, é sinal da benevolencia divina,
que chama a conversáo e á eoeréncia de vida (cf. Rm 2,4). Pode-se
dizer que, para o cristáo, o tempo é o primeiro dom que decorre da
Vitoria de Cristo; é no tempo que recebemos todas as demais gracas.
Muitos e muitos desejariam ainda ter um pouco de tempo para recupe
rar a sua existencia ou a sua imagem, e nao o tém... Nos escritos do
Novo Testamento o hoje que se abre cada dia é especialmente valori
zado: «Hoje, se ouvirdes a sua voz, nao enduregais os vossos cora-
góes... Admoestai-vos, pois, uns aos outros todos os dias durante o
tempo que se chama hoje, a íim de que nenhum de vos se endurega*
(Hb 3,7.13).

O hoje é estimado pelo fato mesmo de estar entre o nnranhá e


o ontem. O antanliú é incerto; donde a máxima da sabedoria popular:
«Nao debees para amanhá o que podes fazer hoje». Quanto ao ontem,
é ligáo para o cristáo; instruido pela experiencia do(s) dia(s) passa-
do(s), proceda hoje melhor do que ontem, evitando as fallías antes
cometidas. Todos os días o Senhor Deus dirige seu apelo aos homens
mediante as palavras da Escritura ou através do testemunho dos ir-
máos ou aínda através dos acontecimentos da vida, inclusive mediante
as decepgóes e desgragas que nunca faltam na realidade dos homens.
Ele lhes proporciona constantemente a ocasiáo de ouvir a voz de Deus
e o apelo á conversáo.

É conscientes destas verdades que nos encaminhamos para o


Natal e o ano próximo. Natal significa a vinda da novidade de Deus
dentro da caducidade dos homens; lembra-nos que o fim do ano nao
é fim, mas é prenhe de novas oportunidades; mais um ano de graga
se oferece a quem deseje refazer a sua vida ou retocar os seus pontos
fainos.

E como será o ano de 1982, segundo as mais abalizadas previsóes?

O novo ano se apresenta marcado por sombras e interrogagoes.


Nao se pode crer que venha a ser menos problemático do que o de
1981. Todavía o cristáo, longe de se deixar abater por esta perspectiva,
vé nos desafios de 1982 urna oportunidade para reescalonar os seus

(continua na pág. 376)

— 353 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XXII — N' 259 — Novembro-Dezembro de 1981

As famosas fitas-cassetes:

"um tal jesús"


Em síntese: O artigo aprésenla um comentario das fitas-cassetes
intituladas Um tal Jesús, comentario da pena do Pe. Juan Francisco Saera
Ferrada OCD, membro do CELAM (Conferencia Episcopal Latino-ameri
cana). O comentador mostra as graves falhas do trabalho em pauta: des-
creve Jesús Cristo nfio somente como chefe de revolucáo, mas usa tam-
bém de termos irreverentes e obscenos quando aborda as cenas da Paixáo
de Cristo. A figura de María SS. é simplesmente a de urna mulher dolo
rida, que nada tem da heroicidade dos santos. O Documento de Puebla
é tratado como algo de defasado e ridiculo. Conclui-se que tal obra nao
atende em absoluto aos interesses da catequese e da fé crista; esté, antes,
a servico da descristianizagSo e da polilizagao esquerdizante do povo
latino-americano.

Comentario: Foram objeto de grande divulgacáo certas


noticias referentes a fitas gravadas na Europa para a América
Latina, fitas que abordavam a figura de Jesús Cristo e a men-
sagem do Evangelho no intuito de politizar o povo de Deus.
O Cardeal D. Agnelo Rossi, em visita ao Brasil no mes de
junho pp.t foi o primeiro a alertar o público a respeito. Alguns
Bispos do Brasil, entrevistados sobre o assunto, declararam
nada saber, pois na verdade o texto ainda nao havia sido tra-
riuzido para o portugués e divulgado no Brasil.

Entrementes, porém, o CELAM (Conferencia Episcopal


Latino-Americana) difundiu entre os Bispos da América La
tina um texto esclarecedor, que expóe e comenta o estilo e
parte do conteúdo das fitas-cassetes. Este trabalho, da autoría
do Pe. Juan Francisco Saera Ferrada OCD, confirma plena
mente as denuncias do Cardeal Rossi e mostra que a cate
quese promovida pelos respectivos autores é traicáo ao Evan
gelho e escola de política subversiva.

— 354 —
«UM TAL JESÚS»

Para que o leitor o possa apreciar, segue-se em traducáo


portuguesa o texto do Pe. Saera Ferrada, enviado á CNBB por
Dom Antonio Quarracino, Secretario Geral do CELAM.

I. O TEXTO DO CELAM

«'UM TAI JESÚS', a Boa-Nova narrada ao povo da América


Latina. Escrita por José Ignacio y María López Vigil.

Vinte capítulos (99 e 106-124) gravados em cinco cassetes,


que transmiiem os acontecimentos do 'Domingos de Ramos' até o
'Sábado Santo' inclusive.

Urna producao SERPAL (Servico Radiofónico para a América


Latina).

NB. — No final destes apontamentos poder-se-á ver o índice


dos vinte capítulos.

O conteúdo destas gravacóes dá materia para escrever um livro


inteiro. Estas notas referem-se apenas aos mencionados vinte capí
tulos. A serie 'Um tal Jesús' fem (segundo se anuncia) outros 124
capítulos.

V Como trabalho de gravacao, é excelente. Sao utilizados


recursos de ambientacao muito apropriados; os locutores sao de bom
padrao; verifica-se habilidosíssima estruiuracao dos diálogos. O con-
¡unto é muito coerente e eficaz para atingir o efeito almejado. Seria
para desejar que todos estes recursos estivessem a servico da autén
tica Boa-Nova.

2? As breves e poucas observares subseqüentes referir-se-ao


ao conteúdo ou á mensagem transmitida.

Dado que o tema é 'A Boa-Nova contada ao povo da América


Latina', vé-se que o criterio obvio para discernir o texto consiste em
controntar o conteúdo dessas gravacóes com os escritos do Novo
Testamento e com os ensirvamentos da Igreja.

3* Eis urna primeira ímpressao, muito clara e nítida : foi omi


tido — e precisamente em capítulos que tratam da Paixao e Morte
de Nosso Senhor Jesús — tudo o que os textos sagrados contém
sobre o sentido e a dimensao substancial da figura, da obra e da

— 355 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

missao de Cristo, que é salvar os homens e reconciliá-los com o Pai


e entre si. Este aspecto está ausente da mensagem das gravacoes.
Como que sistemáticamente, os autores prescindiram de textos e ele
mentos básicos da auténtica apresentacao destes acontecimentos feita
pelos textos sagrados e pela doutrína da Igreja. O referido aspecto
está ausente também da consciénda desse 'tal Jesús'.

4' Nessas gravacoes encontram-se muitas afirmacoes que, con


frontadas com o texto sagrado, aparecem inexatas, incongruentes,
manipuladas e até contrarias ao mesmo.

Talvez, dentre as muitas interpolares « manipulacoes impostas


ao texto escriturístico, nenhuma hoja que nñc se coaduna coerente-
mente com a tese de um Jesús agitador de massas e portador de
urna 'libertacao' de índole política e social, promotor de rebeliao
contra os ocupantes romanos e as autoridades religiosas.

5' Vez por outra, menciona-se que Jesús é Filho de Deus e


que Ele se considera 'nao violento'. Todavia estas fugazes alusóes
ficam submersas na linha constante de um Jesús que atua, fala,
dialoga de forma violenta e ameacadora, deixando-se cercar por
massas que reclamam subversao; chega mesmo a parecer tácitamente
que consente em ser considerado como alisador da rebeliao contra
Roma e os poderosos. ..

6? Os autores da gravacdo procuraram apresentar Jesús como


homem 'multo humano'. Contudo parece que para eles ser muito
humano re.quer necessariamente viver em ambiente de companhei-
rismo de baixo cálao. Os Apostólos entre si usam de linguagem
nada polida. Recorrem a apelidos, e se insultam mutuamente com
fiases grotescas. Também Jesús fem um apetido, dado pelos Apos
tólos : o 'Moreno'. Até no trágico momento em qxie Jesús, pendente
da cruz, entrega sua Máe a Joño, este responde : 'Sirn, Moreno'.

Dir-se-ia que aos autores nao parece muito humano que um


'Mestre e Senhor1 (assim é que na verdade os Apostólos chamavam
J*S.USí.CÍ' Jo ^'13' Pua"esse inspirar respeito e cortesía. Nem sequer
atribuiram a Jesús, por parte dos discípulos, o respeito e a venera-
cao que Gandhi, Luther King, Sao Paulo e tantos Santos e Pastores
da Igreja receberam dos seus discípulos.

Será .que os novos tempos exigen) que se eduque o povo la


tino-americano para a vulgaridade, precisamente em sua dimensao
religiosa ?

— 356 —
«UM TAL JESÚS»

7? A respeito do Virgem María.

Renunciarei a formular muítas 'impressóes'. Baste dízer :

As fitas gravadas inventam muitas coisas que nao tém funda


mento nem no texto sagrado nem na doutrina e Tradicao da Igreja.
Atribuem a Jesús palavras, atitudes e sentimentos muito diversos do
misterio da Redencáo. Nao há referencia alguma á entrega cons
ciente e livre da Virgem á obra do seu Filho como Redentor da huma-
nidade, porque simplesmente o misterio da Redencáo do pecado
está ausente dos capítulos da gravac.60.

Como exemplo do que é atribuido á Virgem, veja-se o que está


dito no final do cap. 123 e em todo o capítulo 124 (o grande
sábado).

A ¡mpressao que estas passagens me comunicam, é de urna


mulher, por completo, aurente do misterio da Redencáo do pecado.
Urna mulher de tal maneira perturbada pela dor humana que ¡á nño
é capaz de aceitacao e de serenidade enraizadas e alimentadas no
'senso de Deus', no senso do misterio de Cristo. Neste particular,
ela estaría abaixo do que os Apostólos atingiram, do que viveu e
proclamou Sao Paulo, do que viveram tantos santos da Igreja e
tanta gente simples do Povo de Deus... na América Latina.

As fitas apresentam urna figura de mulher que ¡á nao poderá


alimentar a profunda piedade mañana, característica concreta da
religiosidade do povo latino-americano. Se este povo foi impregnado
por essa arbitraría Boa-Nova que agora é proposta, ¡á nao poderá
ver na Virgem a Mfie Doloroso, solidaria dos seus sofrimentoi. men-
sageira e inspiradora de fortaleza, paciendo « confianca serena em
meio as contrariedades da vida. Inclusive, a mensagem do cap. 8 da
'Lumen Gentium* sobre a Virgem Ihe parecerá estranha, alienante,
insossa.

8' Em tal contexto o Documento de Puebla parece ridículo,


nao merece renao o nosso escarnio.

Ao falar das verdades sobre Jesús Cristo, a Igreja, a Virgem


María, a evangelizado (diferenciada das ideologias) como sendo
pontos essenciais da sua mensagem, o Documento de Puebla estaría
situado fora da realidade.

As gravacóes dao-me a ¡mpressao de aberto confronto antité


tico com os ensinamentos e as explícitas diretrizes do Documento

— 357 —
& «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

de Puebla em seus pontos-chaves e nucleares, apresentados como


tais pelo mesmo Documento.

A qua'nto me parece, as gravacoes tém todas as características


das 'releifuras' do Evangelho que o Papa J060 Paulo II assinalou e
reprovou em seu discurso de abertura da Conferencia de Puebla ;
alias, Sua Santidade pediu instantemente aos Pastores que as rejei-
tassem e que vigiassem a fim de nao serem propostas aos fiéis.
Ref¡ro-me ao que o Papa assinalou nao só com vistas ao conteúdo
dessas 'releituras1, mas também com referencia á 'temeridade de
comunicá-las, á guisa de catequese, as comunidades cristas'. Creio
que estas prálicas condenadas sao justamente as que foram ado
tadas pelos autores das fitas gravadas com o título 'A Boa-Nova
contada ao povo da América Latina'.

Ademáis, tendo-se em vista a claríssima e desrespeitosa defor-


macáo e manipulacao de passagens importantes dos escritos do
Novo Testamento, os fitas gravadas vém a ser prova cabal de pouco
opreco e respeito á Biblia. Por que dar urna arma táo eficaz contra
c lgre¡a Católica aqueles que, como os protestantes, se apresentam
perante o nosso povo como os arautos da Biblia ?

Nao arranquemos ao povo latino-americano o seu auténtico


senso do misterio da cruz de Cristo e da Virgem María, associada
consciente e voluntariamente a esse misterio. Cristo crucificado con
tinua sendo, para os latino-americanos, um sinal de redencao do
pecado, a revelacáo do amor-misericordia do Pai, do perdao e da
recondliacáo com Deus e com os irmaos. Nao ven ha Cristo a ser,
para o povo latino-americano, bandeira de litigios de uns contra
outros (cf. Puebla 278-279 em seu ampio contexto).

9' Do ponto de vista bíblico e teológico, tais gravacoes nao


apreendem o específico da mensagem evangélica, mas propoem urna
Boa-Nova em luta, contraria ao auténtico Evangelho, tal como o
fransmitem os escritos do Novo Testamento e o magisterio da Igreja
em seus pontos essenciais. Tenho a impressao de que podemos aquí
apalpar urna radicalizacáo da fáo utilizada e discutível dístincáo
(ou mesmo contra-posícáo) entre o Cristo 'histórico' « o Cristo 'da fé'.
Alias, encontra-se urna alusáo a tal distincao na propaganda das
fitas gravadas, que fazem uso exagerado da mesma distincao, dando
a impressao de que os autores esquecem algo fundamental, a saber:
que a fé dos católicos é primordial e originariamente a aceitacáo
de 'pessoas' determinadas, de 'feitos' reais, de urna Historia real
da Salvacao...; a fé nao é adesao a teorías e ideologías .que,

— 358 —
«UM TAL JESÚS»

mudando substanáalmente segundo os sucessivos 'slogans* dos tem-


pos, nos levam a ignorar fatos ou a manipulá-los,... nos fazem
inventar novos fatos..., urna nova historia de Jesús como a que
tais fitas gravadas contam ao povo da América Latina.

Os Apostólos transmitiram-nos urna mensagem de fé que foi


realizada, plasmada e revelada por Deus através de feitos e obras
de Dcus. Alias, também a Biblia, concretamente os escritos do Novo
Testamento, é un fato, urna obra salvifica e reveladora das 'pala-
vras e obras de Deus' (Constituido Dei Verbum 2. 7. 8, etc.).

Os Apostólos captaram, com a luz e o dom da fé, o misterio


salvifico encerrado em toda a realidade histórica de Jesús (pessoa,
feitos, dizeres, ¡nstituicoes...}.

Os Apostólos estao conscientes de que nos transmitem urna


mensagem de fé, sim,- mas urna mensagem fundada sobre fatos reais,
sobre realidades históricas... o que viram, ouviram e apalparam...
Será preciso citar textos? (Jo 2O,3Osf Jo 21, 25; 1 Jo 1,1-4; At 1,1 s;
Le 1, 1-4...).

Creio que um sólido criterio de discernimento da autenticidade


da nossa fé poderío e deveria ser este : se, para transmitir a men-
f-agem de fé do Novo Testamento, sentimos a necessidade de ignorar
ou manipular os fatos narrados no Novo Testamento, temos o sinal
de que estamos ignorando aspectos importantes da própria mensa
gem de fé ou estamos manipulando esta mensagem.

10' Alguns exemplos

10.1. O clamor da multidao que acompanha Jesús na en


trada em Jerusalém, cerimónia na qual foram inseridos de propó
sito, e com a conivéncia dos Apostólos, os zelotas revolucionarios,
tal clamor é : 'Hosana, hosana 1 Justica hoje, nao amanha !'

Ao final da cena do Templo (Jesús expulsa do Templo animáis


e mercadores), durante a qual Jesús manteve diálogos violentos
e subversivos com os sacerdotes e os magistrados, Jesús teria gri
tado e bradado á multidao : 'Digam a Caifas que amanha iremos
ter diante do seu palacio; depois de amanha iremos ter com Herodes
para acusá-lo em sua guarida e procuraremos Pondo Pilotos diunte
da Fortaleza Antonia, e no terceiro dia Deus vencerá. Chegou o
grande dia do Senhor, o dia da libertacao...' E a multidao res
ponde : 'Liberdade, liberdade I'

— 359 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

Talvez á luz destes dados deva ser entendida a amarga excla-


macáo de Jesús na cruz : 'Por que fracassou tudo ?'

10.2. Sobre a ceia de quinta-feira (cf. cap. 110 e especial


mente 111) :

— um ambiente de ceia no qual prevalecem os elementos de


urna ceia multo 'humana' ;

— está ausente o verdadeiro misterio da Nova Alianza. A ins-


tituicao da Eucarisfia é totalmente manipulada. Nao há mencáo do
corpo de Jesús que se entrega por todos, nem do sangue de Jesús
derramado para o perdáo dos pecados. Só se encontró a insisten
cia na necessidade de permanecerem todos unidos... em qué e
para qué ? Segundo o contexto, na lufa contra os opressores, os
ricos, os poderosos ;

— as circunstancias da celebracao da Última Ceia sao tais que


ai nao cabem os en-inamentos de Jesús e as efusoes do seu Espirito,
transmitidos em Jo 13-17. Em tal ambiente, nao é possível imaginar
o Cristo orando ao Pai (Jo 17) em presenta dos seus discípulos.

10.3. A oracao de Jesús no Horto das Oliveiras é outro ponto


claro do misterio da Paixao de Cristo que se aprésenla completa
mente distorcido.

Em primeiro lugar, toda a apresentacao do final da ceia e da


decisao precipitada de 'esconder-se' no Horto do Getsémani é um
show de pura invencao, que fica totalmente desautorado pelo que
se lé em Jo 18,1-3, a saber: Judas sabia que costumavam retirar-se
para lá; por isto foi ao Horto das Oliveiras, certo de encontrar
Jesús (bela maneira de 'esconder-se' de Judas!).

A própria oracao de Jesús está totalmente manipulada em sua


ambientacao e em seus termos. Basta-me referir a expressao subs
tancial ¡ 'Nao se faca a vontade deles, mas a Tua ; nao ganhem
eles, os poderosos, mas Tu, o Deus dos pobres I' (com outras pala-
vras : ganhe eu dos 'poderosos', porque sou eu que carrego a causa
dos pobres).

10.4. O interrogatorio de Pilotos é um ponto importante da


Paixao que Sao Joao teve o cuidado de precisar. Nesta nova ver-
sao da Boa-Nova fica de lado o que Sao Joao diz e inventa-se
desde a raiz todo um interrogatorio.

— 360 —
«UM TAL JESÚS»

Entre Pilotos e Jesús desenvolvere um diálogo violento de


ambas as partes. E desenvolve-se de maneira tal que Pilotos chega
lógica e coeren teniente a conclusao de que Jesús está incitando á
rebeliao contra Roma. Jesús tácitamente o admite; e Pilotos, con
vencido da culpabilidade de Jesús, decide condená-lo á morte por
delito de 'conspirando, rebeldía, subversao1.

A realidade, segundo Sao Joao, foi muito diferente. A conclu


sao que Pílalos tirou do verdadeiro interrogatorio, foi esta : 'Nao
encontró motivo de acusacao contra ele' (Jo 18,39 e 19,1 ls).

10.5. A flagelacao de Jesús teria sido decretada por. Pilotos


para arrancar de Jesús a denuncia dos seus colaboradores na cons
pirado (e no cap. 124 — se bem me recordó — os Apostólos
comentam que Jesús se comportou corajosamente, porque nao Ihe
arrancaram nenhuma noticia; nenhum nome.. .).

E óbvío que o texto sagrado exclui esta interprétatelo da fla-


gelacao de Jesús.

10.ó. A zombaria da soldadesca na noite da Paixao... O


que a respeito nos dizem os textos sagrados e a Igreja sempre pre-
gou, é tremendamente impressionante. Todavia os nossos autores
quiseram saber muita coisa por própria conta. Esta Boa-Nova mo
derna conta ao povo latino-americano que os soldados feriram Jesús
num olho deixando-o caolho. Ouve-se um dos soldados dizer: 'Cobre-
-Ihe as partes púdicas, pois um rei desnudo nao impoe muito res
peito'. Ouve-se aínda outro dizer esta beleza (que também é des
crita) : 'Queres urna caricia?', ao que se segué um ponta-pé nos
testículos do prisioneiro.

Ademáis está dito, com insistencia nos efeitos, que 'o esfrega
ra m com urina e excrementos'.

Tenho a ¡mpressao de que tais descricoes brotam de urna veia


sádica e masoquista.

10.7. Em determinada ocasiao, Jesús — que se apresenta


identificado com os pobres e em antagonismo contra os ricos e os
poderosos — grita (cercado pela multidáo) : 'Deus está do nosso
lado !'

10.8. Para que continuar a citacáo de exemplos? Tais fitas


foram todas gravadas segundo o mesmo estilo.

— 361 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

II9 Em sin tese, sao sumamente entrislecedores o tremendo


esquecimento dos valores da fé de que se ressentem os dizeres dos
casseles, assím como a sutil e enervante desorientacao que, por sua
vez, eles suscitam e alimentam.

Serie de gravacóes:

'UM TAL JESÚS. A Boa-Nova contada ao povo da América la


tina'. Escrita por José Ignacio y María López Vigil.

A parte em foco sao os cinco cassetes que contení vinte capí


tulos da obra :

Cassete 27
Capítulo 99 A vinha do Senhor
106 Vinha do Filho de Davi
107 Com o chicote na mao
108 Um hornero para o povo.

Cassete 28 2:
Capítulo 109 Cordeiros e páes ázimos
110 A ceia de Páscoa
111 A Nova Alianca
112 No Horto do Getsemaní

Cassete 29 3:
Capítulo 113 Como se fosse um tadrao
114 Antes de cantarero os galos
115 A sentenca do Sinedrio
lió O interrogatorio do Governador.

Cassete 30 4:
Capítulo 117 Liberdade para presos
118 Desceu aos infernos
119 Urna coroa de espinhos
120 Eis o homem.

Cassete 31 — 5 :
Capítulo 121 — O caminho do Gólgota
122 — Até a morte na cruz
123 — Num sepulcro novo
124 — O Grande Sábado».

— 362 —
«UM TAL JESÚS»

II. PONDERACÓES

1. Quem lé o texto do CELAM, concluí que as fitas em


foco nao sao o eco do Evangelho, mas urna distorgáo do mesmo,
posta a servigo de intengóes políticas, revolucionarias de es-
querda. Vém a ser inspiradas por correntes extremistas da
Teología da Libertagáo, que já nao propóem catequese nem
teología, mas simplesmente marxismo revestido de capa crista.
O que os nossos dias trazem de especialmente pernicioso para
a Igreja, é o fato de que os adversarios do Evangelho nao estáo
apenas fora da Igreja, mas também dentro desta; usam dos
recursos e das aparéncias da catequese católica para realizar
o contrario da catequese.

2. Para tornar Jesús mais próximo e familiar ao povo


cristáo, nao há necessidade de vulgarizar (no sentido pejora-
tivo que esta palavra possa ter) a figura de Jesús. Este será
sempre grande e caro aos olhos do povo de Deus, se guardar
as suas características divinas de «Senhor e Mestre». Os tra
gos grosseiros e as obscenidades nao suscitam'estima nem
amor, pois estima e amor sao sentimentos nobres, ao passo que
a grosseria e a obscenidade sao o contrario da nobreza e da
grandeza de alma.

3. Jamáis se fará um auténtico anuncio da mensagem de


Cristo se nao se puser em relevo o seu caráter transcendental.
Jesús veio redimir os homens do jugo do pecado e da morte
a fim de levá-los ao convivio do Pai ou á plenitude da vida.
Nao quis ser proclamado rei, quando as multidóes o intencio-
naram (cf. Jo 6,15), e rejeitou as tentagóes de Satanás, que
lhe propunham o' messianismo da fartura, o do imperialismo e
o dos portentos; em lugar da alegría que lhe era proposta por
Satanás, preferiu a cruz e hoje está sentado á direita do Pai
(cf. Mt 4, 1-11; Hb 12, 2; Fl 2,9-11). O povo latino-americano
anseia pelo anuncio da verdade religiosa como tal; tenha-se
em vista o progresso das seitas protestantes, que geralmente
nao tratam de política, mas sao largamente aceitas pelo povo
simples.

— 363 —
Conforme Dn 7, 25 :

quem alterou o tempo e a lei ?


(a propósito da observancia do sábado)

fm sítese : O texto de Dn 7, 25 refere-se ao reí sirio Antíoco IV


Epifánio (175-163), que tentou impor aos israelitas costumes pagaos ;
quls assim mudar os lempos e a Lei, ou seja, o calendario religioso e as
prescrigóes sagradas de Israel. Esta conclusao se depreende de urna aná-
llse científica e objetiva do capítulo 7 de Daniel, que comeca apresentando
quatro feras (o leáo, o urso, o leopardo e a pior de todas), que signüicam
os imperios babilónico, medo, persa e o macedónio com Alexandre Magno
e seus sucessores (entre os quais estao os Antíocos ou Seléucidas da
Siria e o próprio reí Antíoco IV Epifánio). A seccáo de Dn 7 foi assim
concebida cerno palavra de consolacáo e estímulo para o povo de Israel
perseguido no século II a. C, pois anunciava o caráter efémera da perse-
gulcao. Donde se vé que erróneo é querer deduzir daí algo sobre o
Papado e a observancia do dia do Senhor, como fazem leltores protes
tantes sabatistas.

O dia do Senhor, na- Nova Lei, fícou sendo o primeiro dia da semana
e nao o sábado judaico, por indicaefio do próprio Cristo. Com efeito;
este passou o sábado na sepultura e apareceu no dia seguinte como a
nova criatura ou como o vencedor da morte e Senhor da vida. Em conse-
qüéncia, os Apostólos compreenderam que o dia do Senhor, após a Páscoa
do Cristo, deverla ser o dia da ressurreicáo de Jesús. Por Isto já nos lem
pos dos (Apostólos (e nao a partir do século IV) os cristáos celebravam o
primeiro día da semana, chamando-o domingo (kyriaké heméra); cf At 20 7-
1Cor 16,2; Ap 1, 10.

Comentario: Os cristáos adventistas observam, como dia


do Senhor, o sábado da antiga Lei de Moisés. Nao aceitam o
sábado da Nova Lei também chamado domingo (doaninica dies
ou dominga, em portugués antigo). Acusam mesmo o Papa
de haver alterado a Lei de Deus, mudando o respectivo calen
dario; no século IV o bispo de Roma teria cedido as instancias
da cultura greco-romana, induzindo os cristáos a celebrar o
dia do sol (Sonntag, Sunday) em vez do sábado. Ora, dizem
ainda, tal procedimento do Papa foi predito pelo profeta Da
niel em Dn 7,25.

Como se vé, o assunto é complexo. Comegaremos por elu


cidar o texto de Dn 7, 25; depois examinaremos objetivamente
o porqué da mudanca do sábado para domingo.

— 3G4 —
. SÁBADO OU DOMINGO ? 13

1. O texto de Dn 7, 25

Eis a seccáo em pauta :

"O quarto animal é um quarlo reino terrestre, diferente de todos os


outros, que devorará o mundo, o calcará e o reduzirá a pó. Os dez chifres
designam dez reís, que surgirao Jieste reino, mas após estes surgirá um
outro, diferente dos anteriores, o qual vencerá tres reís. Proferirá insultos
contra o Altíssimo, perseguirá os santos do Altlssimo e pensará em mudar
os tempos e a Leí; e os santos serao entregues ao seu poder por um
tempo, tempos e a metade de um tempo" (Dn 7, 23-250.

Para entender esle texto, como qualquer outra passagem


bíblica, o primeiro cuidado do intérprete há de ser o de recons
tituir as circunstancias históricas em que o autor sagrado es-
creveu, a fim de se depreender o que ele quis dizer e o que
os seus leitores ¡mediatos podiam entender.

Ora hoje é aceito entre os exegetas que o livro de Daniel


resulta de diversas máos. Nao é obra direta do profeta Daniel
(que viveu no século VI a. C. durante o exilio da Babilonia),
embora traga o nome de Daniel e aprésente esté personagem
como protagonista de suas diversas cenas. A seccáo das visóes,
que vai de Dn 7 a Dn 12, data do século n ou da época em
que os invasores sirios procuraram helenizar o povo de Israel,
isto é, desviar Israel da observancia da Lei de Deus para
impor-lhe costumes pagaos. Mais precisamente: o rei sirio
Antíoco IV Epifánio, entre 167 e 164 a. C, perseguiu violen
tamente os judeus que permaneciam fiéis á Lei de Moisés? ele
assim quis mudar os tempos e a Lei, ou seja, o calendario das
festas religiosas de Israel. Essa perseguigáo é mencionada em
lMc 1,41-64; 2Mc 6,1-3; 10,5. — Pois bem; o autor do livro
de Daniel refere-se a essa perseguido, da qual ele é contem
poráneo, a fim de dizer aos seus leitores que será efémera ou
que nao será vitoriosa, pois durará «um tempo, tempos e
meio-tempo», isto é, tres tempos e meio. Sendo 3,5 a metade
de 7, este número é o símbolo da imperfeicáo, da frustracáo
ou do inacabamento. Assim o capítulo 7 do livro de Daniel
pretende ser um fator de consolagáo e estímulo para os judeus
oprimidos pelos sirios pagaos. O rei Antíoco é mencionado sob
forma velada ou simbolista, pois o autor segué o género lite
rario chamado «apocalíptico», género cheio de imagens e
símbolos.

Esta maneira de entender Dn 7,25 é confirmada desdp


que se leve em consideragáo toda a secgáo de Dn 7. Oom efeito,

— 365 —
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

o autor sagrado comeca o capítulo apresentando quatro ani


máis enormes: um Ieáo com asas de águia (7,4), um urso
(7,5), um leopardo (7,6) e urna quarta fera, terrível, porta
dora de dez chifres (7,7). Ora verifica-se que esta visáo dos
quatro animáis é paralela á da estatua constituida por quatro
tipos de metal em Dn 2 : em Dn 2 e Dn 7 há alusáo a quatro
reinos que indireta ou diretamente influiram na historia de
Israel: o dos babilonios (Ieáo) no sáculo VI a. C, o dos medos
(urso) no sáculo VI a. C, o dos persas (leopardo) nos sáculos
VI-IV a. C, o de Alexandre Magno (336-323) e seus sucesso-
res (quarta fera, horrível). Os dez chifres da quarta fera sao
os reis seléucidas, que sucederam a Alexandre Magno na parte
siria do seu Imperio (o chifre, na simbologia bíblica, designa
freqüentemente forca e poder; cf. SI 74,5; 88,18; 91,11).

Quanto ao «rei diferente», que se levanta depois dos dez


outros, é Antioco IV Epifánio (175-163), seléucida, que só
adquiriu importancia depois de se desembaragar de alguns dos
seus rivais («abateu tres reis», diz Dn 7,24); Antioco Epifánio
foi eloqüente e arrogante blasfemador, como refere Dn 7,25;
foi ele quem tentou suprimir as festas sagradas de Israel e
mudar a Leí de Moisés, impondo aos judeus costumes pagaos.
Pois bem; interessava ao autor sagrado dizer que esse rei inso
lente nao prevalecería, pois Judas Macabeu, chefiando guerri-
lheiros israelitas, havia de retomar o Templo profanado pelo
impío adversario e o consagraría de novo ao Senhor Deus. É
o que está insinuado no final de Dn 7, 25, onde se mencionam
tres tempos e meio, ou seja, a precariedade do dominio de
Antioco IV.

Quem lé os dizeres de Dn 7 neste seu contexto histórico,


verifica que nada tém que ver com o Papado. O Papado, que
os judeus do sáculo II a. C. ignoravam, nao vinha ao caso
naquela época; outro era o problema de Israel, e a este outro
problema é que o autor de Dn 7 quis atender numa mensagem
concreta e existencial para os seus leitores imediatos. — Por
conseguinte, erra, do ponto de vista exegético, todo intérprete
que pretenda descobrir em Dn 7 alguma alusáo ao sáculo IV
d. C. ou ao Papado; tal alusáo nao cabía na mente dos judeus;
além do que seria destituida de significado e valor concretos
para os imediatos destinatarios do livro.

Nao se queira, portante, argumentar contra o Papado a


partir de Dn 7 (como, alias, absurdo é abusar de qualquer texto
bíblico neste sentido).

— 366 —
SÁBADO OU DOMINGO ? 15

A seguir, será evidenciado que nao foi o Papado quem


deu origem á celebracáo do domingo, mas foi o próprio Cristo,
acompanhado por seus Apostólos.

2. Sábado ou domingo ?

' 1. Quem percorre as páginas do Novo Testamento, veri


fica que o Senhor Jesús permaneceu no sepulcro durante o
sábado dos judeus e ressuscitou no dia seguinte, que era o pri-
meiro dia da semana judaica (cf. Mt 28,1; Me 15, 42; 16,1;
Jo 19, 42).

Os Apostólos — e, com eles, os primeiros cristáos com-


preenderam que, após a Páscoa de Cristo, o dia do Senhor
seria o dia da ressurreicáo de Jesús e nao o dia da perma
nencia na sepultura. Foi após o sábado que o Senhor apareceu
como restaurador do homem, completando e consumando a
primeira criacáo ; Ele fez entáo a nova criatura (2Cor 5,17).
Em conseqüéncia, o Novo Testamento atesta que o culto cris-
táo foi sendo deslocado para o primeiro dia da semana, desde
a época dos Apostólos. Tenham-se em vista os seguintes textos:

At 20,7: "No primeiro dia da semana, estando nos reunidos para


partir o pao, Paulo, que devia partir no dia seguinte, comegou a talar..."

Este acontecimento terá ocorrido pouco depois da Páscoa


de 57/58. Supoe urna reuniáo de culto ou a celebrábalo da
Eucaristía no primeiro dia da semana, ou seja, em domingo.

1Cor 16, 1s: "Quanto & coleta em favor dos santos, fazei vos tam-
bém o mesmo que eu ordene! ás igrejas da Galácia. No primeiro dia da
semana, cada um de vos ponha de parte o que consegulu poupar..."

Como se vé, Sao Paulo recomenda aos fiéis contribuam


semanalmente, no primeiro dia da semana, com alguma dádiva
em favor da comunidade de Jerusalém — o que supóe urna
assembléia litúrgica realizada naquele dia. Ve-se que assim
foram sendo transferidas para esse dia as práticas que os
judeus realizavam aos sábados, como a esmola e o louvor de
Deus. É multo provável que as comunidades fundadas por Sao
Paulo tenham praticado a observancia do primeiro dia da
semana (dia da ressurreicáo de Cristo). Esse dia, dedicado á
glorificacáo do Senhor ressuscitado, tomou adequadamente o
nome de kyriaké heméra, dia do Senhor (ou, propriamente,
dia senhorial), como se depreende de Ap 1,10: «Fui arreba-

— 367 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

tado em espirito no día do Senhor» (cf. Didaqué 14,1, código


litúrgico que data do fim do século I d. C). Há mesmo estu
diosos que afirmam que a celebragáo do domingo teve origem
na própria igreja-máe de Jerusalém, e nao somente ñas comu
nidades paulinas, pois os Apostólos estavam reunidos no quin-
quagésimo día (Pentecostés), que era domingo, dia em que
receberam o Espirito Santo (cf. At 2,2). Este quis comuni-
car-se nao em sábado, como Cristo nao quis ressuscitar no
sábado, mas no dia seguinte ao sábado.

Sao Paulo mesmo fixou, para os cristáos, um principio


peremptório :

"Ninguém vos julgue por questoes de comida e de bebida, ou a


respeito de testas anuais ou de lúa nova ou de sábados, que sao apenas
sombra de coisas que haviam de vir, mas a realidade é o coreo de Cristo"
(Cl 2,16s).

~O sábado judaico recordava a antiga Alianga, AJianga que


Cristo tornou antiquada e prestes a desaparecer; cf. Hb 8,13.
Nao há dúvida, Jesüs afirmou que nao veio abolir a Leí e os
Profetas, mas dar-lhes pleno cumprimento (cf. Mt 5,17). Estas
palavras nao significam que Jesús veio simplesmente confir
mar a letra da antiga Lei de Moisés, mas querem dizer que
veio trazer aquilo que a Lei e os Profetas apontavam: veio,
sim, levar a Páscoa antiga (e, com ela, os sacramentos da
antiga Alianga) á sua plenitude; os marcos da Antiga Lei, que
eram figuras ou acenos, perderam todo o seu valor salvifico
para os sacramentos da Nova Alianca.

2. Destas consideragóes se depreende quáo desproposi


tado é afirmar que um Papa, no século IV, deslocou o dia do
Senhor cedendo a influencias do paganismo que cultuava o
sol e tinha seu dia do sol. Muito antes do século IV, os cristáos,
por motivos estritamente bíblicos ou baseados na própria his
toria da salvagáo, cultuavam o primeiro dia da semana como
sendo o shabbath (sétimo, dedicado ao repouso). Verdade é
que houve vozes na Igreja antiga em favor do sábado dos
judeus, visto que certas comunidades cristas eram de origem
judaica. Todavia essas vozes nao prevaleceram contra a praxe
iniciada pelos Apostólos.

A fungáo do Imperador Constantino (306-337) foi a de


favorecer o repouso no dia do Senhor, que os cristáos obser-
vavam antes mesmo de Constantino. Com efeito, em 321 o
Imperador publicou um edito que impunha o repouso no dia

— 368 —
sábado ou domingo ? 17

do sol, que era o dia do Senhor dos cristáos (Constantino foi


adorador do sol quase até o fim de sua vida). Sabe-se
alias, que Constantino em 313 promulgou o edito de Miláo'
que concedía aos cristáos a paz ou a cessagáo das perseguicóes'
Constantino, porém, nao fez do Cristianismo a religiáo do
Estado. Este gesto se deve ao Imperador Teodósio (397-395)
no ano de 380. Ora entre 313 e 380 o Imperio Romano foi-se
aproximando do Cristianismo; por isto a legislagáo civil que
regulamentava o repouso semanal, foi-se inspirando dos prin
cipios do Cristianismo; ela privilegiou o dia do Senhor (do
mingo), marcando-o com o repouso civil, mas nao deslocou a
observancia religiosa do sábado para o domingo.

3. De resto, note-se bem : os cristáos nao fizeram senáo


deslocar de um dia a contagem dos dias da semana : em vez
de comecar na chamada «primeira feira» (em portugués, ainda
usamos a nomenclatura dos judeus) \ comecam na segunda
feira e no sétimo dia da serie assim iniciada descansam de
seus trabalhos para louvar a Deus; esse sétimo dia, dito
domingo, pode também ser dito sábado (na medida em que
shabbath está relacionado com sétimo e repouso). A lei de
Deus, expressa pelo Decálogo, continua a ser cumprida com
toda a fidelidade; nao se passa um sétimo dia na historia dos
cristáos, sem que seja consagrado ao Senhor, como manda a
Escritura. Esta nao indica a partir de que dia se devé fazer a
contagem dos dias da semana, mas insinúa claramente no
Novo Testamento que o termo final da semana há de ser o
dia da ressurreigáo de Cristo.

A guisa de bibliografía:

DE REYNAL, D., Teología da Liturgia das Horas. SSo Paulo 1981.

MASSI, P., La domenlca ralla storia della salvezza. Napoli 1967.


PR 158/1973, pp. 63-73.

i Feira vern do vocábulo latino feria e significa día útil. As outras


linguas modernas deslgnam os dias da semana a partir dos nomes dos
astros que, segundo a mitología, regem cada um: dia da Lúa dia de
Marte, día de Mercurio, dia de Júpiter, dia de Venus, dia de' Saturno.

— 369 —
Cada vez mais grave:

por que ha confuto na irlanda ?

.Em sintese: Os canflitos sangremos verificados últimamente na


Irlanda do Norte (regiáo de Ulster, com capital em Belfast) tém fundo
religioso, mas ultrapassam a esfera dos interesses religiosos.

Devem-se a medidas de implantacao violenta do protestantismo na


irlanda, medidas que, aplicadas desde os tempos de Elisabete I da Ingla
terra (1558-1603), lograram éxito na regiáo setentrional da Irlanda Desde
o seculo XVIII, as leis favorecem os protestantes (geralmente ingleses e
escoceses, que se estabeleceram em Ulster), reduzem os católicos a con-
dicóes de inferioridade social, económica, cultural, etc.

Após arduas lutas, os católicos conseguiram em 1921 constituir o


Estado hvre da Irlanda, com capital em Dublin, ao passo que simultá
neamente a regiáo de Ulster se anexou ao Reino Unido da Gra-Bretanha
e se tornou forte esteio do protestantismo. Para manter o seu predominio
em Ulster, os protestantes sao obrigados a recorrer a discrimlnacoes diver
sas, que recalcam os direitos da populacao católica; o direito a voto
está baseado na posse de bens imóveis (inclusive a casa própria) — o
que impede a numerosos católicos (geralmente pobres) o acesso ás urnas
e torna as eleicoes antes urna burla do que a expressáo da vontade da
populacáo de Ulster.

Em conseqüéncía, os católicos de Ulster, nSo somente em nome de


sua fé, mas ambém em nome dos direitos humanos que Ihes competem
tém-se insurgido contra a situacáo social vigente no país, encontrando apolo
e defesa em certos grupos de ¡ovens protestantes da regiáo É o que torna
aínda mais radical a poslcáo dos protestantes conservadores no país Pre-
comza-se, antes do mais, em Ulster a reforma da lei eleitoral, de modo a
se darem iguais direitos de voto a todos os cidadáos do pafs

Comentario: A morte de Robert (Bobby) Gerard Sands,


lider irlandés que empreendeu greve de fome, despertou de
novo modo a atengáo do mundo para a situacáo confutante
da Irlanda do Norte. Sabe-se que ali há violencia, mas nao se
sabe exatamente por qué. Daí a importancia de se exporem
as razóes, neste artigo, do conflito que aflige a Irlanda do
Norte.

No subseqüente artigo consideraremos diretamente o


significado moral da greve de fome de Bobby e de seus'com-
panheiros de milicia.

— 370 —
POR QUE HA CONFUTO NA IRLANDA ? 19

1. A Irlanda até 1920

1. No séc. VHI a. C. a Irlanda foi ocupada pelos celtas


(chamados «escotes» ou «gaélioos» na Irlanda mesma). Esta
populacáo era de estirpe aria, de tipo alto e louro, e constituí
até hoje o fundo étnico da ilha. Note-se bem: os celtas ou
habitantes da Irlanda nao sao anglo-saxóes (como sao os
ingleses, habitantes da vizinha Grá-Bretanha).

A populagáo celta da Irlanda foi convertida ao Cristia


nismo por obra de Sao Patricio no séc. V, tornando-se logo
fervorosa e missionária. Da Irlanda partiram para a Inglaterra
e o continente europeu numerosos monges, que fundaram gran
des mosteiros na Gra-Bretanha, na Franga, na Alemanha, na
Italia.

2. A Irlanda viveu em relativa tranqüilidade até o sé-


culo XII. Nessa época, ou, mais precisamente, em 1171, o rei
Henrique II da Inglaterra (da casa de Tudor), famoso por ter
tomado parte no assassinato de S. Tomás de Cantuária, desem-
barcou na Irlanda por dois principáis motivos: pretendía aju-
dar ao príncipe Rodrigo O'Connor, que estava em luta com
seus pares na Irlanda e — o que é mais — intencionava favo
recer a reorganizagáo e renovagáo da vida da Igreja preconi
zada pelo Papa Adriano IV, inglés, entáo reinante. Este se
gundo motivo se derivava do desejo que o rei tinha, de reparar
o assassinato de S. Tomás de Cantuária e por fim ao confuto
entre Papado e Coroa Inglesa no séc. XII.

Chegando á Irlanda, Henrique n julgou que sem dificul-


dade a poderia anexar ao seu reino. Comegou, pois, a tentar
conquistar o territorio, fazendo afluir para lá colonos ingleses.
Tal obra foi continuada pelos sucessores de Henrique n até o
séc. XVI; nao obteve, porém, o sucesso almejado. Com efeito,
muitos dos colonos ingleses nos séc. XÜI/XVI sentiram-se aos
poucos mais afins aos irlandeses do que aos ingleses: multipli-
caram-se os casamentes mistos, os intercambios culturáis, as
amizades, as relagóes comerciáis, a ponto que os mencionados
colonos ingleses se manifestaran! mais irlandeses do que os
próprios irlandeses. As leis emanadas de Londres contra a ami-
zade anglo-irlandesa foram francamente violadas, de modo que
os reís da Inglaterra se viram em dificuldades crescentes para
governar os seus súditos da térra irlandesa.

— 371 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

3. As relacóes entre a Irlanda e a Coroa Inglesa se tor-


naram mais tesas ainda, quando em 1533 Henrique VHI rom-
peu com Roma e se declarou Chefe da Igreja na Inglaterra.
Esta atitude deu nova base á oposigáo irlandesa contra o rei
da Inglaterra: tanto os irlandeses nativos quanto os chamados
«anglo-irlandeses» tomaram nova consciéncia de sua sólida
adesáo á Sé de Roma.

A segunda metade do séc. XVI, marcada pelo reinado da


famosa rainha Elisabete I (1558-1603), filha de Henrique VHI,
veio a ser um período de guerras continuas na Irlanda, pois a
populagáo local nao quería aceitar o controle espiritual e tem
poral da Coroa Inglesa. Digno de nota é que precisamente a
parte da Irlanda Setentrional hoje chamada Ulster se revelou
como a mais irlandesa do país e, por conseguinte, a mais resis
tente ao influxo inglés. Todavía, no fim do reinado de Elisa
bete (1603), os chefes locáis de Ulster (sobre os quais a rainha
exercera pressáo especialmente forte) estavam moralmente
vencidos e subjugados. O sucessor de Elisabete, ou seja, o rei
Jaime I (da casa dos Stuart), introduziu em Ulster colonos de
sua confianza, de sorte que em 1608 cerca de quatro quintas
partes da área inteira estavam em máos de ingleses e escoce
ses fiéis ao rei e intransigentes em sua crenca presbiteriana.
Os irlandeses nativos foram recolhidos ñas colinas e ñas re-
gióes mais pobres do territorio de Ulster. Esses colonos, á dife-
renga do que acontecerá na Idade Media, evitavam intercam
bio com os irlandeses (católicos): poucos casamentes mistos e
raras amizades se registraran! — o que confirmou os católicos
na sua posicáo de habitantes de guetos rurais.

4. Durante o século XVIII os irlandeses, destituidos de


seus bens, tentaram reconquistar as térras perdidas; em váo,
porém. A tentativa final se deu em 1690, quando Tiago Ó, o
último rei católico da Inglaterra, oferecia alguma esperanca
aos irlandeses. Todavía Guilherme m de Orange, genro do reí,
desembarcou na Manda e venceu Tiago II (que lá se refugiara)
na batalha de Boyne, a poucas milhas ao norte de Dublin
(30/6/1690). Este acontecimento marcou o futuro da Irlanda
até hoje; um grande contingente de orangistas ocupou novas
térras da ilha: foram promulgadas «Leis Penáis», que visavam
a consolidar e defender o «Establishment» protestante.

As «Leis Penáis» estiveram em pleno vigor de 1690 a 1829


(quando certo abrandamento se obteve mediante o «Catholic
Emancipation Act»). Tais leis negavam aos cidadáos católicos

— 372 —
POR QUE HA CONFLITO NA IRLANDA ? 21

da Irlanda (cerca de 85 % da populagáo) os direitos mais ele-


mentares : as escolas católicas eram proibidas, a hierarquia
eclesiástica e o clero estavam fora da lei; caso um memoro de
familia católica abragasse a «fé reformada», tornava-se o her-
deiro de todas as posses da familia. Aos católicos nao era lícito
possuir nem mesmo um cávalo que valesse mais de cinco libras
esterlinas. Nao tinham direito a voto: o Parlamento, os servi-
gos civis e militares lhes eram interditados. Quase por ironía,
o católico devia pagar taxas em favor do clero da Reforma.
Conseqüencia desta situagáo é o fato de que ainda hoje em
Dublin, cuja populacáo católica é de mais de 90 %, existem
duas catedrais protestantes, igrejas que pertenciam aos cató
licos antes da Reforma.

As medidas repressivas contribuiram para a regressáo da


situagáo económica da populacáo. Ademáis foi aplicada á Ir
landa a legislacáo vigente na Inglaterra, legislacáo adaptada
ao desenvolvimento industrial inglés, nao, porém, á economía
irlandesa, que era prevalentemente rural, oom excegáo da re-
giáo de Ulster. As conseqüéncias foram desastrosas: em 1848,
registrou-se o flagelo da fome, que matou um milháo de habi
tantes e motivou a emigracáo de outros tantos para os Esta
dos Unidos da América e a Grá-Bretanha. A populagáo da
Irlanda nunca mais atingiu a metade da cifra que tinha no
inicio de 1848: 8.000.000 de habitantes.

Todavia a Irlanda do Norte, bastante industrializada para


sustentar a dinámica da produgáo inglesa, escapou ao depau-
peramento económico. Mais: em Ulster os proprietários viviam
na própria regiáo, ao passo que a maioria dos proprietários do
resto da ilha morava feliz na Inglaterra e apenas desfrutava
as rendas de seus terrenos.

As condigóes dos camponeses irlandeses ficaram sendo


precarias até o séc. XX, quando se deu a primeira rebeliáo
irlandesa dotada de éxito, da qual se falará a seguir.

2. Após 1920

1. Durante o século passado, distinguiu-se o herói nacio


nal irlandés Daniel O'Connor, que, recorrendo a métodos nao
violentos, tentou defender a sua gente. Nada obteve de ime-
diato. Mas, quando morreu em 1847 (estava em Genova, de
viagem para Roma, a fim de levar ao novo Papa Pió JX a

— 373 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

homenagem do povo irlandés), a oposigáo irlandesa se organi-


zou militarmente no movimento dos «Sinn Feiners» (os que
agem por própria iniciativa). As lutas se foram sucedendo até
culminar na insurreigáo de Páscoa 1916, sufocada em sangue.
Em 1918, porém, os católicos obtiveram urna vitória legisla
tiva; formaram entáo um Exército Republicano Irlandés («Irish
Republican Army»). Em 1919 os «Sinn Feiners» se constitui-
ram em Assembléia da Irlanda («Dail Eireann») e proclama-
ram a independencia do país, com um governo próprio no exi
lio sob a chefia de Eamon De Valera.

Em 1921, a Grá-Bretanha resolveu reconhecer o Estado


Livre da Irlanda. Mas as cláusulas impostas pelos ingleses,
implicando ainda sujeigáo á Coroa Británica, nao foram acei
tas por todos os parlamentares irlandeses. Seguiram-se guer
ras civis até que Eamon De Valera, feito Primeiro Ministro
em 1932, conseguiu romper os últimos vínculos de sujeigáo á
Inglaterra; em 1937 obteve a aprovacao de nova Constituigáo,
que abolía o juramento de fidelidade ao reí da Inglaterra,
assim como qualquer pagamento de taxas ou indenizagóes aos
«landlords» (senhores das térras) ingleses. Mas somente em
1949 a Irlanda conseguiu proclamar-se República, com total
independencia, renunciando mesmo a fazer parte do «Com-
monwealth» británico.

A todo esse movimento de emancipagáo nacionalista opós-


-se sempre a regiáo de Ulster na Irlanda do Norte, de tal sorte
que, quando em 1921 foi reconhecida a independencia irlan
desa, se formou simultáneamente um novo Estado na Irlanda
do Norte; Ulster conta com seis condados, marcadamente pro
testantes, ao lado dos 26 condados católicos, que constituem a
Irlanda livre. Os habitantes de Ulster sao chamados Unionistas
(por quererem a uniáo com a Inglaterra); o seu «slogan» soa
«Home Rule is Rome Rule» (Governo nacional é Governo de
Roma). Os Unionistas tém forte esteio no chamado «Partido
de Orange» (nome-homenagem a Guilherme de Orange).

2. Em 1921, portante, o «Government of Ireland Act»


dividiu a Irlanda em duas partes: 80 % do territorio tomou-se
independente, tendo o seu Parlamento em Dublin, ao passo
que 20 % ficaram ligados á Grá-Bretanha, embora tenham
também seu Parlamento em Belfast e autonomía de adminis-
tragáo: o principal interesse do Parlamento de Belfast, que há
cinqüenta anos é controlado sempre pelo mesmo Partido, con
siste em manter a divisáo da ilha; os dirigentes políticos de

— 374 —
_, Í'OR QUE HA CONFUTO NA IRLANDA ? 23

UIster estáo decididos a manter o «status quo», o que só será


possivel se conservaren! maioria protestante na Irlanda do
Norte. James Craig, o Primeiro Presidente do Conselho da
Irlanda do Norte, dizia em 1934 ser, antes do mais, um oran-
gista; a seguir, considerava-se um político e um membro do Par
lamento; e acrescentava: «Tudo de que me glorio, é que nos
somos um Parlamento protestante e um Estado protestante».

Vejamos agora as condicóes de vida a que estáo sujeitos


os católicos no país de UIster (Irlanda do Norte).

3. Os católicos na Irlanda do Norte

A minoría católica em UIster constituí o grupo religioso


relativamente mais considerável. Numa populacáo de 1.500.000
habitantes, os católicos sao 500.000. Seguem-se os presbiteria
nos (em número de 400.000), os anglicanos (400.000 também)
e os metodistas (menos de 100.000 fiéis). Por conseguinte, os
católicos representam 35 % dos habitantes e tal proporgáo
tende a aumentar porque a sua taxa de natalidade é superior á
das outras confissóes. O grupo mais infenso aos católicos é o
dos presbiterianos, entre os quais figura o ardoroso pastor Jan
Paisley, que se vem distinguindo por suas demonstracóes anti
católicas.

Para manter o predominio, os protestantes de UIster tém


de recorrer a urna serie de discriminacóes contra os católicos.
Estas medidas provocam naturalmente a animosidade e repre
salia da parte oprimida, a qual encontrou aliados e defensores
entre os jovens protestantes assim como em ambientes evan
gélicos liberáis. É o que vem tornando ainda mais radical o
espirito conservador e. reacionário dos grupos protestantes.

Quais seriam as principáis discriminacóes vigentes em


UIster ?

3.1. No plano eleüoral

É o sistema eleitoral que constituí o principal instrumento


da política orangista.

Ñas eleigóes para o Parlamento de Belfast, todo homem


de negocios ou comerciante tem direito a dois votos; o mesmo

— 375 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

acontece á sua esposa, de modo que cada casal de comercian


tes goza de quatro votos.

Ñas eleicóes nao parlamentares, que sao as dos munici


pios e dos condados, o sufragio nao é universal; o direito a
voto também as sociedades anónimas que possuam um capital
superior a dez libras esterlinas, podendo mesmo urna só socie-
dade gozar do direito a seis votos. Mediante tais artificios, tem
acontecido que ricos industriáis disponham, cada um, de de-
zoito votos!

Note-se também que, para poder inscrever-se entre os elei-


tores de municipio ou condado, o cidadáo deve ser proprietário
da mansáo em que habita; ein conseqüéncia, quem vive em
casa de seus pais, nao tem direito a votar. Quanto á concessáo
de casa própria, ela só é feita a pessoas «seguras», ou seja, de
fé protestante, as quais daráo seu voto ao Partido Unionista
(cu «Lealista», como é chamado). Embora se váo construindo
novas habitares, os católicos se véem obrigados a permanecer
em mansdes extremamente pobres, «onde os negros do Missis-
sipi se recusariam a habitar» (palavras do correspondente do
jornal «Tempo», de 14/1/1969).

Por efeito dessas leis, o Partido Unionista controla 57 dos


68 Conselhos Municipais, mesmo ñas regióes em que a maioria
da populacho é católica. Exemplo notorio é o da cidadezinha de
Londonderry; os registros assinalam ai urna populacáo de
13.515 católicos e 9.235 protestantes; nao obstante, London
derry sempre foi administrada por um Conselho de 12 Unio
nistas e 8 católicos (do Partido Nacionalista). Isto se explica
pelo fato de que 7.000 católicos nao figuram ñas listas eleito-
rais, em vista de seu estado de pobreza (nao possuem casa
própria e agrupam-se em guetos); além do mais, existem em
Londonderry 1.200 votos eleitorais atribuidos as Companhias,
que pertencem quase exclusivamente a protestantes.

3.2. No plano socio-económico

Com as discriminacóes eleitorais estáo associados outroí


males na Irlanda do Norte :

—^ abandono da populacáo católica á miseria degradante;

— recusa de emprego aos católicos (há tempos, varios


industriáis reunidos se gabavam de que nenhum jamáis con-

— 376 —
POR QUE HA CONFUTO NA IRLANDA ? 25

cederá trabalho a um católico!). — Em 1934 Basil Brooke,


depois Primeiro Ministro de Ulster, afirmava que sempre re
comendara aos unionistas nao dar trabalho aos católicos, pois
estes sao traidores na proporgáo de 99 %; caso nao procedes-
sem assim, um día os unionistas seriam minoría em vez de
maioria ;

— falta de escolarizagáo para os católicos.

Assim a populagáo católica se vé encerrada em circulo de


ferro: nao pode comprar casa nem receber habitagáo do Es
tado, porque, em tal caso, teria dimito a voto. Nao consegue
obter trabalho, porque assim chegaria a ter poder aquisitivo
de casa própria. É excluida do servigo público do Estado, por
que teria direito a casa. É boicotada, quando se entrega ao
comercio, a fim de que nao possa sair da pobreza. O jornal
«Times» de Londres noticiou que, de 586 servidores do Estado
de Ulster, os católicos sao apenas 36. De 3.000 agentes de poli
cía, os católicos nao chegam a cinco.

Terence O'Neill, Primeiro-Ministro de Ulster de 1963 a


1969, lamentou-se de que os católicos nao o tivessem susten
tado ñas eleigóes de Janeiro de 1969, pois julgava ser liberal em
relagáo a eles. A sua mente liberal se exprimiu no «Belfast Te-
legraph» de 10/5/1969 nos seguintes termos: «Se dermos tra
balho e casa aos católicos, eles viveráo como os protestantes,
tendo automóveis e televisores; recusar-se-áo entáo a ter de-
zoito filhos!» Segundo este raciocinio, os católicos, em melho-
res condigóes económicas, viveriam como os Unionistas; por
isto julgava o Primeiro-Ministro dever negar-lhes o voto. Am
biguo arrazoado !

Conseqüéncia das discriminagóes é a emigragáo de irlan


deses para os Estados Unidos. Com efeito, desde 1921 quase a
metade das criangas de Ulster é de familias católicas, embora
os católicos nao constituam mais do que urna terca parte da
populagáo local. Em 1968, por exemplo, a proporgáo de 50,3%
das criangas era católica; todavía até hoje a populagáo cató
lica de Ulster nunca passou tie 35%. Durante cinqüenta anos,
pois, nota-se que é constante o decréscimo do número de cató
licos entre a idade escolar (50 %) e a idade adulta (35 %).
Isto quer dizer que cerca de 15 % dos jovens parte todos os
anos para o estrangeiro!

— 377 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

4. O momento presente : guerra de Religiáo ?


1. Como se vé, a situagáo vigente na Irlanda é de fundo
religioso, mas nao se limita a interesses religiosos. Nao se
trava lá urna guerra (ou guerrilha) de religiáo, mas, sim, urna
verdadeira luta em prol dos direitos do homem.
O jornal francés «Le Monde», aos 18/12/1968, notava in
sistentemente que, com os jovens católicos de Ulster, militavam
jovens de outras crengas e cidadáos progressistas, empenha-
dos numa legítima liberalizagáo das condigóes sócio-políticas
locáis. O próprio bloco protestante vai perdendo a sua coesáo,
principalmente entre os anglicanos, movido pelo progresso do
ecumenismo, pelo declínio do fanatismo religioso, pela aversáo
as discriminagóes sociais e pela consciéncia do imobilismo do
Partido Unionista.
Estas observagóes mostram que o problema irlandés nao
é apenas de ámbito cristáo, mas de ámbito humano, universal,
pois diz respeito á dignidade da pessoa humana no séc. XX.
É esta grave situagáo social e religiosa que tem provocado
protestos violentos e nao violentos da parte dos cidadáos opri
midos no Ulster. Entre outros recursos, o da greve de fome
tem sido adotado com freqüéncia, tornando-se especialmente
notorio o caso de Bobby Sands, do qual tratará o próximo
artigo.

(continuacáo da pág. 353)

valores e fixar «sua esperanca nao no braco do homem» (cí. Jr 17,5),


mas no Senhor Deus. Se o mundo precisa de economistas, médicos,
educadores, psicólogos..., tele precisa principalmente de santos. Sao
estes os homens (e mulheres) que mais impressionam o mundo, em-
bora nada fagam para ser vistos e conhecidos. Sao estes os grandes
amigos da humanidadc, que intercedem em favor desta e podem obter
do Senhor Deus aquilo que o planejamento e a industriosldade dos
homens nao conseguem. O Senhor Deus, por vezes, destrói todos os
pontos de apoio criados pelo homem para que este se lembre de que
é o Senhor quem dá a íecundidade á Iabuta dos homens.
Em conseqUéncia, o novo ano, com seus prognósticos pouco alvis-
sareiros, diz ao sabio entendedor: «Trabalha, aceita o desafio da luta!
Mas trabalha como servidor de Deus. E nao deixes de rezar, pedindó
instantemente ao Pai que dé aos teus esforcos o fruto que por ti masmo
jamáis alcangarias!»
E Ele o dará ! Nao hesites !

SANTO NATAL! E FELIZ 1982 !

— 378 —
Fol o caso de Robert Sánete:

greve de íome é lícita ?

Em sintose: O caso de Robert Gerard Sands, morto por greve de


0* aber'aS qUeSt5eS de °rdem mora'' • «™
dli*nN™.P!í!!l? J10'8'- Per9unla"se se o gesto de Bobby Sands fol suicidio
direto ou Indireto. Há quem responda que fol apenas suicidio Indireto,
ou seja sacrificio da próprla vida com vistas á consecugao de um obje
tivo nobre ou do bem do próximo; Sands nao tinha em vista a sua morte
como tal, mas melhores condlcoes de vida para a sua gente. Neste caso
poder-se-ia ¡sentar R. Sands de alguma censura moral. Cremos que, sem
discutir a boa fé de Sands, tocava ao jovem heról a obrigacio moral de
Interromper a greve de fome a fim de nao a levar ao extremo da morte.
Quanto aqueles que acompanhavam Sands. dizem bons autores que
nao Inés incumbía o dever moral de salvar da morte o heról, visto que
este havla expresso a vontade de nao ser alimentado artificialmente quando
entrasse em coma. H

O problema político agudamente levantado pela morte de Sands e


outros neróls Irlandeses poe-se para o Governo británico nos segulntes
termos: deixará morrer de fome as pessoas que empreendem a greve ou
aceitará a proposta de dar o estatuto de prlsioneiros politicos aos deten-
tos do IRA, cuja sorte é penoslsslma nos cárceres da Manda do Norte?
— A oplnl§o pública internacional tem-se levantado em favor do povo
do Ulster, solicitando mals flexlbllidade da parte do Governo británico

Comentario: Sabe-se que as primeiras horas de 5/05 pp.


faleceu no bloco H da Prisáo de Maze em Belfast (Irlanda do
Norte ou Ulster) o jovem Robert (Bobby) Gerard Sands, de
27 anos; era membro do IRA (Irish Republican Army), e fora
eleito Deputado junto á Cámara dos Comuns em Londres no
dia 9/04/81. Passara sessenta e seis dias em greve de fome,
tomando apenas agua e pequeña quantidade de sal; nos últi
mos dias recusou a alimentacáo endovenosa que os médicos
do cárcere lhe quiseram oferecer e solicitou que esta nao lhe
fosse ministrada depois que entrasse em coma. A finalidade
de tal jejum era obter do Governo británico, em favor dos 700
membros do IRA aprisionados, o estatuto de prisioneiros poli-
ticos (e nao de terroristas) com a possibilidade de melhora das
condigóes carcerárias (o que incluiría uso de roupas comuns,

— 379 —
28 «PERPUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

recebimento e envió de cartas, isengáo de trabalhos forga-


dos...).

Bobby Sands, nos momentos mais agudos do seu prolon


gado jejum, recebeu duas vezes o sacramento da Uncáo dos
EnfermosJ. Na tarde de 28 de abril de 1981, também recebeu
a visita do Pe. John Magee, irlandés, secretario pessoal e en
viado do S. Padre Joáo Paulo II, que, durante urna hora, ten-
tou dissuadir Bobby do seu intento. No dia seguinte, o emissá-
rio pontificio voltou a estar com Bobby e visitou outrossim os
demais grevistas de fome do IRA; Sands agradeceu vivamente
a mensagem de S. Santidade, mas nao quis interromper o seu
jejum. O jovem prisioneiro recusara anteriormente a visita de
dois membros da Comissáo Européia de Direitos Humanos, que
haviam sido chamados á prisáo por Marcella, a angustiada
irmá de Bobby.

A morte de R. Sands deixou abertas duas interrogagóes:


urna de ordem moral e outra de ordem política.

1. O aspecto moral do caso

Pergunta-se em primeiro lugar: a greve de fome, prati-


cada por Bobby Sands e outros protestatários na Irlanda, na
Espanha, no Brasil..., é lícita aos olhos da consciéncia crista?
Em outros termos, interroga-se: a lei de Deus permite a alguém
deixar-se morrer de fome, aínda que o faca para atingir um
objetivo nobre e altruista? Abordaremos esta questáo; após o
que proporemos algumas consideragóes sobre os deveres que
incumbem a quem assiste ao grevista: será lícito deixar morrer
alguém sem o impedir (mesmo que, para tanto, deva contra
riar a vontade do grevista)?

1.1. Será lícito entregar-se á morte de fome ?

O problema é delicado. Na verdade, quem jejua até mor


rer de fome, comete um suicidio. Ora o suicidio será lícito ?
A resposta exige que se observe a distincáo entre suicidio
diroto e suicidio indireto.

1A administrado dos sacramentos a Bobby Sands maniíesta que


este realizara sua greve em consciéncia tranquila e que o ministro da
Igreja julgou haver condicSes, no caso, para conceder-lhe os sacramentos.
A llceldade da greve de fome será discutida no decorrer deste artigo.

— 380 —
GREVE DE FOME É LÍCITA ? 29

1.1.1. Suicidio direto

O suicidio direto ou propriamente dito ocorre quando al-


guém comete um ato que vise propriamente a extinguir a sua
vida. Ora tal ato é gravemente mau (pecaminoso) desde que
cometido de maneira consciente e voluntaria. Atenta contra
o respeito que cada individuo deve ter á própria vida, respeito
sancionado pela lei de Deus, que manda: «Nao matar»; Deus
é o único Senhor da vida humana; por conseguinte, somente
Deus pode dispor desta. É o que lembra a S. Congregacáo para
a Doutrina da Fé na sua Declaragáo sobre a Eutanasia aos
1/05/80 :
"A morte voluntaria ou suicidio é táo Inaceiável como o homicidio
porque tal ato, da parte do homem, constituí urru recusa da soberanía
de Deus e do seu designio de amor. Além disto, o suicidio é, multas vezes,
rejeicáo do amor para consigo mesmo, nega?áo da aspiracao natural á
vida, abdicacáo frente ás obrlgacóes de lustica e caridade para com o
próximo, para com as varias comunidades e para com todo o corpo
social — se bem que por vezes, como se sabe, intervenham condicSes
psicológicas que podem atenuar ou mesmo suprimir por completo a res-
ponsabilidade" (1. 3).

Por conseguinte, em caso nenhum ou por motivo nenhum


o suicidio direto é lícito; fica, pois, excluida pela consciéncia
crista a provocagáo da morte no intuito de por fim aos sofri-
mentos de um enfermo ou a fim de evitar a vergonha ou a
infamia ou mesmo com o propósito de conservar um bem va
lioso como seria a virgindade. — A propósito pode-se notar
que houve cristáos que preferiram atirar-se voluntariamente
á morte a sofrer a violagáo de sua integridade física ou arris-
car-se a ser tentados de outro modo. Tais foram os casos,
como se diz, de Santa Pelágia (t 304), que terá subido ao
telhado de sua casa a fim de precipitar-se no espago para
subtrair-se a contatos impuros;... de Santa Apolónia (t 249),
que, ameagada de ser queimada viva, se nao concordasse em
pronunciar certas palavras que para ela equivaliam a urna
apostasia, se arremessou ás chamas; ... de Sao Teodulo
(t 119). que, obrigado a assistir ao suplicio dos companheiros
Evéncio e Alexandre, se atirou espontáneamente á fogueira e
pereceu com eles... — Deve-se observar que tais casos se
deram todos antes do sáculo X. Tais pessoas foram aclamadas
como santas pela voz do povo de Deus, pois é de lembrar que
até o século X nao havia processos de canonizagáo, mas o
povo de Deus cultuava seus heróis com a aquiescencia dos bis-
pos, desde que nao houvesse evidentes razóes em contrario.
Hoje a Igreja reconhece o valor do heroísmo de tais mártires
e a boa fé de suas consciéncias, pois na verdade julgaram que

— 381 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

estavam servindo a Deus, quando se atiravam á morte; toda


vía a Igreja nao propóe tal exemplo á imitacáo dos fiéis, por
que, objetivamente falando, tais gestos equivalem a suicidio
direto.

1.1.2. Suicidio indireto

O suicidio indireto ocorre quando a pessoa nao deseja nem


procura a morte como tal ou como meio para atingir algum
objetivo, mas apenas aceita a morte na medida em que esta
se acha estritamente vinculada a um efeito bom que o sujeito
deseja e procura diretamente. A morte entáo é assumida como
conseqüéncia de importante ato de generosidade, ato este que
jamáis seria praticado se o individuo sempre estivesse obri-
gado a evitar a sua própria morte.
É aínda o citado documento que reza:
"é preciso distinguir bem entre suicidio e aquele sacrificio pelo
qual, por urna causa superior — como a honra de Deus, a salvacáo das
almas ou o servico dos irmáos — alguém dá ou expde a própria vida
(cf. Jo 15,14)".

Na base destas premissas, voltemo-nos diretamente para


o caso de Sands.

1.1.3. E o caso de Bobby Sands ?

Póe-se agora a questáo concreta : a morte de R, Sands é


suicidio direto ou indireto? Poderia ser considerada como sa
crificio em prol de urna causa superior?
A resposta nao é fácil. O Pe. Giuseppe De Rosa S. J. *
julga que provavelmente se trata de suicidio indireto: B. Sands,
diz o autor, nao procurou a morte diretamente ou como tal,
mas permitiu-a ou tolerou-a qual instrumento de pressáo para
obter justiga. A própria opiniáo pública parece ter reconhecido
a morte de B. Sands o caráter de sacrificio em prol de urna
causa superior.

Todavía G. De Rosa observa enfáticamente que, embora


B. Sands possa ser tido como inocente e heroico propugnador
do bem comum, ele praticou algo que na verdade é apto a
elevar o índice de violencia e atentados, já muito freqüentes
e daníficos no Ulster. O autor em foco julga que, sem dúvida,
é preciso modificar as injustas condicoes em que vivem os
católicos do Ulster, mas assevera que o recurso á violencia

'Ver bibliografía no flm do artigo.

— 382 —
GREVE DE FOME É LÍCITA ? 31

(mesmo que seja apenas indireta ou devida á morte de gre-


vistas de fome) jamáis será o oaminho adequado para resol
ver o arduo problema da Irlanda do Norte.

1.1.4. Que dixer afinal ?

Entre os comentadores do fato, há quem concorde com


Giuseppe De Rosa ao dizer que o gesto de B. Sands nao foi
suicidio propriamente dito, mas devotamento a nobre causa
da justica em prol dos irmáos, devotamento do qual resultou
o sacrificio da vida de R. Sands. A propósito lembram o caso
do famoso Pe. Damiao, missionário holandés que se enclau-
surou no leprosario da ilha de Molokai, a fim de atender aos
enfermos e aliviar-lhes a morte com o sacrificio fatal da pró-
pria vida, a fim de realizar obras de doacáo ao próximo que
de outro modo nao seriam realizadas.

Desejamos, porém, notar o seguinte: no caso de B. Sands


o sacrificio da vida nao era o meio certeiro e necessário para
obter justica, como se depreende da experiencia feita; nada
se alterou até agora na legislagáo da Irlanda do Norte. Outros
muitos jovens váo-se sacrificando sem ter conseguido até o
momento presente alguma melhora de vida para os seus con-
cidadáos. Ao contrario, o risco de vida de um missionário, já
enquanto risco, é útil ao próximo; o seu resultado positivo
decorre do próprio arriscar. Por isto nao se podem equiparar,
do ponto de vista moral, greve de fome e dedicagáo ao servigo
dos irmáos. A greve de fome é um servigo de resultados incer-
tos, duvidosos, talvez mesmo provocador de represalias e mais
violencias injustas.

Por isto eremos que, objetivamente falando (ou seja, abs-


traindo da boa fé subjetiva de Bobby Sands), a greve de fome
nao devia ter sido levada até o extremo da morte; ao contra
rio, teña sido desejável que B. Sands a interrompesse para
assumir outros recursos de protesto, como preconizava S. San-
tidade o Papa Joáo Paulo n quando mandou um legado á pri-
sáo de Maze em Belfast.

1.2. Será lícito deixar morrer alguém de fome ?

A questáo, como se coloca no caso de Bobby Sands, tam-


bém é assaz delicada.

Em principio, ela se pode resolver pela negativa. Com


efeito; o suicidio é um mal, pois vem a ser um atentado á vida,

— 383 —
32 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

um grave daño que o sujeito inflige a si mesmo e urna viola-


gáo da lei de Deus. Por isto há, para quem acompanha este
mal, a obrigagáo de entravar ou anular a agáo suicida. Esta
interyengáo seria tanto mais justificada quanto é provável que
o suicida nao esteja na plena posse das suas facilidades men
táis e, por isto, atente contra si num momento de desatino nao
livre e consciente. Por isto, é imperioso salvar da morte al-
guém que tenha tomado veneno ou se haja atirado ao mar
para morrer.

No caso de Bobby, porém, existia um fator peculiar, que


dificulta o julgamento do moralista: este jovem pediu lúcida
e conscientemente que nao o impedissem de morrer quando
estivesse em coma. Ora, dizem varios autores, nao se deve
violentar a vontade de outrem; era lícito, portanto, tentar per
suadir Bobby de cjue rompessc o seu jejum para nao morrer,
mas nao era permitido impor-lhe á forca a sobrevivencia; a
sua vontade claramente expressa devia ser respeitada. Esta
sentenga tem seu peso e sua autoridade; por isto há funda
mento para nao incriminar as pessoas que deixam morrer
aqueles que consciente e voluntariamente atentam contra a
sua vida.

Cremos, porém, que também há razóes para intervir de


cididamente em qualquer hipótese para salvar os que se entre-
gam voluntariamente a morte. A preservagáo da vida de tais
pessoas nao seria o verdadeiro bem das mesmas, ainda que
estas nao pensem assim? A questáo fica aberta, de modo que
ao leitor toca optar pela sentenca que mais provável Ihe pa-
reca. Há realmente, na Moral, situagóes polivalentes, diante
das quais o moralista serio nao pode proferir urna sentenca
única e definitiva.

2. O aspecto político do caso

O problema político que as greves de fome suscitam para


o Governo británico, é o seguinte: deixará morrer impassivo
os líderes irlandeses que as empreendam, ou concederá o esta
tuto de prisioneiros políticos a homens acusados de atos de
terrorismo? — A atitude da Primeira-Ministra Margaret
Thachter tem sido rígida no sentido de nao acolher a reivindi-
cagáo dos grevistasj alega que a resposta favorável significaría
reconhecer que o IRA nao é um movimento terrorista, mas
urna organizacáo político-militar que se bate em regime de

— 384 —
6REVE DE FOME É LICITA ? 33

guerra a favor dos direitos da populacáo católica do Ulster.


Ao comentar a morte de Bobby Sands, observou Margaret
Thachter: «O Sr. Sands era um criminoso comprovado. Esco-
lheu tirar a sua própria vida. Esta escolha nao lhe era permi
tida pela Organizacáo mesma a que pertencia». Até mesmo
o líder da Oposigáo na Inglaterra, Michael Foot, apoiou a Pri-
meira-Ministra, alegando que, se o Governo cedesse, estaría
fomentando o recrutamento de terroristas no Ulster. O Secre
tario do Ministerio do Interior, William Whitelaw, anunciou
que o Governo británico, desejoso de evitar futuros casos
semelhantes ao de Bobby, estava pensando em impedir que
candidatos como Robert Sands fossem eleitos Deputados. Um
porta-voz do Governo británico declarou que este nao estava
disposto a abrir máo de suas atitudes, ainda que, em conse-
qüéncia, os irlandeses tivessem que «perecer como moscas»
(they drop like flies).

A dureza de atitudes das autoridades británicas só teve


por efeito incitar novos jovens heróis irlandeses ao protesto
da fome. Oito dias após a morte de Sands, os sinos repicaram
de novo na Irlanda do Norte anunciando o falecimento de
outro grevista, Francis Hughes, de 25 anos, que suportara
59 dias de fome. Ainda outros militantes católicos do Ulster
tém assumido o mesmo tipo de protesto. Estes heróis tencio-
nam assim abalar a opiniáo do público nao só na Grá-Breta-
nha, mas também no mundo inteiro. Alias, já se tém feito
ouvir, no estrangeiro, vozes que professam simpatía pelos
«mártires» irlandeses e pedem mais flexibilidade do Governo
inglés para com o povo da Irlanda do Norte; afinal os protes-
tatários irlandeses nao pretendem subverter a ordem vigente
no Estado británico, mas obter memores condigóes de vida
para urna populacáo injustamente sacrificada em virtude de
leis dos séculos XVI e XVII.

Assim em Dublin o Primeiro-Ministro Charles Haughey


manifestou a Londres a sua «profunda preocupacáo e ansie-
dade» a respeito da morte dos prisioneiros e acrescentou:
«Os trágicos acontecimientos das últimas semanas confirma
ran! mais urna vez que a Irlanda do Norte nao poderá perdu
rar muito tempo ainda na situagáo em que hoje se acha». Nos
Estados Unidos levantaram a voz quatro homens públicos de
origem irlandesa: Hugh Carey, Governador de Nova Iorque,
Thomas P. O'Neill, Presidente da Cámara dos Deputados, e
os senadores Edward Kennedy e Daniel Patrick Moynihar:
acusaram o Governo Thachter de «inflexibilidade que deve

— 385 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

levar inevitavelmente a mais violencia insensata e mais fale-


cimentos desnecessários». Aínda nos Estados Unidos as Cá
maras Legislativas dos Estados de New Jersey e Massachu-
setts emitiram votos de pesar pela morte de Sands. Julga-se
outrossim muito provável que os republicanos norte-america
nos renovem a sua remessa anual de milhóes de dólares para
o IRA a fim de que compre armamentos.

Um perito em política de Irlanda do Norte declarou :


«Nunca desde 1969 a comunidade católica se mostrou táo anti
británica». Estes dizeres sao explicados e confirmados pelas
estatísticas: nos últimos doze anos, cerca de duas mil pessoas
morreram em conflitos políticos na Irlanda do Norte. Isto
levou um dos mais significativos representantes do IRA, Ri
chard Auley, a observar: «Nao poderemos controlar a espon
tánea furia do povo se outro de seus heróis falecer; mas nao
desejamos que se espalhe a violencia a ponto de desviar do
verdadeiro ponto crucial a opiniáo pública. Sentimos que no
mundo inteiro os pensadores se voltam contra a Grá-Breta-
nha». Aínda importa referir a opiniáo de um protestante mo
derado: «Antigamente era apenas o povo simples e iletrado
que geralmente apoiava os extremistas. Agora os católicos es
táo conseguindo jovens católicos inteligentes que realmente
estáo comprometidos; o mesmo, alias, está acontecendo entre
os protestantes. Se nao abrirmos os olhos, nos nos aproxima
remos de um fim semelhante ao do Líbano».

Como se compreende, a situagáo vai-se tornando cada vez


mais penosa e clamorosa. Só se resolverá se se despertarem as
consciéncias para os valores humanos e cristáos que estáo em
causa. Os cidadáos do Ulster tém seus direitos pisoteados e
levantam justos protestos; estes vém merecendo a atencáo dos
que conhecem exatamente o problema e sabem que nao se
trata de reivindicacóes acessórias ou egoístas; por isto tém
razáo os que fazem votos para que as autoridades británicas
julguem a situagáo com isencáo de ánimo e procuren» promo
ver a justica onde ela está ausente !

Bibliografía:

DE ROSA, G., L'aspello político e morale della morte di R. Sands,


em La Chilla Cattolica, n? 3142, 16/05/1981, pp. 375-378.
Newsweek, May 25, 1981, pp. 29s.
RULLI, G., I nodt poliUci e sociali nell'lrlanda del Nord, em La CivHta
CalloUca, n? 3145, 4/07/1981, pp. 83-92.
Time, May 11, 1981, p. 9.
Time, May 18, 1981, pp. 24-26.

— 386 —
Um documento importante:

celibato sacerdotal e ecumenismo

&n sintese: A Sania Sé em 1980 houve por bem admitir na comu-


nhao da Igreja Católica ministros anglicanos dos Estados Unidos que nao
aceitaram a ordenagao de mulheres na Comunháo Anglicana/Episcopal
dos Estados Unidos. Foi estabelecido que tais ministros poderiam receber
as Ordens sacras no Catolicismo e continuar a viver a sua vida conjugal.
Tal atitude da Santa Sé merece atencáo, pois se reveste de signi
ficado ecuménico de certo alcance; ao mesmo tempo deu ensejo a que
Roma declarasse nao tencionar ab-rogar a lei do celibato sacerdotal vi
gente na Igreja ocidental.

* • •

Comentario: A Igreja Episcopal dos Estados Unidos, que


se deriva da Igreja Anglicana, foi introduzida naquele país por
colonos ingleses; conta hoje cem dioceses e tres milhóes de
neis. A ordenagao de mulheres naquela comunidade eclesia]
levou diversos sacerdotes a se retirar da mesma a partir de
1976 e a pedir admissáo na Igreja Católica.
Em agosto de 1980, a Conferencia Nacional dos Bispos dos
Estados Unidos publicou a noticia de que tais sacerdotes pode
riam ser recebidos na Igreja Católica, permanecendo em sua
vida conjugal. Abaixo publicaremos a Declaracáo que a pro
pósito eiratíu a S. Congregacáo para a Doutrina da Fé em
Roma; ao que se seguiráo comentarios. O texto de Roma foi
divulgado no jornal «L'Osservatore Romano» de l»/04/81.

I. DECLARADO
«Em ¡unho de 1980, a Santa Sé, por intermedio da S Congre
gacáo para a Doutrina da Fé, emitiu parecer favorável ao pedido
apresentado pelos Bispos dos Estados Unidos a propósito da admis-
sao a plena comunháo com a Igreja Católica de alguns membros do
clero e do laicato da lgre¡a Episcopal (Anglicana). A resposfa da
5anfa Se a iniciativa desses crisfaos episcopais inclui a possibilidade
de uma 'medida pastoral1, que permite a quem o deseje, plena iden-
tificacao com os fiéis católicos e, ao mesmo tempo, a conservacao
de alguns elementos próprios da respectiva tradicáo.

— 387 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

A admissóo dessas pessoas na Igreja Católica há de ser enten


dida como 'a reconciliacáo de pessoas individuáis que dese¡om a
plena comunháo católica', como está previsto no Decreto do Con
cilio do Vaticano II sobre o Ecumenismo [n« 4).

Acolhendo no clero católico o clero episcopal casado, a Santa


Sé enfatizou que a excecao á regra do celibato é concedida a tais
pessoas individuáis e n6o deve ser compreendida como se sianificasse
mudanga de aritude da parte da lgre¡a Católica a respeito do valor
do celibato sacerdotal, que fica sendo a regra, mesmo para os
futuros candidatos daquele grupo.
De acordó com a Conferencia Episcopal dos Estados Unidos, a
Congregado para a Doutrina da Fé designou Mons. Bernard F.
F. Law, bispo de Springfield-Cape Birardeau como delegado ecle
siástico para tratar de tal assunto. A tarefa de Mons. Law consistirá
em elaborar propostas úteis á execucao da 'medida pastoral1 ácima
mencionada, propostas que deveráo ser submetidas á Santa Sé ;
consistirá outrossim em acompanhar a realizacáo de tais propostas
e examinar, com a Congregacao para a Doutrina da Fé, as questóes
concernentes á admissáo do antigo clero episcopal ao sacerdocio
católico».

II. COMENTARIO
A Dedaragáo ácima pode ser ilustrada através das se-
guintes noticias e ponderacóes :

1. Urna carta de Mons. Bernard Law

Mons. Bernard Law, aos 27/03/81, escreveu carta circu


lar aos bispos dos Estados Unidos na qual, entre outras coisas,
relacionava os documentos que cada candidato da Comuni-
dade Episcopal deve apresentar ao respectivo bispo católico ao
pedir admissáo na Igreja Católica :
— principáis dados biografíeos, com especial referencia
ao registro do Batismo;
— informacóes sobre a situacáo conjugal do candidato e
sobre o alvitre da esposa em tais circunstancias: déseja ou nao
ingressar com o marido na Igreja Católica ?
— a motivacáo do peticionario;
— os graus académicos do candidato;
— a lista dos Bispos que ordenaram o peticionario na
Igreja Anglicana.

— 388 —
CELIBATO SACERDOTAL E ECUMENISMO 37

O tipo de preparagáo necessária para a ordenagáo presbi


teral de tais candidatos na Igreja Católica deve variar de
caso para caso.

Sabe-se outrossim que até fins de abril de 1981 mais de


setenta Bispos católicos haviam concordado «sob certas con-
digóes» em receber ñas suas dioceses, como clérigos casados,
ex-presbíteros episcopais.

(Noticias colhidas em National Catholic News Service de


1V04/81).

2. As ordenares anglicanas : válidas ?

As ordenacóes de Bispos e presbíteros ñas comunidades


anglicanas/episcopais nao sao reconhecidas como válidas pela
Igreja Católica. Esta atitude resulta de um estudo que o Pana
Leáo XIH mandou realizar a respeito, estudo oue deu funda
mento á Bula «Apostolicae Curae» de 13/09/1896. Neste
documento o S. Padre supunha acontecimentos do sáculo XVI
na Inglaterra, que podem ser assim sumariamente recons
tituidos :

A rainha Elisabete (1558-1603) quis implantar definiti


vamente principios protestantes na Inglaterra. Aos 29/04/1559
o «Ato de Supremacía» conferia á rainha o título de «Modera
dora Suprema da Igreja da Inglaterra», exigindo de todos os
cidadáos juramento de fidelidade á autoridade religiosa de
Elisabete. Os Bispos recusaram-se a prestar tal homenagem,
exceto um só, Kitchen, bispo de Llandaff, o qual, tendo dado
resposta evasiva, conseguiu conservar a sua sé, mas de entáo
por diante se absteve de qualquer funcáo episcopal; os demais
pastores diocesanos foram depostos e encarcerados. Assim é
que em 1559 nao restava na Igreja de Elisabete mais nenhum
bispo em atividade; era absolutamente necessário proceder á
criacáo de nova hierarquia.

Em vista disto, foi escolhido como arcebispo de Cantuária


um antigo capeláo da rainha, Mateus Parker, que recebeu a
ordenagáo episcopal aos 17 de dezembro de 1559, as 5 horas
da manhá na cápela de Lambeth, segundo um ritual novo,
chamado «Ordinal», confeccionado sob o rei Eduardo VI
(1547-1553). O sagrante foi um Bispo deposto, que se quis
prestar a tal oficio: William Barlon, ex-titular da diocese de
Bath, ordenado ainda sob Henrique VIH segundo o Ritual da

— 389 _
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

Igreja Católica. Mateus Parker, urna vez ordenado, ordenou


outros bispos, reconstituindo assim a hierarquia episcopal da
Inglaterra; esta, por conseguinte, depende da ordenacáo de
Mateus Parker.

Ora, após longos estudos de peritos e reflexóes pessoais,


Leáo XHI na citada Bula declarou nulas as ordenagóes angli-
canas por dois motivos principáis :

1) insuficiencia do rito. Nos sacramentos os elementos


essenciais sao os sinais sensíveis chamados em linguagem teo
lógica «materia» e «forma». A materia é algo assaz indetermi
nado, cujo sentido em cada sacramento é explicitado pela
forma ou pelas palavras que acompanham o uso da respectiva
materia. Ora na Ordem a materia é a imposigáo das máos,
sinal que de maneira geral significa a comunicagáo de um dom
ou de urna graga; o «Ordinal» de Eduardo VI (segundo o qual
Mateus Parker foi sagrado) prescrevia, cómo forma concomi
tante, as palavras : «Accipe Spiritum Sanctum» (Recebe o
Espirito Santo). Tal fórmula é assaz indeterminada, ficando
longe de indicar qualquer atividade específicamente sacerdo
tal; e isto, porque os autores do «Ordinal» trataram proposi-
tadamente de remover do antigo Ritual todas as palavras que
indicavam os poderes sacerdotais e, em particular, o de con
sagrar a Eucaristía e oferecer o S. Sacrificio da Missa (poder
sacerdotal por excelencia). Tal cancelamento de vocábulos nao
era senáo a expressáo da tese protestante segundo a qual a
Eucaristía nao é genuína ceia sacrifical.

Verdade é que os anglicanos de 1662 acreseentaram aos


vocábulos «Accipe Spiritum Sanctum» o complemento «ad
officium et opus presbyteri» ou «episcopb (isto é, para o en
cargo e a atividade de presbítero ou de bispo). Este acrés-
cimo, porém, se fez tarde demais, quando haviam sido insufi
cientes ou inválidas as ordenagóes realizadas durante um sé-
culo; além do que, as palavras complementares ainda nao
especificavam os poderes transmitidos pela imposigáo das
máos. Donde se depreende, concluía o Papa Leáo XDI, a defi
ciencia do rito ao qual Mateus Parker e em geral a hierarquia
inglesa deviam as suas ordenagóes; estas só podiam ser nulas.

2) Falta de intencao devida. Sabe-se que, para a vali-


dade de qualquer sacramento, se requer, da parte do ministro,
a intengáo de fazer aquilo que faz Cristo por meio da sua
Igreja. Ora o «Ordinal» de Eduardo VI se deve a retoques

— 390 —
CELIBATO SACERDOTAL E ECUMENISMO 39

infligidos ao antigo Ritual, justamente para exprimir um de


signio diferente do da Igreja, ou seja, para exprimir a inten-
gáo de ordenar ministros que nao consagrem a Eucaristía nem
oferecam o S. Sacrificio da Missa. Disto se segué que os angli-
canos conceberam a intencáo de fazer coisa diversa da que
faz a Igreja; por conseguinte, nao administraram o sacramento
da Ordem.

Seguindo a Declaracáo de Leáo XIII, ató hoje a Igreja


nao reconhece as ordenacóes anglicanas, embora o assunto
possa ser reestudado. Após Leáo XIII, e especialmente nos
últimos decenios, foi publicada copiosa bibliografía sobre a
questáo; os teólogos tém posto em foco novos aspectos da
mesma, que poderiam fundamentar urna revisáo da temática.

3. O celibato sacerdotal no caso

A Igreja Católica tem recebido em sua comunháo plena,


e tem ordenado presbíteros, pastores das comunidades ecle-
siais separadas (luterana, anglicana...), concedendo-lhes a
faculdade de continuar a sua vida conjugal. Na verdade, o sa
cramento da Ordem, por sua natureza mesma, nao excluí o
do matrimonio. Nos casos em foco, a Igreja nao tenciona dis
solver os lares já existentes; por isto reconhece a legitimidade
da vida conjugal de tais candidatos após a ordenagáo pres
biteral.

Todavia a Igreja, como se depreende do documento atrás


transcrito, faz questáo de declarar que tais concessóes nao
significam menor estima do celibato nem traduzem a eventual
intencáo, por parte da Igreja, de modificar ou extinguir as
normas do celibato sacerdotal.

Como quer que seja, a atitude da Santa Sé frente aos


presbíteros anglicanos citados é de enorme relevo para o ecu-
menismo e o diálogo interconfessional.

Bibliografía:

CHADWICK, H., La discusston au sujet des Ordres aoglicans dans la


Ihéologte anglicarte actuelle, em Concilium 34, abril 1968, pp. 127-134.
HUGHES, J. J., Eludes recentes sur la valWitó des ordlnalions angli-
canes, em Concilium 31, Janeiro 1968, pp. 113-122.
MAROT, H., Les EglEses orthodoxes et les ordinations angllcanes, em
Concilium, abril 1968, pp. 135-142.
PR 187/1975, pp. 294-301.

— 391 —
O nova arcebispo de París:

"sou judeu e continuare! a sé-lo"

Em síntese : O novo arcebispo de París, D. Jean-Marie Lustiger, é


de origem israelita; filho de país judeus, descobriu fora de casa o Cris
tianismo e — tnais ainda — o próprio judaismo, pois verificou que ser
cristao nao é senSo a reafirmagao, em plenitude, do ser judeu; se o
judaismo foi chamado a levar a luz ás nacdes, esla missao, ele a cumpre
exatamente através da pregacao crista; Jesús é o Messias aguardado
pelos Patriarcas e Profetas de Israel.

SSo estas, entre outras, as idéias que se depreendem da entrevista


concedida pelo novo arcebispo a um órgao da imprensa Israelita aue o
abordou.

Comentario: O novo arcebispo de París nomeado e em-


possado no comego de 1981 é de origem israelita: Aaráo Lus
tiger foi batizado aos quatorze anos de idade, quando tomou
o nome de Joáo María. Nao é este, alias, o primeiro filho de
Israel que, aderindo ao Messias, ocupa lugar de destaque no
Cristianismo; para nao mencionar os Apostólos e, especial
mente, Sao Paulo, lembraremos os dois irmáos Alphonse Ra-
tisbonne (1812-1884) e Théodore Ratisbonne (1802-1884) ;
feitos cristáos, fundaram as Congregacóes dos Padres de Sion
e das Religiosas de Sion, destinadas ao diálogo com os judeus.

A escolha do novo arcebispo de París suscitou comenta


rios diversos da parte da imprensa e dos observadores em
geral. Entrevistado pelo Boletim da Agencia. Telegráfica Ju
daica de París, S. Excia. Revma. explicou alguns dos seus pon
tos de vista, altamente significativos para cristáos e judeus,
ou seja, para o diálogo religioso. Abaixo segue-se, em tradu-
Cáo portuguesa, o texto da entrevistal, ao qual se acrescen-
taráo alguns comentarios.

1 Texto publicado pelo Bulletín de l'Agence télégraphlque Julve,


tfl 2549, 4/02/1981. Transcrito pelo periódico La Documentatlon Catholi-
que, n9 1803, de 19/03/81, pp. 239s.

— 392 —
«SOU JUDEU...» 41

I. A ENTREVISTA

R(epórter): «Em que condicoes se deu a conversáo de V. Excia.


ao Cristianismo ?»

L(ustiger): «Meus pais, vindos da Polonia, faziam parte da


geracao do Bund \ Por conseguirle, nao celebrei o Bar Mítzvá2
e nao recebi insfrucáo judaica. Todavia tive a consciéncia de ser
¡udeu como se dá com todos os filhos dos imigrantes em París. Sei
que sou ¡udeu, pertencente a urna minoría perseguida, portadora
de certo ideal; mas, ao mesmo tempo, tive a consciéncia de possuir
urna missáo universal a servido dos homens.

Também tive consciéncia de ser ¡udeu, quando permiti que achin-


calhassem colegas aos quais eu nao ocultava as minhas origens,
aínda que fosse apenas pelo uso do meu primeiro nome, Aarao, que
eu sempre guardei. Desde a minha mais tenra infancia, descobri o
judaismo através da cultura francesa, através da leitura da Biblia,
que li clandestinamente desde a escola primaria e através do Cris
tianismo. Desde o inicio dos meus estudos secundarios, coloque! para
mim a questáo fundamental e metafísica de Deus. A decisao de
tornar-me cristao nao me pareceu ser urna renegacáo, mas, sim, a
afirmacao de minha identidade judaica ossumida dentro do Cris
tianismo.

Isto nao agradou aos meus pais; mas consentiram na minha


atitude em agosto de 1940, quando eu tinha quatorze anos. Estova
mos no comeco da guerra, cujo desenrolar mnguém ¡ma.ginava.
Durante a ocupacáo nazista eu me ochava em casa de amigos na
provincia de Orleáes; depois, escondi-me. Soube mais tarde que
minha máe falecera em Auschwitz.

Sempre me considerei judeu, mesmo que tal nao fosse a opiniao


dos rabinos. Nasci judeu, e continuarei a ser tal, mesmo que isto
seja inaceitável para muitos».

R.: «Sendo um convertido, V. Excia. é favorável á missSo de


proselitismo da Igreja em ambientes judaicos e, particularmente, em
meio á juventude?»

iBund é a associaglo que reúne jüdeus da Europa Central e da


Rússla, de tendencia socialista. (Nota do tradutor).
2 Bar Mltzvá significa "filho do precelto". Designa urna cerim&nia pela
qual o judeu, na Idade de treze anos, oblém a maior "idade religiosa.
(N. d. U.

— 393 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

L.: «Proselitismo, nao, pois ¡sfo nao tem sentido; seria urna
infidelidade. Tanto a fé judaica como a fé crista sao um apelo de
Deus. Se nos defrontamos com um ¡udeu crente, se Deus o chama a
observar os mandamentos, nao podemos ir contra a vontade de
Deus. Se um ¡udeu descobre algo de novo no Cristianismo e o pede,
isto nao Ihe será recusado.

Se ser ¡udeu é responder a um apelo de Deus, nao só pessoal-


mente, mas também comunitariamente, em nome de que nos oporía-
mos a este apelo ?»

R.: «Existe contudo urna missao proselitista da Igreja ?»

L.: «Faco que:tao de dizer que tal missáo nao existe para
converter ¡udeus. Os problemas de conversao que ocorreram em
Israel e provocaram urna lei assaz contundente da parte do Parla
mento de Israel foram ocasionados pelo comportamento das seitas
protestantes. Minha posicao é a dos cristáos na térra de Israel. Mais
urna vez: digo nao ao proselitismo tal como é geralmente en
tendido».

R. : «V. Excia. será arcebispo de urna capital em que se en-


contra a mais numerosa comunidade judaica da Europa Ocidental.
Julga .que este fato foi tomado em consideracáo pelo Vaticano
quando da nomeacao de V. Excia. ?»

L.: «Nao sei... Posso supor que sim.

De resto, nao sei o que isto poderla significar. Será entendido


como ofensa ou como um gesto de tolerancia ?

Da minha parte, nunca ocultei quem eu era nem quais eram


as minhas opinioes. Se a minha nomeacao pode causar problema,
isto só ocorrerá na medida em que eu possa ser tido como ofensor,
talvez por parte de alguns que nao tim a compreensao da uníversa-
lidade do judaismo.

Para mim, a vocacao de Israel é a de levar a luz aos Goyim *.


Tal é a minha esperanca; acredito que o Cristianismo seja urna ma-
neira de consegui-lo. Julgo que, sendo discípulo de Cristo a meu
modo, entro neste designio de Deus, pois se realiza em mim urna
parte das promessas feitas aos país».

1Os nSo ¡udeus (as "nasdes"). (N. d. O.

— 394 —
«SOU JUDEU...» 43

R.: «Como entende V. Excia. as relacoes entre judeus e cris-


taos? Está satisfeito com a evolucáo das mesmas nos últimos anos?»

L: «Até agora nao participei de coloquio nenhum; preferí,


antes, a acao. Nao sei a quantas estáo as conversacóes, se bem que
tenha Hdo os textos do episcopado, por exemplo.

Trata-se de belos textos. Creio que se pode ¡r mais longe ainda,


mas ¡sto depende também da evolucáo interna do Cristianismo e
da autocompreensao de Israel.

Eu nao seria desrespeitoso dizendo que por certo, no desen-


volvimento e na riqueza do pensamento judaico contemporáneo, so-
bretudo na Franca, há reinícios e principios de fecundidade, que é
preciso estimular. Nao conheco a opiniao do novo Grao-Rabino,
mas sentencas como as de Neher {que conheco um pouco) ou de
Levinas assinalam urna renovacao no judaismo que há de provocar
c: mudanca de algumas coisas. Hoje o judaismo é impelido a se
conscientizar e a se identificar de novo. Torna-se, portanto, difícil
fazer previsoes.

Deve-se também registrar o fato importante do Estado de Israel,


que muda a condicao dos ¡udeus: para melhor? Ou para pior? O
debate é intenso na diáspora. Eis outra questao. Mas nao podemos
raciocinar atualmente como no séculd XIX».

R.: «Após o atentado da Rúa Copérnico, V. Excia. se pro-


nunciou enérgicamente contra o anti-semitismo. Cré que haja atual
mente raizes cristas de anti-semitismo?»

L: «No passado é certo que as houve. Creio que Poliakoff


diz com razño que o anti-semitismo cristao renovou e sacralizou o
anti-semitismo pagao e foi por este inspirado. Isto constituí um pro
blema interno do Cristianismo, que, sendo anti-semita, se torna pa
ganismo. Esta afirmacao pode ser provada pela historia».

R.: «Para Israel, Jerusalém deve permanecer una, capital do


Estado hebreu, e oferecer livre acesso a todas as religioes. Qual
seria, para V. Excia., o estatuto de Jerusalém?»

L.: «Nao tenho idéia definida a tal propósito. Nao me sinto


competente nem sou israelense. Leio tudo o que se escreve a respeito.
Verifico que o Sr. Nahum Goldmann nao pensa exatamente como
o Sr. Begin; voces me permiNráo nao participar desse debate. A

— 395 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

postado do Vaticano é muito cautelosa; este ¡nsistiu principalmente


ñas condicoes peculiares dos Lugares Santos e da própria cidade.
Os interlocutores das conversacoes que houve a respeíto, nao deram
definicao da cidade de Jerosalém ou dos Lugares Santos. Nao me
substituirei a eles. Tenho a esperanca de que um dia se realizarao
conversacoes que serao um feliz sinal de paz e de sobrevivencia».

R. : «Israel, como país, Ihe está próximo. V. Excia. ¡ó pensou


em ir lá?»

L.: «Lá estive cerca de quinze vezes desde 1950 em compa-


nhia de estudantes. Voltei lá duas vezes no decorrer dos últimos
seis anos».

R.: «V. Excia. chegou mesmo a pensar em lá fixar residen


cia ... ?»

L.: «Sim. Durante os meses que precederám a minha nomea-


cao para Orleaes, comecei a estudar o hebraico a sos, com o uso
de cassetes. Parece absurdo que alguém faca o seu Alyah J? Julgava
entao ter terminado o que eu Hnha de fazer aquí; chegava a urna
vertente da minha vida, e urna das hipóteses era a de ir para
Israel. De resto, eu nao Hnha perspectiva clara. Pensava era encon
trar lá o meu lugar».

R.: «Incomodo muito V. Excia. o fato de que em todos os


meios de comunicacao se ponha a tónica sobre a origem judaica
de V. Excia.?»

L: «Sempre tentei evitar expor o meu itinerario pessoal, prin


cipalmente por respeito para com a comunidade judaica, nao por
vergonha das minhas origens. Sinto-me horrivelmente constrangido
por esse vozerio da imprensa».

II. PONDERANDO...

As declaracóes de D. Joáo María Lustiger nao podem


deixar de calar no ánimo do leitor. Dois' de seus pontos mere-
cem especial destaque.

1 Termo hebraico que significa "a subida" (a saber:... para Israel).

— 396 —
«SOTJ JUDEU...» 45

1. Afirmagáo da kfentidade judaica

É importante verificar que D. Lustiger nao se julga trai


dor ou renegado em relacáo ao judaismo, mas, ao contrario,
afirma a sua identidade israelita assumida e vivida de modo
novo e auténtico no próprio Cristianismo. «A decisáo de tor-
nar-me cristáo nao me pareceu ser urna renegacáo, mas, sim,
a afirmagáo da minha identidade judaica assumida dentro do
Cristianismo».

Com efcito. Se o judaismo recebeu por missáo levar ao


mundo a luz da verdadeira fé e do plano de Deus (cf. Is 49,6),
dando á humanidade o Messias, entende-se que um israelita,
ao abragar a fé no Messias Jesús, nao trai nem renega a sua
vocacáo, mas, ao contrario, a realiza em plenitude. O judais
mo, cuja única razáo de ser era preparar os caminhos do Mes
sias, se consuma nesse Messias. Sim; Jesús disse que nao veio
abolir a Leí e os Profetas, mas dar-lhes pleno cumprimento
(cf. Mt 5, 17). Com estas palavras Jesús significava que Ele
era o aguardado pela Lei e pelos Profetas; por conseguinte,
Ele correspondía á Lei e aos Profetas, mas, ao mesmo tempo,
punha fim ao regime de expectativa e as instituicóes proviso
rias que caracterizavam a Lei e os Profetas de Israel.

O Cristianismo é a plenitude da revelagáo de Deus aos


homens que teve inicio em Israel; em conseqüéncia, um judeu
que se faga cristáo, assume urna atitude de todo coerente com
as premissas da sua fé; ele fica sendo judeu, no sentido de
que se mostra dócil as promessas feitas pelo Senhor Deus ao
povo de Israel; leva até as últimas oonseqüéncias a sua pro-
fissáo de fé no Deus que se revelou a Abraáo, a Moisés, a
Davi, a Isaías... Reciprocamente pode o Papa Pió XI dizer
que os cristáos sao semitas, isto é, sao os herdeiros e conti
nuadores da missáo do povo de Israel. Nao há, pois, solugáo de
continuidade entre judeus e cristáos, mas estes fazem eco vivo e
pleno á mensagem apregoada pelos grandes Profetas de Israel.

2. Proselitismo

A palavra pjoseUtismo tem significado pejorativo nos do-


cumentos do Concilio do Vaticano II. Eis como vem entendida
no documento referente á Liberdade Religiosa:
"Na difusSo da fé religiosa e na Introducto de costumes, será pre
ciso absler-se sempre de qualquer tipo de acSo que possa ter sabor de

— 397 —
46 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

colbicfio ou de persuasao desonesta ou menos correta, sobretudo ao tra-


tar-se de pessoas rudes ou indigenles... Tal modo de agir deve conside-
rar-se como abuso do direilo próprio e lesáo do direito alheio" (Declara-
cao Dignilatis Humanae n? 4).

Vé-se, pois, que em hipótese alguma se deve admitir pro-


selitismo. Isto, porém, nao impede que os fiéis católicos apre-
goem aos demais homens a mensagem do Evangelho que Cristo
mesmo mandou anunciar a todos os povos (cf. Mt 28,18-20).
A adesáo de fé ao Cristianismo nao deve ser imposta de modo
algum; mas a verdade evangélica há de ser anunciada para
que todos a possam, ao menos, conhecer; conhecendo-a, pode-
ráo dizer-lhe um Sim ou um Nao consciente. Ao fiel católico
nao é lícito deixar o próximo na ignorancia da Boa-Nova tra-
zida por Cristo; daí a impreterível necessidade de praticar a
missáo que incumbe á Igreja e aos seus membros; a missáo
será sempre respeitadora da liberdade e da dignidade do
próximo; consistirá na exposicáo das verdades da fé e no
exercicio do diálogo religioso, mediante o qual se desfazem
preconceitos e mal-enlendidos.

Verifica-se que, nos últimos decenios, cristáos e judeus


se tém aproximado mutuamente. A solidariedade recíproca
que os estreitou nos tempos do nacional-socialismo (1933-1945)
fez que se sentissem mais irmáos entre si, compreensivos uns
dos outros e mais conscientes de sua origem comum e da voca-
cüo que os une através dos sáculos.

A renovacáo de mentalidades entáo iniciada tende a se


acentuar, de tal modo que hoje em dia o diálogo entre judeus
e cristáos é cada vez mais respeitoso e amigo. No Brasil
mesmo existem em algumas capitais de Estado comissóes de
judeus e cristáos que se encontram regularmente e dialogam
sobre temas religiosos, quebrando preconceitos e barreiras; a
própria Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil em 23 de
abril de 1981 instituiu oficialmente o diálogo com represen
tantes do judaismo no Brasil; há um comité de católicos e
judeus que se encontram periódicamente, por iniciativa da
CNBB, para aprofundarem temas bíblicos, filosóficos e estu-
darem a maneira de afirmar publicamente a sua heranca
comum.

Ao novo arcebispo de París tocará a tarefa de fomentar


o diálogo entre judeus e católicos na sua arquidiocese, e quigá
na Franga inteira, afim de suscitar novos tempos na historia
do povo de'Deus.

— 398 —
Um escándalo na Italia:

e a loja macónica p2?

Em sintese: Um ¡nquérito realizado a propósito da falencia da Banca


Prívala Italiana, de Michele Sindona, levou os magistrados Italianos a
descobrir a existencia da Loja Macónica Propaganda 2 (P2). Esta tinha
características que a diferenciavam das outras Lolas da Macanaria: go-
verno autónomo, entregue a Licio Gelli, jurisdlcSo nacional, indepen
dencia em relacSo ás normas comuns. O venerável mestre Licio Gelli
tinha a faculdade de receber na Loja P2 persanagens de vulto de maneira
tal que ninguém, se nao o Gráo-Mestre, conheceria a pertenca dos mes-
mos á Magonarla. Em conseqüéncia, Ministros de Estado, Senadores, De-
putados, altas patentes das Forcas Armadas... se filiaram á P2, usufruindo
da protecio e dos beneficios que esta prestava aos seus membros, sem
que o público nem os próprios macons soubessem da sua vinculagSo á
Magonaria. Mals: um solene juramento de severo segredo era exigido de
todos os membros da P2 de sorte que também estes nada revelavam a
respeito da sua pertenca á Loja e a propósito das ativldades desta: na
verdade, a P2 parecía nao respeitar nem mesmo os segredos de Interesse
do Estado Italiano, pols tinha em seus arquivos documentos sigilosos refe
rentes a reunióes e deliberagSes do Conselho de Ministros.

A descoberta de tais fatos provocou a Indignagáo da opinISo pública


italiana contra a P2 e os seus membros. Fez também reforcar as serlas
reservas que a Igreja Católica faz á Maconaria, apesar de haver Lojas
que se mostrem humanitarias e inocuas aos interesses da fé e da patria.

Comentario: Aos 26/05/81, caiu o Gabinete do Ministro


Forlani na Italia por se ter averiguado que alguns dos seus
membros pertenciam á Loja Magónica Propaganda 2 (P2). Em
conseqüéncia, mais urna vez veio á baila o tema «Maconaria»,
freqüentemente abordado em PR. Pergunta-se : que inconve
nientes apresentava a Loja P2 ? Que mal havia, no caso, em
pertencer á Magonaria ?

Para responder a tais perguntas, proporemos abaixo o


histórico da Loja P2 e as diretrizes adotadas pela mesma.

1. A Loja P2 : orígem e historia

A origem da Loja Macónica Propaganda 2 data de 1875.


Foi fundada pelo Gráo-Mestre Adriano Lemmi a fim de receber

— 399 —
48 fl'ERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1931

personagens do mundo político e civil que, por algum motivo,


nao deveriam ser conhecidos como macons, nem mesmo por
outras Lojas magónicas. A iniciacáo de tais personagens era
realizada pelo Gráo-Mestre do Grande Oriente pessoalmente
ou por dedegados seus, chamados «Gráo-Mestres Adjuntos». De
1961 a 1970 foi Gráo-Mestre adjunto o Sr. Giordano Gambe-
rini. Em 1967 Gamberini dispós que Licio Gelli, de Arezzo. dire-
tor dos estabelecimentos Permaflex de Frosinone, passasse da
Loja Romagnosi do Oriente de Roma para a Propaganda 2.
Em 1971 o Gráo-Mestre Lino Salvini nomeou Gelli secretario
organizador da P2. Anunciando tal nomeagáo aos membros da
Loja P2, Salvini lhes escrevia :

"Estou contente por informar que a P2 foi adequadamente reestru-


turada de acordó com as exigencias do momento. lAlém de torná-la mais
funcional, quisemos principalmente reforjar o segredo ihdispensável para
proteger todos aqueles que, por motivos particulares, decorrentes do seu
estado social, devem permanecer ocultos".

Em dezembro de 1974, por ocasiáo da assembléia extraor


dinaria da grande Loja de Ñapóles, a P2 foi dissolvida como
Loja fechada e reservada, porque acusada de dissensóes entre
Salvini e Gelli. Todavía em 1975 Gelli obteve a permissáo para
¡constituir, aínda com o nome de P2, urna Loja normal, da
qual foi eleito «Mestre Venerável». As suas intengóes ficaram
claramente explanadas numa carta enviada aos companheiros
da P2 em 24/05/75:

"O ritmo crescente das atividades Impós nova forma de organizacáo


interna com o fim de adaptar a instituicáo ás necessidades contingentes e
levá-la a mais alto nivel de eficiencia operativa. No quadro desta reforma,
o Gráo-Mestre — que há mais de cem anos era o Mestre Venerável desta
Loja — houve por bem conceder a esta um governo autónomo, a fim de
que possa atingir o pleno desenvolvimanto da su a linha programática.
Permanecen! Intactas as características peculiares da Loja, que, enfatizando
a jurisdigáo nacional e a independencia em relagao ás normas comuns,
tém o seu .núcleo nos costumes originarios, entre os quais o do segredo;
este, que jamáis deve sofrer violagáo, é necessário fundamento do nosso
trabalho".

Gelli convidou, a seguir, os membros da P2 a intenso tra


balho de proselitismo principalmente entre pessoas qualifica-
das. Recordava outrossim os ataques indiscriminados de cer-
tos órgáos da imprensa e acentuava que «a nossa instituigáo
é a esséncia da democracia e da liberdade; vive somente nos
países governados democráticamente, e sempre esteve e estará
fora e ácima de qualquer ideologia política e concepcáo re
ligiosa».

— 400 —
E A LOJA MACÓNICA P2 ? 49

Como se vé, a Loja P2 era urna Loja magónica «normal»,


mas dotada de características que a diferenciavam das outras
Lojas: governo autónomo, jurisdicáo nacional, independencia
em relagáo as normas comuns, além de especial observancia
de segredo. Por ser Loja «normal», enviava todos os anos a
relagáo dos seus membros ao Grande Oriente e pagava a
contribuicáo que lhe era cobrada, ou seja, 28.000 liras.
Aquí, porém, surge o problema: tal relacáo, que alistava
personalidades de pouco relevo, era fiel á reaüdade? Era a
única existente, ou havia outra, que nao se enviava ao Grande
Oriente ?

Em 1977, interrogado pelos magistrados de Bolonha, Gelli


respondeu que das listas oficiáis «nao fazem parte os irmáos
que, por assim dizer, sao filiados all' orecchio (por via mera
mente oral) do Gráo-Mestre; tais irmáos nao constam de
nenhuma relagáo por razóes de caráter extremamente reser
vado. Somente o Gráo-Mestre sabe quem sao». Donde se vé
que, além da relagáo oficial, havia urna lista secreta, que so-
mente o Gráo-Mestre conhece, mas que na verdade parece
que nao era conhecida pelo Gráo-Mestre Elio Battelli, sucessor
de Lino Salvini desde 1978.

2. O «furo» de 1981

1. Em anos passados a imprensa italiana comentava o


comportamento da Loja Magónica P2, pondo em relevo fatos
pouco honestos da mesma; todavía o público nao dava grande
importancia a tais noticias, que tinham caráter sensacionalista
e pareciam um tanto infundadas.

Contudo a verdade veio á tona, quase por acaso, em


1981. Dois magistrados italianos puseram-se a pesquisar as
circunstancias de falencia da Banca Privata Italiana de Mi-
chele Sindona ocorrida em 1974 *; descobriram entáo que entre
Sindona e Gelli havia especial relacionamento; por isto resol-
veram fazer urna perquisigáo na residencia e nos escritorios
de Gelli. Este, havia certo tempo, nao se encontrava na Italia a.

TO banqueiro Sindona possula um Banco, que faliu nos Estados


Unidos; hoje encontra-se preso naquele país, por haver provocado falen
cia -fraudulenta e outros crimes.
? Na verdade, Gelli, além de ser cidadio italiano, tinha passaporte
argentino e exercia as funcóes de Conselhelro Económico da Embaixada
Argentina em Roma, gozando dos privilegios e das imunidades diplomá
ticas inerentes a tal funcao.

— 401 —
50 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

Por conseguinte, sem que Gelli o soubesse, a perquisicáo foi


realizada aos 17/03/81 pela Guarda de Finames, que esteve
em Villa Wanda (Arezzo), onde Gelli mora, e nos escritorios
da Gió-le em Castiglioni Fibocchi, companhia de tecelagem da
qual Gelli era gerente. Nao estando presente Gelli, compreen-
de-se que os perquisidores tenham podido agir com toda a
liberdade e encontrar grande número de documentos compro
metedores: estes foram enviados á Presidencia do Conselho de
Ministros e á Comissáo Parlamentar, presidida pelo Dep. De
Martino, encarregada de investigar o caso Sindona.

A documentecáo estava recoberta por sigilo. Em conse-


qüéncia, o Primeiro Ministro Arnaldo Forlani, falando á Cá
mara dos Deputados em 19/05/81, declarou nao poder divul-
gá-la. Comunicou também ter designado urna comissáo com
posta pelos professores Crisafulli, Sandulli e Levi-Sandri, a
fim de averiguar se a Loja P2 era urna sociedade secreta e,
por conseguinte, estava incluida entre as associacoes proibidas
pelo art. 18 da Constituicáo.

Eis, porém, que a Comissáo de Inquérito do caso Sindona


se mostrou favorável, em sua maioria, ia publicacáo da do-
cumentacáo, de mais a mais que a imprensa já comecava a
divulgar os nomes de alguns membros da P2. O obstáculo do
sigilo foi finalmente superado aos 20/05, quando os magistra
dos de Miláo deram ao Presidente do Conselho de Ministros a
permissáo de divulgar o caso. Em conseqüéncia, na noite de
20 para 21 de maio de 1981 foi tornado público o documento
mais importante, a saber: urna lista de 953 nomes de mem
bros da Loja P2. Junto a cada nome eram indicados a cidade
de residencia, o número de registro, o número da carteira de
membro da Loja, a data de matricula e as quotas pagas; al-
gumas destas indicagóes estavam incompletas; certos nomes
estavam riscados ou porque correspondiam a membros defun-
tos ou porque estariam «adormecidos» (no jargáo masónico:
«nao ativos»). Além de tal lista, foi publicada outra, que con-
tinha os nomes de aspirantes á Loja P2, aspirantes que por
algum motivo aínda nao puderam ser iniciados.

Da lista dos 953 faziam parte dois Ministros de Estado


(o do Trabalho, Foschi, e o do Comercio Exterior, Manca),
tres Sub-secretários de Ministerio (Bandiera, do Ministerio da
Defesa; Belluscio, do do Exterior, e Picchioni, do dos Bens
Culturáis), dois ex-Ministros (Stammati e Pedini), muitos par-
lamentares da Democracia Crista, do Partido Social-Democrá-

— 402 —
E A LOJA MAC6NICA P2 ? 51

tico Italiano, do Partido Socialista, do Partido Liberal, do


Movimento Social; em particular, sobressaiam o Deputado
Longo, secretario do PSDI e o Dep. Labriola, chefe de ban
cada do PSI na Cámara. Havia, além disto, dois funcionarios
do Quirinal (um secretario do Presidente Pertini e o chefe do
Cerimonial), alguns diplomatas, magistrados, professores de
Universidade (entre os quais o Reitor da Universidade de
Turim). Pvegistravam-se outrossim nomes de homens das fi-
nangas como Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano,
Giovanni Guidi, presidente do Banco de Roma; havia outros
sim empresarios diversos e outros personagens representativos
na vida pública italiana.

Todavía a maior parte dos membros da Loja P2 constava


de militares das tres armas, de pessoal dos Servicos de Segu-
ranga e de jornalistas. Entre os militares contavam-se trinta
e sete generáis, oito almirantes (entre os quais Giovanni Tor-
risi, chefe do Estado-Maior da Defesa). Dentre os jornalistas,
destacavam-se Franco di Bella, diretor do Corriere della Sera
Roberto Ciuni, diretor do Mattino. A Rai-TV italiana estava
representada pelo Vice-presidente Giampiero Orsello, por Pietro
De Feo, ex-Vice-presidente, Gustavo Selva, diretor do GR2.

Entre as pessoas que haviam pedido admissáo na Loja,


encontravam-se o Senador Adolfo Sarti, Ministro da Justiga,
Franco Colombo, diretor do TG 1, o general Cario Alberto
Dalla Chiesa,. comandante da Divisáo Pastrengo, e Alberto
Sensini, editorialista do Corriere della Sera,

O material mais perigoso descoberto em Villa Wanda e


em Gid-le eram documentos protegidos pelo segredo de Estado,
que haviam chegado por vias misteriosas as máos do «Vene-
rável Mestre» de Arezzo. O mais importante era urna copia do
relatório que o Primeiro-Ministro Cossiga apresentava em 1980
ao Conselho de Ministros a respeito da Sociedade ENI-Petro-
min. Havia também um relato minucioso do teor de urna, reu-
niáo ministerial nao assinado. Foram tais documentos que
provocaram a ordem de prisáo contra o «Venerável» Licio
Gelli, acusado de espionagem política.

A vista de quanto acaba de ser dito, entende-se que o


«furo» realizado na Loja Magónica P2 tenha suscitado a queda
do Governo Forlani, do qual alguns membros estavam impli
cados no escándalo.

— 403 —
52 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

2. Há razóes válidas para crer que a relagáo dos 953


nomes descoberta em Villa Wanda era precisamente a lista
dos membros filiados «alPorecchio» do Gráo-Mestre, que no
caso seria o próprio Gelli; este tinha a faculdade de fazer ini-
ciacóes magónicas «na ponta da espada» (em jargáo magónico:
«por iniciativa própria») e as fazia realmente, como se de-
preende do relatório da Comissáo Sindona.

Os historiadores, porém, perguntam se todas as pessoas


relacionadas na lista dos 953 nomes eram realmente filiados
á Loja P2. A razáo de duvidar está em que nao se encontra-
ram documentos que de algum modo atestem a realizagáo de
iniciacáo macónica em favor de tais pessoas.l É de notar tam-
bém que algumas pessoas daquelas que figuravam na lista des
coberta na Villa Wanda, negaram pertencer á Loja P2; outros
o confessaram depois de o haver negado. Pode-se crer outrossim
que varios dos inscritos na P2 nao conhecessem exatamente a
índole e a finalidade da Loja e, muito menos, soubessem das
intencóes e das atividades do «Venerável Mestre».

3. A Lo¡a P2: sigilo e finalidades

1. A Loja Propaganda 2, como dito, é de índole secreta.


A propósito pode-se citar a fórmula de juramento imposto aos
respectivos membros; «Juro solenemente nao revelar, quaisquer
que sejam as circunstancias, os segredos da arte dos pedrei-
ros». Mais: o exame da Síntsse das Normas vigentes na P2
ilustra a afirmacáo.

Com efeito; ai está dito que a P2 é um «organismo ca


racterizado pela mais absoluta reserva»; é preciso, pois, que
o magom se empenhe ao máximo por evitar «infringir, mesmo
que involuntariamente, a dura regra do silencio». Por isto,
nenhum macom «poderá insinuar ou dar a compreender a
outras pessoas — mesmo que tenha absoluta certeza de que
pertencem á Loja — que ele faz parte da Loja, a menos que
já tenha ocorrido a devida apresentagáo oficial de um e outro».
«Se ouvir dizer que existem rumores a respeito da sua per-
tenca á Loja P2, replique — com toda a desenvoltura e indi-
ferenca — que na verdade ele está a par de tais rumores, mas,
justamente porque os tem na conta de boatos, nao se deu a

'Sem dúvida, a falta de tais documentos nao quer dizer que nfio
tenham sido iniciados.

— 404 —
E A LOJA MACÓXICA P2 ? 53

fadlga de desmenti-los; seriam rumores totalmente infundados


que deveriam ser condenados como puras e simples intrigas
impregnadas do mais crasso absurdo».

Mesmo os macons que trabalhem no mesmo órgáo ou


setor nao devem dar-se a conhecer mutuamente como tais:
«Em vista de maior e mais sólida seguranga jamáis será indi
cado o número de membros que prestam servico no mesmo
órgáo ou setor administrativo, e isío por razóes táo evidentes
que nao há necessidade de comentá-las; na melhor das hipó-
teses, o chefe de determinado setor poderá conhecer os nomes
de cerca de 5 % dos irmáos que lhe estáo subordinados; quanto
aos súditos, jamáis Ihes será lícito conhecer a identidade do
seu superior, a menos que este se manifesté espontáneamente,
violando as regras de seguranga, com risco e perigo para si e
tornando-se passível das eventuais conseqüéncias». Por isto,
«quando um superior intervém em favor de um seu subordi
nado, procure agir de modo a permanecer oculto, a fim de que
a pessoa favorecida nao saiba de onde e de quem lhe provém
o beneficio recebido». Por conseguinte, a nenhum macom é
lícito revelar a alguém a filiagáo de outras pessoas á Loja P2,
«mesmo que conheca exatamente a posigáo destas na Ma-
conaria».

2. Quanto las suas finalidades, a Loja P2 visa a prestar


assisléncia incondicional aos seus membros, ainda que isto
signifique subversáo das leis vigentes no país. É o que se lé
na «Sintesi dellc Norme» :

"Tenha-se presente que, entre as principáis tarefas da Loja P2, se


destacan*: 1) a de procurar obter para os amigos um crescente grau de
autoridade e poder, pois, quanto mais forte for cada um dos amigos, tanto
mais poderosa será a Loja mesma como coletividade ; 2) outorgar aos
seus membros a máxima assisténcia possível — ainda que isto contrarié
diretamente ou menospreze as normas da Lei comum — para evitar ou
sanar eventuais atos injustos cometidos contra eles e as suas legítimas
aspiracdes".

Quanto as finalidades políticas da P2, urna circular do


Ven. Gelli datada de 19/07/80 afirmava que «a nossa organi-
zagáo nao representa nem urna corrente religiosa nem urna
ideología política, porque se mantém fora destas áreas e porque
se considera, e é, a auténtica portadora dos ideáis da paz, da
solidariedade humana e da humildade. Todavía é outrossim
evidente que a nossa Loja nao pode deixar de observar com
atencáo perspicaz os acontecimentos e, se solicitada, nao pode

— 405 —
54 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

deixar de levar sua colaboragáo para facilitar a aplicagáo e o


respeito das normas necessárias á manutengáo da legalidade
e para combater, com todos os meios á sua disposigáo, a ex-
pansáo da imoralidade e dos maus costumes».

De quanto foi dito, se depreende que a P2 é urna socie-


dade secreta, constituida por homens colocados nos pontos mais
vitáis e delicados do Governo, da administragáo e das Forgas
Armadas do país; tais homens, ligados ao chefe da Loja por
um juramento solene de fidelidade e de sigilo, juramento que
nao podem violar sem se expor, como reza a própria fórmula
de juramento, «a todas as penas que os Estatutos da Ordem
ameaeam aos perjuros, sem se expor outrossim ao incessante
remorso de consciéncia, ao desprezo e á execragáo de toda a
humanidades. É, portanto, urna potencia que pode intervir se
riamente na vida da Italia, apoderar-se dos segredos de Es
tado, condicionar decisóes políticas de extrema importancia,
sem que haja possibilidade de controle sobre os objetivos a
que ela visa e as atividades que exerce.

Compreende-se, pois, que a opiniáo pública italiana se


tenha surpreendido e indignado ao saber que pessoas do Go
verno e das Forgas Armadas pertenciam a tal Loja. Com-
preendem-se outrossim as cautelas e reservas que a Igreja
impóe aos fiéis católicos no tocante á Magonaria. Como reza
o canon 2.335 do Código de Direito Canónico, incorre em pena
de excomunháo o católico que entre em Loja magónica hostil
á Igreja e á fé (ou que trame contra a Religiáo). A Santa Sé
tem lembrado e comentado esta sua disposigáo, visto que hoje
em dia a Magonaria se acha muito diversificada: embora haja
Lojas que nao tramem contra a Igreja, outras existem que
constituem focos de anti-religiáo e impiedade.

O caso da Loja Propaganda 2 vem evidenciar que real


mente na Magonaria ainda permanecen! vestigios de um pas-
sado subversivo da ordem e dos valores estruturais da so-
ciedade.

A propósito ver o artigo de G. De Rosa: La Loggia Massonica P2


e la ciisi del Governo Forlari, em La Civiltá Caltolica 3144, 20/06/1981,
pp. 586-597.

— 406 —
Um livro novo:

mequinho salvo por jesús cristo

Bn sínlese: Henrique Cosía Mecking (Mequinho), campeSo Inter-


nacional de xadrez e auténtico genio da humanidade contemporánea, foi
vítima de molestia mortal, da qual escapou pela oracao. Refere dados
biográficos e as etapas mais importantes da molestia e da cura em Inte-
ressante livro das Edicóes Loyola. A narracao de Mequinho é impressio-
nante, pois provém de pessoa respeitável, que fol visitada e agraciada
por Deus em circunstancias extraordinarias. O público tem af a ocasiio
de se unir ao grande enxadrista em profunda acSo de grasas. Todavia
seria preciso evitar crer que o Cristianismo te.nha o seu grande valor na
cura de doencas e no restabelecimento da saúde física; o grande dom
de Deus aos homens é a vida eterna, que já comega na térra e em
funcao da qual o Senhor Deus dispensa os demais beneficios aos homens
As tnbulacfies tém sentido para o cristáo; o Senhor Deus ao permití-las
tem em vista ou acrisolar e comprovar a virtude do homém ou levá-lo a
reconhecer a precariedade dos bens desta vida. Isto, porém, nao impede
que Ihe pegamos curas e outros bens temperáis, contanto que o fagamos
sem mésela de magia, conscientes de que, mesmo quando a saúde falta
Deus está presente e, com Ele, os valores definitivos

Comentario : Mequinho ou Henrique Costa Mecking é


internacionalmente conhecido por seus títulos de campeáo em
torneios de xadrez. Foi vítima de grave molestia a partir de
1977 e obteve sua cura mediante a fé em Jesús Cristo que
o quis salvar da morte. O próprio Mequinho narra em livro»
as etapas de sua enfermidade e de sua recuperagáo, a fim de
que o público o acompanhe na sua acáo de grasas a Deus.
O livro nao deixa de impressionar o leitor a mais de um titulo.
Eis por que abaixo referiremos o conteúdo do mesmo ; ao que
acrescentaremos algumas poucas reflexóes.

1. As etapas sucessivas

1. Henrique Costa Mecking (Mequinho) nasceu aos


23/01/1952, em Santa Cruz do Sul (RS).

IComo Jesús Cristo sah/ou a minha vida, por MEQUINHO. — Ed


Loyola, SSo Paulo, 1981, 140x210 mm, 77 pp.

— 407 —
56 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1931

Aos seis anos aprendeu xadrez. Aos sete anos foi vice-
-campeáo de xadrez em Sao Louren^o do Sul (RS). Aos doze
anos tornou-se campeño do Rio Grande do Sul e, aos treze,
campeáo brasileiro de xadrez (1965). Com quinze anos con-
quistou o título de mestre internacional. Aos dezenove anos
tornou-se Grande Mestre Internacional, sendo naquela época
o mais jovem do mundo a possuir este título.

Filho de familia católica, Mequinho foi católico praticante


até os dezenove anos de idade, quando veio para o Rio de
Janeiro.

2. Eis como o próprio autor narra as etapas de sua


molestia e de sua cura.

No primeiro semestre de 1977, foi acometido por terrível


inflamacáo de garganta que o impediu de falar durante sema
nas. A inflamagáo foi finalmente debelada, mas a capacidade
de falar nao voltou; Mequinho andava com cañeta e papel para
escrever o que desejava :

"Nessa ocasiáo encontro-me com urna senhora amiga. Ela me deu


um escapulario verde de Nossa Senhora e passou a rezar por mlm. Acho
que isto foi multo importante para a minha conversao, que ocorreu algum
tempo depols, quando retornei á participacáo da Missa" (p. 15).

"Depois do meu retorno á Igreja, o Senhor concedeu-me diversas


gracas. Eu estava feliz, embora continuamente doente" (p. 16).

Em fevereiro de 1978 Mequinho, internado num hospital


de Houston, nos Estados Unidos, recebeu o diagnóstico da sua
molestia: sofría de miastenia grave. O médico Ihe apontava
sombrías perspectivas...

De volta ao Rio, Mequinho foi piorando: sentia-se extre


mamente fraco e obrigado a repousar :

"Onde estava o grande campeSo de xadrez? Naquele estado po-


der-se-la fazer urna analogía com as palavras do profeta Isaías: 'Era des-
prezado, era a escoria da humanidade, homem das dores, experimentado
nos sofrimentos; como aqueles diante dos quais se cobre o rosto, era
amaldlcoado e nao fazíamos caso dele'".

Em margo de 1978 Mequinho comecou a freqüentár um


grupo de oragáo da Renovagáo Carismática católica, onde se
apregoavam curas de diversas molestias; nesse grupo mesmo
havia urna senhora que durante sete anos sofrera de miaste-

— 408 —
MEQUINHO SALVO POR JESÚS CRISTO 57

nia grave, chegando a cair na rúa por Ihe faltarem as forcas


E Jesús a curara totalmente! Mequinho, porém, nao conse-
guiu, de ímediato, melhorar: em margo de 1979 perdeu quase
totalmente a forca nos bracos : «Necessitava ficar pratica-
mente o dia inteiro sentado numa cadeira forrada de traves-
seiros ñas costas e no assento, diante de urna mesa com urna
almofada e seis travesseiros, com os bracos para cima, em
lugar macio, em cima de travesseiros... Os bragos se atro-
fiavam e comecei a sentir um frío terrível neles» (p. 31). Che-
garam a prever-lhe apenas dez ou quinze dias de vida.

Nessa altura, alguns amigos aconselharam a Mequinho o


que nao raro se sugere em tais circunstancias : recorresse ao
espiritismo. Todavía, animado pelo bom senso e pela fé o
paciente recusou a sugestao. '

Quando o julgavam próximo da morte, aos 28 de maio


de 1979, o enfermo recebcu a visita de urna senhora, membro
do Movimento Carismático, chamada «Tía Laura»; vinha
acompanhada por mais duas senhoras:

"Tía Laura disse para eu tirar as (uvas de la e por as mios sobre


a Biblia Sagrada.

Tía Laura disse que eu devia perdoar pessoas da minha familia que
eu nao tinha perdoado. Perdoei...

Ela rezou por mim. Jesús concedeu a graca e salvou a minha vida
quando eu estava para morrer. Eu nao tinha mais a terrivel doenca mias-
tenla grave. Cristo tinha me curado" (pp. 40s).

Mequinho diz ao leitor que os bragos atrofiadíssimos fo-


ram criando músculos novos; pode mastigar de novo e deixou
de sentir frió.

Todavía o paciente veio a sofrer certa recaída porque jo-


gara frescobol com empenho excessivo... Ligou entáo para
Tía Laura, que se achava em outra cidade. «Coloquei minhas
mños sobre a Biblia Sagrada. Pelo telefone ela rezou por mim
Sentí que Jesús tinha concedido outra cura; a fraqueza no
braco direito diminuiu muito. No dia seguinte essa fraqueza
ünha sumido totalmente» (p. 50).

Em maio de 1980, Mequinho estava precisando de ir ao


oculista para trocar as lentes de seus olhos; enxergava muito
mal, porque havia varios anos que nao mudava as lentes.

— 409 —
58 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

Todavía nao conseguíu marcar consulta imediata, pois o oftal-


mologista ausente só voltaria dentro de tres ou quatro dias.
"EntSo resolvi telefonar nessa sexla-feira, dia 6 de julho de 1980
para Tia Laura. Feche! os olhos, pus as maos sobre a Biblia e ela rezou
por mlm, pelos meus olhos, lá da cidade déla. Sentí um formigamento
nos dois olhos, no momento em que ela rezava por mim. Quando abrí os
o nos, levei um susto: eu estava vendo tudo com perfeicao e clareza in
clusive as letras da Biblia, que s§o bem pequeñas, de alguma distancia
Jesús tinha concedido outra cura maravilhosa. Nem precise! ir a oculista
nenhum até hoje" (p. 56). utuuiia

Em suma, o autor narra mais duas curas maravilhosas


com que foi agraciado: urna aos 24/06/80, quando estava
prostrado por febre alta, e outra, dois dias depois, quando vi-
tima de inflamagáo na cabega, nos ouvidos e na garganta
Mais : aos 17/07/80 Jesús fez que desaparecesse um fragmento
de vidro que entrara no dedo indicador direito de Mequinho
em conseqüéncia da quebra de urna lámpada. Enfim, aos
22/07/80, por intercessáo de Tia Laura, o paciente conseguiu
nova graca, que o dispensou de tomar remedios.

O autor termina o livro com um capítulo de reflexóes em


que observa:

"Jesús nao se deixa vencer em generosidade. Eu Ihe pedi saúde


para o meu corpo e ele me devolveu também a do meu espirito Ele nao
me deu apenas saúde, mas me concedeu a alegría de vlver. Considero
um dever agradecer e testemunhar esta grande bondade do Senhor"
ip. 7o).

O livro assim redigido nos leva a refletir.

2. Reflexóes. ..

Proporemos cinco pontos, dos quais o último chama a


atencao para um possivel mal-entendido.

2.1. Em apoio...

1. Nao há dúvida, a pessoa de Mequinho goza de auto--


ridade, pois se trata de um genio da estrategia enxadrista
que supóe prendas de lógica, matemática, autodominio, tena-
cidade...

2. Também nao restam dúvidas de que o milagre é pos


sivel. Este vem a ser um sinal de Deus aos homens ou urna

— 410 —
MEQUINHO SALVO POR JESÚS CRISTO 59

palavra mais eloqüente do que a palavra oral, pois implica


urna intervencáo extraordinaria de Deus que impressiona vi
vamente os homens. O milagre, portante, nao é um show da
Onipoténcia Divina, que sirva para ««extasiara» os especta
dores, mas é sempre mensagem... Por isto a Igreja até hoje
espera a ocorréncia de milagres, científica e canónicamente
comprovados, para poder declarar a santidade de algum dos
seus filhos; por tais milagres julga a Igreja que Deus com-
prova a heroicidade das virtudes dos seus amigos.

3. Nos grupos de Oracáo ditos «da Renovagáo Carismá-


tica», pode haver milagres (curas e outros beneficios) em
resposta as oragóes dos fiéis. É certo, porém, que nem todos
os fenómenos extraordinarios ai apregoados sao milagres no
sentido teológico; pode-se crer que muitos nao passam de ma-
mfestagoes do psiquismo e do parapsiquismo humanos.

Nao discutiremos aqui os relatos de Mequinho. Aceitamos


tenna sido curado em resposta ás oragoes de amigos e do
proprio paciente. O Senhor Deus quis manifestar sua miseri-
cordia precisamente para com urna pessoa de projegáo nacio
nal e internacional a fim de que sejam mais evidentes ao
grande publico a bondade e o amor de Deus; Ele é providente-
sabe por que permite sejam os homens provados e garante'
que nenhuma oracáo feita em espirito filial é perdida (cf. Mt
• » •"•'■-*■» ■L'C lli 9-13; Jo 14,13).

4. Os amigos e admiradores de Mequinho, como também


os homens em geral, nao podem deixar de congratular-se com
o irmao restabelecido após táo duras provagóes. O paciente
nao so recuperou a saúde física, mas adquiriu também a visáo
muito nítida de que toda gloria humana, mesmo a mais retum
bante, e fugaz e ilusoria; o herói e o genio hoje cultuados em
apoteose amanhá podem estar prostrados, necessitando de
pessoas caridosas até mesmo para escovar os dentes e alimen-
tar-se. O único valor que nao passa, é o Senhor Deus, a quem
o homem nunca pode abandonar sem experimentar um vacuo
ínsaciavel.

2.2. Um possível mal-entendido

A leitura do lívro de Mequinho merece um reparo- pode-


na dar a impressáo de que o CatoUcismo tem seu grande va
lor na cura de doengas e no restabelecimento da saúde de
— 411 —
JBO «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

enfermos. Ora tal concepgáo seria errónea. A fé crista pro


porciona, antes do mais, a uniáo com Deus e a certeza da
vida eterna ou da vida que será a vitória definitiva sobre a
morte; é este o maior de todos os bens e o que corresponde as
aspiragóes fundamentáis de qualquer ser humano. As curas e
outros bens temporais também fazem parte do plano salvífico
de Deus, mas, por certo, em instancia subordinada, ou seja, na
proporgáo em que contribuam para avivar a fé e dispor o cris
táo a caminhar ainda mais ardorosamente para a plenitude da
vida; o cristáo conserva o grande dom da uniáo com Deus atra-
vés da saúde e da doenc.a, através da penuria e da riqueza.
Dizia Sao Paulo: «Aprendí a adaptar-me as necessidades; sei
viver modestamente, e sei também como haver-me na abun
dancia; estou acostumado com toda e qualquer situacáo: viver
saciado e passar fome, ter abundancia e sofrer necessidade.
Tudo posso naquele que me fortalece» (Fl 4, 11-13).

Os males, que, alias, decorrem das limitagóes físicas e


moráis das criaturas, sao permitidos por Deus sempre com
finalidade sabia e providencial: ou comprovam e fortalecem a
fidelidade do homem a Deus ou lhe evidenciam quanto sao
frágeis os valores materiais fugazes desta vida. Por certo,
Mequinho reencontrou Deus e o auténtico rumo de sua exis
tencia através da provagáo; assim também foi confirmada a
palavra do Apostólo: «As tentagoes que vos acometeram, tive-
ram medida humana. Deus ó fiel; nao permitirá que sejais
tentados ácima das vossas forgas. Mas, com a tentagáo, Ele vos
dará os meis de sair déla e a forga para a suportar»
(ICor 10,13).

Em conclusáo: o livro de Mequinho torna-se ocasiáo para


que os leitores se unam ao autor em efusiva agáo de gracas
pelo dom de Deus, ao mesmo tempo que se afervoram na fé
e no amor a Cristo. De outro lado, incita o leitor a refletir
sobre o sentido das provagóes, que sao compatíveis com a
genuína mensagem do Cristianismo e que o Senhor Jesús sabe
temperar de modo a servirem ao crescimento interior e defi
nitivo de cada cristáo.

— 412 —
tres aniversarios

Nao podemos encerrar o ano de 1981 sem registrar a


transcorréncia de tres aniversarios importantes para toda a
Igreja como, alias, para o mundo inteiro. Com efeito, comeca
a comemorar-se neste ano o oitavo centenario do nascimento
de Sao Francisco de Assis (1182); comemoraram-se outrossim
o quarto centenario do nascimento de Sao Vicente de Paulo
(1581) e os cinqüenta anos da chegada, ao Brasil, da Familia
Paulina (1931).

Sao Francisco é o santo que celebrou nupcias com a Dama


Pobreza e pela pujanca de sua personalidade, humilde e des
pojada, marcou nao so a sua época, mas os tempos subseqüen-
tes; teve o grande mérito de traduzir de modo especial a vi
vencia das bem-aventurangas evangélicas. As numerosas fami
lias franciscanas hoje existentes testemunham muito signifi
cativamente a fecundidade da mensagem do Santo Seráfico.

Sao Vicente de Paulo, ordenado sacerdote, exerceu diver


sas fungóes, até que num domingo de agosto 1617 foi cha
mado para atender a urna familia, cujos membros estavam
todos doentes; organizou entáo, a dedicagáo dos vizinhos e das
pessoas de boa vontade, fazendo nascer assim a primeira
«caridade», modelo para inúmeras outras. A conviegáo de que
o servigo dos pobres devia ocupar toda a sua vida o orientaría
até o fim dos seus dias na térra. Fundou duas familias reli
giosas: a dos Padres Lazaristas (de Sao Lázaro, titular da
igreja onde pregava Sao Vicente) e a das Filhas da Caridade,
que tiveram, como co-fundadora, Santa Luisa de Marillac.
Dizia Sao Vicente ás suas filhas espirituais: «Deveis realizar
o mesmo que o Filho de Deus fez na térra. Deveis restituir a
vida a estes pobres doentes, a vida do corpo e a vida da alma».

Quanto á familia paulina, fundada pelo Pe. Tiago Albe-


ríone e dedicada a Sao Paulo Apostólo, compreende dez ins-
tituigóes, das quais seis tém casas no Brasil: a Congregagáo
dos Padres e dos Irmáos Paulinos, dedicados á evangelizacáo
mediante os meios de comunicagáo social; a Congregagáo das
Irmas Paulinas, entregues ao mesmo apostolado; a Uniáo dos
Cooperadores Paulinos, leigos unidos ia Familia Paulina pela
oragáo e a agáo; a Congregagáo das Pias Discípulas do Divino

— 413 —
62 «PEKGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

Mestre, devotadas ao apostolado sacerdotal, litúrgico e euca-


rístico; a Congregagáo das Irmas Pastorinhas, que se dedicam
á pastoral ñas paróquias e ñas comunidades eclesiais; o Insti
tuto de Nossa Senhora da Anunciagáo, que compreende jovens
leigos a viver os conselhos evangélicos segundo o espirito pau
lino. — Os Paulinos sao beneméritos entre nos pelas suas
publicacóes impressas (livros, revistas, entre as quais «Fami
lia Crista», «Vida Pastoral», «Revista de Liturgia»...), pelas
suas emissoras radiofónicas e pela confecgáo de alfaias litúr
gicas. Aos Padres e Irmáos Paulinos deve a revista «Pergunte
e Responderemos» os beneficios de zelosa e fiel administracáo
desde setembro 1977 até Janeiro 1981, estando assim vincu
lada aos Paulinos por gratidáo especial.

A direcáo de PR se congratula com as familias religiosas


atrás mencionadas e lhes desoja gragas copiosas como penhor
de crescimento constante tanto em número quanto em mé
ritos !

Estéváo Bcttencourt O.S.B.

AMIGO,

COLABORE COM A SUA REVISTA.

1) RENOVANDO PUNTUALMENTE A SUA ASSINATURA,

2) OBTENDO-LHE NOVOS ASSINANTES,

3) DANDO, COMO PRESENTE DE NATAL A SEUS

AMIGOS, UMA ASSINATURA DE PR.

A DIREQAO

— 414 —
livros em estante
Teología da Liturgia das Horas, por Daniel de Reyrtal. Traducáo de
Mana Ruth Alves e Joviano de Lima Jr. Colecao Igreja-Eucaristia n? 7
— Ed. Paulinas, Sao Paulo 1981, 130 x 200 mm, 342 págs.
Este livro corresponde á tese de láurea do autor, o qual se esmerou
em apresentar as grandes linhas da espiritualidade que deve animar os
fiéis ao rezarem as Horas Canónicas ou o Olício Divino. A consulta biblio
gráfica foi de ampio alcance e permitiu ao autor escrever uma obra
de valor.
Após propor a Eucaristía como centro da Liturgia, Daniel de Reynal
desenvolve reflexóes sobre a estrutura trinitaria da oracao litúrgica: esta
se dirige ao Pa¡ por Jesús Cristo nosso Senhor na unidade do Espirito
Santo, que ressuscitou Jesús. Postas estas premissas, o livro se detém
sobre o louvor a Deus Pai, a presenca de Cristo e a agio do Espirito
Santo tais como os textos do Oficio Divino no-Ios propoem; dos hlnos,
das oracóes e de outras fórmulas das Horas Canónicas o autor deduz
profundas perspectivas teológicas, pols na verdade a oracao litúrgica está
profundamente impregnada de doutrina; por isto "quem reza verdadera
mente, é teólogo" (p. 8). Multo apreciamos a exatidáo com que o autor
transmite ao leitor as linhas-mestras inspiradoras da Liturgia; especial
mente Interessante é a ligacao que D. de Reynal estabelece entre cada
Hora Can&nica (Laudes, Vésperas, Jerga, Sexta, Noa...) e os misterios
salvlflcos de Cristo (págs. 68-80).
Julgamos, porém, que a Interpretacáo cristológica dos salmos poderia
ter sido exposta com mais precis§o e riqueza de dados (págs. 81-84); na
verdade, os salmos podem ser entendidos como
1) oracao da Igreja com Cristo ao Pai (os salmos de sofrlmento
por exemplo) ;
2) oragáo da Igreja a Cristo (... ao Pal); tais seriam os salmos
do Rei...;

3) oracáo da Igreja ao Pal a respelto de Cristo. Tal é o caso


especialmente dos salmos narrativos ou históricos.
Estas ponderacoes em nada invalidam o livro em foco. Será parti
cularmente útil a quem recita o Oficio Divino e possa consultar os livros
litúrgicos e a S. Escritura a fim de poder apreciar ñas fontes as numerosas
citacCes (ellas pelo autor.

O Enviado. Cristologla II, por Joio Mohana. — Ed. Agir, Rio de Ja


neiro 1981, 140 -x 210 mm, 154 págs.
O Pe. Joáo Mohana, médico e sacerdote, continua os estudos cris-
tológlcos publicados sob o título "Jesús Cristo radlografado Cristologla I"
Neste primelro volume, o autor analisou as teorías da critica moderna'
referente a Jesús Cristo e á autenticldade dos Evangelhos No segundo
volume, ácima apresentado, volta-se diretamsnte para a pessoa e a men-
sagem de Cristo, procurando penetrá-las teológicamente; dai o titulo
Quem é ele" da Parte I e "Que quer Ele" da Parte II.
Mohana conserva seu modo de escrever multo pessoal e agradável;
sabe dizer com clareza coisas dificeis; por isto também o presente volume
ó destinado a ter difusao multo justificada. As págs 11-23 o autor apre-
senta minuciosas considéraseos de anatomía e fisiología para explicar
científicamente" a viabllldade da maternidade virginal de Maria. A Inten-
cao do Pe. Mohana ó excelente, pois tem em mira facilitar a aceitacáo

— 415 —
64 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

da proposlcáo de fé segundo a qual María foi Virgem antes do parto, no


parto e depols do parto. Acontece, porém, que tais co.nsiderac6es podem
tornar-se chocantes; além do que a Santa Sé em 1960 pediu aos estudio
sos que se abstivessem de tentar semelhantes explanacóes em torno de
María SS.; seja a verdade de fé deixada na sua grandeza transcendental!
Els o texto da carta enviada em 1960 pela S. Congregagfio do Santo
Oficio aos Superiores Gerais de Ordens Religiosas e outras personalidades:
Suprema Sagrada Congregacáo do Sanio Oficio
Prot. n9 311/60/1
Palacio do S. Oficio, 27.7.1960
Rev/no. Padre,

Esta Suprema Sagrada Congregacáo leve que constatar repetidas


veies, com profunda preocupacáo, nestes últimos lempos, que se publican!
estudos teológicos nos quais a delicada questao da virgindade de María
Santissima no parto é tratada com deplorável crueza de expressao e o
que é mais grave, em aberta conlradicáo com a doulrína tradicional 'da
Igreja e com o pledoso sentir dos fiéis.
Na Congregado plenária de quarta-feira 20 do corrente pareceu
pois. necessário aos Emos. Padres do S. Oficio, em virtude de sua gra-
vissima responsabilidade de tutelar o depósito sagrado da doulrina caló-
lica, determinar que para o futuro seja vedada a ptfj|¡ca$So de semelhan
tes estudos sobre o problema em questao.
Vossa Palernidade Revma. queira providenciar no sentido de que seta
escrupulosamente observado, por parte dos Religiosos dessa Ordem tal
Decreto da Suprema Congregacáo.
Na expectativa de urna cortés resposta, de bom grado me confirmo
com sentimentos do mais religioso aprego.
De Vossa Pat. Revma.
dedicadíssimo
P. Raimundo Verardo O.P.
Com. rio

Ao transcrever tal texto, nao tencionamos em absoluto dizer que o


Pe. Monana tenha contrariado á tradicional doutrina da Igreja ou aos sen
timentos de piedade dos fiéis. As páginas do Pe. Monana visam a corro
borar a doutrina da fé; teráo sido escritas com desconhecimento do
documento ácima. Como quer que seja, a palavra da Santa Sé convida ao
silencio e á sobriedade no caso, penhor de respeito e reverencia para com
os dados da fé.
Perguntarlamos aínda a Mohana por que chama táo freqüentemente
Jesús o Enviado", de modo a pouco utilizar os nomes "Jesús" e "Cristo"
Muito valiosas sSo as afirmacóes do autor a respeito da autoconsciéncla"
divina de Jesús (págs. 45-48), a respeito da missio religiosa e nao polí-
tíco-partidárla de Jesús (págs. 89-91), a respeito do pecado original em
que incorreram os primeiros país (págs. 99-102)... A p 40 um erro
tipográfico merece correcSo: leia-se salmo 109 (110) em vez de salmo 101.
O livro é Importante tanto para catequistas como para pessoas que
desejem sólidas e ferias explanares a respeito de Jesús Cristo e da
sua mensagem.

i*n ^L*16"1 da vlda> por Frel Battlstlni- Ed'cfio própria, Magé 1981,
llann u I"?¿,l77 pá93' Peclldos a Frei Battlstlni, Caixa postal 93630,
Z5900 Magé (RJ).

— 416 —
LIVROS EM ESTANTE 65

O autor é um heroico pastor de almas e estudioso que tem pro


curado atender, mediante escritos diversos, á formacáo doutrináiia do
povo católico. Após a publicacáo dos livros intitulados "A Igreja do Deus
vivo" (apresentacao da verdadeira Igreja), "Como falar com Deus" (Ins-
trucoes sobre a oracáo), "Encontros que marcam" (preparagáo para a
Eucaristía e conseqüente perseveranga), o autor edita mais esta obra, que
versa sobre o homem e a imorlalidade (cap. 1<?), a reencarnagáo (cap. 2?),
o céu, (cap. 3?), o fim do mundo (cap. 4?), a vida crista aqui e agora
(cap. 5<?). Frei Battistini em cada capitulo aborda questóes muito concre
tas que freqüentemente recorrem na mente dos fiéis: a existencia da
alma humana espiritual, distinta do corpo (p. 17), o problema do mal
e da desigualdade das sortes humanas (págs. 83-86), a data do fim do
mundo (págs. 113-115. 120-122), sinais precursores do fim dos tem pos
(págs. 122-131), o Anticristo (págs. 128-130), a fé e os fatores que a
favorecem ou destroem (págs. 167-174)...
O estilo é o de calequese acessível á gente simples, á qual Frei
Battistini tenciona comunicar as grandes certezas da fé a respeito da
sorte final do homem. O livro sorá muito útil, como o sao os anteriormente
publicados pelo autor; precisamos de obras claras, firmes na sua orian-
tacáo doutrinária e destinadas ao povo de Deus, qué se vé solicitado pelo
misticismo fantasista e pela credulidade supersticiosa; Frei Battistini tra-
duz em termos simples as conclusoes de obras eruditas. Sugerimos ao
autor que numa próxima edicáo considere aínda outras importantes ques
toes, como a do número da Besta de Ap 13,18 (cf. p. 132, onde se
poderia esperar tal ponderagao), a do purgatorio, a do inferno, a do
limbo das criancas. O autor tem capaeldade de sintese, que Ihe permi
tirla tratar de tais temas sem avolumar demais a obra. O livro ganharia
também se passasse por urna revisáo do seu linguajar, ás vezes um pouco
mordaz e veemente.
Recomendamos a obra a catequistas e pastores do povo de Deus
assim como aos fiéis em geral.
Sudarlo de Turim. O Evangelho para o secuto XX, por Evaldo Alves
d'Assumpcáo. — Ed. Loyola, Sao Paulo, 140 x 210 mm., 79 págs.
Este ilvro se deve a um médico cirurgiao de Belo Horizonte, que,
através da obra de Pierre Barbet sobre o Santo Sudario, comegou a se
Interessar por esta peca venerável. Em 1978 fol a Turim para examinar de
perto a reliquia; depois dirig¡u-se á Térra Santa, onde visitou os lugares
sagrados em atitude de estudo e oracáo. Convicto da autenticidade da
santa mortalha e corroborado na sua fé, resolveu escrever o livro ora apre-
sentado: descreve ai o Santo Sudario e sua historia, e expoe as mais
recentes conclusoes das pesquisas científicas realizadas sobre a mortalha;
doze figuras (fotografías e desenhos) ilustram as explanacoes do Dr.
Evaldo. Este se mostra plenamente convicto da genuinidade da mortalha,
como se depreende dos seguintes dizeres: "Por todos estes testes, rea
lizados por dentistas do mais alto gabarito e procedantes de organizacSes
científicas de completa credibilidade, cada dia se confirma mais a auten
ticidade do Santo Sudario, a ponto de alguns observadores afirmarem :
'Com tais pravas já evidenciadas, hoje o que se precisa é de alguém
que demonstre a sua falsidade e nao mais que ele seja auténtico" (p. 71).
— Como quer que seja, há autores que preferem ser mais reservados,
visto que a historia do Santo Sudario é assaz acidentada, apresentando
lacunas ou Interrupcdes que delxam o estudioso interrogativo e hesitante.
Nao há dúvida, porém, de que os dentistas tém colaborado valiosa
mente para dissipar as reticencias dos historiadores (que por certo nao

— 417 —
6G «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 259/1981

sao decisivas). Em particular, a leitura do livro do Dr. Evaido contribuirá


para informar o leitor de maneira clara e atualizada; além do que Ihe per
mitirá compreender melhor certos tópicos e cenas da Paixáo de Cristo,
possibilItando-ihe reconhecer mais de perto o misterio de amor simboli
zado pela cruz, a morte e a ressurreicSo do Senhor Jesús.

Ocultismo e Cristianismo, por Paulo Cesar da Silva. — Ed Loyola


SSo Paulo 1981, 140 x 210 mm, 75 págs.
Eis um livro de divulgacáo. Tenta, mediante textos bíblicos e arra-
zoados de fácil compreensáo, mostrar que o espiritismo nao merece cré
dito. Poderia Ir muito mais ao ámago da importante temática, recorrendo
4 parapsicología, que demonstra como se podem obter fenómenos me-
diúnicos sem ritual nem evocacáo de espíritos. O autor quis apenas di
vulgar as conclusóes de estudiosos anteriores, como Frei Boaventura
Kloppenburg, Pe. Edvino Friderichs, Pe. Joáo Evangelista Martins Térra,
Pe. Carlos Aldunate..., que Paulo Cesar da Silva cita freqüentemente.
O livro tem índole pastoral, destlnando-se ao grande público, á guisa
de um manual ou guia frente ao espiritismo. No seu final (págs. 69-72)
oferece um questionário, que servirá para testar nos leitores a aprendiza-
gem das licóes de cada capitulo. O Sr. Bispo D. Joáo Hipólito de Moraes,
da diocese de Lorena, faz a apresentacfio da obra como válido meio de
esclarecimento dos fiéis (págs. 5s).

Vocé tamíiém faz a historia, por Irene Tavares de Sá. Prefacio de


Rachel de Queiroz. ColecSo "Juventude e LibertacSo" n? 7. — Ed Pau
linas, Sao Paulo 1981, 130 x 195 mm, 120 págs.
A escritora Irene Tavares de Sá, interessada, como sempre, pela
formacio dos jov&ns e a influencia do cinema sobre estes, acaba de
publicar mais um livro para adolescentes. Apresenta a biografía de 35 per-
sonagens (humanistas, dentistas, artistas, aventureiros, santos, vitimas,
heróis) que, famosos na historia de épocas passadas, se tornarám motivo
de filmes cinematográficos. Visto que o cinema é meio de comunicac.io
muito estimado, a autora tenciona facilitar aos adolescentes (e por que
n§o dizer:... ao público?) a assimllacáo da mensagem que a vida de
tais personagens deixou para a posteridade. Assim passam ante os olhos
do leitor as figuras de Albert Einsteln, Thomas Morus, Joiin Kennedy,
Gandhi, Louis Pasteur, Charles Darwin, Joáo XXIII, Joáo Paulo II, Madre
Teresa de Calcuta, SSo Vicente de Paulo, (Aleijadinho... A serie termina
em Jesús Cristo, o Salvador, retratado por Zefirelli, a quem a autora tece
merecida crítica por ter apresentado María SS. como "alma pobre e
abandonada". As págs. 117-118 acrescentam ás biografías importante re-
flexao sobre a responsabllidade do cinema; este pode ser velculo medio
cre, nocivo ou excelente. Mediante o seu livro, Irene Tavares de Sá des-
perta os jovens para o valor da historia; esta sugere ao estudioso, Inclu
sive ao adolescente, a famosa pergunta de S. Agostlnho: "O qué estes
(os antepassados) foram capazes de fazer, por que nao o farel eu ?"
Desafiados por tal interrogacáo, os jovens poderSo convencer-se de que
também eles sio aptos a fazer a historia.
"Para corrigir tantos erros, bastarla que cada um se dispusesse a
ajudar, melhorando Inúmeras situacóes ao nosso alcance. Outras estáo á
espera de individuos de grande coragem e idealismo... Talvez este
individuo seja vocé. Por que nSo comecar desde já, aqui pertinho com
tantas iniciativas positivas?" (p. 107).
E.B.

— 418 —
AMIGO, SE ESTA REVISTA IHE FOI ÚTIL, QUEIRA DIVULGA-IA
MUITAS PESSOAS ESTÁO A ESPERA DE UMA PALAVRA DE LUZ
PARA PODER, AO MENOS, EQUACIONAR DEVIDAMENTE OS SEUS
PROBLEMAS.

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TORNANDO-SE-LHES PRESENTE O ANO

INTEIRO.

E VOCÉ SERÁ FELIZ

POR HAVER FEITO OS OUTROS FELIZES,

COMUNICANDO-LHES UM POUCO DA

BOA-NOVA DE JESÚS CRISTO i


ÍNDICE 1981

Responderemos
ÍNDICE 1 981

(Os números a direita indicam, respectivamente, fasciculo,


ano de edicáo e página)

ABSTINENCIA: em que consiste 253/1981 p. 39.


ADULTERIO DO CORAgAO E CONCUPIS
CENCIA 254/1981, p. 47.
ALEXANDRE II e ALEXANDRE V, Papas .... 255/1981 p. 126.
ALFABETIZACÁO segundo Paulo Freiré 254/1981 p. 65.
«AMIZADE E SEXUALIDADE» (artigo) 254/1981 p. 51.
ANALISE MARXISTA E CRISTIANISMO .... 258/1981, p. 290.
ANTIPAPA : que é ? 255/1981 p. 120.
APARICÓES EM FÁTIMA 258/1981, p. 330.
ARCEBISPO DE PARÍS e judeus 259/1981 p. 392.
ATLANTIDA: existiu ? 256/1981 p. 184.

BATISMO DAS CRIANCAS: documento da


Santa Sé 255/1981, p. 131.
DENTÓ IX e BENTO X, Papas 255/1981 p 124
BISPOS ALEMÁES E MACONARIA 254/1981¡ p. 78
BOBBY SANDS : greve de íome 259/1981, p. 382.

CALCAS COMPRIDAS E MODA FEMININA .. 257/1981, p. 271.


CARNE: abstinencia de 253/1981 p 39
CASAMENTO CIVIL: que sentido tem? 258/1981, p 32o'
CASAS MAL ASSOMBRADAS 258/1981 p 342
«CATECHESI TRADENDAE» E ENSINO RE
LIGIOSO 258/1981, p. 317.
CATÓLICOS NA IRLANDA DO NORTE 259/1981, p. 325.
CELAM E FITAS CASSETES 259/1981, p. 354
CELIBATO SACERDOTAL E DISPENSA 255/1981, p. 145;
E ECUMENISMO... 259/1981, p. 387.
«COMO VIVER A SEXUAUDADE» — livro de
Frei Ovidio Zanini 255/1981, p. 152.
CONGREGACIONAUSMO: historia e doutrina. 253/1981, p. 29
CONCUPISCENCIA E ADULTERIO DO CORA-
CAO 254/1981, p. 47.
CONTROLE MENTAL: método Silva 256/1981 p 221
CORPO E ALMA OU CORPO-ALMA? 255/1981, p. 153;
257/1981, p. 238.
CRIANCAS: Batismo de 255/1981, p. 131.
CRISTIANISMO NA URSS 257/1981 p 226
CRISTÓVAO, antipapa 255/1981, p. 123.

— 422
ÍNDICE DE 1981 71

\ D
DECÁLOGO : alterado no Catolicismo? 256/1981, p 203
DEUS E MACONARIA 254/1981 o 85-
MÍTICO E JESÚS CRISTO 257/1981, p 255
«DIVES IN MISERICORDIA», encíclica 255/1981 p 103
LOMINGO OU SÁBADO? 259/1981 p. 364*
DUALISMO OU DUALIDADE? 257/1981 p 240
DUDKO, DMITRI E LAVAGEM DE CRÁNIO.. 256/1981, p. 210"

DUPLA PERSONALIDADE : explicacáo do fe- ' P" 2?7"


nómeno 258/1981, p. 347.

ECTOPLASMIA : explicacáo do fenómeno 258/1981, p. 346.


EDUCACAO DOMESTICADORA x E. LIBERTA
DORA 254/1981, p. 74.
EDUCADOR-EDUCANDO, segundo P. Freiré .. 254/1981, p. 68.
«ENDEUSAMENTO» DO HOMEM JESÚS .... 257/1981, p. 254.
ENSINO RELIGIOSO ACONFESSIONAL? 258/1981, p. 314;
SINCRETISTA? 258/1981, p. 314.
ESCATOLOGIA EM DISCUSSAO 257/1981, p 237
ESSENCIALISMO : que é? 256/1981 p 162
ÉTICA ESSENCIALISTA 256/1981 p 166
<rEU FACO NOVAS TODAS AS COISAS» — li-
vro do «CENTRE SAINT-DOMINIQUE» .. 257/1981, p 237
EVANGELHOS : veracidade 257/1981, p. 257.

FATIMA : segredo de 258/1981, p. 330.


FÉ E RELIGIAO : distincáo 254/1981, p. 60.
«FÉLIX» OS, Papas e Antipapas 258/1981, p. 122.
FENÓMENOS MEDIÚNICOS: análise parapsico
logía 258/1981, p. 341.
FILHO PRÓDIGO na ene. Dives in misericordia 255/1981, p. 107.
FOME : greve de 259/1981, p. 379.
FREIRÉ, PAULO: análise do método 254/1981, p. 65.
FREUD: pansexualismo 254/1981, p. 55.

GREVE DE FOME : licita? 259/1981, p. 379.

HIGIENISTAS E ABSTINENCIA DE CARNE . 253/1981, p 42


HIPERESTESIA INDIRETA DO PENSAMENTO 258/1981, p. 349.
HIPÓLITO DE ROMA, antipapa 255/1981, p. 122.

— 423 —
72 ÍNDICE DE 1981

«HIPÓTESES SOBRE JESÚS» — livro de Vitto-


rio Messori 257/1981, p. 248.
HOMEM: Corpo e alma 255/1981 p 153-
257/1981, p. 238.
HORÓSCOPO: que é? 258/1981, p. 350.

IDADE DA PEDRA : povos cm extincáo 255/1981 p 98


IGREJA E LIBERTACÁO 254/1981, p 76.
MACONARIA 254/1981, p. 78;
258/1981, p. 305.
MATRIMONIO CIVIL 258/1981, p 327
MESSIÁNICA MUNDIAL 256/1981 p 198
NA RÚSSIA SOVIÉTICA 253/1981, p. 21
INDIFERENTISMO RELIGIOSO: problema ... 253/1981, p. 5.
IRLANDA : confuto religioso 259/1981, p. 370.

JESÚS : quem era, segundo os eruditos? 257/1981, p. 248.


JESÚS em litas cassetes 259/1981, p. 254.
JOAO XVI, antipapa 255/1981, p. 124.
JOAO PAULO II AOS SACERDOTES 253/1981, p. 14.
JOHREI E MILAGRES 256/1981, p. 198.

LAZER CONTEMPLATIVO 254/1981, p. 63.


LAVAGEM DE CRÁNIO : que é ? 257/1981, p. 280
LEAO VIII, antipapa 255/1981, p. 124.
LOJA MACÓNICA p_2 259/1981, p. 399.
LUSTIGER, J.-M.: arcebispo de Paris 259/1981, p. 392.

MACONARIA E IGREJA CATÓLICA 254/1981 p 78"


258/1981, p. 305;
259/1981, p. 399.
RELATIVISMO 258/1981, p 311.
MANDAMENTOS DE DEUS: alterados no Cato
licismo? 256/1981, p. 203.
MARTINHO IV e INOCENCIO XIII, Papas 255/1981, p. 128.
MARXISMO E CRISTIANISMO 258/1981, p. 290.
MATRIMONIO CIVIL: significado 258/1981, p 320
MEDITACAO TRANSCENDENTAL: um teste-
munho 256/1981, p. 190.
MEQUINHO SALVO POR JESÚS CRISTO 259/1981, p. 407.
MESSORI, V., «HIPÓTESES SOBRE JESÚS» .. 257/1981, p. 248.
MÉTODO PAULO FREIRÉ DE ALFABETIZA-
CAO 254/1981, p. 65.
MÉTODO SILVA DE CONTROLE MENTAL .. 256/1981, p. 221.
MILAGRES DO JOHREI ; 256/1981, p. 198.

— 424 —
ÍNDICE DE 1981 73

MISERICORDIA DE DEUS: encíclica 255/1981, p. 103.


MITO E HISTORIA na Cristologia 257/1981, p 260
MODA FEMENINA DAS CALCAS COMPRIDAS 257/1981, p. 27.
MONOTEÍSMO PRIMITIVO DA HUMANIDADE 255/1981, p. 98
MORADAS NA CASA DO PAI (Jo 14, 1-3) 257/1981, p 266
MOSTEIROS «DUPLOS»: que eram ? 255/1981, p. 158.

NEGRITOS ONGOS EM EXTINCAO 255/1981, p. 98.

ONGOS: povo primitivo em extingáo 255/1981, p. 98.


ORACAO ATRIBUIDA A JOAO XXIII 258/1981, p. 312.
ORDEM RENOVADA DO TEMPLO 256/1981, p. 174.
ORDENACOES ANGLICANAS : válidas? 259/1981, p. 389.

PANTEÍSMO E ESSENCIALISMO 256/1981, p. 167.


PAPADO E SUCESSAO APOSTÓLICA 255/1981, p. 116.
PARAPSICOLOGÍA E FENÓMENOS MEDIÚ-
NICOS 258/1981, p. 341.
PARÍS E ARCEBISPO JUDEU 259/1981, p. 392.
PASTORAL DO BATISMO 255/1981, p. 139.
PAULO FREIRÉ E A IGREJA 254/1981, p. 72.
PEDRO E SUCESSAO NO PAPADO 255/1981, p. 116.
PLENITUDE DO TEMPO: que significa? 257/1981, p. 252.
PROPAGANDA 2: Loja Magónica 259/1981, p. 399.
PROSELITISMO : que é ? 259/1981, p. 397.
PURGATORIO: que é ? 257/1981, p. 245.
PURITANISMO DO SÉCULO XVI 253/1981, p. 30.

REENCARNACAO : refutagáo da 256/1981, p. 168.


RELIGIAO E MACONARIA 254/1981, p. 78.
RITOS 256/1981, p. 172.
RENOVACAO CARISMATICA : curas 259/1981, p. 409.
RENOVACAO RELIGIOSA NA URSS 253/1981, p. 23;
257/1981, p. 226.
«RICO EM MISERICORDIA», encíclica 255/1981, p. 103.
RITUAIS DAS LOJAS MACÓNICAS 254/1981, p. 94.
RÜSSIA SOVIÉTICA E CRISTIANISMO 253/1981, p. 21;
257/1981, p. 226.

SÁBADO OU DOMINGO ? 259/1981, p. 364.


SACERDOCIO : alocucáo do Papa 253/1981, p. 15.
SANDS, BOBBY: greve de íome 259/1981, p. 382.

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74 ÍNDICE DE 1981

SEGREDO DE FÁTIMA 258/1981, p. 330.


SENTIDO DA VIDA 253/1981, p. 3.
SEXUAUDADE E AMIZADE 254/1981, p. 51.
«SEXÜALIDADE E CONSAGRACAO» (artigo) . 254/1981, p. 58.
SIGILO E FINALIDADE DA LOJA P-2 259/1981 p. 404.
«SILVA MIND CONTROL»: que é? 256/1981, p. 221.
SILVESTRE III, antipapa 255/1981 p. 125.
SOFRIMENTO : sentido do 253/1981, p. 13.
SOLJENITZIN, A.: declaragáo 256/1981, p. 214.
SUICIDIO DIRETO E INDIRETO 259/1981 p. 381.
SUNDARI E ESSENCIALISMO 256/1981, p. 162.

TATIANA GORITCHEVA — crista russa 237/1981 p 226


TELERGIA E FENÓMENOS MEDIÚNICOS ... 258/1981 p 343
TEMPLARIOS MEDIEVAIS E CONTEMPO
RÁNEOS 256/1981, p. 174.
TEMPO, ETERNIDADE E VIDA POSTUMA .. 257/1981 p 243
TERESA DE AVILA: «Procura-te...» 256/1981 p 196
TESTAMENTO DO PADRE DUDKO 256/1981 p 216*
TRÍPLICE CONCUPISCENCIA 254/1981 p 48*

ULSTER: oonflito religioso 259/1981, p. 370.


«UM TAL JESÚS» — fitas cassetes 259/1981, p. 254.

VASECTOMIA : inocua? 257/1981, p. 274.


VIDA RELIGIOSA E SEXÜALIDADE 254/1981, p. 51.
VIDA, SENTIDO DA 253/1981, p. 3.
VIRGENS SUBINTBODUCTAE 255/1981, p. 157.

EDITORIAIS

ACONTECIMENTO INESQUECÍVEL 257/1981, p. 225.

ANO INTERNACIONAL DO DEFICIENTE .... 256/1981, p. 161.

... ATÉ O FIM! 258/1981, p. 289.

«COMPLETO EM MINHA CARNE... A PAI-


XAO DE CRISTO» (Cl 1,24) 255/1981, p. 97.
NO ANO... DA GRACA DE NOSSO SENHOR
JESÚS CRISTO 259/1981, p. 35.

«OS TEMPOS SAO MAUS b 254/1981, p. 45.

«RICO EM MISERICORDIA» 253/1981, p. 1.

— 426 —
. ÍNDICE DE 1981 75

LIVROS APRECIADOS

ALBERTON, Valerio, S.J., Os Papas e o Rosario 254/1981, 3« capa

ASSUMPCAO, Evaldo Alves d\ Sudario de Xurim.


O Iivangclho para o Século XX 259/1981, p. 415.

BATTISTINI, Freí, Vida além da vida 259/1981, p. 414.

BOFF, Clodovis, Comunidades eclesiais de ba.se


e práticas de libcrtncao 255/1981, p. 160.

BOFF, Leonardo, A Ave Maria. O feminismo e


o Espirito Santo 253/1981, 3* capa

BOROS, Ladislau, A oracao do cristáo 257/1981, p. 288.

CASTANHO, D. Amaury, Iniciociio a leitura da


Biblia 258/1981, p. 352.

COORDENACÁO PASTORAL DA DIOCESE DE


rTABIRA, Por uní mundo mais feliz 256/1981, p. 224.

COUTINHO, Taciana Freitas, A televisao «pi-


fou» ! 254/1981, 3* capa

CREPALDI, Ir. Aparecida, OSB, Eucaristía. Co-


mimliáo de amor contf Dcus e com os irnifios 256/1981, p. 224.

DIVERSOS AUTORES, Trabalho e Teología .. 253/1981, 4* capa

ETXEANDIA, J. U. Carrefto, SDB.As marcas da


Bessurreicao 258/1981, p. 319.

FRIDERICHS, Edvino, S.J., Casas mal assom-


bradas. Fenómenos de telergia 257/1981, p. 270.

GALOT, Jean, S.J., O Espirito do Amor 258/1981, p. 352.

INSTITUTO DIOCESANO DE ENSINO SUPE


RIOR DE WÜRZBURG, Teología par» o
cristáo de hoje; vol. 9: Igreja e Sacramentos 257/1981, p. 288.

LEAO Xin E OUTROS, As Missoes Católicas .. 256/1981, p. 202.

MAILLOT, A., Atualidade de Miquéias. Um gran


de «profeta níenor» 255/1981, p. 160.

MOHANA, Joáo, O Enviado. Cristologia II ... 259/1981, p. 413.

PAIVA, Raúl, Pe. e equipe, Meu Álbum de Prl-


meira Comunliao 253/1981, 3« capa

— 427 —
76 ÍNDICE DE 1981

QUEVEDO, Pedro José González, Feitlceiros,


bruxos e possessos 257/1981, p. 273.

REYNAL, Daniel de, Teología da Liturgia das


Horas 259/1981, p. 413.

SÁ.Irene Tavares de, Vocfi também faz a historia 259/1981, p. 416.

SCHÜHLY, Pe. Günther, S.J., O Anticristo ... 257/1981, p. 288.

SILVA, Paulo Cesar da, Ocultismo e Cristia-


nisnío 259/1981, p. 416.

TORRES, María José, Excrcicio humano e cris-


15o da patemidade responsável. Planeja-
mento familiar 258/1981, p. 352.

— 428 —
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Trindade imánente, sendo examinados numerosos autores católicos e protestan*
tes. Na 2? parte instituí um exame da doutrina em sua fonte bíblica, na docu-.
mentacao dos Padres e do Magisterio, bem como na teología clássica. Na 3?parte
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