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GERAIS
❚ ACIDENTES
BALANÇO PARCIAL DA POLÍCIA RODOVIÁRIA APONTA 28 MORTOS NAS RODOVIAS QUE CORTAM
MINAS GERAIS, NA SEMANA SANTA, CONTRA 11 REGISTRADOS NO MESMO PERÍODO DO ANO PASSADO
Estradas matam quase
três vezes mais em 2002
TELMA GOMES
O saldo parcial de acidentes
no feriado da Semana Santa,
nas rodovias federais e esta-
duais de Minas Gerais, no pe-
ríodo das 18h de sexta-feira
até as 6h de ontem, é de 28
mortos, 11 feridos em estado
grave e mais de 100 vítimas
de lesões leves. Os números
divulgados já revelam um
crescimento superior a 100%
no número de vítimas fatais,
com relação à Semana Santa
de 2001, quando morreram
11 pessoas nas estradas.
O balanço final do feriadão,
porém, será divulgado pelas
polícias rodoviárias estadual e
federal na manhã de hoje. Na
noite de ontem, o movimento
nas principais estradas que
cortam o território mineiro
era intenso, com o retorno das
milhares de pessoas que via-
jaram para o interior do Esta-
do ou para o litoral. Apesar do
elevado número de veículos
em trânsito, houve ocorrên-
cias apenas de pequenos aci-
dentes sem vítimas, resultan-
do somente em perdas mate-
riais.
O único registro mais grave
foi verificado na rodovia BR-
262, em Juatuba, na Região
Metropolitana de Belo Hori-
zonte, no final da tarde, onde
o choque frontal entre dois
veículos deixou duas pessoas
feridas e presas nas ferra-
gens. Elas foram socorridas
por homens do Corpo de Bom-
beiros e não corriam risco de
morte. Até o fechamento desta
edição, as vítimas ainda não
haviam sido identificados.
SEXTA-FEIRA
Os casos mais dramáticos,
no entanto, foram registrados
exatamente no início do reces-
so, ainda na noite de sexta-fei-
ra. Duas pessoas morreram,
três ficaram gravemente feri-
das e duas crianças sofreram
lesões leves, quando o Corcel
dirigido por Cézar Augusto
Vieira Gomes da Silva, de 44
anos, bateu em um poste, no
km 1,7 da rodovia BR-365, em
Montes Claros, a 417 quilôme-
tros de Belo Horizonte, no
Norte do Estado. Morreram o
motorista e a passageira Mí-
riam Silva Santos, de 23. Os
feridos foram socorridos na
Santa Casa de Montes Claros.
Quatro pessoas que viaja-
vam no Kadett CBK-0924/Ca-
breúva (SP) morreram no cho-
que frontal do veículo com a
caminhonete F-1000 de placa
LZF-0769/Navegantes (SC),
ocorrido na sexta-feira, no km
777 da rodovia BR-381, em
São Gonçalo do Sapucaí, a 348
quilômetros de BH, no Sul de
Minas. As vítimas fatais foram
o motorista do Kadett, Fernan-
do Mizael, de 32 anos, e os
passageiros Magno Ramos Ca-
bral, de 31, Roseli Santólica
Mizael, de 29, e o garoto Abi-
mael Júnior Mizael, de 6.
ESTADO DE MINAS - SEGUNDA-FEIRA, 1º DE ABRIL DE 2002
VOLTA PARA CASA
Movimento nas rodovias foi intenso no final da tarde e início da noite de ontem, na BR-040
Radar queimado na BR-040
MARCELO PORTELA
Dois operadores de um radar
móvel que prestam serviço para
o Departamento Nacional de Es-
tradas de Rodagem (DNER) esca-
param por pouco de ser mortos,
na noite de sábado, por dois des-
conhecidos que, aparentemente,
estavam revoltados com o apare-
lho, utilizado para multar moto-
ristas que trafegam com excesso
de velocidade. O radar que eles
operavam foi incendiado por
dois homens, que também dispa-
raram vários tiros contra o carro
❚ QUEDA
Aeronave era experimental
LOURIVAL WERNECK
O médico cardiologista Luiz
Carlos de Almeida Rocha, de
45 anos, que morreu com a
mulher dele, a bioquímica He-
laine Mara Vieira Rocha, de
37, no sábado, na queda de
um ultraleve, no norte do Es-
pírito Santo, pilotava uma na-
ve experimental. Eles eram os
únicos ocupantes do avião,
que saiu de Valadares e seguia
em direção a São Mateus, no
litoral capixaba, e foram enter-
rados ontem em Governador
Valadares, no Leste de Minas.
Segundo o vice-presidente
da Associação Valadarense de
Ultraleve, Ronei Oliveira, Luiz
Carlos era membro da associa-
ção há dois anos e pilotava ae-
ronave experimental. “Era
uma aeronave feita na Bahia e
em que estavam os técnicos.
Segundo o cabo Maurício Jar-
dim, da Polícia Militar, o radar
funcionava no canteiro central
da BR-040, na altura do km 525,
próximo à Ceasa, na saída para
Brasília, fiscalizando os veículos
que chegavam em Belo Horizon-
te. Pouco depois das 20h, dois
homens que estavam em uma
moto Honda Titan branca e ver-
melha se aproximaram, e o ra-
paz que estava na garupa, tra-
jando calça escura e camisa do
Cruzeiro, despejou gasolina so-
bre o aparelho e ateou fogo.
REPRODUÇÃO CARLOS ELLER
Helaine e Luiz Carlos morreram
tinha um modelo inédito no
País, mas ainda não submeti-
da a testes para homologação”
revelou. “Tecnicamente, pode-
ríamos dizer que era um vôo
às cegas; ninguém sabia ao
GUALTER NAVES
Enquanto isso, o rapaz que
pilotava a moto, vestido com
calça jeans e camisa xadrez cin-
za, sacou uma arma e disparou
várias vezes contra o Gol placa
GVM-0777, em que estavam os
operadores Carlos Santiago e
Júlio César Costa, de 34 anos.
Um dos disparos estilhaçou o
pára-brisas do veículo e a bala
ficou alojada na porta do passa-
geiro, passando bem perto de
Júlio César, mas nenhum dos
dois ficou ferido. Os dois ho-
mens na moto fugiram em dire-
ção ao Centro de BH.
certo se podia dar problemas,
uma vez que é a primeira vez
que voava no Brasil”, comen-
tou.
Outro integrante da associa-
ção, que pediu para não ser
identificado, acredita que o
acidente aconteceu por falha
estrutural. “Estão construindo
ultraleves em todos os lugares;
são muitos modelos novos e
com pouco controle”, comen-
tou. Segundo ele, a única exi-
gência aos pilotos é colocar
uma placa no painel da aero-
nave avisando que o vôo é por
conta e risco de quem entrar
nele.
Luiz Carlos de Almeida Ro-
cha era sócio na construção de
um hospital em Valadares e ar-
rendatário de outros dois hos-
pitais na região, um em Conse-
lheiro Pena e outro em Frei
Inocêncio. No final de janeiro,
ele participou de um programa
de televisão local, falando so-
bre a queda de um ultraleve no
Vale do Aço, que fez pouso de
emergência. O médico comen-
tava a segurança de voar, mos-
trando como exemplo a pró-
pria aeronave, com a qual aca-
bou morrendo.
AV. AFONSO PENA
Travestis, com nomes de fictícios de Patrícia e Kátia, admitem uso
❚ MORTE
PRODUTO É APLICADO INDISCRIMINADAMENTE
POR TRAVESTIS DA CAPITAL POR ATÉ R$ 500
Silicone industrial
vira caso de polícia
LANDERCY HEMERSON
O silicone industrial, produto
utilizado por travestis para ob-
ter estética corporal feminina,
está sendo largamente por tra-
vestis em Belo Horizonte, colo-
cando em risco a vida de muita
gente, incluindo mulheres que
se aventuram nessa perigosa
busca pela beleza. Um passeio
na noite por ruas e avenida da
capital comprova o problema,
que já causou desfecho trágico.
Hoje, a Divisão de Crimes Con-
tra a Vida (DCCV) inicia as inves-
tigações da morte da dançarina
Ingrid Barbosa, de 21 anos, na
madrugada da última quarta-
feira. Na necropsia do corpo fo-
ram detectados oríficios nas ná-
degas e um líquido semelhante
ao óleo de silicone, sugerindo
aplicação do produto.
Ingrid morreu no Hospital
Felício Rocho, no Barro Preto,
região Centro-Sul da capital, em
conseqüência de uma infecção
generalizada. Colegas da dança-
rina disseram que ela realizou
uma aplicação de silicone nas
nádegas com um travesti conhe-
cido como Porcina, que seria
presidente da Associação dos
Travestis e Transexuais de Mi-
nas (Astrave). Entre os travestis
que fazem ponto nas diversas
regiões de Belo Horizonte, vá-
rios afirmam que Porcina é uma
experiente “bombadeira”, deno-
minação daqueles que aplicam o
silicone.
Porcina não foi encontrado
para falar das acusações em
dois telefones pessoais e um da
Astrave, cujo prédio, na rua Rio
Grande do Sul, no Centro da ca-
pital, é o mesmo onde o travesti
mora. Um travesti que pediu pa-
Líquido é utilizado
também para matar
O travesti Patrícia, de 25 anos,
disse que fez aplicação nos seios
em Aracaju (SE). Segundo ele, na
primeira aplicação, o líquido des-
ceu para barriga e, mesmo dre-
nando, uma parte se acumulou
no local. Além das deformações,
Patrícia conta que viu muitos co-
legas morrerem ao terem veias
atingidas durante aplicação. “Al-
gumas bombadeiras aplicam er-
rado por motivos fúteis, como
‘eliminar concorrência’. É o que
chamamos de máfia, e o único
jeito de escapar é procurar al-
guém de confiança”.
Conforme o cirurgião Carlos
Leão, ex-presidente da Socieda-
EULER JUNIOR
ra não ser identificado, disse que
iria fazer aplicação no próximo
sábado. Ele cedeu o telefone de
outro que atende por Loraine,
que por vez foi indicada por um
taxista chamado Ivan.
Por telefone, Loraine negou
que faz aplicação e sugeriu que
procurasse Porcina, presidente
da Astrave. “Acho melhor você
ir num cirurgião; eu sei que
quem fazia esse trabalho era a
Porcina, mas com a morte da-
quela dançarina, ela está desa-
parecida”, explicou o travesti,
que ficou de tentar o telefone de
um outro que atende por Fran-
cesca.
Na rua Jaguarão, um dos re-
dutos da prostituição feminina e
masculina, um travesti desmitifi-
ca a aplicação de silicone. “Não
precisa ir longe para ficar bom-
bada; aqui mesmo, nessa rua,
tem uma casa onde acontecem
os encontros, e podem lhe dar
uma relação de bombadeiras
que cobram de R$ 50 a R$ 200
por uma aplicação. Quem não
quer um corpinho a base de
hormônios, tem que recorrer ao
silicone. E isso é a coisa normal
para nós bonecas.”
Kátia, de 19 anos, recém-che-
gado do Espírito Santo, diz que
optou pela aplicação de silicone
industrial há sete mêses. “Pa-
guei R$ 500 para a bombadeira
para fazer peito, quadril e bum-
bum. Ainda comprei o litro do
silicone por R$ 20, além de
anestésico, seringa veterinária e
cola superbond para tampar o
orifício aberto pela agulha.”
Conforme Kátia, para moldar os
seios, foram necessários 15 dias
dormindo sentada e com um ca-
no entre as mamas para o silico-
ne não se espalhar.
de Brasileira de Cirurgia Plásti-
ca e chefe da residência médica
do Hospital de Pronto-Socorro
de Belo Horizonte, um projeto
que tramita no Senado regula-
mentando o uso do silicone in-
dustrial atende aos anseios da
classe médica. “Em se tratando
de cirurgia plástica, o uso de sili-
cone líquido foi abolido. O que
temos são próteses de silicone
em gel, que não se espalham pe-
la corrente sanguínea. Mesmo
quando se utilizava o produto lí-
quido, era um silicone medici-
nal, esterilizado.”
As mortes devido à aplicação
do silicone industrial podem ser
em maior número, já que muitas
acontecem a longo prazo e não
estariam sendo relacionadas ao
fato. O cirurgião Carlos Eduardo
Leão, afirma que, no decorrer
dos anos, o produto se espalha
pelo organismo e provoca silico-
nomas, que são tumores, que le-
vam à morte. A curto prazo, o ci-
rurgião aponta que o silicone in-
dustrial é responsável por muti-
lações.