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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Reconciliacao e Penitencia

"Podemos Confiar no
Novo Testamento?"

Por que um Católico nao pode


ser Macón?

Controle da Natalidade:
Com que Meios?

Psicoterapia e Sentido da Vida"

"Suicidio: Modo de Usar"

"Quando as Coisas Ruins Acontecem

ás Pessoas Boas"

JULHO-AGOSTO - 1985
PERGUNTE E RESPONDEREMOS Julho • Agosto - 1985
Publicaste bimestral N9 281

Diretor-Responsável: SUMARIO
D. Estéváo Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico Exortacao Apostólica P6s-sinodal:
Diretor-Administrador
RECONCILIACÁO E PENITENCIA. . .270
D. Hildebrando P. Martins OSB
Um livro precioso:

"PODEMOS CONFIAR NO NOVO.TESTA-


AdmInistra9So e dislribuicáo:
MENTO?" Jonh A.T. Robinson ......284
Edicóes Lumen Christi Aínda a Maconaria:
Dom Gerardo, 40 - 59 andar. S/501 POR QUE UM CATÓLICO NAO PODE SER
Tel.: (021) 291-7122 MACOM? 300
Caixa postal 2666 Médicos falam:
20001 - Rio de Janeiro - RJ CONTROLE DA NATALIDADE: COM
QUEMEIOS? 308
Um clarao de luz:

Para pagamento da assinatura "PSICOTERAPIA E SENTIDO DA VIDA"

de 1985 queira depositar a im por Viktor Frankl 329


Um livro revolucionario:
portancia no Banco do Brasil
"SUICIDIO: MODO DE USAR" por Cl.
para crédito na Conta Corrente
Guillon e Y. Le Bonniec 341
n° 0031.304-1 em nome do Mos-
Um livro sobre a dor:
teiro de Sao Bertto do Rio de
"QUANDO AS COISAS RUINS ACONTE-
Janeiro, pagável na Agencia da
CEM AS PESSOAS BOAS" por Harold
Praca Mauá (n? 0435) ou VALE Kushner 347
POSTAL na Agencia Central do Livros em Estante: 354
Rio de Janeiro.

NO PRÓXIMO NÚMERO
RENOVÉ QUANTO ANTES
282 - Setembro-Outubro - 1985
A SUA ASSINATURA
"Aos jovens e ás jovens do mundo" (Joío Paulo
II). - A Renovarlo Carismática. - A Igreja proibiu
a leitura da Biblia? — O Direito ao Foro íntimo. -
COMUNIQUE-NOS QUALQUER "O Estado do Vaticano". — "O que é Religiao"
MUDANCA DE ENDERECO (Rubens Alvesl. — "Vida Pastoral: María, Máe de
Jesús".-

Composlc&o e ImpressSo:
"Marques Saraiva"
Santos Rodrigues, 240
Rio de Janeiro Com aprovacáo eclesiástica
DISCUTE-SE A FÉ...
Os assuntos concernentes a fé estáo na ordem do dia...
Mas que é propiciamente a fé?
— É a resposta do homem a Deus que lhe manifesta o
misterio de sua vida e o seu plano de salvagáo. É um diálogo,
no qual Deus oferece ao homem o acesso ao que Ele tem de
mais íntimo, e abre o coragáo da criatura para que acolha a
Palavra e os designios do próprio Deus.
No centro desse diálogo está Jesús Cristo. É a palavra
plena, encarnada, enviada pelo Pai, que nos leva consigo cié
volta ao Pai. Recebemos o Espirito, que nos faz fühos e nos
impele a clamar com o Filho: «Aba, Pai!».
A pessoa de Jesús Cristo é inseparável do seu Corpo pro
longado que é a Igreja (Cl 1,24; iCor 12,12-27),... Igreja
única, por Ele fundada e entregue a Pedro. Por isto nao poue
haver adesao a Cristo e á Paiavra do Pai se nao na Igreja.
Esta, vivificada pelo Espirito Santo, é o sacramento no qual
se torna possivei e fecundo o nosso encontró com o Cristo e
o Pai. É na Igreja que, pelo Batismo, renascemos para a vida
eterna.
Estas reflexóes ajudam-nos a compreender as atitudes da
Igreja no tocante á preservagáo da fé. Esta nao é urna men-
sagem de filosofía ou de ciencias humanas... É a Palavra da
Vida comunicada misericordiosamente por Deus aos homens
para que tenham vida em abundancia (cf. Jo 10,10); foi con
fiada á Igreja como Máe e Mestra. A Igreja nao é senhora
dessa Palavra, mas responsável diante do Pai e de Jesús Cristo
pela fiel transmissáo da mesma (cf. Mt 28,18-20). Dai o papel
ingrato, mas necessário, que a Igreja cumpre, com abnegagáo,
em prol da incolumidade das verdades da fé. Tal tarefa é um
servico prestado aos homens; estes sao espontáneamente leva
dos a identificar Palavra de Deus e palavra do homem, «Igreja,
Corpo de Cristo» e «sociedade de pessoas retas, que valem
quanto valem seus membros». Se a Igreja se furtasse covarde-
mente á sua missáo transcendental para agradar aos homens,
trairia o Cristo (cf. Gl 1,10) e os próprios homens, talvez sob os
aplausos de quem nao entende do assunto. A Igreja, porém,
prefere enfrentar a contestagáo a deixar de ser fiel; é o Espi
rito que a guia através dos escolhos desta caminhada.
O fiel católico compreende este designio de Cristo a res-
peito da sua Igreja. E, ao dizer o seu Sim ao Senhor, diz um
Sim filial á Igreja, pois sabe que «nao pode ter Deus por Pai
no céu quem nao tem a Igreja por Máe na térra» (S. Cipriano,
Da unidade da Igreja, c. 4).
E.B.
• PERCUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XXVI — N' 281 — Julho-agosto de 1985

Exortacáo Apostólica Pós-sinodal:

"Reconciliado e Penitencia"
Em slntese: A Exortacáo Apostólica "Reconcilia;3o e Penitencia"
apresenta a doutrina da Igreja sobre o assunto reestuoaoa no Sinoao dos
Blspo de 1983. Verifica a perda do sentido do pecado em nossos días,
em conseqüéncla da perda do sentido de Deus. Chama a atencSo para
a triste realidade do pecado, que, em última análise, é a causa das divisdes
e dilaceracóes de que sofre a humanidade. E aprésenla a missáo reconcilia
dora da Igreja, missáo que se exerce através do diálogo, da catequese e dos
sacramentos, especialmente o sacramento da Penitencia. Este é considerado
com detida atengáo, principalmente por causa de equívocos que hoje em
dia obnubilam a doutrina da Igreja relativa á Penitencia; o Documento desee
a ponderacóes muito práticas e concretas, que o tornam precioso para a
orlentacáo dos fiéis em geral (clérigos e leigos).

Com a data de 2/12/84, o S. Padre Joáo Paulo II publi-


cou a Exortagáo Apostólica Pós-sinodal intitulada «Reconci-
liagáo e Penitencia». Neste documento o Sumo Pontífice, na
base dos estudos do Sínodo Mundial dos Bispos de 1983, e das
proposigóes daí decorrentes, formula de maneira abalizada a
doutrina católica: «O documento... pretende ser a resposta
que se impóe a tudo aquilo que o Sínodo me pediu. Entre
tanto, é ele também... obra do mesmo Sínodo» (n» 4).

A Exortagáo Apostólica consta de Introdugáo e tres partes.

A Introdugáo expóe a origem e o propósito do documento:


o mundo dilacerado anseia profundamente por reconciliagáo
— reconciliagáo dos homens com Deus e entre si; esta recon
ciliagáo só será viavel e duradoura se for baseada na peniten
cia e na conversao dos coragóes.

— 270 —
«RECONCILIACÁO E PENITENCIA»

A primeira parte aprésenla «Conversáo e reconciliagáo


como tarefa e compromisso da Igreja». Desenvolve a pará
bola do filho pródigo (Le 15,11-32), onde duas figuras apare-
cem em relevo: o filho que se afasta do pai (Deus), e o filho
que se aparta do irmáo; considera também a figura do Sal
vador, que confiou á Igreja a missáo de reconciliar.

A segunda parte tem por titulo «O amor maior do que o


pecado»: detém-se sobre o Misterio do Pecado (com observa-
góes de ordem pastoral muito precisas), ao qual se contrapóe
o Misterio da Piedade, que é o próprio Cristo (cf. 2Ts 2,7;
lTm 3,15).

A terceira parte propóe «A Pastoral da Penitencia e da


Reconciliagáo». Indica os diversos meios que promovem urna
e putra: o diálogo, a catequese e os sacramentos, sendo que
o sacramento da Reconciliagáo merece atenta consideracáo,
voltada para a prática pastoral.

O documento é rico em proposigóes doutrinárias e normas


de aplicagáo concreta. Ñas páginas subseqüentes, apresenta-
remos com énfase especial os tópicos que interessam direta-
mente á vivencia crista e á experiencia pastoral.

1. O Misterio do Pecado (n.os 14-18)

A Biblia nos apresenta o pecado em dois textos típicos,


colocados logo no inicio do Livro Sagrado: Gn 3,1-24 e Gn
11,1-9. Trata-se do pecado dos primeiros país e do da torre
de Babel. Estes casos típicos apresentam os dois momentos
constitutivos de todo pecado:
— ruptura com Deus, que pode chegar a ser negagáo
explícita no fenómeno chamado «ateísmo»;
— ruptura com os irmáos, desagregagáo da familia hu
mana; após o primeiro pecado, o homem e a mulher se acusam
mutuamente (cf. Gn 3,12) e o irmáo, hostil ao irmáo, acaba
por tirar-lhe a vida (cf. Gn 4,8). Após o pecado de Babel,
a divisáo chega ao extremo na sua forma social.

«O misterio do pecado é formado por esta dupla ferida, que o


pecador abre no seu próprio seio e na relacao com o próximo. Por
isto pode falar-se de pecado pessoal e social; todo pecado, sob vm
aspecto, é social, enquanto e porque tem também consecuencias
sociais» (n* 15).

— 271 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

1.1. Pecado pessoal (n' 16)

O pecado, no sentido próprio, é sempre um ato da pessoa


individualmente considerada. Esta pode ser condicionada por
fatores externos como também por tendencias e hábitos ine-
rentes á sua individualidade; tais elementos atenuam, em grau
maior ou menor, a liberdade e, conseqüentemente, a responsa-
bilidade e a culpabilidade. Nao se julgue, porém, que o ser
humano é táo condicionado que carega de livre arbitrio; resta
sempre a cada individuo sadio a capacidade de opcáo, a ser
mais e mais afirmada em meio as pressóes de cada dia. Nao
se pode ignorar esta verdade atribuindo os pecados as estrutu-
ras e aos sistemas, como se nao fossem atos de pessoas. «Em
todo homem nada há de táo pessoal e intransferível como o
mérito da virtude e a responsabilidade da culpa» (n« 16).

Como ato pessoal, o pecado tem as primeiras e mais im


portantes conseqüéncias no próprio pecador, pois o afasta de
Deus, lhe enfraquece a vontade e obscurece a inteligencia.

Pergunta-se entáo: que entender por «pecado social», de


que falaram os padres sinodais?

1.2. Pecado social (n? 16)

1. A expressáo «pecado social» pode ter tres acepc.5es.

a) «Pecado social» será o fato de que todo pecado indi


vidual tem repercussao sobre os outros em virtude da miste
riosa solidariedade que une os homens entre si. Em linguagem
teológica, esta solidariedade pode ser chamada «Comunháo dos
Santos», gracas a qual «toda alma que se eleva, eleva o mundo
inteiro»; a esta lei da elevacáo corresponde, infelizmente, a lei
da descida, de tal modo que se pode falar de urna comunháo
no pecado, em virtude da qual urna alma que se rebaixa pelo
pecado arrasta consigo a Igreja e, de certa maneira, o mundo
inteiro. Na verdade, nenhum pecado, por mais íntimo e secreto
que seja, diz respeito apenas á pessoa que o comete.
b) Por «pecado social» pode-se entender também aquele
que constituí, por seu próprio objeto, urna agressáo direta ao
próximo. É social, portanto, o pecado cometido contra o amor
ao irmáo ou contra a justica, seja ñas relac5es de pessoa a
pessoa, seja ñas da pessoa com a comunidade, seja aínda ñas

— 272 —
«RECONCILIACAO E PENITENCIA»

da comunidade com a pessoa. Ejemplificando, podemos arro


lar entre os pecados sociais toda violagáo dos direitos da pes
soa humana, a comegar pelo direito á vida, inclusive a do nas-
cituro; toda sufocacáo da liberdade alheia, especialmente a de
crer em Deus; toda omissáo da parte dos dirigentes políticos,
económicos e sindicáis que, embora podendo, nao se empenhem
no melhoramento da sociedade, como também da parte dos
trabalhadores que faltem aos seus deveres de presenca e cola-
boragáo para que as empresas possam servir a eles próprios,
as suas familias e á sociedade.

c) «Pecado social» pode ser também o que afeta as rela-


g5es entre as varias comunidades humanas; estas nem sempre
estáo em sintonía com o designio de Deus, que quer no mundo
justica, liberdade e paz entre os individuos, os grupos e os
povos. Assim a luta de classes é um mal social; da mesma
forma, a luta obstinada de blocos de nagóes ou de urna nagáo
contra outra(s). Em tais casos, é certo que se torna difícil saber
quais as pessoas a quem toca a responsabilidade de tais males
e, por conseguinte, o pecado. Tais lutas e as situagóes daí
resultantes podem agigantar-se como fatos sociais a ponto de
nao se conseguir discernir as suas causas; tém-se entáo reali
dades «anónimas». Em tais circunstancias, só se pode admitir
pecado social em sentido analógico ou menos próprio.

Em todo caso, falar de pecados sociais, mesmo em sentido


analógico, nao deve induzir-nos a subestimar a responsabili
dade individual das pessoas. Ao contrario, esta expressáo é
sempre urna alerta para que cada um assuma as próprias res
ponsabilidades de trabalho por modificar as situagoes iníquas
e intoleráveis.

2. Dito isto, é preciso observar ainda que nao se deve


diluir a nogáo de pecado pessoal para só admitir culpas e res
ponsabilidades sociais. Segundo esta atitude, que se deriva de
sistemas nao cristáos, todos os pecados seriam imputáveis nao
tanto a urna pessoa quanto a urna coletividade vaga ou anó
nima (a situagáo, o sistema, a sociedade, as estruturas, a ins-
tituigáo, etc.).

Quando a Igreja fala de situagoes de pecado ou de peca


dos sociais, quer dizer que tais males resultam da acumulagáo
de muitos pecados pessoais. «Trata-se dos pecados de quem
gera ou favorece a iniqüidade..., de quem, podendo fazer algo
para evitar... ou pelo menos limitar certos males sociais,

— 273 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

deixa de o fazer por preguiga», por medo ou por conivéncia


temerosa, por cumplicidade disfargada ou por indiferenga; de
quem procura desculpas na pretensa impossibilidade de mudar
o mundo; e, aínda, de quem pretende esquivar-se ao cansago
e ao sacrificio, aduzindo razóes específicas de ordem superior.
As verdadeiras responsabilidades, portante, sao das pessoas»
(n* 16).

Urna situagáo, urna estrutura, urna instituigáo nao é, de


per si, sujeito de atos moráis; só a pessoa o é. Por isto, no
fundo de cada situacáo de pecado se encontram individuos
pecadores. Por conseguinte, caso se mudem as estruturas por
forca da lei ou pela lei da forga, sem transformar as pessoas
responsáveis por tais instituigóes, as mudangas revelam-se ine-
ficazes ou mesmo contraproducentes. A conversáo dos cora-
góes é indispensável para que se tornem mais justas as estru
turas e situagdes.

Outro ponto discutido, sobre o qual o S. Padre profere


abalizada palavra, é o seguinte:

1.2. Pecado mortal e pecado venial (n° 17)

1. A Teología Moral costuma distinguir os pecados em


graves ou moríais e leves ou veníais. Verdade é que se torna
por vezes difícil estabelecer nítidas fronteiras entre aqueles e
estes.

Tal distincáo é baseada tanto na S. Escritura como na


Tradigáo da Igreja.

Com efeito; já no Antigo Testamento os pecados de impu


reza (cf. Lv 18,26-30), idolatría (cf. Lv 19,4), culto de falsos
deuses (Le 20,1-7)... faziam que o pecador fosse «eliminado
do s'eu povo» ou mesmo condenado á morte (cf. Ex 21,17;
Nm 15,31). O livro dos Números distingue também entre fal
tas cometidas por erro ou ignorancia e faltas deliberadas (cf.
Nm 15,22-31; Lv 4,2; 5,2s). No Novo Testamento sao apon-
tados pecados que merecem especial condenagáo, como homi
cidio, adulterio, prostituigáo, roubo, falso testemunho, injurias
(cf. Mt 15,19), tonga serie de depravagóes encabegadas pela
idolatría e as perversóes sexuais (cf. Rm 1,18-32), os faltas
grosseiras de temperanga (cf. Rm 13,13). A gradacao dos
pecados aparece em Mt 5,22-24.

— 274 —
«RECONCILIACAO E PENITENCIA»

Em conseqüéncia, S. Agostinho (f 430) falavra dos letalia


ou mortífera crimina em oposigáo a venialia, levia ou quoti-
diaiia. S. Tomás de Aquino (f 1274) retomou esta distincáo
e a formulou de modo definitivo para os seguintes sáculos.
O Concilio de Trento, por sua vez, confirmou a Tradicáo e lem-
brou que, para haver pecado grave ou mortal, se requer o
preenchimento de tres condicóes: 1) haja materia grave;
2)... conhecimento de causa e 3) vontade deliberada. Além
disto, explicitou que existem pecados cuja materia é intrínse
camente grave ou mortal ou, ainda, atos que sao sempre gra
vemente ilícitos por motivo do seu objeto; caso sejam come
tidos com advertencia e liberdade plenas, sao sempre culpa
grave.

Esta doutrina, táo fundamentada ñas Escrituras e na Tra


dicáo, é comprovada pela experiencia: o homem percebe que,
na sua caminhada para Deus, pode parar ou distrair-se, sem
todavía abandonar o rumo de Deus; neste caso há pecado venial
(o qual, por nao ser mortal, nao deve ser tido como «algo de
pouca monta» ou negligenciável). A criatura também percebe
que, com um ato consciente e livre da sua vontade, pode inver-
ter a marcha, caminhando em sentido oposto a vontade de
Deus, o que quer dizer:... afastando-se da vida e escolhendo
a morte; daí o pecado mortal. Este implica sempre aversáo
de Deus e conversáo para a criatura — atitudes estas que
podem ocorrer ou de modo direto e explícito, como nos pecados
de apostasia, ateísmo e idolatría, ou de modo indireto e implí
cito como em toda transgressáo grave dos mandamentos de
Deus (adulterio, latrocinio, homicidio, perversáo sexual...).

Quanto ao pecado para a morte, de que fala Sao Joáo,


em oposicáo ao pecado que nao leva á morte (Uo 5,16-21),
trata-se da culpa que leva a perda da verdadeira vida (que é
eterna); no contexto de Uo 5, parece significar a negacáo do
Filho ou o culto de falsas Divindades; é a recusa de Deus que
se exerce na apostasia e na idolatría.

Em outra página do Novo Testamento (Mt 12,31s), Jesús


fala de «blasfemia contra o Espirito Santo» como pecado irre-
missível, pois é a recusa da própria remissáo ou do perdáo; é
a obstinacáo final na impeniténcia. Só nao encontra perdáo
porque o pecador nao o quer, e nao porque falte a Deus a
misericordia para o conceder. Este, na yerdade, está sempre
pronto para receber o pecador arrependido.

— 275 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

2. Ora durante o Sínodo de 1983 foi proposta nova ma-


neira de distinguir os pecados: haveria as faltas leves, as gra
ves e as mortais. As leves seriam as clássicas faltas veníais;
as graves seriam as que poriam em serio perigo a vida da
graga, as mortais extinguiriam por completo a vida sobrena
tural. Estas últimas estariam associadas á mudanca de opcáo
fundamental; o que quer dizer que so haveria pecado mortal
quando o cristáo trocasse explícitamente a sua opgáo básica,
escolhendo consciente e voluntariamente, em lugar de Deus,
um bem criado como regente de toda a sua conduta. Assim
entendido, o pecado mortal seria algo de relativamente raro,
pois a maioria das pessoas cristas que matam ou roubam ou
adulteram, nao tenciona deixar de ser crista (mas talvez até
pecam a Deus que as ajude a ser bem sucedidas no seu ato
criminoso 0-

A propósito observa o S. Padre Joáo Paulo II:

«A tripartida distincáo dos pecados poderia por em relevo o fato


de que entre os pecados graves existe urna gradacao. Mas permanece
sempre verdadeiro que a distincao essencial e decisiva é a que existe
entre pecados .que destroem a caridade e pecados que nao matam
a vida sobrenatural; entre a vida e a morte nao há lugar para meio-
-termo» (n« 17).

Mais aínda: nao se pode reduzir o pecado mortal a um


ato de opgáo fundamental explícita contra Deus. O pecado
mortal já existe, quando o homem, sabendo e querendo, esco-
lhe alguma coisa gravemente desordenada, pois em tal esco-
lha já estáo incluidos o desprezo da vontade divina e a rejei-
Cáo do amor de Deus; nao é, pois, necessário que o homem, ao
fazer tal opcáo, diga expressamente Nao a Deus. Por conse-
guinte, a opcáo fundamental pode ser radicalmente modificada
por atos particulares (como o adulterio, o roubo, o mortici
nio...). — Alias, estas ponderagoes já haviam sido propostas
na Declaracáo «Persona Humana» da S. Congregagáo para a
Doutrina da Fé sobre questóes de Ética aos 29/12/75.
Na base destas consideragóes, a Exortacáo Apostólica
deixa de lado a nova nomenclatura e reafirma a clássica,
fazendo aínda notar o seguinte:

«Embora merecam apreco todas as tentativas sinceras e prudentes


de esclarecer o misterio psicológico « teológico do pecado, a Igreja
tem, no entonto, o dever de recordar a todos os estudiosos destvr

— 276 —
«RECONCILIACAO E PENITENCIA»

materia a necessidade, por um lado, de serem fiéis á Palavra de Deus,


que nos elucida também sobre o pecado e, por outro, o risco de
atenuar, ainda mais, no mundo contemporáneo, o sentido do pecado»
tn* 17).

Assim se coloca lógicamente novo aspecto do tema:

1.3. A perda do sentido do pecado (n* 18)

O contato com o Evangelho inspirou aos cristáos, no decor-


rer dos séculos, urna fina sensibilidade para os fermentos de
morte que estáo contidos no pecado e para perceber os mil
matizes com que ele se apresenta. É a isto que se costuma
chamar sentido do pecado.

Este tem a sua raiz na consciéncia moral do homem. Está


ligado ao sentido de Deus, pois só o percebe quem percebe a
santidade de Deus. Ora, como nao se pode apagar por com
pleto o sentido de Deus, também nunca se pode dissipar intei-
ramente o sentido do pecado.

Todavía em nossos dias parecem gravemente obscurecidas


a consciéncia moral dos homens e a sua capacidade de reco-
nhecer o pecado, pois o próprio sentido de Deus se acha empa
lidecido. Foi o que levou o Papa Pió XII a dizer que «o pecado
do século é a perda do sentido do pecado».

Pergunta-se: quais as causas de tal atenuagáo?

— Sao praticamente as mesmas que motivam a obnubi


lado do sentido de Deus, a saber:

1) O secularismo, isto é, o humanismo que abstrai de


Deus, interessado apenas em produzir e consumir, sem se
preocupar com o perigo de «perder a própria alma». Nao pode
deixar de minar o sentido do pecado. Acontece, porém, que o
mundo construido pelo homem sem Deus acaba por voltar-se
contra o próprio homem, pois Deus é a origem e o fim supremo,
que desvenda ao homem o misterio do homem. Os meios de
comunicagáo de massa e mesmo as instituicoes civis em nos-
sos dias apresentam modelos de vida que prescindem comple
tamente de Deus; exibem padróes éticos que tendem a se
impor, mesmo a revelia das consciéncias individuáis (duas ou
mais unióes conjugáis simultáneas, aborto, venalidade, nepo
tismo, etc.).

— 277 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

2) Certas escolas de ciencias humanas contribuem para


o esvaecimento do sentido do pecado. Com efeito, há cor-
rentes de psicología que pretendem eliminar a nogáo de culpa
e preconizam liberdade indiscriminada para o comportamento
do homem. Há também teorías de sociología que descarregam
sobre a sociedade todas as culpas, inocentando sempre o indi
viduo. Mais: urna certa antropología cultural tanto enfatiza os
condicionamentos do ambiente (alias, inegáveis) que já nao
reconhece ao homem a responsabilidade de seus atoa e a pos-
sibilidade de seus atos e a possibilidade de pecar.

3) O relativismo historicista também desgasta o sentido


do pecado, pois afirma que as normas moráis sao mutáveis de
acordó com as diversas épocas da historia, de modo que todo
principio ético tem valor meramente relativo; o que seria con-
denável outrora, poderia hoje ser perfeitamente aceito, e
vice-versa.

4) Também certa forma de apresentagáo do pecado deve


ser mencionada: há quem o identifique com um doentio senti-
mento de culpa ou com a transgressáo de preceitos legáis, de
foro externo. Tais caricaturas do pecado só podem provocar a
repulsa do conceito mesmo de pecado. Infelizmente podem
oeorrer em certas formas de ensino e educacio como também
nos programas dos meios de comunicagáo de massa (televisáo,
revistas, cinema, etc.).

5) Até mesmo dentro da Igreja algumas tendencias favo-


recem o declínio do sentido do pecado. Assim, por exemplo,
em réplica ao rigorismo do passado, muitos há que nao que-
rem reconhecer culpa em comportamento algum; a pregacáo
demasiado enfática sobre a condenagáo eterna se substituí a
de um amor de Deus que diríamos «bonacháo»; á severidade
das corregóes outrora ministradas se contrapee um pretenso
respeito pelas consciéncias, que se omite e nao diz a verdade
quando ela deveria ser proferida. Na teología, na catequese,
na pregacáo e na diregáo espiritual, sao tantas as opinióes e
tirientagóes propostas de maneira confusa ou leviana que os
fiéis acabam por náb crer mais que exista o pecado. Mencio-
iiém-se> aínda o individualismo, que reduz o pecado a gestos
meramente pessoais (que nao afetam a comunidade), e o cole-
tivismtí; )quét!ao contrario, exime de culpa os individuos e acusa
{DcpoletiVidkSe.'irapessoal. — Além do mais, o ritualismo roti-
neiro tira ao sacramento o seu significado pleno.

— 278 —
«RECONCILIACAO E PENITENCIA» 11

£ necessário, pois, restaurar nos homens o reto sentido


do pecado mediante urna boa catequese, a fidelidade ao magis
terio da Igreja e a freqüentagáo cada vez mais consciente do
sacramento da Penitencia.

Urna vez afirmada a realidade do pecado no mundo, o


documento apresenta, na sua terceira Parte, os meios de que
a Igreja dispóe para promover a penitencia e a reconciliacáo.
Passamos a realgar alguns tragos importantes desta parte
final da Exortagáo.

2. Pastoral da Penitencia

O ministerio ou servigo que leva á prática concreta da


penitencia e da reconciliagáo, é chamado Pastoral da Peniten
cia. Esta conta eom diversos recursos, entre os quais a cate
quese e o sacramento da Penitencia.

2.1. Catequese (n? 26)

A catequese há de se tornar instrumento de eficaz peni


tencia, se ela nao se desligar do conteúdo doutrinal ensinado
pela Igreja; a agáo pastoral nao se opóe ao cultivo da doutrina
sagrada.

A catequese há de mostrar, entre outras coisas, o valor da


prática da penitencia; esta implica restabelecer o equilibrio e a
harmonía violados pelo pecado mesmo á custa de sacrificios.
Tal panorama encentra obstáculos na mentalidade incutida por
correntes de pensamento contemporáneos: o homem de hoje
parece encontrar dificuldades em reconhecer os seus próprios
erros e em retificar a sua marcha; parece recusar instintiva
mente todo sacrificio necessário para se afastar do pecado.
Ora a disciplina penitencial da Igreja, embora muito mitigada,
nao pode ser abandonada sem grave prejuizo para os cristáos
e para o mundo. «Nao é raro que alguns nao cristáos fiquem
surpreendidos com o^fraco testemunho de verdadeira peniten
cia da parte dos discípulos de Cristo» (n» 26). A catequese
sobre a penitencia deverá por em relevo especial os seguintes
pontos:

— o sentido do pecado;
— as tentagoes como ocasióes de crescer na fidelidade e
na coeréncia mediante humildade e vigilancia;

— 279 —
12 «tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

— o jejum como sinal de conversáo e de uniáo a Cristo


crucificado;

— a esmola, qual meio de tornar efetiva a caridade;

— o nexo existente entre a reconciliagáo dos homens entre


si e a reconciliagáo dos mesmos com Deus;

— as quatro reconciliacóes que consertam as quatro fra-


turas fundamentáis: reconciliacáo do homem com Deus, con
sigo mesmo, com os irmáos e com o mundo criado.

A catequese dedicará também especial atengáo aos cha-


dos «novíssimos» do homem: morte, juízo (particular e uni
versal), inferno e paraíso (nao raro precedido pelo purgato
rio). Somente á luz destas realidades definitivas é que se pode
ter a medida exata do pecado e o estímulo adequado para a
penitencia.

Eficaz instrumento de catequese tém sido as missóes popu


lares, plenamente válidas em nossos dias desde que adaptadas
as peculiares exigencias dos tempos atuais.

É digna de mengáo outrossim a doutrina social da Igreja,


que, á luz da Palavra de Deus, propóe elementos aptos á solu-
gáo pacífica dos conflitos sociais e a reconciliagáo universal.

2.2. O Sacramento da Reconcilíaselo: doutrina (n» 31)

Entre outros tópicos, o documento professa algumas con-


viecóes fundamentáis, que perfazem urna sintese da doutrina
da Igreja.

1) Para um cristáo, o sacramento da Penitencia é a via


ordinaria para obter o perdáo dos pecados graves cometidos
depois do Batismo. Está claro que o Senhor Deus pode reali
zar a salvagáo fora e ácima dos sacramentos; mas Ele quis
servir-se dos sacramentos como meio de santificacáo dos ho
mens (cf. Jo 20,22). Por isso seria presungoso pretender rece-
ber o perdáo pondo de lado o sacramento instituido por Cristo.
Alias, nao só a quem está em pecado grave, mas também aos
fiéis que só tenham pecados leves, a Igreja recomenda o recurso
periódico e regular ao sacramento da Penitencia, pois é sempre
um meio útil para a santificacáo de todos.

— 280 —
• «RECONCILIACAO E PENITENCIA» 13

2) O sacramento da Penitencia tem caráter judiciaL To-


davia supóe um tribunal, que é mais de misericordia do que
de rigorosa justiga. Além disto, tal sacramento tem tambem
seu caráter terapéutico ou medicinal, pois o próprio Cristo se
apresenta como médico (Le 5,31s; cf. Is 53,4s). Para que a
medicina espiritual se torne eficaz, requer-se, da parte do peni
tente, acusagáo sincera e completa dos pecados.

3) O sacramento da Penitencia procede por etapas, a


saber:

— exame de consciéncúa, que nada tem de ansiosa intros-


peceáo psicológica, mas é um confronto sincero da conduta do
individuo com as leis evangélicas propostas pela Igreja;

— contricáo, que é decidido repudio do pecado com o pro


pósito de nao o tomar a cometer;
— acusacáo dos pecados ao ministro habilitado; é o sinal
do encontró do pecador com a Igreja e com o próprio Deus;
é o gesto do filho pródigo que volta ao pai e é por ele acolhido
com o ósculo da paz. Compreende-se que a acusacáo deva ser
individual e nao coletiva, pois o pecado é um fato profunda
mente pessoal (que certamente lesa também a comunidade).
Esta confissáo deve declarar todos os pecados graves com as
suas circunstancias próprias e o número de suas ocorréncias;
— absolvigao: é o perdáo que o Pai, por meio do ministro
(também ele pecador), concede ao penitente;
— satisfagáo: consiste em obras meritorias, como oracóes
e mortificacóes, que significam o compromisso, do cristáo, de
comecar urna vida nova e de procurar apagar todas as raizes
a as conseqüéncias do pecado em sua alma. Em vista disto é
para desejar que os atos de satisfacáo sacramental nao se redu-
zam a fórmulas, mas impliquem obras de culto, de caridade,
de misericordia e de reparacáo.

4) A preparacáo e os predicados do ministro do sacra


mento sao de alta importancia para o frutuoso ministerio da
reconciliagáo; é necessário, alias, que o próprio sacerdote re
corra periódicamente ao sacramento da Penitencia para revi-
gorar-se ele mesmo na fonte da graca.

Termina o S. Padre estas consideragóes com um apelo:

«Quero dirigir um instante apelo a todos os sacerdotes do


mundo. . . para que favorecam com todas as veras a freqüéncia dos
fiéis a este sacramento, ponham em prática todos os meios possíveis

— 281 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

e convenientes... para fazer chegar ao maior número de irmfios


nossos a graca que nos foi dada mediante a penitencia para a recon-
ciliacao de cada alma e de todo o mundo com Deus em Cristo» (n< 31).

2.3. O sacramento da RecondliacSo: celébraselo (n,os 32-33)

Tres sao as maneiras de se celebrar o sacramento da Peni


tencia:

1) Reconciliacáo individual dos penitentes, único modo


normal e ordinario;

2) Reconcil&acáo de varios penitentes com preparagáo


comunitaria e confissáo e absolvigáo individuáis; pode ser equi
parada á primeira forma, pois inclui a acusagáo auricular e a
absolvigáo pessoal;

3) Reconciliagáo de varios penitentes com a confissáo e


a absolvicáo gerais. Reveste-se de caráter excepcional, pois
supóe multidáo de penitentes, insuficiente número de confes-
sores e o perigo de que, se nao forem atendidos todos no mesmo
día, tenham de ficar muito tempo sem os sacramentos. Com
pete táo somente ao Bispo verificar se tais circunstancias ocor-
rem em sua diocese, e estipular os días em que, preenchidas as
condigóes, se poderá conceder a absolvicáo coletiva. Esta supóe
necesariamente, da parte dos fiéis, o propósito de se confes-
sarem na primeira oportunidade; nao lhes é lícito receber nova
absolvigáo sem terem previamente confessado os pecados ainda
nao acusados. Os fiéis deveem ser instruidos pelos ministros a
respeito desta norma, antes da absolvigáo. O S. Padre enfa-
tiza que a consciéncia dos pastores fica gravemente onerada
por estas disposigóes, que o Sinodo e o Direito Canónico rea-
firmaram explicitamente:

«Ao recordar assim a doutrina « a leí da Igreja, é minha intencáo


inculcar em todos o vivo sentido de responsabilidade que sempre nos
deve guiar ao tratar das coisas sagradas; estas nao sao propriedade
nossa, como é o caso dos sacramentos; ou enlao tém direito a nao
serení deixadas na incerteza e na confusao, como sao as consciéncias.
Coisas sagradas — repito — sao uns e outras: os sacramentos e as
consciéncias; e exigem da nossa parte serem servidas com verdade.

Esta é a razáo da leí da Igreja» (n° 33).

— 282 —
i «RECONCILIACAO E PENITENCIA» 15

2.3. Alguns casos mcris delicados (n« 34)

Por último, o documento considera a situagáo daquelas


pessoas que desejam continuar a freqüentar os sacramentos,
mas levam um tipo de vida irregular, especialmente no plano
conjugal. É preciso que haja para com elas compreensáo, que
nao extingue o pavio ainda fumegante; mas também nao é
menos necessário que se observe o principio da verdade e da
coeréncia, pelo qual a Igreja nao aceita chamar bem ao mal e
mal ao bem.

«Baseando-se nestes dois principios complementares, a lgre¡a


nao pode senao convidar os seus filhos, que se encontram nessas
situacoes dolorosos, a aproximarem-se da misericordia divina por outras
vías, mas nao pela via dos sacramentos ... até que tenham podido
alcancar as condicóes requeridas» (n° 34).

Desta maneira é reafirmada a norma clássica segundo a


qual tais pessoas nao podem receber a absolvicáo sacramental
enquanto nao mudarem de vida, nem, conseqüentemente, a Co-
munháo Euoarística (alias, esta jamáis deve ser recebida por
quem esteja em pecado grave; tí> 27). Todavía esses fiéis sao
exortados a participar da S. Missa (sem Comunháo), a reali
zar seus atos de piedade e praticar a oaridade, preparando assim
«o caminho para urna plena reconciliacáo no momento que só
a Providencia conhece» (n« 34).

Assim se encerra o notável Documento do S. Padre Joáo


Paulo II, que merece todo o apreco e a reverencia dos fiéis,
pois dissipa conceptees e atitudes que já nao condizem com a
fé católica, e ajudam o povo de Deus (clero e leigos) a viver
de maneira íntegra e pura a Boa Nova de Jesús Cristo.

— 283 —
Um Itoo precioso:

"Podemos Confiar no Novo Testamento?"


por John A. T. Robinson

Em síntese: John Robinson, bispo anglicano de Woolwich (Inglaterra),


Jé se tornou conhecldo no Brasil por suas obras criticas: "Um Oeus Diferente"
e "A Face Humana de Deus". Publicou mais recentemenle os resultados de
minuciosa pesquisa científica referente aos escritos do Novo Testamento...
resultados que Ihe parecem corroborar plenamente a autenticidade da men-
sagem crista: os livros neotestamentários nos transmitlram falos históricos
assim como o genuino pensamento de Cristo (Evangelhos) e dos Apostólos
(epístolas); a hipótese de que tenham falsificado o fenómeno "Jesús", atrl-
buindo-lhe indevidamente dimensoes divinas, é afastada; com efelto, o fenO-
meno "Cristianismo" exige em suas bases a realizacio de eventos que ultra-
passam as dimensoes dos aconteclmentos históricos comuns: ou Cristo
ressuscltou e o Cristianismo p6de surgir e persistir; ou Cristo nSo ressusct-
tou..., mas em tal caso nem o Cristianismo terla surgido, pois nao se pode
fácilmente admitir que vinte séculos de Cristianismo tenham por base a
mentira, a fraudulencia ou a doenca mental de simples pescadores da
Galiléia.

O livro é de leitura agradável e altamente enriquecedora. Eis por que


val resumido ñas páginas segulntes.

John Robinson é bispo anglicano de Woolwich (Ingla


terra), que se tornou famoso no Brasil por suas obras «Um
Deus Diferente» e «A Face Humana de Deus» (cf. PR 99/1968,
pp. 101; 174/1974, pp. 232). Pertence á corrente secularizante
da teología anglicana, a ponto que o seu livro «Honest to God»
pode ser traduzido para o francés com o titulo «Dieu sans
Dieu» (Deus sem Deus).

Tal autor escreveu também urna obra critica a respeito


do Novo Testamento: «Can we trust the New Testament?»
(Podemos confiar no Novo Testamento?), que se destina ao
público leigo de cultura media. O autor concluí as suas pes
quisas de maneira muito positiva — o que é tanto mais signi
ficativo quanto se sabe que John Robinson defende posigóes

— 284 —
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?» 17

teológicas assaz liberáis. Eis por que, a seguir, apresentare-


mos urna sintese da obra em foco, baseando-nos na respectiva
tradugáo francesa: «Peut-on se fier au Nouveau Testament?» \

1. Os manuscritos do Novo Testamento e a crítica

1. Jesús falou aramaico, ao passo que os escritos do


Novo Testamento conservados até hoje se acham em grego.
Terá havido fidelidade na traducáo do aramaico para o grego?
— Em resposta, observemos que a linguagem grega do Novo
Testamento está cheia de vocábulos e construcóes aramaicas:
o paralelismo semita, o ritmo e a cadencia das frases sao mili
tas vezes perceptíveis; cf. Mt 5,3-12; 6,1-6.16-18; Me 14,36...
O grande estudioso Joachim Jeremías esmerou-se por detec
tar em numerosas passagens do Evangelho ipsissima verba
Ghristi, as próprias palavras de Cristo (cf. Mt 16,16-19; Le
12,35-47; 23,34; o apelativo «Filho do Homem», que só ocorre
nos labios de Jesús e em At 7,56...). Ademáis é de notar
que o grego era a segunda língua da Palestina; vinha após o
aramaico, e era falado até por pessoas de pouca instrugáo na
térra de Jesús; Pilatos, por exemplo, terá interrogado Jesús e
discutido com os judeus em grego. Está claro, porém, que os
evangelistas, ao transmitirem os discursos de Jesús, devem ter
procurado adaptar um ou outro tópico á compreensáo dos gre-
gos gentíos; assim em Le 5,19 o terrago palestinense de Me 2,4
torna-se o telhado de urna casa greco-romana... Em Mt 1,23
a profecía de Is 7,14 é citada de acordó com o texto grego
dos LXX e nao segundo o hebraico. Estas adaptagóes nao afe-
tam o sentido da mensagem de Jesús.

2. O texto autógrafo (de próprio punho) dos evangelis


tas se deteriorou e perdeu. Só temos copias do mesmo. Donde
a pergunta: seráo fiéis e fidedignas?

Observa-se que os antigos eram, muito mais do que nos,


exercitados na arte de copiar; eram meticulosos, chegando a
contar linhas, palavras e letras dos textos que eles tinham que
transcrever. Isto nao quer dizer que nao haja variantes ou
diferengas a respeito do mesmo trecho nos diversos manuscri
tos do Novo Testamento (se nao os houvesse, estaríamos diante
de um milagre). Tais variantes, porém, nao afetam o sentido
da mensagem; eis alguns exemplos:

» TraducBo de Qeorges Passólecq. Ed. Lethlelleux, Parla 1960,


159 x 220 mm, 157 pp.

— 285 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Em Jo 3,25 está dito que surgiu urna discussáo entre os


discípulos de Joáo e um certo judeu ou certos judeus. Talvez
se lesse originariamente, em lugar de «judeu (s)», Jesús ou
os discípulos de Jesús.

Em Jo 19,29 lé-se que ofereceram a Jesús urna esponja


embebida em vinagre, e colocada na ponta de urna vara de
hissopo; ora tal haste era frágil demais para sustentar a
esponja; conjetura-se que se tratava de urna haste de lanca:
hiyfsso, em lugar de hyssopo em grego.

Em Rm 5,1 Sao Paulo diz: «Urna vez justificados... temos


a paz com Deus», texto que alguns manuscritos transmitem
diversamente: «... tenhamos a paz...» — o que é menos con-
dizente com o contexto. A variante se explica pela troca do
o breve por o longo: échomen tornou-se édhoomen.

Para dirimir as dúvidas deixadas ao leitor pelas copias do


Novo Testamento, existem milhares de manuscritos: quera os
confronta entre si, pode explicar o porqué de certas modifica-
góes do texto e pode, com seguranga, chegar á reconstituicáo
da face originaria do texto sagrado. Ademáis alguns desses
manuscritos sao de grande antigüidade; existe, por exemplo,
um fragmento de Jo 19 datada de 120/130 — o que supóe a
distancia de trinta anos apenas ou menos em relagáo ao autó
grafo (tal manuscrito encontra-se em Manchester, Inglaterra,
na John Rylands Library).

Em suma, a transmissáo do texto do Novo Testamento é


garantida por testemunhas de quantidade e qualidade tais que
nao ocorrem no caso de outros textos antigos: as obras de Ci
cero, Tito Lívio, Virgilio, Horacio, Platáo, Tucidides, Xeno-
fonte... nos chegaram através de um ou de poucos manus
critos, cujas deficiencias é impossível corrigir por nao haver
termos adequados para confrontos.
Quanto ás traduc.óes modernas, sao cada vez mais esme
radas, de modo a oferecer ao. leitor um texto vernáculo que
seja o eco fiel dos origináis. Entre todas, distingue-se a cha
mada «Biblia de Jerusalém».

2. A crítica do canteado do texto


Urna vez estabelecida a fidelidade literaria do texto que
até nos chegou, póe-se a questáo: o conteúdo das páginas do
Novo Testamento é fiel aos acontecimentos históricos? Os Evan-

— 286 —
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?» 19

gelhos sao relatos concordes com os feitos e dizeres de Jesús?


— Para responder a estas perguntas, a crítica tem-se aplicado
ao estudo das fontes, das formas e da redacáo do texto sagrado.

2.1. O esludo das fontes

Os tres Evangelhos sinóticos (Mt, Me, Le) apresentam-se


muito próximos entre si, a ponto que os podermos ler de relance,
colocando-os em tres colunas paralelas. Tal fato sugere tres
hipóteses: ou existe entre eles dependencia mutua ou hauriram
das mesmas fontes ou deu-se urna coisa e outra.

A discussáo entre os autores tem sido longa e sutil, a


ponto de nao permitir firmar alguma explicagáo em caráter
definitivo. Muito provável é a sentenga que admite a mutua
dependencia dos sinóticos e a existencia de fontes (entre as
quais a Quclle, Q, coletánea de dizeres de Jesús).

2.2. Crítica das formas

Chama-se «forma literaria» a formulacáo da mensagem


tal como se encontra hoje nos Evangelhos. Tal formulacáo
depende da tradigáo e das circunstancias históricas dentro das
quais a Boa-Nova de Jesús Cristo foi sendo apregoada; sem
dúvida, os interesses das primeiras comunidades cristas influen-
ciaram na maneira como se transmitiu a mensagem de Jesús l.
Isto se entende bem, pois também em nossos días a mensa
gem do Evangelho é pregada segundo fórmulas literarias diver
sas, de acordó com o tipo de auditorio a que se destina: crian-
gas, jovens, operarios, casáis, intelectuais...

O reconhecimento deste fato levou alguns críticos, como


Rudolf Bultmann, ao ceticismo em relagáo ao texto dos Evan
gelhos; estes seriam o eco daquilo que os primeiros cristáos
pensavam e professavam, e nao o eco daquilo que Jesús disse
e fez; tais críticos distinguiram entre o «Jesús da historia»
(o Jesús real, que ficaria impenetrável aos cristáos de hoje)
e o «Jesús da fé» (o Jesús como era concebido pelos cristáos,

1 Tais Interesses, motivados pelas circunstancias históricas, seriam: a


necessidade de catequese diferenciada para os judeus e para os pagaos
convertidos; a necessidade de responder as objecCes levantadas pelos Judeus
(sábado ou domingo? divorcio, slm ou nfio?, ressurrelcfio dos mortoe?
Je|um?...).

— 287 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

única realidade que os evangelistas nos transmitirán»). Ro-


binson julga que tal distincáo nao encontra justificativa ou é
inaceitável: a pregagáo da Boa-Nova, embora se tenha adap
tado a auditorios diversos em diversas circunstancias históri
cas, conservou-se sempre a mesma; cf. pp. 57s. 61s.'

Encontram-se, sem dúvida, nos Evangelhos vestigios de


sistematizagáo da mensagem em vista da catequese: Mt 5-7,
por exemplo, é um longo sermáo que o evangelista compilou
a partir de diversos episodios da vida de Jesús; o mesmo se
diga a respeito das coletáneas de parábolas ocorrentes em Mt
13 e Le 15. A parábola de Mt 22,1-14 parece resultar da fusáo
de duas ou tres parábolas de Jesús (comparemo-la com Le
14,16-24). Nada disto, porém, implica que se tenha alterado
a doutrina de Jesús no decorrer dos primeiros decenios.

2.3. Crítica tía redafáo

Os críticos julgam que os evangelistas também contribui-


ram para a redaqáo do texto do Evangelho, inspirando-se em
suas concepcóes teológicas. Alguns exageraram o cunho teo
lógico dado por Mateus, Marcos, Lucas e Joáo ao texto res
pectivo, a ponto de considerarem os Evangelhos como livros
de teología e nao de historia. Nesta atitude existe forte dose
de hipóteses e de subjetivismo nao fundamentados. Isto, po
rém, nao quer dizer que nao haja um enfoque próprio de cada
evangelista sobre a pessoa e os dizeres de Jesús; é, sim, usual
falar do «Evangelho segundo Mateus,... segundo Joáo...».
Tal fato, porém, nao se opóe a fidelidade dos evangelistas a
historia e á mensagem de Jesús. Cf. Robinson pp. 60s.

3. O intervalo de urna geraqáo

Após ter examinado a maneira como trabalharam os evan


gelistas, Robinson considera a questáo das datas em que tive-
ram origem os nossos Evangelhos. Será que, quando foram
escritos definitivamente, ainda havia alguma testemunha ocular

i Um fiel católico subscreve a esta afirmacao de Robinson, e acres-


centa-lhe a devida fundamentado: numerosos textos dos Atos e de Sao
Paulo moslram como os Apostólos oram ciosos de guardar a identidade da
mensagem (cf. Gl 1,8s; 2Ts 2,15; 3,6; 1Cor 15,1-3). Além do qué, a lé
católica professa a assisténcla do Espirito Santo ¿ Igreja a fim de que nunca
seja daturpada a Boa Nova de Jesús.

— 288 —
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?» 21

e auricular da vida de Jesús, de modo a poder confrontar os


escritos com a realidade histórica? Quanto maior for a dis
tancia entre as datas de redacáo e os acontecimentos históricos
concernentes a Jesús, tanto menos acreditável será o texto
de tais escritos.

Portante, quando foi escrito o Novo Testamento?

— No sáculo passado, a critica racionalista, movida por


preconceitos ou pelo desejo de desvalorizar tais escritos, assina-
lava-lhes o sécuio II. No comego do sáculo XX, os dados foram
recuando, de modo a se indicarem os anos de 50 a 150; em
meados do sécuio XX, já se admitía o período de 50 a 100.
Ora, segundo John Robinson, é preciso retroceder ainda, para
ficar entre os anos de 47 e 70; o autor inglés tem consciéncia
de que muitos especialistas do Novo Testamento nao o acom-
panham neste ponto; acrescenta, porém: «Creio que a minha
posicáo representa a diregáo que os estudos váo tomando»
(p. 74).

Mais precisamente, Robinson atribuí as principáis epísto


las de Sao Paulo á década de 50 a 60. A carta aos Hebreus
seria do ano de 67 aproximadamente. O Apocalipse é datado
dos anos de 68 a 69. Os Atos dos Apóstelos, de 62. Os Evan-
gelhos sinóticos sao colocados em torno do ano de 60, sem
grandes intervalos entre eles; o quarto Evangelho seria de 65
ou pouco posterior.

Adotando estas datas, Robinson reduz a trinta anos apro


ximadamente a distancia entre a crucificagáo de Jesús e os
relatos evangélicos; se se leva em conta que os evangelistas
utilizaram fontes oráis e escritas referentes a Jesús, pode-se
dizer que nao há hiato, mas continuidade entre o Jesús histó
rico e a redacáo dos Evangelhos; a mesma geracáo pode ter,
de um lado, visto e ouvido Jesús e, de outro lado, lido a men-
sagem dos Evangelhos. Em táo breve espago de tempo, é
pouco verossimil que lendas se tenham introduzido na mensa-
gem evangélica.

4. Retrato de Jesús por SSo JoSo


No sécuio passado e no comeco do presente, o Evangelho
segundo S. Joáo foi menosprezado como sendo obra de teología
subjetiva e nao um relato histórico; datado do ano de 170,
apresentaria Jesús dentro das categorías da filosofía mística
helenística.

— 289 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Tal teoría foi bruscamente dissipada pela desooberta do


papiro Rylands Greek 457 (P82), escrito por volta de 120/130
e encontrado no Egito em 1935. Este texto supóe necessaria-
mente a redagáo do autógrafo por volta do ano 100 em Éfeso
(admita-se o intervalo de trinta anos para que passasse da
Asia Menor para o Egito).

Nos últimos decenios, muito evoluiram os estudos joaneus;


tornou-se claro que Joáo é muito mais fiel á historia do que
se pensava. Admite-se que o texto de Joáo seja o eco de urna
tradicáo independente, que pode estar táo próxima da fonte
JESÚS quanto as tradicóes dos sinóticos. A linguagem utili
zada por Jesús em Jo, embora difira da que ocorre nos sinó
ticos, já nao é tida como helenista nem tardía, pois em 1947
foram descobertos os manuscritos de Qumran a N.O. do Mar
Morto, que revelam o linguajar de urna comunidade monástica
judaica muito semelhante ao de Jesús no quarto Evangelho.
Lightfoot chegou mesmo a considerar o Evangelho de Joáo
como o livro «mais hebraico» do Novo Testamento.

Desenyolvendo um raciocinio complexo, Robinson julga que


Jo é anterior á destruigáo de Jerusalém ocorrida em 70; com
efeito, nao faz alusáo a destruicáo do Templo; ora se o autor
do quarto Evangelho escrevesse após este fato, té-lo-ia men
cionado no seu texto; em 11, 48, Caifas refere-se a ela como
algo de futuro. Em conseqüéncia, Robinson atribuí a origem
de Jo ao ano de 65 ou a data pouco posterior. Cf. Robinson
p. 100.

Quanto as epístolas de Joáo, sao colocadas no inicio da


década de 60; cf. Robinson p. 101. Robinson as atribuí ao
Apostólo Joáo, como também o quarto Evangelho; cf. Robin
son pp. 101. 104s.

Joáo afirma solenemente que o seu testemunho é verda-


deiro (19,34s). Todavía ele refere a verdade histórica nao
tanto para registrar acontecimentos passados, mas principal
mente para suscitar a fé nos leitores (cf. Jo 20,31). Versa
sempre sobre dois planos: o histórico e o teológico, de modo
que só o compreende bem quem veja em Jesús a Palavra
(preexistente, eterna) feita carne (a semelhanca dos homens
frágeis).

— 290 —
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?» 23

5. Quem é este homem?

Tal é a questáo que se coloca desde a primeira página do


Novo Testamento.

5.1. As origens de Jesús

Mateus e Lucas nos falam da genealogía e do nascimento


de Jesús nao no estilo das biografías modernas, mas de modo
a permitir ao leitor perceber o sentido divino ou teológico da
historia. Por isto nao entende Jesús quem considera apenas a
historia humana de Jesús; também nao o entende quem des-
preza a historia ou déla abstrai, mas só quem, aceitando a his-
toricidade da anunciacáo, do nascimento virginal, dos magos
e pastores, do massacre dos inocentes, da fuga para o Egito...,
verifica que esses episodios foram narrados para mostrar que
assim se cumpriu o plano de Deus e que todos os fatos histó
ricos trazem em filigrana a assinatura de Deus.

A identidade do homem Jesús só pode ser percebida por


quem ultrapasse o desenrolar da historia humana. A origem
de Jesús, em última análise, está na eternidade ou no seio
do Pai: Ele é Deus e está voltado para o Pai (Jo 1,1).

A Igreja nascente atribuiu a Jesús varios títulos para


designar a sua identidade: «um Salvador, que é o Cristo, o
Senhor» (Le 2,11), «Jesús, o Cristo e o Senhor» (At 2,36),
«o Filho de Deus, o Rei de Israel» (Jo 1,49), «o Messias ou
Cristo» (Jo 1,41); cf. 2Cor 4,4; Fl 2,5-11; Cl 1,15-20... — Per-
gunta-se, porém: que relacáo tém esses títulos com aquilo que
Jesús declarou a seu respeito mesmo? Será que os discípulos
compreenderam bem o pensamento de Jesús quando Ele se
identificava? — É o que vamos ver.

5.2. A mensagem de Jesús

Poder-se-ia julgar que os discípulos e evangelistas tenham


atribuido simplesmente a Jesús o que eles mesmos pensavam
a respeito do Mestre. — Ora nao foi isto que eles fizeram.

Com efeito. A mensagem de Jesús, segundo os evange


listas, se resume na proclamagáo da vinda do Reino de Deus;
cf. Me l,14s. Eis, porém, que a expressáo «Reino de Deus» é

— 291 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

rara no judaismo pré-cristáo, se bem que se inspire do ensi-


namento vétero-testamentário relativo á realeza de Deus; cf.
SI 95.96.97.98.99. Notemos, por exemplo, que a locugáo «Reino
de Deus» nao se encontra nos manuscritos do Mar Morto, que
expressam a espiritualidade israelita dos sáculos U/I a.C. Nao
obstante, essa locugáo estava constantemente nos labios de
Jesús. Quantas parábolas comegam por: «O Reino de Deus é
semelhante a ...»! £ a vinda do Reino que explica o compor-
tamento de Jesús: «Se é pelo dedo de Deus que... expulso
os demonios, sabei que o Reino de Deus chegou até vos»
(Le 11,20). O cerne da oragáo ensinada por Jesús reza: «Ve-
nha o teu Reino» (Mt 6,10). Seria, pois, presumível que a
nogáo de Reino aparecesse freqüentemente na pregacáo da
Igreja. Ora ela nao ocorre urna só vez nos primeiros discursos
dos Atos, que parecem supor fontes anteriores e S. Lucas.
Poucas vezes ocorre nos escritos de Sao Paulo e Sao Joáo — o
que mostra que a nogáo de Reino era algo de muito acessório
na pregacáo e na doutrina dos primeiros cristáos. Falavam
da Igreja mais do que do Reino; a palavra Igreja só aparece
duas vezes nos labios de Jesús (cf. Mt 16,16-19; 18,17s). O
que os Apostólos anunciavam era nao a irrupgáo do Reino de
Deus, mas Jesús e a ressurreicáo (cf. At 17,18). Isto nao
quer dizer que nao haja liame e continuidade entre o Reino
de Deus e a Igreja; esta é o comeco do cumprimento das pro-
messas referentes ao Reino de Deus. Mas o que importa obser
var, é que os discípulos souberam respeitar a linguageni, os
atos e a pessoa de Jesús, de modo que nao colocaram palavras
dos discípulos sobre os labios do Mestre; guardaram incólumes
os dizeres do Senhor, sem ceder á tentacáo de fazer deste um
simples porta-voz das primeiras comunidades cristas.

Semelhante respeito ocorre com relacáo ao que Jesús disse


a propósito de si mesmo. Os discípulos poderiam ter apresen-
tado Jesús a declarar aquilo que eles professavam no tocante
a Jesús. Mas tal nao se dá. Observemos que os primeiros
cristáos chamavam Jesús «Senhor» e «Cristo», a ponto que,
já ñas cartas de Sao Paulo (de 50 em diante), Cristo já nao
é um titulo (= o Messias, o Rei Ungido), mas é um nome pró-
prio, unido a Jesús: Jesús Cristo. — Ora nos Evangelhos os
títulos «Senhor» e «Cristo» apparecem sobre os labios dos
outros personagens para designar Jesús, ao passo que Jesús,

— 292 —
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?» 25

a rigor, nao os utiliza. Apenas em Me 9,41 se lé: «Se alguém


vos der um copo dágua por serdes discípulos de Cristo...»;
ora este apelativo nao se encontra nos paralelos de Mateus e
Lucas; donde concluem os estudiosos que nao foi Jesús quem
se autodesignou como Cristo em Me.

Jesús utilizou, para se apresentar aos discípulos, o título


de «Filho do Homem». Podemos observar que, no Novo Testa
mento, tal expressio só ocorre nos Evangelhos (quando Jesús
fala) e urna vez em At 7,56, quando S. Estéváo vé «os céus
abertos e o Filho do Homem em pe á direita de Deus». Nunca
a Igreja antiga recorreu a esse título em sua pregagáo, em-
bora o conceito de «Filho do Homem» possa estar subjacente
á doutrina paulina de «homem novo» ou «homem celeste»
(cf. Ef 4,22-24; ICor 15,45-49). — Em Jo 1,19-51, depois que
os discípulos usaram os mais diversos nomes para designar
Jesús, Este, ao se autodefinir, utiliza a expressáo «Filho do
Homem» (cf. Jo 1,51).

Quanto ao título «Filho do Homem», é locucáo semita


que significa «homem»; assim em todo o livro de Ezequiel. Em
Dn 7,13s, a expressáo toma significado pregnante, pois designa
o homem ao qual toca a homenagem de todos os povos e cujo
Reino nao terá fim; designa o Messias *. Ora Jesús aplicou a
si o oráculo de Daniel: «Veráo o Filho do Homem vindo entre
nuvens com grande poder e gloria» (Me 13,26); pouco antes
de morrer, ainda declarou: «Veréis o Filho do Homem sen
tado á direita do Poderoso e vindo com as nuvens do céu»
(Me 14,62). Nestes termos Jesús se apresentava como o Mes
sias predito por Daniel, como o Senhor da historia e da huma-
nidade; o Senhor usou o titulo «Filho do Homem» de prefe
rencia a qualquer outro, porque tal apelativo estava isento de
conotacóes políticas (Jesús quis absolutamente evitar que o
considerassem um rei no sentido político da palavra: cf. Jo
6,15; 19,36).

1 Tal é o texto de Dn 7,13s:

*Eu continuava contemplando ñas mlnhas visSes nolurnaa. quando


notel, vindo sobre as nuvens do cóu, um como Filho de Homem. Ele
adlantou-se ató o Ancláo, e <ol Introduzldo a sua presenca. A ele fol
outorgado o imperio, a honra e o reino, e todos os povos, nacfies e Ifnauas
o servlram. Seu poder ó um poder eterno, que Jamáis pasaaré. e seu reino
Jámale será destruido".

— 293 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

A propósito John Robinson formula urna pergunta muito


interessante: será que os evangelistas, ao referirem palavras
de Jesús, nao colocaram nessas palavras a imagem do Jesús
glorificado pós-pascal? Pode-se crer que sao palavras saldas
dos labios de Jesús antes dos acontecimentos pascáis que o
glorificaram? — Em resposta, Robinson afirma que, para os
Apostólos, o lembrar-se das palavras de Jesús nao era um sim
ples exercício de memoria; era, sim, evocacáo de um passado
que nao era considerado como realidade morta e ultrapassada,
mas experiencia de um Jesús sempre presente á sua Igreja; as
palavras e os feitos de Jesús histórico tomavam o seu sentido
pleno na medida em que eram palavras e feitos do Cristo vivo
na Igreja e pela Igreja; Jesús prometerá aos Apostólos que o
Espirito Santo lhes lembraria tudo o que Jesús lhes tivesse
dito (cf. Jo 14,26); Ele os levaría á verdade plena (cf. Jo
16,13), o que quer dizer: o Espirito Santo retomaría as pala
vras de Jesús e as mostraría aos Apostólos sob nova luz ou
sob urna luz viva. É o que explica que a linguagem de Jesús,
nos relatos evangélicos, possa parecer penetrada pelo claráo
pascal.

É precisamente isto que ocorre no quarto Evangelho: o


autor vé e apresenta todas as coisas a partir da Páscoa; ele
nao inventa nem cria, mas sitúa tudo de modo que a verda-
deira luz ilumine cada episodio e na carne de Jesús apareca
a gloria do Verbo preexistente. Sao Joáo poderia dizer aos
seus leitores: «O que, á primeira vista, os homens julgavam
que fossem pontinhos luminosos, eu sei agora que sao estre-
las». Alias, este modo de ver também caracteriza os Evange-
lhos sinóticos, embora de maneira menos profunda. — Em
conseqüencia, quando a Igreja nascente atribuía a Jesús os
títulos gloriosos de Serihor, Messias, Fllho de Deus, um com o
Pai, Santo de Deus... Ela estava apresentando os pontos lumi
nosos como estrelas (o que eles realmente eram); estava expli-
citando o que se achava implícito nos dizeres e nos feitos de
Jesús.

5.3. A pessoa de Cristo

Segundo os Evangelhos, Jesús nao fazia ostentacáo de seus


títulos. É oerto, porém, que Ele morreu por haver «blasfe
mado» (cf. Me 14,63, par.; Jo 19,7) ou por se ter feito Deus
(cf. Jo 10,33-36). Alias, Ele falava com autoridade; nao usava
a expressáo dos Profetas: «Eis o que diz o Senhor...», mas,

— 294 —
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO ?> 27

sim, «Em verdade (amen), eu vos digo...». Ao passo que o


judeu piedoso concluía suas oragóes com um Amén, expressáo
de confianga em Deus, Jesús antepunha o Amén as suas decla-
racóes, identificando as suas palavras com a Palavra de Deus.

Jesús modificou a Lei, usando esta expressáo: «Vos ouvis-


tes o que foi dito aos antigos (por Deus)... Eu, porém, vos
digo...» (cf. Mt 5,21.27.31.33.38.43); legislava com a autori-
dade do próprio Deus. Perdoava os pecados como só Deus
pode fazer, e, quando O acusaram de usurpar atribuigáo exclu
siva de Deus, realizou um milagre como sinal do seu poder
(cf. Mt 9,1-8); Jesús declarou que a atitude que os homens
assumiriam em relagáo a Ele, seria assumida por Deus em rela-
Cáo aos homens (cf. Mt 25,31-46). Convidou os homens a
segui-Lo para ter a vida e o repouso (cf. Mt 10,37-39). Isto
tudo significa que Jesús nao apenas falava como Deus, mas
também agia e procedia como Deus, nao porque quisesse colo-
car-se em lugar de Deus, mas porque Ele representava o Pai,
a tal ponto que quem o via, via o próprio Pai; o Pai estava
nele e Ele estava no Pai (cf. Jo 14,9).

Por isto, embora fosse verdadeiro homem, reconhecido


como tal pelos seus interlocutores (cf. Jo 10,33), Ele era a
Encamagáo da Palavra eterna (cf. Jo 1,1.14). Ele já existia
quando se fez homem no seio de María, a ponto que Ele era
anterior a Joáo Batista (cf. Jo 1,15), a Isaías (cf. Jo 12,41),
a Abraáo (cf. Jo 8,58) e á própria criagáo do mundo (cf. Jo
1,1-3; 17,5.24).

Em Jesús, portante, havia dois planos ou duas realida


des: o Divino e o humano, o Eterno e o temporal, que se sobre-
punham com efeito dramático.

6. Que foi feito dele?

Depois de termos perguntado: «Quem é este homem?»,


ocorre naturalmente a questáo: «E que procedeu dele? Que
houve a partir dele?»

A resposta há de ser dada nao somente no plano da his


toria («houve e há o Cristianismo...»), mas também no plano
teológico: de Jesús procedem o Espirito, o Corpo de Cristo
prolongado que é a Igreja, a nova criatura, que Sao Paulo

— 295 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

designava nestes termos: «Se alguém está em Cristo, é nova


criatura. Passaram-se as coisas antigás; eis que se fez urna
realidade nova» (2Cor 5,17).

Esta novidade que procede do Cristo, tem seu ponto de


partida ¡mediato na Páscoa de Jesús, que compreende Paixáo,
morte e ressurreigáo do Senhor.

6.1. Processo e morte de Jesús

Os historiadores nao costumam duvidar de que Jesús real


mente foi preso, crucificado e sepultado. O questionamento
tem-se voltado, nos últimos decenios, para as causas de tal
desfecho da vida de Jesús, pois há quem diga que o Senhor
morreu como revolucionario político; a crucifixáo era o cas
tigo infligido a tal tipo de criminosos, ao passo que o apedre-
jamento é o que tocava aos profetas.

Pergunta-se entáo: Jesús terá sido um sedicioso naciona


lista, anti-romano?

O quarto Evangelho é o que mais material nos oferece


para resposta, embora seja de todos o mais teológico.

Refere-nos a declaracáo categórica de Jesús: «O meu reino


nao é deste mundo. Se fosse deste mundo, os meus súditos
teriam combatido para que nao fosse entregue aos judeus. Mas
o meu reino nao é daqui» (Jo 18,36). — Além disto, o evan
gelista póe em evidencia a má fé dos judeus adversarios de
Jesús. Comecaram o diálogo com Pilatos pedindo a condena-
cao de Jesús sem apresentar acusacáo. Donde a pergunta de
Pilatos: «Que acusagáo trazeis contra este homem?» Respon-
deram: «Se nao fosse um malfeitor, nao o entregaríamos a
ti» (Jo 18,29s). Dado que isto nao bastava, os judeus acusa-
ram Jesús de alta traicáo (Jo 18,33). Pilatos, porém, nao jul-
gou a acusacáo suficientemente clara; por isto apresentaram
o que para eles era o verdadeiro título de acusagáo: «Ele se
fez Füho de Deus» (Jo 19,7). Mas, visto que também assim
nada conseguiam, voltaram á acusagáo política e insinuaram
que eles, judeus, eram mais leáis ao Imperador do que o Go-
vernador: «Se o solías, nao és amigo de César! Todo aquele
que se faz rei, opóe-se a César!» (Jo 19,12). Tal tipo de pres-
sáo foi suficientemente forte para quebrar a resistencia de
Pilatos.

— 296 —
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?» 29

Vé-se assim que a acusacáo de subversáo política foi um


pretexto para obter da autoridade romana (nao interessada em
questóes religiosas dos judeus) a condenacáo de Jesús. O ver-
dadeiro motivo da repulsa dos judeus a Jesús era, sim, de
ordem teológica: Jesús blasfemara, fazendo-se Filho de Deus.
Tal reconstituigáo dos fatos é corroborada se recorremos ao
Evangelho de Lucas, onde se lé que os judeus acusaram Jesús
diante de Pilatos nestes termos: «Encontramos este homem a
subverter nossa nacáo, impedindo que se paguem os impostos
a César e pretendendo ser Cristo Rei» (Le 23,2). A falsidade
desta acusacáo se depreende das palavras mesmas de Jesús:
«Devolvei a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus»
(Le 20,25).

Todavia a morte de Jesús nao foi um fim. Se o tivesse


sido, nao haveria Igreja para contá-la.

Os primeiros cristáos tinham consciéncia de que tal desen


lace fora superado pela Ressurreicáo do Crucificado; «Se Cristo
nao ressuscitou, vazia é a nossa pregacáo, vazia também é o
vossa fé» (ICor 15,14). E quais seriam os testemunhos histó
ricos em favor da ressurreigáo de Jesús?

1) O fiato do túmulo vazio... Se a noticia do túmulo


vazio fosse invengáo para convencer os descrentes, teria sido
inventada sem habilidade; nos sinóticos a noticia é colocada
nos labios de mulheres, que, conforme a Lei judaica, nao po-
diam ter o valor de testemunhas; cf. Me 16,7.10s; Le 24,11.22s.
Se, apesar de tudo, os evangelistas nos referiram o testemunho
das mulheres, que a Tradigáo antiga julgava pobre ou desne-
cessário, isto só se explica porque se tratava de um testemu
nho histórico:

«A documenlacao sugere que a descoberta do túmulo vazio nao


foi inventada pela Igreja nascente; por conseguirle, ela nao gerou
a té na Ressurreicáo, como também nao é o produlo da fé. £ um dos
elementos que foram descobertos naquela manhá e que ficaram
inapagavelmente na memoria dos fiéis. Por que esse túmulo estava
vazio? £ esta urna pergunta para a qual nenhuma explicacao decisiva
jamáis foi aduzida, nem no plano natural, nem no sobrenatural»
(Robinson, p. 142).

— 297 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Além do mais, a existencia do santo Sudario, meticulosa


mente investigado nos últimos tempos, nao é fato desprezível.

2) As aparigóes... Seriam a expressáo subjetiva do


desejo dos discípulos de rever Jesús? — É certo que os Apos
tólos e ¡mediatos seguidores de Jesús nao imaginavam um
Jesús redivivo. Mais: se O tivessem imaginado mentirosamente,
é de crer que alguém, cristáo ou nao cristáo, teria denunciado
o erro; admitir que o Cristianismo repouse sobre a fraude, sem
que alguém a tenha apontado, é exigir demasiada credulidade.
Algo deve-se ter produzido em correspondencia a tantos teste-
munhos, inclusive o de Paulo; este anuncia as aparigóes do
Ressuscitado como fatos que lhe foram transmitidos e que
aínda podiam ser atestados por muitas pessoas vivas no ano
de 56; cf. ICor 15,3-8.

3) A consciéncia da oomunidade crista... Na Igreja nas-


cente a crenga na ressurreigáo de Jesús se baseava sobre «urna
consciéncia espiritual coletiva de Cristo,... consciéncia que
nao era apenas urna recordagáo do passado, mas urna presenga
vivificante. Quando Paulo se dirigía aos neófitos, que, como
ele, jamáis tinham acompanhado o Cristo, quando ele lhes
falava do conhecimento do Cristo Jesús, da participagáo nos
seus sofrimentos e no poder da Ressurreigáo (Fl 3,10), ele
apelava para essa experiencia de 'urna nova criatura em Cristo
Jesús'» (Robinson, p. 146). A experiencia espiritual coletiva
é o fato sujeito a controversia. Com efeito, o historiador que
analise o fenómeno Jesús, se defronta com a realidade da
Igreja, que desde o inicio diz que ela mesma só tem sentido
se Cristo ressuscitou; se Ele nao ressuscitou, a Igreja se retira
de cena espontáneamente como algo que nao tem significado
(cf. ICor 15,14-17).

Concluí Robinson: «Estou convencido — ou eu nao seria


cristáo — de que a historia, penetrada pela técnica científica
mais esmerada e rigorosa, é capaz de comprovar o que a fé
ensina» (p. 150).

— 298 —
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?» 31

7. Urna Religiáo na qual podemos confiar


Podemos entáo confiar no Novo Testamento?
«Creio firmemente que podemos...

Um cristao nada t«m a recear a nao ser a verdade. Pois só esta


pode mostrar se 'esse movimento vem de Deus' (At 5,38-40). Mas o
cristao nada tetn a recear da verdade. Para ele, a verdade é o Cristo
(Jo 14,6). £ grande, maior do que o mundo, e prevalecerá. Etambém
urna realidad* viva e crescente» (p. 155).

«Sei que o estudo do Novo Testamento me levou a conclusoes...


que eu nao imaginava» (p. 155). «Minha confianca nos documentos
básicos da fé crista antes foi fortalecida de que abalada. A erudicao
nao me confere a fé, mas ela me aumenta a convice.no de que minha
fé nao é despropositada» (p. 15ó).

Eis, em síntese, o conteúdo do livro de Robinson, que


chama a atencáo nao sonriente por suas condusóes favoráveis
a autenticidade da mensagem do Novo Testamento, mas tam-
bém por provir de um crítico nao católico, que em outras obras
já se mostrou muito pouco conservador ou tradicionalista!

CAUTA DE LEITOB

Equívoco

«Em PR 280/1985, pp. 200-211, houve um equivoco no


artigo sobre as novas técnicas de procriagáo. Nenhuma délas
é Engenharia Genética. Esta é a manipulagáo ao nivel do
genotipo, enquanto as tais técnicas sao manipulagáo ao nivel
de gametas e zigotos. O precursor da Engenharia Genética é
H. J. Müller (Premio Nobel), que conseguiu, na década de 20,
fabricar urna linhagem de moscas Drosophila melanogaster com
um cromossomo X, que continha urna longa inversáo, a dupli
carlo Bar e um gene letal recessivo. Foi urna proeza inimagi-
nável para aquela época. Hoje se fazem coisas milh5es de
vezes mais inimagináveis. — Prof. Dr. Newton Freire-Maia,
Curitiba (PR)».

Muito agradecemos ao Prof. Freire-Maia estas valiosas


observacees e pedunos-lh© que continúe a colaborar conosco.
— A Redacáa de PR.

— 299 —
Aínda a Maconaria:

Por que um Católico


nao pode ser Macom?

Em sintese: A S. Congregado para a Doutrlna da Fé declarou em


26/11/83 que um católico pertencente á Maconaria está em pecado grave
e nao pode ter acesso á ComunhSo Eucarlstica. — Tal tomada de poslcfio
suscitou pedidos de esclarecimentos por parte de numerosas pessoas interes-
sadas no assunto. A tais sollcitacdes a mesma S. Congregacfio respondeu
através do jornal "L'Osservatore Romano" (edicao luso-brasileira de 10/03/85,
p. 70). O respectivo texto, publicado ñas páginas que se seguem, fundamenta
a posicfio da Igreja no fato de que a Maconaria professa o relativismo em
relacSo á verdade religiosa, relativismo que se val Incutlndo na mente dos
aeus socios mediante preceitos moráis, ritos e símbolos, que constrangem
o Individuo macom. Isto cria situagóes insustentévels para o (iel católico,
que tem estima a sua lé. Eis por que a Igreja Insiste em mantor atestados
da Maconaria os fiéis católicos.

A Declaracao da S. Congregacfio para a Doutrlna da Fé neste particular


é confirmada pela evolucfio do Grande Oriente da Italia, que, com outras
correntes masónicas, vai professando o mesmo relativismo religioso ou
mesmo o racionalismo e o anticlericalismo.

Aos 26/11/1983, a Sagrada Congregagáo para a Doutrina


da Fé publicou urna Declaragáo referente á Magonaria: embora,
segundo o novo Código de Direito Canónico, nao haja mais
excomunháo para o católico que entre na Maconaria, esta con
tinua sendo vedada aos fiéis católicos; em conseqüéncia, quem,
dentre estes, se inscreva na Maconaria está em pecado grave
e nao pode aproximar-se do sacramento da Eucaristía. — Ver
a propósito o artigo de Frei Boaventura Kloppenburg em PR
275/1984, pp. 303-314; o autor, a partir de suas reflexóes,
expóe as razóes de tal atitude da Igreja.

Após a Declaragáo de 26/11/84, a Santa Sé recebeu nume


rosos pedidos de esclarecimentos. Estes finalmente foram pu
blicados sob forma de artigo no jornal «L'Osservatore Romano»
(edigáo diaria italiana de 23/02/85 e edigáo luso-brasileira de
10/03/85, p. 7).

— 300 —
POR QUE NAO MACOM? 33

O artigo nao é assinado, mas é seguido de tres asteriscos.


A importancia, porém, de tal materia e a maneira como foi
publicada permitem concluir que provém da Sagrada Congre-
gagáo para a Doutrina da Fé. De resto, o comunicado da
Radio Vaticana declarou explícitamente: «Confirmada pela
S. Congregagáo para a Doutrina da Fé a impossibilidade de
conciliar fé crista e Maconaria». Trata-se, pois, de documento
apto a dirimir auténticamente as dúvidas existentes sobre o
assunto.

A seguir, publicamo-Io na íntegra em traducáo portuguesa


acompanhada de breve comentario.

INCONCILIABILIDADE ENTRE FÉ CRISTA E MACONARIA

A 26 de novembro de 1983 a Congregacáo para a Doutrina da


Fé poblicava urna Declaracáo sobre os associacoes macónicas (cf.
AAS IXXVI, 1984, 300).

A pouco mais de um ano de distancia da sua publicacao pode


ser útil explicar brevemente o significado deste documento.

Desde que a Igreja comecou a pronunciar-se a respeito da maco-


naria, o seu ¡uízo negativo foi inspirado por multíplices razoes, práticas
e doutrinais. Ela nao jul.gou a maconaria responsávcl apenas de ativi-
dades subversivas a seu respeito, mas, desde os primeiros documentos
pontificios sobre o assunto e em particular na Encíclica «Humanum
Genus» de Leao XIII (20 de abril de 1884), o Magisterio da Igreja
denunciou na Maconaria idéias filosóficas e concepcóes moráis opostas
á doutrina católica. Para Leao XIII elas reportavam-se esencialmente
a um naturalismo racionalista, inspirador dos seus planos e das suas
atividades contra a Igreja. Na sua Carta ao Povo Itcliano «Custodi»
(8 de dezembro de 1892) ele «screvia: «Recordemo-nos de .que o
cristianismo e a maconaria sao essendalmente inconciliáveis, de modo
que inscrever-se numa significa separar-se da outra».

Nao se podía portanto deixar de tomar em consideracao as posi-


eoes da Maconaria sob o ponto de vista doutrinal, quando nos anos
1970-1980 a Sagrada Congregacáo estova em correspondencia com
algumas Conferencias Episcopais particularmente interessadas neste
problema, em conseqüénda do diálogo empreendido por parte de
personalidades católicas com representantes de algumas lojas que se
declaravam nao hostis ou até favoráveis á Igreja.

— 301 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Agora o estudo mais aprofundado levou a S.C.D.F. a manter-se


na conviccáo da inconciliabilidade de fundo entre os principios da
maconaria e os da fé crista.

Prescindindo portanto da consideracao da atitude prática das


diversas lojas, de hostilidade ou nao para com a Igreja, a S.C.D.F.,
com a sua declaracáo de 26/11/83, pretendeu colocar-se no nivel mais
profundo e, por outro lado, essencial do problema: isto é, sobre o
plano da inconciliabilidade dos principios, o que significa no plano
da fé e das suas exigencias moráis.

A partir deste ponto de vista doutrinal, em continuidade, de resto,


com a posicáo tradicional da Igreja, como testemunham os documentos
ácima citados de Leao XIII, derivam as necessárias conseqüéncias
práticas, que sao válidas para todos aqueles fiéis que estivessem even-
tualmente inscritos na maconaria.

A propósito da afirmacao sobre a inconciliabilidade dos principios


todavia vai-se agora objetando, de alguns lados, que o essencial da
maconaria seria precisamente o fato de nao impor algum «principio»,
no sentido de urna posicáo filosófica ou religiosa que se¡a vinculante
para todos os seus adérenles, mas antes reunir conjuntamente, para
além dos confins dos diversas religióes e visoes do mundo, homens de
boa vontade com base em valores humanísticos compreensíveis e
aceitáveis por todos.

A maconaria constituirla um elemento de coesáo para todos


aqueles que créem no Arquiteto do Universo e se sentem comprometidos
em relacao áquelas orienlacóes moráis fundamentáis que estáo defi
nidas, por exemplo, no Decálogo; ela nao afastaria ninguém da
própría religiáo, mas pelo contrario constituiría um incentivo a aderír
ainda mais a ela.

Nesta sede nao podem ser discutidos os multíplices problemas


históricos e filosóficos que se escondem em tais afirmacóes. Que
também a Igreja Católica estimule no sentido de urna colaboragao de
todos os homens de boa vontade, nao é decerto necessário salientá-lo
depois do Concilio Vaticano II. O assoeiar-se na maconaria vai todavia
além, decididamente, desta legitima colaboracáo e tem um significado
muito mais saliente e determinante do que este.

Antes de tudo, deve recordar-se que a comunidade dos «pedrei-


ros-livres» e as suas obrigacóes moráis se apresentam como um sistema
progressivo de símbolos de caráter extremamente absorvente. A rígida

— 302 —
POR QUE NAO MACOM? 35

disciplina do arcano que nela predomina reforja ulteriormente o peso


da interagño de sinais e de idéias. Este clima de segredo comporta,
além de tudo, para os inscritos o fisco de se tornarem instrumento de
estrategias que Ihes sao desconhecidas.

Embora se afirme que o relativismo nao é assumido como dogma,


todavía prop5e-se de fato urna concepcao simbólica relativistica, e por
ta nfo o valor «relativizante:» de urna tal comunidade moral-ritual, longe
de poder ser eliminado, resulta pelo contrario determinante.

Neste contexto, as diversas comunidades religiosas, a que pertence


cada um dos membros das Lojas, nao podem ser consideradas senao
como simples institución a Mzacoes de urna verdade mais ampia e incom-
preensível. O valor destas instituigóes parece, portanto, inevitavelmente
relativo, em relagáo a esta verdade mais ampia, a qual se manifestó
antes na comunidade da boa vontade, isto é, na fraternidade masónica.

Para um cristño católico, todavia, nao é possíve' viver a sua


relacáo com Deus numa dúplice modalidade, isto é, dividindo-a numa
forma humanitaria — superconfessional e numa forma interior —
crista. Nao pode cultivar relacoes de duas «spécies com Deus, nem
exprimir a sua relacáo com o Criador através de formas simbólicas de
duas especies. Isto seria algo de completamente diverso daquela
colaborando, que para ele é obvia, com todos aqueles que estáo
empenhados na prática do bem, embora a partir de principios diversos.
Por outro lado, um cristao católico nao pode participar ao mesmo
tempo na plena comunhao da fraternidade crista e, por outro lado,
olhar para o seu irmao cristao a partir da perspectiva macñnica, como
para um «profano».

Mesmo quando, como já se disse, nao houvesse urna obrigacáo


explícita de professar o relativismo como doutrina, todavia a forca
«relativizante» de urna tal fraternidade, pela sua mesma lógica intrín
seca, tem em si a capacidade de transformar a estrutura do ato de fé
de modo tao radical que nao é aceitável por parte de um cristao, «ao
qual é cara a sua fé' (ledo XIII).

Esta subversáo na estrulura fundamental do ato c'e fé realiza-se,


além disso, geralmente, de modo suave e sem ser advertida: a sólida
adesao á verdade de Deus, revelada na Igreja, torna-se simples per-
tenca de urna instituigáo, considerada como urna forma expressiva
particular ao lado de outras formas expressivas, mais ou menos igual
mente pojsíveís e válidas, do orientar-se do homem para o eterno.

— 303 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

A tentacáo de ir nesta direcSo é ho¡e ainda mais forte, enquanto


corresponde plenamente a certas conviccoes prevalecentes na mentali-
dade contemporánea. A opiniáo de que a verdade nao pode ser
con herida é característica típica da nossa época e, ao mesmo lempo,
elemento essencial da sua crise geral.

Precisamente, considerando todos estes elementos, a Declarando


da S. Congregacáo afirma que a inscricáo ñas associacoes mácameos
«está proibida pela lgre¡a» e os fiéis que nelas se inscreverem «estao
em estado de pecado grave e nao podem aproximar-se da Sagrada
Comunháo».

Com esto última expressáo, a S. Congregacáo indica aos fiéis


que tal inscricao constituí objetivamente um pecado grave e, precisando
que os adérenles a urna associacáo macónica nao podem aproximar-se
da Sagrada Comunháo, ela quer iluminar a consciéncia dos fiéis sobre
urna grave conseqüéncia que Ihes advém da sua adesáo a urna loja
macónica.

A S. Congregacáo declara por fim que «nao compete as autori


dades eclesiásticas locáis pronunciarem-se sobre a natureza das
associacoes macónicas, com um juízo que implique derrogacao de
quanto ácima estabelecido». A este propósito o texto faz também
referencia a Declaracáo de 17 de fevereiro de 1981, a qual ¡á reser-
vava á Sé Apostólica todo pronunciamento sobre a natureza desfas
associacoes que tivesse implicado derrogacoes da lei canónica entáo
em vigor (canon 2.335).

Do mesmo modo o novo documento emitido pela S.C.D.F. em


novembro de 1983 exprime idénticas ¡nlencoes de reserva relativa
mente a pronunciamentos que divergissem do ¡uizo aqui formulado
sobre a inconciliabilidade dos principios da maconaria com a fé cató
lica, sobre a gravidade do ato de se inscrever numa loja e sobre a
conseqüénda que daí deriva pora se aproximar da Sagrada Comunháo.
Esta disposicáo índica que, a pesar da diversidade que pode subsistir
entre as obediencias macónicas, em particular na sua atitude declarada
para com a Igreja, a Sé Apostólica nota-lhes alguns principios comuns,
que requerem urna mesma avaliacao por parte de todas as autoridades
eclesiásticas.

Ao fazer esta Declaracáo, a S.C.D.F. nao entendeu desconhecer


os esforcos realizados por aqueles que, com a devida autorizacao
deste Dicastério, procuraram estabelecer um diálogo com representantes
da Maconaria. Mas, desde o momento em que havia a possibilidade de

— 304 —
POR QUE NAO MACOM? 37

se difundir entre os fiéis a errada opiniáo de que o adesao a urna


Lo¡a macónica já era lícita, ela considerou ser seu dever dar-lhes
a conhecer o pensamento auténtico da Igreja a este propósito e po-los
em .guarda quanto a urna pertenca incoinpativel com a fé católica.

Só Jesús Cristo é, de fato, o Mestre da Verdade e só n'Ele os


cristáos podem encontrar a luz e a forca para viver segundo o designio
de Deus, trabalhando para o verdadeiro bem dos seus irmaos.

COMENTARIO

O Pe. Giovanni Caprile S.J., especialista em estudos magó-


nicos, publicou em «La Civilta Cattolica» n* 3.234, de 16/03/85,
pp. 584-586, as seguintes observacóes, que ajudam aínda me-
lhor a compreender a posigáo da Santa Sé:

Nao era inútil informar os leitores a respeito da notável mudanca


de rota ocorrida dentro do Grande Oriente da Italia (Palazzo
Giustinidni), em conseqüéncia da nova Constituicao promulgada —
juntamente com um novo «Regulamento da Ordem» — pelo GrSo-
-Mestre Armando Corona. Estes documentos foram sancionados pelo
decreto n* 86/AC de 18 de novembro de 1984, correspondente as
deliberacoes da Grande Loja Extraordinaria de 27-28/10/1984 '.

... A nova Constituicáo apresenta algumas mudancas multo


significativas para o nosso ponto de vista. Com efeito; foi supresso
o artigo 3°, no qual se afirmava explícitamente que a Comunhao
macónica italiana «observa o monoteísmo»; no artigo 4', embora
haja um apelo genérico á observancia dos «Antigos Deveres», que
se referem a Oeus « á religiao, é propugnada com toda a clareza
«a liberdade de consciéncia e de pensamento», com a conseqüéncia
de que «o franco-macom rejeita o dogmatismo e nao aceita limites
á procura da verdade» (art. 9°).

iA. C, Gran Loggla Slraordinaria de 1 a 24 ottobre 1984 a Roma.


Approvazione delle nuove norme costituzionali e regolamcntari, em Hiram,
n? 6, dezembro 1984, 168. Cf. G. Capruzzi, Perché una nuova Costituzione,
ib. 169.

— 305 —
^8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/198S

O alcance destas expressóes, repetidas em outros textos, é


esclarecido de maneira abalizada pelo próprio GrSo-Mestre Armando
Corona no discurso pronunciado em reunido macónica reservada que
se realizou «m Florenca, aos 5/02/85, na sede do Círculo da
Imprensa. Após ter afirmado a identidade, antes do mais, ideológica
da Maconaria medieval e da Maconaria posterior a 1717, Corona
considera a Maconaria como «urna instituicao livre, que nao aceita
dogmas e, por conse,guinte, traz em si as primeiras marcas do laicismo
e do anticlericalismo». Precisamente por causa disto — continuava —
os macons medievais foram excomungados pela Inquísicao, que
«oprimía e suprimía todos aqueles que nao aceitavam a verdade
revelada: os dogmas da Igreja»; pelo mesmo motivo eles se refugiavam
na Maconaria. Foram eles os precursores dos «livres pensadores» que
a Igreja persegoe porque desde entao (século XIII) existe o «confuto
de doutrina», «a grande lula entre a Igreja, que quer vender o paraíso,
ensinando a todos os fiéis que só mediante a fé católica se pode
chegar á salvacao da alma, e a Franco-maconaria, que afirma que
pode ser salvo quem creia em algo de transcendente». Aqueles irmaos
de épocas remotas tercio sido os «primeíros a contrapor á verdade
religiosa a verdade que nasce da razáo»; continuaram a construir
igrejas, mas nao aceítaram «a escravizacao das consciéncias por parte
da lgre¡a». Assím procedendo, «eram étimos íranco-macons; eram
livres pensadores; já eram anticlerícais».

Oito días mais tarde, aos


13/02/85, em semelhante reunido
realizada no Hotel Alexandre, aínda em Florenca, o Grao-Mestre
¡ncutia substancialmente as teses afirmadas no discurso anterior; usava,
porém, de matizes, esclarecendo melhor o conceito de laicismo. Este
seria «um tipo de conhecimento alternativo em relacao ao dogmático
e fideísta da religiáo»; comporta o anticlericalismo contra a Igreja, que
quer impor as suas próprias verdades, enquanto os auténticos macons
re¡eitam «o autoritarismo da Igreja... e a imposicao da verdade
eclesiástica»; além do que, «rejeitam os dogmas». A única diferenca
entre os doís discursos é que o primeiro falava de fé «em algo de
transcendente», ao passo que o segundo falava de «fé em Deus».
Como interpretar tal diferenca? Foi intencionada por motivos táticos?
Trarar-se-á de um Deus pessoal único? Em caso positivo, por que eli
minar o monoteísmo da Constituicño?

Quaisquer que sejam as respostas, o que foi dito — e vai sendo


repetido, de um modo ou de outro pelo Grao-Mestre em todas as
tojas que ele visita e em todas as sessoes que ele preside — ¡á é
bastante esclarecedor para os católicos. O problema do monoteísmo,

— 306 —
POR QUE NAO MACOM? 39

porém, suscita algumas questoes. O falo de que o Grande Oriente


da Italia se aproxima das posicoes do Grande Oriente da Franca, será
aceito tranquilamente pela Grande Loja Unida da Inglaterra? Precisa
mente porque se afastaram da religiao, a Grande Lo¡a Unida da
Inglaterra deixou de reconhecer o Grande Oriente Francés em 1878,
rompeu com a Grande Loja do Uruguai em 1950 e com a Grande
Lo¡a Alpina da Suica em 1971; além disto, deixou em quarentena por
110 anos — de 1862 a 1972 — o Grande Oriente da Italia, antes
de Ihe conceder o reconhecimento solicitado.

Os macons da Italia professam novas posicoes laicistas ao extremo


e reivindicadoras de absoluta liberdade de consciincia e de pensa-
mento, admitindo apenas as formolacoes cautelosas da nova Consti-
tuicfio e o reconhecimento de «algo» de transcendente ou de um vago
«Alguém». Será que as querem e podem conciliar com os principios
básicos e intocáveis, formulados pela Grande Loja Unida da Inglaterra
em 1929 e confirmados em 1938 e 1949?

Até aquí o Pe. Capriie. Acrescentamos qua a assercáo do


Gráo-Mestre Corona, admitindo identídade entre a Magonaria
Medieval e a oriunda em 1717, é artificial. Com efeito; na
Idade Media as corporagóes de pedreiros se assemelhavam as
de ourives, ferreiros, carpinteiros... e professavam a fé cató
lica comum a todos os povos medievais; tinham interesses pro-
fissionais e artesanais, nao se preocupando com disputas ou
contenidas filosóficas. A partir do século XVI, porém, as cor-
poracóes de pedreiros (magons, em francés) foram perdendo a
grande importancia artesanal ou técnica que tinham na Idade
Media; por isto no século XVIII, para nao desaparecer, foram
recebendo em seu gremio pensadores, conservando, porém, os
símbolos (avental, esquadro, martelo...) das mesmas. Em
conseqüéncia, podemos dizer que a identídade entre as Lojas
de pedreiros medievais e as de Macons dos séculos XVIII e
seguintes é meramente simbólica (os sinais e os emblemas sao
os mesmos); há, porém, enormes novidades filosófico-religiosas
(ou anti-religiosas) ñas Lojas Magónicas da época moderna.

— 307 —
Médicos falam:

Controle da Natalidade: com que meios?

Publicamos abaixo valioso trabalho sobre controle da


natalidade, da lavra de sete médicos fluminenses, a saber:
Dr. Dernival da Silva Brandáo, Responsável pelo Setor de
Esterilidade Conjugal do INAMPS em Niterói, ex-Conselheiro
do Conselho Regional de Medicina (RJ); Prof. Dr. Herbert
Práxedes, Livre Docente da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Professor Adjunto da Universidade Federal Flumi
nense; Dr. Germano Brasiliense Bretz, Presidente da Academia
Fluminense de Medicina, Patologista Clínico (AMG); Dr. Car
los Tortelly Rodrigues da Costa, Vice-Presidente da Associacáo
Médica Fluminense, Secretario Geral da Academia Fluminense
de Medicina, ex-Presidente do Conselho Regional de Medicina
(RJ); Dr. Celso Cerqueira Dias, Presidente da Associacáo Mé
dica Fluminense; Dr. Waldenir de Braganca, Professor Titular
da Universidade Federal Fluminense, Membro do Conselho
Universitario da Universidade Federal Fluminense, ex-Presi
dente do Conselho Regional de Medicina (RJ); Dr. Joáo Evan
gelista dos Santos Alves, Membro Titular do Colegio Brasi-
leiro de Cirurgióes, Ginecologista do Hospital de Ipanema do
INAMPS.

Em linguagem técnica e precisa, o estudo evidencia a


nocividade do recurso a métodos artificiáis para controle da
natalidade e as vantagens da aplicagáo dos meios naturais,
entre os quais sobressai o método de Billings. Aos sabios auto
res do trabalho a revista PR apresenta seus sinceros agrade-
decimentos.

O problema da natalidade últimamente tem sido assunto freqüente


nos meios de comunicacáo social. Informacóes, as mais contraditórias
possíveis, nem sempre provenientes de fontes idóneas, sao diariamente
transmitidas ao público em geral. Do emaranhado de opinióes emerge,
quase sempre, a falsa idéia de que a limitacño da natalidade constituí
remedio — sen5o suficiente, pelo menos necessário e indispensável —

— 308 —
CONTROLE DA NATALIDADE 41

para os males que afligem a humanidade, como a extrema pobreza, a


fome, a violencia e outros problemas humanos, relacionados ou nao
á falta de recursos. Nao pretendemos, aquí, discutir os varios aspectos
que envolvem essa questao, mas o bom senso e a experiencia mostram
que nao é possivel resolver problemas humanos com a desvalorízatelo
da vida, permitindo-se a deslruicao de um ser humano na aurora de
sua existencia, ou ¡mpedindo o «seu existir» pela interferencia ñas
fontes da vida.

é inegável, porém, a ocorréncia de situacoes em que uma familia


se vé na contingencia de controlar o número de filhos, a curto ou a
longo prazo. Nao podemos ignorar inclusive que é grande o número
de familias que se encontram nessas circunstancias, pois todas as
pessoas, todas as familias, comunidades inteiras, sofrem as tensoes
provenientes do ritmo da vida atual, conseqüentes a varios fatores
e também, em grande parte, a uma mentalidade utilitarista, hedonista,
viciada e distorcida, porém real e influente.

Vemo-nos, assim, diante do problema do planejamento familiar


e da necessidade de encará-lo objetivamente. Entre os varios aspectos
a considerar, surge ¡mediatamente uma questao fundamental: a escotha
dos métodos a serem adotados e as providencias paralelas a serem
tomadas, de modo a se atingirem os fins sem produzir efeitos sociais
graves que possam denegrir a dignidade humana, criando um círculo
vicioso de conseqüéncias imprevisiveis. O remedio ¡nadequado ou mal
formulado, ao invés de representar uma solucáo para a doenca social,
poderá acrescentar mais miserias á agitada humanidade deste final de
século.

Considerando-se o temor de propalada «explosáo demográfica»


conseqüente a crescimento populacional incontrolado, é «vidente que
constituí um contra-senso a promocao abusiva do sexo pelos meios de
publicidade, estimulada, inclusive, pela difusao de métodos anticoncep-
cionais, que sao colocados á venda sem a mínima restricSo. Cria-se,
assim, uma atmosfera de inadequada valorizacao do sexo, com estímulo
de unióes em todos os ambientes e em todas as idades, mas sobretudo
entre adolescentes. Estes, sem discernimento suficiente, sao levados,
pela propaganda e pelas facilidades, a atitudes irrefletidas e incon-
seqüentes, porém capazes de fierar novas vidas. Os efeitos contracep
tivos dos métodos artificiáis se anulam pelo exagerado estimulo ao
processo procriador, tanto no uso ordenado da vida conjugal, quanto
no desordenado do sexo sem compromisso. Entao o recurso passa a
ser o apelo ao abortamento provocado, eliminando-se os filhos ditos
indesejados — em número cada vez maior — de máes solteiras e
mesmo de familias constituidas.

— 309 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

A mentalidade anti-nafalista evolui da contra cepcáo, em si má,


ao aborto livre, e deste á eutanasia para as pessoas deficientes em
qualquer idade. E tudo ¡sso em nome de pseudo-direitos nunca devi-
dómente explicados, porém apoiados em chavóes amplamente difun
didos e que conseguem anestesiar as consciéncias atónitas pelo ritmo
da vida moderna e, por ¡sso mesmo, pouco atentas á realidade e
importancia de cerfos fatos.

E obvio que urna das principáis e urgentes providencias a ser


adotadas — nao só por motivos éticos, mas também com vistas á pro-
criacáo responsável e ao plane¡amento familiar — é a de prover,
pelos meios cabíveis, ao saneamento do ambiente moral e espiritual
da sociedade.

Mas o problema que desejamos colocar é o seguinte: como fazer


um honesto e consciente planejamento familiar, sem atingir a digni-
da-de dos eónjuges, sem desvalorizar a vida humana, sem deturpar a
finalidade intrínseca do ato procriador, sem fechar as portas á vida?
Os métodos propostos exigem criterioso exame de todas as suas par
ticularidades e conseqüéncias antes de serem aceitos. A aplicocáo
do método é materia eminentemente médica e nao pode o médico
prostituir-se com o exercício profissional que esvazie a Medicina de
seu conteúdo ético.

Para evitar que <as mulheres brasiieiras sejam ¡ludidas e indu


cidas por propaganda farta e macica a usarem medicamentos («pílu-
las») ou artefatos (DIU) nocivos á saúde e de efeito abortivo — des-
conhecendo totalmente o que se passa em seu organismo e a que
perigo estáo sujeitas —, ¡ulgamos importante tecer algumas consi-
deracóes quanto a estes produtos; dese¡amos esclarecer certas distor-
cóes e a proposital confusao com que seus qgenciadores envolvem o
uso e o mecanismo de acao de tois produtos para confundir os que
devem, por dever de oficio, condenar e coibir a sua aplicacáo.

1. DISPOSITIVO INTRA-UTERINO (DIU)

O Dispositivo Intra-Uterino (DIU) é um artefalo construido sob


formatos e tamanhos diversos, para melhor se adaptar á cavidade
do útero a que se destina. Existem varios modelos, que se tornaram
conhecídos pelos nomes de seus autores, pelas suas formas ou pelo
material com .que sao fabricados.

— 310 —
CONTROLE DA NATALTDADE 43

Em outras palavras: o referido artefato — intenetonalmente colo


cado -dentro do útero e ai mantido por tempo indefinido — é um
corpo estranho intro-uterino, que impede, por efeito de sua presenca,
o desenvolvimenio da gravidez todas as vezes que sua portadora
concebe um filho.

é falo científicamente constatado que o desenvolvimento do novo


individuo cometa com a fertilizacño do óvulo palo espermatozoide,
constituindo-se assim novo organismo que inexoravelmente continuará
seu desenvolvimento até a morte natural, acidental ou provocada,
dentro ou fora do ventre materno.

É igualmente conhecido que a primeira semana de desenvolvi


mento do novo individuo — da fertilizacáo á implantacao no útero —
é de muito intensa atividade, passando pela fase de segméntatelo em
blastómeros que formam a mórula; é ¡á na fase do blastocisto que
que se aloja no endométrio (fenómeno conhecido como nidacáo ou
nidiíicacao). E o DIU causa a morte do novo ser na fase do blas
tocisto, justamente porque interfere no processo da nidacao.

Obviamente, qualqver artefato que provoque a morle do novo


organismo nao pode ser chamado «anticoncepcional», visto nao haver
impedido a concepcáo, mas atuado após a mesma. Pode parecer
supérfluo chamar a atencao sobre este falo; mas isto se justifica em
razáo da existencia de autores que insistem, erróneamente, em deno
minar o DIU de «anticoncepcional».

Entre os mecanismos de acao atribuidos ao DIU, relacionam-se


os seguintes:

1 — transtorno da funcáo do miométrio, que causa a expulsao


do ovo (óvulo fecundado);

2 — aceleracáo do transporte tubárico do ovo;

3 — modificacóes bioquímicas do endométrio que impedem a


correta transformacao decidual e a nidacáo do blastocisto;

4 — sensibilidade anormalmente baixa do endométrio aos estí


mulos mecánicos que se produzem no momento da implantacao;

5 — mobilizacáo dos leucocitos polimorfonucleares com forma-


cao de um meio uterino hostil aos blastocistos;

6 — acao tóxica sobre os espermatozoides, dificultando a aseen-


sao dos mesmos.

— 311 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Todos os mecanismos citados (com excecao do 6°) ogem após


a fecundacao, sendo, portanto, abortivos. Sua acao espermatotóxica
concomitante é ineficaz para impedir a ascensao dos espermatozoi
des as trompas, onde ocorre a fecundagao.

Quanto aos DIUs de cobre, sabe-se que emitem ions de cobre


capazes de competir com o zinco, podendo, por isso, inibir a reacao
da anidrase carbónica, que contém zinco; podem lambém interferir
com o metabolismo do glicogénio e com o DNA celular na mucosa
uterina. Esses fatos dificultam a ¡mplantacño do ovo no endométrio.

A inibicáo que podem exercer sobre a motilidade dos esperma


tozoides, nao é suficiente para deter totalmente a enorme quantidade
desses gametas que ascende em direcao as trompas d« Falópio, como
admiten) os próprios adeptos do DIU.

Por certo, estes fatos nao foram considerados por quem haja
concluido pela inocencia dos DIUs. Solicitamos a atencao para este
relevante falo: na atualidade nao é mais desconhecido o efeito dele-
tério do DIU sobre o novo ser humano em seus primeiros dias da
existencia, ou se¡a, nao se ignora, hoje, a acao abortiva precoce
deste artefato.

Como se sabe, a natureza prodigalizou um grande excesso de


gametas masculinos para assegurar a reproducao. Variando entre
2,5 a 5 mi de semen, cada e¡aculacao encerra urna concentracao de
espermatozoides que varia entre 80 a 200 milhSes por mi. Concen-
tracóes bem menores sao suficientes para lograr a fecundacao, sendo
considerado viável até o limite mínimo de 30 milhoes ou até mesmo
20 milhoes de células por mi.

O coló uterino retém, normalmente, quantidade considerável de


espermatozoides, mas calcula-se que, para ocorrer a fecundacao,
basta que apenas 10 a 12 mil espermatozoides penetrem na cavi
dad-e uterina. Neste caso, será bem menor a quantidade mínima de
células masculinas que devem alcancar as trompas, para que ape
nas urna penetre no óvulo, fecundando-o. Na realidade, o número
de gametas que ascendem ao útero e as trompas é, normalmente,
mu¡to maior que o mínimo necessário.

£ conhecida a resistencia do semen á acao de substancias quí


micas esperraatotóxicas depositadas no fundo vaginal, cujo objetivo
anticoncepcional é multas vezes frustrado, posto que suficiente quan
tidade de espermatozoides permanece capacitada para ascender ás
trompas e exercer a fecundacao.

— 312 —
CONTROLE DA NATALIDADE 45

Normalmente, a elevada concentracño de células reprodutoras


masculinas resguarda um possível desperdicio das mesmas, no decor-
rer do processo aerador, para que isto nao implique em impedimento
da fertilizacáo do óvulo.

Portanto, o falo de o uso do DIU criar condicoes desfavoráveis*


á vida dos espermatozoides, dificultando sua ascensao as trompas,
nao constituí motivo razoável para admitir-se que este artefato possa
impedir a concepcao.

Sabe-se ser curto o lapso de lempo em que os espermatozoides


se expóem, no meio uterino, as hostilidades causadas pela presenta
do DIU, que nao impede seu trajeto para as trompas. Já os esper
matozoides retidos na cavidade uterina, ficando expostos por mais
tempo, sao agredidos e desaparecem mais rápidamente que o normal.

Vencidas as dificuldades e ocorrida a fecundacao, o novo ser


recém-concebido desee através da luz tubária com destino á cavi
dade uterina para ai permanecer e ¡mplantar-se no endométrio já
na fase de blastocisto. Constituí, portanto, a cavidade uterina nao
uma breve passagem, mas o «habitat» do novo ser até o nascimento.
Se as condicoes naturais, favoráveis ao seu desenvolvimento, forem
modificadas e transformadas em meio hostil, como acontece pela
presenta do DIU, o concepto oertamente perecerá antes ou logo após
a nidacao.

O efeito abortivo do DIU, inclusive o de cobre, fica evidenciado,


sobretudo, com a preconizacáo que se faz atualmente para uso pós-
•coital, visando impedir a nidagao do concepto resultante de ato
«desprotegido».

Além do efeito abortivo, exerce o DIU acao nociva sobre a


saúde da mulher em que é colocado.

A principal complicacao consiste na ¡nfeccáo pélvica, patología


geralmente grave, podendo levar á morte ou deixar seqüelas nem
sempre possíveis de cura, como a esterilidade e dores pélvicas, con-
seqüéncias de aderéncias inflamatorias englobando os órgaos pélvicos.

CompKcacáo mais freqüente e nao menos desprezível é o san-


gramento uterino anormal, que pode ser ¡nlermenstrual, consistindo
em perdas sanguíneas intermitentes durante todo o ciclo, ou intra-
menstrual, consistindo em fluxo menstrual mais abundante e mais pro
longado. Ambas as formas de metrorragia podem expoliar as usua
rias, causando anemia ou agravando anemia pré-exislente.

— 313 —
46 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Entre as complicacoes menos freqüentes deslaca-se a perfuracáo


uterina causada pelo artefato abortivo (DIU), de conseqüéncias
¡mprevisíveis.

Ainda que qualquer entidade internacional venha, ¡ndevida-


mente, a reconhecer esse método, nao será isto motivo para que, no
Brasil, seja tolerado seu uso, violando frontalmente fiossa legistacao
e traindo nossas tradicSes de sagrado respeito á vida humana. Ao
contrario, será isto motivo para que nos afirmemos cada vez mais
numa atitude de grandeza, desfraldando a bandeira do respeito á
vida humana desde a concepcSo, respeito á vida como dom de Deus,
ao invés de conspurcá-la e destrui-la.

2. PÍLULAS ANTICONCEPCIONAIS

fanticoneepaonais oráis)

Nao se conhece ainda, com precisáo, o mecanismo íntimo de


acao das pílulas anticoncepcionais, nem todas as conseqüéncias que
seu uso prolongado pode causar ao organismo da mulher e á sua
descendencia. (Urna prova de que sao imprevisíveis as conseqüéncias
maléficas de produtos hormonais sintéticos sobre a especie humana
encontra-se no surpreendente falo, divulgado pela Organizacño Mun
dial de Saúde, OMS, e pela «Food and Drug Administraron», FDA,
dos Estados Unidos, de que o uso de diethylstilbestrol pela máe durante
a gravidez está relacionado a futuro aparecimento de epitelioma de
vagina na filha).

2.1. Mecanismo de acao dos anovulatórios

Alguns aspectos sao conhecidos. Agindo sobre o hipotálamo e a


hipófise, interferem as «pílulas» em todo o delicado sistema endocrino
feminino, alterando o interrelacionamento glandular, comandado que
é por estímulos provenientes daqvelas estruturas. Repercutem, portento,
sobre toda a economía do organismo feminino, alierando-lhe o ritmo
normal. Ainda nao se sabe seguramente como as coisas ocorrem. é
quase certo, porém, que a acao primordial se verifica sobre os libera
dores hipotalamicos, freando conseqüentemente a liberacao dos
hormónios luteinizante (LH) e folículo-estimulante (FSH), inibindo-lhes
o pico e maniendo níveis baixos, impedindo assim a ovulacáo. A
supressáo é máxima após tres ciclos de trotomento e o uso prolongado
pode ter efeito repressivo sobre outros fatores hipotalamicos de con
trole hipofisário, assim ocorrendo, por exemplo, com o fator inibidor

— 314 —
CONTROLE DA NATALIDADE 47

da Prolactina (PIF), que é freado e, conseqüentemente, a Prolactina


é liberada causando em muitos casos a síndrome de amenorréia-
-galactorréia, que pode, inclusive, ser conseqüéncia de microadenoma
hipofisário, causado ou estimulado pelos estrógenos-gestágenos.

Acáo direta sobre a hipófise tem sido demonstrada por experien


cias em animáis, assim também sobre os ovarios e sobre todos os
derivados do conduto de Müller, bem como sobre outras glándulas de
secrecdo interna e outros órgfios.

Vé-se, assim, que o efeito anticoncepcional dessas substancias é


conseqüéncia de urna malfazeja acao direta sobre o delicadíssimo
sistema endocrino feminino, alterando-lhe o funcionamento normal
e impondo-lhe um ritmo patológico, que pode tornar-se estável e per
sistir assim alterado, mesmo após a retirada da causa (suspensao do
uso das «pílulas»),

Compoem-se as «pílulas» da associacao de hormónios estrogé-


nicos e progestogénicos e nao se pode afirmar qual desses hormónios
é responsável pelos efeitos produzidos, pois se tem verificado que uns
e outros podem interferir sinergicamente e os progestogénios podem
ser metabolizados em estrogénios.

é muito difícil selecionar a pilula anticoncepcional que ofereca


riscos menos graves. Mesmo os pesquisadores encontram dificuldade
para selecionar criterios através dos quais os progestogénios possam
ser devidamente comparados, pois entram em ¡ogo varios fatores nem
sempre facéis de ser avahados. Para se sentir a dificuldade do pro
blema, basta observar o grande número de produtos existentes no
mercado; um mesmo laboratorio possui dois e até tres produtos,
variando ñas substancias e ñas dosagens.

Quanto as doses, nem sempre as menores sao menos agressivas,


pois se trata de estrogénios de alta potencia, superando a atividade
biológica dos outros estrogénios usados em doses mais elevadas. Cada
laboratorio procura obter a preferencia dos médicos, apregoando
certas características dos seus produtos, apresentando-os como se
fossem os melhores, os menos perigosos. Na verdade isto nao ocorre,
pois, se assim fosse, obteria unanimidade dos receituários e outros
produtos seriam abandonados. Alguns produtos utilizados durante
muitos anos, no mundo inteiro, por milhoes de mulheres, sadias ou
nao, eram anunciados como sendo os que ofereciam maior seguranza,
e foram posteriormente retirados do mercado por motivos certamente
graves.

— 315 —
48 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Sabe-se, por outro lado, que cada pessoa tem «eus sistemas
enzimáticos com algumas características próprias, que metabolizam
melhor certas substancias e outras nao. Cada pessoa tem suas idlos-
sincrosias, tem seus fatores predisponentes a determinadas doencqs e,
portanto, a determinadas complicaeóes. E tudo isso é muito difícil de
avallar, de precisar. Alguém ¡á disse, com acertó, que toda mulher que
toma pílulas anticoncepcionais está se submetendo a urna verdadeira
experiencia em escala mundial. E a experiencia continua em anda
mento, podendo-se afirmar que, na historia da humanidade, em tempo
algum, urna droga, com mecanismo de acao nao devidamente esclare
cido, e com tantos efeitos colaterais e complicacóes possíveis, foi
liberalmente aplicada a tao grande número de pessoas por tempos
too prolongado.

2.2. Efeitos colaterais das pílulas anovolutórias

A simples análise dos aspectos conhecidos do mecanismo de acao


das pílulas, ácima referidos, permitiría concluir pela existencia dos
numerosos efeitos colaterais graves, que a experiencia veio demonstrar.
Inclusive em documento do Ministerio da Saúde sobre gravidez de alto
risco encontram-se relacionados muítos desses efeitos colaterais; a
simples leitura daquele documento seria suficiente para, agindo sensata
mente, excluir as pílulas diante das pacientes que apresentam fatores
de risco obstétrico; com efeito, a administracáo dessas substancias
viria agravar os referidos falores de risco e acrescentar outro:, na
mesma paciente.

A seguir, serao enumerados os efeitos colaterais mais importantes:

2.2.1. Efeitos sobre o aparelho cardiovascular

Infarto do miocardio — E maior a incidencia de infarto de miocar


dio entre as consumidoras de pílulas anticoncepcionais. O aumento
de risco é conseqüéncia de ambos os componentes da «pílula»: estro-
genio e progesterona, e nao apenas do primeiro, como se supunho
antes. Quanto mais longo for o tempo de uso das «pílulas», maiores
serao os índices de mortalidade por doencas do aparelho cardio
vascular, que persistem elevados, aínda que a mulher suspenda o seu
uso. Calcula-se que o índice de mortalidade por doenca circulatoria
é 4,7 vezes maior entre as usuarias das pílulas do que entre as que
nunca havíam usado.

— 316 —
CONTROLE DA NATALIDADE 49

Hipertensóo arterial — Pode surgir ou agravar-se no decorrer do


ujo das «pilulas» em virtude de alteracoes no sistema renina-angios-
tensina-aldoslerona: aumento da reniña plasmática, aumento do efeito
pressor da angiotonina e aumento da retencao de sodio provocado pela
aldosterona.

Alguns fatores de risco, ¡solados ou associados, aumentam o


perigo de morte por doenca cardiovascular ñas usuarias das pílulas
anticoncepcionais: hábito de fumar, hiperiensao arterial, diabetes,
obesidade, hiperlipemia, idade ácima de 35 anos.

2.2.2. Efeitos sobre a coagulacáo sanguínea

Observa-se aumento na maior parte dos fatores de coagulacáo


sanguínea, diminuindo o tempo de coagulacáo, provavelmente por
efeito estrogénico. Os gestágenos diminuem o tónus venoso agindo
diretamente sobre a parede vascular e produzindo, assim, estase
venosa da pelve e dos membros inferiores, favorecendo a formacao
de trombos.

Pela acáo dos anovulatórios verificam-se as seguir.tes alteracoes,


que ¡nterferem no mecanismo de producao das tromboses: diminuicSo
da velocidade sanguínea, aumento da estase venosa, aumento da laxa
de protrombina, aumento da atividade dos fatores Vil, VIII, IX, X da
coagulacáo, diminuicao da antitrombina III e aumento da adesividade
plaquetária e da viscosidade sanguínea.

Varios estudos realizados na Inglaterra, na Suécia, na Dinamarca,


nos Estados Unidos, tem comprovado positiva correlacao entre o uso de
esrrogénios e o risco de acídenles trombo-embólicos (pulmonar, cere
bral, coronariano, retina, trombose venosa profunda, etc.), aumentando
de tres a orto vezes o risco, em mulheres sadias, &em nenhum outro
transtorno pré-disponenle, sendo que para as tromboses superficiaii
da perna o aumento de risco é de 50%. £ maior a incidencia ñas
mulheres ácima dos 35 anos e ñas fumantes.

2.2.3. Efeitos sobre o metabolismo

Ocorre reducáo nos níveis sanguíneos das vitaminas hidrossolú-


veis (sobretudo piridoxina e ácido fólico), do calcio, do zinco e do
magnesio.

— 317 —
50 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Ver¡fico-se aumento dos triglicerídios, fosfolipidios e colesterol,


de grande importancia na patogenia da arteriosclerose e do infarto do
miocardio.

Observa-se queda nos níveis de aminoácidos e de albúmina.

Há interferencia no metabolismo cerebral do triptófano, com


diminuicao dos níveis de serolonina no cerebro, podendo provocar
disturbios depressivos e do sonó.

Pode ocorrer aumento ponderal, provavelmente provocado pelo


efeiio anabólico dos gestágenos (quimicamente relacionado ao radical
andrógeno) e pela retencao hidrica ligada aos andrógenos ou aínda
por possível hipotiroidismo conseqüente á inibicao do hormSnio tireo-
trófico da hipófíse.

A diabetes pode ser agravada ou surgir em pessoas susceptíveís.


Foi relatado que 15 a 40% das consumidoras de pílulas anticoncepcio-
nais apresentam alteracóes no teste de tolerancia á g I ¡cose.

A obesidade constituí fotor que aumenta o risco de complicacoes


ñas usuarias das «pílulas» e por ¡sso as obesas estao mais sujetas
aos efeitos colaterais ¡ndesejáveís. Também constituí fator de aumento
de risco o teor de gordura inferior a 15% do peso corporal, logo
também as magras estao mais expostas ás complícacóes causadas pelas
«pílulas».

2.2A. Efeitos sobre o sistema nervoso central

Tem sido constatado aumento de 6 vezes no risco de trombose


cerebral em mulheres sadias, sem transtornos pré-dísponentes. O
principal sitial prodrómico é urna cefaléia que comeca tres meses antes
da isquemia cerebral. Tém sido relatados enfartes cerebrais maricos,
hemorragia» ou nao, consecutivos a trombose da carótida ou da
cerebral.

Relatam-se aínda: cefaléias vasculares análogas á enxaqueca, ou


agravamento desla, estado depressívo, can saco, diminuicao da libido,
aumento na incidencia de epilepsia e agravamento das disritmias
pré-exístentes.

Outro acídente grave é a hemorragia sub-aracnóídea. Ocorre


cerca de 6,5 vezes maij entre as usuarias das «pílulas» que entre as
nao usuarias; também aqui persiste o aumento de risco mesmo após
cessar o uso (o risco entre as ex-usuárias é 5,4 vezes maíor do que
entre as mulheres que nunca fízeram uso das «pílulas»).

— 318 —
CONTROLE DA NATAUDADE 51

2.2.5. Efeitos sobre o aparelho digestivo

Síntomas gastro-inteslinais como náuseas, vómitos, colites, etc.,


podem ocorrer.

Pancreatite aguda é ocorréncia a ser temida em usuarias das


pílulas anticoncepcionais, e pode ser suspeitada pela existencia de
níveis extremamente elevados de colesterol e triglicerídios no plasma.

Verificam-se alteracoes da funcáo hepática ñas usuarias das


pílulas anovulatórias, bem como ocorréncia da ictericia colestática e
aumento na incidencia de colelitíase e coledstits. Adenomas de
células hepáticas nao sao freqüentes, mas ocorrem em maior número
entre as consumidoras de pílulas anovulatórias, sendo relatados casos
de rotura e hemoperitónio em pacientes jovens.

2.2.6. Efeitos oftalmológicos

Alteracoes dos vasos da retina e do ñervo ótico podem ser provo


cadas pelo uso das «pilulas», tais como: trombose da veia central e/ou
de seus ramos, Irombose arterial, edema de papila, neurite ótica, perda
da visao (parcial ou completa, gradual ou repentina) e, também,
intolerancia ao uso de lentes de contato, por alteragáo na secrecao
lacrimal.

2.2.7. Efeitos sobre a audicáo

As «pílulas» podem causar hipoacusia e outras perturbacóes


auditivas.

2.2.8. Efeitos sobre o aparelho urinario

O uso das «pílulas» pode provocar nefropatia hipertensiva e


dilatacáo do uréter. O risco de ocorrer infeccao urinaria é 25 a 50%
maior entre as usuarias das «pílulas» do que entre as nao usuarias,
podendo a afeosño ocorrer de maneira assintomática.

2.2.9. Efeitos sobre os órgáos genitais

Sobre a vagina — Esfregaco hipoestrogénico, conseqüente a


hipotrofia do epitelio vaginal, interferindo desfavoravelmente no rela-
cionamento sexual. Os «corrimentos» sao 50% mais freqüentes entre
as usuarias das «pílulas».

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52 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Sobre o coló uterino — Relata-se hiperplasia da mucosa endo-


-cervical, com eversáo, poden do tomar aspecto papilar. Existem tra-
balhos mostrando aumento na promocáo e progressao das displasias
a carcinoma «¡n situ» do coló uterino.

Sobre o corpo uterino — Alteracóes na estrutura histológica do


endométrio causadas pelas «pílulas» sao bem conheddas pelos anoto-
mopatologístas. Perdas sanguíneas extemporáneas ou «de escape» nao
sao raras. Amenorréia, geralmente após o uso prolongado de pílulas
anticoncepcionais, é conseqüencia da inibicao hipotalamica, hipofisária
ou oyariana. Pode estar relacionada á galactorréia, como ¡á vimos
anteriormente, por inibicáo do PIF no hipotálamo e conseqüente libe-
racao de prolactina pela hipófise. Nestes casos é necessário excluir
a existencia de adenoma hipofisário, que pode ser provocado ou agra
vado pelo uso de pílulas anticoncepcionais, como já referimos ácima,
ao tratar do mecanismo de acáo e dos efeitos sobre o sistema
endocrino.

O uso das pilulas pode provocar o aparecimento de mioma uterino


em pacientes predispostas ou promover o aumento de mioma pré-
-existenie, e tem sido responsabilizado pelo aparecimento de casos de
carcinoma do endométrio, sobretudo as pílulas seqüenciais.
Sobre os ovarios — Hipofuncao ou atrofia ovariana podem ser
conseqüéncias do uso prolongado de «pílulas», devido a interferencia
nos enzimas ovarianos da esteroidogénese, causando amenorréia que
pode ser definitiva.

Sobre os mamas — Além da galactorréia ¡á referida, pode haver


mastalgia, aumento de volume, aparecimento de condensacóes que"
muifas vezes exigem biópsias para excluir malignidade. As substan
cias das «pílulas» sao encontradas em quantidade mensurável no leite
materno, quando prescrita; durante a lactacao, trazendo prejuízo para
a enanca. Diminuí a secrecdo láctea e reduz a concentracáo de
proteínas, lipídios, e alguns minerais no leite. Na enumerando de
fatores de alto risco para cáncer da mama, foi incluido o uso prolon
gado de estrogénios. Assim, todas as mulheres que usam pílulas anti
concepcional sao pacientes de alto risco para cáncer de mama.

2.2.10. Efeitos sobre as doencas sexualmenfe transmitidas


Verifica-se o aumento na incidencia das doencas venéreas, em
decorréncia da promiscuidade sexual causada pelo uso indiscriminado
das «pílulas». As vezes acompanham-se de herpes virus, que podem
provocar alleracoes celulares no epitelio do coló uterino, tornando-o
predisposto a neoplasías malignas.

— 320 —
CONTROLE DA NATALIDADE 53

2.2.11. Efeilos cardnogenétícos

A acño carcinogenética desses produtos tem que ser considerada


pelo médico que pensa em prescrevé-los a suas clientes. Sabe-se que
a administracao prolongada de estrogénios, tanto naturais como sinté
ticos, a determinadas especies animáis aumenta a incidencia de alguns
carcinomas, é certo que nao se podem transportar essas conclusóes
diretamente para a especie humana, mas nao se pode esquecer que
no homem o tempo de laténcia é bem mais longo, e os efeitos tardíos
nao podem ser excluidos.

Já referimos ácima a surpreendente divulgacáo feita pela OMS


e pela FDA dos Estados Unidos, sobre o aparecimento de epitelioma,
vaginal em mocas, cujas maes fizeram uso de esrrogénios (dietilstil-
bestrol) durante a gravidez (embora nao seja este o estrogénio usado
ñas «pílulas», o fato serve como exemplo da imprevisibilidade quanto
a efeitos nocivos futuros pelo uso, a longo prazo, de qualquer produto
hormonal).

Ainda recentemente as pílulas seqüenciais foram responsabilizadas


pelo aparecimento de casos de cáncer de en dométrio, sendo por isso
retiradas do mercado após mais de onze anos de uso por milhares de
mulheres no mundo inteiro.

Os tumores estrógeno-dependentes desenvolvem-se em tecidos


cujas mitoses sao aceleradas pela acao estrogénica. Assim, o apare
cimento de cáncer estrógeno-dependente (na mama, por exemplo)
pode ser desencadeado pelo oso prolongado de substancias estrogé-
nicas em pacientes susceptíveis ao desenvolvimento desses tumores.

2.3. Contra-indicaeSes médicas ao uso de pílulas anovulatórias

£ difícil distinguir entre contra-indicacoes relativas e contra-


-indicacoes absolutas, pois cada pessoa apresenta particularidades
difíceis de aquilatar.

Enumeramos, entre outras, as seguintes:

Portadoras ou com antecedentes familiares ou pessoais de: hiper-


tensao arterial, diabetes, tumores malignos hormánio-dependentes
(cáncer de mama, cáncer de endométrio, etc.).

Portadoras ou com antecedentes pessoais de: flebite, embolia,


varizes, coronariopatias, cardiopatia crónica, hiperlipidemia, hepato-
patias, nefropatias, «nxaqueca, epilepsia, psicose, disturbios visuais,

— 321 —
54 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

tumor maligno de qualquer órgáo ou tipo, tumor benigno hormónio-


-dependente (mioma uterino, nodulo e displasia mamaria, etc.), mas-
topatú] funcional, displasias cervicais, tumor hipofisário, certas endo-
crínopatias, colagenoses, anemia falciforme, etc. Mulheres obesas.
Mulheres magras. Mulheres fumantes. Mulheres com 35 anos de idade
ou mais. Mulheres com mais de cinco anos de uso de pílulas, em
quaisquer condicoes. Adolescentes. Etc...

2.4. Controle das pacientes

Pelo exposto, vemos que o uso de pílulas anticoncepcionais exige


rigoroso e constante controle médico das consumidoras, incluindo:

1) Exame ginecológico complexo: exame das mamas, colpoci-


tologia, colposcopia e biópsias nos casos indicados.

2) Verificacao da pressao arterial e exames de laboratorio


periódicamente: glicemia, azotemia, coagulograma, lipidograma, provas
de funcáo hepática, além de outros, que os diferentes casos exigem.

3) Supervisao clínica, .ginecológica, neurológica, oftalmológica


periódicas, bem como participacao de outros especialistas, .quando
necessário, e ainda a necessidade de exames só realizáveis em grandes
centros.

Todos os efeitos referidos sao muito dificeis de ie prever e podem


provocar graves danos á saúde, caindo a responsabilidade, em última
análise, sobre o médico que prescreve a «pílula», muitas vezes pressio-
nado pelas circunstancias.

Portanlo, quando um médico pensar em indicar pílula anovulató-


ria, deve refletir sobre todos esses problemas. Alias, o termo indtcacáo
nao se aplica a esses produtos, pois, em Medicina, quando indicamos
um produto para ser usado pelo cliente, só o fazemos após diagnosticar
urna doenca ou constatar um disturbio orgánico que necessita ser
corrigido. Nos procuramos, com os medicamentos, restabelecer o estado
orgánico normal. Com os anovulatórios ocorre exatamente o contrario:
sao produtos hormonais usados em pacientes endocrinologicamente
sadias, visando alterar-lhes o normal funcionamento endocrino. Nao
podemos indicar um produto com a finalidade de criar urna situacao
anormal. Seria um contra-senso, e estaríamos contrariando aquele
antigo preceito da medicina: «primum non nocere» (antes do mais,
nao prejudiear).

— 322 —
CONTROLE DA NATALIDADE 55

As implicacoes ético-sociais e o próprio mecanismo de acao das


pílulas anticoncepcional na supressáo da ovulacao — por si só dañoso
ao organismo feminino —, os efeítos cola (erais, as contra-indicacoes
e o exaustivo acompanhamento médico exigido para oferecer relativa
seguranca as usuarias da pílula, excluem de seu uso um número tfio
grande de mulheres, praticamente toda a populacao feminína, que tíos
surpreenderia ver tais produtos serem recomendados e distribuidos por
instJtuicoes governamentais, quando deveriam reprimir seu uso inde-
vido, para fins contraceptivos.

3. MÉTODO NATURAL: PATERNIDADE RESPONSÁVEL


A paternidade responsável é implícita ao próprio exercício da
funcao conjugal. O problema que se coloca é: como fazer urna honesta
« consciente paternidade responsável? O consenso universal nos diz
que existem acoes honestas e acoes desoneslas: nem todos os atos
humanos sao bons e honestos. No modo como se realiza a paterni
dade responsável, é importante, sobretudo, salvaguardar a dignidade
do pessoa humana. Só há verdadeiramente progresso, só há o desen-
volvimento do homem quando sao desenvolvidas as potencialidades
naturais de humanizacáo. Muitas vezes a ciencia e a técnica, quando
mal empregadas, sao desumanizantes. Se a fissáo e a fusao nuclear
sao empregadas para impor o terror atómico, ou se conhecimentos de
psicología sao empregados para lavagens cerebrais, nao se pode
falar de crescimento humano. O homem, no seu agir, nao pode sef
¡nconseqüente e desorientado. Ele necessita de normas objetivas de
comportamento, de criterios objetivos de moralidade, que nao devem
ser confundidos com costumes luso, convencdo). Estes devem ser infor
mados pelas regras moráis, se se quer promover a dignidade humana.
A consciéncia moral é urna necessidade básica do ser humano, e isto
é muito importante neste momento histórico, pois que — nao é difícil
concluir — a crise da humanidade, a críse do nosso mundo, é de
natureza moral.

A técnica em si é neutra, indiferente, dependendo seu valor,


ético de como o homem a utiliza e para qué. Por exemplo, fazer
aborto, mesmo dentro das melhores técnicas — ainda que ocultamente,
nos primeiros momentos após a concepcáo, em gravidez clínicamente
desconhecida (como é o caso do DIU, técnica modernamente aper-
feicoada) — consiste sempre em matar seres humanos inocentes e
indefesos. O aborto continuará sendo um crime, mesmo se houver
omtssao legal de punicao. Nao se pode falar de progresso humano
quando se instituí a leí do mais forte.

— 323 —
56 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Mas sabemos todos que o problema ético da natalidade nao se


resume na salvaguarda da vida humana concebida, nem se reduz a
urna questao de técnicas. O horizonte dessa materia é bem mais
ampio. Antes mesmo de se configurar a situacao dramática e extrema
do aborto, o valor da pessoa humana exige que sua dignidade seja
respeitada no próprio nivel das fontes de transmissao da vida.

Quais sao, portanro, as características de urna paternidade cons


ciente humanizante? Considerando que a funcáo do médico é a de
prevenir e curar as doencas dentro das premissas da saúde e da
normalidade do seu cliente, quais sao, para o médico, as linhas-meslras
de urna paternidade consciente, conforme a natureza humana?

Do ponto de vista ético, é necessário nao abrir mao dos valores


genuinamente humanos, que as solucoes pragmáticas desprezam.
Dentre esses valores ressalta o respeito á integridade morfológica,
fisiológica e psicológica da pessoa humana. Quanto mais se destrói o
processo natural do ato, tanto menos ele se conforma á sua instituicao
objetiva. Os processos artificiáis de plane¡amento familiar nao consi
derara essa desnaturacáo do ato. Daí todos eles terem contra-indica-
coes médicas, algumas de natureza grave, como é o caso das «pílulas»;
outras vezes menos graves, como é o caso do coito interrompido
e do condón, cu¡as perturbacoes psicológicas para o relacionamenlo
conjugal sao conhecidas e nao desprezíveis. Tambéni é necessário
reafirmar, dentro da sexualidade humana, o respeito que se há de ter
pelo outro — o respeito á dignidade humana — e denunciar, vigorosa
mente, uma tendencia da própria sexualidade: o instinto de posse e
dominacáo. Há uma tendencia, característica do comportamento atual,
de colocar o prazer como um fim, em si mesmo, do ato sexual e nessa
perspectiva o outro é instrumentalízado como objeto do prazer. Isso
é uma «coisificacao» da pessoa humana, que atenta contra sua digni
dade própria. E a sexualidade humana perde a sua bondade natural,
deteriorada pela busca de anormal exaltacao do prazer sexual (este
é natural, bom e desejável na normalidade de um legítimo relaciona-
mento conjugal). Em vez de libertar humanizando, o homem é
escravizado á sua animalidade instintiva, reduzindo a sexualidade á
sua dimensáo genital, despersonalizadora. Cria-se dessa maneira
uma mentalidade fundamentalmente anticoncepcional, causa e con-
seqüéncia do egoísmo e do utilitarismo característicos do nosso
momento histórico, deturpando, desnaturando aquela bondade funda
mental da sexualidade humana. £ o egoísmo sexual narcisista, imaturo
e característicamente irresponsável, porque voltado para o próprio
prazer e nao voltado para a dimensáo psico-sócio-biológica, inter-
pessoal, humanizante, da sexualidade.

— 324 —
CONTROLE DA NATALIDADE 57

Estes valores, genuinamente humanos, sao preservados no planeia


mento natural da familia. Optamos pelos métodos naturais, entre
outras razoes, porque os métodos artificiáis sao prejudicio!; á saúde
e tém proporcionado unioes sexuais pré e extra-conjugais, a pro-
miscuidade sexual, aviltando a sexualidade humana e promovendo
formas irresponsáveis de comportamento humano, que minam a estru-
tura básica da familia e da sociedade.

Já o planejamento natural da familia implica no respeito básico


aos processos biológicos da reproducao humana, respeitando igual
mente os seus aspectos psicológicos e sociais, tornando a uniao
conjugal a expressáo responsável de um bom relacionamento humano.

As técnicas do planejamento natural da familia se apoiam no


fato científico de que as mulheres, ao longo de sua maturidade sexual,
correspondente á fase reprodutiva, tém longos períodos esteréis, alter
nados com pequeños períodos de fecundidade. A capacidade de a
mulher reconhecer quando é fértil ou estéril é urna característica
importante da sua maturidade pelo conhecimento de si mesma. A
partir desse conhecimento, juntamente com o marido, ela é capaz de,
numa perspectiva humana de crescimento com responsabilidade, regu
lar o seu relacionamento físico e sexual em vista do número de filhos
que pode e deve !er.

O método Billin,gs (conhecido também como «método da ovula-


cáo») vem alcanzando grande éxito no planejamento natural da
familia, é um método verdadeiramente científico, comprovado com
avaliacóes hormonais e exames físicos, e ¡á submetido a provas experi
mentáis, é bastante simples e prático, aplicável inclusive em áreas
geográficas de baixo nivel cultural. Experiencias bem sucedidas foram
feitas em países como Filipinas, Irlanda, (ndia (Bangalore), Sao
Salvador e Nova Zelandia, sob a orientacáo da OMS, que, por sua
vez, incluiu o método de Billings entre os de mais alta eficacia (98,5%).
é um método aplicável a situacoes variáveis da fisiología feminina,
tais como os ciclos regulares ou irregulares, ciclos anovulatórios na
amamentacao, na pré e pós-menopausa, etc. Para Uso, a mulher deve
aprender a observar o seu próprio padrao de muco, o que nao é difícil,
como ¡á tem sido registrado por varios especialistas brasileiros, inclusive
no ambulatorio de planejamento natural da familia do Setor de Esteri-
lidade Conjugal do PAM 517.051 .403 de Niterói — RJ; neste ¡á vem
sendo aplicado o método que se revelou inocuo e eficiente, e que
respeita a relacao sexual em sua plenitude; é simples, prático e
económicamente nada despende, nem mesmo exige pessoal especiali
zado, pois os próprios casáis podem propagá-lo, .quando orientados
para tal.

— 325 —
58 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

4. CONCLUSÓES

1. Considerando que o direito á vida é o primeiro direito na


tural, que se adquire no momento mesmo em que a vida é concebida,
e que nao emana de simples convencáo, mas constitui principio funda
mental de direito natural, sendo, portanto, urna prerrogativa de todo
ser humano desde a concepcao, consistindo em «conditio sirte qua non»
de todos os outros direitos;

2. Considerando que é fato científicamente comprovado e


amplamente difundido que o ciclo de urna nova vida humana tem
inicio na concepcao com a fecundando do óvulo pelo espermatozoide,
ocasiao em que se estabelece todo o potencial genético do novo ser
e tem inicio seu desenvolvimento progressivo e ininterrupto alé a morte
natural, acidental ou provocada, em qualquer fase de seu desenvolví»
mentó, dentro ou fora do ventre materno;

3. Considerando que ha unidade e continuidade no desenvolvi


mento do novo ser, o qual passa por todas as fases genéticamente
determinadas na célula inicial, sendo, todas, etapas da mesma vida;

4. Considerando que é falsa e perigosa qualquer tentativa de


solucionar problemas humanos desvalorizando e rebaixando a vida
humana ao nivel animal, em qualquer fase de sua existencia, de modo
a poder ser destruida impunemente,-

5. Considerando que o dispositivo intra-uterino (DIU) é um


artefato abortivo sistemático disfarcado em anticoncepcional, é um
corpo estranho intencionalmente colocado dentro do útero para impedir
— por forca de sua presenta — o desenvolvimento da gravidez todas
as vezes que sua portadora concebe um filho;

6. Considerando que, em face das graves e numerosas compli-


cacoes e conlra-indicacoes médicas ao uso das pilólas anovulatórias,
a prescricao dessas substancias exige rigoroso, constante, exaustivo,
e dispendioso controle médico das consumidoras, o que, em geral, nao
é possível realizar devidamente;

7. Considerando que o uso desses métodos («pílulas» e DIU)


infringe elementares principios da ética médica e dispositivos da legis-
lacSo brasileira (civil e penal), constitui atentado á dignidade da
mulher e aínda oferece risco para sua saúde (Lei das Contravéngaos
Penáis, art. 20; Código Civil, art. 4«; Código Penal, arts. 124 a 127;
Código de Ética Médica, arts. 4% 54 e 56¡ etc.!;

— 326 —
CONTROLE DA NATALIDADE 59

8. Considerando que os demais métodos anticoncepcional


artificiáis sao igualmente antí-éticos, ilegais e prejudiciais á saúde,
inclusive os cirúrgicos (laqueadura tubária e vasectomia), que sao
mutiladores de órgáos sadios;

9. Considerando que o anticoncepcionalismo, quebrando o


primeiro elo da lei moral de respeito á vida humana, favorece a acei-
tacáo de métodos cripto-abortivos e, depois, do abortamento livremente
praticado, fato largamente comprovado: sabe-se que as cidades do
mundo onde mais se pratica a anticoncepcao sao aquetas em .que mais
se pratica o aborto;

10. Considerando as implicacoes ético-sociais dos métodos arti


ficiáis de controle da natalidade, bem como os efeitos dañosos sobre
o organismo humano e ainda a repercussáo altamente desfavorável
sobre a moralidade, contribuindo para a corrupcño dos costumes e
conseqüentemente prejudicando a ordem e harmonio social;

11. Considerando que o planejamento natural da familia


(opcao pelos métodos naturais) implica no respeito básico aos pro-
cessos biológicos da reproducao humana, respeitando igualmente seus
aspectos psicológicos e sociais, maniendo na uniao conjugal a expres-
sáo responsável de um bom relacionamento humano;

12. Considerando que o método natural é verdaderamente


científico, comprovado com avaliacóes hormonais e exames físicos e ¡á
submetido a provas experimentáis, e que é bastante simples e prático,
aplicável inclusive em áreas geográficas de baixo nivel cultural;

13. Considerando que a Organizacdo Mundial de Saúde (OAAS),


após experiencias bem sucedidas, incluiu o método natural (método
de Billings) entre os de mais alta eficacia (98,5%);

\A. Considerando que o método de Billings (natural), também


chamado método da ovulacáo, é aplicável a situacoes variáveis da
fisiología feminina, tais como os ciclos regulares ou irregulares, no
puerperio, na amamentacao, na pré e pós-menopausa, etc.;

15. Considerando que a Medicina, desde as suas mais remolas


origens e em todas as suas formas, sempre se caracterizou pelo con-
teúdo fundamentalmente moral de suas intencóes e de seus atos;

16. Considerando, finalmente, .que ácima de toda lei humana


e ácima de toda indicacáo ergue-se indefeetível a lei de Deus,

— 327 —
60 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

SUGERIMOS QUE, EM RESPETTO Á DIGNIDADE DA


PESSOA HUMANA, SEJAM TOMADAS AS NECESSÁRIAS
PROVIDENCIAS PARA INTERDITAR, COM A DEVTOA
URGENCIA, AS TENTATIVAS DE INSTITUCIONAUZACAO
DO ANTICONCEPCIONALISMO E DE MÉTODOS CRIPTO-
-ABORTTVOS. PARA A PREVENCÁO DE GRAVIDEZ DE
ALTO RISCO E PARA O PLANEJAMENTO FAMILIAR,
SEGUNDO O PRINCÍPIO DA PATERNIDADE RESPONSÁ-
VEL, SEJAM RECOMENDADOS SOMENTE OS MÉTODOS
NATURAIS.

NOTA

Com referencia ao programa «Fantástico» da TV-Globo de


3/6/85, desejo esclarecer que nao neguei a autenticidade das
aparicoes de Fátima; apenas qu2s referir-me ao «segredo de
Fátima», interpretando <o que parece ser o pensamento da
Igreja a respeito. Observamos que os Papas nunca falaram
oficialmente de tal segredo, nem mesmo quando estiveram em
Fátima Paulo VI e Joáo Paulo II. A razáo disto é que a Igreja
nao pode dar caráter oficial a revelacdes particulares; estas
nao podem ser equiparadas á revelacao feita pela Tradicáo
bíblica « apostólica. O segredo de Fátima nao tem importan
cia decisiva para a salvacao dos cristalos, pois nenhuma revela»
cao particular acrescenta algo de esencialmente novo aquilo
que já nos foi revelado na plenitude dos tempos pelo Satinar
Jesús. Lamentavelmente, porém, muitas pessoas, apelando
para o segredo de Fátima, anunciam proximidade de Terceira
Guerra Mundial, fim do mundo frninente, catástrofes cósmi
cas, etc.; ora isto, em grande parte, é fantasía, que só serve
para perturbar sem fundamento. Nao se faca de Fátima mo
tivo de apavoramento, pois na verdad© a mensagem de Fá
tima deve despertar um fervor confiante e alegre nos fiéis
católicos. — Pe. Estéváo Bsttencourt O.S.B.

— 328 —
Um clarSo de luz:

"Psicoterapia e Sentido da Vida"


por Viktor Frankl

Em sfntese: Viktor Frankl ultrapassa as clássicas correntes de psico


logía que véem no comporlamento humano apenas a expressáo de afetos
como o desejo do prazer ou o desejo da autoafirmacfio. O psicólogo austríaco
admite no ser humano um plano superior, que é o do espirito, dotado da
vontade de sentido; todo homem, por conseguinte, procura espontáneamente
o sentido ou o porqué e o para qué da vida; caso tal anselo nfio encontré
resposta, dá lugar á neuroso. O sentido da vida, para Frankl, leva natural
mente a admitir a transcendencia ou Deus; por isto, tal autor respeita e
valoriza a religláo.

A luz destas premissas, o autor, no llvro em foco, considera outrossim


o sentido da morte, o do sofrimento, o do trabalho, o do amor..., apresen-
tando facetas de cada tema nSo explanadas nos llvros de psicología Inspira
dos por correntes materialistas.

Já se disse que atualmente, no campo do saber, o maior


inimigo dos valores religiosos nao sao as ciencias exatas (quan-
titativas, físicas, mecánicas...), mas a psicología. Na verdade,
esta, cultivada nos últimos decenios por autores materialistas,
tem-se oposto aos valores religiosos, nao sempre por lhes decla
rar combate aberto, mas por relativizá-los ou torná-los mera
mente subjetivos. A psicología materialista ignora a Trans
cendencia; só reconhece expressóes religiosas imanentes e sub
jetivas ou reduzidas ao subjetivo; daí chamar-se «psicología
reducionista».

Todavia esta corrente de pensamento já tem sua contra-


-parte em outra linha de estudos psicológicos que levam em
conta a dimensáo espiritual do ser humano e julga só poder
entender a pessoa do paciente se se considera a sua abertura
estrutural e congénita para os valores religiosos e transcen-
dentais. Urna das expressóes mais típicas desta concepgáo é o
psicólogo e psiquiatra Viktor Frankl, professor de Neurología
e de Psiquiatría na Universídade de Viena. Em PR 278/1985,

— 329 —
62 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

pp. 61-65 já apresentamos o pensamento deste autor através


de um comentario de Joáo Mohana. Dada a importancia do
seu legado doutrinário, voltamos ao tema neste fascículo, ana-
lisando alguns tópicos do livro «Psicoterapia e Sentido da Vida»
de Viktor Frankll.

1. O Sentido <ia Vida

Viktor Frankl parte do principio de que no homem existe,


além do anímico (soelisch), o espiritual (geistig).

«A hora do parto da psicoterapia soou guando se comecaram a


ver, por tras dos sintonías somáticos, as causas anímicas, isto é, quando
se comecou a descobrir a suo psicogénese. Mas agora o que importa,
é dar ainda um passo último e, ultrapassando, para além do psicógeno,
a dinámica dos afetos da neurose, contemplar o homem na sua neces-
sidade espiritual — para o ajudarmos daí em diante» (p. 24).

O anímico estaría ligado á anima, principio vital respon-


sável pelos apetites sensitivos do ser humano; entre estes seria
predominante o do prazer, segundo Sigmund Freud, ou o da
autoafirmagáo, segundo Alfred Adler. As escolas psicoterápicas
costumam reduzir o homem a esse ser em busca de prazer ou
de autoafirmagáo, na falta das quais o individuo entraría em
neurose.

Ora Viktor Frankl ultrapassa esta perspectiva. Julga que


a faculdade mais típica do homem é a espiritual, que tem o
seu apetite próprio, que é o do sentido da vida2. Por conse-
guinte, julga que a missio do médico consiste em ajudar o
paciente a alcangar urna escala de valores e urna cosmovisáo
(a própria do paciente, sem interferéncna nem imposicáo).
Cita o caso de um professor universitario enviado a clínica de
Frankl por sofrer de desespero quanto ao sentido da vida; a
conversa entre o terapeuta e o paciente revelou que se tra-

1 Editora Quadrante Ltda.. Rúa Iperolg, 604, 05016 Sao Paulo (SP).
a Frankl nao entra na questfio: anima e splrttus se distinguen) um do
outro ou nflo? Apenas considera as expressóes ou a fenomenología do ser
humano. Na verdade, a filosofía escolástica crista afirma que a anima (alma)
humana é espiritual. No ser humano hé um só principio vital, que é espiri
tual (espirito) e que responde pelas funcoes vegetativas, sensitivas e
esplrltuais da pessoa.

— 330 —
«PSICOLOGÍA E SENTIDO DA VIDA» 63

tava de um estado depressivo. Precisamente as elucubragóes


sobre o sentido da vida nao assaltavam o paciente quando se
achava em fase depressiva; pelo contrario, nesses momentos
estava táo hipocondriacamente preocupado que nao conseguía
pensar absolutamente em nada. Só nos intervalos sadios é
que conseguía refletir! «Por outras palavras: entre a neces-
sidade espiritual e a enfermidade anímica havia relagáo de
exclusáo». Donde concluí Frankl que a preocupacáo com o
sentido da vida jamáis pode ser expressáo de doenga ou mor
bidez, mas, ao contrario, é a manifestacáo do que há de mais
sadio e auténticamente humano no homem. «Freud era de
outro parecer quando escrevia a María Bonaparte: 'Se alguém
pergunta pelo sentido e o valor da vida, é porque está doente'
(cartas 1873-1939, Francoforte do Meno 1960)» (p. 56).

«Podemos perfectamente imaginar animáis altamente evoluídos


que — como as abelhas e as formigas — em certos aspectos de
organizacao social... cheguem a superar a sociedade humano; maí
jamáis poderemos imaginar qve um animal seja capaz de suscitar o
problema do sentido da sua própria existencia... Só ao homem
como tal é dado... ter a vivencia de sua existencia como algo
problemático» (p. 56).

Na realidade, «o problema do sentido da vida é um dos


mais pregnantes entre aqueles com que o doente da alma, na
sua luta espiritual, assalta o médico. E nao é este quem o
levanta; é precisamente o paciente que, na sua necessidade
espiritual, insta com o médico para que lho resolva» (p. 55).

Por conseguinte, Frankl nao compartilha a posigáo de


Sigmund Freud, que pretendía reduzir a religiáo a urna forma
de neurose:

«A tentativa do reducionismo na forma da psicología. . . Freud


só cedeu no momento em que chegou á seguinte conclusao: 'Para a
religiáo ¡á encontré! um cómodo na minha modesta casinha, desde que
tropecé! com a categoría de neurose da humanidade'. Aqui é que
Freud se enganou» (p. 45).

Com efeito; á questáo do sentido da vida só pode ser


dada resposta cabal se o homem se eleva á Transcendencia ou
se p5e em demanda do Bem Absoluto ou Infinito que é Deus.
Vfletor Frankl eré explícitamente em Deus, como se deduz do
seguinte texto:

— 331 —
64 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

«Talvez a diferenca específica entre o homem e o animal nao


esteja tanto... no fato do animal ter instintos e o homem inteligen
cia...; talvez a diferenca essencial esteja, com efeito, em ser tdo
elevada a inteligencia do homem .que — e nisto está em decisivo
contraste com a capacidade do animal — pode aperceber-se de que
tem que haver uma sabedoria ... fundamentalmente superior á sua
uma sabedoria sobre-humana — que riele enxertou a razao, e nos
animáis os instintos: uma sabedoria que criou toda -a sabedoria, tanto
a sabedoria humana como os sabios instintos dos animáis, sintonizan-
do-os, alias, com o seu mundo» (p. 63).

Uma vez enfatizada a necessidade de se conceber o sen


tido da vida, V. Frankl considera outras modalidades do sen
tido que algumas facetas da vida vém a ter.

2. O sentido do morte

É de notar ainda que cada pessoa tem de definir o sen


tido da sua vida caracterizada por suas notas pessoais. Se
um repórter perguntasse a um campeáo mundial de xadrez
qual é a melhor jogada de xadrez, o enxadrista nada lhe
poderia dizer, porque a resposta dependería das circunstancias
concretas de determinado jogo. Assim também o sentido da
vida só pode ser definido por cada um a partir de seu tipo
pessoal. Isto quer dizer que o sentido da vida está ligado á
unicidade, singularidade e á irrepetíbilidade de cada vida
humana.

Viktor Frankl demonstrou que o sentido de cada vida


humana se prende ao que cada qual tem de único, singular e
irrepetível. Mas precisamente unicidade, singularidade e irre
petíbilidade manifestam a finitude do homem.

Pergunta-se entáo: a finitude ou a limitacáo temporal da


vida ou ainda o fato da morte nao torna a vida sem sentido?
Quantas vezes nao se diz que tudo carece de sentido, visto
que a morte, no finí, tudo destrói?!

Eteve-se responder que nao. Com efeito; se o homem


fosse imortal, poderia adiar indefinidamente cada uma de suas
decisóes e atitudes; nao teria importancia o momento presente,
porque outros muitos momentos se lhe seguiriam; a pessoa
a6sim poderia adiar sempre as suas opgdes e os seus gestos

— 332 —
«PSICOLOGÍA E SENTIDO DA VIDA» 65

mais nobres (e, por isto, mais penosos). Ao contrario, quem


sabe que a morte é o limite inexorável de nossas chances e
oportunidades, vé-se obrigado a aproveitar ciosamente cada
um de seus momentos; cada qual é um kairós (um tempo
oportuno, denso e precioso, que nao volta); se perco o pre
sente, nao terei outro igual e minha realizagáo estará irreme-
diavelmente truncada. — Donde se vé que a finitude ou a
temporalidade nao é apenas urna nota essencial da vida hu
mana; é também constitutiva do seu sentido. O sentido da
existencia humana funda-se no seu caráter irreversível.

O homem assemelha-se a um escultor que burila com


cinzel e martelo a pedra informe, a fim de imprimir-lhe os
tragos de urna bela imagem. Para realizar a sua tarefa, ele
tem apenas um tempo limitado; nao sabe, porém, quando ter
minará o prazo ou quando será exonerado. O que Ihe importa,
pois, é aproveitar ao máximo cada um dos momentos que tem;
nao pode perder nenhum destes. Caso, porém, nao possa ter
minar a sua obra como quisera, nem por isto ficará sem valor;
o caráter fragmentario da vida nao prejudica o seu sentido.
Nunca poderemos avaliar o significado de urna vida humana
pela sua duracáo. Por certo, a vida heroica de um homem
que morra na juventude, tem mais conteúdo e sentido do que
a de urna pessoa tibia e acomodada que tenha vivido muito
tempo. Quantas sinfonías «incompletas» nao há entre as mais
belas!

«O homem está na vida como que submetido a um exame de


aptidáo: mais do que um trabalho terminado, ¡nreressa ai que o
frabalho seja valioso. Assim como o examinando tem que estar á
escuta do sinal de campainha que Ihe anuncia ter-se esgotado o tempo
á sua disposicao, assim também temos que estar na vida á espera de
ser chamados a qualquer instante» (p. 111) *.

* Estas Idéias sfio válidas do ponto de vista cristSo, mas exigem com-
plementacáo. É certo que esta vida ó concedida ao cristáo para que se
possa configurar ao Cristo Jesús; há, portento, urna imagem bem definida
a ser atingida. Todavía só Deus sabe até que ponto cada um de nos é
chamado a reproduzir em si a inesgotável imagem do Cristo Jesús; esta é
táo rica de valores espiriluais que nao há prazo suficientemente longo para
reproduzl-la. Por isto a Providencia chama cada um para a casa do Pal
quando o julga oportuno.

— 333 —
66 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Viktor Frankl opóe-se á teoría dos que apregoam a per-


petuacáo do homem na sua prole ou descendencia. A vida de
cada individuo carecería de sentido em si; ela só adquiriría
valor pelo fato de ser um elo numa cadeia que se vai prolon
gando através dos sáculos. Tal tese Ihe parece faina, porque
— todas as linhagens acabaráo por morrer; um día toda
a humanidade desaparecerá pela morte, talvez por urna catás
trofe cósmica;

— urna vida que nao tenha sentido em si, também nao


o tem na sua descendencia. Perpetuar algo que nao tem sen
tido em si, é coisa que também nao tem sentido, porque «o que
carece de sentido nao passa a té-lo pelo simples fato de se per
petuar» (p. 113). Mesmo que se apague, urna tocha tem
sentido pelo fato de brilhar; «o que nao tem sentido, é tomar
urna tocha que nao arde e levá-la por urna fileira de tochei-
ros que nunca mais acaba» (p. 113).

A falta de descendencia nao pode tornar sem sentido a


existencia de urna pessoa de valor. Daí verificarmos que a
propagagáo da vida na térra nao pode constituir o sentido
desta vida. Este nao se encontra na «longitudes» (na duracáo
ou na propagacáo), mas, sim, na altura ou profundidade de
cada existencia.

De modo especial, o suicidio carece de justificativa para


Viktor Frankl. O suicida se parece com «um jogador de xadrez
que, colocado perante um problema que Ihe parece extrema
mente difícil, joga fora as pedras do jogo, sem com isso resol
ver qualquer problema de xadrez. Com a vida também sucede
assim: nenhum problema se resolve deitando fora a vida»
(p. 89s). O paciente tentado ao suicidio poderá ser recupe
rado se ele descobrir na sua vida um conteúdo e urna finali-
dade, ou se ele for colocado diante de urna missáo. «Quando
se tem na vida algum porque, diz Nietzsche, qualquer como se
pode suportar»». De fato, o saber-se incumbido de urna mis
sáo na vida tem valor psicoterápico e psico-higiénico extraor
dinario; tal missáo torna o seu titular insubstituível e confere
á sua vida o valor de algo único; desde que alguém compreenda
que a sua vida é urna missáo, aquela se torna tanto mais plena
de sentido quanto mais difícil se torna.

1 Com outras palavras: "Basta um homem p6r a claro o porqufi da


sua vida para pouco se importar com o prego do seu como" (Der Wllle zur
Machi, 3 vol., ed de Mussarion, Munique 1926, Gesammelte Werice XIX 205).

— 334 —
«PSICOLOGÍA E SENTIDO DA VIDA» 67

No tocante á eutanasia ativa, entendida cerno extincáo


voluntaria da vida de um paciente sofredor, V. Frankl tam-
bém assume posigáo negativa. Na verdade, «o médico nao foi
chamado a julgar do valor ou nác-valor duma vida humana»
(p. 85). «Em nenhum caso lhe é lícito arvorar-se em juiz
para decidir sobre o ser ou náo-ser do paciente, quer por razóes
ligadas á sua cosmovisáo pessoal, quer por puro arbitrio»
(p. 88).

3. O sentido do sofrimento
Nao se pode dizer que o sentido da vida esteja em gozar
de prazeres; se o fosse, a vida seria absurda, pois está demons
trado que o homem normal experimenta em media, nos seus
dias, incomparavelmente mais sensacóes de desprazer do que
de prazer.
Ora a vida humana pode atingir a sua plenitude nao ape
nas no gozar, mas também no sofrimento.
O sentido do sofrimento está em ser um lembrete. No
plano biológico, por exemplo, a dor faz as vezes de guardiáo
e monitor pleno de significado; chama-nos a atengáo para o
perigo (a doenca) presente, mas talvez ainda latente. Na
esfera espiritual, á dor cabe urna funcáo análoga; o sofrimento
faz o homem amadurecer e crescer. «O sofrimento, como a
necessidade, o destino e a morte, faz parte da vida... Privar
a vida da necessidade e da morte, do destino e do sofrimento,
seria como tirar-lhe a configuracáo e a forma. É que a vida
só adquire forma e figura com as marteladas que o destino
lhe dá quando o sofrimento a póe ao rubro» (p. 154) *.
Alias, o suportar de urna situagáo dolorosa que nao se
pode evitar, já é urna realizacáo. Esta afirmacáo é ilustrada
pelo fato seguinte: alguns anos atrás, as autoridades quise-
ram premiar as mais altas realizacóes dos escoteiros ingleses;
condecoraram entáo tres rapazes que, em conseqüéncia de
doencas incuráveis, estavam internados num hospital e, ape-
sar disto, mostraram valentia e coragem ao suportarem firme
mente o sofrimento. Este foi reconhecido como realizacáo mais
alta do que a de muitos outros escoteiros autores de facanhas
mais vistosas. A falta de éxito, estatisticamente computável,
nao significa falta de sentido.

1 A palavra "destino", no caso, nfio quer dizer "forca cega e neutra


que rege a vida do homem", mas o curso mesmo dos acontecimentos, que
a fé crista afirma ser govemados pela Providencia Divina.

— 335 —
68 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

Há, na verdade, situagóes em que o homem só se pode


realizar no sofrimento ou no aparente fracasso. Isto nos ajuda
a compreender a sentenca de Dostoievski, que dizia só ter
urna coisa a temer: o nao ser digno das suas penas. Sao
muito dignos de nota os doentes que sofrena e, sofrendo, pare-
cem lutar para ser dignos das suas grandes penas.
Viktor von Weizsacker afirmou certa vez que o doente
que sofre corajosamente, dá linóes ao médico que o trata. Um
médico que possua certa finura de sensibilidade, terá, diante
de um doente incurável ou um moribundo, a sensacáo de nao
se poder aproximar dele sem urna certa vergonha. Enquanto
o paciente surge como alguém que enfrenta com firmeza a
sua sorte e leva a termo urna auténtica realizagáo no plano
espiritual, o médico, no plano físico ou na esfera das realiza-
Cóes médicas, deve reconhecer a sua insuficiencia.

4. O sentido das limita;oes pessoais


V. Frankl muito insiste no caráter de único, singular e
irrepetível de cada ser humano e da sua existencia. Essa ein-
gularidade resulta de urna dose de predicados positivos limi
tados os sujeitos a deficiencias; cada um tem seus valores limi
tadamente. Ora esta limitacáo própria de todo ser humano,
em vez de ser um absurdo ou um despropósito, contribuí para
dar sentido á vida humana:
«Se todos os homens fossem perfeitos, seriam todos iguais uns
aos outros; qualquer um poderío fazer as vezes de qualquer outro...
No caso, porém, de ser todo individuo limitado e imperfeito, cada qual
assume caráter indispensável e insubstiluível, pois, embora todos se[am
imperfetos, cada qual o é a seu modo.
«Num mosaico. . . cada pedra é, na forma e na cor, algo incom
pleto e, ao mesmo tempo, imperfeito; só no todo... significa alguma
coisa. Se cada pedra — a modo de miniatura, digamos — contivesse
¡á o todo, poderío ser substituida por qualquer outra; tal como acontece
com um cristal, que de algum modo pode ser perfeito na sua forma,
mas precisamente por isto é substituível por qualquer outro exempla'r
da mesma forma; afinal de contas, todos os octaedros sao iguais»
(p. 114).
Notemos, porém, que o «algo único, irrepetível e singular»
de cada personalidade só se realiza plenamente no conjunto
da comunidade, com o caráter único e singular de cada pedago
de mosaico, que só tem sentido se colocado no conjunto da
imagem.

— 336 —
«PSICOLOGÍA E SENTIDO DA VIDA» 69

A comunidade se distingue da massa. Esta nao tolera indi


vidualidades com suas pontas peculiares. A relacáo do indi
viduo com a massa pode comparar-se á relagáo que existe
entre um paralelepípedo cortado em serie e a rúa pavimen
tada com paralelepípedos na sua grisácea uniformidade; cada
paralelepípedo pode ai ser substituido por outro, já que todos
sao talhados do mesmo modo; além disto, «o pavimento de
paralelepípedos, no seu tom uniforme, nao tem o valor esté
tico de um mosaico, mas únicamente o valor do útil — tal
como a massa, que apenas sabe da utilidade dos homens, nao
tomando conhecimento do valor ou da dignidade de cada um»
(pp. 115)
A comunidade, ao contrario, nao pode prescindir das carac
terísticas singulares dos individuos que a compóem. Em con-
seqüéncia, deve-se dizer que o individuo contribuí para dar
sentido á comunidade, e, vice-versa, esta concorre para dar
sentido a cada um dos seus membros.

Mais aínda: urna auténtica comunidade é essencialmente


composta de pessoas responsáveis, ao passo que a massa é
apenas urna soma de seres despersonalizados e destituidos de
responsabilidade.

5. A psicología do campo «fe concentrando


Um dos subtítulos do livro que mais evidenciam a tese
do autor, é o que se refere ao comportamento dos prisioneiros
em campo de concentracáo. Viktor Frankl bem conhece o
assunto por ter feito ele mesmo a experiencia do campo.
1. A entrada no campo já significava um choque psico
lógico. Tiravam ao encarcerado tudo o que trazia, excetuados
talvez os óculos, a fim de que esquecesse o seu passado. Dora-
vante estaña numa área cercada de árame farpado de alta
tensáo, de modo que qualquer tentativa de fugir seria um sui
cidio. A alguns prisioneiros ocorria, nos primeiros dias, a ten-
tacáo de atirar-se as farpas ou de praticar o suicidio.
Passada esta fase inicial, o prisioneiro caía num estado
de profunda apatía, que é um mecanismo de auto-protecáo do
sujeito. A vida afetiva ia declinando na direcáo do primiti
vismo: os interesses dos encarcerados limitavam-se ás neces-
sidades ¡mediatas e mais prementes; todas as aspiragóes pare-
ciam concentrar-se num único anseio — sobreviver día por
dia. «A noite, quando os prisioneiros exaustos, cheios de frió
— 337 —
70 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

e de fome, eram de novo acompanhados para as barracas pelos


'comandos de trabalho' aos tropecóes pelos campos nevados,
sempre se lhe ouvia soltar um profundo suspiro: 'Afinal,
agüentamos mais um dia!'» (p. 139).
<O primitivismo da vida psíquica no campo de concentracao tinha
«ua expressáo nos sonhos típicos dos prisioneiros. A maiorla son hava
com pao, bolo, cigarros e um banho qvente. Falavam constantemente
de comida; se se ¡untassem nos 'Comandos de trabalho' e a sentinela
nao estivesse perto, os prisioneiros troca va m entre si receitas de cozinha
e descreviam uns aos outros os pratos favoritos que haviam de oferecer
aos colegas quando, urna vez livres do campo, convidassem uns aos
outros para almocar. .. Provavelmente por causa da sub-alimentacao,
notava-se também um surpreendente desinteresse pelos temas de con
versa sexual:... nao se contavam 'porcarias' » (p. 139).

Além do mais, urna grande irritabilidade acometía os pri


sioneiros. Isto se explica pela insuficiencia de sonó, provocada,
em grande parte, pela praga de insetos, que se multiplicavam
ñas barracas super-lotadas de gente.
2. Pergunta entáo Viktor Frankl: será que todo homem
está fadado a sucumbrir a tal primitivismo, desde que se veja
num meio-ambiente selvagem? Seria o psíquico do homem
mero reflexo do seu ambiente social? — E responde nega
tivamente: registravam-se exemplos — muitas vezes heroicos
de pessoas que resistíam á pressáo do campo e nao cediam áo
primitivismo de comportamento; tais eram os que haviam cul
tivado os valores espirituais. «Nos campos de concentracao
havia individuos que conseguiam dominar a sua apatía e sub-
jugar a sua irritabilidade. Eram aqueles homens admiráveis
que — esquecendo-se de sua pessoa até a renuncia e o sacri
ficio de si mesmos — passavam pelas barracas e pravas de
revista militar, dizendo aqui urna boa palavra, dando adiante
o último pedaco de pao» (p. 141). Entre parénteses, seja
lícito lembrar o caso de S. Maximiliano Kolbe, que, além de
doar seus prestimos diariamente aos colegas de campo, deu
sua vida para salvar um prisioneiro condenado á morte.
O embrutecimento de muitos no campo de concentracao
era, em última análise, provocado pelo fato de que muitos per-
diam o sentido da vida. Sim; o futuro se lhes tornava total
mente incerto; a morte os ameacava a todo momento. «Urna
vez que alguém entrava no campo, o fim da incerteza (quanto
as condicóes locáis) trazia consigo a incerteza do fim... Ora
sem um ponto fixo no futuro nao consegue o homem propria-
mente existir. É era ordem ao futuro que normalmente todo

— 338 —
«psicología e sentido da vida» 71

o seu presente é configurado, orientando-se para ele como a


limalha de ferro se orienta para um polo magnético... Quando
o homem perde o seu futuro, já nao vive, caí na sensagáo de
vazio e de falta de sentido da existencia» (p. 143s).

A decadencia psíquica, proveniente da falta de apoio espi


ritual, e o abandono á apatía total eram no campo fenómenos
que se produziam rápidamente, levando em poucos días os indi
viduos á catástrofe final. Os presidiarios qué se achavam nesse
estado, deixavam-se fioar prostrados ñas barracas, recusando-se
a responder á chamada ou a ocupar o seu posto nos 'coman
dos de trabalho'; nao se interessavam por refeigóes nem fre-
qüentavam os sanitarios; nenhuma proposta e nenhuma ameaga
era capaz de tira-Ios da apatía; nada os intimidava, nem sequer
os castigos, que eles suportavam resignados e embotados. Ja-
ziam as vezes em cima das próprias fezes e urina, indiferentes
a qualquer perigo.

A prostracáo psíquica e física é ainda ilustrada pelos se-


guintes casos:

Um día, um prisioneiro contou aos companheiros que ti-


vera um sonho estranho: urna voz Ihe perguntava se ele dese-
java saber algo, pois Ihe poderia profetizar o futuro. Respon
derá entáo: «Eu quero saber quando terminará para mim
esta segunda guerra mundial». A voz retorquiu: «Aos 30 de
margo de 1945». Quando tal prisioneiro expunha o seu sonho,
estava o mes de margo no comeco; ele se mostrava cheio de
esperanca e bom humor. Todavía o dia 30 aproximava-se sem-
pre mais e tornava-se cada vez menos provável que a voz
tivesse razáo. Nos últimos dias do mes, o prisioneiro foi caindo
cada vez mais no desalentó. Aos 29 de margo, transferiram-no
para a Divisáo dos Doentes, com febre e em estado de delirio.
Aos 30 de margo, perdeu a consciéncia. E no dia seguinte
estava morto. Morrera de tifo exantemático. O caso se explica
pelo fato de que a imunidade do organismo depende enorme
mente dos estados afetivos e, por conseguinte, também da von-
tade de viver ou de desilusóes e frustragoes. Em conseqüéncia,
pode-se admitir que o desengaño de tal prisioneiro, motivado
pela falsa profecía, tenha provocado a queda súbita das for-
cas defensivas do organismo, fazendo-o sucumbir á infecgáo
incubada.

Outro caso, que corrobora o anterior, é o seguinte: em


determinado campo de concentracáo, os prisioneiros concebe-
ram a esperanca de que, no Natal de 1944,- todos estariam em

— 339 —
72 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

casa com as respectivas familias. Chegou, porém, a noite de


Natal sem que alguma mudanca ocorresse na vida daqueles
homens. Em conseqüéncia, na semana entre o Natal e o Ano
Bom verificou-se no campo urna mortandade tal como nunca
vista anteriormente, sem que alguma causa visivel lhe pudesse
ser assinalada; nao houvera mudanca de condigóes atmosfé
ricas, nem aumento de trabalho, nem surto de doenca infec
ciosas. .. Na verdade, a causa última de tal desastre era a
depressáo psíquica que experimentavam aqueles prisioneiros
frustrados (cf. p. 146).

Prossegue Frankl: caso se pudesse aplicar alguma psicote


rapia aos internos de um campo de concentracáo, esta deveria
propor um apoio espiritual e um sentido para a vida, para o
sofrimento e a luta. «Na prática nao era táo difícil soerguer
o ánimo de um ou outro prisioneiro através dessa orientacáo
voltada para o futuro. Numa conversa com dois desses prisio
neiros cujo desespero se agravava até os levar á decisáo do
suicidio, produziu-se certa vez um resultado desse tipo. Am
bos estavam dominados pela sensacáo de que já nada tinham
a esperar da vida. O que era indicado no caso, era levá-los
áquela viragem copernicana de que já falamos»:... compreen-
dessem que, se eles nada tinham a esperar da vida, a vida
esperava alguma coisa deles, ou que eles ainda tinham urna
missao a cumprir (cf. p. 146).

A necessidade de reformular a escala dos valores e de


procurar a forca de ánimo em valores transcendentais, táo
comprovada pelos fatos, leva Viktor Frankl a terminar o seu
capitulo sobre o campo de concentracáo com estas palavras:
«Sao muitos os que nos campos de concentracáo e graoas aos
campos de concentracáo voltaram a crer em Deus» (p. 148).
Sim; só puderam sobreviver porque ultrapassaram o momento
presente com seu negrume a fím de se elevar ao Eterno e
Absoluto, único valor capaz de justificar a paciencia heroica
de uní ser humano na térra.

Eis alguns tópicos salientes do livro em pauta. A leitura


da obra é rica em explanacóes sobre temas congéneres: o sen
tido do amor, o do trabalho, a neurose do desemprego, a neu-
rose dominical, direcáo de almas médica e pastoral... O lei-
tor encontra no livro afirmagóes que correspondem nao so-
mente á experiencia do dentista, mas também á fé do homem
religioso. É o que merece para Viktor Frankl lugar de espe
cial destaque na importante área das ciencias humanas.

— 340 —
Um livro revolucionario:

"Suicidio: Modo de Usar"


por Cl. Guillon e Y. Le Bonniec

Em síntese: O livro em pauta tenciona ser um protesto contra as


¡njuncSes da sociedade, que exerce press&es sobre os seus membros desde
que nascem: seja ao menos licito ao Individuo escolher o tipo e as circunstan
cias de sua mortel Assim entendido, o livro assume caráter político; alias,
é escrito por dols jovens anarquistas franceses. A fim de assegurar a todo
homem o direito á morte, o livro termina com um receituario que ensina os
meios mais eficazes de por fim á existencia terrestre.

A obra é expressfio de uma concepcSo imanentista e materialista do


mundo e do homem; o suicidio é ai explícitamente apresentado como con-
seqüdncia da falta de esperanca e do vazio do coracSo. A fé, porém, ensina
a considerar esta vida como preámbulo de uma existencia postuma, na qual
as asplrac6es congénltas do homem á Felicidade, á Verdade, ao Amor...
seráo totalmente preenchidas. Quem tem consciéncia disto, descobre sentido
na luta paciente e tenaz de cada dia em prol do Bem; a Justica de Deus
retribuirá a cada um o que a justica dos homens nao é capaz de outorgar.

De resto, o suicidio é antinatural ou mesmo uma fuga covarde, que


de modo nenhum contribuí para remediar aos males da sociedade existente;
muito mals eficaz e nobre é o comportamento de quem aceita os desafíos
de cada día e Ihes responde virilmente, na certeza de que nao o faz em vfio,
pois existe a Resposta para os anseios do homem.

Claude Guillon e Yves Le Bonniec sao dois jovens autores


franceses que se dizem «anarquistas» (cf. orelha do livro).
Escreveram uma obra, que é apología e receituario do suicidio.
Publicado em dezenove países, vem suscitando calorosos deba
tes. Tendo aparecido recentemente do Brasil *, comentaremos
o seu conteúdo, na certeza de estar tocando em assunto de
prímeira importancia.

1. A tese do livro
Os autores afirmam que nao querem incitar ao suicidio,
mas o mundo em que vivemos é que leva a tanto. O que
Guillon e Le Bonniec tencionam, é langar um brado de revolta

i "Suicidio: modo de usar". Traducao de María Angela Villas. Colecfio


"Testemunho" vol. 6. EMW Editores, sao Paulo 1984, 140 x 280 mm, 233 pp.

— 341 —
74 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

contra a sociedade atual e afirmar, por isto, algo de chocante:


deve existir liberdade para que o individuo morra como quer,
já que nao lhe é dado nascer onde nem como quer, nem lhe é
permitido viver onde e como queira:
«Se o suicidio fosse urna solucáo, nos feriamos o maior prazer
em empurrar as pessoas para ele... Incitar? Mas, mesmó que o
quiséssemos, seria supérfluo. O mundo que o senhor preza tanto, é o
bastante para isso. Oxalá a energía do desespero que leva tantos
humanos para a morte, se volte contra este mundo!» (pp. 217s).
«Contra a energía nuclear coloquemos a energía da revolta. O
conhecímento de técnicas confiáveis de suicidio será um poderoso
estimulante» (p. 18).

«Poderáo achar paradoxal falar da morte para mudar a vida.


Acontece que a nossa morte, assim como nosso corpo, nos foi confis
cada desde nosso primeiro sopro de vida e que mudar a vida significa
recriar-nos totalmente, inclusive e sobretudo naquilo que nos amedronta
em nos mesmos, porque nos ensinaram o medo» (Claude Guillon,
p. 226).

«É preciso combater o ¡mundo poder de vida e de morte que os


médicos pretende conservar sobre nos. É preciso acabar com a chan-
tagem da sociedade que diz aqueles que querem morrer: 'Bem,
no final das contas, o problema é de voces, azar seu se sofrerem e
saibam que, em caso de fracasso, faremos tudo para que continuem
vivas1» (Claude Guillon, p. 228).

Por conseguinte, o livro em foco «nao é apenas um ma


nual de suicidio, mas um manifestó sobre a vida e a digni-
dade», conforme Luiz Fernando Emediato, que prefacia a obra
(p. 12). O mesmo acrescenta: «Importante... é ter conscién-
cia de que escandaloso nao é o suicidio, mas o rosto da socie
dade em que vivemos» (p. 13).

Em conseqüéncia, o livro abre a perspevtiva de por um


fim voluntario á própria vida, em sinal de autoafirmagáo con
tra a sociedade opressora:

«Pode ser que a vida da maioria dos homens se passe no meio


de tanta opressáo e hesiracáo, com tantas sombras imiscuindo-se na
claridade — em resumo, com tanto absurdo — que apenas a possi-
bilidade remota de dar-lhe um fim esteja em condicoes de liberar a
alegría que existe riela» (palavras de Robert Musil, citadas á p. 18).

Como se vé, a tese dos autores do livro é política, como


eles mesmos confessam: «Nao incitamos ao suicidio, mas á sub-
versáo... Trata-se de fazer do suicidio urna ameaga» (p. 12).

— 342 —
«SUICIDIO: MODO DE USAR» 75

ApÓs expor numerosas teorías e citar fatos atinentes á


prática do suicidio em nove capítulos ricos em documenta-
gáo1, os autores no capítulo X apresentam «Elementos para
um Guia do Suicidio» (pp. 179-210): propóem entáo receitas,
geralmente de índole química ou farmacéutica, para assegurar
a morte de quem deseja. Aplicando-as, o candidato ao suicidio
nao incorrerá no dissabor de ver sua tentativa frustrada e, por
isto, ser reconduzido á vida pela assisténcja médica. Nao deixa
de haver também, entre os anexos do fim do livro, urna lista
de Associagóes de Prevengáo do Suicidio (cf. p. 234); seja
realgado aqui o Centro de Valorizagáo da Vida (CW), que
tem postes em varias capitais brasileiras, podendo seus ende-
regos e telefones ser fácilmente encontrados ñas Listas Telefó
nicas. No Rio de Janeiro (nao mencionado no livro), tais sao
os números telefónicos do CW: 254-9393 (funciona as vinte e
quatro horas do dia, na Tijuca), 254-9191, 256-4141, 242-9292,
262-4141.
As idéias-mestras do livro assim propostas sugerem algu-
mas consideragóes.

2. RefleKmfo...
2.1. O problema fundamental
Embora o livro de Guillon e Le Bonniec pretenda ser um
üvro político, portador de proposta subversiva em materia sócio-
-política, ele toca um problema aínda mais profundo, que é o
do sentido da vida.
0 suicidio é propugnado como autoafirmacáo em réplica a
um mundo que constrange o homem desde o seu nascimento.
Todavía é esta urna pobre ou falsa autoafirmagáo, pois o que
os autores propalam, para o cidadáo, é a liberdade de se con
denar a morte em vez de ser (pretensamente) «condenado á
morte» pela engrenagem da sociedade.
Seria preciso pensar numa autoafirmagáo positiva (para
a vida), em vez de negativa (para a morte). Na verdade, o
homem foi naturalmente feito para a vida, como atesta o ins
tinto de autoconservagáo, congénito em todo ser humano.
1. Em última análise, o problema do suicidio está ligado
ao do sentido da vida: Por que vivemos? Para que vivemos?
Se nao há resposta para estas perguntas, compreende-se que o
homem experimente o vazio do coragáo e a falta de esperanga

1 O livro tem caráter de divulgado. Por isto omite citagáo de


documentos e fontes em roda-pó — o que enfraquece o vigor de muitas das
suas adrmagóes.

— 343 —
76 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS». 281/1985

que levam ao suicidio. «Morrer voluntariamente... implica


reconhecer... a ausencia de qualquer razáo profunda de viver,
o caráter insensato dessa agitacáo cotidiana e a inutilidade do
sofrimento. A vida perde o sentido quando a esperanga nao
mais existe, quando o sonho acaba» (pp. lis).
Estas observagóes sao comprovadas pelo psicólogo Viktor
Frankl; que escreveu um capítulo sobre a «Psicologia do
Campo de Concentragáo». Este autor, referindo-se aos prisio-
neiros do campo, nota que muitos se entregavam a morte pelo
fato de nao terem perspectiva de urna saída do impasse ou
pela falta de esperanca ou- ainda pela ausencia de urna razáo
para aturar os sofrimentos de cada dia:
«Sem um -ponto fixo no futuro, nño consegue o homem propria-
mente existir. £ em ordem ao futuro que normalmente todo o seu
presente é configurado, orientando-se para ele como a limalha de
ferro se orienta para um polo magnético. Pelo contrario, o tempo
vivencia I perde toda a sua estrutura sempre que o homem perde o seu
'futuro'. Já nao se vive. . .
Os presidiarios que se achavam neste estado, ficavam pura e
simplesmente no seu lugar, ñas barracas, recusando-se a responder á
chamada a ocupar o seu posto nos 'comandos de trabalho'; nao se
preocupavam com tomar refeicoes, deixavam de ir aos cubículos de
asseio; e nenhuma proposta, nenhuma ameaca era capaz de arrancá-los
da apatia; nada os intimidava, nem sequer os castigos que suportavarn
resignadamente, embotados e indiferentes... E o hábito de se deixa-
rem ficar deitados — as vezes «m cima das próprias fezes e urina —
significava urna ameaca á vida, nao apenas no aspecto disciplinar,
mas também no aspecto diretamente vital. Era o que se vía claramente
nos casos em que a vivencia do 'interminável' se apossava súbitamente
dos prisioneros» (Psicoterapia e Sentido da Vida, pp. 144s).
Em outro capitulo, versando diretamente sobre o suicidio,
pondera Viktor Frankl:
«Só podemos levar os nossos doentes a tomar a vida como um
valor, como algo que tem sempre um sentido, se estivermos em condi-
coes de dar a vida um conteúdo, de os levar a encontrar na sua
existencia urna meta, urna finalidade; com outras palavras:. . . se os
sabemos por diante de urna missao: 'Quando se tem na vida algum
por qué, diz Nietzsche, qualquer como pode ser suportado'. De fato,
o saber-se incumbido de urna missao na vida tem um valor psicolerápico
e psko-higiénico extraordinario» (ib. p. 90).
2. Ora a fé revela ao homem o sentido transcendental
da vida presente com tudo o que ela tenha de espinhoso e dolo
roso. A mensagem crista diz que existe um além, do qual as
dificuldades presentes suportadas com paciencia e amor teráo

— 344 —
«SUICIDIO: MODO DE USAR» 77

sua compensacáo e sua recompensa. Nao é inútil o sofrimento


depois que Cristo o santificou pela sua cruz, fazendo-o preám
bulo para a ressurreigáo e a plenitude da vida.
Mas nao somente a fé... Também a razáo natural nos
assegura que há um além no qual o homem, momentánea
mente frustrado, encontrá a resposta para as suas aspirares
congénitas. Com efeito, consideremos o seguinte:
No plano biológico, se existe olho (todo feito para cap
tar a luz), existe luz (sem a qual o olho seria um absurdo).
Se existe ouvido (todo feito para captar o som), existe som
(sem o qual o ouvido seria um absurdo). Se existe pulmáo
(todo feito para captar o ar), existe ar (sem o qual o pulmáo
seria um absurdo. Se existe estómago (todo feito para captar
alimentos), existe o alimento (sem o qual o estómago seria
um absurdo)... A natureza, pois, é sabia; onde ela coloca
urna demanda, providencia também a respectiva resposta.
Ora, se no plano biológico (que o homem tem em comum
com os restantes animáis), existe tal harmonía, muito mais deve
ela existir no plano das aspiracóes espirituais, que sao típica
mente humanas. Com efeito, se em todo homem existe urna
congénita aspiragáo á Vida, á Verdade, ao Amor, á Bondade,
á Justiga, á Felicidade e se tais aspiracóes nao sao cabalmente
preenchidas na vida presente, elas deveráo ser saciadas numa
outra vida ou no além. Se nao fosse tal outra vida, a exis
tencia presente seria, de fato, absurda e frustrativa- estaría
justificado o suicidio em muitos casos. O homem de fé, em-
bora tenha consciéncia de nao haver escolhido as circunstan
cias do seu nascimento e de grande parte do desenrolar de sua
vida, sabe ser criatura de Deus, que é sabio e providente (um
Deus que nao fosse tal, nao seria Deus). A fé transmite a cer
teza de que, embora todo homem tenha de carregar urna parte
da cruz de Cristo, há um reverso da medalha, que a sabedoria
do Criador anteviu e planejou.
Diremos, pois: a visáo imanentista ou materialista e atéia
professada por Guillon e Le Bonniec explica a amargura com
que consideran! a vida presente e a facilidade com que apelam
para o suicidio. Substitua-se tal cosmovisáo pela concepgáo
crista do mundo e do homem, e o suicidio aparecerá como
antinatural e como falsa solucáo.
2.2. Ulteriores ponderales
1. Os dois autores em foco mostram-se avessos á Igreja
e a religiáo em geral. As pp. 63-65 confundem a estima do
martirio com suicidio; na verdade, o martirio significa o teste-
munho (martyrion, em grego) da fé em Cristo até o derrama-
mentó do sangue e a morte (se necessário); no martirio o
— 345 —
78 aPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

cristáo nao tira a vida a si mesmo, mas entrega-a ao algoz


para nao trair o Cristo e os valores transcendentais; pratica um
ato de heroísmo, e nao de covardia, sustentado pela convic-
cáo de que a morte, em tais casos, é a passagem (ou Páscoa)
para a plenitude da vida.
As palavras de Jesús em Jo 10,18 sao citadas á p. 63, de
maneira errónea. Com efeito, Jesús nao disse: «Ninguém me
tira a vida, eu a tiro de mim mesmo», mas sim: «Ninguém
me arrebata a vida, mas eu a dou livremente. Tenho o poder
de entregá-la e o poder de retomá-la». Jesús nao tirón a vida
a si mesmo, mas a entregou livremente como o Mártir por
excelencia.
2. As injusticias sociais contra as quais tencionam pro
testar os autores do livro em foco, háo de ser impugnadas e
transformadas nao mediante o protesto do suicidio (que na
realidade parece mais covardia e fuga do que outra coisa),
mas mediante a participagáo na construgáo de um mundo
novo; esse novo mundo, alias, só poderá surgir se, antes do
mais, houver homens novos, conscientes do sentido transcen
dental da vida e da luta de cada dia.
A orientagáo confessadamente anarquista dos dois auto
res leva-os a tomar posicóes extremadas, impregnadas de deses
pero e azedume. Estes podem transmitir-se a leitores comba-
lidos pelos problemas cotidianos, de modo que o livro é apto
a tornar-se, para muitos, um incentivo ao suicidio, apesar do
que observa Luiz Fernando Emediato na apresentagáo do
volume: «Refletir sobre essa questáo — o direito ao suicidio
e suas conseqüéncias metafísicas e físicas — pode até mesmo
fazer com que o candidato em potencial ao suicidio mude de
idéia» (p. 14).
Diremos em conclusa»: o livro é urna expressáo de sarcasmo
e desespero; a aparente galhardia que ele propóe, nao é senáo
fuga e atitude artificial. Talvez esteja provocando a curiosi-
dade do grande público por seu caráter de novidade e inédito;
alguns leitores já propensos ao desánimo poderáo ser tremen
damente contagiados pelo contato com tal obra. Se, porém, o
livro cair ñas máos de um cristáo de sólida formacáo, poderá
tornar-se um estimulo a que o leitor mais aínda valorize os
desafios que a vida lhe impóe e, em vez de se sentir obligado
a autoafirmar-se por morte voluntaria, mais aínda se veja
compelido a crer na grandza da luta fiel e destemida (espe
cialmente quando sustentada pela fé em Deus).
«A quem vencer, concederei sentar-$e comigo no meu trono, assim
como eu também vencí e «stou sentado com meu Pal em seu trono»
(Ap 3,21).
— 346 —
Um livro sobre a dor:

"Quando Coisas Ruins Áconíecem


as Pessoas Boas"
por Harold Kushner

£m sint«se: O livro deve-se a um rabino norte-americano que, lando


sofrido duro golpe em sua vida de familia, procura de algum modo explicar
o problema da dor: isenta o Senhor Deus da responsabilidade do sofrimento
do homem, colocando a dor (ora da aleada de Deus; o sofrimento se deve
ao jogo de azar ou de acaso da natureza... O remedio contra esse mal
serla a oracSo... — A obra é altamente interessante porque lembra o con-
teúdo do livro de Jó: nem o autor deste livro nem o Rabino Dr. Kushner
podem apresentar urna solugáo para o problema do sofrimento, porque
Ignoram a vida postuma consciente, sem a qual é inútil procurar luzes para
o problema do sofrimento.

O problema do sofrimento sempre move profundamente o


ser humano; especialmente a dor de pessoas retas e inocentes
abala e desconcerta. As escolas filosóficas e os sistemas reli
giosos sempre procuraram urna certa explicacáo para tal mis
terio. Eis que o rabino Dr. Harold Kushner, de Bostón, sofreu
urna desgraga que o induziu a escrever o livro «When Bad
Things Happen To Good People» (Quando coisas más acon-
tecem as pessoas boas) '. Pai de um menino chamado Aaron,
que, a partir dos oito meses de idade, se viu atacado de pro-
géria ou de velhice precoce, o autor foi assistindo ao paradoxo
de urna crianca em vias de envelhecimento acelerado. Final
mente, aos quatorze anos de idade, Aaron faleceu, deixando
pai e máe profundamente impressionados.

O drama sugeriu ao Dr. H. Kushner longas reflexóes


sobre a dor, que se cristalizaran! na tese do livro em foco.

1 TraducSo de Francisco de Castro Azevedo, Revisfio de Ivan Neto. —


Editora Fundo Educativo Brasileiro Ltda. SSo Paulo 1983, 138 x 208 mm,
148 pp.

— 347 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

1. O conteúdo do livro

Diante do golpe que acometeu o casal e seu filho Aaron,


o autor se recorda do caso de Jó; este, inocente, como tam-
bém eram o rabino, a esposa e seu filho, é ferido de varios
modos. Diante do drama de Jó, os amigos do Patriarca preo-
cuparam-se em ressalvar a santidade e a justiga de Deus; por
conseguinte, acusaram Jó de ser pecador, devidamente visi
tado por um castigo de Deus. Eis, porém, que Jó se debateu
diante da suspeita, afirmando altamente a sua inocencia. De-
ver-se-á entáo dizer que

— Deus nao é justo, porque feriu um inocente?

— Ou que Deus nao é todo-poderoso e, por isto, nao pode


impedir o injusto ferimento do inocente?

Dever-se-ia, em pouoas palavras, sacrificar a plena justica


ou a onipoténcia de Deus pelo fato do inocente Jó ter sofrido?
... Ou pelo fato de tantos inocentes até hoje sofrerem?

Responde o rabino Kushner negativamente. — Professa


firmemente a justiga impecável e a irrestrita onipoténcia dé
Deus, mas propóe «urna abordagem diferente e, até certo
ponto, revolucionaria. Nao é Deus que causa a tragedia, a
doenca, o sofrimento. Existe urna 'aleatoriedade' no universo e
a natureza é moralmente cega. Um terremoto nao distingue
entre pessoas boas e ruins. Nem o cáncer. Nem o derrame
cerebral. Nem a progéria. Nao sao 'atos de Deus1; sao aca
sos da natureza» (p. 6). Com outras palavras: os aconteci-
mentos naturais nao sao da algada racional; Deus nao é res-
ponsável, nem indiretamente, por eles.

«Eu entendo que o calor, o lempo seco e semanas sem chuva


aumentem o perigo de fogo ñas matas, de modo que urna centelha,
um fósforo ou mesmo a luz solar sobre um pedaco de vidro facam
arder urna floresta. Que o curso desse fogo seja determinado, entre
outras coisas, pela direcao em que o vento sopra, também entendo.
Mas qual a explicacáo racional para a combinacáo entre o vento e o
lempa, em determinado dia, no sentido de dirigir o fogo da mata
contra certas casas em vez de outras, encurralando uns e poupando
outros moradores? Ou é apenas urna questáo de pura sorte?

— 348 —
«QUANDO COISAS RUINS...» 81

Quando um homem e urna mulher fazem amor, o homem ejacula


dezenas de mi I h oes de espermatozoides, cada um deles portador de
um conjunto ligeramente diferenciado de características biológica
mente herdadas. Nenhuma inteligencia moral decide qual deles
penetrará o óvulo que espera ser fertilizado. Alguns dos espermatozoi
des faráo com que a enanca nasca com deficiencias físicas, talvez com
urna doenca fatal. Outros Ihe darao nao apenas boa saúde, lenao
também urna habilidade superior atlética ou musical, ou urna inteligen
cia criadora. A vida da enanca será moldada em seu todo e as vías
dos pais e párenles profundamente afetadas pela determinacáo casual
daquela corrida» (pp. 52s)

Mas entáo, se Deus nao pode impedir o sofrimento hu


mano, por que crer em Deus? Por que nao jogar fora a reli-
giáo de urna vez? Eis a resposta de Kushner: «porque é Deus
que nos dá forga, coragem e paciencia para enfrentarmos os
golpes da vida. Deus nao é nosso adversario, mas sim nosso
aliado. Deus é a fonte do nosso poder de suportar, nossa
capacidade de superar e nossa determinacáo de continuar»
(p. 6; palavras do Rabino Henry Sobel, reproduzindo, no Pre
facio, o pensamento do autor do livro).

Isto quer dizer que, quando na desgraga oramos a Deus,


nao devemos esperar intervencáo do Altíssimo no curso natu
ral dos acontecimentos (como, por exemplo, a cura de urna
doen^a, o feliz resultado de urna biópsia, o nascimento de urna
cñanga do sexo masculino ou do sexo feminino...), mas ape
nas pedimos a Deus que nos dé forca necessária para supor-
tarmos serenamente o jogo do azar ou do acaso da natureza.

«Nao podemos orar para que Deus torne nossas vidas livres de
problemas; isto nao acontecerá, e será o mesmo que nao orar. Nao
podemos pedir-lhe que nos livre a nos e aqueles que amamos, da
doenca, porque Ele nao pode fazer isto. Nao podemos pedir-lhe que
estenda urna rede mágica ao nosso redor, de modo que as coisas
ruins só atinjam as outras pessoas, nunca a nos. As pessoas que
rezam por bicicletas, por boas notas ou por namorados nao os con-
seguem através de suas oracoes. Mas aqueles que oram por coragem,
por fortaleza para suportar o insuportável, em agradecimento pelo
que Ihes foi deixado frente ao que Ihes foi tirado, estes muito freqüen-
temente tém suas oracoes atendidas. Eles descobrem que tém mais
forca e mais coragem do que jamáis pensaram ter. Onde a conseguem?
Pensó que suas oracoes ajudaram-nos a descobrir aquela forca. Suas
oracoes ajudaram-nos a trazer á tona aquelas reservas de fé e coragem

— 349 —
82 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

que antes nao íhes estavam disponíveis. A viúva que me pergunta no


dia do funeral do seu marido 'O que me prende á vida agora?', no
curso das semanas seguintes encontra razóes para levantar-se de
marina e olhar o dia pela frente; o homem que perdeu seu emprego
ou fechou seu negocio e me diz 'Rabino, estou muito velho e cansado
para comecar tudo de novo', mas, nao obstante, recomerá novamente
— de onde tiraram eles a forca, a esperanza, o otimismo que nao
tinham no dia em que me fizeram aquelas perguntas? Gostaria de
acreditar que eles receberam tudo aquilo do contexto de urna comu-
nidade interessada, de pessoas que Ihes deram claramente a enten
der que se. importavam com eles e do conhecimento de que Deus está
ao lado dos aflitos e dos oprimidos» (p. 126s).

Exte texto sugere, em última instancia, a pergunta: seria


a oragáo, conforme H. Kushner, mero incentivo psicológico ou
reanimador espiritual «que traz á tona reservas de fé e cora-
gem que antes nao estavam disponiveis» (p. 126) ? Nao seria
ela a impetragáo da graga de Deus ou de um dom próprio do
Eterno para caminharmos mais firmemente na senda do bem?
— Cremos que no texto atrás transcrito se trate de inade-
quada expressáo apenas, pois Harold Kushner nos diz explícita
mente: «Encontramos reforgo vindo de urna fonte que fica
fora de nos» (p. 130).

Tal é, em poucas sentencas, a tese do livro em foco. Po-


derá parecer interessante a muitos leitores, pois isenta Deus
da responsabilidade do sofrimento dos homens, especialmente
dos justos, e atribuí esta ao acaso ou ao azar.

Pergunta-se, porém: seria esta a resposta crista ao pro


blema abordado? Seria esta a resposta filosófica adequada?

— É o que passamos a considerar.

2. Urna reflexao sobre o assunto

2.1. Acaso

O acaso é, na linguagem comum, como também na da


obra em questáo, entendido quase como um sujeito que expli-
casse o sofrimento: nem Deus, nem o homem inocente seriam
responsáveis pela dor, mas ... <o acaso.

— 350 —
____^ «QUANDO COISAS RUINS...» 83

Na verdade, o acaso nada é ou nao é mais do que o nome


dado por nos a um fenómeno cujas causas ignoramos ou um
fenómeno que tem suas causas reais, causas, porém, que nos
ignoramos; a ignorancia, deixando-nos atónitos, leva-nos a fa-
lar de acaso. Assim, por exemplo, quando digo que uma onda
de calor e um vento forte ocorreram ao mesmo tempo, provo
cando forte incendio de floresta, sou tentado a dizer que o
fenómeno se produziu «por acaso»; na verdade, porém, o calor,
a seca e o sopro do vento tém causas muito bem definidas
entre os fatores atmosféricos e metereológicos; todavía, já que
as ignoro nem tenho meios de as sondar, renuncio a qualquer
explicagáo e digo que tal fato se deu «por acaso»; um estu
dioso dos fenómenos climatéricos me explicaría por que a onda
de vento soprou exatamente no período da seca...

A filosofía ensina que toda agáo tem sua razáo suficiente;


ela pede uma causalidade definida que faz seja «tal agáo» e
nao «tal outra» agáo. Nada acontece sem explicagáo adequada.

Por conseguinte, para ¡sentar Deus da responsabilidade do


mal, nao diremos que este pertence a uma esfera na qual Deus
nao tem penetragáo ou a esfera do acaso. Ademáis é filosófi
camente impossível admitir um setor de criaturas sobre o
qual Deus nao tenha dominio: o dominio que compete ao Cria
dor e que é inseparável de uma sabia agáo providencial. Ou
Deus é Deus e é o Criador, o Senhor de todas as criaturas
(cada qual segundo o seu tipo próprio), ou, se existe um
«Acaso» sobre o qual Deus nao tem poder nem ingerencia, já
nao é Deus. A onipoténcia de Deus, porém, nao obedece a
planos de dimensóes humanas, mas a planos de sabedoria e
amor que ultrapassam as categorías meramente humanas,
como se dirá adiante.

Nao há, pois, criatura alguma que nao esteja, direta ou


indiretamente, subordinada á Onipoténcia de Deus.

Mas como Lhe estáo as criaturas subordinadas?

2.2. Deus e o curso das crialuras

Acontece que Deus, tendo dotado as criaturas de natu-


reza e leis próprias, permite que elas ajam de acordó com a
sua índole característica: os irracionais, de maneira cega ou
instintiva; os racionáis ou o homem, de maneira livre. Deus

— 351 —
84 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 281/1985

nao quis fazer um mundo de «marionetes», policiado artificial


mente, de sorte que tudo ocorra segundo urna «harmonía
preestabelecida». Ele preferiu deixar a espontaneidade de agáo
as criaturas, arriscando-se a tolerar males neste mundo (físi
cos e moráis), certo de que destes males Ele tiraría bens aínda
maiores. Diz S. Agostinho: «Deus julgou mais sabio tirar dos
males bens do que nao permitir a existencia de males» (Enqui-
ridio). Assim os homens váo desenvolvendo sua capacidade
artística e criativa para o bem e para o mal, no mundo, sem
que o Criador necesariamente lhes cause embargo. Deus per
mite a agáo das criaturas, disposto a fazer que o próprio mal
sirva á causa do bem.

É lícito indagar, porém: que bens pode ter Deus em vista


ao permitir o sofrimento?

2.3. Vida postuma

Quem procura urna justificativa ou urna explicacáo para


o sofrimento dentro dos limites desta vida terrestre, nao a
encontra. Muitas e muitas vezes nao se vé por que urna crianga
sofre ou por que urna máe de familia é vitima da morte, dei-
xando filhos pequeños... Em váo os filósofos materialistas
tém-se esforgado por enquadrar o sofrimento dentro da sua
cosmovisao racional, embora seja possível verificar em varios
casos que o sofrimento redundou em bem da pessoa sofredora,
de acordó com o adagio dos antigos gregos: Pathos matíios
(o sofrimento é escola ou ensinamento); o sofrimento, sem
dúvida, pode educar, engrandecer e nobilitar a pessoa que o
sabe receber com serenidade e amor a Deus.

Somente a certeza de urna vida postuma é capaz de nos


fazer compreender que o misterio da dor tem sua plena eluci-
dagáo,... elucidagáo, porém, no além, e nao no aquém. Pre
cisamente a existencia do sofrimento «absurdo» neste mundo
postula o além; vem mesmo a ser um dos mais fortes argu
mentos em favor de outra vida, em que a justiga será plena
mente instaurada. Se nao existe outra vida, o homem é um
clamor sem resposta em meio a um conjunto de criaturas que
se dispóem harmoniosamente (pois, na verdade, o cosmos
resulta do equilibrio e da harmonía de energías físicas muito
diversas).

— 352 —
eQUANDO COISAS RUINS...» 85

A sá razáo, portante, e mais aínda, a fé crista afirmam


que Deus reequilibra no além os avangos do mal existente
neste mundo e faz que as criaturas pacientes e tenazes tenham
a justa paga das suas virtudes. Como isto precisamente se
dará, é algo que ao homem peregrino nesta vida nao é pos-
sível esclarecer: «O olho nao viu, o ouvido nao escutou, o
coracáo do homem nao imaginou tudo o que Deus preparou
para aqueles que O amam» (ICor 2,9). O inédito do modo da
recompensa nao tira ao cristáo a certeza do fato dessa recom
pensa ou compensagáo.

Ora é precisamente a incerteza da vida postuma que difi


culta ao autor do livro de Jó e, conseqüentemente, ao Dr. Ha-
rold Kushner a penetragáo do problema focalizado:

«Nada sabemos, nom eu nem qualqoer outra pessoa, sobre a


rcalidade desta esperanto (de vida postuma) . . .

As pessoas. . . devem ficar atentas á possibilidade de que nonas


vidas continúan? de alguma forma depois da morte, talvez de urna
forma de que a imaginando terrena nao pode concebcr. Ao mesmo
tempo, como nao podemos ter certeza, é aconselhável encararmos
este mundo com a maior seriedade possível, para o caso de nao exis
tir nenhum outro, buscando sentido e justica aqui mesmo» (pp. 35$).

A tradigáo judaica, da qual o Rabino Kushner é respei-


tável herdeiro, ressentiu-se da crenga no chool, segundo a qual
os falecidos após a morte caem num estado de rephaim (ou
sombras), incapazes de consciéncia lúcida e, por conseguinte,
de recompensa ou outra sangáo. Embora o judaismo contem
poráneo tenha evoluído no tocante as mais antigás concepr;5es
do além, ainda lhe falta a certeza da qual depende a expíica-
cáo do mal existente no aquém.

Ademáis, o cristáo sabe que o Filho de Deus feito homem


assumiu o sofrimento da humanidade, para transfigurá-lo em
sua Páscoa, fazendo do patíbulo da ignominia a árvore da vida
e o preámbulo da ressurreigáo. Todo homem que carregue a
sua cruz na seqüela de Jesús Cristo, em atitude de penitencia
e expiagáo pelos seus pecados (e pelos do mundo), será parti
cipante da ressurreicáo e do triunfo de Jesús Cristo. Nenhum
«absurdo» deixará, um dia, de ser esclarecido!

A propósito desalamos citar a magistral obra de Charles Journet:


"Lo Mal". Desclée de Brouwer 1961.

Estóvao Bettencourt O.S.B.

— 353 —
livros em estante
Origen) da Religiáo, por Joáo Evangelista Martins Térra S.J. — Ed.
Loyola, Caixa postal 42335, Rúa 1822, 04216 Sao Paulo (SP), 1985,
140 x 210 mm, 130 pp.

Este livro, em poucas páginas, sintetiza diversas teorías de estu


diosos a respeito da origem da religiáo, e concluí afirmando que esta tem
seu surto no próprio psiquismo humano:

"A pessoa humana é uma voca$ao á divinizagáo, á comunhao com


a Divindade. Na própria estrutura do seu ser intelectual a pessoa humana
encontra a causa da origem da idéia de Deus. Pois toda inteligencia é
capaz de Deus... Embora imersa na materia, nao se encontra submersa
nela. Como espirito nao se esgota no corpo, mas se evade para Deus.
Comporta no seu próprio ser uma relagáo vertical a Deus, que o liberta
de todo desenvolvimento puramente horizontal da especie, é o que dizia
Pió Xtl na alocucao aos psicólogos congregados em Roma em abril de
1953: 'A pesquisa científica atrai a ateng§o sobre um dinamismo que,
enraizado ñas profundezas do psiquismo, Impeliría o homem para o Infi
nito que o supera,... por uma gravitacao ascendente saída diretamente
do substrato ontológico... Tratar-se-ia de um dinamismo... — uma torca
independente, a mais fundamental e mais elementar da alma, um elo aíe-
tivo que leva diretamente ao Divino — ... dinamismo que interessa a todos
os homens, todos os povos, todas as épocas e todas as culturas... Isto
mostra que o ser a partir de outrem é também, até em suas raizes mais
profundas, um ser para outrem, e que a palavra de S. Agostinho 'Tu nos
iizeste para Ti, e inquieto é o nosso coracáo enquanto nao repousa em TI'
encontra uma nova confirmagáo ñas profundezas do ser psíquico' (AAS XLIII,
1953, 284s).

Esta disposigáo nSo se circunscreve a determinados tipos de homens,


mas funda-se na natureza humana enquanto tal. Contudo precisa de ser
desenvolvida e cultivada por meio da educagáo, podendo atrofiar-se se
esta faltar" (pp. 108s).

Um livro que recordé estas verdades com fundamentado científica,


se torna importante nos dias atuais, em que o materialismo "científico"
pretende afirmar o contrario.

Os Homens e a Mensagem do Antigo Testamento, por Peter F. Ellls.


Traducáo de Flávio Cavalca de Castro C.SS.R. — Ed. Santuario, Rúa Padre
Claro Montelro n? 342, Aparecida (SP), CEP 12570, 1985, 157 x 214 mm,
526 pp.

Els uma valiosa Introdugüo aos escritos do Antigo Testamento, redi-


gida segundo as mais recentes pesquisas científicas e em fidelidade ás
normas do magisterio da Igreja. O Pe. Ellis, redentorista norte-americano,
percorre livro por livro sagrado, apresentando o autor e as circunstancias
de origem, assim como as características literarias e a mensagem doutri-
nária respectiva. A fim de dar & sua obra também um cunho pastoral,
Peter Ellis acrescentou-lhe a exegese de 75 salmos, cujo conteúdo Ihe
parece corresponder especialmente ao de livros bíblicos; o leitor é assim
iniciado n&o apenas no aspecto científico da Biblia, mas também em sua

— 354 —
LIVROS EM ESTANTE 87

mensagem de fé e na oracao que ela inspira. Merecem referencia outros-


sim as tabelas cronológicas que o autor aprésenla e especialmente o grá
fico colorido que, de maneira muito viva e didática, aponta as fontes do
Pentateuco distribuidas pelos versículos do texto sagrado (pp. 63-67)
O autor assim oferece-nos urna obra que atende nao somente a semina
ristas e estudantes de Teología, como também ao clero e aos leigos dese-
josos de aprimorar sua formagao. Ciencia e piedade se coadunan) no
mesmo trabalho — o que bem corresponde á índole mesma da S Escri
tura, que 6 a Paiavra de Deus inspirada para a Vida dos homens.

Maximiliano Kolbe, n9 16670, por Gino Lubich. Traducáo de Olivo


Cesca. — Ed. Cidade Nova, Rúa Cel. Paulino Carlos, 29, 04006 Sao Paulo
(SP), 130 X 200 mm, 252 pp.

O Pe. Maximiliano Kolbe, franciscano conventual polonés, iornou-se


famoso por haver dado a vida no campo de concentragao de Ausschwilz,
em favor de um colega prisioneiro condenado á morte. Canonizado em
1982 após haver sofrido o martirio em 14/08/1944, o Pe. Kolbe tem sido
apresentado por numerosos autores, dos quais um dos mais lelizes é o
jornalista Gino Lubich. Este propóe os dados biográficos do herói e,
especialmente, alguns dos traeos mais característicos do campo de con-
centracáo. Os últimos tempos do Pe. Kolbe sao descritos com minucias
impresslonantes, que ilustram a tempera forte do santo. A leitura da vida
de pessoas santas é sempre de grande utilidade, pois é "teología vivida";
mostra que o Evangelho nao é utopia, mas algo de factivel. "Se estes,
aqueles e aqueles outros o conseguiram, diria S. Agostinho, como nao o
conseguiré! também eu?".

"Sempre houve necessidade de santos, e de todo tipo de santos;


hoje, porém, se necessita de um tipo especial. Pensó em ti, Padre Maxi
miliano Kolbe, cuja figura exemplar encarna da maneira mais profunda a
revolucáo contra o erro do nosso tempo, no qual, dizia o teu pal Sao
Francisco, o amor nao é mais amado. Vejo-te mártir de nossos días, no
campo de concentracáo" (Henri Daniel Rops, p. 2 do livro).

Viver como Jesús viveu, por Pe. Zezinho e Ir. Adriana Suchetto. — Ed.
Paulinas, Sao Paulo 1984, 140 x 210 mm, 340 pp.

Este livro pretende apresentar a doutrina da fé aos jovens e adultos


com base em "Catequese Renovada — OrientacSo e Conteúdo" do S. Pa
dre Joao Paulo II. Infelizmente, porém, nao se pode dizer que atingiu a
sua finalidade, pois, em vez de apresentar urna visáo objetiva e serena das
verdades do Credo, considera cada tema através do prisma da questáo
social — o que por vezes desfigura o próprio conteúdo da mensagem da
fé. Por exemplo, logo o capitulo 1? ("Deus se revela") dá a entender que
até o secuto XIX os mestres deturparam a idéia de Deus e do seu plano;
foram os pensadores ateus (Marx e sua escola) que levaram os cristaos a
descobrir o auténtico plano de Deus sobre o mundo e a historia (cf.
pp. 13-15). No capitulo 2? ("Deus voltado para o mundo") a nocáo de
oriacSo é desenvolvida imprecisa e vagamente. O capitulo 3? ("O homem
recusa o projeto de Deus") reduz o pecado original a um pecado qualquer,
que terá desencadeado os demais pecados no mundo, de modo que hoje
nascemos num mundo imerso no pecado e somos, por isto, propensos a

— 355 —
88 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 281/1985

pecar; nada af se diz sobre a justiga original, o pecado de soberba dos


prlmelros país e as suas conseqüéncias (perda dos dons origináis) para
os descendentes.

Em suma, o livro é pobre em doutrina proprlamente dita; multo mais


interessados eslao os autores em suscitar a praxis crista ou apresenlar a
Ética crista. A bela mensagem da (é é assim depauperada; na verdade,
para suscitar auténtica consciéncia moral nos cristüos, nada há de mais
eficaz do que apresentar a grandeza e a profundidade dos artigos da té.
E.B.

AMIGO, TODO CRISTÁO PRECISA DE CONHECER ME-


LHOR A SUA FÉ A FIM DE A VIVER E TESTEMUNHAR COM
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CIACAO TEOLÓGICA E CURSO BÍBLICO POR CORRESPON
DENCIA. INFORMAQOES PODEM SER SOLICITADAS AO EN
DEREZO: CURSOS POR CORRESPONDiNCIA, RÚA BENJAMÍN
CONSTANT, 23, 39 ANDAR, CAIXA POSTAL 1362, 20241 RIO
DE JANEIRO (RJ). AS INSCRIQÓES PODEM SER FEITAS EM
QUALQUER ÉPOCA DO ANO. A DURACÁO DE CADA CURSO
ESTÁ A CRITERIO DO CURSISTA.

A FILOSOFÍA É O CAMPO EM QUE TODOS OS HOMENS


SE ENCONTRAM DA MANEIRA MAIS NOBRE POSSÍVEL, POIS
É O DIALOGO DA INTELIGENCIA.

NO RIO DE JANEIRO (RJ), DE 30/VII A 5/VIII/1985, REA-


LIZAR-SE-Á O 16? COLOQUIO INTERNACIONAL DE FILOSO
FÍA SOBRE O TEMA "A ANÁLISE SOCIAL NA PERSPECTIVA
FILOSÓFICO-CRISTA", ORGANIZADO PELO CONJUNTO DE
PESQUISA FILOSÓFICA (CONPEFIL) E PELA ASSOCIACAO
CATÓLICA INTERAMERICANA DE FILOSOFÍA (ACIF) SOB O
PATROCINIO DA PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO
RIO DE JANEIRO (PUC/RJ). INSCRIC6ES E INFORMACÓES
PODEM SER SOLICITADAS AO CONPEFIL, RÚA MARQUÉS
DE SAO VICENTE, 293, 22451 RIO DE JANEIRO (RJ) OU PELO
TELEFONE (021)274-4596. DIRIGIR-SE AO PE. STANISLAVS
LADUSANS S J. OU AO SEU SECRETARIO.

— 356 —
EDIQOES "LUMEN CHRISTI"
MOSTEIRO DE SAO BENTO
Rúa Dom Gerardo 40, — 5<? andar — Sala 501
Caixa Postal 2666 — Tel.: (021) 291-7122
20001 — Rio de Janeiro — RJ

ASSINATURADE 1985

de margo a dezembro: Cr$ 20.000


(esgotado o n?278: de ¡an.-fev.)

Número avulso Cr$ 4.000

Anos anteriores a 1985:


Número mensal CrS 1.500
Número bimestral Cr$ 3.000
índices gerais:
De 1957 a 1977 (em xerox) Cr$ 6.000
De 1978 a 1982 (impresso) Cr$ 3.000

RITUAIS

Meus 15 anos (14aed.) Ritual e texto para a Missa ... CrS 900
Bodas de prata e de ouro (11aed.): Ritual e texto Cr$ 900
(capa prateada ou dourada)
Liturgia da Missa (24aed.):Celebracao da Eucaristía com o Povo)
em preto-vermelho, letras bem legíveis, contendo as 5 Oracoes
Eucarfsticas, 3 para Missas de Changas e 2 sobre á Reconciliacao)
Cr$ 1.400
Ritos de Comunhao para Ministros da Comunhao Fucan'stica
(MECE), 6aed.: Normas, Ritos, Leituras Cr$ 1.400
Rito do Batismo (contendo breve instrucao para País e Padrinhos
e varias fórmulas sacramentáis) Cr$ 700

Rito de Matrimonio (sem Missa) CrS 700


Uncao dos Enfermos (Ritual de urgencia), Uncao e Viático, con
tendo breves textos para a Liturgia da Palavra) CrS 1.100
A Missa em latim (para os fiéis) Cr$ 1.100
Missa da Esperanca: para 7? e 30? día.: 4 páginas letras bem
legíveis, em duas cores. Em preparacao a 8aed.

Atende-se pelo REEMBOLSO POSTAL (Valor mínimo CrS


10.000). Os precos poderao ser reajustados sem previo aviso,
acrescidos das despesas de remessa.
*' NO VI DAD E

J. Ratzinger / V. Messori

A FÉ EM CRISE?
O Cardeal Ratzinger se interroga
Urna entrevista inédita

Poucas vezes a entrevista de um Cardeal tem sido noticia na


imprensa mundial, como a entrevista que o Cardeal Joseph Ratzin
ger concedeu ao jornalista Vittorio Messori, A entrevista realizou-se
de 15 a 18 de agosto de 1984, em Bressano (Brixen), e foi transcri
ta neste livro.

Um livro que tem suscitado grande expectativa e que em todos


os países converte-se no centro do debate teológico:
' (152 p., formato 14x21 cm), Cr$ 45.000

Publicado pela EDITORA PEDAGÓGICA E UNIVERSITARIA Ltda


Praca D. José Gaspar, 106 - 3a sblj. n? 15 - 01047 - Sao Paulo - SP
Encontrado ñas Edicoes "Lumen Christi" (Mosteiro de S. Bento Caixa
Portal 2666 - 20001 - Rio de Janeiro - RJ) '

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á leitura dos primitivos Mestres da Vida espiritual.
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