Вы находитесь на странице: 1из 54

Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
00
SUMARIO

As Imagens no Culto Cristáo

LLJ Suicidio: Por qué?


O'
I-
Jornada de Oracóes no Japáo
co
LU

D "Maria, Rosa Mística"


O
Crise Vocacional na Ótica de Um Leigo

"Rede Nacional de Missdes Católicas"

"A Igreja Vive na Tchecoslováquia"


co
o

ANO XXIX JANEIRO 1988 308


E RESPONDEREMOS JANEIRO - 1988
Pubjicapao mensal NS308

SUMARIO
Diretor-Responsável.
"ANO NOVO, VIDA N0VA.J 1
Estéváo Beltencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia 1.200 anos ap6s o Concilio
publicada neste periódico de Nicéia II:
AS IMAGENS NO CULTO CRISTÁO . 2
Oiretor-Administrador: Fatos ¡mpressionantes:
D. Hildebrando P. Martins OSB SUICÍOIO: POR QUÉ? 13
No Monte Hiei:
Administrado e distribuicáo: JORNADA DE ORACÓES NO JAPÁO 23
Edicóes Lumen Christi Caso multo comentado:
Dom Gerardo, 40 - 5" andar, S/501 "MARÍA, ROSA MÍSTICA" 28
Tel.: (021 (291-7122 Significativo depoimento:
Caixa Postal 2666 CRISE VOCACIONAL NA ÓTICA
DE UM LEIGO 33
20001 - Rio de Janeiro - Rj
Que é? ,.

cflo e ImpioaaAo
"REDE NACIONAL DE MISSÓES
CATÓLICAS" 39
fcA "MARQUESSARAIVA'
Noticias e apelo"
"AIGREJAVIVE NA
TCHECOSLOVÁQUIA" 45
LIVROS EM ESTANTE 48

ASSINATURA:
NO PRÓXIMO NÚMERO:
Cz$ 500,00 (de 1? de Janeiro a 30 de abril)
309 - Fevereiro - 1988
Cz$ 600,00 (a partir de 1? de máio).

Número avulso: Cz$ 60,00 O Hínduísmo. - "Os Demonios descem


do Norte" (D. Monteiro de Lima).-"Jesús
Queira depositar a importancia no Banco sabia que era deus?" (Fr. D reyfuá)., - "Co
do Brasil para crédito na Conta Corrente mo viver a Sexualidade" (O Zanini).
n? 0031 304-1 em nome do Mosteiro de
Sao Bento do Rio de Janeiro, pagável na
A<jéncia da Praca Mauá (n- 0435) ou en
viar VALE POSTAL pagável na Agdncia
Central dos Correios do Rio de Janeiro. COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA

RENOVÉ QUANTO ANTES COMUNIQUE-NOS QUALQUER


A SUA ASSINATURA MUDANCA DE ENDERECO
Novo,Vida Nova...!"
"Ano novo, Vida nova...!", é o que fácilmente sugere a noite de
'3\l\2 para 01/01. A todos é costume desejar um ano ainda mais feliz do
que os anteriores.
A Escritura Sagrada, em seu estilo, acompanha estes augurios, es
timulando o cristáo a sacudir a rotina ou a poeira que a caminhada sobre
ele deposita...

Muito significativas a propósito sao as palavras que S. Paulo dirige


a seu discípulo Timoteo: "Eu te exorto a reavivar o dom de Oeusque há
em ti... Pois Deus nao nos deu um espirito de timidez, mas um espirito de
forca, de amor e de sobriedade" (2Tm 1,6s).
Reavivar... Em grego, anazopyrein tem sentido mais forte: lembra
um carváo em chama...; esta aos poucos vai-se extinguindo, e deixa ape
nas urna brasa vermelha; por sua vez, a brasa vai-se recobrindo de cinzas
a ponto de nao mais se ver o fogo latente no carváo. É preciso entáo ana
zopyrein, isto é, soprar em cima das cinzas...; estas se dissipam e o fogo,
reexcitado, salta de novo como bela chama. Eis o que o Apostólo deseja
que Timoteo e os cristáos facam periódicamente, a fim de nao se deixa-
rern vencer pela timidez, mas restaurarem em si a forca, o amor e a so
briedade que Deus Ihes deu.
A mornura e a tibieza sao os grandes males que ameacam os cris
táos que superaram o pecado grave. O Senhor Jesús é severo diante
desse tipo de molestia. Assim diz no Apocalipse: "Nao és nem frió nem
quente! Mas, porque és momo,... estou para te vomitar da minha boca"
(Ap 3,15s). Ser frió ou quente significa ter urna opgáo definida e empe-
nhar-se corajosa ou até arriscadamente por ela, fugindo de acomodacóes
ambiguas... Ao considerá-las. Pió XII dizia: "O grande mal dos nossos
tempos é que os bons estio cansados".
Em outra passagem, Jesús conta a parábola do senhor que confiou
a cada um de seus servidores um talento, e se foL. Ao voltar, encontrou
quem houvesse lucrado deze cinco talentos; mas achou também quem Ihe
devolvesse exatamente o mesmo talento; solicito para nao o perder, ha-
via-o enterrado; era honesto ou "legal" em aparéncia. Nao obstante, o
senhor nao o aceitou, porque o talento confiado era um bem móvel; de-
via ter produzido algo; se nao produzira, desvalorizara-se (cf. Mt
25,14-30). A imagem desse servidor "honesto e legal", mas estagnado e
acovardado, é de grande eloqüéncia para todos aqueles que tem ideal e
querem escapar de urna "santa mediocridade". O Senhor reprova dura
mente os servidores que, na sua legalidade tibia, enganam a si mesmos e
ao próximo (talvez sem ter consciéncia disto).
Possa o inicio de 1988 trazer a todos os cristáos o estimulo para so-
prarem sobre as eventuais cinzas do seu coracáo e fazerem subir alto a
chama da coragem e da fé!
E.B.

1
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXIX - N? 308 - Janeiro de 1988

1.200 anos após o Concilio de Nicéia II:

As Imagens no Culto Cristáo

Em slntese: Celebrou-se em 1987 o I^OO5 aniversario do Concilio de


Nicéia II, que defíniu a legitímidade do culto de veneragáo (neo adoragSo) das
imagens sagradas. Os argumentos aduzidos pro e contra esta prática, du
rante a controversia iconoclasta, mostram que nSo se tratava apenas de urna
modalldade do culto cristSo, mas, sim, de afirmar ou nao a genuinidade do miste
rio da Encamacáo do Filho de Deus; Isto se confirma peto lato de que, para
comemorar o fím da tonga e ardua disputa iconoclasta, os ortodoxos institui
rán a Fasta da Ortodoxia - o que significa que a reta fé proclamada pelos
ConcfBos anteriores foi de novo professada pelos defensores das imagens.
- O presente artigo aprésenla, entre outras coisas, os argumentos do Concilio
de Nicéia II que apelavam para a Cristotogia a fím de justificar a veneragáo
das imagens.

Estas aínda desempenham papel importante em nossos dias, visto que


o ser humano é psicossomátíco ou feito para passar do visfvel ao Invisfvel. Os
cristSos orientáis dedicam especial estima aos seus icones, que eles cultuam
como sacramentáis e como complemento inseparável do S. Evangelho.

Em 1987 completaram-se 1.200 anos da realizacáo do Concilio de


Nicéia II (04/09 a 23/10/787), que tratou do culto das sagradas imagens
durante a érdua controversia iconoclasta''. Visto que tal data é importante
e a confeccSo de imagens é assunto ainda hoje discutido em alguns am
bientes, exporemos ñas páginas seguintes: 1) o histórico da controversia;
2) a definicSo do Concilio de Nicéia II; 3) o significado do culto das ima
gens.

em grego, significa imagem, kláo quebrar. O iconoclasmo foi o


movimento de quebra ou de combate ao uso das imagens.
AS IMAGENS NO CULTO CRISTÁO

1. Traeos da historia da controversia


A Igreja dos tres primeiros séculos era sobria em relacSo a ima
gens, por dois motivos: 1) o Antigo Testamento proibia a confeccSo de
imagens (cf. Ex 20,4s; Dt 4,15); 2) os povos pagaos adoravam ídolos
(imagens divinizadas). Isto, porém, -nao quer dizer que nao houvesse
imagens nos recintos sagrados dos antigos cristSos; assim, por exemplo,
os cemitérios de outrora apresentavam afrescos, geralmente inspirados
pelo texto bíblico: Noé salvo daságuas do diluvio, os tres jovens cantando
na fornalha ardente, Daniel na cova dos leñes, os páes e os peixes res
tantes da multiplicado efetuada por Jesús, o Peixe que simbolizava o
Cristo...

No século IV o paganismo foi declinando fortemente, de modo que


um dos fatores de reserva frente ás imagens se dissipou: estas foram
sendo confeccionadas em número crescente, tanto para excitar a piedade
como para instruir o povo iletrado. Principalmente os orientáis, e entre
estes os menges, estimavam as imagens (Icones) nao para adorá-las,
mas para cultuar as pessoas assim representadas (Jesús Cristo, a Vir-
gem María, os Santos...).
No século Vil, porém, o islamismo (cuja era comeca em 622) reno-
vou o preceito do Antigo Testamento contrario as imagens. Este fato e
eventuais abusos cometidos por cristSos com referencia ás mesmas, sus-
citou na Igreja a onda do iconoclasmo. Os Imperadores bizantinos, que
julgavam ter a obrigacSo de intervir nos assuntos internos do Cristianis
mo, tomaram partido em favor dos iconoclastas, de modo que o culto
das imagens foi proibido por leis do Imperio. Os monges e muitos fiéis
reagiram a esta campanha - o que ocasionou violenta perseguido a par
tir de 726, quando o Imperador Leáo III o Isáurico (717-741) decretou o
afastamento das imagens sacras. A ¡ntencSo do monarca nao era apenas
teológica, mas também, e muito mais, política: quería ser Imperador e
Sumo Sacerdote (Basileus kai Hiereus eiml. Sou Imperador e Sacerdote,
dizia Leáo III); programava submeter totalmente ao seu poder a Igreja,
inclusive os monges, que eram os mais tenazes defensores da liberdade
eclesiástica. Assim a afirmado do culto das imagens tomou um signifi
cado muito ampio, pois equivalía á luta pela independencia da Igreja
frente ao cesaropapismo (ou ao despotismo imperial).''

1SSo Joño Damasceno (t 749), um dos mais ardorosos defensores das


imagens, respondía ao Imperador Leáo III, cesaropapista:
"Decidir sobre assuntos da Igreja toca aos Sínodos e nSo aos Imperado
res. Nao foi a estes que Deus entregou o poder de ligar e desligar, mas aos
Apostólos e seus sucessores, pastores e doutores... Nao aceito que os de
cretos do Imperador rejam a Igreja; esta tem sua lei ñas tradigOes dos Padres,
escritas e nao escritas" (De haeresibus PG 941116, 1304).
(continua na pág. 4)
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

A perseguido aos cultores das imagens devia estender-se até 843,


passando por fases ora mais-, ora menos violentas; fo¡ a Imperatriz Teo
dora, regente em lugar de seu filho Miguel, quem conseguiu, uma vez
por todas, p6r termo a controversia, dando pleno apoio ás decisóes do
Concflio de Nicéia II (787). Antes de estudar as razóes aduzidas por este,
vejamos os argumentos utilizados pelos iconoclastas.

2. Os argumentos dos iconoclastas

Os adversarios das imagens nao apelavam apenas para o Amigo


Testamento, mas elaboraram um arrazoado que. procedía de premissas
teológicas centráis no Cristianismo, pois se prendía ao próprio misterio
da Encarnacáo. Para entendé-lo, é preciso recordar as etapas por que
passou o estudo da Cristologia (estudo da figura de Cristo).

2.1. Premissas cristológicas

Nos séculos I-III os bispos e pensadores cristáos procuraram for


mular o relacionamento de Jesús com o Oeus único, que se revelara no
Antigo Testamento: após diversas tentativas falhas, o Concflio de Nicéia I
(325) definiu que Jesús Cristo é "Deus de Deus, luz de luz, gerado, nao
feito, consubstancial ao Pai, Ele por quem tudo foi feito". No fim do sé-
culo IV, o Concilio de Constantino pía I (381) afirmaría também a Divinda-
de do Espirito Santo, "Senhor e Fonte de Vida, que com o Pai e o Filho é
adorado e glorificado".

Estava assim formulado o dogma da SS. Trindade: há um só Oeus,


cuja natureza é tio rica que ela se afirma em tres Pessoas - Pai, Filho e
Espirito Santo-, que nao retalham a única natureza divina.1

(continuagáo da pág. 3)

Aínda, citando Mí 22,17 ("Dai a César..."), escreve o mesmo doutor:

"Nos somos submissos a ti, Imperador, no que diz respeito á vida, ás coi
sas deste mundo, aos impostos, ás contribuigdes, etc., em tudo o que é da tua
algada na gestSo dos nossos interesses terrestres; mas, no que concerne á
instítuigSo da Igreja, temos pastores, que nos falaram e que estabeleceram as
instituigóes eclesiásticas" (ib. I112, 1297).

1As nogóes aquí pressupostas sao filosóficas:


Por natureza entende-se aquilo que faz alguém ou alguma coisa ser
aquito que esse alguém ou essa coisa é; assim a racionalidade, para o no-
mem. A natureza humana, por exemplo, é uma só, mas as pessoas humanas
sSo bilhOes. Donde se vé que há uma diferenga entre natureza e pessoa.
(continua na pág. 5)
AS IMAGENS NO CULTO CRISTÁO

0 pensamento teológico voltou-se entSo para o misterio da Encar


nacáo: como poderia Jesús, verdadeiro Deus, ser também verdadeiro
homem?- Duas res postas erróneas se apresentaram:

- O Nestoríanismo (do Patriarca Nestório, de Constantinopla)


afirma va que em Jesús havia duas naturezas e duas pessoas (a divina e a
humana) ou dois eu, unidos entre si por mero afeto. Esta doutrina, que
nao ressalva adequadamente a verdadeira nocao de Encarnacáo, foi re-
jeitada pelo Concilio de Éfeso em 431. Este, fazendo eco á tradicSo ante
rior, proclamou María "María de Deus" (Theotókos) para afirmar que
María nao gerou apenas um homem, ao qual Oeus se uniu afetivamente;
María, como toda máe, gerou urna pessoa, e esta pessoa era a de Deus
Filho, que nela assumiu a natureza humana. Por conseguinte, Maria é a
Máe de Deus na medida em que Deus se quis fazer homem.

- O Monofisismo, do Patriarca Éutiques de Alexandria, levou a


sentenca de Éfeso ao extremo de dizer que em Jesús a unidade era tal
que havia nao somente urna pessoa, mas também urna natureza só (a Di-
vindade absorvera a humanidades). Tal doutrina foi condenada pelo Con
cilio de Calcedonia em 451, pois também nao respeitava a verdadeira no-
cao de Encarnacáo. Em conseqüéncia, o Sfnodo Calcedonense proclamou
haver em Cristo urna só pessoa, sim (como o Concilio de Éfeso afirmara),
e duas naturezas (a Divina, eterna, e a humana, assumida no seio de Ma
ría Virgem).

Os monofisitas insistiram na sua tese, declarando que em Cristo


havia urna só vontade (a Divina), o que redundaría em afirmar urna só
natureza (a Divina) em Jesús. Tal é a doutrina monotelita, que foi rejei-
tada pelo Concflio de Constantinopla III (681). Há, pois, em Jesús a von
tade divina, eterna, e a vontade humana, inerente a humanidade assumi
da.

Estava assim devidamente expressa a fé católica nos misterios da


SS. Trindade e da Encarnacáo. - Ora é precisamente sobre este fundo de
cena que se coloca a controversia iconoclasta, aparentemente secundaria
por versar sobre urna modalidade do culto cristáo.

(continuagáo da pág. 4)

Pessoa é aquilo que faz a natureza subsistir concretamente, pois a natu


reza nSo subsiste em si ou como tal. Pessoa é, pois, a natureza humana mais
a sua subsistencia ouéa natureza subsistente em determinado sujeito.
Estas nocóes se aplicam a Deus, contanto que se enfatize que a subsis
tencia em tres Pessoas nSo retalha a natureza divina, como a subsistencia
em muitas pessoas retalha a natureza humana.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

2.2. Que diziam os iconoclastas?

O iconoclasmo foi sistemáticamente elaborado numa assembléia de


338 Bispos, que se denominou erróneamente "Concilio Ecuménico",
convocada pelo Imperador Constantino V Coprónimo (741-775) no ano
de 753 para a localidade de Hieria (Constantinopla). Essa assembléia ba-
seava-se sobre varios argumentos, dos quais o principal é o cristológico
assim concebido:

Os Concilios de Éfeso e Calcedonia definiram que Jesús Cristo é


verdadeiro Deus e verdadeiro homem, tendo duas naturezas e uma só
pessoa (divina). Ora, diziam os iconoclastas, quem tenta representar pic
tóricamente Jesús, procura compor uma imagem de Deus e do homem;
assim comete um duplo sacrilegio: o primeiro é o de tentar representar a
natureza divina ou a Divindade, que nao pode ser representada; o segun
do é o de misturar a natureza divina e a humana ou a Divindade e a hu-
manidade, erro que Éutiques, monofisita, cometeu e que foi condenado
em Calcedonia.

Se alguém redargüisse, afirmando que as imagens representam


apenas a natureza humana de Jesús, que foi visfvel e palpável aos ho-
mens, os iconoclastas responderiam: este modo de pensar é o de Nestó-
rio, condenado em Éfeso; sim, diriam, a humanidade de Jesús pertencia
ao Verbo de Deus e nao pode ser separada deste nem representada inde-
pendentemente deste. Quem julgue que pode representar só a humani
dade de Jesús, atribui a esta uma existencia própria (que ela nao tem) ou
faz déla uma pessoa; introduz assim uma quarta pessoa no misterio da
SS. Trindade. Dal concluiam ser imposslvel representar pictóricamente
Jesús Cristo sem incidir em alguma heresia (monofisismo ou nestoria-
nismo). Quanto ás imagens de María SS. e dos demais Santos, tornam-
se ilícitas se a de Jesús é ilícita; quem as confecciona, recai no paganis
mo.

Foi para refutar tal argumentado que o Concilio de Nicéia II se


reuniu de 04/09 a 23/10/787 sob a Imperatriz Irene, regente de seu filho
Constantino VI e fiel amiga das santas imagens.

3. A doutrina do Concilio de Nicéia II

Este Concilio ecuménico1 realizou-se em sete sessoes e definiu a


doutrina relativa ás imagens aos 13/10/787. Transcreveremos o respecti
vo texto mais importante, ao qual se seguiráo alguns comentarios.

'teto ó, geral, representativo da Igreja universal e aprovado peto Pana


Adriano I.
AS IMAGENS NO CULTO CRISTÁO

3.1. O texto conciliar

O documento oficial comeca por referir o Símbolo de fé dos Conci


lios de Nicéia I (325) e Constantinopla I (381); professa as verdades pro
mulgadas pelos Concilios anteriores e, a seguir, expóe o que nos interes-
sa:

"Em poucas palavras, eis a nossa profissáo de fé: conservamos,


sem mudanca, todas as tradicóes eclesiásticas, escritas e nao escritas,
que nos foram transmitidas. Uma destas é a confeccio de imagens, que
se concilla com a pregacáo do Evangelho, pois afirma a real, e nao ape
nas aparente. Encarneció do Verbo de Deus; além do qué, é útil a nos,
pois há uma correspondencia entre o sinal e aquilo que é assinalado.
Por isto, caminhando pela via regia, e seguindo em tudo o inspirado
ensinamento dos Santos Padres e a Tradicáo da Igreja Católica, reco-
nhecemos que o Espirito Santo habita nesta. Definimos com toda pre-
cisáo e diligencia que, como as representares da Cruz, assim também
as veneráveis e santas imagens em pintura, em mosaico ou de qualquer
outra materia adequada, devem ser expostas ñas santas igrejas de Deus
(sobre os santos utensilios e os paramentos, sobre as paredes e os
quadros), ñas casas e ñas estradas. O mesmo se faca com a imagem de
Deus Nosso Senhor e Salvador Jesús Cristo, com as da... Santa Máe
de Deus, comas dos santos Anjos e as de todos os Santos e justos.
Quanto mais os fiéis contemplarem essas represéntateos, mais serSo
levados a recordar-se dos modelos origináis, a se voltar para eles, a Ihes
testemunhar... uma veneracao respeitosa, sem que isto seja adoracSo,
pois esta so convém, segundo a nossa fé, a Deus. Trata-se antes, de um
culto semelhante ao que se presta á imagem da preciosa e vivifica Cruz,
aos santos Evangelhos e aos outros objetos sagrados, honrando-os
com a oferta de incensó e de lumes, como era usual entre os antigos;
na verdade, a honra prestada ás imagens passa aos seus prototipos;
quem venera a imagem, venera a pessoa assim reproduzida.
Assim reforjamos o ensinamento dos nossos Santos Padres, ou
seja, a Tradicáo da Igreja Católica, que pregou o Evangelho de uma ex-
tremidade á outra da térra. Assim somos seguidores de Paulo, do divi
no colegio dos Apostólos e da santidade dos antepassados, ligados
como estamos á tradicáo que recebemos (cf. 2Ts 2,15). ... Por conse-
guinte, quem ousar rejeitar algo do que foi entregue ás igrejas, sejam
os Evangelhos, sejam imagens da Cruz, sejam imagens pintadas, sejam
as santas reliquias dos mártires, ou quem ousar subverter alguma das
legitimas tradicoes da Igreja Católica, ou quem desviar para usos pro
fanos os vasos sagrados ou os santos mosteiros, ordenamos que, se fo-
rem bispos ou clérigos, sejam depostos; se forem monges ou leigos,
sejam excomungados" (Denzinger-SchSnmetzer, Enchiridion n*
600-603).

Refutamos sobre tal texto. j*"'Z -v! V' \ ''VlÜVlf /"V'X


3^v M%X
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

3.2. Valor cristológíco das imagens

A Declarado do Concilio de Nicéia II mostra que o uso das ima


gens na Igreja está ligado a concepcñes cristológicas. Com efeito, assim
diz: "Urna das tradicGes é a confeccáo de imagens, que se concilia com a
pregacSo do Evangelho, pois afirma a real, e nao apenas aparente, En-
carnacSo do Verbo de Deus".

Já os iconoclastas queriam deduzir do misterio da Encarnagáo o


náo-uso das ¡magens. Como dito, argumentavam com o seguinte dilema:
representando o Cristo, ou tentamos representar a sua natureza divina
(que nao pode ser representada) ou representamos a sua natureza hu
mana (ou confundida com a Divindade ou separada e existente por si
mesma); também esta outra alternativa é errónea, porque peca contra os
Concilios de Calcedonia e éfeso. - Ora os ortodoxos no Concilio de Nicéia 11
retomaram as definieses de Calcedonia e Constantinopla III e assim ra-
ciocinaram: existe urna distincáo entre natureza e pessoa, de modo que o
dilema proposto pelos iconoclastas pode ser superado. Com efeito, a
imagem nao representa a natureza (divina ou humana), como afirmavam
os iconoclastas, mas a pessoa de Jesús. A imagem é diferente do seu
prototipo quanto á natureza (a imagem é madeira, pedra, gesso..., ao
passo que o seu prototipo em Jesús Cristo é a Divindade ou é a humani-
dade), mas a imagem é semelhante ao seu prototipo quanto á Pessoa; a
pessoa do Verbo Encarnado, e nao as suas naturezas (divina ou humana),
é que se acha representada ñas imagens de Cristo. A imagem nao é urna
representado da natureza divina, nem da natureza humana, mas repre
senta a Pessoa Divina encarnada: exprime os traeos do Filho de Deus
feito homem e tornado vislvel aos sentidos e, por conseguinte, repre-
sentável pela arte. Os Icones sao imagens de pessoas; cada pessoa possui
a sua natureza própria. Na SS. Trindade, entre o Pa¡, o Filho e o Espirito
Santo existe distincáo de pessoas, mas identidade da natureza divina. Na
SS. Trindade o Filho difere-do Pai pela sua pessoa; ñas imagens, Ele di-
fere do ícone pela natureza, ao passo que há identidade de Pessoa. Don
de se segué que negar a legitimidade das imagens de Cristo é negar o
próprio misterio da Encarnadlo e afirmar a legitimidade das mesmas, é
professar a fé no misterio de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro ho
mem (urna só Pessoa em duas naturezas); é afirmar a fé na Encarnado
do Filho de Deus.
Por isto a definicáo do Concilio de Nicéia II em favor das imagens é
compendio da verdade católica.1

'Era esta a argumentacSo do santo monge Teodoro de Studion {1826),


defensor das imagens e da liberdade da Igreja, que padeceu duras perseguí-
gCes e cruéls fíagelacóes. Como se vé, o raciocinio é filosófico e preciso, as-
saz diferente dos arrazoados do pensamento ocidental, mas certamente váli
do.

8
AS IMAGENS NO CULTO CRISTÁO

é oportuno citar textos de S. Joáo Damasceno que explicitam o


pensamento dos doutores ortodoxos:

"Estaríamos realmente no erro se fízéssemos urna imagem do Deus in-


visfvel. Pois é impossfvel pintar o que é incorpóreo e invisfvel, o que nao tem
traeos nem linhas sensfveis... Mas, depois que Deus, em sua bondade inefá-
vel, se encarnou e fot visto em carne na térra,... depois que Ele viveu com os
homens, tendo assumido a natureza, a densidade, a figura, a cor da carne,
nos nao nos engañamos ao tazer a sua imagem" (II5,1288).

"Represento Deus, o Invisfvel, nao na medida em que é invisfvel, mas


na medida em que se tomou visfvel em nosso favor, participando da carne e
do sangue" (16,1236).

"Como fazer a imagem do Invisfvel?... Enquanto Deus é invisfvel, nao


fagas imagem déte. Mas, desde que vés o Incorpóreo feito homem, faze a
imagem da forma humana; quando o Invisfvel se toma visfvel na carne, pinta a
semelhanga do Invisfvel" (18, 1237-40).

"Quando se trata de imagens, é preciso considerar a intengSo daqueles


que as confeccionam. Se a intencSo é justa e reta e se as confeccionam para
a gloria de Deus e de seus Santos, por desejo da virtude, de fuga dos vicios e
para a salvagáo das almas, é preciso recebé-las como imagens... livros dos
ignorantes: é preciso venerá-las, beijá-las, saudá-las com os olhos, os labios,
o coráceo; trata-se da representagño de Deus encamado, ou de sua Máe ou
de seus Santos, companheiros dos sofrímentos e da gloría do Cristo"
(1110,1293).

Outro aspecto da declaracáo conciliar se impñe á nossa considera-


páo.

3.3. Valor sacramental das ¡magens

0 texto de Nicéia II afirma: "Quanto mais os fiéis contemplaren! es-


sas representares, mais seráo levados a recordar-se dos modelos origi
náis e a se voltar para eles..." Acrescenta: "A honra prestada as imagens
passa aos seus prototipos". Isto significa que a representado de Jesús
Cristo ñas imagens é um instrumento de comunicacáo e de comunha'o
entre o fiel que contempla devotamente, e Aquele que é contemplado. Os
cristáos orientáis diriam que as imagens s§o o sinal de auténtica presenta
ou que, mediante os feones, o Senhor atua sobre os fiéis infundindo
nestes a sua graca. Com outras palavras: as imagens tém o valor de um
sacramental1. Tal concepto era especialmente cara aos cristáos do

1Sacramental, na Teología, é todo objeto ao qual a Igreja assocla a valor da


sua oragáo, pedindo que todos quantos o utilizarem sejam santificados na
medida da fé e do amor com que o usarem. Assim os crucifíxos, as medalhas,
os tergos...
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

Oriente, sobre os quais a filosofía de Platáo exercia certa influencia: sim,


Platáo afirma que em toda ¡mggem existe algo da realidade representada
ou toda imagem participa do prototipo (como em todo objeto belo existe
urna participacáo da Beleza, em toda agáo justa há urna participacao da
Just¡9a, em toda afirmacSo verdadeira existe a presenta da Verdade...).
Eis as observacóes de um bom conhecedor do assunto:

"Ao passo que no Ocidente a imagem santa serve para provocar certo
impulso religioso e um piedoso estado de alma, mediante a descrigáo pictóri
ca, a interpretagáo e a evocacSo do personagem representado, o fcone orto
doxo é um meio de comunhSo entre aquele que ora e Deus, a Virgem ou os
Santos; é um meio de aproximagSo em demanda da Divindade transcendente"
(B. Ostrogorskij, L'Art Byzantin che* les Slaves, f. /. París 1930, p. 399).

Estas afirmacóes fazem eco a outra sentenca do Concilio de Nicéia II:

"A Igreja Católica, embora represente com a pintura o Cristo em forma


humana, nao separa a sua carne da Divindade que se Ihe uniu... Fazendo a
imagem do Senhor, professamos a sua carne deificada e no fcone reconhe-
cemos urna imagem representativa do seu prototipo. Poristo a imagem recebe
o nome do prototipo na medida em que está em comunhSo com ele; por feto
também ela é venerável e santa".

Estas concepcóes ainda sao corroboradas por outra observacáo do


Concilio de Nicéia II: vimos atrás que este propóe a comparacáo entre o
culto prestado ¿s imagens e aquele prestado ao Evangelho. Assim se ex
planaría a mente do texto conciliar: a única revelacáo de Deus exprime-se
por dois cañáis distintos - a Palavra no Evangelho e a imagem na pintu
ra. Um é inseparável do outro: as imagens explicam os Evangelhos, e os
Evangelhos explicam as imagens. Aquilo que a Palavra comunica me
diante o ouvido, a imagem o mostra silenciosamente através do olhar;
ambos sao instrumentos da RevelacSo Divina, que nutrem a fé; por isto
s§o dignos de veneracao e de culto,... culto que propicia a comunháo do
homem com Deus. Pode-se mesmo dizer que, segundo os teólogos do
Niceno II, a imagem nao deve ser considerada primeramente como um
artefato que ilustra o Evangelho, mas sim como urna linguagem que
corresponde ao Evangelho e á pregacáo viva do mesmo; a imagem está
no nivel do anuncio, tem significado litúrgico; é um sacramental; assim
como os textos da Liturgia e a pregacáo nao sao mera repeticio da S. Es
critura, mas fazem que esta se torne viva e atual, assim a imagem, repre
sentando a historia sagrada, transmite vivamente a realidade que esta
contém. Observa L. Ouspensky: "A unidade da imagem e da palavra li
túrgica tem importancia capital, pois estes dois modos de expressáo
exercem um controle reciproco; vivem a mesma vida e tém no culto urna
eficacia construtiva comum. A renuncia a um destes dois modos de ex-

10
AS IMAGENS NO CULTO CRISTÁO 11

pressSo leva á decadencia do outro" (La théologie de l'icone dans l'Egli-


se Orthodoxe. París 1982, p. 122).

Vejamos agora

4. A modalidade do culto das imagens

0 culto é o reconhecimento e a proclamado da dignidade existente


em alguém. Dirige-se primeiramente a Deus e, depois, a todas as pessoas
e realidades ás quais Ele comunica algo dos seus valores. 0 documento
conciliar distingue dois tipos de culto: "Aqueles que contemplam as ima
gens, s§o levados a... testemunhar-lhes urna veneracáo respeitosa (time-
tikén proskfnesin), sem que isto seja adora?áo (alethinén latrían), pois
esta só convém, segundo a nossa fé, a Deus". Donde se vé que o culto
prestado ás imagens nao é de adoragáo, mas de respeito, veneragáo e
obsequio.

Mais ainda: a veneragáo prestada ás imagens é relativa, ou seja,


referenciada ou dirigida a Cristo ou aos Santos. As imagens sao apenas
vefculos que levam a mente adiante, ou sao suportes que fazem os fiéis
passar do visfvel ao Invisfvel.

5. Conclusáo

A sentenca do Concilio de Nicéia II, em 13/10/787, nao pos termo ás


disputas sobre o assunto. O Concilio foi contestado; os monges e fiéis
ortodoxos ainda foram perseguidos. Somente aos 11/03/843, sob a re
gencia da Imperatriz Teodora, um Sínodo reunido em Constantinopla
com a partidpagáo do Patriarca Metódio proclamou definitivamente o
valor do culto das imagens, sem encontrar ulterior oposigáo por parte
dos Imperadores. No ano seguinte, ao se comemorar o primeiro aniver
sario desse feliz evento, os bizantinos instituiram a festa da Ortodoxia, a
ser celebrada no primeiro domingo da Quaresma (como de fato é até
hoje). Esta decisáo evidencia como os cristáos orientáis entenderam a
importancia das imagens: o culto das mesmas seria urna afirmacáo das
verdades centráis da fé, definidas petos Concilios anteriores, desde o de
Nicéia I; os misterios da SS. Trindade e da Encarnacáo do Verbo estáo
implícitamente contidos nessa prática de piedade.

No Ocidente, os decretos do Concilio de Nicéia II suscitaran-) resis


tencia devida a mal-entendidos e a imprecisa tradujo das Atas concilia
res. Aos poucos, porém, se ¡mplantaram sem restricóes.

No século XVI, os Reformadores protestantes levantaram mais urna


vez a questáo do uso das imagens. Ao que o Concilio de Trento em 1563

11
12 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

respondeu reafirmando a validade do mesmo tanto para fins catequéticos


como para sustento da piedade.

Nos últimos decenios, ouseja, a pos o Concilio do Vaticano II (1962-


65), registrou-se certa aversáo ás imagens no próprio culto católico; al-
gumas igrejas foram severamente despojadas das mesmas. Doutro lado,
verifica-se que a religiosidade popular pede tal esteio, de tal modo que a
falta de imagens e outros sacramentáis em templos católicos faz que
mu itos váo procurar em outras correntes religiosas (especialmente ñas
afro-brasileiras) o que Ihes é sonegado na Igreja Católica. Na verdade, as
imagens corresponden^ á constituigáo psicossomática do ser humano,
que foi feito para passar do visível ao Invisfvel: querer subtrair aos fiéis o
recurso ás imagens é nao somente urna ofensa á Tradi^ao e á fé católicas,
mas é também violentar a natureza humana, sempre propensa a utilizar
fotografías e pinturas para desenvolver suas faculdades.

É, pois, para desejar que a celebracáo do 1.200? aniversario do


Conctlio de Nicéia II seja ocasiáo para que mais nítidamente na Igreja
Católica se reconheQa o valor dos sacramentáis, o caráter litúrgico e cate-
quético dos mesmos, mormente se levarmos em conta a índole audiovi
sual da civilizacáo contemporánea. Muito sabiamente a Igreja canta des
de remota antigüidade: "Quando o vosso Filhó se fez homem, nova luz
da vossa gloria brilhou para nos, para que, vendo a Deus com nossos
olhos, aprendéssemos a amar o que nao vemos" (Prefacio das Missas do
Tempo de Natal).

Na confecgSo deste artigo, muito nos valemos do trabalho de Giuseppe


Fenraro SJ.: II Concilio Niceno II nel suo XII centenario. Valore cristo-
lógico del culto delle immagini, em La Clviltá Cattolica 3294 (19/09/84),
pp. 450-461.

Ver aínda: E. Bettencourt, Diálogo Ecuménico, Ed. Lumen Christi, Cai-


xa Postal 2666,20001 - Rio (RJ), 1986 (2? ed.).

CURSOS POR CORRESPONDENCIA

ALÉM DOS QUATRO CURSOS JÁ EXISTENTES (INICIACÁO BÍBLI


CA, INICIACÁO TEOLÓGICA, TEOLOGÍA MORAL, HISTORIA DA IGRE
JA), A ESCOLA 'MATER ECCLESIAE" ESTÁ OFERECENDO UM CURSO DE
LITURGIA POR CORRESPONDENCIA: NAO TRATA APENAS DE HISTO
RIA E RUBRICAS, MAS TENCIONA SER UM CURSO DE ESPIRITUALIDA-
DE BASEADA ÑAS AUTÉNTICAS FONTES (ESCRITURA, TRADICAO,
IGREJA) DA PIEDADE CRISTA.
INSCRICÓES OU PEDIDOS DE INFORMACÓES SEJAM DIRIGIDOS
A ESCOLA 'MATER ECCLESIAE" (CURSOS POR CORRESPONDENCIA),
RÚA BENJAMÍN CONSTANT 23, 3? ANDAR, 20241, RIO DE JANEIRO (RJ)

12
Fatos ¡mpressionantes:

Suicidio: Por qué?

Em slntese: O suicidio é lato cuja freqüéncia se vai alastrando de ma-


neira impressionante, a ponto de atingir jovens e adolescentes. As causas do
suicidio sao varías e complexas: entrelacam-se fatores sociais e fatores psi
cológicos, com preponderancia destes últimos, de modo que atualmente se
pode dizer que o suicida é geralmente um individuo atetado por disturbio ner
voso ou estado psicopatológico. Muito contribuí para o desequilibrio da perso-
nalidade e a perturbacSo psicológica o dilaceramento da familia contemporá
nea: o menino precisa de ver no pai o modelo do homem ideal, ao passo que a
menina quer legítimamente ver na máe a m'ulher ideal. Se, porém, pai e máe
nao s5o fiéis aos seus deveres conjugáis ou ao servico educacional que de-
vem prestar aos filhos, deixam nestes urna lacuna, que nao pode ser adequa-
damente preenchida.

O suicidio é condenado pela Moral católica, embora autores antigos e


contemporáneos o tenham procurado legitimar. A Igreja, porém, já nao recusa
o sepultamento eclesiástico e os funerais públicos aos suicidas.

Se o suicidio decorre da falta de percepgáo de valores na vida, a res-


posta que os cristáos háo de dar á crescente onda de suicidios consistirá em
apresentar mais vivamente os valores cristáos; estes incluem a própria Cruz
e as lutas, pois Cristo transfígurou a dor humana; se Ele chama os homens a
compartilhar sua Cruz salvifíca, nunca permite sejam tentados ácima das
suas torgas (cf. 1Cor 10,13).

Todo suicidio é sempre um fato impressionante que suscita indaga


res e reflexóes. Estas conseqüéncias sao especialmente fortes quando
se trata de suicidas conhecidos por sua vida pública ou de jovens ou aín
da quando se multiplican-!, como que em cadeia, os casos de suicidio.
Quem procura as causas (ao menos as alegadas causas) do suicidio de
muitos jovens, fica intrigado com a aparente pouca monta de tais causas:
desilusao amorosa, drama sentimental, mal-entendido com os pais, difi-
culdades nos estudos... Seriam tais causas as mais profundas e reais ou

13
14 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

haveria por baixo das mesmas outras aínda mais íntimas e talvez incons
cientes?

É para estas perguntas que o presente artigo procura respostas; ao


que acrescentará urna proposta de pistas que sirvam ao menos para mi
norar o drama dos suicidios em nossa sociedade. - Antes do mais, po-
rém, importa averiguar um pouco melhor o fenómeno e suas dimensóes.

1. O drama do suicidio hoje

Por "suicidio" entendemos o ato (ou a omissáo) pelo(a) qual al-


guém intencionalmente póe termo a sua vida na térra. Pode ser o disparo
mortal de urna arma, a ingestáo de veneno, a recusa de alimento... Há
modalidades de suicidio que tém caráter heroico á primeira vista: o do ca-
pitáo que afunda dentro da própria nave, sem se querer salvar do nau
fragio, o do militar que se mata por questóes de honra ou para nao reve
lar aos inimigos segredos estratégicos.

Do suicidio distinga-se a tentativa de suicidio. Observam os estu


diosos que esta nao é apenas um suicidio malogrado (ou por insuficiencia
dos meios aplicados ou por intervencáo de pessoas amigas), mas, na
maioria dos casos, tem características diversas das do suicidio propria-
mente dito. Assim, por exemplo, os suicidios sao cometidos por homens
mais do que por mulheres, ao passo que dois tergos das tentativas de
suicidio se devem a mulheres, e nSo a homens. As tentativas ocorrem
geralmente na primeira metade da vida, enquanto os suicidios mais fre-
qüentemente na segunda metade. As tentativas utilizam recursos fracos
(barbitúricos, gas, drogas de farmacia...); sao motivadas por dramas sen-
timentais, conflitos familiares..., ao passo que os suicidios empregam
meios mais eficazes e decorrem de baques económicos, graves reveses
da vida, doencas perniciosas... As tentativas sao gestos pouco premedita
dos e muito passionais, enquanto os suicidios vém a ser muitas vezes
o resultado de reflexáo e certa preparacáo. Isto leva a crer que no suicidio
prevalece a tendencia á autodestruicáo e, por conseguinte, a vontade de
morrer, ao passo que ñas tentativas de suicidio prepondera ainda o ins
tinto de autoconservacáo; elas sao como que um apelo dirigido pela vi-
tima aos familiares, amigos e á sociedade; o paciente pede ajuda, pede
atencáo afetiva e pode até estar recorrendo a urna chantagem.

Quem queira aquilatar as dimensóes do fato "suicidio" em nossos


días, encontra dificuldades, pois as estatisticas s3o fainas,... e falhas por
dois motivos: 1} muitas vezes, nSo se pode definir se tal ou tal desastre
foi suicidio ou foi infortunio involuntario, principalmente quando n§o há
comunicacóes deixadas pelo defunto atestando seu desejo de por termo
á vida; 2) nao raro os familiares ocultam a tragedia do suicida por razóes

14
SUtCfPIO:P0RQUÉ? 15

de prestigio ou para evitar reacóes desagradáveis por parte da socíedade.


Mais difícil ainda é contar as tentativas de suicidio, pois em torno destas é
mais fácil fazer silencio. Por isto pode-se dizer que as estatfsticas relativas
ao suicidio apresentam números inferiores a realidade.

Todavia é certo que nos países desenvolvidos o suicidio se tornou


urna das mais freqüentes causas de morte, especialmente na faixa etária
dos 15 aos 44 anos. Em Berlim Ocidental, por exemplo, é a primeira cau
sa de morte em tal segmento da vida; na Bélgica, na Dinamarca, na Sué-
cia, no JapSo, no Canadá, na Austria e na Sufca, é a segunda; na Austra
lia, na franca, na Escocia, na Noruega e nos Estados Unidos, a terceira...

Na Italia, em 1985 suicidaram-se: até os 13 anos de idade, cinco


meninos e duas meninas; entre os 14 e 17 anos, 18 rapazes e 13 mocas;
dos 18 aos 24 anos, 161 rapazes e 33 mogas; entre os 25 e os 44 anos, 594
homens e 217 mulheres; entre os 45 e 64 anos, 838 homens e 387 mu-
Iheres; além dos 65 anos, 926 homens e 384 mulheres. Como se vé, sem-
pre mais homens do que mulheres.

Procuremos agora catalogar

2. As causas do suicidio

Os estudiosos apontam dois tipos de causas de suicidio: as de or-


dem sociológica e as de ordem psicológica. Na verdade, urnas e outras se
conjugam quase em cada caso, concorrendo finalmente para levar o indi
viduo ao trágico desfecho.

Passemo-las em revista.

2.1. Causas sociológicas

A solidáo ou o isolamento, a falta de ¡ntegracüo de alguém na fami


lia, na profissáo ou no seu grupo social podem suscitar o perigo de suici
dio ou mesmo provocar o desastre final. Mesmo dentro do seu grupo,
pode ser induzida ao suicidio a pessoa que viva sem se identificar plena
mente com os valores ou as normas vigentes ou o individuo que nao re
ceba da sociedade as respostas adequadas és suas necessidades, sofren
do por isto frustracdes. Tais casos ocorrem especialmente nos periodos
de transicáo social, política ou económica; o individuo pode entáo entrar
em confuto com sitúa?oes novas, pode nao saber responder aos desafios
propostos por estas ou nao encontrar a satisfacáo que espera legitima-
mente; em conseqüéncia, a vida talvez Ihe pareca destituida de sentido
e inútil.

15
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

Os homens s3o mais vulneráveis pelos problemas profissionais e


económicos, ao passo que. as mulheres s3o mais atingfveis pelos conflitos
de casamento e de familia. De acordó com o passar do tempo, mudam
também as situacóes perigosas: dos 20 aos 30 anos, prevalecem razdes
afetivas e sentimentais (frustracáo no amor); dos 30 aos 50 anos, regis-
tram-se mais motivos profissionais e fracasso no casamento; na velhice,
a solidSo e a doenca tornam-se ameacadoras.

2.2. Causas psicológicas

Estas tém mais influencia do que as anteriores: sao fatores internos,


e nao externos. Diz-se mesmo que nenhum contexto momentáneo, por
mais insuportável que pareca, é suficiente para levar um homem plena
mente sadio e equilibrado ao suicidio; a decisao sdbre ser ou nao ser de
penderá, em última análise, do tipo de personalidade do sujeito ameaca-
do. Isto quer dizer que, fora as exce?oes (que nunca faltam a cada princi
pio geral), todo individuo que realiza o suicidio ou urna tentativa de suici
dio sofre de perturbado de índole psíquica. Esses disturbios psíquicos
podem estar ligados a determinada faixa etária (puberdade, juventude,
menopausa, velhice...) ou a determinados quadros de vida (baque finan-
cetro, decepcáo profissional, infelicidade no casamento, internacSo em
cárcere, em hospital, em asilo...); tais contextos podem provocar reacóes
ou molestias psíquicas: neurose, psicose, depressáo nervosa, alcoolismo,
uso de drogas..., que levam o paciente ao exterminio de sua vida terres
tre. A observacáo médica e o controle psicológico permitem realmente
concluir que a grande maioria dos que terminam no suicidio sofriam de
estado psicopatológico,... estado que de certo modo os compeliu ao lance
fatal. Algumas estatlsticas chegam a assinalar que um suicida sobre dois
ou sobre tres sofre de depressáo nervosa.

2.3.0 desmantelamento da familia em particular

Dentre todas as causas assinaladas, muitos estudiosos dáo especial


importancia aos problemas do lar, que marcam a infancia de grande nú
mero de suicidas; tais problemas podem tornar-se decisivos para o fu
turo das criancas ou dos adolescentes, pois influem no desenvolvimento
da respectiva personalidade. Consistem precisamente no que se chama
"o broken home (o lar quebrado)": falta de um dos genitores ou de am
bos, divergencias entre estes, freqüente mudanca das pessoas com quem
a crianca ou o adolescente tem relacionamento ¡mediato (ora está na casa
dos país, ora na dos tios, ora na dos avós, ora com a m§e só, ora com o
pai só...). Os traumas psicológicos que tais situacóes causam aos peque-
ninos, enfraquecem a estruturacáo da respectiva personalidade e dificul-
tam a resistencia a ocorréncias desfavoráveis ou rtostis na vida adulta dos
mesmos.

16
SUICÍDIO: POR QUÉ? 17

Tem chamado a atencáo dos estudiosos a freqüéncia de suicidios


de jovens, de adolescentes e até de enancas. Se é difícil explicar o suicidio
de adultos, muito mais difícil é explicar o de jovens e pessoas de menor
idade.

De ¡mediato, dir-se-á que os jovens e os adolescentes sao vftimas


da fragilidade de sua faixa etária; sao menos preparados para resistir ao
desánimo e á sensacáo de vazio que os reveses Ihes podem infligir; sao
mais impressionáveis pelo medo de nao conseguir encontrar seu lugar na
sociedade ou numa Escola ou numa profissáo; sao mais necessitados de
apoio, de estimulo, de orientagáo, de modo que, quando isto Ihes falta, a
vida Ihes parece fracassada ou desprovida de significado... Mas por baixo
desses fatores ¡mediatos devem-se assinalar outros mais profundos, li
gados com a crise e o desmantelamento da familia: as separagóes conju
gáis e os divorcios, os litigios violentos entre os cónjuges, o desinteresse
dos genitores pelos filhos abandonados a si próprios, enquanto pai e máe
levam "sua vida" juntos ou cada qual a seu modo, a falta de diálogo entre
genitores e filhos... contribuem para suscitar na prole a sensacáo de inse-
guranca e solidio afetiva; a prole precisa de ver no pai o modelo do ho-
mem ideal e na máe o da mulher ideal; tal demanda é incoerclvel e legi
tima. Nao encontrando resposta no lar, vSo procurá-la fora - na rúa, em
casa de vizinhos, talvez mal estruturados ou em antros de perdicáo; os
adolescentes e os jovens formam entáo seus grupos, nao raro dados á
droga, ao álcool e ao crime. Está comprovado que muitos suicidas da fai
xa etária mais nova tinham abandonado a familia e a própria escola.

Mesmo nos lares de genitores unidos observa-se que, nao poucas


vezes, os pais estáo mais preocupados com os presentes e o bem-estar
que possam proporcionar aos filhos do que com a entrega do seu tempo
e do seu afeto aos mesmos; nao se ¡nteressam pelos problemas pessoais
destes. As criancas gozam entáo de fartura material, prazeres e comodi
dades, mas nao se sentem profundamente amadas por seus genitores.
Para dar seguranca a urna crianca, nada de mais eficiente do que a ou-
torga de carinho, desvelo e Intima afeicáo. Observam mesmo os psicólo
gos o seguinte: os genitores dáo presentes numerosos aos seus filhos
freqüentemente porque se querem ver livres deles; enquanto os filhos
se distraem e brincam, os pais se divertem ou fazem sua vida pessoal;
tém sua consciéncia assim falsamente anestesiada. Na verdade, mais im
portante do que dar algo é dar-se,... dar o próprio tempo, a dedicacáo
pessoal, a capacidade de renunciar e sacrificar-se.

Alias, o sistema educativo adotado por muitos casáis, mesmo har-


moniosos e felizes, nao é recomendável: procuram evitar a seus filhos to
do esforco e sacrificio, facilitando-lhes a realizacáo de todos os desejos,
até mesmo de caprichos pouco razoáveis; nio Ihes cobram o cumpri-

17
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

mentó dos deveres nem Ihes exigem renuncias salutares... Isto nao pre
para os jovens para enfrentar e vencer as dificuldades da vida; n§o favo
rece a formacSo de temperas fortes, como as requer a existencia atribu
lada de nossos dias. Em conseqüéncia, diante do primeiro obstáculo gra
ve - ou aparentemente grave - os jovens cedem á depressáo e ao desá
nimo, tentados a capitular e a ver no suicidio a saída para seus proble
mas.

Além das responsabilidades da familia, sejam apontadas as da so-


ciedade como tal: dada ao consumismo, oferece sedutoras propostas de
hedonismo e de bens materiais, mas é vazia daqueles valores que dáo
sentido á vida e que sao os únicos aptos a satisfazer aos anseios mais
profundos do ser humano.

Em particular, os meios de comunicarlo social - televisSo, radio,


revistas, jomáis, cinema - sao poderosos velculos dessa inconsistente fi
losofía de vida; ninguém ignora a enorme influencia que exercem sobre o
público, mormente sobre os seus clientes menos críticos. Sao também
esses meios que difundem as noticias de casos de suicidio, visando ao
sensacionalismo através de informales minuciosas sobre os motivos de
cada suicidio, arma ou técnica utilizada e outros trapos impressionantes...

3. Suicidio: avaliacáo ética

3.1. Positivamente...

Nao faltou, nem falta, quem queira julgar positivamente o suicidio.

Na antigüidade, por exemplo. Séneca (t 65 d.C), filósofo estoico,


aprovava o suicidio como ato de coragem e dignidade, próprio do sabio,
quando a morte Ihe parecesse ser o único remedio contra o sofrimento;
Séneca só condenava o suicidio realizado por paixáo (o sabio deveria ser
a-pático). Por conseguite, Cipiáo o Africano, que se suicidou, era por
Séneca louvado mais por ter vencido a morte do que por ter vencido
Cartago.

No século XVIII David Hume, Montesquieu, D'Holbach também


aprovaram o suicidio. No século passado, Fr. Nietzsche apresentou 2a-
ratustra apregoando a "morte livre" (freier Tod) como prova de liberda-
de.

Em nossos tempos, Jean-Paul Sartre julgava que o suicidio é o


"caminho da liberdade", é a demonstrado do dominio que a pessoa tem
sobre as circunstancias da sua existencia. Para H. de Montherlant, o ho-
mem que se suicida, "dá testemunho de duas coisas: coragem e dominio.
O suicidio é a plena expansáo da vida" (B. S.-G., Encyclopaedia Univer-
salls, verbete Suicide. Paris 1980, vol. 15, p. 508).

18
SUICÍDIO: POR QUÉ? 19

Ainda recentemente foi publicado em francés, e traduzido para o


portugués, o livro de Claude Guillon e Yves Le Bonniec: "Suicidio; modo
de usar" (ver PR 281/1985, pp. 341-346). Os autores, dizendo-se anar
quistas, reivindicam o direito de suicidio para o homem, a quem nao é
dado escolher as circunstancias do seu nascimento e as do seu curso de
vida; oprimido pela sociedade, o cidadáo deve ría ao menos poder autoa-
firmar-se escolhendo as circunstancias da sua morte, sem que os seus
semelhantes tentassem indiscreta e tiránicamente recuperar os que que-
rem suicidar-se.

3.2. Negativamente

Já PlatSo (t 427 a.C.) via no suicidio um ato de insubordinado


contra a Divindade (Fedon 6). Aristóteles (t 322 a.C.) o tinha como ex-
pressáo de vileza, contraria ao bem social (Ética a Nicómaco III, 11; V,
15). Os neoplatónicos Plotino (t 270 d.C.) e Porfirio (f 305 d.C.) consi-
deravam o suicidio como um empecilho á realizacáo, nesta vida terrestre,
de todo o progresso espiritual possivel ao individuo.

Os filósofos modernos, desde Descartes (11650) até Kant (11804)


condenaram o suicidio. Kant, rígido como era, julgava que "dispor de si
para o suicidio é aviltar a pessoa humana" (Die Grundlagen der Meta-
physik der Sitten Vil, 229). Albert Camus (t 1960), pensador ateu, for-
mulou dramáticamente o problema do suicidio: "Há apenas um proble
ma filosófico realmente serio: o do suicidio. Julgar se a vida vale ou nao
vale a pena de ser vivida é responder á pergunta fundamental da filoso
fía. O resto das questóes - se o mundo tem tres dimensóes ou se o espi
rito tem nove ou dez categorías - vem depois. S3o brincadeiras, antes
das quais preciso de responder ao que é serio" (Le Mythe de Sisyphe.
Paris1943).

Na verdade, o jufzo moral que se há de proferir sobre o suicidio,


dependerá da maneira de encarar o sofrimento e a morte. Se alguém jul-
ga que a vida só tem sentido se isenta de graves lutas e obstáculos, po-
derá encarar o suicidio como algo de razoável ou como termo voluntario
de urna existencia que já nao vale a pena de ser levada adiante, porque
acabrunhada pela dor. Se, porém, a pessoa consegue entrever no sofri
mento e na luta ardua algo de condizente com valores transcendentais ou
com um designio de Deus, há de considerar o suicidio nao só como um
ato de covardia (fuga da luta), mas também como a suma frustracáo que
o sujeito possa infligir a si mesmo; é um subtrair-se ao plano de Deus,
que chama o homem para a plena realizacSo através da renuncia, a qualá
escola e fator de engrandecimento (pathos mathos, já diziam os antigos
gregos, afirmando que sofrimento é escola). Na verdade, só Deus sabe
quando a tarefa de um homem está concluida e quando a sua existencia
terrestre está consumada.

19
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

3.3.0 ponto de vista cristáo

A Moral crista, baseando-se nos dados da fé que acabamos de


enunciar, rejeita o suicidio. Ensina que a vida humana pertence a Oeus
só, de modo que só Este Ifie pode dar um fim na térra. As provacóes por
que passa a criatura, sao acompanhadas pela Providencia Divina, que
"nunca permite seja o homem tentado ácima de suas forcas, mas é um
Deus fiel, que dá os meios de sair da tentagáo e a forca para a suportar"
(1Cor 10,13). Alias, o preceito do Decálogo "Nao matarás" exclui também
o suicidio, segundo os doutores da Igreja. - Ademáis também a filosofía
leva a esta conclusSo: desde que se considere o instinto de conservado,
¡nato em todo homem, verifica-se que o suicidio é urna violencia infligida
a natureza, violencia só explicável se o individuo entra em desatino psi
cológico.

Ainda há poucos anos, a Santa Sé, ao abordar o tema "eutanasia",


em 5/5/1980, referia-se ao suicidio ou "á morte voluntaria como algo de
inaceitável" (Instrucáo sobre a Eutanasia, da Congregado para a Doutri-
na da Fé n? 1,3).

Esta conceituacáo do suicidio explica que durante séculos os suici


das tenham sido privados da sepultura eclesiástica e de públicos sufra
gios; a primeira norma de sancáo ao suicidio deve-se ao Concilio II de
Braga (563).'' - Todavia o novo Código de Direito Canónico, promulgado
em 1983, nao re nova as proibicóes antigás, pois já se tem consciéncia de
que, na mor parte dos casos, o suicida nao é plenamente responsável
pelo seu gesto; pode-se presumir essa insuficiente responsabilidade, e o
contrario (a plena responsabilidade de um suicida) é que deve ser de
monstrado mediante indicios, testemunhos e documentos.

Póe-se agora a pergunta final:

4. Que fazer?
Com razáo indaga-se: que se poderia fazer para diminuir a onda de
suicidios ou remediar ás causas que os costumam provocar?

A resposta nao é fácil, pois, como vimos, muitos sao os fatores e as


situacóes que contribuem para levar ao suicidio. Como quer que seja,
procuremos registrar algumas atitudes que parecem aptas a atender á
problemática:

1Com feto a Igreja nSo jutgava que todo suicida está para sempre
condenado. Apenas quería marcar a distincáo entre morte natural e morte
violenta, fruto de revolta contra Deus. - Sempre foi permitido rezar pelos sui
cidas na igreja, evitando-se o caráter de solenidade e publicidade.

20
SUICÍDI0:PORQUÉ? 21

1) a reestruturacáo e o fortalecimento da familia: seja, para os fiéis


católicos, o que se chama "Igreja doméstica" e, para todos os cónjuges,
um foco de concordia e um verdadeiro fator educativo; a formacáo ou
deformacao que as enancas e os adolescentes recebem de seus genitores
é, nao raro, decisiva para o resto de sua vida. Consciente disto, a Igreja
tem-se empenhado pela preservado da familia diante dos muitos ele
mentos da sociedade moderna que tendem a dilacerá-la. As autoridades
públicas sao especialmente convidadas a colaborar nessa tarefa preventi
va. O mesmo se diga dos meios de comunicacáo social: a experiencia
mostra que, sempre que um suicidio ou um drama é minuciosamente
exposto ao público mediante imagens e comentarios sensacionalistas,
ocorrem outros suicidios em cadeia; dal recomendar-se sobriedade ao
noticiar os gestos desafortunados de certos cidadáos, pois podem suges
tionar os mais frágeis ou os mais jovens.

2) Faz-se mister minorar a solidáo tanto dos andaos como de cer


tas pessoas de idade madura ou mesmo da faixa juvenil; os clubes "da
terceira idade" e os grupos jovens de orientacio sadia sao um válido
contrapeso frente ao desespero do ¡solamente Sao de notar também os
grandes beneficios causados por pessoas que se dedicam a ouvir seus
¡rmáos desanimados, seja pelo telefone, seja em escritorios adequados;
só o fato de deixar que o irmáo deprimido fale, sabendo que alguém o
ouve com carinho, é suficiente para dissipar a prostracáo de espirito de
quem se aproxima do suicidio.

3) Em símese, se o suicidio decorre do tedio inspirado pela falta de


valores (ao menos aparente), é necessário que os cristSos procurem pro
clamar os valores que a vida unida a Deus sempre tem. Muitos cidadáos
desesperados anseiam por ver concretizada, nos cristáos, a alegría de vi-
ver, mesmo que a vida signifique partilha da Cruz e luta. Aos cristáos to
ca, pois, especial responsabilidade no testemunho a ser dado aos seus
¡rmáos, a fim de que estes percebam (ou quase apalpem) a acáo do Res-
suscitado na vida dos seus discípulos. Nao basta proferir palavras de con
solo, mas é preciso encarnar esta linguagem numa conduta prática cor
respondente e transparente. Afinal pode-se crer que todo esforco para
dar testemunho de Páscoa ou da vitória da vida sobre a morte suscita
curiosidade e interesse da parte dos homens e merece a béngáo da parte
de Deus.

A propósito vero editorial "Una drammatlca realtá del nostro tempo:


¡I suicidio", em La Civiltá Cattolica 18/04/1987, pp. 105-117.

( R. G. S. t-
21 \
\
No Monte Hie¡:

Jornada de Ora^óes no Japáo

Em síntese: Realizou-se no Monte Hiei (Japáo) aos 04/08/87 mais um


Encontró de OragSo, do qual participou também urna delegag&o católica. Sem
procurar fundir as crencas religiosas, seiscentas pessoas se reuniram para
rezar, no mesmo lugar, cada grupo segundo a sua tradigSo. Nos días 6 e
8/08/87 os representantes religiosos estiveram respectivamente em Hiroxima
e Nagasaki, onde comemoraram as vltimas da bomba atómica, participando
de celebragdes cívicas e religiosas. Importa notar que os dirigentes desses
Encontros procuraram evitar o relativismo religioso; uniram-se entre si na ba
se da religiosidade congénita em todo homem, religiosidade que é dom do úni
co Deus; o exercfcio dessa religiosidade comum nao pode deixar de aproxi
mar os homens do único Deus e estrenaros vínculos de fratemidade do géne
ro humano.

Ao encerrar o Encontró de Oracoes em Assis, aos 27/10/1986, o Pa


pa Joáo Paulo II dirigiu a todos os participantes reunidos as seguintes
palavras:

"O (ato de que viemos a Assis de varias partes do mundo, é, como tal,
um sinal daquela estrada comum que a humanidade é chamada a percorrer...
Esperamos que esta peregrinagáo a Assis nos tenha ensinado novamente a
ser conscientes da origem e do destino comuns do género humano. Procura
mos ver neste céname urna antecipagáo daquito que Deus quer que seja o
desenvolvimento histórico da humanidade: urna viagem fraterna, na qual uns
acompanham os outros em demanda da meta transcendente que Ele estabe-
lece para nos".

Com estas palavras, o S. Padre quería dizer que considerava o En


contró de Assis n3o como um fato ¡solado, mas como o inicio de um rela-
cionamento muito fraterno entre todos aqueles que cultivam o seu senso
religioso e, por isto, se devem julgar companheiros de urna viagem á
procura do Fim transcendental assinalado por Deus para a vida humana.

22
JORNADA DE ORACÓES NO JAPÁO 23

Consciente do valor do Encontró de Assis, o chefe da delegacáo


budista japonesa presente a tal Jornada, o Sr. Etai Yamada, houve por
bem convidar, aos 28/10/86, os representantes de outras crencas para
semelhante reuniáo a realizar-se no Japáo em 1987. Ver PR 306/1987, pp.
434-443.

1. Antecedentes e desenrolar do Encontró

Existe famoso santuario no Monte Hiei (Japáo) pertencente á cor-


rente budista dita Tendai. Fundado pelo monge Saicho, completou 1.200
anos de existencia em 1987, tendo sido durante todos esses séculos um
centro de reflexSo e formacáo para numerosas geracSes. Ora a Conferen
cia Japonesa dos Representantes das Religioes houve por bem progra
mar as comemoragóes do aniversario de tal centro religioso promovendo
urna Jornada de OracSes "no espirito de Assis"; o Sr. Etai Yamada, com
seus 92 anos de idade, ao retornar de Assis, tornou-se o presidente do
Comité encarregado de organizar a Reuniáo.

Foi escolhtdo para esta o dia 4 de agosto de 1987, pois precisa


mente no comeco de agosto, todos os anos, sao realizadas diversas ceri-
mónias que comemoram os bombardeios atómicos de Hiroxima e Naga-
saki.

Participaram da Jornada de 04/08/87 cerca de 600 pessoas, repre


sentando as correntes religiosas existentes no Japáo: 24 desses partici
pantes foram do estrangeiro, representando 16 países. Contavam-se bu
distas, chintoístas, hindufstas, sikhs, confucionistas, judeus, muculmanos,
outros grupos religiosos e cristáos. Dentre estes, enumeravam-se: Mar
Gregorios, cristio ortodoxo, presidente do Conselho Mundial das Igrejas;
o arcebispo russo ortodoxo de Ivano- frankovsk e Kolomysk; um enviado
especial do arcebispo anglicano de Cantuária (Inglaterra); o Vice-presi
dente da Alianca Mundial das Igrejas Reformadas da Coréia. Por parte da
Santa Sé, estavam presentes: o Cardeal Francis Arinze, presidente do Se
cretariado para os Náo-Cristáos, que levou urna mensagem pessoal de
Joáo Paulo II assim concebida:

"Hoje sobre o Monte Hiei, por ocasiáo do 1.2009 aniversario da funda-


cSo do santuario por obra do Gráo-Mestre Saicho, celebrase a Jornada Mun
dial de Oragáo pela Paz. É motivo de grande satisfagáo que esta tenha sido
organizada pela Conferencia Japonesa dos Representantes Religiosos do
mundo ihteiro, entre os quais está o Cardeal Francis Arinze, presidente do
Secretariado para os Náo-Cristáos.

No ano passado, no decurso da Jomada Mundial de Oragáo em Assis,


Insistí sobre o papel da Oragáo na construcáo da Paz. A paz nao pode ser
realizada sem oragáo,... sem a oragáo de cada um em conformidade com a

23
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

sua identidade e com a sua procura da verdade. Atualmente os discfpubs de


todas as religiOes se tomam sempre mais conscientes de que a paz é um dom
de Deus, que devemos procurar em Deus mediante a oragño de todos. A
guerra pode ser o feito de um pequeño número, mas a paz exige o esforgo
concorde de todos no mundo. Se, todos juntos, comegarmos a elevar as nos-
sas vozes e os nossos coragóes a Deus para implorar a paz e a fraternidade
universal, Deus, por ceño, nao deixará de nos ouvir. Nesta ocasiáo recorda
mos que a paz exige os esforcos de todos para construirás condigóes de vi
da humana que possibilitam urna auténtica harmonía.

Dirijo-vos os melhores votos em favor das vossas iniciativas emprolda


paz mundial. As minhas oragóes vos acompanham hoje, neste momento em
que no Monte Hiei ofereceis diante de Deus a expressSo da nossa comum
humanidade".

A continuidade da Jornada do Japáo com a de Assis foi assinalada


pela presenca de dois frades franciscanos conventuais de Assis. Entre os
católicos, destacava-se ainda a delegacáo dos Focolarinos, cujos jovens
haviam colhido 140.000 assinaturas de solidariedade em quarenta países,
a fim de apresentá-las ao Venerável Yamada.

2. O roteiro do dia 4/08/87

O Monte Hiei é ocupado por um conjunto de edificios religiosos -


mosteiros, salas de oracáo, casas de retiro, escolas - esparsos em meio
aos bosques.

O programa do dia se abriu de manhá ao pé do Monte Hiei, estan


do presentes todos os participantes do Encontró. Cada grupo religioso
ex pos entáo a sua maneira de entender a paz e de tender a ela, seguindo
a respectiva tradicáo religiosa. Depois, em jejum subiram ao topo da
montanha, concentrando-se no templo Daiko-do. O sino tocou por tres
minutos para indicar o inicio desta segunda parte do programa; este sinal
foi acompanhado pelo toque simultáneo dos sinos de todas as igrejas,
cápelas e templos do Japáo e de alguns santuarios do estrangeiro (Can-
tuária, na Inglaterra; Assis, na Italia...). Após o toque, cada grupo déteve-
se em oracáo silenciosa de acordó com a respectiva tradicáo. Em seguida,
houve a oracao pública de cada delegacáo religiosa. A cerimdnia se en-
cerrou com a expressio de anseios de paz e do senso de fraternidade que
animava os participantes. Tais anseios foram formulados numa "Mensa-
gem a partir do Monte Hiei", aceita e sancionada unánimemente por to
dos os presentes. Eis um trecho deste documento, que de certo modo
lembra palavras de Joáo Paulo II proferidas em Assis:

"A paz nao signiñca ausencia de guerra, mas é um estado de fraterna


concordia e o exercfcb da unidade de toda a familia humana. A paz neo pode

24
JORNADA DE ORACÓES NO JAPÁO 25

existir sem a justíga e sem o amor. Quando rezamos, reconhecemos a nossa


indignidade diante da tarefa da paz. Por isto oramos pedindo a nossá rertova-
gao interior, para sermos dignos do nosso trabalho em favor da paz.

Rezar pela paz significa também trabaihar pela paz e também sofrer
pela paz. O servigo e o sacrificio em prol desta causa processan>se de di
versas maneiras e segundo variados métodos, como sSo o esforgo para re
solver conflitos, a recusa das armas nucleares e até dos armamentos con-
vencionais, a tutela do ambiente, a defesa dos direitos humanos, o socorro
aos refugiados e a transformagSo dos sistemas sociais injustos. Todos aque
les que professam urna religiáo, devem realizar 'urna opgáo preferencia! pelos
pobres'. A nossa tarefa é ingente e as nossas torgas insuficientes. Por isto
olhamos para a frente apoiados no poder da oragáo".

Procuremos agora comparar entre si Assis e Hiei.

3. As duas Jornadas: confronto

A Jornada do Monte Hiei estava programada antes da de Assis,


pois tinha em mira a celebracáo do 1.2009 aniversario do respectivo
Templo. Acontece, porém, que o seu programa foi modificado em fungáo
do de Assis, visto que teve como nota principal a impetracSo da paz. To
davía o Encontró de Hiei nao foi simplesmente urna repeticáo do de As
sis; teve suas características próprias, que o diferenciam do de Assis em
tres pontos:

1) A Comissáo Organizadora nao foi a da Santa Sé, mas foi um


Comité inter-religioso, constituido de budistas, chintofstas, outros crentes
e órgáos cristáos existentes no Japio (entre os quais, a Conferencia Epis
copal Japonesa). Tal Comité correspondía, de certo modo, ao convite di
rigido pelo Santo Padre aos diversos chefes religiosos para que traba-
Ihassem juntos pela causa da paz.

2) Cada grupo religioso apresentou, na parte da manhá, os seus


pontos de vista e as suas diretrizes derivadas das respectivas crencas no
tocante ao conceito de paz e ás maneiras de a realizar. Tais pronuncia-
mentos - em número superior a vinte - deveráo ser publicados pela
Conferencia Japonesa dos Representantes das Religióes, de modo que
possam ser estudados pelo grande público.

3) A sessáo matinal do Encontró teve grande repercussáo na opi-


niáo pública japonesa; os jomáis e a televisáo deram-lhe ampia cobertu
ra. Para muitos cidadáos japoneses, essa assembléia foi a ocasiao de to-
marem contato com a religiáo como tal ou com expressoes religiosas que
desconheciam. Assim foram enriquecidos os horizontes religiosos do pú
blico na sexta nacáo mais povoada do mundo.

25
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

4) A Mensagem enviada de Hiei para os chefes religiosos do mun


do inteiro é algo muito significativo. Mostra convergencia de aspiracóes e
métodos em demanda do bem comum da humanidade, reconhecido co
mo do Alto. É um testemuhho que pode despertar iniciativas congéneres
ou novas em prol da mesma causa. Com efeito, assim reza esta Mensa
gem:

"Possa o fato de estarmos aqui juntos a orar pela paz servir de exemplo
que seja seguido e multiplicado em toda parte no mundo! Assim o dom da paz,
é qual toda a humanidade aspira, seja concedido aos nossos tempos!"

Comentando este documento e o Encontró de Hiei, o Cardeal Fran-


cis Arinze observava que, entre outras coisas, ele punha em relevo tam-
bém a importancia da religiáo para a humanidade: "É prova palpável de
que a religiáo é urna dimensáo indelével da vida humana". Acrescentava:
quem procura suprimir da vida humana o fato religioso, acabará por
aceitar outra coisa, que fará as vezes de religiáo. Referindo-se aínda a
Hiei, dizia o Cardeal:

"Foi algo de beta, principalmente porque no documento final está dito


que os representantes das religióes do mundo inteiro tém um dever: o de pro
clamar que a religiáo nao é urna fuga, mas impete á acéo, e a acáo em prol da
paz" (Entrevistas na Radio Vaticana, 16/07, 04/08, 13 e 14/08/87).

Aínda convém dizer urna palavra sobre

4. A recordacáo de Hiroxima e Nagasaki

Hiroxima é cidade fundada em 1594. Importante centro industrial e


comercial, foi destruida, em 90%, pela primeira bomba atómica lancada
pelos norte-americanos. Em 1949 o povo japonés em plebiscito aprovou
a transformado de Hiroxima em reduto internacional de paz. Come?ou a
ser reconstruida em 1950.

Nagasaki é o primeiro porto japonés aberto ao comercio exterior


desde 1571, quando recebeu navegantes portugueses, que ali introduzi-
ram o Cristianismo. Foi arrasado no fim da segunda guerra mundial,
quando os norte-americanos ali lanparam a segunda bomba atómica aos
09/08/1945, provocando a morte de 45.000 pessoas.

Ora no dia 5 de agosto de 1987, os participantes do Encontró foram


a Hiroxima para comemorar as vltimas da primeira bomba atómica. Visto
que a data anualmente consagrada a tal evento é o dia 06/08, os delega
dos católicos se uniram a representantes de todas as dioceses do Japáo

26
JORNADA DE ORACÓES NO JAPÁO 27

em oracáo comum pela paz junto ao túmulo de dez mil vltimas nao iden
tificadas da bomba atómica no Hiroshima Peace Park. Os delegados das
dioceses desfilaram processionalmente do Parque á Catedral da Paz Uni
versal, onde o Cardeal Arinze concelebrou a S. Missa com oko Bispos ja
poneses em sufragio das 200.000 vftimas do holocausto nuclear.

O dia 06/08 é sempre marcado por cerimónias religiosas e civis em


Hiroxima. Houve, pois, na manhá de 06/08/87 uma celebracáo religiosa
no Parque da Paz com a presenca de quase todos os delegados ao En
contró do Monte Hiei. - Seguiu-se uma celebragáo cívica com a presenca
do Primeiro-Ministro Yashuiro Nakasone, que dirigiu um apelo aos fiéis
das diversas religióes para colaborarem na instauracáo de um clima de
respeito e fraternidade que torne ¡mposslvel qualquer tipo de guerra.
Precisamente as 8h 06min da manhá, hora em que a bomba explodiu, to
da a cidade de Hiroxima observou, como todos os anos, dois minutos de
silencio e reflexáo sobre o trágico acontecimento.

Finalmente-os delegados religiosos foram a Nagasaki, onde a noite


de 08/08 houve uma vigilia sacra: foram executadas músicas e dancas re
ligiosas da tradicáo japonesa; depois o coro da Catedral católica de Naga
saki executou o Réquiem em canto gregoriano, enquanto cada qual dos
presentes depositava uma flor sobre o túmulo que recolhe as cinzas das
vftimas daquela cidade. A tónica dos discursos e das oracóes proferidas
em Nagnsaki foi o Nunca mais!, que brotava espontáneamente dos cora-
coes de todos.

Nesta cidade os delegados católicos puderam entrar em contato


com uma comunidade católica que já tem quatrocentos anos, vividos sob
freqüentes perseguicóes e martirios até 1871, ano da "emancipacáo dos
cristáos". Contam-se entre 10.000 e 40.000 mártires em Nagasaki, cuja re-
cordacáo está sempre muito viva: apontam-se ali o lugar onde foram
crucificados 26 mártires em 1597 assim como o vulcáo Unzen, cujas lar
vas e fumacas serviram para torturar outros cristáos. Ainda hoje a comu
nidade católica de Nagasaki é fervorosa, dando testemunho do heroísmo
da fé dos seus antepassados assim como do clima de tolerancia e res
peito que existe no Japáo de nossos dias.

Eis os principáis traeos do Encontró de Oracáo do Monte Hiei (Ja-


pio). Sem confundir os Credos, pos em exercício a religiosidade presente
em todo homem,_. religiosidade que é dom do único Deus, "Pai de Nos-
so Senhor Jesús Cristo" (cf. 2Cor 11,30); a vivencia comunitaria desse
senso religioso congénito nao pode deixar de aproximar sempre mais os
homens do único Deus e estreitar os vínculos de fraternidade do género
humano.

27
Caso milito comentado:

"Maria, Rosa Mística"

Em slntese: As aparicóes de Nossa Senhora 'Rosa Mística" a Pierina


Gilll proclamaram a necessidade de oracáo e penitencia. Esta mensagem é
plenamente conforme com o Evangelho. A Igreja, porém, nao se manifestou
sobre a autentiddade de tais fenómenos. É norma dos mestres de espirituali-
dade evitar pronunciamentos precipitados a respeito de dons e acontecimen-
tos extraordinarios. - No Brasil, os "miiagres" atribuidos a Nossa Senhora
"Rosa Mística" precisam de ser atentamente estudados para que sepossa ti
rar alguma conclusSo sobre a sua orígem.

No Brasil tem-se propagado últimamente a devocáo a Nossa Se


nhora "Rosa Mfstica". O tttulo é familiar á piedade católica, pois se acha
na Ladainha Lauretana (de Nossa Senhora); acontece, porém, que vem
acompanhada de fenómenos extraordinarios, que chamam a atengáo dos
fiéis e suscitam interrogares. Assim, por exemplo, o jornal "A Tribuna
de Minas" de 12/06/87 em Juiz de Fora noticiou que "tres mil pessoas
foram testemunhas, ontem á noite, de um estranho fenómeno que fez
jorrar agua pelas paredes e pinturas do templo, durante a celebrado da
Missa para os enfermos, celebrada pelo Pe. José Sazami Kumagawa. Se-
gundo relato do Pároco da Catedral, Mons. Miguel Falabella, os fiéis se
ajoelhavam e gritavam 'MHagre, milagre!', enquanto usavam lencos e
papel para sugar um pouco da agua que se represava junto á parede".
Eis outros fenómenos que tém impresslonado, segundo o relato do Pe.
Luís Duque Lima, Vigário da Paróquia de Nossa Senhora Auxiliadora, de
Juiz de Fora:

"O fenómeno do Sol - Ó Padre Alvlm Valerio, ordenado há dois anos,


recebeu pela segunda vez na cidadezinha de Tabuleiro, (próxima de Juiz de
Fora), onde é vigário, a Imagem de Nossa Senhora Rosa Mística. Ao tomá-la
ñas máos, sentiu que estava intensamente molhada, com gotas d'água escor-
rendo do manto e das máos. Emocionado, chorou.

Fui ató lá. A igreja paroquial estava sempre repleta á hora das Missas.
O povo passara duas noites inteiras em vigilia, rezando e cantando. Na se-
gunda-feira, día 22, com o solquente, filetes d'água escorriam das palmeiras e
de urna amendoeira em frente á Matriz. Foi nesse mesmo día que aconteceu
"MARÍA, ROSA MÍSTICA" 29

um fenómeno estranho, mas belfssimo, com o sol entre nuvens claras, sem o
menor sinal de chuva. Eram aproximadamente 16h. O Pároco, Pe. AMm,
conduzia, em procissáo, a imagem da Rosa Mística. A igreja eslava repleta.
Um lindo arco-Iris surge, nSo do lado oposto, mas ao redor do sol, apenas em
tres cores: branca, amarela e vermelha, as tres cores das rosas que a Vtrgem
ostenta. Aos poucos, este arco-fris foi-se desvanecendo. Entño, o sol como
que pulsava lentamente, dando a todos a nítida impressSo de que se movía,
ora se afastava, ora voltava, aumentando de volunte ou diminuindo. Comegou
a emitir reflexos de cores diferentes, sobretudo dourado, que cotoriam a pai-
sagem.

Do sol, surgiam clarees maravilhosos, amaretes e vermelhos, lampejos


azuis, que incidiram nos vidros da igreja. Visivelmente, apareceu desenhadi
no sol urna Cruz simétrica, una. Minante, alongada, cuja haste inferior como
que se apoiava na montanha. Entre os ángulos dessa Cruz, surgiram ratos
luminosos, estando o sol no centro. Esta figuracSo deu a impressSo perfeita
de um 'menso ostensorio. As pessoas emocionavam-se intensamente e as
enancas gritavam: 'O sol está se mexendo! Olhem, é vermelhot Azul! Amare-
lo!' É difícil descrever o espetáculo jamáis visto em qualquer regiáo por aqui.
Estávamos todos emocionados. Depois, por varios minutos, durante a cele-
bragáo da Santa Missa, os reflexos do sol penetraram na própria igreja e por
coincidencia (se assim podemos dizer), cortamente providencial, iluminou o
Crucifíxo e a imagem da Rosa Mística sobre o altar."
("Estado de Minas", de 09/07/87).

NSo se pode dizer coisa alguma sobre o significado de tais fenóme


nos sem que haja previo e meticuloso exame das ocorréncias, tarefa esta
que as autoridades eclesiásticas realizaráo com a colaborado de dentis
tas, se a julgarem oportuna.

Importa-nos aqui oferecer algumas considerares sobre as origens


da moderna devocSo á "Rosa Mística" tais como se acham documenta
das no livro do Pe. Alfons María Weigl intitulado em portugués "María
Rosa Mística". Fbi publicado em tradugáo lusa pelas Edicdes Boa-Nova
(Braga, Portugal) em 1979. é distribuido gratuitamente. 0 original ale-
mio tem a aprovacio eclesiástica do Sr. Bispo de Ratisbona, com as da
tas de 12/02/1974 e 09/09/1975.

1. Os fenómenos e sua mensagem

O livro transmite o conteúdo de revelacóes atribuidas a Nossa Se-


ríhora, que terá aparecido a Pierina Gilli na Italia.

A primeira serie de aparicSes terá ocorrido desde a primavera (nór


dica) até 8 de dezembro de 1947 em Montechiari (diocese de Brescia, Itá-

29
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

lia). Regina nasceu nesta cidade aos 03/08/1911 e trabalhava como en-
fermeira no Hospital local; num quarto desta instituicáo terá visto Nossa
Senhora de vestido roxo, trazendo tres enormes espadas cravadas no
peito; a Virgem chorava com grande tristeza e terá dito: "OracSo, sacrifi
cio, penitencia!". Houve sete aparases em 1947, por ocasiSo das quais
María disse que desejava ser invocada como "Rosa Mística". Na última
aparicáo a Virgem confiou a Pierina um segredo com a promessa de que
voltaria para Ihe permitir revela-1 o ás autoridades eclesiásticas. Contam-
se curas milagrosas ocorridas em torno deste sétimo encontró.

Diante dos fatos, o Bispo diocesano de Brescia, D. Jacinto Tredici,


ordenou a Pierina que se retirasse num convento de Religiosas. Ficou,
pois, como empregada durante alguns anos numa casa religiosa, tendo
como diretor espiritual o Pe. Justino Carpin, franciscano conventual.

Em conseqüéncia, as aparicóes foram interrompidas. Somente em


fevereiro de 1966 recomecaram. Entáo, como se le no referido livro, a
Virgem se fez visfvel de novo; consolou Pierina pela dor que sofrera du
rante os anos anteriores e prometeu-lhe reaparecer no domingo 17 de
abril de 1966 em Fontanelle, suburbio de Brescia, O Bispo da cidade, in
formado da promessa, recomendou a Pierina o mais rigoroso silencio
a tal respeito, de modo que Pierina foi a Fontanelle naquele domingo em
companhia de urna única amiga. Aos 17/04/1966, Maria SS. terá tornado
milagrosa a agua de urna nascente em fontanelle. Na seguinte aparicio
(aos 13/05/1966) Maria terá solicitado a construfáo de urna piscina em
Fontanelle para a ¡mersSo e cura dos doentes (a semelhanca do que
ocorre em Lourdes). Na terceira aparigáo, em 09/06/1966, pediu urna es
tatua a ser colocada em Fontanelle voltada para a fonte milagrosa.- Esta
segunda serie compreendeu quatro aparicóes, sendo a última datada de
06/08/1966.

A Curia Episcopal de Brescia proibiu entáo a Pierina que voltasse a


fbntanelle. Assim se encerrou a segunda serie. Todavía Pierina relatou
varias outras visfies e mensagens recebidas de Nossa Senhora, nos anos
de 1969,1970,1971,1972, 1973,1974, 1975,1976. Em todos estes encon-
tros, a Virgem terá lamentado a ¡ndiferenca e os pecados dos homens;
haverá previsto punicfies e prometido conversóos numerosas. Terá pedi
do oracóes e penitencia, tendo em vista especialmente a renovagSo dos
sacerdotes, das comunidades religiosas e das almas consagradas.

Conta-se que Pierina foi recebida pelo Papa Pió XII aos 09/08/1951;
o Pontífice Ihe deu a Bencáo Apostólica e Ihe pediu rezasse por ele. Tam-
bém se referem numerosas gracas corporais e espirituais, obtidas me
diante a invocado de Maria "Rosa Mística" no decorrer dos últimos de
cenios.

30
"MARÍA, ROSA MÍSTICA" 31

2. Que dizer?

1. A autoridade eclesiástica até hoje nSo se pronunciou definitiva


mente sobre o assunto. Trata-se de revelares particulares, das quais há
muitas em nosso sáculo, exigindo cautela da parte dos pastores e dos
fiéis para n§o se deixarem iludir; nao raro tais fenómenos extraordinarios
n§o resultam de Deus nem de ¡ntervencáo dos Santos, mas sao meras
projecóes do psiquismo dos "videntes". No caso de Pierina, sabe-se que
a Curia Episcopal de Brescia procurou dissuadir a "vidente" e fez o possí-
vel para evitar alarde e propaganda em torno do assunto.

O tftulo "Rosa Mística" é gsual na Ladainha de Nossa Senhora.


- Terá sido enfatizado por María, que, segundo dizem, aparecía orna
mentada por tres rosas: uma branca, que significava o espirito de orapáo;
outra vermelha, indicando sacrificio e abnegacáo; a terceira, a mareta,
dourada, indicaría o espirito de penitencia. A mensagem transmitida me
diante Pierina é ortodoxa; retoma os temas clássicos das apangues ma
ñanas: Oracáo e Penitencia. Observam os arautos de tal mensagem que
em Montichiari-Fontanelle se deu algo de novo:

"Convém referir aquí um aspecto singular das aparigóes de Rosa Místi


ca, o qual nSo se verificou noutras visCes. A Virgem caminhou sobre a térra,
pousando os pés, a prímeira vez, na catedral de Montichiari (22/11/1947) des-
cendo por uma escada branca adornada com rosas brancas, vermelhas e
amarelas (8/12/1947) e pousando, uma segunda vez, os pés sobre os de-
graus da pequeña escada de pedra que leva á nascente de Fontanelle, a qual
se dignou tocar com as suas máos em dois sitios diversos, abengoando a
agua em beneficio das almas e dos corpos (17/04/1966).
E, porque nos gestos de Deus e da Máe celeste nada sucede por aca
so, parece-nos vislumbrar no comportamento novo da Senhora quepousa os
pés na térra, caminha e desee as escadas, como que uma intensidade maior
da presenga de María no mundo, mais íntima comunháo com a existencia
quotidiana de seus fílhos, assaltados pela culpa, pelas enfermidades e pelas
afligóes de urna sociedade atingida peto cancro da mentira. Podemos afirmar
que esses gestos novos de Mana Rosa Mística indicam um seu novo e multi
plicado empenhamento no meto de todos os homens para a salvag&o corporal
e espiritual deles" (livro citado p. 41).

2. Quanto as ocurrencias extraordinarias no Brasil atribuidas a


"Rosa Mfstica", torna-se difícil julgá-las. É oportuno lembrar as normas
dos mestres de espiritualidade, que pedem reserva diante de fenómenos
extraordinarios: em nossos dias sao muitos os casos apontados, dos
quais alguns já puderam ser identificados como nao auténticos (ver El
Palmar de Troya, por exemplo, caso comentado em PR 208/1977, pp.
153-163). Os milagres nSo constituem o regime pelo qual Deus costuma

31
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

guiar os seus fiéis; n3o sáó imposslveis, mas tém que ser comprovados
como genufnos sinais da parte de Deus.

Independentemente, porém, da genuinidade das aparicóes da Rosa


Mística, importa valorizar as exortacóes h oracSo e á penitencia em re
parado dos pecados do mundo. Todas as mensagens atribuidas a Nossa
Senhora costumam recomendar estas práticas; elas decorrem do ámago
mesmo do Evangelho e merecem obediencia. A primeira palavra da pre-
gacfio do Senhor Jesús, conforme S. Marcos, foi precisamente: "O Reino
de Deus está próximo. Arrependei-vos (= fazei penitencia} e crede no
Evangelho" (Me 1,15).

Possam os clérigos e fiéis reverenciar estas recomendacóes e levar


urna vida cada vez mais santa, num regime de fé lúcida, paciente e perse
verante, a fim de se tornarem colaboradores de Cristo na obra da Reden-
c3o, pois "urna alma que se eleva, eleva o mundo inteiro". Seja este o
principal fruto dos fenómenos extraordinarios atribuidos a Nossa Se
nhora "Rosa Mística"!
* * ♦

(continuacSo da pig. 48)


mensagem da fé e responde-lhes sucintamente. É mais um livro precioso para
uso de paróquias, colegios, movimentos e comunidades eclesiais assim como
para a biblioteca de cada católico. A Introdugño do livro tem palavras pungen
tes:

"Ojovens, os adultos, as familias sao continuamente bombardeados em


suas casas pelos meios de comunicagáo que vendem um estilo de vida falso
e destruidor dos valores cristáos, supervalorízando o que é banal e aneste
siando suas mentes por meto de novelas e propagandas.
A grande massa do povo que recebeu o Batismo, está entregue ao pri-
meiro aventureiro alidador que Ihe rouba a parcela de fé que Ihe restou em
Cristo e em sua Igreja. O quatiro é bem grave, em todos os lugares. É neces-
sário entáo deixar de lado o pessimismo, fruto, muitas vezes, do comodismo.
arregacar as mangas e comegar um trabalho simples e de fundo: catequizar.
A voz profética de JoSo Paulo II ressoe em todos os ouvidos: 'A catequese é
urna urgencia'. Sim, a catequese sólida, bem feita, essencial é o único meto
para trazer de volta e fírmá-tos definitivamente na única Igreja de Cristo, que
salva.
A verdadeira catequese que transmite e faz vivero Cristo vivo, presente
na Igreja, é capaz de transformar as comunidades, as familias, as paróquias
em centros irradiadores de fé, de amor e responsabilidade" (pp. 7s).
Possam as reflexOes de Freí BaWstini encontrar profundo eco nos cora-
cóes dos nossos fiéis!

E.B.

32
Significativo depoimento:

Crise Vocacional na Ótica


de um Leigo

Em síntese: O Dr. Helio Begliomini, médico católico, apoma fatores


relacionados com a sociedade civil e com a eclesiástica, que dificultan} o sur
to de vocacoes sacerdotais e religiosas em nossos días. O artigo merece aten-
cao; é a voz de um leigo, que fala logo após a realizacSo do Sínodo dos Bis-
por interessados no papel do laicato na Igreja.

Publicamos, a seguir, o artigo do Dr. Helio Begliomini1, já colaborador


de PR (cf. n? 284/1986, pp. 40-46). Trata-se da voz de um leigo, e de um
leigo consciente da sua vocacüo dentro da Igreja. Aborda candente problema
numa fase da historia em que a Igreja reconhece e incentiva cada vez mais a
acao dos leigos em comunhao com a hierarquia. Ao Dr. Begliomini seja con
signada a viva gratidao da Redacáo de PR.

CRISE VOCACIONAL

Tem o presente artigo a finalidade de tecer algumas considerares prá-


ticas, de ordem subjetiva e objetiva, a respeito do problema vocacional na
Igreja Católica do Brasil. Nao é nossa intencSo utilizar artificios e subsidios
teórico-académicos (mesmo porque nSo temos formacao para tal}, mas, sim,
expressar singela e construtivamente algumas observapoes que decorrem da
nossa concepcao de Igreja. Alias, grandes descobertas na historia da humani-
dade foram devidas, e tao somente, ao uso de suas facilidades intelectuais:
observacao e capacidade de associacao. Com este intuito, poderíamos dizer
que o aperfe¡coamento da procura vocacional religiosa, sobretudo por parte
dos homens, reside em duas causas básicas, que simplesmente classificaría-
mos em:

1 Pós-Graduado pela Escola Paulista de Medicina. Médico do Hospital do


Servidor Público do Estado de SSo Paulo.

33
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

I. Nao relacionadas á Igreja.


II. Relacionadas á Igreja (corpo hierárquico).

I. FATORES RELACIONADOS COM A SOCIEDADE CIVIL

1. ENFRAQUECIMENTO DA INSTITUICÁO FAMILIAR. Multo


freqüente ñas grandes cidades, tem contribuido para a formacao de filhos
parcial ou totalmente desajustados para urna vida socialmente normal. Alias,
é gritante o despreparo dos noivos para o casamento, bem como a liberal i-
dade e o descompromisso social que o divorcio está impondo em muitos la
res. Con sequen temen te, é cada vez mais difícil encontrar casáis que se ajus-
tem harmónicamente; cdnjuges que vivam um amor sincero implícita e ex
plícitamente, cujo denominador comum seja o respeito mutuo e a f¡delidade
— vivencia da fé e modelo sadio para os filhos. Só um casal coerente com
suas responsabilidades cristas poderá testemunhar e ensinar a beleza do Rei
no de Deus aos seus filhos e conseqüentemente despertar neles o senso da
maravilha da vida consagrada.

2. SOCIEDADE DE CONSUMO E AUTOCONSUMO. É de assustaro


anseio exponencialmente crescente e generalizado da populacao á procura
dos bens materiais. Nao se observa mais amiúde a busca do ideal compromis-
sado com os valores perenes.

Todos crescemos querendo ter mais, ao invés de ser mais...: ter a pro-
fissáo tal ganhando mais e mais. . ., comprando isto, aquilo, mais.. ..mais...
Nesta ótica, é usual observarmos que estao escasseando abnegados profissio-
nais, de todos os níveis e categorías, portadores de um grande senso de hu
manismo e solidariedade para viver e ensinar. Nesta onda de consumo e sem
vislumbre dos valores eternos, muitas sementes vocacionais sao sufocadas pe
las intemperies decorrentes.

3. CRISE MORAL. Nossa sociedade americanizada nao encontra mais


freio moral. Tudo é possível, tudo é permitido, a qualquer hora e ñas condi-
coes desojadas. A liberacao da mulher, mal formada do ponto de vista cris-
tao, nao somante contribuí para colocá-la em plano vil (sexualmente falan-
do), mas também fomentar a grande licenciosidade em que está imersa a
sociedade. A palavra censura hoje em día se tornou proscrita do linguajar,
sendo tudo capaz de acontecer. O jovem cresce querendo, muito mais do
que outrora, realizar prontamente seus impulsos carnais, sem aprender o res
peito ao seu corpo e ao corpo do próximo como templo de Deus.

34
CRISE VOCACIONAU, 35

A falta de ensino e vivencia de virtudes, como a castidade e a pureza


de espirito, contribuem para que os jovens nao sejam atraídos por valores
perenes e necessários a urna vida religiosa.

4. CARENCIA DE MODELOS A SEGUIR. A enanca tem em seus país


os primeiros exemplos de vida a seguir. Em ambientes insalubres terá mode
los negativos logo na primeira infancia. O adolescente e o jovem procuram
seguir, consciente ou inconscientemente, o exemplo de seus país, amigos,
professores, parentes, artistas, esportistas, etc. Onde estao os modelos con
cretos e cristaos a serem admirados e seguidos?

5. FALTA DE ENSINO RELIGIOSO NA FAMÍLIA. Este ítem é de-


corréncia das premissas anteriores.

Os filhos crescem com insignificante ou nenhum conhecimento de


Oeus, da Igreja, dos valores cristaos, dos santos, etc. Contrariamente, os
valores em voga no mundo, por serem mais facéis, os fascinam. Em decor-
réncia, sao educados sem parámetros precisos; muitas vezes sem objetivos só
lidos, chegando á "maturidade" como se fossem um barco em mar aberto e
sem bússola..

II. FATORES RELACIONADOS A IGREJA


(CORPO HIERÁRQUICO)
Inegavelmente o mundo passa por urna profunda e persistente crise
moral proporcionando aguda e notável acao contra a Igreja (InstituicSo divi
na) e seus valores. Entretanto, a toda acao deve corresponder urna reacio, co
mo ensina a Física. Este principio parece nao estar ocorrendo apropriada-
mente no corpo hierárquico da Igreja (nos seus diversos escaloes e instituí-
coes), pelo menos em muitos pontos. Noutras palavras, parece que certos se-
tores da Igreja nao tém respondido, mas sim amortecido os golpes recebidos.
Acrescentam-se a isto evidencias claras de avanco desmedido por parte das
correntes mais progressistas em relacao ás mais tradicionais. Aqui também é
notorio o quanto aquetas faccoes se tomaram absorvidas pelo mundo, seme-
Ihantes ao sal que nao salga e ao fermento que nao fermenta.

Nesta ótica enumeramos alguns pontos para reflexao, sem grandes de-
longas, urna vez que falam por si mesmos.

1. DESSACRALIZACAO. De mane ira geral, o que paira em muitas


mentes sao as seguintes indagacoes: o que era anteriormente sagrado, hoje
nao é mais. ..; o que era intolerável, tornou-se tolerado...; o que era errado,
nao é mais... Exemplificando: abolicao de paramentos para a celebracao dos
mais diversos ritos (Eucaristía, Comunhao, Uncao dos Enfermos, etc.); perda

35
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

de identidade exterior que indique consagracáo, e que, por vezes, reflete ou


predispóe a urna perda da ¡dentidade interior de consagradlo...; generaliza
do da Confissao colét¡va em detrimento da auricular, falta de paciencia na
escuta dos pecados e do devido aconselhamento; permissSo, em algumas pa-
róquias do litoral, a participacao em "trajes menores" (calcao, bermudas),
no recinto das igrejas, aos sacramentos da Reconciliacao e da Eucaristía; au-
torizacao de reunióes dentro das igrejas com finalidades nlo religiosas e ás
vezes políticas, etc. Estas e outras similares ocorréncias tém criado um gran
de confronto entre a Igreja que era, e a que é.

2. PAPEL DO LEIGO CADA VEZ MAIS ABRANGENTE. É incontes-


tável que o leigo deva participar efetivamente da vida da Igreja, urna vez que
ele é também parte déla, sobretudo nos lugares onde o servico do sacerdote
é intenso ou naquelas regioes carentes de sacerdotes. Entretanto, por outro
lado, tal participacao hipertrofiada nos mais diversos serví eos, como Cate-
quese, PreparacSo do Batismo, da Crisma, Cursos de noivos, cerimónias da
Santa Missa, tem levado a um relativo apagamento da figura do sacerdote,
cuja identidade se torna menos perceptfvel.

Ora, podem pensar muitos jovens, por que assumir urna vida consagra
da, se existe pouca diferenca de servicos? Nao seria assumir simplesmente as
responsabilidades e os "ossos do oficio"?!

3. DEFICIENTE FORMACÁO PROFISSIONAL. Desafortunadamen


te varios seminaristas que estao próximos do sacramento da Ordem nao
apresentam formacáo educacional apropriada e, muito menos, cultural, para
o sacerdocio, sobretudo aqueles de vocaclo secular. A sirhplificacSo dos es-
tudos e o abrandamento das regras, bem como o tipo de moradia tém contri
buido para urna educacao fraca, por vezes sujeita a vicios indesejáveis. Por
outro lado, a falta de cursos de reciclagem teológica para os padres mais an-
tigos é um fator de desatualizacao e desmotivacao. Dessa forma, aquele ca-
bedal humanístico e cultural, costumeiro nos sacerdotes mais velhos e moti
vo de atracao para os vocacionados, torna se cada vez mais infreqüente. Con
trariamente, é comum observarmos urna predilecao de seminaristas (filóso
fos e teólogos) para o uso de um linguajar pobre, carregado de gfrtas e ex-
pressoes incorretas.

4. "RESPEITOSA IRREVERENCIA" AOS SUPERIORES. Temos


observado a relativizacáo do status de qualquer "profesional liberal" (mé
dico, engenheiro, dentista, advogado, arquiteto etc.), bem como da figura
do Sacerdote, do Bispo e até do Papa. Nao é infreqüente constatarmos urna
"respeitosa irreverencia" do leigo para com o padre, deste para com o Bis
po, e até deste para com o Papa. Os menos sutis fazem críticas abertas aos

36
CRISE VOCACIONAL... 37

colegas ou superiores, denotando, no mínimo, falta de Ética profissional,


se nao má educacáo e desrespeito ao ministerio. Tais atitudes, percebidas
mormente por aqueles que procuram conhecer mais intimamente a vida da
Igreja, ao invés de cativar os leigos, os eventuais vocacionados, provocamsen-
timentos de confusáo e até frustradlo.

5. FALTA DE ENSINO DOS PONTOS BÁSICOS DA DOUTRINA.


É decepcionante, em muitas paróquias, ná"o escutar, durante varias semanas
sucessivas, o devido ensino doutrinário básico, bem como aqueles coadjuvan-
tes, como a valorizapao dos sacramentáis, a importancia da recitacao do Ter
co, da devocao a María, do ensino e da ¡nvocacáo dos Santos, da realizacao
de procissoes, novenas, etc.

6. PREFERENCIA DO HUMANO PELO DIVINO. Este é um ponto


sobejamente conhecido, que tem suscitado muitas consíderacóes por parte
dos varios segmentos da sociedade. A verdade é que a Igreja desde tempos
remotos a comecar pelo seu fundador, Jesús Cristo, sempre se voltou para
o socorro do homem que sofre, sem contudo esquecer a sua finalidade pre-
ci'pua que é a salvacáo eterna. Hoje em dia, temos observado, em muitas
ocasiSes, urna predilecao pelo humano em detrimento do Divino, pelo pre
sente ao >nvés do Eterno.

7. ARREFECIMENTO NO "INVESTIMENTO" DA VOCAQAO


RELIGIOSA ADOLESCENTE. Tem sido notado cada vez mais, desde ade-
sativapao de Seminarios Menores, até o desaparecí mentó das crianzas como
coroCnhas com seus tradicionais trajes, fator "sui generís"e inesquecível para
o despertar da vocacao consagrada na infancia.

8. SURTO DE IDÉI AS TEOLÓGICAS IMPROPRIAS. Muito em voga


hoje em dia, ocorrem em conseqüéncia do vazio deixado pelo desapareci-
mento de valores atrás mencionados.

0 surgimento de idéias ou correntes teológicas sem base na Tradicao


e na doutrina oficial da Igreja é fato notorio, servindo para conturbar a mente
dos fiéis e ¡mpedindo de formar eventuais vocacionados. Tais doutrinas muitas
vezes, longe de ajudar o homem a f icar perto de Deus, levam-no a procurar ou-
tras alternativas de f azé-lo. Dessa forma, temos observado que a vocacao consa
grada (sacerdote, Religioso, Religiosa) tem perdido a sua ¡dentídade; teológi
camente falando, muitas vezes nao tem sido o "sal da térra e a luz do mun
do" ou o "pastor que dá a sua vida pelas suas ovelhas".

A riqueza espiritual do Catolicismo nos seus 2.000 anos de historia,


emoldurada por um passado glorioso nos seus milhares de Santos e Martí-

37
38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

res, e engrandecida pela sua santa doutrina, tem sido menosprezada e des
valorizada. Conseqüeñtemente, a descaracterizacao religiosa que vivemos,
tem contribuido para promover uma diminuí cao ou sufocacáo das vocacoes
sacerdotais e religiosas, bem como a evasáo de fiéis menos esclarecidos (mas
nao menos carentes de Deus) para outras religioes ou se i tas.

Finalizando, nao queremos denegrir ou dilacerar destrutivamente a


Igreja Católica, generalizando observacdes particulares, embora sejam tam
bé m oriundas de periódicos especializados. Muito menos, queremos esta-
belecer fronteiras entre a Igreja do passado e a do presente, a tradicionalista
e a progressista. Quisemos, sim, aproveitando o entusiasmo de nossa juventu-
de e embasados por um sentimento de co-responsabilidade por essa mesma
Igreja, esbocar algumas ponderacoes, a fim de servirem de reflexáo e, quicá,
colaborado a longo prazo.

(a) Helio Begliomíni

Estas ponderacoes, baseadas na realidade e ditadas por sincero


amor á S. Igreja, levam a pensar seriamente sobre os pontos indicados.
Háo de merecer solícita atengáo tanto da hierarquia como dos fiéis leigos,
pois se trata de um problema vital para o Reino de Deus- o da formacáo
dos ministros de Cristo -, assunto ao qual o S. Padre Joáo Paulo II tem
dedicado especial carinho. - Mais uma vez agradecemos ao Dr. H. Be-
gliomini o seu zelo e a sua colaboracáo.

A Direcáo de PR

38
"Rede Nacional
de Missoes Católicas3

Em slntese: Tem-sé apresentado ao público a 'Rede Nacional de Mis-


sSes Católicas" sob a responsabilidade de Jair Perelra. Utiliza a linguagem e
os símbolos do Catolicismo, mas na verdade é totalmente alheia a este. Publi
ca o "Santo Catecismo*, que é um manual de doutrinas católicas, protestantes
e afro-brasileiras. A pregacáo assim concebida langa confusSo; é nao so-
mente daninha ao Evangelho, mas pode ser tida como desonesta, pois recorre
ao plagio e á fraudulencia.

Tem sido apresentado pelos meios de comunicarlo social (radio


e televisSo) um grupo religioso chamado "Rede Nacional de Missoes
Católicas". Possui urna de suas sedes principáis no Santuario do Bom Je
sús dos Milagres, Mooca, S3o Paulo (SP). Os aposentadores do progra
ma de televisSo sao designados como padres ou, melhor, como "santos
padres"; usam paramentos, cruz peitoral e outros símbolos típicos do
Catolicismo; rezam oracfies habituáis do culto católico (Pai-Nosso, Ave-
Maria...); tém altar, velas, livro da Biblia; anunciam seus horarios de
"Missas", batizados, novenas, béncáos... Pñem á venda objetos religio
sos, como agua benta, hostias bentas (em pequeños sacos de plástico),
velas bentas (em forma de cruz, de cor branca ou azul), óleo bento, qua-
dros sacros...; tais objetos sao apresentados como "poderosos" para ob-
ter beneficios, afastar os maus esplritos e dar sorte aos seus usuarios. Os
"católicos devotos" sao freqüentemente interpelados para que visitem o
santuario do Bom Jesús dos Milagres ou comprem os objetos oferecidos
ou mesmo enviem donativos.

Quem vé ou ouve a apresentacáo dos programas da Rede, pode ter


a ¡mpressSo de estar diante de urna pregacáo da Igreja Católica, pois há á
¡ntencSo de reproduzir certas práticas de culto da Igreja. Em conseqüén-
cia, tal movimento religioso tem causado equívocos e mal-estar na po-
pulacáo brasileira, pois deixa o publico confuso diante da falta de identi-
dade dos apresentadores. Na verdade, nao se trata em absoluto de apre-

39
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

sentacáo da Igreja Católica, como se depreenderá dos esclarecimentos


abaixo.

1. As dúvidas lancadas

1.1. Venda de objetos sagrados

A Igreja Católica reconhece o valor de objetos bentos; s3o chama


dos sacramentáis. Trata-se de medalhas, tercos', crucifixos, agua, velas...;
sobre estes a Igreja reza pedindo a Deus que os fiéis que se servirem de
tais objetos com fé e amor, sejam enriquecidos por gracas do Senhor.
Assim quem usa a agua benta para fazer o sinal da cruz, está usando um
elemento sobre o qual a Igreja proferiu a sua oragáo graciosa, pedindo a
santif¡cacao dos fiéis que assim exprimem a sua fé e a sua piedade. Os
sacramentáis sao um meio de santificacao dos cristáos, supondo sempre
que estes os utilizem com devogáo. Nada tém de mágico nem de "todo
poderoso". Alias, a piedade católica nao conhece oracóes, béncáos ou ob
jetos "todo-poderosos"; a confianga do cristáo nao está em palavras ou
em objetos, mas repousa únicamente na misericordia de Deus, que é Pai
e que nos trata como filhos. Ele sabe melhor do que nos o que nos con-
vém, de modo que, quando nao nos dá aquilo que pela oracáo Ihe suge
rimos, Ele nos concede algo de equivalente ou melhor; a oracáo nao
pretende dobrar a vontade de Deus segundo o nosso modo de ver, mas
tende antes a nos fazer colaborar com o plano de Deus, conformando-
nos aos santos designios do Pai. Sim; lembremo-nos da oracáo de Jesús:
Ele pediu que o cálice de dor fosse afastado (como nos pediríamos), mas
acrescentou: " faca-sé, porém, a tua vontade, e nao a minha" (Me 14,36).
é a vontade do Pai, é o reino de Deus que, em última análise, nos quere
mos todas as vezes que rezamos pedindo o pao nosso de cada día.

Notemos também que a Igreja nao permite a venda de objetos


bentos (canon 1380 do Código de Direito Canónico). Isto se chama "si
monía". Com efeito; Simáo mago quis comprar dos Apostólos o poder
de comunicar os dons do Espirito Santo, como se pudesse ser adquirido
em troca de dinheiro. Os Apostólos repeliram essa pretensáo de Simáo
(ver Atos 8,18-24); em conseqüéncia, todo aquele que quer comprar ou
vender bens espirituais {inclusive objetos bentos ou sacramentáis) repete
o gesto condenável de Simáo mago.

1.2. Plagio ou imrtafáo do Catolicismo

O procedimento da Rede Nacional de Missóes Católicas chama-se


"plagio" ou ¡mitacáo ilegal de características próprias do Catolicismo.
Visto que é fonte de ilusóes para o público, este comportamento deve ser
tido como desonesto; reproduzir patentes sem autorizacáo, ás vezes com

40
"REDE.- DE MISSÓES CATÓLICAS" 41

a ¡ntengáo de confundir as pessoas menos cautas, é por todos considera


do ¡licito e traicoeiro. A verdade e a veracidade devem orientar a conduta
de qualquer homem reto. De resto, dizem os psicólogos que o plagio é
sinal de fraqueza e inseguranca da parte daquetes que a ele recorrem;
nao tendo em si mesmos valores que os recomendem, utilizam os valo
res alheios como se fossem seus.

Talvez, porém, diga alguém: n3o se deve reconhecer liberdade reli


giosa a todos os cidadáos, de modo a permitir que cada um possa optar,
sem constrangimento, pela atitude religiosa que Ihe pareca mais válida?

- Para responder, distinguimos entie liberdade religiosa e liberda


de de culto.

Por liberdade religiosa entendemos a liberdade de escolha entre os


diversos Credos que alguém possa professar. É para desejar que nin-
guém seja obrigado a pensar deste ou daquele modo, mas possa esco-
Iher diante de Deus o seu caminho religioso. Por conseguinte, a tiberdade
religiosa deve ser reconhecida a todos os homens.

Quanto ao culto, significa a manifestacáo da crenca religiosa de al


guém mediante atos e ritos que tencionam louvar a Deus ou pedir as gra
bas de que os homens precisam. A liberdade de culto deve ser relativa
em determinada sociedade. Ela é limitada pelas exigencias da justa or-
dem pública. Em conseqüéncia, as manifestacóes de culto que contrariem
a ordem publica, devem ser proibidas pela própria autoridade civil. É esta
a doutrina proposta pelo Concilio Vaticano II em sua DeclaracSo sobre a
Liberdade Religiosa:

"No exercfcio de seus direitos, o homem individualmente e os grupos


sociais estáo obrigados por lei moral a levar em conta tanto os direitos dos
outros quanto os seus deveres para com os outros, quanto aínda o bem co-
mum de todos. Com todos deve-se proceder segundo a justica e a humanida-
dB. - Além disto, como a sociedade civil possui o direito de protegerse contra
abusos que possam surgir sob pretexto de liberdade religiosa, pertence so
bretodo ao poder civil garantir tal protegió" (Declaracao Dignitatis Humanae

Aplicando estes principios aos problemas criados pela Rede Nacio


nal de Míssóes Católicas, verificamos que esta, imitando e reproduzindo
atos de culto tradicionalmente realizados pela Igreja Católica, utilizando
linguagem e objetos que se identificam com os da Igreja Católica, leva o
público a mal-entendidos e equívocos; causa insatisfacSo e perturbacáo
na sociedade. Vé-se, pois, que tal procedimento nao é nem honesto nem
conforme a leí; trata-se de um abuso da boa fé do povo religioso, que

41
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

desta maneira é incitado a .dar seu dinheiro aos responsáveis de tal Re


de.

1.3. A Igreja de Cristo

A Igreja de Cristo só pode ser urna, pois é aquela que o Senhor Je


sús fundou pregando o Evangelho e entregando ao apostólo Sao Pedro o
pastoreio do seu rebanho {ver Mt 16,16-19; Le 22, 31s; Jo 21,15-17). A
Igreja é mais do que a soma de seus membros, pois nela vive o próprio
Cristo como Cabeca do Corpo da Igreja (ver Cl 1,18-20). Por ¡sto o Con
cilio Vaticano II diz que a Igreja é "o sacramento da unidade dos homens
com Deus e entre si" (Const. Lumen Gentium n? 1). A palavra "sacra
mento", neste caso, quer dizer: a Igreja de Cristo tem urna estrutura sóli
da e definitiva; é o Cristo prolongado, presente e atuando em cada gera-
cáo da historia; a Igreja de Cristo tem sua garantía de autenticidade pelo
fato de estar em comunhio com Cristo, através de vinte séculos de exis
tencia, sem sofrer ruptura ou recomeco; é essa continuidade que nos
permite dizer que na Igreja Católica Apostólica Romana se cumpre a
promessa do Senhor: "Eu estarei convosco até a consumacáo dos sécu
los" (Mt 28,19s). Esta assisténcia santa e ¡nfallvel de Cristo é prometida
aos Apostólos e aos sucessores destes até o fim do mundo. Isto significa
que onde há a sucessáo apostólica sem recomeco, sem reforma, a( - e
somente ai - se pode ter certeza de que Cristo age, realizando a santifica-
cáo dos homens mediante a acáo instrumental da Igreja.- Em suma, nao
é a genialidade nem a santidade dos homens da Igreja que garante a esta
a sua autenticidade, mas, sim, a assisténcia de Cristo que se prende a
criterios objetivos (sucessáo apostólica em comunháo com o Apostólo
Pedro).

Estas considerares nos permitem concluir que nao compete aos


homens fundar grupos eclesiais que nao estejam em comunháo com a
Igreja que Cristo fundou. Esses grupos podem usar todos os símbolos e
expressóes da Igreja de Cristo, mas, pelo fato de nao estarem em conti
nuidade com o Corpo do qual Cristo é a Cabeca, carecem da graca e da
acáo santificadora do Senhor Jesús; as béncáos ai dadas sao béncáos
"humanas", mas nao sao béncáos de Deus; a Missa af celebrada nao con
sagra o pao e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo; os milagres que al
possam ocorrer, nao sao sinais realizados por Deus, mas pode-se crer
que sejam fenómenos que a psicología e a parapsicotogia explicam: o
poder da sugestáo é tal que muitas vezes pode desbloquear pessoas ner
vosas e proporcionnr-lhes certo alivio de suas dores ou algum bem-estar;
este alivio parece cura, mas na verdade é algo de ilusorio, pois a sugestáo
geralmente nao atinge a raiz dos problemas de saúde, principalmente
quando se trata de doencas orgánicas. Nao podemos encomendar mila
gres a Deus nem os podemos prometer aos nossos amigos, pois todo

42
"REDE... DE MISSÓES CATÓLICAS" 43

milagre é pura graca ou dom gratuito de Deus; nSo há receita para de-
sencadear a acáo do Senhor em nosso favor; seria absurdo querer dispor
do poder de Deus, como quem o domina.

A grande "arma" do cristáo é a oracáo filial e humilde; esta se apoia


no amor de Deus, do qual somos criaturas carfssimas, e nao em nossos
méritos. Vivamos como filhos, rezemos como filhos, e certamente sere
mos atendidos em nossas aspiracóes fundamentáis: chegar á plenitude
da vida e da felicidade. María, nossa Máe do céu, a quem dedicamos '1e-
vocáo profunda, nos ajudará, por suas preces, a superar os percalcos da
nossa caminhada para o Pai na única Igreja de Jesús Cristo.

2. "O Santo Catecismo"

Jair Pereira publicou "O Santo Catecismo", compendio da fé e da


Moral que ele ensina. O autor nasceu em Guiratinga (MT) de país pro
testantes, no ano de 1946; fundou a "Paróquia Mundial do Bom Jesús
dos Milagres", com sede principal em Sao Paulo (SP) e filiáis em Tauba-
té, no Rio, etc. O livro contém dezesseis capítulos, que tratam de Deus, de
Jesús Cristo, dos anjos, do pecado, da Igreja, das "Últimas Coisas"... O
seu teor doutrinário é um misto de Catolicismo, Protestantismo, Curan-
deirismo..., que formam um conjunto apto a iludir os incautos. Eis alguns
dos tragos dessa obra:

1) Énfase no Curanderismo. As pp. 52s o autor enumera diversas


atividades do demonio sobre a saúde física e mental do homem e exorta
a praticar a expulsáo dos demonios: "Quando vocé ordena a um demo
nio que saia de um corpo, o Espirito Santo confirma a autoridade de que
vocé está investido. Pode chamar o chefe dos demonios que está domi
nando aquele corpo..., que eles tém de obedecer b sua ordem" (p. 53).

As pp. 70s o autor volta ao assunto. Ver também p. 80.

Observamos: nao é necessário recorrer a acáo do Maligno para ex


plicar as doencas, nem se deve praticar o exorcismo sem certeza de que
existe possessáo diabólica. O demonio está muito mais interessado em
provocar o pecado do que em produzir molestias físicas ou psíquicas. S.
Agostinho afirma com razáo que "ele é um cao acorrentado, o qual muito
pode latir, mas nao pode morder senáo quem se Ihe chegue perto".

2) Traaos de Protestantismo. Jair Pereira professa "a justificacao


táo-somente pela fé" (p. 80); o Batismo seria mera entrada na comunida-
de dos cristaos, que exige urna vida moral nova, sem referencia a um en-
xerto em Cristo Cabeca e Corpo (p.97); a Igreja de Cristo seria "a reuniáo
de todos os cristaos... observando os mandamentos de Cristo, governa-

43
jf "PERGUNT€ E RESPONDEREMOS" 308/1988

dos por suas leis e vivendo na sua grapa" (p. 81), sem referencia a Pedro
e á sucessáo apostólica. Entre as oracóes recomendadas, n§o se encontra
a "Ave Maria"(p. 116).

3) Elementos de Catolicismo deteriorado. O autor admite sete sa


cramentos (pp. 97-99); todavía a Eucaristía é mera lembranca da Páscoa
de Cristo, e nao perpetuacáo do sacrificio do Calvario (p. 80). Enumera os
dez mandamentos como a Igreja Católica o faz (pp. 91-95); proibe as re-
lagóes pré-matrimoníaís, o aborto, o homossexualismo, nao, porém, o
divorcio (p. 93)1 Manda "¡nterromper o trabalho num dia por semana, de
preferencia no domingo..." (p. 92) - o que nao respeita o preceito domi
nical.

O conceito de Catolicismo é flextvel, segundo Jaír Pereira, como se


depreende do texto abaixo:

"A verdadeira Igreja é una, santa, católica e apostólica... Nos, católicos,


somos um povo especial. Muito embora sejamos constituidos dos mais diver
sos grupos, temos a consciéncia de pertencer é mesma familia espalhada por
todo o universo. Pode haver católicos náo-praticantes, bons ou maus católi
cos, católicos romanos, ortodoxos, brasileiros, etc., mas sao católicos. A co-
munidade católica é aquele grupo central, forte e identificável, que sabe per-
feitamente para onde vai" (p. 76).

Afinal tem-se a impressáo de que Jair Pereíra se julga com o d¡-


reito de fundar urna nova religiáo, segundo os seus criterios subjetivos e
pessoaís, ou seja, aproveitando um tanto do Catolicismo, do Protestan
tismo e das correntes curandeiristas, promovendo-se a sí mesmo as
custas da religiáo e da boa fé dos incautos. A "Rede Nacional de Mís-
sóes..." dírige-se "á familia católica", a "meu fílho católico", á "minha fi-
Iha católica"...; fala de "padre vigário", apela para os sentimentos e emo-
cóes com teatralidade...

É difícil julgar as conscíéncías alheias, pois só Deus sonda o fundo


dos coragóes. Mas deve-se lamentar, sem hesitagáo, que os pregadores
da "Rede Nacional de Missóes..." recorram ao plagio para difundir as
suas idéias; a honestidade, a lealdade e a boa fé estáo em questáo. De
resto, o servigo á causa de Cristo nunca há de ser exercido mediante a
falsidade e a fraudulencia.

44
Noticias e apelo:

"A Igreja Vive


na Tchecoslováquia"

Publicamos, a seguir, algumas noticias da Igreja do Silencio, cujos


membros necessitam das oracóes e do apoio especiáis dos cristáos de
outras partes do mundo.

1. Uma visita á Tchecoslováquia

Uma delegacáo dos Bispos da Franca e da Alemanha Ocidental es-


teve visitando a cidade de Praga, capital da Tchecoslováquia nos dias 24-
26/08/87. Havia quinze anos que o Cardeal Francis Tomasek, arcebispo de
Praga, os vinha convidando; todavía o Governo tchecoslovaco nao Ihes
permitía a entrada no pafs. Finalmente, após breve estada naquela cida
de, o Presidente da Conferencia dos Bispos da Franca, Mons. Jean Vilnet,
exprimiu suas impressóes nos seguintes termos:

"Em 1987 obtivemos no último momento o visto para efetuar uma


visita de 48 horas a convite pessoal do Cardeal Tomasek. Teremos con
seguido isto porque pedimos conjuntamente a autorizacáo?... ou por
efeito de circunstancias que nao sei explicar? - Nao nos foi concedido sair
da cidade de Praga e só tomamos contato com Sua Eminencia e seus
colaborador.es sem reuniao pública.

Quisemos assim enfatizar a nossa solidariedade com a Igreja Cató


lica na Tchecoslováquia mediante o seu Primaz,.., principalmente em
vista do fato de que essa Igreja está encerrada entre muros ¡ntransponí-
veis, por efeito de decisóes que nao dependem déla.

Mais de uma vez, percebi, mesmo no Vaticano, que as autoridades


eclesiásticas desejavam que tentássemos fazer essa visita, nos que vive
mos em pafses onde se pode circular livremente. Realizei-a no sentido do
apelo dirigido pelo Santo Padre em Lourdes na tardinha de 14/08/1983,
quando dizia muito enérgicamente á Igreja na Franca e em outros países:
'Nao esquecais as comunidades que se acham privadas de uma parte ou
do essencial da sua liberdade de exprimir e de viver a sua fé!'

45
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

A Igreja na Tchecoslováquia vive, e sobrevive, mas nSo de urna so


brevida lánguida. Tomei consciéncia de que há urna nova aspiracáo á
catequese e ao cultivo da'fé. Os jovens freqüentam cada vez mais nume
rosos a Igreja. A fé nao se extinguiu. Ela pede a sua vez de se exprimir e
de se alimentar'. Mas há restricóes e formas de opressáo, contra as quais
muito legítimamente o Cardeal e os poucos Bíspos que ficam pedem se-
jam respeitados os direítos fundamentáis, como é a liberdade dos cida-
dáos religiosos; por exemplo, possa a catequese exercer-se e desenvol-
ver-se mais; nao seja a educagáo da fé limitada em suas expressSes; pos-
sam existir grupos de oracáo e de formagáo dos leigos; nao seja medida a
conta-gotas a entrada de candidatos no Seminario nem seja limitado o
número de aspirantes ao sacerdocio; nao seja controlado o uso da liber
dade dos sacerdotes, que por vezes sao submetidos a sangóes penáis ri
gorosas. Possam os Bispos ser nomeados, dado que a grande maioria
das dioceses da Tchecoslováquia nao tem Bispo residencial já há anos;
com efeito, os candidatos propostos pela Santa Sé nao tém conseguido o
beneplácito dos poderes públicos".

(Noticias extraídas de SNOP (Service Catholique Francais de Presse


et d' Information], Boletim do Episcopado Francés, ns 681,16/09/87, pp. 7
e8).

Corroborando as ¡mpressóes de Mons. Vilnet, publicamos abaixo


urna Carta Pública dos Católicos da Tchecoslováquia datada de 1986, e
dirigida nao somente ao Governo nacional, mas também aos fiéis do
mundo inteiro, aos quais pedem a possfvel colaborado.

2. Carta dos Católicos da Tchecoslováquia

"1. Exigimos que o Estado nao intervenha na escolha dos estudan-


tes das Faculdades de Teología nem na dos Professores.

Exigimos seja construida urna segunda Faculdade de Teología na


provincia da Morávia.

2. Exigimos que cessem as intoleráveís pressóes exercidas sobre os


genitores que ¡nscrevem seus filhos nos Cursos de ensino religioso, e so
bre os própríos filhos.

Tal ensino deve poder ser ministrado em outros lugares além da


escola e, em particular, na ¡greja.

3. Exigimos nSo haja discriminagSo na continuado dos estudos se


cundarios e universitarios para os alunos que tenham freqüentado aulas
dé ensino religioso.

46
"A IGREJA... NA TCHECOSLOVÁQUIA" 47

4. Exigimos a supressáo dos 'Secretarios Religiosos', aos quais é li


cito, a seu bel-prazer, suspender os sacerdotes que os ¡ncomodam, espe
cialmente os que trabalham com a juventude.

5. Exigimos que em cada paróquia se possa formar um Conselho


de Leigos que ajudem o padre.

6. Exigimos a restauracSo das Ordens Religiosas.


7. Reivindicamos o direito de fundar agremiacóes católicas e gru
pos de jovens, fora mesmo das igrejas.

8. Exigimos o poder comunicar-nos com os católicos do estran-


geiro e receber, sem alguma censura, livros e publicac^es católicas.
9. Exigimos para cada um o direito de participar de Retiros Espiri-
tuais.

10. Exigimos auténtica imprensa religiosa, programas católicos de


radio e televisao.

11. Exigimos a reabilitacSo dos sacerdotes e dos Religiosos detidos


no exerclcio do seu ministerio.

12. Pedimos que cesse a discriminacáo aplicada aos fiéis, que


atualmente nao podem ter acesso a certas profissóes e, de modo espe
cial, ao magisterio.

13. Pedimos sejam construidas novas igrejas.


14. Exigimos a ordenacáo de novos Bispos e a forma?áo de urna
Conferencia Episcopal.

15. Exigimos a designado de diáconos permanentes.


16. Pedimos a separacáo da Igreja e do Estado ateu.

Unidos na oracáo, pedimos aos nossos írmaos e irmás católicos nos


ajudem e apoiem nossas reivindicacóes junto aos representantes da
Tchecoslováquia em seus respectivos países".

(Extraídos de SNOP, n? 680,09/09/1987, p. 14).

0 apelo final é muito compreensível. Os católicos da Cortina de


Ferro nao podem ajudar a si mesmos frente aos regimes que os sufocam.
Estes, porém, sao sensfveis á opiniSo mundial, de tal modo que as solici-
tacoes feitas em países estrangeiros podem contribuir eficazmente para o
alivio das pressóes sofridas pelos fiéis sujeitos ao marxismo.

Estévio Bettencourt O.S.B.

47
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 308/1988

LIVROS EM ESTANTE

Forfa para Viver, por Jamie Buckingham. Tradugáo de Carlos Osvaldo


Pinto. Primeira edigáo em 1987, 130 x 200 mm, 135pp.
Este fívro é oferecido gratuitamente pela Fundacáo Arthur S. DeMoss,
que tem feito grande divulgagáo do mesmo. Exorta o leitor a crer em Deus,
entregándose a Jesús Cristo e tomando a Biblia como fonte de vigor espiri
tual, a inspiracáo desse escrito é protestante: á p. 116 está dito que a Biblia
contém 66 livros, o que supóe a nao inclusáo dos deuterocanónicos (Tobías,
Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1/2 Macabeus) no catálogo bíblico,
apesar de que tais livros se encontravam em todas as edigóes da Biblia desde
o sáculo IV (Concilio de Hipona, 392) até a Reíorma protestante. O autor de
"Forga..." nao faz catequese em prol de alguma denominagáo evangélica, mas
induz o leitor a pedir nova publicagáo (Manual de Maturidade Crista), que o
deve levar finalmente a aderir a determinada comunidade protestante. - J.
Buckingham esboga um primeiro convite: nao faz referencia aos sacramentos
nem á Igreja, mas a urna piedade pessoai, recomenda ao leitor que tenha um
cademo no qual registre os pedidos que dirige a Deus e as respostas positi
vas recebidas de Deus.

Á p. 120 os Evangelhos sao apresentados como biografías de Jesús -


o que nao é adequado; o género literario dos Evangelhos é singular, pois se
trata da redagéo escrita da pregagáo dos Apóstalos. A indicagáo de edigóes
da Biblia encontrada no fim do livro (pp. 120s) refere-se ás tradugóes inglesas
protestantes das Escrituras: "Verseo Revista e Corrigida", "Verseo Revista e
Atualizada", "Biblia Viva" (parafraseada). Na verdade, a Biblia de Jerusalém
supera, em qualidade e rigor de tradugáo, essas versóes mais antigás. A indi
cagáo do "Novo Dicionário da Biblia" (sem autor) poderla ceder á mengáo de
ótimas obras editadas no Brasil como o "Dicionário Enciclopédico da Biblia"
de A. van den Bom e o "Vocabulario de Teología Bíblica" de Xavier Léon-Du-
four (ambos da Editora Vozes).
Em suma, o teor do livro nSo é polémico nem frontalmente contrario ao
Credo Católico; todavia orienta o leitor para a estruturagao de sua vida segun
do o protestantismo.

Manual da Fé, Crisma e Primeira Eucaristía para Adultos, por Frei


Battistini. Pedidos ao autor, Avenida Pe. Anchieta 256, Caixa Postal 93630,
Magé(RJ), 100 x 157 mm, 149pp.
O autor é benemérito mensageiro da fé, já tendo publicado diversos li
vros, que visam a difundir a doutrina católica em linguagem simples, córrela e
profunda.

A nova obra vem a ser um compendio das verdades da fé, acompanha-


do de oragóes e cánticos destinados, especialmente á formagáo de adultos.
Leva em conta outrossim as objegóes que os nao católicos levantam contra a
(continua na pág. 32)

48
EDigÓES "LUMEN CHRISTI"
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5? andar - Sala 501
Caixa Postal 2666- Tel.: (021) 291-7122
20001 - Rio de Janeiro - RJ

PARA O NOVO ANO LETIVO:


Que livros adotar para os Cursos de Teología e Liturgia?
A "Lumen Christi" oferece as seguintes obras:
1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA [2a ed.), por Dom Cirilo
Folch Gomes O.S.B. (falecido a 2/12/83). Teólogo conceituado,
autor de um tratado completo de Teologia Dogmática, comen
tando o Credo do Povo de Deus, promulgado pelo Papa Paulo
VI. Um alentado volume de 700 p.f best seller de nossas Edi-
cóes, cuja traducáo espanhola está sendo preparada pela Uni-
versidade de Valencia— Cz$ 450,00.

2. O MISTERIO DO DEUS VIVO, P. Patfoort O.P. O Autor foi


examinador de D. Cirilo para a conquista da láurea de Doutor
em Teologia no Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino
em Roma. Para Professores e Alunos de Teología, é um Trata
do de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole
didática. 230 p. - CzS 250,00.

3. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS (3? ed., 1984), pelo Sale-


siano Don Cario Fiore, traducáo de D. Hildebrando P. Martins
OSB. Edicáo ampliada e atualizada, apresenta em linguagem
simples toda a doutrina da Constituicáo Litúrgica do Vat. II. É
um breve manual para uso de Seminarios, Noviciados, Cole
gios, Grupos de reflexáo, Retiros etc., 216 p. - Cz$ 150,00.

2a Edicáo de:
DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.
Em 18 capítulos, tendo sido acrescentados nesta edicáo:
"Capitulo IV: A Santíssima Trindade: Fórmula paga?"
"Capítulo XVIII: Seita e espirito sectario".
(Cap. 1. O catálogo bíblico. 2. Somente a Escritura? 3. Somente a fé.
Nao as obras? 4. O Primado do Pedro. 5. Eucaristía: Sacrificio e Sacra
mento. 6. A confíss3o dos pecados. 7. O purgatorio. 8. As indulgencias.
9. María, Virgem e MSe. 10. Jesús teve irmáos? 11.0 culto dos Santos.
12. As imagens sagradas. 13. Alterado o Decálogo? 14. Sábado ou Do
mingo?*^. 666 (Ap 13,18).

Seu Autor, D. Esteváo Bettencourt, considera os principáis pontos da


clássica controversia entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar
que a discussáo no plano teológico perdeu muito de sua razio, de ser,
pois n3o raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou
proposicóes. - 380 páginas - Cz$ 500,00
AOS NOSSOS ASSINANTES

Para que a nossa Revista P.R,.possa continuar sua publi-


cacáo mensalmente, em vista di fragüente alteracáo de
precos, a assinatura para o ano de 1988 será:

Cz$ 500,00 (de 1? de ¡aneiro a 30 de abril),


Cz$ 600,00 (a partir de 1° de maio).

Excluem-se os leitores que renovaram suas assinaturas


antes de 31 de dezembro de 1987.

Quem obtiver 3 a^sinaturas novas, terá direito a 4'- assinatura gra


tuita. Queira, pois, enviai^esta folha á Administrado de P.R. - C.P. 2666
- 20001 Rio de Janeird, devidamente preenchida, com ¿"importancia
das mesmas. )

ASSINATURAS NOVAS

1. NOME (em letra de forma).

. Endereco completo

2. NOME

■ Éndereco completo.

3. NOME

Endereco completo,

ASSINATURA DE CORTESÍA

NOME ,

Endereco completo
Doador(a) ,

Вам также может понравиться