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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEISTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questdes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
£_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
. dissipem e a vivencia católica se fortaleca
~ no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confisca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
responderemos
00

< SUMARIO

"Como bom Soldado de Cristo. .."

UJ
"Jesús sabia que era Deus?"
O

"Os Demonios descem do Norte"


UJ

O Hindúísmo

A Antiga e Mística Orderri "Rosae Crucis"

Ano Mariano

co

O
ce
o.

ANO XXIX - FEVEREIRO - 1988 309


FEVEREIRO-Í988
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
N? 309
PubJ ¡cacao mensal

SUMARIO
Diretor-Responsável:

Estéváo Bettencourt OSB


"Como Bom Soldado de Cristo..." 49
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico Momentoso e lúcido:
"Jesús sabia que era Deus?" 50
Diretor-Administrador:

D. Hildebrando P. Martins OSB O avanco das seitas:


"Os Demonios descem do Norte" 67
Administrado e distribuipáo:
Edicóes Lumen Christi As grandes religióes da humanidade:
Dom Gerardo, 40 - 5- andar, S/501
O Hinduísmo 78
Tel.: (021) 291-7122
Caixa Postal 2666
Entre as propostas modernas:
20001 - Rio de Janeiro - RJ
A Antiga e Mística Ordem "Rosae Crucis"

Ano Mariano

"MAXQUES-SARMVA"
gráficos e eonoRcs s.*.
Tin: (0í!«7>>«M - *»»•»*•»

NO PRÓXIMO NÚMERO:
ASSINATURA: Ci$ 1.000,00
310 - Marco - 1988
Número avulso: Cz$ 100,00
O Budismo. - "A Cristandade Colonial: Mito e
Pagamento (á escolha):
Ideología" (R. Azzi). - O Cristianismo visto
por um Agnóstico. - Por que me fiz católico?
1. VALE POSTAL a Agencia Central dos
(ex-pastor luterano). - "Logoterapia. . .de
Viktor Frankl" (J.C. Vítor Gomes). - A Mo-
Correios do Rio de Janeiro.
ralogia.
2. CHEQUE BANCÁRIO.
3. No Banco do Brasil, para crédito na Con-
ta Corrente n?0031, 304-1 em nome do
Mosteiro de S.Qento do Rio de Janeiro, pa- COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA
gável na Agencia da Praca Mauá (n?0435).

COMUNIQUE-NOS QUALQUER
RENOVÉ QUANTO ANTES
MUDANpA DE ENDERdCO
A SUA ASSINATURA
H i. lDTKr
E « T1U1.

'Como bom Soldado


de Cristo..."
(2Tm 2,3)

A vida crista pode ser apresentada sob diversas imagens. Precisamente


em fevereiro, quando os cristaos comecam a Quaresma, a Liturgia Ihes lem-
bra que se trata de "militancia contra o espirito do mal" (Missal Romano,
4a. feira de Cinzas)..
O combate travado por um bom soldado é imagem clássica para desig
nar a vida do cristao. Sao Pauto utiliza-a mais de urna vez, especialmente no
texto dirigido a Timoteo: "Toma a tua parte de sofrimento, como bom sol
dado de Cristo Jesús" (2Tm 2,3; cf. 2Cor 6,7; 10,3; Rm 6,13; 13,12; Ef 6,
11-18. . .). O soldado é um homem forte e enérgico; sabe aturar firme sem
fazer alarde, mas no silencio heroico. Ora, se o cristao é o soldado de Cristo,
dir-lhe-á Sao Paulo que deve ter a capacidade de agüentar e desapegar-se que
caracteriza todo bom soldado. É interessante notar que a imagem da mili
tancia se aplica também á muiher chamada por Deus a fé e a fidelidade; sim,
a mae dos mártires Macabeus, conforme os apócrifos do Antigo Testamento,
é tida como "miliciana de Deus, mais viril ou mais forte do que o homem"
<cf. 4Md 5,30,16,14).
E para que tanto heroísmo? - Ñas epístolas paulinas os termos mili
tares significam nao o afa de conquistar violentamente, mas, sim, o de ser
vir...
Continua o Apostólo a desenvolver sua imagem quando recorda que a
vida militar exige desapego de tudo o que Ihe seja estranho: "Ninguém, ar-
rolando-se no exército, se deixa envolver por questoes da vida civil, se quer
dar satisfacao áquele que o arregimentou" (2Tm 2,4); a missáo do soldado
exige dedicacao total e exclusiva. Assim também há de ser o cristao; desem-
penhe a missáo que Deus Ihe confiou, no mundo civil ou na Igreja, sem se
imiscuir em tarefas ou atitudes incoerentes ou, mesmo, sem se dispersar inde-
vidamente. Na verdade, ele milita nao em favor de urna meta perecível, mas
em demanda de urna coroa ¡mortal, que muito mais energía Ihe exige do que
qualquer outro objetivo (cf. 1Cor 9,24-27). - As imagens se associam na
mente do Apostólo, que acrescenta: "Do mesmo modo um atleta nio recebe
a coroa se nao lutou segundo as regras" (2Tm 2,5). Conseqüentemen te, o
atleta-soldado de Cristo deverá seguir a lei do Senhor Jesús, que o convocou
para participar dos seus sofrimentos ou da sua PaixSo; nao poderá sercoroa-
do aquele que se furte ao sacrificio, escolhendo os páreos mais facéis e me-
nosprezando os demais, ou levando vida destoante da mensagem que o pro-
prio atleta de Cristo deve apregoar a seus irmSos.
Sao estas algumas idóias que podem ajudar os cristaos a viver mais
consciente e frutuosamente o santo tempo da Quaresma... Com a grapa de
Deus!
E.B.

49
"PEROUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXIX - N9309 - Fevereiro de 1988

Momentoso • lúcido:

Jesús sabia que era Deus?"

por Francois Dreyfus

Em síntese: O livro ácima aborda candente problema usando metodo


logía nova neste setor. Com efeito; em vez de partir dos fatores da questao
para procurar a solucao respectiva, parte de urna solucao hipotética e pro
cura verificar se ela explica devidamente os elementos em questao. Assim
Dreyfus supSe que o quarto Evangelho, apresentando-nos um Jesús consci
ente de sua Divindade, diga plenamente a verdade {como o próprío SSo Joao
professa dizé-la); e investiga se tal solucSo corresponde realmente áquilo que
deve ter sido a historia da pregacao de Jesús e dos Apostólos. A conclusao é
positiva; Jesús, diz Dreyfus, ter-se-ia reconhecido integralmente na imagem
que S. Joao dele nos apresen ta.

O livro é meticuloso e preciso; considera a difícil questSo da ciencia e


da conscíSncia de Jesús mediante o genuino instrumental, que sSo os dados
da própria Escritura e da Tradicao da Igrej'a.

O autor merece aplausos; é antígo aluno da Escola Politécnica de Paris


e professor na famosa Ecole Biblique de Jerusalém. A obra em foco foi co-
roada pela Academia Francesa, dado o rigor de sua lógica e a riqueza de sua
documentado.

* * *

0 Pe. Francois Dreyfus é dominicano, ex-aluno da Escola Politécnica


de Paris e professor de Teología Bíblica na Escola Bíblica e Arqueológica
Francesa de Jerusalém desde 1968. Aborda no livro "Jesús sabia que era

50
"JESÚS SABIA QUE ERA DEUS?"

Deus?"1 a candente questáo da ciencia e da consciSncia humanas de Jesús.


Nos últimos decenios o assunto tem sido considerado com o instrumental
da Psicologia moderna, que encara Jesús como se fosse mero homem ou um
grande Profeta; conseqüentemente Jesús teria ignorado, ao menos em parte,
a sua identidade pessoal e o plano do Pai a seu respeito.

Oreyfus retoma a problemática recorrendo a metodologia nova neste


setor e corroborando a tese sempre afirmada durante vinte séculos na Igreja.
O livro é interessante e original; associa entre si o rigor da lógica e os conhe-
cimentos da Teología e da Mística necessários a urna adequada penetracao
do problema. Sao estes títulos que justificam urna atenta apresentacao desta
obra.2

1.0 método do autor

Para esclarecer a questao relativa á ciencia e consciéncia de Jesús, os


autores freqüentemente partem dos textos do Evangelho; privilegian! os si-
nóticos (Mt, Me, Le), que apresentam um Jesús muito humano, e tém em
suspeita o Evangelho de JoSo, tido como elaboracao teológica, distanciada
da realidade histórica de Jesús. - Ora Dreyfus prefere seguir outro método,
usual ñas ciencias matemáticas: em vez de partir dos fenómenos para pro;
curar-lhes urna explicacao-solucao, o cientista parte de urna solucao hipoté
tica e tenta explicar os fenómenos em funcao da mesma; caso se encontrem
as explicares necessárias, pode-se dar por confirmada a hipótese de traba-
Iho. Foi segundo tal método, por exemplo, que o astrónomo Le Verrier des-
cobriu o planeta Netuno.3

1 TraducSo do Pe. José Nogueira Machado, que acrescenta oportunas "No


tas do Tradutor" e faz a apresen tapio do livro. — Ed. Loyola 1987, 138 x
208 mm, 148 pp.

2 Temos consciéncia de que as páginas subseqüentes serio densas e exigtrüo


esforco de raciocinio do ieitor em materia muito elevada. Oremos, porém,
que a questSo do saber de Jesús, para ser tratada com a devida seriedade, de-
ve ser estudada em termos precisos e técnicos. Dafa necessidade de pacien
cia da parte do Ieitor.

3 "Le Verrier formulou urna hipótese de trabalho: as irregularidades nos


movimentos dos astros eram causadas pela influencia perturbadora de um
planeta desconheddo. Colocou esse planeta na abóboda celeste Csuponha-
mos o problema resolvído'}. E calculou a posicao e as dimensdes do plane
ta de maneira que ele causase as mesmas perturbacoes que o astrónomo ob
servara.

Sábese que o planeta foi descoberto exatamente no lugar calculado"


(p.51).

51
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

Assim Dreyfus resolve partir da tese que o Novo Testamento e vinte


sáculos de Tradicfo crista nos transmitiram: Jesús tinha a certeza de ser Deus,
Filho de Deus. E Ele manifestou esta conviccao mediante ensinamentos e
feitos. Oestes dados se deriva a clássica doutrína da Igreja.

Assumindo estas afirmacóes como "hipáteses de trabalho", Dreyfus


propoe

1) mostrar a priori (de antemSo) como Jesús tinha de proceder para co


municar sua conviccáo aos discípulos;

2) mostrar a correspondencia entre os dados do Novo Testamento (Evan-


gelho, Epístolas) ou o modo como Jesús realmente procedeu, e a maneira
como Jesús devia proceder estabelecida a priori.

Vejamos como o autor desenvolve o seu roteiro.

2. O arrazoado central do livro

2.1. Como Jesús devia proceder para se revelar?

Suposto que Jesús era realmente o próprio Deus feito homem e que
Ele se quería revelar como tal, é preciso levar em conta os obstáculos que es-
sa revelacao devia encontrar da parte dos ouvintes judeus. — Estes eram es-
tritamente monoteísta e infensos á idolatría (cf. Dt 6,4); a reflexao sobre
Deus e sua natureza parecia-lhes sacrilega, a tal ponto que nem ousavam pro
nunciar o santo nomo de Javé; além do mais, esperavam para breve o fim dos
tempos com a exaltacao política do povo de Israel e a condenapao de todos
os seus inimigos.

Ora, para revelar a tais ouvintes que Ele é Deus (sem quebrar o mono
teísmo do Antigo Testamento)1, Jesús tinha que proceder lentamente, ob
servando tres tempos:

1} Jesús, primeramente, devia revelar tudo o que podia ser assimilado


pela mentalidade das multidoes que o ouviam; ao mesmo tempo, havia de
procurar evidenciar as estreitezas dessa mentalidade e seus eventuais desvios;

2) Jesús devia formar um grupo de discípulos, que, convivendo com o


Mestre, poderiam aceitar ensinamentos mais profundos, talvez á primeira
vista chocantes;

Jesús cita Dt 6,4 em Me

52
"JESÚS SABIA QUE ERA DEUS?"

3) dentro desse grupo, os mais chegados ao Mestre haveriamdereceber


urna doutrinacio mais completa, que eles transmitirían! aos outros quando
se achassem mais amadurecidos.

Poder-se-ia dizer em tom de crítica que este esquema apresenta como


a priori o que nao é mais do que um a posterior!; o que está subjacente a es
tes tres estágios, á a própria historia da pregacao de Jesús como ela aconte-
ceu realmente; será que Dreyfus, ao tracar oseu esquema a priori, nao se dei-
xou influenciar pelo a posterior i? - A esta objecao responde o autor que as
tres etapas estabelecidas a priori nao sao inspiradas pela tradipao evangéli
ca, mas correspondem áquilo que a sociología e a historia das religioes afir-
mam a respeito das relagdes dos fundadores de religiao com os seus discípu
los e com auditorios mais ampios.

2.2. Como de fato Jesús se revelou...

Com bons exegetas, podem-se reconhecer realmente tres estadios na


pregapao de Jesús:

2.2.1. Primeiro estadio: o ensino público de Jesús

Quem lé os Evangelhos, verifica que, em seu ministerio dirigido as


multidoes, Jesús é encarado como:

a) Blasfemador

Segundo a tradicao mais primitiva, Jesús era acusado de blasfemia por


seus contemporáneos, porque usurpava prerrogativas pertencentes somente a
Deus. Foi, alias, este o pretexto para que o condenassem a morte:

Mt 26,63-66: "O Sumo Sacerdote disse a Jesús: 'Bu te conjuro pelo


Deus vivo que nos declares se és o Cristo, o Filho de Deus'. Jesús respondeu:
Tu o disseste. Alias, eu vos digo que, de ora em diante, veréis o Filho do
Homem sentado á direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu'. O
Sumo Sacerdote entSo rasgou suas vestes, dizendo: 'Blasfemoul Que neces-
sidade temos aínda de testemunhas? Vede: vos ouvistes neste instante a blas
femia. Que pensáis?' Etes responderam: 'É réu de morteV " (cf. Me 14,62-
64; Lc-22, 66-71).

Ver também:

Jo 19,7: "Os judeus responderam a Pilatos: 'Nos temos urna Leí e,


conforme esta Lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus".

53
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

Me 2,7: "Alguns dos escribas que estavam sentados, refletíam em seus


coracoes: 'Por que está talando assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar pe
cados se nSo Deus? '".

Jo 5,18: "Os ¡udeus, com mais empenho, procuravam matá-lo. pois,


além de violar o sábado, ele dizia ser Deus seú próprio Pai. fazendo-se assim
igual a Deus".

Jo 10,33: "Osjudeus responderán) a Jesús: 'NSo te lapidamos por cau


sa de urna boa obra, mas por blasfemia, porque, sendo apenas homem, tu te
fazes Deus'".

Ora a usurpado de prerrogativas divinas por parte de um judeu é fato


inédito na literatura israelita; somente reis pagaos é que ousam pleitear ado-
racáo; cf. On 3,1-7; 6,7-9; Ez 28,2; 2Mc 9,12. Donde se vé que a acusacao de
blasfemia só pode ter tido origem no próprio comportamento de Jesús; Este
tomou atitudes que parecíam blasfemas aos seus contemporáneos.

Outra nota ocorrente na pregacao de Jesús ás multidoes é a de

b) Jesús Legislador

No sermao da montanha (Mt 5-7), Jesús seis vezes confronta sua auto-
ridade com a de Moisés ou a do próprio Deus: "Foi dito aos amigos... Eu,
porém, vos digo. .." (Mt 5,21.27.31.33.38.43). Com sua ¡ntervencáo, Jesús
quer aperfeicoar a Le i outorgada pelo Senhor ao povo rude do Antigo Testa
mento. Assim Ele se coloca no plano do próprio Legislador ou de Deus.

Mais: Jesús convida seus discípulos a preferirem Jesús a pai, máe, fi-
Iho ou filha... (cf. Mt 10,37; Le 14,26). Quem pode exigir de seus discípulos
que o prefiram aos próprios pais e filhos se nao Deus?

Ainda falando as turbas, Jesús se insinúa como

c) Jesús, o Filho de Deus

Na parábola dos vinhateiros homicidas (Me 12,1-12; Mt 21,33-46; Le


20,9-19), Jesús se designa como Filho enviado aos locatarios após os servos
(= os Profetas). Ele se apresénta como o Filho de Deus.

Em resumo: .quando se dirigía ás multidoes, Jesús insinuava que era


maior do que todos os mensageiros de Deus anteriores. Mostrava dispor de
um poder que pertence a Deus só: poder de legislar e poder de perdoar os

54
"JESÚS SABIA QUE ERA DEUS?"

pecados; Jesús se fazia o CRITERIO. Por conseguinte, tinham fundamento,


ao menos aparente, os ouvintes que o acusavam de blasfemia.

2.2.2. Segundo estadio: o ensino de Jesús aos discípulos

Na primetra fase de sua pregacao, sobretudo na Galiléia, Jesús se diri


gía principalmente as muitidoes; quando estas se foram desligando dele, con-
sagrou seu magisterio, antes do mais, á formacao dos discípulos. A estes
Jesús se reveiou mais precisa e explícitamente como Filho de Deus. Vejamos
os textos seguintes:

a) Jesús, o Filho de Deus

Me 13,32: "Daquele dia e da hora ninguém sabe, nem os anjos no céu,


nem o Filho, mas somente o Pai" (cf. Mt 24,36). Neste texto há um crescen
do: os anjos, o Filho, o Pai. O Filho está ácima dos anjos. Quanto a sua "ig
norancia" do dia do juízo, há de ser entendida no sentido de que nao estava
na missao de Jesús revelar aos homens a data da consumacáo da historia.

Mt 11,25-27: "Eu te louvo, ó Pai,... Tudo me foi entregue por meu-


Pai. Ninguém conhecé o Filho a nao ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a
nao ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (cf. Le 10,21s). -
Com estas palavras Jesús presume ter um conhecimento do Pai incompara-
velmente superior ao dos outros homens. Este é, na verdade, um nao-conhe-
cimento, se comparado ao de Jesús. Aqui temos urna declaracao sem parale
lo na Biblia, no judaismo e no helenismo. Nunca alguém pretendeu ser o
único a conhecer Deus.

Reciprocamente, Deus é o único a conhecer a verdadeíra personalida-


de de Jesús. Este traz em si um misterio só por Deus conhecido. Pergunta-se:
se o Pai conhece perfeitamente o Filho porque o Pai é Deus, nao se pode
dizer que o Filho também conhece perfeitamente o Pai porque o Filho é
Deus? A resposta positiva é lógica. Aos homens o Filho revela o Pai na medi
da em que O possam compreender.

b) Abbá

Jesús chamava Deus Abbá, papai, pai querido. Isto era totalmente iné
dito, pois nenhum judeu ousava assim interpelar Javé; este apelativo sugere
urna intimidade singular entre Jesús e o Pai. Tenhamos em vista o texto de
Me 14,36, em que Jesús ora dizendo: "Abbá, Pai..."; o mesmo vocábulo, em
sua forma aramaica, ocorre na prece dos cristaos chamados a participar, a
seu modo, da relacao única do Filho com seu Pai:

55
8 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

Rm 8,15: "Nao recebestes um espirito de escravos, para recair no te-'


mor, mas recebestes um espirito de filhos adotivos, pelo qual clamamos:
Abbá! Pai" (cf. Gl 4,6).

Podemos supor o mesmo apelativo abbá ñas fórmulas em que o texto


grego em prega pater:

Mt 11,25s: "Por esse tempo, pós-se Jesús a dizer: 'Eu te louvo, ó Pai,
Senhor do céu e da térra, porque ocultaste estas coisas aos sabios e doutores
e as revelaste aos pequsninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado".

Le 23,34: "Jesús dizia: 'Pai, perdoa-lhes: nao sabem o que fazem' ".

Le 23,46: "Jesús deu um grande grito: 'Pai, em tuas maos entrego o


meu espirito'".

2.2.3. Terceiro estadio: Jesús e os discípulos mais chegados

É certo que, entre os Apostólos, tres gozavam de peculiar proximidade


de Jesús: Pedro, Tiago e Joao; foram testemunhas exclusivas da ressurreicao
da filha de Jairo (Me 5,37), da transfigurado (Me 9,2) e da agonia no horto
das Oliveiras (Me 14,33). Juntamente com André, foram ouvintes do discur
so escatológico (Me 13,3) e, a quanto parece, presenciaran-) acuradasogra
de Pedro (cf. Me 1,29). É de crer que, como todo mestre, Jesús confiava aos
seus seguidores mais íntimos verdades que os outros ainda nao podiam com-
preender e que eles deveriam oportunamente transmitir aos demais Apostó
los e discípulos.1 Tal prática era usual entre os judeus, como atestam os es
critos apócrifos: Moisés, Elias, Baruque sao fantasiosamente apresentados a
confiar determinados ensinamentos a discípulos seletos, que de ve rao divul
gar a mensagem no momento adequado.

Que terá Jesús transmitido a Pedro, Tiago, Joao e... André?

- Nao temos, nos Evangelhos sinóticos (Mt, Me, Le), explícita noticia
dessa doutrinacao mais profunda. Todavía devemos levar em conta os se-
guintes dados:

1 "É claro, é normal, é natural que os discípulos mais afinados espiritual-


mente com o ensino de Jesús, os mais ligados a ele, tenham querido saber
mais sobre o conteúdo de suas palavras enigmáticas. O espantoso, o incom-
preensível seria o contrario, a saber: que nenhum discípulo manifestasse o
espanto, pusesse a'mínima questao acerca dessas declaracoes misteriosas,
desse comportamento insólito de Jesús ao chamar Deus de "Abbá'" (p.85).

56
"JESÚS SABIA QUE ERA DEUS?" 9

Logo após Páscoa aparece, na pregacao dos Apostólos, a doutrina da


preexistencia e da Divindade de Jesús: a atitude do cristao para com Jesús
Ressuscitado há de ser idéntica á do judeu em relaclo a Javé: At 9,35; 11,21
(é preciso converter-se a Jesús); At 3,16 (... crer em Jesús como em Javé). O
hiño de Fl 2,6-11, que parece anterior a Sao Paulo ou anterior ao ano 49,
afirma que Jesús tem o nome inefável do próprio Oeus (Kyrios) e recebe a
adoracao de todas as criaturas. Este mesmo hiño professa a preexistencia de
Jesús: "Sendo de condicío divina, nao considerou o ser igual a Deus como
algo a que se apegar ciosamente, mas esvaziou-se a si mesmo..." (Fl 2,6s).
Outros textos evidenciam a fé da Igreja na preexistencia de Jesús:

1Cor 8,6: "Para nos existe um só Deus, o Pai... e um só Senhor Jesús


Cristo, por quem tudo existe e por quem nos somos";

2Cor 8,9: "Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesús Cristo,


como por causa de vos se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer
por sua pobreza". Ver aínda Gl 4,4; Rm 8,3.32.

Coloca-se agora a pergunta: de onde surgiu a doutrina da preexistencia


e da Divindade de Cristo? - É um fato que pede explicacao.

Responderemos por partes:

1) Nao é plausível que os primeiros cristaos tenham criado ou forjado


tal doutrina. — E por que nao?

Os discípulos de origem judaica eram totalmente avessos a qualquer


tipo de endeusamento; este feriria o monoteísmo, que Israel considerava seu
privilegio exclusivo; cf. Mt 26,65; At 14,14; 17,16; Sb 14,12-20. Verdadeé
que no Antigo Testamento a Sabedoria de Deus era considerada como pre
existente á obra da criacao (Pr 8,22; Sb 7,26; Eclo 24,1-5; Is 55,10s); mas
tratava-se de mero artificio literario, que personificava apenas um atributo
de Deus. Essa fíccao literaria nao pode ter dado origem á nocao de um Ser
Divino (Jesús) que deve ser adorado como o Pai Celeste, sem se confundir
com Ele.

De outro lado, os cristaos oriundos do paganismo nao deviam estra-


nhar a deificacao de seus heróis, pois conheciam "homens divinos". Mas o
surto tao rápido da doutrina da preexistSncia e da Divindade de Jesús entre
os cristaos deu-se nos primeiros anos da pregacSo crista, quando a influen
cia dos cristaos de origem paga era nula ou quando a quase totalidade dos di
rigentes da jovem Igreja era de origem judaica.

57
10 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

Quanto á ressurreicao de Jesús, ela podia ser aceita pelos cristaos sem
que fossem obrigados a admitir a preexistencia e a Divindade de Jesús, pois
havia no Antigo Testamento episodios de ressurreicao (em 2Rs 4,34-36 El¡-
seu e o filho da Sunamita; em 2Rs 13,21 o cadáver ressuscitou ao tocar os
ossos de Eliseu). Sem dúvida, o fato da ressurreicao ajudou os cristaos a acei
tar a Divindade de Jesús, mas nao fundamentou a crenca nesta.

2) Por conseguinte, o surto da doutrina da preexistencia e da Divinda


de de Jesús só pode ser explicado porque houve urna revelacao do próprio
Jesús a respeito,... revelacao suficientemente credenciada para superar todas
as resistencias que tal doutrina deveria encontrar. A ressurreicao de Jesús
corroborou a crenca anteriormente concebida pelos discípulos através dos
ensinamentos de Jesús.

Tal revelacao deve ter sido feita aos discípulos mais chegados a Jesús
(Pedro, Tiago, Joao...}. O Evangelho de Sao Joao parece supor esse ensina-
mento mais profundo de Jesús, recebido peto Apostólo Joao, meditado e
amadurecido durante decenios na consciéncia do Evangelista e de sua esco
la, de modo a se cristalizar finalmente no texto do quarto Evangelho. Neste
temos afirmapoes como: "Aquele que me viu, viu o Pai... Nao crés que eu
estou no Pai e o Pai está em mim?" (Jo 14,9s); "O Pai e eu somos um" (Jo
10,30); "Sejam todos um como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti" (Jo 17,
21); "Antes que Abraso existisse, Eu sou" (Jo 8,58).

Pergunta-se, porém: o Evangelista Joao terá sido fiel intérprete do pen-


samento de Jesús? Nao terá criado urna imagem de Jesús ficticia ou falsa
mente divinizada? — Em resposta, observamos que o Evangelista faz questao
de se apresentar como testemunha ocular e auricular (Jo 1,14; 19,35; cf. Jo
21,24): é o discípulo que Jesús amava e que esteve presente ao lava-pés (Jo
13,23), no Calvario (Jo 19,25-27), na manha de Páscoa junto ao sepulcro
(Jo 20,2), no lago de Tiberíades (Jo 21,7).

O Evangelista Sao Joao, embora seja o mais teológico e profundo, é


também o mais preciso em dados topográficos e cronológicos — o que mos-
tra que, ao desenvolver sua teología, ele nao perdeu o contato com a realida-
de histórica, mas, ao contrario, transmitiu o sentido profundo dos ditos e
feitos reais de Jesús.

2.3. Recapitulado

A tamática'até aqui desenvolvida abrange etapas sucessivas de um ra


ciocinio perspicaz, é por isto que o Pe. Dreyfus, as pp. 84-86 do seu livro,

58
"JESÚS SABIA QUE ERA DEUS?" 11

apresenta, á guisa de recapituladlo, o desenrolar do seu arrazoado. Julgamos


oportuno transcrever essa sin tese.

"Formulamos a seguinte hipótese de trabalho: as afirmacoes crístoló-


gicas do Novo Testamento, em particular as do quarto evangelho, sobre a
divindade e a preexistencia de Cristo, corresponden) ao que Jesús pensava de
si próprio. E ele, Jesús, procurou transmitir esta conviccao por sua palavra e
por seus atos.

Tentamos determinar, de certa maneira a prior i, de que modo Jesús


sería obrígado a proceder, caso pretendesse comunicar essa certeza, suposta
a mentalidade de seus ouvintes, o caráter absolutamente insólito da mensa-
gem que ele tencionava comunicar e as precaucoes que tinha de tomar para
evitar as falsas interpretacoes de tipo politeísta. Lá concluímos que se impu-
nha um método marcadamente progressivo: um anuncio multo velado á muí-
tidao, mais preciso aos discípulos ¡á ligados ao Mestre e que o consideravam
como profeta que transmite a verdade de Deus. Porém, urna revelacao mais
exata, nao era possivel fazé-la senio a um pequeño número de íntimos,

Faltava verificar essa hipótese de trabalho pela pesquisa histórico-


crítica, é qual se consagraram os dois capítulos precedentes.

Tere sido concludente a veril'¡cacao?

Dúvida nao pode haver quanto á existencia dos dois prímeiros está-
dios. Menos evidente é a existencia da terceira etapa; mas precisamente no
decurso da pesquisa relativa a esse terceiro estadio foi apresentada urna argu
mentado que, por si só, basta para estabetecer a ¡usteza da tese exegética
proposta: Jesús estava convicto de sua preexistencia e de sua divindade, e en-
sinou-as.

Desculpando-nos da repeticao, apresentamos aínda urna vez este argu


mento que parece decisivo.

— A fé na preexistencia e na divindade do Ressuscitado já se encontra


largamente presente ñas comunidades cristas menos de vinte anos após a Pás-
coa.

— Nessa época, estava comecando a evangelizacSo do mundo pagao. 0


influxo dos cristaos de origem pagS no aparecimento dessa doutrína deve-se
considerar desprezivel. Logo, essa evolucSo aconteceu no meio ¡udeu.

— Ora, o meio /udeu era viscera/mente alérgico a semelhante doutrína;


parecíase demais com a idolatría dos homens divinizados e dos deuses des-
cendo á Térra, concepcao tida em horror pelo povo ¡udeu.

59
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

- Tal doutrína nao podía impor-se senSo grabas a urna certeza capaz
de romper todos os obstáculos: Jesús a ensinara e Deus tinha confirmado seu
ensino pela ñessurreicSo. Nao parece possfvet apresentar outra sofucao.

— Isto ó confirmado pelo quarto Evangelho. Seu autor quer persuadir


nos de que esse Cristo que ele nos apresenta é mesmo o Jesús histórico que
tinha a conviccSo de ser Filho de Deus, Deus ele próprio, e que dt'sse ¡sto
mesmo. O historiador deve reconhecer a solidez dos argumentos que apóiam
esta opiniio (testemunhos internos do evangelho e atestacoes extrínsecas de
santo Iríneu).

F¡cando estes pontos assentes, a existencia do terceiro estadio (ensino


de Jesús a discípulos privilegiados) tornase tSo verossímil que se pode con
siderar como estabelecido: só mesmo um auditorio particularmente recepti
vo e ¡á totalmente devorado a Jesús era capaz de acolher tal ensino e a se
guir, após a Páscoa, difundi-lo, apesar de todos os obstáculos.

Concluindo, nao se poderá dizer: há inegável correspondencia entre,


de um lado, a hipótese de trabalho anteriormente formulada... e, de outro, a
pesquisa histórica que descrevemos?

A probabilidade de que nossa hipótese de trabalho corresponda á rea-


lidade parece extremamente forte, sobretudo dada a ausencia de qualquer
outra explicacao válida para o mesmo dado".

3. Fó da Igreja e Mentalidade Moderna

A última Parte do livro considera objecóes que a Filosofía moderna le


vanta contra a tese de que Jesús sabia que era Deus. A primeira questáo as-
sim se formula:

3.1. Jesús tSo clarividente era realmente homem?

Eis a dificuldade: Se Jesús tinha consciéncia de ser verdaderamente


Deus, preexistente na gloria desde toda a eternidade, Ele já nao é verdadeiro
homem, semelhante a seus irmaos em tudo, exceto no pecado (cf. Hb 4,15).
Com efeito; como podia sofrer profundamente se Ele conhecia o desfecho
glorioso do seu sofrimento? O grande teólogo Hans Urs von Balthasar enf ati
za o problema dizendo: "Jesús á homem auténtico, e a nobreza in aliena ve I
do homem consiste em poder, ou mesmo dever, projetar livremente o plano
de sua existencia num futuro que ele ignora... Privar Jesús dessa chance é fa-
zS-lo avancar para um termo conhecido de antemSo e distante apenas no
tempo; isto redunídaria em despojá-lo da sua dignidade de homem" (pp.
102s da obra de Dreyfus).

60
"JESÚS SABIA QUE ERA DEUS?" 13

A tal objecao Oreyfus responde com as seguintes ponderacoes:

1) Quem aceita a posicao de Urs von Balthasar, dirá que os mestres e


Santos de todos os tempos "despojaram Jesús de sua dignidade de homem".
Para eles, era límpida e clara a afirmacáo de Sao Joao ao falar da Paixáo de
Jesús: "Sabendo tudo que Ihe ia acontecer, Jesús adiantou-se..." (18,4; ver
também Jo 13,1}. Jesús sabia de antemá*o o que acontecería em breve: a Pai
xáo, a Crucifixao e a Ressurreicao. Ora pergunta-se: será que todos os mes-
tres ignoraram, até o século XX, o que é "ser homem auténtico" em sua no-
breza e em sua dignidade? Seríamos nos superiores, neste ponto, aos Evange
listas e a toda a Tradicáo?

2) A definicao de "homem auténtico" depende da pré-compreensao


ou das premissas de quem a formula. Filósofos e exegetas partem de premis-
sas diversas e, por isto, formulam definicoes diferentes de "homem autén
tico"; na verdade, o herói que vai ao encontró de um desafio previamente
condecido e bem ponderado, pode ser tao nobre e generoso quanto aquele
que vai ao encontró do desconhecido. Ora diante da gama de premissas ou
pré-compreensSes possíveis, Dreyfus prefere ficar com a Tradicáo da Igreja.
A pró-compreensao de "homem auténtico" na Tradicáo crista nao excluí a
pré-ciéncia de Jesús.

3) Qual seria entao o significado de "Jesús ó verdadeiro homem" para


a TradicSo crista? — Ei-lo enunciado em poucos itens:

a) Jesús compartilhou a sorte de todo homem no tocante as alegrías,


aos sofrimen tos e á própria morte;

b) Jesús foi infinitamente superior a todos os homens no plano da vi


da moral ou na santidade;

c) Embora fosse verdadeiro homem, Jesús se distingue dos outros ho


mens sob certos aspectos, derivados da uniao h¡postatica ou do fato de
que, conforme o Concilio de Calcedonia (451), nele há um só eu (urna
so pessoa, um só sujeito divino) e duas naturezas (a divina e a huma
na). Ele, como Deus que era, podia realizar milagres mediante a sua
natureza humana (esta era canal do poder de Deus). Assim também,
como Oeus que era, Ele possuia a on¡ciencia de Deus, que se expressa-
va por conceitos e palavras humanas, frutos de urna inteligencia huma
na; a inteligencia divina do Verbo se comunicava á inteligencia huma
na de Jesús segundo as capacidades desta. Jesús, enquanto homem, sa
bia tudo o que Deus sabe, dentro das modalidades de toda inteligencia
humana. O saber divino do Verbo era comunicado ao saber humano
do filho de María para que Ele o pudesse utilizar.

61
14 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

Na verdade, Jesús, como homem, foi semelhante a nos em tudo, ex'ce-


tuados aqueles pontos em que a semelhanca dificultaría a sua missao de Sal
vador. Isto quer dizerque Ele teve a santidade perfeita e também o conheci-
mento do plano de Deus e do seu próprio misterio {misterio da Encarnacao).

Passemos agora diretamente á questlo do sofrimento de Jesús.

3.2. Jesús sofreu realmente?

Como dito atrás, se Jesús conheceu o desfecho glorioso da sua Paixao,


parece entrar em xeque a autenticidade de sua dor.

A esta objecao responde Dreyfus:

— O conhecimento que Jesús tinha de sua Divindade e da sua glorifi-


cacao, nlo tornou seus sofrimentos mais leves, como querem crer autores
contemporáneos. O contrario é que é verdadeiro: a Paixao de Cristo tornar
se-i a banal se minimizássemos a consciencia que Jesús tinha do seu misterio,
da sua eminente dignidade de Filho de Deus e da sua missao de Salvador;
sim, muitos homens sofreram, em seu físico, mais do que Jesús, pois Cristo
ficou pendente da Cruz durante tres horas apenas, ao passo que naquela épo
ca os crucificados pendíam varios dias, e era absolutamente proibido abre
viar seus sofrimentos dando-lhes o golpe de misericordia, que eles impetra-
vam suplicantes. Se, ao contrario, admitimos que Jesús sabia ser o Filho de
Deus, que veio salvar o mundo, os seus sofrimentos tomam dimensao muito
mais profunda e atroz: eram os de urna Pessoa Divina, que conscientemente
sofria na natureza humana assumida em nosso favor. A dignidade infinita da-
quele que sofria, fazia que a dor de Jesús tivesse intensidade única e insupe-
rável. Ele sofria nao apenas em seu corpo ferido, mas também em seu cora-
pao, vítima de um amor que os homens escarneciam e haviam de escarnecer
até o fim dos sáculos. Jesús padecente vía com clareza única a hediondez do
pecado, que é odio a Deus e fator de desgrapas para os homens, e que se re
petiría ingratamente até o fim dos séculos.

Jesús quis voluntariamente mergulhar no abismo da dor; quis experi


mentar o que o homem experimenta quando peca, a ponto de exclamar na
Cruz, compartilhando a solidao do pecado: "Meu Deus, meu Deus, por que
me abandonaste?" (Me 15,34; cf. SI 21,2). O Pai n3o abandonara Jesús nem
Jesús perderá a consciéncia de ser o Filho bem-amado; mas Cristo, durante a
sua Paixlo, quis baixar um véu sobre a luz da presenca do Pai, que brilhava
somente no fundo mais íntimo do seu ser, sem iluminar a sua inteligencia, a
sua vontade e a sua sensibilidade, imersas ñas trevas mais densas.

62
"JESÚS SABIA QUE ERA DEUS?" 15

Jesús nao só conheceu, mas também quis de antemao, todo esse sofri-
mento, pois sabia que isso transfiguraría a sorte do homem réu, acabrunhado
pela dor. Ele mesmo dizia: "Devo receber um batismo, e quanto me angus
tio para que ele seja consumado!" (Le 12,50). Ou ainda: "Ninguém tem
maior amor do que aquele que dá a vida porseus amigos" (Jo 15,13). Mais:
"O Filho do homem nao veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vi-
da em resgate pela multidao" (Me 10,45).

Desenvolvamos ainda esta temática, considerando outro título de ob-


jecóes.

3.3. Ciencia e ignorancia de Jesús

Certos textos do Evangelho insinuam ignorancia ou erro de Jesús so


bre determinados pontos. Antes, porém, de abordá-los, seja colocada urna
questaode ordem:

3.3.1. Jesús na térra via Deus como os Santos o véem no céu?

Os teólogos hoje costumam responder negativamente a esta pergunta.


Todavía um exame atento do quarto Evangelho leva á afirmativa, em conso
nancia com autores antigos e medievais e, recentemente, com o Papa Pío XII
na encíclica sobre o Corpo Místico (1943)'.

Com efeito; no Evangelho segundo Joao, parece indubitável que Jesús


gozava plenamente do conhecimento do Pai que Ele tinha antes da Encarna-
cao:

"Deus. ninguém ¡amáis O viu. O Fiiho Único, que está no seio do Pai,
no-lo revelou" (Jo 1,18)2.

"Ninguém viu o Pai a nSo ser aquele que vem de Deus. Este, sim, viu
o Pai" (Jo 6,46).

"Quanto a mim, digo o que vi ¡unto do meu Pai" (Jo 8,38).

1 "Por aqueta bem-aventurada visao de que gozava, desde que foi concebí'
do no seio da Mae de Deus. . ." (Deminger-Sctíónmetzer, Enquiridio n?
3812).

1 Este texto se compreende melhor se observamos que o Eclo 43.31 inter


roga: "Quem viu a Deus para que o possa descrever?" A resposta no Antigo
Testamento seria: "Ninguém". Sio Joao, porém, responde: "Jesús".

63
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

"Aqueta que vem do céu (Jesús), dá testemunho do que viu e ouviu"


(Jo 3,32).

Estes testemunhos sao menosprezados pelos exegetas que recusam o


valor histórico do quarto Evangelho. é de notar, porém, que o Evangelista
está convicto de apresentar o Jesús da historia (cf. Jo 19,35; 21,24). De res
to, nao há razSo científica para rejeitar o quarto Evangelho, fruto da refle-
xao do discípulo que Jesús amava e que aprofundou durante decenios os di-
zeres do Mestre antes de os ese rever. Conseqüentemente, dir-se-á que os tex
tos atrás citados correspondem exatamente ao que Jesús dizia e pensava de
si mesmo. Jesús na térra gozava daquele conhecimento do Pai que tinha des
de toda a etemidade.

Os demais escritos do Novo Testamento corroboram, indiretamente,


esta concluslo pelo fato de que nunca falam da fé de Jesús. Em Hb 3,2.5 lé-
se que Jesús foi fiel (pistos), como em 1Cor 1,9 Sao Paulo diz que Deus é
fiel. Todavía a epístola aos Hebreus nao menciona a fé de Jesús, embora o
capítulo 11 desta carta desse ótimo ensejo a isto (trata da fé dos heróis do
Antigo Testamento). A razao deste silencio pode ser encontrada em 2Cor
5,6s, onde o Apostólo diz que a fé é o regime "dos que vivem no exilio, Ion-
ge do Senhor", regime contraposto ao da "visao clara". Nao se pode dizer
que os autores do Novo Testamento sentiam, quase instintivamente, que a
condicao de mero peregrino nao era a condicao de Jesús sobre a térra?

Para ilustrar a visao que Jesús, como homem, tinha do Pai sobre a tér
ra, os teólogos a assemelham á visa*o de Deus face-a-face que toca aos justos
na bem-aventuranca celeste (cf. Mt 5,8; 1Cor 13,12; Uo 3,2; Ap 22,4).
Além dessa intuicao direta, Jesús, como homem, tinha o que se chama "a
ciencia adquirida", resultado da experiencia e do estudo;esta se desenvolvía
normalmente, como em todos os homens (cf. Le 2,52); era esta ciencia que
Jesús utilizava sempre que o desempenho da sua missáo nao exigisse o recur
so a conhecimentos mais profundos.

Há, porém, quem replique: um Jesús tao rico em saber ou dotado do


saber divino em sua inteligencia humana já r.ao á semelhante aos homens em
tudo, exceto no pecado (cf. Hb 2,17; 4,15). - Responde D reyfus: a figura
de Jesús pode ser comparada á do artista; este (músico, poeta, pintor...) tem
urna intuicao genial; vé o inefável e incomunicável e tenta fazer passar essa
intuicao para o plano das suas faculdades humanas, limitadas, exprimindo
pálidamente através das suas obras artísticas aquilo que ele intui e que é
sempre mais profundo ou maior do que os seus meios de expressao. Um ge
nio artístico permanece sempre homem auténtico, filho da estirpe humana.
Assim tambóm foi Jesús.

64
"JESÚS SABIA QUE ERA DEUS?" 17

E agora vamos diretamente aos textos que falam de

3.3.2. A "ignorancia" de Jesús

Consideremos tres passagens:

1) Me 10,18: Ao jovem que o chama "Bom Mestre", Jesús responde:


"Por que me chamas bom? Ninguém é bom senao Deus só". Com isto quería
Jesús negar a sua natureza divina? - Tal interpretado nao correspondería
ao conjunto de afirmacoes do Novo Testamento sobre Jesús. A explicacao
auténtica do texto é a seguinte: o jovem percebeu, na pessoa e na pregacio
de Jesús, urna profundidade e um encanto que O exaltavam ácima dos rabi
nos; por isto deu-lhe um atributo que nao era concedido aos rabinos, mas ca-
racterizava tao somente Deus. Jesús entáo quis ajudá-lo a completar a sua ¡n-
tuicao: já que o jovem percebia em Jesús algo mais, a ponto de Lhe atribuir
um predicado exclusivo de Deus, compreendesse claramente que bom é só
Deus e que, por conseguinte, Jesús era Deus.

2) Mt 10,23: "Em verdade eu vos digo que nSo acabareis de percorrer


as cidades de Israel até que venha o Filho do Homem".

Me 9,1: "Em verdade eu vos digo que alguns dos que estao aquí ffre-
sentes nao provarao a morte até que vejam o Reino de Deus".

O Pe. Dreyfus comenta: "A explicacao destes textos, a melhor sem


compareció, é a que vé neles o anuncio do misterio pascal: Paixao, Ressurrei-
cáo, Ascensao, Pentecostés. . . Pois é pelo misterio pascal que o Reino de
Deus veio em toda verdade. O f im do mundo apenas manifestará... o que es-
tava na realidade presente e agindo poderosamente, mas só perceptfvel aos
olhosdafé"(p.132>.

Poder-se-iam entender os mesmos textos no sentido de que Jesús se re


feria á queda de Jerusalém em 70 d.C, evento este que seria um prenuncio
do jui'zo final ou da vinda do Filho do Homem em seu reino. Tal é, por
exemplo, a interpretacáo adotada pela "Biblia de Jerusalém" em nota a Mt
10,23. Ver também PR 304/1987, p.391.

3) Me 13,32: Jesús diz ignorar a data do juízo final porque nao estava
no ámbito da sua missao revelá-la aos homens, como foi dito atrás (ver p.
55).

Na Conclusao do livro, o Pe. Dreyfus faz urna sfrítese de seu arrazoado.

NSo podemos deixar de reconhecer o valor de tal estudo. Chama a


atencáo para aspectos novos da clássica doutrina da Igreja, que é ilustrada

65
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

e corroborada pela api ¡cacao de exigente método de trabalho. Possam as-


sim dissipar-se erróneas concepcóes recentes que, sem negar a Oivindade de
Jesús, tendem praticamente a reduzMo á qualidade de mero Profeta!

Ver a propósito um estudo da Comissao Teológica internacional sobre


a consdéncia que Jesús tinha de si e de sua missio, em PR 294/1986, pp.
482-497.

* * *

BIBLIA. DEUS COM A GENTE...

Biblia. Deus com a Gente. Roteiro para Grupos de Familia. Diocese


deTubarSo(SC).

Verifica-se que este fascículo foi redigido numa ótica assaz parcial, ou
seja, em funcao de transformacoes sociais. 0 tom é de crítica, ás vezes exa
gerada, que transmite ao leitor sentimentos de azedume e perplexidade, em
vez de edificar e afervorar. Em particular, algumas páginas sao mais impreg
nadas desse espirito: assim a p. 93 propoe o canto n?6 {Pirámide), que nada
tam de oracao ou culto a Deus, mas parece antes um canto para comicios; as
pp. 64 e 69 retomam com imagens caricaturáis o tema da pirámide. As pp.
78-80 a Profissao de Fé nao tem por objeto os artigos do Credo, mas propo-
sicSes de Ética Social. A temática do Nvro omite a catequese sobre Deus,
Jesús Cristo, o Batismo e a filiacao divina, a Eucaristía... para se dedicar to
talmente as questoes sociais.

Tem-se a ¡mpressao de estar vendo um espécimen concreto daquilo


que a Instrucao Libertatis Nuntius escreve: "A nova hermenéutica... conduz
a urna releitura essencialmente política da Escritura. É assim que se atribuí
a máxima importancia ao acontecimento do Éxodo, enquanto libertacao da
escravidao política... O erro nao está em privilegiar urna dimensao política
das narracSes bíblicas, mas em fazer desta dimensao a dimensao principal e
exclusiva, o que leva a urna teitura redutiva da Escritura" (X 5). - Seria
de crer que a Pastoral Iancada pelo Roteiro em foco atraisse mais e mais as
classes pobres para o regaco da Igreja; todavía dá-se o inverso; a faixa mais
carente da populacao se passa macicamente para denominacóes religiosas
nao católicas. Nao seria este fato suficiente para evidenciar que tal Pastoral,
secularista como é, nao atende aos anseios do povo? Este quer que Ihe fa-
lem de Oeus e de temas explícitamente religiosos. Nao se deveria rever urna
Pastoral que afugenta os fiéis batízados na Igreja Católica, em vez de os
congregar na mesma celebracao eucarística, penhor de urna Ética autentica-
mente crista? i
E.B.

66
O avanpo da» seitas:

"Os Demonios descem


do Norte'*
por Delcio Monteiro de Lima

Em sfntese: O livro do Prof. Delcio Monteiro de Lima aprésente o sur


to e o desenvolvimento de algumas das correntes religiosas que avancam no
Brasil e na América Latina em geral. Entre as causas deste fenómeno julga
haver interesses económicos e políticos de órgaos govemamentais e de
empresas particulares: desejariam neutralizar a pregacio e a acSo da Igreja
Católica referente á Ética Social, promovendo asseitas, que "anestesiam" o
povo em relacao aos problemas sócio-polfticos. O Prof. Delcio nao aceita a
hipótese de um plano pré-tracado pela CÍA ou pelo Departamento de Esta-,
do dos Estados Unidos da América para destruir a Igreja Católica; mas admi
te a ingerencia de facedes políticas na expansSo das seitas.

O livro procura ser imparcial. Merece consideracao; as suas hipóteses


deveriam ser ulteriormente examinadas e testadas para se averiguarse ínter-
pretam auténticamente os fatos.

Num enfoque sociológico, o pesquisador Prof. Delcio Monteiro de


Lima analisa o avanco das seitas1 no Brasil e na América Latina em geral.
Julga que é devido, em grande parte, a fatores económicos, psicossociais e
culturáis; tra.tar-se-ia, pois, de um fenómeno ligado á problemática sócio-po-
I ftica do continente latino-americano. - Ñas páginas que se seguem, expore-
mos sumariamente o conteúdo do livro, ao que se seguirao alguns comenta
rios.

1 DELCIO MONTEIRO DE LIMA-, Os demonios descem do Norte. Livraría


Francisco Alves Ed., Rúa Sete de Setembro 177, 20050 Rio (RJ), 1987,
140x210 mm, 1 SSpp.

67
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

1. Oconteúdodo livro

1.1. O fenómeno das sertas

O autor apresen ta urna sintese da origem e das doutrinas das principáis


correntes religiosas que tém invadido o Brasil nos últimos decenios1: o Ad
ventismo, o Pentecostalismo em suas diversas modalidades (Assembléia de
Oeus, Congregacao Crista do Brasil, Evangelho Quadrangular, "Brasil para
Cristo", "Deus é Amor"...), Mórmons, Testemunhas de Jeová, Moonismo,
os grupos transconfessionais norte-americanos que se dizem missionários no
Brasil2.

1. Dessas denominacóes, a que mais cresce é o Pentecostalismo, que


representa 75%do protestantismo no Brasil. Parecem perfazer um total de
doze a quatorze milhóes de adeptos, geralmente muito ativos e proselitistas:

"VSem... o homem brasileiro tanto da cidade quanto do campo cada


vez mais desorientado, perdido entre os apelos de urna sociedr.de essencial-
mente consumista, á busca de seguranca, orientacao e esperance, enfim, de
alguma coisa que atonda ás suas necessidades mais gritantes... Nessa hora
cumpre resgatar o náufrago, é preciso entio salvar a alma em perigo. Ai,
exatamente nesse momento, entra a vasta experiencia dos pentecostais em
lidar com a massa aflita, a reconhecida prática de oferecer as devidas respos-
tas aqueles questdes, em satisfazer ou, pelo menos, acenar com a expectativa
de satisfacao aos anseios espirituais e físicos da multidao sofredora. A maní-
pulacSo dos que buscam urna nova perspectiva de vida, vía de regra, segué os
padroes ¡á testados como efícazes nos Estados Unidos e encontra sua princi
pal arma nos meios de comunicacao. A isso se convencionou chamar de
evangelizacSo eletrónica, hoje largamente utilizada, porém com resultado
discutfvef entre nos" (pp. 88s).

2. De modo geral, a organizado das novas correntes religiosas é eficaz.


Contam com a sagacidade e o dinheiro norte-americanos, atuando nao so-
mente na área religiosa, mas tarnbém na assistencial. Os adventistas, por
exemplo, desenvolvem intenso trabalho no tocante a saúde e á educapáo,

A palavra "seita" geralmente designa um grupo fechado com suas doutri


nas esotéricas reservadas aos iniciadas. Ora tal nao é o caso de grande núme
ro das correntes religiosas que invadem o Brasil atualmente. Daf empregar-
se o termo "seitas"em sentido ampio neste estudo.

1 Transconfessionais sao as correntes que nao pertencem a alguma das


Comunidades Institucionalizadas.

fi8
"OS DEMONIOS DESCEM DO NORTE" 21

contando com 11 hospitais, 8 grandes Clínicas Múltiplas, 1300 Centros de


Assisténcia Social, 18 lanchas-ambulatorio (com equipamento médico e
odontológico) a percorrer os grandes rios da Amazonia e de Mato Grosso;
tém um avilo médico-missionário, varias creches, patronatos, orfanatos,
asilos, clínicas médicas movéis...

A presenca das novas denominacoes religiosas nos meios de comunica-


cao social (radio, televisSo, imprensa escrita) é vultosa:

"A Assembléia de Deus diz que man tém cerca de 2 mil programas em
todo o país, enquanto a Igreja do Evangelho Quadrangular comparece com
373 transmissoes diarias ou semanais. A Igre/'a Brasil para Cristo, do pastor
Manoel de Meló, faz programas através de 250 emissoras e a Deus é Amor
de David Miranda, comanda diariamente urna cadeia de 16 estacoes com 'A
Voz da Libertacio', além da participacao de tres da sua propriedade: Radio
Universo, de Curitiba; Radio Itaí, de Porto Alegre, e Radio Auriverde, de
Londrína. Ocupa aínda a faixa de 573 outras emissoras para a retransmissSo
de suas mensagens. A Congregacao Cristi no Brasil é a única fora da media.
Alega razdes doutrinárias para nao fazer evangelizacSo pelo radio.

Conquanto olhemos com a melhor boa vontade os nossos pregadores


eletrónicos, nao se pode deixar de constatar com desalentó que os resultados
aleangados sao insignificantes em re/acSo é quantidade de programas veicula
dos, é que as apresentacoes sao mal produzidas, sem os mínimos recursos
técnicos reclamados pela moderna comunicacSo, limitándose elas a urna
caricatura, grosseira imitacao do que os americanos fazem no género. Tira
do o mau gosto do emocionalismo, pouco sobra. Sem infra-estrutura, sem
pessoal especializado, os programas sSo de baixo nivel e a ausencia de pes
quisas serias para aferir sua audiencia robustece a suspeita de que tenham
menos ouvintes do que os programas sertanejos ou as radiofonizacoes poli-
dais. Serviriam, portento, tio-somenté para satisfazer é vaidade das pessoas
que deles participam, pois nao cumprem sua finalidade, ou seja, nao conver-
tem, nem fortalecem a fé de ninguém" fpp. 91s).

O Prof. Monteiro de Lima nota mau uso do dinheiro arrecadado:

"Nao se pode deixar de registrar o espanto com que líderes pentecos-


tais véem o esban/amento do dinheiro da contribuicao dos fiéis, o dizimo,
para a sustentacao financeira das onerosas campanhas religiosas pelo radio,
cada vez faturando mais alto com o cliente cativo. Nao excluem serias des-
coni'¡ancas quanto á possibilidade de percepcao de vultosas comissdes por
cupidos intermediarios. NSo estaríamos — perguntam - sendo coniventes
com alguma forma de corrupcao?" (p.92).

69
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

3. Os métodos utilizados pelos chefes das corren tes religiosas para


atrair adeptos sao característicos:

Criam um ambiente que fala forte aos sentimentos ou ás emocóes me


diante música, cantos populares, exclamacoes, aclamacoes, testemunhos de
salvacao e béncao. Nio raro prometem "curas" e dizem que as obtém; su-
póem freqüentemente possessao diabólica e intervencao do demonio em ca
sos de doenca ou desgraca - o que causa pressao e intimidacao nos ouvintes;
estes, apavorados, se submetem ás ordens dos chefes e aceitam seus princi
pios doutrinários. Freqüentemente incutem aos seus seguidores a necessida-
de de se manterem um tanto ¡solados do mundo, que está sob o signo do
Maligno. Assim procedendo, "as seitas oferecem proteclo e seguranca aos
convertidos ñas diversas situacoes de crise individual. Tém respostas prontas
e objetivas para todas as necessidades ¡mediatas, detendo-se minuciosamente
ñas questSes particulares de cada um. Na interpretacao flexível da Biblia,
encontram solucoes para os mais complexos problemas existenciais e saídas
relativamente claras e nao ambiguas para quaisquer dificuldades do cotidia
no. E exercitam isso com extrema conviccao, pois consideram-se o único ca-
minho da esperance nesse mundo caótico, os verdadeiros olhos de Deus para
conduzir a humanidade aflita e sófrega de salvacao eterna" (p. 50).

4. Entre as táticas de propaganda adotadas pelas seitas, está a manipu-


laclo do texto bíblico. A Wicliffe Bible Translators Inc, empresa tradutora
da Biblia, é acusada de "adulterar os textos destinados ás populacoes indí
genas, enxertando-os com nocoes falsas relativas ao conceito de autoridade e
a supremacía das rapas, de modo a tornar os aborígenes mais dóceís e obe
dientes... Essa fraude é comumente associada a fantasiosas previsoes de tra
gedias iminentes, tais como terremotos, erupcoes vulcánicas e vendavais, em
térras que se pretende sejam abandonadas pelos nativos, as quais, a seguir,
sao compradas a preco vil e tornadas objeto de exploracao mineral ou cria-
cío de gado em economía de escala por corporacoes multinacionais" (p. 611.

O Instituto Lingüístico de Verano, norte-americano, encarregado da


difusio da Biblia em vernáculo popular, é acusado de cooperar com forcas
militares na repressao á guerrilha no Perú, na Bolívia e na Colombia... É
acusado de "fornecer consultores técnicos e guias para facilitar a penetracao
de tropas em áreas de difícil acesso ocupadas por guerrilheiros, identificando
os grupamentos nativos que eventualmente possam colaborar com os insur-
retos"(p. 61).

5. Assaz diverso do proced¡mentó das seitas e novas denominacoes


evangélicas é o do protestantismo clássico (Luteranismo, Anglicanismo, Pres-
biterianismo do século XVI...); este é menos proselitista ou conquistador e
mostra mais interesse pelas questSes sócio-polfticas. No Brasil formou-se en-

70
"OS DEMONIOS DESCEM DO NORTE" 23

tre luteranos, episcopalianos, metodistas, reformados (presbiterianos) e cató


licos o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristas), que se tem pronuncia
do sobre assuntos de atualidade social. Em conseqüéncia, as seitas olham
com certa desconfianza para o Protestantismo clássico, e vice-versa; ver p.66.

Mais importante ainda é tentar detectar as causas que originaram e ali-


mentaram o complexo fenómeno das seitas.

1.2. As causas

O autor do livro considera apenas o aspecto sociológico do fenómeno,


sem entrar em questóes de fé e teología. Eis a tese que Monteiro de Lima
aprésenla:

1) O rápido crescimento das seitas no Brasil nao se pode explicar ape


nas pelo conteúdo da pregacao proselitista dos respectivos chefes nem pelos
pretensos milagres que realizam. Existe, segundo o Prof. Delcio, "um fator
acelerar em todo o processo" (p. 9).

2) Esse fator acelerador é a ¡ntervencao de grupos políticos e de pes-


soas que, com financiamento vultoso, fomentam a programado das seitas,'
pois estas "anestesiam" o povo em relapao á política e, por conseguinte,
contribuem para que nao se bandeie para o comunismo.

3) O Prof. Delcio nao chega a dizer que a CÍA (Agencia Central de In


teligencia) norte-americana tenha concebido urna trama para mudar o qua-
dro religioso do Brasil ou da América Latina em geral1; mas acredita que ór-
gSos ou pessoas do Governo norte-americano, assim como sociedades direi-
tistas ou capitalistas dos nossos países, tém favorecido, na medida do pos-
sível, a expanslo das seitas. Eis as palavras do Prof. Monteiro de Lima ao
expor o que ele chama "ingerencia de fora":

"Seria ingenuo, para nio dizer absurdo, raciocinar com a hipótese da


existencia de um plano ordenado com objetivos políticos para conseguir

1 "Dizer que o incremento á penetracSo das seitas na América Latina é um


projeto ideológico americano pode ser urna assertiva tao fácil e simplista
quanto ignoré-la... Seria temerario... concluir que naja um plano ordenado e
sistemático naquele sentido. Nio autoriza o jufzo o tato de os Estados Uní'
dos sediarem a totalidade das seitas que de lá desencadeiam o proselitismó
sobre a América Latina, podendo também ser coincidencia que o grosso do
esquema fínanceiro que sustenta as atividades dos novos grupos religiosos se-
ja da mesma procedencia" (p.51).

71
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

urna modificacio ¡mediata no quadro religioso brasileiro. Urna trama desse


tipo nao se enquadraria na temporalidade das coisas. As ideologías nao pare-
cem ¡nteressadas em coordenadas de sedimentario tao futura que requeira
sáculos para apresentar resoltados práticos. Mas nao desprezam as oportuni
dades oferecidas pelos rumos naturais que assumem os movimentos sociais
ou religiosos, nem deixam de aproveitar as brechas ocasionáis que se abrem
ñas estruturas para infiltrar as mesmas ideologías. É cómodo e fácil. O com-
prometimento é mínimo. Os investimentos sao relativamente baixos nesses
casos e os frutos compensadores a curto prazo" ip.9).

Para apoiar sua tese, o Prof. Delcio cita o autor protestante Prof. Julio
de Santa Ana, Diretor do Curso de Pós-Graduacao do Instituto Metodista
Superior de Sao Bernardo do Campo (SP), que escreve o seguinte:

"Parece importante insistir no que foi afirmado, sobretudo quando se


ouve dizer tantas vezes por ai que o crescimentó dos pentecostais e a irrup-
cao dos grupos religiosos livres que boje se apresentam em toda a América
Latina, como também na África e um pouco menos na Asia, sao resultado
de um compló urdido fora de nossos países, mais precisamente nos Estados
Unidos. Dessa nació vém as grandes somas de dólares que se destínam aos
grupos religiosos livres e também subsidiam os programas de TV e radio de
grupos pentecostais, fundamentalistas e conservadores, para nao dizer rea-
cionários. Pessoalmente, estimo que nSo existe o tal compló. Se esses grupos
religiosos avancam, é porque as condicdes imperantes na situacio de mu-
dancas sociais assim o permiten) e até trabalham em seu favor. Quer dizer, o
processo social pode ser comparado a um caldo de cultura que permite a
vida e o desenvolvimento dessas comunidades, como também das comunida
des eclesiais de base. Sem esse contexto, nio haveria tal crescimento. Deve
ser dito, também, que, embora nio acreditemos na existencia desse compló
religioso, isso nao quer dizer que desconhecamos as intencoes — que sao
bem claras — de manipulapao desses grupos, especialmente porsetores con
servadores, tanto latino-americanos como de fora da Ibero-América. Entre
esses, merecem ser citados o instituto para a Religiao e Democracia, os pro
gramas de TV de evangelistas como Jimmy Swaggart, etc. Portanto, embora
nao haja compló, pelo menos há manipulacao" (pp. 150$).

0 Prof. Delcio cita alguns exemplos, que Ihe parecem corroborar a


tese:

Na Guatemala, o General Efraim Ríos Montt perdeu as eleicoes para a


presidencia da República em 1974. Seguiu entSo para a Espanha como
diplomata. Quando Voltou em 1978, renunciou ao Catolicismo e instalou no
país "a Igreja da Palavra de Deus" ou "El Verbo", financiada pela Missao

72
"OS DEMONIOS DESCEM 00 NORTE" 25

Transconfessional Cospel Outreach, da California. E nao fez senao cuidar de


assuntos religiosos, construir casas de orapao e conseguir adeptos até marco
de 1982, quando um golpe militar de direita o colocou no poder. A assesso-
ria do Governo de Ríos Montt era toda da Igreja do Verbo e sua administra-
pao foi fortemente marcada pelo proselitismo. A queda de Ríos Montt nao
implicou o empalidecimento das seitas da Guatemala, mas estas continu.am
atuando — o que mantém o povo afastado das práticas políticas.

Em Honduras, o Protestantismo clássico pouca penetracio teve, mas


as seitas registraram progresso espantoso, favorecidas "pelas grandes multi-
nacionais que se dedicam áexploradlo da industria de frutas no país" (p.56).
"Las bananeras, como sao conhecidas popularmente a United Fruit e a Stan
dard Fruit Companies, empenharairvse diretamente no estabelecimento das
seitas ñas vastas áreas que ocupam, inclusive construindo-lhes templos e pro
porción ando-Ihes facilidades que nunca tiveram as igrejas protestantes histó
ricas" (p.56).

Ainda segundo o Prof. Oelcio, "no Chile Pinochet, em represalia á


oposipao da Igreja Católica, encorajou por todos os meios a disseminapao^
das seitas. Escancarou praticamente o país aos pentecostais e mórmons. Fa-
cilitou o ingresso de missionários estrangeiros, concedeu-lhes ¡senpdes tribu
tarias em todos os empreendimentos e financiamentos, até para a constru-
pao de templos. Em compensapao, os pentecostais e mórmons mantiveram
seus crentes afastados da contestapao a Pinochet. Assim a penetrapao dos
movimentos religiosos aut&nomos no Chile teve muito a ver com a grave
crise vivida pela napao andina... essencialmente de natureza política" (p.66).

No Brasil, conforme o Prof. Delcio, os pentecostais foram encorajados


a concorrer a cargos eletivos após a revolucao de 1964 por setores militares
hostis á Igreja Católica: "Pretendiam assim neutralizar a influencia do clero
progressista e resistente á ditadura" (p. 92). Hoje alguns chefes crentes se
acham comprometidos com os políticos e os Partidos; "das urnas de
15/11/1986 sairam urna dúzia de pastores pentecostais com mandato de
deputado federal e mais de duas dezenas chegaram a deputado estadual. To-
davia o grosso da militáncia pentecostal, excluidos os poucos pastores que
vém explorando os votos dos crentes, é completamente apolítico. Somente
urna minoría de dirigentes daqueles grupos religiosos, exatamente os que
controlam a mídia eletrdnica, paga com o dinheiro dos fiéis, aproveitam-se
da condipao de privilegio do ministerio religioso para tirar vantagem do
¡menso potencial que eventualmente manipulam" (p. 93).

Urna vez exposta a tese do livro do Prof. Delcio, perguntamos:

73
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

2. Que dizer?

Proporemos quatro pontos:

2.1. Plano ideológico

O Prof. Delcio parece ter razio ao afastar a hipótese de que naja um


plano ideológico, concebido pelo Departamento de Estado ou pela CÍA dos
Estados Unidos da América, para combater o Catolicismo da América Lati
na mediante a proliferacao das seitas. Estas sao, por si mesmas, proselitistas
e tém muito dinheiro, oriundo dos seus adeptos norte-americanos. A sua rá
pida propagacao se explica, em grande parte, por um fator de psicología reli
giosa: os dirigentes das seitas prometem solucoes ¡mediatas, maravilhosas ou
milagrosas para os problemas do homem de hoje (doenca, solidao, marginali-
zacao, desemprego, pobreza...); muitas e muí tas pessoas hoje em dia já nao
esperam solucóes racionáis ou científicas, pois as possibilidades parecem esgo-
tadas; estío cansadas de raciocinar á procura de respostas; por istofácilmente
se deixam mover pelas emocóes e fantasía; ora as seitas exploram, consciente
ou inconscientemente, este aspecto vulnerável da sociedade contemporánea.
Ver a propósito o documento emitido pela Santa Sé sobre as Seitas em
1986, do qual há um resumo em PR 290/1986, pp. 323-333.

Estas observacóes sao corroboradas pelo fato de que o avanco das sei
tas nao ocorre apenas na América Latina, mas na própria Europa e nos Esta
dos Unidos da América, regioes em que a disputa ideológica e política nao é
tío forte quanto em nosso continente; também no hemisferio Norte há inte-
resse por curandeiros e corren tes místicas sectarias. Em suma, o fenómeno
das seitas nao se reduz apenas ao ámbito da América Latina. A sua propaga-
pao, como também o seu surto, se devem, em grande parte, as condicóes de
inseguranca, solidao e pessimismo em que vive notável porclo da humanida-
de, máxime no Ocidente; as seitas parecem apregoar a solucao "maravilho-
sa".

2.2. Preferencia pelas seitas

Pode-se crer, porém, que certas autoridades governamentais e algumas


empresas de industria ou comercio prefiram favorecer as seitas ou os moví-
mentos religiosos modernos a favorecer o Catolicismo. Este tem-se mostrado
atuante na esfera social, tomando posjcao em prol dos marginalizados, á re-
velia de instituicóes governamentais ou particulares. Os episodios citados pe
lo Prof. Delcio relativos á Guatemala, a Honduras, ao Chile, ao Brasil podem
fundamentar esta afirmaclo, na medida em que sejam dados reais e históri
cos (é necessário usar de cautela quando se quer interpretar a historia, para
nao ceder a genera lizacóes, simplificacóes ou preconceitos).

74
"OS DEMONIOS DESCEÑIDO NORTE" 27

2.3. O esfacelamento protestante

Há um aspecto da proliferacáo das seitas que o sociólogo nao apreen-


de, mas que salta aos olhos de um teólogo ou de um cristao fiel á Tradicao:
o esfacelamento do bloco protestante... Está na lógica do principio do "li-
vre exame da Biblia" estabelecido por Lutero. Este atribuiu a cada crente a
faculdade de interpretar as Escrituras de acordó com o seu bom senso ou a
sua fé, sem levar em conta a Tradicao oral e o magisterio da Igreja. A conse-
qüéncia desta premissa á que numerosos "profetas" protestantes julgam po
der recomecar o Cristianismo a partir das suas intuicoes pessoais. Nos Es
tados Unidos da América, cuja populacao é originariamente constituida por
protestantes fugitivos do Episcopalismo ou da Reforma oficial da Inglaterra,
o fenómeno dos "iniciadores de religiao" tem tomado vulto cada vez mais
notorio: um mestre funda a sua "Igreja"; esta tem seu período de ascensao,
ao qual se segué o declínio; o declínio leva outro mestre a provocar um rea-
vivamento (revival), independente da corrente anterior. Cada um desses rea-
vivamentos está mais distanciado das suas origens, a tal ponto que algumas
das últimas congregacSes protestantes dio mais énfase ao Antigo Testamen
to do que ao Novo, ao menos em alguns pontos (observancia do sétimo dia,
nome de Oeus, ídentidade de Jesús Cristo, regime alimentar, etc.). O subjeti
vismo, que se afirmava na época do Humanismo renascentista (sáculo XVI)
ou nos tempos de Lutero, vai imperando sempre mais, de modo que a reli
giao se torna mais e mais antropocéntrica, individualista e sentimental, em
vez de se ater ás verdades centráis do Cristianismo; estas afirmam a sacra-
mentalidade da Igreja e dos meios de santificacao, istoé, afirmam apresen-
ca objetiva e atuante ou dinámica de Cristo por baixo dos sinais sagrados (a
face humana da Igreja confiada a Pedro, a agua do Batismo, o pao e o vinho
da Eucaristía, o óleo da Crisma...). Muitas das novas correntes concentran)
sua atencao sobre "curas" e "milagres".

As seitas e as novas correntes protestantes vao assim realizando a de-


turpacao da face auténtica do Cristianismo.

2.4. Igreja Católica e Questao Social

A Igreja Católica parece suscitar contra si a animosidade de regimes e


empresas por causa da sua posicao frente aos problemas sociais. - Este pon
to merece esclarecimentos.

Á Igreja toca zelar pela vivencia evangélica dos fiéis católicos e pelo
respeito á lei natural incutida pelo Criador a todos os homens. Se Ela nao o
fizesse, trairia o Cristo e os homens. Por isto Ela se tem pronunciado sobre
injusticas ocorrentes na sociedade contemporánea, em que "os ricos se tor-
nam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres" (Paulo VI). A

75
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS'" 309/1988

Igreja nao compete entrar em questoes técnicas de economía, industria e


comercio, mas Ela deve considerar o aspecto ético inerente a toda e qual-
quer atividade humana: encoraja o bem e a virtude, dissuade da desonestida-
de.

Verifica-se, porém, que alguns membros da Igreja tém ultrapassado os


limites do ético, entrando no campo partidario ou faccioso (certamente com
boas intencoes). Ora isto tem provocado paixóes e represalias; a luta se de-
sencadeia, com detrimento dos valores propiamente religiosos confiados
por Cristo á Igreja. Surge urna lacuna na pastoral católica, ou seja, a falta de
catequese ou de atendimento especificamente religioso, que as seitas apro-
veitam para apresentar a sua mensagem, nao raro fantasiosa e emotiva.

Este fato pode ser tomado como (¡pao para certos membros da Igreja:
considerem que, em vez de promover o Reino de Deus, estao favorecendo
faccóes políticas de caráter ateu e materialista.

Em vez de propor teorías de libertacao que utilizem o marxismo, é


para desojar que apregoem a Doutrina Social da Igreja; as exigencias desta
sao significativas e transformadoras no bom sentido; suas proposicoes se de-
rivam diretamente das Escrituras Sagradas e da Tradicao crista, sem recurso
a ideologias heterogéneas. O Cristianismo nao precisa de elementos estra-
nhos para tracar urna Ética apta a suscitar um mundo mais humano, mais
honesto, justo e feliz (Joao Paulo II).

A Instrucao da Congregacao para a Doutrina da Fé "Liberdade Crista


e Libertacao", datada de 22/03/86, propoe precisamente a Doutrina Social
da Igreja como resposta as preocupacoes dos cristaos com a situadlo socio
económica da América Latina:

"71... O grande mandamento do amor é o principio supremo da Mo


ral social cristi, fundada sobre o Evangelho e sobre toda a Tradicao desde
os tempos apostólicos e a época dos Padres da Igreja até as recentes interven-
coes do Magisterio.

Os consideráveis desafios de nossa época constituem um apelo urgente


para se por em prática esta doutrina de acao.

72. O ensinamento social da Igreja nasceu do encontró da mensagem


evangélica e de suas exigencias, resumidas no mandamento supremo do
amor, com os problemas que emanam da vida da sociedade. Ele constituiu-se
como urna doutrina; usando os recursos da sabedoria e das ciencias huma
nas, diz respeito ao aspecto ético desta vida e leva em consideracSo os aspec
tos técnicos dos problemas, mas sempre para julgá-los do ponto de vista mo
ral.

76
"OS DEMONIOS DESCEM DO NORTE" 29

Essencialmente orientado para a acio, esse ensinamento desenvolve-se


em funcio das circunstancias mutáveis da historia. £ por esta razio que,
com principios sempre válidos, ele comporta também jubos contingentes.
Longe de constituir um sistema fechado, ele permanece constantemente
aberto as questdes novas que nSo cessam de se apresentar; requer a contri-
buicao de todos os carismas, experiencias e competencias.

Perita em humanidade, a Igreja oferece, em sua doutrína social, um


conjunto de principios de reflexao, de criterios de julgamento, como tam-
bém diretrizes de acio, para que sejam realizadas as mudancas que as si-
tuacoes de miseria e de injustica estio a exigir, e isso de maneira que sirva ao
verdadeiro bem dos homens".

Se os homens se dispusessem a pdr em prática a Doutrína Social da


Igreja, nao haveria o mal-estar e a agitapao que afligem a sociedade contem
poránea.

Sao estas algumas reflexoes que o livro do Prof. Delcio nos sugere.
Trata-se de urna obra respeitável, que procura ser objetiva, sem preconceitos.
Informa de maneira útil e interessante sobre o surto e o desenvolvimento de
varias correntes religiosas de nossos dias; ao analisar os porqués do fenóme
no, limita-se ao campo social, onde faz algumas afirmacoes que nao pode-
riam ser aceitas sem ulterior exame, para se averiguar até que ponto a inter
pretaba o corresponde á realidade.

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„ (^ R.G.S.
As grandes religioes da humanidade:

O Hinduísmo

Em sfntese: O Hinduísmo 6 a corréate religiosa predominante na India.


Justapoe crencas diversas, nem sempre coerentes entre si, como um politeís
mo mitológico e o panteísmo. Este predomina de maneira característica ñas
concepcoes hindufstas: o mundo sensfvel é a revelacao de Brahmán ou da
Divindade, como também o é o homem, cujo núcleo de personalidade, o
Atman, se identifica com Brahmán. É preciso que o devoto se liberte de to
do déselo das coisas sensíveis, para poder desencarnar-se; enguanto está
apegado ao mundo material, que é ilusSo (muya), o homem se vé sujeito ao
ciclo das reencamacoes fcamsaraj, regidas pela leído kharma.

0 Hinduísmo nao professa um Credo muito preciso nem ensina urna


ética muito definida, como nao tem organizacao comunitaria jurídicamente
estruturada; a retigiosidade fervorosa ou mesmo exuberante dos indianos
manifestase através de expressoes oráis e rituais tradicionais tanto nos mui-
tos templos como ñas casas de familia, ñas rúas e nos lugares descampados
da india.

O intercambio de idéias facilitado pela civilizacao contemporánea poe,


muitas vezes, os cristaos em contato com outras crencas religiosas que Ihes
s3o pouco conhecidas. Surge entao em muitos o desejo de melhor conhecé-
las — o que é legítimo e pode ser útil nSo só á cultura geral, mas também ao
fortalecimento da opcáo religiosa feita pelo fiel católico. E por istoqueneste
número de PR publicamos um artigo sobre o Hinduísmo, antiquísima eren-
ca religiosa da India; á um tronco denso, que chega ao Ocidente principal
mente sob as propostas da Yoga, da Hare-Krishna, da Meditacáo Transcen
dental e congéneres. 0 Budismo, que é urna expressao singular dessa corren-
te, será tratado em outro artigo.

1. Esbopohistórico do Hinduísmo

é geralmente aceito que o vocábulo Hinduísmo nao significa apenas


urna religiSo, mas, sim, toda urna tradicao cultural, dentro da qual o elemen-

78
O HINDUISMO 31

to religioso sempre teve e aínda tem grande importancia. Originariamente a


palavra hindú designava simplesmente o habitante da India. Só após a insta
lado dos muculmanos naquele país (sáculo XIII), hindú ficou sendo o habi
tante da India nao convertido ao islamismo; daí a conotacao religiosa que o
termo assumiu. Dentro da cultura religiosa hinduístadistinguem-se trascor
rentes: o vishnuísmo, o shivaísmo e o shaktismo, além do janafsmo e do sik-
hismo (ramos laterais). O Budismo e suas ramificacoes partem da mesma ma
triz hinduísta, mas pondo-se em certo contraste com a tradipao oficial.

O Hinduísmo nao tem um fundador nem se Ihe pode assinalar urna


época precisa de origem. No terceiro milenio antes de Cristo, a India era
ocupada por populacoes dravídicas, que tinham o culto de um Ser Supremo,
Pai do universo {um certo monoteísmo). Por volta de 2500 antes de Cristo
aparece no vale do rio Indo urna civilizacao urbana e agrícola concentrada
na figura da deusa-mfe. Em 1500 a.C. aproximadamente, chegaram os inva
sores arianos, penetrando pelo Nordoeste, e sobrepuseram-se ás populacoes
anteriores, reduzindo-as á pobre casta dos "parias". É este amalgama de es
tirpes que constituí os fundamentos da cultura civil e religiosa da india.

Entre 1500 e 1000 a.C. formou-se a colecáo dos Vedas, os primeiros


livros do Hinduísmo, cuja religiosidade oscila entre o monoteísmoe o poli-,
teísmo.

Do século X a.C. em diante, aos Vedas aglutinam-se numerosos outros


textos, expressao do pensamento da época, que dao origem a nova fase do
Hinduísmo, a saber: o Bramanismo. Este, do século VIII ao século V a.C, se
cristaliza nos Upanishads (Doutrinas Arcanas), redigidos por místicos que
sao o expoente máximo do Bramanismo antes do Budismo.

O Bramanismo evoluiu, talvez sob a influencia do próprio Budismo


(que era urna reagao contra a clássica religiosidade), de modo a produzir o
"Evangelho" do Hinduísmo, que é o Bhagavad-Gita ("Canto do bem-aven-
turado"): prega o bhakti, ¡sto é, o amor ¡nteresseiro á Divindade.

Em 320 d.C, comecou um movimento de unificacao nacional, que


congregou trinta e cinco pequeños reinos da península, mantendo-se unidos
por dois sáculos. Esta fase trouxe novo impulso cultural e religioso ás popu-
lacóes da India, que contribuí para formar o Hinduísmo dos sáculos poste
riores, ou seja, o das carnadas populares e o dos sistemas filosófico-religiosos.

No século XII d.C, os muculmanos se estabeleceram na India, consti-


tuindo ai um grande Imperio, que durou até 1707; houve entao influencia
do Isla sobre o Hinduísmo, como se verá adianto. Após a queda do Imperio

79
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

muculmano, as potencias européias (Inglaterra, Franca, Espanha, Portugal)


foram penetrando na India - q que produziu o encontró do Hindufsmo com
o Cristianismo. Alguns mestres indianos procuraram entao delinear um mo
noteísmo nacional que atendesse á RevelacSo Crista; ó nesta trilha que se en-
contram Tagore, Ramakrsna, Vivekananda, Gandhi, Aurobindo, assaz co-
nhecidos no Brasil. Em nossos dias, pode-se dizer que esta é a configuracáo
religiosa da India: Hinduístas - 580.000.000 (83%}; Muculmanos -
60.000.000 (12 %); Cristaos (católicos e protestantes ) - 15.000.000 (3%).
Budistas - 4.000.000 (0,7 %); Jainistas - 2.700.000 (0,47 %); Outras reli-
gioes - 2.500.000 (0,43%); Sem religiao - 0,3%

Z Adoutrina religiosa

O Hinduísmo nao professa um Credo muito definido, como também


nao possui urna estrutura e urna hierarquia institucionalizada. Reconhece
varias divindades - resquicios do politeísmo antigo - dentro de urna filoso
fía pantefsta (tudo é Deus ou tudo é a Divindade); compreende grande varíe-
dade de cultos e ritos, que sao heterogéneos, mas que os hinduístas aceitam
sem julgar que algum deles seja essencial.

Como quer que seja, destacam-se linhas típicas do auténtico pensa-


mento religioso hinduísta, que passamos a percorrer.

2.1. O principio básico

O ponto de partida do pensamento hinduísta é a afirmacao do que a


Realidade é urna só: o mundo, o homem, os deuses sao a mesma realidade,
chamada Brahmán.

O núcleo mais profundo do ser humano, chamado Atman, é também


idéntico a Brahmán, de modo que a pessoa evoluída e consciente pode di
zer: "Eu sou Brahmán", como ensina o mestre nos Upanishads:

"Este Atman dentro do meu corafio é menor do que um grao de ar


roz ou de trigo, urna sementé de mostarda ou um grao de milho... Nao obs
tante, este Atman dentro do meu coracio é maior do que a Térra, maior do
que as regidos intermediarias, maior do que os céus... Esie Atman, dentro do
meu coracio, é o próprio Brahmán" (Chandogya-Upanishads III, 14,3s).

Há sáculos os hinduístas repetem -a frase de Uddalaka ao seu filho


Shvetaketu: "Tu és Aquele" (ibd. VI 8,7; 9,4; 10,3; 11,3; 12,3).

Em suma, o Brahman-Atman é o único Absoluto, a raiz e o fundamen


to de tudo, o Senhor que sustenta todas as coisas, o guia interior e a meta de
todo vivente.

80
O HINDUISMO 33

2.2. O mundo

O mundo, chamado maya (¡lusao), é a eterna manifestacao do Eterno


Existente, o semblante fenoménico da Realidade divina. Encontra-se num
processo cíclico de aparecí mentó e desaparecí mentó, de safda e entrada das
coisas na sua origem eterna. Afinat tudo o que aparece, é o próprio Brahmán,
realidade profunda de cada ser.

Isto implica que o homem nao nasce nem morre propriamente: "Nun
ca houve tempo em que eu, tu ou qualquer homem nao existíamos; nem ha-
verá tempo em que deixaremos de existir. Como a alma passa através da in
fancia, da juventude e da velhice, permanecendo sempre a mesma, assim ela
permanece atrás da mudanca dos corpos" (Bhagavad-Gita II, 12s).

2.3. O homem

O homem, assim entendido, emerge do seio de Brahmán e vem a su


perficie da historia; ele pode flutuar em nfveis ora mais, ora menos elevados,
entre as ondas do océano que é o fenómeno cósmico, enquanto a graca da
Líbertapio (Moksha) nao o leva de novo ao seio de Brahmán. Com outras,
palavras: o Hinduísmo professa a reencarnacao ou a metempsicose. O ciclo
dos sucessivos renascimentos é chamado Samsara. Para escapar a este, o ho
mem deve deixar o mundo dos fenómenos ou das ilusoes para entrar no cen
tro da realidade ou na origem de todas as cuisas; quem o consegue, é todas
as coisas.

A lei do kharma rege as sucessivas reencarnacoes. Ela faz que o ho


mem flutue de um nascimento para outro, como o náufrago é impelido pelas
diversas ondas do océano. Para livrar-se da tempestade, o ser humano deve
extinguir em si todo desejo (kama); sao os nossos desejos que nos prendem
a este mundo e nos vinculam ao ciclo das reencarnacoes. Com outras pala
vras: o homem deve esvaziar-se interiormente, abrindo espacos para a presen-
ca e a acao do Supremo Senhor (Paranvlshvara); a este deve ele confiar-se.
Diz Krishna a Arjuna: "Abandona todo Dharma (Leí) e refugia-te somante
em mim; eu te libertarei de todo pecado e de todo mal; nao temas" (Bhaga
vad-Gita XVIII 66).

2.4. Deus pessoal ou ¡mpessoal?

Pergunta-se: a Divindade no Hindú (smo é urna substancia neutra, urna


forca impessoal? Ou será um Tu, com o qual o homem possa entrar em diá
logo e oracao?

81
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

— Há duas respostas na tradicao hindufsta para estas perguntas:

a) Os Upanishad (sáculos VIII - V a.C.) apresentam Brahman-Atman co


mo um Absoluto neutro ou ¡mpessoal. Este conceito, coerente com a nocao
de panteísmo (= tudo á Deus), fez tradicao no Hindúfsmo e fo¡ desenvolvi
do especialmente por Shankara (780-820 d.C): este afirma que tudo é Brah
mán, o mundo é maya (ilusao), e somente a ignorancia ou o nao-conhec¡-
mentó pode atribuir aos fenómenos visíveis urna consistencia que eles nao
tem.

b) O Bhagavad-Gita, posterior aos Upanishad, professa um conceito pes-


soal de Deus, que se tornou determinante na historia posterior do Hinduís-
mo: Deus nao seria somente o Imutável e Oculto Brahmán, mas seria prin
cipalmente a Pessoa Suprema (Purush-ottama): a vida do Oculto Brahmán é
de difícil percurso, diz Krishna a Arjuna, "mas para aqueles que me adoram
como Fim Supremo,. . . eu me torno o Salvador que liberta do océano do
samsara mortal" (Bhagavad-Gita XII 5-7).

A presenca destas duas concepcoes diversas no Hinduísmo explica-se


pelo fato de que este recolhe em si tradicóes religiosas contraditórias: o poli
teísmo, que admite varios deuses, concebidos mitológicamente á semelhan-
ca dos homens (até mesmo com sexualidade) e o panteísmo, que identifica
a Divindade com tudo o que existe, reduzindo-a a urna substancia neutra ou
¡mpessoal. Todavía as duas correntes se fundem urna com a outra mediante a
afirmacao de que os deuses e as deusas, com seus mitos, exprimem apenas
aspectos da única Divindade. Examinemos, pois, as principáis figuras divinas
do Hindú fsmo.

2.5. As figuras divinas

Shakti representa o aspecto "materno" da Divindade. É a energia


eterna de Deus, que constituí, conserva e vivifica todas as coisas. Procede de
Deus como seu místico Seio, no qual Ele dá vida a tudo o que existe. Está
incessantemente em atividade para conservar o mundo e fazer que tudo vol-
te ao seu Principio e reconheca o seu Unvara (Senhor).

Shiva representa o aspecto "paterno" da Divindade. Está normalmen


te associado a Shikti, o poder generativo, é tido como o "Destruidor", nao
porque faca o mal e aniquile, mas porque leva a termo as sucessivas fases da
historia, apressa os ,tempos, pois novo ciclo deve comecar após o envelheci-
mentó do anterior; assim ele é o Destruidor que recria sempre todas as coi
sas.

82
O HINDÜl'SMO 35

Viihnu é a Divindade mais cultuada na India, porque é ela que desee


ou se manifesta nos seus avatares1, dos quais Krishna e Rama sao rnuito po
pulares. Vishnu é considerado como a Divindade benévola e providente, que
nao quer a perda de nenhum ser e nao abandona o homem, mas o sustenta e
defende poderosamente; por isto Vishnu "desee" todas as vezes que o mun
do é a humanidade precisam dele ou nos momentos mais críticos.

A doutrina dos avatares supoe que

- a Divindade possa manifestar-so sob forma de pessoa humana no mundo;


— a Divindade se interesse pela salvacao do homem.

Assim fala Vishnu na pessoa de Krishna, segundo o Bhagavad-Gita:

"Embora eu nao tenha sido gerado nem deva perecer, embora eu seja
o Senhor dos vivos, sendo eu Senhor da minha natureza, quero nascer por
meio da minha própria maya. Todas as vezes que há decadencia de Dharma
(leí) e surto de A-Dharma (injustica), ó Arjuna, entio eu me manifestó. Para
a libertario dos justos, para a destruicao dos injustos e o restabeledmentó
da justiga, eu nasco de idade em idade. Aquele que conhece, na verdadeira,
luz, o meu divino nascimentó e a minha divina ac§o, depois de ter abandona
do o corpo, nao volta a nascer; ele vem a mim, ó Arjuna" (IV, 6~9).

Os filhos de Shiva sao

Ganesha (cabeca de elefante e corpo humano), deus do conhecimento


e da libertacao;

Karttikeya, Deus da coragem e do poder;

Hanuman (forma de macaco), personificado da fideUdade;

Agni, deus do Fogo, invocado nos sacrificios, mediador entre Deus e


os homens;

Manasha, RainhadasSerpentes.

1 Avatar é um ser humano no qual está condensada da modo especial a Di


vindade. Verdade é que esta se encontré em tudo o que existe; os avatares,
porém, a contém e manifestara mais pregnantemente. — Este conceito difere
do de Encarneció, professado pelo Cristianismo, pois este nio ó pantefsta:
professa que Deus assumiu a natureza humana e a fez viverpela segunda Pes
soa da SS. Tríndade; assim a humanidade de Jesús (que nio é parcela da Di-
vindade) tomase o templo de Deus, que age por ela para a salvacio dos ho
mens.

83
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

Muitos desses deuses tém sua Shakti ou esposa divina. As Shakti, po-
rom, embora sejam muitas, vém a ser a única e idéntica "Mié Divina". A seu
respeito escreve Swami (mestre) Ramdas:

"Deus, a ñealidade suprema, tomou — em virtude do seu Poder infini


to-a forma do universo e de todos os seres, as coisas e criaturas que al se
encontram. Todas as atividades sao dirigidas e controladas pelo seu Poder.
Este poder é a Mié Divina. Esta é o Principio criador e motor, autor, conser
vador e destruidor do universo. A MSe Divina nao 6 senSo a Divina Shakti.
Esta está sempre em nos. Se queremos a paz, nela devemos refugiar-nos"
(citadopor J. Herbert, L'Hindouisme vivant. París 1975,p. }95).

A Shakti (esposa) de Brahma é Saraswati ou Vak, a deusa da sabedo-


ria, protetora das ciencias, das letras e das artes. A Shakti de Vishnu é Lakshmi
ou Shri, deusa da harmonía, da docura, da beleza e da opulencia; representa
todos os ideáis da esposa indiana. Acompanha Vishnu em todas as suas "en-
carnacSes".

A Shakti, por excelencia, é a de Shiva. Visto que Shiva é, ao mesmo


tempo, terrfvele benéfico, o Deus da morte e da ressurreicao, da destruicao
e da libertacSo, a sua Shakti apresenta aspectos diferentes, manifestados por
nomes diversos: Kali (a Negra) é destruidora na sua danpa de morte, mas é
benévola porque destrói para o bem; Durga, a inacessfvel; Chandiv, a incle
mente. Ela destrói os Asura (demonios) e, por isto, é também a deusa da
protecao; Gauri, jovem e bela, que faz arder o coréelo dos devotos para com
Shiva; Annapurna, companheira de Shiva no templo de Benares, venerada
ñas casas dos indianos como aquela que dá o arroz necessário á sua subsis
tencia.

"A MSe pode tudo, e Ela dá tudo, escreve Ananda Moyi. Se alguém
encontrou a MSe, nSo Ihe falta mais nada" (ob. cit., p.200).

2.6. Yoga

A palavra yoga significa uniao,. . . uniao com a Divindade, encontró


do homem com o seu verdadeiro fundo que é Deus. Visto que há diversas
modalidades de conceber esta uniao no Hindufsmo, há diversos tipos de Yo
ga, como se pode ver a seguir:

a) Hatha-yoga, ,ou Yoga real, clástica: é a yoga do corpo, que, mediante


exerefeios físicos e psíquicos, procura a total uniao do homem com o seu
próprio Atman ou a completa posse de si mesmo;

84
O HINDUl'SMO 37

b) Karma-yoga ou Yoga da acSo. O homem se faz instrumento da eterna


acáo da Oivindade; sabe que é Oeus que age em tudo e por ¡sto Lhe confia
a sua atividade;

c) Jnana-yoga ou Yoga do saber. Nao basta saber que tudo á Brahmán ou


que tudo tem origem em Brahmán e se dissolve em Brahmán, mas é preciso
chegar á intuicao da Oivindade. Assim fala Krishna a Arjuna, que se prostrara
diante dele em adorapáo:

"Esta é a minha suprema Forma, cheia de esplendor, universal, infini


ta, primeva, que nao foi vista por ninguém senao por ti e que te é mostrada,
por gra$a com o poder do meu Yoga. Nem mediante o estudo dos Vedas,
nem com sacrificios, nem com esmolas, nem com a observancia dos ritos,
nem com severa austeridade, pode meu semblante ser visto no mundo dos
homens" fBhagavad-Gita XI472).

d) Bhakti-Yoga ou Yoga da devocSo: é indispensável para se chegar á ¡n-


tuicao da Divindade. Eis o que diz Krishna:

"é realmente difícil ver esta minha forma, como somente tu a viste;
até os deuses dese/ariam vé-la. Nem com os Vedas, nem com a Austeridade,
nem com a Esmola, nem com os sacrificios posso ser visto nesta Forma
como tu me viste. Mas mediante urna devocSo perfeita fBraktiJ, posso ser
conhecido nesta Forma, visto e penetrado em reatidade, ó Arjuna. Aquele
que age por mim, aquele que me adora como o Supremo, aquele que é devo
to exclusivamente a mim, livre de apegos e de inimizades para com alguma
criatura, vem a Mim, ó Arjuna" (Bhagavad-Gita XI52-55).

A Bakti ou a devocSo é a via que o Hindúfsmo índica por excelencia


para a Ubertapao. A alma do Hinduísmo será sempre a bhakti;asdemais mo
dalidades do mesmo sao complementares desta. Nao é o caso aqui de se deli
near urna historia dos movimentos devocionais da India. Apenas convertí no
tar que, urna vez superada a fase politeísta anterior aos Upanishads, o Hin-
dufsmo restaurou os deuses do Pantheon dos Vedas, como eram Vishnu,
Shiva e as Shakti, cultuando-os, poróm, nao como deuses individuáis, mas
como aspectos e manifestacóos de urna Divindade universal ou identificada
com todas as coisas.

2.7. Preceitos ou código de Moral no Hindúísmo?

Desde os tempos dos Vedas (1500 a.C), a religiSo hindufstaé chama


da sanatana Dharma, Lei eterna. Esta lei nao equivale a um código de nor
mas éticas e jurídicas, mas significa a Essdncia eterna, que faz que cada coisa

85
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

exista como ela deve existir e nao de outro modo; sanatana Dharma, portan-
to, é a razSo eterna que define a natureza real de cada coisa. Exprime-se
também em preceitos éticos e jurídicos, que sao flexíveis e sofreram adapta-
cóes atravós dos séculos. A ^principal finalidade desses preceitos é a moksha
(= libertacSo do mundo material e do ciclo das reencarnacoes).

A ática hinduísta varia de acordó com a casta (varna) a qual o indivi


duo pertenca, pois os homens nao sao considerados iguais entre si; existe
urna sva-dharma (direitos e deveres) para cada estado social: casta sacerdotal,
casta dos políticos e administradores, casta do poder económico (proprietá-
ríos de térras, gado e comerciantes), casta dos proletarios ou dos trabalhado-
res manuais. A discríminaca*o acarretada pelas castas é fortemente contradi-
tada pelos movimentos religiosos modernos do Hinduísmo. Em suma, veri-
fica-se que, tanto no plano doutrinal como no ético, o Hinduísmo se mostra
muito variegado. Assimilou, no decorrer dos séculos, doutrínas e práticas
heterogéneas e, de certo modo, contraditórias, permitindo que convivessem
e se desenvolvessem pacatamente. Por isto foi definido como "a Religiao dos
muitos caminhos"; o Rig-Veda justifica isto dizendo: "A Verdade é urna e os
homens Ihe atribuem nomes diversos".

A afirmacao de panteísmo e politeísmo na religiáo hinduísta se deve,


em última análise, ao fato de que a filosofía hindú tende a negar o principio
de contradicao (o sim nao é o nao) quando aborda a realidade divina; nesta
as mais rudimentares categorías da lógica nao teriam vigencia.

2.8. O culto hindúfsta

O culto religioso nao se desenvolve apenas nos templos sagrados, mas


em toda parte; pode-se dizer que quase nao há, na India, um lugar que nao
tenha relacao com o sagrado; os mitos explicam a sacralidade própria dos
Santuarios da India.

Ñas casas de familia, o fogo sagrado deve ser mantido ininterrupta-


mente depois de ter sido testemunha da uniao de esposo e esposa. Entre as
ablucoes da manha e as da noite, urna serie de atos rituais e de oblacdes de-
vem ser realizados cotidianamente e com especial énfase nos numerosos dias
de festa do calendario lunar.

O Hinduísmo nao conhece comunidades religiosas organizadas que se


assemelhem ás do Cristianismo. Existe, porém, a solidariedade dentro das
castas, que ocasiona a celebracáo de ritos comunitarios, especialmente de
banhos sagrados nos rios freqüentados por peregrinos.

86
O HINDUI'SMO 39

Segundo antiga tradicao, nao é possível adquirir méritos religiosos


fora da "térra das acoes" que á a India. Nascer na India á, pois, um privile
gio, cujas vantagens nao podem ser adquiridas ou compradas. Por conse-
guinte, para ter acesso á salvacáo, o individuo nao indiano tem que esperar
renascer, um dia, de familia indiana.

A forma normal de oracSo é dita Japa: consiste na repeticao de man-


tras (palavras ou fórmulas sagradas); o mais importante dos mantras ó OM
ou AUM, o que significa o Brahmán e atrai os favores deste.

0 Hinduísmo tem seus ritos apropríados ás diversas fases da vida do


homem: nascimento, entrada no uso dos direitos e deveres da casta (ñas cas
tas superiores), inicio e fim da vida estudantil, casamento, compromissos
com a familia e a sociedade, doenca grave, morte e funerais. Há também vo
tos (Brahmacharva) emitidos pelos estudantes para o tempo de seus estudos:
castidade, pobreza, obediencia e estudo.

Fazem-se oferendas, a Divindade, de manteiga derretida, cereais e ani


máis. Geralmente sao consumidas pelo fogo, enquanto o sacerdote pede a
Agni, o deus do Fogo, que leve tais ofertas a presenca da Divindade. Tam
bém pode ocorrer que urna estatua de deus seja ungida, vestida, ornamenta
da e perfumada; entao sao-I he oferecidas comida e bebida, que o fogo nao
consomé, mas que sao distribuidas aos fiéis como prasada. A imagem da Di
vindade pode ser levada processionalmente para fora do seu templo.

2.9. Os sikhs

Os sikhs constituem urna ramificacao do Hinduismo, devida ao gurú


(mestre) Nanak (1469-1539) e a outros místicos, cujos ensinamentos religio
sos foram compendiados nos séculos XVI/XVII, constituindo o livro sagrado
Adi-Granth; este é, de certo modo, o resultado do encontro-desencontro
de Hinduísmo e Islamismo. O décimo e último grande gurú desta córrante,
chamado Govind Singh (1666-1708), fundou em 1699 a comunidade dos
puros (khalsa), que é hoje a ala militante do sikhismo. A sua doutrina ó ní
tidamente hinduísta; reforca, porém, as práticas de aséese e contemplado,
tendo como ideal nao um sacerdote, mas um leigo, que, através do estudo e
do esforco espiritual, chega a contemplacfo da beleza da Divindade no seio
mesmo.da sociedade em que vive; recomenda-se a fidelidade ao gurú, a co
munidade dos irmaos na fé e o servico recíproco como meios de progresso
espiritual dos devotos.

Os sikhs vivem principalmente no Panjab, em torno de Amritsar, que


é a sua cidade santa.

87
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

2.10. O Jainismo

0$ jainistas constituem, na India, urna minoría de élite (0,47%). Ape-


tam para urna antiga tradicao renovada nos sáculos Vl/V a.C. por Vardhama-
na, dito Mahavita (Grande Herói) e Gina (vitorioso), último de urna serie de
vinte e quatro mestres. Tém mu catálogo próprio de textos sagrados e divi-
dem-se em duas correntes: svatambara (vestidos de branco) e digambara (ves
tidos de ar ou desnudos). Professam um sistema religioso sem Oeus, segundo
o qual o universo consta de duas categorías de substancias elementares: as
espirituais (Jiva) e as inanimadas (ajiva). As espirituais se encarnam e trans-
migram de um corpo para outro dentro das leis do kharma e do samsara.

Para libertar-se da materia, sao essenciais tres coisas: a reta fé, o reto
conhecimento e a reta conduta. A nao violencia (ahimsa) tem valor absolu
to, podando levar o devoto até ao suicidio por inedia.

Os jainistas consideram erróneas todas as outras doutrinas, em parti


cular a tradicao dos Vedas; negam valor ás ablucoes, cremam (e nao sepul-
tam) os corpos dos ascetas, mas conservam trapos do sistema de casta.

3. O Hindúísmo moderno

O contato do Hinduísmo com o Islamismo (a partir do sáculo XII) e


com o Cristianismo (a partir do século XVIII) dilatou as concepcSes origina
rias daquete. Especialmente a fá crista provocou urna revisao benéfica de no-
coes e práticas do Hinduísmo, tornando-o mais propenso a admitir um deus
pessoal, com o qual o homem dialoga e para o qual tem ascensoes místicas.

Entre os mestres modernos do Hinduísmo, está o Mahatma Gandhi


(1869-1948), geralmente conhecido como chefe político, mas venerado na
India principalmente como mestre espiritual. Tornou-se o apostólo da nao-
violencia (ahimsa); esta, para Gandhi, nao era tanto um instrumento de rei-
vindicacao política quanto a via augusta para atingir a Verdade de Deus,
presente em todas as coisas e disposta a guiar o homem em suas atividades;
a Ahimsa requer perfeito controle do homem sobre si mesmo e a vontade
inabalável de "proceder de acordó com Brahmán"; o seu fruto é a perfeita
liberdade, segundo um principio do Isha-Upanishad muito caro a Gandhi:
"Tudo o que vemos neste Grande Universo é penetrado por Deus. Renuncie
mos a isso e gozemos do mesmo". "Renunciemos...", porque nada é nosso;
"gozamos...", porque Deus nos chama a colaborar com ele.

O moderno Hinduísmo nao somonte se purifica de certas práticas me


ramente formáis e ritualistas, mas também voltou sua atencao para proble
mas humanos e sociáis da India. Disto resultaram obras assistenciais, educa-
cionais, preservativas da saúde e certa reforma da sociedade indiana; em su-

88
O HINDUI'SMO 41

ma, a dimensao de solidariedade, concebida nos termos de urna sociedade con


temporánea mais justa, passou a marcar, ainda que tímidamente, as popula-
coes hindú i'stas.

4. Apreciacao final

Sem dúvida, o Hindúísmo atesta a férvida alma religiosa do povo da


India, reconhecida como tal por Paulo VI quando visitou aquele país:

"0 vosso país é um país de cultura amiga, berco de grandes religioes


e foco de urna nació que procurou Deus com um desejo ¡ncansávei, exprés-
so nos cánticos de urna oracao fervorosa. Raramente esta espera de Deus foi
manifestada com palavras mais repletas do espirito do Advento do que as
que se acham escritas nos vossos Livros Sagrados, muitos sáculos antes da
vinda de Cristo: 'Do irreal conduze-me á realidade; das trevas conduze-me á
imortalidade' (Brihad Upanishad h 3/28}".

Todavía, como apontam os historiadores da religiao, o Hinduísmo é


urna corrente de crencas heterogéneas, e, por vezes, contradítórías entre si,
especialmente por mesclar panteísmo, politeísmo e. . . também mono te ís-^
mo. A convivencia de tais expressoes incoerentes, entre os hindúístas, nao
os ¡mpressiona porque, como dito, a filosofía hindú tende a negar o princi
pio de contradiclo (o sim nao é o nao) quando aborda a realidade divina;
nesta as mais rudimentares categorías da lógica nao teriam vigencia. O genio
filosófico dos hinduístas desliga, urna da outra, mística e racionalidade ou
teologia e lógica. Este trago corresponde, de certo modo, ¿"teoría da dupla
verdade" (urna válida para a razao e outra, contraditória, válida para a religi
ao); ora tal posicáo nao se sustenta nem aos olhos da filosofía, nem aos
olhos da teologia bíblico-crista; para ressalvar a unicidade e o Absoluto de
Deus, nao é necessário retirar Deus do ámbito da lógica; Deusé lógico,, por
que Ele é o Ser Absoluto, a Verdade Absoluta e a lógica nada mais é do que
o reto (correto) enunciado do ser e da verdade: "duis mais dois sao quatro, o
todo é maíor do que qualquer das suas partes, a soma dos ángulos de um tri
ángulo equivale a dois retos... ".

A propósito:

BORRMANS. PHICHIT, PRATO. RONDOT, ROSSANO. SHIH, SHI-


RIEDA, SPADA, Le grandi Religioni del Mondo. Ed. Paoline, Milano 1987.

CINTRA. RAIMUNDO, O Lotus e a Cruz, Hinduísmo e Cristianismo.


- Ed. Paulinas, SSo Paulo 1981.
REVISTA JESÚS, n?especial (L'Abbraccio di Assisi - Le religioni e
le sfide delta pace), outubro de 1986.

89
Entre as propostas modernas:

A Antiga Mística Ordem


"Rosae Crucis1"

Anuncia a revista VEJA, de 30 de setembro de 1987, página 73: "Os


rosacruzes brasileiros, com sede no Paraná, estao numa fase de multiplicacao
acelerada de adeptos". Informa a revista que a sede central, em Curitiba, re
cebe mensalmente 1.200 pedidos de inscricSo, estimando-se que já existem
200.000 rosacruzes no Brasil. Comunica também que "a Igreja Católica nao
se opoe aos rosacruzes", com este esclarecí mentó do Bispo auxiliar de Curi
tiba, Dom Ladislau Biernaski: "Enquanto eles se apresentarem como insti-
tuicSode estudo científico e filosófico, nao teremos restricoes".

1.0 problema

O Guia para o diálogo ¡nter-religioso, publicado na colecao "Estudos


da CNBB" (n?52), apresenta um texto de seis páginas (pp. 275-280) sobre
Rosa-Cruz, que bem poderia ser a simples reproducao de um folheto infor
mativo de propaganda da Antigae Mística Ordem "Rosae Crucis" (AMORC).
Na parte final, sob o título de "Aspectos Pastorais", encontramos apenas es
tas duas alineas:

"Os Rosa-Cruzes respeitam todas as religioes e, conseqüentemente, o


cristianismo. A ética da Ordem no Ocidente assemelha-se á do Cristianismo.
Por outro lado, os Rosa-Cruzes tém pelo grande Mestre Jesús a mais alta
considerado e respeito, reconhecendo nele um dos avatares - mes tres místi
cos — ou fi/hos de Deus, sendo o único que completou o ciclo das reencarna-
cSes.

Jé se constata a existencia de católicos brasileiros de prática sacramen


tal filiados á Ordem Rosa-Cruz. Ignoram as diferencas doutrinais. Permane-
cem em estado de total indiferenca, sem se questionarem na própria cons-
ciencia".

1 Este artigo é da autoría de D. Boaventura Kloppenburg O.F.M., cu/a co-


laboracao agradecemos cordialmente.

90
A ORDEM "ROSAE CRUCIS" 43

Com estas informacóes terminam os "Aspectos Pastorais" do Guia da


CNBB. Como se precisamente este "estado de total indiferenca" de católi
cos de prática sacramental afiliados á AMORC quanto as "diferencas doutrí-
nais" nao fosse, por si so, um gravfssimo aspecto pastoral. Ou como se nao
houvesse problema pastoral no fato de nossos católicos rosacruzes conside-
rarem o "grande Mestre Jesús" um dos "avatares" ou até mesmo "o único
que completou o ciclo das reencarnares". "Avatar", explica o Manual Ro-
sacruz (p. 193), "é o ser humano cuja personalidade anímica está altamente
evolufda ou espiritualmente desenvolvida, grapas a ¡números ciclos de encar-
nacoes neste plano".

Oeste Manual Rosacruz cito a "edicáo oficial", da Biblioteca Rosa-


cruz, "volume especial", 8a. edicao revista, 1983. Este texto foi preparado
sob a supervisao do H. Spencer Lewis, "Primeiro Imperator da Ordem Rosae
Crucis Internacional no presente ciclo" e foi revisto por Ralph M. Lewis,
"atual Imperator".

O Manual tem a vantagem de apresentar um Glossário Rosacruz (pp.


189-251) com claras informacóes sobre os ideáis, os principios e a doutrina
rosacruz. Pois, embora a AMORC se aprésente como "organizacao sem
dogmas", tem contudo seu Código Rosacruz de Vida, com 29 normas, que
estío ñas pp. 182-187 do Manual. E a 29a. norma é esta: "Considere sagra
dos e ácima de qualquer crítica os ideáis dos Rosacruzes. Nao permita que a
calúnia afete o bom nome da Ordem. Viva de modo a demonstrar a validade
de seus principios".

Tem, pois, a AMORC seus principios tidos como válidos.

2. Alma humana

Sobre a alma humana encontramos na p. 190 do Manual esta informa-


gao:

"Referimo-nos erróneamente á Alma no homem ou á Alma do ho-


mem, como se cada ser humano (ou cada organismo consciente) tivesse, no
interior de seu corpo, neste plano terreno, algo separado, distinto, a que pu-
déssemos dar o nome de 'Alma'; assim, em cem individuos, haveria cem Al
mas. Isto ó verdaderamente erróneo. Existe urna única Alma no Universo:
a vívente, vital consciéncia de Deus. Essa Alma Universal está presente no
ámago de todo ser vívente, e isto constituí a Alma do homem. Esta jamáis
deixa de ser parte integrante da Alma Universal, assim como a eletricidade,
numa serie de lámpadas elétricas de um circuito, nSo é urna porcao ¡solada
de eletricidade, sem ligacSo com a corrente que fluí por todas as lámpadas.
A Alma, no homem, ó Deus no homem, e torna a humanidade parte inte
grante de Deus — irmSos e irmSs, sob a paternidade de Deus".

91
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

Além de negar a alma humana individual, aparece neste texto um claro


conceito pan teísta. "Os Rosacruzes ensinam o preceito de que Oeus é intei-
ramente uma experiencia subjetiva e, portanto, uma interpretacao pessoal",
informa o Manual na p. 202. Consoante os rosacruzes, a Mente Divina é si
nónimo de Mente Universal ou Mente Cósmica: "Constitui-se ela nao apenas
da mente de Deus, mas tambdm da consciéncia, ou mente, de todos os seres
vivos no plano terreno, unidas de modo a formarem um consenso de mente
e pensamento, no qual toda inspiracSo, toda idéia, toda expressao universal-
mente importante é registrada e pode ser captada mediante a devida harmo-
nizacao com essa Mente Universal. A Mente Suprema nao é um conjunto
de inteligencias individuáis. Nenhuma soma de coisas é suficiente para igua
lar a Mente Universal, porque esta encerra também o potencial daquilo que
ainda nao tem natureza ou forma discernfvel. A Mente Universal, como inte
ligencia, está presente em todas as células do nosso ser e é acessível como in
finita sabedoría" (p. 218).

3. Reencarnacao

Outra idéia central dos rosacruzes, que reaparece em todos os momen


tos, é compreendida pelo vocábulo "reencarnacao", assim explicado pelo
Manual na página 238s:

"A doutrína Rosacruz da reencarnacSo é singular, em alguns aspectos;


entretanto, representa a doutrína religiosa ou ática mais universa/mente acei
ta no mundo atual, porque é nSo-sectáría, justa, razoável e reveladora. Em
suma, tratase da concepcSo de que a alma do homem, uma esséncia divina,
tem por atributo uma memoria ou consciéncia que constitui a personalidade
do ego individual. Essa personalidade é ¡mortal, como ¡mortal é a Esséncia
Anímica. Esta é inseparável da infinita esséncia cósmica ou divina, da qual
apenas uma parcela permanece em cada ser durante uma encarnacao na Tér
ra. A personalidade de cada ser é, nSo obstante, distinta, singular. Manifesta
se no corpo humano durante sua vida terrena, como o ego ou caráter do in
dividuo, e, quando da transicio (= morte), passa para o plano cósmico, jun
tamente com a Esséncia Anímica. Ali permanece até o momento apropriado
para uma nova encarnacao com a Esséncia Anímica, num outro corpo físico,
para viver novas experiencias mundanas, que sSo acrescentadas á sua memo
ria e ai persistem como o cumulativo acervo de conhecimento e sabedoría
do Eu interior. A personalidade permanece cónscia de si mesma, no plano
cósmico, epodo levar a efelto suas manisfestacBes psíquicas, mais fácilmente
do que no piano terreno. Cada personalidade pode encarnar muitas vezes. O
limite é desconhecido. A reencarnacSo nSo deve ser confundida com trans-
migracSo; a personalidade nunca retrograda, nem entra no corpo de um ani
mal. A doutrína mística que fundamenta a necessidade da reencarnacSo é a
absorcSo da personalidade anímica (ou personalidade-alma) na Mente Uni-

92
A ORDEM "RQSAE CRUCIS" 45

versal, o processo de aperfeicoamento da personalidade. Vida após vida,


através de variadas experiencias, a personalidade evolui, á medida que nos
tornamos mais conscientes da inteligencia cósmica em nosso ámago. Quando
nossa personalidade-alma é equivalente é forca mística em nosso ámago, a
perfeicio ó a/caneada. Tomamo-nos entao unificados com a consciSneia do
Cósmico. A partir desse momento, o renasdmento nao mais se faznecessá-
rio".

É suficiente analisar as afirmacoes comidas nesta passagem, para cons


tatar que nos encontramos diante de urna soteriologia radicalmente diferen
te e totalmente oposta á'soteriologia crista. Dizer que tal doutrina ó "nao-
sectária" é urna asseveracao puramente retórica e sem sentido. Pois a filoso
fía reencarnacionista aqui esbocada é a negacao do próprio ámago do Evan-
gelho de Nosso Senhor Jesús Cristo. A perspectiva auto-redentora da AMO RC
esvazia de seu conteúdo a mensagem crista sobre a Igreja, os Sacramentos,
a Graca e os Novísimos. E, se é verdade, como nos informa o citado Guia
da CNBB, que nossos católicos brasileiros de prática sacramental filiados á
Ordem Rosa-Cruz "ignoram as diferencas doutrinais" e "permanecem em
estado de total indiferenca sem se questionarem na própria consciéncia"
(p. 280), só se pode concluir que estes católicos ou desconhecem o cerne de
sua própria doutrina crista, ou ignoram os ideáis apregoados pela AMORC.
O mencionado Manual Rosacruz nos ensina até que seus dois símbolos fun
damentáis, a Cruz e a Rosa, sao usados para significar a certeza da reencarna-
cáolcf. pág. 90e93).

A palavra "reencamacáo" está prenhe de postulados, pressuposicoes,


principios e conclusoes diretamente contrarios á mensagem do Evangelho.
Na verdade, seria difícil encontrar outro termo táo carregado de elementos
opostos á doutrina crista. Em um só vocábulo estao compreendidas as mais
radicáis heresias contra a nossa santa fá: reencarnacao.

O católico que adere á AMORC, renega sua fé e deixa de ser cristlo.

Frei Boaventura Kloppenburg, O.F.M.

93
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

ANO MARIANO

O Santo Padre Jólo Paulo II houve por bem declarar Ano Mariano o
período que va¡ de 7 de junho (domingo de Pentecostés) de 1987 até 15 de
agosto (Assuncao de María) de 1988. Visto que o evento merece ser ampia-
mente divulgado, eis, em poucos parágrafos, o seu significado.

1. Que é um Ano Mariano?


É um ano especialmente dedicado a Nossa Senhora. Já houve um em
1954, por ocasiao do centenario da proclamacao do dogma da Imaculada
Conceícáo.
E por que o Santo Padre quis instituir o Ano Mariano corrente?
- Joao Paulo II o explica na Encíclica sobre a Mae do Redentor data
da de 25/03/87. Comeca lembrando que nos aproximamos do segundo mi
lenio do nascimento de Jesús. Ora, como toda míe antecede o seu filho, o
S. Padre quer que nos recordemos especialmente de Maria nesta expectativa
e preparacao do aniversario da Natividade de Jesús. Maria está intimamente
associada á vida da Igreja; ela é a Mae da Igreja, porque Míe de Jesús, Cabeca
da Igreja. Em suma, ela é a nossa Máe, a quem Jesús nos confiou quando,
pendente da Cruz, disse: "Mulher, eis o teu filho!"; logo depois disse a Jo3o:
"Eis a tua Máe!" (Jo 19,25-27). Essa MSe ó sempre solícita pelo bem dos ho-
mens, como o foi já no limiar da vida pública de Jesús, obtendo dele o pri
mero sinal; sim, foi Maria que, observando a falta de vinho e o embaraco
que isto causava na festa de nupcias, disse a Jesús: "Eles nao tém mais
vinho". Maria compreendeu que seu Oivino Filho nao deixaria de atender-
Ihe; por isto ordenou aos servidores: "Fazei tudo o que Ele vos mandar" (Jo
2,3-5). Até hoje María pede ao Senhor Jesús que considere as nossas caren
cias, espirituais e materiais, como também nos ordena: "Fazei tudo o que
Jesús vos mandar. . . Sede fiéis áquele que primeiro vos amou, derramando
por vos o seu sangue na Cruz".
Mais: assim como Maria caminhou na fé durante os anos da sua vida
terrestre, acompanhando o seu Divino Filho intrépida até o pé da Cruz, a
Igreja com Maria caminha na fé durante o desenrolar da sua historia, con
templando seus filhos que lutam e nao raro sofrem o martirio para testemu-
nhar fidelidade a Cristo. O caminhar da Igreja é, de certo modo, a continua-
cao do caminhar de Maria (ver Apocalipse 12,13-17) em demanda da pleni-
tude da Vida na gloria celeste. Por isto muito oportunamente a Igreja se vol-
ta periódicamente para Maria é Ihe pede obtenha para os cristaos o fortale
cí mentó da fé sacudida e ameacada pelas inclemencias da historia. É esta,
alias, a prece que encerra a citada Encíclica: "6 Santa Mae do Redentor,...
Estrela do mar, socorrei o vosso povo, que cai e aspira por reerguer-se!"
"A Igreja vé María como auxilio do povo cristáo na luta incessante entre o
bem e o mal, para que nao caia ou, se caiu, para que se erga" (nP 52).

94
ANO MARIANO 47

O afervoramento da fé e da piedade é, neste Ano Mariano, estimulado


pela concessao de indulgencias.

2. Que sao as Indulgencias?


Todo pecado implica sempre dois aspectos: o da culpa e o da desor-
dem causada pela culpa. Por conseguinte, para que alguém tenha seu pecado
totalmente apagado, nao Ihe basta que obtenha o perdao (ou a des-culpa); é
necessário que restaure a ordem violada pelo ato pecaminoso. Assim, por
exemplo, quando alguém calunia seu irmao, nao basta que peca desculpa a
pessoa ofendida; é preciso que restaure a fama desse irmSo. Quando alguém
rouba um relógio, nao é .suficiente que peca perdao a quem foi prejudicado;
é necessário que restitua o relógio ao seu lugar de origem.
Este duplo aspecto (culpa e víolacao da ordem) ocorre em todo peca
do, mesmo naqueles mais íntimos; estes alimentam a desordem dentro de
nos. Conscientes disto, os amigos cristaos, ao se confessar dos seus pecados,
faziam penitencias severas (o jejum de quarenta dias até o por do sol, por
exemplo) para que o amor a Deus, excitado pelo jejum e obras semelhantes,
apagasse o amor egoísta ou desordenado existente no pecador. Esta práti-
ca prolongou-se até a Idade Media. Todavía foi-se tornando difícil porque
muitas vezes faltavam saúde ou as condicoes necessárias para prestar tío ri
gorosa penitencia. Em conseqüáncia, a Igreja, no século IX, houve porbem
instituir as indulgencias: certas obras mais brandas (visita a um santuario, vi
gilia noturna, esmola...) foram especialmente enriquecidas com os méritos
de Cristo, dos quais a Igreja é dispensadora; foram chamadas "obras indul
genciadas". Quem as praticasse, podia ter os frutos das obras penitenciáis ri
gorosas da antiguidade, contanto que as executasse com aquele amor a Deus
e repudio ao pecado que animava os cristaos quando faziam quarenta dias
de jejum ou coisas semelhantes.
Assim teve origem o instituto das indulgencias na Igreja, plenamente
válido até hoje. Antes do Concilio do Vaticano II (1962-65) contavam-se
dias e anos de indulgencias, porque se tinha em vista a penitencia prestada
durante dias, meses ou anos na Igreja antiga... Paulo VI mudou esta termino-
logia, de modo que hoje talamos de indulgencia plenáría (a purif¡cacao de
toda a desordem existente no cristao por efeito de profundo amor a Deus) e
indulgencia parcial (purificacao de parte dessa desordem por efeito de um
amor intenso, mas ainda insuficiente para vencer todas as cobicas desregra-
das do coracao humano).
Como se vé, nao é fácil ganhar indulgencia. Requer-se
1) perdao dos pecados cometidos e estado de graca. Por isto a Igreja
incluí a ConfissSo sacramental entre os requisitos necessários para lucrar in
dulgencia;
2) realizagao da obra prescrita (visita a urna igreja, oracóes, mortifica-
gao...) com todo o desapego do pecado e o máximo amor a Deus de que a

95
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 309/1988

pessoa seja capaz; o cristao deve achar-se em estado de grapa ao realizar tal
obra;
3) Común nao Eucarística. Esta e a Confissao sacramental podem ser
efetuadas alguns días antes ou depois da realizacao da obra indicada;
4} orapSes pelas intenpoes do S. Padre (pode ser um Pai Nosso ou urna
Ave María).
Certamente o instituto das indulgencias assim concebido está longe de
ser algo de mecánico ou mágico, mas é um estímulo poderoso para afervorar
a vida dos cristaos. Alias, o S. Padre Paulo VI quis que, de modo geral, o
trabalho, o servico ao próximo e o sofrimento aceito ou praticado em uniio
com Cristo sejam indulgenciados. Há nisto um incentivo a que os fiéis facam
e sofram tudo com o máximo amor a Deus e desapego do pecado.

3. Indulgencias concedidas aos fiéis neste Ano Mariano

1. No dia em que o Ano Mariano teve im'cio e no dia do seu encerra-


mento, se na própria igreja paroquial, ou em qualquer Santuario mariano, ou
lugar sagrado, assistirem a urna funcao sagrada que se celebre por causa do
Ano Mariano.
2. Ñas solenidades e festas litúrgicas marianas, em todos os sábados ou
noutro dia específico em que se celebra solenemente algum "misterio" ou
"título" de Maria Santi'ssima, se com devocao participarem num rito cele
brado em honra da Bem-aventurada Virgem Maria, na igreja paroquial ou
num Santuario mariano ou num outro lugar sagrado.
3. Em todos os dias do Ano Mariano, se fizerem urna peregrinacao em
forma coletiva aos Santuarios de Nossa Senhora, designados pelo Bispo para
a própria diocese, e ali participarem em ritos litúrgicos - entre os quais a
Santa Missa tem urna excelencia absolutamente singular - ou numa celebra-
cao penitencial comunitaria, ou na recitacao do Rosario, ou cumprirem um
outro exercício de piedade em honra da Bem-aventurada Virgem Maria.
4. De igual modo, em todos os dias do Ano Mariano, se visitarem com
piedade, mesmo individualmente, a Patriarcal Basílica de Santa Maria Maior,
em Roma, ali participando numa funcáo litúrgica ou, pelo menos, detendo-
se em devota orapao.
5. Quando piadosamente receberem a Béncao Papal, dada pelo Bispo,
também através de urna transmissao radiofónica ou televisiva. A Penitencia
ria Apostólica concede aos Bispos a faculdade de dar duas vezes durante o
Ano Mariano, segundo o rito estabelecido (cf. Caeremoniale Episcoporum,
nn. 1122-1126), a Béncao Papal com a indulgencia plenária anexa, a saber,
por ocasiao de alguma solenidade ou festividade mariana, ou de alguma pe
regrinacao diocesana - além das tres vezes que Ihes sao concedidas por dis-
posicao geral do Direito Canónico.
Estévao Bettencourt O.S.B.

96
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D. PEDRO MARÍA DE LACERDA


ÚLTIMO BISPO DO RIO DE JANEIRO NO IMPERIO
(1868- 1890)

Para elaborar o presente livro, o autor, D. Jerónimo de Lemos OSB


alem de consultar ampia bibliografía, viu também o arquivo de D Lacerda'
lendo sua correspondencia, escritos, e preciosa documentacao até hoje iné
dita, bem como jomáis daquele tempo, grapas ao que pode contribuir para
urna perspectiva inteiramente nova sobre a pessoa e acontecimentos da época
em que viveu esse bispo, que, durante mais de vinte anos dirigiu espiritual-
mente os destinos da extensa diocese de Sao Sebastilo do Rio de Janeiro a
qual, naquela época, nao se restringía ao assim chamado Municipio Neutro
mas abrangia todo o Estado do Rio e Espirito Santo, e territorios das provin
cias de Santa Catarina e Minas Gerais. - 600 páginas - Cz$ 900,00.

RITOS DE COMUNHAO
para M.E.C.E.

Normas, Ritos, Indicacáo de leituras, com base em documentos da


Santa Sé, compilados por D. Hildebrando P. Martins OSB - 68 páginas
Cz$ 80,00
7? edicao
Aplicável a qüalquer Diocese, a criterio do Ordinario do lugar.

DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.


2a Edicáo

Em 18 capítulos, tendo sido acrescentados nesta edipao:


"Capítulo IV: A Santfssima Trindade: Fórmula paga?"
"Capítulo XVIII: Seita e espirito sectario".

Cap. 1. O catálogo bíblico. 2. Somente a Escritura? 3. Somente a fé. Nao


as obras? 4.0 Primado do Pedro. 5. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento.
6. A confissáo dos pecados. 7. O purgatorio. 8. As indulgencias. 9. María,
Virgem e Mae. 10. Jesús teve irmaos? 11. O culto dos Santos. 12. As imagens
sagradas. 13. Alterado o Decálogo? 14. Sábado ou Dominqo? 15 666
(Ap 13,18). ' '

Seu Autor D. Estévao Bettencourt, considera os principáis pontos da clássica


controversia entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que a discus-
sao no plano teológico perdeu muito de sua razao, de ser, pois nao raro,
versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou proposicoes. - 380 Dá-

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