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Por outro lado, a análise olha para o contexto da globalização e do novo regionalismo.
A globalização constitui um fenómeno mais saliente nas relações internacionais
contemporâneas. Esse fenómeno verifica-se tanto nas esferas política e política, quanto
nas esferas social e cultural. A globalização para além de acelerar o processo de
liberalização do comércio, no âmbito da Organização Mundial do Comércio, incentiva a
formação de blocos ou agrupamentos regionais. Um exemplo de tais blocos é a SADC
na África Austral. Um facto curioso é que, da análise feita sobre as características desse
tipo de agrupamentos, se verifica que geralmente se fundam em torno de uma potência
hegemónica da região onde o agrupamento ou o bloco se forma. No caso específico da
África Austral, a potência hegemónica livre de contestação é a África do Sul.
Por estas razões, o presente artigo procura entender o motivo do tal fenómeno, analisar
o papel que uma potência hegemónica desempenha na integração regional e, por último
formular as implicações que isso pode trazer para os países que se fundam em seu
redor.
1. Introdução
A teoria neo-realista tem Keneth Waltz (1979) como o seu expoente máximo. O neo-
realismo na sua essência partilha os mesmos pressupostos com a teoria realista clássica.
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Assim, o neo-realismo, paralelamente ao realismo clássico, olha para o Estados como
actores mais importantes, unitários e racionais do sistema internacional e que o sistema
internacional é anárquico, onde os Estados se norteiam com base em interesses. Os
assuntos mais relevantes na perspectiva desta teoria são os relacionados com a defesa e
segurança nacionais (high politics), em detrimento de outros assuntos: económicos,
sociais, culturais, ambientais, etc ( low politics).
Por isso, para analisar o papel das potências hegemónicas na integração regional a luz
da teoria neo-realista compreendeu-se a região como um sistema bem estruturado.
Nesse sistema os Estados foram vistos como actores mais importantes. Analisou-se
também as motivações dos actores envolvidos na integração regional. Neste caso, a
integração foi vista como um instrumento para as potências garantirem os seus
interesses nacionais. Outros aspectos analisados forma as consequências das assimetrias
do poder regional, desequilíbrios e o papel das instituições, tendo que estas, a luz do
neo-realismo, têm uma influência marginal nas acções dos Estados e nas relações entre e
inter – estatais. Finalmente, tentou-se olhar para as formas de integração esperadas em
termos de segurança futura e de poder equacionado em termos de ganhos relativos, à
luz de outras teorias ( Soderbaum, 2001:20).
Este artigo revela-se importante, tanto para o mundo académico quanto para a
sociedade em geral, pois permite compreender o impacto positivo e/ou negativo do
processo integração, não apenas a nível global, como também e em particular na SADC,
numa altura em que veicula a liberalização do comércio na região.
De modo geral, uma potência hegemónica será um país que disponha de todos os
elementos necessários para, na medida do possível, assegurar a vitória no caso de
ocorrer um confronto na região. De acordo com Michelena (1977:17-19), um país para
ser considerado uma potência regional deve satisfazer as seguintes condições:
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e) Uma posição ideológica historicamente determinada que permita ao governo do
país manter interna e externamente (com seus aliados) um certo nível de coesão;
Todas essas condições e capacidades farão com que um país seja considerado uma
potência hegemónica. A hegemonia tem pelo menos cinco dimensões: militar,
tecnológica, económica, política e institucional. Neste caso, uma potência hegemónica
será um país que for mais forte em termos militares, tecnológicos, políticos e
institucionais, do que seus aliados da região. Essas dimensões da hegemonia criarão
uma estrutura regional em que a potência hegemónica vai servir de centro e os países
em seu redor servirão de zonas de influência ou periferia. Enquanto no centro figuara
uma potência hegemónica, na periferia afigura um conjunto de Estados
economicamente dependentes ou subordinadas, militarmente débeis, politicamente
pouco autónomos e internacionalmente menos influentes.
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Deve-se entender regionalismo como uma doutrina que cria regiões, isto é, um conjunto
de ideias, valores, metas concretas que direccionam o processo de criação, manutenção
e modificação da provisão de riqueza dentro de uma organização de uma região.
Este papel é papel é benéfico, sobretudo na manutenção da paz, condição sine quanon
para o desenvolvimento de qualquer economia. Contudo, é preciso saber que as
potências hegemónicas desempenham este papel em consonância com os seus próprios
interesses nacionais. De acordo com Michelena (1977: 23), “o fenómeno de integração
serve de mecanismo protector das disparidades [económicas, políticas e militares] de
que a potência hegemónica é beneficiária dentro do sistema regional. Serve também de
máscara política e de justificação para manter tais disparidades’’. Ainda de acordo com
este autor, as potências hegemónicas têm como objectivo político geral: manter e
ampliar a sua zona de influência. A este objectivo juntam-se outros específicos,
nomeadamente:
Note-se que, por mera coincidência ou naturalidade, pode-se arriscar, afirmando que
todas as organizações regionais formam-se em torno de uma grande potência
hegemónica regional na respectiva região. Tal é o exemplo da NAFTA em volta dos
EUA; Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) em torno do Brasil; da Comunidade
Económica para o Desenvolvimento da África Ocidental (CEDEAO) em torno da
Nigéria; da União Europeia em volta da Alemanha; da Ásia do Este em torno do Japão e
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da Ásia do Sudeste em torno da China e; o caso da Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral (SADC) em torno da África do Sul, entre outras.
Por outro lado e numa visão neo-liberal, a integração pode ter motivações económicas,
sobretudo o desenvolvimento, a partir do pressuposto de que as incompatibilidades
derivadas das estruturas de produção e os padrões de consumo subdesenvolvidos
tornam impossível promover a integração regional, através de políticas do género
laissez-faire(Namburete, ibid: 118). Nesta perspectiva, as potências hegemónicas
funcionam como motoras de desenvolvimento.
Em suma, pode-se afirmar que “os Estados juntam-se em torno de uma potência
hegemónica regional para garantir a sua sobrevivência”[4] e estabilidade, quer seja de
índole político e geoestratégico, quer sejam de âmbito económico e socio-cultural
(identidade nacional).
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Se o fim da Guerra Fria e o desmoronamento do sistema internacional bipolar a ele
inerente (velho regionalismo) teve como sinal marcante a queda do Muro de Berlim na
Europa, em África e na África Austral em particular, o sinal marcante foi o
desmoronamento do Apartheid na África do Sul. Outros acontecimentos, tais como a
independência da Namíbia e o fim do conflito armado em Moçambique constituem
sinais subsequentes. Era uma mudança conjuntural quer ao nível regional quer ao nível
internacional. Tal mudança colocou assento tónico na globalização e na aceleração da
integração económica no mundo.
Esses poderes económico e militar permitem que a África do Sul tenha aliados extra
regionais ( Formação do Grupo Índia, Brasil e África do Sul) ou G-3 e disso servir como
instrumento de pressão política internacional ( Marcondes & Kury, 2004:3). Para
Namburete, ( 2002:135) “ as trocas com a África do Sul comprovam inequivocamente a
hegemonia deste país no contexto económico regional”. E ainda de acordo com este
autor, “ o volume das trocas comerciais com a África do Sul em 1993foi mais de 2.3
vezes ao somatório das trocas comerciais entre os restantes países da região da SADC”.
Esta posição de Namburete é secundada por Zacarias (1991: 23-25) e Cardoso (citado
por Abrahamsson, 1994:191[5]). Estes autores admitem que a economia sul – africana
tem caracteristicas dominantes e, por conseguinte, um papel dominante na região, não
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só por ter uma elevada produção, como também porque o país tem uma extensão
territorial enorme e ser em larga escala o país mais industrializado da região.
Maasdorp ( 1989, citado por Zacarias, ibid[6]) descreve uma África do Sul com
instituições financeiras, mercados de capital sofisticados, infra-estruturas industriais e
matérias –primas, características que não se encontram em outras regiões do continente
africano. Portanto, a África do Sul joga um papel de motor para o crescimento e
desenvolvimento da África Austral, em particular, e da África Sub-sahariana, em geral.
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África Austral constituem principais objectivos ( ibid: 168-170). Recorde-se da aliança G-
3 e da Indian Ocean Rim Association for Regional Co-operation (IOR-ARC) ( Marcondes &
Kury, 2004:3; Ahwireng-Obeng, 1998:22).
Embora a África do Sul, por um lado, pareça estar a liderar moderadamente os seus
vizinhos no caminho para a economia liberal mundial, na sua qualidade de potência,
por outro lado, parece estar a promover apenas o seu desenvolvimento económico. Em
adição, a África do Sul continua a avançar o seu programa económico neo-liberal a nível
doméstico à espessa dos seus parceiros da SADC ( Goldstein, 2002:13; Poku, 2001a: 164,
2001b:166).
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Conclusão
No caso vertente da SADC nota-se que a África do Sul, melhor do que nenhum outro
país da Região, está em vantagens absolutas em termos de tirar ganhos da integração
regional. A África do Sul tem um parque industrial muito forte e consolidado, uma
agricultura desenvolvida e mecanizada e infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias e
aéreas invejáveis. Estas características colocam a África do Sul na posição de produtor e
os outros países da SADC na posição de puros consumidores.
Este cenário leva-nos a pensar que a SADC constitui continuação de CONSAS por
outros meios, se olharmos para o domínio da África do Sul na Organização.
Para que tal seja minimizado, os outros países devem recuperar rapidamente as suas
economias. Mas, para tal, é preciso desenvolver uma série de infra-estruturas em todas
áreas económico – sociais e tornar a política mais transparente e fiável (garantir a paz e
estabilidade políticas e combater a corrupção).
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Notas
[2] HAAS, Ernest ( 1958), The Uniting of Europe, Stanford University Press
[3] BUZAN, Burry ( 1991), Peoples, States and Fear, London, Lynne Publication
[6] MAASDORP ( 1989), South and Southern Africa in 21st Century, Conferência realizada
em Maputo, em Dezembro de 1989.
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