arrogância

nome feminino
sentimento de orgulho que se exprime por atitudes de altivez e desprezo; sobranceria; presunção;
insolência;audácia
(Do lat. arrogantìa-, «id.»)

Há uma arrogância, saudável, que espero dos intelectuais. Muita audácia, alguma presunção e
bastante insolência é que o espero deles. Não tanto sobranceria e muito menos desprezo. Mas o que
não espero deles, de forma nenhuma, é que peçam licença para pensar como pensam; que
transmitam a ideia de que o que pensam facilmente cai no relativismo ou na redundância. Se o
fizerem, rapidamente me desinteresso do que tenham para dizer. É deles a responsabilidade de fazer
avançar o discurso sobre as coisas e as ideias, o talento de estabelecer ligações entre elementos
desconexos, o ofício de pensar sobre a realidade e de expandir o âmbito da imaginação. Dos
intelectuais espero os desafios do intelecto, a acção da inteligência, a habilidade da razão. E mais,
muito mais, espero que me dêem ferramentas para chegar aonde eles dizem estar, espero que me
expliquem porque é que tem razão a sua razão, que me forneçam ferramentas para eu utilizar o meu
próprio intelecto. E espero tudo menos masturbação cerebral, tudo menos herméticos e estéreis
pseudo-enigmas, tudo menos insensatos e auto-decretados labirintos mentais. Espero a possível
claridade das evidências, a franca formulação das questões difíceis, a coragem de propor a quem
não quer ouvir, a recusa da instrumentalização política do seu engenho lógico. Gosto de intelectuais
arrogantes. Chego mesmo a considerar charmosa alguma falta de paciência para com a
mediocridade contente consigo mesma. Dos intelectuais espero genialidade mas também uma
espécie de sobriedade feliz, uma beatitude sofrida, um apaziguamento maduro com a realidade.
Espero que superem os romantismos negros, a morbidez cerebral de quem prefere o desespero à
ignorância, os masoquismos de falsa Cassandra, as afectações da vaidade, a sedução do narcisismo,
a incompreensão da dor.