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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESBvTTAQÁO
DA EDipÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
■>■-.-* visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
_, controvertidas, elucidando-as do ponto de
IL vista cristáo a fim de que as dúvidas se
¿ dissipem e a vivencia católica se fortaleca
J" no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar. este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XXXIV

NOVEMBRO

1993

SUMARIO
<

5 "Amar alguém é dizer-lhe: 'Tu nao morreras' " (G. Marcel)

UJ Sudario de Turim: Rejeitado o teste do Carbono 14


O
eo
"Jesús, Precursor « Anunciador da Nova Era", por Lauro Trevi
UJ
D "Nem Batizados nem Casamentos..."
O
Os Anticoncepcionais e a Ameaca de Estupro

i
UJ
Manipulacao da Vida Humana

"Santo Antonio de Categeró": Quem era?


_j
ta
O Neocatecumenato
O
ce
o. Um Testemunho significativo
PERGUNTE E RESPONDEREMOS NOVEMBRO 1993
Publicacao mensal N9 378

Diretor-Responsável ''
SUMARIO
Estévao Bettencourt QSB •'•> ':'■"<:...
Autor e Redator de toda a materia
"Amar alguóm á dizer-lhe: 'Tu nao
publicada neste periódico
morreras' " (G. Marcel) 481
Novos estudos sobre o
Diretor-Administrador:
Sudario de Turim: Rejeitado o teste
D. Hildebrando P. Martins OSB
do Carbono 14 482
Confusao "empolgante":
Administracáo e distribuicao:
"Jesús, precursor e anunciador da
Edicoes "Lumen Christi"
Nova Era", por Lauro Trevisan 488
Rúa Dom Gerardo, 40 — 5? andar - sala 501 Pastoral n'gida:
Tel.: (021) 291-7122
"Nem batizados nem calamentos..." . . . 497
Fax (021) 263-5679
Caso delicado:
Os anticoncepcional e a ameaca de
Endereco para correspondencia: estupro 504
Ed. "Lumen Christi" Ciencia e Consciéncia:
Caixa Postal 2666
Manipulacao da vida humana 513
Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Mais urna vez:
Impretsao e Encadernapao "Santo Antonio de Categeró":
Quem era? 522
Urna Palavra do Papa sobre
O Neocatecumenato 525
Um testemunho significativo 527
"MARQUES SARAIVA"
GRÁFICOS E EDITORES S.A.
Tels.: (021)273-9498/273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:

"Jesús era um Extraterrestre" (J.J. Beni'tez). - "0 Pecado: o que dizer?" (Xavier
Thévenot). - O Segredo da Confissao. - A Crise das Vocacoes. — Um Padre Ca
tólico num País Proibido. — Nova Era: mais urna vez.

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


ASSINATURA ANUAL PARA 1994
(12 números) CR$ 2.000,00 - n? avulso ou atrasado CR$ 200,00

_O pagamento poderá será sua escolha:.


1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de. Janeiro, cruza
do, anotando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO na conta do favorecí-
do" e, onde consta "Cód. da Ag. e o N? da C/C", anotar: 0229 - 02011469-5.
2. Depósito no BANCO DO BRASIL. Ag.0435-9 Rio C/C 0031-304-1 do Mosteiro de S. Ben
to do Rio de Janeiro, enviando a seguir xerox da guia de depósito para nosso controle.
3. VALE POSTAL pagável na Ag. Central 52004 - Cep 20001-970 - Rio.
Sendo novo Assinante. é favor enviar carta com nome e endereco legi'veis.
Sendo renovacao, anotar no VP nome e endereco em que está recebendo a Revista.
"AMAR ALGUÉM É DIZER-LHE:
'TU NAO MORRERAS!'"
UNISMJTCS - FAFIS
BIBLIOTECA (Gabriel Marcel)
Estas palavras do filósofo francés encerram profunda verdade, que é,
ao mesmo tempo, sorridente e desconcertante.
Sorridente... Pois nos lembram que o nao morrer ou o viver para sem-
pre é a grande aspiracáo de todo ser humano. É em funcSo da vida que o
homem descobre outros valores, como a verdade, o bem, a felicidade... Por
conseguinte, o nao morrer é o maior presente que alguém possa dar á pes-
soa amada.
Desconcertante... Porque se pode perguntar: que criatura é capaz de dar
tal presente? — Nenhuma. A vida é algo misterioso, cuja origem escapa ao
homem e cuja posse é fugaz... Portanto nenhuma criatura ama a ponto de
garantir a imortalidade. A esta altura os nossos olhos sao espontáneamente
impelidos a voltar-se para o Criador. A fé nos diz que Ele é o Primeiro
Amor, Aquele que ama gratuitamente (cf. Uo 3,19). E precisamente é Ele
quem garante ao homem a vida plena ou a vitória sobre a morte. Diz o li-
vro da Sabedoria:"Deus nao fez a morte nem se compraz com a morte dos
viventes... Ele tudo criou para que subsista" (Sb 1,13s); ou aínda: "Deus
criou o homem para a imortalidade e o fez imagem de sua própria nature
za; foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo" (Sb 2,23s).
Estas consideracSes vém muito a propósito no mes de novembro, que
se abre com urna reflexao sobre o alérrr. a 19/11 celebram-se todos os San
tos; a 2/11 comemoram-se os fiéis defuntos. Todos sao criaturas de Deus,
sobre as quais paira um ato de amor divino; na origem de cada criatura há
o amor de Deus, que a concebeu para a fazer consorte de sua vida. Nao
existe outra razao que explique a existencia de cada ser humano. A morte,
como os homens a experimentam, resulta de urna desordem introduzida
pelo pecado no plano do Criador, ... desordem, porém, que foi resgatada
pela própria morte e a ressurreicao de Cristo, o segundo Adao (cf. Rm 5,
12-17). Em virtude da vitória de Jesús sobre o pecado e a morte, o cristao
sabe que ele passa pela morte, a fim de despojar-se do seu frágil corpo de
argila e revestir-se de corpo glorioso configurado ao Corpo de Cristo res-
suscitado (cf. 2Cor 5,1-5).
Portanto, o que importa ao cristSo é corresponder ao Primeiro Amor,
conduzindo-se de tal modo que o Artífice Divino possa executar seu de
signio sobre a criatura. A tristeza e o pranto sa*o assim superados, pois o
cristao sabe que existe realmente Aquele que ama e que, por certo, pode
dizer: "Na*o morreras!" ao homem que deseje a vida e fuja de toda trilha
do pecado e da morte.
Possa o Primeiro Amor imprimir a conviccSo da fé na mente de todos
aqueles que se interessam por saber por que existem e para que existem!

E.B.

481
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXXIV - N? 378 - Novembro de 1993

Novos estudos sobre o

SUDARIO DE TURIM:
REJEITADO O TESTE DO CARBONO 14

Em síntese: De 10 a 12 de ¡unho de 1993 realizouse em Roma o II


Congresso Internacional sobre o Santo Sudario promovido pela Sociedade
francesa intitulada "Centre International d'Etudes sur le Linceuil de Tu-
rin" (CIELT). Participaram do céname cerca de duzéntos peritos, aos
quais se dirigiram cinqüenta conferencistas em clima estritamente cientí
fico e aconfessional. Entre as conclusoes apresentadas, destacase a re/eicao
do teste do Carbono 14, efetuado em 1988, como metodológicamente im
preciso. Novas descobertas após tal data vieram confirmar a antigüidade
do Sudario e fizeram progredir o estudo da imagem e do homem de tal
mortalha: confirmase a impressSo de que tal homem foi rea/mente Jesús;
pesquisadores ¡udeus que participaram da assembléia, levaram sua contri'
buicSo, comparando traeos do Sudario com os costumes /udeus de sepul-
tamento, com os tragos étnicos dos israelitas e com a tecelagem judaica de
outrora.

Em 1998 cefebrarse-á o primeiro centenario das pesquisas sobre o S.


Sudario, esperándose entao resultados aínda mais elucidativos dos traeos
característicos dessa peca venerável.

* * *

É con herido no mundo cultural de nossos tempos o lencol guardado


em Turim e tido como o Sudario que envolveu Jesús Cristo quando desci-
do da Cruz. Muitas noti'cias se tém publicado a respeito, das quais urna das
mais significativas, em época recente, foi a do teste do Carbono 14; com
efeito, em outubro de 1988 tres grupos de pesquisadores submeteram
amostras do Sudario a tal teste e proclamaram ao mundo que, longe de ser
um paño do ini'cio da era crista, era um tecido medieval, cujas origensde-
viam estar entre 1260 e 1390. Esta comunicacao repercutiu como urna

482
SUDARIO DE TURIM E CARBONO 14

bomba no mundo católico e ná*o católico, nao porque a fé crista dependa


da autenticidade do Sudario1, mas porque numerosos estudos anterior
mente realizados convergiam unánimemente para afirmar a genuinidade
do Sudario.

O teste de 1988, porém, nao encerrou a questao. Novas pesquisas e


reflexdes tiveram lugar em alguns países para avaliartal resultado. Dentre
os passos assim dados, destaca-se um Congresso Internacional reunido em
Roma de 10 a 12 de junho de 1993. É precisamente sobre os trabalhos e
as conclusoes deste certame que versarlo as páginas seguintes.

1. O CONGRESSO DE JUNHO DE 1993

1. Existe em París o Centre International d'Etudes sur le Linceuil de


Turin, CIELT (Centro Internacional de Estudos do Sudario de Turim),
que tem promovido encontros e debates sobre o Santo Sudario. Realizou o
seu segundo Congresso Internacional em Roma de 10 a 12 de junho de 1993:
comparecerán-! cerca de duzentos congressistas (dentistas americanos, ita
lianos, franceses, anglo-saxóes, alemáfes, belgas, su icos, espanhóis, mexica
nos, australianos...), diante dos quais cinqüenta conferencistas explana-
ram o assunto.

A assembléia teve caráter estritamente científico e ná*o confessional,


embora déla participassem representantes da Igreja, como o Cardeal Stick-
ler, outrora Prefeito da Biblioteca e dos Arquivos do Vaticano, Mons.
Van Lierde, Prefeito da Casa Pontificia. Havia também entre os presentes
os embaixadores da Franca e da Italia junto á Santa Sé.

2. Qual era propriamente o objeto dos estudos e debates?

Tratava-se de urna peca de linho branco, que mede 436 cm de com-


primento e 108 cm de largura. Sobre a tela descobre-se urna dupla ima-
gem: a de manchas de sangue correspondentes aos diversos ferimentosde
um crucificado; a do rosto e do corpo alongado de um homem visto de
frente e de costas sobre esse longo lencol, que o recobria da cabeca aos
pés. Essas ¡magens aparecem em negativo, como bem descobriu o advoga-
do Serondo Pia, ao fotografar a mortalha em 1898.

3. Desde o segundo dia do Congresso, a imprensa italiana registrava


em manchetes: "O Santo Sudario é auténtico" (Corriere della Sera), "Um

1 A fé na ressurreicao de Jesús sempre foi professada independentemen te


da existencia ou nao de tal reliquia.

483
"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

dentista russo o diz: é auténtico" (II Messagero). Explicava o Corriere


della Sera:

"Paradoxo da era pos-comunista: um dentista Premio Lénin, de for-


macSo marxista, vem em socorro do Santo Sudario".

Urna dezena de jomáis repetiu tais informacoes.

Na verdade, um jovem pesquisador russo, Dimitri Kouznetsov, conde


corado com o Premio Lénin, foi especialmente ao Congresso para demons
trar os fatores de imprecisáo que afetam o teste do Carbono 14 quando
aplicado a certos tecidos, como o linho: por razoes de ordem científica,
Dimitri e sua equipe de Moscou recusaram a datacao medieval atribuida ao
Sudario e propuseram o sáculo I como data provável.

Além disto, outros pesquisadores, entre osquais o Dr. Rémi van Haelst,
belga, e o Dr. Jouvenroux, francés, mostraram as numerosas impreci-
soes de cálculo contidas no artigo da revista Nature, que em 1988 afirmava
ser o Sudario oriundo dos séculos XIII/XIV. Ao que o Dr. Olivier Pourrat,
professor de Medicina, acrescentava:

"Mesmo que o resultado nao fosse erróneo, ele nao oferece garantía
suficiente. Será útil fazer de novo um exame de datacao... Pois os resulta
dos, para ser tidos como científicos, devem poder ser reproduzidos. Isto é
de regra".

Em conclusSo: o exame realizado em 1988 perdeu sua credibilidade


por falta de rigor metodológico, como reconheceram os pesquisadores,
desde que se propalaram os resultados de tal teste.

2. DESCOBERTAS RECENTES

A recusa da datacao medieval pode ser confirmada por outrás experi


encias e descobertas posteriores a 1988.

Assim, por exemplo, o Prof. Jéróme Lejeune realizou pesquisas sobre


um manuscrito húngaro datado de 1192 a 1195 conservado na Biblioteca
Nacional de Budapest e chamado Codex de Pray. Esse documento traz
urna ilustracao, que consta de quatro desenhos a representar a descida de
Cruz e a colocacSo de Jesús na mortalha. 0 Prof. Lejeune, em Budapest,
estudou as minucias de cada desenho e verificou que o desenhista deve ter
tido "sob os olhos entre 1100 e 1200 um modelo que possuia precisamen
te todas as características do Sudario que está em Turim".

484
SUDARIO DE TURIM E CARBONO 14

Ao tomar conhecimento desta conclusSo de Lejeune, o Prof. André


van Cauwenberghe, presidente do CIELT, declarou: "Após esta descoberta
efetuada sobre o Codex de Pray, o exame do C 14 já nao tem valor aos
nossos olhos".

Outro fato interessante contribuiu para tancar o descrédito sobre o


referido teste. Com efeito; o Dr. Jean-Maurice Clercq, especialista em nu
mismática, estudou 2254 moedas do Imperio Bizantino cunhadas entre
350 e a queda de Constantinopla em 1453: descobríu que muitasdessas
moedas - principalmente algumas do sáculo VI — traziam urna efigie de
Cristo cujos pormenores parecem inspirados pelos traeos do semblante gra
vado na mortalha de Turim.

Estas e outras noticias foram levadas ao Congresso de junho 1993 em


Roma, convergindo em favor de urna datacao antiga do S. Sudario. Os cro
nistas observara outrossim que nenhum dos autores do exame feito em
1988 compareceu ao Congresso de 1993 em Roma para defender seu tra-
balho e suas conclusSes; nem se fizeram representar, embora tenham sido
dos primeiros convidados.

3. SERIA A MORTALHA DE JESÚS?

Urna vez confirmada a antigüidade do Sudario, há quem recentemen-


te coloque a pergunta crítica: tal peca seria mesmo o lenco I que envolveu
Jesús? Eis como a formula o matemático epistemólogo Arnaud Aaron
Upinsky:

"A questio agora já nao é saber se o Sudario é falso ou auténtico. A


prova de sua autenticidade já fot dada. A questio é: tratase realmente da
mortalha do cadáver de Jesús?".

O Congresso de 1993 também abordou o assunto, aduzindo novos


elementos de urna resposta positiva. Ei-los:

Pode-se dizer, sem medo de errar, que o cadáver depositado na mor


talha trazia as marcas de quem fora crucificado segundo o procedimento
dos romanos no sáculo I; fora, sim, flagelado e trazia os vestigios de feri-
mentos na testa (coroa de espinhos?).

Além disto, a Sra. Rebecca Jackson, Diretora Associada do Turin


Shroud Corporation dos Estados Unidos, apresentou um estudo das ca
racterísticas judaicas do Sudario: tecido, trapos físicos do cadáver típi
cos dos judeus, ritos funerarios pressupostos... E concluiuque "o homem
envolvido nesse lencol era um judeu".

485
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Mais: dois exegetas franceses, os Professores Robert Babinet e Ber-


nard Ribay, apresentaram interessantes estudos segundo os quais a imagem
gravada no lencol de Turim traz traeos correspondentes ao que Sao Joao
narra no seu Evangelho (20,3-7). Com efeito, diz o evangelista em 20,6s:

"Simao Pedro vé os panos de finho por térra e o sudario que cobríra a


cabeca de Jesús. O sudario nao estava com os panos de linho no chao, mas
enrolado eis hena topón".

Estas tres palavras gregas fináis tém sido traduzidas por "num lugar
único" ou "em outro lugar". Na verdade, porém, segundo os dois exege
tas, dever-se-iam traduzir por "no seu mesmo lugar". Em tal caso, o evan
gelista estaría dizendo o seguinte: Jesús havia sido recoberto com urna
mortalha e sua cabeca estava envolvida numa faixa de tecido que Ihe aper-
tava o queixo. Joao "viu e acreditou", diz o evangelista em 20,8. Que viu
ele? — Responde o Prof. Bernard Ribay:

"Joao viu que o involucro de panos havia ficado fechado e intato,


no seu lugar dentro do túmulo. Compreendeu que o corpo de Jesús, em
dado momento, desaparecerá desse involucro, deixando-o intato ou invio
lado... Observando a co/ocacao dos panos funerarios, Joao teve a prpva
real de que o cadáver de Jesús desaparecerá de modo tota/mente inexplicá-
vel. A faixa que envolvía a cabeca e apertava o queixo, também ficara
no seu lugar".

Ainda outras comunicacoes, dentre as cinqüenta apresentadas no


Congresso, contribuirsm para identificar a figura de Jesús na mortalha de
Turim. Sabe-se, desde muito, que tal figura nao foi pintada no Sudario por
mao de algum artista: a hipótesejáfoi definitivamente descartada. Urna pe
rita norte-americana de Los Angeles, Isabel Piczek, explicou porqueexis-
tem no Sudario minúsculos residuos de tinta ou de pintura, observaveis ao
microscopio: devem-se ao fato de que, quando o Sudario era antigamente
exposto ao público, era colocada urna toalha pintada sobre a mortalha a
fim de a proteger; em conseqüéncia, pequeñas parcelas de tinta terao caí
do sobre o Sudario.

4. E OS BOMBARDEIOS DE RAÍ OS?

No mesmo Congresso, o Professor Joao Batista Rinaudo afirmou que,


mediante o bombardeio de protónios sobre o linho, é possível obter um
colorido do paño muito semelhante ao do Sudario; dizia, porém, o próprio
Professor que "tal sentenca ainda carecia de plena confirmacao".

486
SUDARIO DE TURIM E CARBONO 14

Por outro lado, o pesquisador siciliano Sebastiao Rodante asseverou


que, expondo aos raios ultra-violetas um tecido de linho impregnado de
aloes e mirra ainda úmido, era possi'vel obter manchas coloridas que lem-
brariam as do Santo Sudario.

Tais afirmacSes, porém, deixaram aberta a questao:quem teria deto


nado protónios ou raios ultra-violetas sobre o Sudario úmido para obtera
¡magem e todos os tragos coloridos nele existentes?

A resposta a esta pergunta é decisiva para se poder aquilatar o valor


das experiencias indicadas.

5. O FUTURO 00 SUDARIO

Os congressistas se interessaram outrossim pela conservacao do Suda


rio, pepa famosa entre dentistas do mundo inteiro e provocadora do inte-
resse de cristaos e nao cristaos.

O Prof. Silvio Diana, de Roma, assegurou que o Sudario nio apresen-


ta sinais de grave deterioracao: esse mestre tem-se empenhado pala manu-
tencao da importante peca em boas condicSes. A Igreja tomou recente-
mente providencias para melhor garantir a integrídade do Sudario: está em
novo relicario de vidro á prova de bala e de acidentes atmosféricos e prote
gido contra incursSes de ladroes. Ná*o obstante, os Professores Paúl Malo-
ney e Alan Adler, dos Estados Unidos, observaram que ainda se pode apri-
morar o sistema de conservacao da reliquia, pois as manchas de sangue
tendem a empalidecer por efeito de desagregacao, e a periferia do tecido
vai-se desgastando. Foram entao apresentadas varías propostas de melhor
conservacao do Sudario.

Eis, em perneas páginas, urna símese das comunicapoes que mobiliza-


ram um dos rnais recentes Congressos sobre o Sudario. Verifica-se que os
cientistas, trabalhando únicamente com dados de pesquisa científica, fa
vorece m sempre mais a tese da autenticidade do Sudario como peca que
envolveu o corpo de Jesús. Para 1998 preparase novoe soleneCongresso
Internacional, que comemorará os cem anos de pesquisas relativas a tal
reliquia; esperam os estudiosos poder, naquela ocasiao, apresentar ainda
novos e mais interessantes resultados de suas pesquisas.

Ver a propósito o artigo de Geneviéve Esquíen LINCEUIL DE TU-


RIN: LES VRAIES QUESTIONS, em L'HOMMENOUVEAU, 20/6/1993,
p.20.

487
Confusao "empolgante'

"JESÚS, PRECURSOR E ANUNCIADOR


DA NOVA ERA"

por Lauro Trevisan

Em síntese: O fivro de Lauro Trevisan afirma ao leitor que a mente


humana tem o poder de conseguir tudo quanto deseja, desdé que se con
centre no objeto alme/ado; o pensamento se materializará ou concretiza-
rá, de modo que quem assim procede, pode ficar rico, ganhar um carro,
obter saúde... O homem sempre teve tais poderes; Jesús Cristo os revelou
explícitamente no Evangelho, diz L. Trevisan; mas os homens nSo acredi-
taram em tao estupenda noticia, a ponto de conceberem a vida como pro-
vacio e luta. Ora, anuncia o autor, está para terminar o segundo milenio
ou a Era de Peixes, que em 2001 cederá á Era do Aquário; nesta os ho
mens terao a coragem de utilizar sua forca mental e conseguir todos os
bens que quiserem; será essa a Nova Era ou a plena Era de Cristo.

Infelizmente o autor é fantasioso. Nao leva em conta a hostilidade da


filosofía da Nova Era ao Cristianismo, e propaga ¡ndiretamente tal corren-
te de idéias. A lém disto, construí as suas promessas de éxito sobre concep-
coes panteístas, que nSo resistem ao crivo da crítica sadia. Se Trevisan en-
contra tao grande acolhida do público, isto se deve, em grande parte, ao
fato de que, inconscientemente, vulgus vult decipi (a massa quer ser enga
ñada ou gosta de ser engañada), como diziam os antígos romanos.
* * *

Lauro Trevisan tornou-se muito conhecido no Brasil por seus cursos e


livros, que apregoam higiene mental e conquista da felicidade pelo poder
da mente. Toca em fibras muito sensíveis da pessoa humana e tenta cativar
o ouvinte ou o leitor prometendo-lhe maravilhas, caso utiliza os recursos
da sua mente.

Um dos últimos livros do autor intitulase: "Jesús, Precursor e Anun


ciador da Nova Era".1 L. Trevisan serve-se da expressao ambigua "Nova

1 Editora e Distribuidora da Mente. Santa María (RS), 140x120 mm,


223pp.

488
"JESÚS, PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA" 9

Era", que tem sentido cronológico e significado filosófico, para incutir aos
seus leitores, com nova énfase, a sua tese "solucionadorade todos os pro
blemas". - A seguir, proporemos as linhas-mestras desse livro e Ihes fa re
mos alguns comentarios.

Já publicamos comentarios de livros de Lauro Trevisan em PR 263/


1982, pp. 299-309 ("O Poder infinito de sua Mente") e 270/1983, pp.
423-432 ("Os Poderes de Jesús Cristo").

1. O CONTEÚDO DO LIVRO

L. Trevisan parte do principio de que "o homem é filho de Deus" e,


por isto, tem o poder de Deus.

Pata ativar esse poder de Deus que nele está, basta-I he mentalizar
as coisas que deseja: dinheiro, casa, automóvel, saúde, paz com todos,
bem-estar... Concentrando seu pensamento em tais objetos, o homem esta
ría "orando". Ora Jesús prometeu eficacia infalível á oracao. Donde con
cluí Lauro Trevisan que o homem tudo pode.

A mentalizacao assim entendida também é chamada "fé" (cf. p. 117).


Quem tem "fé" (= quem pensa naquilo que deseja, confiando na eficacia
desse ato), tudo consegue, mesmo que nao tenha religiao nenhuma (cf.
p. 117).

Tal poder sempre existiu nos homens. Jesús, porém, o revelou explí
citamente. Todavía acontece que a humanidade nao teve a coragem de
crer nisso. Em conseqüéncia, capitulou diante das dificuldades de cada día
(doencas, fome, pobreza...) e julgou dever suportar todas as desventuras
com resígnacao, configurando-se a Cristo Crucificado. Por isto viveram os
homens 2.000 anos na Era de Peixes. Acontece, porém, que de dois mil
em dois mil anos se muda o signo que rege a historia da humanidade na
Térra, conforme a astrologia; por isto em 2001 comecará a Era do Aquá-
rio, melhor que a dos Peixes; nessa Nova Era, Cristo reinará plenamente
pelo poder mental dos seus adeptos:

"Os caminhos da Nova Era conduzirao ao estágio mais elevado da hu


manidade.

O homem de Aquárius ultrapassa as crencas luciferianas e alcanca a


dimensSo divina do humano.

Peixes é o mundo das sombras - Aquárius é o mundo da luz.

489
JO "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Peixes é o mundo da ignorancia — Aquárius alcanza a sabedoria.

Peixes é a 'era demoniaca' - Aquárius é o mundo de Deus" (p. 192).

Na Nova Era os homens tomara o consciéncia do Poder infinito exis


tente em cada um e o utilizarao para construir um mundo feliz, em que
todas as desgracas serao debeladas pelas forcas do pensamento ou pela
"oracao".

"NSo admira a re/eicao ao Cristo, porque sua mensagem cometía o


milagre de dar um salto de dois mil a quatro mil anos.

Situado na Era de Peixes, falava para Aquárius.

Em Peixes viveu, falou e nao foi recebido.

Aquárius ouvirá, compreenderá e vivera.

Aquárius é o grande momento do Cristo" (p. 67).

Trevisan joga com o sentido de "Nova Era". Esta é entendida por ele
como pen'odo de bonanca, em que Jesús Cristo será plenamente reconhe-
cido e seguido. Acontece, porém, que "Nova Era", no sentido da filosofía
religiosa contemporánea, é um conjunto de idéias sincretistas, que p reten-
dem suplantar o Cristianismo e extingui-lo; cf. PR 354/1991, pp. 518-
526; 360/1992, pp. 235-240. Assim, na base da ambigüidade, L. Trevisan
dá impulso a urna corrente ideológica anticrista, ignorando (ou preten-
dendo ignorar) quanto tal corrente tem de avesso á mensagem bíblica.

Em suma, tal é o conteúdo do livro de L. Trevisan, que nao se cansa


de repetir as mesmas idéias. Passamos a citar os textos maís significativos
do seu pensamento:

"Tornando-o (o homem) fílho de deus... pelo conhecimento da ver-


dade, Jesús mostrou que o fílho de Deus tem o poder de Deus" (p. 94).

"Tudo o que subconsciente aceita como verdade, cumpre.

Nao há limites para o exercicio desse Poder, a nao ser aquele imposto
pela mente da própria pessoa.

O pensamento, portanto, é o veículo que aciona esse Poder.

Dai que a ciencia do Poder da Mente concluí que o pensamento é


urna real¡dade mental que se torna realidade física.

490
"JESÚS, PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA" ]±

Pensar é poder.

Pode quem pensa que pode.

Ao pensamento segue-se a reagao; á reagao segue-se a agio; á agio se-


gue-se a materializagao.

Assim como toda substancia busca a sua forma, como toda esséncia
exige a sua expressao, como toda causa contém seu efeito — da mesma ma-
neira todo pensamento contém a sua materializagio" (p. 28).

"Tudo o que alguém consegue pensar, criar e pedir, pode a/cancar.

O Poder nao se manifesta apenas se o pedido for razoável. De mais a


mais, pertence ao individuo pedir o que Ihe faz bem. Se Deus somente
atendesse o que é explícitamente bom e recusasse o que nao é bom, estaría
cerceando a liberdade que outorgou á criatura humana.

Com clareza meridiana Jesús ensinou que tudo que se pede se rece
be. E compfetou afirmando que qualquer pessoa que peca receberá, nao
importando se é pobre, ignorante, má, infeliz, deprimida, rústica, feia,
desagradável.

Se vocé comega a refletir fundo sobre essa revelacao do Cristo, ficará


espantado.

A ser verdade, ai está a redencao da humanidade.

Está passando fome? Pega alimento.

Está doente? Pega saúde.

Está triste? Pega alegría.

Está dormindo na rúa? Pega casa.

Está com medo? Peca protegió divina.

Quer casar? Pega casamento.

Precisa de um carro? Pega-o" (pp. 81s).

"A Palavra desencadena a Forga divina...

491
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Como deducao: Toda oracao feita com fé, pelo católico, protestante,
espirita, budista, umbandista, ou sem religiao — sempre produz o resul
tado...

Se/a o objeto da fé verdadeiro ou falso, ao gerar a fé, produzirá o re-,


sultado. É a leí criada por Deus que assim funciona" (p. 117).

"A ciencia do Poder da Mente, que é, em última análise, a grande


ciencia da Nova Era de Aquárius, está investindo fundo na verdade de que
a doenca nasce na mente e se expressa no corpo, e, conseqüentemente, a
saúde nasce na mente e se materializa no corpo" (p. 29).

Perguntamos agora:

2. QUE DIZER?

Tres observacSes, entre outras, podem ser feitas ao livro de L. Trevisan.

2.1. Nova Era

A fórmula "Nova Era" é ocasiao para que L. Trevisan repita idéias já


expressas em seus livros anteriores, que tém sabor panteísta e se colocam
na escola do norte-americano Joseph Murphy.

"Nova Era", na astrologia, supoe o anel do Zodíaco com suas doze


casas, situadas de 30 em 30 gratis na circunferencia de 360 graus. Cada
qual dessas casas é dotada de um símbolo: Cameiro, Touro, Gémeos, Ca-
ranguejo,... Peixes, Aquário ou Aguadeiro1 ... Cada um desses símbolos
corresponde a urna constelacao, com a qual o signo coincidía há cerca de
2000 anos. Em nossos dias já há urna defasagem entre os sinais do Zodíaco
e as constelacoes que outrora Ihes correspondían!. Ademáis o anel do Zo
díaco a cercar a Térra nao existe; supoe a Térra como centro ¡móvel de
planetas e astros que a cercariam — o que é totalmente erróneo.

Para explicar melhor em que consiste esse erro, notemos que os as


trólogos contemporáneos, ao estudarem os sinais do Zodíaco, supoem
que as conste lacees estejam hoje na mesma posipao em que se achavam há
mais de dois mil anos, quando foram estabelecidas pela primeira vez. Na-
quela época a passagem do Sol pelo ponto vernal (inicio da primavera no
hemisferio Norte) coincidía com a entrada do mesmo no signo da constela-

' Aquário ou Aguadeiro tem por símbolo um jovem portador de um cán


taro de agua, que ele vai derramando aos poucos.

492
"JESÚS, PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA" 13

cao do Carneiro. Mas, em virtude de fenómeno de precessao dos equino-


dos, o ponto vernal va¡ recuando sobre a eclíptica á razüo de 50", 26 por
ano, ou seja, 30 graus em 2.150 anos (exatamente urna casa do Zodíaco).1

Vé-se, pois, que a teoría das Eras do Zodíaco, que teriam cada qual a
duracao de 2.000 anos, é altamente fantasiosa; a nada corresponde na rea-
lidade do universo. Ademáis, segundo a habitual enumeracao das casas do
Zodíaco (encontrada ñas fontes da astrologia), o signo de Peixes estaría
depois de Aquário (Aguadeiro), e nao antes; Aguadeiro seria o 119 sinal,
e Peixes o 12? ou último da serie. Por isto o discurso que anuncia a transí-
cao de Peixes para Aquário e o próximo advento de urna Nova Era é vazio
e falso.

2.2. Poder da Mente e Oracao

L. Trevisan identifica poder da mente, oracao e fé, que, na verdade,


sao tres realidades distintas.

O poder da mente de que fala o autor, é algo de imaginoso. Se fosse


real, todo doente que o exercesse ficaria sadio, todo pobre ficaria rico,
quem quisesse um carro, conseguiría um carro. Ora isto nao se dá. - O que
pode ocorrer, é a autosugestao: urna pessoa otimista é predisposta á de-
sempenhar bem as suas atividades; enrrconseqüéncia, o seu otimismo é pe-
nhor de éxito em seus empreendimentos. A sugestao rompe os bloqueios
mentáis e pode facilitar resultados positivos em favor de quem a aceita.

L. Trevisan concebe o poder da mente em perspectiva monista-pan-


teísta; ele mesmo diz que "o individuo contém o universo e o universo é
uno com o individuo. Há perfeita interacao entre os seres humanos e o
universo. O homem é uno com a materia, com as plantas, com os animáis e

1 Para explicar o que se/a precessao, devemos explicar, antes do mais, o


que se/a a eclíptica.
Eclíptica é o grande círculo tragado na abobada celeste pelo aparente
movimento do Soi durante o ano, correspondente ao movimento da Térra
em torno do Sol.
Equinócio é a época do ano focorrente de seis em seis meses) em que
o Sol, no seu aparente movimento sobre a eclíptica, corta o quadro celes
te; nessa ocasiao (21 de margo e 21 de setembro), o dia e a noite tém a
mesma duracao. — Acontece, porém, que o movimento do equinócio vai
sofrendo um lento recuo de 50", 26 por ano; isto se chama "a precessao
dos equinócios", em conseqüéncia da qual o momento do equinócio vai
sendo lentamente antecipado.

493
J4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

com todos os seres existentes" (p. 29). Disto se segué que, ao acionar a sua
mente, a pessoa está acionando urna grande rede, de tal modo que o im
pulso produzido pela mente vai repercutir quase mecánicamente á distan
cia e fazer que fora da mente se concretize ou materialize aquilo que é
concebido mentalmente. - Tal suposicao, porém, é falsa; ninguém enri
quece pelo simples fato de pensar em dinheiro; ninguém se livra de urna
doenca pelo simples fato de pensar sempre em saúde.

Quanto á oracao, é preciso dizer que muito difere de poder da mente.


A oracao supoe Deus distinto do homem e do mundo, voltado, porém,
para o homem como um pai é voltado para seus filhos. Na oracao, o oran
te, que é sempre amado por Deus, pede ao Pai Celeste os bens de que ne-
cessita, sem ter outra garantía de atendimento a nao ser a benevolencia do
próprio Deus. Nada há de mágico ou de mecánico na oracáo; tudo se de
senrola num clima de confianca da criatura devotada ao Criador.

Por sua vez, fé nada tem que ver com forca ou energia mental ou físi
ca. É a adesao do homem a Deus que I he fala; tal adesao tem um cunho in
telectual (há urna profissao de artigos de fé ou de verdades de fé), mas
também urna nota de entrega total e confiante a Deus. Por isto existe di fe-
renga entre a fé do budista, a do umbandista, a do maometano e a do fiel
católico...; cada Credo religioso tem suas proposicoes próprias, que nao
podem ser reduzidas a sentimentos subjetivos; Deus Pai falou aos homens
por Jesús Cristo, de modo que a Palavra de Deus ná"o pode ser relativizada
nem equiparada a palavra de um mestre humano.

2.3. A Seducao do Maravilhoso

Se alguém perguntasse por que Lauro Trevisan faz tanto sucesso (seus
livros tém sai'do em numerosas edicoes), poderíamos responder que ele to
ca urna fibra muito sensível do ser humano: o desejo de maravilhoso ou de
solugoes rápidas, prontas, portentosas ou mesmo... mágicas. Os meios con-
vencionais de lutar na vida sao morosos, cansativos e, nao raro, pouco efi-
cazes. Por isto todo homem sonría com algo de diferente, que ele nao tem,
mas que gostaria de ter; e deixa-se levar fácilmente por quem atende a esse
gosto de maravilhoso-mágico, aínda que o maravilhoso seja fantástico ou
irracional aos o I nos de quem pensa um pouco. Desta maneira os adultos
tém um ponto comum com as enancas, que também sonham e se deleitam
com seus sonhos, por mais irreais que sejam; dir-se-ia que a enanca sobrevi
ve nos adultos, sem que estes tenham consciéncia de tal fenómeno.

Estas ponderacoes sao ilustradas por um observador perspicaz no seu


livro de título desafiador: "Me conta urna Mentira" (Ed. Santuario, Apa
recida, SP):

494
"JESÚS. PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA" 1£

"A i/ha de Creta fica meio perdida no Mar Mediterráneo. Mas foiali,
segundo os historiadores, que nasceu a civilizacao ocidental há 3.400 anos.
Apesar dessa gloria histórica, seus habitantes se sentem solitarios e ¿ mar-
gem do mundo. Quando chegam os turistas, os habitantes da ilhapraticam
o mais original dos assaltos. Arrancam dos visitantes nao o seu dinheiro e
as suas jóias, mas noticias e novidades que acontecem no outro lado do
mundo. Eles querem saber tudo, simplesmente tudo, e um pouco mais'.

Depois de horas de conversa, quando o turista imagina quejé esgotou


seu repertorio, os cretenses insistem: 'Conté mais urna historia de sua tér
ra. NEM QUE SEJA MENTIRA!'

Os turistas sonham com viagens e i/has. Quando lá chegam, deseo-


brem que os habitantes dessas ilhas sonham com os países de onde eles vie-
ram. Os^cretenses jé tém a sua i/ha e nao a desejam. Os turistas tém o seu
país e vivem viajando como se buscassem urna térra para morar.

Sonho é um desejo, e ninguém deseja o queja tem" (Rómulo Cándi


do de Souza, obra citada, pp. 9s).

O éxito de Trevisan parece ser do tipo das estórias que os turistas


contam aos cretenses e que os cretenses deviam contar aos turistas. Incons
cientemente todo ser humano gosta de ouvir belas narrativas, mesmo
quando nao distinguem bem entre verdade e mentira.1

Também o famoso historiador do pensamento religioso antigo e mo


derno, Mircea Eüade, se refere a tal fenómeno, quando afirma que o gosto
dos mitos nao é coisa de povos primitivos apenas. Também o homem con
temporáneo se compraz em mitos modernos, pois estes o ajudam a fugir
mentalmente da dura realidade de cada dia. Eis as observacSes de Eliade:

"Poder-se-ia escrever um livro inteiro sobre os mitos do homem mo


derno e sobre as mitologías camufladas nos espetáculos que ele prefere e
nos livros que ele lé. Aquela 'oficina de sonhos' que é o cinema, retoma e
emprega um grande número de motivos míticos: a luta entre o Herói e o

1 Com isto nao queremos dizer que somente o anseio de utopia mágica es
teja em favor de L. Trevisan. Podemos admitir que o poder de sugestao e a
capacidade de serenar o psiquismo humano contribuam para o relativo
bem-estar de varios de seus clientes. Mas eremos que estes pagam preco
muito caro para conseguir esses magros e inconsistentes beneficios, preco
que pode deixar conseqüéncias mais negativas do que positivas na mente
dos "pagantes".

495
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Monstro, os combates e as provas de iniciacao, as figuras e as imagens para


digmáticas (a 'Mocinha', o 'Herói', a paisagem paradisiaca, o 'inferno',
etc.). Também a leitura tem urna fungió mitológica, pois e/a vem a ser, pa
ra o homem moderno, urna 'fuga do Tempo', semelhante áquela realizada
mediante os mitos. Quer 'mate' o tempo com um romance policial, quer
penetre em um universo estranho, apresentado por um romance qualquer,
a leitura langa o homem moderno para fora da sua duragSo pessoal e o in-
seré em outros ritmos; e/a o faz viver urna outra 'historia' " (tradugao por
tuguesa do texto de "II Sacro e ¡I Profano", Torino 1967, p. 161).

Estas consideracoes sao parámetros muito lúcidos para explicar o


porqué da grande aceitacao das belas promessas feitas por L. T revi san. —
Em perspectiva crista, diremos que o fiel católico nao recusa o otimismo;
ao contrario, longe de ser tristonho ou masoquista, ele é sereno e confian
te; todavía ele o é como Cristo Iho ensinou, a saber: as provacoes que todo
ser humano experimentam na vida presente, sao penhor de crescimento in
terior e de mais íntima configurado ao Senhor Jesús, que transfigurou a
Cruz, tornando-a árvore da vida e penhor de gloria. É mais realista e efici
ente este modo de pensar do que a proposta mágica do monismo-pante
ísmo.

■k * *

ALTA FUNCIONARÍA BRITÁNICA SE CONVERTE AO


CATOLICISMO

A decisao, do Sínodo Anglicano da Inglaterra, de conferir o ministe


rio sacerdotal as muiheres provocou divisao entre os membros da Comu-
nhao Anglicana. Nao poucos tém passado ou tencionam passar para o Ca
tolicismo, julgando que a medida tomada distancia demais da Grande Tra-
dicao Crista o Anglicanismo.

É interessante notar que, entre esses anglicanos dissidentes, se encon-


tram também muiheres. Urna das mais famosas foi a Sra. Ann Widdecom-
be, de 46 anos de idade, Subsecretaría da Seguranca Social do Governo
Major. Foi recebida na Igreja Católica — o que suscitou longos comenta
rios dos meios de comunicacao social, que previram outros casos de mu
iheres dispostas a passar para o Catolicismo.

A Igreja Católica na Inglaterra vem-se preocupando com o fenóme


no. Importa-lhe definir a atitude a tomar frente aos varios pedidos de

(Continua na pág. 524)

496
Pastoral rígida:

'NEM BATIZADOS NEM CASAMIENTOS'

Em sintese: Urna Pastoral severa tende a negar os sacramentos do Ba-


tismo e do Matrimonio a católicos que, por um motivo ou outro, nao pra-
ticam a sua fé. Tende assim a criar urna Igre/a de poucos fiéis, tida como
auténtica.»— Tal tendencia é contraditada, de modo especial, pela Exorta-
cao Apostólica Familiaris Consortio do PapaJoao Paulo II, que, alias, nao
faz senao expor os principios que devem animar o bom pastor: nSo esma-
gar o canico rachado, nao extinguir o pavio aínda fumegante... (cf. Is 42,
3). Ao pastor muito importa considerar o que possa haver de bom e válido
nos fiéis que o procuram ocasionalmente e desenvoivé-lo com zelo e amor
pastoral.

De modo particular, no tocante ao Batismo de enancas cu/os pais nao


sao casados na Igre/a, note-se que o que importa á Pastoral, é qué tais
enancas — urna vez batizadas — possam um día receber a instrucao religiosa
correspondente: os próprios pais ou os padrinhos talvez o possam fazer
(nao poucas pessoas nao devidamente casadas guardam viva fé e sofrem
por estar afastadas dos sacramentos). Se os pais e padrinhos nao podem
ou nao querem assumir a responsabilidade da catequese das enancas, com
pete á comunidade paroquiai, dirigida pelo Vigário, instituir a Catequese
de tais enancas, para que estas nSo fiquem sem Batismo. A final, quando o
sacerdote batiza, é a Igre/a, como Mae, que está atuando; por conseguinte,
a comunidade paroquiai (a Igre/a local) deve assumir as conseqüéncias do
Batismo conferido na respectiva paróquia. A enanca nSo há de pagar por
eventuais erros de seus pais, punida pela recusa do Batismo.

* * *

Existe em varias dioceses do Brasil e do estrangeiro urna tendencia a


negar o sacramento do Batismo a enancas cujos pais nao sejam casados na
Igreja. Verifica-se também a tendencia a recusar o casamento sacramental
a noivos nao praticantes e as Missas de funerais ou de sétimo dia solicita
das por pessoas nao estritamente ligadas á Igreja.

Essas tendencias tém sido funestas para o Catolicismo. Muitas pessoas


se afastam da Igreja por se sentí re m brusca e injustamente repelidas. Por

497
.18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

certo, tal praxe demasiado rigorosa ou puritana nao condiz com a suprema
lei de toda acao pastoral, que é lucrar as almas ou "tornar-se tudo para to
dos, a fim de salvar alguns a todo custo" (1Cor 9,22).

Examinemos de per si os tres casos propostos.

1. O BATISMO DE CRIANZAS. ..

A revisao da praxe batismal da Igreja consiste em fazer que o rito do


Batismo nao seja mera cerimdnia de dez ou quinze minutos, sem continui-
"dade sensível na vida da crianca; o Batismo, ao contrario, há de ser um rito
de que a crianca se torna consciente pela adequada ¡nstrucao religiosa, tao
logo que chegue á idade da razáo. — O que importa, portante, á Pastoral,
é que haja catequese para a crianca que recebe o sacramento do Batismo.

Ora a catequese da crianca pode ocorrer nao sonriente nos casos de fa


milias católicas prat¡cantes, mas também ñas situacoes em que os pais nao
estao devidamente casados. Muitos desses genitores estao dispostos a trans
mitir as verdades da fé aos seus filhos, dando-Inés a necessária educacao re
ligiosa (sabemos que nao poucos guardam a fé viva e sofrem por estar ex
cluidos dos sacramentos). Se, porém, os genitores ná*o podem ou nao que-
rem dar catequese aos filhos, haja recurso a padrinhos que sejam bons ca
tólicos e assumam a formacao religiosa de seus afilhados1. Se nem padri
nhos tais se podem encontrar, é para desejar que a comunidade paroquial
se interesse pela educacSo religiosa das enancas que nao tém familiares
aptos a Ihes transmitir as verdades da fé; cada paróquia deveria estar
atenta a esse problema e instituir, entre as suas Pastorais, aquela que se
dedique especialmente a enancas de pais nao legítimamente casados, a fim
de que tais pequeninos nao fiquem privados do Batismo. Devemos lembrar
que a Igreja éMae;é Elaquem ministra o sacramento do Batismo; é Elaquem
educa na fé mediante os seus membros; por isto cada fiel católico deve
sentirse responsável, com a Santa Mae Igreja, pela regenerado batismal e
pela formacSo catequética de todas as enancas; por conseguinte, o proble
ma das enancas cujos pais nao sao legítimamente casados interpela nao so-
mente o clero, mas toda a comunidade paroquial e pede que esta, com o
pároco, se interesse para que nenhuma crianca fique sem o Batismo.

1 Para possibilitar aos pais e padrinhos o exercício de suas fungoes religio


sas junto as enancas, existem os Cursos de Preparacao dos mesmos para o
Batismo. Tais Cursos ás vezes se ressentem depouco conteúdo e significado.
Poderiam ser reforeados e revitalizados.

498
"NEM BATIZADOS NEM CASAMENTOS" 19

Com outras palavras: quando um casal leva seu filho ao Batismo e um


ministro de Deus confere o sacramento, é toda a Igreja que batiza. Por
conseguinte, toda a Igreja se compromete com essa crianca: os pais, em
primeiro lugar; a seguir, os padrinhos (que sao os vice-gerentes dos pais
para a formacáb religiosa dos afilhados);a comunidade paroquial com seu
pároco ou, aínda, os familiares e amigos da crianca batizada.

A crianca nao deve pagar pelo tipo de vida dos genitores, nem ser pu
nida por causa disto.

Tal sentenca é fundamentada na palavra do S. Padre Joao Paulo II,


que na sua Exortacao Apostólica Familiaris Consortio considera o caso de
pessoas unidas sem o sacramento do matrimonio, dizendo entao:

"(Os divorciados que contrairam novas nupcias) se/'am exortados a


ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o Sacrificio da Missa, a perseverar na
oracao, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade
em favor da justica, a educar os filhos na fé crista, e cultivar o espirito e as
obras de penitencia para assim impiorarem, día a dia, a grapa de Deus"
(n? 83).

Obsérvese que o texto recomenda a educacao dos filhos na fé crista


(grifo nosso). Ora isto supoe que tais-enancas sejam batizadas. É necessá-
rio, pois, que os pastores se interessem por ajudar os casáis ilegítimos a
cumprir a exortacao do S. Padre. — Assim se poderá conservar a chama da
fé e do amor cristaos em tais pessoas; muitas destas, abatidas pela situacao
irregular em que vivem, desejam ardentemente urna palavra de estímulo e
reconforto da parte da Igreja. — Na sua fragilidade, muitos desses casáis, se
abandonados ou menosprezados pelas paróquias católicas, vao procurar
ajuda espiritual numa confissao religiosa nao católica. Cíente disto, o bom
pastor se empenha por salvar e fomentar tudo o que possa haver de bom e
válido em fiéis espiritualmente debilitados, a exemplo do Bom Pastor do
Evangelho; cf. Jo 10,1-18.

2. O CASAMENTO DE CATÓLICOS FRACOS NA FÉ

Outro problema de Pastoral contemporánea é o dos católicos que pe-


dem o sacramento do Matrimonio, mas sao indiferentes a fé ou tém fé lán
guida.

O Sínodo dos Bispos em 1980 e o S. Padre Joao Paulo II, na sua


Exortacao Apostólica Familiaris Consortio (22/11/1981), se preocuparam

499
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

com o assunto. Do estudo da questao resultou o inciso n? 68 de tal Exor-


tacao, cujos tópicos principáis vao abaixo reproduzidos.

Adverte primeiramente o S. Padre que "a fé de quem pede casar-se


na Igreja pode existir em graus diversos e é dever primario dos pastores fa-
zé-la descobrir de novo, nutri-la e torná-la madura". Se o sacerdote ou seu
representante encontra boa vontade e receptividade por parte dos noivos
que se dizem indiferentes ou, ainda, se verifica que os noivos se dispdem a
fazer o que a Igreja eré e ensina a respeito do matrimonio, nao deve rejeitar
o seu pedido de casamento religioso; ao contrario, admita-os ao matrimo
nio sacramental. Importa que tais noivos sejam animados por intencao reta
e sincera, sem a qual, como se compreende, nao se poderiam casar na Igre
ja. Eis as palavras do próprio S. Padre, que leva em conta a possibilidade
de que motivos sociais influam no desejo dos noivos:

"É verdade, contudo, que, em alguns territorios, motivos de caráter


mais social que auténticamente religioso, induzem os noivos a casar-se na
igreja. Nao admira. O matrimonio, na verdade, nao é um acontecimento
que diz respeito só a quem se casa. Por sua própria natureza é também um
fato social, que compromete os esposos ante a sociedade. Desde sempre a
sua celebracao se faz com festa, que une as familias e os amigos, é normal,
portanto, que entrem motivos sociais, juntamente com ospessoais, nape-
ticao do casamento na igreja.

Todavía, nao se deve esquecer que estes noivos, pela forca do seu ba-
tismo, estao já realmente inseridos na Al¡anca nupcial de Cristo com a
Igreja e que, pela sua reta intencao, acolheram o projeto de Deus sobre o
matrimonio, e, portanto, ao menos implícitamente, querem aquilo que a
Igreja faz quando celebra o matrimonio. Portanto, o mero fato de neste
pedido entrarem motivos de caráter social, nao justifica urna eventual re
cusa da celebracao do matrimonio pelos pastores. De resto, como ensinou
o Concilio Vaticano II, os sacramentos com as palavras e os elementos ri-
tuais nutrem e robustecen) a fé:1** aquela fépara a qual os noivos já estSo
encaminhados pela forca da retidao da sua intencao, que a grapa de Cristo
nao deixa certamente de favorecer e de sustentar".

Afastar-se de tal norma pode acarretar injustipa por parte dos pasto
res de almas:

"Querer estabelecer criterios ulteriores de admissao á celebracao ecle-


sial do matrimonio, que deveriam considerar o grau de fé dos nubentes.

168 Cf. Constítuicao Sacrosanctum Concilium n? 59.

500
"NEM BATIZADOS NEM CASAMENTOS"

compreende. além do mais, riscos graves. Antes de tudo, o de pronunciar


jufzos infundados e discriminatorios; depois, o risco de levantar dúvidas
sobre a validade de matrimonios ¡á celebrados, com daño grave para as
comunidades Cristis, e de novas inquietacoes injustificadas para a cons-
ciencia dos esposos; cair-se-ia no perigo de contestar ou de por em dúvida
a sacramentalidade de muitos matrimonios de irmaos separados da comu-
nhao plena com a Igreja Católica, contradizendo assim a tradicao eclesial"
(n? 68).

É claro que, se os nubentes recusam de modo explícito e formal a


doutrina da Igreja sobre o matrimonio, nao devem ser admitidos ao casa
mento religioso:

"Quando, nao obstante todas as tentativas feitas, os nubentes mos-


tram recusar de modo explícito e formal o que a Igreja quer fazer ao cele
brar o matrimonio dos batizados, o pastor nSo os pode admitir á celebra-
gao. Mesmo se constrangido, ele tem o dever de avaliar a situacao e fazer
compreender aos interessados que, estando assim as coisas, nSo é a Igreja,
mas eles mesmos que impedem a celebracSo que, nao obstante, pedem.

Mais urna vez se manifesté com toda a urgencia a necessidade de


evangelizacao e catequese pré e pós-matrimoniais, feitas por toda a comu-
nidade cristS, para que cada homem e'cada muiher que se casam, o possam
fazer de modo a celebrar o sacramento do matrimonio nao só válida, mas
também frutuosamente" (n? 68).

Como se vé, o S. Padre preconiza um tipo de Pastoral que procura


nao esmagar o can¡90 rachado nem apagar o pavio ainda fumegante
(cf. Is 42,3). Em vez de afasiar os cristaos fráeos na fé, é misterque o sa
cerdote os ajude a descobrir a alegría da fé e da auténtica vida cristS; ca-
sem-se na Igreja desde que oferecam o mínimo dé condicoes exigidas, em
vez de se unirem em concubinato (o matrimonio civil nao substituí o sa
cramento).

3. MISSAS DE 7? DÍA E DE CASAMENTO...

Há tambórn quem ponha em dúvida a conveniencia de se celebrar a S.


Missa por pessoas falecidas quando tais celebracoes sao solicitadas por fa
miliares ou amigos nao estritamente ligados á Igreja.

A propósito transcrevemos, a seguir, em tradupao portuguesa, um ar


tigo de Marie-Madeleine Martinie, publicado no jornal L'Homme Nouveau
de 18/07/93, p. 5. Redigido em estilo simples, vai ao ámago da questao.

501
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

"Nao haverá mais Missa de Casamento nem Missa de Funerais

Certa vez havia um Bispo que nao quería que a Eucaristía em sua dio-
cese se tornasse propriedade de grupos particulares. Por isto proibiu a to
dos os sacerdotes a celebracSo de Missas de casamento e Missas de funerais.
A proibicao era tao rigorosa que sacerdotes vindos de fora para oficiar ca
samentas nao mais puderam celebrar a S. Missa por sua irmaou seu sobri-
nho que se casava.

Com todo o respeito que se deve a um Bispo (especialmente a um


Bispo cu/o Boletim Diocesano publica belas frases sobre a Missa), é lícito
dizer: "Senhor Bispo, V. Excia. nao estaría desconhecendo um aspecto da
vida dos fiéis... pouco fiéis? Esses crístaos batizados, muitas vezes mal ins
truidos, nao sabem exatamente em que créem e se sentem muito longe da
Moral Crista tal como a apresentam os meios de comunicacao social...
Esses crístaos, numerosos como sao, fazem parte do rebanho, mas rara
mente entram no aprisco. Quero dizer que eles nao freqüentam as igrejas,
e quase nada sabem a respeito da Eucaristía,... Eucaristía que, como bem
diz V. Ex.cia, é "a presenca viva e atuante do Cristo Jesús na sua Igreja".
A Liturgia Eucaristica, acrescenta V. Ex.cia, "nao pertence nem ao sacer
dote nem á paróquia nem á comunídade".

Esses católicos batizados nao prat¡cantes, na maioria dos casos, guar-


dam aínda um só vínculo com a Igreja. E esse vínculo é a sua presenca nos
enterros e nos casamentas. A/guns, bem o sabemos, comparecerá entao
por motivo de conveniencias sociais ("é preciso que nos ve/am no enterro
de tal pessoa importante... ou no casamento da filha de tal homem de
prestigio"). Mas outros, muitas mais numerosos, comparecem por amiza-
de. Por conseguinte, ... com o coracao aberto mais do que de costume,
pois compartílham urna alegría e urna dor.

Nesses días nao estao eles mais perto de nos do que em outros dias? E
nao é essa a ocasiao de Ihes dar a ouvir a Palavra de Deus,... tornando-a
acessivel medíante um bom comentario? Nao é também a ocasiao de Ihes
mostrar urna comunidade viva?

Quando o celebrante se esforca para bem preparar toda a cerimónia,


quantas vezes acontece que pessoas nio prat¡can tes pedem o texto da ho
milía ou da Oracao dos Fiéis? Isto aconteceu por ocasiao das Missas de Fu
nerais de dois homens que eu bem conhecia. Um tinha numerosos amigos
no mundo do esporte — muito indiferente é fé. O outro freqüentava assi-
duamente, por razdes profissíonais, ambientes nSo indiferentes, mas hostis
é Igreja.

Ambos eram muito estimados. Por isto as igrejas paroquiais das res
pectivas familias tornaram-se pequeñas para conter seus amigos, que em

502
"NEM BATIZADOS NEM CASAMIENTOS" 23

tais dias ouviram falar sobre a vida e a morte com palavras das quais tai-
vez tenham guardado recordacSo.

Poder-se-ia ter comentado, diante desses incrédulos, cada rito impor


tante da celebracao, pondo em re/evo o seu significado. — E o que se veri
fica ñas Missas de defunto, verificase também nos casamentos religiosos.

Por ocasiao de nupcias, mais aínda que na ocorréncia de hiñerais, é


bemum "grupo particular" que enche a igreja e de certo modo "se apro-
pria" do sacerdote e da Eucaristía. Mas o fato de ornamentaren) a igreja,
escolherem as músicas e até as leituras, convidarem seus amigos... signifi
ca que, no dia do casamento, a assembléia está separada da grande comu
nidade dos fiéis?

Os pequeños riachos fazem os grandes ríos, como é notorio. Será que


as pequeñas comunidades nao constituem também a grande comunidade
eclesial, contanto que nao se fechem sobre si mesmas, mas sintam e quei-
ram estar unidas a toda a Igreja? Duas familias, dois grupos de amigos que
se regozijam juntos em torno de urna cerimdnia seria, constitutiva de algo
importante, nao merecem ser oferecidos juntamente com o pao e o vinho
do sacrificio, sempre que isto seja possivel?

Os fiéis que pensam assim, nao reivindicam aMissacomoumdireito.


Colocando-a no centro da sua cerimónia de casamento, querem solenizar
seu compromisso, pois eles sabem, com V. Ex.cia, que a Missa "é o sacra
mento do amor, é o misterio da fé, é o pao da estrada, é o Cristo Jesús,
o Homem-Deus em nos e na sua Igreja". E a eles parece normal professar
a sua fé diante dos amigos trajados com as suas melhores vestes, alegres,
comovidos também^.. amigos que talvez perguntarao a si mesmos: "E se
tudo isso fosse verdade?"

Comentando... As considerares de Marie-MadeleineMartinienosin-


teressam, porque mais uma vez mostram que a verdadeira Pastoral é aque-
la que sabe aproveitar tudo o que haja de bom e válido ñas pessoas física
mente distanciadas, a fim de Ihes ir ao encontró e atingí-las onde e como
possam ser atingidas. A auténtica Pastoral nao se limita a cuidar das ove-
¡has sadias e fortes, mas devota especial atencao ás fracas e titubeantes, a
exemplo do Senhor Jesús, que disse: "Nao sao os que tém saúde que pre
cisa m de médico, mas os doentes. Eu nSo vim chamar justos, mas pecado
res" (Me 2,17; cf. Le 5, 31s).

Certas celebracoes religiosas que assumem índole "social", nSo nao


de ser canceladas sem mais. Ao contrario, preservada a sua índole religiosa
e mantido o devido respeito, sao ocasiao altamente oportuna para que as
pessoas afastadas nao percam todo contato com a Igreja e consigam ouvir
e ver palavras e gestos aptos a Ihes despertar o interesse religioso.

503
Caso delicado:

OS ANTICONCEPCIONAIS
E A AMEAQA DE ESTUPRO

Em síntese: O Pe. Giacomo Perico S.J., famoso teólogo moralista, fa-


zendo eco a outros moralistas da década de 1960, julga que as muiheres
arriesgadas de estupro, como ocorre na Bosnia, tém o direito de se defen
der do injusto agressor mediante o uso de anticoncepcionais. — O funda
mento desta sentenca é o seguinte: existe urna diferenca radical entre a có
pula sexual empreendida espontáneamente e por amor, e a cópula sexual
pressionada violentamente.

No primeiro caso, está emjogo, antes do mais, o respeito é sexualida-


de humana, que por si é unitiva e fecunda; daíser ilícito o recurso a anti
concepcionais. No segundo caso, está em jogo, antes do mais, a dignidade
e a liberdade da muiher; ora isto permite á muiher o uso da legítima de-
fesa; se a vítima nao pode impedir o contato físico do agressor, é-lhe lí
cito procurar impedir (por recurso previo ou por meios anticoncepcionais,
nao pelo aborto) as conseqüéncias do estupro.

Tal sentenca, publicada em recente artigo da revista La Civiltá Cat-


tolica, se reveste de certa autoridade, visto o caráter oficioso desse periódi
co. Todavía nao seria correto deduzir dessa sentenca a conclusao de que a
pilula se tornou moralmente lícita; muito menos Valeria dizer que o abor
to ¡á é moralmente permitido. — A posicSo dos moralistas em foco tem em
vista únicamente o caso de muiheres seriamente ameacadas de estupro e
desejosas de recorrerá legítima defesa.

* * *

É notoria a violencia cometida contra populacoes da ex-lugoslávia;


especialmente na Bósnia-Erzegovínia as muiheres musulmanas tém sido
submetidas ao estupro, que as humilha e onera pesadamente. — Para evitar
maiores danos, alguns autores católicos tém escrito em favor da legitimi-
dade dos recursos anticoncepcionais, que tais muiheres poderiam utilizar,
a fim de se ver livres do perigo de gravidez indesejada. Tal sentenca publi
cada na revista La Civiltá Cattolica, n? 3433, de 3/7/1993, pp. 37-46, em
artigo do Pe. Giacomo Perico S.J., tem agitado a opiniao pública, de mais

504
ANTICONCEPCIONAIS E AMEAQA DE ESTUPRO 25

a mais que tal revista costuma exprimir oficiosamente o pensamento da


Santa Sé.

Passamos a estudar o tema, analisando a argumentado do Pe. Perico


S.J.; caso o leitor nao possa ler este artigo por inteiro, passe diretamente
aos subtítulos n? 3 e 4.

1. OS DRAMÁTICOS ACONTECIMIENTOS DA BOSNIA

As noticias das sin¡stras ocurrencias da Bosnia tém sido divulgadas


por varios cañáis. Muito siginif¡cativos, porexemplo, sao os relatónos ofi
ciáis redigidos pela ComissSo de Inquérito presidida pelo ex-Primeiro Mi
nistro da Polonia Tadeusz Mazowiecki, designado pela Comissao de Direi-
tos Humanos da ONU. Em 13 de fevereiro de 1993 o relatório apresenta-
do a Genebra dizia sintéticamente:

"Tém sido cometidos estupros pelos beligerantes de qualquer parte,


embora a maioria se/a praticada por soldados servios sobre mulheres mu
sulmanas, multas vezes de menor idade. Nenhuma autoridade militar ou
política moveu um dedo para conter tais crimes cometidos freqüentemen-
te, até mesmo em muitos campos de concentracao. Na Bósnia-Erzegovínia
e na Croacia o estupro é utilizado como meio de limpeza étnica. Nao raro
é praticado diante de toda urna aldeia para terrificar a populacao e provo
car a fuga de inteiros grupos étnicos" (Violazioni dei diritti umani nella ex-
lugoslavia. II rapporto Mazowiecki, em Aggiornamenti Sociali 44-1993,
p. 329).

A propósito pronunciou-se o Papa Joao Paulo II. Com o objetivo de


solicitar urna ¡ntervencao da comunidade internacional, enviou ao Sr.
Boutros Boutros-Ghali, Secretario Geral da ONU, urna mensagem datada
de 19/3/1993, em que sintetiza as atrocidades dizendo: "A morte, a tortu
ra, o estupro e a expulsao sao as múltiplas faces do odio" (L'Osservatore
Romano, 13/3/1993, p. 1).

Os Movimentos Feministas do mundo inteiro manifestaram seu repu


dio aos abusos cometidos contra as mulheres bosnias. O Centro Italiano
Feminista escreveu ao Sr. Boutros-Ghali e ao Sr. Thadeusz Mazowiecki
urna peticao, em que se lé:

"Em nome da purificacao étnica, milhares de senhoras, mocas e até


meninas sio vítimas de estupro em massa, que continuam a se realizarnos
campos da violencia, apesar das explícitas denuncias da Amnesty Interna-
tional. Na ex-lugoslávia a violencia sexual foi fríamente planejada em es-

505
26 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

criterio como arma de guerra, e imposta, como obrigacao, ás tropas, com


o objetivo declarado de fazer que as mulheres déem á luz 'pequeños ini-
migos'. Tratase de um artificio tremendo, comparável a certas práticas do
nacional-socialismo. É violencia diante da qual nSo é possivel calar" (M.
Bonate, R¡mango lá, em II Nostro Tempo, 14/3/1993, p. 7).

Era de prever que as mulheres assim violentadas procurassem defen-


der-se da agressao e de suas conseqüéncias. Por isto tém recorrido a meios
anticoncepcionais e ao aborto — o que vem suscitando debates e julgamen-
tos diversos da parte de pensadores e da opiniao pública.

Vejamos como, a luz da Moral católica, há*o de ser avaliados tais pro
cedí mentos.

2. 0 ABORTAMENTO

O abortamento é sempre o exterminio de urna vida inocente, que


existe desde o momento em que se dá a fecundapao do óvulo pelo esper
matozoide. Só se pode admitir o homicidio em caso de legítima defesa ou
quando alguém é injustamente agredido e nao tem outro meio de escapar
da morte ¡mínente se nao extermina o agressor. Ora o feto na*o é injusto
agressor; por isto conserva o seu direito á vida, mesmo que esta incomode
a gestante; o fato de resultar de estupro nSo legitima a violencia do abor
tamento.

Por isto o S. Padre, ao mesmo tempo que tem condenado a conduta


dos estupradores, vem apelando para as familias dos fiéis cristaosafim de
que ajudem as vítimas (má*es e filhos) da violencia; facam o possfvel para
salvar a vida de urnas e outros; déem especial acolhida ás gestantes e aos
recém-nascidos. Eis as palavras que o S. Padre dirigiu a Mons. Vinko Pau-
jic, Arcebispo de Sarajevo, aos 2/3/1993, solicitando-lhe que motive a co-
munidade católica em favor das vítimas:

"É dever dos Pastores programar oportunas iniciativas, aptas a esti


mular as familias e promover gestos de reconciliacSo, generosidade e amor
cristao. De modo especial, é necessário que os Pastores e todos os fiéis res-
ponsáveis pela Pastoral familiar se encarreguem urgentemente de atender
ás esposas e aos jovens que sofreram violencia inspirada por odio racial
ou brutal libidinagem. Essas criaturas, vítimas de tao grave ofensa, devem
poder encontrar na comunidade o sustentáculo da compreensao e da solida-
ríedade. Em circunstancias tao dolorosas, será necessário ajudar as mulhe
res a distinguir os atos de violencia, infligidos por homens desgarrados da

506
ANTICONCEPCIONAL E AMEACA PE ESTUPRO 27

razio e da consciéncia, e a realidade de novos seres humanos que através de


muitos males chegaram á vida...

Fique absolutamente claro que o nascituro, nao tendo responsabilida-


de das desgrapas ocorridas, é inocente e nio pode, em hipótese alguma, ser
considerado como agressor.

Estou certo de que também as outras comunidades eclesiais, nao só


da Europa, mas de todas as partes do mundo, saberao encontrar meios
adequados para prestar a/'uda ás pessoas e ás familias colocadas em condi-
coesde tanta gravidade material, psicológica e espiritual. A tais iniciativas
benéficas exprimo o meu estímulo mais cordial, lembrando as palavras de
Cristo: 'Quem acolhe um destes pequeninos em meu nome, a mim acó-
lhe'(Mc9,37)".

3. OS ANTICONCEPCIONAL

O recurso a anticoncepcionais na guerra da Bosnia foi considerado


pela Moral católica, antes do mais, quando algumas Religiosas sofreram o
estupro. A problemática, porém, é a mesma para qualquer mulher —
consagrada ou nao por votos religiosos — que se veja em perigo de violen-
tacao e eventual engravidamento.

Para avaliar a moralidade de tal procedimento, o Pe. Perico assim re


flete:

1) Distingamos entre a cópula sexual praticada por amor e a cópula


que ocorre sob pressao e violencia. No primeiro caso, há livre escolhado
homem e da mulher para realizarem um ato que, por sua índole mesma,
é aberto á procriacSo. Ora os anticoncepcionais interferem no dorn recí
proco de amor e no processo de reproducao, impedindo a fusao das célu
las germináis; tal mecanismo é moraímente desordenado ou ilícito, como
observava Paulo VI na encíclica Humanae Vitae (25/7/1968), que o
Catecismo da Igreja Católica reproduz em seus §§ 2366-2379. Tenhamos
em vista o trecho de Humanae Vitae n? 14, citado no § 2370 do Cate
cismo:

É mora/mente ilícito "todo ato que, se/a em previsao da cópula con


jugal, se/a no decorrer da mesma, se/a no desdobramento de suas conse-
qüéncias naturais, tem como objetivo ou como meló tornar impossível
a procriacSo".

Está claro, porém, que, quando a própria natureza humana é estéril


por motivos de seu ritmo biológico, nao há obstáculo a realizacao da có-

507
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

pula conjugal, poisem tal caso anaoconcepcaonaodecorre dealgumarti


ficio ou de intervencao dos interessados no processo mesmo da natureza.

2) Bem diferente é o caso de urna mulher que, na previsao de estupro


ou de urna cópula violenta, se defende de antemao, tomando um anticon
cepcional. Tal cópula ná*o é um ato de amor, que por sua própria índole
deva estar aberto á vida, mas é urna agressao á liberdade e á dignidade da
muIher.e, contra essa agressao, diz o Pe. Perico, a vi'tima tem o direito de
legítima defesa. Se ela nao pode impedir o agressor de a tocar fisicamente,
ela ao menos tem o direito de evitar as conseqüéncias maldosas dessa vio-
lacao física; entre tais conseqüéncias está a gravidez inoportuna, que só
pode ser evitada mediante o recurso a um anticoncepcional. Tal recurso
nao é a recusa de um dom do amor, mas pertence ao ámbito da legítima
defesa a que tem direito toda pessoa injustamente agredida; á mulher do
minada fisicamente pelo homem nao é dado escolher a abstinencia sexual;
a cópula Ihe é imposta de maneira brutal e humilhante. Ora, reduzida a es
sa incapacidade, a mulher conserva o direito de impedir, ao menos, as
seqüelas da violentacao, ou seja, a procriacao.

Com outras palavras: o criterio para avaliar o estupro nao é tanto o


sexto mandamento ou o nono mandamento do Decálogo, mas, sim, o
quinto mandamento1, .. quinto mandamento, na medida em que o estu
pro fere gravemente a liberdade e destrói a integrídade fi'sica e moral da
mulher.

3) 0 Pe. Giacomo Perico, autor de tais consideracoes, nota ainda que


as mesmas e a respectiva conclusao já haviam sido propostas por tres mora
listas famosos da década de 1960, que encararam o caso de Religiosas
ameacadas de estupro no ex-Congo Belga: o Pe. Francisco Hürth, profes-
sor da Universidade Gregoriana de Roma; Mons. Ferdinando Lambruschi-
ni, professor de Teologia Moral da Pontificia Universidade do Latrao em
Roma, e Mons. Pietro Palazzini, entao Secretario da CongregacSo do Con
cilio em Roma e atualmente Cardeal da S. Igreja. Como referencial, o Pe.
Perico cita o artigo de P. Palazzini, Fr. Hürth e F. Lambruschini: Come ne-
garsi alia violenza? em Studi Cattolici, novembro-dezembro de 1961,
pp. 62-72; a esse artigo a Santa Sé nunca opós urna réplica ou urna conde-
nacao.

Devemos mencionar ainda a revista 30 Dias, ano VIII, n? 7 (julho de


1993), pp. 12-19, que publica importante panorama de opinioesde teólo-

1 Sexto mandamento: "Nao pecar contra a castidade".


Nono mandamento: "Nao dese/ar a mulher do próximo".
Quinto mandamento: "NSo matar".

508
ANTICONCEPCIONAIS E AMEAgA DE ESTUPRO 29

gos sobre o assunto, tendentes, em sua maioria, a reconhecer a sentenca do


Pe. Perico.

Urna vez exposta a tese dos referidos autores, perguntamos:

4. QUE DIZER?

A propósito podem-se desenvolver quatro ponderacoes:

1) Trata-se de uma sentenca de bons teólogos, que estudam urna


situacao especial, nao diretamente considerada pela encíclica Humanae
Vitae. — Tais autores partem do principio de que a cópula por amor ou
livremente aceita e desejada e a cópula imposta por estupro sao duas reali
dades contrarias, como sao contrarias entre si o amor conjugal e o odio á
liberdade e a opressao. Por conseguinte, nao tém vigencia no caso de estu
pro as normas moráis que devem reger a cópula por amor. No primeiro ca
so, o que está em jogo primeiramente é o respeito á natureza da sexual i-
dade humana, que por si é unitiva e fecunda; no segundo caso, o que está
em foco, antes do mais, é a dignidade da mulher, sua liberdade e seu direi-
to á legítima defesa quando injustamente agredida.

A diferenca de situacoes é inegável. Seria fundamento para conduta


diversa da indicada pela Humanae Vitae, conforme os teólogos atrás cita
dos.

2) A argumentacao do Pe. Perico e de seus antecessores parece per


suasiva, de mais a mais que a revista La Civiltá Cattolica goza de certo tí
tulo de oficiosidade, exprimindo a linha de pensamento da Santa Sé. Ror
enquanto, nao houve pronunciamento oficial a respeito. Os teólogos discu-
tem entre si, havendo quem duvide da validade da sentenca do Pe. Perico;
é o caso, por exemplo, de Philippe Goffinet, professor emérito de Teolo
gía Moral em Namur (Bélgica), que observa:

"Quanto ao artigo de Perico, eu teña uma pergunta a fazerao autor:


se a Humanae Vitae diz que o uso de anticoncepcionais é intrínsecamente
desonesto, nenhuma circunstancia pode mudar a decisao. Nao é possi'vel
considerar excecdes. NSo podemos aplicar o principio do mal menor nes-
se caso, inclusive porque ele é expresamente rejeitado pela Humanae Vi
tae. Fazendo assim, deixamos a porta abena para a ava/iacao das circuns
tancias" (citado em 30 Dias, julho/agosto 93, p. 14s).

A mesma revista 30 Dias transcreve outrossim o testemunho de um


professor de Universidade Pontificia que exerce funcoes num organismo
da Santa Sé e que deseja ficar no anonimato:

509
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

"Nao existe caso-limite, quando um principio é universal. Isto vale


também para o principio da legítima defesa, quando o meio usado deve
ser proporcional ao bem que deve defender. Posso usar legitimamente urna
bomba atómica para defender-me de um assaltante? Se o anticoncepcional
enquanto tal, nao usado para fins terapéuticos, é intrínsecamente mau, é
sempre mau. NSo devemos transformar isso num discurso sentimental. Se
afrouxamos a nossa posicSo, as conseqüéncias serio imprevisiveis" (arti
go citado, p. 15).

O Pe. Inácio Carrasco de Paula, Reitor da Universidade Romana da


Santa Cruz, adverte para certa modalidade das pfluías anticoncepcionais,
que nem sempre é considerada:

"Devemos levar em conta um problema que surgiu depois da publi-


cacao daquele artigo de Studi Cattolici 1961: a composicao química das
pílulas de hoje é diferente, e muitas délas nao sao só anticoncepcionais,
mas também abortivas. Impedem a vida do óvulo já fecundado. Obviamen
te, o uso dessas pílulas nSo pode ser legitimado nem no caso-limite em
questao" (ibd., p. 15).

Vé-se assim como a questao é debatida.

3) Como quer que seja, de tal debate nao sería lícito deduzir que o
uso de anticoncepcionais já foi reconhecido de modo geral pela Moral
católica ou esteja para ser liberado para casos que nao sejam de legítima
defesa. Continua incólume a afirmacao da encíclica Humanae Vitae se
gundo a qual a sexualidade humana deve ser respeitada em sua índole na
tural, que é unitiva e procriativa; por isto quem espontáneamente pratica
o ato sexual, é incitado, em consciéncia, a evitar artificios que derroguem
á natureza. Nao seria válido, portanto, conjeturar que a doutrína da Hu
manae Vitae venha a ser reformada; tal doutrína ná*o exprime urna lei po
sitiva da Igreja, mas a lei natural ou a lei do Criador, que é inviolável; nes-
te 25? aniversario da encíclica há quem preconize a revi sao do texto em
favor de maior abertura á contenpao artificial da natalidade; tal posicao
tem sido descartada pelo Papa Joao Paulo II.

Muito menos se poderia depreender que o aborto foi legitimado


pela Igreja. O aborto é a supressao de urna vida já existente e dotada do
direito de existir; ao contrarío, no caso do estupro, trata-se de evitar o sur
to de urna vida que resulta da violacao dos direitos da mulher.

4) Quanto á enanca que nasca em conseqüéncia de estupro, merece


atenpgo e carinho. Se a própria mofe nao Ihe pode dispensar os cuidados
devidos, toca á sociedade, especialmente aos fiéis católicos, interessar-se

510
ANTICONCEPCIONAIS E AMEAQA DE ESTUPRO

pela sobrevivencia e a educapao dessa crianza. O momento presente colo


ca as pessoas de bem diante de situacoes inéditas e desafiadoras, ás quais
é preciso saber responder com novas expressoes de solidariedade e amor
ou com desempenho de caridade heroica. Escreve o S. Padre ao Arcebispo
de Sarajevo na carta atrás citada:

"Como imagens de Deus, essas novas criaturas deverao ser respeitadas


e amadas nao diversamente de qualquer outro membro da familia hu
mana".

* * *

APÉNDICE

0 assunto em foco é tao passional que a imprensa o tém deturpado,


informando falsamente o público ledor (coisa que nao ocorre raramente
em se tratando de assuntos religiosos). Eis um espécimen extraído de um
dos nossos periódicos:

"FREIRÁS AMEACADAS DE ESTUPRO USARÁO


ANTICONCEPCIONAIS

Cidade do Vaticano (DN) - Os teólogos da Igreja Católica conheci-


dos como "linha dura" informaram ontem que as mulheres, religiosas ou
nao, ameagadas de estupro podem tomar pi'lula ou usar outro anticoncep
cional, apesarde seuuso ter sido proibido pelos últimos papas. Referíndo-
se aos estupros sofridos pelas mulheres na Bósnia-Herzegovínia, em parti
cular as freirás, o padre Giacomo Perico afirmou, em entrevista á revista
dos jesuítas italianos "Civiltá Cattolica", que, nesses casos, existem razoes
de "legítima defesa".

O teólogo destaca que, "na terrível circunstancia de um estupro, urna


mulher pode sentir sua consciéncia moral tao abalada a ponto de ver no
fruto da concepcSo somente o resultado de um ato ultra/ante e desumano
contra sua integridade e contra seu povo, o que acaba levando-a a decidir
pelo aborto". "O Papa condenou varias vezes as vio/acoes, sem condenar,
entretanto, as mulheres que decidiram optar pelo aborto", disse o jesuí-

A propósito deste texto observamos:

1) No caso ná"o se trata de "teólogos da linha dura", mas, ao contra


rio, dos que mais compreensivos querem ser;

511
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

2) ". . . apesar de seu uso ter sido proibido pelos últimos papas". —
Os Papas tém rejeitado os anticoncepcionais nas relacSes espontáneas, em
que o amor realiza um ato auténticamente humano,... ato cuja índole na
tural é unitiva e procriadora. Os Papas nunca consideraran!, em seus docu
mentos oficiáis, o recurso a anticoncepcionais por parte de mulheres amea-
cadas de estupro.

3) "O papa condenou as violacoes, sem condenar as mulheres que de


cid i ram optar pelo aborto". - Os Papas tém condenado o aborto em toda
e qualquer situacao, equiparando-o ao homici'dio, crime condenado pela
lei natural: "Nao matarás".

* * *

A vida Silencio» de Marthe Robin, por Raymond Peyret. Traducao de Antonio


Carlos Santin. - Foyer de Charité, Avenida Santa Cruz 1362 - 26700-000 Mendes
(RJ1.121 pp.

Marthe Robin é urna mi'stica francesa que viveu de 1902 a 1982, parausada
por completo desde os 26 anos de idade e cega no fim da vida. Recebeu os estigmas da
Paixao de Jesús e deixou de comer e dormir desde o seu terceiro decenio de idade. Re-
cebia, porém, semanalmente a Eucaristía, que Ihe mantinha o vigor da alma e o ardor
das virtudes. Nos fins de semana experimentava intensamente as dores da Paixáo de
Jesús. Quería oferecer-se ao Pai com Jesús pela salvacao do mundo; esse ideal missio-
nário, que ela imaginara poder realizar mediante longas viagens apostólicas, ela o con-
cretizou "completando em sua carne o que falta á Paixao de Cristo" (Cl 1,24). Vivía
deitada num quarto semi-escuro, onde recebia visitantes, aos quais transmitía grande
reconforto mediante palavras simples e seu exemplo de entrega total á vontade do
Pai.

O Bispo de Valenca (Franca) solicitou a dois professores de Medicina da FacuIda-


de de Liáfo que procedessem a um exame do fenómeno de Marta; a pericia reconheceu
a sanidade mental da paciente como também a sua honestidade moral.

Apesar de imobilizada em seu diva" na fazenda onde nasceu (em Cháteauneuf


de Galaure), deu o impulso inicial á fundacao dos Foyers de Charité (Lares de Canda-
de), onde vivem em comunidade pessoas consagradas a Deus e acolhedoras de hospe
des em Retiro Espiritual. Por maís incn'vel que pareca, esse Lares encontram-se atual-
mente na Europa, na América, na África e na Asía; sao 69 Foyers distribuidos por
quarenta países; no Brasil temos um em Mendes (RJ): Avenida Santa Cruz 1362 —
Humberto Antunes, Caixa postal 5, CEP 26700-000. É Casa de Retiros muito procu
rada e benemérita. Marta Robin inspirou e sustentou numerosas outras obras e moví-
memos; aconselhou e ajudou os fundadores respectivos.

O livro ácima apresentado contém a biografía de Marthe e os inicios de sua obra


apostólica, que a Igreja vem incentivando como dom do Espirito aos nossos tempos
para lembrsr aos homens a fecundidade da vida de oracao e entrega total a Deus.

512
Ciencia e Consciéncia:

MANIPULAQÁO DA VIDA HUMANA

Em smtese: Em seu discurso de posse na Academia Fluminense de


Medicina, o Dr. Joao Evangelista dos Santos A/ves, num rasgo decoragem
e lucidez, houve por bem chamar a atencao do mundo dos dentistas para
a tendencia, hoje assaz forte, de sobrepor os interesses pessoais de lucro e
sucesso aos valores típicamente humanos. Especialmente a Medicina é ten
tada a se desdizer e degradar pelas práticas de manipulacao da vida
humana cada vez mais sedutoras, como a experimentacSo em seres vivos
ou em materia nobre, a fecundacao artificial com seus requintes (que en-
volvem o homem e animáis irracionais em práticas extremamente ousadas
de fecundacao e gestacao), o aborto e seus eufemismos, a eutanasia e a
obstinacao terapéutica desrespeitosa do paciente. As observacoes do ilus
tre académico tém por ponto de partida a dignidade única do ser huma
no em qualquer de suas fases de vida, dignidade já apregoada pelo filósofo
francés Blaise Pasca! em termos de rara eloqüéncia.

* * *

Em consonancia e complementacao do artigo anterior deste fascículo


sobre anticoncepcional e respeito á natureza humana, vao aqui publicados
trechos do discurso do Académico Dr. Joao Evangelista dos Santos Alves
por ocasiao de sua posse na Academia Fluminense de Medicina, aos 15
de abril de 1993. Trata-se de memorável e corajosa peca de literatura e
doutrina, que enfrenta diversas facetas da manipulacao da vida humana no
setor da Medicina: o desejo de conquistar e dominar sempre mais tem leva
do o homem a utilizar a tecnología sofisticada de nossos dias contra o pro-
prio homem, reduzindo o seu semelhante a coisa ou objeto descartável. 0
Dr. J. E. dos Santos Alves levantou a voz contra tais abusos, que ameacam
a Medicina, numa hora muito oportuna, especialmente no Brasil, vítima de
interesses espurios dos meios de comunicacao social e de profissionais des
tituidos de Ética.

Eis os segmentos do longo discurso que mais parecem interessar aos


leitores de PR, cuja directo aproveita o ensejo para agradecer ao Dr. J.E.
dos Santos Alves a valiosa colaboracao.

513
34 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

1. FALA O ACADÉMICO

"É o homem o único ser capaz de considerar a si próprio e á natureza


que o rodeia; o único ser capaz de formular juizo de valores e de se esfor
zar para viver segundo esses valores, com sentido ético; o único ser capaz
de projetar-se além de si mesmo na busca de suas origens e ao encontró de
seu fim último.

Mesmo excluindo o concurso da fé e considerando o homem á luz na


tural da razao, podemos constatar a grandeza da dignidade do ser humano,
da vida humana, do dom da vida.

Sabemos que cada ser humano em particular, na sua originalidade, é


mais perfeito que todo o universo junto.

Podemos perceber assim como é maravilhosa e preciosa a vida que


cada ser humano recebeu e como é admirável e sublime o poder de trans-
miti-la através do exercício digno da sexualidade, e de conservá-la, através
da Medicina, cuidando da saúde.

Dizíamos que os outros cientistas podem manipular suas materias


próprias de trabalho de modo quase ilimitado, utilizando ampia e irrestri-
tamente a tecnología moderna.

Já os médicos, éticamente, nSo podem e nao devem fazer tudo o que


a tecnología possibilita que facam, pois sua materia de trabalho é o seu se-
melhante, é o próprio homem, a quem devem servir e respeitar.

Por exemplo, é incontestável a licitude da conduta médica no trans


plante de órgaos. Mas há que se regulamentar a sua prática, subordinando-
a a principios éticos, a fim de nao se perder o senso moral dessa extraordi
naria intervencao cirúrgica que, éticamente desorientada, poderá perverter
a Medicina, gerando urna mentalidade mercantilista e ultrajante pelo pos-
si'vel uso indevido de doadores desinformados ou económicamente neces-
sitados; também indefesos pacientes moribundos e agonizantes, mas aínda
vivos e por um fio recuperáveis, poderiam ser inconscientemente utiliza
dos - em avaliacá*o apressada — por máos ávidas de sucesso ou por mentes
absorvidas pelo desejo incontido de láureas científicas.

Deve, portanto, a Medicina ser orientada por urna filosofía que tenha
por fundamento valores universais e perenes, aos quais se subordinem os
valores locáis e ocasionáis. Valores daqui e de hoje nao se podem sobrepor
a valores universais e de sempre, pois, assim, inverteriam desastrosamente a
hierarquia axiológica.

514
MANIPULAgÁO DA VIDA HUMANA 35

A Medicina se degeneraría sem rumo, nao fosse o componente filosó-


fico-ético a transmitir-I he princi'pios de respeito á dignidade da vida huma
na, á dignidade do corpo humano e de suas funcoes, em todas as fases de
sua existencia, desde a concepcao até a morte natural.

O distanciamento dessa filosofía implicaría em regressao e desvalori


zado da própria ciencia médica, pois nSo é possi'vel promover a vida hu
mana, desvalorízando-se a própria natureza da vida que se quer promover.
Poder-se-ia alcancar rápido progresso médico, com melhor cqnhecimento
do organismo humano e das leis que o regem na cura das mais graves doen-
cas, se a tecnología moderna fosse aplicada, com fim puramente experi
mental, em seres humanos alienados, que vivem nos hospicios ou ñas pri-
soes de alta periculosidade ou agonizam anónimos em hospitais públicos.
Mas nao se pode admitir tal prática, porque seria um atentado á dignidade
humana, á natureza humana, atingindo toda a humanidade e, portante, a
cada homem pessoalmente, pois, quando se fala em humanidade, se sub-
entende, obrigatoriamente a pessoa particular e, vice-versa, quando se fala
na pessoa humana, subentende-se a humanidade genéricamente, a natureza
humana. Por isso mesmo, experiencias como tais, praticadas pelos nazistas,
foram consideradas crimes de lesa-humanidade.

Acontece que a manipulacá'o tecnológica tem sido praticada, impune


mente, nos dias atuais, com seres humanos em sua fase de vida embriona
ria e fetal, sendo, inclusive, muitos deles "fabricados" para essa finalidade,
ou para serem usados em experiencias ditas "científicas", fatos estes sobe-
jámente divulgados pela imprensa.

A mesma sociedade que hoje difunde, através da mídia, todas as aber-


racSes sexuais, banalizando a sexualidade humana — tornando-a, pela téc
nica, artificialmente infecunda e promiscua — paradoxalmente busca, tam-
bém pela técnica, a procriacao desvinculada do sexo, através do método
da fecundacao artificial in vitro. Querem, na procura do sexo totalmente
desvinculado da gravidez, encontrar a gravidez desvinculada do sexo e, qui-
cá, a vida humana sem paternidade e sem matemidade. Primeiro, o filho
sem pai e, depois, o filho sem mae: filhos de país ignorados ou ocultos,
filhos do laboratorio e da comunidade, com sua ascendencia previamente
manipulada.

Que especie de valores norte ¡a essa sociedade? O hedonismo? O


egoísmo? O consumismo?

Os filhos deixam de ser dom para se transformarem em subprodutos


descartáveis do ato sexual ou se tornarem objetos de consumo, que sao
"fabricados" em provetas, selecionados e escolhidos os mais aptos. Os que

515
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

nao prestam, sao desprezados, e os melhores sao congelados; posterior


mente, os que sobram, sá*o destruidos ou "lancados pelos esgotos", no di-
zer de um renomado adepto do método.

A fecundacao in vitro passa, necessariamente, pela aceitacao do abor


to provocado. Sua pré-história tem origem, aparentemente contraditória,
na difusao da mentalidade anticoncepcional. Esta gerou e impulsionou o
movimento abortista no mundo inteiro, cuja conseqüéncia foi a desvalori-
zacao da vida humana, convertendo-a, nos primeiros dias de sua existencia,
em objeto de experimentacáo cienti'fica.

0 embriao humano assim "produzido" fica exposto a milhares de


possibilidades de "uso", inclusive a de ser implantado em útero de macaca
ou de cadela ou de porca, como, alias, já foi anunciada sua realizacao
experimental.

Para que as condutas anti-éticas sejam mais fácilmente aceitas, criam-


se expressoes disfamadas, dúbias, ambiguas com o fim de mascarar o ver-
dadeiro sentido dos atos propostos.

Entre outros exemplos, a expressao "pré-embriao" foi criada para se


justificar, impunemente, experiencias com o ser humano em seus primei
ros dias de existencia. Como bem colocou, em recente "Jomada de Repro-
duplo Humana", o Dr. Dernival Brandao, que assim seexpressou:

"Falar em pré-embriao é tota/mente arbitrario, sem fundamentacao


científica, e serve apenas para autorizar experimentales em embrides até
aqueta fase em que estes nao sao mais usados para implan tacao intra-uteri-
na, porque se tornam imprestáveis para isso. Tal expressSo constituí urna
maniputacSo lingüistica."

Outra locucao — "extracao menstrual" — foi encomendada para se


justificar o aborto precoce, como muito bem denunciou o Académico
Prof. Altamiro Vianna, em magnifico discurso pronunciado nesta casa,
com as segu intes pa lavras:

"Estarrece-nos ver, em nossos tempos, em recente Congresso ínter-


nacional, aprovar-se a designacao de "extracao menstrual" para a prética
do aborto, quando o atraso do cataménio se/a de até seis semanas. Visa a
denominacao eufemi'stica, como subterfugio lingüístico, aliviar a conscién-
cia de médicos e pacientes, quando praticam o aborto ovular".

"O novo apelido em nada modifica a esséncia do fato, que em si mes-


mo é malicioso", concluí o Prof. Altamiro Vianna.

516
MANIPULAgÁO DA VIDA HUMANA

Atualmente, truncando o obvio para confundir, alegam os abortistas,


para justificar o aborto de conceptos com má formacao congénita, que
"defendem o direito de urna enanca nascer perfeita e saudável, visando á
plenitude de sua ¡ntegracao na sociedade." Ora. é obvio que ninguém dei-
xará de defender esta causa. Mas o que disfarcadamente eles defendem, é
que só as enancas perfeitas e saudáveis tém o direito de nascer e integrar
se na sociedade; as outras, as deficientes, devem ser destruidas no ventre
materno.

Como reagirao intimamente a isso os nossos irmSos deficientes, que


ao nosso lado vivem o dia-a-dia da existencia?

0 Académico, Prof. Herbert Práxedes, com muita propriedade, clas-


sificou esta proposta, de matar no útero materno as criancas deficientes,
como sendo "a mais macabra forma de apartheid: Mate hoje o deficiente
f i'sico de amanha".

E as denominacoes eufemi'sticas do aborto vao-se sucedendo para


ocultar sua verdadeira face. Assim sao denominados: aborto terapéutico,
aborto eugénico, aborto sentimental, honroso, social, etc.

"Tais denominacoes — no dizer do académico Prof. Waldenirde Bra-


ganca — sao tentativas de introduzir novas cunhas, de abrir novas fendas,
na mu ral ha ética da Medicina".

Em ¡numeras oportunidades tem o académico Dr. Carlos Tortelly


Costa execrado a prática do aborto provocado, definindo-o como "abomi-
nável agressao a vidas humanas inocentes e indefesas.".

Ninguém ignora que existem situacoes delicadas, dificílimas e até dra


máticas, mas em nenhum caso o exterminio pré-natal de um ser humano
constituí solucao digna, nem eficaz.

Além de ser um atentado contra urna vida humana indefesa, constituí


o aborto voluntariamente provocado um atentado também á consciéncia
da míe, á do pai, e á do médico: é um processo de destruí cao da própria
consciéncia humana.

Estou convencido de que, na grande maíoría dos casos em que as


maes procuram o aborto como solucao para os seus problemas, elas o fa-
zem levadas pelo desespero, pelo sofrimento, pelo medo e pela desinfor-
macao, sem pleno conheci mentó do horror em que consiste esta prática
criminosa. Compete ao médico esclarecé-las e orienta-las na busca de reais
solucSes para suas dificuldades, excluindo o aborto, que nunca será solu-

517
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

cao para coisa alguma; pelo contrarío, constituirá sempre um novo proble
ma acrescentado ao que se pretende resolver.

Minhas senhoras e meus senhores, a verdadeira solucá*o para todos


esses problemas é tarefa que exige a participacao de toda a comunidade.
Compete á sociedade buscar solucoes justas, positivas e compatfveis com a
dignidade humana, sem arrastar a Medicina para práticas anti-éticas, con
trarias ao seu espirito e finalidade. A legislacao e todos os recursos devem
ser colocados a servico da maternidade e da vida, protegendo-se o filho e a
mae. Protegendo-se também o médico, pois as leis e as circunstancias, sen
do ordenadas para o prossegui mentó da gravidez, servem-lhe de apoio para
que nao resvale para práticas tao contrarias ao seu juramento.

Este é o caminho: tratar a mae e proteger o filho. Este é o dever do


médico; assistir a seus pacientes desde o im'cio da vida, na concepcao, até
o seu último alentó.

Nao há dúvida de que o médico perderá sempre a última batalha na


luta pela vida. Mas é sua funcá*o pugnar sem tregua, desde os cuidados pró-
prios do período pré-natal, no alvorecer da existencia, até a luta angustian
te no C.T.I., face-a-face com a morte, a qual, como a vida, também deve
ser respeitada. A utilizacao de sofisticada aparelhagem tecnológica é útil
para salvar urna vida, mas é inconveniente quando usada para ocultar a
morte já ocorrida e devidamente constatada e comprovada. Nestas circuns
tancias, a retirada dos aparelhos extraordinarios constituí um ato de res-
peito á morte e, absolutamente, nao configura a eutanasia, a qual consiste
na omissao ou no ato deliberadamente praticado para provocar a morte.
Esta, sim, é condenável e criminosa. Oeve o médico, portanto, reunir pru
dencia e sabedoria científica suficientes para decidir a hora de retirar os re
cursos extraordinarios nos casos em que a indicacSo dos mesmos deixa de
existir pela evolucao ¡rreversível do quadro clínico, seguramente demons
trada. Nesta situacao, comprovadamente ¡rreversível, mas enquanto hou-
ver sinal de vida, o paciente será atendido em suas necessidades básicas de
alimentacfo, hidratacao, higiene, etc, pelos recursos médicos ordinaria
mente dispon íveis.

Quanto á pena de morte para crimes hediondos, tao discutida nos úl


timos meses, nada tem a ver com a Medicina. É problema que pertence a
outras ciencias. Mas é bom lembrar que nao pode o médico ser envolvido
no processo executório, utilizando a Medicina para penalizar um condena
do.

Estou-me prolongando demasiado. Todavía, foi necessário pela im


portancia e atualidade do tema enfocado, o qual constituí materia diaria-

518
MANIPULAgÁO DA VIDA HUMANA 39

mente veiculada nos meios de comunicacao de massa, mas quase sempre


erróneamente apresentada, confundindo assim a populacho em geral e
também envolvendo o médico, pressionando-o para adotar condutas que
ferem a sua vocacao e o seu juramento. Por isso é conveniente insistir na
necessidade de urna filosofía para alicercare orientara Medicina. Nao, po-
rém, urna filosofía de ocasiao, inventada pela imagínacao humana e tao vo-
lúvel quanto ela. Mas, sim, urna auténtica filosofía, profunda e perene, im
plícita na própria natureza racional do homem, e que deve ser devidamen-
te apreendida, aprofundada e explicitada pela razao, com o máximo de f¡-
delidade possível; será fundamentada sobretudo no devido respeito á ele
vada dignidade da vida humana desde o ato gerador até o último instante
de sua existencia; dignidade esta que, infelizmente, vem sendo, nos últi
mos anos, descaracterizada, deformada e desrespeitada, em contraste com
o impressionante progresso científico e tecnológico que a humanidadeal-
cancou; tal progresso devena aumentar no homem a consciéncia de seu
transcendente valor e, portanto, o respeito pela sua vida e pelo processo de
sua concepcao.

Urge, portante conduzir e orientar as conquistas científicas moder


nas e futuras para o restabeleci mentó e preservacáo do ¡mprescindível res
peito á dignidade do ser humano, em sua plenítude.

Somente pensando e agindo nesse nivel será possível encontrar a ver-


dadeira so lucio para os grandes problemas que afligem a humanidade.

Que Deus nos ilumine nesse mister".

2. REFLETINDO.. .

Sejam destacados os sete pontos que o Académico Dr. J.E. dos San
tos Alves aborda em seu discurso:

2.1. A dignidade do ser humano

"Sabemos que cada ser humano em particular, na sua originalidade, é


mais perfeito do que todo o universo junto". — O autor faz eco ao filósofo
e matemático francés Blaise Pasca! (t 1662), de cujos "Pensamentos" ex
tra irnos as seguintes sentencas:

"O homem é apenas um canigo, o mais frágil da natureza, mas é um


canigo pensante. Nao é necessário que o universo se arme para esmagá-lo;
um vapor, urna gota d'água basta para matá-lo. Mas, aínda que o universo
o esmagasse, o homem aínda seria mais nobre do que aquilo que o mata,

519
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

porque ele sabe que ele morre, ao passo que o universo ignora a vantagem
que ele tem sobre o homem" (fragmento 347).

"Nao é a partir do espago que devo procurar a minha dignidade, mas


é a partir da boa ordem do meu pensar. Eu nao terei vantagem alguma se
possuir térras; pelo espaco o universo me compreende e me traga como um
ponto, pelo pensamento eu compreendo o universo" (fragmento 348).

"Todos os corpos, o firmamento, as estrelas, a térra e seus reinos nao


valem o menor dos espíritos, pois o espirito conhece tudo isso, e conhece
a si mesmo. E os corpos nada conhecem.

Todos os corpos reunidos, e todos os espíritos reunidos, e todas as


suas obras nao valem o mínimo de amor. Pois o amor pertence a urna or
dem de coisas infinitamente mais elevadas.

De todos os corpos reunidos nao se poderia extrairum mínimo pen


samento. É impossível, pois pertence a outra ordem de coisas. E de todos
os corpos e espíritos nao se poderia extrair um movimento de verdadeiro
amor.' Isto é impossível, pertence a outra ordem de coisas, á ordem so
brenatural".

2.2. Transplantes de órgaos

Constituem maravilhosa intervéngalo cirúrgica, que corre, porém, o


risco de perverter a Medicina, se for éticamente desorientada. A mentali-
dade mercantilista poderia servír-se de doadores desinformados ou econó
micamente necessitados ou aínda de indefesos pacientes moribundos.

2.3. Experimentado em seres vivos

Os regimes totalitarios e quipe outras instituicSes tém utilizado seres


deficientes, prisioneiros, pacientes termináis... para experimentacSo médi
ca. A prática pode ser sedutora, pois parece possibilitar mais rápido pro-
gresso da Medicina, mas é indigna do profesional.

2.4. Fecundacao artificial

Hoje se pensa em procriaclo desvinculada do sexo, como se pratica


sexo desvinculado da procriagfo. Isto tem levado os pesquisadores a pro-

3 Pascal tem em vista o amor como virtude infusa, da qual fala Sao Paulo
em Rm 5,5: "O amor de Deus foi derramado em nossos coracoes pelo
Espirito que nos foi dado".

520
MANIPULADO DA VIDA HUMANA 41

mover a implantapSo do embriao humano em útero de macaca, porca ou


cadela..., como também a tentar a hibridacao de ser humano e macaco...,
com o fim de obter "trabajadores bracais" (escravos eventuais) e materia
para experimentacao médica.

2.5. Aborto

O mortici'nio de seres inocentes vertí sendo preconizado com todos os


recursos, inclusive mediante a falsidade de eufemismos criados para enco-
brir a hediondez do crime.

2.6. Eutanasia provocada

O autor, com razao, condena a eutanasia induzida por aclo direta


ocisiva ou por subtracao dos meios ordinarios de sustentar a vida (alimen-
tacao, hidratacao, higiene...). Mas reconhece a legitimidade de se desligar a
sofisticada aparelhagem tecnológica, quando a morte está devidamente
constatada e comprovada ou quando a evolucao irreversi'vel do quadro clí
nico está seguramente demonstrada. É preciso respeitar a morte do pacien
te e nao o utilizar para experiencias que só servem aos interesses de médi
cos.

2.7. Pena de morte

Tal assunto nao é da aleada direta da Medicina, mas sim de outras


ciencias. Todavía é de lembrar que o médico n§o pode permitir que a Me
dicina seja utilizada para penalizar um condenado.

Sao estas as observaedes que o Dr. Joá*o Evangelista dos Santos Al-
ves houve por bem propor a seus colegas de Academia, ou seja, aos mem-
bros da alta cúpula da Medicina, a fim de preservar valores que a corrida
ao sucesso e ao dinheiro em nossos dias tende a conculcar. Parabéns, ilus
tre Académico!

* * *

"INTERROGA A BELEZA DA TÉRRA, INTERROGA A BELEZA DO MAR,


INTERROGA A BELEZA DO AR QUE SE DILATA E DIFUNDE, INTERROGA A
BELEZA DO CEU... INTERROGA TODAS ESSAS REALIDADES. TODAS TE RES-
PONDERÁO: 'VÉ, NOS SOMOS BELAS'. A SUA BELEZA É UMA PROFISSÁO.
TAIS BELEZAS SUJEITAS A MUDANQAS. QUEM AS FEZ SENÁO AQUELE QUE
É O BELO NAO SUJEITO A MUDANQAS?"
(S. Agostinho)

521
Mais urna vez:

'SANTO ANTONIO DE CATEGERÓ'


QUEM ERA?

Em sfntese: Antonio de Categeró (= de Calatagerona ou de Cartago)


existiu nos séculos XV/XVI, tendo nascido na África. Jovem, foi /evado
como escravo para a Sicilia, onde conheceu a fé católica e pediu o Batís-
mo, recebendo entao o nome de Antonio. Posto em liberdade após muí-
tos anos de cativeiro, fez-se franciscano e sempre praticou heroicas virtu
des, que Ihe valeram a estima do povo siciliano e a fama de Santo. Esta
perdurou após a sua morte até nossos dias. O processo canónico de Beati
ficado (etapa anterior e necessária á CanonizacSo ou é inscricao no Ca
tálogo dos Santos) foi iniciado, mas nao chegou a termo, de modo que o
Venerável Antonio de Categeró nunca foi declarado oficialmente nem
Bem-aventurado nem Santo pela Igre/a. No sécu/o XVI,dizem, a Inqui-
sicao, vendo a fama de Antonio, deu permissao para que suas estampas ti-
vessem um diadema ou auréola na caoeca — o que certamente nao equiva
le á Beatif¡cacao prevista pelos cánones oficiáis da Igre/a.
* * *

Em Pñ 373/1993, pp. 283-285 foi publicado um artigo que negava a


existencia de Antonio de Categeró no Catálogo dos Santos ou no Marti
rologio da Igreja Católica. Esta proposicSo continua válida. Acontece, po-
rém, que nao somente comunidades nao católicas, mas também paróquias
católicas veneram "Santo Antonio de Categeró". Mais: as Edicoes Paulinas
publicaram o livro "Santo Antonio de Categeró, Sinal Profético do Empe-
nho pelos Pobres", da autoría de Mons. Salvatore Guastella, que descobriu
as reliquias desse homem de Deus em 1977; Mons. Guastella cita docu
mentos que comprovam a existencia de Antonio de Categeró, nao, porém,
a sua CanonizacSo.

Eis por que voltamos ao assunto nestas páginas. Após ter pesquisado
mais a fundo a questao, podemos chegar á seguinte conclusao:

Existiu, de fato, um homem venerável nascido na Cirenaica (África


do Norte) e por isto, chamado posteriormente Antonio Calatagerona; este
aposto seria a deformacao de cartaginés (= oriundo de Cartago, Norte da
África); a expressao Calatagerona, na linguagem popular, tornou-se Cate-

522
"SANTO ANTONIO DE CATEGERÓ" 43

geró. Este mesmo personagem é também chamado Antonio Etíope por ser
de raca negra1, como tem o nome de Antonio de Noto por ter morrido
nesta cidade (Sicilia).

A sua biografía, devidamente documentada, pode ser assim compen


diada:

Terá nascido por volta de 1490 perto da cidade de Barca (ou, dizem
outros, na Guiñé Portuguesa) de familia muculmana, que o educou segun
do o Corá*o. Foi aprisionado e feito escravo, indo para a Sicilia a bordo de
urna galé. Como escravo, conheceu a fé católica e abracou-a fervorosamen
te, recebendo no dia do seu Batismo o nome de Antonio. Viveu alguns
decenios com os patr6es, após o que foi posto em liberdade. Pediu entao e
recebeu o hábito franciscano, e exerceu virtudes em grau heroico. Tornou-
se enfermeiro desvelado dos indigentes, depois do que levou.uma existen
cia eremítica. Os sicilianos atribuiram-lhe milagres numerosos e tiveram-
no como santo. Após a sua morte em Barca (Sicilia) no ano de 1549, ins-
taurou-se um processo diocesano para averiguar as virtudes de Antonio e
eventüalmente canonizá-lo (inscrevé-lo no Catálogo dos Santos). Tal pro
cesso nao chegou ao fim. O fato é que Antonio de Categeró nunca foi nem
sequer oficialmente beatificado (a BeatificacSo é a etapa anterior, indis-
pensável, á Canonizado). O povo, porém, o foi invocando como Santo;
daí ficar conhecido como Santo Antonio de Categeró. Tal tipo de canoni-
zacao popular nSo tem validade na Igreja Católica, que, desde o sáculo X,
exige rigoroso processo jurídico e minuciosa investigacáfo para declarar al-
guém "Bem-aventurado(a)" e, posteriormente, "Santo(a)".

Refere Mons. Salvatore Gustella no livro citado, p. 57, que "a Inqui-
sicao, vendo os milagres e a grande santidade de Antonio, deu permissao
para que suas estampas tivessem um diadema ou auréola na cabeca, em si-
nal da gloria de que ele já goza na bem-aventuranca". Todavía na nota 62
da mesma página observa: "Até agora nao foi possível saber quando e on
de a competente autoridade eclesiástica autorizou a impressao de sua ima-
gem com auréola, como diz o biógrafo Daga".

Por conseguinte, podemos dizer, em poucas palavras, que existiu a fi


gura de Antonio de Categeró nos séculos XV/XVI; sabe-se como viveu e
morreu, pois existe documentado suficiente para o narrar. Sábese tam
bém que na igreja do O' em Sao Paulo existem restos mortais de Antonio, a
saber: o cubito e o radio do antebraco direito (de 26,5 cm de comprimen
tó). Mas nao se pode dizer que tenha sido canonizado ou reconhecido co-

1 Há, porém, quem julgue que Antonio Etíope era outro personagem.

523
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

mo Santo pela Igreja. O título "Bem-aventurado" Ihe é comumente atri


buido em documentos antigos, visto que o processo de Beat¡ficacá*o foi
iniciado (todavía nunca chegou a termo, como dito).

O Venerável Antonio de Categeró pode estar na gloria do céu; nao é a


Canonízacao que faz o Santo; ela apenas o reconhece e declara. Todavía, já
que nao houve Canonízacáo nem BeatifícacSo por parte da Igreja, segundo
mandam os cánones, ná"o se deveria fomentar a devocao a esse irmao fran
ciscano, equiparando-o aos Santos canonizados.

A Igreja reconheceu recentemente os grandes méritos da Irma Josefi


na Bakhita, nascida no Sudao (África); foi feita escrava e serviu durante
muitos anos aos senhores; posta em liberdade, tornou-se urna religiosa de
notáveís virtudes, beatificada aos 17/5/92; cf. PR 364/1992, pp. 410-421.
Está em curso o processo de Beatif¡cacao de Pierre Toussaint, ex-escravo
negro do Haití; cf. PR 364/1992, pp. 422-424. Sao Benedito, o negro, e os
mártires de Uganda sSo Santos africanos, que bem revelam que a santidade
floresce em todas as partes do mundo.

* * *

(Continuagao da pág. 496)

admissao. Em vista disto, os trinta e seis Bispos católicos da Inglaterra e do


País de Gales se reuniram para estudar a resposta a ser dada as varias soli-
citacoes. No final do seu Encontró publicaram um documento, que define
oseu modo de proceder no futuro. Para ser recebido na Igreja Católica,
nao basta que um crístSo anglicano rejeite a ordenacao de mulheres; é ne-
cessário que manifesté outrossim, de maneíra so lene, que aceita integral
mente a doutrina e as normas moráis da Igreja Católica.

A admissao da Sra. Ann Widdecombe na Igreja Católica foi celebrada


em solene cerímonia na catedral de Westminster aos 21/04/93. Seus padri-
nhos foram o Deputado liberal democrático David Aitón e o Deputado
conservador Julián Brazer. Na tarde desse mesmo dia a Sra. Widdecombe
participou, pela primeira vez, da S. Missa na cápela da cripta do Parlamen
to. As leituras bíblicas foram feitas pelo Sr. John Gummer, Ministro da
Agricultura e membro do Sínodo Anglicano, que também pensa em se
converter ao Catolicismo. As cerímónias foram presididas pelo Pe. Michael
Seed, assistente do Cardeal Basil Hume. Essa foi a primeira vez que, após a
ruptura da Coroa Inglesa com a Santa Sé (1534), um sacerdote católico
celebrou na cápela do Parlamento.

524
Uma Palavra do Papa sobre

O NEOCATECUMENATO

De 13 a 17 de abril de 1993 reuniu-se em Viena (Austria) um Con-


gresso referente ao Neocatecumenato, Moví mentó de reavivamento espiri
tual fundado em 1964 por Kiko Arguello, pintor espanhol; cf. PR 290/
1986, pp. 300-310 (as origens do Mbvimento). O Congresso contou com
a presenta de 120 Bispos, dos quais cinco Cardeais, numerosos sacerdotes
e leigos provenientes de todos os pai'ses da Europa, desde Portugal até a
Rússia. Trocaram experiencias acerca da estruturacSo do Movimento e do
seu papel na Nova Evangelizacao. O S. Padre quis fazer-se ai' presente me
diante uma Carta aos participantes, que exprimía a sua aprovacao e o seu
estímulo ao Movimento.

Visto que em nossos dias o Neocatecumenato ainda nao é suficiente


mente conhecido, havendo mesmo maj-entendidos a respeito, publicamos
abaixo esse documento pontificio:

"Veneráveis Confrades no Episcopado.

Caríssimos Irmaos e IrmSs,

É para mim motivo de grande consolo, poucos anos após meu apelo a
uma Nova EvangelizacSo da Europa, saber que estáis reunidos em Viena
para refletir ¡untos sobre os frutos da atividade missionária que sacerdotes,
apostólos itinerantes e fam/lias do Caminho Neocatecumenal estao desen-
volvendo com generoso impulso e grande zelo pelo Evangelho.

Por ocasiao da abertura dos trabalhos da Assembléia Especial para a


Europa, aos 5 de junho de 1990, observe! com pesar que em nosso conti
nente muitas pessoas se habituaram a ver a realidade 'como se Deus nao
existisse'. Eu acrescentaria que, nessa perspectiva, o homem se torna a fon-
te da lei moral, de uma lei, porém, que o homem dá a si mesmo e que
constituí a medida da sua consciéncia e do seu comportamento flnsegna-
menti, vol. XIII, 1, 1990, pp. 1517s). Dou tro lado, nSo se pode negar que
o Espirito Santo, por meio do Concilio do Vaticano II, suscitou instru
mentos válidos, entre os quais o Caminho Neocatecumenal, para responder
és questoes do homem contemporáneo. Após varios anos e é luz dos resul-

525
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

tados obtidos, resolví estimular por escrito essa experiencia em vista da


Nova Evangelizacao, dese/ando que seja ajudada e valorizada por meus ir-
maos no Episcopado (cf. Carta de 30/08/1990 transcrita em Pfí 347/1991,
pp. 183-185).

Desses resultados, mu¡tos dentre vos sao as testemunhas diretas e os


primeiros protagonistas, pela ajuda que eles oferecem á difusao dessa nova
realidade eclesial. Eis por que vossa reflexao de hoje é importante, como
foi a dos Bispos do continente americano durante o Encontró do ano pas-
sado em Santo Domingo.

O Caminho Neocatecumenal, no qual se formam os apostólos itine


rantes e as familias missionárías, pode responder aos desafíos do secularis-
mo, da difusao das seitas, da falta de vocacdes. A reflexSo sobre a Palavra
de Deus e a participacao na Eucaristía tornam possi'vel urna iniciacao pro-
gressiva nos santos misterios, geram células vivas da Igre/a, renovam a vita-
lidade da paróquia gracas a cristSos adultos capazes de testemunhar a ver-
dade por urna fé radicalmente vivida.

Esse Caminho aparece como peculiarmente apto para contribuir, ñas


zonas descristianizadas, á necessária reimplantacao da Igre/a: leva o
comportamento moral do homem a prestar obediencia á Verdade revelada
e é reconstituigSo do tecido social mesmo, destruido pelo desconhecimen-
to de Deus e do seu amor. Em certas regioes ¡á se constituem núcleos de
familias missionárías, que podem ser luz do Cristo e exemplo de vida.

Mas essa missao nao seria possivel sem presbíteros preparados para
acompanhar e sustentar, com seu ministerio sacramental, essa obra de Nova
Evangelizacao. Sou grato ao Senhor, que quis que nascessem numerosas
vocacdes e, por conseguinte, se constituissem Seminarios diocesanos e mis-
sionários em diversos países da Europa, Seminarios colocados sob o suave
patrocinio da Virgem María, invocada como Redemptoris Mater (Mae
do Redentor).

Coloco sob a protecao materna e a poderosa inspiracao de María vos


so Encontró, que poderá dar-vos fmpeto e coragem em vosso compromisso
apostólico dirigido ao homem contemporáneo. Este precisa de ser guiado
por pastores e testemunhas enviadas para que conheca Deus, invoque o no-
me do Senhor e dele receba a sa/vacao.

Que a luz de Cristo Ressuscitado, que celebramos so/enemente na vi


gilia de Páscoa, continué a brílhar em vos, sustentando-vos na missao ao
servico da Igre/a e da humanidade inteira.

Do Vaticano, 12 de abril de 1993


Joao Paulo II"

526
TESTEMUNHO SIGNIFICATIVO 47

É de notar que o Neocatecumenato já fundó'ú nove Seminarios Re-


demptoris Mater para servir á Nova Evangelizado, respectivamente em
Roma, Madrid, Varsóvia, Berlim, Londres, Valencia, Haarlem, Pola, Mace-
rata. Outros estao em via de formacfo na Europa e fora desta. Nao sao
Seminarios do Neocatecumenato, reservados apenas ao Movimento, mas
sao instituicoes missionárias internacionais.

Como se vé, o Sumo Pontífice se interessa pelo Neocatecumenato


como obra suscitada pelo Espirito de Deus em resposta ás necessidades da
Igreja e do mundo contemporáneos.

UM TESTEMUNHO SIGNIFICATIVO

Numa época de desencontros como é a nossa, torna-se especialmente


gratificante ler um depoimento como o da autora da seguinte carta:

"Quem Ihe escreve, ó urna desconhecida peregrina, que passou a


maior parte de sua vida longe da Igreja Católica, e que há tres anos ouviu
o chamado interno de Nossa Sénhora para voltar á Igreja.

Tenho 34 anos. Passei muito tempo perguntando-me: quem sou?


De onde vim? Para onde vou?, de costas voltadas para a Igreja Católica,
convencida de que o último lugar em que procuraría essas respostas seria
o Catolicismo. Vasculhei muito; fui a religioes orientáis, esoterismo.
Nova Era... Editei urna revista chamada NAVE, onde abordava o mundo
novo e a Nova Era, certa de que este era o caminho: o universalismo, o fim
das religioes - que considerava separatistas - com a soma de todas elas.
Até que um dia percebi que me enganava. E comecei a sentir urna alegría
tao sobrenatural que sabia ser obra de Deus. Procurei de onde vinha — a
fonte — e percebi nítidamente que vinha da Igreja Católica!

'Nao é possível!' - disse para mim mesma.

Mas era! E fui, levada pela orelha (era assím que me sentía), me re
conciliar com a Mié. Percebi entao coisas lindas, que antes nao via - vi
que o Caminho da Igreja é mais interno (dentro de nos) do que externo;
e tudo que havia fora (as regras, os exercícios espirituais, etc.) era para le
var a pessoa mais para dentro, de encontró a Cristo.

527
48 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Passei a rezar o Terco, a sentir a presenca de Nossa Senhora na minha


vida, limpando e transformando tudo. E tudo mudou!

... (Meu marido e eu) temos a intencao de estabelecer urna comunida-


de crista-católica. ... Abandonamos tudo para isso. Nossa vontade (e acre
dito ser vontade de Nossa Mae) é apresentar o Catolicismo ao pessoal que
se afastou da Igreja, buscando Deus em outras religioes. Ou seja, falar com
aqueles que estío do jeito que eu estava - procurando Deus num ashram,1
enquanto na Igreja está tudo . Para isso, sei que sou portadora da lingua-
gem a ser utilizada.

Os jesuítas nao tinham a missao com os indios?...

Aqui nos apontamos um caminho: a Igreja!"

Permita Deus que casos tais se repitam com freqüéncia..., pois "Se-
nhor. Tu nos fizeste para Ti e inquieto é o nosso coracáo enquanto nao
repousa em Ti!" (S. Agostinho, Confissoes I).
Estévao Bettencourt O.S.B.
* * *

CARO(A) LEITOR(A).

SE ESTA REVISTA LHE FOI ÚTIL, PROCURE DIFUNDI-LA ENTRE FAMI


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DOS A ELUCIDAR ALGUM PROBLEMA OU ALGUMA DÚVIDA QUE LHES CAU
SE IMPASSE NA VIDA. EXISTEMCRISES NÁOSOMENTE NA ÁREA MATERIAL,
MAS TAMBÉM NO PLANO DO PENSAR E DAS OPCÓES.... CRISES QUE TOCAM
PROFUNDAMENTE O SER HUMANO COMO PESSOA INTELIGENTE FEITA
PARA A VERDADE E O BEM.

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1 Mosteiro budista (N. da Redagio). f ■

' i ■

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O MOSTEIRO DÉ
SAO BENTO DO
RIO DE JANEIRO

1590/1990

Em Comemoragao do IV Centenario de sua.Fundagao

408 páginas (30 x 23) de urna obra ricamente policromada


Texto histórico documentado por D. Mateus Rocha OSB
É a crónica corrida e compacta da construclo do Mosteiro, da sua
igreja e das obras de arte nele comidas. Resume as mais diversas contri-
bu ¡(des que, durante sáculos, formaran) o patrimonio da Ordem Benediti-
na na provincia do Rio de Janeiro.

Palavrat do renomado arquiteto Lucio Costa:

"Esse mosteiro — este monumento - é, sem dúvida, a áncora da ci-


dade do Rio de Janeiro. — Em boa hora o intelectual e fotógrafo Humber
to Moraes Franceschi que já nos deu a obra-prima ."O Ofi'cio da Prata",
resolveu fazer. com o pleno apoio do engenheiro-Abade D. Inácio Barbosa
Accioly (falecido a 26 de maio de 1992) - impecável'dono da casa - este
definitivo inventario visual, velho sonho de D. Clemente da Silva Nigra."
Oe D. Abade Inácio Barbosa Accioly:

"Hoje o Mosteiro é realmente a áncora da cidade do Rio de Janeiro.


É igualmente foco de luz ardente que, sem qualquer ostentacao ilumina to
dos aqueles que aquí vivem, que aqui vém louvar o Senhor, ou que aqui
encontram alimento para a chama misteriosa de sua fé — pois o Mosteiro
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Presenta de Cristo no tempo

Quadro mural (formato 65 x 421.


Ilustrado em cores, para estudo do
Ano Litúrgico em cursos para
equipes de Liturgia. É um "calen
dario" com as solenidades e festas
do ano eclesiástico, com breves
explicagoes.

Pode ser afixado ás portas de igre-


jas. em salas de aulas, novicia
dos, etc.

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