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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(7n memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanca a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos conta
da nossa esperanca e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenca católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


•— Responderemos propóe aos seus leitores:
; aborda questóes da atualidade
'■; controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
i dissipem e a vivencia católica se fortaleca no
Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar
este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xxxix Julho 1998 434
Vencer...

A Peca "Der Stellvertreter" (O Representante) de


Rolf Hochhut

"Quando o Papa pede perdáo" por Luigi Accattoli

As Obras Caritativas de Joáo Paulo II

Aborto: O Papa e os Bispos Alemáes

A Igreja resolve aceitar o Espiritismo?

Reforma Agraria

"O Juramento dos Jesuítas" por Karl Weiss


PERGUNTE E RESPONDEREMOS JULHO 1998
Publica$áo Mensal N-434

SUMARIO
Diretor Responsável
Estéváo Bettencourt OSB Vencer 288
Autor e Redator de toda a materia Ainda Pió XII e os Judeus:
publicada neste periódico A Peca "Der Stellvertreter" (O Repre
sentante) de Rolf Hochhut 2S0
Diretor-Administrador:
Livro de peso:
D. Hildebrando P. Martins OSB
"Quando o Papa pede perdáo" por
Luigi Accattoli 303
Administracáo e Distribuido:
Edicóes "Lumen Chrísti" Solicitude Pastoral:
As Obras Caritativas
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501
de Joáo Paulo II 308
Tel.: (021) 291-7122
Fax (021) 263-5679 Candente Problema:
Aborto: O Papa e
Endere9O para Correspondencia: os Bispos Alemáes 316
Ed. "Lumen Christi" Sensacional:
Caixa Postal 2666 A Igreja resolve aceitar
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ o Espiritismo? 325

Um Documento da Santa Sé:


Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO
Reforma Agraria...,,. 328
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
A Desonestidade da "FOLHA UNIVERSAL"
na INTERNET: http://www.osb.org.br
"O Juramento dos Jesuítas" por Karl
e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET
Weiss 335
lmpres$3o e Encadernai;?o

-marquessaraiva" COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA


GRÁFICOS E EDITORES Ltda.
Tels, (021) 502-9498 NQ pROX,M0 NUMERO:

O declínio da natalidade. - O Poder Regio e a Inquisicáo em Portugal. - As Esportillas de


Missa. - Esportillas «coletivas» de S. Missa. - Os graves erras da "Folha Universal". -
Congelamento de cadáveres humanos. - «Um pouco de Etiqueta nao faz mal».

(PARA RENOVACAO OU NOVA ASSINATURA: R$ 30,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 3,00).

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Obs.: Correspondencia para: Edicóes "Lumen Chrísti"


Caixa Postal 2666
\. 20001-970 Rio de Janeiro - RJ y
VENCER...

No mes de julho 1998 a palavra vencer se torna mais freqüente na mente


e no linguajar de muitos segmentos da nossa populacáo; a disputa do campeo
nato mundial de futebol a suscita calorosamente; todos querem vencer.
Para o cristáo porém, a Vitoria é um conceito familiar, pois está presente
em toda a historia sagrada. Esta comeca com urna derrota - a do pecado dos
primeiros pais -, mas continua sob o signo do protoevangelho (Gn 3,15), que
prometeu a Vitoria da Mulher sobre a Serpente ou do Bem sobre o Mal.
A promessa vai-se cumprindo aos poucos, mas só estará consumada no
fim dos tempos.
Quem considera os textos bíblicos, verifica que é urna Vitoria paradoxal:
ela passa através da Cruz e de um aparente fracasso. Este modelo se esboga já
no Antigo Testamento: o Servo de Javo, em Is 52,13-53,12, é vitorioso porque se
entrega ao sacrificio pelos seus irmáos. Além disto, os mártires, que dáo a vida
para nao trair a fé, sao apresentados como vencedores de um pareo atlético, em
conseqüéncia do qué recebem a coroa da Vitoria: "A virtude... na eternidade triun
fa - coroada, vitoriosa - numa luta de límpidos troféus" (Sb 4,2).
No Novo Testamento a figura de Jesús Cristo preenche o esquema. Mais
de urna vez, Jesús caracteriza sua obra como sendo a Vitoria sobre Satanás e o
pecado: Ele é "o mais Forte" que vence o "Forte" (cf. Le 11,14-22). Ele é o General
que volta do campo de batalha, vitorioso: o seu cortejo de triunfo leva consigo as
Potencias adversas, despojadas do seu vigor, em espetáculo para o mundo intei-
ro" (cf. Cl 2,15). O último inimigo que Ele há de vencer, é a Morte, no fim dos
tempos (cf. 1 Cor 15,24-27).
Por isto Jesús pode dizer aos seus discípulos: "Confiai! Eu vencí o mun
do!" (Jo 16,33). Alias, Sao Joáo, mais do que qualquer outro autor sagrado, enfatiza
a nocáo de Vitoria..., Vitoria da vida sobre a morte: "É esta a Vitoria que vence o
mundo: a nossa fé" (Uo 5,4). Daf as promessas feitas aos discípulos no
Apocalipse: "Aquele que vencer, sentar-se-á sobre o trono de Cristo" (Ap 3,21),...
"com Ele regerá as nacóes" (Ap 2,26);"... receberá um nome novo" (Ap 2,17),"...
comerá do fruto da árvore da vida" (Ap 2,7), "...tornar-se-á coluna no templo de
Deus" (Ap 3,12), "...nao temerá a segunda morte" (Ap 2,11). Os cristáos sao os
oficiáis de um General que retoma da batalha em cortejo, sobre cuja estrada se
derrama agradável perfume; "Gracas sejam dadas a Deus, que por Cristo nos
carrega sempre em seu triunfo e por nos expande em toda parte o perfume do
seu conhecimento" (2Cor 2,14).
Consciente destas verdades, o cristáo, ao acompanhar as etapas do tomeio
mundial de futebol, contempla a sua transparencia; a disputa atlética é imagem do
grande tomeio que compete a cada cristáo: "Nao sabéis que os que correm no esta
dio, se abstém de tudo; eles para ganhar urna coroa perecível; nos, porém, para
ganhar urna coroa ¡mperecível?"(1 Cor 9,24s).
Se eles sao capazes de vencer, nao serei eu capaz de vencer em vista da vida
eterna?
E.B.

289
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXIX - N9 434 - Julho de 1998

Aínda Pió XII e os Judeus:

A PEQA "DER STELLVERTRETER"


de Rolf Hochhut

Em síntese: O texto a seguir explana a pega "Der Stellvertreter" (O


Vigário ou O Representante) de Rolf Hochhut, que deu origem a campa-
nha contra Pió XII frente aos nazistas. O enredo da pega, de qualidade
secundaria, leva a crer que, se Pió XII tivesse protestado contra Adolf
Hitler, as hostilidades antisemitas teriam sido sustadas ou, ao menos,
abrandadas - o que é falso, conforme atestaram os próprios judeus pou-
co depois de terminada a guerra. Pió XII fez o que pode e, de fato, salvou
a vida de muitos israelitas; só nao pode trabalhar abertamente, pois, com
fundamentados motivos, quería evitar mais veemente represalia dos na
cional-socialistas.

A campanha de difamacáo contra o Papa Pió XII comecou em 1963,


ou seja, dezoito anos após o término da Segunda Guerra Mundial. Foi
desencadeada pelo teatrólogo alemao Rolf Hochhut, mediante a pega
Der Stellvertreter (O Representante). Antes dessa data, os judeus agra-
deceram a Pió XII quanto fez em defesa deles, a tal ponto que o Grao-
rabino Zolli, de Roma, se converteu ao Catolicismo, tomando o nome de
Eugenio em homenagem ao Papa Pacelli. Entre os muitos fatos que ates-
tam o interesse de Pió XII pelos judeus, sejam citados os seguintes: quan-
do o coronel alemáo SS. Kepler exigiu do Gráo-rabino Zolli que Ihe entre-
gasse 50 quilos de ouro, o Papa mandou completar o peso de ouro com
reservas da Igreja. Logo da chegada dos alemáes a Roma, o Papa man
dou suspender a clausura dos conventos para permitir o acesso de refu
giados judeus de ambos os sexos ñas casas religiosas católicas. R.
Hochhut julgava que um solene protesto de Pió XII deteria a sanha anti
semita dos nazistas; enganava-se, pois os alemáes dominavam a Euro-

290
A PEQA "DER STELLVERTRETER"

pa e o Norte da África; podiam desencadear represalias mais veementes


em réplica a Pió XII.

A peca de Rolf Hochhut é pouco explanada; daí a conveniencia de


se divulgar o seu conteúdo e a repercussáo que teve na sua época (1963).
Toda a campanha contra Pió XII parte de um fundamento inconsistente e
falacioso, como se poderá perceber pelos dados, a seguir, aduzidos.

1. Apresentacáo da pega

1. Aos 20 de fevereiro de 1963 o teatro popular de Berlim-Oeste


dava estréia á obra de ñolf Hochhut intitulada «Der Stellvertreter», pega
posta em cena por Erwin Piscator, famoso técnico que já contava cerca
de cinqüenta anos de servico no teatro alemáo. Ao mesmo tempo era
publicado o respectivo enredo em livro da Editora «Rowohlt» de
Hamburgo.

Tal enredo referia-se a perseguicáo movida contra os judeus pelo


governo nacional-socialista. Corría o ano de 1943... Aconteceu entáo que
um jovem sacerdote jesuíta, o Pe. Riccardo Fontana, é avisado por um
oficial do SS («Schutzstaffel», tropa de defesa) alemáo de que o governo
nazista acabava de conceber um plano para exterminar por completo os
judeus. Ardoroso como é, esse jovem Religioso vai ter com o Papa Pió
XII, pedindo-lhe intervenha em favor dos israelitas mediante solene pro-
nunciamento. Pió XII, porém, recusou-se a isto, procurando atender a
interesses de sua política («razóes de Estado»). O Pe. Fontana retirou-
se entáo, e resolveu tornar-se o representante («Stellvertreter») da com-
paixáo crista junto aos judeus perseguidos, tomando sobre a sua batina
a estrela amarela (distintivo entáo imposto aos israelitas) e internando-se
com eles no campo de concentracáo de Auschwitz. Finalmente, ai veio a
morrer. Tal é, sumariamente, a trama da peca.

Em urna palavra, ela significa severa crítica ao Papa Pió XII, que é
apresentado como o chefe de urna instituicáo de interesses meramente
terrestres, gélido e cobicoso, aristocrático e destituido de atencáo para
com os sentimentos mais temos do coracáo humano.

2. Quem era propriamente o autor da pega?

Rolf Hochhut era um crente protestante alemáo de 33 anos de ida-


de, que outrora pertencera á Organizacáo da Juventude Nazista. Nos
seguintes termos expós ele o seu drama de adolescencia:

«Eu tinha quatorze anos em 1945; a queda total da Alemanha me


abalou profundamente. Nao pude deixar de me propor a questáo: 'Que
farias se tivesses idade suficiente para intervirna vida pública?'Assim fui
levado a estudaro que o supremo representante do ideal cristáo fez dian-

291
TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

fe de tantos crimes».

Hochhut pós-se entao a ler as obras de Leáo Polikov, historiador


israelita de París, e de Josef Wulf, escritor berlinense. E, como fruto de
suas reflexóes, veio a escrever a peca «Der Stellvertreter». Se Pió XII
tivesse protestado contra os desmandos racistas de Hitler, julga Hochhut,
haveria mobilizado os ánimos de cerca de 500 milhóes de católicos do
mundo inteiro, obrigando-os a tomar a defesa dos judeus; em particular,
teria excitado os 35 milhóes de católicos alemáes para resistirem á cam-
panha anti-semita. Tais forcas, opondo-se a Hitler na medida do possí-
vel, nao teriam deixado de obter um tratamento mais justo e humano
para o povo judeu.

3. A peca assim concebida teve repercussáo extraordinaria, embo-


ra Hochhut até a estréia conservasse a impressáo de que provavelmente
seria interditada pela opiniáo pública. Os principáis órgaos da imprensa e
os empresarios de teatro da Alemanha se fizeram representar na exibi-
cao inaugural e, logo no dia seguinte, o empresario Peter Hall solicitava a
pega para ser apresentada em temporada da «Royal Shakespeare
Company» no teatro Aldwych de Londres durante o mes de setembro de
1963.0 decorador Leo Kerz, por sua vez, negociou a encenacáo de «Der
Stellvertreter» em Nova lorque no mes de outubro de 1963 e, posterior
mente, em París. A «Haagsche Comedie» de Haia (Holanda) também se
candidatou, sem demora, a um contrato para exibicóes.

Desde entáo, Hochhut mostrou-se tranquilo e confiou na sorte feliz


de sua obra. Afirmava que esta nao hostilizava o Catolicismo; era dema
siado crista para que pudesse ser tida como anticatólica, declarou ele; e
mais de urna vez terá reconhecido a acáo dos numerosos sacerdotes
católicos que defenderam os judeus.

Nao obstante, o trabalho de Hochhut suscitou opinióes contraditó-


rias entre os críticos, principalmente na Alemanha. Apontam-se graves
falhas em seu conteúdo, falhas que transmitem urna interpretacáo unila
teral e tendenciosa dos acontecimentos a que Hochhut alude. A elegan
cia, porém, da apresentacáo artística terá logrado o éxito á pega, contri-
buindo para captar simpatías.

Que dizer da obra considerada com serenidade?

2. Avaliacáo da pega

Entre os cronistas que, com seriedade, analisaram «Der


Stellvertreter», destaca-se o historiador Dr. Hans Buchheim, que redigiu
seu parecer, publicando-o no periódico «Herderkorrespondenz» XVIII 8
(maio de 1963, 377-381).

292
A PEQA "DER STELLVERTRETER"

Em síntese, eis o que Buchheim, acompanhado por cronistas nao


somente católicos, mas também nao-católicos, aponta de falho ou ten
dencioso em «Der Stellvertreter»:

a) Hochhut construiu sua pega sobre urna suposicáo que, para ele,
é quase axioma, a saber: se Pió XII tivesse levantado claramente a voz
contra o anti-semitismo, teria detido o exterminio dos judeus planejado
por Hitler.

Ora, dizem os críticos, somente quem nao estudou nem experi-


mentou de perto as condicdes da vida sob o regime nazista pode admitir
tal afirmacáo. O próprio Hochhut dá provas de nunca ter tomado conhe-
cimento exato do que era a rede administrativa do governo nazista (ou,
ao menos, supóe em sua pega urna organizacáo govemamental que nao
corresponde á realidade histórica do regime hitlerista).

É o que se depreende, por exemplo, quando ele afirma que o mi


nistro Himmier organizou o corpo policial do SS na base das normas
contidas nos «Exercfcios Espirituais» de S. Inácio de Loiola, ou... quando
apela para a autoridade de Gerald Reitlinger, cujos escritos sao táo defi
cientes, do ponto de vista científico, que nenhum estudioso serio os toma
em consideracáo, ou aínda... quando descreve a personalidade e a acáo
dos carrascos dos judeus (o «Doutor» que dirige o campo de concentra-
cáo de Auschwitz, é estilizado a ponto de se tornar símbolo do demonio).

Na verdade, o governo de Hitler controlava de tal modo a vida pú


blica e particular da nacáo que, humanamente talando, era impossível a
Pió XII, mediante um pronunciamento verbal (ou seja, mediante um ins
trumento de efeitos meramente moráis e nao violentos), derrogar aos
planos de acáo do regime. Se a torga das armas estrangeiras tantos anos
levou para destruir a máquina nacional-socialista, que poderia pretender
a torga meramente moral da palavra do Papa ou dos valores filosóficos,
religiosos ou simplesmente humanitarios que Pió XII havia de evocar?

Ademáis pergunta-se: como poderiam os católicos da Alemanha


tomar conhecimento exato do que o Papa Pió XII houvesse dito? As no
ticias e os documentos que fossem enviados para a Alemanha, passa-
vam por rigorosa censura. Os programas de radio do estrangeiro eram
vedados, de modo que dificilmente alguém ousava difundir o que ouvira
da Radio Emissora do Vaticano ou de Londres... De antemáo o governo
fazia questáo de dizer que tais fontes de noticias eram tendenciosas;
procurava contrabalangá-las com noticias contraditórias. Pelo mesmo
motivo, ninguém se arriscava a divulgar algum escrito proveniente da
Santa Sé e nao devidamente aprovado pela censura nazista.

E, caso se espalhasse a noticia proveniente do estrangeiro e

293
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

concernente a acontecimentos da Alemanha, como poderiam os cida


dáos alemáes ter certeza de que tal noticia era fiel e nao tendenciosa?
Ninguém sabia exatamente o que se dava no interior do país. Em particu
lar, quanto aos judeus alemáes, nao eram condenados a morte senáo
após um ano de isolamento, de modo que, quando eram presos, os cida
dáos que os conheciam nao percebiam que havia intencáo de os matar;
o plano de acao anti-semita era assaz dissimulado. A extincáo dos ju
deus em geral se dava em lugares remotos no Oriente. Quanto aos ju
deus estrangeiros atingidos pelo nacional-socialismo, eram desconheci-
dos dos cidadáos alemáes, de sorte que pouca gente tomava consciéncia
de que também estavam destinados a ser sistemáticamente eliminados.

Observam os cronistas mais o seguinte: dado que os católicos ale


máes se pudessem certificar de que o Papa havia protestado contra o
anti-semitismo do governo nazista, nao te Mam podido fazer coisa alguma
que realmente criasse obstáculo á campanha de Hitler; eram demais vi
giados pela policía, de modo mesmo a nao ter possibilidade de se con
gregar e organizar para uma acao de conjunto nessa linha.

Portante verifica-se que um protesto solene de Pió XII contra a


perseguicáo aos judeus na Alemanha, por mais bem concebido que fos-
se, praticamente nao conseguiría alterar a situacáo alema. E nao sonrien
te...; teria mesmo agravado as condicoes de vida de judeus e cristáos
sujeitos ao regime nazista, pois este, consoante a praxe dos governos
totalitarios, teria provavelmente tomado medidas violentas de represalia,
visando a impedir qualquer reacáo dos católicos. Maiores males e mais
acerbos sofrímentos poderiam assim ser provocados por uma denuncia
pública e hostil feita por S. Santidade o Papa.

b) Eis, porém, que Hochhut, no decorrer da peca, procura reforcar


sua crítica a Pió XII lembrando que o bispo von Galen, de Münster (Ale
manha), protestou publicamente contra o exterminio (ou a eutanasia) de
debéis mentáis e alienados na Alemanha, de maneira tal que a denuncia
pública logrou efeitos benéficos, detendo muitos crimes. Tivesse Pió XII
feito o mesmo no tocante ao anti-semitismo, e haveria sido bem sucedi
do...

Em resposta, observam os historiadores que o argumento de


Hochhut mais uma vez parece desconhecer a verdadeira realidade histó
rica. Com efeito, eram diversas as táticas aplicadas na eliminacáo dos
mentecaptos e na dos judeus. A eutanasia dos doentes mentáis era, sim,
praticada aberta e oficialmente, com conhecimento do público, de modo
que os protestos do bispo de Münster nao faziam senáo exprimir um
repudio já experimentado por muitos e muitos cidadáos alemáes; goza-
vam assim de forca ou autoridade especial. - Ao contrario, o exterminio

294
A PEgA "PER STELLVERTRETER"

dos judeus era praticado pelo governo em termos clandestinos, de sorte


que freqüentemente escapava á observacao do público. Nessas circuns
tancias, uma voz de protesto, proveniente nao do interior da Alemanha,
mas do estrangeiro (como seria a voz de Pió XII), arriscava-se a ser con
trovertida ou, ao menos, a carecer de repercussáo seria; ninguém na
Alemanha poderia tomar consciéncia exata do que o Papa estivesse de
nunciando. Ademáis nota-se que Hitler dava muito menos importancia á
eliminacáo dos doentes mentáis do que á dos judeus; em conseqüén-
cia, podía mais fácilmente recuar no empreendimento daquela cam-
panha do que no desta: o anti-semitismo e a conquista de «espaco
vital» no Oriente eram, de fato, pontos centráis do programa de Hitler,
pontos dos quais o «Führer» nao podia abrir máo sem renunciar á sua
própria ideología.

Foi justamente por ponderar esses elementos ou por pensar com


realismo nos prováveis efeitos (positivos e negativos) de suas palavras
que Pió XII preferiu nao exarcebar os ánimos mediante solene protesto
contra o anti-semitismo de Hitler. Ele se manifestou, sim, intenso a esta
iniqüidade, mas em termos moderados pela prudencia que a situacáo
exigia. - É o que passamos a considerar no parágrafo abaixo.
3. Depoimentos significativos

1. Mais de uma vez, durante e após a guerra, o Sumo Pontífice


expós e justificou sua atitude perante o anti-semitismo de Hitler.

A primeira ocasiáo teve lugar aos 27 de fevereiro de 1943. Trata-se


de uma carta de Pió XII ao bispo de Berlim, futuro Cardeal von Preysing,
em que se lé o seguinte trecho:

«Como Supremo Pastor dos fiéis, estamos ciosos de veros vossos


católicos (da Alemanha) guardar as suas convicgóes e a sua fé isentas
de qualquer compromisso com principios e atividades que contrariam a
lei de Deus e o espirito de Cristo e que chegam nao poucas vezes a
escarnecer estes valores sagrados. Muito nos consolou a noticia de que
os católicos, principalmente os de Berlim, mostraram grande caridade
para com os cidadáos náo-arianos oprimidos. A este propósito deseja-
mos dizer uma palavra de paterno agradecimento e de íntima simpatía a
Mons. Lichtenberg, que se encontra atualmente no cárcere».

Pió XII assim aludía a uma sociedade fundada por Mons. von
Preysing na diocese de Berlim, a fim de prestar auxilio aos fiéis de orí-
gem judaica. Essa sociedade prestou realmente grandes servicos. Mons.
Lichtenberg (a quem Hochhut dedicou a sua pega) era entáo Preposto do
cabido de Berlim; havia de morrer no comboio que o deportava para um
campo de concentracao.

295
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

Continuando em sua carta, revelava Pío XII o «segredo» da sua


atitude:

«Deixamos aos pastores de almas que exercem as suas fungóes


nos respectivos postos, o cuidado de avaliaraté que ponto é preciso usar
de reserva, apesar dos motivos de intervengáo, a fim de evitar maiores
males; com efeito, as declaragóes de bispos arriscam-se a acarretar re
presalias e desencadear paixóes; além disto, é preciso levar em conta
outras circunstancias, devidas talvez á duragáo e a psicología da guerra.
É este um dos motivos pelos quais Nos impomos certas reservas em
Nossas declaragóes: a experiencia que fizemos em 1942, entregando,
para a distribuigáo entre os fiéis, alguns escritos pontificios, justifica a
Nossa atitude».

Ainda na mesma missiva, Pió XII se referiu a declarares do bispo


de Berlim, Mons. von Preysing, que denunciavam o caráterdesumano da
ditadura nacional-socialista:

«Somos gratos a Vos, venerável Irmáo, pelas palavras claras e


nítidas que em ocasióes diversas tendes dirigido aos vossos fiéis e, aira-
vés deles, ao público em geral. Temos em vista, entre outras coisas, a
vossa explanagáo de 28 dejunho de 1942 referente ao conceito cristáo
de direito, assim como os vossos pronunciamentos no dia de Finados em
novembro passado a respeito do direito de todo homem á vida e ao amor;
principalmente, porém, temos em mente a vossa carta pastoral do Ad
vento, que foi lida ñas provincias eclesiásticas da Alemanha ocidental, a
propósito dos direitos de Deus, do individuo e da familia».

Essa carta pastoral era a resposta de Mons. von Preysing á deci-


sáo de exterminar os judeus que pairava nos planos de Hitler. Afirmava
em termos claros:

«Nenhum dos direitos fundamentáis do homem - direitos á vida, á


integridade corporal, a liberdade, a propriedade, a matrimonio nao sujeito
ao arbitrio do Estado - pode ser denegado a quem nao possui o nosso
sangue ou nao fala a nossa lingua... Negar esses direitos ou agir cruel
mente contra os nossos semelhantes é injustiga nao somente para com
estrangeiros, mas também para com o nosso povo».

Pió XII, acentuando o valor dessas declaracóes, manifesta com


suficiente clareza e, ao mesmo tempo, com o necessário equilibrio, a sua
repulsa á perseguicáo anti-semita.

Outra ocasiáo em que o Sumo Pontífice quis esclarecer a sua posi-


cáo frente aos acontecimentos da Alemanha, foi urna audiencia dada ao
Corpo Diplomático pouco após a guerra (25/2/46). Dizia entáo:

296
A PEQA "DER STELLVERTRETER"

«Com todo o cuidado procuramos evitar qualquer pronunciamento


injusto. Contudo nao podíamos deixar de cumprir o Nosso dever de de
nunciar o mal e toda atividade merecedora de condenagáo; ao fazé-lo,
porém, tínhamos que Nos abster de expressóes que haveriam acanela
do maiores males do que beneficios para os povos subjugados, embora
tais expressóes em si fossem períeitamente justificadas pela realidade
dos fatos».

Eis aínda duas outras manifestares de Pió XII proferidas durante


a guerra mesma.

Em urna mensagem de Natal de 1942, asseverava o Pontífice:

«Perante as ¡numeras pessoas deslocadas, que o vento tempestu


oso da guerra arrancou do seu solo natal e transpós para térras estran-
geiras, tem o género humano a obrigagáo de reconstruir a ordem social
sobre as bases do direito natural. Essa obrigagáo se faz sentir perante as
centenas de milhares daqueles que, embora inocentes, as vezes só por
pertencerem a talpovo ou tal raga, sao condenados á morte ou á miseria
mais e mais angustiante».

Dirigindo-se ao Sacro Colegio em 2 de junho de 1943, dizia mais


S. Santidade:

«Com carinho especial procuramos dar ouvidos aos clamores da


queles que com o coragáo temeroso se voltam para Nos. Sao homens
que, por causa da sua nacionalidade ou por causa da sua raga, sao sub-
metidos a tremenda desgraga e a duras penas, sofrem graves restrigóes,
aínda que sejam inocentes, condenados mesmo ao exterminio. Os
governantes dos povos nao devem esquecer que... quem traz a espada
só pode dispor da vida e da morte de seus semelhantes em conformida-
de com a leí de Deus, do qual procede todo poder».

Destas explicacóes se depreende bem que foi justamente o desejo


de evitar maiores injusticas e violencias que induziu Pió XII á sobriedade
nos termos de sua condenacáo ao anti-semitismo.

2. Conscientes disto, os bispos da Alemanha, solenemente reuni


dos de 4 a 6 de margo de 1963, houveram por bem fazer a seguinte
declaracáo, que pode ser tomada como um ato de desagravo á memoria
de Pió XII:

«Pió XII cumpriu a sua missáo de Supremo Pastor da Igreja com


admirável senso de responsabilidade e justiga, numa época que se tor
nara particularmente difícil e confusa em virtude da segunda guerra mun
dial e da desordem conseqüentemente desencadeada no seio de muitos
povos... O povo alemáo deve gratidáo a Pió XII principalmente pela be-

297
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

nevoléncia paterna de que o Pontífice Ihe deu provas após a guerra per
dida. Sua prontidáo para auxiliar e seu ánimo justo abriram o caminho ao
povo alemáopara que se reintegrasse na comunidade das nacóes. Épor
isto que julgamos particularmente deprimente o fato de que em meio a
esse mesmo povo a atividade de Pió XII seja falsamente apresentada e
difamada a sua memoria».

Fazendo eco a este depoimento do episcopado católico, o famoso


bispo luterano Dibelius em Berlim, por sua vez, declarava aos 3 de abril
de 1963, tendo em vista a obra de Hochhut:

«Essa pega nao presta bons servigos nem ao nosso povo nem as
nagóes que aínda estáo sofrendo dos golpes recentemente experimenta
dos...

Falei com Pió XII apenas urna vez. Tive dele urna impressáo bem
diferente da que a obra de Hochhut pretende comunicar. Até mesmo um
jovem autor devería compreender que mensagens papáis enderegadas a
todos os povos tém que obedecer a estilo diverso do das mensagens
destinadas a um círculo restrito; o jovem autor nao devería qualificar as
mensagens gerais de 'oratoria vazia' e 'discurseira' nem sugerir ao leitor
a suspeita de que opróprío Papa nao acreditava no que aíproclamava».

Alias, Hochhut mesmo, na sua peca, parece reconhecer a inutilida-


de ou, antes, os efeitos nocivos que teria tido na Alemanha algum pro-
nunciamento feito no estrangeiro sobre a situacáo interior do «Reich».
Sim; eis o que um dos personagens da peca, Gerstein, responde ao Pe.
Riccardo Fontana, quando este o incita a fazer denuncia antinazista atra-
vés da Emissora Radiofónica de Londres:

«Herrgott - ahnen Sie nur, was Sie da verlangen:


Ich tue alies - aber dies kann ich nicht tun.
Eine Rede von mir am Radio London,
Und in Deutschland wird meine Familie ausgerottet».

O que quer dizer: «Ó Senhor Deusl Imagine um pouco o que está


pedindo: posso fazer tudo, mas, isso, nao o posso. Basta que eu me
pronuncie na Radio de Londres para que na Alemanha minha familia ve-
nha a ser exterminada».

Embora pareca ter reconhecido a forca desse argumento, Hochhut


daí nao deduziu as conseqüéncias no que se refere ao comportamento
do Papa Pió XII.

3. A título de complemento, váo aqui transcritos outros abalizados


testemunhos, que afirmam a inutilidade ou mesmo a inconveniencia de
protestos veementes de Pió XII contra a política racista de Hitler.

298
A PEgA "PER STELLVERTRETER" 11

Assim, por exemplo, se exprime o próprio escritor judeu Poliakov:


«É certamente doloroso termos de verificar que, durante a guerra
inteira, enquanto as fábricas de armas mortíferas funcionavam ininter-
ruptamente, o Chefe Supremo da Igreja se calava. Contudo será preciso
reconhecer, na base de experiencia feita na época e no lugar adequado,
que protestos públicos do Papa podiam acarretar desapiedadas represa
lias... Qual teña sido a repercussáo de uma condenagáo solene da parte
da autorídade máxima do Catolicismo? Certamente uma atitude rígida
(do Papa) diante da problemática teña tido vastas conseqüéncias no se-
tor das idéias; nao podemos, porém, dizer que efeitos práticos tal atitude
teña provocado, seja para as instituigoes da Igreja Católica, seja para o
povo judeu» (Frankfurter Allgemeiner Zeitung 11/IV/63).
O autor francés Mauriac professa a mesma opiniáo:
«O silencio do Papa e da hierarquia correspondía a uma assusta-
dora exigencia das circunstancias; tratava-se de evitar maiores males».
Merece ainda atencáo o depoimento de outro personagem israelita:
Harry Greenstein. Este senhorfoi o Presidente das Associacoes judaicas
caritativas de Baltimore (U.S.A.); tendo em vista a peca de Hochhut, re-
solveu escrever uma carta ao arcebispo católico da mesma cidade, D.
Shehan, relatando-lhe o seguinte:

Como oficial da U.N.R.R.A. («Agencia das Nacóes Unidas destina


da a socorrer as vítimas civis da guerra»), Greenstein esteve na Palesti
na, onde se encontrou com o Grao-Rabino Herzog, de Jerusalém. Este
conhecera Pío XII ñas funcóes de simples sacerdote e sempre mantivera
correspondencia epistolar com ele durante a guerra. Herzog encarregou
Greenstein de levar ao Papa a sua mensagem de gratidáo por quanto
Pió XII fizera em favor dos judeus da Italia. - Pouco depois, Greenstein
foi recebido em Roma por Pío XII. Refere entáo verbalmente:
«Jamáis esquecerei esse encontró. Sua Santidade tinha um corpo
franzino, mas nunca me defrontei com alguém que desse tal impressáo
de profundidade espiritual, associada a notável afabilidade. Disse a Sua
Santidade que Ihe Ievava uma béngáo especial do seu amigo o rabino
Herzog, em reconhecimento dos esforgos que fizera para salvar a vida
dos israelitas durante a ocupagáo nazista na Italia. Ainda tenho muito
viva a lembranga do brilho do seu olhar; o Papa respondeu que apenas
lamentava nao ter podido salvar maior número de judeus».
As fontes donde colhemos tais documentos, sao:
Herder-Korrespondenz XVIII8 (maio de 1963) pág. 377-381;
Informations Catholiques Internationales n5189 (1Bde abril de 1963)
pág. 15s.

299
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

Após as consideracóes até aqui propostas, procuremos chegar a


urna

Conclusao

Os críticos ainda apontam outros traeos de enredo de «Der


Stellvertreter» que revelam, da parte de Hochhut, pouco conhecimento
da realidade histórica que este autor focaliza e pretende censurar.

Assim a peca apresenta o Pe. Riccardo Fontana S. J. no campo de


concentracáo de Auschwitz, onde «o Representante» (da caridade cris
ta) teria ¡do unir sua sorte á dos judeus massacrados... Contudo o espec
tador colhe a impressao de que o Pe. Fontana se encontra no campo de
concentracáo «em visita meramente transitoria»...

Os prelados da Igreja Católica sao descritos por Hochhut á seme-


Ihanga dos maiorais do governo nazista, maiorais apresentados pelo mes-
mo escritor na sua obra «Die Streiflichtern».

A intencáo de caricaturar se mostra especialmente marcante no


que concerne á pessoa de Pió XII. Este nao somente aparece como frió
e maquiavélico chefe de Estado político, mas ainda como personalidade
mesquinha em seu comportamento íntimo. Com efeito, apelando para
declaracóes do médico pessoal de Pió XII, o Dr. Galeazzi-Lisi, Hochhut
descreve o Papa como «maníaco de higiene», o qual teria tido horror e
se teria esquivado a audiencias, por motivos de profilaxia ou defesa da
própria saúde. Ora na verdade sabe-se que poucos Papas tiveram pro
grama de audiencias diarias táo ocupado como Pió XII.
Mais ainda: o Pontífice haveria nutrido a grande ambicao de vir a
ser canonizado um dia após a sua morte. Para conseguir este objetivo,
haveria preparado o caminho, canonizando o Papa Pió X e introduzindo
o processo de canonizacáo de Pió IX.

Ao interpretar desta forma as atitudes de Pió XII, Hochhut parece


ter-Se deixado levar muito mais por urna preconcebida tendencia a desfi
gurar do que pelo desejo de analisar objetivamente a historia passada.
Ora quem assim procede perde de antemáo a autoridade aos olhos
do público. É o que tira o valor ou o caráter de seriedade as críticas em-
preendidas por Hochhut á pessoa do Papa Pió XII. Daí se vé que a peca
«Der Stellvertreter», incutindo falsa idéia da realidade histórica, exige
reprovacáo, longe de merecer encomio ou recomendacao.

APÉNDICE

As acusagóes contra Pió XII encontram seu mais nítido desmenti


do na obra intitulada Actes et Documents du Saint Siége relatifs á la

300
A PEQA "PER STELLVERTRETER" 13

seconde guerre mondiale (Atos e Documentos da Santa Sé relativos á


segunda guerra mundial), publicada em doze volumes entre 1965 e 1981.
Após o lancamento da peca de Rolf Hochhut, o Papa Paulo VI, que fora
assíduo colaborador de Pió XII, autorizou a publicacáo dos documentos
da Santa Sé referentes á segunda guerra mundial. O trabalho foi confia
do a quatro sacerdotes jesuítas: P. Blet, A. Martini, R. A. Graham e B.
Schneider, que se encarregaram de minuciosa pesquisa dos arquivos da
Secretaria de Estado do Vaticano; puderam assim acompanhar, em vari
os casos, dia por dia ou hora por hora a atividade de Pió XII e de seus
colaboradores. Nos arquivos se achavam as mensagens e discursos de
Pió XII, a correspondencia do Papa com as autoridades civis e eclesiás
ticas, Notas da Secretaria de Estado, comunicacoes de oficiáis subalter
nos a superiores para transmitir ¡nformacóes e propostas, notas de cará-
ter particular de oficiáis da Secretaria, oficios diplomáticos da Secretaria
de Estado com as Nunciaturas Apostólicas, Internunciaturas, Delegacóes
Apostólicas, Embaixadas e Ministros credenciados junto á Santa Sé. A
documentacáo evidencia os esforcos da diplomacia da Santa Sé para
evitar a guerra de 1939-45, para dissuadir a Alemanha de agredir a
Polonia, para convencer a Italia de se separar da Alemanha nazista; es-
táo ai presentes os telegramas aos soberanos da Bélgica, da Holanda e
do Luxemburgo após a invasáo desses territorios pelas tropas germánicas,
os corajosos conselhos dados a Benito Mussolini e ao rei Vítor Emanuel
III para pedirem a paz isoladamente.

A publicacáo de tais documentos tem seu paralelo em colecoes


semelhantes devidas a diversas nacóes envolvidas no confuto: Foreign
Relations of the United States, Diplomatic Papers, Documents on British
Foreign Policy (1919-1939), Documenti Diplomatici Italiani, Akten zur
deutschen auswártigen Politik 1918-1945.

O documentarlo da Santa Sé dissipa, entre outras, duas objecoes


freqüentes:

1) o silencio de Pió XII diante da perseguicao aos judeus. - Os


textos mostram os esforcos tenazes e continuos do Papa opondo-se ao
encarceramento e á deportacáo de israelitas. O Papa agia discretamen
te, utilizando os prestimos das Nunciaturas e dos Bispos de diversos pa
íses. Pió XII e a Secretaria de Estado explicaram repetidamente as ra-
zóes dessa atitude discreta e um tanto imperceptível: os protestos públi
cos nada teriam conseguido; antes, haveriam agravado os tormentos dos
perseguidos e aumentado o número dos mesmos, visto que Hitler tinha
ampios poderes sobre a Europa de sua época.

2) O Vaticano teria recebido o ouro dos nazistas ou, melhor, o ouro


subtraído pelos nazistas aos judeus, e, com esse ouro, teria providencia-

301
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

do a fuga de criminosos nazistas para a América Latina. - Ora está com-


provado que a fonte de tal noticia é um suposto jornalista "vaticanista"
chamado Virgilio Scattolini, que inventava "episodios" e os passava a
todas as Embaixadas, inclusive á dos Estados Unidos; esta, por sua vez,
os transmitía ao Departamento do Tesouro norte-americano, que os en-
tregava á imprensa. Ver R. A. Graham, II vaticanista falsario.
L'incredibile sucesso di Virgilio Scattolini, em La Civiltá Cattolica
1979 III, pp. 467-478.

Nos arquivos da Secretaria de Estado do Vaticano nao há a míni


ma noticia da entrada de ouro nazista. Quem propaga tal noticia, tem a
obrigacáo de exibir alguma prova ou documentacáo, talvez um recibo
que tenha ficado em máos do Governo alemáo. - Ao contrario, há nos
arquivos a noticia de que Pió XII doou aos judeus quinze quilos de ouro,
quando o Grao-Rabino Ihe pediu ajuda para atender a uma exigencia da
Policía alema.

Existe o livro de Ladislao Farago com o título Á la recherche de


Martín Bormann et des rescapés nazis d'Amérique du Sud (Á procu
ra de Martín Bormann e dos fugitivos nazistas da América do Sul), que
mésela historia e fiecáo, descrevendo a pista dos chefes nazistas em
fuga de Roma para a Argentina, o Paraguai e o Chile; uma alta dose de
imaginacáo romanceada caracteriza tal obra.

Seria preciso, pois, que os acusadores de Pió XII se munissem de


provas para fundamentar suas objecoes, provas, porém, que nao exis-
tem. Ao contrario, o que se encontra ñas fontes auténticas, é o testemu-
nho de que Pió XII e a Santa Sé tomaram coerente posicáo contra o
nazismo, procurando evitar represalias violentas ou mais violentas da
parte da faecáo hitlerista.

Entre esses testemunhos, está o da Sra. Golda Meír, Ministra das


Relacóes Exteriores do Estado de Israel, que, por ocasiao da morte de
Pió XII aos 9/10/1958, declarou: "A vida do nosso tempo foi enriquecida
por uma voz que exprimia as grandes verdades moráis ácima do tumulto
dos conflitos cotidianos. Pranteamos um grande servidor da paz". Por
sua vez, o presidente Eisenhower, dos Estados Unidos, afirmou: "O mun
do agora está mais pobre, após a morte do Papa Pió XII" (cf.
L'Osservatore Romano, 9/10/1958). Em suma, foram unánimes os pro
testos de admiracáo e gratidáo a Pió XII.
Vera propósito Pierre Blet, La Leggenda alia Prova degli Archivi.
Le Ricorrenti aecuse contro Pío XII, em La Civiltá Cattolica 19981, pp.
531-541.

302
Livro de peso:

"QUANDO O PAPA PEDE PERDAO"


por Luigi Accattoli

Em síntese: O livro de Luigi Accattoli é um rico repertorio de 94


textos nos quais o Papa Joáo Paulo II pede perdáo a populagóes ou
grupos ofendidos por católicos no decorrer dos sáculos. O autor se faz
benemérito por este trabalho, mas carece deprecisáo de linguagem, muito
necessária no caso. A Igreja nao se desviou como Igreja. Ela goza da
infalfvel assisténcia do Espirito Santo para guardar e transmitir incólume
o depósito da fé e da Moral; esse aspecto da Igreja pode ser chamado,
com Maritain, "a pessoa da Igreja". A mesma, porém, conta com seres
humanos falfveis e limitados; estes, sim, falham e podem desviarse das
normas de comportamento que a Igreja, Máe e Mestra, Ihes apresenta. -
Reconheceras falhas desses católicos é nobre e digno, pois sabiamente
disse S. Ambrosio: "Pecar é comum a todos os homens, mas arrepender-
se e pedir perdáo é próprio dos Santos". Ademáis, para julgar os ante-
passados, faz-se mfster recuar até a época deles e procurar compreen-
der as respectivas categorías culturáis.

O vaticanista Luigi Accattoli, do "Corriere della Sera", houve por


bem reunir num único volume 94 textos nos quais Joáo Paulo II pede
perdáo aos africanos, aos indígenas e aos nao católicos..., tendo em
vista preparar a Igreja para o terceiro milenio. O livro é rico em documen
tos cujo teor e significado podem surpreender o leitor. Exige, porém, co
mentarios, visto que Accattoli considera os fatos como jornalista e nao
como filósofo ou teólogo. Daí a conveniencia de urna reflexáo sobre tal obra1.

1. O conteúdo do livro

A obra consta de um Prefacio (Um exame do final do milenio) e de


duas Partes: 1) Antecedentes históricos e ecuménicos e 2) Pronuncía
me ntos de Joáo Paulo II. Estes versam sobre Cruzadas, Ditaduras, Divi-
sóes entre cristáos, Mulheres, Judeus, Galileu, Guerra e paz, Guerras de
religiáo, Huss, Calvino e Zvínglio, Povos indígenas, Injustas, Inquisicáo,

1 Quando o Papa pede perdió. Todos os mea culpa de Joáo Paulo II. Tradugáo
de Clemente Raphael Mahl. - Ed. Paulinas, Sao Paulo 1997, 135 x 200mm, 229pp.

303
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

Integralismo, Isla, Lutero, Mafia, Racismo, Ruanda, Cisma do Oriente,


Historia do Papa e Tráfico de negros.

O autor mostra que tempo houve em que a Igreja nao pensava em


pedir perdáo; os protestantes o teráo feito; daí por diante, os Papas Joáo
XXIII, Paulo VI e Joáo Paulo II adotaram a prática. Todavía fez-se sentir
certa resistencia a tal atitude por parte de Bispos e Cardeais, temerosos
de que isso possa suscitar mal-entendidos no grande público; "poderia
ser objeto de manipulacáo por parte de alguns" (p. 66). Apesar de tudo,
Joáo Paulo II tem prosseguido no seu propósito.

Feitas estas ponderacóes, Accattoli passa em revista os textos


"expiatorios" de Joáo Paulo II. Quem os lé, verifica que jamáis o Papa
acusa a Igreja, como tal, de haver cometido tais e tais erros; estes sao
atribuidos aos filhos da Igreja, que procederam nao raro á revelia das
explícitas instrucóes do magisterio da Igreja. O caso é típico, por exem-
plo, quando Joáo Paulo II se refere k escravizacáo de africanos. Com
efeito, aos 22/2/1992 Joáo Paulo II esteve no Senegai (África) e visitou a
ilha de Goréia, onde ainda se vé a "Casa dos Escravos", na qual eram
concentrados antes de partir para a América. Nesse local proferiu pala-
vras calorosas, que váo reproduzidas a seguir:

«Essas geragoes de negros, de escravos, fazem-me pensar que


Jesús quis tornarse escravo, que ele se fez um servidor. Ele se fez por
tador da luz da revelagáo de Deus para a escravidáo. A revelagáo de
Deus que quer dizer: "Deus-amor". Aquí se vé sobretudo a injustiga. É um
drama da civilizagáo que se dizia crista.

O grande filósofo antigo, Sócrates, dizia que aqueles que sofrem a


injustiga encontram-se em melhor situagao do que aqueles que sao cau
sa de injustiga. É o outro lado da realidade da injustiga vivida neste lugar.
É um drama humano: o grito das geragoes exige que nos nos libertemos
para sempre desse drama, porque as suas raízes estáo em nos, na natu-
reza humana, no pecado.

Vim aqui para prestar homenagem a todas as vítimas desconheci-


das. Nao se sabe exatamente nem quantas nem quais foram tais vítimas.
Infelizmente, a nossa civilizagáo, que se dizia e se diz crista, voltou por
um momento a prática da escravidáo, mesmo no nosso sáculo. Sabe
mos o que foram os campos de exterminio. Há neles um modelo de
escravidáo. Nao podemos nos deixar tragar pela tragedia da nossa
civilizagáo, da qossa fraqueza, do pecado. Precisamos permanecer
fiéis a um outro grito, o grito de Sao Paulo que disse: "Ubi abundavit
peccatum, superabundavit gratia [onde abundou o pecado, superabun-
dou a gragaj.

304
"QUANDO O PAPA PEDE PERDÁO" 17

A visita á Casa dos escravos nos traz á memoria aquele tráfico dos
negros que Pió II, escrevendo em 1462 para um bispo missionário que
partía para a Guiñé, definía como um crime enorme, magnum scelus.
Durante todo um período da historia do continente africano, homens,
mulheres e enancas negros foram condenados nesse pequeño lugar,
expulsos de sua térra, separados dos seus entes queridos, para serem
vendidos como mercaduría. Eles vinham de tudo quanto é país e em gru
pos partiam para outras plagas conservando como última imagem da África
nativa a massa de rocha basáltica de Goréia. Pode-se dizerque esta ilha
permanece na memoria e no coragáo de toda a diáspora negra.

Tais homens, mulheres e enancas foram vftimas de um vergonhoso


comercio do qual tomaram parte pessoas batizadas, mas que nao viviam
a sua fé. Como esquecer os enormes sofrimentos infligidos, desprezan-
do os direitos humanos mais elementares, ás populagdes deportadas do
continente africano? Como esquecer as vidas humanas aniquiladas pela
escravidáo?» (pp. 221s).

Observe-se que o Papa se refere aos cristáos e nota que se afasta-


ram das diretrizes de Pió II promulgadas em 1462. Noutra ocasiao, em
19/4/95, talando a Bispos do Brasil, Joáo Paulo II fala de outras normas
do magisterio da Igreja:

«Com relagáo á escravidáo africana, já tive a oportunidade de im


plorar o perdáo do céu pelo vergonhoso comercio de escravos do qual
participaram também nao poucos cristáos e que, a partir do continente
africano, sustentou a máo-de-obra ñas novas térras descobertas. Na-
queles tempos de tristes recordagóes nao foram suficientes as severas
proibigdes dos meus veneráveis predecessores Pió II em 1462 e Urbano VIII
no ano de 1693 e nem sequer o discurso agressivo de Bento XIV (cf.
Bulla Immensa Pastorum), que chegou a impor a excomunháo aqueles
que possuíam, vendiam ou maltratavam os escravos ou que induziam os
africanos á escravidáo.

Nao obstante a sociedade e a cultura da época, a Igreja nao ces-


sou nunca de defender os escravos diante da situagao injusta de que
eram vítimas, como atestam, porexemplo, as Constituigóes da Bahía, em
1707, primeira diretñz canónica elaborada em territorio brasileiro, que
procuraram atenuar o máximo possível as terríveis conseqüéncias da es
cravidáo (cánones 303 e 304) (Visita ad limina dos bispos brasileiros, 1S
de abril de 1995)» (pp. 225s).

2. Que dizer?

Dois ¡tens se impóem á nossa consideracáo, além do que já foi dito


até aqui.

305
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 434/1998

2.1. Imprecisio de linguagem

Á p. 20 descreve Accattoli:
«Urna forma particular de resistencia ao admitir erros dopassado é
a praticada com respeito ás outras confissóes cristas, o que impediu a
Igreja Católica de participar do movimento ecuménico em sua primeira
fase. Se fizermos coincidir a data do aparecimento do movimento, como
é habitual entre os historiadores do assunto, com a do Congresso Missi-
onário de Edimburgo, em 1910, veremos que a Igreja Católica adere a
esse movimento só meio sáculo depois, no inicio da década de 1960,
com a constituigáo do Secretariado para a Uniáo (1960) e com a aprova-
gao, ocorrida no Concilio, do Decreto sobre o ecumenismo (1964).

Tal atraso ainda se deveu ao receio de que a participagáo da Igreja


Católica no movimento pela uniáo pudesse incluir o reconhecimento de
que havia também urna responsabilidade déla ñas rupturas que se quería
remediar».

Esta descricáo histórica supóe insuficiente conhecimento do as


sunto. Com efeito; o ecumenismo, para os cristáos nao católicos, signifi
ca procura de bom relacionamento entre comunidades eclesiais na base
de um mínimo denominador comum ou de um miniCredo. Cada comuni-
dade continua autocéfala. A falta de unidade é expressa pelo fato de que
nao há urna Ceia do Senhor única, mas diversas Ceias. Ora este concei-
to de ecumenismo nao é o da Igreja Católica; esta sabe que as verdades
da fé foram apregoadas por Jesús e transmitidas ininterruptamente ás
geracoes posteriores na Igreja fundada por Cristo e assistida pelo Espiri
to Santo; o Credo é sempre o mesmo. Ele é vivenciado dentro da estrutu-
ra da Igreja que tem sua origem em Cristo e nos Apostólos; donde se
segué que ecumenismo, para os católicos, é a procura do reatamento da
unidade rompida por cismas diversos, sob o pastoreio de Pedro e seus
sucessores, os Bispos de Roma. Eis por que a Igreja Católica nao é
membro do Conselho Ecuménico das Igrejas (protestantes e ortodoxas
orientáis); a Igreja Católica envia observadores ás assembléias de tal
Conselho e cultiva o ecumenismo mediante o seu Secretariado para a
Uniáo dos Cristáos; este se esforca por promover encontros de diálogo
que dissipem os preconceitos de parte a parte e mais e mais aproximem
os cristáos entre si. O ecumenismo exige também conversáo radical dos
fiéis católicos á sua vocacáo católica, a fim de que possam testemunhar
com lucidez a fé que receberam dos Apostólos.

2.2. Pessoa e Pessoal da Igreja

Em outras passagens do seu livro Accattoli diz que "a Igreja se


desviou..."; cf. pp. 7.11. A palavra é ambigua e suscetível de mal-entendi-

306
"QUANDO O PAPA PEDE PERDÁO" 19

dos. Faz-se mister distinguir, com Jacques Maritain, entre pessoa e pes
soal da Igreja.

A pessoa é o que a Igreja tem de transcendente; ela é o Corpo de


Cristo, infalível quando se trata de definir verdades de fé e de Moral;
Jesús prometeu-lhe sua assisténcia indefectível para que ela possa guar
dar intato o depósito do Evangelho até o fim dos tempos; cf. Mt 28,18-20.

Com outras palavras: a pessoa da Igreja assim entendida nao se


pode desviar, porque acompanhada pela indefectível assisténcia do Es
pirito (cf. Jo 14,24; 16,13-*I5). Nem se poderia pensar de outro modo; se
Jesús nao garantisse á sua Igreja a infalibilidade doutrinária, o Evange
lho se diluiría e perder-se-ia toda a obra de Cristo. É portante lógico e
necessário que a Igreja nao se desvie, cometendo falhas em questóes
ligadas á fé e á Moral.

O pessoal da Igreja sao as criaturas limitadas e falíveis que erram;


foi pelos erros cometidos pelo pessoal da Igreja que o Papa pediu per-
dáo. No decorrer de vinte séculos houve, sem dúvida, falhas humanas.
Seria mesmo estranho que os homens e as mulheres da Igreja nao fa-
Ihassem; Jesús, em sua parábola de Mt 13,24-20.36-43, nos diz que no
campo do Senhor há joio e trigo, e deve haver joio até o fim dos tempos.
Joáo Paulo II é nobre e digno ao reconhecer o joio na historia da Igreja.
Alias, dizia muito sabiamente S. Ambrosio: "Errar é comum a todos os
homens, mas arrepender-se e pedir perdáo é próprio dos Santos". Reco
nhecer o pecado é sinal de sinceridade, de amor á verdade e de grande
za de alma.

Deve-se observar ainda o seguinte. Hoje em dia vé-se com clareza


que os antepassados erraram. Mas pode-se perguntar se os antigos ti
nham a mesma clareza que nos. Para julgar os antepassados sem co
meter injustica, o homem moderno tem que se transportar até a época
deles e avahar dentro dos parámetros da sua cultura o que eles pratica-
ram; nao é lícito aplicar categorías modernas a geracoes que nao as
tinham nem podiam ter. Seja dito isto nao para negar erros do passado,
mas para que nao se cometam injusticas, exigindo dos antepassados
concepcóes e atitudes que Ihes eram estranhas.

Assim o livro de Accattoli é valioso repertorio de documentos; vem


a ser interessante informativo da recente historia da Igreja. Mas sugere
concepcóes eclesiológicas erróneas, que o leitor procurará corrigir recor-
dando-se da importante distincáo entre a pessoa e o pessoal da Igreja.

307
Solícitude Pastoral:

AS OBRAS CARITATIVAS DE JOÁO PAULO II

Em síntese: As páginas subseqüentes apresentam o elenco das


obras caritativas de Joáo Paulo II no decorrer do ano de 1997 realizadas
mediante o Pontificio Conselho "Cor Unum", a Fundagáo "Populorum
Progressio" e a Fundagáo Joáo Paulo II para o Sahel num total de US$
4.833.000. Este dinheiro provém do Óbolo de Sao Pedro, coleta efetuada
todos os anos aos 29/06, e de outras doagoes de sociedades e de fiéis
católicos feitas á Santa Sé.

Todos os anos, por ocasiáo da festa dos Apostólos Sao Pedro e


Sao Paulo (29/06), faz-se em todas as igrejas a coleta do Óbolo de Sao
Pedro. A quantia recolhida é enviada ao S. Padre, que a distribuí a gru
pos de pessoas ou a regióes necessitadas, independentemente de sua
crenca religiosa. Ao Óbolo de Sao Pedro se juntam outros donativos pro
venientes do mundo inteiro, permitindo ao S. Padre atender ás carencias
de numerosas populacóes.

Tres sao os órgáos mediante os quais o Papa exerce sua acao


caritativa:

1) O Pontificio Conselho "Cor Unum", que tem em vista vítimas de


catástrofes e projetos de promocio humana e crista; 2) a Fundagáo
"Populorum Progressio", voltada para as comunidades auctóctones, mes-
tifas, afro-americanas e camponesas da América Latina; e 3) a Funda
gáo Joáo Paulo II para o Sahel, que atende á luta contra a seca e a
desertificacáo do Sahel.

A Santa Sé publicou os dados numéricos correspondentes á ativi-


dade caritativa de S. Santidade em 1997, numa atitude de prestacáo de
contas, aos fiéis, do emprego do dinheiro por eles doado.1 - A seguir,
transcreveremos esses dados, que evidenciam o interesse da Igreja pela
humanidade, qualquer que seja a filosofía de vida dos necessitados.

1. "Cor Unum": ás Vítimas e á Promocáo Humana

Janeiro 1997:

Cabo Verde: US$ 10.000 a Caritas nacional, para as vítimas da


seca.

1 Ver L'Osservatore Romano, ed. francesa de 10/03/1998, pp. 6s.

308
AS OBRAS CARITATIVAS DE JOÁO PAULO

Uganda: US$ 30.000, ás dioceses de Gulu, Kabale e Kasese, para


os refugiados.

Zaire: US$ 10.000 á diocese de Goma, para a reconstruyo de


casas paroquiais.

India: US$ 10.000, á Caritas nacional, para as vítimas das inunda-


cóes.

india: US$ 8.000, á diocese de Visakhapatnam, para as vítimas


das ¡nundacóes.

Honduras: US$ 10.000, á diocese de San Pedro Sula, para as


vítimas das inundacoes.

Nicaragua: US$ 10.000, á paróquia de San Pablo Apóstol de Ma


nagua, para o restabelecimento de servicos de base em favor de 2.000
criancas das escolas primarias.

Kirguizistáo: US$ 5.000 á Nunciatura Apostólica, para as urgen


tes necessidades das criancas.

Iraque: US$ 10.000 ás Religiosas do Hospital Sao Rafael, para a


aparelhagem médica

Marco 1997:

Burundi: US$ 60.000 á Nunciatura Apostólica, para os refugiados.

Burundi: US$ 10.000 á Nunciatura Apostólica, em favor do pro


grama pro-Juventude por ocasiáo da Jornada Mundial da Juventude.

Ruanda: US$ 10.000 á Nunciatura Apostólica em favor do progra


ma pro-Juventude por ocasiáo da Jornada Mundial da Juventude.

Tanzania: US$ 15.000 á Caritas nacional para os refugiados.

Uganda: US$ 15.000 á Caritas nacional para os refugiados

Zaire: US$ 310.000 ás dioceses de Bukavu, Butembo-Beni, Goma,


Kindu, Kasongo, Uvira Bunia, Mahagi-Nioka, Isiro-Niangara, Doruma-
Dungu, Buta, Wanda, Bondo, Kalemie-Kirungu e Kisangani, para aten
der ás vítimas dos conflitos internos

Zaire: US$ 10.000 á diocese de Goma, para o Encontró da Juven


tude.

Argentina: US$ 15.000 ás Filhas da Divina Providencia, para as


criancas de rúa de Santa Fé.

Perú: US$ 15.000 á Caritas nacional, para as vítimas das inunda


coes.

309
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

Irá: US$ 20.000 á Nunciatura Apostólica, para as vítimas do terre


moto.

Albania: US$ 20.000 á arquidiocese de Durres-Tirana, para os re


fugiados.

Itália-Roma: US$ 8.000 ao Centro de Orientacáo de Estudos para


os estudantes refugiados de Ruanda e do Zaire.

República Centroafricana: US$ 10.000 para a Caritas diocesana


de Bangui, para as criancas abandonadas.

Zámbia: US$ 15.000 ao Catholic-Center-Kitive, para a formacáo


espiritual e profissional dos jovens.

Malo 1997:

Colombia: US$ 5.000 para a formacao profissional dos jovens e


dos desempregados da paróquia de Sant'Elena na arquidiocese de Me-
dellín.

Costa Rica: US$ 12.000 á arquidiocese de San José, em favor da


promocáo humana das familias pobres.

Equador: US$ 10.000 em prol do programa de formacáo humana


integral na paróquia de Sao Tomás de Aquino, na arquidiocese de
Guayaquil.

Líbano: US$ 10.000 ao Foyer de la Providence, de Saída, para


um programa de promocáo humana.

Zaire: US$ 15.000 para o envió urgente de medicamentos ao Hos


pital de Kabinda.

Irá: US$ 10.000 á Nunciatura Apostólica, para as vítimas do terre


moto.

Julho 1997:

República Democrática do Congo: US$ 15.000 ao Departamen


to de Obras Sociais de Bukaru, para as criangas abandonadas.

República árabe do Egito: US$ 15.000 á Associacáo do Alto Egi-


to para a Educacáo e o Desenvolvimento, em favor dos programas de
ajuda alimentar a 3.000 criancas.

Guiñé Equatorial: US$ 10.000 ao Arcebispo de Maleh, para as


familias desabrigadas.

310
AS OBRAS CARITATIVAS DE JOÁO PAULO II 23

Quénia: US$ 5.000 ao Centro para Criarlas Deficientes de Timbila.

Uganda: US$ 15.000 ao Bispo de Moroto, para as vítimas da fome.

Argentina: US$ 5.000 ao Bispo de Concepción, para as familias


desabrigadas.

Colombia: US$ 10.000 á arquidiocese de Medellín, para progra


mas de formacáo e promocao humanas.

El Salvador: US$ 10.000, para programas em favor de mulheres e


criancas na diocese de San Marcos.

El Salvador: US$ 10.000, para o Lar Infantil de Zacatecoluca, em


favor de criancas pobres.

Guatemala: US$ 10.000, para um programa de Pastoral sócio-ca-


ritativa na paróquia de Santa María e Sao Francisco Xavier em Zacapa.

Tailandia: US$ 10.000 á Nunciatura Apostólica para o repatriamento


de refugiados.

Polonia: US$ 10.000 a arquidiocese de Cracovia, para as vítimas


das inundacóes.

Tadjiquistáo: US$ 10.000 á Sociedade do Verbo Encarnado, por


ocasiáo do inicio da missáo sui iuris.

Venezuela: US$ 15.000 á Representado Pontificia, para as víti


mas do terremoto.

Itália-Roma: US$ 15.000 ao Centro Cultural Internacional Joáo XXIII


da UC-SEI, para o sustento de estudantes do Terceiro Mundo, em parti
cular de Ruanda, Burundi e do Congo.

Outubro 1997:

Burundi: US$ 10.000 á Caritas Internacional, para os refugiados.

Colombia: US$ 10.000 as Irmas dos Pobres de S. Vicente de Paula,


de Medellín, para a escolarizacáo de criancas pobres.

República Democrática do Congo: 10.000 US$ para a reestru-


turacáo da diocese de Tshumbe vítima dos conflitos.

El Salvador: US$ 10.000 para um programa de formacáo espiritu


al e profissional das criancas e dos jovens na paróquia de San Juan Ma
ría Vianney na diocese de Santiago de María.

Etiopia: US$ 10.000 ao "Ethiopian Catholic Secretariat" para as


vítimas da seca e da fome.

311
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1996

Ghana: US$ 10.000 á diocese de Kumasi, para as vítimas das inun-


dacoes.

Guiné-Bissau: US$ 5.000 para o programa de formacao integral


das mulheres na diocese de Bissau.

Brasil: US$ 20.000 para instituir um curso para enfermeiras profis-


sionais na diocese de Foz do Iguacu.

Madagascar: US$ 10.000 as Irmas Missionárias Monfortanas de


Antsirabe, para assisténcia médica de enfermos e assisténcia religiosa
ñas aldeias.

México: US$ 15.000 á Caritas nacional para as vítimas do furacáo


Pauline.

México: US$ 15.000 á arquidiocese de Acapulco para as vítimas


do furacáo Pauline.

Montserrat, Antigua: US$ 10.000 á diocese de St. John's


Basseterre, para as populacóes flageladas pela erupcáo vulcánica.

Perú: US$ 12.000 á diocese de Callao, para um projeto de forma


cáo agrícola e alimentar.

Polonia: US$ 8.000 á Caritas diocesana de Opole, para a restau-


racáo das populacóes flageladas pelas inundacóes.

Roménia: US$ 10.000 as Irmas dos Pobres de S. Vicente de Paula


em favor da Casa para pessoas abandonadas e a escola anexa para as
criancas pobres da cidade de Craiova.

Italia: 120.000.000 de liras as dioceses de Assis, Camerino, Foligno


e Perusia, para socorrer as populacóes vítimas do terremoto e 60.000.000
de liras para as instituicóes religiosas vítimas do mesmo.

Dezembro 1997:

Argentina: US$ 12.650 aos ESUR (Equipos Solidarios del Sur),


para a realizacáo de um projeto dito "Hortas Comunitarias para Jovens"
em favor da comunidade semi-rural de San Jorge em Posadas.

Bolívia: US$ 5.000 ás Irmas da Providencia de Ch ivirria rea, na


arquidiocese de Cochabamba, para a formacáo espiritual e o sustento
material das 140 criancas acolhidas em tal instituto.

Colombia: US$ 10.000 á arquidiocese de Medellín, para a reconstru-


cáo de urna sala polivalente destinada a ser cápela, sala de reunióes, lugar
de encontros, catequese e laboratorio de formacáo profissional para jovens

312
AS OBRAS CARITATIVAS DE JOÁO PAULO II 25

e mulheres na paróquia da Máe'do Salvador na circunscrigáo de Itagüi.


Equador: US$ 10.000 ao mosteiro de clausura das Irmázinhas do
Sagrado Cora9áo de Jesús em Ibarra, para a aquisicáo de urna máquina
para fabricar hostias e de tecido para confeccáo de vestes litúrgicas, as-
sim como para a construcáo de pequeña loja para a venda das mesmas.

Perú: US$ 5.000 á diocese de Lurin para a formagáo de adultos


pobres.

República Dominicana: US$ 5.000 ao "Centro de Evangelización


Madre del Carmen" na diocese de San Pedro de Macoris, para a assis-
téncia alimentar as 850 enancas pobres acolhidas por tal instituto.

Camaroes: US$ 5.000 á Representacáo pontificia para a assistén-


cia aos sacerdotes e seminaristas refugiados.

Guiñé Equatorial: US$ 5.000 á arquidiocese de Malabo, para a


construcáo de um Centro Pastoral.

Quénia: US$ 10.000 para socorrer as regióes flageladas por inun-


dagóes ñas circunscrigóes eclesiásticas de Mombasa e Garissa.

República Centroafricana: US$ 8.000 á Escola "Santa Teresa"


de Bangui, para a assisténcia escolar, alimentar e médica de 50 criancas
de Ruanda, filhos de refugiados, privados de todo recurso.

Ruanda: US$ 20.000 ao "Centro Cipriano e Daphrose Rugamba",


para assistir a 100 órfáos e 70 criancas de rúa acolhidas por tal instituto.

Somalia: US$ 20.000 á Administracáo Apostólica de Mogadiscio,


para as populacoes flageladas pelas inundacoes no quadro dos progra
mas de assisténcia coordenados pela Caritas irlandesa.

india: US$ 10.000 em favor das casas para pessoas idosas aban
donadas na diocese de Vijayawada.

Indonesia: US$ 20.000 á Representacáo pontificia para socorrer


as populacoes flageladas pela fome e a seca.

Víetnam: US$ 300.000 para socorrer as populagóes de quatro cir


cunscrigóes eclesiásticas vítimas do tufáo "Linda".

Papuásia-Nova Guiñé: US$ 20.000 á Representacáo pontificia,


para socorrer as populagóes vítimas da seca.

Em síntese, os donativos do S. Padre em 1997 atingiram a cifra de


mais de dois bilhóes de liras. Foram possíveis gragas á generosidade
dos fiéis de todas as partes do mundo, solidarios com seus irmaos
flagelados por miseria e catástrofes.

313
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

2. A Fundacáo "Populorum Progressio"

Foi fundada em 13/02/1992 para atender a populacoes autócto-


nes, mesticas, afro-americanas e camponesas pobres da América Latina
e do Caribe. Eis o que pode financiar em 1997, tendo em vista saúde,
educacáo, profissionalizacáo, trabalhos agrícolas, comercializacáo dos
produtos de tais populacóes.

Firtanciamentos
PAÍS Número de Projetos
concedidos em US$
ANTILHAS 1 10.000

ARGENTINA 3 23.380

BOLÍVIA 20 168.300

BRASIL 5 35.200

COLOMBIA 20 163.600

COSTA RICA 2 17.300

CUBA 2 25.000

CHILE 11 91.900

EQUADOR 30 149.070

EL SALVADOR 3 28.600

GUATEMALA 6 42.500

HAm 11 106.700

HONDURAS 2 20.000

MÉXICO 3 16.800

NICARAGUA 11 79.800

PANAMÁ 5 49.000

PARAGUAI 1 9.600

PERÚ 12 108.700

REP. DOMINICANA 13 121.900

URUGUAI 2 19.700

VENEZUELA 4 26.500

TOTAL 167 1.313.550

3. A Fundacáo Joáo Paulo II para o Sahel

Fundada aos 22/2/1984, destina-se a ajudar o combate á seca e á


desertificacáo da regiáo do Sahel (África do Norte). Eis o que pode finan
ciar em 1997, num total de 3.330.000.000 de liras italianas ou 11.099.194
francos franceses.

314
AS OBRAS CARITATIVAS DE JOÁO PAULO II 27

pa(s Montante em Francos


Número total de projetos
Franceses
BURKINA FASO 113 4.768.558

CABO VERDE 2 106.770

TCHAD 30 1.553.123

GÁMBIA 15 1.176.658

GUINÉ-BÍSSAU 3 153.060

MALÍ 10 362.567

MAURITANIA 6 253.098

NIGERIA 14 559.392

SENEGAL 29 1.979.512

INTERNACIONAL 1 126.456

TOTAL 223 11.039.194

«Vos sois a luz do mundo. Nao se pode esconder urna cidade


situada sobre um monte. Nem se acende urna lámpada e se coloca
debaixo do aiqueire, mas no candelabro, e assim ele brilha para to
dos os que estáo na casa. Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante
dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifi-
quem vosso Pai que está nos céus» (Mt 5,14-16).

continuagáo da pág. 336

Sabe-se, de resto, que a Companhia de Jesús foi fundada em 1540


para constituir urna milicia vigorosa na defesa dos interesses da S. Igreja
ameacada por heresias e maquinacóes políticas. Os jesuítas, desde os
inicios da sua fundacáo, se dedicaram generosamente a essa tarefa e
conseguiram grandes benemerencias, ao mesmo tempo que extraordi
naria propagacáo nos quatro continentes do globo. Isto Ihes valeu entrar
em conflitos... Os adversarios da Companhia acusavam-na de apregoar
hipocrisia, e o principio de que «o fim justifica os meios». Na verdade, os
documentos oficiáis da Companhia nunca propugnaram qualquer atitude
ilícita ou desonesta.

Seria para desejar que os articulistas da "FOLHA UNIVERSAL" ti-


vessem mais amor á Verdade e nao se entregassem táo fácilmente á
mentira. Diz o Senhor Jesús que a mentira é filha do Maligno (cf. Jo 8,44).

Esteváo Bettencourt O.S.B.

315
Candente Problema:

ABORTO: O PAPA E OS BISPOS ALEMÁES

Em síntese: Na Atemanha a lei civil estipula que as mulheres grá


vidas podem impunemente abortar desde que um grupo de consultores
(religiosos ou nao) Ihes dé um certificado pró-aborto. A Igreja Católica
tem 264 consultores que, conforme a lei, devem expedir tal certificado,
caso ojulguem oportuno. Ora o S. Padre Joáo Paulo II se opoe a partid-
pagáo da Igreja no morticinio de enancas inocentes; por feto vem man
iendo diálogo com os Bispos da Alemanha desde 1995 para evitar que a
Igreja seja envolvida, de algum modo, na prática do aborto. Os Bispos
concordam com o Papa nos principios doutrinários, mas nao véem como
sustar ¡mediatamente a praxe vigente. - O artigo publica a Carta do Papa
aos Bispos alemáes datada de 11/01/98 com a respectiva resposta do
Episcopado da Alemanha.
* * *

Nos últimos tempos vem ocorrendo certo problema na Alemanha


com relacáo ao aborto. Os Bispos alemáes concordam com o Papa no
tocante á iniqüidade do aborto, mas julgam que no momento nao podem
tomar as providencias desejáveis para resolver melindrosa situacáo.
Vamos, a seguir, propor o histórico do caso; após o qué, publicare
mos a traducáo portuguesa da recente Carta de Joáo Paulo II aos Bispos
da Alemanha e a resposta dos mesmos a S. Santidade.

1.0 Histórico da Questáo

A permissáo de aborto na Alemanha nao era coisa nova, quando


em 21/08/1995 o Governo promulgou urna lei que obrigava as candidatas
ao aborto a consultar urna instancia adequada para saberem se de fato
seria indicado o abortamento no caso. O órgáo consultado, caso fosse
de parecer positivo, daria um certificado segundo o qual a interessada
poderia interromper a gravidez impunemente.

Os consultores que trabalham em tais órgáos, sao nomeados e


pagos pelo Estado alemáo, que os escolhe dentre entidades científicas e
religiosas (protestantes e católicas); toca-lhes o dever de dar o certifica
do, caso julguem ser o aborto recomendável. O total desses consultores
é de 1685, dos quais 264 sao católicos (peritos no assunto, psicólogos e
sacerdotes), que agem em nome da Igreja Católica e do episcopado ale
máo.

316
ABORTO: O PAPA E OS BISPOS ALEMÁES 29

Tal situacáo confere prestigio á Igreja Católica e a possibilidade de


que algumas muiheres desistam de abortar. Doutro lado, porém, em muitos
casos (talvez na maioria) a Igreja dá atestado para abortar. A ambigüida-
de desta ordem de coisas suscitou a intervencáo da Santa Sé, que pediu
a suspensáo das consultas das quais resultaría um certificado para abor
tar. Todavía os Bispos Alemáes, excetuado o de Fulda, recusaram-se a
obedecer de ¡mediato, embora pretendam fazé-lo oportunamente ou em
ocasiáo propicia. E por que isto? - Porque a Igreja, assim convidada pelo
Governo para colaborar na vida pública, ganhou relevo especial na histo
ria do país; ora isto é muito oportuno, pois a unificacáo das duas Alema-
nhas (a Federativa Ocidentai e a Democrática Oriental) fez que muitos
cidadáos orientáis viessem para a parte ocidentai; tais pessoas haviam
vivido num clima de desprezo á Igreja e ateísmo declarado, que perdurou
quarenta anos; era, pois, conveniente que na regiáo ocidentai vissem a
Igreja prestigiada. Ademáis, alegavam os Bispos, as muiheres grávidas
que fossem consultar peritos católicos, poderiam deles ouvir urna pala-
vra de evangelizacáo.

Já que a pendencia entre a Santa Sé e o episcopado alemáo se


protraía, o Papa, aos 11/01/1998, houve por bem escrever longa Carta
aos Bispos daquele país. Nesse documento Joao Paulo II faz breve his
tórico da questáo, mencionando os encontros realizados com represen
tantes do episcopado germánico desde 1995 (ano em que enviou a pri-
meira carta relativa ao assunto, datada de 21/09/95). O Santo Padre nao
deixou de elogiar a firme atitude dos prelados que se opuseram unáni
memente á prática do aborto e pede-lhes instantemente que se empe-
nhem pela mudanca da lei vigente e deixem de manter consultorias
gerenciadas por católicos ou, ao menos, facam o possível para que nao
déem mais certificado pro-aborto.

Os Bispos responderam estar de acordó com o Papa; todavía ob-


servaram que nao poderiam mudar ¡mediatamente a situacáo; notavam
aínda estar diante de um dilema: ou dar o certificado pró-aborto ou per
der a ocasiáo de aconselhar pastoraimente muitas muiheres grávidas e
carentes de urna palavra de fé católica. Somente o Bispo de Fulda, Mons.
Dyba, nao aceitou tal tipo de colaboracáo com o Governo, excluindo da
sua diocese a possibilidade de haver consultores católicos; frisa que o
certificado pró-aborto é "licenca para matar".

A situacáo ainda espera urna solucáo definitiva: os Bispos da Ale-


manha estáo dispostos a usar de coeréncia e acabar com a ambigüida-
de, mas nao prevéem a data em que isto se dará.

Publicamos em seguida a Carta do Santo Padre, em traducáo por


tuguesa, datada de 11/01/1998.

317
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

2. A Carta do Papa Joáo Paulo II

«Aos Veneráveis Irmios no Episcopado da Alemanha

Saudacáo e Béncáo Apostólica!


1. No dia 27 de Maio do ano passado, a pedido de D. Karl Lehmann,
Presidente da vossa Conferencia Episcopal, discutimos e aprofundamos os
problemas da correta insercáo dos consultorios católicos na consultacao
prevista pelos regulamentos do Estado, de acordó com a leí de 21 de Agosto
de 1995, sobre a gravidez e a familia. Agradeco-vos mais urna vez este
encontró, no qual expressastes a vigilante consciéncia da vossa responsa-
bilidade para com o Evangelho da vida, assim como a vossa disponibilidade
para encontrar a solucáo justa, em uniáo com o Sucessor de Pedro.
Nos meses sucessivos estudei de novo os varios aspectos da ques-
táo, consultei ulteriormente a respeito da materia e apresentei o proble
ma ao Senhor na oracáo. Quereria entáo hoje, como se anunciou no final
do coloquio, resumir mais urna vez os resultados alcancados e, de acor-
do com a minha responsabilidade de Supremo Pastor da Igreja, indicar
algumas orientacóes para o caminho futuro nos pontos abordados.
2. A vossa Conferencia Episcopal empenha-se desde há décadas,
de modo inequívoco, em testemunhar com palavras e gestos a mensa-
gem da dignidade intangível da vida humana. Com efeito, embora o direi-
to á vida tenha um preciso reconhecimento na Constituicáo do vosso
amado País, contudo o legislador legalizou em determinados casos a
morte das criancas nascituras, e noutros casos despenalizou-a, embora
Ihe atribuísse o caráter de ilegalidade. A vossa Conferencia Episcopal
nao aceitou a precedente e menos ainda a atual lei sobre o aborto, mas
justamente, com liberdade e sem temor, tomou posicáo contra o aborto.
Em muitos discursos, declaracóes, iniciativas ecuménicas e outras inter-
vencóes, entre as quais tem particular relevo a Carta Pastoral
"Menschenwürde und Menschenrechte von allem Anfang an", de 26 de
Setembro de 1996, prociamastes e defendestes o valor da vida humana
desde a sua concepcáo.
Na luta pela vida nascitura a Igreja deve hoje distinguir-se cada vez
mais do mundo circunstante. Assim o fez desde os seus inicios (cf. Carta
a Diogneto 5.1 -6.2) e continua a fazé-lo. "Quando anunciamos este Evan
gelho, nao devemos temer a oposicáo e a impopularidade, recusando
qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a men-
talidade deste mundo (cf. Rm 12,2). Com a forca recebida de Cristo, que
venceu o mundo pela Sua morte e ressurreicáo (cf. Jo 16, 33), devemos
estar no mundo, mas nao ser cfo mundo (cf. Jo 15,19; 17,16)" {Evangelium
Vitae, 82). Com as vossas múltiplas iniciativas ao servico da vida,
traduzistes na prática estas palavras e assim contribuístes para que a

318
ABORTO: O PAPA E OS BISPOS ALEMÁES 31

atitude da Igreja perante o problema da defesa da vida desde a infancia


se tornasse familiar aos cidadáos do vosso País.

Quereria exprimir-vos de todo o coracáo o meu apreco e o meu


pleno reconhecimento por esta incansável dedicac.ao. Agradeco também
a todos os que se empenharam e se empenham na vida pública para
defender o direito á vida de cada homem. Urna particular mencáo, neste
campo, merecem os políticos que nao tiveram nem tém medo de levantar
a voz em favor da vida das crianzas nascituras.

3. Ao lado de algumas afirmacóes positivas sobre a defesa da vida


e sobre a necessidade da consultacao, a lei de 21 de Agosto de 1995
prevé que, na presenca de urna "indicac.áo médica" muito vagamente
descrita, o aborto seja legítimo até ao nascimento. E justamente criticastes
com veeméncia esta determlnacáo. Assim como a legalizacáo do aborto
na presenca de urna "indica$áo criminológica" é totalmente inaceitável
para um fiel cristáo e para todos os homens dotados de urna vigilante
consciéncia. Suplico-vos que toméis aínda todas as medidas possíveis
para a mudanca destas disposicóes legislativas.

4. Dirijo agora a minha atencáo ás novas determina?oes legislativas


sobre a consultacáo para as mulheres grávidas em dificuldade, porque
notoriamente essas normas tém um significado relevante para a missao
da Igreja ao servico da vida, e para a relacáo entre Igreja e Estado no
vosso País. Em virtude da minha solicitude a respeito das novas determi-
nacóes, a 21 de Setembro de 1995 sentí o dever de recordar numa carta
pessoal alguns principios que sao muito importantes nesta questáo. Eu
chamava á vossa atencáo, entre outras coisas, para o fato de que a defi-
nicáo legislativa positiva da consultacáo no sentido da defesa da vida
estava a ser debilitada por certas fórmulas ambiguas, e que o certificado
de consultacáo atribuido pelos consulentes tem agora um valor jurídico
diverso daquele que tinha no regulamento legislativo precedente. Pedia-
vos que definísseis de modo novo a atividade de consultado da Igreja e
prestasseis atencáo para que nisto a liberdade da Igreja nao fosse
coarctada e as instituicóes eclesiais nao se tornassem co-responsáveis
pela morte de enancas inocentes.

Ñas Diretrizes episcopais provisorias determinastes ulteriormente,


em relacáo á lei, a finalidade da consultacáo eclesial no sentido da defe
sa absoluta da vida. Com estas e outras disposicóes conferistes aos con
sultorios eclesiásticos um perfil claro e específico. Na luta para obter da
parte do Estado o reconhecimento das Diretrizes episcopais provisorias
no ámbito de cada urna das regióes, a posicáo autónoma da Igreja na
questáo manifestou-se ulteriormente.

5. Permaneceu controversa a problemática acerca do certificado


319
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS' 434/1998

de consultacáo, que decerto nao pode ser considerado independente-


mente do conceito de consultacáo, mas deve ser avaliado com cuidado,
segundo o seu significado jurídico objetivo. No discurso de 22 de junho
de 1996, durante a minha viagem pastoral na Alemanha, eu disse: "E
claro, a partir da nossa fé, que por parte das instituicóes eclesiais nada
pode ser feito que, de algum modo, possa servir para a justificacáo do
aborto".
Para encontrar uma solucáo ao problema do certificado de
consultacáo, chegou-se - como continuacáo do primeiro encontró de 5
de Dezembro de 1995 - ao segundo coloquio, a 4 de Abril de 1997, entre
uma delegacáo da vossa Conferencia Episcopal e representantes da Con-
gregacáo para a Doutrina da Fé, durante o qual, apesar de uma unanimi-
dade fundamental quanto á doutrina da Igreja sobre a tutela da vida, á
condena^áo do aborto e á necessidade de uma consultacáo global para
as mulheres grávidas em necessidade, a debatida questáo do certificado
de consultacáo nao pode ser resolvida de modo definitivo. Durante o en
contró de 27 de Maio de 1997, todos os elementos a serem considerados
foram apresentados mais uma vez, numa atmosfera fraterna de liberda-
de e abertura.

Na minha missáo de confirmar os irmáos (cf. Le 22,32), dirijo-me


agora de novo a vos, caros Irmáos. Trata-se, de fato, de uma questáo
pastoral com evidentes implicacóes doutrinais, que é importante para a
Igreja e para a sociedade na Alemanha e em muitas outras partes. Ainda
que a situacáo jurídica no vosso País seja singular, é obvio que o proble
ma de como anunciar o Evangelho da vida de modo eficaz e crível no
mundo pluralista de hoje, diz respeito á Igreja no seu conjunto. A tarefa
de defender a vida em todas as suas fases nao admite reducóes. Daí
resulta que o ensinamento e o modo de agir da Igreja na questáo do aborto
devem, no seu conteúdo essencial, ser os mesmos em todos os países.
6. Atribuís muita importancia ao fato de os consultorios católicos
continuarem presentes de modo público na consultacáo para as mulhe
res grávidas, a fim de poderem salvar da morte, com uma consultacáo
bem orientada, muitas enancas nascituras e estarem, com todos os mei-
os á disposicáo, ao lado das mulheres em difíceis situacóes de vida.
Ressaltais que nesta questáo a Igreja - por amor das enancas nascituras
- deve servir-se, do modo mais vasto possível, tanto dos espacos de
acáo abertos pelo Estado a favor da vida como da consultacáo, e nao se
pode sentir culpada de ter descuidado possíveis ofertas de ajuda. Enco-
rajo-vos nesta solicitude e espero muito que a consultacáo eclesial pos
sa continuar com energía. A qualidade desta consultacáo, que toma mui
to a serio tanto o valor da vida nao nascida quanto as dificuldades da
mulher grávida e procura uma solucáo baseada na verdade e no amor,
atetará a consciéncia de muitos que procuram um conselho e constituirá

320
ABORTO: O PAPA E OS BISPOS ALEMÁES 33

um apelo significativo para a sociedade.

Quereria neste contexto ressaltar de maneira expressa o empenho


das consulentes católicas da Caritas e do Servigo Social das Muiheres
Católicas, assim como de algumas outras instituicóes de consultacáo.
Conheco a boa vontade das consultoras e as suas fadigas e preocupa-
cóes. Quereria agradecer verdadeiramente o seu empenho e pedir-lhes
que continuem a lutar por aqueles que nao tém voz alguma e aínda nao
podem defender por si mesmos o direito á vida.

7. No que se refere depois ao problema do certificado de consulta-


cao, quereria repetir quanto já vos escrevi na carta de 21 de Setembro de
1995: 'Ele atesta que se efetuou urna consultacáo, mas é ao mesmo
tempo um documento necessário para o aborto despenalizado ñas pri-
meiras 12 semanas da gravidez'. Vos mesmos designastes varias vezes
como 'dilema' este significado contraditório do certificado de consultacáo,
que tem o seu fundamento na lei. O 'dilema' consiste no fato de que o
certificado atesta a consultacáo, no sentido da defesa da vida, mas per
manece sempre a condigáo necessária para a execucáo despenalizada
do aborto, aínda que certamente nao seja a causa decisiva que o provoca.

O texto positivo, que formulastes para o certificado de consultacáo


fornecido pelos consultorios católicos, nao elimina de modo radical esta
tensáo contraditória. A mulher, com base ñas determinacóes legislativas,
depois de tres dias pode usar o certificado para abortar, isto é, para fazer
com que o seu filho seja eliminado de modo despenalizado, em instituí-
góes públicas e em parte também com meios públicos. Nao se deve
transcurar o fato de que o certificado de consultacáo requerido pela lei,
que quer certamente assegurar antes de tudo a consultacáo obrigatória,
de fato assumiu urna funcáo-chave para a execucáo de abortos
despenalizados. As consulentes católicas e a Igreja, por cujo encargo
essas agem em muitos casos, encontram-se assim numa situacáo de
confuto com a sua visáo de fundo na questáo da defesa da vida e com o
objetivo da sua consultacáo. Contra a sua intencáo, sao envolvidas na
atuacáo de urna legislacáo, que conduz á morte de pessoas inocentes e
é escándalo para muitos.

Depois de maturada consideracáo de todos os argumentos, nao


posso deixar de concluir que, quanto a isto, existe urna ambigüidade que
ofusca a clareza e o significado unívoco do testemunho da Igreja e dos
seus centros de consultacáo. Por isso, estimados Irmáos, quereria convi
dar-vos com insistencia a fazer com que um certificado dessa natureza já
nao seja fornecido nos consultorios eclesiásticos ou dependentes da Igreja.

Exorto-vos, contudo, a fazer com que, em todo o caso, a Igreja


permaneca presente de maneira eficaz na consultacáo as muiheres em
busca de ajuda.

321
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

8. Venerados Irmáos! Sei que o convite que vos dirijo diz respeito a
um problema nao fácil. Já há muito tempo e sobretudo depois do encon
tró do dia 27 de Maio de 1997, muitas partes, também pessoas que em
prol da Igreja e na Igreja se empenham, se puseram de sobreaviso com
vigor contra essa decisáo, que deixaria as mulheres em situacoes de
confuto sem o apoio da comunidade de fé. De igual modo com veemén-
cia denunciou-se que o certificado envolve a Igreja na morte de criancas
inocentes e torna menos crível a sua absoluta contrariedade ao aborto.

Tome i em seria considerado ambas as vozes e respeito a apaixo-


nada investigacáo, por ambas as partes, da via justa para a Igreja nesta
questáo importante; entretanto sinto-me impelido, por causa da dignida-
de da vida, a dirigir-vos o supramencionado convite. Reconheco, ao mes-
mo tempo, que a Igreja nao pode subtrair-se á sua responsabilidade pú
blica, sobretudo no que se refere á vida e a dignidade do homem, que
Deus criou e pelo qual Cristo morreu. A lei para a ajuda á gravidez e á
familia oferece muitas possibilidades para permanecerem presentes na
consultacáo; em última análise, a presenca da Igreja nao deve depender
do fomecimento do certificado. Nao deve ser só a obrigacáo de urna pres-
cricáo legislativa a levar as mulheres aos consultorios eclesiásticos, mas
sobretudo a competencia profissional, a atencáo humana e a disponibili-
dade a ajuda concreta que neles se encontram. Estou convicto de que
vos, com as múltiplas possibilidades das vossas instituigdes e organiza-
cóes, com o rico potencial de torgas intelectuais e de capacidade de ino-
vacáo e criatividade, haveis de encontrar as vias nao só para nao deixar
diminuir a presenca da Igreja na consultacáo, mas para a fortalecer aín
da mais. Estou certo de que, no debate que já se está a fazer na socieda-
de do vosso País e que agora prosseguirá, sabereis mobilizar todas as
vossas forcas para tornar compreensível a opcáo da Igreja, tanto no seu
interior como fora dele, obtendo para ela pelo menos respeito, também
onde nao se julga poder compartilhá-la.

Que a Igreja, num ponto concreto, nao possa proceder ao mesmo


tempo pelo caminho do legislador, será um sinal que, precisamente na
contraposigáo, contribuirá para o aprimoramento da consciéncia pública
e, desse modo, em definitivo servirá também ao bem do Estado: 'O Evan-
gelho da vida nao é exclusivamente para os crentes, destina-se a todos...
a nossa acáo de povo da vida e pela vida pede para ser interpretada de
modo justo e acolhida com simpatía. Quando a Igreja declara que o res
peito incondicional do direito á vida de toda a pessoa inocente - desde a
sua concepgáo até a morte natural - é um dos pilares sobre o qual as-
senta toda a sociedade, ela quer simplesmente promover um Estado
humano. Um Estado que reconheca como seu dever primario a defesa
dos di re ¡tos fundamentáis da pessoa humana, especialmente da mais
débil' (Evangelium vitae, 101).

322
ABORTO: O PAPA E OS BISPOS ALEMÁES 35

Agradeco-vos mais urna vez o vosso múltiplo empenho em defen


der a vida dos nascituros, e também a vossa disponibilidade para refletir
sobre a atividade católica de consultacáo. Recomendó a María, Máe do
Bom Conselho, os fiéis a vos confiados, sobretudo as muiheres e os
homens empenhados na consultacáo, assim como todas as muiheres
grávidas em dificuldade, e concedo-vos do íntimo do coracáo urna espe
cial Béncao Apostólica.

Vaticano, 11 de Janeiro de 1998, festa do Batismo do Senhor».

Faz-se importante conhecer

3. A Resposta dos Bispos Alemáes

Tendo recebido a Carta do S. Padre, os Bispos do Conselho Per


manente da Conferencia Episcopal da Alemanha se reuniram aos 25 e
26 de Janeiro pp. num mosteiro perto de Würzburg, a fim de estudar a
situacáo e redigir urna resposta a Joáo Paulo II.

Eis os pontos principáis dessa resposta-declaracáo:

«Agradecemos ao Santo Padre ter explícitamente reconhecido os


esforgos da Igreja em nosso país, e em todos os níveis, na tentativa de
salvar a vida das criancas ainda nao nascidas, incluindo o trabalho dos
consultores; agradecemos-lhe por estimular os Bispos a prosseguir, tan
to quanto possível e de modo eficaz, a atividade de consultorias. Precisa
mente nos últimos dias tornou-se evidente para a opiniáo pública o ele
vado grau de estima que os consultores eclesiásticos obtiveram dentro e
fora da comunidade eclesial. Temos razóes para exprimir gratidao, junta
mente com o S. Padre, a esses consultores e á sua atividade.

Na Carta o S. Padre enfatiza, varias vezes, e claramente, a funda


mental unanimidade de juízo existente entre a Santa Sé e os bispos ale
máes a respeito da doutrina da Igreja em defesa das enancas ainda nao
nascidas e em condenacáo do aborto como também sobre a necessida-
de de se oferecer ampia consultoria as muiheres grávidas postas em
dificuldade.

Como ñas discussóes ocorridas nos anos passados, resta até ago
ra o problema da interpretacáo e da valorizacáo do certificado de consul
ta realizada.

Sobre este fundo o S. Padre escreve: 'Por isto desejo convidar-vos


com insistencia, caros Irmáos, a vos esforcardes para que tal tipo de
certificado nao seja mais expedido ñas consultorias da Igreja ou depen
dentes da Igreja. Exorto-vos, porém, a proceder de tal modo que, em
todos os casos, a Igreja fique presente de modo eficaz na consultoria

323
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

prestada ás muiheres que precisam de ajuda'.

Acataremos este pedido. Mas isto nao significa que a consultoria,


da parte da Igreja, venha a ser diminuida. Ao contrario, nos a reforcare-
mos sempre mais. O próprio Papa deseja explícitamente que nos apro-
veitemos, quanto possível, do espago oferecido pelo sistema de
consultoria estatal para a defesa de criancas nao nascidas. Está fora de
discussao aceitarmos um convite para nos retirarmos do sistema de
consultoria previsto pela lei...

Nao reduziremos a oferta e a qualidade da consultoria oferecida ás


máes grávidas postas em dificuldade. Procuraremos, como foi solicitado
pelo S. Padre, novas vias para poder desenvolver uma consultoria eficaz
em situacóes confutantes, sem que haja a expedicáo do certificado pró-
aborto. Nos nos esforzaremos por elaborar uma formulacao do sentido
da consultoria desligado do certificado em discussao. Todavía estamos
convencidos de que nao existe solucáo que nao acarrete desvantagens
e nao provoque escrúpulos.

Decidimos constituir um grupo de trabalho que se encarregará de


procurar, tanto quanto possível, novas pistas que correspondam ao pedí-
do do Papa e também aos nossos anseios, a fim de que a Igreja fique
presente de modo eficaz na consultoria oferecida ás muiheres que pro-
curam ajuda. No momento oportuno promulgaremos uma nova formula-
cao da atividade de nossos consultores.

Visto que estamos dispostos a construir nossa consultoria, intensa


e muito apreciada, pedímos aos políticos que também procurem novos
caminhos que tornem possível á consultoria sem a ambigüidade do cer
tificado tal como foi entendido até agora.

Embora o S. Padre, em sua Carta de 11 de Janeiro de 1998, nos


tenha confiado uma difícil tarefa, estamos persuadidos de que uma nova
formulacáo da atividade de consultoria redundará em beneficio de toda a
nossa sociedade e poderá ser de maior ajuda ás muiheres grávidas pos
tas em dificuldades. Quanto ás minucias, o Papa as entregou aos Bis-
pos, aos seus colaboradores e colaboradoras.

Würzburg, 26 de Janeiro de 1998».

Como se vé, os Bispos da Alemanha estáo dispostos a corresponder


aos anseios do S. Padre num setor de trabalho altamente delicado. Tra-
ta-se de sintonía com a lei de Deus relativa a nao matar inocentes e com
toda a Igreja, que no mundo inteiro repudia o aborto. Queira Deus ilumi
nar os Bispos alemaes e seus assessores para que encontrem a fórmula
exata que permita á Igreja exercer sua missáo de aconselhamento sem
ter que expedir certificados em favor do abortamento!

324
Sensacional:

A IGREJA RESOLVE ACEITAR O ESPIRITISMO?

Em síntese: Urna noticia divulgada pela internet anuncia que o


teólogo Gino Concetti afirma tersido reconhecida a comunicacáo com os
morios pela Igreja. -A noticia é evidentemente falsa, pois contém contra-
digáo, rejeita a evocagáo dos morios, por exemplo mas apregoa o "diálo
go com os falecidos" - o que é a mesma coisa. Além disto, um teólogo
¡solado, dando entrevista a um jornal vagamente citado, nao é credenciado
porta-voz da Igreja. O Novo Catecismo da Igreja, citado pelo entrevista
do, nao diz o que a entrevista Ihe atribuí. Donde se vé que se trata de
noticia vaga e tendenciosa.
* * *

Via internet a nossa revista recebeu mensagem segundo a qual a


Igreja Católica já aceita o espiritismo e as práticas mediúnicas. O assun-
to desperta interesse e certa perplexidade; pelo qué será considerado a
seguir.

1. A Mensagem

A mensagem redigida em espanhol diz o seguinte:

"O VATICANO ANALISA A MEDIUNIDADE

Em novembro do ano de 1996, o Pe. Gino Concetti, comentarista


do jornal 'L'Oservatore Romano', órgáo oficial do Vaticano publicou de-
claracóes no periódico ANSA, que nos revelam a Igreja em sua nova
postura frente á comunicabilidade com os mortos e á paranormalidade.

Vejamos algumas das respostas formuladas por Concetti:

P. Que significa essa nova postura?

R. Segundo o novo Catecismo moderno, Deus permite a nossos


caros defuntos que vivam na dimensáo ultraterrestre, enviar mensagens
para guiar-nos em certos momentos da vida. Após novas descobertas na
área da psicología relativas ao paranormal, a Igreja decidiu nao proibir
mais as experiencias de diálogo com os falecidos, sob a condicáo de que
sejam executadas com finalidade seria, religiosa e científica.

P. Para interpretar esses fenómenos, a Igreja permite recorrer aos


chamados 'sensitivos' e aos médiuns?

325
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

R. Sim; a Igreja permite recorrer a essas pessoas particulares, mas


com grande prudencia e sob certas condicóes. Os sensitivos aos quais
se pode pedir assisténcia, devem ser pessoas que realizem suas experi
encias, inclusive aquetas efetuadas com técnicas modernas, inspirándo
se na fé. Se forem sacerdotes, será ainda melhor.

A Igreja corta todos os contatos dos fiéis com aqueles que se co-
municam com o além praticando a idolatría, a evocacáo dos morios, a
necromancia, a supersticáo e o esoterismo; em suma... todas as práticas
ocultas que incitem á negacáo de Deus e dos seus sacramentos".

Passamos a breve comentario.

2. Refletindo...

Cinco sao os pontos que convém considerar.

1) Toda decisáo doutrinária da Santa Sé é publicada em documen


to assinado pelo Santo Padre ou por seus colaboradores; a colecáo "Acta
Apostolicae Sedis" é o órgao através do qual sao divulgados todos os
atos oficiáis da Santa Sé. Um teólogo ¡solado, dando entrevista a um
jornal vagamente citado, nao pode ser tido como representante do pen-
samento da Igreja.

2) O jornal ANSA, ao qual G. Concetti terá concedido a sua entre


vista, é citado de mane ira imprecisa, sem data de edicáo - o que foge as
normas de urna noticia científica.

3) O novo Catecismo da Igreja Católica também é vagamente


aduzido, sem indicacáo de parágrafos alusivos á mediunidade. Alias, estes
nao se acham no Catecismo; quem o percorre, só encontra ai a clássica
doutrina da Comunháo dos Santos, sem referencia a "diálogo com os
falecidos". Vejam-se os parágrafos seguintes:

§ 958 "A comunháo com os falecidos. Reconhecendo cabalmente


esta comunháo de todo o corpo místico de Jesús Cristo, a Igreja terres
tre, desde os tempos primevos da religiao crista, venerou com grande
piedade a memoria dos defuntos (...) e 'já que é um pensamento santo e
salutar rezar pelos defuntos para que sejam perdoados de seus peca
dos' (2Mc 12,46), também ofereceu sufragios em favor deles. A nossa
oracáo por eles pode nao somente ajudá-los, mas também tornar eficaz
a sua intercessáo por nos.

§ 959 Na única familia de Deus. Todos os que somos filhos de


Deus e constituímos urna única familia em Cristo, enquanto no comuni
camos uns com os outros em mutua caridade e num mesmo louvor á
Santíssima Trindade, realizamos a vocacáo própria da Igreja.

326
A 1GREJA RESOLVE ACEITAR O ESPIRITISMO? 39

§ 2683 As testemunhas que nos precederam no Reino, especial


mente as que a Igreja reconhece como santos, participam da tradicáo
viva da oracáo, pelo exemplo modelar de sua vida, pela transmissáo de
seus escritos e pela sua oracáo hoje. Contemplam a Deus, louvam-no e
nao deixam de velar por aqueles que deixaram na térra. Entrando na
alegría do Mestre, eles foram postos á frente de muito. A sua intercessáo
é o mais alto servico que prestam ao plano de Deus. Podemos e deve-
mos pedir-lhes que intercedam por nos e pelo mundo inteiro".

A Igreja aceita a invocacáo dos santos (oracoes humildes dirigidas


aos justos do céu para que intercedam por nos), mas nao aceita evoca-
cáo dos mortos (prática ritual que julga obter respostas e mensagens dos
mortos).

4) O texto da mensagem eletrónica contém contradicóes:

- rejeita a evocacáo dos mortos e a necromancia, mas apregoa "o


diálogo com os mortos" - o que é a mesma coisa;

- a Igreja rejeita as práticas que levem "á negacáo de Deus e dos


seus sacramentos". Por conseguinte, rejeita o espiritismo, que nega os
sacramentos do Batismo, da Eucaristía, da Reconciliacáo...

5) O estudo da paranormalidade é algo de científico; consiste em


observar o comportamento psíquico para-normal (= ao lado do normal).
Precisamente a consciéncia de que existe um comportamento paranormai
dissipa a concepcáo de que os fenómenos estranhos produzidos no es
piritismo se devem ao além, pois se verifica que sao suficientemente ex
plicados pelo psiquismo do individuo paranormai.

A Igreja aceita tranquilamente o estudo da paranormalidade, que


ela distingue da comunicacao com os mortos. O sensitivo é o individuo
dotado de paranormalidade mais ampia; nao é necessariamente um
médium espirita; só será médium se julgar que os seus fenómenos
psiquicos paranormais sao produzidos por espíritos do além.

Estas observacóes permitem concluir que a noticia em foco é fal


sa, e nao somente falsa...; é também tendenciosa, pois tende a envolver
o clero em práticas espiritas.

327
Um Documento da Santa Sé:

REFORMA AGRARIA

Em síntese: O Conselho de Justiga e Paz da Santa Sé publicou


um documento sobre reforma agraria, cuidadosamente elaborado duran
te anos, em atengáo aos problemas rurais existentes no mundo inteiro.
Descreve minuciosamente a problemática dos pequeños labradores, des-
prezados e marginalizados. Propóe linhas de solugáo tiradas da Escritu
ra Sagrada e da Doutrina Social da Igreja: a propriedade particular é
legítima, mas sobre ela pesa urna hipoteca social; a posse da térra nao é
independente de obrigagóes para com a sociedade, especialmente para
com os mais pobres. Em seguida, o documento traga as linhas de autén
tica e eficaz reforma agraria, que nao pode consistir apenas em distribuir
térras, mas há de ser acompanhada de assisténcia tecnológica, econó
mica, escolar..., tal que o trabalhador rural possa explorar seu campo e
transportar seus produtos para os grandes mercados que Ihe déem a
justa paga. Assim serio evitadas as migragdes de muitas familias que
deixam o campo e váo para a periferia das grandes cidades, onde fre-
qüentemente encontram motivo de frustragao e desánimo.
* * *

Após longos anos de trabalho foi assinado aos 23/11/1997 e publica


do aos 13/01/98 um documento do Pontificio Conselho de Justica e Paz
intitulado "Para melhor distribuicáo da Térra. O desafio da Reforma Agraria".
O texto exigiu pesquisas e estudos múltiplos, pois a problemática
rural varia de país a país, de continente a continente. Os redatores procu-
raram oferecer urna redacáo que fosse, ao menos parcialmente, válida
para qualquer parte do planeta.

A fim de abordar eficazmente a questáo, o documento nao se dete-


ve em problemas de agricultura em geral, mas concentrou-se no tocante
á distribuicáo da térra, assunto que implica crédito, meios de transporte,
maquinaria adequada...

O texto foi elaborado na base de noticias e dados históricos, esta-


tísticos e outros levados á Santa Sé por diversas instituicSes e pessoas,
especialmente pelo povo de Deus representado por seus Bispos e pelas
Nunciaturas Apostólicas; os Bispos da América Latina foram particular
mente escutados, já que o continente latino-americano muito sofre com a
injusta reparticáo de térras.

Nos países tidos como desenvolvidos, a agricultura nem sempre é


devidamente considerada, cede aos interesses do mundo da economía,
mais exigentes á primeira vista, embora até pouco tempo atrás a Uniáo

328
REFORMA AGRARIA 41

Européia Ihe dedicasse a maior parte do seu balance É de notar também


que os maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas sao alguns
dos países mais industrializados; os Estados Unidos e o Canadá expor-
tam mais da metade dos 200 milhóes de toneladas de cereais importa
dos pelos países que deles necessitam. Apesar de tudo, pode-se dizer
que no mundo inteiro a opiniáo pública demonstra pouco interesse pelos
problemas agrícolas Daí a importancia do documento da Santa Sé, que
enfatiza o valor do setor rural, fundamental para a alimentacáo da huma-
nidade e para a existencia de milhares de familias que vivem do trabalho
no campo, freqüentemente em condicóes ingratas e malsás. A própria
revolucáo industrial nao teria sido possível sem o apoio da agricultura e o
progresso da mesma a partir da segunda metade do século XVIII.

Vamos, a seguir, sintetizar o documento do Conselho de Justica e


Paz, que compreende tres partes: 1) Descricáo do problema (a concentracáo
da propiiedade rural); 2) Os principios bíblicos e teológicos que devem inspirar
a solucáo da problemática; 3) Urna eficiente reforma agraria, condicáo de
um futuro mais inspirado pela justica. O texto observa nítidamente que
nao é urna proposta política, pois esta nao é da alfada da Igreja (cf. n° 2).

1. O Problema: Concentracáo da Propriedade Rural

O sistema económico vigente no mundo atual é capaz de produzir


enormes riquezas, mas nao consegue distribui-las adequadamente, nem
mesmo nos países ricos e, muito menos, nos países em vía de desenvol-
vimento. Nestes a estrutura agraria é caracterizada, de um lado, por peque-
no número de extensas propriedades do senhorio de poucos latifundiários
e, de outro lado, grande número de pequeños proprietários, colonos e loca
tarios, que cultivam a térra restante, geralmente de qualidade inferior.
Assim o cerne do problema vem a ser os latifundios, entendidos
como "grandes extensoes de térra, cujos recursos sao geralmente pouco
utilizados; o respectivo proprietário Ihes é, muitas vezes, ausente, pa
gando mal seus funcionarios e aplicando tecnología antiquada" (n° 2,
nota 2 do documento em foco). O latifundio assim conceituado é bem
distinto, segundo o texto, das grandes propriedades organizadas e culti
vadas com empenho e segundo tecnología moderna; tais propriedades
tém sua problemática própria.
A situacao dos latifundios é fruto de um passado próximo, ou seja, da
segunda metade do século XIX, quando foram promulgadas leis que desvir-
tuaram a propriedade rural. Os Governos nacíonais tém-se preocupado com
rápida industrializacáo, na esperanza de que esta seja benéfica para toda a
populacáo; em vista disto, as taxas de cambio e os precos dos diversos
produtos tém sido estipulados com desvantagem para os agricultores. Em
conseqüéncia, muitos destes, sentindo-se prejudicados, abandonam a térra
e a lavoura, o que mais favorece a concentracáo da propriedade da térra.

329
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

As tentativas de reforma agraria até hoje realizadas tém logrado


exiguos resultados, principalmente porque os Governos procederam como
se bastasse repartir ou redistribuir a térra (n° 7). Ora o documento da
Santa Sé chama repetidamente a atencáo para o que há de ilusorio nes-
te concertó; é necessário, além de distribuir térras, proporcionar á regiáo
as indispensáveis infra-estruturas e os servicos sociais, oferecer assís-
téncia técnica, acesso ao crédito; além do mais, a desonestidade e a
corrupcáo dos interessados frustraram as tentativas.
É de notar ainda que a necessidade de pagar a divida extema fez
que os Governos favorecessem a producáo destinada á exportacáo, pre-
judicando, a mais um título, os pequeños proprietários, que nao costu-
mam cultivar produtos destinados aos mercados estrangeiros.
Ainda um espinhoso problema se impóe á consideracáo: o das tér
ras tradicionalmente ocupadas pelos aborígenes ou destinadas a eles.
Grandes empresas muitas vezes se apoderaram dessas térras, ou acon
tece que estas foram alagadas para converter-se em bacías hidroelétricas
ou ainda os exploradores do subsolo penetraram em tais terrenos, des-
respeitando os direitos dos indigentes. Estes, alias, nao costumam co-
nhecer os mecanismos jurídicos mediante os quais se possam defender,
de modo que sao mesmo "legalmente" rechacados, apesar de que "a sua
cultura e a sua espiritualidade considerem a térra como base de todo
valor e fator que os une e alimenta a sua identidade" (n° 11). Na verdade,
ao perderem a térra, muitos povos indígenas perdem a sua cultura.
Para rechacar os aborígenes como também os pequeños proprie
tários, ou para os obrigar a trabalhar em troca de um salario de fome,
muitos grandes senhores nao hesitam em recorrer á violencia, tendo a
cumplicidade das próprias autoridades governamentais.

Mais um ponto delicado é o que se refere aos títulos de posse e


propriedade da térra. Nao raro as leis sao insuficientes, de modo que preva
lece o direito do mais forte, do mais bem informado, do mais apadrinhado,
sendo entáo expulsas da térra familias que durante decenios a habitaram.
Nem sequer há interesse dos jovens em permanecer na zona rural,
pois ai faltam escola, assisténcia médica e os subsidios que garantem o
respeito a dignidade humana.

Nao raro ñas zonas rurais faltam adequados meios de transporte,


o que dificulta aos lavradores o acesso aos servicos sociais e os impede
de chegar aos grandes mercados para vender seus produtos em boas
condicoes; sao obrigados a vender no mercado local, muitas vezes domi
nado por monopolio.

Observa-se também que em varios países faltam as garantías da


Previdencia Social para os agricultores. A perspectiva da velhice desam-

330
REFORMA AGRARIA 43

parada faz que muitos vejam nos fiihos um fator de seguranca para o seu
fim de vida. Daí a elevada taxa de crescimento da populacáo. Este fator,
por sua vez, provoca forte fluxo migratorio do campo para a periferia das
megápoles, ñas quais os emigrantes nao conseguem inserir-se.
Por último, acontece que em tais circunstancias os problemas
ambientáis se agravam. Daí o desmatamento de grandes áreas para se
conseguir térra produtiva como também vSo sendo cultivados terrenos
improprios, de encostas ou arenosos, porque a térra boa fica em máos
dos grandes proprietários.

2. Os Principios Bíblicos e Teológicos

O mundo rural está bem presente aos autores bíblicos, de modo


que deixaram a posteridade significativos textos relativos á térra e ao
homem no plano de Deus.

O Senhor Deus, ao criar, confiou a térra e seus recursos naturais


ao homem, a fim de que os cultivasse como imagem e lugar-tenente de
Deus, dente de que a natureza é um dom do Criador e urna béncáo. A
prerrogativa de dominar a térra "no Egito e na Babilonia... era atribuida a
alguns. No texto bíblico, porém, o dominio toca á pessoa humana como
tal e, por conseguinte, a todos" (n° 23).

Na Biblia o israelita se senté realmente livre quando possui o seu


pedaco de térra, mas é claro que o homem nao é o verdadeiro senhor da
térra, e sim o seu administrador. O verdadeiro senhor é Deus. Isto signi
fica duas coisas importantes: de um lado, ninguém, nem mesmo o reí,
pode retirar a térra do respectivo usuario; doutro lado, o direito de propri-
edade sofre limitacoes; por isto é que de cinqüenta em cinqüenta anos
se celebrava o jubileu, ocasiáo em que voltavam aos antigos proprietári
os as térras e as casas vendidas; nessa mesma ocasiáo, a lavoura ces-
sava e os campos repousavam:

"A térra nao será vendida para sempre, pois a térra me pertence, e
vos sois para mim estrangeiros e hospedes" (Lv 25,23).

A Doutrina Social da Igreja, baseando-se nos principios bíblicos,


afirma, de um lado, o destino universal dos bens naturais e, de outro
lado, o direito á apropriacio individual desses bens. O direito á proprie-
dade privada "nao é incondicional, mas caracterizado por vínculos bem
precisos" (nB 30), pois sobre a propriedade particular pesa urna hipoteca
social. Em conseqüéncia ensinam S. Tomás de Aquino e, depois dele, o
Concilio do Vaticano II: "Aquele que se encontra em extrema necessida-
de, tem o direito de se valer das riquezas de outrem" (Constituicáo
Gaudium et Spes, ns 69a). Este principio ajuda a esclarecer os casos de
camponeses que lavraram a térra sem que Ihes fosse concedido o ne-
cessário para sobreviver, como também certas invasoes de térra

331
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

ocorrentes em casos de extrema necessidade ou indigencia; tais situa-


cóes podem ser legitimadas quando se trata realmente de extrema po
breza e total falta de melhores perspectivas.
O latifundio, conseqüentemente, é condenado como "intrínseca
mente ou, como tal, ilegítimo", porque recusa a numerosos trabalhado-
res o direito de participar eficientemente do processo produtivo e de pro-
ver ás necessidades deles mesmos, de suas familias e da nacáo a que
pertencem. Ao mesmo tempo sao condenadas as injusticas decorrentes
de indevida apropriacáo da térra como também a exploracáo dos traba-
Ihadores remunerados com salario indigno de urna pessoa humana.
A solucáo de táo graves problemas é a reforma agraria, muito re
comendada por documentos pontificios anteriores: "Nos casos de térra
nao suficientemente cultivada, justifica-se a expropriacáo da térra medi
ante a devida indenizacáo dos proprietários, a fim de entregar um lote a
quem nao o tenha ou a quem só possua urna porcáo muito limitada" (n9 36).
O documento recomenda outrossim a difusáo e a defesa da propri-
edade particular, tendo em vista favorecer a pequeña empresa familiar;
todavía nao é excluida a propriedade comunitaria, tradicional entre os
povos indígenas.

É reconhecido, além do mais, o direito, dos lavradores, de consti


tuir agremiacóes que defendam os seus direitos.
Para concluir, é dito que á propriedade da térra se deve associar a
propriedade do saber, decorrente de adequada rede escolar.

3. Para urna eficiente Reforma Agraria

O terceiro capítulo é inteiramente dedicado á reforma agraria con


siderada como "necessária e inadiável" para o desenvolvimento harmo-
nioso da economía e da sociedade.
Entre outras vantagens da reforma, apontam-se: garantir a alimen-
tacáo das populacoes e conter a onda de migracáo para as grandes cida-
des. Isto nao poderá deixar de redundar em expansáo da industria e da
economia em geral. Assim também se evitaráo as invasóes de térra: "Es
tas..., mesmo quando provocadas por situacóes de extrema necessida
de, ficam sendo atos nao conformes aos valores e ás regras de urna
auténtica convivencia social" (n° 44). A ocupacáo de térra é a expressáo de
situacóes intoleráveis, que háo de ser evitadas mediante genuína reforma.
O documento repete que a reforma agraria, para ser eficaz, nao se
pode limitar á distribuigao de térra, mas há de ser completada por urna
serie de outras medidas que a tornem duradoura:
- coeréncia com a política nacional e com a dos organismos inter-
nacionais;

332
REFORMA AGRARIA 45

- assisténcia técnica que ajude o lavrador a utilizar a tecnología ade-


quada, da qual resultaráo aumento de producáo e protecáo do ambiente;

- acesso ao crédito e criacáo de cooperativas, fator de éxito;

- instrucio para homens e muiheres em níveis correspondentes


aos seus justos anseios; quem tem certa cultura geral, sabe melhor en-
caminhar-se na vida, vencer obstáculos e inserir-se na sociedade;

- consideracáo respeitosa das muiheres, que em alguns países


sao responsáveis por mais da metade do trabalho agrícola (cf. n° 52). As
muiheres costumam ser estimadas pelo seu trabalho doméstico e nao
como agentes de tarefas produtivas; as leis geralmente privilegiam os
homens, principalmente quando se trata de propriedade da térra.

Levem-se em conta outrossim os direitos das.populacóes indíge


nas; sejam-lhes restituidas as térras que possuíam, especialmente se
Ihes foram subtraídas em época recente. Em suma, haja participacáo
das comunidades interessadas, sempre que o Estado tiver que definir
programas e leis referentes ao mundo rural.

É de notar que urna eficaz reforma agraria implica a colaboracáo


de varias organizacóes nacionais e internacionais; pode também benefi
ciar o comercio internacional.

Enfim a proximidade do jubileu do ano 2000 deve levar todos os


cristáos a um exame de consciéncia e urna tomada de responsabilidade
mais eficiente. Ao abordar o tema bíblico da distribuicáo da térra, o
Pontificio Conselho de Justica e Paz tenciona chamar a atencáo para um
dos cenários mais tristes e dolorosos, que apelam para a co-responsabi-
lidade também de muitos cristáos, marcado que é por graves modalida
des de injustica e marginalizacáo social, que violam direitos humanos
fundamentáis (cf. n9 60). "O espirito do jubileu leve-nos a dizer 'Basta!'
aos muitos pecados individuáis e sociais que provocam situacoes de
pobreza e injustica dramáticas e intoleráveis" (ns 61).
Em conclusáo: o documento da Santa Sé considera um grave pro
blema nem sempre reconhecido pelas autoridades civis, mas de enorme
abrangéncia, pois diz respeito a milhoes de seres humanos, muitas vezes
levados ao desespero por falta de ajuda. A Igreja quer dizer-lhes, mediante
tal pronunciamento, que Ela caminha lado a lado deles, a fim de tutelar os
seus direitos e ajudá-los a viver a dignidade de criaturas amadas por Deus.

Este artigo muito deve ao de Gian Paolo Salvini S. J.: La Térra é


per tutti, publicado em La dviltá Cattolica 19981, pp. 484-493.
* * *

APÉNDICE
A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, em sua 368 Assem-

333
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

bléia plenária, publicou numa declaracáo sobre a Reforma Agraria, data


da de 1s/5/98, que passamos a transcrever:

PARA UMA EFETIVA REFORMA AGRARIA


"A questáo da Reforma Agraria vai além dos interesses, conflitos e
reivindicacóes da populacáo do campo, de movimentos ligados á térra,
de produtores rurais e de órgáos governamentais.
Inúmeras sao as razóes que fazem da Reforma Agraria, no con
senso geral, urna prioridade nacional: a concentrado da propriedade da
térra, o éxodo rural, o aumento do desemprego, o crescimento, sem con
trole, da populacáo urbana, e, últimamente, o confronto multas vezes
violento entre os sem-terra, os proprietários rurais e as torcas policiais.
O assentamento de milhares de familias acampadas exige, com
urgencia, urna solucáo justa e pacífica. A Reforma Agraria é caminho
para a paz social no campo e ñas grandes cidades atormentadas pelo
desemprego, a violencia e a subnutricao endémica de milhóes de brasi-
leiros. Também a solidariedade para com os famintos de outras regióes
do mundo obriga-nos, como Nacáo e Estado, a rever a estrutura fundiária
e os objetivos do desenvolvimento económico do Brasil.
A concretizacáo da Reforma Agraria incluí, além disto, urna eficien
te política agrícola, com legislacáo tributaria mais adequada para a pro
priedade rural e a producáo agropecuaria, mecanismos de apoio á pro
priedade familiar com incentivo ao desenvolvimento de cooperativas, á
defesa das populacóes indígenas e grupos de remanescentes dos
'quilombos' contra a expropriacáo de suas térras.
O recente documento 'Para urna melhor distribuigáo da térra - O
Desafio da Reforma Agraria' do Pontificio Conselho de Justica e Paz
(Roma, 23/11/97), explícitamente confirmado e aprovado pelo Papa Joáo
Paulo II, é posicáo clara e comprometedora da Igreja e, portante
interpelante para a consciéncia de todos os brasileíros, especialmente
dos governantes, diante do problema da térra.
A Assembléia da CNBB, reunida em Itaici, assume com responsa-
bilidade esse documento e manifesta a firme esperanca de que ele se
torne ponto de partida para um grande consenso, envolvendo governo e
sociedade, a fim de que se comprometam a dar os passos necessários
para a táo esperada Reforma Agraria em nosso País.
Que Deus ilumine, com sua sabedoria, governantes, movimentos
sociais e todos que se empenham para que se efetive a Reforma Agraria.
Que, com a protecáo da Virgem Máe Aparecida, cooperemos todos, em
espirito de solidariedde e fraternidade, na construcáo da justica social
em nosso Brasil.
Itaici (SP), 19 de maio de 1998

334
A Desonestidade da "Folha Universal"

"O JURAMENTO DOS JESUÍTAS"


por Karol Weiss

Em sfntese: O jornal "Folha Universal" ataca a Companhia de Je


sús mediante documento espurio e caluniador. O articulista Karí Weiss
transcreve um pretenso juramento dos jesuítas que se comprometiam a
eliminar "os hereges", sem citara fonte respectiva - o que fere as normas
de um trabalho científico que merega consideragáo. Os historiadores sa-
bem que os jesuítas tém sido falsamente acusados no decorrerdos sécu-
los, inclusive mediante um libelo intitulado "Mónita Secreta" (Admoestagües
Secretas), que os própríos protestantes mais cultos reconhecem ser falso.
* * *

O jornal "FOLHA UNIVERSAL", da Igreja Universal do Reino de


Deus, é sistemáticamente agressivo á Igreja Católica, valendo-se mes-
mo de inverdades e calúnias, como já tem sido registrado em números
anteriores de PR; ver 422/97, pp 325-328; 423/97, pp. 387s; 430/98, pp.
111-114. Em sua edicáo de 22/3/98, p. 3, o jornal publicou veemente ata
que aos jesuítas assinado por Karl Weiss, que se baseia em falso docu
mento: segundo Weiss, os jesuítas foram fundados para combater o protes
tantismo; deviam jurar aplicar todos os meios para eliminar os protestantes,
inclusive no Brasil; fundaram escolas em nossa patria para impedir a propa-
gacáo do protestantismo... Eis o comeco do texto do presumido juramento:
"Prometo, na presenga de Deus e da Virgem María, e de ti, meu pai
espiritual, superior da Ordem Geral dos Jesuítas, e pelas entranhas da
Santfssima Virgem, defender a doutrina contra os usurpadores protes
tantes, liberáis e magons, sem hesitar".
A simples leitura deste texto dá a ver como é espurio e falso. Foi
traduzido para o portugués a partir de um original de outra língua (qual?)
sem conhecimento do assunto; com efeito, os jesuítas nao constituem
urna Ordem Geral, mas a Companhia de Jesús... Ademáis a Companhia
foi fundada em 1540, ao passo que a Maconaria filosófica (a que hoje
existe) foi fundada em 28/2/1723. É, pois, impossível que, no século XVI,
os jesuítas tenham sido fundados para combater a Maconaria, que nao
existia. Tal juramento falso só pode ter sido redigido no século XVIII, de-
pois que os jesuítas haviam fundado muitos colegios no Brasil.
Karl Weiss nao indica a fonte donde transcreveu o texto do pretenso
juramento; desta maneira fere as normas de um trabalho científico e nao
pode ser levado a serio, pois todo trabalho que pretenda merecer aten-
cáo indica as suas fontes, especialmente quando diz citar algo.
O final do texto diz o seguinte:

335
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 434/1998

«'Farei arrancar seus estómagos e o ventre de suas mulheres, e


esmagarei a cabega de suas criangas contra a parede, a fim de extirpara
raga. Quando nao puder fazer isso publicamente, usarei secretamente o
veneno na chávena de cha, a corda de estrangular, o lago, o punhal e a
bala de chumbo.

Com este punhal molhado no meu sangue, farei minha rubrica como
testemunha. Se eu for falso ou perjuro, podem meus irmáos, os soldados
do papa, cortarem máos e pés, e minha garganta de orelha a orelha;
minha barriga seja abena e queimada com enxofre, e que minha alma
seja torturada pelos demonios para sempre no inferno'»
Tais dizeres, bárbaros como sao, jamáis poderáo ter sido texto oficial
da Companhia de Jesús, que contou, entre os seus membros, figuras de
relevo, reconhecidas como beneméritas pela historiografía brasileira; tenham-
se em vista os Padres José de Anchieta, Manoel da Nóbrega, Antonio Vieira...
Existe, sim, um documento falso, que ridiculariza os jesuítas com o
título "Mónita Secreta" (Admoestacóes Secretas) datado do século XVII.
Terá Karl Weiss tirado desse libelo o texto do pretenso juramento? - Nao
é de crer, pois o juramento se volta contra os macons, que só comecaram
a existir, como tais, no século XVIII. De resto, os "Mónita Secreta" foram
desacreditados por historiadores críticos e abalizados, mesmo entre os ad
versarios dos jesuítas. Tenhamos em vista os protestantes Gieseler, Hubert,
Tschackert, Reusch, Pauius, Nippol e os dois velhos-católicos Doeliinger e
Friedrich (Janus). Adolf von Harnack, protestante liberal, escrevia:
"É lamentável que tenham explorado contra a Companhia de Jesús
falsos documentos como os Mónita Secreta. Saibamos nos, protestan
tes, precaver-nos contra falsos testemunhos a respeito do próximo"
("Theologische Literaturzeitung" 1891, p. 122).
O historiador R. F. Littledale no verbete «Jesuits» da «Encyclopaedia
Britannica» (ed. de 1930) observava o seguinte:

"As Regras oficiáis e as Constituigóes da Companhia de Jesús es-


táo em contradigáo patente com essas pretensas instrugóes (dos Mónita),
pois proíbem expressamente aceitar dignidades eclesiásticas, a menos
que por ordem explícita do Papa; desde os tempos do fundador Inácio,
sabemos quantos obstáculos a Companhia opós a tais promogóes. Ade
máis nao raro aconteceu que instrugóes auténticas secretas, provenien
tes do Superior Geral e dirigidas a Superiores subalternos, caíssem em
máos hostis; ora em muitos casos essas instrugóes auténticas promulga-
vam orientagóes diretamente contrarias ás dos Mónita; em nenhum caso,
aquelas corroboram a estas".
Pode-se, pois, concluir que os "Mónita Secreta" sao um juramento
forjado e espurio.
continua na pág. 315

336
LIVROS Á VENDA NA LUMEN CHRISTI:

- JESÚS CRISTO IDEAL DO MONGE - Dom Columba Marmion, OSB. Versao portu
guesa dos Monges de.Singeverga. 682 págs R$ 35,00.
- JESÚS CRISTO NOS SEUS MISTERIOS, Dom Columba Marmion, OSB. - Confe
rencias Espirituals. 3a edicáo portuguesa pelos monges de Singeverga.
540 págs R$ 35,00.
- JESÚS CRISTO VIDA DA ALMA, Dom Columba Marmion, OSB. Quarta edicáo por
tuguesa pelos Monges de Singeverga, Portugal. 1961,544 págs R$ 35,00.
- SALTERIO MEU MINHA ALEGRÍA, os 150 Salmos pelas Monjas benedltinas de
Santa María - SP. Salterio ilustrado para enancas e adultos com alma de crianca. 2a
edicáo 1994. Formato 21,5x16cm R$ 12,60.
- MAGISTERIO EPISCOPAL, (Escritos Pastorais) de D. Clemente José Carlos Isnard,
OSB. Bispo emérito de Nova Friburgo/RJ. Coletánea dos mais variados temas vividos
durante os seus trinta anos de vida episcopal. Volume de 540 págs R$ 12,50.
- RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA, por Dom Cirilo Folch Gomes OSB. Reimpressáo
da 2a edicáo (Jan. 1989). Curso completo de Teología Dogmática. Comentario ao
"Credo do Povo de Deus", de Paulo VI. Especialmente para curso superior em Semi
narios e Faculdades. 691 págs R$ 38,20.
- O MISTERIO DO DEUS VIVO, Pe. Albert Patfoort, OP, traducáo e notas de D. Cirilo
Folch Gomes, OSB. Tratado de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de
índole didática. 230 págs R$ 18,40.
- DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos. Dom Estéváo Bettencourt, OSB.
3a edicáo, ampliada e revista, 1989.340 págs R$ 18,40.
- GRANDE ENCONTRÓ, Dom Hildebrando P. Martins, OSB. Semana da Missa na
Paróquia para melhorcompreensáo do povo. 109 págs R$5,00.
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explicada ao povo. Traducáo e notas de D. Hildebrando P. Martins R$7,90.
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• SUMA CONTRA OS GENTÍOS, Volume II - Livros III9 e IV3. Traducáo


de Dom Odiláo Moura, OSB. Baseada em parte em traducáo de Dom
Ludgero Jaspers, OSB. Revisáo de Luis A. de Boni. Edicáo bilingüe
927 págs. Edicáo de 1996. EDIPUCRS/EST. R$ 45,00.

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Moura, OSB, EDIPUCRS1996.287 págs. Segunda edicáo da última obra
de Sao Tomás, contendo o seu último pensamento teológico. Apresenta-
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O ENTE E A ESSENCIA. Traducáo e introducáo com notas de Dom Odiláo


Moura, OSB. Edicáo bilingüe. Comentario Ed. Presenca. 1991 - 180
págs. Constituí esta obra, a primeira escrita por Sao Tomás, urna sín-
tese de sua doutrina filosófica r$ 15,00.

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Brasil no sáculo XX. Editora Convivio, SP. 1978. Análise das persona
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