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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Esteváo Tavares Bettencourt, osb
(7n memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


— Responderemos propóe aos seus leitores:
¡ aborda questóes da atualidade
'] controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
i dissipem e a vivencia católica se fortaleca no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
"" este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xl Agosto 1999
"Resgatados por elevado prego..." (1Cor 6, 20)

O sinal da Cruz

Se tudo fosse permitido...

Homem e Muiher: complementaridade

Unificagao da data da Páscoa

"A vida dos Direitos Humanos" por varios autores

"A luz do Além" por Raymond Moody Jr.

Aberto o Processo de Madre Teresa de Calcutta

Matar os embrióes?

A um jovem indeciso: "Que rumo seguirei?"

O fenómeno Joáo Paulo II


PERGUNTE E RESPONDEREMOS AGOST01999
Publicacáo Mensal N°447

Diretor Responsável
SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB "Resgatados por elevado
Autor e Redator de toda a materia preco..." (1Cor 6, 20) 337
publicada neste periódico O sinal do Cristáo:
O sinal da Cruz 338
Diretor-Administrador:
Que seria...?
D. Hildebrando P. Martins OSB Se tudo fosse permitido 344

Administracáo e Distribuicáo: Auténtico Feminismo:


Homem e Mulher: complementaridade 347
Edicóes "Lumen Christi"
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar-sala 501 Luz no horizonte:
Tel.: (021) 291-7122 Unificacáo da data da Páscoa 353
Fax (021) 263-5679 Medicina e Direito:
"A vida dos Direitos Humanos" por
Enderezo para Correspondencia: varios autores 357
Ed. "Lumen Christi"
Tentando desvendar o misterio:
Caixa Postal 2666 "A luz do Além" por Raymond Moody Jr. 368
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Grande excecáo:
Aberto o Processo de Madre Teresa
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO
de Calcuttá 376
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
na INTERNET: http://www.osb.org.br Perplexidade:
Matar os embrides? 379
e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET
A um jovem indeciso: "Que rumo
seguirei?" 381

O Fenómeno Joáo Paulo II 383

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

As Obras Caritativas de Joáo Paulo II. - "Ele está no meio de nos", por urna equipe da
CNBB. - A Igreja e a Escravidáo no Brasil. I. O indio. - Ressurreicáo dentro de 21 dias?
- Mais urna vez a data da Páscoa. - A Igreja Católica na Rússia atual. - Padres casados
na República Tcheca. - "Minha vida nao tem sentido...". - A pílula do día seguinte.

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 30,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 3,00).

O pagamento poderá ser á sua escolha:

1. Enviar em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ.

2. Depósito em qualquer agencia do BANCO DO BRASIL, para agencia 0435-9 Rio na


C/C 31.304-1 do Mosteíro de S. Bento/RJ, enviando em seguida por carta ou fax,
comprovante do depósito, para nosso controle.

3. Em qualquer agencia dos Correios. VALE POSTAL, enderecado as EDICÓES "LUMEN


CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.: Correspondencia para: Edicoes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ y
"RESGATADOS POR ELEVADO PREQO..."
(1Cor6, 20)

Dirigindo-se aos fiéis de Corinto, seduzidos pela tentacáo da carne, o Apos


tólo lembra-lhes uma verdade, nao raro, esquecida por parte de muitos cristáos:
"Fostes resgatados por elevado preco... Portanto nao pertenceis a vos mesmos"
(1Cor 6, 19s). Sao Paulo concebe o pecado como um senhor que domina e
escraviza. Dessa escravidáo foram os homens redimidos pelo precioso sangue
de Cristo. Está claro que o Pai do Céu podía recorrer a procedimentos menos
trágicos para libertar do jugo do pecado a sua criatura. Mas quis que seu Filho
assumisse nao o pecado, mas as conseqüéncias do pecado, para que Ele, o
Santo e Inocente, vencesse o tirano dominador dos homens: o senhor pecado foi
sobrepujado, porque se projetou contra quem nada Ihe devia. Incorporado pelo
Batismo a esse novo Adáo, triunfador do pecado, o cristáo é feito templo do
Espirito Santo e já nao pertence a si mesmo; vive, sim, na esfera do sobrenatural.
Vive, sem dúvida, a sua vida humana, mas esta é elevada por Cristo a um plano
superior: "Vivo eu, nao eu; vive Cristo em mim" (Gl 2, 20). O cristáo é assim
regido pela intuicáo de que a realidade tem duas faces: a visível, muitas vezes
sedutora, mas ilusoria, e a invisível, que é definitiva e criterio para julgar todas as
coisas.

Tal é a dignidade do cristáo, freqüentemente olvidada. A vida de um mem-


bro do Corpo de Cristo é sempre valiosa, mesmo quando aparentemente inútil.
Na comunháo dos Santos, o menor dos fiéis de Cristo é sempre importante,
porque, unido ao Senhor, colabora com Ele na redencáo do mundo: "Completo
em minha carne o que falta á Paixáo de Cristo em favor do seu Corpo, que é a
Igreja" (Cl 1,24). A Paixáo de Jesús foi infinitamente meritoria, mas cada um de
nos Ihe dá o suporte ou a moldura da sua existencia aqui e agora no século XX.
Cristo prolonga a sua agonía até o fim dos tempos em cada um dos seus mem-
bros, diz Blaise Pascal com muita sabedoria. Nao há grandeza nem verdadeira
riqueza sem dor: "Sem espinhos a rosa também é bela, mas nao é como Deus a
fez" {Orlando Gambi).

Nao poucos, esquecidos desta mensagem, deixam-se abater pelo peso


do sofrimento. A consciéncia de que custaram alto preco e sao preciosos mesmo
quando crucificados, neles se vai apagando. - Caro(a) amigo(a), reergue teu
ánimo. Náoduvides: és muito valioso(a). Tu o compreenderás plenamente, quando
passares da penumbra da fé á visáo face-a-face da Beleza Infinita!
Outros há que também esquecem sua dignidade, mas... por razóes dife
rentes. A euforia do pecado ou o colorido das bolhas de sabáo obnubila-lhes a
mente, e se deixam escravizar. Caro(a) irmáo(á), é sempre tempo de recomecar.
O alto prego pelo qual foste resgatado, aínda tem mais peso do que a carga das
tuas falhas. O Pai recebe quem a Ele volta, maltrapilho e de máos vazias, mas
faminto e sedento. Ter fome e sede do Infinito já é uma graca, já é sinal de que
Deus te quer receben "Que o pecador conceba a dor do seu pecado, mas alégre
se por conceber tal dor!" (S. Agostinho).
Eis algumas idéias implicadas na palavra do Apostólo...
E.B.

337
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS'
»JJ

Ano XL - N2 447 - Agosto de 1999

O Sinal do Cristáo:

O SINAL DA CRUZ

Em síntese: A estima dos fiéis católicos ao sinal da Cruz está ba-


seada nos escritos paulinos assim como na Tradigáo e na praxe continua
da Igreja. Nada tem em comum com ritos e símbolos do paganismo. A
Cruz, instrumento de suplicio outrora, foi santificada pelo Senhor Jesús,
que déla fez a nova árvore da vida em réplica á árvore do paraíso perdida
pelo pecado dos primeiros pais.
* * *

Tem-se espalhado um panfleto intitulado "O Sinal da Besta" e assi-


nado pelo pastor Glauco Barreira Magalháes Filho, do Movimento
Anabatista. Ataca..., e ataca veementemente a prática do sinal da cruz
assim como a ¡magem da cruz, muito freqüentes entre os fiéis católicos.
O texto fortemente agressivo levou leitores de PR a sugerir urna resposta
ao mesmo. É o que será apresentado ñas páginas seguintes em tom
sereno e objetivo.

1. Percorrendo o texto...

1.1. Para comee,ar...

Logo no seu primeiro parágrafo escreve o autor:

«A Igreja Católica Romana tem promovido, desde muito tempo, o


culto á cruz, a qual é vista pelos papistas como um amuleto e símbolo do
cristianismo. É conhecida a oposigáo dos anabatistas á veneragáo da
cruz, principalmente durante a Idade Media, quando diversos dos seus
grupos (bogomilos, petrobrusianos, paulicianos e valdenses) foram tortu
rados e mortos em virtude de seu protesto contra a idolatría».

Estes dizeres sugerem reflexoes.

338
O SINAL DA CRUZ

Amuleto... A cruz seria, para os católicos, um amuleto. Ora, se


gundo o Dicionário de Aurelio, amuleto é um objeto de efeitos mágicos
ou um talismá. - Em resposta, deve-se dizer que nunca a Igreja atribuiu
efeitos mágicos á Cruz do Senhor. O crucifixo e a cruz sao objetos sobre
os quais a Igreja profere sua oracáo, pedindo a Deus que aqueles que os
usarem com fé e devocáo, sejam cobertos de gracas e béncáos; tal é o
conceito de sacramental; supóe sempre a fé e o amor de quem o utiliza.
Anabatistas na Idade Media? O autor julga que os anabatistas já
estavam presentes na historia medieval sob forma de bogomilos,
paulicianos... - Em resposta deve-se dizer que os anabatistas sao discí
pulos de Lutero que levaram ao extremo as idéias do mestre, promoven-
do a revolta dos camponeses sob Storch e Thomas Münzer entre 1522 e
1525: apregoavam o Batismo de adultos por nao reconhecerem o de
enancas; por isto rebatizavam adultos {ana em grego significa de novo).
O movimento anabatista em nossos dias compreende todas as denomi-
nacoes que, a partir do século XVI, propugnam o Batismo de adultos
apenas. Sobre a origem dos anabatistas e batistas ver PR 396/1995 pp
215-225.

Os paulicianos eram urna seita dualista ou maniquéia, que admi


tía dois deuses: o deus bom, criador das almas, e o deus mau, criador do
mundo material. Tiveram origem pouco depois da metade do século VI!
na Asia Menor Oriental e na Armenia. O nome foi-lhes dado provavel-
mente pelos adversarios, pois dedicavam especial veneracáo a Sao Paulo
Apostólo. O fundador da seita foi um certo Constantino (Silvano) de
Cibossa. - Como se vé, os paulicianos nao podem ser tidos como
anabatistas, visto que professavam o dualismo ou o repudio á materia
devida a um deus mau.

Os bogomilos ("amigos de Deus") parecem derivar-se dos


paulicianos. Também professavam um deus bom e outro mau. Tiveram
origem no século X na Bulgaria, e estenderam sua influencia na direcáo
do Ocidente; uniram-se aos paulicianos e deram origem ao movimento
dualista cátaro na Italia Setentrional e na Franca do Sul.
Engana-se, pois, quem afirma que já na Idade Media exístiam
anabatistas representados por paulicianos e bogomilos. Estes sectarios,
alias, recusavam o Batismo (e os sacramentos em geral) e nao
rebatizavam.

1.2. Ezequiel 9, 4

O Pr. Glauco, pouco adiante, diz que, para justificar o uso da cruz,
os romanistas citam o seguinte versículo:

"Disse o Senhor a Ezequiel: 'Passa pelo meló da cidade, pelo meio


de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que estáo

339
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

suspirando e gemendo por causa de todas as abominagóes que se co-


metem no meto déla' (Ez 9, 4).

A palavra sinal ai destacada é a letra hebraica tau, que corresponde


á nossa letra T. O Catolicismo tenta vernesse T, na testa, o sinal da cruz".

Na verdade, o texto de Ezequiel é de pouca ou nenhuma importan


cia para a devocáo católica á Cruz. Esta tem valor para os católicos por
que foi santificada pelo contato com Cristo, que déla fez o instrumento da
Redencáo humana ou a nova árvore da vida. Nao é necessario recorrer
ao Antigo Testamento para fundamentar a piedade católica em relacáo á
Cruz de Cristo.

1.3. A Cruz no ritual dos sacramentos

Continuando, afirma o autor do panfleto:

"A Biblia diz o seguinte sobre o sinal da Besta:

'...£ fez que a todos, pequeños e grandes, ricos e pobres, livres e


escravos, Ihes fosse posto um sinal na máo direita ou na testa' (Ap 13, 16).

Nao é o sinal da cruz feito pelo sacerdote romanista na testa da


crianga através de pingos, por ocasiao do sacramento católico do 'batis-
mo'? Quando alguém se crisma, o padre nao faz com o óleo o sinal da
cruz na fronte da pessoa? Na extrema-ungáo nao se repete o sinal da
cruz na fronte? Nao fazem os católicos romanos o sinal da cruz na testa
com o dedo?".

O Pr. Glauco identifica gratuitamente o sinal da Besta do Apocalip-


se com a Cruz do Senhor. A sua argumentacáo carece de valor, pois nao
é fundamentada e sim inspirada por um preconceito cegó e pouco cientí
fico.

1.4. A antiga arte crista

Lé-se ainda no panfleto:

"Sobre os primeiros cristáos, o próprio catolicismo reconhece:

'A representagáo da morte redentora de Cristo no Gólgota nao ocorre


na arte simbólica dos primeiros sáculos cristáos. Os cristáos primitivos,
influenciados pela proibigáo de imagens esculpidas do Velho Testamen
to, relutaram em representar até mesmo o instrumento da Paixáo do Se
nhor' (New Catholic Enciclopedia, 1967, vol. IV, p. 486)".

Nao é difícil desfazer os equívocos sugeridos por este texto.

Comecemos pela chamada "Cruz de Ercolano". - Ercolano é urna


antiga cidade romana situada perto de Ñapóles aos pés do Vesúvio (Itá-

340
O SINAL DA CRUZ

lia), que em 79 d. C. foi soterrada pelas cinzas vulcánicas do Vesúvio. No


século XVIII comecaram as escavacoes no local para averiguar o que foi
recoberto pelas larvas. Encontrou-se entáo em 1937, na chamada Casa
do Bicentenário, urna saleta, em cuja parede havia um espaco quadrado
de estuque e dentro desse espaco urna cruz latina de dois bracos, íixa á
parede. O achado suscitou grandes surpresas e debates. Finalmente após
meticuloso estudo, o diretor das escavacoes, Professor A. Maiuri, julgou
poder chegar á conclusáo de que se tratava de urna cruz crista, datada
de poucos decenios após a morte do Senhor Jesús. Pode-se realmente
crer que já naquela remota época havia cristáos em tal regiáo, pois Sao
Paulo em 61 desembarcou em Puzzuoli perto de Ñapóles e foi recebido
por urna comunidade de cristáos; cf. At 28, 14. Mais: frente á Cruz de
Ercolano há um pequeño móvel, que alguns arqueólogos identificaram
com um altar. Se tal interpretacáo é auténtica, como parece, verifica-se
que a veneracáo da Cruz é praticada desde o século I da nossa era.

Deve-se, porém, reconhecer que, pelo fato de ser instrumento de


suplicio dos malfeitores, a Cruz nao se encontra nos mais antigos monu
mentos cristáos. Todavía no hipogeu (sepultura subterránea) dos Aurelios
em Roma, datado de fins do século II ou comeco do século III, acha-se
um afresco que apresenta um personagem apontando respeitosamente
para o sinal da Cruz.

Durante os tres primeiros séculos, que foram de perseguicáo aos


cristáos, encontram-se na arte crista alguns símbolos que lembram
veladamente a Cruz. Assim, por exemplo, a áncora, que representava,
ao mesmo tempo, a Cruz e a esperanca decorrente da Cruz (Hb 6,19). A
áncora se encontra nos recintos mais antigos das catacumbas romanas
ou cemitérios cristáos; está gravada em lapides de sepulcros ou pintada
sobre monumentos que podem ser atribuidos ao século I.

O tridente, que tem semelhanca com a Cruz, é um pouco menos


antigo; foi símbolo dos cristáos assaz freqüente nos tres primeiros sécu
los.

A conversáo de Constantino ao Evangelho em seu leito de morte e


a profissáo de fé crista dos Imperadores subseqüentes fizeram desapa
recer o suplicio da Cruz. Esta se tornou entáo únicamente sinal da Pai-
xáo vitoriosa do Senhor. Conscientes do seu valor, os cristáos ornamen-
taram a Cruz com palmas e pedras preciosas.

Quanto ao uso do sinal da cruz ou da persignacáo, é atestado tam-


bém desde os primeiros séculos:

Assim, por exemplo, o escritor Tertuliano (t pouco antes de 220)


atesta:

341
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

"Quando nos pomos a caminhar, quando safmos e entramos, quando


nos vestimos, quando nos lavamos, quando iniciamos as refeigóes, quando
nos vamos deitar, quando nos sentamos, nessas ocasióes e em todas as
nossas demais atividades, persignamo-nos a testa com o sinal da Cruz"
(De corona militis 3).

Diz aínda Hipólito de Roma (t 235/6), descreyendo as práticas dos


cristáos do século III:

"Marcai com respeito as vossas cabegas com o sinal da Cruz. Este


sinal da Paixáo opóe-se ao diabo e protege contra o diabo, se é feito com
fé, náoporostentagáo, mas em virtude da convicgáo de que é um escudo
protetor. É um sinal como outrora foi o Cordeiro verdadeiro; ao fazer o
sinal da Cruz na fronte e sobre os olhos, rechagamos aquele que nos
espreita para nos condenar" (Tradigáo dos Apostólos 42).

As Atas dos Mártires, por sua vez, dáo a saber que os mártires se
persignavam com o sinal da Cruz antes de enfrentar a luta final.

Alias, a estima dos cristáos pela Cruz de Cristo, feita nova árvore
da vida e instrumento da Redencáo humana, tem seu fundamento nos
próprios escritos do Novo Testamento, como se depreenderá de quanto
segué.

2. A Fundamentacáo Bíblica

Escreve Sao Paulo:

"Quanto a mim, nao acontega gloriar-me senao na cruz de nosso


Senhor Jesús Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu
para o mundo" (Gl 6, 14).

Como se vé, o Apostólo fala de gloriar-se na Cruz de Cristo, que é


motivo de sua ufanía.

Na sua pregacáo o Apostólo se refería á Cruz do Senhor como


ponto central da mensagem, nao por ser a Cruz instrumento de morte,
mas por ter sido a réplica da árvore da vida perdida pelo pecado no para
íso. A Cruz gloriosa é o símbolo da Páscoa de Cristo ou da Vitoria da Vida
sobre a morte:

"Cristo me enviou... para anunciar o Evangelho sem recorrerá sa-


bedoria da linguagem, a fim de que nao se esvazie a Cruz de Cristo. Com
efeito, a linguagem de Cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas
para aqueles que se salvam, para nos, é poder de Deus" (1Cor 1, 17s).

"Osjudeus pedem sinais, e os gregos andam em busca de sabedo-


ria. Nos, porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus é

342
O SINAL DA CRUZ

escándalo, para os gentíos é loucura, mas para aqueles que sao chama
dos, tanto judeus como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de
Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sabio do que os homens, e o
que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (1Cor 1,22-25).

"Ó gálatas insensatos, quem vos fascinou, a vos ante cujos olhos
foi desenhada a imagem de Jesús Cristo crucificado?" (Gl 3, 1).

Estes textos evidenciam como a pregacáo do Apostólo enfatiza o


valor da Cruz de Cristo como mensageira de salvacáo.

De resto, ao cristáo toca nao somente o dever de venerar a Cruz do


Senhor, mas também o de configurar sua vida á do Crucificado, carre-
gando diariamente a cruz com Jesús:

Mt 10, 38: "Aquele que nao toma a sua cruz e me segué, nao é
digno de mim". Cf. Me 8, 34; Le 9, 23; 14, 27.

Mt 16, 24: "Disse Jesús aos seus discípulos: 'Se alguém quer vir
após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me'".

Gl 2,19: "Pela Lei moni para a Leí, a fim de viver para Deus. Fui
crucificado com Cristo".

Gl 5, 24: "Os que sao de Cristo Jesús, crucificaram a carne com


suas paixóes e suas concupiscencias".

Gl 6,14: "Quanto a mim, nao acontega gloriar-me senáo na cruz de


nosso Senhor Jesús Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim
e eu para o mundo".

O sinal da Cruz é o sinal dos cristáos ou o sinal do Deus vivo; cf. Ap


7,3.

Em conclusáo, pode-se dizer: estes elementos de literatura bíblica,


historia e arte antiga atestam sobejamente que a Cruz, como símbolo
cristáo, é algo de genuinamente neotestamentário. Seu valor de sinal
sagrado, típico do discípulo de Cristo, já é incutido pelos Evangelistas e
por Sao Paulo. A vivencia e a iconografía dos cristáos, desde o sáculo I,
deram a este símbolo sagrado um lugar de escol entre as expressoes da
fé crista. Donde se vé que é totalmente descabida a teoría de que a Cruz
é um símbolo pagáo introduzido por influencia do paganismo na Igreja e
destinado a ser eliminado do uso dos cristáos. Rechacar a Cruz de Cristo
é rechacar o símbolo da Redencáo e da esperanca dos cristáos.

343
Que seria...?

SE TUDO FOSSE PERMITIDO..

Em sintese: Giovanni Martinetti, em seu livro "Razóes para Crer",


imagina o que seria se a Igreja modificasse suas posigóes frente a ten
dencias contemporáneas ao homossexualismo, as relagóes extra-conju-
gais, ao aborto... Encontraría grande número de simpatizantes. Mas es
taría traindo a lei natural, que é a lei do Criador. O homem de nossos dias
respeita a natureza enquanto é regida por leis físicas, mas esquece que
a natureza também é portadora de ditames moráis ou normas para o reto
comporíamento humano.

Já em PR 408/1996, pp. 194-199, foi apresentado o livro de Giovanni


Martinetti "Razóes para Crer"1. É obra que considera os diversos obstá
culos á fé católica levantados pela sociedade contemporánea. O autor
sabe responder-lhes em estilo suave e incisivo. Ñas páginas subseqüen-
tes transcreveremos quanto Martinetti pondera no caso de que a Igreja
"reveja" suas normas moráis, justificando o homossexualismo, as rela
góes extra-conjugais, o aborto... Ganharia grande número de novos adep
tos e simpatizantes, mas trairia a lei de Deus, que se manifesta através
da lei natural gravada no íntimo de todo ser humano; ver pp. 306-308 da
obra citada.

«A Igreja é um rebocador e nao urna balsa

Bruce Marshall, em seu livro O mundo, a carne e Padre Smith,


conta que urna noite o Padre Smith teve um sonho. Havia sido eleito um
novo Papa, que assumiria o insólito nome de Buster I. Em seu primeiro
discurso em inglés, transmitido para todo o mundo, declarara solene-
mente que o amor livre, dadas as atuais circunstancias da vida humana,
nao devia mais ser considerado um pecado, mas, ao contrario, era um
aspecto importante da Caridade.

Os frutos nao tardaram em manifestar-se. Logo no dia seguinte as


igrejas católicas do mundo inteiro foram inundadas por fiéis que, junto
com velhos praticantes, queriam pronunciar a sua profissáo de fé e rezar
pela saúde do novo Papa. Anglicanos, luteranos e ortodoxos superaram
as dificuldades teológicas e passaram a integrar a Igreja Católica. Tur
quía, Irá, india, China, Japáo haviam enviado delegacóes ao Vaticano
para solicitar novos missionários; o ateísmo e a secularizacáo desapa-

1 Ed. Loyola, Sao Paulo 1995.

344
SE TUDO FOSSE PERMITIDO...

receram como nevé no fogo, e até a Uniáo Soviética de Stálin abrirá urna
embaixada na Santa Sé.

O romancista escocés tinha razáo. As dificuldades que as massas


ocidentais encontram para ter fé, muitas vezes nao vém da cabeca, mas
de outras partes. O epicentro da secularizacáo (e as vezes também da
teología da dissensáo) nao está tanto ñas idéias teológicas, mas sobre-
tudo ñas normas de comportamento, na fórmula do lancamento espacial
para Deus. O homem de hoje nao rejeita o produto, mas o preco a pagar
por ele. A Igreja teria sinal verde e se encheria de fervorosos fiéis, se
fechasse os olhos para as 'ninharias da moral' e abrisse espaco para a
'liberdade de consciéncia'.

Por que, pergunta o homem comum, obstinar-se em manter urna


concepcáo táo anacrónica, medieval e puritana do sexo, que afasta dos
sacramentos e da própria fé milhóes de pessoas, quando o clero de
monstra ser táo informado e moderno em todos os outros aspectos da
vida humana?

O Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregacáo para a Dou-


trina da Fé, em 2 de maio de 1989, apresentou importante relatório no
Encontró dos Presidentes das Comissóes Doutrinais dos Bispos Euro-
peus em Laxenburg (Viena). Nele, acentuava que há na mentalidade
consumista, e em certos teólogos que a compartilham, urna especie de
contestacao da praxis e da fé da Igreja, contestacao que compreende,
sobretudo e em primeiro lugar, o Nao ao seu ensinamento sobre a
contracepcao, o aborto, o divorcio, a manipulacáo genética, o homos-
sexualismo, o adulterio e as relacóes sexuais antes do casamento.

Todos esses temas 'dependem de urna visáo comum do homem e


de urna idéia da liberdade humana que opera nela'... 'Hoje, finalmente
nos descobrimos o direito e a liberdade da nossa consciéncia e, portan
te nao estamos mais dispostos a subordiná-la a um conjunto de normas
impostas de fora'. Ou seja, de Deus.

A razáo de semelhante posicáo, mesmo entre muitos teólogos, está


no desaparecimento da doutrina da criacáo em sua Teología. Se a natu-
reza nao foi criada por Deus, mas é fruto do puro acaso, é lógico que nao
se aceite que ela seja considerada urna instancia moral. O corpo é consi
derado urna posse, da qual o individuo dispóe conforme o que Ihe pareca
mais útil para a sua 'qualidade de vida'.

Nao se vé entáo por que nao se possa desvincular

da fecundidade a relacáo sexual (contracepcao),

do dom da vida a gravidez (aborto),

do pacto sagrado de amor estável o prazer erótico (amor livre),

345
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

da fidelidade o pacto sagrado (adulterio, divorcio),


da diferenciacáo sexual o amor físico (homossexualismo),
da concepcáo a rela9áo sexual (concepcáo em proveta),
de filhos a heranca genética (manipula9áo genética).
'Quando a autonomía do homem frente a Deus é acolhida plena
mente, torna-se irrelevante diferenciar homossexualidade e heteros-
sexualidade, atos sexuais dentro ou fora do casamento'.

Hoje teme-se com razáo que o homem cause danos á natureza


que nos rodeia, mas os homens sao incapazes de colher a mensagem
espiritual que provém da natureza. Experimentamos a insurgéncia da
criacáo contra o dominio arbitrario do homem, mas nao queremos reco-
nhecer os limites e as normas de nosso comportamento.

'Pode-se dizer que se tornou evidente que a natureza tem uma


racionalidade matemática. Contudo, considera-se uma ficcáo metafísica
dizer que a natureza tem também uma racionalidade moral'.

'Sua relacao (do homem) com a natureza é a da manipulacáo e,


nao a da escuta...' Diante das alarmantes desordens da sociedade per-
missiva, nasce em muitos a silenciosa consciéncia da necessidade de
uma alternativa. 'Esta, contudo, só poderá ser elaborada se a doutrina da
criacáo for desenvolvida novamente'.

'Devemos tornar novamente evidente que o mundo foi criado 'com


sabedoria' e que a grandeza do homem nao consiste na miserável auto
nomía de um anáo que se declara dono da natureza, mas no fato de o
seu ser deixar transparecer a mais espléndida finalidade, a ascensáo
para o Perfeito.'1

Além do mais, esquecem com facilidade que o que é impossível ao


homem torna-se possível com uma boa dose de oracáo e de Graca.

Certamente a teoría do puro acaso e da consciéncia autónoma é


mais confortável, mas nao é salutar. Para o Magisterio da Igreja, também
seria mais cómodo seguir o índice de aprovacáo e evitar tantas deser-
cóes. Mas a Igreja e os teólogos nao podem, em nome da popularidade,
substituir o amargo remedio da fé por um placebo.

Para salvar o homem, dizia Chesterton, Deus quis a Igreja como


uma locomotiva, e nao como um vagáo extraído da opiniáo pública. O
Povo de Deus deve ser um barco a motor que navega contra a corrente
dos instintos facéis, e nao uma balsa, cheia de gente, que a corrente
impetuosa arrasta para a cachoeira».

1 J. Ratzinger, L'Osservatone Romano, 1°julho de 1989, p. 7.

346
Auténtico Feminismo:

HOMEM E MULHER: COMPLEMENTARIDADE

Em síntese: O feminismo avangado tende a igualar entre si ho-


mem e mulher, esquecendo as diferengas específicas que fazem a rique
za da humanidade. G. Martineta mostra que nao se podem confundir en
tre si o masculino e o feminino, pois cada qual tem seus predicados pecu
liares, que devem ser respeitados e ativados para o bem da sociedade
civil e da Igreja. Enquanto o homem procura a eficiencia fría e, as vezes,
cega, a mulher representa a afetividade, que dá graga e significado a
racionalidade eficiente do homem.

Em nossos dias registra-se urna certa competicáo entre o masculi


no e o feminino; há quem julgue que a mulher deve abandonar seus
afazeres específicos para se igualar em tudo ao homem - o que redunda
em nova forma de subserviéncia do feminino ao masculino. Giovanni
Martinetti, já citado no artigo anterior deste fascículo, analisa a questáo,
mostrando que a grandeza da mulher está precisamente em cultivar o
que Ihe é peculiar - a afetividade e a capacidade de amar - para tempe
rar e complementar o senso de eficiencia fría que muitas vezes move o
homem. Sem a presenca da mulher, com seus traeos femininos peculia
res, as facanhas do homem poderiam fácilmente redundar em desgraca
para o próprio homem. As consideracóes do autor váo, a seguir, transcri
tas a partir do livro "Razóes para Crer" pp. 383-384, 388, 390-2, 341 s,
398-400.

«A mulher é a ponte entre o homem e Deus

A feminilidade tem urna missáo espiritual especial, que deriva de


sua própria natureza. É verdade que hoje muitos sustentam que as dife
rengas psicológicas entre homem e mulher se devem apenas a fatores
culturáis e que tenderáo a desaparecer quando houver perfeita igualda-
de social entre os dois sexos. Contudo, é difícil concordar com isso, quando
se pensa que a maternidade, despertando na mulher o gosto e o desejo
de cuidar do recém-nascido, também Ihe dá qualidades que sao úteis a
semelhante tarefa, qualidades essas que formam a alma feminina.

Por isso devemos dizer que apenas algumas diferencas psicológi


cas podem ser creditadas ao papel que históricamente o homem domi
nante atribuiu á mulher, especialmente á sua presumida inferioridade
quando se trata de dirigir e organizar, de fazer política, ciencia, técnica e

347
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

arte. Outras, ao contrario, provém da natureza e de Deus, que, com a


perspectiva da maternidade e da educacáo dos filhos, dirige a mulher
para a docura, a delicadeza, a beleza suave, a afetividade, a ternura e o
amor, enquanto orienta o futuro pai para a coragem, a racionalidade, a
organizacáo, a luta contra os obstáculos e outras qualidades úteis ao
trabalho fora de casa.

A civilizacao atual atravessa urna fase de rápido declínio, porque


está dominada por fatores culturáis de origem masculina (tecnología,
racionalismo, busca excessiva de bem-estar económico, amor como si
nónimo de sexo). Entrementes a mulher náo-contaminada pela mentali-
dade dominante, com a sua intuicáo, sua preferencia pelo.amor profundo
e estável, pela fraternidade e pela fé religiosa, exerce urna tarefa muito
elevada, indispensável para ajudar o homem a alcancar os valores supe
riores.

Poder-se-ia dizer que hoje a mulher auténtica é urna especie em


vias de extincáo, mas que, onde ela se conserva, é a ponte entre os
homens que a rodeiam, e Deus.

A opiniáo pública atual, fruto da cultura machista do passado, pres-


siona psicológicamente a mulher para que ela realize, mais que a igual-
dade de direitos, um nivelamento espiritual com os homens. Para que
busque o sexo mais que o amor, o trabalho e a ciencia mais que a gera-
cáo e a educacáo dos filhos, o racionalismo mais que a fé, o feminismo e
o confuto mais que a influencia do coracáo, a igualdade de pensamento e
de obrigacóes sociais mais que a paridade de dignidade e a complemen-
taridade da missáo humana, o sacerdocio exterior e institucionalizado
mais do que o interior, do qual tem a capacidade exclusiva.

Urna presenca cada vez maior da mulher na filosofía e na literatu


ra, no jornalismo e no direito, na sociología, na política e também na
teología será portanto bastante benéfica para o desenvolvimento equili
brado de nossa cultura, até agora monopolio masculino, se a mulher em
vez de se limitar a copiar o homem, exercer o seu carisma próprio.
Porque Deus dotou a mulher de um sacerdocio que Ihe é natural,
mais interior que o dos padres. Sem mulheres capazes de amar e de
fazer-se amar profundamente como esposas, máes, dirigentes ou ami
gas, e de orar sobretudo com o seu coracáo e a sua vida, o sentido da
vida e a fé desaparecem. E com eles desaparecem também os ministros
sagrados.

A mulher é verdadeiramente, por vocacáo, a ponte sagrada com


Deus nao quando, abandonando a fonte divina, volta-se totalmente para
a fonte do homem e procura imitá-lo, e nao apenas quando gera o ho-

348
HOMEM E MULHER: COMPLEMENTARIDADE 13

mem, mas sobretudo quando, com o Amor divino, o regenera interior


mente'» (pp. 383s).

«Complemento recíproco homem-mulher

O impulso fundamental da muiher é o dom de si, do mesmo modo


que o do homem é a afirmacáo de si. A primeira quer o amor, o segundo
a justica. O sentimento feminino se aplica á pessoa individual, enquanto
0 do homem é mais universal (política) e objetivo (ciencias).

O intelecto do homem é dominado mais pelo pensamento abstrato


e científico, enquanto a muiher busca o ser das coisas com a intuicáo. O
mundo da muiher é compreender, sentir, perdoar, simpatizar. Ela é bioló
gicamente feita para ser máe e psicológicamente para ser materna. O
homem é feito para a organizacáo, a técnica, para vencer as resistencias e
os obstáculos, para proteger e garantir a existencia da muiher e da enanca.

Até no campo religioso homem e muiher foram feitos um para o


outro: enquanto a muiher está mais preparada para atingir a perfeicáo
sobrenatural, que é de ordem passiva e tem como elemento principal a
Graca, o homem, ao contrario, está mais equipado para conquistar a
perfeicáo ética natural, que é de ordem ativa e consiste no perfeito domi
nio da racionalidade sobre todas as acóes e sentimentos.

A perfeicáo da natureza humana reside, portante, na ¡ntegracáo


entre forca racional e afetividade intuitiva. Sem o homem, a muiher cai no
sentimentalismo; sem a muiher, o homem se congela na aridez e no
tecnicismo soberbo. Kierkegaard observava em seu Diario:

'Urna eminente intelectualidade viril ligase ¡mediatamente a um


enorme egoísmo [...] Em ceño sentido, a muiher está mais capacitada
para o servigo religioso, porque a sua natureza é toda feita de abandono
de si[...] Urna eminente intelectualidade viril que se doa em sujeigáo fe-
minina, eis a verdadeira religiosidade"2" (p. 388).

«O sacerdocio aplica-se á muiher

Depois de explicar as criancas a obra da criacáo de Deus no relato


bíblico da Criacáo, um catequista Ihes perguntou: 'Por que voces acham
que Deus criou a muiher depois do homem?' Entáo urna menina levan-
tou a máo e respondeu: 'Eu acho que, depois de fazer o homem, o Se-
nhor pensou: Se a primeira tentativa nao der certo, talvez eu me saia
melhor agora. E assim criou a muiher!'

1 Cf. P. Evdokimov, "La femme et le salut du monde", ¡n VV.AA. La donna nella


Chiesa oggi, Leumann (Turim): Elle Di Ci, 1981, pp. 128ss.
2 S. Kierkegaard, Diario, Brescia: Morcelliana, 1951, p. 228, Cf. R. Piret, Psicología
differenziale dei sessi, Roma, 1973.

349
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

Embora nao possamos afirmar que a muiher tenha saído melhor


que o homem, sustentamos contudo que ela tem um papel fundamental
para que a humanidade possa alcancar o Objetivo Primeiro da vida.

Hoje há murtas discussóes sobre o ministerio sacerdotal e alguns


dizem que ele também deveria ser exercido pelas muiheres. Talvez fosse
melhor, por ora, descobrir e enfatizar o Sacerdocio próprio da muiher que
fo¡ ignorado até agora. Para abrir a Porta de Deus sao necessárias duas
chaves diferentes. A questáo nao é saber se ambas devem ser segura
das pelas filhas de Eva, mas qual das duas é a mais apropriada para
elas: a "petrina" (a chave de S. Pedro) ou a "mariana" (as chaves da
maternidade espiritual).

O que dissemos anteriormente, ou seja, que a condigáo feminina é


mais inclinada ao Amor profundo do que a masculina, nao é um lugar-
comum desprovido de fundamento científico. Os maiores psicólogos, até
os mais atuais, sustentam que existem diferencas reais de personalida-
de entre o homem e a muiher (maioragressividade no primeiro, afetividade
mais intensa na segunda) e que elas dependem nao apenas de causas
culturáis, mas também de fatores biológicos que tém reflexos na alma e
no espirito» (pp. 390s).

«O homem tende mais á eficiencia, a muiher ao Amor

Os estudos psicológicos sobre as características femininas fazem


referencia áquela muiher que Héléne Deutsch e outros psicólogos cha-
mam de tipo feminino e que representa a grande maioria das muiheres,
do mesmo modo que o tipo masculino se expressa na maioria dos ho-
mens. A psicología encontra confirmacáo desses dados fundamentáis
em dados de ordem fisiológica, dos quais resulta que em cada um dos
dois sexos predominam normemos sexuais próprios (os "estrógenos" na
muiher e os "andrógenos" no homem).

Por isso, considera-se comprovado que em cada sexo predomi


nam características psicológicas próprias. C. G. Jung chama de "anima"
ao conjunto de características femininas e a elas faz corresponder o
"animus" da parte do homem. As qualidades próprias de cada sexo sao
um dado da natureza, mesmo quando ulteriormente determinadas por
fatores culturáis.

Dentre as muitas tentativas de sistematizar as diferencas entre os


dois sexos, a mais promissora parece ser a de referir as diferencas entre
os estereotipos sexuais a duas escalas de valores diferentes e comple
mentares: a da "eficiencia" e a da "afetividade", que costumam ser perso
nificadas, no grupo familiar, pelo pai e pela máe.

Seguindo o trabalho de Roger Piret, da Universidade de Liége,

350
HOMEM E MULHER: COMPLEMENTARIDADE 15

"Psychologie différentielle des sexes", vamos dar urna rápida olhada


ñas características dos dois sexos.

A muiher de tipo feminino póe no centro dos próprios pensamentos


e da própria vida o amar e ser amada. Enquanto para o homem o amor
vem junto com outros interesses e certamente nao é o mais importante,
para a muiher ele é o elemento essencial da sua existencia, especialmente
na juventude. A muiher aprecia principalmente o aspecto afetivo e sentimen
tal do amor, enquanto no homem prevalece o desejo físico (pp. 123ss).

A muiher manifesta maior 'benevolencia social'. Enquanto as mu-


Iheres estáo mais interessadas em relacóes humanas, os homens sao
mais atraídos pelo estudo e pelas atividades relativas ás causalidades
físicas (ciencias, técnica, trabalho). As primeiras formam grupos basea-
dos mais na simpatía, enquanto os segundos buscam interesses comuns.
As mulheres sao muito menos agressivas, e por isso há muito menos
mulheres ñas prisóes por cometerem furtos, estelionatos e homicidios
(pp. 149ss)» (pp. 341 s).

«Nao é a igualdade de direitos que está em jogo, mas a


especificidade de tarefas

A discussáo sobre o sacerdocio da muiher nao envolve culturas


machistas ou igualdade de direitos, como a publicidade dominante faria
pensar, mas envolve o misterio de Deus e sua acáo salvífica por meio da
Igreja. Masculino e feminino sao portadores de significados e valores
complementares também na revelacáo e sao compreendidos á luz do
principio petrino e do principio mariano, como ilustrou Joáo Paulo II ao
falar da missáo específica da muiher (cf. Mulieris Dignitatem, n. 27). 'O
perfil mariano1, escreve o Papa, 'é táo ou mais fundamental e marcante
para a Igreja quanto o perfil apostólico e petrino, ao qual está profunda
mente unido [...] A dimensáo mariana da Igreja antecede a petrina, em-
bora esteja estreitamente unida a ela e a complemente'.

Citando Von Balthasar, o Papa afirma o primado de Maria e, nela, o


da muiher e do feminino sobre o principio petrino, e portanto sobre o
homem e o masculino: 'Maria é rainha dos apostólos, sem pretender para si
os poderes apostólicos. Seus poderes sao outros e maiores' (MD 27, n. 55).

O grande teólogo suíco esclarece em que consistem esses pode


res outros e maiores quando aborda o tema da muiher nao do ponto de
vista sociológico ou cultural, mas do propriamente teológico: 'A Igreja é
em primeira instancia feminina, antes de receber o seu lado masculino
complementar no Oficio eclesiástico'...

Hoje assistimos a um progressivo ingresso da muiher de fé no mi


nisterio da Palavra, ñas Associacoes, nos movimentos eclesiais, nos

351
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

encontros, em escolas de todo tipo e também ñas de Teología. A subs


tancia do cristianismo é o Amor que vem de Deus, e este é transmitido
sobretudo pelo exemplo e pela palavra...

A Igreja é urna empresa de aparelhos para a telecomunicacáo com


Deus. As mulheres estáo mais inclinadas a projetá-los e produzi-los. Já
os homens se saem melhor na administracáo, na publicidade e no
marketing. É pouco provável que abolir as especializacóes fosse muito
vantajoso para a Igreja» (pp. 398-400).

Historia Secreta da Diplomacia Vaticana, por Éric Lebec. Tradu-


gao de LuizJ. Baraúna. -Ed. Vozes, Petrópolis 1999, 135x210mm, 288 pp.

O autor foi conselheiro das edigóes da Biblioteca Vaticana e dos


Arquivos Secretos. Escreveu um livro em que narra a atuagáo da Santa
Sé no mundo internacional desde Pió XII até nossos dias. Sugere duas
perguntas através do seu escrito: 1) há necessidade de um Estado sobe
rano para dirigir a Igreja Católica? e2)o Papa tem o direito de imiscuir-se
na caminhada do mundo? - Já que deixa as duas questdes abertas, con-
vém responder-lhe:

1) O Estado Pontificio tem sua origem em doagóes dos fiéis cris-


táos feitas ao Bispo de Roma desde os primeiros sáculos da Igreja. Quando
cedeu ao movimento de unificagáo da península itálica em 1870, os Pa
pas julgaram nao poder renunciar ao direito de autonomía, pois a agáo da
Igreja no mundo inteiro afeta as consciéncias e nao pode estar sujeita á
interferencia de potencia estranha. Mais de urna vez na historia, os mo
narcas quiseram manipular o Papado e sua atividade, conscientes de
sua enorme importancia.

2) O Papa quer guardar a neutralidade frente aos interesses mera


mente políticos dos povos, como reconhece o próprío Éric Lebec. Toca-
Ihes, porém, o dever de lembrar aos govemantes e as nagóes em geral
os principios da Ética, que muitas vezes sao violados por ocasiáo das
tramitagóes políticas. Independentemente da Moral Católica, existe urna
Ética natural ou filosófica, que deve reger o comportamento de todo ser
humano, até mesmo do ateu. Eis por que os Papas tem intervindo na
caminhada da humanidade, prestando indispensável servigo aos respon-
sáveis pelos destinos dos povos; tenha-se em vista, entre outras coisas,
a agáo do Papa Joáo Paulo II em favor do direito á liberdade nos países
em que era sufocada pelo comunismo.

O livro de Lebec supoe, no leitor, o conhecimento da historia geral


dos últimos tempos; desee a pormenores interessantes. Por vezes, po
rém, cede a exagerado espirito crítico.

352
Luz no horizonte:

UNIFICAQÁO DA DATA DE PÁSCOA

Em síntese: Sábese que nem todos os cristáos celebram a Pás-


coa, sua festa máxima, na mesma data, pois, enquanto a maioria segué o
calendario gregoriano, alguns seguem o calendario juliano. Todavía exis
te um movimento, entre os próprios cristáos, para unificar a data da gran
de solenidade. O dia 15 de abril de 2001 seria a data ideal para, daí por
diante, se manter um calendario único em todas as comunidades cristas
(católicas, ortodoxas e protestantes). O assunto vem sendo estudado com
interesse por diversas denominagóes eclesiais. Registrase, porém, cer
ta resistencia por parte dos russos ortodoxos.
* * *

É notorio que nem todos os cristáos celebram a festa de Páscoa na


mesma data. Isto se deve ao fato de que a data de Páscoa é calculada,
ano por ano, segundo prescreve o livro do Éxodo cap. 12, 1-14: Páscoa
deve ser festejada na noite da primeira Lúa cheia após o equinócio da
primavera do hemisferio norte; por conseguinte, tal festa é regida pelo
calendario lunar e nao pelo calendario solar. Daí variar de data cada ano
dentro do calendario solar. Acontece, porém, que o próprio calendario
solar tem sido sujeito a reformas, como se dirá a seguir.

1. As Reformas do Calendario Solar

Nos primeiros tempos de Roma os meses eram de 29 ou 30 días,


contando-se, a partir de Numa Pompílio {715-672 a.C), doze meses num
ano. Mais tarde Roma adotou o ano civil de 365 dias, com seus meses de
28, 30 e 31 dias, ficando apenas urna diferenca de aproximadamente
seis horas entre o ano civil e o ano trópico.
Sob Julio César a diferenca acumulada entre um e outro destes já
era de 85 dias. O Imperador resolveu entáo remediar a situacáo, decre
tando que o ano de 46 a.C. (708 de Roma) teria 85 dias a mais (donde se
originou o chamado annus confusionis, ano de confusáo). A seguir,
conforme o parecer do astrónomo Sosígeno, resolveu que de entáo por
diante se atribuiriam ao ano civil 365 dias e 6 horas (quando na verdade
o ano trópico consta de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos);
pelo que, de quatro em quatro anos se acrescentaria ao ano um dia com
plementar chamado dia bisséxtil. Este nome se deve ao fato de que a
¡nsercáo se fazia entre 23 e 24 de fevereiro; ora, o dia 24 de fevereiro
sendo o Sextus kalendas martii, o dia intercalado ou suplementar pas-

353
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

sou a ser bisextus kalendas martii, e o ano correspondente tomou o


nome de ano bisséxtil.

O calendario juliano assim concebido era sistema assaz esmera


do. Contudo a diferenca de menos de 12 minutos que nele distanciava o
ano civil do ano trópico havia de provocar a diferenca de um dia em 128
anos. No tempo de César, após a reforma, o equinócio da primavera caia
no dia 24 de marco; 128 anos mais tarde, cairia no dia 23 de marco; 256
anos depois, no dia 22 do mesmo; por ocasiáo do Concilio de Nicéia I
(325) estipulou-se o dia 21 de marco. Em fins do século XVI o equinócio
da primavera já cairia perto do dia 11 de marco; caso o processo continu-
asse, as estacóes do ano viriam a se deslocar por completo dos seus
meses habituáis. Sendo assim, Bispos e sabios medievais, conscientes
de tais fainas, pediam a reforma do calendario vigente.

O Papa Leáo X, no Concilio V do Latráo (1513-1517), deu novo


impulso á demanda de reforma do calendario. Pouco depois o Concilio
de Trento (1545-1563) pediu expressamente ao Papa que se interessas-
se por promover tal revisao.

Gregorio XIII (1572-1585), assim solicitado, resolveu abrir um con


curso entre os astrónomos, valendo-se da colaboracao dos mais famo
sos matemáticos da época (os irmaos Aioísio e Antonio Lílio), o dominicano
Inácio Danti, o jesuíta alemáo Cristóváo Clau e o espanhol Pedro Chaón);
após deliberar longamente sobre as fórmulas apresentadas, o Pontífice
houve por bem dar preferencia a Aioísio e Antonio Lílio; mandou entáo
em 1577 copias do projeto a todos os príncipes e Estados católicos. Apoi-
ado por estes, publicou finalmente cinco anos mais tarde, aos 24 de fe-
vereiro de 1582, a Bula ínter Gravissimas, que apresentava o novo calen
dario ou calendario "novo estilo" em oposicáo ao calendario "velho estilo".

A primeira norma da reforma, visando a extinguir a diferenca entre


o ano civil e o ano trópico, mandava que a quinta-feira 4 de outubro de
1582 fosse ¡mediatamente seguida da sexta-feira 15 de outubro do mes
mo ano (tal medida nao provocaría hiato entre os días da semana); assim
doravante o dia 21 de margo coincidiría, como supunha o Concilio de
Nícéía I (325), com o equinócio da primavera.

Era preciso, porém, evitar a repeticáo do desajuste... Já que este


provinha do fato de que o ano civil era, desde Julio César (e continuava
sendo), considerado 1/128 de día (11 minutos e 12 segundos) mais longo
do que o ano trópico (isto é, mais ou menos tres dias em 400 anos),
Gregorio XIII dispós que nao fossem considerados bissextos os anos de
sáculos nao divisíveis por 400 (assim em todo período de 400 anos tres
dias eram supressos). Porconseguinte, seriam bissextos os anos de 1600,
2000, 2400, nao, porém, os de 1700, 1800, 1900, 2100. Este corretivo

354
UNIFICAgÁO DA DATA DE PÁSCQA 19

(chamado equacáo solar) tornar-se-ia plenamente eficaz pelo prazo de mais


de 3000 anos; de 3320 em 3320 anos, porém, será preciso suprimir um día.
A reforma gregoriana, aos poucos, foi sendo adotada pelos povos
cultos. Todavía os cristaos orientáis cismáticos nao a aceitaram, ao me
nos na Liturgia; ainda seguem o calendario juliano. Antes de empreender
a reforma, Gregorio XIII consultou o Patriarca de Constantinopla sobre o
assunto; mas, longe de obter resultado, seu sistema foi explícitamente
rejeitado por um sínodo oriental em 1593. Contudo em 1923 o Patriarca
do de Constantinopla, as circunscricóes eclesiásticas de Atenas e Chipre,
da Polonia (cismática) e da Roménia adotaram o calendario gregoriano
para designar ao menos as suas festas fixas (o dia seguinte a 30 de
setembro foi dito 14 de outubro de 1923). A data de Páscoa, sendo mó-
vel, nao foi enquadrada dentro da reforma gregoriana nesses países.
Donde resulta o problema que atualmente se procura resolver amistosa
mente entre todos os cristaos.

2. A Data da Páscoa

Para por termo a hesitacóes existentes nos primeiros séculos, o


Concilio geral de Nicéia em 325 determinou que a Páscoa seria celebra
da no domingo seguinte á primeira Lúa cheia após o equinócio da prima
vera do hemisferio Norte (21 de marco). Com o passar dos séculos, po
rém, a contagem do equinócio da primavera foi-se defasando, como dito
atrás. Daí a reforma gregoriana em 1582, reforma que nao foi aceita pe
los cristaos ortodoxos orientáis. Todavía, já que tal divergencia hoje em
dia se manifesta como algo de totalmente despropositado, as comunida
des cristas de diversas partes do mundo procuram saná-la.

Em conseqüéncia, reuniu-se em Alep (Siria), de 5 a 10 de marco


de 1997, urna assembléia de representantes da Comunhio Anglicana,
da Igreja Ortodoxa Armenia, do Patriarcado de Constantinopla, das Igre
jas Protestantes do Oriente Medio, do Patriarcado Grego-ortodoxo de
Antioquia e de todo o Oriente, da Federacáo Luterana Mundial, do Con-
selho das Igrejas do Oriente Medio, das Igrejas dos Velhos Católicos da
Uniáo de Utrecht, do Patriarcado de Moscou, do Conselho Pontificio para
a Uniáo dos Cristáos, dos Adventistas do Sétimo Dia e do Conselho
Ecuménico das Igrejas. Elaboraram urna proposta que permitiría fíxar
urna data comum para a festa da Páscoa, apoiando-se sobre as determi-
nacoes de Nicéia e os dados astronómicos mais precisos da atualídade.
O ano 2001 é considerado como ano ideal para se fixar urna data única
pois naquele ano a Páscoa, calculada segundo os dois procedimentos
em vigor, caira no mesmo dia, a saber: 15 de abril. A proposta dessa
assembléia foi enviada a todas as comunidades eclesiais do mundo in-
teiro juntamente com urna tabela a indicar as possíveis datacóes de Páscoa
para os vinte e cinco primeiros anos do século XXI, caso a idéia seja aceita.

355
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

3. As Respostas á Proposta

Varias comunidades eclesiais, representantes de diversas tradicoes


cristas, já testemunharam seu apoio á proposta.

Em 1998 a Conferencia geral dos Bispos anglicanos, reunida em


Lambeth, aprovou a nova fórmula e pediu as diversas provincias da Co-
munháo Anglicana que a sustentem.

Entre os luteranos o assunto deve ser debatido em 1999, por oca-


siáo da assembléia do Conselho da Federacáo Luterana Mundial, que
reunirá 124 comunidades-membros em Bratislau (Eslováquia). O pastor
Ishmael Noko, Secretario Geral da Federacao Luterana Mundial, com
sede em Genebra (Suica), enfatizou a importancia de tal acordó:
"Está em jogo algo mais do que a questáo de urna data comum
para a Páscoa; tratase da unidade da Igreja por ocasiáo de um evento
que define a Igreja como Corpo de Cristo... O Corpo de Cristo está dividi
do por causa de cálculos matemáticos, mas a ressurreigáo dentre os
morios nos dá forga suficiente para nos elevarmos ácima das limitagóes
humanas... Urna data comum para a celebragáo de Páscoa seria um si-
nal visível da unldade crista".

Segundo a Sra. Dagmar Heller, do Conselho Mundial das Igrejas,


Secretaria da Comissáo de Fé e Constituicáo, as reacdes á proposta de
Alep tém sido positivas. Observou que o Presidente do Comité Central
do Conselho Mundial das Igrejas, o Catholicos Aram I, da Igreja Apostó
lica Armenia, acentuou de modo especial a celebracáo comum de Pás
coa em sua alocucáo proferida na oitava assembléia do mesmo Conse
lho reunida em Harare (Zimbabwe) no mes de dezembro de 1998.
A Conferencia das Igrejas européias nao católicas (e, sim, protestan
tes, anglicanas e ortodoxas) deve debater a questáo no decurso de 1999.

Também os nestorianos (separados de Roma em 431) e os


monofisitas (separados em 451), especialmente a Igreja siria, desejam
chegar a professar urna data comum para Páscoa. Todavía há algumas
comunidades ainda fechadas á proposta, entre as quais a Igreja ortodo
xa russa, que diz estar enfrentando serios problemas de ordem interna e
nao se senté em condicóes de alterar seu calendario. Diante do fato de-
clarou a Sra. Dagmar Heller:

"Compete-nos continuar os debates, levando em conta o que ocor-


re do lado ortodoxo, menos aberto a temática, e sem querer exercerpres-
sáo sobre os dissidentes, pois isto poderia provocar mais forte reagao
dos elementos conservadores de tais comunidades".

Noticias extraídas do Boletim do Conselho das Igrejas Cristas da


Franga, abril de 1999, n" 294, pp. 7s.

356
Medicina e Direito:

'A VIDA DOS DIREITOS HUMANOS"


por varios autores

Em síntese: Varios profissionais da saúde, do direito e da educa-


gáo se consociaram para escrever artigos referentes á vida humana e
seus direitos. Abordam muito especialmente as questóes relativas á ori-
gem e educagáo da vida humana, seguindo todos a mesma orientagáo
de respeito á pessoa que comega a existir desde a concepgao no seio
materno. O livro fornece um acervo notável de informagóes bem funda
mentadas e, por isto, preciosas no turbilháo de opinióes hoje em dia vi
gente. De tal coletánea váo extraídos tres segmentos atinentes respecti
vamente ao ponto inicial da vida humana, aos anticoncepcionais e aos
métodos naturais de limitagáo da prole.

A Editora Sergio Antonio Fabris, de Porto Alegre1 publicou recente-


mente urna coletánea de artigos atinentes á vida humana e seus direitos
com o título "A Vida dos Direitos Humanos. Bioética Médica e Jurídica".
Sao organizadores e co-autores da colecao Jaques de Camargo Pentea-
do e Ricardo Henry Marques Dip, tendo por colaboradores ou autores de
artigo doze profissionais das áreas da saúde, do direito e da educacáo. A
obra incluí os trabalhos de respeitáveis estudiosos como os Drs. Dernival
da Silva Brandáo, Joáo Evangelista dos Santos Alves, Helio Bicudo,
Sandra Cavalcanti, Marília de Siqueira, leda Therezinha N. Verreschi... A
orientagáo é sempre a de respeito á vida e á pessoa humana. Sao pala-
vras dos organizadores na Apresentacáo da obra:

«A ciencia pela ciencia desnatura o ser humano. Parece a verti-


calidade sem base que mais afunda quanto mais pretende elevarse. Ci
encia que busca o conhecimento sem atengáo aos valores que dignifi-
cam a pessoa humana é ignorancia. Desservigo. Criminalidade. Poder-
se-ia atribuir mérito á cognigáo do átomo para a prática do genocidio?
Ressoam instigantes as ponderagóes humanistas sobre a ciencia
desvinculada da dignidade da pessoa humana e que, descobrindo for
mas de chegará vida, desconhece o seu valor e, incapaz de a conservar,
destrói-a. Nao é ciencia, mas involugáo. A ciencia serve a vida» (p. 12).
Da obra em pauta váo, a seguir, transcritas tres seccoes referentes
respectivamente á origem do ser humano, aos anticoncepcionais e aos
métodos naturais de limitacáo da prole.

1 Rúa Miguel Couto 745, 90850-050 Porto Alegre (RS).

357
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

1. O inicio da Vida Humana1

Dr. Dernival da Silva Brandao

«Para entender o quanto o aborto provocado é urna violencia á


consciéncia médica e ao ser humano em qualquer fase da sua vida intra
uterina, é fundamental saber, com certeza, quando tem inicio essa vida.
Nao cabe á Biología, á Genética, á Embriología definir a vida, mas os
dados que essas ciencias tomam evidentes demonstram claramente quan
do ela tem inicio; dados esses que nao podem ser desprezados no estu-
do do tema.

A Biología Molecular e a Genética ensinam que os antepassados


se acham ligados as geracóes que Ihes sucedem por um material conti
nuo de ligacáo, o ADN (ácido desoxirribonucléico), que é o portador das
informacóes vitáis dos novos individuos, e que sao transmitidas dos
genitores aos filhos através dos gametas feminíno e masculino. Essas
¡nformacoes ficam contidas no genoma, o complexo de cromossomos
que contém a carga genética própria do individuo e que é formado na
concepcáo.

A Embriología humana demonstra que a nova vida tem inicio com


a fusáo dos gametas - espermatozoide e óvulo - duas células
germinativas extrordinariamente especializadas e teleologicamente pro
gramadas, ordenadas urna á outra. Dois sistemas separados interagem
e dáo origem a um novo sistema; e este, por sua vez, dá inicio a urna
serie de atividades concatenadas, obedecendo a um principio único, em
um encadeamento de mecanismo de extraordinaria precisáo. Já nao sao
dois sistemas operando independentemente um do outro, mas um único
sistema que existe e opera em unidade: é o zigoto, embriáo unicelular,
que compartilha nao apenas o ácido desoxirribonucléico (ADN), mas to
dos os cromossomos de sua especie, a especie humana, cujo desenvol-
vimento, entáo iniciado, nao mais se detém até a sua morte. Já está em
plena atividade o ácido ribonuciéico (ARN) mensageiro, primeiro produto
dos gens específicos, sintetizado logo após a constituicáo do zigoto (E.
Davison citado por A. Serra).

É, portanto, um ser vivo humano e completo. Humano em virtude


de sua constituicáo genética específica e de ser gerado por um casal
humano, urna vez que cada especie só é capaz de gerar seres da sua
própria especie. Do ponto de vista biológico nao existe processo de
humanizacáo. Ou é humano desde o inicio de sua vida ou nao será ja
máis; nao há momento algum que marque a passagem do nao humano
ao humano. Completo, no sentido de que nada mais de essencial á sua
constituicáo Ihe é acrescentado após a concepcáo. Necessita de alimen-

1 Pp. 22-26.

358
"A VIDA DOS DIREITOS HUMANOS" _23

to e oxigénio como de resto todos necessitam para sobreviven Desde o


primeiro momento de sua existencia, esse novo ser já tem determinadas
todas as suas características pessoais, como sexo, grupo sanguíneo,
cor da pele e dos olhos, etc.; e inclusive as que iráo aparecer no futuro,
como, por exemplo, as doencas genéticas.
A vida humana biológicamente é o seu corpo, e esse é inicialmente
formado na fusáo dos gametas. O genoma é a estrutura fundamental,
permanente e necessária paa o desenvolvimento rigorosamente orienta
do do novo ser. O zigoto, portador desse genoma, é o sujeito do seu
próprio desenvolvimento, é o detentor e executor do seu programa gené
tico através de urna realizacáo coordenada, continua e gradual.
Coordenada - Durante todo o processo de desenvolvimento há urna
sucessáo de atividades moleculares e celulares, dirigidas pelo genoma,
que determina a seqüéncia e o momento de cada evento. Prepara, com
os seus hormónios, a sua nidacáo e a realiza. O desenvolvimento normal
é nada mais que a expressáo coordenada e harmónica de milhares de
genes. Já ñas primeiras fases nao é um simples 'ajuntamento de células
agrupadas', mas células que formam urna estrutura coordenada confor
me a sua especie.
Continua - O ciclo vital do concepto prossegue sem solucáo de
continuidade até a puberdade, quando se completa a configuracao
somática própria de um individuo adulto da especie humana. E entáo
que, além dos caracteres sexuais secundarios, adquire urna característi
ca essencial do ser vivo: a capacidade de reproducáo. Mas sua morfología
nao se detém ai, visto que, do zigoto á senectude, é sempre um ser em
transformagáo, dentro de urna mesma e própria identidade ontológica. A
morfogénese é o resultado da ativacáo diferencial dos genes; razáo pela
qual nao há rigor científico em afirmar-se que ainda nao tem forma hu
mana, porque realmente a tem: formas próprias e definidas, como carac
terísticas determinadas, conforme as fases do seu desenvolvimento. Nao
é exato dizer que o embriáo ou o feto é um 'ser em formacao'. E ambigua
essa afirmacáo, porque também a enanca já nascida, o adolescente e o
jovem estáo em formacao. Em nenhum caso há mudanca ontogénica: e
o mesmo ser que, desde a fusáo dos gametas, se desenvolve continua
mente. Muda a forma, nao muda o ser.
Gradual- Nao há saltos de qualidade. Cada fase depende da an
terior e se continua na seguinte, segundo urna diretriz intrínseca de de
senvolvimento. Todas as etapas a cumprir sao vitáis e fazem parte de um
processo gradual, sem ultrapassar qualquer urna das fases; e, se cada
urna nao se realiza normalmente, no tempo correto e na seqüéncia exa-
ta cessa o desenvolvimento. A forma final e definitiva é conseguida gra
dualmente, atravessando varias fases desde as formas mais simples; e
359
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

com isso mantém a sua individualidade e a sua ¡dentidade que se inicia-


ram na concepto: come9a nesse momento a sua biografía.

O novo ser é distinto de sua máe e nao uma parte do corpo déla.
Tem sistemas e aparelhos distintos dos do organismo materno, com quem
mantém uma associacáo harmónica. É possuidor de um dinamismo au
tónomo: sua máe é necessária para Ihe proporcionar os nutrientes, mas
é o embriáo quem, de acordó com o seu código genético, especifica as
suas próprias proteínas, diferentes das proteínas maternas; e a gestan
te, por sua vez, nao determina o controle interno do embriáo nem sua
diferenciacáo.

Quanto a essa evidencia do comeco da vida humana na concep-


cáo, Jéróme Lejeune, autoridade em Genética, conhecido mundialmente
por ter descoberto a causa da Síndrome de Down (trissomia do
cromossomo 21), afirmava:

'Nao quero repetir o obvio, mas, na verdade, a vida comega na


fecundagáo. Quando os 23 cromossomos masculinos se encontram com
os 23 cromossomos femininos, todos os dados genéticos que definem o
novo ser humano já estáo presentes. A fecundagáo é o marco da vida'.
Em outra oportunidade disse:

'...se logo no inicio, justamente depois da concepgáo, dias antes


da implantagáo, retirássemos uma só célula do pequeño ser individua!,
ainda com aspecto de amora, poderíamos cultivá-la e examinar os seus
cromossomas. E se um estudante, olhando-a ao microscopio, nao pu
desse reconhecer o número, a forma e o padráo das bandas desses
cromossomas, e nao pudesse dizer, sem vacilagoes, se procede de um
chimpanzé ou de um ser humano, seria reprovado. Aceitar o fato de que,
depois da fertilizagáo, um novo ser humano comegou a existir nao é uma
questáo de gosto ou de opiniao. A natureza humana do ser humano, des
de a sua concepgáo até sua velhice, nao é uma disputa metafísica. É
uma simples evidencia experimental' (NEWS EXCHANGE of 'The World
Federation of Doctors who respect the Human Ufe' Vol. 8, n° 12: setem-
bro de outubro de 1982).

Dr. William A. Liley, que é considerado o "Pai da Fetologia" e um


dos pioneiros na técnica de transfusáo sanguínea intra-útero, afirma:
'O novo individuo comanda o seu ambiente e o seu destino com
tenacidade de propósito, implantase na parede esponjosa do útero e
numa demonstragáo de vigor fisiológico interrompe a menstruagáo da
máe'. E mais adiante continua: 'Tal é, pois, o feto que nos conhecemos e
que nos própríos fomos um día. É o feto de que cuidamos na Obstetricia
moderna, que vem a ser o mesmo bebé do qual cuidamos antes e depois

360
"A VIDA DOS DIREITOS HUMANOS" 25

do nascimento, o qualpode ficar doente antes e depois de nascer, exigin-


do diagnóstico e tratamento como qualquer outro paciente'.
Diante de tantas evidencias científicas, nao resta dúvida de que a
vida humana tem inicio na concepcáo, com a fertilizacáo do óvulo e for-
macáo do zigoto.

A Organizacáo Mundial de Saúde, na Declaracao de Genebra no ano


1948, adotou como principio: 'Manterei o máximo respeito á vida humana
desde o momento da concepcáo e, aínda que sob ameaga, nao usarei de
meus conhecimentos médicos contrariamente as leis da humanidade'».
Pílulas Anticoncepcional1

Dr. Joáo Evangelista dos Santos Alves


«Sao assim popularmente chamados os contraceptivos hormonais
oráis ou anovulatórios. Nao se conhece ainda, com precisáo, o mecanis
mo íntimo de acáo das pílulas anticoncepcional nem todas as conseqü-
éncias que seu uso prolongado pode causar ao organismo da mulher e á
sua descendencia. Porém, alguns aspectos do mecanismo de acáo das
'pílulas' sao conhecidos. Agindo sobre o hipotálamo e a hipófise, interfe-
rem as 'pílulas' em toda a fisiología endocrina feminina, alterando o inter-
relacionamento glandular, comandado que é por estímulos provenientes
daquelas estruturas. Sabe-se, assim, que o efeito anticoncepcional des-
sas substancias é conseqüéncia de urna malfazeja acao direta sobre o
delicadíssimo sistema endocrino feminino, alterando-lhe o funcionamen-
to normal e impondo-lhe um ritmo patológico, que pode tomar-se estável
e persistir assim alterado, mesmo após a retirada da causa (suspensáo
do uso das 'pílulas').

Compóem-se, as 'pílulas', da associacáo de hormónios estrogé-


nicos e progestogénicos e nao se pode excluir qualquer desses hormónios
de ser responsável pelos efeitos produzidos, pois se tem verificado que
ambos podem interferir sinergicamente e os progestogénios podem ser
metabolizados em estrogénios, sendo estes, geralmente, os mais respon
sabilizados.

É multo difícil saber qual a pílula anticoncepcional que oferece ris


cos menos graves. Mesmo os pesquisadores encontram dificuldades para
selecionar criterios através dos quais os progestogénios e estrogénios
possam ser devidamente comparados, pois entram em jogo varios fato-
res nem sempre facéis de serem avahados.

Para se sentir a dificuldade do problema, basta observar o grande


número de produtos existentes no mercado: um mesmo laboratorio pos-
sui dois e até tres produtos, variando ñas substancias e ñas dosagens.

1 Pp. 236-241.

361
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

Quanto ás doses, nem sempre as menores sao menos agressivas,


pois trata-se de hormónio de maior potencia, superando a atividade bio
lógica dos outros hormónios usados em doses mais elevadas. Cada la
boratorio procura obter a preferencia dos médicos, apregoando certas
características dos seus produtos e apresentando-os como se fossem os
melhores, os menos perigosos. Na verdade isso nao ocorre, pois, se as-
sim fosse, tal ou qual produto obteria unanimidade dos receituários e
outros produtos seriam abandonados. Alguns produtos utilizados duran
te muitos anos no mundo inteiro por milhóes de mulheres, sadias ou nao,
e anunciados como sendo os que ofereciam maior seguranca, foram
posteriormente retirados do mercado certamente por motivos graves.
Sabe-se, por outro lado, que cada pessoa tem seus sistemas
enzimáticos com algumas características próprias, que metabolizam
melhor certas substancias e outras nao. Cada pessoa tem suas
idiossincrasias, tem seus fatores predisponentes a determinadas doen-
cas e portanto a determinadas complicacóes. E tudo isso é difícil de ava-
liar, de precisar. Já foi dito, com acertó, que toda muiher que toma pílula
anticoncepcional está se submetendo a urna verdadeira experiencia em
escala mundial. E a experiencia continua em andamento, podendo-se
afirmar que, na historia da humanidade, em tempo algum, urna droga,
com mecanismo de acáo nao devidamente esclarecido e com tantos efei-
tos colaterais e complicacóes possíveis, foi liberalmente aplicada a tio
grande número de pessoas, normáis ou doentes, por tempo táo prolon
gado.

Sobre o mecanismo de acao das pílulas contraceptivas convém


assinalar ainda um fato importante: o seu possível efeito abortivo. Vejamos.

As 'pílulas' impedem a concepcáo por dois efeitos: 1) inibem a ovu-


lacáo, isto é, ¡mpedem a liberacao do óvulo, que fica retido no ovario; 2)
modificam as características do muco cervical, dificultando a penetracáo
dos espermatozoides no útero, em diregáo ás trompas.

Acontece que, algumas vezes, esses efeitos falham: pode haver


urna ovulacáo de escape, e um número suficiente de espermatozoides
pode vencer a barreira do muco cervical alterado pela 'pílula' e fecundar
o óvulo, dando inicio ao novo ser humano. Este, ao chegar no útero,
encontrará um ambiente hostil, pois os hormónios artificiáis que com-
poem as 'pílulas' nao preparam bem a mucosa uterina para recebé-lo.
Mesmo assim, o novo ser poderá nidar-se e a gravidez prosseguir nor
malmente até o termo: será urna 'falha' do método. Porém, o mais prová-
vel, neste caso, é que nao haja nidacáo ou que esta ocorra imperfeita-
mente e o endométrio descame provocando urna hemorragia tipo mens
trual, que consiste, no caso, em um aborto oculto, sem que a muiher o
saiba: ai está o possível efeito abortivo.

362
"A VIDA DOS DIREITOS HUMANOS" 27

A simples análise dos aspectos já conhecidos do mecanismo de


acao das 'pílulas' permitiría concluir pela existencia dos numerosos efei-
tos colaterais graves, que a experiencia veio demonstrar. Inclusive em
documento do Ministerio da Saúde sobre gravidez de alto risco, estáo
relacionados muitos desses efeitos colaterais. A simples leitura daquele
documento seria suficiente para, agindo sensatamente, excluírem-se as
'pílulas' das condutas de programas de planejamento familiar, principal
mente em pacientes que apresentam fatores de risco obstétrico, pois a
administracáo desses substancias pode agravar os referidos fatores de
risco e acrescentar outros, na mesma paciente.

Sao numerosos os efeitos colaterais das pílulas anticoncepcionais.


Eles podem incidir praticamente sobre todos os aparelhos e órgáos do
corpo: aparelho cardiovascular, digestivo, respiratorio, urinario. Podem
produzir efeitos nocivos sobre a coagulacáo sanguínea, sobre o sistema
nervoso central, sobre o metabolismo, sobre os órgáos genitais, sobre as
mamas, sobre a visáo, audicáo, etc. Podem desencadear o cáncer em
certos órgáos de pessoas predispostas ou agravar cáncer preexistente,
inclusive ativar cáncer subclínico, que talvez permanecesse latente inde
finidamente.

Os tumores estrógeno-dependentes desenvolvem-se em tecidos


cujas mitoses sao aceleradas pela acáo do hormónio estrogénio. Assim,
o aparecimento de cáncer estrógeno-dependente (na mama, por exem-
plo) pode ser desencadeado pelo uso prolongado desse hormónio em
pacientes susceptíveis ao desenvolvimento daqueles tumores. Também
admite-se que possa agir como co-fator, em sinergismo com o HPV
(papiloma virus humano), no desencadeamento do cáncer do coló uterino.

Contra-indicagóes médicas ao uso de pílulas anticoncepcionais -


É difícil distinguir entre contra-indicacoes relativas e absolutas, pois cada
pessoa apresenta particularidades difíceis de aquilatar.

Enumeramos, entre outras, as seguintes:

Portadoras ou com antecedentes pessoais ou familiares de: hiper-


tensáo arterial, diabete, tumores malignos hormónios-dependentes (cán
cer da mama, cáncer do endométrio, etc.).

Portadoras ou com antecedentes pessoais de: flebite, embolia,


varizes, coronariopatia, cardiopatia crónica, hiperlipidemia, hepatopatia,
nefropatia, enxaqueca, epilepsia, psicose, certos disturbios visuais, tu
mor maligno de qualquer órgáo ou tipo, tumor benigno hormónio-depen-
dente (mioma uterino, nodulo e displasia mamaria, etc.), mastopatia fun
cional, displasia cervical, tumor hipofisário, certas endocrinopatias,
colagenoses, anemia falciforme, etc. Mulheres obesas. Mulheres magras.
Mulheres fumantes. Mulheres com 35 anos de idade ou mais. Mulheres

363
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

com mais de 5 anos de uso de 'pílulas1, em quaisquer condicoes. Adoles


centes, etc.

Pelo exposto, vemos que o uso de pílulas anticoncepcionais impóe


rigoroso e constante controle médico das consumidoras, o que, na práti-
ca, é impossível, pois demandaría uma junta médica composta de varios
especialistas e numerosos exames complementares, em faixa etária que
normalmente nao exige acompanhamento médico periódico.

Muitos dos efeitos colaterais possíveis sao difíceis de se prevenir e


podem provocar graves danos á saúde, caindo a responsabilidade, em
última análise, sobre o médico que prescreve a 'pílula', muitas vezes pres-
sionado pelas circunstancias.

Portanto, quando um médico pensar em indicar pílula anticoncep


cional, deve refletir sobre todos esses problemas. Alias, o termo indica-
gao nao se aplica aos anticoncepcionais. Em Medicina, quando indica
mos um produto para ser usado pelo cliente, só o fazemos após diagnos
ticar uma doenca ou constatar um disturbio orgánico que necessita de
ser corrigido. Nos procuramos, com os medicamentos, restabelecer o
estado orgánico normal. Com os anticoncepcionais ocorre exatamente o
contrario; sao produtos hormonais usados em pacientes endocrino-
logicamente sadias, visando a alterar-lhes o normal funcionamento
endocrino. Nao podemos indicar um produto com a finalidade de criar
uma situacáo anormal. Seria um contra-senso e estaríamos contrariando
aquele antigo preceito da Medicina: "primo non nocere" ("primeiro nao
prejudicar")-
As implicacóes ético-sociais e o próprio mecanismo de acáo das
pílulas anticoncepcionais - por si dañoso ao organismo feminino -, os
efeitos colaterais, as contra-indicacóes e o exaustivo acompanhamento
médico exigido para oferecer relativa seguranca ás usuarias da 'pílula'
excluem de seu uso um número tao grande de mulheres, que nos surpre-
enderia ver tais produtos serem recomendados e distribuidos por institui-
cóes governamentais, quando deveriam reprimir seu uso indevido, para
fins contraceptivo».

Métodos Naturais: Paternidade Responsável1

Dr. Joáo Evangelista dos Santos Alves

«É obvio que a fertilidade humana nao constituí doenca a ser trata


da. Pelo contrario, é sinal de saúde e por isso mesmo convém ser cuida
dosamente preservada. Nao se justifica, ética e científicamente, qual-
quer tipo de procedimento clínico ou cirúrgico que díreta e intencíonal-

1 Pp. 245-250.

364
"A VIDA DOS DIREITOS HUMANOS" 29

mente prejudique a fecundidade humana. Nao significa isso que urna


paciente portadora de doenca no útero, ñas trompas, ou nos ovarios, nao
possa ser devidamente tratada se a melhor conduta consistir na retirada
desses órgáos, o que resultaría em esterilidade definitiva. O mesmo ocor-
reria em relacáo ao homem e a seus órgáos reprodutores. Nao há dúvida
de que pode e deve receber o tratamento adequado, do mesmo modo
que pode, com fim terapéutico, submeter-se a urna gastrectomia (retira
da cirúrgica do estómago) ou a urna amputacáo de perna, etc. No caso
da extirpacao dos órgáos reprodutores doentes a esterilidade seria urna
conseqüéncia inevitável e nao o propósito do procedimento terapéutico.
Da mesma forma é lícita a prescricáo de pílulas hormonais, ou outros
medicamentos, para o tratamento adequado de alguma doenca, aínda
que cause, como conseqüéncia inevitável, a esterilidade. Aplica-se, nes-
ses casos, o principio do duplo efeito, que esclarece e justifica a atitude
ética sempre que se pratica um ato bom ou indiferente (no caso, a retira
da de um órgáo doente ou a prescricáo de um remedio) para se alcancar
um fim bom (a cura do portador da doenca), mas que provoca, paralela
mente, urna conseqüéncia má, porém, inevitável (a esterilidade). Isso foi
detalhado linhas atrás.
A própria expressáo paternidade responsável exclui, por ser incoe-
réncia, a utilizacáo de métodos contraceptivos, posto que estes, por si,
negam a mesma paternidade.
É bom, porém, que a fertilidade humana - com seus longos perío
dos infartéis - seja bem conhecida pelos casáis, para que estes, no exer-
cício da paternidade responsável, possam controlá-la fisiológicamente,
optando pela abstencáo sexual no período fértil, utilizando apenas o pe
ríodo infértil para a expressáo física do amor conjugal, desde que, por mo
tivo justo e nao egoísta, vejam-se obrigados a espacar a geracáo de filhos.
Como vimos no inicio deste trabalho, a mulher normal apresenta
um ciclo menstrual com variacáo periódica dos níveis hormonais no san-
gue o que influencia todo o organismo. Mais ou menos no meio do ciclo
menstrual, ou melhor, entre 12 e 16 dias antes do inicio da menstruacao
seguinte o ovario libera um óvulo, o qual só se mantém fecundável du
rante o tempo máximo de 24hs. Os espermatozoides mantém a capaci-
dade fecundante durante o período de 3 a 5 dias. Somados estes dias ao
da ovulacáo e a mais dois ou tres dias de garantía após a data ovulatona
presumida o período fértil se estenderia por 6 a 9 dias, sendo todos os
demaís dias do ciclo considerados inférteis, num total de 19 a 24 días em
cada ciclo de 28 a 30 dias. O reconhecimento dos dias férteis nao e difí
cil pois durante os dias que precedem á ovulacáo as células cilindricas
do coló uterino secretam um muco catarral, escorregadio e filante, tipo
'clara de ovo cru1, que desee através da vagina e pode ser fácilmente
365
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

identificado pela mulher nos seus órgáos genitais, caracterizando o perí


odo fértil, pois o muco desaparece após a ovulacáo (período infértil).
Outros síntomas - como a dor pélvica no período ovulatório, a dis
creta elevacáo da temperatura basal e a dor mamaria no período pós-
ovulatório, etc. - podem servir de parámetros para auxiliar a identificacáo
dos períodos férteis e inférteis em certos casos (chama-se método sinto-
térmico). Na grande maioria das muiheres basta a observacáo do muco
cervical para a identificacáo do período fértil (chama-se método Billings
em homenagem a seu descubridor, ou método do muco cervical ou mé
todo da ovulacáo).

As observacoes práticas feitas pelas próprias muiheres, identifi


cando o muco catarral e, portanto, o período fértil, foram checadas com
exames ginecológicos e com dosagens hormonais no sangue e na urina,
comprovando-se científicamente a validade do método. Pode-se afirmar
que o método natural é o único verdaderamente científico, pois se fun
damenta na fisiología do aparelho reprodutor, preservando a sua integrí-
dade e respeitando a natural realizacáo e evolucáo do ato sexual.
Inclui-se também entre os métodos naturais o chamado método do
calendario, ou da 'tabela1, ou método de Ogino-Knaus. Foi muito usado
tempos atrás e ainda o é hoje, mas sua eficacia é menor que a dos mo
dernos métodos naturais ácima referidos.

A eficacia do método de Billings é considerada das mais elevadas


(98,5%), quando corretamente usado. Foi comprovada pela Organiza-
cáo Mundial de Saúde, que o aplicou em países pobres como india, Fili
pinas, Nova Zelandia, El Salvador e Irlanda.

Esse método tem a vantagem de ser inofensivo, de nao necessitar


de qualquer tipo de medicamento ou de instrumento nem de calendario.
É útil, além disso, porque a mulher passa a conhecer melhor o seu orga
nismo e aprende a identificar a sua própria fertilidade. O aprendizado é
fácil e nao exige pessoal especializado, podendo o próprio casal ensinar
a outro casal, ou servir de ¡nstrutor para grupos de casáis. É pequeño o
número de falhas, mas ocorrendo - o que pode acontecer em qualquer
método - a mulher saberá respeitar a nova vida humana concebida em
seu ventre, pois aprendeu, com o método, a respeitar as próprias fontes
da vida.

Nos casos em que a possível ocorréncia de urna gravidez cor


responder a serio risco para a máe, o índice de falha do método Billings
poderá ser reduzido a quase zero, desde que se amplié o número de dias
considerados férteis (dias de abstinencia). E ainda mais seguro será se
for associado ao método da temperatura basal corporal, elevando-se a
praticamente 100% o nivel de eficacia, embora com diminuicáo dos dias

366
"A VIDA DOS D1RE1TOS HUMANOS"

inférteis e, conseqüentemente, aumento dos dias de abstinencia sexual


(dias férteis).
O método Billings é prático porque pode ser aplicado em todas as
situacóes da fisiología feminina: na menacme (período da vida em que a
mulher menstrua), nos ciclos regulares ou irregulares, na pré e pos me-
nopausa, no puerperio, na amamentacáo, etc.
O conhecimento do período fértil é útil também para facilitar a gra
videz, quando for esse o desejo do casal, usando-se, entáo, para este
fim, os dias mais férteis, com muco mais abundante e mais filante.
'De acordó com a OMS, mulheres de todos os padroes culturáis e
educacionais podem aprender a observar e usar o aspecto do muco
cervical para reconhecer quando elas ovulam' (BRITISH MEDICAL
JOURNAL, 307: 725, 1993).
Filosofía Básica do Método Natural

Os métodos anticoncepcionais (contraceptivos) de controle da na-


talidade manipulam a origem da vida, quebrando o primeiro elo de res-
peito á vida humana; estimulam a promiscuidade sexual, promovendo
assim a difusáo de doencas venéreas e favorecendo a prática do aborto;
por tudo isso contribuem para banalizar a sexualidade humana e minar a
estrutura básica da familia e da sociedade.
Outra é a filosofía dos métodos naturais de planejamento familiar,
conforme os principios da patemidade responsável:
- O MÉTODO NATURAL nao é anticoncepcional porque nao utiliza
nenhum tipo de contraceptivo, pois respeita as fontes da vida e o proces-
so biológico da reproducáo humana, optando pela realizacáo do ato se
xual somente no período infértil, com abstencáo no período fértil;
- Respeita a mulher e o homem em sua mutua fertilidade, integri-
dade e dignidade;
- Promove o diálogo conjugal, favorecendo o conhecimento mutuo
dos cónjuges e urna atitude conjunta e responsável diante da sexualidade;
- Possibilita um controle generoso do número de filhos pelo conhe
cimento dos períodos férteis e inférteis; a identificacáo do período fértil
favorece a concepcáo, quando for esse o desejo do casal;
- Valoriza o amor conjugal, retobando a uniáo de almas e o enten-
dimento mutuo, a fim de possibilitar a periódica abstencao sexual;
- Enobrece a sexualidade humana, assumindo-a, ambos, como
fonte de amor mutuo e nao de egoísmo, e respeitando sua natureza e
finalidade intrínsecas».

367
Tentando desvendar o misterio:

"A LUZ DO ALÉM"


por Raymond A. Moody Jr.

Em síntese: ODr. Raymond Moody Jr. tem-se dedicado aos depoi-


mentos de pessoas que fizeram a experiencia de quase-morte. Dizem
que, em seu estado de coma, a alma ou o núcleo da personalidade, dota
do de corpo espiritual, saiu do corpo físico, vagueou e pelo espago, atra-
vessou um túnel e compareceu diante de seres luminosos, em meio aos
quais havia um Ser de Luz por excelencia; foram induzidas a fazer urna
recapitulagáo de sua vida e, depois, obrígadas a retomar ao corpo físico.
-Opróprio Dr. Moody Jr. apresenta explicagóes científicas para tal expe
riencia, as quais dissipam a tese de que a alma sai fora do corpo. Cré,
porém, que nenhuma délas elucida devidamente o fenómeno, que ele
julga ser um passeio pelo além. - O presente artigo, após relatar os de-
poimentos de pacientes e a interpretagáo dada pelo Dr. Moody Jr., tenci-
ona dissipar a concepgáo segundo a qual a alma possa vaguear fora do
corpo, entrar num túnel e numjardim e, finalmente, voltarao corpo.

O Dr. Raymond A. Moody Jr. M.D. é o autor de urna obra intitulada


"Vida depois da Vida". Publicou posteriormente "A Luz do Além. Novas
Revelacóes", livro editado em traducáo brasileira no ano de 1990 (2a edi-
cáo) pela Ed. Nórdica. O livro refere depoimentos de pessoas que passa-
ram pelo estado de quase-morte (EQM) e dele retomaram; dizem ter va
gueado pelo espaco. O Dr. Moody Jr. dá crédito a esta alega?áo, que ele
propóe como verídica em seu livro.

Vamos, a seguir, passar em revista o conteúdo de "A Luz do Além"


e apresentar algumas reflexoes sobre tal obra.

1. O conteúdo do livro

Por duas décadas o Dr. Moody Jr. se dedicou á ausculta de depoi


mentos emitidos por pessoas que passaram por estado comático e dele
retornaram. Está convicto de que "existem varias pessoas comuns que
estiveram a beira da morte e que relataram vislumbres miraculosos de
um mundo além, um mundo fulgurante de amor e compreensio, que
sonriente pode ser alcancado por meio de urna excitante viagem através
de um túnel ou passagem.

Esse mundo é habitado por pessoas já falecidas, parentes e ami


gos, todas envoltas em urna gloriosa aura de luz, e governado por um

368
"A LUZ DO ALÉM" 33

Ser Supremo, que orienta o recém-chegado numa recapitulado de sua


vida, antes de enviá-lo de volta para a térra.

Após o retorno, as pessoas que 'morreram', nunca mais foram as


mesmas. Elas retomam a vida em sua totalidade, e exprimem a crenca
de que o amor e o conhecimento sao as coisas mais importantes dentre
todas, pois sao as únicas que podemos levar conosco" (pp. 11s).

Eis alguns dos relatos mais interessantes:

«Eu ouvi eles dizendo que meu coragáo havia parado, mas eu es
tava lá em cima, observando. Eu flutuava perto do teto, e, quando vi o
corpo, nao sabia que era o meu. Mas, depois, o reconheci. Sai da sala e
vi minha mae do lado de lora. Perguntei a ela por que estava chorando,
mas nao pode me ouvir. Os médicos pensaram que eu estava moña.

Entáo, uma linda senhora surgiu e me ajudou, pois ela sabia que
eu estava amedrontada. Nos passamos por um túnel e chegamos no céu.
Havia flores lindas por lá. Eu estava com Deus e Jesús. Eles disseram
que eu teña de voltarpara ¡unto de minha mae, porque ela estava muito
triste. Disseram que eu teria de viver a minha vida. Entáo, voltei e acor-
dei.

O túnel que atravessei era longo e muito escuro. Passei por ele
numa grande velocidade. Havia uma luz, no fim. Quando a vi, fiquei muito
contente. Gostaria de voltarpara lá, poralgum tempo. Quero voltarpara
a luz, quando morrer... A luz era muito brilhante» (p. 60s).

Eis outro relato:

«Eu estava terrivelmente doente, com problemas cardiacos, ao


mesmo tempo em que minha irmá se encontrava em coma diabético em
outra parte do mesmo hospital. Deixei o meu corpo e fui para o alto da
sala, onde fiquei observando os médicos trabalharem.

De repente, dei-me conta de que conversava com minha irmá, que


ela estava lá em cima, junto comigo. Nos éramos muito ligados, e ficamos
conversando sobre o que acontecía lá embaixo, até que ela comegou a
afastar-se de mim.

Tentei segui-la, mas ela me disse para permanecer onde estava.


'Ainda nao é sua hora', disse ela. 'Vocé nao pode irjunto comigo, porque
aínda nao é a sua hora'. Entáo, foise afastando cada vez mais, desapa-
recendo numa especie de túnel, e eu fiquei lá, sozinho.

Quando acordei, disse aos médicos que a minha irmá tinha morrido.
Eles negaram, mas, como insistisse, mandaram uma enfermeira verificar.
Ela realmente havia morrido, como eujá sabia» (p. 150).

369
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

Há também o caso de quem foi parar no inferno por engaño:

«Um homem relatou que, durante a segunda de suas tres EQM, foi
levado, por engaño para o inferno. Sua entrevista foi bastante ínteres-
sante e esclarecedora:

'Resposta: A segunda experiencia foi diferente, eu desci por urna


escadaria! Lá embaixo era escuro, havia pessoas herrando e gemendo,
era quente, elas querían) beber agua...

Entáo, alguém aproximou-se de mim, nao sei dizer quem era, pu-
xou-me de lado e disse: 'Vocé nao tinha que estar aqui. Vocé val ter que
subir de volta'.

Pergunta: Foram essas as palavras que ele usou?

Resposta: Sim. 'Vocé vai ter que subir de volta. Nao queremos
vocé aqui embaixo, porque nao é malvado o bastante'.

Pergunta: Vocé primeiro experimentou a escuridáo e, entáo...

Resposta: Escuridáo total. Primeiro, nos deseemos... a escuridáo


era total.

Pergunta: Vocé desceu por um túnel?

Resposta: Nao era um túnel, era mais do que isso, era algo ¡men
so. Eu flutuava para baixo... Havia um homem esperando. Ele disse: 'Nao
é este'.

Pergunta: Vocé podia ver as pessoas que estavam gritando?

Resposta: vi urna porgáo de gente lá embaixo, berrando, gemendo...

Pergunta: Elas também estavam vestidas?

Resposta: Nao, nao, nao. Nenhuma roupa.

Pergunta: Estavam nuas?

Resposta: Sim.

Pergunta: E vocé pode calcular quantas pessoas havia lá?

Resposta: Oh, Cristo, era impossível contá-las.

Pergunta: Milhares?

Resposta: Eu diría que, para mim, eram quase um milháo.

Pergunta: Oh, deveras? E todas elaspareciam realmente infelizes?

Resposta: Estavam infelizes e cheias de odio. Elas me pediam


agua. Nao tinham agua.

370
"A LUZ DO ALÉM" 35

Pergunta: E havia alguém que as ficava observando?

Resposta: Sim, ele estava lá. Com os seus chifrinhos...

Pergunta: Ele tinha chlfres! Vocé... quem vocé acha... vocé reco-
nheceu esse ser?

Resposta: Oh, sim! Eu o reconheceria em qualquer parte.

Pergunta: Quem era ele?

Resposta: O diabo em pessoa!'

Experiencias como esta sao raras. Os pesquisadores de Evergreen


compararam sua pesquisa com a minha e a de Ring, e verificaram que
apenas 0,3% de toda a amostragem descreveu sua experiencia de qua-
se-morte como sendo 'infernal'»(p. 32s).

1.2. Noticias complementares

Sao tres as principáis notas que completam os relatos atrás trans


critos:

1.2.1. Corpo espiritual

Em estado de coma, o núcleo da personalidade do paciente ou o


seu corpo espiritual deixa o corpo físico. Esse corpo espiritual é capaz de
talar, de tocar corpos físicos. Acontece, porém, que ninguém ouve o que
diz como ninguém é afetado pelo toque físico; "quando tencionam tocar
físicamente, as maos de quem vagueia atravessam o braco da pessoa
que ficou na térra, como se ali nada existisse" (p. 17), ou "como se tives-
se a consistencia de urna gelatina muito rarefeita, cujo interior parecía
ser percorrido por urna corrente elétrica" (p. 17).

"Urna pessoa a quem entrevistei há varios anos, disse que exami-


nou, com todo cuidado, suas máos, enquanto permanecía nesse estado,
e viu que elas pareciam ser formadas de luz, com minúsculas estruturas
no seu interior. Ela pode veras delicadas linhas de suas impressóes digi-
tais e tubos de luz dentro dos seus bragos" (p. 19).
Para corroborar suas idéias acerca do "corpo espiritual", Moody Jr.
cita Sao Paulo, que em 1Cor 15, 35-52 se refere a soma pneumatikón
no sentido, porém, de corpo penetrado pelo Espirito Santo (nocao
inexistente nos relatos de Moody Jr.).

1.2.2. A arquitetura do Além


O Além parece ser, segundo os relatos em pauta, urna nova edicáo
do aquém, melhorada e ampliada:

«Comecei a persuadi-lo a contar-me sua experiencia. Entáo, ele

371
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

me disse que, após termorrido, flutuou fora do seu corpo e viu, embaixo,
o médico massageando o seu peito para fazer seu coragáo funcionar
novamente. Sam, neste estado alterado, tentou pedir ao médico que pa-
rasse de golpeá-lo, mas ele nao Ihe deu nenhuma atengáo.

Neste ponto, Sam teve a experiencia de moverse, rápidamente,


para cima, vendo a Térra distanciarse cada vez mais.

Ele, entáo, atravessou um túnel escuro e foirecebido, no outro lado,


por um grupo de 'anjos'. Perguntei-lhe se esses anjos possuíam asas e
ele respondeu que nao.

'Eles brilhavam', disse, 'eram luminescentes, e todos pareciam ter


muito amor por ele'.

'Tudo, naquele lugar, estava cheio de luz', disse. E, por toda parte,
viu lindas cenas campestres. Esse lugar celestial tinha urna cerca em
torno. Os anjos disseram-lhe que, se ele atravessasse aqueta cerca, nao
mais poderia retornar á vida. Depois, um ser de luz (Sam chamou-o de
Deus) disse-lhe que teña de voltar e retomar o seu corpo.

'Eu nao quería voltar, mas ele me obrigou', disse Sam» (p. 58).

Estas concepcdes diferem radicalmente do que diz o texto bíblico,


onde lemos as palavras de Sao Paulo: "O que os olhos nao viram, os
ouvidos nao ouviram, e o coracáo do homem nao percebeu, eis o que
Deus preparou para aqueles que O amam" (1 Cor 2,9).- Nem o inferno é
um precipicio requentado por fogo escaldante. Ver a propósito nosso Curso
de Escatologia, Módulos 15, 16 e 17.

1.2.3. Concepcóes religiosas

O autor do livro afirma que relatos semelhantes ou mesmo idénti


cos foram proferidos tanto por pessoas de fé como por incrédulos. Toda
vía os mórmons sao especialmente propensos a aceitar a veracidade de
tais depoimentos e a emitir ¡mpressóes desse tipo. Diz R. Moody:

«Existem muitas religioes no mundo que aceitam prontamente as


EQM como um portal para o mundo espiritual. A mais proeminente das
religioes ocidentais a fazer isso é a Igreja dos Santos dos Últimos Dias,
mais comumente conhecida como Igreja Mórmon.

A doutrina mórmon considera a EQM um pequeño vislumbre do


mundo dos espfritos. Eles acreditam que o mundo dos espíritos é urna
dimensáo que nao pode ser percebida pelos vivos, sendo habitada por
aqueles que deixaram o seu corpo físico.

OJournal of Discourses, um comentario sobre as crengas mórmons,


escrito pelos membros mais velhos da igreja, diz que o corpo espiritual

372
"A LUZ DO ALEM" 37

mantém os cinco sentidos do corpo físico (visáo, audigáo, tato, paladar e


olfato), embora tenha outras 'facilidades excepcionais' e a capacidade
de considerar muitas idéias diferentes, ao mesmo tempo. Ele também
pode moverse com a velocidade da luz, ver em muitas e diferentes dire-
goes ao mesmo tempo, e comunicarse de outros modos que nao a pala-
vra. É imune a doengas e ferimentos» (p. 82).

Segundo Moody Jr., a experiencia de quase-morte ensina a


relativizar os Credos religiosos: "Religiáo diz respeito á capacidade de
amar, e nao a doutrinas e seitas" (p. 81).

Em suma, tal é o conteúdo do livro "A Luz do Além" de Raymond


Moody Jr.. Sugere algumas

2. Reflexóes

Proporemos tres consideracóes.

2.1. O Pressuposto Antropológico

Segundo Moody Jr., o ser humano tem dois corpos: o material e o


espiritual, sendo este último penetrado por luz brilhante. - Ora tal con-
cepcáo difere da nocáo crista, que, sem dúvida, é mais racional e menos
fantasiosa.

Em perspectiva crista, diz-se que o homem consta de corpo mate


rial e alma espiritual. A alma é o principio vital do corpo. Este consta de
elementos minerais (calcio, ferro, potássio, hidrogénio, oxigénio...) que
nao funcionam como tais, isoladamente, mas como elementos integran
tes da carne, dos ossos, da cartilagem... do corpo humano; sao reduzi-
dos, pelo principio vital que os anima, a unidade do organismo; é a alma
ou o principio vital que dá o modo específicamente humano ás acóes e
reacóes de tais elementos. Se a alma se separa do corpo físico, ainda
que por alguns instantes, o organismo perde a sua unidade e se decom-
poe em seus elementos integrantes ¡solados. Nos casos de coma pro
fundo, a alma nao se separa do corpo, mas nele permanece latente, in
capaz de se manifestar porque o organismo está afetado por grave en-
fermidade. Somente a fantasía (alias, muito compreensível e espontá
nea) pode dizer que o eu do homem se separa do seu involucro físico ou
se "liberta das suas amarras" (p. 18) para pairar no ar "como um baláo
que voa livre depois que o seu cordáo é cortado" (p. 18). Na verdade o
ser humano nao é um anjo que pilota a nave do seu corpo nem é um
atleta que dirige o seu coche, mas é um todo uno, em que corpo e alma
se integram e se complementam mutuamente, embora a alma, sendo
espiritual, seja ¡mortal e possa continuar a viver sem corpo, desde que
este se ache mortalmente lesado e incapaz de ser sede da vida humana.

373
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

Por estas razóes sao inaceitáveis as concepcoes antropológicas


de Moody Jr.; o corpo nao é, como se lé á p. 79, "urna casa para o espi
rito".

2.2. O Além

É espontáneo ao ser humano conceber o Além á semelhanca do


aquém; seria urna nova edicáo revista e corrigida do aquém. Ninguém
tem clara nocao de algo que transcenda os limites da corporeidade. Diz a
Filosofía que "nada há no intelecto que nao tenha passado pelos senti
dos"; por isto mesmo as nossas mais elevadas e puras concepcoes tra-
zem sempre a conotacáo do material e corpóreo... Todavía a sá razáo e a
fé nos dizem que tudo o que é material, é limitado e sujeito a desgaste,
frustrando quem da materia pretende fazer a resposta aos seus anseios.
O Além há de ser o encontró com a Verdade sem falsidade, com o Amor
sem traicáo, com a Bondade sem deficiencia, com a Vida sem ameaca
de morte - o que supera longe as possibilidades da materia. É por isto
que a espontánea concepcáo de um parque luminoso e ameno há de ser
ultrapassada pela consciéncia de que o ser humano tem a capacidade
do Infinito, do qual só podemos ter pálida nocáo na vida presente.

2.3. A elucidacáo do fenómeno

Se a explicacáo dos relatos nao pode ser deduzida da hipótese de


urna viagem fora do corpo, pergunta-se: como entáo elucidar o fenóme
no de tais depoimentos?

O próprio Dr. Moody Jr., as pp. 147-166, do seu livro, analisa expli-
cacoes diversas para o fenómeno; todavía nao as endossa. Eis, porém,
que, dentre todas, merece especial atencáo a que parte do inconsciente
coletivo de Cari Gustav Jung, que Moody Jr. nao aceita, mas que parece
muito plausível e cabal para esclarecer os fatos relatados. Ei-la:

«O grande psicoterapeuta Cari Jung observou que muitos mitos e


crengas semelhantes podem existir em culturas diferentes, ainda que estas
nao tenham nenhuma ligagao entre si. Por exemplo, a historia da criagáo
é quase a mesma para os indios papagos e para os antigos gregos.

Jung denominou a teoría global de inconsciente coletivo e as ins


tancias individuáis de arquetipos. Sao respostas programadas de todos
os seres humanos. Um exemplo simples de um arquetipo é 'máe'. Em
qualquer cultura, o emprego desta palavra evocará significados bastante
similares, urna universalidade básica.

Embora o próprio Jung tivesse passado por urna EQM, ele nao
correlacionou a experiencia ao inconsciente coletivo. Mas seus seguido
res estabeleceram urna ligagao entre as EQM e os arquetipos, já que se

374
"A LUZ DO ALÉM" 39

trata de urna experiencia que ultrapassa as barreiras culturáis e raciais,


contendo, essencialmente, os mesmos elementos, para homens e mu-
Iheres de todas as épocas.

A experiencia arquetípica por excelencia poderia darse deste modo:


urna pessoa tem um sonho que contém elementos ausentes da sua ex
periencia consciente, mas que sao similares a outros, encontrados na
mitología ou em antígos ritos. Estes elementos inexplicáveis sao os ar
quetipos.

Alguns dos seguidores de Jung acreditam que a proximidade da


morte, ou urna experiencia de quase-morte, faz com que essas imagens
arquetípicas, que se encontram no subconsciente profundo, sejam
evocadas. Essas imagens sao básicamente as mesmas para toda a hu-
manidade: experiencias de túnel, seres de luz, recapitulagóes de vida,
etc.» (p. 162s).

Após expor o raciocinio, observa Moody Jr.:

«Esta é urna teoría difícil de refutar, especialmente porque náopassa


disso: urna teoría. E, como as outras aqui apresentadas, tem um grao de
verdade. Mas o maior problema é que ela nao explica as experiencias de
separagáo do corpo. Enquanto isto nao for feito, nenhuma teoría será
totalmente válida para mim» (p. 163).

Na verdade, a impressáo de que a alma ou o núcleo da personali-


dade se separa do corpo nao é difícil de se explicar. Com efeito; é muito
espontáneo ao ser humano imaginar que está planando no espaco, prin
cipalmente se consideramos que vivemos numa época em que a aero
náutica se tem desenvolvido a ponto de permitir a astronáutica e até... a
asa-delta. O adolescente se diverte lancando seus papagaios e seus
balóes ao ar. Além do qué, é muito freqüente ouvir-se dizer que "o céu
está lá em cima e o inferno lá embaixo". Tais concepcóes, embora sejam
rejeitadas pela razáo do adulto, nao deixam de habitar o seu inconscien
te e bem podem vir á tona numa fase de perda do controle do individuo
sobre si mesmo, como é geralmente o estado patológico. Mais: a idéia de
um túnel que separa o mundo menos bom do melhor, também é espontá
nea.

Desta maneira os maravilhosos relatos de experiencia de quase-


morte perdem seu caráter fantasioso e contribuem para corroborar a no-
cáo de que o inconsciente é muito rico em idéias e imagens e também
muito poderoso para orientar ou desorientar o comportamento do ser
humano.

375
Grande excecáo:

ABERTO O PROCESSO DE
MADRE TERESA DE CALCUTTÁ

A 1o de mar90 de 1999, o Santo Padre Joáo Paulo II autorizou o Sr.


Arcebispo de Calcuttá, Mons. Henry Sebastian D'Souza, a abrir o pro-
cesso diocesano em vista da Beatificacáo de Madre Teresa de Calcuttá.
Assim fazendo, o Papa dispensou o regimental intervalo de cinco anos
entre a morte da pessoa heroica e a abertura do respectivo processo. Em
Calcuttá, o Sr. Arcebispo encarregou o Pe. Brian Kologiejchuck, Superior
de urna casa de Missionários em Roma, de reunir todos os documentos
necessários para se instaurar o processo de Beatificacáo. Mons. Henry
Sebastian D'Souza já tem noticia de dois milagres atribuidos a interces-
sao de Madre Teresa: um ocorrido na Térra Santa, e o outro nos Estados
Unidos; se forem devidamente comprovados e reconhecidos, o anda
mento do processo poderá ser acelerado.

ELUCIDANDO...

1. Significado

Beatificacáo e Canonizacáo sao duas cerimónias pelas quais a Igre-


ja propóe á veneracao do povo católico urna pessoa falecida que, fiel a
Cristo e á Igreja, tenha praticado as virtudes em grau heroico.

A diferenca entre urna e outra instancia é a seguinte:

- a Canonizacáo permite que se preste ao(á) Santo(a)


canonizado(a) um culto público em qualquer regiáo da Igreja;

- a Beatificacáo só dá ocasláo a culto restrito a determinadas loca


lidades, reconhecidas pela Igreja, ou seja, aos pontos em que o(a) Bem-
aventurado(a) haja vivido ou com os quais tenha algum líame espiritual.

O culto público, em qualquer dos dois casos, consiste em que haja

- urna festa assinalada no calendario litúrgico; geralmente é o dia


do óbito ou da passagem do(a) Santo(a) ou do(a) Bem-aventurado(a)
para a vida definitiva;

- possibilidade de expor imagens ou reliquias ñas igrejas, tomar


como patrono(a) de pessoas, paróquias, corporacóes, a criterio do Bispo
local.

376
ABERTO O PROCESSO DE MADRE TERESA DE CALCUTTÁ 41

2. Procedimento jurídico

Nos primeiros séculos nao se instaurava processo algum para ave


riguar a heroicidade das virtudes do cristáo falecido. As canonizares
eram feitas por aclamacáo popular, partindo de urna regiáo e estenden-
do-se á Igreja inteira, desde que os Bispos aprovassem o movimento
popular; os fiéis, em peregrinado, visitavam o sepulcro do(a) Santo(a),
procuravam suas reliquias, transferiam-nas de um santuario para outro...
Todavía, para evitar engaños e abusos, os Bispos foram reservando a si
a faculdade de declarar quem pudesse ser cultuado como Santo(a). Já
em 993 o Papa Joáo XV houve por bem canonizar S. Ulrico (t 973),
Bispo de Augsburgo num Sínodo do Latráo, ou seja, após um certo pro
cedimento jurídico. O Papa Aiexandre III em 1170 reservou á Santa Sé a
canonizacáo de pessoas veneradas como santas, e o Concilio geral do
Latráo IV em 1215 reservou á autoridade pontificia a aprovacao de reli
quias. Papas posteriores como Sixto V (1585-90) e Bento XIV (1740-58)
definiram ou modificaram normas que foram assumidas pelo Código de
Direito Canónico de 1917.0 Santo Padre Joáo Paulo II deu a forma atual
ao procedimento das Beatificacóes e Canonizacóes mediante a Consti
tuido Apostólica Divínus Perfectionis Magister de 25/01/1983.

O processo comeca com um inquérito diocesano: o Bispo da dio-


cese onde tenha vivido a pessoa heroica, manda recolher e examinar os
escritos da mesma assim como manda ouvir testemunhas e, em suma,
reunir tudo o que possa servir para elucidar a figura do Servo ou da Serva
de Deus. Para tanto o Bispo recorre a teólogos e canonistas peritos. A
causa tem um Postulador, encarregado de a promover, escolhido pela
congregacáo ou sociedade que introduziu o processo. Caso se apresen-
te algum milagre em materia de saúde, o Bispo se vale da pericia de
médicos.

Urna vez terminada a investigacáo em nivel diocesano, a Causa é


enviada á Santa Sé. No Vaticano existe a Congregacáo para as Causas
dos Santos, instituida por Paulo VI em 1965, em substituicáo á antiga
Congregacáo dos Ritos. Tal Congregacáo está sob a presidencia de um
Cardeal Prefeito, ao qual assistem outros Cardeais e Prelados, consulto
res, teólogos, historiadores... para examinar cada elemento do dossié
enviado á Santa Sé. O desejo de evitar qualquer erro ou qualquer passo
precipitado ou de por tudo ás claras no tocante ao(á) Servo(a) de Deus
leva a Igreja a nomear um advogado geral chamado popularmente "ad-
vogado do diabo", que tem o encargo de considerar tudo o que possa
haver de menos exato no exame da Causa.

Se o laudo final é favorável ao Servo ou á Serva de Deus, a Con-


gregacao para a Causa dos Santos entrega toda a documentacáo ao

377
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999 .

Papa, que deve dizer a palavra final sobre o assunto. É de notar que, no
caso de nao se tratar de um(a) mártir, a Igreja faz questáo de que, para a
Beatificacáo, se tenha dado um auténtico milagre reconhecido pelos pe
ritos e, para a Canonizacáo, outro verdadeiro milagre. Estes sao tidos
como sinais de Deus, que vém confirmar as investigacóes dos encarre-
gados da pericia.

Se aprovada pelo Papa, a Beatificacáo ou a Canonizacáo é cele


brada no decorrer de solene Liturgia, presidida pelo próprio Sumo Pontí
fice. A sentenca de Canonizacáo é tida como infalível, pois versa sobre
um fato dogmático: a Igreja nao pode apresentar á veneracáo e á imita-
cáo dos fiéis urna pessoa que realmente nao tenha sido heroica na práti-
ca das virtudes.

Possa Madre Teresa de Calcuttá ser finalmente inscrita no rol das


grandes heroínas nao só da Igreja, mas da humanidade inteira!

A Igreja em Movimentos, pelo Pontificio Conselho para os Lei-


gos.-Ed. Cidade Nova, Vargem Grande Paulista (SP), 110 x 180mm, 78
pp.

Aos 30/5/98, Vigilia de Pentecostés, trezentos mil representantes


de cinqüenta e seis movimentos e novas comunidades eclesiais de todo
o mundo lotaram a Praga de Sao Pedro em Roma. Pela primeira vez na
historia da Igreja, eles se encontraram para dar um testemunho conjunto
de unidade na diversidade, suscitada pelo Espirito Santo. O volume em
foco reúne textos e fotos dessa Jornada, reproduzindo o discurso do Papa
e o testemunho de Chiara Lubich (Focolares), Kiko Arguello (Neoca-
tecumenato), Jean Vanier (A Arca) e Luigi Giussani (Comunháo e Liber-
tagáo.

"Em nosso mundo, com freqüéncia dominado por urna cultura se


cularizada que fomenta e difunde modelos de vida sem Deus, a fé de
muitos é posta a duras provas e, nao raro, é sufocada e extinta. Poñanto
percebe-se com urgencia a necessidade de um anuncio forte e de urna
sólida e aprofundada formagáo crista. Como é grande hoje a necessida
de de personalidades cristas amadurecidas, conscientes da própría iden-
tidade batismal, da própría vocagáo e missao na Igreja e no mundo! Quáo
necessárias sao as comunidades cristas vivas! Eis entáo os movimentos
e as novas comunidades eclesiais: sao a resposta, suscitada pelo Espiri
to Santo, a este dramático desafio do final do milenio. Vos sois essa res-
posta providencial... Abri-vos com docilidade aos dons do Espirito" (Joáo
Paulo II).

378
Perplexidade:

MATAR OS EMBRIÓES?

Em síntese: A nossa revista recebeu a carta de alguém que se vé


em grave embarago por efeito de fecundagao artificial realizada com a
sementé vital de um homemjá falecido. Foram fecundados embrides em
excesso. Que fazer com eles? - A única resposta correta consiste em
procurar salvar a vida deles, entregando-os a beneméritas senhoras que
aceitem realizar a gestagáo.

Com a devida autorizacáo, vai, a seguir, publicada uma carta muito


significativa, que dará margem a ponderacóes importantes.

«Estou com um problema grave de Bioética, que envolve o fato de


eu ter perdido um filho há cerca de tres anos e, quando ele estava em
coma, pedi que Ihe colhessem material espermático para fertilizagáo in
vitro 'post-mortem'. Foram 'criados'quatorze embrides, implantados qua-
tro sem sucesso e restam dez! A clínica nos pediu uma definigáo sobre o
destino desses embrides, a saber: conservar por mais cinco anos; incine
rar; ou doaros embrides a candidatas esteréis. Essa última hipótese nao
é aceita porminha ñora, que se acha 'proprietária' dos embrides. Ela e a
sua familia sao católicos, tementes a Deus, e, na ocasiáo, nao nos ocor-
reu estar criando um problema dessa monta. Pergunto e pego que me
respondam POR FAVOR: Que devemos fazer com os embrides? Eles
podem ser enterrados? Devem aguardar tempos futuros e uma possivel
mudanga de opiniáo déla?»

Que dizer?

A carta é impressionante; vem a ser o espelho de uma realidade


talvez cada vez mais freqüente. Eis o que temos a dizer-lhe:
1) A fecundacáo artificial viola as leis da natureza, pois separa amor
e procriacio. Trata a sementé vital humana como a sementé do gado ou
das plantas. Ora isto vem a ser uma ofensa á identidade e á dignidade do
ser humano. Segundo a ordem natural, a prole há de ser o fruto do amor
mutuo de um homem e de uma mulher comprometidos entre si pelo ma
trimonio. Os filhos precisam de um lar e da colaboracáo de pai e máe
para serem devidamente educados.

2) A fecundacáo artificial ainda é mais ofensiva quando se extrai a


sementé vital de alguém que está para morrer, a fim de provocar a
inseminacáo em proveta após a morte do doador. Em tal caso, nao so-

379
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

mente a fecundacáo é artificial, mas pode vir a ser também um desres-


peito as intencóes da pessoa falecida. Em tais circunstancias se desca
racteriza por completo a reproducáo humana.

3) A carta em foco afirma que tiveram origem quatorze embrióes


por fecundacáo artificial. Com outras palavras: houve fecundacáo com a
sementé vital do doador falecido em quatroze casos; foram assim conce
bidos quatorze seres verdadeiramente humanos. Desses quatorze foram
escolhidos quatro para ser implantados no útero ou da viúva ou (quem
sabe?) no de urna máe de aluguel. Essa escolha de quatro foi arbitraria,
pois ninguém tem o direito de definir se alguém deve viver ou nao. Ora
nenhum dos quatro embrióes implantados sobreviveu; morreram todos
no seio materno. Restaram dez, cujo futuro ficou á mercé do arbitrio dos
adultos:

- deveriam ser assassinados ou queimados no fogo incinerador?

- deveriam ser guardados em geladeira por cinco anos, á espera


de que alguém os solicitasse para fazer a gestacáo?

- ou deveria ser ¡mediatamente doados a candidatas esteréis de-


sejosas de ter um filho?

Que dizer?

Seja eliminada a hipótese de se incinerarem os embrióes. Ninguém


tem o direito de matar (e matar urna crianca inocente). O embriáo nao é
coisa, mas já é um ser humano com os direitos que Ihe tocam.

A segunda hipótese consiste em congelar os embrióes por cinco


anos (prazo máximo), após o qué seráo extintos, se ninguém os requisi-
tar. Também isto é cruel e inaceitável.

Só resta a terceira hipótese: procurar implantar logo esses dez


embrióes em candidatas que se prontifiquem para fazer a gestacáo. É
esta urna solucáo precaria, mas é o remedio para amenizar os males
decorrentes de um passo dado em falso ou da fecundacáo artificial.

4) Diz ainda a carta que a viúva nao aceita a doacáo dos embrióes,
porque é proprietária deles. Na verdade, porém, ninguém é dono de quem
quer que seja. A máe nao é proprietária de seus filhos; é, sim, doadora e
tutora da vida, mas nao é possuidora da vida alheia. Por conseguinte nao
pode impedir que os embrióes sejam implantados no útero de urna mu-
Iher que os ajude a desenvolver-se e chegar a nascer como qualquer
crianca. Procure salvar a vida desses pequeninos, favorecendo a implan-
tacáo no útero de urna benfeitora gestante.

Eis o que ocorre dizer a respeito do problema exposto na carta em


questáo.

380
A UM JOVEM INDECISO: "QUE RUMO SEGUIREI?"
A Redacáo de PR recebeu a carta abaixo, á qual se seguirá a res-
posta enviada ao missivista:
Ten/70 vinte anos de idade, com o segundo grau completo. Dizem
que sou caprichoso, esforgado, inteligente, religioso e bonito.
Minha grande vontade é ser somente de Deus, mas ainda nao
conseguí externar este meu sentimento. Realmente sou conhecedor de
minha religiáo e amo-a. Por gostar muito de Medicina, estou entrando em
contato com a Ordem Camiliana, mas as respostas ainda nao chegaram.
Paralelamente muitas pessoas de ambos os lados, mulheres e ho-
mens jogam para cima de mim mogas perfeitas. Dizem que tenho muitas
chances; é somente eu optar. Eu realmente afirmo: sao mogas lindas, mas...
Minha grande dificuldade está em escolher qual das duas opgóes.
Eu iá percebi que é mais importante a vida espiritual verdadeiraepura,
mas ainda vém em minha mente anos ideáis de urna mulher perfeita co-
migo formando urna familia.
Como me certificare! da vontade de Deus? E como saberei para
qual das duas opgoes estou escalado?".
Eis a
RESPOSTA

«Meu caro jovem, foi com grande interesse que tomamos conhe-
cimento do seu caso. Com seus vinte anos de idade, vocé está na incerteza
ou na inseguran5a que afeta muitos jovens quando olham para o seu futuro.
O seu dilema parece colocar-se nos seguintes termos: ou a consa-
gracáo total a Deus na vida sacerdotal camiliana, dedicada ao servico
dos doentes, ou a procura de um jovem "bonita e perfe.ta que se torne
sua esposa. Vocé mesmo escreve: «Ainda me vém a mente anos dea»
de urna mulher perfeita comigo formando urna familia". Voce diz tamben
que os adultos ^ogam para cima de vocé mocas perfeitas1, isto e, muito
bonitas, que o fazem balancar.
Ora meu caro amigo, vé-se que vocé está básicamente voltado
para oí valores do espirito, pensando no sacerdocio: "EuJa perceb, que
é mate importante a vida espiritual verdadeira e pura". Mas voce e im-
prSñad'o pebs valores corporais ou pela beleza física das criaturas;
duas vezes vocé fala de "mulher perfeita". Pois bem; desejo dizer-lhe que
nao se deixeVOafetar por be.eza física ou corporal. Vocé sabe que depo.s
Te certa idade, a beleza física desaparece ou empalidece; ja nao é a
mesma E muitos homens que correram atrás da beleza física, apos cer-
S tempo rejeitam a pessoa que deixa de ser táo bela, para procurar ou-
381
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

tra, mais jovem e mais bonita. E, depois que esta, com o tempo, perde o seu
encanto físico, o homem a deixa para procurar uma terceira, mais jovem e
bela. E nao descansa em sua procura... O livro bíblico do Eclesiastes nos diz
que a beleza corporal (como qualquer outro atrativo criado) é como a fuma-
5a: quem a quer segurar na máo, verifica que ela se esvai: 'Vaidade das
vaidades! Tudo é vaidade!", diz o Eclesiastes.
A beleza física nao faz a perfeicao de alguém. Ao contrario pode pro
vocar a vaidade, o orgulho, a auto-suficiéncia da pessoa. O que faz a gran
deza de alguém, sao os valores moráis, as virtudes. Estas, sim, pertencem
ao rol do definitivo: nao frustram nem decepcionam os homens.
Por isto sugiro-lhe, meu amigo, que nao dé ouvidos á cantilena de
quem Ine diz: "Vocé é um rapaz bonito, inteligente e tem facilidade de encon
trar uma ¡ovem linda para se casar". O casamento baseado nessas premis-
sas nao durará muito tempo. Em conseqüéncia, só posso recomendar-lhe
que procure seguir sua inspiracáo inicial, ou seja, a de se consagrar inteira-
mente a Deus no sacerdocio dedicado ao servico dos enfermos como vocé
mesmo refere. Faca sua experiencia de Seminario, procure sinceramente a
Deus; seja fiel ao seu propósito. E certamente o Senhor Jesús Ihe falará
mostrando-lhe o caminho certo. Nao hesite. Se sua vocacáo é para o matri
monio, o Senhor Iha apontará. Mas por ora tudo indica que vocé tem um
chamado para se consagrar inteiramente a Deus.
E por que nao acrescentar o seguinte? Reze pelos adultos que o que-
rem desviar para a procura da beleza corporal, como se esta Ihe fosse satis-
fazer adequadamente. E lamentável que os mais velhos, mesmo cristáos nao
entendam a grandeza da vocacao sacerdotal e religiosa; sao movidos por pre-
conceito, que o Espirito Santo há de dissipar se Iho pedirmos insistentemente.
Está claro que vocé rezará também por si, pedindo o dom do conselho
ao Doador de todos os bens. Afaste-se das más companhias: "As más com-
pannias corrompem os bons costumes", diz Sao Paulo em 1Cor 15, 33
Guarde a castidade, fortalecido pelos sacramentos da Reconciliacáo e da
Eucaristía, e esteja certo de que o Senhor guiará seus passos pelo caminho
da melhor opcáo.

A guisa de ilustracáo, seja recordado o caso de S. Agostinho (f 430)


que durante decenios, andou á procura da beleza física e, decepcionado"
acabou encontrando a verdadeira Beleza no Infinito ou Absoluto, que é Deus'
Escreveu entáo:

Tarde eu Te amei, Beleza táo antiga e táo nova! Tarde eu Te amei


Tu estavas dentro de mim, e eu Te procurava fora, onde me precipitava
sobre as belas coisas da térra, tuas obras. Tu estavas comigo, e eu nao
estava contigo, mantido longe de Ti por aquetas criaturas que, se nao esti-
vessem contigo, nao existirían). Tu estavas dentro de mim, e eu estava fora
Tu chamaste, gritaste e rompeste minha surdez".
Estéváo Bettencourt O.S.B.
382
Como explicar?

O FENÓMENO JOÁO PAULO II

Vai, a seguir, transcrito o artigo do Prof. Carlos Alberto de Franco,


Diretor do Master em Jornalismo para Editores, publicado no O GLOBO
de 12/4/99, p. 7:
«Com seu primeiro CD, 'Abba Pater1, ñas lojas de 50 países desde
o comeco deste mes, Joáo Paulo II deve superar o recordé da trilha do
filme 'Titanio1, que no ano passado vendeu 27 milhóes de exemplares. O
Papa, embora envelhecido e doente, continua sendo um fenómeno de
massas e um impressionante sucesso mercadológico. O desempenho
de Joáo Paulo II, sobretudo no meio jovem, é urna charada que desafia o
pretenso feeling de certos estudiosos do comportamento. Afinal, o este
reotipo do Papa conservador, obstinadamente apegado aos valores que
estariam na contramáo da modernidade, tem sido contestado pela torca
dos fatos e pela eloqüéncia dos números.
Durante 20 anos de pontificado, rúas, pracas e esplanadas dos
quatro cantos do mundo foram tomadas por barracas, mochilas e can-
cóes. A frustracáo de certos vaticanólogos so tem sido superada pelo
raneo amargo de alguns ideólogos fracassados. De fato, as concentra
res religiosas, ¡mensas e multicoloridas, contrastam fortemente com as
previsóes pessimistas dos profetas da morte de Deus.
Os desembarques do Papa sao, freqüentemente, precedidos de
discutívels pesquisas indicando que parcelas significativas da populacáo
consideram Joáo Paulo II conservador e retrógrado. Chega-se a falar,
num burocrático exercício de futurologia, de prováveis fracassos das via-
gens e dos riscos de urna explosáo de protestos contra a rigidez doutrinal
da Igreja. As contestares, no entanto, quando ocorrem, costumam ficar
limitadas a meia-dúzia de cartazes.
A última visita do Papa á Franca, que já foi definida como 'a filha
rebelde da Igreja', foi um bom exemplo do descompasso entre o autismo
dos ressentidos e o arejamento do mundo real. Urna multidáo comovida e
descontraída deu-se as máos formando urna 'corrente de solidariedade' de
36 quilómetros ao redor de París. Quando a estagáo de radio da Catedral de
Notre-Dame deu o sinal, os jovens fizeram 90 segundos de silencio. Em
seguida cantaram a 'Ode á alegría' da Nona Sinfonía de Beethoven, en-
quanto os sinos das igrejas tocavam e os motoristas dos carros buzmavam.
As multidóes que acompanharam o Pontífice superaram todas as
estimativas, levando o único jornal parisiense que circula aos domingos,
383
1! "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 447/1999

'Le Journal de Dimanche1, a perguntar, em editorial, que misterio tinha


Joáo Paulo II para despertar 'inabituais cenas de fervor e mobilizacáo
coletiva, que parecem anacrónicas neste fim de século, em que a Igreja
é acusada de ser conservadora, retrógrada e, por isso, distanciada da
juventude1. Para alguns, reféns de um sectarismo empobrecedor é difícil
entender os recados de Paris, de Manila, do Parque do Flamengo e tan
tos lugares visitados pelo Pontífice itinerante. Como explicar o fascínio
exercido pelo Papa? Como digerir a forca de um fato?
A interpretacáo dos megaencontros papáis, comparados por alguns
observadores aos festivais de rock de Woodstock, realizados nos EUA
no final dos anos 60, sinaliza, talvez, a gestacáo de urna profunda mu-
danca comportamental. 'A gente danca e canta, mas nao se esquece do
motivo principal por que estamos aqui: reavivar a fé1, comentou a ameri
cana Sandra Thomas, de 23 anos, urna das participantes das Jornadas
Mundiais da Juventude, que reuniu milhares de jovens em Denver (EUA).
A crescente empatia entre Joáo Paulo Mea juventude tem rompido
moldes convencionais e surpreendido o noticiario. Recentemente, ao re-
ceber quatro mil universitarios de 35 países que participaram do Con-
gresso Univ 99, encontró anual da Semana Santa em Roma, promovido
por fiéis da prelazia do Opus Dei, o Papa fez um forte apelo ao compro-
misso: 'Esta é a tua tarefa de cidadáo cristáo: contribuir para que o amor
e a liberdade de Cristo presidam a todas as manifestacóes da vida mo
derna - a cultura e a economía, o trabalho e o descanso, a vida de familia
e o convivio social1. A citacáo extraída do livro 'Sulcro', do bem-aventura-
do Josemaria Escrivá, provocou um emocionado aplauso. De fato, inde-
pendentemente do ceticismo de certos analistas, a busca de Deús e a
nostalgia de valores sao constatacóes sociológicas.
O Papa é um sucesso mercadológico. Seu Marketing, no entanto,
tem raízes profundas: fé robusta, coragem moral, coeréncia doutrinal e,
sem dúvida, a misteriosa magia da santidade. Os santos assustam e
incomodam. Desnudam a nossa mesquinhez. Sao sempre um acicate.
Mas a santidade também atrai e eleva. Na verdade, só ela pode explicar
o vigor do pontificado».

AMIGO(A), CONHEQA MELHOR A SUA FÉ


PROCURE CONHECER OS CURSOS POR CORRESPONDEN
CIA DA ESCOLA "MATER ECCLESIAE". MESMO QUE NAO DESEJE
FAZER PROVAS ESCOLARES, OS MÓDULOS RESPECTIVOS LHE
OFERECERAO A OCASIÁO DE APROFUNDAR SEUS CONHECIMEN-
TOS RELIGIOSOS NUMA ÉPOCA EM QUE O CIDADÁO É BOMBAR
DEADO POR TANTAS PROPOSTAS "MÍSTICAS", EMOCIONÁIS E
POUCO RAZOAVEIS. PEDIDOS DE INFORMACÓES Á CAIXA POS
TAL 1362, 20001-970 RIO (RJ). E-MAIL: eme2000@¡bm.net
384
NOVIDADE!
Acaba de sair um novo livro de: DOM BENTO SILVA SANTOS, O.S.B.
A imortalidade da alma no "Fédon" de Platáo.
Coeréncia e legitimidade do argumento final (102a - 107b).
Porto Alegre, EDIPUCRS, 1999, 126 p. (Cole9áo "Filosofía", ns 89).-. R$ 12,00.

Sumario geral do livro: „ _


CAPÍTULO I - ORIGENS DA CONCEPCÁO DE ALMA E DE SUAS QUAUFICACOES ANTES DE PLATAO
CAPÍTULO II - A ALMA ESUA IMORTALIDADE NO FÉDON DE PLATÁO
CAPÍTULO III - O ARGUMENTO FINAL DE SÓCRATES (102a -107b)
CAPÍTULO IV- A MENSAGEM ÉTICA DO "FÉDON": O SIGNIFICADO DA EXISTENCIA HUMANA E O
SENTIDO DA VIDA E DA MORTE

PUBLICApÓES MONÁSTICAS
- OS CISTERCIENSES - Documentos Primitivos, foi publicado originalmente na Franca
(Citeaux Commentarü Cistercienses), tendo urna introducáo e bibliografía do irmáo Francois
de Place, da Abadia de Notre Dame de Sept-Fons. Sua edicáo no Brasil foi urna iniciativa do
Mosteiro Trapista de Nossa Senhora da Assuncáo de Hardenhausen - Itatinga, em Sao
Paulo, tendo o apoio dos beneditinos do Rio de Janeiro. A traducao é do jornalista Irineu
Guimaráes, por muitos anos correspondente no Brasil do jornal francés "Le Monde". Padre
Luís Alberto Rúas Santos, O. Cist., foi o responsável pela revisáo da obra.
O livro sai pela Musa Editora, de Sao Paulo, em coedicáo com a "Lumen Chnsti , do Rio
de Janeiro (254 páginas) R$ 25'00-
- SALTERIO MEU MINHA ALEGRÍA, os 150 Salmos pelas Monjas beneditinas de Santa
María - SP. Salterio ilustrado para enancas e adultos com alma de crianca... 2a edicáo.
1994, Formato: 21.5 x 16cm RS 15-00-
- A ESCOLHA DE DEUS, comentario sobre a Regra de Sao Bento, por Dom Basilio Penido,
OSB. 2a edicáo revista - 1997. 215 págs R$ 16>50-
- A PROCURA DE DEUS, segundo a Regra de Sao Bento. Esther de Waal
Traduzido do original inglés pelas monjas do Mosteiro do Encontró, Curitiba/PR. CIMBRA
-1994 115 págs R"* ^'^-
Apresentado pelo Dr. Roberto Runcie, arcebispo anglicano de Cantuária, pelo Cardeal
Basil Hume, OSB, arcebispo de Westminster e de D. Paulo Rocha, OSB, abade de Sao
Bento da Bahia.
- PERSPECTIVAS DA REGRA DE SAO BENTO, Irma Aquínata Bóckmann OSB.
Comentario sobre o Prólogo e os capítulos 53, 58,72.73 da Regra Beneditina - Traducao
do alemáo por D. Mateus Rocha OSB. A autora é professora no Pontificio Ateneu de Santo
Anselmo em Roma (Monte Aventino). Tem divulgado suas pesquisas nao so na Alemanha.
Italia Franca, Portugal, Espanha. como também nos Estados Unidos, Brasil, Tanzania,
Coréia e Filipinas, por ocasiáo de Cursos e Retiros. 364 págs RS 11,10.
- SAO BENTO E A PROFISSÁO DE MONGE, por Dom Joáo Evangelista Enout O.S.B. 190

§geniooui seja. a santidade de um monge da Igreja latina do século VI (480-540) - SAO


BENTO - transformou-o em exemplo vivo, em mestre e em tegislador de um estado de vida
crista empanhado na procura crescente da face e da verdade de Deus, espelhada na traje-
tória de um viver humano renascido do sangue redentor de Cristo. - Assim, o discípulo de
Sao Bento ouve o chamado para fazer-se monge, para assumir a "profissao de monge .
Pedidos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2a capa.
PUBLICAQÓES MONÁSTICAS

- LECTIO DIVINA, ontem e hoje. 28 edicáo revista e aumentada. Guigo II, Cartuxo,
Enzo Bianchi, Giorgio Giurisato, Albert Vinnel. Edicáo do Mosteiro da Santa Cruz de
Juiz de Fora, MG. 1999.160 páginas r$ 14,50.

- VIVENDO COM A CONTRADICÁO, reflexóes sobre a Regra de S. Bento. Esther de


Waal. 1998. 165 páginas. Edicáo do Mosteiro da Santa Cruz de Juiz de Fora, MG.
(Sumario: Explicacáo. Prólogo da Regra de S. Bento. Um caminho de cura. O poder
do Paradoxo. Vivendo com as contradicóes. Vivendo comigo mesma. Vivendo com
os outros. Vivendo com o mundo. Juntos e separados. Dom e Graca. Deserto e feira.
Morte e vida. Rezando os conflitos. Sim. Notas e comentarios) R$ 16,00.

- A VIDA MONÁSTICA E O TERCEIRO MILENIO, desafios e promessas. Edicoes da


CIMBRA: 1998.137 páginas. Apresentacáo de Dom Ernesto Linka, OSB., Abade de
Sao Geraldo, Presidente da CIMBRA. Trecho da Apresentacáo:
"... Dada a proximidade do Jubileu do ano 2000, as Comunidades Monásticas da
Ordem de Sao Bento (OSB), Ordem Cisterciense (O. Cist.) e Ordem Cisterciense da
Estrita Observancia (Trapista, OCSO) reuniram-se para refletir sobre varios aspectos
'A Vida Monástica e o Terceiro Milenio: Desafios e Promessas1. O resultado do que
foi esse belo e rico mosaico da heterogénea Vida Monástica em sua dimensáo lati
no-americana. Deseja que todos os nossos leitores possam tirar muito proveito dele...".
Concepcáo: Dom Gregorio Paixáo, OSB R$ 11,00.

- MARTIROLOGIO ROMANO-MONÁSTICO. Adaptado para o Brasil. Abadías de S.


Pierre de Solesmes. Traduzido e adaptado para o Brasil pelos monges do Mosteiro
da Ressurreicáo. Mosteiro da Ressurreicáo, Edicoes. Prefacio da edicáo brasileira
por Dom Joaquim de Arruda Zamith, OSB, Abade-Presidente da Congregacáo
Beneditina do Brasil. 1997. 423 páginas r$ 25,00.

- O PERFUME DO LÍBANO, Sao Charbel Makhlouf monge e eremita da Ordem Liba-


nesa Maronita (1828-1898) Beatificado em 5/12/1965 e Canonizado em 9/10/1977
por S.S. o Papa Paulo VI. Editora Áncora - Miláo. Traducáo do originalem italiano,
pelas Monjas Beneditinas da Abadía de Santa Maria - SP. Imprimatur: Dom Joseph
Mahfuz O.L.M. Arcebispo Maronita do Brasil. 352 páginas. 1998 R$ 25,00.

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NÚMERO AVULSO r$ 3'Oo

PERGUNTE E RESPONDEREMOS ANOS: 1997e 1998


Encadernado em percalina, 590 págs., com índice incluido.
(Número limitado de exemplares) R$ 50,00, cada.

INTERNET: e-mail: lumen christi @ pemail.net

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