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a E preciso descobrir o Brasil Os ctitétios de cor (“branco”, “pardo”, “preto”, “amarelo”) usados nos censos para distinguir a popu- laco brasileira sempre foram problemiticos. Particu- larmente criticadas so as qualificagdes “preto” e “par- do”, cujo sentido pejorative vem desde as poesias seiscentistas de Gregério de Matos. © IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Es- tatistica) decidiu entéo, numa ‘ptimeita experiéncia antes do censo de 2000, mudar o “preto” para “negro” e“pardo” para “mestigo”. Computados os resultados da amostragem, os demégrafos viram que a experiéncia tinha desandado, Na mudanga de “preto” para “negro”, 68 niimeros bateram e niio houve novidades. Contudo, a troca de “pardo” por “mestico” furou inteiramente. Rejeitando a designacao “mestigo”, cujo efeito pejora- tivo se revelou pior do que “pardo”, muitas pessoas an- teriormente incorporadas a esta tiltima categoria auto- denominaram-se “brancas”, provocando um aumento inusitado das porcentagens neste item, Seré preciso pensar tudo de novo antes do censo, Talvez fosse 0 caso de utilizar também 0 censo pata enfocar 0 escindalo detectado por uma pesquisa recente do Departamento Intersindical de Estatistica e Estudos Socioecondmicos — Dieese: no Brasil o salério dos negros é sistematicamente inferior ao dos brancos. Constatagiio que liquida de vez o lugar-comum sobre nossas relagdes raciais: “negro doutor vira branco”. ‘Nao é verdade: no Brasil, negro doutor continua negro, obtendo menos renda média que seus ex-colegas bran- cos da faculdade. Como se vé, esta ficando cada vez mais dificil descobrir 0 Brasil. (Citado a revista Veja, 27/10/1999 — Lui Felipe de Alencastro) Depois da abolicio da escravatura, os ex-escravos con- centraram-se nos centros urbanos, Entregues 8 prépria sorte, ‘eles nao tinham chance de concorrer a um emprego estavel Sem instrucio e sofrendo as conseqiéncias do preconceit, ‘0s negros éram vitimas da idéia de que eram. preguicosos. Por tudo isso, a preferéncia era pela m&o-de-obra imigrante no processo de industrializagéo que se iniciava no pais. As atitudes racistas, embora muitos pensem 0 con- trario, ainda esto presentes numa sociedade que durante mais de trés séculos usou a m&o-de-obra escrava e que con- tinua a discriminar o negro no seu cotidiano. Além de as estatisticas assinalarem que os negros en- frentam péssimas condicSes de vida porque tém baixa esco- laridade, elas apontam também que os salaérios dos brancos 80 maiores em relaco gos dos negros, mesmo quando tém @ mesma escolaridade. ‘Atualmente, negros e pardos jé formam uma parte da classe média brasileira, mas tém a metade das chances que tém os brancos de ascender na pit social, O desem- prego & maior entre a populaco negra, e é negra a maioria dos mortos em confrontos com a policia, Estamos ainda distantes de ser uma sociedade que respeita a diversidade cultural e étnica, Mas, sem diivida, existe, dentro dessa sociedade, um movimento de reptidio a qualquer forma de discriminacdo baseada em diferencas de cor da pele.

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