Вы находитесь на странице: 1из 10

AVALIAÇÃO NUMÉRICA DO DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO

DE SOLOS MOLES ASSOCIADO À UTILIZAÇÃO DE GEODRENOS

Pedro Guedes de Melo, IST-UTL, Lisboa, Portugal, pmelo@civil.ist.utl.pt


Consulgeo, Lda, Lisboa, Portugal, consulgeo@mail.telepac.pt

RESUMO
Inseridos num plano de loteamento em estudo para o local, foram recentemente realizados na zona de Marinhas
do Mulato, em Vila Franca de Xira, vários aterros experimentais com o objectivo de analisar a evolução do
processo de consolidação da fundação lodosa desses aterros, associada à instalação de malhas de geodrenos com
diferentes espaçamentos. Nos aterros foram instaladas marcas para medição de assentamentos e na fundação
foram instaladas células para medição de pressão da água intersticial. A evolução do processo de consolidação
da fundação desses aterros foi modelada numericamente com base em soluções de diferenças finitas.
Apresentam-se neste trabalho, para além das características gerais da obra, os resultados de observação obtidos
e a sua comparação com os resultados da solução numérica desenvolvida, inferindo-se, deste modo, o valor dos
principais parâmetros geotécnicos que controlam a consolidação desses materiais lodosos.

1 INTRODUÇÃO lodosa recorrendo a uma solução baseada no método


das diferenças finitas. A solução desenvolvida permite
Foram recentemente realizados na zona de Marinhas ter em conta aspectos como: a variação, no tempo, do
do Mulato, em Vila Franca de Xira, quatro aterros carregamento associado à construção dos aterros; os
experimentais (ver Figura 1) com o objectivo de efeitos conjudados da drenagem segundo os planos
analisar a evolução do processo de consolidação da horizontal e vertical (respectivamente na direcção dos
sua fundação lodosa, variável em espessura. Nessa geodrenos e na direcção do topo e base da formação
fundação foram instaladas malhas de geodrenos com lodosa); a variação das condições de drenagem
diferentes espaçamentos para avaliar da eficiência durante o processo de consolidação.
deste tipo de solução de aceleração do processo de Neste trabalho apresenta-se um resumo das
consolidação. Sob um dos aterros não foi instalada condições geotécnicas locais, o sistema de
qualquer malha de geodrenos. monitorização instalado nos aterros experimentais e a
A execução dos aterros experimentais foi precedida solução numérica desenvolvida para acompanhar o
de uma caracterização geotécnica, envolvendo ensaios processo de consolidação. No final, da comparação de
in situ e de laboratório. resultados da monitorização com os da solução
O desenrolar desse processo de consolidação foi numérica, são definidos os valores dos principais
monitorizado com um conjunto de 18 marcas de parâmetros de cálculo que efectivamente
medição de assentamentos, instaladas próximo da condicionaram o comportamento dos aterros.
superfície do terreno, e com um conjunto de 14 células
de medição da pressão da água intersticial, instaladas
na formação lodosa. A evolução do processo de 2 CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS
consolidação foi acompanhada durante cerca de 17
meses, dispondo-se, deste modo, de um conjunto As condições geológico-geotécnicas locais foram
muito significativo de resultados de observação. avaliadas em campanhas de prospecção realizadas em
Para acompanhar a evolução dos resultados de 1997 e em 2002 pela empresa Teixeira Duarte, S.A
observação foi feita a modelação numérica da (1997, 2002). Face aos tipos de formações
evolução do processo de consolidação da formação identificados, o plano de ensaios levado a cabo em
S53
S52
S51

S50 Aterro 2
S57 N
M5 C3M6 S56
S5
S55 M7 C4M8
M9 M10 S65
S54

Aterro 3 S67 S60


C2a/C2b S59
M1 M2 M11 C5a/C5b S6
S58 M3 M4 S4 M12
C1a/C1b M13 M14
C6a/C6b
C7a/C7b
Aterro 1 M15 M16
M17 M18
C8a/C8b S66 S63
Aterro 4
S7 S64
S61 S62

Sondagem
Escala
Marca de assentamento
RIO TEJO 0 50m 100m 150m Célula de pressão intersticial

Figura 1 - Planta geral da zona com localização dos aterros experimentais.

2002 foi centrado na formação lodosa ocorrente no identificação, ensaios de corte rotativo, ensaios
local, uma vez que certamente seria aquela que iria edométricos e ensaios triaxiais. Com base nos seus
condicionar o comportamento dos aterros a executar. resultados foi elaborado um estudo (Consulgeo, 2003)
As sondagens realizadas (ver Figura 1) permitiram com a caracterização das formações ocorrentes, em
identificar, genericamente, a presença dos complexos particular a da formação lodosa.
que seguidamente se referem. Dada a proximidade de locais e semelhança das
características dos materiais detectados nesta zona e
Formações actuais a recentes na zona do Forte da Casa (para a qual já tinha sido
C1A - Depósitos de aterro arenosos, areno-argilosos e realizado um estudo de caracterização geotécnica
argilosos (SPT médio entre 10 e 20 golpes). semelhante), no presente trabalho os respectivos
C1B - Depósitos aluvionares constituídos por lodos, resultados foram considerados conjuntamente.
por vezes com conchas dispersas, muito moles Pretendendo-se abordar neste trabalho apenas o
(SPT quase sempre nulo). comportamento dessa formação lodosa no que
C1C - Depósitos aluvionares constituídos por areias respeita à sua compressibilidade e consolidação, são
de granulometria variável, lodosas, areão e em seguida referidos os principais resultados desse
seixos dispersos (SPT entre 10 e 30 golpes). estudo no que respeita a esse tipo de características,
Formação quaternária incluindo-se ainda as características de plasticidade.
C2 - Formação heterogénea constituída por areias,
por vezes argilosas, areão e seixos dispersos, a) Plasticidade
medianamente compacta a muito compacta (SPT
médio entre 30 golpes e a “nega”). Estes materiais lodosos são materiais de alta
Formação miocénica plasticidade, com valores do limite de liquidez da
C3 - Formação heterogénea constituída por arenitos ordem de 60 a 70% e valores do índice de plasticidade
de granulometria variável, margosos a calcários da ordem de 30 e 40%.
e argilosos (SPT correspondendo à “nega").
b) Compressibilidade

3 PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA Na Figura 2 apresentam-se as curvas de carga dos


ensaios edométricos de cuja interpretação se obteve a
O plano de reconhecimento geotécnico levado a cabo seguinte equação para a curva de compressão virgem:
em 2002 incluiu a realização de vários ensaios in situ e 2,9  0,75 log v (1)
e em laboratório, nomeadamente, ensaios de
ao que corresponde um índice de compressibilidade Cc Figura 1. Trata-se de aterros com cerca de 2,5m de
de 0,75 e um valor de e0 (índice de vazios para tensão altura, na fundação de três dos quais foram instaladas
vertical efectiva unitária) de 2,9. Estes materiais foram malhas de geodrenos, sempre com distribuição
considerados como normalmente consolidados. triangular em planta mas com diferentes
espaçamentos. As características gerais da fundação
c) Consolidação primária de cada aterro são indicadas no Quadro 1.
Todos os aterros são constituídos por uma camada
O coeficiente de consolidação vertical, cv, dos inicial de regularização de material de aterro
materiais lodosos foi determinado com os resultados compactado com cerca de 0,3m de altura, sobre a qual
obtidos para os patamares de carga 50kPa-80kPa e foi colocada uma camada de areia com 0,5m de altura,
160kPa-310kPa, dado serem estes os que incluem os sobre a qual por sua vez foi colocada uma camada de
estados de tensão associados à construção dos aterros. material de aterro compactado com cerca de 1,7m de
Na interpretação dos resultados foi utilizado o altura. Nos vários aterros, os geodrenos foram sempre
método de Parkin (1978). Este autor mostrou que o instalados após a colocação da camada de areia.
gráfico de variação da velocidade de consolidação no Para acompanhar a evolução do processo de
tempo, quando representado em escala bilogarítmica, consolidação da fundação lodosa dos aterros foram
apresenta um declive de -0,5 para valores do grau de instaladas 18 marcas para medição de assentamentos
consolidação inferiores a 50%, aumentando em e 14 células de medição da pressão intersticial. Estes
seguida sistematicamente. O ajuste da curva
teórica aos valores experimentais permite 2.2
identificar o ponto de alteração do declive e 2.0
definir cv a partir de:
c v  0,1967 d 2/t50 (2)
1.8
Índice de vazios

1.6
sendo d o comprimento inicial de drenagem e
1.4
t50 o tempo correspondente a 50% de
consolidação primária. A curva obtida para 1.2
um dos referidos patamares de carga é
1.0
apresentada na Figura 3. Como se pode
observar existe uma reduzida dispersão de 0.8
resultados, a qual, em parte, pode ser
0.6
explicada pelo facto de a altura dos provetes
1 10 100 1000 10000
ensaiados ser variável. Da interpretação dos Tensão efectiva (kPa)
resultados obtiveram-se valores do
coeficiente de consolidação primária vertical, Figura 2 - Curvas de compressão dos lodos
cv, de 3,9x10-4cm2/s e 3,5x10-4cm2/s,
respectivamente para o primeiro e segundo 1E+00
Velocidade de consolidação (mm/min)

patamares de carga, tendo-se adoptado como


valor representativo 4x10-4cm2/s.
É ainda de referir que foi determinado 1E-01
para estes materiais um peso volúmico
saturado de 16,1kN/m3. 1E-02

1E-03
4 ATERROS EXPERIMENTAIS E
INSTRUMENTAÇÃO INSTALADA
1E-04
Tendo em vista a análise do comportamento
dos materiais lodosos ocorrentes na zona no 1E-05
que respeita à evolução do seu processo de 0.1 1 10 100 1000
consolidação, foram executados, na sequência Tempo (min)
do estudo de caracterização geotécnica
anteriormente referido, quatro aterros Figura 3 - Curvas de consolidação dos lodos
experimentais, representados na planta da para o patamar de carga 50kPa-80kPa
Quadro 1 - Características gerais dos aterros e equipamentos de observação

espaçamento cota superf. cota topo cota base marcas de células de pressão
Aterro
geodrenos (m) terreno (m) lodos (m) lodos (m) assentamento intersticial (cota)
M1, M2, C1a (-2m), C1b -8m)
1 1,7 2,8 0,5 -8,5
M3, M4 C2a (-2m), C2b (-8m)
M5, M6, M7, C3 (-3m)
2 s/geod. 3,0 0,5 -5,0
M8,M9, M10 C4 (-3m)
M11, M12, C5a (-2m), C5b (-8m)
3 1,4 2,6 0,5 -10,0
M13, M14 C6a (-2m), C6b (-8m)
M15, M16, C7a (-2m), C7b (-9m)
4 2,0 2,7 0,5 -12,0
M17, M18 C8a (-2m), C8b (-10m)

equipamentos foram distribuídos pelos quatro aterros, da cota do aterro;


conforme se indica na Figura 1 e no Quadro 1.  permitisse a variação das condições de drenagem
As marcas de assentamento foram instaladas no tempo, como por exemplo, a associada à
apenas após a colocação das camadas de aterro de instalação de geodrenos após a construção, mesmo
regularização e de areia, pelo que os resultados que que parcial, dos aterros;
permitiram obter não incluem o desenrolar do  permitisse reproduzir, no final, o comportamento
processo de consolidação desde o início. dos 32 equipamentos instalados com um único
As células de medição da pressão da água conjunto de valores dos parâmetros geotécnicos.
intersticial foram instaladas posteriormente às marcas
de assentamento, pelo que também não registaram O recurso a soluções baseadas, por exemplo, no
todo o processo de consolidação. Relativamente às método dos elementos finitos, apesar de responder a
cotas de instalação das células, indicadas no Quadro parte significativa dos requisitos, tornaria moroso o
1, é de referir que, tendo em conta os resultados a que processo de reprodução do comportamento de um tão
eles conduziram, os valores apresentados não deverão elevado número de equipamentos de observação.
estar correctos.Tal facto causou alguns problemas de Assim, optou-se por desenvolver uma solução baseada
interpretação dos resultados dessas células, obrigando no método das diferenças finitas. Esta foi programada
à redefinição da sua cota de instalação. numa folha de cálculo, permitindo obter o ajuste entre
modelo numérico e dados de observação, para cada
equipamento, de uma forma extremamente rápida, já
5 SOLUÇÃO NUMÉRICA DESENVOLVIDA que o efeito da alteração do valor de uma variável na
modelação do comportamento era obtido com um
5.1 Introdução tempo de cálculo desprezável.
Descreve-se neste capítulo a solução numérica
Para a análise do conjunto de resultados obtidos na desenvolvida, referindo-se a solução para drenagem
monitorização pretendia-se obter uma formulação de vertical, a solução para drenagem radial e a solução
utilização expedita que, simultaneamente: para o efeito conjugado destas duas.
 fizesse intervir os parâmetros clássicos que
controlam o processo de consolidação; 5.2 Solução numérica para drenagem vertical
 fosse facilmente ajustável para reprodução dos
resultados das marcas de assentamentos e das Apresenta-se de seguida a solução em diferenças
células de pressão intersticial; finitas para a consolidação unidimensional (Das,
 tivesse em conta o efeito conjugado da drenagem 1983), partindo da equação:
vertical e da drenagem radial na consolidação, no
 2
u u
sentido de reproduzir a presença de fronteiras  c v  (3)
t z2
permeáveis no topo e/ou base da camada lodosa e
ainda a eventual existência de geodrenos verticais; onde cv é o coeficiente de consolidação vertical, u é o
 permitisse a variação do carregamento ao longo do excesso de pressão da água intersticial, t é o tempo e
tempo, por forma a contabilizar, em qualquer z a profundidade.
instante do processo de consolidação, um aumento Considerando três pontos (1, 2 e 3) na camada de
solo, alinhados
segundo uma mesma vertical e partindo da equação:
espaçados de z, e tomando como referência o ponto 2
u
u 1 u
intermédio 2 tem-se: cvr  (12)
t r2 r r

(u2,t  t  u2,t)
u 1
(4) onde cvr é o coeficiente de consolidação radial, u é o
t t
excesso de pressão da água intersticial, t é o tempo e
e r a distância radial.
2 Considerando uma vez mais três pontos (1, 2 e 3)
u
1
2 (u1,t  u3,t  2 u2,t) (5) no solo, alinhados radialmente segundo um mesmo
z2 z
plano horizontal e espaçados de r, e tomando como
Substituindo (4) e (5) em (3) tem-se referência o ponto
intermédio 2 tem-se:
u2,t  t
 v u1,t  2 u2,t  u3,t  u2,t (6) u
1
(u2,t  t  u2,t) (13)
t t
onde

cv t e

v 2 (7) 2
u
1
z (u1,t  u3,t  2 u2,t) (14)
2
r r2
Quando o cálculo do excesso da pressão intersticial
for realizado para a zona de interface com uma e

fronteira impermeável, o ponto 3 deve ser considerado u
1 u3,t  u1,t
como a imagem de 1 e, por isso, (15)
r r 2
u1,t
u3,t (8)
Substituindo (13), (14) e (15) em (12) tem-se:
donde se tem


 u3,t  u1,t r
u2,t  t
 2 u1,t  2 u2,t  u2,t u2,t  t r u1,t  2 u2,t  u3,t 
v (9) 2 r  (16)
Para que (6) convirja é necessário que  v tome
valores inferiores a 0,5.
 u2,t
Para permitir a variação da carga aplicada ao longo onde
do tempo, simulando, por exemplo, a sequência 
cvr t
construtiva de um aterro, é necessário adicionar a (6) r 2 (17)
r
o valor do acréscimo do excesso da pressão
intersticial,
 igual ao valor do acréscimo de tensão, Para que a equação anterior convirja é necessário que
, associado a esse novo carregamento:  tome valores inferiores a 0,5.
t+  t  r
u2,t  t
 v u1,t  2 u2,t  u3,t  u2,t  t  t (10) Para permitir considerar uma variação da carga
aplicada ao longo do tempo é necessário adicionar a
Tendo em conta a possibilidade de variação do (16) o valor do acréscimo do excesso da pressão
carregamento no tempo, a avaliação da evolução do intersticial,
 igual ao valor do acréscimo de tensão,
processo de consolidação associado à drenagem t+  t, associado a esse novo carregamento:
vertical é feita,
nesta solução, determinando para cada u u r
u2,t  t
 u1,t  2 u2,t  u3,t  3,t  1,t
r 
instante t+
t um acréscimo do grau de consolidação
2 (18)
vertical, Uv,t+ t. Este acréscimo é definido por:
 
H/ z
 u2,t  t  t
un,t  t  un  t /2 × z

1,t
Uv,t  t
1  n 1
(11) Também neste caso, para atender à possibilidade

H/ z
 de variação do carregamento no tempo, a avaliação da
un,t  un 1,t /2 × z  t  t evolução do processo de consolidação associado à

n 1
drenagem radial é feita determinando para cada
sendo H a espessura da camada. instante t+ t um acréscimo do grau de consolidação
radial, Ur,t+ t. Este acréscimo é definido por:
5.3 Solução numérica para drenagem radial A1
Ur,t  t
1  (19)
A2
Apresenta-se de seguida a solução em diferenças
finitas para a consolidação radial (Das, 1983), sendo
(R re)/ r   6 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS
A1  ×  2
rn ! 1 un !  2 
 1,t !  t r n un,t ! t
R 2  re
2
n 1
(20) 6.1 Resultados da observação
 1/3 (r 2 r r r 2) (u 
n! 1 " n! 1 n " n n ! 1,t ! t un,t !  t) A evolução do comportamento das marcas de
assentamento e das células de pressão intersticial foi
acompanhada durante cerca de 17 meses, dispondo-se,

(R r e)/ r  deste modo, de um conjunto muito significativo de
A2  ×  2
rn ! 1 un !  r 2u 

2 2 1,t n n,t resultados de observação.
R re n 1
(21) Os primeiros registos disponíveis correspondem a
uma fase na qual o processo de consolidação dos
 1/3 (r 2 r r r 2) (u  u ) lodos estava já em curso. Este atraso no início dos
n! 1 " n! 1 n " n n ! 1,t n,t "$#% t !  t
registos não é relevante para a análise das células de
onde rn é o valor da distância radial, r, para o ponto n, pressão intersticial. Contudo, para a análise de
R é o raio de influência do dreno e re é o raio do dreno. resultados relativos a assentamentos, os primeiros
registos disponíveis para cada marca tiveram que ser
5.4 Efeito conjugado da drenagem vertical e radial ajustados à curva numérica obtida, deduzindo-se daí
o assentamento associado à primeira leitura.
Foram apresentadas as soluções para o cálculo da Relativamente aos resultados das células, eles são
variação dos acréscimos do grau de consolidação no apresentados em termos de excesso de pressão
tempo considerando primeiro apenas a drenagem intersticial, isto é, ao valor da pressão medida foi
vertical e depois apenas a drenagem radial. Para um subtraído o valor associado à pressão hidrostática. Os
caso geral, onde a drenagem ocorra simultaneamente resultados apresentados incluem a redefinição da cota
nas direcções vertical e radial, Carrillo (1942) mostrou de instalação das células uma vez que, tomando como
que o grau médio de consolidação, U, pode ser válidas as cotas do Quadro 1, algumas apresentavam
determinado com base no grau médio de consolidação excessos de pressão intersticial negativos.
associado à drenagem vertical, Uv, e associado à Em todas as figuras foram ainda incluídos registos
drenagem radial, Ur, fazendo: da evolução das cotas dos aterros no tempo.
U  1  (1  Uv) (1  Ur) (22) Importa ainda referir que, de acordo com o
cronograma da obra, a construção dos aterros se
Na solução aqui apresentada tem-se que: iniciou no princípio de Novembro de 2003 e que a
  
# Ut ! t  1 (1 # Uv,t ! t) (1 # Ur,t ! t) (23) instalação dos geodrenos decorreu entre final de
& Novembro e início de Dezembro de 2003, isto é, após
Deste modo o assentamento no instante t+# t, t+) t, a primeira subida da cota dos aterros.
pode ser obtido
& através
& de:& &

t ! t  total,t ! t t # Ut ! t " t (24) 6.2 Exploração do modelo numérico
&
sendo total,t+) t o assentamento a tempo infinito caso Na aplicação do modelo numérico anteriormente
não houvesse aumento da tensão aplicada: descrito ao caso presente considerou-se que:
& H * cada subida o nível do aterro correspondia à
total,t ! t  C log (%i' "(% t ! t)/ %i' (25)
1 " ei c aplicação de uma sobrecarga uniformemente
distribuída à superfície do terreno, fazendo
sendo H a espessura da camada em estudo, ei o seu aumentar de igual valor a pressão intersticial em
índice de vazios médio, % ’i a tensão vertical inicial cada ponto da camada; as reduções registadas
média na camada e % t+) t a tensão vertical que se na cota dos aterros foram sempre associadas ao
encontra aplicada no instante t+# t sobre a camada em processo de consolidação da fundação;
estudo, associada ao carregamento total. * tanto a fronteira do topo como a da base da
De forma análoga, é possível determinar o excesso formação lodosa foram tidas como permeáveis
de pressão intersticial médio na camada, ut+) t, fazendo: (um estudo realizado por comparação entre
ut ! t  ut "$#% t ! t 1  # Ut ! t (26) dados de observação e resultados numéricos
confirmou a validade desta hipótese de cálculo);
sendo #% t+) t o acréscimo de tensão vertical aplicado * o diâmetro do cilindro de influência associado
no instante t+# t sobre a camada em estudo. a cada geodreno era 1,05 vezes superior ao
espaçamento entre geodrenos, dada a
distribuição da malha ser triangular; instalada um malha triangular de geodrenos espaçados
+ o diâmetro equivalente do geodreno é de 4cm; de 1,7m. Os resultados obtidos para este aterro são
+-, z=H/30, , r=(R-re)/10 e , t=0,1dia (sendo H a apresentados nas Figuras 4 e 5.
espessura de lodos, R o raio de influência do Como se observa, o comportamento registado nas
geodreno e re o raio equivalente do geodreno), marcas instaladas neste aterro é distinto, sem que
tendo em conta que . v e . r tinham que tomar tenha sido detectada, à partida, qualquer singularidade
valores inferiores a 0,5; que pudesse explicar essa diferença.
+ o nível freático se situava à cota +1,0m (este A aplicação do modelo numérico base conduziu à
valor é confirmado pelos resultados obtidos nas curva de assentamentos que reproduz, de forma muito
células de pressão intersticial instaladas); próxima, o comportamento das marcas M3 e M4.
+ a formação lodosa é caracterizada por: Cc=0,75, Procurou-se, então, encontrar justificação para o
e=2,9+0,75l og / ’ , c v =4x10 - 4 cm 2 / s e comportamento distinto das marcas M1 e M2.
0 =16,1kN/m3; v Admitindo uma certa homogeneidade do material
os materiais de aterro apresentavam 0 =19kN/m3.
sat
+ lodoso, este comportamento distinto pode ser devido
à sua eventual sobreconsolidação, tanto mais que este
Em relação à formação lodosa, para o modelo ficar aterro se situa na proximidade de zona anteriormente
completo faltava apenas definir o valor do coeficiente já ocupada por algumas construções. A curva do
de consolidação radial, cvr, o qual não foi objecto de modelo numérico que se apresenta para reproduzir o
qualquer determinação experimental. Da aplicação comportamento das marcas M1 e M2 foi obtida
desse modelo ao estudo dos aterros obteve-se, -40 8
de cálculos onde os parâmetros já definidos -30 6
foram tomados como fixos, o valor de -20 4
-4 2
cvr=4x10 cm /s, isto é, igual ao coeficiente de -10 2
Assentamento (cm)

Cota do aterro (m)


consolidação vertical. Para efeitos da 0 0
comparação de resultados numéricos e de 10 -2
20 M1/M2 -4
observação, a analisar de seguida, designa-se
30 -6
por modelo base o modelo numérico definido M3/M4
40 -8
a partir dos valores anteriormente indicados 50 -10
A definição das curvas de resultados do 60 -12
modelo numérico tem por base a 70 Observação
Modelo numérico -14
determinação de um grau médio de 80 Cota do aterro -16
consolidação para a camada lodosa. Assim, os 90 -18
resultados de assentamentos são directamente 08-2003 12-2003 04-2004 08-2004 12-2004 04-2005 08-2005
comparáveis com os da observação, já que os Data
assentamentos resultam do comportamento
médio da camada. Quanto aos excessos de Figura 4 - Aterro 1 - Assentamentos
pressões intersticiais, os resultados numéricos
e de observação não são directamente 72 8
comparáveis já que os primeiros resultam
Excesso de pressão intersticial (kPa)

64 6
igualmente de um comportamento médio da 56 4
camada e os segundos do comportamento de 48 2
Cota do aterro (m)

pontos da camada. O posicionamento relativo 40 0


das curvas vai depender da localização dos 32 -2
pontos onde foram instaladas as células, 24 -4
nomeadamente quanto à proximidade às 16 C1a -6
fronteiras do topo e base da camada lodosa ou 8 C2a -8
C1b
quanto à proximidade aos geodrenos. 0 C2b -10
-8 Observação -12
Modelo numérico
6.3 Comparação de resultados numéricos com -16 Cota do aterro -14
observados -24 -16
08-2003 12-2003 04-2004 08-2004 12-2004 04-2005 08-2005
a) Resultados do Aterro 1 Data

Trata-se de um aterro na fundação do qual foi Figura 5 - Aterro 1 - Excessos de pressão intersticial
admitindo como única alteração ao modelo base que modelo numérico e resultados de observação é
a cota inicial do terreno se situava a 3,8m em vez de bastante bom, sendo que a aplicação do modelo base
2,8m, considerando-se, deste modo, de forma conduz a menores velocidades de consolidação que as
indirecta, a eventual sobreconsolidação dos lodos. observadas em qualquer marca.
Ainda relativamente à Figura 4, de notar a A explicação encontrada para a necessidade de
mudança de comportamento das curvas dos modelos adoptar valores de cv cerca de 2 a 4 vezes superiores
numéricos próximo do início de Dezembro de 2003 ao valor do modelo base está associada à eventual
associada à instalação dos geodrenos e, por isso, ao presença, no seio da camada lodosa, de níveis de
acelerar do processo de consolidação. material mais permeável, os quais, reduzindo o
Quanto aos resultados obtidos em termos de caminho de percolação, aceleram o processo de
excesso de pressão instersticial é de referir uma vez consolidação. O efeito da presença destes níveis pode
mais que as curvas associadas ao modelo numérico ser tido em conta num modelo numérico deste tipo
reproduzem comportamentos médios da camada e, por tomando para o coeficiente consolidação um valor
isso, não têm pretensão de traduzir o comportamento equivalente para toda a camada (é sabido, por
de qualquer célula específica. As duas curvas exemplo, que, do ponto de vista teórico, a presença de
associadas ao modelo numérico representadas na um nível permeável a meio da camada lodosa
Figura 5 correspondem às duas situações já analisadas corresponde a tomar para o coeficiente de
em termos de assentamentos, correspondendo a curva consolidação vertical equivalente um valor 4 vezes
superior à aplicação do modelo base. Da análise da superior ao coeficiente de consolidação vertical do
figura verifica-se que há um razoável ajuste -40 8
de resultados de observação e numéricos, -30 6
reproduzindo estes últimos velocidades de -20 4
consolidação da mesma ordem de grandeza -10 2
Assentamento (cm)

Cota do aterro (m)


das observadas. 0 0
10 -2
20 -4
b) Resultados do Aterro 2 M9/M10
M7/M8
30 -6
M5/M6
40 -8
Trata-se de um aterro na fundação do qual 50 -10
não foi instalada qualquer malha de 60 -12
geodrenos. A drenagem, neste caso, é apenas 70 Observação
Modelo numérico -14
possível pelo topo e base da formação 80 Cota do aterro -16
lodosa. Os resultados, para este aterro, são 90 -18
apresentados nas Figuras 6 e 7. 08-2003 12-2003 04-2004 08-2004 12-2004 04-2005 08-2005
À semelhança do caso anterior, também Data
para este aterro os resultados da observação
das várias marcas, representados na Figura 6, Figura 6 - Aterro 2 - Assentamentos
mostram comportamento distinto. De notar
que, ao contrário do referido para o Aterro 1, 72 8
o comportamento distinto das marcas não
Excesso de pressão intersticial (kPa)

64 6
pode ser explicado por variação da geometria 56 4
das camadas ou sobreconsolidação, uma vez 48 2
Cota do aterro (m)

que está em causa uma significativa diferença 40 0


na aceleração do processo de consolidação. 32 -2
C3
Fazendo-se variar no modelo numérico base 24
C4
-4
apenas o valor coeficiente de consolidação 16 -6
vertical obteve-se, para valores desse 8 -8
parâmetro de 8x10-4cm2/s e de 16x10-4cm2/s, 0 -10
as curvas que se apresentam na Figura 6 -8 Observação
Modelo numérico -12
sobrepostas aos dados de observação, -16 Cota do aterro -14
respectivamente, das marcas M7 e M8 e das -24 -16
marcas M5 e M6. Nessa figura, a curva 08-2003 12-2003 04-2004 08-2004 12-2004 04-2005 08-2005
superior corresponde à aplicação do modelo Data
base (cv=4x10-4cm2/s). Como se verifica, para
as referidas marcas o ajuste conseguido entre Figura 7 - Aterro 2 - Excessos de pressão intersticial
material lodoso). O efeito da eventual presença destes (Figura 10) mostram comportamento praticamente
níveis permeáveis faz-se notar com maior evidência no coincidente. Na Figura 10 é ainda apresentado o
comportamento deste aterro face aos restantes, uma resultado da aplicação do modelo numérico base ao
vez que nestes últimos o processo de consolidação é estudo deste aterro. Da comparação de resultados
fundamentalmente condicionado pela presença de verifica-se uma boa aproximação entre resultados de
geodrenos. Acresce ainda o facto de ser sob este observação e numéricos. O afastamento inicial das
Aterro 2 que ocorre a menor espessura de lodos, facto curvas pode estar associado a uma data de instalação
que vem acentuar a importância da eventual presença de geodrenos posterior à considerada no estudo.
de níveis de material de maior permeabilidade. Na Figura 11 apresentam-se as curvas em termos
Relativamente aos resultados de observação de excessos de pressão intersticial, verificando-se,
associados ao excesso de pressão intersticial (Figura também aqui, uma boa concordância de resultados.
7) eles reflectem alguma heterogeneidade global da
camada no que respeita às velocidades do processo de
consolidação. À semelhança da Figura 6, também 7 CONCLUSÕES
neste caso são apresentadas três curvas do modelo
numérico: uma obtida com o modelo base (curva Apresentou-se neste trabalho um modelo numérico,
superior), outra com o modelo base mas tomando baseado em soluções de diferenças finitas, para a
cv=8x10-4cm2/s (curva intermédia) e outra com o análise da evolução no tempo do processo de
modelo base mas tomando cv=16x10-4cm2/s (curva consolidação de aterros sobre solos moles. A solução
inferior). Genericamente pode referir-se que -40 8
as curvas do modelo numérico se enquadram -30 6
nos valores observados. -20 4
-10 2
Assentamento (cm)

Cota do aterro (m)


c) Resultados do Aterro 3 0 0
10 -2
20 -4
Trata-se de um aterro em cuja fundação foi
30 -6
instalada uma malha triangular de geodrenos
40 -8
espaçados de 1,4m. Os resultados para este 50 -10
aterro são apresentados nas Figuras 8 e 9. 60 M13/M14 -12
As curvas de assentamentos observados 70 Observação
Modelo numérico -14
M11/M12
para as quatro marcas colocadas neste aterro 80 Cota do aterro -16
(Figura 8) apresentam comportamento muito 90 -18
semelhante. 08-2003 12-2003 04-2004 08-2004 12-2004 04-2005 08-2005
A aplicação do modelo numérico base ao Data
estudo deste aterro conduziu à curva que
também se apresenta nessa Figura 8. Como se Figura 8 - Aterro 3 - Assentamentos
pode verificar existe uma concordância quase
perfeita entre modelo numérico e resultados 72 8
de observação.
Excesso de pressão intersticial (kPa)

64 6
Quanto à variação dos excessos de pressão 56 4
intersticial (Figura 9), o comportamento 48 2
Cota do aterro (m)

observado e modelado parece ser semelhante, 40 0


validando-se, deste modo, a aplicação do 32 C6a -2
C5b
modelo numérico base também ao estudo 24 -4
deste aterro. 16 -6
8 C5a -8
C6b
d) Resultados do Aterro 4 0 -10
-8 Observação -12
Modelo numérico
Trata-se de um aterro em cuja fundação foi -16 Cota do aterro -14
instalada uma malha triangular de geodrenos -24 -16
espaçados de 2,0m. Os resultados para este 08-2003 12-2003 04-2004 08-2004 12-2004 04-2005 08-2005
aterro são apresentados nas Figuras 10 e 11. Data
As curvas de assentamentos observados
para as quatro marcas colocadas neste aterro Figura 9 - Aterro 3 - Excessos de pressão intersticial
-40 8 principais parâmetros geotécnicos.
-30 6
Esta metodologia numérica foi aplicada ao
-20 4
-10 2
estudo de quatro aterros sob os quais foram
instaladas diferentes soluções de drenagem
Assentamento (cm)

Cota do aterro (m)


0 0
10 -2 para acelerar o processo de consolidação.
20 -4 Com o estudo realizado foi possível
30 -6 associar os resultados da observação de um
40
M15/M16
-8 conjunto significativo de marcas de
50 -10 assentamento e de células de medição de
60 Observação M17/M18 -12
Modelo numérico
Cota do aterro
pressão intersticial a um único conjunto de
70 -14
valores dos parâmetros geotécnicos, obtendo-
80 -16
se um ajuste entre resultados numéricos e de
90 -18
08-2003 12-2003 04-2004 08-2004 12-2004 04-2005 08-2005
observação bastante bom. Dos valores dos
Data parâmetros identificados realçam-se os
coeficientes de consolidação vertical e radial
Figura 10 - Aterro 4 - Assentamentos dos lodos, ambos iguais a 4x10-4cm2/s. De
referir que para o coeficiente de consolidação
vertical foi necessário num caso considerar
72 8 valores até 4 vezes superiores ao indicado,
Excesso de pressão intersticial (kPa)

64 6 aparentemente para reproduzir a ocorrência de


56 4 níveis de materiais mais permeáveis no seio
48 2 da camada lodosa.
Cota do aterro (m)
40 0
32 -2
24 -4 AGRADECIMENTOS
16 C8a -6
8 C8b C7a -8 O autor deseja agradecer à empresa Teixeira
C7b
0 -10 Duarte, S.A. a autorização concedida para a
-8 Observação -12
Modelo numérico
Cota do aterro
apresentação dos resultados incluídos no
-16 -14
trabalho, bem como os meios mobilizados
-24 -16
para permitir aliar ao trabalho prático de
08-2003 12-2003 04-2004 08-2004 12-2004 04-2005 08-2005
Data engenharia geotécnica uma importante
componente de investigação.
Figura 11 - Aterro 4 - Excessos de pressão intersticial
desenvolvida apresenta como principais características REFERÊNCIAS
o facto de permitir considerar:
1 o efeito acoplado da drenagem na direcção Carrillo (1942). Simple two and three-dimensional
vertical (para as fronteiras permeáveis do topo cases in theory of consolidation of soils. Journal of
e/ou base do estrato mole) e na direcção radial Mathematics and Physics, Vol. 21, No.1, March.
(para os geodrenos); Consulgeo (2003). TD VIA - Loteamento em
1 carregamento variável no tempo, tal como o Marinhas do Mulato, Vila Franca de Xira. Estudo
associado à construção de aterros; Geotécnico.
1 a variação das condições de drenagem no tempo. Das, B. (1983). Advanced soil mechanics. McGraw-
Hill.
O modelo apresenta ainda as seguintes Parkin, A. (1978). Coefficient of consolidation by the
particularidades: velocity method. Géotechnique, Vol. 28, No.4,
1 simplicidade de programação (sendo possível a pp.472-474.
sua implementação numa folha de cálculo); Teixeira Duarte, S.A. (1997). TD VIA - Plano de
1 o recurso directo à teoria de consolidação, pormenor entre Santa Iria da Azoia e Alverca.
baseando-se os cálculos na utilização explícita Estudo Prévio. Reconhecimento Geotécnico.
de parâmetros clássicos da Mecânica dos Solos; Teixeira Duarte, S.A. (2002). TD VIA - Loteamento
1 facilidade na realização de análises de das Marinhas do Mulato, Vila Franca de Xira.
sensibilidade à variação de valores dos Reconhecimento Geotécnico.

Вам также может понравиться