Em uma famosa crnica, Rubem Braga nos diz que entre o falso po, o falso leite, a falsa arte,

a falsa crtica de arte, o falso dinheiro do governo, a falsa palavra do poltico; entre a falsa mulher usando a falsa meia de nylon fazendo a falsa campanha da falsa democracia vamos paulatinamente mergulhando num frenesi das falsificaes. Ainda hoje (diz ainda Braga) nossos panos so de falsos tecidos, os sapatos de falso couro, as garrafas de falsa bebida, as palavras de falsa moral. H orquestras tocando falsas msicas e oradores com voz embargada, pela falsa emoo; enquanto a Polcia pune falsos crimes, partidos fazem falsa coalizo ou se colocam em falsa oposio ou hipotecam falso apoio; enquanto isso todos comem a falsa manteiga, bebem gua de falsa pureza e tomam falsos banhos sem gua. De tudo nos queixamos aos falsos amigos; e todos nos fazem falsas promessas, e nos oferecemos falsos banquetes; quando tudo piora, o povo nas ruas promove falsos distrbios, quebrando falsos artigos de falsos comerciantes ( verdadeiramente incrvel o carter proftico da literatura). As redes sociais em nada contribuem para romper com essa ordem de simulacros acrescentando mais algumas simulaes s nossas j to falsas vidas. Sua estrutura no permite o contato verdadeiro e profundo a que Freud supunha somente ser possvel aos pequenos grupos (a esses Stendhal chamou de happy few).