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Caros leitores, peço-lhes licença, nesse dia dos pais, para deixar de lado a tônica dos

textos que escrevo aqui neste espaço jornalístico, semanalmente há quatro anos.
Normalmente eles são recheados de crítica social, e hoje isso eu não quero. Quero esquecer
também os contornos psico-culturais que venho dando-lhes. Preciso exprimir o lirismo da
saudade do futuro, da forma mais simples que a linguagem humana foi capaz desenvolver,
e, contudo, a mais complexa, – a poesia.
Eu conheci meu pai quando já tinha vinte anos de idade – hoje tenho 35. Ele mora
muito longe daqui. Depois de nosso primeiro encontro, em 1990, eu consegui viajar para
vê-lo apenas quatro ou cinco vezes. No entanto, na minha última viagem – julho/2004 -,
encontrei-o com problemas na memória. Tive, em função dessa doença, de apresentar-me
várias vezes a ele: senti-me mais desamparado do que quando não o conhecia. Quando não
o conhecia, não importava o fato de ele não ter se lembrado de mim, mas, agora, tem.

Perca da Memória

É meu aniversário, e hoje, desachei-me dos pudores da memória...

Acredito que os convivas vieram furtar-me as últimas lembranças...


Desconheço os convidados, desconheço meus filhos, mas lembro-me de suas mulheres e mães.
Ah, lesos! Essa não! Até o final, verão! prego-lhes uma peça daquelas!
Não sei o que as pessoas presentes fazem aqui no meu passado.

Ignorar-me-ei!
Há muita tolerância com os ignorantes: geralmente são politicamente muito úteis.
Esqueci quando foi que perdi a memória,
mas não sei como sei que a perdi, se para sabê-lo tenho de lembrar que a esqueci

Porque eu perdi a memória eu também quis perder a razão.


Razão, Nunca Mais: desquero ter razão.
Perder a memória não é um bom negócio.
A razão é a ração da civilização!

Não tenho mais passado, nem tenho vínculos com o futuro da humanidade.
O que desentendo mesmo é o porquê de todos os presentes: eles não têm futuro.
Isso vale tanto para os objetos quanto para as pessoas.

Eu: um elo perdido na minha própria história...


comodamente enfiado em algum dos bolsos do paletó que me impedem de ficar nu.

Sem participação especial pregressa na foto e no filme de ninguém,


rompo os limites do era e da imovibilidade: desiconização.
Não dedico mais tempos presentes, passados ou futuros em saber dos quens.
Sabê-los é desimportante.
Perder a memória não é preocupar-se apenas em ser alguém.
É mais ainda, é não ter de se lembrar de ninguém, é descomer os dejetos do mundo.

E eu? Eu sou um momento irracional e líquido entre meu pai e minha mãe!
E isso é tudo o que se deve saber: nada é.

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