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00. Introdução
Esta parte do trabalho constitui material de recolha e de pesquisa que considerei fundamentais incluir como pesquisa. Referem-
se a exemplos de arquitectura recolhidos no desenvolvimento do trabalho teórico, e algumas visitas de estudo efectuadas no
decorrer do trabalho, sendo uma pesquisa no terreno de exemplos de intervenções em conjuntos urbanos mais pequenos mas
não menos importantes pela sua qualidade patrimonial.
Sobre estes elementos teci as minhas considerações pessoas, e as motivações que estas obras me transmitiram, num discurso
puramente pessoal.
1. Aldo Rossi
Mais do que procurar, na obra de Aldo Rossi, um exemplo arquitectónico com o qual me identifique, considero a sua obra mais
importante na forma como usa as tipologias arquitectónicas, as quais conhecemos desde sempre, em contextos absolutamente
diferentes. Rossi traz essas tipologias para a actualidade sem actuar de forma mimética, pois, simplesmente, lhes
reconhecemos as suas qualidades tipológicas e espaciais – a boa forma.
A sua obra levanta questões interessantes: as tipologias que conhecemos desde a Antiguidade, entre outras, foram ao longo
dos anos sofrendo alterações de uso, tornando-se em obras extremamente versáteis e adaptáveis, muitas nunca perdendo o
seu carácter original.
A sua obra coloca questões interessantes para o projecto final. É uma forma de reflexão sobre os solares e casas senhoriais
portuguesas, em especial o edifício em estudo como foi sendo alterado e como teria sido.
Esta intervenção resulta do trabalho de recuperação em Idanha-a-Velha, aldeia incorporada no programa das aldeias
históricas de Portugal. Além desta intervenção, todo o processo culmina no desenvolvimento de um plano de pormenor para
a aldeia.
O projecto, para além de proceder à reconstrução do Lagar de Varas, incorpora uma estrutura para o arquivo epigráfico de
Idanha-a-velha. Criou-se um pódio para acolher o edifício, deixam-se visíveis as estruturas (pilares) da antiga construção
que se encontrava em ruína (eventualmente celeiro ou abrigo de animais).
Considero relevante a forma como o edifício se insere entre as construções; ruínas e estruturas pré-existentes (lagar e
poço), e o modo com se diferencia da arquitectura popular pela geometria e pelos materiais, numa linguagem “limpa” e
contemporânea, conformando um pátio entre ele e o lagar.
Numa observação pessoal, considero que a multiplicidade e sobreposição de elementos que Scarpa articula acabam por
colmatar os espaços e sugerir, neste caso, uma reinterpretação moderna em relação às temáticas da antiguidade (nesta
situação a idade média).
A sobreposição destes elementos acaba por se revelar exímia, não porque é radicalmente oposta, nem porque que é mimética,
mas sim porque resulta de uma reinterpretação em que antigo e novo são perfeitamente distintos.
Retiro desta intervenção e da sua obra o gosto pelo detalhe e a forma como transmite ideias e contrastes entre passado e
presente, a qual nem sempre é pacífica.
04.2. Exposição Arqueológica “Regiões da Lusitanea”, Lisboa, Mosteiro dos Jerónimos, Museu
Nacional de Arqueologia – 1999 – 2002
Embora sendo uma intervenção de carácter efémero, é relevante para um entendimento
dos espaços expositivos em edifícios não adaptados para o efeito.
Nota-se que há uma relação entre a museologia, arqueologia e o próprio invólucro da
exposição. Criam-se condições para um entendimento dos vestígios recolhidos e do mesmo
modo percebe-se a estrutura do edifício que os acolhe.
É um exemplo interessante para reflectir sobre o entendimento das formas como se podem
estruturar espaços expositivos do projecto final; como apresentar os vestígios recolhidos,
sem retirar a importância ao espaço em que se inserem.
04.3. Biblioteca Municipal de Miranda do Douro, 1988 – 1998, Recuperação e remodelação da Igreja
do Mosteiro dos Frades Trinos
De um modo geral a população vê a igreja como um lugar simbólico, um lugar de reflexão, e são quase sempre os primeiros
elementos a apresentar como património a preservar.
Para mim, é uma interessante adaptação de uso, pois, o espaço que conhecemos como biblioteca também compreende a
reflexão e estudo, embora de matérias não religiosas.
Acho mais importante nesta intervenção a questão do re-uso, comum em muitos projectos, sendo que esta talvez mais
significativa por ter sido um lugar de culto. Já Viollet Le Duc e os postulados da Carta de Veneza defendem a questão da
adaptabilidade do programa ao edifício objecto da intervenção.
Á medida que muitas igrejas, capelas, ermidas, deixam de cumprir os objectivos para os quais foram destinadas, e depois de
uma avaliação das possibilidades de intervir, podem vir a constituir património para as autarquias e paróquias, com usos
diferentes, em vez de se assistir à sua degradação.
Este re-uso pode vir a constituir uma proposta para a parte prática do
trabalho final, a que se relaciona com as propostas para a salvaguarda
do património em PDM do Concelho de Nelas, visto que estas
tipologias, embora de menor carácter são abundantes e nem sempre
utilizados, ficando abandonados e remetidos ao uso de sempre.
É uma forma curiosa de fazer ampliação, pois, em vez de uma grande ampliação conjunta, criam-se pequenos edifícios, para os
núcleos museológicos, alternados por patamares que vão vencendo as diferenças de cota e são intercalados por espaços
verdes.
Os núcleos, numa geometria depurada, deixam o protagonismo ao edifício da biblioteca (recuperação). A negação do
protagonismo da obra nova são aspectos a ter em conta no desenvolvimento do projecto final, visto que o tecido da intervenção
é um tecido rural que não se coaduna com desenho arquitectónico elaborado.
No fundo permaneceu a forma, ‘’a boa forma’’ à maneira de Aldo Rossi independentemente da função.
Na minha perspectiva, é um exemplo significativo, já que, estas estruturas, que na sua maioria deixaram de funcionar em virtude
da mudança da sociedade e das actividades agrícolas, podem, mediante sugestão, tornar-se em interessantes construções para
um programa de turismo rural.
Sendo estruturas que fazem parte da paisagem e do património agrícola, é daí importante preservá-las e manter a sua
memória.
Este tipo de intervenção é um dos exemplos a propôr a qualquer administração concelhia ou
empresa de turismo, podendo potenciar a valorização turística do património rural e agrícola
bem como o desenvolvimento de medidas para proteger este tipo de estruturas (PDM’s),
contribuindo para uma valorização destas construções aos olhos da sociedade que as acolhe.
Esta intervenção está em meu ver num patamar muito próximo à Casa
dos 24 de Fernando Távora.
Enfrenta-se de novo o problema criar novos programas e estruturas
num ambiente antigo. Numa praça de configuração irregular, a nova
construção assume um lugar oposto à catedral, criando uma tensão
entre Estado e Igreja (secular /temporal)
e, os edifícios em redor têm um carácter muito forte. Num país de
grande tradição católica esta intervenção vê-se ainda mais carregada
de significado.
Apesar de se diferenciar da sua localização histórica, não se torna
assim tão irreverente. O edifício e a sua fachada principal criam um
jogo interessante ao colocar ordem contra desordem, e assume a sua
identidade ao confrontar-se com os edifícios vizinhos, mais
ornamentados. No final, o novo edifício e os antigos acabam, à
semelhança da Casa dos 24, de Távora, por se valorizar
simultaneamente.
A sua implantação e volumetria contribuem para reforçar o recinto
espacial (a praça), na linha do pensamento de Camillo Sítte. Os materiais os ritmos cheios e vazios contribuem para a empatia
entre novo e antigo.
A Casa Amarela de Films alberga a colecção de Rudolf Ogliatti (arquitecto – 1910-1995), pai do arquitecto que desenvolveu
o projecto que, antes da sua morte, apresentara a sua colecção de artefactos da cultura regional da comunidade local.
Rudolf Ogliatti deixou em testamento a condição expressa de que a Casa Amarela, edifício importante para a estrutura da
povoação, fosse preservada e convertida num museu e centro cultural. E, insistiu que o edifício devia ter uma cobertura em
pedra branca – duas das características da sua obra enquanto arquitecto.
Victor Ogliatti interpretou e executou estes anseios de forma radical. Restou a volumetria do edifício. A sua estrutura interior
foi retirada e mantiveram-se as paredes defeituosas numa mistura de pedra/madeira/betão, e a marcação dos vãos.
Considero este projecto como uma provocação à memória e sobretudo aos sentidos. No fundo procedeu-se a uma acção
de transfiguração permanecendo a “boa forma”. Há uma enfatização da matéria no sentido da abstracção e da elevação do
seu significado de habitação a memorial.
As operações neste imóvel versaram acções de conservação e restauro bem como de ampliação.
A primeira intenção versou a opção de repor o estúdio fotográfico em detrimento da Casa/Estúdio, visto que era possível a
reversibilidade das alterações então introduzidas pelo próprio Carlos Relvas, dado o facto de não serem excepcionais e não
trazerem grandes benefícios para o imóvel.
Todo o projecto se direccionou para a pesquisa e reposição das qualidades estruturais e tecnológicas dos materiais originais,
visto que o estúdio fotográfico, parece ser o ultimo exemplar do género a nível mundial, intacto.
Promoveu-se o resgate do edifício (já de si valioso) e foram aumentadas as suas competências, sem o confrontar com uma
nova realidade edificada, pois estas não rivalizam nem subvertem a ordem existente. Estas novas competências, ampliação do
estúdio fotográfico, pelo fato de estar completamente enterrado, torna-se perfeitamente funcional, ao renunciar à luz e à forma.
Quanto a mim é um esforço bem conseguido pois mais do que impor um novo uso ou forma, suprime-se a construção já de si
substancial.
Centro de Interpretação da Gruta do Escoural, Arquitecto Carlos Severo Acesso ao sítio arqueológico de Miróbriga, Arquitecta Paula Santos
Estas estruturas são fundamentais para o conhecimento integrado dos sítios arqueológicos. Apesar da sua função
aparentemente estática, eles são formas dinâmicas de coordenar conteúdos através do Design Gráfico e Arquitectura.
Estes elementos de sinalização, como é o caso do sítio arqueológico de Miróbriga e do acesso ao Centro Interpretativo da
Gruta do Escoural, acabam por tornar os locais mais apelativos, afastando-nos de palavras aparentemente estáticas como
“Museu”; “Centro Interpretativo”, entre outras. Fazem parte da imagem integrada e de marketing dos locais, imagem essa, que,
actualmente, se transporta para outros elementos como estruturas informativas, publicações do próprio local, brochuras, entre
outras, contribuindo para uma visão coerente e integrada de todo o local.
Termas este e oeste Miróbriga Estrutura de observação do Povoado pré-hisotrico de Santa Vitória (Campo Maior) –
Arquitecto José Croft
As estruturas informativas são sobretudo funcionais, elas actuam como elementos de conhecimento e procuram complementar a
realidade para o visitante, a partir de esquemas objectivos sobre os sítios arqueológicos, para que possa ter uma ideia daquilo
que poderia ter sido.
No caso das termas de Miróbriga é possível ver uma planta do local complementada com informação escrita. No caso de Santa
Vitória a Estrutura de Observação ainda é complementada com estes elementos informativos para garantir uma correcta
interpretação do local para o visitante.