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A obra polêmica de Herculano distingue a querela com o clero pelas afirmações feitas na
História de Portugal, a defesa de uma posição política conservadora e a luta por um ensino
popular de caráter agrícola e técnico. Nesta atividade, a sua influência foi profunda entre os
seus contemporâneos, sobretudo pelo tom solene que conferia aos assuntos de que tratava,
dando mesmo ao caso pessoal o tom de «grande causa».
A obra foi editada em volume em 1844, um ano depois de ter saído em excertos no
Panorama e na Revista Universal Lisbonense.
Faz o Eurico parte do Monásticon, conjunto formado por esta obra e por O Monge de
Cister, em que fundamentalmente Herculano trata o problema do celibato monástico,
integrando-o na problemática das duas formas de sagrado -- a santidade e a maldição.
O herói deste poema épico em prosa tem sido apresentado como o alter ego de Herculano
e nele de fato o autor consubstancia grande parte das suas convicções, anseios, frustrações e
mitos.
Eurico (Herculano) é o homem permanentemente dividido entre o barro terreno e o
absoluto divino, é o ser aspirante ao sagrado, mas dilacerado interiormente pela renúncia,
embora voluntária. Perfeitamente integrado no ideário romântico, o autor situa a obra no
ambiente medieval, transpondo para a sua época os conflitos sociais e políticos descritos, que
encontram eco na luta interior das personagens.
A solidão moral do celibato de Eurico poderá ser lida como o sacerdócio leigo de
Herculano, que renunciou ao amor de juventude em prol duma dedicação total à causa social,
política e literária.
Em Hermengarda reconhecemos o dramatismo duma Ofélia de Shakespeare, figura
paradigmática ressuscitada e largamente utilizada pelos românticos como a «penitente do
amor».
A construção da obra e a linguagem utilizada deixam-nos bem clara a intenção, aliás,
confessado pelo autor, de lhe conferir um sopro épico que a aproxime, pelo conteúdo e pela
forma, da canção de gesta.
Pela oposição sistemática entre o sublime e o grotesco, sagrado e profano, pelo tom
melodramático, pela redescoberta da sociedade medieval, Eurico é exemplo flagrante da
inserção inequívoca de Herculano no movimento romântico, ao qual deu valioso subsídio como
poeta, historiador e romancista.