o que dizer entao da nova "antropologia", ou "historia social"
das ciencias, que escandaliza os cientistas? Ela se inscreve explicita- mente na esteira aberta por Kuhn, mas nao manifesta 0 mesmo respeito que ele pela produtividade cientffica. Urn novo discurso foi construido, que distingue explicitamente 0 que interessa aos cientistas e 0 que deve interessar aqueles que estudam os cientistas. Estes ultimos, se quiserem ser reconhecidos como participes legftimos do novo campo, devem se submeter a uma disciplina que tern 0 nome de "principio de simetria". Trata-se de tirar conseqiiencias do fato de que nenhuma norma me- rodol6gica geral pode justificar a diferen,a entre vencedores e venci- dos criada pelo encerramento de uma controversia. Kuhn, nesse pon- to, fiava-se numa certa racionalidade dos cientistas, que avaliam a fecundidade, 0 poder dos paradigmas competindo entre si. A diferen- c;a, para ele, nada tinha de arbitraria. 0 princfpio da simetria exige que nao nos fiemos na hip6tese desta racionalidade, que conduz 0 histo- riador a tomar emprestado 0 vocabulario do vencedor para contar a hist6ria de uma controversia. E necessario, ao contra.rio, tornar explf- cita a situac;ao de profunda indecisao, ou seja, tambem 0 conjunto dos fatores eventualmente "nao-cientfficos" que participaram da criac;ao ciencia "racional", no sentido em que a compreendia a maioria dos da rela,ao de for,a final que herdamos quando imaginamos que a crise fil6sofos das ciencias da epoca. Eo que afirmava a filosofia "p6s-cri- tica" de Polanyi. E e 0 que sera explicitado em A estrutura das revo- lur;oes cientificas, de Kuhn. fez, efetivamente, a diferenc;a entre vencedores e vencidos.p.17