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Editora Pragmatha

Porto Alegre, Fevereiro/2009

Caderno Pragmatha
Ano 01. Número 13
Circulação gratuita

literário

Natureza e
poesia
Caderno
literário

Editorial
Fevereiro chegou e com ele mais uma edição do Caderno
Literário. Aproveitando o clima de férias e portanto de maior
contato com a natureza, seja no litoral ou na serra, a proposta de
tema para este mês foi 'natureza'.

A resposta dos poetas foi bastante expressiva, o que para


nós, que estamos no lado de cá da edição, é motivo de muita
alegria. Muitos poetas falaram diretamente sobre o assunto,
outros o utilizaram como pano de fundo. Alguns foram tomados
pelo sentido romântico que a natureza inspira, outros optaram
por se posicionar criticamente, fazendo um apelo para sua
preservação.

No fundo, no fundo, se me permitem a licença poética,


diria que no Caderno de fevereiro tivemos a oportunidade de
desenvolver um pouco mais nossa própria natureza poética. Se
por um lado a proposta de um tema pode canalizar a inspiração,
ou para alguns aprisioná-la, ou limitá-la, por outro também é um
convite para que cada poeta vasculhe nas luzes e sombras de sua
própria alma os matizes que tocam certo assunto específico. E
então, expandir-se.

Como editora, agradeço pela participação dos poetas,


desejo a todos uma ótima leitura, e agradeço também ao poeta e
artista Rodrigo Cancelli, pela cedência da imagem da capa.

Sandra Veroneze
Editora

02
Caderno Literário é uma publicação da Pragmatha Laboratório de Ideias e Gestão de Projetos. Porto Alegre/RS. Fone 51 3398 0134.
www.pragmatha.com.br, e-mail pragmatha@pragmatha.com.br. Ano 01. Número 13. Fevereiro/2009. Todos os direitos reservados.
Editora: Sandra Veroneze. Msn: pioggia76@hotmail.com. Skype: sandraveroneze. O conteúdo dos poemas é de responsabilidade de
seus autores. Todos os direitos reservados.
Caderno
literário

Índice
05 - As flores de outubro / Eduardo Amaro 73 - Chuva / Vanderli Medeiros
06 - Natureza / Luciano Spagnol 74 - Intacto / Lu Limeira
07 - Ocaso / Lúcia Constantino 75 - Carícia da natureza / Vânia Moreira Diniz
08 - Amor com ela / Valdeck Almeida de Jesus 76 - Norah / Aécio Kaufmann
09 - Abraço / Marlene Inês Kuhnen 77 - Natureza / Débora Villela Petrin
10 - Visão do paraíso / Lu Purple 78 - Poeta jardineiro / Roseli Busmair
11 - Acesa / Claudette Grazziotin 79 - Viagem postal / Ricardo Mainieri
12 - Admiradores da Selva / Coelho de Moraes 80 - A arca dos pecados / Thiago Carvalhaes
13 - Lagoa Beach / Márnei Consul 81 - In natura / Maria Helena Santini
14 - O mar do amor / Regina Bortoncceli 82 - Às vezes ouço o soluço das formigas / Ricola de Paula
15 - Kawneiou / Antonio Ó Urso 83- Tormenta / Alessandro Reifer
16 - Casa no mato / Vanessa Campos Rocha 84 - Pés na estrada / Ale Quites
17 - Mar / Ligia Tomarchio 85 - Sol / Micheli Zamarchi
18 - O vulto / Carlos Eduardo Marcos Bonfá 86 - Observador / Bernardo Almeida
19 - O verde dos teus olhos / Lívia Porto Zocco 87 - Bucólica / Carlos Leser
20 - Institnos / Luciano Machado Tomaz 88 - Tributo à beleza / Gabriella Slovick
21 - Chuva / Gerusa Maya 89 - Beijo da natureza / Cecilia Pires
22 - Meu berço / Jania Souza 90 - Olhando nuvens / Marcelo Domingues D´Ávila
23 - Pescadora de poesias / Fabiana Fraga da Rosa 91 - Apenas uma flor / Maria Ester Torino
24 - Pai, passarinho / Martha Galrão 92 - A quem serve o sol? / Valdoir Wathier
25 - As baratas fazem casas no abandono / Estevão Daminelli Pereira 93 - Trote da noite / Victor Menegatti
26 - Música do cotidiano / Alirio de Oliveira 94 - Paraíso / Maruska Abreu
27 - Veraneio / Antenor Rosalino 95 - Mar branco / Ludmila Saharovsky
28 - Loja de sonhos / Osvaldo Heinze 96 - Natureza / Priscila de Loureiro Coelho
29 - Mãe natureza ao filho seu / Neuza Pinto Nissen 97 - De perfumes e perfídias / Tchello d´Barros
30 - Zínia, flor do verão / Fabio Daflon 98 - Eu, montanha / Rosana Banharoli
31 - Verde / João Manoel de Oliveira 99 - Meu doce mar / Tei@
32 - Lento despertar / Carlos de Hollanda 100 - Cultivar / Rubens Costa
33 - Sensibilidade / Edson Silva 101 - Natureza negra / Néia Pinto
34 - Recanto adorado / Laura Silva de Souza 102 - Fim de tarde II / Adauto Neves
35 - Pastor alado / Valquíria Gesqui Magaloli 103 - Encontro / Rodrigo Cancelli
36 - Encantos da Serra (do Japi, em Jundiaí - SP) / Renata Iacovino 104 - Insensatez / Artur Pereira dos Santos
37 - Vindicatum / Paulo Roberto Ferreira 105 - Pôr-de-sal / Gerusa Leal
38 - Azulazulazulzul / Vera Casanova 106 - Som do sol / Rubens Cavalcanti da Silva
39 - A flor e o amor / Guilherme Rebelo 107 - Oração à terra / Adriana Pavani
40 - Comunhão / Kastrowiski 108 - Malhar com desejo / Wagner R.A. Chaves
41 - Uma dúzia de rosas vermelhas, querida / Me Morte 109 - Casulo / Pam Orbacam
42 - Solitário no jardim / Ronaldo Campelo 110 - Gênese / Jorge Potier
43 - Alma de mulher / Marcelo Moraes Caetano 111 - Natureza / Rosimeri Coelho Pinheiro
44 - Naturezas / Isabel Máximo 112 - Metamorfoseando / Sarah Jorge
45 - A vida e a natureza / Celso de Oliveira 113 - O mito da caverna / Fernando Batista dos Santos
46 - Para-meta-transparagens / Guilherme Carvalho da Silva 114 - O canto que tanto me encanta / Marta Rodriguez
47 - Meu encontro / Naiara Campanhola 115 - O contra-ataque / Iriê Salomão
48 - Sob a pedra do sol / Julio Saraiva 116 - Perfeição / Carolina Mancini
49 - No castanho dos seus olhos / Giovanni Nobile 117 - Minha libélula / Matheus Paz
50 - Sertão / Rosangela Carvalho 118 - Natural / Viviani Ketely
51 - Equilíbrio na natureza / Ricardo Santos 119 - Rio / Nilton Maia
52 - Delicadezas / Priscila Miraz 120 - Manhã serena / Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti
53 - Vida II / Antonio Canuto 121 - Não há mata / Deo Sant´Anna
54 - A última / Janjão 122 - Santo do pau oco / José Nedel
55 - A viagem / Cislaine Bier 123 - Ar / Sandra Veroneze
56 - Claras miríades / Dimythryus 125 - Sem título / Laura Guerra
57 - Para nascer um rio / Dé Barrense 126 - Um poeta arrependido / Marcelo de Moraes Belini
58 - Nascente em curso desmatada / Luiz Filho de Oliviera 127 - Sobre amor e ilusão / Manoel Guedes de Almeida
59 - Rosas chilenas / Karla Hack dos Santos 128 - Extenue / Orquídia Negra
60 - Náufragos / Bruno Philippsen 129 - Cântaro das minhas náuseas / Viegas Fernandes da Costa
61 - Escuta / Conceição Pazzola 130 -Caminhos da amizade / Carlos Roberto Pina de Carvalho
62 - Terra mãe / Alessandra Cezarini Araújo 131 - Capítulos finais / Lucas Marques Borges
63 - Mar escuro / Vitor André de Souza 132 - Consciência / Vanessa Soares
64 - A verdadeira natureza / Valdir Azambuja 133 - Obedecendo o tal desejo / Bruno Vargas
65 - Natureza / Rebeca Nunes 134 - Paixão / Lin Quintino
66 - Segredos do mar / Marcos de Andrade 135 - Nichos intranquilos / Norbert Heinz
67 - Um fogo na luz / Carla Ribeiro 136 - Na dor cruel de um amor findo / D´anton Medrado
68 - Do romanceiro das ondinas / Marco Aqueiva 137 - Desejos / Michel Cuzmovas Perlin
69 - Eclipse / Regina Lyra 138 - Atitude / Rodrigo Capella
70 - Ímpios / Zé Luis 139 - Imprevisto / Tereza Carrera
71 - In natura / Leonardo Andrade 140 - Como tu e eu / Elisabete Antunes
72 - Poesia local / Pepper 141 - Ru(g)as / Abílio Pacheco

03
aNt ur eza
Caderno
literário

As flores de outubro
Eduardo Amaro

A lua está calma, contemplando


a angelical beleza fina das flores alvas
que se mesclam, em perfeita harmonia
às orquídeas púrpuras que, em sintonia,
habitam o suntuoso Jardim das Almas.

Caminhando aos saltos pelo chão macio,


os pássaros-querubins estão semeando
vida e dor, enquanto
seus irmãos, a voarem leves e livres
regozijam as canções do amor.

Sinto-me solitário ao aguardar, impaciente,


a imagem da Virgem dos raios de sol.
Vago docemente, indiferente
e contemplo a soberania do luar e do arrebol.

O sorriso clemente do amor exacerbado


carrega o fado sombrio do não concretizado.
Caminho sozinho pelo Jardim do Passado
e, comigo, bem ao meu lado,
o sabor do beijo que me foi furtado.
A dor de um coração rasgado.
O prazer de um desvairado desejo.
A pureza de um sentimento imaculado.

O passado, a vida, a morte, o lampejo


da lua, das flores, dos anjos, dos pássaros...

05
Caderno
literário

Natureza
Luciano Spagnol

De minha janela vejo esta magia


Com todo esplendor e alegria
A essência universal festejando a vida
Flores nascem folhas em sua partida
Fechando o ciclo sob medida
Exuberante, bela, e descontraída
Encantando com encantos de rapariga

Envolvente com o seu calor de mãe


Desponta com suas cores informais
Seus animais, montanhas e vendavais
Esculpindo o belo dos planetas atrais
Com o companheiro sol, aquece os corações
Das árvores, pássaros, e das multidões
Compondo o jardim de lirismo e emoções

Em seus braços nos faz sonhar


Com sua brisa vem nos acalentar
Com sua água a sede vem saciar
Em sua relva nos faz imaginar
Os seus mistérios da terra e mar
Com sua incansável eterna beleza
Assim é a “Senhora” natureza...

06
Caderno
literário

Ocaso
Lúcia Constantino

O céu esmeralda
vai fechando a tarde.
Cravada a terra de luzes,
este momento me sabe
a eternidade.

Passa uma borboleta


flertando na janela.
Meu abajur no vidro
se disfarça de estrela.

Corpos de árvores perfilam-se


desenhando o céu:
uma flor, um anjo, um dragão.
- Livres traços de Deus
na escuridão.

Silêncio perfurado
por cães, pássaros, risos.
Ó, uma estrela ali na imensidão
- Preciso.

07
Caderno
literário

Amor com ela


Valdeck Almeida de Jesus

Ela me quer
Ela me ama
Ela me beija
E não reclama.
Dá-me a vida
Faz-me feliz
Ajuda-me sempre
Sempre me quis.
Ela me adora
Não me deixa só
Por mim ela desata
Da vida o nó.
Não a ajudo
Não a recompenso
Faço pouco por ela
Só em mim penso.
Ela é a natureza.
Eu sou o homem.

08
Caderno
literário

Abraço
Marlene Inês Kuhnen

Vou abraçar sim


Vou abraçar a todas as árvores do mundo
Vou abraçar o mar e penetrar a todas as criaturas
Marinhas,
seus mitos de bravura e seu esgotamento
Salgado
Darei-me a luz da noite e para a areia do mar
Afogada em praia seca, repleta de conchinhas sem vida
Que agora, enfeitam pescoços de meninas boas
Vou abraçar sim, meus encantos entorpecidos pelas mentiras da verdade
Minhas mágicas linhas mortas
Sagacidade, obviedade e outras vaidades tolas da cegueira
Vou abraçar meu encanto torto de pequenos olhos
Nem choram mais, meu jeito estremecido e envelhecido
Vou abraçar um pequeno canto de pássaro que ousa na janela
Magnitude de carnes expostas,
Meu velho seio ancorado
Vou abraçar a grande criatura em forma de polvo
Vou para o mar; infinita beleza de águas, tanto faz se azul ou verde
(poderá ser cinza também)
Vou abraçar as pequenas ondas bravias de seca tangente
Diáspora do mar
Vida marinha, encontro sereia... viro estrela

09
Caderno
literário

Visão do paraíso
Lu Purple

Eu mal podia acreditar


Numa visão tão linda
Depois de um dia terrível.
Te ver, te olhar após tanto sofrer
Era como o prazer depois da dor.
O seu sorriso a se abrir pra mim,
Como um raio de sol depois da tempestade.
A sua boca entreaberta
Mais bonita que uma flor;
Uma boca que eu antes beijava,
Que me elogiava.
O seu corpo, que me desperta
Tanto desejava o meu.
Entre nós dois um amor que não morreu.
Por um instante segurei sua mão
Uma mão que outrora passeava pelo meu corpo afora,
Que ainda segura o meu coração.
O seu olhar, que fascinado me devorava,
Que observava todos os meus detalhes
Ainda me mostra um mundo mais bonito
Num castanho esverdeado sob um par de óculos.
E depois de tantos problemas,
Contemplar a paixão da minha vida
Foi como após atravessar todo o deserto
Enxergar a terra prometida.

10
Caderno
literário

Acesa
Claudette Grazziotin

dentro da noite
senti montanhas
incendiarem-se
nas tuas mãos
senti em mim

emaranharam-se
os meus cabelos
nas tuas mãos
enormes
na ânsia doida
de tua cegueira
ardi inteira
senti o fogo de tua lava
latejar borbulhante
na veia cava.
dentro da noite
no teu corpo
desenhei estrelas
que desconhecia.

11
Caderno
literário

Admiradores da Selva
Coelho de Moraes

Pretensões e contradições
remontam aos tempos da colônia
Hoje dormitam sob ideias modernas
tomadas / cegamente / por um gênio selvagem
a mata olha a cidade que acorda e
olha a cidade que dorme
A mata excede / faz uma obra / segue seu tempo
A selva se torna historiadora de futuros

A selva é memorialista
transmutada em cronista dos tempos e de sua gente
Mas que sei eu dessa gente
se moro longe e vejo a selva como um espelho?
Sei que a história é ressurreição
Sei que a mata / quando se inscreve na paisagem
se torna velha / mudando de lugar
Envelhece com os lavradores e com as pintadas
Torna a história em geada e tratores
Eclode em graneis e sertanistas
Explode em brilhos sobre a terra tempestuosa e calma a um tempo
Desenha sua paragem nas paredes da colônia
A cidade reflete a mata
A selva reflete a cidade

Sem oblações à raça


não se deve passar ao largo das matas
nem ao longo de seus moirões e clareiras
nem ao lado dos rios-monumentos
sem oblações à raça
uma raça de verdes trançados /
inscrita entre o braço das gentes
através da memória / do envelhecimento /
e das semeaduras movediças
12
Caderno
literário

Lagoa Beach
Márnei Consul

Nada de muitos carros.


Barros...
Nada de cigarros.
Barros...
Paz e sossego anônimos.
Sinônimos.

Tão bom não ser ela


o destino de todos.
Mas não somos bobos,
sabemos dar valor.
No fundo, parece amor.

É a municipalidade
que rima com tranquilidade.

13
Caderno
literário

O mar do amor
Regina Bertoccelli

Quando mergulhei em seu mar,


acreditei poder apenas flutuar em suas águas
Não esperava por ondas gigantescas
Jamais pude imaginar que poderia me perder
em sua profundidade ...

Assim que vi seu barco se aproximando,


esperanças nasceram em meu coração agoniado e triste
Esperanças que se transformaram em sonhos
distantes, proibidos, impossíveis...

Agora me encontro perdida na imensidão


deste seu mar sem fim...
A miragem de um porto seguro se perde lentamente
O vento chega me falando de solidão
Estrelas testemunham minha melancolia...

Confesso a você que agora não sei o que fazer


com este sentimento que me dominou
Tomou conta do meu ser,
criou raízes e seu nome é Amor...

14
Caderno
literário

Kawneiou
Antonio Ó Urso

Nada mais exato que o absurdo


Vãs esforços realizados pelos homens
O significado é o niilismo do sentido
Fracassarão finalmente
Por seu ceticismo em torno
Aos princípios da existência.

Nada chegará ao fim.


Afinal o que interessa tal desfecho?

Uma vaca sabe que seu propósito superior


Servindo de sua vida...
Os famintos.

15
Caderno
literário

Casa no mato
Vanessa Campos Rocha

Casa no mato, portinhas vermelhas, ninho, um carinho no


coração, dois cafés bem quentes, vagas lembranças,
decisões em pauta, solidão nos pés, rodelas pretas nos
olhos, cansaço, sonhos sem companhia, nuvens tão
brancas e um pedido de espaço azul. Livros na bagagem,
encontro de dois, espírito santo dentro do arco-íris:
qualquer decisão vale, truco seis, atraso, estrada branda,
diálogo, três cigarros, um bom filme francês e uma noite
com estrelas na cama.

16
Caderno
literário

Mar
Ligia Tomarchio

Sobrevoo o mar
apaixonada
águas esverdeadas ora azuis
bruma escondendo seus segredos
recifes mapeando ondas...

Revoltado, arrebatador
tal sentimentos que carrego
mar dos meus dias
acalma minha dor...

Pouso na praia
gaivotas fogem
solidão irreparável
cubro-me de areia.

17
Caderno
literário

O Vulto
Carlos Eduardo Marcos Bonfá

Um vulto me perseguiu na solidão.


Assombrou as moitas, as árvores e a palidez da lua.
Mas seu assombro era de uma cor forte e de uma luz nua,
E nele não havia nenhuma má intenção.

Avançou até pouco adiante de mim


Numa quase inconcebível ninfa transformado.
De cardos e flores carmim ornado,
Doente de desejo, segui-a por um tortuoso e denso
jardim.

Afagamo-nos e muito em prazer nos ardemos


Numa, plena de leves gemidos, contrição.
(É fantástico nos deliciar em quem desconhecemos -
O espírito fica, ao modo mesmo, afoito e sem ação!)

No entanto, a luz diurna me revelou na primavera


Quem realmente era a megera que me seduziu:
A Felicidade, língua de fora, gemidos pelo ar esparziu,
Amontoando no colo um punhado de hera.

Tomou-me conta, então, uma ânsia muito ardida.


Rugi enlouquecido um ódio de fera.
Arranquei-lhe metade da vagina com uma brutal mordida
E, com socos, chafurdei-lhe a cabeça na terra!

18
Caderno
literário

O verde nos teus olhos


Lívia Porto Zocco

O verde das matas nos teus olhos


é como o vento que faz curvar as árvores,
e que semeia as flores nos campos.
Cor das águas profundas,
que espelham a lua
nas noites serenas de amor

Cítrico olhar, que lentamente se adocica,


na agridoce e suave fragrância
da lima e da rosa pimenta

O verde aquamarine dos teus olhos


esculpe na tua face, a beleza...
Por vezes, de singela pedra de jade,
por outras, de imperiosa tigresa...

19
Caderno
literário

Instintos
Luciano Machado Tomaz

Os obscuros desejos de uma flor


Não buscam mais que evitar a dor,
Ou, ao menos, suportá-la.
Pela força de uma pétala
Sempre morre um amor.

20
Caderno
literário

Chuva
Gerusa Maya

Quero a liberdade do tempo


Como a chuva
e
o vento.

21
Caderno
literário

Meu berço
Jania Souza

Desde a aurora dos meus dias


És a terapia do meu estresse urbano
Alívio para o sufoco cinza em meus pulmões.
Com suas flores, frutos e folhas
Pincelas alegria em meu humor diurno
Dissipas a melancolia bravia a induzir-me ao fim.
Seus líquidos transparentes, translúcidos
É sangue balsâmico em minhas veias
Risco das corredeiras de palavras quentes
A brotar do meu mais profundo peito.
És meu punho firme no brado à regeneração
Consciência do ontem triste da canibal degeneração.
Tua súplica derrama-se feito orvalho nas construções urbanas
Na esperança de encontrar atitude após reflexão
Sobre a preservação das matas, dos rios, dos oceanos.
Anseias com fervor o venturoso dia
Em que em tuas mãos rolará a sabedoria dos humanos
Preocupados com a preservação dos teus atributos
Por seres condição essencial à continuidade.
Reciclado será todo o lixo de bens desperdiçados
A terra poderá respirar sem entulhos de sacos plásticos
Os peixes terão mais oxigênio e haverá pescado suficiente
Para saciar a fome dos filhos da Mãe África, latinos e asiáticos.
Teu grito de socorro não pode ser ignorado
Pelos ricos ou pobres em seus habitat's.
A saúde dos povos exaurem-se com os maus tratos
Impostos a sua acolhedora roupagem
Pasto do meu prazer, da minha alegria, da minha felicidade.

22
Caderno
literário

Pescadora de poesias
Fabiana Fraga da Rosa

Caminho devagar por entre as águas


Canto lendas e pesco poesias
Sou a verdadeira história
Passado e maresia!

Pesco entre coxilhas e mar,


O pensamento é a isca viva do amanhã
Para poetizar as primaveras
E traduzir tudo o que sinto...

Corrói nas veias o agito do mar


Rios, lagoas, um lugar calmo para sossegar
Ventos, cachoeiras é aqui que vivo...
Flores, grãos de areia, é aqui que poetizo!

Sou pescadora de poesias


E não quero deixar dúvidas
Tenho amigos que não me abandonam:
A natureza, com sua sinfonia mais completa e divina!

Sobra no rosto o silêncio escondido


Adormece no peito o verso que preciso!
Sou pescadora de poesias
E assim caminho à luz do luar
Para pescar o que sinto e poetizar!

23
Caderno
literário

Pai, passarinho
Martha Galrão

Em Guaibim é assim
vento vem, vento traz

canário da terra, sabiá da praia, papa capim,


pica pau,
pássaro preto, assanhaço, caga sebo,
fogo pagô,
cardeal, bem te vi, beija flor

e pai, passarinho
de alma tão delicada
pousado na rede à espera
dos pássaros na hora marcada.

24
Caderno
literário

As baratas fazem
casas no abandono
Estevão Daminelli Pereira

As baratas fazem casas no abandono


na lembrança terna e frágil dos momentos
nos guardados e nos velhos documentos
e nos íntimos vapores do teu sono

Quando é noite e o silêncio nos abraça


como é doce nosso lar em hora morta!
Aos cupins o que sobrou da porta;
mariposas estampadas na vidraça

Vem o tempo e de repente somos nada.


De repente nunca mais dias felizes.
No armário jaz a roupa embolorada;

e não te doem mais as cicatrizes,


pios pra sempre vais olhar a grama
por um ângulo incomum: pelas raízes...

25
Caderno
literário

Música do cotidiano
Alirio de Oliveira

Lá, na pauta estendida


ao longo da estrada
as andorinhas brincam,
amanhece
Últimas nuvens da madrugada
passam como sons de um novo dia
Sobre a calçada, crianças dormem
alheias a mim que passo
tenho dó
Mais adiante, no segundo poste
um cão vadio remove o lixo
sem notar no horizonte
o brilho dessa música quente
de um novo dia
em apenas uma nota:
Sol.

26
Caderno
literário

Veraneio
Antenor Rosalino

Os arvoredos balançam...
Caem pétalas no chão,
Reluzindo os seus encantos
Ao pôr-do-sol no verão!

Um brando frescor estua


Os folículos e penachos.
As gárgulas límpidas espumam
Com o alegre ancorar dos pássaros.

À sombra fresca das árvores,


Meu peito se enche de amores,
Trazendo langor e saudades
Neste horizonte de cores!

Vejo espelhar entre as frestas


De sombreados folíolos:
Belas flores nas verdes sépalas...
E o céu azul no infinito.

Nas praias, as águas calmas


Contrastam com os agitos
Das falanges que, festivas,
Enfeitam o mar colorindo-o!

Como um sonho o verão se finda...


Vão-se os pássaros a ruflar
Buscando os frouxéis de ninhos
Até outro verão chegar!

27
Caderno
literário

Loja de sonhos
Osvaldo Heinze

Roubei num tempo distante


uma faixa de praia e de mar
e guardei numa concha grande
de onde escuto o cantar

encantador: das sereias


libertador: das gaivotas
namorador: das baleias
das ondas: contra ilhotas.

E enquanto a maré vai fluindo


na praia de minhas lembranças
sinto um calor me cobrindo
da brisa salgada que dança.

Revejo um pesqueiro moroso


empurrado pela calma do acaso
num mar bem preguiçoso
de azuis aonde vou raso...

Reparo na praia tão cheia


crianças brincando, vendedores cantando
assobios e risos na areia
e minha fantasia namorando...

Eis que voltando para a realidade


essa fantasia continua fantasia
meia mentira, meia verdade
guardada nessa concha vazia...

28
Caderno
literário

Mãe natureza ao filho seu


Neuza Pinto Nissen

Filho homem
A ti fiz perfeito e inteligente
Para teu encantamento
Gerei a mais linda aurora
Pra perpetuar no pensamento
Cores dançantes
O ouro incandescente
Pássaros cantantes
A delicadeza do azul céu
Que enlaça suas mãos
Com o mar no horizonte
Fiz da noite um breu
Para que brilhasse
Como camafeu
As joias de prata e diamante
Que no firmamento pendurei
A teus pés a terra ofertei
Para germinar tuas sementes
E teres campos verdejantes
Com flores de beleza estonteante
De minhas lágrimas
Nasceram os rios para matares a sede
Ofertei-te um bem maior
Minha maior prova de amor
Para fecundares como a flor
Dei-te a dádiva de outra mãe
Valorizes as relíquias que em tuas mãos
Docemente depositei
E quando meu pranto em forma de chuva
For mais intenso, causando estragos e desatinos
Não me culpes
Serão pela tristeza da desvalorização
De tudo que aqui plantei!

29
Caderno
literário

Zínia, flor do verão


Fabio Daflon

A zínia é florífera da estação


mais quente é cultivada a pleno sol;
tem flor de muitas cores no lençol
com que vou jardinar teu coração

em roxo, amarelo ou vermelho,


em branco, cor laranja ou mesmo creme,
em rosa de maçã face ao espelho,
na hora de sentir que tua mão treme.

Em outras tem listrados bicolores


nas pétalas bonitas que apreciam
calor, mas bem convive em clima ameno.

Não gosto nem de mofo nem bolores,


sem febre, muito curto é o verão,
à zínia me apresento mais moreno.

30
Caderno
literário

Verde
João Manoel de Oliveira

Levaram entre choros a última muda de esperança guardada,


O vento anuncia os olhos vermelhos
E a montanha de níquel canta o dilúvio profetizado.
O céu esta empoeirado, o silêncio pairou nos corações.
Os discursos são engolidos pelo grande mar seco,
A natureza branda surpreende com suas pragas
As reuniões são desnecessárias, não há cadeiras
Ninguém se elege ninguém vota.
A terra tornou-se uma esfera, conseguiram arredondar tudo.
O retorno dos ventos alísio é lido em fabulas,
Não há equador, comeram o último animal.
O herói é simplesmente mais um homem,
O leste divulga a pequena grande guerra,
A terra esta para sucumbir, acabou-se a dialética,
O futuro é vivido decadentemente,
Os verbos estão sem ação, às palavras não cabem no papel.

31
Caderno
literário

Lento despertar
Carlos de Hollanda

Não me vejo na face revertida


não me apanho nos passos entre os tempos;
sou de um jeito furtivo
onde tudo é pele de flores,
música,
audácias em recheio de incerteza
verdes de folhas
galhos pousados em pássaros
ruídos e avisos de primaveras.

Tudo em cerco de alegria e natureza;


porém,
lento desperto
e ajeito ao rosto matutina tristeza.

32
Caderno
literário

Sensibilidade
Edson Silva

A flor que desabrocha com


O a orvalhada da manhã
Os cantos dos pássaros
O colorido magistral
Da borboleta
O arco-íres no céu
O casamento da raposa
O sol e a chuva, unidos no
Mesmo instante pela mãe natureza
O salto acrobático do grilo
O som estridente da cigarra
Com seu violino desafinado
A parada fantástica, no ar
Do beija flor, a se deleitar
Com o néctar flor
As nuvens brancas como neve
No fundo azul do céu
O por do sol, a bola de fogo
Se escondendo no canto do mundo
Até desaparecer
A natureza nos reserva
Vários espetáculos diários
Basta ter Sensibilidade
Para observá-los e sentir se
Parte dele.

33
Caderno
literário

Recanto adorado
Laura Silva de Souza

Eu abraço a lagoa, que me faz sonhar


Nela flutuam meus pensamentos
Jogados ao vento me fazem suspirar.

Recanto adorado por muitos visitados


Trazendo alegria e lazer
Banho-me em tuas águas
Esqueço do tempo, até entardecer.

Se o sol está forte


Tem sombra, bastante,
Coloco minha rede naquele pinheiro
Que me balança refrescante.

O domingo amanhece aquele calor


Sentir um ar puro
É tudo que preciso
Corro para a lagoa, o meu paraíso

Existem pessoas querendo te matar


Eu quero aqui meu pedido deixar
A todos os patrulhenses eu vou me juntar
Lagoa querida, eu vim te abraçar.

Homenagem de: Laura Silva de Souza para a nossa Lagoa dos Barros 03/02/09

34
Caderno
literário

Pastor alado
Valquíria Gesqui Malagoli

Hoje eu vi, neste bosque encantado,


pica-paus amarelos, vermelhos...
e caí sob o sol de joelhos
para ouvir o sabiá alaranjado.

De repente, um ruflar de asas e eis:


se juntou à oração silenciosa
um tucano, e a paineira viçosa
acolheu nos seus braços dois reis.

Ai, que nada me vi! Bem menor


que a formiga, a libélula, a aranha...
O sabiá a natureza arrebanha.

Qual pastor, ele sabe de cor


a canção que as ovelhas encanta,
e à tardinha a inicia... à hora santa.

35
Caderno
literário

Encantos da Serra
(do Japi, em Jundiaí/SP)
Renata Iacovino

Pelos cantos da amada, que é esta Serra


Os encantos derramam-se por terra,
Os prantos de cachoeiras banham solos,
Quantos animais correm por teus pólos...

Japi, teu nome - orgulho deste chão!


Aqui bate bem forte a pulsação.
Vi matas de beleza até repleta;
Vi, mas para mim esta é a predileta.

Em teus campos, não tem lugar a guerra.


Eu já deitei em vários de teus colos
Verdade: todo mal aqui se encerra.

De todas as reservas, a dileta.


Nosso dever é dar a proteção
À nossa geografia mais seleta.

36
Caderno
literário

Vindicatum
Paulo Roberto Ferreira

Natura, deve ser qualquer coisa


Semelhante a um sonho desejado.

Como alguma matéria prístina


De uma poesia a ser feita.

O amor à natureza:
Incipit poema.

Poesis et natura, confundem-se


No sonho da origem.

Cada palavra doando como encantamento


A doaçao original de incógnito momento.

O poeta, desejo que representa


A criação como criação.

Quod tempus ipsum creatura est.


Toda criação como tempo.

L'homme aime l'esprit.


L'esprit comme mouvement de la durée.

Mater natura, expressão rompida,


Dor alucinatória como conseqüência.

Homo naturalis, uma utopia.


L'utopie est maintenant.

37
Caderno
literário

Azulazulazulazul
Vera Casanova

Diante desse mar imenso


Azulazulazulazul
Diante dessa profundez
Reclamo os ais.
Agônico como és,
Desdenho as fugas.
Toco a vida .
Mergulho no sol de teu pranto e sem retorno diluo solidões.
Onde essa paisagem transfigurada?
No sol encontro a luz do desejo
Entre braços abertos
Sou névoa da tarde
Esperando a chuva que vem.
Não temo o fim.
Entre as nuvens
Reside a esperança
De noites sem lua.

38
Caderno
literário

A flor e o amor
Guilherme Rebelo

I ...Murchou... e eu…
Um dia ofereceram-me uma flor... ...Deitei-o fora...
Disseram-me para a guardar... ...Pediram-me o amor...
... Guardei-a... ... E eu não o dei...
Pudera! Não o tinha.
No dia seguinte ofereceram-me outra flor... ... No ano seguinte...
E alguém disse para eu a guardar... Voltaram a dar-me o amor...
...E eu... Guardei-a... ... E a flor...
E eu guardei-os...
Passados dois dias as flores secaram... O amor esse! Fartou-se.
...Eu... deitei-as fora... ...Murchou, secou... e…
...Fugiu...
No dia seguinte perguntaram-me pelas flores... A flor ainda a guardo.
... E eu...
Não as tinha... IV
...Fiquei envergonhado... ...Passado outro ano...
Chegaram-se ao pé de mim.
II ...E pediram-me a flor...
Passado um ano... ...E eu, feliz... mostrei-a.
...Ofereceram-me novamente uma flor... ...Em seguida pediram-me o amor...
... E eu guardei-a... ...E eu, triste... disse que não o tinha...
... A flor murchou... Não sabia dele...
...A flor secou... A flor estava nua... e o amor nem lá estava...
...E eu... Fiquei indiferente... impávido...sereno...
...Continuei com ela guardada...
...Passado outro ano... V
... Perguntaram-me pela flor... ...Passou-se um ano,
...E eu... Dois,
...Orgulhoso... Três,
...Mostrei a flor... Cinco, Dez,
Seca e murcha. Cem. E...
Fiquei contente. ...Nunca mais ninguém me ofereceu nada...
...Murchei, sequei...
III ...E...Morri...
...No ano seguinte... Tal como a flor...
Ofereceram-me o amor... ...E o amor...
...E eu guardei-o.
... O amor...

39
Caderno
literário

Comunhão
Kastrowiski

Borboletas e abelhas
Voam nesse jardim.
Eu espreito...
Olhar de criança
Mirando o fim da tarde.
Noto... pálido ser,
A harmonia... o equilíbrio
Desses seres na comunhão
Das espécies... no ato
Comendo no mesmo prato.
Eu [expectador] observo estupefato
Sem ter com os “meus” o mesmo tato.
No voo das borboletas e abelhas
Penso nos humanos:
Perdidos nessa dança
(Adultos antes de serem crianças)
Rindo, assolados pela tristeza sem fim
Distantes da comunhão desse jardim.
Eu, ser de tantas máscaras e percepções
Entrego-me ao mais singelo dos gestos:
Observo. Em silêncio observo o balé das borboletas e abelhas,
Tão belas e sensíveis em suas rotas e linhas retas.

40
Caderno
literário

Um dúzia de rosas vermelhas, querida!


Me Morte

Numa lápide do cemitério,


Deixaram envoltas em fitas,
Uma dúzia de rosas vermelhas.
A foto era amarela e antiga,
Inscrição apagada, descolorada.
Provavelmente uma namorada,
Um amor que se foi...

Eu nunca ganhei rosas vermelhas.


Como invejei aquela morta,
Que mesmo estando deteriorando,
Se fazia desejada, amada, lembrada
E eu aqui mofando...Em vida!
Uma alma fúnebre que respira
E nunca ganhou rosas...

Peguei as fitas e joguei,


Uma a uma, no túmulo ao lado.
Cada botão de rosa que eu tocava
·Morria, murchava, condenado
A ser um morto-vivo despeitado,
Como meu coração ali se mostrava,
Um mero órgão desapaixonado...

E a foto da inscrição apagada,


Verteu duas lágrimas caladas,
Longe da percepção humanamente sentida.
Chorou por ter em morte gesto tão pleno de vida:
__Uma dúzia de rosas vermelhas querida!
E nem percebeu que haviam lhe roubado,
Nem as flores, nem as fitas...

Disso aprendi, que o que vale


Não são as rosas que por ventura receba,
Mas o amor que por certo distribua,
Que faça, mesmo em morte, ser lembrada,
Mesmo depois de deteriorada,
Continuar a ser desejada e querida.
Isso é só para os que foram plenos em vida!

41
Caderno
literário

Solitário no jardim
Ronaldo Campelo

Neste silêncio que inunda a alma e tortura o coração não


ouço mais sua voz
Partistes sem dizer adeus e levaste meu último sorriso
Queria poder olhar no fundo de teus olhos castanhos e dizer
o quanto tenho de saudades
O quanto sinto tua falta
Gostaria de poder te ver uma única e última vez mais para
poder dizer adeus
Roubar-te um último sorriso assim como roubaste o meu
No jardim de seus sonhos você sempre colheu as mais belas
flores que plantou
Os sons eram sempre de paz e regozijo e talvez por isso não
ouvisse o mau agouro do pássaro negro que passou avisando-
lhe da partida
Talvez por isso fosses em paz e feliz
É nisso que quero crer para poder sonhar
Para poder seguir sem mais tristezas no coração já triste e
medonho
Espinhos tão somente brotam em meu peito
Não há mais cor nas flores, somente as negras brotam ali, as
quais regam com lágrimas.
Lágrimas de saudade, de dor.
Tão negro é o céu que cobre nossos pensamentos
Tão negro é o véu que cobre os sentimentos
E hoje tão somente a lua me conforta, (sobre) vivo com as
lembranças de teu último afago...
De teu último sorriso

42
Caderno
literário

Alma de mulher
Marcelo Moraes Caetano

Quem é essa criatura escorregadia


E longilínea, cheia de curvas,
Que requebra como um trem?

Quem é essa bela classuda, olhar


Molhado, sempre, criatura profunda
Que se contenta com o que tem?

Quem é ela, criatura soberba,


Caminhante tranquila, sem medo
Dos adjetivos maquiados: quem?!

Quem é aquela que se foi,


De caminhar aquático, ao longe,
Com linhas que nunca mais vem?

Ela, criatura, não tem mistério:


Caminha na correnteza, come alga,
Serpenteia a cauda...

É o peixe! Mais ninguém.

43
Caderno
literário

Naturezas
Isabel Máximo Correia

É o mar que te acorda


o sono da vida
deste desgosto da rima

No que te metes
no sono
no que mentes
de ti para ti no som da roda
no som das ondas do mar
na pergunta constante do simples
_ O que é o amor?

É a bailarina na crista da onda do sabor


a jasmim...
na permanente espera
do sabão das bolhas da trovoada
a chegar numa estória nas histórias
no saber
que estás nesta ausência de almofada
amarrotada numa escrita feita
na pressa numa pena de caneta
que te aguarda
nas madrugadas de um toque de telefone silencioso

E cá eu estou.
Vou.
Neste ficar de feminina natureza
nas quatro estações de um dia
poder brilhar
nesse coração de navio perdido
no leste do saber musical
nesse mar...

44
Caderno
literário

A vida e a natureza
Celso de Oliveira

Vida é tudo ao nosso redor


O Ar,os pássaros , as plantas o Mar....
É lindo a cada manhã
Poder abrir os olhos e respirar
Sentir o aroma das flores
Ouvir os pássaros a cantar
Olhar bem para o infinito
Abrir os braços e gritar
“Obrigado natureza,Obrigado natureza”
É muito bom poder te olhar
Os meus sentidos aguçar
Saborear, ver, ouvir e sentir
Os frutos nascidos no pomar
Vida, felicidade descrita na natureza
Onde a beleza da flor me faz sonhar
Onde a alma do poeta recita
E através do verso se pões a viajar
Por isto apelo “ Não matem a Mãe Natureza”
Não destruam ajudem a preservar.

45
Caderno
literário

Para-meta-transparagens
Guilherme Carvalho da Silva

a vontade é nula de si resultam terras, bases


potência nenhuma quando o ar e a água a tornam
super-nada
o anseio desmancha o terra vem de dentro e é
com a quebra da onda vem com a dança das bases
Oyá tenta ainda nadando em labaredas
insuflar querer quando tudo se mexe
o Caçador lança a seta
e não acerta a vida vem daí
com tudo ligado
na cultura como tudo em separado
poder não há quando se tem um fim
não dá
equação nula
o mar vem com o ar elevada a potência nenhuma
com o tremor debaixo de si superando o nada
com o fulgor de uma dorsal desmancha o anseio
quando as rochas se encontram quebra uma onda
Iansã já lança raios
o ar vem consigo depois quer torrentes
e com rochas esmigalhadas Oxossi com sua flecha
com resquícios de mar acerta
quando a pressão é pouca
na natureza
o fogo vem interno poder sempre há
pedras líquidas em brasa sempre dá

46
Caderno
literário

Meu encontro
Naiara Campanhola

Só desejo uma tarde nublada


e que meus sonhos possam saltar da minha mente.

Uma tarde em que minha alma possa descansar


e todas as interrogações desapareçam com a escuridão
das nuvens.

Uma tarde em que eu possa me despedir dos


pesadelos,
que eu queira encontrar a mim mesma
e encontre Deus.

47
Caderno
literário

Sob a pedra do sol


Julio Saraiva

"Acredito na salvação da
humanidade, no futuro do
cianureto..."
Cioran

sob a pedra do sol


o poema se decompõe
as casas se decompõem
os corpos se decompõem
as sombras se decompõem
as sobras se decompõem
sob a pedra do sol
as pedras dos meus dias podres
apodrecem também
as pedras dos vossos dias podres
apodrecem também
as paixões pichadas nas paredes
apodrecem também
sob a pedra do sol
espalhamos pavor e pânico
em anônimas cartas de condolências
timbradas com o fel do nosso ódio
e enviadas ao inimigo íntimo
dez anos depois da sua morte
sob a pedra do sol
todas as cores fazem escuros
fazem escuros
fazem escuros
todas as cores fazem escuros
sob a pedra do sol
cada vez mais longe da eternidade
toda decadência é bela

48
Caderno
literário

No castanho
de seus olhos
Giovanni Nobile

É por que no castanho de seus olhos vejo o belo!


Creio que o azul seja venerado
por sua semelhança com um céu limpo e claro
Acredito que o verde seja sempre bem lembrado
Por causa da saudade dos mares de águas calmas.
[Esverdeados]
É porque no castanho vi o belo, naquela tarde.
Deitei-me em seu peito
Ouvia as batidas de seu coração...
Foi quando ela me beijou a testa
- e eu sorri -
Olhei fixamente em seus olhos.
Depois fixei mais ainda meu olhar
no reflexo que eu enxergava, ali.
Via, através de seu negro olhar castanho
Um feixe de luz azul, com detalhes esverdeados.
Através de seu olhar castanho, pude ver de um jeito diferente
Um azul do céu brilhante e um verde nunca visto por nenhuma
gente
[reflexo das árvores]
Por seu olhar, vi o mundo lá fora
Talvez seja porque no castanho daquele olhar, eu veja o belo
Mas, naquele reflexo, o verde e o azul eram detalhes
O castanho era mais bonito
Através daquele instante de um olhar fixo
Vi em seus olhos um mundo mais bonito
E deitei-me para ouvir as batidas de seu coração.
[Ela sorriu]

49
Caderno
literário

Sertão
Rosangela Carvalho

Todo
Ser
Tão
Árido
Necessita de
Amor molhado.

50
Caderno
literário

Equilíbrio na natureza
Ricardo Santos

É dia de sol, o céu está limpo, belo.


O ar é puro, cheira a leite de rosas.
Os sabiás cantam, de árvore em
árvore, como fazem as alegres e
pequeninas cigarras. É dia de festa.
No céu azul, as borboletas beijam-se,
agradecem. Fazem como um crédulo
durante a oração, para agradecer ou pedir.
É um ritual de sincronicidade que nos
revela o equilíbrio da vida, de cada mudança,
minuto a minuto, na natureza.
Ao anoitecer, não deixe de olhar o céu,
veja as estrelas brilharem para você.
Elas vão sorrir, e te presentear com um
belo teto cintilante.

51
Caderno
literário

Delicadezas
Priscila Miraz

chuva voltando
a chaleira amassada
de tampa perdida chia na chapa de ferro
chia, chia, dona cutia:
faz o eco das gargalhadas lá do terreno
todos correndo atrás dos anus
coitados
que parecem avião de cauda quebrada
brecando o nariz no chão
quanto tempo a bolha colorida
dura no vento aberto
o presente é um galo
pra companhia quando acorda as cinco da manhã
pode falar comigo
chuva caiu
café com bagaceira na xícara dos adultos
a companhia silenciosa rodeando a mesa
o tico-tico, íntimo, palpitando
uns suspiros e os cochichos dos brinquedos
que descobrem os cantos empoeirados
foi mais um Domingo

52
Caderno
literário

Vida I
Antonio Canuto

vida que te quero viva


que te quero ver
vertendo tuas cores
sobre nossas cabeças

teus sabores
alimentando nossas bocas

teus sons
ensinando nossos corações

a ver-te
sempre viva
sempre vida

53
Caderno
literário

A última
Janjão

Bi, fon, ououououou,


Fumaça das máquinas rodantes
Das chaminés, das fábricas,
Cheiros, ruídos, céu cinzento, e ela lá.

Não é possível definir


Seu nome ou nacionalidade
Muito menos, a idade,
Só se sabe que há muito, ela está lá.

De seu lado dois monstros


Da modernidade, de aço e
pedra. À frente outros
Mas ela não se incomoda. Sempre está lá

Já teve companhia de sua


Espécie vegetal, bem como
A animal. Viviam em
Completa harmonia, e ela lá.

Sabe que frutificava


E todos seres vivos se
alimentavam daquelas Ramagens.
Mas hoje raro brotar algo. Mas ela continua Lá.

Nos tempos idos respirava


Um ar limpo e cósmico
Regava-se das águas do céu
Ou das águas claras do grande Rio. E ela lá.

Nos dias de globalizar


Onde o verbo é lucrar
Viu os irmãos sendo
Mortos, um a um. Mas ela ficou lá.

Nunca entendeu porque


A pouparam. O por quê
Daquele pedacinho de
Chão ficou sem concreto e ela lá.

Mas naquele instante


De reflexão não percebeu
Que a resistência de seu dono
Foi derrubada e ela........
54
Caderno
literário

A viagem
Cislaine Bier

Andei por lindos lugares,


Vi o mar sereno
De águas claras
Banhando inúmeras pessoas.

Crianças brincando,
Correndo, pulando, felizes.
Vi morros enormes
De pedras esculpidas
Pela natureza ao longo do tempo.

O sol iluminando os dias


E dourando os corpos.
Tive a felicidade de sentir-me
Parte deste cenário.

Pessoas curtindo seus amores,


Amores de verão?
Amores duradouros?
O importante são os sentimentos.

O tempo passando,
Risos, ideias, amores aflorando,
Restando a saudade
De momentos felizes.

55
Caderno
literário

Claras Miríades
Dimythryus

Pelas praias caminham as poesias


esferas poéticas cheias de escumas
eufóricas velas a mudar o rumo do mundo
a singrar a areia, a calcar o casco
a agrupar conchinhas no amanhecer.

No céu o Sol ladino


sob o crepúsculo matutino
passa a fiar seus versos pálidos
ressacados de ternura e luz
a encher de sorrisos os cardumes entre olas.

E sob o lume eflúvio do farol


as escunas navegam sob a leve lírica
onde os astros rabiscam em conjunto todo o céu
enquanto os corais florescem de cores todo o mar
Efêmeros versos encharcados de olhos desatentos.

As gaivotas despejam o suave som da paz


enquanto o pescador sagaz hasteia sua tarrafa
a garantir seu pão, seu sustento
a poesia torna-se mastro, a força motriz do poeta
o pescador de sonhos, o criador da paz entre as
palavras.

56
Caderno
literário

Para nascer um rio


Dé Barrense

As gotas da chuva que caem


Nas folhas verdes, rolam para o chão
Que juntam poças d'água
Que formam os riachos e o ribeirão

As chuvas nas ribanceiras,


Dos montes, correm a fio
Desembocam da nascente
Fazendo brotar um grande rio

A água que vem da terra


Parece filetes de prata
As águas que formam o rio
São mananciais de amor

O rio é como um menino


Que cresce devagarzinho
Se chora o volume aumenta
Dos olhos dos ribeirinhos

O rio é como um pai


Que sustenta toda a família
Não se contenta com pouco
Doa de tudo que tem
Doa alegria, doa esperança
Doa união, água e comida
Doa transporte e emoção
Dia após dia, doa vida

É peixe, é água, és estrada de vapor


É luz que reflete o céu azul do senhor
É fonte de força e calor
De vida de fartura e de cor

O rio São Francisco é um rio sereno


Que anda calmo no leito a bailar
Para formar mais adiante
Cidade, povoados, paraísos de paz.

57
Caderno
literário

nascente em curso de morte desmatada*


Luiz Filho de Oliveira

aguazul
plic!
ploc!
batendo
es
cor
regando
planta e
dança e
pedra
os peixes
sr. caramujo e
outras espécies e vem
um barco-folha ambiente
em meio ao transparente
líquido num veio dessa
mata virgem e vivem...
... todavia o enlatado
cano esgoto surje e
engarrafada a morte
desmata e vaza
às taças das calhas
em que o peixe-barco
nau trágica
navega outro inferno: e
a água foi suja de humanos seres urbanos

(Em Teresina, fluindo até São Paulo; antes, passando por


Minas.)

A Ana Rosa, uma minha mestra com quem estudei em espaço


de Dias.

58
Caderno
literário

Rosas chinesas
Karla Hack dos Santos

Quem pode dizer-me se merecemos o etéreo?


Quem pode dizer-me se o luar é a resposta divina?
As lágrimas dos anjos viram árvores?
Você falava do sabor do café da manhã?
Há uma aurora nova todo o dia?
Alguém me contou que as rosas chinesas
São milhares de noites em uma;
A última pintura feita na tarde,
No índigo, no azul...
É verdade?
Os sonhos são florestas?
São jardins de rosas chinesas?
Sei que a chuva vira rio,
Suspeito que o paraíso esteja em cada um.
Não sei.
Não perguntei.
Mas será?
Será que Deus sabe?
Sabe que de rosas chinesas sou eu cultivada?

59
Caderno
literário

Náufragos
Bruno Philippsen

Então, a maré começou a subir


e só pude me agarrar
a frases e palavras
para não ir diretamente
ao leito da consciência.

Palavras como boias salva-vida


ondulando acima de obscuras águas
mantêm-me na superfície da realidade.

Seguro-as com toda minha força


exausto de nadar no nada e
assustado com o insondável
abismo aos meus pés.

Mas sei que todos os braços falharão


todos os pulmões vão inspirar água
todos os olhos ficarão azuis
e só ficarão à tona botes vazios e bóias perdidas.

60
Caderno
literário

Escuta
Conceição Pazzola

O barulho da água
Que rasga
O leito da terra
E jorra serena
No meio do mato
Que vibra feliz
Escuta
O eco do grito
Dessa voz
Que te chama
Desse amor
Que reclama
A sede
Sem cura
A vida
Sem graça, escura
Perdida.

61
Caderno
literário

Terra mãe
Alessandra Cezarini Araújo

Berço de culturas diferentes, crenças, hábitos,


etnias.
Sou a Terra- Mãe, que grita pela paz.

De que vale a imensidão


Dos oceanos, mares

Se há guerra, o ódio entre os irmãos


É mais uma vez grita a Terra-Mãe, liberdade
liberdade!

Já em rios de lágrimas a todos os seus filhos!

62
Caderno
literário

Mar escuro
Vitor André de Souza

Pela janela que só eu vejo


Noite clara, entrando quente
Como o sol, queimando dentro
Escuridão tensa e ardente

Sombras que iluminam


e mostram...
No mar agitado
Onde só eu me molho
e afogo
Os dias escuros
E as noites claras
Vejo, somente eu vejo
As ondas indicando
A realidade viva
O vento quebrando
o calor
Ressaltando
a dor
Obscurecendo
a cor
Mostrando
o amor
o sentir
Até eu me cansar de andar
e cair
e sangrar
E ver novamente que só eu vejo
A água do mar
Vermelha.... e escura
63
Caderno
literário

A verdadeira natureza
Valdir Azambuja

Quando chegar aos 60 anos


Ou me aposentar
Serei poeta de verdade
Por enquanto vou só exercitando

Mesmo com prazer


Sem sair do eixo
Gasto minhas forças úteis
Para sobreviver
Vendendo o meu cansaço

Amanhã então
Terei tempo
De aprender
Uma profissão
Prá valer

Vou viver diverso


Vou viver de verso
Volver

64
Caderno
literário

Natureza
Rebeca Nunes

Natureza... Bela por natureza;


Amada, amante serena de si mesma,
Tens nas cores a beleza única, ímpar...
Uma pureza arrebatadora,
Rara, forte, benigna...
Eterna; magia que dilacera, me deixas
Zonza, no exalar de seu odor,
Amor em grossas camadas de furor.

65
Caderno
literário

Segredos do mar
Marcos de Andrade

O mar marulha um verso.


O vento sopra para o sul,
O norte e os polos.

O mar murmura uma dor


E o vento sopra,
Sempre a informar

O vento é como um coração sem amor


Que só leva o que lhe dão,
Que não marulha
E não chora sua dor.

O mar ama a lua


Mas lambe o sal d'areia.
O vento sopra
E espalha sua traição.

- eu me rendo! - diz o mar -


O vento roubou minha dor
E expalhou pelo mundo

Agora todos sabem, em fim,


Quem sou:

- um mar que marulha


um verso ao léu,
que ama a lua
mas lambe a areia.

66
Caderno
literário

Um fogo na luz
Carla Ribeiro

Quantas vezes dormi


Como um braço no abraço da complexidade
E abri nas asas a renúncia de um complexo resignado
Às contemplações da cor…

Plantei
No solo dos luminosos o fogo da imensidade
E no absoluto altar dos silêncios que se entretecem
Contemplei o absurdo em mim
E a cruz nos braços abertos da minha designação de
corvo.

E mil vezes sonhei


Com lágrimas transparentes nos olhos do lobo que fui,
Perseguindo entre os bosques desertos
A sublimação de uma palavra que me elevasse,
Um grito que contemplasse a cessação da fantasia
E abrisse aos véus do enigma a minha voz.

E todas as vezes voltei


Como um exilado carregando o lenho do Calvário
Em direção ao nada
Onde a estaca dos rejeitados se estende como uma
pena
No patíbulo das quimeras que deixei.

67
Caderno
literário

Do romanceiro das ondinas


Marco Aqueiva

Multidão de volutas ordinárias


entregue às ondas que vem dar à praia.
Senhor ausente, câmara sem tranca,
roupão entreaberto, águas coabitando-as...

Bailado enluado que mal se sustém...


Em tempo, as águas partem inconstantes
desaportando em busca de outro amante.
Lençóis espessos de vazio por dentro.

68
Caderno
literário

Eclipse
Regina Lyra

Quando a Lua se esconder totalmente,


O Sol a cobrirá.

As lembranças chegarão às mentes.


Saberemos o que fomos
E o que somos.

Certamente, a Lua,
De cor dourada
Pelos raios do Sol
Encoberta, naquele instante
Terá momentos de total intimidade.

Neste encontro perfeito,


Os dois gritarão seus feitos,
O orgasmo atingirá todos os membros.
A Lua e o Sol
Chamarão pelos seus nomes
E matarão suas fomes,
No imaginário dueto.

69
Caderno
literário

Ímpios
Zé Luis

Ímpios foram os lírios brancos


Que eu colhi,quando as lágrimas
Da minha madrugada escorregaram
Sobre o peito das tuas mãos nuas.
Ímpia é a dor que trago guardada
No fundo da minha alma, como
A foto de quem partiu e nunca se
Ausentou

Ímpio sou eu que nada sei de mim


Nunca sei quando estou ou quando
Parto

Dá-me essa tua mão para que eu


Possa colher para ti os lírios que
Se abrem a cada manhã, virados para o sol
Leva-me contigo para os universos
Que trazes escondidos dentro de ti

Deixa que eu desenrole esses


Cabelos prateados e os afague
Com estas minhas mãos trémulas
E desejosas

Leva-me no teu idílico pensar


Arrasta este corpo até junto de ti
E ama-o como as noites secretas
Amam o sol escondido do outro
Lado que não se vê

Leva-me para os teus jardins


De flores de mel e púrpuras
Da-me só a tua mão!…
E eu serei feliz!

70
Caderno
literário

In natura
Leonardo Andrade

Descobri o prazer na sua nascente


Na luz incidindo no seu corpo de uma lua sempre
crescente
Bebi sôfrego e sedento no leito da sua foz
Fui derrotado pela exaustão de um orgasmo feroz

Encontrei na sua natureza


A mais profunda beleza
Algo jamais descrito ou sequer imaginado
Além de todos os limites existentes, absolutamente
encantado.

A plenitude dos seus vales e cavernas


O relevo ao longo da imensidão de suas pernas
O contorno desenhado de seus morros e depressões
Eterna fonte de inspiração para poemas e canções.

A exuberância no seu momento de ápice


A luxúria transbordando do delicado cálice
Cada côncavo se espelhando no seu respectivo convexo
O amor dançando em sintonia perfeita com o sexo.

Seu corpo faz crer na existência do divino


Flutua ao som de harpas tocando um inebriante hino
Um louvor à criação no seu momento mais que perfeito
Um brinde aos desejos inconfessáveis no seu leito.

71
Caderno
literário

Poesia local
Pepper

Ainda morro abaixo


montanhas recicladas a cinzas
seguem a bramirem lavas
das entranhas cuspindo ardor
em nacos fumegantes de brasa
mora, vivaz e ardorosa,
lume brilhante do foguista,
fogoso e ardente apaixonado
assopra na fogueira das paixões
assento da língua-de-fogo
lavabundas a céu aberto,
lavabo dos cantares noturnos
lava-pés na caverna arejada,
adventos de vapor entremeados
e cada lenha e seu laurel
ensejam nas brisas encontradas
as chamas de fogo amor.

72
Caderno
literário

Chuva
Vanderli Medeiros

Chove lá fora,
E pinga, aqui dentro, um aguaceiro.
Já nem sei se chove
fora ou dentro,
ou é meu coração
que goteja de saudade.

Meu pranto
rasga uma tempestade;
o peito
relampeja seu nome...
Águas inundam a cama...
Não sei se choro
ou se chove em mim.

73
Caderno
literário

Intacto
Lu Limeira

Só o vento permaneceu intacto


Todo o resto foi destruído
Folhas, flores e frutos

Só o vento mudou de direção


Só o vento mudou de intensidade
Todo o resto não teve escolha
Caminhos, caminhantes e caminhadas

E quando a chuva caiu


Só o vento pôde escolher o destino das nuvens
Só o vento pôde escolher levar a chuva embora
Todo o resto molhou
E, sem escolher, o que era molhado secou.

E tudo que havia de nascer, nasceu


E tudo que havia de morrer, morreu,
Sem escolha.

E sem escolha,
a água da chuva, parte do rio,
não teve fim
O rio não escolheu ser infinito,
não escolheu se transformar em oceano e lágrimas.

Só o vento permaneceu intacto


Todo o resto, sem escolha, foi destruído.

74
Caderno
literário

Carícia da natureza
Vânia Moreira Diniz

Escalei montanhas, imergi nos mares,


Caminhei nas florestas, voei com pássaros,
A me mostrarem a essência do planeta,
E encontrei nos lagos a paz e calmaria!,

Entendi de constelações e absorvi seu brilho,


Nos meus olhos a luzir de esperanças,
Conversando com a lua em segredos generosos,
Enquanto o céu se cobria de nuvens esparsas.

Procurei nos rios o seu trânsito ininterrupto,


E segui seu curso ansiando desaguar
Meus sonhos e encontrar um afluente seguro,
Onde pudesse descansar minha alma.

Esquentei-me transida ao sol matutino,


Admirando os consistentes reflexos dourados,
Em raios de calor a procurarem meu corpo,
E sentindo na pele a carícia da natureza.

Desnudei-me corpo e alma buscando,


A suavidade da brisa a me confortar,
Trazendo-me sua fresca e doce aragem,
Enquanto gotas de chuva me refrescavam.

Reapareci imune, vibrante e silenciosa,


A colher pelo caminho as flores perfumadas,
Descansando á sombra das frondosas árvores,
E procurando no horizonte o caminho que viria

75
Caderno
literário

Norah
Aécio Kaufmann

Foi numa tarde, pois ainda


um fim de tarde não me vias
era setembro.... e eu buscava
E eu não sei te encontrar.
se tu recordas Faz tanto tempo,
do que hoje meu amor!
ainda me lembro. mas bem me lembro
Vinhas tão linda que havia um
em verde-azul "que" medroso
toda envolvida, de mostrar
que a tarde sem se mostrar
embevecida Sem crer,
em teu encanto, mas vendo
quis ficar e ainda que vendo
tal como eu eu não podia
inebriada, acreditar
e esquecida que me sorrias
de que a noite, na ternura
de mansinho, de flertar,
já queria que ainda encontro,
o seu lugar. quando hoje distraída,
ternamente enlanguescida,
E o sol curioso tu me pões em teu olhar
se quedou,
lá no horizonte,
paciencioso
por instantes,
só p´ra ver
Um sonho andar.
Vinhas e eu ia..
Eu chegava
e tu saías,

76
Caderno
literário

Natureza
Débora Villela Petrin

Verde trigal!
Faz-me ser o sol ardente
Das tardes majestosas
Com cheiro de insensatez
Do amor que se perdeu
Em espigas rudes
De botões murchos
Leva-me contigo no seu ninar
Abraçando o vento
No balanço incansável
De tuas folhas maduras
Veste-me de suas cores
Límpidas no calor
De um embrião nascente.

77
Caderno
literário

Poeta jardineiro
Roseli Busmair

Sempre que a minh'alma chora


Ou meu coração soluça; eu vou
Apanhando a poesia que aflora
À emoção, em busca do que sou

E, sou poeta que o verso deflora,


Toda a paixão em mim se alastrou:
- É no meu sonho onde ela mora!
Ah! Sensação que nunca me deixou...

Às vezes, rasgo meu caderno inteiro


Para só assim, aplacar a minha dor:
- Molham as lágrimas meu travesseiro

Então, eu planto nova rosa no canteiro


A fim de ver mais florido o dom d' amor:
- Pois eis que sou um poeta jardineiro!

78
Caderno
literário

Viagem postal
Ricardo Mainieri

Velhas fotos
delimitam
o horizonte
da solidão.

Límpidas praias
com olhos
de verão
versão saudosa de rostos
paisagens
sedução.

A chuva
escorre lá fora
dentro do coração.

79
Caderno
literário

A arca dos pecados


Thiago Carvalhaes

Os homens tem um segredo obscuro;


Escondem uma fera oculta que guardam dentro de si.

Cada adulto escolhe o seu caminho;

Irresponsáveis!

Todos possuem a natureza do pecar.

A humanidade não tem por que existir.

A arca pela qual busco incansavelmente vai encher de


predadores.

Cada Pecado é uma figura nítida em construção indelével.

Isso significa: Para apreciarmos a megalomania correremos


sempre o risco de
[desidratarmos.
Que isso sirva de lição para o mundo!

Observação de pensamentos fatais:


Ninguém pode se ferir.

Como digo:
Não podemos revelar nada a meros mortais.

80
Caderno
literário

In natura
Maria Helena Santini

O planeta in natura,
Jaz na árida mistura cinzenta.
O organismo vivo, a linda criatura,
Hoje parca esperança acalenta.

Antes vivo, o verde já esmaecido


O oceano se recolhe e em fúria invade
O solo fragmentado do terremoto em rugido
Queimadas, lixo, furacão e tempestade.

E nós, atrás de estreitas janelas,


Respiramos calmos a fumaça
Como inúteis sentinelas.
Somos pedra e não vidraça.

81
Caderno
literário

Às vezes ouço o
soluço das formigas
Ricola de Paula

Vi a exatidão hexagonal das abelhas,


a arquitetura de papel das vespas.
Ainda não sufoquei tantas pragas.
No chá da manhã gélida
folhas, hóstias, pães torrados.
Coletamos puro leite dos livros,
muito suor virou neblina.
O coração ardendo, a mente confusa.
O cloro ainda turva a água bendita.
A indiferença, confesso que, assusta.
Aprendi cedo a revirar o estrume.
A terra guarda calor e umidade,
As mãos tocam sua fecundidade.

82
Caderno
literário

Tormenta
Alessandro Reifer

em um céu azul de paz


não há raios para que eu o escale
é escalando os raios
das nuvens da minha tormenta
que atinjo o que há de muito além
naquele céu
que é bem pouco pra mim

só a tormenta
ao além me leva
que o céu tranquilo dos medíocres
não me eleva além de tudo
que aos medíocres é tranquilo
que minha vida não se contenta
em ser contente com a vida
no meu fracasso há sempre triunfo
no meu triunfo nunca há vitória
que há sempre muito além
que eu vejo sempre mais
com cada raio que me cai

tudo isso que aí está


eu não me estou em nada disso
olha bem sobre meu céu
em tudo que troveja muito além
é ali onde me ergo

83
Caderno
literário

Pés na estrada
Ale Quites

Pus os pés
Na vista da estrada
A chuva caiu como lágrimas
No asfalto quente
Lavando o olho irritado
E uma brisa sem rumo
Levou-me como cisco
A um novo destino
Onde a natureza é o sorriso
Que risca a cara da paisagem
De um lado a outro

84
Caderno
literário

Sol
Micheli Zamarchi

Sol que invade a janela, sol que aquece a mão


dela,
sol brilhante a confortar, astro encandescente a
alegrar!
És tu, astro rei, o comandante da vida terrena.
Determinador uno de tantos bons-humores e de
poucos mau-humores.
Ainda assim, o mandante soberano desse planeta
que almeja o amor integral!

85
Caderno
literário

Observador
Bernardo Almeida

Olhei a flor
Mas não a toquei
Apenas apreciei a sua beleza

Olhei o beija flor


Este tocou a flor
Mas não a feriu

Olhei a abelha
Esta penetrou a flor
Tomou-lhe apenas um pouco de mel

Olhei a paisagem
Esta pegou o colorido e o aroma da flor
Precisava completar-se

Olhei o homem
Este arrancou a flor
E encerrou, ao seu gosto, o ciclo da vida

86
Caderno
literário

Bucólica
Carlos Leser

Chove.
As pombas dormem
dentro do pombal.
E a natureza
Se forma,
Se molda
E se molha
Gota à gota.

87
Caderno
literário

Tributo à beleza
Gabriella Slovick

Nos rendamos ao que há de mais sublime!


O Belo!
Preserva, reza, planta a mata e preza...
O Belo!
A beleza não está em qualquer parte,
ela é parte...Ela não pode ser vista por inteiro.
Viva o Belo que se esconde!
O Belo!
Este que habita toda Terra e está aqui dentro.
Dentro de mim, dentro de nós...E parti.
O Belo!
Belo amanhecer, entardecer...
Belo pôr do sol e a neve nas montanhas...
Belo porque é simples.
Simples porque é belo.
O Belo!
O verde, o amarelo, o lilás.
A vida traz.
O feio jaz.
O Belo... descansa nas rosas.

88
Caderno
literário

Beijo da natureza
Cecilia Pires

O mar voluptuoso
beijou a montanha

Ela, em seu recato,


desenhou-se em limite.

O céu, mais ousado,


avançou o limite

O olhar sedutor
pintou outro traço,
unindo o céu e o mar.

A montanha
sentiu-se beijada
pelo Infinito.

89
Caderno
literário

Olhando nuvens
Marcelo Domingues D´Ávila

A intermitência das nuvens


na azul essência
do céu:
é um cavalo!
logo, um peixe
um guardachuva
um chapéu.
Um canguru esquisito
das florestas de Guiné
um sapato feminino
um sapo
um jacaré.
A invisível mão
do vento
na oficina dos dias
moldando formas
no espaço
brincando
de poesia.

90
Caderno
literário

Apenas uma flor


Maria Ester Torinho

Apenas uma flor:


guardada no tempo breve
de alguns poucos dias
cicatriz do espinho
fincado no centro da pétala
ideal feito em sonho e poesia,
desfaz-se ao contato do frio
vento
e se funde à poeira e à treva:
ternura desfeita em névoa
és tu, só tu, puro amor.

91
Caderno
literário

A quem serve o sol?


Valdoir Wathier

Não pode ser só às flores,


às praias e às peles brancas
- que se emorenam belezas -,
às colheitas, à clareza.

Não pode ser ao santo,


à besta, à sundown,
aos olhos amantes mirados,
de outra galáxia em estrelas.

Só pode é ser operário!


A função de ir e vir,
esse labor diário,
a alguém deve servir.

Com visão de privilégio,


talvez seja espião,
e então, então...
A quem serve o sol?

De tão repetir exato,


só pode é ser proletário
Serão, talvez, almas-salário,
e a quem interessa o valor?

***
Se não sei a que fim ele vem,
talvez o fim a que vem seja o meu,
Sol, ...
me findas a mando de quem?

92
Caderno
literário

Trote da noite
Victor Menegatti

São longas as vestes da noite, picotadas


por saarianos d'harpas lamuriosas
em farpas, com poucas horas d'asas, fogosas.
São longas as vezes da noite quando o certo
vicejo das desnudas Helenas de Tróia
somos nós, gigantes nas alturas, em palmas
víboras - abocanhando e tecendo à Glória
A manhã seguinte, megera de mil faces,
só um olhar paralítico da medusa,
insone, filho medíocre da poética
no cadafalso da realização métrica.

93
Caderno
literário

Paraíso
Maruska Abreu

Existe um lugar onde o tempo esqueceu de


passar
Onde o vento brinca sem pretensão de voar
O céu é brando
O mar é morno
O sol é franco
E a lua dorme.

Existe um lugar onde o bem exala maresia


As estrelas se reúnem lá para conversar e brilhar
Os coqueiros se entregam ao vento
O vento se entrega ao mar
E nada mais se mexe para não aparentar
descontento

Fico contente neste lugar


Entro em mim, sinto a paz do lugar.
Me resgato, me junto e me completo lá.
Como é bom de estar.

94
Caderno
literário

Mar branco
Ludmila Saharovsky

Olho o lençol
Mar Branco
na cama descoberta
E sinto teu corpo
Penetrando, lento,
No sono em que me deito.
E a maré sobe
E navegando
Vou descobrindo ilhas,
Enseadas, istmos
Enquanto tu,
Ah...tu desvendas
o meu de dentro

95
Caderno
literário

Natureza
Priscila de Loureiro Coelho

Naturalmente as flores conversam


Com os corações sonhadores
Sussurrando segredos do tempo
Falando de tantos amores

Em ciclos e pulsações
Tudo se transforma e recomeça
Assim, as nossas paixões
Juras, pactos, promessas

As flores que vivem tão pouco


Ensinam-nos a partir
Posto que o tempo é um louco
Que teima em existir

Natureza, criação, vida perfeita


Contexto doado pelo criador
E a humanidade sempre insatisfeita
Não reconhece nela o amor...

96
Caderno
literário

De perfumes e perfídias
Tchello d'Barros

Olores de sândalo
Perfumes na brisa
Marulho de ondas
Pegadas na praia

No calor da tarde
Ao sol tropical
Dilatam pupilas
Acendem desejos

Um úmido vento
Vem todo aromas
Num cheiro de flores
De pétalas doces

Na tarde que arde


A sutil fragrância
Hoje denuncia
Um rosto ausente

97
Caderno
literário

Eu, montanha
Rosana Banharoli

A ilusão me reveste em verdades.


Uso várias roupagens.
As águas profundas,
em meu subterrâneo,
denunciam a ordem universal.
Viemos do mesmo éter.
Em meu ventre,
trago o magma do fogo sagrado e,
em meu peito o segredo de Gaia.
O tempo, em mim, não adormece.
Possuo todas as idades.
Guardo em meus escuros,
todo o mistério dos mundos paralelos.
Mas não viole o selo e,
tampouco, meu santuário profano.
Meu sopro de mãe
que protege o cálice,
será envenenado.
Gargarejo com os vômitos dos que me intrujam
e cuspo, por minha vagina,
o gozo dos aniquiladores da espécie.

98
Caderno
literário

Meu doce mar


Tei@

Hoje, se eu pudesse colocaria...


Meus pés na areia fina,
E longa caminhada daria.
Conversaria com as ondas...
Iria expor meus lamentos,
Colocaria tudo na areia...
Para ser levados com o vento.
Tristezas, alegrias e dores...
Não queria mais deles lembrar,
Tomaria um banho nas águas...
Nas doces águas do mar.
E ficando eu mais leve...
Sem dos meus problemas lembrar,
Dormiria, sentindo os beijos...
Das águas a me banhar.

99
Caderno
literário

Cultivar
Rubens Costa

Semente!
Pequenina e indefesa, Finalmente chega,
O que me traz? Cobrindo-te,
Protegendo-te,
Ergo a enxada, Refrescando-te.
Sob o sol escaldante.
Corto a terra, fértil, E, neste momento,
Que cede... Fazer viver. Descubro, afinal,
O que me foi dado
Deposito-te, justa, Descobrir.
Sob o húmus que por ti espera.
Cubro-te, derramando sobre ti, Que a sombra, Jamelão,
O líquido transparente, vida! Semente, um dia, havia sido.

Atento, sento, então, ao chão. Descobri que cultivar,


Encosto, por que não, meu corpo Antes que Terra, Água,
No tronco, Jamelão. Fogo e Ar,

Olho, dali, para ti, É aprender a ver


Agora soterrada, Que na vida,
Esperando algum sinal, Tudo é movimento,
Qualquer sinal da vindoura, vida! De um ciclo perene.

Eis que um dia, E que para crescermos,


Quando já achava vão, Precisamos aprender
Tu surges tenra e miúda, A cultivar a paciência.
Sob o sol que te ilumina.
E, ao desenvolvê-la,
Sob a sombra, Jamelão, Perceber que a nossa mente,
Observo-te, extasiado... Mente, sempre, no cultivo
Fecho os olhos e agradeço; Estéril da ilusão do ter.
Terra, Água, Fogo, Ar.
E que apenas a vida,
Enquanto te observo, Silenciosa e sábia,
O Sol vai se pondo. Transforma, pacientemente,
Aos poucos, sua sombra, A semente... Jamelão.
Ao chão, avança rumo, Jamelão.

100
Caderno
literário

Natureza negra
Néia Pinto

Árvores negras enfileiradas


Vem nos mostrar
A cor que grita em todo lugar

Enquanto grão, brota do chão.


Verde esperança
virando carvão

Rios, céu e mar.


Natureza viva
Morrendo antes de brilhar

Nas mãos do criador tem cor


Dos seus filhos só cinzas de dor

A uma folhinha qualquer


Em reverência a sua força
Jogo-me a seus pés (raiz)

Porque ainda nascem flores


Em meio ao caos
Como se fosse
Resposta em cores
À violência ao mal

Seja sempre verde sempre.


Amém.

101
Caderno
literário

Fim de tarde I
Adauto Neves

Ouço pássaros revoltos,


inquietos pelo entardecer,
só não sinto o bater de seu coração.

Ouço vozes cansadas,


ouço pássaros revoltos, inquietos,
saltitando, voando em desordem.

Parecem felizes e satisfeitos


com a liberdade.

A tarde agoniza serenamente,


os últimos raios roçam a Terra.

Início de novo descanso


fim de árdua tarefa,
início de nova noite.

Hora de mistério
tudo parece se misturar.
Ouço o palpitar do meu coração
ansioso por te ver.

102
Caderno
literário

Encontro
Rodrigo Cancelli

¨Um dia encontrei uma Paz, nada era mais forte


e suave que ela, nem o vento que outrora
soprava por aqui.... Ao encontra-la apresentei-me
com louvor de estudante.... Desenhava no Céu
uma estrada de tijolos amarelos e um lindo Sol....
Por onde dancei a dança do amor.... Pulei a
dança da paixão.... Gritei por seus olhos.... E
deliciei-me com seu sorriso.... A beira do abismo
sorri....¨

Sou a pedra entre o aço e o arpão,


Uma Lua de mel de algodão,
Um beijo melado,
Um eterno perdido das galáxias da imensidão....

103
Caderno
literário

Insensatez
Artur Pereira dos Santos

Imbecis!
Transformam tua beleza
Desesperados pelo lucro incerto
Sem deixar a paga pelo mal causado
Na ganância cega
De quem gera a morte
Do próprio algoz.
Mesmo assim te entregas.

Quando te rebelas
Com tua força intensa
Ainda revelas
Tua beleza imensa
Repousas a vida
Em nossas vidas.
Animais que somos.
Nem respeitamos
Nossa dependência
De ti, NATUREZA

104
Caderno
literário
Pôr-de-sal
Gerusa Leal

sentado sobre a pedra


o homem escuta o mar
não o olha mais de frente
já não lhe teme a força
pois mesmo forte o rugido
pelas mãos de Deus contido
não ousa seus pés molhar

o homem escuta o mar


que já fez olhar tão longe
até onde o céu baixando
esconde o que vem de lá

não o olha mais de frente


agora tão diferente
de quando a alma nos olhos
imaginando tesouros
gostava de mergulhar

já não lhe teme a força


pois sabe que em seu peito
a inundar-lhe de anseios
tão feroz quanto o primeiro
transborda um outro mar

e mesmo forte o rugido


a urgência com que clama
aprendeu com as marés
a ir e depois voltar

não ousa seus pés molhar


pois receia que o desejo
de entregar-se ao infinito
suba ao seu corpo inteiro
e leve de volta ao lar

Pela mão de Deus contido


senta o homem sobre a pedra
e apurando os ouvidos
escuta as vozes do mar

105
Caderno
literário

Som do sol
Rubens Cavalcanti da Silva

espere o amanhã chegar


com suas chagas fumegantes
rasteje num beijo
um pouco de sexo
para a tua vida tão diminuta
escute o som do sol chegando
escute os raios da chuva
a luzir nos telhados
escute a voz do vento
varrendo pensamentos
ancorados no agora

106
Caderno
literário

Oração à terra
Adriana Pavani

Bendita seja a Terra!


Que apesar de toda a guerra,
Ainda o desejo de paz encerra.
Bendita seja a Terra!
Que apesar de toda a calamidade,
Flores e frutos de seu seio descerra.
Bendita seja a Terra!
Que acolhe tudo e todos
E ainda na perfeição se esmera.
Bendita seja a Terra!
Que por mais que a maltratem,
Reverdece a cada estação.
Transforma-se na constante transformação,
Mostra, calada e humilde,
Que mesmo com toda a destruição,
Em cada ciclo, em cada renovação,
Em cada pulso e numa só pulsação,
O Amor impera em toda a criação

107
Caderno
literário

Malhar com desejo


Wagner R.A. Chaves

Ia comer uma maçã... Não a comi, por quê?


A noite já se ia, o pensamento vagava,
pra onde, em quê? Onde encontrá-la,
mais uma vez escapava à tarde quente,
o céu azul brilhou na ponta da navalha
que cortaria a maçã e liberar o aroma
e comer dos seus sais e beber do seu mel,
dormir no seio da macieira.

O que seria naquela maçã fugidia,


uma mordida combinava, o que sente?
Se falasse... o pigmento denunciaria?

O toque acolhido, a passos curtos


circularia a Terra
e dos Alpes retirava o gelo puro
e do mar apanhava sua estrela
e no centro da vitória-régia, a maçã,
em sua pele as gotas do orvalho deslizam,
o vermelho do sol reluz, os delírios são doces...
na trama do pomar o sapo dança.

108
Caderno
literário

Casulo
Pam Orbacam

Viver em silêncio. Doce silêncio.


Ruído nenhum. Nem luz, nem sombra.
Só a brisa do tempo.
Olhos fechados, assim como o corpo.
Silêncio sem movimento.
Sem fome, sem sede. Sem ninguém que abale
meu terno silêncio.
Doce silêncio, doce sono, só sonhos...
Sonhos de um sono só.
Sozinha em minha cama, eu: pós lagarta, pré
borboleta.

109
Caderno
literário

Gênese
Jorge Potier

Será o Sol que traz o poema


ou apenas o faz refulgir num pólen
que invade os sentidos
numa primavera quotidiana, extrema?

Será a noite que lhe determina as cores


escritas nos sons absolutos do silêncio universal
por fantasmagóricas mãos com milhões de dedos
que desabrocham em flores?

Será a imensidão ondulante do oceano


que lhe mata a sede de existir
e garante permanência
apesar do refluxo da consciência?

Talvez seja o poeta, poliglota tradutor


do que fala a Natureza
em línguas incandescentes
que lhe lambem a carne, permanentes.

É ele que, em chamas, se converte em Criador

110
Caderno
literário

Natureza
Rosimeri Coelho Pinheiro

Com sua imensa beleza


Nos eleva à grandeza
De um olhar sem fim
Para todos os confins.
De uma imensidão
Com muita emoção
Guardamos no coração
A natureza bela
De todos os verões e primaveras.

111
Caderno
literário

Metamorfoseando
Sarah Jorge

Um casulo
Escuro
Solitário...

Nova vida na mesma existência!

Mudando.
Renovando.

Beleza
Leveza
O Ar...

Alguém a prendeu!!!!

Agora preciso..
Deixe-me voar..

As Borboletas não devem ser presas,


Por que se assim acontecer à morte as cobrirá.

Não corte minhas asas.


Preciso voar sozinha.

Preciso de liberdade...

Ela escapa.

E Estou voando e indo para onde o vento me


levar..

112 METAMORFOSEANDO.
Caderno
literário

O mito da caverna
Fernando Batista dos Santos

O Certo ou o Errado;
A Esposa ou a Ordinária,
Optar entre o Profano ou o Sagrado,
Apegar-se ao morigerado ou ao pária?

O embrutecido de ontem é hoje o sacripanta


repaginado...
Sai era e entra era tudo vai e volta...
Novos termos, novas idéias para uma dialética
que (re)volta
Pelo abuso de sutilezas, mentiras - claro(!!!),
como sempre muito bem articuladas.

Que tempos são esses:


Mais de 2009 anos já são passados...
Quantos mais ainda serão necessários para o
despertar coletivo,
Se é que é possível despertar aqueles que se
comprazem de passados,
Porque lá se chafurdam em suas Caixas de
Pandora e gozam sob o escape do apelativo e da
autolatria...

113
Caderno
literário

O canto que tanto me encanta


Marta Rodriguez

Que encanto há nos cantos


que encantam tanto nossas almas
que se acalmam na paz dos sons
que vem das entranhas das matas?
Da garganta dos pássaros multicoloridos,
do assovio dos ventos fortes e às vezes tímidos,
sob as árvores verdejantes de folhas dançantes
Às margens das corredeiras energizantes,
nos libertando da agonia de viver
sob a pressão de um dia-a-dia
que muitas vezes nos asfixia?

Que encanto há nos cantos


que vem dos sons das quedas
d’águas cristalinas das cachoeiras
nos purificando a alma,

desencadeando nossos sorrisos contidos


enquanto quê: sobre elas
bailam majestosas, as borboletas?

Ah! Se o meu coração cantasse...

Certamente ele cantaria a alegria


de estar de corpo e alma sob esta sinfonia
regida com mestria, melodias da natureza
que em sintonia, nossas lágrimas secariam,

nossas almas libertariam sob a beleza


do sagrado momento e contemplamento
da perfeição dos mínimos detalhes
de uma majestosa criação essencial ao nosso viver...
Que encanto há nos cantos
gentilmente cantados por nossa
querida e amada mãe natureza?

114
Caderno
literário

O contra-ataque
Iriê Salomão

O gelo já derrete nos pólos


Veneza se desinventa afogada
A cidade maravilhosa é lavada e levada pelo mar
Em batalha atroz, Recife é sacudida por Posêidon
A mãe d'água encobre ilhas com seu pranto lastimoso
O pacífico chega bravio
Sonhos molhados entornam nos bares.
A revolta borbulha e, Atlântida planeja-se imensa.
Arranha-céus são pontos fixos nas vagas.
O retumbante grito “terra a vista”, é para todos, resto
empoeirado
[ de uma história
extinta.
Céu e mar embaralham-se na monotonia do azul.
Homens egoístas moerão afogados em copos d'água
E a Terra terá sede de terra.

115
Caderno
literário

Perfeição
Carolina Mancini

Pés descalços na areia da praia.


Verdes águas brincam de “pega” com os calcanhares.
No dia cinza as nuvens se espalham.
E tudo é calmo, frio envolto nos ares
plácidos das tardes praianas do outono.
Ao longe, dunas e casas serenas
e dorme tranquila a natureza no contorno
das ondas, no horizonte, amenas.
E na areia da praia ficam pegadas
o canto-murmúrio que se enleia
com a ventania de curvas levadas
e bagunça teus cabelos em uma teia.
E torna todo o teu corpo
com a sutileza etérea da natura.
Até que encontra teu porto
na perfeição da maresia e da ternura
que é tua cálida ventura.

116
Caderno
literário

Minha libélula
Matheus Paz

Livre
sou dela
minha libélula

Metamorfoseando-me
em teu casulo

vivo, sofro
e amo

ela
minha libélula

amo
este teu tempo de águas
e de asas

amo
este teu espaço de ar
e de voar

suave e rasante

117
Caderno
literário

Natural
Viviani Ketely

Pousado em teu seio quente


A relva do amanhecer Esperáramos tanto de ti
Guarda tuas lembranças Tiramos tanto de ti
De longínquos momentos brandos Em troca derramamos por todo o teu
corpo robusto
Teu grito ecoa solitário Nossos refugos, nossos dejetos, nossa
Perdido, despido ignorância
Arrependido
Ainda me lembro de ouvir falar que tu
Tuas águas mornas Um dia foi tão verde que parecia ser
Dragam-se nas rupturas humanas eterna
Ouvi falar que tuas águas límpidas,
Quem há de cuidar de ti sagradas
Eu! Que tão pouco sei de mim. Eram inesgotáveis
Que não dou mais que um passo Que engodo, que cresci querendo
Sem ferir-te, sem lançar sobre ti acreditar
Os malefícios da modernidade
Sei que ainda guarda, belos prazeres,
Tu que era tão bela, tão jovem belos cenários
Traz agora marcas indeléveis E com esperança espero: que os mesmos
Em tua face azul não fiquem
Futuramente aprisionados, refugiados
Teus seres outrora livres Apenas em lembranças, pinturas ou
Agora se vêem aprisionados fotografias
Enjaulados, acuados
Tristonhamente perdidos Desejo-lhe vida longa, infinita
E que meu último beijo seja em tua boca
Tuas vestes vivas, coloridas ''Natural''
Agora se vêem moldadas, refeitas, Tua boca de "Terra"
recicladas

118
Caderno
literário

Rio
Nilton Maia

Por breve tempo, Quem sabe,


Vejo-te na tela fria da TV. Não sorris ao homem
De meus olhos, Que corta lenha em tua presença.
Escapa a mesma fluidez Ou atiras gotas de ti
Daquilo que te compõe. Na menina que brinca a teu lado.

Um dia, O que sentiste


Sentado numa pedra, Quando mãos em concha,
Imaginei-te vivo Com sofreguidão,
Enquanto te fitava, Retiraram-te porções,
E, com carinho, te acenei. Para que a sede fosse extinta.

Serenamente, O que pensaste


Aguardei tua resposta. Do prazer que cedes, sem custo,
Mas ias de encontro às pedras, Aos corpos que lavas,
Como se lançam os amantes, Impregnados, ainda,
Veementes em seu desejo. Das seivas e cheiros do amor.

Ver-me, Ao me afastar,
Em tal tarefa empenhado, Para que tua presença se prolongasse,
Era-te impossível, Passei a caminhar de costas,
Assim entendi. Olhando-te com doçura:
E, levantando-me, sorri. Queria que ficasses em mim.

Imaginei-te Hoje,
Ao correr em outro trecho, Ao ver tua imagem,
Quando é quase plano o teu leito. Nos teus meandros e quedas,
Quem sabe, Senti muito forte a tua falta.
Não te empenhas em tarefas. E, de saudade, transbordei.

119
Caderno
literário

Manhã serena
Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti

Manhã serena de um dia qualquer


Havia indecisão, Passos largos, ora curtos, vagueiam
Homem fraco Estrelas errantes,
Nuvens encabuladas, indormidas Filhos pródigos
Vagavam De uma terra santa,
indefinidamente, Qualquer mãe pura,
Mendigos errantes Areia e água
Indiferentes à paz plantada Virgindade lúgubre à propiciação
Como árvore boa, Da flora, flor murcha
Sombra e ar fresco Etérea desventura
Nas intermitências do sol. Da aridez mórbida da devastação

O caminhar era seguro, Longe é um caminho sempre gasto


Passos firmes, Nuvens ralas,
Sol límpido Sapato furado
Bravura contida no corpo E os pés calos grossos no espelho
Do ser estruturado, Sol no meio dia,
Água morna Suor e desmaio
À decisão da raiz à folha A enfraquecer a temperança da
Ética e educação, Manobra ideológica,
Estação própria Luz e som
Tempo certo construído na demora. No imaginário poético do estômago.

A vida passeia entre veias, Noite densa quebra o homem,


Templos, arbustos Espelho e memória,
Memória e chuva fina Lâmina aguda
Passos velhos e terra firme A cortar as horas no descanso
A construírem a Dos olhos poucos,
história, Frente e verso
Muros e grades No esquecimento das cores,
Corpo e idéia na fina flor Abismo e caos
Da idade de pedra, Poço fundo
Rocha e esquecimento Miséria e escombro a esconder o rosto.
Na corrente abstrata da rota.

120
Caderno
literário

Não há mata
Deo Sant´Anna

Luz, cores, sons, formas,


Tudo, em formas de beleza.
A natureza se traduz!

O sol, imensa fogueira!


Que nos aquece e distante
Nos raios que irradia
Nos manda nos raios de luz!
Vida em tantas formas,
Que em outras se transformam
Perpetuam-se e se recriam!
E se fia nos tênues quanta de luz!

Quais lábios que se beijam


Em frenesi, com desejos,
Olhos dilatam-se, coração dispara!
Arrepios de pele e pelo.
Toques, túmidos seios,
Viola violinos, batuques,
Arroios, rios, cachoeira, cascatas.
Bater de asas,
Pios,
Gritos e sussurro,
Todos os sons murmuram!
Amor!
Fluxo, reflexo e refluxo,
Núcleo e nexo!
Da natureza em flor!

É assim a natureza
Solidária, bela, grata,
E de graça, eterna!
Quando a humanidade não se cega!
E a cegueira do lucro não a mata!

121
Caderno
literário

Santo do pau oco


José Nedel

É, como sempre foi, da história humana


Enganar outros muito, nunca pouco.
A própria igreja, vira e mexe, engana
Com o esfíngico santo do pau oco.

122
Caderno
literário

Ar
Sandra Veroneze

Ar ar: sou eu
Ar água: estou com você
Ar fogo: nos fundimos
Ar terra: nos enterramos
É florescer ou morrer

123
eT ma liv r e
Caderno
literário

Sem título
Laura Guerra

O minúsculo orifício
da sua orelha
atiça-me tanto quanto
seus olhos de amêndoa.

Cada poro, cada pelo,


toda célula morta.
Qualquer parte de você
idolatro, tal qual
a beleza perfeita
do mais puro
mármore esculpido.

Cada sim, cada não.


toda articulação.
Qualquer esgar, sorrir,
futuros espasmos,
lágrimas e suores.
Mínimos cederes,
repetidas recusas.

Para sempre.
Nunca.
Mesmo que só em parte.
TODA.

125
Caderno
literário

Um poeta arrependido
Marcelo de Moraes Belini

O poeta se arrependeu de um dia ter vivido,


Se arrependeu dos caminhos traçados e também daqueles nunca
antes percorridos.
O poeta se arrependeu de tudo aquilo que escreveu,
Dos sonhos que sonhou, da felicidade que negou e das lágrimas
que escondeu.
Um poeta arrependido não pode mais ser poeta,
Não pode ser sábio, não pode ser filósofo, nem pode ser profeta.
Ó grande poeta, qual seria o motivo do teu arrependimento?
Paixões? Lutos? Ou por esta vida descontentamento?
Sei que em tua mente colidem milhares de universos,
Mas creio que todo este arrependimento, seja apenas motivo para
mais alguns versos.

126
Caderno
literário

Sobre amor e ilusão


Manoel Guedes de Almeida

Depois de um tempo você percebe, sabia que as pessoas mentem pra lhe DEIXAR feliz,
sei que percebe, E se não há nada que lhe deixe mais feliz
Que o amor não é absolutamente nada Que alguém que te ame de verdade,
do que você achou que o fosse, Se você não tem nenhum hobby,
Que as músicas eram só co-incidências Não joga bola, não faz caminhada,
E os olhares somente ilusão. Não assiste a peladas...,
Não se desespere (muito)
Percebe que amor é pura necessidade fisiológica Existem várias formas praticamente indolores de suicídio
E que tateara na vida Que lhe serão bastante úteis adiante,
como um cego no escuro, Quando tu vires que toda a tua vida
perdido, sem direção. Não passou da realidade.

Percebe que o que é sensível ao tato Perceberás então


não é amor, que Amor não se escreve em cartas
Pois o amor não pode ser sentido E não se lê em livros,
com o sentido do toque. não se faz no ato
nem exala das cenas de amor
Então, dos filmes
se lembrares que um dia ouvira "te amo muito e pra
sempre!" Quando se livrares do amor-moeda
Esqueça..., que suborna o mundo
Não se pode medir e perceberes
o que mesmo com a imaginação que flores não pagam sorrisos,
não se pode conter; que castrar plantas não é nada romântico
E que romance é apenas fantasia da hello kitty,
Mas você percebe, sei que percebe.
Que aceno com a mão não é flecha de cupido, que "...não há príncipes ou princesas,
Que quando alguém lhe diz, nem cavalos brancos..."
[e várias vezes dirão, ..............[no máximo um jegue e uma espada de
"Eu te amo", como se fosse "bom dia", plástico,
Percebe que "eu te amo" quis dizer exatamente "bom dia",
Mais nada. Pode ser que nesse momento,
se ainda respirares ou fores inda humano,
Porque se se é Amor, Você sinta, se é que sente,
Não há tempo que o prenda ou restrinja. [e não perceba ou entenda
Não se ama por uma noite ou final de semana, Sem fantasias de carnaval ou imãs de geladeira,
ou mesmo por anos... O que de fato é
Só se é amor se se for pra sempre. Amor sem fim..

Mas você já sabia disso.

127
Caderno
literário

Extenue
Orquídia Negra

Carrego no corpo, uma apagou


hoje, e o alcance da que restou
o peso não vislumbra o horizonte
da rigidez cadavérica desaprendi
daqueles que nunca amaram a olhar para frente
ou nunca foram amados acostumei-me a olhar
eu não fui, para os pés
se fui, e o umbigo
tão pouco foi Mas hoje,
que pouco ou nada senti olho
fiquei ali para cima
embalando minha ausência de sentimentos deitado aqui
sem fúria nesta mesa
numa rede puída fria
Total inércia do necrotério
de interagir pois deitado estou,
sei amar deitado para sempre ficarei
ao menos, até que tudo apague
pensei que sabia, desapareça
quando adotei consumido pelo ar e pelos vermes
um animal de rua e eu volte a ser o que sempre fui
ele matéria orgânica
tanto quanto eu e energia
dele aí
queria um tanto pode ser que eu
de mim reascenda
diziam que preenchia os espaços volte do céu
que a gente tinha vazios, numa grande explosão provocada
Mas ele e acima da cabeça dos humanos
eu como o faz
queríamos tanto a chuva de fogos de artifício
quanto tantos querem e eu me caia,
sem dar leve,
Assim como o corpo, sobre o corpo de cada um daqueles
também o coração que não amaram
Meus olhos secaram talvez eu os cure da insensibilidade
de lágrimas ou ainda,
e, como energia renovada
desconfio que até minha alma partiu eu os contamine
para longe das vistas humanas com um novo vírus
e por falar em vistas o vírus do amar o outro
como a si mesmo

128
das minhas
Caderno
literário

Cântaro das minhas náuseas


Viegas Fernandes da Costa

carrego calçados furados, meias furadas


e um monte de pedras nos bolsos

aos olhos, tantas estradas


e os rastros do passado

carrego a desventura do sonho


como meu bem mais precioso

às mãos, apenas a atrofia


e as infinitas possibilidades do vazio

carrego meus ossos, meus órgãos, meus medos


no cântaro das minhas náuseas

- mas já não tenho certezas

fecharam-se as portas das minhas igrejas


meus santos, descobri-os de gesso

e suspiro órfão às margens do Vale!

pudera cantar minhas certezas


profanar meu sudário e imprimir-lhe a marca que
desejasse
parir glórias, pintar vitórias

pudera escalar pedras, fossas abissais


caminhar descalço nos caminhos que sempre sonhei
marcar a fogo as leis da humanidade

mas vazaram-se os olhos da terra


entortaram-se os pés
recolheram-se os dedos das mãos

e assim, fetal, recolho-me ao princípio


onde ainda se é possível
o desejo e a história.

129
Caderno
literário

Caminhos da amizade
Carlos Roberto Pina de Carvalho

Quando eu seguir nos caminhos da amizade


Levarei vocês comigo
Sentirei o carinho de sempre
E minhas orações serão para o futuro
Que virá para todos.

E quando eu já for longe...


Na minha memória estarão guardados
Todos os momentos que juntos passamos.
Amigos insubstituíveis,
Amigos verdadeiros
Que me ensinaram
Lições de amor e solidariedade.

Escreverei poemas de paz e amizade


E quando no céu estrelas brilharem
No meu coração tudo será saudade!

130
Caderno
literário

Capítulos finais
Lucas Marques Borges

Tomo-me em copos de plástico


Em cores de elástico de teus cantos,
Curvas instigadas por flores em seu colo.
Tua boca que me chama para seus mais íntimos
mantos.
O gosto de teu corpo que despreza todos os
meus encantos.
Tantos santos loucos em prantos que sobem aos
céu.
Olhos de fel que querem me furar.
Palavras sem propriedade,
Privadas de compreensão.
Nessa nossa confusão de fundir teu prefácio
com meus capítulos finais
Tomei-me para desprezar
Teu gosto no copo.
E já que agora restam minhas palavras
“etanolicas”,
Suicidei todo meu encanto.

131
Caderno
literário

Obedecendo o Tal Desejo


Bruno Vargas

Sim, é verdade que a busca era uma


mentira
Ronaldo sabia desde o início, mas não
hesitou em ir
E ele sabia onde iria acabar se não fosse
Rapaz pobre mas não inocente

Ele me disse:
Sou um cowboy muito louco.

Eu disse:
É somente louco, isso sim.
Você não é cowboy.

Ele não sabia o que era


nem eu.

Saímos para tomar um drink, ventava muito

Ele me disse:
Magoei minha garota ontem.
A chamei de vaca.

Sim, era um cowboy muito louco

132
Caderno
literário

Consciência
Vanessa Soares

Seja transparente como a água, para que os outros


possam ver o quanto a sua alma é grandiosa.
Seja sempre você, mesmo que isso não agrade a
todos.
Viva intensamente o seu presente, torne seu passado
uma doce lembrança mesmo que ele tenha sido
amargo, e nunca se esqueça de pensar em seu
futuro, procure plantar boas sementes para que mais
tarde você venha colher bons frutos.
Se por um acaso você encontrar uma barreira em seu
caminho que te faça cair, não se envergonhe e muito
menos desista, levante-se e siga em frente e lembre-
se de que você não foi o primeiro e muito menos
será o ultimo a cair, isso faz parte da vida.
Lute por seus objetivos e conquiste-os com seus
próprios méritos e não à custa de alguém, em
hipótese nenhuma deseje para os outros, o que não
quer para si mesmo, abra mão da felicidade que foi
conquistada através da infelicidade de alguém, com
suas atitudes busque sua própria felicidade sem ter
que ferir ninguém, todos nós somos capazes de
conquistar nossa felicidade.
A vida não é fácil ser vivida, mas se tivermos a
consciência de que nossas atitudes que constrói
nosso futuro, com toda certeza será muito fácil se
viver.

133
Caderno
literário

Paixão
Lin Quintino

Sobre a mesa de vidro,


um copo de vinho descansa.
Lá dentro,
em vermelho encarnado
uma gota de sangue
colhida do coração repousa.
Uma lágrima
que me escorre dos olhos
Traz saudade de longe.
Uma fresta na memória
guarda um pedaço de lembrança
minúscula chama
que acende o coração
e incendeia o peito.
Tudo tão simples
A paixão veio à minha casa
Apaixonar-me

134
Caderno
literário

Nichos intranquilos
Norbert Heinz

Passos cambaleantes sobre a areia úmida e gelada


Desespero mórbido a espera do amanhecer que não existirá
Olhar voltado para trás a espera de um choro de saudade
Mas nada...
Não há nada...
Somente passos cambaleantes...
Gosto de álcool na boca
Passos solitários sobre a areia sem cor, sem brilho...
Uma pausa para a última reflexão
Uma chance de voltar atrás...
Uma vida em replay
Um conto de fadas sem princesas ou donzelas à espera de um príncipe
Uma vida cinza
Tantos sonhos em vão!
Tantos sentimentos condenados ao exílio!
Novamente o olhar voltado para trás a espera de um choro de saudade
Mas nada...
Não há nada...
Somente o barulho sinfônico de um mar revolto
Passos apressados sobre a água fria e agitada
Dor e remorso dilacerando os nervos
Medo...
Solidão...
Um corpo ao mar recusando a própria vida
Pouco a pouco sem sentidos...
Pouco a pouco...
Um vento inconformado sopra uma onda de fúria e esperança
Um corpo quase sem vida na areia úmida e gelada
Pouco a pouco revivendo...
Pouco a pouco...
Passos cambaleantes...
Pensamentos desorientados...
Olhar voltado para trás a espera de um choro de saudade
Mas nada...
Não há nada...
Ainda assim, passos cambaleantes mudam de direção...
Inconscientemente voltam atrás...
E aquela vida cinza e perturbada
Aliviada sorri...
Sorri...
Sorri...
135
Caderno
literário

Na dor cruel de
um amor findo
D´Anton Medrado

Estou no lado avesso do mundo


É muito fácil me encontrar
Estou inserido no pior lugar
Como indigente no submundo

E quando o mundo seus restos esgota


Eu sorvo neles meu alimento
Nunca dispenso qualquer tormento
Vivo no vômito que a tudo embota

Eu me encontro no lado avesso


Do mundo lindo que tu conheces
Na dor cruel que tu não padeces
Eu brinco como um velho travesso

Destoo de tudo o que soa lindo


Como um menino sem doce eu sou
Pênsil no gume de adaga estou
E na dor cruel de um amor findo.

136
Caderno
literário

Desejos
Michel Cuzmovas Perlin

Beije-me, beije-me, beije-me,


Puxe os meus lábios para baixo,
Deixe o gosto de seu corpo em minha boca,
Sempre desejei que fosse assim.

Deslize suas mãos em meu rosto,


Não pare, não pare, não pare,
Mastigue meu corpo, eu preciso de você,
Sempre desejei que fosse assim.

Leve-me ao paraíso desconhecido,


Quero sentir o cheiro da sua carne jovem,
Deixe o tempo escorregar pelos nossos dedos,
Sempre desejei que fosse assim.

Sua língua provoca alucinações,


Estamos hipnotizados pelos nossos desejos,
Sonhando acordados, bem acordados,
Sempre desejei que fosse assim.

Ame-me, ame-me, ame-me,


Sugue o meu corpo inteiro,
Seu olhar é cada vez mais faminto,
Sempre desejei que fosse assim.

Possua-me, possua-me, possua-me,


Sinto-me como um animal uivando por dentro,
Ficando cada vez mais selvagem,
Sempre desejei que fosse assim.

Minha pele pede por mais,


Mais, mais, mais, mais, mais,
E nunca me deixe partir,
Sempre desejei que fosse assim.

137
Caderno
literário

Atitude
Rodrigo Capella

Rimar faz mal,


coitado do poeta,
que por qualquer razão,
quer ligar, rimar, juntar.

Prefiro versos soltos,


pequenos e grandes,
cheios de gentes,
cantantes, falantes, antes.

Porra! O que eu faço?


versos e rimas,
narro fatos.

Reflito o momento,
comento, assuntos assim,
não vejo essência,
em fazer versos pra mim.

138
Caderno
literário

Imprevisto
Tereza Carrera

Por que chegastes de surpresa em minha vida,


Devassando intimidades, despertando um ciúme
Que há tempos dormitava distraído?
Por que acordastes a fêmea que dormia
Esquecida dos mais humanos desejos?!
Como o sol no equinócio aclarou os meus dias,
E povoou as noites com lindas fantasias...
Confundiu a minha mente depois, desaparece,
Deixando em meu olhar as lágrimas de saudade
Que eu já não previa chorar.
Trouxestes nuvens de incerteza ao meu coração,
E suspeitas difíceis de dissipar.
Excitou um cio fora do tempo
Que me faz tecer encontros inusitados.
Ah! Esse sentimento imprevisto,
Esse amor maduro fora de hora
Trouxe uma saudade tamanha e dolorida,
Nos dias que tu não vens.

139
Caderno
literário

Como tu e eu
Elisabete Antunes

Como tu e eu
Amamos as pedras dos rios
Como tu e eu
Amamos todas as anémonas do mar
Como tu e eu
Amamos o vento e o sol a cantar
Como tu e eu amamos a terra e os estios
Como tu e eu nos amamos por dentro AMOR
Só o amor nos pode dizer...

140
Caderno
literário

Ru(g)as
Abílio Pacheco

Flanarei pela ‘existência’ da cidade


por sobre as águas
(nunca mais pelas calçadas,
hoje submersas nas ruas)
sobre a vida que sua da pele
dos meus poucos tantos anos.
Já nem flano mais (com o coração
exilado de mim) por entre os transeuntes.
Talvez eu é que não exista (nem resista)
nesta cidade, nesta praça (quem sabe
noutra praça doutra cidade), como este vão
entre as pessoas nos bancos, este vão
do canudo num copo de guaraná.

140
E RV A D O
A Ç O R E S
E SP P OE SI A
R A SU A
PA

Você se inspira, concentra, transpira


e escreve! Depois envia para o email
sandra.veroneze@pragmatha.com.br

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