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A QUERELA DOS UNIVERSAIS

A querela dos universais ou disputa dos universais diz respeito a uma disputa sobre o status
ontológico dos universais, que começou no século XI e esteve presente em toda a filosofia
medieval. Essa querela teve início com um trecho da Isagoge, o único livro remanescente das obras
de Porfírio.
Porfírio (c232 – c305) foi um filósofo neoplatônico, editor das obras de Plotino. Sua obra
Isagoge foi a única remanescente na modernidade. Nela, Porfírio pretende fazer uma introdução às
Categorias de Aristóteles e, para isso, descreve cinco princípios filosóficos que apresentam uma
subordinação lógica que parte dos mais gerais para os menos extensos. São eles: gênero, espécie,
diferença, próprio e acidente. É digno de nota que Porfírio foi o primeiro filósofo que discute
diretamente os universais. Antes disso, nenhum escolástico punha em dúvida que os gêneros e
espécies fossem ideias arquétipos na mente divina e formas dessa mesma mente impressas nas
coisas, de modo que o problema dos universais não tinha sentido.
O trecho que motivou a querela dos universais diz: “Dos gêneros e das espécies não direi
aqui se subsistem1 ou se são apenas postos no intelecto, nem – caso subsistam – se são corpóreos2
ou incorpóreos, se separados das coisas sensíveis ou situados nas coisas, expressando seus
caracteres comuns”. Isso pode ser separado em três perguntas: 1) Os universais são realidades
subsistentes em si mesmos ou são apenas simples conceitos mentais? 2) Se forem realidades
subsistentes, são corpóreos ou incopóreos? 3) Nesse último caso, são separados ou existem nas
coisas sensíveis e são dependentes delas?
Quem introduz a querela é Boecio (c.475 a c.524), filósofo, estadista e teólogo romano, o
mais importante lógico entre Crisipo e Abelardo. Sua obra mais conhecida é De Consolatione
Philosophiae, escrita na prisão enquanto aguardava sua execução. Essa obra é escrita em prosa e em
verso e trata, entre outros temas, do conceito de eternidade e da tentativa de demonstrar que a
procura da sabedoria e o amor da Deus são o verdadeiro caminho para a felicidade humana.
Contudo, a obra que mais influenciou a disputa dos universais foi sua tradução comentada do
Isagoge, de Porfírio.
Ora, se a espécie homem e o gênero animal fossem realidade, haveria uma só realidade, pois a
coisa real que existe é um em número. Mas homem e animal são comuns a vários indivíduos ao
mesmo tempo e cada homem particular é inteiramente homem, assim como cada espécie possui o
gênero inteiramente. Posto isso, pode-se pensar duas soluções: primeiro, os universais são várias
coisas, o que significaria que são uno e múltiplo ao mesmo tempo, o que é impossível; segundo, na
mesma realidade há contradições, pois se animal está em um homem inteiramente, isso quer dizer
que ele é racional e irracional.
Por outro lado, se os universais fossem conceitos, haveria duas possibilidades: ou eles se
refeririam a uma certa realidade, ou eles não corresponderiam a uma certa realidade. A primeira
opção tem que ser excluída, pois partiu-se do princípio que a realidade universal não existe.
Também a segunda opção teria de ser excluída, pois um universal que não correspondesse a uma
certa realidade não poderia representá-la como ela é.
Para resolver esse problema, Boecio usa as idéias de Alexandre de Afrodis para criar uma
explicação que Aristóteles pensaria. Os universais, portanto, seriam incorpóreos em si, mas
existentes nas coisas sensíveis, e podendo ser abstraídos delas. Assim, a espécie pode ser concebida
ao observar a semelhança substancial de vários indivíduos distintos em número, da mesma forma
que o gênero é formado pela semelhança de espécies distintas. A mente tem a capacidade de abstrair
uma coisa e pensar nela sem pensar no todo. Isso quer dizer que as semelhanças sensíveis, quando
concebidas pelo intelecto, são inteligíveis.
Desse modo, as respostas de Boecio às perguntas de Porfírio são: 1) Os universais não são
apenas concepções da mente, pois são também realidade. 2) Como realidades, são incorpóreos em
si, mas corpóreos nos corpos, embora inseparáveis. Em si, os universais não existem fora da mente.
3) Como incorpóreos, os universais existem dentro das coisas sensíveis, mas são pensados
separados.
Contudo, a posição própria de Boecio, como um neoplatônico, é bem diferente. Suas respostas
são as seguintes: 1) Os universais não são apenas concepções da mente, mas também realidades
subsistentes; 2) Como realidades, são incorpóreos, pois não têm matéria, nem existem em três
dimensões; 3) Como incorpóreos, não subsistem nos corpos individuais, com exceção da mente
divina.
A concepção aristotélica de Boecio dominou o pensamento filosófico até os séculos XI a XII. No
século XI, surge a figura de Roscelino (1053 a 1123), que inaugura a primeira fase da querela dos
universais.
O pensamento de Roscelino não é conhecido senão por uma carta escrita a Abelardo e
através da menção de seus adversários, especialmente Anselmo, Abelardo e João de Salisbúria. Ele
defende uma tese chamada vocalismo (um nominalismo em sua forma mais extrema, segundo
Abbagnano), ou seja, que apenas objetos individuais existem e que as substâncias universais não
passam de um sopro de voz (flatus vocis).
Opondo-se ao nominalismo de Roscelino, surge o pensamento de Guilherme de Champeaux
(1070 a 1121). A principal fonte de sua doutrina é a polêmica travada com Abelardo. Para
Guilherme, o universal tem uma realidade substancial, que se encontra inteiramente nos indivíduos,
que se multiplicam e diferem entre si pelos acidentes.
Essa concepção foi duramente criticada por Abelardo, que se vangloriava de ter obrigado
Guilherme a modificar e abandonar sua tese. As duas críticas de Abelardo são: 1) Essa concepção
leva a uma determinação contrária nos mesmos particulares, o que vai contra a mais elementar lei
da física. Por exemplo, se um certo homem é animal e animal se encontra inteiramente nesse
homem como universal, então esse homem é, ao mesmo tempo, racional e irracional. 2) Se existem
apenas dez categorias, sendo cada uma delas um universal, então os indivíduos não podem ser os
mesmos em essência e diferentes apenas nos acidentes, porque cada acidente é uma realidade
universal.
Diante disso, Champeaux muda de concepção. Ele passa a defender que o universal é uma coisa
indiferentemente idêntica nos indivíduos, e não essencialmente idêntica. Isso quer dizer que dois
indivíduos da mesma espécie não são os mesmos por compartilhar a mesma essência, mas para não
serem diferentes uns dos outros; a essência não é compartilhada, é uma essência universal que não é
diferente das outras dos indivíduos da mesma espécie.
Entretanto, Abelardo não se satisfaz e dirige-lhe uma nova crítica: a indiferença pode ser
negativa ou positiva. Se for negativa, o problema dos universais não é resolvido: Sócrates não difere
de Platão no homem, porque ambos são, mas também não difere na pedra, porque ambos não são.
Para Abelardo, o universal não é uma coisa ou uma realidade. O universal consiste em uma
categoria gramatical de palavras que podem ser predicados de vários sujeitos. Isso é possível não
devido a uma realidade dos universais, mas sim por causa do significado. A essa palavra com
significado, Abelardo chama de sermo, que quer dizer vox + significado. É por causa do significado
que não se pode predicar qualquer palavra de qualquer sujeito (ex. Homem é uma pedra é uma frase
correta do ponto de vista gramatical, mas não do ponto de vista lógico ou semântico.
Dessa forma, as respostas de Abelardo às perguntas de Porfírio são: 1) Os gêneros e as espécies
existem como conceitos, apenas no intelecto, mas significam coisas reais. 2) São corpóreos como
palavras universais (escritas, sons), mas incorpóreas como significado. 3) Como universais que
significam as formas das coisas sensíveis, eles existem nelas, mas enquanto significam conceitos
abstratos, eles são além da coisa em si.
Às três perguntas de Porfírio, Abelardo ainda acrescenta mais uma: se todos os indivíduos
significados por um universal cessarem de existir, esse universal perderia o seu significado? A isso,
ele responde: ele perderá o seu caráter universal, pois não mais se referirá a vários indivíduos, mas
ainda conservará seu significado no intelecto, pois ainda faz sentido dizer “nenhuma” rosa existe.
1. Subsistir é um termo introduzido por Boécio e usado na tradição escolástica que significa existir
como substância.
2. Corporeidade é um termo que, segundo a tradição agostiniana da escolástica, significa a realidade
que o corpo possui como corpo orgânico, independentemente de sua união com a alma, e que
predispõe tal união.

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