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Conteúdo desta edição

* O que existia antes do Big-Bang?

* Como os Maias sabiam tanto sobre astronomia?

* Os dinossauros tinham sangue quente?

* Quando começa a vida?

* O causou as eras glaciais?

* Como o cérebro funciona?

* Qual foi a causa das grandes extinções?

* Estamos sós no universo?

* Os animais pensam como nós?

* Quem foi Jesus?

* É possível viajar no tempo?

* O que é a cor?

* Qual o segredo da linguagem humana?

* Quantas dimensões existem no universo?

* Quando o homem tornou-se humano?

* O que se passa no interior da Terra?

* Como os pássaros migram?

* O que é a consciência humana?

* O que é a luz?

* Qual a origem da vida na Terra?


* Quem foi o ancestral direto do homem?

* Existe uma ordem no universo?

* Qual é a idade do universo?

* Até quando a Terra agüenta?

* O que aconteceria se você caísse no interior de um buraco negro?

* Por que sonhamos?

* Como o universo vai acabar?

* Poderemos vencer a morte?

* O que é a felicidade?

* Deus existe?

O que existia antes do Big Bang?

A teoria do Big Bang tem sido aceita nos últimos 30 anos. Mas o que existia antes da grande
explosão?

Por Tiago Cordeiro

Assim que tudo começou, as coisas aconteceram muito rápido. Antes que a criação tivesse 1
segundo, surgiu a gravidade, o Universo se expandiu de uma forma inacreditavelmente rápida
e surgiram as sementes que depois dariam origem às galáxias. A partir de 1 segundo da
criação, e pelos 300 mil anos seguintes, os fótons dominam o espaço. Depois, começam a
surgir os átomos de hélio e hidrogênio.

Elementos que formam os seres humanos, como o carbono e o oxigênio, só surgiram muito
tempo depois, sintetizados no interior de estrelas moribundas. E ssim a Teoria do Big-Bang
consegue explicar, com um grau de confiabilidade razoável, a infância remota do Universo.
Mas antes do marco zero, o que existia quando o Universo ainda não tinha sequer omeçado?
“A resposta mais honesta é: não sabemos”, diz o físico João Steiner, professor da USP. “O big-
bang deu origem a tudo, inclusive ao espaço e ao tempo. Quer dizer, antes disso existia algo
que só podemos chamar de nada.” Esqueça, então, aquelas imagens que de vez em quando
você vê em filmes, em que um vasto espaço escuro é preenchido por uma explosão. Não havia
matéria, não havia espaço, não havia tempo, não havia nada.

A Teoria da Relatividade prevê que, nesse instante zero, a densidade teria sido infinita. Para
entender essa situação, seria preciso unificar a relatividade e a mecânica quântica, coisa que
ninguém ainda conseguiu fazer.

Algumas teorias não consideram que, antes do Universo, o que havia era o nada. Para o
cosmologista americano Alan Guth, o Universo pré-Universo era um ambiente em que
partículas de cargas opostas se anulavam o tempo todo, até que um dia uma delas
desequilibrou o sistema e soltou a faísca que iniciou a cadeia de produção de tudo o que
conhecemos.

Em 1969, o físico americano Charles Misner sugeriu a tese da criação a partir da desordem.
Antes do nosso Universo isotrópico, em que a geometria é a mesma em todas as direções,
haveria um outro mundo de caos. Uma terceira tese, defendida por muitos cientistas, é a de
que o Universo é cíclico. Ele começa com um big-bang, cresce, atinge o auge, começa a
diminuir, desaparece num big crunch e começa tudo de novo. Acontece que, des de 1998,
sabemos que o Universo permanece se expandindo sem parar, o que comprometeria a base
dessa teoria.

Há quem diga que nosso Universo não é único. Alan Guth tem uma sugestão curiosa: logo
depois do primeiro big-bang, o Universo seria composto de uma espécie de falso vácuo, cheio
de bolhas recheadas de quintilhões de prótons e elétrons. Cada uma delas teria sofrido um
big-bang e dado início ao respectivo Universo.

Existiria um Universo primordial, que daria origem a universos-filhos. Mas como foi que o
primeiro deles surgiu? Não sabemos. “Essa hipótese apenas explica o nosso próprio Universo e
joga para debaixo do tapete o que existia antes do marco zero”, diz o professor Steiner. “A
verdade é que, atualmente, o big-bang é o limite seguro da ciência. Qualquer tentativa de
avançar além disso é especulação.”
Como os maias sabiam tanto sobre astronomia?

Eles conheciam mais do que os europeis na época. Como é que chegaram lá?

Por Tiago Cordeiro

Enquanto estiveram no auge, entre os anos 200 e 900, os maias, que habitaram a América
Central, foram uma das civilizações mais cabeças do planeta. Seus conhecimentos
matemáticos e de astronomia estavam não apenas à frente de todos os outros povos vizinhos,
mas também dos chineses e dos europeus.

Eles eram craques da matemática e foram os únicos, em todas as Américas pré-


descobrimento, que desenvolveram um sistema completo de escrita. No ano 325, eles já
dominavam o conceito de zero, coisa que os europeus só descobriram e começaram a usar
cerca de 700 anos depois.

Eles também eram excelentes observadores do céu. Em várias cidades maias, como Palenque,
Sayil e Chichén Itzá, os centros astronômicos ocupavam áreas centrais. O Caracol, de Chichén
Itzá (à direita), foi construído por volta do ano 1050, tinha 22,5 metros de altura e era
dedicado ao deus da chuva, Chaac.

Cruzando a matemática com a observação, os maias conseguiram conhecer, com uma precisão
espantosa, a duração dos ciclos lunar, solar e do planeta Vênus. Eles calcularam que Vênus
passa pela Terra a cada 583,935 dias – algo espantosamente próximo do número considerado
correto hoje, que fica entre 583,920 e 583,940. Também definiram que o ciclo lunar dura
29,53086 dias (atualmente os astrônomos falam em 29,54059).

Os maias registraram que o Sol completa seu ciclo em 365,2420 dias, enquanto que na
atualidade esse número está definido em 365,2422. Com base nesses conhecimentos, eles
criaram um conjunto de calendários complexos e interligados que, juntos, formavam um dos
sistemas de contagem do tempo mais precisos de sua época.

Hoje sabemos que os maias estavam certos em seus cálculos. Mas como foi possível que eles
avançassem tanto sem usar nenhum tipo de lente?
Entre os europeus, a astronomia só começou a avançar mais rápido lá pelo século 17, quando
Galileu Galilei se apropriou da invenção do telescópio, registrada pelo fabricantes de lentes
holandês Hans Lippershey, para olhar para o espaço. É difícil saber como os maias chegaram a
essas conclusões porque, enquanto Galileu localizava manchas no Sol e identificava o planeta
Júpiter, os espanhóis se empenhavam em destruir a civilização maia.

Como os maias não tinham um reino unificado, foi um processo lento, em que cada cidade-
Estado caiu sozinha. A última, Tayasal, foi derrotada em 1697. Todas elas foram saqueadas e
tiveram bibliotecas e templos queimados. “Não conhecemos as pesquisas deles em detalhes,
porque os espanhóis destruíram tudo o que encontraram pela frente. É certo que o que
sobrou é apenas um resíduo do conhecimento que eles tinham construído”, diz o antropólogo
americano Marcello Canuto, professor da Universidade Yale, nos EUA.

Poucos documentos resistiram. O mais importante deles é o Código Dresden, um manuscrito


que reúne praticamente tudo o quesabemos sobre os conhecimentos matemáticos e
astronômicos deles. Nesse texto de 39 folhas, escritas dos dois lados, encontram-se não só a
descrição de rituais religiosos mas também os cálculos para a previsão de eclipses e as
conclusões a respeito do ciclo de Vênus – que funcionava como uma referência para a data das
colheitas e para a escolha
da época mais favorável para guerrear.

Curosidade: Calendários marcavam datas de festas e sacrifícios

Os maias tinham uma maneira curiosa de registrar o tempo. Mais do que simplesmente contar
os dias, seus calendários tinham a função de identificar as datas propícias para cada atividade.
Os pesquisadores sabem que, a partir de combinações matemáticas, eles faziam uma espécie
de prognóstico astrológico para prever o que iria acontecer numa determinada data.
Dependendo dessa previsão, o dia podia ser reservado para o trabalho na colheita ou para
rituais religiosos, quase sempre acompanhados de sacrifícios aos seus deuses.

Os dinossauros tinham sangue quente?


Eles tinham sangue quente, frio ou os dois? A resposta pode ajudar a resovler um enigma
evolutido de milhoões de anos

Por Rafael Kenski

Em 1842, quando o anatomista inglês Richard Owen estudou ossos fossilizados de 3 espécies
de mais de 65 milhões de anos, concluiu que eles formavam um grupo à parte. Por possuírem
traços anatômicos mais semelhantes aos dos répteis – como o formato das mandíbulas –
Owen batizou-os de “dinossauros”, termo em latim para “terríveis répteis”.

Na falta de detalhes sobre a espécie, os cientistas os trataram por mais de um século como
lagartos: animais que colocavam ovos, eram cobertos de escamas e não produziam calor por
conta própria, mas o retiravam do ambiente. Eram, portanto, pecilotermos, ou seja: tinham
“sangue frio”.

Mas até mesmo Owen percebera que os dinos não eram exatamente répteis. E, desde a
década de 1960, cientistas discutem se eles tinham ou não sangue quente. Hoje, quando
conhecemos 527 gêneros de dinos, ainda há polêmica sobre a fisiologia desses bichos. Animais
de sangue frio costumam ter um metabolismo lento e inconstante. Por dependerem do calor
do sol, precisam ficar parados até se aquecerem. Eles não são capazes de manter uma
atividade física constante e acelerada. Podem até ser ágeis, mas por pouco tempo.

Já os animais de sangue quente, ou homeotermos, como os mamíferos e as aves, produzem


calor com as próprias células, preservam-no com pêlos e penas e, assim, conseguem manter
sempre a mesma temperatura no corpo. Eles precisam ingerir bem mais comida para produzir
esse calor, um preço aceitável para ter as células sempre na temperatura ideal e poder fazer
atividades físicas sempre que necessário.

Ao que parece, o estilo de vida dos dinos está mais próximo do segundo grupo. Em primeiro
lugar, eles tinham postura ereta como pássaros ou elefantes – e não rastejante como os
lagartos. Se fossem de sangue frio, talvez não conseguissem sequer levantar todo o peso pela
manhã – manter-se de pé é um esforço contínuo típico de mamíferos e aves.

Além disso, alguns fósseis foram encontrados em regiões polares, onde a temperatura seria
baixa demais para que um animal de sangue frio retirasse calor do ambiente. Essas evidências
foram reforçadas com o estudo da taxa de cresci mento desses animais – o tiranossauro, por
exemplo, atingia o mesmo tamanho de um elefante, no mesmo tempo, um desenvolvimento
nunca visto em animais de sangue frio – e com a análise de partes moles preservadas dentro
dos ossos de dinossauros, semelhantes às de mamíferos e aves.

A principal defesa do argumento acima veio de Liaoning, província da China onde


foram encontrados, na última década, fósseis de dinossauros com penas. Como os cientistas
acreditam que as penas servem para preservar o calor, essa seria uma prova de que eles
tinham sangue quente. Agora eles acreditam que esse grupo de dinos – os terópodos, bípedes
e carnívoros, como o tiranossauro – sejam os ancestrais das aves, com um metabolismo
semelhante ao dos modernos pássaros.

Mais complicado é imaginar como seria a fisiologia dos saurópodos, dinossauros quadrúpedes,
herbívoros e de pescoço longo que chegavam a pesar mais de 80 toneladas. Se tivessem o
mesmo metabolismo dos mamíferos, eles não conseguiriam ingerir as calorias necessárias para
sobreviver mesmo que passassem o dia comendo.

Ao que parece, o metabolismo dos dinossauros está em um ponto entre os mamíferos, as aves
e os répteis. “Muitos pesquisadores têm falado da existência de uma fisionomia tipicamente
dinossauriana, próxima da homeotermia, mas não exatamente igual a ela”, diz Reinaldo
Bertini, paleontólogo da Unesp, em Rio Claro, São Paulo. Ou seja: eles teriam um metabolismo
acelerado como o de aves e mamíferos, mas conseguiriam alterná-lo com algumas
características típicas de répteis. •

Quando começa a vida?

Em que momento exato surge um novo ser humano e o que os cientistas sabem sobre o
tema

Por Eduardo Szklarz

Para responder a essa questão, é preciso saber o que entendemos por vida. Há quem diga que
ela é o encontro do espermatozóide com o óvulo. Outros afirmam que é o coração pulsando, o
cérebro funcionando, ou que a vida é simplesmente o oposto da morte – se é que sabemos o
que é a morte.

Chegar a um conceito sobre vida parece impossível porque ele quase sempre vem influenciado
por valores religiosos, políticos e morais. Assista a uma discussão sobre o assunto e você verá
que a vida começa quando as pessoas desejam que comece. Ao estabelecer um “marco zero”,
surgem conseqüências para o aborto, para os métodos anticoncepcionais e para as pesquisas
da ciência. E é aí que a coisa se complica.

Os holofotes da ciência estão hoje sobre as pesquisas feitas com as chamadas células-tronco.
Como podem se diferenciar em vários tecidos, essas células carregam a esperança de poderem
curar várias doenças. No Brasil, a Lei de Biosseguranca permite o uso de células-tronco de
embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados, desde que sejam
inviáveis ou congelados por mais de 3 anos, e com o consentimento dos genitores.

Em 2005, porém, o então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, propôs uma ação
de inconstitucionalidade contra esses dispositivos da lei dizendo que eles violam o direito à
vida. Afinal, para Fonteles, o embrião já é um ser humano.

O Supremo Tribunal Federal discutiu o tema durante dois anos sem chegar a uma conclusão,
até que pediu ajuda. Convidou cientistas para uma audiência pública e viu que a ciência
também está longe de um consenso. Em geral, os pesquisadores contra a utilização de células-
tronco defendem que a vida começa quando o espermatozóide fertiliza o óvulo, dando origem
a um novo indivíduo com código genético distinto – daí essa explicação ser chamada de
“genética” (e adotada pela Igreja Católica).

Mas há pelo menos outras 7 visões científicas sobre o início da vida. Para a teoria
embriológica, a vida começa na 3a semana de gestação, quando o embrião adquire
individualidade. Antes disso, ele pode se dividir e dar origem a outros indivíduos. Essa visão
permite o uso de contraceptivos como a pílula do dia seguinte. Já a teoria neurológica aplica a
definição de morte para marcar o início da vida: se a morte é o fim das ondas cerebrais, então
vida é o início dessa atividade, o que ocorreria somente após a 8a semana de gestação.

Outros cientistas afirmam que a vida começa com a nidação, ou seja, a fixação do embrião no
útero – o único ambiente em que poderá se desenvolver. Como a nidação em geral só
acontece a partir do 40º dia, essa é uma visão bastante defendida por pesquisadores de
células-tronco em embriões congelados.

O debate científico não termina aí. A visão ecológica sustenta que a vida começa quando o
feto pode viver fora do útero. Para isso é preciso que os pulmões estejam prontos, o que
ocorre por volta da 25a semana de gestação. Segundo a visão fisiológica, a vida humana
começa quando o indivíduo nasce e se torna independente da mãe, com seu sistema
circulatório e respiratório. Já a visão metabólica sustenta que a vida é um processo contínuo.
Portanto, não faz sentido discutir seu início já que o óvulo e o espermatozóide são apenas o
meio da cadeia vital.

Outros dizem que a vida começa quando o ser humano reconhece a diferença entre si e os
demais. Mas esse lampejo não acontece numa terça-feira às 4 da tarde, e sim ao longo dos
primeiros meses após o nascimento.

Daí por que boa parte dos cientistas acredita que não cabe à ciência definir quando a vida
começa do ponto de vista ético, mas, sim, definir de que vida está se falando. Caberia à
sociedade escolher, por exemplo, se é ou não uma atitude condenável eticamente interromper
a gestação de um embrião humano sem cérebro.
O que causou as eras glaciais?

Elas foram provocadas por mudanças na órbita da Terra ou em nossa atmosfera? Uma nova
era glacial pode vir por aí?

Na história da Terra, as Eras Glaciais são períodos em que grossas camadas de gelo cobrem
vastas áreas do planeta. Algumas delas duraram milhões de anos e alteraram o relevo, a
vegetação e a vida animal dos continentes. A mais antiga delas se deu há mais de 570 milhões
de anos e a mais recente, de menor escala (e, por isso, chamada de Pequena Era do Gelo),
começou no século 16 e durou cerca de 3 séculos na Europa, atingindo o seu pico em 1750.

Os pesquisadores sabem que essas pequenas eras do gelo ocorrem a cada 20 000 a 40 000
anos, e que as de grande duração ocorrem em um intervalo de cerca de 100 000 anos. O
matemático sérvio Milutin Milankovitch (1879-1958) foi o primeiro pesquisador a se debruçar
seriamente sobre o tema. Ele propôs que os períodos de glaciações eram provocados por
mudanças na quantidade de energia solar absorvida na Terra devido a pequenas
irregularidades na órbita do nosso planeta em volta do Sol. Essas pequenas variações
resultariam em quedas abruptas de temperatura.

A questão, contudo, não foi inteiramente esclarecida em razão de os cientistas saberem que as
recentes flutuações na órbita do planeta foram capazes de influenciar no máximo em 1% a
absorção da energia solar pela Terra – o que seria insuficiente para explicar as grandes
glaciações.

Outra possível causa das glaciações seria a diminuição, no passado, da concentração de gases
como o gás carbônico na atmosfera, cuja escassez provoca queda da temperatura da Terra. A
questão é: a redução do gás carbônico na atmosfera foi a causa dessas glaciações ou essa
diminuição na concentração do gás já teria sido resultado delas? O que teria provocado essa
mudança de concentração dos gases na atmosfera nas últimas Eras Glaciais e como controlá-
la?

Dependendo da resposta, os cientistas esperam saber, por exemplo, como combater com
eficiência o aquecimento global provocado pelo aumento da concentração de dióxido de
carbono na atmosfera – desta vez pelas mãos humanas.
Como o cérebro funciona?

Por que os neurologistas ainda sabem tão pouco sobre o poder do mais misterioso órgão do
corpo humano?

Por Rafael Kenski

Até 3 décadas atrás, tudo o que podíamos fazer para estudar o cérebro era observar os
sintomas de pessoas com lesões ou dissecar cadáveres. Agora, além de poder analisar como os
genes dão origem às moléculas da nossa cabeça, os cientistas conseguem até ver ao vivo que
áreas do órgão são acionadas de acordo com um tipo de atividade.

Não é à toa que, a cada mês, surge uma nova pesquisa sobre o cérebro. A maioria delas
acompanhada da promessa da cura de doenças como Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia e
depressão. Logo após anunciadas, contudo, elas revelam o quão o cérebro continua
misterioso: qualquer descoberta, por menor que seja, traz uma imagem tão inovadora do seu
funcionamento que ameaça varrer várias teorias estabelecidas sobre ele.

Apesar disso, os neurologistas já têm pistas de seus mecanismos básicos. Eles sabem, por
exemplo, que o cérebro funciona por inteiro como uma espécie de sistema integrado. Ao
entrar em atividade, contudo, cada uma de suas partes consome mais (ou menos) oxigênio de
acordo com sua missão. Assim, a amígdala é mais ativada na hora de lidar com emocões, assim
como as áreas de Broca e Wernicke se agitam quando associadas ao uso da linguagem. Apesar
de termos mapeado essas diversas funções, sabemos pouco sobre como elas interagem.

O problema é de escala: como cada ponto visualizado em uma imagem de ressonância


magnética funcional – a tecnologia mais usada para ver o cérebro – representa um cubo com 3
milímetros de lado, os neurocientistas não têm a menor pista de como essas áreas se
comunicam. É bem possível que, se conseguirmos estudar o órgão mais a fundo,
perceberemos que suas áreas isoladas não passam de partes de um sistema único.

Uma das formas de decifrar essa comunicação é estudando os neurônios em laboratório. Os


cientistas já sabem que essas células disparam potenciais de ação, pulsos elétricos gerados
quando a membrana libera ou absor ve átomos carregados magneticamente. Acredita-se que
esses disparos sejam a principal forma de comunicação entre eles nas sinapses, os pontos
onde as terminações de dois neurônios se encontram, e que seriam estimulados ou inibidos
por algumas substâncias químicas, os neurotransmissores. Mas essa pode ser apenas uma das
formas de comunicação. Já se sabe que, em alguns casos, os neurônios estão separados uns
dos outros por apenas um furo. Em março deste ano, cientistas da Universidade de
Copenhague, Dinamarca, propuseram um modelo em que a principal forma de comunicação
entre essas células seriam ondas sonoras – e não a eletricidade.

Para piorar, nenhum desses circuitos é fixo. O que sabemos hoje é que o cérebro é bastante
maleável. Ele não só produz novos neurônios a vida inteira (apesar de ninguém saber muito
bem que uso eles têm), como modifica constantemente as ligações entre eles. Os circuitos que
usamos para cada tarefa mudam com o tempo e com as atividades que desenvolvemos ao
longo da vida.

Ninguém sabe também qual o destino final da interação entre as várias partes do cérebro.
Pegue o processamento da visão, por exemplo, uma tarefa tão difícil que envolve cerca de
metade do córtex, a maior e mais externa par te do cérebro. Sabemos que o olho codifica a luz
em pulsos que chegam a uma estrutura no centro do cérebro chamada tálamo. Daí ela vai para
o córtex, a princípio em uma área acima da nuca chamada v1 (de “visual 1”), depois se
espalhando para as áreas mais frontais v2, v3, v4, v5 e, então... ninguém sabe. Como o cérebro
usa esse processamento para dar origem à percepção ainda está além do nosso conhecimento.

O fato é que não temos um retrato fiel de como o cérebro processa essas informações. E
talvez, no dia em que tivermos uma teoria como essa, teremos que reavaliar, mais uma vez,
toda a sua estrutura de funcionamento.

Qual foi a causa das grandes extinções?

Na história do planeta, ao menos 5 delas mudaram as formas de vida na Terra. Quando será
a próxima?
Por Rafael Kenski

De tempos em tempos, a Terra passa por grandes tragédias. Algumas, como a que se abateu
sobre o Permiano, 145 milhões de anos atrás, destruíram 90% das espécies. Mesmo tão
marcantes, esses eventos nem sempre são fáceis de estudar e nenhum deles tem uma
explicação definitiva.

Isso ocorre, em primeiro lugar, porque várias evidências do que aconteceu há centenas de
milhares de anos foram destruídas ao longo do tempo. Em segundo, são pouquíssimas as
fontes de informação sobre o assunto e quase tudo o que descobrimos teve que ser
literalmente desenterrado. Sabemos que esses eventos de fato aconteceram porque, no
registro geológico, uma extinção faz com que fósseis de espécies encontradas em uma camada
do solo não existam na camada imediatamente acima.

Estudando a fatia do solo em que ocorreu esse desaparecimento, os cientistas procuram sinais
de asteróides, vulcanismo, mudanças climáticas, movimentação de continentes e outros
fatores capazes de eliminar a vida no período. Eles juntam essas informações em um só
cenário, o que não é lá muito fácil: várias tragédias parecem ter acontecido ao mesmo tempo e
sempre é possível que o motivo real não tenha sido ainda encontrado.

No entanto, a pesquisa sobre esses cataclismos traz informações valiosíssimas. Caso eles não
tivessem ocorrido, a vida na Terra tomaria um rumo completamente diferente e é provável
que a espécie humana nem surgisse. Além disso, é bem provável que neste exato momento
estejamos próximos de uma dessas grandes extinções.
Estamos sós no universo?

Além dos indícios de que a superfície de marte tinha água, quais as evidências da existência
de vida extraterrestre?

Por Salvador Nogueira

Não deixa de ser curioso que a maior evidência encontrada para a existência de vida
extraterrestre não tenha vindo de poderosos telescópios ou sondas espaciais – e sim de uma
pedra do tamanho de uma batata que caiu na Terra do espaço.

Conhecida como ALH 84001, a pedra é, na verdade, um meteorito de 2 quilos originário de


Marte que foi encontrado em 1984, pela Nasa, em meio ao gelo da Antártida. Como ele tem
pequenas cavidades e compostos que parecem ter sido feitos por bactérias, parte da
comunidade científica levantou a hipótese de que esse seria um sinal de que houve formas de
vida no passado marciano – enquanto outra parte, mais cética, diz que não há como provar
que essas cavidades não foram feitas após sua queda na Terra.

O fato é que, apesar de hipóteses feitas a partir de estimativas de como deve ser a atmosfera
de planetas distantes, o acesso que temos aos outros corpos celestes ainda é escasso. O caso
de Marte é exemplar: desde que as sondas Viking 1 e 2, nos anos 70, começaram a vasculhar o
planeta, não conseguimos ainda trazer amostras fresquinhas para análise. Ainda assim, o
planeta vermelho continua sendo a melhor opção para a busca por vida extraterrestre. Por
quê? Porque os cientistas sabem que Marte teve água em estado líquido no passado,
substância essencial à formação das cadeias químicas responsáveis pela vida.

Além de Marte, outro candidato em nosso sistema solar para abrigar vida é Europa, uma das
numerosas luas de Júpiter. Por estar muito mais distante do Sol do que a Terra, Europa seria
um congelador pouco propício à vida, não fosse por um detalhe: o peso de Júpiter produz
tamanho efeito gravitacional no satélite que chega a derreter parte do gelo no seu interior. O
resultado é um oceano de água líquida localizado abaixo de vários quilômetros de gelo que
poderia, sim, abrigar vida. Mas, como nenhuma sonda sequer chegou a Europa, tudo não
passa de uma hipótese. De qualquer forma, os cientistas sabem que, se houver vida passada
ou presente em nosso sistema solar, ela provavelmente será composta de seres unicelulares
relativamente simples, como bactérias. A saída então é caçar novos candidatos em rincões
mais distantes do Universo.

Dos mais de 200 planetas conhecidos fora do nosso sistema solar, um deles, localizado ao
redor de uma estrela chamada Gliese 581, foi alçado recentemente a candidato número 1 à
vida. Tudo por ser, ao menos em tese, parecido com a Terra – com uma temperatura estimada
entre 0 e 40 oC e provável presença de água. Por enquanto, saber na prática se ele abriga
alguma forma de vida é impossível.

Uma forma mais eficiente de buscar vida no Universo é tentar encontrar rastros da atmosfera
desses astros. Os dois maiores projetos espaciais voltados para esse objetivo são o Terrestrial
Planet Finder (“Localizador de Planetas Terrestres”), da Nasa, e o Darwin, da Agência Espacial
Européia (ESA). Eles poderão detectar a luz desses mundos distantes com qualidade suficiente
para encontrar “assinaturas” que denunciem, por exemplo, que gases estariam presentes na
atmosfera desses planetas.

Caso haja uma quantidade grande de oxigênio e vapor d’água em sua composição, a chance de
que ali exista vida passa a ser grande. Ainda assim, não haverá garantia nenhuma de que
existam seres inteligentes. Para encontrar ETs que possam falar conosco, só há um meio
conhecido: eles precisam nos enviar uma mensagem. A probabilidade de que alguém esteja na
vizinhança nos enviando um sinal (por rádio ou laser) é baixíssima, já que desde 1960 os
cientistas usam radiotelescópios para tentar ouvir algo vindo das estrelas. Até agora, eles não
encontraram nada comprovadamente gerado por um ser inteligente, como aqueles sinais
sonoros encontrados por Jodie Foster no filme Contato. A verdade é que, a despeito de todos
os candidatos, só conhecemos um planeta em que a vida se desenvolveu: a Terra

Os animais pensam como nós?

Será que o homem é realmente tão mais inteligente do que as outras espécies?

Por Rodrigo Cavalcante

Nenhum pesquisador duvida que o pensamento abstrato do Homo sapiens é um feito inédito
no mundo animal. Mas, quanto mais os cientistas sabem sobre espécies como chimpanzés,
gorilas, orangotangos, baleias e golfinhos, mais eles chegam à conclusão de que a barreira
intelectual que separa os homens desses animais é bem menor do que se imaginava.

Dois estudos pioneiros, nas décadas de 1950 e 1960, foram fundamentais para diminuir essa
distância. O primeiro, realizado na ilha de Koshima, no Japão, detectou que os macacos da
região eram capazes de aprender novas técnicas para se alimentar a partir da mudança do
hábito de um dos seus pares. A pesquisa revelou que um jovem macaco provocara uma
pequena revolução na ilha ao passar a lavar a batata-doce num pequeno braço dágua antes de
comê-la, ato que passou a ser repetido por três quartos de todos os macacos jovens da ilha. A
descoberta provou que o homem não era o único a transmitir um comportamento socialmente
adquirido não transmitido geneticamente nem aprendido individualmente.

O segundo estudo foi o da inglesa Jane Goodall que, ao conviver com chimpanzés na Tanzânia,
provou que esses primatas tinham uma complexa vida social, uma linguagem primitiva com
mais de 20 sons e a capacidade de usar diversas ferramentas para obter alimento algo
considerado exclusivo da nossa espécie. Além disso, os pesquisadores sabem que mamíferos
como baleias, golfinhos e elefantes conseguem aprender e ensinar.

Como até a ONU já reconheceu que não dá mais para tratar os grandes primatas como animais
comuns (o secretário-geral da ONU Kofi Annan escreveu que, assim como nós, eles têm
autoconsciência, cultura própria, ferramentas e habilidades políticas), é bem possível que, no
futuro, o homem venha a descobrir que se comportou diante dessas espécies com a mesma
arrogância das velhas teorias de superioridade racial.

Quem foi Jesus?

O que a ciência (e não os religiosos) sabem de verdade a respeito do homem que viveu na
palestina no século 1

Por Rodrigo Cavalcante, com ilustrações de Sattu

Nos filmes da Sessão da Tarde, Jesus quase sempre é interpretado por um ator de pele branca,
cabelo longo, barba castanha, olhos claros, enfim, alguém mais parecido com um hippie saído
de uma universidade da Califórnia do que com um homem que nasceu na Palestina do século
1.
Mas, se o problema dos pesquisadores fosse apenas tentar reconstituir a fisionomia de Jesus,
tudo ser ia mais fácil – até porque, segundo os arqueólogos, ele deveria se parecer mais com
um árabe do que com os atores de filmes de Hollywood.

A questão que sempre intrigou os arqueólogos é a busca do chamado Jesus histórico, ou seja,
a figura histórica de Jesus sem os constrangimentos da teologia ou da fé. Para esses
pesquisadores, os Evangelhos não podem ser tomados como registros da história, e sim como
testemunhos de fé, escritos décadas depois da morte de Jesus. Sem levar a sério os Evangelhos
como registros documentais – e sim interpretativos –, o que os arqueólogos sabem, enfim,
sobre o judeu que morreu crucificado em Israel há quase 2 000 anos?

Muito pouco. Do ponto de vista documental, a única referência direta a Jesus feita por um não
cristão no século em que ele viveu está na obra do historiador judeu Flávio Josefo, escrita
entre as décadas de 70 e 90, que faz uma menção discreta a “um homem sábio” que viveu no
tempo de Pilatos. Em outro trecho, o escritor faz referência a Tiago, irmão de Jesus,
“cognominado de Messias”, que teria sido entregue para ser apedrejado.

Irmão de Jesus? Isso mesmo: para os pesquisadores, é provável que Jesus, de fato, tenha tido
vá rios ir mãos, teria nascido em Nazaré – e não em Belém – e sua morte passara praticamente
despercebida pelos romanos na época. Veja no quadro ao lado as diferenças entre a versão
tradicional e a versão dos arqueólogos e historiadores sobre a vida do homem que inspira fé
em mais de 2 bilhões de pessoas.

Veja quadro na próxima página


É possível viajar no tempo?

Pondo de lado a ficção, quais as reais possibilidades de alguém embarcar nessa viagem?

Por Salvador Nogueira

Responder a essa pergunta é moleza. É claro que se pode viajar no tempo – estamos fazendo
isso neste momento. Repare que, ao ler esta frase, a leitura do começo do parágrafo já ficou
para trás – é passado. Então, ao que tudo indica, estamos eternamente nesta viagem, partindo
do passado rumo ao futuro.

A pergunta a ser formulada então é: podemos v iajar no tempo sem atravessar todos os
instantes entre um dado momento e outro? Ou, melhor ainda: será que poderemos pegar
atalhos no tempo?

Quando Einstein começou a brincar com o tempo e o espaço, em 1905, ele descobriu que eles
não são iguais para todo mundo. Cada um tem o próprio tempo e o próprio espaço,
configurado pelas distorções gravitacionais locais e pela velocidade do referencial. Ele
descobriu que, quanto mais rápido você viaja, mais devagar o tempo passa pa ra você – ou, se
preferi r, mais depressa o tempo passa para todo o resto.

Tá aí o primeiro ata lho pelo tempo. Para acelerar em direção ao futuro, basta andar em
altíssima velocidade. Vamos supor que você viaje rumo a Plutão numa espaçonave que voe a
80% da velocidade da luz. Esse planeta anão fica mais ou menos a 5 horasluz da Terra (o que
quer dizer que a luz leva 5 horas para fazer o trajeto). À velocidade estipulada, para o controle
da missão, aqui na Terra, a viagem seria concluída 6 horas e 15 minutos depois da partida.
Entretanto, para você, a bordo da nave, teriam se passado apenas 3 horas e 45 minutos.

O fenômeno se repetiria na volta, e, ao desembarcar, você teria envelhecido apenas 7 horas e


30 minutos, enquanto todo mundo por aqui teria vivido 12 horas e 30 minutos. Na prática,
você teria avançado 5 horas em direção ao futuro. Moral da história: para viajar ao futuro,
basta correr muito.

E quanto a viagens ao passado? Poderia alguém correr tanto a ponto de retornar antes mesmo
de ter partido? Hummm, a perg unta é capciosa. Em princípio, não, porque para viajar rumo ao
passado seria preciso ultrapassar a velocidade da luz. E uma das conclusões da Teoria da
Relatividade (a mesma que propicia essas distorções todas e permite a viagem ao futuro) é a
de que nada pode viajar mais rápido que a luz. Na verdade, nada pode viajar sequer à mesma
velocidade que a luz – exceto a própria luz, é claro.

Isso ocorre porque, conforme você vai acelerando, sua massa aumenta, e é preciso mais
energia pa ra continuar acelerando. Ao atingir a velocidade da luz, sua massa tenderia ao
infinito, e você prec isaria de energia infinita para ultrapassar a bar reira. Aliás, a luz só
consegue viajar a essa velocidade porque as partículas de que ela é composta, os fótons, não
possuem massa, então não precisa m se preocupar com sua massa tendendo ao infinito.

Esse seria o ponto final, não fosse uma das outras possibilidades malucas criadas pela Teor ia
da Relativ idade. Segundo as equações, sob certas condições (que podem nem ser possíveis), é
possível criar “túneis” que serviriam de atalho entre regiões diferentes do espaço, espécies de
portais que ligam regiões distantes no Universo.

Com base na hipótese de que poderemos um dia construir um túnel desses, o físico americano
Kip Thorne, especialista nesses túneis (conhecidos como “buracos de minhoca”), imaginou ao
menos uma hipótese de viagem ao passado. Para isso, seria preciso primeiro construir um
desses atalhos ligando um local em terra a uma nave espacial.

Nesse caso, se a nave viajasse até Plutão e o astronauta exausto saísse pelo buraco de
minhoca de volta à Terra, ele poderia constatar que sua nave, de fato, ainda não havia partido.
Mas o que ocor reria nesse caso?

Em teoria, tudo isso é possível. Mas mesmo os físicos não acreditam muito nessas histórias. A
razão? Ao voltar no tempo, quem será que o astronauta encontraria dentro da nave espacial
que a família estava espera ndo. Esse é um dos famosos paradoxos temporais que aterrorizam
os cientistas. Por isso eles preferem acreditar que algo na natureza “proíbe” as viagens ao
passado – um “princípio de proteção cronológica”, como diz o físico britânico Stephen
Hawking.

O que os pesquisadores não sabem é que mecanismo seria esse – ou mesmo se ele existe. No
momento, o jogo da viagem ao passado está completamente aberto.
O que é a cor?

O amarelo existe de verdade ou ele só é assim por causa do seu cérebro?

Por Eduardo Sklarz

Para entender as cores, é preciso antes falar de luz. A luz branca (praticamente a totalidade da
luz proveniente do Sol) é composta de radiações de diversos comprimentos de onda. Cada
comprimento de onda corresponde a uma cor – ou seja, ao ser captado individualmente por
nossos olhos, ele é convertido em impulsos elétricos que fazem o cérebro perceber aquela cor.
O vermelho, por exemplo, tem comprimento de onda de 0,7 mícron (0,7 milésimo de 1
milímetro) e o amarelo, de 0,6 mícron. No século 17, o físico inglês Isaac Newton deixou isso
claro em um experimento usando um prisma: quando a luz solar atravessava o vidro, cada cor
seguia uma direção diferente, pois cada uma delas tem comprimento de onda e velocidade
diferentes.

Assim, se você usar um prisma para decompor a luz solar e colocar o olho “na direção” de
onde vem o laranja, verá laranja; se colocar os olhos na direção do azul, verá azul, e assim por
diante. Mas esse é só o começo da história. Digamos que você saia à rua com uma camisa
amarela. Ao ser iluminada pela luz do Sol, ela tem a propriedade de absorver todas as cores,
exceto o amarelo. Portanto, de todas as cores que chegam à camisa, a única que é rejeitada –
e que prossegue seu caminho entre a camisa e seu olho – é a cor amarela. Por que isso
acontece?

“Porque a camisa tem pigmentos. Esses pigmentos não absorvem o amarelo, do mesmo jeito
que outros pigmentos rejeitam o vermelho ou o azul”, diz Abá Persiano, professor do
Departamento de Física da UFMG. “Por isso, o amarelo proveniente do Sol será rejeitado por
sua camisa, que o refletirá em todas as direções, inclusive para os seus olhos – e você verá
amarelo.” É como se a fonte do amarelo estivesse na sua camisa, mas na realidade essa fonte
está no Sol ou nas lâmpadas que usamos. Se você entrasse em um lugar sem luz alguma, a
camisa seria preta.

Do ponto de vista físico, o amarelo existe, sim, pois existe um comprimento de onda (0,6
mícron) que, ao ser capturado por seus olhos, é convertido em impulsos elétricos específicos,
que vão ao cérebro e o fazem concluir: “É amarelo”. Mas a camisa amarela, a rigor, não é
amarela. Ela tem os chamados pigmentos amarelos, que “não gostam” do amarelo e não o
absorvem, refletindoo para os seus olhos.

Da mesma forma que a camisa amarela, um objeto branco iluminado pelo Sol reflete todas as
cores. Já um objeto preto, por absorver todas as cores, não reflete nada para os seus olhos –
assim como o fundo desta página. O mistério sobre as cores está em descobrir o que levou os
seres humanos a desenvolverem células capazes de diferenciar as 3 cores primárias (verde,
azul e vermelho, das quais surgem todas as outras cores). Uma das teses dos estudiosos da
evolução humana é que esse espectro de cores nasceu por meio de uma mudança de hábitos
alimentares da nossa espécie, que, por uma necessidade de ampliar o leque de alimentos,
privilegiou a visão em detrimento do olfato.

Qual o segredo da linguagem humana?

Programação genética ou aprendizado cultural? De onde vem nossa habilidade para a


comunicação?

Por Eduardo Sklarz

Ao longo da história, esse mistério mobilizou duas correntes teóricas principais. Para as
chamadas teorias nativistas, as crianças já nascem predispostas a adquirir a linguagem. O
cérebro, portanto, estaria geneticamente preparado para albergá-la. A estrela dessa corrente
é a Teoria da Gramática Universal (GU), segundo a qual todas as línguas compartilham de
certos princípios que são inatos ao ser humano. Ao serem expostas a essas línguas, as crianças
rapidamente assimilam sua estrutura. Não é à toa que, com alguns meses de idade, elas
balbuciam palavras e, por volta dos 4 anos, conseguem fazer múltiplas combinações a partir de
um vocabulário finito.

Do outro lado estão as teorias não nativistas, que enfatizam fatores ambientais e a interação
das crianças com seus pais e educadores. Essas teorias não se concentram apenas nos
elementos lingüísticos, mas no uso que fazemos deles – ou seja, no contexto e na forma como
as frases são utilizadas. Vista desse modo, nossa habilidade de adquirir linguagem não
dependeria exclusivamente da ativação de um aparato interno inato, mas do processo de
socialização no grupo a que pertencemos.
Hoje, a maioria dos lingüistas concorda que tanto a biologia como o ambiente são
importantes. “Ninguém pode duvidar de que existe um fator genético que determina a
aquisição da linguagem pelos humanos – enquanto outros organismos, vivendo exatamente no
mesmo ambiente, não a adquirem. Eles nem ao menos reconhecem que alguns elementos do
ambiente estão ligados à linguagem”, diz o lingüista americano Noam Chomsky, do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT), principal expoente da Teoria da Gramática Universal. “As
crianças adquirem a linguagem de forma quase reflexiva, muito antes de terem familiaridade
com muitos aspectos de sua cultura. Por outro lado, tampouco existem dúvidas de que o
ambiente influencia esse processo.

É graças aos fatores ambientais, por exemplo, que eu falo inglês e não suaíli.” A neurologia
segue no mesmo caminho. “O programa genético garante a possibilidade de aprender
linguagem e constituir a mente humana. Mas, para que essa possibilidade se realize, ela vai
depender da interação com pessoas e coisas, ou seja, da constituição das redes neurais que
representam os conceitos e as palavras”, diz o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp.
Ou seja: o desenvolvimento da linguagem seria semelhante ao da visão, ao da locomoção ou
ao de qualquer outro sistema orgânico.

O problema é que, ao contrário de outros sistemas orgânicos, a linguagem é difícil de ser


estudada por ser exclusiva da nossa espécie. Golfinhos e macacos podem se comunicar, mas
aparentemente não desenvolvem regras para formar frases como nós. Mas tudo deve ficar
mais fácil em breve. Quanto mais conhecermos as causas de distúrbios de linguagem, mais
ficaremos sabendo sobre o peso dos genes e dos fatores ambientais envolvidos em nossa
habilidade para a comunicação.

Quantas dimensões existem no universo?

A teoria de Einstein diz que são 4, mas há cientistas que falam em 11 ou mais. Afinal, quem é
que está certo?

Por Salvador Nogueira

No início do século 20, a resposta para essa pergunta era tão óbvia quanto velha. Euclides, lá
na Grécia antiga, já havia sacado que são 3 as direções possíveis para qualquer movimento:
para cima (ou para baixo), para a esquerda (ou para a direita) e para a frente (ou para trás).
Portanto, o espaço possui 3 dimensões. Fácil, não?

Até que, em 1905, Einstein começou a bagunçar tudo. Nesse ano, ele fez 3 descobertas
importantes e uma delas demonstrava que, ao contrário do que dizia a física até então, o
espaço e o tempo não eram fixos e imutáveis. Na verdade, eles eram flexíveis e manipuláveis,
de modo que era possível, sob certas condições, encolher o tamanho de um centímetro ou
esticar a duração de um segundo.

E o pior: a modificação sobre um estava atrelada à transformação do outro. Ou seja: o tempo


era, do ponto de vista físico, indistinguível do espaço. Com isso, deixou de ser possível falar em
3 dimensões – já que o tempo não podia mais ser colocado em uma gaveta distinta da das
outras dimensões. Ficou claro que tudo era uma coisa só: um continuum espaço-tempo, como
os físicos hoje adoram dizer.

Até aí, bastava incorporar o tempo, que até Euclides conhecia, à lista das 3 dimensões
existentes. Mas Einstein fez questão de complicar as coisas quando, em 1915, conseguiu
aprofundar sua Teoria da Relatividade. Ao estudar os movimentos acelerados, ele percebeu
que a gravidade era nada menos do que uma distorção na geometria das 4 dimensões. Saía de
cena a geometria euclidiana e vinha em seu lugar uma geometria não-euclidiana (em que a
soma dos ângulos de um triângulo não necessariamente dá 180 graus e linhas paralelas podem
se cruzar).

Não satisfeito em pôr de cabeça para baixo a geometria básica do Universo, Einstein decidiu
que o passo seguinte era unificar a física toda num só conjunto de equações. Naquela época,
em que ninguém conhecia ainda as forças que agiam dentro dos átomos, a tão sonhada
unificação era apenas uma questão de costurar a relatividade (que explicava a gravidade) e o
eletromagnetismo (responsável, como você pode imaginar, pelos fenômenos elétricos e
magnéticos, ambos relacionados à partícula que aprendemos a chamar de elétron).

Einstein não foi muito adiante com seus esforços, mas outros foram inspirados por sua busca.
Entre eles, dois se destacaram muito cedo: Theodor Kaluza e Oskar Klein. Trabalhando
individualmente em meados da década de 1920, os dois perceberam que, se a relatividade
geral fosse reescrita para acomodar 5 dimensões, em vez de 4, as equações do
eletromagnetismo brotavam naturalmente dela.

Mas tinha um probleminha: até onde se pode ver, o Universo não tem 5 dimensões, apenas 4.
Klein, em 1926, sugeriu que não podíamos ver a 5a dimensão porque ela estaria enrolada em
si mesma, como um tubinho minúsculo. De lá para cá, outras forças que agiam no interior do
átomo foram descobertas e, por algum tempo, a idéia de dimensões extras foi esquecida. Foi
então que surgiu a Teoria das Supercordas – a noção de que as partículas que compõem o
Universo poderiam ter a forma de cordas vibrantes (com cada vibração dando as
características da partícula). Os físicos desconfiam que, a partir dessa premissa, seria possível
descrever todos os componentes da natureza numa única teoria – mas só se o Cosmos
possuísse nada menos que 26 dimensões.

Uma dimensão enrolada escondida, vá lá. Mas quem vai acreditar em 22 dimensões
escondidas? Como explicar que 4 dimensões são aparentes e as outras todas ficam ocultas?
Pois é, como os próprios físicos achavam essa idéia difícil de engolir, começaram a trabalhar
numa forma de reduzir o número de dimensões necessárias. Hoje eles já conseguiram fechar
com 10 ou 11 dimensões – e muitos pesquisadores acreditam que o número não vai cair muito
mais que isso. Ou seja, se a Teoria das Supercordas estiver certa, o Universo deve estar cheio
de dimensões enroladas e, portanto, invisíveis.

Quando o homem tornou-se humano?

Como surgiu o pensamento abstrato e por que ele apareceu milhares de anos depois do
surgimento da nossa espécie?

Por Rodrigo Cavalcante

N a década de 1970, quando foi encontrado o fóssil de Lucy, nosso ancestral Australopithecus
afarensis, que viveu na África há mais de 3,4 milhões de anos, os pesquisadores descobriram
que o cérebro dela não era muito maior do que uma tangerina. Comparado ao da nossa
espécie, que tem 3 vezes esse tamanho, o achado confirmou a importância do crescimento do
cérebro para o surgimento do pensamento abstrato, traço que fez do Homo sapiens um
animal completamente diferente das outras espécies.

O problema é que, apesar de saber que o cérebro teve, sim, um papel fundamental em fazer o
homem humano, resta um enigma na história da evolução. Trata-se do mistério da “Revolução
do Paleolítico Superior”, uma explosão criativa ocorrida entre 40 000 e 30 000 anos atrás que
trouxe avanços drásticos na qualidade de artefatos como jóias, armas para a caça, ritos de
sepultamento e na arte, como mostram as pinturas em cavernas do período.

Como do ponto de vista anatômico o Homo sapiens possuía o mesmo tamanho de cérebro
havia 100 000 a nos, por que ele passou nada menos que 60 000 anos sem desenvolver essas
habilidades, com um estilo de vida não muito diferente do dos seus antepassados?
Uma das principais hipóteses levantadas é a de que, nesse momento, alguma mudança sutil
(talvez em nosso cérebro) teria feito com que a linguagem humana atingisse o nível de
sofisticação que distanciou o Homo sapiens dos outros animais. “Uma vez desenvolvido o
pensamento simbólico, nós passamos a viver não apenas no mundo natural mas também no
mundo reconstruído por nossa própria mente”, diz o biólogo evolutivo Ian Tattersall, do
Museu Americano de História Natural. Desde então, como naquele corte de cena do filme
2001, uma Odisséia no Espaço, em que a imagem de um hominídeo levantando um osso ao
céu dá lugar à cena de uma estação espacial, ninguém mais segurou a nossa espécie

O que se passa no interior da Terra?

Por que ainda não conseguimos prever com precisão a ocorrência de terremotos, tsunamis e
erupções vulcânicas?

Por Tiago Cordeiro

No chão que nós pisamos não tem nada de firme. Estamos apoiados em uma camada finíssima
de rocha, de mais ou menos 40 quilômetros de espessura.

Embaixo dela, até o centro do planeta, existem 6 330 quilômetros de pedras densas a 2 000 ºC
de temperatura e u m núcleo de ferro que se mantém a 4 000 ºC. Nunca fomos além de 15
quilômetros de profundidade e, mesmo assim, com base no estudo das ondas que chegam de
baixo, os cientistas sabem o que são e de que são feitas essas diferentes camadas.

Também descobrimos que o solo da Terra se apóia em pelo menos 16 grandes placas
tectônicas, blocos de magma endurecido que se movem lentamente. Cada um deles passeia a
uma velocidade própria e para uma determinada direção.

É um processo lento, mas muito dinâmico: tudo indica que o Casaquistão já esteve ligado à
Noruega, e muitos geólogos acreditam que, num futuro distante, a Califórnia vai se separar do
continente americano e a África vai passar por cima do mar Mediterrâneo e se juntar à Europa.

Nesse vaivém de placas, é comum que elas se choquem e provoquem grandes tremores. Os
pesquisadores também sabem que as erupções vulcânicas são resultado do transbordamento
de magma, que encontra uma forma de escapar para a superfície e sobe com grande pressão.
Isso é possível porque o magma se movimenta na forma de correntes de convecção – o mais
quente sobe, chega perto da crosta, fica mais frio, se torna pesado e desce.

Certo, temos uma boa idéia sobre o que acontece no interior do planeta. E, ainda assim, não
fazemos a menor idéia de como prever a ocorrência de terremotos, tsunamis e erupções. Por
quê? “Porque conhecemos o processo, mas não conseguimos observá-lo com precisão”,
responde o geólogo José Eduardo Pereira Soares, professor da UnB. “A gente nunca sabe que
tipo de ocorrência o encontro das bordas das placas vai provocar nem consegue prever
quando o magma acumulado vai ser liberado. Tentamos pesquisar a história do local, para
identificar algum tipo de padrão, mas a verdade é que nunca chegamos nem perto de acertar.”

Conheça as três camadas que formam a Terra:

1 Crosta
Tem 40 quilômetros de espessura em terra seca e 7 no fundo do oceano. Feita basicamente de
rochas menos densas do que as que estão embaixo, a casca do planeta flutua sobre o magma,
como rolha na água. A crosta está apoiada em pelo menos 16 grandes placas tectônicas,
formadas pela camada externa de magma endurecido.

2 Manto
É formado por 3 000 quilômetros de camadas de magma – uma mistura de rochas derretidas,
gases e vapor d’água. As temperaturas ficam em torno de 2 000 ºC, e essa sopa de pedras se
mantém líquida porque é submetida a pressões altíssimas. Quanto mais perto do centro do
planeta, maior a pressão.

3 Núcleo
Atinge 4 000 ºC e tem duas camadas. A mais profunda é um cristal gigantesco, feito
principalmente de ferro. A externa, líquida, gira em uma velocidade maior do que a da rotação
da Terra. Essa diferença provoca redemoinhos internos e cria um campo magnético que
protege o planeta de boa parte das radiações solares.
Como os pássaros migram?

Algumas espécies percorrem mais de 70 000 quilômetros pelo globo, mas até hoje os
cientistas não sabem exatamente como elas acham o caminho

Por Rodrigo Cavalcante

Aparentemente, os motivos que levam mais de 1 50 0 espécies de pássaros a migrarem


milhares de quilômetros são simples: a busca de locais com abundância de alimentos, clima
favorável e ambiente seguro para a reprodução. Acontece que muitas espécies voam muito
mais longe do que seria necessário para encontrar esses refúgios.

Andorinhas que vivem n a Inglaterra, por exemplo, poder iam se adaptar bem ao clima da
África equatorial. E ninguém ainda sabe porque esses pássaros preferem viajar milhares de
quilômetros extras para passar o inverno na África do Sul. Ao percorrerem essas grandes rotas,
eles pegam carona em rodovias formadas por correntes de vento. Para não desperdiçarem
energia, os pássaros alteram de altitude em busca das correntes favoráveis – que mudam de
direção de acordo com a altura.

Enquanto algumas espécies voam sem escalas por vários dias, a maioria delas quebra a viagem
em pequenas paradas de “ reabastecimento”. (Daí a importância da preservação desses
pontos que, no Brasil, estão localizados no Amapá, no Pará, no Maranhão e no Rio Grande do
Sul.)

Após monitor arem algumas espécies, os pesquisadores desconfiam de que essas aves têm
uma “bússola interna” capaz de detectar o norte magnético. Além dessa habilidade, os
pássaros usam o Sol, as estrelas, o olfato, a audição e a própria paisagem como orientação. O
surpreendente é que as longas rotas migratórias percorridas por eles exigem consciência
precisa do tempo e da posição no espaço.

E, como essas aves são capazes de corrigir a direção mesmo após se desviar dela por milhares
de quilômetros, os cientistas ainda não sabem exatamente como funciona essa espécie de GPS
interno e tampouco como ele combina com eficiência todos os dados para que elas retorne m
ao destino original.

Curiosidade: Qual é o campeão de longas distâncias?


O bobo-escuro (Puffinus griseus), parente do albatroz, é a ave que mais voa no mundo. Após
ser acompanhada de forma eletrônica no ano passado, os pesquisadores descobriram que a
espécie percorreu 70 000 quilômetros em apenas 200 dias. Ou seja: o pássaro voou em média
quase 350 quilômetros por dia. De acordo com a pesquisa, o bobo-escuro saiu do Havaí,
passou pela Nova Zelândia, Polinésia e Japão antes de retornar ao seu ponto de origem
O que é a consciência humana?

Como o seu cérebro produz o filme que faz com que você seja você mesmo?

Por Rodrigo Cavalcante, com ilustração de Will Murai

Descartando o argumento religioso segundo o qual a consciência está em sua alma (ou
espírito) e independe do seu corpo físico é preciso procurá-la em seu cérebro, órgão que pesa
1,3 quilo e tem a consistência de um ovo mole.

A primeira vez que ficou claro na medicina que até a personalidade de uma pessoa pode
mudar por meio de uma mudança física no cérebro foi em 1848, no estado de Vermont, EUA,
quando um operário de 25 anos que trabalhava na construção de ferrovias, chamado Phineas
Gage, sofreu um acidente bizarro.

Após uma explosão malsucedida de rochas que estavam no traçado do trilho, uma barra de
ferro em forma de lança atravessou como um projétil a base do crânio de Gage e saiu pelo
topo de sua cabeça. Após cair no chão e sofrer uma série de convulsões, ele voltou a falar
normalmente e, ao menos aparentemente, recobrou a consciência.

O problema é que, após essa perfuração no cérebro, ele jamais foi o mesmo. De um homem
trabalhador e amigável, Gage havia se transformado, segundo os relatos da época, em um
típico cafajeste. Ele havia perdido qualquer censura, tornara-se arrogante e capaz de qualquer
coisa para levar vantagem em tudo. Mas será que um dano físico no cérebro pode mudar a
consciência de uma pessoa?

Hoje, os neurologistas sabem que a área afetada no cérebro de Gage foi o córtex pré-frontal.
Parte do cérebro que fica logo abaixo da testa, tem um papel importante em nossa capacidade
de sentir emoções. Ao perder essa capacidade, as pessoas tornam-se mais indiferentes, já que
não conseguem mais sentir as emoções responsáveis por aquele aperto no peito de culpa ou
remorso, por exemplo. São esses sentimentos que nos obrigam a repensar atitudes, mudar,
evoluir, diz Dylan Evans, neurologista da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e autor de
Emotions The Science of Sentiments (Emoções A Ciência dos Sentimentos, ainda inédito no
Brasil).
Do acidente de Phineas Gage para cá, os neurologistas e biólogos sabem que esse filme que só
você assiste e que reúne a história da sua vida, preferências, emoções, enfim, a sua identidade
tem origem em uma série de atividades integradas no seu cérebro. De acordo com eles, a
capacidade de representar o mundo na mente não passa de um traço evolutivo, assim como a
nossa habilidade para a locomoção.

Na prática, o que os cientistas querem dizer com isso é que, de certa forma, outras espécies
também têm consciência. A diferença estaria no grau dela. Enquanto uma anêmona do mar,
por exemplo, se expande ou se contrai diante da presença da luz solar, o homem tem uma
série de instrumentos para representar o ambiente de uma forma bem mais sofisticada. Diante
de um risco de assalto iminente, por exemplo, sentimos medo, tentamos antecipar
visualmente o que pode acontecer, calculamos a chance de escapar, nos lembramos das
pessoas que amamos, enfim, nosso cérebro realiza simultaneamente uma série de atividades.
E, após essa experiência, esses acontecimentos assim como os sentimentos envolvidos nele
são registrados para que você se sinta ruim novamente diante de outra ameaça e tenha mais
chances de sobreviver.

Mas em que momento essas atividades formam aquilo que você chama de sua consciência?
Para Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford, a consciência não é um
lampejo, mas um contínuo de conexões dos seus neurônios, que vão ocorrendo do momento
em que você nasce até o fim da sua vida. A cada nova experiência, seu cérebro faz uma
representação mental que é armazenada em sua memória. Ao comer uma comida diferente,
por exemplo, surgiria uma mudança nas conexões do seu cérebro. Quanto mais o mundo
passa a ter significado para você, mais conexões são feitas em seu cérebro, diz Greenfield.

Hoje, ações do nosso cérebro podem ser monitoradas por meio da técnica de tomografia por
emissão de pósitrons, que mede a quantidade de energia que cada área consome em cada
uma dessas atividades. O resultado dessas pesquisas tem revelado que as diversas atividades
responsáveis pela nossa consciência requerem o casamento de várias regiões. Ou seja: o que
faz de você você é a soma de todas as representações que você faz dos outros e do seu
ambiente, que podem se expandir a cada dia, desde que você mantenha sua consciência
O que é a luz?

Ok, nós sabemos que ela é uma partícula e uma onda, mas o que isso realmente quer dizer?

Por Salvador Nogueira

No século 17, Isaac Newton sugeriu que a luz era composta de pequenos corpúsculos ou seja,
partículas. Nos dois séculos seguintes, contudo, experimentos demonstraram que a radiação
luminosa era composta de ondas, como descreveu, no século 19, o escocês James Maxwell.
Inspirado pela mecânica quântica do alemão Max Planck, Einstein bagunçou tudo ao
apresentar, em 1905, uma descrição da luz que só seria válida caso ela fosse composta de...
partículas.

Foi por esse trabalho (e não pela relatividade) que Einstein ganhou seu Nobel. De acordo com
ele a luz se comporta ora como onda, ora como partícula. Mas o que define quando a luz age
como uma ou outra? Essa é a grande maluquice. É o experimento a forma como tentamos
detectar a luz que induz essa transformação.

Um dos fenômenos que indica que a luz é onda é a chamada interferência o fato de que ondas
luminosas, quando passam a certas distâncias, podem interferir umas com as outras. A melhor
forma de observar isso é ver uma parede com duas fendas estreitas, uma ao lado da outra, por
onde a luz deve passar e ser projetada num anteparo atrás da parede. Quando as duas fendas
estão abertas, o padrão de luz e sombra que se vê no anteparo é uma série de listras o
esperado, caso as ondas luminosas estivessem interferindo umas com as outras. Ao se fechar
uma das duas fendas, o padrão listrado some e sobra apenas uma faixa intensa de luz (ou seja,
a interferência some).

A doideira é quando os cientistas enviam um fóton por vez na direção da parede. Com as duas
fendas abertas, eles atingem o anteparo, um após o outro, numa distribuição compatível com
o padrão de listras. Mas, se cada fóton está viajando sozinho na direção da parede, ele só tem
duas opções: passar por uma fenda ou pela outra. Ao escolher uma delas, como ele pode
causar interferência com ele mesmo? Pois é, acontece. Parece que o fóton, mesmo sendo um
só, passa pelas duas fendas ao mesmo tempo.

E tem mais: não dá para prever exatamente aonde um dado fóton vai atingir o anteparo. O
padrão ondulatório descreve a probabilidade que uma partícula tem de ir, mas não determina
aonde cada fóton vai. É o chamado princípio da incerteza, da mecânica quântica, em ação. A
Teoria Quântica pode calcular a probabilidade do destino dessas partículas. Mas é incapaz de
dar um significado claro a esses fenômenos.

Será que o mundo quântico é mesmo probabilístico? Einstein, que acreditava que Deus não
joga dados, jamais aceitou essa tese. Em 1954, ele descreveu sua frustração em uma carta:
Todos esses 50 anos de reflexão conscienciosa não me deixaram mais perto da resposta à
pergunta: O que são os quanta de luz? .

Hoje, parte dos físicos acredita que o mundo das partículas é probabilístico e outros, como o
vencedor do Nobel de Física de 1999, Gerardus t Hooft, imaginam que há uma verdade além
do mundo quântico. Acredito que as leis da natureza não sejam mecânico-quânticas, mas
muito mais determinísticas e explicáveis pela matemática, diz t Hooft. É a mesma suspeita que
Einstein teve e para a qual, até agora, ninguém chegou a uma resposta satisfatória.

Qual a origem da vida na Terra?

Se a vida é um fenômeno raro no Universo ¿ ao menos, no Universo observável -, por que,


então, a Terra foi premiada?

Por Rodrigo Cavalcante

Durante séculos, houve várias respostas para essa pergunta. A mais comum é a religiosa. A
vida teria origem em um evento sobrenatural. Houve também quem acreditasse que a vida
surgia espontaneamente a partir da matéria, tese conhecida como a da Geração Espontânea,
que prevaleceu até o século 19. E houve também quem sugerisse que a vida e a matéria
coexistem desde a origem do planeta.

Para a maioria dos cientistas, contudo, a vida nasceu de uma série de reações químicas
ocorridas sob condições especiais. A base dessa explicação surgiu na década de 1950 quando
os cientistas Harold Urey e Stanley Miller produziram aminoácidos essenciais à vida ao
misturarem os elementos presentes na atmosfera primitiva e os submeterem a descargas
elétricas, simulando os raios na atmosfera.

Desde então, os cientistas conhecem os principais ingredientes que deram origem à vida. A
base seria o carbono, que serve como uma espécie de liga entre os demais ingredientes. Do
nosso DNA às unhas de nossos pés, o carbono está presente como um dos mais importantes
elementos da vida. Acontece que o carbono é abundante no Universo e nem por isso há vida
em todos os planetas. O segredo da receita da vida na Terra estaria então no ambiente em que
o carbono e outros ingredientes se mesclaram.

A primeira dessas condições foi a existência de água. A segunda foi a existência de uma
atmosfera gasosa exposta a altas temperaturas e descargas elétricas. Dentro dessa espécie de
cozinha primordial, surgiram os primeiros compostos complexos, alguns deles cercados por
uma fina membrana externa, capazes de se auto-replicar ao reagir com a energia do ambiente.
Nasciam assim as primeiras bactérias, capazes de sobreviver a temperaturas altíssimas até
hoje elas são encontradas na cratera de vulcões , que se reproduziam usando como energia o
hidrogênio, o dióxido de carbono ou o enxofre.

Até aí, tudo o que chamamos de vida poderia se resumir a essas bactérias. Mas o grande salto
que a vida deu no planeta ocorreu quando uma delas passou a se comportar de uma maneira
diferente, captando a luz sobre um pigmento verde (clorofila) e transformando o dióxido de
carbono em dois elementos: o carbono, usado para sua nutrição, e oxigênio, liberado para a
atmosfera como um subproduto.

Ao ser liberado como uma espécie de excremento durante milhões de anos, o oxigênio
terminou fazendo da Terra um planeta completamente diferente dos outros conhecidos no
Universo. O oxigênio liberado pela fotossíntese lentamente transformou a atmosfera e
eliminou alguns dos gases que teriam impedido o desenvolvimento da vida, escreveu o biólogo
inglês Richard Fortey, autor de Vida: Uma Biografia Não Autorizada. Como explica o biólogo,
foi esse fenômeno que permitiu o surgimento de organismos mais complexos, como o próprio
homem.

O mistério aqui é saber o que fez com que essa bactéria se comportasse dessa maneira. Apesar
da experiência da década de 1950 ter produzido aminoácidos fundamentais à vida, ela não
conseguiu produzir vida. Por isso mesmo, há quem considere a hipótese de que a vida na Terra
pode ter vindo do espaço, talvez trazida por um dos milhares de meteoritos que caíram no
planeta em seus primórdios.

Outros cientistas dizem apenas que, como não temos como reproduzir hoje todas as condições
da atmosfera primitiva, tudo o que falta é encontrarmos uma ou outra pequena peça perdida
que logo deve ser achada. Até lá, é preciso esperar.

Quem foi o ancestral direto do homem?


A cada novo fóssil descoberto, a árvore da evolução humana ganha um galho a mais. Resta
saber por que só nós sobrevivemos.

Por Rodrigo Cavalcante

Há algumas décadas, a evolução humana costumava ser ilustrada como uma escada – com o
Homo sapiens figurando no topo, é claro. Após várias descobertas de fósseis desde década de
1960, a escadinha foi virando uma árvore. “Atualmente, a árvore está tão emaranhada que
mais se parece com uma moita”, diz o professor Walter Neves, do Laboratório de Evolução
Humana da USP. O problema é que, a cada nova descoberta de fósseis de milhões de anos, os
pesquisadores da evolução humana têm que lidar com questões cada vez mais complexas. A
primeira delas é tentar definir se o fóssil encontrado faz (ou não) parte da família que resultou
no gênero humano.

Em 1974, por exemplo, a descoberta do fóssil de Lucy, que andava em pé há mais de 3 bilhões
de anos, causou frisson por se tratar do mais antigo bípede encontrado na época. Mas, tirando
esse detalhe, a estrutura do cérebro e a aparência do Australophitecus afarensis, nome
científico de Lucy, faria com que ela passasse hoje provavelmente despercebida em um
zoológico, em meio a gorilas e chimpanzés.

A questão é: até que ponto Lucy e outros fósseis de espécies que viveram há mais de 3 milhões
de anos podem ser considerados nossos ancestrais – e não apenas mais um primata extinto,
sem ligação com o ramo que desembocaria no Homo sapiens?

A dificuldade em encontrar nossa linhagem aumentou ainda mais quando os pesquisadores


concluíram que diversos hominídeos devem ter se esbarrado na África por volta de 2 milhões
de anos atrás. A descoberta aposentou de vez a imagem da evolução como uma fila em que
cada espécie substituía outra – da mesma forma que um novo automóvel é lançado para
substituir o modelo anterior. Na verdade, vários hominídeos disputaram o mesmo lugar ao sol
no planeta.

Mais recentemente, o próprio Homo sapiens dividiu terreno com os neandertais, que, por
algum mistério, desapareceram do planeta há cerca de 30 000 anos. Basicamente, há duas
teorias para explicar esse desaparecimento: a primeira é a de que eles foram dizimados após
centenas de anos de confronto com a nossa espécie. A segunda é a de que as duas espécies
possam ter se reproduzido e, após milhares de anos, os traços do Homo sapiens prevaleceram
sobre os do neandertais.

Se o reinado solitário do sapiens teve origem em um encontro de amor ou de guerra, ninguém


sabe. Até lá, o hominídeo que tem sido considerado ancestral tanto do Homo sapiens como do
neanderthalensis é o Homo heidelbergensis, representado na ilustração ao lado. De acordo
com os pesquisadores, a transição dele para a nossa espécie pode ter ocorrido na África entre
300 000 e 200 000 anos atrás. O que aconteceu desde então permanece um mistério. Pelo
menos até a descoberta de um novo fóssil.
Existe uma ordem no universo?

Por que até hoje a física dos grandes corpos não conseguiu se entender com a física das
partículas?

Por Salvador Nogueira

A coisa mais incompreensível sobre o mundo é que ele é compreensível, dizia Einstein. Mas
talvez ele tenha tirado uma conclusão prematura. É verdade que hoje sabemos que quase
tudo que vemos pode ser explicado. A questão é: será que um dia uniremos todas essas
explicações em uma única? Ninguém sabe. Mas os físicos responsáveis pelo estudo das coisas
mais elementares estão doidos atrás da resposta. Aliás, foi o próprio Einstein que começou
essa busca.

Em 1916, após concluir sua Teoria da Relatividade Geral, que versava sobre a gravidade, ele se
perguntou se era possível integrá-la à outra força conhecida até então: o eletromagnetismo.
Einstein passou os últimos anos de sua vida tentando, mas não encontrou a resposta. Em
compensação, outros físicos trataram de fazer perguntas que o deixariam maluco. Ao longo do
século 20, foram descobertas e descritas outras duas forças da natureza a força nuclear forte,
responsável por colar as partículas que compõem os núcleos atômicos, e a força nuclear fraca,
que
atua em escala ainda menor. A tarefa passou então a ser unir todas essas forças numa única
teoria, algo que ainda está longe de virar realidade.

O maior sucesso até agora foi reunir a força eletromagnética com a força nuclear fraca,
produzindo uma teoria eletrofraca e, posteriormente, com a força forte. O arranjo que costura
esses 3 elementos é o chamado Modelo Padrão da Física de Partículas um arcabouço que
reúne tudo que é comandado pela mecânica quântica. A idéia por trás da unificação das forças
é a de que, no princípio do Universo, elas eram todas a mesma coisa. Foi justamente a
evolução do Cosmos que fez com que as forças se separassem. Sabe-se que, conforme
compactamos partículas para que elas simulem o ambiente nos primeiros instantes após o big-
bang, as 3 forças quânticas convergem.

A dúvida é se a força da gravidade vai se juntar ao bando. O problema é que a gravidade não
se encaixa na física quântica. Mas o que é ser quântico? Em poucas palavras, é ter unidades
mínimas, como se cada partícula tivesse apenas uma quantidade finita de energia medida em
números inteiros. Você pode ter 1, 2, 3, 4, 5... pacotes de energia, mas não pode ter 2,5
pacotes. A gravidade, que opera no macrocosmo, não consegue ser descrita dessa maneira.

A aposta mais quente hoje em dia para conseguir encaixar a gravidade é a Teoria das
Supercordas. Ela se diz capaz de unificar as 4 forças da natureza. O problema é que a
matemática envolvida nela é tão complexa que ninguém conseguiu resolvê-la a contento.
Além disso, não sabemos sequer se existem apenas 4 forças no Universo. É possível que você
tenha ouvido falar da energia escura um negócio misterioso que age contra a gravidade e está
acelerando a expansão do Cosmos.

Pois é, algumas das descrições teóricas supõem que essa energia possa ser uma 5a força no
Universo. Talvez você se pergunte: para que precisamos unificar essas teorias? Em 99,9% dos
casos, de fato, não precisamos. Mas a construção de modelos sobre o nascimento do Universo
e o interior de buracos negros exigem a união entre a gravidade e a mecânica quântica.

Resta saber, contudo, se essa unificação é realmente possível ou não passa de uma
incapacidade humana de lidar com o caos.

Qual é a idade do Universo?

Entenda como, afinal, os cientistas podem calcular com precisão a idade do cosmos

Por Tiago Cordeiro

O Universo tem 13,7 bilhões de anos, com uma margem de erro de 0,2 bilhão para mais ou
para menos. Dito assim, parece simples, mas, para chegar a esse valor, os cientistas se
bateram durante quase 80 anos. Em 1929, o astrônomo americano Edwin Hubble percebeu
que as galáxias estavam se afastando umas das outras e descobriu que, quanto maior a
distância, mais alta a velocidade de distanciamento. Isso significa que o Universo está se
expandindo, e, portanto, ele deve ter tido um começo.
O trabalho do americano possibilitou que o modelo de Universo estático, que dominava a
ciência, fosse revisto e desse origem à tese do big-bang. A par ti r do cálculo da distância e da
velocidade atuais, seria possível descobrir há quanto tempo as galáxias estão se
movimentando – e, portanto, quando foi exatamente que o nosso Universo começou.

Para mapear o Universo e descobrir sua idade, o astrônomo desenvolveu uma relação,
conhecida como Lei de Hubble. Ele mesmo fez as contas e chegou à conclusão de que o
Universo tinha 2 bilhões de anos. Acontece que, na época, já se sabia que a Terra e o Sol eram
mais velhos do que isso (para o nosso planeta falava-se em 6,5 bilhões, e hoje temos como
certa a idade de 4,5 bilhões). Algo estava muito errado aí, e era o valor da constante de
Hubble, calculada a partir da distância estimada entre as galáxias.

O pesquisador dizia que ela tinha o valor de 550 quilômetros por segundo por megaparsec
(unidade de medida que corresponde a 3 milhões de anos-luz). Começou então u m lento e
difícil trabalho de recálculos e refinamentos dessa constante. Cada nova informação a respeito
das distâncias entre os corpos espaciais provocava nova onda de tensão entre os astrônomos.

Em 1952, o astrônomo alemão Walter Baade provou que o Universo era pelo menos duas
vezes mais velho do que a Terra. Nos anos seguintes, boa parte dos cientistas adotou 20
bilhões de anos. Era um valor confortável, já que a idade de muitas estrelas era estimada entre
14 e 16 bilhões. Nos anos seguintes, um grupo de físicos chegou à conclusão de que o cálculo
mais cor reto estava em torno dos 10 bilhões. A partir do final da década de 1980, com o auge
da construção de telescópio s espaciais, novos pesquisadores chegaram aos resultados mais
variados, sempre dentro da faixa de 10 a 20 bilhões. Até que, em 1996, o telescópio espacial
Hubble forneceu dados que levaram os pesquisadores ao número preocupante de 8 bilhões.

Houve quem chegasse a duvidar da teoria do big-bang. No começo da década de 1990, o


satélite europeu Hipparcos mediu a distância de milhares de estrelas com uma precisão 100
vezes maior do que a que se conseguia até aquele momento. Com isso, a idade das estrelas
mais velhas foi reduzida de 16 para 13 bilhões. Ainda assim, era preciso refazer os cálculos ou
explicar os dados fornecidos pelo Hubble. Foi o que dezenas de pesquisadores fizeram e, pela
primeira vez, chegaram todos a resultados muito parecidos.

Hoje, a constante de Hubble fica em torno de 71 quilômetros por segundo por megaparsec, e a
idade do Universo está fixada, com um grau razoável de segurança, em 13,7 bilhões. Pelo
menos até que novas informações venham a exigir novos cálculos.
Até quando a Terra agüenta?

Pesquisadores afirmam que o aquecimento global causará uma catástrofe planetária, resta
saber em que grau

Por Rodrigo Cavalcante

Lembra daquela sensação estranha que boa parte das pessoas sentia na década passada de
que as agressões ambientais iriam provocar alguma resposta do planeta, mas ninguém sabia
exatamente quando e como?

Pois é: para a maioria dos pesquisadores, a Terra já começou a dar sinais de que está
respondendo às agressões ao ambiente. No momento, a ameaça maior como você está
cansado de saber é o aquecimento global. O 4º relatório do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas da ONU, (IPCC, na sigla em inglês), divulgado em maio passado, revela
que o problema já está entre nós e tem causado mudanças no clima e na vegetação em vários
continentes. Poucos, mesmo dentre os cientistas do clima e ecologistas, parecem perceber
plenamente a gravidade potencial, ou a iminência, do desastre global catastrófico, alerta o
cientista britânico James Lovelock, que ficou famoso na década de 1970 por ter concebido a
Teoria de Gaia, que trata a Terra como um organismo vivo.

Em seu livro A Vingança de Gaia, ele diz que a questão não é mais se vai ou não acontecer uma
catástrofe e tão simplesmente qual será o tamanho do estrago. É preciso esclarecer que, para
os cientistas, o que está sob ameaça não é o planeta físico em si. Afinal, a Terra já sobreviveu a
pelo menos 5 cataclismos no passado (ver pergunta Qual Foi a Causa das Grandes E x tinções?,
página 18).

Tampouco é provável que nossa espécie inteira venha a ser extinta. O que está em xeque é a
civilização, diz James Lovelock. Somos resistentes, e seria preciso mais do que essa catástrofe
climática prevista para eliminar todos os casais de seres humanos em condições de procriar,
reconhece o cientista britânico. Ainda assim, ele diz que as perspectivas são sombrias e que,
ainda que consigamos reagir com sucesso, passaremos por tempos difíceis como em uma
guerra, sendo levados ao limite.

Apesar do aquecimento estar batendo em nossa porta, ainda há cientistas que apostam na
capacidade de recuperação da própria Terra. A questão é: o que há de exagero e o que há de
verdade nesses relatórios. Até alguns anos atrás, o maior ataque às previsões catastróficas
feitas pelos ambientalistas foi feito pelo estatístico dinarmaquês Bjorn Lomborg, autor do livro
O Ambientalista Cético, escrito no início da década. De lá para cá, o número de pesquisadores
que se arriscam a fazer previsões otimistas têm diminuído bastante. Na melhor das hipóteses,
eles prevêem que o aumento da temperatura no planeta causará, sim, danos ao ambiente.

Mas nada comparado aos efeitos especiais das devastações dos filmes de Hollywood. Já para
os ambientalistas que se consideram realistas, as conseqüências serão dramáticas e podem ser
concretizadas já nas próprias décadas. Elas incluem a elevação do mar entre 9 e 88
centímetros, a desertificação de grandes áreas, falta crônica de água e a extinção de mais de
um terço de todas espécies que vivem no planeta.

A questão que fica é: por que arriscar?

O que aconteceria se você caísse no interior de um buraco negro?

É possível saber o que há lá dentro? É mesmo um caminho sem volta?

Por Salvador Nogueira

Como até hoje ainda não há consenso sobre o que acontece no ponto central desses objetos,
os cientistas costumam varrer o tema para baixo do tapete. Afinal, buracos negros não
parecem seguir a lógica do Universo em que vivemos. A rota que leva ao seu interior é um
caminho sem volta. Mas, afinal, o que é um buraco negro?

Em 1916, o físico alemão Karl Schwarzschild usou a Teoria da Relatividade Geral para entender
o que acontecia em torno de objetos muito densos, como as estrelas. Ele concluiu que, se a
massa de uma estrela pudesse ser suficientemente compactada, haveria um ponto em que a
velocidade de escape daquele objeto seria tão alta que nada conseguiria escapar dele – nem
mesmo a luz. Como, pela Teoria da Relatividade, é o traçado da luz que determina a geometria
do Universo, o fato de haver uma região da qual um raio de luz não consegue escapar indica
que ali há um buraco no próprio tecido do espaço-tempo do Universo.

Ou seja, um buraco negro. Até aí, era só uma brincadeira teórica. O próprio Einstein sempre
levou isso na boa, pois não podia imaginar que o Universo fosse cheio de buracos. Em 1939,
ele chegou a escrever um artigo repudiando a possibilidade de que esses fenômenos
existissem. Mas acontece que Einstein também errava.

Os astrofísicos descobriram que estrelas com muita massa, quando chegam ao fim de sua vida,
implodem o seu núcleo. A matéria é comprimida a tal ponto pela ação gravitacional que o
tamanho do objeto fica menor que o chamado “raio de Schwarzschild”, e o resultado é o
nascimento de um buraco negro.

Essa foi uma descoberta surpreendente – o Cosmos é, de fato, esburacado. Hoje sabemos que
existem vários buracos negros gerados por estrelas mortas e no núcleo de cada galáxia de
médio ou grande porte. Muito bem. Mas o que acontece no interior desse objeto? Segundo a
relatividade, a massa é comprimida até um ponto infinitamente denso, quente e pequeno –
chamada de singularidade.

O que resultaria daí, ainda é tema de várias hipóteses. De acordo com o físico americano Lee
Smolin, cada buraco negro seria um ponto de partida para o nascimento de um novo Universo,
muito parecido com o nosso. Pode ser uma idéia maluca, mas, convenhamos, a descrição da
singularidade do buraco negro é muito parecida com a do estágio inicial do nosso Universo, o
famoso big-bang.

Caso ele esteja correto, é possível que o buraco negro, ao menos no instante exato de sua
formação, abra caminho para um Universo-bebê. A questão que fica é: podemos ir até lá? Por
enquanto, a resposta da ciência é a de que podemos – contanto que aceitemos ser
despedaçados. Como, antes de cair nele, temos de nos aproximar dele, a velocidade que
ganharíamos nesse processo seria tão grande que viraríamos farinha antes de atravessá-lo.

É isso que acontece o tempo todo com estrelas que estão para cair num desses devoradores,
cujas massas são aceleradas tão intensamente que deixam rastros de raios X – a deixa para
que os cientistas detectem um buraco negro.

Pondo de lado essa limitação, suponhamos que pudéssemos atravessá-lo até perto do seu
núcleo, protegidos por uma espaçonave. O que aconteceria? Segundo o físico britânico
Freeman Dyson, passaríamos a fronteira sem sentir sequer um solavanco. Entretanto, um
observador externo que nos visse caindo teria uma percepção bem diferente – é a relatividade
em ação. “Se nos imaginássemos caindo em um buraco negro, nossa percepção de tempo e
espaço estaria desvinculada do tempo e espaço de um observador que nos acompanhasse de
fora”, diz Dyson. “Enquanto nos veríamos caindo suavemente no buraco sem qualquer
desaceleração, o observador externo nos veria cair indefinidamente sem jamais tocar o
fundo.”
Por que sonhamos?

Das velhas teorias psicanalíticas à moderna neurociência, o que a ciência sabe sobre esse
curioso fenômeno?

Por Eduardo Szklarz

Em 1900, o austríaco Sigmund Freud causou uma revolução no estudo da mente ao publicar A
Interpretação dos Sonhos. Nele, o pai da psicanálise contestava a noção bíblica de que os
sonhos eram fenômenos sobrenaturais, dizendo que derivavam da psique humana. Decifrá-los,
portanto, seria a chave para entender o que se passa dentro da nossa cachola. Essas teorias
foram ridicularizadas por muito tempo e somente agora, mais de 100 anos depois, elas estão
sendo testadas.

A primeira idéia de Freud confirmada pela ciência é a de que os sonhos seriam restos do dia.
Ou seja: algo que acontece com você de dia reverbera durante os sonhos. A comprovação
científica disso foi feita em 1989 por Constantine Pavlides e Jonathan Winson na Universidade
Rockefeller. Ao observar cérebros de ratos, eles descobriram que os neurônios mais ativados
durante o dia continuavam a ser ativados durante a noite. Do mesmo modo, os neurônios
pouco ativados durante o dia tampouco era m durante a noite.

O que isso significa? “Significa, por exemplo, que, se uma pessoa teve hoje uma experiência
marcante, a chance de essa experiência entrar em seu sonho é muito grande”, diz Sidarta
Ribeiro, diretor de pesquisas do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e
Lily Safra (IINN–ELS). “Se ela foi atacada por um tubarão, é provável que sonhe com tubarão.
Se foi para a guerra do Iraque, nos próximos anos vai sonhar com guerra. Isso é o resto diurno
levado às últimas conseqüências.” Mas, como em nossa vida moderna ninguém tem
experiências extremas todos os dias, os sonhos acabariam sendo uma mistura simbólica de um
monte de coisas, como Fruem havia previsto.

Você pode sonhar hoje com tubarão, a manhã com jacaré, depois com afogamento,
simbolizando todos eles uma mesma experiência. Mas de onde viriam aqueles sonhos
malucos, com cenas que você nunca viu? Para a ciência, do seu inconsciente. É lá que estão
guardadas as lembranças que você adquiriu ao longo da vida. Quando você dorme e começa a
sonhar, seu sono entra na fase R EM (sigla em inglês para Movimento Rápido dos Olhos). “O
sono REM faz ovos mexidos com suas memórias. Ele as concatena de uma forma não comum”,
diz Sidarta.

Isso acontece porque o cérebro está em altíssima atividade nessa fase, mas não tem as
informações sensoriais da vigília. Não conta com cheiros, imagens, sons nem outras
informações que temos quando estamos acordados. A atividade sensorial está livre e vai
aonde quiser, seguindo os caminhos mais usados – que são as memórias mais fortes. Ou seja:
seus sonhos com imagens aparentemente inéditas seriam apenas combinações de uma série
de símbolos que você já conhece de outras experiências. Ok, mas sonhar serve para o quê?

“Tudo indica que o sonho tem a função de simular comportamentos – tanto os que levam a
recompensa (os bons) como os que levam a punição (os pesadelos)”, diz Sidarta Ribeiro.
“Portanto, sua função seria evitar ações que resultem em punição e procurar aquelas que
levam à satisfação do desejo.” Esse processo funcionaria da seguinte forma. Imagine uma
cotia. Seu pesadelo é que a jaguatirica apareça quando ela estiver bebendo água.

Assim, da próxima vez que for ao lago, essa memória voltará e ela terá mais cuidado (evitando
a punição). E o sonho bom da cotia? É encontrar um campo com sementes gostosas. Portanto,
se ontem ela passou num lugar que tinha sementes, seu sonho será ela voltando àquele lugar,
pois talvez haja mais alimento a li amanhã (levando à recompensa). O curioso é que essa tese
combina, de certa forma, com a idéia freudiana de que a função dos sonhos é a satisfação do
desejo, teoria que havia se tornado motivo de chacota nas últimas décadas.

Como o universo vai acabar?

Se o cosmos nasceu de uma grande explosão, há bilhões de anos, como será o fim dele ¿ e
será que ele vai terminar mesmo?

Por Tiago Cordeiro

A resposta mais franca é que, ao menos por enquanto, não fazemos a menor idéia. Até a
década de 1960, a ciência defendia que ele nunca terminaria, já que sempre foi exatamente do
jeito que é. Mas hoje os cientistas sugerem dois cenários possíveis: o fogo ou o gelo. Ou
sofreremos uma retração, seguida de uma explosão, ou uma expansão contínua até que tudo
se torne um gigante inerte.

Desde 1998, quando duas equipes de pesquisadores alcançaram resultados muito parecidos e
até hoje inquestionáveis, sabemos que o Universo está se expandindo cada vez mais rápido e
que sua temperatura média atual é de 270 ºC negativos – quando ele tinha 300 milhões de
anos, era muito mais quente, tinha 5 000 ºC.

Se a densidade do Universo for grande o suficiente para refrear essa velocidade de


crescimento, então vamos experimentar o big crunch, um processo de retração violento que
vai arremessar em direção a um único ponto todo os 10 trilhões de bilhões de estrelas que
existem.

Se a expansão continuar, o Universo vai se tornar uma massa gigantesca, inerte e gelada. Vai
demorar dezenas de bilhões de anos, mas, com o afastamento das galáxias, o céu que vemos a
partir da Terra vai se tornar cada vez mais escuro, até o limite em que só seremos capazes de
acompanhar os elementos da nossa Via Láctea. Depois, todo o resto vai sumir do nosso
alcance visual.

Mas isso ainda não será o fim. O astrofísico americano Fred Adams, co-autor do livro Biografia
do Universo: Do Big Bang à Desintegração Final, imagina o seguinte cenário: depois que quase
todas as estrelas tiverem se tornado anãs brancas e algumas virarem supernovas, tudo o que
vai sobrar serão buracos negros. Até que eles próprios vão se desintegrar em partículas
gigantescas, que vão se unir para formar corpos maiores do que o nosso Universo atual inteiro.
Depois, mesmo esses corpos vão sumir. E então, aí, sim, tudo terá terminado. Até mesmo o
tempo e o espaço deixarão de existir.

Curiosidade: O universo está repleto de forças ocultas


Depois de 4 séculos de observação e pesquisas desde Galileu Galilei, só conhecemos 4% de
tudo o que compõe o Universo – e, o que é pior, só nos últimos 10 anos percebemos que
sabemos tão pouco. Hoje os cientistas dizem que existe uma força de antigravidade e que ela
responde pela maioria da massa-energia do Universo: 74%. É muita coisa, o suficiente para
anular a força de atração gravitacional entre os astros e garantir o cenário de expansão em
que acreditamos. O que é essa energia escura? Não se sabe. Onde ela está? A hipótese mais
aceita é: em todos os lugares. Isso seria possível porque a energia escura é muito rala: mais ou
menos 10-29 gramas por centímetro cúbico.

Os demais 22% são ocupados pela matéria escura, que também é um mistério. Ela não emite
nem reflete radiação eletromagnética suficiente para ser observada diretamente, mas sua
presença pode ser calculada a partir do efeito que provoca na matéria visível. O fato é que,
juntas, essas duas grandezas são responsáveis por manter os elementos conhecidos do
Universo separados – além de garantir que eles se movimentem para longe uns dos outros
Poderemos vencer a morte?

A imortalidade está ao alcance da ciência ou a morte será a única barreira intransponível


para o ser humano?

Por Rodrigo Cavalcante

De certa forma, o homem já está ganhando essa batalha. No início do século 20, a expectativa
de vida no Brasil era de pouco mais de 30 anos. Hoje, a média supera os 70. Ou seja:
conseguimos duplicar o tempo de vida em cerca de um século.

Isso não significa, é claro, que estamos perto de alcançar o sonho da imortalidade. Para tanto,
seria necessário encontrar uma forma de suspender os efeitos do avanço da idade. Mas será
que, no futuro, as pesquisas genéticas poderão encontrar uma “cura” para o envelhecimento?

Por enquanto, o maior defensor dessa tese é o controvertido bioquímico Aubrey De Grey, da
Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ele defende que a expectativa de vida poderá ser
estendida para até 1 000 anos nas próximas décadas e que a imortalidade, em breve, será mais
uma escolha ética (já que a pressão populacional seria insuportável em um planeta em que
ninguém morre) do que de viabilidade técnica. “Se o envelhecimento é um fenômeno físico em
nossos corpos, o avanço da medicina poderá atacar a velhice da mesma forma que ataca as
doenças”, diz o cientista. Para isso, ele diz que será necessário solucionar os seguintes
problemas:

Combate à degeneração celular:


As células que formam os tecidos de órgãos vitais como o cérebro ou o coração deixam de se
renovar após um tempo. Para evitar esse processo, seria necessário encontrar formas de
estimular o crescimento e a reposição delas – algo que poderia ser feito, em tese, por
transfusões periódicas de células-tronco projetadas para substitui-las.

Eliminação das células não desejáveis:


Novas tecnologias poderão combater a proliferação de células de gordura responsáveis por
doenças como o diabete e de outros tipos de células danosas – como as que se acumulam na
cartilagem das juntas do corpo. A dificuldade é eliminá-las sem danificar as células saudáveis.
Mutação nos cromossomos e nas mitocôndrias:
O câncer é o dano mais conhecido causado por essas mutações nos cromossomos. Para
combatê-lo, será preciso eliminar as enzimas responsáveis pela resistência das células
cancerígenas. As mitocôndrias, responsáveis pela produção de energia das células, também
são suscetíveis a mutações que precisam ser eliminadas.

Acúmulo de lixo dentro e fora da célula:


O “lixo celular” é formado por resíduos da atividade celular e causa vários problemas, como
arteriosclerose. Uma forma de combatê-lo é encontrar enzimas que devorem esses resíduos.
Os fluidos onde as células estão imersas também acumulam materiais nocivos. Para combatê-
los, é preciso encontrar uma forma de renová-los. Caso a medicina não consiga resolver esses
problemas, outra saída seria contar com ajuda de máquinas, como nanorrobôs implantados
em nosso corpo para limpar as células. Ou arrumar, em último caso, uma forma de transferir a
nossa consciência para uma máquina. Essa alternativa é levantada pelo cientista e inventor
americano Raymond Kurzneil, para quem, em algumas décadas, poderíamos fazer uma espécie
de download de nossa consciência em um computador. Resta saber qual seria a vantagem de
viver dentro de uma máquina.

O que é a felicidade?

Será que a ciência pode mensurar esse sentimento tão desejado?

Por Rodrigo Cavalcante

Por muito tempo, a felicidade foi tratada como uma sensação intangível, tema da filosofia e da
arte – e não da ciência . Acontece que , nos últimos anos, a união entre psicólogos,
economistas e neurologistas turbinaram a chamada “ciência da felicidade”, um novo campo
que promete revolucionar a ciência nas próximas décadas.

Como os neurologistas já conseguem identificar quais áreas do cérebro são acionadas quando
sentimos prazer, os pesquisadores conseguem cruzar esses dados com as respostas das
entrevistas, passando a contar com um panorama muito mais confiável sobre o tema. Mas
como defini-la?

“Felicidade é sentir-se bem, gozar a vida”, diz o economista britânico Richard Layard, autor de
A Ciência da Felicidade. Considerado uma das maiores autoridades no assunto, ele ficou
famoso por levantar uma questão curiosa: o aumento de renda de países não foi seguido do
aumento do grau de felicidade dos seus cidadãos.

De acordo com Layard e outros pesquisadores, isso acontece por dois motivos. O primeiro é o
fato de que o que torna uma pessoa mais feliz não é o aumento da renda em si, mas o
aumento em comparação aos seus colegas. Uma pesquisa na Universidade Harvard, nos EUA,
mostrou que a maioria dos alunos preferiria receber US$ 50 000 se os outros ganhassem a
metade desse valor, em vez de receber US$ 100 000 se os outros ganhassem US$ 200 000. O
segundo estaria em nossa capacidade de nos adapta r ao novo padrão.

Mas, se a riqueza não traz felicidade, o que traz? Se você pensou em saúde, juventude, um QI
alto, um bom casamento, dias ensolarados ou ter uma crença religiosa, saiba que tudo isso
ajuda. Mas, de acordo com pesquisa realizada em 2002 pela Universidade de Illinois, também
nos EUA, as pessoas com alto nível de felicidade são aquelas que têm mais capacidade de fazer
amigos e manter fortes laços afetivos com eles. Um hábito simples e gratuito.

Deus existe?

Deus criou o homem à sua imagem e semelhança.... Ou foi a mente humana que criou a
figura de Deus?

Por Rodrigo Cavalcante, com ilustração de Nelson Provaz

Antes de tentar responder a essa pergunta, é preciso esclarecer qual a concepção de Deus de
que se está tratando. Afinal, quando a maioria dos cientistas refere-se à possível existência (ou
não) de Deus, não está lidando com a tese de que o velho barbudo de poderes sobrenaturais
retratado nos afrescos de Michelangelo possa um dia ser encontrado em laboratório.
Tampouco, como diz o zoólogo inglês Richard Dawkins, de nada adiantaria designar por Deus
uma constante física recém-descoberta que regesse o Universo. Nesse caso, como diz Dawkins,
“ele não teria nada a dizer sobre ética, sobre o que é certo ou errado ou sobre qualquer outra
questão moral”.

Para a ciência, a evidência mais próxima da existência de uma concepção divina é a de que
Deus possa existir seria a descoberta de indícios de que o Cosmos foi
“projetado” seguindo um propósito. Ou seja: não haveria espaço para o acaso e o caos na
criação do Universo e no surgimento da vida em nosso planeta. A complexidade dos sistemas
biológicos ou dos fenômenos físicos indicaria que houve um projetista guiando todo esse
processo.

Mas será que o fato de alguns cientistas proporem essa pergunta não faria com que eles
partissem necessariamente da necessidade (reconfortante) da existência dessa ordem no
Cosmos? Ou seja: a pergunta acima já não nasceria viciada do ponto de vista do método
científico? Nos últimos 100 anos, pelo menos 3 formas de responder ao impasse acima foram
exploradas:

A primeira, defendida por boa parte da comunidade acadêmica, é a de que a existência de


Deus não é tema do método científico. Essa visão baseia-se principalmente na obra do filósofo
da ciência Karl Popper, para quem a ciência só pode tratar de temas que resistam a refutações,
o que ele chamou de critério de “falseabilidade”. Resumidamente, Popper defende que o
papel do cientista é buscar falhas na sua teoria – e, quanto mais genérica ela for, como no caso
da “existência de Deus”, menos passível ela seria de ser tratada cientificamente. Ou seja: o
tema seria apenas assunto da metafísica, parte da filosofia que não trata dos fenômenos
físicos.

A segunda resposta, que não necessariamente invalida a primeira, é a dos cientistas que
acreditam que a espécie humana evoluiu biologicamente para acreditar em Deus, assim como
para andar sobre duas pernas. Um dos maiores defensores dessa tese é o biólogo americano
Edward O. Wilson, para quem a nossa predisposição para a religião seria um traço genético da
nossa espécie.

Segundo ele, nossa inclinação para acreditar em um ser superior pode ser resultado do
comportamento de submissão animal presente em outras espécies, como os macacos Rhesus,
em que apenas um macho dominante anda de cabeça e cauda erguidas enquanto a maioria do
bando mantém a cabeça e a cauda baixas em sinal de respeito ao líder – na esperança de ser
protegido por ele contra um inimigo. “O dilema humano é que evoluímos geneticamente para
acreditar em Deus, e não para acreditar na biologia”, diz Wilson. Teses como a de Wilson
foram reforçadas por pesquisas com primatas, como a realizada com chimpanzés na Tanzânia
pela britânica Jane Goodall. Ao estudar os chimpanzés, Goodall descobriu que eles agem de
maneira nada usual diante de uma cachoeira, adotando um comportamento de reverência que
ela chamou de senso místico.

Além das pesquisas com os primatas, os neurocientistas já sabem quais partes do cérebro são
ativadas durante os estados de meditação e oração. Pesquisas como essa, contudo, não
podem provar a existência ou não de Deus – mas no máximo revelar quais regiões são
responsáveis pelos estados místicos associados à idéia de uma divindade.

A terceira resposta, conhecida como Teoria do Design Inteligente, defende que algumas das
tarefas altamente especializadas e complexas do organismo – como a visão, o transporte
celular e a coagulação – não podem ser explicadas apenas pela evolução. Essas tarefas seriam
uma prova de que a vida seguira um projeto específico. Defendida pelo bioquímico Michael J.
Behe, professor da Universidade Lehigh, na Pensilvânia, e autor do livro A Caixa-Preta de
Darwin, a Teoria do Desenho Inteligente refuta as teses de Darwin e, por isso mesmo, tem sido
considerada uma versão moderna – e mais sofisticada – do velho criacionismo bíblico, teoria
pela qual o Universo e a vida foram criados de acordo com o relato do Gênese.

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