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TV DESTINO

14/04/2008
Central Destino de Produção Cap. 31

FOGO SOBRE TERRA


Novela de
Walter de Azevedo

Inspirada no original de
Janete Clair
Colaboração de
Eduardo Secco

Escrita por
Walter de Azevedo
Likem Queiróz

Direção
Claudio Boeckel e Marco Rodrigo

Direção Geral
Luiz Fernando Carvalho

Núcleo
Luiz Fernando Carvalho
Personagens deste capítulo

HILDA GUSTAVO QUEBRA GALHO


HEITOR TALITA TIANA
DONANA CELESTE MADALENA
FRIDA LEILA ZORAIDE
IVONE ADALGISA BALBINA
CHICA BRENO ZULMIRA
BRISA ISABEL PEDRO
NARA AMADEU ZÉ MARTINS
ARTHUR SUELY
LEONOR LOURDES
GILBERTO CAMILA

Atenção
“ Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA e por conter informações confidenciais, não
poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer meio, sem o prévio e expresso
consentimento da mesma.No caso de violação do sigilo, a parte infratora estará sujeita às penalidades previstas em
lei e/ou contrato.”
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 2

CENA 01. CASA DE HILDA. ESCRITÓRIO. INTERIOR. TARDE

CONTINUAÇÃO. HILDA ESTÁ SURPRESA COM A PRESENÇA DO FILHO.

HILDA — Heitor?

HEITOR — Eu mesmo? Surpresa?

HILDA — Bastante.

HEITOR — Eu imagino o quanto. Pelo jeito que a senhora entrou, eu/

HILDA COMEÇA A ARRUMAR ALGUMAS COISAS EM CIMA DA MESA E SORRI,


DISFARÇANDO.

HILDA — Eu sabia que você estava pra vir, mas pensei que fosse avisar. Se
tivesse, eu poderia ter preparado/

HEITOR — Mamãe.

HILDA — O quê?

HEITOR — A senhora vai ou não me contar porque estava tão brava quando
entrou? Quem é que o tal capanga vai ter coragem de matar?

HILDA FICA SEM SABER O QUE DIZER

CORTA PARA

CENA 02. HOSPITAL. SAGUÃO. INTERIOR. TARDE

IVONE E FRIDA ESTÃO CONVERSANDO. DONANA SE APROXIMA.

IVONE — E daí, Donana?

DONANA — Daí que foi aquilo memo que dona Frida, falô.

FRIDA — Mas o Dr. Pirillo disse se a Marizé tem chance de se recuperar?

DONANA SE CERTIFICA DE QUE NÃO TEM NINGUÉM OLHANDO.

DONANA — O pior aconteceu, dona Frida.

FRIDA — O pior? A senhora não está querendo dizer que/

DONANA — Isso mêmo. A coitada da Marizé num resistiu.

FRIDA — Mein Gott!


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 3

IVONE — Que judiação! Mas ela era uma menina nova! Forte! Quantos anos
havera de tê?

DONANA — Vinte e dois. Eu que coloquei ela no mundo. Mas num é só isso não.

FRIDA — Não?

DONANA — Dona Manuela também morreu.

FRIDA — Meu Deus! Isso não pode continuar acontecendo, Donana. Nós
precisamos fazer alguma coisa!

IVONE — Mas o que nóis pode fazê?

DONANA — Falá com o prefeito...de novo.

IVONE — E a senhora acha que vai adiantá?

DONANA — Se vai adiantá, eu num sei, mas que nóis vai falá, nóis vai.

FRIDA — Mas hoje é domingo. A prefeitura está fechada.

DONANA — Nóis vai na casa dele.

CORTA PARA

CENA 03. CASA DE HILDA. ESCRITÓRIO. INTERIOR. TARDE

CONTINUAÇÃO DA CENA 1. HILDA TENTANDO ESCONDER DE HEITOR OS SEUS


PLANOS.

HEITOR — E então, mamãe? Vai falar ou não? Quem é que o tal capanga vai ter
de...eliminar.

HILDA — Eu não faço a menor idéia do que você está falando.

HEITOR — Pelo amor de Deus, dona Hilda. Eu ouvi.

HILDA — Ouviu mal! Meu filho, você está ficando velho. Velho e surdo!

HEITOR — Mamãe, se a senhora não me disser o que está acontecendo, eu vou


ser obrigado a sair por aí fazendo perguntas pra saber.

HILDA — Você não faria isso!

HEITOR — A senhora sabe que eu faria. (p) Como vai ser? A senhora vai me
contar ou eu vou ter de descobrir?

HILDA FICA CALADA, SEM SABER O QUE FALAR.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 4

HEITOR — Mamãe, eu voltei pra Divinéia por um motivo muito importante. Não
posso deixar que nada me atrapalhe...muito menos uma suposta ligação
de alguém da minha família com um crime.

HILDA — Essa é a idéia que você faz da sua mãe?

HEITOR — É. É exatamente essa. Conheço a senhora o suficiente pra saber do


que dona Hilda Maria Gonzaga é capaz de fazer.

HILDA SE SENTA, CONTRARIADA.

HILDA — Ta bem! Eu vou contar. Mas tenho certeza de que você vai me dar
razão!

CORTA PARA

CENA 04. CASA DE ZÉ MARTINS. QUARTO DAS MENINAS. INT. TARDE

CHICA ESTÁ DEITADA NA CAMA, COM CARA DE POUCOS AMIGOS. BRISA ENTRA.

BRISA — Uai. Ocê ta aí?

CHICA — Não! Ocê abilolô de vez e tá vendo coisa. Num tô aqui não.

BRISA — Credo em cruz! E precisa me respondê desse jeito? Que bicho foi que
lhe mordeu?

CHICA — Bicho nenhum! Ocê me dêxa sossegada aqui no meu canto.

BRISA — Tá bão. Num tá mais aqui quem perguntô!

BRISA ABRE A PORTA DO ARMÁRIO E COMEÇA A PROCURAR UMA ROUPA. CHICA


ESTÁ ARREPENDIDA PELA FORMA COM QUE FALOU COM A IRMÃ.

CHICA — Brisa.

BRISA — Que foi?

CHICA — Óia pra eu.

BRISA PÁRA DE MEXER NO ARMÁRIO E OLHA PARA A IRMÃ.

CHICA — Ocê descurpa eu. É que acontecêro umas coisa aí.

BRISA SORRI E SE SENTA AO LADO DA IRMÃ.

BRISA — Claro que eu perdôo ocê, sua boba.

AS DUAS SE ABRAÇAM.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 5

BRISA — Ocê qué me contá o que foi que aconteceu?

CHICA — Quero. Já contei pro pai, mais ainda tô com isso entalado aqui na
garganta!

BRISA — Pelo jeito, alguém lhe fez arguma coisa.

CHICA — Foi aquele cachorro sem vergonha do Pedro.

BRISA — O Pedro? Ué! E desde quando ele é cachorro sem vergonha?

CHICA — Desde que eu vi ele atracado com ôtra!

BRISA — O Pedro atracado com outra mulher? Ocê só pode de tá brincando,


Chica.

CHICA — E eu por acaso tô com cara de quem tá brincando?

BRISA — Mas isso num pode sê. Pedro lhe adora, Chica. Ocê num deve de tê
visto direito.

CHICA — Pedro me adora. Sei. Ele tava é adorano os peito daquela loira. Peito
que num deve nem de sê dela. Deve sê que nem aqueles de plástico que
as muié da televisão coloca.

BRISA — Mas quem é essa loira de quem ocê tá falano?

CHICA — Num sei, uai! Só sei que tava com ele lá na fazenda de Heitor
Gonzaga.

BRISA — Então deve de sê a tar da filha dele. A Bárbara.

CHICA — Ia tá tudo explicado. Com aquela cara de biscate, tinha mais é de sê


filha do peste.

BRISA — Chica, antes de pensá bestêra, conversa com o Pedro. Ele deve de tê
uma explicação.

CHICA — Eu num quero nem vê ele na minha frente, quanto mais conversá. Eu
sô memo uma jumenta. Acredita que eu inté pensei de verdade em ficá
enterrada aqui nesse fim de mundo que é Divinéia só pra ficá do lado
dele?

BRISA — É porque ocê gosta dele.

CHICA — Gosto, mas pra disgostá é dois palito. Gosto muito mais de mim. Ele
que me aguarde. Se Pedro Azulão acha que pode me fazê de boba e ficá
tudo por isso memo, ele tá é enganado.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 6

BRISA — Chica, ocê num vá fazê nenhuma bestêra.

CHICA — Bestêra eu tava fazeno inté agora. Mas as coisa vai mudá, Brisa. Vai
mudá.

CORTA PARA

CENA 05. CASA DE BRENO. FACHADA.EXT.NOITE

FRIDA, NARA E IVONE AGUARDAM DONANA, QUE VEM DA CASA DE BRENO;

IVONE — E aí, Donana, cadê o prefeito?

DONANA — Num tá. Parece que foi num sei onde mais dona Lourdes e a filha.

FRIDA — E o que é que nós fazemos agora?

DONANA — Eu num sei.

IVONE — E se a gente falá com o Padre Luís?

FRIDA — E vai adiantar de quê? O coitado do Padre está na mesma situação que
nós. Não pode fazer absolutamente nada.

DONANA — Padre Luís é muito bão, mas, que Deus me perdôe, um poste é capaz
de resorve mais do que ele.

IVONE — Credo, Donana. Coitado do Padre.

DONANA — E por acaso eu tô mentindo? Bão, num adianta nóis fica aqui parada.
Vamo vortá pro hospital e tenta ajuda lá.

FRIDA — Eu preciso voltar pro hotel. Tenho medo quando o Lino fica tomando
conta.

NARA — Eu tenho que vortá pra fazenda também. Amanhã eu volto.

AS QUATRO SAEM CONVERSANDO.

CORTA PARA

CENA 06. CASA DE HILDA. ESCRITÓRIO. INT .NOITE

CONTINUAÇÃO DA CENA 3. HILDA E HEITOR SENTADOS, CONVERSANDO.

HILDA — E foi isso o que aconteceu! Exatamente desse jeito. (p) Você concorda
comigo que eu não posso deixar isso barato, não concorda?

HEITOR — Concordo. Dessa vez a Donana extrapolou. Quem ela pensa que é pra
bater na senhora?
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 7

HILDA — Que bom que você me dá razão! Mas ela não perde por esperar! Eu
vou/

HEITOR — A senhora não vai fazer nada.

HILDA OLHA SURPRESA PARA HEITOR.

HILDA — Como é?

HEITOR — Isso mesmo que a senhora ouviu, Dona Hilda. A senhora não vai fazer
nada.

HILDA — Você só pode estar ficando louco! Eu não posso permitir que/

HEITOR — Mamãe, eu sei que a senhora não é a pessoa mais paciente, mas eu
vou lhe pedir calma. Pelo menos por enquanto. Eu quero que a senhora
escute o que eu vou lhe falar.

HILDA — Alguma coisa me diz que eu não vou gostar do que você tem pra me
dizer.

HEITOR — Não vai. Mamãe, eu estou aqui em Divinéia por causa de um grande
projeto. Uma coisa que vai trazer muito dinheiro pra todos nós. Talvez
esse seja o negócio da minha vida.

HILDA — (Estranhando) Aqui? Nesse fim de mundo?

HEITOR — É. Aqui nesse fim de mundo. Mamãe, nós vamos ganhar muito
dinheiro. Vamos, talvez, duplicar o que nós temos hoje.

HILDA — Isso parece bom.

HEITOR — É ótimo. Por isso que eu não quero que a senhora se envolva em
nada...suspeito.

HILDA — Do jeito que você fala eu pareço uma criminosa.

HEITOR — O fato é que nenhum de nós pode se envolver em nada que cheire a
algo ilegal, ou pouco ortodoxo.

HILDA — E eu vou ter que ficar com a parteira maltrapilha entalada na minha
garganta?

HEITOR — Pelo menos por enquanto. Mas eu lhe dou a minha palavra de que isso
não vai ficar assim. Ela vai pagar por ter feito o que fez com a senhora.

HILDA LEVANTA E ANDA PELO ESCRITÓRIO, PENSATIVA.

HILDA — Não tem mesmo outro jeito?


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 8

HEITOR — Não, mamãe.

HILDA — Você me garante que depois/

HEITOR — Garanto, dona Hilda. Donana vai se arrepender de ter lhe dado um
tapa. Eu vou cuidar disso pessoalmente.

HILDA — (Um pouco contrariada) Se é assim.

HEITOR — Garanto que a senhora não vai se arrepender.

CORTA PARA

CENA 07. CUIABÁ. EXT .MANHÃ

STOCK-SHOTS MOSTRANDO O AMANHECER EM CUIABÁ. TERMINA COM A TOMADA


DO PRÉDIO DO HOSPITAL.

CORTA PARA

CENA 08. HOSPITAL. CORREDOR. INT .MANHÃ

ARTHUR FALANDO AO CELULAR. LEONOR SAI DO QUARTO E VAI ATÉ ELE.

ARTHUR — (Ao telefone) Não sei, Isabel. Acho que lá pro meio da semana eu
devo voltar pra Divinéia, resolve algumas coisas e depois retorno aqui
pra Cuiabá. Você vai cuidando das coisas aí. (p) Tá bem. Tchau.

ARTHUR DESLIGA O CELULAR.

LEONOR — Algum problema?

ARTHUR — Não. Coisa de rotina. Isabel não gosta de resolver as coisas sem falar
comigo. (p) Vinícius tá dormindo?

LEONOR — Já acordou. Está esperando o enfermeiro pra ir pra fisioterapia.

ARTHUR — Ótimo. Muito bom.

LEONOR — É. Espero mesmo que dê algum resultado.

ARTHUR — Leonor, eu vou precisar dar uma saída. Tenho que resolver um
negócio.

LEONOR — Tá bem. Mas não demora porque eu preciso ir trabalhar. Não quero
deixar o Vinícius sozinho.

ARTHUR — Eu não vou demorar. Volto logo.

ARTHUR SAI.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 9

CORTA PARA

CENA 09. LOJA. INT .MANHÃ

LOJA ONDE LEONOR TRABALHA. MOVIMENTO NORMAL. ARTHUR ENTRA E UMA


ATENDENTE VEM ATÉ ELE.

ATENDENTE — Posso lhe ajudar?

ARTHUR — Eu queria falar com o gerente.

ATENDENTE — Um momento.

A ATENDENTE VAI ATÉ GILBERTO E FALA COM ELE. O GERENTE SE DIRIGE A


ARTHUR.

GILBERTO — Bom dia. Meu nome é Gilberto, eu sou o gerente. A mocinha me disse
que o senhor quer falar comigo.

ARTHUR — Quero sim. Meu nome é Arthur Braga. Eu sou o marido, quer dizer, o
ex-marido da Leonor.

GILBERTO — Como vai?

ARTHUR — Assim, assim. O senhor sabe o que aconteceu com o meu menino.

GILBERTO — Leonor me disse. Como ele está.

ARTHUR — Dentro do possível, tá bem.

ARTHUR OLHA EM VOLTA.

ARTHUR — Seu Gilberto, aqui tá muito cheio. Será que nós podemos ter uma
palavrinha...em particular?

FICAMOS EM GILBERTO

CORTA PARA

CENA 10. LOJA. ESCRITÓRIO. INT .MANHÃ

UM ESCRITÓRIO BEM ARRUMADO, MAS SEM LUXO. GILBERTO EM SUA MESA, COM
ARTHUR SENTADO EM FRENTE.

ARTHUR — E a situação é exatamente do jeito que eu lhe falei. Leonor tá


empacada que nem uma mula.

GILBERTO — Eu posso adiantar as próximas férias dela. Seu que ainda falta muito,
mas é uma emergência.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 10

ARTHUR — Eu lhe agradeço, seu Gilberto, mas sinceramente, acho que isso não
vai resolver o problema.

GILBERTO — Não?

ARTHUR — Não. Seu Gilberto, acompanhe o meu raciocínio. A Leonor sai de


férias para cuidar do menino. Fica um mês fora, mas depois precisa
voltar. E aí? Quem é que vai tomar conta do meu filho?

GILBERTO — Pensando assim, é mesmo complicado.

ARTHUR — Mesmo que a gente coloque uma enfermeira pra tomar conta, não é a
mesma coisa. O Vinícius precisa agora estar perto da mãe e do pai.

GILBERTO — E o senhor não pode ficar com ele?

ARTHUR — Posso. Claro que posso. É isso mesmo o que eu estou querendo, mas
Leonor não quer. Não sei se o senhor sabe, mas eu não moro aqui em
Cuiabá. Sou fazendeiro no interior. Pra ficar com ele, tenho que levar o
menino pra fazenda, mas a Leonor não vai deixar. O senhor tá
alcançando o tamanho do meu problema.

GILBERTO — Acho que sim.

ARTHUR — E aí que o senhor entra, seu Gilberto.

GILBERTO — (Surpreso) Eu?

ARTHUR — Seu Gilberto, eu sei que, a princípio, isso que eu vou lhe dizer vai lhe
parecer uma coisa horrível, estranha, mas eu só estou fazendo isso pelo
bem do meu filho. (p) Seu Gilberto, eu quero que o senhor demita a
Leonor.

GILBERTO OLHANDO SUPRESO PARA ARTHUR.

CORTA PARA

CENA 11. SÃO PAULO. SHOPPING. INTERIOR. MANHÃ

TALITA OLHANDO ALGUMAS VITRINES. GUSTAVO SE APROXIMA.

GUSTAVO — Oi.

TALITA SE ASSUSTA E DEPOIS SORRI.

TALITA — Que susto, Gustavo.

GUSTAVO — Você tá muito distraída.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 11

TALITA — Tava aqui olhando vitrine. Natal tá chegando.

GUSTAVO — Vamos tomar um café?

TALITA — Claro.

CORTA PARA

CENA 12. SHOPPING. CAFÉ. INTERIOR. MANHÃ

GUSTAVO E TALITA BEBENDO ALGUMA COISA EM UMA MESINHA.

TALITA — Trabalhar na construtora do Dr. Heitor?

GUSTAVO — Exatamente. Começo em Janeiro.

TALITA — E...isso é bom?

GUSTAVO — Claro que é, Talita! A Gonzaga é uma das maiores construtoras do


país! Não é qualquer um que consegue trabalhar lá.

TALITA — Não, isso eu sei. Profissionalmente é maravilhoso. O que eu tô


querendo dizer é na parte pessoal. Você...acha mesmo que a Bárbara vai
gostar disso?

GUSTAVO — A Bárbara?

TALITA — É. Você sabe que ela não gosta que peguem no pé dela e/

GUSTAVO — Mas Talita, quem foi que falou da Bárbara?

TALITA — Eu pensei que/

GUSTAVO — Eu não aceitei esse emprego por causa da Bárbara. Aceitei por minha
causa. (p) Eu andei pensando e acho que todo mundo estava certo. A
Bárbara não é mulher pra mim.

TALITA — (Surpresa) Não?

GUSTAVO — Não. Claro que eu não vou lhe dizer que parei de gostar dela. Isso não
acontece de uma hora pra outra, mas eu coloquei isso com um objetivo
pra mim. Vou me dedicar à minha carreira, vou crescer
profissionalmente...e esquecer a sua amiga.

REAÇÃO SURPRESA DE TALITA

CORTA PARA

CENA 13. APARTAMENTO DE HEITOR. SALA. INT. MANHÃ


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 12

CELESTE FALANDO AO TELEFONE ENQUANTO LEILA OBSERVA.

CELESTE — Perfeito, meu querido. Não poderia ser melhor. (p) Claro! Claro que
eu acho! (p) Imagina. Tira isso da cabeça, Gustavo. Não fui eu mesma
que me prontifiquei a lhe ajudar? (p) Então! (p) Bobagem, sua. Mas eu
adorei isso. Vai ser ótimo pra nossa...estratégia. (p) Tá certo, meu
querido. Beijinho.

CELESTE DESLIGA O TELEFONE.

LEILA — Gustavo?

CELESTE — O próprio!

LEILA — Sabe que eu tô quase concordando com a Bárbara? Chatinho, esse


menino!

CELESTE — Chatinho que nem ela.

CELESTE SE SENTA.

CELESTE — Encontrou com a Talita no shopping e disse que vai trabalhar com o
Heitor. Ela perguntou da Bárbara e ele falou que não quer mais nada com
ela. Claro que a Talita vai contar tudo assim que falar com a Bárbara.

LEILA — Será? Não sei se elas estão muito preocupadas com o que o Gustavo
faz ou deixa de fazer.

CELESTE — Claro que vai falar. Pelo menos pra dizer que o chatinho não vai mais
ficar no pé dela.

LEILA — Celeste, eu não tô vendo mundo futuro nesse seu plano de juntar os
dois.

CELESTE — Pra ser sincera, eu também não. Tá bem! Ele finge que não está mais
interessado. Nenhuma mulher gosta disso, vai querer saber o que
aconteceu, mas e depois? Eu não consegui pensar em nada pra botar fogo
nesse estopim.

LEILA — Precisa apelar pro óbvio.

CELESTE — Como assim?

LEILA — Celeste, quem é a pessoa que a Bárbara mais detesta?

CELESTE — Eu, claro.

LEILA — É por aí, minha amiga.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 13

CELESTE — Não entendi.

LEILA — Celeste, o primeiro passo pra fazer a Bárbara começar a achar esse
menino um pouco mais interessante é fazer com que eles tenham alguma
coisa forte em comum.

CELESTE — Sei. Então isso quer dizer que o Gustavo/

LEILA — Quer dizer que ele precisa concordar com tudo o que a Bárbara fala a
seu respeito. Ela precisa encontrar respaldo, apoio. E é ele quem vai
fazer isso.

CELESTE — Gostei disso. Você tá coberta de razão! Ela ia adorar alguém que
apoiasse as besteiras que ela fala de mim. (p) Leila, eu acho que isso
pode dar certo!

AS DUAS SORRIEM.

CORTA PARA

CENA 14. CUIABÁ. EXTERIOR. MANHÃ

STOCK-SHOTS MOSTRANDO A CIDADE.

CORTA PARA

CENA 15. LOJA. ESCRITÓRIO. INT. MANHÃ

CONTINUAÇÃO NÃO IMEDIATA DA CENA 10. ARTHUR E SEU GILBERTO


CONVERSANDO.

ARTHUR — Seu Gilberto, eu não sei mais o que lhe dizer. Já gastei todos os meus
argumentos!

GILBERTO — Seu Arthur, por favor, coloque-se no meu lugar! O senhor quer que eu
demita a minha gerente, uma excelente funcionária, que está passando
por uma situação complicadíssima, por nada!

ARTHUR — Como por nada, seu Gilberto?! Eu preciso que ela tome conta do meu
filho!

GILBERTO — Mas/

ARTHUR — Mas não tem mais nem meio mais, seu Gilberto. Tenha a santa
paciência. Olha só! O senhor tá aí elogiando a Leonor, dizendo que ela é
boa funcionária, e eu não duvido. Até quando o senhor acha que ela vai
ser assim, com o filho do jeito que tá? O senhor já pensou nisso?

GILBERTO — Bem/
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 14

ARTHUR — Ela vai começar a faltar, chegar mais tarde, sair mais cedo, vai
começar a atrapalhar o andamento da sua loja. Não vai ter como ser de
outro jeito. Quem o senhor acha que vai estar em primeiro lugar pra ela?
A sua loja ou o filho?

GILBERTO — O filho, é claro.

ARTHUR — Pois então! Seu Gilberto, eu não sou um homem ruim. Sei que essa
proposta parece coisa de gente sem coração, mas não é. Eu tô pensando
no que é melhor pro senhor, pra mim e principalmente pro meu filho.

GILBERTO INDECISO.

ARTHUR — E tem mais uma coisa.

ARTHUR TIRA O TALÃO DE CHEQUES DE CARTEIRA E COLOCA EM CIMA DA MESA.

ARTHUR — Eu também tô disposto a lhe dar um dinheiro por causa disso, uma
espécie de indenização.

GILBERTO — Pelo amor de Deus, seu Arthur.

ARTHUR — O senhor não precisa ficar envergonhado, não.

ARTHUR COMEÇA A PREENCHER O CHEQUE.

ARTHUR — Eu sei que isso tudo vai lhe dar dor de cabeça, o senhor vai ter que
pagar o dinheiro por mandar a Leonor embora, vai precisar treinar outra
funcionária. Sei bem como é isso. O senhor é um comerciante, não tá
aqui pra ficar fazendo favor pros outros.

ARTHUR ENTREGA O CHEQUE A GILBERTO, QUE PARECE ESPANTADO COM A


QUANTIA.

ARTHUR — O senhor acha que isso paga a sua dor de cabeça?

REAÇÃO DE GILBERTO

CORTE PARA

CENA 16. DIVINÉIA. PRAÇA. EXTERIOR. MANHÃ

TOMADAS MOSTRANDO A POPULAÇÃO DA CIDADE EM SEUS AFAZERES DIÁRIOS.


ATENÇÃO SONOPLASTIA: “DIVINÉIA” – EUSTÁQUIO SENA.

CORTA PARA

CENA 17. PREFEITURA. ANTE-SALA DO PREFEITO. INT. MANHÃ


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 15

ADALGISA DE PÉ, FALANDO COM DONANA, NARA E FRIDA.

ADALGISA — Mas senhoras, eu já falei que agora não é possível! Já expliquei pra
vocês que...

DONANA — Nóis sabe muito bem o que ocê explicô, que nóis num é surda.
Acontece que ô ele atende nóis por bem, ô atende por mal!

FRIDA — A senhora por favor, volte lá e avise que nós ainda estamos aqui
esperando.

NARA — E rápido, senão eu entro aí e num vai se ocê que vai me impidi!

ADALGISA — Tá bem! Eu vou entrar lá de novo e ver o que eu consigo. (p) Mas não
prometo nada!

ADALGISA ENTRA NA SALA DO PREFEITO.

NARA — Esse prefeito tá é muito do abusado. Será que ele não tá vendo o jeito
que a cidade tá? É sêca, é doença, e ninguém faz nada!

DONANA — Claro que tá vendo. Ele só finge que não.

CORTA PARA

CENA 18. PREFEITURA. SALA DO PREFEITO. INT. MANHÃ

BRENO ESTÁ JOGANDO XADREZ SOZINHO E NÃO PRESTA MUITA ATENÇÃO NO QUE
ADALGISA FALA.

ADALGISA — E elas estão dizendo que vão entrar aqui de qualquer jeito! Que não
desistem enquanto falar com o senhor!

BRENO — É? (p) E o que elas querem mesmo?

ADALGISA — Isso elas não falaram.

BRENO — E a senhora vem aqui tirar a minha concentração, me atrapalhar, sem


saber nem o motivo?

ADALGISA — (Sem graça) É...bem...

BRENO — A senhora já jogou xadrez?

ADALGISA — Não.

BRENO — Xadrez requer muita concentração. É um jogo de raciocínio. Você


precisa ver na frente. Imaginar qual a jogada que o seu adversário vai
fazer.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 16

ADALGISA — Adversário?

BRENO — É.

ADALGISA — Mas seu Breno...o senhor está jogando sozinho.

BRENO — Por isso mesmo eu preciso de atenção redobrada. Preciso prever o que
eu mesmo vou fazer e tentar me impedir.

BRENO CONTINUA JOGANDO ENQUANTO ADALGISA ESPERA. DEPOIS DE ALGUNS


SEGUNDOS ELE OLHA PRA ELA.

BRENO — A senhora ainda está aí?

ADALGISA — É que eu não sei o que eu falo pra elas.

BRENO — Elas quem?

ADALGISA — (Impaciente) Donana e as outras.

BRENO — Ah é! Você...você fala que eu tô muito ocupado hoje e que não vou
poder recebê-las.

ADALGISA — Elas vão focar bravas.

BRENO — Eu também fico bravo com tanta coisa e ainda tô aqui. Pode ir. Me
deixa aqui com o meu joguinho.

ADALGISA SAI, DEIXANDO BRENO CONCENTRADO NO JOGO.

CORTA PARA

CENA 19. PREFEITURA. ANTE-SALA. INT. MANHÃ

ADALGISA FALANDO COM DONANA, NARA E FRIDA.

DONANA — Ocê tá me dizeno que...ele num vai mesmo atende nóis?

ADALGISA — (Sem graça) Donana, o prefeito é um homem muito ocupado.

NARA — A senhora achô mesmo que esse traste ia falá com a gente?

ADALGISA — Eu...sinto muito.

FICAMOS NA EXPRESSÃO DE DONANA.

CORTA PARA

CENA 20. PREFEITURA. FACHADA. EXT. MANHÃ

DONANA, NARA E FRIDA SAEM DA PREFEITURA.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 17

FRIDA — E agora? O que é que nós vamos fazer?

NARA — Se eu falá o que to quereno faze, ocês num vai deixa!

DONANA — Num adianta fica brava, Nara. Num vai resorvê nada. (p) A gente vai
falá com quem devia de tê falado desde o começo.

FRIDA — Quem?

DONANA — Ocês vem comigo que vão ficá sabeno.

CORTA PARA

CENA 21. FAZENDA DE HEITOR. PASTO. EXT. MANHÃ

STOCK SHOTS DA FAZENDA. GADO, PEÕES TRABALHANDO, CRIANÇAS BRINCANDO


NO RIO. Atenção sonoplastia: “ACONTECÊNCIAS” – CLÁUDIO NUCCI.

CORTA PARA

CENA 22. FAZENDA DE HEITOR. COZINHA. INT. MANHÃ

IVONE COZINHA ENQUANTO ISABEL CONVERSA COM AMADEU E SUELY. ELE TEM
UM CERTO AR PERIGOSO, MAS RESPEITOSO COM OS SUPERIORES, ENQUANTO ELA
PARECE APREENSIVA E COM UM CERTO MEDO DE TUDO.

ISABEL — Você sabe que só está aqui por causa da consideração que o coronel
Arthur tem pela sua mão, não sabe?

AMADEU — Sei, sim senhora.

ISABEL — Não me interessa saber o que aconteceu na Bahia. É coisa que passou.
Eu só quero deixar claro que aqui, isso não vai se repetir.

AMADEU — Dona Isabel, o que aconteceu é que...

ISABEL — (Interrompendo. Seca) Eu já disse que não me interessa. (p) O coronel


está lhe dando mais uma chance. Eu espero que você saiba aproveitar. E
também que saiba reconhecer.

AMADEU E SUELY DE CABEÇA BAIXA, SEM DIZER NADA.

ISABEL — O Quebra Galho vai lhe mostrar o serviço. Qualquer dúvida, você
pergunta pra ele. (p) Quanto a você...Suely, não é?

SUELY — Isso, sim senhora.

ISABEL — Depois eu vejo alguma coisa pra você fazer. Acho mesmo que a Ivone
está precisando de uma ajuda com a casa. Vou esperar o coronel voltar e
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 18

falo com ele. (p) Ivone, peça para o Quebra Galho levar esses dois até a
casa que eles vão ficar.

IVONE — Pode deixar, dona Isabel.

ISABEL SAI. AMADEU E SUELY FICAM MAIS RELAXADOS.

IVONE — Ocês num fica assustado, não. Ela tem esse jeitão de brava, mas num
morde. Só de vez em quando.

SUELY — Discunjuro! Tava aqui com as perna tremendo por causa dessa
mulher.

AMADEU — Essa dona...é a mulhé do patrão?

IVONE — Imagina. Ela é a governanta. É ela que cuida das coisa da casa. É
empregada que nem nóis, mas ganha mais, manda nos outros...aí fica
mais bêsta. Só isso,

SUELY — Imagina se ela fosse a patroa.

IVONE — Eu vô chamá o Quebra Galho pra leva ocês pra casa. Tá uma
belezura! Eu mesma que arrumei tudo. Ocês espera um instantinho.

IVONE SAI. AMADEU E SUELY TROCAM OLHARES, PARECEM APREENSIVOS.

CORTA PARA

CENA 23. CASA DE BRENO. SALA. INT. MANHÃ

LOURDES, DONANA, FRIDA E NARA SENTADAS CONVERSANDO.

DONANA — E é isso que tá aconteceno, dona Lourdes.

LOURDES — É uma catástrofe, Donana.

FRIDA — Nós precisamos que alguém faça alguma coisa. As pessoas não podem
continuar morrendo desse jeito.

LOURDES — É claro que não.

NARA — Acontece que o seu marido, nem atendê nóis na prefeitura, ele atende.
Parece que num que ouvi o que nóis tem pra dizê!

LOURDES — O Breno é um pouco...avoado. Mas ele não faz por mal!

NARA — Se ele faz por mal eu num sei. Só sei que as coisa num pode continuá
do jeito que tá.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 19

DONANA — Dona Lourdes, a sua filha já ficou doente, foi pará no hospital. Graças
a Deus que nada de mais sério aconteceu com ela.

LOURDES — Graças a Deus!

DONANA — Eu quero que a senhora se coloque no lugar das mãe que num tiveram
a mesma sorte que a senhora. Daquelas que levaram os filho pro hospital,
mas que num conseguiram sai de lá com eles vivo nos braço. A senhora
precisa falá com o seu prefeito. Ele num pode lavá as mão numa hora
dessas.

LOURDES — Claro que não, Donana! E nem vai. Eu vou falar com ele. Lhe dou a
minha palavra de que o Breno vai tomar uma atitude.

DONANA SORRI.

DONANA — Eu sabia que podia contá com a senhora.

DONANA SE LEVANTA E AS OUTRAS LHE ACOMPANHAM.

DONANA —Agora nóis precisa de ir. Muito obrigado, dona Lourdes.

LOURDES — Não tem o que agradecer, Donana. Eu lhes acompanho.

LOURDES LEVA AS TRÊS ATÉ A PORTA E ELAS VÃO EMBORA. LOURDES CAMINHA
PELA SALA, PENSATIVA. CAMILA ENTRA, VINDA DO CORREDOR.

CAMILA — Acabou a reunião?

LOURDES — Reunião? Ah, sim. Acabou.

CAMILA — Pelo jeito a conversa foi séria. A senhora tá com uma cara.

LOURDES — É, meu bem, você tem razão. Foi uma conversa muito séria.

CAMILA — E eu posso saber qual foi o assunto?

LOURDES — A epidemia. Eu preciso falar com o seu pai. As coisas não podem
continuar do jeito que estão.

CORTA PARA

CENA 24. CASA DE AMADEU. SALA. INT.MANHÃ

QUEBRA GALHO ACABOU DE MOSTRAR A CASA PARA AMADEU E SUELY. AS


COISAS DOS SOIS ESTÃO EM SACOLAS E PACOTES PELO MEIO DA SALA.

QUEBRA — E a casa é isso. Não é lá grandes coisa, mas é como nóis mora aqui, os
colono.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 20

SUELY — Tá bão demais, seu Quebra Galho.

QUEBRA — Então eu vô vortá pra lida. Ocês fica aí se acomodando. Quarqué


coisa é só chamá.

AMADEU — Lhe agradeço. Eu vô só arruma o de mais pesado aqui e já lhe procuro


pra o senhor me falá do trabalho.

QUEBRA — Tá certo, mas num carece de pressa. Ocê fica aí à vontade. Dá licença.

QUEBRA GALHO SAI. O CLIMA ENTRE AMADEU E SUELY É SEMPRE TENSO.

SUELY — Parece sê um lugar bom.

AMADEU — É.

SUELY — Só espero que ocê num vorte a fazê as suas bestêra, pra nóis num tê
de sai fugido de novo.

AMADEU OLHA SÉRIO PRA SUELY.

AMADEU — É só ocê não fazê nada de errado, que eu também não faço.

SUELY — Ocê num começa essa história de novo! Sabe muito bem que eu num
fiz nada!

AMADEU — Eu espero que não.

SUELY — Ocê acha o que? Que eu dei trela pra aquele sujeitinho?

AMADEU — Se eu achasse isso, ocê tava junto dele agora, debaixo de sete palmo
de terra.

SUELY SE BENZE.

SUELY — Deus que me livre! Falando desse jeito, ocê parece que num conhece
a mulher que tem.

AMADEU — Conhecer eu conheço, confiar é outra coisa.

SUELY — (Surpresa) Amadeu, ocê tá me dizendo que não confia em mim?

AMADEU — Eu não confio nem em mim, quanto mais nos outros.

AMADEU SE LEVANTA.

AMADEU — Num gosto de parecê encostado. Vou procurar o seu Quebra Galho
pra ele me ensinar o serviço. Ocê arruma a casa.

AMADEU SAI
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 21

SUELY — Esse homem tá ficando cada vez mais doido.

FICAMOS NA PREOCUPAÇÃO DE SUELY.

CORTA PARA

CENA 25. CASA DE HILDA. SALA, INT. MANHÃ

HEITOR SE PREPARANDO PARA IR EMBORA.

HEITOR — Eu vou ficar pouco tempo e tenho muita coisa pra resolver.

HILDA — Vem almoçar comigo?

HEITOR — Venho. As coisas que eu tenho pra tratar são aqui na cidade mesmo.
Preciso falar com o prefeito.

HILDA — Aquele inútil.

HEITOR — Inútil, mas que eu ´preciso que esteja ao meu lado. Se ele ficar contra
o meu...projeto, as coisas podem se complicar.

HILDA — E você acha mesmo que aquele banana vai ter coragem de ficar contra
você? É só você bater o pé que ele se borra todo.

HEITOR — (Rindo) Eu espero que seja mesmo assim.

HEITOR BEIJA A MÃE.

HEITOR — Eu volto mais tarde.

HILDA — Eu lhe espero pro almoço.

HEITOR SAI.

CORTA PARA

CENA 26. CASA DE HILDA. FACHADA. EXT. MANHÃ

HEITOR SAI DA CASA DE HILDA. CORTE PARA TIANA DO OUTRO LADO DA RUA,
COMPRANDO PIPOCA. ELA VÊ HEITOR E FICA SURPRESA, DEPOIS SAI CORRENDO
PARA CASA.

CORTA PARA

CENA 27. CLUBE RECREATIVO. SALÃO. INT. MANHÃ

MADALENA E ZORAIDE VARRENDO O SALÃO. EM UMA MESA, BALBINA E ZULMIRA


CONVERSAM.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 22

BALBINA — Ele me garantiu que as meninas vem aqui hoje pra você escolher.

ZULMIRA — Ele tá falando isso há um mês. As meninas não estão dando conta da
clientela. Precisa de gente nova.

BALBINA — Se você quiser, eu ligo pra ele.

ZULMIRA — Quero sim. E fala que eu não quero saber de menina menor de idade!
Na minha casa se faz a vida, mas menina de menor não entra de jeito
nenhum!

BALBINA — Ele sabe disso.

TIANA ENTRA CORRENDO, OFEGANTE. TODAS SE ESPANTAM.

ZULMIRA — O que é isso, menina? Parece que vai tirar o pai da forca! O que
aconteceu?

TIANA — (Disfarçando) Nada. Nada, não. É que...eu queria falar com a


Madalena.

MADALENA — Comigo?

TIANA — É.

TIANA PEGA MADALENA PELA MÃO.

TIANA — Vem aqui no meu quarto que eu quero lhe perguntar uma coisa.

ZORAIDE — Também quero saber o que é. Vou junto.

ZULMIRA — Você vai ficar aí. Tiana disse que quer conversar com a Madalena.

TIANA E MADALENA SAEM. ZORAIDE CONTINUA TRABALHANDO, COM CARA DE


RAIVA.

BALBINA — O que será?

ZULMIRA — Não deve ser nada importante. A Tiana é avoada, deve ser alguma
besteirinha. Eu to aqui pensando em outra coisa.

BALBINA — No que?

ZULMIRA — Seu Saul disse que viria logo cedo e até agora nada.

BALBINA — Sossega que daqui a pouco ele está aí.

CORTA PARA

CENA 28. CLUBE RECREATIVO. QUARTO DE TIANA. INT. MANHÃ


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 23

TIANA E MADALENA ENTRAM.

MADALENA — O que foi que aconteceu, mulher? Por que você tá tão esbaforida?

TIANA — Adivinha quem eu acabei de ver na praça.

MADALENA — Não sei.

TIANA — Heitor Gonzaga!

MADALENA SURPRESA, SORRINDO.

MADALENA — Heitor? Você tá me dizendo que o Heitor está...

TIANA — Há duas quadras daqui.

MADALENA — Eu...eu...o que é que eu faço?

TIANA — Como assim, criatura? Vai lá! Ocê num tá doida pra vê ele?

MADALENA — Bota doida nisso!

TIANA — Então vá, mulher! Tá esperando o que?

MADALENA — Tem razão. Eu vou!

MADALENA LEVANTA E SAI.

CORTA PARA

CENA 29. CLUBE RECREATIVO. SALÃO. INT. MANHÃ.

Atenção sonoplastia: “QUANDO O AMOR ACONTECE” – NANA CAYMMI. BALBINA E


ZULMIRA AINDA CONVERSANDO, ZULMIRA VARRENDO. MADALENA PASSA
CORRENDO E SAI. TODAS ESTRANHAM.

ZULMIRA — O que foi que aconteceu com essa menina? Onde ela vai desse jeito?

CORTA PARA

CENA 30. PRAÇA. EXT. MANHÃ

CONTINUA A MÚSICA DA CENA ANTERIOR. MADALENA ANDA PELA PRAÇA


PROCURANDO POR HEITOR. OLHA EM TODOS OS LUGARES. APÓS ANDAR POR
ALGUM TEMPO, O VÊ. ELA SORRI. A FELICIDADE É QUASE PALPÁVEL. MADALENA
VAI ANDANDO LENTAMENTE ATÉ FICAR A MAIS OU MENOS CINCO METROS DE
HEITOR. ELE, QUE ESTÁ COMPRANDO UM JORNAL NA BANCA VIRA E VÊ
MADALENA. SORRI DISCRETAMENTE. ELA NÃO FAZ NADA. ESTÁ EMOCIONADA, OS
OLHOS MAREJADOS. HEITOR OLHA PARA OS LADOS E FAZ UM MOVIMENTO
DISCRETO COM A MÃO, DIZENDO QUE MAIS TARDE ELES SE ENCONTRAM.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 24

MADALENA CONCORDA COM UM MOVIMENTO DE CABEÇA E HEITOR VAI EMBORA.


FELIZ, MADALENA VOLTA A ANDAR PELA PRAÇA. ESTÁ RINDO À TOA.

CORTA PARA

CENA 31. CLUBE RECREATIVO. QUARTO DE MADALENA. INT. MANHÃ

MADALENA DEITANA NA CAMA, FELIZ, ABRAÇADA AO TRAVESSEIRO. ZULMIRA


ENTRA.

ZULMIRA — Posso entrar?

MADALENA — Claro, madrinha.

ZULMIRA ENTRA E SE SENTA NA CAMA.

MADALENA — Eu vi ele, madrinha. Eu vi o Heitor.

ZULMIRA — Sei. Então foi por isso que você saiu desarvorada daquele jeito?

MADALENA — Foi. Tiana me disse que tinha visto ele na praça. Eu não resisti.

ZULMIRA — E?

MADALENA — E ele vem me ver mais tarde. Eu to tão feliz, madrinha! Tão feliz!

ZULMIRA — Eu estou vendo. Eu não preciso dizer que me preocupo com isso, não
é?

MADALENA — A senhora tem medo de que eu me magoe.

ZULMIRA — É. Tenho muito medo que isso aconteça.

MADALENA — Madrinha, eu sei que não posso esperar muito dele. Sei que ele não
vai largar a mulher dele pra ficar comigo e antes que a senhora diga,
também sei que eu mereço muito mais do que isso. Acontece que,
mesmo tendo ele só pela metade, eu sou feliz. Eu ficaria triste se não
tivesse o Heitor na minha vida. A senhora consegue entender isso.

ZULMIRA — Consigo. Entender eu consigo, minha querida. O que eu não consigo é


aceitar. Mas a vida é sua. Você é quem deve saber o que lhe faz feliz...ou
o que não faz.

MADALENA — Por enquanto essa situação está boa pra mim, Madrinha. Ele me dá
tudo o que eu preciso.

ZULMIRA — Mas por quanto tempo isso vai ser suficiente, Madalena? Agora você
é moça, mas e quando for mais velha? Quando tiver a minha idade? Você
vai pensar em tudo o que poderia ter tido e não teve. Encontrar um
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 25

homem só seu, quem sabe ter filhos. Você sabe que com o Heitor isso
não vai ser possível, não sabe.

MADALENA — Sei. Claro que eu sei. Madrinha, quando eu perceber que as coisas não
estão mais do jeito que eu gosto, quando eu perceber que não estou mais
feliz, aí eu penso no que fazer. Agora não. Agora eu estou explodindo de
felicidade.

ZULMIRA — Minha querida, eu só espero que, caso um dia você perceba que o
Heitor não lhe faz feliz, não seja tarde demais.

ZULMIRA DÁ UM BEIJO EM MADALENA E SAI.

CORTA PARA

CENA 32. SÍTIO DE ZÉ MARTINS. EXT. MANHÃ

ATENÇÃO SONOPLASTIA: “SINÔNIMOS” – CHITÃOZINHO & XORORÓ E ZÉ


RAMALHO. ZÉ MARTINS ESTÁ DE PÉ NA VARANDA, OBSERVANDO PEDRO SE
APROXIMAR À CAVALO. PEDRO DESCE DO ANIMAL.

PEDRO — Bom dia, seu Zé.

ZÉ MARTINS — Bom dia, Pedro.

PEDRO — Chica tá em casa?

ZÉ MARTINS — Tá na cozinha. Mas se eu fosse ocê, não ia lá.

PEDRO — Por que?

ZÉ MARTINS — Ela acordo com o pé esquerdo.

PEDRO — E quando é que ela não acorda? Vou lá falar com ela.

ZÉ MARTINS — Boa sorte.

PEDRO SORRI E ENTRA NA CASA.

CORTA PARA

CENA 33. SÍTIO DE ZÉ MARTINS. COZINHA. INT. MANHÃ

CHICA, MUITO BRAVA, ESTÁ LAVANDO A LOUÇA.

CHICA — (Resmungando)Peão sem vergonha! Eu mato ele! Mato ele e aquela


loira piranha!

PEDRO ENTRA NA COZINHA.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 31 Pag.: 26

PEDRO — Chica?

CHICA FICA SURPRESA AO OUVIR A VOZ DE PEDRO. FICA AINDA COM MAIS RAIVA
E SE VIRA.

CHICA — Seu sem vergonha!

CHICA APANHA UMA XÍCARA E JOGA EM PEDRO. ELE SE ABAIXA E ELA SE QUEBRA
AO BATER NA PAREDE. PEDRO OLHA SURPRESO PARA CHICA.

CORTA PARA

CENA 34. CUIABÁ. EXT. MANHÃ

STOCK-SHOTS DA CIDADE DE CUIABÁ DE MANHÃ

CORTA PARA

CENA 35. LOJA. INT. MANHÃ

A LOJA ESTÁ CHEIA. AS ATENDENTES TRABALHANDO. LEONOR ENTRA


APRESSADA E VAI ATÉ GILBERTO.

LEONOR — Seu Gilberto, me desculpe o atraso. Eu estava com o Vinícius no


hospital e o meu marido saiu, demorou. Mas eu já vou começar a
trabalhar. Fico até depois do horário pra compensar.

GILBERTO — Não é preciso, Leonor.

LEONOR — Eu faço questão. Eu vou só guardar as minhas...

GILBERTO — Leonor, você não precisa ficar depois do horário. Na verdade você
não precisa nem começar a trabalhar.

LEONOR — (Surpresa) Não preciso começar? Como assim? Eu não entendi.

GILBERTO — Leonor, você não trabalha mais na loja. Você está demitida.

REAÇÃO DE LEONOR, SEM ACREDITAR NO QUE ESTÁ OUVINDO. A IMAGEM


CONGELA E UM EFEITO DE ONDA INVADE A TELA. A ÁGUA SE TRANSFORMA EM
FOGO.

FIM DO CAPÍTULO

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