Tristeza, angstia, aflio, severidade, intransigncia, sofrimento causado por
frustao, acerbidade, acrimnia, amargor e azedume. Parente de fel, bile negra, veneno. Suas razes gregas nos levam teoria dos humores: o corpo humano um reflexo do universo e seus elementos que se tornam aspectos do temperamento. H um temperamento que tende amargura, mas essa tendncia predominante, se em excesso, torna-se uma doena. Ento, uma pitada de amargo nessa gastronomia do ser receita de equilbrio. Muito, estraga a receita da dosagem em boa proporo do humano. O gosto amargo de uma experincia frustrante deve ser ingrediente de uma receita cujo fundamento bsico o equilbrio dos demais elementos. No se frustrar ou frustrar-se uma condio que os tempos definem como um bem ou um mal a se evitar ou a se buscar; depende das mos que regem o tempo. Esse gosto azedo que impede que se engula e que se digira uma experincia uma arte da lngua. Vomitar, cuspir, engolir ou fazer desse trato uma disciplina so atitudes imprevisveis. Dependem do quanto azedo o amargo for. Depende da lngua e seu preparo. Uma lngua madura nas provas dos azedos da vida suporta o que outra, s acostumada com doces sabores, no conseguiria mais esquecer e que a tudo resto contaminaria de azedo inesquecvel. As lnguas guardam memrias dessas histrias do paladar. O Ser pe mesa: ceias, lanches, picnics, fast foods que imperam, fomes passageiras, dietas auto-impostas, jejuns purificadores, regimes purgatrios, cornucpias de abundncias, refestelo, fomes infindas, abastana, festins, insaciedades famlicas... e nos servimos no como se pode, mas como se no momento em que o menu posto tudo regulao do amargo que desce a garganta e se instala no fundo da alma como cura ou infeco. Decifrar essas cartas do real ou ser devorado pelo que deveria ser comido a tarefa de amadurecer a lngua. Madura, dar bons frutos; amargos na medida possvel da continuidade de ser uma metfora que se alimenta da vida, nem pouco para que no morra esqulida de ser, nem muito para que no deixe de se digerir. mesa do real, uma velha, esotrica, mtica receita grega: equilbrio, que se dizia proporo ou analogia (); um tipo de razo (logos; ) que pouco se aprende e que quase nada se ensina. Do jil ao mel, aprende-se uma lngua ao usla.