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Henri Bergson nasceu em Paris em 1859. Estudou na Bole Normale Supérieure de 1877 a 1881 e passou os dezessets anos seguintes como professor de filosofia, Em 1900 tonou-se pro- fessor no Collage de France e, em 1927, ganhou 0 Prémio Nobel de Literatura. Bergson morreu em 1941, Entre outros livros, escre- veu O pensamento ¢ 0 movente, Materia e menscria, Orso e A eo0- lugto criadora (todos publicados por esta Editora). Henri Bergson Meméria e Vida Textos escolhidos por GILLES DELEUZE Mestre de conferéncias na Universidade de Paris VIII Tradugio CLAUDIA BERLINER Revisto técnica e da tradugto BENTO PRADO NETO Martins Fontes So Paulo 2006 ‘crf pint mo cone “edn err Petes Prem Prs ppt Pans Unt Pe ono sirshan Fos Ee, ‘So Ps pe ae ce Tratugio CLAUDIA RentaveR Revit Kenicn eda traagso ‘ens Pae Naa ‘Acompanherents etal, ‘Mar Ferra ines Tevises pleas Maran Roa sre ‘Sins Gai ore Dinwte Zoran Soe ‘Produgte pics ‘Gomis Papinagfftaion Slo 3 eset Eri Dd nteracinae de Caso na Png (CP (Gar ele do i SF Bal Baron Hear, TON, Mami vide / Hers enpon tse exclidos por Giles Dees radu Clie Beier revisor ‘da adugo Bento Prado Neto Paco. Mat Fee 2. = pce ‘hal ripe Meme ve Eevee 1. Flo ances? Marra 3, Vide Dees, ie, 1925195 I Tinla See cows cops Tres pare catoge dtm Tlsota acest 1 “Tes os drei desta eco pure 0 Brasil reseromios & Leraria Martins Fontes Editora Léa, Rua Consdiine Kamal, 330 01325-000. Sco Pewlo SP Brasil “a. (11) 3281 3677 Fax 03101 1012 emai infomrtnsones com ir Mp me martnsfontes.com. INDICE Bibliografia . svesniesven VEL I. A DURAGAO E O METODO....crecren 1 a) Natureza da duragio .. 1 ») Caracteristicas da duragéo. sl 9) A intuigao como métod 19 d) Ciéncia e filosofia..... 37 TI. AMEMORIA OU OS GRAUS COEXISTENTES DA DURAGAO .. ee a) Principios da memétia «ner 47 b) Psicologia da meMEtia .ecnrnrnnnnnes 60 ©) O papel do corpo... sens 70 I. A VIDA OU A PENRO DA DU- RACAO rns 95 a) O movimento da vida 95 b) Vida e matéria..... 117 IV. CONDICAO HUMANA E FILOSOFIA ........ 137 a) A filosofia... 7 b) A condigio humana e sua superacao. ©) Conclusio... Indice reMisst00 «oo. BIBLIOGRAFIA Lidée de lieu chez Aristote, 1889 (tese em latim, traduzida por M. Mossé-Bastide, Etudes bergsoniennes, vol. Tl, Albin Michel). Essai sur les données immédiates de la conscience, PUE, 1889; En- saios sobre os dados imediatos da consciéncia, Edigdes 70, 1988. “Matibre et mémoire, PUR, 1896; Matéria e memadria, Martins Fontes, 1999. Lz rire, PUR, 1900; O riso, Martins Fontes, 2001. Lévolution créairice, PUB, 1907; A evolugio criadora, Martins Fontes, 2005. énergie spirituelle, PUF, 1919. ‘Durée et simultanéité, PUE, 1 Fontes, em preparacao, Les deux sources de la morale et de la religion, PUR, 1932. La pensée et le mouvant, PUF, 1934; O pensamento eo movente, Martins Fontes, em preparagi wagio e simultaneidade, Mastins Os livros dos quais us textos citados foram extrafdas sero designados pelas seguintes abrevieturas: DL (Données immédiates, 39° ed.) MM. ene (Matiore et mémoire, 54? ed.) R vn (Le rire, 97% ed.) vu ‘MEMORIA EVIDA - Cévolution eréatrice, 52° ed.) Ceénergie spirituelle, 58° ed.) LR. rma (LES dex sources, 762 ed.) PM, nnn (Ea pensée et le mouvant, 31! ed.) __ Queremos salientar que por ocasiio do centenério do nas- cimento de Bergson a editora Presses Universitaires de France publicou uma edicéo completa de suas obras num volume cos- turado, impresso em papel biblia (I* ed,, 1959; 2° ed, 1963). Apresentado por Henri Gouhier, esse volume contém, além do texto integral das obras cuja reedicio Bergson autorizara, notas de editor, uma bibliografia completa (com mengao de todas as tradugées), um aparato critico, notas historicas e notas de lei- tura, um indice das citagées e um indice das pessoas citadas, As anotages so de autoria de André Robinet. 1.A DURACAO E O METODO a) Natureza da duragio 1A duragao como experiéncia psicolégica A existéncia de que estamos mais certos e que me- Ihor conhecemos é incontestavelmente a nossa, pois de todos 0s outros objetos temos nogdes que podem ser jul- gadas exteriores e superficiais, ao passo que percebemos a n6s mesmos interiormente, profundamente. Que cons- tatamos entio? Qual é, nesse caso privilegiado, 0 sentido preciso da palavra “existir”?... Constato em primeiro lugar que passo, de um estado para outro. Tentho calor ou tenho frio, estou alegre ou es- tou triste, trabalho ou nao faco nada, olho o que est & minha volta ou penso em outra coisa. Sensagées, senti- mentos, voligGes, representacdes, so essas as modifica- ‘ges entre as quais minha existéncia se divide e que a co- lorem altemnadamente. Fortanto, mudo sem cessar. Mas {sso ndo é tudo. A mudanga é bem mais radical do que se poderia pensar num primeiro momento. 2 MEMORIA E VIDA Com efeito, falo de cada um de meus estados como se formasse um bloco. Embora diga que mudo, parece me que a mudanga reside na passagem de um estado ao estado seguinte: no que se refere a cada estado, toma- do em separado, quero crer que continua o mesmo du- ante todo o tempo em que se produz, Contudo, um leve esforgo de atengio revelar-me-ia que nao hé afeto, ndo hé representac&o ou voligéo que nao se modifique a todo instante; se um estado de alma cessasse de variar, sua du- ragio deixaria de fluir. Tomemos o mais estavel dos es- tados internos, a percepcao visual de um objeto exterior imével. Por mais que o objeto permanega o mesmo, por mais que eu olhe para ele do mesmo lado, pelo mesmo Angulo, sob a mésma luz, a visio que tenho dele nao di- fere menos daquela que acabo de ter, quando mais nao seja porque ela esta um instante mais velha. Minha me- ‘méria esta ai, empurrando algo desse passado para den- tro desse presente. Meu estado de alma, ao avancar pela estrada do tempo, infla-se continuamente com a dura- so que vai reunindo; por assim dizer, faz bola de neve consigo mesmo. Com mais forte razo isso ocorre con 08 estados mais profundamente interiores, sensacdes, afe- tos, desejos etc., que ndo correspondem, como uma sim- ples percepcao visual, a um objeto exterior invaridvel. Mas € cémodo nao prestar atengao a essa mudanga inin- terrupta e s6 noté-la quando se toma grande o suficien te para imprimir uma nova atitude ao corpo, uma nova diregao & atengao. Nesse momento preciso, descobrimos que mucamos de estado. A verdade é que mudamos sem cessar e que o préprio estado jé é mudanga. ‘Quer dizer que nao ha diferenca essential entre pas- sar de um estado a outro e persistir no mesmo estado, Se, por um lado, 0 estado que “continua 0 mesmo” é mais ‘A DuRACAO EO. METODO 3 variado do que achamos que seja, a passagem de um es- tado a outro, pelo contrario, parece-se mais do que ima- ginamos com um mesmo estado que se prolonga; a tran- siggo é continua. Mas, precisamente por fecharmos os olhos a incessante variagdo de cada estado psicol6gico, somos obrigados, quando a variagdo se tornou to con- siderdvel que se impGe & nossa atengio, a falar como se um novo estado tivesse se justaposto ao precedente. Su- pomos que este, por sua vez, permanece invaridvel, e as- sim por diante, indefinidamente. A aparente desconti- nuidade da vida psicolégica decom, pois, do fato de que nossa atengao se fixa nela por uma série de atos descon- tinuos: ali onde hé apenas uma suave ladeira, cremos perceber, ao seguirmos a linha quebrada de nossos atos de atengao, os degraus de uma escada. £ verdade que nossa vida psicolégica € cheia de imprevistos. Surge mil e um incidentes que parecem contrastar com 0 que 08 precede e no se vincular Aquilo que os segue. Mas a descontinuidade com que aparece destaca-se sobre a continuidade de um fundo onde cles se desenhar e ao qual devem os préprios intervals que os separam: sao 08 toques de timbale ressoando de quando em quando na sinfonia. Nossa atengao se fixa neles porque a interes- sam mais, mas cada um deles vem inserido na massa fluida de nossa existéncia psicolégica inteira. Cada um deles nao é sendo 0 ponto mais bem iuminado de uma zona movente que compreende tudo o que sentimos, pensamos, queremos, tudo 0 que somos, enfim, num de- terminado momento. E essa zona inteira que, na verd: de, constitui nosso estado. Mas, de estados assim defini- dos, pode-se dizer que no so clementos distintos. Con- tinuam-se uns aos outros num escoamento sem fim. EC, 1-3. 4 “MEMORIA EVIDA 2. A duragiio € 0 eu O que prova que nossa concepgao corrente da dura~ ‘so depende de uma invasio gradual do espaco no ter- eno da consciéncia pura é que, para privar 0 ett da fa- culdade de perceber um tempo homogéneo, basta retirar aquela camada mais superficial de fatos psiquicos que ele utiliza como reguladores'. O sonho nos coloca preci- samente nessas condigdes, pois o sono, ao diminuir a ve- locidade do funcionamento das fungSes orgénicas, mo- difica sobretudo a superficie de comunicagao entre o eu € as coisas exteriores. Entao, nao medimos mais a dura- Go, mas a sentimos; de quantidade ela retorna ao estado de qualidade; a avaliagio matemética do tempo trans- comrido deixa de ser feita, mas cede lugar a um instinto confuso, capaz, como todos os instintos, de cometer er- os grosseiros e as vezes também de proceder com uma extraordinéria seguranca. Mesmo em estado de vigilia, a experiéncia didria deveria nos ensinar a diferenciar entre a duragio-qualidade, aquela que a consciéncia atinge imediatamente, aquela que o animal provavelmente per cebe, e 0 tempo por assim dizer materializado, o tempo que se tornou quantidade por um desenvolvimento no espaco. No momento em que escrevo estas linhas, um re- 6gio na vizinhanga dé as horas; mas minha orelha dis traida s6 percebe isso depois de varias pancadas jé se terem feito ouvir; portanto, nao as contei. E, no entanto, basta-me um esforgo de atencao retrospectiva para fazer a soma das quatro pancadas que jé soaram e adicion4-las 1, Essa iusto que nos faz confundir a duragio com um tempo ho- ‘mogéneo, ou seja, com “uma representacio simbélica tirada da exten: ‘sio", € constantemente denunciada por Bergson. Encontraremos wma andlise detalhada disso nos textos 6,7 ¢ 8, A DuRAGAO EO METODO 5 4s que ouco. Se, entrando em mim mesmo, interrogar- me entio cuidadosamente sobre o que acabou de aconte- cer, percebo que os quatro primeiros sons tinham atin; do meu ouvido e até impressionado minha consciéncia, ‘mas que as sensagdes produzidas por cada um deles, em vez. de se justaporem, tinham-se fundido umas as outras de maneira que dotassem o todo de um aspecto proprio, de maneira que fizessem dele uma espécie de frase musical, Para avaliar retrospectivamente o ntimero de pancadas jé soadas, tentei reconstituir essa frase por meio do pensa- mento; minha imaginagdo deu uma pancada, depois duas, depois trés e, enquanto nao chegou ao nimero exato qua- tto, a sensibilidade, consultada, respondeu que o efeito total diferia qualitativamente. Portanto, tinha constatado a sua maneira a sucesso daquelas quatzo pancadas, mas de um modo totalmente diferente de uma soma e sem fa. zer intervir a imagem de uma justaposigio de termos di ‘intos. Em suma, o ntimero de pancadas dadas foi perce- bido como qualidade e ndo como quantidade; a duragao apresenta-se assim & consciéncia imediata e conserva essa forma enquanto ndo é substitufda por uma representa: cio simbélica, tirada da extensio. — Distingamos, enti para concluir, duas formas da multiplicidade, duas ava~ liagées bem diferentes da duracgo, dois aspectos da vida consciente. Sob a duracio homogénea, simbolo extensi- vo da duragéo verdadeira, uma psicologia atenta discerne uma duragdo cujos momentos heterogéneos se penetram; sob a multiplicidade numérica dos estados conscientes, uma multiplicidade qualitativa; sob um eu com estados bem definidos, um eu onde sucesso implica fusio ¢ or- ganizagdo. Em geral, porém, contentamo-nos com o pri- meiro, ou seja, com a sombra do eu projetada no espaco homogéneo. A consciéncia, atormentada por um insacia- 6 (MEMORIA EVIDA vel desejo de distinguir, substitui a realidade pelo simbo- lo, ou 86 percebe a realidade através do simbolo. Como 0 eu assim refratado e por isso mesmo subdividido presta- se infinitamente melhor as exigéncias da vida social em geral e da linguagem em particular, ela o prefere e perde Pouco a pouco de vista o eu fundamental. DI, 94-6. 3. Para além da psicologia: a duragiio é o todo +». A sucesso é um fato incontestével, mesmo no ‘mundo material. Por mais que nossos raciocinios sobre 0 sistemas isolados impliquem que a historia passada, pre- sente e futura de cada umn deles poderia ser aberta de gol- pe, em leque, nem por isso essa histéria deixa de se de- senrolar pouco a pouco, como se ocupasse uma duracdo andloga 4 nossa. Se eu quiser preparar-me um copo de gua com agticar, por mais que faca, terei de esperar que © aglicar derreta. Esse pequeno fato é rico em ensinamen- tos. Pois 0 tempo que tenho de esperar nao é mais o tem- po matemético que continuaria podendo ser aplicado a0 longo da hist6ria inteira do mundo material, mesmo que esta se esparramasse de golpe no espaco. Ele coincide ‘com minha impaciéncia, ou seja, com uma certa porgao de minha duragao propria, que ndo pode ser prolongada ou encurtada a vontade. Nao é mais algo pensado, mas algo vivido. Jé nao é uma relagao, é um absolute”. O que sig- nifica isso, seno que 0 copo de gua, o agiicar eo proces- 80 de dissolucao do agticar na 4gua sao sem ciivida abs- 2.Ce texto 10, ‘A DURACAO FO METODO 7 tragées e que o Todo no qual foram recortados por meus sentidos e meu entendimento talvez. progrida a maneira de uma consciéncia? E-certo que a operago por meio da qual a ciéncia iso- Jae fecha um sistema nao é uma operagio de todo artifi- cial. Se nao tivesse um fundamento objetivo, nao se po- deria explicar por que ela é totalmente indicada em certos casos e impossivel em outros. Veremos que a matéria tem uma tendéncia a constituir sistemas isoléveis, que pos~ sam ser tratados geometricamente’. E até mesmo por essa tendéncia que a definiremos. Mas é apenas uma tendén- cia. A matéria nao vai até o fim e o isolamento nunca é completo. Se a ciéncia vai até o fir e isola completamen- , € para facilitar 0 estudo. Ela subentende que o sistema, dito isolado, continua submetido a certas influéncias ex- ternas. Deixa-as simplesmente de lado, seja porque as considera suficientemente fracas para desprezé-las, seja porque se reserva a possibilidade de leva-las em conta mais tarde. Nem por isso deixa de ser verdade que essas influéncias sao, todas, fios que ligam o sistema a outro mais vasto, este a um terceiro que engloba os dois ¢ as- sim por diante até que se chega ao sistema mais objetiva- mente isolado e mais independente de todos, o sistema solar em seu conjunto. Mas, mesmo nesse caso, 0 isola- mento néo é absoluto. Nosso sol imadia calor e luz para além do planeta mais distante. E, por outro lado, move-se, arrastando consigo os planetas e seus satélites, numa dire~ ao determinada. O fio que o prende ao resto do univer- so € sem dtivida bem ténue. Contudo, é por esse fio que se transmite, até a mais infima parcela do mundo onde vi- ‘vemos, a durago imanente ao todo do universo. 3.CL textos 87,60 667. 8 (MEMORIA EVIDA Q universo dura. Quanto mais nos af Pa natureza do tempo, mals COM] eee ‘Tago significa invengao, criagao de formas, elabo comin doa salut € hove’. Os sistemas delimita- {68 pela ciéncia s6 duram porque esto indissoluvelmen- te ligados ao resto do universo. £ verdade que, no proprio uuniverso, é preciso distinguir, como diremos adiante, dois movimentos opostos, um de “queda”, outro de “eleva- 40. O primeiro nada mais faz que desenrolar um rolo jd pronto. Poderia, em principio, realizar-se de maneira quase instanténea, como ocorre com uma mola que se distende. Mas o segundo, que corresponde a um trabalho interior de maturagao ou de criac&o, dura essencialmente € impée seu ritmo ao primeiro, que é insepardvel dele. EC, 9-11, 4. O todo ea vida Responderemos que nao contestamos a identidade fundamental da matéria bruta e da matéria organizada. ‘A tinica questo é saber se os sistemas naturais que cha- mamos seres vivos devem ser assimilados aos sisternas attificiais que a ciéncia recorta na matéria bruta, ou se nao deveriam, antes, ser comparados a esse sistema natural que 6 0 todo do universo. Que a vida seja uma espécie de mecanismo é algo com que devo concordar. Mas tratar- se-ia do mecanismo das partes artificialmente isoléveis 4.CE texto 74, 5.CE texto 97. 6. Alguns bidlogos acusam a filasofia da vida de postulara distin- ‘do de duas matérias. Bergson vai mostrar que o problema de uma fi- Josofia da vida preocupada em salvaguardar a especificidade de seu ‘objeto ndo trata de forma algumna dessa questi. ‘ADURACAO £0 METODO 9 no todo do universo ou do mecanismo do todo real? todo real poderia muito bem ser, diziamos, uma continu dade indivisivel: os sistemas que nele recortamos ndo se- riam ento partes suas propriamente ditas; seriam vistas parciais do todo. E, com essas vistas parciais colocadas lado a lado, vocé nao obterd nem mesmo um comego de recomposicao do conjunto, assim como no reproduzi- 14 a materialidade de um objeto multiplicando suas fo- tografias sob mil aspects diversos. O mesmo se aplica & vida e aos fendmenos fisico-quimicos nos quais se pre- tenderia resolvé-la. A andlise certamente descobriré nos processos de criagdo orgénica uma quantidade crescente de fendmenos fisico-quimicos. E é a isso que se aterao 0s uimicos e os fisicos. Mas disso nao se conclui que a qui- mica e a fisica devam nos dar a chave da vida. Um elemento muito pequeno de uma curva é quase uma linha reta. Quanto menor ele for, mais se parecerd com uma linha reta, No limite, pode-se dizer, conforme © gosto, que faz parte de uma reta ou de uma curva. Em cada um de seus pontos, com efeito, a curva se confun- de com sua tangente. Do mesmo modo, a “vitalidade” é tangente em qualquer ponto as forcas fisicas e quimicas; mas esses pontos no so, em suma, mais que vistas de um espirito que imagina paradas em tais ou quais mo- mentos do movimento gerador da curva. Na verdade, a vida 6 to pouco feita de elementos fisico-quimicos quan- to uma curva é composta de linhas retas. EC, 30-1. 5.0 todo ea coexistincia das duragies A rigor, poderia nao existir outra duracéo além da nossa, tal como poderia nao haver no mundo outra cor 10 (MEMORIA EVIDA além do laranja, por exemplo. Porém, assim como uma consciéncia a base de cor que simpatizasse internamente com o laranja em vez de percebé-lo exteriormente senti- tia estar entre o vermelho e o amarelo, pressentiria quem sabe até, abaixo desta tiltima cor, todo um espectro no qual se prolonga naturalmente a continuidade que vai do vermelho ao amarelo, também a intuigéo de nossa dura- ‘do, longe de nos deixar suspensos no vazio como faria a pura andlise, pde-nos em contato com toda uma conti- nuidade de duragées que devemos tentar seguir, seja para baixo, seja para cima: em ambos os casos, podemos nos dilatar indefinidamente por um esforgo cada vez mais violento, em ambos os casos, transcendemos a ndés mes- mos. No primero, caminhamos para uma duragéo cada vez mais dispersa, cujas palpitacoes mais répidas que as nossas, ao dividirem nossa sensagao simples, diluem sua qualidade em quantidade: no limite estaria 0 puro ho- mogéneo, a pura repetigio pela qual definiremos a ma- terialidade. Caminhando no outro sentido, vamos para uma duracio que se tensiona, se contrai, se intensifica cada vez mais: no limite estaria a eternidade. Nao mais a eternidade conceitual, que é uma eternidade de morte, mas uma etemidade de vida. Eternidade viva e, por con- seguinte, ainda movente, onde a durago que nos é pré- ptia se encontraria como as vibragdes na luz, e que seria a coalescéncia de toda duragao assim como a materiali dade é sua dispersao. Entre esses dois limites extremos a intuigo se move e esse movimento é a metafisica’. PM,, 210. 7. CE. textos 17,22 & 26 ADURAGAO EO METODO n b) Caracteristicas da duragio 6.A duragio é 0 que muda de natureza Imaginemos uma linha reta, indefinida, e sobre essa linha um ponto material A que se desloca. Se esse ponto tomasse consciéncia de si mesmo, sentir-se-ia mudando j& que se move: perceberia uma sucesso. Mas essa su- ccessao se revestiria para ele da forma de uma linha? Sem. dtivida sim, contanto que ele pudesse elevar-se de algum modo acima da linha que percorre e perceber nela simul- taneamente varios pontos justapostos: isso, porém, 0 le- varia a formar a idéia de espaco, e é no espaco que veria desenrolarem-se as mudangas que sofre e nao na pura

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