LER AS ESCRITURAS

Howard W.Hunter
do Quórum dos Doze Apóstolos
Discurso proferido no Tabernáculo do Lago Salgado em 07/10/1979.

Quando seguimos o conselho de nossos líderes de ler e estudar as escrituras, colhemos benefícios e bênçãos
de muitos tipos. As escrituras conhecidas como o Velho e Novo Testamento são freqüentemente
consideradas a suprema literatura do mundo. Esses livros já foram considerados como tratados científicos,
dissertações filosóficas e até mesmo como registros históricos. Porém, entendendo o verdadeiro propósito
dessas e outras escrituras, percebemos que são na verdade a literatura religiosa fundamental.
As escrituras contêm as declarações fundamentais concernentes a Deus e seus filhos, e o seu inter
relacionamento. Em todos os livros, existe o apelo a que se creia e tenha fé em Deus, o Pai Eterno, e em seu
filho Jesus Cristo; e do primeiro ao último desses livros de escritura, eles nos conclamam a fazer a vontade
de Deus e guardar seus mandamentos.
As escrituras contêm o registro da auto – revelação de Deus, e por meio delas, Deus fala ao homem. Como
seria possível usar melhor o tempo do que lendo literatura que nos ensina a conhecer Deus e a entender
nosso relacionamento com Ele?
O tempo é precioso para pessoas ocupadas e nós somos roubados de progredir, quando perdemos horas
lendo ou assistindo coisas frívolas e baratas.
Os hábitos de leitura variam grandemente. Alguns lêem depressa, outros devagar; alguns lêem pequenas
porções Por vez, outros não param até chegar ao fim do livro. Entretanto, aqueles que se aprofundam na
literatura escriturística, descobrem que entender requer mais que uma leitura casual – requer estudo
concentrado. Sem dúvida, aquele que estuda as escrituras diariamente consegue muito mais que outro que lê
longo tempo num dia e depois fica tempo sem ler. Não só devemos estudar diariamente como reservar uma
hora na qual possamos concentrar-nos sem interferências.
Não há nada mais proveitoso do que orar para que se abra nosso entendimento para as escrituras. Orando
sintonizamos nossa mente com a busca das respostas. Diz o Senhor: “Pedi e dar-se-vos-á; buscais e achareis;
batei e abrir-se-vos-á.” (Lucas 11:9). É a confirmação de Cristo de que, se pedirmos, buscarmos e batermos,
o Santo Espírito nos fará entender, se estivermos prontos e dispostos a receber.
Muitos acham que a melhor hora para estudar é pela manhã, com a mente descansada e despreocupada.
Outros preferem estudar na calma depois de terminado o trabalho e postas de lado as preocupações do dia,
encerrando-o com a paz e a tranqüilidade trazidas pela comunhão com as escrituras.
Talvez o mais importante seja reservar uma hora certa para o estudo. Seria ideal dispor-se de uma hora por
dia; mas, se não for possível, meia hora, regularmente, dará resultados substanciais. Quinze minutos é pouco
tempo, mas é surpreendente quanto esclarecimento e cultura se pode adquirir. O importante é não permitir
que algo interfira em nosso estudo.
Uns preferem estudar à sós, mas pode ser proveitoso estudar a dois. A família é muito abençoada quando
pais sábios reúnem seus filhos para, após lerem juntos trechos das escrituras, discutirem livremente as belas
histórias e pensamentos. Muitas vezes os jovens e as crianças pequenas revelam uma surpreendente visão e
apreço pela literatura religiosa fundamental.
Não devemos ler a esmo, mas ter um plano de estudo sistemático.
Alguns lêem determinados números de páginas ou capítulos por dia ou semana. Isto pode ser justificável
quando se está lendo por prazer, mas não constitui estudo. É preferível ter determinado tempo, diariamente,
para estudo das escrituras, do que ter determinado número de capítulos para ler. Pode acontecer que o estudo
de um versículo ocupe o tempo todo.
A vida, atos e ensinamentos de Jesus podem ser lidos rapidamente. As histórias quase simples são contadas
de maneira singela. O mestre ensinava com poucas palavras, porém de sentido tão conciso, que juntas

1
transmitiam uma imagem bem clara. Às vezes, contudo, pode-se passar horas meditando os pensamentos
profundos expressos em poucas palavras.
Um incidente na vida do Salvador foi mencionado tanto por Mateus como por Marcos e Lucas. A parte
maior da história é contada por Marcos em apenas dois versículos e algumas palavras: ‘ Eis que chegou um
dos principais da sinagoga, por nome Jairo, devendo-o, prostrou-se a seus pés, e rogava-lhe muito, dizendo :
minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare, e viva: “E foi com
ele...” (Marcos 5:22-24).
A leitura desse trecho leva uns trinta segundos. É curto e simples. O quadro visual é claro e até mesmo uma
criança seria capaz de repeti-lo. Mas, quando nos pomos a meditar, obtemos um profundo entendimento e
concluímos que é mais que uma simples história de uma garota doente que Jesus foi abençoar. Permiti-me
ler novamente:
“ Eis que. O termo eis que é de uso freqüente nas escrituras, com diversos sentidos. Neste caso quer dizer
subitamente ou inesperadamente. Jesus e seus companheiros tinham acabado de atravessar o Mar da
Galiléia; A multidão que estava à sua espera foi encontra-lo na praia perto de Cafarnaum. “ E, eis que (súbita
e inesperadamente) chegou um dos principais da sinagoga” . As sinagogas maiores da época eram presididas
por um colegiado de anciãos sob a direção de um chefe ou principal. Este era pessoa de prestígio, muito
respeitada pelos judeus. Mateus não dá o nome desse ancião chefe, porém Marcos o identifica acrescentando
ao título “ por nome Jairo”. O nome dele não aparece em nenhum lugar, mas sua memória sobrevive na
história devido ao breve contato com Jesus. Muitas vidas normalmente obscuras, tornam-se memoráveis ao
toque da mão do Mestre que os fez mudar de pensamento e ação para uma vida melhor...
“E, vendo-o (isto é vendo Jesus) prostrou-se aos seus pés” .
Isto é uma coisa incomum para um homem importante e de prestígio, um principal da sinagoga, ajoelhar-se
aos pés de Jesus – aos pés de alguém considerado um pregador itinerante com dom de curar. Muitos outros
instruídos e de prestígio viram a Jesus, mas o ignoraram. Tinham a mente tacanha. Hoje não é diferente;
quantos há hoje que não conseguem aceitá-lo.
“E (Jairo) rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda” . Isto é comum quando um homem se
chega a Cristo, não tanto por si mas por causa do desespero por um ente querido. O tremor que percebemos
na voz de Jairo quando diz: “minha filha”, suscita nossa simpatia ao imaginarmos aquele homem importante
de joelhos perante o Salvador
Segue-se grande profissão de fé: “Rogo-te, que venhas e imponhas as mãos para que sare, e viva”. Não são
simples palavras de fé de um desesperado, mas também um lembrete de que tudo em que Jesus puser as
mãos vive ! Impondo Jesus sua mão num matrimônio, ele vive. Se puser suas mãos sobre a família, ela vive!
Depois as palavras: “E foi com ele” . Não é de supor que isto estivesse em seus planos do dia. O Mestre
acabara de chegar, e a multidão esperava ensinamentos. “E, eis que” súbita e inesperadamente - Ele foi
detido pelos rogos de Jairo. Poderia ter ignorado o pedido, pois muitos outros o esperavam. Poderia ter dito
que só iria no dia seguinte, porém “ foi com ele” . Caso seguíssemos os passos do Mestre, Alguma vez
estriamos muito ocupados para ignorar as necessidades de nossos semelhantes?
Não é preciso ler o resto da história. Chegando a casa de Jairo, Jesus tomou a menina pela mão e a
ressuscitou. Da mesma forma, Ele há de levantar e elevar todo homem que lhe permitir toma-lo pela mão, a
uma vida nova e melhor. Sou grato pelas escrituras que nos permitem obter um melhor conhecimento de
Jesus Cristo. Sou grato que o Senhor haja acrescentado ao Velho e ao Novo Testamento, através dos profetas
d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, outras escrituras reveladas como testemunhas
adicionais de Jesus Cristo - O Livro de Mórmon, doutrina e Convênios e Pérola de Grande Valor – que eu
sei serem a Palavra de Deus. Eles testificam que Jesus é o Cristo, o filho de Deus vivo.
Possa o Senhor abençoar-nos em nosso estudo e justa vontade de busca-lo, eu oro em nome de Jesus Cristo.
Amém.