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1 AABORDAGEM QUALITATIVA DE PESQUISA, objetivo deste capitulo é caracterizar a abordagem qualitativa de pesquisa, rastreando suas raizes, acompanhando seu desenvolvimen- to ¢ sua aproximacao com a rea de educacio. Na primeira parte do capitulo procuro situar as raizes hist6ricas da abordagem, no final do século XIX, quando cientistas sociais defendem a perspectiva idealista-subjetivista de conhecimento e estabelece-se um amplo debate entre o quantitativo e 0 qualitativo. Discuto as principais tendéncias da fenomenologia que se encon- tra nas origens da abordagem qualitativa ¢ alerto para o risco de se continuar empregando o termo “pesquisa qualitativa” de forma genérica ¢ extensiva, pois pode-se cair no extremo de chamar de qualitativo qualquer tipo de estudo, desde que nfo envolva ntimeros, seja ele bem ou mal feito, o que me parece muito negativo para o reconhecimento da abordagem qualitativa de pesquisa. Concluo pela necessidade de reser- var os termos qualitative ¢ quantitativo para designar 0 tipo de dado coletado e sugiro o emprego de termos mais precisos quan¢o se quiser identificar diferentes modalidades de pesquisa. 15 Na terceira parte do capitulo procuro mostrar que se no final do século XIX foi interessante manter um debate entre o qualitative e o uantitativo porque esse fez emergir importantes questées epistemol6gi- cas € metodol6gicas a respeito da pesquisa na area de ciéncias humanas € sociais, esse momento esté totalmente superado, Admitindo que quali- dade © quamtidade estio intimamente relacionadas, as discussdes hoje devem se centrar em questdes mais consistentes como: a natureza do conhecimento cientifico e sua funcdo social; o processo de producéo e 0 uso desse conhecimento; critérios para avaliagio do trabalho cientifico; critérios para selecdo ¢ apresentagao de dados qualitativos; métodos e procedimentos de andlise de dados, entre outros. Ratzes hist6ricas e fundamentos da abordagem qualitativa A abordagem qualitativa de pesquisa tem suas rafzes no final do século XIX quando os cientistas sociais comecaram a indagar se 0 método de investigacio das ciéncias fisicas e naturais, que por sua vez se fundamentave numa perspectiva positivista de conhecimento, deveria continuar servindo como modelo para o estudo dos fendmenos humanos ¢ sociais. Dilthey, que era historiador, foi um dos primeiros a fazer esse tipo de indagacdo e a buscar uma metodologia diferente para as ciéncias Sociais, argumentando que os fendmenos humanos ¢ sociais so muito complexos ¢ dinimicos, o que torna quase impossfvel o estabelecimento de leis gerais como na fisica ou na biologia. Por outro lado, afirma Dilthey, quando se estuda historia, o interesse maior é 0 entendimento de um fato particuler endo a sua explicagio causal. Além disso, continua cle, o contexto particular em que ocorre o fato é um elemento essencial para a sua compreensio. Com base nessas consideracdes ele sugere que a investigacao dos problemas sociais utilize como abordagem metodo- l6gica a hermenéutica, que se preocupa com a interpretacdo dos signifi- cados contidos num texto (entendido num sentido muito amplo), levando em conta cada mensagem desse texto e suas inter-relagbes. Weber também contribuiu de forma importante para a configura do da perspectiva qualitativa de pesquisa ao destacar a compreensiio (verstehen) como o objetivo que diferencia a ciéncia social da ciéncia fisica. Segundo ele, o foco da investigacéo deve se centrar na compreen- séo dos significados atribuidos pelos sujeitos as suas ages. Como Dilthey, ele argumenta que para compreender esses significados € neces- -»sirio colocé-los dentro de um contexto. Outros estudiosos das questées humanas ¢ sociais aliam-se as idéias de Weber e Dilthey e defendem a perspectiva de conhecimento que se tornou conhecida como idealista-subjetivista. Ao mesmo tempo fem que hé a defesa de uma nova visio de conhecimento, hé a critica 2 concepgio positivista de ciéncia de onde nasce um debate que vai se prolongar até o final da década de 1980, entre o quantitativo e o qualits- tivo, Nao aceitando que a realidade seja algo extern ao sujeito, a corrente idealista-subjetivista valoriza a maneira prOpria de entendimen- viduo, Em oposigao a uma visio empiricista de © cigncia, busca d interpretacdo\em lugar da mensuracio, a descobertalem lugar da constatagdo,\valoriza a indugao)e assume que fatos e valores estio intimamente relacionados, tornando-se inaceitivel uma postura neutra do pesquisador. £ com base nesses principios que se configura a nova abordagem_ (Glguns autores preferem o termo paradigma) de pesquisa, chamada de “naturalistica” por alguns ou de “qualitativa” por outros. Naturalistica ou naturalista porque néo envolve manipulacio de variéveis,nem tratamen- Torexperimental; € 0 estudo do fenémeno em seu acontecer natural. Qualitativa’porque se contrap6e a0 esquema quantitativista de pesquisa (que divide a realidade em unidades passiveis de mensuragio, estudan- do-as isoladamente), defendendo uma visio holistica dos fenémenos, isto é, que leve em conta todos os componentes de uma situacao em suas interagGes ¢ influéncias reciprocas. E uma abordagem de pesquisa que tem suas raizes tedricas na #fenomenologia, que como todos nés sabemos compreende uma série de matizes. SESS SEESSESSFSAIPSFSSSSIFsS FTF ssEFE FFF sTs &, portanto, a concepedo idealista-subjetivista ou fenomenologica de conhecimento que dé origem a abordagem qualitativa de pesquisa, na qual também esto presentes as idéias do interacionismo simbélico, da etnometodologia e da etnografia, todas elas derivadas da fenomenologia, ‘Vamos caracterizar rapidamente cada uma dessas correntes. A fenomenologia enfatiza os aspectos subjetivos do comporta- ‘mento humano e preconiza que é preciso penetrar no universo conceitual dos sujeitos para poder entender como e que tipo de sentido eles dio aos acontecimentos ¢ as interagGes sociais que ocorrem em sua vida difcia, © mundo do sujeito, as suas experiéncias cotidianas ¢ os significados atribufdos as mesmas so, portanto, os nicleos de atencAo na fenomeno- logia. Na visio dos fenomendlogos € 0 sentido dado a essas experiéncias » que constitui a realidade, ou seja, a realidade € “socialmente construida” (Berger e Luckmann 1985). Muito proximo a essa formulagéo, o interacionismo simbélico assume como pressuposto que a experiéncia humana é mediada pela interpretacdo, a qual nio se dé de forma aut6noma mas & medida que o individuo interage com 0 outro. E por meio das interagSes sociais do individuo no seu ambiente de trabalho, de lazer, na familia, que v4o sendo construfdas as interpretag6es, os significados, ou a sua visio de tealidade. Como se desenvolve essa visio 6 que constitui o objeto de investigagéo do interacionismo simbélico. Outro ponto importante nessa linha de pensamento é a concepgio do self. O self€ a visio de si mesma que cada pessoa vai criando a partir da interagio com os outros. E, nesse sentido, uma construgéo social, pois 0 conceito que cada um vai criando sobre si mesmo depende de como ele interpreta as ages ¢ 08 gestos que lhe sio dirigidos pelos outros. Assim, « forma como cada um peroebe a si mesmo 6, em parte, funcdo de como os outros o percebem. George Mead é um dos precursores dessa linha de pensamento. Sendo professor no Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, no periodo de 1893 a 1931, ele formou um grupo de estudiosos do assunto, entre os quais Herbert Blumer (1969) — que aliés foi quem cunhou 0 termo interacionismo simbélico em 1937 —, Howard Becker, Everett Hughes, Blancher Geer e A. Strauss (1961). 12, interacionismo simbélico ganha novo vigor nas décadas de 1970-1980 tanto na Inglaterra como na Franga ¢ nos Estados Unidos quando muitos pesquisadores voltaram seus interesses para as interagbes sociais que os individuos desenvolvem na sua vida cotidiana, No Brasil também temos alguns exemplos recentes dessa “volta” ao interacionis- ‘mo simbélico (Goulart e Bregunci 1990; Haguette 1987). Acetnometodologia outra corrente da sociologia que vai influen- ciar a abordagem qualitativa de pesquisa. Seu mais conbecido repre- sentante € Harold Garfinkel (1967). Contrariamente a0 que © termo sugere, a ctnometodologia nio se refere ao método que o pesquisador utiliza, mas ao campo de investigagio. E « estudo de como os individuos compreendem e estruturam 0 seu dia-a-dia, isto ¢, procura descobrir “os métodos” que as pessoas usam no seu dia-a-dia para entender construir a realidade que as cerca. Seus principais focos de interesse sio, portanto, 08 conhecimentos técitos, as formas de entendimento do senso comum, as préticas cotidianas e as atividades rotineiras que forjam as condutas dos atores sociais. Muito similar ao interacionismo simbélico, desenvolve-se na an- tropologia uma tendéncia que se tornou conhecida como_etnografia. ‘Segundo Spradley (1979), a principal preocupacio na etnografia € com 1» osignificado que t€m as agGes e os eventos para as pessoas ou os grupos estudados, Alguns desses significados sio diretamente expressos pela linguagem, outros so transmitidos indiretamente por meio das agoes. De qualquer maneira, diz ele, em toda sociedade as pessoas usam sistemas complexos de significado para organiza seu comportamento, para entender a sua propria pessoa € os outros ¢ para dar sentido ao mundo em que vivem. Esses sistemas de significado constituem a sua + cultura, Para Spradiey a cultura 6, pois, “o conhecimento jé adquirido {que as pessoas usam para interpretar experi@ncias e gerar comportamen- (p. 5): Nese Sentido a cultura abrange o que as pessoas fazem, o que elas sabem e as coisas que elas constroem e usam, explica ele. A ctnografia € a tentativa de descrigao da cultura. Geertz (1973) + utiliza o termo “descrigo densa”, que ele tomon emprestado do filésofo 19 Gilbert Ryle, para designar 0 que pretende a etnografia. Segundo ele, a cultura, como um sistema de simbolos constru{dos, “no é um poder, algo @ quom pode ser atribuda a causa de eventos sociais, comportamentos, instituigdes ou processos: € um contexto, algo dentro do que os simbolos podem ser inteligivelmente — ou densamente — descritos” (p. 14). * Oetn6grafo encontra-se, assim, diante de diferentes formas de interpretagdes da vida, formas de compreensio do senso comum, signi- ficados variados atribuidos pelos participantes as suas experiéncias ¢ vivéncias e tenta mostrar esses significados miltiplos ao leitor. Concordando com Geertz, Rosalie Wax considera que a tarefa do etnégrafo consiste na aproximagio gradativa ao significado ou & com- pteensio dos participantes, isto é, de uma posigio de estranho o etndgra- fo vai chegando cada vez mais perto das formas de compreensio da tealidade do grupo estudado, vai partilhando com eles os significados (Wax 1971). Embora essas concepg6es ja fizessem parte dos debates do final do século XIX, os estudos que se fundamentam nessa nova perspectiva do ainda muito esparsos no infcio do século XX, ¢ na érea de educagao eles 56 ganham destaque na década de 1960. H4 duas perguntas que podem ser feitas sobre isso. Por que essa demora? e Por que os anos 60 foram mais propicios a esse surgimento? Segundo Bogdan ¢ Biklen (1982), a demora pode ser explicada pelo fato de que no inicio do século a pesquisa educacional era dominada pela psicologia, que por sua vez tinha uma forte tendéncia experimenta- lista, baseada nos pressupostos do positivismo de Comte, o que dificul- tou o surgimento da perspectiva idealista. Adécada de 1960 foi marcada por varios movimentos sociais, por lutas contra a discriminacdo racial e social e pela igualdade de direitos. Foi também nessa década que aconteceram as rebelides estudantis da Franca, 0 que precipitou 0 interesse dos educadores pelo que estava se assando realmente dentro das escolas ¢ das salas de aula e pelo uso da abordagem antropol6gica ou etnogréfica como forma de investigacao do dia-a-dia escolar, Por outro lado, os métodos qualitativos também ganha- ram popularidade porque buscavam retratar os pontos de vista de todos 6s participantes, mesmo dos que nio detinham poder nem privilégio, 0 que casava muito bem com as idéias democréticas que apareceram na década de 1960. Além disso, a rea de sociologia, que vinha sendo dominada pelas idéias do funcionalismo por mais ou menos 20 anos, também se volta para o enfoque fenomenol6gico durante os anos 60. E quando ressurgem os estudos baseados no interacionismo simbélico ¢ quando é valorizada a etnometodologia, dois enfoques que vo influen- cciar bastante os trabalhos de pesquisa na frea de educagio. Se no final da década de 1960 esses estudos comecam a aparecer, na década seguinte eles vao florescer, principalmente nos Estados Uni- dos ¢ na Inglaterra, seja em forma de livros ou artigos sobre temas especificos (Bogdan e Taylor 1975; Hamilton, Jenkins, King, Mac Do- nald ¢ Parlett 1977; entre outros), seja em forma de pesquisas que utilizam a abordagem qualitativa. Podemos destacar, entre outros, “Os estudos de caso no ensino de ciéncias”, uma pesquisa realizada entre 1975 © 1977, sob a coordenacio de R. Stake e J. Easley, na Universidade de Ilinois (EUA), ¢ ainda os trabalhos realizados pelo grupo de Birmingham (Gra-Bretanha), entre os quais se destacam o de Willis (197) ¢ 0 de MacRobbie (1978). Se a fenomenologia encontra-se nas ratzes dos estudos “qualitati- vos” da rea de educagao, sua evolugio vem se dando no sentido de uma crescente diversificagdo tanto nos fundamentos filoséficos quanto nos métodos, procedimentos, estilos ¢ conteddos. Porum lado, hé um grupo de autores, como Willis, Apple, Giroux, que tem procurado associar os pressupostos da teoria critica com os estudos de natureza etnografica. Um exemplo bastante significativo € 0 livro de Paul Willis que foi traduzido para o portugués com o titulo Aprendendo a ser trabalhador e que tem servido como uma espécie de modelo dentro dessa linha critica de pensamento. See GTTITIVIIIIII SESS EEEVIIISG Por outro lado, hé varios grupos de pesquisadores que trabalham dentro da perspectiva cognitivista-interacionista-construtivista, seja no sentido mais préximo dos estudos piagetianos, seja na vertente vygots- Kiana ov numa modificagéo de uma delas, os quais também nio se ‘enquadrariam nas raizes fenomenoldgicas da abordagem qualitativa, Essas diferentes correntes, no entanto, estio ainda no processo de integrar seus fundamentos tedricos com os avangos metodol6gicos. Por isso 0 que se tem a dizer sobre elas, no momento, é que podem ser consideradas dentro da abordagem qualitativa, no sentido de que no se enquadrariam numa perspectiva quantitativista/positivista, mas 6 preci- so discutir mais suas peculiaridades, suas filiacGes teéricas ¢ seus funda- mentos epistemol6gicos e de que forma esses se articulam as questées metodolégicas. Sobre 0 conceito de pesquisa qualitativa Nos anos 80 a abordagem qualitativa torou-se muito popular ‘entre os pesquisadores da area de educagao, inclusive os brasileiros. £ nessa década que Gatti (1992) encontra a primeira mengio a temitica da abordagem qualitativa nos Cadernos de Pesquisa, num artigo escrito por André (1983). Um ntimero bastante grande de publicag6es surgiu nesse periods, tratando de questées associadas tanto aos seus fundamentos te6ricos quanto aos procedimentos metodolégicos (Bogdan e Biklen 1982; Ezpeleta e Rockwell 1986; Frickson 1989; Guba e Lincoln 1981; Lincoln ¢ Guba 1985; Ludke André 1986; Miles e Huberman 1984; Patton 1980; Trivinos 1987; entre outros). Muito embora a literatura disponfvel seja razoavelmente extensa © esteja aumentando cada vez mais, parece que o préprio conceito de Pesquisa qualitativa néo tem sido suficientemente discutido, o que tem resultado em criticas ou defesas, 4s vezes pouco fundamentadas, de Posigdes, sem que se explicite de que tipo de pesquisa qualitativa cada um esté falando. E urgente, pois, esclarecer essa questio. > Para alguns, a “pesquisa qualitativa” é a pesquisa fenomenolégica (Martins e Bicudo 1989). Para outros, 0 qualitativo € sindnimo de etnogréfico (Trivinos 1987). Para outros ainda, 6 um termo do tipo guarda-chuva que pode muito bem incluir os estudos clinicos (Bogdan e Biklen 1982). E, no outro extremo, hé um sentido bem popularizado de pesquisa qualitativa, identificando-a como aquela que no envolve ni- ‘meros, isto , na qual qualitativo é sindnimo de nao-quantitativo. E comum encontrarmos trabalhos que se definem como “qualita tivos” simplesmente por nfo usar dados numéricos ou por usar técnicas de coleta consideradas qualitativas — como por exemplo a observacio. Encontramos, também, sob essa denominagio uma variedade imensa de tipos de pesquisa que vio desde os trabalhos descritivos até os estudos hist6ricos, os estudos clinicos ou a pesquisa-agéo. Nao sei em que medida seria desejével deixar que todos esses conceitos convivessem pacificaments. No meu ponto de vista essa coe- xisténcia pode ser prejudicial ao desenvolvimento da abordagem quali- tativa, primeiro porque pode levar a um exagero de chamar de qualitati- vo qualquer estudo, seja cle bem on mal planejado, desenvolvido relatado, o que pode levar a um total descrédito da abordagem qualitati- va, Além disso, ao se aceitar essa ambigitidade de conceituagdes, pode- se deixar de discutir os fundamentos tedricos ¢ epistemol6gicos desses estudos, o que seria, af sim, lamentavel. Ora, é fato bastante conhecido que um estudo etnogréfico, por exemplo, pode seguir uma linha funcional-estruturalista ou pode situar~ se nos diferentes matizes da fenomenologia ou ainda pode vincular-se & teoria critica ou ao materialismo hist6rico. Os estudos clfnicos, por sua vez, podem seguir a orientagdo piagetiana ou a de Emilia Ferreiro ow ainda a da psicologia experimental-desenvolvimentista de Vygotsky. A mesma diversidade de orientagSes pode se aplicar @ anélise de documen- tos, sejam eles hist6ricos, didéticos, legais, pessoais etc. (Posso, por exemplo, analisé-los numa linha estruturalista, fenomenol6gica, critica, ou em outra.) 3 Para além da dicotomia qualitativo-quantitativo O uso do termo “pesquisa quantitativa” para identificar uma pers- pectiva positivista de ciéncia parcce-me no mfnimo reducionista. Associar quantificacéo com positivismo é perder de vista que quantidade e qualida- de estio intimamente relacionadas. Se, por exemplo, fago um trabalho de pesquisa que pretends caracterizar os alunos que freqiientam o curso notumo de formacao para o magistério, embora en use dados quantificd- veis como idade, nivel socioecondmico, trajetéria escolar, ocupacio, a Teitura desses dadios no necessariamente seguiré uma linha positivista. Nem eu afirmarei que os instrumentos so neutros ou que os métodos de amostragem me permitem generalizar os resultados rigidamente para a ‘otalidade, Posso fazer uma pesquisa que utiliza basicamente dados quan- {itativos, mas na anélise que fago desses dados estardo sempre presentes 0 meu quadro de referéncia, os meus valores e, portanto, a dimensio quali tativa. As perguntas que eu fago no meu instrumento esto marcades por minha postura tedrica, meus valores, minha visio de mundo, Ao reconhe- Cer essas marcas da subjetividade na pesquisa, eu me distancio da postura positivista, muito embora esteja tratando com dados quantitativos, Por outro lado, mesmo quando se reportam dados de depoimen- tos, entrevistas ou de observagies €, nfo raro, conveniente que se expressem os resultados também em ntimeros, como por exemplo, numa situacio em que se esteja revelando a opiniao dos professores sobre uma nova proposta. E muito mais interessante e ético dizer que “30% dos entrevistados consideraram a proposta autoritéria” do que afirmar gene- ticamente que “alguns professores consideraram a proposta autoritéria”, Deixa o estudo de ser qualitativo porque reportou niimeros? E evidente que no. No caso, o nimero ajuda a explicitar a dimensao qualitativa. Por essa razio nfo me parece ser muito conveniente continuar usando 0 termo “pesquisa qualitativa” de forma tio ampla e genérica como preferem alguns (como por exemplo Alves 1991), Bu reservaria os. termos quantitativo e qualitativo para diferenciar técnicas de coleta ou, até melhor, para designar o tipo de dado obtido, e utilizaria denominacées oa mais precisas para determinar 0 tipo de pesquisa realizada; hist6rica, descritiva, participante, etnogréfica, fenomenol6gica etc. Se num determinado momento foi até interessante utilizar o termo qualitativo para identificar uma perspectiva de conhecimento que se contrapunha ao positivismo, esse momento parece estar superado, Esse momento foi justamente o final do século XIX, quando surge ‘© enfoque qualitativo em oposigéo ao quantitativo. & o inicio de uma polémica que, segundo Smith Heshusius (1986), perdurou até uns anos atrés ¢ na qual sio enfatizadas as diferencas tanto nos pressupostos quanto nos procedimentos das duas abordagens. Esse debate teve um importante papel porque permitiu por em questo o valor da orientagio positivista no trabalho cientifico e fez emergirem questdes de natureza filosGfica ¢ epistemolégica — como 0 critério de verdade no trabalho cientifico, a relevncia dos resultados da pesquisa, a questio do objetivismo x relati- vismo etc. — que foram, sem diivida, importantes para a evolugio da pesquisa nas ciéncias sociais e, em decorréncia, na area de educagao. Porém, a necessidade agora € ir além, ultrapassar a dicotomia qualitativo-quantitativo e tentar encontrar respostas para as intimeras questées com que nos defrontamos diariamente, entre as quais podemos citar: O que caracteriza um trabalho cientifico? O que diferencia 0 conhecimento cientifico de outros tipos de conhecimento? Quais os ctitérios para se julgar uma boa pesquisa? O que se pode considerar como vélido e confidvel na pesquisa? Como deve ser tratada a problemnética da generalizacio? Qual o papel da teoria na pesquisa? Como articular 0 micro ¢ 0 macrossocial? Como trabalhar a subjetividade na pesquisa? Quais as formas mais apropriadas de anélise de dados qualitativos? Dar respostas a todas essas quest0es nfo é, certamente, tarefa de uuin nico pesquisador. Sao respostas que precisam ser buscadas tanto individual quanto coletivamente, de forma sistemstica e persistente, € nesse processo de busca devem ser expostas & discussao, & critica, a0 debate, para que 0 conhecimento possa ir se consolidando e a abordagem qualitativa possa conquistar credibilidade e maturidade.

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