Вы находитесь на странице: 1из 184
Hernani Guimaraes Andrade MORTE RENASCIMENTO EVOLUCAO Uline wielogia transcendental MORTE, RENASCIMENTO, EVOLUCAO Uma Biologia Transcendental Hernani Guimaraes Andrade Temas tdo fascinantes € polémicos como a génese da vida, a sobrevivéncia apés a morte, a possibilidade cientifica de gravacio de mensagens do Além, a reencarnagfo encarada como uma lei da Natureza, formam alguns dos capitulos deste livro, que tem a recomendé-lo, antes de mais nada, a seriedade e a preocupacao cien- tifica do Autor, to bem retratada nestes pardgrafos do Prefacio escrito pelo Dr. Osmard Andrade Faria: “E inventor de equipamentos ainda ndo-copiados, como o TEEM (Tensionador Espacial Eletromagnético) © o Ectossomascépio. Afora 10 livros e monografias publicados, citam-no ¢ transcrevem-no, fora do Brasil, mais de 30 autores, outros tantos no seu pais, ¢ seu nome aparece como colaborador ou referéncia em mais de 200 publicagdes de rigor ético, em todo 0 mundo. “Nao creio que qualquer outro cientista brasileiro, em qualquer €poca ¢ em qualquer ramo do pensamento, possa roubar-the facil mente essa palma. Pois, apesar de semelhante status, apura seu es erdpulo ético a tal ponto de, as vezes, levar mais de dez. anos perseguindo um fato antes de ousar anuncié-lo. “Os espiritualistas encontrario neste livro uma confortadora confirmagiio de suas verdades. Mas so os outros, os descrentes, que devem lé-lo.” : EDITORA PENSAMENTO Aos meus Pads, com minha saudade Leia também PARAPSICOLOGIA EXPERIMENTAL Hernani Guimaraes Andrade Num sentido bastante amplo, a Parapsicologia cuida dos fatos paranormais. Em nossos dias, porém, essa ciéncia, sabemos todos, tem por objetivo, primeiro tornar evidente, ¢ a seguir, estudar as “fungSes psiquicas” de natureza paranormal: a fele- patia, a clarividéncia, a pré e a pds-cognicao ¢ a psicocinesia, Sob tal ponto de vista, a Parapsicologia busca unir-se 8 Psicolo- gia, a fim de revigoré-la, prolongando-the a vida, abrindo-lhe um campo de interesses muitas vezes rico e abrangente. Do mesmo modo como, noutros tempos, veio a ocorrer com a Metapsiquica, a Parapsicologia sofre forte oposigao da parte dos homens de ciéncia, cuja formacdo positivista foi o bastante para blindé-los contra a aceitagdo dos fatos da paranormalidade, Personalidade vigorosa — o Dr. J. B. Rhine —, cujas compro- vagdes cientificas ndo deixaram & mostra, porque inexistentes, truques ou ranhuras —, conseguiu inscrever pontos de diivida no corpus da ortodoxia cientifica, avessa As evidéncias heréticas. Desse modo, ndo serd exagero acrescentar que o futuro da Pa- rapsicologia ‘seré to promissor quanto o da Eletrénica ou da Fisica Quéntics, uma vez que seus objetos de enfoque so tao fascinantes quanto misteriosos. Apoiados nos resultados de suas pesquisas, € possivel que a humanidade possa colher a mais salutar das respostas sobre a revelha e angustiante questdo da sobrevivéncia apés a morte. Além disso, com a Parapsicologia, vemos abrirse a amplissima cortina do futuro do conhecimento cientifico, sendo licito admitir que o homem descobriré um universo muito mais rico do que 0 enclausurado espago que Ihe foi presenteado pelas viagens de exploragao do cosmo. Como diz 0 Dr. Hernani Guimardes Andrade: “Devemos aceitar que, atualmente, ainda tateamos nas trevas do grande e desconhecido mundo da mente. Na realidade apenas ensaiamos timidos e inseguros pasos no inicio da imensa trilha a ser pal- milhada, Mas, de uma coisa podemos estar certos, tudo indica que iniciamos, com a Parapsicologia, a fabulosa Era do Espi- tito.” EDITORA PENSAMENTO Obras do mesmo autor: A TEORTA CORPUSCULAR DO ESPTRITO la. edicdo, 1958 - esgotada 2a. edigdo, 1959 - esgotada NOVOS RUMOS AK EXPERIMENTACAO ESPIRITICA la. edigdo, 1960 - esgotada PARAPSICOLOGIA EXPERIMENTAL la. edigdo, 1967 - esgotada 2a. edigdo, 1976 - esgotada 3a. edicdo, 1983 A MATERTA-PSI__(Tese) la. edigdo, 1970 - esgotada 2a. edigdo, 1972 - (in A Maténia-Psi, la. edi- edo, Matao: 0 Clarim, 1972) esgotada 3a. edigdo, 1976 (em inglés: The Psi-Matter) 4a. edigdo, 1981 (in A Matérda-Psi, 2a. edigdo, Matao: 0 Clarim, 1981) 0 CASO RUYTENBERG ROCHA la. edigdo, 1971 - esgotada 2a. edigdo, 1973 - (em inglés: The Ruytemberg Rocha Case) 3a. edigdo, 1980 UM CASO QUE SUGERE REENCARNACAO: JACIRA & RONALDO la esgotada 2a esgotada 3a. (em inglés: A Case Suggestive of Reincarnation: Jacina & Ronaldo) 4a, edigdo, 1980 UM CASO QUE SUGERE REENCARNACAO: SIMONE & ANGELINA la. edig&o, 1979 0 POLTERGEIST DE SUZANO la. edigdo, 1982 HERNANI GUIMARAES ANDRADE Fundador do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofisicas — IBPP — MORTE, RENASCIMENTO, EVOLUCAO Uma Biologia Transcendental Prefacio Osmard Andrade Faria Médico Psiquiatra, Professor, Capitéo-de-Fragata MD (r. Rm) do Corpo de Satide da Marinha, Escritor e Parapsicdlogo ey EDITORA PENSAMENTO KO PAULO AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos aqueles que direta ou indiretamente contribufram para que esta o- bra se concretizasse. Em particular agradecemos ao Dr. José de Freitas Nobre e 4 sua digna esposa, Dra. Mar- lene Rossi Severino Nobre, pelo incentivo dado a este trabalho, acolhendo-o, inicialmente, nas colunas da Fotha Espinita; a@ Sra, Alzira Mar- tins Appollo pelo desenho n?4; 4 Srta. Sonia Re- gina Rinaldi Baselise pelos desenhos n*s 10 e 11; ao Professor Eng? Glaucius Oliva pelos dese- nhos n?s 5, 6 e 8; ao Professor Eng? Eduardo Ta- vares Costa e Srta, Maria das Gragas de Souza pe la revisao do texto; 4 Sra. Cristina Tavares da Costa Rocha pela datilografia das primeiras pro- vas. Agradecemos mui especialmente 4 Profa. Suzuko Hashizume, a quem coube o total preparo, organizacao e datilografia das matrizes deste livro. Finalmente, somos imensamente grato ao Dr. Osmard Andrade Faria por ter generosamen- te aceito ser o apresentador desta modesta 0- bra, valorizando-a consideravelmente. Sio Paulo, Verdo de 1983. HERNANT GUIMARAES ANDRADE vu SUMARIO Prefacio XIII O CRISOL DAS ORIGENS A Génese 1 A Gerac3o Espontanea 4 Biogénese 8 A Experiéncia de Miller e Urey 13 : AS FRONTEIRAS DA VIDA Imitagdo da Vida 15 Virus e Bactertéfagos 21 E a Vida? 28 : A ENTROPIA E A VIDA Ordem Versus Desordem 31 Entropia e Termodinamica 33 Vida e Entropia 36 Termodinamica e Ordem Biolégica 40 Voltando as Origens da Vida 43 A Solugao de Bertalanffy 46 CAMPOS ORGANIZADORES BIOLOGICOS Magnetismo e Organizagao 49 Vitalismo e Reductonismo 51 A Reagao Neovitalista 54 Forgas Organizadoras 59 CAP. V CAP. VI CAP. VII CAP.VIIT © SUPORTE ESTRUTURAL DO MODELO ORGA- NIZADOR BIOLOGICO Besouro Bem Armado Enfrenta Sapo Trombadao 61 A Fungao Psi 63 Experiéncias Fora do Corpo 67 Delineamentos 69 : A SOBREVIVENCIA DO ORGANIZADOR BIO- LOGICO Vinte e Nove Anos Depois ... 71 0 Caso Ruytemberg Rocha Nao é o Onico 75 0 Fantasma do Priorado 76 Retrospecto 79 : A MORTE E 0 MORRER 0 Leito de Morte 83 Os Que Vdo e Voltam para Contar 86 89 Os Estdgios do Morrer 91 0 Que Eles Contam A Sobrevivéncia 94 : AS MENSAGENS DO MUNDO DOS MORTOS Radioemissoras do Além? 95 As Cavernas do Submundo e o Des- pertar dos Mortos 100 Mas, Essas Vozes Seriam Mesmo dos Desencarnados? 102 Qual o Préximo Lance? 105 CAP. CaP. CAP. BIBLIOGRAFIA IX XI 0 SPIRICOM Os Primeiros Passos 107 0 Primeiro Sucesso 115 Dr. George Jeffries Mueller Reti- ra-se 119 Problemas Concernentes 4 Comunica gio Via Spiricom 120 O RENASCIMENTO Encontro com a Reencarnagao 129 Provas da Reencarnagao 131 A Aceitagdo das Idéias Reencarna- cionistas e Sua Distribuigao His- térica e Geografica 133 A Reencarnagao, Uma Lei da Nature za? 140 POR QUE ... PARA QUE VIVEMOS ? Por que ... Para Qué? 143 Apés a Morte 146 A Nossa Realidade 149 A Outra Realidade 151 Para Qué? = 153 156 TNDICE REMISSIVO 162 TNDICE ONOMASTICO 167 xI PREFACIO — "NEM VENDO, EU ACREDITO!" A £€ — escreveu Morris West — é um salto no escuro para os bracos de Deus. Cré-se ou nao se cré, simplesmente, Por sua vez — permito- me adir —a crenga contém em si mesma um pressu- posto de inexisténcia. Acredita-se quando nao se pode comprovar. Todavia, a border Line entre o concreto e_o abstrato, 0 tocdvel e o meramente concebivel, ja nio é tao evidente, Einstein, o fisico por ex celéncia, reconhecia isso ao ensinar que a Fisica é€ uma aventura do pensamento, Os tradicionais conceitos de materialis mo, organicismo, fisicalismo, reducionismo e a- fins vém tendo Sua forca dilufda ao longo dos tem pos € nem sempre se consegue distinguir a estan- queidade ortodoxa que a semantica lhes procura em prestar. A Fisica disseca a matéria nos reatores lineares e laboratérios de fissdo nuclear e a ca- da nova particula subatémica que os fisicos iden- tificam, a matéria se vai aos poucos desmateriali zando, deixando na saudade os alquimistas danta> nho. Alguns poucos tépicos desse pitoresco festival de "absurdos" anotados por respeitaveis cientistas e pesquisadores: — o bindmio energia- xu a atéria (Einstein), ambas formas alternativas de mesma massa de concretismo duvidoso; 0 con- ceito de complementaridade (Luis de Broglie) se- gundo o qual o eléctron age simultaneamente co- mo corpasculo e onda enquanto o primeiro nem che ga a ser matéria nem se lhe distingue u'a massa; © fato de o méson (Gaston Bachelard) ser muito mais uma idéia que um fato pois nao 8, apenas a- eontece; a inversdo da causalidade (Pascual Jor- dan) comprovando que em certas reagoes de fissao nuclear o efeito antecede 4 causa;o neutrino(con cebido teoricamente por Pauli em 1930 e confirma do por Reines e Cowan em 1956),uma particula que nao apresenta propriedades fisicas,nao tendo mas sa nem carga elétrica nem campo magnético, sim plesmente ndo sendo; o positron (Anderson), um eléctron com carga positiva retrocedendo no tem- po, caminhando da frente para tras, viajando pa- ra o passado vindo do futuro, morrendo antes de ter nascido; 0 conceito de imortalidade corpuscu lar (Gibson Lessa) segundo o qual se o corptiscu lo nao € particula de massa ou de matéria,se nao € fragmento de substancia, se nao tem dimensodes absolutas, se ndo tem forma e se nao ocupa um lu gar No espago, apenas se manifestando, entao a Fisica acabara por provar que o processo de des- truigdo da matéria, ou seja, a morte, @ simples- mente o mecanismo de liberagdo da energia ondula téria contida na mesma, ou seja, sua "alma", 0 que, por conseqliéncia nos transformaria, a todos nés, numa unidade bifida, corpusculares no Espa- go ¢ sob tal aspecto, mortais, e ondulatérios no Tempo e, pois, eternos, E finalmente a materiali dade do espfrito (HERNANI GUIMARAES ANDRADE) , bri Lhante concepgao expressa em sua obra "A Teoria Conpuscular do Espinito”. g Eis-nos todos, crentes e agnésticos,di. ante de um patético impasse: tudo 0 que é& com- preendido esta certo (Oscar Wilde), o que nos o- briga a reaprender a licao de Eddington,"a maté- xIV ria-prima do Universo é o Espirito", Espirito, aqui, evidentemente, no sentido da imaginagdo. Quando, porém, um pesquisador da postu ra ética de HERNANI GUIMARAES ANDRADE, com tio respeitavel bagagem intelectual e cientif ica,dis serta sobre un tema tao dificil quanto delicado @ altamente polémico como a sobrevida apds a morte fisica, mesmo aqueles (melhor, principalmente a- queles) como € o meu caso, que sentem enorme di- ficuldade para assimilar a idéia da sobrevida in teligente, mesmo esses, repito, devem parar para pensar. E um minimo compromisso com a busca da verdade. "MORTE, RENASCIMENTO, EVOLUCAO:Uma Béo Logia Transcendentat” € uma teSe sobre a Vida depois da Morte. Mas €, sobretudo, uma excelen te antologia sobre a Vida, enquanto apenas vida. ANDRADE vai busc4-la nas suas mais re- conditas origens, 14 onde, ha aproximadamente 3,1 bilhdes de anos, devem ter surgido as primei ras moléculas animadas de estimulo vital, no mo> mento mesmo em que o Acaso, aproveitando-se de condigdes fortuitas, construiu uma Ponte entre a quimica organica e a biologia. Depois disso € abrir o grande livro da Evolugao e acompanhar extasiado, na palavra f4- cil e na_exposigao altamente didatica do Autor, a explosao do milagre da vida em todas as suas formas, desde o virus (provavel elo entre as es- truturas animal e vegetal) até seus arcabougos mais superiores. Eis que nao é isso, no entanto — se ja nao nos bastasse — o mais importante :HERNANI GUIMARAES ANDRADE toma-nos pela mao e leva-nos a penetrar nos mistérios da suprema integracao en- tre o Homem e o Cosmos, Aplicando 4 ordem biold gica as leis da termodinamica e a mecanica ne= xv guentrépica que busca estabelecer ordem na desor dem natural dos agrupamentos estruturais e ciné- ticos, somos finalmente introduzidos nos fantas- ticos mundos do mode£o onrganizador bioldgico,pla no estrutural superior que condiciona o morgod em razao do cxonos, Nesse ponto da leitura surge, por si mesma, sem que o Autor’ a isso obrigue, a_ terri- vel e angustiante pergunta final que a nds mes- mos nos fazemos: — "E tudo isso, para qué? Para nada? Para, simplesmente, se acabar na quarta- feira de cinzas da vida de cada um? A morte 6, entao, o fim?" HERNANI GUIMARAES ANDRADE apenas _con- duz 0 nosso raciocinio quando postula:—"Nao se riam tais campos (organizadores) produzidos por um _prineipto que se formou concomitante com a propria vida desde os seus primdrdios? Nesse ca so esse principio poderia, gracgas a uma consti tuicdo estrutural espago-tempo, armazenar toda a sua experiéncia pregressa, convertendo-se em um domtnto informactonal histérico,Assim sendo, em sua interacado com as moléculas organicas ,ele poderia conduzir o embrido a reproduzir resumi- damente, durante a ontogénese, as fases decisi- vas de sua filogénese. Teriamos, assim, justifi cado o fenémeno da recapitulagao". A partir desse ponto imito Morris West e entrego o leitor aos bracgos eruditos e acolhedores do Autor, pois ir além seria roubar. ihe o prazer da descoberta e. do seu encontro com as suas préprias diividas e conviccées. Conan Doyle, médico, escritor,metapsi célogo e espirita, colocou na fala de ‘um seu personagem famoso a idéia de que, quando todas as outras hipdteses se eliminam, aquela que so- bra, por mais absurda que nos pareca, deve ser SAB WEE CKO Ky a verdade. ANDRADE tem pensamento semelhante ao longo do seu trabalho quando afirma, ao estudar © caso Ruytemberg Rocha que "a equipe do IBPP .. (...).. afastou todas as hipéteses normais que poderiam justificar o caso..(...).. restando co- mo tinica hipdtese plausivel e capaz de explicar a referida ocorréncia a da manifestacao de um a- gente theta". Espicago a argiicia do leitor e arranho delicadamente a amizade do Autor:— teriam sido realmente descartadas todas as outras possibili dades? = Se em vez de ser o brasileiro HERNANI GUIMARAES ANDRADE fosse o Autor o alem&o KARL W. GOLDSTEIN ou o inglés LAWRENCE BLACKSMITH, suas obras, traduzidas para o portugués, estariam sen do largamente vendidas no pais. Paga assim um preco aitissimo pelo imperdodvel descuido de ter “reencarnado" no Brasil. Engenheiro, fisico, ma- tematico, educador, lingllista, pensador, humanis ta, parapsicélogo, pesquisador, inventor, escri- tor, conferencista, cultura polifasica, € nome respeitado e consultado pelas mais importantes sociedades cientificas ligadas ao estudo das fun goes pst. Foi o primeiro experimentador em todo 6 mundo a conseguir, a cores, a kirliangrafia do famoso "efeito fantasma". Seus arquivos, paci. entemente organizados ao longo de mais de 40 a= nos de investigacdes, sdo coletanea sem prego. Seu_curriculo mostra-o autor de mais de 150 con- feréncias e cursos de esclarecimento, mais de 2.500 trabalhos de pesquisa cientifica,dentre os quais perto de 90 casos de poltenrgeist,cifra sem paralelo no mundo,todos devidamente comprovados. E inventor de equipamentos ainda nao copiados como o TEEM (Tensionador Espacial Elec- tromagnético) e o Ectossomascopio. Afora dez li- vros € monografias publicadas, citam-no e trans- XVII crevem-no fora do Brasil mais de 30 autores; ou tros tantos no pais, € seu nome aparece como colaborador ou yeferencia em mais de 200 publi- cacoes de rigor Ztico em todo © snundo. Nao creio que qualquer outro cientis~ ta brasileiro em qualquer época © en qualquer amo do pensamento » possa youbar-1he facilmente essa palma. Pois apesar de semelhante status, apura seu escrapulo ético @ tal ponto de, as ve oe, levar mais de dez anos perseguindo um fato antes de ousat anuncia-10- Eis que_assim Lhes apresento 0 Autor de "MORTE, RENASCIMENTO, EVOLUCAO: Uma Biologia Transcendental" os espiritualistas encontrarao neste qivro uma confortadors isigirmagao de suas Vere ta viva de uma a Pteria, dew as costas a obje Wem vendo, eH acnedito!" Floriandpolis (SC), mato» 1983 OSMARD ANDRADE FARIA xvill Capitulo 1 O CRISOL DAS ORIGENS "Sou uma sombra! Venho de_outnas bras, Do cosmopokitismo das mondras ... Pokypo de reconditas reintrancias, Lanva do chaos te£lirico, procedo” Da escurtdao do cdsméco Segnedo, Da substancia de todas as substancias!" (sic) Anjos, Augusto dos — "Mondlogo de Uma Sombra", EU, 16a. ed., Rio de Ja- neiro, Bedeschi, 1948, p. 49) A GENESE Parece fora de divida que o nosso plane- ta ter-se-ia originado de uma imensa massa de ga ses incandescentes envolvendo um niicleo mais den so formado por substancias a altissimas tempera turas. Nestas condicgdes, qualquer espécie de or- ganismo vivo jamais poderia ter entdo existido. Por conseguinte, a vida provavelmente apareceu aqui na Terra, a partir de uma determinada €poca apés a formacao e o resfriamento da crosta plane taria. Segundo os resultados mais aceitos a formagdo da Terra ter-se-ia completado ha cerca de 4,6 bilhdes de anos. 0 surgimento de uma cros ta sdlida possivelmente teria ocorrido apés un bilhao de anos. Sem diivida, a formagao de qual- quer composto quimico indispensavel a constitui- ao dos primeiros organismos bioldgicos depende- ria de condicdes mais estaveis e de temperaturas muitissimo inferiores aquela das rochas em esta- do de fusao. Ha um tipo de pesquisa que procura loca- lizar, nos mais primitivos sedimentos de rocha solidificada, aqueles compostos quimicos que te~ riam participado de antiqlissimos organismos vi- vos. Tais compostos seriam verdadeiros "fdsseis quimicos".Conhecem-se certas substancias organi- cas altamente resistentes 4 alteracao quimica,cu ja estrutura molecular leva a concluir que elas tenham sido abundantemente produzidas por siste- mas bioldgicos. Geralmente os compostos tipica- mente bio-organicos, como as proteinas, os Aci dos nucléicos e os polissacarideos, sao pouco du raveis, decompondo-se logo apds a morte do orga nismo que os originou. Excepcionalmente tem ocor rido o encontro de cadeias polipeptidicas e de a minoacidos bem conservados entre finas laminas de cristal, em rochas e ossos fossilizados. Mas os verdadeiros "f6sseis quimicos" ainda nao sao estes compostos assim ocasionalmente conserva- dos. Eles seriam, mais precisamente, representa- dos por certas substGncias organicas que foram capazes de conservar-se através de bilhdes de a- nos até os nossos dias. Estas substancias — 4 semelhanga dos restos fossilizados_ dos animais pré-historicos — podem conduzir & reconstitui cao dos primitivos organismos vivos que as teri- am produzido. E importante assinalar que tais es tudos oferecem apenas certa margem de certeza,em bora as _estimativas obtidas sejam satisfatorias e confiaveis. Os"fdsseis quimicos" a que nos aludimos s&o substancias residuais resultantes de altera- cées sofridas, no decorrer do tempo, pelas primi genas moléculas organicas. Tais alteracgées pode- rio dar-se por descarboxilacio, redugao, polime- rizagaéo, etc. Assim alteradas, as referidas molé culas formam os compostos denominados alcanos.ES tes compostos resistem 4 acao do tempo e de va rios outros fatores destrutivos. Por essa razio, os alcanos puderam ser detectados e reconhecidos em rochas ou depdsitos sedimentares antiqlifssi- mos. Os alcanos foram assinalados, por exemplo, FrontDa soe mance unst¥ e808 Go sith wecenaze ARQUEOZOICO JALGAS AZUL= “ aes + FIG, 1 — ESCALAS DO TEMPO E DA EVOLUGAO DOS SERES VIVOS — No grafico & esquerda podem ver-se a escala cronolégica da Terra e as correspondentes camadas de Fochas sedimentares onde foram encontrados os fésseis. No gréfico a direita so indicados 08 periodos correspondentes @ escala cronolégica da Tetra (& esquerda) e os respectivos estos fésseis com suas denominagdes. Vé-se nitidamente que a evolugdo quimica ne- cessitou cerca de 1,5 bilhdo de anos para alcancar o estégio da biogénese. A vida Provavelmente se iniciou hé cerca de 3,1 bilhées de anos, em nosso planeta, (Extraido de Eglinton, G. e Calvin, M. — "FOSSEIS QUIMICOS", Scientific American, A Base Molecular da Vida, trad. de Marcos B. de Oliveira e outros, So Paulo: Ed. Universidade de Séo Paulo e Ed. Poligono, 1971, p. 954, fig. 33-1, modificado,) em amostras do xisto Soudan de Minnesota, forma- do ha 2,7 bilhdes de anos. Os sedimentos do sis- tema Fig Tree da Suazilandia, na Africa, com 3,1 bilhdes de anos apresentaram uma fracgdo de molé- culas dos isoprendides que compdem os alcanos dessas rochas. Os isoprendides parecem ser vesti gios quimicos da clorofila. Admitida esta premis. sa, deve concluir-se que organismos vivos ja te= tiam existido hd 3,1 bilhoes de anos atras. (EGLINTON, G. e CALVIN, M. — "Fésseis Quimicos", 1967, in A Base MoLecutan da Vida, Setentific Amertean, So Paulo: Polygono, 1971, pp. 315-365). Refletindo mais detidamente sobre esta questdo e examinando os graficos da fig. 1 sur- preendemo-nos com um fato muito significante: a vida provavelmente surgiu tao logo a crosta da Terra se resfriou o suficiente para nela se for- marem os primeiros compostos quimicos organicos indispensaveis @ constituigdo dos seres vivos. A vida deve ter-se iniciado apés cerca de 1,5 bi- ih3o de anos a partir da formacao da Terra,0 pra zo € impressionantemente curto em relacao a ida- de do nosso planeta, Este fato suscitou uma sé- rie de conjecturas a respeito de como foi possi- vel instalar-se a vida, em tao remota era e em condigées aparentemente tao adversas. Entretanto © fato ai esta.Do primitivissimo crisol cdsmico, da arcaica, estéril e desolada paisagem pétrea, batida pelas tormentas, sacudida pelos terremo- tos e flagelada pelas fdrias vulcanicas, surgiu algo que originou os primordiais seres vivos, dos quais nés somos os derradeiros descendentes! A GERACAO ESPONTANEA Como surgiu, na Terra, o primeiro ser vi- vo? Esta pergunta parece haver sido enunciada i- nimeras vezes, desde a mais distante antiguida- de.As tradicées religiosas,em sua maioria,trans- ferem a solugao natural do problema para um ato criador de uma ou varias divindades. 0 Cédigo do 4 i- i- a- to do Manu — um dos mais antigos cddigos que se co- nhecem — usando uma linguagem simbélica, colo- ca no inicio da criacdo "Aquele que &, esta cau- sa imortal que existe para a razao e nado para os sentidoe”. Na Teologia hindu, o mesmo principio criador recebeu-o nome de Swayambhouva, "Aquele que extate por st mesmo", Deste principio "nas- ceu Purucha, filho divino de Brahma". Depois de ter estado no ovo-de-ouro pelo espaco de um ano divino e, por um dnico esforgo de seu pensamen- to, haver criado o mundo, Purucha criou a vida organizada ¢ todos os seres vivos.(JACOLLIOT, L. — Manou-Motse-Mahomet, Paris: C. Marpon et E, Flammarion). De acordo com o Génesis mosaico(fig. 2), Deus, apds ordenar que as Aguas que se achavam sdebaixo do céu se juntassem em um so lugar, apa- recendo assim o elemento seco, deu-lhes o nome respectivamente de Mares e Terra. Apés este pre- paro, mandou Ele que a terra produzisse relva,er yas que dessem semente e arvores frutiferas. Is= to ocorreu no terceiro dia da criacio.Somente no quinto dia, Deus cuidou de ordenar que as Aguas produzissem seres viventes e que surgissem as a- ves destinadas a voar acima da terra no firmamen to do céu. Finalmente, no sexto dia, foram criaz dos os seres viventes terrestres, Surgiram. ja prontos, segundo suas espécies, animais domésti- cos, reptis e animais selvagens. Para coroar a obra_ criacionista bioldgica foi entao feito o ho mem a imagem e semelhanca do Criador. (G@nesis 1). Nem_todos os homens se conformaram com as explicacées religiosas, e passaram, por isso, a cogitar a respeito da origem da vida; de como teria sido o primeiro ser dotado de vida e qual o seu processo gerador. Inicialmente, as hipote- ses acerca da origem dos seres vivos foram sim- plistas e baseadas em observacdes imperfeitas,se guidas de conclusées ingénuas e apressadas.Acre= ditava-se que, da propria terra ou dos detritos e podridées, podiam surgir seres vivos. Assim, -OIlE SEC VNOO: | 30 ZN Ay FIG. 2 — © GENESIS MOSAICO — No 1.° dia, Deus criou 0 cu e a terra, © cricu também a luz; no 2.° dla fez o firmamento e dividlu as aguas que estavam debaixo do firmamento, des aguas que estavam por cima do firmamento; no 3° dia juntou as aguas em um s6 lugar, criando os mares e as terres, © ordenou que a terra produzisse os vegetais; no 4.° dia foram criados os astros para presidirem 0 dia e a noite; no 5° dia Deus criou os seres aquéticos ¢ as aves; no 6.° dia, finalmente, foram criados os animais terrestres e, entre eles, 0 homam com poder sobre os demais seres viventes. 0 7.° dia foi, por Deus, consagrado 20 dascanso. A mulher fol criada muito depois, de uma costela de Adio, o primeiro homem. também, era crenca generalizada que a umidade pu trefata seria capaz de gerar seres viventes. Ambroise Paré (1517-1590), tendo mandado quebrar grandes pedras em sua propriedade,foi in formado pelo seu empregado de que havia sido en- contrado um enorme sapo vivo, no interior de uma das pedras! Embora fosse um famoso cirurgiao na- quela época, Paré nao pds em divida a informagao do seu criado, ficou apenas ingenuamente admira- do e sem imaginar como o animal poderia ter nas- cido, crescido e vivido ali dentro da pedra. 0 trabalhador asseverou ao seu patrao ndo ser esta a primeira vez que ele encontrava aquele e ou- tros animais dentro de pedras sem aparéncia de nenhuma abertura. Entao Ambroise Paré procurou dar uma explicacao para os fatos: os animais em questao eram engendrados de alguma substancia G- mida, putrefata, das préprias pedras! A medida que os processos e os meios de observagado foram se tornando mais rigorosos, as fronteiras da crenga na "gerag4o espontanea" tam bém comegaram a ser afastadas. 0 microscépio, no fim do Século XVII, revelou a impressionante com plexidade organica dos minimos seres vivos,mesmo dos microorganismos cujo porte é notoriamente in significante. Devido a isto, a crenga na possibi lidade de surgirem seres vivos, espontaneamente, da podridéo, da terra timida e da carne em decom- posigdo, tornou-se cada vez menos aceita.Foi Pas teur quem assestou o derradeiro golpe na doutri= na da geracgao espontanea. Apds uma ardua conten- da, em que enfrentou iniimeros adversarios do mais alto nivel intelectual, tais como Pouchet, Bas- tian e Claude Bernard, Pasteur pode enfim demons trar, através de suas’ memordveis experiéncias, @ impossibilidade da geragdo espontanea, nas atu- ais condigdes naturais do nosso planeta. Por ou- tras palavras, até a presente data nado se conhe- ce nenhuma condigdo especial que possa propiciar o surgimento espontaneo de seres vivos organiza- dos. "Todo ser vivo procede de outro ser vivo" 7 ~ omne vivum e vivo — ja ensinava Vallisnieri,no Século XVII, e Pasteur assim colocou esta ques-~ to em sua real posicdo:~ "A geragado espontdnea dos serves microscdpicos uma quimera. Nao, nao extete qualquer etreunstancia, hoje,conhectda,na qual se possa afirmar que os seres vém ao mundo sem germes, sem pate semelhantes a eles. Aqueles que acreditam nisto tém sido joguetes da ilusao, de experiéncias malfettas, chetas de erros que eles nao souberam perceber ou que nado souberam e vitar.” (CARLES, J. — AS Onigens da Vida,Sao Pau lo: Difusdo Européia do Livro, 1956, pp.23-24). Mas, voltando aos primérdios deste nosso planeta, o problema da origem da vida continua. Esta claro que Pasteur demonstrou, experimental- mente, a impossibilidade da geracao espontanea. Entretanto, parece indiscutivel que a Terra, ha mais de 3,5 bilhées de anos atrés, nao_ possuia seres vivos em sua superficie.Aqui j4 nao é mais possivel aplicar a assercio de Vallisnieri: Omne vivum e vivo.Como, entdo, surgiram os primeiros seres viventes? BIOGENESE Inicialmente, devemos fazer distingao en tre a doutrina da geragio espontanea e a investi gacdo acerca da origem da vida. A primeira admi- te, ingenuamente, a possibilidade do surgimento espontaneo de seres vivos ja organizados. A se~ gunda aceita a tese de que a vida apareceu sobre a Terra, em certa ocasiao e em condicdes especi- ais. Houve uma época em que o nosso planeta era absolutamente estéril e nao abrigava nenhum ser dotado de vida. Algum fato especial propiciou a biogénese, isto €, 0 salto dialético que permi- tiu a matéria inanimada dar o primeiro passo em direcio @ meta bioldgica. Este € 0 objeto dessa fascinante pesquisa. 8 Uma primeira conclus&o foi obtida por V. Vernadsky e outros diante da dificuldade ini- cial de explicar-se a biogénese:encontram-se nos organismos vivos os elementos comuns a todo o Universo. 0 préprio Pasteur, impressionado com a improbabilidade experimental de encontrar quais- quer condicdes atuais que propiciassem osurgimen to de seres vivos, por mais simples que eles fos sem, chegou a inclinar-se para uma espécie de hi lozoismo: talvez pudesse inverter-se 9 proble- ma, buscando a origem da matéria na propria es- séncia da vida, como postulava Preyer, nos fins do Século XIX. . Embora nem sempre especificamente com re lagao ao particular problema da biogénese, tém surgido atualmente reflexdes hilozoistas com res. peito 4 vida em si mesma. E, por incrivel que pa reca, tais idéias estao Surgindo mais recentemen te'em algumas areas de especulagao da Fisica: — "HG vida em todas as coisas, mas com variados graus de conseiéneia", — postula Bob Toben,em um curioso livro escrito em parceria com os | fisi- cos Jack Sarfatti, Ph. D., e Fred Wolf, Ph. D. (TOBEN, B. — Space-Time and Beyond, New Yor Dutton, 1975, p.40). Se correlacionarmos a vida com a presen ca de uma psique ou espirito participando da es- séncia de determinado objeto, teremos mais um e- xemplo da colocacgao da vida na propria matéria, na obra do fisico francés Jean E. Charon:0 Espi- nito, Este Desconhecido. (L'Esprit Cet Ineconnu, Pari$: Albin Michel, 1977). Mas ja bem anteriormente, Albert Ducrocq escreveu um livro sobre a origem da vida, La Lo- gique de La Vie (A Légiea da Vida, versio portu- guesa,Sao Paulo: Cia, Edit. Nacional, 1958) ,dan- do uma interpretacao dos fendmenos biolégicos,em termos de automacao. Albert Ducrocq dirigiu, ' a partir de 1953, a Sociedade Francesa de Electro- 9 nica e Cibernética e € considerado um dos_ gran- des da automacdo. Para ele a vida surgiu de cer- tas propriedades peculiares 4 matéria,entre elas o fato de alguns compostos quimicos serem capa- zes de autocatalise, e de serem _servizadores, isto 6, de formarem sistemas automaticos (ciber- néticos) em uma escala progressiva de organiza-~ gio:— "Alguns mecantemos servizadores sao cer- tos, outros ainda discutidos. 0 que importa para nés é que eaista, ao lado da quimica ecldssica, uma quimtea das servizagoes cuja fungGo podere- mos anqlisar" (opus cit. p.98), E_mais adiante, no capitulo V, intitulado "Cibernética e Bioci- bernética", Ducrocq acrescenta:— "Chegamos ao a- mago do problema. Apareceram deidos aminados ca~ pases de se ancorarem uns noe outros. 4s cadetas assim formadas sao maquinas que modificam a pro- babilidade de acontectmentos em torno delae. A partir dessas consideragdes, trata-se de compre ender por que uma evolugado inelutavel deverta dar naseimento a uma matérta 'viva'.” (opus cit. p.99). Bastam estes poucos exemplos para ter- se uma idéia de como o problema da origem da vi-~ da passou a ser encarado sob outro aspecto, o da biogénese. Sob este novo angulo, a origem da vi- da é vista como um fato natural e inevitavel que ocorrera, desde que as condicées fisicas e ecolé gicas, inicialmente registradas em nosso plane= ta, se repetirem. Assim ha uma grande probabili- dade de existirem outros planetas portadores de ‘matéria viva", disseminados pelo Cosmo afora, conforme ja pensava Giordano Bruno, no Século XVI. A possibilidade de existir vida fora do nosso planeta faz pensar, também, que muitos ou- tros orbes ter-nos-iam precedido na geragao da matéria viva. Serd que alguns fragmentos vivos, ou esporos, ou até mesmo seres vivos jd organiza dos, nao s¢ disseminaram pelo espaco césmico, fer tilizando outros planetas mais jovens? Esta hipo 10 eee" tese, criada por Anaxagoras e chamada "pansper- mia", foi reformulada por Montlivault (1821) e abracada por Svante Augusto Arrhenius (1859- 1927). A panspermia, em sua posterior versao, im plica na prévia existéncia de_um ou mais plane- tas onde j4 haja vida e que nado sejam muito dife rentes do nosso, pelo menos quanto as camadas. atmosféricas. Para Arrhenius, os esporos vivos, eletricamente carregados, chegariam até outros orbes, impelidos pela pressao das radiagées. H@ inidimeras objecdes 4 teoria_da pansper mia adotada por Arrhenius. Uma delas é a de que as proprias radiacgdes césmicas destruiriam fa- cilmente os germes vivos que conseguissem escapu lir dos planetas de origem. A maior objegao, po- rém, € a de que tal hipotese apenas _transfere, mas nao resolve,o problema da origem da vida.Res taria sempre por explicar como a vida surgiu pe- la primeira vez, alhures no Universo. Apesar das iniimeras objecées 4 hipétese da panspermia, € curioso notar que ainda hoje em dia ha cientistas de renome que créem nela ou em versoes ultramodernizadas da mesma. Assim, por exemplo, Francis H. Crick, Prémio Nobel de F siologia e Medicina (1962), e Leslie E. Orgel su geriram recentemente que a Terra e presumivelmen te outros planetas estéreis poderiam ter sido de liberadamente semeados por seres inteligentes riundos de outros sistemas solares, cujos estd- gios de evolucao estao 4 nossa frente alguns b Ihdes de anos. (Scientific American, setembro, 1978, p. 62).. Entretanto, as hipéteses mais vidveis sio aquelas que consideram a possibilidade de te rem ocorrido, em certa época, condicdes favora- veis ao aparecimento da vida’ na Terra. Tais con digées foram sugeridas por J.B.S. Haldane (1929) e A.I. Oparin (1936). Ambos concordam em que, i- nicialmente, apds o surgimento da sua crosta s6- lida, a Terra veio a possuir condigdes propicias A formacio de compostos quimicos indispensaveis lL veraooo everaooo ALLA page exrgnte Boseahs *Sbatien h O08 gages BEE ‘OPERAGKO - FIG. 3 — APARELHO DE UREY E MILLER — Uma mistura de vapor d'égua, hidrogénio, metano e aménia circula através do apareiho. No recipiente inferior a Agua 6 aquecide, Produzindo vapor. A mistura dos gases ¢ introduzida, antes de cada operagéo, pela vélvula superior @ esquerda. No baldo de vidro melor produzem-se centelhas elétricas no seio da mistura, No condensador, a mistura resfria-se, condensa-se e volla ao ebulidor, de onde so extrafdas as amositas para andlise quimice. Outras misturas de gases, incluindo (© monéxido de carbono e 0 nitrogénio, produziram resultados positivos, porém somente nna auséncia de oxigénio livre. Depois de algum tempo de operagdo, as amostras colhidas do liquido condensado revelaram a presenga de inumeros compostos organicos sintetiza- dos por este processo, Entre eles assinalam-se quatro dos vinte aminodcidos comumente presentes nas proteinas: glicina, alanina, dcido glutamico e acido aspartico, ‘ a constituicgdo das primeiras e rudimentares molé- culas organicas que entram na composicao dos se- res vivos. Naquela época, nao havia o oxigénio dis- tribuido tao abundantémente em nossa atmosfera. Este fato teria sido muito favordvel & formagao e conservac¢éo dos primeiros compostos organicos que iriam evoluir para os sucessivos estagios biomoleculares, originando os aminoacidos, os a- gicares, as proteinas, os A4cidos nucléicos, as nucleoproteinas, e assim por diante. No dizer de Haldane:— "os oceanos primitivos atingiram a con- sisténcia de um caldo tépido dilutdo", Qualquer composto quimico, complexo, ao atingir as fron- teiras da vida, teria encontrado ali todas as condigdes de sobreviver e evoluir em diregao ao estagio bioldgico. A EXPERIENCIA DE MILLER E UREY Em um livro langado em 1952, intitulado The PLanets,Harold C. Urey retomou as teses de Oparin e Haldane. Elas seriam validas desde que se demonstrasse ter havido, no_ inicio, apds a consolidagao da crosta, condigées propicias a formacgao de compostos quimicos organicos indis- pensaveis 4 estruturagao dos seres vivos. Para por-se @ prova a validade das referidas hipote- ses, bastaria portanto reproduzir em laboratério as condicdes ecolégicas da Terra ha _aproximada- mente 3,5 bilhoes de anos. Urey associou-se com Stanley L. Miller e, juntos, iniciaram uma série de experiéncias nos laboratorios da Universidade de Chicago. Stanley L. Miller projetou um aparelho no qual uma_mistura de vapor d'agua, hidrogénio, metano e amonia era obrigada a circular através de um percurso fechado, passando por um recinto 13 onde saltavam centelhas elétricas entre electro- dos (fig.3). Ao cabo de certo tempo, amostras co Unidas do depdsito de agua de recirculacéo eram examinadas para ver se alguns compostos organi- cos teriam sido sintetizados. De fato, aparece- ram aldeidos, dcidos carboxilicos e aminodci- dos. Estes tiltimos compostos sao essencialmente indispensaveis 4 constituig&o dos tecidos vivos. As experiéncias de Urey e Miller mostra- ram a possibilidade de se sintetizarem _substan- cias complexas e apropriadas 4 construgio dos organismos vivos, em condicées semelhantes _As que teriam existido ha 3,5 bilhoes de anos atras. Isto solucionou a principal dificuldade encontra da, pois nao se sabia como explicar a presenga dé certas substancias organicas na crosta da Terra naquelas remotissimas eras. Uma vez resolvidos os primeiros delinea- mentos do imenso quebra-cabeca da origem da vi- da, tornou-se possivel criar hipdteses consis- tentes acerca do aparecimento dos rudimentarissi mos primeiros seres vivos em nosso planeta. Capitulo 11 AS FRONTEIRAS DA VIDA "No Liméar cu gnonteina da vida, o termo tem pouco sentido e signigicaneia. Perguntar se um vinus @ vivo ou inanima~ do @ tho sem propdsito como indagan se uma mula @ um cavalo ou um asno, ou em que estagio na metanorgose de um girino nos 0 denominartamos ra." (Fraenkel-Conrat, H. — Destgn and Funetion at the Threshold of Life, New York and London: Academic Press, 1962, p. 111), IMITACAO DA VIDA No Século XVI viveu um rabino polonés chamado Eliahu de Chel. Segundo uma velha crenga judaica, quem conhecesse o secretissimo e inefa- vel nome do Deus dos judeus poderia criar ho- mens artificiais. Diz a lenda que Eliahu conhe- cia a chave do grande mistério e, pronunciando o nome ocuito de Deus, conseguiu controlar a subs~- tancia denominada golem e assim criar_um ser hu- mano artificial. Entretanto o golem nao podia fa lar devido a nado possuir alma. Esse homem artifi cial servia de criado ao rabino. 0 golem trazia com ele mesmo _o nome de Deus escrito em uma tira de papel. Porém aconteceu que a forga e o tama- nho do mostrengo comecaram a aumentar desmesura- damente, bem como a sua auddcia, chegando ao ex- tremo de agredir seu proprio criador. Este, com certa habilidade, conseguiu arrancar-lhe a tira de papel onde estava escrito o nome oculto. En- tdo, o homem artificial retornou 4 precedente 15 condic&o de substancia amorfa, cujo nome,segundo o Talmud, € golem mesmo, ou Seja, "a masea sem forma, o embriondrio, a substantia primitiva da qual Deus ertou o homem", (Zaniah ~ Dictonario Eso~ térico, Buenos Aires: Kier, 1974, p.212). A lenda do golem reflete o desejo do ho- mem de se assenhorear do segredo da fabrica- go de um ser. vivo artificial, o que implicaria no conhecimento da propria origem da vida. No inicio deste século, o quimico holan- dés Van Bemmlem obteve curiosas imitacdes de se- res vivos, empregando precipitados de sais mine- rais e de dxidos, tais como a alumina, a silica eo éxido de ferro. 0 cientista mexicano, Alfon- so Herrera (1869~1942), dedicou-se 4 pesquisa de imitacdes da vida, tendo obtido resultados verda deiramente extraordindrios. Eis uma receita que o leitor podera tentar e que foi descoberta por Herrera: "Dissolver, em uma vastlha de louga, 50 partes de dleo de oliva em ee 10 partes de gasoli- na comum. Diseolver 14 partes de lixivia de so~ da a 36 graus Baumé, em 100 partes de agua destt lada e colortda em preto com um poueo de antlina negra. Deitar uma gota desta solugdo na mtstura de 6leo de oliva com a gasolina.” As gotas negras assim obtidas, quando co. locadas em agua, comportam-se como células vi= vas: elas "comem" aclicar, emitem pseudépodos, re pelem-se ou atraem-se,combinam-se ou dividem-se, imitando o comportamento dos organismos mais sim ples como os infusérios, Sua duracdo nao vai a= lém de trés quartos de hora, mas podera prolon- gar-se por mais tempo se as deitarmos em agua contendo goma arabica. Herrera, ao_cabo de milhares de experién cias, obteve imitagdes de seres vivos regimente impressionantes, cujo comportamento incluia movi mentos_independentes, respiragao, nutri¢ao, per= seguicdo, fuga, combate, emissdo de pseuddpodos, 16 reprodugao por divisao, etc. Ele denominou tais pseudocélulas vivas "colpoides". (Dados extrai dos da obra de Jacques Bergier, Mysténes de La vie, Paris: Le Centurion, 1957, pp. 15-17). Entretanto, por mais perfeita que seja a semelhanga entre oS "colpoides"de Herrera e 0s infusdrios ou demais seres vivos rudimentares ,ha uma distancia imensa a separa-los. Poderiamos dizer, um tanto ingenuamente, que a maior dife- renga entre os "colpoides" e os infusdrios, por exemplo, € que estes <imos simplesmente sao se res vivos, ao passo que aqueles, os "colpoides sao seres inanimados. E dificil definir exatamente o que deve entender-se por um ser vivo, uma vez que a maior parte dos comportamentos dos seres vivos pode ser replicada artificialmente, seja por meio de imitagoes semelhantes as de Herrera, seja atra- vés de engenhos cibernéticos. Mas todos reconhe cemos que existe algo muito especial e mesmo su= til que nos conduz logo a distinguir os seres i- nanimados de outros com vida. Este algo muito es pecial e sutil tem-se constituido em um grande enigma para os bidlogos. Observando o crescimen- to de uma simples abobora, o famoso bidlogo Ed- mund W, Sinnott comentou:— "Para mim extetem pou cos espetdeulos na naturesa mats impresstonantes do que essa demonstragao de um controle ordenado ewereido sobre aquilo que parece ser uma cadtica confusdo de célulae dividindo-se e erescendo apa ventemente com objetivos opostos. Alguma cotsa T nerente d@ massa tntetra, algo restdindo em sua constituigdo genética fundamental, pde-na a mar- char firmemente em diregdo a uma culminagdo pre- ctsa. A natureza desse ‘algo' que coordena as multifarias atividades do crescimento dentro de um sistema harmontoso, que as dirige em uma rota segura, 6 0 mator problema nao eoluetonado da Biologia." (SINNOTT,E.W. — The Biology of the Spinit, New York: The Viking Press, 1966,p.31). Alguns cientistas tém insistido nas ten- 17 ee ___ eee tativas de imitacao da vida. 0 mais proeminente “imitador de células vivas" é 0 russo A. I. Opa rin, ja falecido. Oparin e J.B.S. Haldane, um e- minente bidlogo inglés, inspiraram Harold C.Urey a fazer, juntamente com Stanley L. Miller, a_cé- lebre experiéncia que leva os nomes destes alti mos. (Ver o capitulo anterior). 7 Oparin e seus colaboradores partiram da suposicgdo de que, nas condigées iniciais da Ter- ra, sintetizaram-se_os inimeros compostos organi. cos indispensdveis & constituigao dos primeiros seres vivos, Alguns desses compostos — em sua maioria polimeros primitivamente dissolvidos nas aguas — segregaram-se em forma de aglomerados que poderiam ter sido os precursores dos organis mos vivos mais rudimentares. Diversas combina gdes de polimeros nessas condigées ter-se-iam for mado nos primérdios do nosso planeta j4 consol dado. Tais grumos receberam a designacdo de coa cervados. ESta palavra origina-se do latim: coa cervatus, que significa amontoado, aglomerado. Vamos tomar as préprias palavras de Ale xandre I. Oparin: — "Para comodidade de expostgao,pode dt- visar-se toda a histéria do desenvolvimento da matérta no caminho do aparecimento da vida, em trés etapas: I - Aparecimento dos carboidratos e seus mais préaimos derivados que serviram de materta- ts para a formagao dae diversas substancias or- ganicas durante o curso da evolugao. II - Aparecimento de numerosos compos- toe complecos de elevados pesos moleculares, em particular, dos polinucleottdios e doe poltpep- tidios proteinomorfos. III - Aparecimento de ststemas protéi- cos dotados de metaboliemo, tsto é, os organis- mos primitivos," (OPARINE, A. — "Le Probleme de L'Onigine de 2a Vie", La Vie et L' Evolution, Paris:Editions la Nouvelle Critique ,1961, pp.6-7). 18 Os coacervados estariam no final da segunda etapa. Ao adquirirem a possibilidade de metabolizar as substancias apanhadas do meio cir cundante, eles entrariam na terceira etapa, ini- ciando o curso dos seres vivos. Mas,vejamos mais detalhadamente o que seja um coacervado, e como pode obter-se um pouco dessa substancia. Nao 6& dificil. Se juntarmos duas solugdes aquosas, uma de gelatina animal e outra de goma arabica, con- seguiremos produzir pequenissimos grumos que se separarao da fase liquida e irao turvar a mistu- ra. A gelatina € uma proteina, e a goma arabica € um aciicar polimero. Ao se dissolverem, formarao particulas eletrizadas. As moléculas de agua sao dipolos elétricos. Devido a isso, as moléculas de Agua serao atraidas, formando camadas_ ao re- dor das particulas e constituindo um coldide or- ganico. As particulas de goma arabica atraem as de gelatina. As "membranas" de agua impedem que suas cargas se neutralizem mutuamente. Formam-se entdo goticulas as quais se da o nome de coacer- vado. (Ver fig. 4). FIG. 4 — 0 COACERVADO — As particulas coloidais organicas possuem cargas elétrices. Devido a este faio, as moléculas de agua — que so dipolos olétricos — aderem & superficie das particulas organicas, formando finas camadas superficiais. Estas membranas de agua permitem que as particulas de cargas elétricas opostas adiram umas as outras sem se misturarem intimamente. Formam-se, assim, aglomerados gelatinosos que tendem a crescer @ que absorvem também certas substancias diluldas na agua circundante. Estes aglomerados sdo 0s coacervados. O protoplasma das células dos seres vivos ¢ também constituido de uma solugéo coloidal — de varias e complexas substanclas organicas — semelhantes @ um coacervado. 19 ee ee __ Alexandre I. Oparin, do Instituto de Bio quimica Bach da Academia de Ciéncias da URSS, © Sidney W. Fox, da Universidade de Miami, EE.UU. desenvolveram técnicas avancadas para a produ- go de coacervados com funcées bem semelhantes as de seres vivos rudimentarissimos. Embora a dis- tancia entre estes complexos coacervados — ver- dadeiros protobiontes — e os atuais seres vivos mais simples seja enorme, tais experiéncias pare cem, de certa forma, aproximar-se dos processoS provavelmente desenrolados ha mais de 3,2 bilhdes de anos sobre a Terra, dando origem aos primige- nos organismos vivos. O surgimento da vida em nosso planeta ob viamente resultou de fatores naturais e locais) sobretudo das condicées ecolégicas entao vigen- tes. Pelo menos € isto o que sugerem as expe- riéncias de Oparin e de Fox.Entretanto, por mais perfeitos que sejam os coacervados, bem como os impressionantes"colpoides"de Herrera, os biolo- gistas sao todos undnimes em reconhecer a_ dis- tancia enorme que ainda os separa dos verdadei- ros organismos vivos. Visualizados apenas em sua fase inicial, os seres vivos mais elementares pouco diferem daqueles sofisticados bioarreme- dos, em seus aparentes aspectos morfoldgicos e mesmo comportamentais, Entretanto, a vida mani- . festa uma caracteristica especialissima que a co loca em oposigaéo 4 tendéncia geral e universal seguida pela matéria inanimada: a vida ascende em direcao a niveis crescentes de organizacao. Ela acumula informagao, utilizando-a em estagios sucessivos de progresso informacional e organi- zacional. Em suma, ela se manifesta como um pro- cesso neguentrépico, ao passo que a matéria ina- nimada segue um curso de crescente desorganiza- cao, isto €, um processo entrdpico. Mas — argumentarao alguns leitores inte ligentes — os cristais parecem contrariar essa tese. Eles costumam crescer em seu meio nutrien- te, a semelhanca de um ser vivo comum, e assumir 20 formas regulares. Nao terfamos ai um exemplo de que a matéria inanimada pode, em algumas circuns tancias, assumir um comportamento que se aproxi- ma do biolégico? De fato, se analisarmos. mais profundamente esta questdo, tenderemos a admitir tal argumentacdo, pelo menos com respeito a cer- tos casos particulares. Alguns autores reconhe- cem que existe uma zona de transigao que une a Cristalografia 4 Biologia "A zona de transigGo que une a Cristalo- grafia e a Biologia intevressa-nos particularmen- te. Ela tem por objetos de estudo, ndo somente 08 constituintes 'estruturados' da matérta viva enquanto simples matertats, mas ainda os 'seres! tats como os virus ertstalizados que pertencem a Cristalografia por sua estrutura e@ 4G Biolo- gia por suas fungdes; substancias como os det- dos nucléicos cujas propriedades estruturais pa- recem poder eaplicar, pelo menos em parte, meca- nismos tao importantes como aqueles que regulam a asstmilagdo e a hereditartedade; e enfim, pro- cessos, como a osstficagdo (eujas certas fases parecem poder receber uma explicagdo puramente eristalografica), ou ainda como as interagdes en tre antigenos e anticorpos e, pode ser, entre en zima e substrato... (THOMAS, J. A. — | Problemes des Structures D'ULtrastnuctures et des Fonc- tions Cellulaines, Paris: Masson et Cie. Edi- teurs, 1955, p. 11). A zona de transicfo entre a Cristalogra- fia e a Biologia evidencia-se mais nitidamente quando se estudam os virus e os bacteridfagos, os quais parecem situar-se nas fronteiras entre o vivo e o inanimado. VIRUS E BACTERIOFAGOS A palavra virus origina-se do Latim e significa veneno, substancia toxica ou agente ca paz de provocar doencas. A busca dos agentes patogénicos intensi- 21 rrr ficou-se a partir da descoberta do microscépio e do posterior desenvolvimento das técnicas micro- biolégicas, bacterioldgicas e imunoldgicas, nos comegos do Século XIX. Nomes ilustres de abnega- dos cientistas benfeitores da humanidade, como Koch, Pasteur, Ehrlich, Hansen, Jensen, ‘Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e inumeros’ outros’ deveriam ser alinhados nestas paginas, nio fora a dbvia necessidade de evitar a demasiada extensao dos capitulos deste livro. Estes eminentes sabios a- briram o caminho para sondagens mais profundas em direcdo ao conhecimento dos enigmas da vida e da sua defesa contra os agentes mérbidos que a amea cam a cada passo. A pesquisa dos agentes patogénicos levou os investigadores a se depararem com inameros fa tos inicialmente inexplicados, Assim, foi obser= vado que varios microorganismos eram barrados por filtros muito finos. Os bacteriologistas u- sam velas especiais feitas de material poroso, para as operacées de filtragem das suspensdes contendo microorganismos. Os diametros dos poros dessas velas sao rigorosamente conhecidos. Desse modo, através de filtragens sucessivas, interca- ladas com culturas e exames microscépicos, é pos sivel medir o tamanho dos microorganismos em es tudo. Algumas velas conseguem barrar praticamen- te até os menores micrébios visiveis apenas aos mais potentes microscépios dpticos.Entretanto f ram observados casos em que filtrados onde nao se registrava mais nenhum microorganismo — obti dos através das velas mais finas — eram capazes de infectar e provocar a destruigao de certas co lonias de bactérias. Em linguagem técnica,diz-sé que provocavam a Zise bacteriana daquelas cultu ras, Como nao eram visiveis ao microscépio Sptico e passavam através dos filtros,admitiu-se que se tratava de uma substancia venenosa(virus) dissolvida no liquido. Mas, ai estava o enigma, a referida substancia era cultivavel!Isto é, uma 22 FIG. § — BACTERIOFAGO PRONTO PARA AGIR — Parece um febuloso mecanismo que faz lembrar “‘o médulo lunar”. Todavia ele é contenas de vezes menor do que uma bacté- ria. Sua parte externa 6 feita de proteina. Na parte interior da cabeca hé uma carga de DNA (Acido desoxirribonucléico). A cabega tem a forma de um cristal icosaédrico alonga- do. Ele esté pronto para fixar-se sobre uma bactéria e depois disparar seu mecanismo automético a fim de injetar-Ihe 0 DNA. (Copiado de WOOD, W. B.e EDGAR, A. S. — “Construindo um Virus Bacteriano” — A Base Molecular da Vida, Séo Paulo: Poligono, 1971, p. 167 — modificado.) FIG, 6 — BACTERIOFAGO EM AGAO — Ao tocar a parte externa da membrana que reveste @ bactéria, o bacteridfago fixa-se nela por meio das pequenas garras existentes na placa inferior. A mola protéica que constitui a bainha da agulha dispara, aplicando, assim, uma injego de DNA na bactéria. (Copiado de WOOD, W. B. e EDGAR, R. S. “Construindo um Virus Bacteriano” — A Base Molecular da Vida, Séo Paulo: Poligono, 1971, p. 167 — modificado,) fracio minima da "solugao" propagava-se pela co- lénia de bactérias e tinha todas as caracteristi cas de um microorganismo vivo capaz de reprodu: zir-se! Por esta razao tal categoria de agentes tomou o nome de virus filtrdvel e, posteriormen- te, virus, apenas. Em 1892, o investigador russo Iwanowski comunicou que o agente que provocava a doenca chamada mosaico do tabaco — a qual ataca as fo- lhas de fumo — passava através dos filtros de vela, os mais finos, sem perder seu poder infec- cioso. 0 bacteriologista alemio Beijerinck ob- servou o mesmo fato e teve a audacia de propor que se tratava de um novo tipo de agente bioldgi eo. Seguiu-se dai uma série de estudos e desco bertas acerca desses misteriosos microorganismo: De 1915 a 1917, Twort e D'Hérelle obser varam o fendmeno da baecteriofagta, D'Hérelle ob- teve, da emulsao em caldo simples, de fezes de um convalescente de disenteria bacilar, um fil- trado em vela de Chamberland, que possuia a pro- priedade de lisar uma cultura jovem bem desenvol vida de bacilo disentérico. 0 repique em cultu- ras subseqiientes revelou a intensificagao do fe- nomeno. D'Hérelle chamou este agente de Bacte- rtophagum intestinale, admitindo tratar-se de um parasito das bactérias, com tamanho ultramicros- cépico. Anteriormente, em 1915, Twort também ja havia observado fendmeno semelhante em culturas de estafilococo, Twort concluiu tratar-se ou de uma enzima capaz de auto-regeneracgao, ou de um virus filtrdvel, parasito do estafilococo. Com 0 advento do microscépio electréni- co, foi possivel fotografar tais microorganis- mos. Ai, entéo, € que surgiram as maiores sur- presas: alguns virus e bacteriéfagos apresenta- vam-se com formas cristalinas, outros — como os bacteridfagos — assemelhavam-se a verdadei ros ... engenhos moleculares! (Ver figuras 5 © 6). £ importantissimo que se atente, também, 24 DIRMETRO OU LARGURA x COMPRINENTO, EH mpl CELULAS VERMELANS 00 SANGUE oo... - (7509) teaesoene) . 750 RICKETTSIA csscesseesssessseeeseessseessenseeees : 5 eens 5 210 = 280, PLEUROPNEUMONTA =... errs rie 150 Hoxpoe otephee ....-re+ erences 130 130 Downga de tevaattle eesesseesserssersses - ns reusces ant 10 petonatite veetautoen ous poltbdoteo do blaho da ead (Bonbyse nevi) es Tamer do pinto 1 (Sarcana de Rous! mastoriipage £, colt 78 .. ma do avetho (Sheps) 120 do tabaoe 2 variantea (Tobaoo 2 do Cynbtdtun forqutiea) UNIDADE GENETTCR (cateuTade por MuNTer) WEme do nosateo do feidio, do cul doa B (so ean ovata) Yieus do moeaieo amarelo do nabo (Turnip yedlas naaaio)... 19 da manok eutar do fino (tobaceo ringepot) Febve anmela coeeesieeseeeanee Yims do moeateo da abSbova (variedads)(Squach mosaie) MOLECULA OA HENDCIANINA 2ebro aftooa Brocfelite Jepereea B eesseesseesseee coreeveeee a Neoroee do fro (Tobaos0 neeroeie) veeseseseecssessseess 1 WOLEGULA DA HEMDGLOBIRA (cavalo) - 3x15 POLECULA DA ALBUMINA DO OY0 esses : 2.5 x10 Fig.7 TABELA COMPARATIVA 00S TARANHOS 00S vfaUS E DE DIVERSAS OUTRAS PARTICULAS VIVAS | | 2 para as infimas dimensdes desses microorganismos. Sao de tal forma miniisculos, que uma bactéria po- de ser centenas de vezes maior do que um deles. (Ver tabela comparativa, fig. 7). Em 1935, Stanley conseguiu, pela primeira vez, isolar e cristalizar um virus, 0 virus do mo satco do tabaco (TMV), Este notavel feito foi Oo ponto de partida para o grande desenvolvimento da Virologia, da Bioquimica e da Genética, além de outros importantes reflexos nas pesquisas fisico- quimicas e bioldégicas. Os verdadeiros virus consistem em parti culas cujo tamanho varia desde o da menor bacté= ria até as pequenissimas dimensdes de algumas das mais complexas moléculas de proteina. Na sua mai- oria eles sao simplesmente formados por uma capa de proteina, que encapsula outro componente obri- gatorio: um Acido nucléico (DNA ou RNA). Seu formato, quando vistos ou fotografa- dos ao microscdpio ¢lectrénico, varia entre 9 de microscépicos bastonetes, pequenissimas particu- las formando microcristais icosaédricos, e ultra- minisculos "girinos" com o corpo em_ forma de um icosaedro alongado, ligado a um apéndice caudal. Os mais impressionantes desses corpiiscu- los ultramicroscépicos sao, sem diivida, os bacte- rtéfagos. Como ja o dissemos esses virus asseme- lham-se a fabulosos engenhos moleculares | Para se reproduzirem, os bacteridfagos fixam-se a uma bactéria através da extremidade do apéndice cau- dal.Hastes finfssimas,articuladas e presas em uma miniiscula placa terminal, verticalizame facili- tam a correta aplicagao da extremidade da cauda 4 superficie da bactéria. Pequenissimas garras existentes na placa terminal prendem-se 4 membra- Ma que reveste a bactéria.Nesta ocasiao a "mola" protéica — a qual forma uma bainha em torno da haste que emerge da cabeca do bacteridfago — dis para e crava a referida haste no corpo da bacté- 26 ria. A haste age como uma agulha de injecdo,pois € oca e comunica-se com o interior da cabeca on- de se encontra o Acido nucléico (DNA ou RNA).Nes ta ocasiao o acido nucléico € injetado no corpo da bactéria e vai alterar-lhe o metabolismo. (Ver figs. 5 e 6). Dai em diante 0 Acido nucléico entra emacdo catalitica, transformando a substan cia da bactéria e sintetizando as minUsculas pe- gas que compdem o bacteridfago. No interior da Dactéria vao formar-se separadamente as cabecas, oS pescogos com o colarinho, as hastes ocas, as bainhas tipo mola, as placas terminais com as garras e, finalmente, as fibras que irao pren- der-se duas a duas e articular-se com a placa terminal. Depois, cada pega unir-se-4 uma 4 ou- tra com a maxima precisdo e, assim, o bacterio- fago ficara montado, pronto para funcionar. (Ver fig. 8). Mas nao sera apenas um bacteridfago, e sim uma centena deles! A bactéria estourae as incriveis maquininhas de destruir bactérias sai- rao a caca de outros hospedeiros! Como pode ser isso?! Ea vida ... Sim, a vida com seus enig- mas, os quais desafiam a argicia e a inteligén cia dos melhores cientistas, dos mais atilados sabios. Mas, sera que os virus e os bacteridfagos so mesmo seres vivos? Considerados do ponto de vista cristalo grafico, os virus seriam inanimados. Por exem= plo, Kenneth M, Smith e Robley Williams demons- traram que o virus da Tipula irideecens (VIT)tem precisamente a forma de um cristal icosaédrico.0 processo usado por esses dois cientistas permi- tiu revelar pela primeira vez, de maneira dire ta, a forma geométrica cristalina do virus VITV (Endevoun, Vol. XVII, N® 65, 1958, pp. 12-21). Se encararmos os virus do ponto de vista de suas atividades, eles deverdo situar-se na ca 27 tegoria dos seres vivos. Tudo leva a concluir que os virus ocupam uma posigao intermedidria entre a matéria inani- mada e a matéria viva. Os pesquisadores americanos, H. Fraen- kel-Conrat e Robley Williams, dissociaram o vi- rus do mosaico do tabaco (TMV) em seus dois com- ponentes: o Acido nucléico (RNA)e a proteina que lhe serve de revestimento, Obtiveram,assim, duas substancias organicas sem capacidade de auto-re- produzir-se ou de infectar diretamente a folha do tabaco, como o faz o virus TMV.Rigorosamente, tais substancias assim separadas devem ser con sideradas inanimadas. Reunidas, novamente, in vi tro, elas tornaram a formar o virus TMV. Agora nestas condigées a nucleoproteina obtida passou a comportar-se como um ser vivo, parasito da fo- lha de tabaco, atacando-a diretamente, multipli- cando-se no interior de suas células e produzin- do-lhe a doenga chamada mosateo do tabaco. Parece que, nestas experiéncias,as fron- teiras da vida foram franqueadas! E A VIDA ? Como fica, entao, colocada esta inquie- tante indagacgao? Voltemos aos colpotdes de Herrera e aos coacervados de Oparin e Fox. Por mais impressio- nantes e engenhosos que possam ser tais imita- cées de seres vivos, sente-se imediatamente que eles ainda ndo atravessaram a linha de separa- gao entre o inanimado e o waver A distancia p rece ser ainda enorme. E, se houver alguma divi- da, compare-os com o simples e elementarissimo bacteridfago atras mencionado. A vida parece depender de algo mais que as propriedades combinadas da simples matéria fi 28 py | L 4 i FIG..8 — LINHA DE MONTAGEM DO BACTERIOFAGO — Apés a inlogéo do DNA no interior da bactéria, passam a formar-se all as mindsculas pegas que compdem o bacte- ‘idfago. Uma vez prontas, elas iro acoplar-se automaticamente — conforme mostra a figura — até formarem completamente 0 bacteriétago. Esta incrivel operagdo efetuada sem ferramontas, méquinas © operérios lembra, no obstante, a “tinhe de montagem” de uma fébrica de aparelhos. O mais Impressionante € que, no selo da bactéria, sfo desse modo construldos simultaneamente centenas de bacteriétegos, sem ocorrerem confusées, erfos de acoplamento, atraso no fornecimento das pegas, etc., que costumam dar-se nas fabrices construidas © operadas polos homens. (Copiado de WOOD, W. B..¢ EDGAR, B.S. — “Construindo um Virus Bacteriano” — A Base Molecular da Vida, Sdo Paulo: Poligono, 1971, p. 174; moditicado) sica. Nao duvidamos de que, um dia, os cientis- tas chegarao a construir esses complexissimos en genhos quimicos que sao as células e as semen- tes, ou os mais rudimentares infusdrios. Prova- velmente eles se originaram daqui mesmo, da ma- téria bruta do nosso planeta e ascenderam para os crescentes niveis de aperfeicgoamento, até a- tingirem as fabulosas formas vivas superiores on de se manifesta a vontade, a razio e€... 0 amor. Mas, nao percamos de vista o fato de que a vida ja vem realizando tudo isso ha milhdes ou bi- lhdes de anos, e que ela propria, transformada em rasao, tenta compreender aquilo que, sob o in- fluxo da’ Conseténcta (nao psicologica), ja con- seguiu alcancar evolutivamente 30 Capitulo I A ENTROPIA E A VIDA "Comecaste a existin, gota cra, E hag de crescer, no teu silencio, tanto Que & natural, ainda algun dia,o pranto Das tuas concregdes pedsmicas slua! " (sic) (Anjos, Augusto dos — "A um Germen"', EU, \6a. ed., Rio de Janeiro, Bedeschi, 1948, p. 210) ORDEM VERSUS DESORDEM ~ "A Senhora conhece a entropia?" Experimente fazer esta pergunta a uma co mum dona-de-casa. Se ela nao houver cursado al- guma disciplina escolar que implique no conheci- mento da Termodinamica, @ muito provavel que res ponda: : — "No! Que produto é este ?" Pela semelhanga do vocdbulo, podera tal- vez pensar que se trate de um desses novos lan- cgamentos de "milagres" quimicos postos a servi- go das donas-de-casa, para desentupir sifdes de pias ou ralos de banheiros. Entretanto, a inocente dona-de-casa a quem formulamos a pergunta naéo suspeitara,nem de leve, que a entropia é o deménio invisivel, abs- trato, insidioso e demolidor, contra o qual ela se bate diariamente. A entropia é, em forma mais compreensivel, embora menos precisa, equivalente 31 a desordem. Ah Muito bem "traduzir" a pergunta assim: Experimente agora -— "A Senhora conhece a desordem ?" A resposta serd imediata e incisiva: — "Claro que conhego!Ndo fago outra coi- sa sendo lutar contra ela, diariamente, 14 em ca sai" ~ Por que sera que no mundo vemos a desor- dem progredir espontaneamente sem exigir esforgo, ao passo que a implantacdo da ordem obriga-nos a penoso trabalho de arrumagdo constante? E, veja- mos bem, todos nés pelejamos cotidianamente pa- Ya manter nossos objetos, nosso escritorio, nos- so Carro, nossa casa, na melhor ordem possivel. A tendéncia, entretanto, é desarranjar-se tudo com 0 passar do tempo! Sim, com o passar do tem- po as coisas costumam sofrer uma paulatina de- sorganizacao, um desgaste, uma lenta destruigdo. Chega-se mesmo a medir o tempo que flui, em fun- cao da desintegracao, da deterioragdo, do des- mantelamento dos objetos, das estruturas e das organizacdes, pelo crescimento da desordem ou — para sermos mais precisos — pelo aumento da entropia. Eddington chamava-a de "seta do tem- po". Mas por que a entropia tendé a aumentar em nosso mundo? Seria isto uma lei da natureza? A Fisica diz que sim; € uma lei da natureza, mas é uma lei fundamentada na probabilidade. Is- to quer dizer que ela nao é uma lei absoluta, de cisiva, irrevogavel. Mas, quando consideramos um niimero muito grande de eventos e/ou de obje- tos, as leis probabilisticas assumem um aspecto de "fatalidade estatistica". A entropia tende fa talmente a crescer em nosso Universo, simplesmen te porque os fatos mais provaveis sao os que a- contecem com maior freqiiencia, Elementar, nao? Claro que sim! Vocé entenderd ainda melhor, se pensar assim: os eventos mais faceis de aconte- cer, costumam ocorrer maior niimero de vezes ... 32 Mas isto nao significa que os demais nao possam ocorrer também. Na competicao, ordem versus desordem,em nosso mundo, a desordem tende a levar vantagem. No linguajar da Fisica, esta regra temo nome técnico de "Segundo Principio da Termodinamica" ou “Lei de Carnot-Clausius". Mais precisamente: a entropia tende a aumentar em nosso Universo. ENTROPIA E TERMODINAMICA Sadi Carnot foi um engenheiro francés que viveu entre os anos de 1796 a 1832. Ble de- dicou grande parte de sua existéncia ao estudo das maquinas a vapor, objetivando obter 9 ma- ximo aproveitamento térmico dos combustiveis. Devem-se a Carnot os fundamentos da Termodina- mica. Dois principios basicos governam todas as transformagoes térmicas ao nivel macroscopi- co, sejam elas fisicas, quimicas ou fisico- quimicas e, inclusive, biolégicas. O primeiro deles diz respeito 4 "conservacdo da energia'ao longo das transformacgées: ndo hd perda nem erta ¢do de energta; apenas transformagdo de uma es= pécte de energia em outra durante os proceseos. © segundo principio — nds jd nos referimos a ele anteriormente — diz respeito 4 "entropia": em um sistema macroscépico isolado, a entropia tende a crescer, como conseqiéncta da conversao de uma forma de energta em outra. Vamos ater-nos mais precisamente sobre o "segundo principio", a falada "Lei de Carnot- Clausius", que constitui um dos objetos de es- tudo da Termodinamica. Neste ponto, Vocé, caro leitor, j4 deve estar indagando o seguinte:- "mas que tem a entropia a ver com_o Sadi Carnot e a sua Termodinamica?" De fato, 4 primeira vis ta parece um tanto sem sentido misturar o con- 33 ceito de desordem progressiva, com o de uma cién cia que cuida dos fendmenos calorificos. Mas, no desenrolar dos processos térmicos, podemos pen- sar em termos de degradacao energética, em nive- lamento de temperaturas, aquecimento e esfria- mento, que, no final das contas, implicam em pro cessos de desordem progressiva mencionados li- nhas atras.: Vamos imaginar uma experiéncia sim- ples para elucidar melhor a questao. Figuremos uma garrafa de vidro cujo gar- galo seja suficientemente comprido e estreito pa ta permitir alinharem-se cem esferazinhas, sendo cinqlenta de cor vermelha, e as outras de cor a- zul. Coloquemos no gargalo da garrafa o total das bolinhas, em uma determinada ordem; por exem plo: todas as azuis primeiro e, a seguir, todas as vermelhas, Revirando o vasilhame, faremos com que as bolas caiam em seu bojo. Retornando o gar galo & posigao primitiva, veremos que as esferas Se reagruparao, ali, de maneira desordenada com Jonpew wistuna DESoRDEM FIG. 9 — FRASCO COM AS BOLINHAS INICIALMENTE DISPOSTAS EM ORDEM — A tendéncia 6 para as situagdes mais provaveis. Seriam necessérias indmeras_tentativas para lograr-se, ao acaso, a disposigao inicial n.° 1. A entropia cresce sempre, € a desor- dem progressiva. 34 relagdo 4 organizacao primitiva. Sabemos que a probabilidade de obter-se o arranjo primitivo é muito remota, e exigiria um numero desanimador de tentativas para consegui-lo. Aumentando-se 0 nimero de bolinhas, diminui-se ainda mais a pro- babilidade. Se as substituissemos por milhdes de minisculas particulas, a cada tentativa aumenta riamos ainda mais o grau de homogeneizacdo da mistura, afastando cada vez mais a possibilidade de conseguir-se a organizagio primitiva: todas as azuis juntas, seguidas de todas as vermelhas reunidas. Vemos aqui um exemplo da tendéncia na- tural para a desordem, Os fenomenos mais prova- veis sao os que se sucedem mais freqlientemente. Uma certa substancia que se ache aqueci- da representa uma populacgdo de particulas agrupa das segundo uma caracteristica tipica. Uma vez permitida a mistura, isto €, logo que entra em contacto com um meio mais frio, principia a des- truigao do desnivel e, com isto, vem a constitui gao de estados cada vez mais homogéneos ,mais pro vaveis, até haver o equilibrio final. A entro- pia cresce continuamente. E como se misturdsse- mos as particulas de uma cor com as de outra, no caso da garrafa de gargalo comprido, e agitasse- mos o frasco. 0 desnivel representado pela pri- meira fase de organizacao cede lugar a misturas progréssivamente mais homogéneas, que represen- tam as sucessivamente mais provaveis. Sentimos, na realidade, que nao é impos- sivel conseguir-se a disposicao inicial. Apenas a dificuldade de atingi-1a é tao grande, que di- zemos ser impossivel obté-la quando nao dispomos de tempo suficiente para efetuar as tentativas necessdrias. Se carecemos dos meios para lograr um arranjo fortuito e, nao obstante, encontramo- lo realizado, a nossa conclusdo imediata @ a de que alguma acdo organizadora atuou sobre a dis- posigao das particulas. 0 Universo, ao que parece, partiu de um gigantesco aglomerado de particulas em movimento 35 intensissimo, no seio do qual se assinalavam e hoje se assinalam, ainda, zonas de consideraveis desniveis energéticos, ou seja, de altas tempera turas. Séo como as posicées méximas de determina da organizagao cujo esboroamento se vem desenro lando ha milénios. A entropia ali progrediu in- cessantemente. Ao atingir menores temperaturas,a matéria passou por transformagées sucessivas re- gidas por outras leis naturais, atingindo estru- turas cada vez mais estaveis, surgindo, dai por diante, os diversos compostos quimicos. Estes, por sua vez, formaram-se sempre no sentido da de gradacdo energética. No desenrolar da evolugdo da matéria,sob © ponto de vista energético, assistimos ao ine- xoravel aumento da entropia a presidir os dife- rentes lances da sua histéria. Quando encontra- mos, excepcionalmente, certas formas de actimulo energético, pressupomos que uma fonte qualquer forneceu o trabalho necessario para isto, E en- tio, mais uma vez, vemos o Segundo Principio da Termodinamica comandando o acontecimento. Mesmo na formacdo das moléculas organicas que manifes- tam estrutura de elevado actimulo energético, pres. supée-se a existéncia de uma fonte de energia qualquer capaz de construi-las, tal como os raios ultravioleta, as altas pressdes combinadas com temperaturas, etc. No meio desse caos em entropta progres- siva, surge inesperadamente uma corrente cami- nhando em sentido inverso ao caudal gigantesco canalizado pelo acaso. Ei-la avancando em dire- Gao oposta a desordenagao total. & a vida! VIDA E_ ENTROPIA Sim, a vida manifesta-se exatamente como um fendmeno criador de ordem; por conseguinte ,co mo um processo neguentrépico, Este fato consti- 36 tui um dos grandes enigmas que ainda desafiam a Ciéncia. Pode a Termodinamica, sozinha,explicar a contento o surgimento da ordem apresentada pe los seres vivos? Neste ponto precisamos esclarecer me- lhor a questao no que diz respeito aos sistemas macroscopicos. Em Termodinamica € usual definir-se um sistema macroscépico, em fungao de seu rela- cionamento entre o total do espaco que ele ocu- pa € 0 espaco que o rodeia, ou seja, o meio ex- terior e ele, Neste caso podem — distinguir-se trés tipos de sistemas: 1) stetema teolado, 0 qual nao troca nem matéria, nem energia, com o meio exterior; 2) stetema fechado, o qual ape- nas troca energia com o meio exterior; 3) ete- tema aberto, o qual troca matéria e energia com o meio exterior. (fig. 10). FIG. 10 — EXEMPLOS DE SISTEMAS MACROSCOPICOS EM TERMODINAMICA — 1 Sistema isolado: nao ha troca de energia com o meio exterior; nesse sistema, a entropia cresce inexoravelmente, — 2, Sistema fechado: hé troca de energia com o meio exterior; pode mariter-se em equillbric termodinamico durante o qual a entropla se conserva esté- vel. — 3. Sistema aberto: h4 troca de energia e de matéria com o meio exterior; & tipico dos sistemas biolégicos; nesse sistema a entropia pode decrescer. 37 No primeiro, o sistema isolado, a entro- pia cresce inexoravelmente. Todos os desniveis de energia tendem a desfazer-se. Toda a organiza cao caminha para uma desordem generalizada ou pa ra um total nivelamento energético. Ha uma ten- déncia para as situagdes cada vez mais prova- veis. No segundo, 0 sistema fechado,pode obter se um equilibrio termodinamico pela importacao ou exportacao de energia. No terceiro, o sistema aberto, também é possivel o equilibrio termodinamico através da importagdo ou exportacgao de energia, diretamente e/ou conduzida com matéria, também intercambiada com 0 exterior. Nos dois Gltimos sistemas, o fechado e o aberto, o estado final nem sempre atinge a forma homogénea, desprovida de diferenciagdo espacial. ii4 casos em que o equilibrio final pode resultar em um estado ordenado, ou seja, com baixa entro- pia. Um_exemplo deste caso é o fendmeno da cris- talizacéo, que ocorre quando a temperatura do sistema se reduz suficientemente. Quando ocorre uma cristalizacio, o siste ma nao necessita trocar energia com o meio exte- rior para manter-se em equilibrio. Por isso. a entropta mao parece aumentar. Mas tal proprieda de, de forma alguma corresponde as caracteristi cas bdsicas dos sistemas vivos. Os sistemas vivos, ao contrario, sao sis temas tipicamente abertos e necessitam manter uma permanente troca de matéria e energia com o meio exterior, sem o que eles perecem. Os siste- mas biolégicos operam necessariamente fora do do minio do equilibrio gratuito. Eles nao sé pre= servam suas fungdes e sua estrutura altamente or ganizadas, 4 custa do intercambio com o exteri- or, como chegam, em certas fases de seu desenvol vimento, a promover o aumento da ordem interna do sistema! Vamos tentar uma analogia — um tanto 38 grosseira, reconhecemos — para dar uma idéia mais intuitiva do que acabamos de expor. E a seguinte, 0 sistema vivo compara-se a uma casa que vai sendo construida 4 medida em que vio sendo atirados sobre o terreno os tijolos, a a- reia, a cal, o cimento, as telhas,etc.(fig.11). Ao mesmo tempo, vao sendo rejeitados os detri- tos e as sobras da construcao. Finalmente, uma vez concluida a obra, sfo introduzidos os mé- veis, os tapetes, as cortinas, os vasos, etc. , etc, Tudo isso € paulatinamente disposto em seus lugares adequados. Mais tarde, as pecas gastas sao retiradas e substituidas por outras FIG. 11 — 0 MILAGRE DA VIDA — Ja pensou na possibilidade de uma casa autocons- truit-se? Impossivel, no? Entretanto, uma borboleta é imensamente mais complex do que uma casa, @ se autoconstrél; além disso, propicia melos para que borboletas semethantes ‘também se autoconstruem! 39 em boas condicdes. Pois bem, imagine que todas estas operacoes se facam gracas a um sistema de miitua coordenagao entre os proprios materiais e objetos, de modo a dispensar o trabalho dos pe- dreiros, do encanador, do eletricista, do arru- mador, do tapeceiro e até da dona-de-casa que cuida da ordem e da limpeza da casa. Isso néo_€ possivel! Dird Vocé,caro lei tor. Entretanto € quase isso o que acontece com um sistema vivo, A diferenca esta em que,no sis tema vivo, o "milagre" da coordenagao entre oS materiais 6 ainda mais perfeito e minucioso.Po- derfamos dizer: mais "impossivel" ainda! TERMODINAMICA E ORDEM BIOLOGICA Em seu nimero de julho-setembro de 1973 Vol. XXIII, n?3, pp. 159-179, a revista Impact, publicada pela Unesco, traz um trabalho sobre este problema: "Pode a Termodinamica Explicar a Ordem Bioldgica?" E este o titulo do artigo.Tra ta-se de uma reportagem acerca de uma mesa re- donda com o famoso professor Ilya Prigogine e outros renomados especialistas. 0 referido tra- balho apresenta a questao nestes termos: "0 vecente progresso em nossa compreen- sGo de como os sistemas vivos funetonam tornou necessdrto examinar a postgao da Biologta fren- te as lets fundamentats da Fistea". (Opus cit. p. 159). © problema da origem da vida,tanto quan to o da ordem biolégica, assume uma importancia capital diante das leis da Termodinamica, repi- sa o autor acrescentando o seguinte: "A Termodinamica bastcamente diz respet #0 4 deserigao global dos sistemas observavets, sistemas consistindo de varios elementos, 0 fun etonamento mesmo dos mais simples organtsmos vt 40 ° v ° P d t ° £ d c vos, por outro Lado, envolve mitharee de compo- nentes e, por conseguinte, apela para uma inter- pretagGo termodindmica." (opus cit. p. 159). "Entretanto" — prossegue o articulista — "a ordem estrutural e funetonal altamente com pleaa resultante da eoordenagao de mithares de reagées quimicas em uma célula viva Levantou con siderdvel divida acerca da compatibilidade da Biologta com os prineipios da Termodindmica, con forme eles ado tradictonalmente interpretadoa". (Opus cit. p. 159). 0 artigo ao qual nos referimos menciona © trabalho da escola de Bruxelas como uma possi- vel safda para a solugao do problema em foco. Em outros termos, a tese de Prigogine evoca as pro- priedades especiais de certos sistemas, chama- dos por ele e seus colegas de estruturas disstpa tivas. A identidade dos sistemas biolégicos com os sistemas ditos abertos (Ludwig von Bertalanf- fy) eventualmente permitiu enquadrar-se dentro das leis da Termodinamica o aspecto neguentropi- co da vida. A tese de Prigogine € muito técnica e complexa para ser exposta integralmente e com clareza nestas linhas. Entretanto, basta-nos men cionar as conclusées finais desse sério e atraen te trabalho. A pergunta feita pelo entrevista- dor — "para finaltzar com uma nota erttica,quais os perealgos extstentes mats para a frentena bus ea da teorta que o Senhor formulou?" — o profes sor Prigogine respondeu: — "Bu jd disse que a expectativa exelut uma integragao da Frstea e a Btologta.Isto &, se 08 novos conceitos em Termodinamica forem de fa- to usados para desenvolver a linguagem, permitin- do-nos identtficar as propriedades, falando a grosso modo, dos seres vivos, serdo os biologie tas (ou, mats exatamente, os fisteos que se tor- narem biologistas) que irao ser os primetros a sintetizarem esses concettos juntamente com as 41 pesquisas que estado fazendo."(opus cit. p.178). Prigogine lembrou que foi o comego de um novo tipo de pesquisa nascido com o exame profun do do funcionamento das bactérias e dos virus que permitiu realizar a integragao da Teoria da Informagao com a Biologia como uma estrutura con ceptual. Mas considerou ser impossivel, atualmen te, predizer que tipo novo de verdadeira pesqu sa biologica poderd permitir a aplicacao das i- déias da Termodinamica geral 4 Biologia.Finalmen te, termina com as seguintes palavras: — "Mas, ndo tenhamos ilusdes. Se hoje nés visualtaamos sttuagdes onde a analogia com as cténcias da vida é das mais notdveis — mesmo que tenhamos descoberto dentro dos sistemas bio- Légtcos algumas operagdes distantes do estado de equilibrio nossa pesquisa ainda nos detzaria totalmente ineapaz de compreender a extrema com- pleatdade do mais simples dos organismos". (Opus cit. p.178). Como complemento, vamos transcrever um trecho extraido do livro Teoria Genak dos Siste mas, de Ludwig von Bertalanffy: ~ -— "Ndo temos atualmente um erttério ter- modinamieo que defina o estado estdvel em siste- mas abertos, como a entropta mdeima define 0 e- quilébrio em sistemas fechados. Julgou-se duran- te algum tempo que este oritér pela produgao da entropia minima, propostgdo nheetda como 'Teorema de Prigogine', Embora se ga atnda constderado valido por alguns biologis- tas (por exemplo, Stoward, 1962), convém acentu- ar que o Teorema de Prigogine, conforme bem sa- bia seu autor, 86 se aplieca em condigdes restri- tas", BERTALANFFY, L. von — Teoria Genal dos Sis temas, trad. de Francisco M. Guimaraes, 3a. ed.) Petropolis: Vozes, 1977, p. 205). io era forneetdo o 42 VOLTANDO AS ORIGENS DA VIDA _. Mas, quem sabe se, voltando ao comego da histéria da vida, terfamos uma pista que nos le- vasse & solugao do enigma... Pensemos nos coacer vados de A. I. Oparin e de Sidney W. Fox (ver 0 capitulo anterior). Sera que da "sopa" de subs- tancias organicas de que falou Haldane, formada nos primérdios de nosso planeta, nao teria sur- gido casualmente algum sistema aberto — por e- xemplo um coacervado muito complexo — capaz de manter-se por si prdprio em estado de maxima im- probabilidade e, além disso, fornecer réplicas de si mesmo capazes de prosseguir na meta rumo 4 aventura bioldégica? Ou entao, nao teriam surgido ocasionalmente alguns compostos equivalentes 4s nucleoproteinas, a semelhanca dos virus ,conforme sugere Ilya Prigogine? Prigogine propée trés estagios no proces so que teria dado origem aos verdadeiros sereS vivos: 1) No primeiro estagio sao formadas as moléculas organicas simples, constituintes dos po limeros biologicos, as quais se encontram nos se res vivos atuais. Os polimeros_ bioldgicos, se formarem precisam dos aminodcidos, no caso das proteinas, dos mononucleotidios, no caso do RNA e do DNA (equipamento genético), e dos aciica res. Foram, portanto, os aminodcidos, os mononu- cleotidios e os agiicares as moléculas organicas que deviam ter-se formado nesse primeiro esta- gio. 2) No segundo estagio devem_ter surgi do, a partir daquelas moléculas organicas sim- ples, alguns polimeros capazes de se auto-repli carem, Desse modo passaram a multiplicar-se poli meros semelhantes, pela ativacdo de sua propria sintese. Prigogine admite, assim, que a presenga de tais polimeros teria propiciado 0 aumento da 43 taxa de sinteses de polimeros pertencentes apro- ximadamente 4 mesma seqliéncia. Nesta fase ja po- deriam surgir moléculas do tipo encontrado no ma terial genético dos seres vivos, como o RNA. 3) No terceiro estagio vai ocorrer a pro gressiva evolucio desses polimeros biolégicos Nesta fase poderia ter aparecido um tipo de codi go genético, isto é, polimeros do tipo DNA. Oentrevistado, Prof. Ilya Prigogine, prossegue completando sua teoria biogenética, em base da tese de Manfred Eigen. Este procura ex- plicar a evolugio biolégica como resultante de uma "sucessao de instabilidades" ocorridas devi- do ao continuo fluxo de energia e matéria que te ria provocado modificagdes tanto na composicao dos polimeros como nos iniciais cédigos genéti- cos. Seriam verdadeiras mutagoes. Manfred Eigen expés uma populagdo de po- limeros ativos a um fluxo continuo de energia e matéria, e observou as modificagées surgidas a- pos algum tempo. Os polimeros autocataliticos, nesse estagio, sao formados de maneira imperfei- ta, como o proprio Prigogine j4 observara_tam- bém. Pode ocorrer facilmente a substituicdo de um monémero por um outro diferente. 0 novo poli- mero resultante desta substituicdo torna-se dife rente do padrao inicial que o originou.Isto é co nhecido como uma mutag’o. Pode ocorrer que © novo polimero seja capaz de auto-replicar-se com maior precisao. Surge, assim, um aperfeicoamento que dara a nova substancia uma vantagem sobre os demais polimeros. Prigogine considera que estes fendmenos de replicacao, envolvendo inevitaveis erros(subs tituigdes de monémeros) torna possivel um novo tipo de "flutuagdes" no sentido termodinamico da palavra. (PRIGOGINE, I. e outros — "Can Thermody namics Explain Biological Order?" — Round Table with Ilya Prigogine and others of the Brus 44 t sels School. Impact, Vol.XXIII, N*3,July-Septem ber, 1973, pp. 170-173). ~ A hipdtese de Prigogine €& indubitavel- mente fascinante. Pessoalmente, sentimos gran- de simpatia pela mesma. Porém achamos prudente adota-la apenas parcialmente, pois, apesar do respeito que votamos ao seu eminente Autor, acreditamos que ela conta somente uma parte da histéria da origem da vida. Sim, possivelmente uma boa parte. Ndo toda a historia. De fato, ve- jamos a ponderdvel opinido de outro cientista nao menos ilustre, o Prof. Ludwig von Bertalanf- fy. Bertalanffy principia sumarizando a es- séncia da teoria sintética da evolugao: — "4 teonia eintética da evolugdo vigen- te hoje em dia considera que a evolugao aulta de mutagdes casuais, segundo o stmile bem conhe- etdo (Beadle, 1963) dos 'erros de datilograf at na reduplicagao do eédigo genético, que sao di- rigidas por selegdo, isto 2, a sobrevivéneta das populagées ou gendtipos que produzem o mais al- eainincnoidcbicsaendentesinaelcondigoceMmtecter= nas extstentes, Igualmente a origem da vida é explicada pelo aparecimento casual de compostos organicos (aminodetdos, deidos nueléicos enzt— mas, ATP, ete.) num oeeano primevo que, pela via de selegdo, formou unidades reprodutoras, for- mas semelhantes a vtrus, protorganismos, célu- las, ete.” (BERTALANFFY, L. von — Opus cit. an- teriormente, pp. 206-207). Como se vé, Bertalanffy focaliza prati- camente a mesma forma de abordagem do problema contida na tese de Prigogine. Entretanto, ele formula algumas objecdes, a nosso ver muito im- portantes. As referidas dbjecoes nao excluem to- talmente a hipétese de Prigogine, Eigen e ou- tros, mas complementa-as com uma importante su- gestao, conforme iremos apresentar a seguir. 45 Bertalanffy chama a atengaéo para o fato de que a selecao, a competicao e a sobrevivén- cia dos mais aptos pressupdem ja a existéncia de sistemas que se Conservam por si mesmos e que, segundo ele pensa, nao podem ser o resulta do da selecio. A seguir, Bertalanffy pode em suspenso a possibilidade da formacio, em uma "sopa'' de compostos organicos , de sistemas a- bertos que se mantenham por si préprios em es- tado de maxima improbabilidade. Da mesma forma, ele rechacga a idéia de que tais sistemas, ainda que eventualmente surgissem, fossem capazes_ de evoluir em conjunto na diregao da organizacao crescente, isto €, no sentido neguentrépico, Ne nhuma lei fisica estabelece que tal fato deva ocorrer assim, diz ele. E conclui com uma pro- posicdo que, Segundo pensamos, encerra a chave do problema. — "A produgdo de condigdes locate de or dem superior (e improbabtlidade mats alta) sé @ fisieamente possivel se entrarem em cena 'for gas organtzactonats' de alguma espécte". E mais adiante Bertalanffy completa sua idéia, de forma mais explicita acrescentando que — "a pesquisa futura tera provavelmente de levar em consideragdo a termodinamica irre- versivel, a acumulagdo da informagdo no eédigo genético e as ‘lets organtaaectonais' neste ultt mo", (Opus cit. pp. 207-208). A SOLUCAO DE BERTALANFFY Acabamos de apresentar, em uma rapida vis&o de conjunto, o problema da explicagao na- tural para o aspecto neguentrépico observado no fenémeno da vida, diante das leis da Termodina- mica. Chegamos a um ponto critico, a uma espé- 46 cie de bifurcagao, onde devemos escolher_uma das duas direcdes a seguir na busca da solugao para o grande enigma da vida. Uma das pistas aponta para a esperanga de encontrar-se_a solucao almejada, nas proprie- dades fisico-quimicas da matéria mesma, na pes- quisa mais profunda de sistemas como o'das "es- truturas dissipativas" de Prigogine e outros da escola de Bruxelas. A outra, sem excluir as bases validas conquistadas até agora pela posicdo fisicalista, pela investigagao exaustiva das possibilidades apresentadas pela teoria dos sistemas, leva em conta mais um fator: os campos organiaactonats, conforme sugerem as reflexdes de Bertalanffy a- cerca das duvidas por ele apontadas na andlise da teorta sintética da evolugdo aplicada & bio- génese. 47 Capitulo IV CAMPOS ORGANIZADORES BIOLOGICOS "NOS j@ fomos 04 genmes doutnras eras, Enfaukados no carcere das tutas; Viemos do principio das moneras, Buscando as pergeicdes absolutas." (Anjos, Augusto dos — "Evolucao"", psicografado por Xavier, F.C. = Parnaso de AlOm Tiimulo, 1967, p. 100) :FEB MAGNETISMO E ORGANIZACAO Procure fazer uma experiéncia muito sim- ples e facil. Obtenha um pequeno ima, desses u- sados pelas costureiras, para apanhar agulhas cavdas no chao. Arranje_um punhadinho de lima- lha de ferro. Isso nao € problema; va a uma ofi cina de serralheiro, e 14 Vocé podera catar mui ta limalha de ferro, usando o pequeno ima. Espa= lhe um pouco de limalha sobre um pedaco de car- tolina. Observe que as pequenas estilhas de fer- ro se dispoem aleatoriamente, assumindo uma_dis- posic¢do desordenada e sem qualquer orientacdo. Aplique os pélos do im& por baixo do pe- dago de cartolina com a limalha, e dé algumas pancadinhas de leve no cartao. Vocé notara um fenémeno muito interessante: a limalha se acomo- dara de maneira ordenada, seguindo um padrao de- finido, dispondo-se de acordo com as linhas de forca do campo magnético dos pélos do ima. En- tretanto, se Vocé nao conseguir fazer esta expe- 49 rigncia, olhe a figura 12 e acredite em nos. (Ver a fig. 12). Mas, qual é a importancia deste experi- mento? Bem, esta singela experiéncia emsina- nos uma coisa muito importante, Quando olhamos simplesmente para os pélos do ima, antes de meté Jos soba cartolina coma limalha, nao vemos nada além das faces metalicas que delimitam os topos do objeto. Mais especificamente, nao enxer gamos o campo magnético que deve existir ali.Ain da que passassemos os dedos da mao entre os po los do imi, nado irfamos perceber nada. Porém, @ limalha de ferro podera informar-nos acerca da existéncia do campo magnético. Para nds, o aspecto mais_ marcante desta experiéncia é a nitida organizagdo imposta as particulas da limalha. Antes, elas se encontra- Ram espalhadas aleatoriamente sobre 0 cartao.Sob a influéncia do campo magnético, elas adquiri- pesorbisDrh SOE ‘thet se . Fig.12 50 ram uma disposic&o ordenada. Este fendmeno faz- nos pensar na possibilidade de haver também um campo implicado nas operacoes de crescente orga- nizacgdo assinaladas nos meios biolégicos. Confor me expusemos no capitulo anterior, a vida apre- senta-se como um processo neguentrdpico que su- gere a intervengao de forgas organizadoras em a- C40, a0 lado das determinacoes quimicas oriundas do cédigo de informagio encerrado nas cadeias mo leculares dos acidos nucléicos. VITALISMO E REDUCIONISMO A idéia da existéncia de uma forca ou princtpto vital nao € nova, Pelo contrario, a in terpretacio inicial do fendmeno bioldgico quase sempre pendeu para um dualismo espirito-matéria. 0 espirito seria o elemento vitalizador da maté- ria. Em sua unido com o ser vivente tornar-se-ia a alma do mesmo. Para alguns antigos a esséncia da vida era um "sopro" infundido ao organismo ma terial. Por exemplo, 1é-se, em Génesis 2:7, 0 se guinte ~ "Do po da terra formou Deue Jehovah ao homem, e soprou-Lhe nas narinas o félego de vi- da; e 0 homem tornou-se um ser vivente”. (Sic. Tradugao Brasileira). Sem obrigatoriamente aceitar-se a pre- senga de um espirito ou alma nos seres vivos, era crenca generalizada que a vida depende de uma forga ou flutdo vital capaz de animar a maté yia. 0 referido fluido yital seria irredutiveT as Categorias fisico-quimicas materiais Por- tanto, o que caracteriza a doutrina vitalista é a_necessidade de um principio irredutivel ao do- minio f£{sico-quimico,o qual se supde indispensa- vel para vivificar o organismo material. Inclusi ve ela admite, também, que a saiide e a doenca te 51 nham relacZo com a maior ou menor quantidade do aludido fluido presente no organismo. A concepgdo vitalista sofreu varias ino vacoes. Durante os primeiros tempos de sua vi- géncia, faltava ao Vétaliemo o necessdrio supor te das evidéncias observacionais e experimenta- is, rigorosamente controladas. Desse modo, o Vi talismo colocava-se em uma posicgdo notoriamenté metafisica. Pelas suas origens, as idéias vita- listas sempre tiveram implicacoes com a crenca na existéncia da alma e do espfrito, os quais eram considerados pelos antigos, como entes dis. tintos. Para Aristoteles:—"A alma @ o que move o corpo @ percebe os objetos sensivets; caracte riza-se por autonutrigao, sensibilidade, pensa mento e nobilidade; mas o espirito tem a fungdo mais elevada do pensamento, que nao tem | rela- ¢do com o corpo nem com os sentidos. Dat poder o espirito ser imortal, embora o resto da alma possa nao eé-1o." (Da Adma, 413b). Como se vé,a alma,na concepgio de Aris- toteles, “preencheria algunas das caracteristicas do principio vital. Essa idéia acerca da alma, tanto como as demais idéias de Aristdteles, do- minaram o pensamento ocidental até o advento da Ciéncia fundada por Galileo e Newton. Com o de- senvolvimento do método cientifico, a ciéncia da alma — a Psicologia — sofreu profundas mo- dificacdes em seus metodos de estudo e em seus conceitos basicos. Em grande parte devem-se tais alteragdes ao concomitante progresso da Fisio- logia, a partir da segunda metade do Século XIX. Outro fator que teve grande influéncia nao s6 na Psicologia como no pensamento daquela época foi o aparecimento das idéias evolucionistas propostas por Lamarck, em 1809, e por Charles Darwin, em 24 de novembro de 1859, com a edigao da sua famosa obra On the Origin of Species.0s homens comegavam, entZo, a abandonar os dogmas religiosos. Os crescentes sucessos da Ciéncia mecanicista e o conseqtlente florescimento da 52 \ tecnologia ganharam a confiancga dos _pensadores do Século XIX. Em 1865, Claude Bernard assim se expressava: "Proponho provar que a eténeta doe fend- menos vitais deve ter oe mesmos fundamentos que a eiéneia doe fendmenos dos corpos inorganicos,e que ndo ewiste diferenga, a tal respetto, entre os principios dq cténeia biolégica e os da ctén- eta fisico-quimica. Naquela época 0 Positivismo materialista fundado por Auguste Comte (1798-1857) estava em plena ascensao. Na Alemanha, a Fisiologia era controlada por quatro eminentes cientistas: Her- man Ludwig von Helmholtz, Emil Du Bois-Reymond, Ernst Brucke e Carl Ludwig. 0 programa desses quatro sfbios era demonstrar que todos os fendme nos, incluindo os bioldgicos e portanto os psico légicos, so fundamentalmente materiais. Durante a metade do Século XIX a escola de Helmholtz, a- poiada no credo materialista, passou a dominar totalmente o pensamento fisioldgico e médico. A Psicologia cientifica (experimental) nasceu em meio a essa atmosfera intelectual. Wundt (1832- 1920) — fundador do Estruturalismo — foi disci pulo de Du Bois-Reymond e assistente de von Helm holtz; I. P. Pavlov (1849-1936) — criador da Reflexologia — estudou com Ludwig; S. Freud (1856-1939) — o descobridor da Psicandlise — a luno de Brilcke. ~ 0 Materialismo mecanicista atingia seu apogeu e, conseqiientemente, o Vitalismo nao en- contrava mais terreno para uma aceitacao pela or todoxia dominante. As tiltimas esperancas de sua sobrevivéncia ainda residiam na questao das subs tancias organicas produzidas pelos seres vivos. Acreditava-se que somente a vida possuisse tal privilégio. Mas a sintese da uréia por Whler, seguida de outras facanhas semelhantes, liquidou com os Giltimos redutos do Vitalismo. Até meados deste Século 0 Materialismo 53 viu-se crescentemente fortificado 4 medida que a Ciéncia penetrava nos segredos mais intimos dos processos bioldgicos, tal como a decifragao do cédigo genético e a Conquista de outros avangos espetaculares propiciados pelo concomitante de- senvolvimento tecnolégico. Dessa forma o Vitalis mo cedeu lugar a uma outra interpretacao inteira mente materialista e mecanicista, a qual procura reduzir toda a fenomenologia biolégica a proces- sos exclusivamente fisico-quimicos e fisiolégi- cos, Hodiernamente essa maneira de enquadrar os fenémenos da vida é denominada Reducionismo, Ne- le tentam incluir-se também os processos psicol6 gicos. 0 homem, tanto quanto os outros animais, passou a ser predominantemente encarado como uma maquina de estimulos e respostas. A REACAO NEOVITALISTA J& expusemos em capitulos anteriores as dificuldades para explicar-se cabalmente o sur- gimento da vida sobre o nosso planeta. O resulta do da analise acerca da incompatibilidade entre a Termodinamica e 0 neguentropismo biolégico le- vou 4 necessidade de admitir-se a intervencao de fatores organizadores atuando nos processos vi- tais. Se a origem da vida ja coloca problemas tao dificeis, nado menores sfo aqueles suscitados pela evolugad bioldgica. Este aspecto colide tam bém frontalmente com as leis da Fisica, desa- fiando igualmente o Segundo Principio da Termodi namica. Quando focalizados sob o prisma restrito das variagées dentro das espécies, ou entre es- pécies muito préximas, o Darwinismo e o Morgan- Mendelismo chegam a ser teorias satisfatérias.En tretanto, atualmente delineia-se um largo movi- mento contestatorio acerca do evolucionismo dar- winiano. Tal tendéncia nao desaprova totalmente a teoria de Darwin. Porém reconhece que ela nao 54 se aplica a todos os aspectos da eyolugao biolé- gica, principalmente 3 macroevolugao de todas as espécies vivas. (Aos interessados neste particu- lar indicamos, como fonte informativa facilmen- te acessivel, o artigo de Boyce Rensberger, do The lew York Times, "Em Discussao 0 Conceito Evo lutivo de Darwin", traduzido e publicado no "Su- plemento Feminino" do 0 #stado de S.Paulo, N°40, de 15 de marco de 1981, p. 11). No acidentado e extenso caminho do conhe cimento, nenhuma idéia surge j4 pronta e comple- ta. Os problemas gnosiolégicos sao normalmente encarados de angulos diferentes. E fato comum a total adesio dos estudiosos aos seus sistemas te dricos. Isto leva-os a certas radicalizacdes,se- guidas de tentativas de enquadramento dos fatos dentro de rigidos esquemas explicativos preesta- belecidos. Entretanto, ao mesmo tempo em que cer tos sistemas ganham proeminéncia, seus opostos também se reforcam e podem, mais tarde, tomar- lhes a primazia, Este fato se deu relativamente ao Vitalismo e ao Reducionismo. Mas € preciso es- clarecer que a temporaria predominancia de uma determinada corrente de idéias nem sempre exclui definitivamente a outra contrdria. Da sua intera cao pode nascer uma id€ia sintese, cujo espectro Seja mais abrangente e explique melhor os fatos Acreditamos que isso esta acontecendo entre o Vi talismo e o Reducionismo. Um dos sintomas do que acabamos de expor sio os resultados de algumas pesquisas e as teo- rizacgdes acerca da possibilidade de existir ou tros tipos de campo implicados na _ organizacao biolégica. Ha certos processos bioldgicos que su gerem fortemente a presenga de tais campos. A es te respeito, Harold Saxton Burr e F.S.C.Northrop assim se expressam: "4 doutvina tradictonal moderna, segundo a qual os elementos quimicos condictonam comple- tamente a estrutura e a organtzagao do organis- mo, falhou ao explicar por que uma certa constan 55 eta estrutural persistiu através do fluo quimt co. Esta dbvta tnsuficténcia econduz @ introdugao de fatores nado fisteos,tata como a 'enteléquia', de Driesch,o 'organizador', de Spemann, a 'ener- gia bioldgteas de Rignano, os 'gradtentes fisto- légteos', de Child,o ‘campo bioldgico',de Weiss, ea 'Gestalten', de Kéhler, cada qual tendo cer- ta validade em termos deserttivos." (BURR, H. S. e NORTHROP, F. S.C. — "The Electro-Dynamic Theory of Life" — Main Curnents, Vol.19, N?1, se tembro-outubro, 1962, p. 8). ~ As hipéteses assinaladas por Burr e Nor- throp sao vitalistas. Estes dois cientistas dedi caram cerca de quarenta anos de pesquisas sériaS e minuciosas na investigagao de campos organiza doves presentes nos meios bioldgicos. Concluf ram que todo ser vivo, seja qual for a sua natu- reza ou espécie, acha-se rodeado por um campo electrodinamtco capaz de ser detectado por meio de voltimetros convencionais de alta sensibilida de. Com o desenvolvimento da Parapsicologia nos paises democraticos,e da Psicotrénica nos paises socialistas, as hipoteses a respeito de campos organizadores implicados nos processos vi tais sofreram inusitada proliferacdo. Parece, en tretanto, que os criadores dessas idéias dao de nominagées diferentes a um mesmo principio orga- nizador. Talvez as diferentes formas de manifes- tagio do referido principio respondam pelas moda lidades de sua aparéncia. Na Unido Soviética desenvolveu-se uma teoria acerca da presenga de um btoplasma nos or ganismos vivos, o qual responderia nao sé por quase todos os processos biolédgicos, como teria implicagdes nos fenémenos paranormais, Esta hipo tese foi iniciada por V. S, Grischenko, em 1944. Seria um "quarto estado da matéria existente nos seres vivos”, (INIUSHIN, V.M. — "Biological Plas- ma of Human and Animal Organism",Journal of Para physics, Vol. 5,N°s 1 e 2, 1971, p. 50). 56 Embora os soviéticos sejam materialistas, a hipétese do bioplasma parece uma espécie de fu- sao entre o Vitalismo e 0 Reducionismo. Segundo Iniushin, a solucaéo para os problemas biolégicos e psicotrénicos depende de uma investigacao pro- funda da estrutura bioenergética dos organismos e seu ambiente. Ele enfatiza que — "fora de qual. quer divida, cada organiamo vivo & um sistema que esta trradiando energia e eriando um eampo ao seu redor,” (INIUSHIN, V. M. - opus cit.). Comentando os experimentos realizados com potentes agentes psicocinéticos — como Nina Kulagina — ele acre- dita que "estes experimentos habilitar-noe-do a entender as propriedades particulares da estnutu na esteneabioenergética dos organtemos vivos". (INIUSHIN, V. M. - opus cit.). Tal estrutura es- tereobioenergética responderia pelas forgas orga- nizadoras biolégicas capazes de orientar a cons- truco das formas organicas de trés dimensdes no espago fisico, Benson Herbert admite esta possibi lidade:- "Pode ocorrer que o conteido informacio nal dos bioplasmons de que fala Iniushin seja res ponsavel pela morfogénese em plantas e animais, @ fendmenos correlatos ainda nao intetramente com- preendidos pelos biologistas."(HERBERT, B. — "Re- port N95: Da. V. M. Iniushin”. Journal of Para- phystce, Vol. 6, N®5, 1972, p. 208). Benson Herbert ai toca em outro problema crucial para os biologistas: a morfogénese. Como pode explicar-se a formacao do individuo a par- tir de uma semente ou de um ovo? © Reducionismo procura equacionar tal pro blema, exclusivamente em termos fisico-quimicos. Porém as dificuldades neste particular sio imen- sas. A primeira delas € 0 fendmeno da recapitula- edo. Por que o desenvolvimento do embrido _repro- duz, resumidamente, a evolucdo da espécie 4 qual o ser vivo pertence? Outra dificuldade é 0 problema da homolo- gia: — "0 estudo da embrtologta apenas serve para acentuar a dificuldade apresentada pela genética: 57 os drgdos homélogos n&o somente ndo sao eontrola dos pelos meamos genes semelhantes, mas eles po dem surgir de partes totalmente diferentes do embrido em desenvolvimento". Assim aponta o bio- logista Dr. John L. Randall, do "Leaméngton Cof- £ege", da Inglaterra. (RANDALL, J. L. — Para- psychology and The Nature of Lige, London, Har- per § Row, 1975, p. 212). Outro fato inexplicavel pelas teorias reducionistas € 0 resultado de certas experién- cias genéticas feitas com a mosca Drosophila me- lanogaster (mosca-das-frutas). Realizando-se 0 cruzamento entre si de moscas possuidoras do ge- ne mutante, recessivo, correspondente ao carater “mosca sem olhos", poder ocorrer o aparecimento de moscas sem olhos pertencentes a uma estirpe pura. Este fato ocorrera quando ,eventualmente ,os genes recessivos forem emparelhados no cruzamen- to. De acordo com as regras da genética, se pros seguir dai por diante o entrecruzamento das"mos- cas sem olhos", de linhagem pura, as suas des- cendéncias deverao, a rigor, ser todas do tipo "mosca sem olhos", Mas nao é isso o que ocorre. Dentro de certo niimero de geragées por entrecru- zamento das "moscas sem olhos" surgirao novamen- te moscas com olhos normais! Como pode ser isso? A explicagao correntemente mais aceita pelos geneticistas é que os demais genes reemba- yalham-se e recombinam-se de maneira a substitu- irem o gene faltante formador de olhos. A esta explicacdo, Arthur Koestler opde séria objegao:- "Ora, o reembaralhamento, como qualquer joga- dor de pdquer eabe, & um processo fetto ao aca- 30. Wenhum biologista terta a petulancta de su- gerir que o novo olho do inseto evolveu por pu- pa sorte, repetindo assim, em poucas geragdes, um processo evolutivo que levou centenas de mt- lhares de anos", — B, mais adiante, acrescenta: "A vecombinagdo de genes que representa o ge- ne faltante deve ter sido coordenada de acordo 58 com algum plano global que inclui as normas de autoconserto genético apés certos tipos de da- nos ecausados por mutagdes noetvas, Mas tats con- troles coordenadores 86 podem functonar em nm: vets mais elevados que os dos genes individua- is."(KOESTLER, A. — 0 Fantasma da Maquina, trad. portuguesa, Rio: Zahar Editora, 1969, p. 164). FORGAS ORGANIZADORAS Voltemos Aquela singela experiéncia do imA sob 0 cartao coberto de limalha de ferro. Que nos sugere tal fenémeno? SerA que, nos processos biolégicos, estaria também presente a agdo ordenadora campos de forga organizadores? Ainda mais: seriam, tais Campos, produzidos por um prine¢- pto que se formou concomitantemente com a pro- pria vida, desde os seus primérdios? Neste ca- so esse principio poderia, gragas a uma cons- tituigdo estrutural espaco-tempo, armazenar to- da a sua experiéncia pregressa, | convertendo-se em um domtnto informaeional histérico, Assim_sen do, em sua interagdo com as moléculas organi cas, ele poderia conduzir o embriao a reprodu- zir resumidamente, durante a ontogénese, as fa- ses decisivas da sua filogénese. Teriamos assim justificado o fendmeno da recapitulagao. 0 principio a que nos reportamos fun- cionaria como um modelo organizador btoldgico. Talvez ele pudesse identificar-se com uma parte daquilo que as doutrinas religiosas chamam de esptrito. 59 Capitulo V 0 SUPORTE ESTRUTURAL DO ORGANIZADOR BIOLOGICO "0 que & naseido_da carne, é carne; ¢ 0 que & nascido’ do Espirito, & espcrito". (sic) (Joo, 3:6) (Tradugao Bra- sileira) BESOURO BEM ARMADO ENFRENTA SAPO "TROMBADAO" Os escarabeideos — ou escarabideos — constituem uma familia de insetos da ordem dos coledpteros (possuem cascas rigidas — ou éli- tros — que cobrem as asas posteriores membrano sas). E a maior familia dos besouros lamelicor- nios (cujas antenas terminam em massa folhosa). Entre os ramos de tao "ilustre fami- lia" hd uma modesta e pacata variedade cujos re presentantes temem sair por ai afora, ape- sar da ameaca dos indmeros "assaltantes" exis- tentes no mundo dos insetos. A violéncia também perturba os nossos irmaozinhos de seis pernas. Mas o escarabideo de que falamos anda bem arma- do. Possui uma escopeta que funciona gracas a um sofisticadissimo processo _quimico capaz de causar inveja aos melhores técnicos em armamen- to. Por esta razdo, o referido besouro recebeu o nome de Esearab{deo Escopetetro. Vejamos como funciona a curiosa escope ta do nosso heréi. No interior do inseto ha uma 61 camara revestida de substancia dura. Glandulas em comunicagao com a referida ca4mara podem ali derramar compostos de hidroquinona e perdxido de hidrogénio. Esta mistura torna-se explosiva na presenca de um catalisador, produzindo um gas cdustico e sufocante. Quando um sapo abocanha o besouro, este dirige para a garganta do "assal- tante" um tubo flexivel conectado 4 camara onde ocorre a explosdo assim que o inseto se vé em pe rigo de vida. 0 tiro da singular escopeta do es- carabideo lanca na garganta do sapo um jato do gas cdustico e sufocante, obrigando-o a largar imediatamente a presa. Entéo, o besouro volta a seguir tranqiiilamente a sua Caminhada. Boa recei ta contra as "trombadas", nao? ~ Se refletirmos demoradamente acerca de exemplos como o do escarabideo escopeteiro, aca- baremos por sentir que a evolugao bioldgica so- freu alguma orientagao, algo como um plane jamen- to visando a determinados objetivos, Parece,mes- mo, que poderiamos distinguir planos mais gerais e outros menores funcionando 4 guisa de detalha- dores dos maiores. N&o estarfamos diante da agio de um principio organizador que opera ao estilo de um inventor? Primeiro cria um protétipo, visando a um objetivo; depois aperfeicoa-o através de en- saios e erros, descartando os modelos mal-sucedi dos; finalmente demora-se no modelo mais adequa- do, Nao possuiria, esse principio, um suporte substancial, até certo ponto durdvel para permi- tir-Ihe armazenar informagdo e utiliza-la na criacgdo e estabilizacdo dos modelos produzidos subseqiientemente? Edmund W. Sinnott, comentando o impres- sionante mecanismo regulador mediante o qual uma planta ou animal em seu crescimento se de- senvolve em direcdo a um objetivo preciso, consi dera tal_ problema uma questao ainda aberta 4 in- vestigacdo cientifica. Entao ele sugere que: "Alguma eotsa existe na substaneta viva do or 62 gantomo & qual o erescimento obedece — alguma cotsa,por assim dizer, que representa a historia do desenvolvimento do todo individual. "(SINNOTT, E. W. — The BéoLogy of the Spirit, New York: The Viking Press, 1966, p. 55). Suspeita-se de que existe algo, além da simples determinacdo fisico-quimica dos genes, in fluindo na construcao de um organismo vivo. Por sua_vez, este quid parece ter acompanhado a evo- lucdo do individuo através dos milénios que 0 precederam em sua filogénese. Assim ele traria um programa j4 pronto, ao qual a sua organogéne- se iria obedecer. 0 fendmeno da recapitulagao du rante a embriogénese sugere que aquele programa poderia ser, na realidade, um resumo da sua his- téria filogenética. Logo, deve ser licito postu- lar que a referida alguma coisa 4 qual Sinnott se refere sobrevive ao individuo, uma vez que ela traz em si a informagaéo acerca da histdria de sua espécie. Reconhecemos que este raciocinio requer um apoio na evidéncia dos fatos.Porventura,exis- tiria tal evidéncia? Acreditamos que sim, muito embora ela tenha sido, reiterada e sistematica- mente, rejeitada pelos adeptos do Materialismo reducionista. De inicio, tentaremos demonstrar que nem todos os fendmenos bioldgicos encontram per- feito enquadramento dentro do esquema_ das leis conhecidas que admitimos reger os fendmenos nor- mais. A FUNCAO PSI Vamos comecar com a andlise da fungao psi e, conseqientemente, dos fenémenos psi nela implicados. A funclo psi divide-se em dois grupos principais, a saber: 63 ee 1 - Fungdo_pst-gama, representada pelas faculdades do individuo, responsaveis pela produ gGo0 dos fenémenos paranormais subjetivos. Neste grupo incluem-se a telepatia (transferéncia de informagao de uma mente para outra, sem o uso dos meios de comunicagao convencionais normais); a clarividéncia (resposta a um estimulo externo, sem o emprego de qualquer drgao sensorial nor- mal); e a precognicao (conhecimento antecipado de um evento futuro, sem a utilizagao de qual quer meio normal de previsdo) . ~ A funcio psi-gama sugere a existéncia de um componente da psique capaz de extravasar- se além dos limites sensoriais do organismo e captar a informagdo, extra-sensorialmente. Dai a designagdo dada pela escola de Rhine: percep- ¢ao extra-sensorial (ESP "extrasensory per- ception"). A referida expansGo da percepgao tam- bém faculta ao individuo tomar conhecimento de um fato futuro, antes que tenha ocorrido. Por conseguinte, ela se projeta além do presente no sentido do fluxo positive do tempo: E a pre- cognigdéo, sobejamente demonstrada em rigorosos experimentos de laboratério e para a qual nao se encontra nenhuma explicagao normal plausivel.Bas taria apenas a evidencia desta fungao para aba- lar a mais convincente interpretagao reducionis- ta acerca da natureza da vida. 2 - Fungdo pet-kappa, respondendo pela produgao dos fenomenos paranormais objetivos ,nos quais esta implicita a agao dinamica direta da mente sobre a matéria. E a psicocinesia. A fungio psi-kappa tem sido exaustiva- mente demonstrada nao sd através de testes esta tisticos, como verificada diretamente em experi- éncias controladas, com potentissimos agentes psicocinéticos, tais como Nina Kulagina — na U- nifio Soviética — e Jean Pierre Gérard — na Franca. Initimeros outros agentes semelhantes tém sido meticulosamente estudados por cientistas sérios, os quais procuram uma explicagdo racio- 64 nal para essa inusitada faculdade. Todavia, as hi poteses formuladas no sao totalmente satisfaté- rias sob o ponto de vista rigorosamente normal. O fendmeno da psicocinesia aponta insistentemente para a existéncia de um componente extrafisico implicado nos processos biologicos. Em 1951, um psiquiatra de Edinburgh,Dr. J. R. Smythies, publicou um artigo no Journal of the American Society for Psychical Research (1951, N? 36, pp. 415-425), abordando a questao da fungao psi. 0 Dr. Smythies também considera que os fenomenos parapsicoldgicos nao se enqua- dram dentro dos esquemas da Ciéncia atual. Para ele o erro inicial esta na suposicao de que o mundo que percebemos representa toda a realida- de. Para Smythies o Universo possui sete dimen- sdes! A mente — ou, como ele prefere, a psique — & "uma entidade material organtzada, localiza- da em um espago de mator niimero de dimenedee”, A psique, "pode extrair informagao do cérebro; ou, através de outra parte do mecanismo, pode contro- lar sua agdo", (RHINE, L.E. — Mind Over Matter, London: Macmillan, 1970, p.372). A Dra. Louisa E. Rhine, viiva do Dr. J. B. Rhine, cita uma importante opinido de seu marido, acerca da fungao psi e da forma como ela poderia encaixar-se no elenco dos ja conhecidos atributos da mente. Ei-la: "Alguma sorte de agao psteocinétiea ob- viamente deve ocorrer cada vex que nosso pensamen to inieta a atividade neuromuscular. Esse efetto peteofisico evidentemente produa certas mudangas electroquimtcae e outrae mudangas fisteas no eére bro, e inieta uma seqiléncta de reagées isteas nos nervos e misculos do corpo". (Opus cit p.37a). Para Rhine, a mesma a¢ao psicocinética que & capaz de desencadear os processos cerebra- is que comandam a motricidade pode exteriori- zar-se e atuar diretamente sobre os objetos ex- ternos. "A mente possut uma forga real e demons- 65 travel", diz ele. (Opus cit., p. 375). Mas a fun go Psi, para Rhine, teve um papel mais importan te. 0 fato de as operacées psi serem elementos da personalidade tanto nao fisicos quanto incons cientes sugere a ancestralidade da fungdo psi Ela deve ter participado dos processos da evolu- g40_bioldgica, orientando os organismos na aqui- Sicgao dos Orgaos dos sentidos e de outros meios de adaptacio. _ Dra. Louisa Rhine alude também a dois parapsicélogos cujas idéias se aproximam das de J. B. Rhine. Sao eles o Dr. R. H. Thouless e o Dr. John C, Eccles. Ao comentar as idéias de Eccles, Dra. Louisa Rhine cita uma interessante colocagio da- quele autor: "Falando entdo de suas hipdteses em ge- ral nas quats toda a maquinarta do cérebro e do sistema nervoso é gutada pela vontade, ele obser va que nado é uma simples maquina de cabos e po lias mas um sistema de 'dez bilhdes de neurdnt- 08 .+. momentaneamente situados préximos a um preciso limtar do ntvel de enettabilidada! Boo tipo de uma maquina, segundo ele, ‘que um fantas ma poderta operar, se por fantasma nds queremos dizer em primetro lugar um agente cuja agao esea pou a deteegao mesmo pelos instrumentos fisicos mats delicados". (Opus cit. p. 385). Mas, haveria outros tipos de fendmenos capazes de evidenciar a existéncia de um suporte estrutural que eventualmente fosse a sede da fun cao psi? Neste caso, em circunstancias especi- ais, o referido suporte poderia abandonar momen- taneamente o veiculo fisiolégico e entao ser de- tectado de forma objetiva. Vamos referir-nos, a seguir, a esse ti- po de evidéncia. 66 EXPERIENCIAS FORA DO CORPO A sigla OOBE — ou apenas OBE — é usa- da pelos parapsicélogos anglo-saxdes para deno nar 0 desdobramento astral. Esta sigla vem da ex pressao em inglés: "out-of-the-body experience" + Significa: experiéncia fora do corpo. Tem a van- tagem de nao conter a conotagdo ocultista impli cada no termo astral. A “OBE" tem sido objeto de observacao e registro, desde muitos anos. Ernesto Bozzano, em sua obra Desdobramento — Fendmenos de Bilocagao— da qual existe uma tradugdo por Francisco KlUrs Werneck — fornece riquissima colegio de relatos a respeito de OBE's. Nao nos demoraremos em apre sentar uma repeticgao de semelhantes casos.Apenas daremos as caracteristicas tipicas do fendmeno, Algumas pessoas podem, em certas circunstancias, ver-se fora do corpo, como se flutuassem livre- mente no espago. Durante este estado, chegam, e- ventualmente, a avistar o proprio corpo, bem co- mo sentir-se transportadas a grandes distancias, presenciando cenas e lugares conhecidos ou segu ramente nunca vistos antes. Posteriormente ,visi- tando ocasional ou deliberadamente tais locais, logram constatar a sua realidade, inclusive a autenticidade das cenas que ali teriam sido tes- temunhadas durante o desdobramento. Este fendmeno insdlito sofreu varias in terpretacdes. Ha duas correntes: 1) os que admi- tem que a ESP é suficiente para explicar a toma- da de conhecimento dos eventos ocorridos 4 dis- tancia, e negam a existéncia de algo que possa abandonar o corpo fisico e ir aos locais percebi. dos durante o transe; 2) os que admitem a exis- téncia de um corpo sutil capaz de abandonar mo- mentaneamente o corpo fisico e fazer “viagens as trais", tomando contacto direto com a realidade exterior. (Ver Fotha Espcnita, n*?s 54, 55 e 56, respectivamente de setembro, outubro e novembro de 1978). 67 As experiéncias mais recentes estGo dan do ganho de causa 4 segunda hipdtese. 0 Dr. Karlis Osis e a Dra. Donna Mec Cor mick apresentaram na 22a.Convencao Anual da"Para psychological Association", em Moraga, Califér- nia, realizada entre os dias 15 e¢ 18 de agosto de 1979, um importante trabalho intitulado: "Ki- netic Effects at the Ostensible Location of an Out-of-Body Projection During Perceptual Test- ing". (The Journal of the American Society gon Psychical Research, Vol. 74, N°3, July, 1980, pp. 319-329). Para uma avaliacao melhor do importante trabalho atras mencionado, vamos transcrever as trés questdes basicas formuladas pelos autores: ™ 1 - Que acontece no cérebro quando a consciéncia parece estar projetada a algum lugar? Vertficamos que as amplitudes das ondas cerebrais parecem tornar-se modificadas, indican do pequentssima atividade na regiao do cérebro da parte posterior da cabega (occtpital)". ™ 2 = Que a pessoa vé quando fora-do- corpo ? Wesse estado,a visao parece achar-se pre etsamente Localtzada no sttio aonde o pactente diz ter projetado sua conseténcta. Mats atnda, a falta de movimento ocular no corpo fisico durante um 'OBE' sugere que nao é meramente um sonho licido". " Que acontece no local aonde a conseiéncia foi projetada? Apareceriam efeitos registraveis para serem empregados mediante al- teragées em campos elétricos? Publieamos recente mente um relatério um tanto téenico a respeito do experimento devotado a esta questao — a detec edo fisiea de projegées fora do corpo". (OSIS, Ky e Mc CORMICK, D. — "Current ASPR Research on Out -of-Body Experiences" — ASPR Newsletter,Vol. VI, N@4, October, 1980, pp. 21-22). © experimento ao qual se referem K.Osis 68 e D. Mc Cormick consiste em um sistema de contro le @ registro autom4tico, munido de sensores ca- pazes de detectar a presenga fisica, dentro de uma camara blindada, do “observador" projetado fora_do corpo. Durante a OBE, o paciente devera também fornecer informacao a respeito de uma fi- gura composta ao acaso por um sistema Optico es- pecial e percebida, extra-sensorialmente, do in- terior da camara blindada. Os resultados evidenciaram a presenca de algo entre os sensores da camara blindada, to das as vezes que o paciente, em projecao fora do corpo, conseguiu descrever corretamente a figu ra selecionada pelo aleatorizador dptico. ~ Agora o Dr. Karlis Osis planeja foto grafar o “observador" assim que os sensores fo- rem ativados, permitindo acionar uma camara ul- tra-sensivel, no momento exato de sua presenga. Finalizando o artigo publicado na ASPR Newsfetter, Vol. VI, 4, de outubro de 1980, o Dr. Osis e a Dra. Mc Cormick declaram o seguin- te: "Esta pesquisa fot conduatda de uma ma netra imparetal, mas com Sbuia abertura para a perene questao: Possut o ser humano alguma cotsa como uma alma que transcende o corpo no eapago e no tempo, possivelmente mesmo depots de sua mor- te? — uma questdo muitas veses etlenciada mas nunea evradicada pelas filosofias domtnantes a- través da histdria, ou mesmo, como nos tempos mo dernoe, pela repressao governamental em alguns patses", (Opus cit. p. 22). DELINEAMENTOS Parece que as pecas do interessante que bra-cabegas ja estAo comegando a formar sentido, configurando algo inteligivel. Nao ignoramos que, para muitos leitores, nao ha divida de que o tal 69 “principio organizador" existe mesmo e sobrevive apés a morte do individuo ou de qualquer ser vi- vo. Se 0 nosso caro leitor for espirita, entao ai é que nado tera mesmo diivida alguma a esse res peito. E estard perguntando por que estamos gas— tando tanta tinta e papel para demonstrar um fa- to tao dbvio e tao evidente. Mas, a rigor, nao estamos escrevendo pa- ra convencer os espiritas, pois seria o mesmo que tentar ensinar o padre-nosso ao Sr. Vigario. Alids nao pretendemos convencer ninguém. Oferece mos estas despretensiosas linhas aos que ainda admitem que a vida comeca no berco e termina no timulo, visando a chamar-lhes a atencao para questoes abordadas modernamente pela Ciéncia,mas pouco ventiladas nos meios académicos. 70 Caprtulo VI A SOBREVIVENCIA DO ORGANIZADOR BIOLOGICO "0 neconhecémento de que os obje- tos scsicos e valores espirituais tim um tipo de neatidade muito semethante tem contribudo pana a minha paz mentae. Este 2 0 Gnico ponto de vista que 2 consistente com a mecanica quantica", Dr. Eugéne Wigner Prémio Nobel VINTE E NOVE ANOS DEPOIS ... No dia 6 de novembro de 1961, as 20 ho ras e 30 minutos, na Rua Guararapes n°779,em Sao, Paulo, iniciava-se uma sessao espirita. Nove pes soas Compunham o grupo formado por homens e mu- lheres, todos adultos. A reunido era dirigida pe lo médico, Dr. A.C. Apés a costumeira abertura dos traba- lhos, seguida de alguns minutos de concentracao, o médium principal — uma senhora — comegou a manifestar outra personalidade, dando sinais de sofrimento e desconforto fisico. Inquirida pelo dirigente da reuniao, a personalidade estranha i dentificou-se dizendo: - "Eu me chamo Ruytemberg Rocha; sou a luno do 29 ano da Escola de Oftetate da Forga Pi bltea do Estado de SGo Paulo; estou alistado no Batalhao Maretlio Franeo, em luta na frente_ de Burt, no Estado de Sao Paulo" — referia-se as o 71 peragdes militares da Revolugio Constitucionalis ta de 1932; "fut fertdo por um estilhago de gra- nada, e sinto mutta dor aqui” — indicava a parte superior da clavicula esquerda e/ou o lado es- querdo do peito, sobre cuja regido a médium em transe passava sua mao espalmada, praticamente durante toda a sessao; "fut trazido por meu pat e alguns amigos; eu naset em S40 Jodo da Bocat- na, Estado de Sado Paulo, em 1908" — este local é agora denominado Bocaina apenas; "meu pat chama se Osério Rocha e minha mae Julteta Simoes, mas ela tem um apelido..." — Infelizmente as testemu nhas do caso nao conseguiram lembrar-se do apeli do, embora afirmassem que era um diminutivo par cido com Lilita; "ew tenko uma trma..."— 0 nome foi dado também na ocasiado, mas a maioria das testemunhas j4 nao se lembrava mais do nome ,exce to uma delas que afirmou ser, com toda a certe- za, Olinda. A referida personalidade comunicante deu ainda muitas outras informac6es concernentes aelae 4 sua familia, porém infelizmente as ano tagdes feitas naquela ocasido nado foram conserva das. Desse modo, apenas se consideraram as atras enumeradas, por terem sido confirmadas pela qua- se unanimidade das testemunhas. No dia_imediato, dois médicos que pre- senciaram a sessio, o Dr. A.C. que a dirigiu, e um outro, Dr.W.L. — por sinal cético e catdli- co — resolveram, por sugestao deste Gltimo,con- firmar os dados fornecidos através da médium du- rante o transe. Dr. A.C. procurou a Academia de Pol cia Militar da Forga Piiblica do Estado de Sao Paulo. La ele obteve a ficha-de-baixa de Ruytem- berg Rocha. O Dr. W.L. dirigiu-se 4 Biblioteca Municipal de Sao Paulo, onde deu uma_busca nos jornais editados na época da Revolugao Constitu- cionalista. Os dados assim colhidos confirma- ram ter realmente existido aquele militar,o qual fora morto em combate na frente de Buri. A maio- 72 ria dos dados, mas nao todos, coincidia com as informagdes do comunicador. Em abril de 1969, o Dr. W. L. enviou uma carta ao conhecido médico psiquiatra, escri tor e parapsicdlogo, Dr. Alberto Lyra, relatan= do os fatos por ele testemunhados em novembro de 1961. 0 Dr, Alberto Lyra encaminhou a carta- relatério ao Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofisicas — IBPP, Imediatamente o IBPP planejou uma pesquisa minuciosa do caso, fazen- do um rigoroso levantamento de todos os dados e circunstancias da sessdo, e ouvindo todas as testemunhas sobreviventes, Em 1971, completaram-se as pesquisas. © IBPP conciuiu que o caso Ruytemberg Rocha era um tipico "drop in"! Esta designacao significa, literalmente em inglés,"uma visita inesperada". Em Parapsicologia @ a manifestacdo de um "agen- te theta" (desencarnado) totalmente desconheci- do dos presentes A sessao e obedecendo aproxima damente 4s seguintes condigdes -— preenchidas por este caso: 1) 0 comunicador — desencarnado — deu todos os elementos suficientes para sua com pleta identificacao. Isto foi perfeitamente ca- racterizado na ocasido pelos médicos e, mais tarde,pela equipe do IBPP. 2) Nem o médium, nem qualquer dos as- sistentes e nem suas familias ou amigos mais in timos contactaram diretamente ou conheceram por informacdo quaisquer parentes ou pessoas relaci onadas com a entidade comunicante, antes ou de= pois de sua morte. 3) Nenhum dos participantes da sessio conhecera indiretamente ou visitara pessoalmen- te a cidade de Bocaina, onde a personalidade do comunicador nasceu; o mesmo foi verificado com respeito A cidade de Buri, onde Ruytemberg Ro- cha encontrou a morte. 4) Nenhum dos documentos escritos sob forma de noticia ou de livros, versando sobre 73 ee... a Revolucgdo Constitucionalista, bem como dados divulgados por outros meios, poderia ter servido de fonte de informagdo a quaisquer dos partici- pantes da sesso; a equipe do IBPP verificou que os dados disponiveis nos elementos — informati- vos eram discrepantes, incorretos ou insuficien tes para, de per si, propiciarem todos os deta- lhes obtidos durante a comunicacao meditinica; alén disso, munidos das fotografias dos partici- pantes da Sessao, os investigadores do IBPP esti veram em todos o$ locais onde poderiam _encon= trar-se os registros oficiais do soldado faleci- do, e asseguraram-se de que nem aquelas pessoas, nem outra qualquer, efetuaram buscas ou pedido de informagoes acerca de Ruytemberg Rocha; exce- tuava-se o médico, cuja consulta fora registrada na Academia Militar, em 1961 — tratava-se do en tao dirigente da sessao, Dr. A.C., o qual estive ra 14 4 procura de confirmagao acerca da identi- dade do_comunicador, fornecida durante a referi- da sesso. 5) Nas proximidades da data em que o- correu a comunicacado, nado se celebrara nenhuma comemoracZo ou ceriménia concernente a Revolugao Constitucionalista, a qual se comemora em 9 de julho. 6) A equipe do IBPP, apés rigoroso in- quérito e minuciosa pesquisa, afastou todas as . hip6teses normais que poderiam justificar 0 ca- so, tais como as de fraude, criptomnésia, telepa tia, psicometria e clarividéncia. Restou, como finica hipétese plausivel e capaz de explicar a referida ocorréncia, a da manifestagao de um "a- gente theta", isto é, do espirito do soldado Ruy temberg Rocha, falecido em combate no setor de Buri, na noite de 26 para 27 de julho de 1932: © IBPP publicou uma monografia de nos sa autoria, dando minuciosos informes sobre esse “drop in” (The Ruytemberg Rocha Case, Sao Paulo: IBPP, 1973), do qual foi langada uma edicio em portugués. Os interessados poderdo solicitar,por 74 escrito, esse trabalho, o qual sera remetido gra tuitamente, como é praxe do IBPP. (Corresponden- cia para a Editora Pensamento, em nome do au- tor). 0 caso Ruytemberg Rocha fornece forte evidéncia acerca da sobrevivéncia do suposto or- ganizador biolégico, o qual se manifestou com marcantes caracteristicas de personalidade do de sencarnado, decorridos 29 (vinte e nove) anos a> pos a data de sua morte. O CASO RUYTEMBERG ROCHA NAO E 0 GNICO InGmeros casos semelhantes a este fo- ram também minuciosamente levantados pelo pesqui sador Sr. Paulo Rossi Severino. Sao comunicagdes obtidas através do médium Sr. Francisco Candido Xavier — Chico Xavier — compreendendo mensa- gens psicografadas, de pessoas falecidas, envia- das 4s suas respectivas familias. (SEVERINO,P.R. — "Pesquisas Sobre as Mensagens dos Jovens De- sencarnados", Folha Espixita em Revista, Sao Pau lo, 1977). A literatura metapsiquica do século passado, tanto quanto a parapsicolégica deste sé culo contém ambas um numero incomensuravel de ca sos de manifestacao de desencarnados. As formas de manifestagao sao as mais variadas, indo desde os simples sinais sonoros (tiptologia) até as ma nifestagdes visiveis e tangiveis de fantasmas. E eras dessas ocorréncias tem sido obtida, de maneira inequivoca, a identidade correta do comunicador, 0 caso Ruytemberg Rocha, portanto, n&o € o inico. 75 © FANTASMA DO PRIORADO . Poderia surgir uma objegdo acerca da du raco de um suporte da personalidade — ou do oF ganizador biologico — apds a morte do corpo £ Sico: ndo seria uma sobrevivéncia apenas transi- téria? Vimos que o espirito de Ruytemberg Rocha sobreviveu vinte e nove anos. Como decorrer do tempo, nao sofreria ele uma desagregacao? Uma es pécie de segunda morte? ~ Ha varios casos registrados evidencian- do que os desencarnados perduram por muito tem- po, por um tempo assaz longo, comparado com 0 da existéncia dos organismos por eles animados. Vamos dar um exemplo sumario de um caso bem com- provado e reportado pelo conhecido parapsicdlo- go francés, Prof. Robert Tocquet. Escolhemos es- fe autor, nao sé pela sua honestidade e compe- téncia, mas pelo fato de os parapsicélogos fran ceses se caracterizarem por um forte ceticismo a respeito da sobrevivéncia apos a morte. Os para- psicdlogos anglo-saxdes, ao contrario, atualmen- te ja estao mostrando muito maior aceitagdo para a tese da sobrevivéncia. Na obra Le Béfan du Surnaturel, Ro- bert Tocquet relata a "Fantdsttea Aventura de Madame Y", uma senhora que, juntamente com seus dois filhos (Jean e Gaston), mudou-se para um casarao do Século XVII que servira de priorado a uma comunidade religiosa expropriada pela Revo- Lucio. Na noite de 10 de julho de 1955, qua- tro dias apés haver-se mudado para 0 priorado, Madame V. viu um fantasma no seu quarto de dor- mir, que antes servira de dormitério ao falecido Prior da ordem religiosa. Era uma sombra confusa formada de nevoeiro opaco, atrés da qual parecia haver uma luz. Estava envolta em uma vestimenta comprida e uma pelerine. A cabega achava-se Co- berta por uma cogula. 76 Ao ver a aparigao caminhar lentamente em sua direcgio, Madame V., apavorada, sentou-se no leito. Comegou a suar, apesar de ter tido uma impressao de frio, e sentiu-se imobilizada pelo terror. 0 fantasma pareceu ignora-la. Diri giu-se até diante da chaminé, onde se ajoelhou. Apés varios minutos durante os quais parecia o- rar e implorar, ergueu-se e encaminhou-se para um gabinete contiguo a alcova. Ali desapareceu, apés haver produzido um ruido semelhante a que- da de um corpo sobre os ladrilhos do piso. Por diversas vezes, Madame V. presen- +ciou a apavorante apari¢ao, porém nao quis comu nicar o fato aos filhos. Mas, posteriormente ,os rapazes também acabaram por ver o espectro. Um deles conseguiu fotografar o fantasma. Mais tar de, adquirindo mais coragem, Madame V. teve al- guns coléquios com a abantesma e ficou sabendo que se tratava do antigo Prior da ordem, ja fa- lecido ha mais de dois séculos! Ele se manti- nha ali preso pelo remorso de haver contribuido para a morte, Sob torturas, de um prisioneiro encerrado no proprio priorado. Os intimeros episddios que se desenro- laram durante quase dois anos foram aqui omiti- dos. Mas as derradeiras ocorréncias merecem ser transcritas em seus lances mais impressionan- tes. Madame VY. fora acompanhar um de seus fi- lhos, 0 Gaston, que partira da estacio de Mou- lins, 4 1 hora e 30 minutos da madrugada.Acaba- vam de regressar. Jean — o segundo filho — estava colocando o carro na garagem.Deviam ser, aproximadamente, duas horas da madrugada. Ela dirigiu-se para'a porta ¢, ao abri-la, viu a a- parigdo no patamar superior, Eis como Madame V. descreve a cena: "Mas desta ves subt resolutamente e, enquanto o fantasma pronunotava algumas pala- vras, fechei os olhos e passet as maos, horizon talmente, pelo meto daquela forma. Sentt imedia 77 tamente um choque elétrico no meu corpo. Depots vamenpadiu um feto glactal, sufocante, indescri- Tevel, enquanto a forma recuava dtante de mim, Jean, que ld embaizo assistira & cena, exelamou: — Que é que a senhora fot fazer, minha pobre mae?! ... Dive que me apotar ao seu brago para conseguir chegar go meu apartamento. Quase em 8s guida as minhas m@os se puseram a inchar @ @ ar= der, como quando a gente tem queimaduras provoea Gas pelo frio do inverno." (Opus cit.). ~ ‘A narragao prossegue descrevendo 0 que resultou daquele seu gesto imprudente. Na manha Seguinte as maos estavam inchadas, apresentando pequenas queimaduras semelhantes @ arranhoes. A pele de ambas as maos e dos bracos ficou em pés- simo estado. Em seu relatério, Madame V. declarou que o fantasma era formado "duma espécte de va- pon glacial, Levemente vtecoso”. 0 epilogo do incrivel caso de Madame v. € singularmente dramatico. Ocorreu no dltimo domingo de marco de 1960, Ela tornou @ avistar 0 fantasma no patamar superior, erguendo para © 9 Gs punhos sem as mdos ¢ implorando para que ¢ lit er POY Pes St Ca as eal as dele e o interpelou: — "Diga-me entao como fazer, meu Pati” Ele respondeu: — "Morrt sem o soeorra da religt- Eee ren eran al- guns passoa do lugar onde, pot covardia, detzet one martirizassem um homem abs a monte. Tive as Vee decepadas e fut enterrado com outros reli- giosos entre a igreja ¢ os alogamentos. Rogo-the fue faga sobre mim grandes sinats da ous, asper gindo-me com agua benta". Madame V. nao dispunha de Agua benta- roi depressa buscar um crucifixo, mas quando vol, tou o monge j& havia desaparecido. 78 "ee. eee © Prof. Robert Tocquet procurou certi- ficar-se da absoluta veracidade deste caso, an- tes de inseri-lo em_sua obra. (HA uma_ traducdo desse livro por José Geraldo Vieira, publicada pela IBRASA, em 1967, sob 0 titulo: 0s Podenes Secnetos do Homem). Como_se vé, o espirito do falecido Pri or sobreviveu 4 sua morte por um periodo de tem= po bastante longo, por mais de dois séculos! En tretanto ha casos de manifestagao do espirito de pessoas desencarnadas ha muito mais tempo ainda. Um exemplo bem interessante & 0 caso de Rosemary e Lady Nona, relatado no livro A Voz do Antigo Egito, de F, VY. Lorenz, editado pela Federacgao Espirita Brasileira. Nesta obra ha um apanhado do livro After Thirty Centuries (Apds Trinta sé culos), da autoria do Dr. Frederico H. Wood, no qual ele conta como, através de Rosemary — uma jovem médium — péde comunicar-se com o espirito de uma rainha egipcia que fora a esposa de Ame- mhotep III. Este farao reinara entre os anos 1406-1370 antes de Cristo, Neste caso a sobrevi- véncia do espfrito (organizador bioldgico) da- quela rainha atingiu cerca de trés mil anos! RETROSPECTO Fagamos um rapido retrospecto daquilo que viemos apresentando até aqui ao longo dos ca pitulos precedentes. Inicialmente focalizamos o fendmeno do aparecimento da vida sobre 0 nosso planeta, mos trando sua extrema improbabilidade de ocorrer,di ante das leis da Termodinamica. Em seguida, reco nhecemos como hipétese aceitavel a da interven- cao de campos organizadores biolégicos nos pro- cessos da biogénese e da evolugdo dos seres vi- vos. Apontamos, subseqiientemente, as evidéncias 79 observacionais de apoio 4 hipétese dos campos or ganizadores. Como coroldrio, ocorre a necessida- de de existir o suporte dos referidos campos.Tal suporte € representado por uma estrutura perma- nente capaz de conservar-se ao longo do tempo, mesmo quando desvinculada do ser vivo devido 4 morte deste Gltimo. No presente capitulo apresentamos al- guns exemplos observacionais em apoio a existén- cia do aludido suporte, referindo-nos 4 nossa observacao pessoal — caso Ruytemberg Rocha —e a mais dois outros casos colhidos de fontes idé- neas. Reconhecemos que apenas trés casos sao in- suficientes para estabelecer uma sélida evidén cia de sustentacdo a uma tese de conseqliénciaS tao sérias e tao abrangentes. Entretanto, temos a seu favor um imenso registro de outros casos semelhantes, que vem sendo feito ha muitos anos por pesquisadores respeitaveis. Mas, voltemos ao nosso assunto funda- mental. Se 0 organizador bioldgico sobrevive 4 destruigéo do corpo fisico provocada pela morte, guardaria ele as caracteristicas da personalida~ de do individuo quando vivo? Sobreviveria apenas como uma eStrutura portadora de informagao pura- mente bioldgica, ou incluiria também os demais a tributos psicologicos — consciéncia individu> al — do falecido? A resposta a esta indagacgfo nao é tao simples como parece, e tem suscitado muita dis- cussao. Somente pesquisas rigorosamente conduzi- das poderao fornecer respostas.seguras e defini- tivas. Todavia, j4 se possuem dados observacio nais Suficientes para, com certa garantia, afir= mar-se que ha evidéncias de que o organizador bioldgico conserva também a meméria das suas ex- periéncias e atributos psicolégicos.Naturalmente deve esperar-se que ele sofra alguma alteragdo em seu estado de consciéncia, como conseqlléncia da nova situacgio criada com 0 processo da morte. 80 A alteragao do estado de consciéncia, 4 qual nos aludimos, n3o implicaria obrigatoriamente na per da da identidade do falecido.Por conseguinte, a personalidade também devera manter-se. Porém ela nao se mostrara sempre como foi em vida, a nao ser em situacées especiais. 0 organizador biold- gico armazenara toda a informagao desta wltima personalidade, juntamente com as informagoes das outras personalidades que ele animou no passado, em encarnagoes anteriores. Por outras palavras,o organizador biolégico constitui uma individuali dade, a qual contém toda a experiéncia psicolégi ca e bioldgica das personalidades por ele anima- das desde a sua origem histérica. Este modelo representativo ajuda a en- tender como as personalidades de Ruytemberg Ro- cha e do Prior, ambos falecidos ha muitos anos, puderam reapresentar-se com aS suas caracteristi cas tipicas, permitindo a identificagao de cada um deles. No caso da rainha egipcia — a esposa de Amenhotep III — a sua personalidade perdurou integra apds varios milénios. 81 Capitulo VII A MORTE E O MORRER "E pois um gato, Simias, neto~ mou Sécrates, que os verdadeinos fie 2080608 Se preparan para monrer e que ees S40, de todos 04 homens, aquetes que menos medo t8m da monte" (Platao, Dédlogos, “Fédon", Xtt, 68) NO LEITO DE MORTE Em 1926, um fisico do "Royal College of Science, em Dublin, Irlanda, Sir William Fletch- er Barrett, (1845-1926), publicou um trabalho de- nominado Death-Bed Visions (Visdes no Leito-de- Morte).Este pequeno livro informava acerca dos ca sos observados por médicos e enfermeiras, de paci entes em estado pré-agénico ou agénico, os quais eventualmente declaravam estar presenciando vi- sdes de parentes j4 falecidos, paisagens e se- res desconhecidos. Os casos mais marcantes para W, Barrett eram aqueles que revelavam contactos visuais com parentes ja mortos, relatados pelos moribundos ainda liicidos e conscientes de seu am- biente ffsico. Em muitos desses casos, 0 objetivo principal dos visitantes ja falecidos consistia em buscar os pacientes para conduzi-los a um pla- no de existéncia post-mortem. Outro fato digno de Nota era o contraste entre o aspecto das visGdes e aquilo que normalmente o moribundo deveria aguar- dar; por exemplo, a visaéo de uma pessoa que 0 pa- 83 ciente julgava estar viva, mas que na realidade ja houvera falecido antes. Do mesmo modo, as Vi soes nem sempre correspondiam ao esteredtipo em acordo com as crencas Culturais; por exemplo, criancas que avistavam “anjos" sem asas. (BAR~ RET. W.F. — Death-Bed Visions, London:Methuen, 6). Entre 1959 e 1960, o parapsicélogo a- mericano, Dr. Karlis Osis, inspirando-se nos trabalhos de William F. Barrett, levou a efeito um projeto piloto, no sentido de explorar essa area de investigacgées. Os resultados do projeto piloto foram publicados pela “Parapsychology Foundation Incorporation" sob forma de monogra- fia: Deathbed Observations by Physicians and Nuxses, by Karlis Osis, 1961. 0 sucesso e as impressionantes revela gdes do projeto piloto estimularam o Dr. Karlis Osis a empreender um trabalho ainda maior, en- volvendo desta feita duas culturas quase diame tralmente opostas: os Estados Unidos e a Indiay Esta investigacdo foi conduzida nos Estados U- nidos, entre 1961 e 1964, abrangendo New York, New Jersey, Connecticut, Rhode e Pennsylvania. A segunda pesquisa levou-se a efeito no Norte da India entre 1972 e 1973. Pequenos ajustamentos foram pratica- dos nds questionarios basicos, concernentes as variantes culturais entre os dois paises. No questiondrio inicial o pessoal médico foi inqui rido acerca de suas observagdes a respeito do seguinte: "1, Alucinagées de figuras humanas ex perimentadas por (a) pacientes terminais (os que ndo se recuperaram), e (b) por paetentes ndo-terminates (aqueles que estiveram prdztmos da morte mas se recuperaram). 2, Aluctnagdes de etreunvizinhangas (patsagens, ete.) expertmentadas por (a) pacten tes terminats e (b) por pacientes ndo-termina 84 is, 3. Ntvel de disposigao de animo (siibt- ta alteragao do humor para a exaltagdo ou a se~ rentdade) em pactentes terminais,"(OSIS, K. and HARALDSSON, E. — "Deathbed Observations by Phy- sicians and Nurses: A Cross-Cultural Survey" , The Journal of the American Society for Psychical Research, Vol. 71, N® 3, July 1977, p. 241). Além desses itens basicos, os questio- narios continham outros itens relacionados com as caracteristicas das aparigées, fatores médi cos, demograficos, psicolégicos, culturais, re= ligiosos e de crencga em uma vida apés a morte. Nos EE. UU. foram _remetidos aleatoria- mente pelo correio questionarios a 2.500 médi- cos e a 2,500 enfermeiras. Foram recebidas 1.004 respostas. Na India a distribuicao dos questiona rios fez-se pessoalmente, e as respostas recebi- das somaram um total de 704. Além disso, levaram -se a efeito entrevistas por telefone com os que deram respostas importantes. Na India, tais en- trevistas foram pessoais, A avaliagéo dos dados realizou-se apés codificacio e analise em computador electronico. Os valores obtidos foram submetidos 4 apuracao estatistica, usando-se o método do qui-quadrado, com critério de significancia p = 0.05. Os resultados finais levaram a conclu- sdes extremamente importantes. Vamos resumi-las a seguir, assinalando apenas os dados de maior relevancia para os fins deste livro. Para isso, vamos transcrever um trecho do "abstract" do ci- tado trabalho de K, Osis e E, Haraldsson: "hs prineipate descobertas da pesquisa piloto foram eonfirmadas no presente Levantamen- to em ambas as culturas. Novamente, quatro quin- tos das aparigdes eram 'relactonadas com a so- brevivéneta'; teto é,elas retratavam pessoas fa- lecidas e figuras veligiosas. Isso esta em fran- eo contraste com as aluetnagdes de uma populagdo 85 eee normal. Trés dentre quatro aparigées foram senté das como tendo vindo a fim de levar embora os mo rtbundoe para uma forma de existéneta post-mor tem, com o que 72% deles consentiram. A matorta dos pacientes respondeu com serenidade, paz e entustasmo (41%) em lugar de emogoes negativas (29%), a esse ostenstvo convite para morrer". (Opus cit. p. 237). Finalmente, o minucioso e extenso rela tério termina com estas palavras: "As tendénctas centrais dos dados a- pdtam a hipdtese da pds-vida, como fot formulada no modelo que delineamos brevemente no inieto deste trabalho", (Opus cit. p. 258). Os momentos terminais da_ existéncia nao parecem tao dolorosos assim. Esta claro que se excluem, aqui, os sintomas das moléstias ou as dores de ferimentos, o mal-estar da perda de energias, etc. que precedem a agonia. Referimo- nos, portanto, a transicao da vida para a morte. Nesse limiar devem ocorrer, simultaneamente, a cessacdo dos sintomas fisicos incomodativos e o inicio do contacto com um outro plano existen- cial, ou uma mudancga de estado de consciéncia. Como diz a Dra. E. Kubler-Ross: "A monte pode ser dolorosa, morrer, propriamente, nao 6". : OS QUE VAO E VOLTAM PARA CONTAR E comum ouvir dizer que os que vao(mor rem) nao voltam mais para contar como Eo lado de 14. Isso nao € tao verdadeiro assim, pois ha iniimeros registros de casos de pessoas que sofre ram morte clinica — ou_ent&o foram dadas por mortas —e retornaram a vida novamente, trazen- do na meméria a lembranga desse momento extremo. Referimo-nos aqui apenas aos fatos registrados. Possivelmente, um numero considerdvel de casos 86 semelhantes deve ter ocorrido e continua a ocor- rer,sem haver logrado o devido registro. __ Recentemente, vem sendo dada maior _a- tencao a esse aspecto tao importante da existén- cia humana. Era estranho que os homens se prepa- rassem téo ansiosamente para as demais situacoes de vida e, no entanto, se descuidassem tanto da morte e do morrer. Nao seria, porventura, muito mais importante um adequado preparo para a mor- te? Ao que parece, ninguém até agora escapou, e ninguém escapard ao supremo momento em que deixa ra de viver. De Jato, j4 comegaram a surgir investi- gadores, médicos e psiquiatras que se estao in- teressando por este problema. Das suas observa- gées nos leitos-de-morte, principiaram a emergir informagdes impressionantes acerca do transe fi- nal, bem como a efetuar-se registros sistemati- cos das experiéncias vividas pelos que vio e voltam para contar. Além do Dr. Karlis Osis e do Dr. Erlendur Haraldsson, assinala-se um crescen te numero de investigadores que vém cuidando do problema da morte e do morrer. Os dois mais popu lares e conhecidos sao a Dra. Elisabeth Kubler= Ross e o Dr. Raymond A. Moody Jr., dos quais ja ha obras traduzidas para _o portugués. Em seus trabalhos eles relatam varios casos de experi- @ncias reais de pessoas declaradas clinicamente mortas ou de outras que, apds violento trauma, fi caram em prolongado estado de choque e dadas por falecidas. Tais pacientes foram reanimados e pu- deram descrever o que viram ou sentiram durante o perfodo em que estiveram inanimados. Possivelmente, 0 caso mais antigo _re- gistrado, de "morte com retorno", éo episddio de Er, filho de Arménio e originario da Panfi lia, Este caso foi relatado por Plat&o (Republi ca, livro X, pp. 614-620). Notam-se muitas se- meihangas entre os episddios ali descritos e as experiéncias atualmente reportadas pelos investi gadores modernos. Naturalmente devem levar-se em 87 een conta as diferengas oriundas dos padrdes cultura- is das duas @pocas. Maior semelhanga nota-se ainda, com as descrigdes encontradas nas obras do Espirito An- dré Luiz, psicografadas por Chico Xavier, parti- cularmente no livro Lébentacgéo. Neste caso a descrigao do mundo post-mortem foi feita por um Espirito, e sua validade poderia ser contestada por aqueles que ainda questionam a realidade da sobrevivéncia e a possibilidade da comunicacao dos desencarnados. Nao intencionamos impor, a quem quer que seja, qualquer espécie de convic- cdo. Entretanto reafirmamos tranqlilamente que as evidéncias experimentais e observacionais a favor dessa crenca sao muito abundantes e ponde- raveis. Desse modo, crer ou nao crer em tal pos- sibilidade ja pode éstar na dependéncia de achar- se bem ou mal informado acerca do avanco das pes- quisas cientificas realizadas também nesse cam- po de investigagdo. N&o nos parece mais tratar- se de uma questao de posicdo doutrinaria, e mui- to menos de uma questao de bom-senso. Daqui por diante, serao os fatos e nao apenas as opinices pessoais que deverdo pesar na avaliagao das con- clusdes acerca da sobrevivéncia. O problema que esta comegando a ser a- . gora encarado pelos modernos parapsicdlogos e ou- tros pensadores € o da natureza dos estados post- mortem. Notamos que os atuais debates se deslocam para a area de cogitacdes a respeito da forma sob a qual a personalidade poderia sobreviver apés a passagem da vida para a morte. — Sera que a per- sonalidade se manteria a mesma? Qual seria a sua forma de identificagado? Qual seria o seu esta- do de consciéncia? A nogao do Eu sofreria alguma modificacio profunda? Qual o ambiente em que per- maneceriam estocadas tais personalidades? Como seria o aspecto ecolégico dessas supostas regi- des? E depois, qual o destino ou a finalidade des sa pos-vida? a debatidos modernamente nos meios onde se faz pesquisa séria em torno da morte e da sobrevivéncia. 88

Вам также может понравиться