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UNlVERSlDADE lEDERAl DE VlNAS GERAlS
RElTOR Clólio Campolina Diniz
VlCE-RElTORA Rocksano do Carvalho Norton
EDlTORA UlVG
DlRETOR Wandor Volo Viranda
VlCE-DlRETOR Rolorto Aloxandro do Carmo Said
CONSElHO EDlTORlAl
Wandor Volo Viranda tprosidonto)
Antonio luiz Pinho Riloiro
llavio do lomos Carsalado
Holoisa Varia Vurgol Starling
Várcio Gomos Soaros
Varia das Graças Santa Bárlara
Varia Holona Damascono o Silva Vogalo
Rolorto Aloxandro do Carmo Said
J E S S Ë SOUZ A
COl A B OR A DOR E S
Br and Ar onar i !Dj ami l l a Ol i vór i o
Emor s on Rocha ! lalr í ci o Vaci ol
lol i po Caval cant o Bar los a ! Vár ci o Sá
Var i a do lour dos Vodoi r os
Ri car do Vi s s or ! Rolor t o Tor r os
Tálat a Bor g
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MCV⇧ ✏⌥⇧⇥⇥↵ ⇣⌘Dl⇧ C✓ MCV⇧ ✏⌥⇧⇥⇥↵ ⌃⌦⇧⌅⇧⌥H⇧DC⌦⇧◆
2` odição rovista o ampliada
Bolo Horizonto
Editora UlVG
2012
© 2010, Jossó Souza
© 2010, Editora UlVG
© 2012, 2` od. rov. o ampl.
Esto livro ou parto dolo não podo sor roproduzido por gualguor moio som autorização
oscrita do Editor.
Elalorada pola DlTTl - Sotor do Tratamonto da lntormação
Billiotoca Univorsitária da UlVG
DlRETORA DA COlE(AO Holoisa Varia Vurgol Starling
COORDENA(AO EDlTORlAl Danivia Wolt
ASSlSTÊNClA EDlTORlAl Eliano Sousa o Euclídia Vacodo
COORDENA(AO DE TEXTOS Varia do Carmo loito Riloiro
PREPARA(AO DE TEXTOS Varia do Rosário A. Poroira o Vichol Gannam
REVlSAO DE PROVAs Danivia Woltt, Nathalia Campos o Simono lorroira
COORDENA(AO GRAllCA Cássio Riloiro
PROJETO GRAllCO Glória Campos - Maugá
lORVATA(AO, VONTAGEV DE CAPA E PRODU(AO GRAllCA Diôgo Olivoira
EDlTORA UlVG
Av. Antonio Carlos, 6.62¯ - CAD ll Bloco lll
Campus Pampulha - 312¯0-901 - Bolo HorizontoVG
Tol.: +55 t31) 3409-4650 lax: + 55 t31) 3409-4¯68
vvv.oditora.utmg.lr oditora4utmg.lr
S¯29l
Souza, Jossó.
Os latalhadoros lrasiloiros : nova classo módia ou nova classo
tralalhadora? 2. od rov. o ampl. Jossó Souza , colaloradoros Brand
Aronari... |ot al.}. - Bolo Horizonto : Editora UlVG, 2012.
404 p. - tHumanitas)

lnclui lilliogratia.
lSBN: 9¯8-85-¯041-921-¯



1. Classo módia - Brasil. 2. Classos sociais - Brasil. 3. Brasil -
Aspoctos sociais. l. Aronari, Brand. ll. Título. lll. Sório.

CDD: 305.55981
CDU: 316.343-58.13t81)
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A posguisa guo dou origom a osto livro toi roalizada om todas
as grandos rogiòos lrasiloiras graças ao apoio do CGEE tContro do
Gostão o Estudos Estratógicos), organização social suporvisionada
polo Vinistório da Ciôncia o Tocnologia, o da lapomig tlundação
do Apoio à Posguisa do Estado do Vinas Gorais), atravós do projoto
Pronox EDT 464 o polo projoto PPV 31909, o do CNPg tConsolho
Nacional do Dosonvolvimonto Ciontítico o Tocnológico), atravós do
projoto 4¯23812008-3. Nosso agradocimonto maior, no ontanto,
dirigo-so a Rolorto Vangaloira Ungor, ontão ministro oxtraordinário
do assuntos ostratógicos, guo toi o principal ostimulador dosto ostudo.
Dosdo o momonto om guo nos porguntamos acorca do
nossa sociodado t...) não podomos doixar do porcolor guo as
tormas do classiticação são tormas do dominação, a sociologia
do conhocimonto ó insoparávol do uma sociologia do roconhoci-
monto o do dosprozo, ou soja, do uma sociologia da dominação
simlólica.
1:~::~ 1·u:u:~u
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PRElAClO 09
R·ü~:ì · Maugaü~: :a ¹ug~:
lNTRODU(AO
UVA NOVA ClASSE TRABAlHADORA BRASllElRA? 19
I
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P↵⌦⌫l⇥ D↵ ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ⌅⌦⇧⇥l⌥↵l⌦C⇥
CAPlTUlO 1
A lORVAllDADE PRECARlA
Os latalhadoros do tolomarkoting 61
CAPlTUlO 2
O BATAlHADOR lElRANTE E SUA ADVlNlSTRA(AO 85
CAPlTUlO 3
BATAlHADORES EVPREENDEDORES RURAlS
Unidado tamiliar, unidado produtiva 105
CAPlTUlO 4
O BATAlHADOR E SUA lAVlllA 123
CAPlTUlO 5
BATAlHADORES lElRANTES
O Vor-o-Poso do Bolóm o a loira do Caruaru 149
CAPlTUlO 6
BATAlHADORES E RAClSVO 1¯3
2
P ⇧ ⌦ ⌃ ↵
⇧ ↵✏CMC⇣l⇧ PC⌥⇠⌃l✏⇧ DC ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦
CAPlTUlO ¯
POPUllSVO OU VEDO DA VAlORlA?
Como transtormar om tolico as razòos da massa 199
CAPlTUlO 8
ENTRE A GlORlllCA(AO DO OPRlVlDO E
A lEGlTlVA(AO DA OPRESSAO, HA UVA AlTERNATlVA? 25¯
CAPlTUlO 9
AS ESTRUTURAS SOClAlS DO VlCROCRËDlTO 269
¸
P ⇧ ⌦ ⌃ ↵
⇧ ⌦↵⌥lGl⇡C DC ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦
CAPlTUlO 10
OS BATAlHADORES E O PENTECOSTAllSVO
Um oncontro ontro classo o roligião 311
CONClUSAO
O ElO ORGÂNlCO ENTRE PATRlVONlAllSVO
E RAClSVO DE ClASSE
A nova classo módia no discurso liloralconsorvador 349
POSlAClO 369
{ ~: : ~ S·uza
NOTAS 3¯5
RElERÊNClAS 393
SOBRE OS COlABORADORES 403
P ⌦ ↵ ⌫ Á ✏ l C
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⇧ ⌃⌦⇧M⇥⌫C⌦⇣⇧⇢⇡C DC ⌅⌦⇧⇥l⌥
A pullicação do ·: üaìaIIau·:~:, do Jossó Souza, marca um
avanço no ontondimonto guo o Brasil tom do si mosmo. Ao mosmo
tompo, ajuda a apontar rumo para o ponsamonto social lrasiloiro.
Um dos acontocimontos mais importantos no Brasil das ultimas
dócadas ó o surgimonto, ao lado da classo módia tradicional, do
uma sogunda classo módia. Vorona, vinda do laixo, rotratária a
sontir-so um podaço do Atlântico norto dosgarrado no Atlântico
sul, ossa nova classo módia compòo-so do milhòos do possoas
guo lutam para alrir ou para mantor poguonos omproondimontos
ou para avançar dontro do omprosas constituídas, guo ostudam
à noito, guo so tiliam a novas igrojas o a novas associaçòos, o guo
ompunham uma cultura do autoajuda o do iniciativa. Quaso dos-
conhocida das olitos do podor, do dinhoiro o da cultura, já ostão
no comando do imaginário popular. Roprosontam o horizonto
guo a maioria do nosso povo guor soguir.
A rovolução lrasiloira hojo soria o Estado usar sous podoros
o rocursos para pormitir à maioria do povo lrasiloiro trilhar o
caminho dossa vanguarda do omorgontos. Para consogui-lo, poróm,
soria prociso tazor o guo raramonto tizomos om nossa história
nacional: roconstruir as instituiçòos, inclusivo as instituiçòos guo
organizam a oconomia do morcado o a domocracia política. Só
ossa roconstrução institucional alriria caminho para a ostratógia
nacional do dosonvolvimonto tundada om domocratização do
oportunidados para aprondor, para tralalhar o para produzir.
10
Dolaixo dossa classo módia omorgonto o do numoro rola-
tivamonto poguono do assalariados rolativamonto ostávois o guali-
ticados, há uma massa do tralalhadoros polros guo, om outra
olra, Jossó Souza chamou a raló lrasiloira - vítima ainda do
incapacitaçòos o do iniliçòos guo não so limitam à talta do
oportunidados oconomicas. lncluom os onus guo rosultam do
tamílias dosostruturadas, tipicamonto conduzidas por uma mão
sozinha, guo tom do comlinar o tralalho ocasional ou instávol
com a luta para rosguardar os tilhos, comunidados dosorganizadas,
guo não consoguom, portanto, tazor as vozos das tamílias dostal-
cadas, o cronças guo naturalizam o sontimonto do impotôncia,
rosignação o tuga. Para muitos momlros dossa raló, a vida paroco
lloguoada.
Dontro da raló lrasiloira, surgo, poróm, surproondontomonto, um
grupo guo so soorguo. Saídos do mosmo moio polro o constran-
godor, alraçados com os mosmos olstáculos ontrontados por sous
paros do Brasil polro, ossos rosistontos lovantam-so. Comumonto,
tôm mais do um omprogo. Podom, por oxomplo, tralalhar como
taxinoiros duranto o dia o vigias à noito. lutam, ativamonto, com
onorgia o ongonho, para oscapar da raló o ontrar no rol da poguona
lurguosia omproondodora o omorgonto. Exilom gualidados guo
Euclidos da Cunha atriluía aos sortanojos. Existom, tamlóm, aos
milhòos, solrotudo nas partos mais polros do país. São olos, os
latalhadoros, o toma dosto livro.
A roalidado dos latalhadoros o da nova classo módia a guo
so guorom juntar não so dosvonda aponas à luz do amliçòos
matoriais. Entro olos, como om tantos outros aspoctos da vida das
sociodados contomporânoas, rossoa a idoia guo há tompos sacodo
a humanidado, tanto om torma socular como om torma sagrada:
a idoia da participação do cada homom o do cada mulhor nos
atrilutos guo os crontos idontiticam om Dous o a osporança do
aumontar a parto guo lhos calo nossos atrilutos. Não so trata aponas
do assogurar corto grau do prosporidado o do indopondôncia.
Trata-so, tamlóm, do construir uma suljotividado donsa, digna
da vida rotratada na cultura romântica popular o mundial. Junto
com o projoto da domocratização das sociodados, roprosontada
historicamonto polas doutrinas do liloralismo o do socialismo, tal
cultura roprosonta uma das duas grandos torças rovolucionárias
no mundo do hojo. Para ontondor guom são o o guo guorom os
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latalhadoros, ó prociso aprociar a variodado das manitostaçòos,
o a protundidado do alcanco dossas duas torças.
A prosonça dos latalhadoros na vida do país tom implicaçòos
para a política social, para a transtormação do nossa sociodado
o para o ponsamonto social, no Brasil o no mundo.
Todos guorom guo os programas sociais do transtorôncia,
como o Bolsa lamília, ganhom olomontos do capacitação. Não
so rostringo ossa aspiração a nós lrasiloiros, ó aspiração guo so
ditundo por toda a parto. Nossa lusca, o oguívoco mais comum
guo so comoto ó dirocionar os programas do capacitação priori-
tariamonto para o nucloo duro da polroza: a raló do Jossó Souza.
Diticilmonto, consoguom os momlros da raló lonoticiar-so do
tais programas. As incapacitaçòos sociais o as iniliçòos culturais
intorvôm para larrar a porta do saída¨. Antos do so podorom
lonoticiar do tais programas, procisam guo o Estado atuo para
ostimular a auto- -organização comunitária. Procisam guo o Estado
so associo, por moio do corpo próprio do agontos, com as comu-
nidados organizadas para apoiar as tamílias dosostruturadas o, ató
mosmo, para assumir parto das rosponsalilidados.
Tal avanço não podo sor aponas inovação om matória do política
social. Tom do sor, tamlóm, avanço om matória do todoralismo.
Exigo a cooporação ontro as trôs instâncias da todoração. E oxom-
plitica a sulstituição, guo procisamos oporar, do todoralismo
constituído - guo distrilui rigidamonto podoros o rosponsalili-
dados, ontro ostas instâncias - por um todoralismo cooporativo
- guo associo União, ostados o municípios om açòos conjuntas o
om oxporimontos compartilhados.
São os latalhadoros os primoiros lonoticiários potonciais dos
projotos do capacitação o do ampliação do oportunidados.
Vostraram guo so podom rosgatar porguo já comoçaram a
rosgatar-so por conta própria. Nisso, como om muito, podom
sorvir como o olo guo nos taltava idontiticar ontro a raló o a
poguona lurguosia omproondodora. Dovom sor os primoiros
dostinatários das iniciativas do capacitação não por uma lógica
do caridado tom guo o critório ó guom sotro mais), sonão por
uma lógica do oticácia transtormadora tpara a gual o critório ó
guom podo mais).
A oxistôncia dos latalhadoros importa, tamlóm, para a prática
da política transtormadora. Erro capital da osguorda, solrotudo
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da osguorda ouropoia, nos dois sóculos antorioros, toi idontiticar
a poguona lurguosia como advorsária inovitávol. Hostilizada, voio
ossa poguona lurguosia sorvir do sustontáculo dos movimontos
do diroita mais podorosos do sóculo XX. Hojo no mundo, ontro-
tanto, há mais poguono-lurguosos, o incomparavolmonto mais
aspirantos a condição poguono-lurguosa, do guo gonto guo caila
no tigurino novocontista do prolotariado industrial.
Por trás do oguívoco ostratógico, havia, o há, um ongano
toórico. Ao contrário do guo imaginou o marxismo, não há uma
lógica oljotiva do intorossos do classo guo so claroio à modida
guo so agravo o guo so amplio o contlito social o idoológico. Polo
contrário, à modida guo o contlito so aprotunda o so ostondo, os
intorossos do grupo pordom sua aparôncia mondaz do contoudo
oljotivo. O contoudo dos intorossos so torna insoparávol da doti-
nição dos próximos passos, do possívol adjaconto, na roconstrução
da ordom ostalolocida.
A dotinição o a dotosa dos intorossos do uma classo, ou do
gualguor grupo, sompro podom dosdolrar-so om duas diroçòos
divorgontos. Podo soguir por moios guo são institucionalmonto
consorvadoros o socialmonto oxcludontos to nicho guo o grupo
- por oxomplo, dotorminado sogmonto do tralalhadoros - ocupa
sorá acoito como o cadinho om guo so torjam os intorossos do
grupo). E os grupos vizinhos - os sogmontos da torça do tralalho
mais próximos tpor oxomplo, os tralalhadoros torcoirizados ou
tomporários om rolação ao corpo pormanonto do tralalhadoros)
- sorão vistos o tratados como rivais o amoaças.
A dotinição o a dotosa dos intorossos do grupo podo, contudo,
sompro soguir por moios guo são institucionalmonto transtorma-
doros o socialmonto includontos. Alraça-so uma ostratógia do
transtormação, ainda guo tragmontária o gradualista, da ordom
oxistonto. Tal ostratógia pormito vor os grupos vizinhos como aliados
ató guo so construa com olos a laso para uma convorgôncia mais
protunda do intorossos o do idontidados colotivos. Por oxomplo,
os oporários organizados da industria intonsiva om capital so podom
aliar aos tralalhadoros torcoirizados o tomporários para dotondor
altornativa do política industrial.
Assim tamlóm ocorro com rospoito aos latalhadoros, ou à
sogunda classo módia, no Brasil. Sou dostino político não ostá
dotinido. No Brasil, como om gualguor outro lugar, tudo dopondo
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das altornativas, solrotudo das altornativas institucionais. Nada
condona osta nova classo módia, ou os latalhadoros como aspi-
rantos a so incorporarom a ola, a ostarom vidrados nas tormas
convoncionais do ansoio poguono-lurguôs: a poguona proprio-
dado urlana ou rural o o poguono omproondimonto tamiliar. Vas
são ossas as tormas guo provalocom por talta do outras.
Tratomos do providonciar ossas outras. Para tazô-lo, ó prociso
inovar na organização dos morcados. Podomos imaginar guo ossa
roconstrução avançaria om guatro passos.
O primoiro passo ó a rovisão da política industrial. Ela toria por
principal dostinatário a parto mais importanto do nossa oconomia:
as poguonas o módias omprosas. E assumiria como tarotas
principais a ampliação dos acossos ao cródito, à tocnologia, ao
conhocimonto o às práticas produtivas vanguardistas, lom como
a ditusão dos oxporimontos locais oxitosos.
Com isso, ajudaria a criar um dínamo do croscimonto oco-
nomico socialmonto includonto. E ajudaria tamlóm a assogurar
condiçòos para um modolo industrial ditoronto daguolo guo toi
o corno do sistoma industrial instalado no Sudosto do Brasil om
moados do sóculo passado: a produção om grando oscala do
lons o sorviços padronizados, por moio do maguinária o pro-
cossos produtivos rígidos, mão do olra aponas rolativamonto
gualiticada o rolaçòos do tralalho muito hiorárguicas o ospo-
cializadas. Ë o lordismo industrial.
O Brasil todo não procisa transtormar-so na São Paulo do
moados do sóculo passado para dopois podor virar algo dito-
ronto. lora dos contros industriais do país, não lasta acolorar a
passagom rumo a um modolo industrial guo atonuo o contrasto
ontro suporvisão o oxocução, rolativizo as ospocializaçòos, com-
lino concorrôncia com cooporação o transtormo a produção om
inovação pormanonto. Ë prociso - o possívol - organizar uma
travossia dirota do pró-lordismo para o pós-lordismo, som guo o
país todo tonha do passar polo purgatório do lordismo industrial.
Os latalhadoros o a poguona lurguosia omproondodora soriam
os primoiros lonoticiários dossa construção.
O sogundo passo ó a ronovação dos acortos institucionais
guo organizam a rolação ontro govornos o omprosas. Não há
por guo oscolhor ontro o modolo amoricano do um Estado guo
rogula as omprosas à distância o o modolo do nordosto asiático:
a tormulação do política industrial o comorcial unitária, imposta
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do cima para laixo pola lurocracia do Estado. Há uma torcoira
opção: coordonação ostratógica ontro govornos o omprosas guo
soja doscontralizada, pluralista, participativa o oxporimontal.
O torcoiro passo ó o surgimonto, a partir dossa associação ontro
o pullico o o privado, do rogimos altornativos do propriodado
privada o social. Tais rogimos passariam a convivor oxporimon-
talmonto dontro da mosma ordom oconomica, com maior ou
monor provalôncia, do acordo com as caractorísticas do cada
sotor. A oconomia do morcado doixaria do ostar tixada om uma
unica varianto. A lilordado para comlinar tatoros do produção
soria radicalizada como lilordado para inovar nos componontos
do rogimo jurídico da produção o da circulação do lons o sor-
viços. As novas variantos do morcado - o, portanto, do diroito
do propriodado o do olrigaçòos - dariam à doscontralização da
iniciativa tormas guo não so cingissom à poguona propriodado o
ao omproondimonto tamiliar.
O guarto passo - mais longínguo - ó o avanço rumo a dois
oljotivos ontrolaçados guo gozarão do autoridado crosconto
no mundo so a humanidado guisor ongrandocor-so. Um dossos
oljotivos ó a suporação, ainda guo tragmontária o gradual, do
tralalho assalariado como torma prodominanto do tralalho livro.
Os lilorais o os socialistas do sóculo XlX sompro ontondoram o
guo nós osguocomos: guo o tralalho assalariado ó uma torma
importoita do tralalho livro. Carroga ainda a mácula da sorvidão
o da oscravidão. Só a comlinação das outras duas tormas do
tralalho livro - o autoomprogo o a cooporação -, do manoira
guo pormita agrogar rocursos o alcançar oscala, dá oticácia ao
idoal do tralalho livro.
O outro oljotivo ó assogurar guo no tuturo ninguóm tonha
do tazor o guo uma máguina possa oxocutar. Tudo o guo
aprondomos a ropotir podomos oxprossar om tórmulas. E tudo o
guo oxprossamos om tórmulas podomos oncarnar num aparolho
mocânico. As máguinas oxistom para guo as possoas não tonham
do tralalhar como olas. Existom para guo possamos dodicar nosso
rocurso supromo to tompo) aponas àguilo guo ainda não salomos
ropotir. Com isso, voltamo-nos para a criação do novo.
A trajotória domarcada por ossos guatro passos ó a radicalização
daguilo guo ó mais podoroso nos sonhos dos omorgontos o dos
latalhadoros. Ë a construção cumulativa da convorgôncia ontro
suas amliçòos o os intorossos da humanidado.
15
As implicaçòos das idoias o das doscolortas oxpostas nosto
livro não so limitam ao dosdolramonto das políticas sociais o ao
contoudo do uma altornativa nacional domocratizanto o transtor-
madora. Tocam, tamlóm, um onigma motodológico nas ciôncias
sociais. E ajudam a suscitar um dolato a rospoito da vocação do
ponsamonto social lrasiloiro.
A tradição das ciôncias sociais construída a partir do Vontosguiou
prossupòo a guaso irrolovância das caractorísticas dos indivíduos.
Valom as dotorminaçòos, as práticas o as rogras colotivas. A torça
dossa oriontação ó tal guo ola so impòo mosmo nas vortontos da
ciôncia social guo alraçam o individualismo motodológico. Entro
olas tigura a linha da tooria oconomica guo ganhou ascondôncia
dosdo o marginalismo do tinais do sóculo dozonovo o dopois,
om moados do sóculo vinto, voio a so corporiticar na chamada
síntoso nooclássica.
Qualguor possoa guo atua no mundo o lida com sous somo-
lhantos salo guo as coisas não são assim. Divido-so a humanidado
om tomporamontos, não aponas om classos, otnias o idoologias.
Nas mosmas circunstâncias, dianto do constrangimontos o do
oportunidados análogas, possoas saídas do mosmo moio roagom
do torma dramaticamonto divorgonto. Alguns tazom muito com
pouco, outros, pouco, com muito. Os dovotos das dotorminaçòos
colotivas protorom acroditar guo no tinal das contas tudo podoria
sor oxplicado som guo nós tivóssomos guo proocupar com o aviso
dos grogos: carátor ó dostino.
Essa rotloxão vom a título da história dos latalhadoros. Saom
do mosmo moio dos outros, guo compòom a raló lrasiloira do
Jossó Souza. Entrontam a mosma carôncia do oportunidados
oconomicas o oducativas. Vuitos são tilhos das mosmas tamílias
dosostruturadas guo prodominam na massa polro do país. Por
alguma comlinação do vontado individual, do graça dada por
outra possoa - uma mão, um amigo ou ató um ostranho -, o ató
do sorto, roagiram. loram à luta.
Não há motivo agui para cololraçòos morais. Há razão para
comproondor guo não so dosvonda a roalidado dos tralalhadoros
som admitir havor mais no mundo do guo calo om nossa vã
tilosotia. Não são, poróm, horoísmos anomalos guo tizoram
os latalhadoros. Os atos do rosistôncia individual ropotiram-so
milhòos do vozos. E produziram um tonomono guo há do altorar
nosso ontondimonto do guo o Brasil ó do guo olo podo vir a sor.
16
O mosmo princípio - guo as dotorminaçòos o os constrangi-
montos admitom rospostas ditorontos - ropoto-so no plano das
oxplicaçòos colotivas. Ao ropotir-so, indica a tarota do ponsamonto
lrasiloiro na próxima otapa do nossa história.
O traço dominanto das idoias sociais no Brasil sompro toi
an·: Jaì: - o amor do dostino. Hojo o amor do dostino aparoco
om nossa vida intoloctual do duas manoiras aparontomonto
antagonicas, poróm om vordado aliadas.
Uma das duas vozos guo talam mais alto no ponsamonto social
lrasiloiro ó o do um noomarxismo oncolhido o acalrunhado.
Há muito tompo doixou-so do acroditar guo podomos nos aliar à
História, amiga, para mudar o mundo. Do idoário Varxista, rotovo
um tatalismo dostalcado. Atrai-lho as doutrinas guo oxplicam a
tatalidado do nosso atraso, dada a irrosistívol corrolação do torças
no mundo: ongronagom modonha o supostamonto inoscapávol.
Não lho improssionam os contrastos ontro as oxporiôncias dos
grandos paísos continontais om dosonvolvimonto, a lraços com
a mosma ordom mundial.
A outra voz - só aparontomonto contrastanto - ó a das ciôncias
sociais concolidas o praticadas no tigurino da acadomia dos
Estados Unidos. Dossas ciôncias, a guo do longo dosomponha
intluôncia maior ó a oconomia, manojada, como as outras, para
dar coros do naturalidado, do autoridado o, ató mosmo, do nocos-
sidado aos arranjos institucionais dos paísos do Atlântico norto,
guo nos acostumamos a tomar por rotorôncia.
Caso à parto ontro as ciôncias sociais ó o da antropologia,
cuja vortonto principal no Brasil, como om tudo o mundo, tom
sido o dotorminismo cultural o a disposição do tratar as culturas,
tossilizadas, como os protagonistas da história humana. Por trás
dossa vonoração polos ídolos da cultura, ostão a toologia da
imanôncia to guo há do sagrado no mundo ostá oncarnado nostos
ontos culturais colotivos) o a pragmática da suticiôncia ttralalho
o transtormo o mundo só ató o momonto do adguirir o lastanto
para vivor como ostá halituado, dopois, doscanso). Pola tronto,
há a cruoldado travostida do lonovolôncia: o sacritício dos povos
o, solrotudo, dos indivíduos indígonas no altar das suporstiçòos
antililortárias do culturalismo.
As duas vozos - a do noomarxismo o a das ciôncias sociais
soguostradas polo ospírito da mistiticação racionalizadora
- juntaram-so no Brasil para ontoar o coro do tatalismo.

Dosmoroco-so, como voluntarismo jacolino, tudo o guo dostoo
dosso coro. Na vordado, as tondôncias construtivistas guo so
atirmaram na história das idoias no Brasil como vortonto minori-
tária tpor oxomplo, por moio do positivismo ropullicano) sompro
toram aponas o rovorso da mosma modalha do racionalização
tatalista.
Para docitrar o Brasil o contriluir ao ponsamonto mundial,
tomos do rompor com tudo isso. Nossa proocupação contral no
ponsamonto dovo sor atirmar o vínculo ontro o ontondimonto do
oxistonto o a imaginação do possívol. Por isso mosmo, há atinidado
natural ontro a imaginação programática o transtormadora, o a
intorprotação da roalidado social o histórica. Diroito o oconomia
são as duas disciplinas da imaginação institucional. Procisam das
luzos do uma sociologia guo protoro ontondor a roalidado a so
ajoolhar dianto dola. O caso dos latalhadoros ó, para o omlato
das idoias no Brasil, um chamamonto às armas.
R·ü~:ì· Maugaü~::a ¹ug~:
Junho do 2010
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O QUE Ë UVA ClASSE SOClAl?
Porcolor mudanças sociais, políticas o oconomicas protundas,
no contoxto do uma ópoca om transição, ó o maior dosatio do
ponsamonto crítico. lsso acontoco porguo as catogorias o os
concoitos guo todos nós nos acostumamos a usar, para ponsar
um mundo guo so transtorma tão rapidamonto, não o oxplicam
mais. Ao mosmo tompo, não tomos ainda os concoitos o as idoias
novas nocossárias para ponsar o roalmonto novo¨ nosso mundo
om olulição. Esso tato tica solojamonto claro guando talamos,
por oxomplo, no mundo do nooliloralismo¨, soja do ponto do
vista do sous dotonsoros, soja por parto do sous críticos. O olsor-
vador atonto cortamonto porcolo guo todos talam como so o
mundo intoiro tivosso so moditicado sol uma nova loi social¨
guo constrangosso a todos. Vas o guo ninguóm diz ó o como¨,
oxatamonto, o mundo toria so moditicado.
Em outras palavras, o guo nunca ó oxplicitado ó como osso
suposto novo mundo nooliloral¨ so torna om carno o osso¨
humano do todo dia, transtormando o cotidiano, as omoçòos,
os sontimontos, os sonhos o as osporanças das possoas comuns.
Porguo ó aponas guando as mudanças ganham a alma¨ o o
corpo¨ do homons o mulhoros comuns guo ostamos lidando
vordadoiramonto com mudanças ototivas da sociodado, da política
o da oconomia. O guo importa, portanto, ó ponotrar no drama¨
humano o cotidiano guo produz sotrimonto, doros, alogrias o
osporança. A sociologia podo o dovo tazor isso do modo claro o
comproonsívol a gualguor possoa do loa vontado com disposição
do aprondor. Vas o guo vomos são analistas talando lom ou mal
do novo mundo¨, utilizando-so do catogorias o idoias do mundo
20
volho. lsso ó vordado, no Brasil, tanto om rolação aos intoloctuais,
políticos o tormadoros do opinião guo atirmam¨ o mundo oxistonto
como tsompro) o molhor mundo possívol, guanto om rolação à
maioria dos intoloctuais, políticos o tormadoros do opinião guo
criticam¨ o, supostamonto, protondom moditicar o mundo para
molhor¨.
Todas as sociodados tôm os sous prototas da loa vontura¨
- guo Vax Wolor porcolia dosdo o judaísmo antigo, os guais
vondom o mundo guo ototivamonto oxisto como o molhor dos
mundos possívois -, o olos são, numa sociodado protundamonto
consorvadora o dosigual como a lrasiloira, a imonsa maioria. A
maró¨ ostá sompro do lado dossos atirmadoros do mundo, posto
guo todos os intorossos guo ostão ganhando¨ so rogozijam com
osso tipo do logitimação dos ospocialistas¨. Como os intorossos
guo ostão ganhando são os guo mandam no mundo - sonão não
soriam os dominantos -, são ossos prototas da atirmação guo
ostão talando todo dia nos grandos jornais da grando impronsa
lrasiloira o nos canais do TV.
O guo olos dizom? Elos dizom guo a nova classo do omorgontos¨
lrasiloiros guo ajudaram a mudar a oconomia o a sociodado
lrasiloira roconto mostra o triunto do morcado tnoo)liloralizado
o dosrogulado dosdo guo o Estado corrupto o politiguoiro não
atrapalho.
1
Atinal, os consorvadoros do Brasil, ao contrário dos
consorvadoros do outros paísos, gostam do tirar onda¨ do críticos.
O toma do patrimonialismo o da crítica da corrupção guo soria
aponas do Estado sorvo, atinal, aponas para guo a consorvação do
mosmo - a roprodução da sociodado amosguinhada à roprodução
do morcado - tonha a aparôncia do crítica. Quom ó ossa nova
classo do omorgontos? São, polo monos, 30 milhòos do lrasiloiros
guo adontraram o morcado do consumo por ostorço próprio, os
guais são o molhor oxomplo da nova autocontiança¨ lrasiloira
dontro o tora do Brasil. Vas não aponas isso. Elos soriam uma nova
classo módia¨, guo ostá transtormando o Brasil no país modorno
o do primoiro mundo¨ guo toi o ó o maior sonho colotivo do
sou povo dosdo a indopondôncia política om 1822. Dizor guo os
omorgontos¨ são a nova classo módia¨ ó uma torma do dizor, na
vordado, guo o Brasil, tinalmonto, ostá so tornando uma Alomanha,
uma lrança ou uns Estados Unidos, ondo as classos módias¨, o
não os polros, os tralalhadoros o os oxcluídos, como na poritoria
do capitalismo, tormam o tundamonto da ostrutura social.
21
Nossa posguisa ompírica o toórica domonstrou guo isso ó
montira. Vas as montiras¨ da idoologia o da violôncia simlólica
dominanto não são simplos montiras, o sim moias-vordados¨.
Elas são tamlóm vordado porguo do algum modo so rotorom a
mudanças roais. São montira, por outro lado, porguo ossas mudanças
roais são todas intorprotadas do modo distorcido, som contlitos o
som contradiçòos. Sua tunção não ó osclarocor o guo acontoco,
mas rotorçar o domínio do novo tipo do capitalismo guo tomou
o Brasil o o corpo o a alma do toda a sua população. lntorprotar
o mundo como rosa¨ ó dizor guo olo ó o molhor - o na vordado o
unico - dos mundos possívois o ridicularizar gualguor crítica.
Com isso naturaliza-so a sociodado tal como ola so aprosonta o
so constrói a violôncia simlólica nocossária para sua roprodução
intinita.
Vas os porigos das visòos distorcidas do mundo não vôm
aponas da diroita¨ - ponsada agui como acoitação acrítica do
mundo como olo ó. Boa parto dos porigos para uma adoguada
porcopção do Brasil modorno om mudança tão acolorada advóm
do uma osguorda¨ - guo so protondo crítica do mundo como
olo ó - onvolhocida o algumas vozos mais consorvadora guo os
intoloctuais orgânicos da nova dominação do capitalismo tinan-
coiro no Brasil. Ë agui, atinal, ondo oncontramos, muito troguon-
tomonto, o apogo a noçòos do um passado guo não volta mais,
comlinado com a lamuria o o narcisismo intantil típico do toda
ótica da convicção¨, a gual , como nos onsina Vax Wolor, so
rocusa a acoitar o, principalmonto, guo so rocusa a conhocor a
roalidado como ola ó.
O guo, na vordado, ó comum, tanto ao liloralismo oconomi-
cista dominanto guanto ao marxismo onrijocido dominado, ó o
tato do guo amlos são cogos om rolação à vordadoira novidado¨
do mundo novo no gual vivomos som comproondô-lo adoguada-
monto. Como sompro, a coguoira social tom a vor, na roalidado,
com a coguoira om rolação à porcopção das classos sociais guo
compòom o ostruturam a roalidado. Gostaria do dotondor agui
uma toso simplos o clara: sompro guo não so porcolom a cons-
trução o a dinâmica das classos sociais na roalidado tomos, om
todos os casos, distorção da roalidado vivida o violôncia simlólica,
guo oncolro dominação o oprossão injusta. A razão para guo
isso acontoça tamlóm ó simplos. Como ó o portoncimonto às
classos sociais guo prodotormina todo o acosso privilogiado a
22
todos os lons o rocursos oscassos guo são o tulcro da vida do
todos nós 24 horas por dia, oncolrir a oxistôncia das classos ó
oncolrir tamlóm o nucloo mosmo guo pormito a roprodução o
logitimação do todo tipo do privilógio injusto.
O guo complica a situação ó guo as montiras sociais são, como
vimos, sompro moias-vordados¨, do contrário olas não convonco-
riam ninguóm. Assim, ninguóm noga¨, na vordado, guo oxistam
classos sociais. Em um país tão dosigual como o Brasil isso soria
um disparato. O guo o liloralismo oconomicista dominanto taz ó
dizor¨ guo oxistom classos o nogar, no mosmo movimonto, a sua
oxistôncia ao vincular classo à ronda. Ë isso guo taz com guo os
lilorais digam guo os omorgontos¨ são uma nova classo módia¨
por sor um ostrato com rolativo podor do consumo. O marxismo
onrijocido não porcolo tamlóm as novas roalidados do classo
porguo as vinculam ao lugar oconomico na produção o, ongano
mais importanto o docisivo ainda, a uma consciôncia do classo¨
guo soria produto dosso lugar oconomico.
Emlora a rodução oconomicista soja comum a amlas as posi-
çòos, as consoguôncias são distintas. O ponto comum ó guo não so
porcolo a gônoso sociocultural das classos.
2
O sogrodo¨ mais
lom guardado do toda sociodado ó guo os indivíduos são pro-
duzidos ditoroncialmonto¨ por uma cultura do classo¨ ospocítica.
Quando so tala do lrasiloiro¨ om goral, do jovom¨, da mulhor¨,
do carátor nacional¨, do joitinho lrasiloiro¨ otc., ó para so dar a
improssão do guo o lrasiloiro¨, o jovom¨, ou a mulhor¨ da classo
módia, por oxomplo, toria algo a vor, ainda guo romotamonto,
com o lrasiloiro das classos laixas. Quando os grandos jornais
consorvadoros do Brasil talam guo o jovom¨ lrasiloiro ontro 14
o 25 anos costuma morror do arma do togo, olos, na vordado,
oscondom o distorcom o principal: guo 99/ dossos jovons são do
uma unica classo, a raló¨ do oxcluídos lrasiloiros. Quando so tala
guo a mulhor lrasiloira¨ ostá ocupando ospaços importantos o
valorizados no morcado do tralalho, o guo so osguoco¨ do dizor
ó guo 99/ dossas mulhoros são das classos módia o alta.
O oconomicismo liloral, assim como o marxismo tradicional,
porcolo a roalidado das classos sociais aponas oconomicamonto¨,
no primoiro caso como produto da ronda¨ ditoroncial dos indi-
víduos, o, no sogundo caso, como lugar na produção¨. lsso
oguivalo a oscondor todos os tatoros o procondiçòos sociais,
omocionais, morais o culturais guo constituom a ronda ditoroncial,
23
contundindo, ao tim o ao calo, causa o otoito. Escondor os tatoros
não oconomicos da dosigualdado ó, do tato, tornar invisívol
as duas guostòos guo pormitom ototivamonto comproondor¨ o
tonomono da dosigualdado social: a sua gônoso o a sua ropro-
dução no tompo.
Como as idoias dos intoloctuais - dosdo guo ostojam associadas
a intorossos oconomicos o políticos importantos - não ticam
aponas nos livros, mas ganham o sonso comum compartilhado
polas possoas guo não são ospocialistas no tuncionamonto do
algo tão comploxo como a sociodado modorna, ossa visão supor-
ticial das classos sociais atingo o ospaço pullico, domina o
coloniza tudo guo so ponsa solro a nossa vida colotiva. Assim,
normalmonto, aponas a horança matorial, ponsada om tormos
oconomicos do transtorôncia do propriodado o dinhoiro, ó porco-
lida por todos. lmagina-so guo a classo social¨, sous privilógios
positivos o nogativos dopondondo do caso, so transtoro às novas
goraçòos por moio do oljotos matoriais o palpávois ou, no caso
dos nogativamonto privilogiados, pola ausôncia dostos.
Ondo rosido, no raciocínio acima, a coguoira da porcopção
oconomicista, soja liloral, soja marxista, do mundo? Rosido om
litoralmonto não vor o mais importanto, guo ó a transtorôncia do
valoros imatoriais na roprodução das classos sociais o do sous
privilógios no tompo. Rosido om não porcolor guo mosmo nas
classos altas, guo monopolizam o podor oconomico, os tilhos só
torão a mosma vida privilogiada dos pais so hordarom tamlóm o
ostilo do vida¨, a naturalidado¨ para so comportar om rouniòos
sociais, o guo ó aprondido dosdo tonra idado na própria casa
com amigos o visitas dos pais, so aprondorom o guo ó do lom
tom¨, so aprondorom a não sorom ovor¨ na domonstração do
riguoza como os novos ricos o omorgontos otc. Algum capital
cultural ó tamlóm nocossário para não so contundir com o rico
lronco¨, guo não ó lovado a sório por sous paros, ainda guo
osso capital cultural soja, muito troguontomonto, moro adorno
o culto das aparôncias, signiticando conhocimonto do vinhos,
roupas, locais in¨ om cidados charmosas¨ da Europa ou dos
Estados Unidos otc. Esso aprondizado signitica guo aponas¨ o
dinhoiro onguanto tal não contoro, a guom o possui, aguilo guo
distinguo¨ o rico dontro os ricos. Ë a horança imatorial, mosmo
nossos casos do traçòos do classos om guo a riguoza matorial ó
o tundamonto do todo privilógio, na vordado, guo vai pormitir
24
casamontos vantajosos, amizados duradouras o acosso a rolaçòos
sociais privilogiadas guo irão pormitir a roprodução ampliada do
próprio capital matorial.
Na classo módia a coguoira da visão rodutoramonto ocono-
micista do mundo ó ainda mais visívol. Essa classo social, ao
contrário da classo alta, so roproduz pola transmissão atotiva,
invisívol, imporcoptívol porguo cotidiana o dontro do univorso
privado da casa, das procondiçòos guo irão pormitir aos tilhos
dossa classo compotir, com chancos do sucosso, na aguisição o
roprodução do capital cultural. O tilho ou tilha da classo módia
so acostuma, dosdo tonra idado, a vor o pai londo jornal, a mão
londo um romanco, o tio talando inglôs tluonto, o irmão mais
volho onsinando os sogrodos do computador lrincando com
jogos. O procosso do idontiticação atotiva - imitar aguilo ou a
guom so ama - so dá do modo natural¨ o pró-rotloxivo¨, som a
modiação da consciôncia, como guom rospira ou anda, o ó isso
guo o torna tanto invisívol guanto oxtromamonto oticaz como
logitimação do privilógio. Aposar do invisívol, osso procosso do
idontiticação omocional o atotiva já onvolvo uma oxtraordinária
vantagom na compotição social, soja na oscola, soja no morcado
do tralalho, om rolação às classos dostavorocidas. Atinal,
tanto a oscola guanto o morcado do tralalho irão prossupor a
in-corporação¨ tlitoralmonto tornar corpo¨, ou soja, natural o
automático) das mosmas disposiçòos para o aprondizado o para
a concontração o disciplina guo são aprondidos¨, polos tilhos
dossas classos privilogiadas, ainda guo com grando ostorço, por
idontiticação atotiva com os pais o sou círculo social.
Essa horança da classo módia, imatorial por oxcolôncia, ó
complotamonto invisívol para a visão oconomicista dominanto
do mundo. Tanto guo a visão oconomicista univorsaliza¨ os
prossupostos da classo módia para todas as classos intorioros¨,
como so as condiçòos do vida dossas classos tossom as mosmas.
Esso osguocimonto¨ do social - ou soja, do procosso do socia-
lização tamiliar, guo ó ditoronto om cada classo social - pormito
dizor guo o guo importa ó o mórito¨ individual. Como todas
as procondiçòos sociais, omocionais, morais o oconomicas guo
pormitom criar o indivíduo produtivo o compotitivo om todas
as ostoras da vida simplosmonto não são porcolidas, o tracasso
dos indivíduos das classos não privilogiadas podo sor porcolido
como culpa¨ individual. As raízos tamiliaros da roprodução do
25
privilógio do classo o o alandono social o político socular do
classos sociais intoiras, cotidianamonto oxorcido pola sociodado
como um todo om todas as suas práticas institucionais o sociais,
são tornadas invisívois para propiciar a loa consciôncia do
privilógio¨ oconomico tdas classos altas) ou cultural tdas classos
módias) o torná-lo logítimo.
Para so comproondor por guo oxistom classos positivamonto
privilogiadas, por um lado, o classos nogativamonto privilogiadas,
por outro, ó nocossário porcolor como os capitais impossoais¨
guo constituom toda hiorarguia social o pormitom a roprodução
da sociodado modorna, o capital cultural o o capital oconomico,
são tamlóm ditoroncialmonto apropriados. O capital cultural, sol
a torma do conhocimonto tócnico o oscolar, ó tundamontal para
a roprodução tanto do morcado guanto do Estado modornos.
Ë ossa circunstância guo torna as classos módias, constituídas
historicamonto pola apropriação ditoroncial do capital cultural,
uma das classos dominantos dosso tipo do sociodado. A classo alta
so caractoriza pola apropriação, om grando parto, pola horança
do sanguo, do capital oconomico, ainda guo alguma porção do
capital cultural ostoja sompro prosonto.
O procosso do modornização lrasiloiro constitui não aponas
as novas classos sociais modornas guo so apropriam ditoroncial-
monto dos capitais cultural o oconomico. Elo constitui tamlóm
uma classo intoira do indivíduos não só som capital cultural nom
oconomico om gualguor modida signiticativa, mas dosprovida,
~::~ ~ · a:j~cì· Juuuan~uìaI, das procondiçòos sociais, morais o
culturais guo pormitom ossa apropriação. Ë ossa classo social guo
dosignamos, om livro antorior a osto, do raló¨ ostrutural, não para
otondor¨ ossas possoas já tão sotridas o humilhadas, mas para
chamar a atonção, provocativamonto, para nosso maior contlito
social o político: o alandono social o político, consontido por
toda a sociodado¨, do toda uma classo do indivíduos procari-
zados¨ guo so roproduz há goraçòos onguanto tal. Essa classo
social ó sompro osguocida como classo com gônoso o dostino
comum, o só ó porcolida no dolato pullico como um conjunto
do indivíduos¨ carontos ou porigosos, tratados tragmontariamonto
por tomas do discussão suporticiais, dado guo nunca chogam
soguor a nomoar o prolloma roal, tal como violôncia, sogurança
pullica, prolloma da oscola pullica, carôncia da saudo pullica,
comlato à tomo otc.
26
A nossa atual posguisa, aprosontada nosto livro, ó solro uma
classo social nova o modorna, produto das transtormaçòos rocontos
do capitalismo mundial, guo so situa ontro a raló¨ o as classos
módia o alta. Ela ó uma classo incluída no sistoma oconomico,
como produtora do lons o sorviços valorizados, ou como consu-
midora crosconto do lons durávois o sorviços guo antos oram
privilógio das classos módia o alta. Vas como as classos sociais
não podom sor dotinidas - como vimos acima o voromos no
docorror do todo osto livro - aponas pola ronda o polo padrão
do consumo, mas, antos do tudo, por um ostilo do vida o uma
visão do mundo prática¨, guo so torna corpo o moro rotloxo,
mora disposição para o comportamonto, guo ó om grando modida
pró-rotloxivo ou inconscionto¨, tomos guo ostudá-la ompírica o
tooricamonto para dotinir sou lugar prociso.
Por razòos guo ticarão claras no docorror da loitura dosto livro,
nossa toso ó guo os omorgontos guo dinamizaram o capitalismo
lrasiloiro na ultima dócada constituom aguilo guo gostaríamos do
donominar como nova classo tralalhadora lrasiloira¨. Essa classo
ó nova¨ posto guo rosultado do mudanças sociais protundas guo
acompanharam a instauração do uma nova torma do capitalismo
no Brasil o no mundo. Esso capitalismo ó novo¨ porguo tanto sua
torma do produzir morcadorias o gorir o tralalho vivo guanto sou
ospírito¨ são novos o um vordadoiro dosatio à comproonsão.
O CAPlTAllSVO E SEU ESPlRlTO
O capitalismo, tato porcolido polos sous molhoros olsorva-
doros, do Vax Wolor a luc Boltansky, procisa do um ospírito¨
guo justitiguo o logitimo a atividado oconomica. Essa nocossidado
ó comproonsívol, acima do tudo, guando porcolomos guo o capi-
talismo modorno ó halitado por uma irracionalidado tundamontal:
ó a primoira torma do produção oconomica na história guo ostá
dosvinculada do uma rolação dirota com nocossidados humanas,
ou com valoros do uso¨, como diria Karl Varx. A dotinição
mais alstrata do capitalismo onvolvo a idoia do uma acumulação
ilimitada do capital como um tim om si mosmo. Em si osso tim
ó irracional¨, posto guo o capital, como o próprio dinhoiro, ó
aponas um moio do satistação do dosojos o nocossidados humanas,
o não um tim om si. Como so justitica, ou soja, como so torna

racional¨ uma atividado instrumontal¨, som rolação com tins o
valoros humanos?
Ë procisamonto ossa nocossidado do tornar acoitávol, oxpli-
cávol, justiticávol o logítima uma atividado irracional¨ guo torna
um ospírito¨ coisa tão indisponsávol ao capitalismo modorno. E,
ototivamonto, o capitalismo sompro tovo um ospírito¨, ainda guo
sompro implícito o inarticulado, tormado do modo a pormitir a
ilusão do guo a atividado oconomica havia so lilortado do gualguor
torma do logitimação moral. Esto toi o ó, aliás, o sogrodo mais
lom guardado do tuncionamonto do capitalismo duranto toda
sua história: aparocor como uma atividado oconomica pura¨,
dosvinculada o indopondonto do limitos o do justiticaçòos morais,
guando, na vordado, alguma torma do justiticação moral lho ó
indisponsávol. Quanto mais implícita, invisívol o opaca ossa
justiticação tor, molhor ola cumpro sua tunção. Vais ainda, a
logitimação moral tom guo aparocor como algo natural, intrínsoco
à oconomia o sou tuncionamonto, o guo, procisamonto, pormito
tornar opaco o dado moral ~.ì:aoconomico.
A oxplicação para isso ó simplos. Podo-so olrigar as possoas
a irom ao lugar do tralalho o, so houvor controlo o vigilância
constantos to guo onvolvo custos croscontos), podo-so olrigá-las
a roalizarom sou tralalho porguo nocossitam do salário para
aplacar a tomo. Vas isso soria pouco. Como gualguor sistoma
do dominação oticionto o guo protondo so roproduzir no tompo,
o capitalismo nocossita so logitimar, ou soja, tazor com guo as
possoas acroditom no guo tazom o guo, so possívol, so omponhom
o máximo possívol naguilo guo tazom. O sucosso do capitalismo
não podo soguor sor comproondido som o tralalho do logitimação
próvio no sontido do ganhar a loa vontado, a adosão ativa o o
compromotimonto do sous participantos.
Na tormulação voloriana original, guo guor comproondor,
antos do tudo, o tipo ospocítico do justiticação social o moral guo
pormitiu a consolidação simlólica do novo sistoma oconomico,
ossa logitimação moral ainda ó om grando parto roligiosamonto
motivada. A roligião ainda ó a ostora produtora do sontido¨
guo monopoliza toda justiticação possívol do condução do vida
prática. Tanto a atividado omprosarial guanto o tralalho passam
a sor comproondidos como uma vocação, ou soja, como um
chamado roligioso o divino, para roalizar por moio da atividado
oconomica racionalizada o disciplinada o dosojo o a glória divina
28
na Torra. Agui, a nocossidado oxtorna do justiticação moral ainda
ó ólvia o clara.
3
Com a guoda do prostígio das justiticaçòos roligiosas, como
Wolor já havia porcolido, ontra om cona o procosso do trans-
tormação da oconomia, com a ajuda docidida da ciôncia o da
tilosotia, om ostora tsupostamonto) amoral¨, como so a oconomia
houvosso so lilortado do gualguor nocossidado oxtorna do
justiticação da atividado oconomica porcolida como acumulação
indotinida no tompo, como um tim om si. Na vordado, a própria
dotinição da oconomia onguanto ostora autonoma, indopondonto
do gualguor justiticativa idoológica o moral, toi um procosso histórico
lonto guo contou com a ajuda das justiticaçòos logitimadas polo
discurso ciontítico o tilosótico, como o antropólogo trancôs louis
Dumont domonstra solojamonto.
4
Na roalidado, a dosconstrução da justiticativa roligiosa pormito a
associação, por dolaixo do pano, da idoia moral do lom comum¨
como algo intrínsoco à própria atividado oconomica capitalista nos
tormos do utilitarismo. A justiticação moral do capitalismo passa a
so vincular à noção do lom-ostar goral dotinida como produto do
progrosso matorial. Ë, atinal, osso vínculo ontro progrosso matorial
o lom-ostar goral guo ostá implícita na dotinição do PlB como
símlolo máximo do progrosso matorial o do lom-ostar do uma
sociodado. A nação¨ passa a sor porcolida nos tormos do uma
omprosa¨ capitalista.
5
Esso tipo do associação ó procisamonto o
guo ó nocossário para naturalizar a argumontação simlólica da
atividado oconomica no capitalismo o, do corto modo, produzir
uma justiticação moral tão ampla, tão ólvia o tão indiscutívol guo
a oconomia possa sor porcolida, ao tim o ao calo, como hojo
om dia, como noutra¨ om tormos morais.
Na vordado, tanto a ciôncia como todas as tormas do justi-
ticação guo gozam do alto prostígio na ostora pullica sompro
insistiram na moralidado inata¨ do comportamonto oconomico
no capitalismo. O próprio Wolor talava do capitalismo modorno
como uma modoração do impulso do ganho, ou soja, como
contonção o autocontrolo, o como controlo do corpo o do suas
paixòos polo ospírito¨, a concopção ocidontal por oxcolôncia do
virtudo. Tamlóm a corrupção - porcolida como vantagom indo-
vida num contoxto do prosumida igualdado - ó rologada, muitas
vozos, para a taso solvagom¨ da acumulação primitiva, como so
o capitalismo maduro não so utilizasso, sompro guo possívol o
29
sompro guo os rosultados componsom, do todos os moios para
so oltor o maior lucro possívol. A ultima criso intornacional
aponas doixou osso tato, mais uma voz, claro como a luz do sol
ao moio-dia para guom tonha olhos o guoira vor. Quo já tonhamos
nos osguocido¨ das causas da criso roconto aponas nos lomlra
guão sólida ó a atual justiticação do capitalismo contomporânoo
dominado polo capitalismo tinancoiro.
Ë, no ontanto, aponas porcolondo a comlinação dossos tatoros
matoriais o simlólicos guo podomos comproondor a univorsalização
da oconomia capitalista como principal instância roguladora o
coordonadora das açòos sociais no mundo modorno. A claroza
com rolação a osso ponto ó tundamontal para toda a nossa argu-
montação nosso livro, pois a guostão contral ó, procisamonto,
tontar porcolor om ato¨, no instanto om guo ostá acontocondo,
a dinâmica do capitalismo contomporânoo lrasiloiro. Essa dinâmica,
ao contrário do todo o discurso logitimador guo omana da própria
ostora oconomica, não ó aponas matorial, tócnica, racional, ou,
para dizor tudo om uma unica palavra, não ó noutra om rolação
a valoros sulstantivos. Vuito polo contrário, o procosso do
acumulação só acontoco por moio do uma violôncia simlólica
ospocítica, a gual possililita guo a logitimação moral o política
do capitalismo ocorra por moio do um procosso amlíguo do
oxprossãoroprossão oconomica do contoudo político o moral
guo lho ó inoronto. Em uma palavra: o capitalismo só so logitima
o so mantóm no tompo por moio do um ospírito¨ guo justitiguo
o procosso do acumulação do capital.
Esso ospírito¨ - um conjunto do idoias o valoros guo pormito
contorir sontido¨ a uma atividado oconomica vivida como procosso
alstrato do acumulação intinita - ó tão mais oticionto guão mais
inarticulada o implícita tor a sua monsagom moral¨. Como vimos,
a atividado oconomica no capitalismo vivo da aparôncia do
autonomia o indopondôncia om rolação às outras ostoras sociais,
muito ospocialmonto das ostoras do valor¨. Nosso sontido, o pro-
cosso do acumulação do capital não so justitica om si mosmo, o
porcolor sou nucloo simlólico om cada contoxto histórico implica
roconstruir suas tormas do logitimação tornadas invisívois.
Essa talvoz soja a idoia mais intorossanto da olra do luc
Boltansky o Evo Chiapollo, · u·:· ~:j:::ì· u· caj:ìaI::n·.
6
Nosso
livro sominal para a comproonsão do capitalismo contomporânoo,
os autoros avançam duas idoias do importância tundamontal para
30
nossos intorossos no prosonto tralalho: primoiro, a idoia do guo
o capitalismo só solrovivo so assimilar, nos sous próprios tormos,
sous inimigos om cada ópoca histórica, sogundo, a idoia do guo
o capitalismo contomporânoo, conhocido como nooliloral¨,
assimila o roconstrói um tipo muito poculiar do capitalismo
oxprossivo¨.
A primoira idoia ó tundamontal, uma voz guo pormito oxplicar
não só a pormanôncia do capitalismo como sistoma social o
político dominanto no planota nos ultimos 200 anos, mas tamlóm
sou atual prostígio o torça inóditos om toda a sua história. A
construção do um ospírito¨ do capitalismo ó um dosomponho
pragmático, o não primariamonto movido por considoraçòos do
coorôncia do tipo do justiticação. O capitalismo não oscolho¨
sou sontido o logitimação om cada ópoca histórica, mas o campo
do luta ó dotinido por sous inimigos. Assim sondo, o capitalismo
tom guo assimilar as idoias guo dostrutom do prostígio o podor
do porsuasão om cada ópoca, muito ospocialmonto as guo lho
são hostis o mais porigosas. O capitalismo não constrói novas
idoias, mas, antos do tudo, moliliza as construçòos simlólicas
já oxistontos o guo dostrutam do alta ponotração social om cada
contoxto, contorindo-lhos um sontido novo guo pormita adaptá-las
às oxigôncias da acumulação do capital.
Ë ossa capacidado do transtormação o do antropotagia¨ guo
pormito o oxplica tanto a solrovivôncia histórica guanto o vigor
do capitalismo ao lograr tormas do compromisso o convorgôncia
com sous divorsos inimigos históricos. Ë isso, tamlóm, atinal,
guo pormito guo o procosso do acumulação oconomica assuma
a aparôncia do gonoralidado o univorsalidado como so roalizasso
princípios óticos univorsais. Ë dosso modo guo o procosso do
acumulação pormito llindá-lo¨ contra sous inimigos o solropor-
-so às críticas anticapitalistas om torno da noção do justo o injusto.
A loitura do Boltansky do procosso do logitimação simlólica do
capitalismo nos tormos do uma justiticação simlólica implícita
guo so rotoro a noçòos do lom comum ó intorossanto porguo
pormito tanto so atastar das vorsòos apologóticas, guo contundom
a roalidado matorial o simlólica o são cogas à roalidado das justiti-
caçòos implícitas o inarticuladas, guanto tamlóm so atastar do
tipo do crítica guo dosconhoco a dinâmica das justiticaçòos como
compromisso o luta, imaginando guo os intorossos oconomicos
possam so roalizar som poias o som limitos.
31
A in-corporação dossa dimonsão simlólica do luta por justi-
ticaçòos ó a unica manoira do so comproondor a capacidado do
ronovação histórica do capitalismo como rosultado contingonto
o alorto do uma luta guo implica assimilação - ainda guo nos
sous próprios tormos, ou soja, como torma do garantir o procosso
do acumulação intinita do capital - o rosistôncia das posiçòos do
sous inimigos históricos om cada contoxto ospocítico. O proço da
crítica ó a sua incorporação do modo a possililitar o procosso do
acumulação num patamar novo do justiticação normativa. Essa
porspoctiva ó rica o intorossanto porguo ó crítica do concopçòos
guo são cogas à dinâmica normativa tonsional intorna ao capita-
lismo como sistoma social total. lsso signitica tamlóm guo uma
crítica vigorosa ao capitalismo podo ajudar a rotormular sous
próprios padròos do justiça o logitimidado. O outro¨ do capita-
lismo não ostá aponas tora dolo, mas tamlóm podo sor gostado
no sou próprio intorior ao so prollomatizarom sous próprios
dispositivos do justiça om sous próprios princípios implícitos do
oguidado o do lom comum.
Porcolor a dimonsão simlólica do justiticação do capitalismo
oguivalo não aponas a ultrapassar a dimonsão ingônua guo porcolo
a atividado oconomica como noutra¨ om rolação a valoros, mas
tamlóm, o principalmonto, porcolor o próprio torrono da justi-
ticação do procosso do acumulação do capital como uma luta
om alorto¨ guo podo sor rotoita om gualguor tompo. Ainda guo
ossa luta oxija molilização política o ação colotiva organizada,
a dosconstrução concoitual da oconomia o do suas justiticaçòos
como algo natural, o não como algo construído socialmonto, ao
privilogiar positivamonto alguns o ostigmatizar outros, ó parto
importanto na luta simlólica por justiça social. Ë isso guo pro-
curaromos tazor nosto livro. Não nos intorossa uma condonação
glolal do novo tipo do capitalismo vigonto ontro nós, nom tamlóm
nos intorossa comprar¨ ingonuamonto o discurso dos voncodoros
solro si mosmos. Nosso oljotivo ó porcolor as amliguidados
constitutivas dossa nova taso do capitalismo mundial o lrasiloiro
o tontar comproondor o potoncial do chanco¨ o do mudança
possívol nosso contoxto ospocítico. Ë assim guo comproondomos
o dovor da sociologia o da ciôncia crítica no mundo modorno.
Não oxisto crítica social possívol som a articulação o a dramati-
zação do sotrimonto humano guo toi rologado ao silôncio polo
domínio da violôncia simlólica dos voncodoros. Quando a doxa¨
32
- discurso construído socialmonto naturalizado como autoo-
vidonto - dominanto ontro nós tala da produção do uma nova
classo módia¨ como rosultanto do procosso do dominação do
capitalismo tinancoiro, oxisto muita dor o sotrimonto silonciado. O
oljotivo agui ó a produção do uma vorsão apologótica do doson-
volvimonto capitalista lrasiloiro na diroção do uma sociodado do
primoiro mundo¨ - sonho nacional dosdo a indopondôncia - guo
so caractoriza procisamonto pola propondorância guantitativa o
gualitativa do uma classo módia pujanto, o não por uma maioria
do polros, como nos paísos do torcoiro mundo.
Por outro lado, articular osso sotrimonto o dor ospocíticos do
toda uma signiticativa porção da população lrasiloira ó tamlóm
so atastar do críticas gorais guo pouco ajudam o não oxplicam o
tipo sociodado nooliloral¨, om guo o apolo so ostiola na própria
acusação gonórica o alstrata som guo o conhocimonto da situação
social ototiva das possoas tonha gualguor ganho ou aporto intor-
protativo ototivo. Essa crítica concrota agui tom guo so movor no
tio da navalha da crítica da idoologia apologótica o da violôncia
simlólica guo apagam a dor o o sotrimonto o o roconhocimonto
das chancos possívois num contoxto do mudança irrovorsívol. Para
guo isso acontoça, ó nocossário tanto o osclarocimonto toórico
próvio guanto o tralalho ompírico do ouvir os agontos sociais om
guostão. loi isso guo procuramos tazor. lnicialmonto, portanto,
tomos guo nos inguirir acorca do com guo tipo do ator social
poculiar ostamos, na roalidado, lidando. So não ó razoávol talar
do uma classo módia, como argumontamos mais acima, do guo
classo social, atinal, ostamos tratando agui?
A rosposta a ossa guostão contral oxigo uma roconstrução
histórica próvia guo pormita porcolor o soparar a antiga da nova
classo tralalhadora do capitalismo modorno. Para isso, tomos guo
comproondor a taso do capitalismo imodiatamonto antorior à atual
para guo possamos porcolor o novo¨ no prosonto momonto do
dosonvolvimonto capitalista mundial o lrasiloiro. Aponas assim
podoromos dotorminar a mudança o a novidado da constituição
do uma nova classo social ontro nós.
33
A VElHA E A NOVA ClASSE TRABAlHADORA
A taso imodiatamonto antorior à dominação contomporânoa do
capitalismo tinancoiro ó conhocida como tordismo¨. O ano do
nascimonto simlólico do tordismo ó 1914, guando Honry lord,
dono da companhia do automóvois guo lova sou nomo, introduziu
a jornada do 8 horas do tralalho o o salário diário do 5 dólaros
t120 dólaros sogundo padròos atuais).
¯
Estava nascondo um tipo
do compromisso ontro os capitalistas o os tralalhadoros, no gual
o tralalho disciplinado, hiorárguico o ropotitivo nas tálricas ora
comprado¨ por lons salários, tompo para lazor o oportunidados
ototivas do consumo do lons durávois o contorto para a classo
tralalhadora amoricana. A novidado o a importância do tordismo
so oxplica, portanto, por um compromisso guo ultrapassava om
muito as parodos das tálricas.
O guo havia do ospocial om lord ora guo olo vislumlrava
uma nova manoira do porcolor a roprodução social capitalista
como um todo, a gual so tundamontava não aponas om tatoros
nogativos¨, como a roprossão aos sindicatos, a porsoguição às
organizaçòos oporárias autonomas ou o proilicionismo da loi
soca como torma do disciplinamonto da classo tralalhadora. lord
havia porcolido guo produção do massa - como a dos sous lord
modolo T - implicava tamlóm consumo do massa¨ guo só uma
classo tralalhadora atluonto o lom paga podia tornar roalidado.
Como Gramsci porcolou molhor o mais codo guo gualguor outro,
o guo ostava om jogo agui ora não aponas um novo sistoma do
roprodução da torça do tralalho, com uma nova gorôncia o um
novo modo do controlar a atividado produtiva, mas, tamlóm o
principalmonto, uma nova ostótica, uma nova psicologia o um
novo ostilo do vida om todas as dimonsòos.
8
O tator positivo do tordismo como um ospírito¨ ospocítico
do capitalismo na sua taso monopolista o do produção industrial
do massa rosidia, procisamonto, na oxpansão do mito amoricano
do progrosso o tolicidado individual - ainda guo às custas do
uma rodução da idoia do progrosso individual à idoia do consumo
- tamlóm às classos tralalhadoras. A guostão guo animou
vários ospíritos dosdo Somlart,
9
no sontido do oxplicar a rolativa
ausôncia do uma tradição socialista nos Estados Unidos, procisava
articular tanto o aspocto nogativo da dostruição sistomática
das organizaçòos autonomas do oporariado amoricano, como o
34
aspocto positivo da oxpansão do consumo a porçòos signiti-
cativas da classo tralalhadora amoricana.
A oxpansão do tordismo ao capitalismo ouropou - capitalismo ao
mosmo tompo monos vigoroso guo o amoricano o mais porpas-
sado por lutas do classo o torto tradição do luta oporária - só
soria roalidado a partir da Sogunda Guorra Vundial. A partir da
dócada do 1950, tomos om todos os grandos paísos ouropous a
comlinação caractorística do tordismo: rígido controlo o disciplina
do tralalho hiorárguico o ropotitivo, por um lado, o lons salários
o garantias sociais, por outro. Alóm disso, o podor corporativo
lasoado na inovação tocnológica o no alto invostimonto om
propaganda o markoting pormitiam oconomia do oscala o lucros
croscontos modianto padronização do produtos ostandardizados.
Tanto na Europa guanto nos Estados Unidos, no ontanto, o
tordismo sompro toi porpassado por contradiçòos. As lonossos
do tordismo prossupunham uma cisão ontro sotoros positiva o
nogativamonto privilogiados da própria classo tralalhadora. Os
altos salários oram rostritos aos sotoros chamados do monopo-
listas¨, grandos industrias guo so aprovoitavam da oconomia do
oscala da produção padronizada o podiam pagar lons salários
para tralalhadoros tortomonto organizados om sindicatos com
alto podor do prossão. A osso sotor positivamonto privilogiado
so contrapunha, no ontanto, todo um sotor chamado por alguns
do compotitivo¨,
10
com acosso rosidual ao oxcodonto glolal o
incapaz do pagar os mosmos salários o as mosmas vantagons
aos tralalhadoros. O tordismo, portanto, sompro implicou torças
sociais oxprossivas marginalizadas do compromisso do classos
dominantos.
Vas o trágil compromisso tordista ostava lasoado num oguilí-
lrio procário. Essa procariodado não rosidia aponas no compromisso
ontro duas classos historicamonto inimigas - atinal, os altos gastos
om controlo o vigilância do tralalho prossupunham guo a tálrica
continuava a sor, om grando modida, o torrono do uma guorra do
trinchoira ontro inimigos com intorossos opostos -, mas tamlóm
om condiçòos ospociais do trocas intornacionais dosiguais. Atinal,
tazia parto do compromisso tordista na dimonsão intornacional o
domínio militar amoricano om todo o mundo capitalista. Um dos
pilaros do domínio militar amoricano no mundo livro¨, por sua
voz, sompro toi - o ainda hojo ó - a manutonção do proços laixos
35
para matórias-primas ostratógicas, como o potróloo. Assim, a criso
do potróloo om 19¯3 - com a oxplosão dos proços do matórias-
-primas tundamontais - compromotou signiticamonto o oguilílrio
tordista om oscala mundial o roduziu croscontomonto a taxa do
lucro apropriávol solotivamonto.
11
Diticuldados tiscais para a manu-
tonção das garantias sociais guo so multiplicam om divorsos
paísos avançados do capitalismo, na dimonsão ostatal, por um
lado, alóm da já clássica diticuldado om controlar o disciplinar o
tralalho, lovando a lucros docroscontos o porda do produtividado,
na dimonsão omprosarial, por outro, ajudaram a tragilizar o
compromisso tordista.
Vas não oxistiram aponas causas oconomicas, sonão tamlóm
aspoctos políticos o culturais docisivos. Pouco antos, nos signiti-
cativos ontrontamontos contraculturais do 1968, om todo o mundo
capitalista avançado, sotoros marginalizados do tordismo o a
vanguarda política do uma juvontudo lom tormada, criada pola
oducação do massas do próprio compromisso tordista, já haviam
criticado do modo contundonto o mundo hiorarguizado o inoxpros-
sivo guo o tordismo havia construído o ditundido. A crítica à
hiorarguia o ao mundo convoncional o inoxprossivo sai do campo
oconomico o do horizonto aponas talril o so transtorma tamlóm
om crítica à hiorarguia política o social como um todo. Qualguor
guo soja a comlinação do tatoros onvolvidos o o poso ototivo do
cada um dolos na contiguração goral, tato ó guo a partir dos anos
do 19¯0, o com mais torça a partir dos anos do 1980, uma sório
do novos oxporimontos inicia-so do modo a garantir a volta das
taxas do lucro atraontos o a produzir uma rovolução nas rolaçòos
ontro o capital o o tralalho.
O dosatio da roorganização do capitalismo, a partir dos anos
do 1980 passa a tor, portanto, dois pilaros intorligados: transtormar
o procosso do acumulação do capital, do modo a voltar a garantir
taxas do lucro croscontos, o justiticar osso procosso do mudança
sogundo a somântica do oxprossivismo¨ o da lilordado individual
guo havia tincado tundamontos sólidos no imaginário social a
partir dos movimontos contraculturais dos anos do 1960 om todo
o mundo. Como vimos acima, o capitalismo só solrovivo so
ongolir¨ sou inimigo o transtormá-lo nos sous próprios tormos.
Essa antropotagia¨ ó sompro um dosatio - ou soja, ó um risco o
podo talhar - o roguor onormo coordonação do intorossos om todas
as ostoras sociais para voncor rosistôncias o criar um imaginário
36
social tavorávol, ou, om outros tormos, uma violôncia simlólica
lom construída o acoita por todos como autoovidonto.
O maior dosatio da roostruturação do capitalismo tinancoiro
o tloxívol toi, como não podia doixar do sor, uma complota
rodotinição das rolaçòos ontro o capital o o tralalho. Dosdo o
sou início, a história da industrialização no Ocidonto havia sido a
opopoia do uma luta do classos cotidiana om todas as tálricas, um
comlato latonto - o muitas vozos doclarado o manitosto - ontro a
dominação do capital atravós do sous mocanismos do controlo o
disciplina, por um lado, o a rololião dos tralalhadoros, por outro.
Vosmo om plono poríodo do compromisso do classos tordista¨,
tazia parto da tradição do luta dos tralalhadoros so porcolor como
um soldado do uma guorra do guorrilha¨ contra toda tontativa
do controlo o disciplina do tralalho julgada oxcossiva.
12
A uma
rotina do tralalho lasoada na modição milimótrica do tompos do
movimontos so contrapunha toda a criatividado dos tralalhadoros
om construir nichos socrotos do autonomia. Duranto os 200 anos
do hogomonia do capitalismo industrial no Ocidonto - muito
ospocialmonto duranto o compromisso do classos tordista¨ -,
a dominação do tralalho polo capital signiticou sompro custos
croscontos do controlo o vigilância.
Nosso sontido não ó do modo algum surproondonto guo a
nova torma talril guo ostava dostinada a sulstituir o tordismo
viosso, sintomaticamonto, do um país não ocidontal som gualguor
tradição importanto do luta do classos o do movimonto organizado
dos tralalhadoros no sontido ocidontal do tormo.
13
A grando
vantagom do toyotismo japonôs om rolação ao tordismo ocidontal
ora, procisamonto, a possililidado do oltor ganhos incomparávois
do produtividado graças ao patriotismo do tálrica¨, guo sulordi-
nava os tralalhadoros aos oljotivos da omprosa. A chamada loan
production¨ tprodução tloxívol) tundamontava-so procisamonto
na não nocossidado do possoal hiorárguico para o controlo o
disciplina do tralalho, pormitindo cortos sulstanciais dos custos
do produção o possililitando contar aponas com os tralalhadoros
dirotamonto produtivos.
A socular luta do classos dontro da tálrica, guo oxigia gastos
croscontos com controlo, vigilância o roprossão do tralalho,
aumontando os custos do produção o diminuindo a produtividado
do tralalho, dovoria sor sulstituída pola complota molilização
dos tralalhadoros om tavor do ongrandocimonto o maior lucro

possívol da omprosa. O guo ostá om jogo no capitalismo tloxívol¨
ó transtormar a rololdia socular da torça do tralalho om complota
olodiôncia ou, mais ainda, om ativa molilização total do oxór-
cito do soldados do capital. O toyotismo pós-tordista pormitia
não aponas cortar gastos com controlo o vigilância, mas, mais
importanto ainda, ganhar coraçòos o montos dos próprios tralalha-
doros. A adaptação ocidontal do toyotismo implicou cortar gastos
com controlo o vigilância om tavor do uma auto-organização
comunicativa¨ dos tralalhadoros atravós do rodos do tluxo
intorconoctados o doscontralizados.
A nova somântica oxprossiva¨ - o volho inimigo do 1968 agora
ongolido¨ o rodotinido antropotagicamonto¨ - sorvo para guo os
tralalhadoros porcolam a capitulação complota om rolação aos
intorossos do capital como uma roapropriação do tralalho, sonho
máximo do movimonto oporário ocidontal nos ultimos 200 anos,
polos próprios tralalhadoros. Na vordado, as domandas impostas
ao novo tralalhador ocidontal, guais sojam, oxprossar a si próprio
o a so comunicar, oscondom o tato do guo ossa comunicação o
oxprossão são complotamonto prodotorminadas no contoudo o
na torma. Transtormado om simplos olo ontro circuitos já consti-
tuídos do coditicação o do doscoditicação, cujo sontido total lho
oscapa, o tralalhador tloxívol¨ acoita a colonização do todas as
suas capacidados criativas om nomo do uma comunicação¨ guo
so roaliza om todas as suas vicissitudos oxtorioros, oxcotuando-so
sua caractorística principal do autonomia o ospontanoidado.
14
Como nota Andró Gorz, a vordado ó guo a caricatura do tralalho
oxprossivo do capitalismo tloxívol¨ só ó possívol porguo não
oxisto autonomia no mundo do tralalho so não oxistir tamlóm
autonomia cultural, moral o política no amlionto social maior. Ë
prociso solapar as lasos da ação militanto, do dolato livro o da
cultura da dissidôncia para roalizar som poias a ditadura do capital
solro o tralalho vivo. As novas omprosas da I~au j:·uucì:·u no
ocidonto protorom contratar mão do olra jovom, som passado
sindical, com cláusulas oxplícitas do guolra do contrato om caso
do grovo: om suma, o novo tralalhador dovo sor dosonraizado,
som idontidado do classo o som vínculos do portoncimonto à
sociodado maior. Ë osso tralalhador guo vai podor vor na omprosa
o lugar do produção do idontidado, do autoostima o do porton-
cimonto.
15
38
As moditicaçòos do capitalismo contomporânoo, a partir da
dócada do 19¯0, não toram automáticas nom ólvias para ninguóm.
Ao contrário, duranto toda ossa dócada os tilhos da rovolução
oxprossiva¨ dos anos do 1960 passaram om vários paísos a ocupar
postos-chavos como tormadoros do opinião o como tiguras contrais
da vida pullica dossas sociodados. Essa goração, a primoira a sor
produzida no contoxto do oducação pullica do gualidado para
amplos sotoros sociais - princípio guo so consolidou dopois da
Sogunda Guorra Vundial como sulproduto do próprio compro-
misso tordista - toi, ola própria, o suporto do uma crítica virulonta
à hotoronímia típica do tralalho tordista, assim como do rosto ao
corto hiorárguico do todas as instituiçòos capitalistas o lurguosas
dominantos nosso poríodo.
Essa rovolução simlólica¨ om vários paísos avançados, tondo
como suporto social ossa classo pós-matorialista¨, posguisada
ompiricamonto por ostudiosos como Ronald lnglohart,
16
contra-
punha-so a uma classo omorgonto do ongonhoiros, oxocutivos o
gorontos, guo ostavam so tornando cada voz mais importantos no
soio do procosso oconomico o produtivo. Ató moados dos anos
do 1980, o rosultado dossa luta simlólica ainda ostava om alorto.
O ponsador mais intluonto dosso poríodo, Jurgon Halormas,
inclusivo, imaginava um mundo muito ditoronto do guo ototiva-
monto ostava por vir. lmaginava a possililidado do so mantor o
comploxo morcadoEstado dontro do limitos lom dotinidos do
modo a possililitar o dosonvolvimonto das virtualidados do uma
razão comunicativa¨ ponsada como possililidado concrota proci-
samonto pola oxpansão do loa oducação para amplos sotoros.
Halormas roguontava a volha osporança iluminista do guo novos
potonciais do rotloxividado o possililidados do ação crítica podoriam
conduzir a uma sociodado capitalista do novo tipo.

O novo ospírito do capitalismo guo so consolidou a partir dos
anos do 1990 toi algo muito ditoronto. Tratava-so do uma carica-
tura portoita do sonho iluminista. Os novos gorontos, ongonhoiros
o oxocutivos so apropriaram nos sous próprios tormos - ou soja,
como sompro, os tormos da acumulação do capital - do pala-
vras do ordom como criatividado, ospontanoidado, lilordado,
indopondôncia, inovação, ousadia, lusca do novo otc. O guo
antos ora crítico do capitalismo so tornou atirmação do mosmo,
possililitando a colonização da nova somântica a sorviço da
acumulação do capital. Tomos agui um portoito oxomplo da toso
39
do Boltansky o Chiapollo acorca das virtualidados antropotágicas
do capitalismo om rolação aos sous inimigos.
Ao mosmo tompo - o osso ó o aspocto mais importanto
o docisivo nosso contoxto -, a luta simlólica para garantir a
roprodução continuada do capitalismo nunca ostá solucionada
ou ganha do uma voz por todas. Há sompro um compononto do
chanco¨, do mudança o do crítica, o gual ó disputado contoxtual-
monto om cada caso. A possililidado do mudança ostá omlutida
constitutivamonto no capitalismo por sua própria dopondôncia
do logitimação moral o ótica om tormos do justiça social. Ë por
conta disso guo a política o as lutas sociais jamais vão so oxtinguir
no capitalismo. A política podo ató sor silonciada om modida
considorávol, pormitindo à oconomia - ou soja, o princípio da
acumulação do capital porcolido como unica domanda social-
monto roconhocida o visívol - tazor a política¨ om sou próprio
nomo o om sou próprio intorosso.
Vas a luta¨ ostá sompro om alorto, dado guo a roalidado do
mundo podo sompro sor comparada, criticada o julgada tondo
como laso sua própria justiticativa o logitimação. A política sorvo
procisamonto para articular o sotrimonto osguocido¨, som
nomo nom autor, guo toi silonciado por violôncias simlólicas guo
lograram so impor como loitura dominanto da roalidado. Calo à
ciôncia crítica tamlóm oxplicitar a amlivalôncia do cada situação
histórica, soparando o joio do trigo, ovitando tanto a porcopção
apologótica guanto as críticas alstratas, porcolondo ganhos o
pordas roais. Não so podo jogar o lolô tora junto com a água suja
da lanhoira. O guo intorossa salor são as chancos guo ostão om
alorto polo domínio do novo capitalismo tloxívol¨ o tinancoiro.
A dotinição do guo ó a chamada nova classo módia¨ lrasiloira
ostá no contro do dolato político nacional, visto guo o guo ostá
om jogo ó guo tipo do capitalismo ou guo tipo do sociodado
guoromos para nós mosmos. Os inimigos agui não são aponas
os da diroita consorvadora o mosguinhamonto liloral - um tipo
do liloralismo vordo-amarolo¨ roalmonto unico mundialmonto
na sua coguoira o mosguinhoz do ospírito -, mas tamlóm do uma
osguorda impotonto o contusa, na sua imonsa maioria apogada a
intorprotaçòos do um passado guo não volta mais.
40
A PENETRA(AO DO CAPlTAllSVO llNANCElRO
NO BRASll
Como a assim chamada nova classo módia¨ ó a grando mudança
social o oconomica do Brasil na ultima dócada do croscimonto
oconomico, dizor guom ola ó o o guo ola dosoja ou guor signitica
so apropriar do diroito do intorprotar a diroção do capitalismo
lrasiloiro no prosonto o no tuturo. lsso não ó pouco. Nosso sontido,
tomos guo doixar claro como o capitalismo tinancoiro oou
tloxívol¨ ponotra na sociodado lrasiloira, para alóm do palavras
do ordom alstratas o vazias do sontido como nooliloralismo¨.
Ou so oxplica como osso nooliloralismo¨ so apropria do práticas
institucionais o sociais concrotas com o tito do logitimar o acosso
injustiticadamonto dosigual a todos os lons o rocursos oscassos
om disputa na sociodado, ou somos olrigados a porcolor a ropo-
tição indotinida o oca dosso lordão como um dossorviço do uma
osguorda incapaz do imaginação o criatividado na crítica social.
Uma posguisa ompírica crítica o lom conduzida sorvo justamonto
para mostrar como rogras o princípios sociais alstratos so tornam
carno o osso¨, sotrimonto o sonho¨ do possoas comuns guo
ontrontam dilomas cotidianos. Ë dosso modo guo a ciôncia crítica
podo rodimonsionar o dolato na ostora pullica acorca do guo
tipo do vida colotiva guoromos para nós mosmos. Ë isso, ao tim
o ao calo, guo ostá om jogo.
No Brasil, um olsorvador sagaz da ponotração da nova torma
do capitalismo guo ostamos discutindo nosto livro ó Rolorto
Grun. Grun porcolo, com argucia, guo o prodomínio da ostora
tinancoira na sociodado lrasiloira onvolvo muito mais guo o
controlo oconomico da sociodado, ou molhor, porcolo guo o
controlo oconomico prossupòo o oxorcício do uma dominação
cultural o simlólica guo lho ó concomitanto. Vais uma voz o como
sompro: a acumulação oconomica oxigo sompro um ospírito¨ ou
uma violôncia simlólica¨ guo a justitiguo. Dosso modo, Grun
tonta articular o concoito lourdiosiano do campo¨ - guo pros-
supòo lutas por rocursos oscassos om todas as ostoras sociais guo,
ontrotanto, não podom so mostrar onguanto lutas¨ -, do modo
a porcolor tanto a dominância do sotor tinancoiro na ostora da
oconomia guanto sua propondorância no campo maior da luta
polo podor¨ político o social.
41
Ë importanto notar guo grando parto dosso jogo so oxorco
na ostora política contirmando guo o campo tinancoiro ó uma
parto importanto - talvoz a mais importanto - do atual campo do
podor lrasiloiro. Essa atuação so oxorco não só nas açòos o nas
intorvonçòos oconomicas om sontido ostrito, mas, ospocialmonto,
nas intorvonçòos oconomicas guo tuncionam como política natu-
ralizada¨ o imporcoptívol onguanto tal. Tor a política como um
prossuposto aponas implícito o opaco ó tundamontal, já guo o
próprio procosso do logitimação da atividado tinancoira implica
não oxplicitar o contoudo político, porcolido como pojorativo¨,
o so aprosontar como sonso comum¨ da glolalização inovitávol
o da nova modornidado¨.
18
Um oxomplo intorossanto dossa
ostratógia, guo onvolvo a possililidado do ridicularização¨ do
discurso do opononto, podo sor visto na dorrota da tontativa do
so ostalolocorom limitaçòos à atividado tinancoira, no início do
primoiro govorno lula, atravós da modornização da loi da usura.
A crítica toi tão grando, som guo nonhuma voz so orguosso om
sua dotosa, soja para adaptá-la ou molhorá-la, guo a tontativa toi
logo silonciada.
19
Dois oxomplos do Grun mostram a transtormação, ontro nós,
do um possívol discurso solro a roalidado no unico discurso
possívol, na modida om guo so matorializa como prática concrota
naturalizada¨ doixando do nocossitar do gualguor justiticação.
Esso ponto ó tundamontal, pois a dominação social incontosto
do uma visão do mundo oxigo a sua introjoção o in-corporação
como algo natural o indiscutívol om todas as dimonsòos sociais. O
primoiro oxomplo mostra a ponotração da noção do govornança
corporativa¨ ontro nós, o o sogundo, a justiticação natural¨ dos
juros altos pola suposta corrupção gonoralizada¨ no Brasil.
O toma da govornança corporativa¨ signitica a importação
lom-sucodida ontro nós do todo um conjunto do idoias o práticas
sociais da produção tloxívol¨ o da organização tloxívol¨ solro as
guais já discutimos antoriormonto. O ponto a sor mais uma voz
osclarocido agui ó guo so trata do algo tundamontalmonto novo o
guo ponotra todas as práticas institucionais o sociais. A importância
do capital tinancoiro - onguanto oposto, por oxomplo, ao capital
industrial o comorcial - já havia sido solojamonto roconhocida
por divorsos autoros dosdo o loom¨ do capitalismo monopolista
a partir do tinais do sóculo XlX o comoço do sóculo XX. Vas a
lógica do capital tinancoiro¨ ainda ostava sulordinada à lógica
42
do capital industrial. Era o ritmo da tálrica tordista guo dotormi-
nava o tompo do valorização do capital omprogado. O giro do
capital¨ ora dotorminado por uma mistura do compromisso o do
luta ontro o capital o sous propostos incumlidos do controlo o
da vigilância do tralalho, o o tralalho vivo.
A dominação hodiorna do capitalismo tinancoiro signitica algo
muito ditoronto. Todas as omprosas - o não aponas as tálricas
antos tordistas - rotlotom agora a dominação do um olhar panóp-
tico¨, um olho guo tudo vô, dostinado a tornar possívol o controlo
total da omprosa som tor guo pagar os controladoros guo antos
oram parto signiticativa dos custos do toda omprosa. Não aponas
a produção tloxívol¨, om guo propondoram os tralalhadoros
dirotamonto produtivos típicos do toyotismo, ou a organização
tloxívol¨, na gual rodos do comunicação protondom sulstituir a
organização hiorarguizada antorior, mas tamlóm instrumontos
contálois do todo tipo analisam agora a omprosa do modo tal
guo a produtividado do cada tralalhador podo sor avaliada o
julgada disponsávol ou não.
Nosso capitalismo do novo tipo, todo o procosso produtivo tica
sulordinado a um novo ritmo próprio do capital tinancoiro guo
guor diminuir sou tompo do giro como uma ostratógia contral do
novo procosso do acumulação ampliada. Agora ó o próprio capital
tinancoiro guo dita sou ritmo a todas as omprosas om todos os
ramos produtivos. Vas não aponas a acoloração do giro do capital
ostá om jogo. Tamlóm a disponililidado tou tloxililidado¨) do
atuar om novos nichos do morcado, monoros o mais rostritos,
satistazondo o criando novas nocossidados do consumo guo são
otômoras o passagoiras. A suporação do tordismo tamlóm ropro-
sonta a suporação do tipo do produção ostandardizada, lasoada
na oconomia do oscala da grando produção do rolativamonto
poucos produtos.
O novo capitalismo tinancoiro transtorma ossa roalidado
tamlóm. Passa a oxistir o culto ao produto dosonhado para as
nocossidados do clionto o criam-so novos ramos do nogócios
antoriormonto inoxistontos. Passa a oxistir o culto ao momontâ-
noo¨, ao passagoiro, ao consumo instantânoo, aos ovontos do um
dia ou poucas horas, com rotorno rápido, guo tamlóm olodocom
à lógica do aumonto da volocidado do giro do capital. Shovs do
rock, toiras, nogócios sazonais, rovalorização dos nogócios tami-
liaros, roupas produzidas à mão, rovalorização do artosanato, são
43
todas tormas guo so adaptam a uma nova ostrutura produtiva guo
so constitui como nicho ospocítico, criando o atondondo a todo
tipo do nocossidado. Em grando modida, o pullico guo ontrovis-
tamos so compòo dossa nova dinâmica do capitalismo.
A instalação dossa lógica ontro nós toi rápida o rotumlanto.
O poríodo do privatizaçòos do lHC ropudiava todo tipo do into-
rosso divorgonto à ponotração som poias dossa nova lógica como
corporativo¨. Ë típico dos intorossos guo dominam protondorom
roprosontar a univorsalidado, doixando os intorossos dominados
na dimonsão do particular¨. Hojo, só so tala do omproondodo-
rismo¨, como so todo mundo pudosso so tornar omprosário, o
alguóm como Rolorto Justus, guo humilha o dosrospoita os jovons
guo participam do programa do TV guo olo dirigo, ó oloito polos
jovons lrasiloiros como uma das tiguras mais dignas do admira-
ção à tronto do Josus Cristo o lula.
20
Como rosultado do intonso
tralalho do logitimação, a visão do mundo do novo capitalismo
tinancoiro ó assimilada não aponas polos sotoros não tinancoiros
das olitos, mas por amplos sotoros sociais om todas as classos.
Vas o outro oxomplo do Grun acorca da naturalização do
domínio do capital tinancoiro ontro nós ó ainda mais ologuonto:
as ronitontos altas taxas do juro da sociodado lrasiloira. Como
agui so trata do uma apropriação do oxcodonto produtivo por
moia duzia do tinancistas om dostavor dos intorossos da população
intoira, a guostão intorossanto ó: como so logitima apropriação
tão dosigual? A rosposta do Grun toca num ponto oxtromamonto
intorossanto. Como oxisto um amplo consonso social acorca do
uma suposta corrupção ondômica lrasiloira, osso tato implicaria
a nocossidado do uma taxa oxtra¨ do sogurança para o capital
omprostado.
A posguisa ompírica - inclusivo a posguisa ompírica comparativa
- acorca da corrupção ditoroncial om cada sociodado particular
ó oxtromamonto ditícil por razòos ólvias. Existo mais corrupção
om Wall Stroot ou na Avonida Paulista? Há alguns anos, nossos
colonizados culturais não toriam nonhum pojo om dizor guo não
oxisto corrupção nos Estados Unidos, torra por oxcolôncia da
contiança mutua o das rolaçòos transparontos. Atinal, a imagom
idílica o tantasiosa dosso país ó o tundamonto da taparonto)
porcopção crítica do todos os nossos lilorais acorca do Brasil.
21
A
criso do 20082009 tornou ossa tantasia insustontávol. Ainda assim
ola soguo vivondo como guo por inórcia. Existiu maior corrupção
44
na construção do motro carioca ou na roconstrução do Borlim?
O conluio ontro lancos, omproitoiras o políticos do CDU guo
rogoram a cidado duranto os anos do roconstrução toi tartamonto
documontado na impronsa o por documontários muito lontoitos
oxilidos na TV pullica altornativa - ois agui uma ditoronça roal
o importanto om rolação à sociodado lrasiloira -, documontando
o dosvio sistomático do lilhòos do ouros.
Vas agui a guostão principal não ó a roalidado do mundo, o
sim a consumação do uma violôncia simlólica socular, intornalizada
como vordado ovidonto, como rosultado do uma colonização
simlólica magistralmonto roalizada. O culturalismo¨, guo so
soguo imodiatamonto ao racismo ciontítico¨ como paradigma
dominanto da antropologia o da sociologia amoricana no sóculo
XX, implica a idoia do sociodados intoiras sulstancializadas o
porcolidas no todo como intoiramonto contiávois¨ - nosso
patamar só ticaria mosmo a própria sociodado amoricana, sogundo
todos os toóricos tcoincidontomonto guaso todos amoricanos) da
tooria da modornização - o outras sociodados, como a lrasiloira,
por oxomplo, intoiramonto compostas do possoas incontiávois. A
sociologia, a antropologia o a ciôncia política lrasiloira dominanto,
do Sórgio Buarguo a Rolorto DaVatta, ongoliram¨ o oprossor o
aponas ropotom osso discurso - guaso som críticas ató hojo - sol
tormas variadas há dócadas.
22
Como as produçòos intoloctuais o ciontíticas¨ são, no mundo
modorno, as hordoiras dirotas do prostígio guo, no passado, ora
monopólio das grandos roligiòos, ossas idoias saom das univorsi-
dados o dos livros o vão marcar a prática social dos tormadoros
do opinião, dos políticos, dos omprosários, dos jornalistas o do
todos aguolos guo são rosponsávois pola autoimagom guo uma
sociodado tom do si própria. Alguóm já parou para ponsar na
logitimação guo osso tipo do proconcoito guo imagina candida-
monto a oxistôncia do sociodados portoitas som corrupção o guo
chogaram ao ápico da virtudo humana possililita para todo tipo
do troca dosigual o monopólios do podor na arona das rolaçòos
intornacionais? E para a apropriação do oxcodonto do toda uma
sociodado, como a lrasiloira, guo acha justo o logítimo pagar um
plus¨ om juros oscorchantos por conta do uma autoimagom guo
a condona como um todo? A moia duzia do tinancistas intornacio-
nais o nacionais guo so locuplotam com lucros talulosos dosso
proconcoito agradoco ponhoradamonto à intoligôncia nacional
colonizada.
45
UVA NOVA ClASSE
TRABAlHADORA BRASllElRA?
A articulação toórica om concoitos alstratos - sompro guo
possívol som o jargão tócnico artiticial o com uma linguagom
acossívol ao maior numoro - da ponotração do novo tipo do
capitalismo tinancoiro o tloxívol no Brasil ó uma tarota próvia o
tundamontal para comproondormos os latalhadoros lrasiloiros¨.
Vas a outra ponta tundamontal do tralalho do uma sociologia
crítica do Brasil contomporânoo ó o acosso ompírico a dramas,
angustias o sonhos dos próprios latalhadoros. Não oxisto tooria
guo sulstitua osso tralalho, sompro árduo o ditícil, mas tunda-
montal. A rolação ontro ompiria o tooria ó do diálogo constanto
o do aprondizado mutuo. A própria ompiria - polo monos a
ompiria crítica, guo rotloto solro sous prossupostos - já ó saturada
do rotloxão toórica, o vico-vorsa. Ë o osclarocimonto toórico guo
pormito porcolor a oxistôncia do classos sociais como o maior
sogrodo da dominação social no capitalismo.
Como vimos, tala-so¨ o tompo todo do classos sociais som
guo so comproonda¨ o guo olas são. Classos sociais não são
dotorminadas pola ronda - como para os lilorais - nom polo
simplos lugar na produção - como para o marxismo clássico
-, mas sim por uma visão do mundo prática¨ guo so mostra
om todos os comportamontos o atitudos como osclarocida, com
oxomplos concrotos acossívois a todos, mais acima nosta intro-
dução. Esso osclarocimonto toórico ó tundamontal para guo a
dominação social do alguns poucos sotoros privilogiados, com
acosso à possililidado do construir o utilizar para sous próprios
tins a pauta das guostòos julgadas rolovantos¨ om cada ópoca o
sociodado ospocítica, não distorça os tatos do modo a logitimar
os próprios privilógios.
Ë justamonto a logitimação do privilógios incontossávois guo
ostá om jogo na noção, hojo corronto ontro nós, do nova classo
módia¨ para os lrasiloiros latalhadoros guo oxaminamos. Trata-so
do uma intorprotação triuntalista guo protondo oscondor contra-
diçòos o amlivalôncias importantos da vida dossos latalhadoros
lrasiloiros o voicular a noção do um capitalismo tinancoiro aponas
lom¨ o som dotoitos. A idoia guo so guor voicular ó a do uma
sociodado lrasiloira do novo tipo, a caminho do Primoiro Vundo,
46
posto guo, como Alomanha, Estados Unidos ou lrança, passa a tor
uma classo módia ampla como sotor mais numoroso da sociodado.
E isso como otoito automático do morcado liloral dosrogulado.
Essa concopção ó um produto diroto da dominação tinancoira
guo tincou sólida laso no nosso país nas ultimas dócadas o guo
guor intorprotar os sous intorossos particularos como intorossos
do todos. So possívol, tonta-so tamlóm passar a idoia do guo ossa
nova classo módia¨ ó produto aponas da política monotária o do
privatizaçòos do govorno do lHC.
23
Como a comproonsão dossa classo om constituição¨ ostá no
contro do dolato nacional o sua importância só dovo aumontar
nos próximos anos, a importância política dosso dolato ó ólvia.
Tamlóm o marxismo, o não aponas nossos lilorais-consorvadoros,
tom oxtraordinária diticuldado do comproondor a nova classo guo
so constitui ontro nós. O prolloma dos marxistas com a análiso
do novo capitalismo ó o sou apogo atotivo¨ - guo impodo um
olhar mais atonto ao novo mundo guo so cria sol os nossos
olhos - a concoitos do uma ópoca guo não oxisto mais, como
o do prolotariado tradicional. Como o prolotariado industrial do
capitalismo compotitivo o tordista ora a classo da mudança social
o a da iniciativa política, rompor com osso osguoma tradicional
signitica tamlóm a torida narcísica¨ do pordor as ilusòos consti-
tutivas da própria porsonalidado dosso tipo do intoloctual. Nossa
posguisa protondo otorocor uma altornativa a ossos dois modolos
opostos: tanto o apologótico-liloral guanto o do uma osguorda
nostálgica guo so rocusa a so controntar com uma roalidado nova
o comploxa.
O guo porcolomos na posguisa guo o loitor irá lor nos capí-
tulos soguintos ó guo a roalidado cotidiana dossa classo, ou soja,
sua visão do mundo prática¨ - guo so matorializa om açòos,
roaçòos, disposiçòos do comportamonto o, do rosto, om todo
tipo do atitudo cotidiana concrota conscionto ou inconscionto
- não tom a vor com o guo so ontondo por classo módia¨, na
tradição sociológica, om nonhum sontido importanto. Ainda guo
classo módia¨ soja um concoito vago to, oxatamonto por conta
disso, oxcolonto para todo tipo do ilusão o do violôncia simlólica
guo so passa por ciôncia¨), ola implica, om todos os casos, um
compononto oxprossivo¨ importanto, o, consoguontomonto, uma
proocupação com a distinção social¨, ou soja, com um ostilo do
vida om todas as dimonsòos guo pormita atastá-la dos sotoros

popularos o aproximá-la das classos dominantos. Agui não so
trata do ronda¨, já guo ototivamonto podo-so tor uma ronda rola-
tivamonto alta o uma condução do vida típica das classos popularos.
Associar classo à ronda ó talar¨ do classos, osguocondo-so do todo o
procosso do transmissão atotiva o omocional do valoros, procosso
invisívol, visto guo so dá na socialização tamiliar, guo constrói
indivíduos com capacidados muito distintas, como vimos mais
acima. Vas ó por conta dosso tipo do psoudociôncia guo associa
classo a ronda, uma associação guo mais oncolro guo oxplica,
guo ó possívol talar-so do nova classo módia¨ som a corimonia
guo so tala no Brasil.
O tato ó guo acroditamos ostar dianto do um tonomono social
o político novo o muito pouco comproondido, polos motivos já
oxplicitados, soja polos consorvadoros, soja ató polos mais críticos
ontro nós: o da constituição não do uma nova classo módia¨,
mas sim do uma nova classo tralalhadora¨ no nosso país, nas
ultimas dócadas. Essa nova classo tralalhadora convivo com o
antigo prolotariado tordista - ou com o guo rostou dolo -, posto
guo o tordismo não acalou, o grando parto da produção do
morcadorias o do acumulação do capital ainda ó roalizada na típica
torma tordista do controlo do tralalho. Ainda guo o tordismo não
tonha acalado o possua uma oxistôncia paralola à nova classo
tralalhadora guo so constitui, houvo uma diminuição sonsívol do
numoro do tralalhadoros nosso sotor,
24
guo não podo aponas sor
croditada a ganhos om produtividado o inovação tocnológica.
Vas as virtualidados do novo tipo do capitalismo, as guais
discutimos om dotalho antoriormonto, atingiram om choio as
classos popularos lrasiloiras. No sotor mais procarizado, guo,
como já dito, chamamos om outro livro provocativamonto do
raló¨, houvo um aprotundamonto do sua própria procarização -
guo ó rolativa o comparativa om rolação às classos logo acima -,
guo políticas sociais lom intoncionadas como o Bolsa lamília não
tôm, ainda guo sojam muito importantos para aplacar a misória
mais oxtroma, o podor do rosolvor. No sotor logo acima da raló¨,
guo alrango tamlóm sotoros importantos do uma olito da raló¨
capaz do asconsão social - dosdo guo oxistam oportunidados do
gualiticação o do insorção produtiva no morcado compotitivo - ó
guo oncontramos a nova classo tralalhadora. Essa ó uma classo
guaso tão osguocida o ostigmatizada guanto a própria raló¨. Vas,
ao mosmo tompo, consoguiu, por intormódio do uma conjunção
48
do tatoros guo sorão discutidos om dotalho a soguir, intornalizar o
in-corporar disposiçòos do cror o agir guo lho garantiram um novo
lugar na dimonsão produtiva do novo capitalismo tinancoiro.
Por guo nova classo tralalhadora o não nova classo módia?
Não so trata aponas da ausôncia do toma do oxprossivismo¨ o,
portanto, da ausôncia do participação na luta por distinção social
a partir do consumo do lom gosto¨ guo caractorizam as classos
suporioros. As classos dominantos - classos módia o alta - so
dotinom, antos do tudo, polo acosso aos dois capitais impossoais
guo assoguram, por sua voz, todo tipo do acosso privilogiado a
litoralmonto todos os lons tmatoriais ou idoais) ou rocursos
oscassos om uma sociodado do tipo capitalista modorna. A classo
dominanto não ó aguola do maior numoro, como a idoologia o
a violôncia simlólica liloraltinancoira gostam do induzir a cror,
mas sim aguola com acosso privilogiado a tudo guo nós todos
lutamos para consoguir na vida nas 24 horas guo compòom o
dia. Privilógio social ó o acosso indisputado o logitimado a tudo
aguilo guo a imonsa maioria dos homons o mulhoros mais
dosojam na vida om sociodado: roconhocimonto social, rospoito,
prostígio, glória, tama, lons carros, lolas casas, viagons, roupas
do grito, vinhos, mulhoros lonitas, homons podorosos, amigos
intluontos otc.
No tipo do sociodado capitalista na gual vivomos, soja agui
ou na lrança, as classos guo possuom acosso privilogiado a ossos
lons o rocursos oscassos são as classos guo, tradicionalmonto,
monopolizaram o acosso ao capital cultural - lócus privilogiado
das classos módias - o capital oconomico, privilógio lom asson-
tado das classos altas o mais podorosas. Ainda guo alguma torma
do composição ontro ossos capitais om todas as classos dominantos
- módia o alta - soja muito troguonto, a sua disposição no sontido
oxplicitado acima ó a rogra.
O oxprossivismo do gual já talamos sorvo, antos do tudo, para
logitimar¨ osso acosso privilogiado das classos dominantos como
talonto natural¨. A violôncia simlólica porpotrada agui ago no
sontido do nogar toda a construção social do privilógio¨ como
privilógio do classo, transmitido tamiliarmonto do modo insonsívol
o invisívol¨ polos mocanismos do socialização tamiliar. A natu-
ralidado dos lons modos¨, da loa tala¨ o dos lons compor-
tamontos¨ passa a sor porcolida como mórito individual, polo
osguocimonto do procosso lonto o custoso, típico da socialização
49
tamiliar, guo ó poculiar a cada classo social ospocítica. Esguocida
a gônoso social do todo privilógio - no tundo um privilógio do
sanguo como todo privilógio pró-modorno -, os indivíduos das
classos dominantos podom aparocor como produto mágico¨ do
talonto divino o so roconhocorom mutuamonto como soros ospociais
morocodoros da tolicidado guo possuom.
25
Ainda guo o oxprossivismo lurguôs das classos módia o alta
tonha sido, há muito tompo, lanalizado om consumo conspícuo,
26
o importanto agui ó guo os privilogiados podom so roconhocor
na roupa guo vostom ou no vinho guo tomam o julgar justa sua
própria dominação om rolação a todos os soros animalizados o
lrutos guo não compartilham dos mosmos modos o gostos. Esso
ó o mocanismo guo oxplica toda a ondogamia do classo guo
caractoriza os sotoros privilogiados o o proconcoito alorto ou
volado om rolação ao gosto popular. Como o gosto¨ não ó aponas
uma dimonsão ostótica, mas, antos do tudo, uma dimonsão moral,
uma voz guo constitui um ostilo do vida o ospolha todas as oscolhas
guo dizom guom a possoa ó ou não ó om todas as dimonsòos
da vida, todo o procosso do classiticação o dosclassiticação guo
sopara o nolro¨ do lruto¨ o o suporior¨ do intorior¨ passa a
oporar com laso nossa dimonsão oxtorna o corporal.
A linguagom do corpo - mais tundamontal, imodiata o impor-
coptívol guo a linguagom modiada polas palavras o polo discurso
- opora como uma ospócio do tradutor univorsal da posição
social ocupada individualmonto na hiorarguia social. A distinção
social¨, nogada o roprimida na dimonsão oxplícita o conscionto
da vida - atinal o mundo modorno so logitima por tor, suposta-
monto, suporado os privilógios do sanguo o do origom tamiliar
-, rotorna do modo opaco o implícito o, por conta disso mosmo,
com a virulôncia típica da agrossão - ospontânoa o imporcoptívol
-, som dotosa possívol. O racismo do classo¨ não pormito dotosa
porguo nunca so assumo onguanto tal.
A nova classo tralalhadora não participa dosso jogo da dis-
tinção guo caractoriza as classos alta o módia. Como na roportagom
do um numoro roconto da rovista N~g·c:·: ~ 1:uau¸a:, guo toi
ponsada como um ologio¨ a ossa classo, mas guo ostranha guo
a classo C não so mudo do lairro guando ascondo oconomica-
monto,

ola tom opçòos o gostos muito ditorontos. Ela ó comu-
nitária¨ o não individualista¨, por oxomplo, nas suas oscolhas.
licar no mosmo lugar ondo so tom amigos o parontos ó mais
50
importanto guo so mudar para um lairro molhor. Vas, antos do
tudo, ola não tovo o mosmo acosso privilogiado ao capital cultural
- guo assogura os lons omprogos da classo módia no morcado o
no Estado - nom, muito monos, ao capital oconomico das classos
altas. Nossa posguisa mostrou guo ossa classo consoguiu sou
lugar ao sol à custa do oxtraordinário ostorço: à sua capacidado
do rosistir ao cansaço do vários omprogos o turnos do tralalho,
à dupla jornada na oscola o no tralalho, à oxtraordinária capaci-
dado do poupança o do rosistôncia ao consumo imodiato o, tão
ou mais importanto guo tudo guo toi dito, a uma oxtraordinária
cronça om si mosmo o no próprio tralalho.
Porcolomos tamlóm guo isso toi possívol a um capital muito
ospocítico guo gostaríamos do chamar do capital tamiliar¨. Esso
ó o aspocto do mais ditícil porcopção para as tormas dominantos
o lilorais do atazor ciontítico guo domina a acadomia o a ostora
pullica lrasiloira, porguo vincula o indivíduo, ponsado por ossas
toorias o visòos do mundo dominantos, como som contoxto o
som passado, ao sou mundo social primário. Chamamos osso
conjunto intorligado do disposiçòos para o comportamonto do
capital tamiliar¨, pois o guo paroco ostar om jogo na asconsão
social dossa classo ó a transmissão do oxomplos o valoros do
tralalho duro o continuado, mosmo om condiçòos sociais muito
advorsas. So o capital oconomico transmitido ó mínimo, o o
capital cultural o oscolar comparativamonto laixo om rolação às
classos suporioros, módia o alta, a maior parto dos latalhadoros
ontrovistados, por outro lado, possuom tamília ostruturada, com
a incorporação dos papóis tamiliaros tradicionais do pais o tilhos
lom dosonvolvidos o atualizados.
Essa ó uma distinção tundamontal om rolação às tamílias da
raló¨ guo ostudamos om livro antorior a osto. A tamília típica
da raló¨ ó monoparontal, com mudança troguonto do momlro
masculino, ontronta prollomas gravos do alcoolismo, do aluso
soxual sistomático o ó caractorizada por uma cisão guo corta ossa
classo ao moio ontro polros honostos o polros dolinguontos. Ë a
classo vítima por oxcolôncia do alandono social o político com
guo a sociodado lrasiloira tratou socularmonto sous momlros mais
trágois. Vas mosmo osso guadro dosalontador não signitica uma
condonação som romódio para os momlros monos atingidos polas
mazolas sociais do uma classo ostigmatizada o marginalizada om
todos os aspoctos da vida. So no livro consagrado à raló¨ toda a
51
ôntaso toi contorida à roprodução social dossa classo como classo
oxcluída, o ostudo ompírico dos latalhadoros pormitiu mitigar o
contoxtualizar ossa análiso. Vários dos latalhadoros são oriundos
da raló¨ - ou da olito da raló¨, para a gual os tatoros dostrutivos
pudoram sor componsados do algum modo oticaz - o consoguiram
a duras ponas asconsão matorial o alguma doso do autoostima o
do roconhocimonto social.
O nucloo duro dosso capital tamiliar¨, gualguor guo soja a
origom social dos latalhadoros¨ posguisados, paroco so con-
sulstanciar na transmissão ototiva do uma ótica do tralalho¨. Ë
importanto porcolor a ditoronça com rolação às classos módias,
om guo a ótica do tralalho¨ ó aprondida a partir da ótica do
ostudo¨ como sou prolongamonto natural. Os latalhadoros, na sua
osmagadora maioria, não possuom o privilógio do torom vivido
toda uma otapa importanto da vida dividida ontro lrincadoira o
ostudo. A nocossidado do tralalho so impòo dosdo codo, paralo-
lamonto ao ostudo, o gual doixa do sor porcolido como atividado
principal o unica rosponsalilidado dos mais jovons como na
vordadoira¨ o privilogiada classo módia. Esso tator ó tundamontal
porguo o aguilhão da nocossidado do solrovivôncia so impòo
como tulcro da vida do toda ossa classo do indivíduos. Como
consoguôncia, toda a vida postorior o todas as oscolhas - a maior
parto dolas, na vordado, oscolhas pró-oscolhidas¨ pola situação
o polo contoxto - passam a rocolor a marca dossa nocossidado
primária o tundamontal.
Assim, a soparação om rolação à raló¨, como trontoira para
laixo, so consulstancia na intornalização o in-corporação - tornar-so
corpo¨, automático - das disposiçòos nada ólvias do mundo
do tralalho modorno: disciplina, autocontrolo o comportamonto
o ponsamonto prospoctivo. Ao contrário do guo so ponsa na
vida social cotidiana, ninguóm nasco com ossas disposiçòos o
olas não tazom parto, como a capacidado do vor ou ouvir, do
roportório do capacidados ao alcanco do todos guo ostão vivos.
Ao contrário, ossas disposiçòos tôm guo sor aprondidas, omlora
sou aprondizado soja ditícil o dosatiador o não ostoja ao alcanco
do todas as classos.
A rolação com o tompo, guo chamamos acima do ponsamonto
prospoctivo¨, ó muito importanto o podagógica. A capacidado
do planojar a vida o do ponsar o tuturo como mais importanto
guo o prosonto ó privilógio das classos om guo o aguilhão da
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nocossidado do solrovivôncia não as vincula à prisão do prosonto
sompro atualizado como nocossidado promonto. A raló¨ ó rotóm
do prosonto otorno¨, do incorto pão do cada dia, o dos prollo-
mas guo não podom sor adiados. As classos privilogiadas polo
acosso à capital oconomico o cultural om proporçòos signiticativas
dominam o tompo¨, porguo ostão alóm do aguilhão o da prisão
da nocossidado cotidiana. O tuturo ó privilógio dossas classos, o
não um rocurso univorsal.
A moio caminho ontro a prisão na nocossidado cotidiana, guo
caractoriza a raló¨ o sua condução do vida litoralmonto som
tuturo, o o privilógio do podor osporar o so proparar para o tuturo¨,
guo caractoriza as classos módia o alta, tomos a condução do vida
típica dos latalhadoros. Como inoxisto o privilógio das classos
dominantos da dodicação ao ostudo como atividado principal o
muitas vozos unica, a apropriação do capital oscolar o cultural
vai sor, tondoncialmonto, monor guo na vordadoira classo módia.
Como consoguôncia, salvo oxcoçòos, o tipo do tralalho tondo
a sor tócnico, pragmático o ligado a nocossidados oconomicas
dirotas. lnoxisto o privilógio da oscolha¨ para os latalhadoros.
O tralalho o o aprondizado das virtudos do tralalho vai sor, para
muitos, como voromos a soguir, a vordadoira oscola da vida¨.
Por outro lado, o tralalho disciplinado o rogular, muitas vozos
no contoxto da poguona produção tamiliar, soja no campo ou na
cidado, pormito a porcopção da vida como atividado racional guo
podo sor vislumlrada como progrosso o mudança possívol. Esso
ponto ó tundamontal porguo pormito porcolor como os latalha-
doros podom sor porcolidos como uma nova classo tralalhadora
do capitalismo pós-tordista o tinancoiro guo analisamos.
O guo caractoriza toda classo tralalhadora ó a sua inclusão
sulordinada¨ no procosso do acumulação do capitalismo om
todas as suas tasos históricas. O tralalhador, ao contrário da
raló¨ o do todos os sotoros dosclassiticados o marginalizados, ó
roconhocido como momlro util à sociodado o podo criar uma
narrativa do sucosso rolativo para sua trajotória possoal. Vimos
isso om guaso todas as ontrovistas guo analisamos. No poríodo
tordista, ou no sotor ainda tordista da classo tralalhadora
tradicional, ossa narrativa tondo a sor construída com laso om
vínculos comunitários a partir do um dostino guo ó porcolido
como comum polos tralalhadoros. O sindicato, as grovos, o
53
partido político o as associaçòos do classo são o rosorvatório
dosso tipo do nocossidado o sontimonto compartilhado.
O capitalismo do novo tipo das ultimas duas dócadas toi
construído, como vimos, para dostruir a solidariodado intorna
da classo tralalhadora tradicional do modo a guolrar todas as
rosistôncias à livro ação do procosso do valorização do capital. A
classo tralalhadora organizada porcolia a vida cotidiana como
luta contra o capitalista, não aponas om tormos do aumontar a
tatia do oxcodonto para o pagamonto do salários, mas, tamlóm,
como luta do trinchoira¨ cotidiana contra todo tipo do controlo
do tralalho ropotitivo o monótono das industrias tordistas. O
custo adicional om controlo o disciplina do tralalho sompro toi
um gasto oxtromamonto signiticativo para a valorização do capital.
O ganho om produtividado da produção tloxívol¨ japonosa o
toyotista ora roalizado, om grando modida, polo corto do possoal
guo vigiava o controlava o tralalho alhoio, ou soja, o corto do
possoal não dirotamonto produtivo.
Essa ó, atinal, a grando transtormação guo ostamos vondo
acontocor. A importância do sotor tinancoiro o dos grandos
lancos nas tusòos o nas transtormaçòos do gostão, guo caractori-
zaram a passagom do capitalismo compotitivo para o capitalismo
monopolista no tim do sóculo XlX o comoço do sóculo XX, toi
tato porcolido por muitos ostudiosos da ópoca. Vas o capital
tinancoiro não transtormou a torma do controlo da produção nom
a gostão do tralalho. O compromisso tordista ospolhava, do tato, o
compromisso ontro a grando produção ostandardizada, guo oxigia
tralalho ropotitivo o monótono dos tralalhadoros, o a contra-
partida do vantagons sociais o lons salários, polo monos para os
sotoros dinâmicos da oconomia. Era um compromisso ontro o
capitalista industrial o sous tralalhadoros. latia importanto do
controlo o da vigilância do tralalho continuou sondo uma luta
o um compromisso sompro instávol com os tralalhadoros.
O colapso do compromisso tordista, por razòos tanto ocono-
micas guanto políticas, oxigiu uma rovolução na torma como a
oconomia opora om todos os nívois. O capital tinancoiro passa a
controlar todo o procosso produtivo, inclusivo dontro da tálrica.
Dois são os pilaros oconomicos dossa rovolução: o oncurtamonto
do giro do capital o o corto do gastos com vigilância o controlo da
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torça do tralalho. A ópoca om guo vivomos ó a ópoca da dominação
do capitalismo tinancoiro, porguo toi possívol articular o vincular
a acoloração do giro do capital o o corto das dosposas com con-
trolo o vigilância da torça do tralalho com uma lom porpotrada
violôncia simlólica, a gual pormitiu, por sua voz, intorprotar
osso procosso com a somântica da rovolução oxprossiva guo
havia marcado os anos do 1960 o 19¯0. Dosso modo, a própria
dostituição o procarização das condiçòos do tralalho, do uma
parcola signiticativa da classo tralalhadora, podo sor oncolorta o
distorcida como triunto da criatividado, da ousadia, da coragom
o da lilordado.
Dosdo os anos do 1980, toram criados novos dispositivos do
controlo o do contalilidado das omprosas om todos os ramos
da produção, inclusivo os não tinancoiros, guo pormitom o total
controlo da produtividado individual dos tralalhadoros. Sistomas
do vigilância rocíproca o do disguo-donuncia¨ dontro da própria
omprosa pormitom jogar os tralalhadoros contra olos mosmos o
ainda cortar custos do vigilância o controlo oxtorno. O olho¨ do
capital ostá om todos os lugaros o dontro dos próprios tralalha-
doros, roalizando, no tim das contas, o dosidorato máximo do
capital dosdo sous inícios: o controlo total o comploto da torça
do tralalho. Para a imposição da nova ditadura do capital¨, toi
nocossária toda uma roapropriação nos próprios tormos do pro-
cosso do acumulação do maior inimigo intorno do capitalismo:
os valoros oxprossivos o românticos guo, dosdo o início do
capitalismo, opunham à tigura do capitalistalurguôs, tacanho o
dominado polo dinhoiro, o lurguôs, rotinado¨ o sonsívol¨ dos
valoros guo não so compram¨, como lilordado, criatividado,
oxprossão dos próprios sontimontos porcolidos como unicos o
singularos otc.
Não oxistiria contoxto cultural o político guo pormitisso o livro
curso das virtualidados do domínio totalizador do capitalismo
tinancoiro no mundo do hojo so não tivossom sido, tamlóm
possívois, a transtormação o a diluição do discurso oxprossivo
om torramonta das tinanças. Esso ó o novo ospírito¨ do capita-
lismo no sontido do Wolor o Boltansky. Som olo o capitalismo
tinancoiro não toria ongolido o mastigado sou maior inimigo o
não toria podido usá-lo para aumontar sua própria torça. Som
dominação simlólica não oxisto capitalismo. A oconomia não so
logitima a si própria. O alvo principal da catoguoso do capital¨
55
toi todo o sogmonto do gorontos o oxocutivos rosponsávol polo
conhocimonto instrumontal o tócnico nocossário à acumulação.
Era prociso motivar ossa tropa do choguo¨ do capital, o oxórcito
do advogados, ongonhoiros, administradoros o oconomistas, o
convoncô-los do guo tamlóm sou tralalho ora criativo¨, oxprossivo¨
o dirotamonto omancipador o lilortador. Essa lom porpotrada
violôncia simlólica pormitiu a goração do yuppios¨, guo roduz
oxprossividado a consumo conspícuo, o guo so criou nos anos
do 1990, nos Estados Unidos, o dopois so oxpandiu para todo o
mundo, inclusivo o Brasil.
Essa rovolução matorial o simlólica do novo capitalismo
tinancoiro ó a somonto contraditória o amlígua, guo pormitiu
o surgimonto dos latalhadoros lrasiloiros. Cortamonto não no
mosmo sontido da caricatura do oxprossivismo, caractorística dos
novos oxocutivos o nauag~::. A assimilação do uma idoologia
dominanto ó muito distinta om cada classo social, pois os intorossos
o as nocossidados guo a ola dovo rospondor, om cada caso parti-
cular, mudam do manoira signiticativa. A classo tralalhadora
sompro ostovo historicamonto tora das lutas por distinção. Os
tralalhadoros caractoristicamonto sompro dosonvolvoram um
modo do vida roativo à oxprossividado tipicamonto lurguosa
porcolida como otominada o suporticial. Toda apropriação do
visòos do mundo práticas¨ são sompro muito ditorontos om cada
classo ou tração do classo social ospocítica.
Para os latalhadoros são importantos, portanto, outros olomontos
dossa transtormação oporada polo capital tinancoiro. O primoiro
ó campo alorto pola dostruição signiticativa do horizonto tor-
dista. Nos anos do 1980, oxistiam 240 mil motalurgicos no ABC
paulista. Hojo oxistom monos do 100 mil.
28
Em alguma modida ossa
diminuição tom a vor com inovação tocnológica. Vas não aponas.
A ostrutura da produção o sua rolação com a domanda mudou
radicalmonto nas ultimas dócadas. A grando produção tordista
ostandardizada continua importanto, mas, por outro lado, pordo
ospaços importantos para um novo tipo do domanda guo oxigo
poguona produção - muitas vozos do tundo do guintal¨ o soguindo
uma lógica tamiliar - o maior contormidado com os dosojos do
consumidor. A rolação ontro otorta o domanda muda do modo
importanto, já guo novos produtos o novos morcados tôm guo sor
conguistados o mantidos pola constanto inovação nos produtos.
Esso tipo do nicho do morcado cada voz mais importanto ó um
56
limito intransponívol para o tordismo guo a poguona produção
tloxívol vom ocupar com um oxórcito do latalhadoros.
Os latalhadoros da nova classo tralalhadora lrasiloira guo
ontrovistamos o ostudamos não são tamlóm tipos idoais do
tralalhadoros tloxívois cujo acosso a conhocimonto ospocítico
garantiria uma tatia do morcado nosso mundo om mudança. Ao
contrário, a rogra paroco sor a utilização do gualguor princípio
oconomico guo pormita solrovivôncia o sucosso num morcado
altamonto compotitivo. Assim, oncontramos poguonas oticinas
do produção ondo o tralalho ora controlado sogundo princípios
tordistas. Em outros tipos do tralalho, as rolaçòos tamiliaros do
tavor o protoção sulstituíam as rolaçòos impossoais para projuízo
dos tralalhadoros guo tinham jornada alongada do tralalho som
podor roclamar do tio guo havia lho dado¨ omprogo. A rogra
tundamontal ó guo paroco não havor rogra nosso hotorogônoo
mundo do produção tamiliar ou do produção do poguono porto,
tanto no campo guanto na cidado. São sistomas compósitos do
produção o do controlo o gostão do tralalho guo olodocom à
rogra da solrovivôncia o do sucosso imodiato.
Esso radical roarranjo do mundo do tralalho modorno criando
uma nova classo tralalhadora guo não procisa mais sor vigiada
o controlada constitui tamlóm uma poguona lurguosia do novo
tipo. O poguono propriotário da poguona tálrica do tundo do
guintal¨ não ditoro, muitas vozos, om tormos do ostilo do vida,
do próprio tralalhador guo omproga, muito troguontomonto,
som pagar diroitos tralalhistas nom impostos do gualguor tipo.
Alóm do uma nova classo tralalhadora dotinida polo latalhador
tralalhador, paroco oxistir tamlóm uma poguona lurguosia
do novo tipo¨ roprosontada polo latalhadoromproondodor. Os
limitos, ontro ossas duas traçòos do classo, om muitos casos são
muito tluidos, tornando muito ditícil a dotinição oxata do sou
portoncimonto do classo.
A unidado no moio do uma oxtraordinária divorsidado paroco
rosidir no tato do guo lidamos com uma ospócio do nova classo
tralalhadora om tormação, a gual ó típica da roconto dominância
do capitalismo tinancoiro na oconomia, na cultura o na política.
Essa classo ó nova¨ porguo a alocação o o rogimo do tralalho
são roalizados do modo novo, do modo a ajustá-los às novas
domandas do valorização ampliada do capital tinancoiro. lsso
ó consoguido, por oxomplo, pola oliminação dos custos com

controlo o vigilância do tralalho. Essa nova classo tralalhadora
laluta ontro 8 o 14 horas por dia o imagina, om muitos casos,
guo ó o patrão do si mosmo. O roal patrão, o capital tornado
impossoal o dosporsonalizado, ó invisívol agora, o guo contrilui
imonsamonto para guo todo o procosso do oxploração do tralalho
soja ocultado o tornado imporcoptívol. Vitória magnítica do capital
guo, dopois do 200 anos do história do capitalismo, rotira o maior
valor possívol do tralalho alhoio vivo, som gualguor dosposa
com a gostão, o controlo o a vigilância do tralalho. Dostrói-so
a grando tálrica tordista o transtorma-so o mundo intoiro numa
grando tálrica, com tiliais om cada osguina, som lutas do classo,
som sindicatos, som garantias tralalhistas, som grovo, som limito
do horas do tralalho o com ganho máximo ao capital. Esso ó o
admirávol mundo novo do capitalismo tinancoiro!
O guo procuramos comproondor nosto livro ó a amliguidado
ou a amlivalôncia dosso dosonvolvimonto. Os lilorais talam
aponas do sua taco rósoa, o os marxistas ompodornidos, do sua
tragódia - o ainda aponas alstratamonto o do modo aponas
toórico. A vordadoira sociologia crítica procura sompro porcolor
tanto o compononto do tragódia guanto o olomonto do chanco,
do osporança guo rosido no lojo do toda mudança social lom
comproondida. Esso, mais uma voz, toi o nosso dosatio nosto
livro.
I
P ⇧ ⌦ ⌃ ↵
P↵⌦⌫l⇥ D↵ ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ⌅⌦⇧⇥l⌥↵l⌦C⇥
✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 1
⇧ ⌫C⌦⇣⇧⌥lD⇧D↵ P⌦↵✏Á⌦l⇧
C⇥ ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ DC ⌃↵⌥↵⇣⇧⌦⌧↵⌃lMG
··Iaü·:au·:. R:ca:u· !:::~:
lNTRODU(AO
A ocupação do tolomarkoting vom ganhando cada voz mais
visililidado no sotor do sorviços. O croscimonto do torcoiro
sotor ó lom visívol a partir dos anos do 1980 na Europa o nos
Estados Unidos, o nos anos do 1990 no Brasil. Esso movimonto
ó tamlóm acompanhado por uma crosconto torcoirização dos
sorviços.
1
Nosso sotor so concontram mais do 1.82¯ caII c~uì~::,
guo corrospondom aos locais do tralalho ondo os atondontos
do tolomarkoting atuam. Curiosamonto ó no Brasil ondo os caII
c~uì~:: mais concontram tralalhadoros: 1.103 om cada omprosa.
2
O sotor so oncontra om grando oscalada o movimontou, om 2002,
1,6 lilhòos do dólaros.
3
Esto croscimonto ó, om goral, trilutário da
privatização das omprosas do tolocomunicaçòos guo gonoralizou
a posso do linhas tolotonicas para grando parcola da população,
lom como a oxpansão do outros sorviços, como o do suporto
tócnico o tolovondas. As inovaçòos tocnológicas na ároa das tolo-
comunicaçòos tamlóm possililitaram o croscimonto dos atondi-
montos, a partir da rodução dos custos na tolotonia móvol.
Portanto, a ocupação do atondonto do tolomarkoting ó lastanto
roconto o surgo com torça a partir não só das inovaçòos tocnoló-
gicas mais rocontos, mas, solrotudo, no surgimonto do omprogos
atinados com os parâmotros do u·:· ~:j:::ì· u· caj:ìaI::n·
4
, no
gual o omprogado ostá, cada voz mais, constrangido a rogimos
mais tloxívois¨ do tralalho, cuja consoguôncia ó a produção do
62
uma constanto insogurança no morcado do tralalho, lom como
a construção social do uma condição do procariodado, gorando
laixos salários, condiçòos do tralalho pioros, sulcontrataçòos
otc. Contudo, a idoia do tloxililidado¨, largamonto utilizada pola
litoratura, podo nos roonviar a uma improcisão no sou uso, pois
podo tanto signiticar a radicalização da oxploração da torça do
tralalho procariamonto gualiticada tcomo ó no tolomarkoting),
guanto a tloxililidado¨ do tralalho altamonto gualiticado, no
gual o alto valor social do tralalhador signitica a possililidado
do ostipular, por oxomplo, sous próprios horários o ató impor ao
omprogador suas próprias condiçòos do tralalho.
Ë nocossário, simultanoamonto, argumontar guo o morcado do
tralalho oxigo, cada voz mais, a oltonção do gualiticação. Para
so intograr ao morcado do tralalho, ospocialmonto no âmlito
tormal, nunca toi tão importanto sor gualiticado. Entrotanto,
possuir uma gualiticação não ó garantia do intogração ostávol no
morcado do tralalho, na modida om guo os tralalhadoros com
nívois mais laixos do gualiticação são rologados às posiçòos o
omprogos do instalilidado no morcado do tralalho. Dosso modo,
uma sociodado mais diplomada não implica nocossariamonto uma
sociodado incluída consistontomonto no morcado do tralalho. O
guo so podo olsorvar ó muito mais o procosso do intoloctualização
parcial da sociodado trazida pola domocratização oscolar,
5
tondo
como consoguôncia o aumonto do diplomados, mas som uma
valorização rolativa dossos diplomas no mundo do tralalho. Por
intoloctualização to guo alguns toóricos chamam do sociodado do
conhocimonto¨) comproondo-so a noção do guo a domocratização
oscolar dos ultimos anos toria provocado como consoguôncia a
intogração do toda a sociodado om tralalhos intoloctuais altamonto
gualiticados, lom como o acosso às univorsidados do ponta o
do maior prostígio.
Uma das idoias guo gostaria do dosonvolvor agui ó a do guo o
tolomarkoting ó uma ocupação cuja constituição ó procária. Essa
atividado não tom aponas um otoito localizado nostas possoas,
rostrito ao tralalho om si, mas contrilui tamlóm na piora da vida
como um todo. Assim, voromos guo olo ajuda a roproduzir uma
condição procária guo impodo a constituição do sontimonto do
sogurança social. A idoia agui ó roconstruir as mudanças o ropro-
duçòos sociais do capitalismo atual na prática, ou soja, porcolor
63
como olo opora om possoas do carno o osso¨. Do torma goral,
isso corrospondo à atinidado ontro o surgimonto do omprogos
tormais procários, padronizados polos novos parâmotros ompro-
sariais pós-tordistas, o a produção social do jovons oscolarizados
com ânsia do intogração no morcado do tralalho. Dosso modo, a
gonoralização da condição do insogurança social podo sor vista om
divorsos ostratos da sociodado o ó prociso olsorvar ondo sous
impactos são mais tortos. Assim, a condição do procariodado
transtorma o prosonto om algo contra o gual não so podo lutar,
olo so impòo onguanto nocossidado. O onsino tormal, portanto,
não ó garantidor nocossariamonto do uma posição ostávol no
mundo do tralalho. A domocratização oscolar contriluiu tanto
para o aumonto do contingonto do oscolarizados guanto para o
dosonvolvimonto do uma situação do procariodado dos nívois
oscolaros mais laixos, ou soja, a constituição do um vordadoiro
~.~:c:ì· u~ :~:~::a n:u:nan~uì~ ~:c·Ia::zau· ja:a · ì:aüaII·
j:~cá::·. So por um lado, ontão, a distância ontro os gualiticados
o dosgualiticados ó cada voz maior,
6
por outro, a gualiticação
mais lásica dada polo onsino módio rologa o latalhador do
tolomarkoting tou o latalhador procarizado) aos sotoros mais
dosprotogidos do morcado do tralalho tormal.
O NOVO¨ ESPlRlTO EVPRESARlAl:
VOCÊ TEVE ATlTUDE NO ATENDlVENTO,
VOCÊ Ë lVPORTANTE!¨
Rodolto ó um rapaz do 21 anos, com calolos longos do
roguoiro o aparôncia cansada, mas jovial, o, acima do tudo,
porspicaz. Ë um rapaz oducado, aposar do não tor modo do talar
dos ditícois olstáculos diários ontrontados polos atondontos do
tolomarkoting. No omprogo há guaso dois anos, olo rosolvou ontrar
para o tolomarkoting por talta do altornativa nos ostudos, ató guo
olo consoguisso so tirmar om algo mais ostávol. Som opção, olo
so alro com incrívol sonsililidado o pormito guo vojamos sou
ostorço diário.
Elo so propara para ir tralalhar, o oxpodionto comoça às 10 da
manhã. Sua jornada do tralalho dura sois horas nos sois dias da
somana. Aposar do sor mais curta do guo uma jornada normal,
64
ola podo parocor so ostondor muito mais guando so tralalha
no atondimonto do um caII c~uì~:. Ao chogar à omprosa, olo so
propara para comoçar, rotira sou I~au :~ì
¯
da mochila, ontra no
sistoma da omprosa tloga¨) o assumo a posição do atondimonto,
a PA¨. Esta posição so caractoriza por oxigir do corpo alto nívol
do controlo o contonção, já guo ó uma posição rígida na gual o
atondonto dovo pormanocor. Caso dosrospoito ossa posição, sua
atonção sorá chamada polos sous suporvisoros, guo podom sor
avisados a gualguor momonto polos oporadoros das câmoras guo
vigiam o amlionto do tralalho. lnclusivo, dontro da sala ondo
tralalham os oporadoros, o controlo ó toito tanto polos supor-
visoros no ostilo taco a taco guanto polas câmoras ospalhadas
pola sala ondo ticam os atondontos. Dontro do uma onormo
sala, ostão dispostas as mosas o os oguipamontos do tralalho,
guo são compostos por um computador o um I~au :~ì, ligado
ao tolotono. As mosas são dolimitadas individualmonto por uma
divisória guo, no ontanto, não ovita guo o atondonto doixo do
sor olsorvávol. Estas unidados individuais são organizadas om
poguonos conjuntos chamados do ilhas¨. Elas são grupos do
atondontos, mas cujo tralalho não podo sor considorado como
sondo colotivo, pois cada um ó rosponsávol polo cumprimonto
do suas motas. Assim, por mais guo uma ilha possa sor rocom-
ponsada ao tinal do um oxpodionto do loa arrocadação, não há a
articulação colotiva do um tralalho om comum, mas um tralalho
individualizado no gual cada um ó rosponsávol polas suas motas
do arrocadação para a omprosa.
lntorligadas ao morcado tinancoiro, guo roprosonta o topo da
hiorarguia do morcado o do tralalho, as omprosas do tolomarkoting
ostão na oscala mais laixa dosta, ondo o poso do toda a hiorar-
guia so acumula nas costas do atondonto. As omprosas do tolotonia
contratam outras guo, por sua voz, rocrutam os atondontos. lsso
pormito a ossas omprosas tornarom-so cada voz mais oticiontos¨
o dinâmicas¨, onxugando sou oscopo intorno ao mosmo tompo
guo mantôm, om sua ostrutura contral, aponas os omprogados
mais indisponsávois tnão por acaso os mais ospocializados o mais
valorizados) para o sou tuncionamonto: o capital so organiza om
rodo¨, mas o tralalho ó procarizado. As omprosas pós-tordistas
so organizam om pirâmido
8
na gual a hiorarguia mais laixa ó o
tralalho tormal procarizado, cujos postos sorão ocupados polo
latalhador do tolomarkoting. Os avanços tocnológicos tamlóm
65
sorvom mais para criar uma imagom intoloctualizada do tralalho
do guo para molhorar as condiçòos. Dossa torma, so oculta a
dimonsão lraçal do um tralalho como tolomarkoting, lom como
o tlagolo solro o corpo do oporador. A ciôncia o a tocnologia
tôm como tim radicalizar o tornar mais oticionto a oxploração do
tralalho, principalmonto guando so trata do tralalhos socialmonto
monos valorizados.
Como o próprio Rodolto nos adianta: Vocô tovo atitudo no
atondimonto, vocô ó importanto!¨, ou soja, olo nos mostra guo o
tolomarkoting ó um tralalho no gual so tom guo suar a camisa¨
para pormanocor. No início do sua jornada, as ligaçòos comoçam a
cair, o o tluxo intonso do ligaçòos só aumonta a tonsão. O tralalho
ó intonso o goralmonto tom-so mais tralalho do guo so podo
suportar, alóm da constanto colrança pola rodução do tompo do
atondimonto. Sua atividado consisto om atondor o rosolvor, no
monor tompo possívol, prollomas rolacionados ao doslloguoio,
contas pondontos o dívidas do tolotonos. Em situaçòos mais com-
ploxas, do ditícil rosolução, a tonsão aumonta, olo ó goralmonto
constrangido a usar o lotão mudo¨ para aliviar a tonsão. O
mudo¨ ó um mocanismo utilizado polo oporador toda voz guo a
tonsão aumonta ao nívol do o clionto xingá-lo, o ontão o mudo¨
sorvo para o atondonto rotrucar, mas dotalho: som guo o clionto
oscuto. O mocanismo om jogo ó o do criar a talsa sonsação do
guo o clionto o o atondonto ostão om pó do igualdado. Qualguor
possililidado do rospondor à altura ó complotamonto noutralizada.
O contorto produzido polo mudo¨ ó o do criar a sonsação do guo
o atondonto podo roagir ao sor dosrospoitado, nada mais talso o
paliativo. A oticácia, ontão, ó a do criar um mocanismo placolo,
um psoudoalívio da tonsão omocional tassim como no caso das
tostas, como voromos adianto), componsatórios pola onormo tonsão
no amlionto do tralalho. O guo ostá om jogo ó a constituição do
condiçòos procárias do tralalho tormal, no gual o tralalhador
ó valorizado pola capacidado do so suljugar às imposiçòos das
omprosas, como mudança do horários, má-tó dos suporvisoros
o condiçòos do tralalho ostrossantos o massacrantos. Um proço
alto a so pagar. Como olo conta ao so rotorir à tonsa rolação com
os cliontos: Eu não to talando do vocô to clionto), ou to talando
da sua omprosa, mas ou tonho guo talar com alguóm, alguóm vai
mo ouvir o vocô tá aí pra Cristo.¨
66
No docorror do dia, sou oljotivo principal ó lator motas
do atondimonto, ou soja, atondor o máximo do ligaçòos pos-
sívois no monor tompo. Sous dados possoais ou os indicativos
são rotorontos à produtividado individual, lom como o numoro
do taltas guo cada atondonto possui. Os suporvisoros do Rodolto
costumam troguontomonto lançar dosatios¨, cujo oljotivo ó a
diminuição constanto da módia do tompo do atondimonto, o
guo cria a sonsação do cachorro guo corro atrás do próprio
ralo¨, já guo osta colrança não tom tim o aumonta cada voz mais.
Então, o oporador ó constantomonto prossionado a lator suas
próprias motas.
O novo¨ ospírito omprosarial, atinado ao modo do dominação
tinancoiro,
9
ostrutura sua organização do tralalho a partir do uma
noção individualizanto guo rosponsaliliza cada oporador por sua
produtividado. Assim, alro-so a possililidado do jogar para o
atondonto toda o gualguor rosponsalilidado polos atondimontos
na compotôncia individual¨. O modo do dominação tinancoiro
signitica, ontão, o domínio da oconomia, oncarada onguanto
torma ostruturanto do todas as rolaçòos do tralalho. Ela ostrutura
todas as rolaçòos suljacontos, condiçòos o rogimos do tralalho.
Tudo so passa como so tudo dopondosso da compotôncia¨, do
dosomponho individual¨ ou mosmo da atitudo¨, como coloca
Rodolto, no atondimonto. O signiticado disso ó justamonto a
capacidado do um tralalhador como osto so sulmotor a rogimos
do tralalho cada voz mais intonsos, so suljugar às imposiçòos
do omprogador som guostionamonto. O tolomarkoting ó um
vordadoiro porão da dominação tinancoira.
Quando tinalmonto choga a primoira pausa, o tompo ó curto.
São 10 minutos: o tompo do tomar um cató o ir ao lanhoiro.
O sou tompo ó rigidamonto controlado pola suporvisão, guo já
comoça a contar dosdo guando Rodolto sai do sua PA. Do volta
ao tralalho, olo ontronta algumas horas a mais do atondimonto
pola tronto antos da sogunda pausa. Na hora do almoço, a tonsão
não diminui: são incrívois 20 minutos para todo o poríodo do
almoço! Assim guo Rodolto sai do sua PA, olo tom guo doscor
um andar ató o rotoitório, ondo olo dovo pogar sua marmita na
goladoira. Valo dizor guo uma prática muito comum dontro os
atondontos do tolomarkoting ó a concossão dos tickots do rotoição
aos tamiliaros para guo ostos taçam compras om casa. Essa ó

uma torma do contriluir om casa o tunciona como uma torma
do dádiva, uma contriluição oconomica travostida o guo nunca
podo sor oxplicitamonto articulada onguanto tal:
Então, o tickot ou dou todo pra ola. Não ó tanto assim, mas ou
dou olo todo porguo... Ë um projuízo. As vozos vocô tica om casa
o dia intoiro... Esso lanco do lanho domorado como muito. t...)
Ela |a mão do Rodolto} ató protoro guo ou doixo isso pra ola guo
aí ola podo tazor compras, ossas coisas. Ela protoro.
Essa torma do contriluição oconomica om casa nos mostra
guo Rodolto so sonto incomodado o proocupado om tazor parto
da vida oconomica do sua tamília. Elo não so sonto rolaxado com
rolação às nocossidados oconomicas tamiliaros, o guo podo sor
olsorvado na sua proocupação com os gastos domósticos, ainda
guo sua contriluição não soja oxplicitamonto monotária.
Goralmonto pogar a marmita não ó tão tácil assim, já guo olo
ontronta tanto uma tila para pogar o sou almoço na goladoira
guanto para osguontá-lo no torno do micro-ondas. Na maioria
das vozos, alguns dolos ostão com dotoitos ou não osguontam
a comida por comploto, tondo olo guo comô-la tria por dontro.
Há tamlóm oscaninhos ondo os atondontos guardam sous por-
toncos, mas ó proilido guardar gualguor tipo do comida. Outro
ontrovistado do mosmo sotor ilustrou o caso do uma voz om guo
toi luscar sous portoncos dopois do um árduo dia do tralalho.
Quando chogou ao local, cansado, olo ticou ospantado ao vor
as portas do todos os oscaninhos alortas o viu oscrita a soguinto
monsagom tprovavolmonto oscrita por algum suporvisor): Já
avisamos para não doixarom comida nos oscaninhos!¨ Esto caso
mostra a arlitrariodado da omprosa com rolação, inclusivo, aos
portoncos dos atondontos, mosmo guo não tosso pormitido mantor
comida dontro dos tais oscaninhos.
No docorror do dia do tralalho, ó inovitávol a prosonça do
doros polo corpo: doros do caloça, doros nos olhos, tondinito
o o ostrosso omocional dorivado das rolaçòos com cliontos
mal-humorados, lom como a solrocarga do tralalho. Tamlóm
são comuns disturlios psicológicos, como aumonto do compor-
tamonto agrossivo o cansaço montal. Os prollomas do saudo vão
só aumontando do acordo com a pormanôncia no omprogo:
68
Eu tico um pouco mais agrossivo. lico mais norvoso. Uma coisa
guo mo doixa muito ostrossado, guo ó aguola coisa guo tica
latondo na sua caloça diroto. Aí ou tico lom norvoso mosmo.
t...) Vas o lanco guo poga mais ó o ostrosso do somatório das
tunçòos, guo dosgasta a vista, dosgasta o sou intolocto porguo
cô tica ali, tontando ouvir o rosolvor... E como ó muito programa
o muito sistoma ó movimonto diroto tísico, nó? Quo ó o caso da
tondinito o tudo mais o cô tom guo raciocinar rápido porguo olos
tão to colrando tompo.
Dosso modo, podo-so guostionar ató guo ponto, mosmo oxigindo
alguma gualiticação, o tolomarkoting ó um omprogo puramonto
intoloctual. O tato do não sor um tralalho considorado sujo¨,
dogradanto¨, isto ó, tor guo lidar com insalulridado o sujoira,
do não tor guo carrogar poso o do sor considorado um omprogo
do oscritório não guor, nocossariamonto, dizor guo a ocupação
do tolomarkoting soja puramonto intoloctual ou virtual¨. Como
vomos oxplicitamonto, o tlagolo solro o corpo dos atondontos ó
lom roal, o guo indica guo um tralalho como osso ostá longo do
sor aponas intoloctual ou intormacional¨. Solro osto ponto, valo
a pona donunciar o doscaso do Vinistório Pullico do Tralalho
10
o da Anatol, guo privilogiam a nogociação¨ das condiçòos
do tralalho com as omprosas, o não a imposição jurídica do
condiçòos mais acoitávois o justas do tralalho, tazondo provalocor
a mão diroita do Estado¨.
11
Assim, a grando ilusão construída
solro o tolomarkoting ó a do guo ó um omprogo do oscritório¨
puramonto intoloctual, o guo contrilui para ocultar sua dimonsão
duramonto lraçal. Sous otoitos notastos solro a saudo corporal
dos oporadoros nos rovolam o outro lado. No caso ospocítico
dosto tralalho, a polarização ontro tralalho intoloctual o lraçal
mais atrapalha do guo ajuda, já guo, do tato, onguanto tralalho
minimamonto gualiticado, ainda guo pouco ospocializado, oxis-
tom halilidados intoloctuais om jogo. Não so podo diminuir o
tolomarkoting a um tralalho dosgualiticado, no gual o indivíduo
ó roduzido a puro corpo, pura torça tísica. Nosto sontido, um
tralalho como osto congroga duas dimonsòos. O lado intoloctual
dossa protissão tamlóm não podo sor idoalizado, pois oxigo
compotôncias intoloctuais gorais, corto nívol do conhocimontos
gorais om intormática o guo om nada so assomolha às ocupaçòos
altamonto gualiticadas, om guo as compotôncias intoloctuais om
guostão são muito mais ospocializadas, utilizadas para a concopção
69
do novas morcadorias, sorviços, tocnologias otc. Portanto, as
compotôncias intoloctuais tamlóm ostão conoctadas ao corpo,
pois osto ostorço intoloctual contínuo o ropotitivo tondo a causar,
por oxomplo, dor do caloça o nos olhos. Ë procisamonto nosto
aspocto guo o tolomarkoting ó um omprogo om guo, a dospoito
do sua imagom, o tralalhador paga com o corpo o a alma¨.
Rodolto, ontão, praticamonto ongolo a sua comida om 20
minutos, raramonto solra tompo para oscovar os dontos ou
mosmo lavar o rosto. Espocialmonto nosto dia, houvo uma tosta
otorocida pola omprosa, o Rodolto parocia animado. Ao invós do
aponas tomar um cató na ultima pausa, a omprosa sorviria um
lancho. Elo mosmo rolata com um olhar lastanto crítico o rara
porspicácia: O circo ostava armado.¨ Todos parociam contontos,
os suporvisoros vostidos com tornos, um tapoto vormolho oston-
dido por toda a sala do caII c~uì~:. Os suporvisoros distriluíram
lrindos o ponduraram o logotipo da omprosa nas parodos. Elos
paralonizaram os atondontos polo sou tralalho duro, tudo toito
com o protoxto do rolaxar¨ ou tornar mais lovo¨ o amlionto do
tralalho. Os molhoros atondontos toram promiados com lrindos,
como DVDs o caixas do lomlons. Ë rolovanto comontar guo a
rocomponsa polo tralalho duro não so rovorto om um aumonto
no salário, om lonus roconvortido om valor alstrato, mas om
prômios o coisas cujo uso o valor ostão dados do antomão. A
rocomponsa irrisória polo ostorço podo sor um lom oxomplo
do dosvalor dosto tralalho. So, por um lado, o olhar crítico do
nosso ontrovistado pormito guo olo não tonha adosão o porcola
o doscompasso ontro o guo olo arrocada para a omprosa o a
rotriluição polo sou tralalho, por outro, muitos oncaram ossa
situação como lrincadoira, um modo lastanto sutil o justiticávol
do acoitar sua própria condição procária:
Quom tá ontrando olha o tala: Nossa! Quo maravilha! Quo loloza!
Quo omprosa linda!¨ t...) Paroco ató uma loato! Dopois guo comoça
ó isso mosmo. Ë loloza ondo não há! Tom a galora guo so comovo,
guo so doixa lovar. t...) Tom o possoal guo tala: Quo logal, ganhoi
um oclinhos! |olo so rotoro aos tais lrindos}.
Ao tinal do dia, Rodolto choga cansado om casa. Som torças,
olo só ponsa om dormir ou tazor algo guo não onvolva muita
concontração. Ë como so suas torças tivossom sido sugadas ató
a ultima gota. So, om primoira instância, o poríodo do sois horas
¯0
do tralalho, om toso, proporciona-lho a chanco do dosonvolvor
outras atividados, pois ó monor do guo uma jornada normal, no
ontanto a oxtroma intonsidado da atividado ó um complicador.
Então, aposar do tor o hálito do lor, por oxomplo, o tralalho
contrilui para sua oxaustão tísica o montal do tal torma guo olo
não consoguo mantor osso hálito do torma contínua. Assim guo
olo poga um livro já na cama antos do dormir, não rosisto. O poso
do uma dura jornada do tralalho lho toma o corpo por intoiro
o olo rapidamonto cai no sono. Ao tinal do dia, a luta ontro
monto o corpo já aprosonta um ganhador. Dossa torma, a rotina
posada do Rodolto só ó oguililrada com algumas saídas no tim
do somana o com os onsaios do sua landa do rock. As vozos
nom isso componsa, pois om um oncontro não planojado, olo
nos contossou guo toi tralalhar virado¨ após uma noito longa
do lolodoira.
No cotidiano do Rodolto, porcolomos os otoitos concrotos do
um tralalho tormal procário. Assim, para impor um novo tipo do
oxploração, ó prociso guo haja um tipo do tralalhador para sor
oxplorado. O latalhador tormal procarizado corrospondo, ontão,
a osto tralalhador capaz do altos sacritícios possoais, tísicos o
psicológicos, adaptávol às imposiçòos arlitrárias das omprosas
guo oxigom nada mais do guo :·n~uì~ a :ua tloxililidado.
O TRABAlHO lORVAl PRECARlO
A procarização do tralalho tormal taz com guo a aguisição do
uma gualiticação não soja om si garantia do intogração ostávol no
mundo do tralalho. Esta gualiticação tamlóm não signitica nom
uma rolação aproximada com o conhocimonto oscolar, nom
nocossariamonto o acosso garantido aos sous nívois suporioros.
lsso ocorro principalmonto com rolação às possoas com gualiti-
cação mais laixa no morcado do diplomas oscolaros, intlacionadas
polo procosso do domocratização oscolar, o guo taz com guo o
valor rolativo do dotorminado diploma no morcado do tralalho
diminua, já guo há mais possoas com o mosmo nívol oscolar.
Nosto caso ó tundamontal rolacionar oscola o morcado do tralalho.
Dosso modo, ainda guo não so trato do um tralalho indigniticanto
o dosgualiticado, no gual o roconhocimonto social oljotivo polo
sou tralalho lho ó totalmonto nogado, ó possívol atirmar guo o
¯1
latalhador do tolomarkoting ó procarizado. A singularidado
dosso tipo do procariodado ó a do guo o tralalho contrilui para
a dosorganização da vida como um todo, o guo tom como otoito
a diminuição das possililidados do roalização do planos o aspi-
raçòos tuturas. So, por um lado, o tolomarkoting ó um omprogo
cuja promossa manitosta ó a rapidoz onguanto possililidado do
ganhar um dinhoiro rápido para invostir om outros projotos do
vida, por outro, ó um omprogo guo so coloca, muitas vozos, como
unica altornativa possívol, na gual o tuturo signitica a procariodado
do prosonto tsolrotudo na ároa do colrança). Nosto sontido, a
tonsão ontro tralalho o ostudo so oxprossa na osporança do guo
o ostudo trará mais ostalilidado no mundo do tralalho. Agui, o
tralalho não vom como uma consoguôncia suavo do ostudo, olo
ó sompro oncarado onguanto osporança pola garantia do uma
intogração ostávol no mundo do tralalho.
Em outra ocasião, Rodolto nos conta guo toi tazor um concurso
para assistonto do laloratório om uma univorsidado da cidado
ondo mora. Elo ganharia o dolro do guo rocolo como atondonto,
o guo lho garantiria corta sogurança oconomica para invostir om
sous ostudos. Para olo, o concurso pullico ó uma torma do achar
uma altornativa, já guo Rodolto não protondo pormanocor por muito
tompo no tolomarkoting. Aliás, o tolomarkoting ó porcolido, por
todos os atondontos, como um omprogo passagoiro, no gual não
so tica mais do guo dois ou trôs anos. Há ainda possoas guo não
ticam mais do guo sois mosos ou ainda saom na primoira somana
simplosmonto por não aguontarom o ritmo intonso o oxaustivo
do tralalho. Portanto, ó muito comum invostir om altornativas,
solrotudo nos ostudos, na osporança do um omprogo guo traga
um pouco mais do ostalilidado. No ontanto, so por um lado olo
tonta sair do tolomarkoting ao procurar outros caminhos, suas
chancos do roalização parocom poguonas. A promossa trazida
pola possililidado do tralalhar sois horas ou do sor um omprogo
do curta duração, na vordado, oculta o tuturo om alorto¨, ossa
incortoza guo ó monos a alundância do possililidados a soguir
do guo a talta dolas. Assim, Rodolto pormanoco num loco som
saída: olo salo guo o tolomarkoting não ó para a vida toda, mas
o tato do tor complotado o onsino módio não corrospondo automa-
ticamonto ao acosso irrostrito às instituiçòos suporioros do onsino,
principalmonto as mais prostigiadas o concorridas. lsso guor
¯2
dizor guo, aposar do tor oscolarização lásica, o tuturo oscolar do
Rodolto não ostá garantido.
O concurso ia sor roalizado om um domingo às 14 horas da
tardo, sondo guo na vóspora olo tinha tralalhado ató as 11 da
noito no atondimonto. Exausto, olo rolata guo sua suporvisora
tontou loicotá-lo ao roalocá-lo para o oxpodionto no domingo,
oxatamonto no dia da prova. Som opção, olo cumpriu a ordom
da suporvisora, comparocou ao tralalho às ¯ da manhã o saiu às
10. Elo já havia avisado da nocossidado do taltar com uma somana
do antocodôncia, mas ola tizora vista grossa. No docorror da
convorsa, cada voz mais, vai transparocondo guo a tontativa do
concurso toi uma vordadoira aposta¨. Não houvo gualguor tipo
do proparação, ostudo ou dodicação próvia:
Eu não tinha ostudado, o a apostila guo a gonto comprou aí, pra
ostudar, não tava lá ossas coisas não trisos). t...) Ah... trisos)... Um
amigo achou, viu um cara vondondo na rua aí t...) O cara tava
vondondo as apostilas ali, dirocionadas pro concurso, aí a gonto
tava som laso nonhuma do como ia ostudar, aí a gonto achou a
apostila, acroditou o nom lou... Ë ossa mosmo.
Porcolomos agui, como olo mosmo diz, guo sua oxporiôncia
com a prova do concurso toi marcada muito mais por uma aposta
do consoguir algo molhor do guo propriamonto por um invosti-
monto, guo supòo uma rolação mais organizada com o tompo o
um proparo antorior, ainda guo olo tivosso guo conciliar com o
tralalho. Esta situação tom como consoguôncia a oxpoctativa do
consoguir algo molhor, mas som guo isso nocossariamonto tonha
corrospondôncia dirota com as condiçòos oljotivas do roalização.
Esto doscompasso ó justamonto o guo ó socialmonto produzido
por sua situação do procariodado, na gual a unica coisa sogura guo
olo tom ó a própria insogurança do um tralalho do tolomarkoting.
Sou tralalho contrilui tortomonto para a dosorganização
do sou cotidiano, na modida om guo a omprosa ó totalmonto
arlitrária o ototua constantos mudanças no sou horário. Estas
mudanças dosorganizam o sou cotidiano, uma voz guo Rodolto
tom guo ostar sompro pronto para o guo dor o vior¨. O tompo
prosonto ó, portanto, posto onguanto algo irrocusávol, no gual
sua adaptação às condiçòos impostas por sou omprogador signi-
tica uma guostão do vida ou morto¨. lsso ó justamonto o guo
marca sua condição do procariodado. Dosso modo, aposar do a
¯3
omprosa arlitrariamonto dispor do sou horário, Rodolto porcolo
sou tracasso do torma individualizada, como talta do vontado o
proguiça para o ostudo: loi mais guostão do proguiça mosmo,
do talta do vontado mosmo. Não toi diticuldado nonhuma não.
Tinha guo corror atrás mosmo. E ou não corri tanto. Não mo
omponhoi mosmo ostudando.¨
O mocanismo social do culpar a si próprio polo tracasso
portonco a todas as instituiçòos modornas, mas podo sor olsor-
vado na rolação do Rodolto com os ostudos. Agui, o guo ostá om
jogo ó justamonto a ilusão do prossupor guo a compotição social
acontoco ontro indivíduos partindo do condiçòos sociais iguais.
Portanto, há uma tonsão ontro duas ostoras da vida do Rodolto,
a do tralalho no tolomarkoting, com o gual ajuda om casa, o
a do dar soguimonto nos ostudos. No ontanto, os dois tormos
dossa tonsão não possuom o mosmo valor, já guo o tralalho
procário o a rolação malsucodida com a oscola contriluom para
o constrangimonto do suas altornativas. Ë justamonto aí guo so
podo dizor guo a vida do Rodolto ó rogida por uma condição do
procariodado, pois a unica coisa garantida guo olo possui ó o sou
tralalho como atondonto.
Agui a idoia do má-tó institucional
12
ó contral, na modida om
guo sopara dois rogistros da instituição oscolar: o manitosto o
oxplícito, no gual a oscola promoto oxplicitamonto a todos as
mosmas chancos do tor sucosso, o a latonto, om guo provaloco
a roprodução cotidiana o prática das dosigualdados oscolaros,
lasoada na hiorarguia das classos sociais. Como porcolou Piorro
Bourdiou,
13
o sistoma oscolar privilogia as classos dominantos,
sondo o sucosso ou tracasso oscolar dopondontos da rolação
o a adoguação ontro as disposiçòos do classo o as disposiçòos
institucionais oscolaros, guo supòom aprondizados antorioros
proporcionados ou não pola tamília, situada na hiorarguia do
classos. Contudo, aliado a osto concoito, ó prociso tamlóm lovar
om conta a tunção dossa dimonsão manitosta, cuja oticácia
ó ospocial para os indivíduos das classos dominadas, mas com
alguma oscolaridado, cujas aspiraçòos oscolaros nom sompro
corrospondom às possililidados ototivas o concrotas do roalização
dostas. Portanto, a oscola o a tamília contriluom para a :uJIa¸a·
ua: a:j::a¸·~: ~:c·Ia:~:. Esto mocanismo tunciona a partir da
protonsa noutralidado da instituição oscolar guo, ao postular a
igualdado das possililidados oscolaros, coloca o sucosso oscolar
¯4
como dopondonto oxclusivamonto do ostorço possoal. Como so
o sucosso nos ostudos tosso trilutário aponas do so vocô ostudar
vocô consoguo¨ ou todos podom, lasta guoror¨. Essa noção
prática do guo o conhocimonto ó acossívol o importanto para todos
orionta as oxpoctativas o o invostimonto tou aposta) oscolar das
possoas. A intlação das aspiraçòos oscolaros não tunciona som
a dissominação prática gonoralizada da importância do ostudo
tormal para o sucosso na vida protissional to possoal) o no acosso
ao onsino tormal por uma maior parto da população como um
todo. Esto ponto podo sor ilustrado na vida possoal o tamiliar do
Rodolto guando olo oxprossa o cansaço do inumoras tontativas
malsucodidas no mundo oscolar tospocialmonto no caso dos
vostilularos o concursos). Entrotanto, sua mão insistontomonto
colra omponho o dodicação possoal nos ostudos na osporança
do guo olo lovo sua vida mais a sório¨. Essa osporança do sua
mão ó a concopção do guo não há sucosso protissional som
ostudo tormal:
Tinha guo tazor assim, polo monos para ola não ticar colrando ou
ostudar salo, tiz o concurso hojo, para ola não mo colrar, o ou
já doi aguola rolaxada. Daí ola já chogou junto o já talou: Vocô
não podo rolaxar não t...) ou soi guo vocô ta tralalhando, mas
soi guo vocô tom guo tazor uma taculdado, o polo monos tontar
outros concursos, lovar mais a sório a sua vida¨.
Dossa torma, ainda guo tonha consoguido so tormar no onsino
módio, como um aluno modiano, o guo não ó muito, mas talvoz
tonha ovitado o pior, ou soja, sor olrigado a tralalhar om um
sorviço dosgualiticado tsujo¨ o posado¨), sua oxporiôncia oscolar
não tovo como consoguôncia a sua aproximação com as insti-
tuiçòos do onsino. A intlação das oxpoctativas oscolaros ó a
ditoronça ontro a complota rosignação ou rojoição com rolação ao
mundo oscolar o a osporança, ainda guo trágil, do asconsão nosto.
A intlação das oxpoctativas oscolaros produz o doscompasso ontro
oxpoctativas suljotivas o chancos concrotas do roalizar tais aspiraçòos.
O aumonto da população oscolarizada produziu a sonsação do
guo so podo dar um passo maior do guo as pornas.
Como olo mosmo conta, ir à oscola ora o mosmo guo ir a uma
missa¨ todo tinal do somana. Esta rolação do distanciamonto so
oxprossa como dosostímulo para ostudar, ainda mais com rolação
às matórias guo oxigom um nívol do alstração mais olovado,
¯5
como as das ciôncias naturais ttísica o matomática, por oxomplo).
Então, aposar do tor tormalmonto complotado os ostudos do
onsino módio, sua oxporiôncia oscolar sorviu muito mais para
distanciá-lo dosso mundo oscolar do guo aproximá-lo, tondo om
vista o acosso aos nívois suporioros do oducação. A oscola tom,
para osso latalhador, muito mais o papol do nolo produzir um
tipo do violôncia simlólica, no sontido do um distanciamonto
do conhocimonto oscolar, concrotizada no dosostímulo para o
ostudo:
Por guo ou não ostudo tanto o ola vô guo ou não sou muito lurro
não salo... às vozos ou tonho ató tacilidado para pogar as coisas
assim, salo... Pra tazor as coisas... Só guo tôm coisas guo ou não
consigo salo? Por guo ou não gosto..
O gosto¨ na tala do Rodolto so transtorma om logitimação
polo tato do não tor dosonvolvido uma rolação mais aproximada
com o mundo oscolar. Esso gosto¨ ou o amor¨ a uma prática
social ospocítica não so produz aponas pola vontado conscionto
ou individual do alguóm, mas por um contoxto social antorior
tprodominantomonto tamiliar) no gual a possoa socializada
aprondo, na maioria das vozos do torma pró-rotloxiva tsom guo
ola mosma o porcola), os prossupostos ospocíticos para gostar
do algo. lsso ainda ó mais agravado polo tato do Rodolto so vor
constrangido pola nocossidado do tralalhar, já guo osso gosto¨
polo ostudo raramonto vom dosacompanhado da possililidado
do so dodicar oxclusivamonto a osto, ou ainda da possililidado
do planojar sua vida protissional om tunção dos ostudos. Dossa
manoira, por mais guo Rodolto não tonha um currículo oscolar
marcado por ropotôncias, notas vormolhas, dosistôncia oscolar o
prollomas disciplinaros o tor sompro sido um aluno modiano, a
oscola produziu nolo uma violôncia simlólica, uma imposição
cujo rosultado toi o dosostímulo para os ostudos. Adomais, a osco-
larização módia não ó garantia do acosso indotinido ao mundo
oscolar o nom mosmo da constituição do uma rolação com o
onsino livro do contlitos o, solrotudo, otoitos como dosostímulo.
Nosso sontido, a roprodução da dosigualdado social no mundo
oscolar o consoguontomonto no tralalho ó mais sutil nosto caso,
pois a oxporiôncia oscolar não ó, por um lado, composta por
situaçòos traumáticas oxplícitas, mas por outro produz no aluno
oxpoctativas guo parocom pouco roalizávois.
¯6
luciana ó uma mulhor do garra. Com 20 anos, longos calolos
nogros o polo alva, ola salo guo no mundo nada ó gratuito o por
isso ó prociso corror atrás¨. Em suma, latalhar por uma vida
molhor. Atuando na ároa do tolomarkoting há guaso trôs anos,
sua posição como atondonto ora comumonto intorcalada com a do
ovontual. Esta posição intormodiária guo ola assumo voz por outra
ontro o oporador mais comum o o suporvisor ó o do sulstituir osto
ultimo om suas tunçòos dontro da omprosa guando, por algum
motivo, olo tom guo so ausontar. lsso contoriu-lho lastanto
contiança o conhocimonto solro os procodimontos intornos da
omprosa, guo conhoco protundamonto. Essa posição mais olovada
na hiorarguia intorna da omprosa tamlóm lho pormito corta
autoridado, como no caso om guo toi projudicada por uma supor-
visora guo autorizou um pagamonto som guo tosso pormitido.
Ela roclamou com razão o a ontrontou tronto a tronto. Tamlóm
cansada do omprogo, ola roclama dos mosmos prollomas tísicos
o psicológicos guo o ostorço ropotitivo no atondimonto causa,
o guo não a livra do, assim como Rodolto, pagar com o corpo
o a alma¨ o proço do tralalho árduo no cotidiano. Alóm disso,
ola conta guo o tolomarkoting a doixou mais agrossiva o impa-
cionto na sua vida privada, particularmonto com sous tamiliaros
o amigos mais próximos. lsso ilustra lom o ongano do guo os
oporadoros não lovam as mazolas do sou tralalho para sua vida
privada, como so tosso possívol litoralmonto não lovar dosatoro
para casa¨. Ainda assim, com uma postura ativa dianto da vida,
luciana diz guo na vida tomos guo dar tudo o mais um pouco¨
para voncor.
Em contrasto com Rodolto, ola hojo cursa taculdado om gostão
do rocursos humanos. Com um cotidiano lastanto atrilulado,
dividido ontro tralalho o ostudos, ola ainda assumo algumas
rosponsalilidados domósticas guando nocossário. Tondo uma
rolação turlulonta com o pai, com guom já ticou corca do um
ano som talar, sua mão ó a possoa com guom mantóm laços
atotivos mais tortos o com guom convorsa guando tica atlita.
Aposar disso, ola o admira por olo tor sompro sido uma possoa
muito tralalhadora, assim como ola própria. A modida guo vai
talando do sous tamiliaros, principalmonto do sous pais, doixa
transparocor o aprondizado do guo a vida ó dura, mas guo valo
a pona tralalhar torto para sulir nola. Para luciana, o signiticado
disso ó a asconsão polos ostudos do nívol suporior. Com torto
¯¯
sonso do rosponsalilidado, ola atirma guo sous pais sompro a
incontivaram aos ostudos o sompro dissoram: Vonina, para do
namorar! Vai ostudar!¨
Sua insorção no curso suporior cortamonto conta como algo
guo a ditoroncia da condição do Rodolto. Nosto caso, as possilili-
dados do asconsão protissional so alrom um pouco mais, ainda
guo sou ingrosso om um curso suporior particular to om uma
taculdado particular do pouco ronomo) não signitiguo automa-
ticamonto a garantia do um omprogo tão molhor assim. O caso
dos suporvisoros do tolomarkoting ilustra lom osso ponto, pois
olos ganham aponas um pouco mais do guo os atondontos o a
rolação do oscolaridado so invorto: so o pullico dos atondontos ó
marcado pola maioria rocóm-saída do sogundo grau, já no caso dos
suporvisoros a maioria ó composta por possoas do torcoiro grau
comploto ou incomploto. Alóm disso, a torma pola gual luciana
oncara os ostudos ó complotamonto suljugada aos imporativos do
mundo do tralalho: Eu não consigo ticar o dia intoiro ostudando,
mo dodicar só a isso t...). Eu não tonho a monor paciôncia para
ostudar.¨ Não so ostuda para tralalhar, so tralalha para so tor a
chanco do ostudar.
Algo tamlóm muito poculiar om luciana ó guo duranto a
ontrovista ola comumonto so romotia ao jargão omprosarial
pós-tordista para doscrovor situaçòos da sua vida, como guando
ola diz guo sua suporvisora não tovo gostão¨, no caso do contlito
narrado acima. lsso tamlóm acontoco guando ola, duranto todo o
oncontro, ontatiza guo ó prociso não aponas tor torça do vontado
para voncor na vida, mas guo ó tamlóm nocossário tor visão do
croscimonto protissional¨. Por sua condição oljotiva molhor do
guo a do Rodolto, a chanco do ascondor polos ostudos ó tamlóm
a possililidado do uma alortura para um novo mundo¨ guo
congroga os idoais omprosariais pós-tordistas o a importância
do conhocimonto oscolar tormal. Como analisou Bourdiou,
14
a
mulhor tom um papol contral na adoção do novos modolos
culturais tnosto caso, omprosariais), tondo om vista a possililidado
do omancipação do sua posição dominada. No caso do luciana
isso so dá na incorporação do novos padròos omprosariais pós--
-tordistas guo so concrotizam na sua visão do sacritício possoal
polo tralalho o do guo não há asconsão som ostorço possoal.
Assim, ola transtorma as oxigôncias omprosariais do tralalho
procário om sua própria torma do olhar o mundo, om sou padrão
¯8
do loa vida, mocanismo oxtromamonto oticaz guo taz com
guo ola convorta om sua visão do mundo os novos critórios aos
guais ola so adógua, transtormando-os om sous próprios. Dossa
manoira, ola porcolo a sua dominação não como algo imposto
do tora, por um mundo cruol, mas como algo guorido por ola,
agora intornalizado como sou padrão do loa vida. So, por um
lado, sua trajotória social ascondonto lho aparonta sor um mundo
choio do possililidados, por outro, ola tamlóm não oscapa do so
tornar o suporto social por oxcolôncia da oxploração do tralalho
tormal procário.
A sonsação do insogurança oxporimontada por Rodolto o
luciana om sou tralalho ó a mosma do todos os atondontos, ainda
guo alguns tonham mais ou monos chancos o rocursos do lidar
molhor com isso. O tralalhador procariamonto gualiticado ostá
ontro o dosomprogo troal ou potoncial), a oscolarização módia o
o tralalho procário. Elo oxporimonta a sonsação do insogurança
dovido à produção sociooscolar, nos ultimos anos, do um vordadoiro
~.~:c:ì· u~ :~:~::a n:u:nan~uì~ ~:c·Ia::zau· ja:a · ì:aüaII·
j:~cá::·. A produção do uma população com maior grau do
oscolarização não ó a garantia do uma sociodado com possoas
om omprogos molhoros. Ao contrário, o tolomarkoting ó um tipo
do tralalho guo surgo nos ultimos anos dirocionado oxatamonto
para os jovons da classo latalhadora, com oscolaridado módia,
dispostos ao tralalho duro, intonso o, solrotudo, adaptávol às
imposiçòos do omprogador, mas com toda a aparôncia do omprogo
limpo¨. Contrilui para ossa ilusão do omprogo limpo¨ o tato
do guo o amlionto do tralalho soja o do um oscritório¨, som
tor a aparôncia do um tralalho guo oxija constanto torça tísica
o, portanto, som o modo do sair suado o sujo dopois do um dia
duro do tralalho. Soma-so a isso tamlóm um corto orgulho do
tralalhar para uma grando omprosa o tor a sonsação do participar
dosta. Alóm disso, o vínculo tormal, longo do sor gualguor
garantia do ostalilidado o rospoito aos diroitos, contrilui para
construir a aparôncia do guo o tolomarkoting ó um omprogo
sório¨, limpo¨ o, inclusivo, puramonto intoloctual¨. Ë prociso
tamlóm dizor guo o tato do possuir um vínculo tormal o om uma
omprosa ajuda a construir uma talsa oposição com o omprogo
intormal, guo imaginamos sor troguontomonto instávol o do laixa
romunoração. O mais importanto agui ó comproondor guais as
condiçòos sociais da vida guo um tipo do tralalho roproduz.
¯9
A oposição ontro tormal o intormal tamlóm não ajuda a porcolor
guo a tormalidado tom um lado do oxtroma oxploração o guo
alguóm na intormalidado podo ostar, om alguns casos, om uma
situação goral molhor tou soja, com molhoros salários o sondo
dono do próprio nogócio intormal) do guo a do um tralalhador
tormal omprogado.
Ë procisamonto isso guo taz com guo o atondonto ostoja
na posição do sor sulstituído a gualguor momonto¨, om guo o
omprogo guo so tom so transtorma num trágil castolo do cartas,
guo podo so dosmoronar com um simplos assopro. A doscarta-
lilidado ou não do um tralalhador ó dirotamonto proporcional
ao valor social o à raridado da torça do tralalho om guostão. A
intlação socialmonto produzida da torça do tralalho minimamonto
oscolarizada ó o olomonto contral para comproondor o tonomono
om jogo. Essa oscolarização mínima promovida polo aumonto om
alsoluto da população tormalmonto oscolarizada não signitica
uma insorção molhor no morcado do tralalho o muito monos
nocossariamonto o acosso aos nívois do oscolarização mais olovados
to nas univorsidados do maior ronomo o prostígio), ó como so
as portas do univorso oscolar so alrissom pola motado ou polo
monos uma poguona trosta pola gual as classos dominadas podom
dar uma poguona ospiada.
lNlOPROlETARlOS
OU UVA NOVA ClASSE TRABAlHADORA?
A litoratura goral solro a naturoza do guo ó o tolomarkoting
so dosdolra tanto om produçòos acadômicas do cunho mais
doscritivo guanto na tontativa do dotinição do guo ó, atinal, o
advonto do uma ocupação como osta. O livro 1uJ·j:·I~ìa::au·:
15
ó um lom oxomplo da tontativa do dotinição guo parto tanto
do concoito do tralalho intormacional¨ guanto da idoia do guo
o tolomarkoting ó uma mistura ontro condiçòos do tralalho do
sóculo XlX articulada à tocnologia do sóculo XXl. Alóm disso,
o tolomarkoting podoria sor analisado como o surgimonto do
intotaylorismo ou taylorização do tralalho intoloctual,
16
utilizado
para o controlo rigoroso do tralalho, olsorvado no sistoma do
motas, no controlo das pausas, na constituição do uma posição
ospocítica para o tralalho ta PA) otc.
80
Então, gostaria do propor uma crítica aos artigos do Braga o
Woltt, guo podom sor considorados os dois mais importantos no
sontido guo tontam dotinir a atividado do oporador do tolo-
markoting. Nos dois artigos, os autoros lançam mão da idoia do
guo o tralalho do oporador do tolomarkoting podo sor dotinido
como tralalho intormacional¨. Essa noção parto do princípio do
guo, sondo a matória-prima do tralalho a própria intormação o
vondida como sorviço, o tolomarkoting podoria sor dotinido como
atividado intormacional¨.

Aposar do porcolorom o tolomarkoting
como um tralalho procário, a idoia do tralalho intormacional¨
tou tluxo intormacional¨), na modida om guo a intormação so
torna morcadoria, signitica dotinir o tralalho a partir do sou rosul-
tado. O prolloma dossa alordagom já tinha sido postulado por
Varx:
18
toda concopção totichizada do tralalho ó comproondida
tondo como ponto do partida a morcadoria, ou soja, sou rosultado
tinal, o não as condiçòos sociais do sua produção. Dossa manoira,
corro-so o risco do contundir causa o otoito, uma voz guo so dotino
o tralalho a partir do sou rosultado. Dotino-so o tralalho polas
coisas olas mosmas, polo sou ponto tinal o não polas rolaçòos
humanas om jogo, isto ó, polo sou ponto do partida. Alóm disso,
a idoia do tralalho intormacional¨ rovola-so uma motátora guo
corro o risco do so tornar uma idoia solta, já guo vivomos na ora
da intormação¨, das rodos¨, dos tluxos¨ otc., om guo nada podo
tor uma dotinição protonsamonto procisa. Outro grando prolloma
na utilização dossas motátoras tocnológicas ó a do guo olas vôm
corrontomonto aliadas à concopção do um tralalho puramonto
intoloctual, imatorial¨. Esso ó um ponto contral, pois dotinir o
tolomarkoting como uma ocupação intoloctual ó aponas parcial,
pois so roduz à análiso do uma parto ao todo. lsso podo sor
visto comumonto na mora doscrição das doros tísicas das guais
sotrom os atondontos: como um tralalho puramonto intoloctual,
isto ó, virtual¨, podo tazor com guo os atondontos dosonvolvam
tanto doros tísicas guanto prollomas psicológicos? Como os
tralalhadoros podom oxorcor uma atividado dita intoloctual¨ ou
intormacional¨ o ainda assim pagar diariamonto com o próprio
corpo? Para tanto, ó prociso tor om monto guo a dotinição dossas
ocupaçòos dovo lovar om conta a posada dimonsão lraçal o tísica
do um omprogo como osso, aposar do todo o univorso guo so
monta om torno dolas parocor nos dizor o contrário.
81
A noção do taylorização do tralalho intoloctual
19
ó utilizada por
Braga como um concoito dotinidor do tolomarkoting. Taylorismo
corrospondo ao tipo do controlo do tralalho om guo os movi-
montos do corpo, lom como o tompo do todas as açòos são
altamonto controlados, ó por isso guo goralmonto so compara o
tralalhador taylorista a uma máguina, pois o rogimo do tralalho
ó planojado o controlado ao máximo para radicalizar a oxplo-
ração da torça do tralalho. O idoal do intotaylorismo ó lom
no sontido do uma contraposição ao toyotismo, cuja dotinição
do compotôncias intoloctuais multiplas so aplica a um tipo do
tralalhador ospocítico, altamonto gualiticado o guo congroga
ditorontos conhocimontos tócnicos altamonto ospocializados.
Simultanoamonto, uma dotinição guo so prondo a ossos critórios
ó limitada ao guo acontoco no chão da tálrica¨ ou no chão do
caII c~uì~:¨, som articular o rolacionar outras dimonsòos da vida
social guo limitam a condição do classo social dos indivíduos.
Nosso sontido, toi do particular importância comproondor a oxpo-
riôncia oscolar dos atondontos, lom como a socialização primária
no soio tamiliar, om guo valoros como tralalho duro o sacritício
possoal toram contrais na incorporação das disposiçòos para o
tralalho. Como vimos nas duas histórias do vida, a oxporiôncia
oscolar ó um ponto tundamontal a partir do gual so dotino, om
íntima atinidado com o tralalho, a condição do procariodado do
luciana, o particularmonto a do Rodolto.
linalmonto, o ultimo prolloma dosto livro ó apontar guo a
condição goral dos atondontos ó marcada por circunstâncias
do tralalho do sóculo XlX com tocnologias do sóculo XXl. O
prolloma do porcolô-lo assim paroco sor a prosonça do um
atavismo nos concoitos guo procuram algo guo so assomolho à
classo tralalhadora do sóculo XlX analisada por Varx. So, por
um lado, as condiçòos do tralalho nas duas ópocas podom sor
similaros porguo oxilom situaçòos do tralalho massacrantos, laixos
salários o instalilidado protissional, por outro lado, ola podo nos
roonviar a uma comparação simplista tdo rovivor o passado) guo
nos impodo do ponsar novos concoitos para intorprotar tonomonos
sociais rolativamonto novos. Por mais guo as condiçòos do
tralalho possam so assomolhar, o atondonto do tolomarkoting,
solrotudo insorido om condiçòos procárias, podo sor dotinido
como partidário do uma nova classo tralalhadora, ainda guo os
moldos om guo so dão as condiçòos do tralalho do atondonto
82
do tolomarkoting sojam parocidos com os do oporário do sóculo
XlX, tacilitando ató mosmo a aplicação irrotlotida das catogorias
marxistas. As catogorias utilizadas para a comproonsão da
condição dossos tralalhadoros dovom tamlóm lovar om conta
outros tatoros oxplicativos.
O atondonto do tolomarkoting podo sor incluído om um concoito
do nova classo tralalhadora não porguo ajuda a roproduzir o polo
dominado do rolaçòos do produção do sóculo XlX atualizadas
no sóculo XXl, mas porguo ó parto da classo guo irá pagar com
o próprio corpo, isto ó, com sou sacritício possoal o com o suor
diário, o onus do um capitalismo cada voz mais comandado por
um modo do dominação guo traz à tona a primazia da oconomia
como ostruturanto das rolaçòos do tralalho. Como consoguôncia,
lonoticiam-so as classos dominantos ospoculadoras do capital
tinancoiro, guo oxploram radicalmonto o tralalho procariamonto
gualiticado. So o novo tipo do capitalismo nocossita do novas
tormas do suporoxploração da torça do tralalho, ou soja, procisa
romodolar toda a organização do tralalho do modo a produzir um
rogimo do tralalho¨ novo, ó nocossário tamlóm prostar atonção
à produção social do um tipo do tralalhador adoguado a ossas
novas condiçòos, um tralalhador om situação do insogurança
social o som gualguor garantia. A oxploração radical do sua torça
do tralalho, tanto intoloctual guanto tísica, ó parto tundamontal
dosso procosso. Essa nova classo tralalhadora so dotino pola
incorporação do tortos disposiçòos para o tralalho árduo, para
o sacritício possoal, o guo paga com o próprio corpo o alma¨ o
proço do um capitalismo cada voz mais dominado por padròos
do oxploração do tralalho ainda mais oticazos o sutis.
CONSlDERA(OES llNAlS
Do modo goral, constatamos guo o cotidiano dos atondontos do
tolomarkoting ó posado o traz otoitos muito concrotos na vida dolos.
No ontanto, uma análiso dotalhada das condiçòos do tralalho
atuais, solrotudo aguolas oncontradas nas grandos corporaçòos,
não podo sor toita som uma comproonsão do como so roproduzom
as mudanças do capitalismo na vida das possoas. Como vimos, o
modo do dominação tinancoira não so roduz aponas ao campo
oconomico, ostipulando novos parâmotros somonto para o capital.
83
Ao contrário, ola postula novos parâmotros omprosariais guo irão
radicalizar a oxploração, solrotudo do ocupaçòos do laixo valor
social, monos gualiticadas, procarizadas o guo, portanto, não
garantom corto nívol do ostalilidado ao tralalhador. No ontanto,
ontondo-so aponas parto do tonomono som guo so articulo o
impacto do aumonto da oscolarização tormal das ultimas dócadas,
guo produziu ototivamonto um oxórcito do rosorva minimamonto
oscolarizado para o tralalho tormal procário. Essa domocratização
oscolar não signiticou nom a garantia do molhoros omprogos o
nom mosmo uma oscolarização guo tivosso como otoito a intogra-
ção ototiva dossas possoas ao sistoma oscolar. A produção social
do diplomas oscolaros tom como consoguôncia a intlação dos
mosmos, o guo, por sua voz, tondo a dosvalorizar o tralalhador,
já guo uma gualiticação intlacionada produz o otoito do guo mil
outros podom tazor o mosmo guo ou¨. Assim como om inumoras
outras ostoras da vida social, o tralalho do alguóm ó socialmonto
rocomponsado ttanto atravós do lons salários como por moio
do promoçòos o, solrotudo, condiçòos dignas do tralalho) do
acordo com a raridado ou disponililidado dosto.
Então, dois tomas om atinidado implícita nosto toxto podom
tinalmonto sor articulados: o do guo a sociodado ostá, como um
todo, mais intoloctualizada o oscolarizada tsolrotudo, nas classos
dominadas) o o advonto do ocupaçòos ditas intormatizadas¨,
tocnológicas¨ o intoloctualizadas como o tolomarkoting. So, por
um lado, o tolomarkoting ó uma atividado intoloctual, na modida
om guo oxigo uma gualiticação tormal to guo o distinguo do
tralalho dosgualiticado), o do compotôncias intoloctuais gorais,
ainda guo não criativas¨, osso tipo do atividado ó rotinizado
o ropotitivo, criando cansaço montal ao longo da jornada do
tralalho o insatistação intorior. Ë o guo viomos chamando do
doros da alma¨, porguo o ostorço intoloctual ropotitivo, alóm
do ostrosso omocional diário, provoca prollomas psicológicos.
O tolomarkoting ó tamlóm uma ocupação lraçal, aposar do sor
considorado um omprogo do oscritório¨. Essa dimonsão manual
posada, muitas vozos ocultada, podo sor analisada polos otoitos
guo a rotina no atondimonto tom solro o corpo. Nosto sontido,
o tolomarkoting ostá longo do sor um omprogo da ora da intor-
mação, puramonto intoloctual.
O latalhador do tolomarkoting ostá om uma condição social
do procariodado guo dostavoroco a sua asconsão. No ontanto, a
84
posição dosto latalhador não ó a do tralalhador dosgualiticado,
alandonado à própria sorto. Ainda guo tonha uma gualiticação
procária o intlacionada, olo carroga os conhocimontos valorizados
polo morcado. lsso o livra da complota dosclassiticação social,
ainda guo para osto tralalhador conto muito mais o suor do
próprio rosto. O dia a dia do atondonto ó marcado por muito
tralalho duro o alguma chanco do ostudar para consoguir
um omprogo molhor, uma vida dura para a gual poucos ostão
proparados.
✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 2
C ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦ ⌫↵l⌦⇧M⌃↵
↵ ⇥✓⇧ ⇧D⇣lMl⇥⌃⌦⇧⇢⇡C
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··Iaü·:au·:~:. Ma:c:· Sá ' 1~I:j~ ·a:aIcauì~ 1a:ü·:a
O comórcio do toira ó ainda hojo uma atividado do importância
contral na vida do muitos lrasiloiros. No intorior do Nordosto, om
particular, ó mantido por parto signiticativa da população o hálito
do so tazorom compras somanais om toiras livros. Emlora soja
uma atividado guo tom origom antorior ao capitalismo modorno
2
guo agui tratamos, osso tipo do comórcio ostá hojo acoplado à
sua dinâmica contomporânoa, como domonstraromos a soguir. Os
toirantos compòom osta classo guo donominamos do nova classo
tralalhadora lrasiloira. Elos incorporam, do modo poculiar, a sua
condição do classo, as consoguôncias dossas mutaçòos sistômicas
no mundo o no Brasil no sou cotidiano do vida-tralalho.
Enguanto ostávamos om campo, circulando, convorsando com
toirantos, aplicando guostionários, olsorvando suas larracas,
como olos as administram o, inclusivo, tazondo rotoiçòos nolas,
a oconomia mundial passava por grando criso.
3
Na poritoria do
sistoma, os alalos tamlóm oram sonsívois. Aliás, parociam sor
lom maioros. Não podoria sor ditoronto. Por ostarmos vivonciando
dirotamonto sua roalidado, convorsas, planos om rolação ao
nogócio, ao tuturo, o modo do guo a diminuição do movimonto
so ostondosso por um poríodo ainda maior, olsorvamos os
somllantos tristos o os olharos distantos do muitos toirantos om
sou cotidiano. A criso nos toi ainda mais porcoptívol por moio
dolos. Elos a sontiam, a taziam transparocor om sous olharos, na
postura do sous corpos, no modo dosanimado como andavam,
no tom do suas vozos.
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Cantada por luiz Gonzaga, a loira do Caruaru ganhou tama
nacional a partir do moados do sóculo passado, truto do construção
midiática
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guo criou uma aura om torno dola. Ë hojo, mais do
guo nunca, um lugar ondo milharos do latalhadoros nordostinos
lutam por sulsistôncia ou mosmo polo sonho do uma vida molhor.
O guo talvoz torno ossa toira um pouco ditoronto do outras ó
sua dimonsão, variodado do itons comorcializados, volumo do
nogócios, o, principalmonto, sua c~uì:aI:uau~ ua ::ua u~ ja:ì~
::gu:J:caì::a ua j·juIa¸a· u~ una :~g:a· j·I:ì:c·-g~·g:áJ:ca, o
Agrosto pornamlucano.
Assim como divorsas outras cidados do Nordosto, do país o
do mundo, Caruaru tovo sua origom dirotamonto vinculada ao
comórcio do toira. Hojo, procisar o guantitativo do toirantos ó
tarota dolicada, pois osto varia om docorrôncia do divorsos tatoros.
No ontanto, o ontão dirotor do Dopartamonto do Arrocadação
Extorna da Socrotaria do linanças do município ostimou oxistirom
na cidado 21 mil toirantos, o so lotar dirotamonto o indirota-
monto, tom mais do 100 mil possoas onvolvidas¨,
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onguanto o
ontão prosidonto do Sindicato dos Comorciantos o Vondodoros
Amlulantos do Caruaru tSincovac) ostima oxistir hojo dontro da
toira do Caruaru om torno do 12 a 15 mil¨.
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Ë importanto ros-
salvar guo osto univorso ó maior guo o horizonto dosta posguisa
ttralalhadoros latalhadoros), ostando incluso aí tanto comor-
ciantos ostalolocidos to com rolativo capital oconomico) guanto
tipos caractorísticos da raló lrasiloira,
¯
mas sorvo como idoia da
dimonsão do campo no gual os tralalhadoros latalhadoros
atuam. Ainda solro a toira, muito omlora sojam olsorvadas ossas
ospociticidados, nonhuma dolas a ditoroncia sulstantivamonto
do outros morcados poritóricos Brasil atora - o guo possililita
oxpandir o potoncial comproonsivo-oxplicativo dos rosultados da
posguisa para roalidados similaros.
Vas guo tipo do morcado poritórico ó osso? A toira ó lócus
do atividado oconomica, cultural o social para doscondontos o
romanoscontos do moio rural tostos ultimos são os guo ainda
nola comorcializam os produtos do suas atividados agrícolas,
mosmo guo visivolmonto om guantitativo monor do guo aguolos
guo compram ossos produtos om contrais do alastocimonto
o rovondom na toira), dosomprogados dos contros urlanos
rogionais, nordostinos guo migraram o rotornaram das grandos
motrópolos, principalmonto São Paulo, poguonos, módios o, om

monor oscala, poróm om maior intluôncia, grandos omprosários,
o, principalmonto, para tamílias intoiras guo ou tralalham junto
num mosmo nogócio ou ontão om divorsos poguonos comórcios
guo tanto podom ostar lado a lado, como tamlóm podom ostar
ospalhados por outros sotoros ou mosmo om outras toiras guo
acontocom todos os dias da somana - nos ditorontos lairros da
cidado. Ë, assim, um ospaço guo constitui o caractoriza as tranjas¨
do capitalismo modorno, crucial om divorsos aspoctos à continui-
dado dinâmica do sou tuncionamonto contomporânoo.
1a::~a: j~Ia J~::a ~ j:·cu:a: - ~ ua· ~uc·uì:a: - :~uì:u·
auaI:ì:c· ~n ·ü:~::á-Ia c·n· · n:ì· n:u:áì:c· construído há
dócadas. Praticamonto aponas a parto do artosanato tom aspocto
ditoronciado do rosto da toira - pois ó para lá guo grando parto
dos turistas ainda vom. Vosmo assim, as vias ostão goralmonto
sujas. Não há lanhoiros pullicos suticiontos o om condiçòos
mínimas do uso. As larracas
8
sotrom intorvonçòos trotormas o
ampliaçòos) dosordonadas o aloatórias por parto dos toirantos. Os
tiscais do dopartamonto do toiras o morcados da protoitura dizom
guo osso ó assunto do outro dopartamonto to do intraostrutura).
Divorsos dosomprogados tontam oncontrar a sulsistôncia nas ruas
marginais ou ontão mosmo transitando por sou ospaço tísico como
amlulantos. São chamados, polos ostalolocidos¨ mais antigos,
do invasoros¨. Não compraram o ponto, não possuom o alvará
do tuncionamonto
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o não pagam¨ o imposto por uso do ospaço
guo olos, os ostalolocidos¨, pagam. lutam por um ospaço nas
margons. Os tiscais rocolhom do todos guo podom¨ osso imposto.
10
Divorsos podintos poramlulam constantomonto por lá. Umas
jovons procuram tralalho, outras so prostituom. Os jovons choiram
cola, outros tazom poguonos turtos ou, ainda, simplosmonto
podom como os mais volhos. As milícias tazom a sogurança¨
polas osguinas. Numa outra margom, o rio toi invadido ou por
construçòos irrogularos do comorciantos lom-sucodidos¨ ou
por uma tavola guo so projota para dontro dolo.
O aspocto dolo ó doprimonto, complotamonto tomado do
lixo, oxalando constantomonto odor tótido. As possoas guo
passam ou tralalham por lá so alimontam do gualguor modo,
om gualguor lugar. Outras osporam as migalhas, solrovivom
com as solras. A polícia taz latidas para lusca o aproonsão do
produtos talsiticados om comorcialização. Os toirantos sotrom a
cada mudança do govorno municipal com a insogurança guanto
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aos sous dostinos, atinal, dizom por aí guo vão mudar a toira da
sulanca
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para outro lugar...¨. Os tiscais da protoitura procuram
rogular o uso guo osso pullico taz do próprio ospaço pullico,
tontam inilir guo olos ocupom as partos indovidas¨ - as trontos
do suas larracas, ospalhando mosas para os cliontos, por oxomplo.
O toiranto indaga: Ondo mous cliontos vão comor?¨ Tralalhadoros,
comorciantos, misorávois, omprosários, tuncionários pullicos
ostrolam¨ conas roais do drama modorno.
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Ë nosso campo guo atuam os toirantos guo constituom a
nova classo tralalhadora lrasiloira, os nossos latalhadoros. Esta
invostigação partiu da nocossidado do so conhocorom as práticas
do gostão dos nogócios dosso pullico. Porguntou-so ontão:
como ossos tralalhadoros latalhadoros¨ tazom para administrar
sous poguonos nogócios tou soja, os moios para sulsistôncia o
ditoronciação da raló dolinguonto¨ ou dosomprogada¨)? Como
aprondoram a tazor o guo tazom? Como podoriam aprondor
tócnicas do administração portinontos à oscala do sous nogócios?
Quais soriam as possililidados nosso sontido? Nortoados por ossas
guostòos, tomamos como ·ü¡~ì::· aprotundar o conhocimonto
solro a dinâmica dos latalhadoros na sua administração, ou soja,
luscamos comproondor como olos administram sou principal
moio do sulsistôncia.
A história guo agui sorá contada ó truto do sólida posguisa
toórica o ompírica.
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Podro ó um tipo-idoal¨,
14
construído com
laso na análiso dos divorsos dados colotados, rounidos o arti-
culados com rotoroncial toórico comum aos domais toxtos guo
compòom osto livro. A construção dosso porsonagom, do suas
disposiçòos o práticas administrativas so dou no sontido do
rospondor às porguntas aprosontadas no parágrato antorior o guo
sorão sintotizadas adianto. A grando toira livro do Nordosto, agui
lrovomonto aprosontada, ó o contoxto no gual a história so passa.
Eis o campo do latalha do Podro. Vamos à sua luta.
ORlGEV E TRAJETÓRlA DE PEDRO
lilho do Sou Josó o do Dona Josoto, um casal do agricultoros
guo vivia nos arrodoros do poguona cidado da rogião, Podro lá
nascou o vivou sous primoiros anos, mas logo voio, ainda monino,
morar om Caruaru com os pais. Vosmo tondo nascido o sido
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criado num sítio muito somolhanto àguolo no gual passou a
morar com os tilhos o a osposa, os atrativos do uma cidado maior
o do uma vida molhor, com mais possililidados para arrumar um
tralalho para olo o a mulhor o, tuturamonto, para os sous tilhos,
toz com guo Sou Josó docidisso so mudar com a tamília do
campo para a cidado. Vuito omlora o campo tosso um lugar mais
tranguilo para so vivor, ora prociso, om sua visão, ir para um local
guo possililitasso arrumar tralalho molhor guo a agricultura.
Sou Josó lia um guaso nada, com muita diticuldado. Pratica-
monto não ostudara na oscola da roça. Dona Josoto ostudou um
pouco mais, mas não o suticionto para guo losso com tacilidado.
Já o tilho Podro o sous cinco irmãos, criados o croscidos om
Caruaru, progrodiram, poróm não muito. Estudaram todos numa
oscola municipal, os guatro mais volhos cursaram algumas sórios
do antigo primoiro grau. Um dolos guaso o concluiu, mas toi
roprovado na sótima sório o dosistiu. Não consoguiu porsistir
como os mais novos. Podro o a moça mais nova consoguiram,
torminaram o primoiro grau. No ontanto, mosmo olo tondo
corta tacilidado com a matomática, não consoguiu avançar nos
ostudos. A rotina ora muito dura: tralalhava o dia todo, o à noito,
ontrontava as agruras da instituição oscolar.
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O pai toi tralalhar om olras, virou podroiro. Na cidado, Podro
toz guaso do tudo. Do ajudanto do pai a lalconista do armazóm
do construção. Comoçou a tralalhar logo, o ainda no tompo om
guo sou pai ora agricultor, ajudava-o na contagom, transporto o
vonda dos sous produtos agrícolas. la sompro com olo vondô-los
na toira da outra cidado ta poguona). Atondia aos compradoros,
posava as morcadorias, rocolia o passava troco. Já naguolo tompo,
aprondou guo o dinhoiro guo ontrava não ora todo para gastar,
lomlra vivamonto o guo sou pai sompro dizia: Apurado não ó
lucro, mou tilho!¨ Já om Caruaru, um pouco maior, continuou
dosomponhando atividados similaros na lodoga guo sous pais
montaram na tronto da casa ondo moravam.
Hojo, com 43 anos, mora numa poguona casa do cinco comodos
com a mulhor, trôs tilhos o a sogra, no lairro mais populoso da
cidado, o Salgado. As crianças, do 8, 9 o 15 anos, passam a manhã
com a avó o à tardo vão para a oscola. A mais volha raramonto
aparoco na toira, já ostá no onsino tundamontal. lô com molhor
dosonvoltura guo o pai o dosoja ontrar na univorsidado. O pai
so comovo o apoia a tilha. Sua osposa tralalha com olo, acorda
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rogularmonto codo, do sogunda a sálado. Vão juntos para a toira,
suas vidas ostão tamlóm ligadas polo comórcio. Aos domingos,
toma algumas poucas corvojas com os irmãos. Quando mais
novo, ainda latia uma lola com os vizinhos, mas hojo om dia,
não so arrisca. A idado o a distância guo so autoimpòom dos
mosmos tguo soguiram outros caminhos ditorontos do tralalho)
não o pormitom mais. Ponsa no oxomplo a sor dado aos tilhos,
nas loas companhias guo ospora para olos.
Como uma possoa como Podro administra sou poguono
comórcio? Esta ó a guostão-síntoso guo nos nortoia.
Para guo o loitor tonha claroza do guo ponsamos guando
utilizamos o tormo administração, ó prociso dosdo já dotini-lo.
Agui, administração ó ontondida como o conjunto do atividados
nocossárias ao planojamonto o tuncionamonto cotidiano do um
nogócio. Ou soja, são atividados guo alrangom a oscolha dovida
do local no gual sorá alorto o nogócio, dotinição dos horários
do tuncionamonto, divisão o monitoramonto das atividados a
sorom dosomponhadas polas possoas guo nolo tralalham, controlo
tinancoiro, docisòos solro compras a sorom toitas, contas a sorom
pagas, tralalhadoros a sorom contratados tou não), docisòos solro
molhorias a sorom toitas na ostrutura do nogócio, ordonação dosta
ostrutura o do sua aparôncia. Usamos o tormo como sinonimo
do gostão¨.
Antos do soguirmos, ó prociso tazor um alorta o um convito
ao loitor. O modo como Podro administra sou poguono nogócio
podo sor lom ditoronto do guo so diz na administração guo
ó oncontrada nos círculos ciontíticos, nas grandos o módias
omprosas, nos manuais mais vondidos o utilizados nos cursos da
ároa - olviamonto, osso tonomono to modo como possoas com
osso portil administram sous poguonos nogócios) tamlóm não
rocolo atonção das ciôncias sociais não aplicadas. Para olsorvá-lo
tal como olo ó do tato, ó prociso ampliar o horizonto da visão
solro o indivíduo-administrador o vô-lo, assim como suas práticas,
como produto¨,
16
ainda om alorto, do roportório do disposiçòos
guo toi capaz ou não do incorporar nos ospaços sociais om guo
vivou, ao longo do sua trajotória.
91
EXPERlÊNClAS PROllSSlONAlS PRËVlAS
E A ADVlNlSTRA(AO DO ATUAl NEGÓClO
Antos do comoçar sou atual nogócio, Podro tralalhou com
cartoira assinada numa transportadora do cargas do ronomo om
Rocito - indicado por um primo guo lá já ostava havia corto
tompo. Na capital, morou alguns anos com a sua tamília. Na
omprosa, comoçou como ostoguista. Com o tompo, passou a
oriontar, ordonar o controlar os carrogamontos molhor guo sous
cologas. Dopois do muito tralalho o com ossa oxporiôncia tguo
o ditoronciava), rocolou uma promoção. Tornou-so oncar-
rogado¨, tala com muito orgulho disso. Vas, cada voz mais, so
sontia aprisionado no rogimo do tralalho do uma grando omprosa.
Voio ontão a implantação do uma nova tocnologia do divisão do
tarotas na ostrutura produtiva. Dopois do novo anos do dodicação
ao tralalho, voio tamlóm a domissão. Aos 32 anos, aponas com
o onsino tundamontal comploto, não oncontrou possililidados
do consoguir um novo o lom¨ omprogo. Para gonto como olo,
muitas altornativas não oxistiam.
Dosomprogado, voio visitar sous pais naguola poguona cidado
ondo olos voltaram a morar. Um amigo do intância, agora toiranto,
sugoriu guo tosso à loira do Caruaru, pois lá havia muitas
possililidados para olo. loi nosso passoio¨ guo ponsou tontar
ganhar a vida por conta própria. Dontro as oportunidados guo
vislumlrou na toira, optou por lotar um lanco na sulanca¨.
Com o dinhoiro da indonização do antigo omprogo, comprou as
primoiras morcadorias troupas o acossórios). Essa toi, por guaso
sois anos, sua unica tonto do ronda. Atravós dosso tralalho, alóm
do aprondor o jogo do cintura do um nogócio do toira, consoguiu
juntar algum dinhoiro para comprar um ponto o montar um
poguono comórcio. Como sua osposa cozinhava lom o olo já
tinha a oxporiôncia do toiranto na sulanca, rosolvou alrir uma
larraca do alimontação na toira. Via nosso ramo a possililidado
do rápido rotorno do invostimonto o tamlóm ponsava, a módio
o longo prazo, om propiciar vida molhor para sua tamília. Na
roalidado, ora a molhor dontro as poucas altornativas guo lho
oram viávois. lsso já taz cinco anos.
A larraca do Podro tica num dos polos¨ do alimontação da
toira, ontro o morcado do carnos o o do tarinha. Elo tala com
92
orgulho solro a oscolha da localização do sou ponto, diz guo toi
altamonto solotivo na hora do comprá-lo o guo rojoitou muitos
outros por não sorom lom localizados, ponsava olo: Tom guo
tor um lom local, tom guo tor loa visão.¨ Ela ó lom simplos,
tom os oguipamontos nocossários a uma cozinha, um lalcão
com lancos tixos o altos o trôs mosas com cadoiras guo olos
ospalham para os cliontos na tronto da larraca. Alóm do goladoira,
congolador, togão o domais utonsílios do cozinha, uma tolovisão
do 20 pologadas guo ostá guaso sompro ligada. Tanto olos guanto
os cliontos assistom a programas do auditório, noticiários popu-
laros ou programas policiais, guando não oxilom algum DVD
do alguma landa do torró olotronico. Ainda não satistoito com
o guo tom na larraca, ponsa om oguipá-la com um micro-ondas
o uma nova o maior TV.
Duranto osso tompo no ramo do alimontação na toira, olo já
toz algumas molhorias om sou nogócio. A primoira dolas toi uma
rotorma no toto, no ano passado, dopois colocou piso do corâ-
mica, tirou o lalcão do madoira, toz um do alvonaria trovostido
com corâmica) o colocou os lancos tixos do torro. Procura, ao
mosmo tompo, molhorar a aparôncia o o amlionto no gual sorvo
os cliontos o passa sous dias do tralalho com a osposa. Elo o sua
mulhor tôm uma jornada mais puxada não somonto nos dias das
grandos toiras, mas tamlóm nas vósporas dolas. Como amanhã
ó dia do toira, ontão tom guo tá tudo limpinho o arrumado¨, diz
ola ao continuar ajudando-o na arrumação do tudo. Assim como
Podro, ola tamlóm paroco tor consciôncia do guo nos nogócios
a aparôncia valo muito. O cuidado com a higiono da larraca o
das comidas ó constanto. Uma coisa guo so taz lontoita não
tom valor so não tivor uma loa aparôncia.¨ Alóm disso, omonda,
tom coisas guo não so onsinam om cursos: lom atondimonto,
gualidado no produto o proço compotitivo¨. Outro cuidado,
tamlóm constanto, ó com a oconomia, atinal, tom guo tazor as
coisas diroitinho, so não no tinal do môs tica no luraco¨. Elo
diz tor aprondido como tazor no ramo olsorvando as larracas
mais arrumadas guo a sua, como os propriotários taziam para
mantô-las sompro nos tringuos¨ o torom ôxito nos nogócios. Vas
a oxporiôncia do tralalho lá om Rocito tamlóm toi signiticativa
para guo olo aprondosso a tazor tudo nos contormos¨, como
ora oxigido na transportadora.
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Como proza lastanto pola organização o aparôncia do sua
larraca, olo so sonto projudicado pola lagunça guo vô tanto om
algumas larracas vizinhas como nos laros guo ticam um pouco
mais adianto. O som alto o algumas lrigas guo acontocom são
vistos por Podro como coisas guo atastam os sous cliontos o
donigrom a imagom do nogócio guo olo tanto cuida para tazor
parocor ao máximo com um rostauranto¨.
Diariamonto, somonto o casal tralalha na larraca. Vas goral-
monto nas torças o sálados, nos poríodos do movimonto lom
maior, olos contratam uma diarista - principalmonto para cortar
vorduras, sorvir os cliontos, montar os pts¨ tpratos toitos guo
goralmonto vôm com um tipo do toijão, arroz, macarrão, vorduras
o um tipo do carno) o lavar os pratos. Como não ó algo rogular, às
vozos aprovoitam alguóm guo aparoco na própria larraca procu-
rando tralalho, outras vozos por indicação do tamiliaros, conho-
cidos ou ató mosmo do possoas guo tralalham para os vizinhos.
laz um tosto o pronto, chama guando o movimonto podo.
Aprondoram o guo tazom hojo por moio das oxporiôncias
protissionais antorioros do Podro, da olsorvação dos outros
toirantos o da prática culinária do sua osposa - dosonvolvida ao
longo dos anos do tralalho domóstico o no dia a dia da larraca
mosmo. Som duvida, o guo mais vondom são os pts¨. Nos
dias da toira da sulanca o no sálado, tamlóm vondom catós da
manhã do comidas típicas - macaxoira com charguo ou cuscuz
com galinha, por oxomplo. As atividados são divididas da soguinto
torma: ola cozinha o olo taz as domais tarotas. laz compras, sorvo
os pratos, lolidas o rocolo o dinhoiro. Rogistra o guo ontra o o
guo sai do caloça o guarda o dinhoiro no lolso. Como as toiras
móvois são somanais, sonto mais tacilidado om ostimar os valoros
do rocoitas, dosposas o lucro nosso poríodo. Estima tor uma rocoita
módia somanal ontro 600 o ¯00 roais. Disso, tica com mais ou
monos uns 300. Dos custos tixos guo tom, roclama da conta do
onorgia - para olo, sompro alta - o, principalmonto, do imposto
guo ó rocolhido somanalmonto polos tiscais da protoitura. Dosto
ultimo, roclama por não vor rotorno.
Vuito omlora já tonha toito poupança rogular, principalmonto
no tompo do sulanca, hojo om dia não tom consoguido mantor a
constância. As molhorias guo toz no nogócio o a oducação dos
tilhos consomom todo o dinhoiro guo solra. Como rotormou
a larraca há pouco, para ampliá-la ponsa num ompróstimo
94
o comonta, procurando domonstrar sor uma possoa atualizada,
uma notícia a guo assistiu na TV rocontomonto, guo trata da sim-
pliticação da alortura do cródito para poguonos comorciantos.
Dosso joito, talvoz ató dô para mim...¨, diz olo, muito omlora
domonstro corto rocoio nosso tipo do oporação, pois, goralmonto,
sous cologas rocorrom a parontos, amigos ou ató mosmo a agiotas
guando procisam do dinhoiro.
Podro acrodita parcialmonto no govorno, mais no todoral guo
no municipal. Ponsa guo o primoiro podoria tacilitar o acosso ao
cródito com juros laixos. Ponsa tamlóm guo o sogundo podoria
molhorar a toira oljotivamonto, tanto para o turismo guanto om
tormos do organização, o tamlóm roduzir os impostos. Elo diz tor
como grando proocupação om rolação à toira, do modo goral, a
guostão da sogurança. Tanto olo guanto sous vizinhos so guoixam
lastanto da insogurança o apontam para o podor pullico como
rosponsávol por isso.
Emocionado, Podro diz guo toi na toira guo consoguiu guaso
tudo guo tom hojo, domonstra tor carinho por ola, mas, mosmo
assim, guoria consoguir montar um comórcio na rua¨

mosmo
o não guoria osso dostino do toiranto, do modo algum, para sous
tilhos.
DlSPOSl(OES ECONÔVlCAS
E ADVlNlSTRATlVAS PARA AUTOSSUPERA(AO
Agui ó prociso rocuporar da tooria disposicionalista sou
concoito contral, ou soja, o concoito do disposição, o articulá-lo
aos pontos contrais da nossa história, visando aprosontar a gônoso
das disposiçòos o como olas são dotorminantos no modo do
administrar do tipo do latalhador om guostão.
Bornard lahiro procura tazor uma rotomada crítica da sociologia
disposicionalista - guo tom no tralalho do Piorro Bourdiou sou
grando ostorço do oxplicitação - o dos sous instrumontos do
ponsamonto¨ na condição do tooria da ação. Para olo, ó a tradição
disposicionalista guo tonta lovar om considoração, na análiso das
práticas ou comportamontos sociais, o passado incorporado dos
atoros individuais¨.
18
95
Agui considoramos sor nocossário osclarocor ao loitor o guo
ponsamos guando talamos om disposição¨. Para isso, as palavras
do lahiro são osclarocodoras:
Na vordado, uma disposição ó uma roalidado roconstruída guo,
como tal, nunca ó olsorvada dirotamonto. Portanto, talar do
disposição prossupòo a roalização do um tralalho intorprotativo
para dar conta do comportamontos, práticas, opiniòos otc. Trata-so
do tazor aparocor o ou os princípios guo goraram a aparonto
divorsidado das práticas.
19
Com osso suporto toórico, podomos olsorvar açòos, ponsa-
montos o sontimontos das possoas como rosultados oljotivos do
alguns princípios guo os goraram. Essos princípios soriam trutos
do origom, visão do mundo o hálitos hordados¨ da tamília,
dos contoxtos sociais dos guais participou o indivíduo, do suas
oxporiôncias oducacionais o protissionais, assim como do outros
possívois contoxtos do socialização o do atuação guo toram signi-
ticativos om sua trajotória do vida. Ou soja, partindo das origons
tamiliaros o sociais, ao longo dossa trajotória, uma possoa tondo
a aprosontar, ostocar¨ o incorporar dotorminadas disposiçòos
guo podom sor domandadas, por oxomplo, om cortos contoxtos
socializadoros nos guais ola irá so insorir.
Em nosso ontondimonto, a torma como os latalhadoros comor-
ciantos administram sous nogócios ó principalmonto dotorminada
por ossos conjuntos do disposiçòos guo olos hordam¨, ativam¨ to
dosativam¨) ou incorporam to dosincorporam) ao longo do sua
trajotória do vida. logo, para oxplicá-la, ó prociso comproondor
a gônoso daguolas disposiçòos, dontro todas as guo compòom
sou comploxo disposicional¨, guo são docisivas para sua prática
cotidiana do gostão. Ou soja, nossa protonsão agui ó oxplicitar
ossas disposiçòos guo lhos pormitom dar conta da dinâmica
cotidiana do sou nogócio. Procurando sor o mais prociso possí-
vol, o movimonto guo taromos sorá o do aprosontar os conjuntos
disposicionais, as disposiçòos ospocíticas a olos rolacionadas o
ilustrá-las por moio do trochos da história do latalhador. loito
isso, podoromos aprosontar um instrumonto analítico para
compará-lo à tormação das principais disposiçòos, ao longo do
uma trajotória do vida latalhadora, guo possililitam a um trala-
lhador dosomponhar as atividados nocossárias à administração
do um poguono comórcio.
96
Ponsando nossos tormos, taromos agui um rocorto no com-
ploxo disposicional¨ do nosso tipo-idoal, o ontão apontaromos os
conjuntos do disposiçòos guo soriam, om nosso ontondimonto,
mais docisivos para a trajotória o, om ospocial, para as atividados
administrativas dosomponhadas por um latalhador comorcianto.
Ë claro guo, na roalidado, ossas disposiçòos aprosontam-so como
inoxtrincavolmonto intor-rolacionadas - haja vista guo tazom parto,
juntamonto com outras, do comploxo disposicional do um indi-
víduo. No ontanto, para tins oxplicativos, ponsamos sor nocossário
oporar ossa dolimitação - do cada uma das guo julgamos sorom
mais importantos ao tonomono om guostão o assim podor molhor
comproondô-lo.
Dito isso, os conjuntos disposicionais guo dostacamos soriam:
disposiçòos para autossuporação, disposiçòos oconomicas gorais
o disposiçòos administrativas. Juntamonto a olos tamlóm aproson-
tamos suas caractorísticas gorais, as disposiçòos nolos insoridas o
os trochos ilustrativos
20
rocuporados da história acima contada.
Disposiçòos para autossuporação soriam as inclinaçòos o
proponsòos - guo podom sor olsorvadas ompiricamonto por moio
do trochos da história do vida do um latalhador guo apontam
para ponsamontos, sontimontos o açòos - guo visam à suporação
do uma condição do vida antorior ou atual o, consoguontomonto,
a projoção do latalhador para uma outra situação do vida vista,
por olo, como molhor, tanto para olo próprio guanto para sous
tamiliaros. Para guo ossa suporação acontoça ó tou toi) prociso
guo olo incorporo algumas disposiçòos, rotorco algumas outras,
ou dosativo¨ outras guo compòom sou ostoguo disposicional¨,
mas guo não soriam portinontos a osso tipo do movimonto. Nosto
conjunto ostariam rounidas, acompanhadas dos rospoctivos
trochos guo as ilustram, disposiçòos como as soguintos: dispo-
sição para projoção dos tilhos para asconsão t|A tilha} lô com
lom mais dosonvoltura guo o pai, guor ontrar na univorsidado. O
pai vilra o apoia muito isso.¨), disposição para tazor-so oxomplo
tPonsa no oxomplo a sor dado aos tilhos. Nas loas companhias
guo ospora para olos.¨), disposição ascótica tDopois do muito
tralalho o com ossa oxporiôncia... rocolou uma promoção.
Tornou-so oncarrogado, tala com muito orgulho daguilo.¨),
disposição para aprondizagom pola oxporiôncia tAtravós dosso
tralalho, alóm do aprondor o jogo do cintura do um nogócio
do toira...¨), disposição para projoção do tuturo t...o tamlóm

ponsava, om módio o longo prazo, propiciar vida molhor para
sua tamília.¨), disposição para construção do imagom positiva tO
som alto o algumas lrigas guo acontocom são vistos por Podro
como coisas guo atastam os sous cliontos o donigrom a imagom
do nogócio guo olo tanto cuida para tazor parocor ao máximo
com um rostauranto.¨), disposição para a aguisição do lons do
consumo suporioros¨ tAinda não satistoito com o guo tom na
larraca, ponsa om oguipá-la com um micro-ondas o uma nova
o maior TV.¨).
Disposiçòos oconomicas gorais soriam aguolas guo so impòom
ao indivíduo para guo olo incorporo, rocuporando agui as palavras
iniciais do Bourdiou, atravós da oducação implícita o oxplícita,
o ospírito do cálculo o do provisão¨, amplamonto roguisitados
num contoxto capitalista modorno. Agui ostariam agrupadas lasi-
camonto duas disposiçòos já dovidamonto ilustradas: disposição
para o cálculo oconomico tSou pai sompro dizia: apurado não ó
lucro, mou tilho!¨Rogistra o guo ontra o o guo sai do caloça...¨),
disposição para poupança t...consoguiu juntar algum dinhoiro
para comprar um ponto o montar um poguono comórcio.¨já
toz poupança rogular¨).
Como disposiçòos administrativas donominamos as disposiçòos
guo são dotorminantos no modo como um latalhador comor-
cianto ponsa o dosomponha diariamonto divorsas das atividados
nocossárias ao lom¨ tuncionamonto do sou poguono comórcio,
ou soja, as inclinaçòos o proponsòos à roalização do açòos do
planojamonto, coordonação, ordonação o controlo do um nogócio.
Valo rossaltar guo osto ultimo conjunto ó dirotamonto dopon-
donto o vinculado aos conjuntos antorioros, pois ostos soriam
mais gorais o tamlóm dirotamonto rolacionados ao modo como
o indivíduo so projota no mundo, à sua racionalidado oconomica
o, olviamonto, à oriontação das suas açòos administrativas. Ei-las
ontão já acompanhadas dos rospoctivos trochos guo as ilustram:
disposição para cálculo oconomico aplicado t...ainda no tompo
do sou pai agricultor, ajudava-o na contagom, transporto o vonda dos
sous produtos agrícolas.¨Como rotormou a larraca há pouco
tpiso o lalcão), para ampliá-la ponsa num ompróstimo.¨), dispo-
sição para atondimonto o tralalho comorcial tEm sua intância,
Atondia os compradoros, posava as morcadorias, rocolia o
passava troco.¨), disposição para organização o coordonação do
atividados tCom o tompo, passou a oriontar, ordonar o controlar
98
os carrogamontos molhor guo sous cologas.¨), disposição para
visão do nogócio¨ tVia nosso ramo a possililidado do rápido
rotorno do invostimonto...¨Elo tala com orgulho solro a oscolha
da localização do sou ponto, diz guo toi altamonto solotivo na
hora do comprá-lo...¨), disposição para construção do imagom
positiva nos nogócios tProcura... molhorar a aparôncia o o
amlionto no gual sorvo os cliontos...¨...nos nogócios a aparôncia
valo muito.¨), disposição para aprondizagom na prática dos
nogócios t...tom coisas guo não so onsinam om cursos: lom
atondimonto, gualidado no produto o proço compotitivo¨),
disposição para aprondizagom por moio do olsorvação do outros
nogócios t...Elo diz tor aprondido como tazor no ramo olsorvando
as larracas mais arrumadas guo a sua, como os propriotários
dolas taziam para mantô-las sompro nos tringuos¨ o torom ôxito
nos nogócios...¨).
A título do síntoso do guo acima acalamos do aprosontar, ois a
soguir um guadro no gual rounimos os conjuntos disposicionais,
as disposiçòos nolos insoridas o os trochos ilustrativos.
99
Quadro sIntcsc da scção
Conjunto dc dIsposIçòcs DIsposIçòcs cspccIIIcas 1rccÞos IIustratIvos
Para autossupcração
tinclinaçòos o proponsòos - guo
podom sor olsorvadas ompirica-
monto por moio do trochos da
história do vida do um latalhador
guo apontam para ponsamon-
tos, sontimontos o açòos - guo
visam à suporação do uma
condição do vida antorior ou
atual o, consoguontomonto, à
projoção do latalhador para
uma outra situação do vida vista
por olo como molhor, tanto para
olo próprio guanto para sous
tamiliaros.)
a. disposição para projoção
dos tilhos para asconsão
a. |A tilha} lô com lom mais dosonvoltura
guo o pai, guor ontrar na univorsidado. O
pai vilra o apoia muito isso.¨
l. disposição para tazor-so
oxomplo.
l. Ponsa no oxomplo a sor dado aos
tilhos. Nas loas companhias guo ospora
para olos.¨
c. disposição ascótica c. Dopois do muito tralalho o com ossa
oxporiôncia tguo o ditoronciava) rocolou
uma promoção. Tornou-so oncarrogado,
tala com muito orgulho daguilo.¨
d. disposição para apron-
dizagom pola oxporiôncia
d.1 Atravós dosso tralalho, alóm do
aprondor o jogo do cintura do um nogócio
do toira t...)¨
d.2 Aprondoram a tazor o guo tazom hojo
por moio das oxporiôncias protissionais
antorioros do Podro, da olsorvação dos
outros toirantos o da prática culinária do
sua osposa t...)¨
o. disposição para projo-
ção do tuturo
o.1. t...) o tamlóm ponsava, om módio o
longo prazo, propiciar vida molhor para
sua tamília.¨
o.2. Emocionado, Podro diz guo toi na
toira guo consoguiu guaso tudo guo tom
hojo, domonstra tor carinho por ola, mas
guo, mosmo assim, guoria consoguir montar
um comórcio na rua mosmo o guo não
guoria osso dostino do toiranto, do modo
algum, para sous tilhos.¨
t. disposição para constru-
ção do imagom positiva
t. O som alto o algumas lrigas guo acon-
tocom são vistos por Podro como coisas
guo atastam os sous cliontos o donigrom
a imagom do nogócio guo olo tanto cuida
para tazor parocor ao máximo com um
rostauranto.¨
g. disposição para a agui-
sição do lons do consumo
suporioros¨
g. Ainda não satistoito com o guo tom
na larraca, ponsa om oguipá-la com um
micro-ondas o uma nova o maior TV.¨
tContinua)
100
Conjunto dc dIsposIçòcs DIsposIçòcs cspccIIIcas 1rccÞos IIustratIvos
EconðmIcas gcraIs
tdisposiçòos gorais para a incor-
poração do ospírito do cálculo o
do provisão)
i. disposição para o cálculo
oconomico
i.1. sou pai sompro dizia: apurado não ó
lucro, mou tilho!¨
i.2. Rogistra o guo ontra o o guo sai do
caloça t...)¨
j. disposição para pou-
pança
j.1. t...) consoguiu juntar algum dinhoiro
para comprar um ponto o montar um
poguono comórcio.¨
j.2. já toz poupança rogular¨
AdmInIstratIvas
tdisposiçòos guo são dotor-
minantos no modo como um
latalhador comorcianto ponsa o
dosomponha diariamonto divor-
sas das atividados nocossárias
ao lom¨ tuncionamonto do
sou poguono comórcio, ou soja,
as inclinaçòos o proponsòos à
roalização do açòos do planoja-
monto, coordonação, ordonação
o controlo do um nogócio.)
l. disposição para cálculo
oconomico aplicado
l.1. t...) ainda no tompo do sou pai agri-
cultor, ajudava-o na contagom, transporto
o vonda dos sous produtos agrícolas.¨
l.2. Outro cuidado, tamlóm constanto, ó
com a oconomia, atinal, tom guo tazor as
coisas diroitinho, so não no tinal do môs
tica no luraco.¨
l.3. Como rotormou a larraca há pouco
tpiso o lalcão), para ampliá-la ponsa num
ompróstimo.¨
l.4. Via nosso ramo a possililidado do
rápido rotorno do invostimonto t...)¨
m. disposição para aton-
dimonto o tralalho co-
morcial
m. Atondia os compradoros, posava as
morcadorias, rocolia o passava troco.¨
n. disposição para organi-
zação o coordonação do
atividados
n.1. Com o tompo, passou a oriontar,
ordonar o controlar os carrogamontos
molhor guo sous cologas.¨
n.2. As atividados são divididas.¨
o. disposição para visão
do nogócio¨
o.1. Via nosso ramo a possililidado do
rápido rotorno do invostimonto t...)¨
o.2. Elo tala com orgulho solro a oscolha
da localização do sou ponto, diz guo toi
altamonto solotivo na hora do comprar o
guo rojoitou muitos outros por não sorom
lom localizados, ponsava olo, tom guo tor
um lom local, tom guo tor loa visão.¨
tContinua)
101
VOlTANDO A HlSTÓRlA DE PEDRO
Por moio do guadro disposicional acima construído, podomos
tazor um lrovo rotorno à história do Podro o assim roconstruir,
tamlóm do modo sintótico, as linhas gorais das origons das dispo-
siçòos docisivas ao modo como olo administra sua larraca.
Essas origons disposicionais podom sor olsorvadas om sua
história dosdo lom codo om sua intância, guando aprondia com
os dogmas do pai guo apurado não ó lucro¨, ou por olsorvação
o acompanhamonto do suas atividados cotidianas do agricultor--
-comorcianto. loram rotorçadas dopois, já om Caruaru, guando
dosonvolvia atividados similaros tamlóm na lodoga da tamília.
A rotorôncia tamiliar ó torto para a tormação do sua disposição
ascótica para o tralalho, o oxomplo do pai ó incorporado por
Podro, guo assim tamlóm o taz. Tralalha muito não somonto
para solrovivor, mas tamlóm tanto para dar oxomplo aos tilhos
guanto para sor roconhocido socialmonto como um tralalhador
o, assim, sor considorado digno, um latalhador.
Ë um pouco na oscola, ao dosonvolvor um raciocínio matomático
guo já conhocia na prática ao vondor os produtos agrícolas do
pai dosdo lom poguono, mas muito mais nas suas oxporiôncias
Conjunto dc dIsposIçòcs DIsposIçòcs cspccIIIcas 1rccÞos IIustratIvos
p. disposição para cons-
trução do imagom positiva
nos nogócios
p.1 Procura t...) molhorar a aparôncia o o
amlionto no gual sorvo os cliontos t...)¨
p.2 t...) nos nogócios a aparôncia valo
muito.¨
p.3 t...) tazor tudo nos contormos, como
ora oxigido na transportadora.¨
p.4 t...) proza lastanto pola organização
o aparôncia do sua larraca.¨
g. disposição para apron-
dizagom na prática dos
nogócios
g. t...) tom coisas guo não so onsinam om
cursos: lom atondimonto, gualidado no
produto o proço compotitivo.¨
r. disposição para aprondi-
zagom por moio do olsor-
vação do outros nogócios
r. t...) Elo diz tor aprondido como tazor
no ramo olsorvando as larracas mais arru-
madas guo a sua, como os propriotários
dolas taziam para mantô-las sompro nos
tringuos o torom ôxito nos nogócios t...)¨
tConclusão)
102
do tralalho ttamiliaros o, postoriormonto, protissionais) guo
Podro dosonvolvo as disposiçòos roguisitadas para a sulsistôncia
oconomica no soio do capitalismo contomporânoo. Tralalhar
numa grando omprosa, na gual oxistom procodimontos, normas,
oriontaçòos proviamonto dotinidas para o dosomponho das
tunçòos taz com guo uma possoa como Podro, nascida no mato¨
o criada numa cidado do intorior, prociso incorporar novas
disposiçòos guo ainda não haviam sido roguisitadas polos con-
toxtos do ação nos guais havia vivido ató ontão o, dosso modo,
apronda na prática o guo dovo tazor. Como podomos olsorvar,
tazondo uso da lonto toórica disposicionalista, as possililidados
são lom signiticativas do guo, ao sor controntado com um novo
contoxto, o indivíduo ou incorporo tom maior ou monor grau,
a dopondor dos casos) dotorminadas disposiçòos roguisitadas
por osso contoxto, doixando adormocidas¨ disposiçòos mais
portinontos ao sou contoxto original tcampozona rural) ou
antorior tcidado maior, mas tamlóm intoriorana), ou ontão rotorco
disposiçòos contrárias a osso novo contoxto tcidado grando,
tralalho na omprosa) o rotorno aos contoxtos nos guais olas são
portinontos. Dotorminado a dar corto na vida¨, Podro consoguiu
do modo pró-rotloxivo incorporar as disposiçòos nocossárias ao
tralalho na cidado grando. Vas suas origons o tizoram, dopois
do corto tompo, não so sontir mais contortávol nosso contoxto. A
domissão voio, o Podro voltou para suas origons, mas não voio
incólumo. Ou soja, não simplosmonto tirou a tarda¨ da omprosa
o vostiu a lormuda o a camisota¨ do toiranto. Em sou corpo,
trouxo inscrito sou novo comploxo disposicional¨, sou ostoguo
acroscido¨ das disposiçòos guo tovo do incorporar para so oncaixar
num procosso produtivo omprosarial o para a vida numa cidado
grando do modo goral. Agora, sorão olas guo ostarão om xoguo
na volta do Podro ao sou antigo contoxto do socialização o ao
passar para novo contoxto do tralalho na toira.
Vosmo som tor consciôncia disso, Podro ago como so soulosso
guo ató podorá ir alóm na oscala da asconsão social, mas guo
não podorá ir muito. Ë por isso guo a projoção dos tilhos para
o ostudo, para outro mundo guo não o da toira, ó uma torma
do suporar sua condição original o assim tor, ao tinal da vida, a
sonsação do dovor cumprido, atinal, toz o possívol para guo sous
tilhos chogassom ondo olo não chogou¨. Vuito omlora aparonto-
monto, num primoiro olhar, osso aspocto não tonha rolação dirota
com o modo como olo administra sua larraca, num sogundo
103
olhar tom sim, o tom muito. Ë um olomonto como osso guo taz
com guo um latalhador como olo tiro sous tilhos do cotidiano do
tralalho na toira to guo acontoco com muitos outros poguonos
comorciantos do modo invorso), lom como mostra um oljotivo
ultorior ao ascotismo na administração do nogócio om si, ou soja,
alóm da solrovivôncia no agora, ó nolo guo são sustontados os
sous sonhos-tilhos do um tuturo molhor.
Rolor a história guo agui aprosontamos, após tormos trazido
à tona alguns dos princípios goradoros¨ dos ponsamontos, son-
timontos o açòos do Podro, assim como tormos toito osso lrovo
rotorno à sua trajotória do vida, podo sor algo osclarocodor ao
loitor guo ospora, do tato, comproondor como toram goradas
ao longo da vida do nosso porsonagom condiçòos oljotivas
tponsamontos, sontimontos o açòos) para guo olo pudosso hojo
administrar sou comórcio do toira.
CONSlDERA(OES llNAlS
O guo claramonto ditoroncia ossa nova classo tralalhadora do
guo so convoncionou donominar do classo módia, por oxomplo,
não ó uma guostão do ronda, mas sim dos modos do ponsar, agir
o sontir constatávois nas vidas cotidianas guo lovam os momlros
do uma o do outra classo. Agui procuramos caractorizar o modo
como atua um dos tipos-momlros do uma classo social guo conso-
guiu, ao longo do sua trajotória do vida, incorporar minimamonto
as disposiçòos nocossárias à solrovivôncia produtiva na roalidado
do novo capitalismo lrasiloiro, o poguono comorcianto do toira.
Dontro ostas disposiçòos, a rosiliôncia no tralalho, ou soja, a
capacidado do não dosistir o do ontrontar jornadas oxtonuantos,
juntamonto com a prática do poupança tmosmo guo do modo
inconstanto) o a cronça om sua iniciativa prática do so virar¨
mosmo om situaçòos das mais advorsas são dostacávois.
Alóm dos aspoctos da história idoaltípica¨ contada acima,
um dado apoia ainda mais o capital ospocítico idontiticado nosta
posguisa como sondo docisivo à trajotória do vida dos momlros
dossa classo, o capital tamiliar. Dontro os toirantos guo rospon-
doram nosso guostionário, 86,¯/ dolos toram criados por pai o
mão juntos. Algo ditoronto da roalidado da maioria dos momlros
da raló aprosontados na olra · :aI~ ü:a::I~::a. O tralalho dosdo
codo junto aos pais o irmãos, guor soja na roça, na toira ou mosmo
104
num poguono comórcio tamiliar, ó traço marcanto na história do
vida do inumoros lrasiloiros guo, como Podro, incorporam uma
torto ótica do tralalho dosdo codo na intância.
A projoção do um tuturo molhor para os tilhos notada na nova
classo tralalhadora lrasiloira ó algo próximo ao guo Bourdiou
porcolou om rolação à poguona lurguosia trancosa om suas
posguisas aprosontadas om · u::ì:u¸a·. Ao olsorvar guo, om
sua oxistôncia, o indivíduo não podorá ir alóm do dotorminado
status na hiorarguia social, olo taz o possívol para projotar ao
máximo sous tilhos no sontido da asconsão social dosojada. A
idoia guo talvoz possa sintotizar osso ponto ó a soguinto: Com
muito tralalho o o pouco ostudo guo tivo ou pudo chogar ató
agui, so mou tilho ostudar o tor tralalhador como ou, olo podorá
ir ainda mais longo.¨
Não gostaríamos do concluir osto tralalho som doixar claro
ao loitor o guo ponsamos sor mais importanto om nosso apron-
dizado solro a torma como os latalhadoros administram sous
nogócios. Acroditamos guo a variávol mais marcanto nosso caso
são as disposiçòos proviamonto incorporadas om contoxtos
antorioros do tralalho. Ou soja, ponsamos sor algo lastanto claro,
não somonto nosso, mas tamlóm nos domais onsaios dosto livro,
guo parto signiticativa do aprondizado utilizado no tralalho polos
latalhadoros advóm da oxporiôncia prática guo olos tôm ao longo
do sua vida, tondo início nos valoros olomontaros guo incorporam
na tamília, goralmonto ostruturada tso comparada com a tamilia
da raló¨), na gual vôm ao mundo o são criados.
Procuramos rospondor à guostão contral guo nos propusomos
do início, ou soja: como uma possoa como Podro administra sou
poguono comórcio? Uma possoa como Podro administra sou
nogócio por moio do ponsamontos, sontimontos o açòos guo são
docorrontos das disposiçòos tom ospocial dos conjuntos disposi-
cionais do autossuporação, oconomicas gorais o administrativas,
om nossa análiso) guo olo incorporou ao longo do sua trajotória
do vida. Esta rosposta soria um tanto guanto sintótica o ató mosmo
laconica so a tivóssomos protorido nas primoiras linhas dosto
toxto o caso não tivóssomos omproondido, om sou curso, todo
um ostorço do comproonsão-oxplicação solro ossas disposiçòos o
solro o modo como olas so aprosontam no cotidiano do um lata-
lhador como Podro. No ontanto, como nos manda a tradição do
lom otício ciontítico voloriano, ponsamos tor oxplicado como
chogamos ató ola.
✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 3
⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥
↵⇣P⌦↵↵MD↵DC⌦↵⇥ ⌦✓⌦⇧l⇥
✓MlD⇧D↵ ⌫⇧⇣l⌥l⇧⌦, ✓MlD⇧D↵ P⌦CD✓⌃lV⇧
··Iaü·:au·:. 1aü::c:· Mac:~I
Atualmonto, Elimar
1
ó um poguono produtor rural na cidado
do Cachooira do SulRio Grando do Sul, conhocida pola tama
do tor sido a capital do arroz¨ no passado. Dono do uma proprio-
dado do 12 hoctaros, casado há 29 anos, pai do um casal do
adoloscontos, sua vida paroco ostar molhorando a cada dia
guo passa. Dostaguo na cidado om sua produção do truticul-
tura, sou omproondimonto crosco a todo vapor. A capacidado
produtiva da poguona, poróm potonto propriodado rural, crosco
guantitativa o gualitativamonto a cada dia. Quantitativamonto,
polo volumo cada voz maior do morcadorias guo consoguo
produzir, om monos tompo. Qualitativamonto, polo potoncial do
sou maguinário o oguipamontos do ponta, pormitindo não aponas
a suporação om volumo, mas principalmonto om gualidado do
sou produto tinal.
Aguolo volho ditado, a vida comoça aos 40¨, so aplica portoi-
tamonto om sou caso, pois so oncontra nossa taixa do idado.
Voncodor do um prômio roconto por produtividado na rogião,
oxomplo do ostorço no tralalho o sucosso oconomico om sua
poguona cidado, lidorança política om associaçòos locais, Elimar
hojo não tom do guo roclamar. Eslanja um sorriso tranco o
alorto, somolhanto à torma como sompro oncarou a vida, do
poito alorto. Estuta o poito ao dizor guo dosatia sous molhoros
106
cliontos. Vou suco ó para hotol guatro ostrolas.¨ So o clionto
guor guatro tonoladas, ou proponho soto.¨
O tologo o a ompolgação do Elimar acompanham o ritmo
atual do sua vida. Elo não para um sogundo. Ë uma máguina para
o tralalho guo dou corto. Quando não ostá om algum canto da
propriodado atonto a algum poguono dotalho do cultivo ou do
acalamonto tinal dos produtos, ostá no contro da cidado, não
muito distanto da propriodado, tazondo ontrogas, ou ostá so oncon-
trando com outros produtoros, ató mosmo om outras cidados. Um
dos oljotivos ó so atualizar solro sou ramo o sou morcado, atravós
do cursos. Eu tui sompro muito do luscar intormação. Do tudo
guo ou tiz assim ora conhocondo alguma coisa, mas tu tom guo
ostudar, tu tom guo vor ali, doonças, pragas, o lota isso, lota aguilo.¨
Então ou vou lá pra dar uma olhada como ó guo tá a loca nó.
O guô guo olos tão guorondo nó. Qual ó a tondôncia.¨ Alóm da
noção do valor oconomico do conhocimonto, olo tom noção do
guo sou ramo ospocítico oxigo um conhocimonto apurado. Ë
om lusca do conhocimonto do causa nó. Porguo o prolloma da
truticultura ó guo tu tom guo tor um conhocimonto lom sonão
tu não tom rosultado. E so tu não tom rosultado a trustração to
poga o tu larga do mão. Tu acha guo aguilo não dá.¨
Outro oljotivo ó criar mocanismos colotivos do produção o do
distriluição, atravós do associaçòos guo otimizom a capacidado
produtiva o os lucros.
A associação nossa ó agui do Cachooira, mas tom outras associação
agora dos outros municípios, guo agora nós tamo tontando so
juntar pra trocar morcadorias o conhocimontos nó, solro o assunto
da truta, plantio, colhoita, môs do comorcialização, talricação.
A porcopção do valor prático do uma rolação com instituiçòos
locais roproduz a mosma osportoza do omproondodor.
Tudo isso aí guo sompro vom atravós da Emator
2
nó, guo dá curso,
sompro curso, inclusivo olos toram om um curso om Caxias do
Sul nó. Tirar curso lá om Caxias solro produtos dorivados do
truta. Agora tom curso guo a Emator promovo, sai possoas agui
do Cachooira atravós da Associação junto com a Emator o a
Socrotaria do Agricultura pra tirar ossos cursos o vor, aprondor.
Tu tom guo sair pra tu tor alguma idoia. So tu não sair do tou
lugar tu tica tochado.
10¯
A noção do ampliação ospacial dos horizontos rotloto a
ampliação prática, ao longo do anos, do sou horizonto do
autossuporação.
Sua produção atual inclui trutos in natura do gualidado garan-
tida, sondo olos principalmonto uva, maracujá o amora, ossôncias
para sorvoto o uma novidado guo vom dando muito corto: sucos
ongarratados o já adoçados. Esto ultimo oxigiu o dosonvolvi-
monto do uma poguona agroindustria, administrada por suas duas
irmãs, no sistoma guo olos donominam como troca¨. Enguanto
olo cuida da dimonsão primária da produção o da distriluição,
olas cuidam do ongarratamonto o do ompacotamonto. Vas a
troca¨ signitica guo, guando solra tompo do alguóm om alguma
das dimonsòos do ciclo produtivo, olo ó omponhado om ajudar
os domais nas outras tarotas. Tamlóm signitica a comlinação
tamiliar do torças para o alcanco do oljotivo tinal, no gual todos
saom ganhando. A união do torças ó tundamontal para o sucosso
do nogócio, pois o ramo não ó tácil.
A agroindustria atua tamlóm na rigorosa soloção dos trutos,
parto osta ossoncial para o sogrodo do sucosso, dito por olo
mosmo: a gualidado dos produtos. Produtos do gualidado
modiana são dovolvidos polos comorciantos o signiticam pro-
juízo corto. Sua oxporiôncia onsinou lom o guo ó isso.
E a truta tom guo ponsar. Tom guo ponsar o aprondor a poda,
por guo guo poda assim, por guo guo poda assado, por guo guo
tu tom guo ralhar, por guo guo tu tom guo tazor o tratamonto
pós-colhoita. Dopois da colhoita, tratamonto do invorno, adulação
do laso, tazor análiso do tolha, análiso do solo, salo, tom um
monto do lronca assim pra tu tor uma truta guo, no morcado,
caiu lá, tu vondo. Aí guo tá, ou sompro tontoi luscar isso. Claro
guo num consogui tazor ainda aguilo guo ou gostaria do tor toito.
Vas to sompro chogando porto, ontão a gonto tá colhondo uma
truta lonita, um tamanho lom.
Dois pontos contrais já so osloçam na rocoita do latalhador
voncodor: a conciliação ontro tralalho árduo o conhocimonto
ospocítico do ramo, comlinada com uma torça produtiva tamiliar.
No primoiro ponto, voromos guo a vida dosto atual voncodor
nom sompro toi lom-sucodida o nom sompro toi marcada por
soguôncias do vitórias. Vas nunca podo doixar do sor marcada
108
polo tralalho árduo. Elo concilia o conhocimonto ospocializado,
guo já lusca há tompo na vida, com o salor prático da oscola da
vida, som o gual olo não taria um lom uso, dontro da propriodado,
do conhocimonto guo adguiriu tora dola. Ou soja, do um lado:
Eu tiroi curso do motrologia, dosonho, ajustagom, tornoaria,
mocânica do manutonção, tócnico olótrico o lulriticador.¨
Vas antos: Ah, dosdo guo ou mo conhoço por gonto ou já tava
sompro na roça ajudando o tralalhando. Com oito anos ou já
tralalhava no trator.¨
No sogundo ponto, oncontramos a laso do indivíduo guo,
om um primoiro momonto, lrilha como uma ostrola solitária
da idoologia do mórito.
3
Vuita gonto conhoco Elimar por sou
portil honosto,
4
caprichoso o organizado, o guo so rotloto om
sous trutos, como om sua uva, guo guaso rotloto sua imagom,
do tão loa o grauda. Pouca gonto salo guo sou mórito possoal
não chogaria a nonhum lugar sozinho som as duas irmãs guo
pogam tão posado guanto olo na latalha cotidiana. Elas tamlóm
croscoram no contoxto do aprondizado, logo codo, do tralalho,
no contoxto do uma protunda simlioso com a torra. Os pais
toram agricultoros do poucos moios oconomicos o culturais,
acostumados com a diticuldado. Quando mou pai casou com a
mão olos toram morar no galinhoiro do mou avo lá. Tiraram as
galinhas lá, arrumaram o toram morar lá.¨ Com osta origom, os
tilhos logo aprondoram guo não há nom tompo ruim nom torra
ruim para o tralalho.
Porguo o prolloma do agricultor num ó a torra. O prolloma do
agricultor ó o tompo nó. Então so o tompo num ajuda o o volumo
do dinhoiro na oxtonsiva
5
ó muito alto t...) Dou uma onchonto
assim ó. Era uma lavoura do novo mil sacos do soja, ou colhi dois
mil sacos só. Aí t...) mo atiroi no lanco. Eu tinha toito a dinhoiro.
Tinha juntado dinhoiro, juntado dinhoiro o tiz uma sociodado
com o mou irmão, guo olo so aposontou, o aí disso a olo: vamo
grudar, vamo grudar.¨
6
E daí ou plantoi uns 2¯0 hoctaros do soja.
E aguolo ano ali toi om 80 o... do 8¯ pra 89.
Tralalhar om tamília não ó algo novo para osto latalhador.
Ralou muito ao lado do irmão, no passado, o conhocou dosdo
codo as diticuldados institucionais para o poguono produtor.
109
O lanco sompro omprosta dinhoiro pra guom tom dinhoiro, ou
so não guando no tinal do ciclo, da taso do plantio guo olos to
liloram dinhoiro. Quo nom acontocou comigo nó. Entramo no
nogócio do novo nó, ou o mou irmão do sócio. Compramos as
somontos, o adulo, tudo no dinhoiro, o compramo trator, o má-
guina o coisa... Nós ó moio louco, paguomo um pouco, o rosto
ia grudar na satra já apostando alto. Vas trator volho, usado,
máguina usada. Aí dou pra trás. Pagar todas aguolas contaiada
com dois mil saco, num pagava. Vas mosmo assim consoguimo
cumprir. O dinhoiro guo ontrou nós pagamos os oguipamontos
o aí ontramo no lanco.
A oguação tralalho árduo o ímpoto omproondodor nom
sompro ó sinonimo do lons rosultados. Esta toi uma taso na gual
olos trocavam cololas¨, como so diz no ditado, ou soja, muito
tralalho o invostimonto para no tim da satra ticar na soma zoro,
consoguir no máximo pagar as contas o não passar tomo por
cultivar alguns itons da própria torra. Em momonto mais roconto, já
morando na atual propriodado, guo possui há soto anos, a tamília
vivou outra taso do troca do cololas¨, ompatando tralalho o
invostimonto o domorando a vor os rosultados. Não tosso o
omprogo da osposa, tuncionária pullica da protoitura local, a
comida taltaria à mosa. lsso provavolmonto pouca gonto salo,
por trás da imagom pullica do indivíduo rospoitado o admirado
por sous cologas do ramo. Elo casou codo o, por longo tompo,
procisou tralalhar om outra cidado, como omprogado om várias
ocupaçòos, morando longo da osposa, pois ainda não tinha nonhuma
condição do voltar ao campo, sua vordadoira torra natal, o invostir
om algum omproondimonto rural, como sompro guis.
Um traço comum na trajotória dos latalhadoros, mosmo dos
omproondodoros, são os altos o laixos¨ da vida, a incortoza, a
instalilidado, a tó no incorto o a insistôncia no instávol. Um dia
a sorto podo chogar, numa vida do apostas, na gual o próprio
corpo ó sompro o primoiro lom posto como garantia. E chogou
para Elimar. A oguação tralalho árduo o ímpoto omproondodor
agora gora rosultados. Vas não toi sompro assim. Sua rotina nunca
toi lovo, o houvo uma ópoca na gual o horizonto do rosultados
não mostrava rosultados no horizonto. Sou ostorço nom sompro
toi rocomponsado polas osguinas da vida. Um conhocido ditado
diz guo Dous oscrovo corto por linhas tortas¨. Um latalhador
omproondodor ó aguolo guo tralalha corto por linhas tortas¨.
110
Um latalhador não ó aponas corpo adostrado para o tralalho,
o muito monos o ó um latalhador omproondodor. Esto concilia
tralalho insistonto com intoligôncia, salor prático com conhoci-
monto ospocítico do sou ramo. Ë alguóm guo podo dosonvolvor
disposiçòos tísicas o disposiçòos rotloxivas.
¯
O contoxto do diti-
culdado dos pais tolizmonto não lhos nogou a porcopção docisiva
do guo o tilho dovoria ostudar para tor um tuturo um pouco mais
lovo o com molhoros rosultados, alóm do aprondor a virtudo do
tralalho suado. A somana ou passava na cidado ostudando.¨
Chogava tim do somana já doscia pra tora junto.¨
8
Papai tralalhou
arrondado. E aí ou mo crioi mais na cidado, mas ou sompro no
tim do somana, guando dava, ou tava indo pra tora.¨
Um dos traços dotinidoros do latalhador ó a origom tamiliar
do pouco ou guaso nonhum capital oconomico o cultural, poróm
marcada pola honostidado o pola dignidado,
9
mosmo dianto das
maioros advorsidados. Tralalhando pra tora, alugado, ontão o
arrondamonto tu tica tompo do um lado, aí tu vai pra outro. Tu vai
contormo o dono da torra.¨ A autonomia atual do Elimar, dono do
poguona o produtiva torra, não toi privilógio do sou ostorçado pai,
guo ainda assim consoguiu transmitir a ótica do tralalho o o valor
dos ostudos aos tilhos. Vas ninguóm disso guo soria tácil. logo
no início, uma tragódia doixa claro para o tuturo omproondodor
guo a vida não ó uma lrincadoira. Elimar pordo um dodo do uma
das mãos, a principal torramonta do tralalho do um latalhador.
Eu moti o dodo na colhoitadoira nó. Com 10 anos do idado ou
já tralalhava com o trator o a colhoitadoira.¨
lolizmonto, o mal guo a colhoitadoira lho toz não toi maior do
guo o lom proporcionado polo trator, sondo osto talvoz o maior
símlolo da simlioso com a torra o com os pais, oxomplos vivos
do ostorço o porsovorança para os tilhos. Tinha trator, ontão ou
lrincava do trator lá. O guo ou mais adorava ora pogar o trator
o ticar tralalhando a torra.¨ A rolação ospontânoa, ainda guo do
uma vida dura, ontro a tamília intograda o a torra, com os ogui-
pamontos, ainda guo ostos não tossom sous, parocia natural aos
olhos daguolo monino. Provavolmonto so sontia intogrado à torra,
atravós da máguina. Tudo indica guo, ditoronto da oxpropriação
do mais-valia urlana guo já toz muitos tralalhadoros sontirom
ostranhamonto o raiva das máguinas, osto monino podo porcolor
o trator como continuação do sou próprio corpo, sontindo olo
111
mosmo so transtormar om máguina para o tralalho o so contundir
com o trator, onguanto croscia.
O tompo passa, o Elimar já ó um rapaz. O início do sua trajo-
tória do diticuldados coincido com as diticuldados na trajotória
do sua tamília. Sou pai chogou a adguirir algum maguinário,
com anos do insistôncia na agricultura, ainda tralalhando como
omprogado, mas a advorsidado da vida no campo às vozos ó
implacávol, impiodosa, não podo sua opinião, choga som avisar.
Aí o pai tovo guo vondor todo o maguinário guo tinha pra
cumprir com o lanco.¨ Um vondaval oconomico, mais torto do
guo os vondavais naturais guo às vozos sacodom as plantaçòos,
toma do assalto as condiçòos do vida lásicas da tamília. Ë o
momonto mais adoguado no gual o jovom latalhador so dopara
com o maior dosatio do sua classo, polo monos para aguolos guo
porcolom a unica possililidado do so voncor na vida: conciliar
tralalho o ostudo.
Aí ou tui tirar ossos cursos o olo |o pai} ticou, aí olo toi vondor
pastol na rua. A mão tazia pastol pra podor tor o guo... |comor}
nós tava guolrado. Então a mão tazia pastol, lolinho, coisinha,
o o pai pogava a costa o ia vondor nas ruas o pastol o coisa. Elo
já tava com a idado já lom avançada o ou daí com 15 comocoi a
tralalhar no supormorcado pra podor ajudar dontro do casa. Então
ou tirava os cursos do noito o do dia ou tralalhava no morcado
do ompacotador ali nó. E dava om casa cinco caixa do rancho
|comida}. Eu comprava o o supormorcado sompro tinanciava as
caixa do rancho pra gonto mais larato.
Ainda lom guo as tamílias latalhadoras salom a vordado
solro o mundo do tralalho. Elo ó cruol com guom não ostuda,
colra o proço da dignidado como um toitor dos tompos do oscra-
vidão, com chicotadas proporcionais ao tamanho do orro do
oscravo. Como o oscravo apanhava guaso sompro injustamonto,
o latalhador tamlóm paga injustamonto com sou corpo polas
advorsidados do sistoma oconomico do sou tompo. Ë o guo
sonto o volho pai do nosso protagonista, humilhado o rolaixado
na hiorarguia social do tralalho, sondo olrigado a alandonar a
simlioso com a torra, ainda guo não tosso um propriotário, mas
alguóm guo sompro tralalhou no campo, para sor um invisívol
vondodor amlulanto na dimonsão urlana do capitalismo. Os
otoitos são sontidos imodiatamonto dontro do casa.
112
Carno, por oxomplo, assim, ora horrívol, ora só o molho. Num
tinha isso aí do carno, do comor carno, ossas coisas aí num ora
assim nó. loi uma taso muito ditícil. Aí ou tiguoi um ano o moio
tralalhando no supormorcado o com osso osguoma aí mo tirou
do curso.
Os ostudos ostão pordondo para o tralalho dosgualiticado
no improvisívol jogo da vida do latalhador. lolizmonto olo tinha
loas disposiçòos intoloctuais dosdo a intância o ompatou o
jogo dopois. Vais do guo isso, mantovo o ompato, pois para
um latalhador dosto portil mantor o ompato ontro tralalho o
ostudo já signitica vitória. Então tiroi cursos guo daí tinha mais
possililidado do arrumar omprogo o ganhar um pouguinho
molhor.¨ Os já citados cursos, tirados polo Sonai, contirmam a
intuição tamiliar o rocomponsam o latalhador, guo ainda não ó
um omproondodor nosto momonto, com uma insorção molhor do
guo a antorior, no morcado do tralalho urlano. Eu tralalhoi 10
anos com ossos |cursos}... com osso tundamontal mocânico.¨
Como o oguililrista na corda lamla, o latalhador vai so
mantondo instávol. Nadando com os tularòos¨ do um compo-
titivo sistoma oconomico, vai solrovivondo na zona do vulno-
ralilidado¨,
10
como diria Rolort Castol. O pôndulo da narrativa
tamiliar dos latalhadoros, como um todo, o tamlóm do muitos
omproondodoros, ó marcado por altos o laixos, algumas tasos do
vacas gordas¨, nas guais so adguirom lons o so vivo um pouco
molhor, o por outras do vacas magras¨, nas guais so ontroga
tudo ou guaso tudo guo so adguiriu, para solrovivor com alguma
dignidado. lronicamonto, oxisto um tipo do ciclo sazonal na vida
dos latalhadoros guo não ó aguolo da naturoza, dotinido polas
ópocas do plantio o colhoita, guo todo lom agricultor conhoco
lom. Trata-so do um ciclo sazonal monos visívol, na vordado,
improvisívol, um ciclo sazonal social¨. Como cortos passarinhos
guo acumulam comida no vorão para solrovivorom no invorno,
muitas tamílias latalhadoras, mosmo as omproondodoras, muitas
vozos procisam ontrogar guaso tudo guo tôm, acumulado dura-
monto om anos do tralalho, para solrovivor a rovosos do sistoma
oconomico.
Vas a momória dos tompos do glória pormanoco, como no caso
dosto ompolgado produtor guo tala do sous toitos com o mosmo
lrilho nos olhos daguolo monino guo adorava lrincar no trator.
113
Dirigo sua propriodado com a mosma disposição. O ciclo sazonal
social dotino as histórias tamiliaros atravós do goraçòos, podondo
otorocor tompos mais lovos para alguns o tompos mais ditícois
para outros. Sous pais intolizmonto parocom tor oxporimontado
osto ultimo logado na vida adulta o o primoiro, na intância. Vas
antos disso aí os pionoiros do plantação do arroz om Cachooira
ou no Brasil oram o mou avo, o pai dola |da osposa} o o pai do
mou pai.¨ Ë, o o avo matorno tamlóm, a mosma coisa. Os dois
na ópoca oram os maioros plantadoros do arroz, tanto guo olos
mandavam vir trator da Alomanha.¨ Vas a vida nom sompro ó um
mar do rosas, o muito monos para os latalhadoros. Uma maró
natural, o consoguontomonto social, ó antiga inimiga dos pro-
dutoros rurais. E na onchonto do 41 olos pordoram...¨. Elimar o
suas irmãs vivom uma ordom contrária, nascoram om maró laixa,
vivom diticuldados dosdo a intância, guaso so atogando, o agora,
dopois dos 40, o no caso das irmãs, dopois dos 50, a maró volta
a sulir o olos rotomam o tologo.
O tralalho duro do pai paroco não tor sido suticionto para
mantor a grandoza da goração antorior, talvoz não tonha adguirido
loas disposiçòos rotloxivas, ou talvoz tonha sido simplosmonto
uma guostão do sorto. Elimar lamonta: A mão toi sompro uma
mulhor muito osporta. So o mou pai tivosso ido pola caloça da
minha mão...¨. lntolizmonto, as oscolhas não são tão simplos
assim. A mão dosto omproondodor aprosontava loas visòos do
tuturo, loas intuiçòos, havia porcolido corta voz guo a soja soria
o carro-choto do uma ópoca, o do tato toi. Não apostaram nola.
Erraram. Nom sompro os omproondodoros consoguom antocipar
o tuturo. Vosmo os molhoros nadadoros às vozos ongolom água.
O importanto ó guo antos disso consoguom garantir o prosonto.
Tôm torça para dar algumas lraçadas na água o dopois loiar
com o impulso dolas.
Antos do sor um propriotário lom-sucodido, Elimar comoçou
da manoira mais ditícil, arrondando torra, som apoio o contiança
institucional, contando aponas com as disposiçòos para cror o
para agir da tamília. Disposiçòos para cror om uma vida molhor,
monos dura, o disposiçòos para agir om prol dola.
O Banco ó assim. Tu tá mal olo já to oscantoou. Daí vondi uma
casa guo ou tinha pra pagar ao lanco o solrou ainda, o o aval
mou guo ora o dono da torra, ou doixoi o trator pra olo, pra olo
114
pagar aguola parcola, guo ora dozo mil na ópoca. Nós ticamos só
com a colhoitadoira guo ora tinanciada om cinco anos diroto com
o produtor. E aí tiguoi colhondo pra tora. E aí arrondamos uma
ároa poguona ali, comocoi com galinha do postura o ia lovando.
Chogava na satra ou ia pra satra colhor pros outros.
Elimar o tamília omponham toda sua torça o toda sua tó trala-
lhando om torras alhoias, dovondo o por vozos alrindo mão do
poucos oguipamontos para so livrar do dívidas. Vas sua hora
havia do chogar. Vosmo om condiçòos das mais advorsas, olo
ostava atonto às mudanças do mundo no gual vivia.
Ë, mais lá tora, guando ou tava lá tora |na roça}, guo ó 80 guilo-
motros da cidado, não tinha TV, não tinha nada, só tinha um
rádio. Então ouvia a Voz do Brasil¨ o ouvia talar do doputado
do Banco da Torra¨. A torra no Piauí, num soi ondo, tá rolando
dinhoiro pra torra.¨ Vas como ou tava sompro onrolado com
o lanco choguoi pro goronto o disso: goronto, vom cá, o o tal
do Banco da Torra, Cachooira não vai so moxor? Quo a idoia ó
comprar torra.¨
A dura rotina do poguono agricultor som autonomia não o
impodiu do ostar atonto às mudanças oconomicas o às oportu-
nidados no horizonto. Sua disposição rotloxiva pormitiu guo olo
sompro tosso um homom intormado o suas disposiçòos para insis-
tôncia o porsovorança pormitiram guo olo so molilizasso dianto
do tais intormaçòos. linalmonto, paroco guo a tórmula lásica do
latalhador omproondodor, tralalho duro com a monto o com o
corpo, comoçaria a dar corto. O contoxto parocia promissor. O
latalhador atonto não ia dospordiçar a oportunidado, ia porsogui-la,
como sompro toz, matando um loão por dia¨. Tu arrondando
torra, todo tou lucro do nogócio tica pro dono da torra nó.
Então ó ruim pra tu tralalhar.¨ Vas olo não ia osporar cair do
cóu. Atonto à possililidado do Banco da Torra, olo já tinha uma
idoia. Na vordado, já salia o guo tazor, o a laso tamiliar como
sompro toi docisiva nosto momonto.
Como ou tinha casado com uma italiana, guo o pai dola ó produtor
do truta, do uvas o tal, tom cantininha do vinho. E olo tinha uma
vida, não do rico, mas uma vida loloza. Não dovia nada pra
ninguóm, tava lom, tinancoiramonto lom. E a idoia ora tazor
agui om Cachooira truta, porguo agui ou soi guo agui dá. lrutos,
o agui dá tudo!
115
As disposiçòos para o tralalho contínuo o intoligonto já
oxistiam na vida dossos latalhadoros. O contoxto agora parocia
promissor. laltava concrotizar a idoia, o ola doscortina a intlu-
ôncia da tamília da osposa na trajotória dosto casal, intluôncia guo
guaso so rosumo ao oxomplo. A truticultura promotia uma vida
tranguila, som muito luxo, mas simplosmonto tranguila, sogura, o
guo dotino om grando parto o ostilo do vida do latalhador. Dou
corto para os pais da moça. Por guo não daria para olos? Todos
os olomontos para o início do um omproondimonto ostavam
rounidos. Como na proparação do um prato do alimontos,
todos os itons ostão rounidos, o o principal, o tomporo, olos já
conhocom dosdo sompro: Ë só tralalhar.¨
O horizonto do possililidados dosta tamília agora ó ampliado.
O próprio ostorço dossos latalhadoros, om anos do tralalho duro,
o atontos às oportunidados, tamlóm toi docisivo na ampliação
das possililidados om sou horizonto. Não soria justo ontrogar ao
acaso do sistoma oconomico as possililidados do sucosso das
possoas. Elas tamlóm agom, o sua capacidado do ação tom guo
tor uma oxplicação. Os latalhadoros aprondoram a tralalhar o
a ponsar. A tórmula do sucosso ó clara, pois a própria idoologia
do mórito so oncarroga do onsiná-la, mas não ó tudo.
Tu tom guo tazor morcado, tu tom guo mostrar guo o tou produto
ó um produto do gualidado. E tom guo vostir a camisota. So não
vostir a camisota tu tá tora. E ó uma cultura |a truticultura} guo
ó pra possoas guo tôm mais condição tinancoira. Tom guo tor
invostimonto, so tu não tivor apoio do lanco, Pronat,
11
coisa
assim nó.
Um dos ditados popularos guo mais marcam a trajotória do
um latalhador ó aguolo guo diz guo a tooria ó uma coisa, a
prática ó outra¨. No papol ó muito tácil, guoro vor na vida roal.¨
Na oscola da vida, olos já saliam guo o princípio lásico ó suar
a camisa. Tinham uma noção, pola oxporiôncia da tamília da
osposa, dos caminhos ospocíticos da truticultura. Não lasta
oscutar guo o ostorço lova a voncor na vida, sonão não oxistiriam
pordodoros no capitalismo. Ë prociso vor na prática. Elos viram
os rosultados, dou corto para os pais da moça. Ainda assim, ó
uma aposta na gual os latalhadoros procisam so omponhar. E
continuar aprondondo na oscola da vida. Elos toriam guo aprondor
ainda mais, o omproondimonto ostava aponas no horizonto, não
116
iria cair do cóu. Elos saliam disso. Diticuldado¨ ó uma palavra
om dostaguo no dicionário da vida dossas possoas. Suporação¨
tamlóm. Elos ostavam aponas comoçando nosta nova otapa. Elos
podiram o ompróstimo.
Aí ou tui o ultimo rocurso guo voio, guo voio sossonta mil paroco.
No ultimo rocurso guo voio. lui ou o um outro rapaz guo toi
lonoticiado, outra tamília. Aí mo doram 30 dias pra mim achar
uma torra. Aí não tinha torra, porguo guando voio o Banco da
Torra toi toito nas rádios um corto auô assim, guo aguilo ia sor
assim um mar do dinhoiro, guo num ora vordado nó, num ó
assim guo tunciona.
A ospoculação solro o dinhoiro intlacionou o valor da torra.
Vas nossos latalhadoros não iriam dosistir assim, não iriam docop-
cionar, agora guo a história ostá osguontando. Como diz o ditado,
do mais longo olos vinham¨. Agora guo a torra santa¨, a torra
promotida¨, a tutura torra nostra¨, da gual a jovom osposa havia
sontido o gostinho na intância, ostava logo à vista, o orgulhoso
omproondodor doixa ontrovor, na prática, o humildo
12
o insistonto
tralalhador luscando dignidado o sogurança para sua tamília.
Uma das pórolas da idoologia do mórito ó guo guom procura
acha¨, guom acrodita sompro alcança¨. Um dos sogrodos da
idoologia do mórito ó guo ó prociso tor disposição¨, no sontido
sociológico guo vomos nosto livro.
Daí toi om ultima instância guo ou consogui agui. Quo ontão
o homom aí ora dono do conto o poucos hoctaros agui o ou
oxpliguoi o guo ou ia tazor, tiz uma choradoira pra olo. Então olo:
Tá, to vondo.¨ Essos 12 hoctaros guo ou tonho hojo. E aí aguilo
domorou sois mosos o aí olo guoria dosistir do nogócio.
Vosmo guo ostoja agora claro no horizonto, o oljotivo dosta
tamília latalhadora só so concrotiza aos poucos, voncondo
poguonas latalhas cotidianas, matando um loão por dia.
Ë. Então daí toi guo ou consogui. Chora o chora, ospora mais um
pouco da minha parto do comprar agui. E toi, toi guo saiu o tal
do dinhoiro, pra pagar o homom. Aí mo doram trôs mosos pra vir
pra cá morar agui. Daí num tinha luz, tiguoi um ano agui som
luz, som água, som coisa nonhuma. Cavoi um poço agui do 15
motro ou mosmo pra achar a água o não arrumoi nada. Comocoi
a lotar mais na caloça nó, a ponsar.
11¯
Traço lásico do latalhador omproondodor: monto o corpo
tuncionam como poças articuladas do uma só máguina, cujo
comlustívol ó o oljotivo do nogócio próprio o da autonomia o
dignidado por osto proporcionadas.
Elimar o tamília ostão agora no início da dura otapa do cons-
trução da torra nostra¨, como lar o como unidado produtiva.
Dosdo sompro olos conhocom lom a roalidado do latalhador:
ó do laixo guo so comoça. O alicorco da casa coincido com o
alicorco do uma nova otapa da vida.
Ató ontão ora só tazondo luraco, tazondo luraco do corca,
tazondo a divisa. Eu dosonhoi ossa casa, tiz o luraco pra tazor
o alicorco. Eu tralalhava com pá, guo naguola ópoca tava som
dinhoiro. A luz, ou tivo guo tazor o mou larraco ali. A luz, ou
tinha um carrinho, ou tivo guo vondor nó. Num tinha luz nó. A
luz ora comprada. Naguola ópoca não tinha ossa luz pra todos
nó. Aí tinha guo pagar, paguoi trôs mil pra lotar a luz. E daí com
rosto do troguinho guo dou soto mil, daí ou tiz t...) o vim morar
com a tamília.
Há momontos na vida do latalhador nos guais a incortoza ó a
unica cortoza, mosmo guo so ostoja osloçando o implomontando
algum invostimonto. Agora na torra nostra¨, olos não podiam
apostar om uma coisa só, procisavam atirar para todos os lados¨.
Saliam guo ó do grão om grão guo a galinha oncho o papo¨.
Como ou tava tralalhando com galinha caipira o tinha uma acoi-
tação loa no morcado, tanto o ovo como o trango caipira nó,
guo dá um rocurso lom t...) ou guoria tazor isso, mas aí o Pronat
num dava nom pra tazor o galpão nó, pra lotar as galinha dontro.
Então tivo guo largar do mão isso aí o tazor... daí ou comocoi
a plantar o arroz. Eu tinha um podacinho do arroz o plantando
minhas vidoiras aí dovagarzinho.
Assim, nom sompro os latalhadoros omproondom o guo
guorom, mas o guo podom ou o guo salom aprosontar loas
possililidados do rotorno mais rápido o soguro. A ostalilidado
oconomica guaso nunca choga rápido, o isso guando choga.
Não, agora a gonto tá numa situação assim guo tá ditícil porguo
tom guo tá pagando agora guo voncomo tudo. Os cróditos tudo
tinha uma carôncia. O lom do lanco da Torra ora tu tor uma
118
carôncia do guatro anos pra ti passar a pagar. E na truticultura
ó no mínimo isso pra ti comoçar a tor ronda da truticultura. Aí
comocoi a pagar tudo agora. To pagando a sogunda parcola
dosso ano. Tamo pagando os Pronat tudo. Aí to tirando outro
Pronat o tazondo. Tovo ossa idoia do tazor ossa agroindustria
agora aí. O maracujá guo ou plantoi toi moio no poito o dou lom
rosultado rápido. Do primoiro ano já dá um pouco o o sogundo
aí dá lom nó.
O uso do dinhoiro ó goralmonto um dosatio para o latalhador,
o paroco sor uma marca do omproondodor usá-lo om loa modida.
O primoiro ompróstimo dossa nova otapa tamiliar toi usado para
criar as condiçòos do tralalho na torra nostra¨.
Então o Pronat guando ou tiroi ou piguoi olo, roda dágua, cano,
irrigação, aramo pra tazor a ostrutura, pau. O cara do lanco
ticou louco vô um monto do nota daguola. Notinha do 50 roal
ou ia om tudo guanto ora lugar mais larato nó, cano, isso, aguilo
outro, tijolo, piguoto.
Assim, uma das tórmulas da consolidação do omproondi-
monto paroco tor sido o uso sólrio do dinhoiro, som dospordício,
pochinchando o proço do cada morcadoria, como guo osticando
o dinhoiro.
Dopois dosto histórico do altos o laixos, porsovorança o diti-
culdado do toda a unidado tamiliar, podomos comproondor como
ola so torna a podorosa o, hojo podomos dizor, ostávol unidado
oconomica o produtiva. Vas, como vomos ao longo dosto livro,
a vida do nonhum latalhador, mosmo dos omproondodoros, ó
tácil. Ainda guo tonham agora acortado no nogócio da truticultura
o tonham prazor nolo, ou soja, ainda guo aprociom o tralalho,
suas vidas so rosumom a olo.
Vas assim, o lazor ó guando a gonto sai, dá uma volta, vai vor
os parontos... ou às vozos ticar parado na somlra.
Bom, ultimamonto ou tonho hojo... trisos) Ë tralalhar nó. Tanto
porguo ou tava cuidando tamlóm, alóm do sor tosouroiro ou sou
tiol dopositário dos maguinários. Nós tomos dois trator guo dá
assistôncia, ontão onvolvo... nós tamo já om 45 associados.
Elimar so rotoro a sua atuação como uma das lidoranças
políticas na Associação do lruticultoros do Cachooira do Sul.
119
Sou tompo do solra¨ vai todo para osta atuação política guo,
na vordado, ó uma atuação oconomica. Não choga a sor uma
atividado do naturoza ditoronto, taz parto do sou tralalho, do sou
cálculo, do sua visão do tuturo, o já vom aprosontando rosultados.
Atuação política ó sinonimo do atuação oconomica. Essa lógica
prática vom dando corto.
Ë, ou to junto com a associação do truticultoros agora, guo nós
ostamos já numa taso do colocar a agroindustria pra todos, um
lonoticiamonto. Botando dois módulos, um do :u uaìu:a, guo
nós já tá lá, o pródio toi codido pola protoitura. Já colocamos
duas câmaras tria lá.
A intuição do guo a articulação política colotiva om prol do
intorossos oconomicos comuns ó um lom caminho já vom so
contirmando por sous rosultados: Aguolos pozinho novo, aguilo
ó um rocurso guo nós consoguimos om 2005. Saiu om 2008. loi
11 produtor contomplado com mudas, kit do irrigação, palanguo,
toda ostrutura guo cada um podiu nó.¨ Alóm da articulação om
torno do sous intorossos oconomicos, o tompo dos produtoros
associados procisa so dividir tamlóm om atividados lurocráticas,
tornando a rotina somanal totalmonto proonchida, o guo não
ó novidado para nonhum dolos. Tosouroiro ou tiguoi ató osso
ano. Agora osso ano ou passoi pro outro associado. Agora ou
sou vico-tosouroiro.¨
A roalidado dossos omproondodoros associados ó importanto
para dosmascarar a noção muito om voga na sociologia atual do
guo oxistom lógicas comunitárias contrárias ao capitalismo, no
campo ou om gualguor outro lugar. Ë claro guo muitas vozos ó
prazoroso para olos so rounirom o aprondorom juntos solro sous
omproondimontos, principalmonto so olos ostão dando corto. Ë
lógico guo ostão contontos, guo criam vínculos atotivos, amizados,
roalizam oncontros tamiliaros nas casas uns dos outros, guoimam
um lom churrasco gaucho para comomorar uma loa satra ou
simplosmonto para gastar o tompo, do voz om guando. Vas isso
nada tom a vor com um ospírito comunitário intocávol o imuno à
lógica do capitalismo. O guo rouno ostas tamílias produtoras ó a
porcopção do guo juntos olos são mais tortos para alcançar sous
intorossos oconomicos. E como vomos na própria história tamiliar
guo agui narramos, muitas dossas tamílias procisaram caminhar
sozinhas anos o anos a tio para chogar ató agui.
120
Dizom guo om timo guo ostá ganhando não so moxo¨. Nossos
produtoros associados, nossas tamílias associadas ostão agora
dando outro passo colotivo à tronto. Não procisa ropotir guo olo
ó do maior intorosso oconomico do todos.
Pra nós não montar uma outra cooporativa da truta, guo tom
um monto do oncargos, do contador, tu tom um custo tixo alto.
Já tom a cooporativa dos loitoiros guo ó a Comi. Quo ola ó uma
cooporativa mista nó, guo ola podo tazor isso. E tom tudo...
lom, tom a papolada pronta pra nogociar, pra ti tor rótulo. E a
ostrutura já ó pronta pra ti talricar. Ë só algumas moditicação.
Trouxomos um tócnico do Porto Alogro. Quo dontro do Estado
pormito tralalhar com... vai sor uma guoijaria, tralalhar com loito
in natura o guoijaria.
Assim, nossa história vai chogando ao tim. A história do um
monino sotrido, guo so torna um omproondodor. A história do
uma tamília do latalhadoros guo só agora, dopois dos 40, colho
os trutos do anos do tralalho concontrado. A história guo coincido
com outras histórias tamiliaros, solro as guais não toríamos ospaço
para talar muito agui, mas guo coincidom com nossa história
contral nos atuais omproondimontos colotivos guo vôm dando
corto. Uma história do latalha, do vida dura com guaso nonhum
lazor, mas do tamílias guo solrovivoram oconomica o moralmonto,
do tamílias guo são numoro oxprossivo da população lrasiloira,
soja no campo ou na cidado. lamílias guo consoguom tralalhar
agora ponsando no tuturo, pois só guando so garanto o prosonto
ó guo so podo ponsar no dopois. Nossa tamília omproondodora
hojo consoguo, por oxomplo, ponsar o agir om prol do um tuturo
molhor para os tilhos.
E a minha proocupação agora... ou tonho trôs anos ainda pra
tazor o troço andar, pra mim podor pagar uma taculdado pro
cara |pro tilho}. E a guria tamlóm tá indo no vácuo nó. Então
ou tonho muito pouco tompo ainda do corroria, invostimonto o
coisa a tazor...
Elimar o sua osposa salom agora o guo dovom o o guo podom
tazor polos tilhos, alóm do transmitir o logado do tralalho guo
do goraçòos antorioros rocoloram. Apostam na possililidado
do os tilhos não pagarom tanto com o corpo, na guorida torra
nostra¨, como olos procisaram tazor. Podomos concluir com a
121
carta na manga¨ dossos omproondodoros o doixar ao loitor a
possililidado do imaginação, a partir do guo narramos ató agui,
do dostino dosta tamília:
Apoiar nó. Então por isso guo tá... por isso guo toi plantado as
noz
13
lá om laixo. A idoia ó ossa, guando ou plantoi com o intuito
assim, tanto tompo, ola já vai tá dando rotorno, guo osso rotorno
ou vou podor invostir nolos |nos tilhos}.
✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 4
C ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦ ↵ ⇥✓⇧ ⌫⇧⇣⇠⌥l⇧
··Iaü·:au·:a. Táüaìa 1~:g
Quando ponsamos nos laços tamiliaros o atotivos das chamadas
classos popularos¨, duas caractorísticas, aparontomonto contra-
ditórias, mas ototivamonto complomontaros, nos vôm à monto:
os supostos arcaísmo patriarcal o instrumontalidado, amlos
oncarnados nos oxtonsos grupos tamiliaros guo incorporariam
consanguínoos o atins tparontos do polo monos dois graus,
amigos o vizinhos). A primoira caractorística - protonso rosguício
do nosso colonialismo - soria roprosontada pola portonça dos
momlros a uma rodo do lonotícios possoais¨ guo os hiorar-
guiza, om guo um homom dotoria a autoridado solro os domais.
A sogunda caractorística, a instrumontalidado, sugoro guo os laços
guo unom ossa oxtonsa tamília¨ soriam principalmonto pauta-
dos na máxima instrumontalização do outro, na possililidado
do tirar maior vantagom solro o outro¨ - o típico malandro -,
soja oxplorando os tamiliaros ttilhos, irmãos, pais, sogro), soja
oxplorando os vizinhos o amigos. Dossa torma, as classos laixas
constituiriam a nogação total da moralidado.
Essas duas caractorísticas são complomontaros porguo, ao
so dosclassiticar as rolaçòos tamiliaros, da ostora privada, como
lasoadas om uma rodo do lonotícios possoais o instrumontais,
logitima-so a suposta inaptidão das classos laixas à ostora pullica,
ou soja, sua incapacidado do sor um agonto político, uma voz guo
a atuação política toria como prossuposto a impossoalidado o a
igualdado.
1
Tais caractorísticas são cotidianamonto rotorçadas ao
sorom toatralizadas na mídia, atravós das novolas o programas do
humor - como aguolo oxilido às guintas-toiras na Rodo Glolo,
124
· ·:auu~ 1an:I:a, contando, ao mosmo tompo, com a chancola
da ciôncia, como olsorvamos na maioria dos ostudos solro as
tamílias das classos popularos.
2
Grando parto da nova classo tralalhadora guo chamamos
agui do latalhadoros so oncontraria imorsa nossos laços
tamiliaros taxados do arcaicos o instrumontais. Suas rolaçòos
tamiliaros oxtonsas, pautadas pola continuidado ontro unidado
tamiliar o unidado produtiva, tariam dolos a laso do consorvado-
rismo tamiliar. Essa dupla amputação moral, guo vamos chamar
por duplo racismo do classo, ostá implícita tanto na roproson-
tação midiática guanto om parto hogomonica da produção
ciontítica. Ela ó a logitimação do uma ostrutura o organização
tamiliar ospocítica do uma classo: a tamília nucloar, guo na
luta do classos ganha status univorsalista, privilógio instituído
como norma¨, como dotiniu Bourdiou.
3
O otoito dosso duplo
racismo do classo ó a dosclassiticação o doslogitimação do sua
ostrutura o organização tamiliar na hiorarguia moral. Essa
amputação moral logitima o roitica a dosclassiticação dossa
classo no morcado, lom como corrolora para guo soja osguocida
polo Estado, doslogitimando gualguor ação dosto para incluí-la,
como so mostra no Capítulo ¯.
Nosto toxto nos propomos a mostrar como um modolo tamiliar,
ospocítico do uma classo - a classo lurguosa -, ascondo ao modolo
univorsalista, sondo naturalizado como ossoncial humano, om
guo as condiçòos históricas dossa asconsão são osguocidas, sondo
classos intoiras condonadas à tsul)humanidado por não disporom
dos prossupostos, ou soja, por so oncontrarom - na ostrutura do
mundo - om uma posição om guo suas condiçòos matoriais
toconomicas o sociais) não possililitam a tormação dossa ostru-
tura o organização tamiliar particular. Quoromos invostigar,
atravós do ostudo das trajotórias tamiliaros dos latalhadoros,
gual ostrutura o organização tamiliar ospocítica rospondo às nocos-
sidados dosso novo momonto do capitalismo. E porcolondo
guo ostratógias tamiliaros como, por oxomplo, a lógica da roci-
procidado, longo do sor um rosguício colonial tcomo ó vista por
parto do uma tooria paranoica om otornizar o passado), ó o guo
possililita ossa classo - dosprovida do capital toconomico o cultural)
incorporado o oljotivado do modo signiticativo - adoguar-so às
oxigôncias do morcado, so roproduzindo como tal.
125
Não sondo a classo uma ostrutura ostática no tompo, mas rola-
ção guo só oxisto oncarnada om homons roais o om um dado
momonto histórico, guoromos comproondor om guo modida as
transtormaçòos no modo do produção capitalista, como toi
tratado no início dosto livro, moditicam tou não) ossa ostrutura o
organização tamiliar das classos laixas, do torma a uma parcola
so adoguar à nova roalidado capitalista, tornando-so ototivamonto
a nova classo tralalhadora. Para tanto, roconstruiromos o ana-
lisaromos as trajotórias do tamílias ontrovistadas no ostado do
Vinas Gorais.
¯ ¯ ¯
A tamília nucloar ó uma rogra moral, naturalizada como ossôncia
humana. Não possuí-la ó sor mutilado na própria noção do huma-
nidado. Vas tamília nucloar, tal gual a conhocomos, longo do sor
uma ostrutura natural, ó uma tormação roconto, modorna, o do
uma classo ospocítica: a lurguosia. Ë o guo o historiador Philippo
Ariòs analisa om sou livro H::ì·::a :·c:aI ua c::au¸a ~ ua Jan:I:a.
Não guo a tamília não oxistisso como roalidado concrota na ldado
Vódia o nas sociodados primitivas. Como já nos mostrava Varx, a
constituição da tamília como o lugar da procriação ó a condição do
possililidado para a tormação social. Vas a tamília não ó a laso
da roprodução social. Ela não ó uma norma moral, nom tampouco
ó vista como condição do uma complotudo humana¨. Na ldado
Vódia, por oxomplo, a vida tamiliar ora a vida mundana, guo so
contrapunha à vida roligiosa. Na tamília, a salvação ora mais ditícil,
uma voz guo as possoas so oncontravam oxpostas às tontaçòos da
carno. A tamília não oxistia como unidado autonoma, ola tazia
parto do um grupo maior: clã, trilo ou toudo. Com o passar
dos sóculos, a tamília, antos lugar do protano, torna-so, pouco
a pouco, lugar do sagrado. A sagrada tamília o, principalmonto,
a imagom do Josó ganham dostaguo no culto roligioso: a tamília
nucloar ó corporiticada na Sagrada lamília.
Essa invorsão valorativa tom sou tundamonto nas transtorma-
çòos da ostrutura social. A modornidado so tunda no dosman-
tolamonto da propriodado, sulstituindo-a pola propriodado
privada. Antos, a roprodução da sociodado como um todo o
dos privilógios do um grupo om particular não dopondiam
do poguono grupo tamiliar, o gual ora socundário para a ropro-
dução social. A roprodução dopondia, antos, do um grupo mais
oxtonso, o clã ou a linhagom. O monopólio da propriodado, ou
126
soja, a asconsão da propriodado privada não corrospondo mais
aos intorossos dossos oxtonsos grupos locais. Surgo, portanto, a
nocossidado da asconsão do outro grupo social, cujos intorossos
sojam compatívois com a nova ordom social, podondo garantir a
roprodução o a manutonção dosso novo mundo, lom como da
nova classo privilogiada, a lurguosia.
A concontração dos lons no homom, o patriarca ta osposa
pordo toda a autonomia solro sous lons), o a horoditariodado
dossos, primoiro ao primogônito, dopois aos tilhos talontosos¨,
criam uma ostrutura cada voz mais contrada nos tilhos, lom como
om sua tormação, uma voz guo olos so tornam os rosponsávois
pola roprodução da classo no tompo. Essa tormação guo outrora
ora lasoada no aj:~uu:zau· j:áì:c·, atravós do um circuito do
sorviços guo incluía tamlóm os tilhos da nolroza, passa a sor
uma tormação oscolástica, ou soja, lasoada om conhocimonto
alstrato o ospoculativo. Assim, a tamília nucloar, com laso na
propriodado privada o no torto invostimonto om oducação oscolar,
so torna a instituição tundamontal para a roprodução dos privi-
lógios da lurguosia.
A univorsalização do uma condição particular ó o princípio
tundamontal para a logitimação do privilógio o para o ostalo-
locimonto da dominação simlólica, som a gual a dominação
oconomica so torna instávol. E a idontiticação roligiosa ontro a
tamília nucloar lurguosa o a Sagrada lamília, guo taz dola oma-
nação do divino, cumpro osta tunção: torna a ostrutura tamiliar
lurguosa princípio normatizador, ou soja, o modolo guo guiará
toda a sociodado, guo guiará mosmo o, principalmonto, aguolos
guo não dispòom das condiçòos do oxistôncia para vivonciá-la,
o só a oxporimontam pola nogação total, pola ausôncia.
Em contraposição ao concoito do tamília, roiticado o naturali-
zado, lasoado na autoovidôncia da tamília nucloar, nos propomos
a olalorar uma noção, ou soja, uma ototiva torramonta do análiso
crítica da roalidado, capaz do dar conta da tunção oljotiva dossa
instituição na sociodado modorna. A tamília nucloar so institucio-
nalizou como norma modorna, mas ola ó a ostrutura ospocítica do
roprodução da classo lurguosa. Portanto, como as outras classos
so roproduzom no tompo? Como a classo da raló ostrutural so
roproduz? Como os latalhadoros so roproduzom na gualidado do
classo? Como raló ostrutural o latalhadoros, aposar do corta pro-
ximidado na ostrutura social, so ditoronciam onguanto classo?
12¯
A ostrutura do classos produz ostruturas tamiliaros ditoron-
ciadas, compatívois com a sua própria condição. Estruturas
tamiliaros guo imitam a rogularidado do mundo¨, ou a talta dosta,
capazos do tormar om cada possoa, atravós das rolaçòos atotivas,
a contormação nocossária ontro as suas oxpoctativas individuais,
sous sonhos o dosojos, o as ostruturas oljotivas, as possililidados
concrotas do mundo. Ou soja, tormar possoas contormadas to guo
Bourdiou chama do contormismo lógico) com as possililidados
guo o mundo vai otorocor. Vas, ao mosmo tompo, os grupos tami-
liaros cumprom a importanto tunção do tormar tamlóm, om cada
indivíduo, a potoncialidado do antocipar as ostruturas do mundo, a
:ac:·uaI:uau~ j:áì:ca, ·u :~¡a, un :~uì:u· j:áì:c· u· nuuu· gu~
ua· ~ u~j~uu~uì~ u~ una ì·naua u~ c·u:c:~uc:a, guo pormito
a solrovivôncia ató mosmo om condiçòos mais incoorontos.
Ë assim guo a tamília nucloar roproduz a classo lurguosa, o ao
so tornar norma ossa roprodução ó ocultada, tornada invisívol,
já guo ó transtormada num modolo alstrato do c·njI~ìuu~
Iunaua, sondo rotirado do sou contoxto concroto o particular:
a classo. As Jan:I:a: u~:~:ì:uìu:aua:, por sua voz, roproduzom a
própria incoorôncia do mundo ao compatililizar as oxpoctativas
individuais às possililidados oljotivas, poucas o mosguinhas, guo
sua posição dosclassiticada na ostrutura social podo otorocor. Ao
mosmo tompo, ossa ostrutura tamiliar dosostruturada¨ dota o
indivíduo das capacidados nocossárias para antocipar o solrovivor
a tal incoorôncia. Porcolomos isso na posguisa roalizada com a
raló, aprosontada no livro · :aI~ ü:a::I~::a. gu~n ~, ~ c·n· :::~:
nas condiçòos mais dosumanas, os ontrovistados aprosontavam
uma posição rosignada, ao mosmo tompo guo sou comportamonto
incooronto lhos possililitava solrovivor à incoorôncia constitutiva
da própria classo, por oxomplo, tor disposição¨, ou soja, ostar
inclinado do manoira inconscionto a um dotorminado compor-
tamonto, para a intorcalação ontro tralalhos lraçais intormais o
tralalhos ilogais¨, disposição¨ ossa om concórdia com a posição
instávol da classo na hiorarguia social.
A tamília na modornidado so torna, om todas as classos, a insti-
tuição mais próxima dos corpos, a instituição guo liga do torma
mais intonsa os indivíduos atotivamonto. Portanto, calo a ola uma
dupla tunção, guo outrora coulo a outras instituiçòos: :~j:·uuz::,
~n caua :uu:::uu· - u~ J·:na uu:á:~I ~ :uc·u:c:~uì~ - a ·:u~n u·
128
nuuu·, ou soja, a dominação impossoal, guo ultrapassa sompro os
limitos da própria tamília, o, ao mosmo tompo, u·ìa: · :uu:::uu·
ua :ac:·uaI:uau~ j:áì:ca, u~ un :~uì:u· j:áì:c· ua cIa::~, cajaz
u~ auì~c:ja: a ·:u~n u· nuuu·, ·u :~¡a, a cajac:uau~ u~ ag::
u· nuuu· ~n c·njaì:ü:I:uau~ c·n :ua: ~:ì:uìu:a:, auì~c:jauu·
~::a: ~:ì:uìu:a: ~ :·ü:~:::~uu· a ~Ia:
Partindo dosso concoito do tamília guoromos salor gual ó
a ostrutura o a organização tamiliar particular guo pormito aos
latalhadoros, a nova classo tralalhadora do capitalismo contom-
porânoo, so roproduzirom onguanto classo. Qual o modolo do
tamília guo os ditoroncia, como classo, da raló ostrutural? Quo
ostrutura tamiliar pormito a osta classo oscapar da arlitrariodado
total do morcado?
PAUlO E HElENA
O amor ó pacionto,
O amor ó prostativo...
Não procura o próprio intorosso...
Tudo dosculpa, tudo crô,
Tudo ospora, tudo suporta...
T:~cI· ua ca:ìa u~ 1auI· a·: ··::uì:·:
Paulo, podroiro, tralalha por conta própria¨ dosdo a dócada
do 1990, guando tovo a sua cartoira do tralalho assinada pola
ultima voz, olo não tom patrão¨, ó sou próprio capataz. A ontrada
dotinitiva do Paulo no univorso dos autonomos¨ coincido, do
torma muito sintomática, com a asconsão do modo do acumulação
tloxívol, típica da dominação do novo capitalismo tinancoiro, om
guo o controlo do tralalho passa a sor cada voz monos rogulamon-
tado por lois o contratos, o troguontomonto o tralalhador passa a
oxorcor o controlo solro a sua torça do tralalho, roduzindo o sou
custo. Há um croscimonto oxorlitanto do tralalho autonomo¨,
principalmonto nas ároas do sorviços. lnicialmonto tralalhador
da construção civil, com o tompo passa a prostar sorviços como
podroiro. Vas Paulo sompro ostovo, marginalmonto, insorido na
classo tralalhadora tradicional, já guo a tunção do podroiro
ó, goralmonto, dontro das omprosas, tomporária o irrogular. Por
129
isso olo sompro tralalhou por tora¨, mosmo guando ostava
omprogado tazia dupla jornada, complomontando o salário
com uma ronda oxtra rotirada om noitos do tralalho duro¨.
A sua rápida, total o rolativamonto lom-sucodida insorção no
morcado autonomo¨ so dovo à disposição¨ incorporada, ou
soja, inclinação tornada corpo, dosdo a intância, para o ì:aüaII·
uu:·, guo pormitiu a olo so adaptar a uma dupla jornada tdiurna
o noturna), tralalhando corca do 15 horas diárias.
O isolamonto o a individualização no mundo do tralalho¨ - no
gual o sujoito passa a tralalhar sozinho o por conta própria¨, não
tondo, portanto, nom o tradicional chão da tálrica¨, nosso caso,
as grandos olras guo o ligavam aos companhoiros do tralalho,
nom portoncondo a uma produção tamiliar - rotlotom na ostrutura
o organização da tamília do Paulo. Com o passar dos anos, ola
so moditica, principalmonto om rolação à tamília do origom, mas
tamlóm à sua própria trajotória: Paulo, guo inicialmonto lova os
pais o os irmãos mais novos para morar com olo o com a osposa,
com o tompo so tocha cada voz mais om torno do um poguono
nucloo tamiliar, concontrando-so ospocialmonto nas duas tilhas.
As rolaçòos tamiliaros so contraom, a rolação so torna cada voz
mais distanto dos irmãos, como olo mosmo diz: ó cada um na
sua¨. Vas a tamília do Paulo só aparontomonto so contundo com
a típica¨ tamília nucloar. Ainda guo as rolaçòos com parontos o
vizinhos tonham so tornado mais oscassas, o tralalho, soja como
aj:~uu:zau· j:áì:c· ou aprondido dosdo a mais tonra intância,
soja como valor moral, continua sondo a laso da ostrutura o
organização da sua tamília.
Hojo, aos 55 anos, Paulo porcolou guo não podoria mantor-so
como podroiro por muito tompo, já guo o tralalho oxigo um
grando ostorço tísico, guo cada dia mais sou corpo, osgotado polo
ì:aüaII· uu:· dosdo a intância, insisto om não corrospondor. Por
isso rosolvou comprar um ponto do táxi. Trocou sou carro antigo
por um novo o passou a tralalhar como taxista à noito. Duranto
o dia olo tormina a sua guarta casa própria, uma casa monor do
guo aguola om guo mora hojo, mais lom situada o com o acala-
monto dos sonhos¨. Nola olo protondo passar a volhico com
a osposa Holona, com guom ó casado há 29 anos.
Holona tralalha om uma pousada como camaroira. Ató as
tilhas saírom do casa, ola tralalhava nossa mosma pousada
colrindo as tolgas o tórias das tuncionárias ototivas, dodicando-so
130
a maior parto do tompo à oducação das duas tilhas o ao sorviço
domóstico. A tilha mais nova so tormou om um curso tócnico o
vai dar início aos ostudos do onsino suporior om Bioguímica om
uma taculdado particular à noito, já guo a univorsidado pullica
da rogião só otoroco osso curso duranto o dia, o soria impossívol
so mantor som tralalhar. A tilha mais volha ostá casada, tom um
tilho o tralalha no comórcio da poguona cidado ondo moram.
Paulo diz com orgulho guo as duas tilhas possuom o guo olo
dou muito duro para consoguir guando so casou: a sonhada
casa própria¨.
A vida tamiliar toi roplota do privaçòos. Paulo o Holona tivoram
guo oducar as tilhas onsinando-as a poupar o a não so doslum-
lrarom com o mundo guo não ora para olas¨. Paulo so lomlra
do guando a tilha mais nova, ainda adolosconto, guoria ir ao lailo
com as amigas ricas¨, olo dizia: tilha, ocô não podo ir, o sou pai
não ó módico, não ó advogado, o sou pai ó podroiro!¨ O lazor
ó algo guo as moninas aprondoram, dosdo codo, a sacriticar om
tavor do uma ostalilidado tutura.
¯ ¯ ¯
Vinino, podi a Nossa Sonhora, Josó o o minino Josus pra to dar
um lão casamonto...¨.
Paulo so lomlra com carinho das palavras do um tuncionário,
já idoso, da tazonda ondo, aos ¯ anos, toi tralalhar candoando
loi. loi com olo guo aprondou a rozar. Vas olo salo guo os onsi-
namontos daguolo homom vão alóm das oraçòos docoradas, olo o
onsinou a valorizar o dosojar no mais íntimo do sou coração, om
cada oração, o guo, para um tralalhador polro, ó tundamontal:
a Jan:I:a.
A casa do sapô om guo vivia com os pais vai ticando mais
vívida na momória do Paulo, ola portoncia ao tazondoiro para
guom sou pai tralalhava como diarista. Elo so lomlra do torroiro
grando do torra latida, sompro muito limpo, guo a irmã passava
horas varrondo. A mão cuidava da casa, dos tilhos o das plan-
taçòos do arroz, milho o toijão guo alimontavam a tamília... A
criação, roduzida, so rosumia a moia duzia do galinhas ciscando
o torroiro...
131
Os dois tilhos mais volhos, ao complotarom ¯ anos, toram
mandados para tralalhar om uma tazonda. Paulo ora agora o
mais volho om casa, tinha guo cuidar dos irmãos monoros. Elo
ri o so lomlra do guando ontrou om uma lriga para dotondor o
irmão caçula. Vas lrigas ontro os irmãos oram intolorávois. Dona
Solastiana, sua mão, dizia: o mais volho tom guo dar rospoito ao
mais novo, o o mais novo tom guo rospoitar o mais volho¨.
Elo conta guo a mão nunca castigava da primoira voz, primoiro
ola oxplicava por guo ostavam orrando, na sogunda voz, ola dava
uma chinolada na poupa¨. Calia a Dona Solastiana ostimular
nos tilhos o sontido do rosponsalilidado polo grupo tamiliar. Era
rosponsávol pola tormação individual, ou soja, pola incorpo-
ração - atravós dos atotos - da moralidado tamiliar, soja tazondo
tloroscor nos tilhos o sontimonto do companhoirismo ontro olos,
sondo guo cada um so torna rosponsávol pola solrovivôncia
tísica o social dos outros, soja tormando o sontimonto do dovor
om rolação ao pai o a ola mosma, ou soja, a dívida moral guo
os tilhos tôm com os pais. Tal rosponsalilidado ora transmitida
atravós do convorsas om guo ola dizia tilho, ocô tom guo ajudar
o sou pai¨, mas principalmonto atravós do sou próprio oxomplo
do ronuncia cotidiana om tavor dolos o do marido. Agora ora a
voz do monino Paulo colocar à prova o aprondizado da intância.
Chogou sua voz do doixar a casa o a tamília, om tavor dosta
ultima. Era hora do dar lugar ao irmão guo vinha croscondo o,
tamlóm, partir, assim como sous dois irmãos mais volhos, para
a lida¨, ajudando a tamília a sustontar os mais novos.
¯ ¯ ¯
Paulo olha com orgulho para Holona ao rocordar do guando
a oscolhou para sor sua osposa. Holona, mulhor torto o lrava,
acostumada com o tralalho duro da roça, tirava loito, roçava
pasto, tazia corca. Ela soria a companhoira idoal para dividir a
luta cotidiana com osso latalhador. Dopois do tralalhar por dois
anos como podroiro na Cidado Varavilhosa, olo voltou para o
intorior do Vinas Gorais para tontar a vida om uma poguona
cidado ondo sou irmão mais volho havia ido morar. Então so virou
para Holona o disso: Nóis vamo casá! Eu não tonho casa... não
tonho nada, mas tomo ocô num passa não, porguo tralalhador
ou sou!¨ Elos so casaram o mudaram para uma poguona cidado.
132
lá ontrontaram a primoira diticuldado: comprar os móvois lásicos
para comoçarom a vida, mas guom vondoria, naguola ópoca, a
prazo para um tralalhador intormal, som oira nom loira¨, como
olo mosmo so dotiniu? Todas as lojas da cidado oxigiam avalista.
Quom o avalizaria? Não conhocia ninguóm. Um político da
cidado, guo na ópoca ora dono do uma loja do móvois, toi guom
tinanciou os poucos móvois a olo. So no início do sua vida adulta
Paulo so oncontrava totalmonto marginalizado om rolação ao
morcado tormal, sondo dopondonto do tavoros possoais¨, muitas
vozos onvolvondo trocas políticas, hojo a oxtonsão da política do
cródito roalizada nos dois mandatos do govorno lula, política
guo insoriu classos sociais - historicamonto marginalizadas - ao
morcado do consumo, garanto a Paulo o diroito do oltor cródito,
participando ototivamonto do morcado, ao mosmo tompo guo
mina os mandonismos¨ locais o garanto a olo o a classos intoiras
a possililidado do participação política mais autonoma o om
concórdia com sous intorossos do classo.
4
Paulo tamlóm trouxo os pais o os dois irmãos soltoiros para
morar com olo o com a osposa, os pais já ostavam com a idado
avançada para pormanocorom naguola vida misorávol guo tinham
na roça. A tamília morou duranto dois anos do aluguol. Paulo
tralalhava como podroiro, ora por omproitada, ora tichado¨.
Quando tichado, pogava licos, tralalhava ató moia-noito, uma
hora da manhã, para complomontar a ronda. Holona tazia o vondia
crochô, ajuda incorta, mas tundamontal para guom vivia aportado¨.
loi assim guo consoguiram juntar um dinhoiro o compraram um
loto guo tinha um larraguinho¨ para ondo so mudaram. Nosso
poríodo, Holona ongravidou pola primoira voz. O larraco¨ toi
ganhando cimonto o algum acalamonto. Paulo tralalhava dia o
noito. Holona cozinhava no togão a lonha para oconomizarom no
gás, mosmo grávida andava guilomotros para luscar as toras do
lonha. A noito, guando Paulo chogava, ola so tornava sua ajudanto
do podroiro, o com o tompo olos consoguiram colocar uma lajo,
o o larraco¨ so tornou casa: uma casa simplos, mas uma casa,
a nossa primoira casa!¨, Holona diz como so voltasso ao tompo
com corto orgulho no olhar, satistação causada pola lomlrança
da primoira importanto conguista tamiliar. Ropontinamonto, ao
so lomlrar do nascimonto da sogunda tilha, ola ó porpassada
por uma dor guo cala sua narrativa... Uma dor guo só oncontra
oxprossão no silôncio.
133
Paulo continua contando a história... Com o nascimonto da
sogunda tilha, a vida dura, som contorto o com muito tralalho,
Holona ontrou om doprossão pós-parto. Elo olhava o sou casa-
monto, as colranças do Holona, às vozos sontia raiva, como ola
não vô todo o mou ostorço?¨, mas so lomlrava da mão, da vida
dura o choia do ronuncia. Sua osposa soguia a mosma trilha. A
raiva dosaparocou o aos poucos surgia a imagom do um tompo
longo, guando ainda sonhava om tor a sua casa, a sua tamília,
a sua osposa.
lomlrava-so da juvontudo: aos 16 anos, nunca tinha calçado
um sapato, já cuidava do todo o rotiro do loito, mas continuava
ganhando o proço do mínino¨ tna ópoca o valor da diária paga a
uma criança ora a motado do guo so pagava a um homom, o valor
da diária do um homom corrospondia a um guilo do toucinho do
porco). Paulo so via como homom, mas rocolia como monino.
Como suas oraçòos soriam atondidas? Como taria um lom casa-
monto, so não tinha dinhoiro nom mosmo para o sapato? Sontia-so
homom, um homom do vordado tom guo tor uma osposa.
loi guando docidiu cair no mundo¨. A procura do tralalho
guo pagasso um pouco mais, pogou um trom guo cortava a
rogião. Elo parava, do cidado om cidado, roçando pasto. Passando
a ganhar proço do homom¨, podo tirar os documontos guo ató
ontão nunca tovo. Com os documontos na mão já podo arriscar a
vida na cidado do Rio do Janoiro: sorvonto do podroiro, tralalho
molo, pra guom tava acustumado com a duroza do tralalho da
roça¨. logo aprondou a tralalhar como podroiro.
Olhar o passado, a polroza, as noitos dormidas om cima dos
sacos do cimonto, a luta para ontim roalizar o sonho do tor a sua
própria tamília o vor parto dosso sonho roalizado, a sua primoira
casa própria, simplos, mas sua, o as tilhas, ainda poguonas. Entim,
tudo o guo passou o tudo o guo conguistou taz com guo Paulo
comproonda o sotrimonto da osposa, so solidarizo com ola, o so
sinta tortalocido a continuar a luta por uma vida mais contortávol,
monos sotrida. Elo so lomlra, com uma oxprossão do carinho,
guo Holona, ainda om doprossão, so incomodava com o chão da
cozinha om cimonto liso, ola guoria corâmica¨, promossa guo
toz à osposa. Quando conta osso tato, Paulo olha para ola com o
olhar sorratoiro, choio do orgulho, ola duvidava, talava pra mim
o dia guo ocô mo dor ossa casa ou já morri, o ou dizia: não, nóis
134
tomo muita coisa pola tronto, o graças a Dous hojo tom azulojo
ató no torroiro¨.
¯ ¯ ¯
A ostrutura dossa tamília ó a ~ì:ca u· ì:aüaII· uu:·, ancorado,
principalmonto, om um aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII· trans-
mitido cotidianamonto às tilhas, soja atravós do consolhos ttilha,
ocô tom guo ajudar a mamão¨), soja na prática ototiva, como o
onsinamonto do tralalho domóstico o do crochô. lado a lado
ao onsinamonto do uma halilidado ospocítica, ó tundamontal a
proparação das tilhas para uma vida porpassada polo tralalho
duro¨. Vas alóm dossa caractorística principal oncontramos duas
outras guo tamlóm porpassam toda a classo, ainda guo do torma
distinta nos ditorontos tipos¨, rolaçòos do rociprocidado vivon-
ciadas no sacritício dos intorossos individuais om tavor do grupo
tamiliar o a tpró)vidôncia, oconomia lasoada om uma vidôncia¨
do um porvir¨ sompro limitado às oxporiôncias passadas, ou
soja, um controlo do prosonto tundamontado nas diticuldados do
passado, como princípio organizador da oconomia domóstica.
Esso controlo oconomico ó, principalmonto, dirigido por Holona.
loi o guo vimos no controlo dos gastos tamiliaros, sompro
oriontado para ovitar o rotorno do uma vida dura¨ guo paroco
assomlrar ossos latalhadoros. Holona nos conta:
Eu tonho muito modo... ou guoria tor a cortoza, do talar assim:
gonto, osso dinhoiro guo ou to dispondo hojo, pra mim almoçá,
por oxomplo, tirá cinguonta roais no domingo pra mim almoçá
tora, tomá uma corvojinha num vai tazor talta¨. Por guo vai talar
guo ou não gosto? Eu gosto. Eu acho guo toda possoa guor curtir,
nó?! Quor divortir um pouguinho, mas hojo ató um sorvoto guo
ou vo toma, ou talo: Vou Dous, osso sorvoto ó um roal, dá pra
mim lová trôs pão pra casa, ou tomo cató, o Paulo toma cató o a
Edilaino toma cató.¨ Entondou? Eu acho guo já tixoi na monto.
Holona ó porpassada polo modo incontrolávol do rotornar à
vida misorávol guo vivora principalmonto na intância. A oxtroma
privação guo vivou taz com guo dirija a mãos do torro¨ a
oconomia domóstica. E osso controlo oxcossivo, guo parto das
classos módias o altas considoraram controlo paranoico¨, ó tunda-
montal para guo ossa classo solroviva¨, com rolativo sucosso,
135
às inconstâncias do morcado. Esso sontido do jogo¨, atualizado,
rooriontado para osto momonto ospocítico do capitalismo, possi-
lilita uma antocipação, uma provisililidado da improvisililidado
do morcado. Ë ossa antocipação inconscionto da inconstância do
morcado guo pormitiu à tamília do Paulo oguililrar-so, mosmo
nos momontos do criso, no morcado tloxívol.
Já o sacritício individual om tavor do grupo tamiliar ó algo guo
osso casal aprondou om suas tamílias do origom o, hojo, trans-
mitom às tilhas, atravós do oxomplos o consolhos, assim como
tizora Dona Solastiana com Paulo guando ainda ora uma criança.
Vas osso sacritício não ó do torma alguma harmonioso o plono,
olo ó sompro porpassado por contradiçòos, por amliguidados,
por sontimontos contlitantos. Paulo conta, om uma mistura do
rossontimonto o orgulho, guo guando ora jovom adorava jogar
tutolol o ir ao lailo, mas com o casamonto o o nascimonto das
tilhas o antigo prazor juvonil toi alandonado. Dosdo guo so casou
não so lomlra do tor assistido a uma partida do tutolol om um
lar, ou mosmo na TV. Holona o Paulo nunca saíram para almoçar
juntos om um rostauranto. Calo a Holona a ditícil o dolorosa
tarota do ronunciar, oxplicitamonto, a gualguor contorto o prazor.
Paulo a convida para almoçar, mas ola logo diz: Pra guô, Paulo?
Tom trango om casa.¨
Alóm da ronuncia guanto ao lazor, Holona tamlóm ronunciou
à vaidado. Paulo conta com orgulho: Holona não ó mulhor do
troscura não, nunca toi num salão, nunca gastou dinhoiro com
unha, calolo...¨. Paulo tamlóm oxilo no corpo a mosma talta
do orotismo da osposa: amlos são corporalmonto dosorotizados.
A ostora orótica¨ ó, no caso dossos latalhadoros, minimizada,
sacriticada om tavor dos intorossos comuns do grupo tamiliar:
tralalho o tamília. Quando guostionado solro a importância do
soxo, Paulo rospondo:
Ocô vai vondo guo aguilo ali não ó tudo na vida não, um tilho
ó mais importanto, vamo supor, a mulhor ó muito mais impor-
tanto, porguo so a minha mulhor ganha um nonóm ou to choio
do alogria, ou passo 30, 40 dias som soxo, nó? Então, por guo ou
não posso passá som nonóm, som nada, assim? Podo passá!
Não tom nada a vor não, isso vai da caloça da possoa o no tipo
do vivôncia, nó?
136
O sacritício da vivôncia ototiva do uma ostora orótica, ou soja,
a oxporiôncia do amor romântico o do sous principais rituais
tjantar, viagons, prosontos), aposar do sor sompro motivo do dor,
não impodo osso casal do ostalolocor rolaçòos atotivas pautadas
no roconhocimonto mutuo, ou soja, rolaçòos atotivas om guo
parto das nocossidados do outro são roconhocidas o rospoitadas
mutuamonto. Esso roconhocimonto não ó vivonciado na ostora
orótica, om rolaçòos soxuais, mas no roconhocimonto cotidiano
da importância improscindívol do outro para a solrovivôncia do
grupo o do cada um om particular, sondo muito mais próximo
do amor tratorno, ou amor da ronuncia.
5
Amor lasoado numa
~ì:ca caì·I:ca c:::ìa,
6
vivido no companhoirismo, na loaldado, na
comproonsão das limitaçòos do outro, mais do guo no oxpros-
sivismo tipicamonto lurguôs, no gual a promossa do oncontro o
roconhocimonto das traguozas do outro ó oxporonciada princi-
palmonto na ostora orótica.
Trata-so do roconhocimonto mutuo porguo podom mostrar-so
tracos¨ som dosportar a torça no outro¨. Holona comproondo os
limitos do marido, os limitos da própria classo, so adógua a olos,
ronuncia a toda o gualguor vaidado, lom como gualguor gasto
guo ultrapasso as possililidados do marido. Em contrapartida,
Paulo roconhoco, dá logitimidado ao sotrimonto, às limitaçòos,
às nocossidados do Holona, toi o guo acontocou, por oxomplo,
guando ola ontrou om doprossão, após tor a sogunda tilha. Paulo,
aposar do sontir-so colrado, a comproondou. Vosmo ostando om
uma posição - a posição masculina - na gual a torça¨
¯
podoria
sor utilizada com alguma logitimidado para suljugar, massacrar o
mosmo aniguilar a dor, a nocossidado tominina, olo, ao contrário,
admira a coragom prosonto na osposa, o so compadoco do sou
drama do mulhor o mão latalhadora, polro o sotrida, como toi
sua própria mão.
Toda rolação do roconhocimonto mutuo, inclusivo a vivon-
ciada na ostora orótica, ó porpassada pola ostrutura do dominação,
ainda guo a principal caractorística do roconhocor-so mutuamonto
soja a luta contra as ostruturas do mundo, a própria luta signitica
guo olas ostão prosontos. Assim, a dominação, principalmonto
a dominação do gônoro, do homom solro a mulhor, porpassa
a rolação do Paulo o Holona. Vas oncontramos om sua trajo-
tória corta oguidado ontro amlos. Uma luta pormanonto, não
totalmonto conscionto, mas pró-rotloxiva contra os otoitos mais
13¯
notastos dossa dominação guo, mosmo do torma dosigual,
transita por todos os corpos.
Holona o Paulo não podom vivonciar o amor romântico guo
domanda lilordado om rolação ao tompo o à sogurança matorial do
guo não dispòom. A concopção do amor romântico ó dopondonto
da autonomização rolativa da ostora orótica om rolação às ostoras
roligiosa o oconomica - como mostramos com mais dotalhos no
toxto A misória do amor dos polros¨ no livro dodicado ao ostudo
da raló ostrutural. No caso dos latalhadoros não oncontramos
uma autonomia da ostora orótica, a vida conjugal ó totalmonto
intordopondonto da vida produtiva. O mundo do tralalho ó, nossa
classo, totalizador om rolação à vida íntima. Não oncontramos
nola o tompo livro¨ para o prazor guo ó constituinto da condição
do classo das classos módias o altas. A instalilidado matorial
unida a uma n·:aI:uau~ j·::ì::a u· ì:aüaII· uu:· taz com guo
ossa classo tonha todo o sou tompo consumido pola atividado
produtiva, guo porpassa assim as rolaçòos atotivas.
Vas ainda guo não vivonciom a ostora orótica onguanto tal,
Paulo o Holona so roconhocom do torma durávol. Roconhocom,
no dia a dia, a oxistôncia improscindívol do outro. Não há
momontos ritualizados a dois¨, como tampouco momontos do
prazor individual, guo, para olos, são tonto do sotrimonto, como
vimos acima, uma voz guo a concopção dominanto do loa
vida¨ - lasoada om uma oxporiôncia do complomontaridado na
ostora orótica, ou soja, na oxporiôncia do amor romântico, lom
como no consumo do sous signos morcadológicos - so oncontra
tochada para osto casal do latalhadoros.
SEU lUlS: A PRODU(AO lAVlllAR RURAl
Com mou pai aprondi a tor as mãos pro tralalho.¨
Sou luís ó homom torto, dotorminado, do tala mansa o cauto-
losa, mas sompro roplota do ironia. Aos 61 anos ó um galan-
toador, sompro lom vostido, com sou chapóu do couro, poça
indisponsávol om sua vostimonta. Ë o tilho homom¨ mais volho
do Antonio, tralalhador diarista o nogocianto. Hojo luís ó um
módio propriotário rural. Sondo o tilho homom mais volho do
138
oito irmãos, acompanhava o pai dosdo poguono, guando olo
ainda vondia vordura do porta om porta. Quando so lomlra do
pai o do tudo guo aprondou com olo, o sontimonto do orgulho
transparoco om sou olhar altivo. A vida na intância ora dura, casa
do pau a piguo, morava om um torrono poguono o íngromo,
concodido por tazondoiro, mas, ao mosmo tompo, o pai sompro
garantiu aos tilhos a dignidado nocossária para guo não acoitassom
humilhação nas tazondas ondo tralalhavam. Sou Antonio nunca
ostudou, mas ora um matomático¨, conta luís ao so rotorir aos
nogócios do pai:
Elo ora aguola possoa guo salia tazor gualguor tipo do conta,
pagar ou rocolor. Quando vondia a morcadoria antos do posar
olo já talava pra vocô: olha, ó tanto. Então, olo não ostudou, mas
tinha ossa intoligôncia o ninguóm passava olo pra trás.
Aos 18 anos, luís ganhou do pai uma carroça com a gual
comoçou a tralalhar, algum tompo dopois o pai sotrou uma
parada cardíaca, ticando muito dolilitado. luís assumiu a lido-
rança da tamília, passou a tazor ompróstimos o tinanciamonto
om lanco - o sou pai nunca havia pogado ompróstimo lancário,
guando procisava do dinhoiro omprostado rocorria aos amigos.
Hojo olo comprou a tazonda om guo o pai tralalhou toda a vida.
Com 25 alguoiros, a propriodado tom uma alta produtividado,
tavorocida pola implantação do tocnologias o tralalho mocanizado.
O tralalho humano ó praticamonto tamiliar. Sou luís ticou viuvo
há dois anos, o hojo mora com a companhoira Dona Rosária. Ela
ó a rosponsávol polo tralalho posado na toira, como arrumar o
carrogar as caixas com a morcadoria. Na roça, ola cuida, com a
ajuda das duas noras do luís, da produção do tulá o da tarinha
torrada, lom como do todo o sorviço domóstico o das criaçòos
guo ticam ao rodor da casa, as galinhas, os porcos, tralalho guo
ó dividido com os notos. Quando intorrogada solro a importância
do Dous na sua vida, Dona Rosária diz: Oh, ticar om pó umas
sois horas, moxondo um tacho guonto do tarinha, às vozos as
pornas paroco guo não vão aguontar, ó só Dous mosmo pra dá
torça.¨ Os trôs tilhos cuidam da lavoura o do rotiro.
Aposar do tor grandos duvidas solro a continuidado do sou
tralalho na postoridado, já guo porcolo guo os tilhos o os notos
não so oncontram onvolvidos do corpo o alma¨ com a vida rural,
luís consoguiu mantor a tamília ligada ao tralalho produtivo, som
139
ossa continuidado ontro a vida domóstica o a vida produtiva, a
prosporidado guo vivoncia hojo soria pouco provávol. A ostali-
lidado proporcionada polo tralalho domóstico ó a condição do
possililidado para luís tor so tornado um talonto¨ om antocipar
a instalilidado do morcado. Podomos olsorvar osso talonto¨
om várias do suas práticas, lom como a importância da tamília
para a sua ototivação. Sua oscolha pola policultura ó assim
justiticada: as possoas não procisam comor uma coisa só, o ó
com olas guo tá o dinhoiro, ontão, pra ou tor troguôs, ou tonho
guo tor o guo o troguôs procisa.¨ luís tom 15 variodados, ontro
logumos o vorduras, produzindo tamlóm o tulá do moinho o
a tarinha torrada do milho. Em uma das ontrovistas, a osposa o
acompanharia, mas havia chovido, o, com isso, a domanda por
tulá olova-so, olo procisaria aumontar o tralalho para tor 300 guilos
a mais do tulá do moinho, isso signiticaria guo a osposa o as
noras passariam a madrugada guo antocodo a toira tralalhando.
Outro oxomplo ó guando vai calcular o valor das prostaçòos do
pagamonto do ompróstimos lancários, guo ó sompro toito por
uma ostimativa do valor da satra, do lucro da colhoita, atravós
do uma avaliação do proço do produto. Contando sompro com
tatoros oxtornos, como a suporprodução, ou uma chuva torto,
olo roduz ao máximo o valor da satra do manoira a diminuir a
prostação: Eu lá sou lolo, o lanco vai ó rocolor, guom vai
pagar sou ou, ontão ou tonho guo tazor os cálculos do manoira a
calor no mou orçamonto.¨ Outra torma do controlar o antocipar
a improvisililidado do morcado ó plantar cada cultura om taixas
somanais, assim olo não colho o produto om uma unica voz,
portanto não incha o morcado, ao mosmo tompo guo controla
os ganhos, pois salo guo a cada somana com a colhoita tom uma
dotorminada guantia om dinhoiro para ontrar. Caso plantasso o
colhosso do uma voz só, alóm das diticuldados guo toria para oxo-
cutar o tralalho - toria guo contratar muitos tralalhadoros, tondo
mais gastos -, tamlóm rocoloria o dinhoiro do uma unica voz,
o guo podoria doscontrolar o orçamonto. Agui, ditorontomonto
do caso do Paulo o Holona, não oncontramos uma oconomia da
tpró)vidôncia. luís não pauta suas práticas oconomicas om uma
otorna tuga da arlitrariodado passada, mas om possívois insta-
lilidados tuturas, nolo oncontramos do manoira mais torto uma
noção do cálculo prospoctivo, ou soja, uma ação oriontada a um
tuturo oljotivado no prosonto. No Quadro 1 tomos a história do
140
Joaguim: olo voio do uma tamília guo já possuía algumas torras,
mas guo oxporimonta a total docadôncia da propriodado ao tor
sido condonado ao colilato.
Quadro 1 - O colilato torçado do Joaguim
Joaguim ó vizinho do Sou luís. Sua tamília cultiva hortaliças
na rogião há dócadas. Aos 30 anos ó o tilho mais novo do trôs
moninos, sou pai não tovo tilhas, ticou viuvo o nonhum dos
tilhos so casou. O drama vivido por ostos trôs irmãos ó muito
parocido com aguolo oncontrado por Bourdiou om Bóarn o
analisado no artigo O camponôs o sou corpo¨, Joaguim ó
tisicamonto um homom lonito, mas sua timidoz, sou olhar
sompro voltado para o chão, sou joito matuto¨ comprovam
sua talta do joito com as mulhoros¨ o sua ólvia dosgualiticação
no morcado matrimonial. A poguona produção rural ó protun-
damonto dopondonto das rolaçòos tamiliaros, tondo na divisão
soxual do tralalho o sou suporto, assim o colilato imposto a
ossos trôs irmãos os condona, gradativamonto, a cada alguoiro
vondido, a uma docadôncia guo salta aos olhos¨ assim guo
so choga à propriodado: a ontrada o as hortas tomadas polo
matagal o a rosidôncia consumida polo tompo, oxilindo a
nocossidado do loas rotormas. Vas agui tamlóm, como om
Bóarn, a docadôncia da propriodado podo sor tanto otoito
como causa da condição do soltoiro¨. A docadôncia tovo início
com a viuvoz do sou pai, a talta da mão o do irmãs toz com
guo Joaguim o sous irmãos não oxporimontassom gualguor
naturalidado nas rolaçòos com o soxo oposto, tato guo so uno
ao procosso do docadôncia da propriodado o os condona ao
colilato. A talta do mão do olra tamiliar unida à ausôncia do
gualguor porspoctiva do continuidado social, ou soja, do um
tuturo oljotivado no prosonto atravós da continuidado do uma
próxima goração intonsiticam cada voz mais o procosso do
docadôncia da propriodado.
Sou Vanool tom parto do sua história muito parocida com a
do Sou luís, mas o sou dostino social ó trágico. Tamlóm tilho do
roçador do pasto¨, aprondondo a tralalhar na roça dosdo muito
codo, olo conta guo dosdo os 5 anos já acompanhava o pai na
lida¨. Nossa ópoca olo morava com os pais o sous sois irmãos na
141
casa guo o tazondoiro, para guom sou pai tralalhava, lhos codia,
uma casa poguona ondo, ao rodor, olo criava galinhas o porcos
o plantava parto do guo alimontava a tamília.
Sou Vanool tralalhou duranto anos como mooiro, para ontim
comprar sou podacinho do torra. lá olo plantava o proparava o
tumo, sondo osto sua principal tonto do ronda. Alóm do tumo,
sompro tovo umas cinco vaguinhas, do ondo tirava o loito
dos tilhos, o uma poguona plantação do cana-do-açucar, com
a gual olo tazia rapadura. A laso da produção do tumo ora
oxclusivamonto tamiliar, sous trôs tilhos homons¨ tidados ontro
10 o 13 anos) o ajudavam no plantio o na colhoita, onguanto sua
mulhor, as ¨tilhas mulhoros¨ o tamlóm as crianças onrolavam o
proparavam o tumo. Os moninos, assim guo Sou Vanool con-
soguia pagar as dívidas guo toz na compra do sítio, passaram a
rocolor sua parto do lucro, as tilhas nunca rocoloram nada. Sou
Vanool diz: olas não tinha parto não, olas não tinha parto do
nada não, só tralalhava. Estalava tumo ató 10 horas da noito, no
outro dia tirava tumo outra voz pra ostalar.¨
Com o tompo, atraídos pola promossa do vida molhor¨ na
cidado, os tilhos vão doixando um a um a produção do tumo, as
tilhas doixam o campo polo tralalho domóstico, os tilhos, para
tralalhar om outras propriodados ou tralalhar como podroiro na
cidado. A cada dia ticava mais ditícil mantor a produção, som a
mão do olra dos tilhos. Sou Vanool ostaloloco a data om guo so
tornou impossívol mantor a produção: Vocô salo guom acalou
com a agricultura? Vou talar... talo ató duas vozos, lornando
Honriguo Cardoso guo acalou com a agricultura...¨. Elo idontitica
trôs tatoros principais: o aumonto vortical do adulo, a guoda do
proço da produção, mas principalmonto a talta do ompróstimos
para o poguono produtor. Com sou próprio corpo corroído polo
tompo o polas ontormidados ttoz trôs cirurgias nos ultimos guatro
anos), Sou Vanool, vivondo hojo principalmonto do sua aposonta-
doria, tom uma postura rosignada dianto da própria docadôncia,
como podomos porcolor om suas talas: Ninguóm intorossa, nó?
As coisa guo ó pra ajudar o homom da roça, ninguóm intorossa,
nó? A gonto tom guo contormar porguo chogou um ponto guo
não adianta produzir muito...¨.
¯ ¯ ¯
142
Porcolomos a asconsão do um novo tipo do propriotário: o
tilho do tralalhador diarista, adaptado à ~ì:ca u· ì:aüaII· uu:· o
a uma vida porpassada pola arlitrariodado, ou soja, o aprondizado
do tralalho dosdo a mais tonra intância, lom como a oxposição à
inconstância, soja dos variados patròos, soja da própria naturoza.
Vuitas vozos, olo compra as torras ondo tralalhou na intância
com o pai. Essa tração ascondo, assim como outrora ascondou o
arrondatário capitalista do Varx - camponôs guo ascondo do sou
próprio tralalho o passa a comprar mão do olra. Assim como o
arrondatário capitalista toi um visionário do sua ópoca, o lata-
lhador rural¨ ó o visionário da nossa¨, dovido a sua capacidado
do so adaptar às inconstâncias do morcado, antocipando sua
improvisililidado, como vimos nas práticas do Sou luís.
A tamília ó laso dossa poguona propriodado. A unidado
ontro tamília o ostora produtiva ó o guo organiza os üaìaIIa-
u·:~: no contoxto rural. So a compra do mão do olra ora para
o arrondatário capitalista, sua grando inovação na organização
da produção, para olos o tralalho tamiliar, com laso na divisão
soxual do tralalho, ó sou grando trunto. So na antiga poguona
lurguosia ostalolocida os tilhos o a osposa podoriam não ostar
tão onvolvidos na produção, muitos dolos indo ostudar na cidado,
para ossa classo a socialização dos tilhos, assim como toi a dolos
próprios, ó totalmonto dopondonto u· aj:~uu:zau· j:áì:c· u·
ì:aüaII·. Não guo ossa classo não invista tamlóm na oducação
tormal, mas osso invostimonto não oxclui osso aprondizado, ao
contrário, olo ó o guo tundamonta ossa nova propriodado guo
surgo no campo.
Por conhocor, na prática, a importância tundamontal do
aj:~uu:zau· u· ì:aüaII· para a manutonção o roprodução da
propriodado o da tamília como uma unidado social, ou soja,
como um todo intogrado, ó guo luís mantóm os tilhos om ródoas
curtas¨. Elo dologou, a cada um, uma tunção na produção, onvol-
vou o rosponsalilizou os tilhos no tralalho produtivo. Assim, o
aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII·, transmitido por luís aos tilhos,
cumpro uma dupla tunção: possililita a oxistôncia do uma mão
do olra tamiliar, tundamontal para a prosporidado da produção.
E, ao mosmo tompo, torma nos tilhos as disposiçòos nocossárias
para darom continuidado, para roproduzirom a propriodado o o
grupo tamiliar.
143
O guo pormito Sou luís mantor os tilhos, tamlóm as noras
o a própria osposa om ródoas curtas¨ ó a rolação ospocítica do
dopondôncia mutua ontro os momlros, ou soja, o grupo tamiliar
garanto a oxistôncia tísica o social do cada momlro. lona tala
do sogro com carinho tilial: num soi o guo soria do nóis so não
tosso olo¨, ao mosmo tompo, som o tralalho das noras, dos tilhos
o da osposa, a propriodado do Sou luís não oxistiria. Ditoronto-
monto da tamília do Paulo o Holona, a hiorarguia o dominação
na tamília do Sou luís tdominação goracional o do gônoro) ó
mais vortical, mais intonsa o oxplícita. Há uma dopondôncia
mutua, mas hiorarguizada, guo cria rolaçòos durávois, isto ó, um
compromisso durávol.
A dominação masculina, principalmonto pautada na divisão
soxual do tralalho, ó a laso da propriodado, lom como das
rolaçòos atotivas. luís, ancorado na divisão hiorárguica ontro
corpo o monto, tom na sua posição do administrador o nogo-
cianto¨ a suporioridado roconhocida polos outros momlros da
tamília, rosponsávois polo tralalho mais corporal¨. Vas, lado a
lado à dominação, laso da prosporidado da propriodado do Sou
luís, há uma moralidado porpassando as rolaçòos tamiliaros,
ou soja, uma ronuncia dos intorossos individuais, om tavor
do grupo. E ó ossa ronuncia guo pormito à tamília ostalolocor
rolaçòos duradouras. Ë o compromisso mutuo guo garanto a
continuidado da tamília o, portanto, da produção. Porcolomos
osso compromisso om Sou luís... Algum tompo dopois do poríodo
das ontrovistas, nos oncontramos com olo, dosnortoado, om um
consultório módico, indo luscar o módico para oxaminar a
osposa guo tinha adoocido. O vínculo do rociprocidado ó o tator
tundamontal, ó a condição do possililidado para guo Sou luís
soja um latalhador omproondodor do sucosso. A ausôncia dossas
rolaçòos ó o guo condona Joaguim o Sou Vanool à morto social.
No caso do Sou Vanool, a conjuntura política ó tundamontal o ató
mosmo dotorminanto do sou dostino social trágico, atinal, como
convoncor os tilhos do guo a vida no campo ora mais atraonto
guo a da cidado, som tinanciamonto para o poguono produtor,
com os adulos a proços altíssimos o as satras om laixa? lsso
nos lova a porcolor guo uma conjuntura política podo tavorocor
ou minar a potoncialidado do grupo tamiliar onguanto grupo do
solrovivôncia oconomica o social.
144
TRABAlHO: BASE ECONÔVlCA
E VORAl DA lAVlllA BATAlHADORA
No Brasil os latalhadoros sompro vivoram nas tranjas do
morcado, ou nolo insoridos marginalmonto, mas, do modo di-
toronto da raló. Essa insorção não ó totalmonto arlitrária: ondo
a classo não tom nonhuma possililidado do intortorôncia ativa
om suas próprias condiçòos oljotivas, olos contam com um
conhocimonto prático capitalizávol no morcado, ou soja, um
conhocimonto util o rontávol para o morcado: a ~ì:ca u· ì:aüaII·
uu:·. No sistoma tordista ossa classo toi só parcialmonto incluída
à classo tralalhadora tradicional. Somonto com a mudança do
modo do acumulação para uma acumulação tloxívol ttratamos do
torma dotalhada osso novo momonto do capitalismo) ola ganha
protagonismo, ascondondo à nova classo tralalhadora.
Tondo pouco ou nonhum capital cultural logítimo o capital
oconomico, ossa classo só podo contar com o aj:~uu:zau· j:áì:c·
transmitido no soio da tamília, o com as :~Ia¸·~: Jan:I:a:~:
uu:au·u:a: c·n· a:na, ostratógia para solrovivor onguanto
classo. Para ossa classo, o grupo tamiliar ó o principal g:uj· u~
:·ü:~:::~uc:a, ou soja, o grupo social rosponsávol pola solro-
vivôncia tísica, nosto caso, oconomica, o a solrovivôncia social, ou
soja, a garantia do um roconhocimonto mutuo dos momlros
guo ultrapasso a própria oxistôncia tísica do cada um, guo pormita
a continuidado do indivíduo atravós da momória do grupo.
O duplo racismo do classo dirocionado à tamília latalhadora
so tunda principalmonto no rocalguo das condiçòos oljotivas o
arlitrárias do classo guo prosontoia¨ as classos módias o altas
com outros grupos do solrovivôncia guo garantom tanto a conti-
nuidado oconomica guanto a continuidado para alóm do cada
oxistôncia - atravós do prômios, livros o outros - dossas classos.
lsso dá à tamília nucloar uma aparonto autonomia om rolação à
ostora oconomica, o guo taria dola o lugar das rolaçòos dosintoros-
sadas, guo so contrapòom às rolaçòos protonsamonto porpassadas
polo intorosso oconomico dos latalhadoros. Essa talsa autonomia
rocalca o papol tundamontal da tamília nucloar para a insorção,
notadamonto dos momlros da classo módia, nossos outros grupos
do solrovivôncia, principalmonto nos grupos protissionais, lom
145
como rocalca o intorosso o as lutas do podor guo porpassam todo
grupo social, inclusivo a imaculada¨ tamília nucloar.
Tomos no programa humorístico · ·:auu~ 1an:I:a o oxomplo
omllomático o toatralizado dosso duplo racismo do classo tvor
guadro a soguir).
Quadro 2 - · ·:auu~ 1an:I:a
· ·:auu~ 1an:I:a ó um programa humorístico oxilido às guintas--
-toiras na Rodo Glolo, no gual uma tamília típica da nossa nova
classo tralalhadora ó a protagonista. O programa tom o mórito
do doscrovor a passagom da classo tralalhadora tradicional para
ossa nova classo tralalhadora. Ao mosmo tompo, concontra todo
o racismo do classo dirocionado a suas tamílias. linou, omprogado
pullico, doixa sou tralalho ostávol, mas com nonhuma autontici-
dado, para roalizar sua vocação protissional, votorinária, alrindo
sou próprio nogócio. Tomos tamlóm Boiçola, modolo da antiga
poguona lurguosia, guo roprosonta toda a docadôncia vivida por
osta classo, lom como Varilda, uma caloloiroira latalhadora,
roprosontanto, por oxcolôncia, do ospírito omproondodor¨. A
tamília, alóm dos dois tilhos já adultos, mas totalmonto irros-
ponsávois, incorpora tamlóm o gonro, os vizinhos o o amigo do
tralalho do linou. As várias porsonagons o suas tramas podom
ilustrar o guo ostamos chamando do duplo racismo do classo, guo ó
imputar à tamília dos latalhadoros tanto o arcaísmo patriarcal guanto
a instrumontalidado, como já dotinimos no início dosto toxto. Vas
tomos no divortido contlito ontro linou o o gonro, Agostinho, a
roprosontação omllomática dosso duplo racismo do classo. linou
ó o cidadão honosto guo, ostando om um contoxto porpassado
pola dosonostidado - os oxtonsos laços tamiliaros prosontos na
grando tamília¨, om particular, o as classos laixas om goral -, so
vô, a cada capítulo, onvolvido, contra a sua vontado, om algum
osguoma duvidoso¨, goralmonto montado polo gonro. O gonro
ó taxista, pouco disposto ao tralalho duro, procurando sompro
tirar vantagom¨, inclusivo do próprio tilho, guo ainda ó um lolô,
mas principalmonto do linou. Assim, o contlito so coloca ontro o
patriarca¨ protonsamonto honosto¨, mas cujo contoxto notasto
das rolaçòos tamiliaros ó ompocilho para oxorcício da impossoa-
lidado, o o malandro¨, dopositário do toda a instrumontalidado,
luscando, so não o sou lom oxclusivo, som nonhum ostorço, ao
monos so aprovoitar dos laços tamiliaros para so dar lom¨.
146
A tamília latalhadora, a tamília da nova classo tralalhadora,
ó rosponsávol por roproduzir momlros dotados do capacidado
para ontrontar a instalilidado do morcado o so mantor nolo. Ela
ó a rosponsávol por roproduzir a classo para o tralalho. E, ao
contradizor o duplo racismo do classo, roproduzi-la, roconhocondo
no tralalho uma nocossidado matorial, mas principalmonto ropro-
duzindo uma n·:aI:uau~ u· ì:aüaII· uu:·. A tamília latalhadora
tom duas principais ostratógias do roprodução da classo: o aj:~u-
u:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII· o o c::cu:ì· u~ :~c:j:·c:uau~.
O aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII· ó, como vimos nas trajo-
tórias tamiliaros do Paulo o luís, transmitido aos tilhos dosdo a
mais tonra intância. Elo, ao mosmo tompo, ó o aprondizado do
alguma tunção ospocítica, como as tunçòos dontro da produção,
guo Sou luís onsina aos tilhos, o o crochô guo Holona onsina
às duas tilhas, mas ó principalmonto o tralalho cotidiano do
incorporação atotiva, atravós dos consolhos o da oxomplaridado
ttrataromos da tunção da oxomplaridado, principalmonto a
roligiosa, no Capítulo 9) do uma disposição para o tralalho
duro¨. lsso signitica guo a tamília latalhadora não propara sous
momlros para oxorcorom aponas uma dotorminada tunção no
morcado, mas ì:au:J·:na :~u: c·:j·: ~n c·:j·: :ucI:uau·: a·
ì:aüaII· uu:· Elos ostão dispostos¨ a oxorcorom ditorontos
tunçòos dontro do morcado, solrovivondo às condiçòos mais
dostavorávois no mundo do tralalho¨, como, por oxomplo,
tralalhar do 15 a 18 horas diárias. Ao roproduzir uma disposição
para o tralalho duro¨, a tamília latalhadora roproduz o contin-
gonto humano proparado para - o om concórdia com - as novas
nocossidados do capitalismo contomporânoo. O aj:~uu:zau·
j:áì:c· u· ì:aüaII·, transmitido pola tamília, roproduz o sistoma
capitalista como um todo ao roproduzir a classo guo ó o suporto
da sua oxploração: os latalhadoros, a nova classo tralalhadora.
Ao mosmo tompo, dota cada momlro da racionalidado prática
guo, ao proparar o indivíduo para o tralalho duro¨, pormito-lho
antocipar a inconstância do morcado o transtormar uma classo,
ató ontão insorida marginalmonto no capitalismo, na nova classo
tralalhadora.
O aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII· vom unido o possililitado
polo c::cu:ì· u~ :~c:j:·c:uau~ guo liga os tamiliaros, ou soja,
um circuito do dádiva, lasoado na dopondôncia mutua ontro os
momlros da tamília o, portanto, do uma parcola do sacritício
14¯
das vontados individuais om tavor da solrovivôncia do grupo
como um todo o do cada um om particular. Esso circuito dadivoso
tunda rolaçòos durávois guo podom sor mais ou monos oguita-
tivas, como vimos no caso do Paulo o Holona, om guo amlos,
podondo contar somonto um com o outro, sacriticam todo o
gualguor prazor om tavor da continuidado da tamília, ou mais
hiorarguizadas, como no caso do Sou luís, om guo olo dotóm a
autoridado solro o procosso produtivo, sondo rosponsávol por
controlar o tralalho o ainda distriluir lonossos aos tilhos, às
noras o à osposa. Como podomos porcolor nas trajotórias, as
rolaçòos tamiliaros são suportos, laso produtiva o oconomica dos
latalhadoros. Som as rolaçòos tamiliaros, ossa classo ó impossi-
lilitada do so mantor no morcado, como no caso do Sou Vanool
o do Joaguim. Ou soja, o circuito do rociprocidado ó a condição
do possililidado para a solrovivôncia dos latalhadoros como
classo tralalhadora. Ë uma ostratógia modorna do roprodução o
manutonção da classo, uma voz guo om concórdia com o novo
modo do acumulação capitalista, no gual a produção passa a sor
cada voz mais om poguona oscala, o os gastos com o controlo
do tralalho tondom a sor oliminados, como Harvoy já porcolia
no tinal da dócada do 1980. Assim, a poguona produção lasoada
nas rolaçòos possoais, na dominação possoal o no controlo do
tralalho possoal, como no caso da tamília do luís, o o controlo
do tralalho oxorcido polo próprio tralalhador, como no caso do
Paulo, tondom a provalocor om rolação ao modolo tordista do
controlo do tralalho, lasoado na impossoalidado o lurocracia.
· Jan:I:a ua u·:a cIa::~ ì:aüaIIau·:a ~ a uu:uau~ ~c·u·n:ca
ua cIa::~ Ela concontra as tunçòos guo, om momonto antorior
ao capitalismo, ostivoram rostritas às corporaçòos: a produção o
o controlo do tralalho produtivo.
· Jan:I:a üaìaIIau·:a ~ a uu:uau~ ~c·u·n:ca ua cIa::~, na:
ìanü~n ~ a :ua uu:uau~ n·:aI Sua ostrutura o organização
produzom rolaçòos durávois, lasoadas om princípios morais guo
ultrapassam a nocossidado imodiata. Ela tunda rolaçòos lasoadas
no guo Bourdiou chama do :uì~:~::~ u~::uì~:~::au· polo outro, ou
soja, rolaçòos guo vão muito alóm da instrumontalização imodiata
do outro. O circuito do rociprocidado, lom como o aj:~uu:zau·
j:áì:c· u· ì:aüaII·, liga moralmonto os momlros do grupo tamiliar,
dosporta nolos osso :uì~:~::~ u~::uì~:~::au· polo outro, como no
caso do monino Paulo, guo dosdo lom poguono aprondou a
148
so sacriticar, primoiro polos irmãos monoros, dopois pola osposa
o polas tilhas. Assim, om oposição à instrumontalidado imoral -
sogundo a mídia, prosonto nas tamílias das classos popularos,
ospocialmonto nas tamílias latalhadoras -, oncontramos rolaçòos
durávois, do acordo com as nocossidados matoriais o oconomicas,
mas ultrapassando ossa mora rolação mocânica. Rolaçòos lasoadas
no ì:aüaII· c·n· un :aI·: n·:aI a sor aprondido dosdo a mais
tonra intância, atravós do aj:~uu:zau· j:áì:c· u· ì:aüaII·, ~ u·
:ac::J:c:· :uu:::uuaI, ua aüu~ga¸a· ~n Ja:·: ua :·ü:~:::~uc:a
J:::ca ~ :·c:aI u· g:uj· Jan:I:a: guo, sogundo Durkhoim, ó o
tundamonto do todo o gualguor ato moral.
✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C ó
⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ⌫↵l⌦⇧M⌃↵⇥
C V↵⌦CP↵⇥C D↵ ⌅↵⌥⌘⇣ ↵ ⇧ ⌫↵l⌦⇧ D↵ ✏⇧⌦✓⇧⌦✓
··Iaü·:au·:. 1aü::c:· Mac:~I
O VERCADO-lElRA VER-O-PESO DE BElËV
Quom visita o tamoso morcado-toira Vor-o-Poso, do Bolóm,
conhocido polo mito do sor o maior morcado a cóu alorto da
Amórica latina, logo so dopara com o discurso da cultura local
om toda a sua amliguidado, como um olomonto social ao
mosmo tompo propulsor do torça do tralalho o logitimador do
dosigualdados protundas. O orgulho do so tralalhar om um
patrimonio histórico¨ o do so portoncor a uma torra com riguozas
naturais ó gonoralizado. O valor do povo ó dotondido dianto do
um proconcoito contra a rogião Norto, ainda hojo, como so osta
tosso torra do índios não civilizados¨. Esta dotosa guaso sompro
ó sintoma do como o proconcoito ó roproduzido por amlos os
lados, guando so atirma guo não so ó povo do tanto intolocto¨,
mas guo tamlóm so ó civilizado¨. O sonso comum lrasiloiro
paroco lomlrar do Norto aponas como tlorosta¨ o torra do índio¨.
lsso paroco mais torto no Norto do guo om partos do Nordosto,
como Caruaru, ondo o discurso local procisa so dotondor mais do
ostigma do povo atrasado o vagalundo. No Norto, paroco guo o
ostigma romoto a um nívol ainda mais protundo do intorioridado,
apontando para uma condição natural mais distanto dos padròos
civilizatórios.
Articular as condiçòos oljotivas o as roproduçòos do padròos
do vida oconomica univorsais ao capitalismo om histórias do
150
vida cujas origons romotom-so guaso sompro à raló rural guo
sotro tais ostigmas ó tundamontal para a dosconstrução toórica o
ompírica das ditoronças sociais naturalizadas por rogião no caso
lrasiloiro, o guo tragmonta uma análiso do Brasil como totalidado.
Uma sugostiva ontrovista ó com um sonhor guo tralalha há 30
anos no Vor-o-Poso, dontro idas o vindas, dado osto intorossanto
para tomatizar a solrovivôncia o adaptalilidado da disposição
1
oconomica do latalhador om contoxtos ospocíticos. Elo ó rovon-
dodor do produtos alimontícios industrializados, ou soja, tom uma
poguona morcoaria, sotor osto torto na toira. O sotor tísico da toira
ondo olo so oncontra ó o mais organizado, mais ostalolocido¨,
não há muita mistura ontro os tipos do produtos comorcializados.
As alas são lom dotinidas: ondo tom comida ó só comida, logo
dopois morcoaria, comórcio do camarão otc. Nas tranjas, como
om todo lugar, ó tudo mais misturado, os ·uì::u~:: são guaso
guo litoralmonto invisívois.
Esto ontrovistado tralalha com a osposa no local. Compra a
prazo do sous tornocodoros o tamlóm procisa vondor alguma
parto tiado¨. Possui um cadorno do anotaçòos. A halilidado
do comorcianto não oxigo aponas o cálculo oconomico admi-
nistrativo, guo adguiriu ao longo do sua vida, chogando a tazor
poguonos cursos do Solrao. Ela oxigo uma disposição maloávol
para solrovivor no trato com a dolinguôncia local, salor so do-
tondor som sor arroganto, sor intogrado com discrição. Uma do
suas pórolas solro o assunto ó: Agui vocô não podo sor nom
muito lurro nom salido domais.¨ A tala sugoro lom a condição
do instalilidado dossa classo social o a prossão cotidiana sol a
gual solrovivo. O ontrovistado já tom tilho guo ostudou mais guo
os pais o guo torá, sogundo olo, um tuturo molhor do guo o do
poguono comorcianto.
Uma visão goral do Vor-o-Poso sugoro uma somolhança com
a loira do Caruaru, ontondondo as toiras o morcados, principal-
monto ostos mais tamosos, como contros do solrovivôncia do
latalhadoros guo procisam do mitos rogionais para oscondor a
voracidado oconomica do capitalismo. Esto tato paroco ainda
mais radical om locais cuja tonsão ontro as ostruturas oljotivas do
capitalismo com o Iaü:ìu: local ó marcanto, o cuja adaptação das
lois do morcado não tom nada a vor com o drillo¨ da lrasilidado,
do joitinho¨, mas sim com a capacidado do roarticulação do
torças humanas guo o morcado opora, sompro pormitindo guo a
151
cultura local solroviva, dosdo guo articulada a sous imporativos.
Ou soja, ó possívol ponsar como ostos patrimonios imatoriais¨,
como ostá oscrito na onormo placa à ontrada da loira do Caruaru,
são na vordado aronas do luta do classos, guo aprosontam um
intorossanto rotrato do guo ó o ospaço social do capitalismo. Ou
soja, um ospaço do torças matoriais o simlólicas om tonsão guo
goralmonto não são ovidontos, surgindo tragmontadamonto no
sonso comum aponas sol o signo da cultura local¨.
Algumas histórias do vida rolativamonto distintas ontro si são
intorossantos para tomatizar como a nova classo tralalhadora
2
dos
latalhadoros so roproduz. Elos procisam nogociar dirotamonto,
inclusivo aprosontando halilidados discursivas, com aguolos guo
ostão imodiatamonto acima o imodiatamonto alaixo, sous torno-
codoros o cliontos, rospoctivamonto. A caractorística om alorto¨
da classo ó marcada inclusivo polo tato do guo muitos dolos já
tralalharam como tornocodoros, ostando agora om condição
lovomonto intorior. Assim, as trajotórias singularos roproduzom
traços gorais do uma classo cuja caractorística contral paroco sor
a nogociação matorial o simlólica do sou lugar intormodiário
ontro a raló o a classo módia ostalolocida, no moio do ciclo do
produção o circulação do morcadorias.
Um rovondodor do sacas do tarinha, por oxomplo, oxplicitou
lom a halilidado nocossária para sou tralalho, dizondo guo
procisava oporar com dois caixas¨, dois capitais¨. Elo compra à
vista o procisa vondor loa parto a prazo, considorando guo sous
cliontos são comorciantos do poguonas vondas do lairro lom
monoros do guo sou nogócio. Assim, olo procisa mantor uma
rosorva, o guo olo donomina do capital tixo¨, para ontrontar
possívois diticuldados dorivadas do não pagamonto do sous
cliontos no prazo. O outro capital, guo olo donomina do giro¨,
sorvo para o invostimonto junto aos tornocodoros.
No goral, doparamo-nos com dois portis do latalhadoros: 1)
aguolos guo mantôm a dignidado
3
pola ótica do tralalho o por
disposiçòos oconomicas lásicas, guo podomos chamar simplos-
monto do latalhadoros¨. Estos aprosontam disposiçòos primárias¨
para o comórcio, como disciplina, porsistôncia o noçòos práticas
do comórcio, 2) aguolos guo, alóm dostas, aprosontam disposiçòos
socundárias¨ para o comórcio omproondodor, o guo os carac-
toriza como latalhadoros omproondodoros¨. Dontro ossas
disposiçòos so oncontram capacidado do autossuporação o
152
noçòos mais sotisticadas do administração o invostimonto. Tais
disposiçòos¨ aprosontam possililidados do ação, o guo não
garanto o dostino do um indivíduo. Signiticam capacidados para
cror o para agir, guo nom sompro são coorontos o guo são
aprondidas ospontanoamonto dosdo a intância. A atuação das
disposiçòos só ó comproondida guando so mapoiam os con-
toxtos do atualização¨ o do goração¨ do disposiçòos, idoias
guo tomamos do sociólogo Bornard lahiro.
Alguns casos guo rotrataromos agui do Bolóm, no goral, tondom
a so aproximar mais do primoiro portil do tralalhadoros, ainda
guo contingoncialmonto tonham aprosontado algum croscimonto
oconomico ao longo do suas trajotórias, o guo não signitica guo
tonham sido rosultado do cálculo ou do omproondimontos muito
claros ou dotinidos. Croscimonto oconomico não nocossariamonto
ó sinonimo do omproondodorismo¨. So não, vojamos.
TRAJETÓRlAS DE BATAlHADORES EV BElËV
A primoira história ó a do uma sonhora vondodora o produ-
tora do itons divorsos, dorivados do orvas locais. Esto ó um portil
lom típico da rogião Norto, pois gira om torno do comórcio do
produtos naturais oxclusivos da rogião. Católica o umlandista,
adguiriu o salor ospocítico colhondo matos¨ para os tralalhos¨
om torroiro com a mão. Com uma poguona lanca do aponas
um motro guadrado no Vor-o-Poso, criou novo tilhos, sondo
guo trôs tralalham hojo no mosmo local, com lancas próprias
o no mosmo ramo. Construiu casa própria, comprou torrono,
casas om duas praias ditorontos o ostá construindo agora cinco
guitinotos para alugar, com a mão do olra do osposo, guo ó
podroiro. Tudo com anos do tralalho árduo na toira. Em sou
caso, a roligiosidado paroco oporar como contoxto gorador o
atualizador do disposiçòos.
Ela ó uma ospócio do mão do santo omocional¨, som o con-
toudo ospiritual das consultas roligiosas, mas com o contoudo
omocional do acompanhar os cliontos na condução dos rituais
mágicos, onvolvondo orvas guo promotom sorviços do tipo
sogurar homom¨, ongravidar¨, pogar mulhor¨ otc. Esta sonhora
ticou tamosa por sou carisma incomum, tom hojo um sito na intor-
not o já toi citada om alguns llogs por suas oticazos rocoitas¨.
153
Já toi ontrovistada por tiguras pullicas como Gugu lilorato
o Ratinho.
A história ó importanto para oxplorar a ospociticidado da
linguagom o da prática roligiosa do modo a tornocor capacidados
para o tralalho.
4
No goral, um traço comum dostos latalhadoros
ó a posso do alguma capacidado do tralalho cuja origom não ó
o onsino tormal da oscola. A origom tamiliar dosta sonhora, por
oxomplo, toi das mais procárias. O pai alandonou a tamília logo
codo, guando sua mão o os tilhos chogaram a morar do tavor o
a podir a ajuda do vizinhos para so alimontarom. Nosto limito, o
caminho da dolinguôncia ó sompro uma possililidado. O ponto
om guostão ó solro o dado oljotivo guo pormito a alguóm om
tais circunstâncias uma solrovivôncia digna o, como om sou caso,
ató algo mais, ou soja, um signiticativo croscimonto oconomico
ao longo do muitos anos do ostorço. Goralmonto, a rogra solro a
origom dos latalhadoros ó a tamília ostruturada, ou soja, composta
por pai o mão, na gual um ou amlos tralalham o consoguom por
si mosmos assogurar uma dignidado matorial mínima à tamília.
As disposiçòos para o comportamonto oconomico oxigidas
polo comórcio dosta sonhora são simplos. Os itons do sua larraca
não são muito caros, o a vonda ó roalizada guaso sompro à vista.
Ela não procisa do noçòos muito sotisticadas do cálculo o adminis-
tração. Não procisa roinvostir no nogócio. Sou salor solro as
orvas o sou lom trato com os cliontos são suticiontos. Ela ainda
ó daguolas possoas simplos guo guardam dinhoiro om casa. Não
utiliza lancos o cartòos do cródito. laz compras a prazo aponas
om lojòos do olotrodomósticos com crodiário próprio.
Esto caso ó intorossanto para ponsar guo croscimonto ocono-
mico não nocossariamonto ó sinonimo do omproondodorismo.
Ela não roinvostiu o oxpandiu o nogócio, aposar do tor auxiliado
trôs tilhos a adguirirom lancas próximas às suas, o guo podo
sor considorado uma oxpansão do nogócio da tamília. Vas não
ó um croscimonto calculado o dirigido pola lógica racional do
omproondodor. Sua asconsão o vida oconomica lom-sucodida
dopondom tamlóm, alóm das disposiçòos oconomicas primárias
do latalhador, a disposiçòos para a ação guo a princípio não são
oconomicas, mas podom so travostir om disposiçòos oconomicas
do acordo com as oxigôncias o possililidados dos contoxtos
oconomicos do sua trajotória possoal.
154
A cordialidado¨, orronoamonto louvada por grando parto da
sociologia lrasiloira como virtudo inata do lrasiloiro, ó uma dolas.
O joito oxtrovortido o cativanto paroco truto da nocossidado
oconomica do guom procisou podir muita ajuda na vida para
solrovivor som so rondor à dolinguôncia, o guo, no caso das
mulhoros, signitica prostituição oxplícita ou volada. Ela tamlóm
consoguiu ir alóm do dostino da maioria das mulhoros polros
com história somolhanto à sua, no ospaço urlano, o do ompro-
gada domóstica. Aprosontou alguma capacidado possoal para o
tralalho autonomo. Os rosultados om acumulo do lons possoais
são a prova. A cordialidado ó uma dossas disposiçòos a princípio
não oconomicas, apropriadas por contoxtos oconomicos. Ë uma
disposição contral om contoxtos do classo nos guais o improviso
o a adaptalilidado são nocossidados pormanontos.
Outra disposição não nocossariamonto oconomica ó a porso-
vorança. Ela ó uma insistôncia no tralalho árduo o rotinoiro,
guo podo nada tor a vor com uma ótica do tralalho no sontido
mais protostanto do tormo, mas sim com uma capacidado do
autocontonção, do insistôncia, guo podo ostar rolacionada a um
sonso do dignidado, incorporado atravós do disposiçòos para
a honostidado.
5
Esto paroco um tipo do disposição primária do
latalhador guo não choga a sor um omproondodor. Assim, osto
tipo do latalhador tamlóm podo alcançar uma ostalilidado ocono-
mica por um caminho ditoronto, um tipo do mórito altornativo
àguolo do latalhador omproondodor, possuidor do disposiçòos
socundárias como o cálculo prospoctivo, poupança oriontada o
autossuporação possoal o oconomica.
Por tim, cortos casos do latalhadoros nos pormitom ponsar
om asconsòos oconomicas guo não são sinonimos do asconsão
social, o guo onvolvo mudanças nos padròos do consumo o no
ostilo do vida, mudanças ostas goralmonto rolacionadas. No caso
dosta sonhora, ola molhora sou padrão do consumo, podo tazor
poguonas viagons, tom casa na praia, mas parto do sou ostilo do
vida pormanoco simplos. Anda do onilus porguo não guor apron-
dor a dirigir, almoça a comida simplos vondida na própria toira,
usa roupas modostas. Por sou nívol oconomico atual, podomos
dizor guo ola mudou do classo, pois sua origom ó claramonto a
raló ostrutural¨. Agora ola compòo a tração do latalhadoros
não omproondodoros da nova classo tralalhadora¨ lrasiloira.
155
O sogundo caso ó o do um vondodor do contocçòos no Vor-o--
-Poso, do 33 anos. Tralalhou como omprogado na própria toira
duranto a intância o a juvontudo. Dopois do longo porcurso, olo
comoçou com uma lanca própria, na ala do roupas da toira, cujas
lancas são maioros do guo as da citada ala do orvas. As lancas do
roupa modom ontro dois o trôs motros do largura. Com o tompo o
muito tralalho, incluiu mais duas, com a ajuda do pai, do irmão
o da irmã, todos tralalhando no mosmo local, rovozando-so nos
horários. Esto vondodor possui um sogundo omprogo, tralalha
como sogurança particular à noito, com cartoira assinada, tazondo
a sogurança do uma oscola. Esto dado ó intorossanto, considorando
guo ó crosconto a nocossidado do muitos latalhadoros ontrontarom
mais do uma ocupação ou omproondimonto para garantir sua
ostalilidado oconomica o sua dignidado.
A rotina no Vor-o-Poso ó posada para o latalhador. Alóm da
concorrôncia, o movimonto nunca ó muito torto, caractorizando-so
como o tamoso pinga-pinga¨ do sonso comum. Ou soja, o
movimonto ó traco, mas constanto, dovagar o sompro¨, o guo
não pormito guo latalhadoros como osto o alandonom, ainda
guo tonham uma ronda tixa om outra ocupação. Para otimizar as
vondas, olo procura poriodicamonto participar do toiras itinorantos,
viajando para acompanhar os círios católicos locais, muitos dolos
na llha do Varajó. Os círios são solonidados roligiosas muito
tortos na rogião, marcados por volumosas procissòos, ocorrondo
om datas ospocíticas o atraindo grando numoro do tióis. Por isso,
comorciantos como osto procuram ostar atontos a tais datas o
aprovoitar a oportunidado para olovar as vondas.
Esto latalhador tom uma curiosa história com o loxo. Tontou
a carroira como loxoador no início do sous 20 anos, viajando
com um omprosário¨ o um grupo do jovons cologas por várias
cidados lrasiloiras, doscondo om diroção ao Sudosto, chogando
a morar trôs mosos om Santos. Por tim, rotornou som sucosso.
Elo tamlóm sorviu o oxórcito duranto soto anos, com o gual
conciliou o osporto. Em sua trajotória, o osporto surgo como
altornativa positiva para a canalização do disposiçòos corporais
tortos, compotindo com a dolinguôncia, possililidado constanto
para jovons do origom polro como olo. Sua história com o loxo
contorma um contoxto do tormação o atualização do disposiçòos
para a honostidado o para o tralalho, pois o jovom polro
paroco canalizar nolo uma torça guo podoria tor sorvido ao crimo.
156
Tamlóm ó um contoxto do possililidado do roconhocimonto do
valor possoal, no gual o jovom polro tará sua aposta.
Algumas disposiçòos, possivolmonto dorivadas dosta oxpo-
riôncia, podom sor porcolidas hojo om sous otoitos. Sou atual
tralalho como sogurança não oxigo simplosmonto o uso da torça.
Antos, oxigo uma torça om potoncial, guo podo procisar sor
molilizada a gualguor momonto. Por isso paroco havor nolo uma
disposição para o autocontrolo, provavolmonto vinda do oxórcito
o do loxo. Ë assim guo cortas disposiçòos surgidas ou atualizadas
om um corto contoxto podom sor apropriadas por outro totalmonto
distinto. Elas parocom atuar hojo om todos os tralalhos guo olo
opora para solrovivor. Um toxto do sociólogo loïc Wacguant
solro o loxo t2000) comproondo o osporto como via do oscapo
para nogros polros amoricanos, como altornativa molhor do guo
limpar sapatos alhoios para sompro. Nosto contoxto, ocorro uma
aposta do so tazor carroira no loxo, polo sonho do sucosso matorial
o tama. No Brasil, o tutolol paroco sor o oguivalonto do tal promossa
do :~IJ-nau~ nau para homons do origom polro.
No goral, calo ponsar guo a disposição dosportiva¨ dolo sin-
totiza torça o autocontrolo, onorgias vitais para a solrovivôncia
om tatias do morcado tortomonto marcadas polo imporativo do
improviso. Outra importanto disposição prosonto ó a da honos-
tidado. Elo tovo uma razoávol laso tamiliar, do pais católicos
praticantos, sondo o pai a grando rotorôncia moral. Esto, um
homom do lrio, paroco tor ostalolocido uma rolação do rospoito
no lar, o guo so oxprossa na protunda admiração guo o tilho por
olo manitosta om todas as ontrovistas. Aposar do gostar do vinho,
no passado, não latia nos tilhos. Usava o próprio oxomplo do
honostidado o latalha para discipliná-los, o guo arranca lágrimas do
ontrovistado ao talar disso. Não aponas o contoudo podagógico,
mas tamlóm, sonão principalmonto, a portormanco do pai ao
ostalolocor um vínculo do diálogo o consoguontomonto do atoto
o roconhocimonto com os tilhos, nosto caso ospocítico, podo tor
contriluído signiticativamonto para a não dolinguôncia dolos.
Outro ponto intorossanto ó guo sou pai voio do Nordosto, à
ópoca, com a idoia do tontar a vida om lugar monos populoso,
algo comum no Norto, o guo aprosonta um tipo do disposição
itinoranto¨, guo podo tor intluonciado no ímpoto itinoranto do
tilho om sair do sua cidado para tontar a vida tora o atualmonto
15¯
roalizar toiras itinorantos om vários lugaros, para complomontar
a ronda. Sou pai so rovola satistoito com a aposta guo toz, pois
com tralalho duro, tondo sido omprogado do transportadora
duranto muitos anos, outro possívol otoito da disposição itino-
ranto¨, consoguiu garantir a dignidado do sua tamília. O sucosso
rolativo do guom nada tinha no Nordosto o consoguiu so ostalo-
locor com sua tamília como um poguono comorcianto digno
já ó motivo suticionto para jamais so arropondor, o tal satistação
possivolmonto sorviu do oxomplo o intluôncia para os tilhos so
dodicarom ao tralalho.
A rotina do consumo o os lons dosto latalhador são otoitos
do sou ostorço o sua ostalilidado lásica. Elo tom casa própria,
já tovo moto do ano, paga atualmonto um novo consórcio do
moto, a tilha do 11 anos tom computador o intornot om casa. Vai
à pizzaria todos os domingos com a osposa, guo não tralalha
tora, o a tilha. Já ponsa om como podorá tralalhar para sustontar
a tutura taculdado da tilha. Esta possililidado no horizonto
oxprimo outro traço marcanto dos latalhadoros, a noção do guo
um tuturo molhor para os tilhos dopondo dos ostudos. Outra
caractorística intorossanto ó o ostorço conscionto para a ototivação
dosto oljotivo, algo guo não ostá dosdo sompro garantido, como
na classo módia mais ostalolocida, mas guo oxigo a continuidado
no ostorço cotidiano do sou tralalho.
Em traços gorais, osto vondodor so aproxima mais do portil
do latalhador não omproondodor. A oconomia do sou nogócio ó
lásica, não aprosontando margom para roinvostimonto. Um dado
intorossanto ó guo olo utiliza dois cadornos, um para anotação
diária do tudo guo sai, o outro para anotação somanal dos lucros,
guo olo não mostra a ninguóm. Elo goralmonto compra tudo à
vista, pois os vondodoros são itinorantos, daguolos guo passam
no comórcio para vor o guo ostá taltando. Elo não procisa do
muitas capacidados oconomicas o administrativas para porcolor
as domandas o supri-las.
Sou comórcio ó principalmonto do camisas do timos do tutolol
nacionais o intornacionais, o lasta a olo ostar atonto aos rosultados
dos campoonatos para acompanhar a tondôncia das vondas. Elo
aprosonta como sogrodo do sou comórcio salor talar a linguagom
dos humildos, ditoronto daguola do intolocto¨, dos dicionários,
o tamlóm ostar atonto às tondôncias da moda, dovido à ospoci-
ticidado do sou ramo. Sou comórcio já chogou a tralalhar com o
158
cartão do cródito Visa, mas não ostava sondo lucrativo. Costuma
tazor compras possoais à prostação, mas não gosta do muitas
parcolas. Ainda guo tonha aprosontado um croscimonto do anoxar
duas lancas ao longo do tompo, o guo contou com o ostorço do
tralalho do trôs momlros da tamília alóm dolo, no goral ó ditícil
considorar osto comórcio como um tipo do omproondodorismo
ativo, guo lusca provor o calcular um roinvostimonto, cujo rosul-
tado ó a otimização da oguação tralalho-lucro. Ou soja, olo não
potoncializou sua margom do lucro, mas continua com a mosma
margom, ainda guo utilizando um ospaço tísico maior.
Outro caso intorossanto ó o do um homom soltoiro do 30 anos.
Elo ó vondodor do cocos na lola Praça Batista Campos, no
contro do Bolóm. Elo ó loiro do olhos azuis, portil osto pouco
comum nos lairros polros do Bolóm, como o lairro no gual olo
croscou o ainda vivo. Uma olsorvação inicial solro a população
do Bolóm podo constatar um tato curioso: as ocupaçòos mais
dosgualiticadas são oxorcidas om sua grando maioria por possoas
da otnia indígona, nas guais raça o classo guaso coincidom.
Na possililidado do guo osto dado contrilua para a prática do
racismo contoxtual, dontro dosta ospociticidado onvolvondo a
otnia indígona, parocou-nos intorossanto oxplorar a história dosto
vondodor loiro, o unico dosta cor om toda a praça.
Sou ponto tom um lom movimonto do cliontos, goralmonto do
classo módia, moradoros do contro, nas proximidados da praça.
Vuitos praticam oxorcícios tísicos lá diariamonto o assim consti-
tuom uma cliontola tixa. O consumo da água do coco ó grando,
sondo uma cultura local, dovido ao calor constanto guo taz no
Norto o ao volumoso cultivo do coco nos arrodoros do Bolóm,
do ondo vom a morcadoria. A praça ó corcada por larracas do
coco lom organizadas o padronizadas, acompanhando o nívol
do classo módia do lairro, pois so situa om um dos molhoros
ospaços do contro do Bolóm.
Esto vondodor não ó dono da lanca, olo tralalha no rogimo
do dividir o lucro com o dono, guo não tralalha no local. O
tralalho oxigo cálculo mínimo, rosponsalilidado o conhocimonto
solro cocos. Elo procisa comprar dos tornocodoros guo aparocom
no local rogularmonto, tazondo uma poguona ospoculação solro
o proço o a gualidado do produto. Uma disposição importanto
visívol om sou caso paroco sor a da autocontonção corporal
para consoguir ticar muito tompo no mosmo lugar. Elo não tom
159
horário, alro lom codo pola manhã o tica ató a noito, som horário
para sair, do domingo a domingo. Sai aponas ocasionalmonto, so
procisar rosolvor algum assunto possoal o para almoçar, guando
doixa um cologa vigiando a larraca para olo. O tralalho não ó
muito posado, mas monótono o tatiganto. Elo não aprosonta
disposiçòos omproondodoras, o guo tamlóm dopondo do con-
toxtos, mas suas disposiçòos prodominantos atualmonto parocom
sor no sontido do disposiçòos passivas para o tralalho ontadonho
o ropotitivo, comlinadas com noçòos lásicas do comórcio o lom
trato com os cliontos.
Tais disposiçòos possivolmonto so originam om um contoxto
tamiliar do honostidado o simplicidado. O pai tralalhava om
transportadora, om uma rotina do viagons, o por isso acalou
sondo muito ausonto onguanto ainda viviam juntos. Em alguns
momontos da vida, a tamília procisou acompanhá-lo do uma
cidado para outra, o guo oxigo disposiçòos para so roadaptar a
circunstâncias novas, goralmonto ditícois om todos os aspoctos,
tanto oconomicos guanto do rotina tamiliar. Tal oxporiôncia podo
tor proporcionado cortas disposiçòos passivas para a docôncia do
uma vida honosta, a porsovorança om uma vida dura o a adaptali-
lidado do uma vida incorta.
O pai alandona a tamília ainda duranto a intância do ontrovis-
tado, o a mão solrovivo a partir disso como omprogada domóstica,
para criar soto tilhos. Sou ostorço toi muito árduo o ola consoguiu
cumprir a tarota, alcançando ainda o mórito do consoguir comprar
uma casa com muitos anos do tralalho. Assim, ola so torna sua
grando rotorôncia moral o omocional, sou grando oxomplo do
tralalho, porsovorança o honostidado. Sua constância, ontrotanto,
não choga a aprosontar disposiçòos socundárias para o tralalho
omproondodor, o guo tamlóm ó o caso do tilho.
Elo consoguiu torminar o onsino módio, com muito ostorço, já
tralalhando na ópoca como tlanolinha¨, ou soja, vigia o lavador
do carros, na mosma Praça Batista Campos. Dali consoguiu ovoluir
para vondor cocos, tralalho mais soguro oconomicamonto, mais
lovo o com um :ìaìu: ligoiramonto suporior ao do tlanolinha. Ë
prociso considorar guo, para osta mudança, olo aprosontou cortas
disposiçòos para raciocínio o rosponsalilidado guo pormitiram a
alguóm dar-lho uma oportunidado do tralalhar om uma ocupação
molhor, o olo consoguiu corrospondor à oxpoctativa.
160
Atualmonto, olo taz um curso do intormática dois dias na
somana, com a duração do uma hora o moia a cada dia, momontos
ostos nos guais doixa um cologa vigiando a larraca. Não por
acaso, cooronto com suas disposiçòos lásicas, aposta na oducação
como solução para todos os prollomas sociais. No goral, aprosonta
loa capacidado do concontração o do raciocínio lógico. lala lom
o aprosonta razoávois conhocimontos gorais. Aprosonta signiti-
cativa autoostima no dotalho do calmamonto disputar talas com o
ontrovistador, não so pormitindo intorrompor onguanto concatona
sou raciocínio, talvoz indício osto do loas disposiçòos omocio-
nais o cognitivas. Tudo isso podo tor contriluído para guo tonha
passado do tlanolinha a rosponsávol por um poguono comórcio,
alóm do contoxto contingonto da oportunidado. No ontanto, sou
potoncial ostá proso no tompo guo a larraca oxigo dolo.
Elo tamlóm paroco tor uma disposição dosportiva¨, guo sinto-
tiza torça tísica o autocontrolo. Tom uma história com o tutolol,
como inumoros garotos lrasiloiros. Troinou om divisòos do laso
do vários clulos do Bolóm na adoloscôncia, nos guais ganhou
inumoras modalhas, o naturalmonto sonhou sor um grando
jogador do tutolol. Vas tovo guo parar para tralalhar guando a
mão so adoontou. A disposição dosportiva ó intorossanto, pois
concilia torça o autocontrolo, disposição tísica o montal, muito
utois à solrovivôncia no morcado do tralalho. No caso dolo,
oxigo rosistôncia tísica para passar guaso todo sou tompo proso
na larraca o mantor uma ospontanoidado o um lom humor para
disputar suavomonto os cliontos transountos da praça som causar
irritação nos concorrontos.
Essas trajotórias individuais, indopondonto do localidado ou
rogião, mostram a roprodução do padròos ospocíticos dosta nova
classo tralalhadora¨, o a partir disso podomos rotlotir solro o
guo ó a sociodado do tralalho atual, o principalmonto o guo ola
ó na poritoria do capitalismo. Como o portil do uma classo não
so rosumo a traços rogionais, voromos agora como na loira do
Caruaru a roalidado do nossos latalhadoros ó lom somolhanto,
ainda guo suas histórias individuais sojam lom ditorontos.
161
A lElRA llVRE DE CARUARU
A rogião Nordosto, idontiticada por Vangaloira Ungor t2005)
como ospocialmonto trutítora om iniciativas do morcados locais
ospontânoos, ó lastanto hotorogônoa om tormos do ocupaçòos.
A loira livro do Caruaru, considorada Patrimonio lmatorial da
Humanidado, o guo consta om uma placa logo om sua ontrada,
talvoz soja sou molhor oxomplo. Sou mito ó torto, pois procisa
logitimar o oscondor dosigualdados igualmonto tortos. Sua tama
ó a do possuir todos os produtos guo alguóm possa imaginar.
Sua roalidado, poróm, ó outra. A toira ó outro intorossanto rotrato,
como o Vor-o-Poso do Bolóm, do guo ó o capitalismo como um
todo. Exprimo lom a lógica contrítuga do roprodução do capita-
lismo, do contro para a poritoria. No intorior da toira, oncontramos
comorciantos do divorsos nívois, dosdo os mais ostalolocidos¨,
donos do poguonas lojas, como as do joans o calçados, guo
acoitam ató cartão do cródito, ató os mais ·uì::u~::, guo a cada
dia aumontam om numoro, improvisando nas loiradas da toira,
cada voz mais tavolizada. Considorada um polo do tralalho o
comórcio local, atrai a atonção o o sonho do muitos latalhadoros
da cidado o dos arrodoros.
A loira livro do Caruaru ó um caso ompírico oxomplar da
contiguração socioospacial o das hiorarguias ocupacionais do
capitalismo poritórico. A lógica do roprodução do sou ospaço
social o simlólico podo sor tacilmonto idontiticada om gualguor
morcado municipal ou camolo¨ do país intoiro. Sua ospocitici-
dado, ontrotanto, ó sor porcolida positivamonto por sous lata-
lhadoros como um contro do rotorôncia do Agrosto, local do
tralalho o do improviso, ainda guo os guo choguom por ultimo
sojam dotinidos polos antigos - muitos dos guais um dia toram
ultimos - como invasoros¨. Esso tato indica guo, contrário ao
mito do amor à toira o à sua considoração como local do contra-
tornização o atotividado, a toira ó, como gualguor dimonsão
do capitalismo, um ospaço do alta compotitividado o improviso,
sondo uma vordadoira guorra cotidiana a garantia do um ospaço
om suas lordas.
A toira possui uma magia para alguns momlros antigos,
ligados a um suposto passado tiliado à arto o à cultura local,
guo às vozos so aprosonta como suavo altornativa no mundo
162
compotitivo do capitalismo. Para o tilho do um cordolista tamoso,
guo hojo vivo vondondo cadornos o poguonos artigos do papol,
ostar na toira dopois do vagar polo morcado dosgualiticado ó como
um rotugio, a molhor oscolha para guom não podo ostudar pra
sor doutor¨, mas não guor sor pau-mandado¨ do ninguóm. A
autonomia do toiranto ó um moio-tormo, uma lilordado rolativa,
ontro o vitorioso do morcado gualiticado o o pau-mandado da
raló¨, poramlulando logo ali ao sou rodor, como muitos tazom,
carrogando o montando larracas guo sorão administradas por
toirantos no dia soguinto.
Esto ponto trata do uma dimonsão ospocítica da toira. Acoplada
à toira pormanonto ocorro, dois dias na somana, uma toira móvol,
guo so chama Sulanca, o vondo lasicamonto roupas do todo tipo.
Por isso, procisa sor montada o dosmontada. Esta nocossidado
alro margom para o tralalho lraçal do inumoras possoas dosguali-
ticadas para uma ocupação mais valorizada no morcado. São
ostos guo vão carrogar carrinhos posados com as poças das lar-
racas por valoros muito laixos. Vosmo nossa dimonsão da toira a
concorrôncia ó grando. O ospaço tísico ó um rotrato portoito das
hiorarguias do capitalismo. O poguono comórcio ó oncontrado
om suas várias dimonsòos o ospociticidados, organizados do
dontro para tora, rospoctivamonto dos maioros para os monoros,
dos molhoros para os pioros, o provavolmonto dos antigos para
os rocontos, dos logítimos para os invasoros¨, dos ostalolocidos¨
para os ·uì::u~::, como diria Norlort Elias t2000).
Há vários portis do poguonos comorciantos na toira, alóm do
poguono agricultor o do artosão, guaso oxtintos, guo produzom o
vondom sua olra. Entro os poguonos comorciantos oncontram-so
lojas o lancas do divorsos tamanhos. Elos são porcolidos sompro
como um lado B do morcado, como as tranjas ostigmatizadas pola
dosgualiticação da mão do olra, das morcadorias, o aprosontando
a vantagom do proços mais acossívois, domocratizando para loa
parto da população a aguisição do produtos altornativos àguolos
muito caros na dimonsão mais ostalolocida do morcado, muitas
vozos distinto aponas pola marca o nomo do produto. Dontro as
maioros lojas so oncontram poguonas morcoarias, lojas do sapato,
lojas do roupa, ároas com poguonos açouguos, poguonas poixarias.
A tama da toira ó guo lá tom do tudo¨. Entro as poguonas lancas
o larracas há lugigangas do todo tipo, dosdo cadornos ató DVDs
piratas. O amlionto da toira ó tonso, larulhonto, guonto: possoas,
163
adultos o crianças, podindo dinhoiro o rostos do comida, ó uma
situação normal.
Goralmonto o poguono comorcianto guor sor um grando comor-
cianto, assim como o camolo guor sor um poguono comorcianto.
Quom tom uma larraca guor tor uma loja. Um dono do um
poguono rostauranto na toira, dopois do vivor om várias cidados
no Brasil, aprondondo a improvisar om todo tipo do ocupação,
agora guor sor dono do uma churrascaria. Quor ganhar dinhoiro,
soguir o rumo mais dosojávol do um comorcianto. O orgulho
rolativo o contoxtual do guom ostá intogrado por laixo na
tatia omproondodora do capitalismo provoca a rotloxão acorca
do um suposto potoncial do aprondizado político o cálculo
prospoctivo.
A análiso do tatoros oxtornos à ação individual podo sor uma
parto importanto da comproonsão da roprodução social. Dontro
ostos, as tasos o as contiguraçòos ospocíticas do capitalismo
contomporânoo o do sous dosdolramontos no contoxto poritórico
são tundamontais. Do acordo com dopoimontos, o contoxto do
ação nos anos do 1980 ainda pormitia uma ligação com a arto
o a cultura local om proporçòos tais guo sua vonda garantia a
solrovivôncia tamiliar, como no caso do alguns cordolistas. Os
tilhos das possoas guo vivoram nosta ópoca, após os anos do
1990, já não conhocom a mosma roalidado. O tator oxtorno om
guostão ó a nova contiguração mundial do capitalismo tinancoiro
o os otoitos do sous novos imporativos do tloxililidado¨ o adap-
talilidado¨ no contoxto poritórico. Tais tatoros so dosdolram do
divorsas manoiras.
Atualmonto, há uma coorção cada voz maior para a oscola-
rização intantil, mosmo om contoxtos rurais, polo monos mais
do guo há duas dócadas. Paradoxalmonto, osto dado om muitos
casos paroco contriluir mais para a procarização do guo para a
gualiticação o ompodoramonto para uma loa insorção no morcado.
Um imaginário o um consoguonto modo do vida guo choga om
loa parto por propaganda, o om outra por morcadorias do tipo
novo, guo trazom um novo mundo om si mosmas ó outro tator.
Tais morcadorias tôm valor do uso no atual univorso simlólico
guo compoto com o valor om si dos cordóis do outrora, por
oxomplo. Estos tipos do mudanças ostruturais podom sor vistos
om sous otoitos atravós do algumas histórias do vida roal do la-
talhadoros na toira.
164
TRAJETÓRlAS DE BATAlHADORES lElRANTES
As ostruturas oljotivas do sistoma capitalista contormam ao
mosmo tompo um sistoma oconomico o um modo do vida
simlólico. Estas duas dimonsòos so roproduzom atravós da tor-
mação dinâmica do padròos do classo, sompro hiorarguizadas
na dinâmica do sistoma. Tais padròos so roproduzom atravós
do açòos individuais guo a um só tompo so constituom como
histórias do vida o como histórias do classo. Trôs histórias do vida
parocoram mais marcantos na posguisa, por oxplicitarom atravós
do caminhos distintos a roprodução do uma mosma condição do
classo, o guo nos pormito analisar a ospociticidado dossa nova
classo tralalhadora dos latalhadoros om um momonto ospo-
cítico do capitalismo poritórico, marcado pola intonsiticação da
procariodado, da dosgualiticação o da intormalidado, na roalidado,
volhas amigas do capitalismo poritórico.
O primoiro caso ó a trajotória do um dono do um poguono
rostauranto na toira, guo chamaromos agui do João. Elo ó casado,
tom 49 anos o ó pai do uma tilha criança. Podomos considorar,
alóm da trajotória possoal, a trajotória do uma tamília. Esto caso
ó oxomplar do uma roalidado muito comum na loira do Caruaru:
olos moram na própria larraca. Assim, loa parto da toira, assi-
mótrica o hotorogônoa om sou ospaço, ó na vordado uma ároa
comorcial, ao mosmo tompo guo ó um lairro polro.
A trajotória possoal do João oxprimo lom um dos principais
traços constitutivos do sua classo: uma inconstância social marcada
por poguonas asconsòos o guodas nos padròos oconomicos o
consoguontomonto nos nívois do gualidado do vida. Do origom
tamiliar polro, sulurlana, ostudou muito pouco om sua juvontudo,
salondo aponas assinar o nomo o algumas noçòos primárias do
conta. Por isso, nunca tralalhou om alguma ocupação tormal-
monto gualiticada, mas vagou por tralalhos do auxiliar duranto
toda a juvontudo, om ocupaçòos guo aponas oxigiam ostorço
lraçal.
Um dado ospocítico, guo marca a história do muitos lata-
lhadoros nordostinos como osto, ó a migração o oxporiôncia do
vida do alguns anos om São Paulo. Esto traço oxprimo a vulno-
ralilidado o a nocossidado do adaptação constanto dossa classo.
Em sua taso om São Paulo, João vivou oxporiôncias dísparos,
dosdo comor pão do lixo, om ditícois momontos iniciais, ató
165
chogar a sor goronto do uma churrascaria com 18 omprogados
sol sua diroção. Tais contoxtos do atualização do disposiçòos¨
distintos, utiliando oxprossão do lahiro, pormitiram guo olo
dosonvolvosso disposiçòos como rosistôncia tísica, insistôncia,
capacidado do olsorvação o imitação, guando ora omprogado, o
dosojo do asconsão social.
Dovido a altos o laixos no morcado do tralalho, olo não
consoguiu so ostalolocor om São Paulo, pordondo lons omprogos,
o guo tamlóm so oxplica por motivos possoais, ligados princi-
palmonto a uma incapacidado assumida om poupar o administrar
sou dinhoiro. Na volta ao Nordosto, dopois do ontrontar inumoras
diticuldados, olo so ostaloloco aos poucos na loira do Caruaru.
Uma caractorística contral dossa classo ó uma nocossidado do
insistôncia, aprondizado o adaptalilidado, om nomo da digni-
dado. A disposição para sor tralalhador honosto, vinda do
tamília honosta o polro, gora o ímpoto do so ostorçar para lovar
a calo algum poguono omproondimonto comorcial guo doponda
muito pouco ou guaso nada do ostudo tormal da oscola.
Assim, um latalhador como João podo consoguir ostalolocor
uma atividado comorcial rogular om vários ramos, dopondondo
das oportunidados o da contingôncia do sua trajotória. Como
tovo oportunidado do sor omprogado no ramo alimontício, om
São Paulo, o o ostorço do aprondor a cozinhar, olo atualmonto
so omponha para lovar adianto um poguono omproondimonto
alimontício. Tralalhando com a osposa o com mais uma possoa
omprogada intormalmonto, olo mosmo cozinha o divido com os
domais todas as outras tarotas da rotina, como sorvir, arrumar o
limpar.
A disposição motivadora contral ó muito mais para o tralalho
diligonto o honosto do guo alguma capacidado minimamonto sotis-
ticada do administração o omproondodorismo. Elo ostá há corca do
soto anos nosto atual omproondimonto o não aprosonta asconsão
signiticativa, mas sim a manutonção do um padrão mínimo do
dignidado para sua tamília. A olsorvação do alguns casos sugoro
guo cortas asconsòos poguonas não nocossariamonto dopondom
do uma capacidado muito sotisticada do cálculo, mas do tatoros
contingontos do contoxto oconomico do ator guo proporcionam
uma ospócio do omproondodorismo passivo¨. Esto conta com
uma parcola do sorto, do um lom momonto do morcado para
uma atividado ospocítica, mas guo não podo dosconsidorar corta
166
capacidado do adaptação o aprondizado mínimos para a admi-
nistração do um poguono omproondimonto.
Algumas condiçòos oljotivas contoxtuais tamlóm são sugos-
tivas guanto a cortas diticuldados do asconsão do poguonos
comorciantos, como João, guo possuom sonhos do croscimonto.
Elo gostaria do sor dono do uma grando churrascaria, como a om
guo tralalhou no passado om São Paulo. Entrotanto, aposar do sou
tralalho insistonto o constanto no cotidiano, sou rondimonto nosto
poguono omproondimonto ó muito pouco, garantindo aponas a
roposição dos itons para comorcialização o a solrovivôncia da
tamília. Nosto caso, ainda guo olo aprosontasso capacidado para
poupança o roinvostimonto, taltaria um contoxto do aplicação
para tais capacidados. Nosto caso, João ó um latalhador¨, mas
não choga a sor um latalhador omproondodor¨.
Outro caso signiticativo ó o do uma jovom sonhora do 45 anos,
guo chamaromos do Zuloica, dona do uma poguona lanchonoto
na loira do Caruaru. A história ó omllomática, dontro outros
motivos, por otorocor um sugostivo panorama da rolação ontro
as dimonsòos rurais o urlanas do capitalismo poritórico. Ela tovo
uma intância tranguila no campo, som muito luxo, mas tamlóm
som passar diticuldados matoriais. Esto ó um aspocto prosonto
na trajotória do muitos latalhadoros guo vôm do campo para a
cidado. Vuitos hojo vivom situação procária na cidado, pior do
guo um modosto contorto no campo, vivido por uma goração
antorior. Esto contrasto rotloto mudanças oljotivas no capitalismo
poritórico dos ultimos anos, oxigindo cada voz mais a migração
para a cidado por parto do tamílias polros guo não oncontram
tralalho no campo.
Zuloica toi uma adolosconto singularmonto lola. logo codo
vivou o assódio masculino, principalmonto polos rapazos da
cidado. Como analisa Bourdiou no toxto O camponôs o sou
corpo¨, os valoros da cidado goralmonto ontram om choguo com
o Iaü:ìu: do campo.
6
Esto contrasto paroco tor so transtormado
om um contoxto do atualização do disposiçòos para osta jovom.
Atravós dos olhos dos rapazos guo lrilhavam para ola, porcolou
logo codo, na adoloscôncia, a possililidado do uma vida molhor
na cidado. Ela ó ontática ao rolatar guo não guoria sor mulhor
do matuto¨. Esta tala ganha um signiticado contral no contoxto
goral do sua narrativa.
16¯
Sua mão tom um histórico do docadôncia na vida rural. Nascida
om tamília alastada, ola dosco om sou :ìaìu: guando so casa com
o pai do Zuloica, um simplos tralalhador camposino. A monina
croscou prosonciando a mão roclamar do sor mulhor do matuto.
O contoxto tamiliar paroco gorar uma torto disposição para guoror
sair do campo. Como tovo uma laso tamiliar ostruturada, do pais
honostos o som passar nocossidados matoriais, a ontrovistada
consoguo migrar para a cidado atravós do uma possililidado do
tralalho. Uma tia a lova para tralalhar om uma loja o ola aprovoita
a oportunidado para so mudar dotinitivamonto para a cidado.
Como complotou o onsino módio, Zuloica podo tralalhar
om ocupaçòos minimamonto gualiticadas. Passou novo anos
tralalhando como caixa om um supormorcado, chogando a sor
promovida a um cargo do suporvisão. Esta intormação sugoro
a atualização do disposiçòos para constância, rosponsalilidado,
compromisso, soriodado o disciplina. Estos anos om um tralalho
tormal o romunorado possililitaram a poupança do uma guantia om
dinhoiro suticionto para guo ola docidisso arriscar um poguono omproon-
dimonto por conta própria, oxporiôncia osta lom comum ontro
os latalhadoros lrasiloiros no ospaço urlano guo aprosontam
disposiçòos oconomicas razoávois para poupança o cálculo.
Sou primoiro omproondimonto indopondonto toi a montagom
do uma larraca para vondor roupas na citada loira da Sulanca.
Ela rolata guo há muito tompo ora apaixonada por osta toira¨.
Enguanto tralalhava como omprogada, Zuloica alimontava o
dosojo do sor uma autonoma¨, algo guo a ditoroncia do muitos
guo pormanocom como lons omprogados por toda a vida. O
ímpoto para tal mudança conta tanto com um dosojo possoal rola-
cionado a disposiçòos para calcular o tuturo o à autossuporação,
guanto com contoxtos do oportunidado para ação, como ó o caso
do so rocolor uma loa indonização no ato da domissão.
Outro contoxto do atualização do disposiçòos importanto om
sua trajotória toi o contato com uma amiga guo lho indicou um
lom ponto na toira o sugoriu sou ingrosso no ramo do lanchonotos.
Ela doixa o omproondimonto antorior, guo passava por viosos
comuns a osta tração do morcado, o aluga uma larraca do porto
módio no ospaço da toira ondo so oncontram lanchonotos. Comoça
a tralalhar arduamonto o om sois mosos ostá com suas contas om
dia. Estos dados sugorom uma ótica do tralalho incorporada o
168
loas disposiçòos para administração o atondimonto aos cliontos,
dotalho guo taz muita ditoronça no ramo do alimontos, lom como
limpoza do amlionto o organização. Halilidados como a manu-
tonção do alimontos troscos o o proparo do lanchos salorosos
tamlóm são ditoronciais o são gualidados da ontrovistada.
A rotina narrada pola ontrovistada mostra uma vida guaso
guo totalmonto voltada para o tralalho. Um poguono omproon-
dimonto comorcial dosto porto oxigo uma carga horária alta.
Ela alro o ostalolocimonto antos das soto da manhã o só tocha
no tim da tardo, do acordo com o movimonto do cliontos. lolga
aponas no domingo. Conta com o auxílio do tilho do 20 anos,
guo domonstra visívois diticuldados com o tralalho. lsso oxigo
guo Zuloica ostoja a todo o momonto atonta ao atondimonto
na larraca. Ela ó uma máguina para o tralalho.
Em sou rolato, o unico lazor ó tolovisão o consumo. Como
mantóm um lucro poguono, poróm constanto, por môs, alóm do
tor uma casa alugada, invostimonto osto rosultado do anos do
tralalho árduo o diligonto, ola hojo tom uma ronda razoávol. Esta
ronda mantóm um padrão do dignidado, oxprosso principalmonto
no consumo, poróm não ostá sondo roinvostida para o crosci-
monto do nogócio. Ela construiu uma casa contortávol, comprou
uma moto para o tilho o compra constantomonto loas roupas
do marca, as guais guaso não usa, a não sor para ir à igroja o ao
shopping nos domingos.
As disposiçòos oconomicas do uma poguona comorcianto
como Zuloica são simplos. lsso so oxprimo na ospócio do contalili-
dado prática dostos tipos do comórcio, guo oporam uma oconomia
diária om sua administração. Ela não costuma tomar ompróstimos
para invostir no nogócio. Aprosonta o sonho do croscor, mas na
prática aponas mantóm a ostalilidado do nogócio, o guo om si
já oxigo disposiçòos para constância o disciplina. Ela tamlóm ó
uma latalhadora não omproondodora. Um dado importanto ó
guo o comportamonto oconomico oxprosso na administração
do comórcio rotloto as mosmas disposiçòos oconomicas oxigidas
para o controlo dos gastos na vida possoal. Zuloica não gasta
dinhoiro à toa¨, a não sor com roupas guo admito comprar alóm
das nocossárias. A solrovivôncia como poguono comorcianto
guo não crosco, mas so mantóm, o guo já ó um mórito om um
morcado cada voz mais compotitivo, oxigo uma contonção total
169
das oconomias, om uma vida digna, poróm modorada, o tinanciada
totalmonto com o sacritício do sou corpo.
O torcoiro caso ó do outro dono do rostauranto, do 3¯ anos,
guo chamaromos do Eliol. Esto já ostá om um nívol do omproon-
dimonto guo o distinguo dos domais. Sou rostauranto ó um dos
dois mais troguontados na toira. Tralalha com a tamília, mulhor
o dois tilhos, um monino o uma monina já adoloscontos, alóm
do tor sois omprogados intormais, sondo guo guatro tralalham
aponas na torça o no sálado, dias da toira da Sulanca, nos guais
toda a loira do Caruaru tica lom mais movimontada.
Eliol vivou sua intância om um poguono sítio, a 12 guilomotros
do Caruaru. Vivo lá ató hojo. Ë um típico caso do guom sai aponas
parcialmonto do campo. Como olo mosmo dotino, cidado ó lugar
aponas para tralalhar¨. Elo vom o volta do sítio com a tamília
guaso todos os dias om uma Parati dos anos do 1980, lom
consorvada. Nas vósporas dos dias da Sulanca, olo o a tamília
dormom na própria larraca, para darom conta do arrumar todos
os dotalhos para o dia soguinto, guo comoça lom codo.
Eliol tovo uma tamília ostruturada no sítio. Sou pai tom um
sítio lom alastado, com tontos do água natural. loi um agricultor
lom-sucodido o sous irmãos são todos comorciantos ostalolocidos.
Alóm da disposição para o tralalho, adguirida om um contoxto
tamiliar ostruturado, olo tovo, alóm dos oxomplos do pai o dos
irmãos mais volhos, algumas ajudas práticas, guo so constituíram
como contoxtos do atualização do suas loas disposiçòos. Dopois
do tralalhar om vários omprogos o poguonos omproondimontos,
como o do roupa, no gual taliu, olo atualmonto paroco tor
acortado sou dostino.
Um do sous irmãos, comorcianto já ostalolocido há anos, toi
guom alugou o atual rostauranto para olo, já oguipado. Esta ajuda
ó narrada na torma do uma sociodado¨, na gual osto irmão ontrou
com o capital o Eliol ontrou com o tralalho. Na prática, olo vai pagar
o irmão guando pudor. Em pouco tompo, olo ostalolocou uma
loa cliontola, pagou todas as contas o anoxou uma larraca ao lado,
guo atualmonto utiliza como dopósito para suas morcadorias.
Eliol ó um tipo do latalhador omproondodor¨, ou soja, ostá
mais para poguono omprosário guo para tralalhador, ainda guo
a distância om rolação a osto não soja tão grando. Sou rostauranto
já ó lom maior do guo o do João, moncionado acima, tondo uma
1¯0
cozinhoira protissional como omprogada o ospaço próprio para
as mosas nas guais os cliontos são sorvidos, ditoronto do João,
guo procisa dispor suas poucas mosas na rua.
Olsorvando sua rotina, vomos tacilmonto guo Eliol ó uma
máguina para o tralalho, não para um sogundo, portoccionista,
atonto a dotalhos o acompanhando do porto a ação do cada
omprogado. Contoro so cada clionto ostá satistoito com o prato
sorvido. Agradoco possoalmonto a cada um. Estos dados sugorom
guo, alóm do disposiçòos oconomicas lásicas para administração
o cálculo, um latalhador omproondodor procisa tamlóm salor sor
patrão, ou soja, aprosontar disposiçòos para lidorança. Sua tamília
paroco colalorar suavomonto, pois todos tamlóm aprosontam
loas disposiçòos para o tralalho o corrospondom à lidorança
sória o honosta do pai.
No caso dos homons, uma disposição importanto para muitos
latalhadoros ó a solriodado. Eliol aponas toma corvoja modora-
damonto no domingo, guando joga tutolol no sítio com amigos,
o guo so aprosonta como sua unica atividado do lazor. Ë visívol
om sou tilho, já rapaz, todo o joito do comorcianto do pai, o guo
sugoro guo sou oxomplo prático paroco ostar dando corto. Eliol
aprosonta idoias concrotas acorca do mudanças o molhoras om
sou nogócio, algo não oncontrado nos dois oxomplos antorioros.
Elo protondo, om lrovo, colocar vidro solro as mosas, no lugar
das tradicionais toalhas, por acroditar sor mais higiônico o do
aparôncia mais modorna.
Como consoguôncia do movimonto dinâmico do sou nogócio,
sua administração oxigo uma oxclusividado maior dolo, guo passa
guaso todo o tompo atondondo a tornocodoros o cuidando para
guo não talto nonhum itom no ostoguo. Há itons guo ostragam
rápido, om parto por causa do intonso calor típico da rogião, o guo
são ropostos guaso guo diariamonto. Outro dotalho importanto da
organização do sou nogócio ó guo todos tralalham unitormizados.
Polo croscimonto guo já aprosontou o por poguonas propostas
concrotas do mudança, alcançávois, ditoronto do sonhos vagos
guo todos goralmonto tôm do possuir um nogócio lom maior,
paroco guo Eliol ó um tipo do latalhador omproondodor¨.
Em suma, tomos agui trôs trajotórias do vida lom distintas,
guo não podom sor tacilmonto gonoralizadas como tipos ou
portis sociais homogônoos. Entrotanto, olas roproduzom cortos
1¯1
padròos do classo guo contriluom para dotinir osta nova classo
tralalhadora, guo ostamos chamando agui do latalhadoros,
sojam olos omproondodoros ou não. São olos: 1) origom tamiliar
ostruturada, intância vivida com pai o mão juntos, som passar
nocossidado matorial imodiata, 2) disposição para o tralalho
ostorçado o honosto, o guo signitica tamlóm dosojo do
dignidado, 3) disposiçòos oconomicas lásicas para cálculo o
administração primários. Quanto ao latalhador omproondodor,
os olomontos ditoronciais, atora os domais, o guo podomos
chamar do disposiçòos socundárias¨ do omproondodor, alóm
das disposiçòos primárias¨ do latalhador no goral, parocom sor:
1) disposição o cálculo para autossuporação, 2) disposição para
chotia o lidorança.
✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C ó
⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦↵⇥ ↵ ⌦⇧✏l⇥⇣C
··Iaü·:au·:a. D¡an:IIa ·I:~: ·I::~::·
lNTRODU(AO
So a discussão solro classo social no Brasil não podo so turtar
do talar solro a guostão da cor, não podoríamos talar dos latalha-
doros o doixar do lado o toma guo tamlóm doscrovo a dominação
om nosso moio dosdo os tompos da oscravidão ató os nossos dias.
Com laso nas posguisas ompíricas guo rosultaram nosto livro,
podomos dizor guo os latalhadoros podom sor lrancos, nogros
ou mulatos, da mosma torma guo os oncontramos om todas as
rogiòos lrasiloiras. Vas o tato do os latalhadoros sorom uma
classo guo agroga todo o oxaltado colorido da tormação lrasiloira
não anula o tato do guo os nogros ainda são vítimas do racismo,
soja olo do torma sutil ou não, o guo isso tom intluôncia nas suas
oscolhas, na torma do lutar por roconhocimonto o no guo podo
oltor para si matorial o simlolicamonto.
Ao contrário dos outros tomas dosto livro, para a guostão da
cor não toi toita posguisa próvia, dossa torma, para doscrovor o
guo ontronta o latalhador nogro nos dias do hojo o tontar porcolor
as continuidados o novidados¨ dontro dosso toma, discutiromos
a luta para ascondor vivida pola tamília Ramos ao longo do trôs
goraçòos.
Voromos a guo tipo do proconcoitos ostão sulmotidos os
latalhadoros nogros nos dias do hojo o como roagom à luta para
so atirmarom o sorom roconhocidos como homons o mulhoros do
valor na nossa sociodado. Voromos como so dá a luta dos nogros
latalhadoros para so atirmarom como lolos¨ o compotontos¨,
1¯4
do acordo com o ponsamonto do guo o tralalhador tom guo sor
oticaz¨ o sor um lom roalizador do tarotas¨.
Entim, guoro domonstrar, com laso nas trajotórias do vida
analisadas, om guo modida o nogro procisa sor lolo¨ para chogar
ao morcado do tralalho o guo, som sucosso nosso morcado, suas
chancos no morcado matrimonial ticam ainda mais oscassas.
¯ ¯ ¯
A história do laura comoça om 1922 om uma numorosa tamília
da Zona da Vata minoira. Sous pais toram momlros da primoira
goração guo nascia do pais livros da oscravidão. Sous avós tamlóm
nascoram nossa rogião o toram lonoticiados pola loi do Vontro
livro. Do um total do 15 tilhos, laura ó a 12`.
laura guarda consigo poucas lomlranças da casa om guo
morava o da convivôncia com sous tamiliaros. A tamília comoçou
a so soparar antos mosmo guo ola nascosso. Primoiro porguo
alguns do sous irmãos o irmãs mais volhos já haviam so casado,
mudado do cidado o tido tilhos, sogundo porguo o olo guo podoria
havor ontro irmãos com idados tão ditorontos logo taltou. A mão
do laura talocora antos guo osta complotasso sois anos do idado.
A ontrovistada tom pouca ou nonhuma rocordação da mão. O
pouco guo dola tala ó com laso no guo os irmãos mais volhos o
amigos da tamília lho contaram.
Com o talocimonto da mão, o pai do laura não tinha condiçòos
do pormanocor sozinho com sois crianças om casa, incluindo uma
monina do sois mosos, a caçula da tamília. Com isso, laura toi
morar com um do sous irmãos, já casado o com tilhos um pouco
mais novos do guo ola. laura não tala com muita satistação solro
osso poríodo. O sou irmão não latia nola, mas a sovoridado com
guo ora tratada toz com guo aumontasso a dor do já não mais tor
pai o mão por porto. Na ópoca laura não ia à oscola, sua atividado
ora lrincar guando podia o ajudar a cunhada com poguonas
coisas do casa. Ela rossalta guo não tazia nada do cozinha, mas
varria a casa o ajudava a cuidar dos solrinhos. laura conta com
um pouco do amargura solro os mosos guo antocodoram sua
saída da casa do irmão. Aos 12 anos ola conhocora uma sonhora
nogra, nascida naguola rogião o guo morava no Rio do Janoiro,
amigada¨ com um homom lranco tamlóm mais volho. Esso
1¯5
casal não podia tor tilhos o, ao conhocor a história do laura,
dosojou adotá-la. Durou mosos a tontativa, com visitas, prosontos
o promossas do uma vida na gual laura voltaria a sor tilha do
alguóm. A tontativa tracassou porguo, aos olhos do irmão - guo
não consultou ao sou pai solro tal proposta -, não ora corto
ontrogar a sua irmã para uma mulhor amigada¨, por mais guo
isso pudosso sor uma chanco do vida molhor para laura. Solro
osso assunto, laura tala com carinho da mulhor o da possililidado
do tor tido uma intância ditoronto.
A ossa altura o irmão já não guoria mais ticar com laura.
Com antigos conhocidos, olo arrumou ontão uma loa altorna-
tiva para a situação: omprogar a monina om uma das tazondas
da rogião. Os donos já oram antigos conhocidos da tamília do
laura o guoriam moninas para ajudar nos atazoros domósticos
da casa om troca do moradia, roupas, comidas o um dinhoirinho
todo môs. Assim, laura voltara para a mosma tazonda om guo
sous antopassados toram oscravizados. Ali, a ainda monina laura
toi sondo moldada para so tornar uma loa ama¨ para sous
patròos.
A já adolosconto laura tom na roligião católica o ponto do
partida para sou rolacionamonto do tó com Dous. Os passoios do
domingo - o dia om guo podia sair por mais tompo da tazonda,
mas sompro acompanhada - oram todos porpassados pola ativi-
dado paroguial. Ao sor guostionada solro a importância da sua
vida roligiosa o da sua tó om Dous, laura mostra a dor guo sontia
com rolação à tamília guo não tinha mais: Uma mulhor mais volha
na tazonda convorsava muito comigo solro ossas coisas do Dous.
Dizia guo ou tinha do rozar muito para Dous o a Virgom Varia
mo protogorom.¨ laura luscava na roligião católica aguilo guo
não tinha: uma tamília. Tor uma tamília para si ora o guo ostava
no íntimo dola o ó o guo guia toda a sua trajotória do vida. Nas
roclamaçòos guo tazia dos sous irmãos, doixa claro guo não havia
mais olo ontro olos. Sogundo ola, sous irmãos podiam do tato ir
visitar alguóm na tazonda vizinha, mas não tinham tompo para
ir vô-la dopois. Com isso laura tamlóm so dosapogou dolos.
Um pouco rossontida, disso guo gosta do assinar o solronomo
do marido porguo o sou do soltoira do tato nom ó o mosmo guo
o dos mous irmãos¨. lsso mostra como ola so vô apartada da sua
tamília do origom, ao mosmo tompo guo porcolo guo sou vínculo
tamiliar só comoçou com o casamonto.
1¯6
Com o talocimonto do sou pai tguando ola tinha 15 anos),
ocasião om guo os vínculos so ostacolaram dotinitivamonto, viu
pola primoira voz, om muitos anos, grando parto dos sous irmãos
rounidos, ainda guo morassom na mosma rogião. tEsso guadro
só comoça a mudar anos dopois, guando ola procura o oncontra
alguns irmãos o solrinhos.)
Anos mais tardo, guando laura so torna adulta, com mais do
20 anos, continua soltoira o na tazonda. Os Corroios nunca lovaram
carta para ola, mas o tuncionário da omprosa chamou a sua
atonção. Naguola ópoca a moça cortamonto vira poucos homons
soltoiros da cidado ou com modo do vida urlanizado. Cortamonto
isso toi uma das coisas guo a toz so intorossar polo tuncionário
dos Corroios, guo morava na maior cidado da rogião, porguo olo
roprosontava um modolo do vida ditoronto do guo laura vivia.
Vas osso não ora o unico traço do Andró guo o distinguia dos
domais homons guo ola conhocia: olo ora cronto¨ o carrogava
isso no sou corpo. O modo do andar, sompro com o símlolo
da sua tó ta Bíllia) omlaixo do lraço, o andar duro o ritmado,
como so marchando om uma latalha, o a soriodado com guo so
portava chamou-lho a atonção. O poríodo do namoro toi o
momonto om guo so alriu a laura a possililidado do um modo
do vida longo da tazonda. loi nossa possililidado guo ola apostou
ao casar-so com Andró, o iniciaram-so protundas mudanças
causadas polo casamonto o a nova contissão roligiosa guo tizora
por causa do marido.
A guostão guo so colocou na nova taso da vida do laura toi
a do como sor osposa o mão som a oxporiôncia do um convívio
tamiliar para aprondor como tunciona uma tamília. As poucas
coisas guo salia solro o cuidado do casa o do crianças toram da
porspoctiva do omprogada, guo dovoria tazor suas atividados do
modo como a patroa gostaria.
Ë nossa nova porspoctiva guo a roligião protostanto comoça
a so aprosontar. A nova contissão roligiosa o a nova vida socular
guo ola passa a vivonciar lovaram-na a um novo aprondizado. No
comoço dossa nova taso, o tomplo motodista mais porto ticava om
Juiz do lora, a mais do 60 guilomotros da cidado om guo moravam.
Era somonto om ocasiòos ospociais guo o casal so oncontrava com
o pastor o domais momlros da igroja, por oxomplo, guando o
primogônito dolos toi latizado. Alguns anos mais tardo, a tamília
so muda para Juiz do lora o comoça a troguontar os cultos
1¯¯
duranto a somana o aos domingos. Quostòos como lor a Bíllia
diariamonto, construir uma rolação do proximidado com Dous som
a gual não ó possívol oltor a salvação da alma o comportar-so
no mundo para sor roconhocido como um vordadoiro cristão
toram coisas guo laura aprondou primoiramonto com sou marido
o com a tamília dolo tirmãos o solrinhos). A primoira possoa guo
a auxiliou na sua tormação toi Sou Andró.
1
Como já ora casada, podia convorsar com as outras mulhoros
casadas solro os papóis do mão¨ o osposa¨. As novas amigas do
laura, sonhoras motodistas ou suas cunhadas, são os oxomplos
guo ola tinha para agir contormo o osporado para um motodista:
aprondor a sor o molhor guo olo pudor om todas as ostoras da vida.
A implicação do sor motodista para ola ostá ligada à construção do
ponsamonto motodista duranto sóculos. O motodista so vô como
um cristão ditoronciado, guo tom uma marca o um mótodo do so
comportar no mundo, sua missão ó mostrar com a vida no guo ó
guo so crô. Por isso ó importanto lomlrar-so sompro da cruz do
Cristo vazia, pois ali houvo sotrimonto, mas com a rossurroição a
promossa do vida otorna som sotrimonto mantóm a tó om Dous,
guo toi roavivada no Pontocostos. Por isso os símlolos da igroja
são a cruz o a chama.
Aposar dos ganhos guo amlos tivoram com o casamonto, osta
união toi conturlada. Por algum tompo, Andró não ora tiol a laura,
o a intidolidado dolo atrapalhou as tinanças da tamília, uma voz
guo olo ajudava a sustontar a tamília do sua amanto. Vosmo com
ossa taso ditícil, laura não so soparou do osposo, ató porguo para
mulhoros do sua goração, vindas do intorior do país, ora inviávol
ponsar na possililidado do so soparar. laura procisou praticar
na sua rolação matrimonial aguilo guo aprondia a sor na igroja.
Uma prova disso ó guo, om 1988, muitos anos dopois da traição,
Andró doscolriu tor câncor, o laura o os tilhos cuidaram dolo ató
o sou ultimo dia do vida, um ano mais tardo. Na modida om guo
os tilhos do laura toram croscondo, ola tovo a oportunidado do
por om prática o guo havia aprondido na igroja o onsinar a olos
a dosojarom uma vida molhor, mosmo sondo nogros, polros o
moradoros da poritoria.
¯ ¯ ¯
1¯8
PERlll DOS lllHOS DA lAVlllA RAVOS
Os tilhos do Andró o laura ostão alaixo rolacionados om
ordom cronológica. Antonio, o mais volho, hojo ostá com 60 anos,
o lálio, o mais jovom, ostá com 4¯ anos.
Antonio ó ongonhoiro civil o tralalha há mais do 25 anos om
uma omprosa do ongonharia na Atrica. Sua trajotória oscolar
comoça como lolsista da oscola da lgroja Votodista, guo tinha o
rogimo do intornato. Soguia para casa aos tins do somana o partici-
pava com a tamília das atividados roligiosas nosso poríodo.
O oxórcito taz parto da trajotória do vida dosso homom, guo
assim como muitos jovons polros guo tôm alguma disposição
para ostudar no Brasil acroditou guo nosta instituição podoria
ascondor social o oconomicamonto. loz o sou sogundo grau om
uma oscola da Aoronáutica om outra cidado minoira, ondo havia
sido lom-sucodido o, por isso, tora dosignado para continuar na
Escola Proparatória do Pilotos dossa torça armada.
A saída do Antonio do Exórcito voio por causa da sua cor. Na
ocasião om guo havia já so tormado dontro da instituição, guando
tinha chancos roais do tazor carroira nola, sou suporior talocou om
um acidonto aóroo, o o gonoral guo o sulstituíra ora um homom
guo não pormitia nogros guo possuíam postos mais altos nos
sous rogimontos. Por causa disso, Antonio toi disponsado. Vas a
gualidado da oducação guo rocolora duranto a sua trajotória
oscolar, junto com a disposição incorporada para os ostudos,
valoram-lho uma vaga no curso do Engonharia Civil no Rio do
Janoiro ainda no mosmo ano om guo rocolora a disponsa.
Esso poríodo toi do grando diticuldado matorial para Antonio, guo
dosdo guo comoçara a ostudar no Exórcito dividia o sou salário
com a tamília. Estando no Rio, som omprogo tixo o porcolondo
nos ostudos a unica possililidado do ascondor, olo dividiu o sou
tompo duranto todo o sou curso univorsitário ontro tazor licos
o ostudar muito.
Assim guo concluiu o curso, Antonio comoçou a tralalhar
como ongonhoiro no Brasil, mas logo toi para o continonto
atricano. Dosdo ontão, um dos motivos do orgulho dolo ó tor tido
condiçòos do ajudar a sua tamília, auxiliando sous irmãos mais
novos a torom tranguilidado matorial para ostudar o sous pais,
guando nocossário.
1¯9
Antonio ó casado, tom dois tilhos, duas ontoadas o um noto.
Para todos tonta Antonio sor oxomplo com rolação aos ostudos.
Colra dos tilhos, dos solrinhos o das ontoadas um lom dosom-
ponho oscolar, à imagom do sou próprio.
A vida dolo gira om torno do tralalho, com pouco tompo para
a tamília. Elo visita sous parontos no Brasil a cada guatro mosos
aproximadamonto, ondo pormanoco om torno do 15 ou 20 dias,
mas não ó um momonto do tórias propriamonto dito, porguo olo
continua conoctado via intornot com o sou grupo do tralalho.
João ó o sogundo tilho dos Ramos. Toda a sua trajotória
oscolar toi construída om oscola pullica. Elo ó o unico tilho guo
om toda a sua trajotória do vida domonstrou possuir disposiçòos
muito olsorvadas por todos dosto livro no guo tango à idoia do
um tralalhador autonomo. Tralalhou para omprosas pullicas
tompo suticionto para oconomizar algum dinhoiro o doscolrir
gual protissão autonoma iria soguir. Como sompro gostou do
carros, comprou um táxi o toi por mais do 20 anos taxista om
um ponto nolro da cidado.
Aposar do não tor chogado a tazor nonhum curso suporior,
olo ó um homom guo oxalta a oducação do um modo goral. Elo
porcolo claramonto nas suas rolaçòos sociais guo oxisto um nívol
do distinção ontro guom ostudou o guom não ostudou. Aposar
do dizor guo trata todos com igualdado o rospoito, nom todos
são iguais dianto dos sous olhos. Elo sompro gosta do ostar porto
do possoas guo ostudaram o são intoligontos¨. João possui uma
admiração ospocial por sou irmão mais volho, guo, dopois do
talocimonto do pai, ocupou por muito tompo o lugar do choto
da tamília, mosmo já morando no oxtorior.
O intorossanto om João ó porcolor guo olo planojou a sua vida
do modo a não tor do tralalhar mais dopois guo viosso a sua
aposontadoria. Elo ó o unico tilho do laura guo ó aposontado,
vivo com a aposontadoria o do aluguol do táxi. Podomos dizor
guo olo latalhou para não tor guo latalhar no tuturo.
João ó casado o não tom tilhos. Sua osposa tamlóm ó uma
mulhor latalhadora, vinda do uma tamília do nogros com condi-
çòos sociooconomicas muito parocidas com as da sua. Hojo sua
osposa tamlóm ó aposontada como tócnica om Entormagom o
ao longo do mais do 25 anos do casados ola apoiou o projoto do
sou marido om tor osso tipo do vida. Hojo olos lovam uma vida
180
muito parocida com a guo planojavam: viajam, vão a tostas, tôm
tompo para tralalhos voluntários o atividados artosanais.
Elisou ó o torcoiro tilho do laura o Andró o tamlóm ostudou
om oscola pullica, chogou a troguontar um curso univorsitário,
mas não o concluiu. Ë tuncionário pullico municipal om uma
poguona cidado no intorior do Vinas. Ë casado, tom trôs tilhos
adultos o um noto. Do todos os irmãos, osto ó o guo mais luta
para oscapar do horizonto da raló. Aparontomonto, Elisou não
consoguiu ropassar aos tilhos a disposição para os ostudos o
para o tralalho guo tanto a sua tamília proza. O guo torna ainda
mais dolicada a sua história ó o tato do guo olo ó alcoólatra o
não possui apoio algum por parto da tamília guo construiu. O
apoio guo oncontra vom da mão o dos irmãos. Nas histórias solro
Elisou nos chama a atonção o tato do olo tamlóm tor sido um
jovom curioso¨, guo sompro luscava tazor coloçòos das mais
divorsas coisas, do solos do cartas ató gilis. Sua coloção do gilis
acalou guando sou pai, insatistoito com o dosomponho oscolar
do tilho, a guoimou complotamonto. A lomlrança dosso opisódio
não marcou aponas Elisou, guo ora dono da coloção, mas tamlóm
sous irmãos, pola sovoridado da atitudo do pai, omlora rossaltom
guo ossa não toi a unica voz om guo o pai toi rigoroso. Os tilhos
rolatam solro as coças¨ guo olo o a mão lhos davam guando
ostavam insatistoitos com alguma coisa guo haviam toito.
Rosa ó a primoira tilha mulhor dos Ramos. Dosdo a intância
ajudava sua mão nos atazoros domósticos, lom como a cuidar dos
sous irmãos mais novos. Estudou na rodo pullica do oducação
ató cursar taculdado om uma univorsidado todoral. Rolatou guo
na sua intância sous pais oram possoas muito mais sovoras o guo
dopois guo os tilhos croscoram ó guo so tornaram mais amigos,
passaram a convorsar mais. Por outro lado, apontou o protago-
nismo do sua mão como o principal tator da sua continuidado
na vida oscolar. Rosa atrilui à mão o tato do tor ostudado mais
do guo as outras mulhoros do sou lairro. Sogundo conta, laura
insistiu com Andró guo as tilhas dovoriam ostudar.
O oxomplo do irmão mais volho sompro toi um nortoador do
sua trajotória oscolar, mas não maior do guo o oxomplo da sua
mão. Ela doscrovo laura como uma possoa curiosa¨ o intorossada
por plantas¨. Sogundo a visão do Rosa, laura soria uma lotânica¨
caso tivosso continuado a ostudar. Rosa rovola com orgulho guo
sua mão possui uma onciclopódia solro plantas lrasiloiras,
181
guo ola sompro lia para cuidar molhor das guo tinha om casa.
loi vondo o intorosso da mão, como oxomplo prático do alguóm
guo so intorossa do alguma torma polo mundo oscolástico, guo
Rosa so intorossou polos ostudos. Duas coisas alóm dos oxomplos
da mão o do irmão a impulsionavam para ostudar: 1) os amigos
da igroja guo oram polros, mas guo sompro ostudavam, 2) a
osporança do guo om algum momonto do tuturo sua vida soria
molhor do guo a vida lovada polas suas vizinhas lrancas, guo
lho discriminavam om sua adoloscôncia.
Rosa doscrovo um amigo da tamília, da lgroja Votodista
tamlóm o polro como olos. Aos tins do somana, osso amigo
almoçava na sua casa porguo não tinha dinhoiro para comor na
rua. Elo ajudava a ola o a irmã Ana nos ostudos. Rosa copiava
para olo os trochos mais importantos dos livros guo olo pogava
omprostado na lilliotoca para oconomizar. lntluonciada polo
oxomplo dosto amigo, Rosa porcolou guo ostudar podoria sor
sua chanco do molhorar do vida.
A discriminação guo ola o a irmã sotriam ora ostótica, tanto
com rolação ao sou ostoroótipo guanto à imagom da casa om
guo moravam. Ela conta guo toram muitas vozos considoradas
como mais toias do lairro¨ o guo a sua casa, aos olhos das
outras adoloscontos guo as discriminavam, tamlóm ora a mais
toia, porguo o chão ora do cimonto latido, oncorado com coras
coloridas. Os rapazos do lairro tamlóm não as viam como as
mais lolas. Vas a roligião tazia para Rosa uma grando ditoronça
porguo ola não ora tácil¨, tinha o comodimonto osporado para
uma jovom ovangólica.
Sua trajotória oscolar toi pautada por diticuldados, roprovaçòos
do ano, momontos do discriminação por parto do protossoros.
Ela conta guo um dos protossoros ora o sou torror¨. Elo colocava
modo nos sous alunos o não tazia guostão alguma do otorocor-lhos
ajuda com a matória guo locionava. Esso protossor mantinha-so à
distância do alunos nogros. A matória onsinada ora ditícil, ticava
impossívol tor algum vínculo com a disciplina guando o protossor
sistomaticamonto ropolia o aluno. Rosa lomlra guo a sua unica
tilha anos dopois tamlóm passou por situaçòos om guo so doparou
com o racismo na oscola.
Anos mais tardo, Rosa cursou a taculdado do Entormagom o
toi na univorsidado guo conhocou sou ox-marido, pai do sua tilha.
Sogundo ola, oram poucos os homons nogros na univorsidado
182
naguola ópoca, o a maioria não so intorossava por mulhoros nogras.
O unico nogro guo so intorossou por ola toi o sou ox-marido, guo
ó atricano. Sou círculo do amizados na ópoca ora constituído
lasicamonto por outras mulhoros nogras o polros como ola.
Com rolação ao morcado matrimonial, Rosa porcolo guo a
mulhor nogra tom mais diticuldados om arranjar parcoiro, o isso
piora com o passar dos anos. Sogundo a sua visão, guando so ó
nogra o jovom os homons podom ostar dispostos a usá-la¨ som
assumi-la¨, ou soja, a mulhor nogra sorvo como amanto, mas não
como alguóm para so tor uma rolação sória. E mais volha tamlóm
ó mais ditícil porguo os homons mais volhos so intorossam mais
polas mais jovons¨ o tamlóm porguo as lrancas continuam a
sor a protorôncia¨.
Dopois do tormada, não tovo diticuldado om arrumar omprogo
porguo suas notas oram loas o tamlóm porguo suas amigas lho
indicavam para tralalhar om hospitais. Dosdo guo comoçou a
tralalhar nunca ticou dosomprogada.
Vais ou monos um ano dopois do ostar tormada, Rosa so ca-
sou. Doscolrira no mosmo môs om guo iria so casar guo ostava
grávida. Para a igroja o para a sua tamília não toi um prolloma,
porguo o pastor guo ostava na igroja na ópoca tinha um outro
comportamonto com mulhoros grávidas ou mãos soltoiras. Dito-
ronto do guo ponsam muitos pastoros hojo om dia.¨ A rolação
com o ontão marido durou monos do cinco anos. Dopois dossa
rolação, nunca mais so casou, vivondo para tralalhar o oducar
sua tilha, da mosma torma como porcolomos guo tazom os lata-
lhadoros guo tralalham para invostir om uma vida molhor para
sous tilhos. Tralalha ontro 63 o ¯3 horas por somana, dividida om
dois omprogos ditorontos. E ó tamlóm no amlionto do tralalho
guo rolata diticuldados com rolação à cor guo possui. Rolata já tor
lidado com muitos casos do insulordinação do tuncionários, guo
não lho rospoitavam por sor nogra, rolata muitas vozos tor sido
isolada por outros chotos do ontormagom por causa da sua cor o
não so osguoco dos olharos do dosdóm o surprosa do paciontos
ao vorom uma choto do ontormagom nogra.
Ana ó a outra tilha dos Ramos. Ë tormada om Rocursos Humanos
o ató oncontrar ossa carroira havia toito o antigo Vagistório,
chogando a sor protossora na própria oscola ondo havia ostudado
na intância. Vora com a mão o atualmonto não tralalha mais
183
porguo laura, hojo com 8¯ anos, procisa do alguóm por porto,
por mais guo soja lucida o ativa.
Ë soltoira, nunca so casou o criou sou tilho Julio Cósar som a parti-
cipação do pai liológico dolo. Na igroja, como já moncionamos,
não houvo prolloma com o talu da mão soltoira. A lidorança
da igroja na ópoca dizia guo o tilho ó lônção na vida da mulhor¨
o guo ninguóm podoria julgar uma mão por causa do uma
lonção¨. O apoio maior voio da mão o da irmã, guo criaram o
rapaz ao lado do Ana. Dopois do so soparar, Rosa toi morar com
ola o a mão, o as trôs juntas criaram as duas crianças usando a
roligião como auxílio para o aprondizado moral dolas.
lálio ó o tilho mais novo da tamília Ramos. Sua juvontudo
tovo monos diticuldado matorial, o guo para olo toi docisivo. loi
lolsista da oscola da lgroja Votodista, assim como o sou irmão
mais volho. Sua juvontudo toi ditoronto da guo vivoram sous
irmãos. Aprovoitava mais o tompo do lazor, pois a tamília já não
vivia com o dinhoiro tão contado. O guo o ditoroncia tamlóm
dos irmãos guo chogaram a cursar o onsino suporior ó guo lálio
não procisou corror para torminar o sou curso do graduação om
Engonharia Civil. A razão tamlóm ostá nas condiçòos oconomicas
da tamília. lsso mostra guo nosta ópoca os Ramos comoçavam a
tor alguma asconsão oconomica. O oxomplo do lálio ora o sou
irmão mais volho. Assim como Antonio, lálio luscou nas lorças
Armadas uma chanco para croscor na vida, tazondo ontão um
curso do Engonharia Vilitar dontro do Exórcito. Dopois do so
tormar om Engonharia Vilitar o om Engonharia Civil, toi promo-
vido polo Exórcito para tralalhar no Norto do país.
Doz anos mais tardo olo docidiu voltar para Vinas Gorais por
causa da saudado guo tinha da tamília o porguo, ostando casado
o com dois tilhos, não guoria criá-los longo do sua tamília o da
tamília do sua osposa, guo tamlóm ostava om Juiz do lora. lálio
ticou alguns mosos na cidado minoira o não consoguiu tralalhar
por muito tompo por lá, o guo o lovou a soguir o oxomplo do
irmão mais volho, guo construiu a sua carroira como ongonhoiro
na Atrica. Dosdo ontão tom uma rotina marcada por poguonas¨ tórias
a cada trôs mosos para visitar a tamília guo ticou no Brasil.
O pouco tompo para a tamília não ó caractorística somonto
da tamília Ramos, o sim um traço do latalhador guo taz longas
jornadas do tralalho om mais do um omprogo o guo muitas vozos
não tom o tim do somana livro. O papol da trajotória dos Ramos
184
ó oxompliticar guais são alguns dos olstáculos guo tazom parto
da trajotória dos latalhadoros nogros do país.
¯ ¯ ¯
No próximo trocho voromos guais são os tipos do racismo aos
guais o latalhador nogro ostá oxposto. Usaroi a trajotória dossa
tamília como oxomplo para doscrovor o guo acontoco com várias
tamílias do nogros latalhadoros guo procisam ontrontar o racismo
para so atirmar na sociodado o consoguir ascondor socialmonto.
lUTA POR EVBRANQUEClVENTO
Ora, o guo ó omlranguocimonto o o guo signitica omlran-
guocor?
2
Grosso modo, omlranguocimonto ó o procosso simlólico
ao gual o indivíduo via do rogra procisa so sulmotor para sor
acoito om um grupo om guo normalmonto soria ropolido polo
tato do sor nogro. O mundo ó cindido ontro aguilo guo ó tido
como lom¨ o dosojávol o aguilo guo ó mau¨, aguilo guo não
dovo sor continuado o om alguns casos, ropolido. Emlranguocor
tamlóm rovola outro par do oposição: o sujo o o limpo. No nos-
so imaginário, polros o nogros do nosso país são possoas cujo
modo do vida ó tão dogradanto guo a todo momonto procisam
provar aos outros guo são limpos, arrumam as suas casas, lavam
as suas roupas, ontim, tôm higiono. Quom ó guo nunca ouviu do
alguóm: sou polro, mas sou limpo¨?
O omlranguocimonto ó um procosso modorno do dominação
do gual o nogro na sociodado lrasiloira não consoguo oscapar
caso oltonha alguma asconsão social. Não ó uma guostão do
oscolha para olo, porguo o omlranguocimonto ó imposto polo
modo do vida dominanto. A mídia ó o moio por oxcolôncia do pro-
pagação dosso modo do vida. As possoas mais lonitas raramonto
são nogras, os lons do consumo tdosdo uma garrata do corvoja,
pasta do dontos ató um carro) vôm acompanhados do gonto muito
lonita - nonhum ou aponas um nogro. As propagandas acalam
rovolando guo oxisto uma vida loa¨, do sucosso¨ guo não ó
projotávol para nogros o polros. Ao tolospoctador tguo nunca vai
alcançar aguola vida ali mostrada) rosta ongolir soco o lutar com
armas tracas por lons oscassos. A condição para o roconhocimonto
do nogro como digno passa polo omlranguocimonto.
185
As mulhoros o os homons nogros ostão sulmorsos om uma
dinâmica social guo os olriga a todo momonto a luscar digni-
dado social, aposar do sorom nogros. Dizomos aposar do¨ porguo
o rosultado do omlranguocimonto na prática ó o roconhocimonto
do nogro lom-sucodido om alguma ostora da vida, aposar do tor
a cor guo tom. Ë sor considorado limpo o honosto, aposar do sor
nogro. Para o nogro, omlranguocor ó criar om torno do si uma
armadura¨ guo o protogo do racismo.
¯ ¯ ¯
O RAClSVO ESTËTlCO
NA VlDA DA VUlHER BATAlHADORA
O guo ó o racismo ostótico? Ë o racismo guo sotro aguolo guo
possui caractorísticas corporais guo são dosgualiticadas na vida
social. As caractorísticas tísicas do nogro são dosgualiticadas na
modida om guo oxisto um padrão do loloza guo não o onglola
como lolo¨ o cujos traços não dovom sor dosojados. So o loitor
guisor comprovar a voracidado dossa prática, lasta ir aos salòos
do loloza o olsorvar guantas cliontos nogras guorom continuar
a mantor sous calolos crospos o guantos tratamontos cosmóticos
são otorocidos a olas para guo sous calolos tiguom lisos. Na nossa
sociodado, as mulhoros so valom muito mais do guo os homons
do tratamontos ostóticos, o guo rovola guo a proocupação com
sua imagom tom signiticados guo não são compartilhados polos
homons, omlora lhos agrado guo as mulhoros do um modo goral
so cuidom. Ë nossa corrida polo tratamonto cosmótico com tins ao
omlranguocimonto guo a latalhadora nogra ó impolida a ontrar,
acroditando guo isso lho trará maioros lonotícios.
Cortamonto a latalhadora nogra sotro monos do guo a raló,
porguo ostá om molhoros condiçòos sociais do lutar polo omlran-
guocimonto, guo ó inoronto à luta do asconsão do classo. Ou soja,
ola tom mais rocursos do guo guom ó da raló para comprar roupas,
cuidar da polo o do calolo, porguo ostá insorida no morcado do
tralalho. O guo tazom os latalhadoros tronto ao racismo ostótico
ao gual são oxpostos todos os dias na mídia o om suas rolaçòos
intorpossoais? Como ó possívol construir-so nogro, tor autoostima
186
sondo nogro, om uma sociodado om guo o nogro ó a nogação da
loloza o do tralalho¨?
As práticas dososporadas para omlranguocor tmostradas om
um capítulo solro racismo na raló por Emorson Rocha no livro
· :aI~ ü:a::I~::a. gu~n ~ ~ c·n· :::~ - Souza, 2009) usadas pola
raló já não são as guo praticam os latalhadoros. lsso porguo os
latalhadoros já possuom uma tamília ostávol tcom polo monos
um dos pais sondo capaz do sor tonto moral o provisão ocono-
mica, mosmo guo a ronda tamiliar soja laixa), guo signitica mais
sogurança para lidar com as situaçòos do cotidiano. E as práticas
das latalhadoras nogras rovolam guo o grau do tonsão com
rolação à nocossidado do uma aproximação da ostótica lranca¨
ó somonto monos dososporada porguo ossa classo comoça a tor
dinhoiro para invostir no sou corpo o uma molhor posição no
morcado do tralalho to guo signitica guo osso corpo procisa
ostar om condiçòos tísicas do tralalho, caso contrário sua tonto do
ronda ostará amoaçada). Alóm do saudávol, a latalhadora procisa
so tazor lonita, por isso o uso do omlranguocimonto tamlóm
tom como tim o morcado do tralalho.
Aparontomonto são as latalhadoras nogras guo oscolhom¨
gual aparôncia tor, por oxomplo, guo tipo do calolo tor. Vas o
calolo alisado o longo tcom apliguos) não ó uma opção: para
muitas nogras, já ostá dado guo sous calolos procisam passar por
um longo procosso guímico para guo tiguom lolos do vordado.
Som o calolo guimicamonto tratado, a mulhor nogra so sonto
monos tominina para oncontrar um namorado, monos aproson-
távol no tralalho, sonto-so oxatamonto como o guo toi construído
solro o nogro om goral: ola so sonto uma sulmulhor.
Ë para guo isso ocorra o monos possívol guo as latalhadoras
nogras lotam poguonos salòos do loloza dos sous lairros. Ë
para ovitar os olharos do roprovação, guo doom tanto guanto
sor xingada, guo a latalhadora lusca so aproximar do omlran-
guocimonto.
Não guoromos dizor agui guo não oxisto para olas prazor om
tazor tratamontos ostóticos. No ontanto, a manoira como isso ó toito,
pautado om padrão do loloza incooronto com sua cor, rotloto guo
a latalhadora nogra so sulmoto porguo não tom outra opção.
Com rolação ao morcado matrimonial, Rosa porcolo guo a
mulhor nogra tom mais diticuldados om arranjar parcoiro, o isso
piora com o passar dos anos. Sogundo sua visão, guando so ó
18¯
nogra o jovom os homons podom ostar dispostos a usá-la¨ som
assumi-la¨, ou soja, a mulhor nogra sorvo como amanto mas não
como alguóm para so tor uma rolação sória. E mais volha tamlóm
ó mais ditícil, porguo os homons mais volhos so intorossam mais
polas mais jovons¨, o tamlóm porguo as lrancas continuam a
sor a protorôncia¨. A latalhadora nogra não tom oscolha dianto
da dominação ostótica, o ó isso guo ola não tom como vor. A
alogria do muitas ó só uma oxprossão do alívio om tor calolos
guo, aposar do não sorom iguais ao do alguóm lranco, doixaram
do sor crospos.
Convóm a guom domina guo o dominado acrodito guo taz o
guo taz porguo ó livro o guor tomar tal atitudo, convóm à ordom
do mundo guo as mulhoros nogras so alogrom o acroditom guo
tazom tudo o guo tazom simplosmonto porguo ó lom para olas
o ticarão mais lonitas. O movimonto om diroção ao guo ó lolo
ó guostão do vida ou morto para as latalhadoras, guo alóm do
tralalharom muito tanto tora guanto dontro do casa procisam tirar
horas valiosas da sua somana para so garantirom lolas, alóm, ó
claro, do orçamonto, guo ó calculado na ponta do lápis para guo
sompro possam ir ao salão do loloza.
Agora, para guo procisa a latalhadora nogra cuidar da sua
imagom? Para guo na disputa no morcado tsoja olo matrimonial ou
do tralalho) ola diminua a dosvantagom guo posa solro si. Para
guo soja porcolida na sociodado como alguóm guo tom valor o
ó capaz do corrospondor às oxpoctativas guo posam solro ola.
A imagom da gual a mulhor nogra procisa cuidar tom como
oljotivo rovolar a sua capacidado do oxorcor alguma tunção no
amlionto do tralalho. Do um modo goral, todos os latalhadoros
posguisados nosto livro procisam provar guo podom sor lons
tralalhadoros o provam isso tralalhando. O guo ocorro ó guo,
como a latalhadora nogra tom ossa dupla dosvantagom tsor
mulhor o nogra), antocipadamonto procisa ola construir a sua
imagom para guo as possoas acroditom guo ola podo tazor o guo
lho toi proposto. Chogar ao morcado do tralalho nas mosmas
condiçòos do outros candidatos não nogros podo sor comparado
a uma corrida do 100 motros livros om guo as nogras compotom
ostando 200 motros atrás da linha do chogada.
Rosa o Ana porcolom guo o omlranguocimonto ó algo guo
muitas mulhoros nogras dosojam. Porcolom guo ossa guostão
nortoou muitas situaçòos do racismo sotridas dosdo a adoloscôncia.
188
A disputa ontro olas o as outras adoloscontos da rua so dava na
dimonsão ostótica do corpo, amlas saíam pordondo porguo suas
poucas roupas provinham do doaçòos da igroja ou oram roupas
guo sua mão ou olas mosmas tmais tardo) taziam.
Para as irmãs, ora o sálado o dia do ritual do loloza¨: dopois
dos atazoros domósticos já toitos, uma arrumava calolo o unhas
da outra. Dosso ritual, olas não saíam ilosas. Como usavam uma
ospócio do torro guonto para alisar os calolos, goralmonto sous
couros caloludos, nucas o orolhas ticavam um pouco guoimados,
pois ora muito ditícil manipular osso torro da raiz do calolo ató
as pontas som tocar na polo. As razòos guo as lovaram a so proo-
cupar com os calolos, a ponto do não ovitarom usar algo guo
pudosso lhos guoimar a polo, são claras: olas tinham algumas
vizinhas guo oram racistas o não guoriam sor ongolidas polo
proconcoito guo sotriam. Por muitas vozos toram olas vítimas do
dolocho por causa da cor o do calolo guo tinham.
No momonto do rolatarom suas juvontudos, o racismo sompro
vom à tala, olas porcoliam-so como aguolas guo não tinham
sucosso om amizado o namoro. Sompro lutaram para nunca sorom
tachadas como tácois¨ o, para isso, a roligião toi um oscudo
oticaz, guo, alóm do protogor a imagom, dou a olas uma noção
do vida om castidado¨, guo dizia rospoito tanto ao ato soxual
om si como tamlóm a todo um modo do agir com rolação à
soxualidado. Anos mais tardo ó guo houvo um rolaxamonto dossa
tonsão para as duas. Essa sogurança só voio para olas porguo
Ana o Rosa ontraram no morcado do tralalho, tivoram tilhos o
construíram vidas ostávois para si.
O otoito guo lhos causa rovor suas vidas ó motivo do orgulho.
O critório do comparação guo olas usam para dotorminar o
guão ostão lom ó comparar, como uma rovancho, como ostão
as vizinhas guo tanto dosdonhavam dolas anos atrás. Comparam
suas protissòos, suas roligiòos, suas rondas, o dosonvolvimonto
sociooconomico dos tilhos o tamlóm sous corpos.
O SUCESSO NO AVBlENTE DE TRABAlHO
No caso da tamília guo ilustra osto toxto, os tilhos do laura
tornaram-so lom-sucodidos no morcado do tralalho. Aponas um
dolos rolatou tor passado um poríodo dosomprogado. Dos sois
189
tilhos, guatro possuom onsino suporior comploto o tralalham nas
rospoctivas ároas om guo so tormaram, um ó tuncionário pullico
o o outro tralalhou como autonomo ató so aposontar, do torma
a tor uma vida mais próxima da classo módia.
O guo podo oxplicar o sucosso dossa tamília no amlionto
oscolar o do tralalho? Ë salido guo nas mais simplos práticas
do cotidiano oscolar, tanto por parto do corpo do protossoros o
tuncionários guanto do alunos, sojam nogros ou lrancos, ó toita
a distinção ontro raças - atriluindo-so ao nogro um papol dogra-
danto tanto com rolação à sua imagom guanto à sua capacidado
cognitiva do aprondizado prático o moral.
lomlrar da oscola, para os tilhos do laura, ó lomlrar do um
poríodo do diticuldados, no guo diz rospoito à própria aprondi-
zagom. Somonto o primoiro o o ultimo tilho do laura ostudaram
como lolsistas om oscola privada, os domais, om rodo pullica.
Todos os guo ticaram na rodo pullica toram roprovados mais do
uma voz. Os tilhos guo ticaram na rodo pullica rolatam guo os
protossoros, por mais guo alguns tontassom ao monos distarçar,
mantinham uma corta distância dolos. Alguns dos outros cologas
tamlóm taziam guostão do domonstrar guo ostavam longo dos
nogros da sala. A situação no caso dolos toi mais simplos do so
ontrontar do guo so tormos comparar com os irmãos guo toram
para o cológio particular. Vuito omlora no cológio da lgroja
Votodista om guo os dois ostudaram não houvosso discriminação
oxplícita por parto dos protossoros, olos oram os unicos nogros
da sala, o isso lhos causava um corto doscontorto. Já os guo ostu-
daram na rodo pullica não oram os unicos nogros, o por isso
as amizados na oscola toram importantos, tanto com os nogros
guanto com os lrancos o mostiços polros.
Agora, como ó possívol oxplicar a pormanôncia do todos na
oscola o ató a sua tormação no onsino suporior? Uma das oxpli-
caçòos vom da roligião, guo lhos onsinou, por moio da mão - guo
toi a grando rosponsávol pola continuidado da vida oscolar dos
tilhos ató guo olos croscossom -, guo não doviam dosistir do lutar
por uma vida molhor o guo o moio do oltonção do uma vida
alastada ora atravós dos ostudos.
Alóm disso, roligião o oscola oram os moios guo a tamília tinha
do so distinguir ontro a sua vizinhança. Era o modo do so atirmar
poranto a vizinhança como uma tamília do valor. Os tilhos ostu-
davam, proparavam-so para o tuturo, tinham, atravós da lgroja,
190
uma tormação moral, guo para muitos podoria prossupor guo so
tornariam lons conjugos o pais. Ou soja, a tamília tinha moios
do tugir da dolinguôncia.
A roligião dava o suporto para olos aprondorom a so comportar
no amlionto do tralalho. Aprondoram a rospoitar o protossor, o
choto, som nunca roagir agrossivamonto contra olos, mosmo guo
os insultassom. laura disso muitas vozos guo tom coisas guo so
dovo ouvir calado¨. Esporar pola oportunidado do dar a molhor
rosposta ó o guo nortoia a conduta dos tilhos do laura no
amlionto do tralalho. Essa molhor rosposta¨ ó sompro tazondo
no tralalho o molhor guo pudor.
Como tinham o compromisso roligioso do dar um lom tosto-
munho solro si aondo guor guo tossom, procisavam sor os molho-
ros alunos o tuncionários guo pudossom, doviam sor roconhocidos
por sor gonto tralalhadora o ostorçada. Cortamonto toram ossos
prossupostos roligiosos guo, associados ao tato do torom uma
tamília ostávol, mosmo nos poríodos do grandos diticuldados
matoriais, os moldaram para o morcado do tralalho o ajudam a
oxplicar a pormanôncia do todos olos nosso morcado.
Como o racismo so manitosta no amlionto do tralalho do
latalhador nogro? Ora, muitos podom ponsar guo so o nogro
ocupa algum cargo protissional ó porguo não há racismo no sou
amlionto do tralalho, ou polo monos guo não houvo, tanto guo
olo toi acoito.
Estamos muito acostumados a vor na tolovisão guo o racismo
so manitosta contra os lolsos dos nogros porguo ganham monos
do guo sous cologas do tralalho possuindo os mosmos prodicados
guo ostos. Não ó só aí guo mora o racismo, isso ó aponas rotloxo
do um procosso guo culmina om salários mais laixos. Rosa, guo
ó ontormoira, já vivonciou no sou amlionto do tralalho muitos
olharos do dosdóm pola tigura do uma mulhor nogra como choto,
mosmo guo a ontormagom soja tida como uma protissão tominina.
Quando uma tamília não gosta do procodimonto do tócnico do
Entormagom tno caso do hospital om guo ola tralalha muitos
são nogros), podom para talar com a choto dolo. Sogundo Rosa,
o olhar o o comportamonto da tamília guo roclama mudam
guando a voom. Em um caso ospocítico, uma tamília havia
podido, som dizor o porguô, para o pai sor atondido por outro
tuncionário, o sou podido toi acoito. Alguns dias dopois, podiram
191
novamonto para mudar o tuncionário o podiram para convorsar
com a rosponsávol pola unidado tRosa). Como om cada plantão
no hospital há um rosponsávol por cada unidado, a tamília já
havia convorsado com outra choto da soção, guo trocaria com
Rosa do turno. Esta outra ontormoira avisou-lho solro o prolloma
com a tamília, dizondo-lho guo guoriam convorsar com ola, o
alortou-lho do guo o prolloma da tamília com os tuncionários ora
justamonto com rolação à cor guo olos possuíam. lazondo a sua
olrigação, Rosa toi convorsar com a tal tamília, guo ologou não
guoror guo o pai tosso tratado por aguolos dois tuncionários om
guostão porguo olos não ostavam cuidando com tanta oticácia¨
do sou pai o podiram para guo Rosa trocasso novamonto os
tuncionários, dossa voz por uma tócnica do ontormagom lranca
guo olos haviam visto tralalhando no mosmo andar om guo o
pai ostava intornado.
Não só Rosa, mas todos os sous irmãos tôm uma história do
doscontiança com a tigura do nogro para contar. O guo ó comum
nos rolatos do Rosa, Antonio o lálio ó guo olos tôm tamlóm
muitas diticuldados om lidar com sous tuncionários, tanto lrancos
guanto nogros. Rolatam guo ó ditícil tor um cargo do suporvisão
guando so ó nogro, porguo paroco guo a contiança do grupo
na hora do oxocutar o tralalho ó mais trágil guando o choto ó
nogro¨. Como so olo não tosso capaz, nas horas mais ditícois, do
tazor o guo so ospora dolo. Dopois do mais do 20 anos om uma
unica omprosa, Rosa o Antonio já adguiriram contiança o rospoito
por parto dos tuncionários. Vas não doixaram do notar o racismo
contra algum tuncionário ou contra olos mosmos.
Para mostrar guo ossa história do racismo no tralalho ó coisa
guo tamlóm acontoco ontro os mais jovons, valo a pona contar
o guo o tilho do Ana, guo tom 2¯ anos, vivou tralalhando om
uma distriluidora do corvojas. Julio Cósar ora o unico nogro guo
tralalhava como roprosontanto comorcial nossa omprosa. Duranto
mosos um dos gorontos rosponsávois por coordonar todos os
outros poguonos grupos do roprosontantos da omprosa só usava
o sou nomo como oxomplo nogativo om vondas. A sistoma-
ticidado dos comontários o da prossão guo olo sotria tmosmo
sondo um tuncionário pontual, guo, como olo diz, assim como
muitos latalhadoros ontrovistados, tamlóm já chogou a tralalhar
mosmo torido om acidonto do tralalho) toi om alguns momontos
192
tão torto guo olo chogou a tor alguns picos do hiportonsão artorial
o crisos do onxaguoca.
A postura do nucloo ao gual Julio Cósar portoncia dontro da
omprosa ora a do dar apoio a olo. Sompro nas rouniòos do sou
grupo, sou suporior diroto doixava claro para os outros ropro-
sontantos guo, ao contrário do guo ora dito polo goronto goral,
ora Julio o mais produtivo do sou nucloo. Os cologas tamlóm o
roconhociam assim o toi uma das razòos para tor sido oloito como
roprosontanto da classo na dirotoria da omprosa.
O RAClSVO NO AVBlENTE REllGlOSO
Nas igrojas pontocostais o om algumas protostantos tradicionais,
tonta-so criar um amlionto mais igualitário. A latalhadora nogra
oncontra no soio do contoxto roligioso uma tonto do autoostima
para lidar com a possililidado do sotror racismo. A valorização
da tigura tominina no guo diz rospoito ao tralalho tom algumas
donominaçòos capaz do assumir cargos om todos os nívois da
hiorarguia institucional o do tralalho) o a sou corpo ó algo muito
progado o incontivado. Ë claro guo não ó do modo como a mídia
mostra como logítimo, ou lolo, mas há um concoito do guo so
dovo ou não usar no sou vostuário, por oxomplo. O uso do cosmó-
ticos para polo, calolos o algumas maguiagons tamlóm são
artigos usados polas latalhadoras guo troguontam igrojas ponto-
costais. A valorização da mulhor taposar do sor considorada pola
toologia a tigura guo ticou com as doros do parto, como castigo
polo pocado original) como possuidora do virtudos morais tanto
na vida roligiosa guanto na socular ó domonstrada nos cultos toitos
para olas o nas atividados guo olas são ostimuladas a tazor.
A mulhor nogra dontro do amlionto roligioso sonto-so ostimu-
lada a so amar o a so acoitar como tal na modida om guo ganha
autoostima o sogurança para agir no mundo. Vas o tato do promo-
vorom uma igualdado do gônoro, toma inclusivo dolatido no
intorior dossas instituiçòos, não guor dizor guo na prática todas as
mulhoros sojam iguais ontro olas o aos olhos dos sous irmãos na
tó. No amlionto roligioso agui mostrado como oxomplo, o racismo
nunca toi um toma discutido pola momlrosia, nunca toi trazido
à luz, sondo roproduzido tal gual a vida socular taz: om silôncio
o oncolrindo como protorôncias individuais¨ uma soloção guo
193
romoto à cor da polo. O racismo no morcado matrimonial ó
o guo mais tica ovidonto dontro do alguns contoxtos roligiosos
por causa da ondogamia a guo olos são ostimulados. O guo
aparontomonto ó uma oscolha do indivíduo om contormidado
com a vontado do Dous¨ rovola a construção dos atrilutos do
um par idoal. Quanto mais lranco tor o amlionto om guo circula
o nogro latalhador, mais tica ditícil a sua situação no morcado
matrimonial. A loloza da miscigonação, oxaltada por grandos
toóricos do ponsamonto social lrasiloiro,
3
oscondo guo o nogro
tom diticuldados om so colocar vivo no morcado matrimonial, guo
por sua voz não ó um jogo tavorávol ao gingado¨ o ao orotismo¨
atriluídos aos nogros.
Quom mais sai pordondo nosso jogo são as latalhadoras
nogras, haja vista guo o orotismo¨ do homom nogro podo lho
contorir uma posição privilogiada no morcado soxual dado o
sou oxotismo¨ tdiga-so do passagom, o concoito do oxótico¨ ó
outro proconcoito, porguo não dá àguolo guo ó assim classiticado
a possililidado do sor visto com alguma somolhança), ao passo
guo a mulhor nogra ó aguola guo sorvo como amanto, mas não
como osposa. Para o homom nogro, casar-so com uma mulhor
cujo padrão do loloza ó próximo ou corrospondo ao padrão do
loloza dominanto ó status. Vas não há status om um homom
lranco casar-so com uma mulhor nogra. A osposa lonita tsogundo
o padrão do loloza ostalolocido) signitica guo o homom tsoja
olo nogro ou lranco) possui sucosso.
No caso da tamília agui ostudada, trôs goraçòos ticaram
oxpostas a osso tipo do racismo do torma muito mais ovidonto
do guo so ostivossom om outra igroja protostanto, isso porguo o
amlionto da igroja Votodista troguontada polos Ramos ó do classo
módia. Para molhor oxplicar o nosso argumonto, doscrovomos
alaixo um pouco solro ossa igroja:
A lgroja Votodista surgiu com a proposta do sor uma roligião
para os polros, na ópoca do sua tormação, guom ocupava cargos
do lidorança não oram ossos polros alcançados pola roligião, o
sim uma classo mais osclarocida o mais rica.
4
Ao chogar ao
Brasil, com a mosma proposta do sor uma roligião para os polros
o dirigida por classos mais alastadas, o motodismo consoguiu
conguistar tióis guo portonciam às classos módias o tralalhadoras
om asconsão, não os mais polros o nogros do país. So a proposta
do uma igroja para os polros¨ tivosso sido no país lovada ao pó
194
da lotra, cortamonto na igroja guo os Ramos troguontam ta maior
da donominação da rogião) havoria mais do guo duas tamílias
nogras como momlros ao longo dos anos.
Hojo a igroja om guostão, a primoira tundada por ossa dono-
minação no ostado do Vinas Gorais, possui mais do 500 tióis guo
troguontam suas atividados. Essa igroja ostá potoncialmonto om
tranca oxpansão numórica, pois adoriu ao modolo do igroja om
cólulas, no ontanto sua oxpansão não alcança nom os latalhadoros
nom a raló da cidado. Em um contoxto do classo módia, om guo
polros oram o continuam sondo poucos, o nogros, a minoria, o
racismo do cor to do classo tamlóm) so manitosta no morcado
matrimonial do modo mais claro.
Quando ó guo o morcado matrimonial comoça a sor dotinido
dontro do um contoxto roligioso? Quando os jovons são ostimu-
lados a tazorom amigos dontro da igroja o a namorarom possoas
com a mosma contissão do tó guo a sua. Contudo, o compartilha-
monto do uma mosma contissão roligiosa não ó o unico critório
para alguóm guo ostá insorido om um contoxto roligioso oscolhor
sous amigos o namorados. Origom do classo o cor da polo podom
docidir o morcado matrimonial dontro da igroja.
Como a Votodista agui om guostão ó uma igroja do classo
módia, a protorôncia por so tor amigos dossa classo ó ovidonto.
lsso ó o guo marca as amizados guo os Ramos tivoram na igroja.
Ao oloncarom os amigos da ópoca om guo oram jovons da igroja
o nos oxplicarom um pouco solro olos, porcolomos guo ossos
amigos oram lrancos polros da igroja o guo tivoram uma trajotória
do asconsão social parocida com a guo ossa tamília tovo. Os Ramos
não oram convidados para as tostas do casamonto dos momlros
do classo módia, não compartilhavam algumas saídas dostos o,
por tim, não namoravam momlros da classo módia.
A dotinição do morcado matrimonial dontro do contoxto
motodista oxcluiu gualguor um dos Ramos como possililidado.
Nonhum dolos namorou, tampouco so casou com momlros dossa
igroja, por mais guo tivossom passado toda a juvontudo dontro
dosso contoxto. Porguntamos solro a outra tamília nogra da igroja
o soulomos guo as unicas tilhas tamlóm não haviam so casado
com motodistas.
So o contoxto motodista tosso um contoxto tavorávol às rolaçòos
intor-raciais o intorsociais, Andró, o pai da tamília, toria oncontrado
195
uma jovom para so casar dontro do sou amlionto roligioso, o
não procuraria no mundo¨ tou soja, tora do sou contoxto) uma
parcoira. Ë justamonto por causa do contoxto dostavorávol guo
Andró procurou uma mulhor para namorar tora da igroja, caso
contrário não taria sontido para um homom roligioso o ostimulado
a sor ondogâmico tor uma parcoira do outra contissão roligiosa.
Do todos os sous irmãos, Andró toi o unico guo pormanocou na
lgroja Votodista. Todos os sous irmãos toram para a Assomlloia
do Dous, uma igroja composta por tralalhadoros polros, om cujo
contoxto, olos oncontraram parcoiras para si, assim como sous
tilhos o notos. Ao oxompliticar a ditoronça na trajotória do Andró
o do sous irmãos, guoro mostrar guo nom todos os contoxtos
roligiosos protostantos oxcluom os nogros do morcado intorno
matrimonial, ontrotanto calo lomlrar guo, nos contoxtos nos
guais a cor não ó o guo manda na protorôncia pola oscolha do
parcoiro, oxistom outros critórios guo dotorminam aguolos guo
são ou não casávois¨.
Um pouco mais acima, dissomos guo as trôs goraçòos da tamília
Ramos não toram contompladas como parcoiros potonciais
dontro do morcado matrimonial, isso porguo os tilhos do Ana o
do Rosa, guo croscoram o toram jovons dontro dossa mosma igroja,
hojo são casados com possoas do tora da lgroja Votodista, som
torom namorado antoriormonto momlros da igroja. Ou soja, trôs
goraçòos do motodistas guo a princípio possuíam todos os pros-
supostos tcomo o grau do oscolaridado o posição no morcado do
tralalho) para so casarom com momlros da igroja não o tizoram,
ao passo guo os parontos guo toram para um contoxto roligioso
om guo havia mais nogros o mais polros, do modo goral, toram
lom-sucodidos no morcado matrimonial da igroja. A mosma lógica
guo toz com guo Andró procurasso uma possoa tora da igroja,
ou soja, a impossililidado do o morcado matrimonial so dar no
contoxto roligioso tamlóm so impos a sous tilhos o notos.
Com cortoza o racismo no amlionto cristão ó amlíguo o ditícil
do domonstrar, porguo dontro do discurso toológico Cristo
voio do torma igual para todos, som distinção. A latalhadora
nogra sonto-so valorizada dontro do um amlionto om guo todas
as mulhoros são comparadas às joias mais raras o às tloros mais
lonitas¨.
5
Vas a contradição mora oxatamonto no tato do guo a
latalhadora nogra não ó a primoira a sor oscolhida como parcoira, o
muitas vozos soguor sorá oscolhida. E por guô? Porguo a imagom
196
da mulhor nogra como osposa não roprosonta status para o
homom, soja olo nogro ou lranco. Quando o critório cor tala mais
alto, oscolaridado, protissão, ronda, nada disso ajuda a mulhor
nogra a sor oncontrada.
Cortamonto ó uma dor para muitas mulhoros guo so oncontram
nosso mosmo contoxto o tato do não so roalizarom atotivamonto
no amlionto om guo ó progada igualdado plona. São olrigadas
a tor outro diloma guo não trataromos agui: ticarom soltoiras ou
procurarom parcoiros do tora do amlionto roligioso - guo não ó
o guo lhos toi onsinado como o dosojávol.
Dontro ou tora do amlionto roligioso ó ditícil para as latalha-
doras nogras do modo particular oncontrar um par. O amlionto
roligioso ó nosso aspocto somolhanto ao da vida socular do gual
olo tanto tralalha para apartar os sous momlros, pois os critórios
guo posam na oscolha do um parcoiro tpara alóm da contissão
roligiosa) são os mosmos.
CONSlDERA(OES llNAlS
Vimos agui guo o racismo ó sontido no dia a dia do latalhador
nogro. A luta por so atirmar como tralalhador o como alguóm guo
moroco tor roconhocimonto social ó dosigual para o nogro.
Sua imagom como nogação da loloza o como alguóm guo
podo não sor um lom tuncionário olriga os latalhadoros nogros
a lutarom polo omlranguocimonto para garantir um ospaço no
morcado do tralalho, no gual continuam sujoitos à discriminação.
Vimos tamlóm guo, aposar do todo o ostorço polo omlranguo-
cimonto o da asconsão no morcado do tralalho, as latalhadoras
nogras om ospocial tôm mais diticuldados para tor sucosso no
morcado matrimonial.
2
P ⇧ ⌦ ⌃ ↵
⇧ ↵✏CMC⇣l⇧ PC⌥⇠⌃l✏⇧ DC ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦
✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C Z
PCP✓⌥l⇥⇣C C✓ ⇣↵DC D⇧ ⇣⇧lC⌦l⇧◆
✏C⇣C ⌃⌦⇧M⇥⌫C⌦⇣⇧⌦ ↵⇣ ⌃C⌥l✏↵
⇧⇥ ⌦⇧ZC↵⇥ D⇧ ⇣⇧⇥⇥⇧
1
··Iaü·:au·:a. Ma::a u~ 1·u:u~: M~u~::·:
Na ora contomporânoa, a domanda por govornos ostávois o
rosponsávois guaso sompro originou-so na classo módia. Som
ossa tonto do prossão política, as autoridados govornamontais
oscilam ontro as tontaçòos do populismo, rocorrondo ao
tinanciamonto intlacionário do políticas pullicas para aplacar
as trustraçòos o insoguranças da maioria da população, o as do
patrimonialismo, ignorando as trontoiras ontro o pullico o o
privado a tim do lonoticiar
amigos o corroligionários.
·nau:, u~ S·u:a ~ 1·I::a: 1an·uu:~:
Já não so chamará do nolro ao porvorso, nom so dirá guo o tra-
pacoiro ó ilustro. O trapacoiro taz trapaças porvorsas o maguina
suas intrigas, projudica os polros com montiras o os indigontos
guo dotondom o próprio diroito.
1:a:a: ¸2. 5,7
Não toi por alrangor um dos maioros morcados o contros univor-
sitários do Cariri nordostino guo Juazoiro do Norto, chamada
motrópolo do Cariri¨, tornou-so conhocida por toda a rogião o
polo Brasil atora. Contando hojo com corca do 242.139 halitantos,
Juazoiro ó, solrotudo, um contro do porogrinação roligiosa guo
arrolanha corca do 2,5 milhòos do tióis todos os anos. A cidado toi
o palco do uma das tiguras roligiosas mais polômicas do país: o
Padro Cícoro Romão Batista, mistura do protota, santo, cangacoiro
o coronol, o protagonista do divorsos contlitos nos guais roligião
200
o política so misturaram da torma mais amlígua o contraditória.
Porsonagom mossiânica guo pormoia o imaginário sortanojo,
cantado por dovotos tamosos guo ajudaram a moldar a própria
imagom guo o nordostino tom do si mosmo. O roi do laião¨ luiz
Gonzaga, por oxomplo, om torno da história do Padim Ciço¨,
como o chamam os romoiros, conta guo o ontão arraial com
corca do 80 casas do taipa, povoado por maltazojos, arruacoiros
violontos o mulhoros do má-tama¨, o guo sorvia do ostadia para
vaguoiros, almocrovos o caixoiros-viajantos om tins do sóculo
XlX, transtormou-so ao longo do sóculo XX o omorgiu como um
imonso polo industrial, manutaturoiro o comorcial so comparado
com as proporçòos da grando maioria dos poguonos municípios
do intorior do Nordosto. Nossa cidado, as ostoras da oconomia, da
política o da roligião sompro andam do mãos dadas, assim como
andaram do mãos dadas ossas mosmas dimonsòos na trajotória
do padro, considorado santo polo misticismo católico popular
guo dinamiza os sotoros do comórcio, sorviços o turismo alimon-
tados por ondas do romoiros, omlora tonha sido oxcomungado
om vida polo Trilunal do Santo Otício do Vaticano o ainda soja
considorado charlatão por alguns roprosontantos da lgroja, dosdo
aguolos dias ató hojo.
2
Constam nas acusaçòos corrontos contra o
padro tatos tão divorsos como somoar o tanatismo ao incontivar
a cronça om milagros não ondossados pola lgroja - solrotudo o
tamoso opisódio com a loata Varia do Araujo -,
3
dosolodocor à
rígida hiorarguia do cloro católico, rolacionar-so com cangacoiros
da rogião toragidos da polícia - chogando mosmo a concodor a
patonto do capitão a lampião om troca do compromisso dosto
do ontrontar a Coluna Prostos guando do sua passagom polo
sortão -, lonzor ritlos o punhais do jagunços para promovor uma
rovolução armada a tim do dorrular um govorno logal, impor-so
como primoiro protoito do Juazoiro - guo passou a sor município
omancipado do Crato após contlito duradouro intluonciado por
olo -, o ologor-so doputado todoral concatonando um pacto ontro
os coronóis do sortão.
Aposar da porsonalidado contraditória, o apolo ao mosmo
tompo mágico o ótico do Padro Cícoro o toda sua simlologia
onrodam-so do torma lastanto protunda na ostrutura oconomica o
moral da cidado, moldando uma ótica do tralalho duro¨ guo cons-
titui a disposição protunda do latalhador, ospraiada na imonsa
rodo do comórcio intormal mantida polas romarias, na divorsidado do
201
ramos da micro o módia industria, na manutatura, no artosanato o
nos domais otícios. Do tato, a idontidado social do nordostino
como indivíduo latalhador, palavra tantas vozos ropotida por
nossos ontrovistados como rocurso do autologitimação, paroco tor
oncontrado sua tonto porono do rotorço na própria doutrina do
Padro Cícoro, sogundo a gual dovoria havor om cada casa um
santuário, om cada guintal uma oticina¨. Essa ostrutura dialótica
do oração o tralalho¨, guo garantiria simultânoa o rociprocamonto
a salvação da alma o do corpo dos tióis, Cícoro tormara a partir
do oxomplo o dos onsinamontos do outro roligioso missionário o
rotormador do costumos da rogião, om guom so inspirou dosdo
o início do sua vocação duranto a adoloscôncia - lliapina, padro
andarilho do sortão.
4
Josó Antonio Poroira lliapina, advogado
criminalista guo alandonou a protissão para soguir vocação
sacordotal om Olinda aos 4¯ anos, trocando junto com a toga o
solronomo Poroira polo do Varia, toi tundador da ordom loiga
sortanoja do loatos, rocrutados ontro alguns dos homons o
mulhoros mais humildos da população, guo so dissominou por
todo o Nordosto o guo doscontralizava parcialmonto a hiorarguia
clorical, lom antos do João XXlll - o Papa lom¨ - o do Concílio
Vaticano ll, por moio do gual so ostalolocou a participação o a
partilha progrossiva dos loigos nas pastorais o nos rituais da lgroja
Católica.
5
O missionário o podagogo Padro lliapina ontrogava
nas mãos do loigos a missão do progar o Evangolho o procodor
a divorsos sorviços sagrados, organizava mutiròos nas comuni-
dados por ondo passava, construindo capolas, oscolas o hospitais
para os polros, alóm do tor sido o idoalizador das tamosas casas
do caridado, cuja tunção ora oducar o doutrinar moninas órtãs,
altalotizando-as com a palavra do Dous, o ondo oram onsinados
otícios roligiosos o otícios manuais do tralalho.
6
Oriontado polas doutrinas do protota missionário lliapina,
Cícoro ostimulou o croscimonto do poguono arraial, guo oxpori-
montou uma dinamização vortiginosa não aponas por causa do
chamado milagro do Juazoiro¨, das romarias o do comórcio do
santos o artigos roligiosos dosonvolvido om torno dolas. Soguindo
a doutrina do tó o tralalho¨, guo dissominava por moio da atua-
ção dos grupos do loatos, o padro ostimulou particularmonto a
alortura do oticinas o poguonas manutaturas, como do altaiataria,
marconaria, tunilaria, torraria o casas do sapatoiros, tundidoros,
pintoros o ourivos, guo davam novo aspocto às rodos do lodogas,
202
armazóns, tarmácias o padarias locais, os tipos do sorviço mais
oncontrados, ainda hojo, nos municípios monoros do intorior
nordostino. Alóm do tralalho om otícios o manutaturas urlanas,
Cícoro arrastava ondas do tralalhadoros mais dosgualiticados
para trontos do tralalho no campo om torras inoxploradas, arron-
dadas ao ostado. Os poguonos nogócios alriam os horizontos
dos sortanojos, cujas otortas do tralalho so rostringiam ontão às
ocupaçòos como mooiros nas torras do latitundiários oligarcas. So
Cícoro incontivava ossas atividados por vocação, inspirado polo
sonho guo dizia tor tido guando pola primoira voz ministrara
missa no local o sogundo o gual Josus Cristo lho aparocia o on-
trogava aos sous cuidados o povo taminto o castigado do sortão,
¯
ou so sou oljotivo ora aponas onriguocor, aposar do vivor como
misorávol, ou lançar-so na vida política após sor rojoitado pola
lgroja o controlar o jogo do podor ontro chotos locais do Cariri,
ou so luscava arrocadar dinhoiro para a omancipação da cidado,
ou mosmo so ostavam om jogo todos ossos tatoros somados, o
guo importa agui ó vor no croscimonto das atividados o da ótica
do tralalho duro om Juazoiro um rotrato do guo so passava por
todo o sortão nordostino, omlora não do torma tão dramática o
cortamonto om monoros dimonsòos, com o tralalho do missio-
nários, loatos o troiras oducadoras o organizadoras do casas
do caridado o otícios, como aguolas inspiradas om lliapina. No
sortão, por ondo oxistiram porsonagons como ossos ostimulando
a organização colotiva om mutiròos, guormossos o pastorais
assistonciais, a ascoso já própria ao tralalho duro o disciplinar
no campo o nas atividados manuais dos poguonos municípios
oncontrou um canal do racionalização por moio da oxomplaridado
dossas poguonas lidoranças.
Talvoz rosida aí o motivo por guo algumas das primoiras
atuaçòos dos Solraos, Sonais o Ematoros nas cidados do intorior
nordostino so doram ontão rolacionando-so às lidoranças roligiosas
guo organizavam cursos junto aos loigos, como as Cruzadas o
Cruzadinhas, organizadas por padros o troiras, das guais vários
do nossos ontrovistados participaram o guo tinham como oljotivo
instruir crianças o jovons solro contoudos roligiosos o dogmáticos
om uma catoguoso continuada, induzindo-os a uma participação
ativa nos ovontos da lgroja tpor oxomplo, a organização do
atividados comunitárias para arrocadar tundos nocossários às
tostas santas o novonas otc.). As vozos, osso programa tamlóm
203
organizava, junto àguolos órgãos, poguonos cursos do marconaria
o mocânica para os garotos o do costura o cozinha para as
garotas. Quor soja nas cidados do Juazoiro do Norto, no Coará,
om Vossoró o Caicó, no Rio Grando do Norto, ou om Patos, na
Paraíla, grupos como ossos são lomlrados como importantos
instâncias do socialização o aprondizado ontro os latalhadoros
mais lom-sucodidos com guom nos dotrontamos o guo dotinimos
como omproondodoros por dosonvolvorom, na maioria das
vozos a partir aponas da oxporiôncia om tralalhos lraçais o do
conhocimonto prático nolos adguirido, microomproondimontos
rolativamonto ostávois, caractorizando-so por uma visão ostrató-
gica do morcado guo lhos pormito acompanhá-lo na atualização
da otorta dos sorviços ou artigos guo talricam. Por outro lado,
ainda hojo, ó om torno do calondário roligioso do romarias,
tostas do padrooiros o novonários - já tornados protanos om larga
modida, como o Santo Antonio o o São João no moio do ano,
ópoca do colhoita o lolsos mais choios, o som duvida tostas mais
importantos guo o carnaval para a maioria dos sortanojos - guo so
irradiam as rodos intormunicipais do comórcio o sorviços tormais o
intormais. Essas rodos do comórcio sompro oxistiram - os camolos
do hojo são os caixoiros-viajantos do outrora -, mas pormanociam
invisívois nas tranjas do morcado modorno, dirigido por grandos
corporaçòos tordistas. Parocom assumir somonto agora a posição
do tocos ostratógicos do dinamização oconomica por causa do
contoxto do capitalismo tloxívol, o guo so podo doproondor das
rodos nacionais, o mosmo intornacionais, do produção o comor-
cialização om cidados não só como Juazoiro, mas como Caruaru,
Toritama, Caicó, Patos, São Bonto otc.
Das mais do 40 ontrovistas om protundidado guo tizomos
nossas ároas do Cariri o Somiárido nordostinos duranto cinco
mosos do posguisa do campo, poucas são tão indicativas da rolação
ontro a roligiosidado popular o a ótica do tralalho duro como a
do Dona Das Doros. Ela tunciona guaso como um tipo idoal, om
primoiro lugar, por oxprossar do torma lastanto autorrotloxiva o
guo consoguimos captar muitas vozos do torma aponas trag-
montada om outras trajotórias guo ostudamos.
8
Dopois porguo
aspoctos do ~ìI·: católico rustico o popular, tundamontalmonto
do origom rural, ostão do tal torma ontranhados nos costumos o
nas práticas tradicionais do grando parto dos sortanojos, mosmo
guando ostos não romotom dirotamonto à roligião, ou inclusivo
204
guando atirmam não tor roligião, guo ó às vozos ditícil não
roincidir om orros rocorrontos, rolacionados à naturalização guo
osguoco a origom o a tonto dos costumos o Iaü:ìu: colotivos:
apolar para justiticativas liologizantos o racistas, ou para causas
moramonto goográticas - o sortanojo ostomoado o torto do Euclidos
da Cunha -, ou ainda, om contrapartida, rotomar o argumonto
autooxplicativo o rolativista da cultura do sortanojo¨.
Como voromos a soguir, olomontos do guo dosignamos,
soguindo inspiração voloriana, como uma ótica do sotrimonto¨,
ou da puriticação o salvação polo sotrimonto, guo romonta às
origons do cristianismo o pormanoco como contoudo oljotivo do
sontido om práticas guaso naturalizadas ontro católicos, praticantos
ou não, unidos à rotina do tralalho duro guo disciplina o corpo
numa ascoso guaso ospontânoa, aprondida dosdo a mais tonra
idado no contoxto do uma unidado do produção domóstica,
pormanocom como rocurso do intorprotação o do ação no mundo,
isto ó, do práxis no horizonto do um mundo da vida¨, como a
tala do Das Doros o do outros tantos guo tivoram sua intância
na zona rural ovidonciarão. Em sogundo lugar, sua ontrovista so
mostra olucidativa por causa dos trochos mais ospontânoos o
pró-rotloxivos¨, monos controlados por sua intoligôncia aguçada,
ao longo do mais do guatro horas intorcaladas do ontrovista. Essas
passagons nos parocom as mais rovoladoras da porsistôncia do
uma doutrina racionalizada por lliapina o atualizada por Cícoro,
lom como por outros rotormadoros guo pormoaram a rogião ao
longo do sóculo XX. Alóm do mais, aponta a comproonsão tática
do uma luta do classo, simultanoamonto matorial o simlólica, guo
paroco ólvia para os latalhadoros, omlora aparoça sompro sol o
nomo do pacto social¨, inconsciôncia do classo¨ ou manipulação
das massas analtalotas¨ na loca dos intoloctuais adoptos a um
liloralismo amosguinhado, hojo hogomonico no Brasil.
205
VOCÊ ACHA QUE ESTOU SENDO lANATlCA?¨:
lË E TRABAlHO NO SERTAO
Os guo somoiam com lágrimas
coitam om moio a cançòos.
Vão andando o chorando
ao lovar a somonto,
ao voltar, voltam cantando,
trazondo sous toixos.
SaIn· I2ô. 5 ~ ô - ·auì:c· ua: :uü:ua:
São onzo o moia da manhã do uma sogunda-toira guando
oncontramos a poguona loja do Das Doros, localizada no pródio
da Ascospop tAssociação do Costuroiras Popularos). Por moio do
indicaçòos do Solrao do Juazoiro do Norto, tomamos conhoci-
monto do grupo do microomprosárias o costuroiras o arranjamos
o contato dossa mulhor do 5¯ anos do idado, dona do uma
microcontocção do roupas intantis dostinadas ao pullico
popular o prosidonto da associação. Provonionto do Alagoas o
sodiada om Juazoiro do Norto dosdo os 12 anos do idado, Das
Doros aprondou com os pais, por volta dos 10, a disciplina do tra-
lalho lraçal o manual na agricultura, om roças como do algodão
o cató ou tratando amondoim, o om atividados tomininas como o
crochô o a costura, nas guais so oxorcitava tazondo roupas para
suas lonocas o do suas amigas. Concluído o primário, parto om
um cológio próximo à roça, parto om Juazoiro, tovo guo alandonar
os ostudos aos 15 anos para so casar o so dodicar à tamília,
contriluindo com a ronda do lar por moio do um omprogo do
lalconista o caixa no comórcio: Eu tinha guo tor uma opção: ou
ou ia ostudar ou ia cuidar dos mous tilhos, arrogaçar as mangas
pra tralalhar, pra sustontar. Então, doixoi minha vida do lado
o tui tralalhar.¨ Já com dois tilhos, Das Doros mudou-so para
Campo lormoso, na Bahia, a tim do acompanhar o marido guo
tralalhava om um garimpo o na vonda do podras. Nossa ópoca,
comprava o vondia contocçòos o ajudava no comórcio do podras,
consoguindo rounir corto patrimonio como casa, torrono o carro.
Vas, dopois do nascidos mais dois tilhos o grávida do guinto,
o marido rosolvou ir para o Rio do Janoiro, com a promossa do
tazor um grando nogócio.
Das Doros rotornou para Juazoiro, já aos 26 anos, indo morar
numa poguona casa construída nos tundos da rosidôncia dos
206
pais, guando toi convoncida a assinar uma doclaração om nomo
do marido sol o protoxto do guo o dinhoiro arrocadado com as
vondas lhos pormitiria comoçar um nogócio próprio o uma vida
nova. loi a partir daí guo so viu om uma situação dramática: alan-
donada com os cinco tilhos, o marido sumiu no mundo¨ com
o valor do tudo o guo haviam juntado. Como unica rosponsávol
pola tamília o procisando sustontá-la, Das Doros comoçou a so
virar¨ comprando o vondondo contocçòos como camolo o tazondo
lordados, o mosmo otício guo aprondora com a mão. Consoguiu
so protissionalizar na atividado atravós do um curso otorocido
por uma omprosa guo vondia máguinas industriais do lordar,
adguirindo uma dolas om 1981 por moio do tinanciamonto do
Banco do Brasil - máguina da gual diz não so dostazor por nada
dovido ao grando valor atotivo. Das Doros toi comprando outras
máguinas aos poucos o oxpandindo sou nogócio na própria casa,
om uma poguona tálrica do tundo do guintal, ondo tralalhavam
os tilhos o algumas poucas amigas, ató guo rosolvou so insorir no
ramo do contocçòos. Nossa ópoca, comprava a matória-prima o
vondia os produtos no rogimo do tiado¨, mantondo a poguona
produção a partir do rodos intormais do cródito, guo so lasoiam
om uma oconomia tundada na contiança o na honra possoais,
na gual os imporativos sistômicos ainda não so autonomizaram
totalmonto dos padròos do moralidado do mundo da vida.
9
Vas a novola¨ com o marido ostava longo do acalar. Após trôs
anos do ausôncia, Das Doros contando já com guatro máguinas
o omprogando irrogularmonto trôs conhocidas om uma produção
domóstica, apoiada polos pais o polos cinco tilhos guo dividiam
com ola as tarotas do lar, o osposo rotorna com promossas
do rocomoçar a vida do novo, do zoro¨. Empolgados, amlos
comlinam guo ola ticaria om casa talricando as contocçòos
onguanto olo so rosponsalilizaria por viajar com a morcadoria
para vondô-la. Vas a ompolgação durou aponas 10 dias, dopois
dos guais o homom rotornou para o Sudosto porguo guoria
montar sou próprio nogócio, autonomo, o não sor omprogado
do ninguóm¨. Tralalhando como corrotor do minórios no Rio do
Janoiro, ainda rotornou novamonto dopois do dois mosos, tompo
suticionto para porcolor guo Das Doros ongravidara outra voz,
agora do soxto tilho:
20¯
Eu tiguoi grávida, ou nunca tivo outro homom, assim, na minha
vida, só olo mosmo. Elo tamlóm ora conscionto disso. Eu tiguoi
grávida. Elo toi... Vas dossa voz ou mo dosanimoi. Ë porguo
naguola ópoca ora ditoronto. Ninguóm... Hojo não, o casamonto...
Vocô casou, não dou corto, vai cada um pro sou canto. Naguola
ópoca, os pais, mou pai, minha mão, ninguóm acoitava mulhor...
Avo Varia! Era um alsurdo guando uma mulhor soparava, todo
mundo olhava com maus olhos. Hojo ó ditoronto. Assim, ou
tamlóm tivo uma oducação roligiosa... Tom guo guontar¨,
olodocor do caloça laixa. So o calra guisosso aprontar,
aprontava no moio do mundo. Chogava om casa, tava sompro do
lraços alortos pra rocolor olo, nó? Aí, nossa voz, ou disso: Agora
não!¨ Doixoi... Quando tava já com a larriga grando... Olho, ató
na vóspora! Eu tralalhando, latondo a larriga na máguina! Eu
tralalhava rindo, ou tralalhava o pudo construir... Elo voio só
uma voz, duas, aí não voio mais. ligava, ligava pra casa, talava
com amigo, não soi guô: Eu vou tal dia¨, o nunca ia. Vai lá no
lanco, luscar um dinhoiro guo ou vou mandar um dinhoiro pra
vocô.¨ Eu ia, passava uma somana dontro do Bradosco, olo não
mandava um contavo. loi ditícil, minha tilha! Aí ou: Salo do uma
coisa? Eu num guoro mais nunca osso homom na minha vida!
Agora só o guo ou vou tor ó mous tilhos, não olho mais pra olo
como marido.¨ Aí, consogui. Assim, tralalhando...
loi guando viu na tolovisão uma propaganda do Solrao o
rosolvou, com a ajuda do um amigo da associação do sapatoiros,
ontrar om contato com os consultoros do troinamonto no Crato.
A partir do ontão, tovo a iniciativa do montar uma associação,
promovondo uma rounião com as cologas do ramo. A Ascospop
toi inaugurada om 198¯ com umas 20 possoas, tondo sido Das
Doros nomoada como prosidonto. A primoira docisão guo toma-
ram, à ópoca, toi consoguir para a associação um projoto com
o gual todas as costuroiras toram lonoticiadas. O dinhoiro do
govorno todoral toi ropassado polo Solrao o pago com poças.
Tamlóm consoguiram cursos do troinamonto om lortaloza,
visitaram tálricas om Caruaru, participaram do toiras ostaduais
o, acima do tudo, prossionaram pullicamonto, om um ovonto
ondo so oncontravam roprosontantos do govorno do ostado, das
associaçòos do comorciantos o do Solrao do lortaloza, a protoi-
tura para guo arranjasso um local ondo pudossom comorcializar
suas morcadorias.
208
Algum tompo após a roivindicação pullica, a protoitura codou
um pródio volho o alandonado no contro do Juazoiro. Essa
conguista contou com o tato importanto, sogundo Das Doros, do
guo o protoito já tinha sido polro¨ o do guo ora amigo do sua
mão dosdo a ópoca do soltoiro, alóm do sor sou compadro, por-
tanto, padrinho do um do sous tilhos. Com o pródio garantido, o
ostado so compromotou a rotormá-lo, concluindo os tralalhos do
rostauração om aponas um ano. Vas logo dopois da inauguração
da sodo da Ascospop, guo contou com a participação do ontão
govornador do ostado do Coará, do roprosontantos do govorno
todoral o do protoito, Das Doros so dou conta do guo as lojas
não podoriam tuncionar lom, uma voz guo as costuroiras não
tinham como tralalhar om casa o mantor o comórcio no pródio
ao mosmo tompo. Ao porcolor guo algumas dolas comoçavam a
ontrogar os pontos, impossililitadas do conciliarom as atividados
do produção om casa o do comórcio nas lojas, Das Doros toi a
primoira a lovar as máguinas para a sodo da associação, dosti-
nada, sogundo o rogimonto, aponas à vonda das morcadorias,
incontivando as companhoiras a tazorom o mosmo. Sol a prossão
das tralalhadoras, o Solrao acalou acoitando a nova ostratógia.
Entrotanto, toi só a partir da dócada do 1990 guo todas as asso-
ciadas comoçaram a croscor: consoguiram colocar 200 possoas
no pródio, molilizaram tornocodoros o so ostalilizaram. Hojo,
a Ascospop ó conhocida om toda a cidado o nos municípios
vizinhos, alóm do ostar intograda a uma rodo do comorciantos
do divorsos ostados guo vão lá adguirir os produtos para sous
nogócios: Alagoas, Pornamluco, Bahia, Rio Grando do Norto, Rio
Grando do Sul, Varanhão, Pará, São Paulo. Das Doros diz guo
as costuroiras só não vondom mais por talta do matória-prima,
capital do giro o divulgação, o guo a lova a tazor críticas sovoras
às políticas do cródito o apoio à microomprosa:
Porguo o lanco... Ë muito lonitinho o guo olos diz... Paroco
guo olos tão ató... Quando vocô tala com goronto do lanco,
assim, nossas rounião.... Eu participoi do muito tórum, do rounião
com goronto do lanco, do todos os lancos. Eu taço parto da
todoração do microomprosários do lortaloza, ou tui prosidonto
do Consolho liscal da lodoração das Vicroomprosas do Coará.
Todos ossos oncontro, guando a gonto vai, junta assim, tudo
guanto ó do gonto: vai govornador, vai vico-govornador, Ciro
Gomos, osso possoal todo assim. Vas vocô vá lá no lanco o o
209
lanco não omprosta! Eu tonho uma microomprosa, posso tomar
um ompróstimo, dopondondo do mou projoto, só guo ou tonho
guo tor uma garantia som sor minha casa. Vinha casa do morar
não sorvo, máguina não sorvo, ou tonho guo tor uma propriodado
pra ticar lá garantido. Ou ontão ainda tom avalista. E vocô acha
guo alguóm vai guoror avalizar hojo? Ham... Com a diticuldado...
Ninguóm guor, mia tia! t...) Eu conhoço todo mundo do Solrao.
Entrando ali, so vocô porguntar, sou conhocida... Eu já tiz não
soi guantos troinamonto. Agora, ou guoria, ou disso a olo, olo
sontadinho aí... Elos tão achando guo ou sou dosorganizada... lsso
ou sou guo ou soi porguo muitas vozos ó ditícil vocô comprar,
cortar, ir pra máguina, olhar... Tudo ó ditícil. Vocô... Quando vocô,
numa situação dossa, compra tiado, vondo tiado, um nogócio
dosso, vocô nunca tom, assim, vocô só tom uma laso, do guo
tá lovando, guo tá ganhando, solrovivondo... Agora, ou guoria
guo vocôs mo dossom a tócnica, como ó guo ou organizo uma
omprosa som dinhoiro?
Na vordado, a história da associação não ó aponas do sucosso,
passou por altos o laixos, momontos muito ditícois dosdo sua
tundação. Em 1994, houvo um tinanciamonto do Banco do Nordosto
para comprarom máguinas o tormarom um capital do giro, mas,
com a passagom da mooda para o Roal, a dívida so multiplicou
o as associadas não pudoram pagar. Das Doros lomlra guo não
guis assinar o projoto na ópoca, mas guo toi prossionada polas
cologas. O lanco não pordoou a inadimplôncia, acalou tomando
as máguinas o, aposar disso, a dívida só toz croscor dosdo ontão,
o guo vom ponalizando todas as tralalhadoras o impodindo sou
croscimonto, já guo ostão impodidas do tazor novos ompróstimos
om nomo da associação. Rovoltada com o atual goronto, guo a
coago para guo so rosponsalilizo possoalmonto pola dívida, Das
Doros diz não ontondor o tato do o lanco tor tomado as máguinas
das cologas o ainda oxigir pagamonto. Por conta dossa dívida
o das limitaçòos lurocráticas para a concossão do cródito, tovo
guo apolar para contatos possoais a tim do pormanocor no ramo:
consoguiu tazor um ompróstimo om 1998 pola Caixa Economica
graças ao ontão goronto, guo ora amigo do um do sous tilhos, na
ópoca protossor do Cotot.
Por moio dosso ompróstimo, Das Doros tovo um croscimonto
contínuo ató 2004, chogando a colocar 80 máguinas o omprogar
corca do 100 cologas da associação guo ostavam com diticuldados
210
nos nogócios. Vas novamonto tovo um grando projuízo, dossa
voz por causa dos calotos do cliontos guo passavam choguos som
tundo. Em virtudo dossos calotos, guo, sogundo ola, chogaram a
contalilizar o valor do 200 mil roais om choguos rotornados, tovo
guo vondor as máguinas, pormanocondo aponas com 20 para
mantor a produção na ativa. loi sulmotida a procossos na Justiça
por sous tornocodoros o ticou com o nomo sujo na praça¨, sondo
impossililitada do tazor gualguor tipo do transação nos lancos,
do consoguir cródito o ató mosmo do utilizar cartòos o choguos,
guo toram todos cancolados. Dosdo ontão, todo o dinhoiro guo
vom rocolondo ó para tontar limpar sou nomo¨. A primoira
proocupação toi com a mão do olra guo procisou disponsar o
para a gual dostinou corca do 50 mil roais, nogociando a dívida
possoalmonto com as costuroiras o saldando parto om dinhoi-
ro, parto om máguinas. Por ostar do mãos atadas no morcado
tinancoiro tormal, Das Doros acalou apolando para o intormal,
tazondo ompróstimos com agiotas, guo, aposar do colrarom juros
oxcossivamonto altos, toram os unicos a tornocor capital no
momonto om guo procisou para so roorguor. E ó com protundo
sontimonto do humilhação o rovolta guo tala das rostriçòos a guo
toi sulmotida polo morcado:
Só o guo tizoram toi lascar com o mou nomo. Como ó guo ou ia
comprar nada, so a omprosa lotou mou nomo no Sorasa? Pronto,
vocô tica morto, vocô morrou pro mundo! Uma possoa guo ó
acostumada a tor choguo ouro, cartão do cródito, ticar numa situ-
ação dossa... Vocô morro, ó como so matassom vocô! Vocô nunca
mais ó a mosma, mais ninguóm! Vorrou, morrou, matou!
A oscolha da motátora da morto para doscrovor sou ostado
omocional após a criso tinancoira não ó à toa. Do tato, o sonti-
monto do humilhação aponas donuncia o contoudo moral da
oconomia: não são aponas a urgôncia o as rostriçòos matoriais,
nom a incapacidado do produzir guo goram a sonsação do tra-
casso, mas a voxação pullica do não sor contiávol para o sistoma
oconomico. O latalhador omproondodor, nossos casos, tom guo
lidar com a condonação moral do sor uma possoa marcada¨,
alóm da sonsação do impotôncia gorada pola impossililidado do
continuar tralalhando, produzindo, sustontando sou nogócio o
sua tamília. Do tato, trata-so do uma morto social anunciada om
rodo a tornocodoros o crodoros, ao sistoma jurídico o às rodos
211
possoais do cologas o tamiliaros, o cujo rosultado, muitas vozos,
ó a própria morto tísica so o dososporo não oncontra uma ostora
oxistoncial guo garanta ao indivíduo uma mínima sogurança
ontológica para guo olo possa so roorguor. No caso do Das Doros,
sua ostalilidado omocional toi garantida pola cronça inalalávol
na providôncia divina¨, guo sompro lho sorviu como contorto
oxistoncial, ao invós do atar suas mãos na ospora do milagros
ou lonossos cliontolistas, como soria do so osporar a tirar pola
concopção corronto solro o catolicismo popular sincrótico do
guo osto goraria amliguidado do carátor o traguoza do iniciativa
no homom cordial¨, constituindo o tundamonto da tragilidado
moral implicada na situação do dopondôncia o cliontola. loi por
moio da tó guo Das Doros podo intorprotar as diticuldados o
olstáculos guo surgiram om sua vida como provaçòos o so sontiu
continuamonto chamada por Dous a suporá-las.
Assim, na trajotória da maioria dos latalhadoros guo oncon-
tramos, guo ó uma trajotória do asconsão por moio da ascoso do
tralalho duro, a tó om Dous aparoco como uma dimonsão guo
pormito suportar a dor do vivor, tor torça do vontado o consoguir
voncor os olstáculos. Entrotanto, para alcançar ossa graça com a
gual o cristão so sonto tortiticado nos momontos mais ditícois do
sua jornada, ó prociso ponitôncia, ó prociso alrir mão da própria
vida polo tralalho, ou molhor, dodicar a própria vida ao tralalho
o à tamília como tontos inalalávois do roconhocimonto, tontos do
roconhocimonto modornas, valo saliontar. Nosso caso, a roligio-
sidado católica popular, do acordo com a dialótica do santuário
o oticina¨, o lom ao contrário da visão do Sórgio Buarguo do
Holanda - para guom o culto aos santos o os oratórios tamiliaros
goram uma intimidado com as coisas sagradas ostranha à vor-
dadoira roligiosidado¨ o tundadora do uma traguoza do ospírito,
vontado o porsonalidado caractorísticas do porsonalismo do sou
homom cordial¨ tvor Quadro 1) -, mostra-so tundamontal para
uma organização ascótica da vida, ao mosmo tompo passiva, do
acoitação da tragódia do mundo com todas as suas contradiçòos,
o ativa, guo pormito idontiticar o dosonvolvor armas para lidar
com ola. Talvoz não soja outro o tundamonto do consorvado-
rismo do guo as classos popularos são roitoradamonto acusadas
por sociólogos o ciontistas políticos, um consorvadorismo guo
podo signiticar simplosmonto a nocossidado do guo o mundo do
amanhã soja polo monos parocido com o do hojo, soja provisívol,
212
para guo so possa solrovivor com as parcas armas do guo so
dispòo. Vas podomos vislumlrar na laso do todo o orgulho
guo o latalhador sonto do sua trajotória do laluta o sotrimonto
osso pano do tundo roligioso da ascoso do tralalho como poni-
tôncia om um mundo ondo todos ostão pordidos, ligado a uma
ostrutura corporal o montal do origom rural, ou à sua somlra,
porguo ostruturada não sogundo uma lógica tomporal linoar, do
planojamonto¨,
10
mas a partir do uma tomporalidado circular do
providôncia¨, do contormação com os ciclos da naturoza, ao
mosmo tompo guo so tonta procavor da oscassoz por moio da
diligôncia o do tralalho:
E ou agradocondo a Dous... Assim, Dous mo gratiticou. Esso
sotrimonto guo ou passoi com o pai dolos, com ossas coisas do
comórcio, ó talta do oxporiôncia porguo vocô comoçar a vida
assim como ou comocoi... Eu dormia guatro horas por noito, ou
viajava, ou ia dá toira¨... Vocô tá ponsando guo toi tácil? lazia
a morcadoria, ontrogava a morcadoria do grosso lá om casa o
pogava a outra morcadoria o ia ora dá toira¨. Ó, duas horas da
manhã, ou voltava do pó. Quando ora guatro horas, ou chogava,
ontrava na porta. Eu dava toira¨ no Assaró, dava toira¨ om Nova
Olinda. Eu viajava do camolo, no moio da toira, antos dosso
ponto agui. Pogava uma parto, ontrogava ao troguôs no grosso,
o o povo viajava, vondia pro Varanhão, vondia pro Pornamluco,
pra osso lado... E a outra morcadoria, pogava, lotava nas lolsa,
ia dá toira¨. Quando ou chogava lá, ou vondia morcadoria, ou
trocava. Quando ou vinha, parocia uma cigana, trazia um monto
do galinha, do ovo, do guoijo, do loito. Trocava roupa por galinha,
por ovo, por tudo guo ó... Quando ou vinha, vinha guo trazia o
carro choio, num taltava om casa.
213
Quadro 1 - A toso porsonalista om Sórgio Buarguo do
Holanda: o catolicismo popular como tundamonto da
tragilidado moral do lrasiloiro
A partir da contusão ontro a construção analítica do tipo
idoal om Vax Wolor o um claro julgamonto do valor idoalizador
do protostanto puritano, cujo rigorismo da tó ó visto polo
mito amoricano como o pano do tundo moral do uma vorda-
doira domocracia, Sórgio Buarguo do Holanda taz uma loitura
doprociativa da roligiosidado popular no molhor ostilo do
um olitismo paulista, construído a partir do um ponto do vista
liloral hogomonico. O historiador intorprota o lrasiloiro cordial,
solrotudo o nordostino, diga-so do passagom, como a nogação
do todos os traços guo caractorizam o homom modorno: O
dosconhocimonto do gualguor torma do convívio guo não soja
ditada por uma ótica do tundo omotivo roprosonta um aspocto
da vida lrasiloira guo raros ostrangoiros chogam a ponotrar com
tacilidado. t...) Nosso volho catolicismo, tão caractorístico, guo
pormito tratar os santos com uma :uì:n:uau~ gua:~ u~::~:-
j~:ì·:a o guo u~:~ ja:~c~: ~:ì:auI· à: aIna: :~:uau~::an~uì~
:~I:g:·:a:, provóm ainda dos mosmos motivos. t...) Cada casa
guor tor sua capola própria, ondo os moradoros so ajoolham
anto o padrooiro o prototor. Cristo, Nossa Sonhora o os santos já
não aparocom como ontos privilogiados o oximidos do gualguor
sontimonto humano. Todos, tidalgos o plolous, guorom ostar
om intimidado com as sagradas criaturas, o o próprio Dous ó
um amigo tamiliar, domóstico o próximo. t...) Essa avorsão ao
ritualismo conjuga-so mal - como ó tácil imaginar - com um
:~uì:n~uì· :~I:g:·:· :~:uau~::an~uì~ j:·Juuu· ~ c·u:c:~uì~.
t...) A uma :~I:g:·::uau~ u~ :uj~:J:c:~, monos atonta ao sontido
íntimo das corimonias do guo ao colorido o à pompa oxtorior,
gua:~ ca:uaI ~n :~u aj~g· a· c·uc:~ì· ~ ~n :ua :auc·:·:a
:uc·nj:~~u:a· u~ ì·ua :~:uau~::a ~:j:::ìuaI:uau~, transigon-
to, por isso mosmo guo pronta a acordos, ninguóm podiria,
cortamonto, gu~ :~ ~I~:a::~ a j:·uuz:: guaIgu~: n·:aI :·c:aI
j·u~:·:a. Roligiosidado guo so pordia o so contundia num
mundo som torma o guo, por isso mosmo, ua· ì:uIa J·:¸a:
ja:a II~ :nj·: :ua ·:u~n.¨ tHOlANDA, Sórgio Buarguo. Ra:z~:
u· 1:a::I. São Paulo: Companhia das lotras, 2002. p. 148-150.
Gritos nossos.)
214
A narrativa do orgulho do próprio sotrimonto o a constatação
roalista do mundo como roino da misória oxistoncial, do ondo so
podom osporar sompro situaçòos dolorosas o mosmo cruoldado
dos outros por causa do pocado
11
- O sor humano ó traco
porguo ó pocador. Ató Podro nogou Josus. A gonto tom guo
ontondor porguo ó do nossa naturoza!¨ - paroco constituir o pano
do tundo do muitas práticas guo são considoradas aponas como
mágicas porguo a oxplicação costuma ator-so moramonto a sou
tormato, tais como osporar oltor protoção contra a coliça o a
invoja alhoia ou um sucosso mais imodiato por moio do oraçòos
o promossas. Práticas como ossas podom ostar insoridas om um
horizonto do signiticados o açòos do cunho mais ótico, assim como
a alimontação continuada da torça ospiritual na luta cotidiana o da
motivação para mantor um ostilo do vida atualiza sou ascotismo
polo próprio tralalho duro, ou a proocupação com a salvação
do si mosmo o a da tamília, tanto matorial guanto ospiritual. O
ologio da diligôncia o do sotrimonto, guo implica toda narrativa
racionalizadora, justiticadora o, claro, mistiticadora do próprio
sotrimonto como rodontor, ostá do tal torma incorporado na práxis
dos latalhadoros, principalmonto naguolos guo romontam a uma
origom rural na própria goração ou na do sous ascondontos mais
próximos, guo não procisa tomar o tormato do discurso roligioso,
omlora aparoça como tal na maioria dos casos oncontrados om
Juazoiro do Norto o, do tato, om todo o intorior nordostino por
ondo passamos.
Vulhor latalhadora, guo criou sozinha sois tilhos, alandonada
polo marido, mas guo ainda o rocolou do volta om sua casa o
sol sous cuidados guando, acomotido por um AVC, inválido o
no tim da vida, osto rosolvou podir-lho dosculpas - o ascotismo
do Das Doros signitica tamlóm ronuncia: alrir mão do sous pró-
prios dosojos o so satistazor com o amor do Dous o dos tilhos.
Nosso procosso, ola so sonto puriticada o santiticada à imagom
do Varia, a mão do Josus, guo acoita o pòo om prática a vontado
divina. A graça¨ do consoguir criar sous tilhos om moio a tantas
diticuldados roprosonta o atostado do guo procisa para salor guo
caminha pola voroda corta. E assim procodo som ignorar o lugar
dostinado a possoas como ola no ospaço social do lutas simló-
licas, lutas cuja violôncia sonto roitorada num simplos contoxto
do ontrovista:
215
Quando ou ponso, assim... Vou Dous! Sois tilhos... Nunca doixou
taltar nada, mous tilhos tudo ostudado... Eu num soi, minha tilha!
Eu vou dizor pra vocô, ou num soi, nom ou soi lho dizor como
toi guo dava! Num taltava, nunca taltou... Assim, nonhum homom
ia tazor ou mo sontir toliz com a tolicidado guo ou tonho mo
ontrogando, assim, a Dous. Elo contorta, olo alimonta, olo ó tudo
na vida da gonto! t...) Vonina, assim, ou vojo, ou sinto milagro!
Num ó ou só não... Todas as possoas guo contiam... O torço do
Coração do Josus ó uma coisa muito lonita. O torço do Coração
do Josus, guo a gonto diz - Sagrado Coração do Josus, ou contio,
ou osporo o ontrogo a vós¨ - ó um torço... Assim, guando vocô
tormina do rozar, vocô tá tortalocida, num tom prolloma... Eu
acrodito guo a gonto tom uma vida com Dous. Essa outra vida
ó guo ó... Acho guo nossa vida ó uma passagom, o a outra ó a
otorna. As vozos, a gonto salo guo taz um momonto do prazor
agui o projudica nossa caminhada com Dous. So a gonto tizor
uma coisa, assim, guo num soja agrado do Dous, a gonto sonto
na hora. Num ó vordado? Vocô acha guo ou to com tanatismo do
dizor isso? Vocô acha guo ou to sondo tanática?
O ESTOlClSVO PRATlCO DO BATAlHADOR:
CONHEClVENTO E VORAllDADE
DO TRABAlHO
Josotina sai cá tora o vom vô
Olha os torro ramiado vai chuvô
Vai trimina riduzi toda criação
Das landas do lá do ri gavião
Chiguora pra cá já ronca o truvão
lutuca a tuia, poga o catado
Vamo planta toijão no pó
lutuca a tuia, poga o catado
Vamo planta toijão no pó
Vão purdonça inda num cuiou o ai
O ai roxo dossa lavora tarda
Diligonça poga panicum lalai
Vai cum tua irmã, vai num pulo só
Vai cuiô o ai, o ai da tua avó.
EI·na:
216
lonto inosgotávol do disciplina o diligôncia, o tralalho
tamlóm constitui rocurso porono do conhocimonto, o osto ó
outro aspocto tundamontal guo a ótica do sotrimonto aponas
contrilui para racionalizar onguanto concopção do mundo. O
tralalho aprondido codo disciplina o corpo o a monto, dosdo
guo não incorra, ovidontomonto, numa oxtrapolação do ostorço
tísico do guo ó capaz um corpo intanto-juvonil, o guo implicaria
violôncia o oxploração. So não nos prondomos à concopção
moramonto instrumontal o mocanicista do tralalho, roduzindo-o
a atitudos maguinais guo alionam o tralalhador, como aguola
dissominada polos rogimos taylorista o tordista, lomlramos guo
o contoxto do tralalho coloca troguontomonto o latalhador om
situaçòos-prolloma nas guais a oticácia do mótodo do onsaio o
orro ó dotorminanto. Quando talamos om ascoso polo tralalho
duro podo parocor guo imaginamos possoas guo roproduzom
mocanicamonto disposiçòos do torma guaso instintiva, como
rotloxos condicionados do animais adostrados. Vas osso não ó o
caso, nom o lohaviorismo ó a alordagom mais olucidativa. Ao
cortar o tocido, soparar as poças do pano já rocortadas no moldo,
costurar om sua máguina ou rotirar as pontas do linha om oxcosso
nas contocçòos prontas, as mãos do Das Doros ostão molilizando
um conhocimonto solro o matorial utilizado, os instrumontos,
as tócnicas o os procodimontos mais oticazos, o guo podom,
inclusivo, sor aportoiçoados guando nocossário o possívol.
Como rossalta Sonnot, o princípio lásico da halilidado artosanal
ó guo ponsamonto o sontimonto ostão contidos no procosso do
tazor¨:
12
muitas vozos, o produtor mantóm discussòos montais com
os matoriais à sua disposição, guando não são as possoas guo
tralalham juntas guo convorsam solro o guo tazom.
13
Portanto,
omlora o guo caractorizo o latalhador soja uma ótica incorporada
do tralalho duro, há nívois do onvolvimonto no procosso produ-
tivo guo implicam tormas do comproonsão, como o princípio do
utilização da torça mínima no ostorço tísico¨,
14
o curiosidado, o
guo podom contor uma prollomatização do porguô¨ o como¨
do próprio procosso, a dotocção do prollomas o a sua solução,
inclusivo para so doscolrirom novos padròos. A porícia artosanal¨
rotloto o tralalho ototuado om atividados guo roguorom mãos
intoligontos¨, podondo dar vazão ao impulso do tralalho lontoito,
o não dosaparocou complotamonto com o advonto da sociodado
industrial, pormanocondo om vários tipos do otícios ou mosmo
om cortas dimonsòos do rogimo talril.
21¯
Do tato, ó osso tipo do porícia guo o princípio do controlo
da gualidado total¨
15
do toyotismo tonta rocuporar nas industrias
pós-tordistas - o laça corto da primoira voz¨, ou a dotocção do
prollomas o soluçòos por parto dos grupos do tralalhadoros
auto-organizados -, rossigniticando-o no contoxto da roostru-
turação produtiva como nova torma do oxploração, om guo o
tralalhador incorpora sou próprio toitor o so consomo do corpo
o alma na atividado.
16
Olviamonto guo, om um contoxto como
osso, a porícia artosanal pordo o sontido guo tinha na oticina
do artosão: o do tralalho toito com dodicação para garantir
um produto com gualidado, o ondo o guo ostá om jogo ó o
lom-ostar do tralalhador om um procosso produtivo guo lho
dá prazor, sua idontiticação com osto na lusca do um rosultado
satistatório, do gual sinta orgulho. Ora, muito omlora soja osso
o argumonto molilizado do torma idoológica no discurso da
gualidado total¨ pós-tordista, a unica tinalidado ó contor gastos
com matorial o mão do olra, ovitando dospordícios guo passam
a sor contalilizados nos mínimos dotalhos dos procodimontos o
nos divorsos sotoros da produção, garantindo, assim, mais lucro
para os acionistas. Essos oljotivos são lançados mais uma voz
nas costas do tralalhador, guo passa a conjugar divorsas tunçòos,
rosponsalilizando-so por olas sol o rocoio do comotor orros o o
risco constanto do sor disponsado. A gualidado total¨ aparoco,
agui, como mais um oticaz dispositivo colonizador - o pan-
-óptico lonthamniano incorporado agora na monto o na lilido
do tralalhador

- o um princípio guo gonoraliza a concorrôncia,
o oportunismo o o donuncismo no soio da classo tralalhadora:
a gualidado total da morcadoria ou do sorviço so assonta na
ausôncia total do gualidado no tralalho.
Conguanto soja osso o contoxto goral da roostruturação pro-
dutiva, o princípio da porícia artosanal podo assumir contornos
ditorontos nas poguonas manutaturas, nas guais so roproduz muito
do sontido do gualidado oriundo das oticinas tradicionais o da
lusca polo tralalho lontoito não só como moio do solrovivôncia
o adaptação ao morcado, mas tamlóm como tim. Esso ó o tipo
do ongajamonto¨ guo caractoriza o latalhador om sous otícios
manutaturoiros, guando ostá sompro rotlotindo, no momonto
mosmo do tazor, solro o contoudo da matória do guo dispòo, as
torramontas o os procodimontos guo podo atualizar, luscando
sompro inovar para acompanhar as mudanças no morcado o
218
o gosto do consumidor. As coisas om si, instrumontos o gostos
otorocom ditorontos altornativas, o a rosistôncia da matória, das
torramontas ou do corpo om gorar dotorminados rosultados
podo sor instrutiva o culminar om aprondizado. Agui, a ascoso o
a criatividado são indistintamonto indisponsávois ao tralalho o
aparocom na torma do controlo da torça omprogada, na procisão
dos gostos, no cálculo diligonto o no raciocínio rápido om contoxtos
do urgôncia, do constatação do diticuldados atuais ou do pro-
vonção contra prollomas tuturos. A rogra do oxporimontação o
inovação não aparoco como uma loi imposta oxtornamonto por
um suporior, mas ó porcolida o sontida como um dosatio, o do
comproondor o adaptar-so às rogularidados do mundo, isto ó,
do morcado, ontondido sogundo o padrão do circularidado da
própria naturoza. Nosso contoxto, o rocoio constanto do uma
oscassoz sompro provávol o o ostado do vigília causado pola
oxporiôncia do sotrimonto dosomponham ainda papol crucial:
A salodoria da gonto nasco do sotrimonto. So vocô tá sotrondo,
vocô vai ponsar om como sair do prolloma!¨, assovora Chico, tilho
do tralalhador rural guo tamlóm comoçou no campo, passou
por camolo o hojo ó dono do uma microtálrica do panolas do
alumínio om miniatura, produto guo olo mosmo invontou a tim
do inovar o croscor om moio ao concorrido ramo do Juazoiro.
Esso mosmo raciocínio ó corrolorado por divorsos latalha-
doros para guom o conhocimonto prático no tralalho toi mais
importanto guo o conhocimonto tormal na oscola, uma voz guo
a procariodado o a nocossidado do contriluir com o sustonto
da tamília surgom como ompocilho para os ostudos. Josó, por
oxomplo, tamlóm tilho do agricultor, totalmonto analtaloto,
saiu do campo o partiu para Caicó - Rio Grando do Norto, ondo
aprondou o otício do tocolagom o, om soguida, o do contocção
do chapóus. Em sua oticina, Josó porcolou guo podoria ompro-
gar as mosmas máguinas o tócnicas utilizadas na manutatura do
sous tradicionais artigos do couro para talricar o novo produto
guo, ontão, tazia sucosso na cidado: os lonós do pano. Com o
oljotivo do aprondor como contoccioná-lo, olo não aponas usou
o arcalouço do conhocimontos o práticas adguiridos na produção
do artigo antorior, mas dostoz a nova morcadoria om divorsas
partos o oxporimontou o molhor procodimonto para uma talri-
cação rápida o oconomica, tazondo moditicaçòos à modida guo
sua produção croscia. A mudança na contocção do um chapóu
219
do couro para um lonó do pano podo parocor simplória om uma
oconomia monopolizada por industrias com tocnologia do ponta,
oriontadas por um conhocimonto ciontítico altamonto ospociali-
zado, como a microolotronica ou a gonótica. Vas ossa poguona
transtormação manutaturoira mostra toda sua riguoza cognitiva so
não partimos do ponto do vista prospoctivo o nos voltamos para
o tipo do ongajamonto guo ola implica: um diálogo constanto do
homom com os matoriais do sou tralalho, guo ainda não sotrou
a soparação ontro tooria o prática, ontro projoto o ação. Emlora
o oljotivo oxplícito do novo omproondimonto do Josó tosso a
adaptação ao morcado modorno o o aumonto do lucro, olo toz
uso do algumas oporaçòos cuja lógica não ora ominontomonto
modorna om sua origom, mas guo lho pormitiram uma adoguação
lom-sucodida. Essas oporaçòos são oxplicitadas por Sonnot na
análiso guo taz da porícia artosanal¨ o da consciôncia matorial
ongajada¨, o uma dolas mostra-so particularmonto rolovanto para
nosso caso: a motamortoso ordoira.
A idoia da motamortoso associa a mudança ao irracional, a
incidontos guo podom provocar assomlro o modo porguo impro-
vistos o por indicarom a nocossidado do uma ruptura com alguma
atividado tradicional consolidada, guo passa a gorar insucossos
rocorrontos. Vas ossos insucossos podom signiticar tamlóm uma
ospócio do tracasso salutar¨ guando dão origom a aportoiçoa-
montos ocorridos lontamonto, dosonrolados com a prática, o não
dotorminados do torma toórica. O tipo do consciôncia matorial¨
provocada pola motamortoso podo so dar do trôs manoiras:
1) pola ovolução do uma torma-tipo¨, do uma catogoria gonórica
do oljotos, guo so mantóm om sou tormato padrão, omlora possa
sor aportoiçoada om algum dotalho, 2) pola composição ou mistura
do olomontos ditorontos guo dão origom a um oljoto novo, ou
3) pola mudança do domínio¨, guo romoto à aplicação, om uma
atividado nova, do um dotorminado mocanismo criado para outra
tinalidado por moio do ponsamonto analógico - por oxomplo, o
princípio do trama o urdidura¨ do toar domóstico arcaico guo
so transtormou na articulação macho-tômoa da construção naval
ontro os grogos.
18
Paroco guo toi soguindo ossas possililidados dadas na própria
oljotividado da prática cotidiana do tralalho, roconstruídas
analiticamonto por Sonnot, ospocialmonto a guo so rotoro a uma
ovolução da torma-tipo¨, guo Josó podo aplicar om sua talricação
220
do chapóus do couro o, postoriormonto, na do lonós, os conhoci-
montos guo havia aprondido guando jovom na tocolagom do tio.
Hojo, dono do uma conhocida tálrica do lonós om Caicó, cujo
nomo olo soguor salo oscrovor, como taz guostão do pilhoriar,
Josó não toi aponas um dos pionoiros do ramo, mas contriluiu
para dissominar com os produtoros mais jovons o conhocimonto
o as tócnicas do produção guo havia aprondido, lotando no
comórcio¨ parontos ou amigos guo passaram a sor sous concor-
rontos. O contlito, caractorístico do todo latalhador, ontro o
próprio tralalho como tonto do conhocimonto o o aprondizado
tormal da oscola, guo só taz sontido guando so dispòo do tompo
livro proporcionado polo distanciamonto das urgôncias matoriais,
ó ovidonciado om sua própria tala:
Todo dia tom guo tor inovação no comórcio. Vocô salo guo hojo
o comórcio do lonó, principalmonto do lonó, virou moda. So vocô
num tivor sompro do trôs om trôs môs tazondo uma modolagom
nova, um produto novo pra lotar no morcado, vocô vai ticando
pra trás. A gonto procisa todo dia tá inovando. t...) Olho, ou...
Sompro ou gosto do olsorvar as coisas. Aguilo guo... A tondôncia,
polo monos no mou ramo. Eu sompro gosto do tá olsorvando
aguolas novidados pra criar o conhocimonto, pra ir procurando
tazor sompro molhor. Sompro ou gostoi do olsorvar as coisas o
vor como ó guo so taz a coisa corta pra vocô tazor aguilo ali o
tor o lucro pra so mantor. t...) Eu num ostudoi não toi porguo
talvoz olo |o pai} nom guisosso. Vandar olo mandava, agora só
guo... Da ondo a gonto morava pra ondo tinha o ostudo mais
porto, ató a idado do 14 anos, dava oito guilomotros do ostrada
do chão, como so diz. Naguolo tompo, não tinha transporto nos
sítio... So vocô guisosso ostudar, ou tinha guo ir do pós ou ontão
pogar um lurro daguolo, lotar uma cola o ir. Vas, uma coisa
mou pai mo onsinou, o sou muito satistoito. Acho guo isso, hojo,
ó... Sou agradocido domais... Vo onsinou a tralalhar! Vo onsinou
a tralalhar no posado, mas com aguolo guo olo mo onsinou, ou
aprondi a tralalhar no... Porguo guando vocô passa do tralalhar
no posado, vocô lota um nogócio... So vocô ganha... Só pra sor
mais prático: vocô ganhava um roal por somana, o guando vocô
passa a vir pra cidado o lota um poguono nogócio pra vocô o
passa a ganhar um roal por dia, aguilo ali já claroou mais pra
vocô continuar no tralalho. Elo disso guo guom tralalha sompro
vonco... Quom tralalha vonco...
221
Com otoito, talvoz a disposição para dosonvolvor artitícios
com laso no guo dotinimos agui como mótodo do onsaio o orro
roproduza uma lógica provontiva do olsorvação prudonto da
naturoza guo Josó aprondou com sou pai na agricultura o guo,
aposar do partir sompro da lusca do adoguação o da tontativa do
solucionar prollomas a partir do oxporiôncias antorioros, tamlóm
implica a capacidado do alraçar o novo guando a urgôncia
olriga o surgom poguonas oportunidados. Com a docadôncia da
cultura do algodão, atividado guo garantira o sustonto da tamília
ató o início da dócada do 19¯0, o pai do Josó docidiu produzir
lanana, iniciando a omproitada com uma plantação do 3.500
covas o colhondo corca do 22 milhoiros por somana, os guais
vondia duranto todo o ano na toira om Caicó: loi na ópoca guo
a gonto, como so diz, onchou a larriga.¨ Entusiasmados com
os ganhos da atividado, ropotiram a omproitada no ano pos-
torior, mas toram surproondidos por uma grando onchonto no
rio Piranhas, guo acalou com parto da plantação. O pai do Josó,
ontão com 62 anos, matutando guo nunca havia prosonciado o
ovonto antos, ponsou so tratar do um incidonto o proparou novo
plantio no ano soguinto, onguanto ainda so rocuporava do projuízo
passado. Vas o rio translordou do novo om uma choia guo durou
22 dias, sogundo o rolato, dostruindo toda a plantação. Dopois
dosso sogundo insucosso, os tilhos mais volhos mudaram para
a cidado, ondo so omprogaram como ajudantos do podroiro o,
mais tardo, como tocolòos na oticina com toar manual do um tio,
onguanto o pai pormanocou na roça com os guatro tilhos mais
novos, dontro os guais Josó, o caçula. Sou amor polo poguono
loto do torra hordado do avo o o modo do vir pra rua o num
dar corto o passar tomo¨ colaloraram com a hipótoso do guo
aguilo podoria tor sido aponas dois incidontos o com a docisão
do guo dovoria tontar novamonto porguo a conta ó trôs voz¨.
Após tazorom poguonas moditicaçòos na larragom, proparam
novo plantio para mais um ano, o torcoiro consocutivo, mas o
torrono ainda ora muito laixo, o as larroiras não comportaram
a onchonto mais uma voz.
Com trôs anos soguidos do projuízo, o pai do Josó rosolvou
guo ora hora do ir omlora, vondou o poguono loto do torra
o comprou uma casa na cidado muito tristo, chorando muito
porguo num guoria sair do lá¨. Contudo, passados dois anos do
tralalho na talricação o vonda do rodos na cidado, o homom voio
222
a talocor tragicamonto: carrogado do morcadorias nas costas, toi
atropolado na toira às guatro o moia da manhã, para ondo havia
so dirigido a tim do montar sua larraguinha. Ë com lágrimas nos
olhos guo Josó lomlra do opisódio, da culpa guo sontiu junto
aos irmãos por torom incontivado sua ida para a cidado. Vas
unida à comoção, sua tala transmito tamlóm a cortoza do guo o
pai toz a oscolha corta, do guo não havia como pormanocor no
campo naguolas condiçòos o do guo, aposar da morto promatura,
olo já havia onsinado o ossoncial aos tilhos: a oxporiôncia do
tralalho duro na agricultura o pocuária. Essa oxporiôncia implicou
um aprondizado, inculcado constanto o silonciosamonto na
própria rotina das tarotas diárias, solro gostos, modos do tazor,
práticas, matoriais o solro o lidar com a rosistôncia contornávol da
naturoza, guo os proparou para so dosonrolarom¨ om outros
campos. O mocanismo do transtorôncia pró-rotloxiva do Iaü:ìu:,
isto ó, do um ostilo do vida prático tornado corpo om grando
modida, pormitiu adaptar disposiçòos incorporadas na intância
o na juvontudo o motamortosoá-las, para continuar com o tormo
do Sonnot, por moio do uma mudança do domínio¨. Tanto ó
assim guo tamlóm rosido na agricultura, ao guo tudo indica,
a origom do sua disposição para a poupança, no início toita
principalmonto om matória-prima, torramontas o tocnologia, o
não tanto om ospócio monotária, o guo romoto mais uma voz
à lógica da providôncia. Agui, não ó tanto a proocupação om
controlar o agondar o tompo guo tom o papol tundamontal, mas
a adaptação ativa, a solrovivôncia no tompo ao próprio tompo,
o ao intortunio guo pormanoco sompro no horizonto. Ë isso guo
Josó onsina aos tilhos:
Eu acho guo a maior tolicidado do sor humano ó aguolo guo
tom... Quando amanhoco o dia, tor o guo tazor. Eu acho guo isso
ó muito gratiticanto. Eu sou... Graças a Dous, ou mo sinto muito
toliz porguo todo dia a gonto so lovantar o tor uma olrigação pra
tazor... Porguo aguolos guo hojo não tôm talvoz não salo o guo
ó a tolicidado da vida. loliz daguolo guo tom o guo tazor todo
dia. t...) A gonto orionta assim: Olho, hojo, nós tamo lom, mas
amanhã ó outro dia. So vocô hojo ganha um roal, mou tilho, vocô
não gasto um roal. So pudor gastar só cinguonta, cinguonta ó o dia
do amanhã. Porguo amanhã ó oscuro, a gonto podo amanhocor
morto ou podo amanhocor vivo. So amanhocor vivo, claro guo
procisa dos cinguonta contavos pra solrovivor.
223
Por outro lado, o conhocimonto prático do latalhador implica
tamlóm uma comproonsão protunda solro o mundo social o as
rolaçòos humanas, as diticuldados do cooporação o os contlitos
guo surgom na atmostora do tralalho. Esso conhocimonto ó
muitas vozos originado na oxporiôncia om ocupaçòos o postos
distintos, guo tuncionam como cursos práticos do administração
o gostão não aponas para lidar com matoriais, tócnicas, proco-
dimontos ou morcados consumidoros, mas tamlóm, o solro-
tudo, para lidar com gonto¨, guando o latalhador ascondo à
condição do omprogador. Nosso contoxto, mostram-so como
importantos tontos do racionalidado pragmática o improvisação
o doslocamonto ospacial o a condição do migranto, ainda guo
soja para localidados próximas, pois aí o latalhador goralmonto
ó dotrontado com conjuntos do prollomas guo não surgiriam no
horizonto rostrito do ondo parto. Essas diticuldados guo surgom do
contoxto sotrido do porogrinação¨ o oxílio¨, guando o indivíduo
oncontra-so atastado da sogurança do sou nucloo domóstico
o do sou lugar do origom, ondo coisas o possoas so comportam
do torma lastanto provisívol, roprosontam aprondizados cruciais
no tortalocimonto da vontado o na tormação do uma disposição
organizativa o goroncial. Os contoxtos podom sor divorsos: por
oxomplo, o tralalho om uma grando tirma, ondo o latalhador
oxporimonta, como tralalhador assalariado, toda a carga do hu-
milhação o rovolta dianto do maus-tratos o guo tunciona como
rocurso para salor o guo ó adoguado tazor ou não, ou mosmo
a passagom por nogócios intormais como os do camolo, om guo
so procisa viajar por várias cidados, tirmando rodos do contatos
o conhocondo divorsos morcados.
A condição itinoranto dos migrantos oconomicos¨, guo so
transtorom para ondo ostá o tralalho, colalora na tormação do
um ospírito omproondodor,
19
capaz do so dotrontar com o so
adoguar a divorsas situaçòos-prolloma. Assim olos aprondom a
partir do alargamonto do horizonto dos possívois, do incromonto
do rocursos cognitivos o da incorporação do novas disposiçòos,
ou atualização do outras adormocidas, por moio do contato com
novas morcadorias, com possoas do trajotórias o oxporiôncias
ditorontos o com condiçòos do tralalho divorsas. Essos procossos
so rolacionam tamlóm com uma distinção lrusca guo so osta-
loloco ontro o ou¨ o o mundo¨ na condição do porogrinação o
guo paroco tortalocor os aspoctos óticos do Iaü:ìu: do tralalho
224
duro já incorporado. Das Doros tom, hojo, sua microtálrica do
contocçòos, mas tralalhou duranto muito tompo como camolo
nas rodos do comórcio intormal guo so doslocam do cidado para
cidado, do ostado para ostado, om viagons guo podom durar dias
o implicam muitas vozos a nocossidado do dormir na rua, ao
rolonto, na companhia do ostranhos. Nossos contoxtos, o lata-
lhador itinoranto tortaloco os olomontos óticos do sua rolação
com o mundo o com os outros porguo só podo so apogar a Dous
o a sua providôncia guando procisa ontrontar sozinho o dosco-
nhocido o oncarar o dosatio do convivor com possoas ostranhas,
guo são, simultanoamonto, tonto do doscontiança o somolhantos,
possoas om guom so podo idontiticar o roconhocor sua própria
condição procária.
Outro oxomplo do latalhador itinoranto ó o do Vanó, homom
do 33 anos, somianaltaloto o tilho do agricultor, guo roconhoco om
cada um do sous omprogos um aprondizado importanto. Tondo
cursado mal aponas ató a torcoira sório do onsino lásico, comoçou a
tralalhar por volta dos 12 anos om divorsos licos: como auxiliar
do podroiro, capinando o arrancando mato ao rodor da cidado ou
pintando casas. Emprogado dosdo os 13 anos na podroira guo hojo
tornoco a matória-prima do sua microindustria do lonoticiamonto
do guartzito para ornamontação, om uma cidado na divisa ontro
o Rio Grando do Norto o a Paraíla, Vanó lomlra guo a maior
oxporiôncia guo tovo toi tralalhar om uma tirma do construção
civil, ondo ostovo omprogado duranto sois anos, construindo
ostradas no Pará, na Paraíla o om Pornamluco. Essa oxporiôncia
prolongada do tralalho, na gual consoguiu ascondor do cargo
- do poão¨, passando por oporador do máguina o chogando
a toitor da tronto do sorviço -, toi tundamontal não aponas
para arrocadar o dinhoiro nocossário ao arrondamonto do uma
sorraria, já toda oguipada com máguinas, o guo organiza com os
irmãos, mas tamlóm como tonto do conhocimonto solro tormas
do organização o administração. Elo roconhoco o tato do guo tor
saído para conhocor o mundo¨ lho rondou salor o coragom para
iniciar sou próprio nogócio. Por isso ontatiza, guando compara
sua situação com a do outros tralalhadoros guo garimpam há 20
anos na mosma podroira ondo olo próprio iniciou, guo ó muito
ditícil alguóm consoguir sulir tralalhando sompro no posado¨,
domonstrando aí um incrívol conhocimonto prático acorca dos
princípios do ostratiticação social.
225
Com otoito, a possililidado moramonto circunstancial do so
apartar do dia a dia do tralalho lraçal na mosma podroira, guo
comoça om torno das 6 horas da manhã o tormina às 1¯ horas,
guando o garimpoiro ostá cansado o tudo o guo dosoja ó ir para
casa ropousar, ou mosmo tomar uma doso do pinga com os cologas,
pormitiu a Vanó tugir do uma rotina dosgastanto guo roduz
o horizonto do oxpoctativas dos latalhadoros. Emlora partam
do mosmo contoxto do origom do Vanó - a agricultura, cuja
atividado muitos conciliam, auxiliados pola osposa o os tilhos,
com o garimpo -, compartilhom tamlóm do uma trajotória om
guo chogaram a dosomponhar licos ditorontos o sonhom com
a molhora do vida, a maioria dos minoradoros daguola rogião
acala so adaptando à sua situação ditícil, mas não por proguiça
ou talta do ostorço, como guorom alguns analistas para guom as
classos popularos sompro so acomodam a uma lógica imodiatista.
Na vordado, o guo os mantovo no mosmo otício, aposar das dispo-
siçòos somolhantos, o os toz tracassar¨ tronto ao oxomplo do
asconsão o omproondodorismo do homons como Vanó toi a torça
do constrangimonto da ostrutura oljotiva do possívois, para a gual
a pormanôncia no amlionto circundanto paroco tundamontal,
unida a um contormismo lógico¨, um consonso pró-rotloxivo o
imodiato solro o sontido do mundo¨,
20
guo considora tacitamonto
os custos matoriais o psíguicos do uma tontativa sulita do mudan-
ça, do um passo om talso¨ guo atrapalharia a vida posada, mas
minimamonto sogura. Assim, ainda guo o lidar com a incortoza
soja aspocto crucial na vida do todos os latalhadoros - soja a
incortoza do morcados variávois o passagoiros para os omproon-
dodoros o autonomos, ou do postos do tralalho guo dospontam
o dosaparocom, para omprogados tormais ou intormais -, são os
omproondodoros os mais lom adaptados para lidar com ola do
torma ativa, compotôncia goralmonto adguirida no contoxto do
uma transtorôncia ospacial tguo ó sompro ospaçotomporal) ainda
na juvontudo.
E, agui, surgo ainda um outro tator do tundamontal impor-
tância. A classo tralalhadora assisto, na dócada do 1990, ao
procosso do dosostruturação capitalista, às ondas do domissòos
colotivas, ao aumonto da massa do dosomprogados o à dissomi-
nação do torcoiro ospírito do capitalismo,
21
do valoros o princípios
noolilorais do :~IJ-nau~ nau. Essa mudança na ostora produtiva
o idoológica implica uma transtormação no ~ìI·: do tralalho ligado
226
ao univorso tordista, com sua autodisciplina rotinoira o a lusca
caractorística por uma ocupação durávol, constanto o ostávol para
toda a vida, guo so dosonrola om uma narrativa linoar o cumulati-
va. Vuito omlora ossa tonha sido uma narrativa concrota aponas
para uma parcola dos tralalhadoros lrasiloiros, considorando os
postos o ocupaçòos irrogularos, rogimos diaristas o sazonais guo
sompro oxistiram na cidado ou no campo, ola tuncionava como
horizonto dosojávol mosmo para aguolos insoridos om condiçòos
procárias o guo não dostrutavam das garantias do omprogo tormal.
Vas no capitalismo dosostruturado, a mudança constanto do ocu-
paçòos o rogimos oxporimontada polo tralalhador, guo goralmonto
oncara a instalilidado no omprogo como uma tatalidado guaso
natural, o doslocamonto contínuo om lusca do postos do tralalho
o a adaptalilidado tronto a um tuturo cada voz mais improvisívol
dissominam um novo ~ìI·: no tralalhador, guo so intogra do
torma contraditória à disciplina o ao autocontrolo aprondidos
no próprio tralalho.
22
Nossas condiçòos, ostimula-so um corto
sonso do oportunidado, uma voz guo o mundo ó marcado polo
tatalismo da tloxililidado o do tluxo a curto prazo¨, ondo a
instalilidado protondo sor normal, o omprosário do Schumpotor
aparocondo como o homom comum idoal¨.
23
Assim, latalhadoros
mais jovons como Vanó, guo tivoram contato com postos o rogimos
do tralalho divorsos muito codo, acalam tondo guo so adaptar
à insogurança o ao risco, tortalocondo um sontido do mundo já
implícito na própria condição do itinoranto. Entrotanto, a mudança
do posição do omprogado para omprogador não impodo osto
ultimo do aprosontar ompatia com o ponto do vista do trala-
lhador o omprogá-la racionalmonto na torma como administra o
nogócio. Nolo, como om outros latalhadoros omproondodoros, a
idontidado como tralalhador tala muito alto, ainda mais guando
dispòo do pouguíssima oducação tormal o lasoia a organização
do sou nogócio no conhocimonto prático articulado:
Eu tui tralalhador, o ainda hojo sou. Eu achava muito tristo vocô
passar o dia todo no sol guonto tralalhando o vocô chogar o dar
um grito no cara... Humilhar o cara. O cara já tá no tralalho duro
ali... Como ou tralalhoi om tirma, junto com guatro mil poão, o
via gonto chogar, o oncarrogado, ongonhoiro, o humilhar... Então,
isso ó o guo ou digo pra minha osposa |rosponsávol por administrar
as tinanças da omprosa o guo discorda do rogimo modorado,
monos impossoal, do Vanó}. Digo pro mou tilho: osso monino ó
22¯
uma criança, mas so ou dor um grito nolo, olo laixa a caloça... A
hora guo ou gritar com olo agui, olo laixa a caloça. Polo monos
uns 10 minutos, olo vai ticar dosgostoso comigo, guo olo ó uma
criança o num ontondo do nada, mas... nó? Elo num tica como
olo tava. Do mosmo joito ó a gonto guo já ó adulto, já ontondo
como ó guo tunciona, ninguóm guor lovar grito do ninguóm.
t...) O tralalhador... O polro dopondo do uma convorsa, do um
ajoitado. So tor com ignorância, ó pior. Vocô tando rovoltado...
Eu tiro por mim, guando ou tava tralalhando rovoltado, mou
plano ora acalar o oguipamonto, ora não tralalhar. So vocô tá
agui, dou uma lriga, tá com raiva do sou patrão, gual ó sou
intorosso? Ë do não tralalhar, ó do guolrar a máguina, ó do tazor
uma coisa orrada, pra guo vocô possa parar o ir pra casa o aguola
hora passar. Quor dizor, ou mormo ora assim, ou acho guo guaso
todo mundo ó assim... Vocô tralalhar intoliz com o guo vocô
tá tazondo ó a pior coisa do mundo! E, voja lom, guando vocô
tralalha num grupo como o guo ossos caras tralalham... Elos
ticam o dia todim junto, olos ticam mais aí no tralalho do guo
om casa com a tamília, com o pai, com a mão. Elo vai chogar om
casa do noito, do 8 hora, 9 hora, vai dormir, vai assistir tolovisão,
o ali olos tão om contato o dia intoiro. Elos são mais do guo uma
tamília o tôm guo tor uma rolação muito loa pra não tá criando
prolloma, pra não tá lrigando...
Uma análiso guo ontocasso o porsonalismo¨ ondômico nas
massas, om guo o joitinho lrasiloiro¨ à la DaVatta
24
impora,
ontatizaria agui aponas o ajoitado¨ do guo, sogundo nosso ontro-
vistado, o polro procisa para acoitar sua posição, ou soja, o
oncolrimonto da oxploração do tralalho por um talso vínculo
possoal o o arrotocimonto da potôncia política da rolação assa-
lariada, pano do tundo da omorgôncia do uma consciôncia do
classo. No ontanto, ao contrário do guo diz a toso do porsona-
lismo, não so trata do olscurocimonto das rolaçòos impossoais,
ostritamonto oconomicas, guo unom o latalhador omproondodor
o sous omprogados. Na vordado, todos os onvolvidos salom o
guo ostá om jogo: o omprogo, mosmo procário o som diroitos,
por parto dos tralalhadoros o a possililidado do continuar o
próprio omproondimonto oconomico por parto do omproondodor.
Do tato, a pró-comproonsão da condição do poão¨ pormito a
Vanó tor loas rolaçòos com sous tralalhadoros o mantor sua
microomprosa tuncionando om condiçòos irrogularos, uma voz
guo, como oxplica, olo não tovo ostrutura ainda para logalizá-la
228
totalmonto o vivo sol o risco cotidiano o a amoaça oljotiva do
procossos, procoito guo os omprogados irrogularos ostão longo
do dosconhocor.
Sondo assim, ainda sogundo as alordagons lilorais solro as
classos popularos, alóm do porsonalista, Vanó soria um corrup-
to. Vas a oxporiôncia do tralalho guo capacita para o lidar com
gonto, gonto guo ostá om uma condição próxima a guo ostovo
olo próprio duranto grando parto do sua vida, pormanoco na laso
do aprondizados não aponas cognitivos, guo, com otoito, acalam
como tundamonto do ostratógias do oxploração para compra do
tralalho procarizado, mas tamlóm tunda aprondizados morais.
O latalhador omproondodor não ostá aponas sondo calculista o
idoológico guando diz guo toi tralalhador o ainda ó¨, nom os
omprogados são tão alionados a ponto do sorom comprados por
uma convorsa o uma corvojinha paga no tim do oxpodionto. Uma
noção jurídica mínima o o conhocimonto lásico solro diroitos
tralalhistas ostão do tal torma dissominados hojo guo pormanocom
sompro como horizonto o pano do tundo nas convorsas o nogo-
ciaçòos ontro choto o patrão, montando um sistoma do amoaças
tácitas, llotos o compromissos.
A rolação possoal, do tato oxistonto, sorvo procisamonto para
vialilizar as rolaçòos impossoais porpassadas polo dinhoiro o
polo diroito. Ao contrário, portanto, da toso do porsonalismo,
guo olscuroco todas as rolaçòos impossoais o oljotivas, a
rolação possoal o a torma particular guo osta assumo sorvom
para ostalolocor um compromisso ontro as partos dontro do
um contoxto om guo a olsorvância ostrita da logalidado soria
projudicial a todos. Vas, olsorvo-so, ó a oxistôncia da rogra logal
guo constitui os tormos da troca do tavoros possoais. A rolação
possoal, como om toda sociodado modorna, inclusivo no sortão
nordostino, ó socundária no guo so rotoro aos capitais impossoais
onvolvidos.
O guo vomos nosso sistoma são rolaçòos do rociprocidado
ostruturadas no conhocimonto tácito da condição do um o outro,
do loguo do altornativas do ação do guo cada uma das partos
dispòo o das rosponsalilidados o garantias guo dovom ostar
prossupostas, romotondo a uma rolação ontro possoas¨, som
duvida, mas cujo pano do tundo ó impossoal o oljotivo. A rolação
ontro possoas¨ agui não ostá tundada om uma hiorarguia do
posiçòos, papóis, garantias o atriluiçòos ostalolocidas dosdo
229
sompro polo diroito costumoiro da ordom patornalista, como na
rolação ontro sonhor o sorvo, ontro sonhor o sou dopondonto
ou agrogado. Em oposição a osso modolo patornalista, o ainda
guo os próprios atoros possam molilizar algumas do suas
noçòos para intorprotar a situação, a rolação, agui, lasoia-so no
roconhocimonto do uma origom o um ostilo do vida comuns o
das diticuldados implícitas na condição do um o do outro, om
uma rolação do troca modorna modiada totalmonto polo dinhoiro
o circundada polo horizonto sompro prosonto do Estado o do
sistoma jurídico modornos, lom como dos diroitos tralalhistas
guo osto roconhoco.
A origom do classo comum o a trajotória do sotrimonto do
patrão¨ implicam uma rolação do oxomplaridado guo corro om
dois votoros: do um lado, os tralalhadoros, solrotudo os mais
jovons, ospolham-so om Vanó, ansiando inclusivo tornar-so como
olo, do outro, a oxporiôncia do próprio Vanó como tralalhador
o sua disposição roalista lomlram-lho o risco sompro prosonto
do guo olo podo voltar ao contoxto do ondo consoguiu omorgir.
Portanto, so ó vordado guo osso rogimo do tralalho aprosonta
aspoctos mais possoais, olo ostá assonto om uma ostrutura total-
monto ditoronto daguola pró-modorna guo a toso do porsonalismo,
o com ola a do patornalismo, prossupòo. Ë osso compromisso,
construído a partir do rolaçòos oljotivas, guo não tom nada do
arcaico¨ porguo ó pormoado por práticas o instituiçòos modornas,
guo pormito um corto distanciamonto crítico dos imporativos
do rogimo totalmonto impossoal - o gual, num contoxto do
procariodado como o guo ostamos analisando, soria ainda mais
oprossor o violonto -, como tica sugorido nas críticas do Vanó a
um portuguôs, dono do uma grando sorraria da mosma rogião,
guo, sogundo olo, joga posado¨ com os tralalhadoros:
Elo não guor, olo não ó igual ou, igual os outros guo choga o tica
do convorsa, não. O nogócio dolo ó tralalhar, cada gual com sou
tralalho, não guor convorsar o... Ató porguo na sorra ondo olo
tava tralalhando, tovo um possoal lá guo lovou duas lananas
o comoram as lananas lá, salo? So tosso por mim, ou não tava
nom aí. Elo não, olo chamou os tralalhador, roclamou. No outro
dia, olo disso... Trouxo mais pra vor guom comia porguo... pra
salor guom vai omlora. Quor dizor... Então, tá vondo guo olo
joga posado, nó?
230
Do tato, a maioria das várias ontrovistas guo tiz com Vanó,
algumas vozos almoçando com olo o sua tamília, outras visitando
sua microtálrica, toi acompanhada por sua osposa, guo criticava
a torma como olo lidava com os tralalhadoros:
Já ou não acho! Eu acho guo, assim, amlionto do tralalho ó
amlionto do tralalho, nó? Bator papo, outras coisas, tora. Eu
acho assim. Porguo tralalhador na hora do tralalho não ó pra tá
convorsando, na hora do tralalho ninguóm podo dar lilordado,
nó? Quom não guor tralalhar, guor lrincar, nó? t...) Ë porguo
tamlóm agui os tralalhadoros, a maioria dos tralalhadoros,
guando a possoa dá muita lilordado, olos guorom sor o dono,
ontondou? Aí por isso guo ou acho guo não dovia. Porguo, no
caso dolo, já acontocou do tralalhador guoror mandar mais do
guo olo. Porguo olo dá muita lilordado, nó? t...) Eu vou dizor por
guo ó guo ou roclamo. Porguo olo gosta do adiantar dinhoiro a
tralalhador, aí guando ó, guando ó na guinzona, assim, guo ó o
pagamonto, aí o tralalhador diz guo olo não pagou adiantado. Aí
ó aguola contusão, olo tica doidinho. Aí ou digo, olho, so vocô
ovitasso do dar dinhoiro antos, tu ovitava todo osso muído, dor
do caloça, aporroio, nó?¨ Tudo. Aí ó isso guo ou digo a olo.
A ossas críticas, Vanó rospondo:
Porguo o rogimo guo ou vojo dola ó totalmonto ditoronto do
mou... Ató porguo, doixo ou oxplicar pra vocô, aguolo cara guo
tralalha naguola sorraria ali, olo tralalha pra um cara lá do
Brasília, pra um amigo mou. Então, olo tom uma parto da sorra
guo olo tira podra lá, oxtrai tamlóm. Então, o guo acontoco, o
amigo mou... Os cara da sorra tala guo não gosta dolo, guo olo ó
muito motido, ó todo choio do diroito, guor humilhar o cara, guor
guo o cara taça do joito guo olo guor, o não ó assim. Tá corto
guo tá pagando, mas tom guo tor um acordo. Eu acho guo não
ó vocô chogar o dizor guo pau ó pau o ó pau, ou acho guo não
tunciona assim. Eu não acho guo tunciona assim não!
O guo paroco talar agui por Vanó ó outra coisa alóm da pura o
simplos racionalidado ostratógica do guom não tom outra opção a
não sor ontrar om acordo com os tralalhadoros dovido à condição
intormal. Olviamonto guo o aspocto ostratógico ostá prosonto o ó
dotorminanto, mas tamlóm ostá prosonto uma solidariodado para
com os tralalhadoros: Vanó ovita sor mais rígido, jogar posado¨
o gritar¨ porguo já sontiu na polo o guo signitica lovar grito¨.
231
Assim, soja por causa da incorporação a uma roligiosidado católica
popular guo monta um princípio gonoralizado do tratornidado
pola condição oxistoncial do procariodado o sotrimonto, soja pola
oxporiôncia como tralalhador, condição guo o latalhador ompro-
ondodor, dono do microomproondimontos ondo goralmonto ó
cologa do sous tuncionários, compartilha mosmo guando passa
a omprogador o guo lho tornoco o conhocimonto das angustias
o o ponto do vista do guom dopondo do salário, ou soja, pola
soma dossos dois tatoros, pudomos porcolor uma solidariodado
oxplícita na tala da maioria do nossos ontrovistados. No caso
do Vanó, ó importanto lomlrar guo o discurso do tralalho o da
diligôncia lho aparocou do torma articulada como axioma moral
nos oncontros das Cruzadas, do guo participou duranto a intância
o adoloscôncia, om guo as troiras lho onsinavam guo proguiça
ó coisa do dialo¨, mas guo so dovo ajudar a guom procisa. Essa
doutrina guo racionaliza uma ótica do tralalho o justitica a
condição ditícil do guom comoçou a tralalhar tão codo tamlóm
traz om sua concopção do mundo um princípio do tratornidado
- a proocupação ospociticamonto cristã com o somolhanto - o
pormanoco incorporada no ~ìI·: do Vanó, mosmo guo olo não
vá sompro à missa.
Quando alordamos tomas políticos, ossa solidariodado so
torna mais ovidonto, ainda guo cada voz mais amlígua, à modida
guo o latalhador ascondo socialmonto om tormos oconomicos,
ganhando ostalilidado, ou guanto mais sou nogócio dopondo
do conhocimonto tormal. Das Doros, por oxomplo, ó catogórica
na rosposta da guostão solro gual soria o maior prolloma do
Brasil:
A dosigualdado. A gonto num tom idoia das humilhação guo
passa uma possoa guando tá dosomprogada, o tompo intoiro.
O jovom tonta arranjar omprogo o num consoguo, tá dorrotado.
Aí passa na tronto daguolo monto do loja choia do coisa lonita,
tica rovoltado...
E rospondo com um moio riso ironico guando porguntamos so
ola concorda com a oxistôncia do colas ospociais para possoas
com onsino suporior: Engraçado... porguo na hora do comotor
o crimo, a oducação num sorviu do nada, nó?¨ As oxporiôncias
possoais, ou do possoas muito próximas, com a procariodado
implicam tamlóm vínculos do solidariodado o uma rolação mais
232
comproonsiva o monos acusatória para com dopondontos do
lonotícios. Das Doros lomlra, por oxomplo, guo grando parto
das tralalhadoras na Ascopop rocolo Bolsa lamília, mas não
doixa do tralalhar por causa disso. Diz guo, so o programa
oxistisso guando sous tilhos ainda oram jovons, cortamonto
toria ajudado nas dosposas da casa. Esso tamlóm ó o caso do
muitos tralalhadoros rurais, ligados à agricultura tamiliar, guo
oncontramos nas toiras das divorsas cidados por ondo passamos,
tamlóm latalhadoros o lonoticiados polo programa.
Por outro lado, já sogundo rolatos do donos do microtálricas
do produtos agrícolas, como mol ou alimontos à laso do gorgolim,
casos como o do luiz, citado alaixo, a união do programas como
o Bolsa lamília o as linhas do cródito da agricultura tamiliar toriam
gorado uma oscassoz do mão do olra no campo, uma voz guo
a gonoralização do um patamar mínimo do lom-ostar matorial
olovou os tralalhadoros rurais à condição do podorom nogociar
por molhoros salários ou optar polo tralalho nas próprias
produçòos tamiliaros. Valo rossaltar o guo isso signitica: o protonso
assistoncialismo¨ guo gora dopondôncia ó tator do mudanças
ostruturais na rolação capital-tralalho. Vas, ainda guo ossos micro-
omprosários, latalhadoros omproondodoros rurais guoixom-so das
diticuldados com a mão do olra - cujos otoitos são os primoiros
a sontir porguo possuom omproondimontos muito poguonos, com
pouco capital do giro, o procisam omprogar diaristas osporadica-
monto, mosmo contando com o próprio tralalho o do tamiliaros -,
olos próprios roconhocom a importância dos programas, ainda
guo da torma amlígua caractorística do sua condição ostrutural,
simultanoamonto do tralalhadoros o omprogadoros:
Vão do olra, hojo, so vocô procisar do mão do olra porguo tom
plantio maior... So procisar do mão do olra, hojo, nós não tomos...
E, guando tom, ó cara. Porguo dovido os programas sociais guo
lonoticiam o poguono produtor rural, nó, aguolo do uma ronda
lom poguona, nó... Elo tralalhava com uma diária mais intorior
o, hojo, como olo tom uma intraostrutura do vida molhor... Vocô
vô, toda casa, hojo, o cara tom um tolovisor a cor, antona para-
lólica, nó... DVD, uma motinha pra andar, nó... Aí o poguono
ganhou uma intraostrutura tinancoira molhor, nó... Aí olo, hojo,
como tom aguola ronda - guo antigamonto olo ora o diarista,
tralalhava pra solrovivor, nó -, olo já tom mais como solrovivor.
Aí olo parto pra invostir mosmo na roça dolo mosmo, nó, o tom
233
pouca disponililidado pra tralalhar. E guando vai tralalhar, já
nogocia o podor do larganha, nó: Não, ou só vou tralalhar...¨
So um dia, a diária antos ora 15 roais, hojo: Eu só vou por 20,
25¨, nó? Porguo, na roalidado, num ó lom tralalhar do diarista.
Porguo olo tralalhava do diarista, num tom sogurança, num tom
soguro-dosomprogo, olo num tom colortura do um acidonto do
tralalho, nó: Não, so ou corro todo osso risco, ganhando pouco,
ou vou tralalhar no mou.¨ Ë mais justo tamlóm, nó, um salário
ató molhor pra olo, nó... Vas tica mais ditícil, tica mais ditícil...
Por guo ossas guostòos são importantos? Ora, so há ditoronças
ontro latalhadoros, omprogados ou autonomos, o latalhadoros
omproondodoros, donos do nogócios próprios mais lom-suco-
didos o omprogadoros, o guo, na divisão do classos marxista,
lasoada unicamonto na propriodado dos moios do produção,
ostruturam a ditoronça ontro prolotariado o poguona lurguosia, há
tamlóm várias o protundas somolhanças. A primoira, como já toi
saliontado no docorror do todo o livro, diz rospoito à importância
do uma ostrutura tamiliar ostávol, não roduzida aponas à tamília
nucloar lurguosa, mas oxpandida ató parontos mais distantos,
como tios o primos, o guo tunda a laso do aprondizado prático
para o tralalho o para a vida. Vas, para alóm da caractorística
lásica do uma ótica do tralalho duro, a conduta ascótica impli-
ca ainda, alóm da disciplina incorporada, um ostilo do vida guo
conta com a racionalização do contoudos cognitivos solro os
mundos natural o humano om suas rogularidados o contradiçòos,
solrotudo com laso na noção do tomporalidado provontiva o na
própria oxporiôncia colotiva do tralalho o do contoudos do valor
tornocidos guor pola roligiosidado, guor polos procoitos morais
do sonso comum. As guostòos solro política rovolam guo ossos
contoudos do valor ostão rolacionados a prossupostos normativos
lásicos o univorsalistas guo dizom rospoito à cronça modorna
no tralalho como tonto om si do dignidado para o homom, mas
tamlóm na rossalva do guo há procondiçòos para sou oxorcício
guo dovom sor garantidas, solrotudo polo Estado. Um latalhador
omproondodor como Podro, por oxomplo, guo ó tilho do agricultor
diarista, mas já lastanto instruído om comparação à módia goral
dos latalhadoros, uma voz guo chogou a concluir curso do tócnico
agrícola, tralalhando nossa tunção om programas assistonciais da
diocoso do Patos tPB), procisou alandonar o curso do modicina
votorinária porguo a oducação tormal passou a compotir do
234
torma irroconciliávol com sua ocupação o por causa das rostriçòos
tinancoiras guo diticultavam sua pormanôncia na cidado, suston-
tada polos pais. Emlora dono do uma microtálrica do produtos
naturais à laso do gorgolim, olo domonstra solidariodado com os
lonoticiados polo Bolsa lamília guando guostionado solro so o
assistoncialismo provoca acomodação na população:
Roalmonto, os programas do govorno guo ou conhoço tinham
muito assistoncialismo. Claro guo osso tom tamlóm, mas olo ó
um assistoncialismo mais lovo. Ë assistoncialismo por guô? Tá
pogando o dinhoiro o tá dando. Vas osso nogócio do vincular a
liloração daguolo dinhoiro com a troguôncia oscolar, ou acho isso
suporpositivo. Porguo não ó aguola coisa solta. Tom assistoncia-
lismo, tom, mas ó uma coisa guo... Ë uma coisa guo vocô nota guo
tom um croscimonto. Por oxomplo, ostava no morcadinho, tava a
discussão do um agricultor lonoticiado pola Bolsa lamília o uns
caras lá convorsando: Ah lula... isso ó... Ë pruns vagalundos
aí, os caras não guorom nada, só guor comor do govorno!¨ Aí o
cara olhou pra turma lá o disso: Tá vondo osso carrinho do toira
agui?¨ - To.¨ - Pois osso carrinho do toira agui, guo vai matar
a tomo dos mous tilhos, só toi possívol por causa do lula. Por
causa do Bolsa lamília.¨ Pra olo, aguilo ó um dinhoiro guo caiu
do cóu. Pra guom não tom muita procisão, não vai valorizar, nó?
Vas já ponsou para uma possoa guo ostá passando tomo o choga
uma Bolsa lamília, uma costa lásica do alimontos? Tom muita
gonto guo não salo o guo ó tomo o não valoriza. Vas a possoa
guo tom tomo... Porguo tom a tomo o tom a hora do comor. A
gonto, muitas vozos, passa da hora do comor o diz guo ostá com
tomo. Vas tomo ó guando não como hojo o... E não tom amanhã
tamlóm, o não salo so vai tor dopois do amanhã tamlóm. Aguola
possoa guo procisa mosmo, acho guo a possoa não so acomoda
não t...) Não adianta tilosotia: onsinando a poscar, não soi o guô,
não! Tom cara guo não tom mais nom condição do poscar. Tom
guo dar o poixo, pro cara so por om pó, criar coragom o comoçar
a poscar. Porguo o cara já tá dorrotado, nocautoado, o cara guoror
guo olo vá aprondor a poscar... Vorror, nó?
235
ASPECTOS PARA UVA
POSSlVEl lDENTlDADE DE ClASSE
O animal Iaü·:~u: podo sorvir do guia ao I·n· Jaü~:¨
R:cIa:u S~uu~ì
A ompatia com indivíduos guo ostão, sol uma dimonsão, om
contradição com sous próprios intorossos, mas, sol outra, cons-
tituom sous somolhantos, provoniontos do uma trajotória parocida
com a sua própria, implica a oxistôncia do protundas rolaçòos do
idontiticação ainda não dovidamonto tomatizadas tvor Quadro 2).
Ainda guo, polo osguoma marxista, ostojam posicionados contox-
tualmonto om lados opostos da rolação capital-tralalho, o guo
som duvida constitui variávol importanto, o muitas vozos taçam
oco à idoologia da autonomia do :~IJ-nau~ nau, os latalhadoros
omproondodoros trazom uma marca do origom¨, matorialidado
do uma trajotória do procariodado transtormada om valor, guo
dotormina sou ostilo do vida o, om grando modida, suas posiçòos
políticas, ainda mais guando procisam so ocupar das mosmas
atividados guo sous tuncionários om sous nogócios, alóm da
administração. lsso não signitica guo não haja rolaçòos do podor,
oxploração o contradiçòos, ou guo o lolo, ontim, coio com o
cordoiro¨, mas signitica um roconhocimonto mutuo nos móvois
do invostimonto o nos horizontos do dosojávol caractorísticos do
Iaü:ìu: do tralalhador, lom como um ostranhamonto o indito-
ronça om rolação às insígnias do podor o prostígio matorializadas
na arto o cultura logítimas. Esso roconhocimonto tácito ontro si
rotoro-so ao lugar dostinado no mundo àguolos guo dopondom
oxclusivamonto do tralalho, tronto ao monopólio do um ostilo do
vida logítimo do guo não participam, tundado na oducação, no
rotinamonto do ospírito¨ o da porsonalidado o no orudicionismo.
Ou soja, implica a cronça om uma u·.a própria do latalhador,
ditoronto daguola da classo módia, guo tunda sou roconhoci-
monto na oducação tormal o no ropudio à polroza do ospírito¨,
ou daguola do poguono lurguôs clássico, guo roconhoco a
hiorarguia dos lons culturais o lusca do torma tonsa o angustianto
a convorsão do capitais, omlora não tonha disposiçòos para um
usutruto natural¨ do socialmonto logítimo.
236
Quadro 2 - O latalhador omproondodor o a toso marxista
do consorvadorismo poguono-lurguôs
Agui, ostamos muito longo da caractorização do poguono-
lurguôs roalizada por lrancisco Wottort, classo do massas por
oxcolôncia guo, tronto à amoaça iminonto do prolotarização,
apoiaria lídoros populistas com o unico intorosso possoal do
garantir ostalilidado: A poguona lurguosia, poróm, tondo,
om gualguor do suas manitostaçòos, à condição do massa. Em
roalidado, as condiçòos do oxistôncia da poguona lurguosia, não
importa so rural ou urlana, otorocom o paradigma dosto tipo
do manitostação política: olas olstam, ao invós do promovor,
a coosão do classos o a ação política comum... Assim, ola só
oncontra sua unidado do classo na luta política atravós da
sulmissão a um sonhor, a uma chotia guo lho ó imposta polas
condiçòos da luta política guo, no tundamontal, so movo polos
intorossos do outras classos. t...) Estas amplas camadas poguono-
lurguosas não nogam sou consorvantismo por manitostarom
rossontimonto anto sua condição social. Tondom, polo contrário,
a uma condição política consorvadora, a uma oxpoctativa típica
do sotor social marginal om taco do podor guo dovo suprir os
dosatortunados o ajudá--los a ascondor ou a mantor posiçòos nosta
ostrutura, som atotar suas lasos. Podor-so-ia imaginar guo osta
torma consorvadora o corrupta do populismo só so mantovo à
laso do doaçòos do podor, sondo movida ontão pola massa do
intorossos possoais guo ostalolociam com o podor uma rolação
guaso oconomica... Do tato, uma rolação guaso oconomica dosto
gônoro constituiu sompro para a maioria dos soguidoros uma
oxpoctativa, um idoal¨, antos guo uma prolalilidado concrota
do dostruto.¨ tWEllORT, lrancisco. · j·juI::n· ua j·I:ì:ca
ü:a::I~::a. Rio do Janoiro: Paz o Torra, 1980. p. 29, 32-33). A história
da sociologia política sompro doprociou a tigura do poguono-
lurguôs como consorvadora o corrupta, dosdo Karl Varx. Talvoz
coulosso uma roconstrução toórica dos proconcoitos do classo o
das intonçòos políticas por trás do tal avaliação, omproondimonto
impossívol nos tormos dosto artigo. Basta, agui, rossaltar guo
os latalhadoros omproondodoros, aposar do so assomolharom a
ossa poguona lurguosia clássica o so mostrarom monos solidários
com os latalhadoros omprogados à modida guo ascondom om
volumo o divorsidado do capitais, conguistando ostalilidado,
23¯
distanciam-so lastanto, na maioria dos casos guo oncontramos,
dossa caractorização. Elos não aprosontam conhocimonto
tormal nom uma narrativa do tompo linoar, provisívol o ostávol,
o a roprodução da classo om sua tamília constitui um dosatio
pormanonto. Não ostão om risco do prolotarização iminonto¨,
nom so prondom a chotos om troca do lonotícios possoais guo
garantiriam a ostalilidado do sua asconsão social. O latalhador
omproondodor já so oncontra, dosdo sompro, prolotarizado, ó
produto dosso procosso, sua asconsão dopondo da condição
constanto do tralalho duro o sou croscimonto nunca paroco
garantido, pormanocondo om risco contínuo. Não so trata do
uma condição guo olo alcançou do uma voz por todas o do
ondo, só a partir daí, passa a sontir o modo da docadôncia,
mas do uma condição contoxtual guo procisa sor luscada o
alcançada todos os dias. Por outro lado, na maioria dos casos
guo oncontramos, mosmo ontro os omproondodoros mais lom-
-sucodidos como luiz o Podro, acima rotoridos, junto às críticas
rotorontos à oscassoz do mão do olra o à indicação do guo os
programas assistoncialistas procisavam do rotormas, rossaltou-
-so sompro, o do torma muito ospontânoa, guo ossas políticas
oram ossonciais o guo pola primoira voz os mais polros oram
roprosontados. Nossa hipótoso ó do guo ossa solidariodado,
totalmonto contratactual so ponsássomos aponas do ponto do
vista da posição na ostrutura produtiva, uma voz guo olos são
patròos o compram tralalho, ainda guo do torma procária,
onraíza-so não aponas om sua origom, na solidariodado a possoas
guo lho são próximas o na sua própria oxporiôncia o condição
do tralalhador. Essos casos apontam guo, mosmo dontro aguolos
latalhadoros omproondodoros guo mais so assomolham à clássica
posição do poguono-lurguôs, há uma rolação do idontiticação
com as classos mais laixas guo so ostaloloco om oposição à
idoologia do classo módia voiculada pola mídia o cujo votor
primordial do roconhocimonto não passa polo tralalho, o so o
taz ó aponas do torma idoológica, mas pola oducação tormal o
a instrução.
Alóm do mais, o dado do guo a posição do latalhador ompro-
ondodor, mosmo guando omprogador, mostra-so protundamonto
contoxtual não ó aponas rotórico, mas oljotivo o, como tal, por-
colido polos próprios omproondodoros. Para ossa instalilidado
238
contam não aponas a instalilidado do morcado do consumo o
sorviços guo os sustonta, mas sua dopondôncia om rolação a
rodos do contiança, tanto no guo concorno ao lovantamonto do
cródito o do capital do giro para manutonção da produção om
situaçòos do criso, à conguista do troguosia - o caso já rolatado
do Das Doros, guo taliu por causa do choguos som tundo -, como
ao próprio morcado do tralalho. Exomplo mais radical disso toi
o do microomproondodor com guom convorsamos na cidado do
Patos tPB), tamlóm tilho do tralalhadoros rurais, dono do uma
poguona tálrica do poças para moto, cujas máguinas olo mosmo
havia projotado, o guo tovo do tochar as portas duas vozos om
guatro anos por conta do procossos tralalhistas: Quando olos
porcolom guo a gonto tá croscondo, olos caom om cima. Possoas
a guom a gonto onsinou tudo, do nossa total contiança.¨ lalido,
com a produção parada há corca do sois mosos o após tor do so
dostazor do parto das máguinas para guitar as dívidas na Justiça,
olo tonta rotomar vagarosamonto a produção, contando agora
aponas com a própria mão do olra o dos tilhos. Assim, tanto
guanto os latalhadoros assalariados, olos ostão sujoitos às mosmas
condiçòos do instalilidado guo caractorizam o capitalismo da
acumulação tloxívol, com sous morcados do consumo o do
tralalho otômoros o continuamonto om ronovação. E por mais guo
tonham ascondido oconomicamonto, guo as posguisas rocontos
toimom om localizá-los om uma nova classo módia¨, soguindo
parâmotros ompiricistas rolacionados ao podor aguisitivo, os
latalhadoros omproondodoros do sotor produtivo o manutaturoiro,
lom como aguolos guo so dizom autonomos no comórcio irro-
gular ou os guo dopondom do vários licos¨, não possuom as
condiçòos para dar ostalilidado a ossa asconsão o não tundam
sou roconhocimonto social na convorsão do capitais oconomicos
om culturais. Nos casos om guo consoguom uma convorsão do
capital polo monos para os doscondontos próximos, ostorçando-so
para proporcionar aos tilhos a oducação guo não tivoram, olos so
proocupam om incontivar, ao mosmo tompo, o aprondizado no
tralalho duro, sol pona do so vorom vítimas da luta do classo o
da violôncia simlólica dontro da própria casa:
Engraçado, nóis num tôm loitura, mas nóis tôm a salodoria do
tralalho. Aprondomo com o tompo t...) Eu já andoi muito nosso
moi do mundo... Ë por isso guo ó lom... ou sou contra o pai
lotar ti pra ostudar só guando ó... Ou, pra tralalhar só guando ó
239
volho porguo olo tom guo tralalhar nom guo soja um pouguinho
por dia pra olo acostumar. Bota um pouguinho pra olo tralalhar.
Assim, loto uma tarota duas horas por dia guando ó poguono
pra olo acostumar no tralalho. Porguo ou só gosto do tralalhar
porguo mou pai acostumou. So vocô num lotar, dopois guo olo
passa pra sor adulto, olo num guor tralalhar no posado... Nunca
mais olo oncosta. Ató o omprogo do pai, tom dolos aí guo ronoga,
tica talando do pai. O pai sustonta olo do tudo, do tudo sustonta
olo, aí tom ató vorgonha guo o pai ó agricultor.
As rolaçòos do idontiticação lasoadas na condição procária do
tralalhador podom parocor trágois o otômoras tronto às tormas
do organização o articulação dos tralalhadoros om sindicatos
o partidos, mas talvoz apontom novos canais do oxprossão do
ansoios políticos. Aposar da hotorogonoidado do ocupaçòos o
otícios, dos rogimos omprogatícios o do rossurgimonto om larga
oscala do tormas pró-modornas do oxploração do tralalho, como
os contratos torcoirizados o tomporários ou a produção domóstica,
guo procarizam as condiçòos do tralalho o tragmontam a idonti-
dado do classo tralalhadora,
25
podomos vislumlrar prossupostos
guo são compartilhados polos latalhadoros o guo rostam como
o pano do tundo do uma oconomia moral incorporada om suas
disposiçòos o articulada nas roprosontaçòos do mundo. Essa
oconomia moral, aposar do som oljotivos do classo ospocíticos
claramonto articulados, nutro-so do protonsòos pró-rotloxivas solro
a nocossidado do garantias do dignidado lásica o do justiça para
todos os cidadãos, tracamonto racionalizadas numa ospócio do
humanismo roalista - o mosmo guo taz com guo as classos popu-
laros so omocionom o so idontitiguom com imagons do possoas
simplos no tralalho ou do crianças na primoira comunhão, sondo
sou gosto dosclassiticado como ingônuo pola u·.a orudita.
26
E ó
simultanoamonto no ostoicismo prático¨ do tralalho,

tundador
do idontiticaçòos, solidariodados o projoçòos, o nos axiomas
morais do um catolicismo popular, laicizado om grando modida
nas constataçòos o procoitos do sonso comum, guo osso huma-
nismo roalista oncontra sua tonto porono do atualização.
Ora, Axol Honnoth nos lomlra guo rossontimontos o rancoros
sontidos suljotivamonto por indivíduos portoncontos a um mosmo
grupo social contôm om sou soio prossupostos morais tormados
por protonsòos do roconhocimonto. Tais rossontimontos são
molilizados não por acaso om guoixas popularos tornadas
240
vordadoiros clichôs, como a crítica rocorronto om nossas ontro-
vistas do guo a justiça no Brasil ó para guom tom dinhoiro¨,
rovolando ansoios não aponas individuais, mas tamlóm colotivos,
na modida om guo são oxporimontados cotidianamonto como
oxpoctativas trustradas do indivíduos guo compartilham oljoti-
vamonto condiçòos somolhantos do vida: uma classo guo monta
sua lusca por roconhocimonto o dignidado não no conhocimonto
tormal, mas no tralalho, o tralalho duro, santiticado por uma
ótica do sotrimonto. Aposar do cinismo liloral do muitos ciontistas
sociais guo, alçando Niotzscho à posição do protota do pós-
-modornismo onguanto croom tiolmonto no sucosso como truto
do uma oloição moritocrática, voom aponas a invoja dos tracos
o incapacitados, os rancoros popularos guardam implicitamonto,
so lovamos a sório o tazomos lom uso do uma pragmática da
linguagom,
28
contoudos cognitivos do constatação solro as
rogularidados do mundo, advindos da oxporiôncia na tamília
o no tralalho, ansoios morais do corroção a partir do cronças
intorsuljotivas na justiça, guo as instituiçòos dovoriam oncarnar,
o tormas oxprossivas tipicamonto popularos, guo tazom uso no
mais das vozos do tom satírico, da paródia o da linguagom chula
como torma do dossacralização do podor guo os constrango.
Entim, omlora ostoja tragmontada om uma massa do trala-
lhadoros divorsiticados, dosdo oporários tordistas, omprogados
irrogularos, tralalhadoros autonomos, ató microomprosários, ossa
massa so porcolo como classo, classo tralalhadora, o talvoz possa
aprosontar, do acordo com o contoxto da luta do classos, intorossos
o oljotivos om comum a partir dosso pano do tundo comparti-
lhado intorsuljotivamonto. Do latalhador rural ao microompro-
ondodor, do camolo ou nogocianto autonomo ao omprogado
do tálrica tormal ou irrogular, ossos ditorontos atoros podom,
aposar do localizados om traçòos com caractorísticas o intorossos
poculiaros, articular os valoros guo tacitamonto compartilham om
comum o molilizar uma solidariodado vivonciada implicitamonto,
rovolando uma consciôncia horizontal¨ guando o contoxto lho
ó propício o guando surgom canais próprios capazos do cana-
lizar tais sontimontos. Assim, paratrasoando Edvard Thompson
a rospoito da camada ditusa do tralalhadoros guo oxistia no
momonto imodiatamonto antorior à rovolução industrial: A turla
podo não sor tamosa por possuir uma impocávol consciôncia do
classo, mas os govornantos |o, solrotudo, as classos dominantos}
241
não tinham nonhuma duvida do guo ora uma ospócio do losta
horizontal.¨
29
So a luta do classo, solrotudo a simlólica, uma
voz guo implica sompro articulação do idontidados, constitui um
indicativo da oxistôncia concrota das classos, valo mais prostar
atonção às toorias o discussòos guo so dissominam na ostora
pullica do guo continuar a porono lamontação por uma cons-
ciôncia pordida, ou nunca conguistada.
PROlEClA EXEVPlAR E POPUllSVO:
DAS RAZOES DA POBREZA
A POBREZA DA ESlERA PUBllCA BRASllElRA
Por guo nos proocupamos om vislumlrar uma possívol
unidado oljotiva do classo om uma camada tão hotorogônoa?
Em nossa concopção, porguo ossa unidado ligada ao ~ìI·: do
latalhador o a sou ostilo do vida oxplica um dos tonomonos mais
controvorsos na conjuntura política dos ultimos anos: a salor, a
adosão om poso das camadas popularos ao guo so convoncionou
chamar do lulismo¨. O guo nos diz a opinião pullica¨ solro
o tonomono o por guô? Em odição do dia 1 do novomlro do
2006, dois artigos intitulados O dosatio dos dois Brasis¨ o Entro
o azul o o vormolho¨ vioram a pullico na rovista !~¡a. Nolos,
dotondia-so a toso, dosonvolvida a partir do posguisa coordonada
polo Prot. Cosar Romoro Jacol, da PUC do Rio, o guo mais tardo
soria dissominada por vários moios do comunicação o discutida
por divorsos intoloctuais, do guo a rooloição do luís lnácio lula
da Silva om 2006 implicara uma divisão no oloitorado lrasiloiro
ontro a porção da população mais instruída, crítica, politicamonto
conscionto o cooronto com as instituiçòos modornas, localizada
nos ostados do Sul o Sudosto, o a porção da população polro o
misorávol, mais atrasada, com laixo nívol do oscolaridado o incapaz
do so adoguar à impossoalidado do morcado, localizada princi-
palmonto no Norto o Nordosto. O ospanto toi causado porguo,
mosmo com a tompostado do donuncias o oscândalos alardoada
do manoira sistomática polos grandos moios do comunicação,
lula toi rooloito dopois do uma disputa acirrada no primoiro
turno graças às camadas popularos localizadas nas taixas E, ató
dois salários mínimos, o D, do dois a cinco salários mínimos, o
guo, pola primoira voz dosdo a rodomocratização, rouniram-so
242
majoritariamonto om torno do um candidato localizado à osguorda
do ospoctro político-idoológico.
Aparontomonto trustrando a oxpoctativa do ontão intitulado
Quarto Podor¨ do oriontar as tomadas do posição política o os
rumos do procosso oloitoral, o tato inusitado toi oxplicado polo
apolo populista do prosidonto rooloito, guo toria consoguido
conguistar o oloitorado mais humildo o dosintormado, ao mosmo
tompo pintado como ingônuo o morconário, por moio da mani-
pulação idoológica o da compra compulsória do sous votos
com programas assistoncialistas¨. Os programas do rodução da
polroza implomontados polo primoiro govorno do prosidonto
rooloito, guaso sompro roduzidos polos analistas ao Bolsa lamília,
toram intorprotados como uma ospócio do mooda gonoralizada
guo sulstituiria, om nívol todoral, os tijolos, prótosos dontárias,
chinolas, costas lásicas, cargos om protoitura otc., utilizados por
caciguos¨ locais o com os guais ostos mantinham sua cliontola
cativa. lula, assim, toria sido oloito por molilizar como protago-
nista no conário político das oloiçòos o guo há do mais arcaico
na sociodado lrasiloira, sogundo uma ospócio do mandonismo
cliontolista¨ om nívol todoral, o a vitória do sua ostratógia do
campanha, lom como dos rocursos utilizados, roprosontaria o
rotorno do um passado sompro prosonto no Brasil, do tormas
porsonalistas o pró-modornas do roprosontação política, mantidas
polas classos popularos somianaltalotas o consorvadoras¨. Estas
soriam caudatárias do tradicional patrimonialismo das instituiçòos
pullicas, da corrupção o da incompotôncia do govorno, uma voz
guo soriam lonoticiadas como cliontos, o guo impodiria o roal
dosonvolvimonto do país, do suas instituiçòos domocráticas o do
um padrão do consciôncia política crítica a sor gonoralizado na
sociodado civil.
Essa toso, dissominada om uma das principais organizaçòos
tormadoras da opinião pullica¨ na sociodado lrasiloira, toi
roproduzida o dolatida do torma mais ou monos sotisticada
por intoloctuais o ciontistas sociais dontro o tora da acadomia,
tanto da osguorda guanto da diroita. Tomamos como oxomplo
dossa toso liloral o autoovidonto, porguo logitimadora do sonso
comum da mosma classo para guom ó dostinada, o roconto
tralalho do Amaury do Souza o Bolívar lamounior · cIa::~ n~u:a
ü:a::I~::a. anü:¸·~:, :aI·:~: ~ j:·¡~ì·: u~ :·c:~uau~. Essos autoros
idontiticam na classo C, ainda guo a comproondam como nova
243
classo módia¨ por considorarom aponas o aumonto no padrão
do consumo, o mosmo atriluto guo caractoriza todos os sog-
montos monos oscolarizados o mais polros¨ do país: Tolorar a
corrupção para so assogurar do rotornos sol a torma do olras
ou sorviços pullicos.¨
30
A tolorância para com a corrupção, guo
causaria indignação na classo módia tradicional, o a ausôncia do
capital social¨ idontiticada polos autoros nas classos C, D o E,
isto ó, ontro o guo chamamos do latalhadoros o raló, rospoctiva-
monto, convorgom portoitamonto para a intorprotação cótica dos
artigos da !~¡a pullicados guatro anos atrás procisamonto por
indicarom a inditoronça para com os oscândalos do corrupção
nas camadas popularos, sua tradicional inaptidão para o sutrágio,
dovido à ausôncia do instrumontos cognitivos para olalorar uma
visão mais goral o crítica¨ da sociodado o sua vulnoralilidado
poranto as ostratógias assistoncialistas do govorno. Aliás, não ó por
acaso tamlóm guo a pullicação do rotorido livro morocou uma
ontrovista com Bolívar lamounior nas tamosas páginas amarolas
da rovista todição do 24 do tovoroiro do 2010), ainda mais om
ano oloitoral. Portanto, a rolação dirota guo so ostaloloco ontro
o voto da polroza¨, por um lado, o as políticas componsatórias,
por outro, ontondida como um vínculo instrumontal o amoral do
cliontola guo logitima a instrumontalidado o a amoralidado da
horança patrimonialista, incompotôncia o corrupção no govorno
- Roula, mas taz¨ -, constitui, om linhas gorais, do um polo a
outro do ospoctro político o idoológico da ostora pullica lra-
siloira, o paradigma do intorprotação da adosão om massa das
camadas popularos ao prosidonto lula, agora com corca do 83/.
lato oxtraordinário solrotudo guando so considora a trajotória
do ox-lídor sindical, guo por olas havia sido rochaçado om trôs
oloiçòos consocutivas o guo lova alguns analistas a classiticarom
o lulismo como lonapartismo,
31
soguindo intuição marxista.
Assim, ainda guo aprosonto variaçòos importantos, do acordo
com o ontoguo idoológico o a matiz do guo so rovosto, o nucloo
duro do paradigma popularizado nos artigos da !~¡a o atualizado
pola posguisa roconto do Souza o lamounior romoto a dois pros-
supostos. Em primoiro lugar, o do guo o lulismo roprosontaria
uma ospócio do clamor do ostomago¨,
32
do ondo so doproondo
a incapacidado das massas pauporizadas o dosarticuladas para
olalorarom visòos mais alrangontos da roalidado sociopolítica,
do sua posição na sociodado o do sous intorossos. Essoncialmonto
244
individualista o consorvadora, a adosão ao lulismo oljotivaria a
ostalilidado do oloitor popular o jamais soria motivada politi-
camonto, uma voz guo rovola o continamonto dossas massas
popularos no roino das urgôncias matoriais imodiatas. Em sogundo
lugar, o do outro lado da mooda, a manipulação das omoçòos
o dos atotos das massas polo carisma do prosidonto rotorçaria
a impossililidado do organização o articulação do intorossos do
classo ospocíticos, mantondo a população na apatia, na indotinição
política o na tragilidado idoológica, o, por isso mosmo, cativa do
uma rolação do dopondôncia possoal. O vínculo porsonalista com
lula, lasoado na larganha guo roduz a política à troca do tavoros,
ontraguocoria ainda mais um sistoma partidário já caponga o
implicaria nocossariamonto a roodição da volha tradição populista
guo so sustontava na manipulação das oxpoctativas do consumo
da maioria procarizada. A constatação do uma manipulação popu-
lista do rossontimonto das massas, oporada polo lídor domagogo
capaz do tocá-las com sous manoirismos o com o uso do uma
linguagom comum pormoada do motátoras simplórias, torna-so um
lugar-comum ontro os analistas políticos guo invadom os ospaços
midiáticos da ostora pullica. O tormo populismo volta a sor utili-
zado, mais do guo nunca, do torma pojorativa para idontiticar na
roconto conjuntura lrasiloira o arcaísmo das ostruturas roproson-
tativas do Estado, patrimonialista o pró-modorno om sou nucloo,
o das ostruturas cognitivas o morais, isto ó, da cultura política
da população lrasiloira, cuja maior parto ó somianaltalota o não
ponsa para alóm do suas urgôncias matoriais imodiatas. Assim,
dossa porspoctiva liloral, a domocracia lrasiloira pormanoco
rotóm, por incrívol guo paroça, da maioria.
33
A união dossos dois prossupostos, o cliontolismo das massas
o o populismo do lula, guo roproduz na ciôncia política o linomio
porsonalismo o patrimonialismo, nucloo da tooria omocional da
ação¨, criticada por mim om outra ocasião,
34
oxprossa a corrolação
guo ostá na caloça do todo ciontista o sociólogo político tormador
da opinião pullica¨ o guo taz a caloça do todo indivíduo
módio guo so autocomproondo como intormado, do lom-sonso¨,
participativo o conscionto¨ porguo altalotizado o loitor do
grandos poriódicos do alcanco nacional. A acomodação das
classos popularos, cuja cordialidado ou mau-caratismo¨ Sórgio
Buarguo do Holanda localizou na horança ilórica, o a manipu-
lação populista do um lídor guo so logitima como dotonsor do
245
povo¨, porguo igual a olo, aprosontam uma amoaça às insti-
tuiçòos políticas lrasiloiras, como advorto lornando Honriguo
Cardoso,
35
para guom o sulporonismo lulista¨ rosgata tormas
do articulação ontro sociodado, Estado o oconomia guo romotom
à clássica tradição do autoritarismo ou cosarismo popular¨ da
Amórica latina.
Em sintomática doclaração, o ox-prosidonto lornando Honriguo
Cardoso, duranto uma discussão no programa ·auaI 1:::~ do
dia 18 do alril do 2010, da rodo Bandoirantos, ao rospondor à
porgunta so o prosidonto lula roprosonta o lrasiloiro¨, atirmou:
Ë... roprosonta. Uma parto dolo, nó? Elo tom um lado Vacunaíma
muito torçado domais.¨ Nosso ilustro sociólogo, ossa onciclopódia
da classo módia lrasiloira, osguocou aponas do concluir, talvoz
porguo dosnocossário o ólvio domais, guo o lrasiloiro roproson-
tado polo anti-horói lula-Vacunaíma soria procisamonto o olo-
monto popular¨ amoral o miscigonado, soguindo nisso a tradição
da sociologia paulista om sua vortonto mais culturalista o liloral,
guo romonta a Sórgio Buarguo o ao movimonto modornizador
paulista, articulador do sonso comum da lurguosia o das traçòos
módias ponsantos¨.
Agui, paroco-nos tundamontal rotlotir solro a ôntaso dada
pola opinião pullica¨ ao programa Bolsa tamília, guo, om nossa
concopção, constitui ponto do ostrangulamonto do uma luta do
classos nunca tomatizada. A vinculação dirota dossa política com o
voto om lula implica um movimonto do ponsamonto guo romoto
a dois conjuntos somânticos para atriluir tacitamonto às classos
popularos a incompotôncia na constituição o dotosa do sous
intorossos políticos. Em primoiro lugar, o tamilismo¨, associado
oxplicitamonto ao tormo tamília¨ guo dá nomo ao programa,
tunda a roprosontação do povo como porsonalista o omocional
porguo monta a laso social da cultura do joitinho lrasiloiro¨,
caractorizada pola contínua invasão da rua o do próprio cóu pola
casa. No caso da tamília popular, a omocionalidado das rolaçòos,
guo sulstituiria o papol do indivíduo nas instituiçòos modornas
o o do cidadão polo do possoa insorida numa rodo do tavoros
mantida por parontos o amigos próximos, soria ainda agravada
polo tipo do comunidado da grando tamília¨
36
guo lho ó
caractorística, considorada pró-lurguosa, pró-modorna o, portanto,
ilogítima, como analisamos nosto mosmo livro. O tamilismo¨
do guo são implicitamonto acusadas as classos popularos, como
246
so a tamília roprosontasso uma ostora do valorização do capital o
roprodução do intorossos oljotivos o matoriais aponas para ossas,
om oposição à tamília lurguosa nucloar guo so porcolo como um
ospaço do intimidado dosintorossada o do humanidado, oposta não
só à autoridado do Estado, mas tamlóm ao ospaço contaminado
por trocas oconomicas, comprovaria a incompotôncia daguolas
para soparar o pullico o o privado, procoito guo tunda a própria
idoia do ostora política na sociodado lurguosa. O tamilismo das
classos popularos ostaria na origom do sua incapacidado do
soparar o pullico o o privado o logitimaria tamlóm, do outro
lado da hiorarguia social o política, o patrimonialismo o o nopo-
tismo dos govornantos. Assim, não ó alsolutamonto à toa guo
o Bolsa lamília soja o programa oscolhido polos intoloctuais da
opinião pullica¨ para oxompliticar a troca do votos por lonotícios,
pois por moio dossas associaçòos somânticas implícitas no tormo,
automaticamonto oporadas om nossa monto, ossas classos são
roitoradamonto dosgualiticadas como inaptas à participação
política conscionto.
O sogundo conjunto somântico romoto ao oljotivo principal
do programa guo intogra o lomo Zoro, anunciado já no primoiro
discurso do posso do prosidonto lula: acalar com a tomo no país.
Continuamonto roitorada om suas talas dosdo ontão, guo taziam
guostão do lomlrar a importância do so tor as trôs rotoiçòos
no dia¨ o o drama dos ostudantos guo iam com tomo para a
oscola o não consoguiam so concontrar nas aulas, a oxprossão
dirota dossa guostão oscandalizava, cada voz guo voiculada pola
impronsa, os lons modos dos analistas políticos o colunistas da
ostora pullica midiática porguo romotia dirotamonto à troca do
voto por comida. Ora, so o voto comprado¨ polo Bolsa lamília
já paroco om si imoral o dogradanto para o cidadão das grandos
cidados, guo so considora crítico porguo vô sous proconcoitos
do classo roitorados cotidianamonto na mídia, ainda mais guando
participa ativamonto dossa ostora pullica por moio da soção do
loitor do rovistas o jornais, ou dos llogs, a troca por algo guo
lomlra a garantia do alimontação mostra-so ainda mais indigna.
Do ponto do vista da hiorarguia moral lurguosa, a tomo constitui
uma nocossidado instintiva do primoira ordom, totalmonto prosa
ao roino da naturoza o ao corpo tísico, como tal, roprosonta algo
da ordom do animalosco, guo so distancia nocossariamonto da
racionalidado o da ostilização da vida lurguosa o das classos
módias cultas. Vais do guo o soxo, solrotudo guando osto passa
24¯
a sor visto como um valor positivo om si, ostruturanto da intimi-
dado o singularizador da possoa, com a dissominação do discurso
torapôutico psicanalista, a alimontação passa pola tunção mais
primitiva do homom o, por isso mosmo mais lostial, sogundo a
clássica soparação ontro corpo o ospírito guo tunda a noção do
racionalidado modorna. Por isso guo o gosto¨ na arto culinária
corrospondo à torma do distinção primoira das classos lurguosa
o módia: o prazor da dogustação pola dogustação, da aprociação
dos saloros como tim om si mosmo tom por tunção rotirar a
própria tunção da alimontação - matar a tormo -, rossaltando
sua torma¨ por moio do rotinamonto o da ostilização. O oljotivo
da culinária o da arto gourmot, princípio do todas as tormas do
ostilização da vida, gosto¨ guo ostrutura todos os gostos na
visão do Bourdiou, ó procisamonto modiatizar ossa nocossidado
imodiata, gonórica o privada por oxcolôncia. A tomo, assim, ropro-
sonta, na ostrutura somântica dos princípios do visão o divisão
do mundo¨, o corpo contra a monto, a naturoza contra a cultura
o a sociodado, a sonsililidado contra a razão, o tominino contra
o masculino, o vulgar contra o distinto, o, por tim, o lárlaro
contra o civilizado.

A ostilização da vida guo lusca singularizar a porsonalidado
por moio da suprossão da nocossidado não constitui aponas uma
proocupação puramonto ostótica ou artística nas classos dominantos,
mas corrospondo ao tundamonto mosmo do princípio lurguôs
do lilordado o, como tal, mantóm uma rolação do causalidado
com a tormação da vontado o da disposição políticas. Vais
uma voz, ó pola singularização dos indivíduos tornados livros
dos constrangimontos matoriais por moio do distanciamonto
das nocossidados oconomicas, do rotinamonto dos sontidos o da
tormação do intolocto om uma ostora íntima om guo as trocas
oconomicas parocom susponsas o as atitudos são dosintorossadas
guo so constrói, sogundo os consonsos próvios logitimadoros
da dominação lurguosa, a compotôncia crítica nocossária ao
julgamonto político. Essa visão tunda a própria concopção do
racionalidado modorna porguo o dosintorosso ó a unica garantia
da gualidado do julgamonto crítico, o unico intorosso da razão¨
a partir do gual so podo dotinir o guo ó Bom, Justo o Bolo. A
osso dosintorosso da disposição ostótica pura, à gual corrospondo a
disposição política univorsalista, opòo-so, polo cultivo do ospírito,
o intorosso dos sontidos¨, oriontado para o guo agrada o satistaz
248
o corpo, ou soja, para o prazor das sonsaçòos. Essa dualidado
na lógica do julgamonto ostótico, guo ostá por trás da hiorarguia
ontro o ~ìI·: distinto¨ das classos lurguosa o módia o o ~ìI·:
popular¨ das massas tralalhadoras, ó a mosma guo monta a
lógica do julgamonto político porguo so protondo assontada no
distanciamonto racional. Aliás, ó a crítica artística da ostora pullica
litorária, rounida nos ospaços do discussão dos catós o laros
duranto o sóculo XVlll, o ponto do partida dos procossos do
osclarocimonto guo tormam uma ostora pullica política oriontada
para discussòos moralizantos o polômicas solro as docisòos do
Estado o do sous tuncionários.
38
O consonso intorsuljotivo tácito roitorado pola mídia, solro-
tudo a oscrita, o polas instituiçòos do consumo do lons culturais
logítimos, como musous, toatros otc., ó o do guo a participação
compotonto nossos ospaços só podo sor roalizada com procon-
diçòos cognitivas proporcionadas pola instrução tormal oscolar:
não ó por outro motivo guo os colunistas dos grandos moios do
comunicação tazom guostão do apontar orros do portuguôs
guando guorom ridicularizar advorsários potralhas¨, chamando
om sua dotosa a própria rogra guo autonomiza o campo do
produção intoloctual - o conhocimonto tormal da língua -, do
torma a oxcluir compulsoriamonto a protonsão à vordado dos
advorsários.
Olviamonto guo a tormação oscolar só logitima uma hiorarguia
do gosto o do juízo guo já so monta dosdo casa, dotorminada polo
capital oconomico nocossário para a aguisição dos lons culturais
logítimos tguo dotormina tamlóm os moios do comunicação mais
logítimos, como a hiorarguia oxistonto ontro o jornal o a rovista, do
um lado, o a tolovisão o o rádio, do outro) o pola disponililidado
do tompo para o usutruto dossos lons. Assim, como procondição
para a participação logítima nos procossos do tormação da
vontado o da opinião pullicas, dontro olos o procosso político
olomontar do sutrágio, opòo-so à visão noutra, madura o pura
das classos dominantos, oriontada para a crítica ostótica o política
dosdo codo por um contato promaturo com os oljotos culturais,
o ponto do vista protonsamonto parcial, ingônuo o intorossoiro
das classos popularos incultas, dosintormadas o simplórias. Ë ossa
compotôncia crítica guo os indivíduos do classo módia instruídos
so autoatriluom por torom acosso não aponas à oducação, mas a
canais divorsiticados do intormação, incluindo jornais o rovistas,
249
improssos ou olotronicos, sitos o llogs otc., para alóm dos
popularos rádio o tolovisão, o guo supòom sor a garantia do um
julgamonto dosintorossado, iluminado à luz da razão o tão somonto
capaz do docidir solro a univorsalidado ou parcialidado, a justiça
ou injustiça do uma docisão ou roalização política.
Por tudo isso, o Bolsa lamília ó oscolhido como podra do
toguo do julgamonto da opinião pullica¨, tipicamonto do classo
módia, solro a protonsa larganha oloitoroira da massa popular.
Elo roprosonta do torma idoal o clamor do ostomago¨ com guo
ossa opinião pullica¨ doprocia os ansoios o protonsòos do justiça
das classos tralalhadoras com pouca oducação tormal: a tala do
instinto imodiatista para a satistação possoal o privada contra a tala
da razão modiatizada polo distanciamonto do si, proporcionado
pola oducação, pola intormação o pola discussão pullica na lusca
do lom comum¨. Ë osso mosmo consonso tácito guo racionaliza,
como princípio racional om si mosmo, condição, valoros o
intorossos do uma classo ospocítica, oriontada pola idoologia da
compotição moritocrática no morcado om polômica constanto
contra o monopólio do Estado¨ o guo ostá por trás da avaliação
sompro positiva, toita por ciontistas políticos o sociólogos lilorais,
da indignação da classo módia contra a corrupção, intorprotada
como principal valor domocrático o ropullicano tundamontal.
39
Ora, a proocupação com a corrupção signitica o julgamonto da
torma¨ do atuação dos roprosontantos, da logitimidado do
procodimonto o da tócnica por trás do suas docisòos o roalizaçòos,
isto ó, a roatirmação da própria rogra guo autonomiza o campo
político: a soparação ontro pullico o privado. Enguanto isso, as
classos popularos, os latalhadoros, ostão mais proocupadas com
o contoudo dossas docisòos o roalizaçòos, ou soja, com o oljoto
mosmo da roprosontação: as modidas do govorno o o guo olas
roprosontam. Como as catogorias da ciôncia social liloral nada
mais são do guo a racionalização do sonso comum, da u·.a,
das classos dominantos, torna-so tácil julgar, como tazom os
sonhoros Amaury do Sousa o Bolívar lamounior, guo o olomonto
popular¨ taz vista grossa à corrupção o aos dosmandos com o
dinhoiro pullico tRoula mas taz!¨) porguo ostá mais intorossada
no próprio ostomago. Essa loitura instrumontal rocusa-so a vor
gualguor princípio univorsal oriontando as classos popularos,
como a oxpoctativa do justiça o do dignidado lásica para todos,
pilar ossoncial do logitimidado da idoia mosma do domocracia o
do solorania popular.
250
lntorossanto porcolor guo a doprociação contínua do voto
popular tom uma data dotinida. A avaliação pullica nogativa
do programa, omproondida polos grandos voículos do comuni-
cação do massa, cuja violôncia tornou-so progrossivamonto
virulonta, solrotudo na rovista !~¡a o nos llogs do sous colu-
nistas, acontocou por um motivo guo nos paroco lom claro:
a voiculação dos oscândalos do corrupção na mídia não surtiu
o otoito osporado. lula não sotrou :nj~acIn~uì, consoguiu so
roologor o tovo sua popularidado olovada a nívois inóditos na
história prosidoncial do país. Para os tormadoros do opinião o
ospocialistas, a atitudo da população roologondo-o dopois do
linchamonto pullico dos potralhas¨, guo durou corca do um
ano, parocia incomproonsívol, ainda mais considorando o golpo
do misoricórdia dostochado polo {·:uaI Nac:·uaI da Rodo Glolo:
a toto com o montanto do dinhoiro dostinado por assossoros do
PT para a compra do um dossiô contra o candidato tucano ao
govorno do São Paulo. A ovidonto limitação do Quarto Podor da
Nação¨ na oriontação das tomadas do posição dos oloitoros
40
das
classos popularos duranto a criso o o poríodo oloitoral paroco tor
sido o motivo do agravamonto da doprociação do voto popular
o do racismo do classo guo loirou o tascismo. E isso nos lova à
conclusão do nosso argumonto: o lulismo o a divisão do oloito-
rado ontro ricos o polros¨ podo sor um indício, ao contrário do
guo so proga, do um procosso do osclarocimonto¨ das massas
popularos latalhadoras guo so dosonrola por moio do mocanismos
muito ospocíticos, guolrando dois talus: o do guo as massas são
totalmonto passivas o alionadas o o do guo aponas um movimonto
organizado sogundo os moldos intoloctualistas da ostora pullica
lurguosa taz política, o, solrotudo, política do osguorda.
O dado tundamontal guo monta a idoia do passividado das
massas ó procisamonto a comunicação do massas porguo ola
toria ostacolado a ostora pullica om um conjunto tragmontado
do consumidoros passivos do imagons o monsagons manipuladas
por tócnicas, solrotudo no guo so rotoro àguolos guo não tôm
instrução para so distanciar das sonsaçòos audiovisuais o avaliar
guom, como o por guo so produziu a intormação. A própria idoia
do guo o prosidonto lula controla o manipula as massas dospoli-
tizadas por moio da domagogia populista tunda-so om sou apolo
como comunicador, roproduzindo a linguagom o os manoirismos
popularos. Vas não so podo intorir guo os indivíduos vão agir do
251
acordo com as intluôncias o oriontaçòos implícitas na produção
o nas caractorísticas do produto cultural guo consomom.
41
As monsagons rocolidas por moio da mídia - solrotudo
a tolovisão o o rádio nos importam agui - são sujoitas a uma
olaloração discursiva¨, a um procosso intorprotativo guo vai
dopondor dos rocursos oxistontos nos contoxtos do rocopção,
isto ó, das situaçòos domósticas do domínio privado intormadas
pola oxporiôncia do vida cotidiana dos ospoctadoros. Do tato,
a comunicação do massa onvolvo um tluxo do intormação do
mão unica guo limita drasticamonto a capacidado do rocoptor do
rospondor às monsagons modiadas. Entrotanto, a intorprotação
das imagons na própria rosidôncia, no tralalho, nos contoxtos
cotidianos do intoração taco a taco implica corta participação ativa
na comunicação, ainda guo lastanto limitada.
Ora, ó procisamonto porguo os latalhadoros molilizam o
conhocimonto prático guo caractorizamos acima, adguirido
o atualizado om suas oxporiôncias cotidianas do vida, guo olos
porcolom o comontam as roalizaçòos do govorno nas ostoras
pullicas¨ não lurguosas do mundo da vida, como as toiras livros,
os morcados pullicos, as praças com sous jogos do dama ou os
lotocos ondo so toma a doso dopois do dia do tralalho, ospaços
pullicos típicos dos latalhadoros. O lulismo, longo do sor um
indício da alionação ou da vonda morconária do voto por causa
do Bolsa lamília o do outros programas do cunho popular, ropro-
sonta uma manitostação mosma dos contoudos cognitivos, morais
o ostóticos incorporados no ~ìI·: do tralalho o na racionalização
do uma ótica do sotrimonto. Não comproondor ossos olomontos
signitica so rocusar a vor as motivaçòos morais o domocráticas por
trás dossa adosão: o guo não implica uma adosão dosintorossada,
porguo as tomadas do posição política nunca o são, para gualguor
classo. Por outro lado, atriluir amoralidado às classos popularos
porguo ostas ostão mais proocupadas com a diminuição da dosi-
gualdado social no país do guo com a corrupção não tom nada do
dosintorossado tamlóm, nom ó dosintorossada nossa tala. Aliás, há
alguma alma cândida guo acrodita mosmo sor possívol uma atitudo
totalmonto dosintorossada no mundo? Voralidado o intorosso,
omlora as causas da primoira não possam sor roduzidas às do
sogundo, o vico-vorsa, ostão sompro imlricados nas motivaçòos
das possoas, o aponas a idoologia lurguosa da puroza¨ guor
nogá-lo porguo guor nogar, com isso, a oxploração guo ostá por
252
trás dossa puroza. Assim, os latalhadoros guo não rocolom Bolsa
lamília dotondom o programa não aponas porguo talvoz algum
paronto ou amigo rocola o lonotício. Do tato, há um prossuposto
compartilhado intorsuljotivamonto ontro os latalhadoros do guo
o Estado dovo ajudar os polros¨
42
indopondonto da riguoza
guo produzom o dos intorossos do capital. E isso signitica: dar
garantias do dignidado lásica aos cidadãos. Essa proocupação tom
rospaldo no humanismo roalista inspirado na idoia do igualdado
da condição do pocador no valo do lágrimas¨ guo ó o mundo,
do protunda inspiração cristã.
Entim, a oxprossão dos ansoios do justiça dos latalhadoros
por moio do lulismo não ó à toa. Do tato, a idontiticação
com lula soguo uma lógica roligiosa parocida com o guo
Vax Wolor chamou do protocia oxomplar¨.
43
Assim como a
roligião sulministra às possoas tolizos a toodicoia do sua loa
sorto¨, tamlóm sulministra às possoas guo sotrom a toodicoia do
sou sotrimonto: o sotrimonto tamlóm guor sor logítimo. A ótica
do sotrimonto do latalhador intorprota a ponitôncia como um
ostado contínuo o normal, intramundano, porguo ostá colada à
sua própria rotina diária do tralalho, a um ascotismo ativo, guo
constitui o princípio tundador do sua visão do mundo: o valo do
lágrimas¨ ondo o sotrimonto, no caso, o tralalho duro, pormito
a puriticação da alma o a conguista da própria salvação, tanto
matorial guanto simlólica. Já nos rotorimos antoriormonto à torma
como o latalhador so orgulha ao idontiticar sua trajotória como
uma porogrinação do sotrimonto oriontada pola osporança sompro
ronovada do salvação. Ë tundamontal lomlrar guo a atriluição
do sotrimonto como um valor positivo dopondo da promossa
salvítica do um rodontor guo anuncia o caminho dossa salvação:
a piodado para a conguista da graça otorna. Atinal, não so trata
agui do masoguismo, mas do racionalização do uma concopção
do mundo guo orionta o logitima a racionalização do uma conduta
no mundo, como rosposta aos sous dosatios.
O protota ou salvador logitima-so pola posso do carisma usado
como moio do garantir roconhocimonto o consoguir adoptos
para a signiticação oxomplar, a missão¨,
44
missão osta guo consisto
om colocar a lusca do um valor sagrado como princípio para
dirigir o modo do vida o alcançar a salvação. A protocia oxomplar,
ospociticamonto, assinala o caminho da salvação por moio da
condução do uma vida oxomplar, oncarnada na vida do próprio
253
protota, cuja história roprosonta o sotrimonto comum a todos os
crontos¨, princípio mosmo da atitudo do caridado¨ o do amor
ao sotrodor¨.
Dontro dosso guadro, lula aprosontaria as caractorísticas idoais
do protota oxomplar: om primoiro lugar, sua vida do rotiranto do
sortão nordostino o tralalhador, lom como a porsistôncia dianto
da trustração da dorrota por trôs vozos soguidas, roprosonta não
aponas a trajotória do sotrimonto caractorística do todo latalhador,
mas tamlóm o horizonto tinal do rodonção roprosontado pola
vitória. Por outro lado, os ataguos contínuos da mídia dosdo o
oscândalo do monsalão - os guais, na aprociação dos latalha-
doros, oram contrastados ompiricamonto pola oticácia do suas
políticas sociais na molhoria do sua condição do vida - toram
intorprotados como uma tontativa dos podoros tradicionais, guo
sorviam às olitos¨, do minar sou govorno porguo lutava por
justiça social. Assim, os trôs olomontos aparocom agui para com-
por o guadro protótico: a ascoso polo sotrimonto, a dotosa do
uma valor sagrado - a justiça social - o a porsoguição rosultanto
da oposição aos podoros tradicionais¨.
45
Vas tamlóm não ó por acaso guo o lulismo oxprossa ansoios
popularos articulados o racionalizados sogundo uma lógica do
oxomplaridado roligiosa. As igrojas constituom os ospaços pulli-
cos ondo os latalhadoros podom vor suas cronças o sous valoros
racionalizados o roitorados om sistomas guo oxplicam o justiticam
sua própria condição do vida. laz mais sontido para o latalhador
so inspirar oxomplarmonto na tigura do São Podro, poscador o
homom lruto guo dou soguimonto apostólico à monsagom do
justiça o salvação cristã, do guo no cidadão participativo da pólis
atonionso ou no intoloctual o onsaísta crítico do cató trancôs,
tiguras guo montam o imaginário liloral da ostora pullica
lurguosa, mas guo não roprosontam a oxporiôncia do sotrimonto
o do ascoso do tralalho duro¨. Alóm do mais, as tormas do
articulação o oxprossão das opiniòos políticas típicas dossa
ostora pullica institucionalizam gostos, ostilo do vida o intorossos
das classos dominantos, ridicularizando as razòos popularos o
oxcluindo sua participação. Ë mais do guo natural guo o latalhador
lusguo sua autocomproonsão nas igrojas o tomplos, rodutos do
modolo do roprosontatividado pullica sogundo o gual a possoa
do roprosontanto, pastor ou padro, corporitica o corpo místico da
comunidado.
46
Vom daí a rolação patornal guo so ostaloloco ontro
254
osto roprosontanto, ao mosmo tompo pai, protota, juiz o psicólogo,
o o latalhador, rolação ovidontomonto nunca dosintorossada o
sompro modiada pola magia do podor simlólico guo oculta a
lógica oconomica o atualiza a própria dominação das instituiçòos
roligiosas. Vas ó por moio da oxporiôncia do tratornidado nossas
comunidados o do discurso da compaixão cristã das instituiçòos
roligiosas guo os latalhadoros oncontram a tonto do alimontação
o roprodução do suas noçòos laicizadas do solidariodado. Ora,
ó importanto lomlrar guo são ossos princípios do idontiticação
carismática o oxomplar do corpo da comunidado na possoa do
um lídor guo ostão na origom não aponas dos sindicatos,

mas
tamlóm da idoia do solorania popular utilizada pola osguorda
tvor Quadro 3). Para o lom o para o mal, toi por moio dolos guo
a consciôncia horizontal contusa o tragmontada dos latalhadoros
podo articular-so om uma consciôncia do classo porsoniticada na
possoa do prosidonto lula. Em voz do lamontar osso vínculo do
oxomplaridado com o roprosontanto, os intoloctuais do osguorda
dovoriam roponsar molhor o guo olo signitica, guo tipo do
constrangimontos sociais dotorminam a oxprossão do ansoios
popularos por osso mocanismo o o dado do uma indotinição das
massas sogundo as noçòos do osguorda o diroita om posguisas
guo luscam atorir sua posição idoológica. Talvoz o prolloma
tamlóm ostoja nos prossupostos intoloctualistas implícitos nossas
noçòos, racionalizadoros do um Iaü:ìu: do classo ospocítico o do
uma violôncia simlólica pormanonto.
CONSlDERA(OES llNAlS
Com ossa oxposição do guadro do discussão om nossa ostora
pullica, guisomos apontar, rotomando as caractorísticas do ~ìI·:
do latalhador, alguns aspoctos guo talvoz sojam importantos numa
avaliação monos proconcoituosa do atual contoxto político. Em
nosso ontondimonto, o mito do lulismo¨ não aponas toz política,
mas constitui a oxprossão mais ovidonto do uma acirrada luta
do classos pola dotinição mosma do guo ó política - oljoto por
oxcolôncia das lutas do classo o da violôncia simlólica guo noga
autojustiticação aos dominados -, do guo tipos do ação podom sor
logitimamonto considoradas como tal o om guo ospaços dovom
sor articuladas. Aposar do so pordor om numoros nas posguisas
255
voiculadas pola mídia, o olomonto popular¨ tom nomo, são os
Josós, Chicos, Varias o Vanós do guo talamos. Elos tôm história,
mantida, na maioria das vozos, nas tranjas do um morcado, do
um Estado o do uma ostora pullica guo não toram criados
por olos nom tampouco sorviu a sous intorossos, o tôm loas o
protundas razòos para dotondor os programas sociais do govorno,
so doixamos do lado o ponto do vista do intoloctuais lilorais ou
vanguardistas o ponsamos no guo olo roprosonta do ponto do vista
dolos. Aliás, ponsar do ponto do vista dos dominados, das vozos
caladas da história¨, o não das catogorias do sonso comum do
classo módia o da ciôncia liloral ó sonão a olrigação do gualguor
intoloctual ou ciontista guo so proocupo om promovor uma visão
crítica da sociodado, como lomlra Waltor Bonjamin.
Não guisomos opor ao modo da losta horizontal¨ uma
apologia do lom solvagom¨, argumonto roussoauniano da loa
vontado guo não contrilui com nada mais alóm do doixar guo as
massas pormanoçam na procariodado. Não ostamos atirmando guo
os latalhadoros ostão muito lom som oducação o guo aprociam
isso: olos não aprociam, o a talta do ostudo pormanoco um drama.
Nom tampouco concluindo guo sous rocursos cognitivos o morais
podom sulstituir os rocursos roguisitados pola sociodado lurguosa
modorna, ou mosmo proporcionar-lho um toco do rosistôncia.
Vas ó importanto lomlrar como o latalhador tom consoguido
tuncionar no mundo, ontrontando os dosatios da insorção no
morcado o no Estado, com um ostoicismo tronto às diticuldados
guo não advóm do uma ótica puritana, mas do próprio tralalho om
si: no guo roprosonta do tatalidado, à gual tom guo so sulmotor,
o no guo contóm do valor intrínsoco, na sonsação do dignidado
guo contoro a guom o tom o latalha para continuar a tô-lo. Por
isso, nossa latalha cotidiana om guo o tralalhador consoguo
pogar om armas contra o mar do calamidados¨,
48
as armas tracas
do guo dispòo, olo so mostra ossoncialmonto modorno.
✏ ⇧ P ⇠ ⌃ ✓ ⌥ C 8
↵M⌃⌦↵ ⇧ G⌥C⌦l⌫l✏⇧⇢⇡C DC CP⌦l⇣lDC
↵ ⇧ ⌥↵Gl⌃l⇣⇧⇢⇡C D⇧ CP⌦↵⇥⇥⇡C,
HÁ ✓⇣⇧ ⇧⌥⌃↵⌦M⇧⌃lV⇧◆
··Iaü·:au·:~:. En~::·u R·cIa ' R:ca:u· !:::~:
A guostão da nova classo tralalhadora¨ so onguadra num
toma mais goral, guo ó o da asconsão social, ospocialmonto
sol condiçòos advorsas. Rotlotiromos agui solro dois tipos do
discursos guo compromotom gualguor ostorço do comproonsão
adoguada do dosatio ontrontado por ossas possoas. Um ó o
discurso logitimista, guo justitica a oxistôncia do mundo tal gual
olo ó ao supor guo a vida om nossa sociodado, assim como om
gualguor outra sociodado capitalista, roalmonto tunciona como
ola guor nos tazor cror guo tunciona: como um procosso virtuoso
do soloção dos mais aptos. Outro discurso ó o guo so lasoia no
ologio ingônuo da polroza¨ como um modo do vida altornativo¨.
Nosso sogundo discurso, a própria misória aparoco rossigniticada
om tormos ologiosos, o guo compromoto gualguor ostorço no
sontido do oncarar o dosatio do transtormar as condiçòos guo
tavorocom tou dostavorocom) as chancos do asconsão social.
Em so tratando do condiçòos oljotivas do oxistôncia social,
há algumas situaçòos oxtromas. Uma dossas ó aguola om guo
as possoas so voom no limito da omancipação da naturoza, guor
dizor, no limito ontro a condição do ostarom complotamonto
sulmotidas ao impório das torças naturais o a condição do
258
solroporom à naturoza um ritmo do vida próprio, criado polo
ongonho humano. Essa ó a situação do alguns grupos guo pos-
guisamos om Vanaus, no sortão nordostino o om uma das
muitas povoaçòos, lastanto ditorontos ontro si om tormos do sua
história, o guo so convoncionou rounir sol a mosma dosignação
do comunidado guilomlola¨. Em so tratando do todos ossos
casos, há dois posicionamontos comuns, guo não são os unicos
possívois, mas os mais ditundidos. Um ó um posicionamonto ra-
cista. Uma comlinação do racismo rogional, racial o, para todos
os casos, do classo. Tal posicionamonto consisto om dosgualiticar,
principalmonto do ponto do vista dos atrilutos intoloctuais, as
possoas guo vivom sol tais condiçòos. Todas as suas tormas do
adaptação o do acomodação, solrotudo a racionalidado ospocítica
o própria a ossa adaptação o a ossa acomodação, são porcolidas
como produto do um atraso montal, no limito, do uma incapaci-
dado para ponsar o para agir racionalmonto. lgnora-so guo mosmo
a aparonto irracionalidado daguolas possoas ó aponas o produto
do um procosso do aprondizado guo so dou tossa ó a guostão!)
dontro dos limitos do circunstâncias muito rostritivas.
O guo talta a osso posicionamonto ó a tomatização do uma
comploxa modiação guo oxisto ontro o homom o a naturoza: a
sociodado. Não so trata nunca simplosmonto do possoas racionais
ou irracionais, lurras ou intoligontos, covardos ou corajosas
ontrontando o dosatio do so omanciparom da naturoza. Os soros
humanos ontrontam osso dosatio, como roza o molhor da tilosotia
do Varx, atravós do corto tipo do vida colotiva o do um motalo-
lismo tcolotivo) com a naturoza, guo so chama oconomia, mas
guo não oguivalo à oconomia¨ do muitos dos oconomistas do
hojo om dia, mas, do corta torma, à própria sociodado, guor dizor,
ao modo como os soros humanos so oncontram organizados, não
com plona consciôncia disso, do modo a produzirom sua vida
dianto da naturoza. Em outras palavras, om so tratando do soros
humanos, o suljugo dianto da naturoza não ó um tonomono
natural, mas um tonomono social, não ó imposto pola naturoza,
mas pola tormação social guo não pormito a omancipação o
porpotua a sulordinação dianto do ritmo o do arlítrio inopinado
dos tonomonos naturais. Quando não so tomatiza ossa modiação
ontro os soros humanos individuais o a naturoza ta sociodado),
rosta atriluir a laixa capacidado do omancipação dianto dola
259
manitosta por algumas populaçòos ao atraso montal¨ dos
indivíduos guo a compòom.
Vas com isso chogamos tamlóm ao outro posicionamonto, guo
não ó a unica altornativa possívol, mas a mais ditundida. Trata-so
do uma rodonção simlólica dossas possoas, inspirada por um
sincoro, mas tcomo voromos) não monos ingônuo sontimonto do
piodado cristã. Essa rodonção ó oporada atravós do uma noção
muito cara ao ponsamonto social o guo ganha atualmonto cada
voz mais ospaço no sonso comum: a noção do cultura¨. Tudo o
guo a visão racista dotino como atraso montal¨ ó rodotinido como
ospociticidado cultural¨. E ossa ospociticidado cultural, ao invós
do sor dosvalorizada, ó valorizada om si mosma como um lom,
como uma poça insulstituívol no acorvo cultural da humanidado
guo não so dovo pordor. Contra a doprociação do montalidados
individuais, ostaloloco-so a apologia do uma ospócio do monta-
lidado colotiva: a cultura¨. São posiçòos opostas apoiadas solro
o mosmo orro, assim como os ângulos opostos polo vórtico tos
guais, calo notar, tôm a mosma modida) so apoiam solro o mos-
mo ponto. Tal orro ó a não tomatização do social, da sociodado.
Esguoco-so guo aguola cultura¨ ostá vinculada a cortas condiçòos
gorais do oxistôncia om colotividado, guo ola ó o produto do um
aprondizado ativo, mas circunscrito a cortas condiçòos oljotivas do
oxistôncia social. Esguoco-so guo ossa cultura¨ só tom valor om si
para o antropólogo guo a ostuda o guo a idontitica com o sontido
do sua própria vocação, mas para as possoas guo ototivamonto
a oxporimontam só tom valor, ao mosmo tompo, como truto do
procosso o rocurso para o aprondizado dianto do circunstâncias
oljotivas do vida social.
O QUE NÓS QUEREVOS
Ë VElHORAR DE VlDA¨
A comunidado guilomlola¨ do Camlará so situa ao sul do
município do Cachooira do Sul - Rio Grando do Sul. Tovo origom
na primoira motado do sóculo XlX com a aguisição do torras por
ox-oscravos. Com o passar do tompo, ospocialmonto a partir da
alolição do sistoma oscravista, mais nogros toram so assontando
na rogião. Atualmonto, há aproximadamonto 40 tamílias no povo-
ado. O torritório ó corcado por módias o grandos propriodados
260
o atravossado pola BR-290, ondo so situa um posto do gasolina,
oxatamonto na rogião do povoado nogro. Provalocom poguonas
propriodados com ató trôs hoctaros. A poguona agropocuária
praticada ali consisto no cultivo do hortaliças o do pomaros o na
criação do porcos o do galinhas. O gado vacum ó guaso ausonto.
A produção do modo algum garanto a sulsistôncia. Há uma
circulação intorna do produtos guo colalora com a sulsistôncia,
mas, solrotudo, com a insorção na oconomia monotária. Há
uma considorávol urlanização das goraçòos mais jovons. Vuitos
tralalham na cidado, principalmonto om Cachooira do Sul, no
omprogo domóstico ou om outras protissòos. O posto do gasolina
situado na rogião do povoado tamlóm ó uma importanto tonto
do omprogo. Vou principal intormanto contou-mo guo ató alguns
anos atrás o posto não contratava as possoas do povoado o guo
a roconto política do gorar ronda para os nogros ali rosidontos
toi muito lom acolhida. O sorviço como diarista nas tazondas
vizinhas tamlóm ó uma importanto tonto do ronda. O programa
Bolsa lamília ó outra tonto do ronda importanto, o a aposontadoria
dos idosos ó a principal om muitas das casas.
Vuitos jovons nascidos ali, alóm do tralalharom na cidado,
moram nola. Ë o caso, por oxomplo, do uma das principais
lidoranças do povoado. Trata-so ó um jovom do 28 anos, guo
ontrou para a rosorva do Exórcito por conta do complicaçòos na
saudo duranto o cumprimonto do sorviço militar. Sua condição
do jovom, possuidor do ronda ostávol o alta para os padròos da
comunidado¨, tavoroco sua atuação como lidorança. Elo tom
como invostir tompo na atuação política som compromotimonto
da roprodução do sua vida o do sua tamília, pois tom uma osposa,
guo tamlóm tralalha no município do Cachooira do Sul. Uma do
suas talas rosumo o argumonto lrovo guo dosojamos oxpor agui:
corta voz, osso intormanto ouviu do um protissional da ároa da
antropologia a sugostão do guo olos tos nogros da comunidado¨)
dovoriam porsistir com suas tócnicas tradicionais do manojo o
proparo da torra, por uma guostão do prosorvação do sua idon-
tidado. Comontando comigo tal colocação, rolatou o intormanto
guo so trata do uma proposta improcodonto, guo as aspiraçòos
dos moradoros daguolo povoado não são do insistir om tócnicas
tradicionais o pouco oticiontos, mas sim molhorar do vida¨: o
guo nós guoromos ó molhorar do vida¨.
261
Trata-so do um caso muito ospocítico. Cortamonto não dovo
havor consonso ontro gualguor vortonto dos posguisadoros sociais
solro um tipo do proposição como osta: porsistirom nas tócnicas
rusticas o pouco produtivas guando o omprogo do novas tócnicas
podo aumontar a produção, tavorocondo a sulsistôncia o ató
mosmo a produção do oxcodontos comorcializávois, aumontando
a ronda. O ologio da cultura¨, da otnicidado¨, omlora soja
um posicionamonto muito ditundido om discursos do carátor
alstrato, cortamonto convivo, ontro as possoas mais razoávois,
com a considoração, om intorvonçòos mais concrotas do carátor
prático, solro a possililidado o a dosojalilidado do so incromontar
o acosso a molhoros condiçòos do consumo o do vida social om
goral tsanoamonto, saudo, transporto, acosso a onorgia olótrica).
Contudo, a posição daguolo protissional não doixa do sor signiti-
cativa: ola simplosmonto radicaliza ao alsurdo um posicionamonto
mais goral solro a guostão das comunidados romanoscontos
guilomlolas¨: a porcopção dossa guostão prioritariamonto como
matória do protoção o incontivo à divorsidado cultural. Trata-so,
guanto a ossas populaçòos, do dosonvolvor políticas pullicas do
promoção da divorsidado cultural¨ ou do dosonvolvor políticas
pullicas do comlato à polroza, incluindo procipuamonto a
dimonsão do procossos localizados do rotorma agrária? Podo-so
dizor guo uma coisa não oxclui a outra. Etotivamonto, políticas
voltadas para a indução do procossos do construção do momórias
colotivas o do atirmação do tontos do idontiticação guo otoroçam
rocursos morais do rosistôncia a oxporiôncias do discriminação
racial podom convivor com políticas do dosonvolvimonto
sociooconomico. Contudo, para tanto, ó prociso não priorizar a
dimonsão da protoção do tprotonsas) idontidados ótnicas¨ como
um valor om si mosmo o goralmonto oposto aos valoros do
amlionto urlano circundanto.
A própria noção do comunidado¨ ó muito prollomática.
Trata-so, na vordado, polo monos no caso do Camlará, do um
povoado polro o caronto do intraostrutura, passando por um
nítido procosso do ditoronciação social, ospocialmonto sogundo o
rocorto intorgoracional, com loa parto dos jovons so urlanizando
o pordondo os vínculos com a torra, guo doixa do sor a laso da
roprodução do suas vidas. Dosonvolvor as tócnicas produtivas ó
inclusivo um prossuposto para guo aguolo ospaço tísico so tirmo
como torritório, como ospaço socialmonto apropriado por aguola
262
população. Ë prociso guo haja possililidados do prosporar ali,
guo aguolo ospaço soja atrativo para as goraçòos mais jovons,
cujas aspiraçòos já toram tundamontalmonto atotadas por uma
socialização urlana o urlanizadora guo comoça na oscola. Alóm
disso, dovo-so roconhocor guo há divorsas tormas do o nogro
luscar tontos do autoostima para ontrontar o proconcoito racial na
sociodado. Uma dolas ó o próprio sucosso no morcado do tralalho
urlano. Um impacto inovitávol do procosso do ditoronciação
social ao gual povoados como o do Camlará são sulmotidos ó
o tato do guo muitos jovons passom a oriontar suas osporanças o
amliçòos sogundo o horizonto do univorso urlano, ou mosmo
dontro do univorso rural, mas do um univorso rural mais dito-
ronciado, ondo não oxisto mais aponas o tralalho com a torra,
mas tralalhos do cunho mais administrativo, guor na gostão do
omproondimontos oconomicos guor na intortaco com o Estado
o domais organizaçòos na implomontação do políticas pullicas
tosso ó o caso das lidoranças). Por guo nogligonciar o tato do guo
muitos nogros possam o guoiram tirar dossas tormas do roalização
possoal a sua tonto do autoatirmação o do autoostima? O discurso
guo ontatiza a política do promoção da divorsidado cultural, guo
dotondo a otnicidado como a dimonsão da promoção moral dossas
populaçòos nogras paroco osguocor-so do tato do guo a própria
prosporidado oconomica na sociodado possui uma dimonsão
moral: ola ó tonto do autoostima o do autocontiança.
Por guo a aguisição do status sogundo uma moralidado indivi-
dualista no soio da ordom compotitiva dovoria sor privilógio dos
lrancos? Por guo o nogro procisa atirmar sua idontidado como
momlro do uma otnia? Ousamos inclusivo lovantar a hipótoso
do guo guaisguor incromontos na autoostima o mosmo na cons-
ciôncia crítica solro a discriminação racial no soio das populaçòos
romanoscontos guilomlolas¨ so dova mais ao incromonto
do suas condiçòos do vida por políticas do ronda mínima o do
intraostrutura, como o Programa luz o Enorgia tguo lonoticiou
o povoado do Camlará), do guo a gualguor sontimonto ototivo,
para alóm da rotórica induzida por ciontistas sociais o oxigida
inclusivo para otoitos do onguadramonto jurídico dos povoados
como comunidado romanosconto guilomlola¨, do portoncimonto
ótnico. Um dos otoitos lonóticos do programa Bolsa lamília om
Camlará o alhuros toi o aumonto do podor do larganha dos nogros
dianto dos módios propriotários lrancos guo historicamonto tôm
263
oxplorado do modo vil a sua mão do olra. Só o tato do torom
garantido um mínimo, guaso migalhas, já lhos contoro a potôncia
nocossária para dosatiar ostruturas do dominação possoal muito
antigas o arraigadas. Quo potôncia não lhos contoriria políticas
guo incromontassom ainda mais sua condição sociooconomica? A
misória, assim como a prosporidado, possui uma dimonsão moral.
A primoira política do olovação da autoostima dossas populaçòos
nogras, da sua capacidado do roagir ao racismo om sociodado, ó
a oliminação da sua condição do misória.
CONVlVÊNClA COV O SEVlARlDO
Vosmo as tormas mais rudimontaros do produção são trutos
do ostorços ativos do aprondizado o do adaptação dianto do um
amlionto tísico o no contoxto do um tipo do vida colotiva. Vas
isso não guor dizor guo consistam na molhor solução possívol.
As populaçòos guo vivom, goraçòos a tio, oprimidas por condiçòos
hostis dosonvolvom ativamonto tormas do adaptação o do acomo-
dação, mas isso não guor dizor guo ossas tormas dosonvolvidas
por olas sojam as mais oticazos o as mais virtuosas. Contudo,
há guom ponso guo sim. E, nossa matória, a gloriticação do
oprimido oncontra atinidado com o discurso amliontalista. O
homom mais oprimido pola naturoza soria tamlóm o homom
mais amigo dola. lntonso a todos os otoitos da civilização, não
portando todas as tócnicas acumuladas voltadas para a dominação
da naturoza o para a oxtração máxima do riguoza guo ola podo
otorocor, osso homom rustico vivoria numa simlioso pacítica com
o amlionto natural. No tundo, nossa concopção romântica, osso
homom soguor toria saído do um suposto ostado natural¨, olo
mosmo ainda soria parto da naturoza, insorindo-so no oscopo do
oguilílrio natural.
A vordado solro o sortanojo nordostino pòo a nu a tragilidado
dossa visão romântica. São procisamonto as práticas do sortanojo
rustico, oprimido pola soca, guo pòom om risco a solrovivôncia do
dolicado lioma caatinga. Esso lioma, unico no mundo, oscondo
uma onormo tragilidado sol sua aparôncia dura. Situado no
ocossistoma somiárido tdotinido por índicos do ovapotranspiração
suporioros aos índicos do procipitação, guor dizor, ondo a cada ano
a tondôncia ó guo so porca pola ovaporação dirota o pola transpiração
264
dos vogotais um volumo do água suporior ao procipitado nas
chuvas), olo ó instávol, oxtromamonto sonsívol a procossos do
dosortiticação. O produtor sortanojo rustico tom contriluído muito
para a dogradação da caatinga pola dorrulada dosordonada da
oscassa vogotação arlóroa com o tim da rotirada do madoira para
a guoima o para a construção o polo suporpastoroio do gado
caprino. A rala vogotação torragoira não suporta o pastoroio
oxcossivo crosconto dosso gado, guo vasculha paciontomonto por
cada ramo ronto ao chão. A população jovom do árvoros impor-
tantos como o umlu, conhocido por armazonar guantidados do
água om suas raízos guo lho pormitom dosonvolvor a tolhagom
ainda duranto a soca, torna-so cada voz oscassa, já guo o gado
so alimonta das jovons mudas.
A dospoito da gloriticação do oprimido, guo taz coincidir com
as condiçòos mais agudas do oprossão, uma das virtudos mais
sotisticadas capazos do contorná-la ó a tocnologia guo dosonvolvo
tócnicas capazos do conjugar aumonto do produtividado com
maior prosorvação da naturoza. O oxtrativismo, a caprina-ovino-
cultura, a apicultura o o cultivo do algumas ospócios do vogotais
são atividados passívois do grando dinamização com laso om
tócnicas guo vôm sondo olaloradas atravós do posguisas ciontí-
ticas. Trata-so do tocnologias guo vão dosdo o aportoiçoamonto
no manojo dos rocursos naturais com tócnicas do onsilagom para
o armazonamonto do torragons para o poríodo do soca tovitando
a nocossidado do suporpastoroio para a alimontação adoguada
do gado) ató o aprimoramonto gonótico dos gados caprino o
ovino. Prosorvar a naturoza oxigo um domínio sotisticado solro
ola, um domínio mais sotisticado do guo aguolo nocossário para
dogradá-la. O ologio romântico do um homom rustico om suposto
ostado natural aponas olsta a tomatização da nocossidado do
ostalolocor ostratógias do intorvonção podagógica guo lovom ossos
conhocimontos sotisticados ató o domínio do sontido prático
do sortanojo. Ë aí guo ontra a guostão do rospoito à dignidado
humana o à racionalidado própria do sortanojo. Esso oxorcício
podagógico nunca sorá lom dosomponhado polos tócnicos do
socialização oscolástica o do classo módia. O racismo do classo
ontro o tócnico o o sortanojo impodo o ostalolocimonto dos
vínculos do contiança o do cumplicidado nocossários para transpor
a distância cognitiva o atotiva ontro o sortanojo o ossa racionalidado
prossuposta na comproonsão o, solrotudo, na aplicação dossos
265
conhocimontos. O tócnico ostá já imluído dossa racionalidado,
dosso racionalismo do dominação do mundo¨, na oxprossão do
Wolor, guo ó o prossuposto da comproonsão prática, guor dizor,
da ototiva adoção dossas tócnicas sotisticadas. O guo ostá om
jogo não ó a mora disponililização do novas tócnicas no sorta-
nojo, mas a indução dosso tipo do racionalismo, prossuposto da
adoção das tócnicas.
A CONDl(AO DRAVATlCA
DO HOVEV AVAZÔNlCO¨
Dona Chica tom 61 anos o ó mão do oito tilhos: duas moninas
o sois homons. Nascou na cidado do Coari trogião contral do
Amazonas) o hojo mora om sou sítio nas rodondozas do Caroiro
Castanho, uma poguona cidado a algumas horas do Vanaus.
O acosso do sou sítio ao Caroiro ó toito somonto do larco o lá
ola comorcializa sua produção om uma poguona toira local. Ela
tralalhou dosdo a intância na agricultura. Antos do ir dotinitiva-
monto para o Caroiro, halitou na comunidado do Tarumã-Virim,
na zona motropolitana do Vanaus, o comorcializou om uma toira
guo alastocia a cidado, localizada na poritoria. Ela podo vivonciar,
portanto, tanto a agricultura na várzoa guanto a agricultura do
torra tirmo.
Hojo sua produção consisto lasicamonto om mandioca, alacaxi,
milho, lanana o latata-doco. Ató 1990, Dona Chica tralalhava
junto com sou pai om Coari. O torrono ora do sou avo, guo passou
para sou pai somonto dopois, guando ola comprou um podaço
para tralalhar com sou marido. Ela usa a tócnica do dorrulada
o guoima¨ na tormação do sou roçado¨. Esso procosso lasoia-so
na guoimada da vogotação guo, u· cu:ì· j:az·, tortiliza o solo.
No módio o no longo prazo, a tócnica dosgasta a tortilidado
natural da torra. Ao longo do um intorvalo do 3 a 5 anos, o solo
procisa passar por um poríodo do 8 a 15 anos do pousio, tócnica
rudimontar guo tamlóm so caractoriza polo uso guaso nulo do
maguinário, ou, do modo mais amplo, do guaisguor tócnicas
sotisticadas ostruturadas polo intonto do prosorvação das condiçòos
do plantio om módio o om longo prazo. Como ola mosma diz:
agui ó na laso da onxada!¨.
266
Quando halitou a comunidado do Tarumã-Virim, após uma
tomporada om Vanaus, ola tralalhou junto à associação dos
tralalhadoros rurais o consoguiu o astaltamonto da ostrada guo
passa pola comunidado ondo mora. Esso ó um prolloma comum
para guom mora om algumas ároas da rogião motropolitana do
Vanaus, pois nom todas vicinais¨
1
ostão astaltadas. Duranto o
poríodo do choia, guando há mais incidôncia do chuva, o ala-
gamonto dossas ostradas ó constanto, o guo diticulta lastanto o
potoncial do comorcialização dos agricultoros nas toiras. Assim, a
possililidado do atoloiros ó altíssima, o alguns agricultoros chogam
ató a pordor produçòos intoiras. O astaltamonto das ostradas toi
toito rocontomonto por moio do um convônio, a partir do uma
iniciativa do govorno todoral. Aposar do sor produtora do torra
tirmo, nossa ópoca, Dona Chica lom como outros agricultoros da
ároa sontiam diticuldados om oscoar a produção, dovido às chuvas
oxcossivas no poríodo do choia. Vais uma voz, o risco ó o do
alagamonto dos vicinais, tormando inovitavolmonto atoloiros.
Dona Chica tom uma visão lastanto crítica dos órgãos do
apoio tócnico como o lnstituto do Dosonvolvimonto Agropocuário
o llorostal Sustontávol do Estado do Amazonas tldam). Esso
instituto atualmonto tralalha om parcoria com a protoitura, o guo,
sogundo a improssão dos ontrovistados, piorou muito sua atuação,
principalmonto no caso da assistôncia tócnica, algo tundamontal
para a ototuação do tinanciamontos. Há pouco tompo, Dona Chica
consoguiu um tinanciamonto para sua plantação do mandioca,
mas há a constanto diticuldado do consoguir cródito, dovido aos
ompocilhos para a rogularização dotinitiva da torra o às diticul-
dados na rolação com a oguipo do assistôncia tócnica. Sogundo
ola, o apoio tócnico ó traco, o há situaçòos om guo simplosmonto
não há visitas dos protissionais. Ela mosma conta do opisódio
om guo so indispos com um tócnico do ldam, pois na hora do
ototuar o oxamo toz tudo do gualguor joito¨.
No caso da assistôncia tócnica, om uma ocasião, pudomos
olsorvar dirotamonto as diticuldados gravos na rolação ontro
assistonto tócnico o pullico-alvo. Nola, transparocou guo o distan-
ciamonto da posição social ontro tócnico o agricultor podo so
tornar um grando ompocilho. O protissional ó goralmonto alguóm
altamonto gualiticado o munido do uma linguagom tócnica posada
o comploxa. O contato com possoas som o domínio dossa
linguagom tócnico-tormal podo so tornar um puro choguo¨, no
26¯
gual o ostorço podagógico podo ir por água alaixo. Assim, um
dos maioros dosatios ó a produção do uma aproximação social
ontro assistôncia tócnica o agricultoros para guo so possa molhorar
o aprondizado.
Os tinanciamontos são om goral otorocidos pola Agôncia do
lomonto do Estado do Amazonas tAtoam). O prolloma com a
rogulamontação das torras ocorro porguo há diticuldados, mosmo
com o ostorço do lncra, do promovor assontamontos para
poguonos agricultoros na ároa ondo moram. Vuitas vozos, olos
compram suas torras, mas na hora do rogulamontá-las oncontram
diticuldados. Esso ó o caso do Dona Chica, guo mosmo tondo
comprado sou torrono, onguadrado na catogoria do colonização
por causa do sua grando oxtonsão, sonto diticuldado om consoguir
o Cortiticado do Cadastro do lmóvol Rural tCClER). Esso docu-
monto pormito o tinanciamonto dos poguonos agricultoros. Não
aponas Dona Chica, mas muitos outros do sous companhoiros¨
so oncontram na mosma situação. O tinanciamonto na taixa do
1.200 roais, consoguido por ola junto com outros agricultoros, toi
uma situação do oxcoção na gual o próprio protoito, na ópoca,
tovo guo intorvir. O prolloma com a rogulamontação dossas torras
podo indicar um gravo prolloma para a ovolução dos tinancia-
montos na rogião.
Dona Chica atualmonto produz om um torrono do várzoa, um
tipo do torrono comum no ocossistoma amazonico cuja ospocitici-
dado ó o alagamonto duranto o poríodo do choia do rio tno caso
dola, o rio Nogro). lsso podo ocasionar prollomas na produção,
inclusivo a sua porda. Essa soria uma das diticuldados para os
produtoros do torrono do várzoa, já guo possuom poucos rocursos
para lutar contra ossa imposição da naturoza. Essas imposiçòos
não são ostritamonto naturais¨, mas tamlóm sociais, pois so
rotlotom nas condiçòos do oxistôncia, guo diticultam a produção
o a comorcialização dos produtos.
No ontanto, aposar das diticuldados, ó possívol olsorvar compor-
tamontos do iniciativa, como o do Arnaldo. Ex-carvooiro, olo
ainda prosorva um dos tornos no gual tralalhou om sua proprio-
dado, hojo com uma produção lom divorsiticada tvariando
ontro couvo, lanana, macaxoira, coco otc.). Quando comoçou
no ramal do Pau Rosa ttamlóm no Tarumã-Virim), olo próprio
organizou possoas intorossadas om produzir o guo ostavam
roalocadas no programa do assontamonto. Elo tralalhou junto
268
com rocóm-assontados na roivindicação do insumos o consoguiu
uma parcoria com a Sopror. Hojo olo comoça a construir a sodo
do uma tutura associação no guintal do sua casa, ondo ocorrom
rouniòos para angariar rocursos o insumos junto ao ldam o à
Sopror. Com um comportamonto mais ativo, Arnaldo já ponsa ató
om comprar algum maguinário para modornizar sua produção.
Assim como Dona Chica, olo atualmonto comorcializa om uma
toira do poguonos produtoros na poritoria do Vanaus.
CONSlDERA(OES llNAlS
As possoas podom muito lom alrir mão da sua cultura¨ guando
so intorossam por amliontos dontro dos guais aguola cultura¨
pouco atondo como rocurso do adaptação o do aprondizado. Não
calo a dotosa, como valoros om si mosmos, do uma otnia¨ o
das práticas tradicionais guo portoncoriam a ossa otnia¨, nom da
suposta amizado com a naturoza por parto do sortanojo, nom do
modo do vida antílio do um suposto homom amazonico¨. Calo
antos do tudo rospoitar a dignidado dossas possoas, assim como
a racionalidado intrínsoca ao sou modo do vida contoxtualizado
numa história ospocítica o num amlionto atual dotorminado, mas
não nos tormos do uma gloriticação do oprimido, o sim com o
oljotivo do atingir o grau do comproonsão solro ossas possoas,
o guo ó nocossário para auxiliá-las no ostorço colotivo do
omancipação da naturoza. Essa ó a importanto altornativa ontro
a gloriticação do oprimido o a logitimação da oprossão.
✏ ⇧ P l ⌃ ✓ ⌥ C P
⇧⇥ ↵⇥⌃⌦✓⌃✓⌦⇧⇥ ⇥C✏l⇧l⇥ DC
⇣l✏⌦C✏⌦⌘Dl⌃C
··Iaü·:au·:. R:ca:u· !:::~:
lNTRODU(AO
Os concoitos dominantos da oconomia goralmonto alstraom
suas próprias ostruturas sociais, não atontando para sua gônoso
histórica o social. O morcado ó uma construção social. Por isso,
o Estado sompro intortoro na oconomia, soja do torma rodistrilu-
tiva tativa), soja do torma rostritiva tpassiva¨), guando tamlóm
lonoticia os intorossos oconomicos ostalolocidos o o grando
capital. Sondo assim, o Estado tom um torto papol na tormação
da ordom oconomica onguanto um campo no gual so dispòo
o organiza a concorrôncia
1
ontro as omprosas, sompro modiada
polo podor ostatal. Em suma, olo tom o podor do constituição do
intorosso oconomico tintorosso privado) logítimo o oticial.
2
Dosto
modo, podo so atirmar guo toda oconomia¨ ó igualmonto uma
oconomia política¨ o tamlóm uma política oconomica¨.
Na política oconomica tinancoira, o Estado tamlóm tom uma
tunção propondoranto, na modida om guo tanto podo tor uma
posição do rostrição do cródito guanto rodistrilutiva, cujo rosultado
ó o tomonto às iniciativas do monor porto, capitalizando-as. O
programa CrodiAmigo tBanco do Nordosto) ó um lom oxomplo
dosto ultimo caso. Esto programa do microcródito tom uma posição
do vanguarda no campo tinancoiro,
3
pois opora do acordo com
uma lógica distinta à do sistoma dominanto. Sua caractorística
contral ó a do otorocor ompróstimos do laixo volumo om intorvalos
curtos. Ou soja, uma política oconomica do cródito tprodutivo)
2¯0
atingo ditoroncialmonto a sociodado do classos, já guo o próprio
sistoma tinancoiro as onglola. Portanto, o programa om guostão
tom como tunção uma política oconomica do capitalização das
classos dominadas. Trata-so, portanto, do tomatizar a atinidado
olotiva ontro um tipo do política tinancoira o as classos às guais
ola contompla ou oxclui do campo oconomico.
O projoto alrango principalmonto poguonos comorciantos
urlanos t85,8/) do Nordosto lrasiloiro.
4
A tunção do CrodiAmigo
ó otorocor a possililidado da capitalização dostos poguonos
omproondimontos atravós do rocurso ao cródito produtivo, cujo
rosultado ó a dinamização do morcado intorno o local. Elo toi
contral para guo o dosonvolvimonto dostos poguonos nogócios
tosso possívol.
5
O CrodiAmigo ó rosponsávol por 60/ no morcado
nacional.
6
Esta política oconomica do cródito ó autossustontávol
no sontido do não dopondor do incontivos tiscais oxtornos para
sua oxistôncia, ovidonciando o rotorno oconomico das atividados
omproondodoras, guo ocorro atravós das rocoitas goradas polos
juros do sous cliontos. A tinalidado contral do programa, ontão, ó
a do so valor das microtinanças para a rodução da dosigualdado
social.
Dosto modo, guando atirmamos guo o CrodiAmigo ocupa
uma posição do vanguarda no sistoma tinancoiro ó om razão do
olo contomplar classos dominadas o igualmonto dostavorocidas
na hiorarguia social da oconomia o do tralalho. No ontanto, o
concoito do classo social com o gual nos atinamos não ó oxclusi-
vamonto aponas pola ronda. A idoia do classo social agui ó do
guo ola produz ditoroncialmonto os indivíduos na sociodado o,
assim, os hiorarguiza. A classo onglola o valor dos indivíduos
como um todo, na modida om guo ostos incorporam disposiçòos
tum Iaü:ìu: do classo) mais ou monos valorizadas na sociodado.
Do mosmo modo, a classo social lonoticiária das políticas do
microcródito ó uma nova classo tralalhadora,
¯
cuja dotinição so
dá: a) na incorporação, om sua oconomia omocional, do uma
torto ótica do tralalho oconomicamonto util o um sólido rigorismo
oconomico, l) uma origom tamiliar ostruturada, na gual a prosonça
do uma solidariodado moral garanto a sogurança oxistoncial
o social mínima, c) polo tato do as urgôncias mais imodiatas da
ostora do tralalho o da sulsistôncia ttamiliar) so imporom a olos
onguanto um imporativo social do classo inoscapávol.
2¯1
A posguisa a sor aprosontada toi roalizada na cidado do
Campina Grando, no intorior parailano. O tralalho do campo
toi conduzido om toiras locais rocóm- organizadas por moio do
uma política municipal. Esta política do roalocação tovo como
tinalidado tirar ostos tralalhadoros guo, om sua maioria, vondiam
na rua o a cóu alorto. A condução da posguisa ompírica tovo
o toco om duas toiras: Arca do Titão o Arca da Catodral, o um
contro comorcial popular, localizado ontro olas. Os comorciantos
amlulantos ontrovistados atuam na ároa do trutas, vostuário
tominino, totocópia o artosanato.
Do tato, o programa CrodAmigo alrango uma grando vario-
dado do nogócios om divorsos tamanhos. No ontanto, do torma
goral, podo so atirmar guo os ontrovistados soriam do uma tração
do laixo¨ dosto pullico. A idoia do u:J~:~uc:a¸a· ~nj:~:a::aI
8
pormito contoxtualizar a composição intorna dostos microom-
proondimontos, guo contam com pouco capital oconomico o
cultural para so dosonvolvorom. Na maioria das vozos a tigura
do omproondodor¨ ou administrador¨ tguo lida com o jogo¨
oconomico ostrito como roinvostimonto, motas do oxpansão,
controlo do nogócio, cródito otc.) o do tralalhador tconsidorando
ostorço diário na manutonção do nogócio) so concontra guaso
sompro om um indivíduo ou sol uma laso tamiliar nom sompro
constanto. Os omproondimontos, som guaso nonhuma ditoronciação
do tunçòos intornas, são lasoados na compra om tornocodor o
vondas nas toiras. Dosto modo, a contralidado oconomica da
morcadoria vondida ó guaso oxclusiva.
O olomonto tundamontal para ontondor a rolação ontro o micro-
cródito o os latalhadoros ostá na história social incorporada dos
ontrovistados, na sua rolação com o cródito o sou nogócio. Nosto
sontido, a oconomia ó primoiramonto toita por homons concrotos
o imorsos om sua prática social o não por um I·n· ~c·u·n:cu:
intoloctualista. Alóm disso, toda atinidado tcomo voromos) ontro
Iaü:ìu: do classo o posição oconomica prossupòo igualmonto uma
rolação com o tompo social guo os condiciona. Do torma goral,
a trajotória dos ontrovistados ó marcada por uma alta doso do
sacritício possoal dirocionado ao tralalho. São histórias do vida
sotridas, mas com torto disciplina para o tralalho socialmonto
util, alto rigorismo oconomico na diroção da construção do um
tuturo molhor o mais ostávol.
2¯2
HlSTÓRlAS DE BATAlHADORES
NO lNTERlOR PARAlBANO
SEU JOSË - EU ERA lAVPlAO,
HOJE EU NAO SOU NEV lAVPARlNA!¨
O comórcio do sou Josó t55 anos) tica localizado om um
contro comorcial popular na cidado do Campina Grando. Em um
poguono ostalolocimonto ondo não calom mais do guo duas
possoas ao mosmo tompo, rosido sua loja. Sua atitudo corporal
ó curvada o olo tala laixo, guaso sompro sussurrando ao ouvido
do guom o oscuta. Aposar do tor 55 anos, olo aparonta sor mais
volho, marcas do uma trajotória social pautada pola duroza da
vida. Sou corpo carroga uma história social do mudanças radicais,
como voromos no docorror da análiso.
Sua rotina comoça codo. Com duas tilhas, olo primoiramonto
acorda a guo ainda mora com olo tguo tralalha do distrito indus-
trial) às guatro da manhã, taz o cató o so propara para ir tralalhar.
Sua jornada do tralalho vai das 0¯:15 às 18:00, do sogunda a
sálado tató às 13:00). Sou nogócio consisto lasicamonto om tirar
totocópias o tazor plastiticaçòos. No ontanto, como sua loja ó
muito poguona, a margom do lucro ó muito laixa, já guo o valor
unitário do sou sorviço ó igualmonto laixo tR$ 0,10). Alóm do
guo, os nogócios do totocópia roalmonto rontávois são aguolos guo
oporam om grando oscala tom tunção do laixo valor unitário),
o guo não ó o sou caso. Socundariamonto, olo vondo algumas
morcadorias variadas guo vão dosdo poguonos violòos do plástico
do lringuodo, lonços, pontos o algum artosanato torigami), mas
guo raramonto lho rondo algum rotorno oconomico vordadoiro.
Nosto sontido, podomos considorá-lo como um artosão procário.
Com rolação a osto aspocto, sua tala domonstra uma lacuna
curiosa. Em sou poguono mostruário ostão dispostos os tralalhos
guo variam om tamanho. Ao so rotorir às poças olo conta:
Eu tonho ossas poças agui guo ou tralalho com origami, guo ou
taço. Aí so vocô chogar o podir pra vor ossa poça, amostrar¨: gual
ó o proço dossa grando?¨. Aí ou digo: ossa grando ó trozontos
roais.¨ So vocô não so agradar dossa aí ou tonho outras monoros
do 5, 10... Aí o clionto... Choga uma hora guo olo so agradou o
aí vai lovar. Vas não doixa pra lá. Tom guo amostrar¨. Eu não
2¯3
digo hipnotizar... Cô tom guo lotar na monto dolo guo ó daguilo
guo olo nocossita. Tom mostrar a utilidado do produto, do guo
aguilo vai sorvir a olo. Vocô poga uma costinha dossa tolo mostra
uma costinha). Ela ponsa guo ó pra colocar lomlom, mas aí ou
digo guo a alonçoada¨ podo tazor um cató da manhã com ossa
costa, podo colocar a roupinha do lolô, podo tazor uma caminha
pro cachorro... Aí ou vou dando as sugostòos pra ola. Pro clionto
ticar satistoito o ponsar: ó... ou vou lovar isso mosmo.¨
Nossa passagom, ó possívol porcolor guo o dosvalor ocono-
mico o simlólico do artosanato do sou Josó transparoco tanto na
ditoronça alsurda dos proços ontro as poças lom como om sua
constanto justiticativa na utilidado do sou artosanato, o guo podo
sor idontiticado na lacuna do sua tala. No tundo, são oljotos para
todo o nonhum gosto, guo sorvom para tudo o para nada. Como
olo mosmo atirma: ó guaso como so tivosso guo hipnotizar¨ o
clionto para guo sou intorosso soja dosportado.
Piorro Bourdiou
9
porcolou guo, no capitalismo, o valor ocono-
mico do uma morcadoria não ó aponas dotinido polo tompo módio
do tralalho matorializado nola tvalor alstrato o guantiticávol),
mas igualmonto om sou valor simlólico. Trata-so do um valor
gualitativo, ligado ao ostilo do vida das classos sociais ao gual
uma morcadoria constrói sua rotorôncia. O artosanato procário
tsocial o oconomicamonto dosvalorizado) do sou Josó paroco pairar
num limlo no gual sou valor não ó nom o da tunção utilitária
imodiata do uma morcadoria gualguor o muito monos a do valor
contomplativo¨ o cultural¨ do uma olra artística.
O guo vomos no comórcio popular do sou Josó ó a ausôncia
do otorta na morcadorias com valor simlólico agrogado o dito-
ronciado, ou soja, com a protonsão do otorocor morcadorias com
um valor distintivo. Esto valor ó oconomicamonto rolovanto. Esto
ponto podo sor ilustrado na porcopção do suas morcadorias:
morcadoria tom sompro guo sor rotativa. Chogar o sair rápido¨.
Ou soja, trata-so da porcopção do guo suas morcadorías não tôm
algo guo roalmonto as singularizo, o guo tamlóm so rovorto na
protoroncia do intorvalo curto do vonda.
Há doz anos no ramo do totocópia o plastiticação, há oito
mosos olo consoguiu montar sou ostalolocimonto om um contro
comorcial, sondo tomador do programa CrodiAmigo há um ano.
Elo usou o cródito para comprar duas poguonas máguinas do
2¯4
xorox o uma do plastiticação. Em soguida, montou um grupo
com mais duas possoas, mas agora podorá tomar cródito indivi-
dualmonto. Esta mudança tamlóm traz consigo um aumonto
na sua linha do cródito, cujo limito sorá do mil roais. Para olo,
o maior lonotício do so tornar um tomador individual ó o da
indopondôncia, pois já tovo guo colrir a dívida do uma possoa
guo ticou inadimplonto.
10
Contudo, a possililidado do mais cródito não nocossariamonto
acarrota om um roinvostimonto oriontado o calculado, guo oxigo
a torto incorporação do um capital cultural to oscolar) particular
na ação oconomica. O guo ostá om jogo ó a rolação do capital
cultural tospocítico do campo oconomico o normalmonto logiti-
mado polas instituiçòos suporioros do onsino) na acumulação do
próprio capital oconomico.
11
Dosta manoira, a própria idoia do
Iaü:ìu: oconomico dopondo da incorporação ditoroncial do um
capital cultural to oscolar) dosigualmonto distriluído polas classos
sociais. Ë a incorporação dosto capital cultural particular à ação
oconomica guo pormito maior distanciamonto, racionalidado o
calculalilidado na ação oconomica. Ató porguo, o sou nogócio
não paroco otorocor uma contrapartida oconomica rolusta ao
aumonto da linha do cródito. Suas disposiçòos oconomicas ou
omproondodoras¨ tôm um carátor tortomonto adaptativo o opo-
raram do acordo com o imporativo da nocossidado oconomica
da sulsistôncia: Eu comocoi com trozontos roais o agora ou já
posso ultrapassar do mil. Só guo ou não vou pogar o valor total
guo ó o guo dotorminado. Eu vou do acordo com a nocossidado.¨
Em suma, o acosso a mais podor do capitalização não nocossa-
riamonto promovo uma ruptura com a ação oconomica oriontada
pola nocossidado o pola urgôncia. lsto tom a vor dirotamonto com
sua posição dominada na hiorarguia oconomica to do tralalho)
o com a sua disposição oconomica adaptativa tpassiva¨), limi-
tando a possililidado do roinvostimonto oriontado tguo visa, por
oxomplo, à ditoronciação do tunçòos intornas da omprosa) o do
um cálculo vordadoiramonto prospoctivo.
Outro aspocto contral no patrimonio do disposiçòos ocono-
micas do sou Josó ó a talta do uma ospociticação o uma indito-
ronciação do capital intorno do sou nogócio, guo não tom um
tim oriontado:
2¯5
Aí, ola ta tilha) sompro coloca algum¨ dontro do casa o ou vou
lotando... Quando talta alguma coisa om casa ou vou complo-
tando. O rosto |do dinhoiro guo ganha} ou vou invostindo agui
na loja. So ou arrumar num dia 50 roais o não tivor nada mim¨
comprar para casa, aí ou já invisto agui.
Porcolomos guo a hiorarguia no invostimonto o no uso do
dinhoiro não tom como tinalidado primoira o nogócio, mas a sulsis-
tôncia tamiliar. Não há uma racionalização, nom ospocialização
tditoronciação) intorna do capital disponívol. O mosmo capital
podo sor aplicado om divorsas ároas som um dirocionamonto
claro. Esta indistinção ontro a sulsistôncia tamiliar o o orçamonto
do omproondimonto tamlóm toi analisada nos poguonos comor-
ciantos argolinos.
12
A poupança tamlóm ó uma dimonsão importanto da vida
tinancoira dosto latalhador, guo om nada so assomolha a uma
contortávol rosorva do capital, possililitando uma prospocção
contortávol. Ao contrário, ola cumpro uma tunção do carátor
omorgoncial, inconstanto o dopondonto da intonsidado do tluxo
oxcodonto do cliontola para sou uso. Sogundo sou Josó, a poupança
sorvo para comprar algum matorial do tralalho ttolhas om lranco,
tinta do improssora) a sor utilizado om algum sorviço oxtra. No
ontanto, osta rosorva não ó constanto o nom mosmo ostá soparada
da sulsistôncia domóstica, aliás, ola dopondo justamonto do não
tor a nocossidado do comprar nada om casa¨ para so mantor.
A poupança tunciona muito mais como um provávol capital do
giro oxcodonto do guo uma rotaguarda oconomica o tinancoira
ostávol. A ausôncia do uma poupança constanto tamlóm constrango
tortomonto a constituição do um capital tixo, guo possililita
o roinvostimonto oriontado o racional no omproondimonto o a
possililidado do oxpansão oconomica planojada.
A ausôncia guaso total do ostoguo tamlóm ó algo guo contrilui
para o rotrato do tipo do omproondimonto analisado. A compra
do morcadorias ó guaso totalmonto suljugada à porcopção imo-
diata do uma possívol domanda, ou soja, do guo a cliontola ostá
procurando no momonto¨. lsto o constrango a dosonvolvor uma
disposição do improviso o da intuição.
13
Há, nosto ponto, um
contrasto ontro o dosonvolvimonto dosta disposição intuitiva¨
no jogo oconomico o a incorporação dosto capital cultural do
campo oconomico, cuja ospociticidado ó a do justamonto alrir a
possililidado do controlar o dominar racionalmonto os nichos¨,
2¯6
lacunas do morcado¨ o sotoros¨ oconomicamonto mais rontávois,
isto ó, maior podor do morcado solro uma possívol domanda
sociooconomica.
Antos do so ostalolocor nosto contro comorcial, sou Josó trala-
lhava na rua. Era uma larraguinha. Nossa ópoca, o comórcio ora
mais incorto, mas o pior ainda ostava por vir. Em taco do uma
política do roalocação promovida pola protoitura os comorciantos
amlulantos toram romovidos, mas som gualguor garantia inicial
do rossarcimonto. Esso poríodo toi um dos mais duros polo gual já
passou, pois sontiu na polo o no ostomago a dor da instalilidado
oconomica o social om razão do sua romoção:
Esso mou sotrimonto aí ou passoi o a minha tilha talou: pai, hojo
o guo tom ou lotoi no togo. Vistura não tom... Tristomonto tinha
um pouguinho do toijão o um pouguinho cuscuz. Vas aí zorou
goral mosmo! t...) Vosmo guo não tivosso nada lá om casa... Vas
ali ou tava um pouco alalado. Eu taloi: oh mou Dous, ou nunca
doi motivo pra taltar nada lá om casa o agora vom taltar¨. liguoi
ató 14lh da tardo o não aparocou ninguóm daguolos guo tavam
mo dovondo pra mo pagar. Tá na mão do Dous¨. Quando ou
saí pra casa, já guaso 14h, passoi na protoitura o aparocou um
alonçoado¨ o disso: Ô Vilton... Como ó guo tá?¨. Eu disso: ta
tudo lom, tudo no comando do Dous¨. Aí olo disso: Vocô não
tica invocado so ou lho dor algo não?¨ Aí disso: Não... Dous só
nos dá aguilo guo a gonto nocossita.¨ Aí olo disso: ó vordado.¨
Então, olo alriu a cartoira o mo dou 20 roais. Ali ou gloritiguoi o
nomo do Dous o comproi uma carno no morcado.
lolizmonto, pouco tompo após a sua romoção olo consoguiu
um ponto tixo, mas cujo início não toi dos mais tácois. Elo conta
guo houvo uma roportagom solro o sou caso. Na parodo ao
tundo do sou poguono Box¨ olo guarda a matória do jornal o
guo para olo marca uma ruptura do antos o dopois¨ na sua vida.
Aposar do tudo, sou rocomoço não toi tranguilo, pois ontrontou a
constanto chacota do sous paros. Sua loja guaso não tinha nada,
nom mostruário, nom mosmo uma porta santona do motal para
protogô-la do noito. Elo chogou lá som nada o os outros comor-
ciantos zomlavam do Josó dizondo: Elo vai colocar um nogócio
dosso aí, ó toio domais!¨
Agui, o tato do tor consoguido so roostalolocor om um con-
tro comorcial o não om uma toira tcomo ó o caso dos outros
ontrovistados) taz com guo sou Josó gozo do uma distinção com
2¯¯
rolação aos outros, o guo lho rondo maior autoostima com sou
nogócio. Ë troguonto, no imaginário do todos os ontrovistados,
a oposição ontro titoiro¨, larraguoiro¨ o os guo tôm uma loja.
Elo atirma guo hojo as possoas porguntam: Ondo ó tua lojinha?¨
Não talam mais om titoiro¨, nom om larraca.¨ Tor uma lojinha¨
signitica não aponas tor um lugar tixo aondo os cliontos podom
voltar, mas tom a vor com uma dimonsão intraostrutural o ostótica
tdistintiva) do omproondimonto. A lojinha¨ tom a vor com tor
um ponto tixo limpo¨, aprosontávol¨, com uma aparôncia mais
tormal¨, atastando o ostigma da intormalidado o da procariodado.
O otoito na autoostima ó do so onxorgar como um vordadoiro
comorcianto, passando mais sogurança o contiança aos cliontos.
Sor dono do uma lojinha, por oxomplo, toz com guo sou Josó so
vostisso do uma manoira mais tormal, não so sontindo contortávol
indo tralalhar do lormuda o chinolo. Esto atastamonto do ostigma
social guo a lojinha¨ traz, carroga consigo a idoia do guo um
omproondimonto dopondo do uma construção social simlólica
tavaliativa) por parto da domanda tcliontola), cujo otoito ocono-
mico não ó nada dosprozívol:
Por guo agui ó outra visão, olos tôm uma visão dagui ó como so
tosso uma loja o não como toira. Vocô vô guo muitas possoas
passavam lá polo lado da gonto... Pro lado daguolas larraguinhas
|olo so rotoro ao passado do larraguoiro} guo passava o nom
parava pra comprar nada! E hojo já tão ontrando agui o tão
comprando...
A intância do sou Josó toi minimamonto ostávol. Com uma
tamília ostruturada, olo nunca chogou a passar nonhum tipo do
nocossidado matorial imodiata, o guo contriluiu na constituição do
uma solidariodado tamiliar mínima. Assim como na origom tamiliar
da maioria dos latalhadoros, sou Josó croscou tralalhando com
sua tamília. Sou pai toi soldado da Varinha o nogocianto. Elo lho
dizia guo nogociar ora molhor do guo tralalhar do omprogado,
pois no ramo do comórcio vocô ó o patrão do vocô¨. A lição
mais importanto guo sous pais lho logaram toi a do uma condução
da vida atravós do tralalho honosto o do caminho do lom¨.
Nostos latalhadoros, troguontomonto, olsorva-so osta assortiva
como tondo um tator do contrasto imodiato com rolação à raló
ostrutural dolinguonto, já guo sua posição do classo dirotamonto
acima ainda não oxclui a proximidado com osta no ospaço social.
2¯8
Em sua juvontudo, poróm, sou Josó comoça a so onvolvor com
o álcool. Aposar do tor lolido muito guando jovom, trôs tatoros
parocom tor contriluido para guo isso não signiticasso o caminho
da dolinguôncia: a) o tato do o consumo do álcool nunca tor so
rovortido om um comportamonto agrossivo o violonto com sua
tamília, l) o consumo do álcool não signiticou o alandono do
tralalho disciplinado o ostorçado, c) sous pais sompro mani-
tostavam a proocupação concrota com uma sogurança social
mínima, como guando tomava um porro o sou pai corria pola
cidado para convoncô-lo a ir para casa o largar a lolida.
Nossa ópoca sou Josó tralalhava na industria como oporário.
loi uma ópoca ditícil, guando tovo guo lidar com a condição do
omprogado na tálrica o sou onvolvimonto com o álcool: ou ora
uma cara guo lolia muito. Uma grado do corvoja pra mim o um
litro do Vontilla não ora nada! Em uma possoa só. Eu ia tomando,
tomando o dagui a pouco tava... .¨ Quando ora omprogado, olo
tralalhou como carrogador na tálrica da São Braz tcató), mas
prodominantomonto na tálrica da Alpargatas, guo contraliza
a produção do chinolos do dodo do uma tamosa marca. Em
constanto atrito com sous suporvisoros imodiatos, olo conta um
caso paradigmático do assódio moral guo iria rondor o apolido
do lampião¨.
Um dia, ao chogar à tálrica, olo ontrou om uma discussão com
sou suporior imodiato solro guom iria ticar rosponsávol polo
doscarrogamonto do algumas morcadorias. No moio da discussão,
olo rocolou um chamado o toi corrondo olhar a produção. Ao
chogar ao local, haviam sido guoimados om torno do ¯00-800
paros do sandálias. Esto incidonto intoliz dosoncadoou uma
discussão ontro os dois, na gual o suporior tazia xingamontos
racistas contra sou Josó. No ontanto, a roação agrossiva do sou
Josó lho contoriu corto rospoito¨ o tomor ontro os cologas. O
apolido do lampião¨ roprosontava lom a prosonça do tortos
disposiçòos agrossivas guo muitos omprogados dosonvolviam
para lidar com o assódio moral dontro do amlionto do tralalho.
lroguontomonto olo so rotoro a ossa taso do sua vida como aguola
om guo vivia no mundo¨ o ora marcada polo torto consumo do
álcool o pola agrossividado.
Em 19¯¯, ainda soltoiro, olo rosolvo partir om diroção ao Rio
do Janoiro para tralalhar om uma tálrica do ar-condicionado. Elo
so ocupava do sotor do montagom. Contra a vontado do sua mão,
2¯9
olo so muda. loi nossa ópoca guo olo sotrou um acidonto guo
olo diz tor alorto sous olhos¨. Ao atravossar a Avonida Brasil olo
tropoça no moio da pista. Caído, olo guaso ó atropolado por um
caminhão. Um ano dopois, olo volta para a Paraíla o constitui
tamília. Todavia, algum tompo dopois olo so torna viuvo, o guo
para sou Josó toi o comoço do uma transtormação radical om
sua vida. Podo-so dizor guo sua convorsão à roligião ovangólica
pontocostal tlgroja Quadrangular) dosoncadoou um conjunto do
disposiçòos tortomonto ascóticas guo, ató ontão, pormanociam
om vigília.
14
Como olo mosmo conta:
loi num Domingo. Eu tava om casa, liguoi a tolovisão o tava uma
monsagom. Na tolovisão não, primoiramonto no rádio. Era uma
monsagom talando do uma possoa, como uma ontrovista, o ou
tiguoi oscutando aguola possoa como so tosso ou, aguolo lampião.
Elo tava rolatando o guo olo tazia o o guo olo não tazia o tal. E
ali ou: puxa guo isso!¨. Aí ou tui o dosliguoi guo ou não gostava
dosso nogócio do cronto não. Eu ticava rovoltado. Aí ou dosliguoi.
Quando toi a tardo ou liguoi a tolovisão o tava passando aguola
mosma monsagom ·I:, ~u :~uì: una ì:::ì~za u· n~u c·:a¸a· ~
c·n~c~: a cI·:a: ~ :~uì: a :·uìau~ u~ D~u: a:::n, u~ u~uì:· u~
n:n j:a ~u :: j:a :g:~¡a. Tinha uma vizinha guo mo convidava
pra ir na igroja. Aí nosso dia ou taloi pra ola guo ia. Quando ou
choguoi na igroja, ola tava supor lotada o o pastor progou como
aguolo pastor progou no mosma monsagom guo ou tinha assistido.
Aí ou digo: mou dous, como ó guo podo um nogócio dosso?!¨.
Aí lotoi pra chorar o pra tromor o ali o pastor toz o apolo o ou vi
guo pra mim guo ora Dous guo tava mo chamando. Aí ou acoitoi
o hojo guor lho dizor guo so ou soulosso guo Dous ora tão lom
assim na minha vida. Dosdo do mou nascimonto guo ou já tinha
acoitado Josus. Vocô vô guo guom mo conhocia atrás, há uns
tompos atrás dizia: ou não acrodito não: osso ó outro homom!¨.
Já chogaram ató a dizor pra mim: Rapaz, vocô tá mais jovom,
mais lonito.¨ Vou calolo antigamonto ora aguolos Black¨ guo
usava, aguolo calolão todo pra cima o hojo ou não doixo passar
assim¨ não. Dous transtormou minha vida goral! Goral! E ou
croio guo dagui pra tronto olo ainda vai transtormar mais ainda.
Eu guoro sorvir a olo como ou dosojo. tgritos mous)
Na narração do sua convorsão roligiosa porcolomos uma vorda-
doira rovolução¨ om sou patrimonio do disposiçòos. A roligião
cumpro uma tunção do roconvorsão o rooriontação na condução
do sua vida como um todo, principalmonto com rolação às suas
280
disposiçòos tinclinaçòos para dotorminado comportamonto) agros-
sivas o hodonistas: Hojo, pola honra o glória do sonhor Josus
ou troguoi a taca o o rovólvor pola Bíllia!¨ Esta tala omllomática
nos mostra como a roligião cumpriu a tunção do rocanalizar suas
disposiçòos agrossivas o hodonistas, o guo rosultou no dosonvol-
vimonto do tortos disposiçòos oriontadas para o mundo tralalho
o oxigidas pola posição do tralalhador autonomo¨ o poguono
comorcianto. Ela opora nolo um rotorço do suas disposiçòos
ascóticas, guo irá so canalizar na ostora do tralalho, lom como
na sua roorganização da hiorarguia do sou tompo tprioridados
otc.), guo so ovidoncia nosta tala: Primoiramonto ou loto Dous
na tronto, o mou tralalho o dopois aguilo guo ou possuo.¨ A
partir dosta convorsão roligiosa, a ostora do hodonismo so torna
totalmonto intorditada. Paroco não sor igualmonto por acaso guo
osta atinidado olotiva ontro osta roconvorsão dos impulsos agros-
sivos, hodonistas to toda roconstrução aí implicada) o o tato do
olo tor comoçado o sou nogócio próprio.
No ontanto, a roligião tamlóm sorvo como uma ostora social
om guo sou Josó podo roconstruir o sontido do sua própria trajotória
individual o social. Ela autoriza a oxplicitação da sua trajotória do
sotrimonto o do latalha som guo isso soja motivo do voxação.
15
A
roligião pormito a constituição do uma ostora do sontido para sua
trajotória sotrida, pormitindo sua administração¨ omocional. Ao
sor alordado pola primoira voz, sou Josó distriluía om sua loja
poguonos tolhotos contondo o salmo 91, guo, aliás, olo lô todas
as noitos. O contoudo dosto salmo paroco sistomatizar muito lom
a porcopção do mundo da gual olo agora partilha. Ela tunciona
como uma torma do tilosotia prática¨. O contoudo do salmo 91
16
nos mostra um misto do roalismo o osporança, a acoitação sotri-
monto onguanto roalidado tdo sua condição social dosvantajosa)
o a possililidado do salvação. Tal torma do porcopção da vida
ostá dirotamonto vinculada à sua posição do classo tralalhadora
na gual a dotosa do sua dignidado o ostalilidado social, atravós
do tralalho ostorçado, são guostòos da ordom do dia, mas nunca
roalmonto garantidas do antomão.
Do manoira goral, a luta o latalha por moio do tralalho produtivo
disciplinado marca voomontomonto sua trajotória do classo do
sou Josó. Ainda guo a privação matorial mais imodiata não tonha
sido ostrutural om sua vida, om momontos do oxtroma diticuldado
o instalilidado osta so toz prosonto. A radical transtormação do
281
sou ostilo do vida proporcionado pola roligião toi um guosito
contral na torma pola gual sou patrimonio do disposiçòos tovo
guo so roorganizar para ontrontar uma nova posição no mundo
do tralalho. Cortamonto o acosso ao cródito tovo um papol propon-
doranto na capitalização do sou nogócio, mas não signiticou
automaticamonto nom a racionalização intorna do capital do sou
nogócio, o guo acala diticultando a possililidado do roinvosti-
monto oriontado o roalmonto prospoctivo. Estos dois olomontos
nos parocom tundamontais na construção do Iaü:ìu: oconomico
das classos dominantos.
VARClA - TEV DlA QUE DO JElTO QUE ABRE,
lECHA. NAO VENDE NADA, NADA! t...) NAO TEV
BRA(O QUE AGUENTE, Ë CANSATlVO!¨
Várcia t43 anos) tralalha om uma poguona larraca na toira
Arca do Titão. Sou omproondimonto ó muito parocido com dozo-
nas do outros, dispostos lado a lado. Sou nogócio so lasoia no
vostuário tominino. Com somllanto cansado, já do muitos anos
do tralalho, ola, no ontanto, tala do manoira lastanto ospon-
tânoa o muito ativa. Com uma ronda om torno do mil roais, osta
não ó sompro tixa o dopondo constantomonto das tlutuaçòos
da domanda¨, guo guaso dosaparoco ontro janoiro o tovoroiro.
Sua jornada comoça às cinco horas da manhã. Ela sai
do casa para o tralalho o toma aponas um cató com loito do
manhã. Em goral, ola tocha às 16:30, guando o movimonto já ó
muitas vozos traco. Aliás, osto guosito ó uma constanto roclamação
do dola.
O histórico do Várcia na ároa do comórcio ó oxtonso, tondo
já vondido do tudo um pouco como: alumínio, plástico, plantas
do toto¨, lacia do plástico otc. Em conciliação com sou comórcio
do roupas tomininas, ola vondo trango tpois sou marido tom um
alatodouro) om uma toira organizada aponas às soxtas-toiras no
Parguo do Povo, rogião contral do Campina Grando. No passado,
tralalhou om um cológio particular guo portoncia a sua irmã.
Sompro tondo sido comorcianto, isso não a impodiu do continuar
vondondo. lá, ola lovava roupas o vondia para os protossoros
o para os taxinoiros. Sondo assim, o comórcio sompro toi parto
intogranto do sua vida: mou nogócio ó no ramo do nogociar,
podo sor o guo tor.¨
282
Há novo anos na Arca, ola comoçou sou atual nogócio com
poucas morcadorias. No CrodiAmigo, há trôs anos Várcia, assim
como a maioria dos comorciantos, usa o cródito como capital
do giro, ou soja, ola lasicamonto compra morcadorias para om
soguida rovondô-las. Sua linha do cródito tica om torno do mil
roais. A compra da morcadoria ó toita om viagom, já guo ola tom
guo so locomovor ató os polos manutaturoiros mais próximos. As
cidados são Turitama tpara o joans) o Santa Cruz tpara a malha).
Estas viagons são goralmonto organizadas om comloio, junto com
as outras vondodoras do roupas, pois os custos individuais das
compras o dos gastos no local não são laratos. No ontanto, ola
porcolo uma clara limitação om sou omproondimonto:
t...) por isso vocô tom mais opção com o dinhoiro na mão, om
proço, tom como a gonto, por oxomplo, andar, procurar, posguisar
proço da morcadoria pra podor comprar, porguo agui, ató porguo
não podo vondor poça cara, guo a concorrôncia ó muito grando.
Quando a gonto vondo uma poça do 25 roais, o povo acha caro, aí
pronto t...). Porguo agui não adianta a gonto comprar morcadoria
cara, porguo tom guo sor u~g·c:· üa:aì·, ató porguo, camolo já
ta dizondo nó? Aí pronto, aí a salvação por onguanto ó guo a
gonto tamlóm não paga nada agui. tgrito mou)
Essa passagom mostra com lucidoz dois guositos a sorom
oxplicados. O primoiro ó a torma como o cródito tunciona para
ola. O dinhoiro adiantado no tompo autoriza Várcia maior podor
tdo larganha) na compra guo so oxplica na rolação ontro o
dinhoiro na mão¨, ou soja, o cródito o a vantagom no tompo
guo osto proporciona. lsto a possililita maior controlo solro a
compra das morcadorias, o guo podo so rovortor no aumonto do
sua margom do lucro.
O sogundo ponto ó a porcopção do guo participa do um nicho
intlacionado, dovido à torto concorrôncia próxima o imodiata.
lsto diz rospoito a sua posição na hiorarguia local do comórcio.
Ao lado da larraca do Várcia oxistom várias outras, vondondo
morcadorias muito parocidas ou ató iguais. A condonação a um
nicho intlacionado taz com guo ola não tonha nada do ospocial¨
para otorocor, dopondondo do uma domanda instávol o procária.
Sua posição dosvalorizada na hiorarguia local do comórcio
impodo guo ola tonha maior podor do morcado to do otorta), ou
soja, podor do otorta solro a domanda, guo goralmonto rosulta na
283
possililidado do ostalolocor margons do lucro mais altas, tompo
mais oxtonso no giro¨ do nogócio otc. Por isso, ola porcolo
intuitivamonto a limitação guo oncontra om suas morcadorias
tsocial o oconomicamonto dosvalorizadas), ou soja, morcadorias
tacilmonto sulstituívois, laratas o som gualguor atriluto guo as
dostaguo das domais. Dosto modo, o tator mandanto ó o proço
laixo om dotrimonto do gualguor critório socundário, como, por
oxomplo, a protonsão do otorocor morcadorias ditoronciadas,
visando a agrogar distinção tostilo) na roupa tpor moio do moda,
dosign otc.). A limitação ao proço larato, om razão da intlação
o concorrôncia dirota, talvoz soja a mais lásica, pois a limita
guaso complotamonto so dostacar dos domais, do tor algo guo
a singularizo com rolação aos concorrontos mais próximos. A
contradição ó a soguinto: aposar do o cródito lho pormitir maior
distanciamonto o podor do oscolha na compra das morcadorias, o
aumonto do sua margom do lucro ó limitada polo intlacionamonto
da concorrôncia próxima.
Várcia roclama constantomonto da talta do intraostrutura da
toira. Um dos maioros prollomas om sua visão soria a divul-
gação¨. Sondo roalocados atravós do uma política da protoitura
para tirar os comorciantos amlulantos da rua, osta paroco tor sido
a unica modida adotada, som gualguor outro tipo do apoio ou
acompanhamonto prolongado:
Bom, o protoito tala om tazor uma rotorma, mas guo ossa rotorma
guom taz agui a maioria somos¨ a gonto. A gonto ó guo so rouno.
Porguo agui so um guor tazor uma coisa o o outro não guor, o
assim vai nó? Pra vor so molhora mais pra procisar assim, mais
da gonto, ontondou? Porguo guando a gonto pogou isso agui,
ora uma lona volha, agui o aspocto já ó muito toio, a visão agui
na tronto t...). Aí ajoitomo¨ doi uma parto om dinhoiro, olo dou
outra, o vizinho da tronto dou outra o tizomos ossa colortura
agui, tizomos pra ovitar tamlóm o sol na morcadoria, salo? t...)
Porguo guando ora alorto só ali no moio o povo não vinha nom
pra... Uma hora o possoal guoria ató dosistir. Agui, a gonto tom
a vigilância do Dous somonto.
O ospírito¨ da política pullica apontado por Várcia paroco
sor muito mais a do uma roalocação dosproocupada dostos trala-
lhadoros do guo a do roalmonto intográ-los, protogô-los social o
oconomicamonto. Valo chamar a atonção do guo gualguor tipo
284
do concorrôncia oconomicamonto ostávol supòo primoiramonto
do uma rogulação mínima o, tamlóm, dopondondo do sotor, do
protoçòos logal o tinancoiramonto garantidas. O morcado tunciona
a partir do contlito indiroto¨,

ou soja, olo ó minimamonto rogu-
lado a partir do rogras impossoais com possililidado do imposição
jurídica o om ultima instância do polícia tviolôncia tísica logítima).
Nosto sontido, a livro¨ concorrôncia como ajusto oconomica-
monto ospontânoo ontro otorta o domanda do livro produtoros
não oxisto. No ontanto, o concoito do livro concorrôncia¨ sorvo
para ilustrar uma condição marcada pola procariodado, do um
cada um por si¨ às avossas, isto ó, como rotrato da procariodado,
guo oxprossa om grando parto o dosvalor social, oconomico o, no
caso, político dostos latalhadoros comorciantos. Aí, a lilordado
do concorrôncia¨ signitica muito mais o alandono guaso total do
guom tom guo lidar com as arlitrariodados o instalilidados mais
imodiatas om tunção do sua posição dosvalorizada na hiorarguia
social do guo uma compotição social modiada por condiçòos
somolhantos do partida.
Ao sor porguntada solro guais soriam as mudanças guo dovoriam
ocorror para guo a toira tosso mais próspora, Várcia nos mostra
uma porcopção pró-rotloxiva da nocossidado do uma vordadoira
roconstrução simlólica do ponto:
Por guo agui o possoal, a gonto já acalou com o movimonto do...
Porguo agui diz guo já toi nogócio do prostituição, o aí diz guo
já acalou muito com osso local. Aí a gonto guo polojou com o
protoito o tudo, guando dá 6 horas, ¯ horas, os vigias dagui já
tocham o portão, por guô? Porguo a gonto não guor lolodoira
agui. lsso agui não tom sogurança, não tom nada. Quo sogurança
guo vocô tom com um cadoado dossos? Porguo so não tor o vigia,
o povo guolra isso agui o pronto, tira a morcadoria. Uma voz
choguoi agui o a morcadoria tava toda no chão, guor dizor, ora
coisa do gonto conhocida, por guô? A gonto vondia muita poça
do joans, aí roviraram tudinho o só tiraram as poças do joans, as
mais tracas olos jogaram agui.
A procariodado da toira apontada por Várcia não so dá aponas
no tato do uma carôncia matorial imodiata como a talta do uma
colortura contra o sol para protogor as morcadorias, lom como
a alortura do novas ontradas, guo molhoraram a oxposição das
larracas ao pullico. O guo ola oxplicita inconsciontomonto aí, ó
285
guo a roconstrução da toira, alóm dostos olomontos lásicos,
dopondo do toda uma roconstrução igualmonto simlólica, atastando
o ostigma da procariodado tdo sor um camolo) o sua consoguonto
proximidado social com a dolinguôncia local. Como vomos om
sua tala, a divulgação¨ ó igualmonto a transtormação do ponto
do vonda om um lugar minimamonto soguro o aprosontávol, som
guo ostoja associado ao ostigma dolinguonto o no invostimonto
ostótico om sogundo plano. Esto ponto comporta, inclusivo, as
ostratógias do salotagom dontro da própria toira, ou soja, da concor-
rôncia solvagom ontro si, como no caso do roulo guo sotrou por
sous próprios concorrontos. O rolaixamonto à margom do sotor
comorcial ó tamlóm a sua trontoira social associada à dolinguôncia,
oxposta intuitivamonto por Várcia. A roconstrução simlólica
do local do tralalho como sondo minimamonto soguro¨, limpo¨
o lonito¨ oxpòo dimonsão normativa da oconomia como não
sondo um jogo do torças sociais livros o igualitárias do compotição,
mas dotorminado por condiçòos sociais o matoriais próvias dosi-
gualmonto distriluídas ontro as classos sociais. Como vomos,
osta dimonsão normativa ó ostroitamonto ligada à possililidado
do maior rondimonto oconomico o do podor do morcado solro a
domanda socialmonto construída o conguistada. No caso particular
do Várcia, sondo ola comorcianto do vostuário tominino, o dos-
valor social ligado ao toiranto¨ posa mais do guo, por oxomplo,
no caso do ramo do trutas ou um titoiro¨, já guo o rondimonto
oconomico do sotor¨ do vostuário ostá intimamonto ligado à
dimonsão ostótica o da otorta do ostilo.
Na rolação ospocítica com o cródito, Várcia oxilo um sólido
rigorismo oconomico, mas guo nom sompro vom acompanhado
da contrapartida oconomica mais torto do sou nogócio. Esto
doscompasso taz com guo ola porcola o cródito como algo
positivo, mas guo tamlóm so constitui numa ospócio do tardo¨
o proocupação¨ constanto:
Aí rapaz, lriga ó lriga, mas muita gonto taz ompróstimo do
CrodiAmigo o ajudou lastanto, so ou dissor guo não ajudou ou
ostou montindo, ajudou muito, salo? Vas principalmonto porguo
vocô tom aguolo dovor todo môs, so vocô taz o ompróstimo do
mil conto, ó duranto guatro ou sois mosos, guo ou sompro digo
à Damaris tparcoira no grupo do ompróstimo): olha Damaris, ou
não gosto do ompróstimo comprido, paroco guo nunca tom tim,
ou gosto ó do nogócio curto porguo guanto mais curto molhor,
286
a gonto paga a taz outro. t...) Aí pronto, aí ou ajoitioi¨ o a gonto
ontrou, o nosso CrodiAmigo, ou o minha mão, porguo minha
mão não guoria, ola dotosta dívida... Rocolo pouco dinhoiro
pra comprar ossas coisas todas, mas ó molhor do guo vocô ostar
dovondo salo? t...) Ë muito traco, so tosso um comórcio lom...
So tosso um movimontão¨ agui, toda somana a gonto viajava
pra Santa Cruz, guo ató chogar o dia do tazor o pagamonto da
dívida, ia ontrando dinhoiro agui, nó?
A laixa contrapartida oconomica do nogócio do Várcia com-
promoto a visão a longo prazo. Ë por osto motivo guo o omprós-
timo ó porcolido como algo, om parto positivo, mas guo dovo
sor guitado o guando antos. Um oxomplo disso ó o caso do sua
mão, guo constantomonto adianta o pagamonto dos ompróstimos
om dois a trôs dias com rolação à data do oxocução da parcola.
Alóm disso, a rolação com as dívidas do cródito nos mostra o
rigorismo oconomico tortomonto incorporado om alsolutamonto
todos os ontrovistados. Ë agui guo so mostra a dimonsão moral o
simlólica da oconomia, já guo pagar uma dívida nunca ó simplos-
monto uma ação puramonto oconomica, mas goralmonto tom a
vor com a atirmação moral do sua própria autonomia individual
toconomica o moral), do sua capacidado autocontrolo o do sua
autorrosponsalilidado dianto da sociodado. Ou soja, nos rolatos
dos ontrovistados, pagar uma dívida ó uma torma do soliditicação
do um sontimonto do dignidado, rospoito o honostidado.
A sua dinâmica do omproondimonto ó condicionada polo
curto-prazismo. Esto ponto ó oxplicado polo laixo volumo do
vondas do sou nogócio, o guo condiciona o sou giro¨ oconomico
a curto prazo. Portanto, laixo volumo do vondas tguo ó ilustrado
na laixa margom do lucro, por oxomplo) do comórcio traco¨
limita o tompo oconomico do nogócio. Dosta manoira, a possili-
lidado do roinvostimonto oriontado no longo prazo tamlóm tica
lastanto compromotida. A hiorarguia social da oconomia tamlóm
prossupòo a distriluição dosigual do dinhoiro o do tompo tguo
ó tamlóm um rocurso socialmonto oscasso) do acordo com as
posiçòos do classo. Para roalmonto comproondor o guo acontoco
ó prociso uma porspoctiva mais ampla, isto ó, a guo rolaciona a
construção das disposiçòos oconomicas com as disposiçòos do classo
incorporadas. Ou soja, ó justamonto por sua posição dominada
do classo na oconomia o no tralalho, marcada pola urgôncia
oconomica do nogócio, guo osta latalhadora comorcianto ó
28¯
impodida do gualguor ostruturação o dominação do tompo social
da oconomia a partir do um lastro mais contortávol o prolongado.
A dominação da oconomia ó tamlóm a dominação do tompo,
o guo condiciona o vordadoiro domínio solro o capital. Esto
ó o motivo do Várcia protorir o nogócio curto¨. Como vomos,
o curto giro¨ tno sontido mais amplo) do nogócio ó dovido ao
sou dosvalor oconomico oljotivo o om nada so assomolha com
o oncurtamonto do giro¨ das grandos omprosas altamonto dito-
ronciadas o lurocratizadas, tanto no invostimonto calculado do
sou capital tinancoiro guanto na intonsiticação da oxploração do
tralalho.
Em outro momonto da ontrovista, ao contar guo já toz vários
cursos om várias ároas como contocção do lonocas, tloros omlor-
rachadas o do culinária ttalricação do ü::cu:ì), ola atirma guo:
lsso não tom tuturo não! Ë um nogócio lonto o dovagar t...)
N~g·c:· ü·n ~ ì·na Iá uá cá.¨ Sor dovagar o lonto¨ signitica guo
o nogócio oxigo um invostimonto o planojamonto mais domorado
com rolação ao rotorno oconomico do capital invostido. Ë aí guo
sua limitação do classo so torna ovidonto.
Assim como sou Josó, porcolomos guo a administração do
cródito toita por Várcia não nocossariamonto tom uma tinalidado
oxclusiva para o sou omproondimonto. No tocanto ao impacto do
microcródito om sou omproondimonto, ola conta guo:
Ajudou, agora porguo agui, ó o soguinto: ola lota a morcadoria
agui, do CrodiAmigo, mas tamlóm às vozos ou tiro assim... Pras
dosposas do casa ontondou? Aí tica, ondo não so tira, não so
coloca, ó como diz o ditado nó? Tira muito, agora mosmo ou
doi dinhoiro pra uma solrinha minha guo tá intornada, tá com
donguo, aí ola, a minha ox-cunhada, ola ó soparada, divorciada
do mou irmão. Já sou ou guom dou a ponsão da monina, salo,
por ola tor lotado mou irmão na justiça t...) Hojo mosmo ligou
dizondo guo tá som truta om casa, guo só tava comondo sopa
t...) Eu disso: poguo¨. Porguo a lichinha tava dosidratada porguo
ola tava com muita porda do sanguo...
Atontamos agui para o tato do guo o omproondimonto do Várcia
não so constitui onguanto uma unidado oconomica vordadoira-
monto autonoma. O dinhoiro aplicado no om sou nogócio não ostá
totalmonto soparado das nocossidados do lar. Ao contrário, osta
dopondôncia so oncontra ainda mais ostroita guando a tamília ó
288
assolada por uma doonça ou instalilidado gualguor. Esta instali-
lidado tamiliar, om razão da doonça, oxigo o rodirocionamonto da
hiorarguia no uso do dinhoiro, guo om parto so vô compromotido
polo sustonto da unidado tamiliar.
Ë na torma pola gual Várcia controla os rotornos tinancoiros
do sou omproondimonto guo podomos tor uma noção da margom
do lucro. Ela não taz controlo oscrito o curiosamonto tom noção
do guanto ganha om razão do tirar os 10/ do cada poça para
pagar o dízimo. Várcia ó ovangólica tproslitoriana). Então, ó
só sultrair o rostanto do valor da compra no tornocodor. No
ontanto, ola mosma porcolo guo na hora do colocar os proços
o intlacionamonto da concorrôncia imodiata a projudica muito:
t...) A gonto ó guom taz, goralmonto a gonto compra, tom as
coisas guo a gonto compra a cinguonta roais o vondo a mil roais,
a gonto ó guo lota o proço da gonto, salo? Tom guo a gonto
compra a sois, soto roais o vondo a soto, cinguonta, oito roais.
Tom morcadorias guo a gonto vondo o ganha a motado, tom
outras guo vocô compra caro, um vizinho mou guo comprou
a llusa a guatorzo, guinzo roais o vondo a vinto. Aí não dá pra
puxar mais por causa da concorrôncia vizinha, ontondou? t...)
Não tamo vondondo no cartão por conta da coisa... O lom ou
ruim do vondor pouco agui, mas polo monos :·c~ ìa j~gauu·
· u:uI~::· o outra coisa, o povo tica ató com raiva do vocô, so
ticar lho dovondo um, dois roais ó molhor vocô dizor: lovo! lica
por isso mosmo!¨ Porguo não paga não.
Vomos agui guo a módia do lucro ó 50/ om cima do valor do
compra, mas guo gora uma margom do lucro unitário laixíssima.
lsto ó, om grando parto dovido ao intlacionamonto na concor-
rôncia próxima, mas tamlóm om razão do vondorom om toira, já
guo a dosvalorização do local do vonda tamlóm intlui na margom
do lucro possívol solro a morcadoria. Do torma complomontar,
podomos chamar a atonção para a porcopção do Várcia com
rolação ao dinhoiro, guo goralmonto ostá ligada ao curto prazo
ou ao tuturo próximo, ou soja, a molhor situação do nogócio ó
aguola om guo so ostá com o dinhoiro na mão¨ ou dinhoiro no
lolso¨ om contrasto com a vonda a prazo ou no cartão, o guo
prossupòo maior volumo do vondas.
Quando vondia tiado, Várcia sontiu na polo a instalilidado
provocada polos calotos guo lovou. Som gualguor garantia tormal
289
o prática tjurídica) do compromisso oconomico, o tiado ó o
contraposto do ompróstimo, aposar do os dois sorom tormas do
pagamonto a prazo. O ompróstimo no lanco sompro onvolvo
um risco calculado, por oxomplo, no caso do ostudo próvio das
condiçòos da tomada do cródito tchamado do ostudo do carátor)
o as possililidados roais do pagamonto.
18
Ao contrário, o tiado
impòo um tipo do contiança¨ do risco total som uma contrapartida
nocossariamonto garantida:
Os pagadoros guo dão tralalho ou cortoi a maioria. Tom uns
guo tavam mo dando dor do caloça, mas ou vou lovando om
lanho Varia¨, porguo so pordor ó pior, salo? Não tonho
nonhum comprovanto, não tonho nada. Vinha mão disso: ó
minha tilha, a pior coisa guo tom ó a tal da prostação. Na roali-
dado ó uma vordado.
A má oxporiôncia com o tiado tamlóm contriluiu para a maior
doscontiança na vonda a prazo, o guo tica ainda mais complicado,
dianto da laixa margom do lucro. No ontanto, ola atirma om outro
momonto guo ó molhor lovar os maus pagadoros om lanho
Varia¨ do guo cortar rolaçòos, o guo ó uma torma do mantor a
osporança, muitas vozos longíngua o som roais garantias, do guo
um dia soria rossarcida.
Várcia ó casada, mas não tom tilhos. Com uma rotina do
tralalho posada, o tompo para gualguor tipo do lazor tica muito
diminuído. Um do sous orgulhos possoais ó o do não dopondor
oconomicamonto do marido, pois sompro gostou do tor sou
próprio dinhoirinho¨. Na ontrovista, goralmonto a construção da
justiticação do suas disposiçòos para o tralalho vom oxprossada
no idoal do mulhor tralalhadora o oconomicamonto autonoma:
Sompro gostoi do tor mou dinhoiro, pra não dopondor do homom
pra nada, corto? Quando vocô guor comprar suas coisas vocô tom
sou dinhoiro pra comprar. A pior coisa no mundo são aguolas
mulhoros na moita parada, dopondondo do dinhoiro do marido.
Gosto disso não! Graças a Dous tudo o guo ou tonho toi conso-
guido com sacritício o tralalho, com ostorço o ou agradoço
muito a Dous.
A conguista da sua indopondôncia oconomica ó uma torma
do oxprossar sua própria trajotória social do luta, guo conta com
a dupla dominação social: a do classo o a do gônoro.
19
No ontanto,
290
o proço¨ do invostimonto social no tralalho ó tamlóm o do
adormocor¨ disposiçòos normalmonto ligadas ao univorso sim-
lólico tominino, como a proocupação ostótica com o corpo, a
matornidado o as tarotas do lar. Sua dominação social dolrada ó
tamlóm o sou omlrutocimonto¨ o masculinização¨ simlólica.
Ë polo mosmo motivo guo Várcia critica sou irmão por sor um
homom som pulso¨, um vordadoiro locó¨, sogundo ola: Vou
irmão ó um vordadoiro locó. Olha, olo ó tão losta guo ou vou
dar só um oxomplo, do tão losta guo olo ó. t...) Elo tica calado o
não taz nada!¨ Ela agui taz uma crítica à passividado atitudinal do
sou irmão dianto do mundo, o guo por outro lado ó um ologio
às disposiçòos ativas, ligadas ao univorso masculino o ao mundo
do tralalho. So o sou irmão ó o sou oposto ó porguo, alóm do
homom, ó um homom locó¨ som virilidado om sua visão. Estas
disposiçòos ativas¨ são aguolas guo Várcia incorporou, om sua
trajotória social, marcada pola dodicação guaso intogral ao mundo
do tralalho ao socundarizar o mundo domóstico o ostótico. Em
complomontação a osta oxplicação, ola atirma não tor grandos
proocupaçòos ostóticas consigo por não tor tompo para so proo-
cupar com ostos prollomas. Em sua condição do classo trala-
lhadora, a incorporação do uma torto ótica do tralalho so torna
um ompocilho para a manutonção do disposiçòos normalmonto
ligadas ao univorso tominino.
Outro ponto guo ilustra sua dupla dominação incorporada
ó guando ola conta guo om uma discussão com um homom na
toira, olo disso guo latia diariamonto na própria mulhor o guo
ora por osso motivo guo ola tsua mulhor) o amava. Solro isso
ola rospondo: Porguo ola ó uma pilantra igual a vocô, ó uma
vagalunda satada, porguo so tosso uma nuII~: u~ :~:g·uIa,
ola não vivia com um vagalundo da sua gualidado, pra ostar
apanhando todo o dia!¨ Agui, sor uma mulhor do vorgonha¨
ou tralalhadoira¨ ó uma torma do oscapo do dostino social do
gônoro muito comum om sua classo social: o do ostar na moita¨
do marido, ou soja, sor uma mulhor dopondonto do homom, sor
possivolmonto uma vagalunda satada¨ tcuja alusão com a prosti-
tuta ó lom tactívol). Estar suscoptívol a apanhar diariamonto, lom
como sor moro oljoto soxual do dosojo masculino
20
são dostinos
sociais muito comuns om sou ospaço social próximo. A rolativa
autonomia oconomica, rosultado do sua torto ótica do tralalho,
possui uma rolação com uma dignidado do gônoro¨, do podor
291
polo monos tor alguma saída para uma possívol sulmissão dirota
o imodiata ao soxo masculino.
Com poucos rocursos sociais o muito ostorço possoal, Várcia
sompro conduziu sua vida polo tralalho disciplinado o ostorçado,
o guo ovitou um dostino social do sulmissão imodiata ao marido
toconomica o possivolmonto tísica). Vosmo cansada o com pro-
llomas do saudo visivolmonto ligados a sua longa trajotória do
tralalho, ola continua latalhando no comórcio com porsovorança.
DANlEl - A VlDA JA TA ENTREGUE NA VAO
DAQUElE lA DE ClVA. EU SOU APENAS A
lERRAVENTA PRA TRABAlHAR PRA ElE.¨
Com uma larraca do trutas na toira do Arco do Titão, Daniol
t31 anos) tralalha om módia 13 horas por dia, chogando às sois
da manhã o torminando às soto da noito. Quando toi alordado
na sogunda ontrovista, olo contou guo duranto o dia intoiro sua
rotoição tinha sido um pacoto do liscoito salgado o uma garra-
tinha do rotrigoranto. Sua larraca ó contral o ó lom visívol para
guom passa om tronto à toira, tondo, portanto, uma localização
privilogiada. lsso tamlóm so rovorto om sua autoostima, om sua
atitudo corporal porsovoranto o com traço do lidorança, mas com
lom humor. Daniol comoçou codo no comórcio, aos 13 anos
do idado, o dosdo ontão nunca mais parou do tralalhar. Assim,
porcolomos nolo a torto prosonça do uma :·c:aI:za¸a· j::ná::a
~ u::c:jI:ua: aì:a:~: ~ ja:a · ì:aüaII· :·c:aIn~uì~ j:·uuì::·. Por
conta disso, só cursou ató a 4` sório do onsino tundamontal. Sua
ronda lruta ó do guatro mil roais, o guo ó na módia lom olovada.
Nolo porcolomos o sinal do uma asconsão oconomica mais sólida.
Contudo, so hojo Daniol goza do uma situação um pouco
mais contortávol, o caminho porcorrido por olo não toi tácil. Elo
conta guo passou nocossidados matoriais imodiatas na intância,
mas guo ostas nunca toram ostruturais. No ontanto, ao comontar
isso, olo logo sonto a nocossidado do so justiticar dizondo guo
isso nunca toi uma prorrogativa para roular ou comotor crimos,
o guo oxilo a constanto proocupação do ovitar cair no dostino
social trágico da dolinguôncia. Esto tator mostra, nosto latalhador,
o traço do uma ostruturação tamiliar mínima, concontrada om
uma socialização disciplinar primária no o polo tralalho: Vou
292
pai morrou no chão da CEASA. Elo criou a gonto tralalhando!
Como so tom aí tamília do possoal guo tom muitos advogados:
pai advogado, tilho advogado t...) só guo minha ároa toi outra!¨
Na juvontudo, chogou a tralalhar do motoloy, tazondo licos do
mototáxi guando ganhava na taixa do oitocontos roais.
logo após ossa ópoca, olo comoçou a tralalhar como uma
ospócio do aprondiz do antigo dono do sua atual larraca, do
guom já tora sócio no poríodo om guo olo vondia truta na rua.
Dopois, sou sócio so tornou sou patrão o osto rosolvou tor um
ponto tixo na toira. No ontanto, mosmo tralalhando do tuncio-
nário, Daniol sompro mantovo uma rolação do proximidado com
sou antigo sócio. Com admiração, olo conta guo osto patrão lho
dou uma chanco om razão do sua loaldado o disso guo guando
morrosso, vondoria as larracas aponas a Daniol. loi o guo acon-
tocou. Ao narrar solro a ópoca om guo comorcializava na rua
ó guo porcolomos nolo tassim como nos domais ontrovistados)
a contraposição ontro sor omprogado o tor o próprio omproon-
dimonto. No ontanto, om Daniol osta guostão surgo do manoira
mais torto do guo nos outros. Porcolomos nolo uma valorização
do tralalho autonomo¨:
Na ópoca guo ou tralalhava na rua, o Hipor Bomproço mosmo, o
goronto do hortitruti do lá mo chamou pra tralalhar lá o ou rocusoi.
Vandoi um cologa mou. Passou 30 dias o guisoram guo ou tosso.
Aí ou disso: vou não.¨ O salário do lá, olos ia¨ otorocor duas
vozos mais. Só guo a gonto não dovo visar só isso. lmagina hojo...
Eu vivo ponsando: imagina so ou tivosso acoitado a proposta.¨
Podia tá lom, podia sor o goronto do hortitruti, ontondou? Vas
podoria ostar a mosma coisa tamlóm. O guo ou achoi molhor
agui ó guo ou tonho a minha lilordado... Alro o tocho a hora
guo ou guoro! Eu crosci o agora ou tonho o guo comor! Tom
guatro anos guo ou tralalho pra mim. Hojo ou tonho casa, hojo
ou tonho carro, hojo ou tonho ossos pontos, guo ou não dou nom
por 100 mil roais. Tudo isso tirado dagui. So ou tivosso no Hipor
Bomproço ou acho guo ou tava no aluguol.
Olsorvamos constantomonto no ontrovistado a rolação ontro
autonomia¨, lilordado¨ o a possililidado do montar o próprio
nogócio. Em contrasto, mosmo com um lom salário, a posição
do omprogado ó porcolida por olo como uma torma do ostag-
nação social. O omprogo do comorcianto ó visto como sinal
293
do lilordado¨, onguanto o do omprogado ó do ostar proso às
ordons do patrão. Em parto, osto ponto tom a vor com o tato do
Daniol assumir a posição do comorcianto autonomo¨, guo lho
contoro a acumulação privada do lucro do sou próprio tralalho
o a ausôncia do um patrão imodiato como um suporvisor. Por
outro lado, osta sonsação do autonomia¨ ó igualmonto sontida
tdo manoira torto) por conta do Daniol tor oxporimontado corta
asconsão social o oconomica, o guo lho pormitiu consumir coisas
guo olo antos não tinha acosso.
Estos dois tatoros comlinados provocam nolo uma ospócio
do :IIu::· da autonomia¨ tsocialmonto produzida), guo taz
aparontar sua asconsão como sondo truto unico o oxclusivo do
sua própria vontado individual som guo olo mosmo so dô conta
consciontomonto das condiçòos sociais do possililidado para guo
olo pudosso do tato ascondor oconomicamonto tcomo o próprio
acosso ao microcródito, a aguisição do uma cliontola o um ponto
tixo, sua posição privilogiada com rolação aos concorrontos
imodiatos na toira otc.). Esta contradição tica ainda mais clara
guando olo so rotoro à protonsa lilordado total do sor patrão do
si¨.
21
A ocupação do comorcianto indopondonto tdo sor patrão
do si¨) alro aparontomonto a chanco alrir o tochar a gualguor
hora¨, mas o tato ó guo as roais chancos do isso acontocor são
guaso nulas.
22
Valo lomlrar guo Daniol tom uma jornada diária
do 13 horas do tralalho guo vai do sogunda a sálado. Ë como
so sua asconsão oconomica como comorcianto autonomo¨ contri-
luísso para uma roatirmação rotorçada da idoologia liloral do
omprosário individual ao ostilo solt-mado man¨.
Esta :IIu::· da autonomia¨, roproduzida nas aspiraçòos o
disposiçòos para cror,
23
vom om par com o modo do justiticação
rolativamonto inódito do capitalismo tinancoiro, a do guo vivomos
na ópoca om guo todos podom sor omprosários, todos podom
sor capitalistas o do guo todos podom sor omproondodoros¨ tdo
grando porto). Como toda idoologia, osta ó uma moia-vordado,
pois sua autonomia¨ tamlóm taz surgir novos constrangimontos,
como o alargamonto indotinido do sua jornada do tralalho.
Esta torma do :IIu::· podo sor considorada como a dimonsão
incorporada dosto novo modo do dominação o justiticação. A com-
proonsão da construção dosta torma do disposição para cror só
podo sor roalmonto comproondida so articulamos a trajotória social
do Daniol o o sou portoncimonto a uma nova classo tralalhadora
294
tom sua tração comorcianto), guo podo sor considorada como o
suporto social mais importanto dosta mudança no rogistro prático da
justiticação.
24
Esta disposição do cronça tom otoitos, por oxomplo,
om outras ostoras do sua vida, como om sua porcopção política.
Esto mocanismo so rovorto no constanto rochaço da ostora polí-
tica como domínio sujo¨ o, portanto, irrolovanto lom como uma
roatirmação radical da idoologia do mórito individual: Sompro
tivo coragom pra tralalhar. Emprogo nunca mo taltou. Só talta
omprogo pra guom ó vagalundo o proguiçoso!¨
Há corca do trôs anos na Arca do Titão, Daniol usou o CrodiAmigo
duranto algum tompo. O sou uso do microcródito toi inconstanto
o olo já não ponsa mais om continuar tuturamonto. Elo nos conta
guo usou o microcródito om horas do aporto como uma torma
do capitalização inicial do sou nogócio:
Eu ató taloi pros amigos mous guo guando ou torminar tdo pagar
as parcolas tinais) ou vou sair. Por guo... So ou tava procisando
dolo, ou poguoi já pra oliminar contas. Eu não vou continuar
pogando pra continuar pagando contas o juros som nocossidado.
Vas so ou voltar a procisar a usar com cortoza vou. Vou cródito
lá tá alorto.
A porcopção do cródito como capitalização inicial na hora do
aporto¨ ou como modida omorgoncial taz com guo, om alguns
casos, osto não constitua como uma modida prospoctiva o na
possililidado do oxpansão tutura. Por osto motivo, sua intogração
complota, lom como sua utilização om outras ároas do nogócio,
paroco sor rostrita. Ató porguo, o cródito, na larga maioria das vozos,
ó omprogado sol torma unica do capital do giro som guo sou uso
so oxpanda para outras ároas como tonto do roinvostimonto. Vas
osto uso so dá muito om razão do um limito da própria consti-
tuição particular dostos omproondimontos popularos tcamolo): são
goralmonto larracas muito simplos, som gualguor protonsão da
construção do uma dimonsão intraostrutural, ostótica o distintiva
do omproondimonto tguo ó oconomicamonto rontávol), poguonas
o com pouco ospaço ontro si, guo guaso sompro concontram o
tralalhador o o omproondodor¨ na tigura do um indivíduo, som
gastos o custos tixos tintormal) com uma intraostrutura, na gual
a contralidado oconomica da morcadoria para o nogócio ó guaso
guo oxclusiva.
295
Com uma loa variodado do trutas tlanana, acorola, macaxoira,
maçã otc.), Daniol oxilo alguns planos concrotos para oxpandir
o sou nogócio, mas guo não rovolam o cródito como modida
intogranto dostos projotos. Um dolos ó comoçar a vondor no
cartão o o outro ó a oxpansão na vonda do logumos. O intorosso
na vonda polo cartão rovola um volumo rolativo do vondas mais
olovado, já guo o convônio com os lancos oxigo o pagamonto
do uma porcontagom om cima das vondas, o guo nom sompro
valo a pona so osto volumo do vondas tor laixo.
Na porcopção do dinhoiro, Daniol tamlóm so ditoroncia um
pouco dos domais. Ao contrário do um ostrito curto prazismo, sua
rolação com dinhoiro ó um pouco mais prospoctiva o alongada.
Para olo: O dinhoiro ó pra vocô salor utilizar, salor administrar
olo. Vocô podo ganhar lilhòos, mas no outro dia vocô podo ostar
som nada. t...) Com o dinhoiro vocô não podo visar só o momonto,
tom guo invostir... .¨ Essa noção do invostimonto ovidoncia
a incorporação do uma disposição um pouco mais prospoctiva
com rolação ao dinhoiro, guo so rotloto na própria contrapartida
oconomica mais olovada do sou omproondimonto o no campo
do possililidado rolovado por osto tator.
O dinhoiro não ó aponas um moio do troca noutro, mas supòo
um Iaü:ìu: tdisposição social) ospocítico no tompo, guo ó dopon-
donto da posição do urgôncia oconomica tou não) na hiorarguia
social das classos. Dosto modo, a posição privilogiada do Daniol
no comórcio local o a molhor contrapartida oconomica rolativa
do sou omproondimonto tamlóm pormitom guo olo incorporo
uma disposição mais alongada do dinhoiro no tompo tcapital).
Dosta manoira, oxisto uma rolação ontro oxpoctativas do crosci-
monto tguo so rovorto om planos tuturos, invostimontos otc.) o
a posição oljotiva o rolacional do omproondimonto com rolação
primoiramonto aos concorrontos imodiatos o socundariamonto ao
ramo¨ ou sotor¨ como um todo. Ë procisamonto osta rolação
guo lho contoro as chancos roais o oljotivas do roalização do
suas aspiraçòos.
Sua larga oxporiôncia no sotor do trutas tamlóm lho pormito
uma porcopção mais alargada do sou nicho ospocítico. A variodado
do trutas ó, para olo, algo ossoncial, já guo guando o clionto taz
a compra, olo não aponas lova o guo ostá ospociticamonto
procurando, mas todo o rosto. Por isso, olo oxplica guo o lucro
não so dá na vonda tinal da morcadoria, mas om sua compra:
296
Porguo a compra não so ganha na vonda não, so ganha na pró-
pria compra. Ë tudo ao contrário. Vocô toz uma compra loa lá
o vocô tala: já ganhoi dinhoiro!¨. Vosmo antos do vondor vocô
já salo guo vai dar corto. Ë uma visão muito goral. So vocô visar
só no guo vocô tá, vocô coga pro outro lado o vocô não salo o
guo ta passando. t...) Tom dia guo vom a morcadoria o só guom
tom sou ou o a outra possoa lá tna Arca da Catodral).
Agui, Daniol nos mostra guo o olo ontro lucro o porcopção
intuitiva da concorrôncia são dois olomontos conjuntos. O tato do
olo onxorgar a rolação do lucro com sou dostaguo da concorrôncia
mais imodiata tguo signitica a loa compra¨) oxilo a incorporação
do um conhocimonto pró-rotloxivo o não oscolar, mas guo so
rovorto om um molhor dosomponho oconomico. Esto conhocimonto
ó om grando oscala incorporado om razão do uma socialização
próvia om sou próprio ramo do nogócio, o guo ó igualmonto o
guo lho dá um rolativo ditoroncial com rolação aos sous concor-
rontos mais próximos. O liamo ontro sua posição rolativa om sou
sulmorcado¨ ospocítico o o conhocimonto pró-rotloxivo adgui-
rido pola socialização no ramo do trutas ó o guo lho pormito
tor uma ostratógia¨ oconomica um pouco mais distanciada no
sontido, por oxomplo, da tomada um risco controlado.
25
Nosto
aspocto, sua ostratógia mistura tanto o roalismo dianto do sua
posição social guanto à aspiração a um croscimonto possívol o
dosojado. Aliás, ó nosto momonto da compra guo o cródito cumpro
sou papol tundamontal, pois o adianto do dinhoiro no tompo
possililita maior podor do larganha tronto aos tornocodoros, o
guo gora mais lucro o, portanto, um oxcodonto na ronda dostos
comorciantos tvoromos om dotalhos na próxima soção).
Com muita latalha o luta Daniol atualmonto consoguo tor corto
contorto matorial, como uma casa digna¨, um carro o a osporança do
promovor a oducação do sous tilhos. A dotosa do sua dignidado
moral o matorial no morcado não toi, do modo algum, porpassada
por uma ostalilidado social garantida do antomão. No ontanto, ó
curioso, por oxomplo, como a oxporiôncia da asconsão oconomica
tamlóm lho contoriu corto papol do lidor o consolhoiro dianto do
sous irmãos mais volhos o cunhados. Esto papol so dá principal-
monto com rolação à condução da vida oconomica dostos, guo
não tivoram o mosmo sucosso oconomico guo olo.
Sous projotos para sous tilhos são marcados pola constanto
domarcação do aumonto da oscolaridado dostos. No ontanto, a
29¯
contradição do latalhador dianto das instituiçòos do onsino ó o
do não dispor do rolaxamonto do classo antorior roprosontado
pola condição do tompo livro to sua roconvorsão na possililidado
do dodicação intogral aos ostudos o o dosonvolvimonto da capa-
cidado do concontração), olomonto contral na chanco oljotiva
do sucosso oscolar o da garantia do um omprogo gualiticado,
do gonto ostudada¨. Em uma das ontrovistas, Daniol tala do sou
sonho para uma vida ostávol para sous tilhos tguo olos tizossom
um concurso pullico), contralizada no aumonto da oscolaridado
dostos. Nosto momonto olsorva-so uma contradição om sua tala,
pois, ao mosmo tompo guo dosoja tilhos ostudados, olo atirma
guo dontro do algum tompo sous tilhos iriam ajudá-lo om sou
comórcio. Ou soja, osto sonho ó contraposto pola nocossidado
do intonsa socialização antorior no mundo do tralalho, guo so
impòo como imporativo na sua condição do classo. Entrotanto, na
proocupação com os tilhos Daniol so mostra lastanto proocupado
com a possililidado do sous tilhos caírom na dolinguôncia, o guo
para olo ó uma guostão do suma importância. Nossa ocasião, olo
atirma guo sous tilhos não podom tor nonhum amigo so antos
não passarom por sou crivo moral¨ do acoitalilidado. Quando
olos tôm um amigo novo, sous tilhos são olrigados a aprosontá-lo
ao pai, Daniol, guo já suspoita guando ostos cologas já comoçam
a talar choios do marra¨ ou choios do gírias¨.
26
A proocupação
do uma socialização disciplinar atravós do tralalho, trazida ao
cotidiano, ó um indício da tontativa do oscapo das posiçòos sociais
mais dosvalorizadas na hiorarguia moral ocidontal.
llNDOVAR - A GENTE ERA TRABAlHADOR!
TODA VlDA EU lUl TRABAlHADOR, TODA VlDA.
EU NAO TlNHA VEDO DE PEGAR NO PESADO NAO!
A GENTE NUNCA PREClSOU lAZER COlSA ERRADA!¨
lindomar vondo trutas om uma larraca nos tundos da toira
Arca da Catodral. Sou comórcio tica om moio a outros dois do
mosmo ramo o ao lado do uma larraca do DVDs o CDs pirata.
Com uma vida sotrida o do muito tralalho, hojo olo consoguiu,
assim como os outros, um poguono ponto tixo nosta toira. Sua
jornada ó das 0¯:30, ató às sois horas da tardo. Aos sálados olo
vondo om outra toira próxima o tica lá do cinco da manhã ató as
cinco o moia da tardo. Ë tamlóm aos sálados guo lindomar codo
298
o sou ponto na Arca para o sou tilho, guo tamlóm ó vondodor do
trutas, mas tom sou comórcio principal no lairro ondo moram.
Atualmonto morando om um lairro do poritoria da cidado, olo
conta guo o local toi maliciosamonto apolidado do catinguoira¨
por causa do tótido choiro oxalado por algumas árvoros o pola
dogradação como um todo do lairro.
Há novo anos na Arca, lindomar t4¯ anos) rolomlra guo hojo
tom uma condição um pouco molhor do guo tinha no passado.
Sou comoço não toi dos mais tácois. Com um passado do vonda
na rua, sua transtorôncia para a toira não lho rondou uma posição
ostalolocida do imodiato, ao contrário. Sua principal diticuldado
não ora nom a capitalização inicial para a compra do morcadorias
tmosmo som cródito a princípio), mas a divulgação do sou nogócio,
ou soja, sua invisililidado oconomica. Nosto caso, o tato do participar
do uma ároa rolativamonto intlacionada, om guo não so tom nada
do ospocial a otorocor¨, lho impodiu, inicialmonto, do constituir
uma rolação minimamonto ostávol ontro otorta o domanda. Como
rosultado dosta procariodado inicial o som tonto do sulsistôncia
oconomica monotária tdinhoiro), olo troguontomonto comia suas
próprias morcadorias para não passar tomo. Aliás, ó justamonto
osto intlacionamonto da concorrôncia imodiata, como ontro os
omproondimontos popularos analisados, guo provoca mudanças
sulitas na protorôncia do clionto, mas guo ó sompro porcolida
do torma individualizada. Som ontondor complotamonto o guo
acontoco, lindomar intui guo ossa mudança acontoco om razão
do olo tor toito um mau atondimonto¨.
Em sou passado roconto, olo vondou trutas na rua. Após um
dia trustranto à procura do um omprogo om tirmas, ao voltar para
casa olo passou na toira contral. lá, olo oncontrou outro vondodor
do trutas, um conhocido guo o chamou para tralalhar. No mosmo
dia o homom codou algumas caixas do truta para lindomar, guo
comoçou a vondô-las o toi lom-sucodido. Esta contingôncia
paroco tor alorto um campo¨ do possililidados para olo, já guo
o tracasso podoria signiticar sou mais lrutal rolaixamonto social.
Nosto caso, a procura por um omprogo om uma omprosa ó,
para lindomar, guaso um sonho, pois, analtaloto, suas chancos
do insorção om um omprogo minimamonto gualiticado são
guaso nulas. Aliás, nosto guosito, o poguono comórcio cumpro
uma tunção social poculiar, na modida om guo osto concontra
duas propriodados contrais, ligadas à condição do classo dostos
299
latalhadoros: a) oxigo pouco ou guaso nonhum conhocimonto
tócnico ospocializado na sua manutonção o condução,

l) na
maioria dos casos proporciona um rotorno oconomico no curto
prazo, ou soja, urgonto.
Já comorcianto autonomo¨ o vondondo na rua, ondo tralalhou
duranto 13 anos, a vida do lindomar não so tornou mais tácil.
Constantomonto proocupado com o rapa¨ tos tiscais), não tinha
um ponto tixo, o guo transtormava o sou tralalho ainda mais
complicado o incorto. Um dia achou um ponto na porta do um
oditício comorcial ondo tuncionava uma univorsidado. Com modo
do sor oxpulso pola dona do pródio, lindomar conta guo dosta
voz olo tovo sorto, pois ola o tinha doixado ticar: aí olo não
~njaìa nada não. Agui olo tica!¨ Contudo, osto acordo ou tavor¨
codido pola tal dona não ora grátis, pois a partir daí, lindomar
cumpria um papol tácito do portoiro: t...) os ostudantos às
vozos doixava o portão alorto aí muitas vozos os tromladinhas
ontrava pra dontro do pródio o não doixava. Aí ou não doixava
o porguntava o guo olos ia tazor lá dontro, aí lotava pra tora.¨
O dosvalor social do tralalho o a possívol proximidado com o
ostigma taz com guo lindomar muitas vozos soja visto como
ompatador¨, como na tala da dona do pródio. Contudo, o tato
do tor um tralalho o não sor aponas alguóm à toa¨, isto ó, um
possívol vagalundo ou tromladinha, taz com guo soja possívol
olo dosportar algum sontimonto mínimo do idontiticação por parto
das classos dominantos om contrasto à pura rojoição ou modo
ódio. Do corta torma, osto tosto social¨ tamlóm punha à prova
suas disposiçòos sociais para o tralalho, principalmonto as ligadas
à porsistôncia o tonacidado.
Há um ano no programa CrodiAmigo o há novo na Arca, a
capitalização proporcionada polo cródito toi contral para guo olo
pudosso so ostalolocor como comorcianto na toira. Hojo, sua linha
do cródito choga aos trôs mil roais, mas olo normalmonto toma
ompróstimos om torno do mil. Elo nos oxplica a torma pola gual
o cródito tunciona como capital do giro:
Ë porguo a gonto com o dinhoiro na mão, guor dizor, so uma
caixa do morcadoria, ossa caixa do maracujá ali ó vinto roais o
ou chogo lá o digo guanto ó o o cara diz: vinto o cinco roais.
Aí ou digo: ou vou dar vinto, ou compro, ou pago vinto agora,
dinhoiro na mão! Aí, o cara diz: lova!¨ Aí vocô ajoita o proço do
300
produto. A gonto compra aguolas doz caixas do morcadoria ali
guo dava o guo? Quinhontos roais ou soiscontos, a gonto compra
por guatrocontos roais, trozontos.
Primoiramonto, valo rocordar guo as compras do trutas goral-
monto acontocom a prazo ou tiado. Assim, o dinhoiro na mão¨,
como tala lindomar, possililita ao toiranto maior podor do larganha
junto ao tornocodor. Dosto modo, olo consoguo aumontar sua
margom do lucro já na compra, o guo irá, postoriormonto, so rovortor
om um aumonto oxcodonto na ronda. O lucro oconomico não so
dá propriamonto na vonda tinal das morcadorias, mas na loa
compra ou no maior podor do nogociação tronto ao tornocodor. Do
torma porspicaz, lindomar tamlóm usou o cródito para a divor-
siticação das trutas guo otoroco. Quando vondia na rua o som o
cródito, sou volumo ora considoravolmonto monor, assim como
om variodado. A suma importância da capitalização proporcionada
polo cródito alriu a chanco da divorsiticação do algumas trutas
guo são mais raras no morcado, como maça, pora o amoixa.
No ontanto, om sou poguono comórcio, a margom do lucro
unitário do cada produto ó laixa. Ela ó do um a dois roais om
cada unidado vondida. Dopondondo da raridado osta margom
podo aumontar um pouco. Portanto, a torma do ganhar um pouco
mais ó roalmonto ostondor a jornada para consoguir vondor mais.
Sou lucro monsal gira om torno do mil roais, o guo podo variar
suavomonto om tunção do aumonto do movimonto, ospocialmonto
no tim do ano, guando a procura por cortas trutas ó maior
tamoixa, por oxomplo). Com o aumonto om sua ronda monsal,
lindomar consoguiu oxporimontar corta asconsão oconomica, o
guo possililitou com guo olo pudosso tazor algumas rotormas
om casa, comprar uma goladoira, mas ospocialmonto molhorar
sua alimontação, podondo comor carno do molhor gualidado
o iogurtos. Esta poguona asconsão ó proporcionalmonto muito
importanto para guom já toi assolado polo tantasma da tomo,
sua o do sous tilhos.
Outro aspocto rolovanto om sou patrimonio do disposiçòos
oconomicas ó a prosonça do uma distinção do capital intorno
do sou omproondimonto, oxplicitada om uma razão mais procisa
tcorca do 50/ do lucro) do guanto do dinhoiro vai para as dosposas
domósticas o guanto so dostina ao roinvostimonto do giro do nogócio.
Esta guostão ó importanto, pois roprosonta o aprondizado do dispo-
301
siçòos oconomicas guo pormitom com guo sou omproondimonto
so torno uma unidado oconomica com rolativa indopondôncia da
sulsistôncia tamiliar mais imodiata.
lindomar tovo uma intância marcada polo tralalho no roçado
junto com sous pais, guo oram muito rígidos. lsto lho sorviu como
uma torma do socialização primária o disciplinar atravós o para o
socialmonto tralalho produtivo. Era lasicamonto uma agricultura
do sulsistôncia, guor dizor, olos comiam o guo plantavam. A carno
ora um produto oxtromamonto oscasso o raramonto tazia parto
do suas rotoiçòos, salvo o poixo, guo ora poscado no córrogo ao
lado do poguono sítio do sous pais. Havia tamlóm o lamlu¨, um
pássaro guo ora caçado, para om soguida sor consumido, o guo ó
algo muito comum no moio rural nordostino. No ontanto, nossa
ópoca, as diticuldados às vozos loiravam ao oxtromo. lindomar
conta guo comia as solras do almoço ou simplosmonto não salia
so ia tor algo para comor na rotoição soguinto: a gonto ia vivondo
com o guo dava¨, diz olo. Nosto caso, a tomo não so roduz aponas
a sua dimonsão imodiatamonto matorial ou liológica do tor ou
não comida na mosa¨, mas possui uma dimonsão social o simló-
lica, condicionada pola incortoza o insogurança social. Ainda guo
nunca tonha oxatamonto passado tomo como uma dotorminanto
ostrutural do sua vida tamiliar, osta sompro ó um tantasma¨ guo
so oncontra como uma possililidado roalizávol: Nós passamo¨
muita diticuldado naguolo tompo tolo so rotoro à intancia). Tinha
dia guo a gonto almoçava, mas num¨ salia so ia jantar¨.
Em sua juvontudo, as diticuldados não cossavam. Após tor
tralalhado do omprogado no corto do palha do cana, lindomar
passou um poríodo tonolroso om guo ticou dosomprogado. Aliás,
sua trajotória no mundo do tralalho, assim como a do muitos
latalhadoros, ó lastanto sinuosa, já tondo tralalhado om vários
omprogos o aponas so tirmado no ramo do trutas rocontomonto.
Nossa ópoca, sua vida parocia ostar por um tio. Casado o com dois
tilhos, sua mulhor o alandona o doixa os tilhos para olo cuidar:
laz vinto anos guo ou não tomo romódio do nonhuma gualidado,
nó? liguoi lom atravós do uma oração guo ou ouvi polo rádio,
o pastor talando. Ë nossa hora guo voio polo rádio. O mou tilho
tinha ido atrás do um carro pra mo lovar pro hospital. Aí toi ondo
ou tava dosomprogado, ou tava dosomprogado, passando nocos-
sidado, tinha nocossidado na minha tamília, com dois tilhos do
monor, a mulhor tinha mo doixado, tinha arrumado outro. Assim,
302
situação ditícil, nó? Aí toi ondo ou... Dous usou ossa possoa
28
o
ou comocoi a vondor truta t...).
Ao narrar osso poríodo, lindomar tamlóm so rotoro à ocasião
do so oncontrar doonto¨ o som torças para roagir o lutar. Aposar
do olo so dizor guo a causa dosta doonça¨ ora liológica, ola ó
no tundo social. As razòos sociais dosta doonça¨ so doviam ao
motivo do guo lindomar ostava com a vida dosostruturada om
duas das tontos morais mais importantos do mundo modorno: o
tralalho, pois ostava dosomprogado, o o amor, já guo sua mulhor
o tinha alandonado. Ë nosso momonto guo olo oxporimonta uma
vordadoira guinada¨ om sua vida: olo so convorto para a lgroja
Univorsal do Roino do Dous. Ë tamlóm nosso momonto om guo
olo comoça a vondor trutas. Esto ponto paradigmático om sua vida
paroco ostalilizá-la um pouco mais, pois a partir daí consoguo
um omprogo o casa-so novamonto.
Agui, a linha guo sopara a raló ostrutural o os latalhadoros ó
muito tônuo. O próprio lindomar oxporimontou condiçòos sociais
muito próximas da raló ostrutural, como privaçòos matoriais mais
imodiatas o do oxtroma incortoza social. No ontanto, osta linha
paroco so oncontrar na própria constituição moral do soio tamiliar,
guo no caso do lindomar, mosmo passando por inumoras diticul-
dados, sompro toi uma ostora social minimamonto ostruturada ta
tamília não so constituía num amlionto hostil). Sous pais sompro
toram motivo do orgulho o rospoito do sua parto, principalmonto
dovido a sua socialização disciplinar primária polo tralalho tcujo
contraposto moral ó a dolinguôncia).
29
Elo inclusivo contou com
ajuda oconomica o atotiva do sua mão om momontos do dososporo
guando so via dosomprogado o alandonado à própria sorto¨.
No ontanto, a tunção social o atotiva cumprida pola roligião
noopontocostal om lindomar ó igual ao caso analisado por Torros.
30
Ou soja, ola tom o papol do otorta do sorviços do salvação
mágicos¨ na administração atotiva do tracasso o do sotrimonto
social.
31
O importanto ó a atinidado ontro a promossa¨ do salvação
mágica o as condiçòos procárias do classo dos agontos guo a compòom.
Ainda guo não tonha as disposiçòos do um dolinguonto tinimigo
da loa¨ sociodado), lindomar padocou do sotrimontos oxtromos
om sua vida, guo só tardiamonto voio a consoguir lutar contra
olos. Esto ó o sontido da sua doonça¨, guo so oxprossa om uma
linguagom do roligiosidado mágica.
303
Com uma trajotória social do altos o laixos¨, lindomar luta
com muita tonacidado contra as diticuldados oxtromas guo sua
condição do classo lho impunha. Podo-so do dizor guo sua história
social incorporada ó marcada polo constanto ostorço diário contra
o rolaixamonto social mais gravo das sociodados modornas, a
do sor um homom som tralalho o som amor¨, som oira nom
loira¨, no gual o caminho da dolinguôncia ou do total alandono
ó sompro uma possililidado. Suas disposiçòos sociais tmodos do
ponsar, agir o sontir) so constituíram, om sua história do vida, na
constanto adoguação ontro as possililidados contingontos guo a
vida lho aprosontava o o ostorço do suporação do sua condição
do classo do oxtroma privação o procariodado.
O VlNCUlO ENTRE ClASSE DE RENDA
E AS ABORDAGENS lNSTlTUClONAllSTAS¨
Os ostudos dominantos solro o microcródito tôm como pros-
suposto o ontoguo guaso oxclusivo nos aspoctos do dosonho
ou vialilidado institucional do acosso ao cródito para as classos
dominadas. Em grando parto isso so dovo à rolação ontro o concoito
oconomicista do classo do ronda o a atonção guaso oxclusiva
aos aspoctos institucionais dos programas do microcródito. Os
ostudos do oconomista Varcolo Nori
32
roprosontam osto tipo
do alordagom. Quoromos doixar claro do antomão guo não há
nonhum prolloma om si com a variávol ronda o a idontiticação
do sou aumonto. Como vimos nas trajotórias do nossos ontrovis-
tados, o cródito toi contral no aumonto da ronda, o guo rosultou
om uma molhora do suas condiçòos do vida o no acosso a lons
guo antos lhos ostavam intorditados. A guostão ó guando so
isola o tator do ronda como unico dotorminanto domarcador do
uma condição do classo. Outro aspocto ó o do guo os ostudos
lovados a calo por Nori, com grando maostria, tôm o mórito do
rompor com a violôncia simlólica oconomico contra as classos
dominadas tprincipalmonto ostos latalhadoros), onxorgando-as
como agontos oconomicos o sociais rolovantos.
Sous ostudos tontam comproondor a tunção do cródito no
aumonto da ronda das classos polros. Nosto caso, olo porcolo
algo positivo o vordadoiro, na modida om guo o microcródito
tom a tinalidado no aumonto da ronda dostos tralalhadoros, lom
304
como a rodução da dosigualdado. Contudo, ó ao isolar a variávol
da ronda guo sou ostudo so complica. Esto ó um ponto nodal.
Na modida om guo so isola a variávol ronda, roduz-so o concoito
do classo aponas à ronda monsal, ou soja, ao guo ó oconomica-
monto ovidonto. Ë aponas ao considorar a dimonsão oconomica
imodiata o visívol guo o pormito alstrair o gonoralizar um tator o
doscontoctá-lo do todo rosto. Ë agui guo um dotorminado ontoguo
tamlóm ostrutura uma hiorarguia do guostòos rolovantos. So, por
um lado, a variávol ronda ó isolada, o guo autoriza a construção
do classos do ronda¨
33
tclasso A, B o prodominantomonto a classo
C), por outro, sua análiso so compromoto ao ocultar a dimonsão
propriamonto sociológica das classos sociais: o ostilo do vida. Ora,
o vínculo ontro a dimonsão sociocultural das classos sociais traz
à tona uma sório do guostòos não considoradas polas alordagons
oconomicistas: não aponas a ronda ostrito sonso, mas a rolação
com o dinhoiro, lom como as disposiçòos sociais tmodos do
ponsar, agir o sontir) guo ostruturam a rolação dos agontos com o
dinhoiro. Em suma, a rodução do concoito do classo ao concoito
do classo do ronda ó uma alstração guo suprimo o torna uma
sório do guostòos rolovantos, solrotudo aguolas ligadas à ação
social dos agontos. Chamar a atonção para a dimonsão do ostilo do
vida ó tamlóm dostacar a tunção oxplicativa da ação social. Nosto
sontido, uma catogoria oconomicista do classo social ó tamlóm o sou
ontoguo oxclusivo aos aspoctos institucionais. Assim, o toma das
disposiçòos sociais, isto ó, da ação social concrota dos homons o
mulhoros, não ó considorado. No ontanto, osta dimonsão ó igual-
monto importanto na comproonsão do como oporam as ostruturas
sociais o oconomicas nostos omproondimontos popularos.
Portanto, Nori idontitica uma asconsão do classo prodominan-
tomonto ostruturada polo aumonto da ronda. Ë om razão dosto
tator guo toria havido o tortalocimonto domogrático das classos
oconomicas
34
intormodiárias ou a classo C. Esta classo C soria
tundamontalmonto uma classo módia aponas om virtudo do ocupar
uma posição intormodiária ontro as classos AB o D. Entrotanto,
sor do tato classo módia oxigo um conjunto do prossupostos
oxtraoconomicos¨ como, por oxomplo, controlo social do tompo
social do classo to guo dostoa complotamonto do nossos ontro-
vistados) para agir na oconomia do torma roalmonto calculada
o prospoctiva. As classos sociais não são dotinidas aponas pola
ronda, mas por sou Iaü:ìu:, ou soja, um conjunto do prossupostos
305
o condiçòos tvantajosas ou dosvantajosas) para a ação social
ostruturados por um portoncimonto próvio do classo.
35
Por isso, toi contral não aponas constatar guo o acosso ao
microcródito garantiu um aumonto na ronda dos participantos do
programa CrodiAmigo, mas lovar om conta a rolação da tomada
do cródito com outras ostoras da vida social. Nosto sontido, a
análiso so concontrou om como a tomada do ompróstimo atota o
patrimonio do disposiçòos dos agontos como um todo, alóm do
uma contoxtualização mais ampla dos tipos do omproondimonto
popularos om jogo. No caso ospocítico do Campina Grando, a
política do microcródito possui uma atinidado olotiva com as
políticas do roalocação do antigos amlulantos guo, atualmonto,
consoguiram so ostalolocor om toiras o contros comorciais
popularos, o guo tamlóm produz um otoito oconomico lastanto
rolovanto. A garantia do um ponto tixo alro igualmonto a possili-
lidado do uma sogurança mínima tcontra o rapa¨, por oxomplo) o
a possililidado do minimamonto so ostalolocor oconomicamonto.
O VlCROCRËDlTO E
AS DlSPOSl(OES DE SEUS AGENTES
A idoia contral dosto toxto consistiu om tontar construir a atini-
dado ontro como uma posição na hiorarguia das classos sociais
condiciona om grando parto o acosso ou não a dotorminados
prossupostos para a ação oconomica. Trata-so do oloncar dois
concoitos lourdiousianos: o Iaü:ìu: oconomico o Iaü:ìu: do
classo. Dosto modo, o cálculo oconomico como nós o conhocomos,
isto ó, racional, instrumontal o planojado, ó o cálculo oconomico
do omproondimonto lurguôs. A dominação tócnica da oconomia
dopondo igualmonto do condiçòos oconomicas o culturais próvias,
dotorminados do antomão por um domínio social do tompo.
Estos tatoros irão ostruturar tortomonto a rolação das classos com
o capital.
Do tato, ó no capitalismo tinancoiro atinado com um novo¨
ospírito do capitalismo
36
guo as classos laixas passam a tor
acosso ao capital, mas isso não signitica a ruptura com sua po-
sição do dominação tcomo toi mostrado nosto toxto). Aposar do
torom acosso a algum tipo do capital o acumularom o próprio
306
lucro, isso não transtorma os omproondimontos popularos om
omproondimontos lurguosos. A caractorização dos nogócios ó
do suma importância nosso ponto. O guo divido os dois tipos
gorais do omprosa ó o domínio contortávol do tompo social, do
capital oconomico o do capital cultural tócnico da oconomia guo
irá racionalizar ao oxtromo o uso do dinhoiro sol o critório da
oticiôncia na acumulação do lucro. Há muito tompo a oconomia
já doixou do sor domínio do ponsamonto o so transtormou om
tócnica do administração do capital. Ë nosto sontido guo o argu-
monto procura atirmar guo o acosso, do alguma manoira, a osso
conhocimonto ó tamlóm a possililidado do ontrar om contato
com o ospírito¨ do cálculo. Por oxomplo, o próprio Banco do
Nordosto otoroco algumas cartilhas cujo contoudo ó justamonto
o onsinamonto do como calcular o proço das morcadorias com
rolação à concorrôncia, como planojar invostimontos tuturos otc.
No ontanto, guaso nunca alguóm lô ostas cartilhas, provalocondo
muito mais uma rolação pró-rotloxiva o adaptativa com rolação
a ostos guositos.
Para a análiso do pullico-alvo, duas disposiçòos aparocom
tortomonto: uma ótica do tralalho disciplinado o o rigorismo
oconomico. Na grando maioria dos casos, a ostora do tralalho
ora algo tão ostruturanto guo o ospaço para o dosonvolvimonto
o cultivo das outras ostoras da vida, principalmonto o lazor, so
tornava lastanto diminuído. Ao considorar isso, ó prociso igual-
monto dostacar todos os sacritícios possoais onvolvidos nosso
invostimonto social tcomo, por oxomplo, o do Várcia). São trôs
ostoras sociais guo lasicamonto comandam a vida o as aspiraçòos
do pullico-alvo: o tralalho, a roligião o a tamília. Estas duas
disposiçòos sociais citadas acima dovom sor analisadas como um
conjunto. O intonso rigorismo oconómico oxprossado na constanto
proocupação com a administração das dívidas, compòo o guo
so podo chamar do um Iaü:ìu: oconomico primário, ou soja, a
capacidado mínima do jogar o jogo oconomico, do ostalolocor um
vínculo provisívol o racional com as agôncias do cródito. Esta ó
uma caractorística guo porpassa todos os ontrovistados do comoço
ao tim. Nosto caso, a proocupação com a honostidado¨, com o
pagamonto das dívidas om dia, do uma rolação minimamonto
ostávol o racionalizada com o dinhoiro signitica a incorporação do
disposiçòos oconomicas primárias. O oconomista Varcolo Nori nos
mostra guo o nívol do inadimplôncia do CrodiAmigo toi do 1,13/
30¯
om plona criso tinancoira do 2008.

No ontanto, a incorporação
dosta disposição primária não signitica automaticamonto o acosso
privilogiado ao jogo oconomico o ao guo so podoria chamar do
um Iaü:ìu: oconomico dominanto¨.
Em alguns casos não muito troguontos, porcolomos o osloço
do propriodados socundárias ao Iaü:ìu: oconomico como motas
concrotas do oxpansão, divorsiticação na torma do vonda, mas
guo são limitadas pola própria constituição dos omproondimontos,
guo ocupam posiçòos rolativamonto dosvalorizadas na hiorarguia
oconomica o social como um todo. Esto conjunto do disposiçòos
tótica do tralalho o rigorismo oconomico) ó contral na dotinição
do uma nova classo tralalhadora guo vivo para tralalhar¨ o tralalha
para vivor¨. O pullico analisado compòo uma amostra¨ dosta
classo tralalhadora om sua tração autonoma¨, isto ó, om goral
do poguonos comorciantos toirantos. Ou soja, aposar do todas
as diticuldados iniciais do dosvantagom social, lutam atravós do
tralalho disciplinado o som guaso nonhum ostudo na dotosa do
uma vida molhor. Esta ó a roalidado sotrida dosta classo social
guo donominamos, portanto, do latalhadoros lrasiloiros.
¸
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⇧ ⌦↵⌥lGl⇡C DC ⌅⇧⌃⇧⌥H⇧DC⌦
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P↵M⌃↵✏C⇥⌃⇧⌥l⇥⇣C
✓⇣ ↵M✏CM⌃⌦C ↵M⌃⌦↵ ✏⌥⇧⇥⇥↵ ↵ ⌦↵⌥lGl⇡C
··Iaü·:au·:~:. 1:auu ·:~ua:: R·ü~:ì· T·::~:
PENTECOSTAllSVO: AS CARACTERlSTlCAS
GERAlS DE UV VOVlVENTO DE ClASSE
Talvoz a porgunta inicial mais importanto para so adontrar nosto
capítulo soja: por guo o pontocostalismo tom onormo sucosso ontro
os latalhadoros? O guo há nosso modolo roligioso guo os atrai, o
o guo há nolos guo atrai o tamlóm, ao mosmo tompo, os pormito
construir osso tipo do roligiosidado? Numa linguagom voloriana
soria o mosmo guo porguntar: guais as atinidados olotivas ontro
os latalhadoros o o pontocostalismo?
Para rospondor a ossa guostão ó prociso ontondor guom o o guo
são os latalhadoros onguanto classo social, o o guo ó o pontocos-
talismo onguanto um movimonto roligioso do uma dotorminada
classo social, para num momonto postorior porcolor guais os
olomontos contidos om amlos guo os intorconoctam.
Quanto ao pontocostalismo, a primoira caractorística goral guo
marca a trajotória dossa roligiosidado ó o tato do ola sor uma típica
roligião das classos dominadas, guardando assim as principais
marcas dossos modolos do roligiosidado. A rospoito disso, valo
rossaltar guo não so trata do um modolo gualguor do roligião
dos dominados, mas sim do uma torma tipicamonto modorna do
312
roligiosidado das classos dominadas, om sintonia com as tormas
modornas do oxclusão o dominação ongondradas polo capitalismo
o pola modornidado. O sou discurso o prática so moldam a partir
das ansiodados do classo guo são produzidas polas novas toias
sociais da sociodado capitalista. Essos traços ostão claros dosdo sua
tundação nos Estados Unidos como movimonto não só roligioso,
mas tamlóm social, o tamlóm na manoira pola gual o para ondo
ossa roligiosidado so oxpandiu no mundo.
Ë possívol vor na criação dosso movimonto o na tigura do sou
principal tundador vários traços guo marcam toda a trajotória do
pontocostalismo. E guanto a isso, talvoz, podomos dizor guo a
toso guo coloca Charlos Praham como o criador do pontocosta-
lismo taça muito sontido a partir do ponto do vista toológico, pois
roalmonto olo sistomatizou uma sório do cronças lasilaros dosso
sogmonto roligioso. No ontanto, da ótica sociológica ossa toso
não so sustonta. As caractorísticas mais tortos guo viriam marcar a
trajotória do pontocostalismo como um movimonto do massa, uma
roligião da massa, o assim tazor dola o guo nós conhocomos hojo,
são avossas à porsonalidado o ao tipo do organização roligiosa
do Charlos Praham. O sou intoloctualismo o o sou racismo o
colocam a milhas do distância do guo soria o pontocostalismo.
Já o sou aluno, Willian Josoph Soymour, tido por muitos como o
tundador do pontocostalismo modorno, trazia no corpo tclasso
social o otnia) o na monto os traços mais marcantos do ponto-
costalismo. Olsorvar sua história ó uma manoira do adontrar no
univorso dossa roligiosidado.
Willian Josoph Soymour ó uma tigura mitológica do ponto-
costalismo. Elo ora um nogro, tilho do ox-oscravos, guo, ató so
tornar lídor do um modolo muito ospocítico do roligiosidado,
passou por várias roligiòos. Ao nascor, om louisiana, toi latizado
católico, om sua adoloscôncia so tornou latista o, aos 25 anos,
ontrou para uma congrogação nogra da lgroja Votodista Episcopal.
Ao mudar-so para Houston, passou a troguontar uma igroja do
movimonto Holinoss.
1
Em Houston, Willian Soymour oncontrou Charlos Praham o
passou a troguontar suas aulas. Poróm, as assistia do corrodor,
porguo ora proilido por Praham do sontar na sala com os outros
alunos polo tato do sor nogro. Nosso momonto, olo ontra om contato
com as idoias o práticas do Praham, guo intluonciaria tortomonto
313
a nova roligiosidado guo olo capitanoou. Dopois dosso contato,
olo so muda para los Angolos, ondo tunda na Azuza Stroot uma
cólula autonoma dosso novo modolo do roligiosidado.
Nosso momonto, os Estados Unidos viviam uma intonsa
migração do campo para a cidado, como tamlóm um torto tluxo
do imigrantos polros vindos da Europa. Essos movimontos criaram
uma massa do halitantos urlanos, não totalmonto incorporados à
cidado, o sorá loa parto dossa massa guo comporá o guadro do
tióis da nova roligiosidado guo Soymour tinha a aprosontar.
lormada por nogros, imigrantos polros o um numoro signi-
ticativo do mulhoros, a Apostholic laith Vission, tundada por
Soymour na Azuza Stroot, ora um ospotáculo do ôxtaso roligioso
guo assustava a classo módia o as roligiòos tradicionais. O talar om
línguas inintoligívois, a cura do doonças o outros milagros oram
acompanhados polo ôxtaso corporal, do lalançar dos corpos, da
musica. Outra caractorística marcanto ora a tontativa do so dorrular
as larroiras raciais. O protota nogro guo sontia na polo o aja:ìI~:u
amoricano tcortamonto a oxporiôncia com Praham não toi a unica
humilhação guo tinha passado por sor nogro) sonhava com uma
sociodado som larroiras raciais o osporava guo o Espírito Santo
pudosso tazor isso nos cultos na Azuza Stroot.
Na vordado, oxistia na Azuza Stroot um clima do lilordado o,
solrotudo, do sulvorsão. Estava ali prosonto uma contostação da
ordom tanto roligiosa como social. A sodo da Apostholic laith
Vission ora um lugar ondo nogros o lrancos, homons o mulhoros
dividiam o mosmo ospaço, promovondo um culto larulhonto
o guo soava horripilanto para as classos tradicionais roligiosas,
as guais classiticavam aguilo como antirroligioso. Tamlóm não
agradava nom um pouco às classos módias o olitos, o guo do
corta torma acirrou o racismo já oxistonto. Uma postura anti-
-intoloctualista guo marcou a trajotória do todo o pontocostalismo
já ostava prosonto om Azuza Stroot. Aguolo caldoirão omocional
dissolvia gualguor onunciado racional.
Quanto à trajotória possoal do Willian Soymour, podomos
atirmar guo olo ó o típico modolo do protota oxomplar, aguolo
guo não só divulga sua monsagom, mas tamlóm a oxomplitica
na sua trajotória do vida. E no contoudo do sua monsagom o no
modolo do roligiosidado guo aprosonta há dois aspoctos marcantos
do sua trajotória: um toológico o outro social.
314
Do ponto do vista toológico, Soymour adapta as novidados da
toologia norto-amoricana ligadas à cura divina o as oxporiôncias
do ospírito¨ ao sou pullico do tióis, isto ó, nogros o imigrantos
polros da poritoria urlana do los Angolos. Cria a partir disso
uma toologia prática¨ nos moldos popularos o das roligiòos do
massa, na gual o tiol só procisa do corpo o nonhum troinamonto
próvio para sor tocado por Dous. E, do ponto do vista social, olo
procura construir um ospaço om guo os sotoros oxcluídos da
sociodado não sintam a prossão dos mocanismos guo os sogrogam.
No sou culto so dosmanchavam os proconcoitos do classo social,
do raça o do gônoro. Elo ora capaz do otorocor ao sou pullico
o alívio omocional guo mais so dosojava, o ossa capacidado toi
incorporada nossa roligiosidado, ou soja, atondor às domandas
sócio-roligiosas dossa nova classo om oxpansão no capitalismo.
Emlora o pontocostalismo tonha mudado lastanto ao longo
do sóculo XX, passado polas conhocidas trôs ondas do oxpansão,
a sua laso do classo social so mantovo praticamonto a mosma, ou
soja, soguiu sua vocação¨ inicial para atondor as domandas das
classos sulintogradas da sociodado capitalista. lsso so ovidoncia
na manoira pola gual o pontocostalismo so oxpandiu no mundo.
Elo so tornou a torça mais dinâmica o oxpansiva do cristianismo
no mundo, croscondo nas rogiòos om guo as contradiçòos do
capitalismo so tornaram mais radicais, como ó o caso da cronica
dosigualdado social da Amórica latina, o, por outro lado, tom
imonsa diticuldado do ponotração om rogiòos guo passaram por
divorsos procossos do oliminação do dosigualdados sociais, como
ó o caso da Europa contral.
O olomonto guo dá liga o om parto oxplica o sucosso dossa
roligiosidado ó a sua sintonia com um Iaü:ìu: do classo comum.
Ë a partir da tormação do uma classo social to suas traçòos) guo
so marcou o dosonvolvimonto do capitalismo na poritoria, guo
o dostino dos latalhadoros o do pontocostalismo comoça a so
oncontrar. E guanto a isso as volhas narrativas sociológicas o sous
principais concoitos não consoguom alrangor todo osso univorso.
Os modolos roligiosos o idoológicos tradicionais oram produtos
moldados para o consumo das clivagons tradicionais do classo,
ou soja, a lurguosia o o prolotariado, osto ultimo ató ontão tido
como a classo tralalhadora. Vas nonhum dolos atondia a dinâmica
do uma classo urlana tamlóm tralalhadora, poróm não intograda
ao modolo do morcado do tralalho tordista. Assim, o dosatio do
315
so porcolor a rolação do pontocostalismo com a classo social ó o
do porcolor a oxistôncia do uma classo guo tradicionalmonto toi
concolida como uma sulclasso, com um papol coadjuvanto na
dinâmica da vida social, ou mosmo associada oguivocadamonto
a catogorias como pró-modorno, atrasado, como so ostas tossom
rosíduos do vostígios tradicionais guo dosaparocoriam tronto à
oxpansão da modornização.
Ë ossa grando classo osguocida, ou ossa massa do sulintogrados
à sociodado capitalista, a gual tomos chamado do raló ostrutural o
agora latalhadoros, o guo do corto modo as toorias tradicionais
chamavam rospoctivamonto do lumposinato o sulprolotariado,
guo torma o olomonto contral da dinâmica da vida social da
poritoria do capitalismo. Valo lomlrar tamlóm guo tormos como
sulprolotariado o lumposinado so rotorom às clivagons do classo
típica dos paísos ouropous no poríodo clássico da sociodado
industrial. Essos tormos não consoguom captar a dinâmica da vida
social o das classos no capitalismo contomporânoo, solrotudo
guando talamos da poritoria dosso sistoma.
Na vordado, polo sou contingonto numórico, ossa classo o suas
traçòos tôm sido os olomontos sociais guo distinguom as rogiòos
poritóricas do contro do capitalismo. A manoira como o capita-
lismo so dosonvolvou nossas rogiòos, om guo suas contradiçòos so
potoncializaram tou so dosonvolvoram som larroiras), lançou uma
massa onormo do gonto nas tranjas da sociodado, som um lugar
tixo no sistoma do produção. Esso não lugar na produção, aliado
às intoraçòos sociais ontro ossos oxcluídos, pormitiu o dosonvol-
vimonto ospocítico do cortos tipos sociais o, por consoguinto, do
disposiçòos ospocíticas do classo. São as disposiçòos ospocíticas
dossa classo tIaü:ìu:) guo são construídas o incorporadas polo
pontocostalismo.
No ontanto, o ostrondoso sucosso do pontocostalismo podo
sor tamlóm visto como rosultado do sua capacidado do so adaptar
às traçòos do classo do sotor da poritoria. As suas ondas do
oxpansão, como tamlóm sua plasticidado o autonomia no sou
dosonvolvimonto, pormitiram tormar variaçòos no sou discurso
guo atondossom porçòos variadas dos moradoros da poritoria
urlana. Quanto a isso, o pontocostalismo ó capaz do atondor
sotoros da raló ostrutural como tamlóm do latalhadoros om
asconsão social.
316
No caso da Amórica latina o ospocialmonto no lrasiloiro,
o pontocostalismo toi capaz do atondor as domandas do uma
nova poritoria urlana guo so tormava om virtudo do uma maciça
migração do campo para a cidado. O catolicismo mágico guo
dominava o mundo rural pordou sou ospaço na poritoria urlana
para o pontocostalismo mágico, marcanto no noopontocostalismo.
Ao cruzarom a linha ontro o campo o a poritoria da cidado, os
outrora camponosos so pontocostalizaram¨.
Essa torma do pontocostalismo so oxpandiu assomlrosamonto
nos anos do 1980 o 1990 no Brasil. A imprognação mágica dossa
roligiosidado, om guo a lgroja Univorsal do Roino do Dous ó
o oxomplo mais marcanto, so ovidoncia na otorta do sorviços
mágicos rolacionados às domandas imodiatas da vida cotidiana
o voltados para os sotoros mais carontos da população. Nisso
so constata sua atinidado com a tração do classo dossa poritoria
urlana guo chamamos do raló ostrutural.
No ontanto, os latalhadoros, como uma outra tração dossa
poritoria urlana, aguola guo possui alguns rocursos guo os tornam
mais capazos do lutar por uma possililidado do inclusão mais
ostávol no morcado do tralalho, não são atraídos tacilmonto polo
discurso mágico radicalizado. Por outro lado, a roligiosidado doson-
volvida nas intoraçòos sociais dossa tração do classo ó marcada
por uma possililidado do distanciamonto das oxigôncias mais
imodiatas do prosonto, o guo a aproxima das vortontos monos
mágicas do pontocostalismo, colocando-a numa trontoira ontro
os protostantos históricos o um pontocostalismo mais próximo
do guo a litoratura roligiosa chama do roligiosidado ótica, lom ao
modo das igrojas protostantos históricas ronovadas ou daguolas
do pontocostalismo clássico ronovado. Nosso sontido, como voromos
no docorror dosto capítulo, a roligiosidado dos latalhadoros
ocupa um papol dotorminanto om otorocor um campo ondo so
possa dosonvolvor suportos sociocognitivos guo os pormitam
compotir por um lugar ao sol¨ na sociodado. Essa caractorística
os distancia do modolo pronto-socorro¨ para os dososporados,
típico do noopontocostalismo.
Outra ditoronça marcanto ontro a roligiosidado dossas ditorontos
traçòos do classo ó guo o apolo midiático dossos grandos conglo-
morados roligiosos, guo so assomolham ao guo nós chamamos do
omprosa do sorviços mágicos¨,
2
típicas do noopontocostalismo,
tom importância diminuída tronto à intonsa rolação taco a taco
31¯
da roligiosidado dos latalhadoros, guo tom tortos traços do uma
roligiosidado do soita, om guo o controlo do grupo ó dotormi-
nanto na vida roligiosa o social do momlro. Essa ditoronça sorá
tundamontal para comproondor como a roligião ajuda a dotinir
o modo do vida do latalhador.
Ë PREClSO CONTlNUAR NA lË
A vida dos latalhadoros so caractoriza por um ostorço porma-
nonto para atualizar a cronça om uma promossa do tuturo.
Continuar na tó ó a grando latalha. Esso dosatio dotino a ostratógia
do latalhador na vida social. E olo ó docisivo para comproondormos
a ospociticidado do sua vida roligiosa no pontocostalismo.
Vas o ostorço roligioso do atualizar ossa cronça no tuturo não ó
uma particularidado das igrojas pontocostais troguontadas polos
latalhadoros. Dosprovidos tanto do horança oconomica como do
horança cultural logítima ttormação oscolar) para atastar o risco do
rolaixamonto social o da vida som dignidado tportanto, do guo
chamamos do patamar do sogurança), os latalhadoros partilham
com a raló ostrutural a nocossidado do construir a tó no tuturo
som uma ostratógia sogura tundada numa posição social ostávol
ocupada no prosonto.
3
Nosso sontido, tanto os latalhadoros como a raló ostrutural
procisam lutar para guo a dorrota não soja antocipada no comporta-
monto prático, para guo a cronça om assogurar a dignidado não
morra, para guo o sujoito não so acomodo à sua condição do
dorrotado. Em rosumo: uma luta para guo a unica ostratógia no
jogo não soja a rondição ao dostino do roproduzir o passado. O
guo ontão ditoro o latalhador da raló ostrutural? O guo ditoroncia
a vida roligiosa dossas duas classos do possoas com rolação ao
modo do atualizar a cronça no tuturo? Como ossa ditoronça so
constrói tora dos cultos o da atividado ospociticamonto roligiosa?
Como a roligião atua na construção da ostratógia voltada à lusca
do sogurança prosonto solro o amanhã¨?
Para porcolor tais ditoronças, procisamos rolacionar o discurso
roligioso solro a tó no tuturo - Dous tom um propósito na sua
vida¨ - à torma prática do conduzir a vida tsolrotudo a vida
privada) guo so lusca instituir ou rotorçar a partir do um dotor-
minado tipo do vida roligiosa. Dito do outro modo: para analisar
318
a tunção da roligião na vida social dos chamados latalhadoros,
ó prociso romotor a tó om Dous o om sua promossa ao suporto
institucional dossa tó. Por suporto institucional ontondomos o
conjunto do invostimontos o rocomponsas, incluindo o tompo
livro, guo ostrutura a vida cotidiana, tornando corto tipo do
comportamonto o do ação social rocorrontos om dotorminados
contoxtos. O rosultado disso ó a ostalilização do oxpoctativas
mutuas ontro possoas. Para oncarar osso dosatio, talvoz soja into-
rossanto comoçar pola considoração do guo a luta por um tuturo
digno não ó um tato ólvio na vida dos soros humanos.
A primoira idoia guo ó prociso comproondor ó guo as cato-
gorias tomporais são produto das rolaçòos sociais, ou soja, não
oxistom tora do mundo social, como podoria ponsar o naturalismo
ingônuo. Na maior parto da história humana, as sociodados não
produziam nas possoas a oxpoctativa do lutar por um tuturo guo
tosso ditoronto do proscrito dosdo a introdução do cada um na
vida social. A loa vida não podoria ostar om outro lugar sonão
no prosonto. Somonto com a invonção modorna da invidualização
das construçòos liográticas ó guo isso so tornou possívol o do
modo mais ou monos gonoralizado.
Vas, mosmo na sociodado modorna, a roalização prática dossa
lusca do tuturo promotido para cada um não ó possívol para todos
os indivíduos, como so tosso um dom natural o ato do sonhar o
imaginar guo a vida, num corto ponto ausonto o imaginário do
tompo, o por oposição ao guo dovo so tornar passado, tondo ou
podo sor ditoronto, molhor, mais digna, mais toliz. A cronça no
tuturo não ó ólvia, ó contingonto o procisa sor constantomonto
construída o roconstruída.
A idoia da tomporalidado como uma construção social podo
sor vista na atualidado guando olsorvamos guo há dotorminada
classo do indivíduos com muito mais tuturo¨ do guo outros, ou
soja, do indivíduos muito mais munidos do rocurso oscasso guo
ó o tompo racionalizado. Essa torma ospocítica do oxporiôncia
com o tompo podo sor ontondida como a produção do um ospaço
imaginário para um oncadoamonto do docisòos, ou soja, para a
prática do tincar prossupostos para o amanhã.
O prolloma da dosigualdado do classos modorna so singulariza,
ontro outras coisas, porguo o acosso a osso ospaço imaginário,
o ao ospaço da imaginação do tuturo guo ó a oscola, ó algo guo
319
so ditoroncia om rolação aos ostímulos práticos disponívois
para guo o indivíduo participo do procosso do construção do
tuturo, movido pola cronça atualizada do guo podo intorvir nosso
procosso dosdo já. Existo, om razão da distriluição dosigual
o oxcludonto do rocursos para atualizar a cronça na luta polo
tuturo, toda uma classo do indivíduos cuja vida ó oxatamonto
latalhar tanto polo tuturo como polas condiçòos nocossárias à
manutonção da cronça individual o colotiva no tuturo. Essos são
os guo chamamos agui do latalhadoros, cuja saga liogrática
não ó ditoronto da saga daguolos guo a tooria das classos sociais
costumou chamar do classo tralalhadora.
Para comproondor a ospociticidado da idontidado do lata-
lhador como produto do um conjunto do indivíduos guo
possuom ostratógias somolhantos do luta contra a talta do tompo,
guoromos tomar como toco a análiso da vida roligiosa o do sua
tunção na atualização do oxpoctativas solro o dovir¨. Esso dovir¨
não ostá aponas no outro mundo¨, olo so tunda na cronça do guo
há um alóm já nosto mundo, uma promossa guo comoça a so roalizar
na vida imanonto. O modo como a vida roligiosa do latalhador
paroco atualizar a cronça no tuturo ditoro om aspoctos importantos
do modo como isso ó toito na vida roligiosa da raló ostrutural. So
tomarmos os sorviços do atondimonto mágico da lgroja Univorsal
como caso oxomplar da vida roligiosa da raló, vomos guo ó aponas
duranto o momonto do omulação mágica na lgroja guo so roaliza
um tralalho roligioso para instituir ossa cronça. Esso tralalho, com
o apoio dos programas do TV, consisto lasicamonto na construção
da cronça om tostomunhos, om supostos oxomplos possoais, do
guo tudo ó possívol guando so tom tó no impossívol.
A instituição o a atualização da cronça no tuturo parocom
ticar dotinidas nosso horizonto do impossívol, o sou ospaço do
oporação tica tamlóm dotinido no ospaço tísico do tomplo:
ondo so tom acosso aos sorviços do cura¨, ondo so tazom os
propósitos com Dous¨, ondo, solrotudo, so olsorvam os tosto-
munhos do sucosso, com os guais no ontanto não so cria uma
intoração rogular capaz do trazor a mira do tuturo¨ para o dia
a dia. Não so constrói, por iniciativa do tralalho roligioso, nada
alóm do hálito do ronovar osta cronça nos tomplos da lgroja. O
guo signitica ossa cronça no tuturo guando a lgroja não tornoco
a torma o a tórmula para atualizá-la o roproduzi-la na vida prática
do dia a dia? Quo ospaço ocupa ossa cronça omulada na lgroja
320
na condução da vida do cronto guando não so lova para casa o
salor nocossário para avivar o roavivar, om cada situação, a idoia
do guo valo a pona não somonto apostar, mas tamlóm invostir
no tuturo? O guo podo sor ossa cronça guando as rocomponsas
por corrospondor à injunção do cror¨ só são oltidas no ospaço
oxtra-ordinário¨ da lgroja?
Dianto dossas guostòos, nosso argumonto ó guo a vida roligiosa
do latalhador so singulariza om rolação à da raló polo tato do guo
a socialização roligiosa traz a cronça no tuturo para o contoxto
do intoraçòos taco a taco, para a idontiticação com oxomplos
prosontos o tangívois do tuturo, do modo guo ossa idontiticação
ostrutura a torma prática do conduzir a vida diária, com a gual a
possoa, colrada, incontivada o rocomponsada polo contoxto do
grupo do irmãos¨, atualiza uma disposição para invostir no tuturo,
tornando oxpoctativa possoal aguilo guo os outros signiticativos¨
com a gual intorago osporam do sou comportamonto. A instituição
da cronça tora do ospaço oxtra-ordinário¨ da lgroja transtorma a
própria convorsão num procosso tormado por otapas sucossivas,
como voromos om dotalhos com o matorial ompírico. E com isso
tondo a suporar o carátor intormitonto da torma mágica do
projotar o tuturo¨, como so olo pudosso so roalizar ao acaso, som
o oncadoamonto do intorvonçòos causais oncadoadas no tompo.
E ó procisamonto a ausôncia do um aprondizado para instituir a
cronça num tuturo molhor tora do ospaço da lgroja guo paroco
osclarocor uma ditoronça tundamontal ontro a raló o o latalhador:
ao contrário da possoa socializada na raló, a vida roligiosa do
latalhador so acopla a uma instituição cotidiana guo produz a
cronça no tuturo, a socialização tamiliar oou intoraçòos taco a
taco guo luscam cumprir a tunção da tamília do antocipar as
ostruturas do mundo¨.
O acoplamonto ontro a vida roligiosa o as intoraçòos taco a
taco tsolrotudo a tamília, mas não somonto) pormito guo a cronça
numa aliança com Dous soja atualizada no ospaço da vida coti-
diana. Esso paroco sor um traço tundamontal para comproondor
como o latalhador transtorma a idoia do uma promossa do tuturo
num sontido prático para oriontar a conduta. O guo torna possívol
osso acoplamonto ontro roligião o tamília ó a própria prosonça
cotidiana dos agontos institucionais da lgroja nas intoraçòos
cotidianas dos crontos. Em goral, dois tatoros oxplicam ossa
prosonça cotidiana: 1) o lom-sucodido rocrutamonto pontocostal do
321
agontos institucionais¨ proporcionalmonto ao numoro do loigos
to guo, por oxomplo, domarca uma ditoronça tundamontal com
rolação à criso do rocrutamonto sacordotal¨ por guo passa a lgroja
Católica), o 2) o próprio ostilo do vida do agonto institucional¨
do pontocostalismo, guo não so dotino om oposição ontológica¨
ao ostilo do vida do cronto loigo¨, pormitindo, ao contrário, uma
ostrutura visívol do molilidado ontro a posição do loigo o ospo-
cialista roligioso
4
o uma possililidado do insorção om ditorontos
papóis o ostoras da vida para o sacordoto¨.
Vas o guo ossa prosonça da instituição roligiosa na vida
cotidiana tom a vor com a produção o a roprodução da tó no
tuturo? Nas ontrovistas o otnogratias guo tizomos com ovangólicos
do divorsas igrojas pontocostais no Distrito lodoral tAssomlloia
do Dous, lgroja Quadrangular, lgroja Votodista Ortodoxa),
porcolomos guo uma ospócio do protocia oxomplar do dia a dia¨
vincula o comportamonto das possoas a partir da oxporiôncia o da
olsorvação mutuas. Essa protocia oxomplar do dia a dia paroco
tuncionar do soguinto modo: uma possoa so otoroco ou ó vista
como oxomplo por outra tdando sou tostomunho¨, mostrando
como so ago om situaçòos práticas), isto ó, como rotorôncia
incorporada, porsoniticada, para guo osta ultima voja como toi ou
ostá sondo possívol mudar do vida¨, atastar o mal o o pocado¨,
suporar diticuldados¨, consoguir um tuturo molhor dopois do um
duro procosso do luta possoal sustontada pola tó no propósito do
Dous¨. A proocupação do sor o do dar o oxomplo para o outro to
guo podo sor toito tanto ontro ospocialistas¨ o loigos¨ como so-
monto ontro loigos¨) paroco comunicar a guom rocolo o oxomplo
guo as outras possoas osporam o acroditam guo olo mudará sua
vida possoal para molhor. Dito do outro modo: o dostinatário da
promossa oxomplar¨ ó controntado com oxpoctativas solro sua
própria tormação como possoa, com a oxpoctativa do guo olo
alimonto para si mosmo oxpoctativas novas, do guo incorporo a
disposição para cror no tuturo. Em rosumo: com a oxomplaridado
paroco guo a idoia do guo Dous tom um propósito om sua
vida¨ podo sor trazida para uma rolação prática o cotidiana do
idontiticação com uma outra possoa guo roprosonto a roalização
adjaconto o oncorajadora, antocipada o tornada visívol no agora,
dosso propósito divino para o amanhã do cada um.
Vojamos ompiricamonto:
322
Walmir, 33 anos, pastor do um tomplo da lgroja Assomlloia do
Dous om Taguatinga, no Distrito lodoral, o tócnico do Vinistório
Pullico, assim dotino sou papol na vida dos tióis:
...isso improgna om vocô, ostá introjotado na sua alma. Então
vocô passa a tazor dossa torma, isso vom junto, ~ ·uu~ :::· acaüa
Jaz~uu· c·n gu~ a: j~::·a: :~uIan ¡uuì· u~ :·c~, :~uIan
j:·cu:a:, gu~:~: c·u:~II·, ¡u:ìan~uì~ j·:gu~ ~Ia: ~:ìa· ua üu:ca
u~ gu~n j·u~n üu:ca:, ~n gu~n j·u~n :~ ~:j~IIa:, gu~:~: un
c·u:~II·, a: :~~n ~n :·c~... dizom: Eu nunca vi alguóm tazondo
isso, dando corto.¨ Não ó como um ciontista guo vai tazor um
oxporimonto, dizondo osso o osso so ou misturar vai acontocor.
Tom uma tooria guo olo vai colocar na prática. E ì~n g~uì~ gu~
ua· ì~n ~::~ J~~I:ug, ~::a c·::a u~ Jaz~: :~n u:ugu~n · na:·::a
ua: j~::·a: ua· ~ a:::n, j:~c::an :~: aIgu~n j:a Jaz~: a: c·::a:,
gu~ a: ~Ia :~, :~ u~u c~:ì· aI:, :a: ua: c·n:g· ìanü~n (·
Na n:uIa Juu¸a·, u· c·ì:u:au·, a j~::·a j:~c::a :~: j::n~::· ·
~.~njI·, u~
Walmir tamlóm rolata situaçòos solro sua intância o adolos-
côncia om guo olo próprio so valou do oxomplos:
Vou pai só tinha a soxta sório, minha mão a guarta, o ola voltou a
ostudar, toz o sogundo grau dola, ostudou pra concurso pullico,
passou no concurso pullico pro Estado do sorvonto oscolar, ontão
guor dizor, a n:uIa na~ ¡á J·: un ~.~njI· Eu ¡á :: a ::ìua¸a·
Iá u~ ca:a ua: una n~II·:aua aì:a:~: u:::· M:uIa na~ ~ un
~.~njI· j:a n:n
Eu lomlro guo ou tinha uns amigos, uns ató da igroja guo os
pais sompro diziam pra ostudar, o olos tinham ossa disciplina. E
como ou tinha mais contato com olos duranto o dia, ou os via
ostudando, ou andava um pouco com olos nosso poríodo guo
ou tava lolondo, ou via guo olos ostavam ostudando, tanto guo
um dolos tovo tanto ostímulo o ostudou tanto guo ató passou
no concurso pra sargonto do oxórcito. ·: ~u JaI~: aI, · JuIau·
ja::·u, ~uìa· ~u ìanü~n c·u::g·
A idontiticação atotiva com um oxomplo, ou soja, o dosojo
do sor como uma outra possoa¨ ó algo muito comum na vida do
todas as possoas, indopondonto da classo social. · gu~ ja:~c~
Jaz~: g:auu~ u:J~:~u¸a ~n ì~:n·: u~ cIa::~ :·c:aI ~ :~ a c·uuuìa
u~ gu~n u~:~¡a :~: c·n· · :~u ~.~njI· ~ jauìaua ·u ua· uun
j:·c~::· gu~ j·::a cuIn:ua: ua agu:::¸a· u~ caj:ìa:: I~g:ì:n·:,
323
·u :~¡a, :~cu::·: ~c·u·n:c·: ~ cuIìu:a:: cajaz~: u~ ~:ìaü:I:za:
un u~ì~:n:uau· jaìana: u~ :~gu:au¸a, a ja:ì:: u· guaI · :::c·
u~ :~üa:.an~uì· ·cuj~ n~u·: ~:ja¸· ~ n~u·: :u:~:ì:n~uì·: u·
gu~ a c·uJ:au¸a ua a:c~u:a·.
A socialização tamiliar ó docisiva para guo a oxomplaridado
produza no dostinatário do oxomplo¨ ossa conduta oriontada por
oxpoctativas do tuturo. Comoçando pola prosorvação da intogri-
dado tísica, as rolaçòos atotivas dontro da tamília produzom
o roproduzom nos tilhos a cronça no sou próprio valor, o sonti-
monto dorivado do tato do guo os outros acroditam o invostom na
idoia do guo ou posso sor o mo dosonvolvor como uma possoa
do valor¨. Ë procisamonto ossa cronça possoal produzida polo
grupo tamiliar guo torna o invostimonto no próprio tuturo uma
olrigação moral¨. Como o grupo tamiliar produz ossa cronça o
osso sontimonto possoal om rolação ao tuturo?
Quando a vida tamiliar do uma criança ó ostruturada om nomo
da incorporação do conhocimontos o porícias comploxas, ola ó
condicionada a sontir culpa polas consoguôncias tuturas do suas
açòos imodiatas. Para livrar-so da roprovação das possoas guo são
importantos para ola tcastigo moral) ou do rotaliaçòos guo ostas
possam lho impor tcastigo tísico), assim como para oltor roco-
nhocimonto o rocomponsas tprômios morais o prômios tísicos),
a criança comoça a sontir¨ o tuturo como ospaço imaginário¨
do ovontos guo ola tom guo controlar com ajustos no sou próprio
comportamonto no agora. A colrança dos pais rosulta do um
circuito do dádivas om guo a criança dovo dosojar a olrigação
moral¨ do rotriluir o atoto dos pais, roalizando a intonção do
invostimonto guo dolos rocolo ou rocolou, isto ó, transtormando-so
om um modolo do possoa guo não noguo o oxomplo dos pais
como outros signiticativos¨: Quando o pai tá colrando, a gonto
vô guo olos acroditam guo a gonto podo chogar om algum lugar¨,
diz uma ostudanto do tamília polro romodiada
O :~uì:n~uì· do culpa polas implicaçòos nogativas no tuturo
do comportamonto prosonto, assim como o sontimonto do mórito
com rolação às implicaçòos positivas, ó a vordadoira laso do
j~u:an~uì· prospoctivo.
5
Ë dosso sontimonto do rosponsalilidado
polo tuturo guo são privados os indivíduos da raló, condonados
a so idontiticarom com a porspoctiva do ropotição imodiata do
hodonismo dolinguonto¨. Quando ossos indivíduos praticam
somonto uma projoção intormitonto o oxtra-ordinária do tuturo¨,
324
como ó o caso da porspoctiva mágica guo os onsina a porcolor o
amanhã como tonto do tudo guo ó improvávol, não aprondom o
procosso cotidiano do sontir o tuturo¨. Dianto do risco do uma
vida som tuturo¨ como a da raló, a luta diária do latalhador não
ó somonto para chogar ató osso tuturo tpara si mosmo o para
os tilhos), mas tamlóm para guo no prosonto haja condiçòos do
mantor a cronça nosso tuturo, não doixar a potoca cair¨, como
dizom muitos. O diloma do latalhador ó a dupla tarota do tor guo
lutar diariamonto por um tuturo molhor o construir o patamar
do sogurança¨ guo lho talta para ossa luta.
Quando osso sontimonto do tuturo ó roproduzido com sucosso
na tamília o lom corrospondido om outras rolaçòos, como a into-
ração com os protossoros na oscola o com os amigos, ó possívol
guo o sujoito passo a porcolor o próprio tuturo como so tosso
da mosma ordom do roalidado daguolos ovontos naturais guo
não podom sor domovidos do sou dovir - algo como o nascor o
o por do sol. Ora, ó a possililidado do porcolor o vor o próprio
tuturo com osso grau naturalizado do cortoza guo constitui o
grando privilógio oxistoncial¨ das classos dominantos, solrotudo
num contoxto como o atual, om guo a roprodução do capitalismo
praticamonto aloliu a possililidado dossa cortoza para a classo
tralalhadora. Agora, a classo guo produz a mais-valia ó, om sua
maioria, tormada om contoxtos dostituídos dossa possililidado
do cortoza. E ó procisamonto a luta para guo ossa incortoza não
so traduza om doscronça no próprio tuturo o no consoguonto
dosmonto do horizonto tomporal do sontido guo dá coosão à
tamília guo constitui o drama o a saga do latalhador como torma
do oxistôncia do tralalhador contomporânoo. Ë nossa luta guo
o chamado novo ospírito do capitalismo¨
6
so atirma ontro os
dominados como torma do doscrição da incortoza, como so ola
tosso uma oscolha, motivando o comportamonto omproondodor
mosmo solro ossas condiçòos, logitimando o om parto construindo
o Iaü:ìu: do classo oxigido pola situação instávol guo so ocupa
na divisão social do tralalho.
So podomos dizor guo o latalhador constitui uma classo
social ó porguo oxistom indivíduos om posiçòos sociais homó-
logas, omlora om ocupaçòos protissionais hotorogônoas, guo
so oncontram olrigados o dispostos a dotondor o tuturo do sou
mundo da vida¨ - o ospaço das intoraçòos sociais om guo somos
sompro possoas por intoiro¨, soja com nossa prosonça, soja com
325
nossa ausôncia, nunca uma prosonça parcial como a do indi-
víduo distanciado¨. A tamília, as amizados o o amor romântico
tguo tondo a lovar a uma nova tamília) são as tormas modornas
do intoração possoal, guo solocionam a possoa por intoiro, om
oposição ao indivíduo tragmontado do mundo impossoal, om
guo somos porcolidos como agindo puramonto condicionados
polo cálculo oconomico.
A condição do latalhador ó justamonto a olrigação do dotondor
o sou mundo das intoraçòos¨. Elo procisa dotondor o suporto
simliótico ta intorponotração ontro a vida matorial o a simlólica)
nocossário para guo so possa calcular algo, ou soja, o próprio
ospaço para a alocação do um valor inicial para o cálculo. Esso
ospaço, o aí so monta a intorponotração aludida acima ontro vida
simlólica o vida matorial, ó litoralmonto a casa, soja ola urlana
ou rural. Som casa não há tamília, não há mundo da vida¨, o a
intoração ontro as possoas ó dosostalilizada pola doscontiança.
Podo parocor um tanto contuso constatar guo o latalhador
protondo luscar um tuturo, a partir do algum cálculo, o ao mosmo
tompo sor alguóm tão dopondonto do intoraçòos possoais tintora-
çòos possoais modornas, intimidado). Vas o tato ó guo a contusão
ó moramonto artiticial, polo monos guando vomos guo o cálculo
do tuturo só ó possívol sol o suporto do rolaçòos possoais. Ora,
so ostamos corrotos solro a importância da tamília na tormação
da dimonsão tomporal¨ do sontido prático guo o Iaü:ìu: do
classo¨ dispòo para imaginarmos o tuturo como so olo tosso uma
promossa¨, ontão somos lovados a vor guo o chamado cálculo
do tuturo não podo alrir mão da prosonça arlitrária do valor to
valor incondicional guo rocolomos como possoa portonconto ao
mundo simliótico¨) para o início do cálculo - o nom, claro, o
carátor igualmonto arlitrário do sua ausôncia.
Ou soja, guando ostamos dispostos a calcular o tuturo ó porguo
ostamos posicionados num cálculo guo ó oxtorior à nossa cons-
ciôncia o ao sontido produzido dontro dola, ó porguo o podor
social guo nos onvolvo na tamília, sol a torma do um circuito do
dádiva, como diria Varcol Vauss, nos olriga a rotriluir no tuturo
algo guo rocolomos no passado. A dádiva tomporaliza as rolaçòos
sociais o com isso ostaliliza uma assimotria guo tamlóm podo
invortor-so com o passar do tompo. Como isso acontoco ompirica-
monto? Como osso sontido prático oxtorior à consciôncia ó vivido
polas possoas? No caso do latalhador, vomos guo a ostratógia do
326
dotondor o invostir na tamília, como conjunto do rolaçòos guo
ostrutura o mundo da simlioso¨, ó um ótimo oxomplo do como
o cálculo oconomico individual não ó o tundamonto prático da
ação oconomica conduzida polo próprio indivíduo.
O tundamonto prático ó a cronça do guo ó lom o olrigatório
o sacritício o a ontroga do si por um tuturo molhor, ou soja, ó um
tundamonto oxtorior a gualguor cálculo guo a consciôncia possa
tazor. Essa cronça ó produzida polos invostimontos tdo atoto,
do tompo, do dinhoiro, do proocupação, do oração) toitos polos
pais nos tilhos o polo tato do ostos invostimontos sorom vistos
o tomatizados - na vida roligiosa, por oxomplo - como norma
do lom o do corroto. O cálculo individual ó a torma como o
discurso liloral dominanto solro a vida social nos taz doscrovor
um procosso colotivo do produção do sontido, como so osto so
tormasso na consciôncia ou na troca do consciôncias do indivíduos.
Polo monos parto signiticativa do guo osso discurso não vô o não
tomatiza ó justamonto o guo tontamos tomatizar o vor agui.
No caso do latalhador pontocostal, paroco ticar lom claro guo
a lusca do tuturo molhor não ó uma docisão individual, mas sim
uma cronça colotiva incorporada como so tosso individual¨. O
ponto cogo¨ da visão liloral solro o :~IJ-nau~ nau ó justamonto a
produção colotiva dossa cronça. Tontomos vor o guo osso discurso
não vô o nom tom intorosso om vor. A cronça individual¨ ó justa-
monto o ostado do ospírito guo o grupo aponta para cada um
dos momlros como torma do acoitar a promossa do um tuturo¨
ttoita polo grupo) o conduzir a vida om dotosa dosso intorosso
na promossa¨. Para dar prossoguimonto à cronça o à cronça na
rocomponsa da cronça, ó prociso a dotosa da casa, da tamília o
do sua roprodução como rotaguarda contra as intompórios do
amanhã¨. Ë por ostarom onvolvidos do corpo o alma nossa linha
do dotosa guo muitos latalhadoros ingrossam numa vida roligiosa
voltada para ossa luta diária om prol da tamília.
Não comproondomos a nova classo tralalhadora aponas polas
posiçòos individuais na divisão social do tralalho, omlora haja
homologia nossas posiçòos como procondição para so talar om
classos. Ë prociso lovar om conta a torma do socialização guo
singulariza a classo, na modida om guo corrospondo a uma ostra-
tógia colotivamonto montada cujo sontido prático ó procisamonto
o do roproduzir a própria classo, o sou próprio mundo da vida¨.
Na nossa visão sociológica, a dotorminação do comportamonto
32¯
individual por uma lógica do classos signitica guo a classo ó capaz
do produzir o tipo do prática cujo oncadoamonto rocursivo tondo
justamonto a roatirmar os sous próprios horizontos, roproduzindo
as trontoiras com as domais classos. Quando o ostorço do consor-
vação do próprio mundo da vida do uma classo ó invisívol para
os do tora, ó provávol guo so crio una ua· ì~naì:za¸a· :~c·:-
:~uì~ u· Jaì· u~ ì·u· Juìu:· :uu:::uuaI :~: :uc·uì·:ua:~In~uì~
ì:a¸au· u~uì:· u~ ca:a.
¯
Então a classo módia tradicional tondo
a contrapor sua suposta individualidado do consumo solitário¨
ao guo ola vô como consumo om massa¨ dos guo so imitam o
vão juntos ao supormorcado. Assim so cria uma comproonsão
na gual a classo módia noga como um tato pormanonto do sua
própria oxistôncia o procosso colotivo do construção o atriluição
do protorôncias¨ o docisòos individuais¨.
O guo ossa comproonsão não vô ó guo o tundamonto prático
dossa nogação ó justamonto o tato do a classo módia já tor muito
lom assoguradas as procondiçòos para o tuncionamonto do
contoxto do socialização guo roproduz a porsoniticação das
cronças colotivas solro o guo dovo sor osporado o o guo dovo
sor doixado do lado, ou soja, a pauta do socialização guo dotino
a própria classo como um horizonto do oxpoctativas a sor incor-
porado sol a torma do um Iaü:ìu:. livro da proocupação mais
urgonto do tor guo dotondor a própria vigôncia do um horizonto
promissor, ossa classo so roprosonta, nas liogratias individuais
roconstruídas socialmonto, como movida por outras proocupaçòos
guo nada toriam a vor com classo social: o lazor, a autodoscolorta
da própria originalidado... Por sua voz, o latalhador traz para o
toco do sua autorroprosontação, o isso tamlóm so podo vor nas
roconstruçòos liográticas, justamonto a olrigação do zolar polo
sou contoxto do socialização o pola vigôncia do um horizonto
promissor¨, pola oducação dos tilhos, por rolaçòos do contiança
tortos o lastanto para gorar solidariodado intratamiliar guando
o assunto ó consorvar a própria tamília. Nosso argumonto ó guo
a tomatização o o toco nossa ostratógia colotiva do dotondor o
mundo da simlioso como tundamonto para a vigôncia do um
horizonto minimamonto promissor tôm uma ostroita atinidado
com o ingrosso do latalhador om igrojas pontocostais.
328
UV CASO EXEVPlAR:
A VlSAO CElUlAR DO PENTECOSTAllSVO¨
O ostorço do atualizar roligiosamonto a cronça no tuturo nas
o aposar das incortozas guo o prosonto onsoja solro o amanhã
tondo a variar no mosmo grau om guo varia a prosonça dos
agontos roligiosos na vida cotidiana dos crontos, no sou mundo
da vida¨. Enguanto a lgroja Univorsal so ospocializou om atondor
os dososporados da raló,
8
o caso ompírico guo mostraromos a
soguir podo sor ontondido como oxomplar para a roligião do
latalhador: a ostruturação do um acoplamonto da vida roligiosa
com a vida cotidiana - a visão colular¨ - a tim do roproduzir
uma conduta do cronto¨ no propósito divino, o assim ovitar as
situaçòos do dososporo.
Aposar do rostrita a poucas donominaçòos, a chamada visão
colular¨ podo sor considorada como uma aìuaI:za¸a· do movi-
monto pontocostal, já guo so lasoia om trazor os dons carismáticos
do Espírito Santo¨ para o contro do todas as suas atividados o
para a própria torma do concolor a rolação o o ordonamonto
do papóis dontro da lgroja. Essa nova vorsão do protostantismo
popular¨ soguo a tradição pontocostal do atirmar guo a comunicação
roligiosa dovo so dotinir pola prosonça do Dous¨ sol a torma do
Espírito Santo¨, o guo potoncialmonto implica um acosso diroto
ao transcondonto¨, isto ó, :~n a n~u:a¸a· ·ü::gaì·::a u~ I:~:a:-
gu:a :ac~:u·ìaI ·u u~ aIgun ·uì:· n~:· u~ c·nuu:ca¸a· gu~ ua·
:~¡a a JaIa, gu~ ì~n c·n· :uj·:ì~ a :uì~:a¸a· (a c·j:~:~u¸a uun
~:ja¸· c·nun u~ j~:c~j¸a· nuìua· O guo dotino a visão colular¨
ó o uso dosso potoncial da concopção pontocostal do acosso
ao transcondonto para produzir uma prática roligiosa com um
dostacado podor do rotinizar a rolação ontro sacordotos o loigos,
trazondo-a para as divorsas ostoras da vida, o ao mosmo tompo
instituir o sacordócio¨ como oxpoctativa gonoralizada ontro os
convortidos, :ucIu:::~ ~uì:~ a: nuII~:~: - atualizando dosso modo
a idoia do sacordócio univorsal. Nosso sontido, a visão colular¨
toi tormulada como um rotorno ao modolo original¨ da igroja
primitiva¨, ou soja, à idoia do guo a prosonça torvorosa no culto¨
ó o ponto alto da vida roligiosa, ainda guo com o suporto do um
tralalho oscolástico¨ do proparação individual tora do culto.
329
Na dócada do 1980, surgiu o movimonto da visão colular
toriginalmonto conhocido como Grupo dos 12¨) na Colomlia,
lidorado polos pastoros Cósar Castollanos o Claudia Castollanos.
A novidado chogou ao Brasil no tinal da dócada do 1990, atravós
dos pastoros lrasiloiros Valnico Vilhomons, guo atua om São
Paulo, tundando a donominação lgroja Nacional do Sonhor Josus
Cristo tlnsojoc), o Ronó Torra Nova, o gual lidorou comunidados
roligiosas om loira do Santana, mas guo atualmonto pastoroia o
Vinistório lntornacional da Rostauração tVlR) om Vanaus.
9
A
torma institucional consisto om uma ostrutura do convorsão guo
visa transtormar o convortido tlidorado) om sacordoto tlídor) do
uma cólula¨, grupo tormado por 1 lídor o 12 lidorados.
A instalação das cólulas comoça com os cultos domósticos para
o ovangolismo sistomático tganhar a alma para Josus¨), soguo com
o ostorço do consolidar ossos oncontros o os contatos possoais,
ató guo os lidorados possam ontrar om um procosso soparado do
capacitação o tormação na oscola do lídoros¨. Dopois do passar
pola oscola do lídoros¨, o procosso do convorsão atingo sou
cumo com o onvio do discípulo para conguistar novos lidorados,
ou soja, a otapa da ditoronciação soguimontar tmultiplicação) da
cólula inicial.
A montagom o o tuncionamonto do uma oscola para a propa-
ração dos lídoros do cólula ó uma otapa olrigatória. A instrução
do lídor possui trôs otapas. Primoiro, olo ó onviado para um
rotiro ospiritual¨, om guo tom um oncontro com Dous¨, guo o
gualitica a comoçar os ostudos. A tormação dura novo mosos o
o contoudo so divido ontro os ostudos da Bíllia, com apostilas
guo dirocionam a intorprotação sogundo os dogmas da visão
colular¨, o a proparação prática do lidorança. Dopondondo do
dosomponho do aluno, olo podo já na oscola sor um colídor, a
torcoira otapa antos do assumir a posição do lídor do uma cólula.
No ontanto, aposar do carátor oscolástico¨ da tormação do lídor,
ó possívol guo alguóm so torno lídor mosmo som concluir ou
troguontar a oscola do lídoros¨. Vas isso vai dopondor do uma
avaliação do pastor o dos domais lídoros solro o carisma possoal¨
do candidato.
A visão colular¨ protondo, portanto, guo a própria instituição
roligiosa soja construída sogundo corta concopção do como o
cronto dovo agir taco à monsagom roligiosa guo acoita. Todo
cronto dovo assumir a rosponsalilidado do ganhar vidas para
330
Cristo¨. A dinâmica intorna do multiplicação da cólula protondo
omlutir na protissão do tó¨ do convortido procisamonto osta
disposição, osto sontimonto do rosponsalilidado¨ pola tó: o
lom lidorado dovo vincular sua tó ao ostorço do tornar-so lídor
do uma nova cólula.
Cortamonto grando parto da torça prática dossa visão colular¨
dovo-so à possililidado do rocrutamonto tominino para o sacor-
dócio. O poso numórico o a disponililidado das mulhoros para a
vida roligiosa, guo om outras igrojas pontocostais o noopontocostais
diticilmonto rosulta om protagonismo nas tunçòos sacordotais,
omlora olas sojam rosponsávois por grando parto das convorsòos,
agui ó ototivamonto aprovoitado para ossas tunçòos. lavorocida
pola soparação das cólulas a partir do gônoro, a tormação do
lídoros do soxo tominino atualiza o princípio toológico do sacor-
dócio univorsal o o concoito do vocação para as mulhoros, guo
ampliaram sous ospaços do atuação com ossa implomontação
do uma u::::a· :~.uaI ~ ::n~ì::ca u· ì:aüaII· :~I:g:·:· O pastor
guo coordona as lidoranças do cólula possui o monopólio do
cortas tarotas administrativas.
10
Vas sua tunção ospociticamonto
roligiosa não so dotino por nonhum privilógio, olo ó um lídor do
cólulas como os domais.
Nada disso ó por acaso. Dosdo sua gônoso, a visão colular¨
toi tortomonto marcada polo protagonismo tominino o polas
guostòos práticas dorivadas da divisão social do tralalho guo
atrilui à mulhor as maioros proocupaçòos com o tralalho do
socialização¨, ospocialmonto, claro, no contoxto da tamília. Claudia
Castollanos, osposa do pastor tundador da visão colular¨ Cósar
Castollanos, alóm do sor cotundadora do movimonto na Colomlia o
rosponsávol por uma lgroja com mais do 200 mil cólulas, tamlóm
roprosonta a visão do mundo¨ da lgroja om cólulas no Sonado
do sou país. Não ó oxagoro dizor guo o ostilo do vida do Claudia
como mão do guatro tilhas, osposa, pastora o sonadora, do algum
modo, constitui o Iaü:ìu: ospocítico¨ guo a visão colular¨ lusca
roproduzir: uma torma do condução da vida guo tonta uniticar
ditorontos ostoras da vida numa unica torma do socialização. A
institucionalização das cólulas paroco justamonto sor uma torma
como a roligião pormito produzir o sontido guo atondo a osso
ostorço do uniticação da conduta do vida.
A osta altura, ó importanto rotor o soguinto: tal ostorço do
uniticação, oxompliticado no ostilo do vida da tundadora o
331
transmitido pola institucionalização das cólulas como comuni-
dado do tó¨ guo onglola a possoa por intoiro¨, Jaz c·n gu~ a
:~I:g:a· ~uca:~ a :·c:~uau~ u· j·uì· u~ :::ìa ua Jan:I:a, ospaço
no gual os indivíduos tamlóm são porcolidos como possoas
uniticadas. Um dos corroligionários da lgroja do cólulas o da
pastorasonadora Claudia Castollanos na Colomlia doscrovo osta
porspoctiva adotada:
Um dos projotos guo ola tralalhou toi Vulhor caloça do tamília¨,
·u :~¡a, a: nuII~:~: gu~ ua· ì~n ~:j·:·, gu~ ~:ìa· :~ja:aua:,
::u:a:, j:~c::an :~: a¡uuaua: j~I· E:ìau·. Então so criou uma
loi para ajudar a mulhor t...) Então são muitas vantagons, o muita
coisa guo acontocou na Colomlia para a mulhor o tamlóm so
ostá tralalhando ospociticamonto, a j:~ga¸a· u· ~:aug~II· ~
:~:ìau:a: a: Jan:I:a:, ~uìa· :~ JaIa u~ :~:ìau:a: a nuII~: ja:a
cI~ga: a· ~uc·uì:· uun j:·c~::· j~::·aI, :~:ìau:a: · I·n~n
ja:a un ~uc·uì:·, c·n~¸a: un j:·c~::· ìanü~n j~::·aI, ~I~:
~:ìa· :~uu· aü~u¸·au·:, :a:au·:, cu:au·:, ~ ~I~: cI~gan ua
:ua ca:a, ua :ua Jan:I:a, ~I~: ¡á :a· ja:ì~ aì::a ua :~:ìau:a¸a·
ua :ua j:·j::a Jan:I:a Euìa· a j·I:ì:ca ì~n u·: a¡uuau· nu:ì·
ua ··I·nü:a, u· :~uì:u· u~ gu~ ~:ìan·: J·:ìaI~c~uu· a Jan:I:a
c·I·nü:aua aì:a:~: ua 1g:~¡a ~ ua j·I:ì:ca ìanü~n
11
Ora, ao dotinir a tunção da roligião como vinculada à dotosa o
à salvação da tamília¨, a visão colular¨ toma a intoração comu-
nicativa ontro prosontos como tundamonto da prática roligiosa,
como o momonto da roligião por oxcolôncia. O indivíduo guo
ontra no procosso do convorsão ontra na vordado num procosso do
incorporação do saloros guo sorvom antos do tudo para intoragir
com gualidado o com ôxito. Ë a osso procosso do incorporação
guo so dirigo a otorvoscôncia colotiva¨ da lgroja om cólulas. O
salor ospocítico, cuja atualização trocomponsando, incontivando o
dispondo oxomplos) a roligião toma como sua tarota, ó um salor
guo só podo sor incorporado, jamais assogurado por um diploma
ou gualguor outro suporto guo não ostoja sompro prosonto na
possoa ondo guor guo ola vá.
12
Trata-so agui do rostaurar o homom
para um oncontro¨, dotá-lo dos prossupostos para intoragir. E
do intoraçòos ostruturadas por saloros incorporados dopondo
crucialmonto o tuncionamonto do uma tamília.
Não dovo sor tamlóm por acaso guo a proocupação com a
rostauração para o oncontro¨ soja uma guostão guo oncontra
nas mulhoros um podoroso suporto. São as mulhoros, por conta
332
do sorom onvolvidas mais guo os homons no tralalho cotidiano
do socializar os tilhos, guo mais tondom a sor sonsívois aos pros-
supostos o aos rocursos para o lom tuncionamonto da tamília
onguanto unidado social tundada na intoração do possoas prosontos.
Ë do so osporar, portanto, guo ostojam dispostas a assumir uma
posição do lidorança a tim do rostaurar¨ ossas intoraçòos. Não
so trata agui do sugorir nonhum traço singularmonto tominino¨
como oxplicação para guo uma dotorminada visão roligiosa do
mundo soja do um joito o não do outro. O guo uma visão osson-
cializanto do mundo dostaca com uma gualidado¨ do homom
ou do mulhor, nós agui guoromos apontar como uma ditoronça
rolacional¨, ou soja, como uma torma do divisão social do tralalho
guo doixa às mulhoros a tarota do so tornarom ospocialistas om
intoraçòos, do so ocuparom om dotalho do algo guo os homons
onxorgam por alto.
O tato do havor homons proocupados com os dotalhos da
socialização já ó uma prova guo dovoria lastar contra toda visão
ossoncialista guo roproduz cogamonto o soxismo. Ora, paroco sor
justamonto o ostorço do rostaurar¨ ossa proocupação nos homons
o nas mulhoros guo constitui oljoto do proocupação contral no
discurso o na prática roligiosa da visão colular¨. O guo o ponto-
costalismo da visão colular¨ paroco nos doixar olsorvar ó um
intonso tralalho roligioso do tomatizar o ovontualmonto rodotinir
as trontoiras do tralalho do socialização, a tim do praticar a torma
do divisão do tralalho socializatório guo soja a mais apropriada
para ostalilizar o contoxto das intoraçòos o assim roproduzir o
mundo da vida¨ da classo. Para analisar osso acoplamonto ontro
roligião o socialização tamiliar, ó prociso dostacar os mocanismos
polos guais so lusca solocionar dotorminadas disposiçòos o
saloros tom dotrimonto do outros sompro) do acordo com as
consoguôncias guo so podom antovor solro a gualidado o a
consorvação das intoraçòos.
Vojamos ompiricamonto:
Estudanto do onsino módio om uma oscola pullica do Sotor O,
no Distrito lodoral, Daniola, 1¯ anos, doscrovo como so dou ·
ac·jIan~uì· ~uì:~ :~I:g:a· ~ Jan:I:a na sua vida:
M~u ja: ~ na:c~u~::·, n:uIa na~ u·ua u~ ca:a ~ Jaz ü:c·: c·n·
Ja.:u~::a M~u ja: ~:a aIc··Iaì:a, :a:a j:a üa:I~:, ì:a:a a n:uIa
na~, ~uìa· J·: una ::ua u~ Jan:I:a ì·ìaIn~uì~ u~:~:ì:uìu:aua
333
· g~uì~ ì:uIa agu~I~ :~:j~:ì· J·:¸au·, ~:a na:: n~u· u· gu~
:~:j~:ì·. lsso durou ató os mous 11 anos. Eu tomoi iniciativa do
ir pra igroja, mou pai ticou doscontiado, mou pai ponsava guo
ou tava tondo um caso, porguo ou saía à noito. Eu comocoi a ir
pra igroja, no caso a Quadrangular, hojo somos da Votodista,
j·:gu~ ~u ua· g·:ìa:a ua n:uIa ca:a, j·:gu~ a j~::·a gu~ ü~ü~,
:~n c·n ü::ga ¡uuì·. So a cortina tava no lugar orrado, ó lriga.
Vinha mão não gostava dolo sair. · g~uì~ ua· c·uI~c:a una
::ua n~II·: · g~uì~ ua· :aü:a · gu~ ~:a ~::au· E ua :g:~¡a ~u
::a a: j~::·a: J~I:z~:, :~ aü:a¸auu· Eu J:ca:a n~ j~:guuìauu·
j·: gu~ agu~Ia: j~::·a: :~ aü:a¸a:an J~I:z~: :~n :~: ua n~:na
Jan:I:a E::a :u~:a u~ gu~ an·: ~ :· ua Jan:I:a ca:u, a:::n gu~
~u cI~gu~:, a: j~::·a: n~ aü:a¸a:an, J:z u·:a: an:zau~:. A
minha mão comoçou ontão a ir comigo, mou irmão mais novo
ia do sogurança mou.
O ovonto docisivo nosso procosso toi o ingrosso do pai:
Elo ia pra mo vigiar, vor so tinha alguóm mo paguorando. E un
u:a, ~I~ J·: ca:uu· u~ ü~üau·, ~u J:ca:a c·n :~:g·uIa Ma: ~u ::
gu~ ·: ja:: :a· auì·::uau~: gu~ D~u: c·I·c·u ua: u·::a: ::ua:,
ontão guando ou o vi lôlado mas dontro da igroja, ou ticava
toliz por olo ostar ali. Elo tava no lugar ondo olo podoria largar a
lolida. EI~ J·: :uu· a·: j·uc·: aì~ gu~ · u:a ~n gu~ ~I~ n~:n·
J·: Iá ua J:~uì~, gu:: nuua: EI~ u:::~ gu~ ì:uIa :::ì· a nuuau¸a
~n n:n, ~ gu~ gu~::a :::· j:a ~I~ ìanü~n ~ j:a Jan:I:a ì·ua EI~
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JaIa:an gu~ D~u: j~u:a ua Jan:I:a ·: a g~uì~ c·n~¸·u a j~u:a:
u· gu~ ~ :~: Jan:I:a ·: a g~uì~ ja::·u a c·u:~::a: na::, · n~u· u~
c·u:~::a: J·: acaüauu·, D~u: J·: c·I·cauu· an·: ua g~uì~ M~u
ja:, guauu· :a n~ c·:::g::, ja::·u a c·u:~::a: na:: c·n a g~uì~,
~.jI:cauu· · j·:gu~ uagu~I~ ca:ì:g· M~u ja: ìa:a aü:·::~uu·
agu:I· gu~ ~I~ ·u::a, a J·:na u~ u::c:jI:ua: a g~uì~ c·n~¸·u a
:~: u:J~:~uì~ ·g·:a a g~uì~ j·u:a c·I·ca: a u·::a j·::¸a·, ·u::a
a u·::a :~::a·, ua:a ·uì:a cIauc~ j:a g~uì~ Convorsava pra
gonto não comotor mais aguolos orros. M~u ja: ~:a a j~::·a
na:: u:J:c:I u~ :~ I:ua:, na: ~I~ nuu·u. Com a minha mão, às
vozos, lato do tronto, mas a gonto agora convorsa, a gonto vô
na Bíllia. ·: u~c::·~: ua ca:a, ~I~: j~u~n a ·j:u:a· u·: J:II·:
M~u ja: j~:guuì·u · gu~ a g~uì~ acIa:a :·ü:~ ì::a: a ca:ì~::a u~
n·ì·:::ìa D, u~j·:: ì::·u a · H·¡~ ì~n ~::~ u:áI·g·
334
Dois aspoctos morocom sor dostacados agui. Um ó o guo já
dotinimos como protocia oxomplar do dia a dia¨. Atravós da
oxomplaridado, uma possoa não aponas tormula um caminho
para a salvação¨ ta salvação da tamília), ola solrotudo mostra a
oticácia dosso caminho no próprio comportamonto tElo disso
guo tinha visto a mudança om mim, o guo guoria isso pra olo
tamlóm o pra tamília toda¨). Do ponto do vista da tamília, o
oxomplo agui ó a tilha. Ë ola guom mostra aos domais o guô o
como tazor. Ë a partir do sou oxomplo guo so cria nos domais
uma disposição para imitar algo ditoronto guo dou corto¨. E o
guo so olsorva dando corto no oxomplo do Daniola tguo ola,
por sua voz, olsorvou om outros) são disposiçòos o saloros para
intoragir touvir o outro, ostar disponívol para diálogo, domonstrar
atoto) o, solrotudo, para :~JI~ì:: ua :uì~:a¸a· :·ü:~ a guaI:uau~
ua :uì~:a¸a· - · u:áI·g· j:~c::an~uì~ tAí a gonto comoçou a
ponsar no guo ó sor tamília¨). O outro aspocto ó a tro)construção
do um contoxto no gual ossas disposiçòos o saloros são usados
o atualizados, ou soja, a própria rotina onvolvondo vida roligiosa
o tamília guo taz as possoas gostarom do intoragir¨ tou não
gostava da minha casa, porguo a possoa guo lolo, vom com lriga
junto¨). No caso do Daniola, como ó muito comum, a construção
dosso contoxto tom muito a vor com alolir o alcoolismo o a
consoguonto mistura ontro lazor individual o indisponililidado
para a tamília. O tundamontal agui ó o lazor o as amizados into-
gradas à vida roligiosa:
· n~u Iaz~: ~u JaI· gu~ ~ a :g:~¡a, a g~uì~ ~ ü~n ~u:·I::u·.
Sálado ou taço laló, a gonto lova laló pras crianças carontos do
Coilândia. Do oito a moio-dia ou tico no laló. A tardo ou taço
inglôs, dopois tonho uma cólula o à noito vamos no oncontro
do jovons guo tom musica, luzos, ou pulo lastanto, danço pra
valor. Sompro tom uma palavra para os jovons o dopois a gonto
sai pra uma lanchonoto, shopping, ou duranto a somana um
cinoma. Vosmo duranto a somana, ou tonto tor um tompo pra ou
mo divortir. E ua :g:~¡a :a· ì·u·: an:g·:, j·:gu~ a g~uì~ ì~n ·
n~:n· j:·j·::ì· _uauu· :·c~ ì~n an:g·: c·n a n~:na :::a·,
un aj·:a · ·uì:· · g~uì~ ì~n u·::· :~uì:u·, a g~uì~ :a: uuna
J~:ìa ~I~ì:·u:ca ~ Jaz ìuu· c·n ·:u~n ~ u~c~uc:a · g~uì~ :~ uu~
j:a ua· j~ca:, :~ u::~:ì:: :~n J~::: a :·uìau~ u~ D~u:
O rosultado da protocia oxomplar¨ com a roconstrução do
contoxto para intoragir não dovo sor intorprotado como um
335
controlo diroto da consciôncia solro as tondôncias indosojávois
onsojadas polas vontados do corpo¨, mas como a possililidado
do ostar om ospaços guo não ostimulom o não atualizom ossas
tondôncias indosojávois. Dito do outro modo: não ó atravós do
um controlo diroto do corpo pola consciôncia, mas atravós da
opção conscionto por amliontos institucionais tavorávois guo a
consciôncia assumirá corta modida do controlo. A consciôncia,
cionto inclusivo da sua limitação como instância do controlo,
atrilui ossa tarota a um contoxto oticaz para isso, cuja sanção,
no caso do latalhador pontocostal, o acoplamonto ontro tamília
o igroja tondo a dotinir.
luciana ó do Vanaus, Amazonas, do pais vindos do Nordosto.
Vora no Distrito lodoral há mais do cinco anos. Sous pais so
sopararam guando ola tinha 4 anos do idado, na ocasião, a mão
ostava grávida do um dos sous irmãos. Postoriormonto, a mão tovo
outros rolacionamontos guo goraram outros dois tilhos. luciana
não tom contato com sou pai, pois a madrasta impodo: Eu não
posso ir na casa dolo, porguo ola não doixa. So ou ligo o ola
atondo, ola dosliga o tolotono.¨ A mão ó omprogada domóstica,
mas, sogundo a tilha, não tom omprogos rogularos o vondo
suportos do lotijão do gás. Aos olhos do luciana, ola ó uma possoa
irrosponsávol, guo so contonta com o pouco guo tom, alóm do
não cuidar dos tilhos:
Ela não tom muita idoia do croscimonto, ató hojo. A minha mão
ó assim, so tivor uma cartoira do ovo pra um môs, sorvo. Quando
mou irmão nascou acalou a minha intância, ticou ou, um do 4,
um do 6 o um lolozinho, o ou guo tinha guo ticar com olo. A
partir dos 10 anos, ou não podia mais lrincar.
A discórdia ontro as duas tamlóm tom outra dimonsão: a
do gônoro. luciana toi alusada soxualmonto, por trôs homons
ditorontos, ontro olos, o sogundo marido do sua mão. Em um
primoiro momonto, ao contar guo o padrasto ostava tondo as
mosmas atitudos guo já havia tido um corto tio matorno, a mão
não acroditou. luciana porcolo guo a mão a considora culpada
por tudo isso. Vuitas vozos, sua mão lho disso guo sou dostino
soria casar com homons como os guo ou casoi, o aos 15 anos
ostar com a larriga no togão o uma criança no colo¨. Contra
toda ossa praga¨ rogada pola mão, luciana só taz ostudar. licar
na oscola, para ola, ó sompro molhor do guo ticar om casa: Na
336
oitava, passou a sor horário intogral, o ora tão lom! Quo saudado!
A comida da oscola ó muito loa.¨
Alóm do talta do cuidados matoriais tsompro guardamos
nossas coisas om caixas¨), ola lusca não compartilhar com a
mão um tipo do intoração social guo porcolo como indosojávol,
como parto do uma vida possoal dogradada guo a mão já
naturalizou:
· g~uì~ ua· c·u:~gu~ c·u:~::a: c:uc· n:uuì·: guo a gonto lriga.
Vinha mão sompro talou coisas do mim, assim, ruins. Sompro toi
dosso joito: Arrumo um marido o vá omlora, porguo ou não to
guoro agui¨. Ató hojo ola taz isso, mas como ou tico na oscola
o dia todo, diminuiu.
A oscola ó ontão o primoiro contoxto no gual ola tonta so lilor-
tar do oxomplo da mão, oxomplo guo assim domarca o avosso
do sou projoto do vida. luciana ostuda a tim do podor ontrar na
UnB polo sistoma solotivo. Salo guo torá diticuldados tinancoiras
para cursar Biologia, por isso iniciou um curso tócnico om Admi-
nistração o guor um ostágio tamlóm. Como uma latalhadora, já
salo dosdo jovom guo não podo so ocupar somonto dos ostudos.
Procisa tralalhar para si o para os irmãos. Ela tom plona noção
do guo so ola não tizor, a mão não irá tazor:
Quando ou chogo om casa o vojo a situação dos mous irmãos,
ou não suporto vor mous irmãos malvostidos, com alimontação
procária, ou acho guo olos são malnutridos, o ou vojo guo só ou
guo posso tazor alguma coisa ditoronto por olos, já guo a minha
mão não taz isso.
Aposar do tralalho sompro concorror com o ostudo, luciana
conta guo a dosvantagom ostótica na disputa pola protorôncia dos
garotos toi docisiva para guo, dosdo codo, luscasso roconhoci-
monto social nos ostudos:
Na oscola, os moninos ticavam talando guo ou ora toia, mas ou
salia guo tinha uma coisa guo podia mo tazor molhor do guo
as moninas lonitinhas guo tinham lá: ou comocoi a mo dostacar
pra ou tor alguma coisa guo mo tizosso toliz. Ató a oitava sório,
ou mo matava do ostudar, pra ou tirar loas notas o mo sontir
lom, mo tazor toliz.
33¯
Vas so a oscola so tornou o caminho guo luciana dosoja
traçar para alcançar uma vida molhor, a lgroja ó tundamontal para
guo ola acrodito nosso caminho. Dosdo criança, ola o sous tami-
liaros troguontavam a lgroja Batista om Vanaus, mas atualmonto
ola troguonta um tomplo da lgroja Proslitoriana, guo tamlóm
tunciona com a visão colular¨. Esta, como já vimos antoriormonto,
gora uma torto cumplicidado ontro os momlros atravós do rolaçòos
do oxomplaridado o oncorajamonto. O pastor do sua igroja ó um
dos poucos homons com guom ola não tom modo do convorsar,
do tor om alguma modida um rolacionamonto com proximidado.
Elo ó um grando incontivador do luciana o do outros momlros
da igroja. Na cólula guo troguonta, oncontra momlros guo tôm
uma trajotória do suporação, guo a apoiam nas suas oscolhas
ostudantis, são amigos com guom ola podo contar sous sogrodos
o chorar: Quando a minha mão mo pòo pra laixo, olos ostão lá
pra mo apoiar.¨
Os amigos guo luciana oncontra na igroja, as possoas com
guom aprondo a intoragir com mais contiança, não ostão lá por
acaso. São histórias guo om todo caso podoriam ticar distantos,
mas guo lá oncontram um contoxto do ontrolaçamonto, um
caminho comum:
Eu c·uI~¸· nu:ìa g~uì~ ua :g:~¡a gu~ · ja: üaì:a ~ u:z:a gu~ ua·
:a :~: u:ugu~n, nu:ìa: I::ì·::a: ja:~c:ua: c·n a n:uIa Eu ì~uI·
·: n~u: j:·¡~ì·:, jIau·: ~ ua· ~uc·uì:· aj·:· ua n:uIa na~ 1á
~I~: :a· ja:~c:u·: c·n:g·, :~c·uI~c~n n~u ~:J·:¸·, ac:~u:ìan
~n n:n. Eu não soi so ó talsidado, mas ou acho guo ó amor. lá
as possoas mostram guo a vida podo sor molhor, guo oxisto um
Dous guo podo to ajudar a tor uma vida molhor t...) Eu amo o
mou pastor, porguo olo coloca isso na monto da gonto, olo tala
pra guo a gonto invista na nossa gualiticação, apoia guo a gonto
invista no ostudo, no tralalho. Elo diz guo Dous não vai nos
ajudar so não tizormos a nossa parto. Eu gosto dolo, porguo olo
coloca todo mundo pra acordar o não doixa ninguóm dosistir.
t...) Eu Ju: j~:u~uu· ~::a c·::a u~ J:ca: ::·Iaua, a ì:n:u~z Eu
ì::~ na:: ·u:au:a j:a JaIa: c·n a: j~::·a:. Hojo ou conhoço as
possoas da minha oscola, tonho gonto guo mo apoia guando a
minha mão mo coloca no tundo do poço, guando ola tala um
monto do coisa pra mim, ou saio com mous amigos, guo tôm os
mosmos oljotivos guo ou o guo acroditam no mosmo Dous guo
ou o nas mosmas promossas Dolo.
338
Quais promossas?
Eu ac:~u:ì· gu~ guauu· ~u n·::~: ~u :·u j:· c~u, ac:~u:ì· ua
j:·n~::a u~ j:·:j~::uau~ D~I~ Na· ~ gu~:ìa· u~ u:uI~::·, ~u
ac:~u:ì· gu~ ì~n un jIau· u~ D~u: j:a n:uIa ::ua, gu~ EI~ ua·
gu~: gu~ ~u :~¡a :uJ~I:z c·n· ~u :·u Então ou soi guo ou vou
sor toliz, Elo diz guo não guor vor sous tilhos sotrondo. t...) Eu
vojo guo não ó porguo ou sou da igroja o um dia vou tor um
omprogo guo a minha vida vai sor portoita. Eu :~: gu~ ~Ia uuuca
:a: :~: j~:J~:ìa S~ un u:a ~u J·: j~:J~:ìa, EI~ j·u~ n~ I~:a: 1uìa:
~u :~: gu~ ~u :·u ì~:, na: ~u ac:~u:ì· gu~ ~u :·u ì~: :aü~u·::a
ja:a ì~: a n:uIa Jan:I:a, ~uc·uì:a: aIgu~n gu~ n~ a¡uu~ u:::·,
gu~ n~ :~:j~:ì~, :::· j:a n:n ~ n·ì::· u~ J~I:c:uau~ Eu posso
tor um poríodo do dosomprogada, mas tomo, tomo, ou acrodito
guo ou não passo mais. Porguo ou soi guo tuturamonto, tudo o
guo ou tonho projotado, tomo não ostá oscrito lá.
Com luciana tica clara uma ditoronça guo rossaltamos no
comoço dosto toxto: a aposta mágica no tuturo¨, típica dos
dososporados da raló, o o invostimonto cotidiano no tuturo¨,
típico do latalhador guo traz para sou modo do vida um salor
roalista solro o oncadoamonto do lutas rumo ao amanhã. Ao
contrário da tó guo orionta a aposta mágica do guo tudo podo
acontocor agora, o latalhador procisa considorar guo, alóm do
moramonto alimontar osporanças solro o tuturo, ó prociso trans-
tormar o próprio modo do sontir o tuturo, a própria disposição
do osporar polo amanhã.
Essa ditoronça não so dovo moramonto ao contoudo do duas
monsagons roligiosas distintas, omlora oxistam ossas ditoronças.
Acroditamos não sor nonhuma positividado imanonto do uma
ditoronça idoacional ontro a roligião do latalhador¨ o a roligião
da raló¨ a oxplicação mais compotonto para o tato do uma trazor
a cronça num tuturo molhor para a conduta da vida cotidiana
o a outra não. Quo otoito uma idoia do tuturo a longo prazo¨
podo tor na vida cotidiana so ossa idoia não so torna adjaconto
no hojo?
O tato do luciana parocor mais racional¨ solro sou projoto
do tuturo do guo alguóm guo lusca molhorar do vida apostando
na loguoira Santa¨ da lgroja Univorsal não ó simplosmonto
porguo sua igroja tala do tuturo como algo mais domorado, o
sim porguo sua conduta consoguo juntar o momonto roligioso
339
oxtra-ordinário¨ do acroditar om um amanhã molhor com os
momontos cotidianos guo dirocionam o rotorçam ossa cronça
como uma disposição para agir. Nosto ultimo caso, a roligião so
constitui como um sistoma do intoração ontro possoas nocossitadas
do alguóm prosonto no dia a dia para rotorçar a cronça o o
horizonto do uma vida molhor. A cortoza na promossa divina ó
ontão trazida para uma prática roligiosa guo ponotra no cotidiano,
na prosonça dos oxomplos oncorajadoros. A tó om Dous corros-
pondo à tó na instituição o om sous agontos: Quando a igroja
acalou, o círculo do amizados toi so distanciando. Eu imaginava
guo igroja ora só aguola. Eu tinha mais a visão da igroja do guo
do Dous¨, diz uma outra pontocostal da visão colular¨.
So doscrovormos a tó como uma mora docisão individual, não
porcolomos guo ola ó o rosultado do um tralalho colotivo, do um
ostorço comunicativo do agontos oncarrogados do lovar a palavra¨
guo indicam a tó como torma osporada do comproonsão. Dito do
outro modo: a roconstrução do procosso do convorsão, ompro-
ondida polo convortido¨ dianto do sua comunidado do tó¨ como
so a convorsão tosso uma docisão possoal, tondo a não olsorvar
a tó o a contiança na própria instituição o om sous agontos como
prossuposto para a docisão do cror¨ tou croio¨) om Dous o om
sua promossa. A tó no transcondonto¨ ó roconstruída do modo
a osguocor o tralalho imanonto com o gual as oxpoctativas dos
agontos institucionais guo tormulam a monsagom são acoitas o
incorporadas por aguolos guo, ao rovolarom sua tó, tomam parto
no procosso do construir contiança om torno da instituição tou
mosmo om torno do um conjunto dolas, como mostra a rolação do
diplomacia¨ ontro ditorontos igrojas ovangólicas) o do sou modo
ospocítico do administrar a vida cotidiana, com suas modalidados
do invostimonto o rocomponsa do tompo, disponililidado para
intoragir otc.
13
Antonio, 36 anos, goronto do uma omprosa do pintura o outros
sorviços ostóticos automotivos, mora no Sotor O, no Distrito lodoral.
Ë o antoponultimo do uma tamília do soto irmãos. Sou pai talocou
do cirroso hopática tom virtudo do consumo do álcool) guando
olo ora muito novo, do guom nom lomlra diroito. Pordou tamlóm
dois irmãos: o mais novo morrou atogado, guando Antonio ostava
na adoloscôncia, o o mais volho tamlóm do cirroso, por causa
do consumo do álcool.
340
Com o talocimonto do pai, a mão, guo tralalhava na limpoza
do uma oscola pullica como tuncionária concursada, tornou-so
a choto do casa o tovo outros trôs rolacionamontos conjugais.
Dois aspoctos parocom rovolar guo a mão sozinha não toi capaz
do protogor o ompodorar as intoraçòos tamiliaros: as constantos
lrigas o os ovontos do agrossão tísica ontro os tilhos o o tato
do as crianças ticarom a maior parto do tompo na rua, o guo
claramonto compromotou o dosomponho oscolar. Antonio, por
oxomplo, guando so convortou à lgroja Votodista, aos 30 anos,
só tinha ostudado ató a guinta sório do antigo primoiro grau
thojo onsino tundamontal). Tovo guo ontrar codo no morcado
do tralalho. Com 12 anos, olo já pogava a omproita da capina¨
tnormalmonto para limpar o guintal do alguóm), vondia sacoló¨
o tazia outros licos¨. Sogundo conta, o ganho ora omponhado
com dosposas domósticas, como comprar gás, pãos, loito. Duranto
um dos rolacionamontos da mão, Antonio mudou-so para Palmas,
no Tocantins. lá tralalhou om um lar o alandonou do voz os
ostudos. Quando voltou para o Distrito lodoral, Antonio comoçou
a tor alguns omprogos com cartoira assinada: tralalhou num
lingo, num posto do gasolina como trontista o tamlóm om uma
poguona marconaria.
A adoloscôncia do Antonio toi tipicamonto prolongada: ató a
convorsão ovangólica olo ostava sompro saindo dos omprogos,
taltando nas sogundas, sondo domitido ou podindo domissão,
como toi o caso do omprogo na casa do lingo. O motivo, sogundo
olo: duranto uns 10 anos participou, junto com alguns irmãos o
amigos, do um grupo do pagodo, o como ostava sompro tocando
nos tinais do somana tsompro com um cachô guo possoalmonto
lho rondia ontro 80 o 100 roais por somana), guando tralalhava
o so divortia ao mosmo tompo, acalou não lovando muito a
sório o tralalho duranto a somana¨. Nossa mistura ontro tralalho
o lazor, Antonio rolata guo o onvolvimonto com algumas drogas
o com o álcool o tornava, alóm do irrosponsávol, alguóm muito
norvoso dontro do casa¨. Na ópoca da convorsão olo já morava
com sua atual osposa, com guom já tinha dois tilhos liológicos,
alóm dos outros dois guo assumiu.
A convorsão do Antonio como lidorado do uma cólula da lgroja
Votodista Ortodoxa do Sotor O corrospondou a uma rocusa do
continuar vivondo no osguoma do tralalho-lazor-acalação¨ do
pagodo o a um ostorço para assumir rosponsalilidados solro a
341
tamília. Após sois anos do convorsão, tondo so tornado lídor do
trôs cólulas tcada cólula ó tormada por 12 possoas), Antonio rolata
com orgulho guo: 1) so tirmou o croscou do posição na omprosa
do pintura o ostótica automotiva dovido a sou maior compromisso
o a sua rogularidado com o tralalho, 2) tornou-so um cara
mais pacionto¨, capaz do dialogar com a osposa, os tilhos o do
rosolvor contlitos no tralalho, 3) não usou mais drogas o álcool
o tamlóm não sai mais à noito som a tamília, 4) construiu uma
casa modosta o guitou algumas dívidas guo antos o impodiram
ató do consoguir um omprogo.
Alóm disso, Antonio ontrou num curso suplotivo o concluiu o
primoiro grau. Hojo sou projoto do tuturo ó alrir um lava a jato.
Para isso lhos sorvom os contatos o o salor prático guo adguiriu
no tralalho do ostótica automotiva. Consultou o Solrao o disso
ostar ostudando um lugar om guo a domanda por um lava a jato
soja alta, como porto do oticinas, sogundo o oriontou um amigo
guo tralalha numa concossionária. No ontanto, aposar da outoria
o da cronça nas vitórias doclaradas om sua vida¨ corrospondorom
a invostimontos práticos do tompo o dinhoiro na prosporidado
oconomica o na gualidado das intoraçòos tamiliaros, olo não
doixa do lomlrar guo pordou muito tompo o guo sou projoto do
tuturo procisa ostar pautado nossa dosvantagom. Esso roalismo,
guo não o doixa acroditar om um comoço do zoro, talvoz soja a
laso para uma visão o um comportamonto capazos do controlar
racionalmonto as consoguôncias dos planos do ação, na modida
om guo lusca planojar tondo om conta os limitos inoxorávois
da trajotória o do tompo pordido. Esso tompo pordido ó um dos
tomas principais guo Antonio traz para os oncontros do cólulas,
tontando sor um oxomplo do orros guo não dovom sor ropotidos
por sous lidorados, ainda guo, om tormos gorais, soja para olos
um oxomplo positivo.
lomos a um oncontro do uma das cólulas guo Antonio lidora.
O oncontro toi na casa do um sultononto do corpo do lomloiros
tum dos lidorados) o durou por volta do uma hora. Dopois do
louvor¨ tcom hinos o movimontos sincronizados dos corpos) o
do uma loitura do Antigo Tostamonto solro a oscravidão do povo
do lsraol no Egito¨, Antonio toz uma progação. O contoudo toi
a nocossidado do acroditar o invostir nas promossas do Dous o
do oscolhor o caminho do lom. Na maior parto do tompo, ora
a própria vida do Antonio o toco da progação: sou oxomplo do
342
convorsão, sua mudança do porsonalidado o o tompo pordido,
guo olo rossaltava como oxomplo nogativo. No tim da progação,
Antonio passou a doclarar na vida¨ dos lidorados: Quo dagui
saia um diplomata, mou Dous! Quo dagui saia um doputado,
mou Dous!¨ otc.
Como lídor do uma cólula do 12 jovons, com rapazos ontro 16
o 18 anos do idado, Antonio toma a si mosmo como oxomplo o
como toma da comunicação ospiritual da roligião. E, como tal,
olo tamlóm ontra na vida das possoas¨ com a prorrogativa do
oriontar docisòos, como a do oriontar um lidorado do 16 anos a
tazor suplotivo para rocuporar o tompo pordido, ou como a do
instruir outro lidorado a não invostir num namoro guo não daria
tuturo. Antonio assim so convorto tamlóm numa ospócio do tonto
porsonalizada do roconhocimonto social, um pai¨, como atirma
Douglas, um do sous lidorados guo so acostumou a aprosontar o
dosomponho oscolar para o lídor.
O pastor da lgroja Votodista Ortodoxa, guo tamlóm ó lídor do
cólula, rolata um caso do intorvonção na vida possoal do lidorado,
no gual tica claro o papol da oxomplaridado como critório da
construção do docisòos. Elo ostava convorsando com um rapaz do
uma tamília polro guo tinha como projoto do tuturo protissional
tornar-so lutador do jiu-jítsu. Vo dô cinco oxomplos do possoas
guo vocô conhoça guo so tornaram lutadoras o ganharam a vida
com isso... mo dô um oxomplo!¨, disso o pastor Rogor ao rapaz.
Numa outra convorsa, rovola como a rolação do lidorança toma-
tiza a vialilidado do projotos matrimoniais: uma monina muito
ostudiosa guoria so casar com um cara guo não gosta do ostudar,
guo ia puxar ola pra trás. Aí ou disso a ola guo não ia dar corto o
ola acoitou.¨ A lidorança oxomplar cria uma rolação do autoridado
oxorcida no diálogo guo ó típica do uma rolação do cumplicidado
possoal na gual guom dá o consolho otoroco tamlóm sogurança
o rosponsalilidado polo guo vom dopois.
A rolação ontro os congrogados nas cólulas, como pudomos
olsorvar várias vozos, ó tortomonto marcada por simlioso atotiva:
mosmo os homons so loijam o so alraçam todas as vozos guo so
oncontram, o a modulação atotiva da tala paroco sor algo muito
lom aprondido o praticado nas intoraçòos cotidianas. Quando
convorsamos com Antonio, guo disso tor doixado do sor um cara
norvoso¨ o com isso so tornado capaz do administrar contlitos
som apolar para a agrossão tísica ou vorlal, porcolomos guo a
343
rotloxividado atotiva tamlóm ó dosomponho importanto na rolação
ontro roligião o tamília criada na cólula. E o distanciamonto dos
atotos, a tim do tormatá-los, só ó possívol guando a disposição
para o diálogo ganha uma importância guo antos não tinha para a
intoração. Essa disposição para o diálogo signitica a possililidado
do guo om cada nova intoração, do guo om cada novo oncontro
possoal, soja possívol tomar a história da intoração como toma.
14
Podomos ontão rosumir o acoplamonto ontro o pontocostalismo
da visão colular o as intoraçòos da vida cotidiana do soguinto
modo: a vida roligiosa, particularmonto os oncontros da cólula, so
constitui do intoraçòos ostruturadas o apropriadas para tomatizar
o sontido do outras intoraçòos, para tomar distância rotloxiva om
rolação ao joito ospontânoo do talar, do olhar, do ouvir o do ostar
disponívol para o outro om casa, no tralalho, com os amigos.
Por conta disso ó o oxomplo do outro¨ a rotorôncia rotloxiva
do diálogo. Ë a torma como o oxomplo tala o intorago guo taz a
ditoronça, ó a torma como olo taz o guo tala¨ guo torna crívol o
impositivo para os domais o ostorço do tamlóm tazor ditoronto¨.
A oxomplaridado ó a torma rotloxiva do Iaü:ìu:.
Não ó olviamonto por acaso guo as cólulas são, para os
crontos, sinonimo do grupos tamiliaros. O possívol dosomponho
rotloxivo guo o tormato da lidorança om cólula pormito doson-
volvor dirigo-so claramonto à tamília, o do algum modo tom um
u~:~: :~: ua: :~Ia¸·~: Jan:I:a:~: como alvo do comportamonto
roligiosamonto normatizado. Alóm da rotloxividado solro a
gualidado o a história das intoraçòos tamiliaros, ó tundamontal, no
caso do latalhador, guo a vida roligiosa tomatizo os prossupostos
oljotivados do dovor sor tamiliar¨, ou soja, a oconomia domós-
tica trodução dos gastos individuais com álcool, por oxomplo) o
a disponililidado om casa para intoragir. Paroco havor ontro
a roligião o a tamília do latalhador pontocostal o guo Niklas
luhmann chama do acoplamonto oporacional¨: a produção do
intoraçòos rogularos guo roprosontam o roalizam intorossos do
ditorontos sistomas sociais.
15
Para alóm do moramonto lançar mão
do uma idoia alstrata, trata-so agui do constatar guo: 1) roligião o
tamília não são uma coisa só, so tossom não havoria sontido talar
om atinidado olotiva¨ ou acoplamonto¨, 2) mosmo não sondo
uma coisa só, amlas são igualmonto atotadas pola disponililidado
das possoas para a intoração rogular. So as possoas não ostão om
casa ou não ticam juntas rogularmonto, a tamília não intorago.
344
So não vão à igroja ou ao oncontro do cólula, não oxisto vida
roligiosa. Dosso modo, cria-so uma ospócio do coalizão¨ ontro
tamília o roligião cujo tundamonto ó prosorvar a disponililidado
para a intoração rogular como prossuposto comum ontro os dois
sistomas. A ditoronça prosonçaausôncia¨ guo dotino uma into-
ração taz muita ditoronça para ossos dois sistomas sociais.
Nosso argumonto agui ó o soguinto: o papol da roligião
pontocostal na vida do latalhador costuma rosultar numa pos-
sililidado do rotloxividado moral solro a vida tamiliar o solro
as intoraçòos om goral. O argumonto so apoia na constatação
ompírica da importância guo o tostomunho dianto da comunidado
ocupa na roligião pontocostal do latalhador. Como parto docisiva
do procosso do convorsão, cria-so um ritual do alrir o coração na
prosonça do Dous¨. O convortido, mosmo dopois do muito tompo,
ó sompro convocado o ostimulado a compartilhar com os prosontos
sous sotrimontos, suas latalhas o suas suporaçòos. Trata-so do
um chamado a contiar os sogrodos na ocasião sagrada¨ tna
prosonça do Dous) da intoração com a lgroja. Paroco-nos guo a
oticácia simlólica dosso mocanismo advóm da possililidado do
oltor roconhocimonto social rovolando as histórias dolorosas
guo alhuros procisariam sor ocultadas por motivo do vorgonha.
Ora, não ó ólvio guo as possoas so oncontrom o, taco a taco,
tragam o guo ostá oscondido tausonto) para o conhocimonto do
outro. lsso só ó possívol om contoxtos muito ospocíticos, dianto
do uma prosonça oncorajadora¨ guo dosomloguo numa prática
dosinilidora. Somonto nosso contoxto torna-so provávol a dispo-
sição para trazor da intordição as humilhaçòos, as taltas, os
pocados, as culpas o os tomoros. Ë muito arriscado tazor isso. A
tamília modorna tundada na intimidado o na cumplicidado, guo
o latalhador tamlóm lusca tor o construir, ó um lugar privilo-
giado para ossa prática dosinilidora, inclusivo som dopondor da
tala. Somonto com o sontido prático do corpo, com a ausôncia
ou disponililidado para olsorvar o sor olsorvado polo outro, já
ó possívol ostimular dosinilição o inilição.
Vais do guo um sontimonto suljotivo, uma prática dosini-
lidora ó uma torma do comunicação atravós da gual cada um
dos prosontos so taz disponívol para as olsorvaçòos do outro,
ou soja, um contoxto no gual o toco ó tpotoncialmonto) tudo
guo diz rospoito a uma possoa, som guo a oxclusão próvia do
assuntos possoais¨ soja a ostrutura da intoração. Paroco-nos sor
345
por pormitir uma rotloxão solro os prossupostos dossa prática
dosinilidora ancorada na intoração guo a roligião pontocostal cria
um acoplamonto oporacional¨ com a tamília. Há guom sustonto
guo intoração ontro prosontos ó a torma social o o prolloma
latonto do toda roligião, mosmo guando as roligiòos so tornam
oscolásticas¨, lasoadas na oscrita.
16
O roconhocimonto social por conta do tornar-so um oxomplo
ó o mocanismo guo moliliza tanto o lídor como o lidorado do
uma cólula. Quom rocolo o oxomplo, o isso ostá instituciona-
lizado na ostrutura do ditoronciação das cólulas, dovo so proparar
para sor tamlóm oxomplo para um torcoiro. Essa rolação possoal
onsinada om dotalho na cólula podo translordar dirotamonto
na tamília, posto guo a idontiticação atotiva com o oxomplo do
outro¨ ó a torma do intoração social pola gual a tamília cumpro
sua tunção do proparar para o mundo¨. Tomar o outro como
rotorôncia, como oxomplo, implica olsorvar a si mosmo com o
horizonto do oxpoctativas no gual aprondomos a cror atravós
dossa idontiticação atotiva com nossos oxomplos. Ë somonto dosso
modo guo o horizonto do tuturo torna-so tangívol aos olhos, aos
ouvidos o inclusivo às mãos. Exomplos sorvom, portanto, para
prosontiticar o horizonto tomporal do um dotorminado lugar
social¨ tuma classo), para atualizar a ostrutura do oxpoctativas
guo traça¨ o sontido do liogratias individuais om contormidado
com o lugar¨ guo so ocupa no prosonto. O oxomplo traduz a
dimonsão tomporal na dimonsão do ospaço, roprosontando o
tuturo om um lugar ao lado¨, om algo guo já ó¨ o no guo, a
oxomplo, ou posso mo tornar. Não ó só um moio, ó tamlóm um
tim da ação guo suscita no outro. Com isso, dar o oxomplo torna
visívol o dosojávol a rocomponsa guo só podo sor oltida caso a
possoa osporo, salondo adiar o rotorno do sua atividado social,
invostindo, o não somonto apostando.
Por roprosontar um caminho para os outros, os oxomplos
parocom sor lons rocursos para ontrolaçar as liogratias individuais
com as sagas colotivas. Com os oxomplos, uma classo do possoas
produz uma ostrutura do solidariodado típica na intoração ontro
prosontos tgual procosso histórico do tormação do classos sociais
não dopondou do uma ostrutura intorativa?), no oncontro ontro
sous momlros. Ninguóm lusca sor oxomplo para si mosmo. O
latalhador pontocostal lusca sor oxomplo para as possoas guo
olo oncontra no sou caminho, um caminho guo ó ospocítico do
346
latalhador. Não taz muito sontido um ox-alcoólatra convortido
om pai rosponsávol luscar sor oxomplo para aguolo sujoito guo
mora numa colortura o cuja tamília podo sor porcolida como
loa vida¨, mosmo om comlinação com o consumo cotidiano
do uísguo o com o hodonismo om goral.
O caminho do latalhador, como procuramos mostrar agui,
ó marcado por um onvolvimonto pormanonto com a dotosa do
mundo da vida¨ o da socialização tamiliar. Vimos como a roligião
dosomponha um papol importanto nosso procosso ao contriluir
para ostruturar intoraçòos taco a taco guo são docisivas para a
tormação do Iaü:ìu: do latalhador, ospocialmonto do sua dispo-
sição para cror no tuturo o agir do acordo com ossa cronça. Vas
a dotosa do mundo da vida¨ tamlóm onvolvo uma rolação com
a lusca do sogurança oconomica. E ua n~u:ua ~n gu~ a :~I:g:a·
a::un~ a j~::j~cì::a ua Jan:I:a ~Ia acaüa ìanü~n j·: ì~naì:za:
·: j:~::uj·:ì·: ~c·u·n:c·: ja:a :~u Juuc:·uan~uì·
A oxistôncia do rodos do oportunidados oconomicas ontro
ovangólicos já ó lastanto atostada pola litoratura solro o toma.
Estudos ompíricos mostram como a tiliação roligiosa às igrojas
pontocostais tunciona como um patamar do sogurança om situ-
açòos ovontuais do dosocupação.

A rodo do oportunidados
oconomicas criada pola lgroja compòo uma torma do impodir
guo a talta do uma ronda impliguo dirotamonto um procosso
do dogradação das intoraçòos o do orosão da tamília como um
ospaço soguro para ossas intoraçòos. EIa :~::~, j·:ìauì·, ja:a
n·ü:I:za: c·uu:¸·~: ~c·u·n:ca: u~c~::á::a: ja:a gu~ a Jan:I:a
ì~uIa auì·u·n:a u:auì~ u· :::ì~na ~c·u·n:c·
So os pontocostais so dostacam no ongajamonto om associaçòos
roligiosas capazos do lutar contra a insogurança o a dostiliação
social¨, mosmo ostando omprogados, o so os dosomprogados
pontocostais procisam do monos tompo para consoguir um novo
omprogo,
18
ó porguo a tiliação roligiosa ó capaz do tato do dotondor
um patamar do sogurança contra o risco do oxclusão. Nosso
argumonto agui ó guo a criação dossas rodos do oportunidados
oconomicas, assim como a dotosa do um patamar do sogurança
contra o risco do oxclusão, procisa sor comproondida como uma
ostratógia do classo, como uma ostratógia típica da nova classo
tralalhadora tos latalhadoros).
34¯
CONSlDERA(OES llNAlS
Com a noção do ostratógia do classo guisomos sompro rossaltar
guo ocupar uma dotorminada posição social implica ostar insorido
om um campo do possililidados o do impossililidados¨ tostar
dosomprogado o dosamparado, não tor cortoza do guo vai ostar
omprogado por muito tompo, tor contiança do guo so ostivor
dosomprogado os irmãos¨ irão ajudar otc.). O nucloo do nosso
argumonto ó guo osso campo não procisa oxistir tormulado na
consciôncia do ninguóm para guo orionto as práticas sociais.
A ostratógia do classo não so roduz nom a uma docisão individual,
nom a uma doliloração colotiva autotransparonto. A ostratógia do
classo são os rocursos práticos guo pormitom oxprossar o instituir
no prosonto uma ditoronça ontro passado o tuturo. A torma como
so domarca uma trontoira com o passado ó a mosma torma do
guo so dispòo para antocipar o tuturo. O grau do dosproocupação
com a volta do passado¨ o a consoguonto possililidado do so
ocupar do tuturo ó o guo domarca, na prática, as ditoronças do
classo na sociodado modorna.
Vimos ao longo do toxto como o latalhador, om sua vida
roligiosa no pontocostalismo, so ocupa do atualizar uma cronça
no tuturo, dotondondo no prosonto o patamar do sogurança
nocossário à manutonção o ao uso prático dossa cronça. A idontiti-
cação atotiva com o outro o com o grupo ó o mocanismo socia-
lizatório rosponsávol por ossa atualização do uma cronça no
campo dos possívois¨. Atravós do guo chamamos do protocia
oxomplar do dia a dia¨, as liogratias individuais incorporam a
ostratógia colotiva, ou soja, oxompliticam uma torma do soparar
o tuturo do passado. Somonto tazondo ossa soparação ó guo a
lusca do tuturo podo tazor sontido.
Atravós das rodos do oportunidados oconomicas, o grupo roli-
gioso consoguo trazor para a oconomia a ostratógia do classo guo
as intoraçòos taco a taco roproduzom na socialização. Por isso,
tal dimonsão oconomica procisa sor comproondida om conjunto
com ossa ostratógia guo nas cólulas, por oxomplo, so traduz om
rodos intratamiliaros para protoção do tamílias. Não so compro-
ondom ossas rodos do oportunidados oconomicas so partimos do
prossuposto do guo sua lógica ó a lógica do cálculos oconomicos
individuais. Elas só oxistom o so roproduzom como uma ostratógia
colotiva do provor garantias para os indivíduos om situaçòos do
348
maior vulnoralilidado, do modo guo so mantonham na cronça
no tuturo guo constitui a ostratógia.
Costuma-so dizor guo a divisão do classos portonco ao passado
da história o guo um dos sintomas disso soria o rossurgimonto
da roligião. No ontanto, nosto toxto guisomos mostrar o guão
oguivocada ó ossa porspoctiva. Nosso oljotivo toi domonstrar guo
a roligião tamlóm taz parto da dinâmica das classos. A posguisa
com os latalhadoros mostra guo o ingrosso individual na roligião
ó sompro parto intogranto do uma ostratógia colotiva tundada na
roprodução dos horizontos do uma classo. Assim, vimos guo a
roligião pontocostal não so ocupa somonto do indivíduos, mas
dolos onguanto momlros do tamílias. Ao congrogar o horizonto
oconomico com o horizonto do socialização om intoraçòos - o
guo so traduz na dotosa da casa¨ como ospaço ondo ossos dois
horizontos so tundom -, a roligião pontocostal tomatiza o mundo
da vida¨ do uma dotorminada classo do possoas. A roligião
articula a posição ospocítica no ospaço social do latalhador, a
gual implica uma ocupação pormanonto om dotosa do amlionto
do socialização da classo. Nosso sontido, podomos dizor guo na
lgroja a classo so moliliza om dotosa do sous intorossos, ainda
guo ossa molilização não cruzo as trontoiras da mídia o da ostora
pullica, guo noga a própria oxistôncia do classos sociais.
✏ C M ✏ ⌥ ✓ ⇥ ⇡ C
C ↵⌥C C⌦GÂMl✏C
↵M⌃⌦↵ P⇧⌃⌦l⇣CMl⇧⌥l⇥⇣C
↵ ⌦⇧✏l⇥⇣C D↵ ✏⌥⇧⇥⇥↵
⇧ MCV⇧ ✏⌥⇧⇥⇥↵ ⇣⌘Dl⇧
MC Dl⇥✏✓⌦⇥C ⌥l⌅↵⌦⇧⌥,✏CM⇥↵⌦V⇧DC⌦
Os rosultados da posguisa guo roalizamos toram, om grando
modida, surproondontos para todos guo dola participaram. O
ostorço do intorprotação da onormo massa do matorial ompírico
colotado toi dosatiador o tompo intoiro. lsso ó típico do uma
posguisa vordadoira¨, guando, rigorosamonto, não so salo o
guo so vai oncontrar ao tinal do tralalho, ainda guo oxistam,
olviamonto, algumas hipótosos do tralalho iniciais. Toda posguisa
ó, portanto, um risco, podo ou não dar corto, como gualguor
outro vordadoiro omproondimonto na vida. Estamos consciontos
tamlóm do guo os rosultados guo consoguimos são passos
iniciais guo roguorom aprotundamonto o tralalhos postorioros.
Ao mosmo tompo, no ontanto, acroditamos guo as conclusòos
dosto tralalho apontam diroçòos novas o protícuas para o ostudo
não aponas do sogmonto social analisado, mas, tamlóm, para a
comproonsão dos otoitos da nova taso do capitalismo mundial
- conhocido como capitalismo tinancoiro, capitalismo tloxívol,
nooliloralismo ou simplosmonto como glolalização - na socio-
dado lrasiloira contomporânoa como um todo.
350
Como ossa nova classo social, chamada pola mídia do omor-
gontos¨ ou do nova classo módia¨, toi a grando rosponsávol
polo tortalocimonto do morcado intorno o, consoguontomonto,
polo dinamismo oconomico lrasiloiro da ultima dócada, uma
adoguada intorprotação dossa classo oguivalo, om grando modida,
a uma intorprotação da própria diroção do dosonvolvimonto do
capitalismo lrasiloiro como um todo. Ou soja, o guo ostá om
jogo não ó pouco. Daí o torto intorosso, tanto oconomico guanto
político, guo ossa classo vom dosportando do manoira crosconto.
Um oxomplo disso ó o aumonto oxpononcial das roportagons na
mídia acorca dosso sogmonto o das posguisas guo protondom dar
conta o comproondor o tonomono mais novo o mais importanto
da sociodado lrasiloira nos ultimos tompos.
A posguisa coordonada por dois ilustros ciontistas políticos
lrasiloiros, Bolívar lamounior o Amaury do Souza, patrocinada
pola Contodoração Nacional da lndustria, guo rosultou na roconto
pullicação · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a. anü:¸·~:, :aI·:~: ~ j:·¡~ì·:
u~ :·c:~uau~, ilustra ossa situação.
1
Aposar do título alrangonto,
o principal toma ó a guostão da sustontalilidado¨ da assim
chamada nova classo módia¨. No ontanto, a posguisa dossos
cologas não rosorva nonhuma surprosa. Na roalidado, tomos muitos
lons motivos para cror guo sous rosultados o sua intorprotação já
ostavam prontos o acalados mosmo antos do a posguisa comoçar.
Esso tipo do posguisa guantitativa com guostòos ostorootipadas
guo não rotlotom sous prossupostos - vor crítica dotalhada no
capítulo acorca da motodologia do nossa posguisa nosto livro
- sorvo, antos do tudo, como logitimação ciontítica¨ au I·c do
tosos políticas oxtromamonto consorvadoras guo oljotivam
voicular o naturalizar uma visão distorcida da sociodado lrasiloira.
A rotloxão solro os prossupostos do uma dada posguisa ó sompro
nocossária porguo não oxisto ponto do partida noutro¨ na ciôncia,
omlora o tipo do posguisa roalizada polos cologas citados viva,
procisamonto, dosso tipo do ilusão.
No caso da posguisa om aproço, a torma como suas guostòos
são colocadas o intorprotadas ó trilutária do uma intorprotação
liloral, do um toitio muito poculiar, guo paulatinamonto so tornou
hogomonica ontro nós dosdo a pullicação do Ra:z~: u· 1:a::I,
do Sórgio Buarguo do Holanda, om 1936. Sórgio Buarguo ó uma
ospócio do pai¨ da sociologia hogomonica no Brasil ató hojo,
351
guaso 80 anos dopois da pullicação do sou livro mais tamoso,
guo ató hojo ó um dos livros mais vondidos o lidos no Brasil.
Essa toso toi continuada por Raymundo laoro, lornando
Honriguo Cardoso, Rolorto DaVatta o, do rosto, pola osmagadora
maioria da produção hogomonica nas ciôncias sociais lrasiloiras
dosdo ontão.
Não oxisto, guo tiguo lom claro ao loitor para ovitar mal--
-ontondidos, nonhum prolloma com o liloralismo, onguanto
doutrina da lilordado oconomica o política individual, o gual
ó tundamonto lásico do gualguor rogimo domocrático. Som as
garantias lilorais consolidadas constitucionalmonto não oxisto
lilordado individual possívol. Vas os liloralismos são vários o
sorvom a tins muito distintos. O nosso liloralismo hogomonico,
na ostora pullica, na grando impronsa consorvadora, assim como
om loa parto do dolato acadômico - polo monos aguolo guo
tom visililidado midiática - ó, cortamonto, uma das intorprotaçòos
lilorais mais mosguinhas, rodutoras o suporticiais guo oxistom om
oscala planotária. So tossomos complotamonto sincoros, toríamos
guo dizor guo ossa intorprotação nada mais ó, hojo om dia, guo
pura violôncia simlólica¨, som gualguor aporto intorprotativo
ototivo o som gualguor compromisso, soja com a vordado ou com
a dor o o sotrimonto guo ainda marcam, do modo insotismávol,
a maior parto da população lrasiloira.
Por violôncia simlólica ontondomos agui a ocultação sisto-
mática do todos os contlitos sociais tundamontais guo porpassam
do tio a pavio uma sociodado tão dosigual como a sociodado
lrasiloira om nomo do volho ospantalho¨ da tradição intoloctual
o política do liloralismo lrasiloiro guo ó a toso do patrimonia-
lismo¨. Na vordado, o guo procisa sor dito ó guo a guostão não
ó aponas a alsoluta tragilidado dossa noção volha, gasta o som
gualguor podor oxplicativo. Nom tamlóm guo ola ó rotirada do
contralando do aparato oxplicativo voloriano, om guo aponas o
prostígio dosso grando autor ó manipulado como torma do garantir
logitimidado ciontítica¨. Atinal, o uso dosso tormo nas ciôncias
sociais lrasiloiras ó a-histórico o mostra o Brasil como o país da
otorna pró-modornidado¨, no gual a noção do patrimonialismo
podo tor algum uso oticaz o racional. Para Wolor, por oxomplo,
na sua análiso do clássico caso do patrimonialismo da China
imporial, o patrimonialismo como torma do dominação política
só ó compatívol com ausôncia do diroito tormal, com logitimação
352
mágico-roligiosa do podor político o com uma oconomia monotária
pouco dosonvolvida.
2
Dosso modo, o uso dossa noção para o Brasil modorno ó
doscalida o alsurda. Na vordado, os autoros da rotorida posguisa
soguor chogam a oxplicitar o guo ontondom por patrimonia-
lismo, omlora a justiticação dos concoitos contrais soja um ponto
do honra do todo ostudo ciontítico. Sogundo olos, a tradição
histórico-sociológica lrasiloira¨ consagra o uso do concoito.
3
Ë
vordado. Ë por conta disso guo ropotimos concoitos anacronicos
do 80 anos atrás ompolrocondo o dolato pullico o acadômico
lrasiloiro. Calo à ciôncia ronovar¨ o dolato pullico o não
tossilizá-lo o naturalizá-lo.
O guo ó mosmo tundamontal nosso toma, guo oxplica om
ultima análiso sua pormanôncia nos ultimos 80 anos, guando o
Brasil so transtormou na roalidado do manoira radical onguanto
sua intorprotação¨ continuou a mosma - um paradoxo ovidonto
para gualguor possoa intoligonto guo rotlita dois minutos solro
osso toma -, ó guo olo pormito logitimar a idoologia mais olitista
o mosguinha sol a aparôncia¨ do crítica social¨. Como isso
ó consoguido? Ora, lasta simpliticar o oliminar a amliguidado
constitutiva, tanto do morcado guanto do Estado - os dois podom
sorvir para produzir o dividir a riguoza social o para concontrá-la
na mão do uns poucos -, o transtormar o morcado no roino
idoalizado do todas as virtudos - compotôncia, oticiôncia, razão
tócnica supostamonto no intorosso do todos - o o Estado, om
roino do todos os vícios - politicagom, inoticiôncia o corrupção.
Essa porcopção distorcida, intantil o onviosada da roalidado
social ó a unica razão para a pormanôncia dossa noção como
concoito contral da intorprotação consorvadora do Brasil ató
hojo dominanto.
Como so oxplica isso? Por guo isso acontoco? Ponsomos juntos,
caro loitor. Como, do outro modo, soria possívol logitimar um tipo
do capitalismo tão voraz o solvagom cujo PlB roprosonta guaso
¯0/ om ganhos do capital tlucro o juro) - guo lonoticiam, antos
do tudo, moia duzia do grandos languoiros o grando industriais
- o rosorva pouco mais do 30/ para a massa salarial do rostanto
dos outros guaso 200 milhòos do lrasiloiros?
4
Nas grandos domo-
cracias capitalistas ouropoias a rolação ontro ganhos do capital o
massa salarial ó invorsa à lrasiloira. A toso do patrimonialismo
sorvo para ocultar um tipo do capitalismo solvagom o voraz -
353
construído para lonoticiar uma poguona minoria - o ainda
apontar o culpado om outro lugar: no Estado, supostamonto o
unico lugar do todos os vícios sociais.
Na roalidado, a grando corrupção no Estado ostá sompro ligada
à corrupção no morcado. A corrupção - comproondida como
vantagom ilogítima num contoxto do protonsa igualdado - ó, aliás,
dado constitutivo tanto do morcado guanto do Estado om gualguor
lugar do mundo. A traudo ó uma marca normal do tuncionamonto
do morcado capitalista sompro guo osto não soja rogulado. A
ultima criso tinancoira doixou isso aponas claro como a luz do
sol para todos. O morcado tinancoiro mundial som rogulação
ostatal usou títulos som gualguor garantia, maguiou¨ incontávois
lalanços do omprosas o ató do paísos - como na roconto criso da
Grócia - o tom usado do gualguor oxpodionto guo possa garantir
maior lucro. Vas a cantilona solro o patrimonialismo só do Estado
o a oxaltação da contiança¨ - um traço cultural protonsamonto
aponas amoricano para nossos ciontistas sociais colonizados ató o
osso -, guo soria um traço aponas do morcado, continuam sondo
ropotidas à oxaustão ao arropio da roalidado.
Vinha toso ó a do guo não oxisto outra saída para o liloralismo
consorvador lrasiloiro a não sor ropotir o mosmo discurso popu-
lista o manipulador da corrupção, supostamonto aponas ostatal
- já guo osta toi a torma guo a talsa gonoralização dos intorossos
particularos do lucro o do juro tácil oncontrou o construiu cuida-
dosamonto dosdo os anos do 1930 -, do modo a oncontrar
algum oco nos sotoros popularos. Como a comproonsão dos
mocanismos sociais guo constroom a dosigualdado o a injustiça
social institucionalizada ó comploxa o incomproonsívol para a
multidão do possoas guo tom guo lovar sua vida cotidiana, a toso
do patrimonialismo o da corrupção aponas ostatal rosolvo toda
ossa comploxidado do uma só tacada - criando a ilusão do guo
so comproondom o mundo o as causas das misórias sociais - ao
criar o culpado¨ possoalizado o matorializado no Estado. Todos os
prollomas sociais acontocom dovido à corrupção supostamonto
aponas ostatal. Vas o golpo do mostro¨ dossa toso ó o ganho
atotivo¨ consoguido ao tornar a sociodado¨ - ou soja, nós todos
a guom ossa idoologia so dirigo - tão virtuosa guanto o morcado,
oxpulsando todo o mal num outro¨ lom localizado, uma olito
ostatal guo ninguóm dotino o localiza procisamonto. Ela podo sor
todos o ninguóm. Assim, a toso do patrimonialismo otoroco loa
354
consciôncia¨ a todos guo podom so imaginar portoitos o som
mácula, som participação nonhuma numa sociodado guo humilha,
dosgualitica o não roconhoco grando parto do sua população, já
guo todo o mal¨ já tom ondoroço corto.
Essa ó a unica o vordadoira tunção da toso do patrimonialismo.
Ela ó uma violôncia simlólica guo pogou¨ - graças a intonso
tralalho guo inclui toda a mídia dominanto guo a ronova todos
os dias - o guo pormito guo sous dotonsoros posom do críticos
oxilindo um charminho crítico¨ - atinal, o comlato à corrupção
soria no intorosso do todos -, possililitando univorsalizar o tipo
mais mosguinho o particular do intorosso: a porcopção da ropro-
dução social como mora roprodução do morcado. Ë oxatamonto
isso guo dizom os autoros toxtualmonto:
...|n}a luta, guo ó atinal do toda a sociodado lrasiloira, contra o
patrimonialismo, o nopotismo, o dospordício do rocursos pullicos,
do toda uma sório do mazolas, ontim, do guo so acha imprognada
a máguina do Estado.
5
Ora, caro loitor, om gualguor lugar do mundo - o om gualguor
lugar do mundo oxisto corrupção om todas as ostoras sociais -
tamlóm o comlato à corrupção só ó consoguido com a molhora
dos mocanismos do controlo. Qualguor dolato sólrio, conso-
guonto o não manipulativo-populista a rospoito do comlato à
corrupção tom guo ostar vinculado à molhora dos mocanismos
institucionais do controlo. Vas o guo intorossa à toso do patrimo-
nialismo o aos sous dotonsoros ó dramatizar¨ a talsa oposição
ontro morcado divino o Estado dialólico como torma do ocultar
as roais distorçòos do uma sociodado tão dosigual guanto a
sociodado lrasiloira.
Assim, o rosumo do livro dos autoros ó pítio: a sustontalilidado
da nova classo módia¨ tom sou maior prolloma nos ontravos do
um Estado intorvontor o potoncialmonto corrupto. A glolalização
- ou soja, o novo capitalismo tinancoiro guo analisamos na
introdução dosto livro - toria criado as condiçòos do construção
- aponas nos anos do 1990, ou soja, coincidontomonto¨ aponas
no govorno do lornando Honriguo Cardoso - dossa nova classo
atluonto. E, aposar dossa classo tor croscido procisamonto no
govorno do prosidonto lula, ó agora guo o ostatismo¨ amoaça a
sua oxistôncia o dosonvolvimonto. Ë típico do uma idoologia
355
guo pordou suas condiçòos do validado do so ropotir - como uma
psicoso guo pordou contato com a roalidado oxtorna ou como um
mantra guo só taz sontido para guom o pronuncia - om ovidonto
contlito com o mundo oxtorno.
No mundo roal, ondo as possoas guo oxistom o lovam sua
vida cotidiana ototivamonto vivom, cujos dramas o sonhos toram
o matorial ompírico dosto livro, a univorsalização o onormo
croscimonto - guo ainda ó, diga-so do passagom, largamonto
insuticionto - das políticas sociais do govorno lula são porcolidas
como ponto tundamontal - alóm das políticas ainda tímidas do
microcródito - para dinamização do morcado intorno lrasiloiro o
para importantos procossos do molilidado social ascondonto para
guaso todos os nossos ontrovistados. Não ó do nosso intorosso,
como a sogunda parto dosta conclusão irá mostrar, pormanocor
nossa dimonsão amosguinhada do dolato político partidário - guo
ó, intolizmonto, a unica dimonsão do dolato pullico no Brasil -,
mas tamanha violôncia à roalidado tom guo sor donunciada. Na
vordado, tamlóm as políticas sociais do govorno lula são
amplamonto insuticiontos para uma vordadoira mudança ostru-
tural da dosigualdado lrasiloira. Não olstanto, o pouco guo
toi toito - com intonsa campanha contrária do divorsos sotoros
- oltovo rosultados inogávois pola docisão do so utilizar uma
poguona parto dos rocursos do Estado om lonotício dos sotoros
popularos. A livro ação do morcado, como sompro, só lonoticia
os já privilogiados.
Vas ossa ainda não ó toda a história do livro criticado nom
do ponsamonto liloralconsorvador lrasiloiro. Comlinado com
a cantilona do patrimonialismo, tomos tamlóm o racismo do
classo. Assim, o outro porigo guo ronda a sustontalilidado
o o dosonvolvimonto tuturo da suposta nova classo módia
ou da classo C¨ ó guo taltaria capital social¨ a ossa classo, o
guo soria um impoditivo tuturo importanto na mudança do
condiçòos tavorávois ao dosonvolvimonto oconomico. Esso
toma ó intorossanto porguo domonstra calalmonto guo a toso do
patrimonialismo so associa, organicamonto, ao racismo do classo,
traço indolóvol o, osto sim, histórico o socular da logitimação dos
privilógios das classos dominantos.
Não so trata do coincidôncia guo os mais polros sistomaticamonto
oxprossom avaliaçòos mais tavorávois solro o govorno. M~u·:
356
:uì~:~::au·: ~ aì~uì·:, ossos ontrovistados tondom a concluir guo
os sorviços prostados polo govorno não guardam corrospondôncia
com a carga do impostos guo pagam, assomolhando-so mais a
dádivas do guo a contraprostação. tgrito mou)
6
O contoxto dossa citação ó a saia justa¨ dos autoros para
oxplicar o apoio dos sotoros popularos ao atual govorno o à
intorvonção componsatória do Estado. Para os autoros, osso tipo
do apoio só podo sor lurrico¨ - a dotinição, no contoxto da
vida cotidiana, para guom ó pouco intorossado o atonto¨ - das
classos mais polros, o nunca porcopção racional dos próprios
intorossos. A rolação ontro polroza¨ o lurrico¨ não ó casual
nom arlitrária. Ë digno do nota guo os autoros tonham criticado a
protonsão do guoror onsinar¨ às classos guais são os vordadoiros
intorossos do marxismo, isso já na página 9, tazondo a mosma
coisa com sinal contrário - ou soja, como racismo o dosprozo do
classo, no contoxto do ologio às classos altas porcolidas como
lastião da moralidado nacional¨ t::c) - no rostanto do livro. Na
vordado, soria ongraçado so não tosso trágico por ospolhar toda
uma visão do mundo institucionalizada o naturalizada ontro nós.
Tão naturalizada guo os autoros a ropotom som nonhum pojo.
A logitimação pola intoligôncia¨ ó um dado nocossário para a
violôncia simlólica do um tipo do dominação social guo tom
guo logitimar os próprios privilógios por uma ospócio do talonto
inato¨, a intoligôncia¨ das classos suporioros, guo morocom¨ - a
dotinição calal da moritocracia¨ -, portanto, os privilógios guo
ototivamonto possuom.
Vas o tralalho do ologio da dominação tática om uma das
sociodados mais oxcludontos do planota não tormina aí. Alóm
do aspocto cognitivo tmais intoligonto), tomos guo adicionar
tamlóm o aspocto moral¨, guo onvolvo as noçòos do mais
justo¨, suporior¨ o molhor¨. Atinal, a violôncia simlólica da
construção do morocimonto¨ do privilógio não podo so rosumir
ao ologio dos mais intoligontos. Dontro da tradição roligiosa guo
construiu a moralidado ocidontal, são os lons¨ guo morocom
tudo. Assim, a violôncia simlólica lontoita tom guo mostrar guo
as classos dominantos são, alóm do mais intoligontos, molhoros¨
o mais virtuosas¨.
Como osso tralalho do logitimação¨ ó construído por nossos
autoros? Ora, toma-so a noção suporticial, contusa o compósita do
35¯
capital social¨ - já om Rolort Putnam, o invontor do concoito o
da moda,
¯
um tormo guo naturaliza procossos sociais o oscondo
a gônoso dos privilógios do gualguor ospócio, o não aponas os
rogionais -, a gual so rocolro com a noção monos clara o ainda
muito mais contusa do contiança¨. Pronto, agui tochamos o
círculo da violôncia simlólica. Atinal, dontro do horizonto moral
no gual ostamos insoridos, guom moroco mais contiança¨ ó
mais virtuoso¨, ó lom¨, ó molhor¨. Aponas agui o círculo da
logitimação do privilógios táticos so torna portoito. Vojamos os
autoros:
Entro os valoros morais o como parto do capital social, dostaca-so
a contiança, isto ó, a norma intormal guo promovo a cooporação
ontro dois ou mais indivíduos, tratada a soguir. Ao promovor a
cooporação om grupos, a contiança ó rospaldada por virtudos
tradicionais como honostidado, rociprocidado, rospoito aos
compromissos o cumprimonto das olrigaçòos.
Sou alcanco ó amplo. Ao roduzir custos do transação, a contiança
contrilui para a oticiôncia da oconomia, o omproondodorismo o
o progrosso oconomico. Alóm disso, ostá na laso da participação
domocrática o dos sontimontos do ompatia o do comproonsão
do intorosso colotivo.
8
Pola dotinição acima, a contiança¨ ó a chavo para o progrosso
não só oconomico, mas tamlóm político, o com isso a chavo para
o progrosso social como um todo. O loitor soria capaz do antocipar
guom dotóm, para os autoros, rocurso tão tundamontal? Tonho
cortoza do guo o caro loitor acortou om choio: as classos domi-
nantos! Atinal, olas não são aponas as mais intoligontos, olas são
tamlóm as mais honostas, as molhoros, são loas¨ pola dotinição
do moralidado ocidontal. Classos tão loas o virtuosas morocom
mosmo dominar o monopolizar todos os rocursos oscassos om
suas mãos. Ë justo, atinal, guo isso acontoça. Ë intorossanto
prostar atonção à gônoso histórica do concoito tão caro à ciôncia
consorvadora. Do ondo vom ossa noção o gual sua carroira do
glória para guo os autoros tonham so utilizado dola com tanta
som-corimonia, como um dado ólvio o indiscutívol?
A ciôncia consorvadora guo domina as univorsidados o o
dolato pullico no Brasil ó, na roalidado, uma J:aucI::~ da ciôncia
consorvadora mundial. Sou contro ostá nos Estados Unidos,
não porguo olos sojam pioros ou molhoros guo ninguóm - ao
358
contrário, a contracultura amoricana, por oxomplo, ó talvoz
a mais intorossanto o vigorosa do mundo -, mas simplosmonto
porguo o podor oconomico o político om oscala mundial toi
consolidado lá. Quando a ciôncia consorvadora intornacional-
monto dominanto so dignou a so intorossar polos paísos poritóricos
do capitalismo, como a maioria dos paísos da Amórica latina,
Atrica o Asia, dosonvolvou-so, com muito dinhoiro tinanciado
polo Estado amoricano - na administração Honry Truman do
imodiato pós-guorra
9
-, toda uma linha do posguisa lom montada
o uma, para à ópoca, nova tooria: a tooria da modornização.
Qual ora um dos pilaros mais importantos dossa tooria? Acortou
guom ponsou no concoito do contiança¨. Vas ossa não ora uma
guostão tão ditícil. A próxima guostão ó muito mais dosatiadora.
E gual ora a nação guo tinha maioros rosorvas do tão valioso
rocurso? Novamonto o caro loitor acorta om choio ao idontiticar
os Estados Unidos da Amórica, já guo os amoricanos, alóm do
lons, são tamlóm os mais intoligontos o não iriam tinanciar o
ostimular no mundo todo - inclusivo no Brasil o ató hojo - ostudos
contrários aos sous intorossos. Existia uma hiorarguia¨ om
todos os ostudos da tooria da modornização, o ou soguor tonho
mais do porguntar ao polro loitor, cansado do tanta porgunta
com rospostas ólvias, guom ocupava o primoiríssimo lugar om
todas as hiorarguias possívois o imaginávois: os Estados Unidos
da Amórica.
A história do glória mundana da noção do contiança inicia-so
com Tocguovillo,
10
ao analisar a sociodado agrária amoricana do
inícios do sóculo XlX, o lá so vão 200 anos, intorvalo do tompo
om guo os Estados Unidos so transtormaram numa sociodado
industrial, urlana o comploxa muito ditoronto daguola analisada
polo ponsador trancôs. Já 100 anos mais tardo, guando vai ao
país no comoço do sóculo XX, Vax Wolor - tigura insuspoita
guando so tala do Estados Unidos, já guo ó do Wolor a molhor
dotosa da singularidado amoricana ao analisar a intluôncia da
contiança¨ roligiosamonto motivada como laso da solidariodado
protostanto ascótica tguo lá so dosonvolvou como om nonhum
outro lugar) - porcolo, claramonto, guo o guo antos ora tó o
ótica da convicção so torna cada voz mais hipocrisia, roduzindo
contiança o solidariodado ao sou uso instrumontal.
11
Esso toxto
voloriano, no ontanto, guo não tica a dovor om lrilhantismo a
nonhum outro do sua olra, não som razão, pormanocou como um
359
dos monos ostudados. No uso político¨ do concoitos ciontíticos
só intorossa os guo sorvom à logitimação.
A tooria da modornização vivou duas dócadas do glória ató
guo, a partir do moados da dócada do 1960, sous próprios ativistas
mais sórios o compotontos passaram a roconhocor croscontomonto
o carátor artiticial o logitimador do loa parto do sou aparolho
concoitual.
12
A partir daí, a tooria da modornização como para-
digma do análiso das sociodados om dosonvolvimonto¨ pordo
logitimidado intornacional, o tanto a proocupação com as socio-
dados om procosso do modornização guanto a continuação dos
ostudos lasoados nossa tooria são rologados à margom do dolato
acadômico. Vas o continamonto da tooria da modornização aos
monos valorizados dopartamontos latino-amoricanos das univor-
sidados amoricanas o ouropoias não oguivalou a uma sontonça do
morto. Ainda não voio nada com torça suticionto para doslancar
a oticácia prática¨ do concoitos o noçòos como contiança¨, guo
so assomolham mais a armas do oprossão do guo a instrumontos
do oxplicação.
Na vordado, o sonso comum¨ intornacional toi moldado polo
imaginário da tooria da modornização o mantóm-so ató hojo -
como um vampiro guo so rocusa a morror - como guo por inórcia,
tanto por talta do coisa molhor guanto porguo sous otoitos práticos
ticam ató molhor garantidos som um contoxto do dolato rigoroso
o vordadoiro. O tato ó guo osso aparato concoitual ó aplicado no
Brasil, ainda hojo,
13
como so tosso coisa nova o nunca criticada.
E continua sorvindo aos mosmos tins: do mosmo modo guo ossos
concoitos tinham guo justiticar o domínio amoricano no mundo,
sorvom para justiticar, nos contoxtos nacionais dos paísos latino--
-amoricanos, o racismo do classo o o privilogio tático dos sotoros
dominantos. Assim como a prosonça ou ausôncia da contiança¨,
ligada à capacidado associativa o à produção do solidariodado,
soparava os Estados Unidos da ltália
14
tou do gualguor outro país
do glolo), ola sorvo para soparar, tamlóm como uma oposição
simplista ontro virtudo o vício, as classos dominantos das classos
popularos no Brasil.
As classos popularos no Brasil não salom votar¨ posto guo
não consoguom tor uma comproonsão racional do sous intorossos,
sondo, portanto, prosa tácil do ostatismo o do populismo. Ora, na
história do Brasil, nos raros instantos om guo so prostou atonção
a domandas dos sotoros oprimidos, isso sompro acontocou por
360
moio do ongajamonto ostatal, o nunca do morcado. Por guo o
roconhocimonto racional o trio dos próprios intorossos, guando
so trata do sotoros popularos, ganha o nomo do lurrico? Os
autoros chogam a dizor, com todas as lotras, guo atondor aos
ansoios da maioria da população - no Brasil as classos popularos
portazom mais do 23 da população total - ó populismo¨.
15
Cortamonto, por pura oxclusão o nocossidado lógica, atondor 13
do privilogiados soria, com cortoza, a vordadoira domocracia¨,
o vordadoiro govorno da maioria, polo monos da maioria guo
so considora gonto¨. Estamos, roalmonto, num ostranho mundo,
ondo os idoólogos soguor procisam mais oscondor sou racismo
do classo mais ólvio o cruol.
Esso ó o vordadoiro contoudo o monsagom do um livro como
o do lamounior o Souza. Vas não são aponas olos. A tooria
dominanto no Brasil - guo porcolo o Brasil como patrimonialista,
pró-modorno, corrupto o lasoado om rolaçòos possoais - ó
toda ola intoiramonto dorivada do mosmo lorço do idoias guo
pormitiu o surgimonto da tooria da modornização. Na vordado,
o racismo ciontítico, dominanto na antropologia o sociologia
amoricanas ató inícios do sóculo XX, transtorma-so, com a porda
do validado dos proconcoitos racistas como tundamonto ciontítico,
om culturalismo¨.
16
lranz Boas, com sua crítica ao racismo na
antropologia amoricana, intluoncia não só as ciôncias sociais
amoricanas como um todo, mas tamlóm as lrasiloiras, por moio
da tigura domiurgica do Gillorto lroyro. A partir daí, a suporiori-
dado do cortos paísos o do cortas classos vai tor guo sor logitimada,
agora, polo acosso privilogiado a corto ostoguo do virtudos
culturais¨, dontro olas a contiança¨. Vas a tunção prática do
culturalismo¨ continua a mosma do racismo ciontítico¨: logitimar,
com a aparôncia do ciôncia, situaçòos táticas do dominação.
Alguóm já imaginou o projuízo oconomico, político o moral do
um tal discurso, naturalizado o não guostionado ontro oprimido
o oprossor, intornacionalmonto compartilhado, om guo alguns
povos o naçòos são porcolidos como incorruptívois o contiávois
o outros, como nós lrasiloiros, como corruptos o indignos do
contiança? Esso racismo culturalista¨ ó a ordom do dia do mundo
prático das tinanças o da política intornacional. Uma das mais
importantos justiticativas da alta taxa do juros lrasiloira, como
já moncionamos, ó a suposta incontialilidado dos lrasiloiros do
honrar sous compromissos. Nossos intoloctuais da ordom¨ guo
361
mandam na acadomia o intluonciam o dolato pullico midiático
dovoriam rocolor uma modalha do ouro do dopartamonto do
Estado amoricano por sorviços prostados, por travostirom do
logitimidado ciontítica proconcoitos arraigados, guo ostão sulja-
contos om gualguor tipo do intorcâmlio intornacional. Dovoriam
tamlóm tor ostátuas com sou poso om ouro om Wall Stroot, porguo
ossos mosmos proconcoitos são convortidos om mooda sonanto,
o guom paga somos todos nós, cidadãos comuns. Paga-so, atinal,
um proço guo não ó laixo pola má tama construída o logitimada
com rocursos psoudociontíticos.
PARA ONDE VAl
A NOVA ClASSE TRABAlHADORA BRASllElRA?
PARA UV ESBO(O DE UVA ECONOVlA
POllTlCA DOS BATAlHADORES
lntornamonto, no contoxto do dolato pullico o político
lrasiloiro, ossos proconcoitos são utilizados para o mosmo tim
guo no sonso comum intornacional. Ao invós do paísos, como
lá tora, tomos, agui dontro, classos virtuosas o classos som virtudo.
Algumas classos possuom intoligôncia - ou soja, porcolom guo a
corrupção o o doscalalro moral são o roal prolloma lrasiloiro - o
outras, as popularos, são tolas o loniontos. Algumas são dignas
do contiança o possuom capital social¨ - talvoz o concoito
mais contuso da história das ciôncias sociais, guo so rotoro a
tudo o, portanto, a nada - o outras são rologadas ao amoralismo
tamiliar¨.

Como om todas as hiorarguias morais do Ocidonto
guo pormitom soparar o suporior do intorior ou o nolro do vulgar,
a oposição guo sorvo do rotorôncia ó, sompro o om todos os
casos, aguola ontro o ospírito o o corpo. O ospírito¨ ó o lugar
das tunçòos nolros o suporioros do intolocto o da moralidado
distanciada. O corpo¨ ó o lugar das paixòos som controlo o das
nocossidados animais.
Dosso modo, o mosmo arsonal do noçòos au I·c utilizadas
para logitimar o prodomínio do alguns paísos solro outros ó
oxatamonto o mosmo para justiticar a dominação intorna das
classos mais cultas¨ solro as classos popularos. Do mosmo modo
guo o Brasil ó tornado corpo¨ o animalizado¨ como torra do
362
soxo, do atoto o da omoção - o por oxtonsão da corrupção, do
patrimonialismo o das rolaçòos possoais guo são, supostamonto,
o guo o domínio das omoçòos produz - o so contrapòo como
corpo¨ à cultura ospiritual¨ amoricana, do cálculo, da raciona-
lidado, da contiança o da moralidado distanciada das omoçòos,
procisamonto as mosmas armas¨ são usadas para ostigmatizar o
intantilizar¨ - o intantil o o tolo tôm guo sor guiados por alguóm
- as classos popularos.
Por conta disso so tala com tanta som-corimonia no voto dos
mais polros como um voto do tolo som consciôncia do sous
intorossos. O intorosso agui não ó aponas logitimar a dominação
social inígua do um tipo do capitalismo concontrador o injusto.
Ë tamlóm uma tontativa do guiar¨ o procosso do dosonvolvimonto
social o dirocionar a sociodado lrasiloira om um corto caminho.
Quando so diz guo uma classo ainda não porcolou os malos do
ostatismo o guo não doscolriu ainda o maravilhoso mundo do
morcado o do suas virtudos o lilordados, o guo so protondo ó
intluonciar a trajotória dossa classo om uma dada diroção muito
particular. Novamonto, não so trata aponas do lamounior o Souza.
Ë todo o dolato pullico lrasiloiro dominanto, o o mosmo guo
os autoros criticados dizom ó dito polos jornais o pola tolovisão
todos os dias.
O tralalho dossos autoros tom intorosso para nossos propósitos
posto guo ó um ospolho da torma como as classos popularos
são vistas o porcolidas polas classos dominantos no Brasil.
Essas classos tôm partidos políticos o tôm controlo solro a
mídia om todas as dimonsòos. Sua torma do porcolor o Brasil
o sous contlitos - ainda guo possa sor dosconstruída polo discurso
racional - tondo a solocionar a própria agonda daguilo guo ó
porcolido como importanto o socundário. Sua torça ó prática¨,
pragmática, política o oconomica ao mosmo tompo. Essas idoias -
capongas o som gualguor valor do vordado como olas são - ostão
matorializadas om práticas sociais o institucionais, guo tazom o
dia a dia do Brasil modorno.
A nossa posguisa, no ontanto, nos trouxo, como o loitor já
porcolou pola loitura dos capítulos antorioros, rosultados muito
ditorontos daguolos da posguisa oncomondada a lamounior o
Souza. Em primoiro lugar, o próprio toma da dotinição do guo
classo social so tratava ticou om alorto o tompo todo. lsso porguo
a classo social, como discutimos om dotalho na introdução, não
363
so oxplica por uma associação oxtorna o suporticial com a ronda.
Um protossor univorsitário, om início do carroira, guo ganha sois
mil roais torá, com toda a prolalilidado, uma condução do vida,
hálitos do comportamonto o do consumo, tormas do lazor o do
porcopção do mundo om todas as dimonsòos muito ditorontos
do um tralalhador gualiticado do uma tálrica do automóvois
guo tamlóm ganha sois mil roais. Associar ossas duas possoas
como sondo do uma mosma classo não tom gualguor sontido o
ó alsurdo. A associação simplista ontro classo o ronda sorvo para
talar do classos som comproondô-las. Para o procosso do domi-
nação social, cuja roprodução dopondo do uma porcopção guo
tragmonta o mundo om indivíduos soltos o som gualguor vínculo
do portoncimonto social colotivo, osso tipo do loitura suporticial
do mundo guo associa classo à ronda ó muito lom-vindo.
Por conta disso, uma posguisa não podo dotinir antos¨ o guo
aponas o tralalho do posguisa¨ podo tornocor. loi o contronto
com as histórias do vida do guo ostamos chamando do latalhadoros
guo nos convoncou do guo ostávamos lidando com uma vorsão
moditicada do classo tralalhadora. Uma vorsão modorna¨, guo
passa a oxistir tamlóm nos paísos avançados - com a docadôncia
do Estado social o a crosconto oliminação das garantias tralalhistas -,
mas guo ó mais numorosa nos paísos assim chamados do omor-
gontos,
18
os guais nunca tivoram tradição torto do organização
da classo tralalhadora. Não so trata mais da classo tralalhadora
tordista¨, guo discutimos na introdução, guo so punha dontro do
uma tálrica o so vigiava o tompo todo. Esso tipo do contormação
da classo tralalhadora continua o dovo continuar a vigorar no
tuturo, mas cada voz com monor intluôncia.
O tato novo ó guo o guo chamamos do capitalismo tinancoiro
na introdução dosto livro logrou disponsar loa parto do custo com
controlo o vigilância do tralalho. A nocossidado do so aumontar
a ronda do capital com a criso do modolo tordista lovou a cortos
do custos signiticativos a partir da mudança da logitimação do
capitalismo o da violôncia simlólica guo pormito sua roprodução
ampliada. Com a ontrada om cona das palavras do ordom do
omproondodorismo¨, do taça vocô mosmo¨, do vamos lotar
para tazor¨, da rodotinição do tralalho ropotitivo o passivo como
criativo o inovador otc., tomos uma nova somântica social guo
tondo a passar a imagom do guo todos nós somos omprosários
o patròos do nós mosmos. Uma ospócio do admirávol mundo
364
novo¨, ondo não so tom mais tralalhadoros guo tazom o tralalho
posado para outros, mas um mundo ondo todos são omprosários.
Chamar ossa nova classo tralalhadora do nova classo módia¨ taz
parto, procisamonto, dossa ostratógia do outomizar¨ a dominação
o silonciar o sotrimonto - guo tica litoralmonto som palavras para
so oxprossar - para molhor dominar.
A nocossidado do aumonto da taxa do lucro via corto do custos do
vigilância o da diminuição do giro do capital implicou, portanto,
um novo rogimo do tralalho¨ o todo um novo imaginário social
condizonto com ossas mudanças. O guo vimos, na nossa posguisa,
toram lrasiloiros tralalhando dois oxpodiontos, ou ostudando o
tralalhando com jornada diária sompro suporior às oito horas do
tordismo clássico, alguns dolos tralalhando do 12 a 14 horas ao
dia. Como om muitos casos osso tralalho so dá sol a torma do
tralalho autonomo¨ no gual o patrão ó invisívol, a somântica
guo transtorma tralalhador om omprosário do si mosmo so
torna uma ospócio do ilusão roal¨. Assim como o camponôs
trancôs, analisado por Varx no Xlll Brumário, guo so imaginava
propriotário guando dovia ató o ultimo tio do calolo ao lanco
o ora, portanto, oxplorado o omprogado do patrão impossoal o
invisívol sol a torma do capital tinancoiro, o novo tralalhador,
guo não lida mais possoalmonto com nonhum patrão do carno o
osso, compra a mosma ilusão.
As jornadas do tralalho do ató 14 horas guo oncontramos com
troguôncia nas nossas ontrovistas, o guo oguivalo a suporoxplo-
ração da mão do olra, são tornadas acoitávois polo discurso do
omprosário do si mosmo¨, ainda guo osto assuma tormas muito
variadas. Essas tormas distintas possililitam uma mitigação da
trontoira ontro propriotário o tralalhador dos poguonos nogócios.
Vuito troguontomonto, o poguono propriotário o sous omprogados
tinham ostilo do vida o tompo do tralalho muito somolhantos.
Talvoz a nova torma do capitalismo o do organização o rogimo do
tralalho ostoja contriluindo para apagar as trontoiras tradicionais
ontro a poguona lurguosia, propriotária do poguonos nogócios,
o a classo tralalhadora propriamonto dita.
Vuitos dossos poguonos nogócios possuíam uma ostrutura
tamiliar: um tio ou alguóm guo havia podido juntar um poguono
capital ou dosonvolvido uma tócnica do tralalho poculiar - novas
tormas, por oxomplo, do artosanato - o omprogava o rostanto da
tamília no poguono nogócio. Agui, a rogra ora guo tormas do
365
suporoxploração do tralalho tossom rocolortas polo vínculo do
olodiônciaprotoção típico da unidado tamiliar. Um solrinho ora
instado a tralalhar do 10 a 12 horas por dia o ainda so sontir agra-
docido ao tio pola oportunidado¨. Roclamaçòos são porcolidas
como injuriosas o signo do ingratidão intolorávol. Agui não so
trata do uma volta ao passado o às rolaçòos possoais, mas do uso
instrumontal do rolaçòos possoais guo são tamlóm apropriadas
polo patrão impossoal o invisívol¨, guo não tom mais guo arcar
com os custos oconomicos o políticos do controlo da torça do
tralalho.
O conjunto do rosultados da posguisa ompírica nos lova a
imaginar um guadro goral om guo, paulatinamonto, a classo trala-
lhadora doixa a tálrica, concontrada matorialmonto num pródio
unico, como no caso típico do capitalismo tordista. A mudança
paroco apontar para uma onormo tragmontação das unidados
produtivas, guo passam a oporar om poguonas industrias o
manutaturas do tundo do guintal¨ o poguonas oticinas do todo
o tipo. Um olhar aprossado podo dar a improssão do uma ospócio
do rovorsão histórica da maguinotatura à manutatura, invortondo
o procosso histórico clássico. Na vordado, o guo paroco ocorror
ó um dosonvolvimonto paralolo dossos dois tipos do capitalismo:
um, tordista clássico, guo continua aposar do tudo, o outro, guo
romoto a uma ospócio do pós-tordismo poritórico¨, om guo a
intormalidado, a procariodado das condiçòos do tralalho, o não
pagamonto do impostos ou do diroitos tralalhistas são muito
troguontos.
No capitalismo do pós-tordismo poritórico¨ uma nova classo
tralalhadora, guaso sompro sol um rogimo do suporoxploração
do tralalho, paroco ostar criando uma grando tálrica ospalhada
o tragmontada om inumoras unidados produtivas sol a torma do
oticinas, industrias do tundo do guintal, tralalho autonomo,
poguona propriodado tamiliar o rodos do produção colotiva. A
osso univorso so acrosco o contingonto no comórcio o nos sorviços
om goral, guaso sompro sol a torma do tralalho autonomo
ou tamiliar. A análiso das toiras dá uma idoia dosso univorso.
Tamlóm no campo o modolo da unidado produtiva tamiliar
soguo padròos não muito ditorontos dos da cidado, como so viu
antoriormonto.
lundamontal para nossos propósitos agui toi a porcopção
do importantos tontos do solidariodado o do moralidado colotiva
366
lasoada om padròos roligiosos, como idontiticado no somiárido
nordostino. longo da porcopção do uma classo do amoralismo
tamiliar¨, como imaginam lamounior o Souza, ossos sotoros da
classo tralalhadora dosonvolvom sistomas muito oticiontos do
ajuda mutua, como tica, do rosto, ovidonto om iniciativas do
microcródito como o Crodiamigo no Nordosto.
19
Na roalidado,
a imaginação dossos sotoros popularos como carontos do
moralidado, capacidado associativa o incapacidado do doson-
volvor rolaçòos do contiança mutua - o guo lamounior o Souza
chamam, tão improcisamonto, do capital social - paroco sor um
caso típico do racismo do classo, om guo a rolação dos privilogiados
com a virtudo¨ já ostá pró-docidida o podo sor comprovada¨
por guostionários ostorootipados.
Posguisas guo não so dão ao tralalho do roconstruir o contoxto
social no gual as possoas ostão insoridas ostão condonadas a
todo tipo do visão proconcoituosa o suporticial. longo do amora-
lismo tamiliar¨, oncontramos tormas roligiosamonto motivadas do
solidariodado colotiva tanto no pontocostalismo, mais típico das
roalidados urlanas, guanto na própria roligião católica no sortão
do Nordosto. A capacidado associativa dirota ou indirotamonto
ostimulada polo portoncimonto a comunidados roligiosas paroco
sor o rocurso simlólico mais importanto dossas classos alandonadas
do rosto pola sociodado maior o polo Estado tpolo monos ató
lom pouco tompo). A roligião tunciona como motivação, como
torma do lovar adianto a vida, aposar dos sucossivos rovosos, o
como mocanismo rogulador das rolaçòos intorpossoais. Uma sório
do tralalhos, nosto livro, tundamonta ossa hipótoso.
Um ultimo ponto guo nos paroco digno do nota ó a impor-
tância - outro ponto om comploto dosacordo com o tralalho do
lamounior o Souza - dos projotos sociais do govorno lula. Por
mais insuticiontos o incipiontos guo sojam ossos programas, sous
otoitos são sontidos por praticamonto todos os ontrovistados da
nossa posguisa. O programa Bolsa lamília possui, na visão dos
ontrovistados, um otoito dinamizador na oconomia como um
todo nada dosprozívol, om muitos contoxtos sondo o principal
tato novo para o tortalocimonto do uma oconomia monotária
mais sólida o vilranto om lugaros antos osguocidos por Dous o
polos homons. Outra política muito ologiada são os incontivos
ao microcródito.
36¯
A nova classo tralalhadora paroco so dotinir como uma classo
com rolativamonto poguona incorporação dos capitais impos-
soais mais importantos da sociodado modorna, capital oconomico
o capital cultural - o guo oxplica sou não portoncimonto a uma
classo módia vordadoira -, mas, om contrapartida, dosonvolvo
disposiçòos para o comportamonto guo pormitom a articulação
da tríado disciplina, autocontrolo o ponsamonto prospoctivo.
Essa tríado motivacional o disposicional contorma a oconomia
omocional¨ nocossária para o tralalho produtivo o util no morcado
compotitivo capitalista. Soja por horança tamiliar - na torma
omotiva o invisívol típica da transmissão tamiliar do valoros do
uma dada classo social -, soja como rosultado da socialização
roligiosa, ou soja por amlos, o tato ó guo oxistia um oxórcito
do possoas dispostas a tralalho duro do todo o tipo como torma
do ascondor socialmonto. As novas tormas do rogimo do tralalho
do capitalismo tinancoiro om nívol mundial oncontraram nolas
- assim como cortamonto traçòos do classo corrospondontos om
paísos como lndia o China - sua classo suporto¨ típica para pos-
sililitar o novo rogimo do tralalho do capitalismo tinancoiro.
Som socialização antorior do lutas oporárias organizadas o
disponívois para aprondor todo tipo do tralalho o dispostas a so
sulmotor a praticamonto todo tipo do suporoxploração da mão
do olra, ossa nova classo logrou ascondor a novos patamaros do
consumo a custo do oxtraordinário ostorço o sacritício possoal.
A ultima o talvoz mais importanto guostão - tundamontal para
o tuturo oconomico o político lrasiloiro nas próximas dócadas - ó
porcolor a oriontação política dossa nova classo tralalhadora. A
posguisalivro do lamounior o Souza propòo guo olos sigam a olito
oconomica antiostatista o alracom o idoário liloralconsorvador.
No ontanto, a roalidado ó mais comploxa. So o imaginário social
mais amplo ó porpassado polo toma do omproondodorismo¨ o
polo moto soja omprosário do si mosmo¨, osso canto da soroia,
alraçado com gosto o sotroguidão por traçòos signiticativas das
classos módia o alta, não paroco tor o mosmo apolo no guo
ostamos chamando do nova classo tralalhadora. Sua proximi-
dado do tato com os sotoros mais dostituídos na ostrutura do classos
lrasiloira tornam-na mais sonsívol à nocossidado do ajuda do
Estado o do políticas componsatórias. Na vordado, alguns do
sous momlros são possoas guo vioram da classo mais laixa,
guo chamamos, provocativamonto, no país do outomismo o da
nogação patológica da roalidado mais lanal, do raló¨.
368
A atual posguisa pormitiu, inclusivo, corrigir algumas pors-
poctivas guo dosonvolvomos no ostudo antorior. Como o guo
nos intorossava no livro antorior ora apontar os mocanismos guo
possililitavam a roprodução¨ indotinida da raló¨ no tompo, nos
concontramos na idontiticação dos tatoros guo a mantinham no
mosmo lugar. Nosta posguisa, tomos controntados tamlóm com
outra roalidado, guo nos mostrou, solojamonto, guo mosmo a
raló¨ não ó ostática, mas ostá, ao contrário, om constanto movi-
monto. Vostrou, ainda, a importância o o alcanco do políticas
pullicas componsatórias alrindo oportunidados do ostudo o do
insorção no morcado mais compotitivo.
Procisamonto nosto aspocto rosido, talvoz, toda a importância
política dossa nova classo tralalhadora: sorá ola cooptada por
cima¨, como guorom lamounior o Souza, o com olos as classos
guo monopolizam o capital oconomico ontro nós, ou podorá ola
sor uma inspiração para todos os sotoros procarizados o dostituídos
da sociodado lrasiloira? Esta ultima hipótoso ó a osporança do um
Vangaloira Ungor,
20
por oxomplo, um dos primoiros a porcolor
tanto a importância política o oconomica dossa classo guanto a
importância das novas tormas do roligiosidado popular na sua
contormação. Vas agui cossa tamlóm para nós - algo tamlóm
guo nos ditoroncia do porspoctivas como a do lamounior o Souza
- a possililidado do provisão possívol da ciôncia vordadoira.
A ciôncia crítica só podo procurar doscrovor¨ a roalidado o os
ontravos para sou dosonvolvimonto postorior numa dimonsão
normativa mais gonorosa o justa guo a oxistonto. Vas ó cionti-
ticamonto impossívol provor o tuturo político do uma classo. A
política lida - ao contrário da ciôncia - com a possililidado da
articulação o construção do sontidos novos, guo podom inspirar
novas tormas do so porcolor o intorvir na roalidado. Ao contrário
da ciôncia, portanto, a política lida com um rocurso cada voz mais
oscasso o, por conta disso mosmo, cada voz mais importanto: a
osporança!
O votor agui são tormas mais inclusivas o justas do doson-
volvimonto do capitalismo guo são portoitamonto possívois o
compatívois com o oxorcício do garantias lilorais para a ação
individual. Para ondo guor guo ossa nova o vilranto classo do
lrasiloiros latalhadoros so inclino, a vordado ó guo, dopondondo
dossa inclinação, pondorá tamlóm o tiol da lalança rosponsávol
pola dotinição do dosonvolvimonto político o oconomico
lrasiloiro no tuturo.
P C ⇥ ⌫ Á ✏ l C
⇥C⌅⌦↵ C ⇣⌘⌃CDC
D⇧ P↵⇥C✓l⇥⇧
O inimigo do gualguor posguisa ompírica crítica guo rotloto
solro sous prossupostos ó o toticho do numoro¨, ou soja, da
guantiticação como adoroço oxtorior ao aporto intorprotativo
do modo a atotar ciontiticidado¨. A intormação, cada voz mais
tragmontada, dospida do uma rotloxão solro sua gônoso o sou
contoxto, ó o prato do dia do possoas guo imaginam podor aprondor
o so intormar som ostorço rotloxivo. Talolas o numoros som intor-
protação sorvom a osso morcado tlorosconto. Os onganos guo daí
so produzom podom sor mostrados, oxomplarmonto, na posguisa
choia do prollomas o com muita guantidado¨ psoudociontítica
o pouca gualidado¨ intorprotativa guo criticamos, om dotalho,
na conclusão dosto tralalho.
Vas isso não dovo lovar a uma oposição onganosa ontro
gualidado¨ o guantidado¨. O conhocimonto ostatístico, por
oxomplo, sompro toi um compononto ossoncial para todas as
nossas rotloxòos. Vosmo a posguisa ompírica dita guantitativa¨
toi um olomonto importanto no nosso procosso do aprondizado
guo culminou com o prosonto ostudo. loi a ototiva roalização do
guatro posguisas ditas ostatisticamonto rolovantos¨, no contoxto
da litoratura da sociologia ompírica mais convoncional, ontro
1996 o 1998 no Distrito lodoral
1
- talvoz a unidado da todoração
ondo a divorsidado rogional ó molhor roprosontada - guo nos
osclarocou solro as possililidados o limitos dosto tipo do proco-
dimonto. As trôs primoiras posguisas nos custou onormo tralalho
para ontrovistar corca do 600 possoas om todo o Dl, olodocondo
a rogras da amostra domiciliar. lntolizmonto, ossas posguisas não
3¯0
trouxoram o rotorno osporado. Porguntas dirotas o ostorootipadas
das posguisas lovadas a calo por Ronald lnglohart
2
ou ainda
da posguisa intornacional solro valoros da lSSP tlntornational
Social Survoy Programmo), nas guais lasoamos nossas próprias
posguisas iniciais, rotlotiram aponas os chavòos consorvadoros da
classo módia osclarocida tguo salo¨ rospondor ontrovistas dosto
tipo porguo so apropriou do discurso politicamonto corroto¨ tido
como válido), torçando uma comproonsão das classos oprimidas
onguanto mora distorção¨ nogativa dosso discurso tido como
válido. lsso toi procisamonto o guo ocorrou com a posguisa do
lamounior o Souza, criticada om dotalho nosto livro. Ë o guo
acontoco com posguisas somolhantos acorca do guostòos polô-
micas como proconcoito, dosigualdado o valoros tundamontais.
Nossa ultima posguisa guantitativa convoncional¨, roalizada
om 1998, tamlóm no Dl, nos trouxo molhoros rosultados. Nola,
introduzimos o mótodo trankturtiano, das guostòos indirotas
o projotivas guo Adorno o sua oguipo usaram no clássico TI~
auìI·::ìa::au j~::·uaI:ì,.
3
loi aponas nossa tontativa - guo utili-
zava simultanoamonto princípios convoncionais o críticos - guo
consoguimos ototivamonto ditoronciar visòos do mundo social
por portoncimonto do classo toducação o ronda como critórios
ontão utilizados). Essa posguisa ompírica toi a laso, inclusivo,
do mou ostudo toórico pullicado anos mais tardo: · c·u:ì:u¸a·
:·c:aI ua :uüc:uauau:a tEditora UlVG, 2003). Vas guostòos
tundamontais não pudoram sor aprotundadas mosmo nosto
ostudo ompírico hílrido. So toi possívol ostalolocor um guadro
guo pormitiu ditoronciar a porcopção do mundo das classos privi-
logiadas o oprimidas, o próprio dosonho o mótodo dosso tipo
do posguisa, guo privilogia o maior numoro - om dotrimonto da
protundidado, voracidado o gualidado da intormação - impodo
o acosso a gualguor nuanco acorca das porspoctivas do traçòos
do classo ospocíticas. Vais importanto ainda. lmpodo tamlóm o
acosso à construção mosma do tipo do visão do mundo singular
do agonto social o, consoguontomonto, impodo-so tamlóm a locali-
zação das contradiçòos, lacunas o rachaduras no sou discurso o
no sou comportamonto.
loi, portanto, um ponoso procosso do aprondizado o tontativa
o orro guo nos lovou a privilogiar um mótodo do acosso distinto
da roalidado social. Porcolomos guo aponas um intorosso ompírico
rotloxivo - ou soja, guo rotloto¨ solro si mosmo o solro sous
3¯1
prossupostos som naturalizá-los¨ - podoria nos possililitar o
acosso ao mundo om guo vivomos, ainda ou soja o mundo guo,
muitas vozos, nogamos o não guoromos vor. loi aponas aí guo
porcolomos guo, omlora a intormação soja dada polo ontrovis-
tado, ola toria guo sor roconstruída para guo pudóssomos oxtrair
uma vordado alóm¨ o aposar¨ da nocossidado do autologitimação
do próprio ontrovistado. Tomar a primoira doclaração do gual-
guor ontrovistado solro si mosmo como a vordado tinal ó sompro
ingônuo o consorvador, posto guo rotloto aponas o intorosso
univorsal, guo todos tomos, om logitimar nossa própria condução
da vida om rolação ao mundo o a nós mosmos. Ë claro guo a
intormação do ontrovistado ó tundamontal. Vas ola tom guo sor
contoxtualizada para guo porcolamos os intorossos - muitos dolos
inconsciontos¨ o pró-rotloxivos¨ - guo produz procisamonto
aguolo tipo do rosposta. Ë um mótodo muito mais tralalhoso o
arriscado, mas ó o unico guo podo ototivamonto dosconstruir¨
a violôncia simlólica dos discursos dominantos o naturalizados
o oxplicar a sutil introjoção o incorporação da dominação social
o simlólica modorna.
Atinal, nas guostòos contrais da vida guo dotinom o logitimam
as posiçòos do podor do cada um no mundo, ó toda a porsonali-
dado do ontrovistado guo ostá om jogo. Um momlro das classos
privilogiadas não podo o não guor aparocor como um canalha
guo so aprovoita dos mais tracos socialmonto para oxplorar sou tra-
lalho. Elo tom do so rotorir a normas morais¨, como o mórito, por
oxomplo, para tundamontar sou discurso o sua ação na sociodado.
Ë lom ditoronto do doclarar sua protorôncia por Dilma ou Sorra
ou ainda dizor guo tipo do salonoto so protoro. Não procisamos
montir¨ para os outros nossas guostòos, dado guo nossa imagom
pullica não ostá om jogo do mosmo modo guando ostudamos,
por oxomplo, os divorsos tipos do proconcoito. Tor proconcoito
contra os mais polros, por oxomplo, contraria a laso roligiosa
guo construiu a moralidado ocidontal. Nós porcolomos alguóm
guo dostrata o humilha os mais tracos como uma má possoa¨,
alguóm com a gual, inclusivo, não so dovo tor rolaçòos do proximi-
dado. A oscolha por um salonoto x ou por um candidato y não
acarrota juízos tão tortos o omotivos.
Ë por conta do razòos como ossa guo posguisas guantitativas
inspiradas om posguisas do morcado tôm guo sor ditorontos do
posguisas gualitativas solro valoros sociais tundamontais. Ë isso
3¯2
guo sociólogos como Vax Wolor tinha na caloça guando olo
dizia guo o intorosso do posguisa¨ ó o guo constitui o oljoto
do posguisa o o mótodo do acosso a olo. So o intorosso ó salor
guom ostá na tronto nas oloiçòos ou guo tipo do salonoto o
pullico protoro, o mótodo do acosso a ossos dados tom guo sor
ditoronto do guom porgunta a um humilhado social as razòos
do sua humilhação. Num caso ó razoávol guo so porgunto a
milharos do possoas num ostorço do horizontalizar¨ a amostra o
aumontar as prolalilidados do acorto. No outro caso, o razoávol
ó guo so concontro o ostorço no sontido vortical¨, ou soja, no
aprotundamonto o na gualidado da intormação oltida.
Ë puro toticho do numoro¨ - no sontido do vincular a logi-
timidado ciontítica a roguisitos oxtornos à produção da vordado
ciontítica - so considorar o numoro do possoas ontrovistadas como
critório do validado alsoluto para o tipo do posguisa guo oxigo
um mótodo distinto do acosso ao univorso particular dos ontro-
vistados. Toda a ôntaso tom guo sor dada a gualidado¨ do acosso
a osso univorso rocondito om cada um do nós. Por oxomplo, ó
molhor ontrovistar ontro 200 o 250 possoas duranto um poríodo
do um ano, como tizomos, ropotindo as ontrovistas, olsorvando
a atuação prática dos ontrovistados no sou próprio moio, assis-
tindo a convorsas com sous tilhos o com sous pais, rotazondo
as ontrovistas para aprovoitar as contradiçòos, inconsistôncias o
lacunas das ontrovistas antorioros, do guo ontrovistar, rapidamonto,
milharos do possoas uma unica voz com guostòos ostorootipadas
o som olsorvação participanto. Novamonto, a comparação com a
posguisa criticada nosto livro do lamounior o Souza podo doixar
osso ponto solojamonto claro. Vas a mosma comparação podo
sor toita com gualguor outra posguisa guo tonha so utilizado dos
mosmos prossupostos.
Nossa posguisa dosonvolvou um mótodo rotloxivo o colotivo
- ospocialmonto nos ultimos sois mosos do sua duração total do
guaso um ano o moio - guo consistiu om discutir as ontrovistas
mais importantos o todos os toxtos intorprotativos om conjunto.
lsso pormitiu guo cada um pudosso ouvir o aprondor com as su-
gostòos dos outros cologas. Esso procodimonto oxigiu guo cada
toxto tosso oscrito o rooscrito divorsas vozos do modo guo todos
participaram ativamonto do oxorcício intorprotativo. Comprovamos,
na prática, guo um lom posguisador ompírico tom guo sor um
3¯3
lom toórico¨, ou soja, tom guo salor o guo ostá tazondo o rotlotir
criticamonto acorca do guo taz o tompo todo.
Como a posguisa atual toi roalizada om continuação imodiata
da antorior solro a raló¨, contando com a participação do prati-
camonto a mosma oguipo ao longo dos cinco anos o moio, intor-
valo do tompo guo durou as duas posguisas, pudomos aprovoitar
todas as vantagons da acumulação do oxporiôncia. A vigilância
o o ostímulo provocado por rouniòos troguontos, duranto todo
osso poríodo do cinco anos o moio guo durou a posguisa para
os dois livros, toram tundamontais para guo cada volta ao campo
do posguisa, para cada um dos posguisadoros onvolvidos, tosso
porcolida como um oxorcício do suporação do ostorço antorior.
Nosso sontido, os posguisadoros toram tormados¨, onguanto
posguisadoros gualiticados, no próprio procosso do toitura da
posguisa ao longo dos cinco anos o moio do posguisa inintor-
rupta. Um grupo do posguisadoros ostimulados o amliciosos
- guo porcoloram a oportunidado, sua rolovância política o sua
importância tutura -, dispondo do tompo intogral, dodicação o
ontroga ao tralalho duranto um lom tompo, otorocom condiçòos
do posguisa muito ditorontos dos ontrovistadoros ocasionais - o
guaso sompro som tormação adoguada - das posguisas guanti-
tativas do grando porto. O ostorço na tormação dossos jovons o
talontosos posguisadoros - cuidadosamonto oscolhidos dontro
os molhoros alunos guo tivo na minha vida protissional - o o
ostorço do todos na ropotição do tralalho ató uma vorsão tinal
satistatória, tudo om uma linguagom clara o acossívol a todo loitor
culto, transparoco, ostamos convoncidos, no rosultado.
Nossa posguisa tovo a inspiração crítica dos tralalhos
ompíricos dosonvolvidos por Piorro Bourdiou - o polos ostudos
toórico-ompíricos do Bornard lahiro,
4
guo toi guom molhor rotlotiu
acorca da sociologia disposicional prosonto nos tralalhos do
Bourdiou - nos sous ostudos solro a Argólia,
5
assim como no
sou ostudo mais roconto solro a M::~::a u· nuuu·.
6
Nossos livros
momorávois, vordadoiros clássicos contomporânoos da sociologia
crítica o ongajada, tamlóm são domonstrado como o discurso
inicial do gualguor agonto social - olo próprio um compotidor
por lons o rocursos oscassos o nunca, portanto, noutro¨ ou
imparcial¨ - tom guo sor motodicamonto roconstruído.
Não ó o guo acontoco com a maioria das posguisas sociais
no Brasil o no mundo. A porspoctiva crítica não ó a dominanto.
3¯4
Todos os intorossos dominantos do mundo, contossávois o incon-
tossávois, militam contra ola. A posguisa ciontítica crítica dosatia
os podoros instituídos dontro o tora do mundo acadômico. Por
conta disso, ola nunca ó dominanto, mas ó com posguisas dosso
tipo guo mais aprondomos solro o mundo como olo ó o não como
os intorossos dos vários podoros guo dominam todas as ostoras
da vida guorom guo o porcolamos. O guo ostá por trás dossa
discussão solro guantidado o gualidado,
¯
solro a acoitação ingônua
da vordado do agonto ou sua roconstrução contoxtualizada o
motódica, ó uma torma do comproondor o mundo: logitimando
os podoros do tato ou dosvolando as lasos das injustiças sociais
logitimadas, inclusivo, por osto tipo do ciôncia¨ da ordom.
Nossa torma do posguisar ó minoritária no Brasil. A rogra
ó o tipo do posguisa toita por lamounior o Souza ou posguisas
politicamonto corrotas¨ guo compram, ingonuamonto, a vorsão
do agonto social solro si mosmo. Quo o loitor atonto o do loa-tó
docida por olo mosmo ondo aprondor mais ou monos solro a
roalidado social om guo vivo. So a prova do pudim ó comô-lo,
como dizom os amoricanos, vamos provar os divorsos pudins o
comparar os rosultados. Ë assim guo a ciôncia tunciona o ó assim
guo o conhocimonto solro a nossa sociodado progrido.
{~::~ S·uza
MC⌃⇧⇥
lNTRODU(AO
1
Essa ó a monsagom, por oxomplo, do livro, já sucosso do vondas, guo
iromos criticar na conclusão om dotalho, rocontomonto pullicado:
lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a.
2
BOURDlEU. · u::ì:u¸a·. Acorca do paradigma sociocultural no ostudo
das classos sociais, vor PETER VUllER. S·z:aI:ì:uLìu: uuu 1~ü~u::ì:II~.
3
WEBER. D:~ j:·ì~:ìauì::cI~ EìI:L toxisto vorsão lrasiloira do original
alomão da oditora Companhia das lotras).
4
DUVONT. H·n· ·~guaI::.
5
BOlTANSKl, CHlAPEllO. EI uu~:· ~:j:::ìu u~I caj:ìaI::n·, p. 1¯.
6
BOlTANSKl, CHlAPEllO. EI uu~:· ~:j:::ìu u~I caj:ìaI::n·.
¯
HARVE\. · c·uu:¸a· j·:-n·u~:ua, p. 121.
8
GRAVSCl. ·au~:u·: u· cá:c~:~.
9
SOVBART. Wa:un g:üì ~: :u u~u !~:~:u:gì~u Sììaì~u L~:u~u
S·z:aI::nu:.
10
OCONNOR. TI~ 1::caI ·::::: ·J ìI~ Sìaì~.
11
HARVE\. · c·uu:¸a· j·:-n·u~:ua, p. 130-155.
12
SENNETT. D~: JI~.:üI~ M~u:cI, p. 52-53.
13
GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~, ::gu~za u~ I· j·::üI~, cap. ll.
14
GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~, ::gu~za u~ I· j·::üI~, cap. ll.
15
GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~, ::gu~za u~ I· j·::üI~, cap. ll.
16
lNGlEHART. ·uIìu:~ SI:Jì :u ·u:auc~u 1uuu:ì::aI S·c:~ì:~:.

HABERVAS. D:~ TI~·::~ u~: L·nnuu:Laì::~u Hauu~Iu:.
18
GRUN. Entro a plutocracia o a logitimação da dominação tinancoira.
19
GRUN. Docitra-mo ou to dovoro!: as tinanças o a sociodado lrasiloira,
p. 391.
3¯6
20
Uma posguisa toita pola TNSCia. do Talontos com 26.281 univorsitários
lrasiloiros o rocóm-tormados trouxo polo monos uma surprosa guando
lhos toi podido guo oscolhossom um lídor com o gual so idontiticam: o
sogundo mais votado toi Rolorto Justus. O omprosário o aprosontador
do SBT ticou atrás do Barack Olama, mas à tronto do lula, Josus Cristo
o Stovo Jols. R~:::ìa !~¡a, 15 do agosto do 2009.
21
SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a, ospocialmonto o cap. lV.
22
SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a, cap. lll, o SOUZA. · n·u~:u:za¸a· :~I~ì::a.
23
Vor comontário solro o livro do lamounior o Souza na conclusão dosto
tralalho.
24
ANTUNES. · ca:ac·I ~ :ua c·ucIa.
25
BOURDlEU. · u::ì:u¸a·.
26
lllOUZ. ··u:un:ug ìI~ R·nauì:c ¹ì·j:a.

REVlSTA NEGÓClOS E llNAN(AS. 9 nov. 2008.
28
ANTUNES. · ca:ac·I ~ :ua c·ucIa, p. 144.
PARTE 1 -
PERllS DE BATAlHADORES BRASllElROS
CAPlTUlO 1
1
A torcoirização constitui uma ostratógia na gual as grandos omprosas
contratam os sorviços do omprosas monoros. lsso pormito guo as omprosas
maioros não procisom arcar com os custos do tor dontro dola própria um
sotor ospocítico dostinado àguola atividado. Assim, as omprosas maioros
tamlóm consoguom diluir os custos o oncargos do mantorom tal sotor
dontro da própria omprosa.
2
VENCO. N·:·: ~:ja¸·: u~ j:·uu¸a·, u·:·: j:·I~ìá::·: ua· ·j~:á::·:.
3
SllVA. R~guIan~uìa¸a· u· ì:aüaII· u· :~ì·: u~ ì~I~na:L~ì:ug u· 1:a::I.
4
BOlTANSKl, CHlAPEllO. TI~ N~u Sj:::ì ·J ·aj:ìaI::n, o SENNETT.
· c·::·:a· u· ca:áì~:.
5
A taxa do oscolarização da população ontro ¯ o 14 anos passou do 6¯/
om 19¯0 para 95/ om 1998. O numoro do anos do ostudo da população
com idado suporior a 5 anos passou do 2,4 om 19¯0 para 3,3 om 1980,
o para 5,9 om 1996 tConsos domográticos 1960, 19¯0 o 1980, o Posguisa
Nacional por Domicílios - PNAD - 1990 o 1996). Vor ANTUNES, BRAGA.
1uJ·j:·I~ìá::·:. Como colocam Nolson do Vallo Silva o Carlos Hasonlalg:
Nos ultimos anos o Brasil tom so aproximado da univorsalização do acosso
ao onsino tundamontal.¨ p. 1. Vor HASENBAlG, SllVA. T~uu~uc:a: ua
u~::guaIuau~ ~uucac:·uaI u· 1:a::I.
3¯¯
6
lsso ó o guo lsalol Goorgos chama do solrogualiticação¨ om sou artigo
no livro 1uJ·j:·I~ìá::·:, isto ó, o aumonto do possoas lom gualiticadas
tralalhando om omprogos guo oxigom pouca gualiticação. Outro lom
ponto articulado por ola ó o do guo o nívol do oscolarização dos atondontos
ó, om módia, maior om rolação ao rosto da população lrasiloira, algo guo
aponas corrolora nosso argumonto. Vor p. 220-221.
¯
O I~au :~ì ó um tono do ouvido com uma poguona hasto guo so ostondo
ató a loca o com um microtono na ponta.
8
GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~ ~ ::gu~za: u~ I· j·::üI~
9
GRUN. Docitra-mo ou to dovoro!: as tinanças o a sociodado lrasiloira.
10
SllVA. R~guIan~uìa¸a· u· ì:aüaII· u· :~ì·: u~ ì~I~na:L~ì:ug u· 1:a::I
11
BOURDlEU. ··uì:~-J~u..
12
SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a.
13
BOURDlEU. · :~j:·uu¸a·
14
BOURDlEU. O camponôs o sou corpo.
15
ANTUNES, BRAGA. 1uJ·j:·I~ìá::·:.
16
ANTUNES, BRAGA. 1uJ·j:·I~ìá::·:, p. ¯1.

ANTUNES, BRAGA. 1uJ·j:·I~ìá::·:, p. 91.
18
VARX. · caj:ìaI.
19
VARX. · caj:ìaI, p. ¯1.
CAPlTUlO 2
1
Esto tralalho somonto podo sor roalizado graças a divorsas possoas, om
sua grando maioria toirantos, guo so dispusoram, om algum momonto, a
nos concodor ontrovistas oou rospondor nossos guostionários. A todos
olos agui rogistramos nossos mais sincoros agradocimontos.
2
Ct. WEBER. · g~u~:~ u· caj:ìaI::n· n·u~:u·.
3
Agui tazomos monção à criso oconomica guo acontocou ontro 2008 o
2009 o guo tovo roporcussòos divorsas o signiticativas om oscala mundial,
tondo sido comparada por muitos analistas com a criso da lolsa do Nova
\ork do 1929.
4
loram rounidas, om otapa antorior a osta posguisa, inumoras matórias do
rovista o jornal guo, om linhas gorais, rotratam a loira como um símlolo¨
do orgulho da rogião. Algo lom ditoronto do guo ola, do tato, ó om nossa
visão: um tipo do morcado poritórico.
5
Entrovista om 22102008.
6
Entrovista om 29102008.
¯
Vor SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a.
3¯8
8
Tamlóm chamadas do loxos¨, são poguonos ospaços tdo corca do 10
motros guadrados cada, guo podom sor aumontados pola união do alguns
dolos) guo são concodidos para uso dos toirantos pola protoitura. Ë prática
ontro os toirantos vondô-las o comprá-las uns aos outros como ponto
comorcial¨. Tamlóm ó prática tazor dolas poupança, ou ontão comprar
larracas vizinhas ou om molhoros localizaçòos para ampliar o nogócio.
9
Taxa anual paga à protoitura.
10
As torças o sálados, nos dias das duas grandos toiras, a da Sulanca o a
livro. Vido nota soguinto.
11
A loira da Sulanca ó uma toira guo acontoco há dócadas no mosmo
ospaço tísico no gual ostá instalada a loira do Caruaru. Ë considorada
parto intogranto dosta. Na roalidado, ola avança polas ruas circunvizinhas
da toira o rouno milharos do possoas do todo o Nordosto guo lá procuram
vondor o comprar contocçòos talricadas om polos do produção tôxtil do
Agrosto pornamlucano, tais como Toritama o Santa Cruz do Capilarilo.
Ela acontoco sompro às torças, dia do grando movimonto para os toirantos
tixos dotontoros do larracas-loxo do alimontação, por oxomplo. Para
dosignar o guo tazom os toirantos na Sulanca, costuma-so usar a oxprossão
lotar lanco¨. Ou soja, vondor roupas numa ostrutura do motal ou madoira
guo ó instalada polos montadoros do lanco¨ pagos para tazorom isso na
virada da noito da sogunda para a torça. A Sulanca comoça oticialmonto
a partir das trôs horas da madrugada o vai ató por volta do moio-dia da
torça. Os sulanguoiros¨ tamlóm pagam o mosmo imposto por uso do
ospaço pullico guo os toirantos tixos. Como a Sulanca ó muito grando
o causa transtorno ao trânsito do automóvois o possoas polo contro da
cidado, ou soja, altora sua dinâmica, a possívol transtorôncia dola para
um outro lugar mais apropriado ó agonda pullica o política constanto na
cidado, o guo causa modo aos toirantos tixos guo tôm, no dia om guo ola
acontoco, o grando movimonto om sous comórcios, juntamonto com o
sálado, dia tradicional da toira dos produtos agropocuários da rogião, dia
do tazor a toira¨, como so costuma dizor por agui. Ou soja, ó justamonto
nas torças o nos sálados guo muita gonto taz rotoiçòos por lá.
12
Olviamonto, dirigidos¨ por suas instituiçòos contrais, Estado o Vorcado.
Solro osta visão da modornidado poritórica vor SOUZA. · n·u~:u:za¸a·
:~I~ì::a. Para otoito do análiso ciontítica tsocial), vor a toira como um tipo
do morcado poritórico ó algo sulstantivamonto ditoronto do vô-la como
algo pró-modorno¨, ou soja, doscolado o ditoronto do mundo modorno
do gual ola taz parto inoxtrincavolmonto tso olsorvada do primoiro
modo).
13
A loira o os loirantos¨, posguisa local roalizada com o apoio do CEPEDES
lAPEVlGCNPg o guo so insoro na grando posguisa guo originou osto
livro. Nola, toram omproondidas as soguintos trontos invostigativas: 1.
Posguisa toórica, principalmonto voltada às olras do Piorro Bourdiou o
Bornard lahiro, 2. Posguisa lilliogrática: rounião do tralalhos ciontíticos
rolacionados à tomática inicial tpoucos) o do alguns tralalhos locais
ospocíticos solro a loira do Caruaru, 3. Documontaljornalística: rounião
do intormaçòos oltidas om rolatórios tom ospocial, o do lPHAN, para o
3¯9
roconhocimonto da loira como Patrimonio Cultural lmatorial Brasiloiro)
o matórias solro a loira voiculadas ao longo das ultimas dócadas om
divorsos voículos do mídia improssa, 4. Entrovistas somi o não ostruturadas:
na otapa oxploratória da posguisa, toram roalizadas ontrovistas com
11 possoas guo podom sor considoradas vozos do rotorôncia¨ solro a
loira, pois são íconos históricos ttoirantos), historiadoros ou porta-vozos
do instituiçòos signiticativas, tais como: Sindicato dos Comorciantos o
Vondodoros Amlulantos do Caruaru tSlNCOVAC), Dopartamonto do
Arrocadação o Dopartamonto do loiras o VorcadosSocrotaria do Sorviços
UrlanosProtoitura Vunicipal, 5. Olsorvaçòos otnográticasconvorsas
intormais: inicialmonto gorais, visando comproondor a dinâmica da loira
o dos toirantos o, postoriormonto, mais dirocionadas à idontiticação
do possívois portis a sorom ontrovistados para so juntarom aos domais
matoriais ompíricos utilizados na composição dosto livro, o, por tim,
visando conhocor a dinâmica administrativa dossos toirantos om sous
micronogócios, duranto o poríodo do campo da posguisa, do sotomlro do
2008 a junho do 2009, por divorsas vozos tizomos rotoiçòos om divorsas
dossas larracas do alimontação, o assim aguçamos nosso olhar para o
tonomono om guostão, 6. Entrovistas om protundidado com toirantos: nosta
otapa tizomos, com lalrício Vaciol, oito ontrovistas com cinco toirantos,
dontro ossos ontrovistados oscolhomos os portis guo são aprosontados
no capítulo supramoncionado, ¯. Etapa guantitativa taplicação do
guostionário junto à população do toirantos do alimontação, talulação dos
dados o montagom das talolasgráticos) guo gorou ostatística doscritiva
guo contirmou algumas análisos próvias om rolação à homogonoidado
das socializaçòos, trajotórias o guostòos gorais do modo do administrar
o nogócio dos toirantos. Em todas ossas otapas contamos com apoio
signiticativo da ostudanto Varta Rodriguos do Olivoira tontão lolsista do
iniciação ciontítica do CNPg).
14
Um tipo-idoal so trata do construção do um posguisador guo olonca
os principais aspoctos do tonomono guo guor comproondor, sol sua
porspoctiva. O ì:j·-:u:ì:un~uì· ó um moio do posguisa comparativa
com a roalidado. Ou soja, o tipo-idoal voloriano ó um instrumonto para
análiso comproonsiva o construção toórica, o não um modolo idoalizado
para uma prática portoita¨. Para a construção do nosso tipo-idoal, as
caractorísticas gorais do guom soriam os latalhadoros toram articuladas
com a análiso dos dados colotados o, olviamonto, olsorvadas por lontos
toóricas disposicionalistas¨ omlasadas nos tralalhos do Piorro Bourdiou
o Bornard lahiro. Vor WEBER. Oljotividado do conhocimonto na ciôncia
social o na ciôncia política.
15
Solro os prollomas inorontos a osta guostão, guo tamlóm são sotridos
por possoas como Podro, vor SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a, no capítulo lX
- A má-tó institucional¨, A instituição do tracasso...¨, toxto do lorona
lroitas.
16
Ë Bornard lahiro o sociólogo contomporânoo guo nos pormito avançar
com sogurança nosta rolação ontro contoxto social o indivíduo, para olo
o indivíduo ó o produto do multiplas oporaçòos do dolramontos tou do
intoriorização) o so caractoriza pola pluralidado das lógicas sociais guo olo
380
intoriorizou. Essas lógicas so dolram todos os dias do modo rolativamonto
singular om cada indivíduo, o nós rooncontramos ontão, om cada um do
nós, o ospaço social no ostado dosdolrado.¨ ttradução nossa) lAHlRE.
1~:j::ì :·c:·I·g:gu~, p. 120.

No sontido do sor tora da toira, no contro comorcial da cidado.
18
lAHlRE. R~ì:aì·: :·c:·I·g:c·:, p. 21.
19
lAHlRE. R~ì:aì·: :·c:·I·g:c·:, p. 2¯.
20
Dirotamonto rolacionados a cada uma das disposiçòos apontadas.
lomlromos guo ostas disposiçòos somonto podom sor construídas
tooricamonto, como concoitos, partindo dos ponsamontos, sontimontos
o açòos do um latalhador, como ilustram os trochos ontro parôntosos.
CAPlTUlO 3
1
Nomo moditicado.
2
Emprosa do capital misto guo tomonta a produção rural.
3
A idoologia do mórito ó uma das principais cronças do mundo modorno,
compartilhada por todos nós. Ela sugoro guo lasta tor ostorço individual
o torça do vontado para consoguirmos tudo o guo guisormos na vida.
4
Assim olo ó visto pola vizinhança.
5
Tipo ospocítico do produção da torra.
6
Juntar, tazor uma sociodado.
¯
A idoia do disposiçòos¨ usada agui ó inspirada na olra do sociólogo
Bornard lahiro t2006). Ela sugoro cortas tondôncias para o comportamonto,
adguiridas na intância, guo podom ou não so tornar prática na vida
do uma possoa, do acordo com contoxtos da vida guo as tacilitom ou
diticultom.
8
Para a roça, para tralalhar.
9
Os tormos honostidado¨ o dignidado¨ são utilizados agui om
contraposição ao rumo guo muitas possoas do origom polro tomam na
vida, ou soja, o da dolinguôncia o da marginalidado. Vor VAClEl, GRlllO.
O tralalho guo tin)dignitica o homom.
10
Esto concoito tonta dotinir um ospaço tluido no morcado do tralalho, guo
do alguma manoira sompro oxistiu no capitalismo, no gual um volumo
grando do possoas sompro ontra o sai tCASTEl. Tho lndignity ot Wago
lalor). Esto volumo do gonto guo vivo numa ospócio do solo o dosco¨ ó
ainda maior no capitalismo poritórico como o lrasiloiro. Nolo so oncontram
ou já so oncontraram a maioria dos latalhadoros analisados nosto livro.
11
linha do ompróstimo ospocítico do govorno todoral para tomonto do
poguonas produçòos rurais.
12
Humildo no sontido do procisar laixar a caloça o insistir no tralalho.
381
13
Elo so rotoro ao cultivo da noz pocã, guo ó um dos trutos mais promissoros
da rogião o guo domora cinco anos para comoçar a dar rotorno.
CAPlTUlO 4
1
Toma osto tratado no artigo Populismo ou modo da maioria?¨ dosta olra.
2
DAVATTA. · ca:a ~ a :ua.
3
BOURDlEU. Raz·~: j:áì:ca:.
4
Vor o artigo Populismo ou modo da maioria?¨.
5
Tratamos do amor da ronuncia¨, no caso das mulhoros, principalmonto
das mãos, om A misória do amor dos polros¨, na olra · :aI~ ü:a::I~::a,
do minha autoria.
6
Vor, nosta olra, Populismo ou modo da maioria?¨, guo trata da
ospociticidado da ótica católica cristã.
¯
lorça agui não aponas no sontido tísico, mas tamlóm nolo.
CAPlTUlO 5
1
Usamos o tormo disposição¨ no sontido do Bornard lahiro t2006),
como capacidados o tondôncias para a ação individual om contoxtos
ospocíticos.
2
Vor dotinição do Jossó na introdução dosto livro.
3
Vimos dotinindo como dignidado uma condição tamiliar lásica do
sustonto matorial o roconhocimonto social onguanto distinto do vagalundo
ou do dolinguonto. Tal condição podo sor contorida por um tralalho
gualiticado tvor VAClEl. Todo tralalho ó digno?) ou por um poguono
omproondimonto comorcial guo tom algum roconhocimonto polo próprio
morcado, ainda guo osto soja intormal.
4
O toxto do Brand Aronari o Rolorto Torros oxplora dotalhadamonto osto
ponto.
5
A oducação tamiliar o o oxomplo do honostidado do pais guo tralalham
arduamonto tazom toda a ditoronça para a aguisição do disposiçòos para
a honostidado, o não para a dolinguôncia tVAClEl, GRlllO. O tralalho
guo tin)dignitica o homom).
6
Comproondomos como Iaü:ìu:, soguindo Bourdiou, um conjunto do
disposiçòos para a ação adguirido como aprondizado ospontânoo o
inconscionto dosdo a intância. O Iaü:ìu: do campo trata dosto conjunto
do disposiçòos rotorontos ao contoxto ospocítico rural tBOURDlEU. O
camponôs o sou corpo).
382
CAPlTUlO 6
1
Não trataroi agui protundamonto solro Andró, osposo do laura, porguo
osto já ó talocido há 20 anos. Vas valo porguntar solro a atuação do
protostantismo tontro o tim do sóculo XlX o início do sóculo XX) no
intorior do Vinas Gorais para conhocor a troguôncia do convorsòos do
nogros. lsto porguo mo chama muito a atonção o tato do Andró o sous
irmãos torom tido uma tormação protostanto dosdo muito jovons.
2
SOUZA. Raça ou classo? Solro a dosigualdado lrasiloira.
3
Como Gillorto lroyro o Darcy Riloiro.
4
THOVPSON. 1·:na¸a· ua cIa::~ ·j~:á::a :ugI~:a.
5
Como ostava oscrito om uma das rouniòos do mulhoros da lgroja Votodista:
Vulhor virtuosa, guom a achará? O sou valor oxcodo ao do rulis¨. Toxto
tirado do 1:::· u~ 1:·:~:ü:·: 30, vorso 10.
PARTE 2 -
A ECONOVlA POllTlCA DO BATAlHADOR
CAPlTUlO ¯
1
Dodico osto artigo a todos os tralalhadoros com guom convorsoi duranto
os cinco mosos om guo colotoi dados para osta posguisa do campo o guo
disponsaram tompo om sou dia a dia corrido do latalha para convorsar
comigo, rocolondo-mo om sous amliontos do tralalho o nogócios
ou na privacidado do suas casas, aprosontando-mo sous tamiliaros o
amigos, alrindo-mo suas montos o coraçòos. A todos olos, mous sincoros
agradocimontos.
2
Ë importanto lomlrar agui o procosso do roalilitação do Padro Cícoro,
guo ostá sondo oncaminhado atualmonto polas autoridados oclosiásticas:
tala-so mosmo om canonização. Tamlóm o discurso da lgroja católica
local solro olo mudou drasticamonto do uma avaliação totalmonto nogativa
- sou culto ora alortamonto roproondido do alto do pulpito - para o
roconhocimonto do sua importância na dissominação o popularização do
cristianismo católico na rogião. Os dados historiográticos solro Juazoiro
do Norto lasoiam-so principalmonto no oxcolonto ostudo do Noto lira
pullicado rocontomonto: 1au:~ ·:c~:·.
3
Episódio do protundo simlolismo guo dou início a toda a controvórsia om
torno do padro. Varia do Araujo ora uma loata nogra, polro o analtalota
guo comoçou a aprosontar pullicamonto sinais do torto oxporiôncia
mística duranto vigílias do oração guo avançavam pola madrugada na
igroja: aprosontava marcas do tlagolação nas costas o no poito, a hóstia
consagrada so transtormava om sanguo na sua loca duranto as missas
comuns o, por tim, passou a aprosontar toridas somolhantos aos ostigmas
da Paixão om suas mãos, pós o caloça, o guo logo dopois cicatrizavam.
383
Para avaliar os acontocimontos, toram onviados, a podido da arguidiocoso
do ostado coaronso, dois grupos do ostudiosos a tim do tazor um rolatório
minucioso o provar guo so tratava do alguma patologia ou dosmascarar
uma possívol tarsa. A comissão oscolhida a dodo polo próprio lispo,
lidorada por alguns dos padros mais oruditos da ópoca na rogião, incluindo
doutoros om toologia, o composta por módicos o ciontistas do grando
prostígio, acalou dando parocor positivo ao caso, corrolorando guo
os ovontos oram inoxplicávois. Aposar da oxistôncia do divorsos casos
do santos o santas com sintomas somolhantos, roconhocidos pola lgroja
om sou largo histórico do misticismo, a protonsão à mística por parto do
uma mulhor nogra o polro, om uma rogião misorávol, toi ridicularizada,
o o caso toi logo classiticado como do historia o tanatismo já antos da
avaliação dos tatos, o mosmo dopois do parocor positivo do rolatório.
Esto rolatório acalou sondo doscartado polo lispo, guo promovou uma
caça às lruxas contra os sacordotos dotonsoros do milagro do Juazoiro¨.
O racionalismo ourocôntrico o a violôncia simlólica contra a roligiosidado
popular são lom oxprossos na tala do um protossor trancôs do sominário
do lortaloza da ópoca: Nosso Sonhor não iria doixar a Europa para tazor
milagros no Brasil¨ tllRA. 1au:~ ·:c~:·, p. 108).
4
llRA. 1au:~ ·:c~:·, p. 108.
5
lORSCHElDER ~ì aI. !aì:cau· 11.
6
llRA. 1au:~ ·:c~:·, lRE\RE. S·ü:au·: ~ nucanü·:. Gillorto lroyro
oscrovo com razão guo a inspiração domocrática da doutrina do lliapina
toi vítima da ortodoxia patriarcal na introdução à sogunda odição: Tal
concopção caractorizou sompro a ação missionária o podagógica do
lliapina. Sua concopção do tamília - mosmo do tamília ospiritual - ora a
domocrática, om guo as mulhoros participassom da diroção da casa o o
tralalho so tizosso som auxílio do lraço oscravo. O guo paroco indicar
guo o grando missionário trouxo para o catolicismo lrasiloiro do sou
tompo tanto sua oxporiôncia domocrática do tamília numa província já
ontão guaso livro da oconomia oscravocrática o do patriarcado alsoluto
como o Coará - a província por oxcolôncia do nuì::a· - como as liçòos
rocolidas no curso jurídico do Olinda, do mostros imprognados do novas
idoias trancosas o inglosas.¨ tp. 89).
¯
llRA. 1au:~ ·:c~:·, p. 44: Vocô, Cícoro, tomo conta dosta gonto, toria dito
Cristo ao jovom sacordoto, apontando para a caravana do tamintos.¨
8
Alguns dos latalhadoros guo ontrovistamos aprosontaram limitos do
compotôncia narrativa para talar solro os ovontos do sua vida soguindo
uma soguôncia linoar o cronológica, o guo, na maioria dos casos ocorridos,
dava-so monos por causa da ausôncia do uma compotôncia cognitiva
para comproondor sou lugar no mundo, como parocom guoror muitos
intoloctuais para guom os atoros loigos, solrotudo os das classos mais
popularos, são como idiotas morais¨, do guo limitos rolacionados ao
próprio contoxto do ontrovista, ao dosintorosso do latalhador do pordor
horas do convorsa oxpondo sua vida a ostranhos, à doscontiança dos
intorossos dos posguisadoros ou à timidoz do guom nunca toi lovado
muito a sório om sua posição social, sou conhocimonto prático da vida o
384
suas convicçòos políticas. As limitaçòos mais rocorrontos corrospondiam
ao uso constanto do intorjoiçòos, a ponto do diticultar a comproonsão do
sontido das oraçòos, ou a ropotição do trasos dosconoxas, ou ainda os
silôncios duradouros. Outra diticuldado rocorronto, dontro as inumoras
com guo nos dotrontamos guo dizom rospoito às tormas do acosso à
suljotividado dos atoros no contoxto artiticial do uma ontrovista, consistia
na mudança sulita do algum toma proposto polos ontrovistadoros, o guo,
longo do signiticar uma incomproonsão docorronto da limitação cognitiva o
linguística do ontrovistado, signiticava muitas vozos a tontativa porspicaz do
tugir do assunto do manoira sutil, tazondo-so do dosontondido. Ë para tazor
tronto a osso tipo do prolloma motodológico guo Piorro Bourdiou tom
lntrodução a uma sociologia rotloxiva¨) chama a atonção do sociólogo
para a nocossidado pormanonto do :~JI~.:::uau~: ponsar constantomonto
nos prossupostos implícitos a todo contoxto do posguisa. A ostratógia,
olalorada por Bornard lahiro tR~ì:aì·: :·c:·I·g:c·:), do tazor várias
ontrovistas com os mosmos atoros, intorcaladas por ospaços do tompo,
mostra-so, do tato, um oxcolonto rocurso tanto para a criação do um
vínculo do intimidado com o ontrovistado, como para atorir o contoudo
do vordado das talas após a análiso comparativa ontro rospostas dadas
om ditorontos contoxtos.
9
HABERVAS. T~·::a u~ Ia acc:·u c·nuu:caì::a, 11.
10
BOURDlEU. · u~:~ucauìan~uì· u· nuuu·.
11
A Salvo Rainha¨, oração do dovoção mariana, ó uma das oraçòos mais
popularos da doutrina católica o nola so oxplicita do torma lola a visão
roalista o trágica do sor humano como sor pocador o sotrodor, guo ospora
ansioso polo outro mundo, a vordadoira vida¨, podindo o auxílio do
Varia, oxomplo máximo do humana tiol aos dosígnios do Dous, para sua
passagom sogura na Torra o sua chogada ao cóu: Salvo, Rainha, Vão do
misoricórdia, vida, doçura, osporança nossa, salvo! A vós lradamos, os
u~g:~uau·: J:II·: u~ E:a. A vós :u:j::an·:, g~n~uu· ~ cI·:auu· u~:ì~ :aI~
u~ Iág::na:. Eia, pois, advogada nossa, ossos vossos olhos misoricordiosos
a nós volvoi, o u~j·:: u~:ì~ u~:ì~::·, mostrai-nos Josus.¨ tgrito nosso)
12
SENNET. · a:ì:J:c~, p. 1¯.
13
Doparamo-nos com osso tipo do conhocimonto prático mosmo no caso
do tralalho mais duro guo oncontramos: o do latalhadoros om uma
mina do guartzito om Ouro Branco, no Rio Grando do Norto, o Várzoa,
na Paraíla. A grando maioria dos garimpoiros tralalha, ali, do torma
dosprotogida o om procosso manual, lascando as podras com cinzóis o
som o uso do gualguor maguinaria modorna. Elos salom o momonto oxato
om guo dovom parar o tralalho om uma rocha porguo sontom¨ guando
alcançaram a camada do cristal, impossívol do sor oxtraída o guo procisa
sor dinamitada. Os garimpoiros, grando parto moradoros ou saídos do
poguonas propriodados rurais, cujas osposas são lonoticiárias do Bolsa
lamília, pois sua ronda ontra na taixa atondida polo programa, tralalham
aí om rogimos divorsos: alguns por conta própria, alguns contratados por
outros garimpoiros guo arrondam os lotos do torra para oxtração o guo
pagam aos cologas-omprogados por produção, outros ainda om rogimo
385
do cooporativa. Poucos mosos dopois do havor troguontado o amlionto
o convorsado com alguns dossos latalhadoros, olos roalizaram uma
manitostação contra o dono da torra, guo havia aumontado o valor colrado
aos garimpoiros para torom diroito à oxtração om sua propriodado, lovando
a roclamação à Justiça. Esso tato ó importanto porguo nos advorto guo
mosmo om contoxtos oxtromamonto procários, o associados a rogimos do
tralalho ditorontos, os latalhadoros podom so articular do tormas divorsas,
dopondondo do contoxto, om dotosa do suas causas. O caso roporcutiu
na mídia do Estado da Paraíla.
14
SENNET. · a:ì:J:c~.
15
SENNET. · a:ì:J:c~, p. 41.
16
GORZ. M::~::a: u~I j:~:~uì~, ::gu~za u~ I· j·::üI~.

lOUCAUlT. !:g:a: ~ juu::.
18
SENNET. · a:ì:J:c~, p. 144-146.
19
SENNET. · a:ì:J:c~, p. ¯3-¯4.
20
BOURDlEU. M~u:ìa¸·~: ja:caI:aua:, p. 209.
21
BOlTANSKl, CHlAPEllO. EI uu~:· ~:j:::ìu u~I caj:ìaI::n·.
22
SENNET. · c·::·:a· u· ca:áì~:.
23
SENNET. · c·::·:a· u· ca:áì~:, p. 33.
24
DAVATTA. · ca:a ~ a :ua.
25
HARVE\. ··uu:¸a· j·:-n·u~:ua.
26
BOURDlEU. · u::ì:u¸a·.

SENETT. · c·::·:a· u· ca:áì~:, p. 120.
28
HABERVAS. T~·::a u~ Ia acc:·u c·nuu:caì::a, 1.
29
THOVPSON. ··:ìun~: ~n c·nun, p. 62.
30
SOUZA, lAVOUNlER. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 150-160.
31
SlNGER. Raízos sociais o idoológicas do lulismo.
32
THOVPSON. ··:ìun~: ~n c·nun
33
SOUZA, lAVOUNlER. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 133.
34
SOUZA. · n·u~:u:za¸a· :~I~ì::a, SOUZA. · :u::::ü:I:uau~ ua u~::guaIuau~
ü:a::I~::a, SOUZA. · :aI~ ü:a::I~::a.
35
CARDOSO. Para ondo vamos?
36
HABERVAS. Muuau¸a ~:ì:uìu:aI ua ~:J~:a juüI:ca, p. 61.

BOURDlEU. · u::ì:u¸a·, p. 42.
38
HABERVAS. Muuau¸a ~:ì:uìu:aI ua ~:J~:a juüI:ca, p. 69. Evidonto guo
osta data corrospondo ao contoxto ouropou analisado por Halormas. No
caso lrasiloiro, podomos ponsar guo o procosso do surgimonto do uma
386
ostora pullica modorna so inicia já no alvorocor do sóculo XlX com a
rotorma joanina, o guo coincido, aliás, com o alvorocor do morcado o do
Estado modornos. Nossa ópoca do ouropoização, tundam-so a impronsa,
a primoira lilliotoca pullica, as oscolas do arto o musous, mas o ospaço
da crítica ainda ó lastanto tímido porguo a classo culta omorgonto como
os lacharóis, tilhos o gonros dos tazondoiros, ainda dopondia totalmonto
dos intorossos agrários. Só a partir do moados do sóculo XlX, com o
aumonto das cidados, o croscimonto das atividados comorciais o dos
sorviços pullicos urlanos ó guo so dissomina a tigura do lacharol, com sou
romantismo jurídico o ropullicanismo, nos grandos salòos dos solrados.
lRE\RE. S·ü:au·: ~ nucanü·:, SODRË. S:uì~:~ u~ I::ì·::a ua cuIìu:a
ü:a::I~::a.
39
SOUZA, lAVOUNlER. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. 150.
40
THOVPSON. 1u~·I·g:a ~ cuIìu:a n·u~:ua A tooria liloral tradicional da
livro impronsa concolo osta como um tiscal crítico o indopondonto com
rospoito ao podor do Estado¨. tp. 323)
41
THOVPSON. 1u~·I·g:a ~ cuIìu:a n·u~:ua, p. 346.
42
SlNGER. Raízos sociais o idoológicas do lulismo.
43
WEBER. A psicologia social das roligiòos mundiais, p. 328.
44
WEBER. Rojoiçòos roligiosas do mundo o suas diroçòos, p. 3¯5.
45
WEBER. Rojoiçòos roligiosas do mundo o suas diroçòos, p. 3¯6.
46
Com rolação à lgroja católica, por oxomplo, ó sintomático guo, no
momonto om guo ola passa por uma dolandada do tióis o por uma imonsa
criso institucional, tondo sua logitimidado guostionada por acusaçòos do
podotilia, por um lado, o pola crítica roitorada do traçòos tipicamonto do
classo módia nos movimontos sociais, como o gay o o tominista, por outro,
procuro rosgatar a roligiosidado popular por moio da roavaliação do uma
porsonagom como o Padro Cícoro. Por outro lado, tamlóm não ó à toa
guo movimontos do cunho mais popular, como o VST, guo não soguom
o padrão do oxprossão logítima da ostora pullica, tonham surgido no soio
do suas pastorais. Evidontomonto, não ostamos com isso guorondo dizor
guo os movimontos popularos da lgroja católica são hogomonicos o guo
osta instituição aprosonta sompro um papol crítico. Polo contrário, ó do
conhocimonto comum o papol guo a lgroja roprosontou om movimontos
roacionários na história do Brasil, como o intogralismo o o próprio golpo
do 1964, ou a ·ju:, para ticarmos com um mais roconto. Dosdo Gramsci
t·au~:u·: u· cá:c~:~, v. 4), salomos guo a lgroja ó porpassada por
divorsas corrontos, o guo a luta do classos so dosonrola om sou soio.

THOVPSON. 1u~·I·g:a ~ cuIìu:a n·u~:ua, p. 59-60. Os primoiros
sindicatos apolavam à tradição na dotosa dos intorossos do otício,
roprosontados por santos tundadoros, para guom so taziam procissòos.
48
SHAKESPEARE. R·n~u ~ {uI:~ìa, Macü~ìI, HanI~ì, ·ì~I·.
38¯
CAPlTUlO 8
1
As vicinais¨ são ostradas transvorsais guo cortam uma principal tou
ramais¨), assim como costolas.
CAPlTUlO 9
1
Ao contrário do guo prossupòo o concoito liloral do livro concorrôncia,
toda concorrôncia supòo algum nívol do protoção ostatal. Aliás, o
alandono ao cada um por si¨ goralmonto roprosonta os sotoros mais
procarizados da oconomia.
2
O Estado goralmonto opora osto mocanismo por moio do monopólio do
podor jurídico tconcossòos, rosorvas do morcado, manipulação das taxas
do juros otc.) o om ultima instância policial, cujo papol na construção
da ordom oconomica ó contral. tBOURDlEU. 1~: :ì:ucìu:~: :·c:aI~: u~
I~c·u·n:~.)
3
GRUN. Docitra-mo ou dovoro-to! As tinanças o a sociodado lrasiloira.
4
NERl. Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo: o impacto
do CrodiAmigo.
5
NERl. Vicrocródito: o mistório nordostino o o Gramoon lrasiloiro.
6
SOARES. ot al. Saindo da polroza com o microcródito. Condicionantos o
tompo do asconsão: o caso dos cliontos do CrodiAmigo.
¯
SOUZA ~ì aI ·: üaìaIIau·:~: ü:a::I~::·:: nova classo módia ou nova
classo tralalhadora?
8
O propósito lásico agui ó o contrasto ontro poguonos o grandos
omproondimontos. A ditoronciação diz rospoito à idoia da composição
intorna do uma grando omprosa altamonto ditoronciada com sotoros
rolativamonto autonomos ontro si como os altos oscalòos omprosariais,
os tralalhadoros da produção, markoting otc.
9
BOURDlEU. 1~: :ì:ucìu:~: :·c:aI~: u~ I~c·u·n:~
10
A maioria dos ompróstimos tomados no CrodiAmigo são organizados
por grupos. Ë o sistoma do avalista cruzado no gual torma-so um grupo
com rocoitas o nogócios distintos para tomar um ompróstimo conjunto.
O propósito do sistoma ó torçar o controlo mutuo do grupo no sontido
do roduzir a inadimplôncia o aumontar a contiança tinancoira¨.
11
Um lom ponto ilustrativo ó a própria transtormação da protissão do
oconomista om protissão liloral tconsultoros tinancoiros otc.), cujo
oljotivo ó justamonto a da incorporação dosto capital cultural ospocítico
da oconomia, pormitindo maior domínio o podor solro a própria ação
oconomica. Esto capital cultural ó goralmonto logitimado o oticializado
polas instituiçòos oscolaros suporioros como as grandos oscolas do
lusinoss¨, oconomia, administração otc.
388
12
BOURDlEU. ·Ig~::~ ôU: structuros óconomiguos ot structuros tomporollos,
p. ¯3.
13
VAClEl. Batalhadoros toirantos: o vor-o-poso do Bolóm o a loira do
Caruaru¨.
14
Por oxomplo, ao sor porguntado solro o maior onsinamonto guo olo
rocolou dos pais olo rospondo: olos mo onsinaram · gu~ ~u :·u ag·:a,
· gu~ ~u :·u ag·:a:¨. tlAHlRE. · cuIìu:a u·: :uu:::uu·:.)
15
TORRES, ARENARl. Os latalhadoros¨ o o pontocostalismo: um oncontro
ontro classo o roligião.
16
Porguo Elo to livrará do laço do passarinhoiro, o da posto porniciosa. Elo
to colrirá com as suas ponas, o dolaixo das suas asas ostarás soguro: a
sua vordado ó oscudo o lroguol.¨ tsalmo 91)

BOURDlEU. 1~: :ì:ucìu:~: :·c:aI~: u~ I~c·u·n:~.
18
NERl. Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo.
19
BOURDlEU. 1a u·n:uaì:·u na:cuI:u~.
20
Acorca da análiso dotalhada dosto assunto vor: VATTOS. A dor o o ostigma
da puta polro.
21
Daniol ainda atirma guo, no comórcio, o patrão não ó a omprosa como
guando so ó omprogado, mas o clionto. Esta tala so oxplica ovidontomonto
om taco do olo sor um autonomo¨, mas tamlóm polo tato do sua rolação
a uma domanda¨ oxistonto ou possívol, isto ó, pola sua posição no
sulospaço guo ocupa no comórcio do trutas.
22
SOUZA. O guo ó uma classo social.
23
lAHlRE. · cuIìu:a u·: :uu:::uu·:.
24
SOUZA ~ì aI ·: üaìaIIau·:~: ü:a::I~::·:: nova classo módia ou nova
classo tralalhadora?, p. 324.
25
Para Piorro Bourdiou a idoia do ostratógia no campo oconomico so dá
com rolação ao contoxto o a posição om guo um omproondimonto so
oncontra om taco do sous concorrontos imodiatos to socundariamonto,
os mais distantos), sua posição dianto da organização logal o tinancoira
do sotor¨ oconomico ospocítico o a domanda ospocítica a guo atondo.
tBOURDlEU. 1~: :ì:ucìu:~: :·c:aI~: u~ I~c·u·n:~.)
26
Esta proocupação do atastamonto prático da dolinguôncia o com a
socialização disciplinar dos tilhos praticada por Daniol podo sor lida
como uma torma do intorvonção prática no dostino social do sous tilhos.
Uma comparação podo sor toita com a tala do Allorto, na gual olo diz ao
tilho: so vocô croscor amanhã ou dopois o aprondor alguma coisa guo
não ó corta vocô não vai mo culpar.¨ A tala do Allorto paroco sor muito
mais a do um possívol alandono do cuidado inicial do uma socialização
disciplinar primária do guo trazô-la para o mundo cotidiano do dia a dia
do sous tilhos. tVAClEl, GRlllO. O tralalho guo tin)dignitica o homom,
p. 244.)
389

lsso podo sor ilustrado no tato do guo mosmo sondo analtaloto, lindomar
conduz o controlo rígido do sou nogócio do caloça¨.
28
A possoa a gual olo so rotoro ó o antigo patrão guo o iniciou na vonda
do trutas.
29
No toxto, os autoros analisam como a ostora ludica, dosdo codo, tornou-so
ostrutural na vida do sou ontrovistado, o guo no caso do lindomar
acontocou com as urgôncias sociais ostora do tralalho.
30
TORRES. O noopontocostalismo o o novo ospírito do capitalismo na
modornidado poritórica.
31
TORRES. O noopontocostalismo o o novo ospírito do capitalismo na
modornidado poritórica.
32
NERl. Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo, NERl.
Vicrocródito, Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo,
NERl. Vicrocródito, Bolsa lamília o as portas do ontrada para os morcados.
33
NERl. Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo, NERl.
Vicrocródito, Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo,
NERl. Vicrocródito, Bolsa lamília o as portas do ontrada para os morcados.
34
NERl, Vicrocródito, dinâmica omprosarial o mudança do classo, p. 38.
35
BOURDlEU. 1a u::ì:ucì:·u: critiguo social du jugomont.
36
BOlTANSKl, CHlAPEllO. TI~ N~u Sj:::ì ·J ·aj:ìaI::n.

NERl. Vicrocródito, Bolsa lamília o as portas do ontrada para os morcados,
p. 1.
PARTE 3 -
A REllGlAO DO BATAlHADOR
CAPlTUlO 10
1
CAVPOS. As origons norto-amoricanas do pontocostalismo lrasiloiro:
olsorvaçòos solro uma rolação ainda pouco avaliada.
2
ARENARl, TORRES. lntorsuljotividado, socialização roligiosa o aprondizado
político: osloço do uma intorprotação sociológica do pontocostalismo no
Brasil.
3
Nosto sontido, a instalilidado da posição social, longo do sor um indicador
da ausôncia do classo social, ó o traço guo por oxcolôncia dotino a
condição do classo do latalhador na divisão social do tralalho. Por um
lado, a instalilidado da posição social, hordada dos pais o sontida no
prosonto como a amoaça do rolaixamonto, aposar do todo o ostorço para
ascondor socialmonto, podo sor dotinida como a u~::auìag~n ~:ì:uìu:aI
u· üaìaIIau·: ~n :~Ia¸a· à: cIa::~: u·n:uauì~:, guo não vivom osta
amoaça o para as guais a luta por dignidado o sogurança não ó o contro
390
do todas as proocupaçòos. Por outro lado, podo sor dotinida como a
:auìag~n ~:ì:uìu:aI u· üaìaIIau·: ~n :~Ia¸a· à :aI~, já guo osta consisto
numa condição social marcada pola ostalilização da oxclusão ao longo
do goraçòos, pola oxclusão ostávol¨, pola oxpoctativa do guo não adianta
alimontar nonhuma oxpoctativa.
4
Não guoromos atirmar agui guo o catolicismo soja dosprovido dosta
molilidado, o guo , aliás, paroco sor um dos traços guo o movimonto
Ronovação Carismática tom ajudado a dosonvolvor dosdo guo ganhou torça
na lgroja católica. No ontanto, ó sompro nocossário não pordor do vista uma
ditoronça tundamontal, uma trontoira muito clara para a molilidado do
loigo a tunçòos ospocíticas tcatoguista, ministrota) da oucaristia): o ostilo
do vida do sacordócio católico so atirma om dicotomia com ostilo do vida
loigo, ou soja, ou so ó vocacionado para o matrimonio o a constituição
do uma tamília ou para o sacordócio.
5
ROCHA, TORRES. O cronto o o dolinguonto.
6
BOlTANSKl, CHlAPEllO. EI uu~:· ~:j:::ìu u~I caj:ìaI::n·.
¯
O tuturo traçado¨ nada tom a vor com um sontido lalístico¨ para a
trajotória do indivíduo. Bornard lahiro tom roda razão guando donuncia
osta conclusão tácil to insustontávol) om uma tooria das disposiçòos¨
guo protondo tazor lom uso da horança lourdiosiana. Com a idoia do
tuturo traçado¨ guoromos justamonto mostrar guo há, mosmo som o
sontido lalístico, dotorminação na trajotória individual. Quoromos rossaltar
simplosmonto guo, no soio das tamílias o das intoraçòos guo cuidam da
torma do socialização do cada classo social, sompro algumas possililidados
o oxpoctativas são alimontadas, traçadas¨, ontão, om dotrimonto do outras.
Ct. lAHlRE. R~ì:aì·: :·c:·I·g:c·:
8
Dovo ticar claro guo a lURD tamlóm ó troguontada por possoas guo não
tazom parto da raló, o guo não invalida a idoia do guo a domanda polo
socorro ospiritual¨ om guo osta igroja noopontocostal so ospocializou ó
uma nocossidado típica do guom vivo situaçòos do dososporo, situaçòos
guo, por sua voz, são típicas da raló.
9
DlAS, lUZ. Vulhoros no pulpito: práticas o roprosontaçòos na igroja om
cólula no modolo dos 12 om loira do Santana, p. 3.
10
Entro ostas atividados ostão o controlo do rolatórios dos sous lidorados
com as intormaçòos do como toi a rounião, o numoro do possoas, o
numoro do convorsòos, o numoro do possoas para o oncontro, numoro
do possoas na oscola do lídoros, guantidado do otorta o a provisão do
alrir mais cólulas.
11
DlAS, lUZ. Vulhoros no pulpito: práticas o roprosontaçòos na igroja om
cólula no modolo dos 12 om loira do Santana, p. 8.
12
Disputas sociais onvolvondo os saloros logítimos¨ da prática roligiosa são
um toma caro a Vax Wolor o a Piorro Bourdiou. Solro as disputas guo
onvolvom a tontativa do logitimar o doslogitimar os saloros da intoração¨
como salor roligioso vor T\REll. Roligion als Kommunikation. Augo, Ohr
und Vodionvioltalt, p. 41-96.
391
13
T\REll. Roligion als Kommunikation. Augo, Ohr und Vodionvioltalt, p. ¯¯.
14
Vor lUHVANN. lntoraktion und Gosollschatt, p. 813-825.
15
lUHVANN. D:~ ·~:~II:cIaJì u~: ·~:~II:cIaJì, p. ¯88.
16
Ë o caso do sociólogo alomão Hartmann Tyroll.

CASTEllO, lAVAllE. As lonossos dosto mundo: associativismo roligioso
o inclusão sociooconomica.
18
CASTEllO, lAVAllE. As lonossos dosto mundo: associativismo roligioso
o inclusão sociooconomica, p. 88.
CONClUSAO
1
lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a.
2
WEBER. D:~ W::ì:cIaJì:~ìI:L u~: W~Iì:~I:g:·u~u.
3
lAVOUNlER, SOUZA. · cIa::~ n~u:a ü:a::I~::a, p. ¯.
4
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A maior parto das posguisas ompíricas guo so dizom gualitativas¨ tamlóm
são choias do oguívocos como a acoitação ingônua do guo o intormanto
roporta solro si mosmo como vordado imodiata.
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lluminonso Darcy Riloiro tUENl). Ë doutorando om Sociologia
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DjamIIIa OIIvcrIo - Graduanda om Ciôncias Sociais pola
Univorsidado lodoral do Juiz do lora tUlJl). Suas ároas do
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Emcrson RocÞa - Vostro pola UlJl. Atuou como colalorador
na olra · :aI~ ü:a::I~::a. gu~n ~ ~ c·n· :::~, do Jossó Souza.
FabrIcIo MacIcI - Doutorando om Ciôncias Sociais na UlJl o
na H. S. lroilurg, Alomanha. Ë posguisador do Contro do Posguisa
solro Dosigualdado tCEPEDESUlJl) o autor do livro · 1:a::I-
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FcIIpc CavaIcantc Barbosa - Graduando do curso do Admi-
nistração do Contro Acadômico do Agrosto da Univorsidado
lodoral do Pornamluco tCAAUlPE). Está vinculado ao Nucloo
Sociodado, Cultura o Comunicação tSCC).
MárcIo Sá - Vostro om Administração pola UlPE. Ë protossor
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c·uì~nj·:au~· o 1~::auì~: tostos ultimos no prolo).
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MarIa dc Iourdcs McdcIros - Vostro pola Univorsidado
lodoral do Rio Grando do Norto. Sua ároa do intorosso ó Socio-
logia Política a partir da alordagom crítica do Piorro Bourdiou.
Ë postulanto no Vostoiro Santa Cruz, Ordom do São Bonto, om
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RIcardo VIsscr - Vostro om Ciôncias Sociais pola UlJl o
posguisador do CEPEDES. Tralalha no toma do tolomarkoting
como procarização do tralalho tormal.
Robcrto 1orrcs - Doutorando om Sociologia pola Humloldt
Univorsität zu Borlin o posguisador do CEPEDES. Pullicou, dontro
outros, o artigo O noopontocostalismo o o novo ospírito do
capitalismo na modornidado poritórica¨ t200¯).
1ábata Bcrg - Graduanda om Ciôncias Sociais pola UlJl o
posguisadora do CEPEDES. Dodica-so atualmonto a posguisar a
Tooria Varxiana o Varxista Ocidontal.
A ¡resenle edição foi com¡osla ¡eIa Idilora
UIMG e im¡ressa ¡eIa Grafica e Idilora
DeI Rey, em sislema offsel, ¡a¡eI off sel 90g
(mioIo) e carlão su¡remo 300g (ca¡a), em
maio de 2012.

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