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Em ciência temos de aceitar na nossa investigação enunciados falsos como aproximações,
conquanto não sejam demasiado falsos e tenham grande conteúdo de verdade.
(...) A procura da verosimilhança é uma meta mais clara e realista do que a busca da
verdade. (...)
Resta-nos somente termos argumentos fortes e razoáveis para pretendermos ter avançado
até à verdade, isto é, que a teoria T2 é preferível à sua antecessora T1.
Nunca podemos justificar racionalmente uma teoria, mas podemos justificar racionalmente
a preferência provisória por uma teoria sobre todo o conjunto de teorias rivais. (...)
Ainda que não possamos justificar a pretensão de que uma teoria seja verdadeira,
podemos justificar que tudo parece indicar que a teoria constitui uma aproximação da verdade
maior do que qualquer das teorias rivais propostas até ao momento.»
Karl Popper
«Popper conduz-nos à tese de que uma teoria que não formula claramente as condições da
sua própria refutação não é uma teoria científica. (...) Einstein, ao propor a teoria da
relatividade generalizada, pôs a sua teoria em jogo , arriscou tudo na sua exposição à
falsificabilidade. É isso que define a ciência: não fugir dos eventuais desmentidos da
experiência, mas provocá-los; a ousadia das hipóteses e a serenidade na aceitação dos seus
riscos. A falsificabilidade pode assim fornecer o procurado critério de demarcação entre a
ciência e a não-ciência.
Defensor de uma concepção eminentemente conjectural do conhecimento, Popper vê a
história da ciência como uma evolutiva articulação, e transformação, de problemas que, através
de várias tentativas, se vão (ou não) solucionando, suscitando novos problemas, e assim
sucessivamente.
O que se procura é compreender o crescimento do conhecimento (…). O desenvolvimento
do conhecimento, diz Popper, 'não é um processo repetitivo ou cumulativo, mas um processo de
eliminação de erros'.»
Manuel Maria Carrilho
Conclusão
Para Popper, a experimentação não confirma as hipóteses teóricas, mas, caso não as refute,
mostra a sua aceitabilidade. Em sua opinião , a ciência vê no teste da experiência uma excelente
oportunidade para pôr a teoria à prova, pois só as teorias refutáveis ou falsificáveis são científicas.
Aquelas que explicam tudo, que não necessitam de submeter-se ao teste da falsificabilidade, não são
científicas. Científica é aquela teoria que admite o erro, pois as que estão absolutamente convencidas
da sua verdade ou são metafísicas ou religiosas.
É por isso que o conhecimento é uma conjectura que busca a refutação.
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A história da ciência como sucessão de revoluções
Uma maior atenção concedida nos últimos decénios à história das ciências, sobretudo aos
momentos de crise e de emergência de novas teorias, levou alguns epistemólogos a pôr em causa a
representação da história da ciência como um progresso contínuo e ininterrupto e a propor um outro
modelo explicativo dessa história.
Segundo eles, a história da ciência não se revela como um desenvolvimento contínuo e
progressivo no sentido de uma maior verdade, mas deve antes ser lida tal com a história política, ou
seja, como uma sucessão de revoluções, de rupturas, de alterações mais ou menos bruscas e de
substituições de diferentes paradigmas.
O principal defensor desta tese na epistemologia contemporânea é Thomas S. Kuhn,
designadamente na obra A Estrutura das Revoluções Científicas (1962).
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Paradigma − conjunto de leis, teorias, métodos, dispositivos experimentais, considerados exemplares (ou modelos) numa
actividade científica, e que estão na origem de uma tradição de investigação. Podemos acrescentar também que os
paradigmas são princípios de explicação que comandam e orientam o modo como vemos o mundo.
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Ciência normal − processa-se no âmbito dos pressupostos definidos por um paradigma dominante e aceite pela
comunidade científica.
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A ciência extraordinária (ou anormal), reflecte um momento de crise e de polémica, em que se ensaiam e confrontam
soluções novas para os novos problemas surgidos
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Uma mudança de paradigma, como a ocorrida no século XVII, com a substituição do paradigma ptolomaico geocêntrico
(no qual o Universo é pensado como finito, fechado e centrado na Terra, que está fixa, girando os outros astros à volta dela)
pelo paradigma heliocêntrico de Copérnico e de Galileu (que altera as posições relativas do Sol e da Terra, colocando o Sol
no centro do Universo e a Terra a girar à sua volta), alterou não só a prática e as concepções científicas, mas
simultaneamente a visão do mundo e o lugar do homem no seu seio.
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As revoluções científicas são autênticas rupturas, pois os paradigmas em confronto são incomensuráveis, isto é, cada
novo modelo é radicalmente outro que o anterior, não havendo conciliação nem sequer analogias possíveis.
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Conclusão
Da posição de Kuhn não decorre a negação do progresso da ciência, mas sim a negação da ideia
de um progresso contínuo e cumulativo do saber. O progresso existe, mas é descontínuo, feito de
rupturas, de substituição de paradigmas − e não por transformação lenta de uns paradigmas noutros.
Tarefa
Faça uma pequena pesquisa sobre T. Kuhn e tente responder às seguintes questões:
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