Вы находитесь на странице: 1из 9
Estética Natural e Etica Ambiental, que relacao?! Maria José Varandas Centro de Filosofia da Universidade de Lishoa Abstract This paper defends that environmental aesthetics provides a consistent basis for envi- ronmental philosophy, whereas aesthetic value plays an important role in the defense and preservation of natural areas, For several environmental philosophers the natural beauty isan inherent part of the ethical concern. Leopold states that “a thing is right when it tends to preserve the integrity the balance and the beauty ofthe biotic commu nity", Notwithstanding, aesthetic value is stil not a central issue in the environmental debate, On the other hand, the "positive aesthetis” (Allen Carlson), which isa recent approach that reevaluates "positively" natural beauty in the ethical context, obtains 1 core of objections. This paper sketches a few arguments defending the contiguity between environmental aesthetics and environmental ethics: (3) the emotional percep tion of inclusiveness and engagement on the aestheties appreciation of nature. (i) he feelings of grace and love toward nature inherent wo the nature's aesthetic appreciation which according Kant announces the moral feeling (iii) the ecological knowledge of natural beauty in order to understand the fall meaning of it, and that includes some natural entities seen as not beautiful Keywords estética natural, belo natural, sentimento moral, Kant, ética ambiental, apreciacio esté- tica da natureza, estética posiiva I Quando John Muir (1838-1914) contemplou pela primeira vez a be- leza pujante da Sierra Nevada pensou que a qualidade estética da natureza comportava uma dimensio objectiva de raiz divina, apenas maculada pela imiscao hum: ‘O mesmo ndo se passou, anos mais tarde, com William Mulholland (1855-1935), chefe do Departamento de Agua e Energia de Los Angeles que, na ansia de canalizar agua para a cidade, no reparou na beleza da Sierra, com as suas intimeras ¢ voldteis cascatas, as suas elegantes formas 1. Este artigo fol publleado na revista Philaphica.n.°39 philoply lisbon, 2 9199, Lisboa: CFUL oo Maria José Varandas moldadas pelos glaciares, as suas magnificas e gigantes sequdias, a sua rica © multi-colorida fauna ¢ flora, Nao, nao reparou no magnifico especticulo cénico diante dos seus olhos, apenas viu os agricultores e os habitantes da regido €, em fungao deles, lancou uma proposta ao superintendente do parque Yosemite para represar todo o vale, convertendo-o num imenso reservatorio de utilidade publica. ‘A sua proposta nao dava conta de um efeito incontroverso ~ a ani- quilacdo de um espaco de uma beleza irradiante. E foi, justamente, esse valor estético que salvou o vale, embora o mesmo nao tenha acontecido em outros trechos da regiao que, em anos subsequentes ¢ apesar das mo- vimentagdes ptiblicas em prol da estética natural, foram transformados em gigantescas lagoas. Nos conflitos gerados pela relacio do homem com a natureza, os valores estéticos tém constituido, na pritica, um poderoso € decisive ar gumento na defesa € preservacdo das realidades naturais, contribuindo, juntamente com os de ordem moral, para complementar os argumentos ‘de natureza tendencialmente instrumental (Sagoff, 1991). A este respeito 6 fildsofo ambiental Baird Callicott afirma, No que toca d conservacio € gestdo de recursos, a estética natural tem sido istoricamente, na verdade, muito mais relev Grande parte das deci tética do que pelos valores éticos, mais pela beleza do que pelo dever, (Calli- cot in Carlson8eLintott (ed), 2008:1) te do que a ética ambiental 1s conservacionistas foram motivadas mais pela es Entre outros aspectos € numa primeira andlise, tal facto justificarse-t porventura, pela imediatez perceptiva da experiéncia estética da natureza € pela respectiva qualidade de gerar 0 envolvimento € compromisso no sujeito, induzindo neste um sentimento de incluso e continuidade com 0 meio natural (Berleant,1992-4). Tratar-se-4, porventura, de uma experién- cia total, j4 que convoca todos os sentidos ~a visio, seguramente, mas tam- bém 0 olfacto, a audicao, 0 tacto, o sabor ~ €, 20 mesmo tempo, totalitaria, enquanto evocagao de uma identificacio simbidtica com 0 Todo, tal como expressivamente Rosario Assunto descreve: A paisagem com os seus aromas, mas também com as suas cores, a suas le es, Com 0 seu céu, a suas gus, as suas rochas, a sua vegetacio, as suas aves Cc insectos ¢ animals de todo o tipo; que chega 20s nossos pulldes, entrnos Titeralmente no sangue, e expandese pelos membros, fazendo-nos sentir lunos com a natureza: ¢ exalta o nosso ser natureza, a natureza que esté em nds e reavivta; € dela faz objecto de deleite para a alma, suscitando em nés ‘valegria da nossa identificacio com a natureza, de fazer da sua a nossa ale ‘Sago argumenta que fir esteticamente as comunidades ecoldgicas ou valorislas moral mente significa encontrar nelas ou mas sas qualidade, a8 mazes que justificam 4 sua proteccio (igen) philosophy 10N} Estitca Naturale Etca Ambiental, gue relagao? % aria, (in A Verissimo Serrio (coord), 2011:367). Neste ponto, no esquecamos Rousseau que, na Nova Heloisa, di tes- temunho “da escalada das montanhas alpinas como se se tratasse de uma vivencia de arrebatamento fisico, psicoldgico e moral” (Leonel Ribeiro dos Santos, 2006: 11). Sera este mesmo sentimento de arrebatamento que Pe- ter Singer evoca quando admite: Contemplei quadros do Louvre e em muitas outras grandes galerias da Exe ropa e dos Estados Unidos, Creio que tenho um razoivel sentido de apre= ciacio das helasartes. Contuclo, nao tive em museu algum experiéneias que tivessem preenchido o meu sentido estético a tal ponto realizantes como quando caminho por um censrio natural e fago uma pausa para admirar do alto de um pico rachoso a paisagem de um vale coberto de floresta (..). Greio nao ser o tinico a sentir tal exaltacio; para muita gente, a Natureza consti a fonte dos mais altos sentimentos de emocio estética, elevando-se uma intensidade quase espiriual. (Peter Singer, 2000:295) Enumerar testemunhos acerca da relacao entre a experiéncia do belo natural € a dimensao axiolégica da representacio do mundo seria tarefa intermindvel € nao relevante. Destacaremos, por isso, na grande maioria desses relatos a comum referéncia ao elemento fusional presente na apre- ciacao estética da natureza que faz sentir o sujeito na natureza € parte da natureza € nao propriamente diante dela, como quando esté diante de uma pintura pendurada na parede (R. Hepburn int A, Verissimo Serrao (coord.), 2011: 234). Envolvimento, comprometimento, arrebatamento, completude, in- corporacio constituem termos que, com frequéncia, caracterizam a viven- cia estética do mundo natural, distinguindo-a da contextualidade da arte que se configura no enquadramento e distanciamento do objecto artistico. Ser, porventura, nessa re-vivencia, ou seja, nessa poténcia de reavivamen- to emocional de uma unidade fusional perdida ou na ilusdo dessa unidade (Sell in AV.Serrao (coord.), 2011: 411) que a defesa do meio natural co- Ihe mais pela via da estética do que pela da ética, como testemunha Baird Nao sendo intengao nossa perdermo-nos no debate acerca das espe- Cificidades da estética natural, debate esse importantissimo, alias, no mo- mento em que a obsessio industrializadora obnubilou, até certo ponto, 0 valor estético do ambiente, avancaremos para o questionamento que in- daga sobre a modalidade de relacao entre a estética e a ética ambientais, tendo em mente as palavras de Kant que, na Critica do Juézo ($ 42), afirma: ‘Tomar interesse imediato pela beleza da Natureza é sempre sinal de boa alma, ¢, se este interesse & habitual, pelo menos indica uma disposicio de Animo favorivel ao sentimento moral. (...) Podemos considerar como uma amabilidade que a natureza teve em relacdo a nds, o facto de ela ter distr philosophy EEN 9% Maria José Varandas buido com tanta abuncncia, para além do que é til, ainda a beleza e 0 encanto e por isso a respeito por causa da sua imensidio e nos sentimos enobrecidos nesta con templacio. vamos, da mesina forma que a contemplamos com. 0 Um olhar de relance pelas teses de eticistas na esteira de Leopold (Callicott, Rolston, Hargrove, Sagoff, entre outros), confirmaa tese de mui- tua implicacdo entre a estética ea ética ambientais. Com efeito, quando Leopold afirma que “algo € bom quando tende a preservar 0 equilfbrio, a integridade € a beleza da comunidade bistica” (Leopold, 2008:206) con- densa diferentes planos semanticos num mesmo horizonte significative ~ se a beleza se impoe como presenca ontolégica no mundo, ela constituir -se-i, por isso, como fundamento ce moralidade, um imperativo do agir Nesse deslizar da ética para uma estética da terra, Leopold sustenta que 0 gosto refinado pelos objectos naturais constitui a dimensio estru- tural da ética da terra que emerge, como na arte, da atraccio induzida pelo gracioso, expandindese através de sucessivos patamares de beleza até valores intraduziveis pela Tinguagem (Callicott, 1987:158). No entan- to, para 0 autor, 0 apuramento de uma sensibilidade espontanea exige © conhecimento € a informacio esclarecedoras, daf que afirme que s6 a compreensio dos processos ecolégicos habilita a aprender a beleza na acepeao contextual que Ihe é prépria, intensificando a sua experienciagao que, nesse stibtil intercdmbio da cognicio e da sensibilidade, se manifesta em completude multisensorial de sons, texturas, sabores, odores € cores, Ainda que poderosamente sugestivo, 0 apelo ao valor estético para a preservacao da natureza confronta-se com dificuldades de varia ordem quando se passa para o plano da fundamentacao tesrica, pois, apesar da omnipresenca espicio-temporal do belo natural, € todavia inegivel a sua dependéncia estreita de preferéncias, idiossincrasias, contextos culturais €, por isso, nao se afigura simples determinar os critérios definidores de uma estética natural, ou a relacio do valor estético com os outros tipos de valor (moral e instrumental) ou, mais importante ainda, atingir alguma consenstalidade na defesa do belo natural em sirelativamente aos espacos arquitecturais, como um jardim ou um plano urbanistico, por exemplo. Com efeito, a remissio do conceito de belo natural para uma natureza pristina - enquanto lugar do belo em estado puro - parece constituir uma tentacdo a que nao escapam reconhecidos autores da estética ambiental, nomeadamente, Allen Carlson que delineia uma estética pasitioa a partir da assungio de quatro teses fundamentais (Ned Hettinger, 2005): I. Atese da beleza intrinseca- A natureza vingem tem sobretudo qua- philosophy IED Estitca Naturale Etca Ambiental, gue relagao? 97 lidades estéticas positivas 2. A tese dos juuizos nao negativos ~ Os juizos negativos acerca da natureza sio inapropiados 3. A tese do igualitarismo estético - Tudo na natureza € valorizavel esteticamente de igual modo 4. A tese da perfeicao estética — superlative. Para Carlson, a apreciacao estética da natureza radica muma inte- raceio fisica que apela nao s6 para todos os sentidos, mas também para o conhecimento apropriado dos objectos de apreciacio, nao privilegiando configuracées naturais especificas. Defendendo que toda a apreciacao es- tética envolve uma apreciacdo cognitiva, o autor argumenta que este tipo de experienciacio sensivel requer a mediacio do conhecimento dos pro- cessos de formacao e de evolucao das realidades naturais, como factor de clucidacao ¢ refinamento da sensibilidade, que deste modo descobre a na- tureza tal como a ciéncia a interpreta, ou seja, no seu significado simbidti- co, equivalente a ordem, regularidade e harmonia, Segundo Carlson, esse significado traduz.a verdade do objecto de apreciagao, porquanto a ciéncia €a fonte da verdade objectiva, revelando e dewendando as propriedades intrinsecas dos objectos sob a aparéncia da imagem. Tal como para Leo- pold, que reclama por uma literacia ecolégica na apreciacao da estética natural, contemplar uma montanha é para Carlson, algo mais do que ver firvores, cores, flores. E, também, compreender a sua hist6ria natural, as suas populacdes especificas € as relagSes que a animam. Porém, a alegacdo de uma natureza intocada onde a beleza floresce em miiltiplas formas préprias e em todas as suas partes, parece ignorar o facto da omnipresenca humana no mundo ¢ a correspondente influéncia global da sua accio como factor de inegavel afeccio de toda a superficie planetaria. Em consequéncia, © que Carlson apresenta como tese - a de que a natureza virgem possui uma mais valia estética relativamente & tervencionada pelo homem - colocar-se-t sobretudo como conjectura. Na le, onde esta a natureza virgem? Escorar uma teoria em conjecturas constitui um claro enfraquecimento da sua soliclez argumentativa, dai que a defesa de Carlson em prol de uma estética positiva nao escape a uma pluralidade de objecedes. No entanto, dois aspectos hi nesta teoria que nos merecem particular atencao: por um lado, a introdugio da razdo cognitiva na leitura do belo natural, por outro a relacao que af se afirma entre o ético € o estético, Com efeito, se a apreciacio estética da natureza nao carece de uma literacia ecolégica para que uma realidade natural x, seja ela qual for, se apreenda como bela, a inclusio do valor estético no discurso preservacio- nista reclama o entendimento desse valor no seu significado temporal, 0 que pressupde 0 conhecimento da sua performance adaptativa ao longo de philosophy EM A natureza tem um valor estético 98 Maria José Varandas toda a sua hist6ria evolutiva, Tratarsed, de um contexto semantico que pode, com efeito, libertar a apreciacao da natureza de uma perspectiva culturalmente esteriotipada, de raiz pictérica ou panoramica, que, como deplora Leopold, rotula alguns lugares de “chatos” ou de “entediantes” € outros de “espectaculares” ou de “extraordinarios”, Assim, muito embora 08 critérios biolégicos ou ecoldgicos, cle ordem factiva, sejam irredutiveis a dimensio valorativa da experiéncia estética, 0 valor ecolégico constituitia um modo, simultaneamente intensivo € extensivo, de contextualizacio do valor estético da natureza, oferecendo a espontaneidade sensivel da con- templacdo do mundo natural, um roteiro objectivante de orientacao € de ordem, Por outro lado, no podemos deixar de aqui sublinhar a presuncao deste autor de que a apreciacao estética da natureza é um precioso auxiliar na modelacao da dimensio ética do mundo natural, contribuindo para © desenvolvimento de atitudes de respeito € de proteccio ecolégicas. No mesmo sentido, chamamos Martin Sell que, sobre o tema, se pronuncia estes termos “a estética da natureza explicitada revela-se como parte de uma ética geral da vida boa” (in A. V. Serrio (coord.), 2011: 397). E, essa parte, presumimos nds, € de ordem fundacional porquanto acreditamos que € pela via da estética natural que, emocionalmente, se estabelece um Jaco entre o ser humano € a natureza de reciproca dependéncia e solida- riedade que propicia sentimentos de amor ¢ respeito para com ela. Daf que assumamos a confinidade entre os valores estéticos € 0s valo- res morais € afirmemos a fecundidade da sua efectiva articulacio no deba- te ambiental ¢ na preservacio de realidades naturais. Corroborando Emily Brady (2003) também cremos que a experiéncia estética € a forma mais directa e comum de valorizacio da natureza, potenciando uma atitude de lado para com ela. Uma perspectiva critica da estética ambiental con- ir, porventura, a uma visio mais ampla dos matizes do belo que, como admite Rolston, Brady ou Berleant, pode passar pelo feio ou 0 chocante propiciando uma apreciacao valorativa igualmente marcante, quer se este- jana presenca de uma borboleta ou de um escaravelho, por exemplo; ou perante um pordo-sol no mar ou em frente a um pantano sob um manto de nuvens cinzentas’, A este respeito, Arnold Berleant lembra que na na- tureza, tal como na arte, o feio tem também a sua beleza, porquanto nao a perfeicio que define a qualidade estética do mundo natural, mas sim a stia infinita variedade, a riqueza das suas multiplas formas ¢ seu cardcter nico ¢ singular. Dado 0 exposto, retenhamos duas consideragdes. Em primeiro lugar, 5. * Visto este paintano, pelo menos, uma ver em cada estaco. As plantas nie sio, segundo os padres de jardinagem bonita (..)A beleza deste pantano (.) € uma funedo (..) dos inereo exes dos seus componente. (..) Hai um ajustamento percept, uma unidade af no muito diferente de uma sinfonia ou de uma tragéia"(Callicot, 1987:156) philosophy EEN atta Naturale bite, gue rela? 9 nao nos oferece divida alguma 0 juizo de que a contemplacao do belo natural é uma experiéncia fortemente significativa para a maior parte dos seres humanos, em segundo lugar, a intensidade dessa significacao leva- nos a crer que é na vivéncia do belo natural que reside o primeiro movi- mento, porque espontaneo, gratuito, ¢ sensivel, para o agir ético, Como tantos testemunham, a emocao que se experimenta na contemplacao de uma paisagem natural, conduz ao sentimento de ligacdo com a vida, um sentir-com-todasas-coisas, que, cremos, constitu a dimensdo fundante de uma ética de respeito € de ndo-

Вам также может понравиться