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. i : DAVID J. HESSELGRAVE PLANTAR ames hg ee PARA MEAUSSOES PLANTAR IGREJAS David J. Hesselgrave Contribuigdes de Earl J. Blomberg Este livro, em harmonia com a Palavra e de cardier pralico, oferece ao estudante de missées um método gradual para a planta¢ao de igre- jas. Cada faceta de um plano mestre para aleangar novas comunidades é apresentada sob os aspectos teoldgico, cientifico pratico. As dife- rencas culturais sdo analisadas, e os missiondrios sao orlentados a transcender as proprias experiéncias culturais. Q livro mosira que ndo $6 a evangelizacao, mas também a fundacao € 0 crescimento de igrejas encontram-se no amago da missao crista. ‘Também se apresentam as responsabilidades dos lideres das igrejas, quais sejam: planejar estratégias ¢ desenyolver recursos para adenirar novas dreas, converter pessoas e organizar igrejas. A esirutura para essas atividades de plantacao de igrejas € 0 ciclo paulino. As partes principais do livro sao: * 0 cristao e a missao crista; * o lider cristao e a missao crista; * a igreja missionaria e a missao crista; © a igreja emergente e a missao crista; © a igreja missionaria e a missdo crista (conlinuagao). David J. Hesselgrave 6 professor de missoes e diretor da Escola de Missces Mundiais ¢ Evangelizaeso da Trinity Evangelical Divintty School. Foi por muttos anos missionario no Japéo, trabalhando na organizacau de igrejas. Fol formado pela Trinity Evangelical Divinity School ¢ pela Universily of Minnesola (ga, 9, exp), 8 autor também do livia Comunicacao ‘Transcultural do Boangetho, volumes 1, 263. ISBN 85-275-0133-3 9 Wress27'507 330) PLANTAR GREJAS UNI GUIA PARA MISSOES NACIONAIS E TRANSCULTURAIS prélogo contribuicgdes “Santa Lectura" © 1980 de Baker Book House Company Titulo do original: Planting Churches Cross-Cutturally: A Guide for Home and Foreign Missions 1? edigfo: 1984 Reimpressao: 1989 23 edigio: 1995 Publicado no Brasil com a devida autorizac4o e com todos os direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDICOES VIDA Nova, Caixa Postal 21486, Sdo Paulo, SP. 04698-970 Proibida a reprodugdo por quaisquer meios (mec4nicos, eletrénicos, xerograficos, fotograficos, gravacio, estocagem em banco de dados, etc.). Permitida a reproducdo parcial somente em citagdes breves em obras, criticas ou resenhas, com indicac4o de fonte. Printed in Brazil | Impresso no Brasil Revisao * JULIO PAULO T. ZABATIERO Capa * ipis ROXANE Dados internacionais de catalogacdo na publicacdo (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hesselgrave, David J. Plantar igrejas : um guia pare missies nacionais e transculturais / David J. Hesseigrave ; prdlogo de Donald A. McGavran ; contribuigSes ¢e Earl J. Blomberg ; | tradugio Gordon Chowr |. ~ 2. ed. — Sao Paulo : Vida Nova, 1995. Titulo original: Planting churches cross-accu- rally ; a guide for home and foreign mis Bibliografia. ISBN 85-275-0133-3 1. Evangelizacao 2. Igreja - Crescimerto 3. Missiondrios 4. Missdes I. McGavran, Donaid A. I? Blomberg, Earl J. Ill. Titulo. 95-2182: F cDD-253 indices para catdlogo sistematico 1. Implantagao de igrejas : Missdo crista 253 Prdlogo Este é um livro magnifico sobre a missdo cristd — licido, de amplo alcance, e biblico. David Hesselgrave, da Trinity Evangelical Divinity School conhece a teoria das missdes, sua teologia, sua metodologia, e sua histéria — e as descre- ve bem. Hesselgrave faz com que as misses de muitas igrejas em muitos paises Ihe devam gratidao enquanto expe o que é a missdo e como deve ser levada a efei- to nas situagdes muito diferentes nas numerosas sociedades das quais 0 nosso mundo é composto. Os missidlogos se regozijarao neste livro. Os professores de miss6es farao dele leitura obrigatéria para as suas classes. A estrutura do livro surge sistematicamente da idéia-chave de que a tare- fa essencial da |greja, num mundo em que trés quartos de todos os homens e mulheres ainda ndo créem em Jesus Cristo como Deus e tinico Salvador, é a de - blantar novas igrejas. O processo da miss%0, ordenado por Cristo e demonstrado por Paulo, é descrito como consistindo em dez passos. Hesselgrave é um missié- logo competente demais para deixar os leitores pensarem que estes passos s3o tudo quanto existe na obra missiondria. Mas é notavel como boa parte da mis- sdo em todos os seis continentes pode ser corretamente catalogada e compre- endida sob os seguintes titulos: Os Missiondrios Comissionados, 0 Auditério Contatado, o Evangelho Comunicado, os Ouvintes Convertidos, os Crentes Congregados, a Fé Confirmada, os Lifderes Consagrados, os Crentes Recomen- dados, os Relacionamentos Continuados, as Igrejas Missionérias Convocadas, e, finalmente, Mais Missiondrios Comissionados. A discriminagado, o bom julgamento, e a dedicacdo imperturbavel ao 4ma- go da missdo, marcam este livro. Dois exemplos ilustraréo esta exceléncia. No Capitulo 16, Hesselgrave fala dos relacionamentos que continuam entre as igre- jas e as missdes. Depois de citar Harvie Conn no sentido de que em di/tima ané- lise a igreja e a missdo devem ser integradas, Hesselgrave concorda, e depois apressa-se para dizer: in 6 PROLOGO Nd&o devemos, no entanto, esquecer-nos de dois fatores. Em primeiro lu- gar, a maioria das missOes existe sob a égide das igrejas [e, portanto, ja pertencem as igrejas]. Em segundo lugar, enquanto os governos permi- tem que as missdes tenham a liberdade de evangelizar,... a responsabilida- de... de fazer isso nao deve ser sacrificada a fim de integrar-se com igre- jas receptoras que nado tém uma visdo dada por Deus para essa tarefa. No Capitulo 10, falando da contextualizagao da mensagem evangélica, Hesselgrave exorta os leitores a se Jembrarem de que “nado somente a Escritu- ra revela um dmago salvifico, como também revela que o amago salvifico foi adaptado a varios auditérios — nado para agradar seus preconceitos e gostos a fim de tornar a mensagem gostosa mas a sua cosmovisdo e ao seu entendimen- to para tornd-la compreens/vel.”” Ansiamos por semelhante distinc¢do nalgumas pessoas que escrevem e falam acerca da contextualizagaéo. O embaixador nun- ca altera a mensagem. Deve, no entanto, assegurar-se de que foi compreendida. Um mérito especial deste livro 6 seu desenvolvimento sistematico de cada tdpico principal. O arcabouco, que varia apenas um pouco de capitulo em capi- tulo, conserva o pensamento focalizado nos objetivos basicos. Os missiondarios de carreira e os candidatos sendo treinados tirardo proveito desta apresentac¢do magistral.. Os lideres eclesidsticos que se atarefam zelosamente em redefinir a missdo no sentido de “tudo quanto Deus quer que os cristdos fagam”’ (nosso claro de- ver cristéo) no gostarao deste livro, mas os lideres eclesiasticos e os missidlo- gos que definem a misséo como a propagacao transcultural do evangelho fica- rao contentes com ele. Os 75.000 missiondrios que esto trabalhando em todos os seis continentes aclamarao sua clareza, sua larqueza, e sua profundidade. A medida em que as congregacées, as denominacées, e as sociedades missiondrias multiplicam igrejas e levam a efeito a vontade do Salvador no mundo mais res- ponsivo que ja existiu, cumprirao sua tarefa muito melhor por terem lido P/an- tar /grejas. Donald A. McGavran Escolas de Miss6es Mundiais Seminario Teolégico Fuller Pasadena, Califérnia, EEUU. Prefacio Cristo amou a Igreja e Se deu por ela. Embora de maneiras que parecam incon- sequentes por compara¢do, eu também tenho amado a Igreja e me dado a ela. Durante trinta e cinco anos tem sido meu alto privilégio servir a Cristo na co- munhégo da Igreja Evangélica Livre, nas igrejas locais nos Estados Unidos, nos ministérios de implantacdo de igrejas no Japdo, e num ministério de ensino na Trinity Evangelical Divinity School. Este livro, portanto, é fruto de trinta e cinco anos de obra pioneira e de pastorado, de leitura e de pesquisa, e de aprender e ensinar no convivio de, li- teralmente, milhares de pessoas que tém sido meus instrutores e minha inspi- racao no servico a Cristo e 4 Sua Igreja. Os seguintes apenas representam o numero maior: Agradeco as congregacées em Radisson (Wisconsin), em Minneapolis — St. Paul, em Rockford (Illinois), e em Chicago, bem como em Urawa, Wara- bi, e Quioto (todas no Japao), pelo seu apoio paciente e pelas suas oracées. A gratidfo do fundo do coracdo é expressa aos meus colegas do corpo docente em Trinity — os Professores Arthur Johnston, J. Herbert Kane, e Victor Walter — que forneceram est/mulo e inspiragao. O pessoal no Escritério Central da Igreja Livre, inclusive o Dr. Lester Westlund e os Reverendos Robert Dillon, Wesley Gustafson, Vernon Anderson, R. Dean Smith, e Lewis R. Wimberley, tém me dado apoio. Os estudantes em Trinity — e especialmente Greg Best — tém ajudado muito. A Sra. Carol Chmela datilografou o manuscrito. No curso dos anos, tenho desfrutado de vdrios contatos com o Dr. Donald McGavran, e€ em cada ocasido tenho recebido beneficios. Seu Prdlogo a este livro é mui- to apreciado. Conforme tem sido o caso em todos os empreendimentos — di- reta e indiretamente — minha esposa, Gertrude, e meus filhos, David Dennis, Ronald Paul, e Sheryl Ann, tém feito contribuicdes inigualaveis. 8 PREFACIO O Professor Earl Blomberg do Evangelico Seminario Associado em Mara- cay, Venezuela, merece mengao especial. Como estudante em nosso progra- ma de Doutorado em Missiologia, o missiondrio Blomberg fez trabalhos taéo destacados nas pesquisas sobre a implanta¢do de igrejas que pedi que ele com- partilhasse comigo na escrita deste livro. Fiquei muito satisfeito quando ele concordou, e muito decepcionado quando as pressées do seu programa de representacdo e¢ sua volta precoce ao campo missiondério tornaram impossi- vel sua plena cooperagao. Conforme o manuscrito agora existe, o Sr. Blom- berg 6 responsdvel, em grande medida, pelas secGes de base biblica dos capf- tulos nove até treze. Uma leitura daquelas secdes convencerd o leitor que o manuscrito inteiro teria sido valorizado se ele tivesse se envolvido na escrita de todas as partes. A nao ser que haja indicagdo em contrdrio, as citagdes biblicas sdo tira- das da “New American Standard Bible’ (em portugués, da Almeida Revista e Atualizada no Brasil, a ndo ser quando haja uma diferenca que mereca ser ressaltada). Numerosos livros sobre o crescimento da igreja tem sido publicados nos anos recentes, J4 vieram a lume, também, alguns livros sobre a implantagdo de igrejas. A Igreja de Cristo tem sido fortalecida por estas contribui¢des lite- rarias. O presente volume é um pouco diferente na sua tentativa de combinar uma abordagem biblica e passo-a-passo a implantagdo de igrejas, com dados culturais e experimentais que visam facilitar a fundagdo de novas congrega- ¢cGes em a4reas do mundo que ainda nado foram atingidas. Como tal, somente pode ser bem-sucedido 4 medida em que os servos de Cristo transformem seus conceitos em igrejas. Encomendo-o, portanto, ao Senhor e aos Seus ser- vos, na esperanca de que quaisquer fortalezas que porventura possua os aju- dem nas suas labutas, e com a ora¢do no sentido de que suas fraquezas nao diminuirao seu sucesso. David J. Hesselgrave Deerfield, Illinois Contetido PRIMEIRA PARTE O Cristdo e a Missdo Crista Um: O Coragdo da Missdo Crista .......... eee eee teens Dois: Método e Miss80 2... eee eee aene Trés: Educando para MissGes 1.0.0... cece ecw eee eee SEGUNDA PARTE O Lider Cristo e a Missdo Crista Quatro: Liderando a Missdo ............- eens cee enna Cinco: Selecionando Areas-AlvOs 2.0... cc cece cece ete eaee Seis: Distribuindo os Recursos 1... 0... cee eee te teens Sete: Medindo 0 Crescimento .. 0... ee eens TERCEIRA PARTE A Igreja Missionaria e a Missdo Crista Ojito: Os Missionarios Comissionados 1.0.0.0... cee ee QUARTA PARTE A Igreja Emergente e a Missdo Crista Nove: O Auditério Contatado 2.0... . 0. eee et eee 10 CONTEUDO Dez: O Evangelho Comunicado 2.0... eee eee Onze: Os Ouvintes Convertidos 2.0... 0.000. eee eee Doze: Os Crentes Congregados .....-- 0.0 c cece eee ete raes Treze: A Fé Confirmada . 0.0... cee ee ee eens Quatorze: Os Lideres Consagrad0S 1... . ccc ccc cee ee eee eee teas Quinze: Os Crentes Recomendados ...... 0... cece eee e eee ees Dezesseis: Os Relacionamentos Continuados QUINTA PARTE A Igreja Missiondria e a Miss4o Crista (Continuac&o) Dezessete: A Igreja Missiondria Convocada .... 2.0... cece eee eee Bibliografia... 2.2.2 eee eee eee PRIMEIRA PARTE O Cristao e a Missao Crista um O Coracdo da Missdo Crista A lIgreja 6 um centro de tempestades na sociedade contempordnea. Os comu- nistas a consideram uma corrente que ancora o proletariado ao passado. Os se- cularistas pensam nela como um Orgdo vestigial sem o qual a sociedade e os individuos poderiam funcionar com igual ou maior eficdcia. Muitos Jiberais entendem que a Igreja cumpre seu propdésito quando permeia a sociedade e perde sua identidade prépria. A maioria dos cristdos conservadores, do outro lado, coloca a Igreja no_coracdo do propésito divino para a era presente e vé o crescimento. como uma das suas responsabilidades principais. -~—~~Aumentando a confusdo ocasionada por estes diversos conceitos, os ted- logos fazem distingGes entre a Igreja visivel e a Igreja invisfvel, a Igreja Mili- tante e a Igreja Triuntante, a Igreja Universal e as igrejas locais. Os missidlogos escrevem acerca da igreja autéctone (ou nativa, ou indigena), da igreja respon- savel, das igrejas mais antigas e mais jovens, das igrejas missionarias e das igrejas receptoras, e das-igrejas nacionais e nativistas. Os analistas eclesidsticos falam das igrejas formais e informais, das igrejas tradicionais e inovadoras, e das igrejas estruturadas e nao-estruturadas. Devemos deixar claro, logo de inicio, que quando usamos a palavra /gre- ja (com maitiscula) neste livro, referimo-nos dquele corpo que é edificado sobre o fundamento dos apdstolos e profetas, e que é composto de todos os cristdos verdadeiros, e do qual Cristo 6 a Cabeca. Quando usamos a palavra /greja (com mintscula), referimo-nos a qualquer -corpo local, devidamente constituido, de cristdos que procuram, corporativamente, adorar, testemunhar e servir de acor- do com a Palavra de Deus. De fato, de um ponto de vista biblico, estas sao as tnicas entidades que podem corretamente ser chamadas de “‘igreja."’ A tese deste capitulo é simples: A missao_priméria da.lgreja_e, portanto, das igrejas, 6 proclamar o evangelho de Cristo_e reunir os crentes em igrejas focais onde podem ser edificados na fé e tornados eficazes N10 servico, e assim 13 14 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA implantar novas congregac6es_no mundo inteiro, Naturalmente, ha muitas outras tarefas a “Seren realizadas pelos crist&os, tanto individual como coleti- vamente. Mas poucos destes objetivos sergo atingidos a ndo ser que novos crentes estejam sendo acrescentados as igrejas locais, a ndo ser que novas igrejas locais estejam sendo acrescentadas 4 Igreja Universal, e a n3o ser que as igrejas existentes estejam crescendo para a plenitude dAquele que 6 a sua Cabeca. O Plano Divino para a Igreja Paginas incontadveis tém sido escritas acerca da Igreja e da sua missdo.* Pode ser demonstrado, a luz do registro bfblico, que Deus nao foi apanhado de surpresa quando Adao pecou. Tinha um plano prévio que fornecia um meio mediante o qual o homem poderia ser reconciliado e restaurado 4 comunhéo com Deus. Como parte integrante daquele plano, Deus escolheu a Abraao e aos seus descendentes a fim de que, através deles, Ele abencoasse o mundo (Gn 12. 1-3). Em certo sentido, eles fracassaram, mas ndo o plano de Deus. Nem o con- tinuo bairrismo do povo judaico nem sua rejeicdo final do Messias puderam obstruir o propdésito divino, Pelo contrario: “pela sua transgressdo veio a salva- ¢ado aos gentios’’ (Rm 11.11b). Os gentios crentes foram feitos ‘‘co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef 3.6). E isto ‘‘segundo o eterno propésito [lit. propdsi- to das eras] que estabeleceu em Cristo Jesus nosso Senhor’’ (Ef 3.11). Conforme Paulo deixa abundantemente claro, a presente ‘‘disposicao”’ mediante a qual os judeus e os gentios igualmente ficam sendo membros de um corpo espiritual pela fé emCristo, ndo significa que as promessas a Israel como nacéo foram anuladas. Certamente que nao. Os ‘‘olhos para no ver’ e o “endurecimento de coracdo’’ sdo apenas parciais e tempordrios “‘até que haja entrado a plenitude dos gentios.”’ Entdo, ‘todo o Israel sera salvo’’ (Rm 11,25, 26). Israel ainda ter o dia dele! A era presente, no entanto, constitui-se num perfodo sem igual na histé- ria. Pode corretamente ser chamada a “Era da Igreja.’"’ Quando nosso Senhor estava ministrando Ele profetizou que edificaria Sua Igreja e que as portas do inferno ndo prevaleceriam contra ela (Mt 16.16-18). Quando Ele morreu na cruz, fez provisao para a Igreja, dando-Se na morte a fim de que a Igreja pu- desse nascer e crescer (Ef 5.25). Agora que Ele esta no céu, esta santificando ou “‘chamando para fora’ a Igreja e preparando-a para sua apresentacao final (Ef 5.26, 27). Quando Ele voltar, vird buscar a Igreja a fim de g/orificd-/a na presenca do Pai (1 Ts 4.13-18; Ap 4-6). Metdéforas significativas descrevem a lgreja com relacdo a Cristo. E Seu edificio -- “‘edificados sobre o fundamento dos apdéstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular’ (Ef 2,19-21). E Seu corpo espiritual “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.23; cf. também 1 Co 12.12, 13). E, por assim dizer, Sua noiva — 0 objeto do Seu amor e provisdo (Ef 5.25-33). O CORAGAO DA MISSAO CRISTA 15 A_igreja, portanto, néo é um pensamento tardio na mente de Deus. Ele a planefou na eternidade passada e [he proveu na morte e ressurreig¢do do Seu ‘Filho (Ef 1,19-23). E 6 Filho preparou sua_formagde-e-seu desenvolvimento ao instruir Seus sequidores a respeito da missdo deles e ao revesti-los de poder pelo Seu Espirito (At 1.4-8). A Igreja e as igrejas néo tém outro amigo como seu Senhor! Se é que os cristdos devem amar o que seu Senhor ama, devem amar a Igreja — e as igrejas! Na anéalise final, a cristologia esta estreitamente aliada com a eclesiologia. Quando quisermos nos informar acerca da fé de um homem, faremos bem em perguntar o que pensa de Cristo e da Sua Igreja! A Grande Comissao Se ainda sobrar qualquer duvida quanto a tarefa central 4 qual Cristo chama o Seu povo, deve ser dissipada por uma pesquisa sobre o mandamen- to final de Cristo, eo resultado da obediéncia a esse mandamento por parte dos crentes primitivos. Nao que a Grande Comissao esteja sendo alvidada! Tal- vez nenhuma outra passagem isolada da Escritura seja mais amplamente usa- da para desafiar os crist@os a serem fiéis 4 sua tarefa primaria do que Mateus 28.16-20. Apesar disto, os exortadores quase nunca gastam tempo para fazer exegese da passagem e compara-la com passagens paralelas. Como resultado, a esséncia e o método da missdo freqiientemente sao perdidos nas exortacdes para empreendé-la! E importante reconhecer que Aquele que fala no monte é o Cristo ressur- reto, Aquele a quem toda a autoridadéYexousia) foi dada. (O Espirito Santo fornecerad o poder ou forga [dunamis] para cumprir o mandamento [At 1.7, 8].) A comissdo esta claramente relacionada 4 autoridade de Cristo pela pala- vra portanto. Dois significados sdo possiveis: (1) toda a autoridade esta por de- trés do mandamento; e (2) toda a autoridade pertence a Cristo de modo que os que sao ordenados a ir podem ir com essa certeza. Os dois significados sao vert- dicos. Mas embora o primeiro significado seja usualmente pressuposto neste caso, a Ultima possibilidade ndo deve ser olvidada. A palavra traduzida ‘ide’ é um parcipie t no original e ndo um impera- tivo. Provavelmente deva ser traduzida “’indo’’ ou ‘‘enquanto ides’’, Mas este fato nado deve deixar que a forca da palavra seja “embotadia. A mesma constru- ¢ao é achada em Atos 16.9: ‘’Passa e [ou, passando] ajuda-nos.”” Obviamente, se Paulo ndo “‘passar’’ para la, néo poderd “‘ajudar’’! E se nés nao “vamos” nao podemos cumprir nossa missdo. Por outro lado, a énfase nao recai sobre o “ir'’, mas sobre a razdo para ir. “Eazei discipulos” é 0 unico imperativo e a atividade central indicada na Grande Comissdo. Fazer conve = se_imperativo. Mas a fé e o discipulado nunca podem ser divorciados entre si. A_obediéncia é exigida, ndo somente da parte de quem leva a mensagem,-mas- também da parte daquele que ouve, -se arrepende, e cré no evangelha, ‘‘Con- - Vertidos’”” e “crentes” conforme popularmente se concebe deles podem ‘‘viver como quiserem.” Mas “‘discfpulos’’, obviamente, devem fazer a vontade de seu Mestre. we ECoy reo f gr) 16 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA “De todas as nac6es”” tem referéncia aos gentios que, conforme j4 vimos, agora devem ser trazidos para dentro daligrejana mesma base que os judeus. Previamente, nosso Senhor enviara Seus disc/pulos para ‘‘as ovelhas perdidas da casa de Israel” {Mt 10.6). Os gentios ndo tinham sido incluidos. Por qué? Porque Deus ainda estava lidando com Israel como um povo. Cristo nao tinha sido rejeitado e crucificado. Nem tudo estava pronto. Mas, depois da crucifica- cdo e da ressurreicdo, o evangelho também podia ir para os gentios. “Batizando-os em nome do...” tem referéncia ao meio ou método median- te o qual os discfpulos sao feitos. No original, ‘‘batizando” é um participio que deriva sua forca imperativa do verbo principal. Os convertidos devem ser batiza- dos em [e/s — para dentro de ] o nome do Pai, e do Filho, e do Espirito. Isto su- bentende que passam a ser propriedade do Deus Trino e Uno. “Ensinando-os a guardar todas as coisas..." 6 um paralelo da constru¢do participial anterior. Os discfpulos sdo feitos por um processo de batizar e de en- sinar. E o que deve ser ensinado? Tudo quanto Cristo ordenou. O homem vive “de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4.4). “E eis que estou convosco todos os dias...” Ninguém que seja enviado, e va, vai sozinho. O préprio Cristo acompanha Seus servos até os confins da ter- ra e até a consumacao do século (era). Embora a declaragaéo mais completa e mais freqiientemente citada da Grande Comissdo seja achada em Mateus 28, as passagens paralelas ndo devem ser olvidadas. Servem para ressaltar seus temas centrais (veja a Figura 1). Uma comparagdo destas varias declaragdes da Grande Comissdo claramen- te demonstra que nao séo nem redundantes nem contraditérias. Sao comple- mentares. Num esforco para desenvolver um argumento em prol de um enten- dimento social da missao crista, alguns intérpretes tiraram a conclusdo de que a declaracéo joanina toma precedéncia sobre as declaragdes sindticas. Estes in- térpretes dizem que o uso que Jesus fez da frase “assim como o Pai me enviou”’ indica que nossa comissdo é continuar o ministério que Ele comecou no mundo. Naturalmente, h4 um sentido em que devemos continuar Seu ministério. Mas estes intérpretes passam rapidamente para a passagem em Lucas 7.19-23 onde Jo&o Batista enviou seus discipulos a Jesus para Lhe perguntarem se Ele real- mente era aquele que estava para vir (i.6, o Messias). A resposta de Jesus foi concisa e clara: “Ide, e anunciai a Jodo... os cegos véem, os coxos andam, os leprosos so purificados, os surdos ouvem, os mortos s&o ressuscitados, e aos pobres anuncia-se-Ihes o evangelho.”’ Esta, dizem tais intérpretes, 6 a obra que nds devemos continuar. E assim, pondo de lado as demais declaracées da Gran- de Comissdo, colocam os ministérios de cura e de methoria social, e a luta em prol da justi¢a, no préprio corac&o da nossa missao. Ora, nao pode haver. divida alguma de que os crentes s&o criados em Cris- to para boas obras (Ef 2.10) e de que devem_‘‘fazer o bem-a-todos, mas princi- palmente aos-da familia da f a fé” (Gi 6.10). E se alguém se dispée a dizer que to- das as coisas que Deus ordenou aos crentes constituem-se na sua missdo no mundo, ha um sentido em que podemos concordar. Mas dizer que as boas obras se constituem na Grande Comissao, ou no coracao da nossa missdo, ou que a declaracdo joanina substitui as declaracdes sindticas, é ir contra a exegese Jeyunuiaysa | Jeyunwa]sa} a (selwe|901d) JeBaly (lewe|a0Jd) ieBaid @ apy Jeulsua a Jezijeq ‘i ap olaw Jod Je;ndisiq os sopesad sop oepsad 038 OLUaWI puadaliy oyjahuena Q nou -apJ0 ojsiu9 enb $eS|09 se SEpoO | ‘OL A ‘L ‘A ‘(PEEL ‘AON epIA segdipg :ojneg 0BS) oyjaBuenz op seinynasues, oesealunWwoOD y :eaeiBjassoy “¢ plaeq 9q BJ1a] Pp SulJUOD Soe ge a ‘elyewues e ‘elapne 2 po} ‘wgyjesniar wajesnar ap opuedawoa ‘sagdeu se sepo | Bsnjels 8 Bpoy :"a"| ‘Od -(a]U! 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A passagem como tal nao se constitui num mandato divino para a continuacao do exercicio dos milagres nem para a tentativa de reprodu- zi-los téo exatamente quanto possivel mediante a aplicacao da medicina ou da justica social ou politica. Resumindo: a declaracao joanina da Grande Comissdo nado muda a dire- Gao das declaracdes nos Evangelhos Sindticos. Pelo contrario, ressalta a autori- dade por detrds da nossa missdo de discipular as nagdes mediante a pregacdo, o batismo, e o ensino. Permitir que qualquer modo de entender a missdo obs- curega a responsabilidade proclamatdéria, sacramental, e diddtica da Igreja é colocar a faca contra o coracaéo da missao crista. Substituir por outras ativi- dades aquelas que sdo distintamente especificadas por nosso Senhor é tentar “transplante de coracado’’ — um que mais cedo ou mais tarde certamente sera rejeitado. O Pentecoste O evento decisivo para a expansdo.do-cristianismo fol o Pentecoste. Te- rfamos dificuldade em argumentar com sucesso que os cristaos primitivos fo- ram inspirados para cumprir a Grande Comissdéo por meio de lembrar uns aos outros as suas disposig¢des e importancia. Pelo contrario, o Espfrito Santo veio sobre aqueles crentes primitivos e os transformou em testemunhas, do jei- to que o Senhor prometera. Segundo Atos 1.8, Ele [hes dissera que quando viesse o Espirito Santo sobre eles, (1) receberiam o poder oua forca necessa- rios; (2) seriam testemunhas do Cristo a quem tinham visto e ouvido, e em quem acreditavam; e (3) iriam para Jerusalém, a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. Depois da vinda do Esp/rito Santo, descobriram experimental- mente que o Espirito Santo também é 0 “Espirito Missiondrio.” Ele obedeceu a Comissdo neles e através deles.? E qual foi o resultado? Lucas nos informa que depois do Pentecoste “‘acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos’ (At 2.47). Ele nos informa que quando os discfpulos em Jerusalém foram espalhados pela perseguic&o0, “iam por toda a parte pregando a Palavra’”’ (At 8.4). Depois da perseguicao, a igreja na Judéia, na Galiléia, e Samaria “tinha paz... edifi- cando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do Espfrito San- to, crescia em nimero” (At 9.31). Em Antioquia ‘‘muitos, crendo, se conver- teram ao Senhor’’ (At 11.21). Além disto, Lucas relata que quando Paulo e Silas passaram pela Sifria e pela Cilfcia, confirmando as igrejas que tinham sido estabelecidas anterior- mente, as igrejas ‘‘eram fortalecidas na fé e aumentavam em ndmero dia a dia” (At 16.5). Francis Schaeffer resumiu o caso em palavras inequivocas: “ ‘Havia na igreja de Antioquia...’ A partir daqui o Novo Testamento clara- mente indica que igrejas eram formadas sempre que algumas pessoas se tor- nassem cristas.’* O CORAGAO DA MISSAO CRISTA 19 Paulo e a Missao da Igreja O homem especialmente encarregado da responsabilidade de levar o evan- gelho aos gentios, e em cujo ministério missiondrio 0 Novo Testamento se fo- caliza, 6 o apdstolo Paulo. Seu ministério, portanto, é de especial importancia para uma compreensdo da nossa missdo. Roland Allen, com seu olhar experimentado como verdadeiro estadista missionério focalizado no ministério de Paulo, chegou a seguinte conclusao a tim de colocar a missdo em enfoque claro: Em pouco mais de dez anos S. Paulo estabeleceu a Igreja em quatro provincias do Império: a Galicia, a Macedénia, a Acaia, e a Asia. Antes de 57 d.C. Sdo Paulo jé podia falar do seu trabalho ali como tendo sido completado, e podia planejar via- gens extensivas para 0 extremo ocidente sem preocupacao de que as igrejas que funda- ra pudessem perecer na sua auséncia pela falta de sua orientagdo e apoio. O trabalho do Apéstolo durante estes dez anos pode, portanto, ser tratado como uma unidade. Seja qual for a assisténcia que ele tenha recebido da pregagao doutras pessoas, é inquestionavel que o estabelecimento das igrejas nestas provincias realmen- te foi o trabalho dele. Nas paginas do Novo Testamento, ele, e ele somente, destaca- se como fundador delas. E o trabalho que ele realizou foi realmente completo. No que diz respeito a fundagao de igrejas, fica perfeitamente claro que o escritor de Atos pretendeu representar a obra de S. Paulo como uma obra completa. As igre- jas foram realmente estabelecidas. Quaisquer desastres que sobrevieram a elas, em anos posteriores, quaisquer fracassos que tenha havido, ou qualquer ruina, tal fracas- so nao foi devido a qualquer insuficiéncia ou falta de cuidado e perfeiga&o no ensino ou na organizacao do Apéstolo. Quando as deixou, deixou-as porque seu trabalho tinha sido plenamente realizado,* E por que Paulo foi tao bem-sucedido? Havia muitas razdes, natural- mente. Mas uma razao importante é que Paulo considerava a pregacao do evan- gelho e o estabelecimento de igrejas como. 2_primaria. O registro bi- blico néo deixa lugar para pensar que ou Paulo ou og membros de sua equipe estavam ocupadissimos em elevar os padrées de vida, em melhorar as condi- ces sociais, em transmitir conhecimentos seculares, em ministrar as necessi- dades médicas, ou em distribuir ajuda financeira proveniente das igrejas pre- viamente estabelecidas. Nao pode haver muita dtivida de que a lealdade a Cris- to da parte dos convertidos nas igrejas acarretasse alguns destes efeitos como subprodutos — até mesmo o envio de ajuda necessdria de vo/ta para a igreja em Jerusalém (um tipo de “‘fluxo inverso’’). Que os missiondrios estavam preo- cupadcos com os relacionamentos sociais, e com a mente e o corpo dos homens bem como sua alma, é patentemente veridico. Mas a miss8o primdria de Paulo era cumprida quando o evangelho era pregado, os homens eram convertidos, e igrejas estabelecidas. A Obediéncia ao Grande Mandamento de amar o pré- ximo fazia parte da comissdo de ensinar todas as coisas que Cristo ordenou. Mas as boas obras eram 0 fruto — néo a raiz — da missdo de Paulo. Conforme o modo de Paul Benjamin expressar o fato: 20 O CRISTAO E AMISSAO CRISTA Seria bom, a esta altura, lembrarmo-nos da pratica de Paulo, Nao havia pobres em Co- rinto? Nao havia problemas raciais em Efeso? Todas as criancas na Asia Menor tinham roupas suficientes? As cartas de Paulo as congregagdes em varias cidades demonstram sua profunda solicitude para com os pobres e os socialmente privados (Gl 2.10). Exor- “ta os cristdos em Corinto a seguitém o exemplo doutras congregacdes, levantando uma oferta generosa para os santos empobrecidos de Jerusalém (2 Co 8, 9). Mesmo assim, sua pratica uniforme de espalhar o evangelho do amor e da solicitude fraternal era es- tabelecer congregacdes. Desconsiderar a pratica apostdélica, portanto, é negligenciar o proprio 4mago da metodologia por meio da qual o evangelho espalhou-se em derredor do Mediterraneo no século I. Além disto, negligencia um modo vital de poder satisfa- zer as necessidades espirituais e fisicas das pessoas.* N&o é de se admirar que Paulo foi tao eficaz em multiplicar crentes e igre- jas. Nio somente era um homem dotado, controlado pelo Espirito, como tam- bém tinha uma singeleza e clareza de objetivos que escaparam a muitos dos seus sucessores. Dedicou todas as suas energias ilimitadas e suas capacidades inco- muns 4 edificacdo da Igreja de Jesus Cristo! A \igreja e Sua Missao na Era Moderna Se ha confus&o no que diz respeito ao 4mago da misso hoje, nao se origi- na nas Escrituras, mas nos antolhos projetados pela histdria, e em outros anto- Ihos que nés mesmos fizemos. Uma Compreensao por demais Ampla da Missao Os Reformadores dos séculos XVI e XVII recuperaram a mensagem da Igreja, mas (na maior parte) estavam demasiadamente preocupados com os pro- blemas da Europa para darem muito {mpeto as missGes noutras partes do mun- do. Coube aos pietistas, aos moravios, e a um batista com o nome de William Carey recuperar o senso de urgéncia para levar o evangelho ao mundo inteiro. O grande avanco missionario do século XIX evidenciou o fato de que os missionérios nem sempre tinham clareza quanto aos seus objetivos, no entanto. A missaéo assumia as formas de estabelecer escolas e hospitais, de opor-se as prdticas desumanas tais como o sati e 0 amarramento dos pés, e de langar cam- -panhas em prol do saneamento. Os cristaos tém justa razdo de orgulhar-se das grandes realizagdes de filhos e filhas leais que levaram a cabo estas tarefas ao custo de grandes sacrificios pessoais. Merecem ser aplaudidos por todos 0s po- vos, € emulados pelos cristaos contempordaneos. Ge, por si 86, _estas atividades qualquer empreendimento digno que 0S cristéos podem assumir, ou em institui- cGes e empreendimentos que nos desviam da nossa tarefa primdria, a histéria nos serve mal. O CORAGAO DA MISSAO CRISTA 21 Da nossa propria parte, nds, os modernos, tendemos a perpetuar a confu- sao neste ponto. Multiplicamos as missdes para-eclesidsticas como ‘‘bracos da Igreja’’ a fim de empreenderem cada tipo concebivel de boa obra, desde a ali- mentacdo dos famintos até imunizar populagdes contra enfermidades e intro- duzir novos tipos de trigo e ragas de gado. Estes sdo esforcos dignos, e, con- forme Galatas 6.10, qualificam-se como empreendimentos cristaos. Mas as or- ganizacdes formadas para leva-los a efeito ndo so realmente qualificadas co- mo missGes a nao ser que, ao entrarem em areas necessitadas, conservem “em primeiro lugar a miss@o primdria da Igreja. Isto 6 tao importante que, nas areas onde é possivel proclamar o evangelho e formar igrejas, somente as orga- nizagdes que apdiam a evangelizacdo e a implantacgdo de igreja de modo signi- ficante devem ser consideradas misses. Se ndo se dedicam a evangelizacdo e a implantagdo de igrejas, nem apdiam estas atividades, ndo somente sao para- eclesiasticas, como também so para-missdo. Uma Compreensao por demais Estreita da Evangelizagao Se a histéria 4s vezes nos oferece uma compreensdo demasiadamente am- pla da missdo (no sentido supra), também nos fornece uma compreensdo da evangelizagdo que é demasiadamente estreita. Nas Ultimas décadas do século XIX eno presente século, a evangelizacdo tem sido quase totalmente identifi- cada com grandes campanhas ou cruzadas que visam ganhar os individuos para uma decisdo por Jesus Cristo. De um lado, ha este fato. E do outro lado, certo nimero de métodos cuidadosamente elaborados de evangelizacao pessoal (in- dividual) foram desenvolvidos com o mesmo fim em mira. Tanto a evangeliza- cao das campanhas quanto a evangelizacdo pessoal devem ser encorajadas. Mas, conforme sdo frequentemente praticadas, ndéo colocam novos crentes em con- tato vital com as igrejas locais. Proporcionalmente, uma énfase grande demais tem sido dada a multiplicacao dos convertidos — e uma énfase totalmente in- suficiente 4a multiplicacao das congregacGes. E verdade que evangelizar significa transmitir o evangelho — espalhar as Boas Novas de Cristo. Mas no Novo Testamento, a evangelizacdo nao fica sozi- nha. Volte para a declaracdo de Francis Schaeffer referida antes, é veja o que ele tem a dizer mais adiante: Logo, aqui [em Antioquia] havia uma congrega¢do local em funcionamento, chamada “a igreja.” A partir daqui, o Novo Testamento claramente indica que igrejas eram for- madas sempre que algumas pessoas se tornassem cristas. Em certo sentido, temos um quadro completo daquilo que a igreja deve ser: Os in- dividuos se tornavam cristdos, mas no cristdos individualistas; a congregagdo abrangia o pleno espectro da sociedade; todos os membros anunciavam as Boas Novas, nao sé localmente como também fora, E quando o Espirito Santo disse que Barnabé e Saulo deviam ser enviados na primeira viagem mission4ria, os membros nao funcionaram me- ramente como cristaos individuais, mas como uma unidade, como uma igreja.® 22 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA Schaeffer coloca seu dedo numa questdo crucial. Se as pessoas tivessem se tornado cristaos individualistas sem um compromisso com as igrejas locais nem uma participacdo nelas, como a Igreja teria avancado na sua missdo de discipu- lar as nagdes? Conforme escreve Basil Mathews, uma razao importante porque a Igreja dos primeiros séculos triunfou no Império Romano foi que as pequenas “células” ou “sociedades do Caminho de Jesus” desfrutavam de uma vida comunitaria nunca antes realizada, Aqui havia uma nova sociedade com um novo po- der para praticar um novo modo de vida, porque estava vivendo em comunhdo com o Homem perfeito que é uno com Deus, Esta igreja crista ficou sendo a comunidade melhor organizada em todo 0 império. Suas igrejas locais eram células vivas de um corpo que se estendia para longe, até abranger todas as partes do império, Estavam ligadas pelas viagens dos bispos. Acha- vam comunhio nos concilios menores e maiores, através dos modos de adoragdo que tinham em comum, através de ler as mesmas Escrituras, e, acima de tudo, através de uma lealdade ardente ao Cristo Ginico e eternamente vivo, e da comunh4o com Ele.’’” Tao intimo é o relacionamento entre a proclamacdo do evangelho e a im- plantagdo de igrejas, que ndo podem ser divorciadas sem cometer violéncia con- tra a missdo da Igreja. Note como o especialista em crescimento da igreja, Do- nald McGavran, define a evangelizacdo: “Cada vez mais, a tarefa primaria das missdes é a evangelizacdo: a proclamagado das Boas Novas e a ajuda na funda¢ao de igrejas que, arraigadas no solo e com seus préprios Ifderes, serao testemunhas das Boas Novas.’””* Re-unindo a Missdo e a Evangelizacao Devemos estar gratos a homens tais como Bartholomew Ziegenbalg, Gus- tav Warneck, Henry Venn, Rufus Anderson, John Nevius, Roland Alien, e Do- nald McGavran. Abrangendo mais de dois séculos, eles nos lembraram que seja o que for de bom que possa surgir da nossa obediéncia 4 Grande Comissao, também deve resultar no estabelecimento de igrejas entre os povos do mundo. Devemos dar gracas a Deus por Kenneth Strachan, Francis Schaeffer, Michael Green, € por outros que nos tém lembrado que a evangelizacao neotestamenta- ria resulta em novos convertidos entrando na comunhdo crist§ de congregacdes novas e antigas, e em novas congregacdes sendo estabelecidas em comunidades ao redor do mundo. , E instrutivo que Ralph Winter, que anteriormente tinha escrito sobre a missao M-1, M-2, e M-3, péde tao facilmente alterar a nomenclatura para a evangelizacao E-1, E-2 e E-3 no Congresso Internacional de Evangelizacao Mundial em Lausane, e dizer essencialmente a mesma coisa.? Serd que ele ndo sabia que os missiondrios frequentemente estdo ocupados em ministérios edu- cacionais, médicos, lingtifsticos, e outros nos quais os evangelistas, conforme os conhecemos, quase nunca se envolvem? E légico que sabia, Mas sua preocupa- cao primdria 6 com a miss&o estreitamente definida como ganhar pessoas para O CORAGAO DA MISSAO CRISTA 23 Cristo e estabelecer igrejas. E esta preocupado com a evangelizagao ampla- mente definida para incluir o mesmo objetivo. Desta maneira, ele poderia facilmente ter usado as designacdes ME-1, ME-2 e ME-3. Neste livro, usaremos os termos hifenizados missao-evangelizacao e mis- siondrio-evangelista, e a designacdo ME, a fim de comunicar a idéia de que os dois véo juntos. Quando estamos falando acerca do “‘cora¢do da missdo cris- ta’ e das implicagdes amplas da evangelizagao, os dois sao realmente insepa- rdveis. Embora ocasionalmente, a fim de evitar a redundancia, possamos em- pregar estas palavras separadamente, devem ser entendidas como tendo essen- cialmente o mesmo significado. Winter também fez uma contribuicado Util mediante seu emprego de nu- meros (ME-1, ME-2, ME-3) para indicar a distancia cultural envolvida em le- var a efeito a nossa tarefa. A geografia como tal nao afeta o alvo da Igreja na sua missdo. As palavras de nosso Senhor em At 1.8 sao importantes aqui. Os gramaticos indicam prontamente que a construcdo grega em Atos 1.8 liga “Jerusalém,” ‘‘a Judéia,” ‘““Samaria,"” e os “confins da terra’ juntos numa sé entidade inseparavel (Os Batistas do Sul [dos E.U.A.], portanto, estado sendo bi- blicos quando se referem a uma igreja principiante como uma “‘missdo’’, quer seja localizada na Asia, quer nos Estados Unidos!). O que muda 4 medida em que vamos de um lugar para outro (e as vezes enquanto ficamos num sé lugar) é a adapta¢do cultural que deve ser feita a fim de comunicar a mensagem de modo relevante e ‘‘fazer crescer uma igreja."” Com isto em mente, Winter usa os nimeros 1 até 3 a fim de indicar o grau de distancia cultural envolvido quan- do um missiondrio-evangelista sai para obedecer a Grande Comissao. Natural- mente, o grau de distancia cultural depende da orienta¢ado cultural do missio- ndario-evangelista e do seu auditério. Por exemplo, quando um americano sueco em Los Angeles ganha outros americanos suecos a Cristo e os estabelece em igrejas, nado ultrapassou qualquer barreira cultural relevante. Trata-se da missao-evangelizagao ME-1. Se o mes- mo americano fosse ganhar os latino-americanos de Los Angeles, a distancia cultural atravessada provavelmente seria muito maior. Seria ME-2. Mas se o sue- co americano fosse viajar para a Venezuela e aprender uma |fngua e cultura in- teiramente novas para comunicar Cristo e plantar igrejas, a distancia cultural se- ria ainda maior. Seria a missdo-evangelizac¢do ME-3. Note outra vez que a distan- cia geografica por si s6 tem pouco a ver com a diferenca. Se o cristaéo america- no sueco fosse aprender o espanhol e adaptar-se a cultura dos novos imigrantes da Venezuela na drea de Los Angeles, ainda poderia estar fazendo ME-3. Usaremos estas designa¢des neste livro. Em primeiro lugar, formam um tipo compacto de taquigrafia. Em segundo lugar, séo geralmente usadas por aqueles que tém familiaridade com os materiais do crescimento da igreja. Em terceiro lugar, colocam a missdo e a evangelizacdo juntas numa sé férmula. Fi- nalmente, chamam a atencdo ao fato de que, embora a missao e a mensagem néo mudem, nossos métodos se alterarao 4 medida em que encontrarmos dife- ren¢as culturais. (Deve ser levado em conta que, ao assignar os nimeros 1, 2, ou 3, adotamos uma perspectiva norte-americana). 24 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA A Prioridade Atual — Implantando Igrejas Transculturalmente A mente infatigavel de Ralph Winter n@o parou com a distincao entre a missao-evangelizagéo ME-1, ME-2 e ME-3. Em Lausane e, subseqiientemente, tem enfatizado que a maior prioridade da !greja hoje deve ser atravessar fron- teiras culturais a fim de ganhar pessoas para Cristo e estabelecer comunidades de cristaos. Se 6 que pretendemos cumprir a Grande Comissdo devemos recap- tar o espirito de pioneirismo e avangar para as pessoas ainda nao alcancgadas em todos.os lugares. Para deixar claro que esta envolvido, Winter divide a popu- lagéo do mundo em quatro categorias.’° Em primeiro lugar, hé 219 milhées de “‘cristaos ativos’’ no mundo. Repre- sentam tanto um potencial tremendo quanto um perigo sempre presente. O potencial é que podem ganhar outros para a fé. O perigo é que podem crescer para dentro de si e se ocupar com nutrir sua propria fé ao invés de ganhar | os outros. Em segundo lugar, had 1.000 milhGes de ‘‘cristdos inativos.’’ Estao dentro da tradic&o crista mas n&o sdo0 crist@os*dedicados. Precisam de renovacdo, ou daquilo que poderfamos chamar de ‘‘missdo-evangelizag¢aéo ME-0” visto que _ nenhuma barreira cultural significante precisa ser atravessada para alcanca-los. _ Representam um grande potencial para a Igreja porque sdo relativamente fa- “ceis de alcancar. Mas também representam um perigo porque os cristdos ativos tendem a gastar a maior parte dos seus recursos em tempo e dinheiro para al- __canga-los. Em terceiro lugar, ha 500 milhdes de ‘‘ndo-cristaos culturalmente prdéxi- _mos‘’..ng_mundo. Vivem dentro de culturas que jé foram penetradas pela fé crist&. Podem estar geograficamente distantes das igrejas cristas ativas, mas quaisquer barreiras culturais que existem sdo minimas, e podem ser, em gran- de medida, da fabricacfo dos prdprios cristaos. Aqui é necessdria a missdo- evangelizag¢do M-1 sensivel. Em quarto lugar, hé 2.500 milhGes de “‘ndo-cristaos culturalmente distan- s.'’ Estas pessoas podem ou nao estar muito removidas geograficamente dos cristaos ativos. Mas esto muito removidas lingilistica, social, econdmica e.cul- turalmente. De maneira alguma pode-se esperar delas que entrardo nas congre- gacGes existentes. Igrejas novas devem ser implantadas entre elas. Mas a distan- cia cultural envolvida torna muitas delas quase totalmente invisiveis. So os “‘novos escondidos”! Devemos primeiramente “vé-los.” Depois, segundo a si- tuacdo, a missdo-evangelizagdo ME-2 ou ME-3 sera necessdria para alcanga-los. Esta andlise 6 muito perceptiva. Comunica vividamente a imensidade da tarefa. Além disto, indica uma estratégia, que 6, especificamente: identificar agrupamentos culturais, especialmente entre os povos escondidos e nao alcan- cgados do mundo, e elaborar estratégias para implantar entre eles congrega¢gdes cristas. As prioridades devem ser reorganizadas se 6 que a igreja quer alcancar © mundo inteiro por Cristo. E facil demais nos concentrarmos naqueles que est@o perto de nés e so mais semelhantes a nds, ao passo que negligenciamos os que esto bem longe. ‘‘Longe dos olhos, longe do coragao,"’ tende a ser 0 ca- so dos crentes bem como dos nao-crentes. : Oo CORAGAG_DA MISSAO CRISTA 25 ~ fy Mas nossa tarefa 6 tanto/quanto, e ndo ‘Muitos — talvez a maio- ria — dos 1.000 milhdes de “‘cristéos inativos’’ sao apenas cristdos nominais. Ao invés de serem cristaéos que precisam de renovacao, sao descrentes que pre- cisam de regeneracdo. As vezes, as barreiras culturais entre os cristéos evangé- licos (“‘ativos’’) e os nominais (“‘cristéos inativos’’) sdo tao grandes quanto as barreiras entre os evangélicos e os ‘‘ndo-cristdos culturalmente préximos’”’. Além disto, embora muitas barreiras culturais entre os evangélicos e estes dois grupos sejam da nossa prépria fabricagao como evangélicos, devemos reconhe- cer que a cultura ocidental como um todo esta se tornando pés-cristd. Isto sig- nifica que as barreiras erigidas com as cosmovisdes do naturalismo edo huma- nismo estéo se tornando muito reais. Conforme Francis Schaeffer nos faz lem- brar, a ndo ser que levemos em conta estas barreiras, nossa comunicacdo evan- gel(stica serd compreendida por um niimero cada vez menor de pessoas no Oci- dente. Destarte, devemos conservar em mente nossos vizinhos prdoximos enquanto focalizamos nossa atengdo em mais de 16.000 sub-culturas em der- redor do mundo, onde ainda nao existe nenhuma igreja crista."* Que cada denomina¢do, cada missdo, cada congregacdo, e cada cristdo dé uma nova olhada nas quatro categorias de Winter e perguntem a si mesmos © que est&o fazendo entre estes respectivos povos. Onde as pessoas estao geo- grafica e culturalmente acessiveis as igrejas existentes, conclamemo-las a terem comunhdo com Cristo e com Sua Igreja. Onde ndo estdo assim acessiveis, atra- vessemos as barreiras geograficas e culturais a fim de pregar a Cristo e plantar a Igreja! Este livro visa ajudar os cristdos verdadeiros nesta ultima tarefa. Nele, nado distinguimos entre a evangelizac¢do ME-O e ME-1 para plantacdo de igrejas. A vasta maioria das situa¢des de piantacdo de igrejas hoje em dia acarreta algu- ma medida de adaptac4o cultural. Deixe-me citar um formando recente da ‘Trinity’ (identificado somen- te como “B.A.”), conforme aquilo que escreveu no jornal da igreja a respeito de “Trinity” e da Igreja Evangélica Livre. H4 um novo vento soprando, e esta vindo em nossa direcao, para logo transformar-se numa tempestade, Seu tema é refletido neste pequeno epigrama simples: Se quiser fazer crescer alguma coisa para durar uma estacdo — plante flores. Se quiser fazer crescer alguma coisa para durar uma vida — plante drvores. Se quiser fazer crescer alguma coisa para durar pela eternidade — plante igrejas. E este é 0 clarim que o Espirito Santo est4 soando mais alto e claro cada dia: “Edi- ficarei a minha igreja!” Considere, por exemiplo, a situagao em “Trinity.” No ano passado, aproximada- mente uma dizia de formandos solicitou pastorados na Igreja Livre. Neste ano, pare- ce que cerca de qu'atro vezes aquele numero est4 seguindo a orientagdo de Deus para a Associagio das Igrejas Evangélicas Livres. Onde vao nos colocar a todos? E os cin- qiienta ou mais para o ano vindouro? Ou a cifra de acima de sessenta projetada a partir de entao? Simplesmente nado ha um numero suficiente de igrejas para haver uma para cada candidato. Vigiemos e oremos para que o Espirito Santo use esta situacdo 26 OCRISTAO E AMISSAO CRISTA para aticar nossa amada Igreja Livre para um programa acelerado de plantagdo de igre- jas. Ou o que se diz da sua prépria igreja local? Pensemos de modo pratico. Esta cres- cendo? Talvez dez por cento ao ano? Ora, mesmo sem usar termos bancarios tais como “juros compostos anuais,” e assim por diante, uma igreja de 500 pode esperar 750 em cinco anos. Se dedicar mais 25 por cento de esforgo ao discipular, facilmente poderia ter 1.000 até 1.250 pessoas em sete anos. Realmente quer ser tio grande assim? Pro- vavelmente 750 seja suficiente para a igreja-mae. E 0 que dizemos da idéia de comecar trés até cinco congregacGes satélites durante os proximos cinco até sete anos para dar conta dos membros adicionais e alcangar a comunidade de modo mais eficaz? Ah! Plantar Igrejas.!? Chame-a, pois, daquilo que vocé quiser. Chame-a “‘planta¢do de igrejas,”’ “desenvolvimento de igrejas,”” “crescimento de igrejas,” ou “‘evangelizacdo para a extens&o de igrejas.”” Ou chame-a “missdo-evangelizacdo."” A tarefa é a mesma em qualquer parte do mundo. Qualquer comunidade sem uma igreja acessivel — quer resida na América do Norte ou na Africa do Sul — 6 um cam- po missiondrio, E é a responsabilidade dos crentes nas igrejas existentes encher aqueles vazios espirituais com congregacées cristas. Conforme tem sido freqien- temente observado, nem uma igreja sem missdo, nem uma missdo sem igreja es- ta de acordo com o plano de Deus. O mesmo deve ser dito a respeito de uma igreja ndo-evangelifstica e de uma evangelizacdo sem igreja. Conforme escreve Donald McGavran, a missdo é ‘‘um empreendimento dedicado a proclamacdo das boas novas de Cristo e a persuadir os homens a se tornarem discfpulos e membros fidedignos da Sua igreja.’”"!> E aqueles que sao enviados para realizar esta tarefa sfo missiondrios e evangelistas no melhor sentido destas palavras. Sem divida, ganhar para Cristo homens doutras cosmovisdes, idiomas e costu- mes, e estabelecé-los em congregaces cristas requer treinamento e ferramen- tas especiais. E embora seja Util, para isto, usar designacdes tais como ME-1, ME-2, e ME-3 a fim de denotar o grau de adaptacdo que sera necessdrio, deve- mos conservar em mente que, no seu coracdo, nossa missao é a mesma, indepen- dentemente de onde seja realizada ou de quem constitui nosso auditério. E é o que a Igreja — e as igrejas e miss6es — devem fazer, e fazer tdo eficazmente quanto puderem, e fazer agora (veja Figura 2)! NOTAS 1,Veja, por exemplo, Johannes Blauw: A Natureza Missiondria da Igreja (ASTE, Sao Paulo, Ed. orig. Nova York: McGraw-Hill, 1962), e Gary F. Vicedom: The Mission of God (St. Louis: Concordia Pu- blishing House, 1965). 2.Harry R. Boer: Pentecost and Missions (Grand Rapids: Eerdmans, 1961), 3.Francis Schaeffer: The Church at the End of the Twentieth Century (Downers Grove, IL: Inter-Var- sity Press, 1970), pag. 60. 4,Roland Allen: Missionary Methods: St. Paul’s or Ours? (Grand Rapids: Eerdmans, 1962), pag. 3. 5.Paul Benjamin: The Growing Congregation (Cincinnati: Standard Publishing, 1972) pags. 5-6. 6.Schaetfer: The Church at the End of the Twentieth Century, pdg. 60. 7.Basil Mathews: Forward Through the Ages (Nova York: Friendship Press, 1960), pags. 17-18. 8. Donald McGavran: The Bridges of God (Nova York: Friendship Press, 1955), Introducdo, O CORAGAO DA MISSAO CRISTA 27 9.Ralph Winter: “The Highest Priority: Cross-Cultural Evangelism,” em Let the Earth Hear His Voice, ed. J. D, Douglas (Minneapolis: World Wide Publications, 1975), pags. 213-25. 10.Ralph D. Winter: ‘Penetrating the New Frontiers,’ em Unreached Peoples’79: The Challenge of the Church’s Unfinished Business, ed, C. Peter e Edward R. Dayton (Elgin, [L: David C, Cook, 1978), pags. 46-49. 11,Carl F. H. Henry: ‘Evangelicals: Out of the Closet but Going Nowhere?” Christianity Today, vol. 24, no, 1 (1980), pags, 16-22, 12,.“The Free Church — Going to Seed, A Prohecy,” The Scribe (Trinity Evangelical Divinity School), Primavera de 1976, no. 1, pag. 7. 43. Donald McGavran: Understanding Church Growth (Grand Rapids: Eerdmans, 1970), pag. 34. FIGURA 2 O CORACAO DA MISSAO | Plano ~ Receita Produto Judeus e gentios cren- Discipular as nacdes Uma igreja com uni- tes em um sé corpo _ por meio de: dade de fé, sem mécu- (Ef 3. 1-12) Ir la nem ruga (Et 4.13; Testemunhar 5.27) Pregar Provisao Batizar Propésito Ensinar Cristo amou a igreja, (Mt 28.16-20, etc.) Gloria na Igrejae em @ 2 Si Mesmo se entregou Cristo Jesus, por todas por ela (Ef 5.25) Poder as geracdes, para todo ; o sempre (Ef 3.21) Recebereis poder, ao descer sobre vas o Espi- rito Santo (At 1.8) dois Método e Missao Planejando para a Tarefa As Igrejas sdo ‘‘for¢as-tarefas’”. Tém um servico a fazer. Mas com demasia- da freqiiéncia a tarefa 6 empreendida de modo casual, sem raciocinio cuidado- so. Certa vez um missionario (provavelmente de modo irénico) foi contra o pla- nejamento com base no fato de que AbraZo “partiu sem saber aonde ia." Foi indicado ao missionario que a analogia n&o é boa. Abrado nao sabia aonde ia, mas sabia o que faria ao chegar 1a. Se esse missionario levava a sério a sua filo- sofia, sabia aonde ia, mas ndo sabia o que faria ao chegar (a! A Biblia tem evidéncias abundantes do plano de Deus. Ele é 0 maior Pla- nejador de todos! Antes da criagéo Ele projetou um piano para o homem ea historia que levou em conta todas as contingéncias. Quando Cristo estava mi- nistrando na terra, tinha um plano para distribuir em formacdo ativa os Seus discipulos e levar a mensagem do reino as “ovelhas perdidas da casa de Israel’ (Mt 10.1-42). Depois da Sua morte e ressurreicdo Ele revelou os aspectos bé- sicos do Seu plano para discipular as nagSes gentias (Mt 28.18-20; At 1.8). Durante o perfodo abrangido pelo Livro de Atos, o Espirito Santo tinha um plano para cumprir a Grande Comissdo0 mesmo quando os apéstolos nao ti- nham nenhum, e cada vez mais, aquele plano veio a ser uma quest3o de discus- so e delibera¢do por parte do Seu povo. Finalmente, Paulo apresenta a \greja, em que os judeus e os gentios compartilham em base igual, ndo como reflexdo tardia, nem sequer como um plano de reserva, mas como parte do plano eterno de Deus, embora fosse revelado na sua plenitude somente agora (Ef 3.1-12). Nao é estranho que embora Deus tenha um plano para a histéria, que os lares bem-ordenados fazem orcamentos, planejam atividades semanais, e pla- nejam a educacdo dos filhos; as igrejas e as misses freqiientemente ndo tam nenhum piano bem feito e submetido 4 oracdo, para a tarefa mais importante 29 30 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA de todas? N&o 6 triste que, visto que Deus nao pode contar com a obediéncia e a sdbia mordomia desta questdo, Ele frequentemente tem de usar cisdes e meios imediatistas para causar o inicio de novas congregagdes de crentes? Co- mo seria melhor se tivéssemos um plano — o plano dEle! Como podemos desenvolver um plano para ganhar homens para Cristo e implantar igrejas que crescerdo? Os peritos nos contam que ha seis passos envolvidos no planejamento para a realizacdo de qualquer tarefa: {1) Compreenda a tarefa. 2) Compare a tarefa com a experiéncia e a pesquisa (identifique abor- dagens Uteis e intiteis). (3) Faca um plano global para realizar a tarefa. (4) Reuna os recursos necessérios. (5) Execute o plano. (6) Aprenda da experiéncia (e use o que é aprendido para modificar o plano).? Os passos podem ser melhor compreendidos se os dispusermos num gra- fico simplificado de planejamento. O grafico nos ajuda a compreender o que é envolvido nos varios passos. E basicamente auto-explicativo e ndo precisa de ela- boragao alguma a esta altura. Deve ser notado que neste livro estamos primaria- mente ocupados com os trés primeiros passos do grafico de planejamento. De- ve-se ter em mente, no entanto, que por mais importante que seja o planejar, essa atividade significara pouca coisa até que avancemos para reunir nossos recursos, executar o plano, e aprender das nossas proprias experiéncias a fim de que possamos modificar o plano conforme a exigéncia de novos entendi- mentos e circunstancias (veja Figura 3, p. 32). Trés Fontes da Missiologia A missiologia 6 o estudo da missdao da Igreja. Ha trés fontes basicas de in- formacSes que sao importantes para desenvolver uma missiologia eficaz (veja Figura 4): (1) A Revelacdo (a investigag¢do das Escrituras). (2) A Pesquisa (a observacdo cientifica). (3) A Reflexdo (o raciocinio sadio baseado na experiéncia e no conhe- cimento). A Revelacgado Note que as Escrituras tem a primazia na ordem de importancia. Sao a dnica regra completamente autorizada da fé e da pratica. A parte delas, nosso entendimento de Deus seria limitado e nosso conhecimento do Seu plano para METODO E MISSAO 31 a vocagdo da igreja de Cristo seria negligfvel ou ndo-existente. Se 6 que vamos fazer a obra dEle, devemos prestar atencdo a Sua Palavra. Nenhum cristdo ver- dadeiro disputaria isto. Naturalmente, solucionar o problema da autoridade ulterior nao produz, por si mesmo, uma hermenéutica defensavel. Os principios hermenéuticos sadios devem governar a determinac¢do da pratica assim como governam a deter- minacdo da doutrina. Discutir adequadamente tais principios nos levaria muito além dos limites do presente estudo. Mas antes de continuarmos, devemos men- cionar trés principios que tém aplicacdo aos ‘‘pontos problematicos’’ na‘ missio- logia. (1) A Escritura deve ser interpretada dentro do seu préprio contexto. E facil demais cair na armadilha de permitir que nossa cultura e experiéncia contempordneas determinem nosso modo de entender o texto biblico. Por exemplo, a literatura recente do Crescimento da Igreja tem dado mui- ta importancia a referéncia as ethné na Grande Comissdo. Os proponentes do Crescimento da Igreja tém insistido que ethné significa as ‘’tribos, castas, povos, e familias da humanidade” — ou seja, as unidades homogéneas que sao tao im- portantes para a estragégia do Crescimento da Igreja. Conforme Walter Liefeld e outros tém demonstrado com clareza, no entanto, fazer assim é impor enten- dimentos antropoldgicos e socioldgicos atuais sobre a Escritura. Dos varios termos gregos que poderiam ter sido usados para referir-se as tribos, as castas, e aos demais agrupamentos homogéneos da raca humana, o termo ethné 60 mais fraco, No contexto do Novo Testamento, ethné claramente significa “gentios,”’? (2) Todos os textos bibiicos relevantes devem ser aplicados a questao em discussao. Ou seja: ndo estamos livres para selecionar e escolher certos tex- tos bi(blicos que parece apoiar nossas conclusdes ao passo que desconside- ramos outros textos que talvez as contradigam. Bem, é praticamente impossi- vel aplicar explicitamente todas as passagens relevantes a uma determinada questdo cada vez que é discutida. Neste volume, por exemplo, somente um numero comparativamente pequeno de referéncias vétero-testamentdrias se- ra citado. Mesmo assim, aquilo que estamos fazendo na tarefa de proclamar o evangelho, de converter os homens a Cristo, e de edificd-los em igrejas locais, é baseado no fundamento da revelacdo do Antigo Testamento e nao é, de modo algum, antitético a ela. E fiel aos ensinos vétero-testamentarios da cria- ¢do, da queda do homem, dos propdésitos redentores de Deus, e da missdéo do pave de Deus no mundo. Semelhantemente, embora um grande numero de tex- tos do Novo Testamento serd citado, ndo é possivel, de modo algum, que todas as passagens relevantes possam ser aplicadas a qualquer determinada questdo. Sendo este o caso, nossas conclusdes sdo veridicas somente a medida em que esto em harmonia com todos os textos relevantes. Sado ver/dicas somente a me- dida em que citamos textos basicos representativos e interpretamos estes tex- tos corretamente. S3o veridicas somente 4 medida em que nao desconsidera- mos textos relevantes que poderiam nos fazer modificar as nossas conclusées. (3) O ensino da Palavra de Deus acerca de qualquer determinada questao deve tomar precedéncia sobre o registro dos eventos que ocorreram nos tempos “WNZ PIWIOY IRQ ‘BIADIUOYY “(JHVW) Sassi cued sepedueny sagdeaiunwos a sesinbseg ap OJuag jad opelogela a gGqg| wa eyULeW ep sreloads3 solel01q ap O11011/98g oad OplA|GAuasap ‘(eWeIGa14 OP ORsIAay e 2 opdeljeay & eed eolu2a|) | Had we opeeseg (+) SOLRSSBIeU sosinoal so eunay elougpadxa ep epuaidy oueld o ayn9ax3 SOLPSSA99U SOSINI) SO |” oes sienb @ j2qo)6 oue|d JOYJ@W O 9 [end eAjoseyy SOlUgssa9aU OsYLIP 08 $0} U9/2] $0 ‘Ut ualUISeyU 09 0 ‘seasse. 32 ajunly oue:d of © Janbiy)pow a ossarBosd O aluawealpolad arery| ogseiado We Oued o anbojod osseibord 0 JIpaw Bp soja @4j0383 {eqo/6 cued oede4 sejaugiiadxe woo aedwog ojuswala eped eied afaueyd a sesinbsad @ ayoue} P apuossdwio) oquawala eped ered alaueld eyaue] Ewin Japusesdwia yen) Bp ‘ ap agsioap & e584 sojuawe(s $0 esUYy oyazel ep soaibg) SuLi8WE(s So auiauaTag ojuawaya eped esed (s}oaye (s}o eSajaqeis3 +OLNINVEPANY 1d 30 OGVOISITdWIS OOISVed WN € vunold METODO E MissAO 33 FIGURA 4 AS TRES FONTES DA MISSIOLOGIA A Revelagao (As Escrituras Sagradas) A Reflexdo A Pesquisa . (O Pensamento Sadio) (A Observacao Cientifica) biblicos, Este principio é o amago de um problema crucial na missiologia, e mesmo na teologia. A questéo tem a ver com a distin¢ao entre aquilo que é normativo na Escritura e aquilo que 6 puramente descritivo. A questdo ja foi focalizada, e continuard a ser, repetidas vezes dentro destas paginas, mormen- te tendo em vista o fato de que fazemos numerosas referéncias ao Livro de Atos. O problema que enfrentamos torna-se explicito quando forcamos demais qualquer por¢do narrativa das Escrituras. Por exemplo, se a experiéncia dos discfpulos no Pentecoste fosse feita normativa, ficarfamos inclinados a buscar sinceramente um dos dons do Espirito (a glossolalia), ¢ esperd-lo, embora ele, segundo o ensirra de 1 Corintios 12-14, ndo seja para todas os crentes e nado de- va ser ansiosamente procurado. Além disto, se formos longe demais e insistirmos que a descricdo da igre- ja em Jerusalém em Atos 2.41-47 deve ser normativa para todas as igrejas, logo, a propriedade privada dos cristdos torna-se suspeita. Na realidade, natural- mente, 0 cristianismo nado exige 0 comunalismo deste tipo. O mesmo principio é aplicavel no caso da igreja de Antioquia e da estra- tégia de Paulo, 4 qual logo voltaremos nossa atencao. As descricdes dos eventos e dos personagens historicos nos fornecem informagdes e exemplos (bons e ruins), mas oferecem normas somente 4 medida em que passagens explicitamen- te doutrinarias ou diddticas as reforcam. A Pesquisa A palavra pesquisa neste contexto nado deve ser vista no sentido estreito de “experiéncia controlada’’, mas como uma referéncia aos entendimentos que derivam das ciéncias sociais. Quando se trata desta segunda fonte de mis- siologia, no entanto, muitos cristdos sinceros seréo tentados a levantar uma ob- jegdo. Sua dedicag¢Zo a Deus como Fonte de toda a sabedoria e de todo o poder parece necessitar uma rejeigao da sabedoria do mundo e das suas realizacées. 34 O CRISTAO E AMISSAO CRISTA De certa maneira, @ estranho que isto apresente um problema para estes cris- téos, porque ndo tém hesitac¢do em usar os avides, os radios, e os remédios que resultam da pesquisa aerondutica, eletrénica e qufmica. Doutra maneira, no entanto, o problema é compreensivel. As ciéncias sociais tais como a hist6- ria, 4 administracaéo de empresas, as comunicacoes, a psicologia, a antropolo- gia, a sociologia, e a religido comparativa parecem ser de uma ordem bem di- ferente do que a engenharia e a medicina. A gente ‘’sente” diferente ao usar as ondas do rddio ou ao usar um principio de persuasdo! Num dos casos, esta- mos manipulando indicadores. No outro, podemos estar manipulando as pes- soas! O problema nado 6 novo. Ha muitos séculas atraés Agostinho enfrentou a pergunta de se o conhecimento que aprendera nas escolas dos seus dias (ele era um retérico) poderia ser usado na edificacao do reino de Deus.? Sua men- te brilhante lutou com este problema, assim como também fez com todas as questGes principais dos seus dias. Sua conclusdo, portanto, é importantis- sima para nés: Toda verdade pertence a Deus e pode ser usada para os propé- sitos do reino. Tirou uma analogia da experiéncia dos filhos de Israel que fo- ram ordenados a tirar algumas das riquezas do Egito para seu uso a caminho para a Terra Prometida. Visto que boa parte do seu conhecimento da retori- ca viera da Alexandria, sua analogia era especialmente apta. O ouro do Egito nao deixa de ser ouro! Pode ser utilizado durante nosso andar peregrino com Deus. As obras de Agostinho sdo testemunhas da eficacia com que o ‘‘ouro do Egito’’ foi utilizado por aquele grande estudioso e santo. Agostinho, no entanto, introduziu trés precaucdes importantes (duas ex- plicitas e uma implicita) a respeito do uso do conhecimento do mundo. Em primeiro lugar, nesta ‘‘transferéncia do ouro doa Egito’’ devemos observar a maxima: ‘‘Nada em excesso.”” Em segundo jugar, devemos lembrar-nos de que, embora algum conhecimento pagdo seja Util ao cristo, o montante 6 quantita- tivamente pequeno em comparacdo com aquele que pode ser derivado das Es- crituras. Em terceiro lugar, fica aparente em todas as partes da obra de Agosti- nho onde o problema é tratado (Da Doutrina Crista) que a Escritura é 0 padrao da verdade — 0 ouro egipcio que ndo esta a altura deste padrao nao é ouro le- gitimo — é ouro dos tolos! As precaucdes de Agostinho devem ser levadas a sério. O ouro do Egito pode ser formado em bezerros de ouro! Ha um perigo real de que quando che- garmos a compreender o que esta acontecendo na planicie, esquecer-nos-emos daquilo que esta acontecendo no monte! Por exemplo, ha verdadeiro valor em compreender o que acontece psicologicamente quando uma pessoa se torna crista. Mas, uma vez que o entendamos, devemos exercer cuidado a fim de que © processo psicoldgico envolvido nao fique tao absorvente que nos esquecamos de que os elementos. de suprema importancia na conversdo sdo a conviccdo e a iluminac&o pela Terceira Pessoa da Trindade. Nenhum psicélogo que nao é salvo pode compreender ou apreciar esse fato. Mas o cristdo pode, e deve! METODO E MISSAO 35 A Refiexdo Poucas pessoas argumentariam que o pensar é anti-cristdo! Mas esse fato, por si mesmo, ndo nos garante de que havera pensamento de qualidade — e muito menos de que prevalecera — no servico de Cristo. Nosso Senhor man- dou Seus servos no século | serem “prudentes como as serpentes e simplices como as pombas” (Mt 10.16b). O simile das pombas parece bastante apro- priado, mas para que o sfmile das serpentes? Por que, sendo para inculcar Sua ligdo? A realidade é que aqueles que dependem do “’senso de Cristo’’ frequen- temente sdo tentados a desconsiderar 0 ‘‘bom-senso comum.” Quéo freqtien- temente j4 ouvi homens de negécios bem-sucedidos comentar que se seus ne- gdcios fossem dirigidos como os da Igreja 4s vezes sdo dirigidos, logo iriam a faléncia! Nenhum crédito é devido ao povo de Deus se for essa a real situa- cdo, Nem toda’a prudéncia é biblica, mas existe uma prudéncia biblica. O bom- senso comum mistura-se bem com o senso espiritual! Na sua obra classica: Planting and Development of Missionary Churches, John L. Nevius enfatiza dois testes de qualquer plano para a implantacao de igrejas: “a adaptabilidade para o fim em mira, e a autoridade biblica.’’* Liga a adaptabilidade com a andlise das nossas experiéncias passadas. Se pensarmos claramente, a histéria pode servir de guia para o futuro. Além disto, insiste que qualquer plano que passar nos do/s testes tem mais direito ao nosso respei- to e a nossa aceitacdo do que um plano que pode declarar ter a sancao de um s6 teste.’ Noutras palavras, confie na revelacdo de Deus mas nao negligencie a reflexdo sobre os sucessos e fracassos passados. Muita coisa pode ser apren- dida deles. Os Elementos Légicos da Tarefa Missionaria A tarefa missionaria da Igreja deve ser compreendida a luz da revelacdo bfblica. J&é tocamos nesta idéia de modo preliminar, notando que as ativida- des envolvidas incluem o testemunho, a pregacdo, o discipular, o batismo, e o ensino. Exatamente como estes elementos se encaixam na prdatica talvez possa ser melhor visto no ministério do apdéstolo Paulo e dos seus colegas a medida em que implantavam igrejas em todas as partes do Império Romano. Paulo, foi o prudente construtor da Igreja nos tempos do Novo Testamento (1 Co 3.10}. Foi o plantador de igrejas por exceléncia! A Estratégia e a Metodologia Paulina Pode haver pouca divida de que, se temos no Novo Testamento um exemplo de estratégia sadia para a implantacdo de igrejas que crescem, temo- lo na estragégia de Paulo. Depois de nos oferecer um breve registro do papel de Pedro e doutros em levar o evangelho além das fronteiras da comunidade judaica, Lucas dedica a parte do ledo da sua atencdo ao ministério de Paulo 36 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA e dos seus cooperadores, Boa parte do restante do Novo Testamento consiste na correspondéncia de Paulo com as igrejas e com seus Ifderes. Certas pergun- tas basicas tém sido levantadas a respeito do ministério de Paulo, no entanto. Paulo Tinha Realmente uma Estratégia? Nossa resposta a esta pergunta determinara como procederemos a partir desta altura. Se, conforme Michael Green parece acreditar, Paulo tinha pouca estratégia, ou nenhuma, e “‘o Evangelho espalhou-se de uma maneira aparen- temente a esmo, 4 medida em que os homens obedeciam 4a orientacdo do Es- pirito, e passaram pelas portas que Ele abria,’”® logo, tudo quanto poderemos aprender é a dependéncia a esse mesmo Esptrito. Se, doutro lado, Donald Mc- Gavran tiver razdo em dizer que enquanto Paulo estava em Antioquia elabo- rou uma estratégia para alcancar grande parte do mundo mediterrdneo com o evangelho,’? logo, também nds podemos aprender da estratégia de Paulo. Uma posicao intermediadria parece estar em harmonia com os dados. Green tem toda a razdo quando insiste que “’ndo devemos organiza-lo [Cris- to] até Ele j4 nao caber no quadro” e quando adverte contra a idéia de que “a eficiéncia na linha de producdo evangelistica inevitavelmente produzira re- sultados."’® Mas parece que exagera sua tese. Se Paulo nao tivesse nenhum pla- no, o Espirito Santo nao poderia té-lo mudado (cf. At 16.6-10)! Do outro ta- do, o argumento de McGavran acerca da estratégia de Paulo para alcancar as “pessoas que estao na ponte” (pessoas que tém relacionamento com crentes) é fascinante e instrutivo. Mas, as vezes, McGavran também parece exagerar sua tese. Vale a pena meditar sobre as palavras de J. Herbert Kane: Podemos comegar perguntando: Paulo tinha uma estratégia missiondria? Alguns dizem que sim; outros dizem que nao, Muita coisa depende da definicao de estratégia. Se “‘es- tratégia” quiser dizer um plano de agao deliberado, bem-formulado, e devidamente executado, baseado na observagdo e na experiéncia humanas, entao Paulo tinha pouca ou nenhuma estratégia; mas se entendermos que a palavra significa um modus operan- di flexivel, desenvolvido sob a orientagio do Espirito Santo e sujeito A Sua orienta- ¢40 e controle, ent&o Paulo realmente tinha uma estratégia, Nosso problema hoje é que vivemos numa era antropocéntrica. Imaginamos que na- da pode ser realizado na obra do Senhor sem boa dose de maquinaria eclesidstica — comissdes, conferéncias, laboratérios, seminarios; ao passo que os cristos primitivos dependiam menos da sabedoria e pericia humanas, e mais da iniciativa e orientagdo divinas. E dbvio que nao foram mal-sucedidos. O que o movimento missiondrio mo- derno precisa acima de qualquer outra coisa é voltar para os métodos missionarios da igreja primitiva.”. Tendemos a concordar com a posicdo bdsica de Kane, mas modificaria- mos um pouco a sua declaracdo. Paulo, naturalmente, tinha comparativamente pouca oportunidade de basear sua estratégia na observacdo e na exneriéncia. METODO E MiSSAO 37 Mas com dois mil anos de historia das missGes por detras de nds deverfamos ter um “plano de a¢do deliberado, bem forrnulado, e devidamente executado, baseado na observacdo e na experiéncia.”” Para ser cristéo, no entanto, tal pla- no nado deve ser baseado primariamente na observacdo humana. Deve ser ‘‘de- senvolvido sob a orientacdo do Espirito Santo e sujeito a Sua orientacdo e controle.” Quanto 4a flexibilidade, qualquer estratégia que nao é flexivel é simplesmente md estratégia. Concordemos, portanto, em que “’o que o movimento missionario moder- no precisa acima de qualquer outra coisa é voltar para os métodos dos missio- ndrios da igreja primitiva.” Seria estulticia da nossa parte desconsiderar o re- gistro, inspirado pelo Espirito Santo, do modo cos cristdos primitivos, e espe- cialmente Paulo e seus assistentes, realmente terem edificado as igrejas dos seus dias, assim como teria sido estulticia para Paulo desconsiderar a orientacao do Espirito Santo recebida na Arabia e na Antioquia. Ao mesmo tempo, se- ria tao impensdvel para néds descontarmos o entendimento que tem vindo a nds através de dois mil anos de experiéncia e estudo quanto teria sido para Paulo descontar os processos da helenizacdo da cultura e a penetracao religio- sa do judafsmo nos seus prdéprios dias. Apesar disto, a adverténcia de Kane ndo deve ser desconsiderada. Se dependermos da estratégia global e do método da sua implementacgdo ao invés da sabedoria e do poder do Espirito Santo, nao podemos alegar que somos leais ao precedente neotestamentdrio, nem nosso testemunho sera tao eficaz quanto foi o daqueles crentes do século I. A Estratégia Paulina é Aplicavel Hoje? Dizer que as labutas missiondrias de Paulo resultaram do pensamento bem como da ora¢do e do trabalho nao termina a questaéo. Devemos pergun- tar se a estratégia paulina é aplicavel hoje, ou néo. A esta pergunta responde- mos “‘sim.”” Em primeiro lugar, o mundo de Paulo no século | tem umas semelhan- ¢as notadveis com nosso mundo de hoje. Naturalmente, devemos reconhecer que o século XX nao é uma segunda-via do século i, e que, em comparacdo com a situagado em que o missiondrio estrangeiro moderno usualmente se acha, a situacdo de Paulo era bem diferente. Paulo era um cidaddo do seu mundo missionario. Nao aprendeu nenhuma lingua estrangeira a fim de comunicar. Desde o préprio infcio do seu ministério, tinha familiaridade com os padrées de pensamento do seu auditério. Ao mesmo tempo, conforme se relata que o Dr. E. M. Blaiklock, catedratico. de Iinguas classicas na Universidade de Auck- land na Nova Zelandia, disse: ‘‘De todos os séculos intervenientes, 0 século XX 6 0 mais semelhante ao |.’"'° Havia um consideradvel fluxo intercultural enire povos de diferentes racas e formacGes. Havia uma faléncia generaliza- da de idéias e de ideais. E havia um grupo de pessoas espafhado em todas as partes do Império Romano que, em virtude do seu contato com as idéias Mmonote/stas e éticas judaicas se constitufa num “auditério preparado”’ para o evangelho. 38 OCRISTAO E A MISSAO CRISTA Em segundo lugar, Paulo reconhecia que era um prudente construtor da Igreja (1 Co 3.10). Ora, se ndo inferimos desse fato que devemos seguir servilmente cada abordagem empregada pelo grande apdstolo aos gentios, podemos pelo menos tirar proveito de um estudo cuidadoso da sua metodo- logia. Afinal das contas, os arquitetos modernos estudam as obras dos gran- des arquitetos do passado, embora nao projetem nem edifiquem construgdes idénticas. Desta maneira, podemos aprender de Paulo. Conforme escreveu Richard Longenecker: Freqitentemente tem sido dito de modo devocional: “O mundo ainda ha de ver 0 que Deus pode fazer com um homem totalmente dedicado a Ele.” Paulo era tal homem, e o mundo tem sido testemunha do efeito, Possuia uma firmeza de dedicagao ao seu Senhor, um fervor de espirito, um coragdo compassivo, uma visdo ampla, uma per- cepcao aguda, e estava constantemente aberto ao Espirito. Semelhante exemplo de uma vida e de um ministério cristdos destaca-se como paradigma e como inspiracdo para’‘nds hoje [grifos nossos].”"! Até Que Ponto a Metodologia de Paulo é Normativa? Fica claro nas Escrituras do Novo Testamento que a mensagem de Paulo é normativa. Aos gaélatas — que estavam sendo perturbados pelos judaizantes — pdde dizer: ‘‘Mas, ainda que nds, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pre- gue evangelho que va além do que vos temos pregado, seja andtema’’ (GI 1.8). Aos corfntios — que estavam sendo empesteados com dificuldades ecle- sidsticas — pdde escrever: ‘Porque eu recebi do Senhor o que também vos en- treguei” (1 Co 11.23a). , Fica claro no Novo Testamento, também, que Paulo o homem, num sen- tido secundario, era um exemplo normativo daquilo que o cristao deve ser e fazer. Aos corintios, que precisavam desesperadamente de um exemplo daquilo que um cristdo deve ser, pdde fazer a declaracéo notavel: ‘Sede meus imitado- res” (1 Co 11.1a). Paulo, no entanto, nao era perfeito. Sabia disto. E por isso acrescentou aquelas palavras da maxima importancia: “como também eu sou - de Cristo’ (1 Co 11.1b). Sendo assim, o exemplo de Paulo é normativo porque reflete o padrdo perfeito — aquele do prdéprio Jesus Cristo. Depois, 0 que se diz do método missionario de Paulo? Conforme ja disse- mos, parece haver pouca coisa para indicar que o Espirito Santo espera que si- gamos de modo servil cada procedimento paulino em nosso alcance evangel is- tico. Do outro lado, ha ensino explicito nas Epfstolas que nos ordena a conti- nuar as mesmas atividades de modo semelhante — a saber: ir para onde as pessoas estao, pregar o evangelho, ganhar convertidos, reuni-los nas igrejas, ins- trui-los na fé, escolher Iideres, e recomendar os crentes 4 gracga de Deus, E on- de acharfamos um padrdo para estas atividades, que tenha menos probabilida- de de nos levar para becos sem safda do que na obra missionaria de Paulo? Con- forme escreve A. R. Hay: “’O ministério de. Paulo e a dos seus companheiros é METODO E MISSAO 39 registrado pormenorizadamente porque ele e eles fornecem um exemplo tipi- co para o ministério permanente, da maxima importancia, de implantar igre- jas."'? Conclufmos, portanto, que a mensagem de Paulo era totalmente norma- tiva, e que seu modo de vida e sua metodologia missionaria eram menos nor- mativos. E uma questao de proporcdo. Ha espaco para adaptacdo em cada ca- so, Mas menos no caso da sua Mensagem e mais nos casos do seu modo de vida e da sua metodologia. Para nds, que estamos a dois mil anos da presenca fisi- ca do Mestre e dos Seus apdstolos, 6 bom aprendermos da pregacao, da pessoa, e do programa de Paulo, em dependéncia da Palavra e do Espirito Santo. O Ciclo Paulino Os Elementos Légicos no Plano Mestre de Evangelizacao de Paulo Quais eram os elementos (passos) l6gicos no plano mestre de Paulo para a evangelizacao e o desenvolvimento da igreja? Estes elementos serdo analisa- dos mais tarde. A esta altura, simplesmente os alistaremos e os demonstrare- mos numa forma diagramatica (veja a Figura 5): (1) Os Missiondrios Comissionados — Atos 13.1-4; 15.39, 40. (2) O Auditério Contatado — Atos 13.14-16; 14.1; 16.13-15. (3) O Evangelho Comunicado — Atos 13.17ss.; 16.31. (4) Os Ouvintes Convertidos — Atos 13.48; 16.14, 15. (5) Os Crentes Congregados — Atos 13.43. (6) A Fé Confirmada — Atos 14.21, 22: 15.41. (7). Os Lideres Consagrados — Atos 14.23. (8) Os Crentes Recomendados — Atos 14.23; 16.40. (9) Os Relacionamentos Continuados — Atos 15.36; 18.23. (10) As Igrejas Missiondrias Convocadas — Atos 14.26, 27; 15.1-4. Possiveis Objecdes ao Ciclo Paulino Para alguns, os passos no Ciclo Paulino talvez parecam quase demasiada- mente ébvios para serem realmente importantes. Nossa resposta 6 que para pes- soas que tém conhecimento eficiente de uma determinada tarefa, os elemen- tos ldgicos que a comp6em devem ser dbvios. Os quimicos seriam estorvados nos seus trabalhos com o acido clorfdico se sua estrutura molecular nado fosse do conhecimento geral nos seus. laboratérios. Uma vez que os elementos basi- cos de qualquer coisa tenham sido descobertos, sdo mais ou menos 6bvios. Nes- sa altura, a Unica pericia verdadeiramente exigida é saber trabalhar com eles. Para outros, o Ciclo Paulino talvez pareca um pouco forcado. Dez passos, frases aliterativas — a coisa inteira parece demasiadamente arrumadinha para ser verdadeira, demasiadamente programatica para ser pratica. Nossa resposta FIGURAS5 “O CICLO PAULINO” 08 MISSIONARIOS COMISSIONADOS Atos 19,1-4; 15.39, 40 > O ESPIHITO SANTO 0 DIRETGOR OiViNO DO EMPREENDIMENTO MISSIONARIO Aras 13.2, 52 A ORACAC E AATMOSFERA ARGH TAG AS ESCRITURAS SAO C ALICERCE Atos 15.15, AIGREJA E AAGENCIA Atws 15.22 AFE CONFIRMADA Atos 14.21, 22; 15.41 METODO E MISSAO 41 é que nada id de sacrossanto nesta maneira especifica de sundividir a tare- fa em elementos manusedaveis. Neste sentido, a missdo da lgreja nado é ana- loga a uma molécula de acido cloridico. A variacdo é possivel, Mesmo assim, cremos que a andlise cuidadosa da tarefa rnissiondria revelaré algo muito se- melhante aos passos do Ciclo Paulino. E a nés faz pouqufssima diferenca co- mo esses passos sao identificados. Para outros, ainda, talvez pareca que o ciclo nao é realmente paulino. Podem reconhecer que Paulo ocupava-se com estas varias atividades, mas nao necessariamente em todos os locais onde pregava. Se for este o caso, o ciclo nado é um tipo de hiprido, ou uma composi¢cdo baseada em um minis- tério total ao invés de ser a base para um plano em qualquer determinada si- tuacao local? Nossa resposta é quadrupla. Em primeiro lugar, Paulo ndo estabeleceu uma igreja em cada localida- de que visitou. Nao era seu plano fazer isso. No que diz respeito a Paulo (e dentro dos limites do que sabemos), em Atenas, por exemplo, o ciclo passou pelos passos do contato e da comunicacao, e parou com a conversdo de Dio- nisio, de Damaris, e de certos outros (At 17.34). Sabemos que havia uma igre- ja em Atenas posteriormente. Mas no que diz respeito ao registro biblico e ao ministério de Paulo, ndo temos maiores informacgdes a respeito dela. Atenas era uma parada temporaria para Paulo, Nao era a “cidade ideal” para ele. Em segundo lugar, ao usarmos a frase Ciclo Paulino, nado queremos dar a entender que Paulo pessoalmente levou a efeito cada passo. Paulo dirigia uma equipe de homens. O registro deixa claro que delegava responsabilidades a ou- tros membros da equipe. Por exemplo, Paulo escreveu a Tito: ‘Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restanies, bem como, em cada cidade, constituisses presbiteros, conforme te prescrevi’’ (Tito 1.5, grifos nossos). Em terceiro lugar, quanto mais completo fica o registro bfblico no caso de qualquer determinada situacdo local, tanto mais explicitos se tornam os pas- sos no ciclo. Veja, por exemplo, o caso da igreja em Efeso. Ali, os passos ba- sicos so tornados explicitos no registro biblico: O auditério contatado — Atos 18.19; 19.1, 8, 9. O evangelho comunicado — Atos 19.4, 9, 10. Os ouvintes convertidos — Atos 19.5, 18. Os crentes congregados — Atos 19.9, 10. A fé confirmada — Atos 20.20, 27. Os lideres consagrados — Atos 20.17, 28; 1 Tm 1.3, 4; 2.2. Os crentes recomendados — Atos 20.1, 25, 32. Os relacionamentos continuados — Atos 20.17; Ef 1.1-3, 15, 16. Em quarto lugar, embora o ciclo crescga a partir da metodologia paulina e nao seja imposto sobre esta, também se desenvolve a partir da légica e da ex- periéncia maior das missdes. Considerando a natureza da tarefa para a qual fo- mos comissionados, estes passos sao praticos e razodveis, conforme ja dissemos. Olhe para eles. inais uma vez. Se qualquer um de nds, como equivalente mo- 42 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA derno de Paulo, de Pedro, de Tomé, ou de Timéteo, fosse para uma cidade evangelizar e estabelecer uma igreja, no colocaria em pratica estes mesmissi- mos passos? E n€o os levaria a efeito nesta mesma ordem, mais ou menos? Quatro Aspectos [mportantes do Ciclo Paulino Antes de encerrarmos esta discussdo preliminar do Ciclo Paulino, quatro aspectos dele devem ser especialmente notados. Em primeiro lugar, tem um comeco e um fim. Grande numero de livros na drea do crescimento da igreja e do seu desenvolvimento tem surgido nestes Ultimos anos. Alguns deles sdo de leitura estimulante para os que se preocupam com a missao da Igreja. Alguns dos principios que podem ser descobertos nes- tes livros séo de valor incalculavel. H4, porém, uma falha em muitos deles que frequentemente deixa frustrado o obreiro pratico. E a seguinte. Quando um obreiro treinado nos principios do crescimento da igreja contempla a evangeli- zacdo para extensdo da igreja numa nova area, logo descobre que nao sabe enfileirar estas pérolas de sabedoria num sé fio! Ndo sabe onde comegar! E nem sequer pensou em como completar a obra. Por meio de pensar em termos de um ciclo com um comeco e um fim, e passos légicos entre eles, talvez seja possivel vencer esta fraqueza. Em segundo lugar, embora falemos de um comego e de um fim do ciclo, hé um sentido em que o ciclo nado admite nem um nem outro. Quando Paulo foi recomissionado em Antioquia antes da sua segunda viagem missiondria (At 15.39, 40), reestabeleceu o contato com os grupos novos de crentes, e con- tinuou seu ministério com eles, confirmando-os na fé (At 15.41). Ao mesmo tempo, levou as fronteiras do evangelho um pouco mais longe das bases origi- nais em Jerusalém e em Antioquia. Para pensar legitimamente num comeco e num fim, portanto, devemos pensar na tarefa com relacao a uma 86 igreja ou em uma area limitada. E em terceiro lugar, o ciclo deve ser olhado tanto sincronicamente como diacronicamente. Ou seja: embora possamos pensar em progredir da etapa do contato para a comunicacaéo, para a converséo, para congregar crentes, e assim por diante, devemos lembrar-nos também que, @ medida em que passa- mos pelo tempo para as etapas mais adiantadas do desenvolvimento, ainda de- vemos continuar levando a efeito as atividades das etapas iniciais (ou super- visionar sua realizacao). Por exemplo, sempre devemos fazer novos contatos e trabalhar em prol de novas conversdes do mundo, mesmo quando estivermos confirmando na fé os primeiros crentes. Nao fazer assim seria desagradar o Ca- beca da Igreja. Por isso, linhas nftidas ndo devem ser tragadas entre os elemen- tos principais do ciclo. Num sentido, sdo distintos e sequenciais. Noutro senti- do, colidem uns com os outros, e fluem uns para os outros, Em quarto lugar, é de importancia vital que a estratégia do Ciclo Paulino seja aplicada as igrejas existentes e ndo somente as situacdes pioneiras. Ao ava- liar as igrejas existentes, passo a passo desde ‘‘o auditério contatado” até “‘os relacionamentos continuados,” o pastor e os crentes responsaveis numa igreja METODO E MISSAO 43 realmente poderao analisar onde sua igreja é bem-sucedida e onde esta falhan- do na sua tarefa! Depois, podem fazer mudancas no seu plano globai, escolher padrées, reunir os recursos, e colocar em operacdo inovacdes prometedoras. Além disto, obterao constantemente novos entendimentos acerca da missdo da igreja na patria e no estrangeiro. As missées e a evangelizacdo eficazes requerem planejamento e estraté- gia com cuidado e com ora¢ao. Quando Deus estava para levar Seu povo fora do Egito e para dentro da Terra Prometida, chamou Moisés e comunicou um plano: ‘‘Vai, ajunta os anciaos de Israel, e dize-ihes... e iraés, com os ancidos de Israel, ao rei do Egito, e {he diras... Eu sei, porém, que o rei do Egito nao vos deixara ir... Portanto, estenderei a minha mdo, e ferirei o Egito com todos os meus prodigios” (Ex 3.16-20). Quando Deus estava pronto para juntar os ju- deus e gentios crentes numa nova comunidade da fé, parou Saulo no caminho e disse: ‘‘Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci para te constituir ministro e testemunha” (At 26.16}. E quando Saulo — ago- ra Paulo — tinha ministrado, testemunhado, e estabelecido grupos de crentes desde a Siria do oriente até a MacedGnia e a Acaia no ocidente, escreveu para uma das igrejas: Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus... Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edificio de Deus sois vos. Segundo a graca de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica (1 Co 3.6, 9, 10). Acima de tudo, a realizagdo dos planos e do propdsito de Deus requer a sabedoria, a intervencao, e a graca divinas. Mas também requer que um Moi- sés com os ancidos, ou um Paulo com seus companheiros, se dediquem — com o corpo, o coracdo e a mente — a tarefa. NOTAS 1.Planning and PERT (Técnica para aAvalia¢do e a Reviséo do Programa) (Monrovia, CA: Communi- cation Center, 1966). 2.Walter Liefeld: “Theology of Church Growth,” em Theology and Mission, ed. David J. Hesselgrave (Grande Rapids: Baker, 1978), pag. 175. 3.Agostinho: Da Poutrina Crista, trad. ing. D. W. Robertson, Jr. (Nova York: The Liberal Arts Press, 1958), Livro I. 4. John L. Nevius: Planting and Development of Missionary Churches (Filadélfia: Presbyterian and Reformed, 1958), pag. 8. 5. Ibid. 6.Michael Green: ‘Evangelism in the Early Chruch,’’ em Let the Earth Hear His Voice, ed, J. D, Dou- glas (Minneapolis: World Wide Publications, 1975), pag. 174. 7,Donald McGavran: The Bridges of God (Nova York: Friendship Press, 1955), pags. 25-35. 8.Green: “Evangelism in the Early Church,” pag. 174. 9.J. Herbert Kane: Christian Missions in Biblical Perspective (Grand Rapids: Baker, 1976), pag. 73. 10. Citado em Ray Stedman: Body Life (Glendale, CA: Regal Books, 1972), pdég. 129. 11. Richard Longenecker: The Ministry and Message of Paul (Grand Rapids: Zondervan, 1971), pag. 112. 12.A, R. Hay: New Testament Order for Church and Missionary (Audubon, NJ: New Testament Missio- nary Union, 1947), pag. 220. tres Educando para Missoes Ha varios anos, quando um dos autores estava ensinando na Faculdade de Teo- logia ‘““Evangel’’ em Hong Kong, teve a oportunidade de passar algum tempo com o Dr. Philip Teng, que é pastor de uma pujante igreja da Alianca Crista e Missionaria naquela cidade. Ao discutir a obra das igrejas, Teng indicou que em anos recentes sua igreja tinha dado infcio a um programa para estabele- cer cinco igrejas afiliadas. As financas para os obreiros e as instalacGes ja ti- nham sido fornecidas, e muito encorajamento foi dado. Uma ou duas das igre- jas afiliadas estavam progredindo bem, mas um problema de monta se torna- ra aparente. Nao parecia haver obreiro cristdéo algum que soubesse entrar nu- ma area nova e deitar os alicerces para uma igreja nova! Os obreiros tinham si- do treinados para edificar sobre o alicerce alheio, mas nao para lancar seu pré- prio fundamento! O Dr. Teng ficava pensando por que as coisas eram assim. A explicacdo foi e é simples. A teologia sistemdatica e pratica conforme a conhecemos tem sido produzida, em grande medida, nas nacdes ocidentais onde milhares de igrejas salpicam nossas zonas rurais e outros milhares elevam suas torres bem altas acima dos telhados circunvizinhos das nossas cidades. A existéncia destas igrejas tem sido tomada por certa. Como conseqiiéncia, os tedlogos sistemadticos tém ficado preocupados com os “‘interesses internos’’ da Igreja e tm dado comparativamente pouca consideracdo 4 a teologia da mis- sdo dela. Os tedlogos praticos prepararam pastores para servirem as congrega- gdes ex existentes, mas pouco ou nada fizeram para preparar os obreiros para o desenvolvimento de novas congregacGes. Aquilo que tem sido geralmente veridico no que diz respeito as institui- ¢des para o treinamento teolégico tem sido quase universalmente veridico no caso doutros tipos de -educacao. Crista. Multiplicaram-se programas de bachare- lados e cursos nas artes e nas ciéncias ao passo que negligenciaram cursos na eclesiologia e na evangelizacao para a extensao da igreja. Mas, quando seus de- 45 46 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA partamentos de relacdes ptblicas fazem planos para o recrutamento e o fe- vantamento de fundos, pressupdem tanto a existéncia quanto a cooperacdo das igrejas locais! Devemos, no entanto, avancar ainda mais um passo. O centro mais im- portante da educacdo cristd é a propria igreja local. Afinal das contas, so- mente uma pequena porcentagem dos seus membros tem o privilégio de passar por instituicdes cristaés de educa¢do superior. E a educacao no lar cren- te raras vezes sera melhor do que aquela que é recebida na igreja local. Apesar disto, e a despeito da sua importancia como centro de treinamento e da sua bem-lubrificada maquinaria organizacional, a igreja local média esta tristemen- te deficiente quando se trata de educar, treinar, e distribuir seus membros num programa realmente viavel de evangelizacdo para expansdo da igreja. Entrementes, cada Salo do Reino é uma estagdo de treinamento para as Testemunhas de Jeové. As Testemunhas séo chamados “publicadores,” e a todos eles sdo atribuidos territérios que ficam sendo sua responsabilidade missiondria. Devem fazer pelo menos duas visitas por ano em cada casa nas suas areas alocadas. N&@o somente isto, mas também sao cuidadosamente treinados para sua tarefa, ndo simplesmente nem primariamente por meio de escutar, mas também por meio de praticar. Os membros mais novos “en- cenam” visitas simuladas as casas na frente de congregacSes locais e dos seus ifderes, e séo publicamente avaliados conforme seu ““desempenho.” Final- mente, o programa inteiro da propagagdo — os féruns locais, os estudas bi- blicos nos lares, as publicagdes, o envolvimento do escritério central — é coor- denado pelos Ifderes e explicado aos membros. Ndo é de admirar que o movi- mento aumentou de 3.868 crentes em uma sé nacdo em 1918 para 2.091.432 membros localizados em 210 nacgdes em 1973 (um periodo de cinqiienta e cinco anos).' Neste interim, 0 programa missiondrio dos Mormons também prossegue rapidamente. Conforme & bem conhecido, os jovens mérmons devem servir na miss§o por um periodo de dois anos as custas das suas préprias familias (a igreja paga a viagem de volta das suas tarefas alocadas}. Sdo preparados para suas tarefas em programas de treinamento oferecidos em varios niveis edu- cacionais. O programa de “‘Semindrio’”’ em nivel de colegial oferece quatro anos de aulas em Antigo Testamento, Novo Testamento, o Livro de Mérmion, na histéria eclesidstica dos Santos dos Uitimos Dias. No nivel de faculdade, ha um programa semelhante chamado “Instituto de Religido.’” Além disto, os missiondrios recebem treinamento especial para suas tarefas, que inclui deco- rar os conceitos gerais de um manual com 200 paginas de instrucdes e de amos- tras de didlogos. Aqueles que vdo para 4reas onde linguas estrangeiras sdo ofe- recidas recebem treinamento especial em Iinguas. Uma vez no campo alocado, 0 novo missiondrio 6 encaixado numa rotina didria, cada parte da qual estd em perfeita harmonia com um programa existente para trazer novos convertidos a igreja e para acrescentar novas igrejas. Em 1974, 170.000 alunos estavam ma- triculados no programa de “‘Semindrio” e 62.000 nos ‘Institutos de Religiao.”’ Havia 17.564 missionarios. E, nalguma parte do mundo, um novo membro afiliava-se 4 igreja cada seis minutos.” EDUCANDO PARA MISSOES 47 Entrementes, 0 budismo Soka Gakkai, com sua sede no Japdo tem proje- tado um programa que visa conquistar primeiramente o Oriente, e depois, o mundo inteiro. Declara ter o maior templo do mundo, ao sopé do histérico Monte Fuji. Promove espetaculos gigantescos, inclusive paradas, discursos, e demonstracdes de atletismo. Mas tudo isso é para os fiéis. No amago do alcance de Soka Gakkai ha um programa de envolvimento leigo coordenado. Espera-se de todos os membros que se assenhoreiem de um manual que ex- plica a doutrina de Soka Gakkai e que os prepara a propaga-la. Todos se reu- nem regularmente nos jares designados, onde participam de uma integra¢do dis- ciplinada dedicada a fortalecer a fé dos membros e a introduzir novos candi- datos no movimento. Os grupos nos lares sao subdivididos 4 medida em que ultrapassam os limites do tamanho dos grupos pequenos. Cada ano, milhares de membros leigos, de ambos os sexos e de todas as idades, submetem-se volun- tariamente a provas que os qualificarao para esferas maiores de responsabilida- de na organizac3o. Nao é de se admirar que, em vinte e cinco anos, o Soka Gakkai cresceu de um niimero quase insignificante de aderentes para cerca de 16.000.000 membros no Japdo e mais 300.000 em acima de trinta pa/ses no mundo.* Entrementes, cada congregacdo local da /glesia ni Cristo nas Filipinas, quer tenha cingiienta membros, quer mil, 6 organizada em comissdées de cerca de sete membros cada. Cada comissdo tem seus préprios oficiais e ocupa-se com a disciplina e a propagagdo. Quando um membro dacomissao faz um no- vo contato para a igreja, avisa o presidente da comissdo e todos os membros sdo mobilizados para a integracdo. Nao é de se estranhar que esta igreja, que nem sequer existia antes da Primeira Guerra Mundial tenha crescido a meio milhao de aderentes e mais de 2.500 congregacées! O que é desesperadamente necessario no evangelicalismo hoje é uma total reavaliacdo 2.revisdo de educacao cristae dos programas de_alcance, a luz das Escrituras_e | ‘ja, que~existe..no..mundo oci- dental 6° no mundo néo- -ocidental.. Essa reavaliacao e revisdo deve ocorrer em trés niveis: nas igrejas locais, nas escolas_cristds, e nas escola logicas para o treinamento. to de obreiros cris Gristéos. eee se RT A Educacdo para a Missdo e a Evangelizacdo na Igreja Local O lugar certo para comegar a educacaéo — ou a reeducacaéo — em mis- sdes e evangelizacdo é a igreja local. E nado deve ser meramente para a elite espiritual que ja tem um interesse profundo pelo alcance mundial (muitos deles tém conexdes com a Sociedade Missiondria para Mulheres!), mas para toda pessoa que pertence a Cristo. Todos os filhos do Rei devem interessar- se pelos negocios do Rei e ter conhecimento deles! Mas isto tem sido dito repetidas vezes, até enjoar. O que ha de novo, portanto? O que sera novidade para muitas congregacdes 6 o tipo de educa- ¢do proposto nos paragrafos que se seguem! Para a maioria dos crentes participantes, esta questao da evangelizacdo parece tdo simples como testemunhar para um conhecido n&o-convertido, 48 O CRISTAO E AMISSAO CRISTA e esta questo das missGes parece taéo complicada como a diplomacia inter- nacional. E a evangelizacaéo pode ser tao simples assim, e a missao pode ser tao complexa assim. Mas as implicacdes maiores da evangelizacdo neotesta- mentario e o amago das missdes precisam ser entendidos, e entendidos por todos. A evangelizac&o deve levar os convertidos a participa¢ao ativa na igreja local; seja o que mais que as missdes mundiais possam envolver, devem dar a maxima prioridade para esse tipo de evangelizacdo. Isto exige compreensdo. E a compreensdo exige o estudo cuidadoso, em espfrito de oracdo. Nao é crédito para a gléria de Cristo quando Sua obra deve avancar com base em falsas informacdes, em informacdes inadequadas, e na total ausén- cia de informacdes. Nao Lhe traz gléria alguma quando as preferéncias pes- soais tomam a prioridade sobre os princfpios divinos nos esforcos espirituais. Os pastores, os lideres, e os membros das comissSes de misses e evan- gelizacdo no nivel local devem passar mais tempo com as Escrituras e com literatura sobre a evangelizagao, as missGes, e o crescimento das igrejas — e também com missiondrios-evangelistas que tém experiéncia e perfcia na tareta basica de implantar igrejas que crescem. Sendo assim instrufdos (ai do Ifder que se recusa a ser liderado!) poderdo ensinar os membros e encorajar a parti- cipaggo na evangelizag¢do e o apoio para os obreiros que desenvolveram estra- tégias vidveis e alvos a longo prazo. Como, pois, poderemos proceder com este processo da educacaéo mis- siondria? Parece que a melhor maneira de todas é comecar com a prépria igreja local — ver o que Deus diz acerca dela na Sua Palavra e conformar a igreja tanto quanto possfvel com o modelo. A igreja local, portanto, fica sendo um microcosmo daquilo gue precisa ser duplicado e reduplicado em derredor do mundo. A evangelizagdo nao é algo diferente “la para fora.” A missdo ndo é alguma coisa totalmente incompreensfvel que esta ‘“‘nalgum ou- tro lugar do mundo.” Essenciaimente, os dois sdo aquilo que cada igreja local deve estar fazendo no aqui e agora! “E tudo muito bom,” diz alguém, ‘‘ai temos o idealismo mesmo. Pode confiar que os educadores vdo inventar solu¢des que sdo ‘doutro mundo.’ ” Mas espere um momento. Pare para caicular as horas passadas pelos fiéis nas reuniGes das comissGes, nos estudos biblicos, nas reunides de oracdo, nos empreendimentos evangelisticos, e nas conferéncias missiondrias, sem dizer nada dos cultos de adoracdo, dos filmes especiais projetados, e dos jantares de comunhao, e os encontros nas fares vinculados com a igreja e separados de- la. Os crentes sabem como todas estas atividades se encaixam entre si e con- tribuem a razdo primdria para a propria existéncia da Igreja? E sera que o préprio pastor sabe? Vocé jé montou um quebra-cabeca? Naturalmente. O que salva a situa- Gado se vocé estiver trabalnando com as pecas de um quebra-cabecas realmen- te complicado? O quadro major. Quando vocé tiver em mente o quadro maior, vocé pode examinar as matizes e as linhas da peca minima e saber que fara parte do gramado ou da area arborizada ou do pdr do sol. Assim acontece com a Igreja. Quando vemos o plano e o propdsito de Deus, @ quando os crentes obtém uma viséo do quadro daquilo que a lgreja EDUCANDO PARA MISSOES 49 local visa ser e fazer pela graca de Deus, entao as pecas se ajuntardo: ‘’Agora en- tendo. E por isso que precisamos da oracdo em conjunto”; “Oh, 6 assim que nosso estudo biblico nos lares contribui ao crescimento da igreja’’; “Agora compreendo como um ginasio poderia ser a vontade Deus para nos nesta si- tuacdo” — estas observacdes, e outras semelhantes, serdo ouvidas nos encon- tros dos crentes. Além disto, quando os membros da igreja veer que aquilo que estao fa- zendo na sua igreja em Teresina é aquilo que Deus quer que seja duplicado {com acomodacées culturais) em derredor do mundo, entdo o resultado sera didlogo, oracao e mordomia responsaveis em_prol das missOes e da _evangeli- za¢a0 transcultur ais. E’Detis sabe o quanto precisamos disto.~ dé comecdmos? Sugerimos que os pastores e seu povo peguem a Bi- blia e este manual e facam o seguinte: (1) Separem uma hora por semana, seja durante a Escola -Dominical, no domingo a noite, ou durante o culto de orag¢do no meio da semana, para estudos, discussdes e oracdes sistematicos, passo a passo. (2) Descrevam por conta propria, em termos biblicos, aquilo que a Igre- ja visa ser e fazer no plano de Deus. (3) Paulatinamente juntem um quadro da vida e do programa da sua igreja local, demonstrando como cada parte contribui aos propésitos basicos para a existéncia da igreja. (4) Avaliem e modifiquem o programa existente, visando sua confor- midade com o padrao biblico e com os resultados reais, (5) Pratiquem a oracdo em pro! dos varios programas da igreja, e a par- ticipacdo deles, de acordo com o plano e os recursos que Deus forneceu. (6) Promovam o alcance missiondrio-evangelistico noutras comunida- des no pais e no estrangeiro de acordo com as compreensdes obtidas deste es- tudo. Se este tipo de atividade substituisse alguns dos estudos bons, mas fre- quentemente desconexos, e os estudos gerais que sdo feitos na igreja media- na, e se suas implicacdes fossem fielmente levadas a efeito, poder/amos implan- tar igrejas em crescimento em todos os lugares. A Educacio para MissGes e Evangelizacgao nos Colégios Relacionados com as Igrejas Um amigo querido e de muita confianca que ja teve longos anos de ex- periéncia no pastorado e no magistério em varias escolas relacionadas com as igrejas disse certa vez, a respeito de certo colégio cristao bem-conhecido: ‘’Te- nho o mais alto conceito daquela instituicdo. Mas a ultima igreja de que gos- taria de pastorear seria uma igreja composta primariamente dos seus diploma- dos.” Passsou, ent&o, a explicar que os estudantes daquela instituicéo eram bem-instrufdos na fé pessoal e na devocao particular. Alguns-deles fariam grandes coisas para Deus. Mas na igreja local, poder-se-ia contar com a maioria deles para freqtientar o culto matutino aos domingos, e pouco mais do que isto. 50 OCRISTAO E A MISSAO CRISTA Temia que ficaria um pouco solitario no culto semanal de oracao e noutras atividades importantes da igreja. E produziu evidéncias sdlidas em prol do seu argumento! Na ocasiao, compreend/amos o que ele dizia. Mas varios meses mais tarde, suas palavras voitaram com forcga renovada. Um dos membros mais destacados do corpo docente daquela instituicdo observou numa conver- sa: ‘‘Igreja? Ora, sempre que ha cristdéos reunidos, ali temos uma igreja. Na realidade, a par6quia como ja a conhecemos é coisa do passado. As igrejas do amanhd serdo as reunides informais de tomar cafezinho, bate-papos nos dor- mitorios, e grupos de estudos biilicos informais.”’ Dizer que discordamos desse professor é falar pouco. Naturalmente, Cristo esta presente onde dois ou trés se reunem em Seu nome. Naturalmen- ‘te, tais reunides podem ter relevancia espiritual e honrar a Deus. Mas seme- |Ihante eclesiologia dificilmente merece o nome. As igrejas devem perscrutar cuidadosamente as instituicdes educacionais {e outras) que sustentam. Tomam posicdo a favor de Cristo? Se for assim, tal fato 6 digno de louvor. Mas nado basta. Tomam posicdo a favor da Palavra de Deus? Se for assim, devemos ficar gratos. Mas isso ndo basta, tampouco. H4 uma terceira pergunta, que é crucial. Tomam posicdo a favor da Igreja e das igrejas, e as apdiam de todas as maneiras possfveis? Ndo é nada demais, esperar tal coisa, Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela. Boa parte da Biblia 6 dedicada a descric¢des das igrejas e a instrucdes a elas. Além disto — e num nivel muito pragmatico — pede-se as igrejas que sustentem as escolas de modos muito especificos e tangiveis. Por que as escolas ndo devem apoiar as igrejas de modo semelhante? Sejamos especificos. Nao estamos falando em termos de erguer o cha- péu em direc&o as igrejas, nem sequer em termos de circular coros e equipes evangelisticas entre as igrejas. Estamos falando em curriculos que incluam instrucdo biblica sdlida a respeito da Igreja — seu significado, sua composi- cdo, e sua missdéo. E estamos falando acerca do aconselhamento e doutros programas praticos que encorajem os estudantes a deitarem rajizes nas igre- jas locais e trabalhar fielmente em prol do seu fortalecimento e do seu alcan- ce. Ja veio a hora de perguntar se é uma atitude crista da parte das escolas solicitarem e aceitarem sustento da parte das igrejas se ndo ajudarem as igre- jas que as sustentam a crescer e multiplicar. A Educacao para Missdes e Evangelizacdo nas Escolas Bivlicas e Teolégicas Recentemente, um dos autores teve o privilégio de dar uma série de pre- lecdes numa escola biblica localizada nos subirbios de uma metrépole num outro pais. Era uma escola magnifica, com instalacées excelenies, um corpo docente dedicado, estudantes inteligentes, e um curriculo tipico das escolas bfolicas. Mas a respeito do crescimento das igrejas, tinha um problema basico a despeito de todas aquelas grandes vantagens. Os estudantes estavam estudan- EDUCANDO PARA MISSOES 51 do a Biblia, recebendo aulas de impostacgao da voz, praticando pregacédes, aprendendo a ensinar, e discutindo a evangelizagdo pessoal. Aos domingos, a maioria deles ia para alguma tarefa de servico cristaéo — cantando, ensinan- do uma classe da escola dominical, ou dirigindo uma reunido da juventude nalguma igreja na cidade. Apesar disto, em duas ou trés direcGes a partir daque- la escola era possivel viajar 30 até 50 km sem descobrir mais de duas ou trés igrejas evangélicas, sobrevivendo com dificuldade. E a despeito disto, o curri- culo daquela escola ndo oferecia um s6 curso de evangelizacao para a implan- tacdo de igrejas, e somente um esforco deste tipo estava ocupando a atencdo de qualquer membro do corpo docente da escola. Certamente pareceria que, se é que o treinamento para ganhar pessoas para Cristo, para estabelecé-las nas igrejas locais, e para implantar igrejas nas areas que ndo as tém, em todas as partes do mundo, deve ser achado nalgum lugar, este lugar deve ser nos institutos e semindarios bfblicos. Mas, conforme temos indicado, néo podemos contar com esta situacdo. O currfculo mediano contém um curso de evangelizag¢do pessoal, uma parte de um curso de teologia sistemdtica que é distribufda a eclesiologia, umas poucas aulas de um curso de teologia pratica dedicadas as campanhas evangelisticas, e um curso geral de missdes. Muito provavelmente, estes cursos serdo dados por instrutores dedicados e competentes. Os estudantes que se aplicam beneficiarao grandemente deles. E provavel que uma grande porcentagem daqueles que se formam nestas ins- tituicdes terao o desejo de servir fielmente a Cristo e levar homens e mulheres a colocar nEle a sua fé. Muitos estardo preparados para servir nalguma igreja local no seu pafs, ou nalguma drea de missGes no estrangeiro. Mas, conforme o Dr. Teng descobriu no Extremo Oriente, bem poucos formados terdo a vi- sao nem a técnica para estabelecer igrejas novas nas comunidades que ndo as tém. Pouquifssimas pessoas como Paulo se formarado nestas escolas a nado ser que algumas mudancas significantes sejam feitas. Ha duas razGes para isto. Em primeiro lugar, a visdo missiondria e evan- gelistica nao tem sido claramente declarada em termos de implantar igrejas que crescem, Em segundo lugar, nao ha cursos que se concentram em elaborar estraté- gias para a evangelizacdo para extensdo das igrejas nas dreas designadas. E até que os cursos de missiologia e evangelizacdo tenham essa qualidade concreta e especifica, sempre Ihes faltard praticabilidade. Poucas escolas, ou talvez nenhuma, realmente resolveram estes problemas. Felizmente, o numero de escolas que oferece cursos de crescimento das igre- jas tem aumentado dramaticamente em anos recentes. O que ainda falta dizer é matricular os estudantes em cursos — e coloca-los em ministérios — que ofe- recem a oportunidade de traduzir tudo quanto conseguiram aprender acerca da Igreja e da sua missdo em planos e programas concretos para dreas especi- ficas que sao 0 alvo. De modo limitado, temos procurado fazer isto na Escola de Missdes e Evangelismo Mundial ‘Trinity’. Qs estudantes adiantados séo encorajados a matricular-se num semindrio de dez semanas sobre a evangelizacdo para ex- 52 O CRISTAO E A MISSAO CRISTA tensdo das igrejas. A classe é dividida em unidades pequenas, variando entre. dois e quatro membros cada. Cada unidade escolhe uma drea especifica como alvo e pessoas dentro de uma drea geografica maior de interesse. As dreas- alvos tém inclufdo alvos tao culturalmente divergentes e geograficamente sepa- rados como uma tribo na regido “Cabeca de Passaro”’ da Indonésia, uma "co- munidade de um so quarto” no Japdo, uma cidade na Guatemala, uma aldeia tribal no Quénia, e uma comunidade que pode ser atingida a pé, a partir de “Trinity”! Na etapa introdutéria, os estudantes falam acerca do procedimen- to do planejamento, e ficam conhecendo o Ciclo Paulino. Além disto, fazem levantamentos demograficos das dreas e dos povos que sdo seu alvo. (Estes sao apenas tao completos quanto os dados e o tempo disponiveis permitem}. Depois, tomando uma fase do ciclo toda semana (a partir do “auditério contatado’’), os membros de cada unidade cooperam no desenvolvimento de um plano mestre para sua area-alvo. Cada membro de uma unidade concentra- se num ou dois aspectos importantes de cada fase. Todos sao encorajados a fazer os melhores entendimentos obtidos das Escrituras, das pesquisas e da ex- periéncia aplicarem-se a cada quest&o envolvida. Os estudantes e os instrutores reunem-se trés vezes por semana. A partir da segunda semana, os trés perfodos de aula sao passados da seguinte maneira: Primeira Sesséo: Uma prelecdo e uma discussao projetada para apresentar a fase do Ciclo Paulino que sera tratada naquela semana especifica (‘’o audité- rio contatado,” ‘‘o evangelho comunicado,” etc.). No fim da sessdo, as unida- des se reunem separadamente a fim de determinar pontos de concentra¢do para cada membro. Segunda Sessdo: Os estudantes se reunem em unidades, mas numa locali- dade em conjunto. Compartilham os problemas e as idéias relacionadas com seus interesses individuais e coletivos, e fazem os ajustamentos necessdrios pa- ra decidir sobre uma estratégia maior para a fase do ciclo em consideracdo. Os instrutores circulam entre as unidades a fim de fazer perguntas pertinentes e de responder a outras tantas, e de ajudar a conservar as discussGes avancando em linhas frutiferas. Terceira Sessdo: Cada unidade circula esbocos e relata as linhas-mestres da sua estratégia para aquela fase do ciclo. Os membros da classe oferecem er/- ticas e sugest6es a serem consideradas na finalizagdo dos varios planos mestres. No fim do seminario de dez semanas, as unidades circulam planos mes- tres completos. Desta maneira, os participantes tém a satisfa¢do adicional que advém de compartilhar planos mestres com colegas no ministério no pa/s e no estrangeiro. Mas para os instrutores e os estudantes igualmente, a parte mais importante do empreendimento inteiro é aumentar a eficacia na implantacao e no crescimento das igrejas no pafs e no estrangeiro. Um subproduto do curso tem sido um aumento relevante do interesse e da participac@o dos estudantes e dos professores no estabelecimento de igre- jas evangélicas nas comunidades que nao as tém. O esforco de “Trinity” é humilde e inicial. Nosso plano é envolver mais estudantes na prdépria implantacdo de igrejas nas comunidades em derredor no futuro. A despeito das suas fraquezas, a abordagem de ‘Trinity’ indica novas EDUCANDO PARA MISSOES 53 possibilidades para escolas, igrejas, e missdes. Somente o Senhor da Igreja sabe quaéo rapidamente as igrejas em crescimento se multiplicariam, caso todos os’ Seus seguidores envidassem os maiores esforgos para cooperar com Ele na edi- ficagao de Sua lgreja! A Educacdo para Missdes e para a Evangelizagao nas Missées E presungoso sugerir que constituir misses exige educacdéo em missdes e evangelizag¢ao? Muitos pensam assim. ‘Se o pessoal das missGes precisa deste tipo de educacdo, talvez esteja na vocacao errada,’”’ alguém protestard. Nalguns poucos casos, isto pode ser a verdade, e nesses casos a educacdo nao ajudara. Mas a educacdo — ou a reeducacao — ajudard os que foram chamados, que tém certeza da sua chamada, e que querem ser leais 4 sua chamada! Estatfsticas fidedignas sobre a evangelizagao na América do Norte podem ser facilmente obtidas. Segundo um estudo recente, o numero total de missio- ndrios no estrangeiro, afiliados com a Divisdo das Missdes Estrangeiras (Conci- lio Nacional das igrejas Cristas), a Associacdo Evangélica de Missdes Estrangei- ras, 6 19.786. Deste numero, 28 por cento estao envolvidos em estabelecer igrejas, 25 por cento estaéo envolvidos no “apoio as igrejas,”” e 47 por cento es- tao distribufdos entre outros ministérios.* Em cifras arredondadas, cerca de um quarto esta primariamente ocupado em ganhar pessoas para Cristo e em im- plantar igrejas, um quarto em ajudar as igrejas jd existentes, e quase metade es- té ocupada numa ampla variedade doutros ministérios. O panorama seguinte das atividades gerais de varias agéncias missiondrias é iluminador:® Atividade Geral Agéncias Porcentagem Relatadas Educacao 510 19% Evangelizacdo 398 15% Literatura 352 : 13% Socorro e Desenvolvimento 317 12% Servico e Apoio 248 9% Crescimento das Igrejas 209 8% Apoio Nacional 183 7% Veiculos de Comunicacao 163 6% Medicina 152 5% Outros 173 6% Total 2.705 100% As estatisticas revelam, portanto, que mais missiondrios esto envolvidos na educacdo do que na evangelizagdo. Um ntimero cinqiienta por cento maior

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