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EMILE BENVENISTE PROBLEMAS DE LINGUISTICA GERAL tradupio de MARIA DA GLORIA NOVAK LUIZA NERL revisto do 1976 COMPANHIA EDITORA NACIONAL EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SAO PAULO CAPITULO 20 @ natureza dos pronomes™ No debate hojeaberto sobre natureza dospronomes, temos © hibito de considerar essas formas linglstieas como formando uma mesma classe, formal e funcionalmente; & manzira, por cexcmplo, das formas nominais ou das formas verbs. Ora, todas as linguas possuem pronomes e, em todas, eles se definem como releindo-se &s mesmnas categorias de expresso (pronomes pes- soais, demonstativos, etc) A universalidade dessas formas © dessas nogies faz pensar que o problema dos pronomes & ao mesmo tempo um problema de linguagem © um problema de Tinguas, ou mthor, que s6 € um problema de linguas por ser, em primeieo lugar, um problema de linguagem. F como fato de Tinguagem que 0 apresentaremos aqui, para mostrar que os pronomes nio eonstituem uma classe unitria, mas espéiesdie- rentes segundo © modo de linguagem do qual sio os signos. Uns pertencem & sintaxe da lingua, outros si carateisticos daquilo @ que chamaremos as “instincias do discurso, isto & 08 alos dscrelos e cala vez inicos pelos quais a lingua &atualic zada em palavra por um locuto. Deve considerarse, em primeiro lugar, a situagéo dos pro- nnomes pesioais. Nio & suficiente distinguirlos dos outros pro rnomes por uma denominacio que os separe. E preciso ver que 4 definigio comum dos pronomes pessoais como contendo os ‘wés termos ex, tu, ele, abolejustamente a nogio de “pessoa” 288, Estraldo de For Romon Jokobson, Moston & Co, Hai, 1956, a Esta € propria somente de eujtu, ¢ falta em ele, Essa diferenga natural sobressairi da andlise de eu Entre ew ¢ um nome referente uma nogio lexical, hi ndo apenas as diferengas formas, muito variaveis, impostas pela es- ‘rutura morfol6gica e sintitica das linguas particulates. Ha outtas, que se prendem ao proprio processus da enunciago lingitistica e que so de uma natureza mais geral e mais profunda, O enun- ciado que contém ew pertence a esse nivel ov tipo de Tinguagem 1 que Charles Morris chama pragmitico, ¢ que inclui, com os signos, aqueles que os empregam. Pode imaginar-se um texto Iingiisteo de grande extensio — um tratado cientifio, por exem- plo — em que ew ¢ tu no aparecem nem uma tinica vez; inver- samente seria dificil conceber um curto texto falado em que no fossem empregados, Entretanto, os outros signos da lingua se distrbuiriam indiferentemente entre esses dois generos de textos. Fora dessa condigao de emprego, que ji ¢ distntiva, destacare- ‘mos uma propriedade fundamental, ¢ aliés manifesta, de ew © ‘una organizagiio referencial dos signos lingisticos. Cada instin- cia de emprego de um nome referese a uma nogo constante “objetiva", apta a permanecer virtual ou a atualizar-se num ‘objeto singular, e que permaneve sempre idéntica na represen- {ago que desperta. No entanto, as instincias de emprego de few ndo constituem uma classe de referéncia, uma vez que no hha “objeto” definivel como ew a0 qual se possam remeter iden- ticamente essas instincias. Cada eu tem a sua referéncia propria «© corresponde cada vez @ um ser Gnico, proposto como tal Qual 6, portanto, a “realidade” & qual se refere ew ou 1? ‘Unicamente uma “realidade de discurso", que € coisa muito sin- gular. Ew 86 pode definir-se em termos de “locugio”, no em {ermos de objetos, como um signo nominal. Bu significa “a pessoa que enuncia a presente instincia de discurso que contém eu”. Instincia tnica por definigdo, ¢ vilida somente na sua unicidade. Se percebo duas instancias sucessivas de discurso contendo eu, proferidas pela mesma voz, nada ainda me assegura de que uma las niio seja um discurso referido, uma citagio na qual eu seria imputavel a um outro. E preciso, assim, sublinhar este ponto: eu 86 pode ser identificado pela instancia de discurso que 0 278 contém ¢ somente por ai. Nao tem valor a nio ser na instancia rna qual & produzido. Paralelamente, porém, € também enquanto instincia de forma eu que deve ser tomado; a forma eu s6 tem existéncia linglistica nq ato de palavras que a profere. Ha, pois, nesse processo uma dupla instincia conjugada: instancia de eu como referente, ¢ instincia de discurso contendo eu, como refe- rido. A definigdo pode, entfo, precisar-se assim: eu € 0 “indi- viduo que enuncia a presente instincia de discurso que contém 4 instincia lingistica eu”. Conseqiientemente,introduzindo-se a situagdo de “alocugo”, obtém-se uma definigdo simétrica para 1, como 0 “individduo alocutado na presente instincia de discurso contendo a instncia lingliistica ru". Essas definigdes visam eu © tu como uma categoria da linguagem e se relacionam com a sua posigdo na linguagem. Nao consideramos as formas especi- ficas dessa categoria nas linguas dadas, e pouco importa que essas formas devam figurar expliitamente no discurso ou possam al permanecer implicita, sa referéncia constante e necessiria instincia de discurso constitut o trago que une a eu/tu uma série de “indicadores” que Pertencem, pela sua forma e pelas aptides combinatirias, a classes diferentes — uns pronomes, outros advérbios, outros ainda locugdes adverbiais, ‘Sih, em primeiro lugar, os demonstrativos: est, etc. na me- dida em que se organizam correlativamente com 0s indicadores de pessoa, como no lat, hicjiste. H& aqui um trago novo e distin- livo dessa série: & a identiicagio do objeto por um indicador de ostensio concomitante com a instincia de discurso que cot tém © indicador de pessoa: esse seri 0 objeto designado por ‘ostensio simultinea a presente instincia de discurso, a referéncia implicta na forma (por exemplo, hic oposto a iste) associando-o 4 eu a tu. Fora dessa classe, mas no mesmo plano € associados mesma referencia, encontramos os advérbios aqui © agora. Poremos em evidéncia a sua relagio com eu definindo-os: agui © agora delimitam a instincia espacial e temporal coextensiva © contemporiines da presente instincia de discurso que contém eu, Essa série no se limita a aqui e agora; é acrescida de grande nimero de termos simples ou complexos que procedem da mes- ‘ma relagdo: hoje, ontem, amanhd, em trés dias, etc. Nio adianta 279 nada definir esses termos © 0s demonstrativos em geral pela deixis, como se costuma fazer, se nio se acrescenta que a delxis € contemporinea da instineia de discurso que contém o indi- ceador de pessoa; dessa referéncia o demonstrativo tira 0 seu carter cada vez tnico e particular, que é a unidade da instancia de diseurso a qual se refere © essencial & portanto, a relagio entre o indicador (de pessoa, de tempo, de lugar, de objeto mostrado, et.) € a presente instancia de discurso. De fato, desde que ni se visa mais, pela propria expressdo, essa relagdo do indicador & instancia Unica ‘que o manifesta, a lingua recorre a uma série de termos distintos ‘que correspondem um a um aos primeiros, e que se referem no ‘mais instincia de discurso mas aos objetos “reais”, aos tempos lugares “histricos”, Dai as correlagies como ew : ele — agui : li = agora :entdo — hoje :no mesmo dia — ontem :na véspera — amanhi:no dia seguinte — na préxima semana *na semana se- (quinte ~ hi tres dias : tes dias antes, etc. A propria lingua revela a diferenga profunda entre esses dois planos. Tratamos muito levemente © como incontestivel a referén- cia a0 “sujeito que fala” implicita em todo esse grupo de expres- s8es. Despoja-se da sua significagio propria essa rferéncia se no se discerne 0 trayo pelo qual se distingue dos outros signos lin- aisticos. Assim, pois, €a0 mesmo tempo original e fundamental © fato de que essas formas “pronominais” nfo remetam & “reali- dade” nem a posigdes “objetivas” no espago ou no tempo, mas 2 enunciagdo, cada vez tnica, que as contém, ¢ reflitam assim © seu proprio emprego. A importincia da sua fungo se compa- rari a natureza do problema que servem para resolver, © que nao é sendo o da comunicagio intersubjetiva. A linguagem re- solveu esse problema criando um conjunto de signos “vazios", nio referenciais com relagdo a “realidade”, sempre disponiveis, que se tornam “plenes” assim que um locutor os assume em ‘cada instincia do seu discurso. Desprovidos de referéncia ma- terial, ndo podem ser mal empregados; nio afirmando nada, no so submetides 4 condigdo de verdade e escapam a toda negacio. O seu papel consiste em fornecer o instrumento de uma conversio, a que se pode chamar a conversdo da linguagem em discurso, E identificando-se come pessoa tinica pronunciando eu 280 que cada um dos locutores se prope alternadamente como “sujeito”. Assim, 0 emprego tem como condilo a situagao de discurso e nenhuma outta, Se cada locutor, para exprimir 0 sentimento que tem da sua subjetividade irredutivel, dispusesse de um “indicativo” distinto (no sentido em que cada estagdo radiofonica emissora possui o seu “indicativo” proprio), haveria praticamente tantas linguas quantos individuos ¢ a comunicagao se tornaria estritamente impossivel. A linguagem previne esse perigo instituindo um signo tinico, mas movel, eu, que pode ser assumido por todo locutor, com a condigiio de que ele, cada vez, 86 remeta instincia do sew proprio discurso, Esse signo esti, pois, ligado ao exercicio da linguagem ¢ declara o locutor como tal E essa propriedade que fundamenta © discurso individual, em que cada locutor assume por sua conta a Tinguagem intera (© hibito nos torna facilmente insensiveis a essa diferenga pro- funda entre a tinguagem como sistema de signos e a linguagem assumida como exercicio pelo individuo. Quando o individu se propria dela, a linguagem se torna em instincias de discurso, caracterizadas por esse sistema de referéncias internas cuja chave Eeuse que define individuo pela construgio lingistica particular de que ele se serve quando se enuncia como locutor. Assim, os indicadores eu e tu no podem existir como signos vrtuais, no existem a ndo ser na medida em que so atualizados na instancia de discurso, em que marcam para cada uma das suas prOprias instancias o provesso de apropriag3o pelo locutor. (© carter sistemitico da linguagem faz.com que a apropria- ilo assinalada por esses indicadores se propague na instancia de discurso a todos os elementos susceptiveis de ai “concordar” formalmente; antes de tudo, por processos variiveis segundo 0 tipo de idioma, com o verbo, Devemos insist sobre este ponto: a “forma verbal” é solidaria da instincia individual de discurso quanto ao fato de que € sempre ¢ necessariamente atualizada pelo ato de discurso © em dependéncia desse ato. Nio pode comportar nenhuma forma virtual e “objetiva”. Se o verbo usualmente representado pelo seu infinitive como entrada de lexico para inimeras linguas, iso € pura convensio; o infnitivo fem lingua € totalmente diferente do infinitivo da metalingua lexicogrifica. Todas as variagdes do paradigma verbal, aspecto, 281 tempo, género, pessoa, ete. resultam dessa atualzagio © dessa dependéncia em face da instancia de discurso principalmente 0 “empo" do vetbo, que & sempre relativo fi instancia na. qual figura a forma verbal. Um enunciado pessoal finito se consti, ois, sobre um plano duplo: empresa a fingio denominativa da linguagem para as referéncas de objeto quc esta estabclce como signos evcas dstintivos,e organiza esas referencias de objeto com a ajuda de indicadores autoxeferenciis correspon dentes a cada uma das clases formais que o idioma reconhece. Seri sempre assim? Se linguagem em exerciio se produz por necessidade em instincias disrets, essa novesidade a des- tina também a s6 consstir de instincts “pessoas”? Sabemos empircamente que nio. Hi enunciados de discurso, que a des. Peito da sua natureza individual, escapam & condigio de pessoa, ‘sto, remetem nia cles mesmos mas a uma situagio “objtiva” Eo dominio daguilo a que chamamos a “terocira pesoa” A “terceta pessoa” representa de fato 0 membro nao mar- cado da correlacao de pessoa. E por isso que nio ha truismo em afirmar que @nlo-pessoa 6 0 inca modo de eninciacto possvel para as instancias de dscurso que nio devam remeter clas mesmas, mas que predicam 0 processo de no importa quem o ho importa o que, exceto a propria instancia, podendo sempre esse no importa quem ov nda importa o que set munido de uma referencia objetiva Assim, na clase formal dos pronomes os chamados de “ter ccira pessoa” sio inteiramente diferentes de ew e tu pel sua fungio-€ pela sua natureza. Como jé se vu hi muito tempo, as formas como ee, , sso, ee. 56 servem a qualidade de substi tutos abreviativos: “Piere est malade; ila a fiévre [= Pedro esti doente; ele est com febre]"; substitaem um ou outro dos slementos materiais do enunciado ot revezam com cles. Essa funséo, porém., nfo se prende somente aos pronomes: pode set curmprida por elementos de outras elses; conforme o cas, em francis, por certos verbos: “cet enfant frit maintenant mux uit ne fasaie Tanne dernige [~ est erianga esreve melhor agora do que 0 facia no ano passado]”. E uma fungio de “re- presentagio” sinitiea que se estende assim a termos tomados 4s diferentes “partes do. dincurso", ¢ que corresponde a uma 282 necessade de cconomia, substituindo um segmento do enunciae doe até um enunciado intero, por um substitute mais maledvel Assim, no hi nada de comum entre a fungao desses substitutos © a dos indicadores de pesson. © fato de que a “terecira pessoa” & realmente uma “niio- pessoa” certos idiomas © mostram literalmente™”, Para tomar apenas um exemplo entre muitos, eis como se apresentam os preixos pronominais possessivos nas duas series do yuma (Cali fBroiay> primeira pessoa 7, segunda m-, man’ tereira 2210, WA refeéneia de pessoa & uma teferéncia zero fora da relagio eu/iu. Fm outros idiomas (indo-europeus principalmente), 2 regularidade da estrutura formal © uma simetria de origem secundaria do a impressio de trés pessoas coordenadas. E prin- ipalmenteo caso das linguas modernas de pronome obrgatsrio nas quais ele parece, continuando ew e tu, membro de um para digma de trés termos; ou da flexio indo-européia de presente, ‘com -mi st: Na verdade a simetsa é somente formal © que & preciso considerar como distintiva da “terceira pessoa” € a propriedade 1° de se combinar com qualquer referncia de obje- {o;2° de nfo ser jamais reflexiva da instncia de discurso; 3° de comportar um mimero as yezes bastante grande de variantes pronominais ou demonstrativas; 4° de no ser compativel com © paradigma dos termos reerencais como agui, agora, ec Uma anise, mesmo sumira, das formas clssfcadasindis- tintamente como pronominais leva assim a reconhecer classes de natuzeza totalmente diferentes e, em consegiigncia, a distin- suit, de um lado, a lingua como repertério de signos e sistema das suas combinagSes ¢, de outro, lingua como atividade ma- nifestada nas instancias de discurso earacterizadas como tais por indices proprios 29, Ver nose Setido 81. XLIM (986, 1 ste acim cap. 18. 24. Segundo A.M. Halpern, no seu artigo “Yuma”, Ligue strctres of tie America, e8 Harry Hoje and thes (= Viking and publeation fnvoptoy. 6 1946, p. 264 283

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