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Prestadores de Cuidados 4

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INTRODUÇÃO

A família é ainda hoje desvalorizada como recurso terapêutico natural na doença,


sendo que deste modo, muitas delas se sentem postas de parte, ou até mesmo esquecidas pelos
serviços de saúde, no que concerne às suas próprias necessidades (Pereira & Mateos, 2006).
Deste modo, falando especificamente na família como prestadora de cuidados a idosos
com saúde mental deficitária, poder-se-á constatar que os danos causados nas mesmas se
devem em grande escala às insuficiências de apoio.
A população idosa em Portugal, população com idades compreendidas entre os 65 e
mais anos, representa cerca de 14, 7% da população total, sendo que esta tem tendência a
aumentar de ano para ano. Deste modo, é toda esta população que suscita maiores
preocupações, nomeadamente no que dirá respeito à área dos cuidados de saúde. Assim, surge
a problemática da prestação de cuidados a idosos, que na sua maioria recai sobre os seus
familiares. Com efeito, cerca de 80% dos cuidados a idosos são prestados por familiares e
vizinhos dos mesmos (Brito, 2002).
Assim, este trabalho visa especificamente todo o processo de prestação de cuidados a
idosos, bem como todos os aspectos que dizem respeito à saúde mental dos cuidadores, como
consequência do cuidado prestado.
O presente trabalho encontra-se estruturado de forma a tornar mais perceptível todo o
processo que envolve a prestação informal de cuidados a idosos demenciados, tendo-se
iniciado com a definição de cuidador informal e diferentes tipos, seguindo-se o processo de
prestação de cuidados, a sobrecarga da mesma e por fim a saúde mental dos cuidadores
informais.
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1. CUIDADORES INFORMAIS: QUEM SÃO?

A palavra “cuidado” deriva do latim cogitare, que significa imaginar, pensar, reflectir,
ter cuidado consigo mesmo e com a sua saúde e aparência. Este termo refere-se à atenção,
protecção, preocupação, cautela, responsabilidade, bem como a atitudes e sentimentos que
podem conduzir a uma relação entre as pessoas, ou seja, a práticas e acções sociais,
comandadas por representações simbólicas acerca da solidariedade (Oliveira, 2005).
Segundo Honoré (2004) cuidar é a noção de se ocupar de alguém na situação em que
se encontra de acordo com uma certa ideia do que é melhor para ele. Traduz uma forma de se
ocupar por alguém, tendo em atenção o que é terminante para que ele realmente exista
segundo a sua própria natureza, ou seja, segundo as suas necessidades, desejos, os seus
projectos. Assim sendo, o autor designa o termo cuidar como dizendo respeito à preocupação
com aquilo que os homens têm necessidade para poder viver a sua vida, ou seja, para existir
na humanidade.
Deste modo, abordar-se-á a perspectiva do cuidado a idosos, nomeadamente em estado
demencial. Assim sendo, cuidar, na perspectiva de Costa (1998) consiste em descobrir com a
pessoa, especificamente os idosos, tendo em atenção as suas condições, vivências e
expectativas, a forma de realização das necessidades afectadas, a partir das suas capacidades e
recursos. No idoso demente, o cuidar consiste em definir junto do idoso, quais as condições e
critérios que lhe permitirão viver de um modo melhor e com a dignidade a que tem direito.

1.1. DEFINIÇÃO

A prestação de cuidados a idosos inclui muito mais do que os aspectos instrumentais e


físicos, como a alimentação, a higiene, a mobilidade e a medicação, que normalmente são
considerados e medidos. Brown & Stetz (1999, cit. por Brito, 2001) consideram que a
prestação de cuidados requer um esforço contínuo tanto ao nível cognitivo, como emocional
bem como físico que muitas vezes não é reconhecido e inadequadamente recompensado.
O conceito de cuidado informal tem vindo a ganhar relevo na literatura e na
Gerontologia. Este cuidado diz respeito a elementos da rede social do idoso, como os
familiares, amigos, vizinhos, entre outros, que lhes prestam cuidados regulares, não
remunerados, na ausência de um vínculo formal ou regulamentar. Este tipo de cuidadores
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merece um maior relevo na medida em que são cuidadores em grande número, assumindo um
papel a longo prazo e exercendo diversificados níveis/tipos de cuidado (Sousa, Figueiredo &
Cerqueira, 2004).
Domínguez-Alcón (1997, p. 467, cit. por Imaginário, s/d, p. 76) define a prestação
informal de cuidados como “a assistência proporcionada pela família pelos amigos, ou pelos
vizinhos a pessoa com necessidade de cuidados instrumental, ou pessoal, nas actividades de
vida quotidiana […] trata-se de uma fonte de cuidados não remunerados, para que as
pessoas idosas em situação de fragilidade ou dependência, as pessoas incapacitadas ou
outros grupos continuem a viver no seu lar, ou na comunidade e não sejam
institucionalizados”.
O processo de prestação de cuidados será então um processo complexo e dinâmico,
caracterizado por constantes variações no tempo, de acordo com as necessidades e
sentimentos do idoso e do seu cuidador, em função da própria evolução da doença e da
situação de dependência, do contexto familiar e da fase do ciclo familiar, das redes de apoio
social, dos sistemas de crenças e, fundamentalmente, de como o prestador de cuidados
percepciona todos esses factores (Nolan et al., 1996, cit. por Brito, 2001).

1.1.1. Conceito de Família

A família não é meramente uma soma dos seus elementos constituintes, esta implica
um conjunto de interacções, normas, regras e papeis, dependendo contudo, do tipo de
sociedade em que se encontra inserida. Assim sendo, a família constitui-se como um grupo
com valores, crenças, papéis e normas devidamente estruturados. Esta deve então assumir a
responsabilidade pelo apoio físico, emocional e social dos seus elementos constituintes
(Martinez, 1997).
De acordo com Sampaio & Gameiro (1985), a família é um grupo institucionalizado,
relativamente estável, que constitui uma importante base social. A família designa o conjunto
de elementos emocionalmente ligados, que compreende no mínimo três gerações. Os mesmos
autores consideram que podem fazer parte da mesma família os elementos não ligados por
laços sanguíneos, mas que no entanto são significativos no contexto relacional do indivíduo.
É na família que segundo Leme & Silva (2000, p. 93, cit. por Imaginário, 2002, p.72)
nasce e se partilha o compromisso, a estima, a comunicação, o convívio, a plenitude espiritual
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e a capacidade de enfrentar as tensões e crises, “em família valemos de modo incondicional


[…] independente da minha utilidade ou rentabilidade social, política, económica,
profissional…”. Através da convivência familiar, segundo o mesmo autor, aprende-se e
encontram-se os apoios para satisfazer as necessidades e dar resposta aos problemas.
Em suma, a família é definida como sendo o que reúne as condições de segurança
necessárias ao desenvolvimento ou à sobrevivência física e psíquica do indivíduo que entrou
em perda (Charazac, 2001).
A família é em Portugal e nos países do sul da Europa, o suporte a todos os que
necessitam de cuidados, sejam eles crianças, jovens, adultos ou idosos. A tradição portuguesa
atribui à família, e em especial aos elementos do sexo feminino, a responsabilidade de cuidar
dos elementos mais idosos e com laços mais próximos. Assim sendo, cuidar dos idosos surge
como sendo uma extensão dos papéis normais da família, o que adicionado à hostilidade
criada em torno das instituições, pressiona a família no sentido de manter esse papel (Gallo,
Busby-Withehead, Rabins, Silliman & Murphy, 2001).

1.2. A FAMÍLIA PRESTADORA DE CUIDADOS INFORMAIS

Com o aumento da esperança média de vida e o consequente aumento do número de


idosos, embora a maioria destes não seja doente nem dependente, o que é certo é que o
avançar da idade conduz à perda de autonomia o que faz com que parte deles necessite da
ajuda de terceiros para satisfazer as suas necessidades básicas. De acordo com Silva & Costa
(2000, p.15, cit. por Imaginário, s/d) “muitos dos idosos em função dos seus próprios
percursos de vida e de condição económica deficitária não dispõe de autonomia suficiente”
estando cada vez mais dependentes da prestação de cuidados que provém do seio familiar.
Segundo o mesmo autor durante longos anos, a prestação de cuidados não era vista
como uma profissão, esta dizia apenas respeito a qualquer pessoa que ajudava outra nas suas
necessidades mais básicas. Esta prestação centrava-se apenas e só, num acto de reciprocidade
em que as pessoas prestavam cuidados a outra preservando tudo no sentido de assegurar a
continuidade da vida dos homens. A necessidade de cuidados tem acompanhado a evolução
da humanidade e criado laços de interdependência entre as pessoas, sendo que a família é o
mais antigo e ainda o mais utilizado serviço de assistência à saúde no mundo.
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Desde sempre as famílias são reconhecidas como o principal contexto para a


promoção e manutenção da independência e da saúde dos seus membros, como a principal
entidade prestadora de cuidados em situações de dependência dos seus familiares e como a
instituição fundamental onde se desenrola a vida das pessoas que expressam e satisfazem a
maioria dos seus direitos, obrigações e necessidades, desde o nascimento até à morte. A
família foi e ainda continua a ser parte integrante da intervenção em saúde de todos os
contextos de assistência (Lage, 2005).
Na maior parte dos casos, os familiares encontram-se na primeira linha da prestação de
cuidados a idosos. Contudo, do conjunto de elementos da rede de apoio familiar, destaca-se
habitualmente uma pessoa, sobre a qual recaem as maiores responsabilidades e o maior
número de tarefas de apoio, a quem os Anglo-saxónicos designam de “carigiver”(Brito,
2001).

1.3. PADRÕES INFORMAIS DE CUIDADO

Tennstedt, Crawford & Mckinlay (1993) concebem o padrão de cuidado em termos da


compreensão sobre quem são as pessoas responsáveis pelo mesmo, quem recebe estes
cuidados e em que condições o mesmo se realiza. Os cuidadores informais enquanto pessoas
que desenvolvem as tarefas de cuidado, têm sido tradicionalmente identificados como um
grupo que se poderia caracterizar por abranger dois tipos diferentes de pessoas, de acordo com
o cuidado que prestam: cuidadores primários e secundários (Martín, 2005).

1.3.1. O Cuidado Informal Primário

O cuidador primário é designadamente o cuidador que realiza praticamente todo o


cuidado informal recebido pelo idoso dependente, tanto ao nível do transporte, como das lides
domésticas, à preparação da alimentação, lavagem das roupas, bem como cuidados pessoais e
financeiros. As ligações pessoais não explicam suficientemente a razão pela qual alguns
membros da família ocupam o papel de cuidador mais frequentemente que outros. Esta
selecção irá depender da experiência de vida e da estrutura das relações familiares. Contudo,
estudos demonstram que a coabitação é o factor mais importante que explica o padrão de
cuidado (Paúl, 2005).
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De acordo com Cooley (1989, cit. por Martín, 2005) os grupos primários
caracterizam-se pelos contactos cara-a-cara, pela continuidade da relação, pela afectividade, e
pelas relações não instrumentais e de papéis difusos. Cada tipo de grupo primário, seja ele
constituído pela família, vizinhos ou amigos, reveste-se de uma ou mais características
estruturais, que facilitam a resposta de ajuda a pessoas que dela necessitam para determinados
tipos de tarefas.
Neste tipo de cuidado primário é necessário ter em conta dois tipos de cuidado: o
emocional e o instrumental. O cuidado informal é influenciado pela relação familiar,
coabitação e necessidades da pessoa idosa. Assim, as exigências e as obrigações de cuidado
aumentam pela coabitação, enquanto que a qualidade da relação se vai deteriorando,
verificando-se deste modo, uma menor capacidade para o cuidado emocional (Martín, 2005).

1.3.2. O Cuidado Informal Secundário

O cuidador secundário é definido como sendo o cuidador que não tem a seu cargo, as
responsabilidades principais no cuidado, podendo identificar-se vários cuidados secundários
para uma mesma pessoa receptora dos mesmos. Estes apenas incrementam o tipo ou a
quantidade de ajuda que a pessoa dependente recebe (Martín, 2005).
Num estudo realizado por Tennstedt et col. (1989, cit. por Paúl, 2005) verificou-se que
os cuidadores secundários são na sua maioria do sexo feminino, embora com uma tendência
menos marcada, sendo mais novos, solteiros e empregados, havendo uma maior probabilidade
de encontrar genros, noras e netos a desempenhar o papel de cuidadores secundários.
Contudo, e no que diz respeito ao tipo de tarefas desempenhadas, verifica-se que estes
proporcionam a maior parte da ajuda nas tarefas menos instrumentais e intensivas, como o
apoio emocional, compras e transporte, e ainda ajudas menores relativas ao cuidado pessoal,
desempenhando uma menor quantidade de trabalho comparativamente aos cuidadores
primários. As motivações dos cuidadores secundários são derivadas do afecto e do sentido de
responsabilidade para com o cuidador primário e para com a pessoa dependente (Martín,
2005).
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2. TORNAR-SE CUIDADOR

A disposição e capacidade da família para assumir a responsabilidade a longo prazo


por familiares idosos depende de um conjunto de circunstâncias e motivações, sendo que
contudo, dentro da família, a prestação de cuidados não se reparte equitativamente por todos
os membros, uma vez que terá de existir um cuidador principal (Lage, 2005).
De acordo com estudos realizados pelo INSERSO (1995, cit. por Martín, 2005) sobre
o facto de se tornar cuidador, estes revelam que existe a percepção de que o cuidado constitui
um dever ou uma obrigação moral, independentemente da existência de um reconhecimento
moral, pelos serviços prestados ou de um agradecimento pessoal da pessoa beneficiada.
Deste modo, a iniciação no papel de cuidador familiar de um idoso, invulgarmente
decorrerá de um processo consciente e de livre escolha. Contudo, quando as alternativas ao
cuidado são escassas, o processo familiar que conduz à assunção do papel de cuidador
familiar surge através de um processo sub-reptício ou na sequência de uma acontecimento
inesperado. O primeiro deve-se a uma progressiva perda de autonomia, onde o cuidador inicia
o seu processo de prestação de cuidados mesmo sem se dar conta, e o segundo poderá
decorrer de uma doença ou acidente, resultando na aquisição de incapacidades repentinas,
viuvez ou abandono/morte do seu antigo cuidador (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004).
De acordo com Paúl & Fonseca (2005) a entrada na situação de apoio é um processo
mais progressivo sendo que o apoio se estabelece e vai aumentando com o decorrer do tempo,
consoante vai progredindo o nível de dependência do idoso cuidado.
As pessoas são habitualmente capazes de referir há quanto tempo começaram a cuidar
do seu familiar, mas já não conseguem estabelecer facilmente o momento em que elas
próprias pensam em si como cuidadoras, ou seja, a entrada subjectiva no papel de cuidador
pode ter um tempo diferente do começo objectivo da prestação de cuidados (Lages, 2005).
As motivações que levam um membro da família a tornar-se cuidador de um outro,
são para uns a crença de que se trata de uma responsabilidade moral, assumindo não quererem
sentir-se culpados um dia mais tarde, para outros, o cuidar de um familiar significa um
sentimento de dever cumprido, um acto de reciprocidade e para outros o reconhecimento
social e familiar (Imaginário, s/d).
Quando se trata de cônjuges verifica-se que a motivação para o cuidado passa pela
solidariedade conjugal vitalícia. O valor da solidariedade é igualmente relevante nos laços
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filiais, a gratidão sincera para com os pais sem envolver a noção de troca. A esta motivação
está fortemente associado o impacto do cristianismo nas raízes europeias. Existe contudo,
uma motivação, raramente assumida: a recompensa material, em que o cuidado surge como o
vislumbre de possíveis heranças. Uma outra motivação que surge como causa para a prestação
de cuidados informais prende-se com a preocupação de não recorrer a uma
institucionalização, pois existe maioritariamente uma depreciação generalizada em relação
aos lares, sendo esta a última e derradeira opção para muitas famílias (Sousa et al., 2004).

2.1. PROCESSO DE INICIAÇÃO

Bowers (1987, cit. por Imaginário, 2002) afirma que muito do trabalho de prestar
cuidados, uma vez que não manifesta comportamentos observáveis, não é visível até mesmo
para quem recebe esses cuidados. A prestação de cuidados inclui um conjunto de
componentes que visam a gestão do quotidiano e factores de ordem afectiva a fim de
contribuir para o nível de qualidade de vida do idoso dependente.
No processo de prestação de cuidados a familiares idosos há uma distinção do cuidar
destes, para o cuidar de crianças ou de pessoas mais jovens, uma vez que a pessoa que cuida
está consciente da situação de contínuo agravamento e degeneração do idoso, muitas vezes
antevendo o seu próprio futuro. A relação prévia com o idoso e a inversão de papéis que
frequentemente ocorre aumentam a probabilidade de conflitos. Raramente a responsabilidade
da prestação de cuidados é partilhada e invulgarmente esta decisão da prestação de cuidados é
uma escolha assumida (Paúl, 1997).
Também o facto de o começo do cuidado ser abrupto ou gradual, acontecer
paulatinamente à medida que idoso vai requerendo cuidados ou acontecer num estado mais
avançado da doença, parece condicionar decisivamente a identificação subjectiva do cuidador
com a aquisição do papel. Após o início do processo degenerativo do familiar idoso, o futuro
prestador de cuidados não tem consciência de que é o membro da família sobre o qual irá
recair o maior encargo, nem que essa situação se pode arrastar por muitos anos e que,
provavelmente, irá implicar um aumento progressivo da sua atenção (Lage, 2005).
De acordo com determinados autores, no momento de se definir quem assegurará a
prestação de cuidados, ocorrem dois movimentos simultâneos: um de envolvimento e um de
não-envolvimento, sendo que o compromisso com cada um desses lados irá depender da
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prevalência de outros dois factores: a proximidade física e a afectiva. Deste modo, a definição
do cuidador surge na relação dialéctica com a eleição dos não-cuidadores. Ao mesmo tempo
que um membro da família assume a responsabilidade da prestação de cuidados, os restantes
descartam-se. Assim, quanto mais o cuidador se envolve, mais os não-cuidadores se afastam,
levando a supor que, uma vez assumido, o cuidado é intransferível. Contudo, a
responsabilidade pelos cuidados não é uma opção, uma vez que o cuidador não toma essa
decisão, mas resvala nessa direcção (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004).

2.2. PERFIL DO CUIDADOR

Havendo ou não possibilidade de decidir acerca da assunção de cuidados a um idoso,


há um conjunto de factores que determinam as regras desse processo. Deste modo, quem terá
mais probabilidade de se tornar cuidador informal é: ao nível do parentesco, o cônjuge e os
filhos; em termos de género, os elementos do sexo feminino; segundo a proximidade física,
quem vive com a pessoa que requer os cuidados; de acordo com a proximidade afectiva, os
elementos com quem se mantém uma relação conjugal ou filial (Sousa, Figueiredo &
Cerqueira, 2004).
De acordo com investigações realizadas por Chappell et col.(1991, cit. por Martín,
2005) no que diz respeito ao apoio nas Actividades Instrumentais de Vida Diária, de entre os
indivíduos que estão casados, é o esposo o cuidador primário, enquanto nos que não estão
esse papel cabe à sua descendência, nomeadamente às filhas, cerca de 3,22 vezes mais e só
depois aos filhos. Depois dos filhos, em linha de prestação de cuidados surgem os
amigos/vizinhos que desempenham as funções de cuidadores, caso o idoso viva sozinho.
Contudo, caso estes não vivam sós, são geralmente os irmãos e as pessoas com quem
coabitam as que prestam a assistência.
Os esposos são os que estão mais adaptados ao papel de cuidador informal, devido às
características da sua relação, sendo que as razões que o conduzem ao cuidado se prendem
por: frequente contacto cara-a-cara; existência de laços maritais; um grau de afectividade
associado com a escolha do companheiro; a existência de um não limitado número de
comportamentos não instrumentais e de assistência e um modo difuso de orientação, que
envolve uma alta obrigação moral (Martín, 2005).
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No que diz respeito ao género, a preponderância do género feminino para o cuidado


informal pode ser explicada pelos factores sociodemográficos das populações cuidadas e por
uma tendência para obter consistência no género. Verifica-se também uma tendência dos pais
dependentes para serem assistidos por filhos do mesmo sexo, facto este, que se deve a uma
maior ligação intergeracional entre mães e filhas, já que as mães preferem que sejam as filhas
a cuidar delas porque têm uma história de relações mais íntimas e intensas. Contudo, se os
cuidadores forem varões há uma maior probabilidade de assistência aos pais que às mães
(Paúl, 2005).
Contudo, deve ter-se em linha de conta também o estatuto laboral, na medida em que
se um dos filhos se encontra desempregado, este assume o papel de cuidador, ao passo que se
todos os filhos estiverem empregados, darão o seu contributo apenas em horário pós-laboral
(Sousa et al., 2004)
Ainda segundo Rodriguez & Castiello (1995, cit. por Brito, 2001) a maioria dos
prestadores de cuidados são pessoas casadas, com idades compreendidas entre os 45 e os 69
anos, com um baixo nível de escolaridade, sem emprego remunerado e coabitando com o
idoso dependente.

2.3. TAREFAS DESEMPENHADAS

A prestação informal de cuidados é maioritariamente exercida por familiares e define-


se com base nas interacções entre um membro da família que ajuda outro, de maneira regular
e não remunerada, a realizar tarefas que são imprescindíveis para viver a sua vida
condignamente. Estas incluem as actividades instrumentais, tais como o transporte, tarefas
domésticas, gestão do dinheiro, e as actividades de cuidados pessoais, como o vestir-se,
alimentar-se, a higiene, entre outras. Contudo, por norma, apenas estas últimas são encaradas
como verdadeira prestação familiar de cuidados, pois reflectem um cuidado extraordinário, já
que excedem os limites do que é normativo para as responsabilidades familiares (Brito, 2001).
Contudo, Paúl (1997, cit. por Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004) definiu cinco
categorias de cuidados: antecipatórios, que incluem comportamentos ou decisões baseados na
antevisão das necessidades dos receptores de cuidados; preventivos, no sentido de evitar a
doença e as deteriorações física e mental; de supervisão, que se referem a um envolvimento
directo e activo que é habitualmente reconhecido como o olhar pelo idoso; instrumentais, que
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têm a ver com o fazer por, ou assistir de modo a manter a integridade física e o estado de
saúde; e protectores, que se prendem com a protecção relativa ao que não pode ser evitado e
tem a ver com as ameaças à auto-imagem, identidade e bem-estar emocional.
Estudos têm demonstrado que homens e mulheres prestam diferentes tipos de cuidado,
sendo que as mulheres são quem mais presta o suporte emocional, referido frequentemente
como uma das actividades mais comuns, bem como as actividades instrumentais. As mulheres
prestam cuidados pessoais e tarefas domésticas, enquanto que os homens participam mais em
tarefas relacionadas com o transporte do idoso e/ou gestão do dinheiro (Lage, 2005).
Ainda segundo o autor supracitado, no que concerne ao cuidado informal, mas desta
vez prestado pelos amigos e vizinhos, as tarefas de prestação de cuidadores centram-se mais
na companhia, compras e ajuda pontual em situações de emergência, isto apenas quando este
cuidador não tem a total responsabilidade dos cuidados.
Contudo, a prestação de cuidados e o tipo de tarefas que cabem a cada tipo de cuidado,
irão depender de factores ligados ao idoso, como o tipo e grau de dependência, a idade e a
disponibilidade do cuidador e a história passada e actual da relação entre o idoso e o cuidador
(Paúl, 1997).

2.3.1. Quantidade e necessidade do cuidado

Logicamente que a quantidade de cuidado que cada idoso carece, irá depender do tipo
e características da sua doença, ou seja, do grau de dependência. A necessidade de assistência
irá assim depender da deterioração cognitiva do idoso, da existência, ou não, de
comportamentos problemáticos, da dependência nas actividades da vida quotidiana e da
resistência. A intensidade do cuidado irá assim depender do número e tipo de tarefas
desenvolvidas pelo cuidador, pelo total de horas extras utilizadas no cuidado e pelos itens
relativos à impossibilidade de se deixar o doente sozinho (Martín, 2005).
Cuidar de idosos, especialmente de idosos demenciados requer uma maior supervisão,
ainda que estes possam ser capazes fisicamente.
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3. A SOBRECARGA NO DESEMPENHO DO PAPEL DE CUIDADOR

A sobrecarga familiar advinda do cuidado a um idoso demente, é reconhecida como


um problema de saúde pública: há cada vez menos cuidadores jovens para cada vez mais
idosos doentes, e as insuficiências de suporte social são uma realidade, principalmente nos
meios urbanos. Deste modo, os problemas das famílias vão-se traduzir em custos pessoais e
sociais elevadíssimos (Pereira & Mateos, 2006).

3.1. SOBRECARGA DO CUIDADO

O conceito de sobrecarga e de stress são conceitos multidimensionais, uma vez que há


uma sobrecarga decorrente das tarefas de cuidar do idoso e outra relativa à deslocação criada
noutros domínios da vida da pessoa (Paúl, 1997).
De acordo com o que fora supra citado e indo de encontro ao facto de a maior
sobrecarga da prestação de cuidados ficar a cargo dos elementos do sexo feminino, Brody
(1981, cit. por Pereira et al., 2006) utilizou a expressão “mulheres divididas”, em conflitos de
papéis uma vez que estas, enquanto cuidadoras de idosos, têm de cuidar tanto dos mais velhos
como dos mais novos, mantendo ao mesmo tempo obrigações ao nível doméstico e
profissional.
O termo sobrecarga familiar compreende as consequências negativas da experiência
de cuidar, distinguindo-se um componente objectivo, que resulta da conjugação entre a
exigência dos cuidados prestados e as consequências nas várias áreas da vida do cuidador, e
um outro subjectivo, que deriva das atitudes e respostas emocionais do cuidador à tarefa de
cuidar, ou seja, evoca a percepção do cuidador acerca da repercussão emocional das
exigências ou problemas associados à prestação de cuidados. As consequências para os
familiares de pessoas com demência são múltiplas, podendo preponderar a necessidade de
ajuda nas actividades da vida diária (Pereira et al., 2006).
Contudo, a sobrecarga nas famílias que prestam cuidados pressupõe dois momentos:
ao assumir o papel, a qualidade das relações passadas, a preparação, a avaliação e o apoio; e
no decurso da prestação dos cuidados a um idoso, devido às exigências imediatas da prestação
de cuidados e as exigências secundárias envolvendo os deslocamentos, os recursos pessoais e
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sociais para lidar com a situação, bem como a carga subjectiva, emocional, comportamental e
cognitiva (Paúl, 1997).
Proporcionar cuidados durante um longo período de tempo pode ser fisicamente
esgotante interferindo na saúde e bem-estar do cuidador. Nos cuidadores é frequente a
referência a cansaço físico e sensação de deterioração gradual do estado de saúde, que
descrevem como coincidindo com o início da “carreira” de cuidador. Estudos comprovam que
o sistema imunitário dos cuidadores é frágil comparando aos indivíduos não cuidadores.
Todavia, se o cuidador é idoso, provavelmente evidencia modificações inerentes ao processo
de senescência, sendo que os cônjuges que prestam cuidados se encontrem mais expostos a
problemas de saúde do que os descendentes (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004).
Relativamente à coabitação, esta variável de contexto frequentemente referenciada
como determinante no cuidado informal pode ser a causa ou consequência da ajuda.
Habitualmente, acresce o tempo de cuidado e restringe o tempo de lazer e vida social,
nomeadamente para as mulheres e filhos adultos residentes ainda na casa dos pais, bem como
para os cuidadores cônjuges (Lage, 2005).
No que diz respeito ao cuidador que tem uma actividade profissional, pode-se
considerar que o tempo despendido no trabalho pode acarretar efeitos benéficos, uma vez que
constitui um escape às tarefas de prestação de cuidado, ou efeitos nefastos, nomeadamente
pela dificuldade em conciliar obrigações inerentes aos cuidados e à actividade profissional.
Deste modo, ter uma profissão e prestar cuidados são actividades que podem entrar em
conflito directo, pois enquanto o cuidador se encontra no emprego preocupa-se com o bem-
estar dos seus familiares, por sua vez, as pressões relacionadas com o trabalho vão interferir
na prestação de cuidados. Estudos revelam que a tarefa de cuidar ao nível da actividade
profissional acarreta alterações como: alterações de horário de trabalho, sensação de
desempenho afectado, necessidade de falar, diminuição das horas de trabalho, interrupções,
atrasos, recusa de promoções e muitas vezes demissão. Esta situação traz também consigo
problemas ao nível financeiro, pelas despezas que o cuidado acarreta (Sousa et al., 2004).
As disrupções ao nível do clima familiar, são frequentemente o problema mais grave,
sobretudo se as capacidades da família em comunicar e se adaptar a sucessivos desafios,
forem insuficientes à partida. A deterioração da relação conjugal acompanha-se da sensação
de maior isolamento para o cuidador-marido ou mulher, pois o confidente habitual é ele
próprio fonte de mal-estar. O elemento cuidador deixa de ter tanto tempo e tanta
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disponibilidade/atenção para os restantes elementos da família o que poderá conduzir a um


afastamento/isolamento e conflitos familiares (Pereira et al., 2006).
Cuidar de um idoso em situação de dependência exige muito tempo e dedicação,
acabando por se perder todo o espaço de lazer. O cuidador, geralmente deixa de ter tempo
para si, ou quando se decide a cuidar de si próprio ressurgem culpabilizações uma vez que
terá de deixar o idoso sem apoio. A redução do convívio social conduz a um decréscimo das
relações sociais e fragiliza as já existentes (Paúl, 1997).
Contudo além de todos os aspectos negativos existem também um conjunto de
aspectos positivos, como a gratificação, satisfação entre outros.

3.2. GRATIFICAÇÃO DO CUIDADO

Apesar das consequências negativas do cuidado, nem todos os cuidadores sofrem altos
níveis de stress. Embora exista uma clara evidência de que resultam benefícios do cuidado,
verifica-se contudo, que é uma área bem mais reduzida quando comparada com aquela que
descreve e caracteriza as consequências negativas. Estes benefícios passam pela recompensa,
gratificação, sentido de utilidade, satisfação, sentido de realização pessoal, desenvolvimento
de competências e habilidades para cuidar, benefícios para a família nas suas relações
familiares, expressões de apreciação e afecto, aprender com a experiência, amadurecimento e
crescimento pessoal (Lage, 2005).
Têm sido apontadas como as mais frequentes fontes de satisfação do prestador de
cuidados a manutenção da dignidade da pessoa idosa, ver a pessoa de quem se cuida bem
cuidada e feliz, bem como afastar a possibilidade de institucionalização. Estudos evidenciam
que uma melhoria do bem-estar do cuidador, um compromisso crescente com a relação de
cuidados, uma reduzida probabilidade de institucionalização, uma atitude positiva acerca do
futuro e estratégias de superação do stress, podem conduzir a uma maior satisfação e
consequente redução de stress no cuidador (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004).

3.3. NECESSIDADES DO CUIDADOR

Cuidar de um idoso que padece de demência tem sido reconhecido como a situação
mais difícil, uma vez que a pessoa vai perdendo a memória, a capacidade de raciocínio,
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personalidade, autonomia e independência e retira à família um dos membros de forma


penosa. Para além das carências pessoais, sociais e médicas, a demência exige uma supervisão
constante das actividades diárias (Charazac, 2004).
Os cuidadores apresentam uma série de necessidades: materiais, como os recursos
financeiros, ajudas técnicas, utilização de serviços; emocionais, suporte emocional, grupos de
apoio; informativas, como realizar o cuidado, adaptações ambientais e arquitectónicas do
doente, entre outras. Contudo, as necessidades dos cuidadores vão depender do tipo e grau de
dependência, do seu estado de saúde, apoio no cuidado, situação de coabitação, poder
económico, isolamento social, entre outras (Sousa, Figueiredo, Cerqueira, 2004).
O cuidador informal necessita de apoios como os cuidados domiciliários de
enfermagem e higiene, apoio nas tarefas domésticas, bem como de material técnico adequado
como a cadeira de rodas, andarilho, a cama de hospital, entre outras que facilitam
consideravelmente as tarefas do cuidador. Tem igualmente necessidades económicas
nomeadamente para os cuidadores provenientes de camadas socio-económicas mais frágeis,
uma vez que toda a medicação e prestação de cuidado acarreta despesas elevadas, juntando ao
facto de a maioria dos idosos ter pensões deveras diminutas (Paúl, 1997).
De acordo com Sousa et al. (2004) os cuidadores revelam repetidamente carecer de
alguém com quem falar acerca das experiências, dificuldades e preocupações resultantes da
prestação de cuidados, deste modo, grupos de apoio poderiam assumir um papel
preponderante. Destaca-se também a necessidade de recompensa, isto é, a pessoa que dá e se
dedica precisa de se sentir valorizada e apreciada. Uma outra necessidade do cuidador
familiar, passa pela possibilidade de poder ser temporariamente dispensado das suas tarefas e
responsabilidades, adquirindo um espaço para cuidar de si. Contudo, e principalmente em
cuidadores que têm a seu cargo idosos demenciados, a necessidade passa por obter mais
informação acerca dos serviços disponíveis, subsídios, direitos, bem como necessidades de
formação e conhecimentos acerca da doença e da dependência.

3.4. IMPACTO DO CUIDADO NO IDOSO

A pessoa que recebe cuidados de um familiar, por norma, tende a ser do sexo
feminino, casada ou viúva e com filhos. Embora as mulheres tenham uma longevidade maior,
estas tornam-se mais susceptíveis de sofrer de doenças crónicas sendo estas as principais
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causas de morte e incapacidade das mesmas. Relativamente à idade, a média de idade das
pessoas a necessitar de cuidados está entre os 67 e os 77, sendo que a maioria dos idosos
tendem a ser familiares próximos do cuidador (cônjuge, pai/mãe, sogro) (Sousa, Figueiredo &
Cerqueira, 2004).
Todavia, todos os estudos se têm debruçado particularmente sobre o impacto da
prestação de cuidados no cuidador, negligenciando a percepção do próprio idoso acerca da
qualidade dos cuidados recebidos. Na verdade, os benefícios psicológicos e em termos de
saúde, bem como os potenciais malefícios da recepção de cuidados têm merecido pouca
importância. Contudo, investigações têm demonstrado que 40 a 60% dos idosos fisicamente
dependentes reagem negativamente a alguns cuidados que lhe são prestados e que essas
reacções poderão revestir-se de consequências psicológicas significativas (Brito, 2001).
De acordo com um estudo efectuado por Thomas (1993, Sousa et al., 2004) os
problemas mais frequentemente referidos pelos idosos dependentes da prestação de cuidados
dos filhos, foram a ajuda prestada de modo insatisfatório (35%), conselhos insensatos (33%) e
preocupação com o facto de serem um peso para os filhos (32%).
Contudo, e ainda segundo o mesmo autor, um outro problema consiste na resolução de
tarefas pelo idoso, mesmo quando este ainda é capaz de as fazer. Deste modo, acaba por
retirar ao idoso a independência que ainda lhe restava. Acontece também o facto de quando o
idoso se mostra capaz numa determinada actividade, o cuidador repreende-o ou critica-o,
privando-se o idoso de praticar comportamentos ou actividades para as quais ainda está
capacitado conduzindo deste modo à dependência total do idoso.
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4. SAÚDE MENTAL DOS CUIDADORES INFORMAIS

Cuidar de um familiar idoso é uma experiência cada vez mais normativa que obriga as
famílias a definir e redefinir as relações. Obrigações e capacidades, podendo constituir uma
experiência física e emocionalmente stressante, tanto para o cuidador como para toda a
família. Talvez por isso cuidar um familiar idoso seja, de acordo com Wullschlegger, Lund,
Caserta & Wright (1996, cit. por Lage, 2005), um dos acontecimentos potencialmente mais
perturbadores na vida das pessoas.
Estudos comprovam que o facto de pessoas desempenharem o papel de cuidador de
idosos em estado dependente, durante longos períodos de tempo, sofrem frequentemente,
alterações adversas em várias e importantes áreas da sua vida, como: alterações ao nível
familiar, social, problemas económicos e laborais, cansaço e desgaste prolongados tanto ao
nível físico como psíquico. Todas estas alterações, frequentemente vivenciadas num
complexo contexto de preocupação constante, de conflito, perda, luto, raiva culpa e
ressentimento, rapidamente conduz a situações de morbilidade. Contudo, é sobretudo na área
da saúde mental que os efeitos da prestação de cuidados a familiares mais se fazem notar, com
níveis de depressão e ansiedade superiores aos da população em geral (Brito, 2001).
A depressão e a ansiedade são dois problemas significativos para a maioria dos
cuidadores, sendo que estudos têm demonstrado a presença de sintomas depressivos como
sentimentos de tristeza, desespero, frustração, inquietação, associados à progressiva
dependência do idoso, à redução do tempo livre, ou à ausência de apoio. Surgem igualmente
sentimentos de ansiedade e preocupação pela saúde do familiar, pela própria saúde, pelos
conflitos familiares, bem como pela falta de tempo. Os sentimentos de culpa encontram-se
muitas vezes presentes, tanto por se sentir saturado da pessoa de quem cuida, por se pensar
que não se faz tudo o que se pode, por desejar a morte do familiar, de modo a acabar com o
seu sofrimento ou mesmo para se libertar dessa situação de cuidador, e até por descurar de
outras obrigações (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004).
De acordo com Brito (2002) a depressão ocorre normalmente manifestando-se no
prazo de um ano após o inicio do processo de prestação de cuidados. No que concerne,
especificamente aos prestadores de cuidados a familiares afectados com a doença do tipo
Alzheimer, vários estudos apontam para o facto de cerca de metade destes prestadores
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estarem clinicamente deprimidos, sobretudo devido ao isolamento social e ao stress constante


em que estes vivem.
Estudos demonstram que os cuidadores experimentam diferentes graus de exposição
ao stress à medida que o tempo passa. Walker, Martin & Jones (1992, cit, por Lages, 2005)
consideram que o factor de duração do tempo de cuidado parece ser determinante, na medida
em que, quanto menor é o período de tempo, mais a experiência do cuidado se repercute
negativamente na percepção da sobrecarga.
Paul (1997, cit. por Brito, 2002) menciona que estatisticamente a taxa de depressão em
prestadores de cuidados a idosos dependentes, varia entre 43 a 46%, ou seja, três vezes
superiores às taxas da população representativa de idosos e de indivíduos de meia-idade (14 a
16%). Contudo, a depressão e a situação de exaustão do prestador de cuidados são apontadas
como causas comuns para a interrupção dos cuidados no seio familiar.
Num outro estudo, desta vez efectuado por Takahashi, Tanaka & Miyaoka (2005)
verificou-se que os níveis de depressão são mais elevados em cuidadores informais do que em
formais, sendo que os primeiros sentem uma carga mais elevada do cuidado, experimentam
uma qualidade de vida mais baixa e um índice mais elevado de depressão, sendo que 50% dos
prestadores de cuidados informais pertencentes ao estudo apresentam um estado depressivo.
Por conseguinte, um outro factor que se deverá ter em linha de conta centra-se nas
preocupações que o cuidador poderá evidenciar ao conviver diariamente com um idoso
demenciado. Estas preocupações focalizam-se nas consequências imediatas e distintas da
doença, ou seja, com a sua imprevisibilidade de progressão, nas dúvidas acerca da demências
e como lidar com esta, na antecipação receosa de um futuro em que o próprio cuidador pode
adoecer ou morrer primeiro, ou a culpabilidade face à necessidade de descansar, deixar a casa
ou pensar na hipótese de uma institucionalização. Os cuidadores encontram-se sob risco
elevado de morbilidade e até mortalidade, especialmente os cuidadores também eles idosos
(Firmino, 2006).
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CONCLUSÃO

Com a realização do presente trabalho foi possível o aprofundamento de


conhecimentos relativos aos prestadores de cuidados informais. Revelou-se fulcral, na medida
em que habitualmente, apenas se fazem avaliações e intervenções no que toca à população
idosa e ao que estes sentem ao nível dos cuidados que lhes são prestados, em detrimento de
todo o processo pelo qual qualquer prestador de cuidados informal vivencia, mesmo sem ter
consciência do papel que desempenha.
O interesse específico deste tema no âmbito da cadeira de Gerontopsicologia
verificou-se pertinente, pois a temática apela a um ponto de vista dedicado àqueles que mais
directamente prestam apoio aos seus familiares e amigos idosos demenciados. Tentou-se
perceber todas as suas intenções, as formas de intervenção, as suas maiores dificuldades, e
especificamente no que se refere à sua saúde mental, em prol da repercussão que todo um
trabalho mais exaustivo possa desencadear.
Em suma, apela-se para uma maior sensibilidade e apoio a todos os prestadores de
cuidados, uma vez que estes encaram o papel sem sequer ter formação para tal, atravessando
frequentemente dificuldades diversas, que cabe a todos nós poder colmatar.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brito, L. (2001). A Saúde Mental dos prestadores de cuidados a familiares idosos. Coimbra:
Quarteto Editora

Costa, M. (1998). Enfermeiros. – Dos percursos da formação à produção de cuidados.


Lisboa: Edições Fim de Século.

Firmino, H. (2006). Psicogeriatria. Coimbra: Psiquiatria Clínica

Honoré, B. (2004). Cuidar. Persistir em conjunto na existência. Camarate: Lusociência

Imaginário, C. (2002). O Idoso Dependente em contexto familiar. Coimbra: Edição Formasau

Oliveira, J. (2005). Psicologia do Envelhecimento e do Idoso. Porto: Livpsic – Psicologia

Paúl, C. & Fonseca, A. (2005). Envelhecer em Portugal. Psicologia, Saúde e Prestação de


Cuidados. Lisboa: Climepsi Editores

Paúl, M. (1997). Lá para o fim da vida. Idosos, Família e Meio Ambiente. Coimbra: Livraria
Almedina.

Sousa, L., Figueiredo, D. & Cerqueira, M. (2004). Envelhecer em família – Cuidados


familiares na velhice. Porto: Âmbar

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