O Capitão Fracasso 38

1 O Captião Fracasso | Capítulo 38
O Capitão Fracasso
Novela de
Evana Ribeiro
Livremente baseada em
Le Capitaine Fracasse, The Fortunes and Misfortunes of the Famous Moll
Flanders e Arlequim, il servitore di due patroni
Capítulo 38
CENA 01. ESCRITÓRIO DE SÍLVIO. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA FINAL DO CAPÍTULO ANTERIOR. LEVI

LEVANTA DA CADEIRA, ATORDOADO
LEVI – Quer dizer que... Que não tenho filha, que tudo isso é
um grande golpe.
SÍLVIO – Tudo indica que/
LEVI – É! Eu sou um grande imbecil. Quem é o sujeito que
está em minha casa?
SÍLVIO – Isso não foi possível descobrir.
LEVI – Não importa, vou acabar com essa história agora
mesmo.
ELE SAI DO ESCRITÓRIO CORRENDO, LEVANDO A PASTA. SÍLVIO

TENTA ALCANÇÁ-LO.
SÍLVIO – Ei, espere! Não vá fazer nenhuma bobagem...
CORTA PARA
CENA 02. ALBERGUE. QUARTO DE ESMERALDA. INT. DIA
PASCOAL E OSÉIAS ENTRAM NO QUARTO E DEIXAM A PORTA

ENCOSTADA. SENTAM-SE NA CAMA DELA.
OSÉIAS – Muito bem. Agora pode me dizer que raio de

problema é esse?
PASCOAL – Aquela mulher que nós encontramos na rua, que
falou com Arthur/
OSÉIAS – Daniela, ex-mulher dele.
PASCOAL – Sabe por onde ela anda?
OSÉIAS – Não, por quê?
PASCOAL – Preciso descobrir onde ela está.
OSÉIAS – Mas a mulher sumiu! Não é melhor deixá-la no
esquecimento de onde nunca devia ter saído?
PASCOAL – Acontece que ela está espalhando uns boatos
sobre meu patrão.
OSÉIAS – Pat... Patrão?
PASCOAL – É. Preciso encontrá-la e fazê-la parar com os
boatos.
OSÉIAS – E se ela já estiver longe?
PASCOAL – Pois é para isso mesmo que eu preciso de você!
Para me ajudar a descobrir onde diabos essa mulher está.
OSÉIAS – Bem, se é isso, ajudo a procurar. Agora se me dá
licença, vou falar com Esmeralda.
ELES SAEM DO QUARTO.
CORTA PARA
CENA 03. ALBERGUE. ESCRITÓRIO DE HORÁCIO. INT. DIA
ALICE E HORÁCIO SENTADOS FRENTE A FRENTE, TENDO APENAS

A ESCRIVANINHA ENTRE ELES. ELA OLHA PARA BAIXO, PARECE
NÃO SABER EXATAMENTE POR ONDE COMEÇAR.
ALICE – Bem, eu já soube que você vai embora.

HORÁCIO – Estou partindo esta tarde.
ALICE – Volta?
HORÁCIO – Claro que voltarei.
ALICE – Que bom!
HORÁCIO – [sorrindo] Acha mesmo bom?
ALICE – Acho. Eu sentiria falta das... cartas que tem me
enviado ultimamente.
HORÁCIO – Cartas?
ALICE – Sim, as suas cartas! Só não entendo por que não
assinava
HORÁCIO – Na verdade... Eu não assinava porque não escrevi
nenhuma delas.
ALICE PARECE FICAR DESAPONTADA COM O QUE ACABA DE

OUVIR. SONOPLASTIA: Fonte abandonada – Guinga e Leila Pinheiro.
HORÁCIO – Esmeralda me contou tudo. Foi uma brincadeira

dela com Oséias para nos juntar. Não escrevi nenhuma linha.
ALICE – Que coisa... E eu pensando que/
HORÁCIO – Mas gostaria de ter escrito de verdade.
ALICE – E mesmo não tendo sido, isso me fez pensar muito,
muito... Em você. E não queria que fosse embora agora.
ELES SE DÃO AS MÃOS E TROCAM OLHARES CARINHOSOS.
CORTA PARA
CENA 04. SOLAR BRONKHART. QUARTO DE AGUSTIN. INT. DIA
APOSENTO COMPLETAMENTE VAZIO E JANELA ABERTA. OUVEM-

SE BATIDAS NA PORTA. INSTANTES. LEVI ENTRA E COMEÇA A
REVIRAR O QUARTO.
LEVI – Julius! Ou quem quer que seja, apareça! [T] Está

escondido, homem?
ELE CONTINUA REVIRANDO A CASA ATÉ PERCEBER QUE NÃO HÁ

NINGUÉM ALI. ELE SAI.
CORTA PARA
CENA 05. SOLAR BRONKHART. QUARTO DE CHIQUITA. INT. DIA

CHIQUITA ESTÁ SENTADA DIANTE DA PENTEADEIRA,
ARRUMANDO OS CABELOS. OUVE OS GRITOS DE LEVI, VINDOS
DO CORREDOR.
LEVI – [VO] Aparece, seu desgraçado! Julius!
A MENINA, ASSUSTADA, LARGA O PENTE E VAI ATÉ A PORTA, A

ENTREABRINDO. CONSEGUE VER LEVI INDO PARA A ESCADA,
APRESSADO E SEMPRE GRITANDO. FECHA RAPIDAMENTE A
PORTA E SE ENCOSTA ATRÁS DELA, ASSUSTADA.
CHIQUITA – Meu Deus, ele já sabe de tudo.
ELA CORRE PARA A JANELA E A ABRE. OLHA PARA BAIXO, COMO

SE ESTUDASSE A ALTURA DE ONDE SE ENCONTRA ATÉ O CHÃO.
NELA, MUITO PREOCUPADA, SONOPLASTIA: Lord of the tights –
Aerosmith.
CORTA PARA
CENA 06. SOLAR BRONKHART. SALA. INT. DIA
LEVI TERMINA DE DESCER O ÚLTIMO LANCE DE ESCADAS. NO

MESMO INSTANTE, AGUSTIN ENTRA, VINDO DO JARDIM. LEVI
PÁRA JUNTO DA ESCADA E APENAS OBSERVA O RECÉM-
CHEGADO SE APROXIMAR, COM CARA DE POUCOS AMIGOS.
AGUSTIN SORRI, CORTEZMENTE.
AGUSTIN – Olá!
LEVI – Eu estava justamente procurando pelo senhor.
AGUSTIN – Pois aqui estou... Que deseja?
LEVI – Desejo que o senhor... Julius... Ou sei lá como se
chama, deixe esta casa imediatamente.
AGUSTIN – Eu não/
LEVI – Imediatamente, eu disse! Se não quiser ser levado
direto para Newgate, suma daqui!
AGUSTIN OLHA PARA LEVI, ESPANTADO, E VAI SE AFASTANDO

DEVAGAR. SOBE AS ESCADAS OLHANDO SEMPRE PARA TRÁS ATÉ
SUMIR DE CENA.
LEVI – Pronto, agora vou cuidar de Chiquita. [T] Logo agora

que eu estava apegado a ela...
ELE SUSPIRA E COMEÇA A SUBIR A ESCADA.
CORTA PARA
CENA 07. SOLAR BRONKHART. QUARTO DE CHIQUITA. INT. DIA

O QUARTO ESTÁ VAZIO E A JANELA ABERTA. LEVI ENTRA.
LEVI – Chiquita, está aí? [T] Chiquita!
ELE NÃO RECEBE RESPOSTA. COMEÇA A PROCURAR PELO

APOSENTO ATÉ SE CERTIFICAR DE QUE ELA NÃO ESTÁ ALI.
LEVI – Não está no quarto, não passou pela sala... Mas ela há
de voltar e vamos acertar as contas.
ELE SAI DO QUARTO.
CORTA PARA
CENA 08. MILLSHIRE. EXT. DIA
TAKE DE LOCALIZAÇÃO. PASSAGEM DE ALGUMAS HORAS.
CORTA PARA
CENA 09. ALBERGUE. SAGUÃO. INT. DIA
HORÁCIO VAI SAINDO DO ALBERGUE E DOIS CARREGADORES

LEVAM A BAGAGEM DELE, QUE FAZ SINAL PARA QUE
ESMERALDA VÁ ATÉ ELE.
HORÁCIO – Venha cá, filha, me dê um abraço.

ESMERALDA – Tem certeza de que não quer que eu o
acompanhe até a estação?
HORÁCIO – Tenho. Não quero saber de despedidas longas e a
senhorita agora tem de cuidar de tudo isso aqui. [T] Juízo, viu?
ESMERALDA – Pode ficar tranquilo, vou tomar conta do
albergue como se fosse o senhor mesmo. [T] E volte logo.
ELES SE ABRAÇAM E HORÁCIO VAI EMBORA COM OS

CARREGADORES. ESMERALDA FICA PARADA NA PORTA,
DISTRAÍDA, OLHANDO A RUA. INSTANTES. CHIQUITA SE
APROXIMA DEVAGAR, COM CARA DE MEDO; ESMERALDA NÃO
PERCEBE. A MENINA PASSA BEM PERTO DELA, SEM SER NOTADA,
E SOBE AS ESCADAS CORRENDO.
CORTA PARA
CENA 10. ALBERGUE. CORREDOR. INT. DIA
ISABELLE SAI DO QUARTO E VAI EM DIREÇÃO A ESCADA.

QUANDO ESTÁ QUASE SE APROXIMANDO DELA, CHIQUITA VEM
CORRENDO E ESBARRA NELA.
ISABELLE – Chiquita! O que aconteceu com você? Está
pálida...
CHIQUITA – Posso ficar no seu quarto? Por favor.
ISABELLE – Por quê?
CHIQUITA – Deixe-me ficar lá e eu explico tudo.
ISABELLE OLHA PARA CHIQUITA, ESTUDANDO SUAS FEIÇÕES.

SUSPIRA, TOMA A MÃO DELA E VÃO PARA O QUARTO.
CORTA PARA
CENA 11. ESTRADA. EXT. DIA
AGUSTIN VAI SE AFASTANDO DA PROPRIEDADE DOS

BRONKHART, CARREGANDO APENAS UMA MALA. OLHA PARA
TRÁS, COM ÓDIO. SEGUE ADIANTE, COM MUITA PRESSA.
AGUSTIN – Preciso encontrar Chiquita, e logo. Onde diabos

ela deve ter se enfiado?
ELE CONTINUA ANDANDO E RESMUNGANDO.
CORTA PARA OUTRO PONTO DA MESMA ESTRADA. PASCOAL E

OSÉIAS SEGUEM LADO A LADO, OLHANDO EM VOLTA COMO SE
PROCURASSEM ALGO. CONVERSA INICIADA.
PASCOAL – Acho que esse não é exatamente um bom lugar

para procurar.
OSÉIAS – Pois eu acho que ela está por aqui, nos limites da
cidade. Isso se não foi embora de vez.
PASCOAL – Vamos procurar até o fim do dia, está certo? Se
não encontrarmos, então esquecemos essa história.
ELES CONTINUAM ANDANDO, EM SILÊNCIO POR ALGUNS

INSTANTES.
OSÉIAS – Ela pode estar mesmo aqui. Não imagino que ela
tenha muito dinheiro, então continua por aqui tentando arrumar
algum. E eu até sei onde.
PASCOAL – Onde?
OSÉIAS – Vamos voltar para a cidade e lá eu explico.
A DUPLA DÁ MEIA VOLTA E SEGUE CAMINHO.
CORTA PARA
CENA 12. ALBERGUE. QUARTO DE ISABELLE E ARTHUR. INT.

DIA
ISABELLE, CHIQUITA E ARTHUR CONVERSANDO. ELE OLHA AS
DUAS COM CARA DE PREOCUPAÇÃO.
ARTHUR – Menina, você se meteu em uma confusão das

grandes!
CHIQUITA – Eu sabia que não ia dar certo.
ARTHUR – Então por que não recusou?
CHIQUITA – Porque ele me convenceu de que tudo ia dar
certo.
ISABELLE – Chiquita, por que você não diz o nome desse
homem?
CHIQUITA NÃO RESPONDE, OLHA PARA O CHÃO.
ARTHUR – Acho que já entendi. Ela está com medo de dizer o

nome desse sujeito e que a justiça acabe chegando até ele,
certo?
CHIQUITA – [de cabeça baixa] É que eu gosto dele. Muito.
ARTHUR – Você sabe onde ele está?
CHIQUITA – Levi já deve tê-lo posto para fora do solar, não
sei para onde ele pode ter ido. Mas ele me procura. E quando
ele vier, vou embora com ele.
ISABELLE – Nós não vamos deixar você fazer essa loucura.
CHIQUITA – Mas eu o amo! Você entende isso, não entende?
ISABELLE – Entendo, minha querida. Mas o que ele fez com
você não é certo! Que espécie de futuro você vai ter fugindo
com esse homem de um lado para outro?
A MENINA FICA CALADA, PARECE SEGURAR O CHORO. ARTHUR

LEVANTA E FAZ SINAL PARA QUE ISABELLE O SIGA. A MOÇA
LEVANTA.
ISABELLE – Vou deixar você pensar um pouco. Mas pelo

amor de Deus, não saia daqui!
ISABELLE SAI DO QUARTO COM ARTHUR.
CORTA PARA
CENA 13. ALBERGUE. CORREDOR. INT. DIA
ARTHUR E ISABELLE ACABAM DE SAIR DO QUARTO. ELA FECHA

A PORTA.
ARTHUR – Acho que não vamos conseguir esconder essa

menina por muito tempo.
ISABELLE – Não precisamos esconder, nós vamos protegê-la
desse sujeito que ela não quer dizer o nome.
ARTHUR – Ou seja, esconder...
ISABELLE – Talvez ela pudesse substituir a Sarah. Se arranjar
algo para fazer, tenho certeza que acaba esquecendo esse
homem. [T] Qual será o nome verdadeiro dele, hein?
ARTHUR – Talvez ela mesma nos diga isso depois. Mas você
está certa, talvez ela possa ser uma boa substituta. Vamos falar
com ela agora?
ISABELLE – Não, é melhor que ela descanse um pouco.
ARTHUR – E se ela fugir?
ISABELLE – Não vai, tenho certeza. Só algumas horas...
ELES SE DÃO OS BRAÇOS E SEGUEM PELO CORREDOR RUMO A

ESCADA.
CORTA PARA
CENA 14. RUA ESTREITA. EXT. DIA
OSÉIAS E PASCOAL CHEGAM À ENTRADA DA RUA. PARAM NA

ESQUINA, PARECEM CANSADOS.
PASCOAL – Agora pode falar o que tem aqui?

OSÉIAS – Essa rua aqui é onde ficam todos os vagabundos,
salteadores e falsificadores da cidade. Aí tem um sujeito que
chamam de Tabelião; ele penhora joias e o que mais vier pela
frente. Foi com ele que Daniela penhorou todas as joias outras
coisas da família do Arthur... Este é o único lugar onde ela
conseguiria dinheiro, então se ela estiver em algum lugar, o
Tabelião sabe!
PASCOAL – Tomara que saiba mesmo.
OSÉIAS – Se não souber, então ou ela sumiu ou morreu.
ELES SEGUEM ADIANTE, MAIS DEVAGAR. PASCOAL OLHA EM

VOLTA, PRESTANDO ATENÇÃO A CADA PEDAÇO DA RUA E CADA
PESSOA QUE PASSA POR ELE.
CORTA PARA OUTRO CANTO DA RUA, MAIS ADIANTE. DANIELA

DESCE DO CARRO E VAI CAMINHANDO APRESSADAMENTE RUA
ADENTRO. FERNANDO DESCE E CORRE ATRÁS DELA.
FERNANDO – Tem certeza de que não quer que eu vá?

DANIELA – Você nem conhece o homem! Vai fazer o que lá?
FERNANDO – Estou preocupado com a sua segurança.
DANIELA – Estou tão desprotegida quanto você. Volta para o
carro!
FERNANDO – Mas quem é o homem aqui?
DANIELA – Ou você volta para o carro agora ou sua pergunta
estúpida vai fazer algum sentido.
CHATEADO, FERNANDO VOLTA PARA DENTRO DO CARRO.

DANIELA SEGUE SEU CAMINHO. AO SE APROXIMAR DA ENTRADA
DO PRÉDIO DO TABELIÃO, AGUSTIN É JOGADO PARA FORA E
ESBARRA EM DANIELA, QUE DEMONSTRA NÃO TER GOSTADO
NEM UM POUCO.
DANIELA – Era só o que me faltava...
ELA TENTA ENTRAR NO PRÉDIO, MAS AGUSTIN A SEGURA

FORTEMENTE PELO BRAÇO E A FAZ VOLTAR.
AGUSTIN – Onde pensa que vai, mocinha?

DANIELA – Não te interessa.
AGUSTIN – Não é assim que se trata um velho amigo...
DANIELA – E quem disse que você é meu amigo?
AGUSTIN – É só dizer o que está fazendo aqui e eu deixo você
ir embora.
DANIELA – Não vou falar.
ELA VAI SAINDO E ELE TENTA DETÊ-LA, MAS DANIELA DÁ-LHE

UM GOLPE RÁPIDO E ENTRA CORRENDO NA CASA. AGUSTIN FICA
PARADO, OLHANDO PARA DENTRO DO PRÉDIO.
CORTA PARA
CENA 15. TABELIÃO. INT. DIA

DANIELA OLHA UMA ÚLTIMA VEZ PARA TRÁS ANTES DE SE
DIRIGIR AO BALCÃO.
DANIELA – Vim buscar o meu dinheiro.

TABELIÃO – Sinto muito, mas tive um problema e não vou
poder pagar...
DANIELA – Como? Esperei todos esses dias para chegar aqui
e ouvir que não vou ter dinheiro?
TABELIÃO – Como eu disse, minha querida, tive um
problema, Agustin me tapeou em um negócio e precisei do seu
dinheiro para cobrir os prejuízos!
DANIELA – Só podia ser ele estragando minha vida de novo.
TABELIÃO – Mas eu juro que vou resolver o seu problema
muito em breve!
DANIELA – Muito em breve quando? Preciso desse dinheiro
para ontem!
TABELIÃO – Só mais uns dias, garanto.
UM INSTANTE DE SILÊNCIO. DANIELA SUSPIRA, COM IRRITAÇÃO.
DANIELA – Dois dias e nada mais.

TABELIÃO – Muito bem, dois dias.
ELA SAI PISANDO DURO.

CORTA PARA
CENA 16. RUA ESTREITA. EXT. DIA
PV DE OSÉIAS E PASCOAL. DANIELA É ABORDADA POR AGUSTIN

E TENTA SE DESVENCILHAR DELE; MAS SUA PRIMEIRA
TENTATIVA É FRUSTRADA.
OSÉIAS – Encontramos. E agora?

PASCOAL – E agora eu vou falar com ela.
PASCOAL SE ADIANTA, MAS DANIELA SAI CORRENDO E ENTRA

NO CARRO, SAINDO EM DISPARADA LOGO DEPOIS.
PASCOAL – Porcaria, está sumindo de novo!

OSÉIAS – Então vamos atrás!
ELES APRESSAM OS PASSOS, SEGUINDO O CARRO.

SONOPLASTIA: Jogo 1 – Edu Lobo.
CORTA PARA
TAKES DA CIDADE. PASSAGEM DE ALGUMAS HORAS.

CORTA PARA
CENA 18. ALBERGUE. QUARTO DE ISABELLE. INT. DIA
CHIQUITA AINDA DEITADA NA CAMA DE ISABELLE, INERTE,

OLHANDO PARA A PAREDE. ISABELLE ENTRA E SENTA AO LADO
DELA.
ISABELLE – E agora, como se sente?

CHIQUITA – Melhor.
ISABELLE – Eu estava conversando com Arthur e ele disse
que você poderia seguir conosco, se quiser. Estamos precisando
de mais uma atriz.
CHIQUITA – Não sei se devo. Agustin precisa...
ISABELLE – Então Agustin é o nome dele.
CHIQUITA DESVIA O OLHAR, COMO SE TIVESSE SIDO PEGA

FAZENDO ALGO QUE NÃO DEVIA.
ISABELLE – Escute; eu só quero o seu bem.

CHIQUITA – Pelo amor de Deus, não o denuncie!
ISABELLE – Mas vão acabar o capturando, querida!
CHIQUITA – Mas eu não quero ser responsável por isso.
ISABELLE – É... Tudo bem, vamos esquecer isso um pouco e
deixe-me contar sobre a peça que vamos apresentar...
ISABELLE CONTINUA FALANDO, FORA DE ÁUDIO. CHIQUITA NÃO

PARECE ESTAR MUITO ENTUSIASMADA NO COMEÇO, MAS VAI SE
EMPOLGANDO.
CORTA PARA
TOMADA DE LOCALIZAÇÃO. LETREIRO: DIAS DEPOIS...

SONOPLASTIA: Transatlantique – Beirut.
CORTA PARA
CENA 20. ALBERGUE. QUARTO DE SIMONE E ALICE. INT. DIA
SIMONE ESTÁ DIANTE DE UM GRANDE ESPELHO, COM UM

VESTIDO DE NOIVA SIMPLES, PORÉM MUITO BELO. ALICE PÁRA
ATRÁS DELA E COMEÇA A AJEITAR O VESTIDO DA MOÇA.
SIMONE – As pessoas já estão chegando?

ALICE – Acho que sim, querida, ainda não fui ver.
SIMONE – A rainha vem, não é?
ALICE – Não sei, Simone.
SIMONE – Ela deve vir. Importante como Levi é...
ALICE – Menina, do jeito que você fala, parece que está mais
animada com a presença da rainha do que com o próprio
casamento!
SIMONE – Não é isso... Acontece que é muito mais do que eu
poderia sonhar!
ALICE – Pois trate de descer da nuvem, que é tudo a mais pura
verdade!
ALICE SE AFASTA PARA VER MELHOR O VESTIDO. SORRI,

SATISFEITA.
CORTA PARA
CENA 21. ALBERGUE. SALÃO. INT. DIA
UMA ESPÉCIE DE ALTAR BEM SIMPLES ARMADO DE UM LADO;

DO OUTRO, UMA MESA COM BOLO E DOCES. POUCAS PESSOAS
REUNIDAS. DE UM LADO, SÍLVIO, DOUTOR LOMBARDI E LEVI. DO
OUTRO, ESMERALDA, CLARICE, OSÉIAS, PANTALEÃO. CLARICE
OLHA NA DIREÇÃO DE SÍLVIO, COM TRISTEZA. ESTE NÃO
CORRESPONDE O OLHAR A PRINCÍPIO, MAS QUANDO ELA DEIXA
DE OLHAR, ELE COMEÇA A OBSERVÁ-LA.
CLARICE – Acho que eu não devia ter vindo.
PANTALEÃO – Só por causa do advogadozinho?
A MENINA OLHA PARA O PAI COM AR DE REPREENSÃO.
CLARICE – Não gosto que o senhor fale assim dele.

PANTALEÃO – Ora, por que, se nem noivos vocês são mais?
CLARICE – Mas... Ah, esqueça.
DO OUTRO LADO DO SALÃO, OS HOMENS CONVERSAM; APENAS

SÍLVIO NÃO FALA NADA, SEMPRE OLHANDO PARA CLARICE, QUE
JÁ NÃO O OLHA MAIS.
DR. LOMBARDI – Filho? O que houve?

SÍLVIO – Comigo? Nada.
LEVI – Não precisa disfarçar. É Clarice, não é?
SÍLVIO – É impossível vir a um casamento, vê-la e não
lembrar que estávamos quase no altar!
DR. LOMBARDI – Filho, temos de nos conformar! Sorte no
amor não foi feita para nós.
LEVI – Ora, mudem essa conversa!
CORTA PARA OUTRO CANTO DO SALÃO. ARTHUR E ISABELLE

JUNTOS, CAMINHANDO PARA A ESCADA.
ARTHUR – Quando acabar o casamento vou dar uma olhada
nas obras no solar.
ISABELLE – Vou com você.
ARTHUR – Eu acho melhor não, Isabelle. Lá você pode se
machucar, e eu não quero isso; ainda mais no seu estado.
ISABELLE – O que pode acontecer de ruim se estou com você,
hã? Só quero ir ver como estão as flores, se aqueles homens
não esmagaram as coitadinhas.
ARTHUR – Muito bem, se quer tanto ir, vamos.
ISABELLE – Vou ver se Simone já está pronta.
O CASAL, QUE ENTÃO ESTÁ DE MÃOS DADAS, SE SOLTA E

ISABELLE SEGUE ESCADA ACIMA.
CORTA PARA
CENA 22. SOLAR BRONKHART. JARDIM. EXT. DIA
LEOPOLDINA ESTÁ SOZINHA, SENTADA SOB A SOMBRA DE UMA

ÁRVORE. LEONARDO SAI DO SOLAR E PASSA POR ELA, SEM
LANÇAR UM OLHAR SEQUER.
LEOPOLDINA – Leonardo!
ELE PÁRA E OLHA, SÉRIO.

LEOPOLDINA – Onde vai?

LEONARDO – Ao casamento de Simone, por quê?
LEOPOLDINA – Ah, não vai não.
LEONARDO – E quem a senhora pensa que é para me proibir
de ir a qualquer lugar?
LEOPOLDINA – Você é meu amante, está vivendo comigo e
eu não quero que esteja nesse casamento que nem devia estar
acontecendo.
LEONARDO – Por que não pode se contentar comigo? Não
era mais fácil assumirmos de uma vez que estamos juntos,
assim como eles estão fazendo?
LEOPOLDINA – Não! Olha só para mim. Eu tenho estirpe, fui
bem criada para me unir a um homem que pode me dar tudo
com o que me acostumei toda a vida; não para ser mulher de
um reles saltimbanco!
LEONARDO OLHA PARA ELA COM MUITO ÓDIO, PARECE TER SE

OFENDIDO. LEOPOLDINA, PERCEBENDO A REAÇÃO, LEVANTA DE
SUA CADEIRA E SE APROXIMA DELE COM TERNURA.
LEOPOLDINA – Ora, querido, não me leve a mal. Adoro sua

companhia, seus beijos e o quanto me faz sentir desejada
quando estamos sozinhos. [T] Mas apenas quando estamos
sozinhos. Preciso de Levi para continuar sendo uma mulher
respeitada, entendeu?
ELA SE APROXIMA MAIS UM POUCO, COMO SE FOSSE BEIJÁ-LO

NOS LÁBIOS, MAS ELE RECUA.
LEONARDO – Não. E estou atrasado para o casamento.
ELE DÁ AS COSTAS PARA A MULHER E VAI MARCHANDO

DECIDIDO RUMO AO PORTÃO DE SAÍDA. PÁRA E OLHA PARA
TRÁS, COM UM SORRISINHO LEVEMENTE IRÔNICO.
LEONARDO – Ah, antes que eu me esqueça... Sou eu quem

vai conduzir Simone ao altar!
LEOPOLDINA – Fazendo isso você está contra mim,
entendeu?
LEONARDO NÃO RESPONDE E CONTINUA SUA CAMINHADA PARA

FORA DA PROPRIEDADE. LEOPOLDINA VOLTA PARA O LUGAR
ONDE ESTAVA NO COMEÇO DA CENA; MORDE OS LÁBIOS, COM
MUITA RAIVA. SONOPLASTIA: Picadeiro – Ângela Jobim.
CORTA PARA

TAKE DA RUA DO ALBERGUE. MAIS ALGUMAS PESSOAS

ENTRANDO NO PRÉDIO.
CORTA PARA
TAKE DOS POUCOS CONVIDADOS ESPALHADOS PELO LOCAL,

CONVERSANDO.
CORTA PARA
CENA 25. ALBERGUE. 1º ANDAR. CORREDOR. INT. DIA
LEONARDO ESPERANDO DO LADO DE FORA. SIMONE SAI,

ACOMPANHADA POR ISABELLE E ALICE; AS TRÊS SORRIEM E
SIMONE DÁ O BRAÇO PARA O AMIGO, QUE TAMBÉM SORRI.
SIMONE – Obrigada por ter vindo.

LEONARDO – Ver você feliz vai compensar a desgraça que
virou a minha vida.
SIMONE – Desgraça? Mas/
LEONARDO – Depois conversamos sobre isso. Vamos
descer?
ISABELLE E ALICE SEGUEM NA FRENTE DA DUPLA, QUE AS

ACOMPANHA DE BRAÇOS DADOS.
CORTA PARA
CONTINUAÇÃO DA CENA 24. ISABELLE E ALICE DESEM O ÚLTIMO

LANCE DE ESCADAS E ISABELLE FAZ SINAL PARA UM TRIO DE
FLAUTAS E VIOLINO, QUE COMEÇAM A EXECUTAR A MARCHA
NUPCIAL. SIMONE DESCE AS ESCADAS, ACOMPANHADA POR
LEONARDO E OSTENTANDO UM LARGO SORRISO. LEVI DÁ
ALGUNS PASSOS ADIANTE PARA RECEBÊ-LA E O CASAL VAI ATÉ
A MESA ONDE O JUIZ OS ESPERA. ENQUANTO CAMINHA, SIMONE
OLHA EM VOLTA, BUSCANDO A RAINHA; QUE NÃO ESTÁ LÁ. AO
CONSTATAR QUE ELA NÃO ESTÁ, A MOÇA FICA SÉRIA POR UM
INSTANTE, MAS LOGO VOLTA A SORRIR PARA LEVI. A
CERIMÔNIA COMEÇA. SONOPLASTIA: Meu homem – Jane Duboc.
CORTA PARA
TAKES DA CIDADE. PASSAGEM DE ALGUMAS HORAS.

CORTA PARA
A CERIMÔNIA DE CASAMENTO TERMINOU; OS NOIVOS RECEBEM

OS CUMPRIMENTOS DE ALGUNS CONVIDADOS. ISABELLE ESTÁ
SOZINHA ANDANDO PELO SALÃO, PROCURANDO POR ARTHUR.
AVISTA MARTIN À PORTA DO SALÃO, FAZENDO SINAL. ELA SE
APROXIMA DELE.
MARTIN – Desculpe-me ter vindo aqui, senhora, mas

precisava muito falar com seu marido...
ISABELLE – Aconteceu algum problema com o solar?
MARTIN – Houve um acidente, um pedaço da construção
desabou sobre um dos meus companheiros e/
ISABELLE – Meu Deus... Ele está muito ferido?
MARTIN – Temo que não sobreviva.
ISABELLE – Bem, onde ele está?
MARTIN – Ainda no solar.
ISABELLE – Eu vou chamar o médico, não saia daí.
ISABELLE DÁ AS COSTAS PARA MARTIN, QUE APANHA UM

VIDRINHO DE CLOROFÓRMIO DE UM DOS BOLSOS E UM LENÇO
MOLHADO DE OUTRO. COLOCA UM POUCO DE CLOROFÓRMIO NO
LENÇO E COM UM GOLPE RÁPIDO, ABRAÇA ISABELLE POR TRÁS.
ELA REAGE, TENTA SE DESVENCILHAR, MAS ELE PÕE O LENÇO
NO NARIZ DELA E LOGO A MOÇA PERDE OS SENTIDOS. MARTIN
SAI ARRASTANDO ISABELLE DESMAIADA E, COM A
MOVIMENTAÇÃO DA FESTA, NINGUÉM PERCEBE.
[Fim do capitulo]

O Capitão Fracasso 38

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1 O Captião Fracasso | Capítulo 38

CENA 01. ESCRITÓRIO DE SÍLVIO. INT. DIA

CONTINUAÇÃO DA CENA FINAL DO CAPÍTULO ANTERIOR. LEVI

ELE SAI DO ESCRITÓRIO CORRENDO, LEVANDO A PASTA. SÍLVIO

SÍLVIO – Ei, espere! Não vá fazer nenhuma bobagem...

CENA 02. ALBERGUE. QUARTO DE ESMERALDA. INT. DIA

PASCOAL E OSÉIAS ENTRAM NO QUARTO E DEIXAM A PORTA

OSÉIAS – Muito bem. Agora pode me dizer que raio de

ELES SAEM DO QUARTO.

ALICE E HORÁCIO SENTADOS FRENTE A FRENTE, TENDO APENAS

ALICE – Bem, eu já soube que você vai embora.

ALICE PARECE FICAR DESAPONTADA COM O QUE ACABA DE

HORÁCIO – Esmeralda me contou tudo. Foi uma brincadeira

ELES SE DÃO AS MÃOS E TROCAM OLHARES CARINHOSOS.

CENA 04. SOLAR BRONKHART. QUARTO DE AGUSTIN. INT. DIA

APOSENTO COMPLETAMENTE VAZIO E JANELA ABERTA. OUVEM-

LEVI – Julius! Ou quem quer que seja, apareça! [T] Está

ELE CONTINUA REVIRANDO A CASA ATÉ PERCEBER QUE NÃO HÁ

CENA 05. SOLAR BRONKHART. QUARTO DE CHIQUITA. INT. DIA

LEVI – [VO] Aparece, seu desgraçado! Julius!

A MENINA, ASSUSTADA, LARGA O PENTE E VAI ATÉ A PORTA, A

CHIQUITA – Meu Deus, ele já sabe de tudo.

ELA CORRE PARA A JANELA E A ABRE. OLHA PARA BAIXO, COMO

CENA 06. SOLAR BRONKHART. SALA. INT. DIA

LEVI TERMINA DE DESCER O ÚLTIMO LANCE DE ESCADAS. NO

AGUSTIN OLHA PARA LEVI, ESPANTADO, E VAI SE AFASTANDO

LEVI – Pronto, agora vou cuidar de Chiquita. [T] Logo agora

ELE SUSPIRA E COMEÇA A SUBIR A ESCADA.

CENA 07. SOLAR BRONKHART. QUARTO DE CHIQUITA. INT. DIA

LEVI – Chiquita, está aí? [T] Chiquita!

ELE NÃO RECEBE RESPOSTA. COMEÇA A PROCURAR PELO

ELE SAI DO QUARTO.

CENA 08. MILLSHIRE. EXT. DIA

TAKE DE LOCALIZAÇÃO. PASSAGEM DE ALGUMAS HORAS.

CENA 09. ALBERGUE. SAGUÃO. INT. DIA

HORÁCIO VAI SAINDO DO ALBERGUE E DOIS CARREGADORES

HORÁCIO – Venha cá, filha, me dê um abraço.

ELES SE ABRAÇAM E HORÁCIO VAI EMBORA COM OS

CENA 10. ALBERGUE. CORREDOR. INT. DIA

ISABELLE SAI DO QUARTO E VAI EM DIREÇÃO A ESCADA.

ISABELLE OLHA PARA CHIQUITA, ESTUDANDO SUAS FEIÇÕES.

CENA 11. ESTRADA. EXT. DIA

AGUSTIN VAI SE AFASTANDO DA PROPRIEDADE DOS

AGUSTIN – Preciso encontrar Chiquita, e logo. Onde diabos

ELE CONTINUA ANDANDO E RESMUNGANDO.

CORTA PARA OUTRO PONTO DA MESMA ESTRADA. PASCOAL E

PASCOAL – Acho que esse não é exatamente um bom lugar

ELES CONTINUAM ANDANDO, EM SILÊNCIO POR ALGUNS

A DUPLA DÁ MEIA VOLTA E SEGUE CAMINHO.

CENA 12. ALBERGUE. QUARTO DE ISABELLE E ARTHUR. INT.

ARTHUR – Menina, você se meteu em uma confusão das

CHIQUITA NÃO RESPONDE, OLHA PARA O CHÃO.

ARTHUR – Acho que já entendi. Ela está com medo de dizer o

A MENINA FICA CALADA, PARECE SEGURAR O CHORO. ARTHUR

ISABELLE – Vou deixar você pensar um pouco. Mas pelo

ISABELLE SAI DO QUARTO COM ARTHUR.

CENA 13. ALBERGUE. CORREDOR. INT. DIA

ARTHUR E ISABELLE ACABAM DE SAIR DO QUARTO. ELA FECHA

ARTHUR – Acho que não vamos conseguir esconder essa

ELES SE DÃO OS BRAÇOS E SEGUEM PELO CORREDOR RUMO A

CENA 14. RUA ESTREITA. EXT. DIA

OSÉIAS E PASCOAL CHEGAM À ENTRADA DA RUA. PARAM NA

PASCOAL – Agora pode falar o que tem aqui?

ELES SEGUEM ADIANTE, MAIS DEVAGAR. PASCOAL OLHA EM