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CLIO - Revista do Curso de Mestrado em Histéria 109 REFLEXOES EM TORNO DA UTILIZACAO DO ANTIPLASTICO COMO ELEMENTO CLASSIFI- CATORIO DA CERAMICA PRE-HISTORICA MARCOS ALBUQUERQUE Universidade Federal de Pernambuco A partir da introdugdo do método para o estabelecimento de cro nologias culturais proposto por Ford (1952) e posteriormente desen- volvimento por Meggers & Evans (1970), 0 antiplastico passou a de sempenhar papel de extraordindria relevancia no processo de classi- ficagdo da cerémica pré-histérica brasileira. Este fato vincula-se historicamente ao desenvolvimento do Programa Nacional de Pesquisas Arqueolégicas (PRONAPA), responsavel por um grande desenvolvimento na arqueologia do Brasil. Grande parte dos arquedlogos brasileiros reconhece que o anti- plastico ndo constitui fator determinante para o estabelecimento de Tipo ceramico. Admitem que um Tipo seria resultante de um conjunto mais amplo de atributos (Spaulding, 1960), e que outras variaveis de maior relevancia devem ser consideradas. Entretanto, na bibliogra- fia especializada que trata de grupos ceramistas, observa-se de for ma irrefutavel, que na pratica o antiplastico tem desempenhado um pa pel extremamente significativo, ndo apenas na elaboragdo de seqiién- cias seriadas, como ainda no estabelecimento de Fases arqueolégias. Fato que assume maior relevancia na classificacdo dos Tipos "simples" onde é inequivoca a utilizagdo do antiplastico como infcio da chave classificatéria. Diferentes pesquisadores, dentre os quais n4o se ex celui o autor, apresentaram seqiiéncias seriadas, admitindo estabele- cer cronologias culturais onde o antiplastico atuou de forma dicoté mica no inicio da chave classificatéria. Este procedimento encontra respaldo nas afirmacdes de Meggers & Evans (1970:26-8), que sugerem inclusive o estabelecimento de variagdes granulométricas para as ce rémicas que tenham sido temperadas com antiplastico de mesma nature Za. A utilizacdo do antiplastico como critério dicotémico na clas- sificagdo da ceramica pré-histérica parece conduzir-nos ao exercicio de uma grande falacia, pois a esséncia do "Método Ford para o esta- 110 belecimento de cronologias culturais" vincula-se a variagdes cultu- rais que possuam conotacdo espaco-temporal. Premissa que nos parece correta, e que se encontra alicercgada em bases teéricas da dinamica cultural. Considerando-se que a elaboracdo da cerdémica est4 subordinada a um conjunto de operagées essenciais e ndo essenciais (Rye, 1981) e que as primeiras sao bem mais refratarias 4 mudanca que as dltimas, faz-se necessirio distinguir os elementos que se relacionam a um ou outro conjunto. Alteracées em uma das operacdes essenciais, acarre~ taria necessariamente um ajuste ou mesmo mudanca em outros segmen- tos do processo. Qualquer mudanga desta natureza implicaria conse- qiientemente em tempo utilizado para a readaptacéo tecnolégica, além de inimeras tentativas frustradas na confeccdo da ceramica. Por con seguinte, 0 conjunto e a seqiiéncia destas operacées, conferem carac ter{sticas ontolégicas 4 Tradicdo ceramista. 0 mesmo nao ocorre com as alteracdes ndo essenciais que se alteram com maior facilidade no tempo e no espace, sem que haja comprometimento com a tecnologia ce ramica inerente 4 Tradicdo. A utilizacdo de caracteristicas relacio nadas com as operagées nao essenciais, adequam-se mais ao estudo de variagées cronolégico-culturais, utilizdveis no estabelecimento de seqiiéncias seriadas, com conotacgdo espaco-temporal, inerentes as Fa ses arqueolégicas, segmentos temporais da Tradicdo. Refletindo acerca do posicionamento do antiplastico no contex- to da tecnologia ceramica, entendemos que este elemento, embora lar gamente utilizado na confecgdo da ceramica pré-histérica brasilei- ra, nao.devera ser entendido como atributo cuja popularidade seja al terada em decorréncia de modismos de caraétér espago-temporal, como pode ocorrer com uma técnica ou um motivo de decoragdo. A sua utili zagdo como a sua natureza, pode ser caracteristica de uma determina da Tradigdo. Entretanto, o seu grau de flutuacdo ou de popularidade relaciona-se intrinsecamente com uma das operacées essenciais, na busca da obtengdo de um determinado grau de plasticidade da argila considerado “ timo" pelo grupo ceramista, e fundamental para o de- senrolar das operagées subseqiientes, inerentes 4 Tradigéo ceramis- ta. Encontrando-se o antiplastico relacionado a uma necessidade pra tica decorrente das propriedades das argilas a ser trabalhada, pode se concluir que o percentual de sua inclusdo na argila dependera do atendimento 4s condicgSes de manuseabilidade exigida pela Tradicdo ceramista para a elaboracado de um determinado vasilhame. Partindo- se desta premissa, poder-se-ia admitir um relacionamento cronolégico CLIO - Revista do Curso de Mestrado em Histéria 19 passivel de gerar uma seriacdo cronolégico-cultural, caso houvesse uma distribuigdo légica dos depdsitos de argila, ou seja, se a sua ocorréncia estivesse subordinada a uma determinada orientagao geo- gréfica, apresentando propriedades diferenciadas e seqlienciadas quan to 4 plasticidade, pegajosidade, refratabilidade, dentre outras. Ad mitindo hipoteticamente esta possibilidade, na qual necessariamente haveriam alteracées seqiienciais do percentual de antiplastico utili zado, a seqiiéncia seriada obtida s6 possuiria conotagdo cronolégico ~cultural nos casos em que a migracdo do grupo estudado coincidisse com a hipotética distribuicao orientada dos depésitos de argila. En tretanto, como as argilas, independentemente de sua génese, ocorrem em depdsitos ndo ordenados e submetidos as mais diferentes varia- veis climaticas e paleo-climaticas, podem apresentar variacées de propriedades em um mesmo depdsito. O percentual de utilizacdo do an tiplastico variaré, portanto, conforme as propriedades da argila trabalhada. Esta variagdo podera ocorrer com argilas de um mesmo de posito utilizadas na mesma época ou com argilas oriundas de outros depdsitos encontrados nas proximidades e utilizadas simultaneamente ou nao. Iniimeros exemplos etnogréficos nos mostram a utilizagao si- mult4nea de varios depésitos de argila por parte de um mesmo grupo ceramista, havendo em alguns casos uma divisdo por grupo familiar. Consoante o exposto, a utilizacdo do antiplastico como indice cronolégico nao parece oferecer a menor consisténcia analitica, cons tituindo-se o seu uso em uma distorcdo da realidade. Uma seriagdo cronolégica construida nestas bases podera apresentar, na interdigi tacao, dois sitios arqueolégicos em posicdes extremas, no momento em que as fontes de argila utilizadas possuissem condicdes de manu- seabilidade diferenciadas, ndo importando a proximidade temporal ou mesmo a contemporaneidade entre eles, De modo andlogo, dois sitios poderdo ser interdigitados préximos, quando na realidade encontrem- se cronologicamente distantes, bastando para tanto que as fontes de argila utilizadas, temporal e espacialmente distantes, apresentem condigées de manuseabilidade semelhantes. Além das variaveis geolo- gicamente estabelecidas, elementos culturais intrinsecamente rela- cionados com as operagées essenciais, influenciam na utilizacao do antiplastico (Cf. Albuquerque & Alves, 1983:4-13), como efeito re- flexo das caracteristicas da argila. 112 BIBLIOGRAFIA ALBUQUERQUE, Marcos & ALVES, Claristella 1983 0 Sitio Arqueolégico de Quipapaé (PE 79-PIm). Contribuigdo ao Estudo da Tradi¢do Tupiguarani, no Nordeste de Brasil. In Boletim do Departamento de Histéria da UFPE, Série Ar- queologia (1):1-23. Recife. FORD, James A. 1962 Método Quantitativo para Estabelecer Cronologias Cultura~ les. Manuales Técnicos, III, Union Panamericana. Washing ton, D.C. MEGGERS, Betty & EVANS, Clifford 1970 Como Interpretar a Linguagem Ceramica. Smithsonian Insti- tution. Washington, D.c. RYE, Owen S. 1981 Pottery Technology; Principles and Reconstrution. Manuals on Archeology, (4). Australian National University. Wa- shington, D.C. SPAULDING, Albert C. 1960 Statistical description and comparison of artefact assem- blages. In The application of quantitative methods archeo logy, ed. R.F.Heizer e S.¥.Cook; Viking Fund Publications in Anthropology (28) :60-83.

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