Вы находитесь на странице: 1из 54
te 3 rabalnos que om poems it taster: ham 0 esforeo cue 6s \udosos #profsionsis da droa de Ser G0 Social vir fazando no serio de de Sarnelverom umataretateanco pralleade introiccpinaridade, Quer nopanoda re fexaoteorica, quar neque da patos do ensino, da pesquisa e da ntarvengao so ial, © que se revela nestos tabalhos ¢ © aracurecimerio de urna nova concepeo Soeabor cape de saeeguret na su in Sade eorganiodade numa perspectva tareiseipinar que rocorinacendoe weep landa dierent 9 eepociicndades, rope fronteas entre discipinas e postiras, {compose Fagmeriagses e recanstl cor vergéncias, Est perspectia de taba nlctecpl- nar 6 vista como exigéncia intngeca do propre saber, como viina sabre o asp Tolberal burguss captalstacom quesete vestuatondénciapostivica &oxpociaiza (Ge, comacaminho novo paraumaexple Tago mais ica dos problemas da analse ‘oda intorvangio sadais bom como ext legaetioaz paraodeseimeniodesausia. iniead poltca yy ISBN 85-289-0197-7 9 | 78852419019. SERVICO SOCIAL TERDISCIPLINARIDADE « 1008 FUNDAMENTOS FILOSOFICOS APRATICA INTERDISCIPLINAR NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSAO JEANETEL. MARTINS DE SA ORGANIZADORA ANTONIO Josquld SEVERING “LAUDIA CULLEM SAMPAO Davy Ross! JEANETE Liascl MARTINS OF SA Maria 00 Carwo Bison MARIA THEREZINHA CORREA MARQUES Marivena Co.ooo Mapicena Pinto Rawal Ho Marisa. C. Taco TANAREGINA SASSI +H edigao Sa ob MODA E OTRABALHO — O-serhuma. noma recorce amsaupenaareanh ‘Seu agit Reconhece-se na forma que dao seu mundo. Quando seu mundose ae Fagment tig mira-se.a horem em um espelho parida, cule de- ‘lve dee tho cstorcida imagem same cheia denise: Iginidede, Cassrer chserva que.a aisede conheamen: lode homernaobie simesma em nossos tempos, Yen dda ousr@nci de uma diva dadoe nuns artes oo Inheedos sore. reaidacde hurmana —cladas si0}0g eas, psicaidgioos,soeloiogioes, madicos ee. — despre vicos de una “espinha corsa" capaz de ariculer i260 nnumarosos dads nume grande esttura decornpreer~ ‘40 Ioto 6. nunca tvemos tania inlormiagao eotwe nos {20 meemo tempo, unea nos can neaarrie 189 Pau: co.some agora Etéclcompreender que umatal "espinna dorsal" <6 pad cova leericarnehia de ua arbstaneial nd: Mentagao tlasdtca canceia com 9 imagineria de nas 0 tempo e do qual promana a sua produce smb a; @ metodolog earmanta, deumprojetointerdisipinar ‘qusneaitue paraalomdaquioquetoium madsmo nos anos 70. Estarao muita bornaquisies que sobrexiveran ‘20 poder impiosiva do modisma, ¢ que soguom owe profundando um projeto que laga converor analses feta de angulos cistintos pata um proceso cataica dsabordagemdorealqueconduzaao lerceire momen: to oda sintese Anaise - cataise -sinieca, Els porques Unirsidase precisa vlan agora mais ‘ririosamenta, ab discurse.que jaamearenn abando: ar na refx da andademogisme Eis lamoem por ‘que, a0 sa pensar a ja consagrada rade: ensina pes: uica ¢ oxtennt, fea neosaeariamante engrandoada o fazer universténioquandos propasio aconieudo dase volume: Sorupa soci infedecipinaritace— cosiun ameniasflosdicos 4 price iniecscipinay no ensino, ‘pesquia cexienssn Isle ar razio de quo agora v8 dé forma berciia que scented odtkcutha e qe se atrocaiiniersubjelva de impresses pode aproximar 0 Clentiico de uma possibitadie maar do abarto Taiver sé assim asppatslogias da fagmontagdo do sa ber possam coragar a ser combats, rompanda os ‘iquas cis aspeciaismo sem desrospats a alga carac: {eristico da complaxiicagde social as especialzngses. Inpottanissimo @ cavarcanais de comunicacao entre discipinas quo iin vide num solamento este, pois {ais veios se raneiorardo em vas de inlelecundacdo ‘2 possolicade de saber como careirugae dislaioa Individual coletiva. Depois do festival a moda, aforca slencioca do abana. 9 5 gis de Morais SERVIG¢O Social E INTERDISCIPLINARIDADE +O 009 7 Os Registro: 000970 f er ORR V OVO fre Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) de Sa (on). —4. ed. ~ Sto Paula » Carter; 2002, Bibliogratia ISBN’ 85-249-0197-7 L Inverdisciplinaridade e conhecimento, 2. Serviga social — igo social — Filosofia 4. Sevvigo in0, Antonio Joaquim, L941 CDD-361.007081 “361.001 89-1914 “361 0972081 indices para catdlogo sistematico: 1, Brasil :Servigo social ; Estudo e ensing 361.0708) 2. Brasil: Servign 1 361.0072081 3. Servigo social: Fi on 4, Inverdisciplinaridadl social 361.001 5. Sorvign social e imerdiseiplinaridade 361.001 Avowo Joni Severino-CLAUDIA CULLEN SAMPAIO Data Rossi-JeaNeTe Lissc MARTINS DE Si ‘Maps 0 Caro Bison Vania THEREZint CORREA MARQUES Martena Couooo-Maritena Pinto Ramat no Marisa A. C. Tacca-TANa REGINA Sassi JEANETE L. MARTINS DE SA ORGANIZADORA SERVICO SOCIAL E INTERDISCIPLINARIDADE DOS FUNDAMENTOS FILOSOFICOS APRATICAINTERDISCIPLINAR,_ NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSAO 4 edicio SERVICO SOCIAL E INTERDISCIPLINARIDADE — Dos Junclamentas filostieos 8 pritica inentisciplinae no ensino, pesquisa ¢ exensio AiG Joaquim Severina Claudia Callen Sasapsio le Dalva Rosi Seanete Liases Maetns de 86 (Org) Maria do Corina Biajoni Maia Therezinka Corsa Marques Malena Colo Mariteus Pino Ramat Marisa A.C. Tooeo "Tania Regina Savas ‘ansellioedturiat:Adceic Alves Sltva, Maria Lieia Sis Watroco eM iva, Did one, Matta Leia Carvate Ua lara Rosingets Batsion\ Copa: Maria Regina Klein, sobre Kandinsky Jae, Rouge en {1925}, devas ‘evisao: Ana Maia Barbosa, Carte Tt Costa NNeninnma pore cesta bra pode ser repreduci ot dupticada sent arizagao expressa dos atares © da ecto © 1989 by Autores Direitos para esta ed CORTEZ EDITORS Rua Bora, 317 = Perizes 125009.000 ~ Sto Paulo — SP Tels (11) 3864-0111 Fax: (11) 3864-4290 Erunail cortez Georiexediora com br ‘ww comtezeiitora comer Lnopresso no Brasil ~ juno de 2002 SUMARIO Apresentagao SJeanctc Liasch Martins de Si Substiios para wna reflextio sobre novos caminhos dda interdiseiplinaridade Anténio Joaquim Severino E-specialivagfin veess Interdisciplinaridade; wna proposta alternativa Jeanete Liasch Martins de S4 Os movimentos ecoldgicas e a interdisciplinaridade Maria Therezinha Corréa Marques Marilena Pinto Ramalho Interdisciplinaridade em questo: andlise de uma politica de saidie voltada & muther Claudia Cullen Sampaio Dalva Rossi Maria do Carmo Biajoni Marilena Colodo Marisa A. C. Tacco ‘Tania Regina Savassi APRESENTAGAO ‘A questo da interdisciplinaridade vem fineando suas raf- zes hé muito tempo na Faculdade de Servigo Social da Pontifi- cia Universidade Catética de Campinas, inquietando, estimu- lando ao estudo mais profundo do tema e sugerindo propostas no nivel do ensino graduado ¢ p6s-graduado, no nivel da pes- quisa ¢ da extensio. (© que nos tem impulsionado em diregao a interdisciplina~ ridade como proposta altemnativa é 0 fato de reconhecermos a faléncia do modelo de organizacéo curricular por matérias iso Jadas, pautado na racionalidade cientifica de cunho neopositi- vista. De forma contraditsria, este mesmo modelo tem servido, ‘com pequenos arranjos, a projetos pedagégicos pretensamente comprometidos com a transformagio social. Atribui-se, entio, a virtude de “mudanga’” ao contetido programético de determi- hadas disciplinas, sem a necesséria revisio nas bases episte- molégicas da formagao profissional. Com isto, os curriculos acabam evidenciando mecanismos de manutengio de estruturas educativas funcionalistas ¢ trabalhando espagos muito reduzi- dos para a sua superacao. A dimenséo da contradicéo ¢ da totalidade, tio necesséria 20 processo educativo, se esvazia no momento em que a frag- mentagdo do saber vai, por conseqiiéncia, permitindo uma aproximacdo estruturalista da realidade, numa aniilise unilate, ral. A somatéria de refeténcias ao contexto social néo é auto maticamente representativa deste contexto € nio estabelece, Por si 86, relagées entre os contetidos. A repercussao destas distorgoes toma-se evidente no ensino, na pesquisa, na ex. tensio e, por conseguinte, na acdo profissional, Hé que se construir um novo modelo de organizagaio cur- rieular, que privilegie a unidade e a organicidavte do saber, que Procure articular as aproximagées com o real, de forma sis, tematica, que permita uma relagdo entre sujeito © objeto de forma constituinte e no constituida A tarefa é extremamente érdua, num momento histérico dominado pela légica do processo cientifico, A especializagao © @ tecnocracia penetram, enquanto ideologia de fundo, nas Consciéncias © nas estruturas sociais, gerando forga legitimadora, Além de set um empreendimento de orem filosofica, cientifica ¢ educativa, a busca da interdisciplinaridade corres. Ponce a um desafio, por se constituir num ato politico de ex. frema relevancia para a consecugio do atual projeto de for- mago profissional do assistente social. Este ato implica um redimensionamento da fungao educativa da relagio escola. comuntdade € docentes-profissionais-grupos das classes popu- nee. Bis af as razdes essenciais de nossa proposta, as quais Julgamos oportuno acrescentar a contribuigdo do Curso de Mestraco em Filosofia da PUCCAMP, que vem permitindo, a um ntimero significative de docentes assistentes sociais, 0 acesso a um referencial teérico fundamental & compreensio do aspecto interdiseiplinar. Foi com imenso prazer que convidamos 0 Professor Ant6nio Joaquim Severino, primeiro coordenador do referido Curso, a abordar a questo em suas bases filosGficas, apontan- do 0s novos caminhos da interdisciplinaridade. A unidade do 8 1 como expresso natural do conhe~ ipo estan penesee Hnlade, fompo histreo encar ena de quebrar essa unidade, comprometida em penal ode itrsipiridae. A oasea dena i culo & propria interdisciplit AD me ati- tae inerdiscptaar, quer na esfera da pesquisa, da praticn of cial ou do ensino, deve ser precedida de uma reavaliagdo dy “papel da Cigncia e do Saber em suas relagdes com 0 poder”. io se trata de criar umn superciéneia, mas de busear @ con corréncia solidéria das varias disciplinas na construgéo lidade humana, ; © segundo texto analisa do ponto de vista sees ee Brasil, © proceso de desenvolvimento siento, ation projelo politico liberal-burgués capitalist, que desemboce no vel do ensino e pesquisa nos eursos de pés-graduagio, ov, de modo mais especffico, nos cursos de eepenialingio.E ies uma das principais contradig6es, que corresponde & rel fo en tre © nivel l6gico © 0 poltico-ideolégico da formagio profis. sional pés-graduada © apresonta uma proposta alters aes Tnterdsciplinaridade ~, que se contrapde 60 prtero aaa at “Bspecializagio”. A experiéncia bésica comesponde a sore Trabalhes Comunitérios ¢ lnterdiscipinaridede + minis~ trado na Faculdade de Servigo Social da PUCCAMP. ‘Como resultado dessa experiéncia, apresentam-se os ass textos seguintes, fruto da. pesquisa realivada durante 05 ees semestres letivos, por profissionais, que cursavam a Esp* zagio. / ° 0 texto sobre “Os movimentos ecoldgicos ¢ a isin plinaridade’” aborda um tema atual, pouco explorado pelos ee fssionsis do Servigo Social ¢ que, por sua natuezaypressupse a. ago interdisciplinar aliada & participacéo politica ae dadios, na luta pela defesa da qualidade de vida. Toma por ba se a experiéneia vivenciada pelo movimento sookigiea "Gn eo Cheiro Verde’, na cidade industial de Americana, Estado de Sio Paulo, tendo como principais protagonistas © Estado, populagio € a indiisiria. © quarto © iltimo texto “Interdiscipi auestio: anélise de ume politica de sade volada 2 mulher” procura estudar a interdisciplinaridade no atendimento prestado as mulheres nos Ambulatérios de Obstetricia do Centto de Ateneo Integral a Satide da Mulher (CAISM), da UNICAMP. ‘ agio interdisciplinar surge como proposta, numa organ Zag que vive a conttadicdo inerente & questao “sate da mu Ther": de um lado, vista sob 0 prisma dos movimentos poptla- res, de outro, sob a dptica das politicas sociais. Os depoimen tos dos profissionais de diferentes ‘reas so ricos em “in. ‘engées interdisciplinares”, embora, no entender das autores, a pratica ainda se caracterize como multidisciplinar, numa fase intermediaria, rumo a interdisciplinaridade . Jeanete Liasch Martins de Sé SUBS{DIOS PARA UMA REPLEXAO SOBRE NOVOS CAMINHOS DA INTERDISCIPLINARIDADE Anténio Toaguim Severino Introdugao ‘A conceituacéo de interdisciplinatidade é, sem diivida, uma tarefa inacabada: até hoje nfo conseguimos definir com preciso o que vem a ser essa “vineulago, essa reciprocidade, essa interagio, essa comunidade de sentido ou essa comple- mentaridade entre as vérias disciplinas". E que a situacao de interdisciplinaridade é uma situacio da qual nao tivemos ainda ‘uma experiéncia vivida e explicitada, sua prética concreta sen- do ainda processo tatcante na claboragdo do saber, na atividade de ensino e de pesquisa ¢ na acéo social. Bla é antes algo pres- sentido, desejado ¢ buscado, mas ainda nio atingido. Por isso, todo investimento que pensadores, pesquisadores, educadores, profissionais e especialistas de todos os campos de pensamento ago fazem, no sentido de uma prética concreta da interdisci- plinaridade, representa um esforco significative rumo A consti- uicdo do interdisciplinar. © Dour ety Filosafin Professor de Filosofia da Pauengho, da Faouldade de Balveagso da USP. uw Este texto se propde apenas refletir sobre esta questo, fundamental para a Ciéncia ¢ para a Filosofia contempordneas, trazendo, quem sabe, alguns subsidios para a discusséo que o Conjunto dos trabalhos deste livro esté colocando com relagao & teoria, ao ensino, & pesquisa e a atuacao profissional no cam po do Servigo Social A unidade do Saber: uma presenga arquetipica Sem pretender entéo elaborar uma teoria original da in- terdisciplinaridade, vou partir da afirmacdo geral de gue ela diz respeito, fundamentalmente, a uma tentativa unidade do Saber, estgja ele posto em agéo no ensino, na pesquisa ou na pritica social. E desde ja cabe reiterar a intima ligaco de toda ativi- dade da consciéncia com a demanda do agit. Com efeito, a propria consciéncia surge no bojo do esforgo do homem para conservar sua existéncia material, produzindo-a a0 prover os meios de sua conservacdo © a0 se reproduzir como espécie. Assim, o conhecimento enquanto instrumento de sobrevivencia da espécie humana é, de fato, uma forma diferenciada de agir, ampliando o alcance © 0 poder efetivo dos homens na criagao © recriagdo de seus meios de existéncia, pela reorganizacao dos recursos naturais, que Ihe sio oferecidos. Essa capacidade é 0 dado novo: a disponibilidade de um equipamento, que thes permite modificar, de acordo com uma intenc&o subjetivada, a ordem mecénica do mundo natural ea ordem transitiva do ins- tinto. Assim, 0 pensamento surge imanente vida, enquanto consciéncia origindia ¢ originante, o que nao cabe, pois, justi- ficar. Enquanto tal, & base arqueolégica de toda forma de consciéncia, bastando-se a si mesma, nao contando com outros recursos para dar conta de si, Portanto, 0 cardter pragmatico do conhecimento the € intrfnseco e constitutivo desde suas ori- gens, © seus tragos se encontram presentes em todas as formas de expressio da consciéncia, Essa é a primeira dimensao da unidade do Saber: na sua génese propriamente epistemolégica, assim como na sua finali- 12 dade fundamental, a atividade da consciéneia ¢ como que guiada por essa exigéncia de unidade. E essa origem fundante de todo Saber jé devia nos convencer da significacao da rele~ vante prioridade ¢ da naturalidade da expressio interdisciplinar do conhecimento. A perda da unidade do Saber no tempo histérico eo testemunho do mito, da Metafisica e da Ciencia Porém, no desdobramento da experiéncia histérica dos homens e no constituir-se da complexidade da experiéncia psf- quica ¢ social, essa intimidade da consciéncia com a pratica foi se obscurecendo, cada vez mais. E quanto mais a consciéncia se “autonomizou”, quanto mais foi deixando de fazer corpo com sua vivéncia natural, mais foi perdendo sua unidade, apre~ sentando-se & sua propria reflexdo como Saber diversificado, como miiltiplas sendas, que guiam para a variada multiplicida~ de dos objetos da experiéncia. Quanto mais a consciéncia dei- xa de ser subjetividade vivenciada rumo & pretensiio de uma re~ flexio pura, mais ela passa a pressupor a distingdo ¢ a multi- plicidade do real. Com efeito, a suposta pluratidade dos caminhos do pen- sar vai também produzit a suposta multiplicidade dos aspectos do real. O sujeito se separa cada vez mais do objeto e 0 uni- verso sc transforma num pluriverso, Como tudo, porém, que esti inserito de forma arquetipica na experiéncia da espécie, a exigéncia da unidade se impée como forga originéria. Ainda quando negada pela consciéneia explicita, ela se insinua sub-repticiamente e se faz, também pre- sente e atuante de forma implicita. B 0 que nos revelam os di- verses momentos significativos dessa longa e épica historia da consciéncia no tecido da historia da vida social ¢ cultural da Humanidade. Com efeito, € interessante constatar que, tio logo © ho- mem comeca a registrar seu pensamento jé possuidor de algu- B tna intencionalidede, uma primeira oposicdo o perturba: a traposingo caosicosmos. © mundo gue precisa sor pons compreendido ¢ explicado e, eventualmente, subjugedo, aparc: 2 de inicio como caos, multiplicidade desordenada e confuse, carecendo, portanto, de ordenagio, que se dari pela unifi, cagio. Compreender ¢ explicar, dar conta do universo, € con. seguir ordenar 0 caos, dar-the ordem. E assim que o 2 ‘mito jé revela essa exigencia da unidade, exigéncia que se ox pressa pela busea incessante de uma génese attibuivel a um principio gerador ou constitutivo bem como de “leis” que gar Tantam a permanéncia de sua atuacao eficar, meen __O que dizer entdo da consciéncia filosdfica desde sua Origem até as suas mais elaboradas expresses metafisicas? Nao exigem os filésofos pré-socriticos que 0 universo tenha uma arqué © que o olbar filoséfico seja um caminho tinico ¢ verdadeiro de sua apreensio? Parménides chega mesmo a for- mular unidade, a unicidade, a universalidade ¢ a necessidade desse prinefpio fundamental que € 0 ser. A Metatisica clissica, fanto sob inspiracao platOnica como aristotélica, depée de foe ima explicita a favor, nfo s6 da unidade do ser, mas tambsin a Gor Gnaucla do conhecer. Alis, enquanto transcendentalida- ©, set, verdade, unidade ¢ bondade so intrinsecamente sind- nimos e idénticos. Ens, unum, verum et bonwn convertuntur! Por isso, 0 mult sti lo-se , iplo, o diverso castico € iluséi plano das aparéncias ey itandose n9 Contudo, a exigéncia da uni ia apenas uma ius ingénna da Notatce Goose Sree quando a Tazo iluminista, questionando com radicalidade as Pretensdes da Metafisica, consti a Ciéncia como nove cane co caminho de acesso ao real. Também para a Ciéncia, dont dade do real se da através da unidade da Natureza, constituida jsedlonte "igoroso encadeamento de relagées causais constan- cs entre os fendmenos, de tal modo que a complexidade di aparéncia possa ser redutivel & unidade do sistema explicativo, ue sintetiza teorias, leis e fendmenos ” rt © projeto positivista ¢ © comprometimento da interdisciplinaridade 0s iniciadores da Ciéneia nao perderam de vista essa am- bigao do Saber. Perseguit-os a idéia da unidade “cdsmica” da Natureza, que inclufa até mesmo o homem, dela parte integran- te e continua, Todavia, a imposigio © a predominancia he- geménica de uma metodologia positivista levaram os cientistas a uma fragmentacao do Saber © ao sacrificio da unidade do real, Escravizando-se demais a0 protocol da experiéncia, 0 Saber da Ciéncia positivista leva necessariamente & autonomi- zacio dos varios aspectos de manifestacdo do real. Assim, as intengées manifestas do Positivismo comtiano acabam perden- do terreno para suas implicagées latentes: a afirmagdo das espe- cialidades prevalece sobre a busca do sistema do universo, con- vertendo-se antes na afirmagio da sistematicidade do método. © Positivismo torna-se, portanto, no limiar da contempo- raneidade, o maior responsavel pela fragmentagao do Saber ¢ 0 maior obstéculo & propria interdisciplinaridade. E. com toda razao, dado que ele se apresenta fundamentalmente como uma Filosofia da Cigneia, tematizando de modo especifico a questo da natureza, do processo ¢ do alcance ¢ validade do Saber cientifico, tendo, portanto, muita autoridade. Marcou profundamente as feigdes da cultura contemporanea, de modo particular no aspecto epistemoldgico. Consagra a proposta das especializacées, que, se no chegaram a comprometer 0 esfor- o de unificagao no fimbito das Ciéncias Naturais, comprome- toto, de forma inevitével, no Ambito das Ciéncias Humanas. Por isso, buscar hoje caminhos de interdisciplinaridade & tarefa que inclui um necessario acerto de contas com 0 Positi- vismo bem como uma reavaliacao de sua heranga. E bom en- tender, no entanto, que esta busca ndo significa a defesa de um saber genérico, enciclopédico, eclético ou sinerético, Nao se trata de substituir as especialidades por generalidades, nem 0 seu saber por um saber geral, sem especificagées ¢ delimi- tages. Assim, j4 que se esclarece um pouco mais o que vem a ser a unidade no interdisciplinar: 0 que se busca € a substi- 15 tuigtio de uma Ciéncia fragmentada por uma Ciéneia unificada, ou melhor, pleitcia-se por uma concepgdo unitéria contra uma concepsao fragmentéria do Saber cientifico, 0 que repereutira de igual modo nas concepgGes de ensino, da pesquisa ¢ da ex- tensio. Se, de um lado, € de se creditar ao projeto iluminista/po- sitivista uma valiosa contribuigao ao denunciar e superar a ge~ neralidade da construgio do Saber metafisico, livrando-nos as- sim do medo do mundo da naturalidade, impée-se hoje, de ou- tro, debitar-he 0 énus da fragmentacao do Saber, o que exige igualmente a prética de uma dentincia ¢ 0 esforco de superagin dessa etapa da evolugée do Saber. E isso nao s6 por motivos exclusivamente epistemolégicos mas também por motivos poli ticos. A concepgao fragmentéria da Ciéneia, tal qual foi conso- lidada pelo Positivismo no contexto do mundo contemporaneo, relaciona-se de forma intima com um proceso de divisio téc- nica do trabalho humano, que arrasta consigo uma correspon- dente divisao social do trabalho, dilufdo no taylorismo da agao ‘nico-profissional. Isso tem graves conseqiiéncias na estrutu ragio da sociedade € na alocagtio do poder politico entre as classes sociais. Além de base epistemoldgica do desenvolvi- mento cientifico ¢ técnico, o Positivismo passou a ser também © sustentéculo ideoldgico, extremamente consistente ¢ resisten- te, do sistema de poder social e politico reinante nas socieda- des modernas, sistema de poder este que se tem manifestado de modo fundamental come sistema de opressio, pelo que contra~ diz radicalmente as inteng6es declaradas do projeto iluminista de fazer da Ciéneia um instrumento de libertacao dos homens. 6 por isso que se pode afirmar com toda seguranga que nenhuma revisdo do Positivismo se faré de forma vélida num plano puramente epistemolésico, sem uma critica também radi- cal de suas aliangas € compromissos ideoldgicos. Nao basta tomé-lo tecnicamente mais rigoroso, como pretende 0 empitis- ‘mo I6gico, nem suplanti-lo no terreno das relagées epistémicas entre sujeito © objeto, como o faz, © mais das vezes, a Feno- menologia. Nao existe, isento de implicagées ideolégicas, um 16 positivismo superior. Na realidade, a critica epistemolégica ao Positivismo nao tem a ver apenas com critérios téenicos © éti- cos: ela € necessariamente politica, Em busca de uma atitude interdisciplinar E nessa linha de consideragées que o problema do inter- disciplinar se redimensiona, Nao se trata tanto de contrapor Epistemologin & Epistemologia, mas de|reavaliar © papel da Ciéncia e do Saber em suas relagGes com o poder. Dai, se uma visdo interdisciplinar, unilivada © convergente, se faz necessé ria no Ambito da teoria, ela serd exigida igualmente no émbito da prética, scja esta a pritica da intervengéo social, a pritica pedagégica ou a pritica da pesquisa Assim, @ questo da interdisciplinaridade se aguga no campo das Ciéncias Humanas, campo em que 0 Positivismo, para além do mérito de ter ousado tomar 0 homem como objeto da abordagem cientifica, pouco pode avangar no conhecimento do mesmo. Sua insisténcia nessa empreitada s6 tem acarretado © surgimento de novos grilhées de dominagéio e opressio. O homem é uma unidade que s6 pode ser apreendida numa abor- dagem sintentizadora ¢ nunca mediante uma acumulagao de visdes parciais. De nada adianta proceder por decomposigao, andlise © recomposicao de aspectos: esta soma nfo dari a tota- Tidade humana. E preciso, pois, no ambito dos estorgos com vistas ao conhecimento da realidade humana, praticar, inten- cional e sistematicamente, uma dialética entre as partes € 0 to- do, 0 conhecimento das partes formecendo elementos para a construgio de um sentido total, enquanto © conhecimento da olalidade elucidaré © préprio sentido que as partes, autono- mamente, poderiam ter. Isto nos chama a atengéo para uma série de conseqién- cias, que dizem respeito 4 interdisciplinaridade, relativas & nossa atuacdo nos varios campos ligados ao Saber. "7 A dissolucao das fronteiras entre as disciplinas Em primeiro lugar, as fronteiras entre as varias éreas e Ciéncias relativas ao homem ficam radicalmente diluidas. A compartimentalizagao do Saber € um residuo da conformacao positivista. A autonomia, 2 identidade propria de cada especia- lidade cientifica, néo pode ser levada ao extremo, sob pena de isolar, de forma inadequada, uma parte, um aspecto da realida- de humana, isolamento este que tende a uma objetivagao, que comprometeré a condicdo viva de sujeito de que o homem no pode se privar sem deixar de ser homem. Resgatando a idéia da finalidade pragmética de todo co- nhecimento, cabe dizer que as Ciéncias Humanas, ao buscarem claborar uma imagem cientifica do ser do homem, estio bus- cando construir um sentido para sua existéncia, estéo buscando atingir uma compreensiio. Contudo, para além da descoberta das estruturas objetivas da existéncia natural dos homens e da abertura de espagos para a intervencao técnica sobre elas — fins imediatos de cerater pragmatic — existe presente, nas Ciencias Humanas, uma tentativa de fomecer aos homens uma imagem da totalidade de sua propria existéncia, com 0 objetivo de Ihes possibilitar 9 domfnio de elementos, que contribuam para fomé-la cada vez mais adequada, no plano de sua expansio es pecificamente humana. Ora, esse objetivo retine 0 que 0 Posi- tivismo separou. Néo ha diivida de que ha uma convergéncia de todas as Ciéncias Humanas para uma visio sintetizante do homem, da sociedade e da Humanidade. Nessa espécie de “an tropologia geral”, as fronteiras das especialidades se diluem, a interdisciplinaridade pode se efetivar e a Ciéncia reencontra a propria Filosofia, A interdisciplinaridade na pesquisa Bm segundo lugar ¢ em consegiiéncia da afirmacao ante- rior, a produgéo da Ciéncia, de modo particular na grea das Ciéncias Humanas, exige um esforgo de interdisciplinaridade. Assim, também na esfora da pesquisa, a exigéncia da interdis- 18 7 ciplinaridade se faz presente. Isto nfo quer dizer a submissio das varias Ciéncias do Homem a uma metodologia inica, mas a sensibilidade de cada uma as contribuigées, enfoques pers- pectivas das outras. Trata-se, sem dtivida, de uma atitude de predisposigio & intersubjetividade, a uma comunidade constru- tiva de sentido. Toda conchiso obtida numa érea fica como ‘que incompleta, aberta, com “encaixes” preparados para rece- ber complementacfo de outra area. Conseqiiéncia para a prética social Em terceiro lugar, chega-se & conclusio de que, no con- cemente as préticas de intervengdo social, também se faz: pre~ sente a necessidade de uma postura interdisciplinar. Se 0 traba- Iho prético visando tornar as condigées concrotas de existéncia dos homens mais adequadas, de todes os pontos de vista, esti fundamentado numa concepgao articulada, construida mediante a contribuigéo deconhecimentos empiticos ¢ teéricos, nfo se reduzindo a puro ativismo espontanefsta, entiio € dbvio que es- sc trabalho tem de Ievar em conta a complementaridade de to- dos os elementos envolvidos. Toda acéo social, atravessada pe- la anélise cientifica e pela reflexdo filoséfica, € uma praxis e, portanto, integra as cxigéncias de eficécia do agir tanto quanto aquelas de elucidagao do pensar. Por isso mesmo, ela necessita da contribuigio miltipla ¢ complementar dos subsidios forne- cidos pelns virins Cigncias. A intervencio prévica é 0 cortes- pondente social e concreto da “antropologia geral” de que se falou acima, Pressup6e, de forma necesséria, uma convergente colaborag’o dos especialistas das varias dreas das Ciéncias Humanas, evitando-se assim uma hipertrofia, seja de uma fun- damentaco unidimensional, seja de uma intervengao puramen- te técnico-profissional. Acio pedagégica ¢ interdisciplinaridade Bm quarto lugar, cabe destacar a extrema relevancia da pritica da interdisciplinaridade na esfera do ensino. A questo 19 aqui se torna crucial, dado o efeito multiplicador da ado pe- dagégica. A Educacao é, aliés, 0 exemplo, dos mais evidentes, da nevessidade de uma abordagem interdisciplinar, seja como objeto de conhecimento ¢ de pesquisa, seja como espago de in- tervencao sociocultural. De modo geral, porém, como formar 0 profissional ¢ 0 cientista a nao ser sob um enfoque interdisciplinar? A luz do que j4 explicitei a respeito da natureza da Cigncia e da pro- dugio do conhecimento, € inevitével concluir que a auténtica iniciagdo & Cigncia e a prética da pesquisa passa, de forma ne~ cesatria, por uma metodologia vazada na interdiseiplinaridads. Lamentavelmente, os curriculos plenos dos virios cursos, na maioria dos casos, nfo garantem, com sistematicidade, essa exigéncia que € pertinente também para os cursos profissiona- fizantes, Conclusio Uma concepeio unitéria do Saber, tal qual visualizada numa perspectiva de interdisciplinaridade, nao significa que ceva ser constitufda uma espécie de superciéncia tinica nem que 0 real seja algo intrinsecamente, homogéneo ¢ indiferencia~ do. As diversas disciplinas continuam como vilidas perspecti- vas de abordagem dos diferentes aspectos do real. Para se constituir, a perspectiva interdisciplinar néo opera uma elimi nagio das diferengas: tanto quanto na vida em geral, reconhece as diferencas ¢ as especificidades, convive com elas, sabendo contudo que elas se reencontram ¢ se complementam, contra- dit6ria e dialeticamente. O que de fato est em questao na pos- tura de interdisciplinaridade, fundando-a, € 0 pressuposto epi temoldgico de acordo com 0 qual a verdade completa no ocor- re numa Ciéncia isolada, mas ela s6 se constitui num processo de concorréncia solidaria de varias disciplinas. Além disso, a interdisciplinaridade implica, no plano pré- tico-operacional, que se estabelegam mecanismos e estratégias de efetivacio desse didlogo solidério no trabalho cientifico, tanto na pratica da pesquisa, como naquela do ensino ¢ da 20 prestagdo de servigos. Nao basta, por exemplo, uma estrutura curricular com justaposicZo de disciplinas, se nfo houver em ago um proceso vivificador de discussio, que explicite as correlagées e reciprocidades de significacio. Finalmente gostaria de observar que a atitude interdisoi- plinar exige ainda a superago da preconceituosa afirmagao de incompatibilidade entre a Ciéncia ¢ a Filosofia. O Saber huma~ no vive hoje uma grande época tanto para a Ciéncia como para a Filosofia, que parecem ter encontrado 0 segredo de uma coe~ xisténcia pacifica, Essa convivéncia, porém, nao é aquela que decorreria da dissolugao de uma na outra ou do predominio de uma sobre a outra, ou ainda da pressuposigio da homogenci~ dade de seus objetos ou de seus métodos; a0 contrario, € aque- Ja da autonomia bem definida de cada uma, da seguranga da propria identidade assumida ¢ cultivada, Esto definitivamente superados tanto um metafisicismo dogmético como um cientifi- cismo exacerbado. Hoje, as Ciéncias dedicam-se, com a abrangéncia que seu método Ihes permite, ao desvendamento de todas as relagées, que tecem a realidade fenomenal, enquan- to a Filosofia se expande em todas as diregGes, com toda a li- berdade de investigagao que a razdo natural Ihe assegura, pro~ curando constituir 0 sentido, a significagio dessa realidade. Enfim, consagra-se 0 reconhecimento da multiplicidade dos olhares do espitito sobre uma realidade multiforme. Todavia, 10 mesmo tempo, consolida-se a conviegio de que essa multipli- cidade constitui uma rede nica a testemunhar, que, na origem de tudo, esta um espirito tnico a olla para um tinico mundo, Referéncias bibliogréficas ANDERY, bf. 4. ct ali, Pere campnencer cnc won persectva hist, Pig de facia, Lt Bapago.e TempollsDUC, 198s. a PAZENDA, N. hivegracao ctterdaciplnaridade no ensino rasta, Sio Paulo, Leoyoti 1979. “ — GUSDORITG, Paasé, présnt ot avenir de a recherche interdisiplinais, Rov. Sov. neste, ¥-29, 197 thes seleces de fone sont des sciences hnenaints. S rashoure, 1967. IAPIASSO, U, Interdiscipinardaite ¢ patologia do saber. Ria de Jeasito, lmao, 1976, a BSPECIALIZACAO VERSUS INTERDISCIPLINARIDADE: UMA PROPOSTA ALTERNATIVA (Um estudo sobre os Cursos de Pés-Graduagao no Brasil, enfocando a especializacéo em Servigo Social) Jeanete Liasch Martins de Sd* Introdugao A politica brasileira de desenvolvimento cientifico ¢ tec~ nolégico vem traduzindo os interesses governamentais, de for~ ma explicita, desde 1973, através dos Planos Basicos de De- senyolvimento Cientifico ¢ Tecnol6gico (PBDCT). ‘A formagao © © aperfeigoamento de recursos humanos sao destacados nesses planos como elementos de fundamental impor cia para o desenvolvimento nacional. Fstabeleceram-se microobjetivos a screm alcangados em todas as Areas do conhecimento, através de um processo global fe integrado de desenvolvimento cientifico, destacando-se as atividades de pesquisa como fonte de inovagées tecnolégicas num deteminado setor. A busca de maior autonomia ¢ de controle do processo de desenvolvimento nacional, atrelado a Ciéncia e & Tecnologia, © Poutorannla em Servigo Social pela PUCESP, Mestra ern Filosofia da Fdseagho, ‘Bitetora da Faculdade de Servigo Secial da PUCCA MP. 23 faz parte de um projeto politico liberal-burgués capitalista e tem suas rafzes na década de 50, quando se observa a preocu- pacdo com a sistematizagao do trabalho cientifico e tecnolégie~ co, Corresponde a esse perfodo a criagdo dos primeiros Cursos dle Mestrado (apesar da falta de uma conceituacio de P6s-Gra- Guagéo, através de dispositivos legais), bem como & instituigéo do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) da Campanha de Aperfeigoamento do Pessoal de Ensino Superior (CAPES). © modelo de desenvolvimento adotado no Brasil na dé- cada de 60 foi propicio ao estreitamento da relagéo Ciéncia- ‘Tecnologia ¢ Aperfeicoamento do Ensino Superior. E em meio & criagdo ¢ dinamizagao de recursos para via- bilizar o projeto desenvolvimentista, que se implanta oficial- mente, em 1972, a Pés-Graduagio stricto sensu em Servigo Social nas PUCs do Rio de Janeiro e Séo Paulo. Uma ripida anélise dos Planos de Desenvolvimento Cientifico Tecnolégico, no que tange a formagio de recursos humanos, toma evidentes suas pretensées basicas: — atingir um nivel de competéncia nacional para propor solugdes ¢ realizar projetos; — crescente capacitagiio cientifica; = maior autonomia tecnolégica; = voltar-se politica ¢ estrategicamente para a solugdo dos problemas nacionais, que resultem na acdo social adequada & melhoria das condigées de vida da populacio. Em resumo, 08 PDCTs buscam a ampliagio e solidifi- cagao da competéncia nacional associada & sua adequada utili- zacio. Trata-sc, na verdade, de mais um mecanismo do Estado brasileiro para regular suas relagdes com a Economia, situando a Cincia ¢ a Técnica como elementos de dinamizacdo das for- as produtivas. Diante do projeto politico ¢ das exigéncias govemamen- ais, como se colocam, de fato, os Cursos de Pés-Graduacdo stricto € tato sensu’? 24 E de se supor, em principio, que haja uma adequagao da dinfmica dos cursos & modernidade mesma do projeto e As suas exigéncias de eficdcia e otimizagio de recursos. No entanto, contraditoriamente, 0 que se constata, através dos resultados da Pés-Graduacio, & que 0 mesmo projeto que visa atender as demandas do sistema capitalista liberal-burgués tem permitido a formacao de intelectuais erfticos em relagio a esse mesmo sistema. Nas profissées, cujo caréter técnico se subordina a uma dimenséo polities de reforgo aos interesses populares, que & @ situagio especifica do Servigo Social, essa contradicio se acentua, acrescentando uma série de desafios. Um deles cor- responde & relacio entre © nivel I6gico € 0 politico-ideolsgico da formagio profissional. Longe de estabelecer um vinculo mecanicista entre o pli- no de estudos © a proposta politica, esta questio, sem divida, se coloca no seio das relagdes contraditérias. Corresponde & busca da racionalidade da matriz. teérico-metodolégiea, que in~ forma a organizagdo curricular de um curso pés-graduado, em relacio aos objetivos pretendidos. Implica a revisio do concei- to de Ciéncia ¢ a busca de modelos alternatives de prética edu- cativa. Se, de um lado, 0 Estado estabelece estrategicamente e de forma competente suas politicas educacionais, para atender ans interesses dominantes ¢ se hd contradigéo no processo, & preci- 0 reconhecé-la ¢ trabalhd-la também com competéncia e es- tratégia, 0 que passa a ser um dos atos politicos mais importan- tes © necessarios ao processo educative. Com freqiiéncia, os Cursos de Pés-Graduagao adotam, uma atitude muito critica em relagio & sociedade, porém, bas- tante consorvadora em relagio & maneira como tratam e refle- ‘tem essa mesma sociedade, em especial no que concerne ao en- sino ¢ &s formas de ensinar. Esta postura é extensiva aos Cur sos de Graduagao ¢ as Universidades em geral. 25 Com relagio aos cursos lato sensu, existe um agravante — @ sua natureza de “especializagdo” propriamente dita — que vai se somar ao elenco de fatores entio caracteristicos da formagao profissional pés-graduada: ___~ compartimentalizagao ¢ atomizacao do curriculo (orga~ nizacao dos programas por disciplinas relativamente auténo- mas); ~ individualismo nas pesquisas e escolha aleatéria de te- mas: ~ falta cle nticleos bésicos ou linhas explicitas de investi- gagio; ~ disténeia do curso como um todo e das pesquisas com ‘08 problemas sociais concretos; ~ consideragio da pesquisa apenas como atividade com- plementar aos cursos. Atenta a tais fatores, a Faculdade de Servigo Social da PUCCAMP procurou estabelecer orientagées bisicas para seus cursos de Especializacao, que devem buscar: ~ uma organizagio mais dinimica (orgéinica) do conhe~ cimento; um fluxo constante de inter-relago entre elementos leéricos € priticos € a unio progressiva de conhecimentos ¢ exigéncias da realidade social; — uma perspectiva interdisciplinar de conhecimento € operagao sobre uma realidade multifacética e complexa, ou se~ Ja, uma organizacio Iégica de disciplinas © contesidns, sem perda da identidade profissional; — a relagio e conexio entre profissionais do social, que atuam num determinado espago social, com um projeto sécio- politico semelhante; ~ a investigacio da totalidade de um processo definido por problemas sociais concretos, através de aproximagées sis- teméticas ¢ rigorosas; ~ projetos altemnativos de ago profissional, que reforcem 0s interesses das classes trabalhadoras ou o seu projeto politico, ___ Nessa perspectiva, a Faculdade organizou, em 1985, 0 Curso de Especializacéo “Trabalhos Comunitérios e Interdis- 26 ciplinaridades”, para profissionais do Servigo Social e de éreas afins, ministrando-o para duas turmas até 1988. 1. Antecedentes histéricos & Pés-Graduagao no Brasil A Pés-Graduagéo no Brasil desenvolveu-se, de forma sis- tematizada, na década de 1960 e s6 em 1974 teve sua politica devidamente explicitada, através do I Plano Nacional de Pé Graduagio, voltado, de forma prioritéria, para © aperfeigoa- mento de docentes do ensino superior. No perfodo anterior (1911 a 1961), a preparacéo para o magistétio superior, através do Doutorado, era episédica e sem grande expresso. A tradicional “‘cétedra” era provida por meio de Concurso de Titulos © Provas, sendo a tinica insti- tuicfo a que se atribufam prerrogativas ¢ vantagens, alé que a Reforma Francisco Campos, em 1931, equiparou o Concurso de Habilitagao 4 Livre-Docéncia ao Concurso de Professor Ca- tedritico. A Livre-Docéncia, instituida pela Lei Orgénica do Ensino Superior ¢ do Fundamental-Decreto n° 8.659, de 5 de abril de 1911, mais conhecica como Reforma Rivadavia Cor- reia, prestou relevantes servigos no preparo para o magistério superior, funcionando como verdadciro dispositive de f magdo de doutores ¢ aperfeigoamento de docentes (Sucupira, p. 480). Duas correntes universitérias influenciaram a P6s-Gra- duagao brasileira: a européia, adotada pela Universidade de Sio Paulo, ¢ a norte-americana, introduzida no Instituto Tec- nolégico da Aerondutica (ITA), de Sao José dos Campos, na Universidade Federal de Vigosa (MG) e na Universidade Fede- ral do Rio de Janeiro, © modelo norte-americano acabou prevalecendo, por razGes hisiGricas, que teremos oportunidade de ubordar logo em seguida. Antes, porém, € importante que nos detenhamos, ainda que rapidamente, na experiéncia da Universidade de So Paulo (USP), por sua relevancia no ensino superior. 27 ‘A USP, pautada nos modelos das universidades dlema ¢ francesa, j& havia acumulado, nas décadas de 40 e 50, expe- rigncias em micleos de pesquisa, exigindo dos docentes 0 titulo de Doutor. Foi na década de 30, no entanto, ou, de modo mais es- pecifico, desde 1934, que a Universidade de Séo Paulo se des- tacou, através da Faculdade de Educacio, Ciéncias e Letras, criada nesse ano e que procurava uma organizacio de ensino voltada para a pesquisa pura © os estudos nos dominios das Cigncias e das Letras, sem visar ao interesse profissional ime- diato, Este era 0 legado dos decretos de Francisco Campos, que, por sua vez, demonstrou uma concepsao hicida da insti- tuigdo universitéria, na década de 30, atribuindo-Ihe “duplo objetivo de equipar tecnicamente as elites profissionais do Pais € de proporcionar ambiente propfeio 4s vocagées especulativas € desinteressadas, cujo destino imprescindivel & formago da cultura nacional é o da pesquisa, da investigagio e da Ciéneia pura”(Sucupira, p. 486) A experiéncia da USP buscava a integragao de discipli- nas © a especializagao a partir de um niicleo bisico fornecido pela Filosofia, propugnado por uma unidade organica do ensi- no universitétio. Correspondeu, a nosso ver, a um dos momen- tos mais avangados na hist6ria do Ensino Superior no Brasil, em termos de coeréncia entre a proposta ¢ a ago, tomando-se com seleréucia » quadro tedtico, que a informava. No Brasil, no entanto, 0 “profissionalismo” tinha raizes profundas, sendo cultivado, hd mais de um século, evidencian- do contradigées: “os problemas suscitados continuavam sendo ttatados sem nenhuma formagao técnica e por técnicos sem ne- nhuma formagio cientifica” (Azevedo, p. 747). Esse fato, aliado & tradi¢ao antiuniversitéria brasileira ¢ & burocracia ministerial de um Estado cada vez mais yoltado pa- ra a racionalidade do sistema capitalista em expansio, contri- buiram para a descaracterizacao da experiéncia da USP e seu malogro enquanto projeto global. 28 ‘A Faculdade de Filosofia, Ciéncias ¢ Letras passou a ter cardter profissionalizante, voltado para a formacao de profes- sores do ensino secundério, incorporando, em 1930, a segiio de Educagéo da Universidade de Sio Paulo ¢ transformando-se, progressivamente, em “escola normal superior”. Nao obstante, a Universidade continuou desenvolvendo pesquisas sob a in- fluéncia européia. Digarse de passagem que as raz6es aqui apontadas sao as josie eae levaram a Unido a extinguir, em 1938, a Universi- dade do Distrito Federal, que havia criado em 1935 “A um Governo Central autonitario, cuja politica visave, antes de tudo, & eficdcia do sistema educacional como instru- mento de controle, nio interessava, apesar de as ter criado, manter universidades orgdnicas, integradas, com possibilidades cada vez mais amplas de autonomia, Afinal, a justaposigéo de faculdades ¢ institutos e a fragmentacio do saber eram mais convenientes ¢ acabaram prevalecendo” (Martins de S4, p. 77). Os reais interesses € compromissos do Estado tornam-se evidentes quando se destaca, no contexto, 0 que vinha ocor- rendo com © ensino profissionalizante, introduzido com a Constituicio de 1937, visando as classes “menos privilegia- das” (Nébrega, p. 33, Art. 129). Com 0 franco desenvolvimento do processo de industria- lizagio, mediatizado pelo Estado, 0 processo educativo sofreu, no Ambito dus uovas relagées sociais, uma reconversio. A qua~ lificagao e diversificagio da forga de trabalho passaram a ser exigéncias basicas dos distintos ramos industriais. Surge entio denominado “exército de reserva” para “o bem da nagio”, pelo Ministro Capanema’, que correspondia ao recru- tamento de técnicos para as empresas privadas, em escala pro- porcionalmente surpreendente, no periodo do Estado Novo, conforme se pode observar no Quadro 1. a taca apresentas por LOURENGO FILSIO om: Alguns 1 ot eras Sado ds fyobemas do Ensian Secundio, Revita Brastora ieBeudes Pedagaptecs, 80 29 Quadro 1 ‘Quadro domonstrativo do crescimento do ensino téenico-proflesfonalizants no Brasilentro 1933.6 1948 ey NP to ostabelecimantas le sino enico-ndusiiah — N'dematteuias 1990 138 14,080 vos (Fim do Estado Novo} hse aed Competia aos setores médios ¢ baixos da burguesia e & burguesia ascendente fomecer a forga de trabalho necessiria e, ara responder o interesse das forgas produtivas, era preciso que o Estado investisse nesse sentido. Com isto, 0 ensino supe- rior continuava sendo privilégio de uma restrita minoria, Apesar da descaracterizagio das fungées i pretendidas para 1 Faculdade de Filosofia, Cigncias e Letras, era praticamente impossivel ao Governo Federal suprimi-la de todo, 0 que 0 lo- vou, de forma estratégica, a criar, pela Lei n? 452, em julho de 1937, a Faculdade Nacional de Filosofia, padronizando o ensi- no superior destinado & preparagdo do magistério secundério, ek ue das finalidades estabelecidas para essa instituigéo ixa claro seu caréter elitista de profissionalizacdo: “preparar trabalhadores intelectuais para o exercicio Gio clon itd culturais de ordem desinteressada técr " . - ou técnica” (Nobrega, p. A investigacao cientifica e a elevagao do nivel da cultura geral, tidas como prioritérias nos fins do ensino universitatio, estabelecidos em 1931 (REITORIA DA USP, p. 61), passam a ser subsididrias na Faculdade-padrio de Filosofia, © ensino academicista e intelectualista tinha defensores ardorosos, como o grupo catslico de intelectuais leigos. Em Contrapartida, os educadores da Escola Nova propunham a re- forma das escolas ¢ preconizavam uma educagéo voltada para a 30 formagéo da forga produtora da riqueza nacional. Para estes, © ensino deveria corresponder as exigéncias sdcio-econémicas da época, ou seja, a0 processo econémico capitalista, Individualismo, liberdade de iniciativa, solidariedade & igualdade perante a Lei eram os ideais defendidos pela corren- te do escolanovismo, fundamentada na matriz. liberal. A influéneia de autores estrangeiros toma-se marcante, Anisio Teixeira defende 0 pensamento de Dewey; Fernando de ‘Azevedo liga-se a Durkheim; Lourengo Filho, Hermes Lima, Almeida Jtinior, entre outros, deixam-se influenciar por Killpa- trick, Decrolly, Kerschensteiner. Sfio idéias e valores gerados com base no estigio de evo- lugao das sociedades capitalistas mais avangadas que vao sen- do introduzidos em detrimento dos préprios valores culturais da Nagéo. A importagao de técnicas fundamentadas no ideétio libe- ral, seja para a Educagao, seja para os demais setores da Politi- ‘ca Social, corresponde, na verdade, & forca indutora da moder- nizagdo imposta pelo capitalismo mundial ¢ faz. parte da ldgica inserida nos processos de acumulacdo transnacionalizada do capital ¢ na diviso internacional do trabalho. E certo que este mecanismo ganha contornos mais nitidos apés a Il Guerra Mundial, com a influéncia politico-econémica ‘dos Estados Unidos, mas, jf na década de 30, 0 impulso exter- no tem repercussoes profundas no processo de acumulagao de capital, preparando o terreno para o doménio posterior da ideo- logia norte-americana no Brasil © que se impoe “de fora”, nessa época, é a crise mundial de 1929, que afeta a economia cafeeira, abrindo, de modo pa- radoxal, a oportunidade de investimentos industriais no Brasil, com o deslocamento de capitais para outros setores produtivos. A substituicao de importagdes, a queda vertical do poder aqui- sitivo externo, a politica de defesa do café, permitixam ao Es- tado a manutengao do poder aquisitive interno, 31 Criou-se uma situacdo praticamente nova na economia brasileira, com relagéo ao processo de formagao de capital ~ a preponderdncia do sctor ligado ao mercado interno, que passou a ser o principal fator dinamico. Entre 1929 e 1937, a pro- dugiio industrial cresceu em cerea de 50% e a produc primé- ria em mais de 40% (Furtado, p. 200). A burguesia industrial € financeira em ascenséio, consoli dando-se no poder, percebeu ser necessirio adotar técnicas de mando, manipular as diversas forcas politicas da sociedade, re~ definir as relagdes com outros paises, reformar setores estraté~ gicos do sistema econémico-social e politico, com vistas & ex- pansdo do sistema capitalista, Nesse sentido, sucederam-se as reformas institucionais, a comecar pela propria Constituigéio de 1934 ea de 1937. © que se pretendia, com essas reformas, era adaptar as relagdes de producdo as condicées ¢ tendéncias das forgas pro- dutivas ou &s condigées de formagao € desenvolvimento do ca- pitalismo industrial brasileiro. Com isso, as instituigées, ativi- dades, agées, classes sociais, individuos, enfim, a organizagio social passou a ser atingida pela raciofalidade propria do sis- tema capitalista (Ianni, p. 23-30). Destaca-se, nese processo, a influéncia cada vez mais intensa dos meios de comunicagdo de massa. Com o fim da II Guerra, restabelecem-se os lagos de de- pendéncia do Brasil com os demais paises, através do capital estrangeito — novo protagonista no cenfirio econémico brasilei- 10, introduzido com vistas & abertura de frentes novas de inves~ timento substitutivo, Reorganiza-se, no contexto internacional, a economia brasileira, com amplas repercussées sociais. © governo norte-americano, na disputa com a Unio So- vistica, investe nos paises latino-americanos através dos pro- gtamas de assisténcia técnica e financeira. A partir de 1942, 0 Brasil celebra convénios © acordos com os Estados Unidos, re~ cebendo, de forma intensiva, sua influéncia ¢ colaboragio no setor rural, educacional e industrial. 32 ‘A. preparago de especialistas brasileiros nos Estados Unidos, em diferentes setores, foi um dos meios de garantir a veiculacio da ideologia ¢ interesses norte-americanos. A re- percussio dessa formagdo se fez sentir de forma marcante no ensino, na pesquisa e, de modo especifico, na P6s-Graduagao. Como resultado da influéncia norte-americana criam-se, na década de 50, novas universidades: surge a preocupagtio ‘com a sistematizacio do trabalho cientifico ¢ tecnolégico; ins- talam-se os primeiros Cursos de Mestrado; criam-se © Conse- Iho Nacional de Pesquisa (CNPq — 1951) ¢ a Campanha de Aperfeigoamento do Pessoal de Ensino Superior (CAPES), es- ta incumbida do apoio A formagao de recursos humanos de alto nivel para a melhoria do ensino superior. Em seguida, surge 0 Conselho Nacional de P6s-Graduagao e, em 1958, a Comissio Supervisora do Plano dos Institutos (COSUPI), embrido da Re- forma Universitéria Brasileira de dez anos depois. 2. A origem ¢ desenvolvimento dos Cursos de P6s-Graduagao no Bras A criagio dos Cursos de Pés-Graduacio no Brasil cor- responde a uma resposta a nova ordem industrial e téenica in- troduzida através da politica econémica nacional-desenvolvi- mentista ¢ reforgada pela passagem deste modelo ao capitalis- mo associado, que traz consigo & Weologia da mdetuizagiv, a racionalizagio e eficiéncia da aco ¢ a institucionalizagao das empresas publicas e privadas. Atendendo 20 binémio educacdo-desenvolvimento, os e tudos pés-graduados passaram a fazer parte da planificagéo do Estado, no sentido de dar respaldo ao mercado de trabalho, através do quadro de docentes € pessoal técnico. Eta preciso agir em relagio & defasagem qualitativa ¢ quantitativa na for magdo de recursos humanos especializaclos, necessirios a indiistria brasileira, que se via obrigada a buscé-los no exte- rior 33, Funcionando por mais de uma década sem dispositivos legais que a conceituassem, a P6s-Graduaco passou, em 1965, sob a égide do modelo norte-anericano, a contar com um mo- delo nacional, sistematizado pelo Parecer 977/65 do Conselho Federal de Educagio, elaborado pelo Professor Newton Sucu- pira. As caracteristicas basicas desse modelo correspondem & distincée eaure @ Mestrado ¢ 0 Doutorado, o curso académico e ‘a elaboracdo de dissertacdo ou tese, além da diferenciagao dos dois segmentos: stricto sensu ¢ lato sensu. Ao primeiro segmento, 0 Parecer atribui, através de cur s08 de Mestrado ¢ Doutorado, 0 objetive da formacio de pro- fessores para 0 magistério universitério; de pesquisadores para © trabalho cientifico e de profissionais de alto nivel para os di- ferentes setores do desenvolvimento nacional. © segundo segmento refere-se a formagao de aperfeigoa- mento © cspecializagao restrita, através de cursos menos temifticos, que néo conduzem & obtengao de graus acadéi Dao dircito a certificado de freqiiéncia e aproveitamento. © Conselho Federal «le Bducagéio (CFE), ao referendar 0 Parecer 977/65, através do Estatuto do Magistério Superior, conceituou a Pés-Graduacao, explicitando seus fundamentos legais, definindo ¢ caracterizando Mestrado ¢ Doutorado © consubstanciando, em dezesseis conclusées, « parte coneeitual © de aplicagao® is os. Essas conelusies fazem referéneias a: — aprofundamento da formagéo graduada e obtengdo de grau académico; = niveis de formago pés-graduada — Mestrado e Douto- rado, com a respectiva finalidade; — teas do Doutorado e qualificacio do Mestrado: 2. Documenta (48) 67-86, 34 — duragao € estrutura dos cursos, rea de concentracio, exigéncias didético-pedagdgicas, tipos de trabalhos, exigéncia de dissertagdo ou tese; = requisitos para matricula, sclecao, niimero de alunos, regime de tempo; — requisitos para registro de diplomas.Em 1969, 0 CFE fixou normas para o credenciamento dos Cursos de Mestrado € Doutorado, pelo Parecer n? 77/69, que especifica exigéncias isicas, como: dlisponibilidade de recursos financeiros, insta- laces, equipamentos, laboratsrios, bibliotecas € outros requi~ sitos necessérios a um satisfatérie desenvolvimento dos enrsos. Ciencia, Tecnologia ¢ Bducagao estreitavam-se, em fungio da pressa do desenvolvimento ¢ de suas exigéncias quanto a respostas tecnolégicas répidas. Como base do sistema produtor dessas tecnologias, en- contra-se a formagdo de recursos humanos de alto nfvel para os ‘mais vatiados campos do conhecimento. virtude de escassez desses recursos, utilizaram-se mecanismos da CAPES ¢ do CNPq para a formagao de pessoal no exterior, 0 que permitiu consolidar, paulatinamente, os cen- tros nacionais de producdo cientifica, através de uma massa critica minima de docentes ¢ pesquisadores. Ainda na década de 60, sob pressiio do erescimento econdmico, surgiu, dentro do Banco Nacional de Desenvolvi- mento Econémico (BNDE), 0 FUNTEC, principal mecanismo de apoio financciro aos centros de pés-graduagao © pesquisa, que passaria a ser exercido, posteriormente, na década de 70, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tec nol6gico (FNDCT), administrado pela FINEP (Finaneeira de Estudos € Projetos). Com a promulgagéo da Lei de Diretrizes € Bases da Edu- cago Nacional (Lei 5.540 de 28/11/68), os Cursos de Pés- Graduagio tiveram definidas as suas caracteristicas, sob 0 pressuposto da “indissociabilidade do ensino ¢ da pesquisa” — concepgio humboldtiana a servico da produgao técnico-cienti- fica. 35 Em 1969, com a elaboracdo do I Plano Nacional de De- senvolvimento (I PND) definia-se, como um dos pontos bési- cos do Pafs, a transferéncia e criagdo de tecnologia, organizan- do-se 0 Sistema Nacional de Desenvolvimento Cientifico ¢ Tecnolégico (SNDCT). Elaborou-se o I Plano Basico de De- senvolvimento Cientifico e Tecnolégico (I PBDCT), que “fir- mava 0 empenho do governo em organizar, de forma sistémica, as atividades de Ciéncia e Tecnologia, além de buscar a supe- ragfio dos problemas mais graves com que se defrontava a co- munidade cientifica nacional” (Souza, p. 211). Em 1974, 0 CNPq vinculou-se A Secretaria de Planeja- mento (SEPLAN) transformando-se em Fundagao de Direito Privado, denominada Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolégico (CNDCT), com ampliagao de suas fungées ¢ responsabilidades. No mesmo ano, o Governo Fede- ral criou 0 Conselho Nacional de Pés-Graduagio (CNPG), a quem coube a incumbéncia da ‘‘formagao de uma politica na cional, o estabelecimento de metas prioritérias e proposicao de um orgamento unificado, que atenda ao planejamento em fungiio das necessidades de nosso desenvolvimento sécio- econémico” (CNPq, IIT PBDCT, 1984, p. 14). Figura 1 Fungoes da P6s-Graduagao (CAPES, p. 14) Formagio de OOF CZ. de | tiie rosramacio profisionais Centros de atividades eriativas permanentes 36 Em 1975, foi aprovado o Plano Nacional de Pés-Gra- duagio (PNPG), estabelecenclo fung6es para o ensino pés-gra- duado: — a formagao de professores para o magistério université- rio; — a formagao de pesquisadores para o trabalho cientifico; — a preparacdo de profissionais de nfvel elevado. Com a inter-relacdo das trés fungées, 0 PNPG pretendia transformar as Universidades em verdadeitos centtos de ativi- dades criativas permancntes, na medida em que o cistema de Pés-Graduagao fosse cficiente em suas fungées normativas, in- vestigando ¢ analisando “todos os campos ¢ temas do conhe- cimento humano e da cultura brasileira” (Ibid. A ctiagio do PNPG pelo Ministério de Educagao ¢ Cultu- ra (MEC) deve-se & instalagdo e expansio acclerada dos Cur- sos de Pés-Graduagio em todo o Pals, exigindo do Governo Federal 0 estabelecimento de medidas para disciplinar o seu desenvolvimento. Questées como “estabilizagio institucional, financeira, académica ¢ administrativa e problemas de nivel insuficiente de desempenho, além de problemas ligados a sua distribuigio geogréfica A sua expansio desordenada” (CAPES, p. 15), cor respondem aos antecendentes para a criagio do PNPG. Em sintese, 0 I Plano Nacional de Pés-Graduagao procu- raya: ~ definir a politica governamental a nivel do Pés-Gra- Guacio, como instrumento de correcio das insuficiéncias de recursos humanos, que se refletem diretamente na qualidade do ensino superior: — aprimorar o pessoal docente; — contribuir, de forma direta, no aceleramento da melho- ria qualitativa do setor profissionalizante; — propulsionar 0 desenvolvimento sdcio-econémico au- to-sustentado ¢ autogerado; 0 g a ge is 4 | esempenho iuago Pos. prac ono 9 (eo |UNIVERSIDADES PROPOSTA DE SOLUCAO PROBLEMAS DE PRODUCAO OBJETIVOS 5 FUNGOES — integrar © Ministério de Educagéo ¢ Cultura com os demais Srgios governamentais financiadores © com as insti- tuig6es publicas ¢ privadas de ensino superior ¢ de pesquisa (Sousa, p. 211). Atribuindo as atividades de Pés-Graduagéo uma im- portincia estratégica crescente, 0 1 PNPG estabeleceu como principais diretrizes: a institucionalizagéo do sistema de Pés- Graduagio; a clevagio dos padrées de desempenhos o planeja- mento da expansao. A década de 70 caracterizou-se pela abundancia de recur- sos ligados a Ciéncia e & Tecnologia ¢ com o atendimento de parte significativa dos interesses governamentais ¢ da comuni- dade cientifica. Conforme documento do MEC (CAPES, p. 9-95), no fi- nal de 1978, cerca de 58 instituigées do ensino superior pos- sufam Cursos de Mestrado ¢ Doutorado: ~ Regitio Norte ~ 2 instituigses ~ Regidio Nordeste — 7 instituicées — Regio Sudeste ~ 39 instituigdes — Regido Sul ~ 8 instituigées — Regio Centro-Oeste — 2 instituicées Essas instituigdes concentravam cerca de 876 cursos, sendo 648 de Mestrado (403 credenciados pelo CFE) e 228 de Doutorado (119 credenciados). (Os cursos na area de Engenharia apresentam, no perfodo de 1974 a 1978, 0 maior indice de credenciamento. Quanto & dependéncia juridico-administrativa, as insti- tuigdes federais concentram, no periodo, 50,46% dos cursos, as estaduais, 37,56%, ¢ as particulares, 11,98%. Nas particulares, 67% dos cursos concentram-se_nas areas de Ciéneias Humanas ¢ Sociais enquanto nas federais, 64% dos cursos voltam-se para Ciéncias Exatas, Engenharia, Ciéneias Biol6gicas ¢ Profissdes da Saiide. 29 No final de 1978, havia um total de 30.109 alunos vineu- lados 20 Mestrado ¢ 3.526 vinculados a0 Doutorado, seja com- pletando créditos, completando créditos ¢ tese, 6 elaborando ese ou com matricula trancada, © corpo docente, por sua vez, era constituide de 11.335 professores lecionando e/ou orientando dissertacao ou fese em Cursos de Pés-Graduagio. Destes, 9.935 eram professores pemmanentes e 1.400 visitantes. Com teses efetivamente defendidas © aprovadas havia cerca de 14.604 alunos: 13.438 mestres e 1.166 dloutares Na década de 80, intensificam-se os esforgos governa- mentais no sentido de implementar a Ciéncia ¢ ‘Tecnologia. Basta analisar, comparativamente, os orgamentos da Unio, no perlodo de 1979 a 1984, destinados a este setor. Participagao dos recursos da unio para _cieneia e tecnologia no orgamento total" ANOS ORGAMENTO DA ORGAMENTO DE CIENCIA PARTICH UNO E TECNOLOGIA PAGAO 1978 470,850,000 10.988.260 4980 877.863.000 21.717.783, 4981 1.888.500.000 92.817.706 1982 4.000.200.000 147.650.018 4983 _8,989,000.000 380,116,909 1984 21.586,600.000 744.7 Valores atualzedos pola clssicarko orgamentéria reaizada om De 1979 @ 1983, observa-se um aumento significative na articipagao cientifico-tecnolégica, Em 1981, por exemplo, ex- cluindo-se 0 Programa «le Mobilizagiio Energética (PME), clas- sificado, pela primeira vez, em Pesquisa Tecnol6gica, essa par- licipaco ficou em tomo de 2,31%. Ao ineluir-se 0 PME, o percentual de 1981 6 elevado para 5,34%, ou seja, dos Cr3, 1.885.500,00 mithdes de Recursos do Tesouro no Orgamento da Unio, Cr$ 100,834,59 milhdes foram dirigidos & Ciencia e ‘Tecnologia (CNPq, Orgamento ~ 1981, p. 13). 40 Ainda com relagéo a 1981, a distribuicdo dos dispéndios em Cigncia e Tecnologia, por subprogramas, era a seguinte: Pesquisa Tecnolégica — 71,34% Ensino de P6s-Graduagao - 8,65% ‘Administragdo Geral — 3,94% Participagdo Societétia - 3,67% Pesquisa Cientifica — 3,22% Em 1982, 0 volume global do Orgamento da Unio era de Cr 4 trilhées, sendo que Cr$ 145,5 bilhées ou 3,7% do total do orgamento correspondia ao setor de Ciéncia e Tecnologia Segundo 0 CNPq, 0 aumento em relacao ao ano anterior “de~ ‘verse, em parte, ao crescimento real das dotagées para projetos ¢ atividades em Ciéncia e Tecnologia ¢ também A melhor elas- Sificagao destes projetos ¢ atividades”. Programa de Mobilizagéo Energética representa- va 79,64% do subprograma Pesquisa Tecnolégica (CNPq, Or camento — 1981, p. 13). E importante destacar, nesses anos, © papel bastante oti- tnista que se atribufa ao Conselho Nacional de Desenvolvimen- to Cientifico e Tecnolégico ~ CNPq, “no sentido de melhorar, em todos os aspectos, as aplicagdes dos recursos em Ciéncia e Tecnologia” (Ibid., p. 14}, cumprindo, assim, “com eficién- cia’, as fungées para as quais foi designado em 1974, ao vin cular-se & SEPLAN, na época do infcio da crise energética, Segundo José Duarte de Araujo, Diretor de Fomento, 0 Conselho recebeu “uma fungio politica da maior relevancia como érgio de planejamento © coordenagao do esforco nacio- nal em busea do desenvolvimento cientifico ¢ tecnolégice (...). sem descuidar-se das suas atribuigdes tradicionais: 0 apoio & pesquisa, a formacao de recursos humanos ¢ a gestao eficiente de seus institutos (...) e, quanto mais eficaz fosse 0 CNPq no exercicio das suas atividades de apoio & pesquisa ¢ na exe~ cugéo de investigacio cientifica através dos seus institutos, melhor poderia ele exercer 0 seu papel como orgéo de coorde- nagao (CNPg, Apoio..., p. 3-4). Quanto a politica de formacao de recursos humanos para a pesquisa, observa-se que, entre 1976 a 1980, houve um au- mento significativo no mfimero de Bolsas de Mestrado e em particular nas de Doutorado, com tendéncia na reducio do per- centual das bolsas de aperfeigoamento e de iniciagfo cientifica Segundo 0 CNPg, “isto se deve implementagao, nesse perfo- do, do Plano Nacional de P6s-Graduagio (PNPG) que deu én- fase aos cursos de Pés-Graduacio em sentido estrito” (CNPq, Apoio..., p. 25). Nas Bolsas de Doutorado houve acentuado crescimento nas Ciencias Sociais ¢ redugao nas Engenharias e nas Ciéncias Agritias. Isto também encontra explicacao por parte do CNP. “no caso das Ciéncias Sociais, como ja foi observado, partiu- se de um patamar muito baixo em 1976, pois esta nfo era tra- dicionalmente uma érea prioritéria centro do CNPq. Durante 0 periodo considerado, entretanto, passou o Conselho a dar um apoio orescente as Ciéncias Sociais, em parte devido ao afas- tamento das fontes estrangeiras de financiamento entao verifi- cado” (Ibid., p. 26). Em 1979, 0 CNPq passou a ser o Srgao central do Siste~ ma Nacional de Desenvolvimento Cientifico ¢ Tecnolégico (SNDCT) ¢ 0 responsével pela elaboragéio do Orgamento da Unido para Ciéncia e Tecnofogia, atuando, com 0 apoio da Se- cretaria do Orcamento e Financas (SOF), junto aos érgios se~ toriais. Isto permitiu. segundo fontes oficiais, 0 “ do universo de C&T, na medida em que novas entidades passa- ram @ aplicar recursos no setor, bem como se verificou uma melhoria quanto & maior exatidao na classificagao dos recursos no Orgamento da Unio” (CNPg, Orgamento ~ 1986, p. 5). No perfodo de 1980 a 1985, como desdobramento do te- ma Ciéncia ¢ Tecnologia do TI PND, foi elaborado 0 II Plano Basico de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolégico do CNPg, “onde se fazem representar 08 Ministérios e drgdos de governo envolvidos com Ciéncia e Tecnologia, a comunidade cientifica e técnica ¢ a classe empresarial”” (CNPq, Ill PBDCT = 1980-1985, p. 7). 42 Atribui-se ao III PBDCT a caracteristica de representar “diretrizes de politica definidas de modo participative © que servirao para orientar as agdes dos setores ptiblico ¢ privado”, diferindo do 1 ¢ Il PBDCT, ‘que apresentavam as agdes do govemo sob a forma de programas, projetos e atividades prio- ritérias” (bid., p. 7 € 8). Enquanto o 1 PBDCT (1973/1974) e o I PBDCT (1975/1979) apresentavam, de forma mais otimista, os investi- mentos em Ciéncia e Tecnologia, o III Plano procura levantar uma série de pontos de estrangulamento na evolugao da polit ca especffica deste sor na décuda de 70: — falta de acompanhamento, na medida desejdvel, de transferéncia e absorgio, pelos setores produtivos nacionais ¢ outros segmentos da sociedade, das tecnologias desenvolvidas internamente ou adquiridas no exterior; ~ descontinuidade no proceso de consolidagio de uma estrutura cientifica e tecnolégica: ~ insuficiente articulagao do SNDCT; — earéneia de recursos humanos qualificados na pro- , no uso € difusdo do conhecimento cientifico ¢ tecnols- Longe de referir-se & crise do modelo econdmice & politi- co, que atingia 0 seu dpice, estes pontos so levantados no sen- tido de serem superados, reforcando-se a importincia da Cién- cia © da Tecnologia: “A importincia da Ciéncia ¢ da Tecnolo- gia deve-se ao seu valor estratégico, tanto para atender & ne- cessidade de elevagao significativa do bem-estar material € s0- cial da populagao brasileira, como para aumentar 0 poder de negociagio do Pafs no cenério internacional (...). A capacidade do Pais em superar as suas dificuldades internas ¢ as oscilagées da economia internacional serd tanto maior quanto maior for 0 dominio nacional do conhecimento cientifico & tecnolégico, sobretudo em areas estratégicas” (Ibid., p. 10). A partir de 1985, em fungao da reforma ministerial ¢ da criagao do Ministério da Cigncia e Tecnologia, o CNPq deixou 43 de coordenar 0 SNDCT e de exercer orientacio junto as uni- dades orcamentérias. “Limitou-se, assim, a somente levantar do Orcamento da Unio os projetos € atividades referentes a C&T” (CNPg, Oreamento ~ 1986, p. 5). Em 1986, 0 governo passou a incluir recursos correspon- dentes a Cr$ 211 trilhdes como previsio do déficit puiblico, es- timando uma inflagao de 140% para 0 perfodo. O Orgamento da Unido foi reajustado a partir dessa nova sistemética, O setor de Ciéncia ¢ Tecnologia passou a contar com Cr 17,5 tri- Ihées, ou seja, 2,8% do Orgamento da Unido. Isto representa, em relagdo a 1985, um erescimento real de 57% (Ibid., p. 5). A “Nova Republica” vem reforgar, mais de uma vez, 0 desenvolvimento tecnolégico. A distribuigio dos recursos por Srgaos evidencia este aspecto: — Ministério da Ciéncia e Tecnologia ~ 23,2% — Encargos Gorais da Unio — 18.4% Ministério da Agricultura — 16,6% Ministério da Educagao — 16,2% — Presidéncia da Repiiblica — 9,8% (Ibid., p. 13 ¢ 14) © maior volume de recursos concentra-se, também, nos programas de Citncia e Tecnologia (56,8%), seguicios do En- sino Superior (16,2%), Programas Integrados (10.4%), Plane~ jamento Governamental (8%) ¢ Promogio e Extensio Rural (4.4%). Quanto aos subprogramas, destacarn-se: Pesquisa Aplic: da (42,6%), Ensino de Pés-Graduagio (10,6%), Programagao Especial (10,4%), Pesquisa Fundamental (7.7%) © Adminis~ tragdo Geral (7,1%) (Ibid., p. 14). E interessante observar como a Ciéneia ¢ a Técnica, in- troduzidas com a politica econdmica nacional-desenvolvimen- tista, em 1930, foram sendo reforgadas nos perfodos posterio- res, seja de franco progresso ou de crise. No modelo do capitalismo associado, 0 bindmio ganhou impulso, com 0 Estado assumindo para si os encargos impostos pelo avango industrial, numa articulagdo entre a empresa esta~ tal, a empresa nacional ¢ a empresa internacional. Ao Estado 4 coube as fungées fiscais e monetérias; de controle do mercado de trabalho; de provedor dos chamados bens puiblicos ¢ sobre- tudo de: = “‘definigao, articulagio ¢ sustentacio financeira dos grandes blocos de investimento, que determinaram as princi- pais modificacdes estruturais da economia no pés-guerra; — criagdo da infra-estrutura ¢ produgao direta de insumos intermediaries indispensaveis & industrializacao pesada” (Les- sa ct alii, p. 68). Entre 1962 ¢ 1967, 0 crescimento econémico brasileiro atravessou sua pior fase do pés-guerra, Nao obstante, a Ciéa- cia ¢ a Tecnologia continuaram se impondo, concomitantemen- te & modemnizagao do aparato financciro, que implicou uma nova articulagao com o exterior ¢ a ampliagio do endividamen- to extemo. Apés 1967, a economia reage, observando-se um vigoro~ so ciclo expansivo, que se estende até 1973, sob a ajuda da politica fiscal ¢ monetéria do segundo governo militar. A forga que se impunha “de fora’, desde 1950 ~ 0 pro- cesso de transnacionalizacdo —, passou gradativamente a ter 0 papel de principal protagonista, ganhando realce e exercendo pressGes visiveis no sentido de: — “mudar 0 papel do Estado na economia, ora ampliando sua intervencao direta, ora fazendo-a diminuir; ~ centralizar 0 poder estatal no Executive, ‘aprofundar as crises de legitimidade, afetando os me- canismos tradicionais de constituicao © definicho do poder do Estado” (Sousa, p. 23). ‘As desproporeées inter € intra-setoriais do crescimento, no entanto, provocaram desequilibrios resultaram no fim do milagre cconémico ¢ na crise do modelo, agravada, em 1974, pela inflagao mundial e pela crise do petrSleo, A presenga estratégica, entretanto, do capital transnacio- nal nos setores fundamentais da economia foi se fortalecendo & determinando a natureza e os rumos de nosso processo econé- mico, bem como a debilidade do sistema politico brasileiro, ocupado e submetido a0 FML 45 Nao obstante a crise, impunha-se a Iégica do capital transnacional de maximizacao do uso da Ciéneia, do uso da ‘Tecnologia mais avangada, da capacidade de produzir bens so- fisticados em escala de massa e em nivel mundial. Com isto, fica clara a evolugio da Pés-Graduacio no Brasil, respaldada pelo desenvolvimento, cada vez. mais cres- cente e necessério ao sistema, da Ciéncia e da Tecnologia, Se os cursos técnicos sio privilegiados, em fungao do processo econémico, os cursos das Ciéncias Sociais ¢ da area de Educagio, por sua vez, vém conquistando maiores espagos ‘¢ mostrando-se importantes. do ponto de vista estratégico, con- forme o IIT PBDCT — “Na verdade, @ capacitacao técnico- cientifica, essencial & evolugao econdmica de uma Nagio com implicagSes diretas no campo social, politico ¢ cultural, depende, sob muitos aspectos, da atuac3o do sistema educacio- nal como um todo, exigindo a introdugdo de orientagdes es- pecificas €, conseqiientemente, a correcio das distorgdes © 0 suprimento de lacunas detectadas"(CNPq, Ill PBDCT ~ 1982, p. 1D. A anilise da P6s-Graduacio, como parte da Politica So- cial na area da Educagao ¢ a explicitacio de sua ideologia no contexto hist6rico brasileiro oferecem indicadores mais do que suficientes para se compreender 0 Programa Nacional de P6s-Graduacdo como uma das estratégias utilizadas pelo Esta- do brasileiro, voltada para o desenvolvimento econémico, atuando, conseqiientemente, “ina correlagdo de forgas sociais ¢ seguindo as determinacées daguele desenvolvimento” (Vieira, 1983, p. 10) Na pritica, no entanto, essa relagio néo & harmoniosa, Beuy Antunes de Oliveira, em sua tese sobre a Politica de Formagio de Professores do Ensino Superior (Oliveira, 1981), revela 0s aspectos essenciais da questo ¢ seus resultados con- traditérios, Embora “determinada pelos interesses, que regem © processo produtivo da instancia econdmica”, elaborada “pelo aparato estatal”” © “realizada no Organismo da Sociedade Civil =a escola...”, © produto de sua tealizacao corresponde a uma postura contestatoria, critico-reflexiva frente & situagiio sécio~ 46 politica do Pais. A Politica de Formagio de Professores do En- 10 Superior contribuiu, dese modo, “de um lado, para a ‘conservagao daqueles interesses que a determinaram e, de ou- tro, para a propria negaciio desses interesses ¢ da situago que 6s alimenta” (Ibid., p. 94-95). Quando nos reportamos & Pés-Grachagio em Servigo So- cial, existe uma varidvel, que é peculiar a profissdo em sic que reforga, em principio, essa afirmagio. Trata-se do projeto pro- fissional, que ganhou contornes aftides com o movimento de reconceituagdo e que acentuou a caracteristica de contradigéo do Servico Social: uma profissio, que intervém nas relagiies soviais produzidas e reproduzidas no cotidiano da vida dos se- tores populares, a partir de uma demanda patronal; uma pratica de intervencao, que, ao mesmo tempo em que operacionaliza as Politicas Sociais, estimula a leituta critica do cotidiano vivido pela classe trabalhadora, contribuindo para a reflexéo conjunta © a organizagio popular, com vistas & superagao de uma si- tuagio de dominacao ¢ marginalidade ¢ 2 participagio efetiva na vida politica, econdmica € social na Nagao. 3. A Pés-Graduagao em Seryigo Social — a expansio dos cursos de especializagao Em relagio a outros cursos, a Pés-Graduagio em Servico Social foi implantada, de modo oficial no Brasil, tardiamente, em 1972, pela PUC da Rio de laneiro e PUC de Sao Paulo. IE entio, os profissionais recorriam aos centros de P6s-Graduagio dos Estados Unidos, Franga, Inglaterra, Holan- dae Canadé (Ammann, p. 405). Curso em nivel de aperfeigoamento ¢ especializagio eram oferecidos, desde 1966, pela Universidade Federal do Rio de Ja~ neiro para docentes das universidades brasileiras (Ibid., p. 405), Um dado histérico ainda nao divulgado coresponde & tentativa de organizagao do primeiro Curso de Pés-Graduagao em Servigo Social no Brasil, em nivel de Mestrado, na Facul- dade de Servigo Social da Universidade Catéliea de Campinas 47 em 1968, que encerrou sua etapa inicial em setembro do mes- ‘mo ano, com 40 alunos provenientes de Campinas, Sao Paulo, Sorocaba, Ribeiro Preto, Lins, Juiz de Fora ¢ Florianépolis. Em razio de nio ter sido regulamentado e reconhecido ofi- cialmente no teve continuidade. Sua organizacio se deu em duas partes: tedrica (ciclo ge- ral Basico obrigatorio e ciclo profissional) e prética (exercicio profissional em campo). Os alunos pertenciam a duas catego- rias; regulares sem créditos e regulares com créditos, Ao final da primeira etapa, foram apresentadas nove: mo- nografias abordando os seguintes temas: = “Grupo Social ~ realidade valida para integragio do Servigo Social.” — “A. cooperativa na ago para 0 desenvolvimento ‘econémico.” __~ “Relagées entre a Teoria de Desenvolvimento Econd- mico ¢ a Teoria do Desenvolvimento da Comunidade."” ~ “A supervisdo no campo do Servigo Social.” — “A comunicagio nos programas de Desenvolvimento © Organizagio de Comunidade.” = “‘Auséncia de planejamento sécio-econémico como fa- tor de subdesenvolvimento dos paises da América Latina.” — “O cooperativisme como instrumento no Desenvolvi- mento de Comunidade.” “Tratamento de Casos em Grupo.” ~ “A técnica da motivagéo a luz. da Antropologia Cultu- alo.” Em 1976 ¢ 1977, organizaram-se os Cursos de P6s-Gra- duagio da UFRI da PUCIRS, seguidos, em 1978 @ 1979, dos Mestrados da UFPB e da UFPE. Existem hoje, em funciona- mento, seis Cursos de Mestrado e um de Doutorado — 0 da PUC-Séo Paulo, implantado em 1981 (Ammann, p, 406) 3. UCC, Faculdade de Servige Social. Anas wo Consetho Ds ye cereale i to Consetho. Departamenta de 48 Segundo Safira Ammann, a demanda aos mestrados, nos primeiros anos, se deu primordialmente por parte dos docentes universitérios do Brasil e de outros paises da América Latina. Poucos cram os profissionais oriundos das instituig6es (Ibid., p. 406). Foi na década de 80 que a Pés-Graduagio em Servigo Social ganhou novo vigor com os cursos /ato sensu ou de es- pecializacao. De 1980 a 1986, organizaram-se treze cursos em varias universidades brasileitas, conforme Tevantamento reali- zado pela ABESS *, Hoje, existem cerca de 16 cursos dessa aturoza, entre os esporadicos ¢ a8 permanentes , Segundo 0s participantes dos Encontros Nacionais de Ensino de Pés-Gra- duagao em Servigo Social, promovides pela ABESS, esta tem sido a forma que vem atendendo mais efetivamente & qualifi- cagio docente e profissional, por considerar as demandas re~ gionais e locais, permitindo um resultado mais ripido & mais econémico em termos financeiros, se comparado ao Mestrado. Evita ainda 0 acesso a0 Pés-Graduagao stricto sensu apenas ‘como meio de atualizagao profissional, o gue leva conseqiien- temente 20 abandono do curso sem a devida defesa de tese. Diante da expansio dos Cursos de Pés-Graduago em Servigo Social e da pretendida qualificagéo docente e profis- sional, duas questées bisicas se colocam: — Como se expressa, ao nivel do projeto de curso, essa ‘qualificagdo que, contraditoriamente, busca atender, de um La- do, “so bum éaitu de uma politica de pesquisa cientifiea e tec- nolégica bem como a expansio do ensino superior” e, de ou- tro, “A fungdo politica radicalmente erflica em relagio a si- tuagao conjuntural"”? — Com que base epistemoldgica ver se organizando os curriculos de Pés-Graduagio em Servico Social para responder a esses desalios? 4. ABESS. I Enconro Nacional de Ensino de Po-Gradgdo em Serica Soci ia de laneiro, malo 198, 5. MICS Enenntno Nacional se Ensina de Pés-Craduacao enn Servo Sociot Rio de faneio, ter. 1988. 49 Bssas, entre outras, foram as principais inquietagdes que se colocaram durante o planejamento € © desenvolvimento do Curso de P6s-Graduacio lato sense sobre “*Trabalhos Comu- nitérios ¢ Interdisciplinaridade”, promovido pela Faculdade de Servigo Social da PUCCAMP, no periodo de 1985-1986 ¢ 1987-1988. 4, “Trabalhos Comunitarios ¢ Interdisciplinaridade” — uma proposta pretensamente estratégica Estratégica em que sentido? A comecar do préprio tema de um curso de “especializacao”, que sugerisse a sua propria superacdo, ou seja, o rompimento com os limites impostos as disciplinas pela racionalidade cientifica do nosso século. A in- terdisciplinaridade passou, portanto, a ser um dos eixos fun- damentais do curso, no sentido de proposta ¢ de organizagao curricular, A Ciéncia, hoje, justifica ¢ fundamenta qualquer empre~ endimento téenico-cultural, constituindo-se em forga produtiva extremamente eficaz. na sociedade capitalista (Japiassu, 1875). B preciso explicitar a incidéncia nociva da racionalidade ciontifica sobre 0 mundo vivido, que © toma cada vex mais ir racional e alicnante em seus fins. No plano social, a racionali- dade veiculada pela Ciéncia nao é de tipo global ou totalizante. No politico, nao € capaz de fornecer métodos para gerir a so- ciedade (Ladriére, 1978). 6 preciso ir além, recorrendo & ra- cionalidade filoséfica, globalizante, que evoque uma totalidade de sentido e de significag Questionar a Ciéncia nio significa, no entanto, neg: repensé-la numa nova dimensio, ou seja, em seu significado sociocultural, em seu cardter instrumental em relacao a socie~ dade. E estabelecer um vinculo entre 0 process de producio. ntifica ¢ as necessidades sociais. Em termos de organizacdo curricular, repensar a Ciéncia implica outra estratégia: a adogio de um modelo alternativo de curriculo, no mais assen- tado cm bases mecanicistas ou em matérias isoladas, mas num desenho modular integrative que pesmita: 50 — a integeagio docéncia-investigagie-servico, rompendo com 0 cléssico isolamento escola-sociedade; ~ a organizacéo de médulos como unidades inter-relacio- nadas; — a abordagem interdisciplinar progressiva da realidade hist6rico-estrutural, na qual teoria e prética se vinculam numa dualidade, que, através do proceso dialético, possibilita inte- rar 0 conhecimento; — a anilise hist6rico-critica da pritica profissional con- creta, explicitando as priticas decadentes, dominantes emer ‘genes; — a configuragdo dos objetos de transformacéo, a partir da anilise da pritica profissional. Em relacéo a0 objeto de transformacdo, 0 conhecimento no provém apenas da percepgao, nem tampouco da sensagio, mas da totalidade da acao do sujeito, que interatua com 0 obje- to num contexto determinado. A Ciéncia, neste caso, no é acumulativa, sendo critica e transformadora, Formalmente, o curso “Trabalhos Comunitétios Inter- disciplinaridade” apresenta uma estrutura que ndo difere muito dos demais Cursos de Pés-Graduacdo, Fstrategicamente, no entanto, destaca-se por sua organicidade © apresenta uma dindmica integrativa diferente, através da “Pesquisa Orienta- da’ nos trés somestres, ¢ do seminério ¢ wabalho grupal de conelusao apresentados a0 final do curso. Esirutura do curso Perfil do pés-graduando que se propde formar: ‘A expectativa que se tem em relagao ao pés-eraduando gue seja capaz de: ‘ompreender a importincia ¢ a necessidade nos dias atuais de se romper com 0s limites impostos pela especiali- zacao cientifica, abrindo-se a uma relagao de reciprocidade © 31 de mutualidade entre as disciplinas, que corresponda a uma atuagao social efetiva numa realidade em mudanga. ~ Substituir a compreensio fragmentaria pela unitéria do ser humano ¢ da sociedade. ~ Superar a dicotomia ensino-pesquisa, tendo a oportuni- dade de analisar, sob a 6ptica da interdisciplinaridade, uma ex- periéncia de trabalho comunitétio, Q curso tem como objetivo. = Complementar a formacio dos profissionais de Servigo Social ou de outras especialidades, cuja atuagéo em comunida- de oxija conhocimentos aprovados na diva du Set vigu Social. ~ Propiciar condigdes para a realizacio de estudos ¢ pes- guisas na area do Servico Social ou em nivel interdisciplinar, que permitam a reflexéo sobre o significado mais profundo dos trabalhos comunitérios na atual conjuntura brasileira. = Proporcionar oportunidade de compreensio dos traba- Ihos comunititios como um processo integrado, com objetivos gérais a serem alcancados pelas diversas profissées, especiti- cando © papel que cada uma representa no conjunto. ~ Subsidiar o Curso de Graduagio, mantendo constante intercimbio e difundindo informagses cientificas. — Estimular a publicagao de pesquisas ¢ periddicos — Divulgar ¢ transferir, de forma efetiva, os resultados das pesquisas para a comunidade, As disciplinas que 0 compdem corespondem a: ~ Metodologia do Trabalho Cientifico, que busca ofere- cer subsidios ao curso como um todo € as demais disciplinas, através de orientages para o estudo, andlise ¢ interpretagio de textos, elaboracdo de pesquisas ¢ seminérios dentro do rigor ciemtifico. ~ O Intelectual € 0 Povo na Evolugio Histérica do Tra- batho em Comunidade, visando: © Oferecer elementos para a andlise © reflexo sobre as varias formas de trabalhos comunitérios no Brasil, identifican- do as determinagées histricas de sua formagao e evolugéo. 52 © Explicitar a ideologia subjacente aos trabalhos comu- nitétios. © Analisar o papel do intelectual e o significado da par- ticipacao popular nos trabalhos comunitérios. © Clarificar os novos caminhos do trabalho comunitario, no sentido de aplicagao racional do poder popular. ~ Estado e Movimentos Sociais, objetivando: © Analisar a natureza, a ideologia o papel do Estado Capitalista, bem como as relagdes que estabelece com as clas- ses sociais dominantes e dominadas. © Resgatar, historicamente, as lutas sociais no Brasil, a partir do avango do processo de industrializagao e urbanizagio. © Caracterizar a aca do Estado diante dos movimentos sociais. — A Questia Tebrico-Metodolégica dos Trabalhos Co- munitarios, que busca: © Recuperar, historicamente, © movimento te6rico-meto- dolégico nas Ciéncias Sociais, explicitando 0s pressupostos fi- los6ficos e politicos © Verificar como as perspectivas teérico-metodolégicas rebatem nos trabalhos comunitérios © na aco especifica do Servico Social, © Explicitar os procedimentos, instrumentos ¢ téenicas nas diferentes perspectivas de trabalho comunititio. — As Politicas Sociais no Brasil Contemporaneo, voltadas para a anilise das politicas sociais em sua relagao com a conjun- tura sécio-econémica¢ politica do Brasil contempordineo. — A Acao Interdisciplinar em Comunidade, que se desdo- bra em A questiio da Interdisciplinaridade (abordagem filos6- fica), visando: ; © Oferecer elementos, gue permitam a reflexdo episte- molégica sobre os processos de producio, desenvolvimento & articulagao dos conhecimentos cientificos. © Analisar 0 processo através do qual as disciplinas cientificas, em sua especificidade, voltam-se para um projeto comum de trabalho comunitério, 33 O segundo desdobramento corresponde a: A Contribuigdo das Disciplinas: Servigo Social, Antropologia, Pedagogia, So- ciologia, Psicologia Comunitiria. Sio conferéncias que tem como objetivos: — Proporcionar a oportunidade de se analisarem experién- cias de aco interdisciplinar em comunidade. = Explicitar 0 papel especifico das disciplinas nos traba- lhos comunitérios, delimitando as éreas cle atuagao ¢ os objeti« vos comuns. Como terceiro desdobramento, temos a apresentacio de Uma Proposta de Trabalho Interdisciplinar em Comunidade, em forma de seminarios, como resultado da pesquisa orientada, A disciplina Pesquisa Orientada, por sua vez, tem como objetivos — Permitir a oportunidade do exercicio da pesquisa e de sua compreensio como: © Base para a acao profissional e a produgio teérica, © Meio de analise critica € reflexiva sobre a realidade social © Meio de relacdo teoria-pratica. © Meio de prestagao de servigt a comunidade. Bstratégia de integracdo curricular A. integragao curricular no Curso de Espevialicagao “Trabalhos Comunitérios ¢ Interdisciplinaridade” & desenca- deada pela disciplina Pesquisa Orientada, que proporciona aos grupos (interdisciplinares, de preferéncia) a oportunidade de uma investigaedo progressiva de “micleos tematicos” ligados as disciplinas que véo sendo ministradas. Esses nticleos temiti- cos correspondem aos médulos ou unidades integrativas assim distribuidas: I? Semesire — As diferentes formas de trabalhos comunitérios no Bra- sil. 34 ~ Elementos teérico-metodol6gicos: © a matriz tedrico-metodolégica, que informa os traba- thos comunitérios no Brasil; © a relacdo teoria-pratica; © procedimentos, instrumentos ¢ técnicas nas diferentes perspectivas tedrico-metodolégicas dos trabalhos comunitarios. 2° Semestre ~O contexto sécio-histérieo. —O papel do Estado. —0 papel do intelectual. — 0 significado da participagao popular. 3% Semestre ~ Relago do Desenvolvimento de Comunidade com as Politicas Sociais nos diferentes perfodos histéricos. — A interdisciplinaridade no Desenvolvimento de Com nidade, a contribuicao das disciplinas ¢ a especificidade do Servigo Social. ~ Uma proposta de Trabalho Interdisciplinar em Comuni- dade. A investigagéo resulta num trabalho de conchusdo, com base em andlises bibliograficas ¢ documentais, depoimentos, selegio ¢ anélise de uma experiencia interdiseiplinar em comu- nidade ou com a populagao. O seminério comesponde & opor- tunidade de socializagao ¢ aprofundamento das pesquisas. interessante observar que @ grande maioria das pesqui- sas realizadas, ao configurat 0 objeto de transformagéo, a par tir da anélise da prética profissional, no caso, da pritica inter- disciplinar, dada a estreita relagéo teoria-prética, desencadeou um processo caracterizado por: revisio na postura profissional frente & questao da in- terdisciplinaridade, ndo s6 dos pesquisadores, mas dos prolis- sionais eventualmente abordados. — interesse, valorizagao ¢ comprometimento gradative dos pesquisadores com as ages interdisciplinares a0 nivel das ins- 55 tituigdes € nos trabalhos comunitérios, a ponto de alguns gru- os continuarem a atuar nos locais de pesquisa, apés o término do curso. Esses resultados, aliados & qualidade dos trabalhos apre- sentados, representam uma conquista para a Unidade de Ensi- no, em relagéo ao seu Projeto Pedagdgico e confirmam a im- portancia de um curriculo modular integrativo, sobretudo em Cursos de Especializagio, que, por sua natureza, tendem a acentuar a fragmentagaio do Saber. Conclusio Diante dos desafios postos pela contraditéria posigao en- tte a racionalidade do sistema ¢ a racionalidade de um projeto alternativo de sociedade, hé um longo caminbo a ser percorri- do. E preciso avangar ¢ até ousar. Isso, se néo quisermos nos tomar presas sutis de um mecanismo ardiloso, que nos faz girar em toro de nds mesmos, levantando bandeiras de transfor magéo. Desta forma, nfio estaremos nada mais do que reprodu- zindo as estratégias da modemidade ¢ a cla servindo, ou, entio, ensaiando criticas isoladas, que se justificam apenas pe- Ja contradigéo, que é inerente ao proceso. Referéncias bibliogrficas AMMANN, Satica. “A produgo cientifiea do Servigo Social no Bra- sil”, Tn: CWPq — Avatiacdo © Perspectivas-82, Servieo Social 1982, AZEVEDO, Fernando. A Cutara Brasileira. Brasilia, Ea. Universica- dede Brasilia, 1983, CAPES, Produtividade dos Cursos de Pés-Graduagiio no Brasit-1975, Brasilia, MEC, 1977. —— .. Simagitv amat da pés-graduacdo no Brasil-1978. Brast- bia, MEC, 1979, CNP. MI Plano Basico de Desenvobimento Cientffico e Tecnoldgico — 1950-1985, SEPLAN, 1980, —— + Orcamento da Unido para Ciéncia ¢ Tecnologia = 1981 Grasilia, SEPLAN, 1984 56 ) ) NPY, Desempento do Seior no Pertode 1976-1980: Apoto ao Deser volvimento Cienifieo, Brastlia, SEPLAN, 1981 —__. Orcumemo da Unido para Ciéncia ¢ Fecnologie-1982 Anotgdes e Destagues. Brasilia, SEPLAN, 1982. ; = lif PBDCT — Acao Programada em Ciéncia e Tecnologia: Desenvolvimento Cienstfico e Formagdo de Recurses Humanas Brasilia, SEPLAN, 1984. —__- Oreanenio da Unite pure Ciencia ¢ Tecnotogia198 ~ Anotacdes ¢ Destaques. Brasilia, SEPLAN, 1984. ———_.« Orcamenio da Unido para Ciencia e Tecnologia 1966, Brasilia, SEPLAN, 1986. CONSELHO FEDERAL DE EDUCACAO. Semindrio de Assuntos Universitarios: lee aos ete refle 1979. io € debate, Brasilia, MEC/DDD, = Reunido Conjunte dos Consethos de Educacio: quince anos de intercdmbio e colaboracto ~ 1963 @ 1978, Brasilia, MEC/DDD, 1980. Amacdo do Consetho Federale Educacéo. Relatirio de 7987. Brasilia, MEC, 1982. FURTADO, Celso, Farmacdo Eondmica do Brasil. 16. ed Nacionail, 1979. IANNI, Octavio. Potition ¢ Revoluciio Social no Brasil. Rio de Janeiro, Civilizacao Brasileira, 1965, JAPIASSU, Hilton. O Mio da Nesralidade Ciensfica, Rig de Janeiro, Imago, 1975. LADRIERE, Joan, PHosofa e Prévis Ciensffice, Rio de Janeiro, Fran- cisco Alves, 1978, LESSA, Carlos et alii, Desenvolvimento Capiialista no Brasil: Ensaios Sobre a Crise. So Paulo, Brasiliense, 1982. MARTINS DE SA, Jeanete Liasch, O Projeto Gerador ¢ a Ago Ini ‘cial da Pontificia Universidade Catdtica de Campinas. Campinas, PUCCAMP, 1984, Dissertagio de Mestrado. MELLO, Joao Manuel Cardoso, O Capitalism Tardio. a0 Paulo, Brasiliense, 1982. MESSICK, Rosemary Graves et alli, Curriculo: Andtise ¢ Debate. Rio de Janeiro, Zahir, 1980, OLIVEIRA, Betty Antunes. O Estado Autoritario Brasiletre ¢ @ Ensi- no Superior. Sio Paulo, Cortez Fditora: Autores Asociados, 1981. PANZSA, Margarita, Ensefianza Modular. Perfiles Educativos. Méxi- co, Centro de Investigaciones X Servigos Educativos de la UNAM, enero/febrerofinarze 1981. PRESIDENCIA DA REPUBLICA. 111 Plano Nacional do Desenvol- vimento, Brasfia, Svctetaria de Comunicagéio Social, 1980, REITORIA DA UNIVERSIDADE DE SAO PAULO (ed.). Legis Jacdo Federal do Ensino Superior ~ 1825-1952. S40 Paulo, 1953 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGOGICOS, v. XIV, nf d0, set/out, 1950. fo Paulo, 57 NDE, Sérgio Machado, Pés-gradvasiio, Pesquisa ¢ Servigos: Ca- sacteristiens © Tenclencias. Revista Estulos e Debates, Brasilia, CRUB (1), 1978 SOUZA, Edson Machado de. “A Pés-graduagio na Universidade Bra sileita”. In: Crises ¢ Desafios no Ensino Superior do Brasil, Porta- Jeza, Ba, UFC, 1980. SOUZA, Herbert José de. Como se faz Andtise de Conjunara, Petré- polis, Vozes, 1984, SUCLPIRA, Newton. A livre-docén ‘sino superior brasileiro. In: Dez Anos de Refievto e Debate, CFE, Brasilia, 1979. TYLER, Ralph W. Principias Bésicos de Currieulo e Ensino, Porto ‘Alegre, Ed. Globo, 1977 VANDICK, Londres Nobrega, Enciclopedia da Legistacdo do Lnsino. Rio de Janeiro, Lex, 1952. VIEIRA, Bvakdo, Esvadlo e Aiisérie Social no Brasil: de Genillo « Get ‘el, So Paulo, Cortez, 1983. 1: sua natureza © pasigito no en- mindirio de Assuntos Universitirios: 58 OS MOVIMENTOS ECOLOGICOS E A INTERDISCIPLINARIDADE* Maia Therezinha Corréa Marques Marilena Pinto Ramalho** — “Expansao industrial agrava a poluigao” = “Os rios poderdo morrer se continuar 0 despejo de po- Iuentes orgénicos e quimicos” — “Florestas tropicais. Destruigéo completa até o final do século” ~ “‘Agress6es a0 meio ambiente persistem em todo 0 pags" — “Entidades ecolégicas Iutam para sobreviver” Estas manchetes, se por um lado demonstram que as perspectivas de defesa do meio ambiente sao sombrias, por ou- © Fate antigo ¢ feuto cas seflendcx referentes& tematica apresentada om Semng- raballios tldade de Serge ‘Slvia Batssaco: Marlanecia Govchini Fiplolir Slrica Paste Eanoaio; blarlis Koséro es- ani; Maria Thevezinta Corrén Marqacs © Yolanda Maia Braga Preston, sob brientagto da prof Ninian Fanry. Fol reulzado 2 partir do esto do grupo ceolépieo denomitado "Grupo Cheire Verde” dacidade de Americana, SP Maria Theterinta Corita Marques € protessera de Universidade Caudiiea de Campinas Faculdade de Servico Soci, avons Pinto Ranvaho 6 ascents social com: expeniéuca aa Snes de Sate 59 tro lado revelam a preocupacdo em preservéclo, em defendé- 1o,Torna-se mais conhecida, mais popular a palavra ecologia, ou seja, as relagdes entre 0 organismo vivo e o seu ambiente. Intensificam-se os trabalhos, as campanhas para manter viva a Iuta pela preservacdo da vida. As reflexdes nelas contidas ob- jetivam introduzir 0 tema e desencadear um debate em torno dos movimentos sociais, seu significado frente ao desenvolvi- mento da consciéncia de cidadania, da luta pela organizagao auténoma da populagéo e da ampliacio de sua participagio politica, ¢ 0 desafio da interdisciplinaridade. B do reconhecimento dos diversos grupos ¢ dos movi- mentos sociais que surgem as possibilidades de transformagao. Hoje, stio imimeros ¢ repensam a vida cotidiana de forma cole- tiva, buscando constnir, através da pritica, caminhos que de- monsttam © dinamismo da sociedade; que os problemas estio em questao e deles novas dimensées poderao surgir. Falar de ecologia numa sociedade capitalista supde levar em consideragio a teoria das classes sociais na qual estio inse- stado ¢ as Instituigées, vistos concretamente na for- ‘magdo social brasileira na atual conjuntura. Considerando um trabalho dificil, sem grande apoio das entidades publicas ¢ privadas, 0 movimento ecolégico caminha tendo como tinica forga amor & vida bem vivida. Aliam-se a este trabalho, quase anénimo, profissionais comprometidos em defender a qualidade de vida. Surgem também acdes pessoais, grupais, chegando a atingir 0 cardter de movimentos populares, seja através de or- ganizacées, seja através de atos espontineos © voluntirios. Neste momento, 0 Servigo Social, que se caracteriza pela busca de alternativas com a prépria populacao envolvida, tem trabalhado muito. “Essas circunstiincias corespondem também ‘a momentos de um mesmo processo, que se constréi no coti- diano de uma prética social em que 0 profissional ¢ 0 cidadao co se fundem para se tomar sujeitos de um projeto coletivo que visa a transformagao estrutural ¢ que deve envolver todos os trabalhadores” (Souza, p. 133). Exigem um Servigo Social participative, vinculado a0 processo de pressiio ¢ organizagio dos grupos populares, para conquista de seus interesses fundamentais. Com relagio & nova visio do profissional em que as decisdes nio esto em seu po~ der, nem na competéncia ou na Iégica de seu saber, mas num trabalho comum aos demais cidadaos na conquista da verdadei- ra cidadania. No movimento ecolégico, a questéo da interdisciplinari- dade € norteada por outros Angulos. Por ndo se tratar de insti- tuiggo, onde a luta pela categoria profissional € mais acirrada € 1a prioridade € cumprir as exigéncias preestabelecidas pelos ob- |jetivos da Instituigao, a interdisciplinaridade nao se perde na delimitagao do espago. A questo maior € contribuir com 0 movimento, a fim de buscar resolver os problemas coletivos. Esta contribuigio se dé a nivel das experiéneias com a utili- zagio de nossos conhecimentos téenicos cientificos. Chegamos & temitica maior dos movimentos ecol6gicos ~ a preservagao — no sé da natureza, mas sim da vida para toda a populagdo © em todos 0s niveis. O movimento ecolsgico permite a existéncia de uma equipe interdisciplinar, porque a vida nao € exclusividade de um técnico, de uma equipe, © nem © movimento ecolégico sobrevive sem a participagio do conjunto da populacao. Neste sentido, a proposta de trabalho a ser apresentada € ade estudar ¢ analisar a experiéncia vivenciada pelo movimen- to ecolgico “Grupo Cheiro Verde”, relacionada & ques “Interdisciplinaridade nos trabalhos comunitarios” Faz-se necessirio, para maior esclarecimento, conkecer~ mos a realidade do “Grupo Cheiro Verde”, desde 0 seu surgi- ‘mento até o momento da proposta deste trabalho. 61 | } i i Dados gerais sobre o ‘Grupo Cheiro Verde” Com a instalagéo de uma indistria em 1959, na divisa de Americana, Estado de Sdo Paulo, bem proximo & sta étea ur- bana, a populagao vem sofrendo os efeitos da poluigio expeli- da por essa inchistria. Além dessa, a populagio sofre os efeitos poluidores de outras indUstrias, Este fato levou a populagao a se organizar, inicialmente formando dois grupos: “Pano Preto” e “Gadena™ (Grupo de Defesa da Natureza). O grupo “Pano Preto” mani- festa-se em perfodos acentuados de pohii¢éo, usando um pano preto, nas janelas das casas, nas roupas ou em algum lugar pa- ra manifestar 0 seu desagravo a0 odor expelido pelas indtis- trias. © grupo “Gadena” distingue-se por um trabalho mais de dofesa da natureza. A adzinistracio municipal, percebendo os efeitos da po- Iuicdo sobre a populagao ¢ seu desagravo, organizou 0 Con- selho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - COMDEMA, colocando em pratica as direttizes governamentais a0 nivel es- tadual, de preservacio do meio ambiente. um 6rgao de asses- ria do Executive Municipal nos assuntos que dizem respeito & melhoria das condigGes ambientais do munic{pio. Na época, os dois grupos ecolégicos acima citados pres- ionaram o Prefeito para incluir, no COMDEMA, elementos provenientes de seus Grupos. Diante disso, 0 Prefeito renovou @ Duretoria, que daf passou a ser composta por pessoas dos dois grupos ¢ de sua confianga, A administragio municipal, pelos seus compromissos politicos, administrativos e ideolégicos, facilitou a manutengao das indtistrias no municipio. Tal posicionamento acabou por gerar atritos com a diretoria do COMDEMA, culminando com rompimento, rentincia e organizagao de um grupo denominado “Cheiro Verde”. Grupo se preocupa prioritariamente com a questio da po- luigao do ar, objetivando a demincia sistemstica das questoes relacionadas & poluicéo, a fim de pressionar as autoridades a se 62 posicionarem frente ao problema e solucioné-lo. © movimento apresenta também caracteristicas reivindicatérias e de mobili- zaco popular na lula entre Estado, populacio e indiistria, O “Grupo Cheiro Verde" abrange 0 municipio de Ameri- cana e conta com 0 apoio de pessoas ¢ politicos de cidades vi- zinhas. A dimenstio na atuacao varia de acordo com 0 agrava- mento ou nao da poluigéo. ‘A equipe composta de profissionais, a saber: médicos, educadora em saide, diretora de escola, professor, ecdlogo, arquiteto, tcatrélogo, comerciante, donas de casa e outros, tola- lizando vinte ¢ dois profissionais, estando aberto a participacao de outros, Nessa época, também € organizadlo o grupo “Cheiro Ver- de Mirim’’, composto por adolescentes de mais de onze anos de idade. E estruturado, tem sécios contribuintes, realiza visto- rias nos rios, nas matas, no lixo e outros lecais, ‘A cidade de Americana conta com quatro grupos ecolégi- cos: o Gaciena, 0 Pano Preto, Cheiro Verde Mirime COMDEMA. Estudo e Andlise © surgimento do primeiro grupo, “Pano Preto”, tendo como caracteristica a manifestacio simbélica, nao se deu de forma organizada, mas apenas de protesto ¢ dentincia visual da realidade vivida. © grupo Gadena esboga uma forma mais organizada de dentineia © defesa da natureza. O grupo ecolégico “Cheiro Verde”, objeto de nosso estudo, surge do COMDEMA no momento da ruptura entre os seus participantes ¢ o Poder Pit- blico. © movimento nfo apresenta atitudes anticapitalistas, mas & contririo a0 uso da incistria, como um agente poluidor que nao se preocupa com a populagio que recebe os gases téxicos © poeiras por ela expelidos, © movimento é também uma res- 63 posta & omissfio do Estado no controle da poluigio ambiental. Procura elucidar para a populagao os efeitos nocivos & vida dos moradores do municipio ¢ adjacéncias, que sio atingidos pelos agentes poluidores das referidas inddstrias. Suscita na populacdo o dircito & cidadania, como fator central da mobilizacao para as reivindicagées ligadas & melho- tia de vida, Verifica-se uma agdo dtibia do Poder Executivo, surgindo um confronto entre o movimento popular ¢ o Estado; ora ele se coloca ao lado das exigéncias. populares, ora sutil~ mente ao lado das inckistrias. Isso se verificou quando do rom- pimento do grupo diretivo do COMDEMA com a ah tracdo publica. Ao organizar 0 COMDEMA, 0 Poder Executive tentou sobrepor-se aos dois movimentos jd existentes, criando, parale~ lamente, uma estrutura prépria, com recursos financeiros © po- der de decisio. Com 0 protesto dos movimentos jé existentes, so 05 mesmos cooptados pelo Poder Executive © passam a exercer seu papel a servigo do Estado. © movimento é contestatério ao modo de vida urbano reagao & imposi¢ao ao poder. Isso se verifica através dos resul- tados da anélise do relatério realizado pela Cetesb © enviado a0 Juiz da Comarca, sobre © controle da poluigio do are da Agua das indhistrias poluidoras, e também os “Autos de Repa- ragio de Danos”, requeridos por uma imobilidria contra as indistrias. Tinham a finalidade de fundamentar as queixas cri- mes que levam o titulo “Crime Contra a Satide Pablica’. 0 Iaudo descreve a elevada concentrago de poeira em sus- pensio, didxido de enxofie, dxido de nitrogénio, mondxido de carbono, gas sulfiirico © merceptanas, o que demonstra efetivo perigo para a populagdo exposta diariamente. A agdo do Poder Paiblico € morosa. Cabe ao Ministério Publico da Unido € dos Estados propor agio de responsabilidade civil ou criminal, por danos eausados a0 meio ambiente. Apesar de todas as provas da aco poluidora da indstria, cela requer autorizacao para ampliar a sua producio, através de financiamento do BNDES (de 650 t/dia para 750 tdia de pro- 4 dugio), e autorizada, cla vem contrariar a Lei Estadual 2.446/80, que restringe a atividade industiial de produgio de celulose na bacia hidrogratfica do rio Piracicaba. A ampliagéo foi negada pela Cetesb, que reduzin de 650 dia para 450 t/dia. A inddstria paga multas didrias, mas a am- pliagto prossegue e a poluicéo aumenta diariamente © opera coma capacidade de 650 t/dia, Uma articulagdo entre a ecologia politica exige uma oposicao as burocracias, criando barreiras para sua livre ex- pansio, A comunidade, apesar de ser atingida pela poluigéo, sen- te a problemitica, mas nao participa ativamente dos movimen- tos cooldgicos, no tem o habito de se organizar e de exercer © seu direito de cidadania ¢ direito a vida. Apesar disso, 0 movimento continua em defesa da quali- dade de vida, vé a questo ecoldgica em associagie direta com a estrutura sécio-ccondmica, a conivéncia do Poder Publico ¢ 0 beneficio da producio claramente apropriado pelo capital em detrimento da populagio operéria, com reduzidissima capaci- dade de mobilizagao espacial. (© que direciona as opgées que agridem o meio ambiente sfio: as empresas ¢ a competigao em busca do lucro, e, no Es- tado, a necessidade dle responder &s demandas da infra-estrutu- ra, tanto para a industria, como para a populagao em geral "Estados © empresas sao, de fato, os lugares onde sao tomucls as decisdes sobre 0 meio ambiente (com mais ou menos contro~ Ie da sociedade)” (Cristo ¢ Nunes, p. 100). ‘A empresa procura cooptar a populacdo através de aco assistencialista, proporcionando almogo para @ populagao da periferia e profissionais liberais, visita & inddstria, fornecimen- to de material escolar ¢ uniformes para atletas. Diante isto, se faz necesséria a criagio de formas de controle de poder, pelo debate ptiblico ¢ pela populago livre~ mente organizada, 0 que inclui restituig&o dos poderes & esfera legislativa, 65 Na observacio do trabalho ccolégico do “Grupo Cheiro Verde" em relacdo populagao, podemos constatar que: = cla encara com certo distanciamento © deserenga as possiveis providéncias do Estado; = a preocupacio existe, chega a envolver alguns bairros, mas raramente avanga — coloca a agéo nas mios dos grupos ecolégicos;, ~ a Unido poder resolver o problema, mas a populacio ressente-se de iniciativas de orientagéo. As pessoas nfo saben ‘como agir, sentem-se agredidas pela poluicdo, mas néo sabem a quem reclamar. Ao analisar 0 “Grupo Cheiro Verde”, observamos: — as decisées siio tomadas em conjunto, deliberam sobre seus problemas de forma democratica, — a existéncia de um descompromisso com os poderes pUbblicos respeitando apenas as deliberagdes de seus participan- tes; — a existéncia de negociagao, em vez de uma concepgio de confronto; — uma certa ingenuidade de alguns membros do grupo 20 discutir as suas agdes ¢ compreensio da realidade; = 0 encaminhamento para uma discussie da poluigdo a nivel politico, passando da discussio técnico-cientifica para a ‘a, onde somente a pressio popular poderd trazer modifi- cagées significativas; ¢ = a8 campanhas (ém sido demasiadamente amenas frente a gravidade do problema As politicas soci is nos movimentos ecolégicos Partimos da concepgao de que as politicas sociais apare~ cem como respostas as questdes sociais advindas das relagées contraditérias entre capital e trabalho. Respostas dadas pelo Estado as reivindicagées da classe trabalhadora, exercendo 0 papel de representante do capital para garantir a reproducio da forca de trabalho ¢ manter a dominagdo politica, econémica 66 ideoldgica da classe trabathadora. Nesse sentido, sob a étiea da legalidade, legitima as reivindicagdes populares com o intuito de prestar servigos, beneficios, mum papel de “doador”, porém ‘com 0 objetivo de manipular e distorcer a realidade, levando os movimentos populares a perderem a meméria ¢ a forga reivin- dicat6ria ou legitimando-os cada vez mais, enquanto insti- tuigio. No caso dos movimentos ecolégicos 0 Estado criou leis, federais, estaduais e municipais sobre a politica do meio am- biente, onde os grupos ecolégicos procuram brechas para se contraporem a agao destruidora, T eis nortendas por ideologias que apresentam um carter humanista, progressista ou liberal & funcionam como instrumento de igualdade social, de bem-estar social, de ipualdade de oportunidades, porém, na realidade, constituem-se em mecanismo de manutengao das desigualdades sociais. Além dessas consideragées somam-se as relagdes do tra- balhador com o capital, em que 0 receio da perda do emprego fala mais alto que a perda da satide, Embora saiba, esteja cons- cientizado, surge para ele a questio da sobrevivéncia. Entre moter de silicose a longo prazo, algum dia, ou morrer a curto prazo hoje ou amanhi de fome, também uma docnga social, op- ta por se manter empregado e silencia frente ao problema. As relagées das indtistrias na busca da cooptagiio da populagao por meio de assistencialismo. A interdisciplinaridade nos movimentos ecolégicos A concepgio de interdisciplinaridade vem perpassando 0 tema no sentido de entendé-la como momento de recuperacio histsrica do discurso humano, ou seja, de toda a expressivida- de advinda das diferentes camadas sociais ¢ a condenagao da fragmentacao dos especialismos. A multiplicagao das dreas de especializacid trouxe o de- senvolvimento de técnicas especfficas e, ao mesmo tempo, criou um abismo em que a propria especificidade fragmentou 0 or corpo da atividade cicntifica, caindo no exagero humano, dos especialismos, “Nao basta a performance extraordindria, mas uma capacidade para analisar se a coisa é boa para a vida ou ni” (Alves, 1988). O pensamento do filésofo Kierkegaard expressa também a preocupacio com essa questio: “quanto mais se demonstra ¢ comprova as coisas particulates menos se enxetga 0 geral. E de se visualizar cada vez menos 0 todo, chega-se a duvidar de sua existéncia”. Na equipe interdisciplinar 0 Servico Social trabalha como 05 demais técnicos de forma participativa, numa postura politi- co-idcoldgica vinculada ao provesso de conscientizagao, de or ganizaco e de pressio do movimento ecolégico. Em equipe interdisciplinar os profissionais buscam con tribuir com os conhecimentos técnico-cientificos de sua disci- plina, estudo © superagao de ceterminadas situagoes. A ago que passa nesta perspectiva interdisciplinar é pro~ porcionar a cada profissional, enquanto pessoa, questionar, opinar, discutir, atuar com relagdo a determinada acio. Assim © profissional nao buscaré limitar seu espaco de acio fragmen- tando a questio, numa atitude de exefusividade, mas o ampliara numa perspectiva conjunta, visualizando a totalidade da questo e, principalmente, chegando & economia de acao. Economia de agio nao significa praticar menos, mas ra- cionalizar e socializar a agdo. Se dois ou trés profissionais ne- cessitam dle alguns dadios de determinado cliente, seja ele gru- po, individuo, comunidade ou instituigao, nao é preciso que ele seja entrevistado por todos os profissionais, somente um dos profissionais levanta os dados necessérios. Do ponto de vista da equipe, este tipo de ago € importante, porque nao esbarra no monopélio do saber © permite troca de conhecimento e aprofundamento, Do ponto de vista da populagéio, a economia da agao é tanto melhor, uma vez. que nao ficard se deslocando de um lado a outro ou sendo interrompida varias vezes, para apresentar dados. 68 A repeti¢ao, pelo “cliente”, do relato de sua situacdo 0 fere na sua intimidade, muito embora nao manifeste seus sen- timentos e/ou faz dessa “situagdo” um mecanismo de defesa para obtengio do “‘beneficio" ou para “inspirar piedade". No movimento ecolégico “Grupo Cheiro Verde" encon- tramos um trabalho interdisciplinar, onde o resultado das andl ses dos niveis de poluicéo, por exemplo, nao s6 é imterpretado pelo expert do grupo, mas por todos os profissionais. ‘Uma discussie muito séria se tava neste comtexto de tra- balho interdisciplinar— a coordenagao do trabalho. Defendemos que equipe interdisciplinar no deva ter coordenador. Vejamos isto no grupo ecoldgico. Em entrevista, um participante do grupo disse-nos: “nos- So grupo no tem coordenador € isto, as vezes, segura o traba- Iho; nosso grupo precisa de um chefe”(sic) ‘A necessidade da coorcenagaio aparece como uma pessoa que catalisa 0 trabalho, centraliza ¢ cobrar dos outros a ago. Houve no grupo um momento em que julgaram que os médicos fossem os coordenadores natos do grupo, uma vez que a afini- dade de movimento esté mais préxima da drea de satide. Porém, verificou-se que todos sabem defender a satide, a vida, ¢ 0 médico entra como um dos téonicos e nao como coordena- dor do gepo. A sociedade capitalista esté estruturada de maneira a ter- ‘mos sempre um superior que nos dé ordens e nos cobre atitu- des centralizando o poder de decisio e exercendo 0 controle, E © grande alicerce da ideologia dominante, onde nao nos res ponsabilizamos por inteiro na vida social, limitamos nosso es- pago, obedecendo a um organograma com delimitacSes de fungées. Mesmos os profissionais que buscam em sua ago uma mudanga na estrutura, Iutando pela democracia, acabam em. trabalho comunitério, por exemplo, reproduzindo a estrutura i) hierérquica da sociedade, quando se elege a diretoria da socie- dade de amigos de bairros ou mesmo seus coordenadores. Esta diretoria é temporaria, provocando um circulo vicio- so, reproduzindo a relagao de poder & desigualdade social. Nao € dificil encontrar assistente social fazendo depoimentos deste estilo ~ “depois de tanto trabalho de conscientizacao de que a diretoria deveria assumir junto os trabalhos da Associagdo em. co-gesto, 0 presidente eleito chega ¢ coloca uma plaquinha na porta da sede — Presidente”. E preciso compreender que a idéia de trabalho conjunto, racionalizando, socializando, € um exerefcio de uma nova so- ciedade que quebra os modelos apreendidos na vida social, que tenia banir a idéia de autoridade © poder que tanto nos marca na familia, escola, clubes, instituigdes, emprego e partido polt- tico. A co-participagdo causa impacto. E um desafio wabalhar com 0 novo. E preciso aprender a trabalhar sem coordenagio, mas sim em conjunto, com planejamento democrético, onde as pessoas trabalhem livres, elaborando um modelo de responsa~ bilidade, nao condicionadas a um chefe, mas ao compromisso real. E dificil, principalmente se considerarmos 0 perfodo de autoritarismo em que vivemos desde 1964. Mas se desejamos bani-lo, precisamos exercitar (mesmo s¢ houver crros), nao re- produzir 0 autoritarismo por simples desconhecimento de outra pratica ou por medo do novo. A pratica no movimento ecolégico “Cheiro Verde” reve~ Jou-nos esta reflexdo, quando se constatou que nao tem chefe. Acredita que deve ter um chefe pela questéo de que “é co- mum”, & “normal”, was, na prética, 0 movimento caminha com 0 compromisso e a espontancidade de cada pessoa. O que coordena é tema, o problema, ¢ o trabalho avanca. O compromisso social nos movimentos ecolégicos Entre outros aspectos da pritica do movimento ecol6gico esté a questi da coeréncia. Coeréncia tanto a nivel de acoes coneretas do movimento, tanto a nivel da filosofia, da ideolo~ 70 gia € do posicionamento pessoal. Mesmo quando as pessoas no esto reunidas, lutando pela preservagto da vida, devem ter um compromisso com a ecologia. Nao se trata de viver etemamente com faixas de “abaixo a poluigio” ¢ om defesa da natureza, mas de manter a coeréncia, a filosofia, ¢ viver ecolo- gicamente. Na vida difria, buscar, denunciar, mesmo que seja extremamente dificil, os abusos da industrializacao que retiram do natural as fontes de sade © nos trazem fontes de doencas. 5 também buscar a coeréncia ndo se tornando mais um elemen- to poluidor. Esta questo foi muito discutida e polemizada no “Grupo Cheiro Verde”, quando se denunciava, numa reunitio, 0 fadice de poluicgdo das inddstrias € a maioria dos participantes fuma- va, poluindo © ar € prejudicando os néo-fumantes. A priori, pode parecer uma questo irtiséria, mas no con- texto geral a posigio ideolégica, © compromisso ¢ a coeréncia 6 primordial. Nao se trata de radicalmente parar de fumar ou de andar de carro, por exemplo; mas é compreender que no se pode violentar a vida em beneficio préprio ou em prejuizo de outros. E necessério respeitar a docisio de cada um ¢ utilizar mecanismos que garantam tanto 0 desejo de um como e desejo de outro. Se nos firmarmos no discurso de que “en’* tenho direito de fumar ¢ 0s que se incomodem se “retirem’, estamos, a ni vel pessoal, Iegitimando a decisio da indtistria de nao colocar 6s filtros que ciminuem o indice de poluigao. Acreditamos que uma questo mito séria a ser discutida 6 se a luta pela preservagio da natureza e, como dlissemos ante- riormente, da vida, é auténtica, comprometida, ou se trata de ‘modismo. A. participagiio das classes populares nos _movimentos ecolégicos © trabalho andnimo e dificil de defesa da natureza € que vem mantendo a luta pela ecologia. Porém, percebe-se hoje 7 que a preocupagio pela preservacéo da natureza vem aumen- tando ¢ ja atinge entidades ¢ instituicées, embora o apoio da sociedade tem sido limitado. A questo financeira € uma das maiores dificuldades encontradas pelas entidades, assim como a falta de apoio politico que garanta a continuidade do traba- Iho. (© que mantém viva a luta tem sido o amor € 0 respeito, a pteocupacdo do homem pelo préprio homem e pelas demais espécies animais, Neste sentido, o trabalho voluntério tem con tribuido, porém a pouca divulgagao impede a realizagdo de urn tabaliv mais efetivo, principalumente mt vibleucia que se prali= ca quanto & natureza. A participagao da populagao representa fator importante. As reivindicagbes, as demiincias € a observacdo da existéncia das contradigées nos discursos geralmente partem dela, Pudemos constatar esta afirmagio numa conversa entre dois populares num 6nibus, onde comentavam a questio da pesca. Diziam: “os guardas florestais prendem as tarrafas que uusamos durante a pesca e as industrias poluem os rios, matando 0s poixes. Quando elas recebem alguma multa ainda tem o di- reito de entrar com recurso © sempre ganham... E- que as Pre- feituras lancam o esgoto diretamente nos rios € que os dejetos sfo talvez muito mais poluentes do que os produtos das indtis- trias. E quem sai sempre perdendo € 0 pescador” (sic). O que demonstra a existéncia da consciéncia ccolégica mas no re- presenta um projeto de acdo que atinja a populacdo, principal- mente as classes populares. A dificuldade em envolver parte significativa da popu- aco no movimento contra a poluigéo é uma outra questo que © “Grupo Cheiro Verde” coloca, Trabalha-se diferentes formas de mobilizagio, porém o alcance dos objetivos pretendidos é questiondvel Antes de analisar esta questo, sentimos a necessidade de verificar como se dé 0 dia-a-cia da populagéo, seus interesses, sous valores, seu cotidiano, 72 Sabemos que a vida social nao é padronizada, nio existe uma uniformidade entre as pessoas. Sabemos, também, que na organizagio social, a sociedade capitalista nos divide, funda- mentalmente, em duas classes sociais: a que detém os meios de producio e, portanto, 0 poder politico-econémico, ea que esté exproprinda dos meios de produgo € tem como alternativa pa- ra sobreviver a venda de sua forga de trabalho. A populagio entdo se transforma em uma “mercadoria”. Mas uma mercado- ria especial, porque com seu trabalho gera riqueza que, acumu- Iada pelos donos dos meios de producdo, acicra as desigualda- des sociais. ‘Assim, a populacdo € submetida a condicées precérias de vida, a fim de garantir a sobrevivencia, Vejamos: nao interessa a0 dono do capital que a miio-de-obra tenha vida digna, impor- ta sim que tenha condigdes mfnimas para rendimento no traba- Tho e gere mais riquezas. Para que a populagéo no se revolte, questione ¢ climine esta situagéo, criamrse mecanismos de alienacao © manipulagdo da vontade coletiva, subjugando-a & vontade dominante. Os meios de comunicagio social instru- mentalizam e forgam a ideologia dominante que fixa 0 sistema de opressio. © wabalho exaustivo € um outro mecanismo usado para que as pessoas deixem de pensar. Os provérbios populares se configuram como outro mecanismo de alienagéo ¢ veiculagao da idcologia dominante, por exemplo: “O trabalho dignifica © homem”, “Deus ajuda quem cedo madruga”, “Trabalhar € vie ver alegremente”, E importante verificar isto, porque no mo~ mento em que a populagdo descansa de um dia exaustivo de trabalho, assistindo & TV, ela estd recebendo, sem se dar conta, valores que a fazem perpetuar as estruturas capitalistas.. Assim, por exemplo, recebe imagens ilusérias, de que & necessério que existam indistrias para que aumente o niimero de empregos. Trabalhando em inddstria “aumenta 0 poder aquisitive” da populacdo, mesmo que para isto se deteriore © meio ambiente e, conseqiientemente, a si préprio. B Recebe imagens, também diariamente, de que os produtos industrializados “substituem* os produtos naturais com muito “mais eficdcia’’. Assim, induz. a populagio a consumir produ- tos anunciados, afastando-a da yerdadeira fonte de satide que a natureza produ Para ilustrar, cabe um exemplo: na Amazénia € comum, atualmente, a introdugio de medicamentos, pelos 6rgdos pibli- cos, relegando a utilizagio de ervas na cura de doengas. Ora, isto € um absurdo, considerando que a Amazénia é a maior re- serva de ervas medicinais existentes. i preciso verificar que a estrutura social € abrangente, que a divisio de classes € duvidosa © que a “lita” social & in- justa, com instrumentos desiguais, Para que o grupo ecolégico consiga levar as suas mensa- gens & populagdo © envolvé-la na sua plataforma de aco, é ne~ cessirio desvendar a ideologia dominant, clarear a situagao, entender © mostrar como funciona a sociedade capitalista, visto que a questo da poluigéo est vinculada diretamente ao sur _gimento © expansio do capitalismo. Neste contexto, a ago de caréter extremamente educativa ¢ cultural deveré estar voltada para os direitos da comunidade na participagao de projetos que garantam a qualidade de vida, sua seguranga nas atividades de controle, nas decisées para a exploragdo dos recursos naturnis, na preservagin da naturéza © garantia de informagGes e a obrigatoriedade do Estado na defe- sa do meio ambiente, Para que estas propostas de agio se vinbilizem, toma-se necessério a compreensio de como se dé o proceso de cons cientizagao das classes populares. Sabemos que nao existe re- ceitudrio ou modelo pronto a seguir, mas é imprescindivel co- nhecer como acontece © proceso de aprendizagem da popu- lagao. A patticipagao da populagao na reivindicacdo ¢ no pro~ cesso contra as condi¢ées subumanas, impostas pela sociedacle 74 capitalista, abre espagos ao surgimento dos movimentos popu- lares, Traduzem formas de presséo sobre 0 poder instituciona- lizado, fora 0 debate piblico, a livre organizagao ¢ 0 direito de dizer nao aos projetos que afetam sua vida, sua seguranga © incentivo & luta, a busca de alternativas crescem & medida que aumenta a captagfo da realidade social pela populagéo pelos profissionais. [As abstragées, as racionalizagées da populacdo si dife- rentes das concebidas pelo saber académico. O que néo signi- fica dizer que no tenha seu proprio saber, mas que a forma de se apropriar do mundo que a circunda 6 diferente das que se apresentam na educagao formal. Possui esquemas de pensar e analisar © cotidiano voltados para sta prépria vida, analisa questées concretas, sérias, de forma simples ¢ acertada. Dai a necessidade de fusfio dos dois saberes, numa relagdo de reci- procidade entre contetido, conceitos e informacées num traba~ Tho de sintese do conhecimento, © suficiente para descncadear uma prética refletida, Esse processo tem orientadlo a politi- zagio contra 0 que se instala come “normal”, como “necessé rio", como “progresso”, contra 08 especialistas detentores do saber e do poder ditando regras para a vida ¢ também para a morte do povo. Referéncias jograficas ALVES, Ruhem Azevetlo, Bstérias de quem gosta de enstnar, Lolegao Pakémicas do Nosso Tempo, 12 ¢d., Cortez Editora, 1988. COLEGAG OS PENSADORES, Abril Cultural, v. XLY, 1973. RISTO, Carlos & NUNES, Edson. “A préposito do Debate”, Eeolo- sine Politica, Espa GRAMSCI, Antonio, Cartas do Carcere, As classes e sou processo de Formacao, A lute de classes perspectivas politicas. A ucdo politica e a oxganizagio, 2 od, Rio de Janeizo, Civilizagso Brasileira, 1978. JAPIASSU, Hilton, Inverdiseyplinaridaide ¢ Patologia do Saber. Rio de Janeiro, Imago, 1976, SOUZA, Lula Brundina de, paciio popular”. In: Rev. Service Social & Paulo, Cortez Euitora, 1985, SANTOS, Antonio Gonsalves dos. “A pritica do Servigo Social nas, Instituicies, In: Rev. Servico Social & Sociedade, n° 2. stratGgias de sobrevivéncia e partici- Sociedade, n° 17, Sio 15 FT EEEEEEEEEEEESS INTERDISCIPLINARIDADE EM QUESTAO: ANALISE DE UMA POLITICA DE SAUDE VOLTADA A MULHER* Claudia Cullen Sempaio Dalva Rossi Maria do Carmo Biajoui Marilene Colodo Marisa A.C. Taceo Tania Regina Savassi”™ Introducao Este artigo foi elaborado com base na pesquisa realizada durante 0 curso de Especializagio ‘*Trabalhos Comunitirios e Interdisciplinaridade” da Faculdade de Servigo Social da Pon- tificia Universidade Catética de Campinas ¢ teve como objeti- vo principal estudar a interdisciplinaridade no atendimento prestado as mulheres nos Ambulatérios de Obstetricia do Cen- tro de Atengao Integral A Satide da Mulher (CAISM), localiza- do na Universidade Estadual de Campinas — SP — UINICAMP, onde se procurou analisar as relagdes entre os diferentes pro- fissionais ¢ disciplinas ¢ a existéncia ou néo do processo de conhecimento ¢ ago interdisciplinar associado a filosofia de | atendimento da instituicdo e sua correlag4o com os movimentos reivindicatérios da populacéo feminina. + Trabalho apressatado em seminsrig park Conelusto de Curso de Especial asia em Serviga Social ~ "Trabalhos Comunitiios e(nterdisciptinaricade™ Gn L988, sob a orientacio da Prof Jeamete Liagch Martins de Si As auaras slo assntentes socials, awanlo no ambulatrio do Obstetteia do (CAISM, ae UNTCAMP, Campinas, SP. oe Considerando a trajetéria histérica do desenvolvimento politico-econémico ¢ social do Pafs, que se configura como um modelo capitalista dependente, constatamos que a questiio da satide, visualizada no estabelecimento das Politicas de Satide, passa a ser um pouco mais valorizada a partir da década de 70, porém néo em niveis satisfatérios. As Politicas de Satide, nesse perfodo, incluem 0 estabelecimento de programas especiais voltados as necessidades bisicas da mulher. Entre esses, desta- case 0 Programa de Assisténcia Integral & Saiide da Mulher (PAISM), tendo como centro de referencia a Faculdade de Cigncias Médicas ~ UNICAMP e¢, concomitantemente, a ctiago ¢ implantacdo do CAISM em 1986. Buscando identificar se as Politicas de Saiide esto volta- das ou nao para as necessidades emergentes das classes popu- Iares, em especial no que se tefere as reivindicagdes oriundas dos movimentos das mutheres, realizamos uma pesquisa junto aos Grupos de Mutheres da periferia da cidade de Campinas, na qual verificamos ser 2 Instituigao CAISM uma unidade de satide, que atende em parte as suas necessidades, cuja criagio, porém, néo esteve Tigada de forma direta a essas reivindicagées € sim a programas oficiais, que visavam ao controle de enfer- midades considerades pela Economia como problemas de Sati- de Publica (Pinoui e Faundes, p. 17). Embora a énfase deste artigo recaia sobre a interdiscipli- naridade no atendimento & questdo da satide, é importante des- tacar que, no trabalho original, essa questo foi anslisada de modo amplo sob 0 prisma dos movimentos populares, mais es- pecificanente 9 movimento de mulheres e sob a éptica das Politicas Sociais, que, no Brasil, pouco tém contribuido para 0 avango da liberdace da mulher como cidada. A interdisciplinaridade, como proposta cuja visio de ho- mem ¢ de mundo volta-se para a globalidade, para a unidade do ser humano, para a interagao, para a compreensio e moditi- cago do mundo, néo se efelivard se deixar de lado uma das duas vertentes apontadas no pardgrafo anterior. E da sua con- tradigdo que nasce a possibilidade de se avangar e a interdisei- plinaridade é um meio. 8 1. Politica de satide da mulher Na pesquisa que realizamos foi dada maior énfase a0 Programa de Assisténcia Integral & Satide da Mulher, por estar ‘em consonancia com a filosofia do CAISM. © referido programa foi implintado em 1983 pelo Mi- nistério da Satide, constituindo-se numa proposta inovadora no setor. A mulher passa a ser entendida como um ser integral, considerando-se os seus aspectos biopsicossociais ¢ no apenas a sua funcao reprodutora. © objetivo desse programa “atualmente € melhorar as condigées de satice da mulher e apoiar os Estados na extensio da cobertura ¢ na melhoria da capacidade resolutiva da rede de servigos basicos. As agdes de satide dirigem-se & redugio da morbi-mortalidade do grupo feminino e prevéem a cobertura de 70% da populacdo feminina, abarcando: assisténcia ao pré-na- tal, a0 parto, a0 puerpério ¢ ao recémenascido, prevencao do cancer cérvico-uterino ¢ da mama, assisiéncia clinico-gine- colégica, controle de doengas sexualmente transmissiveis © as- sisténcia xo planejamento familiar, nos aspectos relatives & concepgio ¢ contracepgao. Essas tiltimas agdes no pretendem incorporar metas de controle demogréfico, mas © acesso aos conhecimentos ¢ aos meios para decisio livre quanto ao ter ou no filhos” (NEPP, 1986, p. 174). Em 1986, 0. INAMPS também se tornou responséivel por esse programa e assumiu a orientagio sobre concepcao e anti- concepgao (Portaria 3.660, dle 04.02.86 ¢ Resolugéo n’ 123, do INAMPS, de 27.05.86). Contudo, a efetividade dessa pratica € bastante duyidosa. © Programa de Assisténcia Integral & Saiide da Mulber encontra-se ainda em fase de implantacdo € uma das dificulda- dks enfrentadas é 2 precariedade da infra-estrutura da rede ba- sica € sua nao homogeneidade, apesar dos esforgos da Agio Integrada de Satide em equipé-la. Além disso, existe uma par- cela dos profissionais que apresenta forte resisténcia com re- lagdo as normas federais sobre o planejamento familiar. 79 Esse 6 um dos sérios problemas enfrentados pela popu- ago feminina, Existe hoje enorme interesse dos paises desen- volvidos em intervir nos aspectos demogrificos do Brasil, através de financiamenios para implantagio de programas de planejamento familiar, que trazem em seu interior uma con- cepgao de controle de natalidade. Na maioria dos casos, esses programas so mais nocivos a satide da populagio do que produtivos, devido as distorgoes, apresentadas. Por esse motivo, de agora em diante, acredita-se que a implantagao de programas de planejamento familiar deverd, obrigatoriamente, considerar, no apenas 0 aspecto legal, mas também os aspectos éticos, morais € a questio da soberania ¢ liberdade do Pafs, assegurando as mulheres brasileiras as opor tunidades e os diteitos de cidadania livre e plena. Outro problema fundamental para as mulheres € 2 esteri- lizagio definitiva. A legislagio brasileira, que focaliza essa questio, 6 muito restrita e pouco clara. Sao proibidos o abor~ tamento € a esterilizacao, mas na pritica esse dado é totalmente adverso. A nossa legislacdo, nesse sentido, deveria ser mais objetiva para criar limites a esterilizagio, visando impedir as distorgdes € abusos. terceiro problema, amplamente discutido pelas mulhe- res, talvez 0 mais conilifivo e delicadlo, 6 0 ahorte provocndo. A legistagio brasileira permite a realizacio do aborto em ape~ nas duas circunstincias: risco de vida da mae e estupro. problema da ilegalidade & mais importante pelos riscos, que provoca a satide, do que pela ilegalidade em si. Na Améri- ca Latina, ainda hoje, acredita-se que uma das causas impor tantes da mortalidade materna sejam as complicagées decorren- tes de abortos provocados, complicagées essas que, na maioria das vezes, ocorrem devido ao seu aspecto ilegal. Entretanto, essa questo da legalizacdio ou da diserimi- nagao do abort deverd ser discutida s6 apés a implantagio do 80 planejamento familiar no contexto da atencéo integral a satide da mulher, quando deveremos ter assegurado & populagio fe- minina 0 acesso aos métodlos anticoncepcionais. A legislacdo brasileira ao ser omissa sobre o planejamen- to familiar, restrita sobre 0 aborto ¢ dhibia com relacio a esteri- lizagao tubiria, dificulta a liberdade da deciséio da mulher quanto & contracepsio, restringindo-a. Portanto, gostarfamos de esclarecer que, embora a atengio integral & satide da mulher j4 tena sido proposta ha alguns anos, o sistema de smide tradicionalmente tem oferecido cuidados concretos & mulher, apenas enfocando 0 seu aspecto reprodutor, fragmentando as demais quests. Hoje, essa proposta encontra-se mais sistematizada, ape~ sar de estar ainda em fase de implantagéo em vérios Estados. A mulher deverd ser atendida de forma integral, tendo em vista todas as etapas de sua vida, desde a adolescéncia até 0 climaté~ rio. Para a concretizacao plena desse atendimento, serio ne~ cessdrias a instrumentalizagao dos servigos de satide ¢ a articu- lagao de esforcos nos niveis federal, estadual ¢ municipal, 0 que ainda no foi conseguido de maneira satisfatéria. Con seqtientemente, as atividades de assisténcia integral clinico-gi- nccoldgicas e educativas destinadas & populagao feminina, ain- da se dio de forma precaria. 2, Interdisciplinaridade: fundamentagio tes No mundo de hoje, deparamo-nos diariamente, através dos diferentes meios de comunicagao, com o triste quadro do homem destruindo © prdprio homem, com a dominagio da mé- quina, ¢ isso j4 faz de tal modo parte de nosso cotidiano que, segundo Georges Gusdorf, ‘nem mesino prestamos mais atengio, contentando-nos a viver 0 dia-adia, recaleando © mais possivel o grande medo da catéstrofe do mundo; enquanto 81 isso depositamos nossa confianga nos experts, muito embora nossa confianga neles mil vezes tenha sido decepcionada’” (ia- piassu, p. 7) Os problemas mais urgentes do século XX fogem & com= peténcia dos especialistas, pois o conhecimento se perde diante da complexidade do mundo. Para que haja a desintegragao do Saber, seré necessério uma dindmica compensadora dé néo especializacao, a fim de gue © homem da especialidade venha a ser ao mesmo tempo um homem da globalidade, desencadeando assim uma agao in- terdisciplinar. A interdisciplinaridade exige que cada especialista ultra- passe os seus proprios limites, abrindo-se As contribuigdes de outras disciplinas. A interdisciplinaridade & uma relagdo de reciprocidade, de mutualidade, que pressupée uma atitude diferente a ser as- sumida frente a0 problema de conhecimente, isto é, substituir a concepgao fragmentaria pela unitéria do ser humano, Esta diferente atitude néo poder ser preconceituosa, mas aberta, onde todo conhecimento € importante. Deverd ser fun- damentada na intersubjetividade, num regime de co-proprieda- de, de interagio, onde 6 possivel didlogo, condigao esta para gue exista a interdisciplinaridade. “A interdisciplinaridade nio se ensina, nem se aprende, simplesmente vive-se, exerce-se, ¢ por isto exige uma nova pe- dagogia, a da comunicagao” (Fazenda, p. 8). A interdisciplinaridade consiste num trabalho em comum, onde se consideram a interagio das disciplinas cientificas, de seus conceitos, dirctrizes, de sua metodologia ¢ de seus proce- dimentos Para H. Japiassu, “‘o objetivo utépico do trabalho inter- disciplinar é a unidade do saber, unidade problematica, mas que parece constituir a meta ideal de todo saber, que pretende cor- responder ds exigéncias do progresso humano” (Fazenda, p. 15). 82 EEE “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas ¢ pelo grau de imtegragao real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa” apiassu, p. 74). ‘A interdisciplinaridade € uma questéo de atitude © 0 que se pretende nao é anular a contribuicao de cada Ciéncia em particular, mas uma atitude que impeca o estabelecimento da supremacia de certa Ciéncia, em detrimento de outra. © conhecimento interdisciplinar deve ser uma légica de descoherta, uma abertura reciproca, uma comunicagio entre os dominios do Saber; deveria ser uma atitude, que levaria 0 peri- to a reconhecer 0s limites de seu saber para receber contri- buigdes de outras disciplinas. Toda Ciéneia seria complemen- tada por outra c a separagdo entre as Ciéncias seria substituida por objetivos miituos. Cada disciplina dé sua contribuigéo, pre~ servando a integridade de seus métodos ¢ seus conceitos. A conceituagio do termo interdisciplinaridade baseia-se om diferentes pressupostos. Sera necessfrio citar os termes pluri, multi, inter ¢ transdisciplinaridade, pois hd entre cles ‘uma graduagéo, que se estabelece no nivel de coordenagao & ‘cooperacio entre as diseiplinas. Por multi e pluridisciplinaridade entende-se uma atitude de justaposigao de contetidos de disciplinas heterogéneas ou a integragio de contetidos numa disciplina, alcangando a inte- ‘gragio de métodos, teorias ou conheeimentos. Na interdisciplinaridade, terfamos uma relagao de reci- procidade, de mutualidade, um regime de co-propriedade, pos- sibilitando 0 didlogo, onde as diversas disciplinas levam a uma interacdo, a uma intersubjetividade, condigao para a efetivagio do trabalho interdisciplinar. A transdisciplinaridade seria 0 nfvel mais alto das relagées iniciadas nos niveis de multi, pluri c interdisciplinaridade. A multi ¢ a pluridisciplinaridade constituem etapas para a interagdo ¢ para a interdisciplinaridade. 83 A interdisciplinaridade 6 um termo utilizado para definic ‘a colaboracao existente entre as disciplinas ou entre sctores he- terogéneos de uma mesma Ciéncia, Surge como critica a uma educagio fragmentada e permite uma reflexio aprofundada so- bre o ensino, apoiando os movimentos da Ciéneia e da Pesqui- 8a, ‘Segundo Ivani C. A. Fazenda, a aplicacao da Interdisci- plinaridade se di (Fazenda, p. 42): = Como meio de conseguir uma melhor formagio geral. = Como meio de atingir uma formagao profissional. — Como incentive A formagio de pesquisadores © & pes- quisa, ~ Como condicio para uma educagdo permanente. — Como superago da dicotomia ensino-pesquisa. = Como forma de compreender € modificar © mundo, Segundo Ivani, “a superagio das barreiras consegue-se no momento em que instituicées abandonem seus habitos cris- talizados e partam em busca de novos objetivos, ¢ no momento em que as Ciéncias compreendam a limitagao de seus aportes” bid., p. 78). Quanto as barreiras entre as pessoas, torna-se mais dificil sua eliminac&o, visto que estas siio produtos de preconceitos, de falta de formago adequada e de comodismo. Para sua eli= minacdo seré necesséria a sua superacdo de obsticulos psicos- sociol6gicos, culturais © materiais. Somente através de uma nova pedagogia, a da comuni- cagtio e, em conseqiiéncia, a formagio pedagégica adequada, Junto com uma metodologia, que considere seus pressupostos, a interdisciplinaridade terd condigées de se concretizar. 3. A interdisciplinaridade no atendimento prestado as mulheres nos Ambulatérios de Obstetricia do CAISM © Centro de Atencdo Integral a Satide da Mulher (CAISM) foi criado em 1983 ¢ constitui-se em um hospital, que atende mulheres da cidade de Campinas, da regio ¢ de 84 outros Estados, para tratamento médico especializado nas reas de: Ginecologia, Obstetricia e Oncologia — ginecolégica mamédria, O objetivo do CAISM 6 atender 4 mulher de forma inte- gral, considerando os aspectos biopsicossocial, que envolvem sua vida fisica e mental. Para o desenvolvimento do trabalho, a instituigfo conta com uma equipe de profissionais de diferentes reas, que atuam junto aos ambulatérios e enfermarias, Devido & amplitude ¢ complexidade dos servigos presta- dos no CAISM, delimitamos a area a ser estudada, sendo eseo- Ihidos os Ambulatérios da Divisio de Obstetricia pela carac- teristica do atendimento prestado, pois a atengio € voltada também para a satide ¢ nao 6 para a doenga, considerando que a concepgio atual de Satide nao esta pautada apenas em “nao ter doenga’”, mas possuir relativo bem-estar fisico, psiquico ¢ mental. A finalidade desses Ambulatorios & desenvolver um tra- balho mais preventive do que curativo, baseado numa filosofia educativa, A equipe multiprofissional, que atua junto aos Ambulaté~ ios de Ginecologia de Adolescentes, Pré-Natal de Adolescen- tes, Pré-Natal Especializado e Reviséio Puerperal, € composta de profissionais das diferentes teas, a saber: Servigo Médico, Servigo Social, Servigo de Psicologia, Servigo de Enfermagem, Servigo de Fisioterapia Servigo de Nutrico. instrumental utilizado para a pesquisa do tema estuda- do correspondeu a entrevistas informais realizadas com todos 08 profissionais, que compéem a equipe de trabalho desses Ambulatérios. A entrevista teve como objetivo principal detec- tar se ha uma ago interdisciplinar ¢ a visio desses profissio- hais a respeito desse tema e de sua atuaco enquanto membros dessa equipe. Os conceitos tedricos, que nortearam as entrevistas, fo- ram os seguintes 85 (9080. UT vO 12, “A interdisciplinatidade € uma relagio de reciproci- dade, de mutualidade, que pressup6e uma altitude diferente as- sumida frente ao problema de conhecimento, isto é, substituir a concep¢io fragmentéria pela unitéria do ser humano.” 22, “A interdisciplinaridade nao se ensina, nem se apren- de, simplesmente vive-se, exerce-se, ¢ por isto exige uma nova pedagogia, a da Comunicagao.” 3°, “A interdisciplinaridade é uma questao de atitude, € 0 que se pretende nio é anular a contribuico de cada Ciéncia em particular, mas uma atitude que impega o estabelecimento da snpremacia de. certa Ciéncia, em detrimento de outra.” As questies dirigidas aos profissionais foram: P. — Como voce vé 0 seu papel... (profissdo) na equipe de trabalho nos Ambulat6rios de Obstetricia? P. — Vocé poderia definir se hé uma ago interdisciplinar neste trabalho © como se concretiza na pritica? Ressaltamos que as entrevistas foram gravadas © a nossa finalidade era que essas quest6es proporcionassem condigdes favordveis para que o entrevistado desenvolvesse sua fala de forma espontines, onde pudéssemos detectar dados de mancira conereta, para atingirmos os abjetivos propostos. A primeira questio teve a finalidade de detectar a existéncia de fragmentagao ou de unidade do trabalho, bem como visualizar como cada profissional sente © analisa a sua especialidade e sua relagdo com a totalidade, Com relagao aos depoimentos obtidos, constatames que todos os profissionais colocam 0 seu papel enquanto membro de uma equipe € mencionam 0 entrosamento ¢ 0 relacionamen- to, credenciando a busca da interagio © complementagio de papéis. Essas colocagdes esto presentes nas seguintes falas: A Enfermeira A declarou que elas tém uma fungao admi- nistrativa de organizacao do setor, treinando ¢ desenvolvendo uma aco educativa junto aos pacientes nos diversos progra- 86 mas. Disse que 0 relacionamento ¢ muito bom dentro da equi- pe, pois tém idéias, opinides © condutas que se entrosam € quando, por exemplo, atendem um caso no qual também parti- cipa a assistente social, procuram discutir juntas, para encon- ‘rar a melhor forina de atendimento ¢ cncaminhamento. O Médico A — Docente do Departamento de Tocogineco- Jogia definiu seu papel como médico de uma equipe, prestando servigo & populagdo, mas que esta equipe conta também com outros colaboradores como assistentes sociais, psicdlogas ¢ en- fermeiras. Afirmou que o relacionamento da equipe, de manei- ra geral, é bom, embora haja dificuldade de conciliar 0 ponto de vista de cada um dos componentes. Para ele, 0 dificil é co- locar todos os pontos de vista para que se possa trabalhar, realmente, em equipe. A Assistente Social observa que, na medida em que se vai levantando a problemitica da paciente, nas questdes que se re- lacionam com Servigo Social ¢ outros gerais, em relacdo & savide da paciente bem como nos cuidadlos com o bebé, ama mentaco e anticoncepgao, a equipe esti fazendo um trabalho em conjunto com a Enfermagem e a Psicologia, A Fisioterapeuta afirmou que, embora a rotina dos servi- 0s da fisioterapia nao seja apenas 0 Ambulatério de Pré-Natal de Adolescentes, mas, sim, todo © CAISM, © mesmo nio atuando em perfodo integral com toda a equipe, existe um en- trosamento muito bom, € percebe-se que, muitas vezes, o traba- Iho de wn profissioual complements o dabaliy dy Ceutiy, trae zendo beneficios para as pacientes. A Psicéloga considerou que com a formagao do CAISM a equipe aumentou muito, vieram novas assistentes sociais, no- vas psicdlogas © ai comegou uma outta fase, Quanto a discutir sobre o relacionamento da equipe, diz ser complicado, embora cada membro, mostrando seus aspectos individuais, trax. uma boa contribuigdo. A equipe vai se construindo no dia-a-dia, A dificuldade maior esté mesmo no relacionamento humano, O Médico Residente opina que sio poucos os lugares on- de se tem um relacionamento bom entre as pessoas que traba- 7 Iham © que s6 num hospital universitério pode-se sentir isso. Diz que © corpo elfnico & bom, voltado para os interesses da comunidade, € que se pode contar com pessoas que colaboram, para que tudo transcorra da melhor forma possivel. A Atendente de Enfermagem & de opiniao que a equipe se esforca e consegue um bom entrosamento, pois médicos, en- fermeiras e assistentes sociais colocam seus problemas e procu- ram solucioné-los juntos. © Médico Docente ~ Diretor do Departamento de Toco- ginecologia observou, de modo claro, que, nestes iiltimos anos, os melhores resultados obtidos pelos integrantes do Departa- ‘mento, na prética assistencial docente e de pesquisa, deve-se & integragdo dos diversos profissionais que trabalham na rea & que essa idéia € que € interdisciplinar. Acha que o sentido de integracao € extremamente positive para gue se atinjam os ob- jetivos e tem conviegso de que esse proceso foi deflagrado ha muito tempo € tem sido progressivamente modificado e adapta- do, embora ainda néo cumpra seus tragados iniciais. Acredita que ainda no o tenham conscguido, por varias razdes, e que ndo se pode discutir essa integragdio a nfvel de éxito completo. Tendo como base que a interdisciplinaridade supée uma relacio de reciprocidade ¢ interacdo de conhecimentos, contra- pondo-sc a atitudes isoladas e fragmentarias, nos depoimentos acerca do relacionamento ¢ especificidade de cada disciplina observa-se intengSes ¢ atitudes que comprovam o entrosamento € interagao entre os diferentes profissionais, Percebemos que a importincia ¢ a necessidade da troca de conhecimentos entre estes profissionais aparecem no relato de sua pritica, seja através da discussio de casos, do atendi- ‘mento conjunto, do respeito quanto ao parecer de cada disci- plina, bem como do bom relacionamento interpessoal, o que auxilia a todos em sua especificidade e na busca de uma visio unitéria da paciente. Embora se constate o entrosamento e a interagdo entre os profissionais, em dados momentos evidencia-se a fragmentagao do Saber, que de maneira contraditécia demonstra um espago 88 contre © discurso ¢ a prética, 0 que nos leva a concluir que ain- da ocorre a fragmentagdo ou mesmo a justaposigio de conhe- cimentos. A segunda questo teve a intengao de identificar a visio dos diferentes profissionais a respeito da unidade do Saber, e « concretizagio na prética da existéncia ou nao de uma aco in- terdisciplinar no trabalho realizado junto a esses Ambulatérios, ‘A questéo basica aplicada na pesquisa para obter essas informagées foi: “Voce poderia definir se existe uma aco in- terdisciplinar neste trabalho © como se coneretiza na pritica?” A partir dessa questi coletamos varios depoimentos, porém transcrevemos 08 pontos que consideramos fundamen- tails: O Médico B — Docente do Departamento de Tocogineco- Jogia afirma que existe uma aco interdisciplinar no Ambulaté- rio € que luta por ela, O interesse do Departamento € atender & mulher em todos os seus aspectos possfveis, ndio deixando al- gumas éreas de sua necessidade sem alguma cortespondéncia ou sem encaminhamento. Diz nfo ser to ingémuo a ponto de acreditar que tudo possa ser atendido s6 pelo médico, mas ad- mite que atende tudo que julga importante e sem uma equipe multidisciptinar, contando com a colaboragao da psiedloga, da assistente social, da enfermeira, no teria condicées de dar um atendimento mais global 2s pacientes. Acha que a interdiscipli- naridude descaracteriza o médico como unt ser onipotente, que tudo pode mas que no fundo nao pexie coisa nenhuma, Tuclo isso faz. parte, inclusive, de um processo de aprendizado para 0 pessoal, que est se formando como médico. A Enfermeira A acredita que existe, sim, a agio interdis- ciplinar, porque, toda vez que senta para discutir alguma coisa, tem a visio da enfermeira, da assistente social, da psicdloga, cada uma no seu campo de agdo, tentanto enfocar 0 problema que aquela paciente esteja apresentando naquele momento. A Assistente Social considera que a equipe tem que cami nhar muito para atingit a interdisciplinaridade. Existe um tra- 89 Se baho multidisciplinar, no qual as partes se empenham e que a Enfermagem ¢ 0 pessoal do nosso Ambulatério tém muito inte- esse em estar discutindo juntos, mas ainda nfo existe um tra- balho de interdisciplinaridade, A Fisioterapeuta declara que percebe uma agio interdis- ciplinar bem nftida. E 0 que acontece na pritica é que existe lum espago para que todos os profissionais sc coloquem para uma discussio, néo de maneira to formal e, sim, bem descon- trafda. A Enfermeira B actodita que hd a interdisciplinaridade que isso se concretiza na pritica com a oportunidade de discu- tir as suas agdes em conjunto, no que diz. respeito as pacientes € a0 seu atendimento propriamente dito. A partir do momento em que uma colega detecta um problema através de uma entre- vista, isso € discutido com toda a equipe. O Médico A — Docente do Departamento de Tocogineco- Jogia confirma que existe 0 trabalho interdisciplinar e que a coneretizagto desse trabalho nao & feita basicamente de acées isoladas, mas, sim, de equipe, quando se discutem problemas de interesse geral A Psicdioga sente que a equipe est tendo esta experién- cia de desenvolver um trabalho em conjunto no Ambulatério dle Adolescentes, Cada profissional contribui com suas vivén- cias © idéias, buscando, criando ¢ descobrindo solugdes. A en- irevistada chama a atengio para um fato, que sempre achou muito dificil, em varias situag6es; a inscrgio do médico na ‘equipe multidisciplinar, discutindo e resolvendo as coisas em Conjunto, € que agora, no Ambulatério de Adolescentes, pare~ ce que esti havendo uma possibilidade de ter um médico parti- cipando mais ativamente com a equipe, porque sempre foi dife- rente. O médico, de um Iado, numa posic&o superior, ¢ os de~ mais do outro, dificultando muito © trabalho. Como a equipe lua num atendimento & Satide € na Area Médica, ¢ 0 médico que esté numa situacio de poder, de decisao. Ao seu ver, toda a formacio do médico € dirigida nesse sentido, para liderar, 90 muitas vezes, com autoritarismo. Bla no descarta que outros profissionais possam ser autoritérios, mas que, nessa situagéo espeeffica, 0 médico tem a condig&o de poder, ¢ ele age de tal maneira ¢ acaba tomando decisdes sem consultar a equipe. Reafirma que 0 trabalho em equipe, incluindo 0 médico deci- dindo junto, € igual, mas que varios médicos tm demonstrado uma abertura para isso e que jé ha uma experiéncia no Ambu- latério de Adolescentes. O Médico Docente ~ Diretor do Departamento de Toco- ginecologia considera que operacionalizar esse entrosamento & muito complicado, chega até a ser paradoxal, porque a for- magao do médico, em geral, € para posicéo de comando dentro da equipe de Sauide. Ele faz uma critica a esta formacdo, pois o médico se transfere certos direitos, deixando de lado a im- portincia dos profissionais com quem esta se relacionando. A todo momento, percebe-se que por mais receptivo que seja ‘0 médico, dentro da equipe de Satide, ao se integrar com as ou- tras dreas que participam, ou que deveriam participar como ‘equipe, ainda resta a propria caracterfstica de sua especialida- de, que 6 a palavra final, um rango muito forte de autoritaris- mo. Diz. que a propria sociedade sempre colocou o médico num pedestal, atribuindo-lhe certas capacidades que ele nao tem, embora, atualmente, esta situagao esteja um pouco mais ate- nuada ¢ progressivamente tenda a desaparecer, Nos momentos de maior conflito, essa postura autoritéria e de comando retor- na, com muita veeméncia, e € até explorada pelo proprio in- dividuo, quando na realidade esse tipo de exploracfio deve, fi- guradamente, significar a prépria inseguranca dele no comando da equipe. Acha que 0 médico funciona como uma barreira, que di- ficulta a consecugao dos objetivos propostos, mas que deve ser considerado, também, que existem outros problemas ligados especificamente a cada um dos profissionais, que integram a equipe de Satide, e que tém suas lutas, que muitas vezes so exploradas até do ponto de vista politico, pela conquista do poder, exclusivamente. Conclui que a interdisciplinaridade é 9 algo muito complicado, mas acha que ela deve ser perseguida embora ainda nao exista como uma coisa definitiva. E um pro- cesso em elaborago, mas com possibilidade de chegar a se ob- ter, desde que cada profissional respeite 0 outro dentro de sua importéncia de que so atividades complementares e insubsti- tuiveis e passe a ter uma visio nova de cada profissio. Bascando-nos nas falas © andlises obtidas nos diferentes depoimentos, conclufimos que: — © conceito de interdisciplinaridade nfo € claro para a maioria dos profissionais da equipe. ocorrendo um pensamento confuso © contraditério entre multidisciplinar e interdisciplinar © observa-se uma fragmentacio do Saber entre teoria ¢ pritica; =O conhecimento sobre 0 tema interdisciplinaridade, nessa equipe, existe no nivel do empirico, sendo necessério maior aprofundamento te6rico, aliado a um repensar da prética cotidiana desenvolvida nesses Ambulatérios; ~ Todos colocaran-se como integrantes da equipe, espe- cificando 0 seu papel ¢ 0 conhecimento do trabalho do colega; daf percebermos que existe a troca de Saber, facilitando a agao profissional de cada um; ~ Todos os integrantes da equipe descreveram a opera- cionalizagio © rotina do trabalho, ressaltando a existéncia de uma ago conjunta para atender & problemdtica da paciente, bem como destacaram as dificuldades de todos pensarem da — Varios profissionais utilizaram a terminologia entrosa- ‘mento ~ intcracao ~ integragio, 0 que reflete influéncias decor- rentes da formagao profissional numa linha estrutural-funciona- lista, aliada & estrutura institucional das Politicas de Saide do Pats; — O5 profissionais, com excegiio do médico, colocaram- se como agentes educadores © equipe de apoio ¢ apresentaram a corrclagao com a filosofia de atendimento do CAISM, que tem como proposta 0 atendimento integral & saide da mulher; ~ A figura do médico, na maioria dos depoimentos, in- clusive do proprio médico, esta permeada pela concepcio da 92 supremacia e poder decisério, principalmente por referi-se a uma unidade hospitalar, embora 0 préprio médico apresente andlises criticas a respeito dessa visio: = Na Instituiggo CAISM, em decorréncig de sua prépria filo- sofia, constats-se uma predisposicio por parte de todos os pro- fissionais, inclusive da equipe médica, para concretizagéo do trabalho interdisciplinar; — Neste momento, o trabalho dessa equipe caracteriza-se como multidisciplinar, sendo esta uma fase intermediéria na cons- truco de uma pedagogia de troca de comunicacéo como cami- ho bisico para a interdisciplinaridade. Conclusio Ressaltamos, como conclusGes bisicas deste artigo, que a interdisciplinaridade é dificil ¢ complexa e traz em seu bojo a trajet6ria histdrica de cada profissdo, a postura ideolégica, pes~ soal ¢ profissional de cada clemento da equipe e as relacdes sociais, que implicam a conquista de espagos ¢ a competitivi- dade, originérias da propria estrutura social, onde esté presente a varidvel da diviséo social do trabalho, vinculada ao modelo capitalista dependente. Constatamos que existe uma distincia significativa entre © discurso e a pratica, principalmente por auséncia de funda- mentagio teérica, ¢ isso se evidencia nos depoimentos onde ocorre uma confusio entre os conceitos «le multidisciplinarida~ de e interdisciplinaridade, Reportando-nos ao conceito “A interdisciplinaridade néio se ensina, nem se aprende, simplesmente vive-se, exerce-se, © por isto exige uma nova pedagogia, a da comunicagdo”, pode- mos concluir que a equipe se encontra numa fase intermediéria da aco fragmentada em busca de uma aco global ¢ unitéria, Os resultados da pesquisa sobre a interdisciplinaridade atrelada A questéo da satide da mulher, analisada a partir dos movimentos populares € da Politica Social, nos permitem apre- sentar como propostas: 93 — A descentralizagéo do Atendimento Integral & Satide da Muther, através da implementacio dos Servigos de Satide da rede priméria, a ser executada pelos Postos de Satide nos bair- 0s periféricos de Campinas, bem como em todo 0 Estado de Sao Paulo; = Que este atendimento seja realizado por uma equipe multiprofissional ¢ conte com a insergio de pessoas da comu- nidade, ¢ que recebam treinamentos especificos, que possibili- tem a apilizagio dos Programas de Saiide, de modo a atender 1s reivindicagées ¢ reais necessidades da populagao local; — Com relagao & equipe responsavel pelo atendimento as mulheres dos Aubulatstivs de Obsteiricia do CAISM, sugeri- mos estudo reflexive sobre 0 tema interdisciplinaridade com aprofundamento quanto ao referencial tedrico propriamente di- ©; = Inclusdo nos curriculos académicos da questo sobre a interdisciplinaridade, dado © momento social ¢ politico em que se encontram as Cincias Sociais no mundo modern. Referéncias bibliogréficas BARROSO, Carmem. A Sade da Muller no Brasil. Sio Paulo, Nobel, Conselhio Estacual da Condieto Ferainina, 1985. 94 p, CIGNOLI, Alberto, Fstado Forea de Trabatho ~ fniroducao a Poltti« ea Social no Brasil, Sao Paulo, Brasliense, Primeizos Vous. CON SELHO CONSULTIVO DE) ADMINISTRAGAO DE SAUDE PREVIDENCIARIA (CONASO}. Plano de Reorientacdo da As. sisténcia @ Saiide no Amibito da Previdéneia Social EQUIFE PRGJELO MULHER: dutheres em Movimento. Instituto de ‘Acaio Cultural. EAZENDA, Ivani C. A. Integracdo ¢ Inerdiseiptinaridade no Ensino Brasileiro — Tfetiviaske -€ Tdeologia, SA0" Paulo, Loyo- 1a, 1979. 107. GRAMSCI, Antonio. Os Inteleetais ¢ w Organtsagio da Cultura. 3. ead, Rio de Janciro, Civilizagio Brasileira, 1979. . INSTITUTO BRASILEIRO Di; ANALISES SOCIAIS B ECONO- MICAS. Saride ¢ Trabultio no Brasil. Petropolis, Vores, 1982. JAPIASSU, Hilton, /rierdiseiplinaridade e Patologia do Saber. Rio de Janeiro, Imago, 1976. 220 p. LUCON, Regina Celia. Servico Socia! nat Avett de Saute: Relato da Prética Profissional no Centro de Atengao Integral a Sadde da Mulher (CAISM). Campins, 1986, Material apostilado. MURARO, Rose Maric. Mulher na Constructo do Mundo no Futuro. io de Janeiro, Vaes, 1972. NUCLEO DE ESTUDOS EM POLETICAS POBLICAS (NEPP). instituto de Economia da UNICAMP, Brasil, 1985, Relatsrio So bre u Situagéo Social do Pais, Campings, Ed. ca UNTCAMP, 1986, v1 241 p Brasil, 1986, RelatGrio Sobre a Situagiio Social do Pi Canpinas, Depio. Grifico da Fundagie SEADE, 1988. 341 p. PINOTTI, José Afistodemo, A Doenga ta Sate: Por uo Politica de Suide no Brasil, Sf0 Paulo, ALMED; Campinas, Ea. da Unieamp, 1984. 79, & FAUNDES, Anibal. A Muther ¢ seu Direto & Satie: Por um Politica de Sade no Brasil. Sio Paulo, Ed. Manole Lida., 1988. 181 p. SAPMENTO, Rogina Cslia et all, Programa de Apolo & Gestante em Enfase na Preparagto para o Parto-e Maternlde. SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDE. Grupo de Sade da Mu~ ther ~ DLN, Subprograma de Saide da Muller, Subsidios.e Dire sizes. Sa0 Paulo, 1986, 1 VIRGILIO, T.G, Maria Silva; COSTA, D, Ironite. Manual do Ambue lai6rio le Obstetriia, 1988, Material apostilado, 95 ce EANETE LIASCH MARTINS DE SA (aor- Santos Roan ee See wiacantiotbases ce oho Menten Plgeia aExecnte poe SUT HEUERAE Ciara arson eis oes Donan on Savio Sees po See in aatonens tse mnke acts eG Sau seat Soa od revel Gnctorarobas eo detate soit Sees cane Srmososel sosocreapas init on [Saba 7 eo concur re Sarees sats try cba ents on Ei can sada peut eonaaco oo eee cabt tee Sor set escapes Sere Sata one Soper CSC'S eas lnarear opebapcencns Smrosemer betaias asa habe ores ‘ike naa enero nopeod eS ra ea Sosoca pecan te tates Sotto shes Powe cere bscnacts Babin Erna coer ster ns he aba toes ears Siete reaiacs de Sones senses Seton so Poona cs esnoce Coote Selena PU yy

Вам также может понравиться