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a PSICOTERAPIA E PSICANALISE” Jacques Alain Miller Sempre gostei do deus Janus. O deus de duas faces, a da paz ea da guerra. Na representagio cléssica, Heraclito sempre chora, ;passo que Demécrito mio para de rit. Qualquer que seja 0 lugar do qual vocés os véem, em qualquer momento em que os vem, cada um é sempre o mesmo: Heraclito chora, Demécrito ri. Nao docorre o mesmo com a face de Janus. A face que Janus apresenta depende do espago ¢ do tempo, é funcio do lugar em que voces ‘esti em um momento ou outro. Seu aspecto inclui a posigio em que voces estao. Imaginem esas representagdes de imagem dupla, que oferecem, segundo 0 Angulo do qual vocés as véem, duas poses do mesmo personagem, olhos abertos-olhos fechados, boca aberta-boca fechada, Mas Janus nto é o deus da oscilacio imaginaria; pois a paz ca guerra sto, em principio, declaragées, enunciados, ditos. Janus é a porta que abrimos e fechamos, e porta’ uma grande fun¢ao simbélica, talvez até a fun¢3o simbélica por exceléncia, talvez 0 préprio simbolo do significante. + Tradugto de Maia Lica F. Homem. E sob a invocagio do deus Janus que situarei minha inter- vencao de hoje. “Psicoterapia e Psicanilise”, esse tema de reflexdo nos é imposto pela atualidade européia. Refletimos sobre psicoterapia psicanilise primeiramente na_Itilia, em razio de uma lei que discutimos bastante, mas também na Franga, na Espanha, na Bélgica, na Gra-Bretanha, Por meio de coléquios e congressos, € assim que um vasto e verdadeiro trabalho ¢le Escola se desenrola no campo freudiano, em particular na Escola Européia de Psicand- lise e na Escola da Causa Freudiana. Como tenho uma responsabilidade na escolha do titulo, comegarei justificando-o. Na expressio “Psicoterapia e Psican: se", 0 emio significa adigao ¢, menos ainda, identidade, quer dizer que a psicoterapia e a psicanilise no sto dois dominios excluden- tes um do outro, exteriores um ao outro sem ponto comum, Nao € sem razao que, do ponto de vista do Estado, a psicanilise seja classificada como uma forma de psicoterapia, como um elemento ou um subconjunto do conjunto das psicotera- pias, € no podemos ficar satisfeitos em opor a essa concepcao a nosao da exterioridade pura e simples de dois conjuntos. Creio que ha intersegio entre os dois, € que esta intersegao nao € vazia Essa representagao nos leva a pensar que trés dominios estto em questo. Hi uma zona de psicoterapias que nao tém nada a ver com a psicandlise, assim como ha uma zona do campo freudiano que € exterior & psicoterapia; e h4 uma zona de intersecao. Reencontramos af o deus Janus, Se consideramos a psicanilise com base na psicoterapia, a psicanilise confunde-se com a psicoterapia, a0 passo que, con- siderada com base em si mesma, ela no tem nada a ver com a psicoterapia. Talvez 0 proprio psicanalista seja um Janus de dupla face. Alguém tomou a palavra neste congresso para dizer: “Eu sou psicoterapeuta?” Creio que o psicanalista pode levantar-se e dizer: “Bu sou psicoterapeuta” e isso serd verdade, mesmo se nao € toda averdade, mesmo se a psicandlise propriamente dita, a psicandlise pura, no é psicoterapia Tentemos dar um pouco de corpo a essa distribuigto espa- cial, H4 uma zona comum entre psicoterapia e psicandlise quando se trata das psicoterapias que procedem ‘pela palavra} Nos dois casos, trata-se de logoterapia, de uma terapia pela linguagem, ‘mesmo de uma terapia da linguagem. Sabe-se desde sempre. Sabe-se que falar faz bem. Por exem- plo, € 20 menos uma das razdes que nos faz fazer congressos, Desde sempre, sabe-se que falar cura, no momento, Sabe-se que ir mal, estar doente, € talvez uma forma de falar quando ji nao se sabe falar. Na linguagem de hoje, diz-se "somatizar", 0 que quer dizer que © corpo se torna um meio da palavra. Que haja uma relagao entre o mal e a palavra nto é uma descoberta de Freud; a medicina, antes de inserir-se no discurso da ciéncia, sabia muito bem 0 valor de alivio da confissio e da palavra de absolvicao. Hi o que se sabe desde sempre, e hi o que mudou na época da psicandlise, na era pés-kantiana, na qual nasceu a nogao de psicoterapia, O que mudou é que a questo passou a set formulada nos termos de um conflito de causalidade) Toda causalidade que conceme o ser humano é de ordem material? Ou ha uma outra ordem de causalidade? As perturbagdes que afetam o psiquismo respondem a uma causalidade biolgica, neurolégica ou quimica, ou hé uma causalidade psfquica, que constitui uma ordem original de realidade? © que ha de comum entre psicoterapia ¢ psicandlise € que ambas admitem a existéncia de uma realidade psiquic® Lembre- mos aqui o termo que Freud especifica nesse emprego: Realitdt. A questio passa a ser, entlo, a de saber como operar sobre. essa realidade psiquica. Isto €, qual € a realidade eficiente, nos termos de Freud, a Wirklichkeit, que opera sobre a realidade-Realitat psiquica? Se operamos por uma intervencao ‘direta sobre o cérebro como 6rgio, por uma intervencio cirtirgica, elétrica ou quimica, saimos evidentemente do campo das psicoterapias. Da mesma forma, se operamos por injecdes de substincias a fim de modificar os estados de consciéncia. Todavia, € fato haver um certo némero de intervengdes sobre a realidade psiquica que passam pelo corpo e que entram no campo contempordineo das psicoterapias. Sa0 as psicoterapias que se utilizam da gindstica, Classifico aqui as sabe- dorias orientais, que sio todas disciplinas de maestria do corpo. Mas é também 0 caso das sabedorias ocidentais da Antiguidade, Jo exercicios de dominacio psiquica das fungdes ¢ ‘dos petites somiticos, HG, assim, um vasto leque de psicoterapias a classificar, da fstica & psicoterapia breve de instituicao. Qual seria o principio ssificacao? © que acredito sero principio da cla acto de qualquer rer psicoterapia é que h4 um Outro que diz o que deve ser o, um Outro a quem 6 sujeito que sofre obedece, e do qual ele aprovagito. nao é elimindvel. Ele nao é elimindvel nem das tas comportamentais, porque elas sio sempre do- Outro que aprova, que diz “esta bem”, que diz “sim” o olho do mesire que desempenha o papel de modelo. S20 terapias pela imagem, e que, por isso mesmo, so terapias pelo mestre, pela identificagao com o mestre. E assim que elas sempre evidenciam 0 campo da linguagem. O uso da palavra € mais ou menos evidente, diversamente acentuado. O zen € uma psicoterapia t2o bem iano campo da linguagem que vi desconcertar a palavra, de forma a atingir o significante puro em seu. contra-senso. O grito primitivo também € um esforgo para atingir o puro significante do Es. Na hipnose, no relaxamento, em todas as formas de gindstica meditativa, hé sempre um mestre que que induz, © a0 qual se trata de se identificar por introjecio. Isso pode passar pelo corpo, pelo corpo-escravo, pelo mo- vimento do corpo ou pela imobilidade do corpo, por todo com- portamento do corpo. Mas 0 que € essencial, ¢ que faz. psicotera- pia, € 0 assujeitamento a0 Outro — *\ L Tratando-se das psicoterapias que economizam a passagem pelo corpo, estamos em uma zona que se aproxima da psicanilise, Digamos que sio psicoterapias que empregam as propriedades clementares da intersubjetividade. Elas constituem © que eu cha- ‘maria uma técnica do “sim” Ela visam obter um efeito de absolvi- a0 pelo “sim’ do Outro, Uma terapia que teve seu tempo de icesso tinha como piv6 a seguinte frase: “You are OK, I'm OK" [Esse aforismo & uma espécie de matriz de todas as psicoterapias nao corporais. Essa “OK-terapia” € o principio de uma dialética rudimentar:instituir © Outro, investilo do significante-mestre, de forma a receber dele um “sim”, o significante que salva, Estamos aqui numa zona tao préxima da psicandlise que, as vezes, ela € indistinguivel aos olhos de algumas pessoas. Penso, por exemplo, na teoria desenvolvida por |Kohut em seu dltimo vro, segundo a qual a finalidade.da psicandlise € fazer emergis para o sujeito um Outro que Ihe sorri.' Ele nos da o belo exemplo de um paciente aflito com um sonho tepetitivo, no qual via sempre TAL Rol How dows analysis cure? Unvessy of Chicago Press, 1984 um personagem virando-the as costas, encarnando de alguma forma a recusa fundamental que ele sofria. Kohut 0 vé curado no dia em que, enfim, seu paciente tem um sonho no qual o persona- gem se volta, é sua mae, ela sori, o paciente esta curado. Se queremos dar uma férmula geral das psicoterapias, dire- mos que sao fundadas sobre uma relagao de dominacto que se exerce da imagem do outro, i(a) domo escreve Lacan, sobre 0 eu (moi) do sujeito, marcado por um m.)Essa relacao imagindria s6 opera enquadrada por uma articulagao simbélica. 1a 5 Esto indicados ai, embaixo a direita, 0 sujeito, na medida em que ele se endereca ao Outro como mestre, com o efeito de significacto que se segue, © 0 que se conclui disso, a identificagao com 0 Outro, I(A). © que evoco aqui de forma simy a ada nao é outra coisa que o que encontramos em Lacan no que ele chama 0 grafo do desejo. Esse grafo comporta dois andares. Esse € 0 estigio inferior, e também minimo, 0 que quer dizer que nao se possa evitar passar pelo seu , © ACeSSO AO estagio superior &, se posso dizer, opcior Todo significante do Outro, toda palavra do Outro, na medida em que reconhecemos nesse outro a posicao de grande Outro, tem efeito de identificagao. Essa é a base comum da psicoterapia e da psicanilise. Pode-se até dizer que, na psicanilise, a sugestio é, inclusive, a mais pura. Nesse nivel, a psicanalise € psicoterapia, isto é, terapia por identificacao. Z.Ielacan Subversion du sue et dinlectque du déstr dans nconscient frevdien (1950) Em: Beis. Pans: Seul, 1966, pp. 805, 808, 815, 817 e907 “4 Depois de Freud ¢ até Lacan, os préprios psicanalistas defini- ram a psicanilise como uma terapia por identificago — assim, o problema “Psicoterapia e Psicanilise” nélo nos é imposto pelo Estado, ele é a conseqiiéncia do dis nento da identidade freudiana da psicandlise. Para nés, a possibilidade da operacio analitica baseia sobre nada além do que uma recusa do analista, em utilizar os poderes da identificagio. O analista, na medida em que

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