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146 VI. AMOR ‘Um livro sobre 0 feminismo radical que se do amor seria um fiasco polftico. Porque o amor, talvez ainda mais que o parto, € o piv6 da opress her pean, fro bree ee ‘gBes assustadoras. Queremos nos livrar do amor? © piinico sentido por qualquer ameaca ao amor § ‘um 6timo_indicio_de_seu_signi sinal de_que o am -qualquer.andlise- sobre amie crs, ou sobre a pstcologia sual sun omisso da tratas- ria cultura, sua relegacio A “vida (Quem uviu falar de Tsica no. querio de_dormi retratado em novelas, até na metafisica, mas nelas € des- ctito, ou melhor, recriado, ¢ nfo analisado, © amor nunca {oi compreendido, embora possa ter sido amplamente experimentado, e essa experiéncia ter comunicedo. Existem motivos para essa falta de anélise: As mu: theres € 0 Amor sao escoras, Examinem-se eles, ea ver~ fillg_gue, mesmo_es_poueas mulhers sem. “obrgnh mili ee ee ‘ekausias 4 Tinha”de part Ge qualquer, jimento sf, Requer-s6 ‘ie sun coersia, durante a.melbor pate ae = mos aie 7 resto de su a 'conservar” esse partido, (“Amar Fn aaa ee eesinee, 159 como a profissio € para os homens.”) As mulheres que preferem retirar-se dessa corrida escolhem uma vida sem amor, algo que, como vimos, a maioria dos homens néo tem coragem de fazer. Mas, infelizmente, a Caga a0 Homem € caracteriza- da por uma urgéncia emocional, além desse simples de- sejo de anunciar um compromisso oficialmente. Ela 6 fundamentada, em primeiro lugar, na propria realidade de classes que produziu incapacidade masculina de Sulina € condenada, Para lepiimar sua_extencia Od ‘uulher deve ser ue uma mull nntinua- ‘mente procurar uma saida para_sua_definicio_inferior; ns. $10 05, fem posigio de jer-theg se estado de graca. ‘ser raramente_ permit oie eile eslearae_svls_da_ suns -oa_ sociale e, raramente the ent €concedido-o-reconhecimento.que cla merece. — tomns- ta mento hang do Sede aoa de tte Pt i ito _ : ere a maioria das_mulheres faz, Assim, ‘némeno_ t, Silto para‘uma mulher € dizer que cla mulher", ie, que ela nfo € superior. O {que ela’ tem’ a inteligénca, talento, a dignidade, ou a forga um home. De fon smo odo mabe una ¢ omen, Dt Ee ans ‘Sik seima-do-compoctamenta. das_outan “Asim, a 160 pot motivos de bem-estar, mas realmente para valida pe aia nea ee rete pare Yaa, AIG “disso, a continua dependéncia econdmica das mutheres toroa impossivel uma situagSo saudével de amor nize iguas, As mulheres, ainda hoje, vivem sob um si tema de patronato, Com pouces exoeybes, elas tém a es- coe, nfo ene seem ies oe carom, mae cots vada,-As mulheres fominante pode © vilegis dees possam, por. 05 assar mulheres sem homens estio n-mesma situagio sdo uma subclasse desamparada, que necessi- ta da proteso dos poderotos. Isso € a anttese da liber- dade, ‘las ainda serem definides (negativamente) por ‘uma siluagdo de classe: pois hoje elas estfo num estado de vulnerabilidade exagerada, Participar do. dominio. de alguém escolhendo 0 seu senior dé em geralailusio de ‘uma escola five; mas, na realidads, a mulher munca € Tive para escolher 0 amor sem motivagbes extemas, Para dla, no momento atval, as dias coists, amor ¢ status, dlevem permanecer inexciavelmente entclagadas. ‘Agora, supondo que uma mulher no perea de vista esses fatores fondamentais de sua condigdo’ quando ama, la nunca seré capaz de amar gratitamente, mas apenas fm troca de-seguranga: 1) da seguranga emocional que, vimos, cla tem mo- tivos para exit, 2). da ‘identidade emocional que ela seria capaz de encontrar pelo trabalho e 0 reconhecimento, mas que The € negada — forgando-a, asim, buscar sua de go através de um homem; 3) da seguranca da classe econdmica que, nessa so- ciedade, esti ligada a sua habilidade em “fisgar” um hhomem’ ‘Dias dessas trés exigéncias slo condigées sem vali dade para o “amor”, contudo sfo impostas a ele, sobre- caregando-0, Assim, na sua precdria situag&o politica, as mulhe- res nfo podem ge dar a0 lixo do amor espontineo, Isso 161 seria perigoso demais. © amor € a aprovacio dos ho- ‘mens so importantissimos. Amar impensadamente, antes de ter assegurado 0 compromisso legal, poria em risco essa aprovacio. Citemos Rei “Finalmente ficou claro, durante a psicanlise, que a pa- ciente tinha medo de que, s¢ ela mostrasse a um homem que © amava, ele a consideraria inferior e a deixaria.” Uma vez que a mulher se entrega emocionalmente, la serd incapaz de jogar os jogos necessérios: seu amor surgiré primeiro, exigindo expresso. Fingir uma frieza {que no sente, entZo, seria doloroso demais e, além disso, seria imitil. Ela banca a durona e com isso esté visando a liberdade de amar. Mas, a fim de garantir esse com- promisso, ela deve refrear as emogOes, deve observar as regras, Pois, como vimos, os homens’ no se submetem A abertura métua e & vulnerabilidade, a nao ser que sejam forgados a isso. Como, entao, ela faz para obrigar o homem a assu- mir esse compromisso? Uma das suas armas mais po- tentes 0 sexo — ela pode excité-lo até ele chegar a um estado de tormento fisico, com uma variedade de estratagemas: recusando a necessidade dele, provocan- do-a, dando e tirando, através do citime, e assim por dianie, Uma mulher sob andlise se indaga por qué: “Existem poucas mulheres que nunca se perguntam, em certas oessides, (Quanto eu devo ser difeil para um homer?” Penso que nenhum homem se preocupa com perguntas desse género, Eles talvez. perguntem-se apenas: ‘Quando ela ce era ‘Os homens estilo certos, quando se queixam de que falta discriminacio s mulheres, que elas raramente amam, ‘um homem por suas caracterfsticas individuais, mas, an- tes, pelo que ele tem a oferecer (sua classe); que’ clas sig calculistas, que usam o sexo para obter outras coi- sas, etc, De fato, as mulheres no esto em condigio de amar livremente, Se uma mulher tem bastante sorte para encontrar “um rapaz decente” que a ame ¢ a sustente, 162 ela esti se saindo bem — e, geralmente, seré grata o bastante para retribuir 0 amor dele, A tinica disc go que as mulheres so capazes de exercer 6 a escolha entre os homens que as escolheram; ou opor um homem, lum poder, contra o outro. Mas provocar o interesse de tum homem, e pegd-lo numa armadilha, logo que ele ex Dresse seu ‘interesse em se comprometer, nfo 6 exata- mente uma autodeterminagio, Agora, 0 que acontece depois que ela, finalmente, fisgou seu'homem, depois dele ter-se apaixonado por la, e estar pronto a fazer qualquer coisa por ela? Ela conta com uia nova série de problemas. Agora, ela pode afrouxar 0 controle, abrir a rede e examinar 0 que pe- ‘gou. Geralmente, fica decepcionada. Nio 6 nada que a Interessaria, se ela fosse um homem. Geralmente, esti abaixo de seu nivel. (Verifique isso algum dia: Fale com algumas dessas esposas servicais.) “Ele pode nio set grande coisa, mas, pelo menos, eu consegui um homem para mim” é em geral, a maneira como cla se sente, Mas, pelo menos, agora’ela pode parar de encenar. Pela Primeira vez € seguro amar. Agora, ela pode tentar fu riosamente prendé-lo emocionalmente, pretendendo real- mente 0 que sempre pretendeu. Freqiientemente, é ator- ‘mentada com preocupagies de que ele poderd desmasca- ré-la, Ela se sente uma impostora, B assediada por medos de que ele no a ame do jeito como ela “realmente” é — ¢, geralmente, esta certa. (“Ela queria se casat com ‘um homem com quem pudesse ser tio puta quanto ret mente 6.") E nesse momento que ela descobre que amor e ca- samento significa, para um homem, uma coisa diferente do que significam para ela, Embora os homens, em geral, acreditem que as mulheres sio inferiores, todo homem. tem reservado, na sua mente, um lugar especial para a inica mulher que ele elevari’ acima de todas as outras, ‘gragas & unigo com ele. Até agora, a mulher, que tinha ficado de fora, implorava pela aprovacio dele, morrendo de vontade de ascender a esse lugar de destaque. Mas, uma vez Ié, ela se das outras mulheres real, mas s6 porque se adaptava primorosamente a esse SqUSIL-Provaveliente, el sequer sabe qucm € ela (se E-que, nesse momento,’ ela prépria o saiba realmente). Ele a_admitiu-ndo-porgue-aamasse_genuinamente, mas, Somente porque el m._suas fantasiag reconcebidas, Embora soubesse que o amor dele era falso, ja que cla propria 0 maquinara, néo pode deixar de sentir destespeito por ele, Mas tem’medo, em primei- ro lugar, de revelar seu eu verdadeiro, pois entéo até esse falso amor poderia perder-se. E, finalmente, com- preende que, para ele também, o casamento teve todos 6s tipos de motivagio que nada tém a ver com o amor. Ela foi meramente a pessoa mais proxima da imagem fantasiosa dele. Foi chamada de A Atciz Mais Versétil, pela multiplicidade de papéis que assumiu na pega dele, ‘como Alterego, Mae de Meus Filhos, Dona de Casa, Cozinheira, Compankeira. Foi adquirida para preencher ‘um espago vazio na vida dele; mas a vida dela é nada. Portanto, ela_nio_escapou_de_ser_como_as_outras ‘mulheres, Foj_erguida para fora_dessa_classé,_soments orque ela agora é um apéndice de um membro da classe Efominane; ¢ le még. pode unirse a ely 4-nl0_ser-qus aloe osu sts, Mas ls nfo fo Wei Eo poe movida a “‘iegra-da-casa”. Foi clevada, somente para ser ade de unde acca Seuese engannda, Noo ferebei_amor-e-reconhecimento, ¢sim-posesividade © E assim que ela se transforma de Noiva Rubo- PERSIE Tum ua mudanga que, nfo importa quanto seja universal e previsivel, ainda deixa o marido perple~ xo. (“Vocé ndo'é a mulher com quem eu me case.”) ‘A situagio das mulheres ndo mudou significativa- mente do que ela sempre foi, Pois, durante os sltimos cingiienta anos, as mulheres tiveram uma dupla ligacio com o amor. Sob a méscara de uma “revolucio sexual”, que. se supe ter ocorride (“Ei, venha cf, garota, onde Voce esteve? Voc8 mio ouviu falar de revolugao sexual?”), as mulheres foram persuadidas a deixar cait a couraga. ‘A mulher moderna tem horror de ser tida por uma puta, que era exatamente o que sua av6 esperava que aconte- fesse no decorrer natural das coisas. Também os homens, 164 ainda no tempo das avés, esperavam que toda mulher digna os deixaria esperando, jogaria todos os jogos nor- ‘mais, sem se sentir mal. Uma mulher que no protegesse seus interesses desse jeito ndo era respeitada, A jogada estava clara. Mas a retérica da revolugio sexual, se no trouxe melhorias para as mulheres, provou ter grande valor para ‘os homens. Convencendo as mulheres de que os estrata sgemas ¢ as éxigéncias feminiaas Babituais eram desprezi- eis, desonestas, pudicas,_antiquadas, e autodestrutivas, foi criado um novo estoque de mulheres disponiveis, para expandir_o escasso suprimento de mercadorias para a exploragio sexual tradicional, destituindo as mulheres até da pequena protepio que tao penosamente clas tinham conguistado. As mulheres, hoje, nio se arriscam a fazer a velhas exigéncias, por medo de ter um novo vocabu- létio, criado especialmente para esse propésito, gritado para’ elas: “fodida”, “‘castradora”, “provocante”, “uma verdadeira droga”, *um baixo-astfal” — o ideal é ser uma “gatinha pra’ frente” Mesmo hoje, muitas mulheres sabem o que esti se pasando, e evitam a armadilha, preferindo ser xingadas 1 serem desenganadas, em fun¢o do pouco que elas po- dem esperar dos homens (pois ainda é verdade que mes- 2 ‘mo os mais avancados desejam uma “senhora” relativa-/ ‘mente ndo muito usada). Mas, cada vez mais as mulhe- res so tragadas pela armadilha, apenas para descobrir, tarde demais, que as tradicionais estratégias femininas ti- ham um objetivo. Elas se chocam por se surpreende- fem, aos trinta anos, queixando-se num vocabulério peti- gosimente préximo das antigas variedades do eu-fui-usa- da, 0s homens-sio-gavides, celes-sio-todos-falsos, Even- tualmente, so forgadas a teconhecer a verdade dos ve- Ihos ditos populares: uma mulher bonita e generosa & (na melhor das hipéteses) respeitada, mas raramente amada. Fis uma descrigio, valida ainda hoje, da muther “emancipada” — no caso, uma artista de’ seus trinta anos, do Greenwich Village — tirada de Mosquitoes, um dos primeiros romances de Faulkner: 165 “Ela sempre teve aborrecimentos com seus homens - Mais cedo ou mais tarde, eles acabayam abandonando-a. Os homens nos quais ela’ reconhecera potencialidades passa ram todos por um violento, porém temporitio, periodo de in- teresse, que cessou tio abruptamente quando comegou, sem deixar sequer fios de ligago com os momentos vividos a dois, ‘como estes curtos temporais de agosto, que 6 ameacam, & se dissipam, sem razio aparente, nfo ‘produzindo nenhuma chu "As vezes, ela procurava, com uma imparcialidade quase ‘masculina, uma razio para isso. Sempre tentou manter suas relages no plano que 0s proprios homens parcciam preferir certamente, nenhuma mulher queretia, e poucas consegui- iam, pedir menos de seus homens do que ela pediu. Nunca tomou seu tempo arbitrariamente, nunca os fez esperar, nem. fem casa em horas inconvenientes, nunca os fez servit ‘de criados para ela, Ela os satisfaz e elogiou a si mesma por ser uma boa ouvinte. E, contudo, ela pensava nas mulheres que conheceu; como todas tinham, pelo menos, um homem nitidamente extasiado por elas. Pensou nas mulheres que tinha observado; como pareciam conseguir um homem, quan- do quisessem, c, se no conseguissem t#lo, facilmente o substi- tuiam por outro.” As mulheres de idéias elevadas, que acreditavam ser possivel a emancipaco, mulheres que tentaram, desespe- radamente, libertar-se dos “grilos” femininos, que tenta- ram cultivar 0 que acreditavam ser uma integridade, uma hhonestidade e uma generosidade maior dos homens, fo- ram perversamente enganadas. Descobriram que ninguém apreciava suas conversas inteligentes, suas aspiragbes cle- vadas, seus grandes sacrificios para evitar que desenvol- vvessem as personalidades de suas mies. Por mais que os hhomens tivessem prazer em desfrutar de sua sagacidade, de seu estilo, de seu sexo, e de suas ceias A luz de vela, sempre acabavam se casando com A Puta, e entio, para arrematar isso tudo, vollavam para se queixar que tinha sido tudo, As mulheres “emancipadas” descobriram_que a honestdidea_generosidne,,0. camaradagem dos ho- ‘fens era_uma_mentira, Os homens todos. “mito razer las, e_depols_dispensé-las, em_nome_da (Eu te respeito muito e gosto mui- 166 to de voce, mas sejamos razoéveis. ..”) E, slém disso, txistem os homens que saem com elas para discuti Sic mone de Beauvoir, deixando as mulheres em casa com 4s fraldas.) As muheres "emancipadas” descobriram que os homens estavam longe de ser os “caras legals” quem elas gostariam dese equiparar. Descobricam que, Tintando padrdes sexuais masculinos (0 ofhar volGvel, © busca pelo Heal, a Eafase na atragho fica, ete), nBo's6 nig estavam conseguindo a liberagso, mas estavam eaindo fm algo muito pior do que aquilo a que tinham renuncia- do, Estavam tnitando. ea_que no-havia sequer_brotado_de sua Disp pig, Descabram ue Snow "earato™ ce Superficial ¢ inexpressivo, que stas emogbes estavam se- fando por tris disso, que envelheciam e se tornavam de- adentes, Tinham medo de estar perdendo a capacidade de mar. Nao tinham ganho nada imitando os homens, ape= hag superficiatidade'e imaturidade, e, ainda por cima, n80 tram tio habels quanto eles, porque alguma coisa dentro disso tudo era contra a sun matreza esse modo, as mulheres que decidiram nfo se casa, porque eram suficientemente eapertas para olhar a volta E ver aonde o casamento levava, descobriram que era uma Guestdo de se casar ou de nada, Os homens $6 se -com- rometiam por um preso; arem_(arcar oi deles, dependerem Jo_ pedestal dele, tomazem-22 Op eu Sein. Sent, Tear consnass & se fimo de"“gatinhis® que nfo signficam nada, ou. pelo menos nada do que mie preendia. Setem’ a “outra mulher” até o resto da vida, usada para provocar a espost dele, para provar sua viridade e/ou sta independéncia, Saboreada pelos amigos como sua sitima congusta “inte feuute™ (Poi, mesmo ue la fens rennin a ses fermos, ¢ a0 que eles representam, nenhim -homem. re ‘puncioa ales) ‘Sim, o-amor significa part-os homens ‘Gi cose ntecamente. diferente do gue paras mulher, Significa posse ¢ controle; significa cidme, apesar dele ‘nunca o ter demonstrado antes, mesmo que ela possa ter desejado (no importa se cla era “dura”, ou se tinha sido violentada antes de pertencer oficialmente a ele; a 167 partir de entio é que ele se torna um vuledo, um verda- deiro furacdo, porque sua propriedade, a extensio de seu ego, foi ameacada). Isso significa uma crescente perda de interesse, unida a um olhar volivel. Quem precisa disso? Infelizmente, as mulheres precisam. Eis, mais uma vez, as pacientes de Reik: “Bla, algumas vezes, se sente desiludida por nfo ser ‘mais perseguida pelos homens. Nesses momentos de no-per- seguigao ela fica muito deprimida.” E: “Todos os homens so egoistas, brutais desatenciosos — mas eu gostaria de encontrar um.” Vimos que uma mulher precisa de amor, em primei- 0 lugar, por sua fungio naturalmente enriquecedora, ©, cm segundo lugar, por motivos sociais e econémicos que nada tém a ver com o amor. Negar sua necessidade, é colocé-la num lugar social e economicamente extravulhe- rivel, bem como destruir seu equilibrio emocionel, que, diferente da maioria dos homens, € basicamente saudével. Os homens merecem isso? Decididamente no. A maioria das mulheres sente que fazer tais acrobacias por um-ho- ‘pen en i olen 2 th ach es -continuam omo_antes, tirando 0 melhor. partido. de_uma_sitacdo Film. Se isto se torne demasiado ruim, elas optam por um afastamento (dos homens em geral): “Uma ver perguntou-se a uma jovem paciente, durante ‘uma consulta psteanaitia, se ela preferia um homer ou uma ‘mulher psicanalista, Sem'a menor hesitagio cla disse: ‘Uma ‘mulher, porque eu me sinto muito ansiosa pela aprovacio, se um homer." 168 VII. A CULTURA DO ROMANCE, Até agora nfo distinguimos “romance” de amor. Porgue nio existem dois tipos de amor, um sadio (ma- sgante) © outro no (doloroso), © sim alguma coi ue no chega a Ser amor, ou uma angistia didria. Quan- do 0 amor acontece num contexto de poder, a “vida amo- rosa” de todos fica afetada. Porque poder ¢ amor nio casam, Portanto, quando fala tio, que~ zemos_dizer_ 0 amor corrompido por seu poder — o sistema dé classes sexuais — numa forma de. amor doentia, que, por_sua vez, reforca esse sistema de imulheres em relagdo_aos homens é criada_pela_con- as tudo, \do_moderno, as_bases econdmicas ¢ soci: ii Govesio nlc slo suletentes em al mesmas para wean? (Gis Dee mode plase poo pana oman ese modo, apla- Para 0-aar ant Ho (Parece que temos-que dar oma ‘mfozake @ cl, “_. Fapazes!) Vere 0, remantno_ se decnnoia ct meporyie 3 ier tagdo das mulheres de sua biologia, A medida que a ¢i- vilzagio-progrde eas bases das classes senusis désmio- ronam, a supremacla masculina precisa se_escorar_em instituigbes_artificiais, ou em exageragdes de instituigoes, 169 ui, enguanto. que es ‘desrespeitadas, las 680 elevadas a estados. de falsa adoracto,'-O io_€um instrumento cultural do poder masculi- ‘no, para impedir as mulheres de conhecer sua condicio. Ele é especialmente necessitado — ¢ portanto mais forte ‘Ros paises ocidentais com maior taxa de industrializa~ Go_Hoje, com a tecnologia capacitando as mulher afrouxarem seus papéis de uma vez por todas — o que foi quase um malogro no inicio do século XX — o roman- tismo nunca esteve tio. bem. ‘De que modo o romantismo funciona como um ins- trumento para reforcar as classes. sexuais? Examinemos Shas componentes, apericgoadoe GUTEHIE” seulos, 0s métodos modernos de sua difusio — técnicas culturais ‘Go sofisticadas e penetrantes que até os homens sio prejudicados por els. 1) Erotismo. ©. principal componente do_romantis- ‘mo € 0 erotismo. Todas as necessidades animais (0 afeto de um filhote que nunca sentiu calor) de_amor ¢ calor sfo_canalizadas_para_a_a_sexualidade genital. Nunca se {eve tocar pessoss do. mesmo sex0, 8 se Pode Tocar pessoas do’sexo oposto, quando nos preparamos para um ‘gncontro (“um passe") sex ital, O isolamento torna a as pessoas ansiosas por afeicdo fisica; e, se a tinica forma ea jodem obter € a sexual ide. seni sate. isto_serd Gu or gUr dln pasacie: Nese stato de Niperseusel SER Pr solo ecueal produr wi elato ange- ado, Suficente para inspirar tudo, desde as escolas de ‘quadros célebres 6-0 rock and roll. Assim, o erotismo é @ concentracdo da sexualidade —~ geralmente em objetos ‘liamente carregados (renda "Chantlly") — significando deslocamento de outras_necessidades_afetivas/' is 170 iio é embaracante, a nfo ser que seja um beijo erdtica. Seo-"sen0" € OC na serdide, ele prova noss-Sibra A villidade ea atuas’o_ se confundem com ‘valor socal ‘A constante estimulacio erética da sexualidade mas- catia, jamto com 2 provbicto de sua expansfo pels. ca- Sar aa won “mais normats sio_plancjados para incentivar_o ho- para_as mulheres apenas como. coisss. a A penetracko deve ser-vencida, Observe-se que ‘arotismo opera numa tinica ditecio. As mulheres. soos ‘loos objetos “de “* em nossa sociedade, a tal ponte ‘que véem a si-mesmas como-eréticas® Tsto funciona para preservar ao homem o prazer sexual direto, reforgando @ Eevendéncia feminidéa, “AS mulheres s6 podem set sa- tisfeitassexualmente pela. identificacfo viedria com 0 hhomem aue gosta delas, Portanto, o erotismo pfeserva 0 sistema de classes sexuais. “nica excecio a essa concentracéo de todas as necessidades emocionais em relaches eréticas sfo as afei ces (ocasionais) dentro da familia. Mas aqui, também, 4 menos que sejam sens flhos, um homem expressa pelas Crianeas tio pouco afeto quanto pelas mulheres. Assi ‘ua afeiefio pelos pequenos & também uma armadilha pa prendé-lo d estrutura matrimonial, reforcando o sistema patriaral, 2. Mas, como toda mulher J& constatou, um homem ue parece Stas forsano fer sexo” geralmente fice bastante allviado. 0 Saini do. desempenho Hera: se0 eo, etiowse denendente fesse continno sobmeterse_ 8. prova, atavés das congustas. s- Stal; tas to 0 que cle deve ter Temente deseado era o Fretewto paraenfrezarse’ is afeigbes sem a. petda do. amor to via. O-fato de oe refenrem_mais-a_manifesa Tio de_soae cmogies do" que a8 mutes georre pone, como Sn comenifecs = mals do, Complxo de Evo, er Bio'er ave, € claro, sie moe Fula com_algima.demonstracto. de domo, SOs homosexuals fo asim {So rdiclarzados porque a0 orem’ or homens como” objets sxe Nontma © corente atte em es mulheres Ieem revs Boy * Bénero de Pley Boy para homossexni, (NT) im 2) A Privatizapto Sexual das Mutheres. O erotismo apenas @ camada mais elevada do romantismo, que re- forga a inferioridade feminina. Assim como acontece em qualquer classe baixa, a consciéncia de a amortecida para. impedit seus membros de_s¢-revollar. ‘Nesse_cas0, por ser sexual a caracterstica distintiva dy exploragio das mutheres como classe, deve-se descobric im melo, inconscientes de_que todas ‘so consideradas sexualmente iguais.(“bocetées”). Quan- do um homem se casa, talvez.ele escolha com cuidado dentre esse grupo indistinto, j4 que, como vimos, ele con- serva um lugar especial na sua mente para “A Unica”, ragas & unigo fntima dela com ele. Mas, em geral, ele nlc consegue ver diferencas entre as gatinhas (louras, more- nas, ruivas).* E ele gosta que seja assim. (“Um balango no seu andar. um risinko no seu falar, DISSO OUE EU GOSTO!") Quando um homem acredita que todas as mulheres so iguais, mas quer impedilas de pensar isso, © que ele faz? Conserva suas conviegSes préprias e finge, ‘para apaziguar as suspeitas da mulher, que o que ela tem em comum com as outras & exatamente 0 que a faz dife- rente, Assim, a sexualidade dela finalmente se tora sind- rnimo da, sua individualidade. A_privatizacdo_sexual_da » pelo qual as mulheres ficam_cegas tho que, como parte das suas fu Primeira Dama tenha que ficar ao Iado do Presidente em sua comitiva, como discreto escravo negro? © processo & insidioso. Quando um homem diz: “Eu adoro louras!”, todas as secretdrias nas redondezas, se aprumam nas cadeiras; elas 0 tomam_pessoalmente, porque foram privatizadas sexualmente. A loura que cada uma traz em si se sente pessoalmente lisonjeada, porque aprendemos a medir nosso valor pelos atributos fisicos 4. Quanto aos seus outros esportes”, diz um andncio publictéio recente sobre over do flea oe Namath, le refer at im aque nos diferenciam das outras mulheres. Nao se Jem- tra mais que qualquer atefbuto fisco que se possa men- jonar € comparilhado Por muitas outras, que esses so atributos acidenais, que nfo sio uma criagfo sua, que fua sexualidade € compartlhada pela metade da human Gade, Entretanto, num reconhecimento auténtico de sua Sndividualidade, ua Tourie seréamada, mas de um modo diferente a mulher seré amada primeiro como uma totali- dade insubstituivel, © entéo sua lourice ser amada como fuma das caracteristcas dessa totalidade. © aparato da privatizagéo sexual € tio sofisticado aque pode ser que sejam precisos muitos anos para detec~ téelo, Isto esclarece varios tragos enigméticos da psico- Togie feminina, que assumem as seguntes formas: Mulheres que sio lisonjeadas por seu sex0, i “Ti rem o chapéu para mocinhal” Mulheres que sio chamadas de querida, docura, can- dura, gatinha, anjo, rainha, princesa, boneca, mulher, {quando estio vestdas ce um modo habitual e impessoal ‘Mulheres que sio secretamente lisonjeadas por terem sido beiscadas na bunda em Roma (Eas fariam melhor fem contar o nimero de vezes que as bundas de outras mulheres foram beliscadas.) ‘© prazer da provocagio (manter os homens um estado de testo constante é tido como um simbolo de valor e atrtividade pessoal). (0 fendmeno “waral". (Mtheres, eujos eanais de es- cape lesitimos de expressio de sua invidualidade sfo ne- gados, “expressamse” fisicamente, como no “Eu quero ver alguma coisa ‘diferente’.”) sas plo-apens algunas das, reas ao presto de privatizagio-sexual,-a confusio da senualidade com_s do necesita de suns conbubes sexuns eapecfions pare feadiante (Ela acha que sua xota € feita de ouro.”) Mas as cangdes de amor ainda continuatiam a ser escri- tas sem elas. “As muleres podem ser iludidas, mas totalmente conscientes disso. como_uma tée 173, pulacio vilida, por isso que tomam 0 maior cuidado Para evitar falar sobre as mulheres na frente delas (“no na frente de uma dama”) — isto revelaria seu jogo. B ‘traumético para_uma mulher ouvir por aceso uma. co ‘isa entre homens. Assim, todo esse tempo, ela fol apres ciada como “traseiro”, “carne”, “boceta” ou “material”, para dervir de “um pedago de", “essa vaca”, ou “essa ie Set enganada por dinheiro, ou sexo, ou. amor! mpreender & melhor do. que out ier, mas.completamente indiferencidvel, sobrevém nao s6 como_um_choque, mas também como’ uma aniquilacto, ‘Ota, Mas talvez 6 momento mais freqiente em que, ums ‘mulher tem que se defrontar com sua privatizacao se € numa briga de amor, quando a verdade € revelada, Entfo, o homem pode tornar-se menos euidadoso e admi- tir que a finica coisa pela qual ele realmente semore gos- tou dela foram seus peitos (“Duas balas de canhiio”) ou ‘suas pernas (“Que coxinhas!”), e ele pode encontrar isso em outro lugar, se prec Assim, a privatizagio sexual estereotipa as mulheres, Estimula os homens a verem as mutheres como “boneess” Giferenciadas exclusivamente por atributos superticiis — ‘io da mesma raca deles — @ isto cega as mulheres para sua exploragio sexual como classe, impedindo-as de se unirem contra isto, issim, segregando efetivamente as das classes, Um ef to tos Histoos-superfic vidualizados ¢ insubstituty ‘As mulheres, pelo ser conferido a una ind de desenvolverem ‘uma individvalidade forte, que: thes bermitia ibertar-e desse ari. Se a existéncla x6 adi tida em sua generalidade, por aue dar-se ao Webalho de desenvotver a personalidade real? © muito m ‘dualidade falsa. so impedidas ‘Yertido alegrar_o_ambien 1_umsorriso — aff dia ‘em que a “gatinha” set. “pagulho”,,<. des- ae imitavel”. VE LHA G0" 0 3) Q ideal de Beleza, Toda sociedade promoveu um cert Wea A eh a pa so outros. Qual seja 174 Si Or ieuis: por detitigtos so em. qualidades Por exemplo, na América, a moda atual de modelos ie as Aten Vp sas podem descorar 0 cabelo (como fez Marilyn Monroe, er-se_dentro da forma ideal, o ideal muda, Se ele Keseatingvel, como ‘A cexlstdade do deal de eleza seve. uma fs o_politica_clara..Alguém.— na. maioria = 86 foi permitido as mulheres alcangar a individualidade, através da aparéncia — atsibutos definidos como “bons”, no por amor & deenora dels, mas por cause de 8 maior ou menor eproximagdo de um padrio externo. i aida g (e_comumente oe ‘mens homosexuals, em, Pmiséginos.da.pior espécic) ‘O'que aconices? As mulheres, em todo Ingar,se_apressam em comprimitss-no_sapalinho._de SER Torpendo © mutlando-o corpo com dieias. pro- Hamas de Belecs, roupas c maquiagem, qualquer_coisa pata se tomnarem a garoia 300 1ada_do principe jodo-nin- em, Mas elas ndo ém.esolha, Se nao conseguem amok: ‘Gress os canigos sio_enormes, Son lesitimidade social a ha sie ‘as mulheres tornam-se cada _vez_mais_pare-' sas Ma, aay op, case ge a OP ‘sem sua inc ividuaidade, traves a apartncia Hsia Ae ‘Sim, elas ficam oscilando, tentando, ao_mé > ter me ‘sua semelhanga ¢ sua_singularidads As exigen- cias da Privatizagio Sexual contradizem as exigéncias do fe Fenelon eco ein, eee da sglodn pase 175 Mas, mesmo esse_confito tem uma funglo politica importante. Quando as mulheres comesam a ficar cada Yez mais parecidas, diferentes apenas pelo grau em que elas_se_distinguem’ de um papel ideal, elas. podem ser ‘mais facilmente estereotipadas como classe. Elas se pare- ‘sem, pensam similarmente, e, pior ainda, so tio burras, ue ‘acreditam no serem patecidas, Estes so alguns dos principais componentes do apa- ato cultural do romantismo, que, com 0 enfraquecimento as limitagoes “naturais” das mulheres, faz a opressio sexual continuar intensa. Os usos politicos do romantis- mo, durante séculos, tormaram-se cada vez mais comple- xos. Funcionando sutil ou espathafatosamente, em todos 6s niveis culturais, o romantismo esté. hoje — nessa época de maior ameaca’ ao papel de poder masculino — am- pliado por novas técnicas de comunicagio, to penetran- tes que os homens acabam presos na propria rede. Como essa ampliagio atua? Com a retratagio cultural dos menores detalhes da cxisténcia (p.ex., desodorizacao debaixo dos bragos), a dlistincia entre a experiéncia e as percepgbes que cada um tem disso fica aumentada por uma ampla rede interpreta- tiva, Se nossa experiéncia direta contradiz. a interpretagio dela dada por essa rede cultural, a experiéncia deve ser negada. Este processo, naturalmente, no se aplica 36 as ‘mulheres. A penetracdo da imagem alterou tio profunda- ‘mente nossas relagées conosco mesmos, que até 0s ho- ‘mens se toram objetos — quando mais ndo seja, obje- tos erdticos. As imagens se tornam extensdes do indivi- duo; tomna-se dificil distinguir a pessoa real de sua tiltima imagem, ainda que, na verdade, o Substrato Real da Pessoa ‘no tenha ‘evaporado completamente. Amie, 0 garoto que sentava atrés de voc# na sexta série, fuchi- cando o nariz e contando piadas, aquele que tinha um calombo no ombro esquerdo, esté perdido sob as camadas sucessivas de imagens adotadas: 0 Palhaco do Ginisio, 0 Rebelde da Universidade, James Bond, 0 Namorado de 176 Vesto-de Salem, ¢ astm por daot, ada imagem atin- gindo novos grate de sofistcnglo,aé que a peeela por Soa ado saiba mais gem ela ‘Alem'do mes ce hla com of outer, através desea imagemetenee Co Rapes, Simboto encontra 2 Namorada-Sinbaioe consume aaa Romance Sinbola). Mesino que uma mulher conogusse cheger a0 que esa por buio dco inincada ong Se fachada eit lvaria mess até anon de um reson, mento daloroso,quase trap ee nao sneastne tia gratidféo por ter (dolorosamente) amado o homem Por agulo gue cle 6 e sim rpula ehortor spare ee, Dor to demascarado, Em ver dso, 0 que ee quer € 4 Garote-Beps-Cola, para somir amaveimes paras Ze Soy Walker dante da lari de um aber Mas, embora essa ricagio fete igeimente tanto 9s homens quanto as mulheres, no caso destas ela intensamente complicada pelas formas de explorago. se- ‘Wal_que eu ‘vi,A mulher nao é apenas uma_ima- gem, ela € uma Imagem com Sex Appeal, A esteretipa- $40 ds mulheres se ampli, Agora ado hat ies pada ignorincia, Toda mulher & constante e explicita- iada_de_como_“aperfeigoar” o que a naty- reza the deu, de onde comprar os produtos para conseguiT Sse, ¢ de como oontar a calonay que nunca doves ee ingerido. A_competicio se torna frenética, porgue todo 0 ideal mundo, agora, esté inserido no. mesmo eireuito, aalual_torna-se difundido, (“As louras so mais felizes..."), Eo erotismo se toma erotomania, Estimulado ao li- nite, ele atingiu um nivel epidémico, nunca igualado na Histria. Em toda capa de revista, tcla de cinema, canal de TY, antincio de metrd, seios bilougantes, pernas, cos- fas, coxas. Os homens andam nas ruas num estado de constante excitagdo sexual. Mesmo com a melhor das intengSes, 6 dificil concentrar-se nalguma ovtra coisa. Esse bombardeamento dos sentidos, por sua vez, leva rovocagao sexual ainda_mais longe: os meios normals Seer perderam todos Sicte As oupee ee mais provocantes: as bainhas sobem, os sulis.sf0 aban donados. OS miateriais transparentes_ tornam-se comuns. 17 > comprometedoras € suficiente para ‘Mas, em toda essa barragem de estimulos erétiéos, 08 pré- prios homens raramente sio retratados como objetos eré- ticos. O erotismo feminino, tanto quanto o masculino, toF- ase EAA vez mais dirigido para as mulheres. ima das contradigGes internas desse sistema de pro- paganda altamente eficaz é expor, aos homens tanto quar to as mulheres, 0 processo de estercotipacio a que as ‘mulheres so submetidas. Embora a intengio fosse fami- liarizar as mulheres com seu papel feminino, os homens que ligam a TV também acabam recebendo mensagens ara controlar © peso, usar cflios postigos, e ceras de assoalho (Serd que cla usa. .. ou nao usa?), Essa contra- orrente de provocacées sexuais ¢ de revelagSes de coisas iar as mulheres, se j4 nfo odeia. Assim, 4 extensio do_romantismo através dos medi modernos ampliou enormemente seus efcitos. ‘cultura mantinha a supremacia masc fismo, da Privatizagao’ Sexual, © do ese process culturis so" patos em pritien_de_um fodo-quase que elicaz em exczss0. Os media sio culpado: ee eek rabinanio do movimento fem hino neste momento da Historia pode ser que se deva @ tum tito saido pela culatra, a uma contradigfo interna de nosso moderno sistema cultural de doutrinacao. Pois, na sua expansio da doutrinagio sexual, os, media revela- am, inconscientemente, a deteroracao da “feminlidade”. Concluindo, quero acrescentar uma abservagio sobre diftculdades espectficas em atacar o sistema de clases se- Sais, através de seus meios de doutrinagio cultural. Os ‘Objetos sexuais sdo bonitos, Um ataque a eles pode ser confundido com tm ataque & propria beleza. As feminis- {as nio precisam ser tio beatas em seus eforgos, a ponto de sentir que devem repudiar frontalmente a beleza do tosto da capa de Vogue. Porgue essa nfo € a questio. A YVerdadeira questo €: 0 rosto € bonito num sentido /u- Jmano: le concede em mostrar o crescimento, a mudanga, C2 detefioragio, ele expressa emogées tanto negativas, ‘quanto postivas, ele se desintegra sem os suportes arti- ficiais ou ele imita de maneira falsa a beleza total- 178 1 ‘mente diferente de um objeto inanimado, como a madei mente diferente de um objeto inanimado, como 8 madeira Atacar 0 erotismo cria problemas similares, O ero- tismo 6 excitante, Ninguém quer se desfazer dele. A vida seria enfadonha # rotineira sem ao menos essa centelha, caso é exatamene este. Por que todo o prazer ea exc. foram concentrados, dirigidos para uma aléia estrei- ‘a, difici-de-achar da experigneia humana, e todo 0 resto ac i eliminagio do_praz excitagio sexual, mas sua Tedistribuigdo — ha bastante para que seja suficente para todos, e ele om ‘0-us9 — por foda a extensio-de nossas vidas, 179 VIII. CULTURA (MASCULINA) A representagio do mundo, assim como o préprio ‘mundo, é tarefa dos homens; eles 0 descrevem segundo seu ponto de vista particular que confundem com a ver- dade absotuta.” (Simone de Beauvoir) s mulhere a cultura tem sido indi- amos _como_a_atual organizacfo fisica dos seX05_prescreve que a maioria das mulheres gaste ‘modo, o amor feminino torna-se combustivel para a m4- quina cultural. (Sem mencionar as Grandes Tdéias nasci- das diretamente das discusses de boudoir matinais.) ‘Além de prover seu suporte emocional, as. muthe- res sustentaram uma outra relagio indireta com a cultura, ‘muito importante, A Musa era feminina. Os homens de cultura foram deformados emocionalmente pelo processo de sublimacao. Converteram a vida em arte; conseqtiente- mente, no poderiam vivé-la. Mas as mulheres, € 08 ho- mens que foram exclufdos da cultura, mantiveram-se em contato direto com sua experiéncia — serviram de matéria- prima a arte. © fato de as mulheres terem sido essenciais para 0 contefido da cultura é confirmado por um exemplo tirado 181 da historia da arte, Os homens sfio estimulados erotica- ‘mente pelo sexo oposto; a pintura era masculina; logo, ‘© nu tomou-se um nu feminino. Onde a atte do nu mas- cculino atingiu altos niveis, seja no trabalho de um artista individual, p.ex., Miguel Angelo, seja em todo um pe- rfodo artistico, como o da Grécia cléssica, os homens eram homossexuais. (© tema da arte, quando ele existe, é hoje ainda mai amplamente inspirado pelas mulheres. Imaginem a elimi- nnago dos personagens femininos nos filmes populares © nas novelas, mesmo no trabalho de diretores “intelec tuais” — Antonioni, Bergman, ou Godard; nao restaré muito, Porque, nos’ iltimos séculos, particularmente na cultura popular — talvez ligado 3 posicéo problemética das mulheres na sociedade — as mulheres tém sido 0 pal tema da arte. De fato, correndo os olhos pelos antincios publicitérios até de uma produgio cultural men- sal, acreditaremos que as mulheres correspondem a tudo ue j se pensou sobre elas. "Mas, que dizer das mulheres que contribuitam dire- tamente para a cultura? Nao so muitas. E, nos casos em gue algumas, isoladas, participaram da cultura masculina, tiveram que faz8-lo em termos masculinos. E isso s¢ prova. Porque tinham que competit como homens, num jogo masculino — embora ainda compelidas a se testa- em em seus papéis femininos antigos, um papel em de- sacordo com as proprias ambicGes — nfo é surpreendente {que clas raramente sejam tio habeis quanto os homens n0 jogo da cultura. E nfo se trata de uma questo de ser tio compe- tente, trata-se, também, de uma questo de ser auténtico. ‘Vimos, no contexto do amor, como as mulheres modernas, imitaram a psicologia masculina, confundindo-a com a satide, , com isso, acabaram ainda em pior situacdo que ‘0s proprios homens. Elas no estavam sendo verdadciras, nem nas suas prOprias doencas. E existem ainda camadas ‘muito mais complexas nessa questio de autenticidade. As mulheres nfo tm meios de chegar a um conhecimento do que é sua experiéncia, ou mesmo de que ela & dife- rente da experiéncia masculina, A cultura, o instrumento 182 da-seossentsto-e_da-obstivacio de_possa_expetitci Dara gue possamos dar com. elaest tao seturada de preconceitos masculinos, que as mulheres quase nunca fém ‘uma chance de ver-se culturalmente, através dos prépriog ‘thos, De modo que, finalmente, os sinais de sua ex ‘Assim, por serem as méximas culturais ditadas pelos homens, mostrando somente o ponto de vista masculino — e agora tendo-se criado uma superbarreira — as mu Theres so impedidas de realizar uma imagem auténtica de sua realidade. Por que, por exemplo, as mulheres se excitam com uma pornogratia de corpos femininos? Na sua experiéncia normal de nudez feminina, digamos num vestirio de ginésio, a visdo de outras mulheres nuas po- deria ser interessante (embora, provavelmente, 96 na me dida em que elas e avaliem segundo os padres masculi- nos), mas no diretamente erdtica. A distoreio cultural da sexualidade explica também como a sexualidade femi- nina se entrelaca com o narcisismo. Quando se relacionam com os homens, em vez de fazer amor diretamente com eles, as mulheres fazem vicariamente amor consigo mes mas. As vezes, essa barreira cultural entre o homem/st- jeito © a mulhér/objeto dissensibiliza as mulheres para as formas masculinas, afetando-as num tal grau, que clas ndo chegam a sentir orgasmo.t HE outros exemplos de distorsées na visio feminina de uma cultura exclusivamente masculina. Voltemos, mais ‘uma vez, 2 hist6ria da pintura figurative. Vimos como, na tradi¢ao do mu, as inclinagbes heterossexuais masculi- ‘nas deram énfase & mulher, em vez do homem, como sendo a forma mais estética e mais bela, Essa predilegio de 1. A incapacidade feminina de enfocar a fantasia sexual mos- wou ser'a principal causa "da frigidex feminina. Masters © John. ton, Albert Ell oils fessillaram a importincia do. “enfo- ‘que sexual” ao ensioar as mulheres fegidas a sentirem oreast00. Hilda OFlsre, no Jortal Internacional de Serologia, observa que ‘ese problema pode manifetarse em grande eveala porque 10 Ing um correlative feminino «m nossa socledade para os inume- riyeis estimulantes da necessdade sexual mascullna 183, Juma das duas formas sobre a outra, é baseada, é claro, numa sexualidade que em si mesma 6 artificial, criada culturalmente. Mas, ao menos poderiamos esperar que 0 reconceito oposto. prevalecesse na visio das mulheres pintoras, ainda envolvidas com a tradi¢fo do nu. Este nfo €0 caso, Em qualquer escola de arte no pais vemos salas, de aula cheias de mocas trabalhando diligentemente com ‘modelos femininos, aceitando que 0 modelo masculino & de algum modo, menos estético, na melhor das hipsteses, talvez original, e, certamente, nunca questionando por- que © modelo ‘masculino veste uma sunga, enguanto que (© modelo feminino no sonharia em aparecer nem de tanga, Novamente, othando para os trabalhos das pintoras cElebres ligadas’& escola impressionista do século XIX, Berthe Morisot e Mary Casatt, espantamo-nos com sua preocupacdo obsessiva com assuntos tradicionalmente fe- mininos: mulheres, criangas, nus femininos, interiores, etc. Isso € parcialmente explicado por condigées politicas da época. As mulheres pintoras ja eram felizes de Thes ser consentido pintar qualquer coisa, que did modelos masculinos. E, no entanto, & mais do que isso. Essas ‘mulheres, com toda sua arte majestosa e sua habilidade composicional, permaneceram pintoras menores, porque ‘tinham “abandonado” uma série de tradigGes e uma visio de mundo inauténtica para elas. Trabalharam dentro dos limites do que tinha sido definido como feminino pela tradigdo masculina, Viram as mulheres, através de olhos masculinos, pintaram uma idéia masculina da mulher. E levaram isso a um extremo, porque estavam querendo su- perar os homens em seu proprio jogo. Deixaram-se se duzir pela linha (da graciosidade). E daf a falsidade que corrompe seus irabalhos, tornando-os “femininos", sentimentais, delicados. 1ecessério uma xé 1 para, a pxoduzic uma. arte “mina uaa, Pois a mulher que participa na Gultura (masculina) deve produzir ¢ ser classificada se- gundo padrdes de uma tradigio de cuja feitura ela no participou — ¢, certamente, néo hé lugar nessa tradigio 184 para uma visio feminina, mesmo que ela possa descobrir (© que ela foi, Nesses casos em que uma mulher, cansada {ogo maseulino tonto par para na clira cultura culino) A de_insignifcante, inferior —E, jnesmo onde se admite (com relutincia) que cla € *hé- Gi”, € eleganie insinuar que €hAbil, porém irrelevanis — ‘um modo vulgar de indiear a “seriedade” e: ‘de gosto de Talvez. seja verdade que uma apresentagio s6 do lado feminino das coisas — que tende constituir um longo protesto e reclamagio, em vez do retrato de uma cxisténcia ampla e substancial — seja limitada. Mas uma questo igualmente pertinente, em geral muito. menos vezes levantada; 6: serd esta visio mais limitada do que a visio masculina predominante sobre as coisas, que — ‘quando nao é tomada pela verdade absoluta — ao menos & vista como “séria", pertinente e importante? Mary ‘McCarthy, em seu livro O Grupo, seria, de fato, uma czars pir do que Norman Mailer emt © Sono Ameri. ¢~ ano? Ou estaria ela talvez descrevendo uma realidade ‘com a qual os homens, os controladores ¢ os criticos do Establisment Cultural, no conseguem sintonizar? ‘Que os homens e as mulheres esti sintonizados ‘com diferentes canais culturais, que de fato existe uma realidade totalmente diferente para os homens e para as ‘mulheres — é evidente até em nossa forma cultural mais rude: as revistas de hist6rias em quadrinhos. De experién- cia pessoal: quando era pequena, meu irmgo tinha uma ‘colesao, literalmente falando, do tamanho de um quarto, de revistas de histrias em quadrinhos. Mas, embora eu fosse uma leitora voraz, essa vasta biblioteca de revistas, de quadrinhos ndo me interessava de modo algum. Meu gosto literdrio era inteiramente diferente do dele. Ele preferia histrias “pesadas”, como os quadrinhos de guer~ a (Tra-ta-ta-té) e o Super-Homem; e, para aliviar, his- t6rias como “O Coelho Pernalonga”, “Tweetie and Syl- vestes", “Tom e Jerry", © todos 0s leitBes gagos que insistem em se manifestar numa mensagem mais do que 185 Sbvia. Embora esses “‘cOmicos” irritassem minha sensibi- lidade mais estética, eu os leria, na falta de outra alterna- tiva, Mas, se eu tivesse tido uma mesada tio grande © ‘uma supervisio to pequena dos pais, teria me saciado ‘com uma colecio de quadrinhos de amor “pesada”. (L&- ‘grimas. Oh, Tod, ngo fale a Sue sobre nés, ela morrerial),, tum ocasional True Confessions e, para um “leve” des- ccanso, Archie and Veronica. Ou as variagSes ocasional- ‘mente mais imaginativas dos quadrinhos dos meninos, como O Homemrde-Borracha (Super-Homem com um brago de borracha, que poderia se estender em volta dos, quarteirées), ou Tio Patinhas (Eu adorava sua extra- Vagincia ego(sta, Outras mulheres [desprendidas] con- fessaram a mesma paixio de mocidade). Mais provavel- ‘mente até, eu ndo teria investido em revistas de quads ‘hos de modo algum, Contos de fada, muito menos realis- tas, eram uma “viagem” melhor. ‘Meu irmdo achava que o gosto das meninas era “chato”, e eu achava que ele era um grande bobalhio. ‘Quem estava certo? Os dois. Mas ele venceu (ele tinha a biblioteca). Essa divisdo continua a operar em niveis culturais mais elevados. Eu tive que me forgar para ler Mailer, Heller, Donleavy, e outros, pelas mesmas razies pelas quais no poderia suportar a biblioteca de meu irmio. Para mim, eles pareciam apenas versOes complexas (res- pectivamente) do Super-Homem, Tra-ta-ta-té, e das Aven- turas do Pernalonga, Mas, apenar da biblioteca “mas- culina” continuar a me repelir, no processo de desenvolvi- mento do “bom-gosto” (segundo padrdes masculinos), ‘também perdi meu amor pela biblioteca “feminina”. Na verdade, desenvolvi uma aversio; e — tenho vergonha de admitir isso — preferia longe ser apanhada com Hemin- gway do que com Virginia Woolf na mio. Para ilustrar essa dicotomia cultural em termos mais objetivos no precisamos atacar os mais bvios tigres de papel (todos os sentidos implicitos), que consciente- mente apresentam uma realidade “masculina” — a saber, Hemingway, Mailer, Heller, Miller, Donleavy, ¢ 0 res tante. A nova Escola da Virilidade ng literatura do sé- 186 ala 3 6 api, ume rnp di, na vende Teagao cultural masculina acres -ameaga a Hipremaca masculing = Vielidade- Ine, un grupe de “garotos brig6es” culturalmente excluidos, esmutrando-se, ara salvar sua_masculinidade, E, apends de ganbarem CEE ans Se tite etovem tobe a expeciings tasculin ato mais pecceptivelnent do que Dons Lesg, Syvia Fath ¢ Anais Nin exerveram sobre ¢ expeitoct feminine, De ato eles slo eulpadoe de wna misono da sun experdaca, que trnafalos seus execs im ver dae examinaremoe um preconelio mat teaigoeiro (porque menos Sbvio) dos eacitores mascullnos dhe honestameateteataram devctever todo © espectro dt Gxpertoca,masculine/lominine “= Below, Malm, Updits, Rot, ofc, —~ man que falbaran ponms, ex feral com oo dar conta descreveram eso todo 8 parti Se um dagulo (nasculgo) lila, ‘Examinemoy brevomeats uma histia de Hesbert Gold, um exedior que ao 6 “mmusculizo” nem a0 esto, nem na tanttica, Ele escteve sobre clsas que diam ret prito is mulheres, Le, relogoe de peefereoca masciany/ Femiinas, casumécion, diverion, aventura. Nesta hi tong, "Whar Become of Your Create?" ele decreve reinance entre um probleméten. professor de univer Sidade, over, sua alana loura, bot ‘A imagen que fazemos de Lenka Kuala, a parc da vio do personagem masculino, 6 apenas sensia, sings ue senuive nescstermos, A hina omega! “Uma mulher. Alegre, bela e sombria, ao mesmo tempo com sinais de dogura e de crueldade, Quando ele procurou por cigarrot na eserivaninha dela, havia uma pilha de eal has de seda, enlagadas como flores, entontecendo-o com a flegria da primavera, Quando ela vestiu uma delas, subita- mente dilatando a minGscula pétala de roupa em dois botées pares, era como se o sol tivesse forgado uma flor a um del feado florescer de péscoa. Ob, ele precisava dela, amava-a, ‘© assim, em respeito a0s dois, deixem-nos contar a verdade, ‘Wo diteta como’ a verdade surge.” 187 Mas, a verdade que nés obtemos “direta como a ver~ dade surge” € apenas a sua visio da verdade. “Hé wn momento na vida de todo komem em que ele do consegue fazer nada. Este era o momento da vida de Frank Curtiss. O desespero com a esposa tinha sucumbido a tum profundo prazer com uma bela moga. Ele até sentia-se ‘melhor em casa, AS coisas esfriavam e se acalmavam. Seu trabalho ia melhor. Mal precisava dormir, € nfo sofria de sua febre normal, que sentia na primavera em que conhecera, Lenka, Sem resfriados, sem olhos vermelhos. -Respiragao expandida, visio agugada, Curou-se da habitual dor de. ca- bega, causada pelo cansago, com o toque da mio dela, com sua acolhida quando ele chegava sorrindo, mostrando-lhe os, ‘entes, através da janela.” ‘Mas a verdade dela deve ter sido completamente srente, uma verdade da qual nfo hd tragos na histé- ria, até 0 dia em que (inesperadamente) Lenka escreve ‘uma longa carta para a mulher dele. © casamento fracasa- do, que se tinha tornado mais estvel desde que Frank iniciara sua aventura com Lenka, é destrufdo para sempre: “Lenka deixou Nova Torque sem vélo, depois que rece- bbeu seu telefonema angustiado: “Por qué? Por qué? Por que vvoot teve que fazer isso assim, Lenka? Vocd no consegue perceber como isso destrdi tudo entre nds, até 0 passado?™ “Eu no me interesso por recordagées. O que acabou no signifiea nada. Acabou. Voc’ nfo queria senio rastejar ‘na minha janela umas duas vezes na semana "Mas, eserever para ela daquele jeito—o que signfi- ficava— como..." ‘Voe? se interessou muito mais por uma puta sem graga do que por mim. $6 porque voeé tinha um filho.” "Por qué? Por que?” Ela bateu o telefone. Ele deu de ombros. As mulheres estavam cortando suas TigagSes em todo lugar do mundo, Estava confuso. Sentindo-se trafdo ¢ enganado, Frank desnorteada- ‘mente trata as feridas, Durante todo o resto da hist6ri sentimos-lhe a perplexidade. Nao compreende 0 que a le- 188 ‘vou a fazer aquilo, ndo “compreende as mulheres”. Afinal, termina admitindo nela “grandes tragos de crueldade” assim como de dougura. Mas a “crueldade” de Lenka 6 0 resultado direto da incapacidade dele de vé-la como algo além de “uma pe- 4quena” (alegre, bonita, ow sombria), ¢ em vez disso vé-la talvez como um ser humano complexo, com interesses ‘pessoais diferentes dos seus. Contudo, devido & autenti- ‘cidade da narrativa dos incidentes e dos didlogos de Gold, uum leitor sensivel (provavelmente mulher) conseguiré let ‘nas entrelinhas: Lenka foi a tnica traida. Eis Frank, poucos dias depois, em Manhattan: “Ele procurou uma pequena que comesse com ele uma magi. Morderam e sugaram seu doce suco ao amanhecer, © Finalmente beijaram-se como bons amigos, voltando-se de lado para dormir... Ele se sentia livre... Jogou fora o vidro de faspirinas. A’ visio que tinha de si mesmo como um homem, ‘easado, pesado, Aspero, um bifalo cansado, deprimido, amor- dagado, dew lugar a uma outra imagem —ele era magro, sou estado era bom, ele era um gil bon-vivant. Quando sua primeira esposa easou-se de novo, seu titimo vestigio de culpa esapareceu. Livre, live. Jogava ténis duas vezes por semana, ‘com uma francesa que pronunciava ‘Te Agora um solteirio alegre, Frank um di ‘mente, telefona para Lenka: ‘impulsiva- “Mas, depois de ter-Ihe dito quanto tempo tinha estado em Nova’ Torgue, ela disse que no estava interessada em vee. ‘Bu guardei um rancor, voce pode entender isso’, disse cle, “Eu ainda acho que vocé estava errada, mas Ihe sou frato de alguma forma. Acabou sendo melhor.” "E acabou', disse cla.” ‘Mais tarde, encontrou-se com ela, vendo-a acabada por drogas, prostituindo-se com um miisico negro: “Bla deve ter inventado uma mentira absurda (para convidé-lo a subir em seu quarto), mas reconheceu um brilho 189 de contentamento na face dle, ¢ em seus vist ¢ cinco anos de hoje ela 56 nha aprendido’ um meio de responder 40 julgamento dos homens. Inclinou-se para ele, no seu rosto timn mistra de Umider e pavor, um milosorsiso de fete, tim movimento fein, etudado insinuate, a diego dele seus oho ches de gras quando ot fechow, as igrimss Balangando em suas pestanah ‘medidas, escorrendo™ plat Bochechas. “Frank, dice ela beslando. "EU me equecl por um Tongo tempo, et alo se, as colsasfcaram dfs ex pen fei que vost esivese muio irtado.-» Mas eu teuho' me Tembrado.-- porgue.-- Perdoe. “Ele cavlvewsa nos brag, aertou-a, poréan mais con- fuso do que Amoroso ou temo". “Entio pensou nas catas sobre as quais ela tia acabe- do do mente, ¢, subitamente, quando ela volvia a cabesa, (queendo ser beiada, sua Tantsin mals iatensh ra esta a era ava. Seu modo. intelrelval, deavace conto — aif, doenge, compaixio secrets, lama e desforra. Sem sa ber 0 que ee proprio temin, penou apenas au sera {cia sujet gros, mores, feridas. Por 0 poder supor. tar an Tamentagées dela, pensou: thato, stl © doengal” “Alasiouse, anes que os ios dela otocssem; as nas dela arranaram seus bragos, rasgandosthe pele Pushy, ‘uwindo os slugos dela 4 porta aberta, enquato tropegava Delos degraus contaminados da cicada, descendo até eacon” tear oat live dara.” Final: Frank acaricia a esposa recentemente gré- Vida, indagando-se o-que-teria-acontecido-a-Lenka, Essa nio é uma histéria masculina no tema, nem no “estilo” — hi suficiente descrigio de emogées para enver- gonhar qualquer escritor masculine. Mas ainda é uma hist6ria “masculina”, em virtude de sua peculiar limitg- io, de visto: la, ndo compreende_as_muleres, A sen- Sualidade © a beleza de Lenka séo determinadas pelo quanto Frank 6 capaz de compreendé-las. Os. motivos pelos quais ela escreveu para a esposa dele, sua recisa em vélo, sua tentativa de seducio, deseritas com tanto 6dio culpado — Frank nio consegue lidar com eles, exe- tamente como acontece na vida real com os homens (“Por do poder suportar as lamentagdes dela, pensou: Iluséo, 190. asticia, ¢ doengal”). Conhecer uma mulher além do nivel ‘de sua_beleza cra demais para cle, As mulheres slo {ulgadas s6-nos termos dele, ou ém termos do que Boden Ihe ter, selabeleta-c-alegra, sla slmento tristeza, Quaisquer que sejam esses termos, ele nio_os stionay nao compreendendo que seu préprio compor- feats tot on poderia ser uma influéncia determinante. Podemos imaginar uma histéria completamente dife- rente sobre esse caso de amor, usando até as mesmas referéncias ¢ os mesmos diflogos, s6 que dessa vez escrita por Lenka, Seu comportamento entio néo pareceria mais itracional, mas inteiramente compreensfvel; 0 personagem masculino, ao contrério, se mosiraria superficial. Talvez, de fato, pudéssemos teriminar com algo além de um pi conceito. sexual oposto. Poderiamos perceber uns trés 4quartos do quadro (ic., Frank € superficial porque é incapaz de assumir suas emogdes), visto que as mulheres, ‘em geral, em fun¢do de uma opressio prolongada, apren- deram a'ser mais avancadas em psicologia masculina do que vice-versa. Mas isto raramente ocorreu em literatura, Porque a maioria das Lenkas foi destrufda pelo uso ¢ abuso delas em ndo escrever as proprias histérias coeren- temente, Assim, a diferenga entre a aproximacio “masculina” © 8 aproximagfo “feminina” da arte nio é, como alguns pensam, simplesmente uma diferenga de “estilo” no tra- famento de um mesmo tema (Pessoal, emocional, descri- tivo versus vigoroso, econdmico, enérgico, frio, objetivo), tas uma diferenga no proprio tema. Ok i sexuais divide a’ experiéncia_humang, Os homens eas eR eee i da raldae E a cultura reflete isso, Somente alguns artistas superaram essa divisio em seu trabalho. E nos perguntamos se os homossexuais estio certos em suas reivindicagdes. Mas, se nfo o fizeram atri- vvés da expressio fisica, entio de algum outro modo os imaiores artistas se tornaram mentalmente andréginos. No século XX, por exemplo, escritores da envergadura_de Proust, Joyce, Kafka fizeram-no seja identificando-se fisi- camente com’ a mulher (Proust), seja imaginariamente, 191 atravessando vontade os limites entre esses mundos Goyce), ou setirando-se num mundo imagindrio rara- mente afetado pela dicotomia (Kafka). Mas, nfo s6 a maior parte dos artistas no superou a divisio, como_se- gue etava cent da existncia-de uma limiaga6 cultura ada no sexo, F assim que a realidade masculina ¢ et oe ee ne le ce eee Salt ala Realidade. ie Pras i, que dizer das mulheres artistas? Vimos que 6 ‘nos tltimos séculos foi concedido as mulheres participar “Te apenas em bases individuais e em termos mascalinos Ga construgdo da cultura. E, mesmo assim, sta. visto tomov-se inauténtica. Foi-thes negado o uso do espelho altura Existem virias razies negativas, pelas quais as mu- theres ingressaram na arte, A rigueza sempre originou 0 dilctantismo feminino, p.ex, a. "jovem dama” vitoriana com seu talento, ou a arte das gucixas japonesss. Pols, além de servi de sfmbolo ao luxo masculino, a crescents ‘ciosidade das mulheres, sob um industralismo avangado, ema prio: a insaisfdo-femining diz. Mas também p ‘mulheres este Sando na arte como tum refdgio. As mulheres, ainda hoje, siio excluidas dos centros vitais de poder da atividade hu: mana; ¢ a arte € uma das dltimas ocupagées autodeter- tminadas restantes — geralmente feita na. solidéo. Mas, snesse sentido, sfo como uma Pequena Burguesa tentando abrir uma fabrica na era das Corporagées Capitaistas. Pois, ultimamente, a maior percentagem de mulheres na arte pode nos dizer mais sobre a situagio da arte do que sobre a situagio das mulheres. Devemos nos sentir ‘animados pelo fato de as mulheres assumirem uma condi- 0 que breve seré dispensada? (Do mesmo modo como noventa e cinco por cento de negros nos Correios no & sinal de integragao; ao contrétio, 0s indesejados estio sen- ddo empurrados para as posigSes menos desejéveis: Agora, entre € bico caladol) Que a arte no € mais um centro vital que atrai os melhores homens de nossa geracio pode também ser um produto da divisio masculino/feminino, 192 como tentarei mostrar_no capitulo seguinte. Mas o entu- siasmo_ das mulheres © dos homossexuais com a8 artes pode significa, hoje, a corrida dos urubus para um corpo agonizante* Contudo, se ainda nio produziu grandes mulheres artistas, a literatura feminina crion certamente uma diéncia'feminina, Do mesmo modo como as audiéncias masculinas sempre exigiram, e receberam, uma arte mas- calina que reforgasse sua visio particular da realidade, assim também a audiéncia feminina requer ume arte “fe- minina”, para reforgar a realidade feminina, Daf o nas- cimento' da grosseira novela feminina no séeulo XX, que levou a love story de nossos dias, to presente na cultura popular ( 0 “dramathao”); o comércio das revistas femit nas; Vale das Bonecas. Estes podem sex comegos grosse ros. Mas, de vez em quando, a realidade feminina € do- cumentada to claramente quanto o foi a realidade mas- . como, por exemplo, na obra de Anne Sexton. Finalmente, devido a toda essa efervescénci, talvez muito breve possamos assstr & emergéncia de uma arte feminine guténtica, Mas, o-desenvou “feminina”™ conurtio, ele ¢ progr U dade estas = Jemima corngir_a aberrs -de_uma_cultur 7 Ceituosa, $6 depois de termos int face cara dp ‘Lua_em_iiossa_visio. de_mundo_€ que poderemos falar a Assim, toda cult fo soompi, 42 ui pele pola aa a eee icc ta mas qué SSA cOrrupgdo assume, da seguinte maneira: 2 Contudo, a presena das mulheres nas artes © humanidades sind ‘vitonaent Renda pon poco homens estan, fem proporgio i inseguranga de sua’ propria posgso —~ part ularmente preciria nas escoles tradicional, humanists, como, pintura igurativa 193 1) Arte de Protesto Masculino — A arte que cons- cientemente glortica a realidade masculina (contraria- mente a se supor que ela constitua a propria realidade) & apenas uma manifestagio recente. Vejo-a como uma res- posta direta & ameaga & supremacia masculina, contida no primeito enfraquecimento dos rigidos papéis sexuais. Essa arte € reacionéria por definigfo, Recomendo um exame maior de sua personalidade aos homens que acreditam ‘que essa arte expressa melhor o que eles vivem e sentem. 2) O Angulo Masculine — Essa arte no consegue ‘atingir uma viséo de mundo ampla, porque néo reconhece que a realidade masculina nfo é a Realidade, mas apenas uma metade da realidade. Assim, sua retratagio do sexo ‘posto e de seu comportamento (metade da humanidade) 6 falsa: o préprio artista nfo compreende os motivos femi- ings. Algumas vezes, como na histéria de Herbert Gold, citada por ngs, os petsonagens femininos podem ainda se sair bem, se 0 autor tiver sido honesto, ao menos no como — se nao 0 foi no porque — de seu comportamento. Um exemplo mais conhecido: o personagem Cata- rina, no filme Jules e Jim, de Truffaut, € tirado da vida real, Existem, em toda parte, muitas dessas vamps © femmes fatales, na realidade, mulheres que recusam acci- tar sua impoténcia. Para conservar uma ilusio de igual- dade, © ganhar um poder indireto sobre os homens, Ca- tarina deve valer-se do “mistério” (Esfinge), da impre- Visibilidade (atirando-se no Sena), ¢ da astécia (dor- mindo com 9 Homem Misterioso, para manté-lo preso).. ‘Quando, no fim, como todas as mulheres, ela perde até seu poder ilegitimo, seu orgulho nao admite a derrota, Ela mata o homem que ousou libertar-se dela, © depois se ‘mata, Mas, mesmo aqui, numa arte tragada’ com esmero, Surge o preconceito masculino. O diretor prossegue com @ mistica da Mulher Misteriosa; no investiga para desco- brit 0 que esté por trés dela. Além do mais, ele no quet saber: ele a usa como uma fonte de erotismo. A imagem que fazemos de Catarina s6 aparece través de um véu. 3) A Mentalidade Andrégina (Cultivada Individual- ‘mente) — Mesmo quando as limitagSes sexuais tenham 194 Sido superadas pelo artista individualmente, sua arte re- vela uma realidade tornada feia por essa’ divisio. Um exemplo breve, cle novo tirado do cinema: apeser dos diretores suecos serem notavelmente lives de preconcel~ tos semuais pessonis — as mulheres que eles retratam sio Primero humanes, © depois mulheres — a retratagao que Liv Ullman faz da Nobre Esposa que acompanka fick. mente 0 marido em sua erescente loucura (A Hora do Lobo, de Bergman) ou que o ama em sua degencracio moral (Vergonha, de Bergman), ou a sensibilidade con- fusa de Lena Nyman em Bu Sow Evtranha (Amarela), de Sjoman, sdo deseriges nfo de uma sexualidade liberada, ‘as de’um conflito ainda ndo resolvdo entre as ident dades sexual e humana, 4) ste Femining — F esta uma nova manifestacio, que no. deve ser confundida com a arte “masculine mesmo que, por enguanto, ela seja culpada ‘do mesmo Preconeeto, a0 inverso. Pois ela pode signifcar o inicio de uma nova constincia, em vee'de uma ossificagéo do antigo. Dentro da déeada seguinte, poderemos assistt 20 seu desenvolvimento em uma nova arte poderosa — tal. vez surgindo em conjungio com 0. movimento. politico feminista, ou inspirado nele — que, pela primeira vez, se relacionaré com a realidade na qual as mulheres vivem, Podemos também assistir a um Criticismo feminist, dando énfase, para corvgilas, as varias formas de precont ceito sexual que hoje corrompem arte. Contudo, em nossa teresira categoria, que fala de uma arte culpada de 6 refletir 6 valor humano de uma realidade sexual- ‘mente dividida, deveré ser tomado muito cuidado para que © eriticismo sea orientado no para os artistas, em fungao de sua retratagdo (aporada) da. realidade incomplete, ‘mas para o absurdo dessa propria realidade, como foi revelada pela arte. Somente uma revolugio feminista pode elimina cam- pletamente_o-cismia-sexual,causador_ dessas_distoraies culturais, Até que a “arte pura” se tome uma ilusio iima Thusto responsivel, tanto pela art inauténtica pro- duzida até agora pelas’ mulheres quanto pela corrupsto 195 da cultura (masculina) em geral. A incorporagio da me- tade desprezada da experigncia humana — a experiéncia, feminina — no organismo cultural, para criar uma cultura, abrangente, é apenas primeiro passo, uma precondicio. Mas, 0 proprio cisma da realidade deve ser destruido, para que possa haver uma verdadeira revolugdo cultural, 196 IX. DIALETICA SEXUAL DA HISTORIA DA CULTURA Por enquanto, tratamos a “cultura” como sinénimo de “artes e letras, ou no seu sentido mais amplo de ““humanidade”, Essa uma confusfo bastante comum. Entretanto, cla € surpreendente em seu contexto. Pois descobrimos que, embora relacionadas com a art, sinda que 36 indiretamente, as_mulheres foram totalmente ex- B 208 sscsoana racméricor [8 | cme |858 3) 2S | 8 eee gam, [© mopo.stenico |g meK S|] rmmm 1352 S56] EF 5 Bas Soo (IDEAL) Bro] $2 [dos Sheeat , ante | # ga et neuiako ruoaas near z dpameewAcicaraurva.snoreck | garg ee (média mistos) © das distingSes entre arte ¢ realidade happenings”, “environments”). Todavia, eu acho di- ficil chamar, sem reservas, de progressistas a estes silt ‘mos desenvolvimentos. Até agora eles produziram traba- thos altamente pueris e inexpressivos. O artista ainda no sabe o que é a realidade, e muito menos como agir nela. Xicaras de papel enfileiradas numa rua, pedagos de jor- nal Iangados num terreno baldio, nfo importa o némero de criticas ponderadas que esses trabalhos consigam ti- rar da Art News, continuam sendo uma perda de tempo. ‘A total inutilidade dessas tentativas desajeitadas corres- iu de esgotamento das “belas”-artes, do qual A fusio do Modo Estético com 0 Modo Tecnolégi- co gradativamente sufocaré por completo a elevada arte “pura”, O primeiro esgotamento das categorias, a rein- corporacio da arte com uma realidade (tecnologizada) indica que estamos agora num periodo pré-revoluciondrio, de transigfo, no qual as trés correntes separadas, a tec~ nologia (“ciéncia aplicada”), a “pesquisa pura” ¢ a mo- derna arte “pura” se fundirdo, junto com as rigidas ca- tegorias sexuais que elas refletem. ‘A dualidade sexual da cultura ainda causa muitas vitimas, Se até o cientista “puro”, p.ex., 0 fisico nuclear (sem falar do cientista “aplicado”, p.ex., 0 engenheiro) sofre de uma “masculinidade” excessiva, tommando-se au- toritério, convencional, emocionalmente insensfvel, inca- paz de compreender 0 proprio trabalho dentro do que- bbra-cabeca cientlfico — e muito menos do cultural ou do social — 0 artista, em termos da divisfo sexual, incor- porou todos os desequilibrios e padecimentos da perso- nalidade feminina: 6 temperamental, inseguro, parandide, derrotista, limitado, B a recente recusa em aceitar refor- 90s da retaguarda (a sociedade em geral) exagerou enor- ‘memente tudo isto, O “id” superdesenvolvido do artista, ‘ndio deixa nada de quebra para contrabalangé-lo. En- quanto que o cientista puro & “esquizo”, ou pior, total- mente ignorante da realidade emocional, o artista puro 216 rejeta a realidade por causa de sua falta de perteigio, , nos séculos modetnos, por causa de sua feiura.* E quem solre mais, ceg0 (cienista) ou o aleijado (artista)? No plano cultural, tivemos em vista somente 2 escolha entre um ov outro papel sexual. Ou a margi- nalidade social, levando a inibigdo, & introversio, ao der- rotismo, pessimismo, hiper-sensibiidade, ¢ falta’ de con- tato com a realidade, ou uma personalidade “profissiona- Tizada™ partida, a ignoriacia emocional, as vita este tas do especialista, CONCLUSAO: A REVOLUCAO CULTURA-ANTICULTURA Tentei mostrar como a histéria da cultura reflete a dicotomia sexual na sua propria organizacio e desenvol- vimento, A cultura se desenvolve nfo s6 a partic da dia- lética econdmica, mas também da dialética sexual mais profunda. Assim’ nfo existe apenas uma dinfmica hori zontal, mas também uma dinimica vertical. Cada um desses trés estratos cria mais uma hist6ria dentro da di lética da Historia, que esté baseada no dualismo biol6- gico. Atualmente, atingimos os estégios finais do Patriar- cado, do Canitalismo (capitalismo das grandes corpora- Ges) e das Duas Culturas ao mesmo tempo. Brevemen- te, teremos uma série triplieada de precondigdes para a revolueo, cuja inexistncia foi responsével pela faléncia das revolugSes do_passado. ‘A discrepfincia entre 0 que & quase possivel ¢ 0 que j& existe esta gerando forgas revolucionérias* Esta- ee 2s crea sale Se oan aes Sete aCe pede Reetinie ee PE eens ace 217 mos nos aproximando — acredito que chegaremos Ié, talvez dentro de um século, se a bola de neve dos co- hecimentos empiricos nfio se despedacar antes com a sua propria velocidade — de uma revolucio cultural, ‘bem como de uma revolugdo sexual e econdmica. A re Jo cultural, assim uae teeta _econdmica, Sepsis neo eee a so cultural. OFIGENS DA CULTURA REUASCENGA 0 Fi DACULTURA Como seria essa reyolucio cultural? Ao contrétio das “revolugbes culturais” do passado, niio deve ser me- ramente uma progress4o quantitativa, mais e melhor cul- tura, no sentido em que a Renascenga foi um ponto alto do Modo Estético, ou no sentido em que a ruptura tec- nolégica atual € o resultado da acumulacio de séculos de 218 conhecimento bésico sobre o mundo real. Grandes como foram, a cultura Estética e a Tecnolégica, mesmo em seus fespectivos apogeus, nunca atingiram a universali- dade porque ou foram’ totalistas, mas divorciadas do mundo real, ou obtiveram “progresso” a custa da zofrenia cultural e da falsidade e aridez da “objetivida- ul do Estético). is une fie ens lg 56 de onda uma desos correntes s tomadas indivi “como. a 50 pade sue bieged as do que-um,casamento, € Pe aoe aah id Ds -categorias..culturais, uma anulagto motua, uma explosio_matéria ona Ti ria ploft! cult ‘Nao sentiremos sua falta. Néo precisaremos mais dela. A essa altura, a humanidade teré dominado com- pletamente a matureza, teri realizado seus sonhos na realidade, Com a realizacZo total do concebivel no real, no ser mais necessério 0 substituto da cultura, O pro- cesso de sublimacdo, um desvio da realizagio dos dese- jos, dard Iugar 2 'satisfagio direta na experiéncia, o que hoje s6 € experimentado pelas criancas, ou pelos adultos Grogados* (Embora os adultos normais “representem” ‘em graus variados, 0 exemplo que ilustra mais imedia- tamente o nivel intenso desta experiéncia futura 6 0 ato [ sipsie [S. As tentativas recentes da cultura jovem para vollar "nosso atual mundo real. Hoje, na melhor das hipéteses, 56 pode- ia ‘dircta”™ (afetada ©. tilda”) ignorando 0 mundo Teal, or exemplo, para ‘0 Colorado (por volta de 1878) com pestoas de men- | tlidade parecida, © esperando apslosamente que’ nfo. se interes. ‘sem em Jouar bombas all. Tss0 6 ingénuo —"e re = ‘istérco, utépice, ele. —"acima de tudo, porém, & 219 sexual — ele vale zero numa escala de realizagio, pois ‘Sho ‘se pode moxie lo", mas sempre vale a pena de alguma forma.) Nao seré’ mais necessério 0 controle © 0 adiamento da satisiagao do “id” pelo “ego”; 0 id poderé viver livremente, O prazer brotaré diretamente no pro- ccesso da experiéncia, no proprio ser ¢ agir, em vez de brotar da qualidade da realizagéo. Quando o Modo Tec- nolégico masculino puder, afinal, produzir na realidade (0 que 0 Modo Estético feminino tinha imaginado, tere- ‘mos eliminado a necessidade de qualquer um dos dois. 220 X. O FEMINISMO NA ERA DA ECOLOGIA A citncia empirica deixou repercussées na esteira de seu caminho: 0 sibito avango da tecnologia transtomnou a ordem natural das coists. Mas o interesse recente pela ecologia, 0 estudo do relacionamento do homem com 0 meio-ambiente, surgido por volta de 1970, pode ser que tenha chegado tarde demais. Certamente, é tarde demais para o conservacionismo, a tentativa de restabelecer os equilibrios naturais. O que é preciso é um programa eco- Jbgico revolucionério, que tente estabelecer um equilbrio amifcial (feito pelo homem), em lugar do. equilorio “natural”, realizando, assim, « meta original da ciéncia cempirica: o total dominio da natureza. ‘As mais recentes ¢ melhores correntes da ecologia ¢ do planejamento social concordam com os objetivos I sea = ae ‘mareou a ery $5 nous eas € 0 fhovas teorias e 0s meats aa com ponte figs neces a Sonn ees Ga respite A mene Coatrdighot ‘vida animal segundo uma tecnologia. No caso do femi- nismo, 0 problema é moral._A_unida (egica Sempre oprimiu_as_mulheres_¢_as_cziancas, mas 221 agora, pela primeira vez na Hist6ria, a tecnologia criow as precondigGes reais para vencer exsas condighes “na- turais” opressivas, juntamente com seus reforgos cultu- tais. No caso da nova ecologia, percebemos que, indepen- dentemente de qualquer postura moral, exchisivamente or motivos pragméticos — de sobrevivéncia — tornou- se necessério libertar a humanidade da tirania de sua bio- logia. A humanidade ndo pode mais permitir-se perma- necer no estéigio de transigdo entre a simples existéncia animal e o controle total da natureza, E estamos, cer- tamente, muito mais pr6ximos de um salto evolucionsrio ‘maior, no sentido de dirigit nossa propria evolugio, do ue de uma volta a0 reino animal, do qual nés viemos. f Assim, em termos da moderna tecnologia, um mo- viento ecolégico revolucionirio teré 0 mesmo objetivo do movimento feminista: o controle da nova tecnologia para fins humanos, o estabelecimento de um equilfbtio “humano” proveitoso entre o homem e 0 novo meio- ambiente que ele esté criando, que venha substituir 0 equilfbrio “natural” desfeito, ‘Quais sio as preocupacbes da ecologia que tém inte resse direto para o movimento feminista? Discutirei bre- vemente dois temas da nova ecologia que tém uma liga- ‘s80 particular com 0 novo feminismo: a reprodugio ¢ seu controle, incluindo a seriedade do problema da ex- pplosiio demogrifica ¢ dos novos métodos de controle da fertilidade, e a cibernética, o futuro encargo de fungbes cada vez. mais complexas legado as méquinas, alterando a velha relagdo do homem com o trabalho e com 0s salérios. Previamente fiz anotagGes detalhadas, escrevi regis- ‘ros completos sobre a explostio demogritica, citando to- dos os tipos de estatistica alarmantes sobre a marcha do ‘erescimento populacional. Mas, pensando bem, pareceu- me que eu jé tinha ouvido falar em tudo aqui assim como todo mundo. Talvez, em fungio dos obje- tivos deste livro, fizéssemos melhor discutir porque estas estatisticas so ignoradas to consistentemente. Porque, apesar dos pronunciamentos cada vez mais terriveis de todos os especialistas nesse campo, poucas pessoas esto 222 seriamente preocupadas com o problema, Na verdade, a euforia piblica e 0 laissez faire parecem atualmente ‘rescer na proporgio direta & necessidade de uma ago imediata que previna um desastre futuro, ‘A relagio entre as duas situagies 6 direta, A inca- acidade de enfrentar ou de ocupar-se do problema cria, ‘uma falsa seguranca, cujo grau foi corroborado por recen- te pesquisa do Instituto Gallup (3 de agosto de 1968), no qual, & pergunta “Na sua opinifo, qual o problema ‘mais urgente que a nagio enfrenta hoje?” menos de 1% da amostra nacional de adultos interrogados mencionou. © problema da populagio. E contudo, para nfo dizer ue nio citamos os especialistas em populacao, estas si as palavras de Lincoln H, Day e de Alice Taylor Day. em seu Tivo Too Many Americans: “Para suportar um ‘novo crescimento de 180.000.000 (mais quarenta © qua- fro anos, no ritmo atual), este pais teria que sofrer mu- dancas nas suas condigées de vida tio radicais quanto as que ocorreram desde Colombo.” Esta é a mais con- servadora das estimativas. A maioria dos demégrafos, Didlogos ¢ ecologistas so consideravelmente mais pes. simistas, A fodo momento so publicados livros sobre 0 assunto, cada um com uma nova opinifio sobre o terror dda explosiio demogritica (Se tivéssemos nos reproduzido ‘na mesma velocidade desde 2 época de Cristo, agora terfamos. ... Se continuarmos nessa velocidade, a fome serd... no ano... Um némero x de ratos congestiona- dos num quarto produz um comportamento xyz....). 8s titulos dos livros sio Fome Coletiva, 1975, A Expl do Populacional, ¢ assim por diante. Os pr6prios cien- tistas estiio em pinico. Diz-se que um conhecido biélogo da Universidade Rockefeller deixou de falar com sua propria filha depois do nascimento de sua terceira erian- sa. Seus alunos multiplicam-se, pondo a si proprios em perigo. Contudo, o péblico permanece convencido de que 2 cigncia pode resolver o problema, Uma raziio pela qual © homem da rua acredita tio ardentemente que “eles” podem manobrar o problema — além da existéncia da Mistica do Feiticeiro, que insinua que “eles” sempre pa- 223 recem encontrar uma resposta para tudo — 6 0 fato de Sptormecto vir euldadosamentsfitrada. 40 alto era baixo. Por exemplo: o piblico s6 comesou a tomar co- nhecimento da “revolugéo verde” quando os cientistas dcixaram de acreditar nela, vendo-a como uma medida tapa-buraco para adiar a fome coletiva mundial até a ‘eeragio seguinte. Mas, em vez de causar o alarme geral, Provocar a agio imediata, esta informagio agiu como tum cliché. © Milagre-da-Nova-Ciéneia 6 apenas um dentre todo ‘um estoque de argumentos, que continuam aflorando incessantemente, apesar de serem refutados um sem-n6- mero de vezes. HA 0 argumento da Comida Excedente, (© argumento das _Vastas-ExtensGes-de-Terra-Despovoa- das, 0 argumento Econémico (a popuiagéo aumenta a capacidade de defesa, cf. 0 Boogy-Woogy) © muitos ou- ‘ros mais, variando em sua sofisticaglo, de acordo com ‘0 meio social de seus sugestores. B indtil argumentar — fe por isso eu nfo o farei aqui. Pois nfo se trata_abso- Tutamente de um problema de corrigir a informagio ou 1 légica. importante & que hé alguma coisa além diss ue une todos estes argumentos. Que coisa é essa Por baixo de -estes_argumentos esti. o.chi nian eS is 9s_anteri discutimos ins dos componentes_ des faa meldole pare) preonipla sas af pea ancia, somente enquanto gla é a herdeira,a.extensio & seu ego, na sua ey aaa = imortalidade. (por ue preocupar.se com o bem-estar social, se.—que-bela ¢ —Na hota em que a Pe ead Gane compen ero cewvinimo do Went Coane Bo Fave ssoe'o abpia ¢-o-coacia, 0-000 Ss ree ee pada oa yas, abn. Stfse do que uma estatstica demogrifica? o que poderia a eg ae ae a See eat Sor de 224 Infelizmente, 08 esquerdistas © 08 revoluciondrios ‘nfo so uma exceclo a esta pseudopsicologia universal, gerada pela familia, Entregam-se excessivamente a0 Nos. Contra-Elesismo, apesar de agora ele estar invertido, Se “NOs”, a classe superior © a intelligentsia com pretens®es intelectuais, argumenta que “E melhor néo haver uma redugdo no indice de nascimentos, senfo a ralé e/ou os ‘débeis ‘mentais predominario", “Bles", o “2é-povinho” (ltimamente conhecidos como “unatic'fringe”*) opdem- Se paranoicamente ao controle da natalidade — “Geno- eidio do Terceiro Mundo e dos Indesejados em Casa”. Este medo é bem fundado. Contudo, ele também & res- ponsivel por uma falta de capacidade da Esquerda de ‘enxergar, por baixo dos efeitos prejudiciais do controle da natalidade, um problema ecol6gico genuino, que ne- ‘nhum mimero de argumentos fantasiosos e de estatsticas forjadas pode apagar. E verdade que os governos capi talistas imperialistas tém muitissimo prazer em distribuir planos de controle da natalidade entre o Tereciro Mundo fou entre os negros © os pobres dos U.S.A. (particular- mente entre as mées filiadas & Previdéncia Social, que si freqlientemente cobsias das ‘itimas experiéncias), enguanto que, na sua prépria casa, eles nfio se preocupam por ter condenado um homem a dez anos de prisio por- gue ele deu uma espuma anticoncepcional para uma alu- za de colégio misto jovem, branca e solteira. verdade ‘que uma redistribui¢do das riquezas © das reservas do ‘mundo aliviaria enormemente 0 problema — mesmo que cla pudesse ocorrer amanh. Mas o problema ainda per- maneceria, porque ele existe independentemente da polt- fe da economia tradicionais. Bssas complicagées po- Iiticas e econdmicas sio apenas agravantes de um legit mo problema de ecologia. Uma vez mais os radicais nfo foram capazes de pensar com suficiente radicalidade, O capitalismo néo 6 0 tnico inimigo, a redistribuigso das riquezas © das reservas no 6 a tinica solugio, as tenta- tivas de controlar a populagio nfo so apenas uma Su- pressio do Tercsiro Mundo’ dissimulada. * Ver nota A p41, OT) 228 Mas, geralmente, existe um erro mais sério: 0 uso impréprio das conquistas cientificas € muitas vezes con- fundido com a prépria tecnologia. (Mas seré que as mi- Titantes negras que advogam a fertilidade ndo controlada para as mulheres negras admitem que elas préprias sio ‘oneradas com ventres pesados ¢ tantos meses de ama- mentagio? Deduz-se que elas encontrem no controle da natalidade algum auxiliar na manutencio de seus progra- mas de pregacao ativa.) Como foi demonstrado na que’ tio do desenvolvimento da energia atémica, os radicais, em vex de esbravejarem contra a imoralidade da pesqui- sa cientifica, foram muito mais eficientes concentrando) todas as suas energias em exigencias de controle das des- cobertas cienificas pelo e para o povo. Pois, assim como| a energia at6mica, o controle da fertlidade, a reproducao} arifcial e a cibernetizagio slo, em si mestnos,libertado-, res, a menos que sejam usados impropriamente, ‘io 0s novos desenvolvimentos cientificos re lativos ao controle dessa reprodugio perigosamente pro- Iifera? J4 existe mais e melhor controle da natalidade do que nunca houve antes na Histéria.' A velha intervengio “forga-barra” na concepefo (diafragmas, camisas-de-ve- nus, espumas ¢ geléias) foi apenas 0 inicio, Breve tere- mos uma compreensio perfeita de todo 0. processo re produtor, em toda a sua complexidade, incluindo a sui dindmica’ dos horménios € de todos os seus efeitos no sistema nervoso. O uso de anticoncepcionais orais feito atualmente & apenas um estigio primitivo (imperfeito), apenas um dentre os varios tipos de controle da fertii- ‘dade em experimentagio hoje. A inseminagio © a ovula- ‘¢io_artificiais j6 séo uma realidade, A escolha do sexo do feto, a fertiizacio em proveta (quando 0 tempo de Vida do esperma dentro da vagina for totalmente com- preendido) estio a um passo. Vérias equipes de 1, Devo pedir ao letor que me perdoe aqui — este capitulo fo esrito antes de Pill Hearings (Interrogatdrios sobre as Pi. fudag), na verdade antes da. propeeasio do proprio movimento, scoldgico. Essa € a marcha das comunicagbes modernas — om livro'€ ultrapassado ‘antes mesmo de estar no plo. 226 tas sso trabathando no desenvolvimento de uma pla- centa arti 4 partenogénese — o parto virginal — Poder ser desenvolvida muito breve, im Esti as pessoas, os proprios cientistas, preparadas para qualquer uma dessas descobertas? Decididamente do, Recente pesquisa de Harts, citada na revista Life, representativa de uma ampla amostra de americanos — incluindo, por exemplo, fazendeiros de Iowa — revelou lum surpreendente nimero de pessoas dispostas a consi- derar os novos métodos. O tinico empecilho estava em que esses métodos 36 seriam levados em consideragio enquanto reforgassem e promovessem os valores atuais da vida em familia e da reprodugio, p.ex., para ajudar uma mulher estéril a ter um filho de seu marido, Qual- Guer_questiio que pudesse ser interpretada como sendo um incentivo a uma “revolugéo sexual” era meramente rejeitada como antinatural, de modo categérico. Mas, note-se que nio foi o bebé de “tubo de vidro” que foi tido como antinatural (25 por cento das pessoas con- cordou, sem hesitacao, em usarem elas préprias este mé- todo, geralmente sob a condigio de serem observadas as, Precondigdes que descrevemos). S60 novo sistema d valores, bascado na eliminagio da supremacia do homem, ¢ da familia, é que foi visto como antinatural B claro que, hoje, esta pesquisa na rea da repro- dugio esté sendo impedida de se desenvolver por causa do atraso cultural e dos preconceitos sexuais, O mesmo acontece com a verba distribuida para tipos especificos de pesquisa — os tipos de pesquisa j4 concluidos quan- do muito interessam apenas incidentalmente as mulheres. Por exemplo, ainda € preciso justificar a pesquisa para desenvolver uma placenta artificial, sob o pretexto de que la poderia evitar 0 nascimento prematuro de criangas. ‘Assim, embora seja tecnicamente muito mais fécil trans- ferir um embrifo jovem do que um bebé j& quase que totalmente deseavolvido, todo o dinheiro vai pata a diti- ‘ma pesquisa. Ou, por outro Indo, © fato de as mulheres serem excluidas da ciéncia & diretamente responsével pelo adiamento da pesquisa de anticonce orais. para ‘05 homens (ser4 possivel que se pense que as mulheres 227 siio melhores cobsias por que sio consideradas “inferio- res” pelos cientistas homeiis? Ou isso se dé exclusiva- ment porgue os centtas homens eutuam a frlidade culina?) So muitos os exemplos desse tipo. sams aedos em relagao aos novos méiodos de repro- dduglo sto de tal modo difundidos que, até hi bem pouco tempo, 0 assunto era ainda um tabu, fora dos cireulos ios. ALE mesmo véras mulheres do movimento de TibertagGo feminina (women’s lib) — e talver. expecial- mente estas mulheres — tm medo de expressar qualquer interesse sobre 0 assunto, para evitar que se confirmem as suspeitas de todo mundo de que clas so “antinatu- ais”, Assim, gastam grande quantidade de energia ne- jgindo serem contra’a maternidade, ou a favor da repro~ uct artificial, e assim por diante. Falando franeamente: ‘A gravidec é wma barbaridade, Eu no acredito, como muitas mulheres dizem hoje, que a gravidea seja vista como feia devido a perversdes estritamente cult- ‘A reagio imediata da crianca: “O que que aquela Senhora Gorda tem?”, a diminuigio culpada do desejo sexual do marido; as’ légrimas das mulheres diante do espelho aos oito meses de gravidez — tudo isso so rea es instintivas, que no podem ser explicadas como hé- bitos culturais. A gravidee 6 a deformacio temporétia do corpo do individuo, em beneticio da espécic. ‘Além disso, 0 arto déi. E isso no & bom. 14 trés mil anos atrés, as mulheres que tinham um parto “na- tural” nfo tinham necessidade de simular que a gravidez era uma verdadcira viagem, um orgasmo mistico (aquele olhar longinguo). A Biblia dzia: sofrimento e trabalho. © éxtase era desnecessério: as mulheres nao tinham esco- tha, Elas ndo ousavam dar gritos. Mas, finalmente, foi-thes possivel gritar tio alto quanto quisessem durante as horas do parto, E quando este terminava, e mesmo durante ele, clas eram admiradas, dentro de um certo limite, por sua coragem. O valor delas era medio pelo niimero de erian~ fas (fihos) que elas conseguiam suportar botar no mundo. Hoje, tudo isso foi confundido. O préprio culto do pparto natural nos mostra como ficamos distante da ver- Gadeira identidade ‘com a natureza. O parto natural 6 28 apenas mais uma faceta do reaciondrio Retorno-B-Natu- reza hippie-rousseaniano, e to forgado quanto ele. Tal- ‘vez a mistificacéo do parto o torne mais facil na realidade para a mulher comprometida, Os exercicios pseudo-iogas, vvinte mulheres grévidas respirando profundamente sobre (0 chéo, pode ser até que ajudem algumas mulheres a de- senvolverem atitudes “apropriadas” (como “eu nunca ‘mais berrei"). © marido que se contorce & cabeceira da, ‘cama, tal como acontece nas dores de parto empéticas de membros certas de tribos ("Veja como eu sofro com voeé, querida!”), pode fazer uma mulher sentir-se menos 86 durante sua provacio. Mas 0 fato permanece: o part 6, na melhor das hipéteses, necessirio ¢ tolerivel. Nao 6 divertido. CE como fazer um cocé do tamanho de uma abébo- ta, disse-me um amigo, quando eu Ihe perguntei sobre a Grande-Experiéncia-Que-Voct-Esté-Perdendo. O-que-hé- de-errado-em-cagar-cagar-pode-ser-agradavel, diz a Es- cola (masculina) da Grande Experiéncia, Déi, ela respon- de. Qual-o-problema-de-sentir-uma-pequena-dor-de-parto se-ela-ndo-te-mata? responde a Escola. & chato, diz cla. A-dor-pode-ser-interessante-como-experiéncia, responde a Escola. Nio € um preco muito alto que se paga por essa cexperiéncia interessante?, diz ela, Mas-vocé-ganha-uma- recompensa, fala a Escola: um-bebé-todo-seu-para-voo8 foder-como-quiser, Bem, isto jé € alguma coisa, diz ela, ‘Mas como eu posso saber se ele vai ser um’ homem, como vocé?) A reproduedo artificial nfo ¢ inerentemente desumani- zante. De qualquer maneira, o exercicio de uma opg0 po- erd tomar possivel um reexame honesto do antigo valor da maternidade. No momento, fisicamente perigoso para uma mulher declarar-se por principio abertamente contra a maternidade. Ela 6 escapard imune se acrescen- tar que é neurética, anormal, que tem aversiio a eriangas, sendo, portanto, “incepaz”. (‘Talvez mais tarde. .. quan- do eu estiver mais preparada.”) Isto € apenas uma atmos- fera de inquisiglo livre. Até o tabu se dissipar, até que a decisio de nfo ter filhos ou de nfo té-los de um modo “natural” seja considerado, pelo menos, to legitima quan- 229 to o parto tradicional, as mulheres estarfio sendo coagi- das dentro de seus papéis femininos. ‘Um outro avanco cientifico que achamos dificil de ser absorvido pelo nosso sistema tradicional de valores é 0 infeio da cibernetizagio, o encargo de funcio de traba- tho assumido por miquinas que, brevemente, poderio jgualar ou superar o homem no pensamento e na soluedo de problemas. Embora seja possivel argumentar, como no caso da reproducZo artificial, que essas mAquinas mal assaram do estigio especulativo, lembremo-nos de que hd apenas cinco ou dez anos atrés os especialistas pre- diziam qye cinco ou seis computadores seriam suficientes Para supir permanentemente as necessdades de todo 0 ais. A cibernetizasio, do mesmo modo que o controle da satalidade, pode sr tna faa de doit tomes Imagint Ts dug artificial, nas-mfo 1984: com a crescente alienacdo das massas, com o inten- sificado papel da elite (talvez.cibernetista), com as fé- bricas de bebés, a crescente i Grande Irmo), ¢ assim por dade atual nio’hé dé cae o-apareTh ‘Mas, por outro lado, como no caso da exploragéo

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