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Novembro de 2007

Direcção: Paulo Ferreira


Edição > 04.

Notícias de alvalade
Alvalade > Campo Grande > S.João de Brito > S. João de Deus
Secção de Alvalade > FAUL > Partido Socialista > www.psalvalade.eu > Secção de Alvalade

# # Nota da redação:

Editorial Gostaria de agradecer a todos os que têm colaborado


por Paulo Ferreira com esta publicação da Secção de Alvalade, num esforço
considerável de vários Amigos e Camaradas que tento
Quanto mais a luta aquece mais Força tem o PS, recordava o que seja útil a todos.
nosso Camarada Mário Soares no último jantar de aniversário
do nosso Partido. É bem verdade… Nesta edição julguei por bem deixar um humilde gesto de
agradecimento.
A meio dum mandato legislativo e após uma difícil vitória em
circunstâncias tão graves como inusitadas na nossa Aos que se esforçam por escrever sobre as nossas
Autarquia, parece-me ainda mais importante pararmos para freguesias, como o Sequeira e o João Gomes, bem
reflectir. hajam, aos que nos tentam ajudar com estudos
elucidativos sobre politica da/na nossa cidade, como o
A missão que nos foi confiada pelo povo Português está ainda Paulo Machado, o Jorge Franco e o Bruno Noronha,
muito longe de estar concluída, teve e terá imponderáveis muito obrigado.
percalços e vitórias, sucessos e atrasos.
A todos os que se esforçam para me ajudar a dar um
Temos pois que cerrar fileiras, endurecer a luta e aumentar os brilho a esta newsletter, o André Caldas, o Miguel Lopes,
níveis de esforço e trabalho, só assim poderemos o João Ribeiro, o Fernando Arrobas, André Couto e o
corresponder às expectativas de todos os que nos confiaram o Rafael Lucas Pereira, o meu sincero reconhecimento.
seu voto.
Por fim, gostaria que soubessem que se não fosse o
Mas, por vezes parece que nos esquecemos, por vezes nosso Secretario Coordenador, Miguel Teixeira e a sua
parece que o PS não é já um partido de militantes e dos esposa nenhuma destas newsletters teria saído do
militantes, parece que nos deixamos embalar num espírito de alguns Camaradas e do desktop do meu
adormecimento causado pelas lutas diárias e por algumas portátil…..esperando continuar a ser útil à Secção.
sereias na comunicação social ou mesmo por amigos ou
Paulo Ferreira
Camaradas menos despertos para estas necessidades e para
esta realidade.

Desenganemo-nos, esta luta, a nossa luta, a luta do PS, no


Governo ou na Câmara Municipal de Lisboa é a mesma,
mudar Portugal, mudar a face da nossa cidade, fazer evoluir a > Em Destaque
sociedade no caminho do Progresso, preparar o futuro que foi
tão desacautelado pela governação da direita, quer ao leme
do anterior Governo, quer a gerir os destinos da nossa
Autarquia no anterior mandato. > O desafio São João de Brito (1)
Unidos neste espírito de missão e serviço à causa pública
resta-nos transpor estes desejos para a realidade, e o primeiro > O Observador
palco onde deveremos mostrar a determinação na renovação,
o primeiro fórum onde temos que exigir rigor e transparência, é > Salazar, Rohde, Esquerda
o próprio Partido Socialista, temos de ser os primeiros a dar o
exemplo de competência e qualidade.
e o novo mundo globalizado.
Não podemos exigir aos outros aquilo que não exigimos nem
praticamos na nossa casa, o Partido Socialista.

Tenho a certeza que todos, absolutamente todos,


concordamos que a meritocracia, a cultura de rigor, o espírito > DOSSIER´S
de missão, os princípios da ética e da justiça devem marcar o
nosso dia a dia, devem marcar a nossa relação dentro e fora
do Partido e devem pautar a postura dos nossos dirigentes.
Sobre a Evolução do Sistema
Um escritor francês, Stendhal, disse um dia que “Os que
hesitam são atropelados pela retaguarda”, todos nós,
militantes do Partido Socialista, sabemos o caminho a
Partidário Português
seguir...não hesitar!
Na Secção
Secção
dede
Alvalade
Alvalade Novembro de 2007

Edição 04. > www.psalvalade.eu


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poder, procurou, por todos os meios e rapidamente, erradicar


esse flagelo social da nossa cidade de Lisboa.
> O desafio São João de Brito (1)
O passar do tempo veio infelizmente confrontar-nos com a
O poder local vive neste momento uma fase de metamorfose, causada dura realidade.
por uma forte alteração genética que se tem vindo a operar sobre o
Com efeito as consequências desse modo de realojar
mesmo. Dentro em breve o papel das autarquias será alterado começam, cada vez mais, a fazer parte do nosso quotidiano e,
radicalmente e só podem sobreviver aquelas que fizerem um salto pior ainda, sendo irreversíveis, vão condicionar, por muitos
anos, as gerações que nos sucederem, transformando a nossa
qualitativo, abandonando o conceito de autarquia enquanto mero motor
bela Lisboa numa cidade semelhante a muitas outras que
de crescimento urbanístico, para passarem a funcionar como existem por esse mundo fora e onde, a par com condomínios
entidades prestadoras de serviços, com forte incidência nas áreas fechados de luxo, pululam os novos bairros de realojamento
geradores de insegurança, quer no seu próprio interior, quer
culturais, sociais, de higiéne e educativas passaremos pois da política nas redondezas, nomeadamente nos bairros da classe média,
do betão, para uma política do século XXI. não fechados por muros e sem segurança privada.
A Freguesia de São João de Brito é o exemplo de um espaço urbano, de
Não basta oferecer casas melhores que as barracas, colocar
forte incidência residencial e comercial, que não tem mais meia dúzia de funcionários e assistentes sociais, para, como
possibilidades de crescimento urbanístico. Todas as infra-estruturas num passe de mágica, criar locais de habitação dignos da
nossa cidade.
base estão construídas e o objectivo do poder autárquico deve passar
por conseguir melhorar a qualidade de vida dos munícipes. A verdade é A falta de educação, o desemprego ou o emprego precário, a
que muito pouco se tem feito para que tal se torne possível. sobrevivência à custa de expedientes, a delinquência familiar e
as diferenças culturais estão normalmente associadas à
Devemos olhar para a Freguesia e questionarmo-nos sobre o que é que habitação pouco condigna.
a Junta tem feito para melhorar a qualidade de vida dos habitantes
desta zona Como é que do ponto de vista cultural tem a mesma Uma vez nas novas casas, até pela ausência de estímulos
positivos, as pessoas tendem a recriar o mesmo ambiente que
intrevido? Como é que a sua informação tem passado para os conheciam nos bairros de barracas; o desleixo rapidamente faz
municípes? Se os projectos de acção social existentes são suficientes? avariar os elevadores, os vidros partidos são substituídos por
cartões e o lixo toma conta dos espaços comuns com a maior
Respondiria Brechet: “tantas perguntas e tão poucas respostas”.
das facilidades.
Então e do ponto de vista da higiéne e salubridade? Poderemos nós
continuar a viver num espaço urbano onde existem poucos caixotes do Num prazo relativamente curto as novas casas transformam-se
em barracas sobrepostas.
lixo e onde os dejetos de animais abundam nas ruas, sendo já um
terrível problema de quem aqui habita? E do ponto de vista ambiental? Depois começam, em série, a reaparecer os estigmas
Tem a Junta de Freguesia feito um verdadeiro esforço para que a associados às situações anteriores: A polícia que, até pela
inexistência de efectivos, não tem uma presença preventiva e
Freguesia tente atingir a excelência a este nível? de proximidade, quando aparece é quase em autênticas
A resposta a todas estas perguntas é a necessidade de uma nova operações de guerra geradoras de revolta entre os, felizmente
ambição para São João de Brito, a necessidade de um projecto muitos, habitantes honestos, trabalhadores e cumpridores dos
seus deveres de cidadania.
inovador que consiga fazer o salto qualitativo de que já falei e que
coloque a Freguesia no rumo de uma política autárquica de secúlo XXI, Já estamos suficientemente afastados no tempo para
podermos concluir, sem receio de epítetos menos próprios, que
mais perto dos habitantes e prestadora de mais abrangentes e nem tudo o que foi feito durante o chamado Estado Novo foi
melhores serviços só o Partido Socialista o pode conseguir. necessariamente mau ou ineficiente. No pequeno grupo das
situações positivas teremos de considerar os chamados Bairros
Sociais, geradores, por um lado, de autênticas miscigenações
João Gomes sociais, com famílias de diferentes classes e estratos
económicos a viverem nos mesmos arruamentos e até nos
mesmos prédios, misturando agregados provenientes de
realojamentos com outros da classe média (empregados de
comércio, professores dos diversos graus de ensino, operários
> O Observador especializados, membros das forças armadas e militarizadas,
polícias…) e, por outro, com a individualização familiar, de
quebras de cadeias de vizinhança anterior em locais
1. degradados da cidade.
Quando os executivos camarários, sob responsabilidade do Partido
Socialista, levaram a cabo a louvável tarefa de acabar com as barracas, Vem isto a propósito do Bairro Fonsecas e Calçada, um dos
fizeram-no utilizando o método humanista de preservar os conjuntos produtos desta generosa campanha de dignificação das
populacionais como existiam anteriormente. condições de vida de pessoas que viviam em situação
degradante.
Quer fosse no mesmo local, quer relativamente próximo quando o
espaço original ficou adstrito a outro fim, foram criadas condições para Quando as autoridades falam desse bairro, cujos habitantes
que a mobilidade e a separação dos habitantes dos extintos bairros de são cidadãos tão dignos como os outros, aparecem sempre os
lata fosse mínima ou até inexistente. estigmas habituais. O epíteto “carenciado” é um dos mais
utilizados, o que me deixa particularmente agastado.
Genericamente existiu uma espécie de transplante, em bloco, Provavelmente a contaminação pelas actividades da paróquia,
daquelas pessoas, para os novos edifícios acabados de construir, que, embora dignas de apreço, são sempre baseadas na
assim preservando os laços familiares e de vizinhança, tão caros às chamada “caridade cristã”, sempre propensa a ajudar os
ideias generosas da geração (que é também a minha) que, uma vez no pobrezinhos, porque isso proporcionará uma hipotética
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salvação aos seus fautores, ajuda a criar e manter esse tipo de ninguém se opôs ou procurou resolver o problema.
intervenção.
Ainda por cima, não nos podemos queixar de falta de
Uma criança que, desde muito cedo, comece a perceber que vive num visibilidade do assunto, uma vez que, ao longo dos anos, várias
bairro carenciado, é filha de pais carenciados, sendo ela própria personalidades, quer da Freguesia, quer de outros órgãos,
carenciada e que, devido a esses factores terá direito a este e àquele camarários ou não, como o Arq. Gonçalo Ribeiro Teles,
programa ou equipamento, assimilará, por um lado um terrível estatuto elaboraram estudos, propostas e sugestões sobre o mesmo,
de inferioridade social e, por outro, uma característica perversa de todas tendo, invariavelmente, tido como destino o limbo do
aproveitamento e exigência de suporte constante e permanente que esquecimento.
levará, na maioria dos casos, a uma vida carenciada, quanto mais não
seja se isso for conveniente, gerando filhos carenciados, etc, etc… Estamos, portanto, perante um assunto muito complexo,
deixado evoluir sem controlo ao longo de mais de trinta anos e
A nossa posição deverá ser liminarmente oposta. Essas pessoas que necessita, por um lado, de um amplo debate,
merecem muito mais. Temos a obrigação democrática e socialista de nomeadamente entre os habitantes do bairro, mas não só, uma
criar as condições para que, pelo menos as gerações mais novas, se vez que é um assunto público da maior importância para a
sintam obrigadas a dar o salto, a elevarem-se a posições mais Freguesia, e, por outro, de uma grande coragem para combater
relevantes na escala social e, muito importante, deixarem a os interesses particulares que serão inevitavelmente postos em
dependência paternalista dos poderes civis e religiosos, geradora de causa por uma regularização justa do problema.
vidas sem saída, num círculo constante e infindável.
Estamos em condições de promover e organizar esse debate a
Por isso, sendo opositor declarado dos guetos, sou contra a criação de tempo de propormos uma solução fundamentada e completa,
equipamentos sociais e programas específicos para os habitantes com um misto de participação pública e particular, que deverá
desse ou de qualquer outro bairro. Pelo contrário, esses cidadãos, fazer parte integrante do nosso programa de candidatura às
juntamente com todos os outros da Freguesia do Campo Grande, eleições autárquicas de 2009.
devem ser convocados para, em conjunto, usufruírem de bens e
equipamentos destinados a TODOS, sem exclusão de qualquer
espécie. 3.
No consulado simultâneo de Durão Barroso, como Primeiro
Só assim o digno bairro Fonsecas e Calçada passará a ser parte Ministro, e de Santana Lopes, como Presidente da Câmara
integrante, de pleno direito, de uma sociedade que queremos mais Municipal, aconteceu o início do pagamento de portagens na
igualitária, mais justa e preocupação actual - também mais segura. CREL. Logo o Partido Socialista encheu a Segunda Circular
com cartazes desaprovadores da medida, uma vez que esta iria
2. trazer mais 50.000 viaturas por dia, para o interior da cidade.
A proposta dos vereadores do PS, na Câmara Municipal de Lisboa,no Sendo uma reclamação justa e tendo o PS voltado ao poder em
anterior executivo, no sentido de serem criadas condições para o 2005, seria normal, pelo menos para o cidadão comum, que
arranjo dos logradouros do chamado “Bairro das Caixas de Alvalade”, essa medida, tão duramente criticada, fosse, de imediato, ou a
cuja história e caracterização já referi, num dos números anteriores curto prazo, revogada.
desta “newsletter”, é louvável, embora mereça algumas
considerações. Acontece que e é ilícito pensar que o tal cidadão comum é
parvo os programas dos partidos têm, desde sempre, uma
Sendo uma solução inovadora dos anos quarenta (Arq. Jacobety Rosa espécie daquelas letras pequeninas que, diz a voz corrente,
e Faria da Costa), com os seus amplos logradouros, espaços existem nas apólices de seguros ou na publicidade. Esta e
ajardinados, criando uma barreira entre as casas e a rua, veredas aquela medida, prometida ou sugerida numa campanha
pedonais e a ausência de cafés ou outros equipamentos semelhantes eleitoral, apenas será posta em prática se forem cumpridas
no seu interior, constituiu um dos exemplos negativos do excesso de determinadas premissas. Como o partido que está na oposição,
liberdade no aproveitamento dos espaços públicos, do período que se uma vez no poder, pode sempre alegar que encontrou uma
seguiu à revolução libertadora do 25 de Abril de 1974. situação substancialmente diferente daquela que motivou as
suas propostas de campanha, terá sempre motivos para
Tal como em outros locais do país, mormente nas zonas próximas do esquecer ou adiar aquilo que prometeu.
mar, as populações, até aí tolhidas nos seus anseios e necessidades,
imaginaram que tudo era possível, que o que era de todos era Daí todos termos consciência que apenas uma minoria ínfima lê
igualmente de cada um e, pelo menos os mais espertos e oportunistas, um programa eleitoral ou condiciona o seu voto a uma qualquer
dedicaram-se a construir clandestinamente, nos espaços públicos, promessa política, até porque existe, cada vez mais, a certeza
sem respeito por um ordenamento mínimo do território, condições que dificilmente será para cumprir.
estéticas ou ambientais, barracas e mais barracas, quer para
garagens, quer até para habitações de lazer. É, portanto, muito importante a realização de iniciativas abertas
à generalidade das populações onde nos inserimos, debates
Foi o que aconteceu no bairro das caixas. A existência de amplos sobre assuntos de interesse comum, visitas a locais ou
espaços nas traseiras das habitações, ainda por cima mais ou menos colectividades populares onde, fora das campanhas eleitorais,
fora das vistas de quem se desloca pelas ruas, propiciou a construção possamos marcar presença, dando e recebendo pontos de
anárquica e inestética de, em certas zonas, autênticos bairros de lata, vista que nos poderão colocar na memória activa das
para as mais diversas utilizações. Com o tempo, a mudança de populações como fautores de progresso.
população, o envelhecimento, quer das pessoas, quer dos materiais,
veio trazer o abandono, a ferrugem, os escombros não removidos e o Chama-se a esta atitude semear para colher.
aspecto degradado a locais, originariamente bonitos e bem cuidados.
4.
Tudo isto, é necessário dizê-lo, com a complacência das autoridades Para terminar, temos o túnel do Marquês em funcionamento há
que se sucederam no comando da cidade de Lisboa. vários meses Ainda bem que o PS, como partido que já foi poder
e felizmente voltou a ser, não se “molhou” desnecessariamente
Desde o nosso camarada, de Partido e de Secção Aquilino Ribeiro neste assunto.
Machado, passando por Krus Abecassis, Jorge Sampaio, João Soares, Com efeito, pouco distingue este túnel dos que têm sido feitos,
Pedro Santana Lopes e Carmona Rodrigues, coadjuvados pelos desde há mais de trinta e cinco anos, em Lisboa. Desde o
sucessivos eleitos para a Junta de Freguesia do Campo Grande, desnivelamento do cruzamento das Avenidas de Roma e
Secção de Alvalade Novembro de 2007 4
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Estados Unidos e da passagem subterrânea do Largo de Entrecampos,


no tempo do Santos e Castro, passando pelos dois túneis (Campo
O Estádio Universitário de Lisboa (EUL)
Grande e Campo Pequeno) do Jorge Sampaio, pelo da Avenida João
XXI, do João Soares, até outros mais recentes, como o conjunto que, O Estádio Universitário de Lisboa (EUL) é e será sempre
em várias parcelas, percorre a Avenida Infante D. Henrique até recordado por muitas gerações de estudantes universitários,
Moscavide, a razão foi sempre a melhoria do trânsito na cidade. seja como atletas ou dirigentes, como um local de valorização e
Obviamente que, com o tempo, todos trazem mais carros, formação enquanto individuos. Tive a sorte de viver estas duas
transformando-se, a prazo, em autênticos buracos engarrafados de experiências.
veículos. O EUL representará sempre para nós um espaço marcante de
aprendizagem para as nossas vidas.
Quem, no entanto, imagina que não os construindo impede este flagelo Mas este espaço, para além de um rico passado, onde
que diariamente agride a nossa cidade pode perder as ilusões. Como diariamente ao longo de anos muitas individualidades se
no nosso tempo ninguém toma nenhum tipo de atitude apenas porque cruzaram na sua prática desportiva, tem um longo e risonho,
lhe é sugerida, só com uma política concorrencial dos transportes assim o espero, futuro à sua frente.
públicos, nomeadamente do Metropolitano, poderemos melhorar a Com uma localização excepcional, servida por variadíssimos
procura destes meios privilegiados de deslocação no interior das transportes, próximo de um Campus Universitário que
cidades. congrega várias Universidades, sejam elas do público, privado
ou concordatário, o EUL tem vindo a tornar-se um espaço
Apesar de irem sendo construídas algumas linhas, tudo se passa apetecível aos mais diversos níveis.
demasiado lentamente, mormente na efectivação das chamadas É contra esta tentação que o futuro deve ser acautelado! O EUL
ligações transversais, das quais apenas uma (entre a Alameda e S. deve e deverá ser sempre um espaço de excelência para servir
Sebastião) será inaugurada a curto prazo. Faltam ligações importantes a prática desportiva de toda comunidade académica de Lisboa.
a Campolide e Campo de Ourique; as zonas ocidentais (Ajuda, o No entanto, a realidade de ontem não é a realidade de hoje e o
recuperado Parque de Monsanto, o Restelo e a parte mais populosa de Estádio deve acompanhar essas mesmas mutações. Hoje, o
Benfica) ainda não são servidas; a linha verde parou na ponta de Estádio deve, perdoem-me a insistência para além de
Telheiras; falta uma estação entre Areeiro e Roma; o Aeroporto, salvaguardar sempre os interesses da comunidade académica,
independentemente de vir a desaparecer, já deveria ter Metro desde há olhar para a cidade de Lisboa e para as Federações
muitos anos; a desastrosa opção pela ligação a Santa Apolónia, via Rio Desportivas como complementos dessa mesma utilização.
Tejo, com todas as consequências patrimoniais para a Baixa Num espaço ímpar da cidade de Lisboa, o EUL deve continuar a
Pombalina, uma vez que os túneis podem vir a impedir a chegada de ser um equipamento desportivo de eleição, onde as diversas
água do rio às madeiras que suportam as fundações dos prédios, gerações usufruem da qualidade de um serviço desportivo sem
podendo, a médio prazo provocar a sua derrocada, já deveria ter sido paralelo no país, bem como um espaço verde de referência,
substituída por uma outra que, partindo de Arroios, servisse, pelo onde as mais diversas espécies arbóreas se cruzam e a
caminho, os populosos bairros da Graça, das Colónias e toda a nova biodiversidade é uma constante, transformando o EUL num
zona habitacional entre a Praça Paiva Couceiro e o rio. pequeno pulmão de Lisboa. Se esta combinação for
conseguida, o futuro do estádio estará blindado a quaisquer
Pela sua importância este assunto terá de ser uma fonte de mobilização tentações urbanísticas.
dos habitantes da cidade. Em nosso nome e especialmente - no dos Mas este futuro, muitas vezes foi discutido, muito se falou em lei
vindouros que nos sucederem. orgânica, inclusivé, acreditem ou não, está consagrado na lei
um Conselho Consultivo. Muitos foram aqueles que apontavam
o futuro A ou B, mas confesso que antes de assumirmos esse
José Carlos Sequeira papel de adivinhos, temos que estar seguros com quem
queremos construir esse mesmo futuro. Hoje, e com naturais
avanços e recuos na formulação desta equação, entendo que
se deve avançar para um modelo onde o Estado continua a
estar presente. Mas essa presença não deve ser inibidora,
muito menos estranguladora, uma vez que todos têm obrigação
de chamar até si as verdadeiras responsabilidades. O
desenvolvimento do desporto no Ensino Superior,
concretamente em Lisboa, só se conseguirá com a presença
todos. Sejam eles as Autarquias, Universidades e Estudantes.
Deixemo-nos do discurso fácil quando falamos das futuras
gerações. Apostemos nelas e tenhamos a honestidade
intelectual de nelas delegar responsabilidades. Esta fórmula,
quanto a mim, será um balão de ensaio de algo que no futuro
poderá ser alargado a outros espaços similares ao EUL. É
essencial que esta união num modelo de fundação (porque
não?), onde os interesses de quem investe e de quem utiliza
estejam representados, é certamente o modelo mais objectivo e
mais leal por forma, a dar ao Estádio Universitário mas, acima
de tudo, ao Desporto no Ensino Superior e à prática regular
desportiva, a qualidade e a dignidade que eles merecem.
Veremos!

Rafael Lucas Pereira

a secção à distância de um clique

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Novembro de 2007 5
Edição 04. > www.psalvalade.eu

> Falta de eleitores nuclear para a qualidade da democracia portuguesa,


curiosamente pouco abordada pelos órgãos de
A propósito de eleições, falemos da falta de comunicação social e pelos partidos políticos. Porém, não
eleitores há democracia sem eleitores, porque a representação é a
Paulo Machado
essência do regime e a participação eleitoral o seu sustento.
Sociólogo. Militante do Partido Socialista Daí que me pareça oportuno (re)discutir a questão do voto
obrigatório, levando mais a sério o já existente
Uma nota de agradecimento recenseamento eleitoral obrigatório (mas bastante
incumprido).
Ao camarada Paulo Ferreira, e através dele ao Secretariado da Secção de
Alvalade e a todos os seus militantes, vai o meu agradecimento pelo convite Mas, fundamentalmente, a reflexão empreendida pretende
para participar na vossa newsletter, e o prazer de restabelecer o contacto, ser útil à cidade, num momento crítico da sua história.
pela escrita, com aqueles com quem militei durante quatro anos.

Os termos da questão

A razão da escrita Como sabemos, a lei portuguesa consagra a


obrigatoriedade do recenseamento eleitoral e até prevê o
Dedico-me de quando em vez à análise dos dados do
recenseamento oficioso para os relapsos. No entanto,
recenseamento eleitoral, não tanto por razões profissionais,
quando olhamos para o nosso universo eleitoral verificamos
embora o meu ofício agradeça o exercício, mas até mais por
que nos faltam nos cadernos eleitorais muitos milhares de
razões cívicas e políticas.
jovens, simplesmente porque não estão inscritos. Logo, são
Tem sido minha preocupação compreender de que modo o cidadãos auto-amputados do direito cívico de participar na
universo eleitoral evolui, procurando perceber a influência vida política da comunidade, onde quer que estejam e onde
da administração eleitoral (a cargo do ex-STAPE e das quer que residam. Trata-se de um fenómeno de demissão
Comissões de Recenseamento), e a influência da mudança cívica ao qual não temos prestado suficiente atenção.
social na evolução do número de eleitores em Portugal, quer
Como se não bastasse o facto de muitos eleitores mudarem
do ponto de vista da composição, quer da distribuição. Não
de residência (no País ou para o estrangeiro) sem
maçarei os leitores com muitos detalhes técnicos e números,
comunicarem tal facto à Comissão Recenseadora da sua
e para os que se interessam pela matéria, proponho uma
(nova) área de residência, mantendo uma inscrição (por
vista de olhos pelos trabalhos citados na breve bibliografia.
desleixo ou afectiva) na anterior circunscrição de
Quero apenas reafirmar que me parece uma questão recenseamento, muitos jovens cidadãos optam por se

> Em Destaque

Secção de Alvalade

REUNIÃO GERAL DE
08 MILITANTES
Novembro 0 - INFORMAÇÕES;

2007
2 1 h 3 0
1 - ANÁLISE DA SITUAÇÃO POLÍTICA DAS
NOSSAS FREGUESIAS;

2 - ANÁLISE DA SITUAÇÃO POLÍTICA.

H O T E L R O M A
Novembro de 2007 6
Edição 04. > www.psalvalade.eu

manterem outsiders do instituto do voto (não se inscrevendo redução do efectivo de jovens num e noutro universo foi
no recenseamento eleitoral). Quando nos referimos a jovens diferente: -13,4% na população residente (no conjunto do
eleitores estamos sempre a pensar naqueles que têm País) e -20,5% nos cadernos eleitorais.
menos de 25 anos de idade.
Os jovens eleitores perderam importância em termos
É curioso que a comunicação social, muitos líderes de absolutos e proporcionais no recenseamento eleitoral e
opinião e os partidos políticos em geral não tomam a indistintamente em função do tipo de habitat em que vivem.
transformação desta madrasta realidade cívica numa Ou seja, aquela ideia de que os jovens “desaparecem” dos
prioridade. Do ponto de vista partidário, penso mesmo que meios rurais não é falsa… mas é incompleta: é que eles
seria oportuno acenar como bandeira política o combate a também desaparecem dos cadernos eleitorais das cidades!
esta abstenção de cidadania, que inexoravelmente, se Desaparecem porque nasceram menos que os das
acumula com a conhecida abstenção eleitoral. gerações que os precederam. Desaparecem porque não se
Aparentemente, parece que tem sido mais estimulante inscrevem. Este absentismo cívico geracional não parece
insistir na tecla das imprecisões (sobretudo provocadas pela ser apenas um problema demográfico ligeiro ou simples,
manutenção de inscrições de eleitores falecidos cuja mas antes algo territorialmente endémico e
eliminação administrativa a lei impede de consumar, sem sociologicamente complexo e uma questão política da
algumas garantias), do que criar uma estratégia inclusiva maior relevância.
para os jovens eleitores. Há mesmo alguns contabilistas de
Em Portugal Continental, e em apenas cinco anos (de 2001
pacotilha que consideram como há bem poucos dias me
para 2006), metade das freguesias perdeu até 20% de
confessava um deles ser um mal menor que, por exemplo
eleitores com menos de 24 anos de idade. Só 614
em Lisboa, “esses jovens não estejam inscritos, uma vez
freguesias, das 4051 existentes, ou seja, 15% das
que são potenciais votantes no Bloco de Esquerda”. É um
circunscrições eleitorais do Continente obtiveram uma
raciocínio perigoso que no limite nos levaria a pensar ser
variação positiva. Destas, a esmagadora maioria destas
bom que todos os que não votam PS não aparecessem.
situa-se no norte do País, e mais próximo do litoral.
Concepção anti-democrática, monolítica e cinzentona
contra a qual sempre nos batemos!
O que, de facto, nos deverá merecer toda a atenção é a
circunstância de uma parte dos cidadãos mais jovens não se
encontrar estimulado para participar, e no limite nem tão-
pouco se encontrar recenseado. Não seja esquecido que às
Comissões Recenseadoras (vulgarmente, dizemos às
Juntas de Freguesia) cabe, em primeira-mão, a
responsabilidade de contribuir para promover as inscrições
oficiosas em nome da universalidade e da obrigatoriedade
da inscrição, mas também para salvaguardar a inscrição
única. Porém, As Câmaras Municipais, o Estado (através do
Governo) e as organizações da sociedade civil têm
igualmente um papel importante como deverão ter as
empresas, as Universidades e as famílias às quais esses
jovens pertencem.

Alguns elementos para reflexão


Em Portugal Continental, a população residente com idades
compreendidas entre os 18 e os 24 anos de idade
representava em 2001 aproximadamente 13% do total de
residentes adultos (i.e., com mais de 18 anos de idade). Em
apenas 5 anos, e de acordo com estimativas demográficas,
passou a representar 10,8%. Também no recenseamento Mapa 1 -Variação (em %) no total de eleitores jovens, por freguesia,

eleitoral se observou uma variação no mesmo sentido: o no Continente português (2001 a 2006)

número de eleitores jovens diminuiu de 9,3% do total de


inscritos para 7,4%. A questão é que a intensidade da
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Edição 04. > www.psalvalade.eu

O País está confrontado com o facto de em muitas freguesias ter não têm um único eleitor jovem estrangeiro, e muitas
ocorrido uma hecatombe demográfica que se traduziu pela forte apenas 1 ou 2.
redução do número de eleitores jovens, e nalguns casos mesmo
O que se poderá fazer?
ao seu desaparecimento.Outro dado perturbador consiste no
seguinte: a sangria dos jovens inscritos afectou mais o sexo Parece-me evidente que esta realidade social e política
masculino do que o feminino. Todo o Continente está marcado não pode deixar de provocar um sobressalto cívico. A
por um ligeiro a moderado aumento da diferença entre o número cidade não pode suportar uma sangria demográfica
de jovens eleitoras e o de jovens eleitores, mas é no País interior desta ordem a que se sobrepõe uma fuga de
que se registam os casos de uma mais acentuada diferenciação. responsabilidades de cidadania por parte de alguns,
Esta mudança pode vir a determinar alterações importantes na nomeadamente de muitos jovens. O argumento de que
expressão do comportamento eleitoral, e muito provavelmente esta política e estes partidos nada ou pouco lhes dizem
na vida política local, em muitas dessas circunscrições, pode explicar a sua vontade de mudar o “estado de
reanimando a velha questão social do acesso e desempenho da coisas” mas não justifica uma demissão de
vida política conjugada no feminino. responsabilidades com esta expressão.

Gráfico 1 - Variação do númer de eleitores


jovens em Lisboa, por freguesia
E o que se passará em Lisboa?
Santa Justa

Na cidade de Lisboa as tendências que vimos referindo Sacramento


Castelo
encontram-se extremadas. Em cinco anos (de 2001 para 2006) Pena

no recenseamento eleitoral da Cidade ocorreram mudanças Coração de Jesus


Beato
que deveriam suscitar a nossa maior preocupação. São José
Graça
 Número total de eleitores: menos 54 mil (-9,3%); São Cristóvão e São Lourenço
São Paulo

 Apenas 3 (das 53) freguesias de Lisboa Ajuda


Encarnação
registaram um acréscimo de eleitores Mercês

recenseados (Ameixoeira, Carnide e Penha de França



Lumiar); Benfica
São João
 Número de eleitores jovens: São João de Brito
Madalena
São Jorge de Arroios
menos 14 mil (-33,6%); São Vicente de Fora
São Domingos de Benfica
 Nenhuma freguesia registou um aumento Santo Condestável

Santa Isabel
do número de jovens eleitores;
Alcântara
Anjos
 Em 37 freguesias o número de eleitores Santa Engrácia

jovens diminuiu pelo menos 1/3; Santa Maria de Belém


Socorro

 Em 5 freguesias o número de eleitores Charneca

Santa Catarina
jovens diminuiu mais de metade; Campo Grande
Santiago
 (Contrariando a tendência nacional) na São Nicolau
São Francisco Xavier
maioria das freguesias existem mais
Campolide
eleitores jovens do sexo masculino do que Alvalade
Santo Estevão
do sexo feminino.
Alto do Pina
Ameixoeira
Existem, todavia, algumas boas meias notícias. Em Lisboa, o Prazeres
número de eleitores estrangeiros aumentou 11%, e a variação São Mamede
Marvila
dos cidadãos estrangeiros e eleitores provenientes da União N Sra de Fátima

Europeia aumentou 53% (nesse período de 2001 a 2006). Por Lumiar

São João de Deus


outro lado, o número de eleitores estrangeiros jovens aumentou Santa Maria dos Olivais
44% no mesmo período. A tendência é interessante (parte boa São Sebastião da Pedreira
Mártires
da notícia) mas os números são ainda muito escassos (falamos Carnide

de um total de 108 jovens estrangeiros recenseados, o que é Santos-o-Velho


Lapa
manifestamente muito pouco). Aliás, 29 freguesias da Cidade São Miguel
%
-65 -55 -45 -35 -25 -15 -5
Secção de Alvalade Novembro de 2007 8
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O recenseamento eleitoral tem que ser valorizado socialmente, condição de governabilidade do executivo, a capacidade
e os mecanismos da oficiosidade (faculdade da administração de efectivar a cobrança legítima dos impostos devidos, a
eleitoral promover o recenseamento de quem se encontre em autoridade para fazer com que as regras urbanísticas,
condições de ser recenseado) podem ajudar a conceder algum que as formas de utilização da via pública criem riqueza
respeito e atenção à democracia formal. A pedagogia ao invés de despesa (por uso indevido). Hoje, o desafio
democrática, traduzida em acções de sensibilização de da sustentabilidade ambiental e financeira e da conexa
preferência logo na infância e adolescência, se possível com revitalização urbana não é menos importante, nem
uma vertente lúdica muito forte -, não é incompatível com menos complexo, nem menos urgente, que a
normas de carácter mais vinculativo. reconstrução depois de 1755 ou o rasgar da cidade nas
décadas de 30 e 40 (cujo desenvolvimento estava
Por que poderá um jovem frequentar uma universidade,
bloqueado pela propriedade fundiária).
beneficiar de apoios públicos, descontos nos transportes,
subsídios para aquisição de equipamentos, créditos, possuir A legitimação do esforço de refundação da capitalidade
carta de condução, frequentar bibliotecas, museus, cinemas, lisboeta e da sua amenidade urbana está no voto, não na
etc, etc., e simultaneamente considerar que a sua participação repressão política ou no punho do déspota esclarecido.
política é supletiva ou mesmo dispensável? Se é legítima a sua Mas para essa legitimação o voto do eleitor é a chave,
exigência para que a sociedade lhe proporcione condições para porque sem eleitores não há futuro.
se preparar para a cidadania, estudando, tendo um emprego,
querendo viver em conjunto com alguém, ter filhos, beneficiar da
protecção pública, do pleno gozo dos seus direitos, liberdades e
garantias Constitucionais, porque motivo entende que está Referências bibliográficas
dispensado de se comprometer com as soluções sobre a
organização social, política e administrativa do País? Por que Casimiro, F., Paulino, P. (2003) Censos 2001 versus Recenseamento

motivos temos nós todos deveres para com os outros e alguns Eleitoral, Revista de Estudos Demográficos, Nº.34, INE, Lisboa: 27-40.

destes nenhuns deveres para connosco? É legítimo que se INE (1999) Indicadores Urbanos do Continente tipologia de áreas
apartem socialmente, permanecendo numa espécie de limbo de urbanas, INE, Lisboa
integração e mancos de cidadania?
INE (2006) - Estimativas Provisórias de População Residente
Finalmente, as soluções para a desertificação demográfica da Intercensitárias - Portugal, NUTS II, NUTS III e Municípios para 2005,
Cidade não são simples, nem imediatas, nem de efeito INE, Lisboa
garantido. Porém, talvez neste domínio precisemos de políticas
Machado, P. (1999) O universo eleitoral português em números. Uma
mais interventoras sobre a propriedade e sobre o espaço
velha questão revisitada, Revista Eleições, nº 5, STAPE, Lisboa.
público. Talvez tenhamos que reconhecer que a mão invisível do
mercado, a vontade individual e as circunstâncias históricas não STAPE (2006) - Atlas Eleitoral “ - Assembleia da República 2005 e
ajudaram a desenvolver uma cidade com sustentabilidade Assembleias Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira,
social, económica e política, e que estará na hora de soluções STAPE/MAI, Lisboa
mais arrojadas, mais controversas (por certo), mas mais
Machado, P., Gomes. C. (2007) - Mudança social em Portugal:
determinadas a mudar o rumo da Cidade. Há necessidade de
contributos para uma interpretação sumária com recurso à base de
imprimir um desígnio e de impor um caminho novo, numa lógica
dados do recenseamento eleitoral, Revista Eleições, nº 11, STAPE,
urbana mais keynesiana.
Lisboa.
Não precisamos de copiar o pior da discricionariedade duarte-
pachequista, nem o violento autoritarismo pombalino. Os
tempos mudam, as vontades também e as necessidades
igualmente. Todavia, não percamos de vista que o ímpeto
expropriador de Duarte Pacheco e a proibição de padeiros e
pedreiros saírem da cidade depois do terramoto de 1755 foram,
no seu próprio contexto histórico, decisões que se integraram
num estado de emergência e necessidade públicas muito
concretas.
Nós vivemos, hoje, um estado de emergência e necessidade
que obriga todos e cada um de nós a participar. Não teremos
uma segunda oportunidade! Hoje, o instrumento será a
Na Caderno Português
Sistema Partidário
Novembro de 2007

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9

Sobre a Evolução do Sistema Partidário Português surgiram na primeira metade do séc. XIX com a difusão das
instituições parlamentares.
Pretendo, através deste artigo, contribuir para uma melhor
percepção do que são os partidos políticos nos dias de hoje, o De qualquer forma foi a afirmação do poder da burguesia,
que representam, o que defendem, porque o fazem e, juntando-se á aristocracia, estes partidos tinham a
finalmente, porque mudaram ideologicamente desde a sua particularidade de não ter qualquer relevância fora do
génese. parlamento, eram simplesmente conjuntos de notáveis,
pessoas com relevância pública, não haviam sequer divisões
Hoje em dia a política e o político são dificilmente imagináveis por conflitos de interesses, a aderência a um partido ou a outro
sem a figura dos partidos políticos. devia-se unicamente a tradições locais ou familiares. Segundo
Weber, estes partidos eram “puros séquitos da aristocracia”.
Há uma pregnância dos partidos na vida pública, sobretudo nos
regimes liberais e democráticos, estes partidos encontram-se No plano ideológico definem-se por defendem o liberalismo
no epicentro das principais instituições nacionais bem como na individual, ou seja, não são defensores de programas muito
base de todos os processos políticos, estabelecendo a ligação precisos e consequentemente preferem uma representação
entre a sociedade civil e o Estado, facto pelo qual a sua individual, há assim uma grande flutuação ideológica. Não
existência se torna essencial e indispensável no nosso sistema podemos esquecer que estes partidos foram criados num
político. tempo em que o sufrágio não era universal mas muito restrito,
assim, os partidos de quadros eram elitistas, com poucas bases
A um nível muito geral os partidos políticos têm duas funções
de filiação e com um circulo fechado e de acesso difícil
essenciais. A primeira consiste em representar
(preferencialmente) mais do que um sector ou interesse social, Em Portugal, na primeira República, estes partidos
tendendo a agregar interesses sociais diferentes no seu seio. O (monárquicos) tiveram uma natureza bastante clientelar. Já a
segundo factor é a procura da obtenção de influência no Estado partir de 1880 o partido Republicano 1876 1911, o partido
pela tentativa de ocupação de posições no governo, Progressista 1876 1910 e o partido Democrático 1911 1935
pressupondo, nos regimes democráticos, a apresentação de
candidatos a eleições. regeram-se pela mesma batuta mas alargaram as suas bases
até aos pequenos burgueses.
No que toca à génese dos partidos, segundo autores come
Madison ou Tocqueville, os partidos nascem a partir da No plano actual o único partido de quadros é o CDS/PP 1974 -
sociedade civil, onde existem importantes clivagens de …, ainda que não seja elitista, na medida em que não é um
interesses na população. grupo burguês (ainda que não deixe de revelar preferência ou
sintonia com vários sectores da nova direita europeia) mas
Em Portugal o processo democrático começou na prática, como antes de vocação popular. É de quadros devido á sua estrutura
todos sabemos, a partir de 25 de Abril de 1974, com o (débil relação com a sociedade e com o poder local) e devido ao
surgimento de inúmeros partidos tanto locais como nacionais, facto de favorecer a tal vocação popular e não a ideologia.
dos quais os mais notórios são o PS em 1973, o CDS/PP e o
PSD em 1974 e o PCP, ainda que este tenha surgido em 1921. O outro modelo é bem mais conhecido do grande público, o
modelo de partidos de massas, ainda que tenha que fazer uma
A semelhança mais evidente entre todos estes partidos é, para
além de todos defenderem a democratização da política ressalva importante, aqui encontram-se dois subgrupos, os
nacional, o facto de todos representarem um de dois modelos partidos de massas especializados e os totalitários (Fascistas e
partidários.
comunistas).

Um dos modelos referidos é o modelo de partidos de quadros.


Começando pelos partidos de massas especializados, também
Os partidos de quadros ou de notáveis, foram o primeiro tipo de apelidados de partidos de integração social, surgiram na
partidos a emergirem no quadro político mundial, a data exacta segunda metade do séc. XIX. O caminho foi aberto pelos
não é um tema consensual entre os politólogos, alguns
partidos socialistas, estes são o protótipo dos partidos de
surgiram na segunda metade do séc. XVIII em países como a
Grã-Bretanha, Estados Unidos e França resultado de massas especializados, mais tarde surgiram os partidos de

processos revolucionários liberais, enquanto que para outros, massas modificados ou de integração total.
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Os partidos de massas especializados prometem eliminar a existem sobretudo em acções extra parlamentares.

fragmentação da sociedade, ou seja, criar uma sociedade sem


No caso da direita, os partidos fascistas, caracterizam-se, muito
classes, aquando da liberalização do direito de voto e numa era
genericamente por terem uma organização militarizada com
de revolução social, industrial, urbana e na emigração.
uma hierarquia piramidal e liderança Autoritária, sendo o líder

Uma das grandes marcas destes tipos de partido são as lutas de sempre uma figura carismática. Surgem em países com

classe, trabalhadores/patronato. No caso português, este privações de estatuto nacional ou com frustrações nas ambições

modelo de partido nunca foi completamente aplicado, é um caso nacionalistas, onde havia o sentimento que os infortúnios se

de insucesso histórico, porquê? Porque Portugal sempre teve deviam aos estrangeiros e onde havia descontentamento por

níveis relativamente baixos de industrialização e urbanização, e parte das camadas jovens e das classes médias.

uma elevada fragmentação do sistema de estratificação social e


Caracteriza-se também por um nacionalismo intenso e radical,
das atitudes culturais, juntamente com um elevado défice de
com uma forte ambição imperialista e presta uma especial
democratização e de massificação política, uma também ela
atenção á função social, por via de protestos públicos, agitação,
relativa debilidade nas organizações sociais, refiro-me aqui,
propaganda e acções clandestinas.
claro, aos sindicatos, movimentos de cidadãos, cooperativas,

etc. No caso dos partidos totalitários em Portugal identificam-se o


PCP 1921 - … e o partido Nacional-Sindicalista 1932 1936.
De qualquer forma, estes partidos caracterizam-se pela
Passando agora para a temática da mudança partidária em
solidariedade social, pela sua natureza laica, pela sua forma
Portugal, vou recorrer-me dos exemplos do PS e do PSD.
organizacional, nacional e dividido em células, traduza-se,
núcleos, e pela predominância programática e ideológica. Ambos os partidos, como já referi, emergiram da sociedade
portuguesa depois do 25 de Abril de 1974, ambos seguindo o
Estes partidos pretendem conseguir pelo número o que os modelo socialista Marxista / social democrático, como pode ser
aferido lendo a Declaração de Princípios e Programa do Partido
partidos de quadros conseguiam pela selectividade, têm, assim,
Socialista de 1973 e o Programa do Partido Popular Democrático
um recrutamento muito grande em quantidade, embora de 1974.
homogénea. Numa última nota, pela primeira vez o poder está
Ambos começaram ideologicamente ao mesmo nível, ainda que
nas bases e não na direcção.
o PS se tenha concentrado no socialismo, enquanto guia para a
acção, enquanto que o PSD se tornou num partido “Kit”, segundo
Em Portugal os partidos de massas especializados são o o sociólogo e politólogo Fernando Farelo Lopes, defendendo
ideias avulso, ou seja, pegando em conjuntos de ideias de
primeiro partido socialista 1875 1934, o partido Centro Católico
proveniências diferentes e aplicando-as caso a caso sem que
1917 1934, o PS 1973 - … e o PPD/PSD 1974 - … haja a predominância da ideologia, sobretudo depois de ver a
sua entrada na internacional socialista recusada.

A segunda tipologia de partido de massas é, como já referi, o


Ambos centravam-se Melhoria das condições sociais e na
partido de massas modificado ou de integração total, podendo conquista de direitos políticos e sociais e de Wellfare State
(estado providência), ambos, nas suas declarações de
variar entre a direita, o fascismo, e a esquerda, o comunismo.
interesses defendem um Portugal sem classes, a construção do
poder dos trabalhadores no quadro da colectivização dos meios
No caso da esquerda, o Leninismo, estes partidos surgem de produção. Ambos assumem a tradição da luta de classes, a
consubstancia de diversas correntes que combatem a opressão
principalmente em países com revoluções industriais tardias,
capitalista.
com as consequências óbvias, caracterizam-se, muito
Ambos propõe-se a realizar a síntese das várias correntes que
genericamente por serem organizações societárias muito fortes,
aspiram ao socialismo, professando o combate ao sistema
por uma defesa acérrima da classe operária onde a ligação entre Capitalista, recusando métodos tecnocráticos, defendendo as
nacionalizações e defendendo o não alinhamento em relações
o partido e a sua base de apoio é muito forte. Estes partidos
de bloco políticas ou militares (como por exemplo a NATO).
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Tornam-se, atendendo ao supracitado, óbvias algumas voto parlamentar, assim, muitas pessoas preferem votar num
diferenças entre algumas das opiniões expressas acima e aquilo
dos partidos maiores, mesmo que não seja esse o seu partido,
que vemos defendido nos dias de hoje.
para evitar que um partido do outro bloco vença aseleições.
Surge, assim, a premência de algumas questões, o que mudou?,
porque é que os partidos não fazem aquilo que professaram? Em segundo lugar o realinhamento eleitoral deveu-se ao facto
dos pequenos partidos apresentarem várias deficiências,
Olhando para aquilo que até agora escrevi, sendo ambos os
partidos, partidos de massas, realmente podemos identificar nomeadamente na sua organização estrutural, no modo como
algumas incongruências, contudo não nos esqueçamos que as estavam integrados na sociedade, na falta de bases de filiação e
declarações de interesses foram redigidas em 1973 e 1974,
na falta de bases de apoio social.
consequentemente podemos justificar que quem não muda com
os tempos fica para trás, como ficaram, aliás, inúmeros partidos
em Portugal levando inevitavelmente á sua extinção, sendo Uma terceira razão resumir-se-á ao facto de que o Golpe Militar
excepção única o PCP. 1975 forçou todos os partidos políticos á direita do PCP, ou seja
todos, a formarem várias alianças eleitorais, (sobretudo no que
De facto muito mudou desde essa altura, primeiramente porque
o sistema eleitoral português foi desenhado para ser toca aos pequenos partidos), nunca conseguindo, assim,
multipartidário, não prevendo, assim, que o fenómeno da maioria consolidar os seus ideais junto do eleitorado, a única excepção é,
absoluta detida por um único partido acontecesse com naturalmente, o PCP, que tem as suas bases de apoio bem
frequência, dá grande poder executivo ao governo.
estabelecidas.
A partir de 1987 Portugal apresentou uma deficiência eleitoral, 5
das 10 eleições mais voláteis da Europa ocorreram em Portugal A partir de 1987 estabeleceu-se em Portugal a chamada
(3 delas das mais voláteis a nível inter-blocal Esquerda/Direita
(1987, 1995 e 2002)) Ditadura da Maioria.

Mais, para as primeiras eleições os partidos “grandes” foram Até finais dos anos 90 os governos eram apoiados por um único
obrigados a recorrerem a coligações com partidos mais partido. A partir de 1999 a governação através de um único
pequenos, as sucessivas coligações levaram, inevitavelmente, a partido tornou-se sinónimo uma ditadura da maioria, substituindo
que os partidos pequenos se tornassem virtualmente
a figura do consenso político reinante até á data. Tal é resultado
indistinguiveis dos grandes, não conseguindo, desta forma,
afirmar a sua ideologia própria, aquilo que os separa dos outros, do facto de que as instituições políticas colocam poucos
o que levou á extinção de muitos partidos, um exemplo flagrante obstáculos no caminho do governo, sobretudo quando apoiado
é o caso do CDS/PP (ainda que não se tenha extinguido), não por uma maioria coesa, não é, também, cedido qualquer poder
tem conseguido demarcar-se ideologicamente do PSD, facto efectivo ás minorias, como acontece nos casos da Irlanda,
notório nos resultados eleitorais.
França, Grécia e no Reino Unido.

Com estes fenómenos PS e PSD juntos começaram um


processo continuo de concentração de votos. Em 1975, juntos, Com a emergência do bipartidarismo cada vez mais os dois
conseguiram 78% dos lugares parlamentares com 69% dos maiores partidos têm, forçosamente, que apelar ás maiorias,
votos, já em 1975, juntos, conseguiram 87% dos lugares para tal, ainda que não abandonem totalmente o seu passado,
parlamentares, com 80% dos votos “perdem” muitas das específicidades ideológicas que têm.
Consequentemente, para angariar cada vez mais votos, e
A meu ver, existem três razões para este fenómeno.
percepcionando o declínio do modelo de partido de massas ou o
modelo de quadros redefinem-se enquanto partidos
A primeira razão é o Por outra perspectiva, o sistema Semi-
profissionais eleitorais, á excepção do PCP que mantém o
Presidencial é baseado num sistema eleitoral maioritário, tal
modelo comunista soviético intacto.
facto cria a tendência para a existência de dois blocos (esquerda
e direita), ou seja, cria uma a bipolaridade evidente no sistema.
Exemplo claro do que afirmei é o caso do PSD que já em 1992
Com a desproporcionalidade eleitoral brotou o sistema do efeito
reviu o seu programa e declaração de intenção. Em 2006 foi
psicológico na figura do voto estratégico (Apoiantes de
anunciada a criação da Comissão de Revisão do Programa do
pequenos partidos votam no partido grande do seu bloco para
Partido (CRPP), presidida pelo Dr. Francisco Balsemão,
evitar que alguém do outro bloco vença), a titulo de exemplo
integrando também os Deputados Carlos Coelho e Agostinho
posso recordar o famoso voto comunista no Dr. Mário Soares nas
Branquinho. Prevendo uma nova revisão
eleições presidenciais.

Foram, aliás, recentemente colocadas duas questões ao PSD:


Este fenómeno acabou inevitavelmente por se transferir para o
“Qual foi o primeiro Programa do PSD?” e “É ainda esse o texto
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programático que norteia o PSD?“ (referindo-se ao programa do modou.


PSD de 1974)

Agora estes partidos, como já disse o modelo dos partidos de


Segue-se a resposta oficial do PSD para ambas as questões:
massas em Portugal não resultou em pleno, para além disso,
Quanto á primeira “No seu I Congresso Nacional, em Novembro com os tempos as prioridades, necessidades e os contextos
de 1974, o Partido discutiu e aprovou um documento
mudam, com eles também os partidos têm que mudar.
estruturante dos valores e princípios que norteariam a sua
acção. A esse documento chamou-se Programa do PPD, e
Para alem disto a quase completa bipartização do sistema
definiu aqueles que seriam os objectivos da social-democracia
político português obriga os partidos a serem mais competitivos
para Portugal, levando em linha de conta a particular situação
política emergente após o 25 de Abril de 1974.” mais abrangentes. A resposta dos partidos foi clara, decidiram
pela mudança de modelo. De facto, hoje os partidos são, á
Quanto á segunda - “Não. O texto inicial foi revisto em 1992.
excepção do PCP, não partidos de massas ou de quadros, são
A revisão teve como pano de fundo a consolidação plena da
democracia portuguesa e de acontecimentos que mudaram o partidos profissionais eleitorais ou, se preferirem, “catch-all
país: a descolonização, a integração na Europa Comunitária, a party´s”.
radical alteração no quadro de referência em que passou a
funcionar a economia nacional e a profunda transformação Os partidos profissionais eleitorais são um produto do segundo
verificada em todos os sectores da sociedade portuguesa ao
pós-guerra. De facto, a década de 1960 constituiu um sério ponto
longo da década de oitenta.”
de viragem nos partidos de massas, os casos mais exemplares

Para além da necessidade compreensiva de apelar a grupos de são o SPD, o Labour Party e a UDR.

eleitores mais vastos há também outra razão que justifica a


O novo partido profissional eleitoral é, agora, interclassista e
mudança dos partidos.
pragmática, identificada pelos seus programas vagos e

Portugal não é o mesmo de 1974, já não existem grandes genéricos. Para Kirchheimer, a emergência e progresso deste

industrias. Há a globalização, os mercados e as necessidades modelo deve-se a vários factores, entre eles está o facto de que

mudaram, deixou de fazer sentido aos partidos apostarem na se deu uma grande atenuação das fronteiras entre os interesses

luta de classes, hoje há funcionários a ganharem, salarialmente, de grupo, consequência de um melhor bem estar económico e de

mais do que algum patronato caso das PME. Hoje em dia há segurança social, agora ao alcance de quase todos, também, a

outras dimensões, na visão dos partidos mais importantes, consciência, por parte dos eleitores, da complexidade e da

exempleficativamente, a questão da segurança, da economia, multiplicidade dos factores de que depende o seu bem estar

do ambientalismo, da justiça social, etc. futuro, não existe só o problema do conflito laboral. aqui posso

lançar a questão da mudança de prioridades na esquerda,


Para simplificar, deu-se a necessária passagem da velha devido á fraca industrialização portuguesa e ao sinal dos tempos
esquerda para a nova esquerda. a nova esquerda esqueceu um pouco a luta de classes,

passando agora a ter outros alvos, tais como a segurança dos


Com esta mudança de atitude não só as prioridades mudaram
cidadãos, a justiça social e o factor ambiente.
como mudaram também os próprios partidos, hoje, voltando ao

exemplo da resposta oficial do PSD, os partidos já não são De certo modo, segundo muitos politólogos, os partidos de

partidos de massas são partidos profissionais eleitorais, os massas foram vitimas do seu próprio sucesso, uma vez
conquistados os direitos políticos e sociais, em consequência
chamados Catch-all Party´s.
das suas batalhas, e uma vez instituído o Welfare State, tornou-
se impossível manter os laços de solidariedade com o eleitorado
Esta nova denominação não quer só dizer que os partidos
uma vez que já pouco tinham a oferecer.
assumem que querem agradar ao maior número possível de

eleitores, quer também dizer que a metodologia dos partidos Se o objectivo político dos partidos de massas era a reforma
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social, o do partido profissional eleitoral é, meramente, o ideologia que adopte enquanto uma indicação do que se deve
aperfeiçoamento social. Fica subjacente, que este objectivo faz fazer, um guia para a acção, nunca enquanto um caminho
supor tanto a recusa do modelo liberal clássico como a plena obrigatório ou um dogma, pois todos sabemos que o mundo não
aceitação do sistema social e político vigentes, ou seja, a é nem negro nem branco, é cinzento.
aceitação implícita do estado providência. Além disso, contenta-
se com um fundo comum de valores, por exemplo a ideia Hoje, devemos percepcionar o voto num partido como a escolha
nacional, justiça social bem como a rejeição de dogmas num conjunto de pessoas que partilham os nossos valores, em
ideológicos. quem reconhecemos competência técnica e idoneidade, não em
alguém que partilha aquilo que se assemelha a uma religião.
Os partidos agora não são homogéneos, acolhem pessoas das Devemos também, a meu ver, não criticar, mas aplaudir os
mais variadas ideologias, há uma desvalorização da classe, a partidos que se tornaram profissionalizados eleitoralmente, eles
única regra de aceitação no processo de recrutamento é a são criticados por atraiçoar a ideologia em troco de votos,
concordância política. contudo, desde que não se esqueçam dos valores que
defendem, eles estão lá, em última análise, para fazer o que a
O partido está agora mais longe da sociedade, já não é um maioria da sociedade em que se insere quer e/ou precisa que
instrumento de reivindicação, é antes um “broker” político, um eles façam, é então necessário e lógico que estes partidos se
mediador entre o que a sociedade deseja e o que o governo pode dirijam a toda a sociedade e não a um único sector, e que
fazer, é um negociador. reflictam opiniões mais generalizadas.

Hoje, com um menor peso da ideologia, aquilo que o partido Jorge Franco
defende depende, em parte, da visão de quem chefia o partido na
data Nota: Para quem estiver interessado nesta temática recomendo
duas obras portuguesas.
Contudo, da mesma forma que uma pessoa se define não só por
aquilo que é e por aquilo que quer ser, também se define pelo que “Os Partidos Políticos modelos e realidades na Europa ocidental
foi e pelo que defendeu. Da mesma forma, a diferença entre o PS e em Portugal” “Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais”
e o PSD acaba por se evidenciar na medida em que há um
“constrangimento” do passado ideológico do qual os partidos não Ambos do Professor Fernando Farelo Lopes
se podem afastar totalmente, os partidos por mais centrais que
sejam não podem nem devem renegar o seu passado.

Quem agride os actuais partidos usando como armas a definição


clássica do socialismo, do marxismo, ou da social democracia
tem que perceber que tudo tem um tempo. Não digo com isto
que, pontualmente, não tenham razão, digo apenas que tudo tem
um tempo e um contexto. Da mesma forma que não é correcto
retirar uma frase do contexto, também não o é retirar uma ideia,
posição ou ideologia fora do seu contexto.

Um exemplo, o manifesto comunista de Marx. O Manifesto


sugere um curso de acção para uma revolução socialista através
da tomada do poder pelos trabalhadores face á tirania da
burguesia capitalista. Este manifesto, para além da validade
ideológica e filosófica, que tem, foi pensada para o contexto de
uma sociedade ocidental de 1848, não será, então, chocante
afirmar que não é aplicável aos dias de hoje.

Este partido profissional eleitoral, refiro-me agora ao PS, não


abandona nenhum contributo filosófico ou ideológico do
passado, nem o pode ou deve fazer, deve respeitá-lo e saber
reinterpretá-lo, deve também, a meu ver, considerar qualquer
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>Sem sectarismos, a seguir vem autonomia não pode ser auto destrutiva” e acção médica é o bom
a eutanásia? controlo dos fármacos, e uma situação deste tipo suscita num
profissional de saúde um conflito de deveres entre o dever médico
A prioridade do nosso país e do nosso Governo tem sido de diminuir de respeitar a vida e o dever médico de aliviar o sofrimento. O
drasticamente um défice que tarda em querer atingir níveis argumento “se a medicina, criou o problema a medicina que o
considerados admissíveis por todos os economistas e em particular resolva” é fraco, pois os médicos (alguns) são responsáveis por
pela União Europeia. muita coisa, mas não são responsáveis por existirem doenças.

Aos sacrifícios necessários já anunciados, e, nesta travagem, na


Por seu turno, a argumentação contra eutanásia incide sobretudo
área da Saúde, já se deu por exemplo o corte nas
no respeito pela vida e proibição de matar. Mas autonomia significa
comparticipações, seguindo-se mais medidas económicas no
liberdade de escolha e o valor da vida tem de ser entendido em
sentido da racionalização drástica e urgente da prestação de
situação.
cuidados e na luta pela consagração da sustentabilidade do serviço
Todo o sofrimento não pode ser controlado (0 a 20 % continua com
público de saúde.
dor incontrolável), como tal, argumentar melhores cuidados
paliativos, quando Erwing em 1930 já separou o cuidar do curar,
Há uns anos atrás, um ministro da Saúde Francês chegou a afirmar
levando à desumanização dos cuidados de saúde, também não
que o seu Ministério não teria o défice que apresentara no ano
parece a melhor solução.
anterior se todos os doentes “terminais” assistidos nas UCI
(Unidade Cuidados Intensivos) tivessem morrido, oito dias antes,
Existe, de facto, argumentação contra e a favor da eutanásia e cada
por interrupção dos cuidados. Foi o primeiro sinal de frieza da
uma delas apresenta ainda contra-argumentação, sendo todas
Economia.
elas alicerçadas numa coisa: a aceitação da vida como um bem
Sem sectarismos, será que a seguir vem mesmo a eutanásia?
“auto-disponível” ou não.
A eutanásia “é a morte deliberada e intencional de uma pessoa, a
De uma coisa, pelo menos até hoje, estamos todos de acordo, o
seu pedido, executada por outra pessoa que acolheu o pedido e
acto de morte não pode ser por simples decisão médica, mas muito
decidiu dar-lhe satisfação”. Uma prática proibida em Portugal,
menos por simples decisão administrativa. Pois bem, a eutanásia
como se sabe.
que seja mais um dilema, não mais uma medida económica.

Na eutanásia os principais valores em causa são a vida humana.


Existe uma grande Argumentação pró-eutanásia: Primeiro, porque Fernando Arrobas da Silva

é a pedido do doente e desde as bases do Principialismo que se


deve reger o respeito pela autonomia. Mas até Kant dizia: “a

«O Escafandro e a Borboleta»

Evolução! Os anos passam, as mutações acontecem nas sociedades e nas mentalidades, devendo os blocos legais reflecti-
las.
Neste campo o nosso Governo tem sido feliz, libertando a sociedade de amarras retrógradas, consagrando novas vontades e
sensibilidades, não negando os tempos e o progresso, antes valorizando-os e extraindo o que têm de melhor.

As recentes reformas do Processo e Registo Civil, bem como do Processo Penal são disso exemplos felizes. Não há na
história nota de evolução sem polémica, é antes a coragem que a caracteriza. Neste sentido começa a ganhar dimensão em
Portugal a questão da eutanásia.

Por experiência pessoal lidei de perto com doentes, muitos deles em estado terminal, mergulhados em profundo sofrimento
físico e psíquico. Falo de situações e processos para os quais a medicina não vê sucesso possível, pessoas fechadas em
corpos doentes e inertes, veículos inaptos à existência de um fim de vida digno e honrado. Foram aqueles meses que me
deram especial sensibilidade a esta causa.

Recebi esta semana a feliz notícia da estreia em Portugal de «O Escafandro e a Borboleta», filme que adapta o livro de título
homónimo, autoria de Jean-Dominique Bauby e que tenho como um dos livros da minha vida. Depois de um acidente
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vascular cerebral, o autor do livro (muitos anos redactor-chefe da revista Elle), de 44 anos, foi vítima do raro «locked-in
syndrom», doença que o deixou perfeitamente lúcido, mas preso a um corpo paralisado por completo, inclusivamente sem
autonomia respiratória. O seu único meio de comunicação com o mundo exterior era o olho esquerdo, o qual piscado uma vez
significava «sim» e duas vezes «não». É este o ponto de partida para o filme que vos desafio a ver, munidos de especial
sensibilidade e espírito aberto à dura realidade vivida por Jean-Dominique.

É obrigatória uma posterior reflexão sobre este tema. Se é certo que ao Estado incumbe a incondicional defesa da vida, algo
que entre nós encontra consagração suprema na Constituição da República Portuguesa, até que ponto é aceitável que esta
defesa inclua a violação da vontade de quem em situações tão desumanas como a descrita decide abdicar de viver? Até que
ponto é aceitável que nós, aqueles que se podem mover, tenhamos meios de abreviar a vida, e desafortunados como Jean-
Dominique estejam condenados ao sofrimento físico e psíquico por período indefinido, em nome do entendimento alheio
positivado na lei?

«Refém de uma seita misteriosa, receio que os meus amigos caiam na mesma armadilha. Tento por todas as formas preveni-
los, mas o meu sonho está perfeitamente sintonizado com a realidade. Estou incapaz de pronunciar uma palavra. (…)
Invadiu-me uma onda de desgosto. Théophile, o meu filho, está ali sensatamente sentado, com o rosto a cinquenta
centímetros do meu, e eu, o seu Pai, não tenho o direito de passar a mão pelos seus cabelos espetados, de beliscar a sua
nuca penugenta, de apertar até à sufocação aquele pequeno corpo liso e morno. Como classificar este facto? Será
monstruoso, iníquo, revoltante ou horrível? Subitamente vou-me abaixo. As lágrimas afluem-me aos olhos e da minha
garganta escapa-se um espasmo rouco que sobressalta Théophile. Não tenhas medo rapazinho, eu gosto muito de ti.»

> Direita e Esquerda no mundo de Hoje permitir que lá se sentassem, juntamente com o clero e com a
nobreza, os burgueses mais bem sucedidos. O rei sentava-se num
plano elevado e, á sua frente, dispôs várias cadeiras formando uma
Todos nós vivemos num mundo, numa sociedade politizada, o que meia lua sobre si.
é, sem duvida, um dado adquirido. Como o braço direito de Deus, colocou o clero à sua direita , ao
Quer percebamos ou não muito de política há uma dimensão que centro a nobreza e, à esquerda a burguesia.
todos temos estruturada, assimilada e perceptivada. É facilmente perceptível as diferenças opinativas que surgiram. Na
Essa dimensão é a dicotomia esquerda/direita. Qualquer cidadão direita, a ala religiosa lutava por manter a hierarquia e os seus
sabe, melhor ou pior, o que representa uma e outra ideologia, direitos adquiridos, na ala esquerda a burguesia, desprovida de
aquilo a que estão associadas. Algumas das suas características, sangue azul ou de batina religiosa, lutava para atingir os mesmos
boas e más, e até conhece algumas das bandeiras ideológicas de poderes e direitos de nobres e clérigos, ou seja pela igualdade de
um lado e de outro. direitos e pela melhoria da sua condição de classe.
De qualquer forma, urge reafirmar o que são uns e outros numa A partir desta premissa é-nos fácil perceber como tudo se
vertente mais clássica e histórica, até porque, como todos desenvolveu.
sabemos, regularmente o senso comum tende a, por vezes, levar- Feita que está a introdução à temática, pretendo agora, o mais
nos ao erro conceptual. sumariamente possível, definir a díade, a dicotomia, as diferenças
A díade esquerda/direita teve, pelo menos oficialmente, origem em entre a esquerda e a direita.
França, quando um seu rei decidiu alargar o seu “parlamento” ao Antes de entrar na esfera política, a divisão entre esquerda e
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direita, está profundamente impregnada com um forte simbolismo elitismo e a propriedade, o anti- economissismo e o nacionalismo.

social e religioso. Feita que está a análise sobre aquilo que é, tradicionalmente, a

Assim, a direita estava universalmente associado à noção de esquerda e a direita, urge colocar-mos uma derradeira questão

privilégio, de dominação e do sagrado, ou seja, com o lado de será que esta díade ainda existe hoje ou é inócua?

Deus, por sua vez, a esquerda é, por exclusão de partes, associada Bem, na minha opinião ainda existe e de inócua tem pouco.

às classes mais desprestigiadas, mais igualitárias e de livre Contudo existe de uma maneira diferente, hoje, face ás

pensamento. problemáticas dos contextos específicos, nacionais e

Existem contrastes de várias índoles, o politólogo André Freire internacionais, alguns dos conceitos têm que se transformar, têm

refere os mais importantes, nos contrastes políticos a esquerda que se adaptar a novas realidades.

revela-se igualitária contrastando com a direita hierárquica, na Um exemplo, a nova esquerda, face á falta de fábricas, ao facto de

economia a esquerda está associada aos pobres e a direita aos existirem funcionários qualificados a receberem bem mais que

ricos, nas matérias religiosas a esquerda defende o livre alguns pequenos patrões, etc. a luta de classes, a luta pelos meios

pensamento enquanto que a direita se apoia na sua cristianidade e de produção perde algum significado, tem que se adaptar, hoje,

nas orientações face ao tempo a esquerda é descontinua contra a vemos a esquerda defender pequenos empresários face a

continuidade da direita. funcionários bancários por exemplo.

Já para o filósofo e cientista político Norberto Bobbio a verdadeira Hoje, face á falta de grandes disparidades nas classes, há que

dicotomia está na luta entre liberdade e autoridade no que toca às optar por outras bandeiras, o ambientalismo, a segurança, a

atitudes, tanto da esquerda como da direita, perante os solidariedade social, a justiça e a educação.

procedimentos democráticos, sendo que, compreensivelmente, se De qualquer forma a díade sobrevive, pelo menos na minha

refere à esquerda enquanto uma ideologia de liberdade e à direita opinião, ainda há diferenças estruturantes e estruturadas e,

como autoritária, de referir também que é aqui, no grau de apoio mesmo que não as houvesse, haveria sempre uma maneira

ora á liberdade ora á autoridade, que se distinguem os moderados diferente de ver o mundo, uma á esquerda e uma á direita.

dos extremistas, é aqui que surgem os conceitos de extrema Defendo a dicotomia, não a justificando pelas políticas específicas,

esquerda/direita e centro esquerda/direita. pelos contextos históricos, pelas bandeiras ideológicas nem pelas

Passando agora á teoria de Dawns, é-nos apresentada, segundo a outras matérias supracitadas. Defendo-a pelas diferenças na

visão do autor, a mais importante dicotomia entre Esquerda e maneira de pensar, de agir, de sonhar.

Direita, a máxima intervenção do estado na economia nacional Não considero, assim, grave, que algumas medidas políticas

pela esquerda contrastando com a mínima intervenção do estado específicas contrárias á ideologia de quem as pratica sejam

na economia nacional pela direita. adoptadas, mais uma vez, podem ser justificadas pelo contexto

Contudo os tempos mudam, e com eles algumas das prioridades específico, uma analogia, ás vezes é necessário dar um passo a

mudam, hoje o politólogo Jaime Nogueira Pinto apresenta outras trás para poder dar dois em frente.

características da dicotomia esquerda/direita que se apresentam Não considero tal falta gravosa, pois essas acções são, ou devem

nos dias de hoje, resumidamente, a esquerda opta por defender ser, tomadas com vista a conquistar condições, no futuro, para

um optimismo antropológico, pelo caminho para uma sociedade tornar a realidade mais próxima da tal sociedade utópica que se

utópica, defendem o racionalismo, o linearismo evolutivo, o pretende atingir.

igualitarismo, o socialismo, o democratismo, o economissísmo, o De qualquer forma deixo a pergunta à consideração, ainda existe

internacionalismo e o Humanitarismo. Já a direita opta uma postura uma dicotomia entre esquerda e direita?

de pessimismo antropológico e anti-utupismo, defende o

organizacionismo, por organizacionismo entende-se a prioridade Jorge Franco


das comunidades naturais ao indivíduo, e a direito á diferença, o
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> CAVACADAS
Não conhece certamente o PR Cavaco Silva a célebre história de Roger Bannister, o estudante britânico de medicina que em 1954 quebrou
a barreira dos quatro minutos na corrida de uma milha. Desafiando todas as leis da física e todos aqueles que troçaram do objectivo que
definira para si próprio, Bannister acreditou que era possível correr a milha em menos de quatro minutos. E conseguiu-o! Porque o
conseguiu? Em primeiro porque acreditou que era capaz. Depois, porque o definiu como objectivo e mobilizou todos os seus recursos para
esse desígnio.
Pois bem, o nosso PR não acredita que Portugal consiga crescer ao ritmo médio da UE antes de 2013. É mau. É muito mau que o nosso
suposto “líder” passe essa expectativa para todos nós, mesmo os menos influenciáveis. Porque isso baixa as expectativas que temos e
que, já por si, não são muito elevadas. Estraga o trabalho que o PM José Sócrates tem feito nesta matéria, criando um sentido de auto-
confiança entre os Portugueses. E pior ainda, é apenas uma crença tanto quanto sei infundada, supérflua e baseada no mundo estático em
que Cavaco Silva sempre viveu. Até pode ser verdade que, a continuar ao ritmo actual, só em 2013 nos pudéssemos começar a aproximar
dos nossos parceiros Europeus, mas isso não é necessariamente imutável. E muito está a ser feito.
Sabem o que aconteceu depois de Roger Bannister ter corrido a milha em 3 minutos, 59 segundos e 4 décimos? No mês seguinte, John
Landy correu a milha em 3 minutos, 57 segundos e 9 décimos. O recorde actual pertence ao marroquino El Guerrouri, com 3 minutos, 43
segundos e 1 décimo, alcançado há apenas oito anos. O que nos mostra este exemplo? Que as barreiras que colocamos para nós mesmos
limitam até onde chegamos. Por isso, senhores governantes, não devemos meter a “cabeça debaixo da areia” e ignorar os défices que o
nosso país apresenta e que tornam mais difícil correr à mesma velocidade que os nossos parceiros europeus. Mas também não devemos
limitar a esperança, a convicção e a vontade de mudar o nosso rumo e, com isso, tornar verdade as profecias dos “velhos do Restelo”.
Mas este não foi o único momento menos feliz de Cavaco nestes últimos tempos. Disse o PR que a AR tem de promover um debate (e quem
sabe promover mais estudos!) sobre a localização do novo Aeroporto Internacional de Lisboa. Mais “água para a fervura!...”. E a esta
declaração vem juntar-se o resultado de um estudo encomendado pelos senhores da CIP que refere que a Ota não é a melhor localização
para o novo Aeroporto. Já que a moda é encomendar mais estudos, e incentivados pela opinião do PR, é muito possível que se comecem a
realizar muitos estudos, quem sabe a um ritmo vertiginoso. Imaginem que alguém da vossa vizinhança encomenda mais um estudo. E
alguém da minha vizinhança também. Pois é, não sei onde nos levarão tantos estudos, mas tenho para mim que se isto pega moda, o
melhor é fazer-mos o estudo final, aquele que não deixa hipótese de resposta. E esse estudo é o do referendo!
Tem ficado claro que os chamados “pareceres técnicos” não conseguem deixar de estar impregnados de pressões e opiniões pessoais. É
só isto que podemos depreender da incapacidade dos “técnicos” em chegarem a acordo em relação a este tema. O PR quer que exista
unanimidade em relação a esta matéria, mas é cada vez mais claro que isso nunca existirá, tal como não existiu em outras matérias
semelhantes, como a co-incineração, a regionalização ou o aborto. Por isso, em vez de apregoar a realização de mais estudos e debates,
senhor PR, convoque o senhor o estudo final ou deixe governar a quem de direito!

Miguel Pereira Lopes


Professor Universitário

> Em Destaque

Secção de Alvalade

REUNIÃO GERAL DE
13 MILITANTES
Novembro com João Proença
2007
2 1 h 3 0
Secretário Geral da UGT

H O T E L R O M A
Novembro de 2007 18
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> Salazar, Rohde, Esquerda e o novo mundo podem ser mais fortes para um português do que para um chinês:
isso seria a renegação absoluta da condição humana e da sua
globalizado. igualdade - seria entrincheirar em fronteiras os nossos valores. Daí
ser um pouco chocante ver sindicalistas a defender o emprego
Muito foi escrito e dito sobre o episódio do televoto em Salazar. É contra a deslocalização produtiva em vez de reivindicar o reforço
natural que democratas e humanistas se tenham dividido pelos das condições de competitividade dos nossos trabalhadores.
restantes candidatos. Os números da votação nem sequer foram
impressionantes. A direita é preguiçosa e não sabe confrontar a esquerda. É a nossa
Impressionante é o facto de nos dez finalistas encontrarmos várias sorte. Uma certa esquerda foi violentamente adversária de vários
figuras que se afirmaram pelo combate ao diferente, pela acordos da OMC, e mesmo da sua criação. Mas o que observamos
afirmação de uma superioridade religiosa e civilizacional, pelo ao fim de 12 anos é que a liberalização do comércio mundial tirou
totalitarismo, pela esquizofrenia de um país esquizofrénico ou pelo centenas de milhões de pessoas da pobreza na Ásia e em alguns
aventureirismo inconsequente. países africanos. O Mundo tornou-se mais uno. Acrescentaria que
os actuais resultados económicos do país baseados no aumento
das exportações não resultam de nenhuma medida do actual
Ora, não é extraordinário que um povo, um país, uma nação elenco governativo que tomou posse em meados de 2005 (quem
escolha ilustres figuras pela sua afirmação no seu tempo - mesmo disser o contrário não é intelectualmente honesto) mas da
considerada toda a crescente crise do relativismo. Mas é estranho, liberalização do comércio mundial resultante da criação da OMC
nos dias de hoje, num mundo aberto, cheio de oportunidades e em 1995 e da adesão à OMC em 2001 da China.
desafiador da arrogância centenária do europeísmo, afirmar-se
que estas são as figuras de uma nação e o conceito de Nação não Historicamente, a esquerda sempre adoptou uma retórica
pressupõe a diferenciação como valor? internacionalista. Não se percebe que logo agora quando a
mensagem, a imagem, a linguagem e os desafios são cada vez
mais globais, a esquerda seja muitas vezes referência da retórica
Os valores do humanismo, do combate à indiferença e pela nacionalista.
diferença, do diálogo civilizacional e da igualdade entre os povos,
da liberdade e da tolerância, do realismo e do sentido de
responsabilidade pelo colectivo, do respeito pela pessoa humana
(seja o trabalhador da Rohde que fica desempregado, seja o jovem Neste contexto, para alguém de esquerda, não deve haver grandes
desempregado romeno que encontrou emprego na mesma portugueses. Ser um grande português significará sublinhar
produção deslocalizada), são os valores da esquerda, chame-se- diferenças com base na nacionalidade e na história de um povo
lhe moderna ou pós-moderna. Não é possível a alguém de História inserida numa História universal que tem sido a afirmação
esquerda impor fronteiras ao desemprego, à miséria, ao sofrimento da superioridade de povos e de religiões para conquista territorial
humano. Não é aceitável dar nacionalidade à igualdade de ou comercial. Certamente, perdidos nessa retórica, poucos serão
oportunidades e à desigualdade social. Em bom rigor, alguém de os portugueses que aceitarão que o Grande Português seja pior
esquerda deve ficar aliviado quando a fábrica da Rohde é que o Grande Espanhol.
deslocalizada para países que ainda têm um longo caminho de
integração e apoio social a percorrer percurso ainda maior do que Grandes portugueses foram Einstein, Leonardo da Vinci, Vasco da
aquele que falta a Portugal percorrer. O cálculo político de alguém Gama, Marx, Eduardo Lourenço, Kant e tantos outros génios. Nos
de esquerda não pode ser feito com base no português que perdeu dias da criação Intelectual (a verdadeira revolução em curso) são
o emprego para o chinês, para o romeno ou para o turco. O cálculo as mentes grandiosas e universalistas que merecem destaque. E
(a ter que haver algum cálculo!) deve ter em conta o número de nessa dimensão não há nacionalidades.
pessoas que saem diariamente da pobreza em todo o Mundo com
a abertura do comércio mundial. Os meus valores de esquerda não
João Ribeiro
Novembro de 2007 19
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> Referendo: Ousadia ou Ilusão?
Eu acredito no referendo, mas com a participação que tem tido no
Antes de me debruçar em breves palavras sobre a possibilidade da passado temo que seja sempre “pouco convincente”, eu gosto do
realização de uma referendo acerca do Tratado de Lisboa, gostaria referendo em matérias estruturantes ou fracturantes para a
de deixar algumas premissas. sociedade mas vejo em qualquer povo latino, ao contrário dos
países de matriz anglo-saxónica por exemplo, a tendência de
O nosso Partido recebeu do povo português um mandato claro e misturar um simples sim ou não com dezenas de outros assuntos,
inequívoco nas ultimas eleições legislativas não só para governar políticos ou não, da administração publica central ou local, por
mas especialmente para reformar e modernizar depois de 30 anos vezes até com a esfera pessoal de algumas figuras publicas que
de muitos erros acumulados, monstros criados e alimentados e apareçam a dar a cara por determinadas opiniões.
sujidade escondida para debaixo do tapete.
Mas, como terá dito Galileu Galilei no final do seu julgamento pela
Erros pelos quais seremos sempre, em maior ou menor medida, Inquisição, “Eppur si muove”, apesar de tudo isto continua a
co- responsáveis como Partido de poder e com sentido de Estado. defender o referendo pelo principio democrático, de cidadania e de
co-responsabilização da “coisa pública”, se calhar contra as
Estes erros e muitos adiamentos convenientes empurraram o País evidencias, se calhar contra melhores opiniões mais avalizadas
para esta necessidade quase sufocante, Reformar e que a minha, defendo o referendo.
Modernizar….tão urgentes como há 33 anos o eram Democratizar,
Desenvolver e Descolonizar Numa questão fulcral em que os portugueses nunca se
expressaram em referendo e numa oportunidade única em que o
Assegurámos a Liberdade, consolidámos a Democracia, cumpre- nosso Primeiro Ministro poderia obrigar o recém eleito líder da
nos agora conquistar o Futuro. oposição, ainda em estado de graça, a fazer campanha pelo SIM,
em que o Presidente da República não teria outra solução do que
Nesta situação ainda dramática exige-se audácia, espera-se apelar ao SIM, em que ninguém na cínica Europa do real politik nos
ousadia, pede-se coragem. poderia atirar nada à cara nem apontar o dedo tantas são as
incongruências e nebulosidades que marcam o posicionamento
Nestes pontos julgo que o nosso governo tem dado boas provas europeu dos últimos anos face a Africa, face ao Médio Oriente, face
nesta fase inicial, esperemos que agora que chegámos à parte à China, quer falemos de petróleo, gás, direitos humanos ou
mais difícil, em que as sondagens já não ajudam, a contestação terrorismo.
sectorial e organizada não dá tréguas e finalmente parece que Para já não falarmos na Politica Agrícola Comum, no cheque
iremos ter oposição, este executivo muito bem liderado pelo nosso britânico, na crise na ex Jugoslávia, os referendos holandês e
Primeiro Ministro se ultrapasse em energia e trabalho, se supere francês, enfim, a nossa Europa jamais poderia levantar a mão para
em inspiração, melhore a comunicação institucional e ataque a atirar uma pedra a este pequeno país no extremo Oeste do Velho
segunda parte deste mandato com dedicação e eficácia Continente.
redobradas.
Por todas estas razões e sujeitando-me obviamente ao superior
O povo assim o exige, o país assim o exige, o nosso Partido entendimento do partido, do nosso secretário geral ou do nosso
também o deve exigir dando o exemplo em termos de apoio e governo, continuo a defender a realização de um referendo…ao fim
participação activa. e ao cabo, quem conseguiria votar contra um Tratado…de Lisboa?

Para finalizar vamos ao título deste artigo, o Referendo, uma Paulo Ferreira
instituição mal amada por uns, instrumentalizada por outros e
arrogado como “salvador” por alguns oportunistas de tempos a
tempos…
> Em Destaque

Secção de Alvalade

REUNIÃO GERAL DE
29 MILITANTES
Novembro com António José Seguro
2007
2 1 h 3 0
“Reforma do Parlamento”

H O T E L R O M A

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