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IssN-0101-4919 NOTICIA 4 BIBLIOGRAFICA 4 B HISTORICA MOVIMENTOS JUVENIS DE 1968: UMA ONDA MUNDIAL DE REVOLTAS* Young movements of 1968: a worldwide wave of revolts Luis Antonio GROPPO* RESUMO O texto apresenta 1968 como uma onda mundial de revoltas das juventudes, onda cujo cere ‘uma conflvéncia entre quesises poiticas e questbes culturais ~ uma “sintese” entre terceiro-mundismo, novas esquerdas c contracultures. Seu conteddo se desenvolve a partir ‘dos seguintes pontos: ocariter javenl de 1968; ocarérer mundial das evoltas edas “causes” de 1968; 0 Terceiro Mundo ¢ 0 Segundo Mundo em 1968; principais fonts ideoldgicas € pragmticas; eas formas de organizacao e mativagbes dos rebeldes. Como conclusio, indica ‘que as promessas “no-cumpridas” desta onda rebelde devern ser repensadas no sentido de rmotivar novas revoltas contemporéneas em pro! da emancipagio humana, Palavras chave:1968, Movimento estudantil, Juventude, Novas esquerdas, Teresiro ‘mundismo, Contracultura ABSTRACT: The text presents 1968.as a world-wide wave ofrevolisof youths, wave whose center was a confluence between cultural questions and politic questions -a “synthesis” between third- ‘munis, new left and contraculture Is contont develops from the following points: the ‘youthful character of 1968; the worldwide character ofthe revolts and the “causes” of 1968; the Third World and the Second World in 1968; main ideological and pragmatic sources; and the organization and motivations of the rebels. As conclusion, it indicates that the “not fulfilled” promises of this rebellious wave must be thought in the direction to ‘motivate new revolts contempararies from the human emancipation Keywords:1968, Student movement, Youth, New Left, Third World,Contraculeure ‘“Fexto apresentado em forma de palesra em Sjunbo/2008 para o eutso de graduapto em Misdria da Pontificia Universidade Catbica de Campinas * Doutor em Citncias Socisis, Profesor do Programa de Mestrado om Fdeagio do Unisal (Centro Universtiio Salesiano de Sto ule). Autor de Una onda rundial de revolas: movimentos estutants de 1968 (Editor Unimep, 2005) ¢ dutogesdo, universidade « movimento cstedantl (Autores Associados, 2006), eatte outos. asa Nica Roiog ens src Cangas 5,3 (SUG uholinanb25T 154 INTRODUCAO. © objetivo deste texto € apresentar e discutir teses que descrevem 1968 como uma onda mundial de revoltas das juventudes, onda cujo cere foi uma confluéncia entre questdes politicas e questes, culturais ~ uma “sintese” entre terceiro-mundismo, novas esquerdas e contraculturas. Seu comtetdo se desenvolve a partir dos seguintes pontos: o caréter juvenil de 1968; 0 cardter mundial das revoltas ¢ das “causas” de 1968; 0 Terceiro Mundo e o Segundo Mundo em 1968; principais fontes ideologicas pragméticas; eas formas de organizagio e motivagdes dos rebeldes. CARATER JUVENIL DE 1968 0s movimentos de 1968 ~ ano que foi, na verdade, ange de uma onda de revoltas que abrangeu praticamente toda a década de 1960 ~ tiveram uma notavel diversidade regional e nacional e mesmo notivel diversidade nos tipos de revolta, Foram estudantis, contraculturais, nacionalistas, operérias, guerrilheiras, étnicas ¢, logo, feministas e evolégicas. A juventude, real ou presumida da maioria dos participantes destas revoltas, ou a0 menos a juvenilidade que deu o tom de boa parte dos protestos, foi o principal denominador comumn desta onda. A ventude pode ser identificada como o elemento unificadore caracterizador das revottas de 1968. E importante, contudo, precisar melhor o que se presenta acima como “juventude”. Trata-se de um conceito sociolégico que se refere a uma categoria social—a juventude, parte ela propria de estrutura de categorias etérias - que ¢ um componente do edificio das sociedades modernas e contcmpordneas. Ao mesmo tempo, oque tems realmente € uma diversidade de juventudes. A juventude cabe bem melhor no plural ‘que no singular, certamente, jé que para compreender as juventudes € preciso correlacionar a chamada condigao juvenil com outras categories sociol6gicas, tais como classe social, nacionalidade, género, raga e ctnia, condicao urbana ou rural, religiosidade etc. A condigdo juvenil, que atravessa as diversas juventudes, por sua ver, é dialética, Dialética, pois se refere a um conjunto de individuos reunidos por {nsttuigdes socializadoras cuja fungao éa “integragao social”; esta reunido, contudo, toma possivel acriago de identidades, valores e prticas que podem se apresentar como alternatives eaté mesmo rebeldes em relago 20s valores vigentes. A condia0 juvenil também € dialética pofs, segundo Marialice M, Foraccl (1972), se trata de uma relagao experimental com os valores € com os fundamentos da realidade; neste ‘momento, ainda est a sedimentar-se tais valores fundamentos na consciéncia ¢ identidede; segundo Karl Mannheim (1982), éna juventude que pela primeira ‘vez 0s individuos podem defrontar-se, racionalmente, com o cere dos valores que sustentam a order social vigente — assim como podem rejeitar parcial ou totalmente tais sustentéculos. 1968 foi uma onda mundial de revoltas que teve como seu principal combustivel arebeldia que emergit, de modo inesperado ¢ flamejante, desta dielética condigao juvenil, esta possbilidade de as juventudes, reunidas em prol da integracio social e acolhimento passivo dos fundamentos da ordem social vigente, subyerterem por completo 0 motivo pelo qual foram acolhidas em instituigdes socializadoras tais como escolas, grupos juvenis religiosos ¢ politicos de diversas ordens e, em especial a partir dos anos 1960 centre as chamadas “classes médias”, as universidades. CARATER MUNDIAL DE 1968 segundo aspecto que gostaria de destacar ¢ ‘o cardter mundial de 1968. Na verdade, o que possui carter mundial é toda a onda de movimentos juvenis a0 longo dos anos 1960. Onda que se iniciou, provavelmente, com os protestos estudantisna América Latina e na Asia ~em 1958 1959—contraa visita do presidente ¢ vice-presidente dos Estados Unidos a diversos paises do “Terceiro Mundo” (Mills, 1961), ou, talvez, com a Revolugdo Cubana de 1959. Onda que atingiu seu auge e caréter mais mundial justo no ano chave de 1968, Onds que, enfim, parece ter atingido seu ponto final, ainda que culminante em mimeros absoltos dentro de uma nagio, na greve nacional de estudantes nos Estados Unidos em 1970. Rass aise Sbletene Hl, Corsbes #28 9 16376] NouROTOOENT O caréter mundial de 1968 se insinua no fato de no ter sido exclusive de nagdes do chamado Primeiro ‘Mundo — onde, contudo, pareceu mais caracteristico & até mais generalizado, em paises como Estados Unidos, Frange, ex-Alemanha Ocidenta,Itlia, Inglaterra etc. Ele ocorreu com forga também em nagaes do Terceito ‘Mundo, em especial contra o captalismo imperialista capitaneado pelos Estados Unidos, afora questbes locais (geralmente lidas como derivadas daquele ‘mperialismo), seja ns América Latina (Brasil, México, Argentina, Uruguai etc.), seja na Asia (Sri Lanka, Bangladesh, india ot.) seja na Africa (em especial no Egito). O que poderia denotar uma onda mundial anticapitalista, porém, encontra sua complexidade ainda maior quando nos éeparamos com a forga de movimentos estudantis no entio chamado Segundo Mundo, em nagdes socialistas vivendo & sombra do Império Soviético: ex-lugoslavia, Polénia ¢ ex- Checoslovéquia, ou em uma nago que ja entrara ern rote de choque contra a Unido Soviética, mesmo se stutodenominando também como socialists: China. A revolta adquiria nfo apenas um caréter anti-capitalista anticimperialista, mas também contrério a formas ‘burocriticas de socialismo. Mas, sobretudo, a sua generalidade & ccomplexidade fizeram da onda derevoltas dos anos 1960 parecer uma galéxia de contestagdes, uma totalidade complexa que, assim analisada, eontribui para melhor ‘compreender as suas partes. Longe estamos de uma ‘conspiragdo internacional. Quasenada se observa em 1968, que 0 assemelhe ¢ um movimento mundialmente coordenadd, ja que as organizagdes dos rebeldes eram nacionsis e muitas vezes até locais. que temos, na verdade, € um “todo” formado pelo conjunto dos movimentos e pelos elementos que fizeram as revoltas detonar— elementos também de ceréuertransnacional ‘Temos, enti, que os elementos explicativos de 1968, os quais compéem 0 contexto que detonou as revoltas, também tém em boa parte um caréter mundial. ‘Alguns deles se destacam: a Guerra Fria, aDescolonizago, @ Bra de Ouro da economia mundial, a massificagao do censino superior ¢ a iminéncia da crise do compromisso fordista, Gostaria de comenté-los brevemente, ‘A Guerra Fria colocou diante desi dues superpo- teucias ~ Estados Unidos e ex-Unido Soviética-, dois sistemas s6cio-econdmicos pretensamente distintos ~ capitalismo “democtitico” e “socialismo” de tipo esata Ras Sieg fcae Hires, Canoe 155 soviético ~¢ 0 Oeste versus Leste. Os dois blocos de hagdes angeriados pelas superpoténcias foram vitimados por guerras localizadas e indiretas, intervengdes das superpoténcias nos destinos de cada nagdo, submetidas todas que estavam a uma divisto geopolitica na qual todo conflito local era tratado como questo mundial pelas superpoténcias, © mundo foi arrastado nko apenas para uma comida espacial que traria a reboque a propaganda sobre qual era o sistema mais eficiente ~ tanto quanto o desenvolvimento de foguetes intercontinentais -, mas também para uma corrida nuclear. Uma “espada afiada” parecia pairar cima da cabeca de todos, naqueles tempos em que vigorava uma verdadeita “ordem?” iracional no plane, A irracionalidade do mundo nao poderia deixar de ser percebida e negada por uma gerario nova que ainda ‘nfo internalizara aquela situagz0 como “normal” em suas consciéncias. A estupidez da Guerra Fria, ao longo dos anos 1960, em especial através do evento Guerra do Vietna, se encontrava com a relagdo experimental com os valores ea realidade, ipica da condicao juvenil Um segundo complexo de elementos s6cio- histéricos foie Descolonizagao, que significou, por um lado, contestagées da ordem colonial e subversio do ‘mapa-miindi imperialist. Foi, deste modo, um desafio suposta primazia da civilizagio ocidentel. Por outro lado, significou 0 drama das lutas pela libertagio nacional, bem como o drama das guerras civis e das crises s6cio-econdmicas que se seguiram as independéncias. Enfim, a descolonizagdo significou 0 apogeu de ideologias e préticas que motivaram os rebeldes em todo os trés mundos, tais como terceiro- mundismo, mobilizagio de massas populares, resisténcias nao-violentas, resisténcias violentas, guetrilhas, luta armada e socialismos alternativos. Umm terceiro elemento foi a Era de Ouro da economia mundial, entre 0 final da Segunda Guerra Mundial e o inicio dos anos 1970, Foi uma época de entiquecimento econémico nos trés mundos, em especial no Primeiro, 0 que significou para muitos ¢ em ‘muitos lugares uma certa superecdo da “economia da escasse2” e a possibilidade de politicas soviais, redistributivas ¢ de “bem-estar’, dando origem aos cchamados Estados “interventores” (como 0s de Bem:- Estar social, socialista e desenvotvimentista). Significou 4 possibilidade de demandas de bem-estar nio s6 quantitativas, mas também qualitativas, em toro da 156 qualidade da existéncia ¢ do significado da vida (em especial feitas por movimentos juvenis). Significou também a possibilidade de demandas por mais controle dos processos produtivos, como ficou patente nos movimentos operirios de 1968 na Franga (naesteira de Maio de 68) de 1969 ne Itélia. O quarto elemento foi a Massificagao do ensino superior. Milhdes de jovens acorreram as universidades « outras instituigbes de ensino superior, a0 longo dos anos 1960, fenémeno que teve continuidade ainda mais, acentuada nas décadas seguintes, Este fato redundou ‘numa das principais crises da Universidade moderna Crise que se anuncia com a resisténcia “elitista” dos ue viam 0 ensino superior como mero formador de clites restrtase uminadas, mas genba forga ainda mais, quando se toma clara a necessidade de readequar cnsino e estrutura institucional diante da massificago ¢ principalmente, diante da pressdo das novas necessidades de qualificagao da economia industrial Tal crise da universidade e seus elementos foram {ntensamente debatidos antes e durante os movimentos estudantis de 1968, por aqueles que foram entio levados a esta instituigdo socializadora da juventude. ‘A massificago do ensino superior significou também ‘aexpansdo em mimero das juventudes, tanto quanto 0 aumento da duracao do préprio tempo da juventude para outras classes sociais mais (niio apenas as elites). Significou a formagao da prépria “messa” juvenil que se ebelaria 20 longo dos anos 1960. © itimo elemento que trago, entre os que contribuem para entender o cardter mundial de 1968, € anincio da crise do compromisso fordista, 1968 foio principal signo do aniincio de uma crise iminente, do solapso de um préprio modo de ser da economia industrial ~ diante do qual o capitalismo teria de se metamorfosear€ 0 socialism soviético nfo ira suportar. 0 compromisso fordista, pacto mais tipicamente firmado no Primeire Mundo ~ ainda que quase sempre demodo to somentetécito~ significava, de um lado, concessies de beneficios (direitos de bem-estar quantitative) aos trebelhadores assalariados; de outro, ‘adisciplina por parte da clase trabalhadora, a aceitago a heteronomia no processo produtivo. Como dito, porém, presses pelo controle do processo de produgio por jovens operdrios, bem como por bem-estar mais qualitativo por movimentos juvenis, anunciavam 0 TAcerrS rompimento deste pacto, primeito por parte dos que deviam aceitar ~ no presente ou no futuro préximo — aquela obediéncia fatalista. O pacto se rompe Sobre a precodéncia no tempo, jf fol citads aqui mesmo a Revolusso Cubans de 1959, bem somo os protetos estudentis em 1958 © 9 conta a visita do presidente nere-anericano Eisennowes a paises da Asia (em especil 0 Jepo, pais que ainda este (alvemonte ionge de ser rencuido entre as grandes poténcias evoadmieas mundais), bem come conta a viagem do viee-presidente Nixon & paises da Amécice Latina ‘eves agin tn Copan, 208.6: ED rarer 07 158 f {importantes quanto os primeiros e provavelmente bem, mais influentes — como ideologia e praxis rebelde — paraa onda mundial de revoltas de 1968. Temos aquia uta dos comunistas vietnamitas contra os norte- americanos, no contexto da Guerra do View, lida ‘mundo afora prineipalmente como ume resistencia, terceiro-mundista contra ingeréncia do imperialismo ianque. Mas, em especial no tocante a influéncia ideotégica, a Revolugéo Cubana ea Revolugdo Cultural Chinesa, A Revolugo Cubana, vitoriosa em 1959, de certo modo dando inicio aos anos rebeldes que invadiriam a década de 1960, colocou no poder Fidel Castro, lider de uma guerritha que acabou sendo uma das principas forcas na derrubada de Fulgéncio Batista, Segue-se 0 embargo dos Estados Unidos ¢ a busca, ‘or Fidel e seu governo, do apoio da Unio Soviética, ‘oqueredundounuma aproximagio mais forte do regime 0 socialismo. Dar-se-ie origem a intmeros produtos rebeldes: apoio ¢ inspiraglo a inlimeras guerrilhas ‘mundo afora, em especial na América Latina; o mito do ‘Che Guevara, morto nas selvas bolivianas em 1967;€a ‘eoria do foco, que considerava que mesmo um pequeno ‘grupo de guerrilheiros eguerrido, voluntarioso, poderia, sero foco a ativar a revolugdo popular (Débray, 1967). A Revolugéo Cultural Chinesa foi um dos mais espetaculares, contraditérios ¢ terriveis eventos da ‘onda mundial de revoltas. Iniciado no final de 1965, foi tum movimento de massas estudantis (em geral, de Ensino Médio) estimulados pela faceo do Partido ‘Comuniste controlada por Mao Zedong — contra a faceo entio dominante, liderada pelo presidente chinés, Liu Shaoqui. Os estudantes rebelados, logo também pela faccio de Liu Shaoqui — cada facgz0 procurava proteger seus partidéios, ainda que todos ‘evocassem inspiragio em Mao! - ficaram conhecios como Guardas Vermelhos. Em certo momento, em especial durante 1967 e nas universidades em 1968, a mobilizago social saiu um tanto quanto fora do controle das préprias facgtes do partido, engendrando ‘uma quase guerra civilem algumas localidades em 1967 centre estudantes universitarios de Pequim em 1968. Ainda em 1968, a Revolugo Cultural se tomaria uma ‘violenta reprosséo do Exército contra tais estudantes, ‘emespecial apés Mao recuperar seus poderes na China. Entre 400 mil e 1 milhio de pessoas foram vitimados TAGROPFS por esta Revolugao, incluindo mortos, presos ou Jevados a col6nias de trabalho rurat Porém, para os jovens rebelados mundo afora, ‘a Revoluso Cultural Chinesa, o maoismo.e os Guardas ‘Vermethos foram lidos como o principal exemplo, 20 lado de Che Guevara, da necessidade da luta abnegada, radical ¢ decidida contra os “inimigos” sustentadores do sistema, Foram feitas entéo, inclusive gragas & propaganda oficial chinesa, Ieituras enviesadas da Revolustio Cultural, praticamente omitindo qualquer {ato relativo ao periodo da repressdo aos proprios Guardas Vermelhos (entre 1968 ¢ 1969). Tal Revolugio foi sempre lida muito mais como um mito do que em suas contradigées ¢ em seu ceréter repressivo, Foi uma das principais fontes ideol6gicas da onda mundial de revoltas, na figura mesma de um mito, FONTES IDEOLOGICAS E PRACMA TICAS: Considero que foram trés os principais conjuntos de influéncias ideoldgicas e prazmaticas (nia figura de formas de revolta) para a onda mundial de revoltas de 1968: terceiro-mundismos, novas esquerdas « contraculturas. ‘No conjunto dos terceiro-mundismnos, temos, de inicio, ideologias ¢ estratégias de luta anti-colonial ~ oscilando entre a resisténcia nfo-violenta representada por Gandhi (que seria retomada pelo movimento negro norte-americano pelos direitos civis, liderado por Martin Luther King) e a Iuta armada representada por Patrice Lumumba no Zaire. Em seguida, a proposta de ndo-alinhamento, proposta pela Conferéncia de Bandung ¢ que deu origem ao termo ““Terceiro Mundo”, ou seja, a proposta de se fimar um, bloco de paises que nfo eram alinhados nem 20 capitalismo norte-americano nem ao socialismo soviético, Se muitos movimentos e grupos estudantis, a0 longo dos anos 1960, tiveram este tom de nao alinhamento marcante em sua praxis, entretanto, seria mais caracteristico em 1968 o terceiro-mundismo socialists, influenciados basicamente pot Cuba e China, ‘A Cabe de Fide! Castro, do mito do Che ¢ do foguismo. ‘A China de Mao Zedong, da Revolugdo Cultural Chinesa dos Guardas Vermelhos. gee Hark Carga, 28,9151, oleae 07 ‘WOVENTOS JUVENTS DE 190 UA ONDA MUNDIAL OE REVOLTAS Os socialismos terceiro-mundistas foram, na verdade, uma intersegao entre estes dois conjuntos ideoldgicos: 0s terceiro-mundismos e as novas ‘esquerdas. Foram parte de uma série de socialismos “altemativos” ao oficial de tipo sovietico, incluindo também o trotskismo e outras dissidéncias mais recentes dos Partidos Comunistas Soviéticos nacionais, Entre as novas esquerdas, ainda que com ‘menos forga ao longo dos anos 1960, é preciso citar 03 anarquismos- presentes muito mais em “espitito” que ‘como ideologia consciente ao longo da década rebelde ~ € 05 socialismos cristtos. E, enfim, as novas esquerdas européias, influenciados por pensadores da Escola de Frankfurt—em destague, Herbert Marouse - , Jean-Paul Sartre, C. Wright Mills ¢ outros, na figura de jovens pensadores esquerdistas manifestando-se com publicagies diversas © terceiro conjunto & formado pelas contraculturas. No seu sentido mais estrito, a contracultura se refere aos beatnicks, hippies, & psicodolia e a0 rock psicodélico, localizados especialmente na América do Norte. Mas me refiro aqui 4 contracultura em seu sentido mais lato, denotando no apenas tais movimentos ¢ expressdes, mas outros que carregavam em comum certa revolta comportamental ou a prética altemnativa das artes. Na revolta comportamental, aproximagdes ¢ experiéncias rno campo da liberdade sexual, do uso de drogas ¢ na libertagio dos comportamentos. Nas artes, experiéncias, alternativas no campo do teatro, musica, cinema, produgto de cartazes, caricaturas, poesia etc. Se parece mais clara a proximidade entre novas esquerdas e terceiro-mundismo, com o exemplo dos socialismos alternativos reverberando nas paginas anteriores, entretanto, creio que 2 confluéncia de ambos com as contraculturas foi uma caracteristica ainda mais profinda 20 longo dos movimentos rebeldes dos anos 1960, Uma andlise breve sobre as orgenizagdes cestudantis e as motivagdes dos estudantes rebelados ajudard, a seguir, a mostrar arealidade desta confhuéncia, apesar de sua relativa inconsciéncia ORGANIZACAO E MOTIVACAO Foram diversas as formas de organizagao dos -movimentos estudantis em 1968. Muitas vezes, como 159 no Brasil, México, Franga ¢ Estados Unidos, a organizagao declarada do movimento muito mais era levada pelos fatos do que era a genitora dos acontecimentos...Ainda assim, serviram, tai entidades, como forma de expressio de diversas idéias, ideais © bandeiras de Iuta dos movimentos que diziam representar. Houve organizagées oficiais dos estudantes, como a UNEF (Unido Nacional dos Estudantes Franceses), assim como organizagdes “semi-oficiais” como a UNE (Unido Nacional dos Estudantes) no Brasil — que havia sido declareda ilegal pelo Regime Militar. Também, organizagoes pouco instituefonalizedas, como o CNH (Conselho Nacional de Greve) no México, que funcionava na base de assembléias reunindo seus quatrocentos delegados. ‘Ao lado destas entidades, ou dentto destas, ou mesmo buscando controlar estas organizagdes maiores, tivemos organizagbes da “nova esquerda”, em geral informadas pelos socialismos ortodoxes, como ‘rotskismo, maoismo, foquismo € dissidéncias dos partidos comunistas sob influéncia sovigtica. Em geral, ram pequenas e aguerridas, com militantes que buscavam deter postos-cheve de comando das organizagdes acima citadas. Mas também havie outro tipo de grupos ‘estudantis ainda mais heterodoxos, principalmente nos Estados Unidos e Franga, No caso dos Estados Unidos, sob grande influéncia da contracultura, como o YIP (Partido Internacional da Juventude) ~ 0s “yippies”. Na Franga, além da propria contracultura, houve a {nftuéncia do anarquismo ~ como 0 Grupo 22 de Maryo, de Daniel Cohn-Bendit, que acabou dando inicio a0 movimento de Maio—e de vanguardas artsticas, como o situacionismo de Guy Debord. Foi provaveimente do grupo situacionista que surgiram as mais provocativas pichagdes do Maio de 68, tais como"A imaginagao no poder” ¢ “Aquele que fala da revolugo sem mudar & ‘vide cotidiana tem na boca um cadaver”. Um destes grupos, que muitas vezes estava bem mais afim as ‘motivagées da massa estudantil que os mais beralhentos grupos de socialistas heterodoxos, foi o Comité de Aga0 Freud-Guevara, que afirmou em um pantleto: A luta deve ter como seu objetivo final 0 estabelecimento de um sistema socialista no qual, através da destruigao de barreiras, a criatividade de cada individuo seja liberta, ava Naica Bogie, Carn 205 p T6561 falenone 27 Este objetivo implica wma revolugdo nto apenas nas relagdes de produg&o, mas também no modo de vids, nas maneiras de pensar, nas relagdes humanas € no conceito da vida sexual como um todo (apud Groppo, 2005,p.260). Por outro Jado, 0 que muitas vezes se viu no interior das organizagdes estudantis, foi uma contradigdo, um descompasso entre a concepedo que (os mititantes tinham do movimento ¢ 0 que 0 préprio, movimento era, Um relato de um militante de organizagdo estudanti] sociatista no Brasil indica a5, contradig6es entre as motivagdes dos dirigentes do movimento para com a “massa” dos estudantes mobilirados: Eramos dirigentes de um movimento de massa que se alimentava de descontentamentos virios eda ampla rejeiga0 que © comando arbitrario dos militares provocava. Mas tinhamos [...] uma concepeSo estratégica que nos levava a ‘outra coisa: luta armada, pelo socialismo. Nas proposigbes estratégicas que habitavam a maior parte da esquerda [..J, nfo havia espaco muito grande para um movimento de ‘massa urbano com as caracteristicas do nosso, Havia um descolamento entre a radicalidade do movimento estudantil, que emparte era informada pele apo provocativa, agto incisiva, enfética de suas liderancas, € as concepsées mais gerais que essas propriasliderangas tinham a respeito de sea papel ede onde se deveria chegar(S. Velasco spud Gropp0, 2005, p. 123). Por outro lado, nos seus relatos a posteriori, abundam entre as memérias dos lideres e militantes, das orgenizagées estudantis brasileiras de 1968 registros sobre a confluéncia entre as préticas politicas de resistencia e as préticas contraculturais: (1968) foi 0 ano em que experimentamos todos os limites, em que as mogas comegaram ‘tomar ilulas, que sentamosna Rio Branco, ss ics Bolg Has, Comp TARPS ‘que fomos para as portas das fabricas, que redefinimos os padrées de comportamento (C.Telles apud Groppo, 2005, p. 115). (Queriamos nos ibertarindividualmente, nos liberar politicamente,enfim, queriamos todas as formas possiveis de libertagao e de contestagdo. Porque, 20 mesmo tempo que {sso tudo acontecie no plano do combate & ditadura militar, uma série de outras coisas importantissimas aconteciam nas nossas vidas. Era um momento de descoberta, de mudanga completa dos padres de comportamento (A. Sirkis pud Groppo, 2005, pels). CONCLUSAO, Encerro este breve texto sobre 1968 registrando que este trabalho visa apenas ser uma apresentagio panorimica, ampla talvez por demais, sobre o que ‘chamei de onda mundial de revottas de 1968. Espera-se ‘que os leitores ainda pouco versados sobre 0 assunto sintam-se estimulados a buscar mais informagdes, ‘outras interpretagies sobre o assunto, que se sintam tentados a compreender os rebeldes de outrora para serem os bons rebeldes de hoje. Desejo quase encerrar o texto registrando, com muita brevidade, o que foram, ou so, as “promessas nao-cumpridas” de 1968. Muitos consideram, provavelmente com justeza, que 1968 teve algumas vit6rias no campo do comportamento, no campo da cultura, mais do que no campo politico, Registra-se em especial, como se viu nos relatos acima, o aumento da liberdade no campo da sexualidade e certo relaxamento do exercicio da autoridade no campo da vida privada, ‘como a paterna e a professoral. Por outro lado, menos “tiberdade” se conquistou no campo das drogas. Mas so muitas as “derrotas” ou promessas nao-cumpridas de 1968, algumas até envolvendo parte dos “vitorias” acima indicades, Algumas promessas se derrotaraim pela repressio, em especial as demandas pela democratizagio em ditaduras militares (como no Brasil) owem quase-ditaduras civis (como no México), ‘bem como demandas por formas mais democraticas de Rp 169161 phoore BT socialismo (no caso do Leste Europeu). Outras derrotas se deram pele “reciclagem”, ou seja, pelo redirecionamento de energias libertrias, no campo do comportamento, para 0 consumismo. Enfim, derrotas que se deram via cooptago, em especial duas: a transformagao das artes contraculturais em produtos, das industrias culturais; 0 uso, readaptado ¢ des- radicalizado, de formas de organizagao coletiva ensaiadas pelos movimentos juvenis, tais como a cocupagdo de faculdades e as priticas de autogestio nas unidades educacionais e produtivas (em especial, em 1968nna Franga)—tais formas foram cooptadas pelo capitalismo em fase de flexibilizagéo, diante da necessidade de romper com as priticas fordistas que sustentavam o capitalismo anterior. Enfim, encerto este breve texto remetendosme {déia de que 1968 nao continha, de modo determinista, ‘to somente a necesséria perversio de suas promessas libertérias. Ele expressou e fez valer, nos comportamentos rebeldes, modos de ser e pensar que poderiam ter se efetivado ~ e que, em muitos pontos, ainda podem e até devem ser. Resgatar do passado 0 futuro ndo realizado, como ja preconizava Walter Benjamin, é sumamente importante para retirar do presente outros fururos altemativos, Revirar rainas, seguir rastros, delirar sobre vestigios. = a 161 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS DEBRAY, Régis. Revolugio na revolusi0? Havana: Casa de las Américas, 1967. FORACCHI, Marialice M. A juventude na sociedade moderna. Sio Paulo, Pioneira, 1972. GARCIA, Marco Aurélio, Praga ~ 1968, trinta anos depois. Sociedades em transformagéo, Boletim Trimestral do Centro de Estudos sobre Paises Socialistasem Trans ormagao, Sao Paulo: Universidade de Sao Paulo, ano LV, n.4, abril/junho de 1998, p.2-5. GROPPO, L. A. Uma onda mundial de revoltas: ‘movimentos estudantis de 1968. Piracicaba: Editora ‘Unimep, 2005. —________. Autogestéo, universidade e movimento estudantil, Campinas: Autores Associados, 2006. MANNHEIM, Karl. © problema sociolégico das geragGes, In: Marialice M. FORACCHI (org.).. Mannheim. Sociologia. 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