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158 Live» Std Via Reat ve Joao Usatoo Rigeiro: ERRANCIA E COMBATE Resa A Letra objeva anasar a gato da rani no romance, dssacande ses atin: coma morse rae expe ‘ec hse do pov bse Prades sear o modo ‘speaico por meio do gals arta clocaem cena ier: fo de temtorilagte, prjendo asim a violence ex ‘d epao no qual e movem ce cmponess seme, Asa The arte nnd tanya the fgrtion af nancy in thi ove, sing satiation wih rary meray and he Nitorcal experience ofthe rac pope I le aims t emphasizing the epeciicay n which the nara sages {he nerdction of trtarilizton, tha projecting vsence ad eacaso a ecaring ean aes i the characteretion 1 the pace wich he ones roe, “ead do orignal reacts por René Vitor Lenard Rita Oumerl-Gooer Universite Rennes 2-France Paloras-ve Vile Rel foto Ubalde bet: ‘nerd de ‘eomponees| Keywords ia Re Jot aldo bein crane inention of terion: andes, fe Ouse De i ram or que matarim Canad © eoahecem aque ¢ melhor pars es Poi warem as palavss que face om que matem sem remorson,bavtendo gue ss lembtem Aes © de como Ihe frm da, ar plans valend tat pelo questo come pels boc de quem sem. E tm acer os Fras que cospem » despre a distancia (oto Ualdo Ribeiro, Vila Rel) senta urn combate para afirmar um sistema cultural, crengas ea meméria histotica dde uma colecividade. Trata-se de uma guerra travada pela sobrevivencia e pelo desabrochamento de um espago idercitério, como a guerra de Canudos gravada _para sempre nas paginas inesqueciveis de Os sertes (1902) de Euclides da Cunha. Vila Real inspira-se na historia de Canudes, trensformado em lugar emblemdtico das estruturas conflinsosas do espago, lugar de meméria que investiu incessante- 16) lie eSecide mente oimagnirio cultural brave at or nssos ds! N romance, awopia da transforma sot projea un espace dentro coletvo no gua cada nro sereconheee E mesma se 8 consti dese espago ideitaio em Vila Rel st apoia sobre bass referencias repioals es terse rides Go seta ~seu cadet Sblcoremete ao tert da nau brasil Em sua representagto do espage, Vile Real procira comsrir uma topograia mimetic" do tetsriogeogrifien, As weferencls a gues sentios tora ‘ereesimeis os epags imapndrio onde ss ate ee desevlam. Anda que se Cstbeleam relages estes entre oespago represeniads ha ghia © espace ero oss ele, oat cles joe pmiten amd une simples representa ca As ntti nchpoten, no espace cota das personagens, mito, lends e creas do aginaro popula abetndo a fon. tele eno real eo rea oto e«Natr, O smb da ata ente aia 3 morte marc representa rir do cspacoem Vilar, Os tags da volta st nseritorna astra eee desde sa origem. A rartivnpenety no interior do Bras para const ea representa do confront ente sea sta epimitas o Brsimoder no { trbano, A terra, elemento de unade do gropo,Geve dt lugar a uma orden tmstciona! que conden comidade a0 deseo © mrt O romance expe o esfaeatent de im ick commis prowoeao por clemetos que The so tstrngsros Dest manera, denunsaaprsstnca das satus de dominagso Colonie Bral modern onde esclasesdominanes oman lar ds mes Coloniadores Exum erstro (no sentido de unidnde plea mond de lena eexcunso~ componentes constants da hstria do frail da Amica Latina em gral = h gr para um terre (no enti de icles tenn srupl) qv penta os exidos do sista social ecperar ss rates. Asi, {Sst narrate esfrgrseem mosta gota morte doit primi vem sempre a: fra em nome do progreso eda viens 4 temtica da Inte pela posse da tera resgtaa plo autor expoe o choque fundamental ente or alors da clue locale nucle: da cles eps ot denial Des forma, sre» tens entre barbie cvizagtoe enfere a dimensto univers aos combats austenados elas cases deslavoccns da sot dade braieie.Contr tore sini de rstenl. Resistencia areta Palo caate orerente wap dss naratva que projeao deseo de Subst 2 errincia pel enricament, "Yer meu ago “Migration et mesnisme:Pnsurectin de Cantos dans La gerade fn del mando de Mano Vargas Lost, Universe Pare 6, Serie Travaux Documents 14 Sin Denis: Universe Pal 200, 209-22, "acques Subeyroux, “Le cours du oman sur Respace. Approcty méthdolgiqe", Cahiers 14a GRAS, m1, Liex ds. Recherches su erpce dans ls texts hpniques (XVIERK scl), Publications de Univer de Suin-Ecenn, 1993, p 11-2 » Giles Dene, Plt Guta, “Sanags,barbats, cies", Landi, Pais, Minuit 199 fs Oona Gr Win id ead i: niece 16) ‘A densidade da lingusgem e a descontinuidade narrativa de Vila Real tornam ificil, mama primeira abordagem, a econstituigaa pelo leitor das peripécias da intriga e da ordem cronol6gica em que elas se sucedem. As milipla referencias topontmicas e temporais do primeiro capitulo remetem, todas elas, a um mesmo «spaco ndmade as terras do sertio ~, a um mesmo tempo ~o do combate ~, ¢ a Juma mesma histéria~a da expulsio da terra. A representacao do espaco fundada sobre interdigdo do assentamento na terra remeteaum eterno retomo, 4 violencia © & exclusio, eixos semanticos recorrentes na caracterizacdo das localidades: de Jarupema a Vila Real, de Aratanha a Barriga da mae, de Japiau a Vita Real de novo. Essa comunidade rural de camponeses desprovicos esta enredada num eiclo de deslocamentos que Ihe sio iniposios pelasforcas que representam 0 poder econé- ‘ico € politico do pats. O inicio do romance, a partir do qual a narrativa evolu como um tipo de cronica da perseguicio e do éxodo, mergulh imediatamente 0 leltor na atmosfera ameagadora de um combate que se anuncia proximo, mas cuja causa o leitor ignora Assim que Nicolo tonse a nota de que os homens de Genet nha amd sus ‘endas por tos os laos de Vera Craze agora a mulheres persignavam nes cers ‘ezando peas vidas dos hase mado, Atgemto preva que ror se tpallars noseoncees os qu estat ali scamypdon* Opresente da narrativa coloca em cena o acamipamento dos camponeses set terra em tm lugarejo chamaclo Barriga da Mae, refugio e abrigo provisério, antes que un novo conflto venha expulsi-los, fegando-os a retomar o camiho em direcao a um destino desconhecido, A histéria do combate e do éxodo € pouco a ouco revelada por procedimentos narraivos diversos, em consideracto pela or ‘dem ctonolégica. A precariedade da condicao némade que Ihes € imposta pelas foreas de expulsto, caracteristicas de uma sociedade profundamente marcada pelas desigualdades, € colocada emu televo por uma estruturs temporal que alterna urn presente sob a égide do terror edo medo frente &invasio imitente do actmmpamen- {opelasforgas do inimigo, um passado marcado por cenas de expulso, persegulcses € massacres que o recurso 20 flash-back faz reviver, um futuzo incerto, # unica «speranga consistindlo em ganhara batalha que se anuncia proxima Assim, insta le-seno romance uma atmostera pesada, suspensa no tempo, paralisante. Anarativa {ncorpora, no préprio nivel da linguagem, a tensio social e politica de um contexto paticularmente opressor. © destino tragico de ndmades dos camponeses, a sus revelia,é colacado em relevo por procedimentos descrtives que apresentam ovale do Aratanha ~ ultimo lugar onde se instalaram e de onde acabam de set expulsos antes de abrigae-se ra Barriga da Mae, onde se desenvoive a aco no presente da narrativa ~ como uma terra hostile infecunda. Em Vila Real, o papel determinante dos topdnitnos no *Joto Utada Ribio, Vil Real, Bio de Jane, Nova Front, 1979, p. 8 et Lien Suede rocess de aaterzato snbolica do expo nao deve pasar desperebid. Os Teponimos sda a const olga como sgn: Bara da Me, Vila Real 6 fumes de oem cap, como ripen, apie Arana, sos quis a arava {ens ipor Um novo signa, diam nspareer oa elas ete ene tome nro ataxic adds ec do opm Bariga dx Nae ee anscoda 3 fando de pero tempor ue ese hare exeee em tengo as puns optus em vl de Arpemir eet amber sea de Cnpulfominent que pobre aces dees "olsen no procuramos sempre Ca brigace mie como aquelasombracebixo a pea?” O simboo deems severe aro mano rj dum ovo nt ep a ‘Ragjede ge as cbttalos qu lhe so posts pr oma era ie ox expla os devors Ausocteo sim ene ater unto mateoa ala do sonho de tina teat acolhedora que sbra tea desi desu ‘valor snbolice dstoponimos et nfo na denomnao do vale Nese caso expect, o tex explore deliberadament, tno no nie foneeo santo to serfs stanherada pala rata inpondetne un valor sbi Crueramence neatv. Os ago tus a esa lclldadeconstroers um = pavo nfemal que condena homeo saree more Asimbsica do exp Cocabore una tmage do vale do Attanba que conarta com agua do “Bra Sandi do Elen" ‘io msi pico paraiso, aso inferno apical que a rede meafrcs conjure ques dese hiperilica no dela de sena Poctado ovate chamato de Artanks, coou 3 gta dos homens em matcha aera 056 emus 0 eho estroedjr Sob as Solas de seus clados. Secundino, muito antes de more tha expeado que ert sm chamsdo ovale do Arslan tes ps pecomha ds cabs sranhas que nele eso em toda pte Talvez pelo at espianchado e amatelo das encosas, [elites endures e rep, que esse # m0 exo era, eer pls urge cassie qe {obrem o chao e nfarmam por taigetes a6 Vas de quem val ebalhar o campo, pelos ‘moscadce que umbem em corn dor Wvenes, ar vases penis de Laas, 28 mata, tule por oF ands plo io cinzents que spss, olereceado ma gua safes, {gre clara de Rio Tie « Flo io do vale de nome Arstanha, Agora ens, quando 0 ‘Ssrepto dhs homens de Godoredo faa sacar spans 0 peo de ss onda Yrgea 0 ‘xpi © otrnava mais (eo, tdo ele ma boca de oncaesaneaada © radh als sna9 2 ‘rcuidio sa more” ssa belésima descricio expressionist do vale é 0 oposto do t6pico do locus amoenus. Ele suscita um universo desumano, a imagem de um lugar assombrado que atormenta o homem e que pode arrasti-loa mort. A imagem de uma terra que St hp "Satie dean] 1. Ye pei 2 BAL eee mare de gu haa age Hat, hs doa eng pape Henin fas iil Rt eek op p16 Be Ooi i seo Us isis enc amb 163 cengencdra o mal ea violencia: “Mas também pode ser que tudo no seja mais do {que uma gravidez mutto enorme, uma gravides de brotos maus, de ovos de cascavéis ce chocos de laraias” ‘Os animais, as plantas, bem como os homens que pavoam esse espaco represen ‘tam sempre uma ameaca. An inversn de tim hino & natureza brasileira eclebrando sua beleza exuberante, seus ros de 4gua limpida ea fertlidade de suas terras, essa narrativa mostra o reverso da medalha e elabora uma imagem simétrica entoando ‘um canto finebre a uma terra estéril e destruidora, de modo a apagara imagem da felicidade. No lugar de uma invocagto da natureza, assstimos a uma convdenagto da ‘natureza, © que teforga a dimensio trgica da obra. Ao insstir na miséra ¢esterili- ade do vale do Aratanha, a narrativa destaca a avateza s6rdida do poder despStico {Que no hesita em expulsar os camponeses de terras que no tém nenhum valor. ‘A evocacio da natureza nude do sertio, em oposicao a representacto de terras Feneis, destaca seu aspecto agressivo e anuncia © combate que os homens {arto ‘eniresi, Assim como em Os sertdes, as descrigbes da naturezaprefiguram o combate ‘entre o poder central eos sertanejos, como assinala José Carlos Barreto de Santana: “Nao € por acaso que Eucldes da Cuna inicia seu texto com a descricao de uma regio que ¢ pouco conhecida e estudada pels cigncis, om as suas terras propicias 8 Vidi € que ‘estaca surpreendlida’diante de um hiato excepeional e selvagem. A natureza prefigura entio o embate entre o poder central eos sertanejos" Vida Real elabora de forma semethante a imagem do sertio como um “hiato ‘excepcional eselvagetn”,terrtsro isolado ¢ ignotado pelo Brasil moderno. Assim ‘com em Os sertdes, a narrativa dedica-se a descrever a terra, © homem e a lita, ‘asa estrutura narrativa nao € mais a mesma, pois ela funde e mista esses ele- ‘entos, € 0s pressupostos te6ricos sobre os quals se apoia Vila Real nao corres ppondem mais aqueles que orientaram a perspectiva de Euclides da Cunha. A ‘comunidade de camponeses sem-terra, assim como a de Canudos, sera levada a eelfentar as foreas do poder hegemnico que representa aierupeo de uma nova Ares deere sido angdos de Vila Real wna ores ports a ides, las, ovoudas¢ajantamentos de es Nngutm pda informir com preciso 9 que i aconece, ‘hase ceri que muts modanas estar pra at lea ex face da terra ndo vers Demanecer a mesma, Sabine de homens que, ja por muito tempo, sainm de dentro de ‘planes es enfornavam pela eat da tera corn tates, cated plese lcendo tra ‘plo. Exes homens pouco falvam com qucm se apeonimavae, quando flava, daar corks em vor alin gurl Muios dees eamegavamn revere cinta ego se sent ie ‘ham viado para fier e que vam wis tera como esa sae 9 has 9 ot 8 ars ‘omer, naso cu no fala eso grandes todas esas exteaes, oe tad 0 gut existe pode ser que io exit "dom, ide,» 15 * Jest Caos Brseto de Santana, Cita e arte: Eucldes do Cana Clecas Natura, S80 Fula, Hoetee, eis de Santana, Universidade Eada de Fees de Santana, 2001, p. 109, "Jeso Utatdo tuber, via Res op. ce p27 164 Side Oconfronto entre oBasiareica ores moderr, tema sempre atl na literatura bras, €evoado ag por meio de deststucuagao de una orden room fanenlinente baa acl deo cr Se propredades aia ede pequenos jmtamentos uate sun substiaao poruma ove oem capa ineraclonal"A praca desnendieapode Ser explicadn pelo ato de que ese process continsa em anmneno, como 0 prove, or ereuplo,o movinerte dos caponcses emer, Asin nis do qe unc. presse asc, hojem nome de dirs ge propre conti eno face tai ‘Atul ma mbm ecola, nartva daerinciasravés ds tera do setho a qual et condoned «grupo de Anemia tem arenes bbc Aas como Os seroes, Vila Rel estabelce com a Biba umn ogo privlegido.” Essa apron tra €sgerda pr ma visto de mando serene, rciionlmentembutga de teptosdade, que o romance qestonars por mods ge de do personagens pastes e plo exame de conslncin ao ual centegmo pate Batlomet © protagonists Agere ‘Aida levada pelos amponeses a5 sucesivasespulses que os acomeern, tento no vle do Setanta somo em todos or outa agate one teat se intl fae ast 8 imager lege com Ques Biblia epresenta a vida do homer sine «Tea, conden 4 raves doorom do “vale das agin, da al le ndo pode exapar © Apocalipe ancncia sr file» inpossbiade de CSeapa lta, ao samen, a peregugies ques vida sobre a Terra impo. Na rasa biliea, 0 ro tmersagem de sia, una meneagem de espeangs em ea iberagae fore To Aptcalipe,€proclaagso do fia os tempos edo inicio do ena eterno: no Exods,€0 povo de Deus qu, ap sorimentorcpernpugde, ed tiberada por Moss, qe gular em deco + Cana Tera Prometd. Vila Rel wc tagor muito free com exes dos textos biblcos protic ¢ vislondrie, caracterinicas ue tabem se encontrar no romance sea forma de linguagem obscura erica em simbolo le encrr bern uma mensagem de salagio. Mas ess mensage de sla, se ela se napita na aig et, € send its tc anita i = poiad ° leur deste echo de ila Rel eb o conta “Atma rs do mowo" do esctor 1.J. Vega, to qual toda «comunidad de ma pequens cae ¢transtonnada paises de lua wns (Or eoeinhor de Pilato, 1059, Carastente J.) Vega amber seis bistora de Camudos ex seu comance A cascada pene (198) pata eva concn ene © rast aio eo Bra odemo. "0 exer Guido Guerra fol prmeto a asin 0 digo de Vile Rel com «Bis: “No sera oso eclise,peto menos de meno, pla erewstncia de a ter obdo ul recetvidade de cain de publi, o romance Vio Red, no qual ncurionava por um tema perigee, 80 ‘mesmo temp, faciante~a gues urban etapa posse ds tra spiando-e mm signe [arn a wrlhorrin da nguagem » part do toto Wea” (Guido Gusts, "hndanas dee ‘mene, A Tde Culture, 30101993), Pu Oo Gr ia ald Uo Ra ern erent 165 nos tedloges da liber- de transformacao da ordem social, da libertacgo das estrucuras opressivas do poder. A opcao do romance de reelaborar todos esses discursos partir de um ponto de vista que ¢ 6 do sertaneo iletrado leva-oaincorporar as marcas do catolicismo popular eo imaginario cultural dessa populagao. E uma aposta bem-sucedida que faz de Vila Real uma obra ao mesmo ‘tempo profundamente engajada, no sentido politico do termo, e profundamente ctiaiva ¢ poétia no nivel da linguagem. ‘A incorporagao do discurso biblico insist sobre a ambighidade dessa narativa: “o livro que existe tem muitos discursos e cada olho que se assenta sobre ele ve ‘uma luz diversa™? A aposta € de negar & narrativa biblica a autoridade de uma poalavra tiniea, de recusar sua signfieagzo transcendent e alicnante em prol de ‘uma ‘eleitura pragmatica ¢revolucionéria na qual aeligito se torna um elemento de ecesto, de insubordinacio © de protest. © homem, mesmo crente, como © Perscnagem do pai Bartolome, no encontrari na Biblia as respostas a seus pro- blemas, Face escolla que deve fazer o homem ess sozinho com sua consciéncia: “Eagui uma solidio, nesta cabeca quase sem cabelos. Onde estas Senor? A coisa ‘ats dificil € escother”." Isso é verdadeiro também para Argemiro eujo profundo cexame de conscigncia leva-oa questionar “palavrade Deus", a cotejaramensegem Diblica ea experiéncia vivida para extair suas proprias conclusdes, #reotganizat sua propria Iinguagem ¢ a tornar-se, por sua vez, portador de uma nova palavra. O paralelo entre Argemiro e Moists € sugerido pelo texto: ambos sio chefes de ‘um povo oprimido combatem em nome de sua libertacio; questionats-se sabre seu valor e sua capaeidade de conduzir seus povos, duvidam de sua aptidao em. utilizar a palavra, entregamse & angustia da solidao. [Aimeu Devs al men Deus dis Argemit thando oc, me it, Que ex no set. Que ex ‘to pose, Que eu cheg te cho pov eel © monte eapio as mata eo os bho [procroasrespostas¢ nao set mad «eno, quando me encaram asim eeu nose? Aime Deus se Argemio, me live, at mew Des te ie ™ Al. die Agemiro, no falar, no sou lene «egos de et num copia epiando os bts, spec qu veh comid, 96 pego Que no me esx" Deciframos nesses fragmentos do discurso de Argemiro o eco das dividas © lamertagdes de Motsés diante da pesada tarefa que Ihe cabe, a de conduzir o povo eleito Pela sua tematica e pela ressonancia de certos aspectos do discurso de Moisés fem Argemiro, a narrativa perpetua a lembranga desse lider e do éxedo de seu ovo, Para construir a personagem de Argemiro, 0 romance inspitase nesse per oto Ubaldo Rib, ie Rel pci, . 104, dem, idem 104, Ste, 12, "demise p21. 146 is Sede sonagem btblico semn jms ctr expictamente seu nome, mis faz que a pala weas de Argento repecutam ae dvds Que sala Meso que permite ar Dem inroduie na marcato toda uma decussto sobre o papel do ier “er cele cosa por dete subornad ‘Us cut figura mia almena a narratva de oto Ubldo Ribeiro. Teatase de Antonio Conseleito,o ier da comunidad de Canados A ronda exp tial hiséria de Canuos eo papel desempenhado pelo Conslhero no contexto Iti cultural do sero jstien no nel dant, erent explicae ales ao combat te por esa populagiosobo commando do bento. Altura da foteteCnnatos in poles te Joo Udo Rie tanto sm Vaal cos tim Vina pono bras, destaca ater evoleconii de um combateresizado pelo pve contra um poder begemonice que o despre eo sie, Er Ubaldo, Tita de Canodos evista come tina caliematva de terdade ern tera de ops: slo" E, portant, coro higaremblemdtico da uta realizada peo povobrasliro Cora optessto que a cbr de Jodo Ubald inconporaamemerie de Canidos Canhars esa baths cans ous ca quces Tana qato tes eines oust comprar no mex, Mas lembra que o Conselhiro [Nip meres onem net hoe, Nem mor sua eomsenis = ten pede de ns, pensou Are, achando gue a¢ mans do Cansei, of abes {is Conseltio,m baebas do Conselheiro cram as ress que agp eft ostenaas por ‘sas redovdens do pin, nas cosas, mas hagas eos rts ds que uma ee lataram € fis Irom. se a mote no ese Desses dois misticos, 20 mesmo tempo lideres religiosos e guerreiros, & sobre- tudo a imagem combative de lideres guerretos que conduzem seus povos & lata pela lierdade, que o texto procurard incorporar. A conscigncia de condusit ur combate para realizar a vontade de Deus, que guia os stos destes mistcos, no aparece em Argemit. ‘O que pressiona Argemiro a agit nfo é uma mensagem divina que ele teria ido 6 privilégio de decifrar, mas a tomada de consciencia da realidade. Assim como Maria da Fé, no comance Viva 0 pave brasileira, a violencia nao o imobiliza, pelo "dey, ide, p34 Eo que aivma Flv Aguiar a pit darepresenact de Canudas em Viva proba "Selesionowse ee (Vina poo baste] momen em que oF pesonagensencontesec a legendara ow de Catodos, ta tambers como alternative de erdae em tan de opeso™ (vio sie (rg) Com pos medida Tera, aba confit naeeratara roi, So Pl, Boitempo Edi Editor Funda Perse Abrams, 1995 9.385). "edo Ubeldo Rib, Vila Ral, ep. cp 12 ide, iden, p31. Fn Ouran ile os tal vin, etc eon 167 contro, ela o leva acto. O romance nao faz de Argemiro um "Messias Salvador” rnemum mediador do Senhor, apesar das visdes profecias de um "homem-verbo”, tacos misticos que 2 obra incorpora revelando as erengas sincrétieas do povo! (Quando sir voce va tara dni do veto em nun gangaia, A marca de mei A vor € dos bacurzus A energie € do fh do homem. A misio¢ vga pela ore F ¢ x vote pelo vida. Ealends como qiser,cuidado coms palivras™ Assim, ainda que a consttugio do her6i do romance escotha dispor de forma entrelacada elementos que evocam os personagens misticos, 0 autor ndo transfor sma seu hersi em lider miatico, ho € 9 Fe mistica que estén vigetn dis wes © palavras de Argemiro. Por sua ver, tanto Moisés como Antonio Conselheira trans- formaram-se em referencias miticas, Todo o esforce do romance esté concentrada naarticulagao do mito eda istoria: de um lado, ele procuraenriquecer a lembranca dessas narrativas pela apropriacao que ¢ [eta destas pelo imaginsrio popular, de ‘outta, tratase também de conferir um cariter historico a essas narrativas para darthes um outro significado, © personagem Filho de Lourival ilustra bem 0 questionamento do estatuto ‘mistico do lider e do estatuto mitico do hersi solitario, A interpretaglo transcen- dente e paralisante do mito da lugar a um senso pritico que alimenta a utopia da ‘essténcia A legenda do Filho de Lourival val alimentaro prajto de transformacao da ordem social, o que permite incegrar o mito & vida cotidiana, A historicizasio do mito ¢ feta pela adocio desse nome legendério por guerreitos apresentadas como combatentes experientes: Fu sou ~dse Somto— 0 Filho de Lous. Argemiro amb i sem stber ue etaia ‘uvind a mesma frase quase todos es das, pronunciads por ca um dos homens que pecan omandatErum quate mals ura mulher, Esses quater ee chamavamh As vets Se Sante, Macedo, Gonealo Frocopo, as ees Se chamavarn» lho de Loar E cad alfa © ‘mesmo papel eomo em radio e umber se vestam igual e muta veses ee aastvam, em Companhia da mulher, para conversa ass Em todos ce dias que se seguir 0 Por® Imei se amiou de que oc qustotomacee 0 mesma pel «qualquer ora c. quando cads tum dia seo Filho de Lou, cegevam ai junto, quem dae quem ouvia Anger prcebeu que asim sempre Ravers qsto prs somata a fala de tts vendo ua, ha fax de dois havendo euros dos Es um ose, no fara mesma fale que faa Sead soment um, e qe faa faa di, a fi falta o potadon”™ Em umm artigo consagrado & analise do papel do Filho de Lourival em Vila Real, Claudio Novaes® chama a atencio pars os deslocamentos sucessives desse nome 2 dem ide, p18 2 idem bide, p89, ® Cliudio Novis, “Filho de Lowa: as debra de um nome" (exo inédito que nos foi gentente comma pelo ao 168 etme edo aque, segundo ele, revelam urea intenctoestratégica subversiva, Ao mesmo tempo, como ele sublinha justificadamente, essa estratégia da metamorfose pelo desdo- ‘bramento do nome em corpes multiplos questiona o mito do her6t salitaio. Ao aque tudo indica, a instabilidade do personagem, sua existencia *mével e mltipla” fm das meias que 0 romance enconrow pars exprimia respansahilidede cole- tiva do grapo na mudanca social, os combatentes podendo a qualquer momento “encarmar esse guerreiro mitico, Em consequéncia, 0 romance nao dissocia mito « prxis, fee rebelizo, Dessa maneira, reconstiul de forma singular uma das marcas ‘caracteristcas de certos movimentos messiinicos do Nordeste do Brasil, como 0 de Canudos, a saber, a "fé dinamica” que alimenta o senso pratico do catolicismo popular eque leva fusto entre o sagrado eo profano.™ A trajetsria de Argemiro prestase, ela também, 20 questionamento do papel do lider em uma comonidade. Ess itineritio € marcado pela tensto entre 0 eu € 0 ‘outro que varia conforme o outro faca parte do micleo identitario grupal(relagio de ‘conivencis ede complementaridade) ou conforme ele represente o poder agressor (elagao de dominagio ede desprezo).E pelo cruzamento deolhares que a nartativa nos laz deseobrir a progressio da consciéncia de Argemiro em relagao ao seu lugar no grupo, consciencia que evolu & medida que ele se liberta dos complexos engen- Grados pela sua condigdo de despossusdae de iletrado para descobrir suas qus ddades humanas, stravés da imagem que seu povo devolve-Ihe de si préprio “over agora pudesse dia de ur vega, por se lhado deforma diferente, Pos mio era porser melhor do que 05 outes, mas porque encanta odor o& Outs, Que ham ses taeas ump assim conhavam nee para camper a ele, que eam ae de deci ja que ‘mbes sabiam que nip seria rade” Argento é um homem como os outros, ele nao se cre um eleto de Deus e seu. povo também nao o vé dessa perspectiva, Ea tomada de consciéncia da realidade ‘que o faz compreender sua condicao de explorado, que é também a de eu povo,¢ ue o conduz ao caminho da rebelio. A violencia desse teritrio, tal como ela € representada no romance, condena-o ao destino tragico da mort, Diane dafatali- dade que pesa sobre esse povo, nica saida que se apresenta €a da resistencia. A lta conta as forgas opressivas aparece como a vnica possibilidade que se olerece 4 comunidade de dar a cada um de seus membros um sentido a sua vida. E, com feito, 0 argumento de fundo de Argemiro que, de modo recorrente, defende dein de escother a morte para poder escolher a vida: ' Socea uta cd sabato as comunidades mestinics do Notdeste do Bras eo concete -de “le dinamia”,ecomendo o sigo de Marco Antoni Vill, “Em usa de urs mand novo", evita Cana, Centro de Estudos Eudes de Cunha da Univeridade do Estado da Baia 1 nl. p. 2535, 1997 Qed), "Foto Ubalde Abe, Va Rea opie. 114, fo Quer Se ioe Uo ii rca canbe 169 Mas voct te sua mort se der vida nosso pow e €asin que vet abe que deve mone. mas ss eee. Porque a mort se encom sam, ras topes de Genel que wi |wlgor ia, na volta de Gore com ma omens do gue antes ¢ a mote ve ambi ‘5m fds sous eas que sabemos que eto por its das sees. pr pe lees am ‘ono ovo parca um que morta” Assim, 8 marrauva do éxod forcado de uma comunidade, em um espago que €somesmo tempo o do combate eo da busca, superpoe-seo ineério exsteneial do petsonagem Argemiro, Her do grupo. O desarraigamemto exterior leva 0 per ‘sonagem &interrogarse sobre sua identdade e sobre o lugar que Ie ¢reservado no grupo, Dessa mancira a narztiva coloca em paleo o deslocamento espacial om suas descrioes epics de baalhas, eo devir do personagem. Ela foaliza 9 espego de for, isco c social, que ela tenia descrever de forma minucisa, pale. lame ao espago de dentro, impreciso tanstornado, que mostra a aventura introspectiva do personagem, Argemirointeriria asim sua relacao com o espa e-deinese em razio dos obsticulos eimpesigtes que ele enconira emseu percuso. ‘fea do personagem reside em sun capacidade de construit um trajeto inverso 120 do deslocamento que the ¢imposto: erate, acossado cle consegui ajar se 4.5 proprio afirmarse como sujeitoautOnomo. ara construir essa dinimiea romanesca que faz coexistr uma topografia rimetica do expaco de fora coma densidadepstologia de Argemito, a narrativa utiea-se a narragdo onsciente com modalidades discutsivas que reproduzem 0 sears do personagem através de ctaeses diretas eindietas ou pelo recurso a0 ‘mogélogo interior. A narmgio onisciente engendra ua fluuacio de ponto de iste” que permitisdinstalar a visto de Argemiro, principal sueito focaader, assin como ade outros personagens sertanejs, Dese modo, a nareativa opi por interioriaro campo de visio, por desvearesaspecos singles de uma cultura vida por dentro. E essa perspectiva que predomina ao longo da narrativa que torma possivl a intgracdo de formas inicatics,magicase racionals da cultura sertenea. Consagrando-s &apreensto de uma conscencia individual que pouco 4 paco toma posse da linguagem e pensa asi propria em razio do grupo, 10. Ince conse constitu pines do expo srtangjo que Seelam tuniverso da palavra. Ent, ponou Anger, estou escahend oda, mesino ques 6 por cas dese ovo, € senda por casa deste povo,¢ por minha caus, por, sem ce pore € nates ‘sel que fost somente um Scm-Name do Se-Nom, de tl form qu sn sk cana ‘em mins plies ose recone «eno aes mc chapase de vl, como cua agus que emg” > dem iid, p, 2 ~ Sue a ken de utuacko de pote de vist e sn tlao com o natradoronsclente « = focaiieto seo, ver Dowit Cohn. Le pepe de a ton, Paris, Seal, 200.» 3, "Joie Ublda Bibel, Vila Reat op cp 10 Lee Siide A evolugto da narrativa proporciona o aprendizado feito por Argemiro ~ 0 de falar com soas prapriae paavras, A “palavra nova” esta longe de ser autocratia, cla vai a procurs do outto, ea solidariza-se com a comunidade: 0.9, mio, venba ours plies nova. Abr os outdo, ped tos ura pales nova 1 The dicen como voce ncn oun, eThedavemos tame ours alee, esis menos fonors, qe voce pode wre como clas bincos e dar uma outs + eu fh, nas Bars em ‘que ese com ee no coo ou petsando wo far dele” Pouco a pouco, Argemiro adquire uma confianga em si proprio € um respeito pelo stu povo que lhe faio compreender que este povo pode viver segunda seus proprios valores, que ele pode criar suas proprias les, que ele pode difundir seu proprio Evangelho: "~ O Evangelho Segundo Nos, O Evangelho Segunclo Nos nao 40 Evangelho de cada um de nés, sendo o Evangelho de todos nos" Mas, para isto € preciso pagar o preco de lular até a morte: Tez na ana sects ods gros epensou: que Sra de mlm fra de minha eta? (Que sabe sguém mats do ques Anh gus, mins paiva, eas coisas todas, pos squece? Mio poso.E sei que lero este pow Amo, com sabe todos, mas Somene Tevando more pode evar vide. Ninguem etna nossa ple pra ve omo nos lia, snes porque todos ets se acetunaram« er pela lke da dominador. Nio, NS, dase Argemico, se eu melhor, dp quero jumtarme ees, quero car aqul A mlhoa nfo fumtarse ales, fea aqui” ( processo de afirmagéo do personagem de Argemiro como sujeito auténomo ‘manifesta se pela recusa da alienacto de suaidentidade. Sua decisto€ de utar ede indo renunciar a suas prineipas relerénciasidentitiras: seu teritoio, sua cultura, sua comunidade, suas crengas e seus codigos cultura. E também a recusa do clhar de desprezo do outro que projeta seus valores sobre ele e seu povo. Contra a ertincia que o coloca numa situagao de aculturacto forgada, ele escolhe combater paraenraizarse. A denuncia pelo romance da perssténcia da légica de colonizacao 4a lugar representagio de um contexto de enfrentamento entre as foc politico- econdmicas dominantes ¢ os camponeses, Assim, a ldgica da guerra que faz que ‘© questionamento identitrio nesse romance proponha uma figuracio radical da cisto das classes sociais,inscrita no discurso de Argemio pela oposiglo entre nés e eles. Nessas circunstincias, a omada de conseigncia pela comunidade de seu. estado de colonizada somente pode ser uma tomads de consciéncia excludente, pois o conflto define-se antes de tudo como um empreendimento de conqulsta econdmica, poiado sobre bases militatese politicas. Vila Real mantém viva a meméria cultural de Os sertes pela temas da Tata pela posse da terra, em relagdo como choque entre uma comunidade rural primitiva de dem 185 idem idem, 1589. Adam, ier, 166-7. Fn Ove ioe Ut Rie endo ecbe 17 valores da cultura capitalistaccidental. Essa ameaga que pesa sobre acomunidade, 1 narrativa opta por exprimi-la em um tom grave, mascado por formas epicas, ‘como as das descrigdes das batalhas que opdem os sertanejos a0 jaguncos esolda- dos, o que tende a sproximar mais ainda o texto de Joo Ubaldo a0 de Euclides da Cunha Edouard Glissantsublinhou arelagao entre as formas épicas ea necessidade as comunidades ameacadas de exorcizar seu med: “Sempre se areditou que © pico é a exultacio da vitoria, ¢ eu acredito que o épico € o canto redentor da errota ou da viteria ambigua’>* Essa observacio contribut para esclarecer o papel do épico em um romance ‘como Vila Real, O modo pelo qual esse romance integra os aconteclmentos de Canudos ¢ uma maneira de cantar 0 acontecimento para “exotcizar a derrota”, assim como a utopia da reviravolta da ordem social é mais uma nota de esperana ‘que uma certeza de vitéria. Basta reler 0 ultimo pardgrafo da romance pata ficar convencide isso Era uma madnogad em ia da serra. Eimbsie,ringt flv, todos dormiam,excecho de vighs. Em tomo, exrepando um odio mas do que moval, exregndo todas hsttas oficin pov ees as cames,pague a womar de ola trac cmc, Ou amore as rns, saa fumaca. Agemir,embriaged, ol es deed ex comm am ial Pre ques que com ee cobviam as encoss da srr coma lormiga.o sin qoe haviatn combines aro aque e, en, em slenio mas com = vel bends de ongtho em todos os pedaos Ao corpo, desceram peta no valle is earem pra combate pelo que inka sido romeo sem asi, E no se sabe orsladn. masse cobram de poise pon ee oe ex pelo Serio € os rts que det aes se oxgam ands aor. Tl coma se coma esta sola pls ‘stad, pelos caminhose pela iss onde que qu uj um vj una speratea¢ onde fuer que um lho se pont a tare horizote™ [A deciséo de reconquistar Vila Real significa, antes de tudo, uma forma de resisincia concreta que é preciso sustentar contra @ opress4o,sejam quaisforem as incertezas sobre a vitéria. O cerco da vila pelos camponeses sem-terra exprime & ‘utopis da transformaeao social com tanto mais fora quanto se trata de uma imagem invertda do cereo de Canudos pels forcas do exétcito tepublicano entrincheiradas ro alto da colina, Se o romance chega 20 seu termo com uma nota de esperanca reeusandl o pessimism, ele nto promete nada além de um percurso de resistencia, ‘no qual o ato de rebelido assoctado a palavea mével da cultura popular lutam contra o desentaizamento © a mist 2 Edouard Giant, idicin a ne patigu du der, Pads, Galinard, 1996, p38 Jodo Ubaldo Ree, Vile Real, op. cp. 1767.

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