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Para a maior parte das pessoas, a definicdo do espago pilblico se di por oposigao a0 espago privado, Essa definigdo simples, que se refere 20 uso do espago € ao seu carter juidico, & para mim muito insuficiente, 8 medida em que cla no confere nenfuma qualidade formal precisa a esse espaco. & a razio pela qual, na pritica do urbanismo moderna concebido pelos técnicos da organizagio do espago © pelos arquitetos, esse espago vazio € preenchivel tomau-se um espaco residual. E 0 que sobra entre os espacos privados ocupados por objetos arquiteténicos muitas vezes sobredeterminados formalmente. , portanto, um espago forgosamente sem forma propria, sem sistema simbdlico preciso sem nome, insignificante € inomindvel no sentido etimolgico da patavra. Para poder retomar a longa historia das cidades e de suas formas ¢ falar de um novo espago publico, & portanto necessério virar 0 pensamento urbanistico pelo avesso. A primeira condigo consiste em conceber 0 cspaco piiblico nao apenas como um espaco dotado de uma forma precisa e pre~ determinada, mas sobretudo em fazer com que seja esta forma o que comanda a disposicao dos espacos privados © ordena os objetos arquitetOnicos, Essa condigao acarteta outra 434 que 0s espagos puilicos devern ter uma fungdo requladora e ordenadora, suas formas ndo podem depender de uma concepcdo singular ou de uma criagdo individual, como no caso das obras de arte (arquitetura inclusive) Coma finalidade de haver consenso, as formas dos espagos publicos esto inscritas em convengdes extremamente precisas, garantidas pela linguagem. Atris de cada uma das palavras ‘que designam os espacos piiblicos da cidade jo ete) desenha-se uma idealidade formal convencional sem a qual as favenida, rua, praga, pessoas nio se entenderiam mais. Explico: quando se diz a um amigo que nao conhece 0 lugar para o qual vocé o esta dirigindo, 7 48 “adiante, voce encontrara trés ruas”, se cle nao emxergar precisamente uma “rua”, mas ‘uma estrada ou um terreno baldio, hé 0 risco dele se enganar. E preciso entender, ainda, que a idealidade formal dos espagos publicos “nomeados”, tals como a rua ou a praca, recobrem de fato uma quantidade infinita de casos diferentes, de épocas, de caracteres, de dimensdes ¢ de qualidades quase sem medida comum. Nao obstante, todos esses espacos precisam inserever-se numa idealidade © funcionamento convencional que permi da linguagem, da significacao e, portanto, da comunicagao, Para falar dos espagos ptiblicos, ¢ preciso acrescentar uma iltima condigao. & dificil imaginar uma rua isolada no meio rural ou ‘uma praga que no seja acompanhada de uma rede de ruas. Hoje, pela magia de uma placa, 05 arquitetos, os urbanistas € os eleitos podem erverter qualquer palavra, as cidades novas estdo cheias de esplanadas, de pragas ¢ de ruas, todas elas ilusbes lingdisticas que no enganam muita gente. 0s espagos pillicos ndo funcionam de modo ‘solado, eles sio sempre parte de um complexo sistema continuo e hierarquizado. E pela continuidade da rede dos espagos pablicos que 2 cidade vai tomando a sua forma, € pela permanéncia no tempo dos espagos piblicos que uma cidade constitui sua meméria, Quanto & importineia da continuidade urbana, basta relembrar que & a partir desta nog30 que os centros densos € continues se diferencia ¢ se opdem as periferias frag- rmentadas € difusas. Mas essa co dade implica @ homogeneidade do sistema dos espagos piblicos. Hierarquas so necessirias e las se organizam quase automaticamente nna medida em que neniumn espago ou lugar da cidade € isotr6pico, Tomemos uma cidade cujo tragado seja organizado segundo uma grade totalmente indiferente, & maneira de uma cidade americana, por exemplo. Hie~ rarquias tio se estabelecendo de fato pelo jogo 4a proximidade dos centros e das periferas. -Além disso, vocés sabem por experiéncia que ‘Angulo de uma itha situada no eruzamento de duas ruas adquire um valor diferente daquele do centro da ilha, Existem portanto, hierarquias induzidas quase que auto- ‘maticamente pela geometria e pela situagao vrbanas. Em contrapartida, outras hierarquias podem ser desentnadas de modo preconcebido (pracas, perspectivas, avenidas). 0 tragado dos espagos puiblicos induz ou cria situagdes de monumentalidade potencial.Essas situagdes de monumentalidade podem, num momento ou noutro, ser investidas pela vontade dos responséveis politicas da cidade € tomarem-se monumentos sob o olhar do anquiteto e do artista Decidir a localizagdo de uma nova instituigdo na cidade, desenhar um edificio piblico, erigir ‘uma obra de arte, sdo atos sérios, que exigem que anteriormente se tenha procedido a uma avaliagdo correta das pertinéncias monu- mentais do espago piblico, Se houver um eno, se nao for levada em conta a forma do contexto urbano ou se se pensar que qualquer objeto (edifcio, escultura ou vegetal) & capaz de dar alguma qualidade a um espago puilico concebido como residual, chega-se a situagdes catastroficas encontradas em muitas cidades, nas quats obras de arte colocadas em qualquer lugar perdem toda a sua forga e todo o seu significado. Quando se fata em monumento e em monu- mentalidade, pensa-se geralmente na qua- lidade intrinseca arquiteténica ou artstica de um edificio piiblico ou de uma obra de arte ‘solados. Aliés, € com a busca dessa qualidade intrinseca que se satisfaz as demandas do setor piiblico. Acho que isto nao basta, Se quisermos pensar nna monumentalidade de um edificio pablico, convém colocar a questio da monu- mentalidade no somente a partir das condigdes do seu surgimento no contexto ‘urban, como acabamos de ver, mas também questionar as condigdes de visibilidade legibilidade as quais 0 edificio deve responder. Na maior parte do tempo, tratando-se de dificios piblicos ou de monumentos, 0s dois termos esto ligados. Avisibilidade, no que diz espeito a um edificio publico, depende da sua posigdo ma cidade e da situagdo que ele ocupa no sistema das hhierarquias monumentais das quais falei anteriormente. Quanto a legibilidade de um edificio ou de um monumento, ela repousa sobre o jogo de correspondéncias entre a sua légica simbética institucional, sua tipologia construtiva e a retérica figurativa {no caso de um monumento) ou arquiteténica utilizada pelo artista. Essa legibilidade € essencial, pois ela nao somente nos permite reconhecer a Tungdo institucional de um monumento (seja cle igreja, estagio de trem, escola, teatro ou ‘monumento}, como também nos permite “er” a hierarquia dos valores civicos que uma sociedade confere ds suas instituigdes. Durante todo o século XIX € boa parte do século XX, isso funcionava muito bem. Assim, a0 percorrer pela primeira vez uma cidade francesa de tamanho médio, sem conhecer sua planta, qualquer francés pode encontrar € identificar com muita facilidade um certo ndimero de edi os tais como a prefetura, 0 teatro, 0 tribunal de justica ov a estagdo de trem, sem jamais té-os vstos anteriormente. Ele ¢ portanto capaz de se orientar na cidade tomada como um espaco simbdlico con- vencional, sem que os abjetos singulares que constituem 0 sistema de monumentalidade urbana the sejam conhecidos ou mesmo que cada objeto projete um aspecto diferente na sua categoria. Cada prefeitura, cada teatro, cada tribunal de justiga remete a uma idealidade formal convencional que permite identifica-los como instituicées, mas, 20 ‘mesmo tempo, eles possuem uma forma propria que 0s “localiza” numa cidade e numa regido € os “singulariza” como obra de arte {ais ou menos bem-sucedia). E portanto gracas visibilidade e legibilidade 0s edificios € dos monumentos que a imagem de referéncia (muito forte ainda hoje) de uma cultura francesa se constituiu, tanto no nivel popular como num nivel mais elaborado, € & ‘em relagao a esse patriménio cultural que as pessoas se situam e organ niicagdo na cidade. & justamente por que esse sistema da monumentalidade perdura, que arquitetos € artistas podem se permitir a contestago do mesmo. De fato, qualquer contestagio de um sistema perderia am a sua comu- rapidamente qualquer sentido se esse sistema cessasse de existir. Pereebe-se, hoje, uma forte demanda de monumentalidade implicita © explicita, ¢ 0 setor puilico & primeiro responsive! pela promogao do sistema da monumentalidade no espaco urbano. Ter como tinico criteria a escolha da reputacdo de um arquiteto é inoperante se nao for verificada a pertinéncia “monumental” da obra encomendada, Eu acrescentaria, quase paradoxalmente, que a qualidade intrinseca da obra deve ser relativizada. A rigor, é melhor uma arquitetura de qualidade média, porém bem situada num espaco public © que atenda a critérios de legibitidade perfeitamente precisos, do que uma obra-prima “revolucionéria”, tornada perfeitamente insignificante pela sua incongruéncia. Altima questo que eu abordarei rapida~ mente € a questao da arte urbana, 0 que & a arte urbana? E um saber e uma pritica relativamente antigos, distintos do Uurbanismo eda arquitetura, que permitem dar ‘uma forma & cidade, mais particularmente aos espagos pulblicos. & a arte de desenhar um espago aberto, como se projeta um conjunto anquiteténico. Hoje, como lembrei 0 espago piiblico urbano € considerado residual. Para ser mais preciso, sua forma resulta dos objetos arquitetdnicos que o rodeiam. A arte urbana permite inverter as prioridades e operar de tal modo que a forma do espaco piiblico induza um certo rndmero de regulamentos ¢ de regras arqui- teténicos aplicaveis aos edificios que formam © envelope fisico dos espagos puiblicos (ruas, pracas ete). Nao se trata evidentemente de substituir 0s arquitetos e desenhara totalidade das construgées que pertencem ao setor privado. Mas a convengéo requer que um edificio tena pelo menos duas fachadas: uma privada, escondida elite e outra pibica, que, como diz. um provérbio chings, pertence a0 transeunte que a olha, Um projeto urbano pode acasionalmente definir situagdes monumentais cuja definigao pode ser muito precisa ¢ constrangedora, Como exemplo citarei as ruas determinadas por decreto, como a Rivoli, ou as pragas “com programa”, como a praca des Vosges. Na maior parte dos casos, um projeto urbano determina regras de alinhamento, de altura, de volume, de materiais etc. Mais precisamente, ele desenha detathadamente 0 que releva dos financiamentos piblicos: fundacdes, re- vestimento dos solos, mobilisrio urbano. Deve prever a localizacdo ¢ 0 tamanho dos ‘monumentos no espaco piiblico. Para concluir, parece-me que o problema no reside tanto na procura de melhoria da qualidade arquitetonica dos edificios, tampouco em saber como os mecanismos de demanda do setor piblico podem ser mais cficazes. Fssas questdes tém sua importancia, 'mas clas so posteriores a um problema muito mais grave para a nossa sociedade. E preciso rever prioritariamente o nosso modo de pensar a cidade e rever em termos de qualidade as formas de urbanismo que deservolvemos nos Lltimos cingiienta anos e que continuamos a reproduzir sistematicamente, A cidade, dita tradicional, densa © complexa, oferecia, através de seus espagos publics, no apenas lugares de convivio e troca, mas sobretudo lugares rios quais se desenvolvia 9 aprendizagem civilizadora e cultural dos habitantes, Essa aprenidizagem nao pode ser operada por tum exército de educadores, de animadores ¢ de trabalhadores socias. Esse escoteirismo do social e do cultural, com 0 qual o Estado imagina fazer a economia de uma verdadeira cidade, desresponsabiliza € infantiliza as populagdes que ele supostamente deveria ajudar. A primeira pedagogia é aquela oferecida pelo contato direto das pessoas entre si nos espacos piiblicos, cuja forma pertence aos arquétipos urbanos da cidade européia, Esquece-se, hoje, 0 valor educative e “ vilizador", que significa para uma crianga a imersio numa verdadeira cidade densa, complexa, estratificada ¢ onde foi acumulado ‘um arquivo inestimavel ediscreto de memérias centrelagadas. No meu entender, é muito mais importante abrir uma “boa” rua, criat uma verdadeira praca, do que construir uma escola cuja arquitetura esteja loucamente na moda, ‘ou um magnifico centro cultural colocado num, contexto urbano inexistente. Pois estou convencido de que as criangas e os adoles- centes aprendem muito mais nas ruas do que nas escolas, ¢ que a cultura proporcionada pela freqiléncia nos espagos de nossas cidades é ‘mais fundamental do que a das casas de cultura Dirdo que um nao impede o outro. Estou profundamente convencido disso, mas estimo ‘que, hoje, hi uma forte tendéncia a pensar que para resolver problemas sociais fun- damentais, como a educagao ea cultura, basta multiplicar os educadores e os animadores, construir edificios para acolhé-los ¢ multiplicar as obras de arte © os monumentos, sem fazer © esforgo de pensar no espago que condiciona a educagéo e a cultura no cotidiano, isto é na ide", no sentido mais convencional e mais tradicional do termo.

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