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Cientista Fascinado pela Inocente Jenny © Protesto Funcionalista ‘A Revolucao da Teoria da Evolucao de Charles Darwin (1809-1882) ‘A Biografia de Darwin ‘A Origem das Espécies por meio dda Selegaio Natural A.Evolucao em Andamento: 0 Bico dos Tentilhoes AInfluéncia de Darwin na Psicologia Texto Original: Trecho Extrai- do de The Autobiography of Charles Darwirt (1876) Diferencas Individu Francis Galton (1822-1911) A Biografia de Galton A Heranga Mental Texto Original: Trecho Extrai- do de Hereditary Genius aan Inguiry into Its Laws ‘and Consequences (1869), de Francis Galton Métodos Estatisticos “Testes Mentais, A Associacao de Ideias Imagens Mentais Aritmética Olfativa e Outros ‘Topicos Comentarios A Psicologia Animal ea Evolucao do Funcionalismo George John Romanes (1848-1894) C. Lloyel Morgan (1852-1936) Comentarios 122 CAPITULO SET Funcionalismo: as Influéncias Anteriores Gentista Fascinado pela Inocente Jenny Jenny estava vestida como qualquer crianga tipica de 2 anos, e certamente se comportava como uma crianca de 2 anos. Milhares de pessoas afluiam para vé-la. Elas a encaravam maravilhados, encantados, pois Jenny — tao inocente, tao humana, na realidade era um orangotango, um macaco, como a maioria das pessoas a chamava. Jenny estava em exibigdo em uma gaiola de girafa no zoolégico de Londres. O ano era 1838. Poucas pessoas na Inglaterra, ou em qualquer lugar da Europa jamais tinham visto tal criatura, e aqueles que foram vé-la estavam surpresos, até mesmo desconcertados pelos maneirismos a que estavam tdo familiarizados. Vestida em um vestido de babado, ela se sentava 4 mesa, usava uma colher para comer de um prato, tomava ché em uma xicara e parecia entender 0 que seu cuidador Ihe dizia. Também parecia saber 0 que era e 0 que nao era permitido fazer. Um visitante escreveu: © cuidador mostrou-Ihe uma maga, mas nao a dava, 0 que fez com que se atirasse de costas, chutando e cho- rando, precisamente como uma crianga malcriada... O cuidador disse: “Jenny, se parar de berrar e se comportar como uma menina boazinha, eu Ihe dou a maga.” Ela certamente entendeu cada palavra e, embora como crianga que custa a parar de choramingar, conseguiu a maga (apud Aydon, 2002, p. 128). CAPITULO 6 — FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 123 Aparentemente, Jenny fazia com que aquele visitante se lembrasse de seus dois filhos pequenos, pois ele voltou ao zoolégico alguns meses mais tarde, levando um instrumento de boca (gaita) e um espelho. Ele tocou o instrumento na frente da gaiola e depois o deu a ela pelas grades. Imediatamente ela 0 colocou nos labios, como ele havia feito. Quando ele deu o espelho, ela ficou se olhando continuadamente como se estivesse surpresa com sua imagem, assim como os filhos daquele homem haviam ficado a primeira vez que se viram em um espelho. Ele a observou aceitando pao de outro visitante, olhando primeiro para o seu cuida- dor para ver se podia comer. Mas Jenny também exibia comportamento voluntarioso e desobediente. Com frequéncia ela fazia algo que haviam dito que nao deveria fazer. Quando ela acha que 0 cuidador nao vai ver, mas que sabe que fez algo errado, ela se esconde. (...) Quando acha que vai ser chicoteada, ela se cobre com palha ou um cobertor (apud Keynes, 2002, p. 50). Observar 0 comportamento de Jenny teve um profundo efeito no nosso visitante. Ele escreveu 0 seguinte comentario em seu caderno: “Deixe o homem ver o orangotango domesticado e sua inteligéncia.... € depois deixe que se vanglorie de sua superioridade orgulhosa. (...) © homem, na sua arrogancia, pensa que € 0 resultado de um grande tra- balho, digno da intervengao de uma divindade. Mais humilde e, creio verdadeiro, seria consideré-lo descendente dos animais” (apud Ridley, 2003, p. 9). Quem era esse distinto visitante que ficou téo impressionado com Jenny? Seu nome era Charles Darwin. 0 Protesto Funcionalista Charles Darwin, com sua nogao de evolucao, mudou 0 foco da nova psicologia da estrutura da consciéncia para as suas funcées. Era inevitavel que a escola de pensamento funciona- listase desenvolvesse. © funcionalismo se preocupa com as fungdes da mente, em como ela é usada por um organismo para se adaptar ao seu ambiente. O movimento da psicologia funcional focou em uma questao pratica: O que os processos mentais conseguem realizar? Os funcionalistas estudaram a mente nao do ponto de vista de sua composi¢ao — seus elementos mentais ou sua estrutura - mas sim como um conglomerado ou actimulo de fungées e processos que levam a consequéncias praticas no mundo real. As pesquisas realizadas por Wundt e Titchener nada revelaram sobre os resultados ou realizag6es da atividade mental humana, mas este nao era o objetivo. Tais preocupacées utilitarias eram incompativeis com a sua abordagem puramente cientifica da psicologia. Como um primeiro sistema de psicologia, puramente americano, 0 funcionalismo foi um protesto deliberado contra a psicologia experimental de Wundt e a psicologia estrutural de Titchener, ambas vistas como restritivas demais. Essas primeiras escolas de pensamento nao podiam responder as perguntas que os funcionalistas estavam fazendo: O que a mente faz? E como age? Como resultado dessa énfase nas fungdes mentais, os funcionalistas passaram a se in- teressar pelas aplicagdes em potencial da psicologia aos problemas da vida didria, de como as pessoas funcionam e se adaptam a diferentes ambientes. O rapido desenvolvimento da 124. HisTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA Psicologia aplicada nos Estados Unidos pode ser considerado o legado mais importante do movimento funcionalista. Este capitulo trata das raizes do movimento da psicologia funcional, incluindo os trabalhos de Darwin, Galton e os primeiros estudiosos do comportamento animal. £ importante observar a €poca em que esses precursores do funcionalismo estavam desen- volvendo suas ideias: o periodo anterior e durante os anos em que a nova psicologia estava comegando a evoluir. A obra pioneira de Darwin sobre a evolugao, On the origin of species (1859), foi publicada um ano antes do livro de Fechner, Elements of psychophysics (1860), € 20 anos antes de Wun- dt instalar o laboratério na University of Leipzig. Galton comesou a trabalhar no problema das diferencas individuais em 1869, antes de Wundt escrever a obra Principles of physiological psychology (1873-1874). As experiéncias com psicologia animal ja eram realizadas na década de 1880, antes de Titchener seguir da Inglaterra para a Alemanha para estudar com Wundt Portanto, a maior parte dos trabalhos a respeito das funces da consciéncia, das diferen- sas individuais e do comportamento animal estava sendo realizada ao mesmo tempo em que Wundt e Titchener optaram por excluir essas areas das suas definigées de psicologia. Somente com a chegada da nova psicologia aos Estados Unidos é que as funcées mentais, as diferencas pessoais ¢ os ratos de laboratério ganharam destaque na psicologia. A Revolucdo da Teoria da Evolucao de Charles Darwin (1809- 1882) A ideia da evolucao nao comegou com Darwin. Na época em que ele publicou sua teoria em 1859, nao havia nada realmente novo a esse respeito (ver Gribbin, 2002). A hipétese de que os seres vivos mudam com o tempo, nogao fundamental da evolugao, pode ser ja encontrada no século V a.C., embora s6 fosse investigada de forma sistematica a partir do final do século XVIII O fisiologista inglés Erasmus Darwin (avo de Charles Darwin e de Francis Galton) afirmava que todo animal de sangue quente havia evoluido de um unico filamento vivo e animado por Deus. Erasmus Darwin acreditava que havia um Deus que originalmente havia estabelecido vida na Terra em movimento, mas que nao interveio depois disso para alterar a flora ou fauna ou para criar espécies. As mudangas nas formas animais, dizia, ocorriam de acordo com as leis naturais que fazem com que as espécies continuamente se adaptem as mu- dancas em seu ambiente. Em 1809, o naturalista francés Jean-Baptiste Lamarck formulou a teoria comporta- mentalista da evolugao, que enfatizava a modificagdo das caracteristicas fisicas do animal mediante 0 esforco de adaptacao ao ambiente. Lamarck sugeria que essas modificacoes cram herdacas por geracoes sucessivas. Por exemplo, a girafa desenvolveu 0 seu longo Pescoco por varias geracdes devido A necessidade de alcancar os galhos cada vez mais altos para obter comida Em meados da década de 1800, o gedlogo britanico Charles Lyell introduziu a nogao da evolucao na teoria geolégica, argumentando que a Terra havia passado por varios esta- "Erasmus Darwin era um homem enorme, que desistiu de se pesar quando chegou aos 150 quilos. Seu chofer (também uum homem gordo) sempre precedia 0 médico ao entrar na casa de um paciente para certificarse que o chao resistiria ao Seu peso. Erasmus Darwin escreveu poemas ersticos eteve 14 filhos com duas esposas € uma governanta, Informaces sobre sua vida e trabalho podem ser encontradas em www.icmp,berkeley.edu/Edarwin,heml, CAPITULO 6 — FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 125 gios de desenvolvimento até chegar a estrutura atual. No Capitulo 13, veremos que a ideia de evolugao também influenciou o trabalho de Freud. Passados tantos séculos aceitando-se a doutrina biblica da cria¢4o, por que os inte- lectuais buscavam uma explicacao alternativa? Uma das raz6es era a de que os cientistas estavam adquirindo cada vez mais conhecimento sobre as outras espécies que habitaram a Terra. Os exploradores estavam descobrindo formas de vida animal antes desconheci- das. Portanto, era inevitavel que alguém questionasse como Noé fora capaz de colocar um casal de cada espécie animal na arca. Tantas foram as espécies descobertas que nao havia como os pesquisadores continuarem a acreditar nessa hist6ria. O navegador italiano Américo Vespticio escrevera, {4 em 1501, apés a terceira viagem em torno da costa da América do Sul: “Nao hé como descrever a enorme variedade de animais selvagens, a abundancia de pumas, panteras, gatos selvagens, diferentes dos que vemos na Espanha, mas parecidos com os das ilhas Antipodas; tantos lobos, veados ver- melhos, macacos e felinos, saguis de diversas espécies e varias cobras enormes. (...) Tantas espécies nao caberiam na arca de Noé” (apud Boorstin, 1983, p. 250). Na década de 1830, os ingleses e europeus vitam pela primeira vez espécies animais constrangedoramente semelhantes aos seres humanos. Antes disso, somente alguns explo- radores corajosos haviam visto animais como os orangotangos e chimpanzés. Em 1835, um ano antes de Darwin retornar de uma viagem de exploracao que durou cinco anos, um chim- panzé chamado Tommy foi exibido no zoolégico de Londres. Em 1837, uma orangotango foi exibida e outra, dois anos depois; ambas se chamavam Jenny. Na década de 1850, um orangotango macho foi exibido em varias cidades da Inglaterra ¢ da Escécia e a propaganda dizia que ele exibia comportamentos inteligentes quase no mesmo nivel dos humanos Em 1853, 0 Museu Britdnico exibiu 0 esqueleto de um gorila ao lado de um esqueleto humano. Tamanha era a semelhanca que muitos observadores alegavam sentir-se emba- racados. Era possivel continuar insistindo que os seres humanos eram as tinicas criaturas totalmente diferentes das outras espécies? Talvez nao. Exploradores também descobriram fésseis e ossadas de criaturas que ndo correspon- diam aos das espécies existentes, esqueletos aparentemente pertencentes a animais que em algum momento perambularam pela Terra mas que haviam desaparecido. Essas des- cobertas fascinaram os cientistas e leigos interessados, e muitas pessoas comecaram a colecionar fésseis. A Gra-Bretanha do século XVIII foi um marco de requinte e impecdvel bom gosto na propriedade e exibicao de colegdes de fosseis. Os proprios objetos nao apenas eram raros e bonitos (...) como a sua simples posse era uma indicacao de sede de conhecimento, de consciéncia da filosofia natural, de compreensao solidaria dos processos misteriosos da Terra. (Winchester, 2001, p. 106) As pessoas desejavam saber 0 que aqueles fésseis ¢ ossadas poderiam revelar sobre a origem do homem. Para os cientistas, o crescente actimulo desses artefatos dava indicacdes de que as formas vivas nao podiam mais ser consideradas constantes, imutaveis desde o inicio dos tempos e deviam ser vistas como sujeitas a mudangas e modificag6es. As espé- cies antigas evidentemente tornaram-se extintas, dando lugar a novas, sendo algumas delas versdes alteradas das formas existentes. Talvez tudo na natureza fosse resultado de mudangas e ainda continuasse no processo de evolugao. O impacto da mudanca continua foi observado nao apenas nos circulos cientificos € intelectuais, como também na vida cotidiana. O Zeitgeist social estava se transformando 126. HISTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA por causa da Revolucio Industrial. Os valores, as relag6es ¢ as normas culturais, mantidos constantes por varias geracées, de repente foram rompidos quando a migragao em massa da zona rural para as pequenas cidades promoveu o rapido desenvolvimento dos centros industriais urbanos. ‘Acrescente dominagio da ciéncia contaminava as atitudes populares. As pessoas esta- vam cada vez menos convencidas das ideias a respeito da natureza humana e da sociedade baseadas nos dogmas das antigas autoridades religiosas. Ao contrario, estavam dispostas e vidas para transferir essa crenga para a fé cientifica. Mudanca era a ordem do dia. Afetava o fazendeiro, cuja vida agora pulsava no ritmo de uma maquina e nao das estagdes do ano, assim como afetava o cientista, cujo tempo era gasto tentando desvendar uma ossada desenterrada. A atmosfera intelectual produziu a nogao de evolugao nao apenas respeitavel cientificamente, como também necesséria. Entretanto, durante muito tempo 08 estudiosos analisaram, especularam e levantaram hipsteses, mas ofereceram poucas provas concretas. Entao, Darwin, em seu livro On the origin of species, apresentou informagées tao bem organizadas que a teoria da evolucdo nao pode mais ser ignorada. O Zeitgeist demandava essa teoria ¢ Charles Darwin tornou-se 0 seu agente. A Biografia de Darwin Ele foi um dos homens mais felizes que ja viveu. Seus dois avds foram dois dos homens mais famosos na Inglaterra. Gragas a eles, acostumou-se desde pequeno a companhia de pessoas inteligentes e artisticas. Cresceu em uma casa confortavel, cheia de afeto, onde sua imaginagdo era livre para vagar. Seu pai era muito rico, ¢ no final da sua adolescéncia percebeu que nao teria que fazer nada na vida que nao quisesse. Para 0 resto de sua vida, ele fez exatamente 0 que Ihe agradava. E, até o final de sua vida, foi sempre rodeado pelo mesmo ambiente de amor e protecdo de sua infancia. (Aydon, 2002, p. xxiii) Quando crianga, Charles Darwin dava poucas indicacdes de que se tornaria o cientista tao dedicado e entusiasmado que o mundo viria a conhecer. Era rude e maldoso, aprontando travessuras, mentindo e roubando para chamar a atengao. Os bidgrafos relatam, sobre a infancia de Darwin, um epis6dio em que ele tentou quebrar a janela de uma sala em que fora trancado como castigo por mau comportamento (veja Desmond e Moore, 1991). Ele parecia to pouco promissor que seu pai, um rico médico, acreditava que o jovem Charles acabaria desgracando o nome da familia. Embora seu desempenho escolar fosse fraco, demonstrava interesse por historia natu- ral e em colecionar moedas, minérios e conchas. Seu pai o mandou para a University of Edinburgh para estudar medicina, mas logo o jovem se mostrou entediado. Como resposta, o pai disse-Ihe que deveria tornar-se clérigo. Ele passou trés anos na Cambridge University e achou a experiéncia uma perda de tempo, pelo menos do ponto de vista aca- démico. No ambito social, no entanto, achou fantastico, tendo sido esse o periodo mais feliz da sua vida. Passava os dias € as noites bebendo, cantando, jogando cartas, fazendo parte de um grupo que descrevia como esbanjador e de baixo nivel intelectual, Também colecionava besouros. © botnico John Stevens Henslow, um de seus professores, conseguiu uma indicaca’o para Darwin como naturalista para fazer parte da excursaio do HMS Beagle, um navio que © governo britanico estava preparando para uma viagem cientifica ao redor do mundo. Canituio 6 FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 127 famosa excurso, que durou de 1831 a 1836, explorou as aguas da América do Sul, seguin- Go para o Taiti e Nova Zelandia, ¢ retornou @ Inglaterra, passando pela Ilha Ascensio e pelos Acores. Todavia, Darwin quase fora tecusado para trabalhar a bordo do navio por aes do formato do seu nariz. O capitao, Robert Fitzroy, orgulhoso de sua capacidade de vulgar 0 carater pelas feicGes do rosto, tinha certeza de que o nariz de Darwin indicava vrmhomem preguicoso, mas ele conseguiu convence-lo do contrario. Fitzroy, um homem srtremamente religioso, desejava a presenga de um naturalista & bordo para encontrar provas concretas sobre a teoria biblica da criacao. Escolhera 0 homem errado. ‘A viagem rendeu a Darwin a oportunidade impar de observar Wit variedade de vida animal e vegetal e de coletar diversas espécies, além de enorme quantidade de dados. A viagem também parece ter mudado sua personalidade. N20 mais um diletante e amante do prazer, Darwin retornou a Inglaterra como um cientista dedicado e com uma tinica paixao: desenvolver a teoria da evolugao. Casourse em 1839 ¢ trés anos depois mudou-se com a esposa para vilarejo de Down, 26 quilémetros de Londres, onde pode concentrar-se no trabalho sem as agitagoes da «Ga urbana, Sempre teve a satide fragile agora comegava a softer de perturbagbes fisicas como vémitos, gases, furanculos, erupsdes ‘cutaneas, tonturas, tremores € depressao. Sua cons se transformou em uma “enfermaria onde ninguém era saudavel; a doenga era regra easaude uma excegao” (Desmond, 1997, p. 291). ‘Os sintomas de Darwin eram aparentemente de fundo neurético, provocados por qualquer interrupsao na sua rotina didria, Sempre que alguma interferéncia externa 0 jimpedia de trabalhar, softia outro ataque. A doenga tornars-® um mecanismo convenien- te, protegendo-o dos afazeres mundanos € proporcionando a solidao ea concentracao, wecassdrias para ele criar e desenvolver sua teoria, Um escritor batizou a condigao de Darwin de “maldi¢ao criativa” (Pickering, 1974). Ele se isolava, evitava festas e declinava de compromissosi chegou a instalar um espelho do lado de fora da janela da sua sala de estudos para espiar 0S visitantes que vinham procuré-lo. Dia apés dia, semana apés semana, 0 ‘estomago 0 incomodava. (...) Era um hnomem preocupado. (Desmond e Moore, 1991, P- xwiti-xix) Darwin tinha motivos de sobra para se preocupar. ‘A ideia de evoluco vinha sendo condenada pelas autoridades religiosas conservadoras ¢ até em alguns meios académicos. © clero, entendendo-a como moralmente degenerativa e subversiva, pregava que, Se aS pessoas fossem retratadas como animais, igualmente 5 comportariam. O resultado de tal selvageria certamente causaria o colapso da civilizagao. vparwin se autodenominava 0 “capelao do deménio’, dizendo a um amigo que traba- Jhar na teoria da evolugao era Como confessar um assassinato (Desmond e Moore, 1991). Ele sabia que, quando publicasse 0 livro, seria condenado por heresia. Percebeu que essas preocupacdes com 0 trabalho eram a causa dos Seus persistentes males fisicos, “a maior parte dos males de que a minha carne ¢ herdeira” (apud Desmond, 1997, p. 254). Esperou 52 anos para apresentar publicamente as suas idelas, pois desejave tera certeza de que, a0 fare-lo, a teoria estaria perfeitamente apoiada em provas cientificas irrefutaveis. Assim, Darwin prosseguiu no trabalho com calma e com cuidado extremamente rigoroso. Trin 1842, Darwin redigix um esquema de 35 paginas da sua teoria da evolugao. Dois anos mais tarde, expandit as ideias em um ensaio de 200 paginas, mas ainda nao estava satisfeito. Continuou a mantet segredo da maior parte do seu trabalho, compartilhando as ideias ape- tras com os amigos mais intinmos, como 0 geGlogo Charles Lyell ¢ 0 potinico Joseph Hooker. 128 HisTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA Por mais 15 anos Darwin elaborou e trabalhou seus dados, conferindo, aperfeicoando, revi- sando, insistindo para que todos os aspectos da sua posigao fossem inquestionaveis. Ninguém sabe ao certo quanto tempo mais ele se estenderia no trabalho se nao houves- se recebido uma carta chocante, em junho de 1858, de uma pessoa chamada Alfred Russel Wallace, um naturalista 14 anos mais jovem que ele, Morando nas fndias Orientais para sé recuperar de uma doenca, Wallace esbogara uma teoria da evolugao nitidamente semelhante 4 de Darwin, embora nao estivesse baseada em dados tao ticos como os coletados por ele. E 6 pior é que Wallace afirmava ter desenvolvido a sua teoria completa em apenas trés dias! Pedia a opinido e a ajuda de Darwin para publicé-la. © Didgrafo de Wallace escreveu: No intervalo de duas horas, desde os primeiros arrepios da febre até ficar banhado em um mat de suor [sintomas da malaria], Wallace disse que havia desenvolvido toda teoria da selecdo natural, ea esbocou naquela mesma noite, apesar de sua exaustao fisica. Foi uma juz de inspiracdo que uniu anos de experiéncia e contemplacio. Nas duas noites seguintes ele escreveu toda a sua teoria. (Slotten, 2004, p. 144) pm sua carta a Darwin, Wallace pediu sua opiniao sobre suas ideias ¢ ajuda para que seu trabalho fosse publicado, Wallace escreveu anos mais tarde que 0 feito desse curto trabalho sobre Darwin foi “praticamente paralisante”, como se Darwin estivesse lendo sua propria teoria. “Qualquer nogo da sua importancia desaparecera, sua originalidade fora massacrada” (apud Raby, 2001, p. 137). Assim como varios cientistas, Darwin era muito ambicioso. Escreveu em seu didrio: “Gostaria de conseguir nao valorizar tanto essa tal de fama. (..) Bainda abomino a ideia de escrever porque ¢ importante criar; todavia certamente ficaria contrariado se outra pessoa publicasse essas doutrinas antes de mim” (apud Merton, 1957, p. 647-648). Darwin Gisse ao amigo Lyell que, se ajudasse Wallace a publicar sua teoria, todos os seus anos de trabalho érduo e, o mais importante, o crédito pela criagao da teoria da evolugao estariam perdidos (Benjamin, 1993). Enquanto ficava em diivida se devia ajudar Wallace ou apressar @ publicacao do seu trabalho, seu filho de 18 meses morreu de febre escarlatina. Desesperado, Darwin remofa a respeito das implicagdes da carta de Wallace e as op¢des que surgiam para si proprio. Finalmente, munido de enorme sentido de justiga e de bom senso, decidiu: “parece dificil para mim perder a prioridade de varios anos de dedicasao, mas nao tenho certeza absolu- ta de que isso altere a justica do caso. (..) Seria desonesto de minha parte publicar agora’ (apud Merton, 1957, p. 648) Lyell e Hooker sugeriram que tanto 0 trabalho de Wallace como partes do livro de Darwin que estava para ser publicado fossem lidos em um encontro na Sociedade Linneana (uma sociedade cientifica cujo nome homenageia o naturalista sueco Linnaeus), em 1° de julho die 1858, no mesmo dia em que o filho de Darwin fora enterrado. O resto esté registrado na histOria, Todas as 1,250 cGpias da primeira edigao do livro de Darwin, On the origin of spe- cies, foram vendidas no dia da publicagao. A obra provocou reagoes & discussdes imediatas, e Darwin, embora fosse objeto de consideraveis criticas, ganhou a “tal da fama”. Quando o livro foi publicado, Darwin foi acometido de novas enfermidades. Ele des- creveu uma “terrivel ¢ longa Ansia de vomito”, “furtinculos que ardiam”, além de se sentir “extremamente mal e em cacos" (apud Desmond, 1997, P- 257). Fugiu para uma estancia hidromineral no norte da Inglaterra, onde se escondeu do mundo por dois meses. Wallace nunca expressou ressentimento por nao teceber o reconhecimento proporcional pelo desen- Volvimento de uma teoria to semelhante a de Darwin. Na verdade, sua te Jo foi pratica- CAPITULO 6 FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 129 mente contraria, Quando soube que o seu trabalho e o de Darwin seriam lidos na Sociedade Linneana, Wallace declarou haver recebido “mais reconhecimento e crédito do que mere- cia”. Mostrou-se satisfeito quando soube que, a0 mandar seus papéis para Darwin, ele fora 0 “meio inconsciente que fez com que [Darwin] se concentrasse na tarefa” para completar um dos livros mais importantes da historia (Wallace, apud Raby, 2001, p. 141-142).? Depois de ler o livro de Darwin, Wallace escreveu a um amigo que “Jamais teria me igualado a totalidade desse livro, seu enorme actimulo de evidéncia, sua impressionante argumentacao, e seu admiravel tom e espirito. (...) Sr. Darwin criou uma nova ciéncia.” Em uma nota pessoal a Darwin fez elogios semelhantes e guardou a resposta que Ihe foi enviada. Darwin respondeu “Com quanta nobreza vocé trata dessa falha da humanidade. Mas vocé fala com modéstia demasiada de si mesmo; se tivesse tido as mesmas vantagens, teria feito © trabalho tao bem, ou talvez ainda melhor do que eu.” (Slotten, 2004, p. 172-173). A Origem das Espécies por meio da Selecao Natural A teoria da evolucao darwiniana ¢ tao conhecida que neste topico abordaremos apenas alguns pontos basicos. A partir do fato evidente da variacao entre os membros individuais de uma espécie, Darwin deduziu ser essa variabilidade espontanea transmitida de uma geragdo a outra. Na natureza, o processo de selegao natural resulta na sobrevivéncia dos organismos mais bem adaptados ao seu ambiente e na eliminagao dos demais. A batalha pela sobrevivéncia € constante € as formas de vida sobreviventes sao as que se adaptam ou se ajustam com éxito as circunstancias ambientais a que forem expostas. Resumindo, as espécies que nao se adaptam nao sobrevivem. Darwin formulou as ideias sobre a luta pela sobrevivéncia e a “sobrevivéncia do mais apto” apés a leitura de Essay on the principle of population (1789), de autoria do economista Thomas Malthus, no qual observou que o suprimento de alimentos tende a crescer em propor¢ao aritmética, enquanto a populacdo humana, em progressio geométrica, O resul- tado inevitavel seria, como Malthus descreveu em tom melancdlico, muitos seres huma- nos vivendo praticamente em condicdes de inani¢&o. Somente os mais fortes, espertos e adaptaveis sobreviveriam.? Darwin aplicou o principio malthusiano a todos os organismos humanos para desenvol- ver a sua teoria da selecao natural. Esses seres vivos que sobrevivem a batalha e atingem a maturidade tendem a transmitir aos seus descendentes as mesmas habilidades e vantagens que Ihes permitiram prosperar. Além disso, como a variacao é uma das leis gerais da here- ditariedade, a prole também apresenta variagOes; alguns descendentes acabam tendo suas boas qualidades mais desenvolvidas que as dos pais. As qualidades tendem a sobreviver e, a0 longo de varias geracées, ocorrem mudangas que podem ser bastante significativas a ponto de produzirem as diferencas observadas hoje entre as espécies. ‘A selecao natural nao foi o tinico mecanismo de evolucao reconhecido por Darwin. Ele também concordava com a doutrina de Lamarck de que as modificagdes na forma, derivadas da experiéncia durante 0 ciclo de vida do animal, podem ser transferidas as geracdes subsequentes. Em 15 de abril de 2000, a Sociedade Linneana passou a cuidar da Iépide de Wallace, como forma de hamenagear os seus feitos. 130. Historia DA PsicoLocia MoDERNA Thomas Henry Huxley e a polémica sobre a evolucéo, A medida que os estudiosos de diversas dreas aderiam a teoria da evolugdo ou a execravam, 0 Proprio Darwin permanecia a parte e nao se interessava em participar das ctescentes discusses, Thomas Henry Huxley (1825-1895), ambicioso bidlogo que foi a forga diretriz no estabelecimento de cigncia inglesa‘, estava disposto a se envolver nas polémicas e foi um dos defensores mais vidos da teoria. Darwin chamava Huxley de seu “bom e gentil agente propagador do evangelho [da evolucao]” (apud Desmond, 1997, p. xiii). Huxley era um orador eloquente e carismatico ¢ tinha prazer em debater com os inimigos da ciéncia, agora inimigos da evolugao. Era dotado de enorme apelo popular, principalmente entre os operarios. Para eles, Huxley pro- mowia a ciéncia como uma nova religiéo, um novo caminho para a salvacao. O bidgrafo de Huxley disse: “Operdrios barbudos com as maos calejadas acotovelavam-se para ouvir fous discursos. (..) Ele arrebanhava multiddes semelhantes as que vemos hoje em encon- 70s evangélicos ou apresentagdes de bandas de rock” (Desmond, 1997, P- XVii). As pessoas Parevam-no na rua para pedir autgrafo e os taxistas nao Ihe cobravam a couride. No periodo de um ano ap6s a publicacao de On the origin of species, a British Associa- Gefensores de Darwin pressionavam-no a participar do debate, no entanto ele nao suporta- Va a ideia de ter de se defender em puiblico. Seus amigos insistiam ¢ a situagao tornava-se insustentavel. Finalmente, escreveu um bidgrafo, “Seu estémago 0 salvou. Dois dias antes da reuniao sua satide deteriorou-se completamente. Uma crise como essa nunca fora tao bem-vinda” (Browne, 2002, p. 118). No encontro, os oradores foram Huxley, defendendo Darwin e a evolucao, e 0 bispo Samuel Wilberforce (apelidado de Soapy Sam [Sam, 0 Chato] Por causa dos seus intermi- naveis discursos), que defendia a Biblia. Com relacdo as ideias de Darwin, [Wilberforce] se felicitava (..) por nao descender de fede naaco. Velo a resposta de Huxley: “Se tivesse de escolher, preferiria ser descenden. Outro orador no debate em Oxford foi Robert Fitzroy, 0 capitao do navio Beagle duran- fe a viagem de Darwin. Fitzroy declarava-se culpado por ajudar na pesquisa de Darwin, aprovando a sua selecao para fazer parte da excursao como naturalists (apesar do formato do seu nariz). Fitzroy agitava a Biblia, enquanto conclamava o ptiblico a acreditar na pala- vra de Deus, expressando seu profundo pesar e arrependimento Por ter proporcionado a Darwin a oportunidade de coletar dados para o desenvolvimento da sua teoria. Ninguém Stiava interessado em ouvir as lamentagdes de Fitzroy. “A sala permanecia em siléncio’, declarou 0 bidgrafo de Darwin, e, por fim, Fitzroy “afundou-se em seu assento sem prati- camente ser ouvido” (Browne, 2002, p. 123). Ntzroy tinha tido uma vida dificil desde a viagem do Beagle. Apés servir 0 Parlamento, eum periodo curto ¢ ndo bem-sucedido como governador da Nova Zelandia, retornou a Inglaterra para se dedicar ao estudo da meteorologia. “Desenvolveu as tecnicas fundamentais de previsdo do tempo [e] inventou o sistema de avisos e sinais anunciando tempestades que lum bidloga famoso, e Aldous Huxley, um escritor e critico, autor do Entre os netos de Huxlay estao Julian Huxley muna novo), publicado em 1932. romance futurista Brave new world (O admins CAPITULO 6 FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 131 salvaram intimeras vidas nas décadas que se seguiram, ¢ foi o responsavel pela publicagao de previsées didrias de tempo. Na verdade, ele inventou o termo ‘previsao do tempo” (Gribbin e Gribbin, 2004, p. 5). Mas sua obsessao Ihe custou a fortuna da familia. Ticou também bastante atormentado com o papel que teve em habilitar Darwin a produzir a teoria da evolucto. Ele estava convicto que se nao Tivesse escolhide Darwin para acompanhé-lo na viagem no Beagle, a teoria nao teria surgido. Quando Darwin Ihe enviou uma cOpia do On the origin of species, ele respondeu que “ndo conseguia achar nada cnobrecedot ser descendente do mais antigo dos macacos” (apud Nichols, 2003, p. 311) ‘Cinco anos depois do debate em Oxford, em um domingo de manha no meio de sua preparacdo para ir a igreja, 0 pensativo capitdo suicidow-se cortando sua garganta com ima lamina, A Sra. Darwin escreveu que seu marido “havia sentido muito 0 acontecido com Fitzroy, mas que no estava nada surpreso. Lembrou-se de uma ocasi#o em ave ele [Fitzroy] quase enlouqueceu na viagem no Beagle” (apud Browne, 2002, p. 264). Posterior mente Darwin enviou uma considerével quantia de dinheiro a vitiva desamparada. Outros trabalhos de Darwin, O segundo importante trabalho sobre a evolucao, The descent of man (1871), reunia as provas da evolugao humana a partir das formas de vida mais simples, enfatizando a semelhanca entre os processos mentais humanos ¢ animais. O livro rapidamente ganhou popularidade, e um famoso escritor de revista ressaltou: “Na sala de estar, 0 livro compete com o mais recente romance; na sala de estudos, incomoda como o homem da ciéncia, 0 moralista e 0 tedlogo. De todos os lados escorsem enxurtae Gas mistas de 6dio, admiracao ¢ encantamento” (apud Richards, 1987, p. 219). Darwin realizou um estudo intensivo sobre as expresses emocionais nos humanos € nos animais, Sugeriu que as mudancas dos gestos e das posturas tipicas de varios estados cmocionais podiam ser interpretadas com base no evolucionismo. Na obra The expression of the emotions in man and animals (1872), explicou as expressoes emocionais como vesti- gos dos movimentos que em dado momento tiveram alguma funcao pritica. Darwin alegava que as express6es faciais ¢ a chamada linguagem corporal eramm smanifestag6es inatas e incontrolaveis” dos estados emocionais internos. Por exemplo, a dor era acompanhada de trejeitos e 0 prazer, de um sorriso. Darwin afirmava que ese tipos de expressoes humanas ¢ de outras espécies animais surgiam por meio da evolugao. Seu bidgrafo relatou: “As expressdes que surgem nos rostos humanos eram, para ele, uma prova viva e didria da ancestralidade animal” (Browne, 2002, p. 369). Darwin também deu uma pequena contribuigao para a literatura psicol6gica infantil com o diario sobre seu filo. Ele registrou cuidadosamente o desenvolvimento da crianca ¢ publicou o material intitulado “A biographical sketch on an infant” (1877) na revista Mind. diario ¢ um importante precursor da psicologia do desenvolvimento, um exemplo da tese de Darwin de que as criangas passam por uma série de estagios do desenvolvimento paralelos aos estagios da evolugao humana. A Evolucdo em Andamento: 0 Bico dos Tentilhoes Darwin realizou varias de suas observagoes a respeito da variacdo entre as espécies quan- ba cateve nas Ilhas Galépagos, no Oceano Pacifico, préximo a costa da América do Sul. Observou como os animais da mesma espécie haviam evoluido de formas diferentes em resposta as diversas condigées ambientais. 132 HisTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA Seguindo os passos de Darwin, os bidlogos Peter e Rosemary Grant, da Princeton University, acompanhados de um grupo dedicado de estudantes de pos-graduacao, visi- taram as ilhas para monitorar as modificagdes encontradas nas geracdes subsequentes de 13 espécies de tentilhdes, decorrentes da adaptacao dos passaros as drasticas mudangas ambientais. O programa da pesquisa comecou em 1973 e durou mais de 30 anos. Os Pesquisadores testemunharam a evolucdo em andamento, observando as diferengas nas pequenas aves cantoras de uma geracao a outra. Os Grants chegaram a conclusio de que Darwin havia subestimado a forga da sele¢ao natural. No caso dos tentilhdes, a evolucao era mais rapida do que se imaginava. As variacoes observadas em uma espécie de tentilhao iniciaram durante um rigoroso periodo de seca que afetara o suprimento alimentar das aves, reduzindo-o a pequenas sementes duras e pontiagudas. Somente os tentilhées de bicos mais grossos, cerca de 15% da populagao, eram capazes de quebrar para abrir as sementes. Muitas aves de bicos finos nao conseguiam abrir as sementes e logo morriam. Portanto, sob essas condicgdes de seca, 0s bicos mais grossos eram ferramentas necessarias para a adaptacao. Quando essas aves de bicos mais espessos se reproduziam, sua ninhada também herdava essa caracteristica, com bicos de 4% a 5% maiores do que os dos seus ancestrais antes da seca. Em apenas uma geragao, a selecao natural produzira uma espécie mais bem adaptada e forte. Logo vieram as chuvas, com enormes tempestades e enchentes que varreram da ilha as sementes gratidas, deixando apenas as mitidas como fonte de alimentagdio dos passaros. Agora as aves de bicos mais grossos estavam em desvantagem, pois nao conseguiam pegar a quantidade adequada de comida. Era nitida a necessidade de bicos mais finos para a sobrevivéncia. A partir dai, é facil deduzir o que aconteceu. Peter Grant escreveu: “A sele- ¢40 provocou uma verdadeira revolugao na vida dos passaros. As aves maiores, com bicos grandes, estavam morrendo enquanto as aves pequenas, com bicos menores, estavam se desenvolvendo. A selecao mudou rapidamente de lado” (apud Weiner, 1994, p. 104). Na geracao seguinte, 0 tamanho médio do bico era menor. Uma década mais tarde, como consequéncia da seca entre 2003-2004, observou-se outta evolucdo no tamanho do bico, em resposta aquele ambiente modificado (Grant e Grant, 2006). Mais uma vez a espécie havia evoluido, adaptando-se as mudangas do seu ambiente. Assim como Darwin previra, apenas os mais aptos sobreviveram. 0 elo perdido? Em 2006, cerca de 147 anos depois da publicacao de On the origin of the species, um grupo de cientistas dos Estados Unidos descobriu diversos fésseis em uma ilha remota do Canada, ao norte do Circulo Artico. Acredita-se que os fosseis encontrados eram os restos do esqueleto de um peixe enorme, medindo quase trés metros de compri- mento, e foi considerado 0 tio procurado elo perdido - isto é, um peixe no processo de evolugao para se tornar um animal terrestre (Daeschler, Shubin e Jenkins, 2006; Shubin, Daeschler e Jenkins, 2006). Os fésseis, que se acreditava ter 275 mil anos, tinham todas as caracteristicas de peixe, como barbatanas e escama, e também mostravam evidéncia de membros em formagao. Tinham ‘sss que correspondiam ao ombro, parte superior dos bracos, cotovelo e tracos semelhan- tes ao punho, desconhecidos em outras espécies de animais. Essas descobertas forneceram suporte adicional as ideias de Darwin sobre a transiciio de uma espécie para outra. Cariruto 6 — FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 133 Alnfluéncia de Darwin na Psicologia © trabalho de Darwin, bem no final do século XIX, jnfluenciou a psicologia contempo- ranea, mediante: « oenfoque na psicologia animal, que formou a pase da psicologia comparativa; « Genfase nas funcoes endo na estrutura da consciéncia; + Jaceitacio da metodologia e dos dados de diversas areas; +o enfoque na descricao e mensuragao das diferencas individuais. ‘A teoria da evolugao suscitou a intrigante possibilidade da continuidade do funcio- namento mental entre 0s humanos e os animais inferiores. Se a mente humana fosse uma evolugdo das mentes mais primitivas, entdo sera que haveria semelhangas entre funcionamento mental dos animais € dos homens? Dois séculos antes, Descartes insis- tira haver uma diferenga entre © funcionamento humano e o animal. Agora a questio voltava a tona. (Os psicdlogos perceberam @ importancia do estudo do comportamento animal para a compreensao do comportamento humano e concentraram a pesquisa NO funcionamento mental dos animais, introduzindo um nove t6pico no laboratorio de psicologia. Ainvesti- gagio da psicologia animal viria exercer grande impacto no desenvolvimento da area. "A teoria da evolucao provocou também uma mudanca no objeto de estudo ena meta da psicologia. O enfoque da escola de pensamento estruturalista era a andlise do contetido da consciéncia. O trabalho de Darwin inspirou alguns psicélogos que trabalhavam nos Estados Unidos a analisarem as funcoes ‘da consciéncia. Para alguns pesquisadores, ess enfoque pareceu mais importante do que a descoberta de qualquer elemento estrutural da consciéncia. E assim, gradualmente, 3 medida que a psicologia se dedicava mais a0 estudo do funcionamento do ser humano e dos animais na adapta¢ao ao seu ambiente, a investigacio detalhada dos elementos ‘mentais, iniciada por Wundt e Titchener, perdia o seu apelo. ‘As ideias de Darwin influenciaram @ psicologia, ampliando os métodos que essa nova ciéncia passara a usar com legitimidade. Os métodos empregados no laboratério de ‘Wundt, em Leipzig, foram derivados principalmente da fisiologia, mais especificamente dos métodos psicofisicos de Fechner. Os métodos de Darwin, que produziam resultados aplicaveis tanto nos seres humanos como nos animais, nao tinham qualquer semelhanga com as técnicas paseadas na fisiologia. Os dados de Darwin foram obtidos de diversas fon- tes, incluindo a geologia, a arqueologia, a demografia, as observagées de animais selvagens e domésticos e a pesquisa com reproducao. Foram as informacGes obtidas de todos esses campos que deram suporte 4 sua teoria. Essa foi uma prova tangivel e impressionante da possibilidade de os cientistas estuda- rem a natureza humana adotando técnicas que nao a introspec¢ao. experimental. Seguindo co exemplo de Darwin, 0s psicdlogos que aceitavam a teoria evolucionista ¢ sua énfase nas funcoes da consciéncia tornaram-se mais ecléticos em relagéo aos seus métodos de pesquisa, expandindo, assim, os tipos de informacées obtidos. (Outro efeito da evolucao na psicologia Foi o crescente enfoque nas diferencas indivi- duais, Durante a viagem do Beagle, Darwin observou varias espécies e formas, de modo que, para ele, era evidente a variacao entre 05 ‘membros da mesma espécie. Se cada geracao fosse fdéntica aos seus ancestrais, nao haveria evolucao. Portanto essas variagbes, Ou Se] essas diferencas individuais, consistiam em um principio importante do evolucionismo. 134 HistORIA DA PsICOLOGIA MODERNA, Enquanto os psicélogos estruturalistas continuavam a buscar as leis gerais que abranges- sem toda a mente, os psicdlogos influenciados pelas ideias de Darwin procuravam as dife- tengas mentais individuais ¢ logo apresentaram técnicas para medir essas diferencas. O material a seguir foi extraido da autobiografia de Darwin. Essa passagem nao se refere 4 sua pesquisa ou a sua teoria, mas trata-se da imagem que ele tinha de si proprio € sua opiniao sobre as qualidades pessoais que o levaram ao sucesso. Texto Original Trecho Extraido de The Autobiography of Charles Darwin (1876) Meus livros tiveram boa vendagem na Inglaterra, foram traduzidos para varios idiomas e passaram por varias edicdes em outros paises. Ouvi dizer que o sucesso de um trabalho no exterior 6 0 melhor teste para verificar seu valor perene. Tenho diividas se, afinal, essa afir- Macao é digna de confianca; todavia, a julgar por esse padrao, o meu nome deve perdurar Por alguns anos. Portanto, talvez seja de valia tentar analisar as qualidades mentais e as con- dicées das quais dependeu o meu sucesso, embora ciente de nao haver homem capaz de fazé-lo corretamente. No sou dotado de grande rapidez de apreensao ou sagacidade, que é notavel em alguns homens inteligentes como, por exemplo, Huxley. Considero-me, assim, um mau critico: quando leio pela primeira vez um trabalho ou um livro, normalmente ele suscita a minha admiracdo e somente depois de muita reflexdo é que percebo os pontos fracos. Minha capacidade de seguir uma linha de pensamento extensa e puramente abstrata é bastante limitada e, portan- to, nunca teria &xito na metafisica ou na matematica. Minha memoria é boa, porém vaga: suficiente para me alertar, indicando-me morosamente ja ter eu observado ou lido algo que contradiga a conclusao a que estou chegando ou, de modo contrario, a favoreca; e depois de algum tempo, geralmente sou capaz de lembrar-me onde buscar 0 embasamento necessario Em certo sentido minha memoria é tao fraca, que jamais fui capaz de memorizar por alguns dias uma Unica data ou um verso de um poerna. (...) Do lado favoravel da balanca, creio ser superior aos homens comuns no aspecto de obser- var algo que facilmente escapa da atencao, analisando-o cuidadosamente. Minha dedicacao ao trabalho de observacao e a coleta dos fatos chega praticamente ao extremo. O meu amor firme e ardente pela ciéncia natural 6 0 mais importante. Esse amor puro, no entanto, tem sido alimentado pela ambicdo de ser estimado por meus colegas naturalistas. Desde a juventude, sinto 0 profundo desejo de compreender ou explicar tudo que observo, ou seja, de agrupar todos os fatos sob algumas leis gerais. Essas causas combinadas proporcionaram-me paciéncia para refletir ou ponderar por quanto tempo fosse necessario a respeito de qualquer problema inexplicavel. No que me concerne julgar, no tenho capacidade para seguir cegamente outros homens. Tenho me dedicado com fir. meza para manter minha mente livre de modo a renunciar a qualquer hipétese, mesmo que muito querida (e nao resisto a criar uma sobre qualquer assunto), assim que se apresentem fatos que a desmintam. De fato, nao possuo outra alternativa senao agir dessa forma, pois, com excecao dos Coral Reefs, nao tenho lembranca de uma Unica primeira hipotese que nao tenha sido, depois de algum tempo, renunciada ou bastante modificada. Isso me conduziu, naturalmente, a rejeitar totalmente o raciocinio dedutivo nas ciéncias mistas. Por outro lado, CAPITULO 6} FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 135 ndo sou tao cético, uma caracteristica da mente que creio ser um insulto para o progresso da ciéncia. Uma boa dose de ceticismo ao cientista € aconselhavel para evitar muita perda de tempo, [mas] conheci no poucos homens que, sinto com certeza, varias vezes foram assim dissuadidos da experiéncia ou das observacGes que poderiam provar-se direta ou indireta- mente validas (...) Meus habitos s40 metddicos e essa qualidade vem se mostrando bastante eficaz para a minha linha particular de trabalho. Ultimamente, venho tendo amplo lazer por nao ter de obter meu préprio sustento. Até mesmo o meu estado de enfermidade, embora aniquilando varios anos da minha vida, salvou-me das distracdes e divertimentos sociais. Portanto, 0 meu sucesso como um homem da ciéncia, aonde quer que ele tenha me levado, foi determinado, de acordo com o meu julgamento, por condigdes e qualidades mentais diver- sificadas e complexas. Dentre essas caracteristicas, as mais importantes séo 0 amor a ciéncia, a paciéncia irrestrita para longas reflexdes sobre qualquer assunto, 0 trabalho dedicado na obser- vacao e coleta dos fatos e uma fatia razoavel de criatividade, além do senso comum. Com essas modestas habilidades que possuo, é realmente surpreendente que eu houvesse influenciado tao extensamente a crenca dos homens da ciéncia em alguns pontos importantes. Diferencas Individuais: Francis Galton (1822-1911) © trabalho de Galton a respeito da heranca mental e das diferengas individuais da capacidade humana incorporou efetivamente 0 espirito da evolugao na nova psicologia. Antes dele, 0 fend- meno das diferengas individuais quase nao era considerado um tema adequado para estudo. Um dos poucos cientistas pioneiros a reconhecer as diferengas individuais nas habi- lidades e nas atitudes foi 0 médico espanhol Juan Huarte (1530-1592). Trezentos anos antes dos estudos de Galton nessa area, Huarte havia publicado um livro intitulado The examination of talented individuals (O exame dos individuos talentosos), em que apresentava uma grande variedade de diferencas individuais da capacidade humana (apud Diamond, 1974). Huarte sugeria que as criancas comecassem a estudar desde cedo para que a educa- aio pudesse ser planejada individualmente de acordo com as suas habilidades. Por exem- plo, mediante uma avaliaco adequada, seria oferecida ao aluno com aptidao musical a oportunidade de estudar mtisica e as disciplinas afins. O livro de Huarte teve alguma repercussao, no entanto suas ideias nao eram formalmen- te seguidas antes de Galton. Embora Weber, Fechner e Helmholtz houvessem observado as diferencas individuais nas pesquisas experimentais, nao investigaram sistematicamen- te essas descobertas. Além disso, Wundt e Titchener sequer consideravam as diferengas individuais como parte legitima do estudo da psicologia. A Biografia de Galton Francis Galton era dotado de extraordindria inteligéncia (um QI estimado de 200) e riqueza de ideias originais. Entre alguns dos tépicos da sua pesquisa estao as impress6es digitais (que a policia acabou adotando para a identificacao criminal), a moda, a distribuigao geo- grafica da beleza, o levantamento de peso € a eficacia da oracao religiosa. Ele inventou uma 136 HISTORIA DA PsicaLocia MODERNA verso inicial da impressora de teletipo, um dispositivo para abrir cadeados e um periscépio que o permitia olhar por sobre as cabecas das pessoas durante um desfile de rua. Galton era 0 cacula de nove filhos e nasceu em 1822, nas proximidades de Birmingham, Inglaterra. Seu pai era um banqueiro préspero cuja familia abastada e socialmente desta. cada inclufa pessoas de esferas de grande influéncia como 0 governo, a Igreja e 0 exército, Francis era uma crianga precoce que aprendia rapidamente. Um biégrafo escreveu que, aos 12 meses Galton conseguia reconhecer todas as letras maitisculas; aos 18 meses conhecia bem o alfabeto inglés e o grego e chorava se fossem retirados de sua vista; aos 2 Anos € meio leu seu primeiro livro... Aos 5 jé estava bem familiarizado com os trabalhos de Homero. (Brooks, 2004, p. 18) Aos 16 anos, pela insisténcia de seu pai, Galton comecou a aprender medicina no Birmingham General Hospital, como assistente de médico. Distribuia medicamentos, lia livros de medicina, tratava de fraturas, amputava dedos, extrafa dentes, aplicava vacina has criancas € divertia-se lendo 0s classicos da literatura. No geral, entretanto, néo achava uma experiéncia prazerosa e continuava somente por pressao do pai. Um incidente ocorrido durante o aprendizado médico de Galton é um exemplo da sua Curiosidade. Desejando conhecer 0s efeitos dos diversos medicamentos da farmécia, ele Passou a tomar pequenas doses de cada um e a anotar a sua reacao, iniciando, de forma sistematica, com os que comecavam com a letra “A”, Essa aventura cientifica teve fim na letra “C”, quando tomou uma dose de leo de croton, um forte laxante, Depois de um ano no hospital, continuou seus estudos de medicina no King's College, em Londres. No ano seguinte mudou os planos e matriculou-se no Trinity College, da Cambridge University. Ali, diante do olhar do busto de sir Isaac Newton, procurou seguir seu interesse pela matematica. Embora seu trabalho houvesse sido interrompido por um Profundo surto mental, conseguiu formar-se. Retomou 0 odioso estudo da medicina, até que a morte do seu pai finalmente o libertou daquela profissio. Nesse momento, a viagem ea exploracao chamavam a atencao de Galton. Viajou por toda a Africa fazendo viagens dificeis ¢ perigosas para areas onde homens brancos jamais tinham visitado. Ble achou tudo muito empolgante e animador, exceto talvez por um incidente contado por seu bidgrafo: 56 ¢ longe de casa, parece que Galton possa ter superado sua timidez e procurou os serv de uma prostituta. Sua coragem foi retribuida com uma grande dose de doenca venérea due © perseguiu intermitentemente por muitos anos. Quer seja verdade ou no, a sua atitude em relacdo 3s mulheres esfriou notadamente depois de 1846, 0 ano em questo. (Brookes, 2004, p. 60) Quando voltou para a Inglaterra publicou historias sobre suas viagens, que Ihe rende- ram uma medalha da Royal Geographic Society [Sociedade Real de Geografia]. Na década de 1850, parou de viajar, alegando como causas o casamento e a satide frigil, mas manteve 0 interesse pela exploracao ¢ escreveu um famoso guia intitulado The art of travel. © livto fez tanto sucesso que foi publicado em oito edigdes, em oito anos, ¢ reimpresso em 2001. Galton também organizava expedigoes para exploradores e dava orientagoes sobre a vida no campo a soldados em treinamento para servirem em pais estrangeiro. Sua inquietacdo mental 0 conduziu em seguida a meteorologia e a criagao de instru- mentos para coletar informac6es meteorolégicas. Seu trabalho nesse campo resultou no Cariruo 6 FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS AnTERIORES 137 desenvolvimento do tipo de mapa meteoroldgico utilizado até oie. Galton resumiu suas Geecobertas em um livro considerado a primeira tentativa de cartografar em grande esca- la os padroes de meteoros. ‘Quando seu primo Charles Darwin publicou On the origin of species, Galton ficou fas- cinado pela nova teoria. Escreveu, dizendo que 0 livro “marcou! época no meu proprio desenvolvimento mental, assim como no pensamento humano ém geral” (apud Gillham, 2001, p. 155). 0 primeiro ponto a chamar sua atengao foi o aspecto biolégico da evolucao, « assim ele realizou uma pesquisa sobre os efeitos das transfusbes de sangue entre os coe- thos para descobrir se as caracteristicas adguiridas seriam herdadas. Embora seu interesse pelo lado genético do evolucionismo nao houvesse durado muito tempo, as implicagdes ciais da teoria direcionaram seu trabalho subsequente e determinaram sua influéncia na psicologia moderna. AHeranca Mental © primeito livro importante de Galton para a psicologia foi Hereditary genius (1869). Quando Darwin o leu, escreveu a Galton, dizendo nunca ter lido algo tao interessante e original. Galton procurou demonstrar que a grandeza ou a genialidade individuais ocorriam com tanta frequéncia dentro das familias que a mera explicacao da influéncia ambiental ndo era suficiente. Resumindo, sua tese afirmava que um homem notdvel teria filhos homens notaveis (naquele tempo, as filhas tinham poucas oportunidades de se destacarem, a nao ser por meio de um casamento com algum homem importante). ‘A maioria dos estudos biogréficos descritos por Galton em Hereditary genius eta pes quisas sobre os ancestrais de influentes cientistas e médicos contemporaneos. Os dados Gemonstravam que uma pessoa famosa herdava ndo apentas a genialidade, como também sua forma especifica. Por exemplo, um grande cientista nascia em wma familia que j4 se houvesse destacado na ciéncia. O objetivo de Galton era incentivar 0 nascimento de individuos mais notaveis ou mais aptos na sociedade e desencorajar 0 nascimento dos inaptos. Para essa finalidade, fundou a ciéncia da “eugenia”, palavra por ele cunhada. Eugenia, ele afirmou, lida com as “questoes relacionadas com 0 termo grego, Eugenes, isto é, de boa estirpe, hereditariamente dotado de qualidades nobres” (apud Gillham, 2001, p. 207). Galton desejava impulsionar o aperfeigoamento das qualidades herdadas da raca humana. Argumentava que os seres jumanos, assim como os animais de criagio, podiam ter as caracteristicas melhoradas mediante a selecdo artificial. Se as pessoas de muito talento fossem selecionadas e acasa- ladas geracdo apés geracio, o resultado seria uma raga humana extremamente talentosa. Propos o desenvolvimento de testes de inteligencia para selecionar homens e mulheres brilhantes, destinados a reprodugao seletiva, e recomendou que 0S melhores recebessem jncentivos financeiros para se casarem e procriarem.’ Na tentativa de verificar sua teoria da eugenia, Galton estudou problemas de mensura- cdo e de estatistica. Para 0 livro Hereditary genius, aplicou conceitos estat{sticos a problemas de hereditariedade, classificando os homens extraordinarios de sua amostragem em cate- = Galton nunca teve filhos. © problema pode ter sido resultado da doenca que contaly n2 Africa, ou pode ter sido genético. 138 HisTORIA DA PSICOLOGIA MoneRNA, gorias, conforme a frequéncia com que seus niveis de capacidade ocorriam na Ppopulagao. Os dados comprovaram que os homens notaveis apresentavam maior probabilidade de terem filhos extraordinarios do que os homens comuns. A amostragem consistia em 977 homens famosos, cada um tao notavel que a proporgdo era de 1 para cada 4.000 homens. Aleatoriamente, a expectativa seria de haver no grupo apenas um parente importante; no entanto havia 332. A probabilidade de superioridade em algumas familias nao era alta o suficiente para Galton aceitar seriamente qualquer possibilidade de influéncia de um ambiente superior, como melhores oportunidades educacionais ou vantagens sociais. Seu argumento era de que a eminéncia ou a sua auséncia deviam-se exclusivamente a uma fun¢ado hereditaria, e nao a oportunidade. Galton escreveu também English men of science (1874), Natural inheritance (1889) e mais 30 trabalhos a respeito da hereditariedade. Publicou a revista Biometrika, fundou 0 labo- ratorio de eugenia na University College, de Londres, e uma organizacao para promover Suas ideias acerca do aperfeicoamento das qualidades mentais da raca humana. No trecho a seguir, extraido de Hereditary genius, Galton discute os limites do desen- volvimento tanto fisico como mental impostos pela hereditariedade. Ele obsecva que nenhum tipo de esforco, mental ou fisico, possibilita que uma pessoa avance além de suas caracteristicas genéticas, Texto Original Trecho Extraido de Hereditary Genius: an Inquiry into Its Laws and Consequences (1869), de Francis Galton Nao tenho como admitir a hipétese ocasionalmente expressa, e muitas vezes implicita, prin- cipalmente nas historias escritas a fim de ensinar as criancas a serem boas, de que os bebés recém-nascidos so muito parecidos e que os Unicos agentes a criarem as diferencas entre dois garotos e entre dois homens sejam a rigida aplicacao e 0 esforco moral. £ da maneira mais incondicional que faco objecao contra as pretensdes da igualdade natural. As experién- clas do bercario, da escola, da universidade e das carreiras profissionais formam uma cadeia de provas contrarias. Admito francamente o enorme efeito da educacao e das influéncias Sociais no desenvolvimento dos poderes ativos da mente, assim como reconheco 0 efeito do uso no desenvolvimento dos musculos do braco de um ferreiro e nada mais. Deixe o ferreiro, simplesmente trabalhar, e ele descobrir que existem algumas proezas acima do seu poder Que séo convenientes para a forca de um homem de feitio herctileo, embora possa ter tido uma vida sedentaria, (...) Todo aquele que se exercita fisicamente descobre a magnitude da sua forca muscular para 0 refinamento. Quando comeca a caminhar, a remar, a utilizar halteres ou a correr, descobre, Para seu deleite, que seus [musculos] se fortalecem e a sua resisténcia a fadiga aumenta dia apes dia. Enquanto € um novato, talvez se vanglorie da inexisténcia de um limite designavel 20 treinamento dos seus musculos; todavia logo notard que o ganho didrio diminui e que, por fim, acaba desaparecendo. Seu desempenho maximo torna-se uma quantidade rigidamen- te determinada. Aprende a medir milimetricamente a sua capacidade de salto em altura ou distancia quando atinge 0 mais alto grau de treinamento. Aprende a dosar a forca que pode CaPiTuLO 6 — FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 139 aplicar no dinamémetro, comprimindo-o. E capaz de aplicar um golpe na maquina utilizada para medicdo de impacto e obter certo grau de indice, mas nada mais. £ assim na corrida, no remo, na caminhada e em qualquer outra forma de exercicio. A forca muscular humana possui um limite definido que nao pode ser ultrapassado por nenhum exercicio ou treinamento. Esse argumento é precisamente similar & experiéncia vivida por cada aluno que trabalha com a sua capacidade mental. O garoto ansioso no primeiro dia de aula, ao confrontar-se com as dificuldades intelectuais, fica maravilhado com seu progresso. Vangloria-se do desenvolvi- mento mental recém-conquistado e da sua capacidade crescente de aplicacéo e, talvez, cari- nhosamente acredite estar a seu alcance tornar-se um dos herdis que deixaram a sua marca ao longo da historia mundial. Os anos passam, ele compete repetidas vezes com os seus colegas nos exames da escola e da faculdade e logo conquista o seu lugar entre eles. Sabe que pode vencer este ou aquele concorrente; que existem alguns com quem compete em igualdade de condiges e outros com feitos intelectuais dos quais ele nem se aproxima. (...) Dessa maneira, com esperancas recém-renovadas e com toda a ambicao de um jovem de 22 anos, sai da universidade e ingressa em um campo de competicao ainda maior. Ali, o mesmo tipo de experiéncia pelo qual jé passou 0 aguarda. Surgem as oportunidades ~ elas surgem para todo homem ~e ele se sente incapaz de agarra-las. Ele tenta e é tentado de diversas maneiras. Em mais alguns anos, a menos que definitivamente cegado pela propria vaidade, aprende exatamente quais sA0 Os desempenhos de que é capaz e quais sao os que estao além da sua capacidade. Quando atinge a maturidade, é confiante apenas dentro de determinados limites e se conhece, ou deveria conhecer-se, assim como é provavelmente julgado pelo mundo, com todas as suas inconfundiveis fraquezas e todas as suas inegaveis forcas. Nao se tortura mais em realizar esforcos inUteis pelos discursos falaciasos da presuncosa vaidade, todavia limita as suas realizacGes as matérias abaixo do nivel de seu alcance e descobre o verdadeiro repouso moral na conviccao honesta de que esta enga- jedo na melhor empreitada de que é capaz de desempenhar, proporcionada pela sua natureza. Métodos Estatisticos Galton nunca ficava totalmente satisfeito com um problema até encontrar alguma maneira de quantificar os dados e analisé-los estatisticamente. Quando precisava, até desenvolvia 08 préprios métodos. Adolph Quetelet (1796-1874), um matematico belga que também era pintor, poeta e escritor, acreditava fortemente na utilidade da estatistica, “convencido de que a estatistica fornecia um insight ao comportamento humano e A compreensao da sociedade” (Cohen, 2005, p. 126). Quetelet foi o primeito a usar métodos estatisticos e a curva normal de distribuicao em dados biolégicos e sociais. A curva normal fora empregada em trabalhos acerca da distribuigao de medidas e erros na observacao cientifica, mas nao havia sido aplicada a variabilidade humana até Quetelet demonstrar que as medidas de altura de 10 mil individuos ficavam préximas da curva normal. A sua expressao I’homme moyen (© homem médio) explicava a descoberta de que a maioria das medidas fisicas ficavam distribuidas em torno da média ou do centro da distribuicdio e poucas se encontravam proximas de qualquer extremo. Galton ficou impressionado com os dados de Quetelet e presumiu que resultados simi- lares seriam obtidos para as caracteristicas mentais. Por exemplo, Galton descobriu que as notas atribuidas nos exames das universidades seguiam a curva normal. Devido 4 sim- 140 Historia DA PsicoLocia MODERNA Plicidade da curva normal e a sua consisténcia em varios tracos, ele sugeriu que qualquer Conjunto grande de medidas ou de valores das caracteristicas humanas podia set descrito Satisfatoriamente por dois ntimeros: o valor médio da distribuicdo (a média aritmética) ¢ a dispersao ou a faixa de variacdo em toro desse valor médio (0 desvio-padrao). O trabalho estatistico de Galton produziu uma das medidas cientificas mais importan- tes! @ corelacao. O primeiro relatério, utilizando 0 que ele chamou de “correlacdo”, foi claborado em 1888. As modernas técnicas estatisticas para a determinacao da validade e confiabilidade dos testes, bem como dos métodos analitico-fatoriais, so resultado direto da sua pesquisa de correlacdo, os quais foram baseados na observacao da tendéncia das caracteristicas herdadas de regressarem na direc4o da média. Por exemplo, ele observou Aue, na média, os homens de estatura alta ndo sao tao altos quanto seus pais; por outro lado, 0s filhos de homens de estatura bem baixa sao mais altos do que os pais, Ele represen- tou graficamente as propriedades basicas do coeficiente de correlagdo e criow uma formula para 0 calculo, embora nao seja mais usada. Incentivado por Galton, seu aluno Karl Pearson (1857-1936) desenvolveu a formula usada atualmente para calcular 0 coeficiente de correlacao (0 coeficiente de correlacao Produto-momento de Pearson), cujo simbolo é a letra “r” inicial da palavra “Tegressao”, como homenagem a descoberta da tendéncia dos tracos humanos herdados de regressao Para a média feita por Galton. Durante muitos anos Pearson se preocupou com a ideia de que Sua reputacao cientifica nao passaria de uma simples “nota de rodapé em uma formula (--) Esse medo tornou-se uma grande verdade” (E, Baumgartner, 2005, p. 84). A correlacao 6 uma ferramenta fundamental para as ciéncias sociais e comportamen- tais, bem como para a engenharia e as ciéncias naturais. Além disso, outras técnicas de estatistica foram desenvolvidas gracas ao trabalho pioneiro de Galton. Testes Mentais A expressao testes mentais foi cunhada por James McKeen Cattell, discipulo americano de Galton e aluno de Wundt (veja no Capitulo 8). Entretanto foi Galton quem deu origem 20 conceito de testes mentais. Ele imaginava que a inteligéncia podia ser medida com base na capacidade sensorial individual e que, quanto mais inteligente, mais alto seria o nivel de funcionamento sensorial do individuo. Galton extraiu essa ideia da visio empirista de John Locke de que todo conhecimento é adquirido por meio dos sentidos. Se Locke esti. vesse correto, as pessoas mais inteligentes teriam os sentidos mais agucados. Testes mentais: testes de habilidade motora e capacidade sensorial; os testes de inteligéncia usam medic6es mais complexas de habilidade mental. A fim de atingir seus objetivos, Galton precisava inventar um aparelho que realizasse medidas sensoriais em um grande ndmero de pessoas com rapidez e precisao. Por exemplo, Para determinar a frequéncia sonora mais alta, passivel de deteccao, inventou um apito que testou em animais e em seres humanos. Caminhava pelo zoolégico de Londres com uma bengala que tinha 0 apito afixado em uma ponta e na outra uma espécie de bexiga de bor- tacha que ele apertava para tocar o apito, enquanto observava a reacdo dos animais. O apito CAPITULO 6 — FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 141 de Galton tornou-se uma peca-padrao entre os equipamentos do laborat6rio de psicologia até ser substituido, na década de 1930, por um dispositivo eletrénico mais sofisticado. Entre outros instrumentos usados por Galton esto o fotometro, para medir a precisdo com que uma pessoa consegue encontrar dois pontos da mesma cor, um péndulo calibra- do, para medir a velocidade de reagao a luz e ao som, e uma série de pesos ordenados para medir a sinestesia ou a sensibilidade muscular. Criou ainda uma barra com varias medidas de distancia para testar a estimativa de extensao visual e conjuntos de recipientes contendo diversas substancias para testar a distingdo olfativa. Em sua maioria, os testes de Galton serviram como protétipos para equipamentos que se tornaram padrao de laboratorio. Munido de seus novos testes, Galton prosseguiu coletando uma enorme quantidade de dados. Fundou 0 Laboratério Antropométrico na International Health Exhibition [Ex- posigdo Internacional de Satide], em 1884, e mais tarde transferiu-o para © museu South Kensington de Londres. O laboratério funcionou durante seis anos e, nesse periodo, Galton, coletou dados de mais de 9 mil pessoas. Ele arrumava os instrumentos para as medidas psicométricas e antropométricas sobre uma mesa comprida, no fundo de uma sala estrei- ta, de mais ou menos 2m de largura por 11m de comprimento. Mediante o pagamento de uma pequena taxa, o visitante entrava, passava por todo o comprimento da mesa € um atendente realizava a avaliacio e registrava os dados em um cartdo. ‘Além dessas medidas mencionadas, os funciondrios do laboratorio registravam a altu- ra, o peso, a capacidade respiratéria, a forca de impulstio e compressio, a rapidez de sopro, a audi¢ao, a visdo e a percepcao cromatica. Cada pessoa passava por um total de 17 testes. 0 objetivo do programa de testes em larga escala de Galton era nada menos que a defini- cdo da variedade da capacidade humana de toda a populagao britanica para determinar seus recursos mentais coletivos. ‘Um século mais tarde, um grupo de psiclogos americans analisou esses dados (Johnson et al., 1985) e descobriu muitas correlacdes teste-reteste, indicando a consisténcia estatistica dos dados. Esses psicdlogos constatatam também que os dados forneciam informagoes acerca das tendéncias do desenvolvimento infantil, juvenil e adulto, dentro da populagao testada. As medidas como 0 peso, 0 alcance do braco, a capacidade respiratéria e a forca de compressao mostraram-se similares as descritas na literatura psicologica mais recente, exceto em relac3o A velocidade de desenvolvimento que, na época de Galton, parece ter sido um pouco mais lenta. Os psicélogos chegaram & conclusao de que esses dados continuam instrutivos. A Associacao de Ideias Galton trabalhou em dois problemas rela jonados com a area da associagao: 1. a diversidade de associagées de ideias; 2. 0 tempo de reacdo (0 tempo necessario para a producao de associacGes). Um dos métodos usados por Galton para estudar a diversidade de associagoes era cami- nhar cerca de 400m pela rua Pall Mall (em Londres, entre a Trafalgar Square e o palacio de St. James), concentrando sua atengdo em um objeto até que ele Ihe incitasse uma ou duas associag6es de ideias. ‘A primeira vez em que realizou essa experiéncia, surpreendeu-se com 0 ntimero de associagées provocadas por cerca de 300 objetos que vira. Muitas dessas associagdes eram 142 HistORia Da PsICOLOGIA MopERNA cido havia muito tempo. Ao repetir a caminhada alguns dias depois, constatou uma consideravel repeticao das associagdes ocorridas na primeira experiéncia, o que pés fim 20 seu interesse na questo. Voltou-se para as experiéncias sobre o tempo de reacao, que produziam resultados mais satisfatérios, Preparou uma lista de 75 palavras e escreveu cada qual em uma tira de papel separada. Depois de uma semana, leu uma palavra de cada ver €, com 0 cronémetro, registrou o tempo que levou para produzir duas associagoes para cada palavra. Muitas delas consistiam em Galton também ficou bastante impressionado com a influéncia dos processos de pensamento do seu inconsciente, que trouxeram para o nivel consciente incidentes que acreditava haver esquecido muito tempo atras. Disse que chegou a acreditar “que o meu melhor trabalho cerebral era totalmente independente da [consciéncia]" (apud Gillham, 2001, p. 221). Escreveu sobre a importancia do inconsciente em um artigo publicado na Tovishe: Bites (825), Sm Viena, Sigrsvind Bred, que tiitin ideias proprias a respeito da importancia do inconsciente, era assinante da revista ¢ foi nitidamente influenciado pelo trabalho de Galton. Jung (Capitulo 14) aprimorou a técnica para aplicé-lp na sua Pesquisa de associacéo de Palavras relativas a personalidade. Imagens Mentais Blas 2, Por exemplo, a mesa do café-da-manha daquele dia, ¢ tentassem inferir imagens, Blas eram instrufdas a relatar se as imagens eram obscuras 0u nitidas, claras ou escuras, Coloridas ou nao, e assim por diante. Para sua surpresa, 0 Primeiro grupo de pessoas, cien- tistas conhecidos, nao relatou nenhuma imagem nitida Alguns nao entenderam muito bem do que Galton estava falando, fomando uma amostragem mais ampla da populagao, Galton obteve relatos de imagens nitidas bem distintas, cheias de detalhes de cores. As imagens descritas pelas mulheres § criangas eram mais concretas e detalhadas. Utilizando-se ta anilise estatistica, Galton descobriu que as imagens mentais, assim como muitas outras caracteristicas humanas, estavam distribuidas na populacao conforme a curva normal.« “Mais de 150 anos depois, dois psicélogas americanos repetizam o experimento de Galton, comparando a imagem Tatty dos cientistas & de alunos de faculdade. Eles nao encontisren diferengas entre 08 dois grupos. Os cientistas Gsicos e qulmicos) mestraram ampla imagem visual em resporta acre Perguntas que Galion havia feito, como 35 imagens da mesa posta para o café daquela manha (veja Brower © Schommer-Aikins, 2006), Captruto 6 — FUNCIONALISWO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 143, © trabalho de Galton sobre as imagens estava baseado na sua continua tentativa de demonstrar as semelhancas hereditarias. Descobri que a probabilidade de ocorréncia de magens semelhantes era maiot entre parentes do que entre pessoas desconhecidas. Aritmética Olfativa e Outros Tépicos 4 riqueza do talento de Galton fica evidente na variedade dos seus estudos de pesquisa. Ele chegou a se colocar no estado mental de uma pessoa que sofre de paranoia, imaginando gue todos ou tudo que via estavam 0 esplonando. Um historiador relata que quando ele quia isso durante a sua caminhada matutina, “sentia como se todo cavalo olhasse direta- mente para ele ou, desconfiadamente, dissimulasse a espionagem, simplesmente fazendo de conta que nao the prestava atencaio” (Watson, 1978, p. 328-329) No auge da controvérsia entre o evolucionismo de Darwin ea teologia fundamentalis- ta, Galton estudou a questdo com a objetividade necessaria e concluiu que, embora muitas pessoas tivessem fortes crencas religiosas, nao havia provas suficientes da sua validade. Realizou uma pesquisa sobre o poder da oracao na produgao de resultados € verificou nao ter ela eficdcia para os médicos curarem pacientes ou para os meteorologistas tentarem mudar as condigées do tempo, nem para os religiosos aplicarem-na na vida cotidiana. Aereditava haver pouca diferenca entre as pessoas possuidoras de fortes crengas religiosas eas que nao possufam, em termos de expectativa de vida, de relacionamento interpessoal ou de enfrentamento dos proprios problemas. Galton esperava que um conjunto de cren- cas mais efetivo pudesse ser estruturado em termos cientfficos, Pensava que 0 desenvol- simento de uma raga humana superior por meio da evolucao, mediante a eugenia, devia ser a meta da sociedade e nao um lugar no céu. Seu interesse na quantificagio e na analise estatistica muitas vezes se expressava No seu apego aos nmeros. Passava o tempo entre palestras e peas teatrais contando os boce- jos eas tossidas do piblico. Descrevia os resultados como uma medida do tédio- Em uma bcasido, quando um artista pintava 0 seu retrato, contou o ntimero de pinceladas: cerca de 20 mil. Um dia decidiu contar pelo cheiro e nao por néimeros, ¢ praticou bastante para poder esquecer 0 significado deles. Mas, em vez de esquecer os niimeros, atribuiu valores huméricos a0s odores, como 0 cheiro de menta, e aprendeu a adicionar e subtrair pensan- dono cheiro, Esse exercicio intelectual deu origem a um trabalho intitulado “Arithmetic by smell” ("Atitmética olfativa”), publicado na primeira edigao da revista especializada americana Psychological Review. Comentarios Galton passou 15 anos pesquisando problemas psicol6gicos ¢ seus esforcos tiveram Anh impacto significativo na diregdo da nova psicologia, embora nao fosse realmente um psicélo- go. Era uma pessoa extremamente bem dotada, cujos talento e temperamento nao ficaram eeitritos a uma tnica disciplina. Basta verificar os métodos ¢ 0 escopo do seu interessé: adaptacfo, hereditariedade versus ambiente, comparacao das especies, desenvolvimento infantile testes mentais, Seu trabalho exerceu maior influéncia na evolugao da psicologia americana do que o trabalho do fundador da disciplina, Wilhelm Wundt. 144 Historia Da PSICOLOGIA MODERNA A Psicologia Animal e a Evolucdo do Funcionalismo A teoria da evolugao de Darwin foi comprovadamente um estimulo para o desenvolvimento da psicologia animal. Antes da publicacaio de On the origin of species, nao havia razao para os cientistas se preocuparem com a mente animal, j4 que os animais eram apenas rob6s sem mente ¢ sem alma. Afinal, Descartes afirmou que os animais nao tinham qualquer semelhanga com os homens. O trabalho de Darwin alterou essa visao conformista, pois suas conclusdes apontaram para a inexisténcia de qualquer distingao evidente entre a mente humana e a animal. Assim, 0s cientistas propuseram a continuidade entre todo aspecto mental e fisico dos seres humanos e dos animais, com base na teoria de que o homem descende do animal por meio do continuo processo de desenvolvimento evolutivo. Darwin afirmou: “Nao existe diferenga fundamental entre 0 homem e os mamiferos superiores em relacdo as faculdades mentais” (1871, p. 66). E ainda, acreditava que os animais inferiores sentiam prazer e dor, alegria e tristeza; tinham sonhos e até certo grau de imaginacao. Mesmo as minhocas, afirmou Darwin, demonstram prazer ao comer, além de paixao sexual ¢ senti- mento social, sendo tudo uma prova da existéncia de alguma forma de mente animal Se fosse possivel provar a existéncia da habilidade mental nos animais, além de compro- var a continuidade entre a mente animal e a mente humana, essas evidéncias colocariam Por terra a dicotoia humano/animal defendida por Descartes. Desse modo, estava lanca- do 0 desafio para os cientistas buscarem as provas da existéncia da inteligéncia animal. Darwin defendeu suas ideias sobre a inteligéncia animal no livro The expression of the emotions in man and animals (1872), em que argumentava que o comportamento emo- cional humano deriva do comportamento herdado que um dia fora dtil aos animais mas que nao é mais relevante para o homem. Um exemplo é a expresso nos labios de uma Pessoa quando ela quer demonstrar escérnio. Darwin alegava ser esse gesto remanescente da forma como os animais enfurecidos mostravam os dentes caninos. Nos anos que se seguiram a publicacdo de On the origin of species, o tema da inteli- géncia animal ganhou popularidade, nao apenas entre a comunidade cientifica como também entre 0 publico em geral. Nas décadas de 1860 e 1870, muitas pessoas escreviam. Para as revistas populares e cientificas pedindo exemplos de comportamento animal que comprovassem habilidades mentais antes ignoradas. Histérias circulavam dando conta de feitos marcantes da inteligéncia de gatos e céles domésticos, cavalos e porcos e até de lesmas e passaros. Nem o grande experimentalista Wilhelm Wundt escapou dessa tendéncia. Em 1863, antes de tornar-se o primeiro psicélogo da hist6ria, Wundt escreveu a respeito das habili. dades intelectuais de varios seres vivos, desde besouros até castores. Fle presumia que os animais que exibissem qualquer capacidade minima sensorial também deviam ser dotados de poder de julgamento ¢ de inferéncia consciente, Na verdade, os animais simples nao deviam ser considerados inferiores ou menos inteligentes, pois diferiam dos seres huma- nos nao tanto pela habilidade como por terem recebido menos educa¢io e treinamento! Trinta anos depois, a sua generosidade em relagao a inteligéncia animal havia diminuido mas durante algum tempo sua afirmacdo juntou-se as varias que sugeriam serem os ani mais tio bem dotados quanto os seres humanos. CAPITULO 6 FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 145, George John Romanes (1848-1894) O fisiologista britanico George Romanes formalizou e sistematizou o estudo da inteligén- cia animal. Ainda crianca, foi considerado pelos pais “um perfeito idiota” (Richards, 1987, p. 334). Quando jovem, ficou impressionado com 0s trabalhos de Darwin. Tornaram-se amigos, ¢ Darwin deu a Romanes seu caderno de anotagoes sobre 0 comportamento ani- mal, Desse modo, Darwin escolheu Romanes para dar continuidade Aquele aspecto do seu trabalho, aplicando a teoria da evolucao a mente assim como ele havia aplicado ao corpo, e Romanes mostrou-se um sucessor de valor. Por ser rico, Romanes nao precisava se preocupar em ganhar a vida. © ‘nico emprego que teve foi como professor de meio periodo na University of Edinburgh, que exigia a sua presenca no total de duas semanas ho ano. Passava 0 inverno em Londres e Oxford e 0 verao na praia, onde construiu um laboratério tao bem equipado quanto o de uma universidade. Romanes publicou Animal intelligence (Inteligéncia animal) (1883), geralmente consi- derado o primeiro livro de psicologia comparativa. Coletou dados do comportamento de protozoarios, formigas, aranhas, répteis, peixes, pAssaros, elefantes, macacos e animais domésticos. Seu objetivo era demonstrar o alto nivel da inteligéncia animal ea sua seme- Ihanga com o funcionamento intelectual humano, mostrando assim a continuidade do desenvolvimento mental. Com suas palavras, Romanes desejava demonstrar que “ndo ha diferenga de modalidade entre os atos racionais executados pelo caranguejo e qualquer ato racional humano” (apud Richards, 1987, p. 347). Romanes desenvolveu 0 que chamou de “escada mental”, em que ordenava as varias espécies animais por grau de funcionamento mental (Tabela 6.1). Observa-se na tabela que ele creditava até as formas de vida inferior (como a 4gua-viva, 0 ourigo ea lesma) um alto grau de funcionamento mental. Ele formou essas opinides, de algum modo surpreenden- tes, coletando dados por meio do método anedotico, definido como 0 uso de relatos ou narrativas de observagdes, muitas vezes casuais, sobre o comportamento animal. Muitos dos relatos foram de observadores nao-treinados ¢ acriticos, cujas observagdes poderiam ser parciais e negligentes. Tabela 6.1 Escala de Funcionamento Mental de Romanes Espé Nivel de desenvolvimento intelectual Chimpanzés, caes Moralidade indefinida Macacos, elefantes Uso de ferramentas Passaros Reconhecimento de figuras, compreensao de palavras Abelhas, vespas Comunicacio de ideias Répteis Reconhecimento de pessoas Lagostas, caranguejos Racional Peixes Associagao por similaridade Lesmas, lulas Associacaio por contiguidade Estrela-do-mar, ourico-do-mar Memoria Agua-viva, anémona marinha Consciéncia, prazer, dor Nota: Adaptado de Feral children and clever animals: reflections on human nature (p. 192), de D. K. Candland, 1993, Nova York: Oxford University Press. 146 HISTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA Método anedético: utilizacao dos relatos de observacao sobre o comportamento animal. Romanes desenvolveu essas definigdes a respeito da inteligéncia animal com base nas observacGes anedéticas obtidas por meio de uma técnica curiosa chamada introspeccao por analogia, que acabou sendo descartada. Nessa abordagem, os pesquisadores partem do principio de que os mesmos processos mentais que ocorrem em suas mentes ocorrem na mente dos animais observados. Assim, presume-se a existéncia de uma funcao men- tal especifica, observando-se 0 comportamento do animal e criando-se uma analogia, seja por alguma correspondéncia seja por relagao, entre os processos mentais humanos conhecidos e os processos que, deduz-se, estejam ocorrendo na mente do animal. Para comecar, com base no conhecimento subjetivo das operagoes da minha mente e das atividades que essas operacOes parecem indicar em meu organismo, sigo por analogia para deduzir, a partir das atividades observaveis demonstradas por outros organismos, o fato de que certas operacdes mentais sustentam ou acompanham esas atividades. (Romanes, apud Mackenzie, 1977, p. 56-57) Com a técnica da introspeccao por analogia, Romanes sugeria que 0s animais eram capazes de realizar os mesmos tipos de racionalizacao, ideagao, raciocinio complexo, processamento de informacio e solugao de problemas que os humanos. Alguns de seus seguidores credi- tavam aos animais niveis de inteligéncia muito superiores ao do ser humano médio. Introspeceao por analogia: técnica para estudar 0 comportamento animal, partindo-se do principio de que os processos mentais ocorridos na mente do observador também ocorrem na mente do animal. Romanes acreditava que, excluindo o macaco ¢ o elefante, o gato era o animal mais inteligente. Escreveu muito sobre o comportamento do gato que pertencia ao seu motorista. Realizando varios movimentos intrigantes, o gato era capaz de abrir as portas fechadas que conduziam ao estabulo. Empregando a introspeccao por analogia, Romanes concluiu que: Nos casos como esse, os gatos tm uma ideia perfeitamente definida das propriedades meca- nicas de uma porta; sabem que, para abri-la, mesmo quando destrancada, tém de empur- ré-la, (...) Primeiro, 0 animal deve ter observado que a porta é aberta pela mao que segura a maganeta e move 0 trinco. Em seguida, deve raciocinar, pela “Idgica dos sentimentos’, que, se a mao é capaz de fazer isso, por que nao a pata? (...) O ato de empurrar com a pata traseira apés baixar o trinco deve-se a razOes de adaptacao. (Romanes, 1883, p. 421-422) O trabalho de Romanes empregava métodos muito aquém do rigor cientifico moder- no e, muitas vezes, a divisao entre a interpretacao factual e a subjetiva de seus dados nao era clara. Todavia, embora os cientistas reconhecessem a deficiéncia dos seus dados e métodos, ele era respeitado pelos esforcos pioneiros, incentivando o desenvolvimento da psicologia comparativa e abrindo caminho para 0 estudo do comportamento animal. Em diversas areas da ciéncia, a -utilizagao de dados observacionais antecede 0 clesenvolvi- Capituto 6 FUNCIONALISMO: AS INFLUENCIAS ANTERIORES 147 mento de uma metodologia experimental mais refinada. E foi Romanes quem deu inicio a0 estdgio observacional da psicologia comparativa. Loyd Morgan (1852-1936) © ponte fraco inerente aos métodos anedstico e da introspeccao por analogia foi indicado formalmente por Conwy Lloyd Morgan (1852-1936), a quem Romanes designou como seu sucessor, Morgan foi aluno de Thomas Henry Huxley e tornou-se professor de psicologia e de educacao da University of Bristol, na Inglaterra, além de ter sido uma das primeiras pessoas a pedalar uma bicicleta dentro dos limites da cidade. Também se interessava por geologia ¢ z0ologia € propés a lei da parciménia (também denominada Canone de Lloyd Morgan) para neutralizar a tendéncia predominante de atribuir excessiva inteligencia aos animais. Lei da parcimonia (Cénone de Lloyd Morgan): nocéo de que nao se deve atribuir 0 com- portamento animal a um processo mental superior, quando for possivel explica-1o em termos de um processo mental inferior. A lei da parcimOnia afirma que 0 comportamento animal nao deve ser interpretado como o resultado de um processo mental superior, quando pode ser explicado por um processo mental inferior. Morgan desenvolveu essa ideia em 1894 € pode té-la criado com base na lei da parciménia similar, descrita por Wundt dois anos antes. Wundt havia observado que “os principios explicativos complexos devem ser empregados somente quando os [princfpios] mais simples forem insuficientes” (Richards, 1980, p. 57). ‘A intencao de Morgan nao era a exclusao completa do antropomorfismo dos traba- hos sobre o comportamento animal, mas a reducao do seu uso ¢ aplicacao, de modo mais cientifico, dos métodos da psicologia comparativa. Morgan concordava com Romanes em que os relatos subjetivos eram inevitaveis, no entanto tentou manter a0 minimo as infe- réncias anedéticas no seu trabalho. Morgan disse: Com relacao as varias observagdes anedéticas de Romanes (...) noto, e sem diivida ele também notou, que ciéncia da psicologia comparativa nao deve ser construfda com t fundamentos anedoticos. A maioria das historias s40 meros registros casuais, complemen- tados por opinides amadoristicas de observacdes passageiras, cujo treinamento psicologico é praticamente desprezivel. Entdo, levanto diividas se alguém ¢ capaz de extrair da mente do animal (...) os dados exigidos para uma ciéncia. (1930/1961, p. 247-248) No geral, Morgan seguiu a abordagem de Romanes na observacao do comportamen- to de um animal e na sua explicacao por meio de uma anilise introspectiva dos proprios processos mentais, No entanto, ao aplicar a lei da parciménia, evitou atribuir processos mentais de nivel mais elevado aos animais, quando 0 comportamento podia ser explicado em termos de processos de nivel inferior. Ele acreditava que a maioria dos comportamentos animais resultava da aprendizagem ou da associagao com basea na experiéncia sensorial; esse tipo de aprendizagem consistia em um proceso de nivel inferior, e nao em um pensamento racional ou em uma ideagao: 148 Historia DA PSICOLOGIA MODERNA Com a aceitagao do canon de Morgan, o método da introspeccao por analogia foi aperfei- Soado e proporcionou dados mais titeis, mas acabou sends superado por outros métodos mais objetivos. tificas rigidas exigidas hoje, elas constitufram observacées cuidadosas do comportamento animal, a maioria em ambientes naturais, mas com algumas modificagées artificiais, Apesar de esses estudos nao comportarem o mesmo grau de controle das experiéncias realizadas em laboratérios, foram um avanco importante do método anedotico de Romanes. Comentarios O trabalho inicial na psicologia comparativa foi conduzido na Inglaterra, mas a lideranca tot 10 n” Dassou rapidamente para os Estados Unidos. Romanes falecen mais ou menos 208 40 anos, vitimado por tumor cerebral, e Morgan trocou sua Pesquisa por uma carreira administrativa na universidade. A psicologia comparativa surgiu da excitacdio eda polémica provocadas pela sugestao de Darwin a respeito da continuidade entre as espécies humana e animal. As ideias basi- cas sdo determinadas pela luta pela sobrevivéncia. Essa premissa Tevou os bidlogos a considerarem cada estrutura anatomica um elemento utilitario ou funcional em um sistema total de vida e adaptacao, Quando os psicélogos comec¢aram a um novo movimento: a psicologia funcional. Temas para Discussaéo 1. Por que algumas pessoas achavam tao perturbadora a experiéncia de ver Jenny, 0 orangotango, no zoolégico de Londres? Como seu comportamento afetou Darwin? 2. Os funcionalistas lidavam com que aspectos da consciéncia? 3. Com base em que eles protestavam contra a Psicologia de Wundt ¢ 0 estru- turalismo de Titchener? 4. Por que parecia inevitével que a teoria evolucionista fosse Proposta e aceita Sim meados do século XIX? Qual a influéncia do Zeitgeist no éxito das ideias de Darwin? 6. Como 0 crescente interesse por viagens e exploracao, ea fascinacao do piiblico Por fosseis influenciaram as atitudes em relacdo a ideia de evolugaio? 7 Explique como 0 estudo dos bicos dos tentilhdes serve de comprovacao para a teoria evolucionista. Captruro 6 FUNCIONALISMO: AS INELUENCIAS ANTERIORES 149 8, O que Darwin quis dizer quando se referiut a si mesmo como 9 “capelao do Giabo”, e disse que seu trabalho era como uma confissao de assassinato? 9, De que forma a doutrina malthusiana da populagao e do suprimento alimentar influenciou 0 conceito darwiniano da selecao natural? 10. Descreva 0 papel de Thomas Henry Huxley na promocao da teoria de Darwin. 11. De que maneira os dados e as idetas de Darwin alteraram 0 objeto de estudo e os métodos da psicologia? 12. Descreva 0 trabalho de Juan Huarte ao antecipar as contribuicbes de Galton. 13. De que modo a visao empirista de Locke influenciou o trabalho de Galton sobre testes mentais? 14. Quais as ferramentas estatisticas desenvolvidas por Galton part medir as curacteristicas humanas? Descreva a pesquisa de Galton sobre 0 genio here- ditario. 15. Como Galton estudou a associagao de ideias? Como aplicou 0 teste da inte- ligéncia? 16. De que forma o evolucionismo de Darwin incentivou @ desenvolvimento da psi- cologia animal? Qual foi a reagao inicial de Wundt a esse desenvolvimento? 17. Descreva 0 método anedstico ¢ introspectivo por analogia. Em que consistia a escada mental de Romanes? 18, Como Morgan limitou 0 uso da introspeccdo por analogia? Qual dessas técnicas Morgan utilizou para estudar a mente animal: (a) a observagao anedética, (b) 0 estudo experimental, (c) 0 método da extirpacao ou (d) 0 estimulo elétrico? Sugestoes de Leitura Angell, J. R. The influence of Darwin on psychology. Psychological Review, n. 16, p. 152-169, 1909, Discute as ideias de Darwin sobre a evolucao e seu impacto no desenvolvimento da psicologia funcional. Aydon, C. Charles Darwin: The naturalist who started a scientific revolution. Nova York: Carroll Graf, 2002. Um selato envolvente, leitura altamente interessante sobre a familia, vida e carreira de Darwin; inclul fotografias e um ensaio sobre a ampla influéncia de suas ideias num periodo de mais de 100 anos. browne, J. Charles Darwin: The power of place. Nova York: Knopf, 2002, Este é 0 segundo Volame da maior biografia de Darwin. Aborda inclusive a resposta de Darwin ao tra- helho de Alfred Russel Wallace, a publicagao de The origin of species © © impacto das suas ideias na ciéncia da era vitoriana, O primeiro volume, Charles Darwin: voyaging, foi publicado em 1996. Costall, A. How Lloyd Morgan's Canon backfired. Journal of the History of the Behavioral Sciences, n. 29, p. 113-122, 1993, Discute as abordagens de Morgan ¢ Romanes no estudo do comportamento animal. 150 HistORIA DA PSICOLOGIA MODERNA Diamond, S. Francis Galton and American psychology. Annals of the New York Academy of Sciences, n. 291, p. 47-35, 1977. Descreve a influéncia de Galton sobre os pioneiros americanos da psicologia funcional. Gribbin, J.; Gribbin, M. Fitzroy: The remarkable story of Darwin’s captain and the invention of the weather forecast. New Haven, CT: Yale University Press, 2004. Fitzroy, capitao do Beagle na famosa viagem de Darwin, teve uma carreira importante tanto na drea de meteorologia quanto no governo. Eldredge, N. Darwin: Discovering the tree of life. Nova York: Norton, 2005. O curador de um museu, ao organizar uma exibicdo para 0 aniversario de 200 anos do nascimento de Darwin, reconstruiu 0 seu livro de anotagées e seguiu os processes analiticos, mos- trando como Darwin havia organizado suas ideias, aceitando algumas e rejeitando outras. Keynes, R. Darwin, his daughter, and human evolution. Nova York: Riverhead Books, 2002 Discute o impacto da morte da filha de 10 anos de Darwin sobre o desenvolvimento de suas ideias sobre 0 papel do sofrimento humano. Larson, E. J. Summer for the gods: The scopes trial and America’s continuing debate over science and religion. Nova York: Basic Books, 1997. Documenta a constante polémica entre 0 darwinismo é a religiéo fundamentalista. Recria a tentativa de John Scopes de ensi- nar a evolugao em tm colégio em Tennessee, complementada com seus pitorescos advogados e o inevitavel apelo da midia. Morgan, C. L. Autobiography. In Murchison, C. (Ed.). A history of psychology in autobiography. Nova York: Russell & Russell, 1961, v. 2, p. 237-264. (Trabalho original publicado em 1930.) Conwy Lloyd Morgan descreve sua vida ¢ seu trabalho sobre a psicologia animal. Shermer, M. In Darwin’s shadow: The life and science of Alfred Russel Wallace. Nova York: Oxford University Press, 2002. Esse “estudo biografico sobre a historia da psicologia” mostra como Wallace, o codescobridor da teoria evolucionista, era dotado de uma personalidade fascinante, extremamente autodidata, quebrando os moldes da orto- doxia cientifica. Slotten, R. The heretic in Darwin's court: The life of Alfred Russel Wallace. Nova York: Columbia University Press, 2004. Relata o momento critico em que Wallace e Darwin, separa- damente, conceitualizaram 0 papel da selecao natural. Descreve outros interesses de ‘Wallace, como a justica social, reforma agraria, e espiritualismo.

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