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Escavar e Recordar [1931,33]

A linguagem fez-nos perceber, de forma inconfundvel, como a memria


(Gedachtnis) no um instrumento, mas um medium, para a explorao do passado.
o medium atravs do qual chegamos ao vivido (das Erlebte), do mesmo modo que a
terra o medium no qual esto soterradas as cidades antigas. Quem procura
aproximar-se do seu prprio passado soterrado tem de se comportar como um homem
que escava. Fundamental que ele no receie regressar repetidas vezes mesma
matria (Sachverhalt) - espalh-la, tal como se espalha terra, revolv-la, tal como se
revolve o solo. Porque essas matrias mais no so do que estratos dos quais s a
mais cuidadosa investigao consegue extrair aquelas coisas que justificam o esforo
da escavao. Falo das imagens que, arrancadas a todos os seus contextos anteriores,
esto agora expostas, como preciosidades, nos aposentos sbrios da nossa viso
posterior - como torsos na galeria do colecionador. E no h dvida de que aquele que
escava deve faz-lo guiando-se por mapas do lugar. Mas igualmente imprescindvel
saber enterrar a p de forma cuidadosa e tateante no escuro reino da terra. E engana-se
e priva-se do melhor quem se limitar a fazer o inventrio dos achados, e no for capaz
de assinalar, no terreno do presente, o lugar exacto em que guarda as coisas do
passado. Assim, o trabalho da verdadeira recordao (Erinnerung) deve ser menos o
de um relatrio, e mais o da indicao exata do lugar onde o investigador se apoderou
dessas recordaes. Por isso, a verdadeira recordao rigorosamente pica e
rapsdica, deve dar ao mesmo tempo uma imagem daquele que se recorda, do mesmo
modo que um bom relatrio arqueolgico no tem apenas de mencionar os estratos
em que foram encontrados os achados, mas sobretudo os outros, aqueles pelos quais o
trabalho teve de passar antes .
(Walter Benjamin, Imagens de Pensamento, Assrio & Alvim, pp. 219,220)

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