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Verso I

Sérgio Araújo

Textos em versos publicados no blog


“Palavras...”
Poesia

Poesia
Idéia vaga
Presente,
ostensiva
Grata.
Vertente literal primária
Inconsolavelmente refratária
Poesia
Grata
inerte
Verte
Refrata
A lítera morte que lhe tecem!
Dos cânones da língua,
pioneira,
poemassiva.
Poesia,
forma tão ativa
Híbrido cânone,
linguitísica
Bossal,
cinestésica total
Cafetina,
teleeletroniconcretina.
Efeméride

Do alto dos seus últimos andares


A cidade passeia tranquilamente.
Sob as cortinas,
sobre os altares,
Em seus vales, - silos de serpentes -
Repousam frios em seus azares
Generais intransigentes,
Bundas e bustos,
infernos capilares,
Bostas de pombo – renitentes -
Salpicadas no bronze esverdeado dos Cézares.
Braços de boneca,
Bola de gude no asfalto,
Alguém morreu ali na esquina colega!
Um cafezinho por favor!
Táxi!
E esse ônibus que não vem,
que horror
Catarro nas frestas de uma avenida ensolarada.
No chão da cidade,
A cidade passeia tranquilamente!
Splat Plek

Splat
plek
tam tam tam
a máquina
comeu a poesia ao óleo
Você sonha
dissonha
e atarraca o dedo
na CATRACA
Plek
Splat
Tam tam tam
castração
castra ação do dedo
que não mais indica
codifica
Mas
saque do coldre empoeirado
um poema
QUENTELOMÉTRICO
para ler
entre limalhas
cuidado
Levanta e corre correcorrecorrecorrecorrecorre
que a esteira não morre
PARA!
PEGA!
PAGA!
Splat!
Plek!
A máquina
comeu!
A contragosto

A contragosto,
Desgosto dos traços e troços
Da minha vida útil.
Desinventando memórias,
Destroçando histórias,
Malamanhado em terras alheias.
Sons inaudíveis movem e renovam
A volatilidade da minha alma vasta
Redesenhando trilhas,
Segredando versos nas margens do dia.
Um poema

Um poema
Não nasce do nada
É tempo e espada
Um poema
Nasce na rua
Que não é minha
Nem sua
É pau e pedra
Na vida do poeta
XXXII

Deixarei
Que os espaços
Todos preenchidos
Sejam solavancos
Em meu corpo de avestruz
E em minhas pernas
O que reluz
Nestes espaços,
espaços todos
Sejam espaçopernas
Que perneem
Preenchendo mundos.
Recife

Por cima

uma ponte

Por baixo

S
a
l
t
a
m

Cocas tamanho família


E entopem
Com tampinhas
As malhas da rede
Enredada
E atada
Por nervos ponte-agudos
Enquanto
foge por ali
Um casal de apitos
Na avenida boa vista
Saqueadores de caldo de cana
E um velho poste
No ponto da torre cinza arcaica

Daí em diante
Ausente
O sol
De par a par
Pardo
Pardeja
Em lívidos olhos de janela.
Fria
Como a água matinal
(a janela da casa verde)
pinga
cacos de vidro fosco.
O menino

Em vagas manhãs
Por onde o tempo recorta silhuetas de papel
Nuvens jovens
Percorrem os caminhos dos pássaros.
Em tardes infinitas
O menino sonha
Os sonhos de vento
Rasgando as copas das árvores
Numa melodia anônima.
Numa noite intensa
O poeta vê o invisível código
A trama íntima
Ao desenhar manhãs
Com tintas de tarde
E noites profundas.
XXI

Volver aos arcos do nó


Revirar
As tralhas
Respirar
Entulho
Tronco
Trambolho
Inocente certame do olho
Na fria agonia
Da
Q
U
E
D
A.
A lua e a estrela

A lua e a estrela

Não cabem num ponto

Nem alfa

Nem ômega

Apenas o tempo

Como as cartas de um baralho

Embaralhado

Embaralha tudo

Num ponto

Entre a lua e a estrela


Navegantes

Senhores navegantes,
Parem o barco!
O perfil cinético das borboletas azuis
Circunavega seus corações intranquilos.
Adeus
Cordas soltas à maré!
Atlas, contas do mar, sol, anzol
Rebrilham nos olhos de peixe
E óleos ancestrais.
Canibal à praia!
Âncora veloz ao fundo azul.
Senhores navegantes,
Olhai o fundo fosco da maré azul e
Rasgai papiros ilustrados,
Mapas
E restos semânticos
De bulas pós-ardidas.
Senhores navegantes,
Libertai as palavras-coisas
E surgirão versos andantes e rimas-remo
Na cara suja da normalidade.
IX

De todos os ventos daquela tarde,


um era tímido
e o outro
velava a morte do sol
nas sombras de um muro branco.
Um cachorro vadio
dava voltas em torno de si
enquanto um vento não trouxesse
o odor das latas de lixo.
Era um perfeito dia de sol e sombras.
Dia do vento libertador
e seu pégaso afoito,
agitador,
infalível em sua missão
de escancarar portas e janelas
esquecidas pela rotina dos dias.
Vento que arrasta consigo
a luoca dança da poeira dos cantos
que impávida
como a sombra de uma árvore
projetada nas escadas vazias,
retorna espalhada sobra a calçada lisa.
Foi assim em todos os espaços
que os ventos conquistavam.
Nas esquinas,
correndo e cantando
entre ruas e buracos de parede
até partir,
para retornar agora suavemente
e contar as histórias
das tardes e dos ventos.
Rápido

Lá está,
em meio à multidão
e eu a vejo
como num tape,
com seu sorriso ensolarado.
Rápido me perco
e te encontro
a passar...
Acho que foi naquele automóvel
novinho em folha
e lá se foi
mastigando
bichinhos de açúcar.
Salinas

Vida de sal e sol


que adentra a aurora
e o mar sereno.
Vida que imprime o rumo,
que infla o pano,
que apruma o leme
e deixa ao vento
as sinas soltas sobre a espuma.
Vida de pescador
que na bruma leve
carrega o barco ligeiro
nas águas plácidas das Salinas.
Vida de coragem, orgulho e fé;
de ver no mar a mãe que ensina,
mãe que cuida, mãe menina.
Vida de pescador.
Vida de todos os sonhos e conquistas,
Vida vivida, atrevida
Docevida,
Margarida.
Verdades e mentiras

Assim como o tempo


que não esconde os restos dos dias,
eu não uso óculos escuros
para ver os trolhas
com seus trapos divinos
e suas teses truculentas
traçando o destino dos cordeiros
empastelados no rush sanguinário,
metropocêntrico.
Assim como a história
que se repete, carrasca.
Eu vou de bonde
pra não ver os becos
em que te escondes.
Assim como o gene ancestral
eu passo mal
de ver a cara suja
de um peixe podre
a proclamar mentiras glaciais,
a acender fogueiras virtuais
que não queimam os ossos
mas abrem fossos.
Mr. Bishop, tenha dó.
Assim não dá.
Eu não te aguento mais!
Metáforas

Enquanto a faca do horizonte,


Distante,
Corta a carne crua
De uma estrela nua,
O dia sorri na neblina
Estonteante
Como um copo de blues
A transbordar sonoro,
Metáforas soltas
Na transparência efêmera
Que o dia
I r r a d i a.
Meninos invisíveis

Quando chove na rua dos meninos invisíveis


Um galo canta ao meio-dia
Fazendo arrelia do vigia das madrugadas.
Eles sabem que as flores mais bonitas
São as margaridas das queridas irmãs Marias.
Saltam, correm,
Buscam borboletas nos bosques
E os postes são palitos pelados que brilham nas noites frias.
Quando brilha o sol nos bicos dos bules
Nas manhãs gulosas das mães Marias,
Os meninos invisíveis
Saltam dos chinelos
Comem, bebem
E guardam restos de mesa para o vigia do dia.
Quando a noite chega
Com suas meias e ceias,
Os meninos invisíveis se apagam
Em sonhos de gigantes,
Zé-come-lata,
Homem meleca,
Unha do cão,
Rapa tição.
Nietzscheanas nº 1

Eu olhava para aquelas sombras


Que constantemente dançavam em torno de mim
E o conforto que sentia
Era a solidão,
A distância que de mim se fez constante
E me conservava intacto,
Delirante.
Por muito tempo eu olhei para o abismo
E enfrentei seus monstros itinerantes
Salpicados de realidade
E pesados Sobre os ombros dos atores ideais.
E aquilo era mau.
Transbordava o peso das correntes
E asfixiava como um nó na garganta.
A voz calada,
A palavra não dita,
A desdita.
Em torno de mim
Selvagens discursos;
Profusão de olhos laterais.
Escolhos,
Que nada viam, eram vistos.
Há luz... Há luz...
E no solstício o solo primeiro percebe
Quem desce para matar a sede de liberdade
E libertando-se
Ainda há tempo
De tocar a réstia,
De dizer a frase,
De ascender infante
A tatear rotinas.
Nietzscheanas nº 2

Estupefata a civilização de pátrias molestadas


Reclama que do alto dos picos
E das cinzas dos abismos
Ouça-se a voz intempestiva a apontar barbáries.
Eis o cálice ditirâmbico!
Quem ousa ultrapassar o círculo ilusório
Que aprisiona, intimida e fere?
Quem, dentre as ovelhas reticentes
Vê o demiurgo que sangra
Em incomensuráveis convicções
E apriorismos imberbes?
Lá está o homem novo!
Eu o vejo
Num dèjavu embriagado de séculos
A irradiar potência numa espiral infinita,
Impregnada das páginas de Kafka,
Nietzsche, Dostoiévski
E Augusto dos Anjos.
Mestres da modernidade,
Dilacerados em seu tempo,
Anjos e demônios,
Ventres abertos para o infinito.
Bar Continental

De quanto tempo disponho


Para viver congelado na íris estreita
Desta janela vesga?
Pouco me resta obter
Sem optar por constrangedora aquarela
Pateticamente posta
Sobre a marquise de ferro fundido
Do bar continental.
Não sei por onde anda
aquela disponibilidade sempre presente.
Não sei dispor de um tempo
Fundido em aquarelas, janelas e íris de marfim.
Não sei
Se louco ou santo
É o sonho abissal
Congelado sobre a marquise
Do bar continental.
Qualquer dia

Quando sair na chuva


Qualquer dia
Desses dias de sair
Dia de ser
Dia desses...
Eu então direi
O que ouço
O que sei
Direi da estante
Cheia de livros
Dos ingressos antigos
Daquele bilhete de viagem
Já te falei da carta?
(que não enviei)
Do cartão da turma?
Tua foto no panfleto
Um manifesto
Meu poema de protesto
Volta e meia
Ainda saio na chuva
Quem sabe
Te vejo de novo
Olho no olho
Escrevendo versos silábicos
Incertos
Secretos
Concretos.
Teu tema

Parece que foi ontem


O teu braço em minhas mãos
O relógio
E você sorri
O teu rosto
Uma rima
O teu oposto
Você ainda me vê?
Eu ainda sou o teu dilema
O teu tema
Ainda te vejo
Breve
Nas luzes coloridas
Na noite que te esconde
Num bilhete
Onde?
Minha mão poética

Minha mente concreta


Não desliza no papel,
Salta.
Saculeja indomável
Sobre pautas paralelas.
Minha pena discreta
Sobrevoa palavras
Já escritas
Bafejadas pelo tempo,
Desvendando ritmos e dimensões.
Minha mão poética
Tem vontade própria,
Gosta de espaços infinitos
E tinta preta.
Na porta

Parada
Na
Porta
Suporta
Ereta
Beija
O
Vento
Que
Te
Lança
Pra
Dentro
Suposta
Seja
A
Porta
Que
A
Lança
Não
Importa
Ventania
Adentra
Suplica
Que
Te
Beije
Na
Porta
À sombra do vento

Fala dessa história


Que gira o sol do girassol.
Diz que à sombra do vento,
Como um espelho de duas faces
Um ser é um nada,
Clandestino!
Com a cabeça na terra
E os pés no espaço.
E nos lábios,
Um sorriso descontrolado.
Dia-a-dia
À procura de um raio de sol
Numa esquina,
Num disco de rock
Ou num livro de Jack London.
Conta em que janela se passa essa história,
Para que eu possa dizer-te
Que danças sobre pedras quentes
Com braços e pernas de serpente.
E a felicidade
É um pêndulo,
Pendente
Como a espada de Dâmocles.
Versos novos

Perdão pelo poema que não escrevi!


Quem sabe, seja a noite
Com suas sombras esquálidas,
Talvez seja o dia que me prende
Em seus espaços retalhados.
Perdão!
Pois navego como tantos
No mar de fragmentos,
Frases, fontes e formas.
Perdão, enfim,
Por antever que amanhã
Poderão perdoar-me
Pelo não dito
E que, apesar disto,
Nascerão livres de toda a tristeza,
Versos novos e sonoros
Salpicados de fantasia.
Decifra-me ou devoro-te

Vê essas tardes?
Que desprezo exalam
Nestas folhas sonolentas, oscilantes;
Neste céu,
Metálico céu.
Ouve estes sons?
Quão falsos soam.
Que terrível prisão
Nos acolhe em seu seio de pedra.
Quisera
Voar
Com os pássaros
E, súbto, precipitar-me ao chão
Para num sorriso
De corpo inteiro
Fundir-me à terra
Numa manhã de sol.
Silêncio

O tempo escoou

E eu estou longe

Não te observo mais

Andando descontraida pela calçada

Ou deitada no chão

Com um olhar perdido

Imaginando utopias

Silenciosa ilha.

O tempo passou

E eu estou sozinho

Pensando em você

Sonhando, deitado no chão

Observando

O quadro na parede

Minha utopia.

Pensei num tempo

Andando com você

No caminho do mar

Na trilha das pedras


Sem tempo

E sem espaço

Descalços no fim do dia.


Súbito

Súbito
Surge assim
Como quem rouba
Um pedaço de dia
Num instante qualquer
Rasgando fantasias
sonorizando frases
Vociferando melodias
Para mostrar-se
Claro
Como um poema de Emily Dickinson
Atravessando séculos
Num Daguerreótipo country
Com pássaros
E gotas de chuva
A tilintar
Na cobertura espessa
da minha cabeça
Assim
Súbito
Palavrascoisas

Nada

Um vazio

Onde outrora havia palavras

Palavras coisas

Cantantes

Sonoras

Como uma flauta doce

Saltitante

Palavras moventes

Movediças

Palavras lisas

Cordilheiras lexicais

Transmentais

Nada

Um vazio

Vaso

Um Verbo

Ao acaso!
36º

Um papel

Um recado

Um recibo rasgado

Quinze mil cruzeiros

Em outubro de 84

Um cigarro

Um cinzeiro

Populares de Cuba

(Fumar daña su salud)

Rio de Janeiro

Eu não fui pra Aruba!

Li Artaud e Baudelaire

Chutei urna no palco

Meu poema silábico

Você lê se quiser

Sua voz embargada

Na hora marcada

Você diz o que quer

Dança e protesta

Manifesta!

Lê aquela brochura
Ainda há Ditadura

Nós queremos diretas!

Mas ficou no papel

Agora rasgado

Um recibo solitário

De um sonho sonhado

Registrado

No CPF e RG

Cadê Você?
Quem sabe um dia

Quem sabe um dia

Eu te mostro a lua

Com sua luz metálica

Numa noite fria.

Quem sabe amanhã

A estrada é deserta

A noite é prata

A relva é vasta

E tua voz é leve

Como uma navalha

Cortando o silêncio.

Quem sabe não esqueço

Teu endereço

E a luz da lua

Nos teus cabelos.

Talvez!

Num desespero de solidão

Na escuridão

Eu possa te ver

Como na primeira vez

Naquela noite

Na imensidão prateada da lua.


Cavaleiro torto

Um cavaleiro torto

De silhueta neogótica

Percorre o caminho, sorrateiro

Na lama putrefatalenankin

Filho da arca pulga tricha

Esbilte pilotron sanguessuga

Mimética solução humanóide

Lesa-forma vil vivente

Um cavaleiro de longa esfera

Filho da arca sila troncha

Caminha indeciso

Na prima lama dicotômica

Cata tenso, na orla empolada

Finos fios de palavraspontes

Para dizer fundante

O que nunca fora antes.

Um cavaleiro torto

Pouco

Intrépido arcanjo rococó

Arremata a vida num poema

Como laço ou como nó.


Tempo curto

O tempo é curto

O tempo é mudo

O tempo não cabe no meu mundo.

Eu curto o tempo

Mudo num segundo

Meu mundo não cabe no tempo.


Esquina

Agora que estamos sós

Juntos, mas distantes

Como numa esquina

Sem um ponto de encontro

Vejo passar o tempo

Olho pro céu

Gotas de memórias

Molham meu rosto

E não há nada que eu possa fazer

Nem ontem

Nem hoje

Eu quero estar com você

Naquela praça

Depois da esquina

Eu não sei...

O tempo diz não

E mesmo que o desejo

Seja a bola da vez

Eu não te enconto

Depois da chuva

Com o sol no rosto

Naquela esquina.
Elisa

Parou no meio da ponte.

Elisa!

Chicoteou-le uma lembrança.

Por que ela?

Logo ela, tão fugaz...

Embrulhado na chuva fina,

As mãos flácidas,

O olhar perdido.

Flutua.

Não sente o chão,

Não sente o corpo,

A mente ausente,

Apenas repete: Elisa!

Elisa!
Estrangeiro

Eu bebo o futuro

Como um copo de água fresca

No calor intenso do presente.

Não me apetece o sorriso fácil

Do aqui e agora.

Falsa saída,

Panacéia improvável.

O futuro me pertence

Nos versos silábicos que escrevo.

Eu canto

E minha canção tem pernas longas.

Ela verá os próximos séculos

E mostrará meu espanto,

Não do futuro

Que ainda é distante a cada momento.

Mas do presente

Que nunca existiu.

Cantando sigo

Indecifrável, perdido de mim,

Estrangeiro em minha terra.


O olho de Sócrates

Foi no silêncio da noite,

No lapso do tempo

Que toda a dor se foi.

Do pensar,

Do ser como sou,

Da natureza de mim

Refletida no fundo plano

Da rocha.

Uma tocha!

Inglória figura arquetípica.

De resto, o vazio

O dia é eterno

No tempo que o consome

E some!
Um caminho nas nuvens

Na estrada

Uma pergunta escondida

Juntos buscando um caminho nas nuvens

Num céu dourado

Numa chuva colorida

Que só eu vejo

Mas entendo o seu jeito

De me dizer com os olhos

Nós somos pura história!

Com os pés descalços

Com o sol no rosto

Uma inteligência de óculos

D. Juan, Lobsang,

Aonde estamos indo?

Não importa

Eu não fechei a porta

Ainda sonhamos

Que somos crianças

Brincando com o vento

Dançando sem tocar os pés no chão

Invisíveis, eu juro!
Rock and Roll

Pétalas

Piras

Sim!
Sabe quando você tem certeza?

Sabe quando você tem certeza


E ninguém parece se importar com a solução?
Quando todos emperram
E só você é ação?
Quando dizem acabou
Você ignora porque sabe alcançar?
Entende o motivo da estranheza
Mas caminha, mesmo que devagar?
Ontem me disseram não haver amanhã.
Não da forma como eu queria.
Janelas não se abrirão para um céu azul,
João não beijará Maria,
Canteiros inteiros, estilhaços no chão.
Sabe?
Hei de apurar minha visão,
Conspirar, conjurar, subverter, revolucionar;
Lançar palavras num balão,
Letras inteiras num muro intocável.
Sabe, quando você tem certeza
Não está só.
Há uma rede clandestina
Esperança, confiança
Seja qual for o nome da trama,
A gente não se engana
Se suja, se fere, aposta tudo
E sorri pro céu azul
Sorri pra Maria, sorri pra João...
Monólito

Eu reconheço este perfume que, de tão íntimo,

Abre janelas na minha previsível singularidade.

Vagando em nuvens de palavras,

Rostos e pedaços amorfos,

Estruturas e monólitos,

A saudade indecifrável.

Teu rosto no rosto de pedra,

Minhas mãos no teu rosto de seda.

Tristeza e alegria.

Parcos ângulos obtusos

Silêncios redondos

Rodopiam na valsa confusa da memória.

Pinçar retalhos de certezas completas

Que já não valem mais

Brinquedos, são o que são.

Afasto agruras,

Deixo passar o beijo, o olhar de desejo,

A noite eterna

E o dia submerso na maciez da pele.

Falas,

Amigos,
Um futuro distante que hoje é presente

E a gente nem sente.

Deixo aberto o portal antropofágico,

A desordem,

O exatamente inverso do que sou

Para soar humano

Na natureza caótica do meu corpo

E na coerência do sonho.
Nuvem

O código expresso

Impresso

Virtual

Sem identidade

Só me reconheço

No discurso possível

Passível

Inautêntico corpus

Generalizador

O que eu tenho a dizer

Arranha o disco rígido

do meu computador

Eu me estranho

Eu não sou eu

Sou aquilo que me generaliza

Nuvem

Neblina

Perspectiva.
No meu caderno

O brilho das cores, festival.


A garota bonita e sua sobra no muro.
Aonde vai?
O cadarço do meu sapato,
O Cérebro do poeta,
A tabuleta que anuncia:
Compro, vendo, troco,
Não me importo.
Ligue pra mim!
O telefone caminha a seu lado.
Hoje voaremos sobre a avenida
Repleta,
solene na valsa dos rostos, em cubos.
Quero te achar
Depois da partida sem despedida,
Dando voltas com os olhos
E tudo o que gira
Está sob o céu de ontem,
Dentro do meu caderno de capa verde
Que agora é seu.
É meu pretexto
Pra continuar te encontrando
Nos textos que escrevo.
Leste

Extenso e estático pórtico

Genérico, caótico.

Guardião do mar, insular.

Do leste o vento

dourado.

Céu mais lindo,

Matutino na primavera.

Barro secular

Escravo no tempo e no lugar.

Erodido em arquitetura evolutiva,

Cativa,

Cooperativa.

Ostra, astro rasteiro

Certo,

Na incerteza dos dias.


Inventando a esperança

Ontem sonhei com uma criança


Que na sua dança
Inventava a juventude.
Sonhei com a terra que, amiúde,
Era toda a gente do mundo.
O mar não era profundo
E o céu era o teto da casa
Pingando estrelas esparsas.
Sonhei contigo
A procura de um abrigo
Sonolenta na relva fresca.
Sonhei que ontem era amanhã
Que toada doença era sã.
Sonhei que era criança
Inventando a esperança.
Paisagem

Tarde quente de outubro:


Silenciosa,
Ácida.
Sem sombras na rua deserta e abrasiva.
Acolá,
O azul marinho pinta o horizonte
E revela uma poesia de bossa nova.
O vento liberta um pássaro veloz,
Ascendente
Que respinga gotas sutís
No meu rosto
Quente como a tarde.
Sem lei e sem ordem

Não seria nenhum pesadelo


Perdido, sem lei,
Sem ordem,
Só com minhas lembranças
E pretensões.
Andando no meu caminho,
Ou Parado
De frente para mim.
Assim...
Com coração e mente.
Apenas um,
Que, de tão contente,
Bastasse o vento.
Sem tempo
Sem.
Homens Simples

Homens simples

Homens que nascem com o sol

Todos os dias,

Que brilham e ficam tristes,

Pedem paz e olham-se nos espelhos de casa

Todas as manhãs.

Com que caras irão para as ruas molhadas pela chuva?

Amam o sol da tarde morna,

Sonham sob um céu de claras contas.

Homens simples!

São crianças, o que eu vejo

Por trás da cortina fria da melancolia,

Além do olhar grave,

Da incerteza esperta,

São crianças sem brinquedos.

Simples crianças;

Aprendizes itinerantes

Com seus olhos rasos.

Não se enxergam na simplicidade do dia.

Homens simples!

Como talvez seja o mundo,


E o tudo e o nada,

O Subterfúgio

E a gota d'água que hora pinga

[Insistente]

No meu rosto sorridente.


Silenciosamente

Como slides sem as cores vivas do presente,

Eu os vejo, rostos que nunca envelhecem.

Sensações perdidas, sorrisos francos.

Sombras na memória, deslizam velozmente

E me aquecem

Suavizando meu pranto.

Preciso de tudo isso, mas por enquanto,

Vê se me esquece!

Perdido e inconsequente,

Vou aos trancos e barrancos,

Revivendo as cores que esmaecem

Silenciosamente.
Correnteza

Na estrada, seguindo estrela

Caminhando devagar

Cruzando a vida, feiticeira

Com vontade de ficar

De todo feito pra vingar

Nessa estrada sorrateira

Siso pouco, muito amar

Solução se faz primeira

Construí casa de cera

Castelos à beira mar

Muros, ponte, ribanceira

Para ver tudo passar

E o que passa vai voltar

Quer queira ou não queira

Tudo tem o seu lugar

No meio da correnteza
Polaroid

Aqui, onde estou,


Posso diluir-me num verso
Para caber no espaço do teu riso.
Posso colher mil maneiras de te amar,
Sonhar em cinemascope
Nosso beijo lírico de domingo.
Rabiscando agora,
Nesse velho caderno colegial,
Sou ciência humana transitória.
Sou saber perdido na tua memória,
Fotografia em preto e branco
Da minha antiga Polaroid.
Aqui, onde estou,
Posso construir meus versos em silêncio
Para exibir estático numa tela,
Posso fazer uma fotonovela
E colher o teu sorriso breve
Para fazer figura leve
No espaço cênico do poema.
Singular

Apenas um instante

E condensado todo o amor gerado na vida

Explodir no infinito

Sobre o futuro

Além do tempo e do espaço.

Um momento singular

Um salto e solto no ar

Flanar

Com meu corpo inteiro

Minhas sílabas certas

E meu sorriso de criança.


Devaneio

Acordou cedo.

Olhou em volta e não viu ninguém.

Não viu a nova máquina,

O olho que lhe vê.

Sua conta na rede,

Seu retrato na parede.

Ele não viu você.

Não viu o dinheiro dos outros,

O sangue na cidade;

Ele não viu a maldade.

Não viu os cabelos dela,

Seu visual progressivo,

A conta em cima da mesa,

A lata de cerveja.

Não viu o herói da tela,

As algemas no bandido;

Não viu a fita amarela,

Nem o choro, nem a vela.

Não viu que não via algures,

Enfiou-se na escuridão do sono

E sonhou contente.
Sonhou com aguardente,

Recitou seus poemas de cor e salteado,

correu sobre os telhados.

Não viu que podia ver,

Onde está você,

Aonde vai o rio

E sua correnteza.

Não viu que, deveras, a sua riqueza,

Era agora a sua cegueira,

Sua nobre visão no devaneio.


Utopia

Eu quero a utopia!

Não a ilha,

Mas a certeza do incerto,

A prova do improvável.

Eu quero Vênus, Marte e Júpiter,

Quero a Terra no futuro

Sem leis e sem grades,

Sem fome, crime e dinheiro;

Sem políticos, sem trapaça,

Sem a ilusão da religião.

Eu quero esta utopia.

Sem início e sem fim;

Sem crença e sem esperança.

Eu quero uma utopia

Como um poema de Emily Dickinson,

Como um pássaro que se equilibra num fio.

Eu quero utopia,

Literatura,

Poesia.

Quero sentir a tez da tela,

O odor das formas


E a cor do vento.

Quero Heráclito, Nietzsche e Foucault,

Quero a historia do porvir

Tatuada pela máquina de kafka

Numa esquina da Névski.

Macunaíma na Bahia,

Castro Alves e John Donne

Numa Lanhouse de periferia.

Eu quero o aço, o vidro e o carbono,

Supermáquina,

Gadgets, widgets e applets.

Quero androide na minha porta

Com a pizza da madrugada.

Andar se pagar passagem,

Sem o meu, sem o teu,

Leaves of grass!

Quero os loucos na praça,

E os generais como privada de pombos.

Eu quero o ócio criativo,

A escolha digitada.

Eu quero o silêncio

E o barulho do vento nas copas das árvores.

Quero Rock, Blues


E um samba de Batatinha.

Quero utopia, texto, melodia

E não me incomoda a tua censura.

Se “é proibido sonhar…”,

Eu escrevo pra me vingar.


Soneto

Não serei meu vulto na janela, emoldurado,

Quando a clara lua derramar seu leite.

Prefiro ser nas tardes dos campos dourados

Com os olhos pálidos e as mãos silentes.

Como num suspiro célere, num lamento,

Como em noite crua de beijos e abraços,

Num instante é brisa, no outro evento

Espargindo luzes na solidão dos espaços.

Eu, na vastidão mecânica do meu corpo,

Sou nada aflito na superfície, solto

Na imaterialidade efêmera do pensamento .

Silêncio! Agora que a luz se esvai em flocos

No vazio intenso dos meus sonhos loucos,

Sou pluma envolta no lençol dos ventos.


Casamata

Esta noite na casamata

Toda branca, enfeitada:

O céu iluminado,

O chão silencioso,

Espumas e risos.

Sangue e gritos

Na fumaça delgada.

Pão enfiado goela abaixo,

Circo mambembe para a mente crente.

Ninguém aguenta!

Prefiro uma ressaca de vodka

Na segunda-feira.

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